plurale em revista ed. 19

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ano três | nº 19 | setembro/outubro 2010 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

anos

www.plurale.com.br

COLUNISTAS PLURALE:

DIÁLOGO SUSTENTÁVEL PERFIL:

ANGELINA JOLIE, A EMBAIXADORA DO BEM

FOTO: LUCIANA TANCREDO / RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES - XAPURI - ACRE

AMAZÔNIA: LUZ NA FLORESTA



Editorial

Três primaveras

O

poeta gaúcho Mário Quintana escreveu, de certa feita, “que a primavera cruza o rio, cruza o sonho que tu sonhas, na cidade adormecida, primavera vem chegando”. Plurale comemora três primaveras em outubro. Em 2007, quando o projeto começava, planejávamos e sonhávamos com o futuro. Hoje, com tantas realizações, comemoramos ser possível sim fazer mídia sustentável independente e de qualidade. Para isso foi preciso aprender, reaprender sempre. E dialogar, reportar, relatar o tempo todo. Agradecemos o apoio que tivemos de parceiros, leitores e equipe durante estes três anos. Sem a construção desta rede, democrática e plural, não seria possível avançar. Esta edição traz um presente para os leitores: um marcador de página de revista ou livro. Não é só. Apresentamos um Especial da Amazônia, direto da distante Xapuri, no Acre, região onde o seringueiro/ecologista Chico Mendes enfrentou os poderosos até pagar com sua própria vida. A chegada da luz na floresta tem feito também uma verdadeira revolução, apresentada pela editora Sônia Araripe e nas belas imagens de Luciana Tancredo (foto). Contamos ainda outras excelentes histórias. Da Argentina, a correspondente Aline Gatto Boueri relata a aprovação do casamento entre homossexuais e os desdobramentos na sociedade tradicional. Dos Estados Unidos, o também correspondente Wilberto Lima Júnior revela que testes de visão já podem ser feitos com a ajuda de celulares. Nícia Ribas, em viagem à Espanha, conta a preocupação com o calor excessivo. Elis Monteiro apresenta a incrível invenção de uma garrafa que transforma água não tratada em potável. De Quissamã, no norte do Estado do Rio de Janeiro, Romildo Guerrante narra o belo causo do fado negro. Os jovens talentosos de Japeri, na Baixada Fluminense, estão fazendo sucesso nos campos de golfe, como mostra Luiza Martins. E Flamínio Araripe reporta o trabalho de cientistas com ferramentas tecnológicas para descobrir civilizações remotas. Tudo isso e muito mais. Os colunistas Plurale apresentam diferentes visões da Sustentabilidade. Boa leitura! Que venham muitas outras primaveras.

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Conte xto

54.

60. UMA GARRAFA

26.

25.

ESPECIAL ACRE: LUZ NA FLORESTA

FOTO: LUCIANA TANCREDO/ RESERVA CHICO MENDES/XAPURI, ACRE)

QUE SALVA VIDAS

BAZAR ÉTICO

14.

BRINDE ESPECIAL

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COLUNISTAS PLURALE

VIDA SAUDÁVEL

24 ESTANTE

43 PELO MUNDO

52 CARBONO NEUTRO

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PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2010

58.

PERFIL ANGELINA JOLIE A EMBAIXADORA DO BEM


Sustentabilidade é a energia que motiva nossas certificações!

Nossa responsabilidade com o Meio Ambiente se comprova com nossas certificações. Trabalhamos com um Sistema Integrado de Gestão nas áreas Ambiental, de Qualidade, de Saúde e Segurança.

Certificações


Cartas

Quem faz

p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r Plurale, 3 anos

Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston), Yume Ikeda (Tóquio) Logistica Newton Medeiros

Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) em parceria com a Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) Impressão: WalPrint

Revista impressa em papel reciclado Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Nos últimos três anos aconteceram várias batalhas marcantes na área ambiental que ficarão marcadas na história. As discussões sobre o Código Florestal e as Conferências da ONU são exemplos disso. Por outro lado, conquistas também marcaram esse período, como a aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos que tramitou muitos anos para ser aprovada. Com essas lutas e vitórias, é muito importante ter a imprensa acompanhando tudo de perto. Foi o que Plurale em revista e Plurale em site fizeram, sempre com pautas atuais e mostrando assuntos relevantes para a sociedade.” Mario Mantovani, diretor do SOS Mata Atlântica, Brasília “Plurale é informação de qualidade com inteligência, leveza e estilo. É mídia que faz a diferença em favor de um mundo melhor e mais justo. Parabéns pelos 3 anos. Passaram rápido.” André Trigueiro, jornalista da GloboNews, Rio de Janeiro “Muito bacana Plurale em revista!” Lala Deheinzelin, CEO Enthusiamo Cultural, São Paulo Edição 18 “Em nome da Comissão Organizadora do 21º. Congresso da Apimec, gostaríamos de agradecer à direção de Plurale em revista, atendendo ao nosso convite para apoiar o evento emprestando assim o prestígio da sua valiosa marca. No Congresso, foram três dias de intensa programação, em que temas de alto interesse para o desenvolvimento da atividade dos analistas e profissionais de investimento do mercado de capitais puderam ser explorados com profundidade e excelente nível técnico. Essa participação institucional foi uma grande contribuição para que o Congresso atingisse plenamente os seus objetivos, tornando o mercado de capitais brasileiro mais rico de informações e relacionamentos de qualidade.” Lucy Sousa, presidente da Apimec Nacional e José Domingos Vieira Furtado, presidente da Apimec MG/Coordenador do 21º Congresso da Apimec, Belo Horizonte “Gostaríamos de agradecer o apoio promocional ao 12º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais que a Abrasca e o IBRI realizaram em junho, em São Paulo. A parceria com Plurale foi decisiva para que o evento atingisse pleno êxito. Renovamos nossos protestos de estima e apreço.”

Antonio Duarte Carvalho de Castro, presidente da Abrasca e Ricardo Florence, diretor presidente do IBRI, São Paulo “Agradeço a publicação do meu artigo, Profissões do Futuro, na edição 18 e fico contente com o sucesso de Plurale em revista.” Antonio Everton Junior, economista da Divisão de Economia da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo, Rio de Janeiro “Mais um número, sem perder em nada a qualidade. Parabéns. A Amazônia novamente em destaque, como merece: a reportagem de Aline Gatto Boueri sobre as praias do Tapajós, tão fantásticas e que tão poucos conhecem, e a bela exposição do museu da Vale, por Carlos Franco. A matéria sobre o estoniano que limpa cidades e o projeto de limpar o Rio, por Isabel Capaverde, são de levantar o ânimo de qualquer carioca. Quero já me inscrever entre os garis; quero estar de vassoura na mão em 2011 limpando a Cidade. Mas a parte que mais me interessou foi a do Corredor Ecológico do Vale do Paraíba, em São Paulo, por Letícia Freire, do Mercado Ético. E os pássaros da Serra da Bocaina, clicados por Sérgio Lutz, quanta beleza! Saturnino Braga, escritor e ex-senador, Rio de Janeiro Letramento “Recebemos o número 18 de Plurale em Revista, na qual consta a entrevista realizada pela jornalista Nícia Ribas aqui na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. Agradeço o envio e parabenizo Nícia pela condução da entrevista e pelo conteúdo da reportagem. Coloco-me a sua disposição. Eliana Yunes, Professora Associada da PUC-Rio, Rio de Janeiro “A equipe da Ação Integrada para o Letramento agradece a matéria da Plurale sobre leitura e letramento e também o envio dos exemplares. Alguns foram entregues á Biblioteca da UFPR , outros repassados a colegas interessados no assunto. Muito obrigada mais uma vez.” Lúcia Peixoto Cherem, Professora da Universidade Federal do Paraná, Curitiba Bazar ético “A coluna Bazar Ético da Edição 18 de Plurale em revista, abordando o trabalho da Providência está linda, super bem diagramada, realmente chama a atenção para a leitura que tem texto preciso. Parabéns e obrigada! Aliás, a revista toda está ótima, com excelentes matérias. Estamos orgulhosas de participar desta edição.” Helena Rocha, Novos Negócios do Banco da Providência, Rio de Janeiro


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Entrevista

Osvaldo

Canziani, climatologista

“A falta de solidariedade mata muito mais pessoas do que os efeitos adversos das mudanças climáticas”

Q IHU On-Line

ueimadas, secas, tornados, furacões. Eventos climáticos não são novidades, mas a frequência entre eles tem aumentado, assim como sua potência e isso se deve às mudanças do clima. Porém, segundo o climatologista argentino Osvaldo Canziani, é a falta de ação política que torna as consequências desses fenômenos mais graves. “A falta de decisão política, particularmente nos países de maiorias pobres, tem freado o desenvolvimento de redes de observação e monitoramento e mostra a pouca preocupação no que diz respeito ao estabelecimento de sistemas de vigilância e alerta ambientais. Existem hoje mecanismos de Estratégia Internacional de Redução de Desastres, produzidos pela Organizaçao das Nações Unidas, que provém informação sobre este tipo de ação e para a educação da população. Os habitantes do Paquistão estiveram órfãos destes serviços”, relatou ele na entrevista que concedeu à IHU On-Line por email.

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PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2010

O climatologista Osvaldo Canziani atuou junto ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 1991 a 2008. Foi responsável pelo grupo que discutiu a vulnerabilidade, impactos e adaptação às mudanças climáticas no Quarto Documento de Avaliação produzido pelo grupo de especialistas no meio ambiente e no clima. Atualmente, é professor na Universidade de Buenos Aires. IHU On-Line – Como o senhor analisa as recomendações feitas pelo grupo independente de metereologistas sobre o trabalho do IPCC? Osvaldo Canziani – Antes de responder objetivamente à pergunta, preciso fazer um esclarecimento: os documentos do IPCC são elaborados por equipes multidisciplinares de especialistas de diferentes regiões do mundo, sejam elas desenvolvidas ou em desenvolvimento. Ainda que a área das ciências atmosféricas contribuiram somente com uma parte do documento, os processos do tempo e do clima são mesmo a parte mais visível e ubíqua do processo de mudanças climáticas, e, portanto, as ações e reações relativas às demais ciências integram estes documentos de avaliação. Sem dúvida alguma, os eventos extremos do tempo e do clima e, sobretudo, a gestação de um sistema climático novo, estão dando origem a uma transformação, transcendente no tempo, da paisagem, da sociedade humana, seu entorno urbano e rural e, obviamente, da economia global. É por isso que o Artigo 2 da Convenção Marco das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (CMNUCC) apresenta a urgência no sentido de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera a fim de: - permitir que os ecossistemas se adaptem naturalmente; - assegurar que a produção de alimentos não seja ameaçado; - e permitir que o desenvolvimento econômico prossiga de maneira sustentável. Agora, focando em sua pergunta, devo mencionar que as críticas feitas nesse novo relatório estão dedicadas, fundamentalmente, às repercussões regionais do aquecimento terrestre e suas projeções para o futuro. Durante o Quarto Período de Avaliação do Painel, como copresidente do IPCC, representando as regiões em desenvolvimento, além de ter me dedicado plenamente a sua elaboração, também participei de várias discussões sobre a qualidade da informação da base com que se trabalhava. Por isso, eu estou convencido de que o conhecimento


científico e os progressos tecnológicos avançam de forma lenta, mas firmemente. Sabendo, além disso, que o progresso científico depende da disponibilidade da informação básica, tanto geofísica como biológica e ambiental, assim como a disponibilidade e informação social e econômica, podemos dizer que sua integração permite definir a vulnerabilidade dos setores e as regiões e determinar o efeito dos impactos sobre a sociedade. Estes dados devem ser suficientes, confiáveis e estar inseridos no espaço e no tempo, de maneira apropriada logicamente, na avaliação dos trabalhos científicos. Uma das críticas se refere a alguns trabalhos utilizados na avaliação e que careciam de julgamentos confiáveis. Esta situação foi registrada quando avaliaram certos tipos de documentos, como o dos governos, identificados como parte da CMNUCC, desenvolvidos de acordo com os compromissos estabelecidos no artigo 4 desta convenção. De todas as formas, eram e são documentos dos governos. Este documento, assim como outros (a exemplo: Global Environmental Outlook e os documentos sobre Desenvolvimento Humano das Nações Unidas), que se produzem em países em desenvolvimento com informações muito escassas, puderam mostrar alguns erros de magnitude, mas não como mostram essas implicações regionais relatadas nas críticas sobre as mudanças climáticas. Estes documentos também fizeram com que o conhecimento humano avançasse. Por isso, as críticas feitas ao IPCC, em minha opinião, definitivamente são tendenciosas. O IPCC é um painel que, pura e simplesmente, evolui a literatura científica, com a obrigação inevitável que exige que os trabalhos tenham sido submetidos para avaliação. Claramente falando, quem pode garantir de maneira absoluta e total o grau de “veracidade científica” relativo às questões de indisciplinaridade. Isso evidencia, portanto, que as mudanças climáticas não são uma única, nem sequer a mais importante, Mudança Ambiental Global. Não há dúvida de que tudo pode ser melhorado. No entanto, o feito do IPCC é valioso e caminha para alcançar o desenvolvimento que assegure ou que seja tão favorável como seja possível ao desenvolvimento sustentável da sociedade humana. Como sempre tem ocorrido, e seguirá ocorrendo, pois o ser humano não domina a natureza, haverá avanços. No entanto, o saldo líquido será, como é no trabalho feito pelo IPCC, totalmente positivo. A 18º reunião do IPCC, que aconteceu em abril de 2008 em Budapeste, tomou conhecimento da necessidade de desenvolver cenários mais consistentes em relação à realidade social e econômica da sociedade atual, que vive entre grupos que possuem índices de conforto exagerado e níveis de pobreza extremos. Um mundo que carece de ética ambiental tem como causas básicas de deterioração ambiental questões como: - tamanho da população; - excesso de consumo; - e falta de tecnologias apropriadas para produzir e consumir recursos e serviços. A realidade é difícil num mundo onde a “pegada ecológica” dos países desenvolvidos excede em mais de 600% o valor médio de menos de dois hectares por pessoa num planeta de superfície finita, como é a Terra, habitado por quase sete bilhões de habitantes. É evidente que, no mundo, a falta de soli-

dariedade mata muito mais pessoas do que os efeitos adversos das mudanças climáticas. A esta altura, a resposta parece estar na raiz da questão. IHU On-Line – Muitos países estão vivendo desastres climáticos muito severos. Que lições podemos tirar dessas situações? Osvaldo Canziani – Os desastres são eventos de variabilidade climática, a exemplo disso temos o fenômemo El Niño e outras as intensificações dos processos como as circulações atmosféricas que originam danos humanos e materiais. Estes eventos também ocorreram no passado. Atualmente, a mudança do sistema climático faz com que sejam mais frequentes e mais intensos tais eventos. A falta de decisão política, particularmente nos países de maiorias pobres, tem freado o desenvolvimento de redes de observação e monitoramento e mostra a pouca preocupação no que diz respeito ao estabelecimento de sistemas de vigilância e alerta ambientais. Existem hoje mecanismos de Estratégia Internacional de Redução de Desastres, produzidos pela Organização das Nações Unidas, que provêem informação sobre este tipo de ação e para a educação da população. Os habitantes do Paquistão estiveram órfãos destes serviços. Na mesma situação estão os habitantes de muitos países em vias de desenvolvimento ou, simplesmente, subdesenvolvidos que existem no mundo e na América Latina e Caribe. As recomendações das Agências Especializadas das Nações Unidas e do PNUMA provêm informação e assistência. A falta de decisão de muitos governos é a causa de desastres como os muitos que sejam registrados no mundo. IHU On-Line – As negociações sobre o clima podem mudar a atual situação? Osvaldo Canziani – É evidente que sim. No entanto, os interesses em jogo estão relacionados à questão econômica, aos interesses bastardos de grupos sociais que pretendem manter seus privilégios num mundo que já está vivendo seu limite de crescimento, estão demonstrando que a COP-16 (que será realizada em dezembro de 2010 em Cancun) seria um fracasso. Esperamos que não seja assim. IHU On-Line – Estas catástrofes podem criar “refugiados do clima”? Que regiões podem sofrer mais com este problema? Osvaldo Canziani – O Escritório do Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados informa que, neste ano de 2010, há mais de 80 milhões de refugiados, muitos deles por razões ambientais – secas, inundações, furacões, tornados, etc. As projeções para o ano de 2050 elevam esse dado para umas 250 milhões de pessoas. A mudança climática, pelos desastres derivados da inundação de zonas costeiras baixas e ilhas de nível baixo, agregaria a essas cifras entre oito e 35 milhões de refugiados adicionais por ano. O panorama apresenta sérias implicações geopolíticas nos países de um subcontinente pouco povoado, como os da América do Sul. IHU On-Line – O problema das queimadas na Rússia também tem relação com as mudanças do clima? Osvaldo Canziani – É evidente que o aquecimento global, ao produzir o secamento dos solos e da biomassa, gera condições muito propícias ao denominado wildfire, incêndio selvagem ou incêndio natural. Isso tem ocorrido já na Espanha, França e Portugal, assim como no Brasil e na Venezuela.

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PLURALE REVISTA | Setembro/Outubro 2010 EM EM REVISTA | Julho/Agosto 2010 12 PLURALE


Agindo com responsabilidade

Criando oportunidades

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Em todo o mundo, a população cresce rapidamente, enquanto a água potável torna-se ainda mais escassa. É por isso que a Bayer, em cooperação com a National Geographic, apoia pesquisas e projetos de tratamento, distribuição e aproveitamento de novas fontes de água, promovendo também seu uso econômico e racional. Este é apenas um dos 300 exemplos em que a Bayer demonstra seu compromisso com a responsabilidade socioambiental. Com atuação em cerca de 150 países, temos o objetivo de fazer a nossa parte, solucionando problemas sociais e questões globais por meio da combinação de nossa experiência técnica e comercial e o empenho de nossos colaboradores. É por isso que investimos 50 milhões de euros por ano na educação e na pesquisa, no meio ambiente e na natureza, na saúde, nas necessidades sociais e em esporte e cultura. A Bayer pretende melhorar as perspectivas das pessoas para um futuro melhor, e pensando nisso também tornou-se a primeira parceira privada do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para sensibilizar, educar e treinar jovens para a proteção ambiental. Isso é Bayer. E, se é Bayer, é bom. www.bayer.com.br

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Colunistas

Carlos Nomoto

Produto sustentável: se não vender, não é sustentável

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ecentemente encontrei com um empresário que estava trazendo para o Brasil um produto a base de água para limpeza de superfícies. O principal difedife rencial apresentado era o fato de ser um “produto verde”. Perguntei se ele tinha um plano de negócios. Não tinha. Perguntei sobre o preço final do produto ao consumidor. Cerca de quatro vezes mais caro do que os produtos mais usados no mercado. Ou seja, o produto não tinha uma estratégia comercial definida e custava bem mais caro do que os concorrentes. Quando perguntei por que alguém compraria o seu produto recebi a seguinte resposta: porque as pessoas estão cada vez mais preocupadas com o meio ambiente. Alguns ainda cultivam um certo misticismo em torno da sustentabilidade. É só embalar de verde que vende. E não vende. Se não garantir o essencial de qualquer produto – preço, qualidade e disponibilidade – não haverá foto de criancinha com uma plantinha na mão que fará vender. Pesquisas realizadas pelo Instituto Akatu revelam que vem aumentando a quantidade de consumidores que associam a sustentabilidade às marcas das empresas e seus produ-

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tos, mas poucos estão dispostos a pagar a mais por isso. E deveriam? Ou ainda, quanto a mais estariam dispostos a pagar? Uma coisa é pagar R$ 2,00 a mais por um pacote de folhas de papel A4 reciclado ou certificado. Outra é pagar R$ 20.000,00 a mais por um automóvel com motor híbrido. O questionamento é imediato: vale a pena? Talvez, se ficar claro para o comprador que os custos com combustível e manutenção serão menores e o preço de revenda será melhor. Uma grande construtora implementa sistemas de reuso de água em seus condomínios e projeta os apartamentos de forma que aproveitem mais a luz natural. Como transformar estas facilidades em argumentos para os corretores nos estandes de vendas? Criando uma planilha que mostre a redução dos custos de condomínio ao longo dos anos. Isso não garante uma venda, mas é um argumento a mais se o preço de outro apartamento for o mesmo. Se queremos (e queremos!) que a sustentabilidade permeie os processos e produtos das empresas precisamos ir para os pontos de venda. Vi um dos melhores exemplos de aplicação da sustentabilidade em pontos de vendas em um pequeno mercado na zona central de Chicago. Eis que deparo com uns pães frescos acompanhados da seguinte informação: produzido por panificadoras locais. Encontro algumas variedades de iogurte comuns ao lado muitas de iogurte produzido com leite orgânico, fat free, enriquecidos com vitaminas. Encontro a mesma distribuição na prateleira de batatas fritas: as marcas convencionais lado a lado de muitas opções a partir de batatas orgânicas, fritas ao óleo de amendoim, de girassol. E uma bela seleção das deliciosas cervejas locais, bem perto dos sucos sem conservantes. Para encerrar as compras, os atendentes do caixa ficam em pé, bem próximos fisicamente de você, até com uma certa informalidade, o que torna a toda a

“Alguns ainda cultivam um certo misticismo em torno da sustentabilidade” experiência bastante agradável. Saí de lá encantando e voltei outras vezes. Por quê? Porque todos são acolhidos. Se você come “tranqueiras” e não se importa muito com a condição de fabricação e matéria prima do que vai comer ou beber, encontrará algumas opções. Se você prefere alimentos mais naturais encontrará muitas opções. Se você bebe ou é abstêmio encontrará o seu líquido preferido. Porque dá ao consumidor a opção de decidir colocando tudo lado a lado, na mesma prateleira. Você compara o preço e o benefício: por que não experimentar algo diferente hoje, como um pacote de biscoitos carbon free? Dar opções, permitir as comparações é uma forma de educar e estimular o consumidor. Porque o cuidado não está somente nos produtos mas se estende ao atendimento. Adiantaria pouco uma boa seleção de produtos fair trade e carcar bon free sem funcionários simpáticos e eficientes. Seria até contraditório. Pergunta final: os produtos sustentáveis eram mais caros neste mercado? Sim, alguns eram, outros não. Mas eles eram oferecidos de tal forma que dava vontade de comprar. E de vender. Carlos Nomoto (carlos.nomoto@ santander.com.br), Colunista de Plurale, é Superintendente Executivo do Banco Santander e professor da Fundação Getúlio Vargas.

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S ev egur ita an ac ça n ide o nt ba es nc fa o d ta e is. trá s

Semana Nacional de Trânsito 18 a 25 de setembro

Conheça os bastidores desta campanha: www.eusoulegalnotransito.com.br 16

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A

Junte A com B e veja como você pode


Leve sempre as crianรงas no banco de trรกs. Use as cadeirinhas indicadas para cada idade. Respeite a lei.

mudar certas histรณrias num clique.

B

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Colunistas

Luiz Antônio Gaulia

A “comunicação pelo cuidar” é a comunicação para a sustentabilidade.

P

ara que servem os indicadores criados pela Global Reporting Initiative - GRI? Para acompanhar o desempenho organizacional em suas dimensões econômicas, sociais e ambientais que moldam o tripé da sustentabilidade. Indicadores e suas formas de gestão são maneiras de prestar atenção e “cuidar” das relações entre diferentes dimensões. Este cuidar, numa percepção integral da vida, no meu entender, seria uma forma de comunicar. A comunicação pelo cuidar, portanto, é uma comunicação que nos convoca para uma mudança de postura: baseada no respeito à vida. Uma ponte abrangendo a economia, o meio ambiente, os sistemas sociais, culturais, nossas emoções e afetos, nosso modo de conversar, interagir, pensar, perceber conexões essenciais e ainda, a nossa própria transcendência (espiritualidade).

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Ao entendermos a sustentabilidade como a construção do “nosso futuro comum” – como já definiu o Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizado por Gro Harlem Brundtland, em 1988, compreendemos necessariamente o valor do cuidado. O saber cuidar é saber comunicar, uma vez que seria impossível cuidar sem relacionar-se, sem envolver-se. Uma vez que o cuidado requer proximidade, requer afeto e consciência em cada atitude. O cuidar é a mais bela e nobre forma de comunicação existente. A comunicação pelo cuidar não precisa de discursos, manifestos ou publicações. Ela é uma ação comum, prática verdadeiramente sustentável a favor da “teia da Vida”, da qual falou o físico Fritjof Capra. Numa ótica humanística essa comunicação pelo cuidado é um novo jeito de trabalhar, de conviver, de partilhar. De


engajamento na construção de novos pontos de encontro entre culturas variadas, entre visões de mundo aparentemente opostas. Entre a pluralidade que pode causar estranhamento, mas que é a riqueza que permitiu a vida no planeta. Numa dinâmica comunicacional fantástica, miríade de possibilidades, articulações. Por isso, o cuidar como base. Como primeiro degrau na direção de um amanhã onde a vida terá a preferência sobre as coisas, nunca mais sendo tratada como coisa. Onde a vida terá preferência sobre as máquinas, a produção e o crescimento a qualquer custo. Sem uma merecida atenção aos detalhes, ao pequeno, ao que parece inútil. Porque tudo que é vivo merece cuidado. Naquilo que deveria ser o olhar sem fronteiras que a sustentabilidade nos demanda. Para percebermos os nodos de uma rede de intensa relação: interdependente e intercambiante. Dessa forma, o cuidar é a tradução, em permanente movimento, desta nova forma de ser e viver. Olhando o mundo além de si, além do imediato. Olhando o outro ser humano e os outros seres vivos, bem como os ecossistemas – nossos patrimônios coletivos, não como mercadorias ou peças soltas, fragmentadas, descartáveis e consumíveis numa voracidade veloz e agressiva. Mas com o olhar do cuidado. Através da comunicação pelo cuidar. Do ponto de vista da política tal proposta resgataria o conceito de Democracia: pessoas ultrapassando seus interesses imediatos “sendo capazes de reconhecer os interesses dos outros e pensar o interesse do conjunto da sociedade” (citando Cristóvão Buarque). Pensar cada sociedade como inseparável do meio ambiente, buscando a preservação da vida em condições melhores do que as de hoje, como um legado às futuras gerações. Garantir esta herança seria comunicar para as próximas gerações exatamente a importância do cuidado. Afinal, não precisamos, como escreveu o filósofo Ralph W. Emerson, “começar a aprender geologia na manhã seguinte a um terremoto”. Temos escolhas a serem feitas e a opção pela sustentabilidade é uma delas. E a comunicação para a sustentabilidade, a comunicação pelo cuidar é a construção dessa estrada, via de acesso da nossa sobrevivência. Porque visão de longo prazo é saber que o dia de hoje carrega em si a semente do amanhã: “somente quando imaginamos o futuro como projeção de aspirações do presente é que o tempo atual passa a ser percebido como o momento de gestação do amanhã” (conforme escreveram Sandra Korman Dib e Elaine Juncken Teixeira em trabalho a respeito da ação sobre o próprio destino e o destino comum). Fundamental, assim resgatar a relevância da palavra como cuidado. Da palavra como afeto, verdadeira energia fraterna, fazedora de laços, fortalecedora da confiança e de tolerância. Onde a comunicação, mais do simples lâmpada, é a própria luz. Trilha sobre o que antes estava invisível, esquecido, imperceptível, mal cuidado. Daí, o necessário diálogo - como escreve David Bohm, ser fundamental uma vez que “nossas relações dependem de como apresentamos os outros a nós

mesmos e vice-versa. E tudo isso depende das representações coletivas.” Imaginemos então a conversa entre a humanidade como a mais ampla forma da comunicação pelo cuidado, como o encontro de “uma família que ainda não se conhece” (Theodor Zeldin). O construir de uma biocivilização a partir de nossa própria vizinhança. Dos nossos arredores mais provincianos para o global, como pixels de uma fotografia maior. E para que tal empreitada se realize, vamos precisar “de todo mundo” como já cantou o poeta Beto Guedes, porque o “caminho entre o possível e a utopia é o espaço no qual os cidadãos do mundo podem e devem agir” (Jean Pierre Leroy). O que já nos exige modelos educacionais capazes de “contextualizar os saberes e integralizá-los em seus conjuntos” como defende Edgard Morin. Porque o cuidar para ser sustentável requer a compreensão do todo, a percepção sistêmica de nossas ações e reações, de conseqüências aparentemente isoladas, do entendimento de contextos, leitura de cenários numa linha de tempo e de fatos que se sempre se interligam. Entre razão e emoção. Causa e consequência. Como na questão, por exemplo, dos Direitos Humanos - outro aspecto abordado pelo modelo da GRI: “Quando alguém é injustiçado, toda a humanidade paga o preço” (segundo Francisco Gomes de Matos em “A Empresa com Alma”). Ou ainda diante de um acidente de trabalho com vítimas fatais numa obra e também diante de falhas de processos técnicos, resultando em desastres ambientais que desconhecem fronteiras políticas – como recentemente aconteceu com a explosão da plataforma de petróleo da BP no Golfo do México. E também testemunhando os incêndios gigantescos nos arredores de Moscou, na Rússia: a natureza desconhece as diretrizes traçadas pela arrogância dos homens. Essa é a proposta dessa comunicação pelo “cuidar”: quando a vida não terá preço e onde as habilidades de resposta (responsabilidades) serão compartilhadas por todos: governo, sociedade, empresas. Seja pelo cuidar de si, do outro, do todo. Levando em conta culturas diferentes, modelos de pensamento aparentemente conflitantes – mas na verdade, complementares. E neste cuidar, concretizar a proposta da sustentabilidade: garantir relacionamentos que prezem pela sobrevivência do planeta, da vida e do homem em conjunto com outros seres vivos. Com equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais e ambientais. E também com gentileza e amor. Luiz Antônio Gaulia (lgaulia@bol.com.br), Colunista de Plurale, é jornalista e publicitário. É professor da ESPM (em Comunicação & Desenvolvimento e Gestão de Crise & Assessoria de Comunicação) e da ABERJE (em Comunicação Interna como Ferramenta de Gestão). Trabalhou em projetos de comunicação para a sustentabilidade junto à empresas como Votorantim, Natura, Vale e Light entre outras. HYPERLINK “http://gaulia.blogspot.com/” http://gaulia.blogspot.com/

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Colunistas

Alberto Borges Matias

Sustentabilidade da Melhor Idade

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ráticas de sustentabilidade nas empresas, nas organizações sociais e nas governamentais têm feito parte das agendas de seus gestores e colaboradores. Mas até que ponto essas práticas vêm criando modelos sustentáveis refletidos em certos grupos da nossa sociedade, como no caso da população da melhor idade? Pesquisas mostram o envelhecimento da população brasileira, fato que a maioria dos países desenvolvidos já presenciou há décadas atrás. A redução da taxa de crescimento da nossa população tem decaído a cada ano, com previsão para chegar a zero no ano de 2039. A partir de então, a taxa de crescimento populacional passa a ser negativa. Concomitante a esse processo, o Brasil tem presenciado o gradativo abandono do campo, com provável média de população urbana prevista pelo IBGE para 2030 de 87%, contra apenas 13% de população rural. Esse contingente da melhor idade, que provavelmente fará parte dos centros urbanos, vai requerer um conjunto significativo de produtos e serviços adequados e adaptados às suas necessidades. Além de uma grande oportunidade de negócios para empreendedores que investirem nesse nicho de mercado, esse segmento vai necessitar paralelamente de políticas

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PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2010

Sonia Valle W.B. Oliveira

públicas que os apóiem e garantam a sua qualidade de vida. Aliás, qualidade de vida para eles significará também qualidade de vida para seus parentes, responsáveis e cuidadores! Cabe lembrar que há pesquisas que já falam que em cada 10 idosos com idade acima de 80 anos, 10%, ou seja, um idoso, deve possuir o mal de Alzheimer. Já se sabe que aposentados muitas vezes são lesados pela sua própria família, que se responsabiliza por seu cartão de recebimento da aposentadoria, bem como pelos “gastos” feitos com essa renda. Infelizmente, a maioria desses gastos não é direcionada ao aposentado, mas a despesas da casa ou pessoais de seus familiares. A incidência de maus tratos e falta de respeito a essa população trazem uma vida com pouca dignidade para quem passou décadas trabalhando e se dedicando a filhos e netos. No caso de estarem doentes, a situação geralmente é piorada, pois além de restringir a pequena renda à compra de remédios, há outros cuidados que muitas vezes a família não dá apoio. Outro fator que deve ser somado a esses é que também há uma forte tendência mundial, chegando ao Brasil em ritmo acelerado, que é o aumento de pessoas solteiras, seja sem ter iniciado uma família, ou descasados. Ao chegarem à melhor idade, essas pessoas muitas vezes não terão o apoio de filhos ou parentes próximos para ampará-los no caso de doenças degenerativas, restrições físicas ou mentais. Essa responsabilidade passará ao governo ou a instituições privadas, sejam empresas ou organizações sociais sem fins lucrativos? Há legislação adequada para garantir uma qualidade de vida para essas pessoas? Com essas premissas, as mudanças no cenário brasileiro poderão ser de cunho social, econômico e também ambiental. Isso nos remete a uma reflexão profunda sobre a sustentabilidade da melhor idade no Brasil, principalmente a partir da próxima década.


Em termos de produtos, podemos começar a falar sobre o vestuário e objetos de uso pessoal. Há necessidade de se adequar feitios de roupas e tecidos, incluindo peças íntimas, bem como calçados anatômicos, bolsas inteligentes com compartimentos para remédios e fraldas, malas com carrinhos, óculos, dentre tantos outros itens. Aparelhos como celulares, telefones fixos, rádios ou televisões deverão ter painéis com letras grandes para facilitar a visualização. O mobiliário deve ser adequado, ergonômico e sem arestas aduncas, para evitar acidentes. O projeto dos imóveis para idosos deve facilitar a locomoção e atividades cotidianas para cadeirantes ou pessoas com deficiências visuais, auditivas ou de locomoção. Cabe ressaltar que com a redução da população jovem, haverá uma redução do contingente de mão-de-obra, podendo forçar a volta de aposentados ou prolongar o período ativo dos trabalhadores, para suprir essa necessidade. Isso também poderá aumentar a renda da melhor idade, possibilitando acesso a muitos produtos e serviços que talvez não tenham feito parte de suas vidas até então. Serviços como escolas de idiomas e informática para a melhor idade ou agências de turismo especializadas nesse público, poderão ter forte ascensão. Por outro lado, em relação aos cuidados e assistência, eles necessitarão de atenção durante os períodos em que seus parentes não poderão atendê-los, principalmente dentro do horário comercial. Isso gerará a necessidade de creches para idosos, com atividades culturais, de entretenimento, esportivas e sociais. Aos enfermos ou portadores de doenças crônicas ou degenerativas, serão necessários clínicas especializadas em atendimento a idosos, casas de repouso, novos modelos de planos de saúde e políticas públicas para atender a todos esses aspectos. Novos profissionais também deverão dar suporte, como cuidadores especializados, com apoio de cursos na área. Outros pontos também devem ser realçados, ao se relacionar esses aspetos à sustentabilidade. Com a redução do número de crianças e jovens e o aumento de pessoas solteiras e idosos, poderá haver um aumento no volume de resíduos gerados, bem como uma modificação no tipo de resíduos. Se pensarmos em fraldas, por exemplo, no caso de bebês e crianças, são fraldas pequenas que serão usadas cerca de 2 anos. No caso de idosos com incontinência urinária, as fraldas são grandes e poderão ser usadas por décadas. Para pacientes com Alzheimer e outras doenças degenerativas, além de fraldas há todos os equipamentos e materiais descartáveis para alimentação, respiração, medicamentos, asseio e outros serviços paralelos. Em relação aos solteiros, há maior incidência do uso de descartáveis e de produtos prontos e semi-prontos que facilitam a vida e podem ser usados por um número menor de pessoas.

Deve também ser lembrado que não podemos fazer uma análise só do descarte, mas do ciclo todo, avaliando todos os recursos necessários à produção desses itens, os resíduos e poluentes gerados durante a sua produção e consumo e, por fim, os resíduos gerados pelo seu descarte. Ainda sobre a sustentabilidade, além das questões ambientais e sociais que já discutimos, como será abordada a questão econômica, quanto ao suporte financeiro a todas essa alterações? Há necessidade de se reavaliar a estrutura financeira tanto dos sistemas de aposentadoria, quanto dos planos de assistência públicos e privados, para essa nova demanda. Há, ainda, a necessidade de se oferecer serviços de gestão financeira, quer por consultores financeiros quer por instituições financeiras, que permitam a adequação de fontes de recursos e gastos, bem como as aplicações financeiras em linhas e características próprias ao perfil desse público, orientadas por condicionantes como o patrimônio líquido pessoal, dentro de um conceito mais amplo de sustentabilidade financeira. Cartões de crédito, seguros e fundos de investimentos serão áreas com necessidade de adequação do perfil de produtos e de atendimento a este público. É, em síntese, uma grande oportunidade. Alberto Borges Matias , Professor Titular da FEA-RP/USP , Coordenador do Centro de Pesquisa do INEPAD (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) Sônia Valle W. B. Oliveira, Professora Doutora da FEA-RP/ USP, Pesquisadora Integrante do Centro de Pesquisa do INEPAD (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração)

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Novidades

Inovação no portal e na revista

MARCADOR ECOLÓGICO PLURALE BASTA RECORTAR NA MARCA PONTILHADA.

I

novação. Esta é uma das palavras que norteia nosso trabalho em Plurale desde o início, além de ética, bom jornalismo, parceria, união e rede. Como sustentabilidade é um processo sempre em mutação, que é construído, não poderíamos correr o risco de acreditar que o projeto estaria pronto para sempre. Assim, temos procurado, ao longo destes três anos, trazer o que há de novidade em termos de diálogo e ferramentas para o leitor. Seja na edição impressa ou na versão digital. O portal Plurale em site, através da Prodweb, acaba de apresentar novidades, como a seção de vídeos, fotos e também o aumento da interatividade com os leitores. O blog também traz mais uma excelente notícia, com foco em Sustentabilidade: ou seja, música para alegrar o dia. Ainda não ouviu? Clique agora no link e ouça sucessos de nomes consagrados como Gilberto Gil, Joyce, Chico Buarque, Tom Jobim e tantos outros. http://revistaplurale.blogspot.com/ O lay-out da revista – sempre elogiado - recebeu novos sutis traços a cargo da equipe da See Design. “Estamos reforçando o conceito de modernidade, sempre aliado ao bom jornalismo, para melhor atender os leitores e o mercado”, explica Carlos Franco, diretor de Plurale. Como presente para os leitores de Plurale neste aniversário de três anos, oferecemos um lindo marcador ecológico, produzido pela equipe da agência Hi-Fi, que também criou a campanha ao lado especialmente para a revista. Basta recortar na marca pontilhada. Aproveite.

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VIDA Saud á v e l

MARCADOR ECOLÓGICO PLURALE: BASTA RECORTAR NA MARCA PONTILHADA.

Soja preta

Esta é outra novidade que é hit parade nas conversas de quem sonha em emagrecer da noite par ao dia. Oficialmente não há nada provado, mas há quem garanta que a soja preta ajuda a emagracer até quatro quilos por mês. Um ponto é certo: ingerir soja é muito bom e este tipo de grão, segundo os especialistas, é rico em isoflavonas e antocianinas, substâncias importantes para combater a perda de peso, colesterol alto e até câncer. Pode ser encontrada como grão e também na forma de farinha.

Banana verde Depois da moda da linhaça, da quinua e de tantas outros produtos tidos como “milagrosos”, agora, as atenções estão voltadas para a banana verde. O produto pode ser encontrado na forma de farinha, biomassa, etc. nas principais lojas de produtos naturais. Lembra quando a vovó falava que banana é um santo remédio para o bom funcionamento do intestino? É isto mesmo. A banana verde, além de melhorar o funcionamento intestinal, contribui para a prevenção e o controle de quadros de diarreia e constipação. Além disso, auxilia na prevenção de câncer de intestino.

SÔNIA ARARIPE - PLURALE EM REVISTA

Fibras de maracujá

Engana-se quem pensa que o maracujá só tem propriedades calmantes. Sabe a casca da fruta que a sabedoria popular associa a pele enrugada e envelhecimento? Pois é. Justo a casca é fonte de fibras solúveis. Fabricantes estão vendendo muito bem este pó. As fibras absorvem água e se gelatinizam, retardando a velocidade de esvaziamento do estômago e aumentando o volume das fezes. Pode ser usado na comida ou em bebidas.

Da floresta Esta dica, nós trouxemos da última viagem à Amazônia, mais especificamente de Rio Branco, Acre. Raimunto Nonato Pereira da Silva, mais conhecido como Dr. Raiz, figura famosa no Mercado Central de Rio Branco, indica sabonete e creme de mulateiro contra manchas. Serve não só para manchas como para deixar a pela lisa e sem rugas. O especialista diz que o creme é “milagroso”, garantindo uma pele de jovem, “melhor do que muito creme estrangeiro”. Diz à lenda que o mulateiro - também conhecido como Pau mulato da várzea, Calycophyllum spruceanum - é a árvore da juventude e que as índias Amazonas tomavam banho com chá da casca da árvore para se manterem sempre lindas e jovens. Vamos testar. Nascido em Xapuri, terra também de Chico Mendes, no Seringal Arquibadam, Dr. Raiz é figura famosa não só no seu estado mas também além floresta. Tem feito sucesso em emissoras do Sul Maravilha explicando as receitas que vão passando de geração em geração.


Bazar ético Cooperárvore S Nécessaire: R$ 15,00

Lixocar: R$ 5,00

Case para notebook: Disponível em três tamanhos: 11,14 e 17

obras de materiais que são utilizados na linha de montagem automotiva, como cintos de segurança e tecidos se transformam, nas mãos de habilidosas artesãs, em lindas peças, cheias de bossa, como as que ilustram esta página. A Cooperárvore, cooperativa social do programa Árvore da Vida – Jardim Teresópolis, em Betim (MG), cria e desenvolve produtos que aliam funcionalidade e beleza em peças diferenciadas. A maioria sai da Ilha Ecológica da Fiat e seus fornecedores para ser transtrans formada em sacolas, bolsas, mochilas, chaveiros, nécessaire, almofadas, cases para notebooks e jogos infantis. SomenSomen te no ano passado foram produzidas e comercializadas cerca de 20 mil peças. Hoje 23 famílias do Jardim Teresópolis são beneficiadas pela CoopeCoope rárvore, que nasceu em 2004 com o intuito de contribuir com a geração de trabalho e renda da comunidade. Para a formação da cooperativa foram selecionadas moradoras que tinham interesse pelo empreendedorismo, ao mesmo tempo em que se dispusessem a aprender a trabalhar em equipe para o bem comum do grupo. Elas receberecebe ram capacitação profissional específica nas áreas de costura, silk e artesanato. De acordo com Marco Antônio Lage, diretor de Comunicação CorpoCorpo rativa da Fiat Automóveis, a CooperárCooperár vore além de gerar trabalho e renda, inin centiva as cooperadas a serem agentes de mudança na comunidade. “Hoje as beneficiadas pela cooperativa comprecompre endem as necessidades do mercado e juntas buscam soluções e criações de novos produtos”, explica.

Os produtos podem ser adquiridos na sede do programa, na Rua Duque de Caxias, 956, Jardim Teresópolis, Betim (MG) ou pelo telefone (31) 3591-5896. Nesses casos, o produprodu to é entregue pelos Correios, e além do preço, paga-se também a taxa de entrega.

25 Mala de mão: R$ 45,00

Chaveiro de cinto de segurança: R$ 10,00

Shopping Bag: Com três bolsos, R$35,00


Especial Acre

Os filhos do seringueiro Valdemir de Souza e de Maria das Graças podem fazer os deveres de noite e assistir televisão

Luz na floresta Seringueiros e ribeirinhos da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, Acre, passam a ter energia em casa Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Fotos : Luciana Tancredo De Xapuri, da Reserva Extrativista Chico Mendes, Acre (*)

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az muito calor na floresta fechada. Um pouco amenizado perto do Rio Acre, mas nem por isso deixa de ser quente. Nas terras onde o seguingueiro, líder sindical e ambientalista Chico Mendes um dia retirou o sustento de sua família - e também combateu, até pagar com sua morte, a exploração de seus companheiros de floresta e a devastação da biodiversidade local - o cenário hoje está mudado. Quem poderia imaginar, naquelas épocas dos empates – como os locais chamam a criação do ambientalista, formando

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uma corrente humana para evitar que a floresta fosse destruída – que nem só a luta dos locais entraria para os livros. Também a chegada da luz marca a história. Pois é assim, no calor úmido de terras em torno do município de Xapuri que começamos mais um Especial Plurale na Amazônia. Depois de cerca de 45 minutos cruzando em carros com tração nas quatro rodas estradas de terra no meio de fazendas - onde os bois pastam em áreas que já sofreram interferência do homem - chegamos no primeiro lugarejo já na Reserva legal hoje batizada com o


também dentro do guarda-chuva do Luz para Todos – em parceria com a GTZ (Agência alemã de Cooperação Técnica). A implementação local é feita através da Eletrobrás Distribuição Acre e da contratada Vectra Engenharia, encarregada de instalar os equipamentos e fazer toda a manutenção. Ao todo, 103 locais foram atendidos pela rede: 100 são residências e outras três escolas situados em três diferentes Seringais desta imensa região - Albrácea, Dois Irmãos e Iracema. A luz chegou à Floresta, em Xapuri, há três anos e tem mudado a realidade local. Daqui está se expandindo também para outras localidades remotas do Acre. No estado do Amazonas, outros tantos ribeirinhos também estão recebendo o mesmo kit de energia solar como parte do projeto. Se tudo der certo, a meta é que cerca de 5,5 mil famílias moradoras em outros seringais, localizados em reservas extrativistas do Acre, também possam ser beneficiadas pelo mesmo sistema. “Esta é a solução para áreas ainda não atendidas na Amazônia”, acredita Celso Matheus, diretor da Eletrobrás Distribuição Acre. Os especialistas frisam que não é correto chamar a iniciativa de energia solar, mas sim de energia fotovoltaica. Examinando o desenho - que explica como o sistema funciona - dá para entender que o sol é decisivo para gerar a energia, mas também baterias e todo um sistema bem organizado para que não falte luz. Os técnicos chamam este conjunto de sistema fotovoltaico de geração de energia elétrica.

Arte: Eletrobrás

nome de quem escreveu esta região antes quase esquecida no mapa brasileiro e global. Xapuri não chegou a se transformar em ponto turístico, até porque é bem distante para quem não vem a trabalho ou tem alguma outra missão por estas bandas: são 188 quilômetros de estrada boa, asfaltada desde Rio Branco, mas até chegar ao Acre são cerca de cinco horas de viagem de avião desde o Rio de Janeiro ou São Paulo. Desde que o homem simples, de sorriso aberto e fala mansa, cabelos e bigodes fartos cruzou o destino, Xapuri nunca mais foi a mesma. “Chico Mendes é alma deste lugar”, assegura Luis Tarjino de Oliveira, 77 anos, companheiro de luta de Chico Mendes, que se orgulha de até hoje morar praticamente cerca a cerca da casa que um dia abrigou o velho amigo. ((leia mais sobre esta história na pág 31) Para entrar mesmo na Reserva Extrativista Chico Mendes – uma gigantesca área de 931 mil hectares, espalhada em seis municípios, Xapuri, Brasiléia, Rio Branco, Sena Madureira, Assis Brasil e Capixaba - é preciso ainda pegar um barco por horas e andar com fé no meio da floresta. Foi o que fizemos durante dois intensos dias. Não só para ouvir histórias de quem conviveu diretamente com Chico Mendes, mas também para acompanhar outro momento histórico da vida destes ribeirinhos: a chegada da luz. Energia renovável - Até bem próximo da Reserva Extrativista, em áreas de melhor acesso, postes estão sendo fincados para levar luz elétrica. Parte do Projeto Luz para todos, meninados-olhos do Governo Federal, oficialmente batizado de Pro-

grama Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica, que tem realizado o sonho de muitos brasileiros de poder beber água gelada ou assistir a novela de noite. Porém, onde a floresta é fechada e uma casa é bem distante da outra, não há outra logística possível. A solução veio com a ajuda da própria natureza: energia renovável, com a ajuda do sol que colore a região por muitos meses do ano. O projeto-piloto Xapuri é uma iniciativa da Eletrobrás –

Não basta fincar os equipamentos, contar com o sol e deixar a natureza fazer sua parte. A floresta também tem seus caprichos: além da maioria das casas estar em locais de difícil acesso, há a temporada de chuvas. Sem sol, o sistema poderia simplesmente não funcionar por um longo período. Por isso, a tecnologia prevê a instalação de baterias capazes de garantir luz mesmo nestas fases. Além disso, desde o início, os moradores aprendem que é preciso cuidar, manejar,

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Especial Acre exatamente como sempre fizeram com a Floresta Amazônica, para não faltar. Sistemas diferentes - O projeto funciona com subsídios de recursos oficiais e está testando três diferentes sistemas de fornecimento para as famílias que moram nos seringais: corrente contínua, corrente alternada e híbrido. O engenheiro Dennys Senna, subcoordenador do Luz para Todos na Eletrobrás Acre, explica que cada morador recebe, além do kit de equipamentos (placa, bateria, inversor), também três pontos de luz e quatro lâmpadas de 12 volts. Levar o material para estes pontos não foi tarefa fácil: uma casa fica bem distante da outra, sem estradas, separadas por trilhas ou rios. As distâncias foram percorridas de barco, de carro com tração até onde era possível e também com a ajuda de cavalos e burros. Os técnicos são verdadeiros Indiana Jones em algumas situações. É bom lembrar que os equipamentos são pesadíssimos, chegando a pesar 1 tonelada cada kit. “Já atravessei isso aqui com água acima da cintura” conta o jovem Artur José Pereira Júnior, da Vectra Engenharia, que está no projeto desde o início, instalando os kits e visitando as famílias. Quando a época é de chuva, até mesmo os cavalos e burros têm dificuldade de acessar alguns lugares. Três famílias ainda receberam, de graça, geladeiras econômicas e eficientes, para serem testadas, como parte do projeto. Os aparelhos são especiais para funcionarem neste modelo de geração de energia de corrente alternada: paredes mais grossas e formato como de um freezer horizontal para melhorar a eficiência térmica e também para não perder tanto calor a cada vez que a porta fosse aberta. Por enquanto, as geladeiras ainda são um teste, parte do projeto, mas tudo indica que deverão ser doadas para os moradores. As unidades fotovolcaicas disponibilizam a capacidade mínima de 13kWh, levando em conta mês com pouco sol. Não é igual ao acesso à rede das cidades, quando é possível deixar todas as luzes ligadas o tempo todo e os eletromésticos também. Ar-condicionado, por exemplo, não pode ser utilizado, nem outros aparelhos que puxem muita luz. As famílias recebem instruções de como devem proceder para que não falte energia para ninguém, e também a fim de garantir a sustentabilidade do modelo: cada um precisa pagar a conta, na média de menos de R$

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3,00 por mês, mais exatamente R$ 2,80 mensais. Apesar das características específicas da região – difícil acesso, energia à base solar e consumidores de baixa renda - a meta definida no projeto-piloto é ter um serviço eficiente e de boa qualidade. O planejamento prevê expandir para o Norte e região central do Acre, locais ainda de acesso mais difícil do que os atuais, assim como em outras áreas inacessíveis da Amazônia. Tudo o que está sendo testado e aprendido a partir do relacionamento com os consumidores da floresta servirá de lição e aprendizado para o projetopiloto se transformar em programa para valer, avançar e ser ajustado. Estudos até de noite - “A chegada da luz foi muito boa. Temos luz para as crianças estudarem à noite, podemos assistir televisão e até guardar os alimentos na geladeira”, conta Valdemir Ferreira de Souza, 50 anos, seguingueiro que mora com a família no Seringal Albrácea. Aqui, o sistema é o de corrente contínua. Ele conta que conheceu Chico Mendes e seu trabalho em defesa por este povo e estas terras. A esposa, Maria das Graças Feitosa de Souza, também comemora a novidade junto aos quatro filhos. “A comida que sobra eu posso guardar na geladeira”, conta. A criançada adora assistir Os Trapalhões e Silvio Santos aos domingos. A vida da família é simples, como a da maioria dos seringueiros e ribeirinhos por estes lados, mas não há tanto o que se queixar. Valdemir recebe um salário como aposentado e apesar de não andar muito bem de saúde, ainda complementa a renda da família com a ajuda vinda da floresta – vende o látex da borracha para a fábrica de camisinhas de Xapuri (leia mais adiante) e a coleta da castanha-do-pará de forma sustentável. A moto nova, uma moderna 125 cilindradas, é a última aquisição. Mas a geladeira, de 150 litros, é o grande xodó da família. “É muito bom poder guardar o leite e a comida para as crianças aqui”, conta Maria das Graças.

Seu Francisco, Dona Elair, filhos e netos: bebendo água gelada

Ali perto, Maria José da Cunha Souza, 63 anos, também comemora a chegada da energia. Casada, oito filhos e 23 netos, todos criados na Reserva Extrativista, não trocaria sua vida pela da cidade. Nem mesmo quando ficavam praticamente no escuro por anos. “Vivemos bem aqui”, resume. Além dos benefícios e facilidades, a luz garantiu, de quebra, uma boa economia para o orçamento familiar. “Antes, a gente gastava um bom dinheiro com velas e óleo para a lamparina”, recorda-se. Dona Maria José também ganha um salário mínimo como aposentada e sonha com o dia que também terá a sua geladeira. “Toda dona-de-casa sabe como faz falta.” Beira do rio – No dia seguinte, de barco, uma hora a favor da corrente e duas na volta, vamos mais adiante, na região do Seringal Iracema. Encontramos Francisco Pereira Barbosa (que também esteve ao lado de Chico Mendes na defesa da floresta) e sua esposa Elair Pereira Barbosa, ambos de 63 anos. Eles têm três filhos e dois netos, todos bem instalados em uma casa ampla e bem cuidada, na beira do Rio Acre. Gente cordial e pacífica como é o povo da floresta. Dona Elair recebe

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o grupo com um almoço tão cheiroso quanto gentil. No cardápio, galinha caipira e pato, macarrão, feijão da roça, arroz e salada. “Quer água gelada?”, oferece Dona Elair aos convidados, feliz da vida. O que pode parecer um simples ato de abrir e fechar a geladeira para matar a sede na cidade grande, era um sonho acalentado, distante para estes ribeirinhos. A geladeira com cara de freezer na sala garante não só a água gelada, como também o iogurte dos netos e carne para a família consumir ao longo do mês. “É uma benção! Quando eu iria imaginar ter água gelada e geladeira em casa?”, diz a dona-de-casa. Point – Na volta pelo rio, atingimos o Seringal Dois Irmãos. Ali vive Manoel Roldão, 50 anos, pai de 12 filhos com Maria Matias da Silva, 42 anos. Vendo o movimento por aqui crescer, Seu Roldão, esperto que só, percebeu que tinha uma verdadeira galinha dos ovos de ouro na sua sala: a geladeira, artigo de luxo para muitos da região. Comprou refrigerantes e cervejas em Xapuri e abasteceu o novo complemento de renda da família. Instalou uma mesa de sinuca na parte de fora da casa e criou um novo “point” destas bandas. “Dá para fazer até R$ 500 por mês, dependendo da freguesia.

Geração de empregos: Josiel Silva de Souza é da comunidade

da região. O tímido Cosmo nem tem ainda luz em casa: conta que também ajuda o pai no seringal de madrugada até o sol raiar e depois vai para escola caminhando com as vizinhas. Quando crescer quer ser do Exército. E Gilmara já tem luz solar, mas o pai comprou as placas antes da chegada do Programa oficial. “Estudo firme. Meu sonho é ser juíza. Quero ajudar as mulheres da região”, diz, com a resposta na ponta da língua.

Seu Roldão passou até a vender refrigerantes para a freguesia

Renda - O projeto-piloto tem garantido renda e empregos. Um dos filhos da família Barbosa é barqueiro e atende a equipe de manutenção dos equipamentos solares das casas e o jovem Josiel Silva de Souza, 27 anos, enteado de Seu Roldão, foi contratado pela Vectra Engenharia, encarregada da parte de manutenção do sistema. “Estou muito contente. Conheço as pessoas todas aqui da região e estou ajudando a garantir o bom funcionamento da rede”, explica enquanto sobe no poste para ver se está tudo ok com as placas. Josiel ganha cerca de R$ 700 por mês e tem a vantagem de poder trabalhar na floresta que cresceu e conhece como a palma da mão. Escola - Aliás, por estes lados, todos parecem fazer parte de uma grande família. Josiel é casado com a professora Sirley Soares Sodré, que leciona na Escola Asas da Floresta. Os alunos estão estudando com a luz que também chegou através do projeto-piloto Xapuri. “Eles podem ver DVDs e não precisamos mais parar a aula quando escurece. A luz também é muito importante na casa deles para reforçar as lições”, conta a professora Sirley. Uma verdadeira revolução na vida dos jovens adolescentes. Que o digam três alunos da mesma turma do 6º ano. “A gente anda quase três horas na floresta, no escuro para poder estudar. E quando chega em casa é bom ter luz para fazer os deveres”, conta Francisca Guimarães, 13 anos. Ela sonha em ser médica e caminha na floresta junto com dois amigos: Cosmo de Souza Lima 18 anos e Gilmara Araújo Monteiro, 13 anos. São todos filhos de seringueiros

A professora Sirlei: opção de usar também DVDs

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Especial Acre

Francisca, Gilmara e Cosmo caminham até três horas pelas trilhas da floresta para estudar

Definições – A visita dos técnicos em campo traz algumas revelações. O sistema ainda precisa ser melhor azeitado, principalmente na parte da cobrança das contas. Pelas regras do Código de Defesa do Consumidor e também da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), os clientes precisam receber as contas em casa. Como a logística é complicadíssima e as distâncias a serem percorridas imensas, nem sempre as contas são entregues mensalmente. Várias das famílias visitadas estão com os pagamentos atrasados porque não estão recebendo as faturas e outros porque nem conseguiram ir até Xapuri pagar. O coordenador da Vectra, Assur Mesquita, empresa contratada para fazer a manutenção nas residências, diz que uma opção seria quitar o pagamento quando os moradors forem à cidade fazer compras ou receber algum dinheiro. Mas isso não retira da concessionária a obrigatoriedade de entrega das contas. Mesmo que os valores sejam baixos e os custos para entrega não se paguem. A sustentabilidade do programa também precisa ser muito bem definida. A operação e manutenção de cada sistema (por família) são estimados em cerca de R$ 690 por ano. Como as contas são de cerca de R$ 2,80 por mês, é claro que não fecham. Por isso há fortes subsídios. Mudança - “Estamos em uma fase de avaliar os resultados. Há pontos que podem sim ser melhorados”, explica Dennys Senna, subcoordenador do Luz para Todos na Eletroacre, avaliando que, no geral, o projeto é bem sucedido. Um destes pontos a serem revistos é o pleito enviado à ANELL, em Brasília, para que possa ser criado um sistema que os técnicos chamam de “robusto”: em corrente alternada mas com uma saída para corrente contínua também, o que permitirá, no futuro, instalação de geladeiras ecoeficientes a serem compradas pelos seringueiros ou compradas com a ajuda de algum programa social. Há quem de-

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fenda a doação de alguns eletrodomésticos eficientes junto com o kit para energia fotovolcaica. Outros acham que será preciso, aos poucos, fazer o programa crescer de alguma forma com suas próprias pernas: se os eletromésticos forem vendidos no comércio local pode incentivar a economia da região. Um representante da ANELL, Jorge Augusto Lima Valente, esteve em campo para conhecer a realidade local. “Vou levar um relatório e iremos avaliar se o pedido apresentado de mudança no sistema é viável”, disse. Não chega a ser tão simples a decisão. Já existe um arcabouço legal autorizando o funcionamento como é hoje. Seria preciso alterá-lo. E, como se trata de um programa envolvendo recursos públicos, atendimento social e realidades muito distintas dos consumidores dos centros urbanos, será preciso pesar todos os prós e contras. Um ponto já está certo. O projeto-piloto dá sinais de que é possível sim integrar a floresta ao resto do mundo. A meta do Luz para Todos no Acre é levar energia para 50 mil famílias. Destas, 37 mil podem ser atendidas por linhas de transmissão, sendo que 27 mil já estão recebendo energia, os demais estão em processo. “Cerca de 13 mil famílias estão em lugares distantes, de difícil acesso. É o que chamamos de sistemas isolados. Para estes casos, a energia fotovolcaica é a solução”, acredita Dennys. O processo está em curso. No estado do Amazonas, a empresa Guarcor Solar do Brasil já foi selecionada para a parte de implementação do projeto em outros municípios. A Eletrobrás Amazonas Energia firmou contrato de 18 meses com a Guascor Solar do Brasil para instalar sistemas de minirredes em seis municípios do interior do estado. No total, 12 projetos serão executados nos municípios de Autazes, Barcelos, Beruri, Eirunepè, Maués e Novo Airão. “Tudo o que é novo causa uma resistência inicial. Se há algumas falhas, vamos corrigi-las. Podemos melhorar a gestão. Mas o programa está cumprindo bem seus objetivos”, assegura Cláudio Monteiro, engenheiro da Divisão de Projetos Complementares da Eletrobrás, que está envolvido com a iniciativa em Xapuri desde o início. Nos despedimos da Reserva Extrativista Chico Mendes já com saudades. Das pessoas e da biodiversidade, do piar dos pássaros, da energia que a Amazônia e sua imensidão é capaz de transmitir.

Dennys, Assur e Cláudio: avaliando em campo o projeto-piloto

(*) A equipe de Plurale viajou a convite da Eletrobrás, com o apoio local da Eletrobrás Distribuição Acre e da Vectra Engenharia.


Xapuri: cidade de Chico Mendes

Seu Tarjino: lembranças do velho amigo

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Casa que Chico Mendes morou

nha Brasiléia, fronteira da Bolívia, atrai mais turistas e atenções por conta da zona franca. Uma única fábrica, bem na entrada de Xapuri, emprega locais: produz camisinhas a partir do látex de alta qualidade dos seringais da região. No entanto, as duas principais atrações turísticas do município – a casa onde viveu Francisco Alves Mendes Filho e sua família, mais conhecido como Chico Mendes, e o Centro de Memória Chico Mendes – estão lacrados. Os moradores explicam que foi “o pessoal do governo” que fechou. Na verdade, a imprensa noticiou há poucos meses que por trás do fechamento do que funcionava como se fosse uma Fundação está a falta de comprovação no uso de verbas públicas por parte da família do ambientalista. Procuramos e bem próximo da casa da família de Chico Mendes encontramos um companheiro de luta do líder sindical, responsável por fundar o Partido dos Trabalhadores na região. “Participei da luta com ele”, recorda-se, emocionado, Luis Tarjino de Oliveira, 77 anos. De boa conversa, vai logo desfiando a sua. Nascido no Ceará, foi parar no Acre atrás de emprego nos seringais. Foi assim que conheceu o vizinho e amigo. “Jogamos muita bola juntos. Acompanhei Chico no Sindicato dos Trabalhadores e também nos empates”, conta. Por empate entenda-se uma estratégia para “abraçar” a floresta e evitar o avanço dos fazendeiros e destruição da biodiversidade. A luta de Chico Mendes pela defesa da floresta foi tão intensa que ele recebeu o Global 500, oferecido pela ONU aos principais líderes na defesa pelo meio ambiente. Seu Tarjino se levanta da cadeira de balanço e mostra, na parede, um retrato esmaecido destes tempos. Da borracha tirou sustento para criar nove filhos. Aposentou-se e hoje, se tratando de hanseníase, aumenta o sustento com um secos e molhados na varanda de casa. Vende de roupas a utensílios de cozinha. Quando vê a fotógrafa, pede para se arrumar melhor. Procura no armário uma camisa com a foto do velho amigo – como se fosse um troféu bem guardado – e reaparece, trazendo junto um chapelão de abas largas. “Agora eu estou pronto para a foto.” Se queixa dos políticos atuais, das regras que proíbem plantações dentro da Reserva Extrativista e do fechamento da casa e do Centro de Memória. Logo se emociona ao falar como foi o assassinato de Chico, em dezembro de 1988, aos 44 anos. O fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darcy, inconformados com a força de articulação do ambientalista na região, foram os mandantes do crime: chegaram a ser condenados a 19 anos de prisão, mas hoje estão soltos. A gota d`água para o crime foi a desapropriação do Seringal Cachoeira, que pertencia a Darly, e passou a ser área de Reserva protegida. “A morte dele foi bárbara. O Chico só queria defender a floresta e a gente. Acabou ali, assassinado na porta dos fundos de casa, quando ia tomar banho. Foi uma covardia”, diz o companheiro de luta. Agradece a visita, pede licença e volta para a cadeira de balanço na varanda de casa. Até a chegada do próximo turista curioso.

asfalto da BR 317 encurtou - e muito - a viagem até Xapuri. Hoje, se não for um dia de trânsito, em cerca de duas horas é possível percorrer a distância entre a capital Rio Branco e a cidade natal de Chico Mendes. Nem sempre foi assim. Quando o italiano Michele Vatollo - dono da Villa Verde, uma das melhores pousadas do município - chegou por aqui, há quase 12 anos, era um mar de lama. “Dá para acreditar?”, mostra, até hoje incrédulo o estrangeiro que guarda a foto do ônibus que o trouxe da capital Rio Branco praticamente mergulhado na lama, o que um dia se chamou de estrada. Veio para fazer trabalhos humanitários, depois de uma peregrinação por vários países: casou-se com uma nativa, tiveram filhos e deixou para trás a família e a vida completamente diferente da região de fronteira da Itália com os Alpes, na Áustria. Garante que não se arrepende. “É um lugar bom para se viver, de pessoas cordiais, muito bom para se criar filhos.” Não há dúvida. Xapuri é pequena, simples, mas com um povo simpático para os turistas e forasteiros. São cerca de 15 mil habitantes. A cidade já tem até conexão sem fio para Internet, como parte de investimentos em polo digital, Companheiros de luta: Seu Tarjino é o segunda à direita mas tem pouco trabalho para os locais. A vizi-

Chico Mendes: líder ambientalista reconhecido pela ONU

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E n s a i o

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Reserva Biol贸gica do Atol das Rocas (RN)


O ACRE e sua BELEZA

SINGULAR

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tranquilo passeio do tracajá (mais conhecido no Sul como jabuti) à beira do Rio Acre dá uma dimensão que o tempo por aqui não corre. Passeia, sem pressa, como a beleza de uma região que ainda não foi descoberta pelo frisson de ecoturistas. Luciana Tancredo descortina para os leitores de Plurale a biodiversidade da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, Acre, e suas redondezas. A floresta e sua exuberência, na forma de imensas árvores, borboletas, jacarés e flores. Muitas flores. Da floresta é possível extrair borracha e colher castanha, parte do sustento da maioria dos ribeirinhos. As crianças crescem fortes, talvez sem ainda perceber que são abençoadas por poder viver em uma área legalmente protegida. Herdeiros do maior legado deixado pelo seringueiro/ambientalista Chico Mendes que assegurou, um dia, que toda esta imensidão não virasse uma extensa área de pasto e roça. Nas redondezas da Reserva Extrativista, mas fora da área de proteção, é possível encontrar muitas áreas de rebanhos. Já na escola, os jovens aprendem a História do Acre e da gente aguerrida da região. O Acre foi colonizado por brasileiros em tempos principalmente a partir de 1877, no ciclo da borracha, quando ainda pertencia legalmente à Bolívia. Apenas em 1903, a região foi oficialmente incorporada ao Brasil, através do Tratado de Petrópolis, assinado pelos Barão de Rio Branco e Assis Brasil. Pelo Tratado de Petrópolis, a Bolívia abria mão de todo o Acre em troca de territórios brasileiros do Estado de Mato Grosso mais a importância de 2 milhões de libras esterlinas e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, ligando os rios Mamoré (em Guajará-Mirim-RO, na fronteira Brasil-Bolívia) e o Madeira (afluente do rio Amazonas, que corta a cidade de Porto Velho, em Rondônia), com o objetivo de permitir o escoamento da produção regional, sobretudo de borracha. O barco sobe e desce a Reserva, serpenteando o verde e colorido da mata. O piar de um sem-número de diferentes pássaros e a liberdade dos ribeirinhos e nativos de ir e vir parecem ser o melhor sinal que nestas terras não há donos, nem donatários. São todos irmãos em uma só Floresta Amazônica.

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FOTOS DE LUCIANA TANCREDO

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Ciência

Google Earth é usado em pesquisa de Geoglifos no Acre Datação com Carbono 14 indica que estruturas de terras são de 2.500 anos a 1.000 anos Texto: Flamínio Araripe, de Fortaleza, Especial para Plurale em revista Fotos: Diego Gurgel e Edison Caetano

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Google Earth, ferramenta para visualização de dados geográficos de imagens de satélite é usado em pesquisa científica para investigar a presença de civilização remota na Amazônia. O trabalho, intitulado “Software de busca na Internet ajuda na localização de geoglifos amazônicos”, de autoria de Alceu Ranzi, Roberto Feres e Foster Brown, da Universidade Federal do Acre (UFAC), foi publicado pela revista EOS, da União Geofísica Americana (AGU). O caso foi noticiado nas revistas New Scientist (EUA), no jornais Antiquity (Inglaterra), El Mercurio (Chile) e El País (Argentina). Os autores definem os hieróglifos - estruturas de terra escavadas com formatos geométricos - como “expressões paisagísticas de civilizações passadas”. Desde 2000, cerca de 300 geoglifos foram observados em sobrevoos em regiões de paisagens recentes deflorestadas no sudoeste da Amazônia, leste do Acre. São estruturas circulares ou retangulares na escala de 100 metros ou mais de diâmetro escavadas no solo com borda de trincheira com 1 a 3 metros de profundidade. Somam mais de 300 registros, dos quais 60 encontrados este ano. Datação de um fragmento de carvão vegetal proveniente de um geoglifo, realizada com Carbono 14, indicou que possuem 2.500 anos a 1.000 anos. Os autores do artigo no EOS levantam questões sobre a distribuição dos geoglifos – se estes foram construídos em savanas extensas ou florestas tropicais, qual a densidade populacional humana à época, e quanto da floresta atual pode ter sido influenciada pela atividade humana. “As respostas têm implicações importantes para entender as ramificações das mudanças climáticas atuais e as perspectivas para uso da floresta em longo prazo, e a densidade sustentável de população humana na região Amazônica. A análise sistemática da distribuição de geoglifos poderia ajudar a responder essas perguntas”, afirmam os autores. O relato dos três autores destaca a importância da incorporação das imagens pelo Google Earth no leste do Acre, e compara que em apenas poucas horas de estudo com uso da ferramenta na Internet “o número de geoglifos mais do que quadruplicou”. O artigo cita o pesquisador Charles Mann,

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autor do livro “1491- Novas revelações das Américas antes de Colombo”, na afirmação de que os estudos na linha dos geoglifos podem ajudar a resolver problemas de como o clima mudou nesta parte da Amazônia. Os autores identificam áreas de maior densidade e distribuição espacial de geoglifos no Acre. A edição do livro de Mann em português, da editora Objetiva, traz na página 13 fotos dos geoglifos do Acre, o da “Fazenda Colorada”, observa Alceu Ranzi. O pesquisador disse ter falado com Charles Mann, que informou a intenção de visitar ao Acre para lançamento do livro que já teria autorização da National Geographic. Para Alceu Ranzi, os geoglifos colocaram o Acre no centro da discussão da Arqueologia Amazônica. Uma região considerada de floresta virgem se apresenta agora como detentora de uma floresta manejada pelos construtores dos geoglifos. “Os geoglifos são únicos e são potencialmente passíveis de serem indicados para compor o Patrimônio Mundial da Unesco”, disse ele. O paleontólogo aponta a possibilidade do Estado do Acre se transformar em um centro de turismo receptivo para os visitantes dos geoglifos. Essas visitas tanto poderão ser por terra como por visualização aérea com sobrevôos em pequenos aviões. Segundo Alceu Ranzi, os estudos com os geoglifos, até o momento, indicam que foram construidos e utilizados por aproximadamente 1.000 anos até mais ou menos 200 anos antes da descoberta do Brasil. O pesquisador informa que já tem registrado 300 geoglifos, por visita de campo - com pontos de GPS (Coordenadas Geográficas), fotos aéreas e imagens de satélite. O Grupo de Pesquisas Geoglifos conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Universidade Federal do Pará, Governo do Estado do Acre, Prefeitura Municipal de Rio Branco, Universidade Federal do Acre, Instituto Iberoamericano da Finlândia e Universidade de Helsinki. Apresentação de resultados da Pesquisa Brasil-Finlândia Liderado pela pesquisadora Denise Pahl Schaan (Goeldi, UFPA), foi realizada a pesquisa de campo do Projeto Geoglifos, Natureza e Sociedade na História da Amazônia Ocidental, do Museu Paraense Emílio Goeldi, UFPA, UFAC e Universidade de Helsinque, financiada pela Academia de Ciências da Finlândia/


Instituto Renvall, da Universidade de Helsinque. O estudo constatou a ocupação pré-colonial na região ocidental do estado do Acre, onde foram identificadas gigantescas estruturas de terra que vêm sendo chamadas de geoglifos. As estruturas de terra foram identificadas primeiramente pela equipe de Ondemar Dias e mais tarde registradas em diversas localidades através de fotografias aéreas pelo paleontólogo Alceu Ranzi. “Os geoglifos constituem-se, sem dúvida, em um dos mais espetaculares achados da arqueologia Amazônica dos últimos tempos”, afirma a coordenadora do projeto. Denise Schaan relata que Ranzi descreveu os geoglifos em entrevista dada para o Jornal “A Tribuna”, de 2002: “Alguns são em forma quadrada com 215 metros em cada lado, e circundados por um fosso que tem 15 metros de largura e quatro metros de profundidade. Para construí-los era necessário movimentar nada menos 51.600 metros cúbicos de terra. O detalhe é que o material retirado do fosso era cuidadosamente amontoado pelo lado de dentro ou de fora dos desenhos, formando assim uma borda de dois e meio a três metros acima do nível do solo”. Os resultados dos estudos foram apresentados no simpósio internacional Arqueologia da Amazônia Ocidental - Perspectivas interdisciplinares, realizado nos dias 21 e 22 de julho, em Rio Branco, Acre. O evento, realizado pelo Grupo de Pesquisa Geoglifos da Amazônia, mostrou ocorrências em outros países por José Iriarte, da Universidade de Exeter (Reino Unido) e John Mayle, da Universidade de Edimburgo, no estudo Usos précolombianos da terra e seu impacto na Amazônia Bolivariana. Na ocasião, Martti Parssinen e Sanna Saunalouma, da Universidade de Helsinque, Finlândia, apresentaram os resultados da Cooperação Brasileira-Finlandesa no estudo dos geoglifos do Acre, e foi lançado o livro “Geoglifos: Paisagens da Amazônia Ociedental”. Denise Schaan informa que em 1999, Alceu Ranzi, paleontólogo da Universidade Federal do Acre, ao viajar de avião de Porto Velho para Rio Branco observou estruturas de terra com dimensões gigantescas numa área de pasto. Em sobrevôos, cerca de 25 destes sítios arqueológicos (com mais de um geoglifo cada um) foram identificados do ar em áreas recentemente desmatadas da vegetação original de floresta para a plantação de pastagens para o gado, em uma grande área localizada na parte oriental do Estado do Acre. “Foi realizada uma visita preliminar em vários destes sítios, sendo tomadas medidas e feitas observações. Em um dos sítios, localizado na Fazenda Colorada, uma estrada vicinal havia cortado uma destas estruturas, deixando à mostra o interior de uma parede, de onde foi retirada uma amostra de carvão para datação. Graças a esta análise, sabe-se agora que o sítio foi ocupado durante o século XIII da nossa era, três séculos antes da chegada dos europeus às Américas”, afirma a coordenadora geral do Projeto Geoglifos. De acordo com Denise Schaan, estas estruturas, que depois foram descobertas em vários lugares ao longo da BR-317, estão sendo chamadas pelos pesquisadores de geoglifos, sendo comparadas às linhas de Nazca, no Peru. “Considera-se que o volume de terra removido para a construção das trincheiras tenha sido fenomenal, o que corrobora a hipótese de que tenham sido realizadas por uma sociedade avançada sociopoliticamente”, avalia. A pesquisa teve com objetivos principais reconstruir a história cultural da Amazônia Ocidental, os processos culturais,

econômicos, étnicos e demográficos antes, durante e depois da chegada dos europeus. De acordo com Denise Schaan, o trabalho visa entender os processos de construção dos sítios – avaliar se os fossos e muros seriam relacionados à defesa ou se seriam somente construídos para a produção de alimentos para as comunidades. “Uma idéia é de que os fossos fossem micro-ambientes aquáticos para recursos tais como peixes, tartarugas ou moluscos para consumo doméstico”, observa.

“Estamos preparando também uma campanha para sensibilização das pessoas sobre a necessidade de preservação. Muitas estradas e outras obras já danificaram os geoglifos. Precisamos de apoio dos setores do governo e da sociedade em geral para evitarmos esse tipo de coisa e fazermos cumprir a legislação que proíbe a mutilação de sítios arqueológicos”, disse Denise Schaan. Os geoglifos já atraíram a atenção de diversos pesquisadores que vieram visitá-los no Acre, tais como o Dr. Michael Heckenberger, arqueólogo;; Giuseppe Orefici, de Nazca Peru; Dr. Rossano Bastos, arqueólogo do IPHAN; Sanna Saunaluoma, da Finlândia, arqueóloga Maura Imazio (Goeldi), arqueóloga Niéde Guidon (Fumdham); a “turismóloga” Adalgisa Araújo e o arqueólogo Dr. Rodrigo Aguiar, co-autor com Alceu Ranzi do livro Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea. Alceu Ranzi ressalta que os aspectos jurídicos de proteção dos Geoglifos foram objeto de dissertação do biólogo Tiago Juruá Damo Ranzi na graduação em Direito pela Univali em Santa Catarina. Segundo Alceu, o Dr. Ondemar Dias da UFRJ pesquisou no Acre e notou as primeiras estruturas circulares em 1977.

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I m a g e m Foto: Luciana Tancredo, Brasiléia, Acre

Amazônia em Chamas 1

Dorme, tranquila e calma, Floresta equatorial, Protegendo milhões de espécies, Do reino animal.

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Enquanto assim repousa A virgem intocada, Exército aguerrido De potência infernal, Prepara em cada canto Uma emboscada, A fim de arrebatá-la Em forma triunfal.

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Armas afiadas, Machado, fogo, serra, E sem ouvir O profundo clamor da terra, As fortalezas Vencem de arrastão, Deixando atrás de si A dor da solidão.

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E, de cima Olhando agora, Para tristeza minha E da nação, Onde a floresta Existia outrora, Hoje é pó, Cinza, carvão!

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E nea s Sa l a ti

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Perdendo enfim O manto protetor de outrora, A natureza ri, E ao mesmo tempo chora...

* Esta poesia foi escrita pelo Professor Eneas Salati, diretor técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e um dos maiores especialista em água doce, após sobrevoar áreas destrúidas pelo fogo na Amazônia.


P e lo B rasi l

Surge o movimento Niterói Como Vamos E começa analisando os principais indicadores de meio ambiente do município do Estado do Rio de Janeiro Isabel Capaverde, de Plurale em revista

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oram quase dois anos de encontros, reuniões, estudos, articulações e de ter conseguido apoio da ASPI UFF – Associação de Professores Inativos da UFF, Fundação Avina, do Observatório Social de Niterói, Instituto JCA – Jelson da Costa Antunes, Campus Avançado, Movimento Tortura Nunca Mais, GAPOPS - Grupo de Ação, Pesquisa e Orientação a Projetos Sociais, Instituto Baía de Guanabara, da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e da Rede Latino Americana de Cidades Justas e Sustentáveis, até vir a público. Estamos falando do movimento Niterói Como Vamos, criado nos mesmos moldes dos já consolidados Bogotá Como Vamos, Nossa São Paulo e Rio Como Vamos. Formado por um grupo apartidário e inter-religioso - envolvendo todos os segmentos da sociedade civil de Niterói – o movimento nasce comprometido em organizar, sistematizar e publicar indicadores de gestão urbana que desvelem a cidade. Segundo Álvaro Cysneiros, coordenador do Niterói Como Vamos, o objetivo não é substituir o poder público e, sim, promover maior integração entre as políticas públicas e as reais necessidades e interesses de todos os moradores da cidade. Propor e cobrar uma vida melhor. Para isso grupos de trabalho monitoram áreas específicas como saúde, educação, meio ambiente, habitação e sane-

amento, cultura, transporte, lazer e esporte, segurança pública e violência, pobreza e desigualdade social, orçamento público, Câmara de Vereadores, trabalho, emprego e renda, inclusão digital. Uma das primeiras áreas analisadas pelo Niterói Como Vamos e divulgadas à população diz respeito aos indicadores de meio ambiente. No início desse ano, Niterói foi palco de um desastre ambiental com inúmeras vítimas fatais na região conhecida como Morro do Bumba, que comoveu o Brasil e chamou atenção para a questão do lixo. A cidade não dispõe de um aterro sanitário e não há uma definição quanto ao destino do lixo por parte das autoridades competentes. Situação que fica ainda mais grave levando em conta que a produção de lixo em Niterói é superior a média nacional e a terceira maior do estado por habitante, ficando atrás somente de Nova Iguaçu e do Rio de Janeiro. É preciso conscientizar a população sobre a coleta seletiva, dando especial atenção ao lixo eletrônico. Uma das propostas do Niterói Como Vamos para a questão é que os EcoClins, os pontos de coleta seletiva e os pontos de entrega voluntária sejam reativados e passem a receber também o lixo eletrônico. Paralelo a isso, é necessário capacitar a mão de obra e fomentar a criação de cooperativas para a reciclagem. A qualidade do ar respirado em Niterói também merece mais atenção, já que a cidade não possui estação fixa para o seu monitoramento. As estações de amostragens fixas oficiais mais próximas encontram-se no Rio de Janeiro e em São Gonçalo. Os únicos índices disponíveis para análise são de medições feitas em 2007, 2008 e 2009, realizadas numa avenida de muito movimento, e apontavam que as partículas inaláveis ultrapassavam os limites estabelecidos por resolução do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente). Cerca de 77% delas vinham dos automóveis que transitam na região. Para restabelecimento da transparência nesses dados, o Niterói Como Vamos acredita que seria interessante a realização de novas medições para divulgação dos pontos críticos da cidade. “Temos uma agenda a cumprir esse ano. Pretendemos ampliar o número de pessoas mobilizadas, principalmente jovens e lideranças comunitárias, realizar pesquisas de percepção, além de expandir a Rede Niterói Como Vamos com a entrada de empresas e instituições. Os interessados em participar podem acessar nosso site www.niteroicomovamos.net. São todos muito bem-vindos”, declara Álvaro Cysneiros.

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P e lo B rasi l Maior parte da renda no Brasil está concentrada nos municípios mais ricos, diz Ipea Daniel Lima, da Agência Brasil / de Brasília

Setor elétrico arrecada o equivalente a duas Belo Monte em impostos

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studo realizado pela Pricewaterhousecoopers (PWC) indicou que a carga tributária do setor elétrico brasileirao chegou a 45.08% do total da receita global, o equivalente a R$ 46,2 bilhões. Este valor equivale a cerca de duas usinas de Belo Monte (prevista para ser construída no Rio Xingu) por ano. O estudo foi financiado pelo Instituto Acende.

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oucos municípios brasileiros respondem pela maior parte do Produto Interno Bruto (PIB), informou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os dados estão no comunicado Desigualdade da Renda no Território Brasileiro que mostra que, no passado, essa desigualdade era menor. O comunicado engloba dados que vão de 1920 até 2007 e mostram que o peso relativo dos PIBs municipais foi multiplicado por 2,24 vezes no período. Em 1920, em 1% dos municípios mais ricos, a riqueza se concentrava em 21% deles e, em 2007, a

concentração da riqueza subiu para 47% nessa mesma fatia. Os municípios entre os 40% mais pobres do país registraram perda relativa na participação do Produto Interno Bruto Nacional de 9,4% para 4,7%, entre 1920 e 2007, e, no caso dos municípios entre os 70% mais pobres, a participação caiu de 31,2% para apenas 14,7% no período. O comunicado indica que, desde a década de 70, o Brasil registra certo congelamento no grau de concentração ou da desigualdade dos PIBs municipais. “Isso é mais expressivo do ponto de vista do PIB per capita, que termina por avaliar a renda pela população”, constata o Ipea.

Morre Dorina Nowill, que enxergou o mundo com os olhos da alma

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orina de Gouvêa Nowill, presidente emérita da Fundação Dorina Nowill para cegos, morreu no fim de agosto de falência múltipla dos órgãos. Ela estava com 91 anos de idade e era daquelas brasileiras que nos faziam acreditar no Brasil. Perseverança, compaixão e paciência são as lições deixadas por esta paulistana, que cega aos 17 anos enxergava o mundo com os olhos da alma. Dorina nasceu em São Paulo em 1919. Ficou cega aos 17 anos vítima de uma

patologia. Foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular, na Escola Normal Caetano de Campos, em São Paulo. Percebendo, naquela época, a carência de livros em braille no Brasil, criou em 1946, com a participação de outras normalistas, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que mais tarde recebeu seu nome em reconhecimento por uma vida inteira dedicada à inclusão dos deficientes visuais.


Foto: Rodrigo Nunes/Ministério das Cidades

Ministério das Cidades lança campanha sobre a Semana Nacional de Trânsito

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Ministério das Cidades lançou no dia 3 de setembro, em coletiva de imprensa realizada no Rio de Janeiro, campanha sobre a Semana Nacional de Trânsito, que este ano tem como tema “Cinto de Segurança e Cadeirinha”. O evento teve a presença do ministro das Cidades, Marcio Fortes de Almeida, do presidente do Detran/RJ, Fernando Avelino, do coordenador de Estatística do Denatran, Roberto Craveiro e do diretor de Registro de Veículos do Detran-RJ, Morvan Cotrin. Com o slogan “Segurança no banco de trás evita acidentes fatais”, a campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da utilização dos dispositivos de retenção no transporte de crianças e do uso do cinto de segurança por todos os ocupantes do veículo, inclusive no banco traseiro. “O objetivo da campanha não e dramatizar, é conscientizar. O corpo solto no carro (sem cinto de segurança ou cadeirinha) é um risco enorme”, explicou o ministro. “Como disse o ministro, o importante da campanha é a conscientização das pessoas. Mas é preciso fiscalizar para que a lei funcione”, completou o diretor de Registro de Veículos do Detran-RJ, Morvan Cotrin. A intenção é também mostrar as consequências do não uso desses equipamentos em uma colisão e com isso, disseminar a noção de que a segurança de cada um está diretamente relacionada à segurança de todos. “Precisamos de uma mudança cultural, assim como vem ocorrendo com o habito de fumar. Hoje as crianças forçam seus pais a não fumar cigarro. Precisamos universalizar o uso do cinto e da cadeirinha”, afirmou o presidente do Detran-RJ. “Na próxima semana sairá regulamentação incentivando uso de acento de crianças em carros antigos que não tem cintos de três pontos no banco traseiro. Nesses casos, será

Ministro Márcio Fortes apresenta a Campanha ao lado de Roberto Craveiro, coordenador de Estatística do Denatran

permitido colocar acentos no banco dianteiro”, comentou o coordenador de Estatística do Denatran, Roberto Craveiro. Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que o uso dos dispositivos de retenção reduz o risco de morte de bebês em 70% e de crianças pequenas entre 54% e 80% no caso de colisão. Já o uso do cinto de segurança pelo condutor e passageiro do banco dianteiro reduz o risco de morte em torno de 40% a 50%, já no banco de trás esse risco é reduzido em até 75%. De acordo com pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), 88% dos ocupantes dos bancos dianteiros de veículos utilizam o cinto de segurança. No banco traseiro, esse número é reduzido a 11%. Pesquisa realizada pelo Denatran em 2009 também revela que apenas dois em cada dez jovens, de 15 a 17 anos, utilizam sempre o cinto de segurança no banco de trás. “Não estou preocupado com estatísticas. Basta uma pessoa morrer para causar uma tragédia em uma família”, afirmou o ministro. A lei obriga motoristas e passageiros a usar o cinto de segurança, independente da posição que ocupem no carro. Segundo o ministro, as pessoas se enganam sobre o uso do cinto ao acreditar que apenas as pessoas que estão no banco da frente têm de usar o equipamento de segurança. “Ninguém disse que era obrigatório apenas usar cinto na frente. Por isso temos de divulgar as consequencias da falta do cinto no banco de trás’, justificou. A campanha começa a ser veiculada nacionalmente a partir de domingo (05/09) em televisão, jornal, rádio, revista, internet, cinema, táxis, mobiliário urbano e valet parking. Também estará disponível um hotsite, onde poderão ser acessados os bastidores da campanha e entrevistas com especialistas das áreas de trânsito e saúde.

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Sustentabilidade e inovação: debate em São Paulo

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Maurício Felício, Especial para o Nós da Comunicação

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m vento bem gelado para uma primavera. Quilômetros de congestionamento já comuns depois das seis horas da tarde. Horas contadas a dispor. Alguns reencontros de amigos e colegas que não se viam há algum tempo. Começa então o debate. Este foi o cenário paulistano no qual se realizou, em 16 de agosto, o Encontro Inovação Sustentável, que fez parte do Ciclo Comunicar Inovação, da rede de conhecimento Nós da Comunicação (www.nosdacomunicacao.com). E é justamente neste cenário, diferente do que se imaginaria há alguns anos quando se tratava deste assunto, que o tema sustentabilidade e inovação tomou corpo. Dezenas de profissionais de comunicação tomaram seus lugares no auditório da BASF para o debate que se iniciou com a apresentação de Lala Deheinzelin, especialista em economia criativa, sustentabilidade e futuro. Lala trouxe à tona questões como o valor que por muito tempo se deu ao tangível e que hoje se vê em conflito com a economia criativa, com base no intangível, na infinitude das redes e relacionamentos e na ecologia sociocultural. Um ponto reforçado em sua fala tratou dos futuros imaginados que se materializaram, ao longo do tempo, como o design futurista dos carros de histórias em quadrinhos seiscentistas que se tornaram realidade nos idos anos 80. Com base em exemplos como este, Lala defendeu ainda a concepção de futuros desejáveis, ou seja, a fertilização do nosso imaginário e a alimentação da inovação para atingirmos patamares desejados por nós, diferentemente das imagens que encontramos principalmente nos atuais filmes futuristas, com cenas de dias tenebrosos e obscuros que nos aguardam. Após estas palavras, foi o momento dos presentes ouvirem a explanação de Rose Marie Inojosa, diretora da UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz do Departamento de Educação Ambiental da Secretaria Municipal

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do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo), sobre o erro que cometemos hoje em dia ao considerarmos a sustentabilidade apenas sobre os pilares do Triple Botton Line (econômico, social e ambiental), sendo que deveríamos nos pautar, antes de tudo, pela sustentabilidade da vida daqueles que têm pés, patas, asas, nadadeiras ou raízes. Rose Marie tratou ainda da inovação, que sob seu olhar é a nossa capacidade de aprender, ou melhor, de reaprender a nos relacionarmos com a rede da vida, de nos reconectarmos com valores há muito tempo esquecidos em detrimento de outros objetivos. Foi então, a vez de Simone Ramounoulou, presidente executiva do Instituto AntaKarana Willis Harman, nos conduzir com suas palavras sobre este tema. Neste momento, fomos levados a pensar sobre a impossibilidade de inovar caso não saibamos quem somos, caso não nos conheçamos. Simone levantou a necessidade de inspiração para que consigamos inovar, mas que ao mesmo tempo possamos, cotidianamente, nos dar tempo para fazer as escolhas necessárias, aquelas que realmente nos fortalecem. Outro ponto bem trabalhado por ela se sintetiza na afirmação de que não podemos dar aquilo que não temos. Logo, como oferecer ao mundo um modelo de sustentabilidade antes que nós mesmos coloquemos esta mentalidade em prática? Por isso sua fala trouxe ainda a reflexão de que os empresários, e neste ponto estamos incluídos como colaboradores dentro das estruturas empresariais, são responsáveis não só por aquilo que fazem, mas também pelo que não fazem, pelo que não sabem. Então temos que nos aplicar ainda mais para nos reciclarmos como profissionais e para edificarmos políticas e ações simples, mas não simplórias, que tragam resultados efetivos neste campo. Luis Eduardo de Carvalho, diretor da Nodal Consultoria em inovação e estratégica, tratou, em sua fala, da cocriação e das formas de reinterpretação das coisas antigas como inovadoras hoje em dia, ao que ele deu o nome de ‘envelhação’. Sob este olhar, comentou ainda do preconceito que temos com o que se passou, com o que chamamos de velho, tendo no dito novo o valor das coisas, quando nem sempre o que surge de fato supera em benefícios o que foi suplantado. Sua fala tomou ainda os ares da inovação como motor do capita-

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lismo, deixando no ar a dúvida de como podemos transformar a sustentabilidade, de forma inversa, como item necessário para favorecer a inovação. Com a moderação de Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista e de Plurale em Site, os debates propriamente ditos tiveram início. Os presentes se mostraram participativos e inquietos, como todos devemos ser frente a este tema - e, como não, aos tantos outros que se ligam a nossa profissão e a nossa vida. Neste segundo momento, temas como o ‘déjà vu’ que sentimos com estas ditas inovações foram levantados pela moderadora, além de questões como a formação fragmentária dos profissionais que saem das academias, o papel das empresas na construção de uma realidade diferente da que vivemos hoje, a construção incondizente que valida os modelos incompletos da dita sustentabilidade. Outros temas, ainda, foram muito discutidos não só pelos palestrantes, mas pela plateia, que interagiu com os expositores e entre si, mostrando que este não só é um assunto de plena relevância, mas que todos estamos aprendendo a construir este novo caminho juntos, inquietos, desejosos de melhorias, não só para nossas empresas, mas para a sociedade como um todo. Por fim, o evento se fechou com a pergunta feita por Rose Marie. Quem aproveita? Quem aproveita dos resultados do que fazemos, quem desfruta dos lucros? Sua fala fez os presentes refletirem se estamos mudando a realidade das coisas ou se, seguindo as mesmas ações que têm sido tomadas há anos, apenas estamos mantendo um estado onde uma minoria continua desfrutando de muito e uma maioria continua sustentando e custeando tamanha incompatibilidade e desigualdade.


Estante CRIANDO UM NEGÓCIO SOCIAL

A proposta do livro é a de contribuir para aproximar interesses entre as partes, a partir do desenvolvimento de uma metodologia que favoreça a captura do valor da sustentabilidade de cada investimento, questão crucial tanto para o setor privado, quanto para o financiamento de projetos prioritários do Governo Brasileira, tais como Pré-Sal, Copa 2014, Olimpíadas 2016 e Infraestrutura em geral. A Metodologia do Pentágono em Sustentabilidade aborda diversas variáveis relevantes agrupadas em cinco áreas de conhecimento a saber:

Muhammad Yunus, Editora Campus-Elsevier, 232 págs, R$ 65,00 a)Análise de Investimento b)Avaliação da Gestão c)Governança Corporativa d)Conflitos Societários e)Estrutura da Operação

Avaliação de Investimentos Sustentáveis

Em função da ponderação dessas áreas, as empresas são classificadas em três níveis de sustentabilidade: Muito Bom Satisfatório e Insuficiente.

Realização:

Marcos Rechtman Carlos Eduardo Frickmann Young

Carlos Eduardo Frickmann Yo u n g ( P h D U n i v e r s i t y College London) é Professor Associado do Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde ensina desde 1990, e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do CNPq (INCT/PPED). Sua agenda de pesquisa e ensino está concentrada na relação Economia - Meio Ambiente, incluindo temas como Gestão de Recursos Naturais, Impactos Ambientais de Políticas Econômicas, Economia do Desmatamento, Aspectos Econômicos das Mudanças Climáticas Globais e Valoração Econômica de Recursos Naturais.

Avaliação de Investimentos Sustentáveis

O desafio de aumentar o nível de sustentabilidade de cada investimento normalmente está ligado à ausência de alinhamento de interesses entre as partes (investidores, gestores, comunidade financeira, governo, ONGs, sociedade civil, fun-cionários e clientes) no tocante ao cumprimento de diversas variáveis relevantes de um investimento Cada parte, isoladamente, tende a defender suas convicções.

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Criando um negócio social apresenta um modelo de se fazer negócios com a finalidade de resolver problemas sociais e não apenas maximizar lucros. Escrito pelo Prêmio Nobel da Paz de 2006 e criador do microcrédito, Muhammad Yunus, o livro mostra caminhos para a construção de um mundo livre da pobreza a partir de uma reestruturação do sistema em que vivemos e eliminação das falhas que a produzem. Yunus disserta como os negócios sociais passaram da teoria a uma inspiradora prática adotada por grandes corporações, empreendedores e ativistas sociais da Ásia, América do Sul, Europa e Estados Unidos e como esse complemento à tradicional Teoria Geral do Capitalismo é capaz de atender às necessidades mais prementes da humanidade flagelada pelos desleixos sociais, especialmente a pobreza.

Marcos Rechtman Carlos Eduardo Frickmann Young

AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS SUSTENTÁVEIS Nos últimos anos, Marcos Rechtman se destacou como um dos principais gestores de private equity do Brasil tendo um histórico de alto retorno e um total de 19 investimentos realizados em empresas brasileiras. A capacidade de Marcos reside no adicionamento de valor à companhia, não restrito ao aporte de recursos financeiros, mas a partir do apoio a concretização dos planos de negócio dos empresários. Hoje, Marcos é consultor de empresas e de gestores de Private Equity. Anteriormente, liderou as equipes de Bozano, Simonsen/Advent, AIG e Banif. Possui mestrado em Administração pela COPPEAD/UFRJ e graduação pela FGV.

Marcos Recthman e Carlos Eduardo Frickmann, Navona Editora, 220 págs, ABDI patrocinou distribuição gratuita, pedidos pelo e-mail mrechtman@uol.com.br

Os autores procuraram desmistificar o tema Sustentabilidade, enaltecendo o conceito de perpetuidade ao invés de se aterem somente às questões socioambientais. Assim é que temas como a viabilidade financeira, a gestão, a governança, a administração de conflitos e a formalização das estruturas das operações explicam melhor a Sustentabilidade. A partir dessas temas, construíram a metodologia do Pentágono de modo a discernir o grau de sustentabilidade de uma empresa. O livro se propõe a separar o joio do trigo, classificando as empresas em três níveis de Sustentabilidade. Marcos Rechtman é consultor de empresas e fundos, além de conselheiro independente do board de empresas. Carlos Eduardo Frickmann é professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do CNPq. Sua agenda de pesquisa e ensino está concentrada na relação da Economia com o Meio Ambiente. A ABDI patrocinou a distribuição gratuita. Basta pedir pelo e-mail mrechtman@uol.com.br.

MARINA - A VIDA POR UMA CAUSA COPENHAGUE : ANTES E DEPOIS Sérgio Abranches, Editora Civilização Brasileira (Grupo Record), 336 págs, R$ 49,90 A Conferência de Copenhague, no final de 2009, foi considerada um divisor de águas sobre as questões do clima no mundo: representou a maior reunião sobre mudança climática da história da diplomacia global. Pelos avanços e decepções, pelas janelas que o Acordo de Copenhague abriu para o futuro da política global sobre mudança climática, Copenhague ainda vai influenciar nossas vidas por anos a fio. Neste livro, o jornalista Sergio Abranches uniu reportagem e análise para revelar o que se passou durante a ocasião, contextualizando os eventos e expondo os bastidores do encontro.

Marília de Camargo César, Editora Mundo Cristão, 256 págs, R$ 24,90 A Editora Mundo Cristão acaba de lançar Marina - A vida por uma causa, a biografia autorizada da senadora Marina Silva. Escrita pela jornalista Marília de Camargo César e com prefácio de Fernando Meirelles, a obra conta a história de Marina, que já chefiou o Ministério do Meio Ambiente e é mundialmente reconhecida por sua luta em favor do desenvolvimento sustentável e a utilização consciente dos recursos naturais. Marina Silva tem reconhecimento internacional por seu engajamento em favor do desenvolvimento sustentável e da preservação da natureza. O livro é uma grande reportagem repleta de citações, personagens e histórias reais marcantes na trajetória de Marina Silva.


Esporte

A tacada

certa

Projeto social para formar golfistas desenvolvido no carente município de Japeri, na Baixa Fluminense, tem dado excelentes resultados Texto: Luiza Martins, Especial para Plurale em Revista (*) Fotos: Fábio Vicente / Divulgação

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Quero ser golfista profissional. Ser bom como o Tiger Woods”. Ouvir esta frase de um adolescente brasileiro, sobre o maior fenômeno do golfe americano, não é tão incomum nos dias de hoje, uma vez que o golfe voltará à categoria de esporte olímpico em 2016, quando as Olimpíadas serão realizadas no Brasil. O que pode causar espanto é o fato da declaração ter sido dada com entusiasmo pelo jovem Anderson Nunes, 15 anos, morador de Japeri, município que registra o menor índice de desenvolvimento humano (IDH) da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Deficiências em áreas vitais como saúde, habitação, educação e cidadania, além de altos índices de violência e de alcoolismo são um retrato do município de Japeri. Por ali, o trabalho com garantias legais pode ser considerado um artigo de luxo e a maioria das famílias vive de renda proveniente de bicos ou do trabalho como ambulante no trem que liga a região ao Centro do Rio de Janeiro. Mas para um grupo de 103 meninos e meninas de idades variadas entre sete e 17 anos, esta realidade vem sendo transformada graças à Associação de Golfe Público de Japeri – AGPJ e à Escolinha de Golfe, por onde já passaram cerca de 300 crianças. No mínimo é inusitado levar a esse cenário de pobreza e carência de políticas públicas, um esporte considerado elitista. Mas o fato é que a experiência tem apresentado bons resulatados – dentro e fora do campo – e há uma extensa fila de espera de crianças e jovens que almejam transformar a realidade de suas vidas. Inaugurado em 2005, Japeri é o primeiro campo público do Brasil. Situado ao lado de um “lixão”, o campo abriga em seu entorno uma área de 700 hectares, considerada reserva ecológica, e que passa por um contínuo programa de controle e monitoramento ambiental. Menos de um ano depois da inauguração, o grupo à frente da AGPJ sentiu a necessidade de ir além e implantar um projeto social para uso efetivo do campo por parte da comunidade. Assim foi criada, em 2006, a Escolinha de Golfe para crianças em situação de risco. Ainda hoje, o projeto é mantido por meio de doações individuais e com o apoio da iniciativa privada. As aulas da escolinha são ministradas de terça a sexta, em dois turnos, entre 9 horas da manhã e meio-dia, e das 14 às 17 horas. Entretanto, a qualquer dia da semana e enquanto não anoitece, é possível ver no campo e nas instalações da associação dezenas de crianças experimentando novas tacadas, assistindo a um filme, aprendendo sobre meio ambiente, fazendo um lanche, jogando uma partida de dominó ou apenas conversando com os amigos. Anderson Nunes faz parte dessa turma e o talento para as tacadas trouxe benefícios à família dele. A pequena casa onde vive com a mãe, diarista, e os irmãos foi reformada por um admirador do projeto, que ficou impressionado com a habilidade do garoto com os tacos. Em seu quarto, o jovem coleciona mais de vinte medalhas e troféus dos torneios e campeonatos que participou e esquece a mo-

Anderson Nunes: “Tiges Woods” brasileiro

déstia ao revelar o que sonha para seu futuro: ser um fenômeno, como Tiger Woods. Assim como Anderson, Cristian Barcelos, 16 anos, é aluno da escolinha de golfe desde o primeiro ano de funcionamento e hoje pode ser considerado um esportista. Em 2009, a dupla foi premiada com uma semana de treinamento na Flórida, na David Leadbetter Golf Academy, da IMG Academies, uma das melhores clínicas de golfe do mundo. Anderson ganhou a viagem por ser o líder em sua categoria no ranking nacional infanto-juvenil. Já Cristian, vice-lider do campeonato, desfrutou do programa pelo gesto do jovem paulista Rafael Becker, que ganhou a viagem e a repassou ao ju-

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Esporte

Cristian Barcelos ganhou treinamento na Flórida

Elivelton também encanta o público venil de Japeri. Na Flórida, eles passaram pela análise de swing (técnica de segurar o taco ao batê-lo na bola) e por palestras sobre preparo psicológico antes do jogo, e, é claro: jogaram golfe durante horas. “Foi a viagem mais legal da minha vida. Além de melhorar no golfe, aprendi muitas outras coisas. Quero muito voltar lá, mas sei que preciso aprender a falar inglês para tirar mais proveito”, afirmou Cristian. O resultado desses jovens deve-se também ao esforço e à dedicação do treinador de Japeri. Gaúcho nascido no balneário de Torres, município do Rio Grande do Sul, Tiago Silva, 25 anos, joga golfe desde os oito. Filho de um pescador e de uma dona de casa, ele conheceu o esporte, ainda em Torres, trabalhando em um campo como caddie (pessoa que carrega a bolsa de tacos para o jogador). O sonho de Tiago sempre foi se tornar profissional de golfe, e a grande oportunidade veio em 2008, quando a convite da presidente da AGPJ, Vicky White, mudou-se para o Rio de Janeiro com a missão de ser o novo Head Pro, cargo que está para o golfe assim como o técnico de um time está para o futebol. “Essa foi a mudança mais importante da minha vida, uma oportunidade única de evoluir como golfista. Pude também estudar com Tony Bennet no programa de qualificação profissional desenvolvido pela PGA, entidade internacional que organiza os campeonatos profissionais. Essa experiência foi fundamental para a minha formação como instrutor de golfe. Minha meta agora é continuar treinando”, concluiu Tiago.

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Quem ainda pensa que o golfe é um esporte só para meninos não conhece os resultados em campo da jovem Vitória Monteiro, 12 anos. Há três anos no projeto, esta golfista promissora é destaque nas competições femininas. Tímida e com semblante sério, Vitória conta que chegou à AGPJ por acaso. “Meu pai veio capinar o campo e me trouxe com ele. Quando me viu, Dona Vicky perguntou se ele me deixaria treinar naquele dia. Eu estou aqui até hoje. O projeto mudou a minha vida: conheci lugares legais, melhorei meu comportamento e minhas notas na escola e hoje estou em 1º lugar no ranking estadual na categoria D, onde disputam atletas até 13 anos”. A AGPJ tem hoje entre seus alunos alguns do melhores golfistas amadores do país. Mas formar campeões não é o único e maior objetivo por ali. Além das aulas de golfe, as crianças e jovens do projeto recebem preparação física, uniformes, tacos, lanche, assistência dentária, cestas básicas, aulas de reforço escolar, passeios e viagens para fora do Rio e até do Brasil. O trabalho da AGPJ abrange também o direito à cidadania que prevê orientação e encaminhamento para a aquisição de documentos como certidão de nascimento, título de eleitor, certificado de reservista, carteira de trabalho, atendendo à população da região e não apenas às famílias assistidas pela escolinha. Também conta com a


A pequena Vitória coleciona prêmos

conscientização e preservação ambiental, por meio do curso Agente-Mirim, que estimula os alunos a serem fiscais do meio ambiente, no dia a dia em casa, na escola e no campo. A única exigência para que a criança participe do projeto é que ela esteja estudando em uma escola da comunidade e com rendimento escolar satisfatório. A avaliação escolar é feita trimestralmente, mas os instrutores estão em contato permanente com os professores. Isso é uma estratégia diante dos números alarmante de analfabetos funcionais da região, ou seja, de alunos que chegam ao Ensino Médio sem saber ler e escrever corretamente. As aulas nas escolas públicas do município são ministradas em turnos de somente quatro horas e diversas vezes são canceladas por falta de água e merenda. Nestas ocasiões, as crianças recorrem ao campo de golfe para passar o dia treinando. A idéia inovadora do projeto atravessou fronteiras e chamou a atenção do mundo. O trabalho desenvolvido em Japeri foi eleito pelo R&A, entidade máxima do golfe mundial, como modelo de inclusão social através do golfe e passou a receber um auxílio da instituição. No início de 2010, a americana Golf Magazine, maior revista mundial sobre o esporte, com tiragem de 5 milhões de exemplares ao mês, mandou um correspondente especialmente à Baixada para acompanhar a rotina da escolinha. A incursão rendeu seis páginas na edição de março.

Quem a escuta pelos gramados do campo de Japeri com um sotaque americano carregado pode até jurar: é “gringa”. Filha de pai americano e mãe inglesa, Victoria Anne Whyte, ou Vicky como é carinhosamente chamada, nasceu no Rio de Janeiro e foi ainda menina para a Inglaterra e depois para os Estados Unidos, onde cursou faculdade. Logo após os estudos, veio ao Rio a passeio e se apaixonou pela terra natal, de onde não saiu mais. Vice-presidente Técnica da Confederação Brasileira de Golfe (CBG), Vicky atua nos bastidores dos torneios e controla, com os olhos atentos, a organização dos campeonatos nacionais. Com a mesma paixão, dedica tempo e conhecimento aos meninos e meninas de Japeri. Como o golfe entrou em sua vida? Eu respiro golfe desde criança, porque sou filha de Seymour Marvin, um dos fundadores da Associação Brasileira de Golfe e um amante do esporte. E a questão social, mais uma vez, é clara a influência de meus pais, porque minha mãe atuava em um projeto de auxílio a idosos, em Niterói, e eu a acompanhava em várias atividades por lá. E como vai o golfe brasileiro? A proximidade das Olimpíadas será um fator decisivo para o desenvolvimento do esporte no país. Novos campeonatos de alto nível estão sendo projetados para o Rio, como o Copa los Andes, o mais importante campeonato amador de golfe da America do Sul, que será aqui, em 2011. Como você se envolveu com a AGPJ? Eu era presidente da Federação de Golfe do Estado do Rio de Janeiro quando o prefeito de Japeri, Carlos de Moraes, nos procurou querendo criar um campo de golfe no município. A idéia parecia ambiciosa. E era. Hoje sabemos que o campo só faz sentido com a escola, que criamos logo depois. Ser uma das principais representantes do golfe brasileiro no exterior ajuda a manter o projeto? Sem dúvida. Fazemos um trabalho muito sério e profissional na CBG que é extensivo ao campo e à escolinha de Japeri. Os meninos participam dos torneios regionais e nacionais, em suas categorias, e também vão a torneios fora do Brasil, o que permite que esportistas e apreciadores do golfe de vários países possam conhecer o projeto social e fazer parte dele, mesmo à distância. No país do futebol, como as crianças são atraídas para o campo de golfe? Muitas das crianças começaram a frequentar a escolinha e o campo unicamente por causa do lanche. Mas aos poucos, com muita determinação e empenho foram completamente inseridas no projeto e hoje jogam golfe em todo Brasil. Para uma criança que não possui absolutamente nada, o campo de golfe é um lugar mágico. A maioria delas se apaixona pelo esporte. Quais são os impactos positivos do projeto? Hoje o projeto vai muito além das aulas de golfe. O trabalho maior é tirar as crianças das ruas por meio da prática esportiva e também do convívio em um ambiente saudável, de educação, de preservação ambiental, de alimentação balanceada, tratamento dental preventivo. E o que você ganha em troca? Satisfação de servir e ajudar uma comunidade com IDH muito baixo. E ver a alegria desses jovens campeões.

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Cultura

O fado negro de

Quissamã

Descendentes de escravos mantêm viva no litoral norte fluminense a arte legada pelos ancestrais de Angola Texto: Romildo Guerrante, de Quissamã (RJ), Especial para Plurale em Revista (*) Fotos: Adílson dos Santos/Prefeitura de Quissamã

O

som da viola é fanhoso, mas o contraponto afinado com o pandeiro rústico e a cantoria dos dançadores é pura harmonia que veio lá de longe, veio de Angola, veio do lundu. Difícil é entender o que estão vocalizando aqueles quilombolas que vivem ainda hoje na senzala da Fazenda Machadinha. Vestidos de chita, camisas coloridas, chapéus de boiadeiro, esses dançarinos batem os pés com força no chão de madeira e estalam palmas para marcar o ritmo do Fado Negro de Quissamã, uma dança que permanece viva, misteriosamente viva, num só canto das muitas regiões canavieiras das baixadas do litoral norte-fluminense em que foi cultivada no século 19.

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Tudo lembra muito a Catira goiana e a Mana Chica da Baixada Campista, encontrada até mesmo lá nos confins do noroeste, em Bom Jesus do Itabapoana. Mana Chica em homenagem a Mariana Francisca, neta de Benta Pereira, heroína campista que lutou contra o domínio do Visconde de Asseca, cuja família fundou a cidade Campos. Parece também com o jongo, mas o fado é dançado em pares, em forma de cruz. Diferentemente do jongo, de raízes afro-pagãs, o fado se mistura com a festa de Reis, pode ser cantado na quaresma sem ofender os cristãos. Lá em Quissamã, o grande comandante das festas de fado é um dos dois pandeiristas mais habituais nas apresentações do grupo de 15 cantadores e dançadores, seu Antonio Cândido de Andrade, de idade mentida há muitos anos. Mentida e indefinida, mas Antonio se diz com 68 anos. Ele divide a trinca que comanda os fados com Manoel dos Anjos, o Manezinho, e perdeu há pouco a companhia de Waldemiro Santana, morto em Quissamã aos 80 anos, em


janeiro de 2010. A filha caçula de seu Antonio, Ana Cláudia, 27 anos, espécie de gerente das atividades artísticas do pai, diz que seu pai tem 68 anos desde que ela era menina. Sem a mão direita, decepada por uma máquina de cortar cana quando criança, seu Antonio toca pandeiro e dança com puro prazer, “no coice da viola”, como gosta de explicar esse homem rude que na infância levou um pisão da vaca Morim no pé direito. Pisão que o faz mancar até hoje e que deu a ele como apelido o nome da vaca. Hoje, Antonio Morim é muito conhecido em Quissamã; Antonio Cândido de Andrade ninguém sabe quem é. O grande cantador de fado, que fugia do coice dos animais quando criança, afastando-se do alcance das patas - porque essa é uma regra de quem cuida dos bichos na fazenda -, hoje cola no coice da viola, atento aos acordes para trocar de passo quando o violeiro comanda. Na troca, arrasta consigo os pares que dançam de olho nele. O coice da viola é inofensivo, mas pra dançar ali tem de ter bom ouvido e muito traquejo. Experiência que hoje está estampada com seu nome numa faixa enorme no salão de fado que, a muito custo e com pequena ajuda oficial, montou em frente à sua casa, no centro da pequena cidade agitada pelas atividades de extração de petróleo na vizinha Macaé. Montar o salão era um sonho antigo desse homem que fez de tudo na vida, inclusive tocar um botequim durante 30 anos na Fazenda Machadinha, onde viveu quase a vida toda. Essa experiência o ajuda até hoje a gerenciar o botequim que funciona no Salão de Fado Antonio Morin sempre que aparecem clientes. A fazenda foi quase toda restaurada. Tão bem restaurada que as senzalas ganharam banheiro e cozinha, comodidades impensáveis por ali quando o senhor das terras era Manoel Carneiro da Silva, casado com Ana Francisca de Loreto Viana de Lima, filha do Duque de Caxias. Lá, onde casa sede está em ruínas – e vai ficar assim porque o estágio de degradação não aconselha nada mais que sustentar em pé o que sobrou -, foi montado um Centro de Artes, que promove saraus dominicais alimentados a feijoada, e um memorial que busca no antigo povoado de Kissama, em Angola, as raízes dos 120 descendentes que ainda vivem por ali. Um movimento – Raízes do Sabor – preserva o cardápio dos escravos e, na escola, as crianças aprendem o jongo, o tambor de crioulo e o fado. Mas não foi sempre assim. Há cerca de seis anos, eles estavam confinados num povoado semidestruído, sem trabalho e fazendo apresentações esporádicas aqui e ali, com enorme dificuldade. O primeiro apoio veio da prefeitura da cidade, em 2001, para assegurar uma programação de apresentações em que os dançarinos eram remunerados. Pouco, mas melhor que nada. A primeira iniciativa mais forte teve início há cinco anos, quando se decidiu restaurar todo o conjunto da Fazenda Ma-

chadinha, onde se supõe tenha sido o berço do fado. As obras mudaram a cara da Fazenda Machadinha. Apareceu um movimento turístico que, embora incipiente, está mudando a economia da região. A presidente da Fundação Cultural de Quissamã, Alexandra Moreira, disse que não havia meios de sobrevivência para os quilombolas na fazenda, daí a ajuda oficial. A expectativa é de que, com o movimento do Centro de Artes, que tem apresentações musicais de vários gêneros todos os domingos, e com a renda obtida pelo empreendimento Raízes do Sabor – que produz comidas e doces típicos da época da senzala -, será possível retirar a ajuda pouco a pouco. Alexandra, que foi a Angola conhecer as raízes de Quissamã, fez questão de dizer que a viagem não se deteve em pesquisas sobre o fado, nem há menção dessa dança no Museu da Escravatura, em Luanda. A ligação é com a origem dos escravos que vieram para o litoral brasileiro, e eram em sua maioria dessa província de Angola. A viagem resultou num livro bem ilustrado e num DVD que conta a história da colonização e da escravatura. Será que esse fado tem condições de sobreviver diante do êxodo da população, que perdeu em sua área rural, em cinco anos, mais de 2 mil dos seus 7 mil habitantes? Talvez sim, há uma nova economia no município, que não é rural, mas há influências da globalização, há ofertas culturais urbanas muito atraentes, há o êxodo dos quilombolas, há uma série de fatores dispersivos da manutenção das tradições locais. Até mesmo as antenas parabólicas que a prefeitura instalou para preservar as senzalas de se transformarem em paliteiros de múltiplas antenas. O jornalista e pesquisador Guilherme de Queirós Mattoso, que apresentou uma comunicação sobre a dança do fado durante congresso realizado em Belo Horizonte, em 2003, diz-se um tanto cético com a preservação da forma como a dança existe hoje, embora louve as melhorias na fazenda. “Acho que a preservação do fado, em sua genuinidade, não é possível. No passado, a dança era realmente um lazer para aquelas comunidades que se reuniam espontaneamente para dançar. Hoje, é uma manifestação que acontece ocasionalmente, em eventos específicos, sob a chancela da prefeitura. Essa foi

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Cultura uma saída encontrada para preservá-la e, se não houvesse interferência, a dança talvez não existisse mais”, afirma. Cauteloso, no entanto, Guilherme diz que não idealiza o fado como uma manifestação engessada, congelada no tempo. “Acredito que sua sobrevivência esteja garantida se a analisarmos como um movimento em constante transformação. Mas isso depende de como se dará seu reconhecimento como manifestação legítima, de valor histórico e importância cultural no presente”, diz. No passado, as garantias de preservação eram muito mais vagas. Um encarregado da área cultural chegou a dizer que não podia obrigar as crianças de Quissamã a gostar do fado. E que talvez fosse mais importante procurar os restos do cavalo Mulato, um dos três que o Duque de Caxias trouxe consigo na volta da Guerra do Paraguai, e que teria sido enterrado no entorno da fazenda. Mas as crianças desmentem o ceticismo e o desinteresse. Ao contrário. As crianças gostam de dançar o fado negro. Pelo menos os 19 alunos da Tia Dalma, professora do ensino fundamental na Escola Municipal Felizarda Maria da Conceição de Azevedo. A vocação vem do berço, pois Dalma dos Santos Ricardo, a Tia Dalma, é trineta de cantadores de fado. E uma de suas trisavós teria sido a grande cultivadora da tradição, a responsável pelo estímulo que atravessou quatro gerações. Por ser escrava mameira (“não era de chibata”, pois alimentava os filhos dos senhores de engenho), essa matriarca gozava de regalias, inclusive a de poder cantar. E por também saber cantar, como seus antepassados, Dalma faz com seus alunos o que chama de “projetos”, estimulando-os a escrever letras de fados que falam da realidade de Machadinha. Letras em que ela põe música, ensaia as crianças e as leva para apresentações nos municípios vizinhos. “Quando eles foram se apresentar em Macaé, pela primeira vez, e fizeram sucesso, passaram a gostar ainda mais do trabalho escolar”, entusiasma-se a dedicada professora. “A música fala da realidade deles, nós fizemos um trabalho de meio ambiente e eles focaram a reserva de Jurubatiba, contando a história do lugar”, diz Dalma. Pra fugir do calor, ela ensaia o fado a céu aberto, diante do Memorial da Fazenda Machadinha, um antigo salão de festas anexo a uma das alas das quatro grandes senzalas. Ali, Lucas, Bruno, Lívia e Poliana, todos entre 9 e 12 anos, mostram que aprenderam direitinho a arte de seus antepassados. Lá dentro do Memorial, estão estampadas as histórias da escravidão em fotos, ilustrações, livros e vídeos. A preservação terá um grande aliado se seu Antonio Morim conseguir passar aos descendentes a arte de fazer e tocar pandeiro, cantar e sapatear o fado. Diz dele Clarice Magalhães, cantora e pandeirista, que o som que seu Antonio tira daquele pandeiro é tão inteiro que nem se percebe que ele só tem uma das mãos. Clarice, que iniciou sua carreira há 10 anos na orquestra de pandeiros Pandemônio, e se popularizou nas rodas de choro do Rio de Janeiro, principalmente no Choro na Feira, em Laranjeiras, lançou em

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dezembro do ano passado seu primeiro CD. A última faixa é um tema do fado de Quissamã, o Boi Surubim. É a primeira gravação comercial dessa arte dos quilombolas quissamaenses. “Eu ouvi essa música na casa do Tuninho Galante (seu produtor) num disco feito pela Funarte nos anos 80. O que me chamou a atenção foi o refrão dela, um da-da-da-ra-da-da que não existia nas outras músicas. Eu tive muita dificuldade para entender o que eles cantam”, conta ela, que no seu disco escande, com a clareza de sua bela voz, as sílabas de Boi Surubim:

Vou-me embora, vo Vou-me embora, nãou-me embora, mamãe Falai, viola, falai, mavou não Dá resposta num bord mãe ão Surubim quando morr eu, mamãe Mandou abrir sepultu ra 500 metros de boca, ma mãe, 400 de fundura A mãe do Boi Surubim É uma vaquinha lavra , mamãe, 500 barril de leite, mada mãe, 400 de coalhada Do sebo de Surubim Já mandei fazer sabã, mamãe, o Pra lavar a roupa tod Desse povo do sertão. a, mamãe, O Surubim deu um O vento paralisou berro, mamãe, As meninas estão diz Que o mundo já se acendo, mamãe, abou.”

Letras ingênuas? São quase todas assim. Mas muito distantes da melancolia elaborada do fado português, que alguns pesquisapesquisa dores dizem ter origem angolano-brasileira. Origens que aqui no Brasil são suspeitadas desde 1934, com a obra de Alberto Lamego. Mais recentemente, o jornalista José Ramos Tinhorão abriu polêmica ao afirmar em seu livro História Social da Música Popular Brasileira, da Editora 34, que o nome “fado”, que significa quimera, sonho, teria nascido aqui no século 18, sendo levado a Portugal por imigrantes no século 19 (ou pela própria Família Imperial Por Portuguesa no seu retorno a Lisboa, segundo outros historiadores). “Mas eu falo da canção, não falo da dança do fado. A dança é parecida com o lundu e a umbigada”, diz Tinhorão. O pesquisador brasileiro garante que esse era o fado batido, considerado marginal, e que, ao chegar a camadas mais ricas da população, ganhou riqueza harmônica e melódica. Em entrevista ao jornal O Globo de 15 de outubro de 2009, Tinhorão afirmou que essa fase do fado não tem mais a dança, e que então só resta a música. “Do Brasil até chegar ao fado de Amália Rodrigues, com xale nas costas e gemidos, houve uma longa trajetória”, afirma o pesquisador. (*) Esta reportagem foi originalmente publicada na Revista Bio.


príncipe-negro príncipe-negro Nandayus nenday Nandayus nenday

FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO, 20 ANOS CONSERVANDO A VIDA FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO, 20 ANOS CONSERVANDO A VIDA E A HISTÓRIA DA NATUREZA. E A HISTÓRIA DA NATUREZA. a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza contribui DesdeDesde 1990, 1990, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza contribui para para a conservação de naturais áreas naturais brasileiras e deatoda a diversidade que elas a conservação de áreas brasileiras e de toda diversidade que elas abrigam. Porde meio dereservas duas reservas naturais, a proteger parte do Por meio duas naturais, ajuda aajuda proteger parte do abrigam. Cerrado e da Atlântica. Mata Atlântica. Além disso, apoia projetos de conservação Cerrado e da Mata Além disso, apoia projetos de conservação de outras organizações e realiza de sensibilização da sociedade de outras organizações e realiza ações ações de sensibilização da sociedade para para essa causa tão urgente e importante. há muito queefazer essa causa tão urgente e importante. Ainda Ainda há muito o que ofazer sua e sua participação movimento pelaé vida é fundamental. Junte-se movimento pela vida fundamental. Junte-se a nós.a nós. participação nesse nesse

fundacaoboticario.org.br fundacaoboticario.org.br twitter.com/fund_boticario facebook.com/fundacaoboticario facebook.com/fundacaoboticario twitter.com/ twitter.com/fund_boticario fundacaoboticario

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FOTO: HAROLDO PALO JR

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P e lo Mundo

Irlanda, um país para se conhecer pedalando Vivian Simonato, Correspondente de Plurale, de Dublin, Irlanda • Foto de Pedro Freiria

O

s cidadãos da Irlanda podem não ter a mesma fama de pedalar quanto os da Holanda, mas, sempre que podem, optam pelas bicicletas como meio de transporte. Prova disto é que em agosto o sistema de aluguel de bicicletas da cidade, Dublin Bikes, registrou a milionésima viagem. O sortudo, Joe Murray, de 25 anos, recebeu das mãos do prefeito da cidade de Dublin, Gerry Breen, uma viagem para Paris com acompanhante e mais 2 mil euros para gastar como quiser. O sistema de aluguel de bicicletas foi lançado em setembro de 2009 e parece que só comprovou o gosto dos irlandeses em pedalar. Ao que tudo indica isso motivou outra grande iniciativa no país, o projeto para uma rede nacional de 2 mil quilômetros de ciclovias, elaborado pela National Roads Authority, ligando as cidades com mais de 10 mil habitantes em toda a República da Irlanda. O investimento vem do Instituto Nacional de Transporte Sustentável, que tem disponível para 2010 e 2011 50 milhões de euros. Cada autoridade local será responsável pelo desenvolvimento de sua rede, que deve ser conectada às

paragens de transportes públicos, além de ter ligações com os portos e aeroportos. Além de facilitar a vida do viajante, a iniciativa procura promover o lazer e turismo ecológico, convidando os cidadãos a conhecer o país de uma outra maneira, pedalando. A primeira rota interurbana, com cerca de 215 quilômetros, ligando as cidades de Dublin e Galway, já está em construção e deve ser concluída até o final deste ano. No total, as rotas passam por todos os 26 municípios da República, exceto Longford, e variam de 52 quilômetros (Drogheda a Trim) até 286 quilômetros (Wexford para Tralee). A National Roads Authority mapeou outros 13 corredores, servindo as cidades de Dublin, Cork, Waterford, Limerick e Galway, e quase 100 grandes cidades que compõem a Rede Nacional de Ciclismo, já desenvolvida na Irlanda do Norte. Segundo o Ministro dos Transportes, Noel Dempsey, que não abre mão de pedalar para qualquer lugar da cidade, mesmo quando está a trabalho, “a intenção é dar um padrão mundial às ciclovias do país, tanto em estrutura quanto em conexões entre as cidades.”

Espanha “caliente” preocupa especialistas Nícia Ribas, de Plurale em Revista, de Llanes, Espanha

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á gosto caminhar pelas praias espanholas sem a menor chance de encontrar caco de vidro, garrafas pet, sacos plásticos ou esgoto. É evidente a preocupação das pessoas com a limpeza ambiental. No quesito beleza, nosso Brasil não deixa nada a desejar, mas em educação ambiental, preservação e cuidado com o patrimônio natural, estamos, infelizmente, na rabeira. As praias de Gijon, na comunidade autônoma das Astúrias, norte da Espanha, dispõem de painéis com informações sobre temperatura da água, do ar e índice de coliformes fecais (quase zerados), atualizados diariamente. No entanto, o que tira o sono dos ambientalistas espanhóis são as mudanças climáticas. Em Llanes, praias como a Cuevas Del Mar ((foto), de visual paradisíaco, água a 16º, europeus em férias de verão aproveitam para se

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refrescar, nadando através das cuevas (cavernas). Segundo estudo da Agência Estadual de Meteorologia (AEMET), há previsão de aumento de temperatura máxima de até 6º C , e das temperaturas mínimas entre 2 e 5º C, além da diminuição das chuvas de 15 a 30% em relação ao século anterior. Por isso, a Espanha se preocupa com as consequências das mudanças climáticas e trata de reduzir as emissões de carbono e outros gases com efeito de estufa, adotando um modelo de desenvolvimento sustentável. Segundo os especialistas, todas as espécies devem se adaptar às novas condições climáticas. Mudanças de estilo de vida são essenciais para a sobrevivência sob temperaturas muito quentes. Serão alterações irreversíveis para a vida humana e, por isso, eles enfatizam: ainda há tempo de reverter esses efeitos graves.


Testes de visão via celular podem ajudar nações pobres Wilberto Lima Jr., Correspondente de Plurale em Revista, de Boston (EUA)

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esquisadores do MIT ((Massachussets Institute of Technology) já desenvolveram um protótipo para realizar teste de visão de seres humanos com o uso de celulares, através de um pequeno, portátil e barato aparelho ocular que se prende ao celular e que usa software livre. Parece fantasia, mas a simplicidade disto está ao alcance do que se pode ter nos países em desenvolvimento, ou mesmo nos mais pobres. Nestes países, como no Brasil, o acesso a celulares é muito maior do que as oportunidades de acesso a equipamentos ou clínicas oculares, reconhecendo várias iniciativas nesta área aplicadas com sucesso. Não se trata de eliminar a necessidade de médicos oftalmologistas, mas ajudar, inclusive, a simplificar o processo para agências que distribuem óculos doados. O aparelho chamado NETRA ((Near-Eye Tool for Refractive Assessment) vem sendo desenvolvido no MIT Media Lab, com uma equipe liderada por Ramesh Raskar, que estima que o seu custo de produção deve ficar entre um ou dois dólares. Novos testes serão ainda desenvolvidos com o aparelho, em

colaboração com o New England College of Optometry. Atualmente - de acordo com informações do The Boston Globe - a equipe também trabalha com o L.V. Prasad Eye Institute, na Índia. Não é difícil entender o processo: consiste em acoplar o aparelho a um celular que tenha acesso ao software. Duas linhas, uma verde e uma vermelha deverão se alinhar para que se tenha visão correta. Caso contrário, deve-se clicar nos botões do celular até elas se alinharem. O software define então as lentes corretivas apropriadas. Ainda se tem um caminho a percorrer, mas quando nos deparamos com os números da Organização Mundial da Saúde, que mostram que meio bilhão de pessoas vive com problemas de visão incorreta, não custa acreditar o quanto isto pode, de maneira simples e barata, ajudar milhões de pessoas a ter uma vida melhor.

Biodiversidade em japonês Yume Ikeda, Correspondente de Plurale, de Tóquio

A

realização da Cop-10, Décima Conferência das Partes da Conveção das Nações Unidas sobre Diversidade, em Nagóia, em outubro, está movimentando ainda mais os temas relacionados ao meio ambiente neste país que enfrenta, todos os dias dilemas e desafios. Terremotos, enchentes e outras catástrofes ambientais fazem parte, há anos, da vida deste povo. Para começar, em 2010, marcado por ser o Ano da Biodiversidade, falar de biodiversidade em japonês não é fácil. O termo é traduzido como sei-busuta-yo-sei, escrito com cinco caracteres kanji. O drama é que, apesar da

maioria das pessoas vivenciar na prática os efeitos do aquecimento global e do clima, muitos não entendem, na verdade, o que venha a ser biodiversidade. O Japão, que possui um dos mais altos índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo e longevidade cada vez maior, tem agora o desafio de ensinar, principalmente para os mais jovens, lições sobre a importância da preservação da biodiversidade. Várias escolas têm mergulhado neste esforço, mas ainda são iniciativas aqui e acolá. A Cop-10 terá o primeiro desafio de fazer a maioria dos japoneses acordar, antes que seja tarde, para a relevância do debate do tema.

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Sociedade

O casamento sai do armário Algumas histórias da lei argentina que fez história no nosso continente Texto e fotos - Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale, de Buenos Aires

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ra uma tarde gelada. Naquela quarta-feira a temperatura girava em torno de 0 grau. A praça estava lotada. Ao longo da tarde chegavam as milhares de pessoas que continuariam ali durante toda a madrugada, esperando o resultado de uma votação em frente ao Congresso da Nação. Quase de manhã veio o resultado. Com 33 votos a favor, 27 contra e três abstenções, estava aprovada a lei que sancionada dias depois por uma presidenta, modifica o Código Civil e permite o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. E naquele dia o que se viu ali foi festa. Shows de artistas que apoiavam a causa, bandeiras de todos os partidos e de diversos movimentos sociais, gente fantasiada e muitas famílias. Onde? Aqui do lado. A praça era a Plaza Congreso, no coração da cidade de Buenos Aires, capital do primeiro país

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da América Latina onde o matrimônio é um direito, e como tal, é de todos e todas. Um dia antes, uma passeata no mesmo lugar, com temperaturas parecidas e também com milhares de pessoas, tinha ido pedir que o Congresso dissesse não à proposta de modificação ao Código Civil. Bandeiras com dizeres como “Quero uma mamãe e um papai” mostravam que nem tudo são flores no país de la libertad, como cantou o argentino León Gieco. Jornalismo e emoção no dia do sim “É preciso esquecer que estamos numa sociedade conservadora”, desafia Marta Dillon, editora do suplemento semanal SOY, que desde 2008 sai todas as sextas no jornal Página/12, de tiragem nacional. Nele se trata com respeito e


qualidade temas quase embaraçosos para a maioria dos meios de comunicação: a homossexualidade, a homoafetividade e as diferentes maneiras de vivê-las. “O que me impressiona é que mais pessoas não se impressionem com o SOY”, comenta a orgulhosa editora do único suplemento nesses moldes da América Latina. O Página/12 tem foco em direitos humanos, o que também é surpreendente em um jornal de tiragem nacional em nossa região, e questões de gênero e de cultura não podiam escapar a essa tradição. Por isso SOY não é só um “caderno gay” de um jornal, é também uma aposta política. “A cultura não pode estar dissociada dos direitos humanos. Contar histórias que antes estavam ocultas constitui um direito fundamental, contribui para gerar um espaço de existência que antes não havia”, analisa Marta. “Colocamos na agenda temas que antes eram da vida privada e acho que muita gente estava esperando um meio como esse, onde se pudesse contar essas histórias de forma menos marrom, com mais naturalidade.” E foi com naturalidade que o SOY do dia seguinte à aprovação da lei de matrimônio igualitário estampou, bem colorido, na capa: SIM. “Já tínhamos pronta a edição que falava sobre o veto à lei. Tínhamos certeza de que não aprovariam. O resultado foi uma edição encantadora, que misturou jornalismo e emoção”, conta. Mas Marta não esconde o lado feio de contar essas histórias. A jornalista e escritora conta que leitores do interior do país ligam para avisar que o suplemento não chega até eles. “Muitas vezes é o próprio jornaleiro que retira e esconde”, explica. livros livres de preconceito É uma imagem contrastante com a de uma turística rua de Palermo, bairro nobre de Buenos Aires, onde se vê o letreiro na porta de

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Sociedade um comécio: “Cultura LGTBI.” Quem entra, descobre que a livraria Otras Letras é especializada no tema e expõe nas suas estantes uma tradução do Bom-Crioulo, do brasileiro Adolfo Caminha, entre livros de Charles Bukowski, Manuel Puig e William Burroughs. “Náo é uma livraria para gays”, explica Claudio Sartori, um dos donos do local. “Nosso objetivo é que esses livros possam chegar a todos e todas, sem discriminação.” Claudio conta que quando o seu companheiro sugeriu que abrissem o negócio achou ótimo, mas ficou na dúvida: “o que que a gente vai vender?” Hoje Claudio entende que não sabia que existia esse recorte porque nunca tinha visto todas as obras juntas, agrupadas com esse critério. “É uma decisão política das livrarias não separar uma estante para a temática gay”, afirma. E é uma decisão política abrir uma livraria especializada também, segundo ele. “Não nos escondemos mais. Temos uma vitrine, estamos nas ruas.”

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Apesar de você Cesar Cigliutti, presidente da Comunidade Homossexual Argentina (CHA), a organização GLBTTT mais antiga do país, lembra que há muitos anos já se reclamava nas ruas direitos humanos para todos e todas. Segundo ele, a CHA, que nasceu em 1984, rende tributo à Frente de Liberação Homossexual (FLH), que surgiu em 1971 e foi dissolvida pela repressão a seus membros durante a última ditadura militar no país (1976-1983). “Com a volta da democracia, havia um pensamento ingênuo de que os direitos passariam a ser garantidos a todas as pessoas, mas nos encontramos com que seguíamos sendo vítimas de violência policial. Continuavam prendendo pessoas pelo simples fato de serem gays, lésbicas ou travestis”, conta Cesar, que celebra a mudança. “Em 1984, no melhor dos casos, éramos doentes. Depois veio a discussão sobre se éramos ou não sujeitos de direitos e hoje o Código Civil contempla um desses direitos.” Para ele, o matrimônio igualitário é uma conquista de uma luta que começou nos anos 60, quando a FLH estava começando a se organizar, e se intensificou em 2002, com a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo na cidade de Buenos Aires, projeto apresentado pela CHA. “A partir daí sistematizamos o trabalho com legisladores, participamos mais ativamente das suas decisões”, afirma Cesar. Para o presidente da CHA, a separação entre Estado e Igreja na Argentina desde a volta da democracia é fundamental. “Não nos interessa questionar dogmas, o que questionamos é sua imposição através de leis”, diz. “Que algo tão importante para a Igreja como o matrimônio seja também para pessoas do mesmo sexo hoje marca uma postura do governo.” Cesar deixa uma mensagem para os países vizinhos: “É preciso trabalhar estrategicamente contra o discurso homofóbico na América Latina.” Amém, Cesar.


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Perfil

Angelina Jolie “A embaixadora do bem”

Estrela de Hollywood roda o mundo dando voz para os que nem sempre são ouvidos

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Texto: Carlos Franco, Editor de Plurale em revista, De São Paulo • Fotos – ONU e Portal Angelina Jolie

la é linda, excelente atriz, boa mãe e esposa, e, além de tudo, engajada. Se para alguns ficam marcadas a atuação e a beleza de Angelina Jolie em filmes célebres, como Mr & Mrs Smith, O procurado e mais recentemente em A Troca, para uma legião de pessoas sem voz, espalhadas por lugares distantes do planeta, são os olhos azuis e a vontade de ajudar que jamais são esquecidos. Angelina, como é mais conhecida, é Embaixadora do bem, atuando como representante do Alto Comissariado das Organizações das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR ou UNHCR, sigla da agência em inglês. Por onde passa, nesta verdadeira peregrinação - seja no devastado Paquistão, após tempestades, ou Serra Leoa, na tórrida África – a atriz procura exercer com humildade um dos papéis que mais gosta de desempenhar: o de cidadã preocupada com as grandes causas humanitárias, ambientais e sociais. Foi assim, por exemplo, na mais recente visita ao Paquistão. Vestida como uma muçulmana (mas, sem conseguir disfarçar debaixo do véu sua beleza), Angelina conversou com mulheres que perderam filhos e outros entes da família e procurou levar um pouco de alento em meio a tanta calamidade. Vídeo - Em vídeo gravado no site da ACNUR, a jovem bem-nascida no berço do cinema, em Los Angeles, deixa sua marca nesta cruzada do bem. Chama a atenção do mundo para o drama vivido pelos paquistaneses e mostra a destrui-

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ção deixada pela força da natureza. Assista o vídeo no link: http://www.unhcr.org/cgi-bin/texis/vtx/home Aos 35 anos, podendo desfilar uma excelente forma, ela até poderia ser mais uma deslumbrada de Bevelery Hills, desfilando com suas roupas de grife, cachorrinho a tiracolo e pousando para as revistas de celebridades. Mas, apesar dos flashes não abandonarem o casal 20, Angelina procura, na medida do possível, ser uma celebridade e, ao mesmo tempo, usar esta imagem a favor do bem, compartilhando parte de seu tempo também com as causas humanitárias. Casada desde 2005 com Brad Pitt – também engajado em fazer o bem –, o casal participa de campanhas em prol de causas relevantes. Antes foi casada com os também atores Jonny Lee Miller e Billy Bob Thornton. Filhos - Em 2000, quando gravava o filme “Lara Croft”, o filho Maddox. Mais tarde, em 2005, o casal adotou, na Etiópia, Zahara Marley, que viva em um orfanato. Em maio de 2006, Angelina Jolie deu à luz, em Swakopmund, na Namíbia, à Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, primeira filha biológica do casal. Do Cambodja, adotou Pax Thien, em 2007. Mais tarde, tiveram ainda um casal de gêmeos, nascidos em julho de 2008, na França: Know Leon e Vivienne Marcheline. Filha do lendário ator Jonh Voight e da também atriz Marcheline Bertrand, Angelie nunca revelou o que a teria feito retirar o sobrenome do pai (separado da mãe desde 1976) em 2002 e romper relações por muitos anos. Apenas mais recentemente, este ano, Brad se empenhou pessoalmente e conseguiu que pai e filha se reencontrassem em Veneza. É sobrinha de Chip Taylor, irmã de James Haven Voight e afilhada de Jacqueline Bisset e Maximilian Schell. Do lado do seu pai, Jolie é descendente de checoslovacos e de alemães. E pensar que na adolescência, aos 14 anos, chegou a pensar ser agente funerária.

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Tecnologia

GARRAFA LIFESAVER

É CAPAZ DE TRANSFORMAR QUALQUER ÁGUA, ATÉ A MAIS IMUNDA, EM POTÁVEL EM SEGUNDOS. Produto já está sendo levado para o interior do Brasil

Texto: Elis Monteiro, Especial para Plurale em Revista Fotos: Divulgação

O

lhar no relógio pode ser doloroso dede pois desse dado: segundo a OrganizaOrganiza ção das Nações Unidas (ONU), a cada oito segundos morre uma criança no planeta vítima de doenças relacionadas ao consumo de água contaminada. O relatório, divuldivul gado pela instituição no Dia Mundial da Água, foi taxatitaxati vo: mais pessoas morrem devido ao consumo de água contaminada do que por violência no mundo. Estamos tratando, aqui, do lado crônico da “doença”, mas as últiúlti mas tragédias que o mundo tem enfrentado – tsunami na Ásia, terremoto no Haiti e no Chile, enchentes no Nordeste do Brasil e no Paquistão, dentre outras – dede monstraram que a questão da água é urgente e demandeman da soluções rápidas, correndo-se o risco de as estatístiestatísti cas ficarem ainda mais dramáticas. PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2010 EM REVISTA | Julho/Agosto 2010 60 PLURALE


Visando ajudar a curar a doença crônica e tirar da manga uma solução em momentos de tragédia, um cientista inglês chamado Michael Pritchard pôs em prática uma ideia genial: criou um produto portátil capaz de filtrar a água – mesmo a mais imunda do planeta – e, em questão de segundos, torná-la potável. Assim nasceu a Lifesaver, espécie de garrafinha mágica, que já chegou ao Brasil, que tira partido da Nanotecnologia através de um sistema de ultrafiltragem altamente avançado projetado para ajudar a salvar vidas oferecendo às pessoas água potável limpa livre de contaminação, por mais remota que seja a localidade. A boa notícia é que através de parcerias com empresas e organizações do terceiro setor, a tecnologia Lifesaver, que conta com a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS), começará a ser levada a regiões como Alagoas e Pernambuco, dois dos estados assolados recentemente por enchentes. Durante as recentes intempéries, um dos maiores problemas enfrentados pela população foi justamente a falta de água potável, em meio ao oceano de água suja. No mês de julho, a enchente que atingiu 67 municípios pernambucanos e deixou desabrigadas ou desalojadas mais de 80 mil pessoas também trouxe o fantasma da sede. Foi chamariz, a reboque, para a voraz indústria da água, já que a única saída para a população era comprar garrafas de água mineral a preços exorbitantes ou encarar os carros-pipa, sem a certeza se o líquido consumido era de confiança. A enchente no interior de Alagoas arrasou 19 cidades, desabrigou 80 mil pessoas e fez 26 vítimas fatais. Mesmo depois de os níveis de água terem baixado, a tragédia continua assombrando a população do Nordeste. Isso porque o perigo das enchentes não reside apenas na força destruidora das águas, mas também nas doenças que o esgoto a céu aberto é capaz de transmitir. A cidade de Murici, a 35 quilômetros de Santana do Mundaú, por exemplo, foi completamente devastada. Quem perdeu a casa, encontrou teto em galpões de uma fábrica, um local improvisado, cheio de lama, onde as crianças brincavam no lixo. Naquela localidade, mais de 1.5 mil pessoas perderam suas casas e foram abrigadas em locais com condições de higiene precárias, o que facilitou a transmissão de germes que causam vômitos, diarreia, infecções de pele e doenças respiratórias. Em um dos galpões, ficaram abrigadas 50 famílias, que contavam com apenas dois banheiros que viviam entupidos, sem água

encanada. A água usada nos banheiros ficava em caixas instaladas na beira da estrada, abastecidas por caminhões-pipa. E aqui o grande problema: a mesma água, de procedência desconhecida, é usada para tomar banho, cozinhar e beber. “A ideia de trazer o Lifesaver para o Brasil foi uma maneira de prover um benefício imensurável, auxiliando a redução da mortalidade infantil por doenças contraídas a partir do consumo de água contaminada - principalmente nas regiões do Nordeste, Amazônia, Pantanal e comunidades não providas de saneamento e fornecimento de água potável - para pessoas que há anos buscam condições de vida mais dignas”, diz Leonardo Eloi, sócio da Ecotrends Group, empresa carioca que trabalha com produtos sustentáveis e está levando o Lifesaver para o interior do país, através de parcerias com governos estaduais e prefeituras e ONGs que trabalham com ações humanitárias. Como funciona a Lifesaver O uso da nanotecnologia permite que poros de aproximadamente 15 nanômetros de diâmetro, usados pelo filtro da tecnologia Lifesaver, sejam capazes de reter qualquer tipo de micro-organismo. Assim, a água que passa ali não só sai inodora e insípida como livre de qualquer organismo vivo já encontrado no planeta. Só para se ter uma ideia, a menor bactéria conhecida pela ciência, a da Tuberculose, tem cerca de 200 nanômetros. O menor vírus, o da Pólio, tem cerca de 25 nanômetros de

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Tecnologia

diâmetro. Como os poros do Lifesaver têm 15 nanômetros de espessura, eles retêm qualquer organismo, deixando a água não só potável como extremamente segura para consumo humano. A garrafinha Lifesaver usa também a tecnologia FailSafe. Em termos simples, isso significa que quando o cartucho atinge capacidade máxima de filtragem, ele se bloqueia automaticamente, evitando que o usuário beba água contaminada. Neste momento, é preciso trocar o filtro, o que pode levar anos para acontecer, dependendo da quantidade de água filtrada pela unidade de Lifesaver. “Por ser portátil e de fácil utilização, qualquer criança ou pessoa com menos instrução pode utilizar a garrafa Lifesaver sem problemas. Basta enchê-la (de água suja, inclusive com dejetos humanos e de animais), bombear e beber”, conta Leonardo Eloi. De acordo com dados da ONU: 1.5 milhão de crianças com menos de cinco anos morrem por ano por causa de água suja O consumo de água doente é hoje uma das principais preocupações da ONU, tanto que a entidade divulgou um documento chamado “Sick Water” (Água Doente), no qual afirma que o acesso a água limpa e saneamento básico é direito humano. Durante sua última Assembleia Geral, a organização divulgou, dentre outras informações alarmantes, que 900 milhões de pessoas ao redor do planeta não têm acesso a água limpa. O texto da resolução expressa uma profunda preocupação: 884 milhões de pessoas

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sofrem de males terríveis causadas por água suja. Tem mais: cerca de 1.5 milhão de crianças abaixo dos cinco anos de idade morrem todo ano por beber água doente, e 443 milhões de dias na escola estão sendo perdidos todo ano por conta de doenças causadas por saneamento básico precário. Ou seja, não é um problema que impacta apenas a saúde pública, mas também a educação. Foi durante o furacão que assolou Nova Orleans, em 2005, que Michael Pritchard teve a ideia de criar a Lifesaver. Em palestra realizada no TEDGlobal, um dos principais eventos de inovação do planeta (palestra com legenda está disponível em www.ted.com) o inglês contou que estava sentado, depois do Natal de 2004, enquanto assistia às notícias devastadoras sobre o tsunami na Ásia. Disse ele: “Nos dias e semanas que se seguiram, pessoas fugiam para os morros e eram obrigadas a beber água contaminada ou encarar a morte. Isso realmente me impressionou. Alguns meses depois, o furacão Katrina arrebentou parte da América. Pensei: ‘Ok, esse é um país de primeiro mundo, vamos ver o que eles vão fazer’. Dia um: nada; dia dois, nada; foram necessários cinco dias para levar água ao estádio Superdome! As pessoas estavam atirando umas nas outras nas ruas por TV e...água! Foi quando decidi que tinha que fazer algo”, conta Pritchard. Pritchard fez. E o produto que criou já salvou milhares de vida durante o terremoto do Haiti, em janeiro deste ano, e até hoje o Lifesaver é responsável pelo acesso a água limpa a milhares de haitianos. Naquele país, a Lifesaver foi usada pela ONG Operation Blessing, a mesma que começa a trabalhar ao lado da Ecotrends no Brasil para levar o produto – e suas benesses – aos necessitados do Nordeste. Agora, as duas entidades, em parceria com governos locais, começam a traçar estratégias em conjunto para atuação em caso de enchentes e outras intempéries, além de traçar metas para levar o produto às comunidades que, mesmo localizadas no entorno de grandes cidades, continuam à mercê de água proveniente de poços, lagos, açudes, córregos e até mesmo lama. Tudo para não morrerem de sede. Infelizmente, em muitos casos a sede não mata, mas as doenças que chegam através do líquido precioso, sim. “De acordo com a Agência Nacional de Águas, 17 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água potável. Segundo a UNICEF, na América Latina e no Caribe cerca de 20 mil crianças morrem antes de completarem cinco anos de idade devido a diarreias agudas, o que poderia ser evitado mediante o acesso a condições de higiene adequadas, infraestrutura de saneamento e água potável”, completa Eloi.


CARBONO NEUTRO

SÔNIA ARARIPE

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

Fogo amigo Pesquisadores queimaram, com fim de estudos, uma área de 100 hectares da Floresta Amazônica para ter noção exata da savanização. O projeto começou em 2004 no noroeste do Mato Grosso (município de Querência) e agora começa a ter resultados divulgados por cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e Woods Hole Research Center (WHRC). De acordo com Jennifer Balch, pesquisadora do National Center for Ecological Analysis and Sinthesys (NCEAS), da Universidade da Califórnia, os resultados preliminares mostram que as florestas de transição são extremamente vulneráveis a incêndios recorrentes. A mortalidade de árvores e cipós aumentou entre 80% e 120%, respectivamente, em relação à área de controle, conforme as observações dos cientistas na área do projeto.

Mortandade de árvores Os resultados apontam ainda que as florestas de transição podem ser relativamente resistentes a incêndios florestais de baixa intensidade, mas não a incêndios recorrentes de maior intensidade. Em poucos anos de experimento, os fogos transformaram a floresta em um sistema altamente degradado devido ao aumento na mortalidade de árvores. O mais surpreendente foi o modo pelo qual essa transformação ocorreu, de uma maneira não linear. “Observamos aumentos drásticos na mortalidade de árvores grandes somente após os fogos conduzidos durante a seca de 2007”, informa o pesquisador Paulo Brando, do IPAM. Isso indica que secas mais intensas e frequentes previstas para a região terão graves consequências na dinâmica dessas florestas.

Bolsa quer ser carbono zero em 2012 A BM&FBOVESPA concluiu seu primeiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, com base na metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol. Os resultados apontam que a Bolsa emitiu, em 2009, 1.577 toneladas de CO2 equivalente, medida utilizada para padronizar as emissões de vários gases de efeito estufa, considerando seus diferentes potenciais de aquecimento global. A quantidade de gases lançados direta ou indiretamente pela Bolsa pode ser considerada baixa diante do total de emissões declaradas pelas 35 signatárias do Programa Brasileiro GHG Protocol. Em 2009, estas companhias juntas declararam que emitiram quase 89 milhões de toneladas de CO2e. De acordo com a diretora de Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, Sonia Consiglio Favaretto, a Bolsa almeja reduzir ao máximo as suas emissões no próximo período e neutralizar o restante com intuito de se tornar carbono zero em 2012.

Inventário de emissões do Rio em site O site Rio como Vamos (www.riocomovamos.org.br) está divulgando em seu site, para consulta, o resumo executivo do Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa da Cidade do Rio de Janeiro, elaborado pela Coppe/UFRJ. O Rio é o primeiro município brasileiro a atualizar o estudo, fundamental para que se conheça o nível de emissões de gases poluentes e suas principais fontes. O documento disponibiliza as informações necessárias para balizar a Política Municipal de Mudanças Climáticas e de um plano de ação que contemple medidas objetivas a serem adotadas para a mitigação das emissões de GEE da cidade. No protocolo Rio Sustentável, lançado em novembro do ano passado e do qual o RCV é co-signatário, o município se propõe a reduzir a emissão de gases em 8% até 2012, 16% até 2016 e 20% até 2020, tendo como base os dados da atualização do inventário, referentes ao ano de 2005.

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P e las Em pr esas

ISABELLA ARARIPE

Itaú Unibanco: eleito pelo FT pela segunda vez como banco mais sustentável O Itaú Unibanco foi reconhecido, pela segunda vez, como a instituição financeira mais sustentável de todos os mercados emergentes e da América Latina. O banco recebeu o prêmio Financial Times Sustainable Awards, que elege as melhores políticas e práticas de sustentabilidade do setor e é promovido pelo jornal britânico Financial Times e pela IFC (International Finance Corporation), braço financeiro do Banco Mundial para o setor privado.

Voluntários da Unimed-Rio: sugestão de projetos a serem apoiados O Programa de Voluntariado da Unimed-Rio mobilizou os colaboradores da empresa: os profissionais da empresa sugeriram as ações que gostariam de apoiar. Todas as ideias inscritas foram analisadas e as mais alinhadas com a política de sustentabilidade da empresa receberam apoio financeiro, de divulgação e de logística para se tornarem reais. No entendimento da cooperativa, o envolvimento de um voluntário com seu trabalho social depende em grande parte de identificação e percepção de importância do que se faz. O resultado foi a aprovação de oito projetos distintos, todos realizados durante o mês de agosto.

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Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco, representou a instituição na cerimônia realizada em Londres, Inglaterra, em 3 de junho. O Itaú foi o único grupo brasileiro entre os finalistas. Em seu discurso, Denise lembrou a importância do prêmio num ano de forte consolidação das operações de Itaú e Unibanco, após a fusão anunciada em novembro de 2008. “Tanto o Itaú quanto o Unibanco já tinham a inserção da sustentabilidade como ponto estratégico no posicionamento empresarial, antes mesmo da associação entre as duas instituições. Com a fusão, essa vocação tornou-se ainda mais enfática, tendo em vista a amplitude e o alcance da nova organização”.

Sul América e Basf: unidas por tinta sustentável

Pioneira na utilização de tintas à base d`água na reparação dos veículos de seus segurados, a SulAmérica Seguros e Previdência comemora os resultados dessa iniciativa. Desde o início do projeto, em março de 2009, até o final de junho deste ano, 8.251 veículos passaram pela pintura ecologicamente correta. O processo utiliza a Linha 90 da Glasurit, marca de repintura automotiva da BASF, emite 90% menos solventes na atmosfera do que as tintas automotivas convencionais, preservando o meio ambiente e a saúde do profissional que trabalha na reparação, além de proporcionar uma entrega mais rápida do veículo, já que o produto é de fácil aplicação, tem melhor rendimento e acabamento superior. Esta tecnologia já está disponível em oficinas referenciadas SulAmérica e também nos Centros Automotivos de Super Atendimento (C.A.S.A.) participantes do projeto. Das 19 unidades do C.A.S.A. espalhadas pelo país, nove já utilizam o processo e três estão em fase de implementação.


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA SABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR Foto: André Schneider Prietsch/Divulgação

Certificações Motivos não faltam para a Alusa Engenharia comemorar os 50 anos de história. Recentemente, a empresa completou a conquista de um leque completo de certificações ambientais, de qualidade, de saúde e segurança, emitidas pela Tüv Rheiland e pela SIG. A Alusa Engenharia é uma empresa que presta serviços em todas as áreas de Infraestrutura como energia, obras industriais (óleo e gás) Indústria, empreendimentos imobiliários e edificações, telecomunicações, transportes e saneamento.

Bayer: novos embaixadores 2010 A Bayer Brasil acaba de selecionar os novos jovens embaixadores ambientais que visitarão a Alemanha no fim do ano para conhecer mais sobre sustentabilidade. Em 20009, Plurale em revista acompanhou a visita de quatro jovens universitários selecionados para o BYEE (foto). A novidade este ano é que além de todos os pré-requesitos, a Bayer Brasil também exigiu que os jovens tivessem firme atuação sócioambiental como voluntários.

20 anos da Fundação Boticário A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza está completando 20 anos. Acaba de anunciar o apoio para 19 novos projetos de conservação da biodiversidade, doando R$ 500 mil para os estudos, que podem durar até dois anos. Os projetos contemplam o ambiente marinho e três dos seis biomas brasileiros (Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga). A Fundação é uma das principais financiadoras de projetos em conservação da natureza no Brasil. Em 20 anos de atuação, já doou mais de U$ 9,2 milhões (R$ 16 milhões) para 1.218 projetos de quase 400 instituições em todo o Brasil.

Coca-Cola lança relatório em cooperativa de resíduos O clima até estava frio e chuvoso no início de agosto. Mas nada que justificasse usar luvas. Isso mesmo: luvas em pleno Jardim Gramacho, região simples do município de Duque de Caxias, Baixada Fluminense que costuma fazer um calor tórrido e ficou conhecida internacionalmente por ter um dos maiores lixões a céu aberto da América Latina. A cena acima - de executivos e artistas separando lixo - parece tão insólita quando descobrir a ligação entre um dos maiores artistas plásticos brasileiros da atualidade, Vik Muniz, de uma bela atriz, Isabel Filardis e um grupo de catadores de lixo. Mas, para selar o compromisso com a sustentabilidade, dirigentes da Coca-Cola Brasil, inclusive o seu presidente, o mexicano Xiemar Zarazúa, todos participaram da experiência de selecionar o lixo. A ação fez parte do lançamento do Relatório de Sustentabilidade

2009 da Coca-Cola Brasil. As luvas, é claro, não eram contra o frio e sim parte do material de segurança de trabalho de catadores de lixo, hoje chamados de agentes ambientais, que passaram a ter um papel ainda mais relevante nesta cadeia com a nova lei que define a Política de Resíduos Sólidos. Estiveram presentes no eventos representantes de empresas parceiras – Cutrale, Femsa e Tetra Pak – e o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano Silvério.

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Frases

AO LONGO DE TRÊS ANOS, PLURALE EM REVISTA OUVIU PRIVILEGIADOS INTERLOCUTORES NO DIÁLOGO SOBRE SUSTENTABILIDADE. LEMBRAMOS AQUI ALGUMAS DESTAS PASSAGENS MAIS MARCANTES.

“O papel do estado é executar políticas públicas sem desviar dinheiro”

“Hoje o rico não é mais elite. O sábio é a elite”

ZILDA ARNS

Presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Edição 6

ISRAEL KLABIN

Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, falecida no terremoto de janeiro 2010 no Haiti, Edição 1 “Fazemos nosso trabalho com dedicação. Mas a grande vitória é do povo do haiti. Os haitianos nos dão a certeza que é possível sonhar com a paz.”

“Devemos reconhecer que, apesar do crescimento estar de fato na essência do desenvolvimento econômico, o crescimento sem consequências está associado a atividades devastadoramente negativas”

LUIZ CARLOS DA COSTA

LEONARD SCHELESINGER

2º homem da Missão da ONU no Haiti, falecido no mesmo terremoto, Edição 10

Presidente do Babson College, Boston, Edição 12

“Quero aprender a escrever para mandar muitas cartas”

“Só existe mãe feliz com filho feliz”

SEU LUIZ GONZAGA

Fundadora da Sociedade Viva Cazuza, Edição 8

75 anos, da comunidade de São Francisco do Caribi, no Uatumã (AM), que está aprendendo a ler a partir de iniciativa da Fundação Amazonas Sustentável, Edição 11 “Alguém acredita que é realmente preciso ter várias camisas e 50 pares de sapatos no armário?”

MIGUEL KRIGSNER

Fundador de O Boticário, Edição 9

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LUCINHA ARAÚJO

“Num recorte dos últimos três ou quatro anos, o licenciamento de novas fontes de energia que tem predominado é extremamente sujo.” ANDRÉ TRIGUEIRO

Jornalista e escritor, Edição 10

“Cobrar

pedágio por ideias é um absurdo”

LADISLAU DOWBOR

Economista da PUC, Edição 15 66


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68 – Anúncio/ Coca-Cola/ ainda virá


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