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plurale em revista
ano um | nº 6 | maio/junho 2008 | R$ 10 ,00
| AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
CONEXÕES
DIGITAIS E CULTURAIS DAS TELES A CAÇA
SUSTENTABILIDADE
FOTOGRÁFICA À ONÇA PINTADA
ISRAEL KLABIN UMA ENTREVISTA HOMENS PLURAIS
FURTADO, FREI BETO E CASALDALIGA
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editorial
O
aquecimento global, antes conversa de ecologistas, ambientalistas e muitas vezes de eco-chatos, começa a dar sinais visíveis aos homens. A terra treme no Brasil, na China, em Myanmar. Águas avançam, geleiras derretem. E como no filme do magistral Luchino Visconti, que ilustra esse editorial, a vida do homem começa a sofrer sérias ameaças. E, de tal e renitente forma, são ameaças nascidas do capitalismo e consumismo selvagens que, se na obra cinematográfica de 1948 aturdia pobres e explorados pescadores da Sicília, agora não faz diferenciação sócio-econômica: atinge a todos. Um alerta gritante de que é preciso crescimento e consumo com responsabilidade, sobretudo inclusão social e econômica. Uma luta na qual Pedro Casaldaliga, nosso homenageado dessa edição, assim como Celso Furtado, sempre estiveram engajados. Ao defender a preservação de rios, mares, geleiras e até da onça pintada, como nos mostra Sergio Lutz em reportagem desta edição, ainda nos será possível preservar o futuro para as próximas gerações, o que é o próprio sentido da expressão sustentabilidade. O futuro, não podemos ignorar, passa também pelas modernas redes de conexão e de informação. Dez anos após a privatização das empresas de telefonia, as redes de conexão se espalham e é a informação que nos conecta que possibilitará a todos pulverizar conceitos de viver melhor, de repensar a educação em novas bases como nos ensina Ana Lagoa em entrevista para Maria Helena Malta. Da mesma forma, cada vez mais surgem no cenário empresários, como Israel Klabin, dispostos a pensar e traçar o futuro com mais igualdade. São pontos de reflexão. Idéias que impressas nessas folhas de papel reciclado poderão semear em muitas cabeças uma nova realidade, mais digna a todos. A terra treme e belezas como as do Rio de Janeiro, em belas fotos, nos convidam a preservar para que possamos usufruir e as deixar como legado de nossa pssagem pelo planeta. A melhor e mais rica herança para gerações futuras. E se a terra treme, tremem também as bases da política. A acreana Marina Silva deixou o Ministério do Meio Ambiente e um legado de profundo respeito e defesa de valores morais e ambientais. Princípios que o carioca Carlos Minc promete, mais que honrar, cumprir. Que as falas, o verbo em si mesmo se tranforme em realidade. A terra treme e faz tremer a todos. É um convite à reflexão madura, menos ideológica, capaz de como as redes de fibras ópticas dessa capa ligar a todos nós que estamos à deriva daquilo que fizemos de nós e dos outros, inclusive os outros que ainda estão por vir.
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PELO BRASIL 30
PERFIL CELSO FURTADO 34
Contexto
22.. NO RASTRO DA ONÇA PINTADA
ENSAIO PLURALE 60
PELAS EMPRESAS 58
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21. 12. ISRAEL KLABIN E O FUTURO
1968 UM ANO REVISITADO EM LIVROS
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A VELA E A RODA DE SAMBA
PELO MUNDO O LUXO E A POBREZA DO MUNDO
ARTIGOS FREI BETO E PEDRO CASALDALIGA
48. ANA LAGOA E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
Bazar ético
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Quem faz a plurale Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Comercial comercial@plurale.com.br Editor de arte Marcelo Begosso plurale@plurale.com.br
Cartas “Paz e Bem! As revistas chegaram. Muito obrigado. São muito boas. Dividi com as várias paróquias. Um forte abraço” Frei Luiz (Dom Luiz Flávio Cappio) Barra, Bahia “A equipe está de parabéns pela edição 5 da Plurale: conseguiram fazer uma bela e interessante revista. Li com prazer e aprendi coisas, como o sistema do microsseguro que eu não conhecia e que parece uma avenida nova; boa matéria. Gostei também de ver a simpática referência às bordadeiras de Barra Mansa, que eu conheço e admiro, na matéria de Isabel Capaverde, sobre a economia do carnaval. Falta só um pouco mais de esforço de marketing; avalio o quanto é difícil. Mas virá. Não desanimem por favor: o Brasil precisa de vocês.” Saturnino Braga, Presidente do Instituto Brasileiro de Solidariedade, Rio de Janeiro
Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Múcio Bezerra, Isabel Capaverde,
“Ficou muito interessante a matéria sobre microsseguro. Parabéns” Alberto Borges Matias, professor da FEA/USP ”Mando este e-mail mesmo que um pouco atrasado para agradecer as matérias enviadas de Plurale. Gostei muito de ler os artigos. Aproveito para desejar os melhores votos ao projeto.” Jodie Thorpe, SustainAbility, Londres
Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e Renata Mondelo Colaboradores internacionais
“Acuso o recebimento e agradeço o envio da edição 5 de Plurale em revista” Jorge Khoury, Deputado Federal
Virginia Silveira, Yume Ikeda, Marta Lage, Ivna Maluly e Rita Bastos Plurale é a uma publicação da Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75)
“Obrigada. Ótima matéria sobre os 20 anos do Fórum Nacional. Abraço afetuoso para Sônia Araripe e Carlos Franco.” João Paulo dos Reis Velloso, presidente do Fórum Nacional/ Instituto Nacional de Altos Estudos
em parceria com a SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: Gráfica Ideal Revista impressa em papel reciclado
Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932 São Paulo | Alameda Barros, 66/158 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947 Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala
“Gostaria de saber como posso fazer assinatura de Plurale em revista? A propósito, parabéns à equipe pelas matérias excelentes. Gostei principalmente da nota “Recicle suas roupas” (pág. 42 edição nº 5). Super interessante!” Nair Nunes, Rio de Janeiro Prezada Nair, obrigada! Para fazer uma assinatura anual de Plurale basta acessar o site www.plurale.com.br
95 CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708
Os artigos só poderão ser reproduzidos com
“Recebi a edição 5, de março/abril. Parabéns! Está muito boa. Pautas densas, artigos interessantes.” Nélson Turcci, São Paulo
autorização dos editores Copyright Plurale em Revista
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“Recebi esta semana a edição 5 de Plurale em revista. Ainda estou viajando nas matérias. Estou gostando de cada frase ali colocada. Um alerta, um apelo, um gesto, uma história, uma maneira nova de viver... Parabéns” Giovanni Frigo, São João del Rey, Minas Gerais
DM9 É DDB
As metas de todos pela ˜ educaçao. 1.Todos de 4 a 17 anos na escola.
3.Todos aprendendo o que é certo para cada série.
2.Todos lendo e escrevendo até os 8 anos.
4.Todos formados no ensino médio até 19 anos.
5.Todo investimento em educação bem cuidado e ampliado.
www.todospelaeducacao.org.br
Se todos se lembrarem destas 5 metas e se todos lutarem por elas, todos conseguirão melhorar a educação e todos vão ganhar com isso.
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Artigo
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MAURO AMBRÓSIO
MARK ETING SOCIA L SUSTE NTABIL IDADE
R
Recentemente fui abordado para responder a uma questão que me fez parar para pensar: ainda existem muitas empresas que desconhecem o que é ser sustentável no mundo corporativo. A pergunta que me fez refletir foi: - Ser socialmente responsável não é a mesma coisa que fazer marketing social? O marketing social, propriamente dito, não é uma estratégia mercadológica adotada por uma empresa com o objetivo de vender mais produtos ou serviços. A história do marketing social começou na década de 60 nos Estados Unidos no setor da saúde, onde as ações eram exclusivamente promovidas por instituições sem fins lucrativos. E, definitivamente, não podemos dizer que ser socialmente responsável é ter como objetivo reforçar ou melhorar a imagem corporativa associando a marca da empresa à causas sociais. É muito mais do que isso, é uma forma de garantir a sustentabilidade dos negócios e de todos os envolvidos no entorno da corporação. Apesar de ser um tema muito explorado pela mídia em geral, responsabilidade social corporativa ainda é muito confundida com filantropia, que é apenas um dos elos que compõem uma grande corrente da sustentabilidade. Podemos aqui enumerar diversas ações tomadas por empresas em benefício próprio ou da comunidade ao seu entorno, e que são realizadas isoladamente, mas que não transformam essas empresas em corporações socialmente responsáveis. Em vários países, empresas de diversos setores vêm se empenhando para fazer parte da carteira de índices de sustentabilidade, instituições como o Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI). Entre essas empresas está a estatal brasileira Petrobrás, que conseguiu no ano passado ser indicada para o índice. O DJSI é um indicador que reúne empresas socialmente responsáveis cotadas na Bolsa de Nova York.
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O principal objetivo dessas companhias, assim como a nossa estatal, é tornar-se mais atrativas para os fundos que investem em empresas tidas como socialmente responsáveis, demonstrando mais transparência e credibilidade; mais governança e, por conseqüência, sua competitividade no mundo dos negócios. Nos Estados Unidos esses fundos chegam a movimentar mais de US$ 1 trilhão por ano. E para atrair a atenção dos investidores que procuram empresas socialmente responsáveis, é preciso mostrar a eles através dos relatórios de sustentabilidade que apontam as ações tomadas diante de cada stakeholders. A participação num índice de sustentabilidade, como o da Bolsa de Nova York, é como atestar que a companhia possui boas práticas de governança corporativa, de gestão ambiental e de relacionamento com consumidores, funcionários e fornecedores, entre outros. Na prática, a participação nesses índices vem representando ganhos financeiros. É uma forma de gestão responsável. Talvez seja por isso que muita gente vem confundindo responsabilidade social com marketing. E por falar em gestão responsável, podemos dizer que todas as corporações que seguem por esse caminho, enfrentam um processo intenso de transformação para buscar a ética nos negócios. Assim como em outras regiões do mundo, o Brasil também tem o seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bovespa em 2005, quando foi composto por uma carteira de 28 empresas em seu lançamento. Essas companhias enfrentaram um processo de seleção e tiveram de responder a um questionário que avalia aspectos econômico-financeiros, sociais e ambientais.
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Gerar qualidade de vida é um diferencial desse setor. Portanto, a implementação de práticas e políticas de Responsabilidade Social nas empresas do segmento é de altíssimo valor agregado. Não há obrigatoriedade legal de qualquer setor para a implementação das práticas de Responsabilidade Social Corporativa. Porém, naturalmente, há sim uma cobrança da sociedade — composta por consumidores de produtos e serviços de empresas e setores econômicos. Estamos preparando o 3º Estudo BDO Trevisan de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) 2008. Esta nova pesquisa é uma prova viva de que a cobrança da sociedade traz efeitos práticos na vida das organizações. Já encaminhamos questionários e disponibilizamos o site da empresa para que companhias interessadas possam participar da pesquisa. No ano passado, ao final da conclusão do 2º estudo, que foi realizado entre dezembro de 2006 e março de 2007, com dados coletados entre 113 empresas de vários setores, o resultado foi bastante positivo em relação ao estudo anterior. A pesquisa tinha um questionário com 44 perguntas que foram enviadas para 700 corporações dos setores de indústria, comércio, serviços, educação, associações e empresas do terceiro setor. Este ano, a expectativa é de que os números sejam ainda maiores. O objetivo da pesquisa é mostrar ao público em geral um retrato de como as corporações e seus gestores lidam com os conceitos de responsabilidade socioambiental. As organizações e seus líderes já perceberam que, num futuro bem próximo, não haverá lugar para empresas e negócios isolados dos conceitos de sustentabilidade, de preocupação com os grupos de interesse - os chamados stakeholders - e dos conceitos de pilares básicos de sustentação da governança. * Mauro Ambrósio é sócio-diretor da BDO Trevisan, responsável por auditorias e consultorias de responsabilidade socioambiental de entidades e empresas.
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Enrevista
DEFENSOR A NATUREZA E DO CLIMA PRESIDENTE DA FBDS RODA O MUNDO A CONVITE COMO CONFERENCISTA PRIVILEGIADO.
ISRAEL
KLA
BiN
TEXTO [SÔNIA ARARIPE] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
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À PLURALE, ELE CRITICA QUEM DEFENDE A SUSTENTABILIDADE APENAS COMO PEÇA DE MARKETING
N
ão o chamem de empresário. Ex-presidente da Klabin Papel e Celulose - que precisou assumir com o falecimento do pai, aos 30 anos e ainda hoje se mantém no Conselho de Administração – e ex-prefeito do Rio de Janeiro de 1979 a 1980, Israel Klabin gosta mesmo é de ser lembrado como um voluntário na causa da defesa da Sustentabilidade do planeta. Presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), tem sido, desde 1992 interlocutor privilegiado nos debates sobre clima e Meio Ambiente em diferentes rodas, seja no Brasil ou no exterior. Viaja muito a convite de
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Enrevista ESTAMOS CAMINHANDO PARA UMA SOCIEDADE DO SABER E NÃO MAIS A SOCIEDADE DO TER seminários e conferências, dentre as quais aUniversidade Federal do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas, a Harvard University, a Tel Aviv University e a University of Southern California. Engenheiro de formação, se autodefine um acadêmico. Em entrevista à Plurale – concedida de camisa jeans de manga longa, mas sem esconder a elegância e sobriedade de lorde britânico, concedida no escritório cercado de muito verde - Klabin não usa de meias palavras. Toca o dedo na ferida de um modismo no mundo empresarial que passou a incorporar conceitos de responsabilidade socioambiental apenas como estratégia de marketing. “Trata-se do nouveau richismo, seja individual ou corporativo. Isto tudo está relacionado ao modelo econômico decadente e não sustentável.” Defende a reforma agrícola e não agrária; assegura que a fome no Brasil é fácil de ser resolvida e faz sugestões para um planeta mais sustentável. Confira a opinião de Klabin a seguir. O senhor tem viajado muito para dar palestras e participar de conferências. Que visão o senhor tem hoje do cenário mundial do ponto-de-vista da sustentabilidade e como o Brasil se insere neste contexto? Antes de partirmos para este debate, precisamos olhar o Brasil dentro de uma perspectiva histórica da evolução de diversos modelos que conduziram o planeta até este ponto em que estamos, no qual o Brasil faz parte. Saímos de uma pré-história que nos originou, quando o homem pré-histórico que era caçador, tornou-se o pecuarista de hoje. Quando o coletor de raízes e frutas da floresta tornou-se agricultor. E o homem que vivia à beira-mar e pescava, tornou-se pescador e um grande predador de reservas do mar. Uma dependência forte da natureza... Exato. Estas relações todas até hoje eram baseadas sempre na relação do homem com a natureza. Era o homem que precisava de comida, de fogo, de casa, de um contexto urbano, de se relacionar com outros. Dando um grande salto na História, esta relação foi quebrada quando entramos no século 18, na Revolução Industrial. Neste momento, alguns países detentores das matérias-primas essenciais para esta revolução do modelo econômico saltaram na frente. Outros procuraram acesso a estas mesmas fontes de matérias-primas, que depois foram chamadas de commodities procurando chegar a elas através de guerras ou domínios econômicos. Isso tudo funcionou com um relativo equilíbrio dentro de uma dinâmica que levou o planeta a começar a necessitar de modelos mais sofisticados. E vieram as várias guerras. Mais até do que isto. Estes modelos foram produzidos pelas guerras, as grandes guerras globais. Gosto muito da divisão que o grande historiador inglês Arnold Toynbee faz, separando os séculos em quatro fases distintas: as guerras preparatórias, a primeira grande guerra que era prenúncio de uma fase intermediária e logo depois eclodiria em uma guerra total. Vimos isso no século 20 e essas mesmas guerras mudaram de certa forma o acesso dos grandes países aos recursos naturais que eles precisavam pra manter a seqüência de sua dominação sobre esses mesmos recursos naturais. Aí começaram as evoluções dos modelos provocadas primeiro pelo acréscimo enorme da demanda desses mesmos recursos e pela explosão demográfica. Segundo, pela necessidade de posicionamento em relação a recursos estratégicos por motivo de defesa e terceiro, provavelmente o mais importante, last but not least, pela dominação dos recursos energéticos.
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Enrevista Como a crucial questão do petróleo... Isso mesmo. O petróleo, naquela ocasião, chegou a ser cotado a dois dólares. Recordo-me bem da cotação a 25/30 dólares. Hoje está cotado a 130 dólares o barril. Esses recursos energéticos foram induzidos a serem utilizados dentro da Revolução Industrial e os detentores destes recursos estabeleceram seus próprios modelos econômicos no qual desenvolvimento era o aumento de consumo. Até hoje, o conceito de desenvolvimento econômico está intimamente ligado ao aumento de consumo. Este aumento de consumo bate de frente com a limitação dos recursos naturais e também com o uso de recursos energéticos oriundos de combustíveis fósseis que são a fonte de mais de 80% das necessidades de energia do planeta. Surge aí o divisor de águas: durante o Século 20, o mundo avançou rapidamente para um sistema de comunicação global. O pobre que não sabia, hoje sabe tanto quanto o rico. Talvez nem tanto. Mas, ao menos estas pessoas passaram a ter algum acesso à informação. Não sei se chega a ser uma competição de igual para igual .... Quando falo sabe, quero dizer que estas pessoas passaram a ter acesso, entende? A mobilidade social destruiu conceitos de elite e reformulou este conceito de outras formas. Estamos caminhando para uma sociedade do saber e não mais a sociedade do ter. Hoje, o rico não é mais elite. O sábio é a elite. O que vive de acordo com a realidade do dia não é a elite. Aquele que cria a realidade do futuro é a elite. O divisor de águas foi o acesso às informações, ao conhecimento. O senhor poderia explicar melhor. Estava falando sobre o divisor de águas. Em primeiro lugar, a inviabilização do modelo energético, pelos impactos ambientais que ele causa e que nós temos hoje a certeza absoluta e concreta que o planeta não sobreviverá, como nós o conhecemos, ao uso crescente ou mesmo dentro das emissões atuais da matriz energética. Estou ajudando a organizar uma conferência em Israel dentro da preocupação de projetarmos a matriz energética do futuro. Segundo, o modelo de gerir economias nacionais evoluiu para modelos sofisticados de gerenciamento das economias globais provocando outro impacto. A relação de trocas que era baseada em moedas que estavam com seus valores amarrados ao valor de recursos naturais, a partir de 1972, quando o presidente Nixon terminou a paridade do dólar pouco a pouco as moedas do mundo começaram a desaparecer e a moeda de referência passou a ser o dólar. E o mundo inteiro passou a depender, dentro dos seus modelos nacionais, da relação do valor de sua moeda com o valor do dólar. O impacto desta mudança foi gigantesco. Exato. Modelos econômicos baseados no aumento de consumo esbarraram no limite da capacidade de consumo de certos países como, por exemplo, os Estados Unidos e o impasse que isso provocou com relação a sua moeda e da sua virtualidade enfraqueceu todo o resto do modelo. Então, há a inviabilidade física do modelo da matriz energética. Nós temos a inviabilidade estrutural do modelo econômico.E finalmente, por causa da comunicação global nós passamos a ter a inviabilidade de um modelo social cristalizado entre pobres e ricos.
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HOJE, O RICO NÃO É MAIS ELITE. O SÁBIO É A ELITE É possível pensar nesse cenário em crescimento sustentável? Eu estava falando dos cenários. Se não houver propostas de modificação destes modelos inviabiliza. Nós, aqui na FBDS, estamos trabalhando na modelagem dos impactos das mudanças climáticas sobre as diversas partes do mundo. Os cenários são vários modelos feitos pelo IPCC (Painel de Mudanças Climáticas da ONU), e que mostram dois níveis: a inter-relação entre a mudança climática e a disponibilidade de água. Água é o recurso final sem o qual não há nem sustentabilidade, nem viabilidade da vida. Portanto a distribuição da água quanto do clima são funções fundamentais impactadas pela matriz energética. Quais são as três insustentabilidades? Conforme vimos da matriz energética, do modelo econômico baseado em valores de moedas virtuais e da cristalização do modelo social não inclusivo. Mas você quer que eu fale de um cenário prospectivo ou analise o Brasil? O sr. poderia, por favor, complementar a resposta à pergunta anterior. É possível imaginar o crescimento de maneira sustentada? Imaginar o crescimento sustentado é possível. O problema é realizá-lo. Vamos ver o que seria um modelo de desenvolvimento sustentável. Primeiro baseado em uma evolução tecnológica que permitisse plena oferta de energia oriunda de recursos renováveis ou não poluentes. Como o etanol o biodiesel e não poluente seria a energia do
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Enrevista vento, o hidrogênio etc. Segundo, o modelo econômico que mudasse os hábitos de consumo que se canaliza a poupança nacional para o equilíbrio entre oferta e necessidades de bens e serviços. Terceira condição, que este modelo direcionasse para o os diversos modelos sociais, nacionais e globais dos excessos de poupança que permitissem caminhar para a equalização de oportunidades. Não estou falando de renda. O quarto que também é fundamental através de modelos educacionais e que fosse o catalisador de criatividade e valores. Isso tudo só seria possível com a recriação de uma ética econômica e social. O modelo econômico sustentável deve ser baseado nesse quarto item. O resto é tudo mecânico. E quanto ao Brasil, qual é a sua avaliação? Olhando o Brasil de fora para dentro eu uso a frase que em 1939 Churchil falou sobre a Rússia de então, ou seja, a União Soviética. Ele disse que o país era “um quebra cabeça embrulhado em mistério e dentro de um enigma.” Ou seja, que o Brasil é menos um país e é mais uma região geográfica que tem um destino de enorme importância pela sua realidade física, pelo seu tamanho e pelas diversas realidades regionais que se misturaram harmonicamente. O nosso país tem e terá um papel importante seja pelas energias renováveis, seja pelas ofertas de produtos cada vez com maior valor agregado? Tudo indica que os ativos que o Brasil detém em termos de recursos naturais, sejam eles, de água, território, clima em relação ao resto dos países desenvolvidos é um horizonte de possibilidades não mais no futuro, mas no presente. Problema: que a liberdade de ação e do desenvolvimento do país tenha como parâmetros fundamentais a ordem interna e externa tanto econômica quanto social, que o projeto de inclusão socioeconômico e cultural seja apressado e que o Estado saiba canalizar os seus recursos sem coibir para as áreas fundamentais de infra-estrutura e de educação,deixando o setor privado fazer a parte dele. Estamos na direção certa? Einstein disse: “O mundo não suplantará o atual estado de crises usando os mesmos pensamentos que criaram esta situação.” Traduzindo Einstein, o anacronismo dos nossos Três Poderes - tanto no Executivo, quanto no Legislativo e Judiciário - precisa ser repensado tendo em vista as realidades do século 21 se é que queremos ao século 22. Gostaríamos de ouvir sua opinião. Muitos especialistas acreditam que há muito mais modismo do que realmente práticas sustentáveis sendo desenvolvidas. Passada esta fase de modismo da sustentabilidade o senhor acha que algumas ações, vão ficar. Há trabalhos sérios? As áreas que o Brasil tem de importância para o futuro ainda estão relativamente intocadas. O exemplo mais gritante é a Amazônia. O Brasil depende fundamentalmente da preservação intacta da Amazônia. Alguém poderá dizer: mas aquilo lá é um ativo de grande valor se for realizado. Mas é um ativo de muito maior valor se nós não o realizarmos. Isso é modernidade. Veja que coisa extraordinária acontece com este país. Tem uma costa de mais de oito mil kms de extensão, uma bacia hidrográfica enorme, capaz de ser transformada em hidrovias diretamente ou através de canais. Não tem barreiras, cordilheiras que nos impeçam de ter transporte ferroviário. No entanto, copiamos o modelo de transportes de países desenvolvidos que não tinham as nossas mesmas qualidades e facilidades e temos hoje um modelo de transporte essencialmente rodoviário que é um nó enorme para toda a economia do país. Não precisamos copiar ninguém. Temos que nos realizar através da reinvenção do Brasil. Então isso tudo é sustentabilidade. A sustentabilidade do país se faz através da disconcionante destes itens que falei há pouco, porém, usando ao máximo o nosso potencial local. Estas ações de vários brasileiros não têm feito diferença? Porque o brasileiro tem cada vez mais encontrado soluções e tecnologias para a realidade local. Até porque por muito tempo acreditou-se que a tecnologia estava lá fora e era preciso copiar. O Brasil tem uma capacidade criativa enorme. A melhor coisa que este país tem é o brasileiro. Isso é muito melhor do que todos os recursos naturais que temos. Porque é inacreditável que um país deste tamanho, com 180 milhões de pessoas não tenha revoluções internas, guerras externas, nem tendências hegemô-
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Enrevista nicas. É um país abençoado neste sentido, sem dúvida alguma. Não vivemos quase uma convulsão social principalmente nos grandes centros? Não chamaria de convulsão social. Existe uma desordem tanto no contexto urbano quanto social. Por exemplo: o Brasil não precisa de uma reforma agrária, mas precisa sim de uma reforma agrícola, o que é bem diferente. Se pensar em termos de produtividade, produção e de alocação de recursos humanos a um processo evolutivo do ponto-de-vista de conquista de melhorias de trabalho e renda, é preciso mudar os critérios das reformas que estão sendo discutidas e feitas. Reforma por desordem não funciona. É preciso ter ordem . As revoluções não têm taxa de sucesso. As evoluções têm taxa de sucesso. É isso o que nós precisamos. E as propostas ainda não são tão claramente definidas. Vocês publicaram (Plurale em revista, edição 1, de outubro de 2007) uma entrevista com a Zilda Arns. Este projeto foi um avanço enorme! E teve também o Bolsa Escola, que basicamente tinha a idéia de ensinar a pescar e não dar o peixe. O Bolsa Família, no meu entender, está dando o peixe, mas não está ensinando a pescar. A própria Dra. Zilda Arns adverte ser preciso atentar para o problema da fome no Brasil. O sr. não concorda? Fome no Brasil? Não acredito que o problema seja de fome. É preciso pesquisar os números do IBGE. Ou faça esta pergunta para o Sérgio Besserman Vianna (presidente do Instituto Pereira Passos, entrevistado de Plurale em revista, edição 5, de março/abril de 2008). Pergunte para ele sobre fome e miséria ano Brasil. E o Sérgio dará também números que desmistificam este tema. O Brasil não é um país pobre. O País não tem miséria nem tem fome. Vou explicar melhor. É claro que tem, mas não esta fome absurda que existe ainda hoje na China, na Índia e em vários países africanos. A fome e a miséria no Brasil são acontecimentos de fácil solução. O sr. concorda com estes especialistas que há certo “modismo” exagerado, principalmente do setor empresarial, em se vangloriar de boas práticas de responsabilidade socioambiental? No sentido de se autoentitular como for melhor para sua imagem. E cada um usa a seu favor a imagem de marketing que melhor lhe apetece: um grupo é o guardião da floresta, o outro é amigo das crianças, etc. Você está falando sobre o nouveau richismo, seja individual ou corporativo. Isto tudo está relacionado ao modelo econômico decadente e não sustentável. Sei que tem gente que vai ficar chateado comigo, mas pode escrever. E quando, na sua opinião, estas ações e estratégia realmente saem do terreno apenas do marketing para se transformar em uma política realmente sustentável, verdadeira e consistente? Quando o rico achar que a sua riqueza não lhe pertence. Mas que ela deva ter uma função social e cultural. Sem perder de vista que a riqueza é também um instrumento necessário para a continuidade do processo econômico. Nós que trabalhamos com Sustentabilidade temos como
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paradigma o triple botton line. Todo o desenvolvimento sustentado é baseado no tripé no qual o social, econômico e ambiental tem que estar juntos em um modelo de governança. Se não tiver, não é sustentável. O senhor poderia lembrar um pouco quando se deu a mudança em sua vida para o caminho da Sustentabilidade e do Terceiro Setor? Porque a maioria das pessoas conhece sua trajetória política e empresarial e não este trabalho dos últimos anos. Nunca mudei. Fui sempre assim. Minha vida sempre foi acadêmica. Fiz Engenharia, tirei Mestrado em Matemática e Física. Depois fui para a França e fiz Doutorado no Institut dês Science Politique, Paris. Quando voltei comecei a trabalhar em projetos de Desenvolvimento na antiga Comissão Mista Brasil-EUA, depois fui um dos criadores da Sudene. Aí tive que assumir a empresa, com a morte prematura do meu pai. Implantei lá toda a parte de Sustentabilidade. Que idade o sr. tinha então? Tinha 30 anos quando passei a administrar um negócio com cerca de 25 mil pessoas. Me distanciei um pouco da vida acadêmica, mas, mesmo assim não abandonei os meus estudos. Até que a empresa caminhou para a profissionalização. Ainda continuo ligado, com muito orgulho e muita honra. É uma empresa que descobriu o reflorestamento no Brasil, dentro dos conceitos da Sustentabilidade, mantendo os recursos naturais, continuando a ser 100% brasileira. Depois da profissionalização eu pude voltar a assumir a vida acadêmica, em 1988. Hoje, o sr. é mais feliz? Muito mais feliz. E acho que não fiz nada na minha vida que não tenha me deixado feliz.
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1968 TEXTO [CARLOS FRANCO]
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[EVAMDRO TEIXEIRA]
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vandro Teixeira, Regina Zappa e Zuenir Ventura têm mais em comum do que o Jornal do Brasil, no qual todos trabalhamos juntos: acabam de lançar três importantes livros sobre 1968, 40 anos depois. Em "68: Destinos. Passeata dos 100 Mil", Evandro revisita aqueles rostos que queriam mudar o mundo e que estão na histórica foto do protesto mais eloqüente contra a ditadura militar no Rio de Janeiro, a passeata dos 100 mil, um marco na vida política brasileira. São pessoas que hoje têm outra vida, outras histórias e, num trabalho de garimpo e raro talento, Evandro fotografou novamente 100 pessoas que participaram daquela passeata. Já Regina Zappa e Ernesto Soto em "1968, eles só queriam mudar o mundo" faz uma reconstituição daquele tempo, os filmes, os livros, as músicas e depoimentos contundentes de Edu Lobo, Chico Buaraque, Fernando Gabeira e outros que participaram ativamente da cena política e cultural do ano que não terminou, como acentuou Zuenir Ventura que também lançou uma nova caixa de livros, com o primeiro e com destaque para "1968. O que fizemos de nós". São livros que nos resgatam e resgatam o Brasil ao trazer de volta a história e as imagens daqueles que continuam, ainda hoje, a sonhar com dias melhores, de igualdade, liberdade, fraternidade, ideais que encerram em si o espírito das revoluções que se pretendiam e haverão de ser plurais. Com o mesmo olhar clínico, Evandro revela toda a sua paixão pela imagem, não a imagem estática, sem vida, mas aquela que expressa o movimento. Esse fotógrafo que emprestou brilho às páginas do Jornal do Brasil e foi responsável por revelar o Brasil onde corre o sangue e o mel, fez uma reconstituição mais do que da vida de 100 pessoas, da vida desse País em constante movimento, em busca permanente de idendidade. A identidade que Evandro empresta às fotos, assim como Maria Adelaíde Amaral na minissérie "Queridos Amigos" emprestou aos personages suas memórias. Esses queridos amigos Evandro, Zuenir, Regina e Ernesto como bordadeiras, trazem de novo o riscado para que não percamos a linha do tempo que nos une e nem o fio da meada. Editado pela Textual, o livro de Evandro assim como o de Regina Zappa e Ernesto Soto (Zahar) bem como o de Zuenir Ventura (Editora Planeta) estão nas melhores livrarias do País e podem ser comprados, com desconto, pela internet. Ao ler essas obras, tenho certeza, qualquer pessoa se sentirá melhor. E certamente chegará à conclusão de que o que fizemos de nós é exatamente acalentar o sonho da construção de uma sociedade plural. Sonhar sempre vale à pena, especialmente, como diria William Shakespeare, quando se sonha acordado. Boa leitura!
CULTURA É PATRIMÔNIO
A professora Lúcia Maria Lippi Oliveira , pesquisadora sênior do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, lançou, em 17 de maio, na Fundação Oscar Araripe, em Tiradentes, Cultura é Patrimônio – Um Guia, da Editora FGV. A obra oferece um guia para o leitor conhecer os principais capítulos de uma história cultural do Brasil. Este guia é uma primeira aproximação que apresenta o caminho, sinaliza marcos relevantes, aponta trilhas mais conhecidas, assim como novos trajetos a serem ainda explorados. Se o leitor quiser, poderá se aprofundar no assunto recorrendo à bibliografia específica apresentada em cada capítulo. O livro procura apresentar, discutir e questionar a herança cultural recebida de gerações anteriores e que será deixada para as gerações futuras. Cultura é Patrimônio não foi pensado para especialistas, e sim para o público que tem interesse em compreender o processo político-cultural que deu origem a diferentes matrizes da cultura brasileira.
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PETER NO RASTRO DA ONÇA
UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS EM FELINOS DO PAÍS INVESTIGA A SITUAÇÃO DAS ONÇAS. PESQUISA DEVE LEVAR UM ANO
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TEXTO [SÉRGIO LUTZ] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
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omeçou a investigação da situação dos carnívoros, com ênfase na onça pintada, no Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), que está entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Peter Crawshaw, o amigo das onças, um dos maiores especialistas em felinos do Brasil, fez o primeiro trabalho de campo no início de abril. Acompanhado dos biólogos Peonia Pereira e Rafael Luis Aaarão Freitas, Peter colocou as primeiras armadilhas fotográficas na região mais alta do PNSB (por volta de 1260 metros de altitude), encontrou rastros de onça parda e fezes de felinos. Nesta primeira etapa da investigação, que tem o apoio da Fundação Boticário, Peter espera poder mapear os felinos, entender a dieta dos mesmos, e se possível encontrar a onça pintada na Serra da Bocaina. Descobrindo rastros dos animais, Peter é capaz de saber a espécie, o tamanho e o sexo dos felinos. Isso se dá pelo
tamanho e formato das pegadas. As armadilhas fotográficas são colocadas ao longo dos rastros e também por onde os moradores locais relatam ataques e presença dos felinos. Os rastros são fotografados e se tornam pontos de referência no GPS, desta forma vai se mapeando os animais e seus caminhos. Com o recolhimento das fezes dos felinos, Peter começa a entender a dieta dos mesmos. Moradores locais se apressam em dizer que não existe onça pintada na região, mas existe a possibilidade do jaguar habitar o local sim. O Jaguar, ou onça pintada, é mais arisco e sabe se esconder melhor do que as onças pardas. O biólogo Rafael, do Instituto Biotrópicos, em pesquisa no Parque Grande Sertão Veredas, na Bahia, descobriu rastros de onça pintada com oito meses de trabalho, e a equipe de pesquisa precisou de um ano e meio para ter os primeiros registros fotográficos do jaguar. O PNSB tem mais de 100 mil hectares, área suficiente para abrigar a onça pintada, que se estima precisar de 14 mil hectares para seu habitat. Peter espera encontrar a onça pintada na parte mais baixa do PNSB, que se estende até o mar, mas ela pode circular também pela parte mais alta, por onde a investigação se iniciou. Em 2004 uma onça pintada foi avistada em Barra Mansa, Rio de Janeiro, onde poucos poderiam supor sua existência. Nesta primeira etapa do trabalho, Peter contou com a ajuda de César da Silva, morador do local, e com o apoio da Fazenda do Bonito, que está na fronteira do PNSB, e tem mais de 90 porcento de sua área de quase 4 mil hectares coberta por mata nativa preservada. Uma técnica para atrair a onça pintada que Peter utiliza é a de imitar o urro da onça pintada, esturro. Com um pedaço de bambu oco e um cano, ele reproduz o esturro do onça fêmea e macho. Isso pode atrair a onça para as amadilhas fotográficas instaladas na mata. A pesquisa de Peter no PNSB deve durar um ano, com isso ele espera chamar a atenção para a situação das onças e dos felinos em geral, e diminuir os conflitos entre eles e os homens.
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UM BELO ANIMAL A onça-pintada (Panthera onca), também conhecida por jaguar ou jaguaretê, é um mamífero da ordem dos carnívoros, membro da família dos felídeos, encontrada nas regiões quentes e temperadas do continente americano. É um símbolo da fauna brasileira. Os vocábulos "jaguar" e "jaguaretê" têm origem no termo guarani "jaguarete". Na mitologia maia, apesar ter sido cotada como um animal sagrado, era caçada em cerimônias de iniciação dos homens como guerreiros. A onça-pintada se espalhava, inicialmente, desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Porém, seu território de ocupação diminuiu sensivelmente. Costuma ser encontrada em reservas florestais e matas cerradas do Brasil, bem como em outros locais ermos onde vivam mamíferos de pequeno porte de que se alimenta. Seu habitat preferencial são zonas selvagens, perto de grande corpos de água, freqüentadas por suas presas preferidas. Evita as regiões montanhosas, habitat preferido do puma.
OUTROS NOMES DA ONÇA PINTADA: JAGUAR OU JAGUARETÊ
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AS SANDÁLIAS DO PESCADOR Dom Pedro Casaldaliga, Santo e Herói
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Brasil é um país de santos e heróis, embora poucos alcancem reconhecimento público. Talvez seja efeito de nossa baixa auto-estima, tão evidente que, hoje, induz o governo federal a promover campanha publicitária para que o nosso povo sinta orgulho do que é e do que faz. Durante séculos, de costas para a América Latina, miramos no espelho dos brancos europeus e norte-americanos. O que víamos não era o nosso rosto indígena, negro, mestiço. Era a imagem paradigmática do colonizador a nos convencer de que somos atrasados, feios, improdutivos e inferiores. Por isso, nossos avós almejavam "purificar-se" dessa fétida brasilidade contraindo matrimônio com imigrantes brancos, exterminando povos indígenas em nome da civilização e mantendo os negros escravos na senzala e, após a abolição da escravatura (1888), na miséria e na pobreza. Quantos brancos casados com negras? Quantos negros das classes A e B casados com negras? Impedidas pelo preconceito e pela pobreza de freqüentar escola, as negras servem para trabalhos domésticos, onde a chibata é substituída, em geral, por um salário ínfimo. E as mestiças, identificadas às mulas, tratadas de mulatas, tornaram-se símbolos do hedonismo carnavalesco e dos atrativos turísticos voltados à prostituição farta e barata. Abrigamos no Brasil o mais longo período de escravidão das três Américas - 358 anos - e ainda culminamos o processo da abolição com a exclusão dos negros libertos do direito de acesso à terra, entregue aos colonos europeus que aqui aportaram empurrados pelo desemprego causado pela revolução industrial do século XIX e a acelerada urbanização do Continente europeu. Os povos indígenas, calculados numa população de 5 milhões no século XVI e, hoje, reduzidos a 700 mil, foram massacrados,desaldeizados, contaminados pelas doenças dos brancos, pela cachaça dos brancos, pela voracidade mercantil dos brancos, pela ambição de minérios e madeiras dos brancos. Expulsos de seu ambiente natural e dos livros didáticos, tornaram-se sinô-
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nimos de "primitivos" e "selvagens", não no sentido de primeiros habitantes dessas terras ou de moradores da selva, e sim de atrasados e brutais. Restrita a nação ao convés da primeira classe, perdemos de vista nossos santos e heróis, embora proliferem entre nós tantos artistas, atletas, intelectuais, e também inventores como Santos Dumont. Porém, as coisas não existem a partir do momento em que as conhecemos. Independem, felizmente, de nossa ignorância. A realidade não é o que pensamos dela. Transcende nossas limitações. Não tão conhecido como mereceria, há no Brasil um santo e herói: Pedro María Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical (no sentido etimológico de ir às raízes) ao Evangelho, e herói pelos riscos de vida enfrentados e as adversidades sofridas. Catalão de Barcelona, onde nasceu em 1928, a 16 de fevereiro, Casaldáliga ingressou na Ordem Claretiana, consagrada às missões, onde foi ordenado sacerdote em 1943. Impregnado da espiritualidade dos Cursilhos de Cristandade, veio para o Brasil e, em 1968, mergulhou na Amazônia. Em 1971, nomearam-no bispo de uma prelazia amazônica, à beira do suntuoso rio Araguaia: São Félix do Araguaia. Adotou como divisa princípios que haveriam de nortear literalmente sua atividade pastoral: "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar". No dedo, como insígnia episcopal, um anel de tucum, que se tornou símbolo da espiritualidade dos adeptos da Teologia da Libertação. São Félix é um município amazônico do Mato Grosso, situado em frente à Ilha do Bananal, numa área de 36.643 km2. Na década de 1970, a ditadura militar (1964-1985) ampliou a ferro e fogo as fronteiras agropecuárias do Brasil, devastando parte da Amazônia e atraindo para ali empresas latifundiárias empenhadas em derrubar árvores para abrir pastos ao rebanho bovino. Casaldáliga, pastor de um povo sem rumo e ameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em choque com os grandes fazendeiros; as empresas agropecuárias, mineradoras e madeireiras; os políticos que, em troca de apoio financeiro e votos, acobertavam a degradação do meio ambiente e legalizavam a dilatação fundiária sem exigir respeito às leis trabalhistas. Dom Pedro tem sido alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave em 1976, em Ribeirão Bonito, no dia 12 de outubro - festa da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Ao chegar àquela localidade em companhia do missionário e indigenista jesuíta João Bosco Penido Burnier, souberam que na delegacia duas mulheres estavam sendo torturadas. Foram até lá e travaram forte discussão com os policiais militares. Quando o padre Burnier ameaçou denunciar às autoridades o que ali ocorria, um dos soldados esbofeteou-o, deu-lhe uma coronhada e, em seguida, um tiro na nuca. Em poucas horas o mártir de Ribeirão Bonito faleceu. Nove dias depois, o povo invadiu a delegacia, soltou os presos, quebrou tudo, derrubou as paredes e pôs fogo. No local, ergue-se hoje uma igreja. Cinco vezes réu em processos de expulsão do Brasil, Casaldáliga mora em São Félix num casebre simples, sem outro esquema de segurança senão o que lhe asseguram três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito San-
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to. Calçando apenas sandálias de dedo e uma roupa tão vulgar como a dos peões que circulam pela cidade, Casaldáliga amplia sua irradiação apostólica através de intensa atividade literária. Poeta renomado, traz a alma sintonizada com as grandes conquistas populares na Pátria Grande latino-americana. Ergue sua pena e sua voz em protestos contra o FMI, a ingerência da Casa Branca nos países do Continente, a defesa da Revolução cubana e, anos atrás, em solidariedade à Revolução sandinista ou para denunciar os crimes dos militares de El Salvador e da Guatemala. Hoje, inquietam-lhe a demora do governo Lula em realizar a reforma agrária e o lastro de miséria e destruição que o agronegócio deixa em terras do Mato Grosso. Dom Pedro tornou-se também pastor dos negros e dos indígenas, introduzindo suas riquezas culturais nas liturgias que celebra. Em sua prelazia habitam os índios Tapirapé, salvos da extinção graças aos cuidados tomados pelo bispo. Convocado às visitas periódicas ("ad limina") que todos os bispos devem fazer ao Vaticano para prestar contas, Casaldáliga faltou a inúmeras, por considerar os gastos de viagem incompatíveis com a pobreza de sua gente. No entanto, remeteu aos papas cartas proféticas, exortando-os à opção pelos pobres e ao compromisso com a libertação dos oprimidos. Certa ocasião fez uma longa viagem a cavalo para visitar a família de um posseiro que se encontrava preso. Chegou sem aviso prévio. Diante de um prato de arroz branco e outro de bananas, a filha mais velha, constrangida, desculpou-se à hora do almoço: "Se soubéssemos que viria o bispo teríamos feito outra comida". A pequena Eva, de sete anos, reagiu: "Ué, bispo não é mais melhor que nós!" Esta uma lição que ele guardou. E sempre praticou, evitando privilégios e mordomias. Fundador da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário, Casaldáliga admite que a sabedoria popular tem sido a sua grande mestra. Indagou a um posseiro o que ele esperava para seus filhos. O homem respondeu: "Quero apenas o mais ou menos para todos". Pedro guardou a lição, lutando por um mundo em que todos tenham direito
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ao "mais ou menos". Nem demais, nem de menos. Em setembro de 1985 viajei a Cuba com os irmãos e teólogos Leonardo e Clodovis Boff. Falamos com Fidel que dom Pedro se encontrava em Manágua, participando da Jornada de Oração pela Paz, e o líder cubano insistiu para que o trouxéssemos a Havana. Tão logo desembarcou na capital de Cuba, a 11 de setembro, o bispo foi conduzido diretamente ao gabinete de Fidel. Este mostrava-se interessado na literatura sobre a Teologia da Libertação. Dom Pedro observou com a sua fina ironia: - Para a direita é preferível ter o papa contra a Teologia da Libertação do que Fidel a favor. Na mesma noite, Casaldáliga discursou na abertura de um congresso mundial juvenil sobre a dívida externa: - Não é só imoral cobrar a dívida externa, também é imoral pagá-la, porque, fatalmente, significará endividar progressivamente os nossos povos. Ao reparar que os sapatos do prelado estavam em péssimo estado, o secretário de Fidel lhe ofereceu um par novo de botas. - Deixo os meus sapatos ao Museu da Revolução - brincou dom Pedro. Fomos juntos para a Nicarágua no dia 13. Ali Dom Pedro participou de inúmeros atos contra a agressão do governo dos EUA à obra sandinista e batizou o quarto filho de Daniel Ortega, Maurice Facundo Em sua segunda viagem a Cuba, em fevereiro de
Artigos
* Frei dominicano. Escritor.
PEDRO CASALDALIGA
PARAR A RODA BLOQUEANDO SEUS
RAIOS
1999, Casaldáliga declarou em público, em Pinar del Río: - O capitalismo é um pecado capital. O socialismo pode ser uma virtude cardeal: somos irmãos e irmãs, a terra é para todos e, como repetia Jesus de Nazaré, não se pode servir a dois senhores, e o outro senhor é precisamente o capital. Quando o capital é neoliberal, de lucro onímodo, de mercado total, de exclusão de imensas maiorias, então o pecado capital é abertamente mortal. E enfatizou: - Não haverá paz na Terra, não haverá democracia que mereça resgatar este nome profanado, se não houver socialização da terra no campo e do solo na cidade, da saúde e da educação, de comunicação e da ciência. Em 2003, ao completar 75 anos, Casaldáliga apresentou seu pedido de renúncia à prelazia, como exige o Vaticano de todos os bispos, exceto ao de Roma, o papa. Só agora, em 2005, o Vaticano nomeou-lhe um sucessor. Antes, porém, enviou-lhe um bispo que, em nome de Roma, pediu que ele se afastasse da prelazia, de modo a não constranger o novo prelado. Dom Pedro não gostou do apelo e, coerente com o seu esforço de tornar mais democrático e transparente o processo de escolha de bispos, recusou-se a atendê-lo. O novo bispo, frei Leonardo Ulrich Steiner, pôs fim ao impasse ao declarar que dom Pedro é bem-vindo à São Félix.
Estava eu pensando a circular de 2008, quando me invade, como um rio bíblico de leite e mel, uma autêntica enchente de mensagens de solidariedade e carinho por ocasião dos meus 80 anos. Não podendo responder a cada um e a cada uma em particular, inclusive porque o irmão Parkinson tem os seus caprichos, peço a vocês que recebam esta circular como um abraço pessoal, entranhável, de gratidão e de comunhão renovadas. Estou lendo uma biografia de Dietrich Bonhoeffer, intitulada, muito significativamente, Deveríamos ter gritado. Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, profeta e mártir, foi assassinado pelo nazismo, no dia 9 de abril de 1945, no campo de concentração de Flossenbürg. Ele
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denunciava a «Graça barata» à qual reduzimos muitas vezes nossa fé cristã. Advertia também que «quem não tenha gritado contra o nazismo não tem direito a cantar gregoriano». E chegava finalmente, já nas vésperas do seu martírio, a esta conclusão militante: «Tem que se parar a roda bloqueando seus raios». Não bastava então socorrer pontualmente as vítimas trituradas pelo sistema nazi, que para Bonhoeffer era a roda; e não nos podem bastar hoje o assistencialismo e as reformas-remendo frente a essa roda que para nos é o capitalismo neoliberal com os seus raios do mercado total, do lucro omnímodo, da macro-ditadura econômica e cultural, dos terrorismos do estado, do armamentismo de novo crescente, do fundamentalismo religioso, da devastação ecocida da terra, da água e do ar. Não podemos ficar estupefatos diante da iniqüidade estruturada, aceitando como fatalidade a desigualdade injusta entre pessoas e povos, a existência de um Primeiro Mundo que tem tudo e um Terceiro Mundo que morre de inanição. As estatísticas se multiplicam e vamos conhecendo mais números dramáticos, mais situações infra-humanas. Jean Ziegler, relator das Nações Unidas para a Alimentação, afirma, carregado de experiência, que «a ordem mundial é assassina, pois hoje a fome não é mais uma fatalidade». E afirma também que «destinar milhões de hectares para a produção de bio-carburantes é um crime contra a Humanidade». O bio-combustível não pode ser um festival de lucros irresponsáveis. A ONU vem alertando que o aquecimento global do planeta avança mais rapidamente do que se pensava e, a menos que se adotem medidas urgentes, provocará a desaparição do 30% das espécies animais e vegetais, milhões de pessoas serão privadas de água e proliferarão as secas, os incêndios, as enchentes. A gen-
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te se pergunta angustiado quem irá adotar essas «medidas urgentes». O grande capital agrícola, com o agronegócio e cada vez mais o hidronegócio, avança sobre o campo, concentrando terra e renda, expulsando às famílias camponesas e jogando-as errantes, sem terra, acampadas, engrossando as periferias violentas das cidades. Dom Erwin Kräutler, bispo de Xingu e presidente do CIMI, denuncia que «o desenvolvimento na Amazônia tornou-se sinônimo de desmatar, queimar, arrasar, matar». Segundo Roberto Smeraldi, de Amigos da Terra, as políticas contraditórias do Banco Mundial por um lado «prometem salvar as árvores» e por outro lado, «ajudam a derrubar a Amazônia». Mas a Utopia continua. Como diria Bloch, somos «criaturas esperançadas» (e esperançadoras). A esperança segue, como uma sede e como um manancial. «Contra toda esperança esperamos». Da esperança fala, precisamente, a recente encíclica de Bento XVI. (Pena que o
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IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE
PEDRO CASALDALIGA
IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE
WWW. REVISTAPUBLICITTA. COM. BR
Artigos
IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE
Papa, nesta encíclica, não cita nem uma vez o Concílio Vaticano II, que nos deu a Constituição Pastoral Gaudium et Spes –Alegria e Esperança-. Seja dito de passagem, o Concílio Vaticano II continua amado, acusado, silenciado, preterido... Quem tem medo do Vaticano II?). Frente ao descrédito da política, em quase todo o mundo, nossa Agenda Latinoamericana 2008 aposta por uma nova política; até «pedimos, sonhando alto, que a política seja um exercício de amor». Um amor muito realista, militante, que subverta estruturas e instituições reacionárias, construídas com a fome e o sangue das maiorias pobres, ao serviço do condomínio mundial de uma minoria plutocrata. Por sua parte as entidades e os projetos alternativos reagem tentando criar consciência, provocar uma santa rebeldia. O FSM 2009 vaise realizar, precisamente, na Amazônia brasileira e terá a Amazônia como um dos seus temas centrais. E o XII Encontro Inter-eclesial das CEBs, em 2009, se celebrará também na Amazônia, em Porto Velho, Rondônia. Nossa militância política e nossa pastoral libertadora devem assumir cada vez mais estes desafios maiores, que ameaçam nosso Planeta. «Escolhemos, pois, a vida», como reza o lema da Campanha da Fraternidade 2008. O apóstolo Paulo, em sua Carta aos Romanos, nos lembra que «toda a criação geme e está com dores de parto» (Rom.8,22). Os gritos de morte cruzam-se com os gritos de vida, neste parto universal. É tempo de paradigmas. Creio que hoje se devem citar, como paradigmas maiores e mais urgentes, os direitos humanos básicos, a ecologia, o diálogo inter-cultural e interreligioso e a convivência plural entre pessoas e povos. Estes quatro paradigmas nos afetam a todos, porque saem ao encontro das convulsões, objetivos e programas que está vivendo a Humanidade maltratada, mas esperançada ainda sempre. Com tropeços e ambigüidades Nossa América se move para a esquerda; «novos ventos sopram no Continente»; estamos passando «da resistência à ofensiva». Os povos indígenas de Abya Yala têm saudado com alegria a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que afeta a mais de 370 milhões de pessoas em 70 paises do Mundo; e reivindicarão a execução real dessa Declaração. Nossa Igreja da América Latina e o Caribe, em Aparecida, se não foi aquele Pentecostes que queríamos sonhar, foi uma profunda experiência de encontro entre bispos e povo; e confirmou os traços mais característicos da Igreja da Libertação: o seguimento de Jesus, a Bíblia na vida, a opção pelos pobres, o testemunho dos mártires, as comunidades, a missão inculturada, o compromisso político. Irmãos e irmãs, que raios vamos quebrar em nossa vida diária?, como ajudaremos a bloquear a roda fatal?, teremos direito a cantar gregoriano?, saberemos incorporar em nossas vidas esses quatro paradigmas maiores traduzindo-os em prática diária? Recebam um abraço entranhável na esperança subversiva e na comunhão fraterna do Evangelho do Reino. Vamos sempre para a Vida.
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PELO BRASIL
MARINA UM PEDIDO DE DEMISSÃO Caro presidente Lula,
co Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro; com melhoria salarial e realização de concursos públicos que deram estabilidade e qualidade à equipe. Com a completa reestruturação das equipes de licenciamento e o aperfeiçoamento técnico e gerencial do processo. Abrimos debate amplo
Venho, por meio desta, comunicar minha decisão em caráter pessoal
sobre as políticas socioambien-
e irrevogável, de deixar a honrosa função de Ministra de Estado do Meio
tais, por meio da revitalização e
Ambiente, a mim confiada por V. Excia desde janeiro de 2003. Esta difí-
criação de espaços de controle
cil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado
social e das conferências nacionais
há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.
de Meio Ambiente, efetivando a
Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nes-
participação social na elaboração
se período de quase cinco anos e meio esforcei-me para concretizar sua
e implementação dos programas
recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de
que executamos.
governo, quebrando o tradicional isolamento da área.
Em negociações junto ao Con-
Agradeço também o apoio decisivo, por meio de atitudes corajosas e
gresso Nacional ou em decretos,
emblemáticas, a exemplo de quando, em 2003, V. Excia chamou a si a res-
estabelecemos ou encaminhamos
ponsabilidade sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazô-
marcos regulatórios importantes, a
nia, ao criar grupo de trabalho composto por 13 ministérios e coordena-
exemplo da Lei de Gestão de Flo-
do pela Casa Civil. Esse espaço de transversalidade de governo, vital para
restas Públicas, da criação da área
a existência de uma verdadeira política ambiental, deu início à série de
sob limitação administrativa provi-
ações que apontou o rumo da mudança que o País exigia de nós, ou seja,
sória, da regulamentação do art.
fazer da conservação ambiental o eixo de uma agenda de desenvolvimen-
23 da Constituição, da Política
to cuja implementação é hoje o maior desafio global.
Nacional de Resíduos Sólidos, da
Fizemos muito: a criação de quase 24 milhões de hectares de novas
Política Nacional de Povos e
áreas de conservação federais, a definição de áreas prioritárias para con-
Comunidades Tradicionais. Contri-
servação da biodiversidade em todos os nossos biomas, a aprovação do
buímos decisivamente para a
Plano Nacional de Recursos Hídricos, do novo Programa Nacional de Flo-
aprovação da Lei da Mata Atlânti-
restas, do Plano Nacional de Combate à desertificação e temos em curso
ca.
o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.
Em dezembro último, com a
Reestruturamos o Ministério do Meio Ambiente, com a criação da Secre-
edição do Decreto que cria instru-
taria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, do Instituto Chi-
mentos poderosos para o com-
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bate ao desmatamento ilegal e com a Resolução do Conselho Monetário Nacional, que vincula o crédito agropecuário à comprovação da regularidade ambiental e fundiária, alcançamos um patamar histórico na luta para garantir à Amazônia exploração equilibrada e sustentável. É esse nosso maior desafio. O que se fizer da Amazônia será, ouso dizer, o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o desejo de crescimento. Sua importância extrapola os cuidados merecidos pela região em si, e revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento. Hoje, as medidas adotadas tornam claro e irreversível o caminho de fazer da política socioambiental e da economia uma única agenda, capaz de posicionar o Brasil de maneira consistente para operar as mudanças profundas que, cada vez mais, apontam o desenvolvimento sustentável como a opção inexorável de todas as nações. Durante essa trajetória, V. Excia é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a agenda ambiental. Tenho o sentimento de estar fechando o ciclo cujos resultados foram significativos, apesar das dificuldades. Entendo que a melhor maneira de continuar contribuindo com a sociedade brasileira e o governo é buscando, no Congresso Nacional, o apoio político fundamental para a consolidação de tudo o que conseguimos construir e para a continuidade da implementação da política ambiental. Nosso trabalho à frente do MMA incorporou conquistas de gestões anteriores e procurou dar continuidade àquelas políticas que apontavam para a opção de desenvolvimento sustentável. Certamente, os próximos dirigentes farão o mesmo com a contribuição deixada por esta gestão. Deixo seu governo com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, temos algo de relevante para o Brasil. Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos. Marina Silva"
CARLOS MINC: UM COMPROMISSO O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu a elaboração de uma nova lei de licenciamento ambiental para o Brasil, “com exigências mais rigorosas, mas que diminua ao mesmo tempo a burocracia". Durante sua gestão como secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Minc reduziu pela metade o tempo para aprovar certificações e licenças de instalação e operação no estado. "Mais burocracia não significa maior rigor em relação às exigências ambientais", argumentou Minc, em entrevista coletiva na capital francesa. "Ao contrário, a burocracia é a mão da corrupção", afirmou. Minc disse que vai manter "todas as políticas da ex-ministra Marina Silva, sem exceções, e aprofundá-las em algumas questões".
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PELO BRASIL
MINAS, EM BUSCA DA PROTEÇÃO TEXTO [IRENATA MONDEO - BELO HORIZONTE - BRASIL]
FOTO [DIVULGAÇÃO]
Em meio ao boom de iniciativas que sur-
mento, zoneamento e ordenamento territorial, desenvolvimen-
gem dentro e fora do País visando a pro-
to e auxílio a projetos ambientais, projetos de criação e
teção da biodiversidade, uma delas se distin-
implantação de programas de unidades de conservação loca-
gue como centro de referência no levanta-
lizados em parques, reservas particulares e governamentais
mento e na aplicação do conhecimento cien-
espalhados por todo Brasil.
tífico para a conservação da diversidade biológica brasileira: a Fundação Biodiversitas.
Inclusive, a Biodiversitas possui e administra duas áreas protegidas: uma de Mata Atlântica no município de Simoné-
Uma organização não-governamental
sia, em Minas, e a Estação Biológica de Canudos, na Bahia, área
mineira, criada por um grupo de pesquisado-
de dormitório e reprodução da Arara-azul-de-lear (Anodorhyn-
res do Instituto de Ciências Biológicas da
chus leari), uma das espécies mais ameaçadas do mundo.
UFMG, em 1989.
Para ambas iniciativas foi traçada uma linha de ação
Localizada em Belo Horizonte, Minas
que privilegia a sobrevivência de espécies em risco de
Gerais, a Biodiversitas tem papel de destaque
extinção. Aliás, cabe aqui informar um dado alarmante e, até
no cenário brasileiro, não somente pela qua-
vergonhoso: hoje, o Brasil ocupa a posição de vice campeão
lidade dos trabalhos que desenvolve, mas
mundial no número de espécies animais ameaçadas de
também por aportar soluções a seus projetos
extinção. Triste, não?
e fornecer dados qualificados sobre o meio ambiente.
Mas a Biodiversitas não está medindo esforços para mudar essa realidade e, através de parceiras com órgãos governamen-
Seus estudos altamente acreditados são
tais, iniciativa privada e, até mesmo, por meio de doações par-
realizados por meio de capacitação de pesso-
ticulares. Em parceria com a Conservação Internacional do
al, apoio a desenvolvimento de teses e pesqui-
Brasil, a Fundação lançou o livro da lista da fauna brasileira
sas, capacitação profissional e educação
ameaçada de extinção que pode ser adquirido pelo site
ambiental, inventários biológicos, mapea-
www.biodiversitas.org.br.
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EU GOSTO DE VIVER. JÁ ME SENTI FEROZMENTE, DESESPERADAMENTE, AGUDAMENTE INFELIZ, DILACERADA PELO SOFRIMENTO, MAS ATRAVÉS DE TUDO AINDA SEI, COM ABSOLUTA CERTEZA, QUE ESTAR VIVA É SENSACIONAL.
O INVERNO COBRE MINHA CABEÇA, MAS UMA ETERNA PRIMAVERA VIVE EM MEU CORAÇÃO.
VICTOR HUGO
AGHATA CHRISTIE
VIVER É A COISA MAIS RARA DO MUNDO. A MAIORIA DAS PESSOAS APENAS EXISTE.
OSCAR WILDE
ATÉ CORTAR OS PRÓPRIOS DEFEITOS PODE SER PERIGOSO. NUNCA SE SABE QUAL É O DEFEITO QUE SUSTENTA NOSSO EDIFÍCIO INTEIRO. CLARICE LISPECTOR
CLARICE LISPECTOR
O QUE VALE NA VIDA NÃO É O PONTO DE PARTIDA E SIM A CAMINHADA, CAMINHANDO E SEMEANDO, NO FIM TERÁS O QUE COLHER. CORA CORALINA
CORA CORALINA A VIDA É A INFÂNCIA DA NOSSA IMORTALIDADE.
GOETHE
EIS UM TESTE PARA SABER SE VOCÊ TERMINOU SUA MISSÃO NA TERRA: SE VOCÊ ESTÁ VIVO, NÃO TERMINOU.
RICHARD BACH
A VIDA NÃO É UMA VELA CURTA PARA MIM. É UM TIPO DE TOCHA ESPLÊNDIDA A QUAL ESTOU SEGURADO PELO MOMENTO, E QUERO FAZER COM QUE ELA QUEIME TÃO BRILHANTEMENTE QUANTO POSSÍVEL ANTES DE PASSÁ-LA PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES.
GEORGE BERNARD SHAW
A SOLIDARIEDADE É O SENTIMENTO QUE MELHOR EXPRESSA O RESPEITO PELA DIGNIDADE HUMANA.
FRANZ KAFKA
A VERDADEIRA SOLIDARIEDADE COMEÇA ONDE NÃO SE ESPERA NADA EM TROCA.
ANTOINE DE SAINTEXUPÉRY 33
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Perfil
CsLo E
Furtado TEXTO [CARLOS FRANCO] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
ELE LUTOU E SONHOU POR UM MUNDO MAIS JUSTO. E NUNCA DEIXOU DE LEVANTAR A VOZ EM DEFESA DO BRASIL E DOS BRASILEIROS.
A
s mãos tremiam, mas ainda assim e recusando a minha ajuda, o mestre insistiu naquela tarde, quando o inverno tomava conta do Rio de Janeiro, em ler trechos de "Elogio da Loucura" de Erasmo de Roterdã. Para Celso Monteiro Furtado, paraibano de Pombal, nascido em 26 de julho de 1920, o homem que enxerga primeiro a luz, muitas vezes, é um incompreendido, um desacreditado, mas com sua esperança e o desejo de salvar-se e salvar os seus pares se fortalece, prossegue a sua luta na tentativa de conquistar outros para batalhas sem armas, municiadas apenas pela palavra, o sonho e o desejo de transformar a realidade. Naquele dia 9 de agosto de 1997, um dia de colheita, ele entendia, com profunda serenidade e certa timidez, ser homenagem a eleição para a cadeira de número 11 da Academia Brasileira de Letras.
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Na primeira entrevista que dava ao Caderno B, do Jornal do Brasil, após o pleito, decidira revelar ao repórter a base do seu pensamento. E orgulhava-se do fato de que "a utopia do plural" com a qual tanto sonhara voltaria aos prelos das editoras e poderia se espalhar novamente. Rosa Freire D'Aguiar, sua mulher, que havia sido correspondente em Paris da Istoé, quando eu trabalhava como repórter da mesma publicação na sucursal do Rio nos idos de 80, saiu para fazer compras, me recomendando não esquecer de dar a ele um cumprido num determinado horário, algo como 30 ou 40 minutos depois. Era raro, mas ele reclamava nesses momentos de tantos medicamentos e parecia se fortalecer mais lendo trechos de livros, sonhando com esse porvir da luz, do que se medicando. E naquele dia, Furtado, para minha felicidade e a dos leitores do JB. fez uma análise profunda da economia brasileira, enfatizando que considerava "espetacular. Incrível mesmo que no limiar do século 21 homens, mulheres e crianças brigassem por terra para plantar e colher o sustento e, assim, ampliar a produção agrícola brasileira. O Movimento dos Sem-Terra (MST) é o que há de mais revolucionário nas últimas décadas neste País". E me explicava que, enquanto países abandonavam as lavouras em busca da industrialização e do conforto das cidades, aqueles que voltavam à terra é que seriam o sustentáculo do futuro. Então para este mestre, brigar pela terra, pelo plantio e a colheita tinha sabor de futuro, como é hoje ao olhar de muitos dirigentes, exatamente como fez a Organização Nacões Unidas (ONU) este ano ao cobrar de todos os países que não abandonem a produção agrícola. A sútil, embora importante diferença, é que Furtado via essa produção como inclusão social e não apenas abastecimento. O autor do clássico "Formação da Economia Brasileira", assim como Darcy Ribeiro, decidira naqueles idos
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se distanciar de Fernando Henrique Cardoso, um de seus discípulos na teoria do subdesenvolvimento a qual imprimiu sua passagem pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948 para traçar políticas para a região. É que Fernando Henrique Cardoso, justificava Furtado, havia deixado de lado a visão humana da importância do homem para abraçar teses neo-liberais, onde o homem fica em segundo plano em relação ao crescimento econômico, como se fosse este a, depois, recompensar esse mesmo homem num efeito conhecido como o de crescer primeiro o bolo para depois o distribuir. Para esse mestre, era preciso olhar primeiro o homem, assegurar o seu bem estar e estimular apenas o crescimento que possa dividir-se e não apenas somar para poucos. A matemática de Furtado nunca foi a de crescer para dividir, mas a de dividir para crescer. Pode parecer sútil, mas faz toda a diferença. O homem que fora na década de 50, diretor do então Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE), que ganharia mais tarde o S de Social, sempre teve uma visão muito firme do papel do Estado na distribuição da renda por meio do crescimento. Antes, havia sido superintendente da SUDENE, desenhando políticas para a região nordestina. A visão de Furtado para atingir os objetivos do crescimento plural - humano e econômico - sempre foi a do Planejamento, aquele que permitisse a matemática do compartilhar. E foi assim que ele ajudou Juscelino Kubitschek a elaborar o seu famoso Plano de Metas. Mas foi como ministro do Planejamento de João Goulart que Furtado pode sonhar mais, procurar transformar em ações as palavras, mas o período foi curto, interrompido pelo golpe militar que mergulhou o País nas trevas, ainda que Ernesto Geisel tenha deixado um legado importante para a sustentabilidade, como a diversificação da nossa matriz energética e a política, enfim, de não-alinhamento com os Estados Unidos, reconhecendo a independência de países africanos e aproximando o Brasil da China e de Cuba. Da fantasia organizada à fantasia desfeita pela ditadura à reconstrução do sonho, Furtado, pôde como Pablo Neruda, confessar que viveu. E viveu plenamente. Do seu legado, fica a visão profundamente humana da sociedade. O respeito ao homem e ao ambiente do homem. A fantasia da qual nunca se desfez até partir para o Reino da Passargada de que falava Manuel Bandeira. E naquela tarde distante de 1997, impossível esquecer esse mestre que me brindou com a lição de que devemos sempre acreditar no homem e que essa é a condição básica para que possamos acreditar em nós mesmos. Ninguém é uma ilha, precisa, mesmo ao encontrar sozinho e com árduo sacríficio a luz, de compartilhar essa descoberta. Até porque sem o outro nada somos. Por isso mesmo e com várias iniciativas como o Centro que leva seu nome, Furtado, tal qual Fênix, renasce a cada manhã nordestina, brasileira, global. Seu pensamento não morreu e suas idéias são sementes jogadas na terra e que oxalá irão germinar. A vida, enfim, ensina a natureza, é plantar e colher. Era isso que Furtado via de mais extraordinário na volta de homens, mulheres e crianças ao campo. Ele viveu no campo das idéias.
MATEMÁTICA DO DIVIDIR PARA CRESCER E NÃO DE CRESCER PARA DIVIDIR
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CONEXÕES DIGITAIS E CULTURAIS
APOIO DE EMPRESAS DE TELEFONIA PARA DIVERSOS PROJETOS SOCIAIS CONFIRMA PAPEL DE INCLUSÃO DO SETOR PRIVATIZADO HÁ 10 ANOS
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A avaliação das entidades do setor Presidentes da Abrafix e Acel analisam papel social das operadoras Mais de 80% dos telefones celulares no Brasil são habilitados em planos pré-pagos – ou seja, de cartões -, que têm a preferência principalmente dos clientes das classes de menor renda. São linhas que geram uma receita média entre R$ 13 e R$ 15 por mês para as operadoras. Com os créditos de um cartão que custa R$ 10, é possível manter um celular ativo por um período de até cinco meses. Ércio Zilli, presidente da Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel), destaca que este pode ser um lado importante do serviço prestado pelas empresas. Afirma que é um bom argumento para revidar a crítica de alguns: o de que este não é um nicho apenas do “filé mignon” do mercado. Diante das estatísticas, que apresentam quatro vezes mais celulares do que fixos, o executivo defende que “é resultado da combinação de um ambiente de intensa concorrência, de uma grande variedade de planos de serviço com preços cada vez mais acessíveis e dos pesados investimentos realizados pelas prestadoras.” Números da Acel mostram que entre 2000 e 2007 foram investidos pelas operadoras de celulares mais de R$ 49 bilhões e em 2008 serão mais R$ 14 bilhões. “Isso possibilita o acesso de todas as camadas da população, especialmente as de menor renda, às facilidades de comunicação permitidas pelo telefone celu-
U
lar e certamente contribuiu para inserir essas pessoas no mercado e melhorar sua qualidade de vida.” Mas e as queixas tão freqüentes em relação aos serviços prestados? Zilli argumenta que a telefonia móvel é o serviço com o maior número de relações individuais de consumo no Brasil. São cerca de 125 milhões de clientes. Segundo o presidente da Acel, o investimento na melhoria do atendimento aos seus usuários é permanente e tem tido resultados positivos. “O número de usuários cresceu 40% entre março de 2006 e março de 2008, enquanto a taxa de reclamações recebidas pelas operadoras caiu pela metade no mesmo período”, afirma. No caso dos telefones fixos, depois de um “boom” de crescimento nos anos após a privatização – diante da grande demanda reprimida - o número tem se mantido praticamente o mesmo nos últimos meses. As classes D e E representam hoje 50% dos serviços prestados, mas novos clientes de menor renda têm dificuldades de adquirir uma linha, principalmente, diante do orçamento apertado. O presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), José Fernandes Pauletti, observa que o potencial de novos consumidores interessados em uma linha fixa é imenso. Mas que faltam algumas mudanças ou inovações para conseguir atrair novos usuários. Se a reforma tributária fosse aprovada, acrescenta, também poderia haver redução nos impostos incidentes sobre as contas.
ma guerra de liminares marcou a privatização das telefônicas há exatos 10 anos. Se, até então, havia fila que podia se arrastar por anos para conseguir uma linha, abrindo espaço até para o mercado paralelo, e os celulares eram acessíveis apenas para poucos abastados, o que se vê hoje é um cenário completamente distinto. O País já tem hoje três vezes mais celulares do que linhas fixas. De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), até março de 2008, eram 125,8 milhões de celulares e 39 milhões de fixos. Não é só. A competição acirrada permitiu queda de preços e melhoria nos serviços. E as inovações tecnológicas fervilham por todo lado. É bem verdade também que as reclamações dos clientes indicam ainda haver um bom caminho para melhoria, especialmente nos serviços prestados. Mas não há como negar que desde a privatização muito se avançou.
“Estou levantando agora a idéia, por exemplo, de um Bolsa Comunicação, nos moldes do Bolsa Família. Seria uma ajuda, vamos supor, de R$ 10 ou R$ 15 por mês para que os menos favorecidos pudessem ter sua linha.” Pauletti frisa que as operadoras não querem receber este dinheiro diretamente, mas os recursos seriam dados, com destino certo para as comunicações a estas famílias. Questionado se o mesmo efeito não pode ser conseguido na trajetória atual – com a economia em crescimento, gerando mais empregos e renda – o presidente da Abrafix responde. “Pode ser um caminho. Mas leva muito mais tempo. Um Bolsa Comunicação daria acesso mais rápido para estas famílias.” Na avaliação do presidente da Abrafix esta precisará ser uma decisão do Governo Federal. As metas de universalização já foram cumpridas: há oferta, mas não há procura. “Chegamos a 5,5 mil municípios e 40 mil localidades. Temos um papel social enorme. Sem falar nos orelhões. O celular chega apenas em 2 mil municípios e na hora de falar, os menos favorecidos usam mesmo o orelhão que é muito mais em conta.” Os investimentos realizados pelas empresas desde a privatização, observa Pauletti, “beneficiaram o País e a sociedade, pois possibilitou o alcance da comunicação a todas as localidades e cidadãos, sem distinção de poder aquisitivo. “Hoje, 100% do território nacional possuem acesso público ou dedicado à telefonia fixa, com crescimento de 120% na base de usuários e salto de 18 a quase 40 milhões de clientes.
As telecomunicações prevêem ainda um papel social. O projeto de transferência para o setor privado exigiu várias condicionantes neste sentido, as chamadas metas de universalização, como a instalação de mais orelhões em pontos distantes e o atendimento em áreas que nunca haviam sido interligadas a cidades vizinhas, cão restante do país e do mundo. De lá para cá, o que se viu foi não só o atendimento da maior parte destas exigências. As comunicações cumpriram um papel de interligar pontos, de conectar pessoas, de dar acesso às informações. Independentemente de renda e classe social. Foram principalmente os trabal-
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Telefonia hadores das classes C, D e E que tiveram acesso ao que antes parecia artigo de luxo. Celulares – especialmente os de cartão (ou pré-pagos) – não tão somente viabilizaram ligações: ajudaram a garantir empregos de autônomos que puderam passar a ser localizados onde bem estivessem. A diarista Mara Rosângela Soares Gomes, 51 anos, que o diga. Moradora da Cidade de Deus (RJ) consegue administrar a concorrida agenda de trabalho semanal em quatro lugares distantes, que vão do Leme à Niterói, incluindo a Ilha do Governador. O celular é instrumento de trabalho. “Nem me lembro mais como era complicado antes de ter o celular. É uma mão na roda. As pessoas sempre me localizam e ainda consigo fazer alguns bicos com artesanato e congelados.” Iniciativa própria das empresas, através de Institutos e Fundações, tem contribuído também para reduzir o imenso abismo digital e cultural entre os diversos filhos de um mesmo Brasil. Mais do que os números, são histórias da vida real, relatadas pelos personagens que ajudam ainda mais a contar esta transformação. Plurale em revista conheceu in loco algumas destas ações, relatadas aqui nesta reportagem especial.
Faz uma década, mas parece um século Naquele tempo, ter um amigo dentro da Telerj valia ouro. Quem não tinha, esperava até três anos para conseguir a instalação de uma linha. No mercado paralelo, linhas telefônicas eram cotadas como ações na Bolsa e muita gente ficou rica. Transferência de assinatura, mudança de endereço ou um simples reparo, às vezes, demorava meses. Algumas áreas, como Barra da Tijuca, Ipanema, Copacabana e Leblon eram ainda mais críticas. A construção do Metrô arrebentou a rede telefônica e levou ao caos o Centro da cidade. Os temporais de janeiro afogavam os cabos subterrâneos, emudecendo os telefones. Assinantes desesperados conviviam meses com o “mudinho”, à espera de conserto. Linhas cruzadas, ruídos e quedas de ligações eram comuns. Houve até casos de pessoas que se conheceram através de linhas cruzadas, namoraram e se casaram. Erros nas contas telefônicas fermentavam o bolo de reclamações. Ligações para o Telessexo e para localidades onde o assinante não conhecia ninguém eram contestadas na Justiça. Os empregados da Telerj se escondiam dos amigos para não receberem pedidos de ajuda e os jornais malhavam a Empresa apelidada de Telerda pelo Artur Xexéo, de O Globo. Um milhão 500 mil pessoas estavam
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numa fila há dois anos, esperando por uma linha celular, quando começou a operar a Telerj Celular, desmembrada da Telerj, no início de 1998. Os primeiros aparelhos eram os veiculares; depois surgiram os transportáveis, que eram maiores do que um laptop. Logo vieram os mais modernos, pesando cerca de 1kg, com aparência de um tijolo. Para comprar um celular era preciso pagar uma caução de R$ 20.000,00. A Taxa de Habilitação era R$ 308,16 e foi reduzida para R$ 80,00, mas só para quem já estava habilitado há certo tempo . Em dezembro daquele ano, a Empresa tinha 653.956 clientes, sendo 436.279 analógicos e 217.677 digitais. Em dezembro, entrou no mercado a ATL (hoje Claro), explorando a banda B da telefonia celular. Já em 2001, o Rio se tornou o primeiro estado brasileiro a ter mais celulares do que telefones fixos.
Quanta emocion! Serão japoneses, alemães, franceses, italianos, americanos, espanhóis? Que língua teremos que falar com nossos novos chefes? Desde janeiro de 1998, os 500 empregados da Telerj Celular, recém-separada da operadora de telefonia fixa, viviam na expectativa
da privatização das teles. Em 28 de julho, dia do leilão na Bolsa, a notícia chegou pelo celular: são os espanhóis da Telefónica. Pela rádiopeão, toda a empresa já sabia da novidade e o house organ só veio confirmar e dar mais detalhes. Os novos donos chegaram logo. Ordem em espanhol era cumprida sem discussão. Atordoados com as mudanças, os empregados agiam como autômatos, cada um tratando de se garantir no seu posto, pois pairava no ar o medo da demissão. O clima era de salve-se quem puder, apesar da simpatia e tranqüilidade dos diretores que chegavam de Madri. Mudança mesmo só veio com a chegada da concorrência, em dezembro daquele ano. A reestruturação da empresa exigiu, entre outras coisas, a criação de uma diretoria comercial, para a qual foram contratados profissionais de marketing. Até então o conforto do monopólio dispensava marketeiros. Outras áreas, como vendas, sistemas e rede, também captaram mão de obra no mercado. Começaram a conviver três grupos bem distintos: os antigos da estatal, os espanhóis, e os recém-admitidos, jovens que chegavam cheios de gás, MBAs e idiomas.
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Usinas de
SOM
JOVENS DE ESCOLAS PÚBLICAS APRENDEM MÚSICA COM O APOIO DA TIM
É
bom tomar fôlego. São quatro andares, com dois lances de escada cada um, separando o pátio da Escola Soares Pereira, na Tijuca, das salas de oficina de música. No último lance de escada, a balbúrdia do recreio fica para trás e os primeiros acordes já podem ser ouvidos. Que vêm de diferentes instrumentos: teclado, violão, cavaquinho, pandeiro e até mesmo o som forte a partir de passos firmes no chão, como se fossem uma dança. Dependendo do dia da semana, também há aulas de instrumentos de sopro e percussão. Tudo faz parte das aulas de música promovidas pela Tim, dentro do Tim Música nas Escolas. “Estou realizando um sonho”, revela Paloma Gomes da Silva, 14 anos, que fazia sua segunda aula. Passou nos testes e sonha aprender a tocar sax. Mas quer mesmo é ser cantora. O pai é mestre de obras e a mãe morreu. Lucas Ambrósio Mota é ainda mais jovem, tem 12 anos, no entanto, já acumula experiência no cavaquinho. Tira um som de alegrar a alma. “Adoro chorinho. Acho que vou ganhar um do meu pai no meu aniversário”, contava, com os olhos brilhando. Ícaro Belini, 20 anos, visitava os professores e passava sua experiência para quem está começando. Morador de Realengo (Zona Oeste do Rio), freqüentou as aulas de bateria em outra escola pública, apoiada pelo Tim Música. “Aprendi a tocar todos os instrumentos de percussão.” Os amigos brincavam que tocar surdo, por exemplo, não chega a ser música mesmo. Aluno do curso de tecnólogo em Automação Industrial, Ícaro faz pé firme. “Onde já se viu? Percussão é música sim. E das boas.” O professor Leandro Braga, músico profissional, dá aula de Harmonia no teclado para a garotada. Ele conta que
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Telefonia alguns já nascem com o dom e pegam mais fácil. Outros, com um pouco mais de esforço, aprendem nas aulas. “Nem todos seguirão carreira como músicos. Mas, certamente, serão ao menos uma platéia atenta.” As oficinas têm ajudado também nos estudos. A diretora da Escola Soares Pereira, Maria Araújo, confirma: o desempenho escolar melhorou e a evasão escolar caiu. “As aulas de música contribuem para que eles prestem mais atenção e tem ajudado muito no ensino.” Um exemplo é Jefferson Luiz da Silva, 18 anos, aluno do 2º ano do Ensino Médio. Há três anos no projeto, ele mesmo confessa ser “um pouco bagunceiro”. Os professores, hoje, se derramam em elogios ao aluno. “Já tinha até repetido e minha mãe vivia dizendo que eu não tinha jeito. Não gostava mesmo de estudar. As aulas de música mudaram a minha vida”, conta Jefferson. Casos como o dele são freqüentes, diz a coordenadora pedagógica do programa Tim Música no Rio, Rita Kerder. “As atividades ajudam a escutar o outro, a aprender a dialogar.” A Tijuca é um bairro cercado de várias comunidades, como o Borel, Salgueiro e tantas outras. A escola pública Soares Pereira, com 1,2 mil alunos, recebe muitos destes jovens. Alguns, de facções rivais. “O clima melhorou muito com as oficinas e aulas do projeto”, revela a diretora. Os melhores alunos do Tim nas Escolas são selecionados pelos professores e tornam-se “embaixadores”, com direito a aulas ainda mais intensivas e apresentações. Podem até vir a tocar ao lado de celebridades, como Milton Nascimento e Chico Buarque. Está sendo reformada uma casa da Tijuca para abrigar as aulas para estes jovens talentos. Pesquisa realizada com 8 mil pessoas, entre 2005 e 2006, sob a coordenação do professor Flávio Comim, doutor em Economia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador da Universidade de Cambridge, mostrou que o impacto do envolvimento no projeto equivale a um acréscimo de um a dois anos de estudo para os alunos participantes. “Isso é fantástico. Estamos ajudando a formar cidadãos”, afirma José Paulo David, dirigente da Tim/Rio. Ele lembra que o programa está conectado à estratégia da Tim e alinhado com os negó-
Para Ouvir e
sentir VIVO E TELEFÔNICA ESTIMULAM VOLUNTÁRIOS EM SUAS AÇÕES
Ser voluntário não é uma missão que possa ser destinada pela chefia para os subordinados cumprirem. É preciso ter vontade e disposição para fazer sua parte porque quer fazer diferença e não para marcar pontos na empresa. Foi assim que começou o trabalho de voluntários da Vivo, antes mesmo da companhia lançar um programa estruturado. De dentro para fora. Empregados de São Paulo e também do Rio de Janeiro trabalham com a transcrição em Braille e com a gravação de audiolivros. Em 2005, o Instituto Vivo estru-
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cios da companhia. O slogan da Tim é “Viver sem fronteiras” e a música, na opinião de José Paulo, cumpre muito este papel. O Tim Música nas Escolas foi criado em 2003, já beneficiou mais de 20 mil crianças e adolescentes da rede pública de ensino, em 13 cidades brasileiras. Iniciado na cidade de São Paulo, o programa atualmente é desenvolvido em Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE) e Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ), Santo André (SP), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG), Manaus (AM) e Natal (RN). O programa é uma parceria da Tim com as secretarias municipais e estaduais de Educação, que selecionam, com base nas informações do censo demográfico e mapas de exclusão social, as áreas e as escolas que serão beneficiadas. O objetivo é possibilitar aos participantes novas formas de aprendizagem, para contribuir com a melhoria do desempenho escolar e estimular o desenvolvimento de uma cultura de paz.
turou, deu foco e apoiou inovações no programa de voluntariado. As gravações são feitas nos Espaços Vivo Voluntários do Rio e de São Paulo. E foi lançada também a audiodescrição, no Teatro Vivo, na capital paulista, a primeira casa de espetáculos a oferecer este recurso para espectadores com deficiência visual. Voluntários treinados gravam, pelo mesmo sistema de traduções simultâneas, informações para as pessoas especiais. Em um ano, já foram gravadas aproximadamente 600 horas de áudio e impressas mais de 200 mil páginas em Braille. São parceiras neste projeto instituições de todo o país, como Fundação Dorina Nowill, Laramra, Audioteca Sal &Luz, entre outras. Um livro “inclusivo”, mostran-
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do para quem não é deficiente visual como é o mundo deles e uma exposição sensorial, para ouvir, cheirar e sentir são algumas ações recentes neste sentido. “Escolhemos uma causa considerada ingrata por muitas empresas. A maioria quer trabalhar com jovens, com crianças. Nós também lidamos com este público, mas estamos focando na inclusão de deficientes visuais”, diz Karina Forlenza, diretora de Responsabilidade Socioambiental da Vivo. Como resultado, ela comemora o fato de o Instituto ser considerado uma referência na área e estar sendo chamado inclusive para participar opinando em políticas públicas. O segundo pilar de atuação está ligado ao Programa Soluções Inclusivas, por meio do qual se implantou o Resumo da Prestação para os clientes pós-pagos com deficiência visual. As informações sobre a utilização dos serviços e planos da operadora são em Braille. Para os clientes pré-pagos com deficiência visual, há isenção das cobranças para a consulta de saldos de celulares pelo serviço do *5005. A empresa também tem o Programa Vivo Recicle seu Celular, ou seja, coleta e reciclagem de aparelhos, baterias e acessórios usados para o descarte adequado.
TELEFÔNICA
Jovens carentes, assim como os que já estão em processo de recuperação com liberdade assistida ou prestando serviços à comunidade são o foco principal da Fundação Telefônica. O programa chama-se Pró-menino e se divide em várias ações. Há ainda ações intensas contra o trabalho infantil e contribuição para o financiamento de projetos de implantação de redes sociais e eletrônicas de informação entre os Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente e as entidades de assistência dos municípios. Para complementar, também os professores recebem atenção especial, através do Educarede. A idéia é valorizar os protagonistas de uma narrativa muito interessante: a das escolas. Alunos e professores e pessoas da comunidade se juntam para relatar esta história. Em 2007 foram apoiados 74 projetos, beneficiando 4,2 mil pessoas. “Queremos ajudar a construir um futuro melhor para estas crianças”, explica Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação Telefônica. As ações no Brasil integram uma rede de outros tantos projetos sociais do grupo Telefónica, da Espanha, em diversos países latino-americanos. Isto ajuda a integrar e trocar experiências. Filho de José Mindlin, que depois de anos de vida empresarial tornou-se referência pela sua biblioteca de obras raras (a maior do país), Sérgio sabe que o conhecimento existe para ser democratizado. E que nem só os computadores serão capazes de disseminar todas as informações se não houver uma boa base tradicional de aprendizagem. “O computador ajuda. Mas a educação tradicional ainda é muito importante”, diz Sérgio.
Apoio ao deficiente CLARO TEM PROJETO PREMIADO DE INCLUSÃO A Claro além do apoio ao desenvolvimento cultural, por meio de projetos musicais e de cinema, tem uma ação premiada de inclusão social desenvolvida em parceria com a entidade SORRI Campinas, que capacita portadores de deficiência física, mental e pessoas excluídas ao mercado de trabalho. Esse projeto, batizado de Claro para Todos, atende mais de 250 pessoas com o objetivo de integrar seus participantes de forma satisfatória no mercado de trabalho e na vida da comunidade. A parceria é responsável, entre outras ações, por uma série de treinamentos que terão duração de dois anos. Os temas dos cursos são: Informática; Orientação para o Trabalho; Atendimento ao Cliente e Tele-atendimento. O balanço da empresa espelha ações em toda a sua área de cobertura.
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Educação OI PATROCINA FÁBRICA DE JOGOS Aprender Matemática nunca foi fácil para o jovem pernambucano Juscelino Reis Barbosa, de 17 anos, aluno do Centro Experimental Cícero Dias, escola pública estadual em Recife. Filho de mensageiro e de recepcionista, o menino tímido acreditava que quando crescesse poderia se empregar como porteiro. Ou, se desse sorte, conseguiria passar para concurso de gari. Hoje, sonha mais alto. “Quero trabalhar com informática. Processador ou técnico. Quem sabe até, estudando firme, posso vir a me tornar um programador de jogos virtuais.” Ele está cursando há um ano as aulas na Fábrica de Jogos, implantada no Centro Experimental Cícero Dias. Pioneira no país, a Fábrica ensina os alunos a produzir games, desde a programação até a animação dos jogos. A idéia é transformar a escola em um centro de pesquisa em tecnologia, onde os alunos aprendem noções de robótica e como criar jogos eletrônicos. Essas disciplinas também são incorporadas ao ensino de outras matérias como Matemática, Geografia e Português, numa proposta que valoriza o ensino multidisciplinar. Juscelino é a prova viva que o projeto em Recife está mesmo ajudando na aprendizagem. Se, até então, tinha grande dificuldade com cálculos matemáticos, hoje consegue entender a lógica da disciplina. “As aulas na Fábrica de Jogos me ajudaram a ter raciocínio matemático”, conta o estudante à Plurale em revista. Na sala colorida de computadores de última geração, ele e outros 260 jovens sonham, de olhos bem abertos, com o que o futuro lhes reserva. “A realidade destes meninos e meninas é muito dura. A Fábrica está ensinando não só a despertar o lado lúdico e tecnológico, mas também o raciocínio e a disciplina”, explica o PHD pela Universidade da Califórnia, Lúcio Meira, professor de Psicologia Cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco. Ele implantou a Fábrica de Jogos em 2006, com o irmão, também PHD, só que por Cambridge, Sílvio Meira, do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), em
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parceria com o Geração Oi. O Geração Oi é um programa do Oi Futuro (instituto de responsabilidade social da operadora de telefonia Oi), voltado para a pesquisa e desenvolvimento de soluções educativas que utilizem de forma diferenciada as tecnologias da informação e da comunicação no ensino médio. O objetivo é formar jovens preparados para a educação, o desenvolvimento cognitivo e para a participação construtiva na cultura digital. Criado em 2004, o Geração Oi é estruturado através de parcerias com secretarias estaduais de educação, universidades e organismos do terceiro setor. O aprendizado ocupa quatro tempos semanais de 260 alunos. Como a Fábrica só tem dois anos, e a produção de um bom game leva tempo para quem não é ainda especialista, a maior conquista dos jovens alunos de Recife é terem alguns jogos aceitos no campeonato nacional do ramo. “Isso é um grande feito”, explica Lúcio Meira, coordenador do projeto. Curiosamente, meninas se destacam na Fábrica. “Os meninos são ótimos, mas as garotas também são bem talentosas”, conta Lúcio. Quando estiverem prontos, estes jogos serão disponibilizados para outras escolas do país. Em novembro de 2007, alunos e professores do Centro de Ensino Experimental Cícero Dias foram premiados na feira "Ciência Jovem" com o projeto “banheiro inteligente”, que concorreu na categoria "Desenvolvimento Tecnológico" com outras 22 escolas do país. No protótipo, todo o uso da água no ambiente é monitorado por um computador associado a placas robóticas, que através de sensores controlam o tempo de utilização da água, de forma a evitar o desperdício. O curso agora passou a ser profissionalizante. A intenção é que seja aberta uma janela de oportunidades futura, quem sabe, para que os jovens sigam este segmento – ou outro ligado à Informática. Para quem não sabe, Recife tornou-se um pólo de produção tecnológica, com o Porto Digital.
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Biblioteca on-line
INSTITUTO EMBRATEL VAI À ESCOLA Fábio de Souza tem 22 anos. Poderia aproveitar o tempo livre para namorar, passear ou simplesmente navegar na rede. Sua agenda tem outros compromissos prioritários. Não que ele não descanse ou namore. Mas o jovem do Distrito de Papucaia, em Cachoeiro de Macacu (RJ), passa a maior parte do seu tempo na Escola Estadual Sol Nascente. Seja estudando à noite no terceiro ano do ensino médio, preparando-se para o Vestibular, seja trabalhando como voluntário. “Isso aqui é minha segunda casa.” A região, onde vivem também imigrantes japoneses trabalhando na lavoura, especialmente a da goiaba, viveu dias conturbados no passado recente. Na década de 60, nascia em Papucaia um dos projetos de reforma agrária no Governo João Goulart. Ferroviários e estudantes apoiaram a iniciativa. Com o golpe militar, acabou não avançando. Agora, uma nova “revolução” está em curso no vale verde e ensolarado: desta vez, do conhecimento, protagonizada por estudantes e professores. E tem tudo para ter um final feliz. Em parceria com o Instituto Embratel, quatro computadores foram instalados na biblioteca da escola pública. “Estou aprendendo um mundo de coisas que nem imaginava. Agora, vou poder fazer trabalhos de pesquisa e aprender a mexer direito no computador”, diz Thaisy Lagoas da Silva, 14 anos, recémchegada para as aulas. Monitores voluntários, mais experientes no mundo dos bytes - como Fábio, Thaynã Cristina e outros - ajudam os colegas a aprender a se conectar ao mundo digital. Orkut e msn – para desolação da garotada – são proibidos. O objetivo é realmente utilizar a rede como uma ferramenta a mais de aprendizagem. A Escola funciona em três turnos e atende 1860 alunos. Mesmo sem sala de bate-papo, o interesse dos alunos foi tanto que tornouse necessário marcar hora para que todos pudessem ter acesso de ao menos meia hora nos computadores. Inclusive aos sábados, quando a biblioteca é aberta para alunos de outras escolas da região e moradores. “Parece festa. Temos mais gente na escola do que na pracinha”, comemora o diretor da Sol Nascente, o professor de Educação Física Rodolpho Monte, 45 anos. Uma boa notícia foi recebida no dia da visita da equipe de Plurale à escola, junto com o diretor do Instituto Embratel, Luiz Bressan: dois novos computadores vão ser instalados para ajudar a atender tanta demanda. Com a pasta cheia de pesquisas dos alunos, o professor de História da Sol Nascente, João Ferreira, revela que a qualidade dos trabalhos melhorou muito com o acesso à rede. “Não aceito copiar e colar. Eles estão aprendendo a pesquisar e tirar suas próprias conclusões. Começam a deixar de ser copistas para serem pesquisadores”, diz. Também voluntário, o Professor João se reveza com a bibliotecária Ilma de Souza Menegussi para que a biblioteca possa ficar aberta no horário noturno e os computadores sejam acessados. Os livros
são procurados – aumentou a procura - mas os computadores são “estrelas” em cena. “Os alunos pesquisam em duplas. Procuramos indicar bons sites e também aconselhar a complementação nos livros”, explica Ilma. Os resultados podem ser vistos e conferidos. “O que mais nos anima é que a evasão escolar diminuiu”, diz Luiz Bressan, diretor do Instituto Embratel. A iniciativa em Papucaia é uma em um total de 48 na Amazônia, Bahia, Pernambuco, Tocantins, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais, beneficiando cerca de 28 mil alunos e professores. Integram o Projeto Embratel de Educação, iniciado em 2006, com o objetivo de reduzir a exclusão digital através da instalação de laboratórios digitais em escolas rurais e em regiões remotas. Outras 63 escolas do interior do Estad do Rio – sempre públicas, escolhidas em parceria com as secretarias municipal e estadual – passarão a integrar o projeto no segundo semestre de 2008. “Não queremos só doar o computador e dar acesso à rede. Queremos ajudar no desenvolvimento educacional e social das regiões”, explica Bressan. De acordo com dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 72% dos alunos rurais de 10 a 14 anos estão atrasados nos estudos. Já nas cidades este indicador cai para 50%. A Embratel e a Star One (empresa de satélites do grupo) oferecem o acesso via satélite, o que permite interligar, por exemplo, a reserva extrativista Chico Mendes, no Acre ou áreas rurais distantes de Norte a Sul. O interior de Garanhuns (PE), cujo filho mais ilustre é o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também passará a fazer parte, em breve, da rede. Que inclui ainda acesso à Biblioteca Digital Multimídia, que armazena livros, gravuras e vídeos digitalizados disponíveis para download no site do Instituto Embratel, canal de TV também do Instituto e um canal de rádio em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, além de cursos online.
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PELO MUNDO A MISÉRIA DE DARFUR E A LOUIS VUITTON TEXTO [YUME IKEDA DE TÓQUIO]
Um incidente com a marca Louis Vuitton acabou chamando a atenção, em todo o mundo, para o drama da população de Darfur, no Sudão. É que a artista dinamarquesa Nadia Plesner, uma ativista do movimento em defesa das vítimas de Darfur, decidiu usar grifes de luxo, no caso bolsas da Louis Vuitton, numa obra que pintou e e que foi transferida para camisetas e gravuras cuja venda procura minimizar a miséria naquele esquecido país. As camisetas também são um alerta para o consumismo exagerado enquanto em vários países do mundo a fome é a mais contundente realidade. Os donos e administradores de Louis Vuitton não gostaram nada, nada da história e acionaram a artista na Justiça pelo uso não autorizado de sua imagem. Ao processar, a grife chamou ainda mais atenção para a obra da militante, que o fazia em silêncio, divulgando na internet e atingindo apenas pessoas interessadas na causa. Agora, as camisetas e as obras de Plesner, que não têm restrição ainda para a comercialização, estão vendendo como nunca. As vítimas de Darfur agradecem, é claro. Para quem quer comprar, basta entrar no site www.nadiaplesner.com . Em tempo: aceita todos os cartões de crédito internacionais. A camiseta é o must do momento.
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ENERGIA COM DESIGN TEXTO [RITA BASTOS DE LONDRES]
O designer francês Philippe Starck assina a criação de do que classificou de "gerador eólico individual, acessível e democrático". O aparelho que pode ser instalado em jardins e quintais é comercializado pelo grupo italiano Pramac, fabricante de eletrodomésticos e interessado em energia renovável. Parecido com uma batedeira de cozinha com um motor integrado, simples e de fácil montagem, o gerador chega ao setembro e poderá responder, de acordo com seu tamanho, por 10% a 60% do consumo de energia de uma residência. O produto deve chegar ao mercado por 300 ou 400 euros.
UMA TAÇA DE FEL TEXTO [IVNA MALULY DE BRUXELAS]
A grande maioria dos vinhos europeus e de outras parte do mundo contêm resíduos de pesticidas, muitos deles potencialmente cancerígenos, tóxicos ou nefastos ao seu desenvolvimento ou a sua reproduçao, de acordo com o estudo feito pela instituiçao Pesticides Action Network-Europe que tem apoio do grupo dos Verdes do Parlamento Europeu. O estudo é baseado na análise de 40 vinhos tintos produzidos em 2002 em cidades da França, Áustria, Alemanha, Itália, Portugal e também fora da Europa como em cidades da Africa do Sul, Austrália e Chile. 34 vinhos eram frutos da fabricaçao clássica, convencional e outros seis da produçao biológica. De acordo com os resultados das análises, o conjunto de vinhos convencionais estavam contaminados por resíduos de aproximadamente quatro pesticidas diferentes, os mais contaminados continham 10 tipos de resíduos, mas nunca além do limite máximo autorizado. Sobre os seis vinhos bioanalisados, um continha igualmente pesticidas.
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PELO MUNDO EXEMPLO NÓRDICO TEXTO [VALÉRIA MACIEL DE OSLO, NORUEGA]
tocolo de Kyoto, financiar medidas de reduções em países em desenvolvimento. Internamente as autoridades informaram que vão aumentar as verbas para os transportes públicos a fim de reduzir as emissões. Eles vão usar o que chamam de “política da recompensa e castigo”. Ou seja, as cidades que apostarem no transporte público vão ter o dobro de recompensas, com a condição de fazer um acordo para reduzir o tráfego de automóveis. As A Noruega planeja neutralizar totalmente sua emissão de carbono até 2030,
autoridades
também
ou seja, a partir daquele ano todas as emissões do país deverão ser compensa-
anunciaram que deverão
das em outros lugares. A meta foi estabelecida em 2008 entre os partidos polí-
aumentar os impostos dos
ticos e o Governo da Noruega.
combustíveis. O objetivo,
Ainda segundo as políticas ambientais acordadas, aproximadamente 2/3 das reduções totais das emissões serão obtidas pela própria Noruega. O país também pretender aumentar o esforço na busca por energias renováveis, e desenvolvimento de novas tecnologias. A Noruega se comprometeu ainda, de acordo com as disposições do Pro-
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diz o Governo, é estimular um comportamento mais ambiental e reduzir as emissões dos gases estufa.
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ético 47 >
madeira
certificada
Não é pecado ecologicamente ter em casa objetos de madeira. Só que o consumidor ético deve estar atento para a certificação. Para facilitar, a organização não-governamental www.florestavivaamazonas.org.br oferece dicas de lançamentos como as que você encontra aqui.
Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs
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reportagem especial
CUSTA CARO IGNORĂ‚NCIA
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índices e posturas que decididamente não enchem de orgulho o Brasil deste século XXI. NÃO HAVERÁ Para a especialista, o jornalista COM SUSTENTABILIDADE SEM INVESTIMENTO EM ESCOLAS tem a obrigação de “levantar cortinas para desobstruir a visão do público”, E SEM O USO DAS MODERNAS TECNOLOGIAS algo que a própria Ana começou a AUDIOVISUAIS. perseguir desde que colaborou com o primeiro jornal de sua vida - o pequeno Opinião, rodado em estêncil - ainda no tempo do colégio, quando era uma das melhores TEXTO [MARIA HELENA MALTA] alunas de redação. Ela já queria ser jornalista e, se possível, correspondente de guerra - o que, de acordo com o sonho, seria FOTOS [DIVULGAÇÃO] a garantia de uma vida de aventuras e emoções. Mas a paulista Ana Lagoa, carioca por adoção há 35 anos, não foi à guerra. Ainda assim, enfrentou pesadas aventuras e emoções pelo Brasil afora, desde o primeiro emprego no Rio de Janeiro, na frase rebelde que Última Hora, quando passou uma semana ao lado de um motoserve de título, retirista de ônibus, colecionando tocantes histórias de vítimas de atrorada de um cartaz pelamento. Logo depois, saiu em busca de explicação para as muida última manifestas capelas abandonadas da cidade e hoje afirma que pouca coitação de estudansa mudou. “Não há preservação de monumentos históricos. As tes parisienses conboas iniciativas nesse sentido estão vindo, em geral, do setor pritra o corte de vagas vado. E não se valoriza isso”, lamenta a jornalista, que optou pelo para professores bacharelado em História aos 17 anos, com o objetivo de “consenos liceus da França, está sublinhada em guir entender o mundo”. vermelho, num recorte colocado sobre a Hoje, além dos 37 anos de jornalismo - em redações como as mesa de trabalho de Ana Lagôa, jornalista, da Folha de São Paulo, Editora Abril, O Estado de S. Paulo, O Gloeducadora e especialista em gestão do bo, Jornal de Brasília, Isto É e Jornal do Brasil -, Ana leva na bagaconhecimento, em seu pequeno apartagem o tal curso de História, um mestrado em Educação e uma mento de Ipanema, no Rio, que funciona especialização em Gestão da Inteligência Empresarial. Mas isso não como refúgio e oficina de criação. “Os impede que ela ainda se espante com o mundo e, principalmenfranceses têm razão. Eu tenho repetido te, com o país: “Não é possível que o Brasil continue usando de muito isso”, diz ela. forma tão incompetente a tecnologia mais avançada. Além disso, Em meio ao emaranhado de livros, não podemos nos resignar a assistir a programas de TV de quinpapéis, aparelhos de vídeo e áudio, e até ta categoria, sobretudo nos canais abertos, e nisso não vai nenhumarionetes que bailam ao vento suave que ma acusação a esta ou aquela emissora. A Globo, por exemplo, vem da janela, Ana se dedica a inúmeros faz coisas muito boas, como as reportagens sobre Educação do Jorprojetos, inclusive à edição da revista da nal Nacional e a minissérie Queridos amigos, que infelizmente ONG Planeta.com e ao novíssimo Núcleo entrava no ar muito tarde...” de Estudos em Comunicação e Educação Nesta entrevista exclusiva para a Plurale, Ana Lagôa recorda (Nece), que acaba de fundar com um gruo alívio com que trocou a cobertura de política militar pelas edipo de jornalistas e educadores, e onde se torias de educação e lembra, com carinho, sua passagem pela revispretende utilizar a linguagem e os formata Nova Escola, da Editora Abril - que era comprada pelo MEC e tos do jornalismo como mediadores na distribuída às escolas públicas de todo o país, até o contrato ser educação (*). suspenso na gestão de Fernando Collor. Além disso, esmiúça o que “Não há como pensar em progresso lhe parece a única chance de mudar o país: priorizar a educação, cultural, sustentabilidade ou consciência com o uso adequado das modernas tecnologias. Ana só faz uma ecológica, se não há educação, se alguns ressalva: “Morro de medo de campanhas monopolizantes, como educadores não têm a percepção do uso esta recente, prevendo que o governo estabeleceria o que vai ser do audiovisual e se não conseguem formar exibido e em que proporções. A última coisa que eu quero é o cidadãos com a devida visão crítica a resEstado me dizendo o que eu devo assistir ou não na televisão. O peito do que lêem no jornal e na internet, Estado tem é que oferecer educação de qualidade, para que as pesou assistem na TV”, desabafa ela, diante de soas tenham senso crítico e possam se valer com eficácia do seu PARA ESPECIALISTA,
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reportagem especial poder de escolha”. Qual é a função principal do Núcleo de Estudos em Comunicação e Educação (Nece)? Temos um leque de desafios. Em consultorias para escolas e empresas, por exemplo, a idéia geral é mostrar a empresários, funcionários, professores, pais e alunos, que é fundamental ter uma visão crítica daquilo que é publicado na mídia. Como interpretar, comprar, trabalhar em cima desse imenso emaranhado de informações que recebemos hoje? Que tipo de mídias desenvolver dentro da empresa, para a formação de seus funcionários, não apenas no sentido da competência e eficiência, mas também no quesito cidadania? No momento, o Nece está fazendo a coordenação pedagógica do curso de roteiros digitais para novas mídias da ONG Planeta.com, que é parceira do Instituto Oi Futuro na criação da nova escola de ensino médio integrado da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. A dobradinha comunicação-educação também entra neste projeto pedagógico, exatamente como já ocorre - graças à mesma parceria instituto/ONG - na Escola de Ensino Médio Cícero Dias, no Recife, em Pernambuco. Você acha que o país perdeu muito tempo nessa área? Sim, pelo menos duas décadas. Ainda em 1980, na Conferência Nacional de Educação, uma professora veio me dizer: “Eu estou perdendo meus alunos porque não tenho condições de concorrer com a Xuxa”. Se não fosse assim e se nós tivéssemos percebido que este seria o século visual, hoje teríamos um aliado. Mas a verdade é que, em pleno século XXI, há professores que ainda resistem à TV ou ao computador, ou não têm condições financeiras de adquirir um. Enfim, resistem ao uso da tela - isto é, à imagem em movimento -, que deveria ser a grande companheira de trabalho no dia-a-dia. Eu diria que a escola, no Brasil, perdeu algo em torno de 20 anos por absoluta falta de visão dos dirigentes em vários níveis e pela falta de lisura de alguns. Parece que os investimentos foram localizados... Os estados do Rio, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, além de algumas prefeituras, até se esforçaram, a partir dos anos 80, na criação de núcleos de tecnologia. E recentemente o país recomeçou a fazer alguma coisa em termos de inclusão digital. Mas ainda é muito pouco e há graves queixas de falta de capacitação para o uso das máquinas. Basta dizer que em muitos cursos de formação docente, por exemplo, nem se menciona a mídia visual ou o uso dos meios audiovisuais em sala de aula. E não é apenas um problema brasileiro: em Portugal, a disciplina existia, mas foi abolida neste início de ano.
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Enquanto isso, em outros países, peca-se por excesso. Sem dúvida. Devo frisar que não defendo o exagero do Japão, onde o inferno dos estudantes foi muito bem apresentado num programa do GNT e em várias publicações. Quando o sistema é rígido a ponto de tentar adestrar os bebês; de levar crianças a desistirem da escola, a se esconderem no quarto e até mesmo a tentar o suicídio, alguma coisa está muito errada. Não há idéia de progresso, desenvolvimento, competitividade ou excelência que justifique processos de tortura, massificação, estímulo à delação e à violência, ou humilhação pública. Devemos dizer sim à tecnologia, mas não à tortura. No Brasil, apesar do atraso, todo mundo fala em computador, todo mundo quer ser técnico de computador. Não é contraditório? É. Este é o paradoxo: num mundo em que tudo passa pelos meios de comunicação, o técnico é quem fica com os louros. Mas é compreensível: todos querem ter o seu computador e, nesse contexto, o jovem de menor poder aquisitivo deseja ser um técnico, para obter trabalho na área. Ele sabe que precisa correr atrás da sobrevivência no mercado de trabalho. Qual é a proposta específica do Nece para a escola? Nossa proposta é colocar os jovens em contato com a produção midiática. A escola é importantíssima porque é onde se forma a cidadania. Você pode, por exemplo, trabalhar a relação imprensa/escola com um projeto de incentivo à leitura ou com a montagem de um banco de dados a partir de recortes de jornais e revistas. Crianças e jovens adoram fazer isso. E acabam aprendendo a classificar a pesquisa e a separar o joio do trigo. Se você desce do Google uma informação, você pode cruzar os dados e checar cada elemento. Portanto, é preciso aprender a usar a tecnologia: o simples acesso não resulta em conhecimento. Eles precisam entender como pesquisar, selecionar e transformar os dados em conhecimento. A proposta do Nece, portanto, é desenvolver trabalhos de consultoria e assessoria no campo da Educação/Comunicação. Em resumo: os alunos precisam aprender a pensar. Exato. O jornalismo de hoje envolve problemas que ameaçam sua credibilidade, pois está exposto a grupos de interesse, plantadores de informação ou simplesmente ao eventual descuido com a apuração da notícia, a redação e a edição. Portanto, é preciso ensinar a crianças e jovens, de maneira simples, como separar o joio do trigo. Você pode começar perguntando: qual é a palavra-chave deste texto? E, daí em diante, você vai descobrir se a Wikipedia é confiável, como se deve lidar com o Google, como é possível selecionar livros etc. Nossa intenção pode ser resumida no seguinte: utilizamos as formas de produção do jornalismo a serviço da educação. Se um aluno fosse ao Jardim Zoológico e, na volta, fizesse pelo menos um relatório ou uma matéria, já seria uma experiência bem mais enriquecedora do que ficar sentado na sala, assistindo a uma aula burocrática... E como fazer isso, na prática? Este é o ponto fundamental: ensinar a pensar. As oficinas de mídia tanto podem ser feitas com os alunos, como podem ser dirigidas aos professores, como ocorre com o curso Por Dentro dos Meios, do Planeta.com, que acaba de lançar sua versão para o ensino médio. No caso do repórter, se é uma pessoa de boa formação, ele sabe que deve ir justamente àqueles lugares aonde ninguém vai, para abrir as cortinas que estão obstruindo a visão. Tenho trabalhado com recém-formados e um dos grandes problemas tem sido a lingua-
gem da comunicação. Não só a gramática e a ortografia, mas até a dificuldade de contar uma história de forma que todos entendam. Além disso, eles incorporam à escrita termos rebuscados, barrocos, sem saber ao certo que tipo de conceitos estão manipulando. Nas oficinas aprendemos a escrever aprendendo a pensar, porque acreditamos que não pode haver bons jornalistas nem bons educadores, nem bons profissionais de qualquer área, que não sejam bons pensadores e bons contadores de histórias. Tendo a comunicação como centro do processo, fazemos com que essas habilidades migrem para educadores e alunos. Assim, ao dominarem os processos de produção e aperfeiçoarem a leitura e a escrita, eles vão construir uma visão crítica da realidade mais apurada, mais cidadã. Você costuma dizer que a televisão é um importante meio de educação e formação. Mas há críticos ferrenhos. Recentemente, por exemplo, andou circulando pela internet uma mensagem agressiva __ e até meio jurássica __ contra a TV em geral. Isso ainda faz sentido? Claro que não. O texto que circulou realmente demonizava a televisão de uma forma maniqueísta e focava somente na Globo, como se fazia nos anos 70. Falava de consumo como se o problema se limitasse à telinha. E, no entanto, é preciso perceber que a questão do consumo é a própria lógica da sociedade atual e não se restringe à TV: a televisão é só um dos meios de venda. Estão todos imersos na lógica do consumo, do rico ao pobre, e este consumo está depredando o planeta e as relações humanas. Mas, se todos pararem de consumir, qual o modelo que vai fazer a roda girar? Precisa ser inventado... Além do mais, se a pessoa se der ao trabalho de ver todos os canais abertos, vai concluir que a Globo tem a melhor programação. Os outros canais
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exibem coisas de que até Deus duvida e em todos os horários: no geral, é um circo de horrores, onde se faz a apologia do sexo irresponsável, das drogas e da marginalidade. Até mesmo quando a produção é moralista... E de quem é a culpa? A verdade é que a péssima qualidade do conteúdo é fruto da má formação e da falta de ética dos profissionais que lá estão. O conteúdo não é imposto pelos anunciantes. É uma opção das pessoas que estão lá fazendo os programas, que se baseiam numa lógica duvidosa das pesquisas de audiência. Todas as pesquisas que conheço, da faixa mais rica à mais pobre da população brasileira, mostram que há um clamor por melhor qualidade. Por que isso não muda? É bastante complexo. O Eugenio Bucci, no seu livro Sobre ética e imprensa, lembra que algumas empresas jornalísticas vivem dizendo que jornal popularesco, sensacionalista, vende mais. Esses jornais custam centavos, então é claro que vendem mais. Apelam para a desgraça, que é um elemento que toca a psicologia humana. E o Bucci se refere justamente a esse paradoxo: o jornalismo pressupõe um compromisso social e precisa, ao mesmo tempo, sobreviver. O que não significa que alguns produtores da mídia devam fazer o que fazem. Nós temos um poder imenso: usá-lo para o bem ou para o mal está em nossas mãos. Eu não acredito que pessoas habituadas ao BBB não possam se acostumar - e ficar até mais felizes - com Queridos amigos. Tirando as pesquisas de audiência, há pesquisas sobre a qualidade do conteúdo? Sim, há pesquisas que mostram isso: todos, a despeito de origem social ou conta bancária, reclamam uma TV menos apelativa, com informação mais útil e maior compromisso com a qualidade. Nos espetáculos com ingressos acessíveis do Theatro Municipal do Rio, a fila é enorme e depois eles fazem outra fila para cumprimentar os artistas. O desafio, então, é ter coragem para mudar. Precisamos enfrentar essa tensão dos produtores de TV, que se situa entre o fascínio e o medo da mudança. É a mesma tensão que se verifica em relação ao computador. A informação circulante na rede mundial dobra a cada período de 90 dias. Basta este dado para percebermos o quanto será importante educar para o bom uso deste meio.
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Voltando à TV: o que se salva? Ah, muita coisa: o problema é saber escolher e usufruir. Muitos que têm TV por assinatura não sabem fazer isso. Outro dia, por exemplo, vi o documentário Retirada das Malvinas: estupendo. Mas foi no History Channel, que não tem muita divulgação. Também acompanhei recentemente a série Por que democracia?, uma das melhores produções que já vi sobre política. E tenho assistido às sessões do Cine Conhecimento Argentina, com filmes maravilhosos. Mas ambos estão no canal Futura - que não chega totalmente às populações mais pobres e para o qual uma certa intelectualidade torce o nariz. Enfim, eu poderia fazer uma lista imensa de coisas boas. E também é preciso lembrar que as pessoas se informam é pela TV. Só uma minoria se informa primeiro pelo jornal impresso ou pelas revistas semanais. E a televisão pública? Você é a favor? As TVs públicas - que não têm a pressão da audiência e dos anunciantes - em geral só exibem chatices, com gente falando sobre coisas que não interessam a ninguém. Pagam produções audiovisuais com o nosso dinheiro, mas exibem programas de rádio. Com as honrosas exceções de sempre, claro, como é o caso da TV Cultura. Morro de medo de campanhas monopolizantes, como essa mais recente, prevendo que o governo estabeleceria o que vai ser exibido e em que proporções. É uma faca de dois gumes: tanto pode incentivar a produção nacional, quando nos tornar reféns dos modelos tipo “programa de rádio na TV” (faz o sinal de aspas com as mãos). A última coisa que eu quero na vida é o Estado me dizendo o que eu devo assistir ou não. O Estado tem é que oferecer educação de qualidade. Esta é a base para qualquer outra coisa que se possa vislumbrar. A passagem pela revista Nova Escola deve ter sido marcante para as escolhas posteriores... Com certeza. Fui uma das editoras daquele projeto, que chegava mensalmente a uma tiragem de 350 mil exemplares, comprados pelo MEC e distribuídos pelas escolas do ensino público fundamental, em todo o país. Foi lá que eu descobri que a linguagem do jornalismo era uma excelente mediadora do universo da pedagogia para o universo da sala de aula. Este mérito a Abril sempre teve: traduzir as coisas técnicas, científicas, sem perder a seriedade e o conteúdo, e ser bem compreendida. Pena que o contrato tenha sido cortado pelo Fernando Collor. Eu me lembro de uma vez, foi em outubro de 91, em que eu fiz o que seria a matéria mais pungente da minha vida: gravidez de adolescentes. Conseguimos fazer um trabalho de profundidade: a revista foi longe e acabou descobrindo o que estava encoberto, desmontando estereótipos sobre o tema, ouvindo meninas e meninos das 22 cidades onde tínhamos correspondentes. Como foi isso? A idéia era fazer uma matéria que servisse de instrumento ao professor que lidava com as meninas que engravidavam. O mais alarmante é que, já naquela época, a maioria das grávidas acabava abandonando a escola. E o preconceito era grande - tinha até o caso de pai e mãe de aluno que procuravam a professora para cobrar: “Eu soube que tem uma grávida na turma. É um mau exemplo para a minha filha. Vocês não vão fazer nada?” E, ainda por cima, as autoridades responsáveis diziam que as meninas deixavam a escola porque não tinham informação e ficavam com vergonha das colegas. Era men-
tira: descobrimos que elas não eram tão idiotas assim. Por meio de um trabalho lento, que envolveu inclusive uma pesquisa detalhada, chegamos à conclusão de que elas não faziam mais do que buscar o melhor lugar possível dentro de sua realidade. Havia o sonho de liberdade, poder sair etc, havia a história de repetir o modelo da própria mãe e a visão de que a única possibilidade de se tornar uma pessoa notável era ficar grávida do sujeito mais bacana ou mais popular do pedaço __ o que, às vezes, envolvia um bandido, da mesma forma que hoje pode envolver um chefe local do tráfico de drogas. E isso por quê? Porque 65% das grávidas adolescentes no país vinham da faixa mais carente da população... E o problema continua: hoje, uma em cada 10 mulheres que dão à luz no Brasil tem menos de 20 anos. E a preservação dos monumentos históricos? Foi no tempo da Última Hora. E foi chocante, tal era a quantidade de capelas abandonadas no Rio de Janeiro. A imprensa teve papel imenso na recuperação, por exemplo, das estruturas de Ellis Island, que havia sido a porta de entrada dos imigrantes nos Estados Unidos na passagem do século XIX para o XX. Foi fruto de uma campanha... Entre nós, é complicado: parece que já nos acomodamos ao fato de haver poucos recursos públicos e pouca consciência das pessoas a respeito da necessidade de uma política conseqüente nessa área. Não há preservação de monumentos históricos. As boas iniciativas nesse sentido estão vindo, em geral, do setor privado. E não se valoriza isso. Aliás, não há nem consciência do espaço público ou respeito pelo ambiente que nos cerca, e isso independentemente de classe social. Basta olhar em volta e ver o pobre jogando garrafas de plástico na subida do morro, enquanto o rico, sem nenhuma cerimônia, atira latinhas de refrigerante pela janela do carro ou do apartamento...
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reportagem especial
Você nunca mais saiu da educação? Não, nunca mais me desliguei dessa área. Depois de percorrer as coberturas escabrosas __ incluindo assassinatos em série, execuções, chacinas, enchentes etc __ e de ter sido setorista de política militar na época da ditadura, fiquei muito sensível a esse lado pesado do trabalho do repórter e, assim que tive autonomia, procurei sair. Era uma fonte de profunda infelicidade pessoal lidar com os excluídos daquela forma. Eu não via, na época, nenhum sentido social. E aí tomei consciência da utilidade do jornalismo como ferramenta para educar e até para combater o caráter excludente do nosso sistema educacional, que envolve repetência, evasão, preconceito, abandono, desânimo e baixa auto-estima, sem falar em professores que odeiam seus alunos ou selam o destino de uma criança ao não se esforçar para resgatá-la. E como foi esta virada? Depois que abri mão da cobertura política, fui assessora de imprensa do Ibase, na época da fundação; depois fui para São Paulo, onde tive a oportunidade de trabalhar na revista Nova Escola. De volta ao Rio, estive na Fundação Roberto Marinho, onde trabalhei com avaliação de roteiros sob o ponto de vista dos conceitos da educação, participando de reuniões de pauta e definição de projetos editoriais; editei o caderno de Educação e Trabalho do velho JB; passei pelo portal Klick Educação, dirigido a professores e alunos, e também pela MultiRio, empresa de multimeios da rede municipal de educação. Aliás, os bons cadernos de educação desapareceram da maioria dos jornais... Pois é. A imprensa teve inúmeros cadernos sobre o assunto no passado, principalmente entre os anos 60 e 80. Outro dia, o Alberto Dines lembrou o Perseu Abramo, um mestre do jornalismo brasileiro, que chefiou a editoria de Educação da Folha de S. Paulo nos anos mais combativos do regime militar, com denúncias e análises críticas à política educacional brasileira. Antes dele, a mesma Folha fez um suplemente histórico, um balanço dos problemas de educação no país, a cargo do Washington Novaes. E houve milhares de outros: no JB (lembro do Jornal Mural do Brasil e do Jornal do Professor), no Correio da Manhã, no Diário de Notícias, mais recentemente em O Dia etc. Hoje, infelizmente, isso é muito raro. Há apenas algumas revistas a serem citadas: a Nós da Escola, feita pela MultiRio; Educação, da Editora Segmento; Escola e Família, da Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio, e a Presença Pedagógica, da Editora Dimensão, de Minas. Mas nenhuma delas é da chamada grande imprensa. Justamente. E, por isso, o alcance é limitado. No caso das produções ligadas a órgãos de governo, há outro problema: correm o risco de extinção a cada vez que o governo muda de mãos. A situação, no geral, é muito triste. E, no entanto, a educação é o único caminho para o país sair do atraso. É como dizem os estudantes franceses: “A educação é cara? Tentem a ignorância”. Porque a educação é o centro de tudo, é a fábrica da democracia, como dizia o Anísio Teixeira.
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Cultura TEXTO [LÍVIA ESTEVES, SÃO PAULO]
RODA DE samba FOTO [DIVULGAÇÃO]
COMUNIDADE SAMBA DA VELA: HÁ OITO ANOS A VELA DETERMINA O COMEÇO E O FIM DO CULTO AO SAMBA
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odas as segundas-feiras, às 20h30, uma vela é acesa na Casa de Cultura de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Mais de 200 pessoas acompanham semanalmente este ritual que tem o começo e o fim determinado pela chama de uma vela acesa. Em julho a Comunidade completará oito anos de fundação e a festa promete ser grande. Nas rodas, tudo acontece com muito respeito. Nenhum tipo de alimento ou bebida é permitido ali dentro e os fumantes também devem ficar do lado de fora, uma vez que a comunidade recebe pessoas de todas as idades, com o intuito de curtir uma roda de samba de primeira qualidade. Ao contrário da chamada melodia moderna, muito utilizada nos anos 90 por grupos de pagode romântico, as músicas do Samba da Vela seguem a linhagem dos sambas de terreiro. Amor, política, educação, cidadania e, até mesmo desigualdade social e violência, são alguns dos temas abordados nas canções. Com o uso do surdo, do cavaquinho, do pandeiro e do tamborim na composição do samba, as melodias são ouvidas e acompanhadas pelas batidas na palma da mão. Ninguém menos do que a sambista Beth Carvalho para abraçar esta causa e ser a madrinha da Comunidade, que surgiu em julho de 2000, e tem entre os seus fundadores integrantes do grupo Quinteto em Branco e Preto e moradores da periferia de Santo Amaro. Chapinha, Paqüera, Magnu e Maurílio são os responsáveis por fazer o Samba da Vela acontecer e pela criação destas reuniões que há quase oito anos acontecem na Casa de Cultura de Santo Amaro, zona sul da capital. Muita alegria, samba e integração são os ingredientes principais do Samba da Vela. Um outro ingrediente que funciona tão bem é a vela, que hoje adquiriu uma carga extra de significados. Tomando como parâmetro as cores da Comunidade, o azul e o rosa, criouse então um calendário no qual a vela, mais uma vez, dita os passos.
Por um mês, com a chama da vela rosa acesa, os compositores apresentam apenas sambas inéditos ao público. Passadas as quatros semanas, é a vela azul que rouba a cena. Os músicos cantam os sambas apresentados no mês anterior e, assim, a comunidade aprende a cantá-los. Logo, os melhores sambas são editados e escolhidos para integrar o caderno de composições do Samba da Vela, que é distribuído aos freqüentadores da casa, sob a chama acesa de uma vela branca. E nesses anos, mais de 100 compositores tiveram a oportunidade de divulgar seu trabalho na Casa de Cultura. E entre as melodias criadas ali, Beth Carvalho, Jair Rodrigues, Reinaldo (o Príncipe do Pagode), Fabiana Cozza, Tobias da Vai-Vai e o próprio Quinteto em Preto e Branco tornaram as canções divulgadas pelas primeiras vezes na Comunidade Samba da Vela ainda mais conhecidas em suas vozes. E o novo CD do Quinteto, denominado “Patrimônio da Humanidade”, lançado em abril pela Trama, traz um Pout-Pourri com as melhores canções do Sambas da Vela. Para encerrar a roda do Samba da Vela, uma deliciosa sopa é servida a todos que prestigiaram o ritual. E é com esse tempero e com o patrocínio da empresa Natura (projeto Natura Musical), que o Samba da Vela atrai verdadeiros admiradores do samba brasileiro. A entrada é gratuita e quem quiser, pode contribuir voluntariamente.
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PELAS EMPRESAS
TIJOLO ECOLÓGICO A Caixa entrou de vez na busca por construções mais sustentáveis. O banco, em parceria com a Prefeitura de Jaú (SP), entregou 10 moradias construídas com tijolos ecológicos produzidos pelos próprios beneficiários, que trabalham em regime de mutirão assistido. As casas foram cons-
CARRINHO SUSTENTÁVEL
truída no Jardim Cila de Lúcio Bauab, em terreno doado pela
Acaba de ser lançado um carrinho de supermercado ecológi-
prefeitura local. O tijolo ecoló-
co. Ao invés da cesta fixa dos modelos tradicionais, o Transvoll (que
gico utilizado no empreendi-
significa transportador de volumes) permite a acomodação de
mento, além de não lançar
bandejas de papelão recicláveis e biodegradáveis que o cliente rece-
resíduos de queima no ar e
be ao entrar na loja. Além de dispensar o uso das sacolas plásti-
não provocar o desmatamen-
cas, a compra fica muito mais prática, já que o consumidor pode
to, pode reduzirem até 50% o
organizar os produtos nas bandejas, passar pelo caixa e guardá-las
custo total de uma obra. Para
diretamente no carro, sem a necessidade de carregar e descarre-
a fabricação do tijolo, a olaria
gar o carrinho.
ecológica utiliza uma mistura de solo, cimento e água que apósserem compactados sob
A MEGABOLSA DE VALORES
pressão, passam por um processo de cura e secagem.
A fusão da Bolsa de Valores de São Paulo com a Bolsa de Mercadorias & Futuro resultou na criação da maior bolsa de valores da América Latina, com movimento diário superior a US$ 65 bilhões. Responsabilidade social e ambiental darão mais brilho às ações e papéis negociados.
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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA PLURALE@PLURALE.COM.BR
GRUPO AES RESPONSABILIDADE E ENERGIA
O Grupo AES, controlador entre outras empresas da AES Eletropaulo, entra, neste início de ano, em nova fase. Mostra, em campanha assinada pela DIM Propaganda, os investimentos que tem feito, ao longo dos anos - mais pesadamente de 1998 até agora - na criação de valor sustentável e de longo prazo para suas empresas. O que implica respeito ao meio-ambiente, à sociedade, aos funcionários e aos investidores.
A Odebrecht divulgou seu balanço social. Em 2007, a empresa registrou 57
VOTORANTIM APÓIA CULTURA
mil empregos diretos e 131 mil indiretos. O investimento social do grupo foi de
O Instituto Votorantim abriu
R$ 41,1 milhões, investidos em 47 projetos culturais, 176 projetos sociais e 30
as inscrições para a 3ª seleção
ambientais. Só para lembrar: a Odebrecht é a maior construtora e petroquímica
pública do Programa de Demo-
da América Latina, além de maior exportadora de serviços do Brasil.
cratização Cultural Votorantim,
CRESCIMENTO SOCIAL
que selecionará projetos que objetivem a fruição, experimentação e vivência de conteúdos
VALE FAZ PARCERIA COM O INPE
culturais pelo público, principalmente pelos jovens entre 15 e 24 anos. Em 2008, a 3ª seleção
A Vale e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) assinaram proto-
pública do Programa de Demo-
colo de intenções para desenvolver estudos inéditos nas áreas de mudanças cli-
cratização Cultural selecionará
máticas, mitigação e vulnerabilidades no Brasil. O foco principal será a região Nor-
projetos cuja soma totalize R$ 4
te, onde a Vale está expandindo seus negócios. Dentro de um ano e meio, o
milhões. O limite do investimen-
convênio deve resultar na ampliação do conhecimento sobre os impactos das ati-
to será de R$ 600 mil por proje-
vidades da empresa nas áreas em que atua. O investimento para o período é de
to. A inscrição de projetos deve
cerca de meio milhão reais. O gerente-geral de Projetos Institucionais e respon-
ser feita pelo site www.instituto-
sável pelo tema de mudanças climáticas da Vale, Flávio Montenegro, explica que
votorantim.org.br/democratiza-
o trabalho vai envolver uma análise de efeitos secundários das ações atuais no
caocultural. O processo é gratui-
meio ambiente.
to e aberto a pessoas físicas e jurídicas entre os dias 24 de abril e 08 de agosto deste ano
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Ensaio PLURALE
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RIO DE JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO, O Rio de Janeiro que encantou a Corte há 200 anos é revisitado pelo jornalista Fernando Gonçalves, que se descobriu fotógrafo. Seja nas imagens de paisagens naturais, seja na poesia de balanços ao vento e tantos outros pontos genuinamente cariocas eternizados. O jovem Fernando sempre apreciou a fotografia, mas foi apenas em 2005 que estreitou estes laços através de um curso. “Viagens, saídas,
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61 > ABRIL, MAIO, JUNHO ... aniversários, concursos, reuniões em famílias, tudo passou a ser motivo para empunhar a câmera e começar os disparos”, conta. De lá para cá, uma coleção de cliques. A primeira exposição foi no virada de 2007 para 2008 na Casa do Porto, no Shopping da Gávea. Muitas outras certamente virão. Confira o belo trabalho de Fernando Gonçalves neste ensaio em Plurale em revista.
Cordilheira de Sal: região de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras
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MA COLEÇÃO DE CLIQUES ETERNIZANDO PAISAGENS CARIOCAS
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CARBONO NEUTRO
SÔNIA ARARIPE
s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r
NA TERRA DO TIO SAM
PNEU VERDE Por falar no mercado automobilístico, as empresas estão estudando um “pneu verde”. Os testes começaram em 1992, com a inclusão de sílica na banda de rodagem. Agora, segundo anunciou recentemente o vice-presiden-
Tio Sam, quem diria, tor-
te mundial de pesquisas da Michellin, Didier Miraton, está sendo preparada
nou-se ecológico. A disparada
para os próximos anos a quarta geração de pneus verdes, que permitem
dos preços da gasolina nos
economizar quase 0,2 litro de combustível a cada 100 quilômetros, reduzin-
Estados Unidos empurrou para
do em 4 graus as emissões de CO².
números recordes as vendas de automóveis que utilizam combustíveis alternativos. Em 2007, os carros movidos com esses
BOM EXEMPLO Um projeto brasileiro foi o primeiro do mundo a ser aprovado nas
tipos de combustível atingiram 1,8 milhão de unidades, 250 mil
Nações Unidas para receber créditos de carbono pela modalidade "MDL Pro-
a mais que em 2006, segundo
gramático". O programa 3S do Instituto Sadia, localizado em Santa Catarina,
dados compilados pela consul-
reúne mil fazendas de suinocultura que reduzem as emissões de metano
toria R.L. Polk. Para este ano, as
através do uso de biodigestores nas granjas para tratamento dos dejetos gera-
empresas do setor prevêem
dos pelos suínos. Cada unidade promove a redução de 389 toneladas de dió-
que serão vendidos mais de
xido de carbono equivalente (CO2e), o que levará os produtores a recebe-
dois milhões de veículos que
rem um total de 3.894 créditos de carbono para cada ano de execução dos
utilizam combustíveis
projetos. O período total para recebimento de créditos é de 10 anos, com iní-
alternativos.
cio previsto para agosto deste ano.
NA LISTA NEGRA Levantamento da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, por meio da Cetesb, apontou as cem maiores indústrias emissoras de gases causadores do efeito estufa do Estado de São Paulo. A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), do grupo Usiminas, foi a primeira colocada e responsável por 6,35 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono de origem fóssil). As primeiras oito colocadas no ranking respondem por 18,26 milhões de toneladas por ano, ou 63% do total. As empresas citadas procuraram logo se explicar e anunciar ações. Bom saber, mas estamos atentos. A Cosipa anunciou que vai substituir o óleo combustível por gás natural, que tem um fator de emissão 20% menor, reaproveitará gases gerados no processo produtivo e outras medidas.
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GARAPA Não é preciso ser doutor no assunto para entender que há muito mais do que sobra de cana, boa para garapa, em torno da polêmica envolvendo os biocombustíveis. Todo cuidado é pouco antes de sair tomando partido de um lado ou de outro. Como vários especialistas brasileiros já demonstraram é falso o debate que a produção sustentável de álcool ou biodiesel possam estar aumentando a fome da África e de outros países. Há que se levar em conta vários outros fatores, como os subsídios dos ricos produtores da Europa e EUA; a disparada do petróleo empurrando para cima o diesel das máquinas agrícolas e toda cadeira produtiva; a ciumeira causada pela tecnologia desenvolvida no Brasil; etc
DEVER-DE-CASA Isto não significa, porém, que é hora de descansar e comemorar os melhores resultados da colheita de cana da história. A mecanização avança, mas, infelizmente ainda há práticas terríveis na produção do álcool, como mão-de-obra escrava e condições péssimas de trabalho, sem falar em transporte ainda inadequado. E o que fazer dos bóias-frias que não puderem ser aproveitados no novo modelo mecanizado? Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou ainda que a cana está sendo plantada em antigas pastagens, mas já começa a ocupar áreas cultivadas com soja, milho, café e laranja na região centro-sul do país: ao menos 27% da expansão da área de cana no ano-safra 2007/08, segundo declaração dos próprios produtores, ocorreu em regiões antes ocupadas por esses culturas.
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ImageMPLURALE por Marcello Casal Jr./Abr
ministro
PEDALA PARA INCENTIVAR O USO DE BICICLETAS, O MINISTRO DAS CIDADES, MÁRCIO FORTES, PEDALOU NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, EM BRASÍLIA, JUNTO AO SECRETÁRIO DE TRANSPORTES DO RIO, JÚLIO LOPES, LANÇANDO O PROJETO RIO – ESTADO DA BICICLETA
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