AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
ano cinco | nº 31 | setembro / outubro 2012 | R$ 10,00
ARTIGOS INÉDITOS
ÁFRICA:
EDIÇÃO ESPECIAL DE 5 ANOS
FOTO OTO DE VIRGÍNIO SANCHES, SANCHES DA RESERVA MAASAI MARA, QUÊNIA, ÁFRICA
ECOTURISMO, ESPORTES E CINEMA
www.plurale.com.br
LEÕES E O POVO MAASAI 1
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Editorial al
a t is v e R m e le a r Plu 5 anos em rede
isttaa Plurale em revvis s Franco, Editores de rlo Ca e pe ari Ar nia Sô Por
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inco ano anos se passaram desde sd de que decid decidimos criar Plurale, rer vista e sit site. Após longa e sólida id da carreira cconstruída no Jornalisaliismo Econô Econômico, tínhamos a ce cererr tezaa que era preciso inovar em direção àss rele relevantes evantes histórias de transformação no Brasil, de algum alguma forma ligadas à sust sustentabilidade. tentabilidade. Ho Hoje, temos a certeza quee não erramos ao fazer esta escolha. Não foi fácil chegar che até aqui, mas, com om a es essencial ajuda de apoiadores e de uma ma rede generosa de p parceiros e amigos, perseveramos. perseveramos Mais Mais i do do que q iisso: procuramos sempre avançar e ir adiante, trazer novidades, antecipar tendências, se embrenhar onde a notícia estava. Rodamos mos os quatro cantos deste Brasil imenso, estivemos em várias visitass internacionais, cobrimos conferências essenciais como a Rio + 20. 0. Construímos, em rede, em equipe, o que não poderíamoss jamais fazer sozinhos. A todos, parceiros nesta jornada plural, nosso sso profundo respeito e agradecimento sincero. Porque Plurale semempre foi assim: para ser conjugada no plural. Ainda há muito por avançar, outras tantas histórias por contar. E esperamos ter a mesma confiança em nosso trabalho e igual generosidade dos parceiros, leitores e amigos para continuar a perseverar. Nesta Edição Especial de Cinco Anos trazemos Ensaio inédito do experiente fotógrafo especializado em natureza, Virgínio Sanches, direto da Reserva Maasai Mara, no Quênia, África. Não é só. Temos também a estreia da coluna sobre Ecoturismo, por Isabella Araripe; novidades em sustentabilidade por Nícia Ribas, em viagem à Paris e relatos de nossos correspondentes Aline Gatto Boueri, Vivian Simonato e Wilberto Lima Júnior. Os colaboradores Elis Monteiro, Raquel Ribeiro e Nélson Tucci também apresentam surpreendentes matérias. E nossa Isabel Capaverde traz as últimas sobre cinema sustentável. Sem falar nos profundos artigos inéditos, nas colunas, fotos e muito, muito mais. Porque nada disso faria sentido se não fosse por você. Para você. Que venham outros tantos anos. Evoé!
ano dois | nº 13
to/setembro 2009
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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE A
ano dois | nº 14
UM BRASIL EM TRANSFORMAÇÃO: FOTO: OTO: EDUARDO ISSA ISSA S
CASO CCA ASOSS DE SUCESSO SUCESSO O COLUNISTAS:
VISÕES SUSTENTÁVEIS PERFIL:
BETINHO,, GUERREIRO CONTRA A FOME
ESPECIAL
FFIINANÇAS ANÇAS ÇASS SUSTENTÁVEIS Á PERFIL
VIEIR VIEIRA IEIRA A LO, LO, NCILIADOR
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PLURALE P PL LUR EM REVISTA | Setembro Julho / Agosto / Outubro 2012 2012
COLUNISTASS
DEBATE E PROPOSTASS
Conte xto
16.
CONEXÕES PLURALE POR NÁDIA REBOUÇAS
44.
Foto: Divulgação
Foto: Virgínio Sanches
ÁFRICA: A SAGA DO POVO MAASAI POR VIRGÍNIO SANCHES
60.
32.
BAZAR ÉTICO
CONECTADOS EM DEFESA DO RIO POR ELIS MONTEIRO
ENTREVISTA STA
COM NILCÉA ÉA FREIRE FREIRE, POR SÔNIA ARARIPE
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Foto: Ana Paula Lazari
VOLUNTARIADO, POR NÍCIA RIBAS
28 PELO MUNDO
42, 43 PELAS EMPRESAS
58, 59 CINEMA,
POR ISABEL CAPAVERDE
63 e 64 6
40.
PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2012
ESPORTES E CIDADANIA POR NELSON TUCCI
39.
NOVA COLUNA ECOTURISMO POR ISABELLA ARARIPE
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Quem faz
Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br
“Uma pesquisa realizada por dois pesquisadores norte-americanos, James Collins e Jerry Porras, publicada num livro chamado “Feitas para Durar”, sobre as características das empresas bem-sucedidas concluiu que a fórmula do sucesso passa pela capacidade da empresa ser duradoura, de saber dar a volta por cima das adversidades que toda organização viva enfrenta. Completando cinco anos de vida, Plurale vem mostrando ao mercado que veio para ficar e que é capaz de inovar, o que indica que é uma Revista de sucesso. Parabéns para Sônia Araripe e toda sua equipe por mais esta conquista.” Luiz Guilherme Dias, Presidente Apimec Rio, RJ
Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação
Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima
e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição André Bürger (Nós da Comunicação), Dario Menezes, Elis Monteiro, Fabiano Ávila (Instituto Carbono Brasil), Lília Gianotti, Luiza Martins, Mariana Jungmann (Agência Brasil), Nádia Rebouças, Nélson Tucci, Paula Piccin (Instituto Ipê), Paulo Lima, Raquel Ribeiro, Roberto Saturnino Braga, Verônica Couto e Virgínio Sanches. Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.
“Congratulo-me com o fato excepcional de uma revista especializada em meio ambiente ter chegado ao quinto ano de sua existência. Isso indica que a problemática ambiental vem alargando o seu público e se estruturando como consciência coletiva. Parabenizo a excelente direção de Plurale em revista pela seleção das matérias, bem como pela apresentação das mesmas.” Israel Klabin, presidente da FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
“Parabéns à Plurale, cinco anos em um país onde as iniciativas neste campo têm dificuldade para prosperar. Jornalismo de conteúdo. Excelente.” Sérgio Abranches, sociólogo e jornalista, RJ
“Plurale está plugada no nosso tempo, ancorada numa realidade que se transforma a cada dia e que ela registra em linhas firmes e contundentes. Sua linha editorial, suas coberturas e reflexões fermentam novas ideias e semeiam novas atitudes em favor de um mundo sustentável. Plurale é penta! Cinco vezes obrigado!” André Trigueiro, jornalista, RJ “Parabéns à Plurale pelo quinto aniversário. Que vocês continuem por mais e mais anos divulgando causas e ações importantes para a conservação dos recursos naturais do nosso país e ajudando a criar um pensamento crítico sobre a sustentabilidade do planeta.” Suzana Pádua, presidente do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, SP “Sônia, li a revista Plurale e gostaria de cumprimentá-la pelo belíssimo trabalho. Sem dúvida, uma publicação que tem muito a contribuir pela causa e que tem um caminho longo e cheio de sucesso pela frente” Vânia Absalão, jornalista, VTN Comunicação, RJ “Queremos parabenizar a Plurale pelo aniversário e desejar muitos anos de vida. É uma revista com qualidade, séria e comprometida com a causa da sustentabilidade.” Márcia Hirota e Mario Mantovani, diretores da SOS Mata Atlântica, SP
“Para acompanhar a agenda de meio ambiente com foco na sustentabilidade a Plurale é um veículo de referência. O desafio lançado para esta e as próximas gerações está nas políticas públicas sem exclusão regional que tenham como diferencial a capacitação e educação ambiental. Longa vida para a publicação!” Ariosto Holanda, Deputado Federal (PSB-CE), de Brasília
“Com enfoque no desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, a Abrasca tem procurado destacar a valoração e qualidade dos ativos que estruturam esse mercado. Nesse raio de ação encontramos Plurale em Revista, que tem se pautado pelo fomento às ações em prol da cidadania, meio ambiente e da sustentabilidade de uma forma geral, seja por meio de artigos, matérias ou por intervenção direta, na participação de seminários, palestra e workshops. E por acreditar nesta sinergia, aproveitamos a oportunidade para cumprimentar Plurale em Revista e Plurale em Site por mais um ano de intenso trabalho. À diretoria e equipe de colaboradores, meus sinceros parabéns pelo quinto ano de sucesso. Antonio Castro, Presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA), SP “Tivemos a oportunidade de interagir com a equipe da Plurale em 2008, em um momento muito especial de nossos trabalhos, quando começamos a colher os primeiros frutos da parceria Fundação Odebrecht / ONU. De lá para cá, acompanhamos, com admiração, o crescimento desta premiada revista, que sempre nos brinda com temas de relevância, abordados com uma visão de qualidade e comprometimento com o interesse do leitor”. Maurício Medeiros, Presidente Executivo da Fundação Odebrecht, Salvador (BA)
“Há cinco anos, jornalistas já experientes e respeitados se uniram para criar a Plurale. Na Coca-Cola Brasil tivemos certeza desde o primeiro momento de que o projeto nascia sério, com credibilidade e vencedor. Hoje, temos uma publicação consolidada, que reverbera conhecimento e discute a sustentabilidade e a cidadania nos âmbitos da academia, governo e indústria. Sem dúvida, esses temas tornaram-se mais ricos, mais conhecidos e mais discutidos com a colaboração da Plurale, de sua direção e seus colaboradores. Parabenizo a todos da Plurale pelos cinco anos da revista e desejo, em meu nome e em nome da Coca-Cola Brasil, muitos anos mais, repletos de realizações, pautas interessantes e reflexões, para o benefício de todos nós. Abraço,” Marco Simões, Vice-Presidente da Coca-Cola Brasil, RJ
“Prezada Sônia, Gostaríamos de parabenizar Plurale em Revista pelos cinco anos de atividade, trazendo uma cobertura relevante sobre o terceiro setor, em especial sobre os fatos e ideias ligados à sustentabilidade de nosso planeta. A Fundação Telefônica Vivo também parabeniza a repórter Nicia Ribas pelo sensível e fiel relato, publicado na edição de nº 30, a respeito do projeto de combate ao trabalho infantil que estamos desenvolvendo no Nordeste. Desejamos vida longa à publicação.” Françoise Trapenard, Presidente da Fundação Telefônica Vivo, SP
“Cara Sônia e amigos da Plurale, Parabéns pelos cinco anos de jornalismo engajado e por colocar em pauta questões extremamente importantes para o desenvolvimento socioeconômico do país, como educação e sustentabilidade. Abraço,” Antonio Matias, Vice-presidente da Fundação Itaú Social, SP
Entrevista
NILCÉA FREIRE, REPRESENTANTE DA FUNDAÇÃO FORD NO BRASIL
“O Brasil é um protagonista importante, que faz diferença no cenário global” Nilcéa Freire fala sobre os 50 anos da Fundação Ford no Brasil, resultados e projetos em curso. A ex-Secretária Especial de Política para as Mulheres do Governo Lula vê avanços no combate às desigualdades e acredita no avanço da Justiça Racial e dos Direitos das Minorias, Desenvolvimento Sustentável e Liberdade de Expressão
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PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2012
Leia a entrevista nas págs 12, 13 e 14 >>
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Entrevista Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Do Rio de Janeiro Foto: Divulgação/ Cláudia Ferreira
P
oucas pessoas no Brasil conhecem tão a fundo a questão da igualdade de gênero e políticas para melhoria das condições de trabalho das mulheres como Nilcéa Freire. Médica de formação, professora universitária, a carioca de 59 anos foi reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) de 200 a 2003 e graças ao seu engajamento nas causas sociais ganhou o respeito e reconhecimento não só entre seus pares, mas junto a ninguém menos do que o presiden-
te Lula. Foi convidada para ser Secretária Especial de Política para as Mulheres em 2004, com status de Ministra, cargo que ocupou até 2010. Em 2011, assumiu a Secretaria da Fundação Ford no Brasil. Sua agenda é tão concorrida quanto à relevância de seu trabalho. No Brasil há 50 anos, a Fundação Ford tem histórico de apoio a projetos que busquem a justiça racial e dos direitos das minorias, desenvolvimento sustentável e liberdade de expressão. No início, em anos de falta de liberdade de expressão, apoiou professores e intelectuais e fortaleceu o debatem em torno da Democracia e da questão dos Direitos Humanos. A história da Fundação se confunde hoje com todo o período de redemocratiza-
ção e avanço do protagonismo social. Nilcéa vive com o pé na estrada, literalmente. Entre uma viagem e outra por este Brasil continental, ela concedeu esta entrevista exclusiva à Plurale em revista. Aqui, Nilcéa destaca o papel de protagonista do Brasil hoje no cenário global; como o trabalho da Fundação Ford se confunde com a história do Terceiro Setor no Brasil ao longo destes cinquenta anos e comemora avanços relevantes no combate às desigualdades. “O Brasil hoje não é apenas mais um coadjuvante. É um protagonista que tenta redesenhar o mapa político mundial, contribui para o redesenho do mapa político mundial”, afirma Nilcéa. Confira os principais pontos deste diálogo.
ENTREVISTA Plurale em revista – A Fundação Ford tem atuado há 50 anos apoiando ações e causas relevantes no Brasil, como a questão dos Direitos Humanos, das mulheres, dos negros, o combate às desigualdades etc. Que balanço você faz destes 50 anos? Nilcéa Freire - O escritório tem 50 anos, e ao longo deste período da presença da Fundação Ford ao Brasil, alguns temas predominaram. Podemos dizer que um desses temas foi a questão dos Direitos Humanos. Neste início houve sempre uma preocupação muito grande em apoiar
a garantia dos Direitos Humanos. Houve sempre também, e no primeiro momento isso foi mais pronunciado, uma preocupação em apoiar iniciativas acadêmicas que se vinculassem à promoção da Justiça Social, ou seja, casar justamente a preocupação com o avanço da sociedade com o desenvolvimento acadêmico. Assim, a Ford apoiou o aparecimento, o surgimento e a manutenção de centros acadêmicos importantes no país, como, por exemplo, o CEBRAP, que propiciou a formação de toda uma geração de pesquisadores no campo das Ciências sociais. É importante
Nós “continuaremos o trabalho no campo da Justiça Racial. Entendemos que essa é uma dimensão do nosso trabalho no Brasil extremamente importante. O racismo ainda é nesse país o promotor das enormes desigualdades que nós ainda vivenciamos
”
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também ressaltar outra área de atuação, onde a Fundação fez diferença que é a área do Desenvolvimento Sustentável. Com o foco na Amazônia, a Ford pôde criar condições para toda uma perspectiva de demarcação de territórios, de garantia dos territórios indígenas também acontecessem. Importante também dizer que outra área que a Fundação fez diferença foi na área e no campo da Justiça Racial, na qual o exemplo mais contundente foi justamente há 10 anos, quando a Fundação começou a apoiar a implementação e a discussão do sistema de cotas raciais nas universidades brasileiras. Este trabalho se manteve até hoje e seus resultados mais notáveis foram a aprovação recente pelo Supremo Tribunal Federal da constitucionalidade da ação afirmativa no Brasil e aprovação recente da nova lei que estabelece as cotas para alunos afro-descedentes, indígenas e os alunos de escola pública nas universidades federais brasileiras. Plurale – Como você resumiria este trabalho ao longo de 50 anos da Fundação Ford no Brasil? Como uma história bem sucedida de muitas lutas? Nilcéa - Eu considero que a Fundação soube fazer boas escolhas de áreas de trabalho no Brasil. Desde o processo de apoio,
ções em curso ou, como dizem os críticos, as ainda há muito por fazer? Nilcéa - Com certeza o Brasil é outro. Em primeiro lugar, é importante marcar que a democracia fez deste país, um país diferente. A democracia propiciou um novo ambiente para a nação brasileira, um novo ambiente para o próprio processo de desenvolvimento, onde a sociedade brasileira passa a intervir no processo de desenvolvimento dessa nação. O País hoje, muito embora ainda sofra com o padrão de desigualdade bastante acentuado, esse padrão de desigualdade vem diminuindo ao longo dos últimos anos. O Brasil, do ponto de vista da arena internacional, é um “player” que faz diferença na chamada arena global do Hemisfério Sul. O Brasil hoje não é apenas mais um coadjuvante, é um protagonista que tenta redesenhar o mapa político mundial, contribui para o redesenho do mapa político mundial. Plurale – E qual é o papel da sustentabilidade, do Terceiro Setor no redesenho deste cenário? Tem sido importante? Nilcéa - É um papel extremamente importante, aliás, é importante também dizer que o Terceiro Setor vem ganhando fôlego nos últimos anos, sendo um protagonista
gatinha nesse setor da filantropia, mas novas dimensões vem sendo dadas, inclusive incorporando ao ambiente da filantropia questões como gênero e raça que não existiam nesse mundo anteriormente. Plurale – Bom tocar neste ponto. Ao longo dos anos, tem sido muito comum ver fundações, institutos e empresas com foco em Educação. A maioria querendo “suas criancinhas” para fazer algum projeto educacional, mas pouquíssimos ou quase ninguém querendo saber das questões de raça, gênero ou sexual. Todos os problemas mais polêmicos, digamos assim, foram deixados um pouco de lado. Vocês, na Ford e outros poucos, felizmente ajudaram a jogar o holofote. Você acredita que este cenário esteja mudando, principalmente no setor privado, acredita que tenha acordado um pouco mais para esses temas? Nilcéa - Acho que sim. No último congresso do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) houve uma demonstração clara de abertura de espaço para novos temas no setor. Tivemos, por exemplo, como eventos paralelos no congresso GIFE desse ano, um dia inteiro de discussões sobre igualdade de gênero e a importância do
Foto: ENY MIRANDA
Vamos também “seguir aprofundando
ainda na resistência ao regime militar, ao processo de redemocratização do país e agora no processo de construção democrática desse novo momento do desenvolvimento brasileiro. Plurale – O Brasil de hoje é outro? Você que já esteve na academia, no Governo, agora de volta ao Terceiro Setor, que avaliação faz? Há, realmente, o que contabilizar em termos de transforma-
importante da Justiça Social. Hoje, temos um conjunto de parceiros no Terceiro Setor que tem recebido doações em recursos que foram colocados à disposição, direta ou indiretamente da sociedade, um setor que trabalhou com quantias vultosas, atuando em diferentes campos e tendo toda uma discussão sobre essa nova fase da filantropia brasileira que vem se desenhando ao longo dos últimos anos. O Brasil ainda en-
a nossa relação com o meio-ambiente sustentável, mas intimamente relacionando o nosso trabalho com os Direitos Territoriais e os Direitos das populações que vivem na Amazônia brasileira
”
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Foto: Divulgação/Portal Fundação Ford
Entrevista
investimento social em meninas e mulheres. Ainda mesas redondas sobre a questão dos Direitos Humanos e como trabalhar esta questão dentro do investimento social privado. Então, acho que há avanços e é importante que as fundações, que os novos fundos independentes, sejam chamados cada vez mais a contribuir por uma formatação deste setor no Brasil e influenciar desta maneira o conjunto de política social. Plurale – Mas, de qualquer forma Nilcéa, ainda não fica uma sensação de que o setor privado entra um pouco para fazer aquela fotografia bonita – claro, é um processo- mas que ainda falta um caminho realmente de engajamento, de preocupação legítima e verdadeira com todas as causas relevantes? Não lhe passa esta sensação de marketing ainda, um pouco de publicidade, de greenwashing? Qual o cenário que você vê aí pela frente? Nilcéa - Acho que ainda há muita dúvida entorno daquilo que é o chamado investimento social privado, o que é a filantropia mais tradicional e não a
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moderna filantropia. Nós temos muito a aprender com outros países onde há um desenvolvimento do setor filantrópico diferenciado. Mas eu acredito que cada vez mais no Brasil há consciência desta necessidade, de que a sociedade como um todo contribua para o avanço social. Acredito que há uma consciência maior sobre isso. Nós, na Ford, temos buscado também influenciar esse ambiente, estarmos junto com os nossos parceiros tentando influenciar esse redesenho da filantropia nacional. Plurale – Os jovens, na sua opinião, podem ter um papel preponderante no sentido de serem protagonistas desta mudança? Nilcéa - Seria desejável que se pensasse na juventude com esse protagonismo. Muito embora eu ainda veja muito o jovem brasileiro sendo olhado como objeto de trabalho e não com papel protagônico. Plurale – Para os próximos anos qual será o papel, a linha de atuação, o cenário da Fundação Ford no Brasil? Nilcéa - Para os próximos anos nós definimos quatro grandes pilares de trabalho. Uma área de trabalho que corres-
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ponde a nossa tradição, que a área dos Direitos Humanos, sendo que para os próximos anos, nós estaremos olhando para os Direitos Humanos sob a ótica das relações dos Direitos Humanos com os processos de desenvolvimento brasileiro e de que maneiro o atual modelo de desenvolvimento impacta os direitos daqueles que nós denominamos os subrepresentados na sociedade brasileira, ou seja, aqueles segmentos mais vulneráveis da população brasileira. Nós continuaremos ainda o trabalho no campo da Justiça Racial. Entendemos que essa é uma dimensão do nosso trabalho no Brasil extremamente importante. Entendemos que o racismo ainda é nesse país o promotor das enormes desigualdades que nós ainda vivenciamos. Vamos também seguir aprofundando a nossa relação com o meio-ambiente sustentável, mas intimamente relacionando o nosso trabalho com os Direitos Territoriais e os Direitos das populações que vivem na Amazônia brasileira. Outra dimensão importante do nosso programa para os próximos anos é justamente a dimensão da comunicação e como a comunicação e a liberdade de expressão são absolutamente essenciais para democracia e para o combate às desigualdades.
Terceiro Setor Marcos Flávio Azzi, fundador do Instituto Azzi.
Instituto Azzi:
ajudando a planejar investimentos sociais Por Taís Reis, Especial para Plurale em revista
A
história do Instituto Azzi poderia perfeitamente ter sido extraída de um conto de fadas onde seu fundador, Marcos Flávio Azzi, 39, seria o personagem principal. Nascido numa cidadezinha de 15.000 habitantes
no interior de Minas Gerais, aluno de escola pública, aos 19 foi cursar administração em São Paulo e, graças ao mercado financeiro, se tornou um milionário pouco depois dos 30. Poderia ter continuado a aumentar seu patrimônio, mas preferiu dedicar-se à filantropia, fundando o instituto que leva seu nome e ao qual se dedica integralmente. A organização não tem fins lucrativos e seu trabalho é oferecer a pessoas de alto poder aquisitivo apoio para planejar e executar melhor sua filantropia, de acordo com sua causa de interesse. Depois de quatro anos de uma atuação bem sucedida em São Paulo, Azzi traz a instituição para o Rio de Janeiro. Constantes conversas com seus clientes sobre o assunto o levaram a perceber que muitos deles gostariam de protagonizar mudanças em relação às desigualdades da realidade brasileira, sem saber por onde começar nem o que fazer. Este contexto fortaleceu sua convicção de que era necessário criar um espaço para aproximar pessoas físicas com interesse em fazer investimentos sociais e organizações sociais de excelência Toda a estrutura das duas sedes do Instituto Azzi é bancada por ele e por pessoas que gostam da causa. “Um pedaço do que recebi aportei num fundo patrimonial que vai dar suporte ao instituto por cerca de mais cinco anos”, diz Marcos, que doa 3% do seu patrimônio por ano. O instituto já conseguiu mais de 20 investidores, que doam de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões por ano, para 40 projetos sociais. site: http://www.institutoazzi.org.br/
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CONEXÕES
PLURALE
Comunicação e seu papel estratégico para transformação NÁDIA REBOUÇAS (*) Cinco anos de Plurale! Cinco anos de comprometimento com uma comunicação que dê significado e significância ao que precisamos fazer: transformar nosso mundo. A comunicação tem uma importância fundamental para nos equipar a fazer diferente, em todos nossos ambientes. Como podemos fazer isso sem ter informação? Sem saber que estamos perigosamente atingindo os limites de nosso planeta? Esse mês passado, por duas ocasiões, refleti sobre o tema: A comunicação pode mudar o mundo? A primeira foi com os estudantes de comunicação da UNISC em Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul. Escolheram esse tema para a Semana de Comunicação. Voei para lá, porque só a escolha do tema é uma prova de que essa nova geração de comunicadores anda pensando diferente. A outra oportunidade foi no NEF – Núcleo de Estudos do Futuro – da PUC São Paulo. Lá estavam reunidos aqueles que estão comprometidos com o futuro da humanidade. Duas oportunidades para refletir sobre nosso papel como comunicador. Em homenagem à Plurale desenvolvo o roteiro dessas conversas. Comecei dividindo com esses públicos, tão diversos, que a comunicação sempre mudou o mundo, desde quando ela era apenas lida, num pergaminho, nas praças dos embriões das cidades medievais, pelos enviados dos poderosos. Mas não fui para tão longe na linha da história, preferi refletir sobre o que vivi, nas décadas em que fui publicitária, vendo o mundo mudar, para o que temos certeza que tem que mudar hoje. A década de 60 começou a trazer as diferenças. Mulheres, negros, homossexuais. Na mini série Gabriela podemos
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ouvir um homem falar para sua mulher: se arrume que hoje eu vou lhe usar! Ou na novela das 18hs observar a perseguição ao negro recém liberto e que mantêm nosso sutil racismo até hoje. Comecei a trabalhar em publicidade na década de 70. Do lado da minha casa ainda havia quitanda, açougue e padaria. Nesse comércio girava a economia do bairro. Éramos chamados pelo nome e tínhamos uma caderneta que anotava o que gastávamos. Já tínhamos shoppings, mas iniciantes. Lugares meio estranhos. Nasciam os supermercados e me lembro do meu espanto lendo o primeiro manual da Johnson & Johnson ou Unilever, não me lembro bem, sobre merchandising nos supermercados. Percebi que nada, mas nada mesmo, era feito sem reflexão estratégica para nos tornar consumidores. Começaram a nascer ali os consumidores que conhecemos hoje, que agem como autômatos comprando e comprando. O Brasil dava primeiros passos para
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sair da ditadura que infernizou a juventude de minha geração. Para os jovens fica difícil imaginar o tipo de juventude que tivemos, sem internet, mas pior, sem poder comprar livros, assistir determinados filmes e preocupados em cuidar dos encontros com amigos porque podiam ser interpretados como subversivos. O governo militar fazia sua primeira estratégia de comunicação, apelando para nosso orgulho de ser brasileiro, inventando um milagre econômico e convocando: Prá frente Brasil! Ame-o ou deixe-o. O Brasil ganhou pela terceira vez a Copa do Mundo confirmando nossos milagres econômicos. Os porões da ditadura tinham minutos de paz nas torturas, para comemorar os gols desse Brasil grande! A indústria se expandia, a publicidade se profissionalizava com metodologias e processos trazido pelas multinacionais. Aprendia-se a fazer planejamento de comunicação, muita pesquisa e a medir, pela primeira vez, a audiência dos programas de televisão – o GRI. Tudo voltado para criarmos um mercado de consumo interno, uma classe média. Os publicitários, odiando a censura que invadia os meios de comunicação, lançaram o CONAR. Liberdade à publicidade! Muitos mercados a construir! Mercado para os descartáveis, tipo Perfex que as brasileiras não entendiam: se camisas velhas e pedaços de toalha conseguem ser tão úteis, para que comprar um paninho furadinho? Mas o mundo “do jogar fora” começou sua trajetória, mudando nossos hábitos. Fui para
Brasília, com meu chefe, pedir autorização para veicular o primeiro comercial de Modess, só existia ele no Brasil. Autorizaram a veiculação, contanto que a moça usasse calça comprida vermelha. Nunca entendi porque não podia ser branca, mas a censura sempre tinha razões que a razão desconhecia. Modernização da agricultura. Supermercados. Shopping Centers. Marketing. Consumo e crescimento da economia. A grande massa subiu um degrau na escala e uma minoria subiu vários degraus. O nordeste já era seco e cheio de fome! Formou-se uma classe média com possibilidades de financiar educação para seus filhos e gerar demanda significativa de produtos e serviços. Veio a anistia, depois de muito terror, e a abertura lenta e gradual. Assim chegamos aos anos 80 que revelaram a grande farsa. O milagre virou pesadelo e os Danones e gelatinas prontas estragavam nas gôndolas do supermercado. Os dados Nielsen da época anunciavam queda no consumo de macarrão! Acentuou-se a corrupção. Sindicatos se organizaram em greves e manifestações. A economia
O governo militar fazia sua primeira estratégia de comunicação, apelando para nosso orgulho de ser brasileiro, inventando um milagre econômico e convocando: Prá frente Brasil! Ame-o ou deixe-o.
não conseguiu apresentar índices de crescimento. A classe média foi à principal vítima. Perdeu o poder de compra. Tirou o filho da escola particular e não sonhou mais com o segundo carro. Só muito mais recentemente o IPI reduzido multiplicou o sonho do carro. A propaganda e o marketing viveram anos de muita agitação oscilando entre grande pessimismo e euforia intensa. A figura da mulher ganhava força nos anúncios e muitas vezes com apelos eróticos, como símbolo do feminismo, foram mudando os padrões de comportamento social. Tudo isso fica mais evidente olhando os anúncios da época. Você pode entrar no Google e fazer esse exercício de reflexão pelas décadas. Vai sentir que foi com a comunicação que se mudou o mundo. As empresas desenvolvem produtos e serviços, mas é a comunicação, no seu mais amplo aproveitamento, que cria mercados. Essa década foi chamada por alguns
virando moda para elite, o começo da consciência de maior número de pessoas de que o planeta poderia ter limite. As ONGs alemãs traziam o conceito dos “verdes”. Palavras novas surgiram como ecossistema, biodiversidade. O sociólogo Betinho mobilizou toda a nação com a sua “Ação da Cidadania contra a miséria e pela vida”. Havia fome no Brasil, não adiantava a elite fingir não enxergar. Como crescer o país com tanta desigualdade? Maior consciência ecológica foi o ganho da década. Cresceu o trabalho de
de década perdida, mas na prática ela lançou as bases da sociedade de consumo que somos hoje. Trouxe os novos comportamentos sociais também e até a gravidez na adolescência. A década de 90 chega com esperanças. A ditadura estava longe e podíamos imaginar um novo mundo. Cai o muro de Berlim. Foi a primeira vez depois de 47 anos que os brasileiros puderam votar num presidente. Elegemos Collor e nos unimos para tirá-lo do poder. Aconteceu a Rio 92, Conferência mundial do meio-ambiente no Rio de Janeiro. Começou aí tudo que se desdobrou em comportamentos de compra diferentes: o natural, menos carne, a roupa indiana
ONGS para proteção do meio-ambiente, reciclagem de materiais, além da preocupação com a exclusão. Surge uma segunda geração de ONGs no Brasil e aos poucos o conceito de empresas cidadãs. A comunicação foi mudando consciências. A sociedade foi ficando mais tolerante para opções de conduta pessoal, prática de sexo, namoro e casamentos. Vida cultural se ampliou, os filmes e livros chegavam. A abertura de mercado, do livre trânsito de ideias e produtos culturais e começou a estonteante rapidez dos meios de comunicação. A chegada dos anos 2000 era uma esperança, uma nova era. Nos negócios a nova era tinha muita pressa. Muitas demissões,
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CONEXÕES
privatizações já haviam acontecido na última metade dos anos 90. O Computador nos invadiu para bem e para o mal. Gestão ganhou força nas empresas e responsabilidade social virou obrigação, bem como mais tarde chegou a hora de incorporar sustentabilidade. Todas as novidades, que ganham força no tecido social, passam a ser incorporadas pelo sistema de mercado e de alguma forma tem seu “significado” controlado. Na prática só dá para entender isso quando entendemos de “marketing” e comunicação é claro! É ela que fala das essências das marcas, que cria a necessidade de consumir determinados produtos, que nos lidera para a ditadura do TER. Mas a civilização não pára e forças atuam em conflito no tecido de alta complexidade da civilização atual. A globalização, a percepção do triple botton line, o conceito de stakeholders, começam a entrar nas grandes organizações. A internet, outra vez a comunicação, obriga os governos e as corporações a refletir e mudar as estratégias de ação. Comunicação do século XXI? Está tudo em transformação. É a época “do sem tempo”, tudo é fast. Para as mulheres a época do “corra Lola, corra”. Ninguém sabe muito bem porque corremos tanto! Queremos crescer, o máximo e o mais rápido possível. Mas nas rádios corredor e nos consultórios dos psicólogos todo mundo chora uma vida perdida, mesmo aqueles que não viveram outras épocas. Com a globalização os mercados continuam a crescer, mas a que preço? Crescem menos, nesse tão falado 2012. Quem se uniu, quer se separar. A falta da visão sistêmica leva cada país defender o seu. As grandes corporações, que não tem território, estão correndo por fora, construindo uma rede de controle global. Crise
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econômica? Crise ética? De percepção? A consciência de uma mobilização global pela vida cresce em número de adeptos, mas a transformação é lenta. Novas mídias se apresentam e o mercado de comunicação enfrenta muitos desafios para se adaptar. As redes sociais obrigam as empresas a levá-las em conta! Mudança de paradigmas. Multidisciplinaridade, diversidade e pouca previsibilidade do futuro. As economias locais, que foram desaparecendo desde a década de 70, fazem todos nós consumidores do mundo. Mas surgem moedas locais e o interesse para mudar a fórmula do PIB. 2012 nos mostra que tudo é “líquido”. (conceito de Zigmun Baumam).
Comunicação do século XXI? Está tudo em transformação. É a época “do sem tempo”, tudo é fast. Para as mulheres a época do “corra Lola, corra” A consciência que estamos afetando de maneira irreversível nosso planeta, que precisamos modificar nossos modelos de gestão e nossos padrões de consumo, de produtos e serviços, se apresenta como uma questão vital para o futuro. Também como nos diz Baumam: HIPOTECAMOS NOSSO FUTURO. O limite de nossa arrogância está no limite da terra. “A principal pergunta hoje não é o que fazer, mas quem vai fazer!” (Zygmunt Bauman)
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Não pode existir empresa bem sucedida e sustentável numa civilização que mantêm parte da sociedade na “idade média” e onde não existe o “palco”, a terra para atuar. Uma empresa só é dona da sua imagem, mas perdeu o controle de sua reputação! Como nos fala Manuels Castells: a mistura da ocupação das praças com as redes sociais é nova, não sabemos o que vai gerar, mas assistimos a essas mudanças. A juventude está diferente das duas décadas anteriores. Visão sistêmica começa a mudar crenças, estilo de vida, valores. Poderemos escolher? Podemos mudar? A diversidade é um fato, os refugiados e emigrantes, que estão por toda parte, nos mostram nossa dificuldade de convivência e conversa com o diferente. O que fazer com a noção de estado, nação e território num mundo de corporações transversais? O que fazer num mundo que incorpora o conceito de sustentabilidade, sem percebê-lo sistêmico e que continua falando em crescer, crescer com o maior lucro possível para os acionistas? Será que a economia não tem que se transformar perguntando por que existe? Não seria adequado pensarmos que ela existe para fazer fluir a felicidade das pessoas e cuidar do meio ambiente? Imaginemos uma utopia: todos os economistas acordariam encontrando um novo sentido para seu trabalho: cuidar das pessoas e do planeta. Daríamos uma virada na espiral do desenvolvimento humano. Voltemos à pergunta? A comunicação pode mudar o mundo? Pode, porque sempre mudou. O desafio agora é se queremos usar a comunicação para mudar o mundo ou para manter nosso desatino. Se vamos ter novas tecnologias para nos salvar, mas especialmente novas lideranças nos governos, nas empresas, na academia, nas comunidades que possam estar criando o novo mundo para que nós profissionais de comunicação possamos anunciar, vender! Enquanto esses novos produtos e serviços de uma sociedade que escolhe só SER não chegam, vamos apostar na vanguarda que sai protegendo árvo-
O limite de nossa arrogância está no limite da terra. A principal pergunta hoje não é o que fazer, mas quem vai fazer!
res, animais, seres humanos excluídos, que faz feira de desapego, que troca presentes, que não quer propaganda para nossas crianças, que medita que anda de bicicleta, recicla seu lixo e
planta uma hortinha ou ocupa praças, ou seja, aqueles que são capazes de sonhar. As mudanças sempre começaram pela mão de alguns, não é Plurale? Vamos investir na educomunicação, diálogo e empatia certos de que, ao longo da história, não somos tão diferentes assim. Buscamos o atendimento às nossas necessidades básicas, carinho, respeito, liberdade e paz. Muitos outros anos de produção de LUZ meus amigos!
(*) Nádia Rebouças (nareboucas@ reboucasassociados.com.br), é Colunista de Plurale, colabora com artigos sobre sustentabilidade. É Diretora da Rebouças e Associados, especializada em Comunicação para Transformação.
(Zygmunt Bauman)
Toda forma de contribuir para um mundo melhor vale a pena. Pág 19 - Anúncio meia página SeeDesign
Trabalharmos juntos com este objetivo é melhor ainda. e pelos 5 anose.. Parabéns Plural er vação do Meio Ambient Ação, Cidadania e pres
Diagramação e arte de Plurale em Revista. artseedesign@gmail.com
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Novidades
Novo site ainda mais interativo e foco em consultoria em Sustentabilidade
“Plurale se consolidou como uma marca forte em Sustentabilidade. Estamos usando nossa expertisee para também produzir relatórios, projetos especiais, dar palestrass e muito mais” Sônia Araripe, ripe,, Diretora de Plurale e Pl urrale em revista e Plurale em site e
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lurale é fruto de construção coletiva. E outra característica forte é sempre buscar novidades e avanços. Tem sido assim ao longo destes cinco anos. Como parte do aniversário, acaba de ser lançando novo portal ainda mais interativo e moderno (www.plurale.com.br). Sem falar que o design da revista se consolida consolid como um projeto inovador e moderno. “A ideia id é qualificar ainda mais os produtos, aproximando-os dos leitores atuais e conquistando novos”, conta Sônia Araripe, Diretora de Plurale em revista e Plurale em site. A Prodweb, que já administra Plu o portal por há quatro anos, fez a reformulação, trazendo novas cores, mais mai definição para as salas e dando destaque para as seções que estão est chegando. Como a nova Coluna Ecoturismo, por Isabella Araripe, com dicas sobre programas imperdíveis em destinos A capazes de aliar beleza natural e muita emoção. Art See Design é responsável pelo desenho sempre elogiado da revista. “É gratificante ver como todos reconhecem o valor de trazer um desenho diferenciado, moderno e criativo para apresentar apresenta histórias e artigos relevantes”, lembra Carlos Franco, também Diretor de Plurale. Não Nã é só. Na trajetória de cinco anos, Plurale se firmou como produto relevante no segmento fir de Sustentabilidade. Conquistou prêmios, multiplicou seus leitores, agregou mais parceiros e tip apoiadores e tem sido cada vez mais procuraa da para também realizar projetos especiais. “Plurale se consolidou como marca forte e relevante em Sustentabilidade. Estamos usando nossa expertise para também produzir relatórios, formatar projetos especiais, dar palestras para diferentes públicos, moderar eventos e muito mais”, mais , explica Sônia Araripe.
O diretor de Plurale, Carlos Franco (E), recebeu a Certificação do presidente do IBEF Nacional, Sergio Melo, em concorrida solenidade no Rio em julho de 2011
Diretora de Plurale, Sônia Araripe, ao centro, coordena evento sobre sustentabilidade para o Sesc Rio em novembro de 2011
Além da equipe de Plurale, consultores especializados na confecção de Relatórios de Sustentabilidade, dentro do padrão GRI, se uniram para reforçar ainda mais o time. Como as jornalistas Elizabeth Oliveira, co-autora do livro “Sustentabilidade e Transformação Social” (Editora SENAC) e Solange Varejão, ambas com larga experiência neste nicho. Também professores especializados na temática da Sustentabilidade irão reforçar a equipe da Consultoria Plurale, como Dario Menezes, professor da ESPM-RJ, FGV e Ibmec. “Estamos preparados para apresentar projetos e também atender de forma personalizada as empresas e organizações interessadas”, complementa Sônia Araripe, lembrando que pode ser apenas o conteúdo ou a produção completa de relatórios, materiais e eventos. Vários destes projetos já foram realizados. Como palestras, relatórios, moderação em eventos, folders, etc. Para fazer consulta de orçamento e contatar Plurale basta ligar para (21) 3904 0932 ou enviar email diretamente para Sônia: soniaararipe@plurale.com.br
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Frases
Ao longo de cinco anos, Plurale em revista teve o privilégio de ouvir interlocutores relevantes no diálogo sobre Sustentabilidade no Brasil e no mundo. Professores, protagonistas do Terceiro Setor e também gente simples, que faz diferença, como o mineiro Seu Bené, jovens na faixa de 20 anos, filhos da Rio 92 e as mães de crianças da periferia de Recife que querem afastá-los das drogas e do trabalho infantil. Selecionamos aqui alguns destes momentos mais marcantes.
“A pobreza, a baixa escolaridade, a violência só são combatidos com a soma de esforços” - Dra. ZILDA ARNS, presidente da Pastoral da Criança, falecida em janeiro de 2010 no terremoto que assolou o Haiti, Edição 1 “Toda essa turbulência, a crise global, veio para sacudir a humanidade. Havia uma ganância desenfreada, uma busca incessante por lucro e desenvolvimento a qualquer curto. Não dava para continuar assim” – Miguel Krieger, presidente do Conselho de Administração e fundador do Grupo Boticário, Edição 9 “Acredito que as mudanças ocorrem quando cada setor dá um passo adiante, cada um no seu tempo, individualmente. E vejo a empresa privada mais à frente, neste momento, do que a área pública” - GILLES GIBBON, CEO da Good Business, consultoria britânica especializada em Sustentabilidade, Edição 27
“Acredito realmente que com um pouco mais de ajuda internacional será possível termos um Haiti livre da violência, com todas as crianças na escola e emprego garantido para as pessoas” - LUIZ CARLOS DA COSTA, 2º homem da Missão da ONU no Haiti, falecido no mesmo terremoto, Edição 10
“Estudo firme. Quero ser juíza e ajudar as mulheres daqui da região” - GILMARA ARAÚJO MONTEIRO, estudante, 13 anos, moradora de Xapuri (AC), comemorando a chegada da energia solar em sua escola 22
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“Não há dúvidas que precisamos entender que existe um cliente e um mercado” - LEONARD SCHELESINGER, presidente do Babson College, um das mais conceituados institutos dos EUA na formação de administradores, Edição 12 “Cássio é muito vergonhoso, como o irmão mais velho, Caíque, que só começou a falar depois que veio para cá” – CÁSSIA DE LIMA Silva, mãe da periferia de Recife (PE) que leva os filhos para participar de atividades que combatem o trabalho infantil, em parceria com a ONG Visão Mundial e a Fundação Telefônica Vivo, Edição 30
“Hoje o rico não é mais elite. O sábio é a elite” ISRAEL KLABIN, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Edição 6
“Vi a semente desta árvore ser plantada, pequena e frágil, enriquecida pelos parceiros. Virou árvore e foi cuidada pela comunidade. Os frutos dançam, tocam, cantam e encantam” - SEU BENÉ, um dos moradores mais antigos da comunidade Jardim Teresópolis, em Betim, comemorando a inauguração da sede da Associação, em parceria com a Fiat Brasil e ONGs, Edição 25
“Percebi que cada um fazendo sua parte, por menor que seja, podemos fazer a diferença” - ALAN FERREIRA DA SILVA, 20 anos, instrutor do Projeto Roda Viva, da Comunidade do Borel (RJ), entrevistado na matéria sobre a geração dos ‘filhos da Rio 92”, Edição 29
A WalPrint tem orgulho de ser parceira da Plurale em revista.
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Colunista Plurale Roberto Saturnino Braga
SobrevivEncia
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Quem viveu os anos da guerra fria do século passado se lembra bem da certeza que se tinha da guerra quente, quentíssima, pairando a dúvida somente sobre as suas consequências, se extinguia tudo pela radiação ou não.
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”
A
o longo dos cinquenta mil anos de existência, foram muitas as ameaças: fomes, pestes, guerras, todos os males da caixa de Pandora, secas, dilúvios, a era glacial que acabou com tantas espécies, e a Humanidade superou-as todas, avançou distâncias imensas, atravessou mares e ocupou todos os continentes, confirmando sua força de sobrevivência que já havia demonstrado, deixando para trás os primos filogenéticos extintos, Neandertais e outros que tais. Aprendeu a plantar, construiu cidades e, a partir delas, a Civilização e a História; foi ampliando sua população e resistindo a novas dizimações, a peste negra, que matou um terço da população da Europa no século XIV, a explosão do Krakatoa, ou a explosão do mundo para todo o sudeste da Ásia há uns cento e cinquenta anos, foi crescendo na
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sua ciência, que acabou gerando sua última grande ameaça, faz uns cinquenta anos, com o Armagedon nuclear, experimentado em Hiroshima e Nagasaki e mostrado pelo Dr. Strangelove e outros filmes dos anos sessenta. A Humanidade venceu, ultrapassou os seis bilhões jamais imaginados, chegou à lua. E agora vai sucumbir a esta avalanche poluente que ela mesma produz e que é sua nova ameaça? Não; claro que não vai. Quem responde é o próprio bom senso que resta à Humanidade, seu dom de criação. Quem viveu os anos da guerra fria do século passado se lembra bem da certeza que se tinha da guerra quente, quentíssima, pairando a dúvida somente sobre as suas consequências, se extinguia tudo pela radiação ou não. E a guerra não aconteceu; chegou à beira do abismo, naquela crise dos mísseis de Cuba, quando as horas chegaram a se contar para a grande eclosão, e o
bom senso prevaleceu, os russos recuaram na hora agá e tudo retornou ao que era antes, a ameaça latente que, dali para a frente, se foi esfumaçando. Então existe este bom senso de autopreservação, instinto inscrito no DNA, que não vai deixar que o homem, para seu conforto e deleite, envenene a terra, o mar e o ar, até se envenenar a si próprio; que continue sendo o mesmo lobo do homem até ser o lobo de si próprio. Entretanto, fazer chegar a percepção do perigo a seis bilhões de pessoas demora décadas; mas acaba chegando. Quem tem experiência de campanhas políticas conhece bem a lentidão do processo de informação e de convencimento, de formação da opinião. Frequentemente a opinião final, decisiva, se forma nos últimos dias, quando a atenção geral é demandada pela inevitável proximidade do pleito. Como esperar que seis bilhões pelo mundo a fora se convençam do perigo, só porque alguns mais conscientes começam a advertir sobre uma calamidade que virá daqui a décadas? É preciso que cheguem os sinais da natureza, com a sua força espantosa e aterradora, para que os povos todos da terra decidam deter o processo. A decisão tem que vir deles, os povos todos, porque os governos têm seus interesses próprios, mas nos momentos críticos são arrastados pela vontade política dos povos, manifestada democraticamente, no voto, ou iradamente, nas ruas. Os poderosos precisam dessa vontade, procuram moldá-la segundo seus interesses, mas diante do grito clamoroso, sabem recuar. Assim, outros sinais, igualmente assustadores, devem vir da própria Humanidade, dessas reações populares de natureza política que marcam a História com a sua força tempestuosa. As duas correntes de manifestações, a da natureza e a do povo, convergem para a exigência da mudança do comportamento e da mentalidade que caracterizam o presente destrutivo: o insustentável consumismo do modelo capitalista. O que é o desenvolvimento sustentável? É a economia do consumo essen-
cial, do consumo razoável, do consumo responsável, da redução do consumo perdulário de energia, que está no fundamento do padrão de vida insustentável do consumismo. É preciso que venha o socialismo? Pessoalmente, acho que sim, já que o consumo perdulário, criado artificialmente, e o modelo capitalista de produção são faces da mesma moeda, um não vive sem o outro. E o socialismo virá assim, não de uma vez, tomando pelas armas o Palácio de Inverno do Czar, como foi na Rússia em 1917, mas por avanços inelutáveis, que vão caracterizando o controle político crescente da sociedade sobre a economia em substituição ao comando do Capital: o controle dos bancos, a extinção dos paraísos fiscais, a intervenção do Estado no planejamento e nos investimentos estratégicos, a começar pelo setor energético, a pressão política direta do povo nas decisões econômicas ocupando as wall streets do mundo, a diminuição da influência da grande mídia e a mobilização popular avassaladora feita pelas redes eletrônicas, um processo que começa a tomar forma e substância e só vai se alargar nas próximas décadas, paralelamente à repetição dos sinais naturais cada vez mais impactantes. Bem, não é só essa a minha crença: ela vai ainda até a importância do papel do Brasil nesse processo: o Brasil que está entre os dez maiores PIBs do mundo, assim como entre as dez maiores populações e as dez maiores superfícies territoriais, o Brasil que está entre as dez maiores democracias do planeta, que tem a liderança do continente mais progressista do mundo atual, o Brasil que tem uma tradição de negociação competente e pacífica entre as nações do globo; o Brasil potência da paz que possui a maior reserva biológica do mundo, terá certamente uma voz ressonante em todo esse processo de recondução da Humanidade ao bom senso preservacionista e ao modelo humanístico e sustentável de desenvolvimento econômico. Hoje é um sentimento que tenho; amanhã será uma realidade; quem dera poder vê-la.
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Como esperar que seis bilhões pelo mundo a fora se convençam do perigo, só porque alguns mais conscientes começam a advertir sobre uma calamidade que virá daqui a décadas?
”
(*) Roberto Saturnino Braga é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. Exsenador, com experiência pública de toda a vida, coordenador da ONG Instituto Solidariedade Brasil, autor de vários livros. O último é “Cartas do Rio” (Editora Record).
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Colunista
Dario Menezes
A O QUE PRECISA
SER FEIT..... 26
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gora que já se passaram quase três meses da Rio+20 e como diz o ditado popular “a poeira já baixou”, conseguimos perceber com clareza as iniciativas empresariais que foram desenvolvidas com o intuito de atrelar as marcas de algumas empresas ao evento, tentando maximizar a sua exposição, dada a relevância e a visibilidade internacional da Conferência e as iniciativas que foram apresentadas durante o evento e que vieram para ficar representando um avanço nas práticas e processos relacionados a sustentabilidade. É claro que os dois tipos de iniciativas descritas serviram para fazer o nosso país e em particular o Rio de Janeiro brilhar como anfitrião do evento, entretanto como protagonista cada vez mais relevante na sociedade contemporânea global, o Brasil tem o desafio maior de apresentar ao mundo um olhar diferenciado para a questão da sustentabilidade, um olhar que seja mais inclusivo, participativo e criativo como é a alma da sociedade brasileira, evitando repetir as mesmas estratégias e erros cometidos por outros países que hoje tem o seu modelo de desenvolvimento e de convivência coletiva questionados em praça pública. Portanto, é imperativo que apoiemos as iniciativas que são críveis, transformadoras e que vieram para construir uma nova realidade social e empresarial, impulsionando a inovação tecnológica e o aperfeiçoamento de processos que irão se perenizar como boas práticas das empresas e da sociedade. Desta forma para permear o conceito da sustentabilidade entre os diferentes segmentos e públicos, precisamos trabalhar de forma integrada os quatro grandes setores da sociedade que somados e atuando sinergicamente tem a capacidade de criarem inovações e melhorias:
Fotos de Luciana Tancredo, Plurale
a participação mais efetiva do estado na criação de políticas, incentivos e mobilização da sociedade para o avanço da sustentabilidade (o primeiro setor), as empresas (o segundo setor) realizando cada vez mais a vinculação dos projetos com a visão e a estratégia corporativa além da inovação tecnológica, a integração e participação social incentivada pelos diversos atores do Terceiro setor (ONGs e associações), as escolas de negócios (Futuro Setor) que devem incentivar o aculturamento e a integração do tema sustentabilidade na formação dos futuros profissionais do nosso mercado, seja para atuarem no primeiro, segundo ou terceiro setor.
Na esfera de atuação dos governos, precisamos de políticas eficientes de mobilidade urbana, de saneamento, reciclagem de lixo, ocupação do território e de inclusão social, que façam nossas cidades mais sustentáveis. Precisamos fazer cumprir as leis e punir infratores, mas também precisamos criar incentivos econômicos que impulsionem as práticas da geração de energia eólica ou solar, do carro elétrico, da redução incentivada do consumo de água ou da correta destinação dos resíduos sólidos. Necessitamos também avançar muito na questão da governança do tema e na criação de valor compartilhado entre o governo, as empresas e a sociedade. No campo corporativo, precisamos incentivar os projetos colaborativos que geram transformação para toda uma cadeia de valor gerando impacto e mudanças de hábitos em diversos públicos ao mesmo tempo. Precisamos também retomar os projetos de longo prazo que pensam a sustentabilidade de forma mais integrada às estratégias empresariais. Não basta serem desenvolvidas ações de curto prazo ou que não tenham uma forte vinculação com a estratégia final da empresa. Claro que elas são importantes, mas não mudam o modelo de negócios por que continuamos a pensar no resultado de curto
prazo. As empresas precisam assegurar que os seus projetos sejam relevantes no longo prazo para si e para o seu conjunto de stakeholders reforçando desta forma a materialidade e a abrangência da iniciativa. Quando falamos do terceiro setor, o desafio é que as ONGs e associações com sua capacidade de aglutinação trabalhem na aproximação dos diferentes atores e tragam para a discussão as expectativas da sociedade no rumo do desenvolvimento sustentável de uma forma positiva e que leve em consideração as restrições econômicas pelas quais o mundo vem passando nos últimos tempos aliadas as preocupações ambientais e sociais. Temos que recriar novas formas de fazer negócios, entretanto por outro lado quando pensamos, por exemplo, em vários países da Europa que passam por crises econômicas precisamos chegar a um estado de equilíbrio para que novos negócios não sejam inviabilizados, mas sim reinventados. No campo das escolas de negócios (futuro setor), precisamos também criar mais condições para que os alunos tenham oportunidade para aprender a sustentabilidade através de uma proposta educacional mais ampla e integrada. Não basta oferecer uma disciplina isolada dentro de uma extensa grade
curricular entendendo que “estamos fazendo a nossa parte”. Lógico que esta iniciativa isolada cria uma sensibilização para o tema, entretanto não gera a ruptura de pensamento necessária para o avanço da sustentabilidade nem propõe uma revolução na forma de pensar o mundo dos negócios e na forma como as organizações estão estruturadas. Para que isso aconteça precisa que seja feita uma evolução no conteúdo pedagógico, integrando a sustentabilidade a todos os pilares de aprendizado dos alunos, propondo de uma forma transversal novas abordagens para o campo das finanças, do marketing (educação para o consumo consciente), da produção e da logística reversa por exemplo. Estes quatro grandes setores trabalhando de forma integrada e sinérgica reduzirão as barreiras, eliminarão incertezas e podem dar substanciais contribuições ao avanço do tema da sustentabilidade no nosso país.
Dario Menezes (dario.menezes@ gmail.com) é colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. Consultor e professor de Responsabilidade Social e Governança Corporativa da FGV, IBMEC e da ESPM/RJ.
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P e lo B rasi l Foto: Nícia Ribas
Balões brancos, paz e alegria na Vila Cruzeiro
dores, de todas as faixas etárias”, informa Tibúrcio, todo orgulhoso. Mostrando a casa do jogador Adriano, vizinha da ONG, ele completa: “Nossos meninos contam com inúmeras modalidades esportivas, além do futebol.” Como resultado da pacificação do morro, desde a instalação de uma UPP no local, o número de freqüentadores das oficinas dobrou: “Nossa meta é atingir 6% do Complexo da Penha”. MARKETING DO BEM
Paulo Cesar Teixeira, Diretor-Geral da Telefônica/Vivo conversa com o líder comunitário Antônio Tibúrcio, observado pela Diretora de Comunicação, Ediana Balleroni
Por Nícia Ribas Repórter de Plurale em revista Do Rio de Janeiro Para quem amarga a fama de pertencer a um lugar violento, comandado por traficantes, onde o jornalista Tim Lopes foi brutalmente assassinado, os 25 mil moradores da Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, comemoram a chegada de uma grande empresa, como a Telefônica/Vivo, disposta a apostar no resgate da sua cidadania. Desde 2010, o projeto piloto Vivo com você na comunidade alavanca a ONG Atitude Social, criada e dirigida pelo morador e líder comunitário, Antônio Tibúrcio: “Podemos dizer que esta parceria significou um divisor de águas aqui na Vila Cruzeiro.” Como se não bastasse o upgrade tecnológico obtido com a instalação de cobertura wifi em escolas, mais a capacitação e contratação de pessoas e o apoio às atividades esportivas, culturais e pedagógicas, no último dia 5 de outubro, Dia do Voluntário, 300 colaboradores da Empresa trocaram, com prazer, seus escritórios pelo Centro de Desenvolvimento Humano Atitude Social, na Vila Cruzeiro. Eles deram uma geral nas dependências e proporcionaram momentos de lazer aos seus frequentadores.
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Em clima de festa, os voluntários limparam e pintaram paredes, consertaram móveis, brincaram com crianças e jovens. “Dá gosto ver todo mundo se dedicando, com tanta alegria,” dizia a secretária executiva do presidente, Carmen Fonseca, 72 anos. Ela trabalhou na preparação de cachorro-quente para o pessoal, e sua filha, Daniele, que trabalha na Atento – do grupo Vivo – atuou na creche. ATITUDE Com fama nacional de lugar violento desde a morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, agravada pela imagem da fuga dos traficantes, em 2007, a Vila Cruzeiro convivia com o estigma da violência e os moradores envergonhavam-se do seu endereço. Foi esse cenário que o líder comunitário Tibúrcio quis transformar, quando fundou a ONG Atitude Social, um centro de convivência com salas para aulas de reforço escolar, alfabetização de adultos, cursos profissionalizantes, idiomas; atividades culturais, como balé, dança de salão, teatro, capoeira, percussão; e área de lazer, com piscina olímpica e quadras esportivas. “Hoje, graças às parcerias firmadas com a Telefônica/Vivo, o Governo Estadual e o Sesi, temos 26 oficinas e 8.250 frequenta-
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A estratégia de marketing da Telefônica/ Vivo para mostrar para futuros clientes das classes C, D e E que tem produtos específicos para eles, é uma novidade que está dando certo. “Antes de ofertar serviços, fazemos uma análise da comunidade para ver o que eles precisam e como podemos servi-los”, explica Luiz Henrique Coelho, que deu início ao projeto em junho do ano passado. Ele revela que a Vila Cruzeiro é uma comunidade bem estruturada, o que facilitou a parceria. “Com a venda porta a porta, utilizando mão de obra local, geramos empregos, renda, e a comunidade se sente valorizada, pois passa a ter o produto no seu bairro, sem necessidade de se deslocar,“ explica. O OLHAR DO EXECUTIVO Diretamente do Galeão, chegando de uma reunião em Madri, o Diretor-Geral da Telefônica/Vivo, Paulo Cesar Teixeira fez questão de participar do encerramento do Dia do Voluntário, na Vila Cruzeiro. Guiado pelo líder comunitário Antonio Tibúrcio, ele percorreu todas as dependências do Atitude Social e agradeceu o bom trabalho do seu pessoal. Satisfeito com a parceria, Teixeira ainda teve tempo de conversar com Plurale em revista: “Nos últimos 15 anos à frente da empresa, vivemos uma grande transformação cultural e social. Hoje há muito maior conscientização das pessoas, todas pensando de forma sustentável, buscando evitar o desperdício, sabendo que um dia os recursos naturais poderão faltar. A tecnologia tem nos ajudado muito a economizar no cotidiano. Numa reunião de diretoria, por exemplo, hoje não se usa mais papel, cada um comparece com seu computador.”
Diálogos sociais para promover a sustentabilidade Por André Bürger, do Nós da Comunicação Dia 9 de outubro, especialistas em meio ambiente, agentes sociais e representantes da sociedade se reuniram no Rio de Janeiro para discutir a importância da sustentabilidade como condição e premissa para o desenvolvimento social. Organizado pelo Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds) e pelo Sesc Rio, o encontro ‘Diálogos Sociais’ contou com a presença das jornalistas Sônia Araripe, editora de Plurale em revista, e Elis Monteiro, coordenadora de mídias digitais no Sesc Rio. Sônia abriu o debate com uma postura otimista em relação à humanidade, mesmo citando pesquisas que apontam um grau de consumo, no mundo, muito maior do que o planeta Terra suporta. “Todos nós, de alguma forma, já trabalhamos com um pensamento sustentável. Uma das coisas boas da Rio+20 foi ver que as novas gerações estão muito mais engajadas.” Os modelos tradicionais de produção, segundo a editora, estão com os dias contados, mas ressaltou que esse não
é um discurso anticapitalista. “Pelo contrário. Temos que ver que aquele formato do ‘business as usual’ não tem mais esAs jornalistas Elis Monteiro (E) e Sônia Araripe paço. A única saída é o caminho do diálogo”, acredita. Nesse coordenadora, as empresas devem estar cenário, Sônia aponta que as empresas presentes nesses ambientes. precisam ouvir e dialogar mais com seus “A web foi criada para que as pessoas pustakeholders. dessem trocar informações. Nenhuma Fábio Muller, diretor executivo do Cieds, companhia pode se dar ao luxo de ser uma também vê com bons olhos o atual cenácaixa preta. Está na hora das organizações rio. Segundo o executivo todos os setores entenderem que as redes sociais são megatêm avançado bastante rumo à sustentafones para os usuários. Por isso, devem ter bilidade. “Precisamos pensar como podeuma postura mais transparente e estarem mos agregar valor com o que temos de presentes nesses espaços sociais para se melhor em nossas instituições. Estamos defender”, contextualizou a coordenadora. em uma fase de reconstrução do padrão Gilberto Fugimoto, assessor da gerência de vida, de produção etc.” de responsabilidade social do Sesc Rio, Para Elis Monteiro, na contemporaneidalembrou da horizontalidade nas redes de, uma organização não pode deixar de sociais como um facilitador ao diálogo e ouvir seus diferentes públicos-alvo, pois à comunicação ‘todos para todos’. “Cada as instituições que não ouvem estão pervez mais as pessoas estão presentes em dendo uma chance de conversar e aprender com seus clientes. Ao mesmo tempo, diversas plataformas, Facebook, Twitter como a internet e as redes sociais são etc. Estamos cada vez mais conectados representações da sociedade, segundo a nesses ambientes virtuais.”
Agência Devolve conquista o Prêmio de Mobilidade Urbana
Wagner Andrade, diretor da Devolve e um dos fundadores da ABRAPS – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, recebe o prêmio das mãos do presidente da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira.
A Agência Devolve, do Rio de Janeiro, conquistou em outubro o Prêmio de Mobilidade Urbana da Fetranspor, na categoria Responsabilidade Socioambiental, com a campanha “Evolua com Mobilidade”. Desenvolvida pela agência carioca para a ONU-Habitat (braço das Nações Unidas que cuida das cidades), a ação incentiva a mudança de comportamento em relação à mobilidade urbana, estimulando o uso da bicicleta, dos transportes públicos e da carona.
Grupo Fleury lança projeto de capacitação para ONGs na área de saúde O Grupo Fleury lançará no próximo dia 15 de outubro um edital para capacitação de organizações sem fins lucrativos que atuem na área da saúde ou possuam projetos no setor e estejam localizadas na Grande São Paulo. O projeto “Dom” visa escolher dez ONGs, que receberão treinamento do Grupo Fleury nas áreas de Medicina e Saúde, Ciências Humanas e Gestão. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até 2 de novembro pelo site www.domgrupofleury. com.br. Este projeto foi concebido em parceria com a Lynx Consultoria e deverá ser estendido para outros estados brasileiros.
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P e lo B rasi l Senado aprova MP do Código Florestal Mariana Jungmann Repórter da Agência Brasil Brasília - O Senado Federal aprovou em 25 de setembro, sem alterações, o projeto de lei de conversão referente à Medida Provisória do Código Florestal. O texto original enviado pelo Poder Executivo recebeu quase 700 emendas na comissão especial mista que analisou a matéria. Nela, após muita polêmica, um acordo entre congressistas ruralistas e ambientalistas resultou no texto aprovado pela Câmara dos Deputados e, em seguida, pelo Senado. Entre as alterações inseridas no projeto pela comissão especial, as principais são referentes às áreas de preservação permanentes (APPs) em margens de rios e de nascentes. Os parlamentares da comissão modificaram a chamada “escadinha” proposta pelo governo federal, que estabelecia quanto das margens de rios desmatadas deveriam ser replantadas de acordo com o tamanho da propriedade. Por serem maioria, os parlamentares da bancada ruralista conseguiram estabelecer no projeto que, nas propriedades de 4 a 15 módulos fiscais deverão ser recompostos 15 metros de mata nas margens dos rios com até 10 metros de largura. Quem tiver propriedades maiores que isso, independente do tamanho do curso d’água, deverá recompor de 20 metros a 100 metros, a ser definido pelas autoridades estaduais. Já os parlamentares ambientalistas se deram por satisfeitos ao conseguirem impor no texto que as nascentes e olhos d’água deverão ter APPs ao seu redor de, no mínimo, 15 metros, a serem recompostos em caso de desmatamento pelos donos das propriedades. Além disso, o projeto também prevê a manutenção de 50 metros de APPs no entorno das veredas e áreas encharcadas.
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Para que a recomposição seja feita, será criado um Programa de Regularização Ambiental (PRA) que regulamentará a permissão para que os produtores possam converter as multas ambientais em investimentos no reflorestamento de suas reservas legais e APPs. A Medida Provisória do Código Florestal foi editada pela presidenta Dilma Rousseff para suprir as lacunas deixadas pelos vetos feitos por ela à lei que reformou o código. Durante as negociações sobre a MP na comissão especial, o governo chegou a divulgar nota na qual declarou não ter participado do acordo que resultou no texto aprovado hoje e que, portanto, não tinha qualquer compromisso com ele. A declaração gerou tensão entre os parlamentares ruralistas, que ficaram com receio de que a presidenta faça novos vetos ao projeto aprovado pelo Congresso. Apesar disso, o senador Jorge Viana (PT-AC), que tem atuado como porta-voz informal do governo nas questões ambientais, disse acreditar que a presidenta não deverá tomar esta medida novamente. Na opinião dele, a proposta aprovada é “a melhor para o meio ambiente” e esse deve ser o argumento usado para tentar convencer a presidenta a não promover novos vetos na matéria. “O entendimento que foi construído aqui leva em conta a realidade das bacias hidrográficas. O texto que sai daqui resolve o passivo ambiental brasileiro”, declarou o senador que atuou como relator do projeto do código anteriormente e foi um dos negociadores do atual projeto. O projeto de lei de conversão segue agora para sanção presidencial, uma vez que não sofreu alterações e não precisará retornar para nova análise da Câmara dos Deputados.
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Sustentabilidade e liderança no aprimoramento das práticas organizacionais Por André Bürger, do Nós da Comunicação Um dos conceitos mais debatidos atualmente na esfera corporativa, a sustentabilidade foi assunto durante o 6º Congresso de Comunicação Empresarial Aberje Rio, realizado em 27 de setembro. Consultores e executivos discutiram modelos de desenvolvimento vigentes e seus efeitos no meio ambiente e na sociedade. O painel inicial do evento abordou de que forma o planejamento estratégico da comunicação organizacional tem levado em consideração essas questões. Como explicou Sérgio Abranches, sociólogo e cientista político, a pauta torna-se bastante pertinente, pois estamos passando por uma grande transição econômica e social, apesar de ainda estarmos presos aos velhos conceitos organizacionais. Para o comentarista da rádio CBN, a certeza é que o século XXI será completamente diferente do século anterior. “As mudanças agora são mais radicais do que no passado. Estamos acelerando um processo natural de aquecimento da Terra”, alerta. Sérgio recomenda que os governos e empresas levem em consideração as mudanças climáticas em suas metas e estratégias. Para o sociólogo, apesar da curva de crescimento da população global estar em declínio, vivemos a maior extinção de espécies animais e vegetais no planeta, além de uma inflação alimentícia permanente. Nesse cenário de transição e cobranças sociais, Sérgio indica um caminho para as organizações: entender e pesquisar coisas
novas, pois a rapidez das mudanças é tamanha que o processo de conhecimento precisa ser contínuo. “Por meio da comunicação, gestores devem achar nós nas redes a fim de reunir na mesma mesa, ambientalistas, pesquisadores e empresas. A mediação torna-se fundamental por interlocutores com credibilidade.” As novas gerações estão mais conscientes quanto ao patrimônio ambiental e, estando conectadas, consequentemente são mais capazes de gerar mobilização. Os indivíduos estão com mais poder de ação e tornam-se mais responsáveis pelas organizações em que trabalham. “Nós não somos apenas uma gota do oceano. Por isso, a questão ambiental vai se tornar central nas próximas décadas, principalmente por parte da imprensa”, acredita. O sociólogo lembrou que essa responsabilidade passa também pelas práticas de consumo e pelo excesso de estímulos para comprar novos produtos nos bombardeando diariamente. Para Sérgio, as pessoas precisam mudar seus padrões de consumo, não necessariamente deixando de fazer compras, mas pensando em como consumir de maneira favorável ao planeta. “A ideia é fazer com que o ciclo seja renovável. As empresas podem criar mecanismos de coleta de peças para serem reutilizadas, por exemplo. Podemos incorporar novas tecnologias, evitando que se tornem um problema para a natureza.”
Para o consultor Marcelo Lomelino, a figura de um líder é crucial nos processos de comunicação. Marcelo, que foi diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa para a América Latina e Caribe, acredita que apesar de o mundo estar mudando rapidamente, ainda não mudamos nosso jeito de se comunicar. Para ele, existem três estágios de organização. A primeira é aquela inconsciente, em que os chefes mandam. Existem também as empresas narcisistas, com seus excessivos canais de comunicação, gestões de conflito, comunicação centrada em personalidades e a cultura do ‘tem que fazer’: discurso que não consegue engajar ninguém. Por último, há as organizações conscientes, que aplicam a cultura do ouvir e com essa postura atraem funcionários engajados e embaixadores da companhia. “Sustentabilidade começa na qualidade das relações humanas. Não conseguimos nada sem uma boa relação entre as pessoas. Liderança é ter responsabilidade. O líder deve se ocupar da mediação, ser um facilitador. Sem a capacidade de ouvir, não é possível fazer comunicação”. Para concluir, o consultor citou uma frase do filósofo americano Ralph Waldo Emerson: ‘O que você faz fala tão alto que não consigo escutar o que você diz’.
Trabalho infantil, nem de brincadeira!
para criar um gibi sobre a campanha É da nossa conta! Trabalho Infantil e Adolescente, ele participou do evento de apresentação, em São Paulo, no dia 9 de outubro, e afirmou estar empenhado “de todo o coração”. Emocionada, a presidente da Fundação Telefônica Vivo, Françoise Trapenard, fã assumida da Turma da Mônica na infância, aproveitou para falar dos seus objetivos: “Com esta campanha colaborativa, queremos levar a questão até a sociedade civil, pois a sensação de que esse problema está solucionado lhe dá uma opacidade muito preocupante.”
Juntamente com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a Fundação Telefônica luta para tirar da invisibilidade o problema do trabalho infantil, propondo aos cidadãos que se tornem agentes multiplicadores. Isso será feito através do portal Promenino (portal de notícias e rede social da Fundação), por meio de seus perfis nas redes sociais, plataforma e novo site. Além de utilizar a Internet, a campanha prevê também intervenções de rua em sete cidades até o final do ano: São Paulo, Salvador, Teresina, Belém, Curitiba, Brasília e Fortaleza.
Por Nícia Ribas, de Plurale em Revista De São Paulo “Vamos fazer desse limão azedinho uma limonada!”, disse Maurício de Sousa, referindo-se ao problema que afeta pelo menos, segundo o IBGE, 3,6 milhões de crianças e adolescentes brasileiros: o trabalho infantil. Contratado pela Fundação Telefônica Vivo
Sérgio Abranches no evento LIDERANÇAS SUSTENTÁVEIS Á
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Rede Foto: Gabriel Heusi
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arece uma empresa moderna, dessas pontocom, como Google e Facebook, com baias coloridas e jovens sorridentes fazendo o que amam, num ambiente descontraído no qual fica difícil descobrir onde começa o trabalho e termina a diversão. Apesar de toda a descontração, o Meu Rio (www.meurio.org.br), movimento não-governamental, apartidário e sem fins lucrativos que nasceu em outubro de 2011, tem sua atuação focada em temas muito sérios e sensíveis da sociedade. Inclusive aqueles bem incômodos que, de tão complexos, muitas vezes são deixados de lado. O Meu Rio tem como compromisso principal construir uma nova cultura política com os cariocas e fazer com que o cidadão possa participar efetivamente da construção de políticas públicas. Há alguns meses, o Meu Rio estava envolvido em um projeto relacionado a pessoas que vivem nas ruas, muitas vezes tidas como invisíveis, mas que podem ser inseridas no mercado de trabalho, bastando para isso uma mudança de consciência da população e ações efetivas de reintegração por parte do Estado. Mais adiante, lançou uma campanha - ainda em execução - em busca de 100% de saneamento básico na cidade do
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Um basta ao ativismo de sofá Movimento social Meu Rio tem como missão promover o engajamento dos cidadãos por meio de plataformas digitais Por Elis Monteiro, Especial para Plurale em revista Fotos: Divulgação
Rio de Janeiro. Só para se ter uma ideia, mais de três milhões de moradores da cidade não têm acesso a água e esgoto tratados. Por meio de ações multimídia, tendo como base o site e redes sociais como Twitter e Facebook, discute-se, mobilizase e, principalmente, parte-se para a ação: mais de dois mil cariocas assinaram a petição online que solicita ao governador Sérgio Cabral que suspenda os “superpo-
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deres” do presidente da Cedae, que pode aumentar o preço da conta de água como bem entender. Este é o primeiro passo para uma série de iniciativas que virão nos próximos meses. Milhares de internautas já assistiram ao vídeo de sensibilização estrelado pela atriz Camila Pitanga. Melhor: passaram a ideia adiante e compartilharam o vídeo e a discussão. Ou seja, viram como sua uma questão que até pouco tempo atrás não sairia do âmbito governamental ou do ativismo ecológico. Como efetivar a colaboração e a participação da comunidade é uma novidade que o Meu Rio trouxe para o terceiro setor no Brasil: o uso de plataformas tecnológicas que sensibilizam e permitem a ação concreta do cidadão no chamado “núcleo duro” das decisões que envolvem as políticas públicas. Outro objetivo, este mais subjetivo, é contribuir para o processo de transição de um modelo de democracia representativa engessado para uma democracia participativa. O Meu Rio funciona como um laboratório de novas interfaces tecnológicas de participação cívica. A frente de mobilização e as plataformas digitais não estão, claro, dissociadas: muito pelo contrário. Cada nova ferramenta criada é introduzida no contexto de uma campanha específica,
sempre com agenda pautada pelos princípios de transparência, utilização democrática do espaço urbano e participação na construção e na avaliação de políticas públicas. Num resumo simples, pode-se afirmar que o foco principal do Meu Rio é a criação de uma cidade melhor para os cariocas e pelos cariocas. O uso de plataformas digitais no ativismo social é uma tendência já usada com sucesso pela Purpose, incubadora de movimentos sociais e organização-mestre do Meu Rio. São incríveis facilitadoras, uma vez que agregam de maneira mais rápida um maior número de pessoas, além de permitirem a multiplicação de formas de engajamento. A tecnologia - tendo a internet como vértice principal - rompe os limites espaço-temporais do ativismo e permite a inclusão de qualquer pessoa. Mas não há ingenuidade aqui: os ativistas da organização sabem que a tecnologia em si não gera mudanças, apenas viabiliza e facilita. O PAPEL DA INTERNET NA MUDANÇA DO ATIVISMO É mais do que comprovado que a internet é capaz de romper barreiras cruciais para a sociedade. A participação dos cidadãos nas decisões fundamentais para a cidade é prejudicada pelas limitações de espaço e tempo e pelo cotidiano atarefado, que impede, por exemplo, a participação das pessoas em assembleias, que normalmente são realizadas em horário comercial. A internet pode transportar uma pessoa, estando ela em qualquer lugar, até os locais onde as decisões e discussões estão acontecendo, o que democratiza a participação, tornando-a também mais transparente. Usando a internet como aliada, o Meu Rio já lançou importantes campanhas direcionadas ao Poder Legislativo propondo mudanças em leis. Todas, até agora, surtiram efeito. Dentre elas, uma campanha foi capaz de mudar a Constituição Estadual e aprovar um projeto de lei, ambas para criar e regulamentar a Ficha Limpa na administração fluminense. Outra vitória: a mudança na legislação das lan houses, que deixaram de ser consideradas casas de jogo e passaram a ter o status de centros de inclusão digital, o que permite a
regularização das lans no estado do Rio. O Meu Rio também atuou pesado em busca de mudança no orçamento do município para a educação. “Como se sabe, a Prefeitura não destina os 25% de recursos próprios para a educação, como é exigido pela Constituição Federal. Tentamos mudar isso com uma emenda que realocaria R$ 650 milhões para a pasta da Educação. Conseguimos o apoio declarado de 23 dentre os 51 vereadores. Precisávamos de apenas mais três para obter a vitória”, conta Alessandra Orofino, cofundadora e diretora executiva da organização. O Meu Rio lotou a Câmara de Vereadores com crianças e professores, mas o presidente da Casa adiou a votação. “Uma semana depois, o governo teve tempo de reagir, utilizando uma manobra inconstitucional, e conseguiu coagir os vereadores a voltarem atrás. Não só a nossa, mas nenhuma emenda foi aprovada naquele dia. Ou seja, o orçamento do município para 2012 sequer foi debatido pelo Legislativo, o que é uma violação máxima do princípio de autonomia e equilíbrio dos três poderes. Nossos governos são democráticos apenas na hora de pedir o voto”, diz Alessandra. Também houve campanhas direcionadas ao Executivo, com respostas um pouco menos impactantes, embora tenha havido vitórias importantes. Um movimento coordenado pelo Meu Rio conseguiu publicar vários documentos relativos ao sistema de ônibus que estavam fora do alcance da população havia décadas. E por intermédio da plataforma digital denominada Panela de Pressão (que permite a qualquer cidadão criar sua própria campanha para gerar mudanças na sua comunidade), cidadãos organizados conseguiram levar a Secretaria de Transportes a impedir que a empresa Barcas S/A começasse a cobrar taxas por volumes transportados. ENGAJAMENTO VIRTUAL E REAL Em apenas dez meses de existência, o Meu Rio desenvolveu continuamente novas interfaces de participação e engajamento cívico. Oito ferramentas foram criadas e lançadas: Assine Embaixo (abaixo-assinado online), Imagine (plataforma colaborativa de ideação de políticas públicas), Panela de Pressão e Verdade ou Consequência (jogo para aproximar o eleitor dos candidatos a vereador). Também há o Bate-Bola (plataforma de debates sobre a cidade), o Boca no Trombone (envio coletivo de
mensagens para tomadores de decisão) e o Direto da Gema (plataforma de jornalismo cidadão), além de um blog sobre as eleições cariocas. Os jovens do Meu Rio também têm como meta fazer cair por terra “lendas” como a que diz que o brasileiro é muito passivo diante dos problemas da sociedade. A missão é acabar com os “determinismos culturais”. Eles acreditam que se o brasileiro é passivo, isso ocorre porque os canais que permitem seu proativismo não estão funcionando. Partidos, políticos eleitos e sindicatos, entre outros, têm tido muita dificuldade em agir como canais de mudança como costumavam ser. “O cidadão, com isso, acaba se frustrando e achando que não existe caminho para a mudança. O Meu Rio quer ser um desses canais: por isso a importância de mostrarmos que nossas campanhas conseguem obter vitórias significativas. Para quem está na rua há somente dez meses, estamos fazendo um bom trabalho. Ter mudado a Constituição do Estado, com certeza, foi um passo à frente, mas temos de seguir adiante. Acreditamos que é com a consolidação de canais como o Meu Rio que o brasileiro recuperará a esperança e o ânimo na
mobilização”, diz Miguel Lago, cofundador e diretor-presidente da instituição. Mas, afinal, o que uma pessoa precisa ter ou ser para começar a participar das mudanças necessárias para a sociedade? Para os jovens do Meu Rio, a resposta é: basta ter ou querer desenvolver uma consciência mais crítica do seu entorno; não aceitar tudo como verdade ou os absurdos com naturalidade. E ter em mente que só com um mínimo de consciência crítica é possível acreditar que esses absurdos podem mudar. É quando eles deixam de ser vistos com naturalidade que conseguimos transformar a sociedade.
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Foto: Divulgação/ VII CBUC
Biodiversidade
Malu Nunes. Diretora Executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Congresso destaca importância de conciliar desenvolvimento e conservação Evento em Natal, organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, reuniu cerca de 1 mil especialistas do Brasil e de outros países
Texto: Isabella Araripe, de Plurale em revista (*) De Natal (RN)
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O desenvolvimento e o futuro só podem ser discutidos enquanto houver vida”, afirmou a Diretora Executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Malu Nunes. Foi esta a mensagem deixada pelo VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, CBUC, que ocorreu entre os dias 23 e 27 de setembro em Natal. O evento deixou como legado uma discussão de extrema importância sobre a biodiversidade mundial. Criado em 1997 e realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o VII CBUC teve como tema “Áreas Protegidas: um oceano de riquezas e possibilidades”. Com a participação de mais de 1.000 congressistas, mais de 50 conferências, simpósios e palestras, sete lançamentos de livros, 17 reuniões técnicas, além de outras reuniões e eventos paralelos ao programa oficial, o evento ampliou o debate sobre as unidades de conservação no Brasil e a importância da preservação do ecossis-
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tema. “As áreas protegidas representam um oceano de riquezas e biodiversidade”, afirmou Malu Nunes. Trabalhos técnicos - O VII CBUC apresentou também 119 trabalhos técnicos que abordaram diversos assuntos relacionados às áreas protegidas e à conservação da natureza. E mostrou que dá pra conciliar a economia com a natureza. “A conservação das unidades de conservação contribui para o aumento do Produto Interno Bruto, PIB, proporcionando não só um PIB maior, mas melhor”, afirmou o economista e professor da UFRJ, Carlos Eduardo Young. No evento, também foram apresentadas 22 moções, das quais 16 foram aprovadas pelo comitê técnico. Sendo uma delas em repúdio ao novo Código Florestal, votado pelo Senado na noite de terça-feira, dia 25. As moções aprovadas foram encaminhadas aos órgãos indicados pelos seus proponentes. Além disso, o VII CBUC trouxe cases internacionais de proteção à biodiversidade como o apresentado pela queniana Munira Bashir, diretora assistente e chefe da comunidade empresarial do Kenya Wildlife. O Kenya Wildlife é um serviço de proteção à vida selvagem no país e trabalha integrando
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a proteção da vida selvagem com a comunidade local. Segundo ela, 70% dos produtos de turismo do Quênia são advindos da vida selvagem. Isso mostra o quanto a preservação da vida selvagem pode beneficiar a população do país. Um dos temas mais relevantes apresentados no VII CBUC foi o debate sobre as unidades de conservação nas zonas marinha e costeira no Brasil. Apenas três por cento da zona marinha e costeira no Brasil estão protegidas por unidades de conservação, sendo que a meta é chegar a 10% até 2020. Há também uma grande preocupação com os recifes de corais e de se ter um uso sustentável da pesca. Além disso, a questão da exploração do pré-sal no Brasil e as suas possíveis consequências para o meio-ambiente também foram abordados no evento. Biodiversidade marinha - A exploração de águas profundas vem sendo cada vez mais debatida, principalmente, após o vazamento ocorrido em 2010, no Golfo do México. Este acidente foi considerado pelo governo americano como o pior desastre ambiental já ocorrido na história do país. No Brasil, com a descoberta do pré-sal e
Fotos: Divulgação/Augusto Ratis
a sua futura exploração, ambientalistas e pessoas ligadas à ecologia vem alertando para os problemas que essas explorações podem causar. Este foi um dos temas apresentados no VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. O geólogo americano John Amos, que utiliza imagens de satélite e dados de sensoriamento remoto para esclarecer os problemas ambientais e, principalmente, os riscos do derramamento de óleo em plataformas marítimas foi um dos palestrantes do evento. Ele fundou, em 2001, a ONG Skytruth, responsável pela denúncia de vazamento de óleo da Chevron na costa brasileira no ano passado. Segundo ele, apenas no derramamento de petróleo ocorrido na Bacia de Campos, a taxa de vazamento foi de mais de 3 mil barris por dia. Com base no mapeamento da extensão e no movimento da mancha de óleo, John Amos mostrou como uma área pode ser afetada e citou os exemplos de Mantara, na costa da Austrália e da plataforma da British Petroleum, no Golfo do México. Segundo ele, o acidente no Golfo do México foi um desastre que nos mostrou o quanto nós estamos incapacitados para consertar um derramamento. “Nos Estados Unidos, todo mundo vê campanhas publicitárias dizendo que o Golfo do México está bem, que as praias estão limpas, e muitas pessoas por estarem ocupadas acabam não questionando se isso é verdade e nem procuram os cientistas pra saberem uma história diferente. O nosso país está se movimentando muito rápido e eu tenho medo do fato das pessoas continuarem a perfuração de petróleo nas águas”, afirmou o geólogo. Além disso, o método utilizado para acabar com o vazamento no Golfo do México, que foi o uso de dispersantes, ainda é muito controverso. Segundo John Amos, o uso de produtos químicos para eliminar o óleo faz com que ele afunde e se transporte através das correntes marítimas e isso dá uma falsa aparência de segurança. Já que mesmo que o vazamento do óleo tenha sido dado como “resolvido” ainda podem aparecer várias consequências desse derramamento ao longo dos anos. Em relação ao Brasil, John Amos afirmou que muitas companhias estão de olho na exploração de petróleo no país e que é difícil impedir que a exploração ocorra. Mas, segundo o geólogo existe uma possibilidade de tentar se proteger o meio-ambiente. “Se as áreas de proteção forem identifica-
John Amos das como muito vulneráveis a poluição do óleo, talvez se possa estabelecer a proibição de zonas de perfuração perto dessas áreas”, disse. Mas, ao mesmo tempo, sugeriu, deve-se haver uma preocupação com essas áreas de proteção, já que nos oceanos as coisas vivem se movimentando conforme as condições climáticas. E é por esse motivo, inclusive, que é difícil se detectar os problemas no oceano e por isso deve haver um sistema de monitoramento constante. Além disso, John Amos afirmou que o Brasil pode se considerar um país de sorte pelo fato do acidente ocorrido no México poder despertar a população para os perigos que a exploração petrolífera pode causar. E alertou que o país deve estar sempre em alerta, e que próximo as áreas de exploração petrolífera deve se fazer treinamentos para caso ocorra um derramamento de óleo, já estarem preparados, fato que não ocorreu nos Estados Unidos. O geólogo acrescentou também que ainda há a necessidade de haver um maior investimento em pesquisa para que se obtenha uma técnica para poder evitar o vazamento de óleo. Pré-sal - Outro palestrante a falar sobre o tema foi o biólogo Fabio Moretzsohn , Ph.D em Biodiversidade Marinha e cientista assistente de pesquisa do Harte Research Institute for Gulf of Mexico Studies, vinculado à Texas A&M University, dos Estados Unidos. Segundo Fabio Moretzsohn a exploração do pré-sal no Brasil tem grandes desafios como o fato da grande profundidade em que ele se encontra. “Quanto mais profunda a exploração mais problemas técnicos podem acontecer”, afirmou o biólogo. Além disso, a espessura das camadas de rocha e sal, a distância da costa, o fato de ser muito caro e a questão ecológica também são desafios. “O petróleo pode matar praticamente tudo que vive dentro do mar”, disse o biólogo. O fato do petróleo se espalhar muito rapidamente com a ajuda dos ventos e das
Fábio Moretzsohn correntes é um agravante. Uma das principais consequências do vazamento de óleo, segundo o biólogo, é a morte de aves, pois as penas perdem o isolamento térmico. Além disso, os corais também são bastante afetados, principalmente por causa do uso dos dispersantes. Segundo ele, existem outras técnicas que podem ser utilizadas além dos dispersantes como o “boom”, uma barreira, mas no caso do Brasil por ser alto mar e longe da costa o boom não funciona. Outra possibilidade é queimar o óleo quando ele estiver começando a aparecer na superfície, enquanto ainda tem uma camada grossa. Segundo Fabio essa pode ser a melhor opção. “Apesar de parecer uma coisa horrível, até por causa da fumaça, aparentemente é uma solução melhor do que deixar o óleo chegar à costa, ou esconde-lo no oceano através do uso de dispersantes”, diz o biólogo. Com a crescente exploração petrolífera no Brasil devemos estar sempre alertas para possíveis vazamentos para não ocorrer acidente pior do que o do Golfo do México. “O Brasil tem desafios técnicos maiores do que os do Golfo do México”, afirmou Fabio Moretzsohn. E para evitar que aconteça grandes desastres como o ocorrido no Golfo do México é recomendado que se tenha mapas detalhados do litoral e do fundo do oceano, um inventário biótico completo com mapas de distribuição em alta resolução, principalmente de espécies ameaçadas de extinção, um mapeamento detalhado dos padrões de correntes oceânicas em diferentes épocas do ano, ter planos de emergência completos e atualizados com frequência. Fabio Moretzsohn ressaltou ainda que, em caso de acidente, é importante a divulgação imediata e transparente da indústria para se tomar uma ação rapidamente. (*) A repórter viajou a convite da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e organização do evento.
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Natal
Forte dos Reis Magos
A brisa constante que bate do mar e a areia clarinha não deixam dúvida: estamos em Natal, capital do Rio Grande do Norte, terra de gente simpática e muitos pontos turísticos para apreciar. Como a Fortaleza dos Reis Magos, marco inicial da cidade, fundada em 15 de dezembro de 1599. Recebeu este nome em função da data de início das construções, em 6 de janeiro de 1598, em homenagem aos três reis magos. Os canhões históricos e a belíssima vista encantam os turistas. Dali também é possível avistar as praias próximas como a dos Artistas. Entre as atrações do Museu destaca- se um marco do descobrimento do Brasil, trazido para o Forte em 1990. Também dá para avistar a Ponte Newton Navarro que dá acesso às praias mais distantes, como Pipa e outras.
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A Aberje acredita na importância da comunicação para a transmissão dos valores de sustentabilidade. Pioneira no Brasil, é uma das poucas instituições no mundo com certificação no Global Report Initiative. Desde 2007, já formou cerca de 400 profissionais no curso de Relatórios de Sustentabilidade GRI. Além de cursos, promove eventos, comitês e premia os melhores projetos de Comunicação da Sustentabilidade todos os anos.
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ISABELLA ARARIPE
Foto: Divulgação/ Organização Paraíso dos Pândavas
Ecoturismo
de nome Feia ma de ssiiima bellííss urnnaa bel FFur Criado no dia 5 de junho de 2012, o Parque Nacional da Furna Feia é o primeiro parque nacional do estado do Rio Grande do Norte. O parque se localiza nos municípios de Mossoró e Baraúna e possui uma biodiversidade imensa. Com mais de 8400 hectares, o local tem um papel relevante na preservação da caatinga, contendo espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção. “O Parque Nacional da Furna Feia tem grande relevância para o patrimônio espeleológico”, diz o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, Diego Bento. Desde 2001, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas, CEVAC, atua na região pesquisando as cavernas. Com isso, 205 cavernas já foram descobertas no parque, representando 30% do total de cavernas do estado do Rio Grande do Norte. Atualmente, para poder visitar o parque é necessário a autorização do ICMBio, mas o objetivo é que o local seja aberto ao público em breve, principalmente se ele conseguir ser incluído no projeto do Ministério do Meio Ambiente e se tornar um dos Parques da Copa.
Yoga na Chapada dos Veadeiros (GO) Aliar natureza e yoga. Essa é a nova moda do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A reserva ecológica com uma flora e fauna riquíssima e com cachoeiras, canyons, minas de cristal,. Com grupos de até 30 pessoas a Organização Paraíso dos Pândavas, ONG que promove o passeio pela reserva ambiental. Localizado na cidade de Alto Paraíso, em Goiás, a Chapada dos Veadeiros, possui 400 hectares de natureza preservada, uma área equivalente a 507 campos de futebol. A altitude pode chegar a 1600 m. Mas, segundo os turistas a vista e a sensação de estar imerso na natureza compensam.
Turismo da onça-pintada no Pantana l
Viisiita ao Monte Roraima (RR) Visi Para quem gosta de trilhas ecológicas e tem muito fôlego, a dica é o Monte Roraima. considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco, o Monte Roraima se estende por três países: Brasil, Venezuela, e Guiana. Além disso, ele é um dos planaltos mais altos da América do Sul. Com 32 km² , o monte possui uma rica biodiversidade com formações da Era Pré-Cambriana, bem antes do homem aparecer no planeta. Para os aventureiros, é possível passar a noite no topo do Monte, com trilhas para o Vale dos Cristais, El Fosso e Ponto Triplo. São 90 km até o ponto mais alto do Monte e pode levar até dois dias para chegar lá e sete dias para uma “exploração” total de toda a área.
Ver uma onça-pintada é privilégio para poucos. No Pantanal mato-grossense é possível ver de perto diversos tipos de animais em seu habitat natural, entre eles está a onça, um dos bichos mais temidos e bonitos da região pantaneira. Lá é a maior área alagada do mundo e possui uma biodiversidade exuberante. A onça-pintada é um dos bichos que garante essa biodiversidade do Pantanal, já que é a predadora natural de espécies como jacarés, capivaras e antas, impedindo o desequilíbrio ecológico. Ela vive sempre próxima a água, é solitária e gosta de nadar. As pousadas próximas de Poconé (MT) são boas opções e costumam ter passeios para avistar a onça. A dica para quem for se aventurar pela selva pantaneira é procurar sempre guias especializados, se vestir preferencialmente com roupas claras, levar protetor solar, repelente para mosquito, chapéu ou boné e é claro, máquina fotográfica ou filmadoras.
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Esportes
Tranquilo, e bem humorado, o ginasta não curte futebol, mas gosta do vôlei e tem o técnico Bernardinho como um ídolo. Volta e meia escapa para o cinema com a namorada para assistir filmes de ação ou comédias. Hobby? “Adoro o surf e pego uma prancha quando tenho chance, mas confesso que nisso sou horrível”, conta ele, sorrindo. De volta ao campus da USCS, neste reinício de aulas, está com a pilha novinha para o curso de Educação Física. Ele faz o segundo semestre, como bolsista, e já vislumbra uma especialização. “É preciso ter objetivos claros, lutar por eles e nunca deixar de sonhar. E o segredo do sucesso é trabalhar duro”, ensina.
Medalhistas destacam a relevância da boa educação Os campões Arthur Zanetti e Servílio de Oliveira têm em comum no currículo a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (SP) Texto: Nélson Tucci, Especial para a Plurale em revista
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enerosidade, simplicidade e sucesso muitas vezes andam de mãos dadas. Servílio de Oliveira, medalhista olímpico em 1968, e Arthur Zanetti, medalhista em 2012, exemplos bem acabados desta máxima. Outras coincidências os aproximam também, como o foco no trabalho, a preocupação social e o apego aos estudos. Com idades muito diferentes, ambos nutrem o objetivo de aprimoramento permanente, seja no esporte ou paralelo a ele. Servílio e Arthur frequentam o mesmo campus: o da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Ouro em Londres, na ginástica olímpica masculina, modalidade argolas, Arthur Zanetti um ano antes participou da Universíada na China (quando foi medalha de ouro nas argolas), e no Mundial da modalidade, um pouco antes também em 2011, sendo vice-campeão. Mas a participação nesta última Olimpíada, encerrada em agosto, é a maior conquista, pois é a primeira desta modalidade para um sulamericano.
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Baixinho e troncudinho (1,56 m), ele sempre foi rápido e forte. Só teve que abandonar os hambúrgueres e batatinhas que tanto gosta. Difícil mas possível, porque força de vontade ele tem pra dar e vender. Mais que isso, conta com o apoio imprescindível de Tálita Tognela, nutricionista que o acompanha há seis anos diretamente. Profissional da fisiologia do exercício, ela também trabalha em São Caetano do Sul, no núcleo esportivo no qual Zanetti se formou. “Eu procuro distribuir a alimentação com porções e horários adequados”, explica ela, acrescentando que receita suplementos de acordo com o perfil do atleta que, no caso, trabalha mais o item força. Aos 22 anos, Arthur é pouco mais que um menino no seu jeito de falar. “Já fiz trabalhos sociais, preocupo-me com essa questão sim, mas ultimamente tenho me dedicado aos treinos e ao estudo e tem faltado tempo”, admite ele à Plurale em revista. Com o apoio do pai e mãe, desde as primeira argolas produzidas para os primeiros treinos, Arthur ainda divide o quarto com seu irmão Victor, mais velho.
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CONTRAPONTO Se de um lado a ginástica olímpica pode ser compreendida como um esporte pouco mais elitizado, no campo diametralmente oposto está o boxe. E se ainda o é nos dias de hoje, imagine isso há 44 anos. É o que nos conta Servílio de Oliveira, nessa entrevista para Plurale. Quem gosta de futebol, sabe: Servilio de Jesus, “o bailarino”, é um dos ícones da história do Corinthians e do esporte brasileiro. Servílio atuou pelo Timão nos românticos anos 1940, sendo artilheiro do Campeonato Paulista em 1945, 1946 e 1947. Jogou pela Seleção em 1942 e arrebatou corações. E quem imagina que o Sr. Luiz, corintiano “roxo” resolveu homenagear o grande ídolo, batizando o seu sétimo filho com o nome de Servílio acertou na mosca. Ou melhor, “no” mosca que é a categoria de peso pela qual Servílio de Oliveira brilhou. Primeiríssima medalha do boxe brasileiro em Olimpíada (bronze, no México, em 1968), Servílio de Oliveira abriu caminho para Adriana Araújo e os irmãos Falcão que protagonizaram um feito histórico para o boxe brasileiro nos Jogos de Londres, com uma medalha de prata e duas de bronze. Considerado por especialistas como um dos boxeadores mais técnicos da história, Servílio fez um grande trabalho em São Caetano do Sul de 1992 a 2010 quando a cidade resolveu desmontar as suas equipes. Mas, por onde anda o atleta que conquistou a 14ª medalha brasileira e a 1ª do boxe em uma Olimpíada ? Plurale foi atrás e achou. O campeão está em Santo André, no ABC Paulista. Hoje pai de cinco filhos – dois nascidos no Chile e três no Brasil - e casado com Victória, ele é um dos medalhistas da USCS, a Universidade Municipal de São Caetano
desabafa ele, admitindo que se pudesse voltar no tempo talvez tivesse aceitado convites para treinar e lutar na Argentina ou na Itália. “Quando fomos para o México, em 68, somente o basquete viajou pela Varig. Todos os outros atletas foram de FAB mesmo”, relata. ‘HARD OU SOFT ’? A inserção social de meninos da periferia no esporte pode ser a chave para minimizar esta chaga brasileira. É preciso massificar o esporte”, diz ele. E pra quem acha que o boxe é muito “hard”, o campeão surpreende com um outro “direto”. Segundo ele, o boxe é “menos violento que o futebol”, pois em suas 20 lutas invictas nunca quebrou um osso – “mas sempre tive receio da violência em jogo de futebol”. Em suja avaliação, pior que o boxe e o futebol é o MMA: “Taí algo muito mais violento e, no entanto hoje temos um monte de ´baba-ovo´ em cima disso”.
Foto: Ana Paula Lazari
do Sul, que tem o privilégio de tê-lo como aluno do terceiro ano de Direito. O outro é Arthur Zanetti, o menino de ouro na modalidade Argolas, que faz Educação Física. “O conhecimento é tudo”, resume o vencedor da Forja dos Campeões em 1966, campeão paulista de boxe em 1966 e 67, campeão latinoamericano em 68, medalhista de bronze (Olimpíadas do México) em 68 e campeão brasileiro em 69. É também o campeão sulamericano de 1970, 3° colocado no ranking mundial em 71 e finalmente campeão brasileiro em 77, ano em que também o seu Corinthians conquistou o histórico título paulista. Conhecedor do boxe e do esporte olímpico – durante a entrevista ele nos deu uma aula sobre a história das Olimpíadas --, aos 64 anos e invejável forma física, Servílio distribuiu logo na chegada um “cruzado” de simpatia, vários “diretos” nas respostas, “jabes” contra o conformismo e nocauteou com a frase: “O Brasil precisa massificar o
Os medalhistas Servílio de Oliveira, Arthur Zanetti (centro) e o técnico do ginasta, Marcos Goto, na Universidade de São Caetano do Sul
esporte, especialmente onde está o pessoal mais carente e sedento por ele”. Embora goste de futebol – Rivelino e Pelé como ídolos --, o boxe sempre foi a sua vocação. “Joguei como meia direita na adolescência, mas sempre fui melhor no boxe”, brinca ele, aplicando uma bela esquiva no repórter. Fã do imortal Éder Jofre e também do norte-americano Cassius Clay (depois rebatizado de Muhammad Ali), o atual treinador queixa-se da mídia ao lembrar que “somente nos Jogos do PAN e nas Olimpíadas” é que se fala de outros esportes fora do futebol, no Brasil. Quem lê pode até não acreditar, mas o atleta amador já sofreu mais no Brasil. “A vida sempre foi dura e faltou incentivo”,
A exemplo do craque Tostão, de futebol, Servílio parou devido a um descolamento de retina. Hoje focado nos estudos, Servílio de Oliveira considera o Direito a ´ciênciamãe´ de todas as outras. Mas o esporte está no sangue, não adianta, e muito em breve ninguém deve se surpreender se ele estiver em uma academia compartilhando toda a sua bagagem técnica e cultural. Apesar da paixão pelo boxe, de gostar de futebol e de ser fã do piloto Emerson Fittipaldi e do tenista Guga, aposta no vôlei como o esporte mais promissor do Brasil. “É o que tem o maior potencial, sem dúvida. Perdemos para a Rússia em Londres, mas somos os melhores do mundo!”, finaliza, com um “jabe” em cima do badalado futebol.
Maior IDH do país, São Caetano do Sul supera Portugal Com arrecadação de R$ 901 milhões e população de 150 mil habitantes (dos quais 111 mil são eleitores), distribuída em apenas 14 Km quadrados, nos últimos 10 anos São Caetano do Sul tem registrado o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País. Integra a microrregião do ABC Paulista (que tem um total de sete municípios e população de 2,5 milhões de habitantes), fazendo divisa com a Capital. A expectativa de vida da população do município é de 87,2 anos e a taxa de fecundidade de 2,5 filhos por mulher. Possui 100% de rede de água e esgoto e a maior taxa de inclusão digital do País. A renda per capita estimada é de US$ 16.500 e o índice de alfabetização é de 99,7%. Os vários índices computados levam o IDH da cidade a 0,919 (quanto mais próximo de 1, melhor). Se fosse um país, por exemplo, S. Caetano do Sul seria melhor que Portugal em IDH. Fundada em 1877 por 28 famílias de imigrante italianos, é no seu território que ficam a primeira e maior unidade da General Motors do Brasil, a sede das Casas Bahia e a fábrica de Chocolates Pan. A cidade conta com a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (criada em 1968, como Faculdade Municipal de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais, posteriormente Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul, e, finalmente, USCS).
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P e lo Mundo Solidariedade irlandesa Por Vivian Simonato, de Dublin (Irlanda) Correspondente de Plurale na Comunidade Europeia
Pesquisa realizada pela agência Ipsos MRBI e publicada no final de setembro pela Dóchas (Associação das Organizações Não-Governamentais da Irlanda) mostra que a população irlandesa continua a apoiar os gastos do Governo em ajuda internacional humanitária nos países em desenvolvimento. Cerca de 80% dos entrevistados concordam que é importante para a reputação internacional da Irlanda que o Governo mantenha a promessa de gastar 0,7% do rendimento nacional em ajuda internacional até 2015. Mais do que qualquer outra coisa, o resultado mostra que, apesar de contínuas dificuldades econômicas, o apoio do público irlandês para a cooperação internacional e desenvolvimento manteve-se firme. A Irlanda foi uma das primeiras nações europeias a ser atingida pela crise do euro no final de 2009. No entanto, houve poucas mudanças ao longo dos últimos três anos quando a questão foi avaliar o apoio do público à ajuda internacional que o país dispõe para nações mais necessitadas: apenas um diferencial de 2% entre os resultados de 2010 (81%), 2011 (79%) e 2012 (80%). Mesmo aqueles que são “mais vulneráveis à recessão”, tais como os desempregados, têm demonstrado suporte
à ajuda internacional, de acordo com Dochas. No entanto, o apoio é mais alto entre os grupos de 1524 anos e mais baixo entre os mais idosos. Em 2011 o Irish Aid, Agência do Governo irlandês para ajuda humanitária, investiu 669 milhões de euros em programas de desenvolvimento para erradicar pobreza extrema, atingir níveis universais de educação primária, promover igualdade de gêneros, reduzir mortalidade infantil, melhorar saúde da mulher e combater doenças em cerca de sete países da África, Timor-Leste e Vietnam.
Autolib’ - transporte limpo conquista Paris Por Nícia Ribas, de Plurale em revista, De Paris, França
Em seu elegante tailleur, a executiva parisiense acostumada a ir pedalando para o trabalho, já tem um veículo mais confortável para sua saia justa. Lançado há menos de um ano em Paris e mais 44 cidades das redondezas, o sistema Autolib’ oferece pequenos carros elétricos nas ruas, seguindo o mesmo sistema das bicicletas. É mais uma opção para o transporte limpo, ou seja, sem fumaça e sem poluição sonora, que já começa a cair no gosto dos franceses. “Ainda é muito recente e por isso as pessoas não confiam completamente, mas acredito que logo se tornará muito popular”, afirma o francês Bertrand de Saint-Ferjeux, 36 anos. Ele conhece o Autolib’ garante que é de fácil operação: “Dúvidas podem ser esclarecidas através de um sistema de comunicação instalado dentro do carro e ligado diretamente ao operador”. A parceria entre a Prefeitura de Paris e a Bolloré, fabricante e operadora do sistema, deverá ser logo copiada em outras cidades europeias e poderá também ser importada para cá, como aconteceu com o sistema
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das bicicletas de aluguel em várias cidades brasileiras. Até o final deste ano, serão 3000 na França. Para utilizar carros do sistema Autolib’, pode-se optar por pagamentos anuais, semanais ou diários e apresentar carteira de motorista, documento de identidade e cartão de crédito. Dependendo da fórmula escolhida, custa de 5 a 7 euros cada meia hora de utilização do automóvel. O veículo pode ser retirado em uma estação e devolvido em outra. Vincent Bolloré, um jovem empresário recém-chegado ao mundo dos carros, teve seu projeto vencedor entre grandes fabricantes, como Renault e Peugeot. Ele utilizou a bateria de lítio-metal-polímero (LMP), produzida na França e no Canadá por uma das empresas de seu grupo porque acredita ser uma solução melhor para automóveis elétricos do que as de íon de lítio, similares às dos telefones celulares ou computadores portáteis. A principal diferença entre os dois modelos reside no fato de as LMP não utilizarem líquido ou pasta eletrolítica. Por serem completamente secas, elas não necessitam de manutenção e são mais baratas. Além disso, a vida útil é maior, podendo chegar até 10 anos em temperaturas entre 40 graus Celsius negativos e 65 graus Celsius. Uma
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bateria comum dura em média três anos. Só quem não está gostando da novidade são os motoristas de táxi, por causa da redução do número de vagas de estacionamento na cidade para criar espaço para as estações de carros elétricos. Uma característica que incomoda alguns clientes é a falta de privacidade, pois os carros são monitorados 24 horas por dia por questões de segurança. Mas o Planeta agradece. Aliás, o 2012 Mondial de Automobile, Salão de Automóveis de Paris (realizado no fim de setembro a 14 de outubro último), apresentou muitas novidades ecologicamente corretas no setor automobilístico, como pára-choques feitos de bagaço de cana de açúcar; interiores confeccionados de papel prensado; portas revestidas com arroz; côco verde no encosto da cabeça; e fibras naturais em vez de lã de vidro.
Agricultura americana: desastre climático à vista? Por Wilberto Lima Jr, de Boston Correspondente de Plurale em revista nos EUA
Recente artigo trouxe à tona um assunto importante, mas pouco divulgado. Encontra-se em debate no Congresso dos EUA, a nova Farm Bill (Lei da Agricultura). Como tudo que trata de legislação neste país, atualmente, há um conflito entre Democratas e Republicanos, com propostas do Senado, sob controle democrata e da Câmara (House of Representatives), sob controle republicano, com diferentes visões. O que chama a atenção é o fato que ambas as propostas, não dão a devida importância à questão climática. Preocupante, pois a Lei não é somente da Agricultura, mas também, acaba sendo uma lei climática pelas consequências do uso agrícola da terra. O que significa dizer que as duas propostas em exame, agora, podem conduzir a um futuro desastre climático. Há vários caminhos para tentar explicar esse possível desastre. Um deles, relacionado a um assunto que já tratamos em artigo anterior, diz respeito ao recorde de calor no ultimo verão e a pior seca já enfrentada nos últimos 50 anos. Esses dois fatores exauriram o solo e enfraqueceram as safras. Nenhuma das propostas legislativas levaram em consideração esses avisos da natureza, sem medir os efeitos que vão afetar o clima por muitos anos à frente. Mesmo sabendo que cientistas apontam que uma causa possível destes fenômenos está ligada ao aquecimento global. Ao invés de ajudar os agricultores a tomar medidas efetivas que limitariam a vulnerabilidade de suas terras as propostas vão destinar, no total, mais bilhões de dólares em seguro de safras (quase U$ 15 bilhões ). Segundo Jim Kleinschmit, do Instituto para a Política Agrícola e Comércio, em entrevista ao The New York Times, seria “como oferecer desconto em seguro contra incêndio, sem exigir extintores de incêndio”.
A agricultura, tanto quanto o carvão e os veículos, é um contribuinte importante para o aquecimento global. Algumas estimativas, atribuem a ela, cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito-estufa. Aqui nos Estados Unidos, o sistema industrial de alimentação de carne – fast food - causa um pesado dano à atmosfera se considerarmos a enorme quantidade de combustível fóssil para movimentar equipamentos agrícolas e colher montanhas de milho para alimentação de gado. Além disso, a maioria dos fertilizantes contém óxido nitroso, um dos gases de efeito-estufa, que é 298 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2). Ambas as propostas de lei, visam manter o padrão agrícola através de subsídios para algumas poucas culturas. As chamadas “big five” - trigo, arroz, soja, algodão e milho - tem recebido 84% dos subsídios agrícolas desde 2004, de acordo com o Environmental Working Group. Esses subsídios encorajam os agricultores a mecanizar mais as operações agrícolas, plantando no sistema “fence row to fence row” (de cerca a cerca) e aplicar mais fertilizantes e pesticidas, tudo isso contribuindo para o aumento das emissões de gases. A capacidade da agricultura industrializada de produzir quantidades
massivas de alimentos também lhe torna excepcionalmente suscetível à mudança do clima. A uniformidade das monoculturas, no caso de fenômenos da natureza, principalmente os ligados às fortes mudanças de temperatura ou do surgimento de novas pragas acaba por facilitar o dano a toda uma safra. A diversificação com uso de cultivos orgânicos limitaria os danos. Os agricultores podem aumentar a resistência de suas terras, melhorando a fertilidade do solo e sua capacidade de reter umidade. Isso significa cortar drasticamente o uso de fertilizantes químicos, que eliminam vários microorganismos que atuam na revitalização do solo, usar fertilizantes orgânicos e praticar a rotatividade de plantio. Um dos problemas contidos nas propostas de legislação é que o aumento dos seguros-safras irá promover cortes no Conservation Stewardship Program (Programa de Gestão de Conservação), que é um programa criado, justamente, para ajudar os agricultores a melhorar a saúde ecológica de suas terras. Está na hora de lembrar ao Congresso e à super-poderosa agricultura americana que já se esperou muito para levar a sério a questão das mudanças climáticas.” (Fonte: NY Times)
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Especial África
Felinos, Povo Maasai e Sustenbilidade FOTOS: VIRGÍNIO Í SANCHES, da Reserva Maasai Mara, no Quênia, África Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista
m meio à savana africana, ainda de manhã cedo, a leoa corre, avançando sobre o filhote de tobi. Seus olhos estão fixos diante da presa. Que, no afã de se safar, procura refúgio onde não há, corre desesperadamente em zigue-zague. Impossível, não há como fugir da lei da natureza. Em apenas um segundo o frágil jovem tobi é alcançado pela leoa e se transforma em comida para os seus filhotes que descansam e brincam debaixo das árvores ali perto como se fossem gatos selvagens. O café da manhã é garantido para esta família de felinos enquanto mais um dia amanhece na Reserva Maasai Mara, no Quênia. Este é apenas um dos momentos inesquecíveis presenciados e clicados para a eternidade pelo jornalista VIRGÍNIO SANCHES – experiente fotógrafo de natureza, que já esteve várias vezes apenas no Pantanal, sem falar nos diversos outros biomas, com vários trabalhos publicados e expostos, além
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de fundador e Conselheiro da Afnatura (Associação de Fotógrafos da Natureza). Ele acaba de regressar de viagem com objetivo muito claro de conhecer e fotografar o Quênia, mais especificamente a Reserva Maasai Mara, uma das mais conhecidas do mundo e, sem margem de dúvida, uma das mais originais e históricas. Virgínio viajou com a esposa, Cláudia, companheira de vida e de aventuras, e um casal de amigos também apaixonado por expedições como esta. Se uniram a grupo de fotógrafos experientes da África do Sul. Levaram equipamentos suficientes para dar conta da missão: registrar os melhores momentos da bela reserva, a luta desigual pela sobrevivência na natureza selvagem e, principalmente, conhecer um dos povos mais tradicionais da etnia Maasai. “Era uma viagem acalantada e sonhada há anos. Foi a realização não só deste sonho, mas uma verdadeira lição de vida”, conta para Plurale Virgínio Sanches. Antes de embarcarem para a África, tudo foi estrategicamente preparado: a viagem seria feita via África do Sul, do Rio de Janeiro até Johanesburgo para depois seguir por conexão para Nairóbi, na capital do Quênia, e de lá, em um avião bem menor, direto para a Reserva Maasai Mara. Uma primeira dica do viajante experiente: evite levar mochilas ou malas pesadas ou equipamentos demais. Para cada viajante há uma determinação bem clara nestes voos menores de limite máximo de peso. E quem vive nesta estrada de observação da natureza já sabe que não há – de jeito algum – espaço para excesso de roupas ou máquinas e lentes desnecessárias. A chegada à Reserva Maasai Mara foi uma alegria. Há lodges e acampamentos para os ecoturistas muito bem equipados e protegidos de animais e insetos. Alguns luxuosos, outros mais simples, mas o su-
ficiente para descansar após dias intensos de observação da natureza. Esta é outra lição para quem for à África. Para obter as melhores fotos, é preciso madrugar – os animais estão mais ativos ao amanhecer, especialmente os felinos, que costumam descansar na maior parte do dia, quando o calor aumenta. Embora equatorial, o Maasai Mara não é excessivamente quente, exceto nos meses mais chuvosos do verão. Dependendo da hora e do local, no meio do ano a tempe-
ratura fica entre 15 graus de manhã e em torno de 30 graus no entardecer. Em razão da altitude, o Mara quase não registra casos de malária. Mas por que o Quênia e mais especificamente a Reserva do povo Maasai, junto ao Rio Mara? Virgínio explica que foi – como toda uma geração – apaixonado pelo seriado de TV Daktari (leia mais no box nas próximas páginas), que esteve no ar até 1969. Os mais experientes certamente se lembrarão do leão vesgo Clarence, da chipanzé Judy, sem falar no veterinário Dr. Marsh, sua namorada, a também pesquisadora, Julie e a filha do protagonista, Paula, que adota o leão vesgo. A série foi gravada na Califórnia, em uma reserva de animais selvagens, mas era como se passasse no Quênia. Terra marcada pela forte presença da etnia Maasai. Tudo isso fez com que a imagem de África para Virgínio e toda uma geração fosse Daktari, o Quênia e os Maasai. “Queria conhecer o cenário verdadeiro de Daktari”, conta o jornalista/fotógrafo. Daí surgiu todo o interesse e sonho, agora realizado, de estar na Reserva Maasai Mara. Outra lição para os neófitos: o nome do povo é Maasai com a letra A dobrada mesmo e Mara é o nome da região. Que poderia ser outra localidade. Para quem não sabe, os Maasai chegam a cerca de 800 mil, espalhados pelo Quênia e Tanzânia. Nômades, têm hábitos seculares e história de sobra. O aquecimento global e as mudanças da biodiversidade fizeram alguns destes hábitos mudarem (leia mais adiante). Virgínio conheceu uma aldeia típica dos Maasai – que além de pastores são também os guias, motoristas dos jipes e também seguranças que trabalham nos alojamentos para evitar a aproximação de algum animal mais afoito. “O ecoturismo passou a ser uma atividade relevante para a sobrevivência deles”, conta o jornalista. Quem visita a Reserva paga uma taxa para conservação da
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Especial África região e também U$ 20 por turista para que os costumes e tradições dos Maasai sejam preservadas. “Eles explicam que isso ajuda a manter serviços de saúde e escola para todos”, diz o jornalista. Em modelo de gestão compartilhada, os Maasai têm participação na Reserva, que é uma das mais conhecidas do mundo. Cada aldeia tem entre 10 e 12 casas, construídas dentro de um terreno circular cercado por galhos de acácia, onde o gado é recolhido no fim do dia. As casas tradicionais continuam sendo feitas de barro e esterco de vaca, e embora pequenas – cerca de 25 metros quadrados - acomodam famílias em torno de cinco membros e animais domésticos. “Não é possível avaliar esse modo de vida pelos nossos padrões de conforto ou hi-
FOTOS DE VIRGÍNIO SANCHES/RESERVA MAASAI MARA, QUÊNIA
giene, mas apesar disso, sente-se ali uma nobreza secular, traduzida no orgulho com que os moradores apresentam sua cultura ancestral”. As fotos dos Maasai que Virgínio brinda neste Ensaio Especial de Cinco anos os leitores de Plurale são propositadamente todas em preto e branco. “Sempre imaginei estas fotos em preto e branco, como apareciam na série Daktari da minha infância. Os Maasai têm uma ligação muito forte com a cor vermelha, são muito coloridos, mas queria tentar captar além da cor das roupas, e foi isso que busquei nesse ensaio”, explica Virgínio. A aventura dos brasileiros na Reserva do Quênia durou uma semana e também incluiu passeio de balão para fotografar do alto e a possibilidade de fotografar principalmente a ligação entre os felinos e os Maasai. “Eles são guerreiros por natureza.
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Ainda há relatos do rito de emancipação do jovem, que inclui matar um leão. Mas esse costume está desaparecendo por uma série de fatores, inclusive pela globalização e pelo acesso à internet. Hoje os jovens entendem que é mais sustentável manter os animais vivos e ganhar com o ecoturismo”, diz Virgínio. Esta atividade tem avançado nos últimos anos, incentivada pelo governo do Quênia. O Mara é um dos habitats do chamado leão da juba preta, imponente e solene, como o que mostramos neste Especial. Nesta época do ano calcula-se que cerca de 3 milhões de gnus e em torno de 300 mil zebras migram por estas terras do Quênia para a Tanzânia, cruzando o Rio Mara, fugindo da seca para terreno menos castigado e, neste trajeto, muitos viram comida dos felinos. Sem falar nas presas ainda mais frágeis como o filhote de tobi da foto que
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virou café da manhã dos filhotes da leoa. A estimativa dos habitantes locais é que morrem nesta travessia em torno de 250 mil gnus a cada jornada. Há ainda cliques de elefantes, rinocerontes, zebras, girafas e outros tantos animais. Nosso foco foi centrar mais nos felinos, no povo Maasai, e na incrível luz da savana queniana. Acompanhe nestas páginas algumas destas imagens gentilmente cedidas por Virgínio. A natureza agradece. Os leitores de Plurale também, que estão sendo brindados, em primeiríssima mão com as impactantes fotos. Material inédito desta incrível viagem à Reserva Maasai Mara estará disponível em Exposição próxima, que será realizada no Shopping Barra Point, na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio de Janeiro), ainda este ano. Acompanhe todos os detalhes no Portal Plurale (www.plurale.com.br).
- No Quênia a moeda é o xeling queniano, cujo câmbio - muito favorável para nós - gira em torno de 4 xelins para 1 real. O dólar é uma moeda turística bem aceita nos hotéis e res- Nairobi é uma capital desenvolvida, com taurantes, mas não nos pequenos negócios. muitos hotéis, alguns excelentes, como o Nairobi Serena Hotel (www.serenahotels.com). - Para ingressar no Quênia é necessário visto, que é tirado no próprio aeroporto na che- No Mara há vários lodges e acampamen- gada e custa R$ 50 dólares, pagos em moetos, tanto dentro como fora da Reserva. O da americana. O aeroporto Jomo Kenyatta é grupo de Virgínio ficou no Entim Camp (www. simples (está em reforma), e o acesso pode entim-mara.com/), que é montado apenas no ser complicado em função do trânsito caótiperíodo seco. Fica na margem do rio Mara, co da cidade. Os vôos para o Mara parte do e não tem cercas - animais vagueiam pelas aeroporto Nairobi Wilson, onde não há sala proximidades, e são afugentados quando ne- de espera para todos, e muitas vezes é precessário pelos guerreiros Maasai. ciso aguardar o avião na própria pista.
SERVIÇO:
- Muitas empresas fazem safáris fotográficos no Mara. A nossa foi a C4 (www.c4imagessafaris.co.za), que tem roteiros diversos para aproveitar cada época do ano.
- South African Airlines é a empresa que faz o trecho São Paulo / Johanesburgo / Nairobi. Também é possível ir para o Quênia via Angola, mas é mais complicado.
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África
Daktari, a série inspira o nosso “Daktari das fotos”
Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista
uem tem mais do que 48 anos certamente se lembrará de Clarence, o leão vesgo, de Judy, a chipanzé levada-que-só e todos os astros da série Daktari. Como o veterinário Dr. Marsh, sua filha Paula, que “adotou” o leão e Julie Harper, a pesquisadora dos gorilas, namorada do Dr. Marsh e dona de Judy. Tudo ambientado, é claro, como se fosse na África, mais especificamente no Quênia. Na verdade, a série foi rodada na África Californiana, em pleno território americano, na Califórnia, um parque que abrigava mais de 500 animais selvagens, mantido por Ralph Helfer e o produtor executivo da série Ivan Tors, que tem no seu currículo também as produções Rhino, Flipper, Namu the Killer Whale (Namu, a Baleia Assassina), dentre outros.
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Calma. Você é mais jovem e nunca ouviu ouv falar desta série, sequer tem ideia do que estamos falando? Pergunte aos irmãos mais velhos, aos pais ou avós e irm alguém poderá lhe falar sobre o sucesal so que Daktari teve nos anos 60. A série da CBS acabou em 1969, mas até hoje d é lembrada como um dos sucessos de ttodas as épocas. Para quem nunca teve o privilégio de assistir, o nome do filme era inspirado na língua local, “Doutor”, “médico”, e tinha – muito antes dos tempos totalmente midiáticos em torno da Sustentabilidade – uma forte noção de como praticar este conceito. Vale conferir no You Tube alguns dos vídeos. Enquanto caçadores e usurpadomarfim de dentes res contrabandeavam c de elefantes, capturavam gorilas ou matavam felinos, o veterinário Dr. Marsh, sua filha e a namorada Julie procuravam conservar a região e sua biodiversidade, denunciando e salvando os animais feridos. Um hospital de campanha foi criado para que o Daktari da série e seus fieis escudeiros representando o povo Maasa, do Quênia, pudessem conservar e salvar a natureza da ação dos vilões. Confesso que era bem garota ainda e me lembro primeiro de ter visto em preto e branco para, mais tarde, ter registro de reprises e o filme no cinema já com a chegada da cor. Me divertia com Clarence o leão vesgo e as peraltices da macaca Judy. Ela adorava café e pintava o sete com os “buanas”, ou homens brancos como os locais os chamavam. Tenho também forte lembrança da simpatia e trabalho duro dos quenianos no filme. Uma curiosidade para
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Virgínio Sanches: experiente fotógrafo de natureza
os amantes de séries antigas e geniais como todos nós: a macaca que fazia o papel de Judy foi a mesma que também integrou a série Perdidos no Espaço, como Debbie. “Eu e a minha geração queríamos ser Daktari um dia também”, brinca o jornalista Virgínio Sanches que cresceu sonhando um dia poder fazer algum trabalho voltado para a conservação e preservação da natureza e sua rica biodiversidade. Muitas décadas antes de sequer se falar em sustentabilidade ou defesa dos animais.Apaixonado por fotografia, se especializou exatamente em natureza. Perdeu a conta de quantas viagens já fez até o Pantanal e outros biomas. Sempre que pode, foge do padrão tradicional e férias em resorts paradisíacos para cair no mundo e praticar o seu sonho. Esteja certo, Virgínio. Fotografando e registrando a alma dos Maasai e a exuberância da biodiversidade africana, você também realiza os sonhos de todos nós. Sinta-se como nosso “embaixador” em exercício em defesa da sustentabilidade, o nosso “Daktari” das imagens e da alma da natureza.
E n s a i o POR VIRGÍNIO SANCHES
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carinho da mãe com seus filhos; a alegria do jovem, o cuidado com os mais velhos que guardam o saber da tribo e a forte ligação com os felinos. Estes são apenas alguns dos exemplos que um turista pode conferir, de perto, como é a vida em uma vila do povo Maasai, no Quênia. Bem diferente do safári estereotipado na África, este é o tipo da viagem de reconhecimento de um continente que tem tudo ainda por ser desvendado por turistas engajados. “O ecoturismo passou a ser uma atividade importante para os Maasai. Muitos dos guias da região são desta etnia e eles sabem o valor de poder compartilhar seus conhecimentos e história com quem os visita”, conta o jornalista VIRGÍNIO SANCHES – também um dedicado fotógrafo de natureza, com vários trabalhos publicados e expostos, além de fundador e Conselheiro da Afnatura (Associação de Fotógrafos da Natureza). Ele acaba de voltar de viagem ao Quênia com a esposa e casal de amigos apaixonados por fotografia, carregados de máquinas e lentes. Muito longe de perfil comum de turista em busca de belas fotos de elefantes ou girafas, esta foi, sem dúvida, uma expedição para quem procura uma África verdadeira, felizmente bem além deste clichê. “Espero que seja a primeira de muitas visitas ao continente”, conta o jornalista, já planejando uma próxima viagem. Uma pequena taxa é cobrada dos turistas que desejam visitar as aldeias e conhecer o dia-a-dia dos maasai. As fotos deste emocionante Ensaio Especial para Plurale, propositadamente, são todas em preto e branco. “Desde que comecei a amadurecer a realização deste sonho antigo eu pensei nestas fotos em preto e branco. Os Maasai, assim como outras etnias africanas, têm uma ligação muito forte com as cores, mas eu pretendia tentar captar alguma coisa além das cores vibrantes, e acho que o preto e branco me deixou chegar um pouco mais perto da riqueza interior deles”, explica Virgínio. É este olhar, esta poesia dos Maasai que ele presenteia, neste aniversário de cinco anos, os leitores de Plurale. Povo nômade, estima-se que sejam cerca de 800 mil entre o Quênia e a Tanzânia. Sua sociedade é patriarcal por natureza, com os mais velhos decidindo sobre a maioria das questões para cada grupo masai. A classe social dos Maasai é determinada pelo número de vacas pertencentes às famílias. A relação com os felinos também é muito forte. Ainda hoje, há relatos de jovens que ganham prestígio na sua comunidade se matar um leão, mas isso é cada vez mais raro. Sendo nômades, os Maasai constroem casas temporárias com esterco de vaca e barro. As casas são construídas em um círculo, e à noite, as vacas são conduzidas ao centro, protegidas dos animais selvagens. Guerreiros,
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FOTOS:
VIRGÍNIO SANCHES
DA RESERVA MAASAI MARA, NO QUÊNIA, ÁFRICA
profundos respeitadores da lei da selva e do conceito de sustentabilidade, este povo entendeu que é muito melhor manter os animais vivos e ganhar dinheiro com o ecoturismo sustentável. Embora o Quênia ainda autorize safáris para matar animais, os Maasai dão exemplo que há outros caminhos muito mais inteligentes e antenados com a modernidade. Virgínio revela que foi uma surpresa, por exemplo, encontrar tantos nativos conectados por celulares e com páginas no facebook, embora vivam numa região “selvagem”. “Ali, em plena savana, ficou ainda mais claro o sentido de conectividade que domina o mundo e as relações, eliminando barreiras e permitindo trocas impensáveis num passado recente”, conclui Virgínio.
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Aventura
BOLÍVIA DE BICICLETA: adrenalina e superação na Estrada da Morte
Um passeio de bicicleta inesquecível por uma das estradas mais perigosas - e lindas - do mundo.
Texto e Fotos: Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale, da Bolívia
iajar pela Bolívia exige paciência e espírito aventureiro. Algo tão simples quanto pegar um ônibus ou trem entre uma cidade e outra pode se transformar em uma dessas histórias de viagem que entram para o repertório de “causos” surreais. Mesmo com as novas estradas e rodovias inauguradas há pouco tempo, ainda é possível encontrar muitos caminhos pouco aptos para o transporte motorizado – principalmente nos dias de chuva, tão frequentes entre dezembro e março. Um deles, hoje pouco utilizado por carros e ônibus, virou atração para os turistas de aventura: o Estrada da Morte, que une La Paz e Coroico (“a porta de entrada da Amazônia boliviana”) convida os ciclistas a uma experiência inesquecível de pedalada em descida, que começa nos arredores da capital, a 4.700 metros de altura, e termina 3.515 metros abaixo, no pequeno povoado de Yolosa, ao lado de Coroico. Desde o primeiro
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dia na Bolívia eu e meu companheiro de viagem e de aventuras sabíamos que era impossível voltar para casa sem pelo menos dar uma olhadinha na parte tropical do pais. Coroico já estava nos planos, mas apenas depois de muito debater sobre as possibilidades de tudo terminar mal decidimos sair de La Paz sobre duas rodas movidas a energia humana. O passeio começa cedo e é fundamental que seja precedido por uma boa noite de sono. Às 7h30 da manhã, sob uma garoa fria, nosso guia Javier passou pelo hotel com a van que nos levaria – junto a outros viajantes de diversas nacionalidades – ao ponto de saída, La Cumbrecita, a meia hora de La Paz. Os primeiros 1.900 metros de descida enganam. Por uma estrada muito bem conservada, mesmo com chuva e um frio que não deixava sentir as mandíbulas, os ciclistas deslizam quase sem esforço por uma paisagem de filme, com montanhas cobertas por nuvens que dão a sensação de que estamos muito mais perto do céu que da terra. A única preocupação dessa parte do trajeto é prestar atenção às senhas do guia, que vai na frente de todos gesticulando quando é preciso frear, diminuir velocidade ou ultrapassar algum carro, ônibus ou caminhão, que circulam pela parte asfaltada em harmonia com as bicicletas. Mas quando chegamos a Cotapata, tudo mudou. Um pouco antes, em Unduavi, a
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3.200 metros de altura, passamos pelo controle policial e subimos na van. Javier nos deu chocolate e água, e alertou: “Vamos fazer 15 minutos de carro porque nesta parte há subidas e preciso que vocês estejam muito descansados e tranquilos para o que vem depois.” A barriga gelou um pouco, mas até então tudo era mais bonito que difícil. O equipamento completo - capacete, joelheira, cotoveleira, roupa impermeável e jalecos fluorescentes - dá uma segurança incrível a ciclistas que, como eu, não estão acostumados a fazer percursos de aventura que não sejam os urbanos, onde motoristas de carros, ônibus e motos garantem a adrenalina de um simples passeio de fim de semana. Pensando nisso, estava muito confiante de que a Estrada da Morte seria fichinha perto das manobras radicais que precisamos fazer todos os dias para usar a bicicleta como meio de transporte em grande cidades. Ledo engano. Descemos da van e o cenário era completamente diferente. Um caminho estreito, por onde inacreditavelmente até pouco tempo circulavam veículos de grande porte, cheio de pedregulhos e quedas d’água, desenhava curvas e mais curvas entre uma montanha e um abismo sinalizado apenas por cruzes e memoriais em homenagem aos falecidos da época em que o trânsito por esse caminho era pesado e ineludível. Ainda assim, no começo nada parecia
muito complicado. Eu estava sobre a melhor bicicleta que já tinha passado pelas minhas mãos: freios hidráulicos, suspensão na roda dianteira e tão leve que parecia feita de algodão. A única tarefa era deixar o caminho me levar e, quando dava, parar um pouco para ver a paisagem maravilhosa. Mas aí chegou o primeiro golpe. Manobrei mal e entrei com as duas rodas em uma valeta desenhada pelos cursos da água que cai da montanha. Nada grave, uns arranhões na mão e uma bela queda para a esquerda – longe do abismo, óbvio. A partir daí, a tensão aumentou um pouco. Como o caminho é todo em descida, quase não é necessário pedalar e é preciso fazer muita força com os braços para manter a bike no eixo e frear na hora certa, jamais com o freio dianteiro. Uma boa postura é importante também, porque o passeio dura cerca de três horas e joelho e coluna comecam a reclamar depois da primeira hora, quando ainda falta muito. Sem medo e com prudência, é possível chegar a velocidades altíssimas, o que seria fatal em caso de um descuido com o freio ou a perda de controle do guidon. Dito e feito. Em um momento de distração, houve uma pedra no meio do caminho. Uma pedra das grandes, que entrou na roda dianteira – por erro meu, que tinha os braços mais relaxados que o recomendável – e me lançou para frente, na pior queda de bicicleta da minha vida adulta. Nesse momento, Javier estava muito à frente – o guia sempre vai na frente e quem o ultrapassa fica de castigo e tem que fazer 20 minutos do trajeto no carro -, a van que nos acompanhava, sempre atrás de todos, estava muito atrás, e o namorado estava muito longe. Sozinha e sem público para o meu drama particular, levantei com o corpo todo dolorido e cheio de manchas roxas, mas feliz ao comprovar a eficiência do capacete, que salvou a minha vida, e por estar a somente dois metros do abismo, com os óculos intactos. Tentei subir na bicicleta, mas vi que a correia estava partida e o guidon tinha dado uma volta de 360 graus sobre seu eixo. Esperei a van chegar e contei meu drama. O motorista, com cara de assustado, me perguntou se eu queria fazer o que restava do trajeto de carro ou se eu queria trocar de bicicleta e continuar a aventura. Naquele momento, a mãe que cada um de nós leva dentro de si, dizendo permanentemente que sua morte não é uma possibilidade para ela, foi silenciada: “Vou trocar
Os preços do passeio de bicicleta de bicicleta”, disse se confiante em pela Estrada da Morte podem varia entre R$10 que o pior já tinhaa passado. 0 e R$400. E tinha mesmo. mo. Com A diferença está no tipo de bicicleta bicicleta nova, tão o boa (supensão nas duas rod as, em apenas uma ou sem suspensão, o qu quanto a anterior, e e não é recomendável) e de serviço. Durante o caminh os machucados o, os guias oferecem lan ch inhos que variam na qualidade de psicologicaacordo com o preço que se paga. Depois da pedalada, quase todas as mente superaagências oferecem um alm oço em um hotel dos, a adrenalina de Coroico, com piscina. O preço também varia de acordo com dobrou de intensidadao hotel no qual se termina o passeio. Antes de contr de e, com ela, a atenção. nção. atar uma excursão, a dica é caminhar bastante pela A única coisa realmente ealmente região da Plaza de San Fra ncisco, em importante era concluir o La Paz, onde se concen passeio com a dignidade nidade de uma tram a maioria das aggêênnccia ferida e a sabedoria ia que as quedas iass de turismo de dão. Cansada e com m menos velocidade, aventura. encontrei meus companheiros ompanheiros de excurr são e Javier um pouco uco adiante, trocando dee roupa. A última hora ora de passeio pedia me meenos casacos, o climaa já era tropical a essa al-tura. Mostrei meuss machucados orgulhosaa do feito e segui, sempre mpre atrás de todos, mas até o final, quando chegamos ao paraíso tropical que é Coroico. O golpe doeu durante uma semana, mas a história... essa ficou para sempre.
O Ç I V R E S
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VIDA Saud ável Ervas frescas
A dica vem do estudante João Victor Meyohas, 17 anos, que perdeu em um ano cerca de 20 quilos com reeducação alimentar e prática diária de exercícios físicos e tênis. No lugar da tradicional maionese, utilize iogurte natural diet ou light batido com ervas frescas, uma pitada de sal e um pouco de queijo cottage ou coalhada apenas para dar a consistência mais firme. “Hortelã, manjericão, alecrim, cheiro verde e outras ervas substitutem maravilhosamente temperos industrializados e o excesso de sal. Fazem bem à saúde e ainda têm efeitos terapêuticos”, lembra João Victor, que passou a cultivar uma pequena horta em canteiro para ter sempre as ervas frescas.
Óleo de abacate, o “queridinho” da vez O novo “queridinho” das lojas de produtos naturais é o óleo de abacate, com altíssimo teor de vitamina E. Fonte de gorduras insaturadas e dee beta-sitosterol,, auxiliares na redução do colesterol e melhora da saúde cardio-vascular. Na forma líquida ou em cápsulas o produto, de acor-do com especialistas, teria efeito contra radicais livres e até no o combate a alguns tipos de câncer. O óleo de abacate também m continua sendo indicado no tratamento de cabelos e em más-caras na pele.
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Apoio:
Atenção ao ronco infantil
O ronco em crianças pode sugerir que ela sofra de doenças respiratórias comuns da infância. As infecções do aparelho respiratório são mais frequentes nos primeiros anos de vida, quando se desenvolve a imunidade a partir do contato com o ambiente. O ruído provocado pela obstrução da via respiratória pode ocorrer por causa do aumento do tecido adenoideano, de infecções respiratórias, ou da existência de alergias não tratadas. Existem também os casos de crianças que roncam por estarem em um processo de doença respiratória aguda, como amidalite ou rinite alérgica não tratada. Na maioria desses casos, o tratamento dos problemas respiratórios leva o paciente a deixar de roncar. O mais importante é impedir que isso gere problemas anatômicos mais graves no futuro, como o comprometimento dos aparelhos fonoaudiológico e respiratório, além de alteração óssea da face e da arcada dentária.
Xampu da Amazônia Xam Com altas concentrações de extratos de Co castanha-do-pará castan e de guaraná, o Xampu Uso Frequente Guaraná e Castanha-do-Pará, da A Amazonia Viva - marca brasileira, criada por Cristina Duplessis, preocupada com a sust sustentabilidade - tem fórmula exclusiva idea ideal para quem lava o cabelo diariamente. Com Como os praticantes de atividade física, e par para as pessoas que desejam uma sensação refr refrescante nos dias mais quentes. Enquanto o guaraná atua de forma ads adstringente, revigorante e tonificante, a cast castanha-do-pará, além de propriedades emo emolientes e nutritivas, contribui na função de rrestaurar os fios danificados. Mais informaç mações no site www.amazoniaviva.com
Nos últimos cinco anos, repórteres e fotógrafos de Plurale em revista cruzaram o Brasil de norte a sul para descobrir boas histórias de transformação. De gente simples e aguerrida, protagonista de mudanças que estão apenas começando...
Lima (FAS)
TiĂŁo Santos Jardim Gramacho, RJ
Foto de AntĂ´nio Batalha (Firjan)
Foto de AntĂ´nio
...como a história de Seu Luiz Gonzaga, na Reserva de Uatumã, na Floresta Amazônica (AM), que estå aprendendo a escrever graças à Fundação Amazonas Sustentåvel e tem como objetivo defender as necessidades de sua pequena comunidade...
Seu Luiz Gonzaga ...distâncias percorridas de barco, de carros fora de estrada e pequenos aviĂľes. Foi assim para mostrar a exuberância do Pantanal em projeto de preservação da ararinha azul e vĂĄrias outras espĂŠcies, trabalho de proďŹ ssionais zelosos como a biĂłloga Luciana Pinheiro Ferreira, na RPPN SESC Pantanal...
Itairan Cardoso Serrinha, BA Foto de NĂcia Ribas
Foto de Luciana Tancredo
Reserva do UatumĂŁ, AM
...ou do jovem TiĂŁo Santos, que cresceu no lixĂŁo de Jardim Gramacho (Baixada Fluminense), lutou para mudar nĂŁo sĂł a sua vida, mas a dos catadores: virou estrela da obra do artista plĂĄstico de Vik Muniz e de ďŹ lme com direito a tapete vermelho de Hollywood...
nheiro LucianPNaSEPi SC Pantanal, MT
...neste perĂodo tambĂŠm conhecemos diversos projetos inovadores, como o de educação e geração de renda para crianças de comunidade de Serrinha, no sertĂŁo baiano, como Itairan Cardoso.
PoconĂŠ, RP
anos a nos no Com Plurale ĂŠ assim: vamos onde a notĂcia estĂĄ. Para que cada um apresente sua histĂłria, capaz de inspirar tantas outras transformaçþes. Plurale: plural atĂŠ no nome. WWW PLURALE COM BR s TWITTER PLURALEEMSITE
Saúde
Comida com bula Letrinhas ilegíveis, nomes abreviados, códigos enigmáticos, palavras em latim: a indústria alimentícia não quer que você saiba ou compreenda o que de fato está comprando Texto: Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em revista
C
om seu explosivo documentário, o cineasta Silvio Tendler provou, por A + B, que o veneno está na mesa: agrotóxicos utilizados em larga escala chegam até ao leite materno! Não bastasse isso, nossos alimentos ainda são recheados de aditivos químicos. Pior, muitas vezes desnecessários. A maioria dos corantes tem a única função de tornar o produto mais sedutor. Precisam mesmo colocar urucum industrializado na manteiga? Por que fazer cereais matinais multicoloridos, refrigerante roxo ou iogurte cor-de-rosa? Nem os remédios escapam da maquiagem: a indústria faz questão de dourar (e azular, esverdear...) a pílula. E o consumidor, óbvio, assume seu naco de culpa ao escolher alimentos chamativos – e não reclamar do abuso das empresas. Ah, mas se não houvesse conservantes, os alimentos nada durariam nos mercados. Verdade. Vale, no entanto, questionar se a praticidade da maionese industrializada, por exemplo, compensa a quantidade de
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química que se ingere junto. Silvia Salas trabalhou por 12 anos como engenheira de alimentos e conhece bem essa indústria: “Não posso colocar dez aditivos químicos em um alimento, embalar numa caixa plástica para que dure um ano e criar a ilusão de que é uma coisa gostosa, fresca e saudável, quando realmente não é.” Sair da empresa foi uma questão ética: “Todos os aditivos alimentares fazem mal a saúde, porque o corpo não reconhece um ingrediente químico que foi inventado nas últimas décadas.” E cita o aspartame e o glutamato monossódico: “Não está comprovado, ‘oficialmente’, o dano que podem causar às pessoas”, alega. “Mas muita gente apresenta alergia ao consumir esses produtos; e alergia nada mais é do que a rejeição do organismo a certa sustância”. Quando aquecido além dos 30º C, durante o processo digestivo, o aspartame se fragmenta em ácido fórmico, metanol e formaldeído. Entre os efeitos colaterais pro-
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vocados pelo seu consumo estão tonteira, alucinações, urticária e dores de cabeça. O Journal of Neuropathology and Experimental Neurology publicou que esse adoçante artificial é “um candidato promissor para explicar o recente aumento da incidência e do grau de malignidade dos tumores cerebrais”. Presente em uma infinidade de alimentos industrializados, incluindo biscoitos, doces, tortas e snacks, o glutamato monossódico (MSG) estimula receptores da língua produzindo um sabor conhecido por umami – saboroso, em japonês–, que interfere na percepção do paladar. Cerca de 70% do MGS é composto de ácido glutâmico, aminoácido que tem função excitante nas células e que pode levar a danos cerebrais. Pesquisas apontam que nosso organismo utiliza o glutamato como um transmissor de impulsos nervosos no cérebro – e seu consumo está sendo associado a dificuldades de aprendizado, Mal de Alzheimer, Parkinson e câncer. Aos amantes da culinária japonesa, uma dica: existe shoyu orgânico (macrobiótico) e sem glutamato. Randall Fitzgerald, um jornalista investigativo, mostrou que no século XX a taxa de mortalidade devido ao câncer subiu, nos Estados Unidos, de 3% para 20% do total de mortes ocorridas, a incidência de diabetes cresceu de 0,1% para quase 20% da população, doenças cardíacas se proliferaram e houve aumento na incidência de doenças cerebrais. O principal responsável por esses índices? A alimentação, claro. “A ciência médica simplesmente não pode prever que pessoas serão sensíveis a quais substâncias químicas, em quais dosagens, com qual potencial para desenvolver alguma dependência, ou quais efeitos sinérgicos podem criar condições tóxicas no corpo humano. A incerteza quanto aos fatores de risco a que estamos expostos no curso de nossas vidas constitui uma for-
O ABC DOS RÓTULOS Acidulantes identificados pela letra H, são usados principalmente para acentuar o sabor ácido ou agridoce de bebidas. Podem diminuir ou harmonizar o doce do açúcar nos produtos. Alguns acidulantes estão naturalmente presentes nas frutas (caso do acido cítrico presente no limão), mas o natural é muito caro. O que se usa é o ácido cítrico obtido pela fermentação da sacarose. Já o ácido láctico funciona como potencializador de sabor em margarinas, molhos, balas, vinhos, sucos, cervejas, refrigerantes e dezenas de outros produtos. Antioxidantes Composição: aromatizantes, edulcorantes entre os ingredientes dos produtos
ma de roleta-russa biológica que jogamos com nossos próprios organismos, todos os dias”, escreveu Fitzgerald, em Cem Anos de Mentira. De acordo com o autor, mais de três mil substâncias químicas sintéticas são regularmente adicionadas aos produtos alimentícios, e quase nenhuma foi testada quanto ao seu potencial interativo com outras substâncias. Em 2006, quando o livro foi lançado, cada norte-americano tinha mais de 700 substâncias quimicamente sintetizadas acumuladas em seu organismo! Mais do que alertar para o risco da química que contamina nosso corpo, Fitzgerald nos incentiva a mudar hábitos. A indústria alimentícia quer lucro, investe em marketing e economiza na compra de matéria prima. Veja o rótulo de boa parte das marcas de requeijão: pouco leite (ou creme de leite) e muito amido, gorduras vegetais e, claro, estabilizantes para garantir o aspecto cremoso. Sabemos quanto tempo dura a maionese caseira fora da geladeira. Como a versão industrializada pode ser consumida até mais de um ano depois de fabricada? Tal “milagre” tem como preço nada menos do que a saúde de quem consome com frequência. Moral da história: o supermercado tem muita coisa pra vender, mas pouca para comer. Compre alimentos na feira, prepare sua comida com ingredientes frescos e orgânicos e, se possível, tenha sua própria horta em casa. SABOR DE PERIGO A lei obriga que o uso dos aditivos químicos seja discriminado nas embalagens e limita a concentração de alguns deles. A dosagem considerada segura de cada um é determinada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e Organização Mundial de Saúde. Mas cada governo – dependendo da pressão da indústria e da conscientização do consumidor – proíbe ou libera estes aditivos.
identificados pela letra A, prolongam a durabilidade dos alimentos. Usados principalmente em produtos gordurosos. Ha antioxidantes naturais, como o tocoferol (vitamina E), e os sintéticos, como o BHA e BHT, ambos derivado do fenol. Aromatizantes e flavorizantes Indicados pela letra F, realçam (ou criam) o sabor e o aroma. Há centenas de sopas, biscoitos, bolos, sorvetes e guloseimas com cheiro e gosto de ingredientes que não entraram na sua composição. Conservantes Identificados pelos códigos P1 a P10, evitam a ação de microrganismos que deterioram os alimentos. Ácidos orgânicos, tais como o acético, benzóico, propanóico e o ácido sórbico, são usados como antimicróbicas em alimentos com pH baixo. Dióxido de enxofre e sulfitos são usados para controlar o crescimento de microorganismos em frutas secas, sucos e vinhos. Nisin e natamicina inibem o crescimento de bactérias e fungos. Já nitrito de sódio, reconhecidamente carcinogênico, esta onipresentes em quase todo alimento industrializado a base de carne. Corantes Sua função é dar cor atraente ao alimento. C1 significa corante natural (caso do urucum); C2, artificial. Outras siglas que indicam corantes sintéticos: AC (vermelho) e FCF (azul brilhante). Estes e outros sintéticos, como o “Indigo Carmine”, “Fast Green FCF” e “Allura Red AC”, são bastante tóxicos. O Allura, permitido no Brasil, foi proibido no Canadá e outros países. Corantes “Amarelo Crepúsculo” e Tartrazina foram proibidos em vários países europeus por provocar hiperatividade e outros distúrbios de comportamento nas crianças. Edulcorantes Indicados pela letra D, são usados em produtos dietéticos, mas também em pães e sucos não identificados como diet. Com três latas de refrigerante diet, um adulto de 70 kg pode ultrapassar a ingestão diária aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Uma criança de 30 kg pode ultrapassar tomando uma lata. Emulsificantes Previnem a formação de cristais de gelo em produtos congelados, como o sorvete, e melhoram a uniformidade de produtos assados. Também conferem cremosidade e/ou maciez a produtos de panificação e confeitaria. Espessantes Sua função é dar consistência ao alimento. Geralmente, é de origem vegetal. No rotulo são o EP. Estabilizantes Ajudam a manter a boa aparência dos alimentos e impedem que os diferentes ingredientes se separem. São identificados pelos códigos ET1 até ET29. Realçadores de sabor Guanilato dissódico, inosinato dissódico e, o mais usado, glutamato monossódico. Por causa deles, não sossegamos até ver o pacote de salgadinho vazio. Saiba mais: http://www.anvisa.gov.br/divulga/public/alimentos/codex_alimentarius.pdf
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P e las Em ppr esas
ISABELLA ARARIPE
Foto: Wander Roberto/Divulgação
Araraquara terá a primeira fábrica para produzir ingrediente para garrafa PET feita em parte de origem vegetal A Coca-Cola Brasil e a Investe São Paulo anunciam a construção da maior fábrica de produção de BioMEG do mundo, principal ingrediente das embalagens PlantBottle™ - primeira garrafa PET reciclável feita parcialmente de origem vegetal. Em parceria com a JBF Industries Ltd., a iniciativa reforça a liderança da empresa no lançamento de garrafas sustentáveis inovadoras, aproximando-a ainda mais da meta de adotar a tecnologia PlantBottle™ em todas as garrafas plásticas de seu portfólio no País até 2015. Durante o anúncio, no dia 27 de setembro, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, aconteceu a assinatura do protocolo de intenções entre o CEO do Grupo JBF, Cheereg Arya e o presidente da Investe SP, Luciano Almeida, para a construção da nova fábrica no município de Araraquara. A cerimônia contou com a presença do governador do Estado, Geraldo Alckmin; do presidente da Coca-Cola Brasil, Xiemar Zarazúa; do vice-presidente mundial de Compras da Coca-Cola, Ronald J. Lewis; além de autoridades locais. Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola Brasil: “Este investimento não só é significativo como é, também, sustentável”
Foto: Divulgação g ç
Consumo consciente em pauta na Unimed-Rio Reaja! Com esse título imperativo e capaz de gerar uma reflexão, a Unimed-Rio lançou sua Campanha de Consumo Consciente 2012, em setembro. O tema remete ao conceito de sustentabilidade por meio de diversas palavras: Reveja, Repense, Recicle etc. O objetivo é fazer com que os colaboradores da empresa se mobilizem e modifiquem hábitos insustentáveis do seu dia a dia. A campanha conta com totens, matérias, blog com um especialista, peças de comunicação na intranet e nos murais físicos, além de um quiz e um reality show sobre o assunto. Os vídeos do programa são inseridos periodicamente na intranet. “Acreditamos que somente através da disseminação de informações e do engajamento do colaborador na causa do consumo consciente teremos mudanças efetivas de comportamento dentro da empresa e fora dela”, avalia a gerente de Relações Públicas e Sustentabilidade da Unimed-Rio, Ana Vargas.
Jacarandá: arte e sustentabilidade em campanhas Ja as Sustentabilidade e Responsabilidade socioambiental aliadas à arte. São os dois conceitos e valores que fazem parte do dia a dia da mais nova agência de publicidade que tem raiz no Rio de Janeiro, brasileiríssima até no n nome: a Jacarandá. Com apenas um ano de eexistência e tendo à frente os jovens empreeendedores Filipe Agnelli e Felipe Fontenelle, a empresa está nas redes sociais e acaba de la lançar seu site: www.jacaranda.pro O conceito socioambiental está em cada aç ação da empresa e em cada um dos projetos
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que têm o selo da Jacarandá, como a produção, à mão, de 300 mil stencils encartados na Revista Veja na campanha mundial “Hora do Planeta 2012”, realizada no Brasil pela Coca-Cola. Outros projetos são a criação do vídeo de animação para a empresa Carro.Com.Vc; a produção do vídeo institucional para a indústria Ciclo, que fabrica telhas 100% ecológicas; a fachada do showroom da empresa Lunelli e o vídeo institucional da Aldeia das Águas Parque Resort. Felipe Fontenelle e Filipe Agnelli comandam a agência de publicidade
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Itaú lança campanha de incentivo à leitura para crianças O Itaú lançou no dia 3 de outubro campanha nacional de incentivo à leitura para crianças. Nesta ação, que contará com forte mobilização destinada a sensibilizar a sociedade para a importância da educação, o adulto é convidado a ler para uma criança. Para apoiar esse convite, serão oferecidas gratuitamente 2,34 milhões de Coleções Itaú de livros infantis, totalizando 7 milhões de livros. As coleções, voltadas para crianças de até 5 anos, são compostas por três títulos recomendados por especialistas em literatura infantil, folheto com dicas de leitura e adesivo. A iniciativa, do programa Itaú Criança, integra amplo conjunto de programas que são parte do investimento social do banco. O objetivo é contribuir para uma educação de qualidade, direito fundamental de todas as
crianças i e os adolescentes. d l t Desde D d 2010, 2010 outras t colel ções e mais de 22 milhões de livros foram entregues pelo programa. “A campanha é uma forma de colocarmos em pauta a questão da leitura e convocarmos toda a sociedade a refletir sobre a importância de estimular esse hábito, como forma de garantir o direito de aprendizagem a todas as crianças e aos adolescentes”, pontua Antonio Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social.
Petrobras lança seleções públicas para projetos sociais e ambientais A Petrobras lançou em 18 de setembro as Seleções Públicas do Programa Petrobras Ambiental (PPA) e do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania (PPD&C). A companhia destinará, em dois anos, R$ 102 milhões para patrocínio a projetos ambientais e R$ 145 milhões para projetos sociais em todo o país, o maior investimento de todas as edições dos programas. As inscrições podem ser feitas até o dia 18 de novembro pelo site www.petrobras.com.br/pt/meio-ambiente-e-sociedade/selecoes-publicas. O diretor Corporativo e de Serviços da Petrobras, José Eduardo Dutra, destacou a importância que a questão da responsabilidade social ganhou ao ser incluída no Planejamento Estratégico da Companhia em 2004. Para Dutra, esses projetos são a ponte que liga a Petrobras e a população brasileira, a grande responsável pela existência da compaDiretor José Eduardo Dutra recebe presente do Projeto Catadoras nhia. “A Petrobras não é uma empresa que surgiu de uma oportunidade de negócios, e de Mangaba - Gerando Renda e Tecendo a Vida em Sergipe sim de uma ampla mobilização do povo brasileiro. A Petrobras tem procurado dar sua contribuição ao longo da sua história, intensificando e aperfeiçoando mecanismos que visem, não só a diminuir o impacto de suas atividades no meio ambiente, como também a transmitir para as novas gerações conhecimento e preocupação em relação a esses temas”, afirmou.
Foto: Divulgação / Daniel Ramalho
IMX anuncia parceria com o Cirque Du Soleil no Brasil e América do Sul
Da esq. para dir.: Alan Adler (CEO IMX), Eike Batista (CEO Grupo EBX), Mike Dolan (CEO IMG) e Daniel Lamarre (CEO Cirque du Soleil)
A IMX, joint venture do Grupo EBX com a IMG Worldwide, anunciou na manhã desta terça-feira, dia 25, uma sociedade inédita com o Cirque du Soleil. A joint venture marca a criação da IMX Arts e traz o melhor do conteúdo ao vivo do Cirque du Soleil, potencializando o valor agregado e a marca Cirque du Soleil no Brasil e na América do Sul. A nova operação terá o Rio de Janeiro como sede e possibilita à IMX Arts explorar
a marca e as vertentes de negócios do Cirque du Soleil, como eventos especiais e conteúdos criativos. A IMX compartilha dos princípios de cidadania e sustentabilidade do Cirque du Soleil e também vai trabalhar para difundir as iniciativas de caráter social apoiadas pelo Cirque. Com esse anúncio, o Brasil – ao lado da Rússia – passa a ser outro país onde o Cirque du Soleil mantém operações independentes.
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foto: fot fo ootto: o Christina Rufatto/ Divulgação
Bazar ético
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IPÊ comemora 20 anos de atividades em prol da conservação da biodiversidade
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Ecobag R$75
Havaianas Sauim de Manaus R$24
Asssim com Assim como Plurale, o IPÊ – Instituto de Pesquisas Eco Ecológicas ológicas – também está comemorando aniversário. Sãoo 20 ano anos desde a criação do Instituto e de trabalho ppela con conservação da biodiversidade brasileira que come começou eçou aantes mesmo da sua fundação oficial. A hist história tória ddo Instituto tem ligação direta com uma comple completa eta mudança m de vida de um de seus fundadores. Cla Claudio audio Valladares Padua, no final dos anos 70, desistiu da carreira de administrador de empresas e de passou a eestudar Biologia com o intuito de conservar o que ainda a restava de biodiversidade no Brasil. Especializou Especializou-se em primatologia, estudando o micoleão preto preto, espécie que se tornaria símbolo do trabalho de conservação do Instituto no Pontal do Paranapanema, onde as primeiras pesquisas científicas se iniciaram. Junto com os levantamentos científicos, surgiram ações de educação ambiental, iniciadas por sua esposa, hoje presidente do IPÊ, Suzana Padua. As atividades tinham o objetivo de informar a comunidade local sobre a importância de conservar a Mata Atlântica naquela região, e por consequência, conservar o mico. Outros pesquisadores e estudantes que compartilhavam do mesmo ideal de Claudio e Suzana uniram-se ao casal para, em 1992, fundar o IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. O Instituto avançou ao longo dos anos, agregando profissionais e formando um staff com 15 mestres e 10 doutores, somando cerca de 80 profissionais ao todo. Do Pontal do Paranapanema, o IPÊ caminhou para outras localidades. Confira nesta página alguns dos produtos da loja virtual do Ipê. As Havaianas especiais para o Ipê custam R$ 24, as ecobags saem por R$ 60 e as camisetas por R$ 35 (adulto, simples, de silk), R$ 50 (adulto, bordada) e outros valores, dependendo do modelo e tamanho.
Camiseta Árvore Ipê R$50
Sacola Pata de Onça R$60
Boné IPÊ R$15
Mais detalhes de preços e condições de pagamento/envio no site: http://www.lojadoipe.org.br/ Como também pelo email ipe@ipe.org.br ou pelo telefone (011) 4597 7155
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicoss e de comércio comérc solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI
Também disponível no iPad! www.revistaRI.com.br 61
Estante
Carlos Franco - Editor de Plurale em revista na Conflitos
MUITO ALÉM DA ECONOMIA VVERDE Por Ricardo Abramovay (organizador) com Matthew Shirts, Eduardo Gianetti da Fonseca e Laudislau Dowbor, Editora Planeta Sustentável, Editora Abril, 248 págs, R$ 35,00 A Vai dar tempo de fazer menos? É possível um capitalismo capaz de levar o mundo em conta? Ricardo Abramovay organiza a discussão e as informações sobre desenvolvimento sustentável no mundo contemporâneo para mostrar que, com o nível de desigualdade das sociedades e seu atual ritmo de crescimento, a economia verde não conseguirá compatibilizar seu tamanho com os limites dos ecossistemas. “Muito Além da Economia Verde” aponta para uma nova economia em que a cooperação social e o esforço por preservar e regenerar serviços naturais dos quais dependemos tornam-se decisivos.
TV digital brasileira Patrícia Maurício
CONFLITOS NA TV DIGITAL C BRASILEIRA B PPor Patrícia Maurício, Editora: PUCRio e Apicuri, 232 págs, R$ 35,00 R
Conflitos naTV digital brasileira, da d jornalista e professora do departamento de Comunicação d Social da PUC-Rio, Patrícia Maurício, editado em parceira pelas editoras PUC-Rio e Apicuri, traz o registro e a análise de um importante momento do processo de comunicação no Brasil: a implantação do sistema de transmissão digital para a televisão aberta. O livro é fruto da tese de doutoramento da autora, TV digital: conflitos no nascimento de uma nova mídia no Brasil, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em março de 2011.
SERRA DO ITAPETI ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIAIS E NATURALÍSTICOS AS LEIS DO CARISMA Por Kurt W. Mortensen, Editora: BestBusiness/ Grupo Record, 210 págs, R$ 39,90 O carisma é a chave que abrirá as portas do sucesso em vários aspectos de sua vida - do material ao afetivo. Em As leis do carisma, Kurt W. Mortensen analisa os quatro elementos básicos dessa poderosa (e frequentemente malcompreendida) ferramenta. Traz dicas úteis para autoavaliação e constante encorajamento. O livro ensina ao leitor tudo o que é necessário para que você libere a pessoa carismática que sempre esteve em seu interior.
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PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2012
Por Vitor Fernandes Oliveira de Miranda, Editora UNESP, 400 págs Vitor Fernandes Oliveira de Miranda, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp, Campus de Jaboticabal, lançou, em agosto, o livro “Serra do Itapeti - Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos”. A obra, em parceria com a bióloga Maria Santina de Castro Morini, professora da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), é resultado de dez anos de pesquisa sobre a região, a sua flora e fauna. A publicação está sendo distribuída para entidades de Educação Ambiental, escolas e bibliotecas do Alto Tietê e, também, está disponível online em forma de ebook e em pdf. O link é “http://www.canal6.com.br/site/” http://www.canal6.com.br/site/ (Do Portal da UNESP, SP)
Cinema
Super produção homenageia o Rei do Baião Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista Fotos: Divulgação
C
ontar a história de um homem que viveu 77 anos, gravou mais de 600 músicas e foi aclamado como o Rei do Baião, se tornando uma espécie de personificação do Nordeste brasileiro, seria impossível em cerca de duas horas de filme. Então, Breno Silveira – o mesmo diretor de 2 filhos de Francisco – A História de Zezé Di Camargo & Luciano - optou por um recorte: a conturbada e apaixonada relação entre pai e filho, entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha. Assim chega as telas do país exatamente no ano do centenário de seu nascimento (13 de dezembro) Gonzaga – De Pai pra Filho. Dois artistas, dois ícones da música popular. Luiz Gonzaga popularizou ritmos nordestinos como o xote, o baião e o forró e seu filho Gonzaguinha, carioca de nascimento, foi um compositor que marcou a MPB durante a ditadura militar com músicas que ainda hoje retratam a vida do
brasileiro. Gonzaga nos deixou em agosto de 1989, vítima de parada cardíaca e Gonzaguinha exatos um ano e nove meses depois, vítima de um acidente de carro na estrada voltando de um show. O projeto do filme idealizado por Maria Hernandez ficou sete anos nas mãos do diretor. “A Rosinha, filha do Gonzaga e o Daniel, um dos filhos do Gonzaguinha não se falavam há 15 anos. E cada um tinha na cabeça o seu filme, o seu projeto e que não passava nem de longe por falar de pai e filho juntos. Convidei a Rosinha e o Daniel para um encontro num restaurante. Mas não avisei a nenhum deles que o outro estaria. Quando eles chegaram e se viram ficou aquele mal estar. Depois de muita conversa, acabei convencendo que Gonzaguinha e Gonzagão era um filme só. A partir desse encontro as famílias voltaram a se frequentar”, conta Breno Silveira. Roteirizado por Patrícia Andrade o filme foi baseado em biografias escritas sobre ambos e em fitas gravadas de uma entrevista feita por Gonzaguinha com o pai. Uma super produção não somente pelo orçamento de cerca de R$ 12 milhões, mas também pela equipe envolvida e quantidade de locações. “Havia dias que a equipe no set era de 300 pessoas. Foram mais de 600 rolos de filme e cerca de 100 locações entre o Rio de Janeiro e o Nordeste. Exu, em Pernambuco, cidade natal de Gonzaga precisou ser recriada, pois a Exu de hoje está muito diferente, muito urbana. Rodamos o filme na ordem cronológica da história e em nove semanas. Talvez uns dias a mais, pois tem coisas que não contabilizamos”, ri. Como a cena que encerra o filme e que
foi feita só com os atores e uma equipe mínima. “Cismei que precisava fazer a cena ao pé do juazeiro e já tínhamos estourado prazo, orçamento, tudo. Voamos para o Nordeste eu, os dois atores e uma equipe técnica mínima”. A escolha do elenco segue uma fórmula que deu certo em 2 filhos de Francisco e em outros filmes brasileiros de sucesso: escalar pessoas que não sejam atores profissionais. Nas várias fases de sua vida, Gonzaga é interpretado por um ator, um músico e um guia do museu de Luiz Gonzaga em Exu, respectivamente Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adélio Lima. “Durante quase um ano fizemos testes procurando o ator que faria o Gonzaga. E nada. Aí decidimos colocar anúncios em veículos do Nordeste, para ver se conseguíamos achar alguém parecido. Tivemos cinco mil inscritos. Desses chegamos a uma seleção de 200, depois 40, 30, até chegarmos a 10. Trouxemos esses 10 para o Rio e os hospedamos num apartamento em Copacabana. Eles passaram por um laboratório e finalmente conseguimos encontrar o que queríamos”, lembra Breno. A grande surpresa para quem for assistir o filme é Júlio Andrade, ator gaúcho que praticamente encarnou Gonzaguinha. “Eu queria o papel desde que fiquei sabendo do filme. No dia do teste acordei muito cedo. O teste era às nove horas e às seis comecei a caracterização. Tinha uma namorada na época que caprichou na maquiagem, raspou até a minha sobrancelha para ficar igual. Botei uma peruca, um figurino anos 80 e fui. Entrei no estúdio e o Breno perguntou o que eu queria fazer. Olhei em volta e estava cheio de placas de “não fume” e eu disse que queria fumar e fui logo acendendo um cigarro. Peguei o violão e cantei. Depois fui embora sem dizer nada. Só aí o Breno ficou sabendo quem eu era. Até então estava achando que era um cover do Gonzaguinha”, fala Júlio Andrade. Além de Júlio, outros dois jovens atores dão vida a Gonzaguinha na tela. Mesmo tendo sido feito para ser exibido no cinema - o diretor frisa que é um filme de cinema – Gonzaga – De Pai pra Filho deve virar uma minissérie e ser exibida pela TV Globo. “Temos muito material que não pudemos aproveitar. Cenas maravilhosas que tivemos que cortar, porque não cabiam em duas horas”. Para Breno o mais gratificante no filme é o brasileiro se ver na tela. “É a história de dois grandes brasileiros que viveram intensamente o palco e a estrada”.
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CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Samba, carnaval e mídia Foto: Divulgação
Foto: Divulgação/Salete Hallack
Estrelas na luta verde
Está cada vez mais comum vermos estrelas de Hollywood engajadas no ativismo ambiental. É o caso do ator Robert Redford e das atrizes Meryl Streep e Ashley Judd, três dos cinco narradores do filme Uma Guerra Verde (A Fierce Green Fire no original), dirigido por Mark Kitchell. A produção americana conta cinco histórias passadas em cinco décadas diferentes, apontando os avanços da preservação ambiental. Segue a história dos principais movimentos de conscientização e preservação mundiais, desde o Greenpeace em favor da proteção das baleias, passando por Chico Mendes e a preservação da Amazônia, até chegar aos protestos contra o aquecimento global. Uma Guerra Verde estreou no Sundance Film Festival 2012.
Foto: Divulgação
Estrelas na luta verde II
Não é de hoje que se discute a preservação das raízes do samba e a forma como a mídia trata o carnaval, uma das maiores festas do povo brasileiro. Baseado na canção homônima de Nelson Sargento, o curta-metragem Agoniza, mas não morre fala exatamente dos caminhos percorridos pelo samba desde o início e critica a relação do carnaval com a grande mídia. Entre os entrevistados estão Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Helinho 107 e Alceu Maia. Produzido por estudantes da PUC-Rio, na cadeira de Projeto I de Cinema, a direção é de Gabriel Meyohas, 22 anos, que também é o autor do argumento em parceria com Maíra Motta, que assina a direção de fotografia do filme. Na equipe estão ainda Gabriel Zambrone no som, Larissa Ribas na produção e Deborah Gierkens na edição. O filme foi selecionado para o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, para o Festival de las Escuelas del Cine, no Uruguai e para a mostra competitiva de curtas da Premiere Brasil do Festival do Rio.
Pluralidade e tolerância nas telas O Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, maior festival LGBT da América Latina, chega a sua 20º edição trazendo na programação mais de 130 longas e curtas de diversos países como Turquia, Uganda, Paquistão, Coréia do Sul, Israel, Grécia, Indonésia, Argentina, Chile, EUA, Canadá, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Itália, Suécia, Austrália, Servia, Cuba e Brasil, todos pregando a pluralidade e a tolerância. O festival acontece de 08 a 18 de novembro em São Paulo e 22 de novembro a 01 de dezembro no Rio de Janeiro.
Finalistas do 9º Amazonas Film festival Outro que abraçou a causa é Jeremy Irons que participa do filme Trashed. O ator é o guia de um documentário que analisa com rigor jornalístico – a britânica Candida Brady que dirige o filme é jornalista - o lixo produzido pelos americanos e o destino dado a uma “produção” de quase meio bilhão de toneladas anuais. Mostra as causas e efeitos dessa prática devastadora, mas ao mesmo tempo aponta saídas sustentáveis para o problema.
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O festival que acontece de 03 a 09 de novembro, em Manaus, anunciou os filmes finalistas nas categorias de longa-metragem internacional, curta-metragem Brasil e curta-metragem Amazonas. Concorreram 393 filmes divididos em 19 longas estrangeiros, 17 convidados, 47 longas brasileiros, cinco convidados, 260 curtasmetragens brasileiros e digitais e 46 curtas-metragens amazonenses. A lista dos selecionados pode ser vista acessando http://www. amazonasfilmfestival.com.br.
CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE PLURALE EM REVISTA
PRÉ-SAL SUSTENTÁVEL? A Rio Oi & Gás 2012 lotou todos os pavilhões do Riocentro, no Rio, em setembro. Plurale esteve lá acompanhando as novidades tecnológicas apresentadas pelas empresas e também acompanhou alguns dos debates realizados na Conferência. Um deles tratou sobre a questão da proteção aos oceanos. O professor Segen Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe/ UFRJ falou sobre a importância de conciliar prospecção e proteção aos oceanos e mostrou vários cases de sucesso neste sentido. “O pré-sal está aí, devemos explorá-lo, é uma riqueza. Há riscos sim. Mas precisamos reforçar monitoramente e segurança na exploração”, disse Estefen. Também seguiu esta mesma linha a palestra de André Loubert Guimarães, diretor executivo da Conservation International Brasil, que falou sobre a rica biodiversidade marinha.
RELATÓRIO REVELA QUE A PERCEPÇÃO DAS EMPRESAS SOBRE O RISCO CLIMÁTICO SALTOU DE 10% PARA 37% De São Paulo
As mudanças climáticas já estão impactando a forma de fazer negócios. É o que mostra o relatório “Succeeding in an uncertain, resource constrained world”, lançado na última semana pelo Carbon Disclosure Project (CDP). De acordo com a publicação, 81% das empresas respondentes identificam riscos físicos advindos das mudanças climáticas. Do universo pesquisado, 78% das companhias já consideram o risco climático em suas estratégias de negócio. Essas e outras tendências foram discutidas no CDP Global Climate Forum, que marcou o lançamento do relatório em uma teleconferência realizada, no fim de setembro, em 10 cidades simultaneamente, entre elas São Paulo, Londres, Nova Iorque, San Francisco, Washington D.C., Paris, Lisboa, Mombai e Cidade do México. A crise financeira internacional, que ainda causa turbulência nos mercados internacionais, foi preocupação presente nas discussões, bem como a aceleração na busca de soluções com vistas a uma economia de baixo carbono.
MDL EVITA A EMISSÃO DE UM BILHÃO DE TONELADAS DE CO2 Por Fabiano Ávila, do Instituto Carbono Brasil
Uma indústria na Índia que passará a usar biomassa em vez de carvão e petróleo como fonte de energia recebeu no dia sete de setembro a Redução Certificada de Emissão (RCE) de número um bilhão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. “É uma marca excitante e uma prova da expansão do MDL. O mecanismo não apenas está tendo um impacto importante nos países em desenvolvimento com a transferência de tecnologias e o avanço do desenvolvimento sustentável, como também está encorajando nações desenvolvidas a aumentarem suas metas de redução de emissões, já que derruba o custo da mitigação”, afirmou Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). O projeto indiano promete evitar as emissões de 17.475 toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a retirar 3.100 carros de passeio das ruas.
AQUECIMENTO GLOBAL: VERDADE OU UMA MENTIRA CONVENIENTE? A Revista RI de setembro trás na matéria de capa, uma ampla e “polêmica” reportagem sobre o aquecimento global e a questão do papel do homem como protagonista da aceleração nas mudanças climáticas, e a consequente necessidade de adoção - ou não - de medidas urgentes para reduzir as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa. A questão está no centro de um amplo debate sobre os investimentos públicos e privados em ações de sustentabilidade e coloca
em questão o chamado mercado de Créditos de Carbono. A matéria aponta que por trás disso tudo, pode estar uma agenda oculta onde se escondem interesses de várias matizes. Para aprofundar a discussão a revista ouviu os maiores experts sobre o assunto no Brasil, como: o físico José Goldemberg, o climatologista Ricardo Felício, os especialistas em governança sustentável Roberto Gonzalez e Carlos
Eduardo Lessa Brandão, o doutor em física atmosférica Paulo Artaxo, os especialistas em sustentabilidade Giovanni Barontini e Marco Antonio Fujihara, entre outros, onde discutem as “verdades e mentiras” sobre as questões relacionadas ao aquecimento global. A revista também pode ser conferida na íntegra a partir de sua edição digital, disponível no site: www.revistaRI.com.br.
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I m a g e m Foto: PAULO
LIMA
Pinacoteca de São Paulo (SP)
O SABER PLURAL
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ada melhor do que conjugar no plural. É isto que Plurale tem defendido e perseguido ao longo de cinco anos. Temos participado ativamente como voluntários em várias ações, como na participação de palestras para estudantes e formadores de opinião, na doação de revistas para bibliotecas públicas e ONGs, na divulgação de trabalho sério do Terceiro Setor, etc. Porque acreditamos que o saber só será realmente universal se estiver ao alcance e compreensível para todos. Seguindo uma tendência felizmente cada vez mais praticada por vários centros culturais e museus. Aqui, o jornalista PAULO LIMA, de Aracaju (SE) flagrou uma destas ações em recente visita à Pinacoteca de São Paulo. Estudantes ouvindo uma aula “viva” sobre arte. “Sempre que vou a São Paulo gosto de voltar à Pinacoteca”, conta Paulo. Se você ainda não conhece a Pinacoteca paulista, junto à Praça da Luz, no tradicional Centro, vale conferir. Dá para fazer um passeio três em um: na frente fica o Museu da Língua Portuguesa, dentro da centenária Estação da Luz, outra visita à parte, com sua arquitetura histórica.
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Sustentabilidade é a energia que motiva nossas certificações!
Nossa responsabilidade com o Meio Ambiente se comprova com nossas certificações. Trabalhamos com um Sistema Integrado de Gestão nas áreas Ambiental, de Qualidade, de Saúde e Segurança.
Certificações
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