Plurale em Revista - Ed 56

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ano dez | nº 56 | março / abril 2017 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

O ENGAJADO JOSÉ CARRERAS E A TERAPIA PELOS SONS ARTIGOS INÉDITOS

A BIODIVERSIDADE DA

SERRA DO TOMBADOR

FOTO DE ANDRÉ DIB/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA - SERRA DO TOMBADOR (GO)

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INSTITUTO IPÊ/ DIVULGAÇÃO

NATASHA SOBANSKI, FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO

Contexto

Bazar ético

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26. 14

Serra do Tombador, expedição ao Cerrado GIULIANA PREZIOSI

ARTIGOS INÉDITOS:

por Giuliana Preziosi, Clóvis Borges e Gílson Burigo Guimarães, Ingo Plöger e Nélson Tucci ISABELLA ARARIPE - PLURALE

34.

TOM CORREIA

Banco Rio de Alimentos – Dezesseis anos de combate

à fome e ao desperdício de alimentos com inovação social ILUSTRAÇÃO DE RAFAEL DANTAS

38

O cercamento às veredas, Cabo da Roca, Portugal, por Tom Correia

por

50 O engajamento do tenor José Carreras na causa da leucemia, por Maurette Brandt

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

Hélio Rocha

DIVULGAÇÃO

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Terapia com sons, por Lou Fernandes

Prem Indira


E ditorial FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO

Lou Fernandes Prem Indira (a segunda da foto da esquerda para a direita) testou a terapia dos sons de taças terapêuticas, criada pelo alemão Peter Hess, a convite da terapeuta Regina Santos (na foto, agachada

JEAN PIERRE

Pesquisadores da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza estiveram em expedição na Serra do Tombador (GO) e nos contam a riqueza da biodiversidade da região.

VERDAGUER

A nossa colaboradora Raquel Ribeiro fala sobre o recém-lançado livro infantil sobre o ciclo da água. O jornalista, escritor e fotógrafo Tom Correia apresenta as falésias do Cabo da Roca, em Portugal que inspiraram Camões.

Expedição à Serra do Tombador (GO), Cabo da Roca (Portugal), Guimarães Rosa, José Carreras, Ciclo da água para crianças, terapia dos sons e muito mais Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

Se tem algo que deixe um pesquisador da biodiversidade animado é “ir a campo”, como costumam dizer. Com um Brasil tão vasto, há opções incríveis para exercitar esta paixão. Pesquisadores da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foram à Serra do Tombador, em Goiás, para mapear e estudar melhor a biodiversidade do Cerrado. Colheram muitas informações e produziram um diário de bordo, com lindas fotos aqui compartilhadas com os leitores de Plurale. Em Minas, o repórter Hélio Rocha – como nós, um apaixonado pela obra de Guimarães Rosa – aproveitou a efeméride dos 60 anos da morte do incrível escritor para nos desvendar por onde andam buritis e veredas tão suavemente apresentados nos livros dele. Uma matéria sensível e impactante. Também de Minas, mas da região do chamado “Circuito das águas”, a jornalista e advogada Maria Augusta de Carvalho denuncia confusão na exploração de águas minerais. No Rio, o jovem Rafael Duarte fo-

tografou e filmou toda a Trilha Transcarioca, que serpenteia as montanhas em meio ao caos urbano do Rio de Janeiro. Outro amante das imagens, o baiano Tom Correia , fotógrafo, jornalista e escritor, agora em território ultramar: clicando pessoas e cidades em Portugal, apresenta o famoso Cabo da Roca, que inspirou outro escritor célebre, Luís de Camões a escrever o verso onde a terra se acaba e o mar começa. As falésias, o vento sobre a vegetação, o farol e o silêncio das pessoas vislumbrando o Atlântico que indica o caminho para as Américas formam um conjunto de rara composição. Estivemos ainda no Rio conhecendo a incrível experiência do Banco Rio de Alimentos, programa do Sistema Fecomércio RJ. São dezesseis anos de combate à fome e ao desperdício de alimentos, com inovação social e receitas saborosas. Artigos inéditos de temas atuais – como a questão da Operação Carne Fraca, o “compliance”, a inserção de empresas no cenário global e a Teoria do U também compõe esta edição. Esperamos que apreciem.

Nossa colaboradora Raquel Ribeiro, de Florianópolis, sempre engajada em boas causas, acaba de lançar livro infantil sobre o ciclo da água e conversa com Jean Pierre Verdaguer sobre a obra. Não é só. Trazemos também matéria emocionante de Maurette Brandt sobre o engajamento do super tenor José Carreras, através da Fundação que leva seu nome, engajada na causa da leucemia e o trabalho de especialistas do banco de medula óssea, o Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea). No Rio, a Mestra em Ciência da Saúde e jornalista, Lou Fernandes Prem Indira, apresenta a terapia pelos sons de taças terapêuticas, em método lançado pelo engenheiro físico e pedagogo alemão Peter Hess. De acordo com o pensamento oriental, o homem foi criado pelo som, ou seja, ele é som e, portanto, emite uma vibração. Ela testou a experiência e nos conta o que sentiu. Sem falar nas colunas de turismo sustentável, de Isabella Araripe, do cinema verde, por Isabel Capaverde e muito mais. Boa leitura!

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Quem faz

Cartas

“Cara Sônia,

obrigado! Goiás Velho (por Paulo Lima)

Diretores Coca-Cola Brasil devolve Sônia Araripe para o meio ambiente soniaararipe@plurale.com.br o dobro de água que usa em suas fábricas. Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br

ano nove | nº 55 | janeiro / fevereiro 2017 R$

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

TAILÂNDIA: RELIGIOSIDADE E ENCANTOS ARTIGOS INÉDITOS

DE PEDRO FREIRIA

PETISCOS NATURAIS PARA ANIMAIS

TEMPLO WAT POH, BANGCOC, TAILÂNDIA, FOTO

PLURALE EM REVISTA – JAN/FEV 2017 – N°55

Saiba mais em: cocacolabrasil.com.br

Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook:

e Chapada dossatisfação Veadeiros são dois É sempre uma grata receber esta publicação oito anos abre espaço para lugaresque quehátrago no coração com as o diálogo entre empresas, especialistas e a melhores lembranças dos passeios que sociedade, o objetivo promover osrefiz comcom Eliana, minhadeesposa que bons exemplos de preservação do meio centemente partiu. Gostei imensamente ambiente. Parabéns a todos os profissionais de vê-los de novo navida Plurale. envolvidos e votos de uma longaObrigado, e amiga. àParabéns vitória, número a sustentável Plurale empela revista.” número.”

http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale SUA SEDE MOVE A NOSSA.

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de restauração e conservação de bacias Este é o resultado do apoio a programas nas fábricas. Ainda há muito a ser feito, hidrográficas somado à eficiência e reúso que bebe um produto Coca-Cola Brasil, mas você já pode ter certeza: cada vez com o uso responsável da água. está escolhendo uma empresa comprometida

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Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Alex Rodrigues (Agência Brasil) André Dib e Natacha Sobanski (da Fundação Grupo Boticário de Apoio à Natureza), Cela Luz (de Nova York), Clóvis Borges , Gilson Burigo Guimarães, Giuliana Preziosi, Hélio Rocha, Ingo Plöger, Jean Pierre Verdaguer, João Vitor Santos e Moisés Sbardelotto (IHU), Karine Fajardo (Senac-RJ), Lou Fernandes Prem Indira, Luiz Oswaldo Grossmann (Portal Convergência Digital), Maria Augusta Carvalho, Maurette Brandt e Guida de Finis (fotos de José Carreras), Nélson Tucci, Paula Piccin (Instituto Ipê), Rafael Dantas (Ilustrações), Rafael Duarte (Bambalaio) e Tom Correia (de Lisboa)​. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

06/12/16 16:50

Roberto Saturnino Braga, por eMiguel Krigsner – Fundador do Grupo Boticário daRio Fundação Grupo(RJ) -mail, edo de Janeiro Boticário de Preservação da Natureza, Curitiba (PR), por pessoa e-mail feliz. Por anos “Pense numa

“A Edição 55, de janeiro/fevereiro de Plurale em revista está ótima! Desde essa foi uma fonte de consulta e “Em nome da Associação dos Analistas e a impressionante história da ativista informação superimportante para o Profissionais de Investimento do Mercado de social Monica Evelle, em entrevista paraCapitais meu(Apimec trabalho - sim, eu trabalhava SP), parabenizo toda a Rosenildo Ferreira (do Portal 1 Papo e muito no tal corporativo. equipe de Plurale pormundo seus oitos anos de Reto) e a matéria O Empreendedorismo atividades Mas ae,vida muda, o país muda e de acima de tudo, pela seriedade e do vi serviço sociedade, Social é um Negócio, que me deu uma qualidade repente que prestado poderia àrealizar um de temas relevantes quanto injeção de ânimo para ir adiante com ao tratar sonho. E quetão saberia fazer bem feito sustentabilidade e meio ambiente. Que meus projetos pessoais, nos mostra e nem escrito. Afinal, quantos jobs eu venham muitos outros anos!” o valor de fazer algo e gerar resultado já escrevi na vida? Mais de mil, com Ricardo Tadeu Martins , Presidente com isso. Outra excelente matéria da da certeza. E sempre ouvia(SP), de quem Apimec SP, São Paulo por Vivian Simonato e fotos de Pedro Freiriae-mail trabalhava ao meu lado que eu seria sobre a Tailândia - fascinante, belas uma ótima redatora publicitárias. historias e lindas fotos. Esse lugar é “Deslumbrante natureza da Serramas do Cipó , Ainda nãoaacredito nisso, fiquei pela Ana Cecília e Artur Vidaurre, na um sonho de viagem! Eu tive a opor- retratada tão feliz quando a Sônia Araripe, uma 49 desta prestigiosa que30 anos tunidade de viajar para alguns lugares edição superjornalista com revista mais de conheci. Parabéns à toda exóticos e realmente a quantidade de recentemente de experiência em jornais e estando equipe de Plurale! Como mineiro nunca havia histórias que estão ao nosso redor e’ dado como editora da Plurale, falou a devida importância, apesarme de ter visto praticamente infinita. Eu admiro esta amoudeogeografia Blog que merecia falarque em aulas nosele anos 60 sobre habilidade de transpor essa vivência e esseuma nota na revista. A priparque ambiental; comoGratidão! temos belezas transformar em uma matéria. Parabéns naturais emnota nosso e desconhecemos, meira a país gente não esquece.” situação estádo sendo resgatada por Estôesta pela qualidade da revista!” Tais que Reis, Blog Beijo no dedicada ao meio ambiente e ecologia. Eduardo Galeazzo, de São Bernar- revista mago, pelo Facebook, do Rio de Parabéns por abraçarem tão nobre missão e do do Campo (SP), por e-mail Janeiro (RJ) pelos 8 anos de edição e sucesso. Agradecido por vislumbrar tão bela revista. ”

“Parabéns Nicía, pelo importante artigo “Muito obrigada pela divulgação, no na Edição 55 de Plurale em revista, so- Benedito Bazar Ético da Edição 55 de Plurale em Ari Lisboa, engenheiro, São bre alimentação natural para os animais.José revista, dos produtos loja virtual do dos Campos (SP),da por e-mail Muito bom contar com uma revista, que Projeto Guri” “Letícia Spillerda tornou-se a “embaixadora” da acredita numa vida mais saudável e Equipe Máquina da Notícia, Desmatamento Zero, do incentiva o uso de produtos orgânicos, campanha assessoria de imprensa do Projeto Greenpeace Brasil. Em entrevista na Edição para todos!” Guri, por e-mail, de São Paulo (SP) 50 de Plurale em revista, comemorativa de Cristina Zappa, por e-mail, do Rio oito anos, a atriz revelou que sua preocupação de Janeiro (RJ) pelos 10 anos. Bela com“Parabéns as causas ambientais é antiga. Elacapa e sobre a Tailândia na Edição 55.” outras atrizes e atores falam sobre o “Adorei a nova Edição 55 de Plurale, es- engajamento causas jornalista, sociais e ambientais. Antônionas Libório, pelo à querida Sônia e equipe(RJ) pecialmente conhecer a história incrível Parabéns Facebook, do RioAraripe de Janeiro de Monique Evelle e também a matéria pela matéria e pelos oito anos de Plurale!” Anna Maria Ramalho, jornalista, do Rio de capa da Tailândia. Parabéns” “Estou realizando uma proposta pede Janeiro (RJ), por e-mail Silva Kaczan, por e-mail, do Rio dagógica na escola em que trabalho. de Janeiro (RJ) Adorei o material de Plurale. Parabéns “Sônia: viva, amiga querida! Eu sei que não é tema para e iniciativa!” fácil;pelo parabéns, você e todos os que fazem “Querida Sônia, fiquei orgulhoso de Adaílton, site, essaProfessor bela revista! A matéria dospelo oito anos é do ver o meu artigo tão destacado. Muito antológica, Rio dehistórica; Janeiro (RJ) fiquei orgulhoso de me ver


8h30 8h30

Credenciamento Credenciamento

9h00 9h00

Abertura Aberturaem emformato formatoTED TED

9h20 9h20

Sessão carbono, seuseu negócio estáestá preparado? Sessão interativa: interativa:Precificação Precificaçãodede carbono, negócio preparado?

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Painel dede mudanças climáticas, água e florestas. Painel 1: 1:Conexões Conexõesentre entreasasquestões questões mudanças climáticas, água e florestas. O dede Paris Oque quemuda mudacom como oacordo acordo Paris

11h30 11h30

Coffee-break Coffee-break

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11h50

Painel 2: Conexões entre as diferentes iniciativas de relato: a convergência como um caminho para a transformação Painel 2: Conexões entre as diferentes iniciativas de relato: a convergência como um caminho para a transformação efetiva dos modelos de negócios

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Almoço

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Painel 3: Riscos ambientais e dever fiduciário: aprendizados dos casos Samarco e Volkswagen

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Coffee-break

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efetiva dos modelos de negócios

Almoço Painel 3: Riscos ambientais e dever fiduciário: aprendizados dos casos Samarco e Volkswagen

Coffee-break Matchmaking session: Soluções para um futuro sustentável Matchmakingdesession : Soluções um futuro sustentável segurança hídrica e proteção de florestas a um grupo Apresentação casos de inovaçãopara nas áreas de descarbonização, Apresentação de casos de inovação nas áreas de descarbonização, segurança hídrica e proteção de florestas a um grupo seleto de investidores internacionais seleto de investidores internacionais Encerramento Encerramento

Investimento: R$ 421,00 – associados à ABRASCA, ao CDP e às entidades apoiadoras interessados Investimento: R$ R$495,00 421,00––demais associados à ABRASCA, ao CDP e às entidades apoiadoras R$ 495,00 – demais interessados Informações e inscrições: SB Eventos (11) 3104.1794 ou e-mail abrasca_cdp@sbeventos.com.br

Master:

Informações e inscrições: SB Eventos (11) 3104.1794 ou e-mail abrasca_cdp@sbeventos.com.br

Senior:

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Realização:

Realização:

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Apoio de Midia:

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Apoio Institucionais ABRAPP | ABVCAP | ANBIMA | ANCORD | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC SÃO PAULO | CEBDS | CODIM |ENVOLVERDE | FACPC | FEBRABAN | IBEF SP | IBGC | IBRI | PRI | REDE BRASILEIRA DO PACTO GLOBAL

Apoio Institucionais ABRAPP | ABVCAP | ANBIMA | ANCORD | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC SÃO PAULO | CEBDS | CODIM |ENVOLVERDE


Bazar ético |

FOTOS DE DIVULGAÇÃO / INSTITUTO IPÊ

CAMPANHA DO IPÊ AJUDA PROJETOS DA FAUNA

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m mais uma ação para a conservação da biodiversidade, o IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas lança agora a campanha Adote uma Espécie, em sua loja na Likestore: http://loja.likestore.com.br/ adoteumaespecie. Mico-leão-preto, anta brasileira e tatu-canastra são as espécies da fauna brasileira apoiadas pela iniciativa. Quem quiser adotar, além de contribuir com os projetos do Instituto para a conservação desses animais no Brasil, ainda leva de presente joias da marca Nattu, produzidas com prata reciclada de chapas de raio X. Pode-se escolher entre anel (150 reais) ou pingente (100 reais) com desenhos desses animais em relevo. O recurso é destinado para o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, realizado no Pontal do Paranapanema (São Paulo) e para a Iniciativa Nacional para Conservação da Anta Brasileira e o Projeto Tatu-Canastra, ambos no Pantanal e Cerrado (Mato Grosso do Sul). Os trabalhos de conservação são liderados por pesquisadores do IPÊ e reconhecidos por diversos prêmios no Brasil e exterior. Sobre o IPÊ

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

O IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas é uma organização não governamental brasileira que trabalha pela conservação da biodiversidade do País, por meio da ciência, educação e negócios sustentáveis. Fundado em 1992, possui título de Oscip – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e tem sua sede em Nazaré Paulista (São Paulo). Presente nos biomas Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal e Cerrado, o Instituto realiza por ano cerca de 30 projetos que incluem pesquisa científica de espécies da fauna e flora, ações de educação ambiental e envolvimento comunitário, além de intervenções em paisagens e apoio à construção de políticas públicas para a conservação socioambiental. As atividades de educação ambiental e iniciativas conservacionistas alcançam cerca de 10 mil pessoas por ano e são baseadas no Modelo IPÊ de Conservação, criado e implementado ao longo de 25 anos de atuação. Os projetos são liderados por pesquisadores especializados em diversas áreas do conhecimento. Ao todo, são 80 profissionais, 15 mestres e 10 doutores, que também fazem parte do corpo docente da ESCAS -

Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, criada pelo IPÊ com o objetivo de multiplicar e transferir o conhecimento adquirido em anos de trabalho para conservação socioambiental. Sobre a Nattu A Nattu é uma empresa que produz joias desenvolvidas por meio de processos de produção artesanais de maneira sustentável, utilizando a prata reciclada de placas de radiografia. Seu design exclusivo tem como objetivo ressaltar a delicadeza e os detalhes da Natureza, sua presença na história humana e a importância da harmonia nessa integração. Parte da venda é destinada à projetos de pesquisa e conservação de animais silvestres.​

Como comprar: https://www.facebook.com/ipe. instituto.pesquisas.ecologicas/ app/206803572685797/ Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos de cooperativas e ONGs vendidos no comércio justo, ético e solidário.


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Entrevista

“O HOMEM NÃO É SÓ SAPIENS, MAS TAMBÉM DEMENS, ISTO É, DESTRUTIVO, AGRESSIVO” Giuseppe Fumarco, sociólogo italiano Por João Vitor Santos da IHU On-Line Tradução de Moisés Sbardelotto , Foto Arquivo Pessoal

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Papa Francisco vem denunciando um complexo estado de crises, não apenas ambiental, mas também civilizacional. O sociólogo Giuseppe Fumarco vai ao pensamento de Edgar Morin para tentar compreender esse estado. Segundo o professor, antes de pensar em saídas, é preciso compreender a complexidade em que estamos imbricados. Por isso, recupera o pensamento de Morin quando diz que “a complexidade não é uma receita que se oferece para nós, mas sim o apelo à ‘civilização das ideias’. A barbárie das ideias significa também que os sistemas de ideias são bárbaros uns em relação aos outros. As teorias não sabem dialogar umas com as outras. A palavra barbárie, de fato, quer dizer ‘fora de controle’”. Para Fumarco, o autor evidencia que “embora aparentemente progrida a ‘civilização’ de muitos povos, ao mesmo tempo, têm-se incríveis regressões”. É o caso do Ocidente, que vive seu fetichismo pelo consumo enquanto países do Oriente são destroçados. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, o sociólogo também reflete sobre Donald Trump, alinhado como força contrária ao Papa Francisco. “A escolha de Trump nos permite entender o que significa quando se fala de ‘novas ignorâncias’. Como muitos ilustres pedagogos do século XX tinham previsto, sem uma sistemática ‘educação ao civismo’, a democracia só pode degenerar”, des-

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taca. E, ainda, avalia a inabilidade da esquerda mundial para compreender crises. “A esquerda também aderiu aos desvios neoliberais, já que não amadureceu ao longo do tempo uma consciência intelectual que lhe torne capaz de enfrentar os desafios totalmente novos que a globalização coloca’, dispara. Giuseppe Fumarco é sociólogo na Itália, foi professor de Direito e Economia nas escolas superiores, formador de adultos em várias entidades e pesquisador do Istituti Regionali di Ricerca Educativa - IRRE Piemonte (ex-IRRSAE). Escreveu um livro de história do pensamento econômico sobre J. A. Schumpeter e dois estudos sobre a autonomia escolar e a profissão docente. Mais recentemente, ocupou-se do pensamento da complexidade, chegando, por fim, à vasta produção de Edgar Morin, sobre a qual realiza palestras e seminários. Confira a entrevista. IHU On-Line – A partir de Edgar Morin, como compreender o conceito de globalização? E de que forma sua perspectiva pode iluminar compreensões sobre o nosso tempo e nossas crises?

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

Giuseppe Fumarco – Vou responder expondo por inteiro a definição que Morin nos dá da “idade do ferro planetária” que estamos vivendo: ‘A idade do ferro planetária’ indica que entramos na era planetária na qual todas as culturas e todas as civilizações já estão em interconexão permanente. Mas indica também que, apesar de todas essas intercomunicações, estamos em uma barbárie total nas relações entre raças, culturas, etnias, potências, nações e superpotências. Nós estamos nesta idade do ferro, e ninguém sabe ‘se’ e ‘quando’ sairemos dela. A coincidência entre a idade do ferro planetária e a ideia de que estamos na pré-história da mente humana, na era da barbárie das ideias, não é uma coincidência fortuita. Pré-história da mente humana significa que, no plano do pensamento consciente, estamos apenas no início. Ainda estamos submetidos a modelos mutilantes e disjuntivos do pensamento e é bastante difícil pensar de modo complexo. A complexidade não é uma receita que se oferece para nós, mas sim o apelo à ‘civilização das ideias’. A barbárie das ideias significa também que os sistemas de ideias são bárbaros uns em relação aos outros. As teorias não sabem dialogar umas com as outras. A palavra barbárie, de fato, quer dizer ‘fora de controle’. Por exemplo, a ideia de que o progresso da civilização é acompanhado pelo progresso da barbárie é uma ideia totalmente aceitável apenas se compreendermos a complexidade do mundo histórico-social. A recente atomização das relações hu-


manas (também resultantes dos processos de civilização urbana com todos os fatores de bem-estar que ela trouxe consigo) leva a agressões, à barbárie, a insensibilidades incríveis. É preciso superar as ilusões eufóricas do Progresso sem cair nas visões apocalípticas ou milenaristas; trata-se de entrever que estamos, talvez, no fim de certos tempos e, esperamos, no início de tempos novos.” IHU On-Line – Como compreender a nova era que vivemos, o Antropoceno ? Giuseppe Fumarco – O termo “antropoceno” não foi cunhado por Morin, mas pelo químico holandês Paul Crutzen , no ano 2000. É composto pelo grego ἄνϑρωπος (“homem”), com o acréscimo do segundo elemento, “ceno”. Pode-se definir assim a época geológica atual em que o ambiente terrestre, no conjunto das suas características físicas, químicas e biológicas, é fortemente condicionado, tanto em escala local quanto em escala global, pelos efeitos da ação humana: com particular referência ao aumento das concentrações de CO² na atmosfera, o derretimento das geleiras, o aumento tendencial médio da temperatura terrestre e a consequente elevação do nível dos mares, o desmatamento e a desertificação de algumas partes do planeta etc. E, mais em geral, a poluição de toda a biosfera. Na realidade, a classificação por eras geológicas à qual se atêm os especialistas desse setor continua nos colocando no Holoceno, que iniciou há 11 mil anos e ainda não se concluiu. “Antropoceno”, portanto, significa conotar uma época a partir da qual a presença e a intervenção do homem sobre a natureza e sobre os equilíbrios ambientais está se tornando cada vez mais “pesado” e alcança um limiar crítico para além do qual alguns desses aspectos de degradação ecológica tornam-se irreversíveis. IHU On-Line – No que consistem e quais os desafios para se compreender a crise ecológica, definida pelo Papa Francisco? Giuseppe Fumarco – O desenvolvimento (evolutivo e involutivo, ao mesmo tempo) das nossas sociedades na era do antropoceno se “rapidizou” (em espanhol, “rapidación”), no sentido de que sofreu – particularmente depois da revolução industrial do século XX – um processo de aceleração devido à evolução da tecnociência que não tem nada a ver com os tempos dos

processos biológicos e ecológicos naturais do planeta. Como ressalta o Papa: “embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica”, acrescentando, em um parágrafo posterior: “Depois dum tempo de confiança irracional no progresso e nas capacidades humanas, uma parte da sociedade está entrando em uma etapa de maior consciencialização. Nota-se uma crescente sensibilidade relativa ao meio ambiente e ao cuidado da natureza, e cresce uma sincera e sentida preocupação pelo que está acontecendo ao nosso planeta” (Laudato si’, par. 18 e 19]. A Encíclica prossegue evidenciando a “cegueira da tecnologia” (par. 20), o problema da má eliminação dos resíduos, da poluição: “A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais em um imenso depósito de lixo” (par. 21). É essa “cultura do descarte” que deriva também da circunstância de que “ainda não se conseguiu adotar um modelo circular de produção” (par. 22). Depois, é reproposta a problemática do aquecimento climático global, devido ao uso intensivo de combustíveis fósseis e à consequente necessidade, para a humanidade, de mudar de estilos de vida, de produção e de consumo (par. 23). Círculos viciosos A Encíclica também acena aos numerosos “círculos viciosos ambientais” (cfr. conceito de “recursividade” em Morin), dando o exemplo do derretimento das geleiras polares e das elevadas altitudes que são “efeito” do aumento global da temperatura e, ao mesmo tempo, “causa” de um

aumento adicional dela (por redução do efeito de espelho da irradiação solar das geleiras, que, em consequência da sua reduzida superfície refletora, permanece ainda mais aprisionada na atmosfera). Depois, é citado outro círculo vicioso, ligado ao desmatamento selvagem que reduz a capacidade do patrimônio florestal global de capturar dióxido de carbono e liberar oxigênio, combatendo, assim, o aumento da toxicidade da atmosfera (par. 24). A Encíclica conecta tais comportamentos negativos ao estilo de vida “ocidental” com o seu impacto negativo sobre as populações mais pobres do planeta: “As mudanças climáticas dão origem a migrações animais e vegetais...”, que são muitas vezes recursos para as populações locais, as quais também se veem, assim, forçadas a emigrar: “É trágico o aumento de emigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental” (par. 25). Uma terra cada vez mais cinzenta e limitada A Encíclica continua examinando criticamente a questão da água (por exemplo, a pobreza de água pública na África) (par. 27 e ss.), da perda da biodiversidade (par. 32 e ss.), do impacto ambiental das iniciativas econômicas “a serviço das finanças e do consumismo” (par. 34), da retirada descontrolada dos recursos hídricos (par. 40), e como tudo isso tem como consequência o fato de que “esta terra onde vivemos se torne realmente menos rica e bela, cada vez mais limitada e cinzenta” . IHU On-Line – É possível afirmar que a crise civilizacional é o núcleo do estado de crises que vivemos? Por quê? Giuseppe Fumarco – Morin afirma: “Pré-história da mente humana significa que, no plano do pensamento consciente, estamos apenas no início. Ainda estamos submetidos a modelos mutilantes e disjuntivos do pensamento e é bastante difícil pensar de modo complexo. A complexidade não é uma receita que se oferece para nós, mas sim o apelo à ‘civilização das ideias’. A barbárie das ideias significa também que os sistemas de ideias são bárbaros uns em relação aos outros. As teorias não sabem dialogar umas com as outras. A palavra barbárie, de fato, quer dizer ‘fora de controle’. Por exemplo, a ideia de que o progresso da civilização é acompanhado pelo progresso da bar-

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Entrevista bárie é uma ideia totalmente aceitável apenas se compreendermos a complexidade do mundo histórico-social”. Esta última observação significa que, embora aparentemente progrida a “civilização” de muitos povos, ao mesmo tempo, têm-se incríveis regressões. Enquanto no Ocidente se vive no fetichismo mercantilista e no hiperconsumismo que desperdiça (sem, por isso, ter eliminado a pobreza e o desemprego, que, ao contrário, na última década, aumentaram quase por toda a parte), em outros contextos do mundo em desenvolvimento não foram resolvidos problemas essenciais, tais como o de saciar a todos ou garantir a todos o acesso à água potável. Além disso, observamos que alguns grandes países de antiga civilização da Ásia seguem insensatamente o modelo ocidental, com perigosas consequências para os equilíbrios ecológicos. Em nível de “noosfera” (a esfera de pensamento e das ideias), quase inacreditavelmente, recuperaram vigor contrastes mortíferos que alguns autores definiram – em nossa opinião, erroneamente – como “choques de civilizações”. Basta ver aquilo que acontece em nível de nações de religiosidade muçulmana, tanto como conflitos internos (xiitas contra sunitas) quanto como “contradependência indesejada” desses países em relação ao Ocidente. Psicopatologia das relações entre os povos Nas relações internacionais, particularmente, prevalecem lógicas imperialistas, de domínio, de prevaricação, de fanatismo e de extremização das diferenças religiosas e espirituais etc. Em vez de buscar “a unidade na diversidade” e de salvaguardar “a diversidade na unidade”, ainda hoje, em 2017, as relações entre os Estados e as nações são em nível de barbárie. Os Estados Unidos persistem em uma visão unilateral das suas relações com o resto do mundo, e, assim, torna-se difícil mover-se rumo àqueles equilíbrios multipolares que, sozinhos, poderiam garantir paz e segurança para as gerações futuras. Nestes últimos anos, em particular, pode-se fazer uma leitura daquilo que acontece em nível geopolítico internacional nos termos de uma verdadeira “psicopatologia das relações entre os povos” causada, ao mesmo tempo, pelo comportamento paranoico de alguns importantes expoentes das classes políticas dirigentes nacio-

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Em vez de buscar a unidade na diversidade e de salvaguardar a diversidade na unidade, ainda hoje, as relações entre os Estados e as nações são em nível de barbárie”

nais e pelo comportamento hiperegoísta das classes que detêm o poder em nível econômico transnacional (a nova classe capitalista transnacional). Todos comportamentos que impulsionam “de facto” muitas nações a agirem umas em relação às outras na lógica bárbara e atávica do “amigo/inimigo” (ou você está comigo ou está contra mim). IHU On-Line – Qual sua leitura de Laudato si’? Como analisa a forma que Francisco tece a teia de relações entre as crises até chegar à formulação de uma crise ecológica? Giuseppe Fumarco – Só posso concordar plenamente com a análise do Papa Francisco, assim como argumentado na minha intervenção publicada na newsletter do [Centro de Estudos] “Sereno Regis”: “A encíclica Laudato Si, o pensamento de Edgar Morim, a complexidade da realidade. IHU On-Line – De que forma o documento apostólico pode inspirar outras concepções que levem a pensar para além da crise ecológica? E, nesse sentido, quais os limites do documento? Giuseppe Fumarco – Um dos limites mais problemáticos da Laudato si’ consiste na circunstância de que o Papa, lá, não aborda a questão demográfica. No meu livro “Complexus”, eu defendia: “Partimos de uma primeira constatação banal: os 7 bilhões de indivíduos

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que povoam o planeta (entre os 8 e os 9 bilhões previstos para 2050) há muito tempo já superaram a capacidade do ecossistema que os sustenta. Cada alerta neste campo já é irremediavelmente tardio. A humanidade – em particular desde a Revolução Industrial – prosseguiu antropizando selvagem e destrutivamente a biocenose e o biótopo em que habitava e, assim, se metamorfoseou [...]. Poderá (talvez) sobreviver, mas em condições psiquicamente alienadas. Para rastrear uma relação mais equilibrada com a natureza, devemos remontar para bem antes da Revolução Industrial.” Devemos sempre recordar que todos os problemas que estamos elencando seriam de origem muito inferior se, em vez de sermos 7 bilhões, fôssemos, por exemplo, na ordem de alguns milhões sobre todo o planeta. No meu texto, eu citava o grande etólogo austríaco Konrad Lorenz, que, em um livreto publicado em 1973, intitulado Os oito pecados capitais da nossa civilização, colocava de forma significativa entre os dois primeiros “pecados” a “superpopulação mundial” e a consequente “redução/devastação do espaço vital”. Pode-se estar de acordo ou não com o elenco das criticidades propostas por Lorenz (que aqui, por razões de espaço, não retomamos), mas o fato, significativo para nós, é que um etólogo atento às lógicas dos comportamentos animais coloca na raiz dos muitos desvios atuais da humanidade justamente o dado quantitativo do excessivo povoamento do planeta por parte da espécie Homo sapiens. A humana é uma “espécie anômala”, que fez explodir os mecanismos espontâneos de autorregulação das populações animais que habitam o nosso pequeno e frágil planeta. A partir da denúncia do “Clube de Roma” de Aurelio Peccei (fim dos anos 1960), muitas foram as tomadas de posição de personagens renomados em favor da temática da redução da natalidade e das políticas de contenção da população. IHU On-Line – Como pensar outro modelo de desenvolvimento global? E quais os desafios para conscientizar a humanidade de que cada um é parte do todo nessa construção de outro modelo civilizacional? Giuseppe Fumarco – Pergunta, por si só, “complicada” demais, mais do que complexa. Um novo “modelo de civilização””, por enquanto, é impensá-


GREENPEACE

vel. O homem não é só “sapiens”, mas também “demens”, isto é, destrutivo, agressivo etc. Sofre a hubris (desmesura, do grego) em consequência das contínuas turbas que irrompem no seu cérebro “triúnico” sujeito a uma dialética permanente entre paixões e racionalidade, instintos e emoções... Quanto a pensar em um “novo modelo de desenvolvimento” (abriria mão do “global”), por enquanto, para mim, isso significa retornar para as questões não resolvidas que o século XX nos deixou. Uma acima de todas: qual deve ser o papel de um Estado “suficientemente” democrático (pois a democracia também é uma ideologia, eu diria muito “utópica”) para um novo “welfare state”” que não tropece nas tesouras da dívida pública? A resposta keynesiana parecia adequada, mas, neste momento, os economistas sofrem maciçamente a nefasta influência do pensamento liberal neoclássico. Por fim: não tenho respostas sobre a questão de como “conscientizar a humanidade” para fazer com que ela compreenda que “cada um é parte do todo”. As taxas de escolarização aumentaram um pouco em todos os países, mas, por enquanto, não parece que isso tenha tido um impacto tão positivo sobre as “tomadas de consciência”... A confusão e o “ruído” da hipercomunicação de massa atordoam as mentes, e novas ignorâncias, paradoxalmente, crescem precisamente agora. IHU On-Line – O mundo vive um momento ímpar com a ascensão da “extrema-direita”, que prega o nacionalismo radical e recusa o outro, como exemplo a figura de Donald Trump e suas propostas que recusam o enfrentamento da crise ecológica. Como chegamos a esse momento? Giuseppe Fumarco – O “soberanismo” e o retorno ao “particular” constituem a lógica reação por parte dos povos que veem justamente na globalização (assim como ela está acontecendo) riscos, inseguranças, novos

medos etc. A nova classe capitalista transnacional parece caracterizada por uma não eticidade impressionante. Novas injustiças na distribuição de renda desenham um mundo onde os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Sem sinais significativos de inversão dessas tendências, a humanidade certamente não terá um futuro “vivível”. O caso estadunidense e a escolha de Trump nos permitem entender o que significa quando se fala de “novas ignorâncias”. Como muitos ilustres pedagogos do século XX tinham previsto, sem uma sistemática “educação ao civismo”, a democracia só pode degenerar e reabrir o caminho para todo tipo de neototalitarismos. Trump e a direita são os primeiros sinais. Jornalismo e meios de comunicação de massa têm uma grande parte de responsabilidade nessas regressões globais: muito poucos se movem contra a corrente. IHU On-Line – E, por outro lado, em que medida é possível afirmar que a “esquerda” global é inábil na compreensão da complexidade da teia da vida, para muito além do paradigma do consumo e desenvolvimento? Giuseppe Fumarco – A esquerda (salvo raras exceções minoritárias) também aderiu aos desvios neoliberais, já que não amadureceu ao longo do tempo uma consciência intelectual que lhe torne capaz de enfrentar os desafios e os pontos nodais totalmente novos que a globalização (ou, melhor: a “planetarização”) coloca. Além disso, na Europa, os chamados movimentos “populistas” pregam que não se pode mais pensar em termos de direita e de esquerda: erro muito grave, pois essa atitude ambígua e “agnóstica” aumenta o nível de confusão. O pós-ideologismo certamente não devia ser abordado em termos de simplificação, mas, sim, como aceitação do desafio da complexidade. IHU On-Line – A maior das de-

sigualdades de nosso tempo consiste em quê? E como enfrentá-la? Giuseppe Fumarco – Há diversos níveis de desigualdades: a desigualdade das oportunidades desde o nascimento, as desigualdades entre os diversos países, as diversas nações e os diversos grupos étnicos, as desigualdades dentro dos países individuais e das nações individuais, as desigualdades de gênero etc. Temos diante dos nossos olhos um desconfortante panorama de desigualdades de todos os tipos. Esta também é a minha tristeza mais profunda, que se liga a uma sensação pessoal negativa de impotência. Eu admiro o Papa pelo otimismo que ele consegue expressar e difundir ao seu redor. Mas temo que não seja suficiente: Francisco é escutado e aplaudido, mas os chamados poderes fortes e o establishment transnacional continuarão se movendo de modo automático de acordo com os próprios mecanismos endógenos perversos. Infelizmente, o “desafio da complexidade” impunha a adoção de novos registros conceituais, de novos mapas mentais capazes de tentar, ao menos, enfrentar, senão resolver também e “sobretudo” esses problemas. A desigualdade em nível planetário – como bem escreveu o Papa – se liga à degradação ecológica. O “todo” é complexo precisamente por ser inter-relacionado, conectado... às vezes por fios invisíveis. Ninguém tem nem terá, a meu ver, a coragem de enfrentar, no futuro próximo vindouro, o “desafio dos desafios”, o mais radical, que certamente não é a busca do igualitarismo absoluto, mas, pelo menos, de uma igual oportunidade para todos no nascimento. Hoje, isso é pura Utopia. Amanhã... quem viver verá (João Paulo II). IHU On-Line – Deseja acrescentar algo? Giuseppe Fumarco – Bergoglio vem das minhas terras, de um vilarejo em Asti. Os meus parentes são “monferrinos” exatamente como os seus antepassados antes da migração para a Argentina. Eu ainda tenho parentes distantes na Argentina, com os quais às vezes estou em contato. Isso criou, desde já, um feeling subterrâneo com esse Papa de ar tão bondoso; a minha gente, muitas vezes, foi definida pelos escritores justamente como que caracterizada por uma certa bondade natural.

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Colunista

Agro só é tudo, quando a carne é fraca

AGÊNCIA BRASIL

Por Clóvis Borges e Gilson Burigo Guimarães​

N

ão é de hoje que os esforços voltados à conservação da natureza no Brasil sofrem com pressões impostas pelo agronegócio. A enorme capacidade de influência exercida por esse setor é sentida no Congresso Nacional e na maioria das Assembleias Legislativas estaduais. O que acaba se refletindo pesadamente nos executivos, no âmbito federal e estadual. É exemplar a mudança da legislação ocorrida em 2012, depois de alguns anos de muita polêmica. Deputados Federais e Senadores permitiram mudanças profundas no Código Florestal Brasileiro, com ajustes moldados à vontade dos ruralistas. Essas mudanças implicaram numa diminuição drástica de áreas naturais a serem mantidas na forma de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente, além de permitir um conjunto de ajustes permissivos e contrários às normas técnicas que deveriam ser consideradas. Não bastaram as posições de instituições científicas como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e outras, demonstrando o equívoco proposital que estava sendo cometido, em prejuízo de toda a sociedade brasileira. Tampouco foram ouvidas as pesquisas que indicaram, à época, que 87% dos brasileiros eram contrários às mudanças mais profundas do Código Florestal. Liderados especialmente por políticos do Paraná e de Santa Catarina, essas alterações foram aprovadas com folga no Congresso Nacional. A força e a influência política do ruralismo mostram-se tão intensos, que os próprios órgãos ambientais que têm a responsabilidade de atuar de maneira isenta para estabelecer condições mínimas de controle sobre excessos que degradam o Patrimônio Natural do Brasil, são hoje coibidos de atuar com a sua plenitude e sofrem um processo de desestruturação e intervenções veladas. Tal situação parece afetar igualmente a isenção e correção dos setores governamentais mais diretamente ligados ao agronegócio. No Paraná, é de conhecimento público

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o domínio ruralista presente na atual gestão estadual, tanto no que se refere ao Legislativo como no Executivo. O Batalhão de Polícia Ambiental do Paraná (BPAmb), não pôde atuar em sua plenitude ao longo dos últimos seis anos por uma artimanha política que definiu que a fiscalização sobre caça e supressão de vegetação nativa não é uma prioridade. E teve como propalador dessa máxima, o próprio Governador Beto Richa, em inúmeras aparições em público. A atual gestão do desestruturado Instituto Ambiental do Paraná (IAP) tem um íntimo atrelamento às vontades da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), uma instituição privada que influencia e assina os produtos que deveriam ser de responsabilidade única dos órgãos ambientais. Em especial o Código Florestal do Paraná e sua regulamentação foram desenvolvidos dentro da FAEP, com integralidade endossada pelo Governo do Estado e pela Assembleia Legislativa do Paraná. Uma relação de promiscuidade e de intervenção direta na gestão pública que nunca poderia ser admitida. Recentemente, esta mesma Assembleia surge com uma proposta intempestiva e sem qualquer tipo de argumento plausível, que implica em diminuir em dois terços a Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, entre o primeiro e o segundo planaltos do Paraná. Para seguir com esse intento, o próprio IAP busca a orientação da Fundação ABC, entidade privada mantida 100% por grupos ligados ao agronegócio. Mesmo sem conseguir aportar argumentos factíveis, a proposta de impor essa agressão ao povo paranaense tem por lastro o próprio Governo Estadual. A intensa atuação do ruralismo coi-

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bindo e estrangulando a agenda de conservação da natureza no Brasil é um fato. Como em outros exemplos que se sucedem no dia-a-dia, o excesso de poder e influência, concentrado em grupos setoriais, tem representado um risco importante para a sociedade brasileira, que se depara com situações de enorme constrangimento. Vivemos uma condição de permissividade que extrapola limites. E são muitos os exemplos que apontam para pesados prejuízos econômicos justamente em setores que amplificam sua influência de maneira excessiva e inadequada. A incontestável relevância social e econômica do agronegócio é muito maior do que situações pontuais que possam advir de excessos e ilicitudes observadas em todos os ramos de atividades. O Brasil não pode abrir mão de preservar o patrimônio que representa a agropecuária e a agroindústria, um dos principais alicerces de nossa economia. No entanto, para manter essa pujança, as relações entre grupos setoriais e governos não pode se manter na condição de promiscuidade que hoje se apresenta. A despeito de todo o poder político e financeiro de que disponha, para o próprio bem e segurança do agronegócio, deve haver mais respeito ao limite ético e legal que separa a gestão pública dos interesses setoriais. Afinal de contas, não se trata de novidade o fato de que, quando o domínio é demasiado, a carne é fraca. (*) Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental e Gilson Burigo Guimarães, geólogo e docente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).


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Colunista Giuliana Preziosi

TEORIA U:

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se você pudesse co-criar o futuro que emerge? Pode parecer estranho e difícil de identificar formas práticas de fazer isso. No meio corporativo então, aquele mais cético vai levantar a mão e dizer “não viaja”. Agora imagine um ambiente colaborativo, onde as ideias surgem de uma forma que fica até difícil de identificar seu autor, onde líderes conseguem enxergar soluções para os problemas mais complexos de serem resolvidos, deixando de pensar apenas em si mesmos e considerando o todo. Movendo-se do “Ego” para o “Eco”. Agora pense numa metodologia capaz de trazer um olhar diferenciado, gerenciar mudanças, otimizar soluções e aumentar a produtividade. Prototipar ideias, identificar caminhos e inovar não só no meio corporativo, como também na forma de se relacionar com a sociedade. Vivemos em um mundo de rupturas onde cada vez mais nos afastamos de nossos propósitos e acabamos perdendo a conexão com os outros. As crises que assolam diversos países mostram que o caminho para mudança não é apenas físico e sim comportamental. Mas como mudar a forma de fazer as coisas considerando a urgência pela tomada de ações efetivas, a necessidade latente de mudança e a complexidade das relações humanas? A Teoria U começou a ser desenvolvida em 1996 no MIT (Massachusetts Institute of Technology) por Otto Scharmer, Peter Senge e Joseph Jaworski, quando criaram o conceito chamado “presencing” (uma mistura de “presence”, presença, e “sensing” sentindo.) Descrito como a habilidade de sentir e trazer ao presente o melhor futuro potencial de alguém. Otto Scharmer, com o apoio de seu colega de MIT, Peter Senge, expert em gestão da mudança e conceituado autor do livro “A quinta disciplina”, estudou

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UMA JORNADA DE INOVAÇÃO PARA UMA NOVA LIDERANÇA

Grupo de Estudos em Teoria U na Base Colaborativa em SP.

durante anos os processos de mudanças organizacionais visando ajudar as organizações a lidarem com seus problemas a partir de um pensamento sistêmico. O conceito ganhou o mundo a partir do lançamento de seu livro “Teoria U” em 2009. Scharmer é um verdadeiro apaixonado pelo seu trabalho, em 2015 recebeu o prêmio Jamieson pela excelência em ensino no MIT, e em 2016 foi considerado um dos 30 melhores profissionais de educação no mundo pelo Globalgurus.org. A Teoria U é considerada uma tecnologia social, para conectar indivíduos, empresas e toda a sociedade. É uma metodologia de inovação que propõe uma jornada representada graficamente no formato de um “U”. Para percorrer esse caminho é preciso considerar três premissas básicas: Mente aberta, Coração aberto e Vontade aberta ou “open will” no seu conceito original. Colocando de forma simples, deve se levar em consideração que o ato de fazer, de realizar uma ação é consequência de um alinhamento

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com seus valores e sentimentos (coração) que tem o potencial de ser altamente transformador se incorporado com a mente aberta a novos olhares sem filtros ou prejulgamentos. Ou seja, cabeça, coração e mãos devem trabalhar em favor de uma mesma direção. Pode parecer fácil, mas já parou para pensar como isto não é tão simples assim? É comum nossos pensamentos nem sempre estarem associados com o ato de fazer, ou ainda, fazemos coisas que muitas vezes não correspondem ao que estamos sentindo. Imagine a letra “U” como um percurso, as três primeiras fases são de descida: Suspender, Direcionar e Deixar ir. Aqui o objetivo é questionar seus próprios modelos mentais, saber ouvir verdadeiramente, desabilitar filtros, observar e sentir a realidade e interagir com o seu eu mais profundo. A base do “U” é o ponto de transformação onde está o conceito do “presencing”, ou seja, a habilidade estar presente, de se conectar, sentir e descobrir o propósito. E assim a subida deste percurso sinuoso é acompanhada por


FOTOS DE GIULIANA PREZIOSI

mais três fases: Deixar vir, Decretar a lei ou cristalizar e Incorporar. É nesta hora que as ideias e possibilidades surgem e podem ser integradas, hora do alinhamento e começo da fase de prototipação para dar vida às soluções. Pode parecer complexo quando se descreve cada fase e difícil de entender sua aplicabilidade no dia a dia. Mas começar a aplicar alguns conceitos da Teoria U é mais simples do que se imagina. Fazendo cursos sobre o tema e conversando com várias pessoas, aprendi que para entender o que é a teoria não basta ler sobre o assunto, precisa vivenciar. E uma dica para entender melhor como funciona isso é avaliar um dos pontos essenciais nesta metodologia: a sua escuta. É impressionante como a maior parte do tempo que estamos escutando algo, não estamos absorvendo nada novo. Simplesmente porque não sabemos ouvir verdadeiramente. A Teoria U propõe quatro níveis de escuta. O primeiro chamado de “downloading” se dá quando você escuta somente o que você já sabe, reconfirma sua opinião ou julgamento. No segundo nível chamado de escuta factual, você nota algo diferente e descobre alguma coisa nova que vem de fora do ambiente em que está acostumado. A escuta empática é o terceiro nível, quando você se coloca na posição de enxergar as coisas pelo olhar da outra pessoa. Já o quarto nível, chamado de escuta generativa, requer uma conexão muito maior entre

emissor e receptor da mensagem em um espaço de colaboração e co-criação. São principalmente nos níveis 3 e 4 que os ouvidos deixam de ser a parte mais importante do processo de escuta e abrem espaço para a mente e o coração. Cria-se um ambiente onde as ideias fluem de maneira coletiva e os pensamentos se convergem dentro de um único objetivo. Faça o teste, e durante 1 semana observe a forma que está ouvindo, se auto avalie e preste atenção na sua conexão com a outra pessoa. O interessante da Teoria “U” é que ela ajuda as pessoas a se transformarem antes de mudarem o ambiente, a situação ao seu redor ou resolverem o problema. É exatamente o processo de autodescoberta que gira a alavanca necessária para a mudança do propósito em questão. No mundo cada vez mais egoísta em que vivemos, essa é uma oportunidade de inovar trazendo soluções colaborativas e co-criadas em um ambiente em que todos mergulham na mesma jornada. Valorizando o seu eu individual e trazendo soluções criativas para o coletivo. No Brasil há exemplos de aplicação da Teoria “U” nas mais diferentes frentes. No ambiente corporativo empresas estão

utilizando as ferramentas disponíveis para inovar em seus processos e propor novos projetos, aumentando sua produtividade e gerando um maior engajamento de colaboradores. No meio acadêmico universidades conceituadas como a Fundação Getúlio Vargas possuem grupos de estudos em Teoria “U” e conversam sobre a possibilidade de terem cursos focados no assunto. A quantidade de Hubs que começaram a receber interessados em praticar as ferramentas propostas pela metodologia duplicou no último ano. Alguns hubs estruturaram pequenos cursos específicos e facilitam sessões práticas trazendo atividades e ferramentas ligadas a teoria. Algumas pessoas já aplicam a teoria em seus processos coaching. Consultorias aplicam suas ferramentas em oficinas e treinamentos. Organizações do terceiro setor começaram a criar laboratórios de inovação em projetos sociais utilizando a metodologia da Teoria “U” como base. E visando alcançar um número cada vez maior de adeptos a plataforma de cursos gratuitos EDX, em parceria com o MIT, lançou o curso U.lab: Leading from the Emerging Future, que desde 2015 já contou com a participação de mais de 75.000 pessoas de 183 países. Para quem quiser saber mais sobre isso, está disponível em português o livro “Teoria U” de Otto Scharmer, e a próxima edição do curso pela plataforma da EDX está programada para iniciar em setembro deste ano. Referências: https://www.edx.org/ https://www.presencing.com/ http://www.ottoscharmer.com/ www.huffingtonpost.com/otto-scharmer (*) Giuliana Preziosi é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É Palestrante e Sócia da Consultoria Conexão Trabalho www.giulianapreziosi.com.br

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Artigo Ingo Plöger

AMÉRICA LATINA É TERRENO FÉRTIL PARA UM MODELO DE SUSTENTABILIDADE

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s megatendências globais indicam que a sustentabilidade será um trendsetter para o desenvolvimento futuro. Não se pode imaginar que o crescimento vá se consolidar a qualquer custo e sem considerar os aspectos sociais e ambientais. As sociedades diversas mundiais por vários anos se mantiveram resistentes para admitirem que o crescimento somente seria possível se globalmente observássemos a sua sustentabilidade. Na Conferência Mundial do Rio de Janeiro em 1992, os países em desenvolvimento incluíram a pauta social na sustentabilidade, enquanto os países desenvolvidos queriam somente pautar a questão ambiental. Hoje temos um consenso na ONU que a sustentabilidade é realizada pelo tripé econômico, social e ambiental (o triple bottom line). O que se aprendeu depois do Protocolo de Kyoto é que a mudança climática atinge a todos e seria necessário o comprometimento global para se conseguir manter os objetivos de reduzir as emissões do efeito estufa que atingem a todos indiscriminadamente. O compromisso assinado por dois terços dos países teve uma relevância de que o esforço comum daria a chance de o planeta reduzir seu aquecimento global ao longo de três décadas. Assim mesmo teríamos ainda o risco de aumentarmos a temperatura global em até 2°C. Pensando o Planeta como um organismo que possui vida (teoria de Gaia) e se encontra em um equilíbrio, o aumento de temperatura de 2°C significaria o efeito similar à temperatura média do ser humano em funcionamento regular de 36,5°C e, de repente, ter sua temperatura aumentada para 38,5°C. É febre, na certa, e já nos sentimos de molho! O que poderia acontecer se o Planeta Terra ficar de molho? Inevitavelmente haverá desequilíbrios na vida marinha,

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alteração nas correntezas marítimas e de ventos, secas e chuvas totalmente sem controles e assim por diante. A agricultura seria duramente afetada, teríamos invernos e verões com temperaturas variando a extremos provocando em nossas infraestruturas um stress enorme. Além disto, o crescimento do bem-estar, mantendo os hábitos atuais, de desperdício e o uso pouco eficiente da energia e dos insumos, levaria o planeta a exaurir suas reservas rapidamente. Em livro recente de Kottler e Diamandis, “Abundance”, os autores avaliam que se nos países em desenvolvimento teremos uma classe média similar à Europa, mantendo seus hábitos, e dentro de 20 ou 30 anos necessitaríamos de três planetas de recursos naturais para satisfazer o consumo!!! Se se tomar o padrão americano como referência... necessitaríamos de nada menos que cinco planetas. Não temos três e tampouco cinco. Lançam daí a iniciativa OPL (one planet to live), ou seja, um planeta para se viver, o que significa que precisamos de tecnologias desruptivas e mudanças de hábitos para promover o bem-estar me-

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lhor compartilhado por todos nós. Acontece que se conseguir isto, os países em desenvolvimento teriam que realizar um esforço muito grande de mudança de hábitos e suas economias dispender gastos maiores nas alternativas sustentáveis que em geral são mais dispendiosas, a exemplo das energias renováveis, reuso de água, produtos certificados por processos sustentáveis etc. E é aí que a viabilidade política encontra as suas limitações. Em um quadro internacional mais recessivo, de desemprego estrutural, e de baixo custo de energias fósseis, a razão econômica prevalece fortemente sobre a razão social e ambiental. O futuro A América Latina por sua vez, que tem um PIB na ordem da metade dos EUA, da metade da China e da metade da União Europeia, fez esforço enorme para incrementar a sustentabilidade em suas sociedades. Hoje podemos seguramente dizer que a sustentabilidade é um valor da sociedade latino-americana. Tanto isto é verdade, que o único continente ou


agrupamento econômico que manteve a redução do índice de GINI, que mede a diferença entre pobres e rico, é a América Latina, enquanto a China, EUA e Europa tiveram um aumento deste índice. Fato dos programas de inserção social sustentado que se implantou na América Latina sem provocar inflação ou desequilíbrios econômicos (com exceção da Venezuela e da Argentina pré Macri). A América Latina continua em uma grande empreitada para aumentar a participação de energias renováveis em sua matriz energética. Constitui hoje o melhor índice de participação mundial das renováveis, despontando o Brasil, cuja matriz apresenta um indicador acima de 40% de renováveis. Somente na energia o indicador é da ordem de 80% um dos maiores mundiais. Nesta iniciativa, as eólicas, hídricas, e principalmente as de biomassa são preponderantes. O Brasil inova em ter em sua Constituição requisitos ambientais, e como se não bastasse adicionalmente possui um Código Florestal, que obriga os produtores, não só a limites de uso da terra para preservação, como a recuperar áreas que estão fora do Código descrito recuperando devastações feitas em dezenas e centenas de anos. Não há pais no mundo que tenha feito algo similar. A contribuição brasileira é custeada pela sociedade brasileira, mas seu beneficio é universal.

Existem em curso ideias de se desenvolver mecanismos de financiar os créditos de carbono de forma transparente e com mecanismos de mercado, oferecendo uma opção para se estimular as tecnologias limpas e verdes e por outro lado oferecendo um financiamento para poderem competir de maneira igual frente às fósseis e convencionais. Hoje a América Latina exporta produtos a mercados altamente competitivos, com insumos e processos mais social e ambientalmente sustentados, sem receber um preço melhor. O reconhecimento por estes mercados não se dá. Talvez seja também a pouca divulgação e o marketing que fazemos em cima destas qualidades de nossos serviços e produtos. Mas certo é se estamos hoje enfrentando as

dificuldades e os retrocessos no campo internacional pelo maior protecionismo e pela desatenção à sustentabilidade, no longo prazo estamos dentro da megatendência global. E quando esta pauta voltar, a preferência pelos nossos produtos e serviços será determinante. Não podemos e devemos perder este foco porque é uma das vantagens comparativas que a América Latina tem e nela o Brasil é protagonista. A luta pela sustentabilidade não só é um fator diferenciador e agregador de valor, mas uma contribuição para um planeta e uma sociedade saudável. (*) Ingo Plöger é estrategista empresarial e presidente do Conselho Internacional do CEAL (Consejo Empresarial de América Latina)

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Colunista Nelson Tucci

O compliance nosso de cada dia Empresários pesquisados concordam que a adoção de boas práticas de governança corporativa são salutares para todos. Mas...

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m um mundo cada vez mais complexo, empresas precisam estar preparadas para as mudanças regulatórias e as tecnológicas. As primeiras são as inevitáveis e as outras, sempre que bem executadas, facilitarão sua vida. Quem lê jornal, sites e blogs já se acostumou à expressão “compliance” – especialmente após a deflagração da Operação Lava Jato. Plurale resolveu saber a quantas anda essa questão no país atualmente. E ouviu dois importantes consultores, bem como acessou pesquisas recentes. Uma delas, da PwC, revela que os crimes mais comuns junto às corporações no País são roubos de ativos; fraudes em compras e suborno e corrupção. A segunda é parte do Relatório Global de Fraude & Risco 2016/17 da Kroll, apontando que no mundo 82% dos empresários dizem conhecer ao menos um caso de fraude na companhia, enquanto no Brasil o índice cai para 68%. A consultoria acredita que as organizações locais estão com mecanismos defasados, ou inexistentes, dificultando sua detecção. O termo compliance tem origem no verbo inglês ´to comply´, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução ou um comando. Sintetizando, adotar o compliance é estar em conformidade com leis e regulamentos. Embora frequente o dicionário popular há menos tempo, no mundo corporativo a temática não é nova. “Desde 1980 eu já tratava de avaliar a conformidade das operações com suas políticas e procedimentos e quanto às leis e regulamentos, como auditor externo”, destaca o consultor de empresas Eduardo Pardini.

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Eduardo Pardini

Segundo ele, nos Estados Unidos essa preocupação existe desde 1977, com a outorga do Código Anticorrupção, e no Brasil o conceito passou a se difundir mais nos últimos quatro anos, com a adoção da Lei Anticorrupção. Pardini, que é sócio da Crossover Consulting & Auditing e diretor executivo do Internal Control Institute, é taxativo ao afirmar que “primeiramente precisamos entender que compliance é uma atitude, que todos dentro de uma empresa devem ter quanto ao comprometimento e ao atendimento das regras que regem a operação”. Crítico de modismos, ele adverte para a empulhação: “Há muita consultoria dizendo bobagem por aí. Como isto virou um produto bastante vendável, cometem-se inúmeros exageros”. Procurando desmistificar o conceito, em suas palestras, Pardini afirma que não é preciso investir dinheiro desnecessariamente. “Reforçar os mecanismos que já existem é o primeiro passo”, explica a Plurale, acrescentando que esta atitude de

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Jorge Guzo

compliance deve começar obrigatoriamente pela alta gestão. Multis Em semelhante linha de raciocínio, o professor universitário, consultor e estrategista empresarial Jorge Guzo conta que as empresas multinacionais já absorveram o conceito há mais tempo. Ele que há 10 anos foi compliance officer da Phillips do Brasil diz também que compliance é conceito. “Por isso as grandes empresas já entregam, no primeiro dia de trabalho, o Código de Conduta. Ali não está tudo, mas o suficiente”. Guzo lembra que o monitoramento em seu antigo trabalho era constante, no âmbito interno, e no externo havia alinhamento entre as filiais todo ano, na Holanda. “Algumas posturas são básicas e universais, mas é preciso sempre levar em consideração as questões culturais, pois o que é permitido no Brasil, por exemplo, pode não ser na Europa, Ásia ou África. É preciso ajustar essas questões


sempre”, recomenda. Para o professor, que também foi secretário de Administração e Modernidade na cidade de Santo André, na Grande São Paulo, antes mesmo dos controles financeiros e jurídicos, é preciso olhar para a educação corporativa. Uma tarefa que reconhece não ser nada simples. “A educação e cultura pode mudar às vezes dentro do próprio país, dependendo da região em que você atua, mas a preservação da conduta não, pois ocorrendo isto haverá quebra de valor”. Crescente O Relatório Global de Fraude & Risco, da Kroll, diz que os registros estão aumentando ano a ano, vindo de 61% em 2012, para 70% em 2013, 75% em 2015, até chegar ao ápice de 82% em seu levantamento recente. E enfatiza: “O recorte nacional, contudo, surpreende ao ir na contramão dessa tendência. Ao lado de Itália e Índia, o Brasil aparece abaixo da média global: 68% dos respondentes brasileiros relataram ter sofrido algum tipo de fraude em 2016. Seria o Brasil um oásis de segurança empresarial ou um país em que as fraudes são pouco detectadas?”. Adiante, o próprio documento responde, acreditando que a ineficiência

de controles internos não tem permitido a detecção de mais fraudes nas organizações brasileiras. Já a edição 2016 da pesquisa global bianual da consultoria PwC sobre Crimes Econômicos aponta que a fatia de companhias que se declararam vítimas de crimes econômicos caiu de 27% (2014) para 12% (2016). O estudo, que contou com 211 empresas que responderam ao questionário no Brasil, não inclui a Petrobras, alvo de investigação da operação Lava Jato. Este índice de Crimes Econômicos relatados pelas empresas brasileiras é, curiosamente, um dos menores entre os 115 países incluídos no estudo (a média mundial foi de 36% em 2016, com queda de 1% no período), e vem caindo há cinco anos, sendo que em 2016 o recuo foi maior. A análise interna da pesquisa entende que algumas razões podem ter a ver com a nova Lei Anticorrupção, com a onda de escândalos econômicos, com a repercussão da Operação Lava Jato e, também, com a melhoria dos sistemas e políticas de compliance das companhias. Entretanto, a amostra não descarta a possibilidade de tais índice estarem relacionados à redução da eficácia em sua detecção. Segundo o apurado, os três tipos

de crimes mais comuns no Brasil são, pela ordem: roubo de ativos – 65% (similar à média mundial de 64% – o maior crime global); fraude em compras – 58% (muito acima da média mundial, de 23% – o quarto maior crime global), com grande crescimento desde a última pesquisa (44% em 2014, o maior índice do mundo); e o suborno e corrupção – 23% (próximo à média mundial de 24% – terceiro maior crime global). A KPMG do Brasil também mostra, em sua 2ª edição, pesquisa apontando que as empresas mantiveram os investimentos, permitindo o aperfeiçoamento do Programa de Compliance. Entretanto, destaca: “Mas, conforme apurado com base nas respostas de aproximadamente 250 empresas, ainda há um longo caminho a ser percorrido”. Neste trabalho, apenas 58% das empresas afirmaram possuir mecanismos de gestão de riscos de compliance, enquanto 42% informaram desconhecê-los. (*) Nelson Tucci (nelson.tucci@ uol.com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Governança e Sustentabilidade. É jornalista e consultor em Comunicação Empresarial.

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Pelo Brasil

Edelman Trust Barometer 2017 aponta crise generalizada nas instituições no Brasil Estudo global revela que Governo é a instituição menos crível no País, que 62% dos entrevistados acreditam que o sistema como um todo entrou em colapso e que a corrupção é o maior temor De São Paulo

O estudo global Edelman Trust Barometer 2017, promovido no Brasil pela agência de comunicação integrada Edelman Significa, revela a maior queda já registrada na confiança em todas as instituições: Empresas, Governo, ONGs e Mídia. Globalmente, os índices caíram nos quatro setores pesquisados. No Brasil, a confiança caiu em três instituições: nas Empresas, foi de 64% para 61%; nas ONGs, de 62% para 60%, e na Mídia, de 54% para 48%. No Governo, a confiança, ainda que tenha aumentado 3 pontos, amarga 24% – de longe a menos crível entre as demais. A pontuação coloca a sociedade brasileira na antepe-

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núltima posição de confiança no poder público, à frente somente da África do Sul e da Polônia. De forma geral, a confiança nas quatro instituições diminuiu em 21 dos 28 países pesquisados, registrando queda de 3 pontos no Índice Global de Confiança, hoje de 47. Trata-se da maior queda desde o início do levantamento junto ao Público Geral, em 2012. Com isso, 2 em cada 3 países, entre eles o Brasil (48), encontram-se no patamar dos Desconfiados. Mais importante investimento em propriedade intelectual da Edelman, o estudo chega a sua 17ª edição. É apresentado anualmente no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e baseia-se

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em 33 mil entrevistas. Este ano, aponta os reflexos da Confiança na política e nos negócios, aborda questões como a onda populista e discute como as lideranças empresariais podem operar e encontrar oportunidades nesse cenário. Apesar do envolvimento de grandes empresários nos escândalos de corrupção, o bom nível de confiança nas empresas permanece, pois simbolizam a contraposição à baixa avaliação dos governos e a possibilidade de ascensão pelo emprego e consumo”, afirma Yacoff Sarkovas, CEO da Edelman Significa. “É um momento especial para as Empresas, que poderão liderar uma agenda de transformação no Brasil”, conclui.


Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social é lançado em Brasília Entidades sem fins lucrativos de todo o Brasil, da América Latina e Caribe podem inscrever iniciativas até 31 de maio DIVULGAÇÃO

Por Paula Crepaldi, de Brasília (FBB)

Em evento no CCBB Brasília, realizado em 29 de março, a Fundação Banco do Brasil anunciou a abertura das inscrições da 9ª edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2017, até 31 de maio. A participação é aberta a instituições sem fins lucrativos, como fundações, organizações da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa, legalmente constituídas no Brasil, de direito público ou privado, e que tenham sua iniciativa desenvolvida no País. Nesta edição, o Prêmio terá seis categorias nacionais: “Água e Meio Ambiente”; “Agroecologia”; “Economia Solidária”; “Educação”; “Saúde e Bem-Estar”; “Cidades Sustentáveis e Inovação Digital”. O primeiro lugar de cada uma das categorias será premiado com R$ 50 mil e as 18 instituições finalistas vão receber troféu e vídeo retratando sua iniciativa. Além disso, as tecnologias sociais que promovem o protagonismo e o empoderamento feminino vão receber um bônus de cinco por cento na pontuação total obtida. A novidade deste ano é a categoria internacional “ Água e Meio Ambiente, Agroecologia ou Cidades Sustentáveis”, destinada a iniciativas realizadas em um ou mais países da América Latina e do Caribe, e que possam ser reaplicadas no Brasil. Serão três finalistas – a vencedora será conhecida na premiação, em novembro. Todas as categorias são relacionadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS. Este ano, o concurso tem a cooperação da UNESCO no Brasil e o apoio do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), do Banco Mundial, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa das Na-

ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Para Maristela Baioni, representante do Pnud, o prêmio é um estímulo para quem trabalha pelo desenvolvimento. “Sabemos quanto é rica essa experiência e o quanto e importante para o reconhecimento daquelas pessoas que estão lá na ponta fazendo e transformando a realidade e a vida daqueles que precisam mudar para um patamar de desenvolvimento. Agora com um componente internacional nós vamos poder tomar

conhecimento de experiências importantes lá fora.” O presidente da Fundação Banco do Brasil, Asclepius Soares (Pepe) ressaltou a importância do conhecimento presente nas comunidades. “Nós não queremos ser meros investidores sociais, queremos ser articuladores, nós queremos trazer inovações, e as tecnologias sociais representam isso, a possibilidade que nós temos de buscar os diversos saberes, de irmos às comunidades, e através delas nós podemos transformar a realidade.”

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Pelo Brasil

Especial

Waze anuncia que Brasil será o próximo país a ter app de caronas De Luiz Oswaldo Grossmann, do Portal Convergência Digital

O aplicativo de mapas Waze anunciou no dia 22 de março, que vai lançar no Brasil seu serviço de caronas. A notícia foi dada pela diretora Di-Ann Eisnor, durante evento promovido pela Google em São Paulo. Ainda não há data confirmada, mas a expectativa é que o serviço seja oferecido até setembro. “Como o Brasil tem se mostrado um laboratório e a porta de entrada para produtos e recursos inovadores, o país foi escolhido para ser o próximo a oferecer o Waze Carpool”, também diz a empresa em comunicado sobre o app em seu blog. Diferentemente de aplicativos como Uber e Cabify, serviço não prevê lucro para motorista, mas rateio de despesas. Segundo a Waze, o Brasil é segundo país com mais usuários do aplicativo de mapas. Até aqui, o aplicativo de caronas funciona em Israel, sede da empresa, e

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em San Francisco, nos Estados Unidos. “Dirigir juntos vai economizar dinheiro, poupar tempo e diminuir a quantidade de carros na rua, além de ser mais divertido do que ir sozinho”, promove a Waze. O app “conecta motoristas e passageiros com rotas parecidas, analisando

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os seus endereços de casa e do trabalho. Por causa dos recursos avançados de mapeamento do Waze, o app combina parceiros de carona da mesma rede local de usuários, facilitando o a caronas de vizinhos e de colegas que você conhece ou ainda não conheceu”.


ISABELLA ARARIPE

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Ecoturismo

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Boêmia o chamado Paraíso Tcheco Há muitos séculos o Paraíso da Boêmia atrai pintores, escritores, artistas e almas românticas de todo tipo. A harmonia única de peculiares cidades de rocha, bosques de pinheiros, castelos e palácios majestosos, pitorescas casas de madeira é um convite a se perder nos labirintos de rochas do Paraíso da Boêmia. Primeira região da República Tcheca a ser declarada geoparque da UNESCO, é também uma das regiões turísticas mais populares do país.s del país. Entre suas partes mais valiosas estão as zonas rochosas situadas entre las cidades de Jičín e Železný Brod. Devido à ação de forças da natureza hoje é possível se admirar aquí altas formações de formas diversas de até 60 metros de altura. E algumas com nomes peculiares como Batuta, Diretor de Orquesta, Farol, o Dente de Dragão.

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Museu do Amanhã leva título de edifício mais sustentável do mundo

O Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ganhou o prêmio de “Edifício Verde Mais Inovador” do planeta, durante o MIPIM Awards, na França. Trata-se de uma premiação realizada na mais importante exposição mundial do setor imobiliário, que ocorre na cidade de Cannes . O museu, inaugurado em 2015, no Píer Mauá, já é considerado um dos principais cartões postais da cidade. O Museu do Amanhã se destacou por ações de sustentabilidade como a captação de energia solar e o uso das águas geladas do fundo da Baía de Guanabara no sistema de ar-condicionado. O espaço, símbolo da recuperação da Zona Portuária carioca, derrotou na disputa a construção 119 Ebury Street, em Londres, a sede da Siemens em Munique, na Alemanha, e o Värtan Bioenergy CHP-Plante, em Estocolmo, na Suécia.

Baia do Sancho é eleita a melhor do mundo Dia Mundial da água no Parque Nascentes do Mindu O Dia Mundial da Água foi comemorado pela Prefeitura de Manaus no dia, 22/3, com atividades que levantaram a bandeira da proteção às nascentes do Igarapé do Mindu, no Parque Municipal Nascentes do Mindu, na Cidade de Deus, em Manaus. A programação contou com exposições de trabalhos feitos por alunos das escolas municipais situadas no entorno do parque, trilhas interpretativas que levaram os participantes a conhecer a microbacia formada a partir das nascentes no interior da unidade, jogos ambientais e atividades lúdicas. Mais de 300 pessoas, entre crianças e adultos, participaram das atividades. A trilha foi acompanhada pelos acadêmicos de Turismo da UEA, que desenvolvem pesquisas no parque com a finalidade de identificar o potencial turístico da unidade.

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A melhor praia do mundo está no Brasil, mais precisamente em Pernambuco. O site TripAdvisor anunciou que a Baia do Sancho, em Fernando de Noronha, foi eleita, pela terceira vez, a melhor do planeta. No ranking divulgado em fevereiro conta com representantes de outros nove países como Cuba, Itália e Espanha, ela é a única brasileira. A pesquisa é feita tendo como base em votos efetuados por usuários que frequentaram as praias nos últimos 12 meses. A água cristalina, ideal para a prática de esportes aquáticos como o mergulho, a natação e o surf, encantam os visitantes da região. Durante o passeio pela Baía do Sancho, os visitantes podem visitar o mirante com vista para o Morro Dois Irmãos, reconhecido como um dos cartões postais do arquipélago.

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Especial / Cerrado

Expedição à​ SERRA DO TOMBADOR​ Grupo de pesquisadores da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza vai à Reserva, protegida pela Fundação, para estudar e registrar a exuberância do Cerrado

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rupo de pesquisadores da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza esteve em campo na Reserva Natural Serra do Tombador, no final de 2016. A reserva está localizada no município de Cavalcante, nordeste de Goiás, a cerca de 420km de Brasília e a 20km do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. A área foi adquirida pela Fundação Grupo Boticário em 2007 e reconhecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como Reserva Particular do Patrimônio Natural em 2009. Integra a Reserva da Biosfera do Cerrado Goyaz e é uma das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) de Cerrado do país. Seus mais de oito mil hectares são compostos por diversificadas formações naturais desse bioma fortemente ameaçado pelo desmatamento e pela conversão de áreas para a agricultura. A Reserva Natural Serra do Tombador oferece espaço para a realização de pesquisas científicas e ainda não está aberta à visitação pública. Até hoje, foi registrada a ocorrência de 435 espécies de plantas vasculares, 35 espécies de mamíferos, 346 espécies de aves, 56 espécies de répteis e anfíbios no local. Acompanhe a seguir um diário de bordo sobre a expedição e aprecie toda a exuberância do Cerrado.

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NATACHA SOBANSKI)

Equipe organizando os mantimentos e equipamentos antes de partir

Diário de bordo

Por Natacha Sobanski, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza Fotos de André Dib e Natacha Sobanski ​De Cavalcante (GO) ​

No dia 16 de novembro partimos com um grupo de pesquisadores especialistas em herpetofauna, ictiofauna, pequenos mamíferos, morcegos e xenartra, rumo à Expedição de Biodiversidade da Reserva Natural Serra do Tombador. O objetivo da expedição foi conhecer melhor a biodiversidade de uma região ainda pouco explorada cientificamente, reforçando ainda mais a importância da Reserva na proteção da biodiversidade de um dos biomas mais ameaçados do Brasil. A Reserva Natural Serra do Tombador (RNST), localizada no Nordeste do estado de Goiás, representa grande importância

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para a conservação do bioma Cerrado, considerando a relevância biológica da região e especialmente a proximidade com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A grande diversidade de ambientes associada à localização da Reserva em um centro de endemismo para vertebrados terrestres chamado Vão do Paranã, faz com que a RNST apresente espécies de fauna de vital importância para a conservação da biodiversidade brasileira. Nos poucos estudos realizados na região foram encontradas pelo menos 20 espécies endêmicas do bioma Cerrado, além de mais de 10 espécies ameaçadas de extinção, dentre eles o pato-mergulhão (Mergus octocetaceus), espécie rara, citada pelos especialistas como globalmente ameaçada. Outro aspecto que demonstra a significância da área para a conservação é o fato de abrigar os principais predadores de topo de


ANDRÉ DIB)

Pôr do sol visto do mirante da RNST

cadeia para o bioma Cerrado, como a onça-pintada e a onça-parda, atestando a existência de populações estáveis de suas presas, principalmente a anta e algumas espécies de cervídeos como o veado-campeiro, veado-catingueiro e o veado-mateiro. De acordo com o plano de manejo da Reserva, “a área conserva notável relevância ambiental, em vista da sua extensão, da diversidade de habitats e da integridade dos seus atributos – atestada pela riqueza da flora e da fauna presentes”. As formações vegetacionais, relevo e componentes de fauna e flora são diferentes daqueles presentes na Chapada dos Veadeiros, que é semelhante ao que existia na região da Serra da Mesa antes da formação do reservatório, e que não está presente em nenhuma das unidades de conservação de proteção integral do Cerrado. Saí de casa às 4h30 da manhã rumo ao aeroporto. Meu voo para Brasília seria o trecho mais rápido da longa trajetória até a Reserva Natural Serra do Tombador. Em Brasília encontramos o restante da equipe para que pudéssemos acomodar os equipamentos e mantimentos necessários para os 12 dias de expedição. Éramos 15 pessoas

divididas em um comboio de cinco carros. Seguimos sentido Alto Paraíso para encontrar o último integrante da expedição: o fotógrafo André Dib. De lá seguimos para Cavalcante, onde 90 km de estrada de terra, pontes estreitas e travessias de rios nos esperavam para que pudéssemos chegar na Reserva. Chegamos às 22 horas e fizemos um mutirão para descarregar os carros e nos organizarmos nos quartos. Com o ânimo atrapalhando o sono, ainda fizemos uma pequena apresentação da equipe, quando pudemos alinhar as expectativas da Expedição. Uma logística e tanto para começar. Às 6 horas do primeiro dia da expedição todos já estavam acordados organizando equipamentos e mochilas, discutindo as rotas no mapa entre um gole de café e outro, ávidos para a missão do dia: reconhecimento da área de estudo. A ideia era conhecer a maior diversidade de ambientes que fosse possível para organizar a logística de campo dos próximos dias. Inicialmente percorremos a trilha do Rio Conceição em busca de fragmentos de Mata de Galeria e Cerrado Rupestre, onde descemos as encostas brilhantes de quartzito que afunilam em um canyon e formam a cachoeira

do Rio Conceição. No caminho vimos um veado passeando tranquilo e tão à vontade, que mesmo com todo o barulho da tropa de pesquisadores que estava chegando, demorou a se esconder. Na parte baixa da cachoeira a equipe de ictiofauna fez uma primeira coleta e diagnosticou a presença de uma espécie que consta na lista de espécies aquáticas ameaçadas de extinção, a pirapitinga. O grupo de herpetofauna voltaria à noite atrás de sapos, rãs, pererecas e serpentes. Ainda antes do almoço seguimos para o sul da Reserva e subimos a pé o córrego dos pintos, atrás de habitats de morcegos. Almoçamos e seguimos em direção ao mirante, para que todos pudessem entender sua dimensão. Depois seguimos pelo caminho dos bandeirantes a nordeste, de onde seria possível acessar, de duas formas, o Rio Santa Rita, o que seria bem importante para a equipe de ictiofauna. Em caminhadas ao longo do dia fomos, aos poucos, desbravando aquele pedaço ainda desconhecido de Cerrado e nos aclimatando para as campanhas que iriam iniciar no dia seguinte. No final do dia a mistura das recém-chegadas chuvas com o sol nos presenteou com um duplo arco-íris e um belíssimo entardecer.

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ANDRÉ DIB)

Especial / Cerrado

Reserva Natural Serra do Tombador vista do balão

O dia seguinte começou cedo e às 6h40 estávamos partindo em um voo de balão guiado pelo vento sul, rumo às áreas mais remotas da Reserva. Todos acordaram para tirar fotos e ver o balão diminuir no céu. Em uma hora de voo sobrevoamos trechos de Cerrado, Cerradão, Veredas, Floresta Estacional e Cerrado Rupestre, comprovando a beleza da mistura de paisagem da Reserva. A Serra do Tombador se aproximava como uma onda verde que engolia uma encosta florestada e íngreme, a qual atravessamos de balão. Depois de duas horas de voo descemos em uma pequena comunidade chamada Vão da Horta, onde fomos recepcionados pelo Sr. Gercino, morador da região e que nos ajudou a carregar o balão até uma área que facilitasse o resgate. No pouco tempo de conversa com ele, soubemos que conhecia a equipe, pois havia ajudado no combate ao fogo na região, dois anos atrás. A pequena fazenda tinha uma sede a cerca de um quilômetro dali onde, de acordo com o Sr. Gercino, poderíamos usar o telefone. A casinha era rústica e tinha o estilo quilombola, com paredes de adobe e telhado de palha, com um pequeno pomar de mangueiras atrás. Conseguimos chamar o resgate e aproveitamos o tempo da espera para colher mangas e nos deliciarmos com a doçura da fruta comida no pé. Seu Gercino se despediu de nós com um arroz e feijão feito

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no fogão a lenha, que ele mesmo preparou. Os dias se passaram e aos poucos fomos nos adaptando à logística da expedição. Cada grupo trabalhava em um horário e o leva e traz das equipes às diferentes áreas da Reserva se incorporou à nossa rotina. Os pesquisadores chegavam e saiam do alojamento com novos registros e, entre turnos e contraturnos, conhecemos cada canto de uma das maiores RPPNs de Cerrado do Brasil, compartilhando a vibração e experiência dos pesquisadores e claro, fazendo novos amigos, pois nada melhor que uma noite em claro no campo para conhecer melhor um ao outro. Após uma semana de expedição, parte da equipe estava prestes a partir. O dia amanheceu com ar de despedida e correria, tudo para dar tempo de fechar as pendências antes de partir. A equipe de peixes estava finalizando as coletas em campo e aproveitamos para acompanhá-los até a divisa, no Rio Santa Rita. Chegamos de carro até onde era possível e descemos o restante do caminho a pé. O sol estava escaldante e, ao contrário da última vez em que estive lá, o rio estava turvo e volumoso devido às fortes chuvas do dia anterior. Os pesquisadores entraram no rio com as redes e me avisaram que no outro lado havia uma cobra coral. Dei um jeito de atravessar o rio pulando pedras e subindo em galhos para fotografá-la. Era muito peque-

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na e estava ingerindo uma cobra quase do tamanho dela. Mais tarde fui descobrir que esse era o primeiro registro de coral verdadeira. Como especialista, Reuber Brandão conseguiu distinguir também a cobra que estava sendo deglutida, totalizando assim 2 novos registros. Mais tarde montamos um cenário de troncos para fotografar os sapos, rãs e pererecas encontrados durante a campanha da noite anterior. A diversidade de espécies e cores era incrível. Uma pequena mostra da biodiversidade que aos poucos se revelava. Reuber partiu na expectativa de que nos próximos dias encontrássemos o Allobates goianus, espécie endêmica do Brasil com ocorrência restrita à região da Chapada dos Veadeiros, com um registro em Silvânio, classificada como vulnerável na lista de espécies ameaçadas da IUCN. A espécie foi registrada na mesma noite, ampliando ainda mais a significância da RNST como área protegida do Cerrado. Hora de partir para o pequi, uma área de Cerrado Rupestre a sudeste da Reserva, para mais uma noite em campo com a equipe de morcegos. Enquanto o grupo de morcegos abria as redes de espera, saí com Alexandre, especialista em xenartra, para buscar vestígios de tatus e tamanduás. A noite estava fria e agradável. Ora chovia, ora parava. Registramos uma nova espécie de morcego nectívoro, ou seja, que


NATACHA SOBANSKI)

FOTOS:

ANDRÉ DIBB E NATACHA SOBANSKI ANDRÉ DIB)

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Equipe reunida na casa do Sr. Gercino

se alimenta do néctar das flores, de grande importância para a polinização de algumas espécies de planta do Cerrado. Era pequeno e estava com a língua verde, provavelmente da planta da qual estava se alimentando antes de cair na rede. Nesta noite registramos três espécies diferentes, sendo que uma delas que ainda não havia sido encontrada. À meia-noite desarmamos as redes e partimos para descansar. O dia nublado estava propício para avistar mamíferos de médio e grande porte. O cheiro de café já anunciava a hora do dia e saímos fotografar. A equipe de xenartra iria

até a mata do Borá e aproveitamos a carona para caminhar pela parte central da Reserva, contornando as morrarias para acessar a Vereda das Araras, uma das maiores veredas da área. No caminho vimos muitos vestígios de tatu e, com as aulas que o Alexandre havia dado no dia anterior, pudemos diferenciar as tocas de cada espécie. Encontramos também muitos rastros recentes de anta, o que nos desperta um sentimento muito bacana de aproximação com o maior mamífero terrestre do Brasil! Percorremos um trecho de Cerrado arborizado e denso, depois uma campina com

árvores mais esparsas e começamos a descer o vale até chegar nas veredas. Os burutis já podiam ser vistos de longe e as buritiranas também, com seus troncos mais finos, porte menor e muitos espinhos. Passamos pelo olho d’água borbulhante de águas frescas e cristalinas na borda da vereda. A água refletia os buritis, como um espelho. À tarde saímos rumo ao caminho do Bora, para revisar os “pitfalls” que o Reuber havia instalado. A equipe de morcegos foi conhecer a área e assim encontramos uma ótima oportunidade de amostrar novamente o Cerrado Rupestre, pois apesar de parecido, a variação de altitude em relação ao local de amostragem do dia anterior e a quantidade de afloramentos rochosos, paredões, encostas e gretas propiciavam um ambiente bem bacana para registrar espécies de morcegos que habitam afloramentos. A equipe de pequenos mamíferos estava atrás de vestígios de mocó, mas a sagacidade e o olfato aguçado deste pequeno roedor o permite pressentir a presença do predador e de humanos a longas distâncias, sendo talvez um dos motivos pelo qual não o encontramos. As redes de neblina foram armadas e estavam prontas para o nosso retorno noturno, enquanto a equipe de herpeto amostrava um pequeno vale buscando em poças espécies diurnas, que já começa-

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ANDRÉ DIB)

Especial / Cerrado

Phyllomedusa oreades

vam a vocalizar. Trocamos as pilhas das lanternas, carregamos os rádios, passamos mais uma térmica de café e partimos para mais uma noite de expedição. Deixamos a equipe de herpetofauna em um córrego mais próximo da estrada principal, pois estes viriam caminhando na busca ativa de rãs, sapos e pererecas até o nosso ponto de amostragem. O pôr do sol estava carregado e dramático. Abrimos as redes e esperamos os morcegos começarem a cair. Esta noite foram registradas mais três novas espécies de morcegos. Dentre outras espécies, a equipe de herpeto encontrou a simpática Phylomedusa oreades, uma espécie de perereca arborícola endêmica do Cerrado, que se reproduz em riachos margeados com mata de galeria e é relativamente rara. A descoberta de novas espécies mantinha o ânimo dos pesquisadores da expedição dia após dia e o trabalho não parava. As estações improvisadas na varanda do alojamento se transformaram em laboratórios científicos que durante o dia eram

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utilizados para registrar e descrever as espécies encontradas. Nas buscas diurnas, a equipe de xenartra encontrou dois tatus-do-rabo-mole, espécie que ainda não havia sido registrada na Reserva. Das cinco espécies de tatus encontradas por lá, uma delas consta nas listas nacional e mundial de espécies ameaçadas de extinção, classificada como vulnerável: o tatu canastra. Esta é a maior espécie de tatu existente no mundo, podendo chegar a 1,5 metro de comprimento e pesar até 60 kg! Apesar disso é um dos mamíferos de grande porte menos conhecidos do Brasil, sendo, portanto, prioridade a ampliação de pesquisas científicas para subsidiar o manejo e conservação da espécie. Ao longo da expedição, a equipe de pequenos mamíferos, em suas revisões matutinas, registrou três espécies de roedores que também não haviam sido registradas na RNST. Embora muitos não saibam, os roedores respondem por cerca de 40% da diversidade de mamíferos no mundo e são elementos-chave dos ecos-

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sistemas, importantes para processos como manutenção dos solos, dispersão de sementes e polinização. A equipe de morcegos também encontrou uma grande diversidade de espécies, principalmente em áreas de Cerrado Rupestre! Dentre elas está o morceguinho-do-cerrado (Lonchophylla dekeiseri), uma espécie nectívora endêmica do bioma e que ocorre em baixíssima densidade, principalmente em cavernas e buracos próximos a áreas florestadas. Este morcego também está na lista das espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção, considerada vulnerável. No penúltimo dia de expedição partimos para a Mata do Borá, uma área de floresta estacional semi-decidual localizada em um dos lugares mais remotos do Tombador. Nesse local encontramos uma serpente arborícola rara chamada dorme-dorme (Imantodes Cenchoa), além de outras espécies de anfíbios. Quando chegamos, o acampamento já estava montado pela equipe da Reserva, que havia levado os equipamentos com as ajuda das mulas durante a tarde. No começo da noite os grupos se prepararam para mais uma noite de amostragem. As buscas não paravam entre as visitas às redes de neblina e o vai e vem da equipe de herpeto. Mais tarde jantamos um feijão tropeiro preparado com carinho pelo Didi, um dos funcionários da Reserva, e continuamos com as frentes de trabalho até 1h da manhã. Ao som de uma sinfonia de sapos, deitamos nas redes exaustos e felizes com os resultados. E quem disse que íamos dormir na última noite da expedição? Mesmo com o cansaço da noite na mata e o longo caminho de volta do Borá, tínhamos uma última missão: buscar mais informações para descrever a mais nova espécie encontrada na Reserva, uma pequena rãzinha verde. Enfim chegamos ao fim da expedição de biodiversidade da Reserva Natural Serra do Tombador. Apesar do corpo cansado, a alma se renovou com a beleza e diversidade que este pedaço de Cerrado nos revelou ao longo de 12 dias de expedição. A natureza foi se mostrando a cada dia, com o registro de novas espécies, revelando uma biodiversidade antes desconhecida e reiterando ainda mais a importância da Reserva na proteção de um dos biomas mais ameaçados do Brasil. Entre turnos e


ANDRÉ DIB)

Equipe de pesquisadores no acampamento improvisado na mata do Borá

FOTOS:

E n s a i o

ANDRÉ DIBB E NATACHA SOBANSKI

Registro do tatu-do- rabo-mole (Cabassous unicinctus) na RNST

Registro da espécie Alobates goianus feito pela equipe de herpetofauna da expedição

contraturnos, conhecemos cada canto de uma das maiores RPPNs de Cerrado do Brasil, compartilhando a vibração e experiência dos pesquisadores e claro, fazendo novos amigos. O vento sul nos permitiu avistar do alto de um balão os lugares mais ermos e constatar do céu a beleza indescritível da Serra do Tombador. O Cerrado que esverdeava a cada chuva trouxe nuances de cores perfeitamente harmonizadas com o pôr do sol de tons alaranjados, que se transformaram em imensidão estrelada ao cair da noite, hora em que a vida selvagem expressa a sua existência nas diferentes formas e tons de vocalização. Considerando todos os grupos estudados, a expedição trouxe o registro de mais de 40 espécies que ainda não haviam sido registradas na RNST, reiterando ainda mais a sua importância da Reserva na conservação do Cerrado. Com as expectativas alcançadas retornamos para casa, ávidos pelos resultados que ainda estão por vir.

Cobra dorme-dorme

Especialistas em peixes fazendo amostragem no Rio Conceição

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Ecoturismo

Rio

ganha uma nova atração turística

Trilha Transcarioca conecta Barra de Guaratiba ao Pão de Açúcar e já é a maior trilha de longo curso do Brasil, com 180km de extensão Do Rio de Janeiro Fotos de Rafael Duarte, do Bambalaio

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gora é possível conhecer o Rio de Janeiro caminhando por suas florestas. A Trilha Transcarioca foi inaugurada no dia 11 de fevereiro. Considerada a maior trilha de longo curso do Brasil, a Transcarioca só foi possível através de um esforço conjunto entre voluntários, governos, gestores de parques e adotantes dos trechos da trilha. O novo atrativo turístico da cidade possui 180km de extensão, devidamente demarcado nos dois sentidos. O percurso conecta Barra de Guaratiba, na Zona Oeste, até o Pão de Açúcar, na Zona Sul, passando pelos principais atrativos naturais, históricos e culturais de sete unidades de conservação presentes no seu traçado. Idealizada em 1990, a ideia da trilha ficou na gaveta por décadas. Saiu do papel graças aos esforços de mais de mil voluntários, da parceria entre governos, gestores dos parques e diversas instituições que abraçaram a causa. Na inauguração da

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trilha, que teve uma série de homenagens, também foram lançados pela Conservação Internacional e pela produtora Bambalaio um guia de campo, um minidocumentário e o site oficial da Trilha Transcarioca. A partir de agora, os cariocas e estrangeiros terão fácil acesso às informações dos diferentes trechos da trilha para poder conhecer o Rio de Janeiro de um outro ângulo. “O uso público é uma ferramenta importante de conservação das áreas protegidas e a ligação entre elas propicia também a criação de um corredor verde de conexão de fauna e flora, trazendo uma série de benefícios para a biodiversidade e manutenção da Mata Atlântica”, afirma Horácio Ragucci, coordenador do Movimento Trilha Transcarioca, grupo composto por voluntários e adotantes dos trechos da trilha. Dos 25 trechos da trilha, 23 já estão devidamente sinalizados e podem ser percorridos pelos visitantes. As caminhadas, na maior parte do tempo, são feitas dentro das florestas do Parque Nacional da Tijuca, Parque Estadual da Pedra Branca, Parque Natural Municipal de Grumari, Parque Natural Municipal da Cidade, Parque Na-


E n s a i o tural Municipal da Catacumba, Parque Natural Municipal Paisagem Carioca e do Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca. Além do potencial para a recreação, a Trilha Transcarioca é vista como uma poderosa ferramenta de conservação ambiental. “Esta iniciativa dá oportunidade para cariocas e turistas conhecerem por dentro o patrimônio natural, histórico e cultural da cidade, e também estimula o empreendedorismo gerando oportunidades de trabalho e renda para os moradores das comunidades ao longo da trilha, por meio da conservação da natureza”, explica Rodrigo Medeiros, Vice-Presidente da Conservação Internacional. Todas as informações sobre a trilha e seus trechos estão disponíveis em www. trilhatranscarioca.com.br, onde também pode ser assistido o minidocumentário da Trilha Transcarioca. Além de orientações práticas, há fotos dos atrativos, mapas para download, tracklogs no Google Maps, entre muitas informações úteis para planejar cada caminhada. Já a distribuição dos 2.000 exemplares do guia será feira de forma gratuita. Os produtos culturais do projeto têm patrocínio da Movida e do BTG Pactual, por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Cidade do Rio de Janeiro. “O lançamento da trilha é um marco importante para que as pessoas conheçam e visitem. Mas o trabalho ainda vai continuar em diversas outras frentes. Não só na sinalização, mas também em iniciativas de educação, treinamento e infraestrutura”, afirma Marcelo Barros de Andrade, coordenador geral do Mosaico Carioca, fórum que congrega todas as Unidades de Conservação do município do Rio de Janeiro e instituições públicas e privadas parceiras. O presidente do ICMBio (Instituto

FOTOS:

RAFAEL DUARTE, DO BAMBALAIO

Chico Mendes de Biodiversidade) reforça a impressão de Marcelo. “A implementação dessa trilha não foi fácil de fazer, parabenizo a todos por terem alcançado esse objetivo. Uma iniciativa como essa no Brasil significa apresentar ao cidadão paisagens belíssimas que precisam ser conservadas. Que a trilha Transcarioca seja a primeira de muitas”, Ricardo Soavinski, presidente do ICMBio. Para Paulo Schiavo, diretor de Biodiversidade e áreas protegidas do Inea (Instituto

Estadual do Ambiente), a Trilha Transcarioca é símbolo de uma cooperação pela conservação. “A Trilha Transcarioca marca a união de unidades de conservação estaduais, municipais e federais. O que permitirá ao visitante conhecer uma das marcas do Rio de Janeiro que são as florestas”. Confira o minidoc de Rafael Duarte da Transcarioca e de outras expedições em http://bambalaio.com.br/portfolio/

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Chef de cozinha participa de aula aberta para estimular o uso integral dos alimentos e a criatividade na hora da preparação

BANCO RIO DE ALIMENTOS

Dezesseis anos de combate à fome e ao desperdício de alimentos, com inovação social e receitas saborosas Programa do Sistema Fecomércio RJ, criado em 2000, atende instituições de assistência social cadastradas que recebem mensalmente alimentos e também ações educativas Da Equipe Plurale Do Rio de Janeiro

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m recorde que o Brasil não tem de que se orgulhar: estar entre os dez países do mundo que mais perdem e desperdiçam alimentos. De acordo com o ​World Resources Institute (WRI) Brasil, instituição de pesquisa internacional, anualmente, são desperdiçadas 41 mil toneladas de alimentos. Fomos conhecer de perto a sede do Banco Rio de Alimentos, projeto do Sistema Fecomércio RJ, que atua como ponte, interligando elos da cadeia de produção e das instituições sociais. Desde 2000, quando foi criada, a iniciativa já beneficiou 519 mil pessoas de 320 entidades cadastradas, que receberam 18 mil toneladas de manti-

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mentos. Apenas em 2016 foram distribuídas 963 toneladas de alimentos, entregues a 305 instituições em 33 municípios do Estado do Rio, entre asilos, creches e orfanatos, beneficiando 50 mil pessoas. Em rua arborizada de Madureira, no coração da Zona Norte do Rio, berço do samba, na Unidade do Sesc Madureira, está localizada a sede deste verdadeiro celeiro de combate à fome e ao desperdício. A ideia do Banco Rio de Alimentos parece bem simples: evitar que alimentos ainda apropriados para o consumo possam ir parar na lata de lixo por falta de interligação entre os que querem doar e os que precisam da doação. Os detalhes é que fazem toda a diferença. Quem lida com a área de resíduos e combate à fome sabe que todos os esforços são necessários para que esta receita do bem realmente funcione e não acabe

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apenas transferindo o descarte de um lugar para outro. Em uma verdadeira “logística de guerra”, funcionários do Banco Rio de Alimentos, voluntários, doadores e beneficiários estão conscientes e conectados para garantir que as doações cheguem realmente a tempo de serem bem aproveitadas pelos beneficiários. Como as 280 crianças atendidas pela Obra Social Dona Meca (OSDM), da Taquara, em Jacarepaguá (Zona Oeste do Rio), com uma história de 20 anos de assistência social. “Retiramos as doações a cada 15 dias. São essenciais e decisivas para nosso trabalho social. Conseguimos não apenas atender as crianças, mas até enviamos alguns lanches para as famílias”, contou Anderson Gama, da área de Desenvolvimento Institucional da OSDM. As doações recebidas no começo de janeiro encheram a Kombi da instituição não só com frutas e legumes, mas também achocolatados, iogurtes e outros alimentos a que dificilmente os beneficiários teriam acesso. Além das crianças atendidas pela instituição, há ainda as 40 que vivem em dois abrigos. “Recebemos muito leite em pó para os bebês, e alguns são leites especiais. Não teríamos como arcar com estes custos”, destacou Anderson, enquanto ajuda a abastecer de doações o utilitário. Voluntários​– O conceito de rede é essencial para que funcione corretamente a iniciativa: supermercados, hortifrutis e fábricas doam os alimentos que irão fazer a alegria e reduzir custos de instituições


DIVULGAÇÃO / SISTEMA FECOMÉRCIO RJ

FOTOS DE ISABELLA ARARIPE- PLURALE

Batatas que já passaram pelo processo de seleção e prontas para doação às instituições

que atendem os mais necessitados. Voluntários são também um elo importantíssimo nessa corrente. “O tempo passa voando, nem sinto. Venho uma vez por semana e fico até quatro horas por dia. Fazer o bem para quem nem sabemos alimenta a alma. Muito melhor do que ficar em casa vendo televisão”, contou a voluntária Anete Cavalcante, de 63 anos, ajudando a somar no Banco Rio de Alimentos há nove anos. Moradora do Engenho Novo, mãe de dois filhos e avó de duas meninas, Anete se sente recompensada por participar da iniciativa. Sentimento parecido com o de Angélica Ilária dos Santos, de 62 anos, ainda novata como voluntária em Madureira, tendo se engajado na causa no fim de 2015. A baiana simpática lembra que criou sozinha a filha e a neta, dando duro como diarista. “Nunca passei fome porque sempre tive forças para trabalhar, mas sei como é dormir sem ter o que comer. Me sinto feliz por poder ajudar aqui”, disse a moradora de Campinho que é voluntária no Banco Rio de Alimentos duas vezes por semana. História de transformação também é a do voluntário Dorival Gomes da Silva Júnior, de 38 anos, em tratamento de dependência química. A instituição que o acolheu para a terapia ainda não faz parte da rede que recebe os alimentos do Banco Rio de Alimentos mas, mesmo assim, ele faz questão de ajudar. “Tive de tudo: família, amor, trabalho e quase me perdi de vez, por conta do vício. Morei na rua e cheguei mesmo a passar fome.

Hoje sou abençoado por poder colaborar para que crianças e idosos tenham uma vida mais tranquila”, revelou, enquanto selecionava batatas apropriadas para o consumo. Pai de um filho, o morador de Madureira quer reescrever a própria história. “Um dia de cada vez. Mas, se tudo der certo, serei um homem novamente íntegro para minha família se orgulhar.” A triagem ou seleção manual dos alimentos recebidos é feita pelos voluntários. O que não está apropriado para consumo humano é descartado. Mas a imensa maioria é aproveitada em receitas deliciosas: tudo sai etiquetado e com indicação sobre o consumo pelas instituições. Atualmente, 70 voluntários se revezam diariamente, doando seu tempo e talento por, pelo menos, quatro horas semanais. O ideal para o funcionamento do Banco Rio de Alimentos é que o número de voluntários dobre; por isso, a instituição mantém abertas permanentemente as inscrições para novos voluntários toda primeira terça-feira de cada mês, às 14h, em sua sede, no Sesc Madureira. Doadores​ – Os principais parceiros do Banco Rio de Alimentos são as redes

Anete Cavalcante é voluntária há nove anos: “Fazer o bem para quem nem sabemos alimenta a alma. Muito melhor do que ficar em casa vendo televisão”

PUBLIEDITORIAL / TEXTO DE SÔNIA ARARIPE E FOTOS DE ISABELLA ARARIPE, PLURALE

Voluntários, como Angélica Ilária dos Santos e Dorival Gomes da Silva Júnior, ajudam na triagem dos alimentos

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Prezunic e Hortifruti; a Conab RJ – Companhia Nacional de Abastecimento, mantendora da Cobal, no Rio –; as indústrias Danone, Nestlé, Wickbold, Los Paderos e Aryzta do Brasil; os atacadistas Abóbora e Melancia, Mamão Tavares, entre outros. Novos interessados podem fazer contato com o Banco Rio de Alimentos, assim como instituições que queiram concorrer no edital de 2017. As inscrições serão abertas em junho, mas há alguns pré-requisitos para que possam se candidatar, como ter uma cozinha própria e, ainda, um utilitário ou caminhão para retirar o material doado. “O Banco Rio de Alimentos é uma das principais plataformas sociais do Sistema Fecomércio RJ. A visão de responsabilidade social do Sistema se baseia na formação e na transformação. E o Banco Rio de Alimentos, com a sua função básica primordial, que é a distribuição de alimentos para quem precisa, e com as suas atividades educativas complementares, vem exatamente ao encontro dessa visão”, explica Ricardo Rohloff, Gerente Executivo de Responsabilidade Social do Sistema Fecomércio RJ. Ele destaca: “Estrategicamente, e cada vez mais, as importantes questões ligadas à nutrição e ao aproveitamento integral dos alimentos, acolhidas e desenvolvidas pelo Banco, têm sido apresentadas e demonstradas nos nossos projetos sociais comunitários e nos eventos realizados e patrocinados pelo Sistema, com o intuito de ampliar o conhecimento sobre a educação nutricional e os benefícios do seu impacto social.” Segundo Rohloff, “o trabalho diferenciado realizado pelo Banco Rio de Alimentos – além do orgulho que proporciona a todos nós do Sistema Fecomércio RJ – é o nosso cartão de visitas quando se fala em compromisso e se pensa em fazer transformação social de verdade”. Receitas nutritivas​– Cida Pessoa, Gerente do Banco Rio de Alimentos, observa que o Banco inclui também ações educativas mensais para que os alimentos sejam ainda mais aproveitados. Frequen-

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Anderson Gama (ao centro), da Obra Social Dona Meca, recebe diversos tipos de alimentos que vão atender crianças

temente, as cozinheiras das instituições recebem grande quantidade de alimentos​ in natura, que precisam ser imediatamente processados e consumidos. Por isso, todos são instruídos sobre as melhores receitas para garantir o bom aproveitamento de tudo o que é doado. Feijão pode virar um delicioso brownie e berinjela se transforma em hambúrguer. “São receitas maravilhosas”, garante Cida. Um livro de receitas de quem lida com esta realidade no dia a dia – as merendeiras e cozinheiras das creches e asilos atendidos – é editado todos os anos. Selecionamos para os leitores de Plurale algumas sugestões para serem experimentadas e ainda destacamos o link para download gratuito da publicação de 2016. Para viabilizar o fortalecimento da rede Banco Rio de Alimentos, mensalmente ocorre uma série de oficinas e palestras voltadas para os representantes legais e as cozinheiras das instituições cadastradas. São programadas ações educativas trazendo temas importantes para a manutenção das instituições, como a captação de recursos e o trabalho em redes. Toda quinta-feira, na sede do Banco Rio de Alimentos, as turmas de cozinheiras se reúnem para participar do projeto Redes Gastronômicas, no qual aprendem como utilizar os alimentos de maneira integral, aproveitando cascas, talos e sementes. Estas oficinas são gratuitas e também estão abertas a toda a população, ampliando ainda mais a

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atuação do Banco Rio de Alimentos no combate ao desperdício. Uma vez por ano, em outubro, é realizado o Festival de Receitas, em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação. O evento promove a degustação dos melhores pratos desenvolvidos durante o ano pelas cozinheiras das instituições beneficiadas. Essas profissionais participam de capacitações mensais do Banco Rio de Alimentos para estimular o uso integral dos alimentos e a criatividade na utilização dos ingredientes. Em 2016, o tema escolhido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para o Dia Mundial da Alimentação foi “O clima está mudando. A alimentação e a agricultura também devem mudar”. As receitas apresentadas no evento, como brownie de feijão, pudim de casca de goiaba e requeijão com talo de couve-flor, entre outras, buscaram promover a utilização de todos os componentes dos alimentos e valorizar a qualidade, e não a aparência, das verduras e hortaliças, reduzindo, assim, o desperdício e aproveitando todos os nutrientes disponíveis. Famosos chefs de cozinha, como Frédéric Monnier, Carolina Salles e tantos outros, também participam das Redes Gastronômicas, de modo a poderem apresentar as inúmeras possibilidades de aproveitamento dos alimentos. “Queremos tirar o foco apenas do desperdício, para falar também de transformação e qualidade de vida”, frisa a Gerente do Banco Rio de Alimentos.


FOTOS DE ISABELLA ARARIPE- PLURALE

Receitas nutritivas

Hambúrguer de berinjela com creme de batata-doce Chef Neide de Marco da Ação Educativa de Nutrição Rendimento: 10 porções Valor calórico por porção: 187,7 kcal Ingredientes do hambúrguer • 10 minipães • 1 colher de sopa de azeite • 3 xícaras de berinjela picada • ½ cebola picada • 4 colheres (de sopa) de soja em grãos cozida • 4 colheres (de sopa) de farinha de trigo • ½ xícara de aveia • 1 pitada de pimenta, orégano e sal a gosto • 3 colheres de sopa de cheiro-verde Ingredientes do creme • 1 colher (de sopa) de azeite • 1 colher (de sopa) de cebola picada • ½ colher de chá de sal • ½ xícara de chá de batata-doce

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toneladas de alimentos foram distribuídas no ano de 2016

Modo de preparo do creme Bata no liquidificador todos os ingredientes e coloque sobre os hambúrgueres. Leve ao forno preaquecido.

Bala de gelatina com suco de legumes

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Rendimento: 30 cubos Valor calórico por porção: 31,6 kcal

33 municípios 50 mil

Ingredientes​ • 6 pacotes de gelatina incolor sem sabor • 6 pacotes de gelatina colorida sem sabor • 1 xícara de arroz branco triturado • 100g de cenoura • 100g de beterraba • 100g de batata • 100g de chuchu

instituições cadastradas

pessoas atendidas

519 mil

beneficiados desde 2000, quando o Banco Rio de Alimentos foi criado SERVIÇO Banco Rio de Alimentos Sesc Madureira: Rua Ewbanck da Câmara, 90, Madureira Telefone: 0800-0222026 www.sescrio.org.br/banco-rio-de-alimentos

Modo de preparo Faça um suco com cada legume, coe e use a medida de 150ml de suco. Misture com um pacote de gelatina sem sabor incolor, e mais um pacote de gelatina sem sabor da cor que combinar mais com o legume. A mistura fica cremosa. Leve ao fogo por um minuto e meio. Depois, é só colocar em formas ou no recipiente desejado. Repita o processo para fazer outros sabores. O livro ​Seleção de Receitas do Banco Rio de Alimentos 2016 está disponível para download gratuito no site do Sesc RJ: http://www.sescrio.org.br/sites/default/files/bancorio_livro_receitas.pdf Produzido por

PUBLIEDITORIAL / TEXTO DE SÔNIA ARARIPE E FOTOS DE ISABELLA ARARIPE, PLURALE

OS NÚMEROS DA SOLIDARIEDADE

Modo de preparo do hambúrguer Asse as berinjelas em forno quente por 20 minutos, em forma untada. Bata no processador a berinjela e a cebola até formar uma pasta. Misture a soja, a farinha de trigo, a aveia, a pimenta, o orégano, o sal e o cheiro-verde. Modele e doure, dos dois lados, em frigideira untada.

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Preservação

O cercamento às veredas 60 anos após a morte de Guimarães Rosa, sertão mineiro dos riachos e buritis lembra qualquer beira de estrada desse imenso Brasil: árido, tomado por mato seco e eucaliptos Por Hélio Rocha, Especial para Plurale De Juiz de Fora (MG)

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or onde andam as veredas e buritis? O sertão mineiro, antes apenas uma região pobre e esquecida do estado de Minas Gerais, tornou-se memorável e patrimônio cultural do estado após a literatura do mineiro mais ilustre entre os romancistas brasileiros, Guimarães Rosa. Sessenta anos após a morte do escritor, que se completarão no dia 19 de novembro deste ano, grande parte daquele cenário se perdeu. Hoje, os buritis deram lugar aos eucaliptos e ao agronegócio, as veredas se tornaram espaço para barragens de mineração e represas para abastecimento e hidrelétricas. O bucólico interior mineiro segue, porém, resistindo à mercantilização de suas riquezas naturais, bem como ao aniquilamento da agricultura familiar. Com o suporte de entidades que buscam preservar os ecossistemas de Minas Gerais, pequenos produtores e ambientalistas seguem na luta por uma relação sustentável entre as veredas e as demandas da agropecuária e do desenvolvimento. Conta a história de Guimarães que Augusto Matraga, antes um coronel impiedo-

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so do interior mineiro, cercado de jagunços, foi acolhido por um casal de pretos (expressão original) após quase ser morto numa emboscada. Tendo sua vida salva, resolveu viver uma vida longe do pecado e tornou-se, ele também, agricultor de um pequeno rancho qualquer perdido nas veredas de Minas. Noutra narrativa, o “burrinho pedrês”, mansamente, faz sua trajetória em meio ao caos de uma tempestade na zona rural mineira, chegando ao seu destino final para descansar após uma saga simples e cotidiana, porém cheia de perigos. Por fim, a amizade e possível romance de Riobaldo e Diadorim, assim como os duelos e fugas protagonizados pelos dois no sertão das Gerais, marca o ponto alto na narrativa do escritor mineiro. Todas essas histórias têm algo em comum. Suas personagens ainda estão por lá. Ainda vagam pelo interior mineiro os quilombolas, os trabalhadores rurais, os rebanhos dos pequenos sítios e, à exemplo dos velhos jagunços, os criminosos e os serviçais das elites rurais, os grandes produtores que um dia foram chamados de “coronéis”. A diferença não está nos habitantes e no perfil socioeconômico do Norte e do Noroeste de Minas, mas em suas características geográficas e ambientais, que impactam a


vida das pessoas. De acordo com o professor da Faculdade de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eugênio Goulart, uma diferença inicial se faz notar ao primeiro olhar de quem passa pelo noroeste do estado: o sertão mineiro, com suas veredas e buritis, entrecortado pelos pequenos afluentes do São Francisco, vê-se domado pela modernidade, muitas vezes de forma predatória. Os eucaliptos dominam a região, assim como barragens, represas e novas hidrelétricas. “A região mudou demais, e não houve preocupação com a preservação do patrimônio natural, que também é cultural graças à obra de Guimarães.” O mesmo afirma o doutorando em Geografia pela UFMG Gabriel Oliveira, que completa: “principalmente porque houve um processo desenvolvimentista no final do século XX, sobretudo nos anos 1970 e 1980, que ignorou as necessidades de preservação do meio ambiente e das características econômicas e sociais da região”, explica. “Hoje, Governos e entidades encontram dificuldades em recuperar o local, apesar de haver iniciativas com esse objetivo.” De acordo com ambos os especialistas, uma característica etimológica do interior de Minas, que mostra o quanto a região depen-

dia de suas veredas, é o nome dos tipos de trabalhadores rurais que ali habitam. Até hoje, os pequenos produtores nomeiam suas profissões com palavras referentes ao elemento do ecossistema do qual tiram seus sustentos. Os barranqueiros vivem de plantar e pescar próximos aos barrancos feitos pelo curso das águas. Os buritizeiros tiram sustento dos buritis e da vegetação e solo fértil nos seus arredores. Os campeiros plantam e colhem nas várzeas da região.

ilustrações de Rafael Dantas


Preservação

Hoje, cercados pelo agronegócio, esses produtores subsistem, mas não têm a mesma vida que seus avós, nos tempos retratados por Guimarães. A pobreza do norte e noroeste de Minas Gerais também fomenta a criminalidade, e desta forma os lugarejos, antes ameaçados pelo coronelismo, hoje sucumbem à criminalidade. Segundo levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) do Governo de Minas, a violência no interior mineiro foi alavancada nos últimos 20 anos, chegando a 12 mil homicídios no norte do Estado. Montes Claros, a maior cidade da região, mas também Pirapora, Várzea da Palma, Janaúba e Buritizeiro, padecem da violência e, nessas últimas quatro, a maior parte dos crimes ocorre em áreas rurais. Se os pequenos agricultores nunca deixaram a região, a pobreza

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também jamais permitiu que ela se tornasse livre de seus jagunços. Manuelzão e cadastramento rural são esperanças O poder público, por meio de sua administração direta e suas autarquias, hoje, duas décadas após o desenvolvimentismo desenfreado, atua para recuperar a região. O Projeto Manuelzão é uma das iniciativas de excelência implantadas no interior do estado, com apoio da UFMG, para preservação da bacia do Rio das Velhas, o principal entre os afluentes do São Francisco, que nasce em Ouro Preto e deságua em Várzea da Palma. Por toda essa extensão, o projeto realiza biomonitoramento, geoprocessamento e recuperação das matas ciliares do Rio das Velhas. Também investe em


projetos culturais para atenção às populações ribeirinhas, quilombolas e aos pequenos produtores da bacia. Segundo o médico sanitarista e membro do Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, “o processo de renaturalização (dos rios), através da engenharia ambiental, é um alento àqueles que acreditam num futuro saudável, na qualidade da água natural como condição de saúde e no resgate da função simbólica, lúdica e de lazer e entretenimento dos rios, principalmente nas regiões desprovidas de outros centros de lazer”. O rio, no entendimento dos diretores do projeto, é não apenas uma fonte de riqueza natural e qualidade de vida, mas de identificação cultural para as populações do interior mineiro. O Governo estadual, por sua vez, investe no Cadastramento Ambiental Rural

como fonte para um mapeamento efetivo dos trabalhadores e proprietários de terra do estado, de modo que se possa fiscalizar ameaças ao meio ambiente, mas sobretudo atender à população mais pobre e que precisa do subsídio do Estado para ser competitiva no mercado. Apenas munido das informações sobre cada propriedade rural, o Governo tem noção clara de que obrigações ambientais incidem sobre cada propriedade, e desta forma pode haver um planejamento para preservação dos ecossistemas mineiros. Da mesma forma, ele pode compreender as necessidades dos pequenos produtores e criar projetos econômicos e sociais para fortalecimento e diversificação da economia rural. As inscrições são feitas no site da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e vão até 31 de dezembro de 2017.

ilustrações de Rafael Dantas

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Confusão na exploração comercial das águas minerais no sul de Minas Por Maria Augusta de Carvalho, jornalista e bacharel em Direito, Especial para Plurale De Caxambu (MG) Fotos de Divulgação

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ela primeira vez, os moradores das cidades de Caxambu e Cambuquira, no sul de Minas Gerais (MG), foram chamados a opinar, em uma consulta pública, sobre o futuro lançamento de uma parceria público privada (PPP) entre a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) e a iniciativa privada, para “a constituição de uma sociedade em conta de participação destinada à exploração do negócio de águas minerais e seus correlatos” dentro dos seus respectivos Parques. E, a receptividade da população não foi nada boa. Tanto não foi bem aceita que os Ministérios Públicos Federal e Estadual se uniram e deram entrada, no dia 9 de março, em um pedido incidental feito nos autos de uma ação civil pública em andamento (Ação Civil Pública nº 5197-96.2014.4.01.3809), pedindo à Justiça Federal de Varginha (1a. Vara da Subseção Judiciária) que suspenda os dois atos – a audiência pública e a futura licitação. A Codemig informa que ainda não foi notificada desta petição. O temor maior da população das

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duas estâncias hidrominerais é que aconteça o que foi feito em São Lourenço, cidade vizinha, onde a comercialização das águas foi vendida à companhia alimentícia Nestlé. Entretanto, a Companhia de Desenvolvimento do Estado, atual detentora da concessão das fontes de águas minerais das marcas Araxá, Caxambu, Cambuquira e Lambari, assegura que o processo não será semelhante. “Pontuamos, para a população, que a futura licitação não buscará privatizar fontes e parques, de modo que é incabível a comparação com São Lourenço, onde a fonte foi vendida para empresa privada. A água de São Lourenço não fazia parte das marcas e negócios sob responsabilidade da Codemig”, assegurou a empresa do governo de Minas aos presentes ao encontro na Câmara Municipal de Caxambu, no último dia 15 de fevereiro. A consulta pública ficou aberta até o dia 23, pela internet. E, as respostas foram publicadas no Diário Oficial do dia 10 de março. Está correndo na internet, também, uma petição pedindo também o cancelamento do processo. Até o início de março, 2.580 assinaturas já haviam sido postas ao pedido, que foi entregue à Codemig, como parte da consulta pública. Foram ouvidos, entre os dias 7 e 23 de fevereiro passado,

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DIVULGAÇÃO

Água

Parque das águas de Caxambu

comentários e crítica de, entre outros interessados, ONGs e políticos da região do Circuito das Águas. O prefeito de Caxambu, Diogo Curi Hauegen, solicitou à Codemig, o cancelamento do edital para a exploração das águas. O motivo alegado e, posteriormente, negado, foi a exiguidade do prazo para negociação e sugestões da população caxambuense. “Abrir as portas para essas empresas privadas é colocar o bem mais valioso na mão de poucos. Temos que ficar alertas, porque água não é mercadoria, mas sim um bem essencial à vida! Fundamental para o futuro das presentes e futuras gerações. Nossos filhos, netos, bisnetos, dependem da nossa sensibilização quanto a este bem tão precioso e raro na natureza que tem valor, além de gastronômico, cultural e também terapêutico”, diz o texto do apelo online, lançado pela ONG Nova Cambuquira. A advogada Ana Paula Lemes de Souza, ex-presidente da ONG e atualmente no cargo de Tesoureira, diz que criou o abaixo assinado porque “defende a retomada de novas águas como o grande motor do turismo e desenvolvimento sustentável de


Cambuquira e região, e não como apenas um produto para ser explorado.” A água é, para nós, prossegue ela, um bem sociocultural, elemento mais importante e identitário da nossa população e não uma commodity para enriquecer as grandes empresas. “Água é um direito humano, e por acreditarmos nisso, com toda nossa paixão, decidimos não aceitar essa tentativa (mais uma vez) da Codemig de usar a nossa água como um produto para ser explorado à exaustão, com o fito de lucro sem responsabilidade ambiental”, afirma. Em 2014, Cambuquira recebeu o título de “Cidade Azul”, a primeira da América Latina, outorgada pelo Conselho de Canadenses. O reconhecimento internacional certifica que a cidade reconhece a água como direito humano, presta serviços de água com gestão e financiamento 100% públicos e não faz uso da água engarrafada em instalações e eventos públicos. Apenas vinte e duas cidades do mundo receberam até hoje o título de Blue Community (Comunidade Azul), entre elas, Paris, na França, e Berna, na Suíça. E, por ser uma Cidade Azul, prossegue Ana Paula, “assumimos o compromisso internacional de tratá-la como um direito

humano e defenderemos esse título a todo custo. E, foi por causa dessa ideia que a população se mobilizou contra a exploração privada, com o intuito de conscientizar e promover ações contra uma possível licitação, já vislumbrada pela consulta pública promovida pela Codemig”, disse. Até a ONG internacional Food & Water Watch se mobilizou e enviou uma carta, assinada por Wenonah Hauter, diretor executivo, ao governador de Minas, Fernando Pimentel, reprovando a possibilidade de passar o controle das águas de Cambuquira a uma PPP. O Edital Segundo a empresa mineira, o principal motivo para a parceria público privada é gerar mais eficiência e desburocratizar os negócios com as águas minerais. Para que as marcas da Codemig sejam competitivas no mercado, é imprescindível que haja ampla distribuição e efetiva penetração em grandes redes. “Sendo uma empresa pública, seus processos de compra e venda são regidos pela Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), o que restringe sua operação ao reduzir significativamente a competitividade e a agilidade necessárias ao atendimento

de seus clientes”, informa. Na resposta publicada aos questionamentos da população, a Codemig justifica a iniciativa. “A simples aquisição de insumos, serviços e peças se mostrou tarefa desafiadora quando aplicadas as regras e engessamento próprios da sistemática de licitação. Neste cenário de dificuldades, a comercialização eficiente e suficiente das águas minerais mostrou-se o maior dos gargalos da operação, especialmente pela dificuldade de inserção das águas minerais nas grandes redes de comércio varejista.” Segundo a Codemig, a futura licitação - ainda não lançada e sem data definida até o momento e, agora nas mãos da Justiça Federal - pretende selecionar parceiro privado com expertise no ramo de alimentos e/ou bebidas, que trabalhará nos Parques por um período de quinze anos, prorrogável uma vez mais. O contrato tem valor estimado de R$ 25 milhões. O documento também apresenta itens de qualificação técnica a serem requeridos, como comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível com as características, quantidades e prazos do objeto da licitação e atestado de capacidade de distribuição que comprove

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Água

acesso da licitante a uma rede de distribuição capaz de vender, no mínimo, 1 milhão de litros de bebidas por mês ou 12 milhões de litros por ano. “O objetivo é garantir que o futuro sócio ostensivo esteja apto a executar o serviço com qualidade e eficiência, em benefício do estado e da população”, afirma o edital já divulgado. Será cedido, dentre outras atividades, o direito de explotação (retirada de recursos naturais com máquinas adequadas para fins de beneficiamento, transformação e utilização) de fontes de Caxambu e Cambuquira, além do uso dos imóveis localizados nesses municípios onde estão instaladas as unidades fabris de extração e envase de água. Em Caxambu, a fábrica fica dentro do Parque das Águas, abertos à visitação pública. Com 210 mil metros quadrados, o Parque oferece bosques, coretos, jardins e alamedas cuidadas paisagisticamente. Além disso, conta com 12 fontes da águas minerais, gasosas e medicinais, possuindo propriedades químicas diferentes entre si. Ainda segundo a empresa da administração indireta do governo mineiro, a iniciativa é importante para ampliar o público-alvo das águas minerais e valorizar a eficiência na prestação dos serviços à população. “A Codemig busca, assim, maximizar o retorno econômico para o Estado e a sociedade, considerando sempre a gestão eficiente dos recursos públicos. Além disso, o objetivo é fomentar novos modelos de negócio e ampliar as vantagens competitivas do nosso Estado, propiciando ainda a geração de emprego e renda”, afirma. Ano passado, foram recolhidos R$ 513.160,431 em tributos decorrentes diretamente desta atividade. Além de promover o nome dos municípios de Caxambu e Cambuquira no cenário nacional, por meio da divulgação das marcas comerciais. Outra questão levantada pela população de Cambuquira é quanto a quantidade necessária para o envase diária das águas minerais. Segundo eles, o edital não apresenta qualquer limite para o aproveitamento máximo, apenas o mínimo a ser “vendido”. O próximo parceiro privado da Codemig deve ser capaz de produzir “no mínimo, doze milhões de litros de bebi-

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Parque das águas de Caxambu

Fábrica da água Caxambu

das por ano, ou, no mínimo, um milhão de litros de bebidas por mês (em garrafas de vidro com 310 ml, 1.478.400 litros/ano

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ou garrafas de vidro com 510 ml, 1.774.080 litros/ano, informa o edital). A capacidade máxima de explotação das fontes é definida


DIVULGAÇÃO

pelo DNPM, ao aprovar o Plano de Aproveitamento Econômico, que, para Caxambu é de 31.200.000 litros/ano e para Cambuquira é de 2.704.000 litros/ano. O edital exige ainda que a empresa interessada deverá possuir capital igual ou superior a R$ 2.500.000,00, correspondente a 10% do valor estimado do contrato. A previsão apresentada no Anexo VIII (Plano de Aproveitamento Econômico – PAE Cambuquira) para o total de funcionários é de 11, sendo um gerente e dois auxiliares de escritório e os demais relacionados com a produção. “Bem especificado está o lucro pretendido pela Codemig com a ‘parceria’”, alegam. História A Codemig já se associou a uma empresa privada nos anos 80 do século passado. A exploração comercial das águas minerais oriundas das fontes contidas nos Manifestos de Mina (nº 1.046/42 para Caxambu e nº 1.050/52 para Cambuquira) foi realizada pela Superágua - Empresa de Águas Minerais S/A, no período compreendido entre 1981 e 2005. Naquela época,

foram envasados e vendidos mais de quarenta e sete milhões de litros de água mineral extraídos das fontes das duas cidades. Em 2005, com o fim da parceria, a gestão dos complexos industriais de envase retornou para a Codemig. Em 2006, a Codemig arrendou para a Copasa o direito de exploração comercial das águas minerais, que o fez por meio de subsidiária denominada Copasa – Águas Minerais de Minas - AGMM. O período em que a Copasa operou as fábricas de água mineral foi caracterizado por seguidos prejuízos. Entre 2008 e 2015, acumularam-se prejuízos de mais de noventa e dois milhões de reais. Nesse mesmo período, o volume anual envasado nunca ultrapassou quatro milhões de litros, fato que explica os seguidos prejuízos e revela as limitações e as dificuldades que uma empresa de controle estatal tem para competir em igualdade no mercado de águas minerais. Mesmo assim, há registros de que a Copasa, no período, tenha realizado investimentos superiores a R$ 100 milhões. O monitoramento de qualidade e vazão das fontes de Caxambu e Cambuquira é feito desde 2013. São feitas análises trimestrais de microbiologia e vazão das fontes. Além disso, a cada três anos são feitas análises químicas e microbiológicas completas das fontes pelo laboratório Lamin, da CPRM. A vazão também é monitorada anualmente pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em junho de 2015, o contrato com a AGMM foi reformulado, que passou a operar os complexos fabris até abril de 2016 na condição de prestadora de serviços. Na ocasião, a Codemig pagou, a título de indenização de ativos, cerca de vinte e dois milhões de reais. O período foi marcado também por um prejuízo superior a quatro milhões de reais. A partir de maio de 2016, a Codemig operou as unidades envasadoras por meio de sua subsidiária Codeáguas - Águas Minerais Ltda. Ao assumir definitivamente o controle das fábricas, a Codemig deparou-se com fábrica, máquinas e equipamentos em mau estado de conservação, fato que demandou investimentos de, aproximadamente, quatrocentos e setenta e sete mil

reais em reparos e aquisição de novas máquinas para a linha de produção. De maio de 2016 até janeiro de 2017, a Codeáguas acumulou um prejuízo de mais de um milhão de reais, valores este que correspondem a um prejuízo mensal médio de R$ 184.433,48, embora tenha adotado medidas de redução de custos e despesas, como, por exemplo, redução do quadro de 62 para 29 empregados. Os prejuízos sucessivos apurados no período de gestão da Codemig têm explicações. Para que as marcas da Codemig sejam competitivas no mercado, é imprescindível que haja ampla distribuição e efetiva penetração em grandes redes. Sendo uma empresa pública, seus processos de compra e venda são regidos pela Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93), o que restringe sua operação ao reduzir significativamente a competitividade e a agilidade necessárias ao atendimento de seus clientes. A simples aquisição de insumos, serviços e peças se mostrou tarefa desafiadora quando aplicadas as regras e engessamento próprios da sistemática de licitação. Neste cenário de dificuldades, a comercialização eficiente e suficiente das águas minerais mostrou-se o maior dos gargalos da operação, especialmente pela dificuldade de inserção das águas minerais nas grandes redes de comércio varejista (exemplificando, dificuldades com “enxoval”, promoções, repositores, etc.). É neste contexto que a Codemig decidiu buscar no mercado um parceiro privado para operar as fábricas de forma eficiente e escoar a produção, “buscando maximizar o retorno econômico para o Estado e a sociedade, considerando sempre a gestão eficiente e responsável dos recursos públicos”. O modelo de negócio eleito pela Codemig consiste na constituição de uma Sociedade em Conta de Participação, sociedade na qual Codemig figurará como sócio participante, e o parceiro privado, como sócio ostensivo. Nessa condição, a Codemig cederá ao parceiro privado o direito de uso dos ativos e o direito de lavra das fontes de água mineral, participando posteriormente dos resultados da parceria.

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Solidariedade

José Carreras, uma voz pela arte e pela esperança Por Maurette Brandt, Especial para Plurale De Barra Mansa, RJ Fotos do Arquivo Pessoal de Guida De Finis e Divulgação

D

esde 1988, o tenor José Carreras se divide entre os mais importantes palcos da ópera no mundo e os hospitais, instituições, centros de diagnóstico e casas de apoio a pacientes de leucemia. Viver essas duas vidas em uma foi uma escolha consciente e inabalável. Ao fazê-la, Carreras sabia perfeitamente que, muito além da arte, teria um papel decisivo e transformador na luta contra a doença da qual se curou, por meio de um transplante de medula óssea realizado em Seattle, EUA. Julho de 1988: o centro de Barcelona está tomado por uma multidão enorme, que aguarda o concerto mais esperado do ano. Ali, no coração da cidade, José Carreras celebra a vida e lança a Fundação Internacional José Carreras para a Luta contra a Leucemia, dedicada a pesquisas científicas, treinamento e capacitação de profissionais da área médica em prol da cura da doença. O objetivo, expresso em sua missão, é conseguir que a leucemia, algum dia, seja uma doença 100% curável, para todos e em todos os casos. Hoje, a Fundação Carreras é uma das maiores entidades beneficentes privadas do mundo, com sedes em Barcelona, Seattle, Genebra e Munique. No próximo ano, a Fundação comemora seus 30 anos com um trabalho de peso, que tem feito toda a diferença

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FOTO DE ELAINE JONES/CONCERTO NO TEATRO LICEU DE BARCELONA (2007)/ ARQUIVO MAURETTE BRANDT

Uma das vozes mais importantes do planeta faz este ano sua última turnê pela América Latina, que inclui quatro concertos no Brasil. Mas José Carreras vai muito além dos palcos quando se trata de solidariedade: à frente da Fundação que leva seu nome, tornou-se um dos maiores símbolos mundiais da luta contra a leucemia

na busca incansável da cura da doença em termos mundiais: além de manter um dos mais importantes Bancos de Doadores de medula óssea, a entidade também mantém o Banco de Cordão

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

Umbilical e desenvolve pesquisas científicas em várias frentes. Vidas transformadas É 7 de julho de 1990, véspera da final da Copa do Mundo na Itália. Vejo, num


intervalo comercial, que uma emissora de TV brasileira vai transmitir, ao vivo, um inusitado concerto nas Termas de Caracalla, para comemorar o encerramento da competição: Os Três Tenores, com Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras. A regência é do heróico Zubin Mehta, à frente de duas orquestras: Maggio Musicale Fiorentino e Orquestra do Teatro da Ópera de Roma. À hora combinada – e era bem tarde, por causa do fuso horário – me posto diante da TV e sou contagiada por toda aquela atmosfera – as ruínas iluminadas, a noite do mais negro azul, a música se desenhando no ar, com os acordes variados da afinação das orquestras, a partir do tom dado pelo spalla, e a entrada triunfal do mágico e sempre confiante Zubin Mehta. Logo em seguida, José Carreras sobe ao palco - e o mundo se desfoca para mim. Só, singelo, pequeno e suave em sua beleza aparentemente fragilizada, domina inteiramente a cena com uma profunda delicadeza ao cantar o Lamento di Federico, da ópera L’Arlesienne, de Francesco Cilea. Aquele Carreras estava diferente de tudo aquilo que eu já vira. Magro, muito magro sim, mas potente, como se uma força infinita saísse de dentro dele e obscurecesse todo o resto. Daí por diante os tenores se alternariam naquele que se tornaria um marco no mundo dos espetáculos e que seria repetido inúmeras vezes mundo afora. Árias conhecidas, como Recondita Armonia e E lucevan le stelle, da Tosca de Puccini; canções napolitanas vivas na memória de todos, como Core ‘ngrato e O Sole Mio; trechos de zarzuelas, como No puede ser, de..., e muito mais. Quase todo mundo viu, adorou e repetiu a dose. Milhares de jovens se viram atraídos para o mundo da ópera a partir daquele dia, no mundo inteiro. E Os Três Tenores viraram um fenômeno de mídia. Para mim, contudo, o que ficou e marcou mais fortemente foi a imagem de José Carreras, tão diferente do exuberante e talentoso artista que conquistara o mundo anos antes. Não nego minha ignorância: só depois desse dia é que fui investigar e descobri, atônita, que Carreras se curara de uma leucemia há menos de um ano, e que o concerto, em princípio, tinha o objetivo de celebrar seu retorno aos palcos e de angariar fundos para a fundação que o tenor acabara

O tenor cercado por jornalistas brasileiro em 1996

de fundar, entre outras benemerências. Mas aquele foi um momento de virada para mim, que passei a me interessar vivamente por aquela “segunda vida” de Carreras. A partir daí, aprofundei-me em sua obra artística e em sua bem-sucedida epopeia solidária, à frente da Fundação. Conhecemo-nos em 1991, na Argentina e, desde então, acompanho essa nobre saga, que tem desdobramentos importantes aqui no Brasil. Guida De Finis: um nome para guardar, quando o assunto é medula óssea Guida De Finis era uma das centenas de pessoas que se aglomeravam no estacionamento coberto do InCA, durante a visita de José Carreras à instituição, em março de 1996. Discreta e elegante, aguardava o momento de ver pessoalmente o tenor que a inspirara, seis anos antes, a mudar radicalmente sua vida e se engajar na luta contra a leucemia. Em meio ao empurra-empurra e sob os olhos vigilantes de três seguranças alemães, José Carreras chegou ao local. Guida guardava uma respeitosa distância quando, do nada, um dos seguranças do tenor passou o braço em torno dela e a puxou gentilmente para um círculo privilegiado, bem ao lado de Carreras. - Para mim, foi a mão de um anjo – relembra a voluntária que em poucos anos conseguiu reunir, em torno de si, uma respeitável rede de voluntários que atua em várias frentes, não apenas em medula óssea mas junto à ABTO – Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos e várias outras instituições ligadas ao universo dos transplantes e seus pacientes. - Foi a experiência de ver o Carreras ali naquele palco em Caracalla, pequeno, humano e ao mesmo tempo tão grande, que me fez acreditar que eu poderia e iria fazer alguma coisa para ajudar os pacientes – conta. Guida e eu nos aproximamos naquele mesmo dia e começamos a desenvolver uma colaboração interessante. Eu, jornalista, escrevia; ela, mais atuante no dia a dia,

divulgava as principais informações em sua rede e em seus círculos de atuação. Nesses vinte e poucos anos, aproveitamos todas as oportunidades possíveis para divulgar campanhas de doação, eventos para transplantados e, sobretudo, o trabalho do REDOME, que hoje é um órgão federal e motivo de justo orgulho para todos os brasileiros. REDOME , presença e esperança no Brasil e no mundo Fundado em 1993 no Hospital das Clínicas, sob a égide do Governo de São Paulo, o REDOME - Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea - chegou a ser fechado em 1997. – Não havia um apoio real, consistente e efetivo - conta Guida. – E naquela época havia poucos registros importantes no mundo: na prática, era o Bone Marrow Donors Worldwide/BMDW, dos EUA, o REDMO, da Fundação José Carreras; o ZKRD, da Alemanha, e só. Então, pra nós, perder o pouco que tínhamos, com o fechamento do REDOME, foi um duro golpe – relata. – Mas a luta para reabri-lo começou quase que imediatamente - acrescenta. A tão sonhada reabertura só viria a ocorrer em 2000, desta vez como órgão subordinado diretamente ao Ministério da Saúde. A partir daí, o REDOME estabeleceu convênios com hemocentros de todo o país e passou a oferecer gratuidade nos exames básicos para verificar compatibilidade de familiares e não aparentados. - A partir de 2000, quando foi reaberto pelo Ministério da Saúde, que o REDOME ganhou força, cresceu muito e se tornou não só o terceiro maior registro do mundo, mas o também o primeiro em diversidade – orgulha-se Guida. Ao REDOME se somou o REREME – Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea, cadastro geral de pacientes em busca de compatibilidade, que tem abrangência internacional. O REDOME também criou e passou a gerir uma forte rede de bancos de cordão umbilical, espalhados pelo país inteiro.

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- O cordão umbilical é a fonte mais pura para o transplante de medula óssea – esclarece Guida De Finis. – O mais importante é que os cordões umbilicais já estão prontos para ser usados, sem a necessidade de se buscar doadores. Mesmo com as restrições relativas ao peso do paciente a ser transplantado – é ideal para crianças ou adultos de compleição mais franzina – o cordão umbilical pode ser usado imediatamente e tem um índice de rejeição bem menor do que quando se transplanta a medula de um doador. A diversidade racial é um ativo importante para o Registro, pois amplia muito as possibilidades de se conseguir doadores “não aparentados”, ou seja, pessoas fora da família do paciente. - Em menos de 20 anos, o REDOME está entre os registros mais importantes do mundo e colabora muito com eles – relata Guida. – E já viabilizou, com sucesso, 2145 transplantes entre não aparentados! Este é um número incrível, um resultado espetacular mesmo. No entanto, apesar de sua forte atuação e dos resultados que vem alcançando, o REDOME ainda não é muito conhecido pelos brasileiros, de modo geral. – Esta é uma falha grave – aponta Guida. – Afinal, é um serviço gratuito avançadíssimo, e ter acesso a ele é um direito de todos os brasileiros. A gente tem o dever de divulgar isso melhor. O REDOME comunica regularmente seus resultados e promove campanhas para ampliar o número de doadores de medula óssea. E tem uma madrinha de peso: a atriz Cissa Guimarães. Além dela, outras celebridades - como a atriz Drica Moraes, que também se curou de uma leucemia após um transplante – têm participado de campanhas da instituição. Com mais de 4, 26 milhões de doadores castrados e a meta de conseguir outros 250 mil só este ano, o REDOME busca avançar na miscigenação e obter mais doadores nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Estender sua abrangência além das nossas fronteiras é outra meta importante. - É importante priorizarmos doadores com características genéticas que hoje não têm tanta representatividade no registro – observa o Dr. Luís Fernando Bouzas. - Como hoje a maioria dos doadores cadastrados é das regiões Sudeste e Sul,

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Na turnê brasileira de 2010, José Carreras fez questão de receber Margarida de Finis (esquerda) e Maurette Brandt (direita)

há predominância da raça branca. Desejamos intensificar também os esforços nas regiões de fronteira, de modo a incluir os indígenas brasileiros e também os países vizinhos, pois o REDOME pode auxiliar muito nas buscas de doadores na América Latina – informa. Os jovens entre 18 e 30 anos são outra prioridade. – Além dos transplantes terem mais chances de sucesso com doadores dessa faixa etária, eles permanecem no cadastro por mais tempo, já que a idade-limite para doar é 60 anos – lembra o Dr. Bouzas. Para ser um doador, o indivíduo deve ter entre 18 e 55 anos e gozar de boa saúde. – Para se cadastrar, basta procurar o hemocentro da cidade onde mora – informa o coordenador. – O processo é gratuito e indolor. Carreras vem aí em maio: será mesmo a última vez? A turnê “A Life In Music”, com a qual Carreras pretende encerrar sua carreira nos palcos, está em cartaz há três anos e chega à América Latina em menos de dois meses. Entre o final de maio e o início de junho deste ano, estão agendados concertos no Brasil (Rio, São Paulo e Fortaleza), na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. Os ingressos já estão à venda. - Esse negócio de “última turnê” tem um gostinho de despedida, mas ao mesmo tempo é motivo de celebração de uma vida inteira dedicada à música – observa Guida De Finis. - Mas não tem como a gente separar a música de Carreras da luta contra a leucemia, que é a causa da vida deste grande artista. Meu sonho sempre foi associar a presença de José Carreras,

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que mudou minha vida e meu modo de pensar, a uma grande campanha que mude e transforme outras vidas aqui no Brasil – revela. – Queremos muito que a marca da passagem de José Carreras por aqui, este ano, possa unir a sua música e a sua obra solidária em eventos que toquem o coração do brasileiro – completa. É minha hora de sorrir. Não que a posição de repórter me impeça de sonhar; ao lado de Guida, vivi momentos inesquecíveis na esfera da solidariedade, em concertos do tenor. A homenagem feita em telões nos concertos de 2010, no momento em que Carreras cantava “Aquarela do Brasil”, não me sai da memória – assim como o momento em que, juntas, Guida e eu entregamos a ele uma caixa feita à mão com centenas de origamis contendo mensagens destinadas a pacientes de leucemia na Espanha. Como será se pudermos, de alguma forma, lançar mais luz sobre o papel e a importância do REDOME/REREME com uma grande campanha solidária durante a turnê de José Carreras, que está batendo à porta, já no final de maio? Conseguiremos nós, com a força de um sonho, reunir parceiros que comunguem de nossas esperanças – uma poderosa rede de comunicação, agências de publicidade, empresas patrocinadoras – para mostrar ao país inteiro tudo aquilo que, juntos, podemos fazer para garantir aos pacientes de leucemia chances maiores de superar a doença, por meio do trabalho de um órgão como o REDOME, que já existe e funciona aqui no Brasil? Que venham os parceiros, pois o sonho já está em ação!


21 e 22 de junho de 2017 Local de realização: Fecomercio – São Paulo/SP REALIZAÇÃO:

Estão abertas as inscrições para o maior evento da área de RI e Mercado de Capitais da América Latina. As vagas são limitadas, faça já sua inscrição. O maior encontro do mercado de capitais brasileiro e da América Latina, em Relações com Investidores, já tem data marcada: dias 21 e 22 de junho de 2017. Uma vez mais a capital de São Paulo sediará o Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido conjuntamente entre a ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas e o IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores. O 19º Encontro Internacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais é parte do calendário de eventos das principais companhias abertas, agentes reguladores, dirigentes de entidades, analistas e profissionais de investimentos, bem como advogados, auditores e especialistas em relações com investidores de todo o Continente. Como acontece todos os anos, representantes de companhias abertas, bolsas de valores, consultorias e instituições financeiras deverão passar pelo evento, que reúne público superior a 700 pessoas em seus dois dias de realização. Paralelamente aos painéis da programação oficial, haverá uma exposição de serviços composta de estandes onde as empresas e instituições expõem seus produtos e serviços para um público customizado, tornando-se também um oportuno ponto de encontro de todo o mercado. Mais informações: Oportunidades de Patrocínio – 11 3104.1794 – sarita@sbeventos.com.br com Sarita Bucher (11) 3107.5557 - (11) 3106.1836 www.encontroderi.com.br

PATROCINADORES OURO:

PATROCINADORES PRATA:

PARCEIROS DE MÍDIA:

ORGANIZAÇÃO:

APOIO INSTITUCIONAL:

ABRAPP, ABVCAP, ANBIMA, ANCOR, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC, IBMEC

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Pelo Mundo

Ensaio fotográfico

CABO DA ROCA Texto e fotos de Tom Correia Especial para Plurale De Lisboa, Portugal​

Em pouco mais de meia hora, a partir de Lisboa, chega-se de trem a Sintra ou Cascais. De Sintra, mais quarenta minutos de ônibus que percorre uma estrada sinuosa e estreita até chegar ao ponto mais ocidental do continente europeu. A tarde iluminada pelo sol de inverno ressalta as belezas de um lugar que inspirou Luís de Camões (1524-1580) a escrever o verso onde a ter-

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ra se acaba e o mar começa. As falésias, o vento sobre a vegetação, o farol e o silêncio das pessoas vislumbrando o Atlântico que indica o caminho para as Américas formam um conjunto de rara composição. Andar sobre as pedras do Cabo da Roca é uma experiência que revela um mosaico de lembranças desconexas. Recordo a Chapada Diamantina, as aulas herméticas de Trigonometria e a fala de um personagem do filme “Terra Estrangeira” (1995), de Walter Salles e Daniela Thomas: isto aqui não é sítio para encontrar ninguém. É o lugar ideal

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

para perder alguém ou para perder-se de si próprio. Entre achados e perdidos, quem visita a Roca pode jamais voltar a ser a mesma pessoa. Não importa a época do ano. Tom Correia é fotógrafo, jornalista e escritor. Entre janeiro e março de 2017 morou em Lisboa para desenvolver o projeto de residência fotográfica Breve cartografia do silêncio, selecionado para contar com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Mais: www.tomcorreia.com.br


E n s a i o

TEXTO E FOTOS:

TOM CORREIA, DE PORTUGAL

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Pelo Mundo

E n s a i o

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2017

TEXTO E FOTOS:

TOM CORREIA, DE PORTUGAL



Bem-estar

M O S O D A I P A TER UMA ES Por Lou Fernandes Prem-Indira, Especial para Plurale Mestra em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da UFRJ Fotos de Divulgação

I

magine uma terapia onde a comunicação entre o som e as células aconteça de forma direta, reorganizando, equilibrando e harmonizando as frequências e ritmos naturais do corpo. E, ainda, proporcionando a revitalização celular, o restabelecimento da saúde e reorientando o fluxo da energia no corpo. Essa terapia existe e foi desenvolvida há mais de 30 anos na Alemanha, pelo engenheiro físico e pedagogo Peter Hess. Seu estudo começou após fazer uma viagem à Índia, nos

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CUTA C

anos sessenta, e observar o efeito que o som proporcionava no estado mental das pessoas. De acordo com o pensamento oriental, o homem foi criado pelo som, ou seja, ele é som e, portanto, emite uma vibração. Deste dia em diante iniciou uma busca incansável de materiais apropriados na confecção das taças. Pesquisou todos os materiais de que eram confeccionadas as taças, em lugares como o Nepal, e sua utilização tanto nas meditações como nos rituais sagrados dos monges e até dos xamãs. Além desta pesquisa, o Engenheiro e também Pedagogo avaliou a vibração e o que ocasionava nas pessoas que as ouviam e como era o som sob o corpo. Após muitos estudos,

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

ELULAR

Peter Hass conseguiu chegar a um tipo de material que permite a liga perfeita para que a taça seja realmente terapêutica. Assim nasceu a Massagem de Som Peter Hess®. Para atingir o som perfeito, o Engenheiro treinou cada pessoa na sua confecção que passa por três controles de qualidade em relação ao som, ao ritmo, espessura e tamanho da borda. O conjunto é formado por 30 taças de tamanhos e funções diversas. Participar de uma sessão leva a pessoa a um relaxamento profundo e regenerador. Elas são colocadas em cima e/ou ao lado


do corpo vestido da pessoa e tocadas suavemente por uma baqueta de madeira com a ponta de feltro ou algodão. Os sons e as vibrações emitidas pelas taças terapêuticas criam um fluxo energético que percorre todo o corpo, dissolvendo bloqueios a nível físico, mental, emocional e energético. Peter Hess explica que, pelo fato de atuar a nível celular, onde as vibrações passam pela nossa pele, epiderme, músculos, cavidades, líquidos, chegando até os nossos ossos, ser uma massagem que consegue chegar onde nenhuma outra consegue. Mesmo se a mente da pessoa estiver viajando por outros lugares durante a sessão, isso não impede o relaxamento do corpo, esclarece a Terapeuta Regina Santos, certificada e formadora autorizada pelo Peter Hess Institut, na Alemanha. Formada em piano pelo Conservatório Brasileiro de Música e Licenciatura em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal Fluminense, Regina conta que conheceu a Massagem de Som Método Peter Hess, em Portugal, num evento e ficou impressionada com os resultados. Confessa que foi amor à primeira vista. Desse dia em diante se dedicou ao método e, em 2010, conclui toda a formação pela Academia Peter Hess Portugal e ainda o Curso de Gongo pelo Método Elisabeth Dierlich (Graus I e II), Curso de Massagem de Som na Neurologia com Angelika Rieckmann, dentre outras terapias de som. Regina também é praticante de Reiki pelo Sistema Tradicional Usui, nos níveis I e II.

Em recente visita ao Brasil, o criador da terapia, o engenheiro físico e pedagogo Peter Hess, e a terapeuta Regina Santos, certificada e formadora autorizada pelo Peter Hess Institut, na Alemanha.

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Bem-estar

Uma massagem de som equivale a uma noite de sono reparador De acordo com Regina, todos os terapeutas credenciados pelo Instituto se empenham em realizar um constante trabalho científico para que o Método Peter Hess esteja em constante evolução e aperfeiçoamento, assim como o material desenvolvido juntamente com a Massagem de Som. Experimentos científicos demonstram que esse relaxamento a partir da vibração e dos sons harmoniosos e calmantes das taças terapêuticas resulta na regeneração, revitalização celular, restabelecimento da saúde, reorientando o fluxo da energia no corpo. Já foi comprovado que uma sessão de Massagem de Som equivale a uma noite de sono reparador. Isso ocorre porque a técnica proporciona uma experiência vibro-tátil, que permanece de forma atenuada por cerca de três a sete dias (ou mais) no corpo, e auditiva através dos sons suaves e hipnóticos das taças – esses elementos proporcionam rapidamente uma sensação de relaxamento e bem-estar, enquanto isso, as ondas sonoras propagadas que se espalham pelo corpo, resultam no reestabelecimento de ressonâncias saudáveis que nos equilibram e harmonizam, naturalmente presentes no estado saudável. O corpo sempre vai em busca do equilíbrio Durante a massagem de som, tanto o

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cliente como o praticante entram em ressonância com a vibração e isso faz com que se tornem um conjunto harmônico. A Terapeuta Regina explica que o corpo sempre vai em busca do que é mais saudável. Existe uma orientação, como um chip nas células que busca o equilíbrio mesmo em situações de alto estresse. Por tanto, a vibração saudável (mais forte) se sobrepõe à vibração de doença (mais fraca), e é nesse sentido que as vibrações sonoras das taças de som terapêuticas atuam no corpo. Conforme explica Regina, que já formou vários terapeutas no Brasil, a Terapia do Som busca fortalecer as células saudáveis para que estas entrem em ressonância com a memória saudável que todas as células afetadas têm guardadas em seu núcleo, no caso da pessoa não ter nenhuma doença congênita. Quando isso acontece, a memória originalmente saudável de cada uma dessas células é ativada e vem à tona, se sobrepondo à parte afetada, lembrando à essas células que estão em desarmonia e desequilíbrio como é uma vibração saudável, contribuindo assim no processo de auto cura, recuperando o equilíbrio e a harmonia interior. Utilizada em várias clínicas e hospitais na Europa, a técnica é aplicada com êxito na complementação de tratamentos de várias áreas médicas, fisioterapia, psicoterapia, musicoterapia, dependen-

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2017

tes químicos em recuperação, psiquiatria, pessoas com necessidades especiais e, extensiva à pedagogia, à área organizacional, e até veterinária. Também pode ser conjugada a outras terapias como Reiki, Acupuntura, Terapia Floral, Aromaterapia, Cristalterapia, Shiatsu, Apotencializando os seus efeitos. As áreas de aplicações A Massagem com Som é indicada para problemas circulatórios, digestivos, cardíacos, dores articulares, na recuperação dos acidentes cardio- vasculares, AVC (inclusive na recuperação dos movimentos), Parkinson, Alzheimer, e outros problemas de saúde. Além de ser um excelente método no relaxamento, pânico e facilita na resolução de conflitos e situações de estresse. É perceptível os efeitos positivos na aparência da pele, na expressão facial e no olhar, como pode ser comprovada nas fotos antes e depois da massagem. A terapeuta Regina diz que além de atuar na recuperação de movimentos, na obstetrícia, nas terapias da fala, enfermarias, Unidades de Tratamento Intensivo, casas de repouso, no trabalho com idosos e pessoas com necessidades especiais, junto a pessoas em situação terminal. Informações para saber da Agenda de Cursos www.academiapeterhess.com.br Telefones:(21)2275-7549 e 97548-9060 –WhatsApp (Regina Santos)


VIDASa u d á v e l Pastas de nuts fazem sucesso​ Do Rio

DIVULGAÇÃO

Já está provado pela ciência que as gorduras não são as vilãs da alimentação como muita gente acreditou durante décadas. Pelo contrário: alimentos naturalmente gordurosos como coco e oleaginosas, por exemplo, fazem bem à saúde, promovem saciedade e auxiliam no emagrecimento. As manteigas de coco e pastas de nuts TARTINER são artesanais, feitas em moinho de pedra, com ingredientes de primeira qualidade (sem adição de açúcar, óleo nem qualquer conservante). Ideais para quem segue um estilo de vida low carb (de baixo carboidrato), paleo (sem grãos nem industrializados), ou veganos, que não do consomem derivados do leite nem qualquer proteína animal. Todos os nossos produtos são sem glúten e sem lactose. Instagram: @tartiner_nuts Facebook: fb.me/tartinernuts WhatsApp: (21) 99978-0528

Empresas lançam linha de sabonetes produzida com borra de café Do Curitiba

Com o objetivo de aproveitar ao máximo todas as propriedades dos cafés especiais, o grupo curitibano Café do Moço, em parceria com a L’odorat – Saboaria e Cosmética Artesanal, acaba de lançar uma linha exclusiva de sabonetes esfoliantes. O produto foi produzido com a borra dos cafés da cafeteria do grupo (Barista Coffee Bar), aproveitando todos os benefícios do grão do café. O sabonete não utiliza nenhum ingrediente de origem animal em sua composição, além de ser biodegradável, ou seja, ele não agride o meio ambiente. O cheirinho é agradável e o café atua apenas na esfoliação, suave e delicada, ótima para o dia a dia. Outro ponto importante, é que devido ao seu processo artesanal de produção, o sabonete acaba preservando um item essencial para a hidratação da pele: a glicerina, que nos sabonetes industriais acabada sendo substituída por produtos químicos. O que antes era jogado fora, agora tem novo destino, a produção de sabonetes com propriedades esfoliantes DIVULGAÇÃO

Mercado sem glúten em alta O mercado de alimentos sem glúten vem apresentando um crescimento significativo nos últimos anos. O setor cresce apoiado na necessidade dos portadores da doença celíaca e intolerantes ao glúten e no hábito crescente dos consumidores pelo consumo de produtos saudáveis. Segundo dados da consultoria internacional Euromonitor o mercado cresceu 20% em 2015 e deve prosperar 32% até 2020. As lojas de produtos naturais e supermercados já têm prateleiras exclusivas apenas para este tipo de produto sem glúten e também para os sem lactose. Preste atenção aos rótulos, especialmente para quem for alérgicos. Pães, biscoitos, massas e outros itens estão crescendo na preferências dos consumidores brasileiros. Está buscando boas receitas? Recomendamos os sites da colega jornalista Débora Pusebon - https://www.semglutensemlactose.com/ e também o Blog da Monalisa Cavallaro, que descobriu intolerância à lactose em 2009, aos 24 anos - http://www. diariosemlactose.com/

Em homenagem ao Dia do Consumidor, Procon Estadual do Rio lança guia digital para compras em supermercados Em homenagem ao Dia Mundial do Consumidor, que foi comemorado no dia 15 de março, o Procon Estadual do Rio lançou um guia digital com dicas para compras em supermercados. em um único arquivo em PDF, estão reunidas orientações e informações sobre temas como planejamento das compras, cálculo das despesas, venda casada e promoções relâmpago, entre outros. O arquivo pode ser lido ou baixado neste link: http://www.procon.rj.gov.br/procon/assets/arquivos/arquivos/Guia-Digital-Mercado.pdf As dicas foram resumidas em pequenos tópicos, com linguagem simples e direta. Uma vez baixado o arquivo, não é preciso estar conectado à internet para acessar o conteúdo, seja de um computador, tablet ou smartphone. O guia digital destaca, por exemplo, que os estabelecimentos não são obrigados a aceitar cartões de crédito ou débito. Mas, caso aceitem, não podem estabelecer valores mínimos para seu uso.

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Literatura infantil

A I S A FANT QUE ENSINA Por Jean Pierre Verdaguer Especial para Plurale Fotos de Divulgação

Q

uantas vezes já se abordou, em sala de aula, temas como contaminação das águas, uso inadequado do solo, poluição atmosférica e outros tópicos relacionados à relação incrivelmente desrespeitosa que a civilização tem com a natureza? Cartilhas, palestras e semana do Meio Ambiente são recursos que dão conta da teoria, mas que nem sempre conseguem cativar o aluno. Vivemos uma época que pede urgência em educar os pequenos para a consciência ambiental, e existem milhares de publicações paradidáticas que suprem, em tese, essa demanda. Mas será que a literatura também deve abraçar causa? Segundo as autoras de Pablo e o Ciclo da Água, um livro que conta as aventuras e transformações de um boneco de neve e seus amigos, a resposta é um lúdico e retumbante “sim”. Conversamos com a engajada escritora Raquel Ribeiro e Andréia Vieira, ilustradora que une talento e sensibilidade para criar personagens e paisagens plenos de vida. Plurale- Qual é a história de Pablo? Raquel- Pablo é um boneco de neve que nasceu e viveu em Sierra Nevada, na Espanha, até que três garotas o encontram, percebem sua solidão e criam dois companheiros para ele. Com Miró e Pilar, os bonecos se divertem até... a chegada da primavera! Aí começa a grande aventura. Enquanto os três amigos atravessam o Atlântico, o leitor vai admirando a riqueza das águas e sua fabulosa capacidade de transformação. De forma indireta, a criança percebe que a água é um recurso que se

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Jornalista e escritora Raquel Ribeiro e a ilustradora Andréia Vieira lançam o livro “Pablo e o Ciclo da Água”, pela Editora Bambolê, falando sobre temas como contaminação das águas, uso inadequado do solo, poluição atmosférica para as crianças Raquel Ribeiro é jornalista engajada na causa ambiental e autora de A Fuga das Minhocas.

recicla naturalmente, mas que sofre o impacto negativo das ações humanas. Plurale- O que vocês trouxeram de novo ao abordar o ciclo natural da água? Andréia- Como diria Rubem Alves, a educação deve criar a alegria de pensar, pois só aprendemos quando criamos uma relação de amor e curiosidade com o quê e com quem nos ensina. E só protegeremos nosso planeta, quando

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tivermos esse senso de pertencermos, trazendo essa consciência de maneira natural e amorosa em cada gesto diário. O livro convida a criança a fazer essa ponte, levando-a a viajar com as águas, por meio da brincadeira, da imaginação e de uma história fluida, leve e divertida. Plurale - De que forma o livro contribui para a educação ambiental dos pequenos? Raquel- Quando escrevi meu


primeiro livro para crianças, A Fuga das Minhocas, estava completamente encantada com o processo de compostagem de resíduos orgânicos. Via (e ainda vejo) como solução para o problema do lixo! Usei a aventura das minhocas para ensinar sobre o assunto e incentivar o consumo consciente. Pablo não levanta a bandeira ecológica de forma tão óbvia... O aprendizado se dá nas entrelinhas: a criança pode se ater mais nas relações de solidariedade, amizade e confiança entre os personagens ou problematizar a questão da água. Todas as leituras são desejáveis. Plurale- Pela experiência de vocês, o que leva o leitor a aprender sem perceber que está aprendendo? Raquel- Acredito no prazer do texto e na sedução das palavras. Quando a criança é fisgada por uma imagem (seja uma rima, uma piada ou uma cena), ela decora. Vale lembrar que a origem dessa palavra é cor, coração. Ou seja, ela aprende pelo caminho do coração. Ver uma foto de uma tartaruga estrangulada por um aro plástico ensina, claro, mas a de um belo coral, também! Não tivemos tevê em casa durante toda a infância da minha filha e hoje percebo como selecionar desenhos para

ela assistir em DVD ajudou a formar seu caráter. Kung Fu Panda, Toy Story e Wall-E são ótimos exemplos de filmes educativos que não se vendem como educativos. Para além de educativos, são edificantes! Honra, responsabilidade e compaixão são alguns dos valores belamente transmitidos. É com essa turma que Pablo se identifica! Andréia- O prazer, a curiosidade, a alegria e também – por que não? – os sentimentos de tristeza e recolhimento. Um livro pode ajudar a criança a dar voz a seus fantasmas e sonhos, em uma fase em que muitas vezes não sabe nomear os sentimentos. Somos também cativados por imagens escritas ou desenhadas, como as cores que evocam um pôr do Sol, um abraço que lembra o carinho de uma avó, o movimento dos pés batendo na água fresquinha, que nos remete ao prazer que a natureza nos traz. Um bom livro

deve ter imagens que tocam o leitor por meio de uma síntese lírica dos sentimentos. Plurale- Pablo e seus amigos passam pela mudança de estado físico. Como ilustrou essa transformação? Andréia- Ah, esse foi um dos maiores desafios que senti e me fascinou ao receber o projeto! Achei simplesmente deliciosa essa inquietude da transformação que a história traz, porque reflete nossa próprias transformações de vida: vivemos nos desmanchando, nos reerguendo, nos reconstruindo e por vezes com a ajuda de outros. Por isso mesmo, achei que Pablo não deveria aparecer na capa: compreendi que o grande personagem do livro é a natureza. Procurei passar essas sensações através do movimento das águas, da neve, do sol que brilha, das alterações de cores. Plurale- Como imaginam Pablo e o Ciclo da água em sala de aula?

Ilustradora e escritora, Andréia Vieira é autora de Duda Bocuda e Betina Quero-Quero.

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Literatura infantil

Raquel- Criei a história durante uma viagem à Espanha, para minha filha, na época com sete anos. Acho que os bem pequeninos vão se apaixonar pelas ilustrações dos divertidos bonecos de neve. E os pré-adolescentes talvez se identifiquem com o processo de transformação – afinal, eles sentem isso no próprio corpo! O professor pode pegar vários ganchos: pegada da água, realidade dos mares e o ciclo da água propriamente dito. A leitura pode inspirar a construção de um terrário hermeticamente fechado, de uma oficina culinária, ou de um estudo geográfico

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(a aventura começa no sul da Espanha e termina no litoral brasileiro). Também podemos simplesmente contar a história, deixando a turminha fantasiar livremente. Andréia- Procurei incluir elementos de fauna e flora que remetessem à Sierra Nevada, como as gencianas azuis, flores belíssimas de cores vibrantes e como alerta ambiental fiz apenas uma referência discreta ao lixo dos mares. É um tema fundamental, mas preferi optar por um trabalho luminoso. Acredito que a disseminação da luz e beleza no mundo pode despertar sentimentos de trans-

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formação no planeta.. E o trabalho continua além do livro e da sala de aula! A turma pode, por exemplo, promover um mutirão de limpeza de um rio, uma praia, uma praça. O que os olhos veem, o coração sente e jamais esquece. Certa vez ouvi um menino pequeno perguntar se a laranja nascia na caixinha. A reaproximação com a natureza é fundamental em tempos de suco em caixinha e água engarrafada. Onde encontrar: Editora Bambolê (www.editorabambole. com.br), nas livrarias Blooks (RJ e SP) e Letraria (Florianópolis)


Estante A verdade é teimosa, por Míriam Leitão, Editora Intrínseca, 384 páginas, R$ 39,90 Com 25 anos de colunismo diário em O Globo, Míriam Leitão está acostumada a ver além dos acontecimentos. Para a jornalista, a crise pela qual o Brasil passa hoje já estava anunciada havia muito tempo, pois o governo fechou os ouvidos a todos os alertas e a todas as críticas, enquanto fazia escolhas desastrosas. Em seu novo livro, A verdade é teimosa, Míriam apresenta 118 textos produzidos desde 2010, quando falar em crise econômica parecia um verdadeiro atrevimento, até novembro de 2016, quando o governo Temer atravessava momentos de grande instabilidade política. Com uma linguagem clara, a obra examina os antecedentes que levaram à recessão, à desordem fiscal e à inflação, bem como aos momentos mais agudos da crise em si.

Essa menina, por Tina Correia, Editora Alfaguara, 272 páginas, R$ 39,90 Romance de estreia de Tina Correia, Essa Menina traduz a cultura popular nordestina numa narrativa comovente Durante muito tempo, ninguém soube o verdadeiro nome de Esperança. Para todos, ela era Essa Menina. Decidida a reunir num livro as memórias de sua infância, ela desperta a criança curiosa que vivia a escutar a conversa dos adultos. Ao descrever as festas, as comidas e as brincadeiras no quintal, revela ao leitor, ainda que sob a perspectiva infantil, os anseios, fragilidades e sonhos dos que estavam à sua volta. Os grandes eventos políticos dos anos 1930 a 1960 são o pano de fundo dessas dramáticas e emocionantes histórias. Ora testemunha, ora protagonista, é a menina de olhos grandes e curiosos quem nos conduz por essa narrativa quase mítica, ambientada no interior do Nordeste.

Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

O poder da sombra, por José Roberto Arruda Silveira O poder da sombra é uma novela policial baseada em fatos reais, que mostra os bastidores da política de uma região do interior de São Paulo. José Roberto Arruda Silveira é jornalista e formado em Direito. Trabalhou nos jornais Diário de Notícias e Tribuna da Imprensa, em 1963; no Jornal do Brasil, de 1964 a 1970; Última Hora, até a saída de Samuel Wainer; e Correio da Manhã, até seu fechamento pela ditadura militar. Com o editor Nahum Sirotsky, levou ao ar na antiga TV-Rio, o primeiro programa de entrevistas da televisão brasileira, “Entrevista Colativa”, que durou apenas quatro meses, e foi tirado do ar por ordem do general Geisel. Depois trabalhou na revista Fatos & Fotos onde escrevia duas páginas sobre economia. Na Rede Manchete, elaborava o roteiro do programa dominical. Em seguida, foi trabalhar no Estado de S. Paulo e no Jornal da Tarde, de 1974 a 1988, onde foi coordenador de economia e repórter especial. De 1987 em diante, trabalha como analista econômico da FINEP, empresa governamental de financiamento à inovação.

Oração de São Francisco – Turma da Mônica, por Mauricio de Sousa, Editora Ave-Maria, 40 págs, R$ 19,90 Depois de cinco títulos publicados em parceria com Mauricio de Sousa e mais de 1 milhão e 300 mil exemplares vendidos, a Editora Ave-Maria inicia 2017 com mais uma obra que vai agradar os fãs da Turma da Mônica. O livro “Oração de São Francisco – Turma da Mônica” traz aos leitores a oração da paz de São Francisco de Assis. Ele era de uma família muito rica, mas abandonou todos os seus bens materiais para viver uma vida simples, mostrando, assim, que não é preciso muito para ser feliz, tentando, em tudo, imitar o seu maior mestre, Jesus Cristo.

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Em maio Semana ABC A Semana ABC, que acontece entre os dias 10 e 12 de maio, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é um evento anual aberto ao público, promovido desde 2002 pela Associação Brasileira de Cinematografia. O objetivo é apresentar ao mercado, estudantes e profissionais do audiovisual novas tendências de trabalho e gerar reflexão em torno de temas variados por meio de conferências, painéis e debates, que reúnem personalidades de diversas áreas do setor, do Brasil e do exterior, além de outras atividades, como exposições de equipamentos. Nesta edição serão mais de dez mesas com temas como a participação das mulheres no audiovisual brasileiro, além das tradicionais voltadas à educação, som, direção de arte e montagem.

Campanha pede respeito ao índio Num vídeo de pouco mais de um minuto o Instituto Socioambiental (ISA) pede mais respeito e menos preconceito com os índios. O vídeo feito com o povo baniwa, que vive no Alto do Rio Negro, Amazonas, é parte da primeira campanha que o instituto faz para TV, cinema e internet produzida pela Pródigo Filmes. ”Somos os Baniwa, vivemos no Alto Rio Negro, Amazônia. Andamos pelados. Nosso único esporte é caçar. Não temos pátria nem religião. Comemos com as mãos e cortamos o cabelo sempre igual...Isso, pelo menos, em 1.500. De lá para cá, tudo mudou. E, se mesmo assim, você continua a ser ‘homem branco’, porque nós não podemos continuar a ser índio?”. Essa é a pergunta que fecha o vídeo e leva a reflexão. Hoje são mais de 250 povos indígenas que sofrem racismo e preconceito por terem incorporado hábitos e tecnologias não indígenas a sua rotina. Para assistir acesse: https://www.youtube.com/watch?v=uuzTSTmIaUc

Subimos no ranking mundial do cinema Os dados são do relatório anual da Motion Picture Association of America (MPAA), que analisa a situação da indústria nos Estados Unidos e no resto do mundo. O Brasil subiu duas posições no ranking dos maiores mercados de cinema do mundo em 2016. Passamos da Rússia e da Itália e acabamos em décimo lugar.

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Ação da Cidadania cria laboratório audiovisual O Laboratório Audiovisual Ação da Cidadania, fruto de parceria com a Fundação Ford, é o projeto inaugural do recém criado Núcleo Audiovisual Ação da Cidadania e tem como objetivo contribuir para a formação profissional e aceleração de projetos de jovens realizadores audiovisuais, preferencialmente residentes em periferias. O ciclo de atividades do Laboratório Audiovisual Ação da Cidadania será realizado no Rio de Janeiro, ao longo de 2017 e utilizará metodologias colaborativas, experiências inspiradoras e empreendedoras.

Documentário em verde e rosa A primeira coisa que vem à mente do brasileiro, que gosta de samba e carnaval, quando se fala em verde e rosa é a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. O documentário “Memória em Verde e Rosa”, de Pedro von Krüger, registra o morro da Mangueira e seus personagens, as memórias da escola, do samba, seus compositores, moradores da comunidade. Mescla entrevistas atuais com um rico material de arquivo com Cartola, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Padeirinho, entre outros. A produção é da Com Domínio Filmes e Formiga Produções Culturais. Breve em cartaz nos cinemas.

Vem aí a 11ª edição do Visões Periféricas Acontece de 4 a 11 de setembro de 2017, a 11ª edição do Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro. As inscrições já estão abertas para as seguintes mostras: Visorama, filmes de até 30min produzidos por alunos de oficinas, escolas livres e projetos de formação em audiovisual; Fronteiras Imaginárias, filmes de até 30min produzidos por realizadores independentes e coletivos de audiovisual; Tudojuntoemisturado, filmes de até 5min produzidos por qualquer realizador, através de dispositivos móveis. São aceitos vídeos no formato remixagem, mashup e videoclipe. Os filmes dessa mostra serão exibidos e votados no site do festival; Panorâmica, filmes com duração de pelo menos 40’ (média e longa).


Para onde vai sua carreira? É aqui que você encontra instrutores conectados com o mercado de trabalho e um programa de disciplinas, workshops, networking e leituras que vão orientar o seu futuro profissional. A Aberje e a Eseg sabem do que estão falando e têm reconhecimento público e amplo sobre isso. Analise a capacidade do curso em reunir uma diversidade de tempo de carreira, idade, formação, gênero e até objetivos de estudo entre os alunos e garanta um formato de aprendizagem efetivo.

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Pelas Empresas

ISABELLA ARARIPE

PwC Brasil dá início ao programa de recrutamento de trainees

N

De São Paulo

o dia 1º de fevereiro, a PwC Brasil, líder global em auditoria e consultoria, deu início ao recrutamento de trainees por meio do programa Nova Geração. Podem participar estudantes universitários, de diversas áreas, que estejam cursando a partir do 2º ano da faculdade ou que tenham se formado há no máximo dois anos. São mais de 400 vagas para candidatos de áreas como Administração, Ciên-

cias Atuariais, Ciências Contábeis, Economia, Direito, Estatística, Engenharia e Relações Internacionais, entre outras. O processo seletivo será realizado até o dia 20 de março e os novos trainees deverão ser contratados em julho. Para a seleção de 2017, o Programa Nova Geração da PwC Brasil, está investindo na geração millennials, desconstruindo os clichês sobre eles e acreditando no potencial dos jovens, mostrando como estes profissionais estão em sintonia com os propósitos e crenças da PwC Brasil. Os novos profissionais contam com a oportu-

nidade de construir sua carreira na PwC e se tornarem sócios da empresa. Mais de 90% dos atuais sócios ingressaram na firma como trainees. Mais informações estão disponíveis no link www.pwc.com.br/novageracao

Coca-Cola Brasil e Banco do Nordeste investem R$ 20 milhões em inovação para acesso à água Do Rio de Janeiro

A Coca-Cola Brasil se uniu ao Banco do Nordeste (BNB) na formação de uma aliança para viabilizar iniciativas de acesso à água, principalmente no Norte e Nordeste. A parceria, anunciada no dia 21 de março, vai até 2020, com investimento inicial de R$ 20 milhões e espera beneficiar, inicialmente, 40 mil pessoas. Pela primeira vez algumas das principais organizações que trabalham para viabilizar o acesso à água irão se juntar para buscar e testar soluções inovadoras e autossustentáveis. A aliança vai viabilizar investimentos que vão além de ações tradicionais e restritas. O objetivo é desenvolver modelos possíveis de serem repli-

cados por todos os setores da economia e, assim, diminuir o déficit de pessoas sem acesso à água potável no Brasil. O grupo será formado por ONGs, empresas e instituições privadas e públicas, que juntas atendem mais de 600 mil pessoas. “Água é o DNA do nosso negócio e estamos determinados a criar valor além das fronteiras das nossas fábricas e da nossa cadeia produtiva. Por meio dessa aliança vamos potencializar o ecossistema de acesso à água no país. Acreditamos que podemos usar nossa capilaridade, expertise e vocação e contribuir para que cada vez mais brasileiros tenham acesso à água de forma segura e sustentável”, afirma Pedro Massa, diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil.

Enel Green Power Brasil doa sistema de microgeração de energia solar para o Parque Tecnológico da Bahia DIVULGAÇÃO

De Niterói

A Enel Green Power Brasil, subsidiária brasileira da Enel de energia renovável, doou um sistema de microgeração de energia solar para o Parque Tecnológico da Bahia, o maior centro de pesquisa em inovação do estado. O sistema já está fornecendo energia para a incubadora de negócios da instituição (ÀITY), localizada na cidade de Salvador e que pertence à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado da Bahia.

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“A Bahia é um estado estratégico para a Enel no Brasil,” informou Luigi Parisi, Responsável pela Enel Green Power Brasil. “A Bahia é atualmente o estado com maior participação na nossa capacidade em renováveis no Brasil, considerando os projetos que estamos operando e que estão em construção. Nosso apoio em ajudar a um centro

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de pesquisa a se tornar mais sustentável e eficiente reforça nosso compromisso com inovação e desenvolvimento sustentável na região.” A Enel Green Power Brasil financiou a instalação do sistema fotovoltaico de 4,32 kWp, efetuada em fevereiro. Os painéis vão evitar a emissão de 3,64 toneladas de CO2 na atmosfera por ano.


No Dia Mundial da Água, Grupo Boticário comemora redução de uso em 61% desde 2005​ DIVULGAÇÃO

De Curitiba

Já não é de hoje que se busca a redução na utilização dos recursos naturais no processo produtivo, para reduzir a pegada ambiental das empresas. Em indústrias, o processo é ainda mais delicado, porque envolve a troca de maquinários e investimentos de grandes vultos. O Grupo Boticário vem à frente dessa tendência e, a cada ano, reduz ainda mais a pegada hídrica de suas operações. Para se ter uma ideia, desde 2005 já reduziu em 61% o consumo de água no processo industrial da fábrica de São José dos Pinhais, a mais antiga do Grupo, instalada no Paraná. A meta estabelecida na estratégia de sustentabilidade previa que, até 2018, 50% do consumo de água seria reduzido em relação a 2005. Entre as iniciativas que mais contribuíram para a redução no consumo está o sistema de reúso de água nas nossas fábricas. Em 2016, cerca de 27% da água consumida nas plantas industriais do Grupo Boticário foi proveniente de reúso. Além disso, o sistema de lavagem dos utensílios usados na fabricação dos produtos, que era realizada manualmente, agora é feita com uma lavadora automática, que permite economia de água, mantendo a qualidade do processo. Cerca de 35% do consumo dos centros de distribuição do Grupo Boticário, instalados em São Gonçalo dos Campos e Camaçari é proveniente de água da chuva.

Outro exemplo relevante para o uso racional da água vem das unidades do Grupo Boticário na Bahia. Tanto a fábrica de Camaçari quanto o centro de distribuição de São Gonçalo dos Campos têm a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e adotaram conceitos de construção sustentável garantindo um potencial de redução do consumo de água superior a 75%, comparando com empreendimentos do mesmo porte sem a certificação. “O processo de economia de água em uma indústria é semelhante ao que podemos desenvolver em casa. Começa-

mos identificando onde estão os principais pontos de gastos e as oportunidades de investimento. A economia financeira que temos com a redução no consumo justifica novos investimentos e, assim, o processo se torna cíclico. Aqui no Grupo Boticário, começamos com uma medição setorizada, depois seguimos para o reúso da água e utilização de água da chuva, para finalizar com a instalação de processos e equipamentos mais ecoeficientes que nos garantem a redução no consumo anual, com benefícios para todos”, comemora Malu Nunes, gerente de sustentabilidade do Grupo Boticário.

LG lava roupa no Deserto do Atacama pelo Dia Mundial da Água De São Paulo

Economia na conta de água e na natureza. A LG Eletronics do Brasil aposta em um experimento inusitado para promover a linha de Lava&Seca Smart Care LG, que consome muito menos água que as lavadoras convencionais, e incentivar a economia de recursos naturais. Criado pela agência Y&R, a iniciativa mostra que é possível usar a máquina de lavar utilizando água extraída de cactos, em pleno deserto do Atacama (Chile). O vídeo estreou no, Dia Mundial da Água, 22 de março, em todos os canais digitais da marca.

Sob a consultoria dos botânicos Marlon Câmara Machado e Ricardo Cardim – mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e criador da técnica “Floresta de Bolso”, a ação marcará o lançamento da plataforma “Campo de Teste”. Nela, os produtos da LG vão enfrentar situações atípicas, com diferentes desafios. “Buscamos, por meio de produtos e soluções, trazer aos nossos consumidores inovação para uma vida melhor, juntamente com os novos hábitos de consumo, com o intuito de auxiliar na economia de água e energia”, afirma Tânia Silva, Gerente de Marketing da LG Electronics do Brasil.

DIVULGAÇÃO

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I m a g e m ARTE DE CELA LUZ, NOVA YORK

A

jovem artista CELA LUZ nasceu no Rio de Janeiro, mas é uma cidadã do mundo. Depois de estudar Design na PUC-Rio, se especializou nas mais relevantes escolas de Nova York, onde fincou raízes há alguns anos. Produz uma arte engajada e pop. Como esta tela incrível, colorida e contemporânea. Quem quiser conhecer mais do belíssimo trabalho da designer CELA LUZ basta acessar o portal http://celaluz.com.br/ ou a página no Facebook - https://www.facebook.com/celaluzpage/



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