Plurale em Revista

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ano oito | nº 45 | janeiro / fevereiro 2015 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

Gorilas a salvo em Uganda

Artigos inéditos

Boas soluções na crise hídrica

Foto de Maurício Chichitosi (Histórias pelo Mundo) – Gorila no Bwindi Impenetrable National Park, Uganda

www.plurale.com.br


NÓS SEMEAMOS ÁGUA! Conheça o projeto que trabalha para recuperar a água em propriedades rurais no Sistema Cantareira.

Projeto “Semeando Água”, uma iniciativa do IPÊ com patrocínio Petrobras. Realização:

Patrocínio:

www.ipe.org.br/semeandoagua


E ditorial

P

Uma edição plural: água, artigos inéditos, gorilas em Uganda, Noruega e Serra da Tiririca

rocuramos nesta edição traduzir bem o nosso objetivo de apresentar em Plurale um leque amplo e plural de abordagens. Assim, trazemos um Especial sobre Recursos Hídricos – especialmente agora, diante da crise do recurso antes abundante em diversas regiões – com cases práticos que ajudam a pensar e aplicar soluções no médio a longo prazo. Temos artigos inéditos de importantes formadores de opinião: Carla Martins, Jorge Félix, Luiz Antônio Gaulia e Maria Elena Pereira Johannpeter. Também “visitamos” diferentes destinos com a ajuda de colaboradores sempre atentos às belas paisagens preservadas. O casal criador do Blog Histórias pelo Mundo – Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi – compartilha com os leitores de Plurale os bastidores da aventura na selva africana, Bwindi Impenetrable National Park, ao sul de Uganda. Lá estão preservados alguns dos últimos gorilas-de-planície tão ameaçados. É de Maurício a belíssima foto que ilustra a cada desta primeira edição de 2015. Nosso muito obrigada aos generosos parceiros!

A correspondente de Plurale na Comunidade Europeia, Vivian Simonato, esteve na Noruega e descortina toda a diversidade de Oslo. Também do mesmo país, mais ao Norte, Monica Pinho, conta os cuidados e zelo das autoridades com a chegada do frio mais intenso. Do Estado do Rio, o fotógrafo Carlos Magno exibe a exuberância da Serra da Tiririca, próxima de Maricá e a região oceânica de Niterói, como a foto da página. Não é só. Publicamos o relato emocionante da repórter Nícia Ribas relatando o relevante trabalho de 15 anos da Casa Ronald McDonald no Rio pelo câncer infantojuvenil, também registrado em livro recém-lançado. Antenada também em ouvir o que vem da alma, esta edição tem o prazer de apresentar o depoimento da jornalista Lou Fernandes – Indira Prem e seu encontro com o guru Prem Baba, em retiro espiritual. Confira ainda as colunas tradicionais de Plurale, como Ecoturismo, por Isabella Araripe e Cinema verde, por Isabel Capaverde. Que 21015 reserve a todos nós grandes notícias e possamos continuar contando com a sua qualificada leitura. Namastê! Carlos Magno – Serra da Tiririca (RJ)


48.

Bazar ético

Por Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi

16.

Artigos inéditos:

Carla Marins, Jorge Felix, Luiz Antônio Gaulia e Maria Elena Johannpeter

NÍCIA RIBAS

Meditação,

por Lou Fernandes Indira Prem

40 PELAS EMPRESAS

58 CINEMA VERDE

POR ISABEL CAPAVERDE

64 4

Casal brasileiro do blog Histórias pelo Mundo conta a experiência da visita ao Parque de Uganda que preserva os últimas gorilas do planeta,

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2015

divugação

Noruega sustentável, por Vivian Simonato e Monica Pinho

50.

Oslo – Pedro Freiria

54.

Maurício Chichitosi (Histórias pelo Mundo) – Gorila no Bwindi Impenetrable National Park, Uganda

Conte xto

30

O relevante trabalho do casal que fundou a Casa Ronald McDonald é relatado em livro Por Nícia Ribas



Quem faz

Cartas

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Jurandir Santos e Julio Baptista Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Carla Martins, Elis Monteiro (Portal Digitaletc.com.br), Fábio Reynol (Agência Fapesp), Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi (Blog Histórias pelo Mundo), IGAM, IPÊ, Jorge Félix, Lou Fernandes – Indira Prem, Luiz Antônio Gaulia, Maria Elena Johannpeter, Mônica Pinho, Nélson Tucci, Pedro Freiria, SOS Mata Atlântica, WWF Brasil.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Luciana e Sônia, Parabéns pelo excelente material, e agradeço gentilmente pelas citações à Roraima Adventures, a mim e a toda a equipe envolvida. Ficamos bem contentes com o resultado.” Joaquim Magno de Souza, Diretor da Roraima Adventures, Boa Vista, Roraima, por e-mail “Para a Marinha do Brasil (MB) foi um prazer receber a jornalista Marina Guedes, colaboradora da Plurale em revista, no Arquipélago de Abrolhos, mais precisamente na Ilha de Santa Bárbara, que é administrada pela MB e onde fica situado o Farol de Abrolhos, centenário sinal de auxílio à navegação no sul do estado da Bahia. A matéria produzida pela Plurale certamente contribui para iluminar as importantes questões relativas ao Arquipélago de Abrolhos, Parque Nacional Marinho que é um patrimônio de todos os brasileiros, assim como para registrar o abnegado trabalho dos nossos militares, que trabalham diuturnamente no cumprimento da importante missão de manter o Farol de Abrolhos sempre aceso.” Flávio Francisco Barbosa Almeida, Capitão-de-Corveta, Assessor de Comunicação Social do Comando do 2º Distrito Naval, Salvador (BA), por e-mail “Foi com prazer que li a matéria sobre Abrolhos na Plurale. Foi uma das matérias mais completas que já vi e deu voz aos diferentes atores que trabalham na conservação deste patrimônio. Parabéns pela publicação.” Milton Marcondes - Diretor de Pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Caravelas (BA), por e-mail

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

“Christian, parabéns! Adoro sua forma simples e honesta de escrever. Comecei a ler seu texto e fui me identificando com tudo o que lia. Parabéns pela sensibilidade de poeta. Mais uma vez fiquei emocionada com um artigo ímpar e tão atual. Concordo plenamente com você. Cartola diria dessa maneira que você escreveu. Existe o verdadeiro canto dos passarinhos para apreciar. Mas vamos torcer para que as pessoas tomem consciência de que a tecnologia tem duas faces. Por isso, um texto como o seu teria que ser debatido nas escolas, nos colégios, divulgado pela imprensa, para fazer repensar a sociedade do “smartphone” e alertar às novas gerações. Maria Steiner – Membro de associações educativas e sociais – Genebra, Suíça, por e-mail “Excelente artigo, Christian! Eu mesmo preciso me policiar em relação a isso. Também estou ficando viciado em smartphones. É um problema que tende a aumentar cada vez mais, bem como a superexposição das pessoas na Internet.” Renato Travassos, Economista, Rio de Janeiro (RJ), pelo site “Christian, parabéns pelo artigo. Também me causa espécie o momento pelo qual passamos no que diz respeito ao uso e abuso das alternativas de ponta que os gadgets oferecem. Há um quê de falta de noção nas e entre as pessoas. É urgente a tomada de posição pela recuperação de si mesmo, ante o processo em curso.” Hélcio de Medeiros Junior, Economista, Rio de Janeiro (RJ), pelo site “Ótimo artigo, Nelson Tucci! Gosto de acreditar também que a grande maioria ainda possui ética e valores, apesar de tanta corrupção (não somente no meio político).” Nayara Carmo, Estudante de Jornalismo, de São Paulo, pelo site “Crise de valores, recessão moral. Estamos ou somos corruptos? Belo texto, Nélson Tucci.” Luiz Gaulia, Professor de Comunicação, Rio de Janeiro (RJ), pelo site “Perfeita analogia entre o que poderia ocorrer num tabuleiro de xadrez e a atual situação política do Brasil! Parabéns Nélson Tucci por mais essa detalhada análise temperada com sabedoria e profundidade extremas!” Antônio Catelani, São Paulo (SP), pelo site


Social

Divulgação

Instituto Entre Rodas & Batom tem foco nas mulheres vulneráveis e cadeirantes Por Nélson Tucci, Especial para Plurale De São Paulo

T

rês em cada quatro mulheres jovens já foram agredidas ou assediadas por seus companheiros, no Brasil. Mas no que depender do Instituto Entre Rodas & Batom isto vai acabar. A pesquisa, divulgada no último mês de dezembro pelo Instituto Data Popular, mostra uma face cruel da sociedade brasileira e a urgência da mudança. Criado há pouco mais de um ano, o ER&B (www.entrerodas.org) tem como foco mulheres vulneráveis e os cadeirantes. “Mulheres cadeirantes, ou não, precisam ser acolhidas e conhecer seus direitos”, comenta Eliane Ozores, diretora de Gestão. Cursos, palestras e oficinas são ministrados por todos o país, no sentido de conscientizar pessoas “homens e mulheres, pais, mães, deficientes ou não” e grupos sociais para colocar um fim à discriminação e às várias formas de agressão – física e moral. “Ser mulher já traz em seu histórico a luta por igualdade de gêneros, questões sé-

rias sobre violência doméstica e familiar e o desrespeito aos direitos básicos como educação, só para citar alguns. Somar a questão da deficiência amplia os desafios e todas precisam aprender a dizer não ao desrespeito”, argumenta Eliane, psicóloga especializada no atendimento da pessoa com deficiência e mestre em distúrbios do desenvolvimento. Para atender o que considera premente, o ER&B criou o “Projeto Autoestima” buscando encaminhar as questões acima colocadas. Mas um outro assunto que também é premente, e foco do Instituto, é o cadeirante. Paralímpicos O último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, identificou mais de 45 milhões de brasileiros com alguma deficiência. Desse contingente, 6,5 milhões são de crianças e adolescentes entre cinco e 14 anos de idade. “Nossa população merece oportunidade, seja ela deficiente ou não”, pontua Adelino Ozores, presidente do Instituto, ao defender a educação inclusiva e o “Esporte Educação”.

Estamos às vésperas dos Jogos Paralímpicos 2016 e o Brasil começa a olhar para as performances dos atletas de alto rendimento como modelos para as pessoas com deficiência. “Então poderemos construir o legado da acessibilidade que os Jogos proporcionarão às cidades sedes, pois terão a oportunidade de realizar uma grande transformação social”, defende, com fervor, Adelino. A entidade acaba de lançar o Projeto “Jogos Paralímpicos 2016: Construindo um legado na Educação” que visa o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes com e sem deficiência, que estudem em escolas regulares. “Nossa proposta é baseada nos quatro pilares da Educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos; e aprender a ser”, relata o também bacharel em direito e jornalista. No universo inclusivo, é importante que as crianças deficientes possam ter sua cadeira de rodas esportiva. “Iisto vai melhorar a autoestima da pessoa com deficiência por proporcionar maior mobilidade e melhores condições para participar de atividades”, finaliza.

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Estante São Miguel, por Keli Vasconcellos, Editora In House, 140 págs, R$ 25 O portal Jornalirismo, em parceria com a editora In House, lançou, em dezembro, o livro São Miguel (em) uns 20 contos contados, da jornalista Keli Vasconcelos. A obra inaugura a “Coleção Jornalirismo”, dedicada a livros de comunicação (jornalismo, publicidade, propaganda) e literatura (contos, crônicas, romances, poemas). Em São Miguel (em) uns 20 contos contados, Keli Vasconcelos transforma em narrativa suas vivências pela cidade de São Paulo, nas ruas, no metrô, no trem, no ônibus, no lotação, sempre com o bairro de São Miguel Paulista, no extremo leste, como cenário, ponto de origem ou de chegada. Keli conhece muito bem o que escreve: o dia a dia da gente que vive na periferia, isto é, a maioria da população, no deslocamento casa, escola, trabalho, lazer. Um percurso diário, difícil e exaustivo, que pode consumir horas. Natural da Zona Leste, região carente de infraestrutura adequada embora seja a mais populosa de São Paulo, a jornalista é, de verdade, um desses personagens.

Pedagogia do compromisso – Responsabilidade na prática do educador, por William Sanches, Editora: Mundo Mirim, 160 págs, R$ 29,90 A Editora Mundo Mirim traz para o público brasileiro um livro escrito pelo professor William Sanches: Pedagogia do compromisso – Responsabilidade na prática do educador, uma crítica desenfreada aos problemas existentes na educação do Brasil, mesmo porque o educador deve sempre considerar os problemas como ponto de partida em busca da solução. Ao longo das 160 páginas, o autor discute sobre a educação sem a preocupação com termos técnicos, mas procurando demonstrar a responsabilidade, o compromisso e o amor de cada educador na transformação e na busca do mundo sonhado.

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Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

Os enleios da tarrafa: etnografia de uma relação transnacional entre ONGs, por Catarina Morawska Vianna, Editora EdUFSCar, 230 págs, R$ 47,00 Tarrafas são pequenas redes usadas por pescadores. Em alusão a elas, o Projeto Tarrafa reúne grupos sociais que atuam com meninos de rua no Recife e em Olinda, como a CAFOD (Catholic Agency for Overseas Develoment – Agência Católica de Desenvolvimento Internacional), da Inglaterra e País de Gales, o Galpão de Meninos e Meninas, do Recife, o Grupo Sobe e Desce e o Grupo Comunidade Assumindo suas Crianças, de Olinda. Para entender como funciona a relação desses dois mundos conectados por um aparato burocrático especializado em financiar projetos sociais, a antropóloga Catarina Morawska Vianna visitou in loco todos eles. O resultado de sua análise pode ser conferido em Os enleios da tarrafa: etnografia de uma relação transnacional entre ONGs, lançamento da EdUFSCar, versão inspirada em sua tese de doutoramento, que obteve menção honrosa no Concurso Capes de Teses de 2011.

O prazer da Serrinha: Histórias do Império Serrano, por Bernardo Araújo, R$ 38,50 Em O Prazer da Serrinha: Histórias do Império Serrano, Bernardo Araújo conta a história da agremiação mais cultuada desde sua origem. Surgida nos anos 1940, pelas mãos de estivadores do Porto do Rio de Janeiro, o Reizinho de Madureira, como a escola é carinhosamente chamada, logo se impôs ao ganhar quatro campeonatos consecutivos, tornando-se uma das maiores ao lado de Mangueira, Salgueiro e Portela. Sua trajetória, pontuada por altos e baixos, se confunde com a de grandes artistas homenageados no livro, como Silas de Oliveira, D. Ivone Lara, Zaquia Jorge, Aloisio Machado, entre outros.


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Frases

Em 2015 co

mpletaria

m 100 an os vários nomes s do cená rio cultu Destacamos ral bras ileiro. alguns d estes art is tas e esc Como o trad ritores. utor e cr ít ic o literár Houaiss, o es io Anton io critor Jo sé J. Veig a, o jorn e crítico alista Adonias Filh o e o gen Carequinha. ial Palha Como ele sem ço p re dizia e como o q m seus sh ue vi no R ows, io de Jan e ir o n a ”Tá certo ou década d e 70. não tá?” . Está sim se nhor. relevante

Palhaço Carequinha Fui o primeiro na TV. “Inventei uma nova escola

Antonio Houaiss

de palhaços. Até então as pessoas riam da desgraça do palhaço que apanhava muito. Não gostava disso e virei herói. Os outros é que se davam mal.”

Quem lê “Euclides da Cunha, desde o primeiro momento vê que há dois Brasis: um inclemente, e outro vítima das inclemências.”

E o palhaço o que é? É “ladrão de mulher ”

José J. Veiga

Para que a vírgula? Preocupo-me muito com o ritmo. Em certos trechos, há mesmo certa musicalidade. Tenho muito que ver com música, som, som das palavras. O som delas chacoalhando lá na frase.

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2015

Sexo é tão importante na vida “quanto comer ”

Adonias Filho

“É preciso ser velho”


Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI

Também disponível no tablet! www.revistaRI.com.br


Entrevista

Pedro Telles, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace

“No Brasil, temos mais de 30% de desperdício na distribuição” Greenpeace/Divulgação

Por João Vitor Santos, do Portal IHU Fotos: Greenpeace e Agência Brasil

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A previsão, para esse ano, da Agência Nacional de Águas – ANA é de que 55% das cidades brasileiras tenham algum tipo de problema com suprimento de água” 12

crise hídrica que afeta o Brasil, especialmente o estado de São Paulo, traz problemas de toda a ordem. No entanto, mais do que resolver os problemas gerados a partir da crise é preciso encarar o debate que está posto. É o que propõe o coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Pedro Telles, em entrevista concedida à IHU On-Line. “É preciso transformar essa crise na possibilidade de mudança na forma como geríamos a água. (...) Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce. É fato, mas a água é muito mal gerida”, diz. A mudança de cultura proposta por Telles começa, obviamente, com o poder público. “O principal responsável, sem dúvida, é o governo do Estado de São Paulo. Não tomou as medidas adequadas”, destaca Telles. No entanto, o ativista alerta que também há responsabilidades do governo federal, ainda mais porque o problema não ocorre só em São Paulo. “O governo federal tem se mantido muito calado com relação à crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros outros escândalos estourando, caso da Petrobras e a própria crise energética, mas ele não pode se omitir numa crise hídrica que é gravíssima”. E o colapso também exige mudança de hábitos da sociedade civil. E, pasme, ainda há quem não acordou para crise. “No dia a dia mesmo, na maioria dos casos, você não vê ainda na rua essa questão

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2015

tão forte. Porque, na grande parte do dia, as pessoas ainda têm acesso à água. A partir do meio da tarde é que o acesso é restrito”, alerta. O pior é que as pessoas que mudam seus hábitos tendem a relaxar quando a situação melhora. “Veja o histórico de Itu. Recebi relatos de que, quando começou a chover lá, a mobilização diminuiu”. O desafio é transformar a mudança de hábito em mudança de cultura. Meta que cabe tanto ao poder público – que ainda é responsável pela revisão na gestão de todo o sistema em si -, como também às pessoas e a imprensa, com seu caráter informativo e educativo. Pedro Telles é coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace e mestre em Estudos do Desenvolvimento, pelo Institute of Development Studies. IHU On-Line - Você mora em São Paulo? Como é viver nessa grande cidade em meio à crise hídrica? Pedro Telles – Sim, moro. Eu já estou adotando uma série de medidas para reduzir de água, tanto em casa quanto no trabalho, há algum tempo. Hoje, muitas pessoas estão sem água cerca de 10 ou 12 horas por dia, normalmente no período noturno. Quem tem caixa d’água ainda consegue ter água basicamente o dia inteiro. Mas, sabemos que o suprimento de água vai acabar em muito pouco tempo. Se não adotarmos um consumo mais consciente, obviamente vai acabar mais rápido ainda. Muita gente está se adaptando a essa realidade e reduzindo o consumo doméstico e no trabalho.


Agência

O que estou fazendo em minha casa são medidas tradicionais: tomar sempre banho com um balde de água embaixo, ou captar água da máquina de lavar, para depois reutilizar aquela água para outros usos que não precise de água potável. Usar, por exemplo, para descargas na privada. Também é sempre bom se questionar quando vai usar a água: eu realmente preciso usar água para isso? Eu não posso, por exemplo, usar um álcool gel para limpar minha mão ao invés de colocar debaixo da torneira? No meu prédio, não há consenso entre os moradores para construir uma cisterna, em função do gasto. No entanto, aqui no Greenpeace, onde trabalho, temos orçamento para construir uma cisterna. Já estamos implementando a “cota do xixi”. Ou seja, só aciona a descarga depois de três usos do vaso sanitário. Isso tanto aqui no trabalho, como na minha casa. São medidas de adaptação do seu dia-a-dia que permitem a viver com menos água. IHU On-Line - Se formos circular pela cidade de São Paulo, é possível perceber, pela postura e atitude das pessoas, que está se vivendo uma crise hídrica? Pedro Telles - Você não percebe. E isso é um problema muito sério. Em muitos restaurantes até se pode perceber. Muitos não têm uma caixa d’água que comporte o volume de consumo deles e, como não tem como lavar a louça, acabam usando pratos e copos descartáveis. Ou, ainda, vai ao banheiro e percebe que a descarga está desativada. Eles acionam a descarga

Brasil

com um balde num determinado tempo. Mas, isso se percebe em alguns estabelecimentos comerciais. No dia-a-dia mesmo, na maioria dos casos, você não vê ainda na rua essa questão tão forte. Porque, na grande parte do dia, as pessoas ainda tem acesso à água. A partir do meio da tarde é que o acesso é restrito. IHU On-Line - Por que o estado de São Paulo e o Brasil vivem uma crise hídrica? Pedro Telles - É importante ressaltar essa questão do Brasil. A previsão, para esse ano, da Agência Nacional de Águas – ANA é de que 55% das cidades brasileiras tenham algum tipo de problema com suprimento de água. Esse é um número muito forte. Não necessariamente vão ficar no nível de um racionamento, mas terão algum tipo de dificuldade, de atenção a uma limitação dos recursos hídricos. São Paulo está nesse estágio – final de março

Muita gente está se adaptando a essa realidade e reduzindo o consumo doméstico e no trabalho.

devemos estar chegando a um esgotamento ou um racionamento muito forte -, mas o Rio de Janeiro já chegou no volume morto. Já há uma cidade de Minas Gerais que está pedindo que o governo declare calamidade pública, porque os agricultores não estão conseguindo produzir o suficiente por falta de água. Precisam do decreto para renegociar suas dívidas. O Maranhão, outra região do país, onde historicamente já há mais problema, está há três anos com regime de chuvas alterado e não voltando ao normal. Isso está também gerando impactos em produção lá. Ou seja, é uma crise que está no Brasil inteiro. Quais são as causas disso? Temos uma série de deficiências históricas na gestão de recursos hídricos no Brasil. Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce. É fato, mas a água é muito mal gerida. São muitas regiões diferentes no Brasil e não se pode apontar uma causa única. Olhando para o caso de São Paulo, vemos que há uma combinação de fatores e os principais são: destruição de áreas de mananciais – que são as florestas de onde vem a água - e construções em áreas de represa que vão avançando cada vez mais e acabando com a capacidade da represa de reter água. Ao mesmo tempo, podemos destacar desperdício na distribuição. No Brasil como um todo, temos mais de 30% de desperdício, perda de água, na distribuição, nos encanamentos. E em São Paulo isso está na casa de 35%. Muitos países tem esse índice na casa dos 10%, 15% e até menos. Então, uma reforma no sistema de distribuição é urgente. Temos ainda a poluição. Observamos, agora, muitas pessoas cavando poços artesianos. Se forem usados de forma sustentável, podem ser uma alternativa. Mas se tem inúmeros poços contaminados pela poluição. Temos o Rio Tietê, aqui em São Paulo. Uma relatora da Organização das Nações Unidas ONU para a questão da água veio a São Paulo, olhou para esse rio e falou: “a primeira coisa que me chocou foi ver este rio enorme, com a quantidade de água absurda, totalmente poluído, enquanto a cidade não tem água para tomar”. Então, há descaso com muitas fontes de água que poderiam ser úteis para a população e que estão extremamente poluídas.

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Entrevista

IHU On-Line - Você aponta uma série de questões e fatores que levaram à crise hídrica em São Paulo. Podemos fazer uma analogia e afirmar que esses fatores contribuem para a crise em todo o Brasil? Pedro Telles - Sim. A questão de mananciais, por exemplo, é uma questão nacional. Outra questão nacional é o desmatamento da Amazônia. Uma coisa interessante para se observar nessa crise da água em nível nacional: ela está escancarando a relação entre questões ambientais e sociais. É um exemplo muito concreto de que quando você vai muito além dos limites da natureza, há consequências graves para as pessoas e para a sociedade. Olhando para a questão da Amazônia, conseguimos conectar muitos pontos claramente. Desmatamos a Amazônia. Enquanto isso, há estudos mostrando que grande parte da chuva que cai no sul, sudeste e no centro-oeste do Brasil vem diretamente da Amazônia. Tem um estudo do pesquisador Antônio Nobre que fala dos rios voadores. A água evapora lá na Amazônia e chovem em outros locais do país, inclusive em outros países da América Latina. Existe uma relação entre desmatar a Amazônia e o ciclo de chuvas aqui em São Paulo, por exemplo. IHU On-Line - A crise é atribuída à falta de investimentos do poder público na gestão de recursos hídricos. Porém, sabe-se que a cultura do desperdício também é comum na população em geral. Até onde vai a responsabilidade de agente público e onde começa a da população nessa crise hídrica? Pedro Telles - Não há dúvida de que, nessa crise, o principal responsável não é uma seca histórica. De fato estamos com menos chuva, mas a seca não é a principal responsável. O principal responsável, sem dúvida, é o governo do Estado de São Paulo. Não tomou as medidas adequadas. Existem relatórios há dez anos indicando que, no médio prazo, o sistema de água do estado poderia vir a colapsar. E esse médio prazo chegou, é agora e nada foi feito. Em janeiro de 2014, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp já avisou ao governo do estado que a situação estava grave. Ainda sugeriu um rodízio de dois dias de água e um dia sem. Se tivesse sido cumprido, hoje, tal-

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Divulgação

vez, ainda estaríamos acima do volume morto. Mas o governo falou que não vinha ao caso implementar esse racionamento. Não implementou e a crise chegou. Então, o poder público tem a maior responsabilidade. Se você olhar a média de consumo de água do brasileiro, verá que está notadamente acima do que a Organização Mundial da Saúde - OMS recomenda como sendo necessário para uma vida digna. São, em média, 165 litros de água por dia consumidos no Brasil, segundo levantamento de 2013 do Sistema Nacional de Saneamento Ambiental - SNIS (no sudeste são cerca de 190 litros). A OMS indica que um volume entre 50 e 100 litros é suficiente. É possível que as pessoas passem a consumir menos e estressar menos o sistema. Mas, ao mesmo tempo, se olharmos o papel que o governo e que a grande mídia desempenharam ao

Não há dúvida de que, nessa crise, o principal responsável não é uma seca histórica”

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longo dessa crise, veremos que só se começou a falar muito sério do nível de gravidade da crise depois das eleições. Tanto por parte do governo como por parte da grande mídia. Há até estudos que demonstram isso. Se tivéssemos um esforço maior por parte do governo e da grande mídia, pelo menos desde o começo de 2014, poderíamos estar numa situação bem melhor. Houve uma redução de 20% no consumo, conquistada depois das campanhas de conscientização. Se tivesse medidas de orientações implementadas mais duramente e há mais tempo, as pessoas se adaptariam muito melhor. De fato as pessoas podem reduzir o consumo. Mas é importante um apoio por parte do governo e por parte da mídia. IHU On-Line - Qual a responsabilidade do governo federal nessa crise hídrica? Pedro Telles - A outorga dos rios, de quem pode usar determinados rios, para captação de água é do governo federal. Além disso, tem a ANA, que é quem regula o uso de água em nível nacional. Existe a capacidade de o governo federal agir de forma muito mais consistente e tomar medidas concretas para, junto com o governo do estado, mudar a forma de captação e distribuição de água. O principal responsável, ainda assim, é o governo do estado. Mas o governo federal tem mecanismos, inclusive regulamentações federais, que


permitiriam forçar o governo do estado a ter uma gestão mais adequada. E se formos observar, até agora, o governo federal tem se mantido muito calado com relação à crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros outros escândalos estourando, caso da Petrobras e a própria crise energética, mas ele não pode se omitir numa crise hídrica que é gravíssima. Inclusive, a crise hídrica está profundamente relacionada com a crise energética. É importante ter isso em mente: a crise energética acontece porque dependemos muito de hidroelétricas que agora estão secas, com nível baixo. E o governo não fez investimento em fontes alternativas de energia. Se tivesse feitos esses investimentos, estaríamos muito melhor cobertos para lidar com uma crise hídrica que limita as hidroelétricas. IHU On-Line - Quando se fala em investimentos na questão hídrica, remonta-se justamente esses projetos centrados no desvio de cursos de água (transposições), ou na construção de novas barragens, na superexploração dos reservatórios já existentes e das águas subterrâneas. Então, isso não é a solução? Pedro Telles - Não. Isso pode aliviar a questão no curto prazo. E nem tanto assim, pois essas obras, na maior parte das vezes, demoram pelo menos um ou dois anos para começar a dar resultado. E estamos com uma crise agora. Então, nem a urgência que temos a maioria das obras atende. E isso é uma terceirização do problema. Você está explorando outra área, ao invés de investir na recuperação de mananciais, na redução das perdas de distribuição, na despoluição de rios e fontes de água, para investir e manter o sistema como está. Só está trazendo água de outro lugar que pode vir a acabar novamente. IHU On-Line - Que hábitos as pessoas devem incorporar na rotina para reduzir o consumo? Pedro Telles - As medidas incluem ter um estoque de água potável em casa. Estamos numa situação em que podemos chegar, à noite ou de manhã, e o abastecimento estar interrompido e não termos água para beber. Muita gente já está tomando banho, lavando louça com um balde de-

baixo para reutilizar essa água em outros usos em que não se precise de água potável. Por exemplo, dar a descarga no vaso sanitário. A terceira medida é, por exemplo, no banho, fechar a torneira. Abre, se molha, fecha e se ensaboa. Depois, abre de novo e enxagua. São banhos mais rápidos. É preciso se preocupar em usos domésticos em que se fica muito tempo com a torneira aberta. E essa questão de dar menos descarga no vaso sanitário é importante. Você urina duas, três vezes e só depois vai lá e aciona a descarga. Uma das principais fontes de uso de água potável em casa é no banheiro. É uma média de 16 litros de água que vai embora com cada descarga. É um volume muito grande de água potável. É importante lembrar: a água que sai da descarga é a mesma da torneira. Uma água que poderia servir para outros usos mais nobres.

A indústria é um grande consumidor de água e agricultura também. Em nível nacional são os maiores.” Muitas pessoas estão começando a construir cisternas. É uma medida que ajuda no longo prazo. É algo que você vai ter para sempre aí na sua casa, no seu prédio. E tem muitos escritórios que estão aplicando medidas semelhantes a essas. IHU On-Line - É possível pensar em práticas que tornem mais eficiente o uso da água pela indústria e pela agricultura, de modo a otimizar seu uso e sem inviabilizar o consumo? Pedro Telles - Inclusive precisamos ter leis, ações regulatórias mais firmes nesse sentido. A indústria é um grande consumidor de água e agricultura também. Em nível nacional são os maiores. E a regula-

mentação é fraca mesmo em termos de exigir o reuso, exigir um uso de água não potável para ações que não precisam de água potável. É exigir, por exemplo, que toda grande indústria tenha um piscinão para captação de água de chuva e uma estrutura de reuso de água. IHU On-Line - O que o governo do estado de São Paulo, governo federal e a sociedade civil podem fazer para que episódios como esse de 2014/2015 não se repita? Pedro Telles – Temos uma oportunidade ímpar com essa crise, com todos os problemas que ela traz, de observar o nível a que chegamos com a nossa atividade de gestão de recursos hídricos. É um nível extremo. Temos que transformar isso em momento de virada em termos de como lidamos com a água aqui no Brasil. Tem que haver uma mudança muito estrutural em termos das leis e políticas públicas para a questão de área de manancial, questão de desmatamento – que sofremos um revés forte com a questão do Código Florestal. Inclusive já tem um filme chamado “A Lei da Água. O Novo Código Florestal” (2014) que fala exatamente das implicações do novo Código sobre a questão da água. Enfim, é preciso mudanças estruturais em como olhamos para essas questões. Precisamos, ainda, olhar para o que existe na distribuição de recursos hídricos, para políticas de despoluição de fontes que serviriam como recursos hídricos e redução de grandes consumidores (indústria e agricultura). Há grande volume de desperdício por causa desses grandes consumidores. Assim, é preciso transformar essa crise na possibilidade de mudança na forma como geríamos a água. E, individualmente, há a chance das pessoas adotarem medidas que gerem benefícios de longo prazo. Isso pode ser construindo cisternas, ou até construir prédios que tenham sistema de reusos de água usada em máquinas de lavar para descargas de vasos sanitários, por exemplo. Também é preciso ter apoio por parte do governo, das organizações da sociedade civil e da mídia para que essas medidas adotadas durante a crise se tornem de fato uma mudança cultural. Transformar essa crise numa oportunidade de mudança. É isso em essência.

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Colunista Maria Elena Pereira Johannpeter

O voluntariado e os E – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

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m 2015 acaba o prazo definido para as metas dos Objetivos do Milênio – ODM, e, em continuidade, deverão entrar em vigor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS. Deve ser ressaltado que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, que estão se apresentando como 17 e 169 metas, ainda estão em discussão, por essa razão, as opiniões de todos os segmentos da comunidade global, incluindo as crianças e adolescentes são importantes e deverão ser ouvidas e incluídas. Relembrando que o desenvolvimento sustentável é aquele que permite melhorar as condições de vida no presente, sem que sejam comprometidos os recursos das futuras gerações. A proposta dos 189 países que compõem a Organização das Nações Unidas – ONU é atingir os seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2015 a 2030: 1 – Acabar com a pobreza, 2 – Acabar com a fome, 3 – Vida saudável, 4 – Educação de qualidade, 5 – Igualdade de gênero, 6 – Água e saneamento básico para todos, 7 – Energia moderna e duradoura, 8 – Trabalho digno, 9 – Tecnologia em benefício de todos, 10 – Reduzir a desigualdade, 11 – Cidades adequadas para viver, 12 – Consumo responsável, 13 – Frear as mudanças climáticas, 14 – Proteger o mar, 15 – Cuidar da terra, 16 – Viver em paz, 17 – Conseguir novas parcerias. Sam Kahamba Kutesa, presidente da Assembleia Geral da ONU, na abertura da 69ª sessão, disse que «esta é uma oportunidade histórica de formular uma agenda de desenvolvimento pós-2015 que seja transformativa, que traga resultados tangíveis na luta contra a pobreza e que conduza à melhoria de vida de to-


dos as pessoas sem excessão», trabalho em progresso nos últimos anos que culminará na Assembleia Geral de setembro de 2015. A Conferência Mundial de Juventude de 2014, que aconteceu recentemente no Sri Lanka, foi bem articulada, tendo de lá saído a Carta Colombo, a qual também é conhecida como Plano de Ação Colombo, resultando no compromisso e consenso entre ONU, governos e jovens, com recomendações da juventude na agenda pós2015, contendo suas demandas, anseios e desejos para que tenha a participação dos jovens em todos os níveis e agendas globais que dialoguem com as prioridades dos jovens de todo o mundo. O propósito de termos feito a exposição acima, é para mostrar que todos querem ser partícipes tanto nas decisões, no advocacy, quanto na implementação, no protagonismo. É assim a participação do voluntariado, tanto em nível nacional quanto internacional. O reconhecimento da ONU é importantíssimo pois, segundo Helen Clark, administradora do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP – United Nations Development Program), há elos muito fortes entre o voluntariado, o desenvolvimento

Nos países onde os cidadãos estiverem engajados e trabalhando para vencer seus próprios desafios, o desenvolvimento e a paz serão mais duradouros” humano e a paz. O voluntariado deixou de ser considerado como um fator secundário e passou a ser reconhecido como o caminho principal, para a solução de muitas mazelas das comunidades. Até algumas décadas atrás o voluntariado era visto como uma ação apenas de pessoas com boas condições financeiras e ou pessoas boazinhas. Atualmente, tanto no Brasil, com 25% de sua população se dedicando ao voluntariado, quanto no mundo, o voluntariado é entendido como exercício de cidadania. São cidadãos preocupados com as necessidades de suas comunidades e que compreendem que é

preciso haver a união entre governo, empresas e sociedade civil para o apoio à busca das soluções dos problemas sociais. O conceito de voluntariado, em qualquer parte do mundo, diz que é uma ação realizada sem expectativas de recompensa financeira. Que ela, sem dúvida alguma, produz benefícios tangíveis e intangíveis não apenas para os beneficiários, mas também para os voluntários. E, principalmente deve ser realizado por vontade própria. No Brasil, o voluntariado já fez a transição, da cultura do «o que eu ganho com isso»? para a cultura «em que eu posso ajudar»? O voluntariado no Brasil está provando que não importa classes sociais, não importa ideologias. Que ele é sincero e livre, quando nós nos unimos e nos dedicamos ao outro. Quando colocamos como propósito máximo, a essência humana. Pois o nosso desenvolvimento só acontece através do desenvolvimento do outro. O conceito de RSI – Responsabilidade Social Individual, nos mostra que é muito importante criarmos um capital social em nosso país porque «trabalhar os valores internos, faz despertar na pessoa o seu verdadeiro valor, o que a torna mais ativa e socialmente transformadora do mundo ao seu redor». Valores, sabemos,passam pela ética, pela moral, pela idoneidade, pelo respeito em todos os sentidos e pelos nossos direitos e deveres de cidadania. Vejam o depoimento forte de uma aluna de 14 anos: «Eu vi que a ONG Parceiros Voluntários reúne adolescentes na ação as tribos nas trilhas de cidadania, para aprender a cuidar do mundo, para termos no futuro um mundo melhor. Que temos que ter respeito com às pessoas e com as coisas e também temos que correr atrás dos nossos direitos e sonhos, todavia, praticando os nossos deveres». O agir ou não agir de cada um, segundo o sociólogo Bernardo Toro, é que consolida ou transforma a ordem social em que vivemos. Nos países onde os cidadãos estiverem engajados e trabalhando para vencer seus próprios desafios, o desenvolvimento e a paz serão mais duradouros. Maria Elena Pereira Johannpeter Presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários

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Artigo Jorge Felix

Superenvelhecimento e o desafio da

sustentabilidade imagens de Divulgação

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envelhecimento populacional provoca vertigens quando nos debruçamos sobre sua complexidade. O mesmo ocorre com a questão ambiental. Logo, a tarefa de buscar a interseção entre essas duas megatendências globais é árdua, porém urgente. Há alguns anos, em entrevista ao jornalista Fernando Gabeira, em seu programa de televisão, afirmei que o envelhecimento populacional (o maior percentual de idosos na população) precisava ser controlado e postergado ao máximo por meio de políticas de estímulo ao aumento da taxa de fecundidade (o número de filhos por mulher), que teria como consequência uma redução mais lenta da população até meados do século. Gabeira replicou com a afirmativa de que uma população menor significaria melhoria na utilização dos recursos finitos do

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planeta. Não se quer aqui criticar Gabeira, conhecedor profundo da temática ambiental. Apenas procuro sublinhar como, até então, a visão de especialistas, ambientalistas e inúmeros acadêmicos sobre a relação entre população e sustentabilidade ecológica era de culpabilização da primeira pelos problemas da segunda. Aos poucos, estudos vêm constatando o descasamento entre o quantum demográfico e a degradação do meio ambiente – pelo menos a sua relação sempre vista como inexorável. A insistente questão para o futuro, diante das transformações climáticas facilmente perceptíveis, é como os dois fenômenos contemporâneos – envelhecimento populacional e aquecimento global – se coadunam em seus aspectos socioeconômicos. Pesquisadores começam a demonstrar que o envelhecimento populacional por alguns de seus desdobramentos e causalidades, entre elas a solidão e a redução da população, pode provocar impactos negativos no meio ambiente. Portanto, se estamos diante desta dinâmica demográfica, novos desafios surgem para as políticas públicas, o setor privado e os indivíduos para mitigar seus efeitos. O primeiro deles é o controle do ritmo do já chamado superenvelhecimento da população brasileira com a adoção de políticas de estímulo à fecundidade. É um ponto polêmico e suscita uma série de ar-

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gumentos, quase todos preconceituosos e pouco científicos, porque o Brasil sempre se viu como um país jovem e mais necessitado de medidas de “controle populacional”. Nada mais equivocado. O Brasil envelhece a um ritmo acelerado devido à taxa de fecundidade em franca decadência. Hoje é de 1,7 filho por mulher, como se sabe, abaixo do mínimo para reposição. O casal sem filho ou a família mononuclear (filho único) amplia o risco de uma velhice solitária. Uma das principais consequências em relação à longevidade humana é o aumento de idosos vivendo sozinhos, sobretudo na área urbana. No livro “Novo regime demográfico – uma nova relação entre população e desenvolvimento?”, organizado pela economista Ana Amélia Camarano, e recém publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o pesquisador Camillo de Moraes Bassi utiliza a metodologia da “pegada ecológica” para constatar que a composição da dieta dos idosos (com menor presença de carne bovina e maior de frutas e hortaliças) explora menos o capital natural em comparação com a dieta dos adultos não idosos. Isso reforça a hipótese, escreve Bassi, de que a quantia, per se, posiciona-se em segundo plano. O pesquisador utilizou ainda o indicador “pegada hídrica”. A metodologia considera três tipologias (água azul, verde e


cinza), e assume que a produção de alimentos de origem animal é mais água intensiva. A diferença entre idosos e adultos é de 11% favorável aos primeiros. Ou seja, o quantum, novamente, tem menos peso do que o perfil do consumo, no caso da dieta alimentar. De acordo com as conclusões de Bassi, o envelhecimento populacional resultaria em uma poupança ecológica. No entanto, no mesmo livro, José Féres nos alerta, em outro capítulo dedicado ao tema, que como a redução da população por queda da fecundidade resulta em famílias mononucleares, o Brasil já vive uma explosão de residências com apenas um morador. Domicílios, lembra ele, são caracterizados por economia de escala. Aliás, o lar é a própria raiz da ciência econômica (oikonomía = gestão da casa). Se o país perde essa escala, por utilização de recursos (água e energia) tão pulverizada, torna-se espiral o crescimento do impacto ecológico. O número de pessoas por domicílio, menciona Féres citando o IBGE, caiu de 5,3 pessoas em 1970 para 3,3 em 2010. O “arranjo familiar” com maior tendência de aumento nas próximas décadas é o de domicilio unipessoal. Idosos em destaque. Portanto, embora com menor “pegada ecológica” em referência à alimentação, os idosos apresentam maior “pegada ecológica” em habitação.

De acordo com essas pesquisas, surgem dois desafios para uma economia da longevidade. A primeira é, como dito, desacelerar o ritmo do envelhecimento. Segundo alterar o padrão de consumo das populações desde os produtos manufaturados até a alimentação, como o fazem os ecologistas. Em terceiro, os governos precisam estimular a co-habitação. O Brasil está atrasado neste modelo. Não estamos falando em asilos. Trata-se

O pesquisador utilizou ainda o indicador “pegada hídrica”. A metodologia considera três tipologias (água azul, verde e cinza), e assume que a produção de alimentos de origem animal é mais água “intensiva. ltos é de 11% favorável aos primeiros.”

de condomínios com espaços compartilhados, intergeracionais, com possibilidade de otimização do uso de água e energia. Uma sociedade envelhecida precisa revolucionar seu modelo de habitação sob pena de ampliar seu risco às mazelas ambientais. O Brasil, por enquanto, apenas assiste sua população envelhecer, ampliar as moradias unipessoais sem fazer nada. Da mesma forma que só estimulou, durante décadas, a cada um ter o seu carro. A população nunca é culpada pela crise ambiental. Antes dela existem as escolhas, a vontade política e o processo de produção. Basta dizer que, segundo a ONU, apenas 8% do consumo hídrico nos países em desenvolvimento é atribuído às residências. A indústria consume 10% e a agricultura 82%. Portanto, é pouco razoável afirmar que o envelhecimento populacional ajudará ou prejudicará o meio ambiente. Toda dinâmica demográfica pode ser favorável ao desenvolvimento. Não existe a tal da bomba-relógio. Basta ação e planejamento. Jorge Felix É jornalista especializado em economia da longevidade, mestre em Economia Política e professor da FESP-SP e da PUC-SP. www. economiadalongevidade.com.br

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Colunista Luiz A. Gaulia

A insustentável hipocrisia dos

corruptos

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ual a contribuição para o mundo de uma empresa com lideranças corruptas? Neste início de 2015 essa pergunta me estimulou a escrever sobre sustentabilidade, meu tema de aulas e de pesquisa, partindo de um olhar mais atento para a Ética - em caixa alta - enquanto uma das dimensões que não faz parte diretamente da contabilidade das empresas, sejam elas públicas ou privadas. É claro que um desvio de conduta, um furto, um estelionato impactam no cálculo final do balanço contábil e trazem prejuízos evidentes ao cofre da empresa. A Ética pode até ser um conceito cuja definição é complexa, assim como Sustentabilidade ou Responsabilidade Social Empresarial, mas merece ser entendida muito mais do que uma utopia filosófica. No Brasil, cuja história nos brinda com vilanias de toda ordem - a começar pela escravidão, o maior exemplo de falta de ética e moral que uma nação poderia ostentar - as empresas deveriam trabalhar a Ética muito além dos códigos impressos ou do esforço departamental localizado de auditorias internas. Considero a corrupção um grave transtorno antissocial conduzido por psicopatas no comando de algumas empresas que possuem em seu a desonestidade como princípio de negociação e a hipocri-

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sia como modelo de gestão. Diante disso, precisamos ampliar formas de controle sobre esses indivíduos ou grupos, especialmente nas organizações públicas. Graças a Deus que é brasileiro, não são todas as empresas e nem são todos os gestores públicos nomeados e concursados ou todos os empresários que fazem graduação na ! Ainda temos bons exemplos no Bra-

Considero a corrupção um grave transtorno antissocial conduzido por psicopatas no comando de algumas empresas que possuem em seu modus operandi a desonestidade como princípio de negociação e a hipocrisia como modelo de gestão”

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sil. O que me entristece não só como cidadão, mas também como professor é a descoberta diária de que marcas há pouco tempo motivo de minha admiração e orgulho, usadas como exemplos junto aos meus alunos em sala de aula, estão agora mergulhadas em um pântano de mentiras, farsas e propinas milionárias. O toque hilário é que muitas dessas grandes empresas, que saíram das notícias de economia diretamente para as páginas policiais, têm em seus murais e painéis coloridos na recepção de suas sedes, a exposição de seus valores institucionais. Ainda estão por lá publicados, entre outros, termos inspiradores como: “Honestidade de Propósitos; “Ética e Transparência”; “Atuação Responsável”; “Responsabilidade Social Corporativa”; Desenvolvimento Sustentável” etc. Valores aprovados pela alta diretoria e que foram extremamente motivadores, com certeza, no dia de seus lançamentos. Como bom comunicador sei que palavras podem inebriar e discursos podem encantar. Mas são as práticas e as ações que gritam muito mais alto do que qualquer anúncio comercial no horário nobre da televisão. Então, chegamos ao óbvio ululante e fio condutor desse artigo: esses corruptos e corruptores, de variados calibres e m diferentes esferas profissionais corporativas,


Esses corruptos e corruptores, de variados calibres em diferentes esferas profissionais corporativas, escalões de governos e cargos públicos não perderam apenas a moral ou qualquer preceito ético. Suas “parcerias degenerativas” como já escreveu o professor Clóvis de Barros Filho, bem como sua abjeta hipocrisia dilapidaram valores e perverteram a razão social da existência de suas empresas. Se seus discursos sempre foram mentirosos eles nunca poderiam pensar em ser sustentáveis, pois não existe modelo certo quando se busca um objetivo errado ou desonesto.” escalões de governos e cargos públicos não perderam apenas a moral ou qualquer preceito ético. Suas “parcerias degenerativas” como já escreveu o professor Clóvis de Barros Filho, bem como sua abjeta hipocrisia dilapidaram valores e perverteram a razão social da existência de suas empresas. Se seus discursos sempre foram mentirosos eles nunca poderiam pensar em ser sustentáveis, pois não existe modelo certo quando se busca um objetivo errado ou desonesto. Talvez esses sujeitos descobertos em suas falcatruas nem percebam, mas a consequência de suas imoralidades afetou não

somente a economia e as bolsas de valores, mas também a confiança nos negócios e o equilíbrio psíquico de milhares de pessoas que um dia acreditaram no seu trabalho, na missão que tinham pela frente. Seus crimes, iluminados por denúncias trazidas pela imprensa livre e pela delação premiada, atingiram no longo prazo toda uma geração. E quando isso acontece, comprovamos que a corrupção é necessariamente intolerável e perigosamente insustentável. Luiz Antônio Gaulia é Colunista colaborador de Plurale. É jornalista, professor, consultor em comunicação empresarial, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa e pesquisador.

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P e lo B rasi l

Prêmio reconhece o relevante trabalho transformador de empreendedores sustentáveis

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale De São Paulo (*)

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uem milita na área de Sustentabilidade bem sabe o misto de alegria pelos resultados de transformação obtidos e a aridez na captação de recursos e no dia-a-dia desgastante. Tem sido assim nos últimos anos e, diante de um cenário de incertezas econômicas, dificilmente este quadro irá se alterar no curto a médio prazo. Mas eis que surgem pequenas vitórias para manter o astral positivo e rumar o barco na direção de porto seguro. Foi lançado, em São Paulo, pelos nossos parceiros do Portal colaborativo 1 Papo Reto, oPrêmio Empreendedor Sustentável. No dia 27 de janeiro, em manhã inspiradora, os organizadores da premiação reuniram um “time” e tanto de representantes do Terceiro Setor, empresas e consultores da área de Sustentabilidade. O evento foi realizado na sede da Samsung Brasil, patrocinadora exclusiva, no sofisticado bairro do Morumbi. A região, por si só, já representa bem este caráter transformador e mobilizador: ao lado de prédios refinados e de um dos mais renomados centros de consumo do luxo paulistano, há uma tradicional comunidade de gente simples e trabalhadora.

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Pluralidade - Este verdadeiro “caldeirão” de culturas e - porque não - riqueza intelectual estava ali representado na entrega do Prêmio. Ao lado de um dos mais representativos empresários do ramo industrial brasileiro - Jorge Johannpeter Gerdau, fundador e hoje presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, um fortíssimo interlocutor junto ao Palácio do Planalto e ao Congresso - transitavam alegremente jovens do Curso de Pré-Vestibular Coletivo Griot XX de Novembro , no qual o fundador de 1 Papo Reto, o jornalista Rosenildo Gomes Ferreira, dá aulas. A própria história de vida de Rosenildo merece ser premiada: jovem negro de família simples do subúrbio carioca, estudou firme, trabalhou intensamente, fez carrreira brilhante em diversas redações, estudou no exterior e não poderia ter melhor coroação de sua trajetória recentemente ao ser considerado um dos «100 Jornalistas mais Admirados» pela Maxpress e Jornalistas & Cia. Orgulho imenso por termos começado nossas carreiras nas mesma época, no Rio, e termos nos reencontrado nas estradas do Terceiro Setor e termos sido agraciados com o mesmo prêmio jornalístico. Transformador social pelas palavras e ações, Rosenildo é autor de famosa coluna na revista Isto É sobre ações do bem. Fundou 1 Papo Reto com sua companheira, a também talentosa jornalista Carolina Stanisci e pode medir a força de sua rede ao reunir no evento mui-

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SÔNIA ARARIPE

tos que acompanharam sua trajetória. Estiveram ali, por exemplo, o jovem e premiado chef Maílson da Silva, vários jovens do cursinho do Vestibular e também diversas fontes graduadas que Rosenildo conquistou ao longo de 30 anos de carreira, como a presidente do CEBDS (Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), Marina Grossi e o vice-presidente da Coca-Cola Brasil, Marco Simões. A seleção dos premiados ficou a cargo de um júri composto por especialistas do Terceiro Setor - do qual tive o orgulho de participar - como Renato Meirelles, fundador do Data Popular, Antonio Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social, Marco Antonio Rossi, fundador da Mega Brasil Online e Renê Garcia, economista da FGV. Livro - Alguns destes perfis serão ampliados e servirão de base para um livro contando os desafios vividos por cada um dos perfilados para colocar de pé seu negócio ou sua ideia. A obra será escrita por Rosenildo.”A ambição da equipe de 1 Papo Reto é fazer deste evento uma referência para quem busca boas práticas e também para aqueles que desejam conhecer a capacidade inovadora dos brasileiros. De todas as classes sociais e regiões do país”, avaliaram Carolina Stanisci, editora e fundadora, junto a Rosenildo Gomes Ferreira, do portal. (*) A editora viajou a convite dos organizadores do Prêmio.


Da Prefeitura do Rio

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o dia 22 de janeiro, no Palácio da Cidade, o prefeito Eduardo Paes apresentou o Rio Resiliente, estratégia pioneira que aponta as principais orientações da cidade para enfrentar impactos e se adaptar a choques e estresses crônicos causados pelas mudanças climáticas e desafios urbanos. Líder do C40 – grupo internacional de cidades que traçam estratégias para enfrentar as mudanças climáticas e ampliar a resiliência –, o Rio de Janeiro é a cidade que mais investe no tema no Brasil e a primeira no Hemisfério Sul a lançar um programa voltado para resiliência. Desde 2009, foram aplicados R$ 4,3 bilhões em ações nessa área. O conceito de resiliência envolve tanto as esferas governamentais quanto a sociedade e exige um esforço contínuo para prevenir, monitorar, mobilizar, comunicar e aprender com as experiências. O ponto de partida do projeto foi a produção de

um documento com extenso diagnóstico sobre o atual cenário de resiliência do município, com a identificação dos principais riscos relacionados com as alterações climáticas na cidade, como chuvas e ventos intensos, ondas de calor, elevação do nível do mar e dengue, além de outros tipos de situações que tenham potencial para modificar a normalidade da cidade. Mais de 100 funcionários de cerca de 40 órgãos municipais estiveram envolvidos na produção do documento. O texto conta com prefácio de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e Nobel da Paz por sua atuação no combate às mudanças climáticas. Com os dados, foi elaborado um inventário de projetos, programas e iniciativas concretas de resiliência por parte da prefeitura e de alguns de seus parceiros. A partir de agora, a Prefeitura do Rio construirá o Plano de Resiliência da cidade. O plano será construído de forma colaborativa e contará com a contribuição de outras esferas de governo, de parceiros privados, da sociedade civil e dos cariocas,

Agência Brasil

Rio Resiliente: cidade é a primeira no Hemisfério Sul a criar programa para enfrentar desafios urbanos e mudanças climáticas

além também de promover parcerias com as principais redes internacionais que discutem o tema. A primeira ação concreta já acontece no dia do lançamento do Rio Resiliente. Um seminário, na parte da tarde desta quinta-feira, reunirá especialistas, representantes de instituições da sociedade civil para debater os pilares do programa.

Em apenas um ano, mundo despejou 8 milhões de toneladas de plástico nos oceanos Da SOS Mata Atlântica

U

m estudo publicado na Magno revelou que os oceanos recebem, a cada ano, 8 milhões de toneladas de lixo plástico. “Isso equivale a cinco bolsas de compras cheias de sacos plásticos a cada 30 centímetros no litoral dos 192 países analisados”, disse, em entrevis-

ta coletiva, Jenna Jambeck, professora de engenharia ambiental da Universidade da Geórgia, que liderou o estudo. O levantamento analisou dados de resíduos sólidos recolhidos em 192 países em 2010. Antes deste estudo, a última estimativa sobre lixo plástico nos oceanos foi em 1975. Os resultados indicam que, das 275 milhões de toneladas de resíduos plásticos gerados em 2010, entre 4,8 e 12,7 milhões

Marcus Eriksen/ Algalita Marine Research Foundation

Plástico amontoado em uma praia de Açores, Portugal.

chegaram aos oceanos no mesmo ano. A China é o país que mais descarta lixo plástico nesses ambientes, são quase nove milhões de toneladas por ano. A Indonésia aparece em segundo lugar, o Brasil é o 16º e os Estados Unidos aparecem na 20ª posição. A quantidade de resíduos plásticos nos mares vem aumentando a cada ano. De acordo com as projeções do estudo, em 2015 os oceanos receberão cerca de 9,1 milhões de toneladas de plástico. A equipe de pesquisadores alertou que, caso providências não sejam tomadas, como a diminuição da produção de lixo, a melhora da gestão de resíduos e a ampliação dos sistemas de reciclagem de plástico, esta quantidade poderá ter um impacto acumulativo de até 155 milhões de toneladas em 2025. Além da ação do poder público, cada cidadão também tem responsabilidade na reversão deste prognóstico sombrio para nossos mares.

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P e lo B rasi l

o à Natureza

Maior evento brasileiro de conservação recebe inscrições para trabalhos técnicos De Curitiba

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Fundação Gr

upo Boticári

o de Proteçã

O

s interessados em enviar trabalhos técnicos para o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC), maior evento sobre o tema no Brasil, poderão inscrever seus artigos até 15 de abril de 2015. Os interessados devem preencher um formulário online disponível na área de Trabalhos Técnicos do sitewww.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc. O evento é organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e será realizado de 21 a 25 de setembro deste ano, em Curitiba (PR). Os trabalhos submetidos devem apresentar ferramentas, procedimentos e modelos inovadores para gestão das Unidades de Conservação, preferencialmente com alguns resultados. Nesta edição do CBUC, além da disseminação destas informações, são desejáveis discussões sobre estratégias inspiradoras, transversais e transformadoras em prol da conservação da biodiversidade. Os trabalhos devem ser enquadrados em um dos cinco eixos temáticos, quais sejam: 1. Planejamento, Gestão e Manejo – experiências de gestão e manejo de Unidades de Conservação, em especial aquelas que possuam caráter inovador possível de replicação a outras áreas protegidas. 2. Estratégias de Mobilização da Sociedade – resultados e impactos de ações ou iniciativas cujo alvo principal tenha sido mobilizar, transformar e inspirar pessoas sobre a importância das Unidades de Conservação, por meio de ações estruturadas, campanhas e outras metodologias.

3. Políticas Públicas e Marco legal – processos de criação ou ampliação de Unidades de Conservação ou que tenham influenciado na elaboração de instrumentos legais (zoneamento, planos de manejo ou ações emergenciais para proteção de espécies e ecossistemas). 4. Serviços ambientais – metodologias, resultados dos benefícios ambientais, sociais e econômicos gerados com a criação e manutenção das Unidades de Conservação. 5. Biologia da Conservação – aspectos técnico-científicos que auxiliaram ou possam subsidiar tomadas de decisão s para a

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conservação e o manejo de espécies e hábitats. Após o término do período de recebimento, as propostas submetidas serão selecionadas por consultores voluntários da Fundação Grupo Boticário, organizadora do VIII CBUC. O resultado dos trabalhos aprovados deverá ser divulgado na primeira quinzena de julho de 2015. Em caso de dúvidas ou necessidade de informações adicionais sobre o congresso, entre em contato com a comissão organizadora do evento pelo e-mail congressouc@fundacaogrupoboticario.org.br.


Pesquisa avalia emissão de metano por bovinos Por Fabio Reynol da Agência FAPESP

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gás metano é considerado o segundo maior contribuinte para o aquecimento da Terra, logo depois do dióxido de carbono (CO2), e estima-se que 70% das emissões desse gás provenham de atividades humanas, entre as quais a pecuária. Pesquisadores do Instituto de Zootecnia de São Paulo (IZ) concluíram recentemente um trabalho com foco no levantamento de indicadores para o melhoramento genético dos bovinos nelore, levando-se em conta a mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) gerados na pecuária. Uma das conclusões do projeto “Seleção para produção de carne bovina com reduação de gases de efeito estufa”, coordenado por Maria Eugenia Zerlotti Mercadante, foi a de que bovinos nelore que consomem menos para adquirir peso emitem quase tanto metano quanto os ani-

mais que precisam de mais alimento para chegar ao mesmo tamanho. O trabalho durou de 2011 a 2014 e foi selecionado em um edital voltado a questões de mudanças climáticas na agropecuária, com apoio financeiro da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a consolidação das Redes Nacionais de Pesquisa em Agrobiodiversidade e Sustentabilidade Agropecuária (Repensa). O principal gás de efeito estufa gerado na pecuária é o metano entérico (CH4), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto). Saber quanto o rebanho bovino de corte emite desse gás e os fatores que influenciam nas emissões são informações importantes para a sustentabilidade da atividade e o seu aprimoramento em busca da redução das emissões, de acordo com a pesquisadora. “Ainda há pouca informação a respeito das oportunidades de mitigação por meio do melhoramento genético animal”, ressaltou Mercadante.

Agência Fapesp

De acordo com o estudo, “bovinos nelore que consomem menos para adquirir peso emitem quase tanto metano quanto os animais que precisam de mais alimento para chegar ao mesmo tamanho”.


ESTUDO DE CASOs

Case1:

ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS Em tempos de escassez hídrica, fomos buscar estudos de casos de experiências bem sucedidas neste sentido. Trazemos três cases interessantes, com diferentes perfis, para ajudar a refletir melhor sobre o melhor gerenciamento deste recurso natural. 26

Oásis, iniciativa pioneira, que estimula a conservação da natureza por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), como foco na proteção de mananciais para a produção de água

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Da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

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m tempos de crise da água no Brasil, diferentes setores da sociedade buscam estratégias eficientes para combatê-la, tentando garantir a continuidade da produção desse patrimônio tão importante para as pessoas. Muitas ações emergenciais estão sendo tomadas apenas agora, com a segurança hídrica do país já comprometida. Porém, instituições ambientalistas já investiam em inciativas relacionadas à água bem antes disso. Em 2006, por exemplo, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza lançou o Oásis: uma iniciativa pioneira, que estimula a conservação da natureza por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), como foco na proteção de mananciais para a produção de água. Serviços ambientais são aqueles prestados pelos ecossistemas naturais bem preservados e que fornecem as condições cruciais para a manutenção da vida na Terra. São exemplos desses serviços: o fornecimento de ar puro e água limpa; a mitigação de eventos climáticos extremos, como enchentes e secas; a fertilidade do solo; a regulação climática; a polinização das plantações e da vegetação natural; e o controle natural de pragas. Esses são apenas alguns dos serviços que permitem a manutenção da vida em nosso planeta. Há muitos outros. Portanto, o pagamento por serviços ambientais é uma ferramenta estratégica em que a premiação financeira é feita pela proteção dos ecossistemas que os provêm. No Oásis, quem recebe a premiação são os proprietários rurais que adotam

práticas conservacionistas de uso do solo em suas propriedades, bem como possuem uma conduta histórica de proteção à natureza, preservando áreas nativas além do exigido por lei. Trata-se de um aditivo à lógica do “poluidor-pagador” - que pune quem não fez sua tarefa de casa - acrescentando a figura do “provedor-recebedor” – que reconhece quem fez além do exigido. Trata-se de uma tentativa de dar um passo adiante na consciência coletiva dos proprietários rurais brasileiros, aproximando-os da figura do “provedor-recebedor”, que valoriza quem protege os serviços ambientais, enquanto reconhece boas práticas. Isso significa que os proprietários que protegem suas áreas naturais nativas e, consequentemente, permitem que elas continuem prestando serviços ambientais, especialmente a água, podem ser premiados pelos esforços de manutenção dessas áreas e por abrirem mão de uso dessas áreas para outros fins. Não é a natureza que está sendo precificada, como alguns críticos do PSA indicam, mas a boa conduta que está sendo remunerada. Essa estratégia é especialmente importante em nosso país, considerando o eleva-

A metodologia adotada pelo Oásis, inédita no país, foi desenvolvida pela própria instituição

do número de propriedades rurais, o papel econômico importante da agropecuária na economia brasileira e que o setor agrícola ocupa o topo do o ranking do consumo hídrico, representando 70% de toda a água utilizada. “O PSA é uma excelente ferramenta a curto e longo prazos, pois valoriza o proprietário que conserva a vegetação nativa protegendo as nascentes e cursos d’água, bem como garante a produção de água em boa qualidade e quantidade, beneficiando milhares de pessoas”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. A metodologia adotada pelo Oásis, inédita no país, foi desenvolvida pela própria instituição. O resultado é um modelo flexível, capaz de atender a diferentes realidades sociais, econômicas e ambientais em todo o Brasil, podendo ser adaptável a qualquer região do país. Além de uma forma de cálculo para a valoração ambiental das propriedades, foi elaborado um conjunto de ferramentas e procedimentos que auxiliam as instituições parceiras a planejar e estruturar seus projetos, realizar a valoração ambiental para o cálculo do valor da premiação financeira que será recebida pelos proprietários contratados, selecionar os proprietários a serem contratados, monitorar e avaliar os resultados e buscar potenciais fontes de recursos. Em 2015, o objetivo é disseminar o mecanismo de PSA pelo país, estimulando o investimento em iniciativas similares, ampliando as ações voltadas para a conservação da natureza e possibilitando ações de longo prazo, como, por exemplo, o estímulo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) nas propriedades. O Oásis já foi implantado em municípios dos estados do São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Tocantins estando em fase de implementação no Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul. Desde 2006, mais de 200 proprietários já foram beneficiados pelas premiações financeiras e contribuíram para a proteção de 155 nascentes e cerca de 2.500 hectares de matas nativas. Mais de 8 milhões de pessoas foram beneficiadas diretamente pela proteção dessas áreas, incluindo moradores das regiões metropolitanas de Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Palmas.

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ESTUDO DE CASOs DIVULGAÇÃO/ IPÊ

Case2: Projeto “Semeando Água”, uma iniciativa do IPÊ com patrocínio Petrobras.

Projeto “Semeando Água” capacita produtores rurais e envolve estudantes e cidadãos em favor da conservação da água no Sistema Cantareira

Realização:

Patrocínio:

www.ipe.org.br/semeandoagua

Do IPÊ

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niciado em 2013, o projeto “Semeando Água” visa superar um grande desafio na região dos municípios “produtores de água” para o Sistema Cantareira: a perda de muitos serviços ecossistêmicos, como a provisão da água, por causa da supressão e da fragmentação florestal. Para reverter esses processos, com o patrocínio da Petrobras no Programa Petrobras Socioambiental, o IPÊ atua em oito municípios que abrangem o Sistema Cantareira de abastecimento. Os objetivos são influenciar produtores rurais a adotarem práticas sustentáveis

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de uso do solo, recompor a floresta que foi suprimida, e envolver a comunidade nas ações do projeto por meio de educação ambiental. As cidades participantes são: Nazaré Paulista, Piracaia, Joanópolis, Itapeva, Mairiporã, Bragança Paulista, Vargem e Extrema. Além de abastecer mais de 14 milhões de pessoas, as cidades que influenciam o sistema Cantareira localizam-se em uma importante área de Mata Atlântica que abriga muitas espécies ameaçadas de extinção e conecta dois maciços florestais, as Serras da Cantareira e da Mantiqueira. Tais áreas, entretanto, sofrem grande pressão

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em seu entorno, com a ocupação do solo inadequada em muitos casos. Por exemplo, 60% das APPs hídricas – Áreas de Preservação Permanente estão inadequadas, ou seja, ou são pastos (49%), plantações de eucalipto (11%) ou outros usos, que impactam a qualidade e quantidade de água. Estudos realizados por pesquisadores do IPÊ indicam, entretanto, que, a melhoria da produção, adequação do uso do solo, melhoria das pastagens, regularização das APPs hídricas e restauração florestal, podem reverter o quadro, porém em longo prazo. Saiba mais: www.ipe.org.br/ semeandoagua


Case3:

Minas Gerais inova e aposta na governança das águas Do IGAM e WWF Brasil

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m meio à maior crise hídrica do Brasil, responsável por submeter mais de dois milhões de moradores ao racionamento em São Paulo e deixar em alerta o Rio de Janeiro, Minas Gerais inova e será o primeiro estado em aplicar o conceito de governança em sua Política Estadual de Recursos Hídricos. A partir de junho de 2015, um conjunto de indicadores, ainda em estudo, será implementado para monitorar a gestão das águas no estado e verifi-

car, por exemplo, se a participação social na agenda do setor é efetiva, se a administração é transparente e se as ações da política estadual estão sendo adequadas. O objetivo é investir na prevenção de crises e em um modelo mais sustentável. A iniciativa pioneira no país contou com o apoio do programa Água para Vida do WWF-Brasil, que, durante todo o ano de 2014, apresentou aos 36 Comitês de Bacias de Minas Gerais, ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG), um estuSisema/Divulgação

do, realizado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que lista uma série de índices possíveis para acompanhar a implementação da governança dos recursos hídricos. “Gostamos muito da proposta do WWF-Brasil e decidimos colocá-la em prática. Um grupo de trabalho criado pelo CERH em dezembro de 2014 apresentará em junho uma proposta de indicadores adequados à realidade do nosso estado. A ideia é que Minas Gerais seja mais transparentes na gestão da água e ouça mais os Comitês de Bacia, as instituições políticas, as empresas, as organizações e demais usuários de água porque acreditamos que as decisões sobre os recursos hídricos devem ser sempre colegiadas e legitimadas pela participação social”, diz Marília Carvalho de Melo, diretora geral do IGAM. “É muito contraditório termos uma das leis de águas mais avançadas do mundo e sofrermos com racionamento e crise hídrica. Precisamos da governança no setor para fortalecer os Comitês de Bacia, a sociedade civil e os usuários de água. Ouvir todos os envolvidos é fazer com que a gestão flua melhor, funcione com eficácia. Por tanto, é contribuir para a melhoria da qualidade e da quantidade da água, recurso cada vez mais demandado no planeta”, afirma Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral do WWF-Brasil. Indicadores para implementação da governança A publicação “Governança dos Recursos Hídricos – Proposta de indicadores para acompanhar sua implementação”, (clique aqui para baixar o estudo na íntegra) analisou a Política Nacional de Recursos Hídricos, em vigor desde 1997 (Lei 9.443/97), e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), responsável por coordenar a gestão das águas, arbitrar conflitos e promover a cobrança pelo uso da água. O estudo propõe diversos indicadores, como: a qualidade e efetividade das leis e da regulação; se os governos estão atuando de forma coordenada e se as metas, diretrizes e recomendações do SINGREH estão sendo cumpridas e se os governos estão sendo capazes de articular a Política Nacional de Recursos Hídricos com as políticas estaduais e municipais relacionadas.

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Responsabilidade social

Casa Ronald McDonald completa 20 anos com resultados concretos e relatos mocionantes no atendimento a crianças com câncer. Livro relata esta história e os 15 anos do Instituto Ronald McDonald

Uma avalanche de amor e

solidariedade

Chico nas reuniões da CRM de 1995 e ao lado quando era voluntário do INCA em dezembro de 1991

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Chico se despedindo da mãe do Giovanni, Silvia Oliveira, quando eles vão para casa com autorização do médico. No alto, Carlinhos e Marquinhos, juntos, em 1985 Nícia Ribas, de Plurale Do Rio de Janeiro Fotos de Nícia Ribas e Divulgação

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título do livro O Amanhã Existe, que conta a história do casal carioca da Tijuca que perdeu seu filho para o câncer e que da imensa dor tirou força para mergulhar na luta contra a doença no Brasil, não poderia ser mais adequado. Francisco e Sônia Neves colecionam mensagens, fotos, lembranças e muitas histórias de sobreviventes que puderam se tratar graças ao acolhimento da Casa Ronald McDonald, fundada por eles e seus amigos do bairro. Essa turma solidária, que conseguiu recursos para bancar a ida de Marquinhos para Nova York e nunca mais parou de ajudar crianças com câncer, provou que, realmente, o amanhã existe. Mesmo para os mais de 10 mil brasileirinhos que a cada ano são diagnosticados com o terrível mal. Apesar da busca do melhor tratamento existente na época, Marquinhos não resistiu à leucemia. “Voltamos do Memorial Hospital de Nova York sem nosso filho, com o coração borbulhando de amor e decididos a levar esperança a outros pais que estivessem passando pelo que nós tínhamos acabado de passar”.

Chico logo se envolveu com o grupo de voluntários do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e Sônia, primeiro trabalhou na Casa Anália Franco, para meninas, mas logo foi levada pelo marido para ajudar na primeira campanha McDia Feliz que teria o valor das vendas do Big Mac revertido para o Inca. Na primeira oportunidade que surgiu, num evento para anunciar o McDia Feliz de 1991, Chico conseguiu aproximar-se do presidente do McDonald no Brasil, Peter Rodenbeck e perguntar: “O senhor conhece a Casa Ronald McDonald de Nova York?” Ali teve início um longo diálogo. Chico, que havia se hospedado lá, mostrou a necessidade de se ter no Brasil uma Casa como aquela. Seu sonho virou realidade em 1994, quando foi inaugurada a primeira Casa Ronald da América Latina, na Rua Pedro Guedes, 44, Tijuca, Rio de Janeiro, onde está até hoje Sônia, dona da Casa A Casa longe de casa, com seus 57 apartamentos, cozinha industrial, refeitório, salas de recreação, biblioteca, auditório, sala de reuniões, sala dos adolescentes e até um salão de beleza, funciona como um hotel e dá muito trabalho. Quase todo o serviço é realizado pelo grupo de volun-

tários, em sistema de revezamento. Atualmente são 500. Circulando pelos corredores, a presidente Sônia Neves vai espalhando sua alegria e sua força entre funcionários, voluntários e os pequenos hóspedes com seus responsáveis. -“Sônia, este convívio diário com a dor por mais de 20 anos não te deixa deprimida?” -“Não, eu torço por eles como se estivesse torcendo pelo meu filho”. Ela e sua equipe têm sempre uma palavra de esperança e de incentivo a lutar pela vida. “Quem não joga, não vai ganhar e não adianta chorar por antecedência”, dizem eles às mães e pais. Encaminhados pelo Inca, os hóspedes vêm de todo o Brasil, do exterior e até mesmo do Rio, desde que o tratamento exija proximidade do hospital e as pessoas não tenham condições de pagar hospedagem. Um dos hóspedes mais antigos, Donizete, 16 anos, e sua mãe, Licínia Serafim Silva, vieram em junho de 2013, de Cândido Sales, perto de Vitória da Conquista, Bahia. Mãe de seis filhos, sendo cinco meninas, Licínia viu seu único menino, aos 12 anos, sofrendo com dores de cabeça e convulsões, numa cidade sem condição nenhuma de tratá-lo. Graças a um jornal da TV local, que exibiu o caso, mostrando o resultado da tomografia que detectava o

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Responsabilidade social

tumor, ela conseguiu levá-lo para Salvador e depois para o Inca, no Rio. – “Graças a Deus, existe a Casa Ronald, que nos acolhe com todo o conforto e carinho; aqui encontrei uma nova família”, diz ela no fresquinho do seu apartamento do segundo andar, ao lado de Doni, que quando crescer quer ser pastor. A maior preocupação de Sônia é com a constante captação de recursos para manter a Casa e os programas Cesta de Alimentos e Reconstruir, que garantem a qualidade de vida das famílias durante e depois do tratamento. Isso porque o valor arrecadado durante o McDia Feliz cobre apenas 30% das despesas. “Contamos também com os membros contribuintes e os doadores de alimentos e material de limpeza; mantemos um bazar e uma lojinha, “ diz ela. Vale tudo. Recentemente, Sônia organizou uma reunião na Casa com os amigos de infância de Marquinhos e cada um deles, hoje homens no mercado de trabalho, ficou de ver como poderá ajudar a captar donativos em sua área de atuação. O sorriso do Chico Os bons resultados do trabalho iniciado por aquela turma da Tijuca repercutiram país afora. Campanhas para combater o câncer infantil começaram a surgir. Em abril de 1999 foi criado o Instituto Ronald McDonald para organizar aquelas iniciativas e tocar projetos como as Casas Ronald, que hoje já são seis; o Diagnóstico Precoce, que capacita profissionais da saúde a detectar a doença; e o Espaço da Família, instalado em hospitais para acolhimento diário. “Com o diagnóstico precoce, temos obtido resultados muito animadores, pois quanto antes se descobre a doença, mais certa é sua cura”, diz Chico, lembrando de um caso recém ocorrido: um enfermeiro treinado pelo Programa Diagnóstico Precoce, desconfiou dos sintomas apresentados por uma menina que estava sendo tratada como portadora de dengue. E não deu outra: era leucemia e a menina está curada. Há 15 anos, Chico Neves é o superintendente do IRM, lidando no seu cotidiano com CEOs de multinacionais, sem perder o seu jeitão de tijucano, sua simplicidade e o famoso sorriso, que já se tornou sua marca

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Hélio Muniz:

Esta obra é “contribuição para

discussão séria e aprofundada sobre o câncer infantojuvenil

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

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om a experiência de quem já escreveu e editou diversas histórias impactantes, o jornalista Hélio Muniz sabia que tinha “matéria-prima” em estado bruto quando surgiu a ideia de relatar em livro os 15 anos do trabalho do Instituto Ronald McDonald. Diretor de Comunicação Brasil da Arcos Dourados Comércio de Alimentos, a máster franqueada da McDonald`s Corporation, que opera os restaurantes próprios da rede e administra os seus franqueados, Muniz contou à Plurale como surgiu este projeto do livro “O amanhã existe - A história de quem transformou a luta contra o câncer infantojuvenil no Brasil “e também falou sobre os investimentos sociais da rede. Qual a relevância para o McDonald`s Brasil do investimento social no combate ao câncer infantojuvenil? O McDonald´s completou 36 anos de operação no Brasil e a Arcos Dourados - franquia que, desde 2007, opera a marca McDonald´s no país e na América Latina - fez o maior aporte de recursos para projetos pela cura do câncer infantojuvenil por meio do McDia Feliz. Em 2014, a campanha bateu recorde de arrecadação, com R$ 22,4 milhões. O que orgulha o McDonald’s é ter contribuído para colocar o McDia Feliz na agenda da sociedade. Esta não é mais uma campanha do Instituto, é de todos nós. Nossos restaurantes são palco de diversas ações solidárias: pessoas que compram Big Mac apenas nesse dia, doam sanduíches,

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ajudam a divulgar. Talvez seja o dia em que nossos funcionários mais trabalham, mas saem de lá felizes por estarem ajudando tantos projetos. É um legado emocional que não tem preço. - Como surgiu a ideia do livro? O livro O amanhã existe - A história de quem transformou a luta contra o câncer infantojuvenil no Brasil é um projeto nascido e gerenciado pela área de Comunicação do McDonald’s, que enxergou na publicação uma forma de sensibilização para a causa do câncer infantojuvenil. Acreditamos que com essa obra, contribuímos para uma discussão séria e aprofundada de uma questão que envolve a melhoria de recursos e a capacitação de profissionais de saúde para o diagnóstico precoce. Nossa expectativa com esse livro é chamar a atenção para um cenário que atualmente, felizmente, está diferente. Hoje, a chance de cura está bem maior, desde que, diagnosticado precocemente. - O trabalho de Francisco e Sônia Neves tornou-se referência nesta área e no Terceiro Setor. Como o McDonald´s Brasil vê este reconhecimento? Acompanhamos o crescimento da entidade, que realiza um trabalho tão importante, e observo com imenso orgulho os resultados alcançados. No ano passado, o Instituto completou 15 anos de atuação na causa do câncer infantojuvenil e isso não é para qualquer um. O Chico é um amigo que ganhei, uma pessoa que me ensina a cada dia. É um orgulho poder contribuir para que tantas outras pessoas conheçam esse casal de força extraordinária.


Na porta da Casa, Sônia Neves, recebendo todos com alegria e otimismo. Chico nas reuniões da CRM de 1995

Depoimento de uma voluntária POR NÍCIA RIBAS, de Plurale

Eu tinha acabado de me aposentar e não sabia bem o que fazer da vida, quando uma amiga, que trabalhava na Casa Ronald, me sugeriu o trabalho voluntário. Cheguei lá, achando que já ia começar no mesmo dia a brincar com as crianças. Que nada. Há todo um processo. Primeiro, um tour pela Casa, conhecendo o ambiente, cruzando com crianças amputadas, enfaixadas, em cadeiras de rodas. Tudo isso para ver se você tem estrutura para suportar a dor alheia. Depois, a gente preenche uma ficha com dados e impressões. Só então, marcam uma entrevista com a psicóloga para testar sua estrutura emocional. Se você for aceita, faz um treinamento de dois dias lá mesmo. Passei e lá fiquei por seis anos, todas as manhãs de terça-feira, com muitos momentos de felicidade por poder estar ajudando aquelas pessoas durante uma tragédia em suas vidas. Sentia-me plenamente gratificada e satisfeita comigo mesma e com minha condição humana, constatando nossa impotência diante da morte. Era muita adrenalina. É indescritível a sensação causada pelo trabalho voluntário. Deve ser por isso que há fila de espera para ser voluntária da Casa Ronald, apesar dos pesares. Certa vez, estava no meio de

um trabalho com as crianças, na Biblioteca, quando dei pela falta da Carol, que na semana anterior estava entre nós. Quando perguntei por ela, foi aquele silêncio dolorido. Menos uma. Dói, mas as estatísticas são animadoras: há 30 anos, a chance de cura era de 15%; hoje, se diagnosticado precocemente, pode chegar a 85%. Entre as histórias que vivi e ouvi na Casa, lembro a do Pedrinho. Hóspede novo na Casa, oito anos, ele repetia a quem se aproximasse dele: – Sabia que eu vou morrer? É, vou morrer, ouvi o médico dizer que vou morrer. As voluntárias e os outros hóspedes ficavam incomodados com aquilo. O problema foi levado a uma das diretoras, a psicanalista Angela Damásio, que decidiu ter uma conversa com ele. Assim que ela se aproximou, ele já foi dizendo: Tia Angela, eu vou morrer. Ah é? Eu também vou. Você vai morrer? Está doente? Não, mas eu vou morrer, assim como todo mundo. Exultante, Pedrinho saiu pelos corredores, gritando para todos ouvirem: A tia Angela vai morrer, a tia Angela vai morrer! E teve a história da perna da Dani. Do hospital, onde estava internada para am-

putar sua segunda perna, a menina de 10 anos, ligou para a voluntária Denise, da Casa Ronald, pedindo que ela fosse visitá-la urgente. Quando Denise entrou no quarto, Dani pediu a sua mãe que saísse e sozinha com a amiga voluntária, disse: Sabe o que é, tia? Eu quero me despedir da minha perna. Ela me levou a tantos lugares, brinquei tanto, pulei tanto, e agora que ela se vai para eu poder viver, quero fazer uma despedida junto com você. Atônita, sem saber bem o que dizer, Denise abraçou a menina e rapidamente entrou na dela, dispondo-se a ajudá-la na cerimônia de despedida. Naquele momento embaraçoso, a porta se abriu e entrou a médica para conversar sobre a cirurgia. Ela nota o clima de emoção e pergunta o que há. Estamos fazendo a despedida da perna, disse Dani, aproveitando para perguntar o que fariam com a perna dela, se serviria para alguma coisa… Sem saber o que responder, a médica hesitou, respirou fundo e conseguiu dizer que a perna serviria para estudos médicos com o objetivo de evitar que outras crianças tivessem, no futuro, que sofrer a amputação. Dani ficou satisfeita e na sua cabecinha, o problema estava solucionado.

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Responsabilidade social

pessoal. Outro dia, entrou num taxi ali na Pedro Guedes e a motorista comentou a importância daquela Casa, que acolhia crianças em tratamento de câncer, contando para ele que tudo havia começado por causa dos pais de um garotinho que morreu de câncer. “E você sabe que esse pai sou eu?”, disse ele. A taxista ficou tão emocionada que não quis cobrar a corrida, apesar da insistência de Chico, que, decidiu, enfim, levar os R$15,00 para a Casa, como doação.

– Chico, você acha que no mundo em que vivemos hoje, com tanta corrupção, violência e egocentrismo, um mundo em que os valores materiais estão no topo da pirâmide, você teria a mesma demonstração de amizade desinteresseira e a solidariedade dos seus amigos da Tijuca, como ocorreu há 20 anos? – Realmente, os valores mudaram muito, mas posso lhe garantir que o movimento do terceiro setor cresceu e tem muita gente querendo fazer a diferença. Nós do IRM coorde-

namos o McDia Feliz em 60 cidades brasileiras e temos encontrado muita gente com tesão, paixão, dispostos a mudar o mundo.” – “E quanto ao seu trânsito fácil entre autoridades governamentais, altos executivos, médicos, funcionários, voluntários, pais, mães e crianças doentes, com a mesmo sorriso e sempre com uma palavra amiga, como você consegue?” – “Fácil, é só não se deixar morder pela mosca da vaidade.”

Livro, escrito pelo jornalista Renato Lemos, relata os fatos mais marcantes DIVULGAÇÃO

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rancisco Neves combinou com o jornalista Renato Lemos a feitura de um livro sobre os 15 anos do Instituto Ronald McDonald. “Só que ele começou a pesquisar e acabou mudando tudo porque resolveu contar também a nossa história pessoal”, explica Chico, com aquele sorriso de quem aprovou a mudança. Realmente, Lemos foi fundo na história e conseguiu colocar emoção no seu livro. Sem ser piegas. Em 19 capítulos, ele prende a atenção dos leitores pela leveza, sem deixar de fazer o registro dos fatos mais marcantes. Com muita graça, traça o perfil dos personagens

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e faz os leitores reviverem a Tijuca e o Brasil de épocas passadas. Selecionou casos interessantes de hóspedes da Casa Ronald, como o da Edvânia, a mãe-coragem que virou cabelereira e que está lá até hoje, trabalhando no salão de beleza da Casa. Das conversas com Chico e com Sônia obteve depoimentos comoventes. “Chico diz que estar ali – de cabeça, de coração, com o resto do corpo inteiro – não foi exatamente uma escolha sua, ele foi escolhido. Pelas circunstâncias, pela dor, pelo amor, pela história iniciada com Marquinhos naquele dia em que Sonia tateou em volta do pescoço do menino e

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sentiu o caroço duro como uma pedra na ponta dos dedos. Aquilo o capturou, ainda que, naquele momento,não fizesse ideia do que tinha pela frente. O câncer (qualquer câncer) era algo longínquo, algo ruim a ser evitado. Mas há coisas das quais é impossível fugir. Quando se deu conta, Chico já estava envolvido pela bola de neve formada em torno da sua família, a massa gelada que os envolvia. A avalanche – com as pedras desmoronando em direção à sua vida segura – foi mera consequência.” Vale a pena ler O Amanhã existe para conhecer essa história e rever os valores.


Parques nacionais brasileiros batem recorde de visitações O Brasil registrou um número recorde de turistas brasileiros e estrangeiros em seus parques nacionais. Apenas o da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, recebeu 3,1 milhões de visitantes, número que cresce ano a ano desde 2011. Da mesma forma, o Parque do Iguaçu (PR), famoso pelas Cataratas, também alcançou um número inédito: mais de 1,5 milhão de pessoas. A visitação de parques nacionais passou de 1,9 milhão em 2006 para seis milhões em 2013. Os números de 2014 ainda não foram fechados pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsável pela administração dos parques. A procura pelo turismo de natureza é uma tendência mundial. Segundo a Organização Mundial do Turismo, a expansão do segmento está entre 15% e 25% ao ano. A fim de preparar o país para atender a essa demanda, o Ministério do Turismo considera a estruturação dos parques e o aumento das visitações como prioridade estratégica do Plano Nacional do Turismo (PNT).

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Terceiro Setor

CDI: Reinventar para renovar O Brasil, por enquanto, apenas assiste sua população envelhecer, ampliar as moradias unipessoais sem fazer nada. Da mesma forma que só estimulou, durante décadas, a cada um ter o seu carro. Por Elis Monteiro, Especial Para Plurale Fotos do Cdi/ Divulgação

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ste ano, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) comemora seus 20 anos em boa forma. Acaba de anunciar uma parceria com a The Bill & Melinda Gates Foundation e, juntas, as instituições vão selecionar 50 bibliotecas públicas para o programa CDI Bibliotecas. O programa, que tem apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), terá duração inicial de dois anos e visa a ajudar líderes e profissionais de bibliotecas a integrar ideias e serviços inovadores nesses espaços em resposta à evolução das necessidades de suas comunidades. As boas notícias não param por aí: seu presidente-fundador, Rodrigo Baggio, levou o prêmio de Empreendedor Social Global de 2014, concedido pelo Fórum Mundial de Empreendedores A premiação é um dos maiores reconhecimentos que um empreendedor pode receber. Outros premiados foram Anneli Hulthén, prefeito de Gotemburgo, pelo desenvolvimento de uma cidade empreendedora, e William Drayton, cuja ONG, a Ashoka, é um dos principais exemplos de empreendedorismo social. Baggio, aliás, acaba de se transferir para Washington para trabalhar ao lado de Drayton, sem perder de vista o CDI, que continua contando com sua liderança. Pioneira na luta pela inclusão digita Ao longo de seus 20 anos, o CDI foi reconhecido com mais de 70 prêmios por organizações como Unesco, Banco Mundial e Fórum Econômico Mundial. A rede CDI hoje está presente em dez países, com 715 espaços de inclusão digital e mais de mil mil educadores em plena atividade. A tecnologia, como não podia deixar de ser, tem um papel importante nestas conexões: ela permite ampliar o impacto do trabalho da ONG. Muita coisa, no entanto, mudou dentro do CDI, transformações estas que foram ocorrendo aos poucos nos últimos anos. Para se renovar, a instituição teve um choque de realidade, passou por dificuldades e acabou encolhendo para se reinventar. A própria trajetória da instituição tem a transformação como marca. O CDI começou sua atuação, em 1995, levando

computadores para favelas; com o tempo, passou a formar cidadãos e profissionais por meio da inclusão digital. Com a disseminação da tecnologia, principalmente nas comunidades mais carentes, a instituição percebeu a necessidade de investir na formação de empreendedores. Foi assim que nasceu o CDI Lan, braço de negócios do CDI focado na profissionalização das lan houses que norteou o trabalho da ONG nos últimos cinco anos. Agora, o propósito é crescer e atuar no Brasil e também fora dele – o CDI já está presente em diversos países da América Latina e também na Europa. Em Londres, desenvolve o projeto Apps for Goods. Atualmente, aliamos a tecnologia a programas educativos e culturais em escolas, bibliotecas públicas e em organizações sociais. Nosso objetivo é tornar esses espaços ambientes onde as pessoas sintam-se convidadas a atuarem como protagonistas do curso de suas vidas e da sociedade na qual vivem – conta Elaine Pinheiro, diretora de Cultura e Pessoas da ONG. Com sua metodologia focada em resultados, o CDI Lan foi fundamental na criação de um modelo de desenvolvimento de novas formas de fazer negócio e de causar impacto no planeta. Foi com ele que o CDI iniciou sua jornada rumo aos negócios sociais: aprendeu como customizar produtos e a co-criar esse tipo de negócio então ainda desconhecido no país e, com a demanda do “mercado”, passou a atuar como consultor de negócios sociais. O CDI Lan foi, por exemplo, a gênese de um movimento de empresas com impacto social no Brasil, que culminou com a implementação do Sistema B local, em 2013, apoiada e impulsionada pelo CDI. Atualmente, 30 empresas do Brasil fazem parte do Sistema B, inclusive a Natura,

Rodrigo Baggio, levou o prêmio de Empreendedor Social Global de 2014, concedido pelo Fórum Mundial de Empreendedores

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Terceiro Setor

O futuro para o qual a organização vem se preparando é dinâmico e exigirá dela um compromisso com a juventude

primeira empresa de capital aberto a redefinir seu conceito de negócio. O CDI Lan foi o grande propulsor da trajetória do CDI para o modelo de negócio social. No entanto, a partir da transformação do cenário de inclusão digital no Brasil e na América Latina, com a redução significativa do número de lan houses e uma direção muito forte para dispositivos móveis, depois de incorporar todo esse aprendizado optamos por descontinuar o CDI Lan – conta Elaine. Acabou o nome, ficou o aprendizado e o direcionamento. A partir do CDI Lan, a ONG passa a investir nos negócios sociais como molas-propulsoras de seus projetos. Interna e externamente.

O desafio da crise econômica mundial O processo de transformação do CDI não ocorreu sem dor. Após a crise global de 2008, com a escassez de recursos as organizações sociais precisaram se reinventar e correr atrás de novas formas de subsistência. Como o CDI já estava no movimento rumo ao modelo de negócio social, ela já trabalhava em alternativas para a organização. – A crise não nos pegou de surpresa e, ao perceber os desafios na captação de recursos, reagimos com uma série de iniciativas na gestão da organização – garante Elaine. As mudanças ocorridas no CDI tinham por objetivo o ganho de escala e o

aumento do impacto social da organização. A instituição acabou optando, assim, pela adoção de um modelo de gestão baseado em quatro frentes de atuação: Gestão de Pessoas e Relações; Processos e Comitês de Gestão; Acompanhamento de custo, prazo e resultados; e Desenvolvimento de novos “produtos” sociais voltados para as necessidades contemporâneas de uso da tecnologia. A partir da identificação dessas frentes, os planos de ação incluíam o estudo da viabilidade de projetos, a elaboração de um modelo de captação de recursos mais focado em produtos em desenvolvimento do que em projetos, a utilização de plataformas tecnológicas que permitissem acompanhar os resultados dos programas virtualmente, assim como a aproximação da equipe para a elaboração do plano estratégico. Com a mudança no perfil da instituição, casada com a crise global, veio a necessidade de redução da equipe. A atenção que demos às pessoas e às relações com parceiros foi primordial para evoluirmos as práticas de gestão e o processo decisório da organização. Trabalhamos de forma colaborativa com o time para a melhoria do clima organizacional e, de forma transparente, envolvemos nossos parceiros estratégicos na decisão de descontinuação de projetos que não se mostravam viáveis e alinhados com nossa estratégia – conta Elaine. Novos tempos, novos modelos de captação No meio do caminho da mudança surgiram novos desafios do mercado, como a chegada de iniciativas envolvendo crowdsourcing e crowdfunding. Foi assim que, em 2013, a instituição decidiu parti-

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cipar do Skoll Social Entrepreneurs Challenge, competição de captação entre empreendimentos sociais de todo o mundo promovida pela Skoll Foundation, fundação americana de incentivo ao empreendedorismo social. O desafio funcionava assim: a instituição que conseguisse a maior quantidade de recursos advindos do público ganhava recursos da própria Skoll Foundation. A arrecadação se dava por meio de uma plataforma online criada pela Fundação. No ano de 2013 o CDI ficou em terceiro lugar no mundo, o que trouxe para a ONG um aprendizado grande a respeito de um modelo de captação de pessoa física. – Tradicionalmente, mantemos o CDI com recursos de empresas parceiras, e desenvolver estratégias para mobilizar pessoas comuns a doar para a nossa causa é algo que ainda estamos aprendendo. Nesse sentido, o Skoll Challenge foi uma grande oportunidade de aprendizado – explica a diretora do CDI. Cortar na “própria carne” Até há alguns anos o Terceiro Setor desenvolvia seus projetos sociais tendo como base o investimento de responsabilidade social das empresas e fundações. Mas as empresas decidiram reorientar seus investimentos para iniciativas internas, visando a corresponder à pressão da sociedade, que espera resultados sociais

O CDI fez uma parceria com a The Bill & Melinda Gates Foundation e, juntas, as instituições vão selecionar 50 bibliotecas públicas para o programa CDI Bibliotecas

positivos das empresas e não somente seus produtos ou serviços. Segundo Elaine, a mudança tornou necessária uma reinvenção por parte do Terceiro Setor. Como empreendedores sociais, possamos revisitar nossas causas e alinhá-las ao novo cenário global, ao comportamento contemporâneo da sociedade e à realidade social do país. Precisamos estar atentos ao legado que o trabalho de nossas organizações deixará para sociedade e para sua própria evolução como organização – explica ela. – O processo de evolução pelo qual passamos nos dois últimos anos nos revelou que aprimorar a gestão não impacta somente na qualidade dos nossos resultados, mas também na releitura do papel que exerceremos na sociedade. Toda instituição do Terceiro Setor vai se beneficiar de um processo de transformação como esse. O processo de reinvenção mexeu com as bases do CDI. Inclusive levou a instituição a refletir sobre sua identidade e suas crenças. Assim, a ONG se reposicionou e definiu como nova identidade e visão o conceito de E-topia: o CDI vê um mundo em que os indivíduos se apropriam da tecnologia para construir uma sociedade mais justa e livre. O compromisso da instituição passa a ser fazer do uso da tecnologia uma experiência de conexão e mobilização de indivíduos que, juntos, criam soluções para a sociedade. E sobre as crenças, a Inovação, o Protagonismo, a Valorização das Relações e da Diferença, a Horizontalidade, a Tecnologia e o Conhecimento e Liberdade. O futuro para o qual a organização vem se preparando é dinâmico e exigirá dela um compromisso com a juventude. O CDI deseja, assim, estar mais preparado para apoiar os jovens no desenvolvimento das habilidades necessárias no século XXI. Queremos utilizar a força do nosso empreendedorismo social para compor esta grande rede que está se formando ao redor do mundo e que visa a tornar a sociedade mais preparada para criar soluções sociais usando a tecnologia. A programação, os aplicativos e a gameficação nos estimulam a apoiar nossos multiplicadores (professores, educadores sociais, bibliotecários) a se tornarem agentes de transformação de suas realidades.

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Bem-estar Lou Fernandes – Indira Prem no encontro com o guru Prem Baba

NO SILÊNCIO TUDO PODE MUDAR Depoimento: Retiro Com Prem Baba Em Nova Friburgo Lou Fernandes – Prem Indira

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icar cinco dias em silêncio? Minha família achou impossível eu conseguir levar à frente esta façanha. Não acreditaram que eu realmente participasse do Retiro de Silêncio com Sri Prem Baba, no Spa Maria Bonita, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Será que estava tão faladeira assim? Foi daí que conclui que realmente precisava viver esta experiência. Reconheço que não foi fácil tomar esta decisão. Nesta época, minha mãe estava muito doente e se afastar dela era muito difícil. Vivia uma rotina alucinante, tentando dar conta de duas casas, trabalho, mestrado, enfermeiras, remédios. Minha mãe desenvolveu uma doença senil que a levou a

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perder a articulação das palavras e por fim a fala. Acho que buscava dar conta do seu silêncio falando em dobro. Há dois anos não ouvia mais ela me chamar de filha, ou pelo meu nome. Agora entendo que, por mais que eu falasse não era a voz da minha mãe que ouvia, acho que não conseguia mais ouvir voz nenhuma. “O silêncio é a base que te prepara para qualquer prática. Tudo o que é belo e verdadeiro nasce do silêncio”, ensina Prem Baba. Tudo em volta me mostrava que algo belo precisava nascer deste sofrimento. Sri Prem Baba nasceu no Brasil onde passa alguns meses do ano e onde construiu o Sachcha Mission Ashram (Nazaré Paulista, São Paulo), e divide o restante do tempo entre o Sachcha Dham Ashram em Rishikesh (Índia) e outros lugares do

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mundo para onde viaja visitando os diversos centros que estão se desenvolvendo com base nos seus ensinamentos. Nos seus retiros vem gente de todo lugar do mundo. E se sugere carona solidária. Mas fui sozinha de carro, queria treinar o início do processo de silenciar. A viagem do Rio a Friburgo pareceu uma eternidade. Como ficarão as coisas? Será que vou conseguir ficar até domingo sem saber notícias? Ao chegar no spa Maria Bonita encontrei um grupo acolhedor que ajudou a diminuir minha ansiedade. O sorriso de Gabriela Alves e toda a equipe passava confiança. Sem contar que o lugar abrigava uma paz só tocada pelo canto dos pássaros. Aliás, eu nunca havia visto tanta variedade de canto de pássaros passeando livres pelo verde daquela serra.


Aos poucos a ansiedade passa e começa a dar lugar a outros sentimentos Prem Baba surge no salão e retira qualquer apreensão para os principiantes, dizendo que começaríamos o retiro aos poucos. Ou seja, agiu como um pai cuidadoso que ao ensinar seu filho a andar de bicicleta sabe que só deve largar quando sentir que pegou o equilíbrio. Desde que o conheci, há dois anos na Índia, numa viagem que seria apenas para encontrar com a minha filha, constatei que encontrei muito mais. Seu nome já diz muito do que ele representa: Pai do Amor , pois em sânscrito Prem significa amor e Baba significa Pai. E foi com essas palavras Sri Prem Baba nos conduziu ao começo de uma experiência que se tornou um divisor em minha vida: “Eu os convido a estarem um instante em silêncio, para que possamos concentrar a atenção. Alinhe sua coluna, feche os olhos suavemente e respire suave e profundamente pelas narinas, e a cada respi-

ração solte o seu corpo. Alinhamento não significa rigidez. O corpo pode estar alinhado, mas relaxado. Solte também as pré-ocupações, toda e qualquer expectativa. Coloque-se completamente presente aqui e agora ocupando o seu corpo, ocupando cada célula, cada molécula do seu corpo. Perceba que a cada respiração o seu campo de energia se expande, e desse lugar de presença você simplesmente observa o que se passa na sua mente e no seu corpo. Assim como o céu observa as nuvens, as nuvens às vezes são claras, às vezes são escuras, mas sempre passam e o céu permanece. Você, que é o céu, observa o trânsito dos pensamentos, das emoções, das sensações e deixe passar. Olhe e deixe passar. Coloque o foco no espaço vazio entre os pensamentos ou no fluxo da respiração (o que for mais fácil para você) e fique assim passivo. Evite o diálogo interior, evite julgar, comparar. Fique consigo mesmo só assistindo o que se passa por um minuto ou um instante; não se preocupe com o tempo, eu darei o sinal para encerrar a prática”.

Consegui. Mas sabia que tinha sido apenas 5 minutos e ainda teria quatro dias pela frente. Pensava que talvez não devesse ter me afastado ou que estava sendo egoísta gastando este dinheiro só comigo. Lembrei da fala de Prem Baba para soltar qualquer expectativa. Soltei. E neste momento começou a nascer uma semente de paz e um sentimento de amor por mim. Começava a entender quantas exigências fiz para o outro em busca de amor e aceitação. “Paz e Amor são fragrâncias do Ser Maior que nos habita. Em algum momento nessa nossa trajetória evolutiva acabamos nos distanciando deste Eu Maior que nos habita e acabamos nos esquecendo de como criar paz, como dar passagem para o amor através de nós. E a consequência deste esquecimento é o caos que vemos hoje no nosso mundo em todos os setores, todos os segmentos. A violência urbana é somente um pequeno aspecto, é um reflexo da falta de paz interior; é um reflexo da nossa incapacidade de manifestarmos consciência amorosa.”


Bem-estar

Você precisa ter disposição para bater na porta da verdade O segundo dia foi o mais difícil para mim. Sobretudo por que tentava não pensar. Impossível. Conclui que assim como o coração foi feito para bombear o sangue, a mente foi feita para pensar. O que precisava descobrir era a entidade que sentia o pulsar do coração e ouvia as tagarelices da mente. Ou seja, o dono da casa. Sempre me queixava que os afazeres tiravam o meu sossego. Mas agora estava num lugar lindo e silencioso. Não tinha a quem culpar. E ainda assim me sentia agitada e muito longe de mim. ‘Você precisa ter disposição para bater na porta da verdade. Verdade sobre você mesmo. Por exemplo: diante de um con-

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flito, se você se sentiu perturbado, ao invés de apontar o dedo para o outro, procure em você. Faça a oração para o universo: ‘Me mostre, qual a minha responsabilidade neste conflito?’ O que me tranquilizava era ver que algumas pessoas também pareciam que estavam sentindo o que eu estava sentindo. Me peguei mais uma vez prestando atenção no outro. Esquecendo do cisco no meu olho. Era quase possível ouvir a montanha de pensamentos por trás daquele silêncio. Prem Baba sabia disso e numa tarde reunindo conosco – chamado de satsang– disse as seguintes palavras: “ Temos que trabalhar para desenvolver esses valores que eu estou sugerindo e desenvolver a arte da meditação. Isso cabe

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a você que é o Eu consciente; você que escolheu estar aqui numa tarde como esta, feriado; você que fez um esforço. Alguns chegaram a fazer sacrifícios para estar aqui. Quem fez esse esforço, esse sacrifício? Você, Eu consciente. Você é o herói da jornada. É você que identifica o ‘eu’ inferior e escolhe renunciá-lo. Você escolhe se identificar com o Eu divino. Isso cabe a você. Autoconhecimento e cultivo de silêncio. Dedicar a bater na porta da verdade e ir se afinando com o êxtase através do cultivo do silêncio.” Sai decidida a espancar a porta da verdade. Até que tentei, mas o retiro estava organizado para ser um encontro amoroso. Sem violência. Inclusive tínhamos uma alimentação bem saudável e lá não tinha sinal de celular. Afinal, como um Pai do Amor iria organizar um evento cujo encontro seria dando murros na porta? Acho que não. Percebi que ainda estava longe de mim mas também notei que a resistência ao encontro estava sendo dissipada porque começava ter consciência disso. E como diria Prem Baba: “É fundamental que possamos desenvolver a inteligência emocional e que paralelamente possamos desenvolver a inteligência espiritual, que é o reconhecimento da natureza divina em tudo o que é vivo. A inteligência espiritual é a percepção do divino em cada um. Essa inteligência é que realmente interrompe qualquer movimento destrutivo. Você pode ver a divindade se manifestando em tudo o que é vivo, você reverencia, não ataca, não destrói, não machuca porque você sabe que o espírito de vida que passa numa flor é o mesmo espírito de vida que passa através de você. A inteligência espiritual nos faz perceber a unidade dentro da multiplicidade. Somos muito na superfície, mas dentro somos os mesmos. Somos o mesmo! Conforme a nossa inteligência espiritual vai crescendo a gente começa a perceber a unidade dentro da multiplicidade. A vida única por trás do nome, por trás do corpo, por trás da história e que nos mantém vivos. Esse Eu divino que é único fala em todas as bocas. A Espiritualidade Precisa Acontecer Na Vida Diária No terceiro dia, na sacada do meu quarto, me deparei com a cena de um casal de ararinhas verdes se afagando na ár-


vore e aos poucos outros passarinhos se uniam a eles e começavam a cantar, um de cada vez, respeitando o espaço do outro. Ao me conectar com o agora, sem qualquer julgamento, vivenciei as palavras de Prem Baba quando diz que “a divindade ao se manifestar em tudo que é vivo interrompe qualquer movimento destrutivo”. Me senti abraçada e, mesmo que tenha sido por um milésimo de segundos, consegui perceber a unidade por trás da multiplicidade. À noite realizamos o ritual do fogo, utilizando a lareira, onde tivemos a oportunidade de queimar lembranças que nos impediam de ir em frente, em direção à vida. Todo processo foi me levando a compreender que não era necessário espancar nada e nem de muitos sacrifícios para ter um encontro comigo mesma. O fardo precisa ser leve para podermos carregá-lo. E todo este processo me levou a entrar num estado de aceitação. Na superfície, a aceitação pode parecer um estado passivo, entretanto ela é ativa e criativa porque traz algo novo a forma de estar no mundo. E para atingir um estado de consciência amorosa e plena, como nos ensina Prem Baba, “ precisamos apenas de um minuto por dia. Começamos com um minuto, para lembrar do espírito, para lembrar do divino que nos habita”.

No domingo, o último dia do retiro, o silêncio continuava. Foi mais uma vitória porque consegui dividir o quarto com três mulheres, tendo apenas um banheiro, e nos entendemos muito bem sem qualquer palavra. Neste dia, pela manhã, Prem Baba fez uma Roda de Cura onde se podia expressar o que lhe incomodava, dentro da filosofia que todos somos um e que a cura do outro é também a nossa cura. Numa de suas falas Prem Baba explica melhor esta prática de espiritualidade quando diz que: “Nos dias atuais a espiritualidade precisa acontecer de forma prática. Espiritualidade prática significa você se relacionar com o outro sem se machucar. Sem se machucar e sem machucar o outro. Esse é o principal sadhana; esse é o principal desafio para o ser humano nesta fase da jornada evolutiva. É importante que a espiritualidade também seja sustentável, você precisa equilibrar a vida espiritual com a vida material. Chegou o momento de integrar espiritualidade com a vida prática, a vida material. Acabou o tempo de a espiritualidade só poder acontecer dentro de mosteiros, templos ou Ashram. Esses lugares são centros de sustentação da conexão com a Luz maior, mas a espiritualidade precisa se manifestar em todos

os segmentos da sociedade, da vida humana. Espiritualidade precisa se manifestar na ciência, na saúde, na educação, na economia, na politica, nas artes, e assim sucessivamente.“ * Foi um momento muito especial, de carinho por cada história contada. Entender como somos iguais e ao mesmo tempo únicos. Precisava voltar para casa. A vida me esperava. O cenário parecia ser igual. No entanto, algo havia mudado dentro de mim. Mas que eu só percebi quando me despedi de minha mãe, no momento de sua passagem, um pouco antes do Natal. Havia silêncio, presença e serenidade em meu coração. Passado dois meses deste retiro, pude escrever este depoimento e agora deixo com vocês a palavra do meu querido mestre Sri Prem Baba ao finalizar o retiro : “Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem cada passo da sua jornada. Que você possa experimentar o gosto doce da paz. Que você possa ser feliz. Que você possa ter suas necessidades atendidas. Que você possa se tornar um canal deste amor. Um canal do amor.” Prem Baba* *Muitos destes trechos podem ser lidos no site http://www.sriprembaba.org


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fotógrafo CARLOS MAGNO é um apaixonado pelos cantos e recantos do Estado do Rio de Janeiro. A pé ou de carro 4 X 4, já até perdeu as contas dos inúmeros roteiros que desbravou ao lado da família e amigos também encantados pela exuberância da natureza fluminense. Para os leitores de Plurale ele descortina o Parque Estadual da Serra da Tiririca, entre os municípios de Niterói e Maricá. “A trilha é relativamente fácil e a vista é incrível”, conta. Apesar de até crianças costumarem subir as pedras, Magno adverte, no entanto, que é preciso sempre fazer uma trilha segura e com guias experientes. “As indicações de placas estão degradadas e há sempre o perigo de pedras lisas.

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E n s a i o

FOTOS:

CARLOS magno

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Nunca devemos nos descuidar”, alerta. Há trilhas fechadas por motivo de segurança, mas a Trilha do Costão é acessível, desde que seguindo as orientações de quem está habituado com trilhas e guias experientes. Estas fotos mostram a diversidade e a beleza das praias de Itacoatiara de um lado e de Maricá do outro. Para mais informações sobre o Parque da Serra da Tiririca - http:// www.inea.rj.gov.br/Portal/Agendas/ BIODIVERSIDADEEAREASPROTEGID A S / U n i d a d e s d e C o n s e r va c a o / INEA_008600#/Sobreoparque 46

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Fotos

Carlos Magno

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Bazar

ético

fotos de DIVULGAÇÃO

Projeto e_ayiti, moda étnica Pedaços de tecido, fragmentos de ferros e cordas de telefone coloridas são transformadas em pulseiras e colares nas mãos habilidosas de artesãos do Projeto e-ayiti, inspirado no nome do Haiti na língua nativa, creole, lançado pelo Instituto-E. As peças e_ayiti são vendidas nas lojas Osklen desde fevereiro de 2014. Todos os acessórios da coleção são gravados com palavras, escolhidas pelos próprios artesãos em creole haitiano. Nas placas das pulseiras e colares aparecem mensagens como “beni” (abençoado), “mesi” (obrigado), e “espere” (esperança), esta última em braile. O projeto contou com um padrinho/ parceiro e tanto: Simone Cipriani _ italiano, da região da Toscana, que sempre trabalhou na indústria do luxo _ e idealizou o projeto Ethical Fashion Initiative (EFI), do International Trade Center. Estilistas globais famosas, como Vivienne Westwood e Stella McCartney, também apoiam o EFI, que procurou parceria no Brasil com o Instituto-E. Nina Braga, diretora do Instituto-E, explica que a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), presidida por Oskar Metsavaht, diretor criativo da Osklen e embaixador da Boa Vontade da Unesco, também apoia projetos no Rio de Janeiro. Como na Comunidade de Marambaia, em São Gonçalo e em outras comunidades. Nina explica que o Instituto-E “promove a união entre agentes da sociedade fomentando uma rede de parceiros com o objetivo de fomentar iniciativas que elevem o Brasil como referência de desenvolvimento humano sustentável”. SER V IÇO

http://institutoe.org.br/

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o tinad é des ria o ç a luntá e esp • Esdtivulgação véotnicos e s e à oduto ário d de pr rcio solid ivas, rat mé de co as, coope Gs. s N e r seO emp uiçõe instit

|

Sônia Araripe


Impressionado com o calor neste verão? Então se prepare. Mesmo mantendo a atual concentração de poluentes na atmosfera, a temperatura no Brasil aumentará de 2ºC a 3°C nos próximos 50 anos.

tinno

Fonte: Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (RAN1)

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Pelo Mundo

Você já se imaginou lado a lado com um gorila? Giuliana Preziosi, do blog Histórias pelo Mundo conta a sua experiência.

Uma aventura na selva com os gorilas africanos 50

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Por Giuliana Preziosi, do Blog Histórias pelo Mundo Fotos de Maurício Chichitosi De Bwindi Impenetrable National Park, Uganda

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www.historiaspelomundo.com/

a luta contra a extinção, os gorilas das florestas da África central representam uma das espécies mais ameaçadas do Planeta. Atualmente apenas cerca de 600 vivem nas florestas dos vulcões de Virunga, na fronteira de Uganda, Congo e Ruanda, e na floresta de Bwindi, no Sul de Uganda. Segundo último relatório da UNEP (The Last stand of the Gorilla), é possível encontrar dois tipos de gorilas na África. Os gorilas-das-planícies são os que vivem no Parque Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo, cuja a população estimada é cerca de 5.000 gorilas. E os gorilas-das-montanhas, que ficam Floresta de Bwindi e no Parque Virunga, cuja população gira em torno de 600 gorilas. Infelizmente, eles estão ameaçados por culpa da ação humana. Um filhote de gorila no mercado negro pode valer até 40.000 dólares. Além disso, a situação de pobreza, carência e falta de informação incentiva a população carente que vive nas proximidades a transformá-los em alimento. Outro problema é o avanço das mineradoras, madeireiras e carvoarias no habitat natural dos gorilas para construção de estradas. A boa notícia é que segundo as autoridades locais, a população de gorilas aumentou nos últimos anos em consequência do desenvolvimento e aumento do turismo nas áreas protegidas. A aventura na trilha para encontrar os gorilas é cara, custa 500 dólares por pessoa. O dinheiro é usado para preservação da floresta, da espécie e também para projetos sociais com a comunidade local. Tudo é muito bem organizado, mas a trilha é bastante imprevisível. O Histórias pelo Mundo foi até o sul da Uganda, no Bwindi Impenetrable National Park, para fazer a trilha dos gorilas. É preciso ter uma permissão especial do governo para acessar o parque e fazer a trilha. Chegando lá, fomos alertados sobre alguns pontos relevantes. A trilha pode levar de uma à nove horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rápido e estão espalhados pela floresta. Não é permitida a entrada de pessoas com al-

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Pelo Mundo

gum tipo de doença porque pode contaminar os gorilas. É preciso estar preparado fisicamente, pois são gorilas-da-montanha, isso significa que a trilha é repleta de subidas e descidas íngremes. Como não se sabe quanto tempo pode levar a aventura, é aconselhável levar no mínimo 3 litros de água por pessoa e também um lanche e alimentos leves. Além de capa de chuva, repelente e, claro, a máquina fotográfica. Só que para carregar tudo isso em uma trilha que pode ser bastante longa, não seria nada fácil se não fosse uma ideia muito bacana para ajudar a comunidade local. Você pode contratar um carregador para levar sua mochila, por cerca de 15 ou 20 dólares. São moradores da região, que estão habituados a andar na selva e fazem disto sua fonte de renda. Dessa forma, a população da região se vê

A trilha pode levar de uma à nove horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rápido e estão espalhados pela floresta. 52


FOTOS DE MAURÍCIO CHICHITOSI – HISTÓRIAS DO MUNDO

estimulada a preservar os gorilas, em vez de caçá-los para servirem de refeição. Ainda, há casos de pessoas que não aguentam a trilha depois de muitas horas de percurso e contratam pessoas para literalmente carregá-las no colo. Já esse “serviço” pode custar cerca de 500 dólares. A trilha começa às 7h da manhã, em grupos de oito a 10 pessoas. Cada grupo tem um ponto de início e faz um percurso diferente pela selva adentro. Todos os grupos têm o seu guia e mais dois guardas florestais ou “rangers” (como eles chamam) para garantir a segurança do grupo pela floresta. Além disso, há rastreadores (ou “trackers”) que vão na frente de cada grupo e que se comunicam por rádio para passarem as coordenadas de qual caminho percorrer na busca aos gorilas. Depois de todo esse briefing com orientações, eu diria um pouco assustadoras, iniciamos nossa jornada pela selva. Logo de cara, uma super subida na montanha. Quando estávamos na metade da montanha, recebemos a melhor notícia de todas: os gorilas estariam ali no topo da montanha. E não fazia nem 1 hora que estávamos na floresta! Ouvir isso foi quase como uma injeção de energia para chegar ao topo. Quando há indícios que os gorilas estão próximos, é preciso deixar as mochilas, água e demais apetrechos com os carregadores e seguir o caminho carregando apenas a máquina fotográfica. Isso é para não chamar a atenção dos gorilas com comidas e coisas do tipo, pode não ser seguro. Andamos mais alguns metros e lá estava uma família inteira de gorilas em cima das árvores.

Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos mostrem os gorilas como monstros ferozes, eles na verdade aceitam pacificamente a presença de humanos entre eles.

Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos mostrem os gorilas como monstros ferozes, eles na verdade aceitam pacificamente a presença de humanos entre eles. O macho estava comendo frutinhas no topo da árvore, a fêmea descansando em um dos galhos, e um gorila bebê passeando de galho em galho. Ficamos mais de 1 hora observando o comportamento deles, até sermos surpreendidos com uma fêmea grávida passando a menos de 5 metros de distância de nosso grupo. Nisso, o gorila macho grande e imponente (o “silver back”) desceu da árvore, como se quisesse nos cumprimentar e dizer “quem manda aqui sou eu!”. Tivemos muita sorte em tê-los encontrado tão rapidamente e fomos o primeiro grupo a retornar ao ponto de partida. Observá-los assim tão de perto dentro de

seu habitat natural foi uma das experiências mais incríveis que já vivenciamos. O Projeto Histórias pelo Mundo é uma expedição de 500 dias pelos 5 continentes que visa compreender os desafios e as oportunidades presentes neste Planeta em que vivemos. Fontes: Nellemann, C., I. Redmond, J. Refisch (eds). 2010. The Last Stand of the Gorilla – Environmental Crime and Conflict in the Congo Basin. A Rapid Response Assessment. United Nations Environment Programme. Endangered Species International http://www. endangeredspeciesinternational.org/ gorillas.html

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Nobel Peace Centre

Viagem

Pequena, adorável e sustentável

Oslo

Igreja Gol Stave Norsk Folkemuseum

Explore com Plurale a arrebatadora capital da Noruega que é sede do Prêmio Nobel da Paz, farta em história para explorar e indiscutivelmente moderna 54

Por Vivian Simonato, Correspondente de Plurale De Oslo, Noruega

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iante do imenso bosque que abraça o Palácio Real, onde as folhas amareladas pelo outono fazem contraste com as folhas verdes que ainda teimavam em permanecer nas árvores, começo minha aventura para explorar Oslo, a capital da Noruega. Bela nos mínimos detalhes, a Noruega também é reconhecidamente um dos melhores lugares no mundo para se viver. Prova disso é que o país está desde 2009 no topo do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia expectativa de vida, educação, renda per-capita, entre outros fatores, é incluído no Relatório de Desenvolvimento Humano e publicado anualmen-

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te pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. No entanto, não somente em termos de qualidade de vida o país se destaca. Nos arredores do Palácio Real está a Galeria Nacional, onde se encontra uma das versões do quadro O grito, o mais famoso do norueguês Edvard Munch. No museu Munchmuseet, dedicado ao artista, está a outra versão da obra que é conhecida mundialmente. Conhecer Oslo é relativamente fácil pelo fato de ser uma capital de porte pequeno. A Karl Johans Gate, que vai do Palácio Real a estação, é a principal rua da cidade e é passagem para muitos dos pontos turísticos. Partindo da região do Palácio Real e seguindo pela Karl Johans Gate até onde ainda é permitida a circulação de carros, está o Grand Hotel, famoso por hospedar os ganhadores do Nobel da Paz.


Palácio Real

Como não poderia ser diferente, assim como Martin Luther King Jr., Nelson Mandela e muitos outros, foi no Grand Hotel que a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai – que defende o acesso à educação para mulheres – , e o indiano Kailash Satyarthi, ativista na luta contra o trabalho infantil, se hospedaram em Dezembro de 2014, quando aconteceu a cerimônia de entrega do Nobel da Paz que foi dividido pelos dois anos passado. Uma curiosidade é que somente a premiação do Nobel da Paz acontece na Noruega, já que os demais “prêmios Nobel” são entregues em Estocolmo, Suécia, país de origem do seu idealizador Alfred Nobel. Nas proximidades da Karl Johans Gate, em direção à baía de Oslo, o prédio da Prefeitura e o do Nobel Peace Centre completam o tour do Nobel da Paz. No prédio da Prefeitura, que acontece a cerimônia de entrega do prêmio, é possível fazer uma visita gratuita. Já a visita ao Nobel Peace Centre é paga, mas, como era de desconfiar, vale muito à pena. Esse prédio não somente abriga a sede do comitê que avalia e decide sobre o prêmio Nobel da Paz, como também têm uma mostra permanente sobre a história do prêmio, seus ganhadores, um museu dedicado à vida do sueco Alfred Nobel, além de exposições periódicas ao decorrer do ano. As muitas opções de restaurantes, bares e lojas de grandes marcas estão localizadas a partir do meio da Karl Johans Gate, onde o acesso passa a ser exclusivo aos pedestres. É mais no miolo da famosa rua que também está localizada a charmosa Catedral de Oslo. Apesar de registros de que a cidade foi fundada em 1048 (sofreu um grande incêndio em 1654, sendo totalmente reconstruída) e ainda possuir muitos prédios antigos, Oslo também é

Norsk Folkemuseum Fotos de Pedro Freiria

Forte Akershus

Catedral de Oslo

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Viagem Opera House

Prédio do Parlamento

símbolo de modernidade. O melhor exemplo da moderna arquitetura fica por conta do prédio da Ópera de Oslo (Operahuset), que fica ao final da Karl Johans Gate, em direção ao porto. Inaugurado em 2008, o desenho de linhas retas do Operahuset convida seus visitantes à explorarem totalmente o prédio por suas ladeiras laterais que levam do mar ao seu topo e, de lá, têm-se uma das mais encantadoras vistas do Fiorde de Oslo do centro antigo e dos prédios modernos. Outra atração localizada à beira mar é a fortaleza Akershus, construída para proteger o porto, e que é extremamente bem conservada. Não muito longe das principais atrações do centro, localizado na península de Bygdøy, ficam o Museu do Navio Viking, que exibe três embarcações originais – Oseberg , Gokstad and Tune –; o Museu Fram, construído especialmente para abrigar o navio Fram e contar a história dos exploradores nórdicos, e o imperdível Museu do Folclore Norueguês ou Norsk Folkemuseum. Fundado em 1894, este último é o maior museu de história cultural da Noruega e um dos maiores museus a céu aberto da Europa. O Museu do Folclore impressiona não somente por reunir artefatos de

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todo país, mas, também, casas e edifícios que foram transportados para o local com intuito de ter em um só local elementos que representassem como as pessoas de diferentes regiões, épocas e classes sociais da Noruega viviam a partir de 1500 até o presente. O museu ainda abriga cinco prédios medievais, dos quais o mais importante, e antigo, é prédio da Igreja Gol Stave, que data de 1200, é totalmente feito em madeira e entalhado à mão. Tanto cuidado em colocar num só local tantos elementos históricos já ganha a ad-

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miração dos visitantes. No entanto, o encantamento é extrapolado quando, por curiosidade, abrimos uma das portas das antiguíssimas casas de madeira, cujos telhados são repletos de grama, e, sem esperar, é possível presenciar atores replicando o dia a dia dos tempos antigos seja tocando instrumentos ou terminando de assar o kringla, pão doce norueguês, que é oferecido aos visitantes deixando na memória um sabor de quero mais e a promessa de voltar a este país fascinante.


Escuridão sim, mas com muito brilho, segurança e responsabilidade Por Mônica Fonseca Pinho, Especial para Plurale De Stavanger, Noruega

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ara quem aterrissa em solo viking no Verão, quando o sol nasce às 5 da manhã e só se põe às 23h30min, tudo parece uma festa! Mas os meses vão passando e quando chega Novembro a gente se dá conta que o dia ficou curtinho - é o tal período da “Escuridão”, que só vai acabar no final de Fevereiro. Até então, o sol nasce às 9 horas e se põe entre 15 e 16 horas aqui em Stavanger, no sudoeste da Noruega. Por isso, os noruegueses se preparam com bastante antecedência para os meses de chuva, neve e pouca luz. Já no Outono comecei e ver a movimentação. As pessoas estocam lenha para as lareiras, tomam muita vitamina D e ômega 3 para evitar a depressão causada pela ausência prolongada da luz do sol, trocam os pneus do carro pelo jogo próprio para neve e gelo e compram muito líquido anti congelante para os para-brisas dos carros e as caçambas de sal são abastecidas (para descongelar o gelo das estradas e ruas). Além disso, existem campanhas de segurança para fazermos uso de roupas e acessórios reflexivos. Não importa se está escuro, chovendo ou nevando, os noruegueses mantém a sua rotina normalmente. Nada disso é problema desde que observadas as “regras do Inverno”: se você é um ciclista, muita luz na retaguarda e capas reflexivas para as mochilas. Se gosta de correr, caminhar ou mesmo se está na rua, utilize sempre as pulseiras e tornozeleiras reflexivas e ainda os acessórios reflexivos afixados nas mochilas. E pra não escorregar no gelo das trilhas e calçadas, existem umas garras próprias para tênis e sapatos (ice greepers). Já para as crianças que saem pela manhã das escolas pra tomar frisk luft (ar fresco) nos parques, é obrigatório o uso dos coletes. Eles parecem uns bonequinhos! O mesmo acontece com os trabalhadores de rua, todos com roupas especiais para o frio e coletes reflexivos para se tornarem bem visíveis a qualquer hora do dia. E não seria diferente com os animais - cães e cavalos da guarda montada. É bem verdade que no Inverno temos tendência a hibernar, principalmente nas casas norueguesas, lindos chalezinhos de madeira, bem equipados com aquecedores e lareiras pra driblar o frio. Dá vontade de ler todos os livros pendentes e assistir a todas as séries de TV, acompanhadas de chocolate quente e guloseimas pecaminosas. Mas a vida segue lá fora...mesmo com os temporais, nevascas, fortes ventos e breves e raras aparições do astro rei. O espírito de luta e força do povo norueguês é um exemplo para todos os imigrantes. Apesar de toda a escuridão, quem não se sente iluminado?

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P e las Em pr esas

ISABELLA ARARIPE

Curso de Comunicação para integrantes do Diálogo Jovem

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Diálogo Jovem, projeto da Fetranspor Social, começou 2015 com várias novidades: cursos, lançamento da plataforma digital, encontros e visitas às empresas, além de mais jornais produzidos pelos jovens sobre temas importantes para a mobilidade. Entre janeiro e fevereiro foram oferecidos aos jovens dois cursos sobre comunicação que podem apoiá-los nas atividades nas empresas, nos meios onde estão inseridos e na vida: um sobre a influência da comunicação no dia a dia e outro sobre jornalismo cidadão. Ambos tiveram como objetivo fornecer ferramentas para argumentação estratégica sobre mobilidade e valorização do transporte público. O projeto Diálogo Jovem sobre Mobilidade foi idealizado pela área de Responsabilidade Social da Fetranspor em 2012 diante da necessidade de ouvir a voz dos jovens de diferentes áreas do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é dar à juventude a oportunidade de dialogar e relatar experiências através de uma visão positiva do sistema de transporte. Por meio de dinâmicas

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participativas, o programa traz os jovens ao debate para que discutam o tema junto com diversos grupos e proponham ideias para as diferentes situações que vivenciam.

Grupo Boticário é destaque no Prêmio Época Empresa Verde divulgação

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FIRJAN lista medidas para minimizar a crise hídrica e seus impactos na indústria fluminense

Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro enviou ao governador do Estado, Luiz Fernando Pezão, no dia 24 de fevereiro, sugestões de medidas para minimizar as consequências da crise hídrica, e preparar a população e as indústrias para o enfrentamento de um período prolongado de escassez. O setor industrial, responsável por 827 mil empregos diretos, já vem fazendo sua parte: nos últimos dois anos, 56,7% das indústrias fluminenses adotaram ações de racionalização do uso

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Grupo Boticário está entre as empresas mais sustentáveis do país, segundo o Prêmio Época Empresa Verde – iniciativa que premia as melhores companhias na preservação do meio ambiente – divulgado em dezembro de 2014. A organização foi Destaque Especial no prêmio, com a iniciativa de redução do consumo de energia elétrica na planta de São José dos Pinhais e pela compra de crédito de logística reversa da BVRio. “Para o Grupo Boticário, a sustentabilidade permeia todas nossas decisões e processos, desde a pesquisa e desenvolvimento de nossos produtos aos processos de logística reversa, e estar neste prêmio é mais um exemplo que estamos no caminho certo para a manutenção do negócio de forma que contribua para a preservação dos recursos naturais do planeta”, afirma a gerente de sustentabilidade do Grupo Boticário, Malu Nunes.

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água, o que levou a uma redução de 25,6% no gasto de água nesse período. Os dados são de uma pesquisa recente realizada pela FIRJAN. Desde o início do ano passado, o volume de água dos quatro reservatórios localizados no Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 75% do estado do Rio, vem diminuindo e ameaça o fornecimento constante de água para mais de 12 milhões de pessoas e mais de 3.800 indústrias, somente no território fluminense.


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Coca-Cola abre mais de 2 mil vagas para curso de varejo no Rio

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Coletivo Coca-Cola está com inscrições abertas para o curso de formação na área de varejo no Rio de Janeiro. Dezenove unidades estão oferecendo, ao todo, 2.134 vagas. Para se inscrever é preciso ter entre 15 e 25 anos e concluído ou estar cursando o ensino médio. Os jovens interessados podem fazer a pré-inscrição no site www.coletivococacola.com.br, onde é possível conhecer o passo a passo para efetivar a matrícula. O curso

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tem duração de dois meses e novas turmas iniciando a cada três meses. O Coletivo Varejo capacita jovens e mulheres de comunidades urbanas de baixa renda e os encaminham para o mercado de trabalho formal. Mais do que capacitação, o Coletivo Varejo busca transformação social e aumento de autoestima. Ao final do curso, os jovens são direcionados para processos seletivos em empresas parceiras da Coca-Cola ou podem buscar colocação profissional em qualquer empresa do mercado.

Universidade Veiga de Almeida apoia o projeto Vida sem Barreiras

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egundo dados do IBGE, até 2008 o Brasil possuía 26 milhões de pessoas com alguma deficiência ou com mobilidade reduzida. Aprofundando-se nesta questão, o projeto Vida sem Barreiras, da Universidade Veiga de Almeida (UVA), iniciou um estudo para melhorar o cotidiano de diversos grupos. Atualmente, a equipe desenvolve pesquisas para sugerir soluções aos portadores de nanismo. O objetivo é analisar e promover um levantamento das principais dificuldades que um anão possui no seu dia a dia, principalmente em casa e no trabalho. A partir disso, desenvolvem-se sugestões de estratégias que podem diminuir tais dificuldades, como roupas e casas adaptadas. Além de Design de Moda, a área de Design de Interiores contribui nessa inclusão dos afazeres diários. Alguns artefatos vêm sendo testados para permitir que pessoas com nanismo tenham mais mobilidade e independência em suas casas e em quaisquer outros espaços físicos. O Vida sem Barreiras existe há oito anos e a primeira linha de pesquisa foi em favor dos idosos. Mais informações: www.vidasembarreiras-br.blogspot.com .

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Adequação de apartamento para casal apenas um deles é portador de nanismo

Com bikes e flores, Itaú celebra os 450 anos do Rio

ara celebrar os 450 anos do Rio de Janeiro, as bicicletas do Bike Rio, projeto apoiado pelo Itaú, amanheceram floridas neste domingo, dia 1º de março. Nas cestas das cerca de 2.500 laranjinhas foram colocados buquês de flores brancas e um cartão com uma mensagem de parabéns ao Rio. “Essa ação foi uma forma de homenagear a cidade e seus 450 anos. O Rio foi onde iniciamos, em 2011, nosso projeto de mobilidade urbana e que hoje

está presente em outras seis regiões. Desde o início, os cariocas sempre olharam o Bike Rio com muito entusiasmo e nos receberam de braços abertos. Investir em mobilidade urbana faz parte da nossa estratégia de transformar o mundo das pessoas para melhor”, diz Luciana Nicola, Superintendente de Relações Institucionais e Governamentais do Itaú Unibanco. A ação, desenvolvida pela agência Africa, contou com a Flores Online como parceira.

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Carla Martins

Sustentabilidade Tecnológica tro dessa nova cadeia evolutiva há uma preocupação: como tornar a tecnologia sustentável ?

Contemporâneo é a melhor palavra para expressar a vida Humana. E, neste sentido, não podemos deixar de citar as tecnologias como aliadas indispensáveis, derivando de processos que nos legaram o desenvolvimento sem volta – para o Planeta e para os Humanos.

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certo que me refiro a tecnologias que tiveram o condão de unificar todas as sociedades em diferentes pontos do Planeta; ou seja, criaram um Mundo Globalizado. Traduzido em parafusos, chips, fios, peças de metais raros ou comuns, o fato é que o desenvolvimento e aplicação de tantos materiais dentro de uma grande e complexa estrutura nos leva concomitantemente à junção de ideias, estudos e de novas tecnologias, de modo a permitir a interação, com a instantânea comunicação, deslocamentos e conhecimentos, que traduzem em passado, rapidamente, todos os dias quando um técnico, cientista, pesquisador, descobre ou inventa algo novo para o presente e para o futuro. Mas den-

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Sustentabilidade Tecnológica é a maneira mais correta e viável de Preservação Ambiental, em todos os seus contextos, ao utilizar os meios de monitoramento via satélite, as transmissões de informações em tempo real e o intercâmbio com técnicos e conhecedores do mundo inteiro para trocas de conhecimentos. Mais que adequação, é uma necessidade que se impõe para que o Meio sobreviva. Num planeta habitado por seres classificado como Humanos, e que ao longo da história vem demonstrando que para sobrevivência e perpetuação da sua espécie, tem-se a necessidade do usufruto dos Recursos Naturais existentes na Terra, é indispensável se pensar em sustentabilidade. Assim, com a evolução natural da raça humana, houve também o crescimento geométrico da população que, sem programação, produziu um preocupante déficit na reserva de recursos naturais. A crise hídrica que assistimos hoje em todo o Brasil e em outros lugares do mundo (como o estado da Califórnia, nos EUA, e áreas desérticas que aumentam) acionam o Sinal Vermelho para uma urgente necessidade de reavaliarmos os recursos naturais e seu uso, em nível planetário. É imperioso a contabilização dos recursos finitos e a readequação do consumo de matérias-primas básicas, para sus-


tentar o conforto da vida moderna. Sintonizando-se com o mundo moderno, é obrigatório a todo ser humano consciente ‘fazer mais com menos’. Mais produtividade, mais reutilização de materiais e menos, muito menos extração de recursos naturais. Seria tudo uma questão de “vontade política”, então ? Vontade somente ? Apenas com esta palavra não seria possível salvar nosso Meio Ambiente, seja o Terrestre ou o Espacial. O que vai resolver são ações práticas da Sociedade Global aliadas às Tecnologias. Isto sim deve ser a melhor opção para as Degradações Naturais ou Antrópicas. As tecnologias servem de alicerces para tomadas de decisões, pois conseguem demonstrar fatos e trazer informações em tempo real, prevenindo situações que de alguma forma poderiam ser traduzidos em resultados positivos ou negativos para a Sociedade, não importando seu grau de classificação. Viver ou sobreviver? Este é ‘um dilema’ que em algumas regiões do planeta interfere diária e diretamente na vida das pessoas. Muitos seriam os exemplos: vulcões, furacões, tempestades, maremotos, contaminações diversas, desmatamentos, poluição, lixos espaciais, degradação de nascentes, resíduos urbanos, resíduos eletrônicos, enfim entre muitos outros, inúmeras variáveis podem colocar em risco a qualidade de vida do ser humano. Qualidade é a fonte máxima que um ser humano precisa para garantir uma longevidade, neste caos global desenfreado, que vem diariamente interferindo na vida psicológica e física, resultando numa Sociedade com desequilíbrios emocionais ligados diretamente ao meio em que vivem. O advento das novas tecnologias permitiu a empresários, governo, entidades e usuários criar uma rede tecnológica, propiciando algumas vertentes entre o bem e mal. A regulamentação seria uma barreira que hoje devemos nos atentar, visto que muitas destas tecnologias ainda não estão definidas legalmente, a exemplo do DRONES, nossos ‘espiões’ urbanos e rurais, criados para dar amplitude aos olhos humanos. Hoje em dia segue criando polêmicas e dúvidas quanto a real utilização deste equipamento, que além da sua clara utilização para o monitoramento em grandes áreas é muitas vezes perigoso também.

Poderíamos até começar a pensar em segurança pública tecnológica, e como atender aos requisitos legais sem ferir a Constituição Federal no que segue: ‘Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...’ Como devemos unificar o Meio Ambiente Digital com os Direitos básicos para com a sociedade e permitir que este desenvolvimento possa ser utilizado por todos com segurança? Uma questão muito interessante a ser abordada na tecnologia é o comportamento humano, como as pessoas reagem frente a estas inovações tecnológicas, como por exemplo a cyberfobia (medos desenvolvidos por computadores) e technoestress (falta de habilidade para acompanhar as evoluções tecnológicas), como trabalhar com o psicológico de uma sociedade cheia de costumes e alguns pré-conceitos, mas que necessita de inserção em um Globalizado tecnológico.

O humano poderá atingir o status de um Ser intimamente sustentável visto que a tecnologia foi transportada para dentro do nosso corpo, seja através dos já conhecidos transplantes que utilizam vários materiais ou como a última tecnologia inventada os chips. Isto mesmo !!! Homens, mulheres e crianças já são “chipados”, com materiais criados para rastreabilidade, segurança e monitoramento em tempo real. As indagações que se seguirão são de ordem moral, ética e legal acerca do meio em que estamos inseridos. O desafio agora é reunir as premissas espirituais, tribais e sentimentais em único chip que nos trará mais conforto e adaptabilidade à vida moderna, sem gastar o planeta de forma mesquinha e exagerada. Carla Martins é colunista de Plurale. Comendadora, Presidente da Comissão de Ítalo Brasileira para desenvolvimento Jurídico Ambiental, Mestranda na área de Direito Ambiental .

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VIDA Saud ável Açúcar de coco

Já ouviu falar em açúcar de coco? Esta é a novidade em lojas de produtos naturais. Segundo nutricionistas, é mais nutritivo e saudável que os outros adoçantes, possui elevada quantidade de potássio, magnésio, zinco e ferro, fonte natural de vitaminas B1, B2, B3 e B6, além de seu índice glicêmico (Gi=35) ser muito mais baixo que o açúcar de cana (Gi=68). O produto pode ser usado em substituição ao açúcar em receitas de doces, bolos etc, apresentando semelhança física com açúcar mascavo.

5º Congresso Vegetariano Brasileiro será realizado em Recife O Vegfest (5º Congresso Vegetariano Brasileiro) ocorrerá em Recife nos dias 23 a 26 de setembro de 2015 e já conta com a confirmação de um dos maiores ícones mundiais do movimento de direitos dos animais: Tom Regan. Tom Regan, hoje com 76 anos, é professor emérito de filosofia na North Carolina State University e tido como o pai da filosofia dos direitos animais. A publicação de seus livros “The Case for Animal Rights” (1983) e “Jaulas Vazias” (2005) foram marcos imprecedentes para o movimento de direitos dos animais e trouxeram atenção para o tema em inúmeros meios acadêmicos e sociais. Em alguns dos seus estudos, Regan argumenta que animais não-humanos são “sujeitos de uma vida”, tais quais os humanos, no sentido de que sua vida importa para eles.

Hit do momento: alho negro Saboroso, exótico e ainda ajuda a queimar calorias. Que tal? O hit do momento para vários chefs é o alho negro que tem sido utilizado para temperar e elaborar saladas e risotos. O alho negro ajuda no processo de perda de gordura. Nutricionistas explicam que uma das principais características dele, é o aumento da temperatura corporal, estimulando o sistema nervoso, que acelera o metabolismo basal. Com o metabolismo mais acelerado, o corpo é capaz de queimar mais calorias, e consequentemente perder mais peso. Quem quiser pode achar o produto pela Internet no site http://alhonegrodositio.com.br/.

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Papinhas orgânicas para bebês Boa dica para as mães que estão cansadas de só encontrar comidas industrializadas e pouco nutritivas para seus bebês. Pensando naqueles que não têm tempo de cozinhar e desejam alimentos de qualidade para seus filhos, Rafael Almeida e sua mãe, Dulce Almeida, fundaram a loja virtual Papinha Gourmet (www.papinhagourmet.com.br). O site vende papinhas caseiras feitas com produtos orgânicos no Rio de Janeiro. Com experiência no ramo de comidas congeladas, os criadores da Papinha Gourmet já pensavam em entrar para o segmento infantil. A ideia concretizou-se quando Rafael soube que sua esposa estava grávida da Bruna, hoje com um mês de vida. “Queria garantir que minha filha se alimentasse somente com produtos saudáveis, livres de agrotóxicos, conservantes ou corantes”, conta o empreendedor, que passou a produzir e comercializar papinhas no início do ano.



CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r DIVULGAÇÃO

Despertando talentos para a Animação Com patrocínio da Chemtech, criado pela Baluarte Cultura em parceria com o Copa Studio, o projeto Estúdio Escola de Animação (EEA) quer divulgar a linguagem da animação e despertar a atenção de jovens e adolescentes que cursem o ensino médio na rede pública de ensino, para um novo universo profissional. Em sua quarta edição, ele chega ao Rio em março onde passará por dez apresentações interativas – batizadas de Animation Shows- de ensino, divulgando detalhes do universo da animação para aproximadamente dois mil estudantes. Em seguida, 45 jovens serão selecionados através de avaliação de portfólio e entrevistas, para um curso de

Em busca da sustentabilidade

formação gratuito, com duração de cinco meses, duas vezes por semana, carga horária de 160 horas, em três turmas diferentes. As aulas ficarão a cargo de profissionais do mercado que em oficinas práticas ensinarão aos alunos técnicas e o processo de produção de um vídeo de animação. Nesse período, cada turma realizará pelo menos um curta de três minutos, em média.

Desafio aos cineastas do mundo Realizado no Reino Unido, Colchester Film Festival hospeda o Film Challenge 60hr que é quase uma gincana para cineastas de todo mundo. Aqui também o objetivo é descobrir novos talentos. Eles são desafiados a escrever, filmar e editar um filme de no máximo cinco minutos em apenas 60 horas. Aos realizadores é

dado um título, uma linha de diálogo ou uma proposta de ação que deve ser incluída ao filme. O gênero é livre. O FilmChallenge acontece de 2 a 5 de outubro de 2015. Finalistas e vencedores são premiados. Os dez melhores filmes serão exibidos no Colchester Film Festival no dia 25 de outubro de 2015.

Documentário para conquistar veganos A pegada ecológica causada pela agricultura animal é o tema de “Cowspiracy”, documentário realizado pelos americanos Kip Andersen e Keegan Kuhn. O título é um trocadilho entre as palavras vaca (cow) e conspiração (conspiracy). A partir de dados do Worldwatch Institute que revelam que 51% das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa são causadas pela pecuária e atividades afins, os cineastas questionaram vários ambientalistas a respeito. ONGs como o Greenpeace tiveram que responder o motivo de não darem atenção ao assunto. É possível assistir o documentário no site http://www.cowspiracy.com/ pagando a quantia de US$ 9,95.

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O Projeto Setorial FilmBrazil levará dez produtoras brasileiras para participar de reuniões com importantes agências de Nova Iorque e Chicago, nos Estados Unidos, a fim de divulgar seus trabalhos no mercado internacional. Realizado pela APRO – Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais em parceria com a Apex-Brasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ação é inédita nos Estados Unidos e tem como objetivo promover o país como polo de produção audiovisual.

Inscrições para festival de cinema ambiental em Portugal DIVULGAÇÃO

O CineEco’2015 – 21º Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, Portugal que acontece dos dias 10 a 17 de Outubro de 2015, está com as inscrições abertas até 1 de junho para produções realizadas em 2014 ou em 2015. As competições ocorrem nas seguintes categorias: Internacional de Longas e Médias-Metragens (não inferiores a 40 minutos); Internacional de Curtas-Metragens e séries e reportagens televisivas; Lusófona para Longas, Médias e Curtas-Metragens, incluindo uma categoria Regional; Nacional e Internacional de documentários, séries e reportagens, produzidas por canais de televisão. Sempre dentro da temática ambiental. Interessados em obter mais informações podem entrar em contato pelo e-mail filmescineeco@gmail.com.



I m a g e m Foto:

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Pedro Tojal/Revista Surfar

morte do jovem surfista campeão Ricardo dos Santos, de 24 anos, em Palhoça, na Grande Florianópolis, em janeiro, por um policial militar durante uma discussão, chocou não só moradores locais mas toda a comunidade que pratica o esporte. Especialista em ondas grandes e tubulares, o atleta, que nasceu e cresceu na Guarda do Embaú, conquistou diversos títulos. Foi assassinado, durante uma discussão, com três tiros – um pelas costas- por um policial militar na frente de seu avô. Surfistas brasileiros e de outras nacionalidades prestaram uma homenagem ao colega no Havaí. A foto de Pedro Tojal, da Revista Surfar, gentilmente cedida para os leitores de Plurale, mostra esta bela e triste cerimônia.

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