Plurale em revista edição 7

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plurale em revista

ano um | nº 7 | junho/agosto2008 | R$ 10 ,00

IMIGRAÇÃO

O BRASIL JAPONÊSGA ECOLOGIA

NAS CAVERNAS, CIÊNCIA E BELEZA NO SERTÃO

MORTE E VIDA SEVERINAGA

| AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE


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Contexto

PERFIL ELIEZER BATISTA 30

PELO BRASIL 34

18.. O JAPテグ NO BRASIL

PELAS EMPRESAS 58

CARBONO NEUTRO 64

4 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2008

12.

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10. ENTREVISTA GORBACHEV E O FUTURO

60. NO SERTÃO, VIDA E MORTE

42.

14.

38.

REVITALIZAÇÃO PORTUÁRIA

PELO MUNDO CARRO E ECOLOGIA

ARTIGOS RODRIGUES, GOLDEMBERG E RICUPERO

46. UMA VIAGEM AO INTERIOR DAS CAVERNAS


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Quem faz a plurale

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editorial

Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Diretor comercial comercial@plurale.com.br Editor de arte Marcelo Begosso plurale@plurale.com.br Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Múcio Bezerra, Isabel Capaverde, Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e Tiago Ribeiro Colaboradores internacionais Renata Mondelo, Virginia Silveira, Yume Ikeda, Marta Lage e Ivna Maluly Plurale é a uma publicação da Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) em parceria com a SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: SuperGráfica Revista impressa em papel reciclado

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932 São Paulo | Alameda Barros, 66/158 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947 Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala 95 CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores Copyright Plurale em Revista

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olhos amendoados As grandes obras são executadas, não pela força, mas pela perseverança. A frase de Santo Agostinho dá o tom desta edição que antecede à comemorativa ao nosso um ano de circulação. Nesse período aprendemos muito, sobretudo a olhar o mundo e as pessoas com olhos bem abertos e a perseverar, acreditando em um projeto que não é para apenas para amanhã, mas de quem acredita estar, de alguma forma contribuindo com uma rede que trabalha pela construção de um mundo melhor e mais sustentável. Perseveramos como perseveraram os japoneses que entraram no navio Kasato Maru há 100 anos e aqui chegaram e se mesclaram aos brasileiros, criando traços orientais na nossa cultura. Aprendemos, em restaurantes, a ter como entrada a toalha cozida e como prato principal o peixe cru. Aprendemos também novas técnicas agrárias com os japoneses e também novas canções. E a fazer pedidos para as estrelas. Eliezer Batista plantou japoneses no solo brasileiro, sonhando com fartas colheitas. Assim, como quem partiu, a exemplo de Ruth Cardoso, plantou, deixando como herança um programa que forma cidadãos solidários. Cidadãos de vida e sina severina como os que Eny Miranda flagrou com sua câmera para ilustrar um belo ensaio. Duro, poderoso como as rochas das cavernas que aqui revelamos. É uma edição que mostra exemplos, como o da Bunge, que traz pessoas para o centro e que tem a leveza do menino que estampa a capa dessa edição, com forte dose de brasilidade e olhos amendoados. É preciso perseverar na luta e na pluralidade de idéias. E, sobretudo, resistir às imtempéries ambientais que nos cercam, criando o novo, buscando o elo e os elos perdidos e os a conquistar. Que Santo Agostinho proteja a todos nós, irmãos nesta caminhada, sem aceitarmos atalhos aparentemente fáceis, mas traiçoeiros.


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cartas p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

“Fiquei encantada com as matérias da edição 6 de Plu-

“Aproveitei o feriado para colocar a leitura em dia. Li

rale em revista. Como as histórias sobre as ações

de ponta a ponta Plurale em revista. Matéria e notas

sociais de empresas de telefonia; a emocionante caça

ótimas. Leitura Leve e inteligente, com muita infor-

às onças relatada por Sérgio Lutz e o perfil de Celso

mação.”

Furtado escrito por Carlos Franco. Também com as

Carina Almeida, Sócia-diretora da Textual Serviços

duas belíssimas entrevistas: uma sobre Educação,

de Comunicação, Rio de Janeiro

com Ana Lagoa (pela jornalista Maria Helena Malta) e outra com Israel Klabin, dada à Sônia Araripe. A cada

“Como consigo números atrasados de Plurale em

edição, surpreendente, ainda melhor”

revista? E para fazer assinatura?”

Cláudia Peixoto , Brasília

César Moreira, Belo Horizonte

“Parabéns! Gostei muito da entrevista com Israel

Prezado César, você pode adquirir números atrasados

Klabin.”

mandando um e-mail para contato@plurale.com.br.

Wilberto Lima Júnior, São Paulo

Para fazer assinatura basta acessar o site www.plurale.com.br e clicar em assinaturas.

“Israel Klabin, experiente e com grande visão do momento atual, colocou exatamente o dedo na ferida:

“Plurale em revista vem ocupar uma lacuna impor-

há muito “new richismo” mesmo neste mercado de

tante no mercado editorial. Parabéns e vida longa!”

sustentabilidade. Excelente a entrevista com o presi-

Luiz Gornstein, São Paulo

dente da FBDS no número 6. Que venham outras polêmicas em Plurale.”

“Plurale em revista tem belo projeto gráfico e reporta-

Marcos Antunes, Rio de Janeiro

gens que interessam a todos os que se preocupam com o futuro da humanidade e de nosso planeta”.

“A revista está cada vez melhor”

José Maria dos Santos, de Caxias do Sul

Antônio Corrêa Lacerda, Professor de Economia da PUC-SP

“É sempre um prazer ler Plurale em revista e atualizar diariamente as informações em Plurale em site. Os

“Gostei bastante de Plurale em revista. Assuntos inter-

temas são relevantes para os alunos aos quais dou

essantes e variados. Parabéns também pela iniciativa

aula de educação ambiental”.

da impressão em papel reciclado.”

Maria Lídia Carvalho, de Palmas, Tocantis

Alcides Amaral, São Paulo “A revista tem projeto gráfico que instiga a leitura e as “Recebi Plurale em Revista, edição 5. Muito obrigada

reportagens de Sérgio Lutz são sempre saborosas”.

pelo carinho e pela matéria sobre o meu trabalho em

Cíntia de Souza Oliveira, de São Paulo

Sana. Achei linda a apresentação da revista, o lay out. Múcio Bezerra fez uma matéria bacana, com um toque de humor que estimula a leitura.” Lucila Proença, Sana (RJ)

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Artigo

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ASPÁSIA CAMARGO

éa

MEIO AMBIENTE SOLUÇÃO

A

saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente vem demonstrar que o Brasil não incorporou a questão ambiental como variável estratégica de seu desenvolvimento e que sucessivos governos têm sido incompetentes em utilizar as oportunidades do desenvolvimento sustentável. Os tempos são novos mas nossas elites estão precocemente envelhecidas. Marina, mais uma vez, posou na fotografia como elegante princesa da floresta e saiu do Governo porque não havia mais jogo possível. “Prefiro o bebê vivo mesmo que no colo de outro” diz ela, generosa como a lenda de Salomão, extraída da Bíblia que tanto conhece. É uma visão destoante em um país tragado pela voraz petite politique, enquanto a Grande Política parece condenada ao esquecimento. Meio ambiente não é problema, é solução. Se o Brasil fosse a China, não deixaria de aproveitar melhor as florestas, que lá são escassas. O Império do Meio, como manda a tradição, negocia e tem estratégias. Nós, filhos do Império Lusitano, improvisamos, vivemos de bico, e até o etanol, o trunfo escondido na manga, está levando pancadas, enquanto os chineses se esbaldam de vender quinquilharias de contrabando, que chegam pela Avenida Brasil com a maior facilidade. Lula, que tem o mérito da intuição e de se comunicar bem com o seu povo, tem também o defeito de olhar o mundo com a antiga visão mecanicista do torneiro mecânico que não percebe que o velho modelo desenvolvimentista precisa ser reinventado, mais próximo de um mundo de escassez, turbulento e instável. Um sábio secretário do estado do Amazonas, disse um dia que “o Brasil vê a Amazônia com o binóculos ao contrário”. À distância e com visão distorcida: preferimos uma Transamazônica delirante a usar hidrovias

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como “estradas que andam”. A política ambiental brasileira foi construída com brilho pelas mãos de Paulo Nogueira Neto - o homem que inventou, junto com Gro Brundtland, o termo “desenvolvimento sustentável”. Ele colocou à disposição doze instrumentos de controle para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento. Infelizmente a nossa preguiça nos fez usar apenas o licenciamento e a fiscalização que, por uso abusivo e solitário, acabaram desnaturando a harmonia original do sistema. O licenciamento é lento porque os instrumentos de informação e planejamento são pobres. Não devemos licenciar uma hidrelétrica isoladamente e sim uma rede racional de fontes energéticas que cubram determinado território com vocações definidas em função do uso racional de seus recursos. Para definir as vocações, é preciso um instrumento pelo qual nenhum político se interessa: o Zoneamento EconômicoEcológico (ZEE), que determina áreas e tipos recomendáveis de produção, e outras de uso limitado, vulneráveis


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ou proibidas. A missão parece lenta e cara para os apressados que trabalham no varejo, mas é indispensável e barata para quem quer solucionar problemas por atacado, promovendo o desenvolvimento durável. Por que não instalar um grande centro de biotecnologia na Amazônia, para produzir medicamentos, cosméticos de altíssimo valor agregado? Por que não o ecoturismo, a indústria de sucos naturais e a moveleira, como a sueca, com recursos renováveis? Os políticos do passado preferem a indústria itinerante da destruição, em um presente fugaz e sem futuro. Acabar com as florestas para vender madeira para a Europa, e produzir gado e soja, é destruir, sem remorsos, a galinha de ovos de ouro da biodiversidade planetária. E comprar uma briga internacional que pode comprometer nossa soberania. Enquanto isto, contrabandistas da biodiversidade atravessam, dia e noite, os territórios que abandonamos à própria sorte. Para acabar com este desatino, só o Presidente, o zoneamento e a transversalidade. Lula precisa reciclar-se, o que não é difícil. Alguém pode explicar-lhe como funciona esta tal de “sustentabilidade”. Minc, chegou a sua hora. Não se esqueça de que apenas comando e controlelicenciamento e fiscalização- não bastam. Aspásia Camargo é vereadora do Partido Verde pelo Rio de Janeiro


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Entrevista

o b GRA CHEV COM A PALAVRA

EX-PRESIDENTE SOVIÉTICO FALA SOBRE POBREZA E ENERGIA SUSTENTÁVEL

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TEXTO [AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARLAMANETO EUROPEU BRUXELAS] FOTOS [DIVULGAÇÃO]

Durante a Gala dos Energy Globe Awards que se realizou no fim de Maio no Parlamento Europeu, em Bruxelas, o ex-Presidente soviético Mikhail Gorbachev recebeu um prémio honorífico. Atual presidente da Fundação Gorbachev e da Green Cross Foundation, Gorbachev defende uma nova definição de progresso e entende que o desenvolvimento sustentável é a base de uma paz duradoura. Será possível definir a degradação ambiental como o principal problema da atualidade, quando ainda existem tantas pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza? O que diria às pessoas para quem a alteração dos hábitos de vida representaria um luxo insustentável? "Os principais problemas da atualidade são a pobreza, a qualidade do ar e da água, as condições sanitárias e a baixa produtividade agrícola, todos relacionados com questões ecológicas. Não faz sentido dizer que a ecologia é um luxo, porque é uma prioridade absoluta nos dias que correm. A segunda prioridade é a luta contra a pobreza, uma vez que dois mil milhões de pessoas no mundo dispõem apenas de


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um a dois dólares por dia. A terceira prioridade é a segurança mundial, incluindo a ameaça nuclear e as armas de destruição massiva. Todas elas são prioridades urgentes, mas coloco a ecologia em primeiro lugar porque atinge diretamente os cidadãos do mundo. Durante a sua presidência iniciou importantes mudanças na então União Soviética e trabalhou muito para acabar com a Guerra Fria. Que lições podemos retirar dessa experiência? Em meados da década de 1980, os líderes dos grandes países tiveram consciência de que era urgente fazer qualquer coisa. Gorbachev, Reagan, Bush, Thatcher, Mitterrand e muitos outros foram suficientemente inteligentes para ultrapassar os preconceitos existentes e iniciar um diálogo sobre a ameaça nuclear. Os dias de hoje já são diferentes porque estamos perante o fenómeno da globalização. Alguns países tornaram-se mais independentes e outros, como o Brasil, a China e a Índia, tornaram-se atores importantes no plano mundial. A lição mais importante que podemos retirar é a consciência da necessidade desse diálogo. É necessário renunciar à política da força, que não traz nada de bom. É necessário ter consciência de que estamos todos no mesmo barco e que temos que remar juntos. Isto porque se alguns remarem, outros despejarem água e alguns fizerem buracos ninguém conseguirá vencer seja o que for. Vejamos o que se passa com os EUA no Iraque. Todos os aliados estavam contra a invasão, mas os EUA não ouviram ninguém e o que é que aconteceu? Agora não sabem como sair da situação. Percebemos que a situação é séria e temos que os ajudar a sair dela. É necessária uma nova ordem mundial e mecanismos globais que permitam geri-la. Com o fim da Guerra Fria, todas as pessoas defendiam uma nova ordem mundial e até o Papa se juntou a nós e falou na necessidade de uma nova ordem mundial, mais estável, mais justa e mais humana. No entanto, quando a URSS se desmoronou, essencialmente por razões de ordem interna, os EUA não resistiram e aproveitaram a confusão. As elites políticas mudaram, os que acabaram com a Guerra Fria saíram de cena e os novos protagonistas queriam escrever a sua própria história. Estes erros de visão, de decisão e de acção tornaram o mundo ingovernável. O mundo em que vivemos atingiu uma fase caótica. É possível que do caos emirjam novos estilos de vida e mecanismos políticos, mas o caos também pode levar à ruptura, à

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Entrevista

resistência e ao conflito armado. Rumo a uma Nova Civilização é o mote da Fundação Gorbachev. Como se define essa nova civilização? Onde poderá o mundo ir buscar os recursos necessários para essas mudanças fundamentais? Não se trata apenas de dinheiro. Se as questões internacionais forem tratadas de uma forma desorganizada, gasta-se mais dinheiro. É uma questão de confiança, cooperação, diálogo, ajuda mútua e trocas recíprocas. Por que é que a Europa cresce economicamente? Unicamente por causa da União Europeia. É este o caminho para as novas oportunidades e a UE é um bom exemplo disso. Claro que nem tudo é perfeito e, na minha opinião, a União Europeia já está sobrecarregada enquanto sistema. É necessário que tenha a inteligência necessária para saber quando deve parar, absorver e avançar. Na sua opinião, a Rússia caminha actualmente no bom sentido? "Considero que a Rússia caminha na boa direcção e vai avançar, apesar de estar a meio de um difícil processo de transição democrática. Durante a presidência de Boris Yeltsin as pessoas tratavam a Rússia sem respeito, mas isso deixou de ser possível e temos que esquecer esses tempos. A Rússia estará ao nível de todos os outros".

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les já foram os miseráveis, os marginalizados, o lumpesinato, os sem-teto. Agora são os excluídos. Mas a sociedade reserva um lugar para eles. E os esquece lá. Criada em 1947, a Fazenda Modelo é um dos maiores depósitos de mendigos em todo o mundo. O maior da América Latina.Essa grande área em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, dirigida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, ocupa 47 mil hectares e abriga 1.300 pessoas, entre crianças, adultos e idosos que viviam nas ruas ou foram vítimas de algum infortúnio, perdendo a casa e tudo o que tinham. Uma vila, uma senzala, um campo de concentração, um hospício, um reflexo do que acontece nas ruas da cidade? Tudo isso um pouco. “Aqui é melhor que nada”, resume a moça de 20 e poucos anos, grávida, que passava o dia deitada num dos alojamentos. Durante quatro anos, de 1999 a 2003 o médico pernambucano Marcelo Antonio da Cunha dirigiu a Fazenda Modelo, “prefeito da pior cidade do mundo”, “presidente de uma nação de indigentes” como ele diz. E colecionou histórias fantásticas, lindas e dilacerantes sobre as pessoas jogadas ali, reunidas no livro “No Olho da Rua”, da editora Nova Fronteira. A obra permite tanto uma leitura realista quanto metafísica, até o do idoso que foi parar ali porque não sabia mais voltar para a casa da filha. Um simples ato inadvertido pode romper a linha frágil que separa os mundo e jogar alguém ali, como o varredor que, depois de 15 anos preso por matar o pai da mulher que amava numa discussão, não tinha mais para onde ir. Ou uma aeromoça que, com seqüelas após um acidente, esperou durante anos a indenização. Ou a jovem vendida pelos pais para traficantes de mulheres. Drogas, armas, prostituição, estupros, violência, tragédias familiares se misturam a relatos emocionantes como a de seu Manoel, cuja mulher vem da Europa, onde mora com os filhos, apenas para assinar os papéis do divórcio. Ou o casal que, ela refugiada do tráfico, ele viciado, se encontrou nas ruas e, após o nascimento do primeiro filho, resolveu criar uma família na Fazenda Modelo. Um trabalha de dia, o outro de noite, revezando-se nos cuidados das quatro crianças. Bandidos foragidos, prostitutas, pacientes psiquiátricos, deficientes, misturam-se a idosos, crianças, mulheres, famílias. Despejar no papel estas histórias, para que um dia chegassem a ser conhecidas pelo resto da sociedade, foi para este médico de espírito humanista, várias vezes ameaçado de morte, a única forma de deitar a cabeça de noite no travesseiro e dormir em paz.

A FACE DA MOEDA

Através de uma narrativa que tem início em Mileto, atual Turquia, em 545 a.C., e viaja até o Rio de Janeiro contemporâneo, o economista Leonardo Faccini traça um romance que, de forma fluida e cativante, conta a história das idéias econômicas. “A face viva da moeda” apresenta o personagem João Pedro, um rapaz que está prestes a terminar a faculdade de Economia. Apesar de não conseguir se imaginar em qualquer outra carreira, todas aquelas fórmulas com letras gregas, modelos abstratos, testes estatísticos de hipóteses e tão pouca realidade acabaram por deixá-lo desestimulado em relação à futura profissão. Um encontro casual com um misterioso e iconoclasta suíço vai mudar a maneira como João enxerga a carreira, o mundo e a própria vida. Como uma espécie de O mundo de Sofia dedicado à chamada “ciência da escassez”, o livro de Faccini pode ser visto como literatura.

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Ponto

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ROBERTO RODRIGUES

ALIMENTOS E BIOCOMBUSTÍVEIS

N

Todos sabem que os preços dos produtos agrícolas – alimentos, fibras ou energéticos – variam, como tudo no mercado, em função da oferta e da procura. Esta característica produz ciclos que se repetem eternamente: quando os preços de determinado produto caem muito, os agricultores deixam de plantá-lo, de modo que seu estoque vai diminuindo até um ponto em que a demanda volta a ser superior à oferta; os preços sobem e os agricultores voltam a plantá-lo, e a oferta cresce de novo até superar a procura, quando os preços diminuem outra vez... E assim vai. É por esta razão que os países ricos criaram mecanismos de proteção aos seus agricultores, com subsídios que lhes garantam a renda, independente dos preços de mercado, dando estabilidade à atividade e evitando o êxodo rural. No entanto, há uma tendência sistemática de queda dos preços agrícolas, porque novas tecnologias aumentam a produtividade, o que significa maior oferta; se a demanda não crescer na mesma proporção, os preços caem. Estes ciclos são características da economia rural em qualquer lugar. Estamos vivendo um deles: o crescimento da renda per capita dos países emergentes aqueceu o consumo de alimentos e fibras. E a oferta não acompanhou este movimento, basicamente em função de grandes secas que afetaram diferentes regiões da Terra, começando pelo Brasil (entre 2004 e 2006) e vizinhos; outros países agrícolas importantes, como Austrália, Ucrânia (e boa parte da

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Europa Central e do Leste), também tiveram grandes faltas de chuvas. Como resultado, os estoques mundiais acabaram despencando, e os preços subiram. Esta não foi a única razão do encarecimento dos alimentos: os custos de produção também explodiram. Os fertilizantes mais do que dobraram de preço em 1 ano, e o petróleo aumentou bastante. É claro que isto se reflete nos preços finais. Outro fator de aumento foi a especulação financeira: muitos investidores, inclusive grandes fundos, que aplicavam no mercado imobiliário americano, por exemplo, migraram para especular com alimentos depois da crise do sub-prime. E tem mais: nos últimos anos, uma quinta parte das safras norte-americanas de milho foi usada para produzir etanol. Através de subsídios vultuosos, o etanol de milho acabou “roubando” áreas de outras culturas, como a soja. Com isso, os preços do milho e da soja subiram nos Estados Unidos, e contaminaram o mercado mundial. Quanto tempo durará este ciclo? Difícil de responder, mas uma coisa é certa: a demanda segue aquecida nos países em desenvolvimento, e a renda de suas populações continuará crescendo. E a oferta depende de fatores diversos, que vão desde o custo de produção até a adequação das chuvas. Em condições normais, os preços deverão ficar acima da média histórica por alguns anos. Mas é bom lembrar que os agricultores modernos


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são rápidos, e, atraídos pelos bons preços atuais, ampliarão suas áreas de plantio e tecnologia, melhorando a oferta. Neste cenário, o Brasil tem uma oportunidade extraordinária, que não pode ser desperdiçada. Temos muita área para plantar, hoje ocupadas com pastagens degradadas. Atualmente cultivamos 72 milhões de hectares e temos quase 180 milhões de hectares de pastagens, dos quais 71 são aptos para agricultura, por condições edafoclimáticas favoráveis. Como a tecnologia da pecuária progrediu espetacularmente, estamos tirando muito mais carne por hectare do que antes, de modo que está sobrando pastagem, para transformar em agricultura. Também temos a melhor tecnologia tropical do planeta. Basta dizer que nos últimos 15 anos, a produção de grãos cresceu 124%, enquanto a área plantada cresceu só 23%, a produção de frangos cresceu 200% a de carne suína 130%, e assim por diante. Há uma nova tecnologia, a integração lavoura-pecuária que permite usar a mesma terra para produzir grãos e carne num só ano. E, finalmente, temos o melhor produtor rural do mundo, jovem, ativo, ligado aos mercados, e com uma grande percepção de gestão moderna, seja na área financeira, comercial, de recursos humanos, seja na ambiental, o que proporciona uma atividade sustentável em suas 3 vertentes: economica, social e ambiental. Sem grandes sacrifícios, podemos chegar a 350 milhões de toneladas de grãos. Mas também na agroenergia, a longa experiência com o Proalcool nos coloca na vanguarda mundial desta atividade, com vantagens comparativas imensas sobre o etanol de milho americano: o milho americano é subsidiado, e o etanol também; aqui, zero de subsídio. O milho americano concorre com os alimentos. Aqui, não: este ano temos nossa maior safra de grãos, a maior safra de cana, a maior safra de carnes, a maior safra de leite. Não há concorrência. Por fim, o milho americano consome 1 unidade de energia fóssil para produzir 1 e meia de renovável, ao passo que a cana consome 1 e produz 9! Muito melhor o balanço energético. E mais: dos 71 milhões de hectares de pastagens que podem ser agricultadas, 22 servem para cana, que hoje ocupa só 3,6 milhões de hectares (5% do total cultivado) para produzir etanol. Usando toda esta área, e dobrando a produtividade, podemos chegar a 300 bilhões de litros! Adicionalmente, podemos liderar um projeto mundial que produza biocombustível em toda a América Latina, na África sub-sahariana e na Ásia tropical e pobre, mudando até mesmo a geopolítica e o paradigma agrícola mundiais. E, por fim, podemos exportar fábricas de álcool com chave na porta, tecnologia, conhecimento, que é o que mais temos. Tudo isso é possível, mas exige uma estratégia de governo, do governo todo e não apenas do MAPA, porque implica em logística e infraestrutura, implica em política de renda para o campo que garanta estabilidade da atividade, e o seguro rural está quase pronto para isso. Implica mais investimentos em tecnologia e em recursos humanos; em promoção comercial e abertura de mercados; em agregação de valor, através do fortalecimento das cooperativas agrícolas; em menores juros e impostos; em modernização da legislação trabalhista e ambiental; em rastreabilidade e certificação; em preocupação real com a sustentabilidade; em mais recursos para crédito; em investimentos na produção de fertilizantes; na criação de um mercado para biocombustíveis, com a eliminação dos mitos falsos. Enfim, há uma boa lição de casa por fazer. Mas vale a pena: o nosso agronegócio pode gerar milhares de empregos estáveis, mais renda, riqueza e excedentes exportáveis que nos colocarão na constelação dos países mais progressistas do mundo. Roberto Rodrigues é ex-ministro da Agricultura do governo Lula e coordenador do Centro de Agronegócios da FGV

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Contra Ponto

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JOSÉ GOLDEMBERG

O ISOLAMENTO DO

É evidente, portanto, que o etanol do Brasil ameaça interesses comerciais dos produtores dos Estados Unidos e da Europa, e, para impedir que penetre nessas áreas, barreiras alfandegárias foram criadas. Os ataques dos interesses comerciais ameaçados contaminaram o movimento ambientalista, cuja oposição não deve ser menosprezada. Os ambientalistas conseguiram paralisar os programas nucleares em muitos países e quase paralisaram a construção de hidroelétricas. Seu principal argumento é que o uso de milho para produzir álcool é um dos responsáveis pelo crescimento do preço dos alimentos e, portanto, está criando fome no mundo. Sucede que o etanol do Brasil vem da cana-de-açúcar e está se expandindo em pastagens, não substituindo outras culturas. Os ataques ao Brasil se concentram também nas condições sociais dos trabalhadores que trabalham nos canaviais e no desmatamento da Amazônia, que não é conseqüência da produção de cana. Para enfrentar esses ataques, não basta o presidente discursar em Bruxelas, em reuniões da União Européia ou em Roma, onde ele tem tido até um desempenho razoável. É preciso demolir tecnicamente esses argumentos e também conquistar os corações e mentes das organizações ambientais e acadêmicas que alimentam os argumentos protecionistas dos governos dos Estados Unidos, Europa e dos países produtores de petróleo. Essa batalha não ocorre em Bruxelas e Roma, mas nas páginas das revistas científicas, como Science (americana) e Nature (inglesa), e nelas poucos são os cientistas brasileiros engajados até agora. O presidente não se cercou, nem aparece em foros internacionais apoiado pelos seus ministros das áreas técnicas (exceto o de Relações Exteriores). Ele está só e parece ao mundo externo estar só.Ao falar de temas complexos como biocombustíveis e as diferenças entre o modelo brasileiro e o americano e europeu de produzi-los, ele não pode fazê-lo de maneira convincente. O presidente parece ter se dado conta disso ao anunciar a realização de uma conferência científica em São Paulo, em novembro, para discutir biocombustíveis. É uma boa iniciativa, mas vem atrasada, sendo preciso fazer mais. Até agora o governo tem promovido apenas conferências chapa-branca, como a realizada em Iguaçu pelo Ministério de Minas e Energia, em que nem foram convidados os cientistas das nossas universidades e institutos de pesquisa que trabalham na área e que, portanto, não ajudaram a dissipar as restrições mundiais aos nossos programas.

PRESIDENTE

u

Uma das facetas surpreendentes do presidente Lula é seu engajamento solitário na defesa do programa do álcool em foros internacionais. Em suas viagens pelo Brasil, quer anunciando obras ou benesses o presidente vive cercado de políticos, ministros e áulicos em que sua retórica tem muito sucesso. Ele cumpre bem seu papel, mas não tem revelado convicções pessoais muito fortes. No entanto, na defesa do programa do álcool do Brasil o presidente tem revelado convicções profundas e não oportunistas ao se tornar um cavaleiro andante em defesa do uso dos biocombustíveis, um dos maiores programas de energia renovável do mundo. Aparentemente, ele o faz por convicção. Biocombustíveis (tanto etanol como biodiesel) já são produzidos naEuropa há muitos anos em pequenas quantidades e o seu uso como substituto dos derivados de petróleo foi saudado inicialmente como umas das soluções mais criativas da área energética nas últimas décadas. Nos últimos 10 ou 15 anos, a produção de etanol cresceu muito, sendo produzida a partir da cana-de-açúcar no Brasil e de milho nos Estados Unidos. Hoje, cerca de 3% da gasolina do mundo foi substituída por etanol. No Brasil, ele substitui 40%. O biodiesel foi apresentado como parte do programa de agricultura familiar, que poderia atrair o apoio de certos setores da esquerda , mas dificuldades técnicas tornaram esse programa pequeno e problemático. O custo de produção do etanol a partir do milho nos Estados Unidos é o dobro do seu custo no Brasil. Na Europa, onde é feito de beterraba ou trigo, o custo é quatro vezes maior. O excelente clima do Brasil é favorável à cultura da cana-de-açúcar e 30 anos de experiência na produção de etanol o tornaram imbatível no mundo.

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José Goldemberg é Professor da USP


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RUBENS RICUPERO

A FALÁCIA DO PREÇO DOS ALIMENTOS FALSO ou exagerado boa parte do que se alardeia sobre a alta do preço dos alimentos. Nos últimos dez meses, é fato que os preços subiram em termos nominais. Contudo, quando se comparam esses preços com a média histórica e se corrige o efeito da inflação, a realidade é bem diferente. Levando em conta o colapso no preço das commodities nos anos 1980 e 1990, José Antonio Ocampo, ex-subsecretário econômico da ONU, hoje na Universidade de Columbia, e Maria Ângela Parra publicaram artigo provando que a explosão é de preços minerais, e não agrícolas. Tomaram como base o período 1945-1980, fase de 35 anos de preços até um pouco abaixo da tendência histórica. Aplicaram depois, como deflator, o índice da ONU/Banco Mundial conhecido como Unidade de Valor de Manufaturas. Resultado: os números mostram explosão nos preços do petróleo e dos metais, sobretudo do cobre. Todos mais que dobraram, em termos reais, em relação à média de referência. O único ano em que os metais estiveram tão caros foi 1916, no meio da Primeira Guerra. Já os preços agrícolas apenas se recuperam do abismo em que se tinham precipitado nos anos 80, sem que ninguém vertesse lágrimas pelas perdas dos agricultores. A maioria dos produtos tropicais na verdade ainda se encontra longe de haver recomposto as perdas. Só existe um alimento de primeira necessidade com preço superior à média do pós-guerra. É o trigo, com índice de 189,7 (o índice 100 corresponde à fase 1945-1980). Os três outros produtos agrícolas acima de 100 são o óleo de palma (260,1), a banana (185) e a borracha (162,8). O Brasil não é grande exportador de nenhum: na banana, ocupamos posição marginal, e na borracha mal atingimos um terço das nossas necessidades. Uma segunda categoria é a dos alimentos que quase recuperaram o nível da média passada: o milho (95,7) e o arroz (78). Na pior classe, a dos preços ainda deprimidos, encontramos o cacau (60,9), o chá (58,7), o café (58), o algodão (43,5) e o açúcar (41). O fato de que o açúcar nem conseguiu chegar à metade de sua cotação histórica média põe por terra o argumento de pressão direta do álcool de cana sobre o preço de alimentos. Chega-se ao mesmo resultado pela evolução dos termos de intercâm-

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bio, isto é, a relação entre preços de exportações e de importações. O último relatório da Cepal sobre a economia da América Latina, divulgado em dezembro de 2007, revela que os únicos países cujos termos de intercâmbio no ano passado melhoraram em 90%100% acima dos de 2003 foram o Chile, exportador de cobre, e a Venezuela, de petróleo. As outras melhoras significativas foram todas de exportadores de minérios: Bolívia e Peru (40%-60%); Colômbia e Equador (acima de 25%). Os dois maiores exportadores agrícolas, Argentina e Brasil, tiveram melhora de 10% ou menos. Não é por acaso que Ocampo tenha sido diretor da Cepal e herdeiro do conselho de Raúl Prebisch: temos de olhar para os relatórios econômicos produzidos nos países ricos com espírito crítico e a partir da nossa realidade. Quem come da mão de americanos e europeus vê o que eles querem que vejamos. A realidade é outra: os preços agrícolas e a renda rural ainda não se recuperaram plenamente da longa fase de colapso, os produtos tropicais continuam deprimidos e a real explosão é a do petróleo e dos metais. Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).

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O BRASIL

JAPONÊS

JAPONESES TROUXERAM SONHOS E SEMEARAM REALIDADE E CULTURA EM SOLO BRASILEIRO

TEXTO [CARLOS FRANCO] FOTOS [DIVULGAÇÃO E AGÊNCIA BRASIL]

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Há 100 anos, precisamente no dia 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em São Paulo. Foi a chegada de 781 japoneses de 165 famílias, que marcou oficialmente o início da imigração para o Brasil. Na bagagem traziam sonhos e vontade de trabalhar, se alimentar e serem felizes. É que, após a abolição da escravatura, em 1888, o Brasil tinha necessidade de mão-deobra para os cafezais, já que negros libertos sonhavam construir a sua Pátria, feita de liberdade e fartura. No Japão, fome e falta de espaço para a lavoura e a moradia, estimularam a imigração. O movimento foi fruto de acordo entre os dois governos. Nos primeiros sete anos, vieram mais 3.434 famílias (14.983 pessoas). Com o começo da I Guerra Mundial (1914), explodiu a imigração: entre 1917 e 1940, vieram 164 mil japoneses para o Brasil. 75% para São Paulo, visto que o Estado concentrava a maior parte dos cafezais. Trazidos pela empresa Teikoku Imin Kaisha (Companhia Imperial de Imigração), que firmou em 1907 contrato com a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo para alocar 3 mil imigrantes até 1910 como empregados de várias fazendas de café, os japoneses pretendiam ficar por cinco anos - período em que, de acordo com informações dadas pelos agentes, fariam fortunas. Hoje, o Brasil exibe uma população de 1,5 milhão de japoneses, o maior contingente fora do Japão, divididos em grupos específicos: isseis (japoneses de primeira geração, nascidos no Japão) 12,51%; nisseis (filhos de japoneses) 30,85%; sanseis (netos de japoneses) 41,33%; e yonseis (bisnetos de japoneses) 12,95%. Gente que não voltou depois de cinco anos, ao contrário, se integrou e hoje faz parte da cultura brasileira.


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CORAÇÕES SUJOS Os anos 30, de grande ebulição em todo o mundo, com a revolução industrial e outras revoluções políticas e culturais, foram cruciais para a colônia japonesa no Brasil. É que o Brasil, até o início dos anos 40, integrava com Japão, Alemanha, Itália, Argentina e Espanha, o Eixo liderado por Hitler, mas pressões internas e externas levaram o governo Getúlio Vargas, especialmente após a deportação de Olga Benário Prestes e outros judeus e comunistas para a Alemanha de Hitler, a mudar de lado. O Brasil, então, passou a integrar as tropas aliadas contra o Eixo. Ganhou de brinde a Companhia Siderúrgica Nacional e grande estímulos dos americanos. Foi proibido, então, o ensino de línguas estrangeiras no País, espeficamente o japonês, o italiano e o alemão, os três países que integraram, até o final da Segunda Grande Guerra Mundial, o Eixo. As perseguições à colônia no Brasil, cresceram. Japoneses passaram a enfrentar duplo preconceito, assim como seus primeiros descendentes no País, os nisseis. E seguindo a tradição milenar dos samurais, fiéis aos seus princípios, à honra e à disciplina militar, um grupo liderado pelo coronel aposentado Junji Kikawa fundou pouco após o final da guerra a organização secreta Shindo Renmei ("liga do caminho dos súditos"), para impedir que as "notícias falsas da derrota" se espalhassem e para matar os "derrotistas", também apelidados "Corações Sujos" (que batizou um livro sobre a organização escrito por Fernando Morais e lançado em 2000). Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns japoneses radicais protestavam contra a posição brasileira na guerra e criavam panfletos pedindo a destruição do cultivo de seda (usada para pára-quedas, por exemplo) e hortelã (o mentol poderia aumentar a potência da nitroglicerina e era usado para resfriar motores). A maioria dos 200 mil imigrantes não aceitou derrota em 1945, e assim a colônia se dividiu em "derrotistas" (makegumi), menos de 20% da população, e os "vitoristas" (kachigumi). Essa organização pretendia propagar no Brasil a idéia de que o Japão não tinha perdido a Guerra, pois seria uma invenção dos Estados Unidos para enfraquecer o Japão. Os imigrantes japoneses eram fiéis ao Imperador do Japão, Hirohito, e grande parte tornou-se membro da organização.

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Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, os japoneses passaram a ser perseguidos pelo governo brasileiro, e assim como aconteceu com as comunidades alemã e italiana do Brasil, manifestações culturais nipônicas foram proibidas em território brasileiro sob a alegação que faziam parte de um ideário estranho à cultura e aos valores brasileiros e de seus aliados. O Shindo Renmei perseguiu os japoneses que acreditaram que o Japão realmente tinha perdido a guerra, entre katigumis e makegumis foram mortos oficialmente 23 pessoas entre 1946 e 1947. A organização perdeu força a partir do final de 1947, quando o governo do General Dutra, após interrogar 30 mil pessoas, prendeu mais de 300 suspeitos e condenou à expulsão do território nacional 155 japoneses, decisão esta que nunca foi colocada em prática.


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O PRÍNCIPE E AS ESTRELAS

O príncipe herdeiro do trono japonês Nahurito esteve no Brasil para as comemorações oficiais do centenário da imigração, em junho. E como o Japão tem histórias saborosas de príncipes, o País também comemora uma data especial na sétima noite do sétimo mês do ano, o Festival das Estrelas, o Tanabata Matsuri, no bairro paulistano da Liberdade. Conta a lenda, que morava próximo da Via-Láctea uma linda princesa chamada Orihime, a "Princesa Tecelã". Certo dia Tenkou, o "Senhor Celestial", pai da moça, apresentou-lhe um jovem e belo rapaz, Kengyu, o "Pastor do Gado" (Hikoboshi), acreditando que este fosse o par ideal para ela. Os dois se apaixonaram fulminantemente. A partir de então, a vida de ambos girava apenas em torno do belo romance, deixando de lado suas tarefas e obrigações diárias. Indignado com a falta de responsabilidade do jovem casal, o pai de Orihime decidiu separar os dois, obrigando-os a morar em lados opostos da Via-Láctea. A separação trouxe muito sofrimento e tristeza para Orihime. Sentindo o pesar de sua filha, seu pai resolveu permitir que o jovem casal se encontrasse, porém somente uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar, desde que cumprissem sua ordem de atender todos os pedidos vindos da Terra nesta data. Na mitologia japonesa, este casal é representada por estrelas situadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano: Vega (Orihime) e Altair (Kengyu). O festival que celebra esta história de amor teve início na Corte Imperial do Japão há cerca de 1.150 anos, e lá tornou-se feriado nacional em 1603. Atualmente o Tanabata é uma das maiores festas populares do Japão. É realizado em diversas cidades, e, no Brasil, o seu palco é o bairro oriental da Liberdade, onde brasileiros depositam seus pedidos em árvores de bambu, na certeza de que chegarão ao infinito, ao serem queimados, e se tornarão realidade.

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A VIDA E A MORTE O cineasta Akira Kurosawa imortalizou no filme "Sonhos", o ritual que cerca a morte numa pequena aldeia. É de um a beleza exemplar, além do apelo preservacionista da natureza que encerra a lição desse carpinteiro de emoções. É que a aldeia dos Moinhos D'Água, onde filma o último episódio de "Sonhos", comemora a morte, quando ela vem depois dos anos 80, 90 anos. Só chora de tristeza quando se trata de criança, que teria muito por viver e a aprender. A festa é um tributo àquele que partiu. Tem o feitio de oração como o dos sambas, com a mesma expressão da alegria, que encerra gratidão. É da cultura japonesa essa forma de ver a morte, especialmente a xintóista e a budista. Há cerca de três anos, acompanhei o enterro da mãe de um amigo - o Oscar casado com a Nair Susuki, a mulher que tem coração de ouro e paciência oriental. Ali, prevalecia o tributo a quem partia pelo que fez em vida. Era como se estivesse, ao vivo, no belo filme do cineasta Kurosawa. Era tempo de colheita e plantio, que o cheiro do incenso espalhava, como espalha a brisa das manhãs que tanto encantaram o cineasta japonês.

SUSHI E AÇAÍ Pratos típicos da culinária japonesa como o sushi, o sashimi, o yakissoba se integraram perfeitamente à culinária brasileira e aquela sopa de cubos de queijo de soja, o tofu, casa perfeitamente com um bom e suculento suco de açaí. A manga brasileira e outras frutas entram no recheio de pratos e como sobremesa de uma culinária regada pela cultura. Aprendemos a comer peixe cru e apreciar o yakissoba. Nas feiras, o tempurá japonês, embala camarões e peixes com tremenda originalidade e nos bares e restaurantes mãos nordestinas cortam hoje sushis e sashimis.

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MANGÁS, ORIGAMIS E BONSAIS Os traços do desenho japonês também fazem parte hoje da cultura nipo-brasileira, na forma de desenhos em quadrinhos criativos, ousados e curiosos, os mangás. Também é comum em lares do Brasil inteiro a presença do origami, os papéis que dobrados dão origem a diferentes enfeites decorativos, alguns de profundo significado, como o mais conhecido deles, o pássaro chamado tsuru, que transmite esperança e tranquilidade a quem o recebe. Já os bonsais estão presentes em todas as casas. Resultam do corte correto da raiz de árvores de forma a mantê-las originais e em miniatura, das quais brotam frutos. Além disso, os arranjos florais japoneses hoje se espalham por festas tipicamente brasileiras. A técnica do ikebana, uma arte floral que se originou na Índia onde os arranjos eram destinados a Buda, foi aqui e em todo o mundo personalizada pela cultura nipônica. Em constraste com a forma decorativa de arranjos florais que prevalece nos países ocidentais, o arranjo floral japonês cria uma harmonia de construção linear, ritmo e cor. Enquanto que os ocidentais tendem a pôr ênfase na quantidade e colorido das cores, dedicando a maior parte da sua atenção à beleza das corolas, os japoneses enfatizam os aspectos lineares do arranjo. A arte foi desenvolvida de modo a incluir o vaso, caules, folhas e ramos, além das flores. A estrutura de um arranjo floral japonês está baseada em três pontos principais que simbolizam o céu, a terra e a humanidade, embora outras estruturas sejam adaptadas em função do estilo e da escola. E se esses arranjos tranquilizam,os mangás buscam na conturbada vida urbana o seu foco e se mesclam com o País, em perfeita desarmonia.


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KARATÊ, JUDÔ E BUDISMO

O Brasil hoje é destaque no tatame onde se disputa o karatê, o judô, o Tae-ken-Dô e até nas quadras de esgrima. Uma influência direta da cultura japonesa que levou o santista Aurélio Miguel a conquistar para o ouro olímpico. O brasileiro que nasceu na cidade onde desembarcaram os primeiros japoneses é um dos exemplos de como a cultura do país do sol nascente, brilha desse lado debaixo do Equador, na linha dos trópicos. Campeão olímpico de judô, Aurélio Miguel aprendeu com japoneses os primeiros passos da luta na qual se sagrou campeão. No bairro da Liberdade, em São Paulo, enfileiram-se escolas que ensinam artes marciais, numa missigenação de cultura que está longe do fim; o centenário da imigração é apenas um começo.

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O CAMINHO DE VOLTA Yume Ikeda não gosta de falar da sua história. Talvez porque sonhe em voltar; ser feliz. Mas nessa edição comemorativa, queríamos o seu depoimento. Ela resistiu. Depois, acabou cedendo. Só que optou por coletar o depoimento de várias amigas. Histórias comuns de muitos dekasseguis. Imprimiu um pouco de si no texto, mas o deixou anônimo como relato de muitas que partiram em busca do sol, de onde nasce o sol, para trazê-lo de volta ao Brasil na forma de dólares e prosperidade. Eis o relato, como ela o mandou. No plural, porque o singular leva sempre a marca de quem escreve e ela preferiu seguir à risca o título da publicação que, há quase um ano, se orgulha de tê-la como colaboradora.


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TEXTO [YUME IKEDA, DE TÓQUIO] FOTOS [DIVULGAÇÃO]

A VIDA DURA Muitas de nós sonhávamos com o futuro no Brasil. Algumas estavam estudando Letras e Pedagogia, imaginando dar aulas em escolas públicas - o ensino é valorizado dentro da colônia japonesa e é tarefa nobre às mulheres; também aos homens. Salários baixos, alunos indisciplinados e obrigatoriedade de aprovação, queixas comuns a todos os professores da rede pública, acabaram por empurrar uma leva de mulheres nisseis para o Japão, algumas acompanhando namorados e maridos. Fizemos, assim, o caminho de volta de antepassados - grande parte dos que estão aqui são da terceira geração de famílias que imigraram para o Brasil, mas que não fazia parte daqueles pioneiros do Kasato Maru; vieram depois, nos sucessivos ciclos imigratórios pós-1908, atraídos por histórias de sucesso daqueles que haviam cruzado o Oceano, trocando a noite pelo dia. Segui, no final dos anos 90, os passos de primos que vieram para o Japão em busca de dinheiro e na expectativa de, na volta ao Brasil, realizar sonhos há muito acalentados, como uma boa casa e um bom negócio. Dinheiro para a família e certeza de prosperidade. A maioria de nós nunca imaginou ser metalúrgica, mas é essa atividade que muitas exercem hoje, especialmente na cidade de Osaka, a que tem a maior colônia de brasileiros residentes no Japão. O coração da maioria fica partido quando se opta por esse ciclo, mas repleto também de esperanças. Somos metade - mais da metade, é verdade, Brasil e outra metade Japão, uma ilha menor tanto territorialmente como no peito da maioria. É que aqui, como acontecia com nossos antepassados no Brasil, também é preciso romper a barreira do preconceito. Não somos vistos como japoneses pelos japoneses. Mas executamos em fábricas, bares, residências, trabalhos que o País que se voltou para a tecnologia desde a Restauração Minji, havia deixado de lado. A exceção fica por conta daqueles que se dedicam à agricultura e a preservaçção de rituais ancestrais. A realidade de um dekassegui é dura. Não é tarefa fácil ser dekassegui. Não tem sido para muitos Só que perseverar é da alma de um nissei. É virtude cultuada. E a cada tsuru que fazemos, desejando sorte, saúde, felicidade e prosperidade, recebemos outros tanto de volta. Esse pássaro, um dos mais simples de serem manuseados com a técnica também ancestral do origami, tem o poder de transmitir paz e prosperidade, saúde e felicidade. Então, é com esse espírito que podemos dizer arigatô a todos. Arigatô à vida. Essa mágica palavra que o brasileiro aprendeu a pronunciar é que tem o formato de obrigado. E também da obrigação de se ser o que é e ser feliz. É só uma tentativa, mas nela encerra-se toda uma vida. As nossas vidas.

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OS PODERES DO

CHÁ VERDE

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De acordo com uma lenda chinesa, em 2327 AC, o imperador Shen Nung descansava sob uma árvore quando algumas folhas caíram em uma vasilha de água que seus servos ferviam para beber. O imperador provou o líquido e adorou. Nascia, então, o chá, a bebida mais consumida no mundo. Não há confirmação oficial sobre esta história. Pelos escritos, o uso do chá data do século III a.C. O tratado de Lu Yu, conhecido como o primeiro tratado sobre chá com caráter técnico, escrito no séc. VIII, durante a dinastia Tang, definiu o papel da China como responsável pela introdução do chá no mundo. Já no inicio do séc. IX, a cultura do chá foi introduzida no Japão por monges budistas que levaram da China algumas sementes. A cultura teve êxito e desenvolveu-se rapidamente. O chá experimentou nestes dois países - China e Japão - uma evolução extraordinária, abrangendo não só meio técnico e econômico, mas também os meios artísticos, poéticos, filosóficos e até religiosos. No Japão, por exemplo, o chá é protagonista até hoje de um cerimonial complexo e de grande significado. E como o chá tornou-se uma tradição inglesa? Marco Pólo teria relatado sobre a bebida em seus escritos, mas tudo indica que teriam sido os holandeses, grandes comerciantes, os responsáveis por difundir o chá na Europa, chegando á Inglaterra, que passou a “abraçar” este comércio. Chineses e japoneses utilizam há milhares e milhares de anos o chá em todas suas variações, sempre de olho nas propriedades. O extrato de chá verde, ou camélia sinensis – com gosto um tanto amargo - é conhecido por suas propriedades antioxidantes. As folhas vão para a secagem logo após a colheita, evitando a fermentação. De olho nestas propriedades, empresas de cosméticos lançaram produtos à base de chá verde. O Boticário, por exemplo, tem a Bodyactive loção fluida hidratante chá verde, produto para hidratação da pelo do corpo, indicado para pessoas com tendência a pele seca. Já a Natura tem xampu e condicionador à base de chá verde, que controlam a oleosidade, na linha Cristalplant. A Leão, fabricante do tradicional Matte Leão (controlada pela Coca-Cola) lançou o primeiro chá verde granel recentemente. O chá é zero caloria: vem na embalagem de 150 gramas e rende até 20 litros. A bebida também é encontrada em saquinhos individuais (nas versões natural, maçã verde, limão e maracujá) e na forma gaseificada, Green Tea Spree, como um refrigerante sabor limão.


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TEXTO [Sテ年IA ARARIPE] FOTO [LUCIANA TANCREDO]


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Eliezer Batista, ex-ministro e “pai” da Vale do Rio Doce, estreitou laços com a Terra do Sol Nascente e comprova que é possível sim praticar o desenvolvimento sustentável

Os olhos são amendoados e se não fossem de um azul contagiante poderiam perfeitamente se passar como uma possível herança longínqua de orientais. Também o estilo discretíssimo, de pouco falar, muito apreender e ensinar, o aproxima da Terra do Sol Nascente. Mesmo sendo de família portuguesa, com físico germânico ou nórdico, corre nas veias do ex-ministro Eliezer Batista, mineiro de nascimento, de alguma forma, a sabedoria e a paciência oriental. O Japão foi e sempre será sua segunda pátria. Amor que ele também nutre pela Rússia, que o recebeu sempre de braços abertos, tendo inclusive eleito o primeiro brasileiro com assento na Academia Russa de Ciências. A ligação da Vale com o Oriente começou ainda nos anos 50, mas foi na década de 60 que o então presidente da Companhia Vale do Rio Doce (hoje, após uma modernização de marca, simplesmente Vale) percebeu no que aquela parceria poderia resultar. Em plena Guerra Fria, Doutor Eliezer notou que os Estados Unidos estavam diminuindo suas compras de minério de ferro e procurou o mercado japonês. Que precisavam – e muito - de ferro para construção

de prédios, pontes e ferrovias. No livro “Conversas com Eliezer” (Insight Engenharia de Comunicação), dos jornalistas Luiz César Faro, Carlos Pousa e Cláudio Fernandez, Eliezer Batista conta que os japoneses procuravam parceiros não só para comprar minério de ferro, mas também para construir fábricas no Brasil. “Diversos projetos, percepção lógica que o tempo se encarregaria de comprovar.” Como em celulose, siderurgia e alumínio. Nesta época conheceu Inada San. Matemático brilhante, se encantou pelo Brasil e instalou uma consultoria no Rio.

que ajudava como intérprete. Brasileiros brincalhões (quase um pleonasmo) ensinaram para o jovem que alguém muito inteligente seria um “macado velho”. E Antônio Dias Leite, ex-ministro de Minas e Energia, assim foi chamado. Brincadeiras à parte, foram anos de muitas solenidades, cerimônias, formalidades. Visitas para grupos japoneses, deles aqui no Brasil. Eliezer e sua equipe prepararam o que é hoje a grande receita de sucesso da Vale, alçando vôos internacionais cada vez mais altos: um complexo integrado que interliga minas e portos por ferrovias expressas e competitivas até o destino final. A mineradora conquistou os japoneses com qualidade e preço. Custou caro do ponto-devista pessoal esta obstinação: foram quase 200 vôos para o Japão, alguns de apenas dois dias, em uma época de aviões bem menos avançados do que hoje. O ex-ministro perdeu 70% da visão da vista direita, mas continuou sua missão com entusiasmo de garoto.

Estava apenas começando a parceria decisiva da Vale com o Japão. Naquele caso típico do ditado “o homem certo no lugar certo.” Foi ele que ajudou a intermediar o encontro com Takashi Imai, anos mais tarde todo-poderoso presidente da Nippon Steel e chairman da Keidanren, semelhante à Conferederação Nacional da Indústria daqui.

Recebeu, do imperador Hirohito uma condecoração pelo seu trabalho e dedicação. Eliezer agradece o grande apoio recebido de John Aoki (de tradicional família japonesa) e sua esposa, Chieko, donos da tradicional rede hoteleira Caesar Park que abriram portas importantes no Japão. Para que o minério da Vale se tornasse competitivo era preciso chegar do outro lado do planeta a tempo e com custos adequados. Foi aí que surgiu a idéia de reforçar as ferrovias, construir portos, ter navios com capacidade para carregar 120 mil toneladas e das tradings japonesas apoiando a operação. O terminal de Tubarão foi inaugurado em 1966 e, antes disso, delegações de japoneses estiveram aqui para confirmar se aquilo que o senhor dos olhos azuis e voz forte falava era verdade. Confirmaram e estava dada a largada para a internacionalização da Vale.

No relato aos jornalistas, o exministro conta causos e histórias daquela época. Como a do filho do então embaixador japonês no Brasil

Mas nem só da Terra do Sol Nascente se faz a história deste engenheiro mineiro de Nova Era, que conhece como a palma da mão o Vale do Rio

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Perfil Doce, também a Amazônia, onde fincou a bandeira da Vale na Reserva de Carajás (PA), maior mina de ferro a céu aberto do mundo e diversos destinos do planeta. Boa parte da trajetória de Eliezer Batista se fez como estrategista, como homem público. Mesmo que tenha ocupado, efetivamente, apenas dois de alto escalão: ministro de Minas e Energia no governo de João Goulart e de Assuntos Estratégicos no Governo Collor. O engenheiro é autoridade em assuntos estratégicos, com trânsito nos últimos presidentes, incluindo nesta lista o presidente Lula. Aos 84 anos, segue vida ativa, como quem não foge de sua missão maior. Chega cedo todos os dias no escritório na sede da Federação das Indústrias do Rio, que compartilha com o também ex-ministro da Previdência, Raphael de Almeida Magalhães. Tem sempre agenda tomada. Recebe várias comitivas estrangeiras, gente que em de longe ouvir sua opinião sobre o Brasil. Na hora do almoço, costuma sentar-se sempre à mesma mesa no restaurante do próprio prédio, normalmente com um convidado. A luz forte o atrapalha e, assim, fica de costas para a sua grande criação, a sede da Vale. Participa do debate social. “Sonho com um país mais justo e com melhor educação”, não se cansa de dizer. Para os seus filhos, netos e todos os filhos e netos deste país. Trabalha assuntos relevantes para o Desenvolvimento Sustentável, como logística, melhor distribuição de renda e atração de mais investimentos. No entanto, sua grande preocupação nos últimos tempos tem sido como transformar a educação atual em um processo capaz de entender melhor a “revolução” em curso. “O professor não está preparado para a nova teoria do conhecimento, não sabe ensinar aos alunos que pensam hoje de forma digital. É um grande desafio.” Engana-se quem imagina um intelectual empoado e distante. Intelectual sim: dos melhores e mais vívidos de sua geração. Capaz de ler no original em seis idiomas. Mas, por favor, sem nenhum ar de pompa ou circunstância. Sem espaço para vaidades. Quando alguém o enaltece muito, sorri educadamente e depois dispara que nunca foi, nem gosta, de “massageador de egos”. Se o interlocutor entender o recado terá avançado um passo à frente no conceito do Dr. Eliezer. Que o digam os mais próximos. Tímido, sempre evita os flashes e nunca gostou das colunas sociais. Os amigos são os da vida toda e alguns que o conquistaram ao longo de sua trajetória. Sente até hoje a perda de sua companheira de toda uma vida, Jutta, em 2000. Ela nasceu na Alemanha: tiveram seis filhos e hoje dá nome à fundação social com diversas ações na região do Espírito Santo. Defensor do desenvolvimento sustentável, Eliezer deu as bases, com seu companheiro, Dias Leite, da Lei Florestal de 1966. Amigos de Erling Lorentzen, ajudaram a criar as bases para a Aracruz nascer e tantas outras empresas de papel e celulose. Amante da botânica, dos animas e da ciência, é na fazenda na serra capixaba, em Morro Azul, que Eliezer encontra refúgio para a alma. Sustentabilidade é um tema de ontem, hoje e sempre. Participou ativamente da Eco 92 e de tantos outros debates recentes sobre o tema. Está sempre em atividade. Defende, por exemplo, o plantio de florestas em áreas já degradadas para a produção de carvão, preocupado com o uso desenfreado de carvão de mata nativa em fornos de algumas usinas. Há dois anos, a Vale homenageou seu criador batizando uma usina hidrelétrica, em Minas, com seu nome. Antigos funcionários da mineradora vieram de longe para dar um abraço no amigo. O presidente Lula fez questão de marcar presença. Mais recentemente, recebeu outro presente emocionante. Um de seus filhos, o empresário Eike Batista - considerado um dos homens mais ricos do país, com diversas empresas - comprou uma imensa área no Pantanal e criou uma reserva em homenagem ao pai. Uma floresta para o samurai verde.

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PELO BRASIL

A CERIMÔNIA DO ADEUS

xou como legado vários livros, e uma trajetória reta, sem falácias e de muito respeito aos movimentos

Ao contrário de Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Vilaça

sociais. Ela, aliás, foi uma das pri-

Correia Leite Cardoso detestava os holofotes da política. Chegava, duran-

meiras vozes do mundo acadêmi-

te os oito anos de mandato de Fernando Henrique, a ser áspera com jor-

co a apontar que os movimentos

nalistas, procurando preservar sua intimidade e sair do foco da notícia. Essa

sociais teriam grande importância

paulista nascida em Araraquara, interior do Estado, no dia 19 de setem-

no futuro. Fez mais. Deu aval à

bro de 1930, mudou, no entanto, as políticas sociais da Presidência da

organização da sociedade civil em

República, ainda que rechaçando o rótulo de primeira-dama. Formada em

grupos de interesse e pressão por

ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Univer-

uma nova ordem social.

sidade de São Paulo (USP), onde conheceu Fernando Henrique Cardo-

A sua tese de doutorado

so, com quem se casou e teve três filhos, Ruth ergueu o Comunidade Soli-

"Estrutura familiar e mobilidade

dária. E com ele mudou a forma de fazer política social. Em vez de repas-

social: estudos dos japoneses no

ses para órgãos públicos, priorizou as Organizações Não-Governamentais

Estado de São Paulo", por exem-

(ONHs) e abriu espaço para um mecanismo que pudesse cumprir o papel

plo, foi lançada como livro em

de educar e alfabetizar mesmo longe do poder. Hoje, a Comunitas, uma

1995, em português e japonês.

organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), vem cumprin-

Em 1997 foi publicado "3º Setor,

do este papel.

Desenvolvimento Social Sustenta-

E aqueles aos quais Ruth se aliou prometem levar adiante o projeto mesmo com sua repentina partida no último mês de junho. Voz firme no combate à exclusão social e à pobreza, Ruth Cardoso dei-

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do", com a participação de vários autores. Outra obra de referência é "Bibliografia sobre a Juvetude",


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que analisa livros e ensaios sobre o tema, escrito em parceria com Helena Sampaio. Professora aposentada da USP e diretora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Ruth atuou em instituições como a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), a Universidade do Chile (Santiago do Chile), a Maison des Sciences de L'Homme (Paris), a Universidade de Berkeley (Califórnia) e a Universidade de Columbia (Nova Iorque). Mais do que palavras, Ruth era uma mulher de ações. A conclusão, extraída do texto que deixou como legado é a prova mais cabal desse seu comportamento. Confira:

SUSTENTABILIDADE, OS DESAFIOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO SÉCULO 21 POR RUTH CARDOSO Tentando resumir o debate sobre políticas sociais, visando sua para continuidade, creio que já temos alguns fatos sobre os quais refletir: A semelhança entre programas implementados em vários países, com governos de diferentes colorações políticas e ongs de diferentes posturas, faz pensar que estes planejamentos são quase sempre muito repetitivos e que falta uma análise da coerência entre os pressupostos atribuídos aos programas e as metodologias empregadas. Certamente o desenho das políticas sociais está condicionado pelas opções políticas e por determinadas visões sobre desigualdade, mas as escolhas podem ser mais criteriosas se considerarmos os conhecimentos de que já dispomos. A facilidade com que se repetem experiências que não foram avaliadas ou que não tiveram bons resultados é impressionante, simplesmente porque os recursos precisam ser gastos ou as imagens que documentam as ações precisam ser divulgadas. Atualmente, já dispomos de amplo conhecimento sobre monitoramento e avaliação de resultados, que deve ser usado pelos planejadores para aumentar a eficácia tanto na esfera pública como na privada. A participação da sociedade na promoção do desenvolvimento social já é uma realidade e conta com a mobilização tanto dos empresários e universitários quando dos segmentos de baixa renda, cada qual com seu papel. A contribuição do Terceiro Setor para a renovação de metodologias para programas sociais, assim como a abertura de canais de participação local que dão voz aos que demandam oportunidades, formam um novo contexto para a mudança social. O combate à pobreza tem sido uma obra de Penélope onde o que se constrói durante um período se desmancha no momento seguinte. E, freqüentemente se atribui aos pobres a resistência ao progresso. Atualmente sabemos que a sustentabilidade das mudanças depende de desenho de programas que incluam a participação dos beneficiados e promovam o desenvolvimento do capital social que existe em todas as comunidades. A firme disposição já existente entre os brasileiros para não mais aceitarmos a extrema desigualdade social será promotora da continuidade do debate sobre a eficácia das políticas sociais.

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PELO BRASIL BRASILEIRO IMORTAL A idéia é criativa e inovadora. A Vale, preocupada em firmar-se como empresa sustentável, criou o Prêmio Brasileiro Imortal: seis personalidades brasileiras vão batizar novas espécies descobertas na Reserva Natural de Linhares, imenso berçário de 22 mil hectares da biodiversidade mantido pela Vale, no norte do Espírito Santo. O lançamento foi feito pelo diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli e pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A votação já começou na internet. Para maiores

informações,

acesse

o

site

http://www.brasileiroimortal.com.br/

UVA SAUDÁVEL O bagaço de duas variedades de uva, subpro-

Com o objetivo de avaliar a capacidade antioxidan-

duto do processamento de vinhos e sucos que

te do bagaço e sua atuação no perfil lipídico dos ani-

normalmente é descartado, pode contribuir

mais, 60 hamsters foram divididos em seis grupos e

para a redução do risco de cânceres e doenças

submetidos a diferentes dietas. Um grupo utilizado

cardiovasculares. A conclusão é de Emília Ishi-

como controle recebeu alimentação normal e outro

moto, pesquisadora do Departamento de

teve dieta acrescida com óleo de côco, de modo a

Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da

aumentar o teor de gordura consumido.

USP. Em sua tese de doutorado, a pesquisado-

Os outros quatro grupos de dez animais se alimen-

ra fez a desidratação e trituração da casca e das

taram com subprodutos do bagaço de uva, sendo dois

sementes de duas variedades de uva, caber-

com extratos e dois com farinhas de vinho, um de cada

net, sauvignon e isabel, para obtenção de um

variedade da fruta. Depois de cerca de um mês, os pes-

tipo de farinha de bagaço e, em seguida, para

quisadores coletaram amostras de sangue e sacrifica-

a elaboração de extratos concentrados.

ram todos os animais para extrair seus fígados.

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PLURALE EM AÇÃO Parece que foi ontem. Plurale em revista e Plurale em site completam um ano em outubro. E a próxima edição da revista, a número 8, de setembro e outubro será ainda mais especial. Reportagens, artigos, fotos e entrevistas de fôlego. Não perca. Fechamento publicitário até 29 de agosto. Maiores informações através do e-mail comercial@plurale.com.br

Presença constante em eventos Plurale em revista e Plurale em site se consolidam como veículos independentes, voltados para o amplo debate sobre Sustentabilidade. Assim, têm sido presença constante em eventos importantes deste segmento, como na 10ª Conferência do Instituto Ethos, em São Paulo; do 10º Encontro IBRI/Abrasca, em São Paulo, e no Global Fórum da América Latina, em Curitiba. Outros eventos que também terão Plurale como parceiros estão a caminho, como o Congresso Nacional de Excelência em gestão e o Simpósio Internacional de Transparência, organizados pela Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, no Rio e o 20º Congresso da Apimec, nos dias 20 a 22 de agosto, também no Rio. Quem tiver interesse em fazer parceria com Plurale deve procurar Sônia Araripe: através do e-mail soniaararipe@plurale.com.br ou do telefone (21) 3904 0932.

EDIÇÃO COMEMORATIVA

UMde plurale ANO FECHAMENTO PUBLICITÁRIO

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DE AGOSTO


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Urbanização

ÁREA PORTUÁRIA REVITALIZADA TEXTO [SÔNIA ARARIPE] FOTOS [DANIEL POLITO]

BNDES ESTUDA FÓRMULA QUE VIABILIZE A RECUPERAÇÃO DE REGIÕES ENTORNO DE PORTOS INCLUINDO PROJETO HABITACIONAL

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uem visita a Estação das Docas, em Belém; o Puerto Madero, em Buenos Aires ou outras regiões portuárias que se transformaram em fervilhantes pólos culturais ou gastronômicos pensa logo porque o mesmo modelo não pode ser adotado em diversas cidades brasileiras. A começar pelo Rio de Janeiro. Pois o sonho pode se tornar realidade. Projeto em estudo por técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) planeja solução para estas imensas áreas. “Estamos estudando qual é a melhor solução. O desafio é conseguir desenhar um financiamento atrativo e também fazer um bom projeto social. O S da sigla do banco tem sido bastante praticado”,


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explica Élvio Gaspar, diretor de Inclusão Social do BNDES. A idéia, ainda em estudo, é viabilizar um produto financeiro – como tantos outros que o Banco oferece – capaz de atrair investidores privados e ainda destinar parte do projeto para geração de construção imobiliária de baixa renda. E faz sentido misturar um grande pólo cultural e gastronômico com construção de moradias para trabalhadores? Élvio está certo que sim. “Estas áreas são gigantescas e têm espaços para desenvolver um projeto completo.” No caso do Rio de Janeiro, para quem não acompanhou de perto, a revitalização da região portuária se arrasta como uma novela há anos. A Prefeitura chegou a estudar a instalação de um museu Guggenheim, filial do famoso centro de arte moderna em Nova York. Outros tantos projetos também foram vislumbrados, inclusive um shopping, principalmente para a “ponta” do grande corredor de armazéns hoje vazios, bem próxima da Praça Mauá (Centro carioca). O pátio se transformou em um grande estacionamento rotativo. O ponto é excelente: além do grande fluxo de quem trabalha ali perto, a região é local de desembarque de dezenas de transatlânticos que aportam por ali todos os meses trazendo turistas estrangeiros e brasileiros. Na região portuária do Rio, o BNDES acredita que poderiam entrar num futuro projeto sete armazéns. O novo produto que está sendo desenhado pelos técnicos do BNDES prevê a criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para que possa receber, como doação, os terrenos que hoje, na maioria dos casos, pertencem à União. “Queremos criar um produto financeiro que estimule as cidades a construírem projetos com este perfil. O setor público terá que fazer as concessões.” No caso de Buenos Aires, por exemplo, a Prefeitura e o Estado entraram juntos. No Porto de Belém, o Estado construiu e a iniciativa privada arrendou. Esta parceria pública privada é a chave de todo o sucesso. “Em Recife, o processo está bem avançado”, observa o diretor do BNDES. A expectativa é que ainda em 2008 o Banco lance este novo produto. As condições não foram fechadas, mas poderá prever, por exemplo, arrendamento pelo prazo de 15 anos, com empréstimo a taxa de juros de longo prazo (TJLP) mais algum percentual de juro real. O banco entraria financiando cerca de 60% a 70% do projeto

e parceiros privados com a parcela restante. Pelo projeto em estudo, conviveriam em uma mesma região, pólo cultural ou gastronômico – ocupando uma parte dos armazéns – e um condomínio de habitações populares. “Há uma carência habitacional muito grande e estas áreas são bem próximas do centro, o que facilita a vida dos trabalhadores”, afirma Élvio. Ele reforça que não se pode expulsar os pobres que já estão naquela região, habitando sem a menor condição. “Temos que construir um bairro digno para estas pessoas.” O grande desafio do novo produto, lembra o diretor, será conseguir encaixar também esta preocupação social. Uma equipe de consultores está trabalhando na idéia. Arquitetos e urbanistas estão dando o suporte necessário. Além do Rio, também São Luis e Salvador poderão ter emprendimentos seguindo o mesmo modelo. Tudo ainda dependerá do avanço nas negociações. Uma parte para lá de complicada: os terrenos pertencem ao Estado, mas há um sem número de negociações a serem concluídas – no âmbito Federal, Estadual e Municipal - antes do projeto se transformar em realidade.

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Urbanização

BELÉM

é exemplo com Estação das Docas

TEXTO [DANIELA TORRES- BELÉM- PA]

Ao lado do famoso mercado Ver-o-Peso e instalado no cais do rio Guajará: é neste local que foi criada a Estação das Docas, que completou oito anos em maio. A revitalização do antigo porto de Belém uniu a preservação da história e da cultura paraenses à inovação e modernidade arquitetônica. Os galpões de ferro da segunda metade do século XIX ganharam vidros e climatização e os guindastes usados para transporte de carga receberam iluminação cênica, sendo hoje elementos decorativos marcantes. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns batizados de Boulevard: das Artes, da Gastronomia e das Feiras e Exposições. A Estação das Docas é um grande centro de lazer e entretenimento, que se tornou referência cultural e turística na região Norte com projetos permanentes e ações temporárias. Merece destaque a valorização de artistas locais em diversas áreas: música, artes plásticas, teatro, dança, grupos folclóricos, etc. Freqüentada por turistas e paraenses, oferece conforto: é limpa, segura e possui estacionamento. São oito restaurantes

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e uma cervejaria, uma sorveteria, lanchonetes, cinema, teatro, lojas, quiosques de artesanato e produtos regionais, salões de eventos, serviços diversos, agência de viagem (dali mesmo é possível embarcar em passeios turísticos de barco pelo Guajará), exposições permanentes, salas para festas e auditório. A Estação recebe mais de 2 milhões de visitantes por ano, segundo seus administradores. A criatividade deu um charme a mais ao local: o Boulevard da Gastronomia possui palcos deslizantes (antigas estruturas de carga adaptadas) que flutuam acima das mesas. A Estação das Docas é um espaço cultural completo, com um belo cenário fluvial como pano de fundo. Projetos engavetados de revitalização portuária em outras cidades do país podem tomar a Estação como exemplo para saírem do papel.


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A CÓLERA PREJUDICA O SOSSEGO DA VIDA E A SAÚDE DO CORPO, OFUSCA O JULGAMENTO E CEGA A RAZÃO.

DENIS DIDEROT

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OS VELHOS INVEJAM A SAÚDE E VIGOR DOS MOÇOS, ESTES NÃO INVEJAM O JUÍZO E A PRUDÊNCIA DOS VELHOS: UNS CONHECEM O QUE PERDERAM, OS OUTROS DESCONHECEM O QUE LHES FALTA.

COME POUCO AO ALMOÇO E MENOS AINDA AO JANTAR, QUE A SAÚDE DE TODO O CORPO CONSTRÓI-SE NA OFICINA DO ESTÔMAGO.

MARQUÊS DE MARICÁ

MIGUEL DE CERVANTES

RENUNCIAR AO AMOR PARECIA-ME TÃO INSENSATO COMO DESINTERESSARMO-NOS DA SAÚDE PORQUE ACREDITAMOS NA ETERNIDADE.

SIMONE DE BEAUVOIR

A ESPERANÇA É UM ALIMENTO DA NOSSA ALMA, AO QUAL SE MISTURA SEMPRE O VENENO DO MEDO.

VOLTAIRE O MAIOR ERRO QUE UM HOMEM PODE COMETER É SACRIFICAR A SUA SAÚDE A QUALQUER OUTRA VANTAGEM.

ARTHUR A VERDADEIRA FELICIDADE É IMPOSSÍVEL SEM VERDADEIRA SAÚDE, E A VERDADEIRA SAÚDE É IMPOSSÍVEL SEM UM RIGOROSO CONTROLE DA GULA.

GANDHI

SCHOPENHAUER AQUILO QUE SERVE DE ALIMENTO E DE BALSAMO PARA UM TIPO SUPERIOR DE HOMEM, DEVE SER QUASE VENENO PARA UM TIPO BEM MAIS DIVERSO E INFERIOR."

NIETZSCHE

TER NASCIDO ME ESTRAGOU A SAÚDE CLARICE LISPECTOR

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PELO MUNDO BRAD PITT E A MULHER PEIXE

TEXTO

Angelina Jolie está sempre se envolvendo em causas humanitárias e

[YUME IKEDA

ecológicas. Por conta disso, a turma do FreakingNews.com a desenhou

TÓQUIO]

como um marlin gigante, que acaba de ser visgado. Pura maldade, mas

FOTO

que faz sucesso na internet e você confere aqui.

[DIVULGAÇÃO]

Segundo Angelina Jolie, o maridão Brad Pitt está agora ocupado com seu primeiro grande projeto de construção em Dubai, nos Emirados. O projeto é a construção de um hotel cinco estrelas com 880 quartos, numa localização ainda não anunciada. A construção do complexo hoteleiro, no entanto, levará em conta as bases da "engenharia verde" por exigência do ator que contratou a Zabeel, conhecida por seus projetos ambientalmente sustentáveis na região do Golfo. É esperar para ver. Depois que o casal comprou a ilha de Etiópia, no novo mapa mundi de Dubai, tudo é possível.

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NUS PELOS URSOS MADRI Os ativistas do PETA (Pessoas para o Tratamento Ético de Animais) são mesmo inventivos. Estão sempre inventando. Agora, invadiram as ruas de Madri para denunciar a morte de ursos para a produção de chapéus. Os ursos negros normalmente são caçados no Canadá. Os ativistas protestaram, nus, em frente a Embaixada Britânica, em Madri, pintados com detalhes chamando a atenção para o uso de chapéus na Inglaterra, onde são mais comuns. "Pele exposta não suportará Pele".

O VERDE QUE BROTOU NA CHINA TEXTO

A China buscou inspiração numa antiga e milenar técnica botânica, a topiária para enfei-

[RITA BASTOS

tar seus jardinas durante os Jogos Olímpicos de julho. Os Jardins Olímpicos de Pequim

LONDRES]

incluem arbustos gigantescos esculpidos para dar forma a atletas, mas o grande destaque

FOTOS

são as mãos que viram cascata e até uma réplica dos templos gregos onde os Jogos tive-

[DIVULGAÇÃO]

ram origem. É tudo tão bonito que nenhum turista resiste e acaba por tirar várias fotos. É o lado verde dos Jogos que se realizam numa cidade onde a poluição se pode sentir e pegar no ar. Não deixa de ser um alerta;

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PELO MUNDO CELEBRIDADES VÃO DE CARRO QUE ECONOMIZA COMBUSTÍVEL

"A última vez que encheu meu tanque, Britney tinha cabelo", "A última vez que encheu meu tanque, Angelina teve 3 filhos," e, "A última vez que encheu meu tanque, Fidel ainda governou Cuba. " As frases, divertidas e ousadas, fazem parte da campanha global de Renault Clio, criada pela agência de publicidade brasileira Neogama, para ressaltar a economia de combustível do veículo. Visualmente, os anúncios utilizam fotografias e ilustrações de Jeremy Verde apresentado como um ciclo ininterrupto circular que mostra até onde pode ir com o seu Renault Clio Campus sem parar para o gás. O publicitário Alexandre Gama comemora o sucesso da criação.

UMA BATERIA ECOLÓGICA

Agora, você pode levar em torno uma fonte renovável de energia no bolso para abastecer seus gadgets eletrônicos, como aparelhos celulares, iPod e câmeras digitais. Trata-se de uma carregador solar de energia, que pode e deve ser usada principalmente para situações de emergência como uma importante conversa onde são cortadas as ligações devido à ausência de carga da bateria. Ele pequeno e funcional, carrega pouca energia, mas é um princípio que, ecologicamente correto, tem tudo para evoluir.

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C02 CUSTARÁ BILHÕES PARA BELGAS TEXTO [IVNA MALULY, BRUXELAS]

De acordo com o estudo realizado pela empresa de consultoria A.T. Kearney, a conta para a Europa e para a Bélgica de redução de emissões de CO2 impostas pela Comissão Européia dentro do projeto da nova diretiva (-20% de 2013 a 2020) será salgada. Para a indústria belga, o custo financeiro está avaliado em 16,5 bilhões de euros entre 2013 e 2020, segundo recente matéria publicada no jornal financeiro belga L'Echo. Um outro cotidiano belga, La Libre Belgique, trouxe outras informações : os custos adicionais para a indústria e o setor energético estão estimados entre 11,2 e 12,4 bilhões de euros para a Bélgica. Segundo Laurent Dumarest, sócio-parceiro da A.T. Kearney, este montante vai servir "para comprar anualmente 300 milhões de toneladas de CO2 sob a forma de certificados. Isso representa para este período um custo anual de 1,2 bilhão de euros". A nível europeu, no mesmo período, o impacto varia entre 350 e 400 bilhões de euros, diz o estudo. Laurent Dumarest estima, no entanto, que o impacto financeiro vai pesar sobre a competitividade de setores como o do cimento. "Algumas mudanças de empresas para países onde o custo é mais em conta vão tornar-se rentáveis. Com um custo de CO2 a 38 euros a tonelada, produzir o produto fora da Europa será mais barato incluindo o frete", afirma. Somente para o setor da indústria energética, o estudo prevê um sobrecusto de 3 a 4 bilhões de euros entre 2013 e 2020.

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Meio Ambiente

CAVERNAS

NO INTERIOR, CIÊNCIA E BELEZA UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS EM FELINOS DO PAÍS INVESTIGA A SITUAÇÃO DAS ONÇAS. PESQUISA DEVE LEVAR UM ANO

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TEXTO [NÍCIA RIBAS] FOTOS [DIVULGAÇÃO/GPME]

Primeiro abrigo do homem pré-histórico, com o passar do tempo as cavernas se tornaram meras atrações turísticas. É bem verdade que esses espaços vazios em rochas, alguns com pinturas rupestres, lagoas azuis e formações como as estalagmites, continuam encantando turistas em todo o mundo. No entanto, a exploração e o estudo das cavernas, objetos da espeleologia, têm revelado importantes informações científicas, algumas com impacto direto na sociedade. A verdade é que lapas, grutas, tocas, furnas, locas, ermidas, casas de pedra, buracos e cavernas, sinônimos, graças à vasta extensão territorial brasileira e à conseqüente diversidade cultural, estão despertando cada vez mais, a atenção de cientistas e turistas. Mais de 10 mil km de galerias já foram mapeadas em todo o mundo e mais de 4.500 cavernas estão registradas nos cadastros brasileiros, uma parcela muito pequena diante do imenso potencial aqui existente. O estudo dos terrenos cársticos, nos quais as cavernas se formam, é importante para entender e evitar fenômenos geológicos como a subsidência, ou colapso, de terrenos, como o ocorrido em Cajamar, São Paulo, em 1986. Fundado em março de 1987, o Grupo Pierre Martin de Espeleologia – GPME- reúne cerca de 50 sócios das mais diferentes idades e profissões, que têm em comum a paixão pelas cavernas e muita disposição para preservar esse patrimônio. Geólogos, biólogos e geógrafos, mas também advogados, publicitários, engenheiros e profissionais de informática, que integram o GPME já mapearam, exploraram e registraram aproximadamente 600 cavernas. Sócio pleno e fundador da Redespeleo, o Grupo é um dos mais ativos do Brasil. Atualmente eles buscam patrocinador para publicar um livro comemorativo dos 20 anos do Grupo, já aprovado na Lei Rouanet, bastando apenas conseguir apoiador interessado em utilizar os benefícios da Lei.

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Meio Ambiente

TEMOS MAIS CAVERNAS DO QUE PANTANAL ERICSON CERNAWSKY IGUAL, VICE-PRESIDENTE DO GPME WWW.GPME.ORG.BR, CONVERSOU COM A PLURALE. Plurale: Qual a importância da espeleologia para o mundo moderno? Ericson: Além de seus atributos científicos, turísticos e esportivos, hoje a espeleologia pode colaborar, por exemplo, com estudos hidrogeológicos, visando a preservação de aqüíferos em regiões cársticas e seu uso racional e sustentável como fonte de abastecimento. É comum encontrar no Brasil cemitérios mal situados em regiões cársticas, que pelas características de recarga do aqüífero se tornam uma fonte constante de contaminação, assim como a contaminação por agrotóxicos, esgotos urbanos, etc. No aspecto biológico, as cavernas podem ser consideradas como um banco genético, um “estoque” de fauna pretérita, o registro da história evolutiva de diferentes grupos e de organismos fósseis. No sentido de compreender e desvendar essas questões, os estudos espeleológicos correlatos se mostram de extrema importância. O estudo paleoclimático feito em cavernas, através da análise das estalactictes e estalagmites, permite entender as variações climáticas do passado,dando dicas sobre suas possíveis tendências no futuro.Além de todos esses aspectos, ainda podemos preservar e conhecer nossa pré-história, através dos estudos arqueológicos. O Brasil se destaca por suas florestas, rios, praias e o pantanal. E quanto às cavernas? E: Comparado com outros países, o percentual de áreas carbonáticas com relevo cárstico no Brasil é pequeno, algo em torno de 5% a 7% do território. Porém, a vasta extensão territorial transforma esse pequeno percentual em uma área de extensões consideráveis. A título comparativo, o Pantanal matogrossense ocupa aproximadamente 2% do território nacional. A grande diferença é que os terrenos cársticos brasileiros estão subdivididos em inúmeras frações e localizados por quase todo o território, com destaque para os estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais. Outra característica interessante do Brasil é o grande volume de cavernas associadas a outras rochas não carbonáticas, como arenitos, quartzitos, granitos e gnaisses, o que não costuma ser comum. Atualmente, o Brasil tem se destacado pelo elevado número de cavernas de ferro descritas. Infelizmente, esse gran-

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de número de cavernas reveladas nessa litologia estão associadas a estudos relacionados a empreendimentos e que não visam exatamente a preservação. No aspecto biológico, o Brasil se destaca pela sua ampla variedade de espécies cavernícolas, com destaque para os peixes. Hoje possuímos 24 espécies confirmadas e potencial para mais de 30 espécies, segundo diversos estudos em andamento. Com isso, o Brasil se aproxima do número de espécies de peixes cavernícolas da China, que possui o maior número de espécies conhecidas, levando em consideração sua extensa área cárstica, proporcionalmente muito elevada em comparação ao Brasil. Nossas cavernas estão bem preservadas? E: De certa forma sim, porém, estimase que apenas 5% de nossas cavernas sejam conhecidas pelos espeleólogos e conseqüentemente cadastradas, o que nos deixa com uma impressão muito parcial do grau de preservação das cavernas brasileiras. Ainda temos muito a conhecer e descobrir sobre o patrimônio espeleológico brasileiro. Muitas surpresas positivas e negativas ainda estão por vir. Em nossas expedições, é comum descobrirmos cavernas com alto grau de intervenção antrópica, como a presença de lixo e pichações, a poluição de aqüíferos com esgotos urbanos e agrotóxicos e rebaixamento de aqüíferos. Tudo isso compromete seriamente a integridade do patrimônio espeleológico. Assim como também observamos excelentes exemplos de preservação, a partir de iniciativas locais (prefeituras, pequenos sitiantes, etc...). Atualmente se discute mudanças na legislação brasileira que protege as Cavidades Naturais Subterrâneas (Cavernas e respectivos sinônimos regionais). Corremos o risco de sair de uma radical inversão em nossa legislação, atualmente bem protecionista, para uma legislação que permita um alto grau de destruição, em vista da demanda do crescimento econômico. A necessidade de velocidade no licenciamento de empreendimentos pode comprometer seriamente o conhecimento da biodiversidade cavernícola brasileira, além da aceleração da destruição irreversível do patrimônio espeleológico como um todo.

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Meio Ambiente

Serra do Calcário 2007-2008 Área localizada nos municípios baianos de Central, Jussara e Itaguaçu da Bahia. A Serra do Calcário e a região de Central, apesar de ser muito conhecida no aspecto arqueológico e paleontológico, até o ano de 2000 era inédita para a comunidade espeleológica. A partir de 2004, o GPME intensificou o número de visitas em expedições com pequeno contingente e curtos períodos. O potencial revelado nessas ocasiões demonstrou que a região merecia maior atenção. No réveillon 2007/2008, o GPME realizou uma expedição de grande porte, utilizando como sede a escola municipal Rui Barbosa, localizada na área urbana da cidade de Central. Essa expedição, além do objetivo espeleológico e a integração com a comunidade local, teve um importante fator de compromisso social, com os participantes, valorizando o voluntariado em ações sociais, com doações de roupas, calçados, brinquedos e até computadores. Em paralelo, a expedição contou com o apoio do Projeto Idéia Fixa pela Educação que doou 500 livros de histórias infantis, que foram repassados ao acervo didático da Escola Rui Barbosa.

Presidente Olegário - MG Apesar de descrita em alguns documentos históricos de exploradores e naturalistas do passado e posteriormente na publicação “As Grutas em Minas Gerais - IBGE1939”, até 2007 o município nunca havia sido visitado por espeleólogos, podendo também ser considerado inédito sob a ótica espeleológica. Em meados de setembro de 2007, com base nessas referências históricas e com o apoio da prefeitura municipal, uma primeira expedição de reconhecimento com apenas dois participantes, num período de nove dias, revelou 32 cavernas novas e reencontrou duas descritas em IBGE-1939, sendo que 13 delas foram mapeadas. O incrível potencial empolgou os membros do GPME e, em novembro, uma segunda expedição, com maior contingente, mas em período mais curto, descobriu 22 novas cavernas e mapeou sete destas. O potencial cientifico, biológico e geológico, observado nessas duas primeiras expedições animou o Grupo a realizar uma terceira expedição, em abril de 2008, dessa vez sem objetivos de explorações e mapeamento, mas voltada totalmente para levantamentos científicos. E assim como na Expedição Serra do Calcário, a expedição contou com o apoio do Projeto Idéia Fixa pela Educação que doou 400 livros de histórias infantis, repassados ao acervo didático de diversas escolas do município.

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inclusão social

SOLUÇÕES locais

TEXTO [ISABEL CAPAVERDE, GASPAR - SC] FOTOS [DIVULGAÇÃO]

AS EMPRESAS BUNGE DO BRASIL, ATRAVÉS DE SUA FUNDAÇÃO, INTERAGEM COM AS COMUNIDADES NO ENTORNO DE SUAS UNIDADES PROMOVENDO AÇÕES EDUCATIVAS QUE VALORIZAM INICIATIVAS REGIONAIS.

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U

m menino que mudou para o outro lado da cidade e faz questão de continuar na mesma escola pública do antigo bairro por causa do “Boi”, como ele próprio justifica sua escolha. Uma mãe que conta orgulhosa que alguns pais que tem filhos no melhor colégio particular da região, já pensam em transferir as crianças para a escola pública onde estuda sua filha. A escola pública em questão e a Educação Básica Professora Angélica Souza Costa, localizada em Gaspar, cidade do Vale do Itajaí no interior catarinense. O que ela tem de especial? O Projeto Cantar, uma parceria da escola com a Fundação Bunge, entidade social das empresas Bunge do Brasil. A convite da Fundação, Plurale foi ver de perto os resultados de um projeto que utilizando a musicalidade e a valorização da cultura local – no caso, o folclore de Santa Catarina com o “Boi de Mamão” – vem mudando nos últimos quatro anos a realidade do ensino e do bairro periférico de Sertão Verde, onde funciona a escola que tem 210 alunos. Histórias como a do menino e da mãe são exemplos comprovados pelos números na Angélica, como a escola é conhecida na cidade. Depois do Projeto Cantar houve 32% de aumento da participação dos pais na escola, 4% de aumento no índice de presença de alunos, 2% de aumento de matrículas e 1% de diminuição no índice de reprovação de alunos. Com atividades focadas na área da educação, com ênfase no ensino fundamental, a Fundação escolheu a Angélica para a parceria através de seleção que contou com a ajuda de uma consultora pedagógica local, Ângela Hoemke. O passo seguinte foi levantar a realidade de Sertão Verde, o contexto social da comunidade. Uma área carente, com moradores oriundos de muitos outros municípios do estado e de estados vizinhos, por isso mesmo, discriminados na cidade. As crianças não sonhavam e tinham baixa auto-estima. Com o apoio da Fundação, os professores identificaram o ensino da música como forma de aproximar pais, alunos e a comunidade da escola, integrar e diminuir preconceitos. Através da iniciação musical possibilitariam às crianças experiências mais ricas como o ensino de canto e voz, pesquisas e levantamentos sobre o assunto visitando espaços culturais, criando instrumentos musicais com materiais reciclados e tendo aulas de flauta, que segundo especialistas, é a porta de entrada para a alfabetização musical. Para orientar esses novos ensinamentos contrataram três professores de música. Além deles, a Angélica teve o reforço dos voluntários capacitados do Comunidade Educativa – nome do programa de voluntariado das empresas Bunge. Assim os alunos começaram sua viagem pelo mundo da música e do folclore da região, temas que passaram também a ser abordados em disciplinas como geografia, história, matemática, expressão e linguagem, dando um novo colorido ao aprendizado. Ensaiaram ainda a dança do “Boide-mamão”, produzindo eles mesmos os bonecos e o figurino dos personagens da história. Criaram o Grupo Folclórico Mirim do Boi de Mamão que hoje é convidado para apresentações nas festividades do município. E desde o ano passado, a escola ganhou o

Espaço Cultural Sertão Verde construído pela Fundação Bunge, com o objetivo de abrigar as atividades educacionais e culturais, integrando à comunidade ao Projeto Cantar. Na Angélica às terças-feiras são ansiosamente aguardadas pelas crianças. Segundo a diretora Nilsa Gertrudes Sabel, é dia do Projeto Cantar acontecer. Portanto, não é de estranhar vermos alunos tão animados apesar da fria tarde de inverno. Percorrendo as salas da escola há crianças desenhando, outras fazendo exercícios vocais, algumas esculpindo massinhas, desenhando e um grupo tocando flauta. Todos muitos concentrados. A dedicação dos professores também é visível. Como uma estufa elétrica ligada num canto da sala da aula de flauta. Um cuidado da professora que trouxe a estufa de casa para aquecer os dedos de seus alunos.“Tivemos o caso de uma aluna que chegou aqui na escola com nove anos e uma enorme dificuldade de aprendizado. Mas demonstrou interesse em aprender flauta. Dali por diante seu desempenho foi melhorando. A mãe ficou tão feliz que mesmo sem condições financeiras, comprou uma flauta para a filha continuar ensaiando em casa”, lembra a diretora.

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inclusão social

TROCANDO EXPERIÊNCIAS NO RECICRIAR O Grupo Folclórico Mirim Boi de Mamão foi uma das experiências bem-sucedidas apresentadas durante o ReciCriar – a pedagogia do possível, um dos programas da Fundação Bunge, que organiza encontros entre os educadores da rede pública de ensino fundamental para troca de experiências em palestras e oficinas de capacitação. O ReciCriar realizado em Gaspar no mês de junho, reuniu professores da cidade e de cidades próximas como Itajaí, Blumenau, Ilhota e Rio do Sul. Graças à parceria da Fundação com as Secretarias Municipal – e Estadual – de Educação, os professores são liberados para participar do evento que em geral dura dois dias.

Em Gaspar, reunidos no CDAL – Centro de Divulgação Ambiental e Lazer, os educadores tiveram oportunidade de conhecer além de iniciativas de Santa Catarina como o Projeto Cantar com o seu Boi de Mamão e o Projeto Pequenos Poetas da professora Kátia Testoni Longen, de Atalanta – que aproximou os alunos da poesia resgatando através deste gênero literário o prazer da leitura e da criação – o Projeto A Dança Popular na Escola, do professor Cláudio de Almeida Cavalcante, do Rio Grande do Norte, em que a criação de grupos de danças folclóricas, como o boi calemba, dentro da escola estimulou a pesquisa, o registro e a recriação de danças populares, preservando a cultura tradicional. Kátia e Cláudio são profissionais agraciados com o Prêmio Professores do Brasil, organizado anualmente pela Fundação Bunge junto com a Fundação Orsa e o Ministério da Educação.

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Em meio a uma das oficinas, Rosmari Hostins, professora do CDI Vovó Leonida, creche que atende crianças de uma área carente de Gaspar, diz que é a terceira vez que participa de um ReciCriar. “Não temos oficinas desse tipo na região e sempre é possível aproveitar alguma coisa que se aprende aqui em sala de aula. A gente tem que fazer adaptações, mas leva idéias interessantes. Os meus alunos estão na faixa etária dos cinco anos, então, não é possível fazer uma burra para cada um”, fala apontando para o trabalho manual que desenvolvia baseado no folclore do Rio Grande do Norte, “mas fazemos uma e eles levam para casa, mostram para os pais, brincam e criam histórias”. Foi assim que ano passado Rosmari fez com eles um carrinho de garrafa pet. Cada um deles levou o carrinho para casa, com o compromisso de trazer de volta no dia seguinte para que o colega tivesse sua vez. “Todos trouxeram o carrinho de volta sem nenhum estrago. Os pais contaram que foi uma festa em casa e que muitos chegaram a dormir abraçados no carrinho”, fala rindo. Já Vera Lúcia Simões, professora da região que atualmente mora na Espanha onde faz um programa de doutorado com foco na educação infantil na Universidade de Barcelona, quis aproveitar suas férias no Brasil e participar das oficinas. “Na Espanha dou aulas numa escola onde cerca de 90% dos alunos são imigrantes e temos feito um trabalho para aproximar as mães marroquinas das mães latinas. Há muito preconceito, especialmente por parte das mães latinas. E música e dança aproximam as pessoas há uma melhor socialização. O que está sendo feito aqui pode ser aproveitado lá e vice-versa”, acredita Vera que tem muitas idéias para num futuro próximo, fazer uma ponte entre a educação fundamental do Brasil e da Espanha.


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FUGINDO DO MODELO “RECEITA DE BOLO”

Em seus 53 anos de existência a Fundação Bunge passou por várias fases. Mas nos últimos anos vem se relacionando com as comunidades do entorno das unidades das empresas Bunge – Bunge Alimentos e Bunge Fertilizantes – de forma diferente. Até mesmo porque, hoje a Fundação funciona como uma diretoria de responsabilidade social da empresa. “Há cada dois meses nos sentamos e discutimos com a presidência da empresa como a área social pode participar na gestão do negócio. O trabalho da Fundação reflete a cultura da empresa. Nossas ações são baseadas em quatro valores. Na parceira com as escolas, comunidades e com os governos municipais e estaduais. No respeito às realidades locais, pois não podemos chegar impondo soluções. Na importância do protagonismo, ou seja, no envolvimento de todos no processo e no reconhecimento da importância da contribuição do outro”, enfatiza Cláudia Calais, gerente de projetos da Fundação Bunge. Dessa maneira, fugindo do modelo “receita de bolo” comum nas entidades sociais corporativas que implementam projetos semelhantes não importando a região do país, a Fundação está envolvida em projetos distintos como o Cantar em Santa Catarina e o Baú do Saber-Fazer, em Uruçuí, Pernambuco, onde baús com materiais como fantasias, brinquedos e livros são utilizados por professores como recurso pedagógico. “Trabalhamos com coisas simples o que pode tornar a operação mais difícil, mas funciona muito melhor. Às vezes nos surpreendemos ao conversar com o professor e ver que a única coisa que ele quer é um pouco de atenção para a sua atividade. Os professores precisam ser estimulados. A Fundação não pode assumir a responsabilidade da escola ou do Estado. Mas somos facilitadores, podemos ajudar a abrir caminhos”, diz Cláudia.

CLÁUDIA CALAIS

Voluntários, coordenadores e consultores pedagógicos locais, todos são capacitados e treinados regularmente e ao final de cada ano apresentam seus resultados, juntamente com as escolas parceiras. “A Fundação, como qualquer departamento da empresa, busca a qualidade, possui metas claras e objetivos específicos. Entendendo sempre que é necessário respeitar a especificidade de tempo da área social”.

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futurarte mineira Folhas de jornais e revistas velhas servem para embrulhar peixe. Certo? Nem tão somente. Jovens artesãos da Futurarte estão revolucionando o uso de papel em bolsas, bandejas e até relógios. A Futurarte é uma cooperativa criada pela Instituição Social Ramacrisna. Uma bolsa feminina para noite foi premiada em feira de design alemã. Contatos podem ser feitos pelo site http://www.ramacrisna.or g.br/futu_baixo.htm ou pela Tom Geraes na Rua São Paulo, 1830, Belo Horizonte, telefone (31) 3291-3311.

Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs


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PELAS EMPRESAS BALANÇO EM BRAIILE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Petrobras lançou em julho o Balanço Social e Ambiental de 2007. O gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Luiz Fernando Nery, explicou que a publicação apresenta inovações e avanços. Uma das mudanças foi aferir o desempenho com base na adoção exclusiva dos indicadores GRI (Global Repor-

A Gerdau Cosigua, usina do grupo Gerdau em Santa Cruz (RJ), rei-

ting Initiative), cujas diretrizes são

naugurou, em julho, o projeto Plantando Futuro. O programa, que leva

reconhecidas internacionalmente por

educação ambiental a cerca de 150 pessoas da região de Piranema,

empresas e instituições que publicam

município de Itaguaí, ganhou um viveiro de mudas de plantas nativas

relatórios de sustentabilidade. Além

da Mata Atlântica. Os próprios beneficiados pelo projeto serão respon-

das versões em português, inglês e

sáveis pelo cultivo das plantas. A previsão é que sejam plantadas 40

espanhol, pela primeira vez a Petro-

mil mudas que, posteriormente, serão vendidas para as indústrias da

bras também disponibiliza um

região - inclusive para a Gerdau Cosigua. O valor arrecadado com a

balanço em braile para quem requi-

comercialização será inteiramente aplicado no projeto.

sitar. Exemplares podem ser solicitados pelo e-mail balancosocial@petrobras.com.br. A versão online está disponível na página da empresa na internet (www.petrobras.com.br) A edição do Balanço referente ao ano

TODO DIA

de 2006 foi eleita pelos leitores o

Cotidiano é a nossa cota diária de vida. As coisas mais gosto-

melhor relatório do mundo no GRI

sas são ainda mais gostosas todo dia. Esse foi o ponto de parti-

Readers' Choice Awards, premiação

da da Natura para o relançamento da linha de cuidados diários

realizada pela Global Reporting Ini-

Natura Tododia. São novos hidratantes corporais, sabonetes líqui-

tiative em maio deste ano.

dos, hidratantes para mãos e pés, sabonetes em barra e hidratantes para o rosto com ingredientes gourmand, embalagens lúdicas, texturas diferenciadas e fragrâncias envolventes. Os produtos estarão à venda a partir de agosto.

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA PLURALE@PLURALE.COM.BR

BANCO BOSSA NOVA

BOM EXEMPLO

O Itaú, banco que historica-

Seis hectares da sede

mente valoriza a cultura nacional,

da Fazenda Vitória, da

lançou o Itaúbrasil, que tem

Suzano Papel e Celulose,

como objetivo enaltecer e difun-

localizada no bairro da

dir o que o País tem de melhor.

Saudade, em Pilar do Sul

Em sua primeira edição, o Itaú-

(SP), foram cedidos em

brasil presta uma homenagem

comodato por dez anos

aos 50 anos da Bossa Nova.

para a prefeitura local.

Para enriquecer o evento, o

A proposta da

Itaúbrasil irá promover uma série

administração municipal é

de shows reunindo a nova

criar ali um núcleo de

geração da MPB em homenagem

educação ambiental para

a João Donato além de um con-

alunos do ensino

certo com Miúcha e Os Cariocas.

fundamental e um centro

No dia 15 de agosto no Rio de

de pesquisa e resgate do

Janeiro e dia 25 e 26 de agosto

patrimônio histórico da

em São Paulo, acontece o show

região, a começar pelas

historico que colocará no mesmo

instalações da fazenda.

palco Roberto Carlos e Caetano Veloso cantando a obra de Tom Jobim.

Preocupadas com o futuro do planeta, a Caloi e Instituto e se uniram para

CALOI CARBONO FREE

o lançamento do Projeto Carbon Free, que aborda e alerta sobre os problemas da emissão de gás carbônico na atmosfera. O Projeto Carbon Free é composto por uma instalação cultural - chamada R(e)volution, e os lançamentos de uma série especial de camisetas e bicicletas exclusivas - produtos que serão comercializadas em algumas lojas Osklen e no site da Caloi. Parte das vendas das camisetas será destinada ao Instituto. As camisetas da série e-bike, assim como as bicicletas Caloi e-brigade Carbon Free, por sua vez, foram especialmente desenhadas para o projeto por Oscar Metsavath.

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Ensaio PLURALE MORTE E VIDA SEVERINA

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[ FOTOS ENY MIRANDA ] Eny Miranda é mineira de nascimento, mas se considera nordestina, quase ‘severina’, na sina de retratar a dura vida de quem lá nasceu. Já fez um sem-número de viagens para diferentes pequenas cidades da região árida da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Em Canudos, por exemplo, encantou-se com as cores e história. Aproveitou também a brisa e os cheiros de outras paradas. Embrenhou-se pelo sertão eternizado em prosa e verso por Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e tantos outros. Costuma voltar aos mesmos lugares para reencontrar personagens que viraram parte de sua vida. O bêbado Amor, no entanto, é lembrado com saudades: morreu afogado enquanto nadava à noite no Rio São Francisco. Povoa agora as histórias da poeta fotográfica Eny Miranda que divide seu trabalho com os leitores de Plurale neste ensaio. Cor


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Cordilheira de Sal: regi達o de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras


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Ensaio PLURALE

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O NORDESTINO É ANTES DE TUDO UM FORTE


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CARBONO NEUTRO

SÔNIA ARARIPE

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

FUSÃO DE PESO O Brasil, definitivamente, marca presença como um dos grandes mercados de créditos de carbono. Após dois anos de negociação, a Cantor CO2, braço ambiental da Cantor Fitzgerald, uma das maiores corretoras dos Estados Unidos, acertou fusão com a Ecológica Assessoria. “Temos focos bem parecidos. E eles, apesar de serem grandes brokers, não tem capital aberto”, explica Divaldo Rezende, sócio-fundador da Ecológica com Stefano Merlin, há 12 anos. A carteira atual já corresponde a 10% dos créditos de projetos de desenvolvimento limpos de grandes clientes, como Natura, Gerdau, Energia do Brasil e Eletrosul, ou 20 milhões de toneladas de CO2. As perspectivas são ainda mais favoráveis. Rezende frisou à esta coluna que o time de executivos, apesar do conhecimento e trânsito global, continuará sendo 100% nacional. “Temos sido requisitados na América do Sul e também na África.” O mercado global está em franca expansão, chegando até julho último ao tamanho de todo o ano de 2007, de US$ 60 bilhões (65% acima do que o de 2007). Sem falar no mercado voluntário de carbono, que apesar de bem menor – US$ 330 milhões – tem crescimento de 70%.

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SHELL NO MERCADO BIO O diretor de tecnologia da

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DE TIRAR O SONO Mais um estudo sobre o desmatamento crescente. De acordo com estudo americano publicado na revista Pnas, as florestas tropicais do mundo todo

Shell, da matriz, na Holanda,

encolheram o equivalend a mais de um Estado de São Paulo entre 2000 e

Jan van der Eijk revelou para o

2005. Agora, ente adivinhar onde quase metade de toda esta destruição oco-

correspondente Marcelo Ninio,

rreu? Acertou quem pensou no Brasil.

da Folha de S. Paulo, que o grupo está realmente interessado em investir no biocombustível. Segundo Eijk, o álcool brasileiro tem todas as vantagens para torná-lo um investimento

RELATÓRIO STERN BRASILEIRO

atraente e defendeu também

Está sendo confeccionado por especialistas brasileiros um estudo

outras fontes de biocombustí-

para calcular os prejuízos que o aquecimento global poderá trazer para

vel, como a celulose.

o desenvolvimento. O patrocínio é do Reino Unido, coordenado pela Academia Brasieira de Ciência. Já está sendo chamado de “Relatório Stern” nacional, em uma alusão ao estudo de Sir Nicholas Stern (chefe

PRICE É ESCOLHIDA

do serviço econômico britânico), publicado em 2006, alertando para os perigos de não se fazer nada contra o atual ritmo de emissões. O efeito, de acordo com o Relatório Stern original, é de uma queda de 5% a 20% no PIB mundial, cerca de US$ 7 trilhões até o final do século. Qual será o efeito no Brasil? O resultado só sai em 2009.

O Carbon Disclosure Project (CDP) anunciou no fim de junho a contratação da PricewaterhouseCoopers como assessor estratégico do projeto. Formado por um consórcio de 385 grandes gestores de fundos globais que juntos administram US$ 57

O MILAGRE DA TRANSFORMAÇÃO Acredite se quiser. Mas uma equipe de pesquisadores

trilhões, o CDP tem como obje-

britânicos, dirigidos pela cientista espanhola Mercedes

tivo avaliar as emissões de dió-

Maroto-Valer, desenvolveu tecnologia que transforma o

xido de carbono de milhares de

dióxido de carbono (CO2) em gás natural. O estudo está sendo

empresas no mundo.

realizado na Universidade de Nottingham, na Inglaterra.

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A CIDADE A QUAL SÓ TINHA ACESSO O IMPERADOR, DURANTE 500 ANOS, ATÉ 1912, FOI O CENTRO DO PODER EM PEQUIM.

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EDIFÍCIOS SOBREVIVENTES, COM 8.707 SECÇÕES DE SALAS E 720 MIL METROS QUADRADOS. PALÁCIO IMPERIAL DA CHINA,

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A CIDADE PROIBIDA ESTÁ DE PORTAS ABERTAS PARA OLÍMPIADAS. CONSTRUÍDA ENTRE 1406 E 1420, O COMPLEXO TEM 980

CIDADE PROIBIDA

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ImageMPLURALE por Marcello Casal Jr./Abr

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onde você vê alegria, você vê O Boticário. Respeito, cuidado e atitude são tão importantes para o ser humano quanto para uma empresa. No Boticário, esses valores estão presentes na fabricação dos produtos, no atendimento nas lojas e em nossa cadeia de relacionamentos – do consumidor ao colaborador. Estão também na Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, que há mais de 17 anos apóia e mantém centenas de projetos de conservação ambiental. E norteiam nossos projetos sociais e culturais nas comunidades. Isso porque O Boticário entende que uma empresa só tem sentido quando trabalha para o futuro da sociedade e a preservação dos recursos naturais do País. É por isso que O Boticário se reinventa. Para você viver num mundo ainda melhor.


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