Plurale em revista ed 17

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ano três | nº 17 | maio/junho 2010 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

ENSAIO:

COLUNISTAS PLURALE

IDOSOS

NA MELHOR IDADE E FELIZES

FOTO: SIDNEY GOUVEIA/ MONUMENTO NATURAL GROTA DO ANGICO (SE)

A DIVERSIDADE DA CAATINGA



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FOTO: [DIVULGAÇÃO] ABAL/ OFÍCIO DA IMAGEM

Editorial

SÔNIA ARARIPE RECEBE O PRÊMIO JOÃO VALIANTE DE JORNALISMO DAS MÃOS DE LUIS CARLOS LOUREIRA FILHO, DIRETOR COMERCIAL DA VOTORANTIM METAIS CBA

UM PRÊMIO PARA SER COMPARTILHADO

Q

SÔNIA ARARIPE E CARLOS FRANCO, EDITORES DE PLURALE EM REVISTA E PLURALE EM SITE

uando começamos a pensar uma nova edição de Plurale em revista, fazemos um amplo diálogo de ideias e temas. Assim, chegamos ao assunto que irá ganhar um destaque maior na próxima edição e outros que também serão abordados em reportagens. Foi desta forma que, há um ano, chegamos ao tema reciclagem e a gestão dos resíduos, tema abordado na Plurale de número 12 e também em Plurale em site. Justamente após a aprovação da Lei dos Resíduos Sólidos na Câmara Federal, em março, retornando ao Senado, esta reportagem especial, de Sônia Araripe, acaba de conquistar o Prêmio João Valiante, conferido pela Associação Brasileira de Alumínio (Abal). Em 2009, outra matéria de destaque de Plurale, sobre como incentivar o transporte por bicicletas, também foi premiada com o Prêmio da Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas e Bicicletas (Abraciclo). Gostaríamos de compartilhar estas premiações com quem sempre acreditou na pertinência deste projeto: leitores, parceiros, anunciantes e fornecedores. Não teríamos chegado até aqui nesta caminhada se não tivéssemos o decisivo apoio de todos vocês. Obrigada. Esta edição apresenta, logo na capa, a riqueza da Caatinga tida por alguns como estéril e pobre em biodiversidade. Os biólogos Sidney Gouveia, Pablo Santana e Raone Beltrão

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apresentam para os leitores de Plurale a exuberância deste bioma. Da Caatinga para a Mata Atlântica: o jornalista Paulo Lima esteve no evento Viva Mata, em São Paulo, que procura incentivar a preservação do pouco que sobrou deste belo bioma que um dia já cobriu boa parte do país. É também dele uma entrevista com o professor Marcos Callisto, da Universidade Federal de Minas Gerais, que questiona o mito que o país tem água de qualidade em abundância. Os colunistas de Plurale – Nádia Rebouças, Antoninho Marmo Trevisan e Roberto Patrus-Pena – prepararam interessantes artigos sobre temas atuais. Em Bento Gonçalves, onde cobriu a Fiema 2010, Isabel Capaverde conferiu iniciativas eficientes pela preservação ambiental. Num Brasil que envelhece a olhos vistos, Nícia Ribas visitou o Retiro dos Artistas, no Rio, e descobriu que é possível sim envelhecer e manter a felicidade. Este número também trata da questão da acessibilidade para deficientes físicos. Mostramos ainda a iniciativa de lançar uma vacina contra a malária, testada em centro de pesquisa de Moçambique. E a correspondente Aline Gatto Boueri revela a polêmica construção de fábrica de celulose na fronteira entre a Argentina e o Uruguai. Boa leitura!


30.

CAATINGA: RIQUEZA EM BIODIVERSIDADE

FOTO: [RAONE BELTRÃO]

FOTO: [SIDNEY GOUVEIA]

Conte xto

26. 25.

BAZAR ÉTICO

FOTO: [NÍCIA RIBAS]

ÁGUA: NEM TÃO ABUNDANTE ASSIM

40.

PELO BRASIL

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FELICIDADE RIMA COM MELHOR IDADE

VIDA SAUDÁVEL

54 ESTANTE

62 CARBONO NEUTRO

65

18.

ARTIGOS: VISÕES SOBRE A SUSTENTABILIDADE

]

PELO MUNDO

FOTO: [DIVULGAÇÃO/FIAT]

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Ca rta s

Quem faz a Plurale

p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda

(CNPJ 04980792/0001-69) em parceria com a Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) Impressão: WalPrint

Revista impressa em papel reciclado

Rio CEP São CEP

de Janeiro| Rua Etelvino dos Santos 216/202 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Paulo| Alameda Barros, 122/152 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores

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Edição 16

Bazar ético

“Parabéns pela Plurale, é muito boa!” Regina Migliori, consultora de Sustentabilidade, São Paulo

“Obrigada pela excelente matéria sobre a TemQuemQueira na Edição 16. É um orgulho poder participar da Plurale ao lado de tantas outras boas notícias. Parabéns!” Adriana Meyer, presidente da Ong Temquemqueira, RJ

“Esta foto de capa de Ismar Ingber, de Fernando de Noronha está absurdamente linda! Parabéns.” Nelson Tucci, Diretor da Virtual Comunicação

Ilustradores

“Cheguei de viagem e li logo o novo número 16 de Plurale em revista, caprichado, como sempre. Só o Baobá de Quissamã, por Romildo Guerrante, já vale a revista! Mas tem ainda a entrevista do Patrus, essa grande figura; tem a matéria dos desenhistas da natureza, os discípulos de Margaret Mee; também o assunto da água que vai fazer história; e Fernando de Noronha, que ainda não conheço. Ainda. Depois de ler a Plurale, vou marcar a passagem. Obrigado a vocês. Parabéns. “ Roberto Saturnino Braga, escritor e ex-senador, Rio de Janeiro Solar Meninos de Luz “A fidelidade dos fatos narrados na reportagem demonstram a sensibilidade da repórter, que captou com emoção cada significado dos atos, da alegria, das oportunidades,vividas pelos alunos do Solar Meninos de Luz.Agradeço, em nome de todos nós do Solar o texto expressivo e o trabalho de grande profissionalismo de Isabel Capaverde e Luciana Tancredo , num momento de tão grandes necessidades de recursos para a sustentabilidade do Solar. São para sempre amigas dos Meninos de Luz! Agradeço.” Yolanda Maltaroli, Presidente Solar Meninos de Luz, Rio de Janeiro “Obrigada, ficou maravilhosa, linda mesmo a matéria de Isabel Capaverde e Luciana Tancredo. Tem a nossa carinha.” Alessandra Maltarollo, Solar Meninos de Luz, RJ “A edição 16, com a matéria sobre o Solar está maravilhosa. Amei tudo: o layout está lindo, a cara do Solar. E a matéria perfeita, passa totalmente o espírito daqui. Muito obrigada! Caroline Pinheiro, Assessora de Comunicação do Solar Meninos de Luz, RJ “Parabéns pela comovente matéria. Sou voluntária do Solar há uns 15 anos e sei que o trabalho é sério. Felicidades para os Meninos de Luz !” Balu Carvalho, RJ

“Li com calma a matéria publicada em Plurale e está tudo ótimo. Obrigada por enriquecer meu curriculo com esta importante publicação! Pedi para colar em meu site o link e levamos alguns exemplares também para a expedição com alunos do curso de Ilustração no Rio Negro (AM).” Dulce Nascimento, ilustradora botânica, Rio de Janeiro (RJ) “Ficou muito legal a reportagem especial sobre o nosso trabalho de ilustradores botânicos. Agradecemos.” Belkiss Alméri, ilustradora botânica, Belo Horizonte (MG) “Fiquei satisfeitíssimo com o resultado da reportagem sobre Ilustração Botânica. Ficou muito bom. Agradeço muito o prestígio à profissão e as revistas enviadas. Contem sempre conosco.” Rogério Lupo, Valinhos, ilustrador botânico, SP Prêmio João Valiante “Sônia & equipe Plurale: parabéns por mais esse merecidíssimo prêmio!!!” Ronnie Nogueira, editor da revista RI (Editora IMF), RJ “Sônia, parabéns.” Lúcio Pimentel, assessor de Imprensa da Petrobras, RJ “Parabéns para toda equipe Plurale! É uma luta fazer uma revista inteligente, independente e atual como a Plurale. Por isso, um prêmio como este renova o entusiasmo. Sucesso!” Luiz Antônio Gaulia, consultor de Sustentabilidade da Rebouças & Associados, RJ “ A equipe de ‘Nós da Comunicação’ fica realmente feliz e orgulhosa por desfrutar e multiplicar para nossos leitores a qualidade do conteúdo de cada matéria veiculada no site e na revista Plurale que conectam comunicação e sustentabilidade. O empenho de toda equipe em manter a Plurale viva, pulsante e a serviço do entendimento e da vivência do que é sustentabilidade merece este belo reconhecimento. E, mais uma vez, que bom poder comemorar a alegria de termos também em comum o plural em nossos nomes! Parabéns” Jaíra Reis, diretora do portal Nós da Comunicação e da Casa do Cliente, RJ



Entr ev i sta TEXTO:[IHU On-Line]

Helena Hirata Feminismo:

pluralismo, diferenças e concepções

E

m seu mais recente livro Dicionário Crítico do Feminismo (São Paulo: UNESP, 2010), Helena Hirata busca dissecar termos relacionados ao mundo das mulheres e, assim, mostrar os significados de questões como opressão, dominação masculina, aborto e contracepção, assédio sexual, prostituição, maternidade e movimentos feministas. “A relação entre homens e mulheres oculta uma questão importante que é a hierarquia social. Se considera que os homens são superiores às mulheres e, portanto, daí decorre toda uma série de diferenças entre eles. É essa hierarquia que tem que ser questionada”, explica a autora durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line. Hirata também analisou questões como o pensamento crítico feminista, as diferenças entre as mulheres de diferentes profissões e a divisão sexual do trabalho. Quando analisa a participação das mulheres no grupo conhecido como Geração Y, formada por jovens bem informados, questionadores e com sede de subir na carreira, ela diz que “certamente existem mulheres dentro deste grupo, mas aparentemente todos os estudos sobre hackers e sobre os que têm uma atividade muito intensa em termos de uso da Internet considera que esta área é majoritariamente ocupada por homens”. Helena Hirata é professora na Universidade Estadual de Campinas, onde pesquisa Sociologia do Trabalho e do Gênero. Confira a entrevista. IHU On-Line – Seu mais recente livro chama-se Dicionário Crítico do Feminismo... Helena Hirata – Na realidade, nós queríamos que muitas pessoas que não são especialistas na questão de gênero, do

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feminismo, da diferença entre os homens e as mulheres, da questão da opressão, da dominação masculina etc. pudessem ter acesso de maneira simples, clara, a toda uma série de definições sobre termos do mundo das mulheres. Nesse sentido, há um verbete no livro sobre aborto e contracepção, assédio sexual, prostituição, maternidade, movimentos feministas. Então, há uma série de verbetes que apresento, em cinco páginas, com quatro ou cinco bibliografias básicas. Cada verbete é dividido em quatro partes: uma é a definição do termo – que vai desde termos relacionados ao feminismo até termos de sociologia e economia do trabalho –, depois apresento uma história desse termo, ainda o debate e controvérsias relacionadas ao tema, e o quarto aspecto é a atualidade social e científica deste assunto. A questão do feminismo que esse livro toca mostra que é muito importante que todas as questões relacionadas às diferenças de sexo são políticas. São temas que têm conteúdo político, porque tudo o que é pessoal é político. E a relação entre homens e mulheres oculta uma questão importante que é a hierarquia social. Se considera que os homens são superiores às mulheres e, portanto, daí decorre toda uma série de diferenças entre eles. É essa hierarquia que tem que ser questionada e, assim, o Dicionário Crítico do Feminismo é um instrumento para apreciar o conteúdo e os limites dessa hierarquia para que possamos pensar numa nova divisão do trabalho. IHU On-Line – Como você vê hoje o pensamento crítico feminista? Helena Hirata – Eu acho que há muitos feminismos, exis-


tem muitos movimentos feministas. O feminismo é um movimento plural, pois há pessoas ali dentro que são contra o aborto, há feministas que acreditam que a prostituição pode ser regulamentada, além de pessoas que são contra o véu islâmico. Na França, hoje, o movimento feminista mais dominante é o que chamamos de feminismo socialista que se preocupa com uma igualdade maior de salários, de condições de trabalho etc. No Brasil, o que tenho visto, por exemplo, também são reivindicações mais universalistas do que diferencialistas que considera que homens e mulheres agem de forma diferente e, portanto, merecem espaços distintos. As universalistas, por sua vez, acham que deve haver uma tônica maior na questão da igualdade.

é ver como elas são importantes para a criação de toda uma série de riquezas que, se não fossem as mulheres que estivessem fazendo de graça, o país teria um grande problema financeiro. IHU On-Line – Quais os pontos fortes da reflexão sobre o trabalho do cuidado, desempenhado especificamente pelas mulheres? Helena Hirata – O mais importante é que são as mulheres, majoritariamente, que fazem este tipo de trabalho. O fato delas fazerem o mesmo tipo de trabalho e cuidado com pessoas idosas, doentes, com deficiência física e com crianças, de maneira gratuita dentro de suas casas, faz com que esse trabalho seja muito desvalorizado e mal pago. Ao mesmo tempo, o fato de que

“A relação entre homens e mulheres oculta uma questão importante que é a hierarquia social” IHU On-Line – No mundo do trabalho, a forma de enxergar a mulher cuja área em que atua é o chão de fábrica e a que trabalha na área administrativa é diferente? Helena Hirata – Elas têm uma situação de trabalho e são vistas de maneira diferente. Ainda hoje as que trabalham no chão de fábrica têm sua profissão menos valorizada socialmente do que as profissões de ‘colarinho branco’, que trabalham em escritório, num ambiente de trabalho que é menos controlador. Ainda assim, há mais solidariedade e possibilidade de lutas entre as mulheres que estão organizadas no chão de fábrica, como operárias. Um exemplo disso foi esse segundo Congresso da Mulher metalúrgica que houve em São Bernardo, no sindicato dos metalúrgicos do ABC em março deste ano. IHU On-Line – O que representa para a sociedade a participação feminina em lideranças de movimentos sociais e trabalhistas? Helena Hirata – A participação das mulheres na sociedade é algo muito importante para a riqueza do país porque, se elas não efetuassem gratuitamente certas tarefas, isso teria que ser comprado no mercado e teria que se remunerar esse trabalho. O que criaria um problema de despesas tanto familiares quanto sociais e públicas. De uma maneira geral, existem movimentações sociais em que as mulheres estão inseridas, mas, em primeiro lugar, o mais importante

as mulheres começam a trabalhar de maneira remunerada, mesmo mal pagas, nestes tipos de trabalhos, paradoxalmente, visibiliza um trabalho doméstico, até então efetuado de maneira privada e invisível. Isso mostra que esse trabalho não é feito gratuitamente, tem que ser remunerado e mercantilizado. A externalização do trabalho doméstico, que antes era feito por amor ao marido, ao companheiro, pode ser um lugar de valorização deste trabalho. Esse trabalho é muito importante, por que se desenvolveu e se desenvolve enormemente hoje, sobretudo dado a tendência demográfica do envelhecimento e da longevidade cada vez maior das pessoas idosas em todo o mundo, inclusive no Brasil, e isso faz com que esse trabalho seja cada vez mais significativo na sociedade contemporânea. O outro ponto importante neste trabalho, que é fundo do debate teórico, é que muitas pesquisadoras e especialistas no tema dizem que precisamos superar o enfoque de gênero quando falamos de cuidado. O que falei é que há diferenças entre homens e mulheres, e são as mulheres que fazem este tipo de trabalho, que se sacrificam e ganham pouco, que têm um trabalho invísivel, mas que pode ser visibilizado. Ora, as pesquisadoras e teóricas, que trabalham sobre a ética, a política e a moral deste tipo de trabalho, irão dizer que, na realidade, não é a questão de gênero que é principal na problemática do care, mas

que mostra que todas as pessoas irão ser dependentes em algum momento do ciclo de vida delas, e, portanto, isto deve ser uma preocupação universal. Segundo elas, todos devem fazer este tipo de trabalho, porque concerne a todos. Hoje, nós adultos, somos independentes, autônomos e nos orgulhamos disso, mas não seremos sempre assim. Já fomos dependentes quando pequenos, seremos em momentos de doença, e seremos dependentes, forçadamente, a partir de um certo momento da vida, pela idade mais avançada. Acho que essa é uma das questões mais importantes, desenvolvidas pela problemática deste tipo de trabalho, é a questão universal, que ultrapassa o gênero, e trata do humano. IHU On-Line – A Divisão Sexual do Trabalho é um dos seus temas de estudo e também um dos verbetes na obra. Qual é a importância dessa discussão atualmente? Helena Hirata – Até hoje, se falou muito no trabalho profissional dos homens e mulheres e na igualdade de salários que seria necessária, já que os sálarios masculinos e femininos são muito díspares em todo o mundo, embora sejam mais igualitários em um país europeu como a Suécia, e muito desigualitário em um país asiático como o Japão. Para além dessas discussões sobre desigualdade de salários e na profissão, a questão da divisão sexual do trabalho remete a ideia de que há uma divisão entre os sexos, tanto no terreno do trabalho quanto no do saber e do poder, e que tudo isso é indissociável. Não podemos pensar na situação das mulheres no campo, puramente, do trabalho, sem pensar na situação das mulheres no campo do trabalho doméstico, do saber, do poder e na divisão das capacidades de decisão e responsabilidade nos governos, parlamentos e diferentes campos das instituições. Quando digo que há pouca perspectiva de gênero nesses diferentes âmbitos de poder, não é pelo fato de que, se tem uma mulher em cada governo, isso irá mudar frontalmente as coisas, isso é demonstrado pela Gloria Macapagal Arroyo, nas Filipinas, pela Cristina Kirchner, na Argentina ou Michelle Bachelet, no Chile. Houve e há mulheres presidentes, que são uma minoria, mas não é porque são mulheres que tudo muda de repente, as políticas não mudam de uma hora para outra. É necessário que haja divisão sexual do trabalho. O grupo social dos homens e das mulheres deve ser modificado, porque um indivíduo não vai mudar, frontalmente, essas coisas.

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Entr ev i sta No verbete Divisão Sexual do Trabalho e Relações Sociais de Gênero, a Danièle Snotier tem uma tese importante. Ela diz que o trabalho e a divisão sexual deste é o que está em jogo nas relações sociais entre os homens e mulheres. Eles lutam pela repartição desse trabalho profissional e doméstico, e, enquanto não houver uma mudança na divisão sexual do trabalho, a desigualdade, dominação, opressão e exploração das mulheres pelos homens vai continuar. IHU On-Line – Em se tratando de divisão sexual do trabalho, há uma vulnerabilidade provocada socialmente pelo casamento? Helena Hirata – Muitas teóricas do feminismo irão dizer que o casamento é uma maneira de criticalizar essa situação de desigualdade e poder. Dizem que os homens casando, de certa forma, se apropriam, não só das mulheres, mas do corpo delas e de sua disposição. Assim, portanto, elas vão se tornar, com o casamento, uma espécie de prostitutas, já que elas são dependentes economicamente, e são sustentadas pelo marido em troca de diversos favores, inclusive sexuais. Há toda uma análise que é feita por antropólogas e por sociólogas. Há uma série de autores que, de certa forma, analisam casamento e prostituição como sendo duas faces de um mesmo tipo de poder e opressão dos homens sobre as mulheres. Acho que essa discussão é totalmente atual, e a questão da vulnerabilidade se coloca inclusive em sociedades em que as mulheres deixam de trabalhar, ou não podem trabalhar, por que devem se dedicar aos filhos, a casa etc. Elas se tornam vulneráveis na medida em que dependem totalmente das rendas do marido, e, portanto, são vulneráveis em situação de ruptura, quando se divorciam, por exemplo, e em situações em que elas continuam sobre o julgo do marido, porque dependem completamente deles para tudo que desejem realizar como projeto. Acho

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que os estudos sobre precarização social e do trabalho, com muito raras exceções, não veem os indicadores, essas variáveis de vulnerabilidade. IHU On-Line – A figura da mulher executiva tem crescido nessas últimas duas décadas. Qual a sua visão sobre isso? Helena Hirata – Hoje existe toda uma análise de escolas e pensamentos feministas que denomina essa tendência de polarização de

emprego feminino. Há dois pólos, um mais valorizado e reconhecido, com salários relativamente altos e muitas responsabilidades. Da população feminina, 10% tem esses “bons empregos” e 90% cumpre funções relacionadas com o que elas fazem em casa, como as empregadas domésticas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, professoras etc. Esses dois grandes polos fazem com que haja uma categoria de mulheres que tenha um tipo de comportamento de atividades contínuas, longas horas de trabalho, viagens e consequentemente pouca possibilidade de cumprir plenamente os papéis sociais atribuídos à mulher. Então, essa figura da executiva está criando uma consequência que é a necessidade cada vez mais de outras mulheres de camadas populares que não têm as mesmas necessidades de estarem presentes na vida das famílias. A carreira profissional de uma depende da carreira de outras, porque uma complementa o trabalho feminino da outra. Há, portanto, um potencial político e social muito grande por parte dessas domésticas, babás entre outras que fazem a carreira dessas mulheres executivas funcionar.

IHU On-Line – As empresas multinacionais contribuíram para um melhoramento das condições de trabalho especialmente das mulheres? Helena Hirata – Fiz muitas pesquisas sobre multinacionais Francesas e japonesas, tanto nesses países como no Brasil, e posso dizer que realmente há uma melhora das condições de trabalho das mulheres de países ditos em vias de desenvolvimento quando são empregadas pelas firmas multinacionais. Em termos de salário, por exemplo, uma mulher que trabalha numa multinacional vai ganhar mais do que ganhava numa firma de capital nacional. Isso porque as multinacionais têm mais possibilidades de movimentações financeiras e podem dar melhores condições de trabalho. Nos anos 1980, quando estive numa multinacional cesa na área da metalúrgica, de sobremesa, eles davam maçã numa época que essa fruta não era comum no Brasil. Então, eu acho que desse ponto de vista dos benefícios sociais, as próprias operárias reconhecem como boas condições. Só que essas condições melhores não podem ser consideradas em si, mas no conjunto dos movimentos das empresas nas sociedades. IHU On-Line – Há, hoje, a chamada Geração Y, conhecida também como a geração da Internet, considerados jovens bem informados, questionadores e com sede de subir na carreira. Como você vê a participação da mulher nesse grupo? Helena Hirata – Acho que certamente existem mulheres dentro deste grupo, mas aparentemente todos os estudos sobre hackers e sobre os que têm uma atividade muito intensa em termos de uso da Internet considera que esta área é majoritariamente ocupada por homens. Nesse sentido, está a questão da relação das mulheres com a técnica. Há estudos da diferença entre a relação dos homens e mulheres com a técnica e parece que há o que algumas autoras chamam de construção social da incompetência técnica das mulheres. Não se pede às mulheres para consertar um carro, por exemplo. Claro que, cada vez mais, há uma tendência à igualização das relações de homens e mulheres com a técnica. Mas hoje, por mais que as mulheres tentem entrar na área da informática, o setor é ainda majoritariamente ocupado por homens no plano profissional.


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Estu d o Brasil perde R$ 8 bilhões anualmente por não reciclar

O

presidente do Ipea, Marcio Pochmann, e o técnico do Instituto Jorge Hargrave apresentaram o estudo intitulado Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos, que traz a estimativa dos benefícios econômicos e ambientais da reciclagem e propõe instrumentos como pagamento por produtividade e acréscimos compensatórios graduados, a fim de aumentar a renda dos catadores, e crédito cooperativo para aumentar a organização e formalização das cooperativas. A partir dos dados da pesquisa, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, instituiu um grupo de trabalho entre o Ipea e os Ministérios para avançar na reestruturação do primeiro Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos associado à coleta de lixo e ao cooperativismo dos catadores. O grupo tem até julho para definir como será a operacionalização do programa, propor fontes de recursos e forma de repasse. “Queremos consolidar uma nova política pública em torno da remuneração adequada para os catadores, da retirada do lixo do meio ambiente e de um resultado econômico não só para as indústrias que reciclam, mas para as cooperativas de catadores com facilidades de crédito e novo perfil de renda”, afirmou a ministra. O diretor de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, Silvano Silvério, ressaltou que o programa, além de melhorar a renda e as condições de trabalho dos catadores, tem como objetivo incentivar a reciclagem do País, onde apenas 12% dos resíduos sólidos urbanos e industriais são reciclados e somente 14% da população brasileira são atendidas pela coleta seletiva.

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FOTO:[CEMPRE]

Relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em maio, revelou que o País perde R$ 8 bilhões por ano quando deixa de reciclar todo resíduo reciclável que é encaminhado para aterros e lixões nas cidades brasileiras.

O Secretário de Articulação Institucional e Parcerias do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ronaldo Garcia, alertou que o incentivo financeiro para a cooperativa não será suficiente para aumentar a formalização. “É necessário ter uma assistência técnica continuada às cooperativas para que subsistam e mudar o tipo de financiamento, saindo da modalidade convencional do edital que ajuda a quem menos precisa.” Segundo Ronaldo, o envolvimento dos municípios é decisivo para que a política avance. Leia a íntegra do relatório: http://agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/100514_relatpsau.pdf


No v i d a d e

Plurale ganha

mais um prêmio

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lurale em site e Plurale em revista acabam de conquistar o Prêmio João Valiante de Jornalismo na categoria mídia impressa e webjornalismo, que destacou reportagens sobre reciclagem. A matéria premiada foi “O lixo nosso de cada dia se transforma em negócio lucrativo”, publicada no ano passado (foto), reportagem especial da editora Sônia Araripe. O prêmio foi entregue pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), no último dia 20 de maio, em São Paulo, no encerramento da ExpoAlumínio. Na categoria televisão, os vencedores foram Alissa Farias e Jaderson Pires, da TV e Rádio Jornal do Commércio de Pernambuco (afiliada do SBT),

com a matéria “A arte de preservar”. Sônia Araripe recebeu o troféu arte em alumínio, idealizada pelo artista Osni Branco - das mãos de Luis Carlos Loureira Filho, diretor comercial da Votorantim Metais CBA. “Este prêmio é dedicado à toda família Plurale, que acredita ser possível fazer uma mídia diferenciada sobre Sustentabilidade”, comemorou Sônia. O Prêmio João Valiante de Jornalismo 2010, em sua sexta edição, recebeu, ao todo, 23 reportagens de diferentes veículos nacionais. Em 2009, Plurale conquistou o primeiro lugar na categoria “Bicicletas” da Abraciclo, com a reportagem que mostrou a relevância deste meio de transportes no Brasil, também de Sônia Araripe. Plurale em revista e Plurale em site completam, em outubro, três anos. O projeto foi idealizado por Sônia e Carlos Franco, companheiros de jornada de várias redações jornalísticas e tem equipe especializada no Brasil e correspondentes internacionais. “Plurale nasceu, como o nome indica, para ser palco de um diálogo plural e democrático”, lembrou Carlos. O site é atualizado diariamente com notícias e artigos: tem se firmado como um dos principais canais neste segmento. Também esta revista, publicada bimestralmente 100% em papel reciclado, vem conquistando reconhecimento em diferentes fóruns pelo diálogo amplo e plural sobre sustentabilidade.

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In clus ã o RICARDO SHIMOZAKAI

Alegria de

FRAN FOTOGRAFADA POR KICA DE CASTRO

Deficientes físicos rompem barreiras e procuram assegurar seus espaços. Vários produtos e serviços estão hoje voltados para este público de 27 milhões de brasileiros

TEXTO:[SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE PLURALE EM REVISTA DO RIO DE JANEIRO] FOTOS:[KICA DE CASTRO E DIVULGAÇÃO]

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O

paulista Ricardo Shimozakai levava uma vida tranquila, até que, um assalto relâmpago mudou sua história em 2001. Foi um divisor de águas, mas não a ponto de destruir a sua imensa alegria de viver. “A vida continua e continuo em busca de alcançar meus sonhos”, conta à Plurale. Aos 42 anos, ativo e alegre, Ricardo sentia falta dos passeios e viagens. Foi à luta e tornou-se uma referência em turismo para cadeirantes: é agente de viagens, com especialidade neste segmento e tem um portal onde dá dicas e sugere roteiros com acessibilidade. Esta, aliás, é a palavra do momento para os deficientes físicos. Se, há alguns anos, os paraplégicos ou tetrapléticos enfrentavam muitas restrições e quase nem podiam sair de casa por uma infinidade de limitações que as estruturas das cidades lhes impunham, hoje, com a luta de várias ONGs e militantes, já é possível acompanhar uma mudança significativa. Rampas, elevadores especiais, ônibus adaptados e todo um conjunto de ações começam a permitir que este imenso universo de 28 milhões de brasileiros possam tentar se inserir de forma mais democrática na sociedade. Este é um trabalho, é claro, em construção: muito ainda há por ser feito. Mas os avanços, comparados com 20 anos atrás, por exemplo, são expressivos. “A sociedade está reconhecendo que o deficiente físico é uma pessoa normal: que trabalha, tem família e estuda, por exemplo. Porque, com o avanço da medicina de reabilitação e das técnicas, a deficiência deixou de ser um entrave e passou a ser apenas mais um obstáculo a ser superado”, afirma Deusdeth Gomes do Nascimento, presidente da tradicional Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), uma das pioneiras, na década de 50, no trabalho de reabilitação. Apenas em 2009 foram 759 mil atendimentos.

“Não é só vencer barreiras físicas. O processo de inclusão é muito mais amplo. Este é um público consumidor ávido como qualquer outro, que também tem seus sonhos de consumo”

E não é só vencer barreiras físicas. O processo de inclusão é muito mais amplo. Este é um público consumidor ávido como qualquer outro, que também tem seus sonhos de consumo. Ricardo, por exemplo, já esteve na Europa, em Bonito (MS), Itacaré (BA), Porto de Galinhas (PE), fez o roteiro de vinhos e chocolates no Rio Grande do Sul e realizou o sonho de visitar o Cristo Redentor no Rio para poder agradecer os belos momentos vividos e ainda por vir. “É possível fazer turismo com acessibilidade, porém é preciso procurar empresas que saibam fazer esse serviço

corretamente para que não se decepcione depois”, diz. E destaca a especialização da agência Turismo Adaptado, à qual dirige. Mercado consumidor - Vários outros produtos e serviços voltados para este público estão sendo lançados ou estão vivendo um “boom” de vendas. São roupas feitas sob medida para este público; restaurantes e lojas com acessibilidade; serviços de turismo; táxis e até uma agência de modelos cadeirantes. Luciana, a personagem interpretada por Aline Moraes recentemente na novela “Viver a Vida”, de Manoel Carlos, certamente aprovaria. Não há dúvida que a jovem - uma manequim que ficou tetraplégica em um acidente na Jordânia - deu um grande impulso para mostrar a realidade e as potencialidades destas pessoas. “Independente da condição física, qualquer pessoa, inclusive com deficiência, consome. Somos uma parcela expressiva da população, temos necessidades, anseios e preferências. Acredito que algumas empresas estão começando a perceber que a pessoa com deficiência faz parte de um público consumidor e com grande potencial de mercado”, avalia a vereadora paulista Mara Gabrilli, tetraplégica há 15 anos após um grave acidente de carro, uma ativa defensora da causa.

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In clus ã o

Nova loja - As limitações para os cadeirantes não são só físicas. Faltava de tudo um pouco. Em São Paulo até existe uma oferta maior de produtos para este público, mas no Rio faltava uma loja especificamente com este foco. Não falta mais. No mês passado foi inaugurada a primeira loja voltada para a acessibilidade que vende, em um só lugar, de cadeiras de rodas a objetos adaptados, como um produto que permite ao usuário fechar os botões de sua roupa sozinho. O comércio, localizado na Tijuca (Zona Norte), pertence à Rea Team e ao Grupo Adapt. “Temos uma gama completa de itens não só para as pessoas com alguma deficiência como também produtos que podem ser comprados por estabelecimentos públicos ou comerciais para garantir o acesso a todos. Como rampas, elevadores e plataformas elevatórias”, explica Marcos Wander, diretor da empresa. O negócio começou com as licenças para compras de carros adaptados, com isenção para deficientes e também adaptações para táxis que transportam este público. Cresceu e chegou ao que é hoje: uma loja grande, de 800 m² para oferecer, em um só lugar, vários produtos e serviços para este nicho. “Uma das grandes dificuldades dos deficientes é a locomoção. Por isso facilita se ele tiver vários serviços e produtos no mesmo lugar. A maioria não sabe sobre muitos dos seus direitos, como isenção de impostos na compra de carros adaptados, e não conhece equipamentos mais modernos que podem dar melhor qualidade de vida. Com certeza isso vai melhorar”, avalia Marcos. As cadeiras de rodas vendem bastante, mas não é só. O lançamento da cadeira anfíbia – que pode rodar na areia e levar a pessoa dentro da água – também tem atraído o público desde que foi mostrada na novela, apresentando o projeto “Praia para Todos”, desenvolvido pela ONG Espaço Novo Ser. Moda inclusiva - No Paraná, a professora de moda e gestão do Senai/Cianorte (Noroeste do estado), Leny Pereira, 34 anos, cria moda inclusiva, voltada para pessoas especiais. Começou quase por acaso e hoje sente-se realizada. “O segredo deste projeto está na essência”, resume. Ela conta que durante a jornada acadêmica passou por muitas dificuldades, inclusive financeira

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e prometeu a si que faria algo grandioso com seu diploma e o exercício da profissão. Em 2007, ao assistir uma palestra sobre pessoas com deficiência teve a certeza que era este o seu caminho profissional. Leny buscou modelos para fazer protótipos. Ganhou um grande impulso ao inscrever o projeto na Mostra Inova do Senai paranaense, uma grande vitrine de novas tecnologias e inovações: conquistou o primeiro lugar na etapa estadual e foi para a etapa nacional. E como fazer moda para pessoas especiais? “O equilíbrio do corpo, na modelagem convencional, os moldes são alinhados e segue um equilíbrio, já na modelagem para pessoas com deficiência, dependendo da deficiência, as medidas são totalmente diferentes, o que pede um estudo do deslocamento das medidas padrões, tais como busto, cintura, quadril estas medidas na grande maioria das vezes diferem na pessoa com deficiência”, explica a professora do Senai. Todo o detalhe faz diferença. Na parte de aviamentos, por exemplo, foi ainda mais complexo, para utilizar material adequado à realidade deste público. A partir de seu projeto, ela acredita no potencial da segmentação ainda maior da moda inclusiva, capaz de atender os diferentes mercados. “O anseio deste consumidor não difere no que diz respeito à moda, necessidade, afirmação, status, conforto, ostentação e outros significados ocultos que a roupa proporciona. As roupas que estão no mercado nem sempre atendem uma das primeiras funções da roupa, o vestir”, diz. Modelos especiais - A fotógrafa Kica de Castro também se especializou neste nicho, tendo começado em 2002. Ela lamenta que ainda haja preconceito, mas consegue provar, através de suas lentes, que beleza e deficiência não são palavras opostas. “Mostro que as modelos com deficiência, não tem nenhuma diferença entre as ditas “normais”. Elas cuidam do corpo, fazem cursos para serem profissionais da área”, afirma. A fotógrafa destaca que as modelos têm talento e são profissionais acima de tudo. Moças lindas como Fran (na pág. 14) e a Carol (pág. 17), que ilustram esta reportagem. O interesse por modelos especiais tem aumentado, conta Kica, inluindo a pessoa com deficiência no mercado de consumo. E observa que é comum ver publicidade de carro com uma modelo linda, cabelos ao vento para vender


FOTO:[KICA DE CASTRO]

Uma instituição com história

O

aquele determinado produto. “Poderia haver, perfeitamente, uma campanha semelhante para um carro com adaptações. Existe espaço para todos, buscamos a igualdade”, conclui. Jornalismo – A última novidade foi o lançamento, em maio, de um novo quadro no Fantástico apresentado pela jornalista Flávia Cintra, tetraplégica. Ela foi a “inspiradora” e consultora da TV Globo na construção do personagem de Aline Moraes, na novela de Manuel Carlos, e acabou, quase que por acaso conquistando este espaço. “As duas coisas mais importantes da minha vida aconteceram por acidente. Fiquei tetraplégica num acidente de carro, fiquei grávida de gêmeos num acidente hormonal, conheci o diretor do Fantástico em um acidente de palavras”, relata em seu blog. Depois de participar de uma entrevista sobre inclusão no programa dominical, Flávia foi conversando e o diretor acabou lhe propondo um lugar como repórter. Genial. A jornalista está provando - assim como Ricardo, Mara, as modelos de Leny e Kica e tantos outros - que são especiais sim, mas se tiverem oportunidades, são capazes de se tornarem iguais a quaisquer outros.

seRviço: • ABBR- http://www.abbr.org.br/historiadamedicina.php • Blog da Flávia Cintra - http://flavia.cintra.blog.uol.com.br/ • Fotógrafa Kica de Castro: www.kicadecastro.webs.com • Grupo Adapt - http://www.grupoadapt.com.br/ • ONG Novo Ser - http://www.novoser.org.br/ • Portal da Mara Gabrilli - http://www.maragabrilli.com.br/ • Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/ • Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro http://www.rio.rj.gov.br/web/smpd/ • Turismo adaptado - http://turismoadaptado.zip.net/index.html

vaivém de cadeirantes e deficientes no “coração” do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, não deixam dúvidas. Ali está uma das primeiras instituições do país no trabalho de medicina física e reabilitação do país, a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Em 2009 foram realizados 759 mil atendimentos, de acordo com o balanço anual que acaba de ser lançado. Diariamente são feitos cerca de três mil procedimentos terapêuticos no centro de reabilitação, uma das bases da instituição. Tratamento que chega aos 1,6 mil pacientes que passam pela ABBR todos os meses. Desse total, cerca de 70% são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Outro pilar da ABBR é a Oficina Ortopédica, onde são fabricadas órteses e próteses. No ano passado, a produção e fornecimento desses aparelhos chegaram a 10 mil. Mas toda essa experiência foi adquirida ao longo dos 55 anos de trabalho. Segundo Deusdeth Gomes do Nascimento, presidente da instituição, não é fácil manter funcionando uma entidade como a ABBR, com a importância que tem e com sua grandiosidade. Por isso, ele aponta o equilíbrio financeiro como o principal ganho de 2009. “A movimentação financeira apresentada no relatório mostra que a instituição vem, ano a ano, fortalecendo sua capacidade de gestão administrativa e financeira. Isso é a principal notícia que temos que comemorar”, festejou ele, sem, no entanto, deixar de ressaltar o apoio da sociedade civil como parte importante nesse processo.

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Colunistas Plurale

ANTONINHO MARMO TREVISAN

ESTE É O PAÍS

O

Brasil está na moda. Mais ainda agora, pós-crise financeira internacional. A adversidade que costuma apontar fraquezas, no caso brasileiro acabou por revelar o bom momento pelo qual o país vem passando, talvez inédito em toda sua história. Instituições firmes, inflação controlada e crescimento econômico compõem uma equação imbatível, apontando ao mundo tratar-se de um lugar bom e seguro para se investir. O governo agiu bem no enfrentamento da turbulência. Priorizou a garantia do financiamento da produção e do consumo, movendo-se com agilidade até então rara na administração pública brasileira. Em 2010, com a situação normalizada, estima-se que o volume de crédito – combustível da atividade econômica –, deva crescer 20%, impulsionando o mercado interno e re-

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forçando a confiança das empresas e da sociedade. Para o PIB, a previsão é que alcance 8%, embora o próprio governo esteja trabalhando com uma marca mais ponderada de 6,6%. As únicas nações com projeção do PIB superior ou igual à do Brasil são China, com 10%, e Índia, 7,7%. A União Europeia, em meio à crise grega e aos riscos representados por Itália, Espanha e Portugal, faz imenso esforço para lograr pífio 1%, enquanto os Estados Unidos prevêem um crescimento de 2,7%. É verdade que o Brasil já teve outros períodos de crescimento, mas nunca como agora. De 1947 até 2000, a média de avanço do PIB foi em torno de 5% ao ano, com picos de 9% e 10%, principalmente nos anos 70 do milagre brasileiro. Se havia crescimento, havia também inflação e ditadura em alguns períodos. Pela primeira vez, a história é outra, a ponto da crise internacional não abalar uma estrutura que se mostra sustentável.


FOTOS:[DIVULGAÇÃO/ FIAT]

Em janeiro de 2009, em plena turbulência mundial, o índice de confiança da indústria era de 74,1 pontos, mas atingiu 113,4, em dezembro do mesmo ano, conforme dados do Ministério da Fazenda. E como em tempos de vacas gordas oferta e procura crescem juntas, o grau de confiança dos consumidores saltou de 96,9 para 112,3 no mesmo período. Os dois indicadores referendam a viabilidade do crescimento de 7,1% estimado para a manufatura em 2010, muito próximo da melhor taxa da década, 7,9%, registrada em 2004. É uma retomada relevante depois de a crise ter provocado queda de 5,3% em 2009. São dados e projeções do IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Um fato curioso é que, no acumulado do ano, alguns segmentos da indústria brasileira sequer se abalaram com as graves dificuldades da economia mundial. O setor automotivo é um deles. Estimuladas pela redução do IPI, as vendas de automóveis cresceram 12,66% em 2009 (na comparação com 2008), com a produção de 3,1 milhões de unidades. Este ano, a projeção é de expansão entre 6% e 10% na comercialização de veículos. Trata-se de um resultado inusitado, em especial ante números como os dos Estados Unidos, onde se verificou queda de 17,64% na fabricação de carros. A China e a Índia, por sua vez, cresceram mais do que o Brasil nesse setor: 52,10% e 28,32%, respectivamente.

Outro dado positivo são as reservas internacionais: em setembro de 2006, tínhamos aproximadamente US$ 75 bilhões e, em janeiro de 2010, já são mais de US$ 241 bilhões. A nossa dívida líquida externa, em 2002, era de quase 33% do PIB. Hoje, está perto de 4% negativa e, enfim, somos credores do FMI, a quem emprestamos recentemente US$ 14 bilhões. Planos sociais, como o Bolsa Família, também impulsionaram o crescimento, pois materializaram um novo perfil de consumidor e, mais do que isso, garantiram a alguns milhões de brasileiros o direito essencial à dignidade. Numerosas famílias emergiram da miséria absoluta para um poder de compra mínimo. Inicialmente, criticou-se muito a prática, atribuindo-lhe a pecha de mera troca de renda. No entanto, seus resultados foram conclusivos quanto aos reflexos positivos em cascata no mercado interno. O próprio Banco Mundial (Bird), que poderia ser classificado como um dos templos do liberalismo, o considera modelo para a inclusão social. Isso tudo sem falar que nossos setores produtivos vêm adequando seus métodos para atender às questões sociais e ambientais. O consumidor faz escolhas cada vez mais conscientes e está de olho em quem produz por meios sustentáveis. Essa preocupação está evidente em muitas iniciativas na área de produção, desde a otimização no uso de matérias-primas, dos recursos hídricos e de energia, até nas parcerias entre indústrias e cooperativas de trabalho já constituídas, que detêm conhecimento valioso sobre os bens que produzem. O setor da construção civil, um dos mais aquecidos no momento, deve passar por uma modernização e tanto. Dentre os muitos avanços, quem pensa em construir já pode contar, por exemplo, com a madeira biosintética, criada a partir do plástico reciclado. Além da grande durabilidade e da versatilidade na aplicação, o processo de produção não utiliza componentes químicos que, em geral, colocam em questionamento a reciclagem de certos materiais. O certo é que encontrar formas de equacionar o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento humano já está na agenda de produtores e é um dos muitos pilares que ajudará o Brasil, em prazo relativamente curto, a se consolidar como uma das cinco maiores economias do mundo. Para reforçar ainda mais seu papel de extrema relevância, o país deve se manter de braços abertos ao Investimento Estrangeiro Direto (IED). Porque este é o lugar certo para quem busca lucro na produção. Antoninho Marmo Trevisan (antoninho@trevisan. com.br), Colunista de Plurale, é Diretor presidente da Trevisan Escola de Negócios e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

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NÁDIA REBOUÇAS

SUSTENTABILIDADE:

desafio que marca 2010

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e considerarmos o número de encontros que aconteceram nesse início de ano no país, podemos constatar que estamos, definitivamente, num profundo momento de transformação. Isso nos dá certa esperança, apesar das tristes notícias trazidas pelas fortes reações da natureza à nossa incapacidade de relacionamento com ela. Em abril, o encontro do Gife, desta vez sediado no Rio de Janeiro, foi palco de um “tribunal” em que o investimento social privado foi literalmente colocado no banco dos réus e julgado. E não escapou de acusações bastante graves, embora tenha sido absolvido no final, com reprimendas sérias que serão avaliadas no próximo Congresso, previsto para daqui a dois anos. Os pontos mais criticados: privilegiar o marketing de suas ações e comprometer a transparência para seus stakeholders. Outro ponto fundamental de destaque é a pouca capacidade que as empresas têm de ouvir. Quando ainda chamamos nossos vizinhos de “comunidade do entorno” fica claro o quanto não respeitamos a autonomia e a capacidade de protagonismo das comunidades onde decidimos investir. Em maio, encontramos uma Conferência do ETHOS re-

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novada. Parece que resolveram escutar. Pela primeira vez o auditório convencional foi substituído por uma arena. Os palestrantes, que eram quase sempre os mesmos, os mais próximos da instituição e com baixa interação com os participantes, foram substituídos por novos profissionais. Imaginem que, em todos os painéis, havia mulheres como palestrantes e, além disso, as perguntas foram feitas no microfone. Ficou para trás o medo de dar a palavra a uma plateia qualificada, inteligente, que usou as perguntas para abrir as portas da mente. Além disso, nasceu o Open Space, que permitiu a quem quisesse colocar seu tema e ganhar uma mesa para trocar com outros interessados no tema. Leonardo Boff, depois de uma tocante palestra, caminhava pelos espaços como um messias do novo tempo, seguido por jovens que reconheciam seu papel histórico de vanguarda. Na palestra do presidente da Petrobras os jornalistas decepcionaram nas perguntas, mas a plateia cumpriu seu papel e Sérgio Gabrielli demonstrou profundo conhecimento dos desafios da empresa. Mas a grande inspiração do encontro, em minha opinião, ficou por conta da escritora americana Janine Benyus, especialista em ciências naturais e biomimética, e de Oscar Mo-


FOTOS: [CLÓVIS FABIANO – DIVULGAÇÃO/OPEN SPACE, CI-ETHOS] 2010

tomura, diretor do Grupo Amana-key. Ela nos mostrou slides de espécies vivas e as tecnologias da natureza que estão ajudando o ser humano. As tecnologias naturais são incríveis, bizarras e de uma inteligência superior impressionante, como a de uma lagartixa que produz cola em seu próprio corpo para não cair da parede. Oscar começou lembrando a Carta da Terra, que é quase uma oração, convidando-nos a respeitar todas as formas de vida do universo. De acordo com ele, muitos de nós, “analfabetos ecológicos”, não “percebemos” os seres vivos, ficamos focados nos seres humanos. Considerando os debates do Gife sobre o racismo e a vergonhosa situação dos presidiários no Brasil, privados de qualquer tipo de investimento social, eu diria que, às vezes, nem os seres humanos conseguimos enxergar... Oscar também paralisou a plateia quando comentou sobre os stakeholders: “É básico encontrar o acionista como público número 1 nas missões das empresas, mas ele não seria o último? Ele não seria o fim da linha como premiado por ter atendido a todos os demais stakeholders, como colaboradores, clientes, sociedade? Como vamos mudar as regras que regem o mundo atual e considerar realmente a natureza, a justiça social?” – nos pergunta Oscar. E conclui: “Ética é a escolha pelo bem comum, para todos os seres vivos. Se ética é escolher o bem comum, decidir não agir não é ético. O silêncio e o medo não são éticos. Não ir contra a maioria, decidir pelo viável e não pelo inviável, não é ético. Decidir por interesses

pessoais, entrar no jogo, se conformar pela letra da lei, sem chegar ao “espírito da lei”, não é ético”. Também no Rio de Janeiro conheci a Conferência do Reputation Institute. O difícil vai ser não estar na próxima, que será em New Orleans. Ali encontramos presidentes de empresas, a maioria fazendo transformações difíceis, que falaram de suas realizações

com a sinceridade do desafio que está a nossa frente. Também presenciamos excelentes palestras de acadêmicos que, ao medir a reputação das empresas, identificaram claramente o mesmo caminho: é preciso verdade, transparência, ousadia. Tirar a sustentabilidade dos slides de power point que definem missões sem “espírito”, arregaçar as mangas e realmente começar a descobrir como fazer: agindo a partir das lideranças, dos colaboradores e saindo para a sociedade de cara limpa. Todos também ressaltaram a importância de ouvir. Mais do que isso, de conseguir escutar. A empresa não é dona de sua reputação de marca, ela pertence aos stakeholders, que hoje são jornalistas, fotógrafos, cineastas... O que tenho sentido no Brasil é que as empresas começaram a pagar para ouvir. O problema é que escutar os diagnósticos parece impossível. Eu mesma fiz uma palestra sobre como não é difícil ouvir, o difícil é agir com consciência sobre as percepções dos stakeholders. Aqui a palavra chave foi engajamento. Bem, é impossível contar tudo o que foi transformador, iluminador nesses últimos três meses para quem está em busca de enfrentar nossas dificuldades para agir rápido na construção da nova civilização. Fui uma privilegiada por poder participar dos três encontros. Estou certa da importância estratégica da transformação da liderança e de uma nova hierarquia no planejamento de comunicação para os stakeholders. E estou ainda mais firme no meu propósito de promover diálogos sem medo, aprimorar a minha capacidade de ouvir e criar diagnósticos inspiradores. Nádia Rebouças (nareboucas@reboucaseassociados.com.br) , Colunista de Plurale, é Diretora da Rebouças e Associados.

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Colunistas Plurale

Duas perguntas para você pensar

no que está fazendo da

própria vida 22 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2010

ROBERTO PATRUS-PENA


J

á ouvi dizer que a capacidade de fazer perguntas é mais importante do que as respostas. Mas creio que as perguntas têm relevância porque geram a busca por respostas. E perguntas sem respostas, como ensina a sabedoria budista, devem ser abandonadas. A resposta também é muito importante. Refletindo, então, sobre perguntas fundamentais, cheguei a duas perguntas cujas respostas foram norteadoras no rumo das minhas escolhas na vida. Como professor, pesquisador e psicoterapeuta, tenho tido o feedback da importância dessas perguntas para os meus alunos. Não pelas perguntas em si, mas pelo movimento que a busca por respostas gera em quem as leva a sério. A primeira pergunta diz respeito à vocação profissional: O que você gosta tanto de fazer que você faria de graça se fosse um trabalho? Sabemos que o sucesso profissional depende da conjugação harmônica entre os interesses da pessoa, a sua vocação, as oportunidades do mercado e um pouco de sorte. Mas sucesso nem sempre significa que a pessoa está feliz no trabalho. Essa felicidade genuína depende de se fazer algo de que se gosta. Algo que você faria de graça. Saber que tipo de atividade você faria de graça, por prazer, é um dos passos necessários para investigar que tipo de trabalho começar a procurar ou empreender. A segunda pergunta é a seguinte: Se você ganhasse na loteria e ficasse muito rico, o que você mudaria na sua vida? Tenho feito essa pergunta a muita gente. Uma médica pediatra me disse que tentaria organizar um hospital infantil, do seu jeito! Muita gente pensa no que poderia comprar: casa, carro e bens de consumo em geral. Outros falam de viagens pelo Brasil e pelo mundo. Alguns apontam as pessoas que gostaria de ajudar. Mas o que mudaria de fato na sua vida, se você ficasse rico de uma hora para outra? Você ia parar tudo o que está fazendo? Ou faria o que faz de outra forma? A resposta a essa questão vai indicar o quanto a sua vida tem

sentido. Vai apontar se você está em um caminho que é seu ou não. Aquele que respondeu que não trabalharia nunca mais pode (e isso é apenas uma probabilidade) estar a dizer que o trabalho não faz sentido além de ser uma forma de ganhar dinheiro. Já aquele que se propõe a utilizar sua fortuna para um projeto em que poderia realizar um sonho profissional pode estar a dizer que seu trabalho faz sentido para ele. Os que pensam em consumir, sair do aluguel ou trocar de apartamento, vão obter maior conforto na vida, mas eles não responderam o que mudariam na sua vida. Perguntas são importantes porque elas mobilizam a reflexão. A primeira pergunta provoca a pessoa para a questão da vocação, do chamado. A que sou chamado a fazer? O que me realiza, o que eu gosto e me sinto convidado a fazer? A segunda pergunta, por sua vez, tem relação com a liberdade. Ser livre é saber o que se está fazendo da própria vida. Se uma riqueza repentina vai mudar tudo na sua vida, talvez o estado das coisas não esteja do jeito que você quer. Mas, se, ao contrário, a disponibilidade de recursos permite a realização dos seus sonhos, isto é, o salto de onde você está para um ponto mais à frente, sem que seja necessária uma mudança de rumo no seu caminho, é porque você está no caminho certo. Faça a si mesmo essas perguntas. Brinque com elas. Pergunte a seus amigos e familiares. Ouça o chamado da sua vocação. E avalie se o caminho que você está trilhando na vida vai levar à realização dos seus projetos. Tenho certeza de que não precisamos ficar ricos para abraçar nossa vocação nem para colocar o nosso pé no caminho que nos leva à realização pessoal e profissional. Cada um pode exercer melhor a sua liberdade. Em outras palavras, podemos perguntar: o que você está fazendo da própria vida? Roberto Patrus-Pena (robertopatrus@ terra.com.br) , Colunista de Plurale, é Pesquisador e professor do Mestrado e Doutorado em Administração da PUC Minas, filósofo, psicólogo e psicoterapeuta

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Business

2010


Bazar

Instituto Meio — (11) 3813-6286 — www.institutomeio.org Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de cooperativas, instituições e ONGs.

ético

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O belo trabalho de artesãs de diferentes pontos do país tem sido valorizado pelo Instituto Meio. Pequenas comunidades de Apiaí (SP), Ariquemes (RO), Jalapão (TO) e Rio Brilhante (MS) passam a ter cerâmicas, cestas e outros itens divulgados e comercializados pela ONG. Não é para menos. O Instituto Meio foi criado, em 2005, pelo reconhecido designer Lars Diederichsen, disposto a gerar oportunidade de emprego e renda para estas comunidades rurais. “O que me motivou fundar o Instituto Meio foi a percepção da necessidade de apoiar comunidades de baixa renda, principalmente em áreas rurais, com ferramentas integradas e multidisciplinares, ajudando-os a desenvolver as suas vocações e conhecimentos para a geração de oportunidades de trabalho e renda”, explica o presidente do Instituto Meio. E diz acreditar que o trabalho e as realização de oportunidades fazem parte da formação de cidadão conscientes: o trabalho da auto-estima, melhora as condições de vida, fixa as pessoas no lugar de origem, abre a mente para o mundo. O Instituto Meio procura, também, tornar-se catalisador de mudanças sociais. Atua em cinco áreas diferentes; Renda e Empreendedorismo, Acesso a Inovação e Tecnologia, Acesso a Crédito e Capital, Acesso a Mercados e Eco-negócios, e possui em seu portfólio parceiros de grande responsabilidade social e ampla área de atuação como Projeto Tamar, Sebrae, Fundação Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Governo do Tocantins, Ministério do Turismo e Caixa Cultural, entre outros. No portal, o Meio Shop é um canal de vendas dos produtos para lojistas, empresas e pessoas físicas.

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Me i o Amb i ente TEXTO: [PAULO LIMA, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA] FOTOS:[SIDNEY GOUVEIA E PAULO LIMA]

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BRASIL, BERÇO DAS ÁGUAS? O PROFESSOR MARCOS CALLISTO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, QUESTIONA O MITO DE QUE TEMOS ÁGUA DE QUALIDADE EM ABUNDÂNCIA.

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água é o nosso recurso natural mais precioso e abundante. Este é um clichê comum não apenas aos círculos ecológicos, mas às pessoas em geral. Basta olhar ao redor. Afinal, vivemos no planeta água. E, no caso do Brasil, o clichê se reveste de uma convicção ufanista. Temos água para dar e vender. Se esse líquido essencial à vida está se tornando escasso no planeta, podemos dormir sossegados, pois temos bastante. Se a água pode vir a ser motivo de guerra entre os países, como ocorre hoje com o petróleo, isso não nos apetece. Temos a Amazônia. Cenários de água sendo disputada com avidez pertencem a realidades áridas e distantes, como a África. Pelo menos, é assim que nos acostumamos a pensar. Baseados nessa convicção, vamos cometendo nossos desperdícios cotidianos, certos de que a água nossa de cada dia está assegurada. Mas a guerra pela água já é uma realidade. E nossas reservas não são tão perenes assim. Nem de boa qualidade. Quem afirma é o professor Marcos Callisto, carioca de 42 anos, mestre em Ecologia e doutor em Ciências Biológicas pela UFRJ. Atualmente, ele é professor associado no Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, onde coordena o laboratório de Ecologia de Bentos. Participa ainda como pesquisador associado do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais, que visa recuperar as bacias do Rio das Velhas e do Rio São Francisco. Callisto conversou com a Plurale numa manhã ensolarada de sábado, num restaurante aprazível da Praia de Aruana, em Aracaju. Ali, ao sabor de uma brisa cálida e de frente para a imensidão do Atlântico, expôs seu ponto de vista sobre a questão da água, a qualidade dos mananciais existentes no Brasil e um embate já em curso entre os países pela disputa das reservas no planeta. Callisto acha que existem alguns pontos a considerar. O primeiro é a ideia de que a guerra pela água é um risco situado no futuro, não no presente. Mas o problema está bem aí. “A gente


já vive numa situação de escassez”, adverte. Mas essa escassez não diz respeito à quantidade de água existente, e sim à qualidade do volume existente. “As pessoas têm a ideia errada de que a água é um bem abundante na natureza, e não é”. Considere a qualidade dos nossos mananciais, em qualquer região do Brasil. “Quantas pessoas têm a chance de chegar numa nascente, pegar água e beber direto sem medo de pegar uma doença, sem medo de morrer por estar contaminado?”, questiona. A tão propalada guerra pela água já é um fato. “Não é uma coisa assim de prever. Não, já é isso. Você tem países no Oriente Médio que já passam por isso. Na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil.” Este, aliás, é um alerta que ecoa em estudos recentes. No livro Água (Ed. Ediouro), Marq de Villiers, um jornalista que conheceu a dura realidade de diversos países, chama a atenção para o risco: “O Egito por mais de uma vez esteve na iminência de entrar em guerra por causa de desvios do Nilo. A água está em crise na China, no sudeste da Ásia, no sudoeste da América, no norte da Áfri-

ca. Mesmo na Europa há escassez de água - seca já não é uma palavra estranha à Inglaterra, onde os lençóis freáticos declinavam no início da década de 1990”. Outro elemento analisado por Callisto é a necessidade. A água traz em si um valor intrínseco. É um líquido vital para a manutenção de todos os seres vivos. Ele faz uma comparação entre a água e o petróleo, um bem cuja importância na economia do planeta é evidente. O exemplo é uma garrafinha de água de 500ml. “Quanto você está pagando?”, indaga. “O dobro do que você paga por um litro de gasolina, sendo que, na gasolina, você tem que explorar o petróleo off shore ou mesmo no continente”. É óbvio que o processo de produção da gasolina é mais caro e elaborado. Mas podemos, em determinadas situações, dispensar seu uso. Deixar o carro na garagem e andar de bicicleta é apenas um exemplo. Porém isso não ocorre com a água. “Você não precisa de petróleo, mas as pessoas precisam de água. Individualmente, cada um de

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Me i o Amb i ente

nós precisa de água.” Este é mais um ponto a exacerbar tensões. Vamos imaginar a atividade econômica como um todo. A água está lá, em cada ciclo produtivo. “Todas as empresas, todos os tipos de atividade, sejam elas industriais, o que for, sempre precisam de água. Você não pode ter uma refinaria sem água, uma mineração sem água, uma siderurgia sem água, um montador de carro sem água, o restaurante sem água. Tudo isso precisa de água.” Outro ângulo da questão, conforme Callisto, aponta para a manutenção da vida silvestre. Não somos apenas nós, os humanos, que dependemos da água para sobreviver. Os animais também precisam dela. Nós, moradores das cidades, podemos nos dar ao luxo de dispor de água bem tratada. Mas não os animais. “Quando eu chego em casa e abro a torneira, posso pegar e beber direto, não vou pegar uma doença. A água que nós temos é de ótima qualidade, é disponível pra gente.” Mas esse é um luxo que não está disponível para os animais, microorganismos e e plantas que vivem em ambientes aquáticos. “Eles merecem essa

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mesma água da boa qualidade, independentemente do homem.” No caso do Brasil, Callisto explica que as nascentes das bacias hidrográficas exercem um papel importante para a qualidade de nossas reservas hídricas. Neste sentido, segundo ele, Minas Gerais é um estado privilegiado e uma exceção. “O mineiro, principalmente o que mora em Belo Horizonte, que é uma capital de 3 milhões de pessoas, não tem noção do que é falta d´água. Por quê? Porque a Copasa lá é uma ótima empresa, trata muito bem a água. O mineiro pega um carro e em meia hora está num lugar que tem nascente para beber água.” É o contrário do que ocorre em outros estados. “O Rio de Janeiro não é assim, São Paulo não é assim, Manaus não é assim. Manaus tem a mesma população de Belo Horizonte. Você anda em Manaus e a população não tem água de boa qualidade para consumir.” O que está em jogo é exatamente a proteção desses mananciais e as cabeceiras dos rios. E é daí que brota a água de qualidade de que necessitamos. Mesmo as iniciativas conservacionistas, motivadas pela proteção de espécies endêmicas, não levam em conta esses cuidados. “O Brasil tem uma reserva de água enorme. Mas quantos rios você conhece, quantos rios você visita ao longo do ano com água de ótima qualidade? O que a gente conhece são rios urbanos, retificados, canalizados, que recebem esgoto, que estão tampados, que deságuam aqui no litoral trazendo esgotos das casas, dos prédios e tal. Mas rios com ótima qualidade, isso a gente não tem”. Diante desse diagnóstico, ele conclui: “Não acho o Brasil um país privilegiado em termos de oferta de água de boa qualidade.” Callisto relembra que quando chegou a Belo Horizonte podia se dar ao luxo de beber água direto da nascente do Rio São Francisco com um cantil. Hoje isso seria impossível. “Que realidade, em termos de qualidade de água, ou disponibilidade de água de boa qualidade, os nossos filhos e os nossos netos terão?”, ele se pergunta. “Será que eles vão ter a chance que eu tive?” O próprio Callisto responde: “Provavelmente, não”.


NĂŁo perca o maior evento da AmĂŠrica Latina na ĂĄrea de Relaçþes com Investidores e Mercado de Capitais, onde serĂŁo abordados temas da maior relevância como: – CenĂĄrios para a Economia Brasileira 2011-2014 – Ambiente RegulatĂłrio – O que Mudou e como as Companhias EstĂŁo se Adequando – Instrução CVM 480 e 481 – Os Seis Meses Iniciais da ,PSODQWDomR 3ULQFLSDLV 'LÂżFXOGDGHV H 3HUVSHFWLYDV GH $GHTXDo}HV GDV Companhias – Implantação do IFRS no Brasil: Impacto no Valuation, Principais 0XGDQoDV TXH RV $QDOLVWDV 9mR 2EVHUYDU &RPSDUDWLYR GDV 'HPRQVWUDo}HV %UDVLO ; (XURSD ; 86$ Âą &ULDomR GH 9DORU SRU ,QWHUPpGLR GH 5, &RPR $YDOLDU" Âą &RPR R 0HUFDGR $YDOLD HVVD 4XHVWmR 0HWRGRORJLDV H )HUUDPHQWDV GH $YDOLDomR GD ĂˆUHD GH 5,

14 e 15 de julho de 2010

– Acesso a Mercados Diferenciados – Road Shows em Mercados Diferenciados como Asia e Golfo PĂŠrsico: Diferenças em Relação DRV 5RDG 6KRZV HP 0HUFDGRV 7UDGLFLRQDLV &RPR 86$ H 8. Âą )HUUDPHQWDV GH 7DUJHWLQJ QHVVHV 0HUFDGRV 'LIHUHQFLDGRV &DVHV Âą $FHVVR DR 0HUFDGR GH 'tYLGD Âą 'HErQWXUHV QR %UDVLO ; &DSWDo}HV QR ([WHULRU &XVWRV GH &DSWDomR 2 TXH 0XGRX ,QYHVWLGRU GH 'tYLGD &DUDFWHUtVWLFDV H 1HFHVVLGDGHV 5HODFLRQDPHQWR FRP $JrQFLDV GH 5DWLQJ &DVH Âą &RQFOXV}HV GD &RQIHUrQFLD $QXDO GR 1,5, UHDOL]DGD HP -XQKR GH QRV 86$ Âą 3UHVHQoD &RQÂżUPDGD GH -HIIUH\ 0RUJDQ 3UHVLGHQWH 1,5, Âą 1DWLRQDO ,QYHVWRU 5HODWLRQV ,QVWLWXWH 86$

Realização

Informaçþes e Inscriçþes ABRASCA IBRI ZZZ DEUDVFD RUJ EU ZZZ LEUL FRP EU

Sheraton SĂŁo Paulo WTC Hotel $Y GDV 1Do}HV 8QLGDV 3LVR & %URRNOLQ 1RYR 6mR 3DXOR 63 Patrocinadores Ouro

C

Patrocinadores Prata

Organização

Divulgação

Apoio Institucional ABRAPP | ABVCAP | ADEVAL | AMEC | ANBIMA | ANCOR | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC-SP | IBEF-SP | IBGC | IBRACON | INI | INSTITUTO CHIAVENATTO


INFLORESCÊNCIA RUIVA DO CACTO CABEÇA-DE-FRADE (MELOCACTUS ZEHNTNERI)

A

Ensai o PLURALE

30>

Reserva Biológica do Atol das Rocas (RN)

Parque Nacional das Araucárias (PR)

B

FLOR DA PALMA-FORRAGEIRA (OPUNTIA FÍCUSINDICA), ESPÉCIE MEXICANA AMPLAMENTE DIFUNDIDA NO NORDESTE COMO ALIMENTO PARA O GADO.

30 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2010


C

D

FRUTO DO MANDACARU (CEREUS JAMARACU) EM MEIO ÀS CATINGUEIRAS.

FLORES DE PAU-D’ARCO OU IPÊ-ROXO (TABEBUIA IMPETIGINOSA) COLORINDO O CÉU DO SEMI-ÁRIDO.

A diversidade da vida na Caatinga

N

em só de Amazônia, Pantanal ou Mata Atlântica vive a biodiversidade brasileira. Também o bioma Caatinga, por décadas tratada como estéril e pobre em biodiversidade, têm surpreendido cada vez mais pela sua resistência às condições climáticas adversas e exuberância de suas formas de vida. Hoje se sabe que o único bioma exclusivamente brasileiro, maior região semi-árida do país, é habitado por uma diversidade de seres tipicamente adaptados à secura do clima, sendo muitos deles exclusivos desse ambiente. É o poder de transformação da Caatinga sua principal marca. Estas belíssimas fotos foram tiradas em diferentes expedições para pesquisas em campo nos últimos dois anos, pelos biólogos e fotógrafos Sidney Gouveia, Pablo Santana e Raone Beltrão. O cenário cinzento do período da estiagem, com vegetação espinhosa e sem folhas e alguns animais resistentes, dão lugar, por uma transformação quase mágica, a uma variedade de organismos em formas e cores singulares que modificam toda a paisagem logo após as primeiras chuvas de inverno. Várias imagens têm como pano de fundo o Monumento Natural Grota do Angico, em Sergipe, estado que tem metade de seu território coberto por Caatinga. A unidade de conservação tem 2.138 hectares, abrangendo áreas dos municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco. A área protegida também resguarda a Grota do Angico, local onde Lampião e parte do seu bando foram mortos em 28 de julho de 1938, marcando historicamente o fim do Cangaço. Outros cliques são de pontos diferentes. As fotos acabam de ser expostas, em abril, para o público sergipano e agora estão sendo apresentadas, gentilmente, aos leitores de Plurale.

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E

PERIQUITO-DE-ASA-AZUL OU TUIM (FORPUS XANTHOPTERYGIUS), MENOR PSITACÍDEO BRASILEIRO.

32>

FOTOS: A - C - E

SIDNEY

GOUVEIA B - D - F

RAONE

BELTRÃO G - H

PABLO

SANTANA 32 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2010

F

MOCÓ (KERODON RUPESTRIS), ROEDOR ENDÊMICO DA CAATINGA EXPLORANDO NOVO HÁBITAT.


G

MOMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DA LIBÉLULA NA ESCURIDÃO NOTURNA.

H

LÍRIO-DO-MATO (HABRANTHUS SYLVATICUS), TINGINDO O CHÃO DO SERTÃO NAS PRIMEIRAS CHUVAS.

33> 33


P elo BRASIL

POBREZA,

SÓ EM MUSEU

[NÍCIA RIBAS, PLURALE EM REVISTA], DO RIO

A

grande atração do III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, realizado nos dias 19 e 20, no Rio, foi Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz em 2006, que veio de Bangladesh para contar como funcionam seus empreendimentos sociais. Economista, com doutorado nos Estados Unidos e professor na Universidade de Dhaka, Yunus foi o criador do sistema de microcrédito para pessoas carentes e fundador do Grameen Bank que faz empréstimos sem garantias nem papéis, sendo procurado, principalmente, por mulheres: elas são 97% dos 6,6 milhões de beneficiários. A taxa de recuperação é de 98,85%. “Desde o começo, em 1976, enfatizamos que aqueles que recebiam os empréstimos teriam que levar seus filhos à escola”, lembrou Yunus. Hoje ele comemora o fato de ter quebrado a rotina de analfabetismo, que vinha ocorrendo através das gerações. Pais analfabetos, filhos doutores, pois mesmo após concluir o ensino médio, que é gratuito em Bangladesh, muitos quiseram entrar para a universidade. “Como não podiam pagar pela universidade, tivemos a ideia de criar uma lei que garantisse a gratuidade para eles”, contou Yunus. Graças àquela lei, milhares de estudantes cursaram a Universidade e hoje são médicos, engenheiros, muitos deles defendendo teses de doutorado. Mais adiante, surgiu outro problema: os recém-formados não conseguiam empregos. A resposta de Yunus foi: “Esqueçam o emprego. Vocês já são jovens privilegiados, sua mãe é dona de um banco – realmente, pelo sistema de microcréditos, aqueles que

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tomam dinheiro emprestado se tornam proprietários do banco – e esse banco tem tanto dinheiro que vocês não precisam se preocupar. Ao invés de buscar emprego, tratem de oferecê-lo, criando seus próprios empreendimentos.” Yunus conta que, no início, os jovens ficavam chocados e perguntavam como fazer isso. Ele, então, lhes dizia para procurarem sua mãe, pois ela saberia orientá-los: “Vocês têm o conhecimento e ela, a experiência adquirida ao longo da vida, pedindo empréstimos e garantindo os estudos de vocês; se ela conseguiu, vocês têm muito mais chance de conseguir sucesso, montando seu próprio negócio.” Nos anos 80, com o advento forte da informática, ele percebeu que aquilo transformaria o mundo e a vida dos pobres. Tratou de fundar uma empresa de telefonia celular, obtendo logo a licença do Governo. Em seguida, emprestou dinheiro às mulheres, mães de famílias, nas pequenas vilas, para que elas comprassem um celular. “Elas passaram a vender seus serviços pelo celular, emprestavam o telefone àqueles que não tinham e ficaram famosas na aldeia, sendo convidadas para todos os casamentos,” diverte-se Yunes, ao relembrar. Ele garantiu que, hoje, o sistema celular de Bangladesh é muito melhor que o americano, fazendo a plateia vibrar.

impressionar o paciente e enriquecer os fabricantes: “Com apenas um chip, que cabe numa caixa de sapatos, poderemos substituí-los”. Esse pequeno aparelho será conectado a um I Phone, que vai para o especialista, que dará seu parecer e conversará com a grávida, medicando-a, quando necessário. Já foi feito um contrato com o Serviço de Saúde da General Electric para o desenvolvimento e produção desse equipamento. Atualmente, Yunus e sua equipe estão testando o protótipo. Outro empreendimento social ligado à área de saúde foi o Grameen Danone, de onde não se tira dividendos, e que garante vitaminas para as crianças. “No balanço de fim de ano, ao invés de perguntar aos dirigentes quanto foi o lucro, perguntamos quantas crianças saíram do estado de desnutrição”, diz Yunus. Numa parceria com a Basf (produtos químicos), a equipe de Yunus garantiu água limpa para a aldeia e extermínio do mosquito da malária. A parceria feita com a Adidas, para que produzisse um tipo de sapato bem barato, vem evitando a verminose adquirida pelos que andam descalços. “Não temos que ficar esperando pelo Governo e nem pelas ONGs para iniciarmos um empreendimento social.

sAÚde PelA iNteRNet

bolsA- fAmÍliA, boA iNiCiAtivA

Numa próxima etapa, Yunus pretende conectar o celular à Internet para oferecer serviços de saúde, marketing, novos negócios. “Será nossa lâmpada de Aladim no futuro”, diz ele. Está em andamento um projeto para fazer diagnóstico de grávidas à distância. Através de 20 perguntas para serem respondidas por grávidas, pelo celular conectado à Internet, será possível checar se se trata de uma gravidez normal ou de risco. Sem sair de casa, elas terão um diagnóstico feito por um médico da cidade grande. “É a volta do médico de família, que ia na casa do paciente”, compara, dizendo que o diagnóstico digital vai substituir a maleta preta do doutor. Para Yunus, os sofisticados e absurdamente caros instrumentos utilizados pela medicina moderna foram criados para

Aos jovens universitários que lotaram o evento, Yunus recomendou: “Olhem para os problemas do seu País, escolham um e comecem a resolvê-lo. Por exemplo, com o Bolsa-Família, o Governo fez a sua parte; agora podemos pegar 10 famílias e montar um empreendimento social para que elas possam sair do Bolsa-Família, criando uma vida digna para elas. Aos que lhe perguntam quando virá criar um GrameenBank aqui, Yunus promete vir ajudar: “Fazer um empreendimento social é divertido, muda a vida das pessoas; se der certo, acabaremos com a pobreza no mundo”. Seu sonho é, no futuro, ver as famílias levando seus filhos ao Museu da Pobreza, para mostrar a eles como viviam as pessoas pobres e os miseráveis, antigamente.


Curativo de celulose de cana

U

m dos mais abundantes resíduos da indústria sucroalcooleira, o bagaço de cana-de-açúcar, poderá ter uma destinação nobre graças a uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP). A equipe, coordenada pelo professor Adalberto Pessoa Júnior, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, desenvolveu uma fibra que poderá se tornar um tecido que, com o acréscimo de enzimas e fármacos, tem potencial para ser utilizado como curativo com múltiplas aplicações. A pesquisa surgiu a partir da iniciativa da professora Silgia Aparecida da Costa, do Curso de Têxtil e Moda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. “O objetivo foi aproveitar dois importantes resíduos, o bagaço da cana e a quitosana, substância extraída da carapaça de crustáceos e que tem propriedades farmacológicas”, disse à Agência FAPESP. A quitosana é obtida a partir da quitina, um polissacarídeo formador do esqueleto externo de crustáceos como siris e caranguejos, e tem propriedades fungicida, bactericida, cicatrizante e antialérgica. O trabalho, que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, uniu as áreas farmacêutica e de engenharia de tecidos e depositou patente do processo de fabricação da fibra com potenciais farmacêuticos. (Fábio Reynol, Agência Fapesp)

Brasil desmata por dia o equivalente à área que será alagada por Belo Monte

B

rasília - O total de área a ser alagada pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte corresponde a menos do que é desmatado em um dia na Amazônia, afirmou o professor da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), Ivan de Toledo Camargo, durante debate sobre energias renováveis, no 27º Fórum Brasil Europa, promovido pela UnB em parceria com instituições internacionais. “Belo Monte equivale a menos do que é desmatado diariamente na Amazônia. Nos últimos anos, em média, todo dia são pelo menos 500 quilômetros quadrados a menos de florestas. É uma dimensão muito próxima ao que está previsto em termos de área a ser alagada por essa hidrelétrica, que garantirá boa parte da energia a ser consumida no país”, disse o professor. Camargo integrou a Câmara de Gestão da Crise durante o racionamento de energia em 2001. O engenheiro elétrico disse estar mais preocupado com os estragos que serão provocadas pelas pessoas que serão atraídas para a região por causa da usina. (Pedro Peduzzi, da Agência Brasil)

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P elo BRASIL Corrupção no Brasil custa até R$ 69,1 bilhões por ano

O

preço da corrupção custa para o Brasil entre R$ 41,5 e R$ 69,1 bilhões por ano. A estimativa é de um estudo divulgado nesta quinta-feira (13/5) pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). De acordo com o relatório Corrupção: Custos Econômicos e Propostas de Combate, o custo com a corrupção representa entre 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O dinheiro, se investido em educação, por exemplo, poderia ampliar de 34,5 milhões para 51 milhões o número de estudantes matriculados na rede pública do ensino fundamental, além de melhorar as condições de vida do brasileiro. O relatório aponta também que, se o desvio de verbas no país fosse menor, a quantidade de leitos para internação nos hospitais públicos poderia subir de 367.397 para 694.409. O dinheiro desviado também poderia atender com moradias mais de 2,9 milhões de famílias e levar saneamento básico a mais de 23,3 milhões de domicílios.(Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil)

Etnia Sateré-Mawé exporta açaí

B

rasília - O guaraná em pó e o açaí produzidos pelos Sateré-Mawé (AM) conquistaram o mercado europeu. No final de março, as 120 famílias de indígenas, organizadas em um consórcio, venderam pela primeira vez para um importador Francês que irá distribuir os produtos pela Europa. O contrato foi de 174,4 mil euros, com previsão de exportar 2 mil quilos de guaraná em pó e de 1,5 mil quilos de açaí, que serão enviados por etapas, de acordo com a capacidade de produção e a demanda dos importadores. A primeira parte da encomenda, de 220 quilos de guaraná em pó, já foi enviada e a ideia é fazer remessas mensais. Para chegar ao destino final, os produtos são levados de barco em um percurso que dura 24 horas até Manaus, de onde são transportados de avião para a Europa. (Kelly Oliveira, da Agência Brasil)

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Pesquisa sobre potencial alimentar das algas

C

ientistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP estudaram quatro espécies de algas marinhas coletadas no litoral do estado do Espírito Santo. Segundo o estudo, as espécies possuem moléculas como fonte de proteínas, aminoácidos, lipídeos e ácidos graxos � essenciais para seres humanos e animais. “As análises bioquímicas mostram que as algas podem ser utilizadas na indústria alimentícia e de cosméticos”, aponta o professor Ernani Pinto, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF. L. intricata, uma das quatro espécies coletadas no litoral do Espírito Santo. As espécies de algas bentônicas Laurência filiformis, L. intricata, Gracilaria domingensis e G. birdiae � pertencentes à classe Rhodophyta, conhecidas como algas vermelhas � foram coletadas em 2008 como parte de um projeto de doutorado apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), orientado por Ernani Pinto e realizado pela química Vanessa Gressler. “O projeto ainda está em andamento, mas já obtivemos resultados interessantes quanto à composição bioquímica das algas”, revela o professor. Segundo ele, no Brasil há poucos grupos que se dedicam a estudar estas espécies. Os estudos com as algas, de acordo com o docente, foram todos encaminhados com a devida autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA). (Antônio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias)

Onda verde surpreende

O

número de ações registradas pelo Brasil em sua participação no movimento Onda Verde neste ano surpreendeu a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, que promoveu a campanha no país. Até o dia 26 de maio, 65 ações haviam sido postadas no site da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (CDB), que realiza o movimento em todo o mundo. O número de ações brasileiras é superior a de outros países que participam da campanha internacional desde o seu início, em 2007, como os Estados Unidos, com 14 ações, Inglaterra, com 8, e o Canadá, país sede da CDB, que registrou 58. A Onda Verde foi realizada no dia 21 de maio: o principal objetivo do movimento é fomentar o plantio de árvores como forma de sensibilizar a sociedade para a conservação da biodiversidade mundial. A partir das 10h, pessoas em mais de 60 países plantaram árvores formando, de acordo com os fusos horários locais, uma grande onda de leste a oeste do planeta. Depois, os participantes podiam postar, no site da CDB, imagens e uma descrição de suas ações. É a partir desses registros que se calcula a participação de um país no movimento.

Brasil deverá ter até oito centrais de energia nuclear em 2030

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Brasil deverá ter até 2030 entre quatro e oito centrais de energia nuclear, afirmou o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Três regiões brasileiras estão sendo estudadas para a implantação de plantas nucleares. “Começamos a fazer estudos pelo Nordeste, para verificar onde há sítios para instalar as plantas nucleares. Depois vamos fazer no Sudeste e no Sul”, disse o ministro em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Zimmermann, para isso é necessário criar políticas específicas e determinar a tecnologia que será usada. “O estudo, que se iniciará este ano, vai definir a viabilidade técnica e econômica e apurar qual local deve ter essa planta.” O ministro informou que as obras de construção da usina nuclear Angra 3 já foram retomadas. “Levou mais de dez anos para se tomar uma decisão. A usina foi retomada, está em construção e entrará em operação em 2015.” (Agência Brasil)

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Frases ECO DE DIÁLOGOS SOBRE SUSTENTABILIDADE

A EQUIPE DE PLURALE TEM ACOMPANHADO OS PRINCIPAIS DIÁLOGOS SOBRE SUSTENTABILIDADE. APROVEITAMOS ESTA EDIÇÃO PARA DAR ECO PARA ALGUNS PALESTRANTES DE EVENTOS RECENTES, COMO A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DO ETHOS, O 6º CONGRESSO DO GRUPO DE INSTITUTOS FUNDAÇÕES DE EMPRESAS (GIFE), A 14ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DO REPUTATION INSTITUTE E O 3º FÓRUM INTERNACIONAL DE COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE.

“MUITAS EMPRESAS SÃO NARCISISTAS. SÓ OLHAM PARA DENTRO E NÃO SABEM OUVIR.”

BERNARD KLIKSBERG

Assessor do PNUD, no CI Ethos 2010

“QUEM ESTÁ AQUI NESTA CONFERÊNCIA: A PESSOA FÍSICA OU A JURÍDICA?”

OSCAR MOTOMURA

Diretor do Grupo Amana-key, no CI-Ethos 2010

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“ESTA É A HORA DO BRASIL.” Fundador e vicepresidente do Reputation Institute na 14ª Conferência Internacional sobre reputação.

CEES VAN RIEL SIMONE COELHO Socióloga, defendendo a importância de aprender com os erros, no 6º Congresso Gife sobre Investimento Privado

“OS EQUÍVOCOS SÃO GUARDADOS DENTRO DA GAVETA PORQUE A CULTURA DA EMPRESA É A DE COMUNICAR APENAS O SUCESSO.”


“É PRECISO TER RESPEITO MÚTUO. E NÃO ADIANTA SER ALGO VIRTUAL, DA BOCA PARA FORA. É PRECISO PRATICAR TODOS OS DIAS.”

FERNANDO ROSSETI Secretário-geral do Gife em entrevista a Plurale em site no 6º Congresso Gife sobre Investimento Privado

“ESTE MOMENTO DE REDEFINIÇÃO, APÓS A CRISE GLOBAL, PODE SER A HORA CERTA PARA DISCUTIRMOS PONTOS RELEVANTES. COMO POR EXEMPLO A CONCENTRAÇÃO NAS MESMAS ÁREAS E NAS REGIÕES CENTRAIS. E OS PORTADORES DE VÍRUS HIV, OS IDOSOS, OS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS? QUEM SE VOLTARÁ PARA ELES? E QUEM ESTÁ LONGE DOS GRANDES CENTROS? POR QUE NÃO TER ALGUM INVESTIMENTO DE RISCO NA ÁREA SOCIAL?”

GOG

Poeta de Sobradinho (DF) e letrista de hip hop, no 3º Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade

MARCOS JANK Presidente da União da Indústria de cana-de-açúcar, no CI-Ethos 2010

“EM TERMOS DE BIOMASSA, TEMOS TRÊS BELO MONTES ADORMECIDAS NA CANA, EM SEU BAGAÇO E NA PALHA.” “É UM DEVER DAS FUNDAÇÕES E INSTITUIÇÕES PENSAREM EM COMO CRIAR MAIS INSTITUCIONALIDADE DA SOCIEDADE CIVIL. UM DOS CAMINHOS É APOIAR AS PEQUENAS ONGS LOCAIS, INVESTINDO NA CAPACITAÇÃO DE SUAS EQUIPES.”

MARIA ALICE SETUBAL

MARCOS BICUDO Presidente da Philips Brasil, na 14ª Conferência Internacional sobre reputação “ALÉM DOS TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE, O TRIPPLE BOTTON LINE, SEMPRE FALO DO QUARTO PILAR: O INDIVIDUAL, COM O EXEMPLO DE CIDADANIA.”

BRADFORD SMITH Presidente do Foundation Center, no 6º Congresso Gife sobre Investimento Privado

“HOJE, O TERCEIRO SETOR É COMO UM ARQUIPÉLAGO, COM VÁRIAS ILHAS, QUE NÃO Diretora-presidente da Fundação Tide Setubal, no SE COMUNICAM 6º Congresso Gife sobre Investimento Privado ENTRE SI.”


Ter ce i ra Idade

Felizes da Vida População brasileira envelhece e precisa de atenção. Em 2040, a previsão é de 27% da população tenha mais de 60 anos. No Rio, Retiro dos Artistas é exemplo de cuidado com a terceira idade.

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TEXTO E FOTOS: [NÍCIA RIBAS], PLURALE EM REVISTA, DO RIO

o dia marcado para a visita do técnico da telefônica, Dona Mercedes, moradora de um quarto e sala em Copacabana, vai cedo para a cozinha, fazer um bolo de chocolate. É uma artimanha da solitária velhinha para prolongar ao máximo a conversa com ele, que vai sentar e saborear a guloseima. A família moderna não tem tempo para o velho, principalmente em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Ao mesmo tempo, cresce o número de integrantes do grupo da chamada terceira idade – a partir dos 60 anos. Uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que eles representarão 27% da população brasileira em 2040. Segundo especialistas do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial de Saúde, em 2050, quando a população mundial for de 8,9 bilhões, haverá 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos em todo o mundo, sendo que 1,6 bilhão estarão em países menos desenvolvidos. “O mundo está envelhecendo numa velocidade nunca antes observada, e será necessário o envolvimento de todas as esferas da sociedade para que os idosos tenham uma melhor qualidade de vida”, afirmam. Dados do Ministério da Saúde e da Organização PanAmericana da Saúde, constatam que solidão e pobreza na velhice agravam os problemas de saúde. Estima-se que entre 75 a 80% da população acima de 60 anos têm pelo menos um problema de saúde crônico, o que resultaria

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num contingente de 27 milhões, em 2025, e de 50 milhões, em 2050. Apesar dos prognósticos, há ainda poucas iniciativas com foco nos direitos e no respeito às pessoas acima dos 60 anos. O Estatuto do Idoso diz que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade, e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”. boAs NovAs A Secretaria Especial dos Direitos Humanos escolheu a cidade do Rio de Janeiro para ser a sede do projeto piloto do Plano Técnico de Articulação de Rede de Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa (Plantar). Segundo o coordenador geral dos Direitos do Idoso da SEDH, Roberto Loyola, a escolha da capital fluminense decorreu da grande quantidade de idosos do município. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os idosos somavam 1,15 milhão de pessoas na cidade do Rio em 2007, o que representava 20% da população local. O Plantar pretende integrar políticas para a construção de uma agenda comum de trabalho, entre governos, sociedade civil e organismos internacionais, buscando desenvolver ações de valorização do idoso, através da Rede Nacional de Proteção e Defesa da pessoa idosa – RENADI. Segundo Loyola, um grande passo a favor da melhoria da qualidade de vida dos idosos do Rio de Janeiro já foi dado em março último, quando a Secretaria de Envelheci-


lo”, explica o diretor social, Henio Lousa, que trabalha lá há 42 anos. Quem teve a idéia de instalar ali um abrigo para artistas, arrecadando fundos através de campanha no jornal A Noite foi uma dupla de atores, Leopoldo Fróes e Eduardo Leite. Em 1969, outra campanha, desta vez no programa de Flávio Cavalcanti, permitiu a ampliação e melhorias no Retiro dos Artistas Mas o grande salto ocorreu em 1999, quando o ator Stepan Nercessian assumiu a presidência do Retiro dos Artistas, movimentando toda a classe artística e a sociedade em geral através de eventos culturais e campanhas para modernizar e manter o local. Hoje residem ali 58 idosos egressos da vida artística, cada qual com muitas e boas histórias para contar. Bem Fachada da casa original, instalados, em casas que abrigava os hóspedes individuais, com diquando tudo começou. Hoje reito a varanda com funciona como brechó. plantas, eles disDiante da Casa, o busto de põem de refeitórios, Getúlio Vargas, homenagem lavanderia industrial, “ao redentor do teatro no enfermaria, biblioteBrasil”, em 24/8/1938. ca, capela, telefone, Internet (patrocinada pelo laboratório de informática da Proderj), espaço para caminhadas, e como não poderia deixar de ser, um cinema, um teatro e uma lona de mento Saudável e Qualidade de Vida na Prefeitura do Rio encaminhou circo. Em alguns casos, como o do maestro à Câmara Municipal a proposta para criação do Conselho Municipal do Edson Frederico, que está com dificuldade Idoso. “Há muitos anos se esperava por isso”, diz Maria da Penha Silva de locomoção, em tratamento de fisioterapia, co, da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos. Ela explica mas ainda trabalha em casa, no computador, a que o Conselho fiscalizará e proporá ações de desenvolvimento, inteCasa oferece até enfermeiros. grando os diversos serviços que servem ao idoso – saúde, transporte, Tudo de graça, exceto para aqueles que educação, etc.. recebem uma aposentadoria acima de um Outra novidade é a lei nº 12.312, de 20 de janeiro deste ano, que inssalário mínimo e desejam contribuir com vatitui o Fundo Nacional do Idoso, autorizando a redução do imposto de lores que variam de R$50 a R$100 por mês. Os renda devido por Pessoas Físicas e Jurídicas, quando efetuadas doações candidatos a residir lá devem comprovar ter destinadas aos Fundos Municipais e Estaduais do Idoso. A finalidade é exercido a profissão no meio artístico e a cafinanciar programas e ações relativas ao idoso, garantindo seus direitos rência. Condomínio aberto 24 horas, o Retiro sociais e criando condições para promover sua autonomia, integração e dos Artistas é uma empresa privada, com 35 participação efetiva na sociedade. Contudo, a dedução a que a lei se refefuncionários. re, somada à dedução relativa às doações efetuadas aos Fundos dos DireiA verba para sua manutenção advém de tos das Crianças e do Adolescente, não poderá ultrapassar 1% do imposto doações de artistas e da arrecadação atradevido. A lei entrará em vigor em 10 de janeiro de 2011. vés de boletos bancários e campanhas de telemarketing. Outra importante fonte de reNo Rio, o Retiro dos Artistas cursos é a locação do espaço para a gravação Erguido numa antiga fazenda de café, o velho casarão da então Rua de programas e novelas de televisão. Atualdas Flores, no Pechincha, Jacarepaguá, abriga desde 1918 atores e profismente, Tempos Modernos, da TV Globo utisionais do meio artístico oriundos da efervescente vida cultural da antiga liza a fachada do casarão do século XIX para capital do Brasil. “Na época, só no centro do Rio, existiam 52 teatros e muigravar as cenas em uma delegacia policial. tos integrantes das companhias estrangeiras, que vinham se apresentar Uma famosa e concorrida Festa Junina, realiaqui, acabavam ficando e residindo neste local, que funcionava como asizada anualmente, contribui significativamente

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Ter ce i ra Idade

Arthur Maia

pratos apetitosos para dividir com ela em alegres almoços. Isa Rodrigues, a Shirley Temple brasileira, hoje com 82 anos, sapateava, dançava e cantava em programas famosos, como Times Square e Samba de branco, das antigas TV Excelsior e TV Rio. Mais recentemente, fez dupla com a Dercy Gonçalves, sua amiga da vida toda, cantando a Perereca da Vizinha. Também atuou por alguns anos com Os Trapalhões, na TV Globo. No teatro de revista, era a estrela da peça Te futuco, não futuca. Há quatro anos, quando seu filho se separou e se mudou para um apartamento menor, Isa decidiu aconselhar-se com a amiga Dercy sobre que rumo tomar na vida. E foi Dercy quem primeiro a convidou para ir morar com ela, para então sugerir o Retiro dos Artistas. A casa de Isa é finamente decorada com peças que ela trouxe do imenso apartamento da Figueiredo Magalhães, onde morava com sua família. Enquanto relembra sua vida de sucessos, Isa atende um grupo de alunos do Centro Educacional Peixoto, que visita o Retiro, pedindo autógrafos e ouvindo suas alegres histórias. Contemporânea de monstros sagrados como Grande Otelo, Oscarito, Dorinha Durval, Aizita do Nascimento e Ema d`Ávila, ela fala com muita saudade dos seus tempos de celebridade. O compositor e cantor Odibar Moreira da Silva, 71, mora no Retiro há mais de dois anos. Com o parceiro Paulo Diniz,

Fernanda Silva

para os cofres da entidade, que ainda oferece atividades para a comunidade, como oficinas de teatro, hidroginástica e ginástica para terceira idade, em parceria a Prefeitura do Rio. Até 1995, o Baile das Atrizes era realizado, com sucesso, para arrecadar fundos. A satisfação dos moradores é evidente. “Tem gente que vem para cá para morrer, mas eu vim para viver”, diz o diretor, produtor, cenógrafo e autor teatral, Arthur Maia, 78 anos, há sete meses residindo no Retiro. Desde a varanda até a área de serviço, sua casa amarela é toda decorada com plantas, biscuits, quadros e fotos. Orgulhoso de suas peças infantis que fizeram muito sucesso por todo o País, como Dona Patinha vai ser miss, ele revela que tem uma peça inédita para adulto, Black tie pra você também. “Meu nome artístico é Fernanda Silva”, diz a simpática atriz de novelas da TV Globo e de filmes, hoje com 84 anos e dor na coluna. Toda manhã ela mesma busca seu café no refeitório, arruma a casa e separa a roupa usada para a funcionária levar para a lavanderia. “Morar aqui é uma maravilha, todos me tratam muito bem.” Nas paredes, retratos dos filhos e netos, que ela vai nomeando e informando a profissão de cada um. Eles costumam visitá-la com frequência, levando

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é autor de sucessos como Pingos de amor e Quero voltar para a Bahia. Atualmente, sua criatividade está na entressafra, mas logo deverá abraçar novamente o violão para encantar a todos com suas canções. Seu lugar preferido é o Bar Butikim das Estrelas, que fica no pátio do Retiro No Ceará, a Ongami Na região do Cariri, na cidade cearense de Juazeiro do Norte, a organização não governamental Assistência à Melhor Idade (Ongami), fundada em 2007, desenvolve um trabalho importante junto aos idosos. Juraci Barbosa Alves, presidente da entidade, explica que a ideia de criar a Ongami nasceu das audiências públicas que ele frequentou depois de ver seus direitos desrespeitados numa instituição financeira. O objetivo da organização é dar aos idosos, apoio e a oportunidade de desenvolver atividades nas áreas de Direito, Lazer e Saúde. A Universidade Regional do Cariri (Urca) abraçou a causa e desenvolveu um curso de extensão especialmente para este público. A procura foi tanta que as inscrições tiveram que ser contidas. Para Juraci, o encontro no ambiente acadêmico também serve como lazer. No Balcão de Atendimento Jurídico, professores e estagiários de Direito dão assistência à terceira idade. Entre os projetos a serem colocados em prática estão ainda a “Seresta da Melhor Idade”, que visa reunir a família em um ambiente acolhedor. Em São Paulo, encontro de gerações Tudo começou quando Seu Caetano, de quase 80 anos, foi até a Emei - Escola Municipal de Educação Infantil - Professor

Ignácio Henrique Romeiro, no bairro Ipiranga, em São Paulo, para passar algumas horas com os alunos e contar a eles histórias do seu tempo de criança. Fez tanto sucesso que a direção o convidou novamente, mas, dessa vez, para conversar com todos os alunos. Foi assim que nasceu o “Projeto Intergeracional”, que ensina os pequenos a valorizar o idoso e propõe uma troca de aprendizado entre gerações. Assim, os idosos são convidados a visitar o colégio em datas especiais para cantar, dançar, conversar e até construir brinquedos. Por sua vez, os alunos também se apresentam para os idosos e visitam casas de repouso. “É uma troca de energia muito grande. Queremos que eles cresçam assim, respeitando os idosos”, diz Huguetti Davini, diretora da Escola. Já o Colégio Palmares, também de São Paulo, incentiva seus alunos a visitar asilos. Eles fazem brincadeiras, bingos e teatro. Uma vez por mês, recolhem mantimentos para doar às entidades vinculadas.Uma assistente social orienta os participantes sobre o que vai ser visto e feito. Para os estudantes, nada de benefícios extras, como pontuação, notas ou bônus escolar. Quem participa das ações, faz isso apenas por generosidade. E é justamente aí que reside o segredo do sucesso do projeto. Todos se sentem gratificados, uma sensação humana que nenhum outro benefício proporciona. Na cultura ocidental, a super valorização da juventude e do enriquecimento material acabam levando ao desprezo e ao abandono do idoso, que passa a ser tratado como inútil porque não produz mais. No entanto, essa mentalidade é um tiro no pé porque, se tiverem a sorte de não morrer antes da hora, um dia todos serão velhos. Um ditado popular diz que “tudo fica bem, quando termina bem”. Por isso, o foco na terceira idade é fundamental para se ter cada vez mais velhos felizes e constatar que a vida humana sobre a face da Terra deu certo.

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Fiema Brasil 2010

A Casa dos Sonhos Verdes

A Casa Sustentável exposta na Fiema Brasil 2010 não é uma obra futurista. Tudo que foi usado nela já está ao nosso alcance. TEXTO E FOTO: ISABEL CAPAVERDE, PLURALE EM REVISTA DE BENTO GONÇALVES (RS)

U

ma feira consolidada e em crescimento, que em sua quarta edição cresceu 30%, a Fiema Brasil – Feira Internacional de Tecnologia em Meio Ambiente realizada na cidade de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, nos últimos dias do mês de abril, teve entre suas atrações a Casa Sustentável. Construída com o máximo de benefícios, gerando o mínimo de impacto, a casa segue uma tendência de mercado voltada à consciência ecológica, integrando seus moradores ao meio ambiente e estimulando assim a preservação da natureza. Convidados pela organização da feira para construir a casa, os sócios do escritório Toni Backes Paisagismo & Consultoria – duas arquitetas e um engenheiro agrônomo – fecharam o projeto em dois meses. Com sede na cidade vizinha de Nova Petrópolis, o escritório tem experiência em arquitetura sustentável, atuando em projetos de paisagismo produtivo e vibracional, consultoria ambiental permacultural (método holístico para planejar, atualizar e manter jardins,

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vilas e comunidades ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis), jardinagem, laudos ambientais, compostagem. Cristiane Kaiser, uma das arquitetas, explica que a ideia é mostrar o conjunto paisagismo, arquitetura e interiores. Dar exemplos das possibilidades do uso urbano, obedecendo critérios focados na relação de consciência ecológica e respeito ao meio ambiente. “Na casa nós não usamos nada que a pessoa não possa sair amanhã e encontrar no mercado, comprar e adaptar à sua residência. Procuramos desmistificar e simplificar, que era um dos objetivos da Fiema, a utilização de materiais com componentes recicláveis e o mais naturais possíveis, e dos recursos disponíveis como ar, água e luz”. Inspirada nas construções da colonização italiana que predomina na região, a Casa Sustentável foi feita com matériasprimas oriundas do local e de baixo-custo. O uso de recursos locais também reduz custo com deslocamentos e dimunui o impacto do transporte. Tudo foi projetado para haver uma maior eficiência no consumo de água e energia, aproveitando o clima como luminosidade e ventilação naturais. “Dentro da casa utilizamos ecoprodutos, materiais de fibra natural e de


madeira certificada. A eficiência energética da casa é garantida por vidros duplos, paredes de madeira dupla com isolamento térmico de isopor, o telhado é de telha reciclada e telhado vivo, fogão a lenha e placa solar.Cerca de 90% das lâmpadas da casa são LED, que duram cerca de 35 mil horas, o que representa deixar as lâmpadas ligadas 12 horas por dia durante 12 anos.Além disso, instalamos um sistema que se a pessoa não estiver no ambiente a luz desliga automaticamente. E todos os eletrodomésticos são de certificação A, os mais econômicos. Na fachada norte colocamos um brise que bloqueia o sol do verão e libera o do inverno. Há uma rampa de acessibilidade na entrada do primeiro piso.E todo paisagismo da casa é ecológico produtivo, onde os jardins tem plantas ornamentais nativas, medicinais e frutíferas”. A água mereceu uma atenção especial por parte da equipe. Além da captação da água da chuva em cisternas de armazenamento e bombeamento para uso no vaso sanitário, rega de jardim e lavagem de calçada, mas principalmente, o tratamento dos resíduos das águas cinzas (cozinha, lavanderia, chuveiro e pia do banheiro) e negras (vaso sanitário) produzidas pela casa. Para realização do projeto houve a adesão de mais de 20 empresas brasileiras, que entraram como patrocinadoras e apoiadoras. “A única estrangeira veio da Colômbia, país nosso vizinho, e é a produtora do forno abastecido pela energia solar

que colocamos na casa. Houve uma verdadeira integração de empresas que promovem ações sociais e ambientais, que estão precupadas com a recuperação da saúde do planeta. E a adesão foi ainda maior quando souberam do pilar social do projeto, já que a casa ao final da feira será doada para a Associação Gota d´Água de Bento Gonçalves que apoia o autismo. Para atender as necessidades da organização ela sofrerá algumas mudanças e adaptações. Serão 110 metros quadrados com dois pavimentos. Essa doação fechou todo o processo de sustentabilidade do projeto”, fala Cristiane. Os custos para construção de uma casa sustentável como a exposta na Fiema são 40% mais altos que o de uma construção tradicional. “Mas esse é um investimento que se paga não somente em melhor qualidade de vida, hábitos mais saudáveis e preservação do planeta. Cada equipamento tem o seu tempo de retorno do investimento financeiro feito. A energia solar, por exemplo, vai de três a cinco anos de acordo com o fornecedor. Outro exemplo: hoje também existem prefeituras dando incentivo de imposto para quem colher água da chuva. No Rio Grande do Sul há redução de IPTU para quem instalar um sistema de aproveitamento da água da chuva. Temos que ter em mente que isso também é uma mudança de paradigma”. (*) A repórter cobriu a Fiema 2010 a convite da organização do evento.

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Ed uca ç ã o Amb i enta l

A vez da florest a NO PARQUE DO IBIRAPUERA, EM SÃO PAULO, A FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA PROMOVE UMA CELEBRAÇÃO EM DEFESA DA MATA ATLÂNTICA TEXTO E FOTOS: [PAULO LIMA], DE SÃO PAULO ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA

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O

cenário não poderia ser mais acolhedor, embora um pouco frio nesta época do ano. O Viva a Mata, evento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em defesa da Mata Atlântica, ocorreu no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 21 e 23 de maio, e contou com uma ampla programação para marcar o Ano Internacional da Biodiversidade e comemorar o Dia da Mata Atlântica. Apresentações de projetos, atividades educacionais e palestras foram oferecidas gratuitamente ao público. Estandes, palco sobre um caminhão e até uma oca de papelão dividiram o espaço de 3.800 m². Como se fosse um grande bazar ecológico, celebridades, expositores individuais, ONGs e grandes grupos econômicos expuseram seu comprometimento

com o meio ambiente. A Fundação Bradesco levou a música de uma banda formada por adolescentes de Osasco. O cenário procurou reproduzir o ambiente natural, com tartarugas, ondas e árvores que se movem. Garrafas PET formavam as paredes de muitos estandes. No estande da Toyota, um homem-árvore gigante animava uma apresentação de teatro infantil. Se nos estandes o clima era de diversão e descoberta, no auditório da oca de papelão questões urgentes eram debatidas. Na pauta, temas como “desastres ambientais na Mata Atlântica”, “a Mata Atlântica e as mudanças do clima no Nordeste”, “pagamento por serviços ambientais e conservação de bacias”. A alguns metros dali, no palco do caminhão, celebridades como o ator Marcos Palmeira falavam de suas experiências com o meio ambiente. Ele viveu uma experiência transformadora em Mato Grosso quando participou, durante 40 dias, como assistente na produção de um documentário, foi batizado entre os índios e hoje produz agricultura orgânica numa pequena fazenda na serra fluminense. Não faltou criatividade e engajamento nos projetos apresentados no Viva a Mata. Muitos deles mostraram soluções simples e até bem humoradas sobre como lidar com problemas complicados do nosso dia a dia.

Arte e lixo eletrônico O que fazer com computadores sem utilidade e outro trecos tecnológicos? O mais provável é que esse material fique guardado em algum canto esquecido de nossa casa, ou em algum depósito de oficinas de informática. Naná Hayne, uma descendente de alemães alta e de sorriso beatífico, teve uma ideia melhor. Transformou todas essas coisas inservíveis em arte. Naná não trabalha apenas com peças de computador. Usa também agulhas de acupuntura, cordas de guitarra e peças de relógio. Não há limite para sua criatividade. Com essas sobras, ela produz peças que lembram à primeira vista artefatos tradicionais de joalheria. São as “tecnojoias”. Peças de computador e do teclado, por exemplo, se transformam em anéis. Mas Naná também desenha quadros. Ou melhor, produz quadros em alto relevo utilizando também restos de computador. Formada em Comunicação Visual pela Universidade de Guarulhos, ela trabalhou em agência de propaganda e em sinalização de eventos. Há oito anos resolveu se dedicar comercialmente à arte. Não reclama dos resultados. “A saída é boa”, diz. “O problema está sendo a logística”. Por logística, entenda-se as condições de trabalho. Naná se define como uma “euquipe”, pois tem de fazer tudo sozinha. Matéria-prima para seu trabalho não é problema. “Ganhei um galpão inteiro de material, mas não tinha onde por”. Seu ateliê é um espaço pequeno, um quarto em sua própria residência em Mairiporã, interior de São Paulo. Naná explica que o que ganha dá para ir “sobrevivendo”, com cursos, palestras, exposições em feiras e venda em consignação de produtos em lojas. “Trabalho com sustentabilidade, mas não tenho sustentabilidade”, brinca. Ela divulga seu trabalho no blog http://www.nanahaynearte.blogspot.com. Robocop reciclado Ao lado do estande de Naná Hayne, um enorme robô chama a atenção. “Não é meu”, ela logo esclarece. “É dos meninos ali”. Os meninos, no caso, são Daniel, Tadeu e João. Eles moram em Suzano e participaram do Viva a Mata expondo robôs tamanho família e menores, confeccionados com peças de computador e outros materiais. O “robocop”, o enorme robô avistado pelo repórter, é uma das criações desse trio de autodidatas. Daniel explica como tudo começou: “Um fazia, o outro dava opinião”. Atualmente desempregados, eles moram com os pais, que os ajudam. Por trás do trabalho que realizam, há uma proposta mais ampla, de reeducação de hábitos. Nem tudo que não serve tem de ser jogado fora. “A gente procura atingir a todos e mostrar que aquilo não é lixo”, diz João. O material de que necessitam vem de doações. “A gen-

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Ed uca ç ã o Amb i enta l te usa qualquer tipo de lixo”, diz Daniel. Inclusive as sobras dos trabalhos dos outros. Apesar da expertise já adquirida, não falta senso de aprendizado aos três. “Cada vez que a gente faz, ganha mais experiência”, acredita João. Unidos pela reciclagem A Cooper Viva Bem é uma cooperativa que trabalha com material reciclado, e está localizada na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. No seu estande, o visitante logo se depara com alguns fardos de garrafa PET e outros materiais. Fernanda Divina Barbosa, que trabalha na produção separando material, explica que a cooperativa tem 78 cooperados. Para se associar, é preciso atender a algumas exigências: ter experiência, contar com a idade mínima de 18 anos e fazer esforço. Fernanda detalha a atividade de reciclagem. Ela envolve três etapas: coleta, triagem e prensagem. Todo o material produzido é comprado por empresas de papel e lataria. “Num mês bom, a cooperativa chega a produzir 200 mil toneladas de material reciclado”. São aproveitadas garrafas pet, papelão e papel branco. A cooperativa é organizada como pessoa jurídica e atende a todas as exigências legais. Entre os cooperados há jovens e velhos. “Eles têm estudo, mas não conseguem emprego”, diz Fernanda. Há alguns anos, a cooperativa teve de ser desalojada do terreno que ocupava, em Pinheiros. O problema recebeu a atenção de Soninha Francine, na época vereadora. Ela fez um pronunciamento expondo a situação. A cooperativa acabou sendo deslocada para o local onde funciona hoje. Na prática, a cooperativa contribui para resolver parte de um problema: como dar fim ao lixo cotidiano. Com a atividade de reciclagem, o que é recolhido nas ruas retorna para o processo produtivo, reiniciando um ciclo. A grande árvore Imagine que cada um de nós pode contribuir para construir uma árvore. Foi nisso que pensou o designer Nido Campolongo, um paulistano que já rodou vários países com sua arte. A logomarca do Viva a Mata, por exemplo, reproduz um trabalho dele. O desenho, que mostra uma árvore, foi cedido pelo artista para o evento. Nido propôs então à SOS Mata Atlântica uma ideia. “Cada pessoa, com sua assinatura, com sua digital, através de um gesto coletivo, poderia participar da construção da grande árvore”, explicou. Foi o suficiente para que crianças, adolescentes e adultos, num gesto simbólico, imprimissem sua marca numa tela branca. Tintas de várias cores foram espalhadas sobre uma mesa, para que cada um tirasse as digitais. Em pouco tempo uma árvore foi ganhando forma, graças à pressão de muitos dedos. . Além de designer, Nido é artista plástico e cenógrafo. Está nessa atividade há 30 anos. Sua motivação em trabalhar com temas ambientais é estética. “Vejo beleza nesses materiais”. Ele explica que começou com papel reciclável. Em seu site (http:// www.nidocampolongo), ele informa que nasceu na tipografia do pai e cresceu “respirando o cheiro de papel”.

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Esta é a segunda edição do Viva a Mata de que participa. Além de ceder o desenho para a logomarca, ele criou também a cenografia do evento. Antes disso, fez vários cenários, inclusive na Europa e nos Estados Unidos. E a grande árvore (já bastante avançada àquela altura da conversa)? O que será feito dela? “Será doada à SOS Mata Atlântica”, disse. Uma casa esperta Um grupo de crianças ouvia atentamente as explicações de Marcelo Nunes, voluntário da SOS Mata Atlântica. Diante da representação de uma casa e suas divisões – banheiro, cozinha, sala – ele ensinava noções de uma “casa do consumo consciente”. A ideia, segundo Marcelo, é mostrar de que forma o cidadão pode contribuir para a sustentabilidade. “São medidas que podemos levar para casa e contribuir para o processo”, explica. Exemplos? São muitos, que podem ser postos em prática a partir de pequenas ações. “O stand by faz o consumo de energia aumentar em 10%”, alerta. A ação? Desligar aparelhos eletrônicos da tomada. Aquela luzinha aparentemente inofensiva que fica acesa em tevês e com-


putadores, mesmo quando desligados, acaba pesando no bolso. Há inúmeras dicas básicas importantes para as quais não costumamos atentar. Uma delas: deixar o computador em modo de espera, se não formos utilizá-lo por mais de 15 minutos. A água do futuro Algumas perguntas vêm à mente do repórter quando ele se depara com um estande anunciando a água do futuro. De qual cor será? Terá cheiro? E o seu estado, será líquido como conhecemos? O anúncio está estampado em cartazes e num bebedouro. Tudo indica que se trata de um produto revolucionário oferecido por alguma empresa. No estande, a bonita anfitriã incentiva uma criança a provar a água. Bem que ela tenta. Aperta o botão, espera pelo esguicho, mas... cadê a água? Nada sai do bebedouro. Então fica clara a brincadeira, pra lá de criativa. A água do futuro não existe, ou ela não existirá se o homem continuar destruindo o meio ambiente. Eis a mensagem. Ester Fernandes Ribeiro, a anfitriã, dá um sorriso vito-

rioso. Mais dois incautos caíram na pegadinha ecológica. A ideia, ela explica, é da Academia Ecofit, de São Paulo, em cujo departamento de sustentabilidade trabalha. “Quem cuida da saúde, cuida do meio ambiente”, diz Ester. E esse constitui o lema da academia, que tem 150 funcionários. Uma coisa mantém relação com a outra. “Por que se preocupar com o meio ambiente e não com a saúde?”, questiona. A preocupação com o meio ambiente vem dos proprietários da academia, os irmãos Eduardo e Antônio Gandra. O engajamento não é de agora. Ester informa que os irmãos já frequentaram o Greenpeace, e se interessam pelo assunto há 10 anos. “Antes do oba oba ambiental”, frisa. A proposta da Ecofit é de atuar como uma academia sustentável, apostando na saúde e no meio ambiente. “Por que não juntar as duas coisas?”, sugere.

História de um sagui Uma jaula ostenta uma informação no mínimo curiosa: “Sagui por dois minutos”. Lá dentro, pensativa e de cabeça baixa, uma criança ouve uma gravação. Durante dois minutos, ela pode se colocar na pele de um sagui que foi resgatado dos maus tratos por um humano. A história é real, e a responsável pela liberdade do sagui é Lívia Botar, uma ex-pubicitária. Renata, uma menina de 12 anos, acabara de sair da jaula e diz o que sentiu ao ouvir a história: “Eu achei muito triste, sofrida”. E bota sofrimento nisso. Lívia conta que costumava ver um homem bêbado carregando um sagui no ombro, preso por uma corda. Isso foi em 1985. O homem frequentava uma padaria. Incomodada com a situação, Lívia começou a pesquisar a espécie. Um dia o bêbado acabou dando-lhe o sagui. “O animal estava tão maltratado pela corda, que quase foi dividido em dois”, Lívia relata com emoção, como se tudo estivesse acontecendo naquele momento. Depois de libertado, o pequeno animal foi levado a um veterinário e sofreu uma cirurgia. O veterinário atraiu outros casos. Assim nasceu o Projeto Mucky, com o objetivo de proteger pequenos primatas. Lídia está à frente do projeto desde então, já se vão 25 anos. O projeto funciona em Itu, interior de São Paulo, numa área de 20 mil m², e hoje absorve o trabalho voluntário de 14 pessoas, como Raquel e Isabella, que ajudam Lívia no estande. A história do sagui que deu nome ao projeto está contada no livro infanto-juvenil Mucky, escrito por Lívia em 2007. Nas paredes do estande é possível ver imagens de primatas em processo de recuperação. Os visitantes têm à sua disposição um livro no qual podem deixar uma mensagem. Gabriela, de Guarulhos, escreveu: “Eu achei muito triste e imaginei um pobre animal que foi retirado para viver como humano”. Atividades e notícias do projeto podem ser acompanhadas no site http://www.projetomucky.com.br. Pneus como arte “Sem arte não se vive”, afirma Daniel Beato em meio a pilhas de pneus. Ele se inspirou nos borracheiros para desenvolver a arte que hoje pratica. Em seu estande vemos poltronas e miniaturas de veículos criadas a partir de pneus velhos cujo destino certo seria o lixo. Tudo começou na garagem da própria casa de Daniel. “Resolvi dar uma função aos pneus”, conta. Até hoje ele vive dessa atividade, e tem servido de inspiração para que outras pessoas criem a partir de pneus descartados. Se dependesse de Daniel, não teríamos lixo no planeta. “Só vira lixo do que não se cuida”, ensina. “Qualquer material pode ser aproveitado”. Paulistano, ele é ecodesigner e já na infância tinha o hábito de desmontar as coisas. Da criança fez-se o artista. “Vejo o que está disponível e transformo artesanalmente”, diz. Para Daniel, sua arte tem à disposição uma fonte de recursos infinita. “Onde tem gente, tem pneu”. Ele afirma que vive disso, dando palestras, demonstrações e oficinas. Tem seguidores no Brasil inteiro. Por algum tempo, foi patrocinado por fabricantes de pneus. Hoje ele faz parte da Associação Arte em Pneus, que tem como presidente e vice, seu pai e seu irmão, respectivamente, e conta com o site http://www.arteempneus.org.br. O objetivo de Daniel, porém, não é apenas produzir arte. Seu trabalho transcende o aspecto meramente estético da obra. O que ele pretende também é “aumentar a vida útil” dos objetos. No caso, os pneus.

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VIDA

Saud á v e l

SÔNIA ARARIPE - PLURALE EM REVISTA

Na ponta do lápis

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Dicas de boas receitas

Aliás, no site da SVB há várias dicas excelentes de receitas saudáveis. Também a nossa colaboradora Raquel Ribeiro deu algumas ótimas que postamos em nosso blog Plurale (http://revistaplurale.blogspot. com/). Raquel organizou, para a SVB o livro Festa Vegetariana, receitas perfeitas para ocasiões especiais. Também o site do Mundo Verde (www.mundoverde.com.br) tem um bom elenco de receitas e dicas preciosas. O site da Sociedade Vegetariana Brasileira (www.svb.org.br) traz uma conta que impressiona pela precisão dos números. Você sabe quanto custa um quilo de carne? Por exemplo, 10 mil m² de floresta desmatada ou 15 mil litros de água limpa. Vale conferir a arte.

Cuidados com ração humana Depois de várias febres de produtos naturais, o da vez é a ração humana, nas versões normal e light. Este composto, forte em fibras, ajuda a regularizar o intestino e, consequentemente, a emagrecer. Médicos e nutricionistas, porém, recomendam cautela. Alguns consumidores podem ser alérgicos aos produtos utilizados e outros podem sentir efeitos colaterais. Quem tem alergia à linhaça, por exemplo, ou síndrome do intestino irritado pode sofrer com os efeitos colaterais, como a dor de cabeça e o aumento das idas ao banheiro. Além disso, como o produto muitas vezes é consumido por conta própria, as pessoas ficam sem saber que é preciso beber muita água para evitar o fecalomas, ou endurecimento das fezes. O melhor, como sempre, é ter recomendação clínica. Outra dica: dá para fazer a mistura em casa, sem precisar recorrer aos produtos já prontos e caríssimos.

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Suco de Romã em pó Sabe o romã, aquela fruta bem lembrada no fim do ano para guardar as sementes na carteira para atrair bonança? Pois acaba de ser lançado no mercado um suco de romã em pó, com certificação orgânica. A novidade é produzida pela multinacional NP Nutra (http://www.npnutra. com/), que já produz extratos e ingredientes naturais de matériasprimas provenientes de fontes em todo o mundo.

Rio Orgânicos Os setores de orgânicos e de turismo sustentável têm revelado grande potencial para a realização de negócios. As oportunidades surgem com eventos de grande porte, como o Rio + 20, em 2012, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Saúde e alimentação de qualidade prometem render prósperas parcerias nos próximos anos. Esta será a tônica do Rio Orgânico/Mesa Tur - uma realização do Planeta Orgânico, em parceria com a Sociedade Nacional de Agricultura e patrocínio do Sebrae-RJ – que acontece no próximo dia 19 de junho, no Colégio Notre Dame, em Ipanema (Zona Sul do Rio).


Varejista, participe!

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Mostre que seu projeto pode fazer a diferença, para a sua empresa, para a sociedade e para o planeta.

Quem pode participar?

Empresas e entidades varejistas de todo território nacional, de qualquer porte ou segmento do varejo, que estejam desenvolvendo projeto(s) de responsabilidade social e sustentabilidade iniciado(s) até 31 de março de 2010.

5ª Edição - 2010

Como posso me inscrever?

Confira o regulamento no site

www.varejosustentavel.com.br As inscrições estão abertas até 12 de julho de 2010. Informações Tel. (11) 3799-3276 e 3799-3654 www.varejosustentavel.com.br | premiocev@fgv.br

Patrocínio

Realização

Apoio

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B ahi a Um NOVO OLHAR

da Península de Itapagipe

REVISTA GRAUÇÁ retrata cotidiano

local e visa fortalecer a identidade de quem vive na região.

A

cena se repete. As crianças sobem na “Ponte do Crush” e se atiram na água. Então, saem do mar e a brincadeira recomeça. Quem vê pela primeira vez fica hipnotizado com a alegria dos pequenos. Quem já conhece age mais naturalmente, afinal, saltar da “Ponte” - na verdade, uma plataforma suspensa que se estende em direção ao mar, construída por uma fábrica e usada como porto – já é uma tradição. Assim como o “Crush”, o pôr-do-sol visto do Humaitá, a crença sincrética em Senhor do Bonfim e o cozido da Ribeira, tradição de todas as segundas, são, inconfundivelmente, itapagipanos. Entretanto, toda a riqueza da região é ameaçada pela falta de políticas públicas e a não-conscientização de alguns moradores. Itapagipe,

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TEXTO: [LAÍS SANTOS] ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA DE SALVADOR FOTOS: [NILTON SOUZA]

hoje, tenta se recuperar de problemas ecológicos decorrentes da poluição gerada pelas fábricas instaladas a partir de 1940, do aterramento irregular de pontos litorâneos e do despejo de lixo no mar. E é para discutir e revelar particularidades deste contexto que a Revista Grauçá chegou às ruas no último 29 de março, data em que se comemora o aniversário da capital baiana. O desejo de colocar nas ruas uma publicação que agrupasse informação, cultura e serviço pensados especialmente para os moradores da Península reuniu Vera Regina de Freitas, Vanice Mata e Tom Correia, três itapagipanos que atuavam em ramos diferentes. Cada um abraçou sua área, mas todos participaram ativamente de cada etapa. Vera, artista plástica e designer, desenvolveu o projeto gráfico; Vanice, que é relações públicas e já tra-


balhava com marketing, ficou mais à vontade com o setor comercial; Tom, escritor e jornalista, revelou afinidade natural na produção de matérias e entrevistas. Juntaram-se ao trio o fotógrafo Frederico Neto e Aline Matos, para auxiliar no comercial. Após nove meses de trabalho intenso, mas prazeroso, os primeiros três mil exemplares estavam nas ruas, sendo distribuídos gratuitamente. O projeto, que será publicado a cada dois meses, visa, principalmente, fortalecer a identificação dos leitores com a região em que vivem. Entrevistas, histórias de vida, opinião, imagem e humor integram o conteúdo, todos colocando a Península em destaque. Também há

o Guia de Compras e Serviços, com anúncios de empresas e profissionais locais de pequeno, médio e grande portes, que se propõe a fortalecer a economia da região além de garantir anunciantes que possibilitarão o aumento da tiragem e a manutenção da gratuidade da revista. Após o reconhecimento da primeira edição, a expectativa

é que esses objetivos sejam alcançados a partir do segundo número. “Esbarramos na desconfiança dos empresários e na falta de tempo para as negociações”, conta Vera. Aceitação do público - A equipe confessa que as manifestações de incentivo e carinho dos leitores têm surpreendido e emocionado. E a delimitação geográfica da proposta não é uma barreira para os leitores. A fonoaudióloga Andréa Mesquita, que não vive em Itapagipe, teve acesso à Grauçá numa biblioteca e sua atenção foi presa pelo tratamento dos temas, a linguagem e as imagens. “Sou apaixonada por fotografia, e a revista traz fotos incríveis da região”. Edvaldo Ribeiro e Silva, o Vado, com seu “Malassombrado” – um mini-trio usado como carro de propaganda - foi um dos entrevistados da edição de estreia. Para ele, a exposição significou o reconhecimento do seu trabalho. “As pessoas me veem na rua e contam que me viram na revista. Elas se reconhecem, é como se também fossem eles ali na matéria. A repercussão é excelente e muito gratificante”, revela. Depoimentos como os de Andréa e Vado são uma amostra da boa recepção dos leitores. Para Vanice, uma das maiores satisfações ao ver a revista na rua é notar que é possível reconquistar a sociabilidade, construída a partir das coisas que estão presentes no espaço em que vivem. “A recompensa é uma vida mais cheia”, sintetiza. Tom argumenta que, ao longo das edições, a revista vai contribuir para democratizar a informação, além de outros benefícios: “As pessoas vão se reconhecer e terão sua auto-estima elevada”. Itapagipe é formada por 11 bairros e comunidades, onde vivem cerca de 160 mil pessoas. Os temas são infinitos: de esporte à religião, política à cultura, de tradições a inovações. Histórias humanas e assuntos não vão faltar. E a certeza incontestável é que a Grauçá tem um grande trabalho a fazer.

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P elo Surpresa ou era de se esperar?

TEXTO: [WILBERTO LIMA JR.], CORRESPONDENTE PLURALE EM REVISTA - BOSTON (EUA) - FOTOS:[GREENPEACE]

A

ssim como ainda não foi possível, até o momento, conter definitivamente o vazamento de petróleo da plataforma Deepwater Horizon, da BP (British Petroleum), fundeada no Golfo do México, também é impressionante a repercussão deste acidente. Não é para menos. Desde o dia 20 de abril, quando a plataforma explodiu e afundou, chama a atenção a incapacidade de se encontrar uma solução para o problema, um dos maiores desastres ecológicos até hoje ocorridos. Qual o tamanho do dano ao meio ambiente? Quem foram os responsáveis? Qual foi o papel das autoridades para evitar que este desastre acontecesse e, uma vez ocorrido, o que fizeram para reduzir seus efeitos? No Congresso Americano, executivos das empresas envolvidas empurram a responsabilidade umas sobre as outras. E o que acontece sobre o controle dos danos? Como remediá-los? Como calcular sua extensão? Qual o papel do Governo Americano nesta situação? Como fica agora, daqui para a frente, o controle da exploração petrolífera? São perguntas ainda aguardando respostas. Desde o iníTEXTO: [GILBERTO cio da crise, a BP jáCOSTA, perdeuREPÓRTER o equivalente a ¼ de seu valor DA AGÊNCIA BRASIL,DE BRASÍLIA FOTOS: JOSÉ CRUZ, DA ABR

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de mercado, ou US$ 5 bilhões. Suas ações despencaram nas bolsas de valores. Cientistas levantam a hipótese de que o vazamento seja levado por uma corrente marinha que atingiria o sul da Flórida (Florida Keys) e também chegaria à Costa Leste dos EUA. Dados surpreendentes começam a aparecer. A agência americana responsável por esse controle é a Minerals Management Service (MMS), ligada ao Departamento do Interior. Pois bem, segundo a agência de notícias AP, nos seus 104 meses de existência, a Deepwater Horizon foi inspecionada pela agência, 88 vezes, quando deveria ter sido inspecionada uma vez por mês. Ou seja, 15% a menos do que deveria. A situação se agrava quando se verifica o que aconteceu nos últimos 64 meses (desde 2005). Neste caso, 25% das inspeções devidas não foram realizadas. O Congresso Americano e o próprio Presidente Obama criticam as relações amigáveis entre a Agência (MMS) e as empresas petrolíferas. Também foi apurado que a plataforma foi autorizada a funcionar sem a documentação exigida pela MMS, exatamente para este cenário de desastre que ocorreu. A válvula de fechamento que falhou, já havia falhado ou quebrado em outros poços. Tudo isso porque as entidades reguladoras relaxaram tanto seus controles e testes que as empresas exploradoras acabaram decidindo o que fazer nos aspectos principais de segurança. E assim formou-se o quadro atual. Empresas que não contemplam a visão de segurança ambiental como deveriam e o Governo que não cumpre o seu papel regulador e de proteção do meio ambiente, como deveria fazer. Para a opinião pública, não há mostras de uma ação efetiva do Governo para controlar o desastre ambiental. Muita discussão, mas pouca ação. Tudo isso, a menos de dois meses que se autorizou a expansão da área de exploração marítima de petróleo. Tempos difíceis estes para o Governo Obama...


Dois lados de uma mesma moeda TEXTO: [VIVIAN SIMONATO], CORRESPONDENTE DE PLURALE, DE DUBLIN (IRLANDA) FOTO: [PEDRO FREIRIA] DE DUBLIN

S

e por um lado a crise econômica ainda está deixando muita gente com nervos à flor da pele, aqui na Irlanda ela gerou, pelo menos, um fato positivo. Segundo a Agência de Proteção Ambiental irlandesa (Environmental Protection Agency - EPA), um dos fatores que ajudará o país a cumprir as metas do Protocolo de Quioto é a atual desaceleração econômica com consequente queda na produção industrial. O desafio estabelecido no Protocolo prevê que a Irlanda tem que reunir esforços para emitir, em média, 62,8 milhões de toneladas de CO2 por ano entre 2008 e 2012. Trata-se de 13% acima da linha base de 1990. O relatório, divulgado em 29 de abril pela EPA, ainda ressaltou o comprometimento do governo em comprar créditos para 8,25 milhões de toneladas de carbono. A compra de créditos deverá custar ao país 110 milhões euros. No entanto, os esforços não devem estar somente de olho para antes de 2013, já que o relatório revelou que atingir os objetivos da União Europeia (mais rigo-

Debate no Parlamento Europeu sobre madeiras extraídas ilegalmente

rosos) para 2020, será mais difícil. Segundo a diretora geral da EPA, Mary Kelly, “mesmo considerando o mais promissor cenário de políticas que temos hoje, não acreditamos que a Irlanda conseguirá se enquadrar na proposta europeia para daqui a 10 anos. Por outro lado, essa conclusão nos mostra que temos outro desafio à frente, de implantar imediatamente novas estratégias, pensar novos caminhos”. Os setores que mais contribuem para as emissões de gases poluentes, segundo revelado, continuam sendo o agrícola, de energia e transportes. E, embora para o que foi estabelecido no Protocolo de Quioto a queda das atividades nessas áreas em 20% tenha ajudado, esse mesmo declínio não será suficiente pra 2020. O desafio agora é reduzir em mais 20% as emissões em relação aos níveis de 2005, algo que se continuarmos no ritmo de hoje ainda estaremos, infelizmente, 2,8 milhões de toneladas de emissões de carbono por ano acima da meta futura.

Entre 20% a 40% das madeiras produzidas no mundo são ilegalmente extraídas de florestas tropicais. Em Abril de 2009 o Parlamento Europeu votou a proibição de madeira extraída de forma ilegal, seguindo o exemplo dos EUA. O texto, porém, regressou ao Parlamento e os eurodeputados da comissão do Ambiente não estão satisfeitos com as alterações feitas pelos governos da UE no Conselho, por atenuarem a proibição. Isso porque a posição tomada mais recentemente não contemplou a proibição de comércio de madeira ilegalmente extraída e não especifica sanções criminais para infrações graves.

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D i sp uta

POLÊMICA NO RIO URUGUAI Gualeguaychú, na Argentina, e Fray Bentos, no Uruguai, são vizinhas separadas por uma ponte. TEXTO: [ALINE GATTO BOUERI, CORRESPONDENTE DE PLURALE EM BUENOS AIRES] - FOTOS: [ASSEMBLEIA CIDADÃ E AMBIENTAL DE GUALEGUAYCHÚ]

O

tango, o mate, o alfajor, o churrasco e até a verdadeira nacionalidade de Carlos Gardel são alvo de disputa entre os dois irmãos do sul. Mas, desde 2006, o que está em jogo é o Estatuto do Rio Uruguai e o trânsito pela ponte que une Gualeguaychú a Fray Bentos, onde desde 2007 funciona uma indústria de celulose da empresa finlandesa UPM-Botnia. O Estatuto, assinado em 1975 pelos dois países, é referência em direito ambiental internacional e regulamenta as ações dos dois países sobre a bacia do rio Uruguai, além de estabelecer que qualquer atividade que possa afetar a qualidade de suas águas passe pela aprovação das duas

partes. Desde o levantamento de dados para o projeto das indústrias até o começo do funcionamento de Botnia, diferentes governos uruguaios ignoraram esta cláusula e, em maio de 2006, o então presidente argentino Néstor Kirchner apresentou ante o Tribunal Internacional de Haia uma queixa contra o país vizinho. A resposta, passados quatro anos da queixa e três da instalação de Botnia, veio no último dia 20 de abril, quando Haia decidiu que não há provas de que a indústria de celulose de Fray Bentos polua acima dos níveis tolerados, mas reconheceu que o Uruguai violou o acordo assinado com a Argentina ao dar permissão, de maneira unilateral, para a instalação de uma planta em águas compartidas. O embaixador e especialista em direito internacional Julio Barboza, que esteve no grupo de trabalho da chancelaria argentina sobre o conflito, analisa positivamente a decisão do Tribunal de Haia - que determinou que o Uruguai prestasse esclarecimento à Argentina - apesar de reconhecer que o conflito internacional afetou a credibilidade do acordo de 1975. “O Tribunal resgatou o Estatuto quando sancionou o seu descumprimento por parte do Uruguai. Se não tivesse se pronunciado tão explicitamente a seu respeito, talvez tivéssemos que arquivá-lo”, analisa. eNfim, “As PAZes” O fim da contenda judicial pôs panos quentes em águas frias. Os atuais presidentes de Argentina e Uruguai, Cristina Férnandez de Kirchner e José Mujica, decidiram restabelecer as relações bilaterais com base na decisão de Haia e pensar juntos estratégias de monitoramento ambiental em suas fronteiras, que Barboza Manifestação: Os manifestantes acusam UPM-Botnia de instalar-se de forma ilegal na região

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Desde 2006, veículos não atravessam a ponte que liga a Argentina ao Uruguai

considera um dos pontos-chave do futuro das relações diplomáticas entre os países. “O monitoramento será tão severo quanto à necessidade de não permitir qualquer excesso acima do dano sensível, atual ou potencial, às águas do rio”, assegura. No entanto, Barboza adverte o Tribunal Internacional de Haia considerou que a indústria de celulose não polui e por isso deve continuar funcionando, mas não descartou a possibilidade de que os efeitos da contaminação passem inadvertidos por um certo período de tempo, às vezes por anos. “O fato de não haver provas, até agora, de que haja contaminação não quer dizer que ela não possa existir em potência.” guAleguAYCHÚ exige desmANtelAmeNto de uPm-botNiA Para o governo argentino, isso também quer dizer conflito interno. Paola Robles, da Assembleia Cidadã e Ambiental de Gualeguaychú lembra que os moradores rejeitam o acordo de monitoramento compartido: “Não negociamos por menos que o desmantelamento de UPM-Botnia. A empresa se instalou sem consulta prévia, portanto, de forma ilegal.” No último dia 16 de maio, em uma assembleia ampliada, os moradores decidiram manter a posição e a ponte fechada ao trânsito de veículos. Curiosamente, a Assembleia começou a se organizar a partir da denúncia feita por duas uruguaias, que cruzaram a ponte com a notícia de que a espanhola ENCE planejava instalar uma indústria de celulose em sua cidade, a vizinha Fray Bentos. ENCE suspendeu o empreendimento e deu passagem à finlandesa Botnia, que no ano passado vendeu à também finlandesa UPM 91% de sua plan-

ta nesta cidade e 100% de Forestal Oriental, dona de plantações de eucaliptos em sete estados uruguaios. Segundo a empresa, 70% da madeira que é utilizada pela planta industrial vêm daí: 3,5 milhões de metros cúbicos anuais. A empresa, alheia ao conflito político, afirma que está em diálogo permanente com as comunidades envolvidas na instalação de sua planta. Segundo a assessoria da UPM-Uruguai em Buenos Aires, entre 2008 e 2009 a Fundação UPM, criada em 2006 para realizar ações de responsabilidade social da empresa, desenvolveu 109 projetos em 43 comunidades uruguaias, em parceria com 50 organizações articuladas. Os projetos, detalhados em documento cedido pela empresa à Plurale, variam tanto quanto uma possível avaliação a eles: a compra de um jogador estrangeiro para o time de basquete do Club S. D. Anastasia, uma das organizações articuladas, doações de aparelhos a hospitais e cursos de capacitação para adolescentes e adultos. A planta emprega diretamente 800 pessoas, segundo informações da empresa, das quais 99% são uruguaias. São apenas três finlandeses empregados, e os cargos que exercem não foram informados. Do lado argentino, a Assembleia conta outra versão. Paola Robles afirma que não negociam e nunca negociaram com as empresas. “Nossas exigências sempre foram aos governos de Uruguai e Argentina. A empresa nunca nos procurou e nós nunca procuramos a empresa.” “Em termos práticos, de todos os envolvidos nesse conflito, nós fomos os únicos que efetivamente geramos obstáculos para o funcionamento de UPM-Botnia”, conta Paola, que recorda que, enquanto isso, por baixo da ponte, passam barcos que chegam e saem da planta de UPM-Botnia.

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P esqui sa

Moçambique está perto de registrar primeira vacina contra malária

TEXTO:[EDUARDO CASTRO], CORRESPONDENTE DA EBC PARA A ÁFRICA FOTOS DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE DE MANHIÇA (CISM): PERTENCEM A QUIM MARENSA/ MOÇAMBIQUE

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aputo - Um centro de estudos de Moçambique está perto de registrar a primeira vacina contra a malária, a doença que mais mata no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 3,3 bilhões de pessoas - metade da população do planeta - estão expostas ao também chamado paludismo. São infectados anualmente 150 milhões – o equivalente às populações somadas do Brasil, de Portugal e da Espanha. O número de mortes por ano chega a 1 milhão. Mais uma rodada de testes de campo foi feita nessa quintafeira (13) em Manhiça, vila que fica a 100 quilômetros de Maputo, capital moçambicana. Lá é que está instalado o Centro de Investigação de Saúde de Manhiça (Cism) – instituição criada em 1996 como resultado da cooperação bilateral entre os governos local e da Espanha. O Cism é o primeiro centro de investigação

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biomédica moçambicano para combater doenças que são causa e consequência da pobreza, como a malária, a aids, a tuberculose, as pneumonias e as doenças diarreicas. O centro tem laboratórios em que são desenvolvidas pesquisas que auxiliam no tratamento da população da região. Uma dessas pesquisas é a da vacina RTS-S, que está na terceira fase de testes, de quatro necessárias à qualificação para uso. Nessa fase, grupos de voluntários recebem doses da vacina para avaliação e acompanhamento. Antes disso, foram feitos testes pré-clinicos em laboratório, para avaliar a segurança do fármaco. Na segunda fase, a vacina passou por testes de eficácia e resposta imunogênica. Depois de terminada a fase atual, o produto ainda terá que ser aprovado e registrado pelos diversos órgãos internacionais para ser comercializado. O pesquisador-chefe Jahit Sacarlal lembra que a terceira fase de testes da vacina começou em agosto do ano passado e ainda está reunindo crianças para participar dos estudos. “Serão pelos menos mais três anos. Mas esta á a primeira, a mais avançada que existe no mundo e penso que nos próximos cinco a dez anos será a única disponível no mercado internacional”, diz o médico. A pesquisa para criar a vacina antimalária envolve outros 11 centros de estudos da África, em Burkina Faso, no Quênia, em Malawi, Gana, no Gabão e na Tanzânia. O mais próximo de chegar ao resultado prático, no entanto, é o de Moçambique, segundo o diretor do Cism Eusébio Macete. “Esperamos que até meados do próximo ano haja dados suficientes para submetermos a vacina à análise inicial das agências internacionais de medicamentos”, afirma. Apesar de sua escala planetária, até hoje a forma mais eficaz de combater a malária é evitar o mosquito do gênero Anofilis, que transmite o parasita Plasmodium, que causa a doença. Evitar o acúmulo de água, pulverizar áreas externas e residências e usar mosqueteiros impregnados com inseticida são algumas das formas mais comuns. “A malária tem cura quando tratada adequada e rapidamente”, diz Caterine Guinovart, médica epidemiologista do Cism. “O problema é que muitos, quando chegam ao hospital, já é tarde”. Alguns pacientes só procuram o médico em estado debilitado, porque menosprezam os primeiros sintomas Outros têm dificuldades de chegar aos centros de saúde, principalmente nas áreas mais isoladas do interior da África.


Encontro na Nigéria definiu formas conjuntas de combater a doença na África

FOTOS DO CISM/ PERTENCEM A QUIM MARENSA/ MOÇAMBIQUE

M

aputo (Moçambique) - Há dez anos, as nações africanas reuniram-se em Abuja, na Nigéria, para discutir formas conjuntas de combater a malária, a doença que mais mata no mundo. Do encontro surgiu a Carta de Abuja, com metas e objetivos comuns. Alguns esforços tiveram resultado, como a redução de impostos em vários países (mas nem todos) sobre redes mosquiteiras e a destinação de mais verba para o combate à doença, com a criação de um Fundo Global. O combate à malária trouxe a melhora do quadro em Moçambique nesses dez anos, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, explica o diretor adjunto de Saúde Pública do Ministério da Saúde moçambicano (Misau), Leonardo Chavane. “Sessenta por cento do nosso orçamento de saúde ainda dependem de financiamento externo”, afirma. A malária ainda é o maior motivo de procura dos serviços de saúde em Moçambique, bem como a principal causa de morte, principalmente de grávidas e crianças de até 5 anos. Comparando dados do primeiro trimestre de 2009 e deste ano, o número de mortes caiu de 853 para 385 no país. Mesmo assim, o total de casos no ano passado foi de 4 milhões, com 2.400 mortes, para uma população de 22 milhões de pessoas. Em 2008, foram 5 milhões de casos e 3 mil óbitos, aproximadamente. Segundo Chavane, a melhora é resultado do incremento na pulverização doméstica, da distribuição de redes mosquiteiras, de maior preparo das equipes de saúde e do fortalecimento da difusão de informações. Para o diretor, o resultado poderia ser melhor com mais auxílio externo. “Na pulverização doméstica, tínhamos como meta aumentar dois distritos por província [o equivalente ao estado brasileiro] no ano passado. Não foi possível por falta de recursos. Já chegamos a cerca de 45 distritos em todo país, mas pretendíamos estar em 128”, afirma Chavane. “E onde há pulverização é clara a redução dos casos”, completa. Para João Schwalback, um dos maiores especialistas em malária de Moçambique e da África e ex-diretor da Faculda-

de de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, a verdadeira solução para a malária não está somente nos hospitais ou laboratórios. “A cura verdadeira será o desenvolvimento”, diz. “Melhores habitações, mais e melhor comida, mais água encanada, mais janelas com vidros, estradas mais transitáveis. Só combinando todas essas armas nós vamos vencer a malária”. (Eduardo Castro, correspondente EBC para a África)

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PPELAS elas EMPRESAS ISABELLA ARARIPE

MUTIRÃO AMBIENTAL NA BARRA DA TIJUCA

AVIÃO VERDE

Em comemoração à Semana Mundial do Meio Ambiente, a Unimed-Rio estimulou seus colaboradores e familiares a participar do SOS Marapendi, um mutirão para limpeza do canal de mesmo nome, na Barra da Tijuca. A cooperativa apoiou o evento com a presença de seus profissionais e com a confecção de camisas especiais para todos os participantes. A mobilização aconteceu no final de maio e reuniu 200 pessoas. Garrafas pet, vidros, latinhas de bebidas, plásticos, pneus, móveis e até uma prancha de surfe foram recolhidos. A iniciativa teve ainda apoio da Comlurb, ONG Terrazul, Hortifruti e A!Body Tech. A organização ficou a cargo da Goldenberg Consultoria, Associação Bosque de Marapendi e Reviverde.

A Embraer tem conquistado clientes e espectadores ao apresentar em feiras e eventos agrícolas o seu Ipanema, o primeiro avião do mundo produzido em série certificado para voar com etanol, combustível mais barato que a gasolina de aviação e com menor impacto sobre o meio ambiente. O Ipanema é líder no mercado de aviação agrícola no Brasil, com cerca de 75% de participação. São quase 40 anos de produção ininterrupta e mais de 1.100 unidades entregues. Sua utilização possibilita a aplicação em condições adversas de solos irrigados ou encharcados e também elimina os problemas relacionados ao amassamento das lavouras e à compactação do solo, reduzindo as perdas de safra. Além disso, o Ipanema é a primeira aeronave, produzida em série no mundo, certificada para voar com etanol.

UM SÓ PORTAL DE SUSTENTABILIDADE O portal de sustentabilidade do Grupo Santander Brasil passou a ser disponibilizado também no endereço www.santander.com.br/sustentabilidade, com nova identidade visual. Antes, já estava acessível no www.bancoreal.com.br/sustentabilidade. A ação segue as diretrizes de integração entre Santander e Banco Real e, na prática, significa mais acesso de leitores, já que agora são dois os endereços disponíveis para o canal. A mudança é mais um passo no processo de integração, que vem sendo conduzido em todos os projetos e iniciativas do Grupo ligados à sustentabilidade. Entre os produtos, serviços e processos que já passaram por essa unificação estão, por exemplo, a análise de risco socioambiental e o microcrédito. O mesmo vale para o PEB (Projeto Escola Brasil), iniciativa de voluntariado corporativo que passou a contar com grupos formados por funcionários de ambas as instituições, e o Amigo de Valor (direcionamento a projetos sociais de parte do IR devido), que arrecadou mais de R$ 3,3 bilhões em 2009, envolvendo 24 mil funcionários dos dois bancos.

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR

NOVOS BRASIS 2010 O Oi Futuro, Instituto de Responsabilidade Social da Oi, lançou, em maio, o edital de seleção para o Programa Oi Novos Brasis 2010. O programa de apoio técnico e financeiro para projetos sociais busca viabilizar idéias inovadoras de todo país que utilizem a tecnologia da informação e comunicação para acelerar o desenvolvimento humano.A seleção terá como foco o desenvolvimento de tecnologias sociais que possam ser reaplicadas em grupos sociais semelhantes. Os projetos inscritos devem atender a um dos seguintes campos de atuação: ações educacionais complementares ao sistema de educação formal, qualificação profissional voltada para geração de trabalho e renda e ampliação do acesso aos direitos humanos, econômicos, sociais ou ambientais. As inscrições, assim como o regulamento de participação, estarão disponíveis no site oifuturo.org.br/oinovosbrasis2010 e podem ser feitas até 26 de julho.

BANCO FLUVIAL

COPA SUSTENTÁVEL

O Bradesco completou, no fim de maio, seis meses de operação da primeira agência bancária fluvial, nesta semana, com 650 contas abertas. A agência está instalada no barco Voyager III, que navega o rio Solimões, no Amazonas, num trajeto de 1.600 quilômetros, atendendo a 50 comunidades e 11 municípios, com uma população de cerca de 250 mil pessoas. Na agência flutuante é possível abrir contas, consultar saldos, realizar saques, depósitos, transferências e pagamentos de contas, solicitar empréstimos, fazer recarga de celular, obter cartão de crédito, além de contar com um terminal de autoatendimento da rede Bradesco Dia&Noite, conectado via satélite. O atendimento ao publico é realizado dentro da embarcação por uma gerente do Bradesco. A embarcação realiza o percurso pelo Rio Solimões - que dura sete dias para ser cumprido - duas vezes por mês.

Em tempos sustentáveis, até a Copa do Mundo é verde. E amarela. A Seleção Brasileira pentacampeã do mundo vai disputar a Copa do Mundo da África do Sul com uniforme novo. O novo modelo foi desenvolvido pela Nike com poliéster reciclado. Com motivação ecológica, cada camisa é feita com oito garrafas PET que foram retiradas do meio-ambiente. O tecido Dri-Fit foi aperfeiçoado: ele é 13% mais leve do que nos antigos uniformes da Nike. Essa característica ajuda a manter os jogadores secos, extraindo o suor para fora da roupa, onde evapora com mais facilidade. Há também zonas de ventilação na lateral de cada camisa e abaixo da linha da cintura dos calções, que aumentam a passagem de ar pelo tecido.

Danoninho para Plantar é a novidade da Danone. A marca lançou uma edição limitada do tradicional petit suisse sabor Morango, que além de todo o conteúdo nutricional, tem como o objetivo incentivar a experiência e a educação ecológica das crianças e ainda ajudar no reflorestamento da Mata Atlântica. Cada bandeja do novo Danoninho para Plantar traz anexo um sachê com sementes e instruções para plantar no próprio potinho de Danoninho após o consumo do produto. São oito tipos diferentes de sementes entre flores e hortaliças que fazem parte da promoção. Cada embalagem também vem com um código exclusivo que permite criar uma árvore virtual na “Floresta do Dino” e contribuir com o reflorestamento da Mata Atlântica, por meio de uma parceria da Danone com o IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas.

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Estante SUSTENTABILIDADE E GERAÇÃO DE VALOR ­— a Transição para o século XXI David Zylbersztajn e Clarissa Lins, Editora Campus -Elsevier,

A agenda da sustentabilidade diz respeito a uma nova forma de se fazer negócios e mobiliza cada vez mais formadores de opinião e executivos de grandes empresas brasileiras. Consumidores, financiadores, acionistas e potenciais investidores exigem, cada vez mais, compromissos éticos das corporações. Neste cenário de evidência de novos tempos, David Zylbersztajn e Clarissa Lins lançam o livro Sustentabilidade e Geração de Valor – a Transição para o século XXI, pela editora CampusElsevier. Os organizadores apontam caminhos possíveis, sob a ótica de diferentes atores que vêm contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país, e reúnem na publicação artigos e posicionamentos de pessoas engajadas e atuantes neste tema. Israel Klabin, Sérgio Abranches, Celso Lemme, Gesner Oliveira, Marcelo Morgado, José Luiz Alquéres, Jerson Kelman e Célia Rosemblum refletem sobre a evolução da sustentabilidade no país.

TEORIA U Otto Scharmer, Editora Campus Elsevier, 534 págs, R$ 99,00

O professor do Massachussets Institute of Technology , Otto Scharmer acaba de lançar, na Conferência Internacional do Instituto Ethos, o livro “Teoria U”. Uma publicação sobre o presente a partir da perspectiva do futuro, que mixa, em proporções iguais uma teoria inovadora com a prática adquirida em grandes empresas e projetos mundiais como o Sustainable Food Lab, que reúne todos os stakeholders da cadeia de alimentos. Para Otto Scharmer, professor do Massachussets Institute of Technology, o propósito do livro “é retratar uma tecnologia social de mudança transformacional que ajudará os líderes a enfrentarem os desafios cada vez mais complexos e imprevisíveis do futuro.” Otto reconhece duas diferentes fontes de aprendizado: “as experiências passadas, e o futuro como ele surge, como se manifesta em cada um.” Este é o conceito-chave do pensamento inovador proposto pela nova tecnologia social, Teoria U, que é uma visão diferente de uma nova sociedade global, que irá substituir a atual sociedade industrial, agora em agonia.

CONVERSAS COM OS MESTRES DA SUSTENTABILIDADE Laura Mazur e Loella Miles, Editora Gente, 320 págs, R$ 69,90

Talvez nenhum outro assunto venha exigindo um debate amplo com tanta urgência quanto os cuidados que precisamos ter com o planeta para aplacar a fúria dos constantes desastres naturais - temporais inesperados, secas arrasadoras, terremotos, ondas gigantes, tsunamis, nevascas, tufões - e conservarmos a natureza, o maior bem de todo ser vivo. Por isso é bem oportuno, neste momento, o lançamento do livro “Conversas com os mestres da sustentabilidade”. Obra escrita por duas bem- sucedidas jornalistas americanas, Laura Mazur e Louella Miles, que contam, através de entrevistas, experiências positivas de gente pioneira na defesa da natureza e da sustentabilidade. São 15 grandes especialistas no assunto, que vêm contribuindo para transformar a luta pela preservação do meio ambiente em uma causa forte, com grande visibilidade.

RIO DE JANEIRO A JANEIRO Cid do Nascimento Silva, 150 págs, R$ 25,00 (doados aos INCAutos, grupo de voluntários que apoia pacientes em tratamento no INCA-Rio). Encomendas pelo e-mail: gabiparanhos@gmail.com Rio de Janeiro a Janeiro” é um livro moldado a partir da observação do cotidiano e suas impressões transcritas em palavras, ao longo das últimas duas décadas. A emoção é, sem dúvida, o fio condutor dos textos que, de uma forma pragmática, transita nos ambientes de preservação da natureza, políticos e nos que se relacionam com os sentimentos das pessoas, tendo o Rio de Janeiro como cenário principal. “Maracanã” analisa de forma juvenil a agressão das administrações públicas ao meio ambiente. “Betinho” apresenta uma homenagem a este grande brasileiro que nos conduziu para a solidariedade como alimento. Enfim, este livro é dedicado ao Rio de Janeiro e sua gente, que conduzem a peça da vida num cenário impecável, iluminação esplendorosa, figurino tropical, acompanhamento musical em perfeita harmonia com o texto, e todos possuindo a amiga emoção como parceira.

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CUIDADO! SEU PRÍNCIPE PODE SER UMA CINDERELA Consuelo Dieguez e Ticiana Azevedo, Grupo Editorial Record / Editora BestSeller, 208 págs, R$ 19,90 O prefácio do jornalista Gilberto Scofield e o comentário do publicitário Washington Olivetto já dão o tom deste livro. É mesmo imperdível, bem escrito e divertido. Imagine a cena: o novo namorado usa tênis Prada, passa o domingo com os “amigos” e tem especial carinho pela mamãe. As jornalistas Consuelo Dieguez e Ticiana Azevedo escreveram um guia bem prático mesmo para identificar se o homem dos sonhos, na verdade, é gay e não tem coragem de sair do armário. Mais atual impossível: o cantor pop Rick Martin viveu anos uma vida dúbia como esta e acaba de assumir a sua verdadeira opção sexual. Para facilitar a vida das mulheres, as autoras criaram em “Cuidado! Seu príncipe pode ser uma Cinderela”, um sistema de filtragem para identificar o gay no armário. São dez peneiras às quais as mulheres devem submeter o suspeito a fim de descobrir se ele é ou não uma cinderela. A peneiras tratam de pontos cruciais: vestuário, comportamento, vida social, interesses, atividades e, claro, sexo.

BIODIVERSIDADE E CARBONOSOCIAL Divaldo Rezende e Stefano Merlin, Edições Afrontamento, 150 págs, Preço: 36 euros (encomendas pelo site da editora portuguesa) Desenvolvimento sustentável, biodiversidade, alterações climáticas, sequestro de carbono, Carbono Social. Palavras aparentemente sem relação, mas que merecem uma abordagem profunda. Biodiversidade e Carbono Social, uma ligeira modificação de uma tese de doutorado em Biologia apresentada e defendida em 2009, na Universidade de Aveiro, em Portugal, vem preencher parcialmente uma lacuna e uma necessidade. Divaldo Rezende é especialista no tema, Colunista de Plurale, diretor-executivo da CantorCO2e no Brasil, PhD em Biologia pela Universidade de Aveiro, Portugal. Stefano Merlin é sóciodiretor da Sustainable Carbon.

COMO COMERCIALIZAR CRÉDITOS DE CARBONO Antonio Carlos Porto Araújo, Trevisan Editora Universitária, 48 págs, R$ 18,00 A Trevisan Editora Universitária lança a 7ª edição do livro “Como comercializar créditos de carbono”, de Antonio Carlos Porto Araujo, consultor de energia renovável e sustentabilidade da Trevisan. Dados econômicos relatam que o custo médio de redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE) em países desenvolvidos é expressivo e demanda tempo, enquanto repassar esses custos ao preço de produtos e serviços poderia dificultar a competitividade num mundo cada vez mais globalizado. A comercialização de créditos de carbono foi a saída apontada pelo Protocolo de Kyoto para diminuir os efeitos danosos causados pela emissão destes gases. Este livro – que funciona como um guia de bolso – explica como comercializar os créditos de carbono e participar deste comércio mundial, que já movimenta bilhões de dólares e, de quebra, reduz a poluição e o efeito estufa

COMUNICAÇÃO NO MERCADO FINANCEIRO – UM GUIA PARA RELAÇÕES COM INVESTIDORES Geraldo Soares, Jennifer Almeida e Rodney Vergili, Editora Saraiva e Instituto Chiavenato de Educação, 164 págs, R$ 41,60 As empresas listadas na BM&FBOVESPA utilizam as melhores práticas de comunicação corporativa? Como levar a informação certa para o público certo, na hora certa? Quais são as ferramentas de comunicação mais utilizadas pelos departamentos de Relações com Investidores das empresas? Sustentabilidade e Governança Corporativa agregam valor para as companhias? Essas e outras questões que são pontos estratégicos no relacionamento das empresas com seus investidores são discutidos, analisados e exemplificados no livro: “Comunicação no Mercado Financeiro: Um Guia para Relações com Investidores”, que acaba de ser lançado pela Editora Saraiva e Instituto Chiavenato de Educação. Geraldo Soares é expert no assunto, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) e Jennifer Almeida e Rodney Vergili são jornalistas também graduados, com larga experiência, assessores do IBRI.

ANDANÇAS: histórias de um jornalista à moda antiga Luiz Salgado Ribeiro,Primavera Editorial, 320 págs, R$ 42,20 Com uma extensa e profícua carreira no jornalismo brasileiro, Luiz Salgado Ribeiro estreia na literatura com o livro Andanças: histórias de um jornalista à moda antiga, da Primavera Editorial. Do início na profissão, como revisor de A Gazeta, em 1964, passando por diversas “aventuras” – como correspondente de O Estado de S. Paulo, em Manaus, ou coordenando a criação da Agência Estado –, o autor relata histórias que mostram o quanto a trajetória do jornalismo nacional se confunde com sua história de vida. Com excelentes histórias – aquelas que somente os grandes repórteres sabem contar – Luiz Salgado Ribeiro “leva” o leitor à inauguração da Cuiabá-Santarém, na década de 1970; coloca-o frente a frente, na expedição dos irmãos Villas Bôas, com os índios gigantes no Kuarup; e convida-o a enfrentar e burlar a censura dos militares à imprensa. Um livro que promete agradar os velhos companheiros de profissão, os jovens jornalistas e interessados na história da imprensa brasileira.

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CARBONO NEUTRO

SÔNIA ARARIPE

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

AUMENTO DE EMISSÕES A EIA, ou seja, a Administração da Informação Energética dos Estados Unidos acaba de anunciar uma previsão de tirar o fôlego. As emissões globais de dióxido de carbono devem aumentar 43% até 2035 se o padrão atual de uso energético se perpetuar e nenhum controle for exercido. O número faz parte do “Panorama Energético Internacional 2010”. Este crescimento, de 30 bilhões de toneladas em 2007 para 42 bilhões em 2035, será impulsionado pelo aumento em 49% do consumo energético, sendo que 80% da demanda mundial será preenchida por combustíveis fósseis, se nada for feito para modificar este caminho. A boa notícia no relatório da EIA é que as fontes renováveis de energia terão uma fatia crescente de 111% no uso total de energia entre 2007 e 2035

VERDE?

Depois do movimento em vários países da Europa e também nos EUA, que pintou de verde algumas de suas lojas e fez todo um reposicionamento, chegando mesmo a mudar a logo, não deve demorar para o McDonald`s aportar a mesma ação de marketing por aqui. A justificativa global é que faz parte de toda uma estratégia que inseriu também maçãs e sucos no cardápio e até incentiva a prática de exercícios físicos e passeios de bicicletas. A pergunta que não quer calar é a seguinte: verde mesmo ou greenwashing?

BIOCOMBUSTÍVEIS EM ALTA A afirmação de que o aumento na produção de biocombustíveis poderá incorrer na escassez na produção de alimentos é injustificada, segundo cientistas apontaram em debate durante o workshop Scientific Issues on Biofuels, realizado nos dias 24 e 25 de maio na sede FAPESP. “Com essa discussão, perde-se a oportunidade de se debater de fato os impactos sociais mais relevantes. Muitas oportunidades estão sendo perdidas na África, por exemplo, onde a ideia de agricultura para acabar com a fome é o argumento político mais recorrente”, disse Emile Van Zyl, da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. (Alex Sander Alcântara, da Agência Fapesp)

PANORAMA DOS RESÍDUOS

PWC DIVULGA PESQUISA Uma crescente frustração com a lentidão de um novo acordo climático mundial e consequentemente dos investimentos em uma economia de baixo carbono foi o sentimento que dominou a pesquisa anual realizada pela PricewaterhouseCoopers para a Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA, em inglês). No mercado de US$ 125 bilhões, traders estão ansiosos por mais garantias regulatórias ao passo que a confiança nos preços futuros do carbono, tanto no esquema europeu (EU ETS) quanto no MDL, cai. Apesar da visão geral sobre os futuros volumes de carbono a serem transacionados continuar um tanto positiva, as estimativas médias para os preços das EUAs na terceira fase do EU ETS são de 25,97 euros quando no ano passado eram de 30,11 euros. Dos mais de 750 entrevistados pela pesquisa, mais de dois terços acreditam que o preço do carbono terá que ser superior a 40 euros para limitar o aquecimento global em 2 ºC, porém apenas um em dez enxerga uma perspectiva real que isto aconteça a médio prazo. (Fernanda B. Muller, do Carbono Brasil)

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) acaba de divulgar dados inéditos da edição 2009 do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Além dos dados nacionais e das regiões geográficas, esta edição traz também de maneira inédita as informações segmentadas por Estado. A publicação demonstra que, apesar de alguns avanços, a situação do setor ainda é crítica em relação à geração, coleta e destinação de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). O País gerou mais de 57 milhões toneladas de resíduos sólidos em 2009, crescimento de 7,7% em relação ao volume do ano anterior. Só as capitais e as cidades com mais de 500 mil habitantes foram responsáveis por quase 23 milhões de toneladas de RSU no ano.

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ImageM PLURALE

Foto de Raquel Ribeiro

Se você ainda não conhece Visconde de Mauá (RJ), na vertente mais molhada da Serra da Mantiqueira, entre Rio e São Paulo, é bom marcar viagem. Quem já conhece, certamente, sonha poder voltar. Além de belezas naturais, há uma proposta consistente de turismo sustentável no lugar, como explica a jornalista Raquel Ribeiro, autora da foto e editora do site e revista Visconde Esconde (www.viscondeesconde.com.br). “Nossa região fica numa APA (Área de Proteção Ambiental) e boa parte pertence à Unidade de Proteção Integral do Parque Nacional do Itatiaia. Isso significa que temos compromisso de cuidar e valorizar esse belo pedaço de Mata Atlântica.” Nesta página podemos ver o Véu da Noiva, uma das 30 cachoeiras abertas à visitação (fora as que permanecem selvagens). Vale lembrar que a região guarda inúmeras outras atrações. São quatro vilas – Visconde de Mauá, Maringá, Maromba e Mirantão – e uma infinidade de trilhas e caminhos para percorrer. Terra das águas e do céu estrelado, Mauá é porto seguro também para os amantes da boa gastronomia.




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