ano quatro | nº 27 | janeiro / fevereiro 2012 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
ESPECIAL ECOTURISMO ARTIGOS INÉDITOS
A FORÇA DO VOLUNTARIADO
FOTO DE RAQUEL RIBEIRO — BROMÉLIA EM UBATUBA (SP)
PLURALE EM REVISTA
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JAN / FEV 2012 –
Nº 27
www.plurale.com.br
Sustentabilidade é a energia que motiva nossas certificações!
Nossa responsabilidade com o Meio Ambiente se comprova com nossas certificações. Trabalhamos com um Sistema Integrado de Gestão nas áreas Ambiental, de Qualidade, de Saúde e Segurança.
Certificações
Editorial
, o m is r u t o c e , 0 2 + io R o ã ç a r e p u s e s e r e h l u m Sônia Araripe e Carlos Franco Editores de Plurale em revista e Plurale em site
E
2012 chegou. Este será, sem dúvida, um ano importantíssimo para o diálogo sobre sustentabilidade global. Acontece no Rio de Janeiro, em junto a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como a Rio + 20. Nós, e tantos outros parceiros de caminhada, que estávamos cobrindo a Eco-92, no Aterro do Flamengo, pudemos acompanhar, nestes 20 anos os avanços e retrocessos na abordagem desta temática. O que era quase um assunto de gueto, para poucos, por algum tempo erroneamente rotulados de “ecochatos” passou, definitivamente, a fazer parte do dia-a-dia não só dos brasileiros, mas de todos os povos. Sustentabilidade hoje faz parte da urgência do presente, como tão bem nomeou Israel Klabin em recente livro. Ninguém deve esperar, no entanto, alguma solução mágica da Rio+ 20 para problemas cada vez mais complexos. “Este é um ponto de partida, não de chegada”, explicou Sérgio Besserman, em recente evento. Mas a prática do exercício diálogo é mais do que necessária. E para tentar somar e agregar neste exercício, Plurale em revista e Plurale em site lançaram nova seção, dedicada à Rio+ 20. Estaremos lá, com cobertura especial e traremos para você alguns dos melhores momentos de evento tão grandioso. Começamos 2012 com uma edição bem variada. Raquel Ribeiro, sempre engajada e emocionada com a beleza da natureza, nos brinda não só com a deslumbrante foto de capa, mas também com outras tantas de Ubatuba (SP), um paraíso que vai muito além das praias. Ainda como parte deste especial de Ecoturismo, Nícia Ribas esteve em Cusco, no Peru e relata o ambiente mágico e místico que atrai tantos visitantes. Nesta jornada, no meio do caminho havia uma pedra...e que pedra! Um grupo de talentosos fotógrafos de Visconde de Mauá (RJ), nos revela nos mais diferentes ângulos a solidez e imponência da Pedra Selada. A exposição acontece como parte da comemoração dos 110 a nos de nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade, em uma alusão ao conhecido poema “No meio do caminho”. Em homenagem às mulheres e ao universo feminino, trazemos um conjunto de matérias também muito especiais. Lou Fernandes esteve com as mulheres do Morro da Providência (Zona Portuária do Rio) e mostra os efeitos positivos de um fundo social de investimentos criado apenas para projetos transformadores com foco no gênero
Pedra Selada, Visconde de Mauá, Foto de Jean Pierre Verdaguer
feminino, o ELAS. A seção frases lembra a luta de mulheres que marcaram a História. Na seção Bazar ético, o destaque é para a ONG “As Charmosas”, formado por artesãs de comunidades cariocas. Os correspondentes de Plurale - Wilberto Lima Jr, dos Estados Unidos e Aline Gatto Boueri, da Argentina – também antecipam debates daqueles países. No bloco sobre vida saudável, artigo da nutricionista Dra. Elisabeth Hufnagel fala sobre os mitos em relação aos carboidratos nas dietas e a Dra. Melicia Cintia Galdeano, da Embrapa Agroindústria, apresenta as vantagens do consumo da aveia. Janaína Salles esteve com um grupo de determinados atletas especiais, mostrando a superação através do power soccer. Confira ainda artigos inéditos de Maria Elena Pereira Johannpeter, Nélson Tucci e Valdir Cimino, e uma matéria de Maura Peres sobre a força do voluntariado. Tudo isso e muito mais nesta primeira edição de 2012. É Plurale pedindo passagem e as benção de santos e orixás. Salve!
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Conte xto
Foto: Instituto Refazer/Divulgação
20.
A FORÇA DO VOLUNTARIADO
43.
BAZAR ÉTICO
ESPECIAL ECOTURISMO:
UBATUBA, CUSCO, VISCONDE DE MAUA
28.
Foto Machu Picchu (Peru) por NÍCIA RIBAS
CONEXÕES PLURALE
14 PELO BRASIL
24 VIDA SAUDÁVEL
55 CINEMA VERDE
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2012
50.
A FLORESTA EM UM CLIQUE
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Quem faz
Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação
Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima
e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Alana Gandra (Agência Brasil), Christina Carvalho, Dra. Elisabeth Hufnagel, Dra. Melicia Cintia Galdeano (Embrapa), Fabiano Ávila (Instituto CarbonoBrasil), Fabrício Marques (Revista Pesquisa FAPESP), Janaína Salles, Juliana Mello, Lou Fernandes, Maria Elena Pereira Johannpeter, Nélson Tucci, Rafael Fernandes Gatto, Raquel Ribeiro, Vitor Abdala (Agência Brasil), Valdir Cimino, Vladimir Platonow (Agência Brasil). Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Plurale em revista, Edição 26 “Prezada Sônia, Quero cumprimentála, e a todos os seus colaboradores, por este marco de especial significado de Plurale em revista. São quatro anos de trabalho sério e focado nas principais questões nacionais, realçando a importância deste veículo de comunicação que muito contribui para o desenvolvimento sustentável do País. Cordialmente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, Diretor-presidente do Bradesco, Cidade de Deus, Osasco (SP) “Prezada Sônia, Agradecemos o gentil envio, em primeira mão, da Edição 26 da Plurale. Aproveitamos para parabenizálos pela excelente publicação, tanto pela visualização, quanto pelo conteúdo das reportagens. Nossos projetos só adquirem forma e se concretizam, quando eles são compartilhados com alguém. Por isso, necessitamos de constante apoio, e a publicação de nossa entrevista é muito importante para a divulgação e mobilização do trabalho voluntário. Obrigada pelo seu apoio. Saudações cordiais,” Maria Elena Pereira Johannpeter, Presidente (Voluntária) da Parceiros Voluntários (RS) “Gostaria aqui de agradecer à Vivian Simonato pela grande proesa e maestria de detalhar com singularidade e relevância o sentimento de pertença de cada uma das quebradeiras de coco babaçu da Região do Médio Mearim – Pedreiras/MA, apresentada na edição de número 26 de Plurale em revista, na matéria “Sonhar junto”. Li, reli, três vezes e percebi que este foi um espaço dedicado a sentir o outro ou a sentir-se no outro, pois nos mostrou que a busca por direitos, dessas mulheres, não se dá de uma forma unilateral, mas complexa. O trabalho duro da quebra do coco, a luta pelo livre acesso do babaçu e a luta por equidade de gênero (empoderamento feminino) fazem dessas mulheres, seres humanos de fibra que encontram na “palmeira mãe” (trecho adotado por Vivian) a bandeira de uma luta constante e duradoura. E estampar isto em Plurale em revista, foi e é para nós, da ASSEMA, que acompanhamos, vivemos e sentimos essas mulheres, um grande prazer. E dizer ainda que, Vivian Simonato continua a escrever com a alma de quem transcende os limites dos cinco sentidos disponíveis a nós seres humanos. Conseguindo, através das letras, parágrafos, linhas, frases e texto, nos repassar um filme no qual ninguém ainda viu, simplesmente... leu! E toda esta desenvoltura não é tarefa pra muitos, mas poucos sensíveis existentes por este mundo a fora. Portanto, pra esta moça, eu me dou e lhe dou o direito de tirar o chapéu! Aproveito então o momento, para discorrer a toda a equipe da Revista Plurale, NOSSO MUITO OBRIGADO! Pela oportunidade dada, através do acesso livre às informações, de exercitarmos o nosso senso crítico com matérias que perpassam as discussões sociais, ambientais, culturais e políticas de
maneira plural para uma sociedade tão desigual”. Linalva Cunha, Assessora Técnica da ASSEMA – POMJUR, Pedreiras (MA) “Estou encantado com a reportagem sobre a luta e as conquistas das mulheres quebradeiras de babacu, de Vivian Simonato. É muito bom ver progresso em um local tão remoto e verdadeiramente esquecido pelos chefes de Estado de um dos estados mais pobres de nossa federação, mas não por falta de recursos. Eu tive a grande experiencia de viver no Maranhão por mais de três anos e posso dizer, com conhecimento, o que vi e senti por lá, um povo que nos surpreende pela alegria, trabalho e luta cotidianamente. Vivian Simonato descreve de forma emocionante o que se passa por lá, um povo que está vencendo mesmo com tantas barreiras para ultrapassar. Cheguei a ficar com lágrimas nos olhos lendo esta reportagem, imaginando como essas mulheres chegaram a este ponto de conquistas e sabendo que elas conseguirão muito mais.Parabéns e obrigado,” Eduardo Galeazzo, Dublin, Irlanda “Como sempre a Plurale está ótima, muito bem editada e com matérias interessantíssimas. Parabéns!” Helena Rocha, Novos Negócios do Banco da Providência “Agradeço o envio do exemplar de número 26 de Plurale em revista e cumprimento à toda equipe” Adionel Carlos da Cunha, Assessor de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro “O texto da Nádia Rebouças – “O Gestor sustentável do Século XXI” é irrepreensível.Nos faz pensar no tempo solene que vivemos e na importância que cada ser vivente tem para a construção um futuro melhor e sustentável para nosso frágil e combalido planeta. Parabéns! “ Sérgio Azevedo, Rio de Janeiro (RJ), através dos comentários do portal “Amigos da Plurale, Venho parabenizar à Plurale pela excelente qualidade de suas edições e, em especial, a de número 26. Encaminho esta mensagem, também para comentar sobre o artigo relativo à implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – “Quem paga a conta?”. Não concordo com a postura dos envolvidos em ficar discutindo e arrumando desculpas para não arregaçar as mangas (o papel de bala, a lógica reversa dos itens contrabandeados, as lâmpadas e pilhas, etc), mas partirmos com determinação para a fase de transpiração. A legislação relativa à PNRS levou décadas para vencer a fase da inspiração. Agora é mão-na-massa. Vamos deixar para buscar soluções para o papel de bala, quando o plástico, pneus inservíveis e matéria orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos já estiverem com seus caminhos devidamente implantados. Assim, não teremos que discutir “Quem paga a conta?”, pois o acima citado gera receitas. Passemos, então, a conversar e refletir em “Como usufruir dos lucros?”. Abraços, Cid do Nascimento Silva, engenheiro, Rio de Janeiro (RJ)
PRÊMIO IBEF
DE SUSTENTABILIDADE
Um projeto que visa certificar e premiar empresas e administrações focadas na excelência do tema Nacional
Envie seu case para sustentabilidade@ibefrio.org.br
Informações www.ibefrio.org.br Patrocinado por empresas com atuação em Sustentabilidade
Novidades
Plurale lança seção
Rio+20
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o início de 2012, criamos nova “sala” no portal Plurale em site destinada a aprofundar e apresentar o diálogo em torno da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+ 20, que será realizada em junho, na esperança da negociação por um planeta mais solidário e equitativo. Além do site, também estamos estreando, nesta edição de número 27, a coluna que traz novidades sobre este grande evento. Nossa equipe estará, é claro, cobrindo o evento de perto e Plurale em revista e Plurale em site apresentação edições muito especiais. Entre em www.plurale. com.br e conheça a nova seção. Estamos lhe esperando!
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2012
Integração - Desde outubro de 2007, quando nascia Plurale, sabíamos que só seria possível entrar neste já seleto e bem coberto nicho da mídia sustentável se tivéssemos uma proposta focada e bem definida. Assim, Plurale nasceu revista em papel e também portal com atualização diária. Estes últimos anos de trajetória, de milhares de entrevistas, artigos, notícias e muitos diálogos nos mostraram que a direção era esta sim. Plurale em site completa o espaço aberto pela edição impressa, com os temas mais relevantes do período de cada dois meses. As redes sociais também têm sido importantes plataformas para alargar a vitrine de Plurale. Temos recebido mensagens e comentários de incentivo de leitores dos mais diferentes rincões deste Brasil continental. Não só das capitais, claro, mas também do interior de Rondônia, Acre, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, só para citar algumas das mensagens mais recentes. A nova seção em inglês no portal também tem conquistado visitantes no exterior. Obrigado! Agradecemos a confiança e a fidelidade.
9> Rio +20 deverá ter o foco em economia verde inclusiva Embaixador Luiz Alberto Figueiredo
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que será realizada no Brasil em junho, não terá o caráter legislativo da ECO-92, cujo legado transformou para sempre a perspectiva mundial sobre o tema do meio ambiente. No entanto, a RIO+20 poderá alcançar um impacto planetário de magnitude semelhante ao da ECO-92, contanto que consiga superar o desafio de integrar de forma equânime os três pilares do desenvolvimento sustentável: as dimensões ambiental, econômica e social. A defesa dessa integração é o cerne da posição brasileira na conferência, de acordo com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores (MRE), que participou no dia 6 de março do BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science & policy for a greener economy in the context of RIO+20. Machado é o secretário-executivo para a comissão brasileira da RIO+20. Planejado para que a comunidade científica possa discutir os temas da RIO+20, o evento foi realizado conjuntamente pelo Programa BIOTA-FAPESP, pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). “A RIO+20 é uma conferência sobre desenvolvimento sustentável e não apenas um debate sobre meio ambiente. A intenção da presidência da conferência é que as dimensões ambiental, social e econômica tenham o mesmo peso no debate. O governo brasileiro, por sua vez, entende que, se os desafios do século 21 não forem vistos de maneira integrada, jamais conseguiremos atingir níveis de sustentabilidade”, disse Machado.
Saúde na Rio +20 Por Marina Lemle, da Agência Fiocruz de Notícias
A saúde já tem espaço garantido tanto na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) quanto na Cúpula dos Povos, que ocorrerão de 20 a 22 de junho, respectivamente na Barra da Tijuca e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O tema está na pauta dos eventos graças às articulações internacionais conduzidas pelo Escritório Fiocruz na Rio+20 - uma cooperação entre o Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) e a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), apoiada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas/OMS), pelo Instituto Sul-Americano de
Governo em Saúde (Isags) e pelo Ministério da Saúde. O Escritório Fiocruz na Rio+20 foi criado para dar apoio às atividades da Fiocruz na Conferência e na Cúpula dos Povos e para elaborar documentos que expressem o posicionamento da Fundação. Um documento, em fase de elaboração, será disponibilizado para consulta pública em março e lançado em maio, durante um grande seminário preparatório para a Rio+20. O documento contou com contribuições de pesquisadores e de representantes de movimentos sociais de todo o Brasil, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) e do Ministério da Saúde, que participaram de um debate sobre saúde, ambiente e sustentabilidade promovido pelo Escritório no Fórum Social Temático, em Porto Alegre, em janeiro.
Museu do Meio Ambiente será reaberto para a Rio+20 Alana Gandra, Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Com apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 5,1 milhões, o Museu do Meio Ambiente será reaberto ao público, em junho deste ano, para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio+20). Oriundos do Fundo Cultural do BNDES, os recursos serão aplicados na instalação da infraestrutura para os programas educativo, museográfico e de divulgação científica do museu, que fica no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Esses programas funcionarão no primeiro pavimento, em uma área de 400 metros quadrados. No segundo piso, serão apresentadas exposições temporárias. A coordenadora do museu, Lídia Vales, da Associação de Amigos do Jardim Botânico, destaca que no programa educativo, por exemplo, estão sendo desenvolvidos jogos gigantes para crianças, com conteúdos ambientais. Na divulgação científica, o software (programa de computador) Fórum de Debate permitirá ao público discutir temas relacionados ao meio ambiente.
Foto: Divulgação
Entrevista
Giles Gibbons CEO GOOD BUSINESS
Por Maria Cristina Vaz de Carvalho Especial para Plurale em revista, Do Rio de Janeiro (RJ)
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iles Gibbons percorre a passos largos as ladeiras que separam os ambientes do hotel em que se hospeda, em Santa Teresa. O bairro, numa colina em pleno centro do Rio de Janeiro, é preservado e vive longe do barulho e da agitação. Foi ali que Gibbons desembarcou, vindo de Londres para, no intervalo entre os muitos compromissos, apreciar do alto a vista da cidade. Ele fundou e dirige a Good Business, empresa de consultoria e pesquisa sobre responsabilidade corporativa. E trabalha no aperfeiçoamento do papel que os líderes empresariais desempenham na sociedade, como agentes de mudança na maneira de pensar o mundo atual. Veio ao Brasil para conferir as tão faladas oportunidades que nosso país tem a oferecer.
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Good Business (www.goodbusiness.co.uk), empresa de consultoria e pesquisa sobre responsabilidade corporativa, foi fundada por Giles Gibbons em 1997. Ele acredita no aperfeiçoamento do papel que os líderes empresariais desempenham na sociedade, como agentes de mudança na maneira de pensar o mundo atual. Com sede em Londres e atuação principalmente na Europa e Estados Unidos, seu portfólio de clientes conta com nomes sonoros como L’Oreal, McDonald’s, Coca-Cola, Microsoft, Morgan Stanley, Fiat, Barclays Bank. No Brasil, prestou serviços para a auditoria KPMG. Esse cidadão britânico, hoje com 42 anos e pai de três filhos, começou sua vida profissional fazendo campanhas de marketing na agência de publicidade Saatchi & Saatchi. Permaneceu no grupo até 1997, quando fundou a própria empresa, em sociedade com Steve Hilton. Publicou o primeiro livro “Good Business – Your World Needs You” (Seu mundo precisa de você), em parceria com seu sócio. É também autor de “The Social Values of Brands” (O valor social das marcas), que teve um capítulo republicado pela revista The Economist em edição especial sobre branding. Escreve uma coluna mensal para o jornal britânico Times sobre negócios e tendências do consumidor em questões sociais e ambientais. Faz aconselhamento para diversas instituições assistenciais e é diretor da We Are What We Do (www.wearewhatwedo.com, Somos O Que Fazemos). A entidade se destina a estimular o trabalho voluntário de pequeno alcance, seja entre funcionários de uma empresa ou moradores de um bairro. Se todas estas ações forem somadas, ao redor do mundo, acabam por atingir milhões de pessoas.
“Acredito que as mudanças ocorrem quando cada setor dá um passo adiante, cada um no seu tempo, individualmente. E vejo a empresa privada mais à frente, neste momento, do que a área pública” E Gibbons não para. Mais recentemente, fundou The Sustainable Restaurants Association (www.thesra. org, Associação dos Restaurantes Sustentáveis), que reúne representantes do setor da gastronomia comprometidos com o aperfeiçoamento das boas práticas e vem conquistando cada vez mais adeptos no Reino Unido. Não por acaso, a mãe de Gibbons é dona de um restaurante e o hobby dele é a culinária. Quem vê sua figura esguia pode se perguntar como não ganha peso com esta diversão, mas entra aí o segundo hobby, a corrida, para compensar. Unindo o útil ao agradável, um dos compromissos de Gibbons foi reunir-se, em São Paulo, com um dono de restaurante que conhece a SRA e pretende montar aqui uma ramificação brasileira. Ele visitou o Brasil em janeiro deste ano e conversou com Plurale em revista, expondo algumas de suas ideias. Plurale em revista – É a primeira vez que vem ao Brasil? O que o trouxe até aqui? Giles Gibbons – É sim, e estou animado. Vim porque temos diversos clientes globais, e eles estão cada vez mais interessados no Brasil como um país que desponta no cenário mundial, com muito crescimento e oportunidades. Plurale – Sua empresa tem clientes no Brasil? O senhor pre-
tende estabelecer aqui uma base da sua empresa Good Business? Gibbons – Pode ser. A dúvida, para nós, é se existe a necessidade de estar no país, ou se podemos oferecer nossos serviços a partir de qualquer ponto do mundo. Trabalhamos assim para CocaCola, Microsoft, McDonald’s inúmeros clientes que têm ramificação no Brasil. Fizemos um trabalho aqui para KPMG. No exterior, visamos a América Latina como parte das companhias, mas ainda não há um trabalho específico neste país. O foco do nosso negócio é ver a coisa do ponto de vista das empresas. Se as ajudarmos a serem bem sucedidas, estarão, provavelmente, mais dispostas a praticar as ações sustentáveis que recomendarmos. Plurale – Do seu trabalho a partir de Londres, poderia citar algum caso em particular, que pudesse ser aplicado aqui? Gibbons – É claro. Acreditamos que Good Business é diferente das outras empresas de sustentabilidade, ou consultoria. Pois muitas delas começam com a sustentabilidade como sendo a razão primordial de sua existência. Good Business trilha o caminho inverso: auxiliamos as empresas a serem bem sucedidas, e nos valemos da sustentabilidade para que tenham mais sucesso. O foco do nosso negócio – pois acreditamos nisso sinceramente – é ver a coisa do ponto de vista das empresas. Se as ajudarmos a serem bem sucedidas, estarão, provavelmente, mais dispostas a praticar as ações sustentáveis que recomendarmos. Não achamos que estariam dispostas a mudar seu comportamento porque o governo determinou, ou porque as ONGs se manifestaram. Existe certa pressão externa às instituições, e que nelas repercute. Porém, é possível encontrar um meio de as companhias verem os benefícios decorrentes de serem mais sustentáveis, à medida que se abrem novos mercados, justificam-se melhores preços, vão ao encontro de novos públicos-alvo, geram ideias de marketing. Desta forma, as empresas estão mais inclinadas a mudar para a sustentabilidade, e a manter este posicionamento por mais tempo. Trabalhamos com isso há 15 anos e, em algum momento, entendemos ser esta a melhor abordagem.
Plurale – Seus programas, portanto, se estendem a todas as áreas? Gibbons – Sustentabilidade, para nós, não se trata apenas de bens materiais, de produtos, mas do social assim como do meio ambiente. É a totalidade do impacto, não financeiro, sobre a instituição. Neste sentido, quando captamos uma empresa global, conduzimos uma pesquisa que visa o aspecto social, em comparação com os aspectos ambientais, em cada setor de atuação da empresa. É um princípio simplista mas, de certa forma, muito importante. Acreditamos que, se a empresa puder influenciar, para a mudança, as pessoas por quem querem ser vistas, elas estarão mais propensas a apoiar e comprar seus produtos, e trazer sucesso para o negócio. Por exemplo, se tomarmos um banco, há pouco o que fazer em termos de meio ambiente. Porque, na mente dos consumidores, é difícil relacionar um banco com o meio ambiente. Mas eles conseguem ver que o banco é capaz de ajudar pessoas carentes a terem uma vida melhor. Veem quando existe um programa de microcrédito para ajudar mulheres de uma comunidade a levarem adiante seu próprio negócio. Assim, se a atuação de sustentabilidade se concentrar no meio ambiente, as pessoas não vão entender. Mas se virem a mudança da empresa no fato de ajudar as pessoas com o dinheiro, é possível compreender que se trata de um bom banco. Se tivermos uma empresa de telefonia móvel, mesmo que a atuação seja intangível, é enorme seu dispêndio de energia. No entanto, na opinião das pessoas, a telefonia conecta as pessoas, promove uma interação humana. E, portanto, é mais fácil compreender a sustentabilidade entre pessoas, apoiando talvez idosos solitários que morem sozinhos, ou ligando pessoas a uma rede – isso todos entendem. Mas não interessa às empresas. De certo modo, apesar de os consumidores não serem perfeitos, o que vemos nas companhias é que, na maioria das vezes, não são exatamente corretas. Trata-se de levar em consideração a quantidade de energia necessária para o sistema funcionar e o impacto que isto causa. O que parece não preocupá-los, e sim a maneira como a energia é usada: é preciso manter a torneira aberta para se
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Entrevista acelerar o resultado. E assim, sem pretendermos ser governo nem ONG, interessados num único aspecto, tentamos abrir todas as portas. Pois sabemos que, onde houver a possibilidade de mudança, as pessoas vão acompanhar. Senão, as companhias telefônicas continuarão apenas a dizer que gostariam de ser assim, que estão procurando caminhos para serem mais positivas. Acredito que as mudanças ocorrem quando cada setor dá um passo adiante, cada um no seu tempo, individualmente. E vejo a empresa privada mais à frente, neste momento, do que a área pública. Plurale – Gostaríamos de falar sobre a Cop-17, em Durban. Porque vamos receber a Rio+20 no ano que vem. E vimos que lá as negociações não foram, em geral, bem sucedidas. Qual sua expectativa desse encontro, a Rio+20, do ponto de vista das negociações multilaterais? É possível se obter algum resultado, uma vez que, em Durban, foram escassos? Gibbons – Acredito que as mudanças ocorrem quando cada setor dá um passo adiante, cada um no seu tempo, individualmente. No momento, provavelmente devido à preocupação mundial com a estabilidade econômica, creio que o foco das decisões dos governos se desviou do gerenciamento ambiental. Vejo a empresa privada mais à frente, neste momento, do que a área pública. Os líderes empresariais tomaram a frente da exigência de acordos globais. Enquanto que, do mesmo lado, estão as ONGs, que querem esse acordo para as mudanças que consideram necessárias. Mas creio que existe a ameaça de não vermos os governos do mundo terem altas estratégias nos próximos anos. Talvez nos surpreendamos, se isto acontecer, mas acho improvável. Espero ver setores da indústria com movimentos globais em determinadas direções. Talvez por ocasião da Rio+20, talvez no encontro seguinte, os governos os alcancem. O que eu quero dizer é que, no momento, a empresa desempenha um papel mais proativo, mais positivo, no desejo de mudança do que o governo. Plurale – O senhor disse que empresas e ONGs estão lado a lado atualmente. Mas quando o movimen-
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to começou, estavam em lados opostos. Como chegamos a este ponto? Gibbons – Sim, às vezes. Quando as ONGs – e as tomemos como se fossem uma coisa só – tornaram-se poderosas, corriam os anos 1980 e 90. Os Greenpeaces do mundo tinham a sensação de que o setor privado ignorava por completo o impacto ambiental de sua ação, tinham informações claras sobre o que se fazia de errado. O discurso, na época, era da caça às baleias, derramamento de óleo, envenenamento, poluição. Para as ONGs, não era difícil ver que se tratava
Não creio que “sustentabilidade
deva ser apenas de longo prazo. Podem-se fazer mudanças de curto prazo, desde que mostrem em que direção se caminha
”
de má administração. As empresas ficaram constrangidas e foram desafiadas pelas ONGs a fazer alguma coisa. Os governos tomaram conhecimento disto, não sem alguma pressão. À medida que as multinacionais se tornaram empresas cada vez mais globais, os povos passaram a conhecê-las cada vez mais, e souberam dessas coisas. Assim, tiveram que mudar, talvez não por escolha própria, mas para terem uma resposta à opinião pública. Ao mesmo tempo, as ONGs tomaram consciência de que não poderiam resolver os problemas sem as empresas. Portanto, a única forma para um Greenpeace de fato conseguir realizar mudanças foi trabalhar juntamente com as empresas, e não contra elas. As empresas concluíram que realmente precisavam fazer alguma coisa, e as ONGs viram não saber como fazê-lo
PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2012
– não tinham recursos para investir, não conheciam a tecnologia – ao passo que as empresas tinham a solução. Quando passaram a trabalhar em conjunto tomaram consciência de que não estavam em campos opostos, como talvez pensassem. Depois de trabalhar para o setor privado por 20 anos, quando vou a uma companhia e vejo executivos que precisam lidar com um desastre ambiental, entendo que eles não são pessoas más – o que não quer dizer que as empresas, como um todo, não tenham feito coisas ruins – mas creio que parte do problema foi a fraqueza para lidar com as consequências inesperadas. Sua prioridade era o trabalho a ser feito, o que incluía fazer alguma coisa para não continuar daquele jeito. Um exemplo foi Philip Knight, executivo da Nike. No final dos anos 1980, um jornalista lhe perguntou se sabia que crianças de 5 anos trabalhavam em sua fábrica na China. Ele respondeu que não tinha fábricas na China. Se perguntassem hoje a mesma coisa, não seria o caso de pensar na propriedade da fábrica, mas, por produzirem tênis Nike, entenderia que é, sim, responsabilidade dele ter ou não crianças na fábrica. Ele não era má pessoa, apenas terceirizava a produção dentro das especificações, a bom preço, com garantia do fornecimento de um bom produto. Hoje em dia, ele responderia que compreende todo o ciclo de vida daquele produto, tanto o que se faz dentro da empresa como o que é feito fora dela. O material, o transporte, a embalagem, até o descarte do produto usado, tudo está sob minha responsabilidade. Pois se alguém sair à rua e ver aqueles calçados jogados de qualquer maneira, isso vai prejudicar a imagem da empresa. Se fizermos um projeto sustentável, equilibramos o aumento dos custos em áreas como materiais com a redução em outras, como o gasto com energia. Simples assim. Plurale – Londres sedia este ano os Jogos Olímpicos. O senhor vem de Londres e provavelmente acompanha o esforço feito para ter tudo pronto a tempo. O Parque Olímpico ficou conhecido como um dos mais cuidadosos que já foram construídos no mundo, em termos
de sustentabilidade. O Rio receberá os Jogos Olímpicos em 2016. Na sua opinião, o que poderíamos aproveitar dessa experiência de Londres? Gibbons – Foi um excelente projeto de gestão que, me parece, mostra o caminho que o Comitê Organizador local percorreu para desenvolver e entregar toda a infraestrutura de forma sustentável. Afinal, como se sabe, sustentabilidade deve ser pensada desde o início, e creio que um dos fundamentos é planejar uma solução sustentável completa. Muitas vezes, as pessoas reclamam do alto custo para as providência da sustentabilidade. Isto não é verdade. Se fizermos um projeto sustentável, equilibramos o aumento dos custos em áreas como materiais com a redução em outras, como o gasto com energia. Simples assim. Acredito realmente que, quando se começa com a intenção de criar uma solução o mais sustentável possível, não há razão para se gastar mais do que em qualquer outro projeto. Vejo a experiência de Londres em não encarar a sustentabilidade como um componente do que fazem, mas como uma solução total para se ter os Jogos Olímpicos numa cidade. Não conheço bem os Jogos do Rio, mas tenho a impressão de que sustentabilidade fez parte da lista de requisitos, e provavelmente não é um guarda-chuva sob o qual se abrigue tudo o mais. Penso que outro desafio que o Rio vai enfrentar é substituir o modo de pensar como fazer os Jogos de maneira sustentável. Ao contrário de um enfeite dispendioso, é um conjunto de valores, e só assim se pode pensar o todo. O planejamento é muito importante, mas acho que isto vem do ser humano, dos dirigentes e das pessoas que têm controle sobre o destino das companhias. Viver a sustentabilidade como um valor é uma ideia que está crescendo e criando raízes. Plurale – As empresas se compõem de pessoas. O senhor acredita que devemos pensar a sustentabilidade apenas em relação aos indivíduos ou, em relação aos homens de negócios como um grupo? Gibbons – A definição de sustentabilidade que mais me agrade é podermos trabalhar tanto com a empresa como um todo, quanto com as pessoas que estão
Londres, Olimpíadas de 2012 ali. É a única maneira de permear todo o projeto, e sempre pensamos de forma integrada. Eles começam a pensar de forma diferente para enfrentar os desafios e, a partir de certo momento, a mim parecem ser outras pessoas. Creio que sustentabilidade deveria fazer parte de qualquer MBA, ou curso de administração. Para as pessoas pensarem a sustentabilidade como um pacote de benefícios, como um valor positivo para o negócio. Faço palestras em muitas universidades, e os alunos são apaixonados por suas crenças e ideologia, enquanto estão ali. Quando saem, vestem um terno e gravata, e acham que devem se comportar de determinada maneira, fingir ser outra coisa, para conseguir um emprego, por acharem ser isto o que os outros esperam deles. Do nosso ponto de vista, não queremos que as pessoas abandonem seus valores. Um executivo quer tomar a decisão correta, tanto do ponto de vista ético quanto financeiro. Então, creio que se trata menos de dar treinamento para as pessoas sobre sustentabilidade, e sim de habituá-las a discutir o negócio, manter um amplo debate sobre seu papel nas empresas. Eles passaram todo o tempo da universidade perguntando o por quê das coisas e, quando entram nas empresas, param de perguntar. Para mim, isto é mais importante do que definir o que é ou não é sustentabilidade, tem a ver com estar aberto às questões éticas e morais. Não creio que sustentabilidade deva ser apenas de longo prazo. Podem-se fazer mudanças de curto pra-
zo, desde que mostrem em que direção se caminha. Plurale – E qual o tempo necessário para realizar esta mudança de enfoque? Num país em nosso estágio de desenvolvimento, não me parece que o longo prazo tenha muito apelo, pois o curto prazo é que significa ação. Gibbons – Vamos tomar como exemplo a hotelaria. Leva cinco anos para se construir um hotel, mesmo com muito dinheiro. Qualquer ramo de negócio pode contornar essa questão. Não acredito no curto prazo; deve haver, pelo menos, instruções para que tudo funcione em prazo mais longo. Mas também, não creio que sustentabilidade deva ser apenas de longo prazo. Podem-se fazer mudanças de curto prazo, desde que elas mostrem em que direção se caminha. Do ponto de vista da comunicação, você pode contar logo às pessoas o que pretende fazer. Há três momentos no tempo: o compromisso, a execução e os resultados. Há uma mensagem mercadológica em primeiramente contar, depois fazer, e então dizer o que ocorre depois. Podemos usar a comunicação para estender e resgatar compromissos, que representam mudanças numa empresa. Portanto, se sustentabilidade for, de fato, um movimento de avanço envolvendo toda a organização, é porque a sociedade está em constante mudança, assim como as expectativas da sociedade. Desta forma, o que tentamos fazer é auxiliar as companhias a se moverem um pouco mais rapidamente do que a sociedade, superar as expectativas.
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CONEXÕES
PLURALE
Sua Excelência o umbigo, o inimigo público da cidadania
S
NÉLSON TUCCI
obre o umbigo, diz o dicionário: Anat. Cicatriz arredondada, deprimida ou saliente, formada no meio da barriga pelo corte do cordão umbilical: “...os pés batiam no chão, os umbigos batiam nos umbigos (...) estavam todos embriagados, uns de cachaça, outros de música.” (Jorge Amado, Jubiabá) Você já reparou no extraordinário senso de solidariedade que tem o brasileiro? Apenas para ficarmos com o registro mais recente da história, ainda vagando por nossa memória, vamos recordar da tragédia da região serrana do Rio. Há um ano, mais ou menos, assistíamos pela TV e víamos registros diários em sites, blogs, redes sociais, jornais e revistas centenas de casas destruídas, ruas e estradas intransitáveis, bairros submersos, com saldo final de mais de 500 mortes e aproximadamente 5.000 desabrigados. Comoção nacional. Corta a cena. Pouco antes disso – há uns três anos -- tivemos o caos instalado em cidades de Santa Catarina, mais especificamente no Vale do Itajaí e cercanias. Outra comoção nacional. Corta a cena. Noutras partes do mundo também se encontra esse tal espírito de solidariedade. Diante das megatragédias países, comunidades inteiras e pessoas individualmente
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se mobilizam para prestar auxílio ao seu irmão da espécie, ignorando território, cor da pele, credo religioso, idade, paixão clubística ou qualquer outro viés de rotulação. A grande questão é: por que, então, nos comportamos como seres supremos na tragédia e no dia a dia temos modos e impulsos irracionais? Que bicho é esse tal de ser humano? Senão vejamos: se você pega um trem de metrô com alguma frequência, ou ônibus, ou trem de subúrbio, ou táxi em dia de chuva, vai ter oportunidade de perceber, se é que ainda não o fez, distúrbios comportamentais. Não é preciso um cenário sofisticado para se apreciar alguns exemplos de mesquinhez da raça. Uma escada rolante já é suficiente. Na chamada baldeação – ô palavra horrorosa ! – de um trem para
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o outro (seja de metrô ou não), ou em uma conexão entre trem e metrô, por exemplo, pessoas lançadas à plataforma preferem, em sua maioria, as escadas rolantes rumo ao outro transporte ou até mesmo em busca da saída. Escadas rolantes são sempre muito finas e elegantes, comportando um determinado número de pessoas – independentemente se a turba está indo pro trabalho ou voltando pra casa; se é dia de jogo do Corinthians ou do Juventus, do Olaria ou do Flamengo. Ao contrário dos automóveis e de algumas modernas pessoas, as escadas não são flex. Conservadoras, porém delgadas, as escadas rolantes mantêm o alinhamento, tamanho e personalidade do século passado. Logo, pinta gargalo nesses momentos de aglomeração humana. Se
você estiver em meio à massa humana tente sair rapidamente de lado e apenas observar. A turba ignara faz igual aos bois quando vêem a porteira aberta: abaixam a cabeça e vão com tudo pra cima de quem ou do quê se lhes estiver à frente. É o homem mal educado, que “se acha no direito” de passar na frente de todos porque tem trabalho a resolver, é a mulher mal educada, que empurra e ainda faz cara feia, porque “se acha no direito” de passar (pela sua condição de mulher e, portanto, os demais que sejam cavalheiros, talvez ?) é o idoso que “se acha no direito” de passar primeiro porque todos são obrigados a respeitar a cronologia do seu nascimento, é o adolescente que não acha nada mas raramente pede licença aos outros mortais e por aí vai. Tem-se a sensação de que existe um código perverso estabelecendo a moral do ´quem pode
Pequenos gestos de caridade para com o próximo nos torna mais dignos e merecedores de viver em harmonia, aproveitando o que há de melhor no planeta
mais chora menos´. Criaturas ficam ensandecidas por acreditar, várias delas, que “têm o direito” de passar à frente dos demais. E essa loucura repete-se no dia a dia da nossa gente. É na fila do banco, na vaga de estacionamento ou simplesmente no trânsito. Quantas vezes você já não ouviu a seguinte frase: “Dá vontade de matar esse (a) motorista, que entra na ´minha pista´ de qualquer jeito”. Ou ainda, “essa vaga é ´minha´, porque a vi primeiro”. E por aí vai. As pessoas se apossam de coisas, lugares (os públicos, inclusive) e códigos. A mesquinhez e a incompreensão nos torna tão amargos e pequenos, no dia a dia, que fica difícil acreditar na pureza do sentimento de solidariedade em tempos de tragédia. É cada um (a) olhando o tempo todo para o seu umbigo, para “os seus direitos, a sua hipotética preferência”, esquecendo que solidariedade e cidadania devam ser exercícios permanentes. Pequenos gestos de caridade para com o próximo nos torna mais dignos e merecedores de viver em harmonia, aproveitando o que há de melhor no planeta. Como dizem os espíritas, “fora da caridade não há salvação”.
Fotos da Agência Brasil
(*) Nélson Tucci é jornalista, sócio da Virtual Comunicação. Colunista de Plurale, colabora com artigos sobre sustentabilidade. (nelson.tucci@uol.com.br)
Consequências das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro em 2011
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Artigo
Capital Social
M
uito se tem falado em Capital Social, em Terceiro Setor, em Voluntariado, em Responsabilidade Social, em Marketing Social e várias outras expressões. O que essas expressões têm em comum e por quê estão despertando tanto interesse ? Desde as últimas três décadas que as fundações, universidades, consultorias têm se empenhado em pesquisá-las e estudá-las com mais profundidade. E por quê ? Porque realmente a humanidade está vivenciando uma nova realidade. É a realidade de que, mais as pessoas que as instituições, necessitam encontrar novos caminhos para a solução de velhos problemas. As soluções antigas já não servem. Não serão, apenas, máquinas e tecnologias que solucionarão necessidades humanas. Serão, sim, os Valores Humanos que somarão para a solução dos problemas humanos. Estamos, por conseguinte, falando em Capital Social. O que é Capital Social? Robert D. Putmam nos diz que, por analogia e usando noções de capital material e humano (recursos e treinamento que aumentam a produtividade individual) o “capital social” refere-se aos aspectos da organização social, tais como redes de comunicações, regras e confiança, que facilitam a coordenação e cooperação para a obtenção de benefício mútuo. Está falando na confiabilidade, na forma com que as pessoas cooperativamente se comportam evitando lesar umas às outras. O capital social aumenta os benefícios do investimento em capital material e humano. Estes valores do Capital Social, são inerentes ao SER HUMANO. Somente quando nos distanciamos deles, quando passamos a ver parte, o micro, e não o todo, o macro é que, como resultado, acontece um grande isolamento, já não existindo mais colaboração. Stephen R. Covey diz que nós como seres humanos, temos quatro necessidades: viver, amar, aprender e deixar um legado. Como legado ele, certamente, não se refere a uma herança material. Deixar um legado está intimamente ligado à uma missão, a parte espiritual que todos nós temos e devemos cultivar, incluindo as empresas. As pessoas precisam sentir que fazem diferença, desenvolvendo trabalho voluntário, servindo aos outros, contribuindo, aprendendo, compartilhando novas ideias e instruindo indivíduos.
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Maria Elena Pereira Johannpeter
Terceiro Setor
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Realmente a humanidade está vivenciando uma nova realidade. É a realidade de que, mais as pessoas que as instituições, necessitam encontrar novos caminhos para a solução de velhos problemas. As soluções antigas já não servem. Não serão, apenas, máquinas e tecnologias que solucionarão necessidades humanas. Serão, sim, os Valores Humanos que somarão para a solução dos problemas humanos. Estamos, por conseguinte, falando em Capital Social
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É do Prof. Lester Salamon, um ambicioso projeto realizado pelo Centro de Estudos da Sociedade Civil, da Universidade Johns Hopkins (USA) orientado a melhorar o conhecimento básico sobre as dimensões do Terceiro Setor e ressaltar sua importância no contexto econômico. O Projeto busca responder as seguintes perguntas a respeito do Terceiro Setor: (1) Qual são seus alcances, estrutura e fonte de ingressos, e como varia de país para país?; (2) Quais são os fatores que determinam as diferenças presentes em tamanho, estrutura, e ingressos entre suas instituições em diversos países?, Quais fatores parecem promover ou retardar seu desenvolvimento?; (3) Que impacto tem estas entidades?, Quais são suas contribuições especiais?. Além das informações recebidas deste estudo, verifica-se que em todos os segmentos, desde o social, passando pelo econômicofinanceiro, humano, pelo ensino, todos estão pesquisando com muita profundidade o que é este novo agente, este novo ator que está se apresentando muito forte, que se chama Terceiro Setor e que é, com muita certeza, um parceiro tanto do primeiro setor (governo) quanto do segundo setor (empresas-mercado). O Terceiro Setor, que é a sociedade civil organizada, mostra o grau de Capital Social que um país possui e o quanto os valores e princípios norteadores de uma comunidade conduzem a resultados de qualidade de vida para todos. As comunidades não se tornaram cívicas
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O Capital Social incorporado em normas e redes de engajamento cívico parece ser um pré-requisito para o desenvolvimento econômico e também para um governo eficaz
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por serem ricas. A história mostra o oposto: enriqueceram por serem cívicas. O Capital Social é um recurso cujo estoque quanto mais usado mais aumenta. Portanto, a abordagem do capital social pode nos ajudar a formulas novas de estratégias de desenvolvimento. O Capital Social incorporado em normas e redes de engajamento cívico parece ser um pré-requisito para o desenvolvimento econômico e também para um governo eficaz. (*) Maria Elena Pereira Johannpeter é Presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários/RS (Site: www.parceirosvoluntarios.org.br)
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Artigo
Valdir Cimino
Voluntariado
uma cultura em transformação
N
a antiga Índia, o imperador budista Asoka (aproximadamente 274 - 232 a.C.) proporcionou instalações médicas, mandou que fossem cavados poços e, já preocupado com o meio ambiente numa época remota, plantou árvores para o deleite do povo. Na antiga sociedade grega, viajantes recebiam tanto comida como abrigo nas casas dos ricos, ou então partilhavam a hospitalidade de camponeses. Os profetas judeus foram os pioneiros das modernas organizações promotoras de campanhas. Trabalhavam incansavelmente pela justiça social, política e econômica e pressionaram seus governos a modificar as práticas políticas e administrativas. Na época romana, o direito a milho grátis ou barato dependia da cidadania e era hereditária, passando de pai para filho (1), a sociedade era formada de três classes: os aristocratas, os cavaleiros e os plebeus. Os cidadãos notáveis, os bem nascidos, também devem alimentar sua cidade. Esperase deles que gastem largas somas para manter o sentimento de contínua alegria e prestígio dos cidadãos. O fato de aliviar alguma aflição dos cidadãos pobres, era visto como acidental, pois o importante consistia em, de alguma forma, beneficiar o corpo cívico no conjunto (2). O forte apelo da ideologia cristã de caridade nasce quando a igreja católica se firma como instituição, dando origem à doação como forma de penitência pelos pecados reforçando, no imaginário popular, o direito à purificação e salvação eterna. Os ensinamentos judeus promoviam a ideia de que os pobres tinham direitos e que os ricos tinham deveres. As primeiras igrejas cristãs criaram fundos para apoio às viúvas, órfãos, enfermos, pobres, deficientes e prisioneiros. Esperava-se que os fiéis levassem donativos, voluntariamente, que eram colocados na mesa do Senhor, para que os necessitados pudessem recebê-los das mãos de Deus. Os primeiros legados foram autorizados pelo imperador Constantino I, no ano 231 d. C., possibilitando a doação de recursos para caridade. No mundo islâmico, a filantropia foi usada para montar grandes hospitais. Exemplos remotos de fundos de miséria também partiram do islamismo, quando pacientes indigentes recebiam cinco peças de ouro assim que recebessem alta (1).
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2001 foi instituído pela ONU como o Ano Internacional do Voluntariado. Um marco para o Brasil na conscientização do tema e de ações promovido pelos próprios cidadãos, mídia e empresas. Na época o Ibope Inteligência aplicou pesquisa onde a participação do voluntário através da religião era de 44%, dez anos depois a mesma pesquisa adaptada para a modernidade, confirma que as instituições religiosas cresceram com destaque significativo, passou para 49% da população (3). As transformações geradas pelo ato voluntário na sociedade moderna vêm contribuindo para uma quebra de paradigma entre o assistencialismo e profissionalismo, se por um lado temos o ato que é realizado por amor, compaixão e respeito ao próximo, logo são valores humanos impossíveis de tangibilizar; no outro lado da moeda temos o conceito de sustentabilidade que demonstra a necessidade de desenvolver indicadores que construam a eficácia deste trabalho não remunerado, e é ai que entra o profissionalismo na solução de causas sociais em parceria com o Estado, incapaz de resolvê-las sozinho e organizações privadas, que para a existência da marca, produtos e serviço oferecidos, obrigatoriamente terá que desenvolver a fidelização entre os diversos públicos que participam do lucro, incluindo aí o social. Na visão do filosofo Max Weber , a sociedade capitalista nos oferece duas faces da alienação: o proletário aliena-se porque nesse ato produtivo que é o trabalho, ele é escravo do desejo de lucro que constitui a obsessão do capitalista (este reduz o operário a uma condição animalesca); o capitalista também está alienado (separado da sua humanidade): obcecado pelo desejo de lucro, de acumulação de riqueza, torna-se escravo desse desejo, não é um homem entre os homens, mas o lobo insaciável que devora e consome a vida dos outros (4). O Estado e a organizações privadas vêm demandando atenção à expansão de organizações sociais, que treinam e capacitam constantemente seus voluntários, na busca por soluções dos problemas sociais gerados pelo capitalismo.
Esse fato é responsável por uma transformação cultural na forma de atuar das organizações sem fins lucrativos, exigindo-se delas que passem a agir de acordo com a lógica de mercado, demonstrando o uso do dinheiro público em resultados efetivos. O primeiro relatório sobre o Estado do Voluntariado no Mundo (SWVR - State of the World’s Volunteerism Report) ressalta a necessidade de compreender o perfil e papel do voluntário e incorporá-lo nas ações para o desenvolvimento humano. É universal e abrangente em termos numéricos, mas as ideias equivocadas e a falta de metodologias padronizadas de avaliação, são um obstáculo para sua abrangência e alcance. As potencialidades, reais dimensões de impacto e os valores reais do voluntariado precisam ser reconhecidos como um elemento essencial para o progresso das comunidades e nações (5). Três grandes tendências estão mudando a face do voluntariado no início da globalização e da era digital: a migração e as viagens estão transformando o modo como as pessoas se voluntariam; o setor privado está cada vez mais envolvido no voluntariado e, as tecnologias da informação e comunicação estão fornecendo novos meios de participação voluntária. A pesquisa do Ibope Inteligencia mostra que os voluntários são conectados. Do total, 87% dos voluntários têm celular, 64% têm computador, 62% usam a internet e 53% as redes sociais. O voluntariado fornece uma direção importante para a saída da pobreza ao construir capital social, humano, natural, físico, financeiro e político. As ações voluntárias são formas fundamentais de superar a exclusão social, visto que essas ações podem aumentar o sentimento de valor próprio, bem como ajudar no desenvolvimento de vocações e outras habilidades. Os governos podem fazer melhor uso do voluntariado como uma ferramenta complementar para políticas sociais. O Perfil do voluntariado brasileiro mostra que, 53% são mulheres e 47% homens, com uma média de idade de 39 anos. Dividem-se entre casados (47%) e solteiros (42%). Em relação à classe social, a maioria deles é da classe C (43%), seguida pela classe A (40%) e pelas classes DE (17%). Segundo a pesquisa, a frequência do serviço voluntário é exercido, em média, há 5 anos. Os mais jovens, de 16 a 29 anos, exercem o voluntariado há menos tempo, 3,2 anos, e os de 30 a 49 anos há mais tempo, 5,4 anos. Dos voluntários que atualmente exercem alguma atividade, 54% fazem com uma frequência definida e 46% fazem sem uma frequência definida. Em média, os voluntários dedicam 4,6 horas ao serviço voluntário. O Bureau of Statistics of Australia (Departamento de Estatísticas da Austrália) concluiu que, em 2007, 5,2 milhões de pessoas foram voluntarias durante um total de 713 milhões de horas de trabalho, o equivalente a 14,6 bilhões de dólares australianos de trabalho remunerado. Pesquisa baseada no trabalho doméstico conduzida pelo Bangladesh Bureau of Statistics (Departamento de Estatistica de Bangladesh) revelou que um total de 16,6 milhões de pessoas com mais de 15 anos se voluntariaram em 2010. A pesquisa estimou que a contribuição do voluntariado para a economia de Bangladesh foi de aproximadamente US$ 1,66 bilhão em 2010. As conclusões também demonstraram que o valor econômico
do voluntariado no período 2009-2010 foi equivalente a 1,7% do PIB. A Gallup World Poll (GWP) concluiu que 16% dos adultos em todo o mundo foram voluntários de organizações. O Comparative Nonprofit Sector Project da Universidade Johns Hopkins (CNP, na sigla em ingles) estima que, entre 1995 e 2000, o numero total de voluntarios que contribuíram por meio de organizações voluntárias em 36 países representaria o 9º país mais populoso do mundo. O CNP calculou que a contribuição econômica dos voluntários em 36 países foi de US$ 400 bilhoes por ano. Isso representou, em média, 1,1% do PIB nesses paises. Nos países em desenvolvimento, o trabalho voluntário representou 0,7% do PIB. Nos desenvolvidos, o trabalho dos voluntários representou 2,7% do PIB. O voluntariado é uma importante expressão de Responsabilidade Social Coorporativa com mais de 90% de empresas listadas na Fortune 500, com voluntários ocupando postos de emprego formal e programas de doações. No Brasil, os anos 90 foram decisivos no processo de consolidação das ações voluntárias, representando também um grande avanço para as organizações do Terceiro Setor. No início dessa década vivenciamos a confluência de vários processos: a abertura da economia, privatização das empresas estatais, crise política e econômica, fortalecimento da sociedade civil, acompanhados de mudanças no mercado de trabalho, redução na capacidade de atuação do Estado e crescente envolvimento das empresas privadas em ações sociais. A promoção do bem estar dos cidadãos e sua sociedade só se farão a partir da promoção de valores essenciais para uma vida mais justa e inclusiva para todos. Referências (1) HUDSON, Mike. Administrando Organizações do Terceiro Setor. São Paulo. Makron Books,1999. (2) VEYNE, Paulo (organizador). Do Império Romano ao ano mil – História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 (3) Pesquisa “Projeto Voluntariado Brasil - Ibope Inteligência 2011” fonte: http://www.slideshare.net/RedeBrasilVoluntario/voluntariado-no-brasil-ibope (4) MAX,Weber (1818-1883). Filósofo alemão de origem judia defendia que a filosofia devia transformar o mundo e não simplesmente tentar compreendê-lo. http://filosofia.platanoeditora.pt/Site%20Inicial/Marx.html (5) SWVR - State of the World’s Volunteerism Report http:// www.onu.org.br/pnud-e-vnu-lancam-relatorio-estado-dovoluntariado-no-mundo/ (6) PELIANO, Ana Maria T. Medeiros (coord.). Bondade ou interesse? Como e por que as empresas atuam na área social. Brasília: IPEA, 2001. Valdir Cimino (Valdir.cimino@vivaedeixeviver.org.br) é Presidente da Viva e Deixe Viver, Consultor – Comunicação Sustentável, e Educador na FACOM/FAAP. É Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. www.valdrcimino.com.br
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Voluntariado
uma gestão voluntária de sucesso
Por Maura Peres, Especial para Plurale em revista Do Rio - Fotos Divulgação
Q
uando nos referimos ao voluntário contemporâneo conseguimos perceber diferentes níveis de comprometimento. A gestão de organizações sociais e a implementação de ações permanentes implicam em uma maior responsabilidade e dedicação e, portanto, requerem um perfil muito específico, o
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chamado “voluntário profissional”. O terceiro setor hoje não é apenas formado por voluntários amadores bem-intencionados. Membros não remunerados, com dedicação exclusiva, tem a importante missão de difundir ideais através de ações concretas. O voluntariado pode ser muito mais do que uma atividade esporádica. Aquela imagem de mulheres em um chá da tarde para angariar fundos ou das senhoras ociosas que vão fazer caridade para se distrair, já é passado. Hoje responsabilidade social tomou uma
Joana Seidner e Regina Muller: voluntárias no comando da ONG
dimensão muito maior e requer voluntários que estejam dispostos a colocar suas habilidades, tempo e talento à disposição de organizações não governamentais. O Instituto Refazer é a prova de que é possível um projeto ser administrado por voluntários de forma eficiente, desde que alguns ingredientes não faltem. Entre eles, a paixão pela causa, a vontade de aprender e a consciência da importância de estar cercado por bons profissionais em áreas estratégicas. Fundado em 1995, o Refazer é uma instituição da sociedade civil que presta assistência a pacientes do Instituto Fernandes Figueira-FIOCRUZ-RJ, referência no tratamento materno-infantil. Idealizado por um grupo de 14 mulheres, ele sempre foi gerido por voluntários. Recentemente assumiram o posto de presidente e vice-presidente do Instituto as voluntárias Regina Muller e a Joana Seidner, respectivamente. Com muita dedicação, essas engajadas “voluntárias profissionais” já conseguiram zerar a fila de espera de famílias atendidas no Instituto Fernandes Figueira. Até o fim do mandato o desafio é aumentar significativamente o número de famílias atendidas e adquirir um novo depósito para o projeto. Para as diretoras, os profissionais especializados são peças estratégicas da organização. Para suprir essa necessidade, o Instituto Refazer constituiu um conselho consultivo formado por especialistas de diversas áreas, que regularmente se reúne para aconselhar a organização. Além do conselho, o Instituto recebe o suporte de uma assessoria jurídica e uma profissional
de marketing, que trabalham de forma ativa, trazendo grandes contribuições para o projeto. “Algumas coisas têm que ser profissionalizadas para a estrutura dar certo. Precisamos de um olhar de fora, de pessoas que orientem, que nos alertem e ensinem. Ainda sim, os voluntários são o coração da nossa organização, cada um traz a sua bagagem profissional e pessoal em busca do bem comum”, afirma a atual presidente Regina Muller. VOLUNTÁRIOS EM SINERGIA COM UM IDEAL A missão do Refazer é evitar a reinternação e/ou agravamento das doenças das crianças e adolescente através da melhoria da qualidade de vida de suas famílias, dando acesso à saúde, higiene, educação básica, geração de renda, habitação, cultura e lazer. Foi esse o ideal que despertou a paixão da professora de história Regina Muller. Depois de 34 anos dedicados à área de saúde e educação, Regina se tornou uma voluntária assim que se aposentou. “Buscava uma instituição que dignificasse as pessoas, que não fosse algo assistencialista ou paternalista. No Refazer a vitória é quando as famílias saem do projeto, o melhor momento é a despedida. Quando elas chegam ao projeto é o retrato do fracasso do Estado, não há o que comemorar”, conclui. O Instituto é mantido por contribuintes, em sua maioria pessoas físicas, que colaboram de diferentes formas, doações em dinheiro, alimentos, programas e eventos.
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Algumas coisas têm que ser profissionalizadas para a estrutura dar certo. Precisamos de um olhar de fora, de pessoas que orientem, que nos alertem e ensinem. Ainda sim, os voluntários são o coração da nossa organização, cada um traz a sua bagagem profissional e pessoal em busca do bem comum
”
por Regina Muller.
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Voluntariado
Hoje 88 pessoas fazem parte desta equipe, entre funcionários e voluntários. Cerca de mil crianças já foram beneficiadas pelo Instituto Refazer e atualmente 100 são atendidas. Aqueles que querem fazer boas ações por um sentimento de culpa por ter mais oportunidades do que a maioria dos brasileiros, ou quem tem pena dos menos favorecidos devem repensar seus conceitos. “Para os voluntários essa balança entre dar e receber fica sempre equilibrada e é isso que gera a sensação de dever cumprido”, afirma Regina. “Aqui não se faz a caridade, se faz responsabilidade social. Nós temos um comprometimento com a sociedade e melhorando a vida alheia estaremos contribuindo para melhorar também a nossa vida”, explica a atual presidente que começou o Instituto Refazer ajudando no atendimento às famílias acolhidas, trabalho que considera a essência do projeto. Em pouco tempo se tornou voluntária coordenadora de atendimento e em seguida voluntaria presidente. A MISSÃO DE DESPERTAR TALENTOS Depois de morar 27 anos no Texas, trabalhando como tradutora médica em um hospital de referência no tratamento de câncer nos EUA, Joana Seidner voltou ao Brasil em 2009. Ela
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chegou ao Rio de Janeiro aposentada e perdida, em busca de uma ocupação que preenchesse a alma e não só o tempo. Joana procurava um espaço que merecesse a dedicação dela e que houvesse pessoas que compartilhassem de um mesmo ideal de vida, que não dessem esmola, mas fizessem a diferença. Assim que chegou ao Refazer sentiu a necessidade de acolher os voluntários de uma forma diferente. Na busca em extrair o que cada um tem de melhor para oferecer e procurando ajudar na satisfação pessoal dos colaboradores, Joana também descobriu nela mesma um talento adormecido, o dom da comunicação. “É preciso ter um olhar atento para os voluntários em busca de habilidades complementares e um cuidado muito especial para rechaçar qualquer tipo de vaidade individual ou ego em prol do bem coletivo”, afirma a Voluntária Vicepresidente do Instituto Refazer. Para Joana é preponderante que as instituições saibam não só captar voluntários, mas recebê-los com carinho e atenção, identificando as qualidades e talentos de cada um. “É preciso avaliar a importância e necessidade do trabalho que será realizado por cada colaborador. Essa tomada de decisão e a identificação de perfis devem ser feitas junto com os voluntários. Voluntário feliz é aquele que trabalha com prazer e entende que seu trabalho contribui diretamente para o todo”, conclui.
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“
É preciso ter um olhar atento para os voluntários em busca de habilidades complementares e um cuidado muito especial para rechaçar qualquer tipo de vaidade individual ou ego em prol do bem coletivo”
”
por Joana Seidner .
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P e lo B rasi l Foto: Divulgação
Jornalista André Trigueiro é homenageado no Colóquio Brasileiro das Cidades Sustentáveis Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista, do Rio No dia do aniversário do Rio de Janeiro, 1º de março, o calor e o sol escaldantes marcavam presença, lembrando que esta é, ou tem tudo para ser, uma Cidade Maravilhosa. Um encontro reuniu especialistas no tema Cidades Sustentáveis. No auditório histórico da sede da Academia Brasileira de Filosofia (ABF) cerca de 300 pessoas se apertavam para acompanhar os palestrantes do Colóquio Brasileiro das Cidades Sustentáveis. Filho de professores de Filofofia, o jornalista André Trigueiro não poderia receber homenagem mais cheia de significados. Seu pai, Dumerval Trigueiro, falecido, era membro da ABF. Foi da Academia que o jornalista – editor do Cidades e Soluções, do Canal Globonews e comentarista da Rádio CBN – recebeu o título de “Acadêmico Honoris Causa” Em palestra, Trigueiro alertou para a urgência de criar condições para que as cidades sejam realmente mais sustentáveis. O jornalista lembrou que “só nos comerciais os automóveis conseguem correr nas grandes cidades”, referindo-se aos engarrafamentos e ainda advertiu para o drama da desnutrição infantil por falta de água tratada e saneamento básico. Ele destacou ainda a necessidade de um consumo consciente e o importante papel da escola. “ Cada um de nós em seu microcosmos tem como mudar. O consumismo desenfreado está falido”. Carta compromisso - No evento também foi lançada carta-compromisso de sustentabilidade urbana,
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programa que integra o Movimento Cidades Sustentáveis, representado ali pelo movimento Nossa São Paulo. O dirigente do Nossa São Paulo, Oded Grajew, abriu o Colóquio defendendo a relevância desta iniciativa. “É um compromisso dos candidatos com as cidades sustentáveis”, explicou. O programa é um audacioso projeto, encampado por mais de 60 das maiores instituições e empresas do país, com uma ideia simples: de apoiar nas próximas eleições os candidatos que assinarem a “Carta Compromisso com a Plataforma Cidades Sustentáveis”. Vários pré-candidatos a prefeito por diferentes partidos e regiões do país marcaram presença, assinando a carta-compromisso de sustentabilidade urbana. Os deputados Otávio Leite e Aspásia Camargo, candidatos pelo Rio de Janeiro, assinaram o documento. De acordo com Mauricio Broinizi, secretário executivo da Rede Social Brasileira por Cidades
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Justas, Democráticas e Sustentáveis, cento e trinta pré-candidatos de todo Brasil, dois partidos - PT e PPS -, três diretórios estaduais e 32 diretórios municipais já assinaram o documento. A carta-compromisso propõe quatro itens básicos que incluem o diagnóstico da situação atual das cidades, a divulgação e atualização dos dados, a confecção de um relatório de prestações de contas e um balanço do plano de metas em andamento a ser apresentado em audiência pública até cinco meses antes do final do mandato. O Colóquio Brasileiro das Cidades Sustentáveis foi organizado em parceria com a Comissão de MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados e a Academia Brasileira de Filosofia e contou com a presença de seus respectivos presidentes, o deputado gaúcho Giovani Cherini e Prof. João Ricardo Moderno.
Paulo Adário, ativista do Greenpeace ganha prêmio Herói da Floresta das Nações Unidas Do Greenpeace BR De Nova York Ele chegou à Amazônia no início dos anos 1990 fazendo muito barulho: com outros ativistas, invadiu madeireiras para protestar contra a devastação florestal produzida pelo setor. Foi só o começo. Hoje, depois de muitas investigações e ações contra os culpados por crimes ambientais na região – que renderam a ele algumas ameaças de morte, mas contribuíram para derrubar os índices de devastação da floresta – o trabalho de Paulo Adário está recebendo um justo reconhecimento internacional. Diretor do Greenpeace no Brasil, ele acaba de ser escolhido pela ONU “Herói da Floresta” na América Latina e Caribe. A honra chega para Adário justamente no ano em que o Greenpeace comemora 20 anos de atuação no país. Adário esteve desde o começo nesta empreitada. Em
ONU nomeia o brasileiro Bráulio Dias para dirigir Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica Da UNIC Rio
1996 ele foi para a Amazônia, onde três anos mais tarde teve papel fundamental na criação da Campanha Amazônia, hoje uma das mais importantes do Greenpeace em todo o mundo. A lista original de indicados tinha 90 pessoas de 41 países espalhados pelas Américas, Africa, Europa e Ásia. Em comum, todos têm uma vida de dedicação à proteção das florestas que ainda restam no planeta. A ONU apontou cinco “heróis”, um de cada continente. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu no dia 9 de fevereiro, na sede da ONU em Nova York. Ela encerra o “Ano Internacional das Florestas”, declarado pela organização, em 2011. “Encaro o prêmio como uma valorização do trabalho que eu, meus compa-
nheiros do Greenpeace e nossos aliados fazemos em defesa da Amazônia e outras florestas ao redor do mundo. Mas o título de ‘herói’ é um tanto quanto embaraçoso. Na Amazônia, tem muito mais gente que merece ser chamada de herói do que eu”, disse Adário. “O prêmio mostra que a ONU está alerta para o imenso risco que correm as florestas e que a sua conservação é vital para a manutenção do ciclo da vida e mitigar os riscos de mudanças climáticas que ameaçam o nosso futuro,” afirmou Paulo Adário.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou , em janeiro, a nomeação do brasileiro Bráulio Ferreira de Souza Dias (foto) como Secretário Executivo do Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), no nível de Secretário-Geral Adjunto. Dias sucederá Ahmed Djoghlaf, a quem o Secretário-Geral é grato pelo seu empenho continuado e contribuição para a Convenção sobre Diversidade Biológica, na qualidade de Secretário Executivo. Dias – atual Secretário Nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) - traz a esta posição vasta experiência na elaboração de políticas e na coordenação da execução das políticas de biodiversidade, programas e projetos em nível nacional e internacional.
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Isabel Capaverde, de Plurale em revista
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APA MARINHA DE ILHA GRANDE DEVE SER CRIADA ATÉ A PRIMEIRA QUINZENA DE ABRIL Vitor Abdala Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro – A Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha de Ilha Grande, que incluirá a parte marítima da costa dos municípios do sul fluminense, deverá ser criada até a primeira quinzena de abril deste ano. A informação é do secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc. Segundo ele, o texto final do projeto de criação da APA deverá ser redigido no dia 29 de março. Depois disso, o governador do Rio, Sérgio Cabral, terá dez dias para publicar o decreto de criação. A APA deverá regular as atividades marítimas nos municípios de Mangaratiba, Paraty e Angra dos Reis, o que inclui Ilha Grande. Segundo Minc, a parte terrestre dos municípios já engloba grandes parques naturais (como Bocaina e Cunhambebe) e a parte terrestre das ilhas da Baía de Ilha Grande já integram a APA Tamoios. Por isso, só faltava uma APA para a parte marinha. Uma das preocupações para os próximos anos é o possível aumento das atividades petrolíferas na região, por causa das grandes reservas de petróleo da camada pré-sal, existentes na Bacia de Santos. “A ideia é impedir que o petróleo sem controle ou a atividade naval sem controle destruam o turismo e a pesca. Tem que haver um ordenamento das atividades. Pode haver atividade naval? Claro. Não pode é botar os navios em espera em cima de uma reserva de tartarugas. Pode ter o terminal da Baía de Ilha Grande, da Petrobras? Pode. Eles pediram para dobrar o terminal, mas nós negamos essa autorização, porque está a 2,2 mil metros de Ilha Grande. Pode ter petróleo lá? Pode. Não pode é ter uma plataforma pingando óleo a 200 metros da Lagoa Azul, onde tem um turista mergulhando”, exemplificou Minc. | Janeiro2010 PLURALE EM REVISTA / Fevereiro 2012 EM REVISTA | Julho/Agosto 26 PLURALE
Rights and Resources 2011–2012
TURNING POINT What future for forest peoples and resources in the emerging world order?
CORRIDA POR TERRAS PROVOCA INSTABILIDADE E CONFLITOS Fabiano Ávila - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/RRI
Dos 203 milhões de hectares negociados em todo o mundo entre 2000 e 2010, dois terços estavam na África e provocaram a expulsão de comunidades inteiras de suas terras para dar lugar a atividades de mineração, plantações e até mesmo para projetos de preservação com o objetivo de lucrar com a venda de créditos de carbono ou com programas internacionais de conservação. É o que alerta o relatório “Turning Point –What future for forest peoples and resources in the emerging world order?”, publicado no último dia 3 pela Iniciativa de Direitos e Recursos (Rights and Resources Initiative – RRI). “A aquisição de terras foi um dos fatores chave para o início de guerras civis no Sudão, Libéria e Serra Leoa, e estamos preocupados que o mesmo problema 1
vai se repetir em outros países”, afirmou Jeffrey Hatcher, diretor global de programas da RRI. Fundada em 2005 por instituições como o CIFOR e o IUCN, a RRI afirma que os interesses internacionais querem garantir a propriedade de recursos naturais e por isso estão se aproveitando da desorganização dos países mais pobres para adquirir imensas quantidades de terras. A África é um alvo vulnerável para os investidores porque cerca de 98% de suas florestas estão sob domínio estatal, o que torna mais provável casos de corrupção e suborno. “O nosso relatório global mostra esse problema em uma escala jamais vista: três quartos da população africana e dois terços das terras do continente estão em risco”, afirma Andy White, coordenador do RRI.
GOVERNO VAI LEVAR PROJETO PASSAPORTE VERDE A OUTROS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Alana Gandra Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro - O projeto global Passaporte Verde, coordenado no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente, prepara-se para lançar, em junho, uma campanha nacional, abrangendo outros municípios além de Paraty, localizado na Costa Verde do estado do Rio de Janeiro. A cidade fluminense foi escolhida em 2009 como destino piloto da campanha mundial, pela riqueza do seu patrimônio histórico, natural e cultural.
A informação foi dada à Agência Brasil pelo gerente de Projetos do ministério e coordenador da campanha Passaporte Verde no país, Allan Milhomens. A campanha internacional visa a estimular o turista a ser mais responsável e consumir de forma consciente, procurando reduzir os impactos negativos do seu comportamento sobre o meio ambiente nos destinos que visita.
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Ecoturismo
MUITO ALÉM DAS PRAIAS
Cidade, no litoral norte de São Paulo, tem uma infinidade de opções para turistas que gostam de apreciar a natureza sempre preservando
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o litoral norte de São Paulo, entre a Serra do Mar e o Oceano Atlântico, Ubatuba tem mais de 70 praias distribuídas em 100 km de costa divinamente recortada. A região abarca praias unidaselvagens, cachoeiras, reservas indígenas, com 85% tem e uais estad ues parq des quilombolas, dois um o nand orcio prop a, ervad de Mata Atlântica pres varas Capi ais. anim de enas habitat seguro para cent ação, ou tatus não são fáceis de avistar, em compens sorte a algum com e lado todo pássaros desfilam por s. água as do essan você vê golfinhos atrav leApesar de turística, há trilhas desertas que o, ovad Corc do o o com ais, vam a mirantes sensacion cami etos discr ou mar por as praias acessíveis apen ra. caiça vila de sfera atmo osa nhos a pé, e uma gost porte Quase todo mundo usa a bicicleta por trans
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Texto e Fotos: Raquel Ribeiro De Ubatuba (SP) Especial para Plurale em revista
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Ecoturismo
e, no centro urbano de Ubatuba, as ciclovias incentivam esse hábito ecologicamente corre to. A região ainda é produtora de pupunha, da uma alternativa econômica aos que viviam extração ilegal da juçara. Hoje, em vez de derrubar essa palmeira senativa, colhe-se o fruto, que rende polpa melhante ao açaí – uma iniciativa do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica, rque incentiva o manejo sustentável dos recu é sos naturais e pode ser visitado. Também do aberto ao publico o Centro de Visitantes projeto TAMAR, com seus aquários, tanques ree terrários para tartarugas resgatadas de de des de pesca. Tanto ali, quanto no Aquário
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Ubatuba, você aprende sobre os animais, vê o efeito nefasto do lixo na vida marinha e sente enorme vontade de ajudar a cuidar desse tesouro que nos resta de mata, mangue e mar. Parte desse tesouro, aliás, está na Ilha Anchieta, parque que conserva, numa natureza intacta, as ruínas do antigo presídio de segurança máxima. Ao pisar nessas areias e descansar os olhos nos azuis e verdes das paisagens, você viaja na história e pode sentir a emoção dos desbravadores que atravessaram o oceano em nome da coroa e da igreja. Nem todos os brasileiros, porem, já descobriram essas terras, cantadas em versos e prosa pelo jesuíta José de Anchieta...
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Ecoturismo
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BAS por NÍCIA RI Picchu (Peru) Foto Machu
Caminhar pelas ruas desta cidade peruana, entre as mulheres em seus trajes típicos com filhos nas costas e, muitas vezes, puxando suas lhamas, é surpreendente e emocionante
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Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em Revista De Cusco e Machu Pichu (Peru)
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uem viaja para conhecer Machu Picchu, vai primeiro a Cusco, pensando que a cidade é apenas um trampolim para as famosas ruínas incas. No entanto, o “umbigo do mundo”, significado de Cusco em quechua, o idioma inca, surpreende seus visitantes. No Vale de Huatanay ou Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes, cerca de 400.000 cusquenhos têm motivos de sobra para se orgulhar da sua cidade. A 3400 metros de altitude, Cusco é o mais importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, ou Império Inca. Dizem que seu fundador foi o inca Manco Capac no século XI ou XII. As paredes de granito do palácio inca ainda estão lá, bem como monumentos como o Qorikancha, ou Templo do Sol. Caminhar pelas ruas de Cusco, entre as mulheres em seus trajes típicos com filhos nas costas e, muitas vezes, puxando suas lhamas, é surpreendente e emocionante. No mundo globalizado, em que países como o Brasil valorizam mais as culturas de seus ídolos estrangeiros do que sua própria história, dá um aperto no peito conhecer um povo que cultua e ama sua origem. Todos os domingos, a Municipalidad (como eles chamam a Prefeitura), organiza um desfile na Plaza das Armas, com a participação de grupos de cidadãos das redondezas, que se apresentam em trajes multicoloridos, muitos exibindo as cores da bandeira de Cusco (igual à bandeira arco-
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Ecoturismo
íris do movimento gay), dançando ao som de sua própria música e trazendo seus produtos, como milho, batata, cerveja,etc.. Diante da catedral é armado um palanque para as autoridades e ali cada grupo capricha nas evoluções. Colegiais e militares, em uniformes impecáveis, também desfilam com suas bandas de música. Quase um carnaval semanal. Muito alegre e extrovertido, o peruano reconhece de longe o brasileiro. Meninas nos seus vestidos e chapéus coloridos vendem souvenirs e pedem propinas aos turistas. ESPÍRITO INCA SOBREVIVE Com a invasão liderada pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro, em 1532, a maioria dos edifícios incas foi posta abaixo pelos clérigos católicos, que arrasaram a civilização existente, erguendo igrejas cristãs e outros edifícios. Por isso, vê-se muitas construções espanholas erguidas sobre as pesadas paredes de pedra dos incas. A civilização Inca foi o resultado de uma sucessão de culturas andinas pré-colombianas e um estado-nação, o Império Inca que existiu na América do Sul de cerca de 1200 até a invasão dos conquistadores espanhóis e a execução do imperador Atahualpa, em 1533. Sem terem conhecido a escrita, os incas construíram um império que incluía regiões desde o Equador e o sul da Colômbia, todo o Peru e a Bolívia, até o noroeste da Argentina e o norte do Chile, tendo como capital o lugar
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onde hoje é Cusco. O império Inca, que abrangia diversas nações e mais de 700 idiomas diferentes, deixou marcas profundas nos povos descendentes, apesar da devastação espanhola, e é até hoje admirado pela humanidade. Bons exemplos da arquitetura Inca são Machu Picchu (Velha Montanha, em quechua), no final da Estrada Inca; a fortaleza Ollantaytambo; e a fortaleza de Sacsayhuaman que fica a dois quilômetros de Cusco. Neste ano do centenário de descobrimento de Machu Picchu, a administração do Parque revelou à Plurale que recebe a cada dia entre 1900 a 2000 visitantes. Aos domingos, abre as portas gratuitamente para a população cusquenha. Brasileiros chegam principalmente em janeiro; chilenos vão em fevereiro; israelenses, em março; norte-americanos preferem junho e julho. De lambuja, conhecem Cusco e a ferrovia que corre junto ao rio de pedras brancas, único acesso à monumental cidade Inca.
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Renata Mello
Região de belezas naturais e berço de artistas cheios de prosa e de poesia, Visconde de Mauá (RJ) homenageia a onipresente Pedra Selada e os 110 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) com belíssima exposição de fotografias.
Visconde de Mauá Uma pedra no
meio
E n s a i o
Darshana Bühler
do caminho de
No meio do caminho tinha uma pedra No meio do caminho meio do caminho tinha uma pedra no tinha uma pedra tinha uma pedra. no meio do caminho sse acontecimento de ei er ec qu es e m Nunca tinas t達o fatigadas. na vida de minhas ro inho que no meio do cam ei er ec qu es e m ca Nun tinha uma pedra meio do caminho tinha uma pedra no tinha uma pedra. no meio do caminho
Lino Matheus
Raquel Ribeiro
rade - 1902/1987)
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Por Juliana Mello, Especial para a Plurale em revista, de Visconde de Mauá (RJ)
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auá, como é conhecida por quem já visitou essa encantadora região na Serra da Mantiqueira, bem abrigada entre São Paulo e o Rio de Janeiro, atrai visitantes não só pela natureza privilegiada que exibe, como por ser um refúgio de artistas talentosos. Entre eles, um punhado de amantes da fotografia. Com a certeira dobradinha natureza e arte, dezenove fotógrafos, profissionais e amadores, todos moradores ou habitués de Visconde de Mauá, uniram fotografia e literatura numa singela homenagem à Pedra Selada - que com respeitáveis 1.755 metros de altitude é o marco geológico do lugar -, e, de tabela, aos 110 anos de nascimento do poeta e escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade (Coincidentemente o escritor tambem será o homenageado da FLIP/2012 - Festival Internacional de Literatura de Paraty). A inspiração veio do poema “No meio do caminho” (1924-25), de Drummond, que causou enorme polêmica na década de 30 e tornou-se uma espécie de símbolo da literatura moderna, por seus versos simples e repetitivos, que ao longo das décadas passaram a habitar a memória de tantos brasileiros: “No meio do caminho tinha uma pedra...”. Quem não se lembra? A exposição reúne cerca de trinta imagens que ficarão expostas de nove de março a trinta de abril, no Centro Cultural Visconde de Mauá - Ponto de Cultura e Leitura*. No vernissage, que acontece dia oito de março, às sete e meia da noite, serão exibidos vídeos do Instituto
Daniel Campadello
Ligia Skowronski
39> Moreira Salles e da comunicadora audiovisual Helena Lavigne. Além da apresentação do violonista – e fotógrafo - Marcelo Hilgenberg. Dezenove fotógrafos, profissionais e amadores, todos com ligação afetiva e visual com a região em geral – e com a Pedra Selada em particular –, foram convidados para clicar o tema: Beatrij’ F’ Kindt, Carlos Guerrero, Cecile Moy, Daniel Campadello, Daniela Ferro, Darshana Bühler, Fabio Genovesi, Gabrielle Six, Gilberto Lopes, Jean Pierre Verdaguer, Juliana Mello, Ligia Skowronski, Lino Matheus, Marcelo Vieira, Marcelo Hilgenberg, Raquel Ribeiro, Renata Mello, Rui Takeguma e Vivian Cury. O Centro Cultural estará aberto aos sábados, domingos e feriados, mas, podem ser agendadas visitas guiadas durante a semana. Programa imperdível para quem vai curtir uns dias na montanha!
Juliana Mello
Mais informações: • Márcia Patrocínio – coordenadora do CCVM, Tel.:(24) 3387 2137- mauá.centrocultural@gmail.com • Juliana Mello – produção – Tel.: (24) 9946 0882 e-mail: jumaua@yahoo.com.br *O Centro Cultural Visconde de Mauá (CCVM) fica no centrinho da Vila de Mauá, sala 01 do Shopping Aldeia dos Imigrantes.
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Superação
l o b e t u f m U o especial muit tina , ano passado a ro Texto: Janaína Salles esde novembro do 42 de e, on nz em Revista e Sa ral a Plu di áu Especial para da veterinária Cl s, do ba sá ) lo menos aos do Rio de Janeiro (RJ anos, mudou. Pe – 14 os lh fi ão us aç se ulg de Div : e Fotos quando se desped u tos – e dirige se ga ês tr e s ro or cach Tijuca, onde nde até a Barra da ra G po m Ca de r de futebol. carro s do time Novo Se no ei tr os m ce te uitos – uma acon provável para m im ce re pa e qu O com mais de 40 a jogar futebol ar eç m co r he mul áudia também, estranho para Cl é – e ad id de anos m a nova ativiacostumando co se tá es a nd ai que trofia Muscular sceu com Amio na a el e qu É . dade generativa que uma doença de , E) M (A al nh Espi motor. desenvolvimento u se eu et om pr deira motocom move em uma ca A carioca se loco e e confessa que to anos de idad oi os s e sd de a rizad te por causa da ou, principalmen in ag de im o se tip a m nc nu do algu es físicas, pratican severas limitaçõ iva. É um mundo at ct pe e esta ex tiv ca un “N e. rt espo Isto até conhecer explica Cláudia. ”, im m ra pa vo no Power Soccer, ira de rodas, ou de ca em l bo te o Fu . o mundialmente como é conhecid a quase simultâ rm fo rgiu de As . 70 de A modalidade su década e na França, na nea no Canadá tebol: são quatro fu do das com as ci re e pa o sã as gr re goleiro e cada tim ha, sendo um o lin é na e s rt re po do es ga jo rva. O menos um rese lo pe r de te s e re qu he ul m te ens, m ianças, por hom praticado por cr equipamentodas as idades. antes devem usar Todos os particip d – uma grade de como o footguar , ão eç ot pr de s to m para conduzir o utilizada també tic ás pl de ou o rr fe go acontece em de diâmetro. O jo cm s ,5 32 de , la bo a cadeiras de roda 20 minutos. Já as de s de po as m is te ua is ig do terias, vem ter duas ba a são elétricas, de km/h. Outra regr 10 r sa as m ultrap de po o um nã de e s o, re rr do ca joga que impede dois importante é a tempo com um o m es m a bola ao time disputarem racteriza falta. versário, o que ca atleta do time ad
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Para Cláudia as regras não assustam e sim a velocidade com que as coisas estão acontecendo. Ela explica que o power Soccer é uma terapia, uma forma de esquecer a rotina pesada. “Descarrego uma adrenalina desde o aquecimento. No treinamento e no coletivo eu estou totalmente ali”. Mas quando pensa na possibilidade de representar o Brasil como atleta ela reflete: “ainda não me imagino competindo. Será que eu consigo?”. Paraolimpíadas - Segundo Ricardo Gonzalez, presidente da Associação Brasileira de Futebol em Cadeira de Rodas esta realidade parece ser uma questão de tempo. Já reconhecido pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro e pelo Comitê Paralímpico Internacional, há grandes chances de o esporte entrar nas Paraolimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, como modalidade de exibição, tornando-se um esporte competitivo em 2020. Tetraplégico, vascaíno e amante de futebol, Ricardo conheceu o Power Soccer em 2010 e junto com amigos criou a ABFC, para fomentar o esporte no Brasil. A iniciativa do grupo fez com o que o país se tornasse o primeiro membro sulamericano da Fundação Internacional de Futebol em Cadeira de Rodas (Federation Internationale de Powerchair Football Association, FIPFA). “O objetivo é realizar campeonatos e incentivar a criação de clubes em todas as regiões”, explica. O dirigente destaca a importância da modalidade para a inclusão de pessoas com deficiência severa e de mobilidade reduzida. Ele afirma que se as competições fossem hoje, e a modalidade já estivesse inscrita, ele “estaria sentindo alegria e satisfação por ver os atletas que antes não tinham condições de praticar nenhum esporte de estarem participando de uma paraolimpíada – o auge da carreira de um atleta – representando o Brasil “e vestindo a amarelinha”, sorri. Sonho este compartilhado por Ramon Pereira de Freitas, de 20 anos. “Sempre quis trabalhar com algo que envolvesse o futebol, porque amo. E quando conheci o power soccer é como se Deus tivesse mandado de presente para mim. Pretendo ser jogador profissional. Hoje sou uma pessoa mais feliz, a minha saúde está melhor, a falta de ar que eu sentia diminuiu muito, sinto-me realizado”. Quando era criança, o flamenguista roxo jogava de futebol com os amigos, na escola. A partir dos oitos anos as dificuldades físicas decorrentes da distrofia muscular de Duchenne foram aparecendo, mas Ramon continuou participando como goleiro e depois como juiz. Ao terminar o ensino médio fez curso de treinador pela internet, “mas sem perspectivas de realmente colocar algo em prática”, lamenta Liliana Pereira de Freitas, mãe de Ramon, que acompanha o filho em todos os treinos. Hoje ela comemora por ele ter descoberto o futebol em cadeira de rodas. “Ele conta os dias para o treino semanal Eu e meu marido estamos sempre acompanhando, mas quando dá vem os irmãos e os amigos Para quem ainda da igreja também. O Ramon sempre foi um ótimo filho: estudioso, está em dúvida se vale a pena obediente, alegre, mas hoje ele é muito mais do que isso. O power ou não participar Liliana dá uma soccer devolveu a ele a esperança de trabalhar com futebol, que dica: “poder colocar em prática tudo o é o sonho dele desde criança. Aqui ele ganhou habilidade com que ele (Ramon) deseja, ver a realização a cadeira de rodas, ânimo, satisfação. Aqui ele vê pessoas que pessoal dele é fantástico. Às vezes por mais têm mais dificuldades que ele, acredito que isso dá a ele ânimo difíceis que as coisas pareçam ser, nada é de continuar, comemora Liliana. impossível para Deus. Nós mães vibramos Ramon também quer que outras pessoas conheçam e juntas pelos nossos filhos e pelos filhos pratiquem. Segundo Ricardo, a filiação é feita pela ABFC e dos outros. Para mim é a realização os interessados podem obter informações pelo no site da de um sonho”. associação www.abfc.org.br . Por enquanto há apenas o time Novo Ser, no Rio de Janeiro. Mas há interessados em São Paulo, Recife, Salvador, Curitiba e Brasília em montar novas equipes.
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Frases
Nesta edição, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, homenageamos todas através das frases de mulheres que tiveram papéis relevantes.
“Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira” CECÍLIA MEIRELES ‘’ A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado ‘’
RACHEL DE QUEIROZ
“Não se nasce mulher: torna-se” SIMONE DE BEAUVOIR
“Com o punho fechado não se pode trocar um aperto de mãos” INDIRA GANDHI
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“Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores”
“O desenvolvimento sustentável tem alto custo e vão beneficiar futuras gerações , que ainda não votam, nem pagam impostos.Daí vem a grande dificuldade em sensibilizar os governos para a questão”
CORA CORALINA
GRO BRUNDTLAND
“Até que tenhamos coragem de reconhecer crueldade pelo que ela é - seja a vítima um animal humano ou não humano - não podemos esperar que as coisas melhorem neste mundo...”
“O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”
RACHEL CARSO
MADRE TERESA DE CALCUTÁ
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Texto: SÔNIA ARARIPE
O charme criado pelas mãos de artesãs de comunidades do Rio
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s fotos dos produtos nesta página são uma boa amostra do trabalho de mulheres de Engenho da Rainha, do Complexo do Alemão e do Juramento, reunidas na ONG “As Charmosas”. Fundada por Eleandra Fidelis, o grupo reúne cerca de 30 artesãs criativas, que como bem indica o nome, produzem novidades sempre com muito charme. “As Charmosas” já participaram de algumas edições de feiras de modas no Rio e foram muito bem recebidas por quem acompanha as tendências do mundo fashion. Elas reaproveitam sobras e aparas e tecidos e outros materiais que são transformados – como podemos ver no Bazar Ético – em lindas peças. “Gostamos de criar, sempre mesclando moda e transformação”, conta Eleandra Fidelis. O objetivo, explica, é gerar empregos e desenvolver a economia local. A ONG também promove cursos na comunidade de confeção de roupas e acessórios, além de realizar também ações com crianças e jovens da região. Saiba mais sobre “As Charmosas”: Telefones (21) 3472-1565 / 77224673 Email: eleandraeventos@hotmail.com
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
foto: Christina Rufatto/ Divulgação
Bazar ético
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Gênero
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a ç r fo das
s e r e h l
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Texto: Lou Fernandes, Especial para Plurale em revista Do Rio de Janeiro Fotos: Rafael Fernandes Gatto
Fundo Social de Investimentos ELAS se destaca por ser o único exclusivamente voltado para o gênero. 2012 é o ano das mulheres. 44
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s homens que nos desculpem, mas 2012 será o ano das mulheres. Isto porque, de acordo com os cálculos feitos pela astrologia, ele será regido pela Lua que simboliza o lado maternal e o feminino na natureza. O Fundo Social de Investimento ELAS está totalmente sintonizado com a tendência: há 10 anos ele vem investindo nas mulheres por considerar que seja o caminho mais rápido para o desenvolvimento de um país. Atualmente é o único no Brasil voltado exclusivamente para o gênero. Para as idealizadoras do fundo, quando se investe na mulher, o grau de alcance é maior e acaba transformando a vida de seus filhos e das pessoas a sua volta. Segundo a Gerente
restaurante Saborearte. Outro empreendimento que recebeu de Comunio apoio do Fundo foi a fábrica de sabão Bolhas Coloridas, feito cação e Decom óleo reciclado, localizado comunidade Cidade de Deus em senvolvimento Jacarepaguá (RJ); tem ainda o Celebrando Festas, do Morro do Bodo Fundo, Verel na Tijuca (RJ) e o mais recente, inaugurado agora em março é o ronica Marques, Favela Point, no Morro da Providência na Central do Brasil (RJ). o feminino tem O Favela Point será um restaurante temático. Conforme explica uma forma especial Verônica, a meta é a de atender a comunidade e, posteriormente, aos de acolher a todos, turistas, sobretudo depois da construção do plano inclinado e por o que acaba gerando estar localizado na proximidade da Cidade do Samba. O nome Favela resultados positivos em foi escolhido por que era assim que o Morro da Providência ficou cocomunidades, cidades, nhecido no início do século passado. Conforme explica Jaise Feliz dos estados e, por fim, em Santos, 54 anos, no final do século XIX, chegaram várias etnias, raças e todo o Brasil. credos, vindos de outros estados do Brasil. Muitas delas foram expulsas Ao longo de uma década do centro da cidade pela reforma urbana de Pereira Passos. de atuação, o ELAS já apoiou Inicialmente o grupo era formado por 25 mulheres. Hoje ficaram cerca de 200 grupos em todas apenas sete, que estão entusiasmadas de serem donas de seu próprio as regiões brasileiras. Os núnegócio. Segundo o grupo, só ficou quem assumiu a responsabilidameros podem ser comprovade de abrir mão das diferenças e ter paciência com as etapas necessádos no site da entidade (www. rias em qualquer empreendimento. Elas contam que para isso tiveram fundosocialelas.org). Até agora, já foram doados em torno de R$ 1,5 milhão. Verônica conta que a organização atua oferecendo treinamentos, seminários de formação e monitorando várias atividades em todas as regiões do Brasil. Segundo explica, a escolha dos empreendimentos é feita através de concursos em cima de projetos e ideias que sejam voltadas para áreas como a de promoção e independência econômica, ampliação ao acesso à educação, defesa dos direitos humanos, preservação do meio ambiente e da biodiversidade, valorização da arte e da cultura e respeito à diversidade étnica, racial, sexual, geracional entre outras atividades. FAVELA POINT: ELAS EM MOVIMENTO Entre tantos projetos, um que vem mudando a vida das mulheres de baixa renda, e oriundas de comunidades pacificadas, é o Elas em Movimento. Trata-se de um programa de responsabilidade social do Fundo ELAS feito em parceria com a Chevron Brasil Lubrificantes, detentora da marca Texaco, que comercializa óleos lubrificantes e graxas. Para começarem seu negócio, as empreendedoras recebem como investimento, a quantia de 50 mil reais. As primeiras a serem beneficiadas residem no Jardim Batan, em Realengo (RJ); cujo projeto foi um
106 horas de capacitação, que incluiu temas como resoluções de conflitos, direitos humanos das mulheres, administração de finanças e empreendedorismo. Ana Carla Silva, a mais nova do grupo, com 20 anos, lembra que aprendeu coisas que nunca esperava saber. Como, por exemplo, ter paciência e tolerância com o outro, sobretudo com as sócias e, futuramente, os clientes. Rosineide da Silva Almeida, 38 anos, confessa que depois do treinamento aprendeu a ouvir melhor o que o outro tem a dizer. A empolgação atinge a todas, que não escondem a esperança que o negócio ofereça uma nova qualidade de vida para elas e para a comunidade. “Além de melhorar a renda da família, vai trazer dignidade e profissionalismo para nossa vida”, espera Ana Carla. Lidiane de Sena Mendes lembra que, no início, foi muito difícil à convivência
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P e las Em pr esas
Gênero
com o grupo. Todas falavam ao mesmo tempo. Ninguém se entendia. “Agora sabemos esperar a outra e, mais do que isso, respeitar a sua opinião”- confessa Carolina Pacheco 32 anos. Uma das mais animadas com o empreendimento é Jenice dos Santos, intitulada a “promoter” do restaurante, por estar acostumada a acompanhar turistas que visitam o Morro da Providência. Ela conta que já aprendeu muitas palavras em inglês e vai usá-las para atrair o público para o restaurante, cujo cardápio será de comida essencialmente brasileira. Elas aproveitam cada fala para expressar que a vida vai melhorar. Afinal, nem sempre foi assim. A maioria destas mulheres é oriunda do projeto “Mulheres da Paz”. Cuja atuação consistia em afastar os jovens do tráfico. Elas eram uma espécie de conselheiras de suas comunidades, selecionadas para atuar encaminhando os jovens para cursos de formação profissional e às atividades culturais e esportivas. Sonia Maria de Souza, 52 anos, nascida no Morro da Providência, sempre esteve engajada em atividades que melhorassem o bairro. Durante o tempo que fez parte do grupo Mulheres da Paz, perdia o sono várias vezes. Ela confessa que foi uma época muito difícil. . “Ver nossos jovens envolvidos com drogas era como não ver o futuro”, recorda. Hoje, o que estas mulheres querem é cuidar da comunidade de uma forma mais prazerosa: com muita comida e diversão.
ISABELLA ARARIPE
COMO SE CHEGA A CONCLUSÃO QUE 2012 É O ANO DA LUA?
A LUA E SUA INFLUENCIA NA VIDA DAS PESSOAS O cálculo do regente do ano é assim: Para a astrologia, assim como o Sol, a Lua é considerada basta dividir o ano, no caso 2012 por sete. um planeta, justamente por exercer influências na vida das O número que restar indica o planeta repessoas. Os dois recebem o maior número de interpretações gente deste período. Lembrando, que para dadas por várias civilizações, que além de cultuá-los, depoa astrologia, o Sol e a Lua são considerados sitam sobre eles inúmeros significados. Para os chineses, planetas. Portanto, ao se dividir 2012 por por exemplo, a Lua é o princípio feminino Yin e o Sol, o sete o resto será o número três represenrepresentante Yang, o masculino. Juntos eles formam o casal tado pela Lua, como se pode conferir na cósmico que inspira a civilização e o casamento. Nos mitos figura da estrela de sete pontas, onde o e lendas brasileiras, a Lua é o astro sagrado responsável pela Sol (0), Vênus (1), Mercúrio (2), Lua (3), fertilização das mulheres. Saturno(4), Júpiter (5) e Marte (6) . A terapeuta holística e astróloga, Laise Cristina Ramos A título de curiosidade, se você fizer o Faria, lembra que poucos se dão conta de como o ambiencálculo, já dá para saber que 2013 será regite de trabalho é profundamente afetado pela Lua e suas do pelo planeta de fases. “Muitos acham que apenas as marés recebem influnúmero 4, que reência do astro. Mas segundo estudos de comportamento, presenta Saturno, a Lua também interfere, e muito, no comportamento das regente do signo de pessoas que trabalham diretamente em contato com o Capricórnio, ligado público”, explica Laise. De acordo com a astróloga Márcia ao nosso senso de Mattos, que todos os anos publica uma agenda lunar, o responsabilidade e astro noturno representa o princípio feminino por exceprofissionalismo. lência. “A mulher/mãe na sua capacidade de fecundar, Por isso, vamos gestar, proteger e nutrir sua cria” resume Márcia. Como aproveitar o Ano dica, este ano precisamos ficar atentos às nossas emoda Lua, que repreções e ter uma atitude de cuidado conosco e com a senta a mãe e o natureza. “Visitar parentes distantes, cuidar da casa, colo, assim estaredos filhos, dos sonhos e olhar para os nossos medos mos mais seguros apenas como alertas e não como freios. Feito isso, e nutridos para o teremos boas chances de viver um ano da Lua bem ano que vem. positivo”, ensina Laise Cristina.
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P e lo Mundo Contradições na política ambientalista nos EUA Wilberto Lima Jr, Correspondente de Plurale nos EUA De Boston
Um assunto que já vem sendo discutido há algum tempo, acaba de ganhar novos contornos. Trata-se do lançamento de uma etapa do projetado e gigantesco oleoduto Keystone XL, da TransCanada Corp. Um gigante mesmo, pela sua extensão total de 1700 milhas (mais de 2700 quilômetros). No início do ano, de acordo com recente reportagem do prestigiado The Wall Street Journal, o Presidente Barack Obama rejeitou a proposta de construção do oleoduto inteiro, alegando a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o impacto ambiental na sua rota desde o Canadá, ao salientar que ele passa sobre um aquífero no estado de Nebraska. Esta semana, o Senado americano também vetou o Oleoduto. O projeto integral prevê iniciar em Hardisty, província de Alberta, no Canadá, passar por seis estados americanos até o Texas, nas cidades de Houston e Port Arthur, já no Golfo do Mexico. Ele vai aproveitar um segmento já existente de outro grande vindo da mesma origem. A decisão final foi adiada para 2013, depois das eleições. No ano passado o Congresso Estadual de Nebrasca, negou a aprovação da proposta de passagem do trecho no Estado. Agora, o fato ganhou proporções quando a TransCanada anunciou que vai construir um dos segmentos, o da Costa do Golfo, de Oklahoma até o Texas, numa extensão de 435 milhas ( ou 696 kms), com capacidade de transportar 700.000 barris de óleo por dia. O segmento custará cerca de 2,3 bilhões de dólares. O que cria complexidade no assunto (já complicado pela sua própria natureza) é o envolvimento da administração Barack Obama na decisão de endossar esse segmento do oleoduto, já que não é preciso aprovação da Casa Branca quando um projeto que cruze
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Keystone Oleoduto Expansão proposta para o oleoduto
fronteiras. O endosso causou um constrangimento com os ambientalistas. Obama ficou numa posição incômoda, entre o esforço de estimular a indústria, reduzir o custo do petróleo e gerar empregos ao mesmo tempo que tenta defender as posições ambientalistas propagadas em campanha. Os ambientalistas se preocupam com possíveis vazamentos de grandes proporções, além de saberem das intenções muito firmes da Trans Canada em conseguir a aprovação do projeto integral. É bom lembrar que o projeto ajudaria a reduzir o gargalo na Costa do Golfo causado pela
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limitada capacidade de oleodutos do Meio Oeste americano. Para eles, esta é apenas uma manobra protelatória. Lamentam esse endosso presidencial, como disse a organização Friends of Earth (Amigos da Terra) ao considerá-lo uma “alarmante e súbita mudança de posição”. Já não bastassem as dificuldades de Obama com a situação econômica, com a oposição republicana (aliás, favorável ao projeto integral) ele enfraquece sua situação com os ambientalistas que o apoiaram na eleição passada. A eleição presidencial já está batendo à porta.
Foto: Isabella Araripe
Portugal mais verde Por Isabella Araripe, de Lisboa
Um novo meio de transporte virou moda em Portugal. É o Segway: uma plataforma com duas rodas e um guia-
dor, sobre o qual o utilizador está na posição vertical que anda para frente e para trás à medida que inclinamos o corpo e vira para um lado e para o outro com um toque no guidão. Além disso, ele tem uma autonomia de até 38 km e uma velocidade máxima de 20 km/h. Em grandes shoppings no Brasil, o mesmo instrumento também tem sido utilizado só que com outro fim: para garantir melhor segurança. Inventado pelo norte-americano Dean Kamen em 2001 e a venda em Portugal desde 2005, o Segway é ecologicamente correto, não polui e movimenta-se a eletricidade. Usado principalmente por seguranças em centros comercias, policiais, para se deslocar de casa para o trabalho e para lazer, o Segway tem um preço elevado no mercado e por isso muitos o alugam. Em Cascais, por exemplo, o aluguel de 15 minutos custa 7 euros e o de 60 minutos 22 euros. Além disso, o uso de capacete é obrigatório.
Unicef: pelo menos 400 crianças foram mortas desde o início dos protestos na Síria Triste estatística. Pelo menos 400 crianças foram mortas na Síria desde o início da revolta contra o regime do presidente Bashar Al Assad em março de 2011, denunciou, em fevereiro, o Fundo dos Nações Unidas para a Infância (Unicef). Além disso, mais 400 crianças teriam sido detidas. “Segundo os números de que dispomos, dezembro foi o mês mais violento para as crianças na Síria”, declarou uma porta-voz do Unicef Marixie Mercado. “Há relatórios que indicam que crianças foram detidas
arbitrariamente, torturadas e abusadas sexualmente durante a detenção”, acrescentou. O Unicef está particularmente preocupado com a situação em Homs, no centro da Síria. Entretanto, a porta-voz declarou que o fundo não tem acesso à zona dos ataques e que, por isso, não pode avaliar o número de vítimas. “Os feridos devem ter acesso imediato e incondicional aos cuidados médicos especializados”, insistiu Marixie Mercado.
Brasileiro substitui francês no comando do Fundo Global de Aids Renata Giraldi Repórter da Agência Brasil
Brasília – Desde 1º de fevereiro, o brasileiro Gabriel Jaramillo, de 58 anos, assumiu o comando do Fundo Mundial de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária – o Fundo Global de Aids. Ele substitui o médico francês Michel Kazatchkine, de 62 anos. Kazatchkine pediu demissão do cargo em meio a suspeitas de corrupção envolvendo a Fundação de Carla Bruni – primeira-dama da França e embaixadora do órgão. As denúncias referem-se a desvios de recursos para países da Ásia e África. O comando do Fundo Mundial de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária negou as acusações. Um dos desafios de Jaramillo é resgatar a credibilidade do fundo que vai gerenciar mais de US$ 10 bilhões para programas de saúde em vários países.
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Conservação
Click aqui para salvar um pedaço de floresta A Fundação Banco de Bosques, da Argentina, recebe pequenas doações de internautas que ajudam a salvar florestas em Misiones, na fronteira com o Brasil, onde estão as famosas Cataratas. Texto: Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina De Buenos Aires
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É
possível encontrar soluções individuais para problemas coletivos? O desmatamento, que tanto mal faz à humanidade, pode ser controlado por meio de ações fragmentadas? Provavelmente não. Mas boas ideias são aquelas que transformam a realidade. Emiliano Ezcurra, que trabalhou durante 20 anos fazendo as famosas campanhas do Greenpeace na Argentina, contou à Plurale em revista como internautas de diferentes lugares do mundo, que provavelmente nunca se viram, estão ajudando a salvar as florestas nativas do país. O ponto de encontro virtual é o Banco de Bosques, uma página na internet onde qualquer um pode entrar e, através do Google Maps, escolher um metro quadrado de bosque da província de Misiones (nordeste da Argentina) para “comprar.” Essa ação transforma, com um click e uma pequena quantidade de dinheiro, um internauta em “dono” de uma pequena porção dela. “Uma pessoa pode comprar um alfajor ou mil alfajores, ninguém pode impedir isso. Com a terra não. Um pessoa só pode comprar mil hectares de terra, ou mais. Se eu tivesse que resumir o que fazemos, eu diria que transformamos os hectares de bosque em alfajores”, explica Ezcurra, diretor executivo da Fundação Banco de Bosques. Tudo isso porque o principal motor da iniciativa não está nos grandes patrocinadores. Aliás, Ezcurra conta que hoje em dia as únicas doações que recebem são de pessoas como eu, como você. O pulo do gato do Banco de Bosques é exatamente esse: as pequenas doações são as que fazem um grande negócio. “Trabalhar com pequenos doadores é uma experiência muito bonita porque gera um espírito de equipe. Muitas vezes as grandes doações vêm de gente que nem olha para o quê está doando, pega um helicóptero e nunca mais pergunta nada. A pessoa que doa pouco dinheiro liga, pergunta, pede explicação”, conta Ezcurra. “É uma demonstração clara de que, em pequenas quantidades, a terra
é barata. E é muito interessante ver a terra fazer parte de um negócio de varejo.” O desafio, conta Ezcurra, é fazer com que essas pequenas ajudas sejam competitivas no mercado de terras e gerem um entrave real para a expansão da fronteira agrícola na Argentina. Para isso, a equipe do Banco de Bosques desenhou uma estratégia de ação. “Com uma base estável de doadores pequenos nos transformamos em um pagador confiável. E isso nos permite retirar empréstimos em bancos, por exemplo, e aumentar nosso poder de compra. Com isso, não precisamos esperar que toda a área seja comprada por nosso colaboradores, basta com que provemos que teremos uma determinada média de contribuições no médio prazo e temos poder de compra de grandes áreas, sem colocar em risco o projeto. Estamos caminhando para isso”, explica. Para os imprescindíveis desconfiados de plantão, é preciso esclarecer: o Banco de Bosques não pode vender os hectares comprados pelos internautas. Em caso de dissolução da fundação, os metros quadrados comprados até agora vão para a Administração de Parques Nacionais, entidade governamental para conservação de áreas protegidas. UM NOVO MODELO DE NEGÓCIOS? Antenado com o mundo empresarial, Ezcurra conta que em suas épocas de Greenpeace um ruralista culpado não o deixou dormir por muitas noites quando veio reclamar das ações diretas da organização ambientalista dizendo que entendia que não podia causar danos ao meio
Áreas ameaçadas (em hectares)
ambiente, mas que também precisava lucrar com o pedaço de terra que tinha comprado. Anedótica ou não a história, o fato é que Ezcurra defende um modelo de negócios sustentável que permita prescindir de doações e manter a área preservada. Para ele, o ecoturismo, a produção de mel, de flores ornamentais, de frutas, essências e até mesmo de madeiras certificadas podem garantir a subsistência de um bosque e da população vizinha a ele. Mas dá para competir com a soja, por exemplo? “É difícil explorar a floresta de maneira integral, exige trabalho. A soja é,
Áreas salvas (em hectares)
sobretudo, fácil. Tem uma alta taxa de previsibilidade, que é essencial na agricultura”, provoca. “É uma questão de paradigma. É preciso desenvolver sistemas produtivos de baixa rentabilidade para fundos de investimento e empresários interessados por um conjunto de indicadores. Um empresário ético é um empresário que mede a rentabilidade de seu negócio não apenas pelo lucro desmensurado, mas também por um conjunto de indicadores: de rentabilidade sim, mas também um indicador social, de biodiversidade, de geração de emprego.”
O desafio é fazer com que essas pequenas ajudas sejam competitivas no mercado de terras
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Conservação
MAIS UMA LEI QUE NÃO SAI DO PAPEL O Congresso argentino aprovou, em novembro de 2007, uma lei que define o orçamento mínimo para a proteção de florestas nativas no país, que segue o molde da lei de Glaciares (Plurale, edição 20). Os hermanos tiveram que esperar um ano e meio até que a norma fosse regulamentada, em fevereiro de 2009, depois de muita pressão da sociedade civil. Hoje, cinco anos depois, organizações ambientalistas denunciam que a lei é sistematicamente violada. Em dezembro de 2011, o Greenpeace Argentina, junto com a Fundação Ambiente e Recursos Naturais (FARN) e a Fundação Vida Silvestre Argentina emitiram um comunicado que denunciava que o orçamento aprovado pelo Congresso para o ano 2012 não cumpria com os requisitos da lei e destinava à conservação de bosques um valor sete vezes menor que o estabelecido.
CLICK DE LONGE TAMBÉM VALE Nem só de argentinos vive o Banco de Bosques. Os brasileiros também podem ajudar a salvar a floresta de Misiones, onde também temos fronteira clicando em http://www.bancodebosques.org/ Para aguçar a vontade, Ezcurra conta que, depois de uma entrevista a um canal de TV da França, tiveram que traduzir o site para o francês porque 30% dos doadores passaram a vir daí. Vamos desbancar? O site ainda não tem tradução ao português…
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O CURIOSO CASO DA FIDELIDAD O estado de Misiones, no nordeste da Argentina, é mundialmente conhecido por abrigar as Cataratas de Iguaçu. O mundo tem os olhos sobre esse patrimônio natural e mesmo assim o Banco de Bosques precisa atuar aí para evitar o desmatamento. Mas Chaco e Formosa? Entre esses dois estados do norte argentino está a Estancia La Fidelidad, uma propriedade privada com 228 mil hectares do bosque seco subtropical melhor conservados da América do Sul. Com o assassinato do único dono da fazenda, em janeiro de 2011, organizações ambientais pressionaram para que a área fosse protegida. Os 128 mil hectares que estão no Chaco foram então expropriados pelo governador do estado. No momento, o Estado argentino é fideicomissário da fazenda e está arrecandando fundos para ressarcir os herdeiros, já que a área foi considerada de interesse nacional para preservação. O Banco de Bosques também está no jogo e lançou uma campanha para arrecadar garrafas PET, que serão vendidas a recicladoras para engordar o fundo e permitir que a fazenda se transforme em Parque Nacional. A Argentina tem hoje 38 áreas protegidas entre monumentos naturais, parques e reservas naturais. “Todos foram criados por ação do Estado ou de algum filantropo. La Fidelidad está prestes a se tornar o primeiro parque nacional nascido da mobilização social”, comemora Ezcurra.
Emiliano Ezcurra, diretor executivo da Fundação Banco de Bosques, trabalhou durante 20 anos fazendo as famosas campanhas do Greenpeace na Argentina
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Artigo Elizabeth Hufnagel
Dúvidas frequentes em relação aos carboidratos
O
Os carboidratos estão presentes em vários alimentos como: pães, massas, doces, frutas, leguminosas, laticínios e alguns vegetais. Os carboidratos são sempre convertidos em glicose no nosso organismo para gerar energia. Se quisermos emagrecer, não devemos eliminar os carboidratos, mas limitar a sua ingestão e preferir aqueles que se transformam em glicose mais lentamente. As fibras auxiliam esse processo, pois retardam a quebra de carboidratos em glicose. Portanto, devemos escolher os alimentos ricos em fibras, ou seja, os integrais. uma fatia de pão branco é equivalente em calorias a uma fatia de pão integral, porém no integral o carboidrato se transforma em glicose mais lentamente, mantendo a glicemia mais estável ao longo do dia, facilitando o emagrecimento. O mesmo ocorre com o arroz branco X integral. As frutas e os sucos são basicamente compostos por carboidratos, vitaminas, minerais e fitonutrientes. Devemos preferir ingerir a fruta ao suco, pois as frutas promovem maior saciedade devido ao maior teor de fibras, o que também faz com que o carboidrato seja convertido mais lentamente em glicose.
(*) Elisabeth Hufnagel é Nutricionista, com especialização em Alimentação equilibrada. Email: elisabethuf@pig.com.br
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COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL
EM 100 G COZIDO
ARROZ POLIDO
ARROZ PARBOLIZADO
ARROZ INTEGRAL
Calorias Proteínas Carboidratos Fibras Gordura
124 cal 2.50g 28.10g 1.6g 0.20g
109,7 cal 2.80g 24.4g 0.10g
123 cal 2.6g 25.80g 2.7g 1.00g
Fonte: TACO
Dicas
• Cereais integrais disponíveis nos merc ados: arroz integral, cateto, sete cereais, arroz selvagem, quinoa, macarrão integral, farinha de trigo integral, aveia, cevad a. • A maioria dos pães integrais industriali zados contém mais farinha de trigo refinada do que integ ral. Procure os pães com maior teor de fibras. (vejo o rótulo na embalagem). • A aveia deve ser consu mida em flocos grossos ou finos. Evite as instantâneas, mais refinadas e processada s e as com sabores, que geralmente são repletas de açúcar. • Consuma vários tipos de leguminosa s, além do feijão preto, como: feijão fradinho, azuki, de corda , lentilha, ervilha, grão de bico, soja. Além de serem ricos em prote ínas são também fontes de carbo idratos e por serem ricos em fibras, promovem sacie dade. • Cuida do com os sucos industrializado s que são excessivamente concentrados e açucarados.
VIDA Saudável
Apoio:
O macarrão da vez
Dieta consciente
A cada temporada, uma novidade surge na lista dos produtos saudáveis e alguns que ainda podem ajudar emagracer. Já mostramos aqui, recentemente, os benefícios do chá verde, do noni, da chia e por aí em diante. O novo “queridinho” deste verão é o macarrão bifum, feito a base de arroz, muito apreciado pelos japoneses. Quem não pode comer glúten já conhece esta opção há anos, mas agora, o macarrão branco caiu no gosto da turma que está sempre buscando alguma boa nova saudável. Além de ter gosto agradável, o produto cozinha bem rápido e pode ser o prato de resistência junto com legumes, tofu (queijo de soja) ou carnes magras. Fica gostoso também com sopas ou até na salada. Os nutricionistas dizem que não afeta a dieta, mas é bom não abusar.
Esta época quente do ano merece cuidados. Não somente por conta do clima, mas também pelas promessas de dietas instantâneas que prometem deixá-lo em forma para entrar naquela roupa de banho tão desejada. “Dietas realizadas em curto espaço de tempo não surtem muito efeito. Além disso, dietas publicadas em revistas ou jornais não são recomendadas, pois não levam em consideração se a pessoa que deseja emagrecer tem alguma doença associada, não levam em consideração o seu peso, não conhecem o seu metabolismo e o hábito alimentar. Quem deseja emagrecer deve ter acompanhamento de um profissional capacitado para que não corra o risco de ter alguma carência alimentar. O mais importante é saber quais alimentos são essenciais para fazermos escolhas saudáveis”, ressalta Michelle Trindade, nutricionista do Espaço Para Viver Melhor, unidade de prevenção e promoção de saúde da Unimed-Rio.
Pesquisadores desenvolvem protetor solar que combate rugas e flacidez
Curso Alimentação Natural e Sustentabilidade em SP
Por Karina Toledo, para Agência FAPESP
Um filtro solar que, além de proteger contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta, melhora a textura e a elasticidade da pele, estimula a renovação celular, hidrata e diminui as rugas foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. A fórmula alia dois tipos de substâncias fotoprotetoras aos extratos vegetais de Ginkgo biloba e de algas marinhas vermelhas. Também foram adicionadas as vitaminas A, C e E. “Em pesquisas anteriores, havíamos confirmado que alguns extratos vegetais eram capazes de melhorar as condições da pele fotoenvelhecida e de torná-la menos vulnerável aos danos da radiação. Então, tivemos a ideia de associar esses extratos a filtros solares, para potencializar o efeito protetor”, disse Patrícia Maia Campos, coordenadora da pesquisa. As vitaminas foram acrescentadas para estimular a renovação celular e melhorar as condições gerais da pele, elaborando assim um creme multifuncional, explicou a farmacêutica.
O setor Alimentação Natural, da Fundação Mokiti Okada - FMO, iniciará em março novas turmas para o curso ´Alimentação Natural e Sustentabilidade - Um novo estilo de vida´. As aulas ocorrerão em diversos dias e horários a partir de março, na Vila Mariana, em São Paulo. Com objetivo de promover a conscientização de seus participantes sobre a importância da alimentação e da agricultura natural, a equipe de instrutores da FMO ensinará aos alunos assuntos como: a biografia de Mokiti Okada; a verdadeira saúde; as três colunas da salvação; a importância do respeito à natureza, ao meio ambiente e ao consumo consciente, entre outros. Além disso, o setor promoverá palestras com profissionais de saúde e passeios didáticos para conhecer o trabalho de alguns agricultores. Este curso tem a duração de aproximadamente três meses. Informações e inscrições podem ser obtidas no portal da Fundação (www.fmo.org.br), pelo telefone (11) 5087-5045, ou pelo e-mail: buck@fmo.org.br.
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Artigo
Aveia, uma escolha saudável Melicia Cintia Galdeano (*)
O
Brasil tem percebido o impacto da adoção de um estilo de vida sedentário e de uma dieta industrializada com alto teor de sódio, açúcar e gordura no avanço das doenças crônico-degenerativas, como por exemplo, as doenças cardíacas. Uma alternativa para conter este avanço seria o consumo regular de alimentos conhecidos como Alimentos Funcionais. Os alimentos funcionais são alimentos que se caracterizam por oferecer benefícios à saúde, além do valor nutritivo natural, podendo desempenhar um papel potencialmente benéfico na redução do risco de aparecimento de certas doenças. Existem muitos alimentos funcionais e, entre eles, a aveia é um dos mais reconhecidos no mundo todo. Ela se destaca por se enquadrar em duas categorias de alimentos funcionais: como grão integral e como fonte de fibras solúveis. Devido a sua própria estrutura celular, o consumo de aveia é, com algumas exceções, predominantemente na forma de grão integral. Seus lipídios estão distribuídos por todo o grão, diferentemente do que ocorrem em outros cereais como o milho, trigo e arroz, onde a concentração está na fração conhecida como germe. Isto faz com que a aveia tenha uma estrutura plástica, dificultando seu fracionamento e favorecendo seu consumo como grão integral. O conceito de grãos integrais ganhou força a partir de 2005 com a orientação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA – em recomendar a substituição de no mínimo 51% de grãos refinados da dieta por grãos integrais. Como indicam vários estudos, os benefícios atribuídos a esta mudança são vistos na redução do risco de doenças cardíacas, de alguns tipos de cânceres e da obesidade.
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Entre os cereais integrais, a aveia se diferencia por apresentar um dos mais altos teores proteicos e ótimo perfil de aminoácidos. Tem também alta porcentagem de lipídios que se destacam nutricionalmente por sua razão favorável entre insaturados e saturados e por suas propriedades antioxidantes. Além disso, é rica em fibras solúveis e insolúveis. Suas fibras insolúveis atuam na regulação do trânsito intestinal. As fibras solúveis da aveia, denominadas betaglucanas, demonstraram ter a capacidade de ajudar a baixar os níveis de colesterol total e LDL circulantes no sangue. Este efeito contribui diretamente na redução do risco de doenças cardiovasculares. Também existem estudos que observaram resultados satisfatórios da betaglucana no controle da pressão arterial e na redução da glicose do sangue. Outro efeito benéfico atribuído ao consumo de aveia está relacionado ao controle da obesidade. A betaglucana controla o apetite por retardar o esvaziamento gástrico proporcionando prolongada sensação de saciedade. Este efeito vem fazendo com que a aveia seja cada vez mais utilizada em regimes de redução de peso. Em 1997, o FDA (Food and Drug Administration), órgão regulamentador de alimentos e medicamentos dos EUA, após uma rigorosa avaliação, reconheceu a eficiência da ingestão diária de 3 gramas de betaglucana – equivalente a 1/2 xícara de flocos ou farinha de aveia – na redução dos riscos de doenças cardíacas. Com isso, autorizou o uso de mensagens sobre benefícios de redução do colesterol nas embalagens de produtos de aveia. No Brasil, as regras foram instituídas, através das resoluções 18 e 19 da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a partir de 1999 e, desde
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então, estas mensagens fazem parte do nosso cotidiano. A aveia pode ser consumida in natura na forma de flocos adicionados a leites ou iogurtes, como mingau e ainda fazer parte da formulação de uma variedade de produtos como pães, bolos, biscoitos, cereais matinais, massas, bebidas, produtos fermentados, entre outros. Como nem sempre é fácil atingir o consumo diário de 1/2 xícara de aveia, recentes pesquisas vêm investigando novos processos tecnológicos buscando aumentar o teor da fibra solúvel betaglucana nos derivados de aveia. Isto permitirá alcançar mais facilmente a recomendação diária de 3g de betaglucana com a ingestão de menor quantidade de produto. Além disto, esta fração mais concentrada também poderá ser incorporada em outras bases alimentícias possibilitando a expansão dos benefícios da aveia para outras categorias de produtos. E neste campo, há ainda muito o que pesquisar. Seja seu consumo como grão integral ou como fração concentrada de betaglucana, o alto poder benéfico da aveia é inegável e, mesmo se não fosse um cereal saboroso, seu consumo se justificaria por suas excelentes qualidades nutricionais e funcionais. (*) Melicia Cintia Galdeano (melicia@ctaa.embrapa.br), doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro – RJ
Nos últimos quatro anos, repórteres e fotógrafos de Plurale em revista cruzaram o Brasil de norte a sul para descobrir boas histórias de transformação. De gente simples e aguerrida, protagonista de mudanças que estão apenas começando...
Lima (FAS)
Jardim Gramacho,RJ
Foto de Antônio Batalha (Firjan)
Foto de Antônio
...como a história de Seu Luiz Gonzaga, na Reserva de Uatumã, na Floresta Amazônica (AM), que está aprendendo a escrever graças à Fundação Amazonas Sustentável e tem como objetivo defender as necessidades de sua pequena comunidade...
Tião Santos
Seu Luiz Gonzaga
nheiro LucianPNaSEPi SC Pantanal, MT
Itairan Cardoso Serrinha, BA Foto Nícia Ribas
...distâncias percorridas de barco, de carros fora de estrada e pequenos aviões. Foi assim para mostrar a exuberância do Pantanal em projeto de preservação da ararinha azul e várias outras espécies, trabalho de profissionais zelosos como a bióloga Luciana Pinheiro Ferreira, na RPPN SESC Pantanal...
Foto de Luciana Tancredo
Reserva do Uatumã, AM
...ou do jovem Santos Tião Santos, que cresceu no lixão de Jardim Gramacho (Baixada Fluminense), lutou para mudar não só a sua vida, mas a dos catadores: virou estrela da obra do artista plástico de Vik Muniz e de filme com direito a tapete vermelho de Hollywood...
...neste período também conhecemos diversos projetos inovadores, como o de educação e geração de renda para crianças de comunidade de Serrinha, no sertão baiano, como Itairan Cardoso.
Poconé, RP
Com Plurale é assim: vamos onde a notícia está. Para que cada um apresente sua história, capaz de inspirar tantas outras transformações. Plurale: plural até no nome.
P e las Em pr esas
ISABELLA ARARIPE
Unimed-Rio apoia “Arte é o melhor remédio” Por meio do Receita do Bem, os médicos da Unimed-Rio ajudaram a cooperativa a captar R$ 1 milhão para apoiar a ações culturais, esportivas e audiovisuais em 2012. Em seu segundo ano de existência, a arrecadação do programa, que estimula os cooperados à doarem 6% do imposto de renda devido, cresceu 39%, com a participação de 436 deles . O dinheiro captado foi destinado, através da lei de Incentivo à Cultura (Rouanet), a seis projetos : Escola de Música e Cidadania da Cidade de Deus, Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM, Associação Viva e Deixe Viver, Peça de Teatro “Uma noite na Lua”, A Arte é o Melhor Remédio e Nadando contra a Corrente. O Arte É o Melhor Remédio, por exemplo, existe desde 2007 de forma voluntária. Atuando nas proximidades do Complexo do Turano e adjacências (Morro do São Carlos, Bairros do Rio Comprido e Estácio), ele oferece oficinas gratuitas de dança, teatro e realiza apresentações em hospitais e escolas. Criado pelo diretor teatral e coreógrafo Renato Cruz, o Arte é o Melhor Remédio já atendeu mais de 200 jovens e crianças. Com uma metodologia única de ensino, de inclusão social e de democratização do acesso à arte, o projeto destaca três pontos cruciais: a educação em Artes e através da Arte, a Arte como ofício e a Arte como remédio. Deste projeto saiu a Companhia Híbrida e o Festival de Hip Hop Arena Híbrida. Saiba mais em www.ciahibrida.com.br.
Itaú incentiva uso consciente do papel em sua primeira campanha do ano No fim de 2011, o Itaú veiculou campanha com o mote “Mude 2012. E conte com o Itaú para mudar com você” com o objetivo de provocar as pessoas a realizar verdadeiras mudanças em 2012. Para iniciar o movimento, o banco estreou, dia 11 de janeiro, filme que incentiva os clientes a abrirem mão dos extratos em papel e a passarem a utilizar a versão virtual para consulta, evitando assim o desperdício do recurso. “O nosso objetivo é mostrar que pequenas mudanças de atitude podem fazer uma grande diferença”, afirma Fernando Chacon, diretor executivo de Marketing do Itaú Unibanco. A campanha para incentivar o uso consciente do papel inaugura algumas iniciativas que o Banco pretende incentivar ao longo de 2012. “Mudanças como esta trarão benefícios para os clientes, o banco e a sociedade”, completa o executivo. A campanha é assinada pela agência Africa.
Reciclaço no Carnaval de Recife e Olinda O projeto Reciclaço participou pelo 11º ano consecutivo do Carnaval das principais cidades nordestinas recolhendo latas de aço de cervejas e de refrigerantes consumidos durante a festa. Neste ano, o trabalho aconteceu simultaneamente em Recife e Olinda (Pernambuco), nos principais circuitos. Para 2012, estimou-se que o aumento do consumo de bebidas foi de 50% já nos 15 dias que antecedem a festa, de acordo com Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Águas Minerais, Cervejas e Bebidas em Geral do Estado do Ceará – Sindibebidas. Baseado neste crescimento de consumo, foi possível repetir o sucesso do ano passado, quando o projeto arrecadou neste mesmo período, 272 toneladas de lata de aço pós-consumo.
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Foto: Divulgação
Merck: programa com foco na educação O Programa de Responsabilidade Social Corporativa da Merck mantém em 2012 o foco na educação e capacitação de jovens e crianças em risco social, com projetos no Rio e em São Paulo. Na Cidade de Deus, bairro vizinho à sede da empresa em Jacarepaguá, funcionam a Escola de Música e Cidadania, a Escola-Comunidade Merck e o projeto Capoeira Cidadã, que oferece aulas de capoeira, apoio escolar e oficinas de cidadania a 120 estudantes da rede pública.
Números de embalagens da Tetra Pak com o selo do FSC® ultrapassam expectativa A Tetra Pak anunciou a marca de 6,8 bilhões de embalagens produzidas no Brasil em 2011 com o selo de certificação do Forest Stewardship Council (FSC). O selo garante que o papel utilizado como matéria-prima das embalagens é proveniente de áreas florestais manejadas de forma responsável, permitindo ao consumidor monitorar toda a cadeia que envolve a produção do papel da embalagem, desde o plantio das árvores até o pro-
duto final. Desta forma, pode-se identificar os produtos provenientes de florestas que estão sendo gerenciadas de acordo com padrões ambientais, sociais e econômicos pré-estabelacidos. O número de embalagens com o selo da certificação, ultrapassou a expectativa, que era de 5 bilhões. Quando somada a produção dos países da Américas Central e do Sul, o montante alcança a marca de 8 bilhões.
Fundação Telefônica incorpora Instituto Vivo e reformula atuação em 2012 Responsável por coordenar o investimento social do Grupo Telefônica no Brasil, a Fundação Telefônica acaba de incorporar oficialmente o Instituto Vivo, passando a se posicionar como Fundação Telefônica|Vivo. O processo de integração das instituições ocorreu em decorrência da compra da Vivo pelo Grupo Telefônica, no final de 2010. Diante disso, a atuação social da Fundação ganha novos contornos em 2012. A instituição passa a priorizar quatro linhas de ação: Combate ao Trabalho Infantil, Educação e Aprendizagem, Desenvolvimento Local e Voluntariado. Todas elas contam com o suporte do eixo denominado
Debate & Conhecimento, cujo objetivo é sensibilizar, mobilizar e disseminar conhecimento entre os públicos envolvidos com as causas da instituição. Uma das estratégias da Fundação Telefônica|Vivo neste ano será a implementação de projetos em pequena escala, que servirão como laboratórios de inovação social a serem replicados. “A partir da obtenção de bons resultados, a ideia é disseminar metodologias entre parceiros para a obtenção de ganho de escala”, afirma a presidente da instituição, Françoise Trapenard, que pretende, também, estabelecer alianças com o governo e outros agentes sociais no processo de ampliação dos projetos.
Victor Bicca é reeleito presidente do CEMPRE O Cempre - Compromisso Empresarial para a Reciclagem - organização sem fins lucrativos engajada no desenvolvimento da reciclagem de lixo urbano no país - acaba de reeleger o executivo Victor Bicca para a presidência da Ong durante o biênio 2012-2014. Victor Bicca, que é diretor da Coca-Cola Brasil, uma das empresas mantenedoras do Cempre, já vinha atuando no cargo desde 2010 e foi durante a sua gestão que a Política Nacional de Resíduos Sólidos, projeto para o qual
o Cempre trabalhou intensamente, foi sancionada. “A aprovação da PNRS é, sem dúvida, um marco para a indústria da reciclagem no Brasil. O Cempre acredita na importância de se manter a mesma liderança para que possamos agora conseguir o mesmo êxito com os acordos setoriais. Queremos continuar a agir como interlocutores da indústria e de toda a cadeia da reciclagem junto ao governo federal”, disse Victor Bicca.
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CARBONO NEUTRO s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r
2011, O ANO MAIS QUENTE DA HISTÓRIA, SEGUNDO A NASA Esta, nem precisa ser um cientista para descobrir. Mas a Agência Espacial dos Estados Unidos, a conceituada NASA confirmou: 2011 foi o ano mais quente da história. De acordo com informe divulgado pela NASA, isto aconteceu por conta da concentração de gases do efeito estufa. A concentração do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera há 120 anos era de apenas 285 partes por milhão, em 1960 era de 315ppm e atualmente está acima das 390ppm. Segunda a NASA, a temperatura média ficou 0,51°C acima da média do século XX, classificando 2011 como o nono ano mais quente desde 1880.
PESCADORES SERÃO INDENIZADOS PELA BP A empresa British Petroleum (BP) informou, no início de março, que indenizará em US$ 7,8 bilhões as comunidades de pescadores afetadas pelo derramamento de milhões de litros de petróleo no Golfo do México em 2010. O acordo judicial foi fechado durante esta madrugada e é um dos maiores da história. Pelo menos 100 mil pescadores que perderam seu sustento serão beneficiados com a indenização. O acordo com os pescadores, no entanto, não exime a BP de suas obrigações com o governo dos Estados Unidos. Além de a empresa responder por danos à economia e ao meio ambiente, do Departamento de Justiça norte-americano ainda está investigando as reais causas do vazamento. A plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, explodiu em 20 de abril de 2010 e o vazamento só foi controlado em 15 de julho do mesmo ano. A catástrofe é considerada a maior da história dos Estados Unidos e causou a morte de 11 trabalhadores no momento da explosão.
A ESCALADA DO ETANOL Por Fabrício Marques
Revista Pesquisa FAPESP – Pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp) desvendaram em 2011 cerca de 10,8 gigapares de bases do DNA da cana, 33 vezes o produto dos dois anos do projeto Genoma Cana, encerrado em 2001, que mapeou os genes expressos da planta. O resultado faz parte de dois projetos temáticos, coordenados pela bióloga mo-
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KPMG: EMPRESAS DEVEM SE PREPARAR PARA AUMENTO DE CUSTOS Por Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil
“As empresas atualmente estão operando em um mundo cada vez mais interconectado e globalizado. Cadeias de produção atravessam continentes e são vulneráveis a rupturas. Demandas de consumidores e políticas governamentais estão se transformando rapidamente e vão impactar duramente os negócios se as companhias não estiverem prontas.” Este é o alerta que Michael Andrew, presidente da consultoria KPMG, e Yvo de Boer, ex-presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e atual conselheiro da KPMG, fazem logo no início da nova análise que a consultoria divulgou nesta semana: “Expect the Unexpected: Building Business Value in a Changing World” (algo como, Espere o Inesperado: Construindo o Valor de Negócios em um Mundo em Transformação). A consultoria afirma que os impactos de fatores batizados de ‘mega forças’, como as mudanças climáticas e a escassez de recursos, passaram de US$ 566 bilhões em 2002 para US$ 846 bilhões em 2011 e devem seguir aumentando nos próximos anos.
lecular Glaucia Souza e a geneticista MarieAnne Van Sluys, professoras da USP, e com conclusão prevista para 2013, que buscam o mapeamento dos genes da cana-de-açúcar. Dada a complexidade do genoma, 300 regiões já estão organizadas em trechos maiores que 100 mil bases, que contêm de 5 a 14 genes contíguos de cana. Os pesquisadores querem ir além do Genoma Cana tanto na quantidade de dados como nas perguntas sobre como funciona o genoma da planta que se tornou sinônimo de energia renovável. Estudos de gramíneas como sorgo e arroz mostraram que para melhorar a produtividade das plantas é preciso saber como a atividade dos genes é controlada, função de trechos do DNA conhecidos como promotores.
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Energia
Primeiro Estádio de futebol com energia solar da América Latina Alemanha, e o Stade de Suisse Wandkdorf National, em Berna, na Suíça. O modelo de estádios solares deverá ser seguido pelos estádios de futebol que sediarão os jogos da Copa do Mundo de 2014. O projeto do Estádio Solar de Pituaçu está orçado em R$ 5,5 milhões, sendo 70% investidos pela Coelba e 30% pelo Governo da Bahia. A energia gerada pelo estádio será usada nas instalações do estádio durante o dia e o excedente utilizado pela Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (SETRE) por meio da rede de distribuição da Coelba. A geração solar vai proporcionar
Fotos: Divulgação/ Coelba
Coelba finaliza obras do Estádio Roberto Santos, mais conhecido como Pituaçu
A
De Salvador (BA)
Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), empresa do Grupo Neoenergia, está finalizando as obras de instalação do Sistema de Geração Solar Fotovoltaico no estádio de futebol Roberto Santos, conhecido como Pituaçu, que será implantado pelo Programa de Eficiência Energética da empresa aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O projeto da concessionária será realizado em parceria com o Governo do Estado da Bahia e apoio técnico do Programa Energia do Governo Alemão (GIZ) e do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal), sob a coordenação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Por meio da captação da luz do sol, a arena se transformará numa usina de geração de energia elétrica, passando a ser auto-suficiente no seu consumo e ainda fornecendo o excedente para outro prédio público pela rede de distribuição da Coelba. Pituaçu será o primeiro estádio de futebol da América Latina a ser abastecido com energia solar e inaugurará no Brasil uma tecnologia já adotada em outros estádios do mundo, como o Badenova Stadium, de Freiburg, na
ao estádio uma economia de 630 MWh/ano, equivalentes a cerca de R$ 200 mil reais por ano. O Sistema Solar Fotovoltaico terá capacidade de geração de 400 kWp, medida específica de geração de energia solar. Na configuração do sistema de geração, estão previstos os módulos fotovoltaicos, inversores CC-CA, subestações elevadoras e sistema de medição e aquisição de dados. Os módulos flexíveis de filmes finos de silício amorfo, serão utilizados nas estruturas existentes em função de serem mais leves, além desses painéis serão utilizados placas solares de silício cristalino nas áreas de estacionamento e cobertura do vestiário em torno de 40% do total.
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Mata Atlântica Reconectada Projeto Corredores da Mata Atlântica
Após 10 anos de atividades, o projeto “Corredores da Mata Atlântica” realizado pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas encerra a sua primeira fase com a formação do maior corredor de mata reflorestada do Brasil.
É um grande passo para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica! antes
Desde 2002, mais de 1,4 milhões de árvores foram plantadas pelo projeto, formando 700 hectares de floresta que ligam agora duas Unidades de Conservação do Pontal do Paranapanema (SP), antes isoladas: a Estação Ecológica Mico Leão Preto (ESECMLP) e o Parque Estadual do Morro do Diabo (PEMD).
depois
Ao conectar as duas áreas verdes, o corredor vai servir também de caminho para espécies ameaçadas (onça pintada, mico-leão preto, jaguatirica, entre outros) transitarem em busca de alimento e reprodução, contribuindo assim para a sua sobrevivência.
Para dar certo, o projeto “Corredores da Mata Atlântica” vai além da restauração florestal, com envolvimento comunitário, capacitação de médios e pequenos proprietários em agroecologia, educação ambiental, e desenvolvimento de viveiros comunitários que ajudam no complemento da renda mensal de pequenos agricultores. Desde o seu início, o projeto contou com o apoio de editais da Petrobras e BNDES, de empresas nacionais como Natura, CESP, Duke Energy, além das organizações internacionais Whitley Fund for Nature, Liz Clairborne Art Ortenberg Foundation, Conservation Food and Health Foundation, Durrell Wildlife Conservation Trust e BBC Wildlife Fund. Saiba mais sobre este trabalho: www.ipe.org.br
s
Estante
Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista
MUNDO SUSTENTÁVEL 2: NOVOS RUMOS PARA UM PLANETA EM CRISE Por André Trigueiro, Editora Globo, 400 págs, R$ 44,90
Um novo livro do jornalista André Trigueiro, da Globo News e CBN, editor do programa Cidades Sustentáveis, acaba de sair do forno com 400 páginas de muita informação sobre os assuntos que nos interessam nesta reta final para a Rio+20. “Mundo Sustentável 2: novos rumos para um planeta em crise” reúne reportagens veiculadas na Globo News e na Rádio CBN, artigos publicados em jornais, revistas e sites, além de textos inéditos de convidados muito especiais, entre eles, Adalberto Veríssimo, Marcos Terena, Paulo Saldiva, Roberto Schaeffer, Roberto Smeraldi, Samyra Crespo, Sérgio Abranches e Suzana Khan. O prefácio coube ao jornalista Washington Novaes. Onde a economia de baixo carbono já é realidade? Como medir o valor monetário dos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas? Por que o país campeão mundial de água doce necessita de investimentos urgentes para evitar o colapso no abastecimento? Quais os principais desafios do Brasil na era da Política Nacional de Resíduos Sólidos? Estes e outros assuntos referenciais para o socioambientalismo aparecem em destaque no livro.
CHICO BUARQUE - PARA SEGUIR MINHA JORNADA
Por Regina Zappa, Editora Nova Fronteira, 608 págs,R$ 79,00 Por Romildo Guerrante Há 12 anos, quando a jornalista e escritora Regina Zappa preparava para mandar à gráfica os originais da biografia de Chico Buarque, recebeu a notícia da morte de uma das tias dele, Cecília, que morava no Jardim Botânico e que, segundo Miúcha, irmã do compositor e amiga da Regina, guardava num baú pilhas e pilhas de recortes de jornais e revistas com histórias do sobrinho que tanto admirava. A convite de Miúcha, Regina foi ao apartamento da tia Cecília em busca do baú. Uma olhada e ela logo percebeu que não seria possível aproveitar nada no livro que estava no forno. Quem sabe num próximo livro? Levou o material para casa e, no miolo da biografia impressa, registrou um agradecimento à devotada tia do Chico que partira e deixara para trás fragmentos dispersos, mas preciosos, da história de um dos maiores compositores brasileiros. (Leia a resenha completa em Plurale em site, na seção Estante)
O FIM DA INFLUÊNCIA – COMO FICA O MUNDO QUANDO O DINHEIRO MUDA DE MÃOS Por Stephen S. Cohen e J. Bradford DeLong, Editora: Évora,160 págs, R$ 39,00
“Alguma coisa está fora da ordem mundial”, os versos de Caetano Veloso nunca foram tão atuais. Durante muitos anos, desde o final da Segunda Guerra Mundial, os EUA tinham todo o dinheiro – e, consequentemente, todo o poder. Agora, eles estão sem dinheiro para seus próprios gastos e, em grande medida, o poder sempre segue o dinheiro e percebe-se que o jogo político e econômico mundial está mudando. A Editora Évora aprofunda a questão em ‘O Fim da Influência – Como fica o mundo quando o dinheiro muda de mãos’, dos analistas econômicos Stephen S. Cohen e J. Bradford DeLong que exploram os efeitos que essa perda de poder trará para o cenário internacional e para eles, que deixarão de ser a superpotência onipotente e global.
MARCOS REGULATÓRIOS DA INDÚSTRIA MUNDIAL DO PETRÓLEO
Por Mauricio Tiomno Tolmasquim e Helder Queiroz Pinto Junior, Editora: Synergia, 322 págs, R$ 70,00 Gestado a partir de 2007, com a descoberta pela Petrobras do campo gigante de Lula (na Bacia de Santos), e lançado oficialmente pelo governo em 2009, o novo sistema regulatório brasileiro para o setor de petróleo tem nas imensas reservas do pré-sal o seu ponto de sustentação. As descobertas nessa camada encontramse entre as maiores das últimas três décadas, colocando o Brasil, em um cenário de médio prazo, entre os principais países produtores de petróleo e gás natural no mundo. O surgimento do pré-sal – à luz das lições extraídas com experiências internacionais – exigiu, pelo Estado, a redefinição do marco regulatório do setor petrolífero, especificamente para as reserva recém-encontradas. É sob este pano de fundo que os professores Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética – EPE; e Helder Queiroz, diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, organizaram o livro “Marcos Regulatórios da Indústria Mundial de Petróleo”.
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Pesquisa
Cai o nível de confiança no governo, empresas, mídia e ONGs Por André Bürger e Christina Lima, do Nós da Comunicação
A
www.nosdacomunicacao.com.br
crise econômica internacional fez o nível de confiança em instituições governamentais ao redor do mundo cair em 2011. Em 17 de 25 países mapeados pelo estudo Trust Barometer 2012, pesquisa que revela o grau de confiança em países de todos os continentes, o governo recebeu votos de confiança de menos da metade dos entrevistados. No cenário retratado pela empresa de relações públicas Edelman, a mídia foi a única instituição a apresentar aumento na confiança em 2011. No Brasil, todas as áreas - negócios, governo, organizações não -governamentais e mídia - viram cair o percentual de credibilidade. Em países como China, Rússia, Japão, França e Espanha, a credibilidade dos governos caiu mais de dez pontos. O estudo apontou que boa parte da população não confia no que seus líderes políticos dizem. A porcentagem caiu de 63% para 8% de um ano para outro. “A área de negócios empresariais tem mais chances de liderar as nações a sair da crise do que os governos”, analisou Richard Edelman, presidente e CEO da Edelman. O segmento corporativo também sofreu perda de credibilidade globalmente no ano que passou. Da Zona do Euro ao continente asiático, a queda empresarial registrada foi de mais de dois dígitos. A China foi o único país com aumento no percentual de confiança na área de negócios. A confiança nos CEOs teve sua maior queda nos últimos 9 anos. Apenas 24% disseram confiar nesses profissionais. Em primeiro lugar, apareceram os especialistas, com 42%, e, em segundo; os profissionais da Academia, com 32%. Por outro lado, colaboradores em geral, que eram vistos como menos confiáveis, tiveram um aumento de 16 pontos. Organizações não-governamentais permaneceram como as instituições mais confiáveis ao redor do mundo. Esse foi o quinto ano consecutivo que as ONGs lideraram a pesquisa e, em 16 países ultrapassaram a área de negócios.
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MÍDIA A mídia registrou 46 pontos percentuais, chegando a 52% entre o público informado. Apesar de ter caído 12 pontos em relação a 2011, o Brasil permaneceu entre os países em que a população considerou a mídia confiável. Segundo o estudo, esse prestígio provavelmente é resultado das coberturas jornalísticas das crises corporativas e da agitação política internacional, além do comprometimento com inovação e engajamento com várias plataformas midiáticas. Pessoas ao redor do mundo estão buscando por notícias e informação vindas de múltiplas fontes. O nível de confiança na mídia varia nos países: 73% na China; 40% nos Estados Unidos e na Europa, 32% no Reino Unido e 54% nos BRICs. Enquanto a mídia tradicional ainda é a mais confiável (62%), segundo os consultados, as mídias sociais tiveram um aumento de 75%. Em relação às fontes, quando o assunto são as informações sobre empresas, 30% do público em geral confia na mídia tradicional; 26% em múltiplas fontes on-line; 17% em informações fornecidas pelas empresas e 14% nas mídias sociais. A credibilidade nos porta-vozes varia conforme a audiência. Globalmente, a confiança nos comunicadores oficiais dos governos está em 31%. Nos CEOs, 41% e nos funcionários, 49%.
CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
Foto: Divulgação/Gringo Cardia
Foto: Divulgação/Salete Hallack
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Aprendendo com os Krahô Letícia Sabatella, atriz, e Gringo Cardia, artista plástico, documentaram o dia a dia da tribo Krahô, que vive no norte do país, em Palmas, Tocantins. O filme “Hotxuá” - nome que os Krahô dão ao sacerdote do riso, uma espécie de palhaço sagrado responsável por propagar a alegria - registra de forma poética o estilo de vida de um povo que acredita na união através da alegria, do abraço e da conversa. Eles não entendem a ganância, o desamor entre povos vizinhos e tem uma forma peculiar de ver o mundo através de suas crenças: a harmonia da natureza, a força das plantas e a celebração à vida. Temem o cultivo desenfreado da soja e o desmatamento provocado por esse cultivo, lamentam o uso abusivo dos agrotóxicos que envenena os animais, as plantas e o próprio homem, mas pensam no futuro com otimismo. Uma lição de vida para todos nós. Com depoimentos dos índios em língua nativa e português e o registro da Festa da Batata, a mais importante festa da tribo, o documentário chega aos cinemas do Brasil distribuído pela Caliban, do cineasta Silvio Tendler, iniciando circuito pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Fiquem atentos.
O outro lado do etanol Disponível para ser visto na Internet, o documentário “À Sombra de um Delírio Verde” (http://vimeo.com/32440717), dirigido por An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicola Muñoz, mostra a luta do povo indígena de maior população no Brasil, os Guarani Kaiowá, que vivem no sul do Mato Grosso do Sul, na divisa com o Paraguai, para reconquistar o seu território. Segundo relata o filme, hoje eles vivem em menos de 1% do seu território original que foi tomado por plantações de cana-de-açúcar de multinacionais incentivadas pelo governo brasileiro para produção do etanol, apresentado ao mundo como combustível limpo e ecologicamente correto. Sem terra e sem floresta, os índios sofrem de desnutrição e sobrevivem de cestas básicas distribuídas pelo governo. Com poucas opções de trabalho acabam nos canaviais em jornadas desumanas. Não raro as lideranças indígenas que tentam enfrentar essa situação acabam assassinadas. O título do filme faz referência a como a cana-de-açúcar é chamada: ouro verde. O documentário de 29 minutos começou a ser filmado em 2008 e concluído em 2011.
Niterói promove o Cine Veg Todo primeiro sábado do mês, a Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade de Niterói (RJ), em parceria com a Sociedade Vegetariana Brasileira, Grupo Niterói, promove o CINE VEG, uma mostra de cinema alternativo exibindo filmes sobre proteção animal e meio ambiente. Com o objetivo de conscientizar e provocar reflexão, as sessões são seguidas de debates. O filme de março, que abriu a mostra, foi “A Carne é Fraca”, documentário de 54 minutos produzido pelo Instituto Nina Rosa e feito em quatro idiomas – português, francês, inglês e espanhol – contando toda a trajetória de um bife, desde o nascimento de bezerros e frangos até o abatedouro, destacando os impactos que o ato de comer carne representa para a saúde humana, para os animais e o meio ambiente. Entre os filmes programados há o inédito “O Abrigo”. A mostra faz parte do projeto “Niterói, Segunda Sem Carne” e acontece no MAC – Museu de Arte Contemporânea. Mais informações no site: www.niteroisegundasemcarne.com.br
Cinema e saúde juntos Boas iniciativas merecem ser destacadas. É o caso do programa Cinema Para Todos. Durante os meses de verão um circuito itinerante de cinema promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e parceiros da iniciativa privada – Usiminas, Shell, Man Latic América, portal Terra e Burti HD – além de prefeituras locais, levou cinema de graça para cinco cidades paulistas e duas cariocas. Uma carreta cinema estacionava e expandia as laterais, transformando o container em sala de exibição, com ar condicionado, poltronas, banheiro químico, snack bar, imagem e sons digitais. O público ainda recebia pipoca e refrigerante gratuitamente. Vale lembrar que no país existe pouco mais de duas mil salas de cinema, a maioria concentrada nos grandes centros. Antes de cada sessão assistiam um vídeo com alertas de saúde com dicas de um especialista. Nessa edição o tema era a audição. Dados do IBGE revelam que mais de 5,7 milhões de pessoas sofrem com algum grau de perda da capacidade de ouvir. Problema que traz complicações na comunicação e no convívio social, mas que com identificação e acompanhamento pode ser minimizado. Nada como unir diversão com informação.
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I m a g e m Foto: Vladimir
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Platonow, da Agência Brasil
Desfile do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro foi uma verdadeira apoteose na abordagem de temas ligados ao social, etnia e cultura. A Grande Rio, falou de superação e trouxe atletas paraolímpicos e outros que deram a volta por cima com muita garra e determinação. Outras escolas abordaram o tema África e as raízes negras, como Portela e Vila Isabel. O Nordeste e sua saga foi outro enredo bastante explorado em 2012. O carnavalesco Paulo Barros apresentou na Unidos da Tijuca – a campeã deste ano – um Carnaval colorido, com muita alegria em homenagem ao “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga. Na foto de Vladimir Platonow, da Agência Brasil, uma das alas em homenagem aos retirantes nordestinos.
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2012
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PLURALE EM REVISTA
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JAN / FEV 2012 –
Nº 27