Plurale em revista edição 8

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plurale em revista

ano um | nº 8 | setembro/outubro 2008 | R$ 10 ,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

DUAS RODAS

BRASIL SEGUE EXEMPLO EUROPEU

AIDS

LUCINHA ARAÚJO: UMA LUTA PELA VIDA PRÉ-SAL

UM DEBATE PLURAL

ano d e p l u ra l e em revista


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Editorial

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A Caminhada Plurale em revista e Plurale em site completam, este mês, um ano de atividades. Até parece que foi ontem, mas, na realidade, desde outubro de 2007, estamos pautando outros veículos sobre a importância das responsabilidades sociais, ambientais, econômicas e a necessidade de um profundo e plural respeito ao homem e ao planeta. Exatamente as bases do compromisso que, há um ano, assumimos com os leitores tanto da revista como do endereço eletrônico (www.plurale.coam.br) e da novíssima newsletter que carregam nossa marca. Uma caminhada dura, com momentos alívio e muito prazer, que não seriam possíveis sem a colaboração e o apoio de profissionais de texto e fotografia e também de nossos anunciantes, que asseguraram a transformação desse sonho plural numa realidade singular, impressa em papel reciclado e presente em todos os seminários, congressos e debates por todo o país, onde questões ao nosso compromisso associadas foram abordadas. O Boticário, Vale, AES Eletropaulo, Embraer, Bradesco Seguros, AmBev, PriceWaterhouseCoopers, Coca-Cola, Itaú, Fenaseg e Odebrecht foram e são parceiros de primeira hora dessa empreitada. Empresas que não mediram esforços para que Plurale em revista chegasse e continue chegando aos leitores, levando posições plurais e isentas sobre os mais diferentes temas. Aos amigos que, generosamente, emprestam o talento à publicação, só temos a agradecer e não os nominamos para não trazer para esta página o expediente que é a prova mais viva de todos aqueles que estão trilhando o caminho do fazer e fazer bem feito, no site e na revista. Em especial, a Marcelo Begosso, designer que, a cada edição, repagina essa revista, com a leveza e profundidade com a qual é hoje reconhecida. Nessa caminhada, a pé, de bicicleta, ou na cauda de um foguete ou cometa, acabamos por aprender a domar o tempo, esse orixá fugaz, que, algumas vezes, conspira a nosso favor e outras tantas contra, mas que semeia uma verdade inexorável: é preciso plantar para poder colher. Colhemos muito em um ano, mas seguiremos plantando. Não só com o desejo de ampliar as colheitas, mas sobretudo de dividir os nossos frutos. Saboreie, então, essa edição.

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Contexto

PERFIL TENENTE MÍRIAN 42

PELO MUNDO 26

46.. ECA SEM MOTIVOS PARA COMEMORAR

PELAS EMPRESAS 58

CARBONO NEUTRO 64

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60. ENSAIO UM PASSEIO NO SUL

38. PELO BRASIL O LAR E O ABORTO

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22.

ENTREVISTA COM LUCINHA ARAÚJO

A

51.

AMBIENTE BICICLETAS NAS RUAS E NAS PRAIAS

SUMMERHILL, UMA EXPERIÊNCIA CARIOCA

34. PRÉ-SAL UM DEBATE PLURAL


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Quem faz a plurale Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Comercial comercial@plurale.com.br Editor de arte Marcelo Begosso plurale@plurale.com.br Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Múcio Bezerra, Isabel Capaverde, Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e Renata Mondelo Colaboradores internacionais Virginia Silveira, Yume Ikeda, Marta Lage, Ivna Maluly e Rita Bastos Plurale é a uma publicação da Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) em parceria com a SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: Gráfica Ideal

cartas Plurale, 1 ano "Plurale estabeleceu um nível jornalístico de apresentações e comentários que deverá ter impacto para o resto da mídia brasileira. A publicação apresenta-se como relevante meio de informação sobre cultura e sobre a fronteira das preocupações do mundo moderno" Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Rio de Janeiro “Questões como respeito à natureza e sustentabilidade ambiental e social estão nas mesas de negociação entre nações, empresas, cidadãos. Os estudos ambientais já não são mais tarefa exclusiva dos governos, mas permeiam por toda a sociedade. O engajamento da Plurale nesse debate, com eficiência, pragmatismo, seleção de articulistas, enfim, reflete tanto preocupações sociais, quanto capacidade no gerenciamento editorial. Parabéns pelo primeiro ano em que todos ganhamos” Antoninho Marmo Trevisan, sócio-fundador da BDO Trevisan, São Paulo "É muito bom ver surgir uma publicação como Plurale com informações e textos de altíssima qualidade sobre desenvolvimento sustentável, gestão sócio-ambiental, tecnologias limpas e desenvolvimento urbano" Eduardo Bandeira de Mello, chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES "O debate sobre as questões relacionadas à sustentabilidade ganhou um importante parceiro com o lançamento da revista Plurale. Completando agora seu primeiro ano de vida, a publicação e seus profissionais merecem os parabéns por elevar a reflexão sobre este tema de forma qualificada e conseqüente. Vida longa e muito sucesso! Sônia Favaretto, Superintendente de Responsabilidade Socioambiental do Banco Itaú, São Paulo

Revista impressa em papel reciclado

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932 São Paulo | Alameda Barros, 66/158 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947 Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala 95 CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores Copyright Plurale em Revista

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"Ao longo deste primeiro ano, Plurale se mostrou uma importante fonte de fomento e de reconhecimento de ações de sustentabilidade no país. Também tem nos trazido grande inspiração nesse sentido. Parabéns pelas conquistas!" Marcelo Alonso, Diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Vivo, São Paulo "Plurale - uma revista plural, completa, diversa e atual. Fonte de reflexão de temas variados e relevantes" Paulo Henrique Soares, presidente da Aberje-Rio e gerente de Comunicação da Vale


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p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

“Com a Plurale, me sinto amparada com notícias e casos reais sobre sustentabilidade, aumentando a rede de contatos com pessoas engajadas na reflexão e aplicação do conceito de sustentabilidade nos diversos segmentos da sociedade. Parabéns e contem com meu apoio e divulgação” Patricia Almeida Ashley - Grupo de Pesquisa Organizações, Redes e Mercados Responsáveis e Projeto Ecocidades – Universidade Federal de São João del Rey (UFSJ) - www.ecocidades.org

“A Revista Plurale está de parabéns por apostar em pautas que refletem sobre os rumos do desenvolvimento atual do nosso planeta, questionando padrões insustentáveis de consumo de recursos naturais e trazendo o ponto de vista de profissionais que trabalham em prol do meio ambiente!” Paula Scheidt, Site Carbono Brasil, Florianópolis “Precisamos dar nome aos bois, e a Plurale é um desses espaços importantes de reverberação.”, André Trigueiro, Globonews, Rio de Janeiro "Plurale é uma revista que se destaca tanto pela forma, demonstrada na elegância com que apresenta os seus artigos e no material ecologicamente correto em que é escrita. Como também pelo seu conteúdo, cuja relevância é inquestionável e que é apresentado de forma competente e abrangente, trazendo depoimentos de pessoas que fazem a diferença nesta área bem como fatos e exemplos do que ocorre no resto do mundo.” Rudolf Hohn, presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social da Associação Comercial do Rio de Janeiro e Diretor-presidente da Ação Comunitária do Brasil “Como assinante desde o lançamento, venho acompanhando o crescimento e amadurecimento de Plurale em revista e Plurale em site. Temas atuais, visual moderno e bons articulistas atraem a leitura. Parabéns para toda a equipe envolvida”, Joaquim Dário d`Oliveira, assinante, Rio de Janeiro

“Prezada Sônia, Gostaria de agradecer-lhe pelo excelente artigo publicado na Plurale. A sua generosidade com relação à minha pessoa muito me sensibilizou. Gostei do formato da revista e aposto no seu sucesso.Um grande abraço” Eliezer Batista, Rio de Janeiro “Maravilhosas as fotos de Eny Miranda no ensaio “Morte e vida severina, na edição 7. Pura poesia.” Francisco Nonato, Fortaleza “Prezada Isabel, Recebi a Plurale de número 7. A matéria sobre o ReciCriar Gaspar e o projeto Cantar ficou ótima. Todos aqui adoraram. O pessoal da escola também. Muito obrigada!” Anna Barcelos, Fundação Bunge ”Recebemos a edição 7, com matéria de Nicia Ribas sobre cavernas e nossa ação no GPME. Show de bola! A diagramação ficou excelente, idem as fotos, o texto e a entrevista. Quero agradecer aos fotógrafos que cederam suas imagens. Também parabenizar a Nicia pelo excelente trabalho. Deixar um abraço para Sônia Araripe e Carlos Franco, editores da Revista Plurale, pelo valioso espaço e divulgação. E, finalmente, registrar um agradecimento ao GPME e seus sócios, que ao longo de seus 21 anos, com todo amor e dedicação, construíram uma entidade sólida e digna de seu reconhecimento. Resumindo, parabéns a todos!” Ericson Cernawsky, vice-presidente do GPME, São Paulo “Leio sempre Plurale em revista, e tenho achado, sinceramente, muito boa a sua qualidade. No último número (edição 7), por exemplo, as matérias sobre o Brasil Japonês, de Carlos Franco e sobre as cavernas - de Nicia Ribas - estão excelentes. Especialmente a das cavernas, pela pouca atenção que correntemente se dá a um tema tão interessante e tão brasileiro. Os articulistas de Plurale são do primeiro time, e a seção de fotografias é sempre admirada por todos. Enfim, parabéns! Espero que esteja vendendo e com muitos anunciantes como merece.” Saturnino Braga, Rio de Janeiro

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Artigo

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ALCIDES AMARAL

O SONHO DO CRESCIMENTO

sustentável

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sonho de todo governante de um país democrático ou daqueles países que pelo menos seguem a estrutura mestra das regras de mercado, é poder oferecer à sua população aquilo que hoje se tornou muito comum : o crescimento sustentável. Sustentabilidade que, de acordo com o dicionário Houaiss, é “característica ou condição do que é sustentável”, tornou-se comum nos dias de hoje, pois todos queremos , seja em termos de país , da empresa ou de nós mesmos , pessoas físicas, viver de maneira sustentável, sem altos e baixos, podendo planejar para um futuro melhor. Infelizmente, embora essa seja a teoria, a realidade é muito diferente. Somos, empresas ou pessoas físicas, que dependem de uma engrenagem mais ampla que se chama “País” no qual vivemos. E hoje, com o mundo globalizado , quase sem fronteiras, não importa apenas o que acontece no nosso território, mas sim no mundo todo. Tudo isso para dizer que dependemos uns dos outros e quando nosso presidente Lula fala que “estamos num regime de crescimento sustentado” , é mais um desejo seu do que a realidade. O mundo passou por um curto período de “céu de brigadeiro”, onde todas as águas corriam suavemente em direção ao mar. Tudo dava certo, a economia mundial ia bem, a China crescia exponencialmente e o Brasil , embora sendo uma espécie de “último vagão” do trem do desenvolvimento sustentado , avançava a taxas superiores aos últimos 20 anos, alcançando uma elevação do PIB superior em 5% no ano de 2007. Chegamos a ser premiados com o “investment grade”, por duas importantes companhias de “rating” dos Estados Unidos, que hoje é de pouca validade. Inicialmente, porque elas perderam a pouca cre-

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dibilidade que já possuíam pois não foram capaz de prever o “bolha imobiliária” que se formava na terra do Tio Sam. E,em segundo lugar, na nossa visão, o “investment grande” foi dado olhando-se pelo retrovisor. Isto é, essas “conceituadas” companhias de rating analisaram o que aconteceu até 2007 e esqueceram ou não foram capazes - de olhar um pouco mais para frente, o que deverá acontecer em 2008, 2009 e, quem sabe 2010. Como era esperado, a “bolha imobiliária” estourou e com ela a economia norte-americana entrou em pânico. O sistema financeiro praticamente quebrou - isso só não aconteceu graças à ação do FED - e o fantasma da recessão passou a rondar o país tido como o mais rico do mundo. Não bastasse, face à elevação acelerada do preço das “commodities”, a inflação passou a incomodar, embora os índices oficiais não representem a realidade. Lá nos Estados Unidos, o combustível (o barril do petróleo ultrapassou a barreira dos US$ 100) e a alimentação não entram no cálculo da inflação. A conclusão é que o povo americano está gastando muito mais para viver do que os índices inflacionários oficiais demonstram. Obviamente a crise financeira e econômica dos Estados Unidos alastrou-se pelo mundo desenvolvido, e há muitos que ainda acreditam que o impacto nos países emergentes -


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como o nosso Brasil - será menor pois não participaram daquele cassino financeiro que foram os anormais preços do mercado imobiliário norte-americano. A China está aí, como a nova potência, crescendo ao redor de 10,0% ao ano e mantendo o crescimento mundial ainda a níveis toleráveis, pois compra muito e caro de alguns países emergentes. E, mais uma vez, o Brasil torna-se privilegiado, pois como grande exportador de “commodities” consegue aumentar nossas divisas em dólares - apesar da supervalorização do real - pois exportamos soja, minério de ferro e assim por diante. O que poucos se lembram, entretanto, é que o PIB da China vem crescendo a taxas de 10,0% pois a base da economia era muito pequena. Na medida em que a China tornou-se uma potência, o crescimento daqui para frente será necessariamente menor.. A China continuará sendo ainda uma grande importadora de commodities (por necessidade), mas em contrapartida será ainda mais agressiva nas exportações, o que torna praticamente impossível competir com centenas de produtos que produzem face aos baixos preços praticados. Para nós aqui no Brasil, que tivemos e ainda temos as commodities como “âncora” da economia , a situação começa a agravar-se. A valorização exagerada da nossa moeda ,o real, fez com que nossa balança comercial ficasse refém desses produtos primários, sem nenhum valor agregado. A indústria foi praticamente destruída na sua capacidade de exportar, com exceção de algumas grandes empresas , e o resultado é que depois de obtermos um superávit comercial de mais de US$ 35 bilhões em 2007 , neste ano de 2008 ficaremos ao redor de US$ 20 bilhões e em 2009 fica difícil prever, pois a curva é claramente descendente. O déficit de contas-correntes agrava-se acentuadamente, tendo registrado um déficit de US$ 17,4 bilhões no 1º semestre de 2008, com perspectivas mais negativas a cada dia que passa. Como a situação lá fora , onde as sedes das multinacionais ficam instaladas, está difícil, as filiais aqui localizadas enviam tudo que podem para o exterior o que fez com que , ajudado pelas importações , o mês de julho registrou a maior saída de dólares do país desde dezembro de 2006. Portanto, falar em crescimento sustentado neste país nas condições atuais , é acreditar em Papai Noel ou ignorar o que está acontecendo no mundo e no nosso país. Teremos um problema de balança de pagamentos aí pela frente - muito diferente daqueles originados pelo alto endividamento governamental perante os bancos internacionais - pois pouci de prático se faz para que esse quadro negativo e evidente seja revertido. Os problemas fiscais para 2009 também serão relevantes face às despesas já assumidas com os benefícios previdenciários e despesas com os servidores públicos. Nossa carga tributária já está num limite (a redor de 36,0%) que não permite mais nenhum avanço pois, simplesmente, tanto os indivíduos como as empresas não suportam conviver com maiores tributos., Para o Brasil o “investment grade” veio em má hora - deixou-nos a todos acreditar que nossas condições futuras são melhores do que a realidade mostra - e de nada valerá , face o fluxo crescente de dólares saindo para o exterior. Estamos hoje sendo basicamente financiados por dinheiro de curto prazo, que aqui chega para arbitrar contra nossa alta taxa de juro real. O que aprendi ao longo da minha vida lidando com o mundo financeiro internacional, é que o dinheiro estrangeiro quando sai a velocidade é bem maior do que entra. Como nenhuma reforma estrutural será efetuada neste governo, só nos resta torcer para que a crise internacional dure pouco tempo para que possamos começar a pensar, novamente, em crescimento sustentado. Pois, nas condições atuais, temos que ter um bom guarda-chuva pois mais cedo ou mais tarde a tempestade virá.

Jornalista, ex-presidente do Citibank S/A e autor do livro “Os limões de mijnha limonada”

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O ERRO SÓ É BOM ENQUANTO SOMOS JOVENS. À MEDIDA QUE AVANÇAMOS NA IDADE, NÃO CONVÉM QUE O ARRASTEMOS ATRÁS DE NÓS.

GOETHE

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SER FELIZ SEM MOTIVO É A MAIS AUTÊNTICA FORMA DE FELICIDADE.

O HOMEM COMEÇA A MORRER NA IDADE EM QUE PERDE O ENTUSIASMO.

HONORÉ DE BALZAC

A VERDADEIRA SABEDORIA CONSISTE EM SABER COMO AUMENTAR O BEM-ESTAR DO MUNDO.

O ASPECTO MAIS TRISTE DA VIDA DE HOJE É QUE A CIÊNCIA GANHA EM CONHECIMENTO MAIS RAPIDAMENTE QUE A SOCIEDADE EM SABEDORIA.

ISAAC BENJAMIN ASIMOV FRANKLIN A VIDA É UMA TRAGÉDIA QUANDO VISTA DE PERTO, MAS UMA COMÉDIA QUANDO VISTA DE LONGE.

CHARLES CHAPLIN

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE A MORAL É APENAS A ATITUDE QUE TOMAMOS PARA COM AQUELES DE QUEM NÃO GOSTAMOS

OSCAR WILDE OS LEGISLADORES INSTITUÍRAM OS DIAS FESTIVOS PARA OBRIGAR PUBLICAMENTE OS HOMENS À ALEGRIA.

SÊNECA A VIDA SÓ SE DÁ PARA QUEM SE DEU

VINICIUS DE MORAES

CHORAMOS AO NASCER PORQUE CHEGAMOS A ESTE IMENSO CENÁRIO DE DEMENTES.

WILLIAM SHAKESPEARE

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SE VOCÊ ESTÁ CONSTRUINDO UMA CASA E UM PREGO QUEBRA, VOCÊ DEIXA DE CONSTRUIR, OU VOCÊ MUDA O PREGO? PROVÉRBIO AFRICANO


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Itaú A agência vai entregar para o ftp>da gráfica. Aguardem!!! :>)


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reportagem de capa

SOBRE DUAS RODAS RIO DE JANEIRO APRESENTA NOVIDADES PARA OS ADEPTOS DE BICICLETAS, COMO AS PÚBLICAS E O ECOTÁXI, SEGUINDO ONDA QUE CONSOLIDOU ESTE VEÍCULO COMO EXCELENTE MEIO DE TRANSPORTE NÃO-POLUENTE EM PAÍSES EUROPEUS

TEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTOS [FOTOS: ISMAR INGBER, MARCELLO CASAL JR. (ABR) E DIVULGAÇÃO]

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ue a paisagem magnífica da orla carioca combina com sol, areia, água de côco e um rápido passeio de bicicleta não é nenhuma novidade. Até um turista estrangeiro sabe. Mas diante do caos urbano, a grande novidade é que tem crescido aceleradamente o número de adeptos do uso do meio de transporte mais ecológico do planeta não apenas como um instrumento de lazer, mas, principalmente como alternativa saudável e não poluente de locomoção.

“O carioca tem usado cada vez mais as bicicletas como meio de transporte. Pela nossa última estatística, que não é recente, são cerca de 300 mil viagens dia, fora o lazer”, explica Sérgio Bello Franco, diretor adjunto de Urbanismo do Instituto Pereira Passos (IPP), vinculado à Prefeitura do Rio, responsável pelo planejamento e que tem trabalhado de perto nas ações ligadas às bicicletas.

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As novidades não param de surgir. Bicicletários em vários pontos da cidade – em parceria com o setor privado; bicicletas públicas, que podem ser alugadas pelo celular ou computador - seguindo uma febre que assolou as capitais européias - e até mesmo o ecotáxi. Isso, um táxi que funciona sob duas rodas, pedaladas por um motorista. O lançamento foi em Volta Redonda (Sul Fluminense), com a presença do ministro das Cidades, Márcio Fortes e do secretário de Transportes do Estado do Rio, Júlio Lopes. O ministro, aliás, tornou-se um verdadeiro garoto-propaganda das bicicletas. Em abril deste ano, quando o secretário Júlio Lopes esteve em Brasília para o lançamen-

to do programa “Rio – Estado das Bicicletas”, Márcio Fortes não se fez de rogado e lembrou-se dos bons tempos da juventude carioca para circular de bicicleta em plena Esplanada dos Ministérios, divulgando suas vantagens. Maior frota - De acordo com dados do Ministério das Cidades, a maior frota de veículos do Brasil é de bicicletas: 60 milhões. Apesar de lembramos logo da China e Holanda quando pensamos em um “mar” de bicicletas, o mercado brasileiro já é hoje o quinto maior consumidor de bicicletas do mundo. E o Rio é a cidade que tem a maior malha de ciclovias do país, apesar de hoje ser mais voltada para o lazer: são 150 kms, embora boa parte precise ser urgentemente reformulada e recuperada.

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O grande desafio, explica o ministro Márcio Fortes, é transformar a bicicleta em um meio de transporte para curtas distâncias. Bons motivos não faltam a favor: é um transporte seguro, pode-se integrar o trajeto com meios de transportes públicos e, o que é melhor, não polui o meio ambiente e tem, de quebra, um caráter quase lúdico e desestressante. “Quem anda de bicicleta pode apreciar a paisagem e ir respirando ar puro. Bem diferente do stress de um carro ou ônibus”, conta José Lobo, fundador da ONG carioca Transporte Ativo, voltada para as bicicletas. Programador visual, Lobo sempre gostou de andar sobre duas rodas. Quis o destino casou-se com uma aficcionada também no assunto, uma campeã de patinação que também adora pedalar. Largou o emprego e fundou a Transporte Ativo com outros tantos amantes deste meio de transporte. Precisa ir ao Centro do Rio? Vai de bicicleta, levando cerca de 20 a 25 minutos pedalando de Copacabana até o destino final. E o calor? Como driblar o suor da pedalada? Com a experiência de quem entende deste traçado, o fundador da Transporte Ativo dá uma ótima dica: sair com calma e pedalar em ritmo cadenciado, mas não acelerado. Quem gosta de tomar um banho tem uma boa notícia: várias empresas já têm (e outras estão adaptando) banheiros com chuveiros e vestiário para os ciclistas. EDUCAÇÃO Há um problema também de falta de educação dos motoristas e até dos ciclistas. A jornalista Simone Goldberg,

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moradora de Botafogo e adepta da bicicleta (leia o depoimento a seguir), ama este meio de transporte, no entanto lamenta que seja preciso driblar carros, corredores e até quem passeia com cachorros. José Lobo, da ONG Tranporte Ativo, também sabe bem disso. Mas reforça que muitos ciclistas também precisam se fazer respeitar. “Já vi vários avançarem sinal, andarem em alta velocidade ou irem em cima dos pedestres. Isso não pode. Por outro lado


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sofremos com os ônibus e motoristas de táxi.” Sérgio Bello Franco, do IPP, admite que há sim este conflito. Mas espera que com mais e mais bicicletas na rua, campanhas educativas e respeito mútuo, a convivência pacífica seja o único caminho possível. O professor Marcus Quintella, especialista em Transportes, avalia que o transporte por bicicletas nas grandes cidades está intimamente ligado ao planejamento sistêmico de todos os demais modos de transporte público. Ele defende a construção de redes de ciclovias segregadas, sinalizadas, protegidas e integradas com as estações de trens urbanos, metrôs e ônibus,devidamente equipadas com bicicletários seguros, pagos ou não. Exatamente como o exemplo que o Rio está procurando dar. “Além disso, aquestão da segurança pública também é fundamental para dar credibilidade e tranqüilidade aos potenciais usuários desse saudável e ecológico modo de transporte”, complementa Quintella. Há algum tempo, Lobo foi ao centro carioca e tentou estacionar a sua “companheira” de duas rodas em um estacionamento privado subterrâneo. Não encontrou bicicletário. Reclamou para as autoridades e o ativismo conseguiu que agora seja regra: todos os estacionamentos subterrâneos concessionários da Prefeitura do Rio precisam ter bicicletários. Para os trajetos mais longos, ele combina bicicleta com metrô. Uma solução cada vez mais adotada pelos cariocas. Como parte do amplo projeto carioca, estão sendo instalados bicicletários em várias estações do Metrô e também ao longo da orla e de outros bairros. Serão 4.200 vagas em cinco anos, com o patrocínio da Sul América Seguros e Previdência, que gastou R$ 3 milhões na instalação e outros R$ 10 milhões em campanha publicitária e ações para incentivar o uso deste transporte. E qual a vantagem direta para uma seguradora que vende produtos para automóveis apoiar este movimento? “Começamos com um programa de rádio em São Paulo só para indicar melhores alternativas de trânsito e depois começamos a pensar ações para o Rio. Nada mais carioca do que a bicicleta”, conta à Plurale o vice-presidente de automóveis da Sul América, Carlos Alberto Trindade. O executivo acredita que a ação contribui para um mundo mais sustentável e a seguradora pode vir, quem sabe, a ser lembrada neste sentido

na hora que alguém for escolher um seguro de automóvel. A MPM Propaganda ajudou a formatar todo o projeto. A ação já “deu frutos”. DOBRADINHA ECOLÓGICA O Metrô Rio – parceiro da seguradora no bicicletário na estação de Copacabana - pretende instalar outros bicicletários diretamente. “Nossos clientes usam muito as bicicletas para completar a viagem de casa até a estação e no trajeto de volta. Nossos bicicletários têm segurança”, diz Regina Amélia Oliveira, diretora de marketing do Metrô Rio. Ela revela à esta reportagem especial as três estações piloto com novos bicicletários: Cantagalo (Zona Sul), Inhaúma e Pavuna (na linha 2). Outros poderão vir depois, ajudando alguns dos 550 mil passageiros por média que são transportados a cada dia útil pela empresa. “O metrô é um transporte superecológico e as bicicletas também. Estamos fazendo uma dobradinha ecologicamente correta”, completa Regina. No dia 22 de setembro, dia mundial sem carro, o Rio e outras grandes cidades, como São Paulo, terão vários eventos para marcar a importância ecológica das bicicletas. Algumas capitais vão comemorar no fim de semana anterior, dias 20 e 21 de setembro, já que 22 é uma segunda-feira. E a “febre” das bicicletas como meio de transporte parece estar apenas no início da curva ascendente. Até o fim do ano chegam as bicicletas públicas, nos mesmos moldes das que já invadiram outras capitais, como Paris, Amsterdã, Bruxelas e Oslo. A Prefeitura do Rio abriu licitação e uma empresa de Recife, a Serttel, venceu: até novembro precisará instalar oito estações só em Copacabana. Em média, cada ponto terá de 10 a 20 bicicletas que poderão ser alugadas pelo telefone celular ou pelo computador. Em troca, a empresa poderá (dentro de limites estipulados pelo contrato) vender espaços publicitários. As bicicletas se transformaram também em business: no lugar dos motoboys, há empresas especializadas em

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BICICLETÁRIOS JÁ FAZEM PARTE DA PAISAGEM DA ORLA DO RIO DE JANEIRO

transportar documentos e material através de mensageiros que “pilotam” bicicletas. E há até mesmo o turismo voltado para bicicletas – passeios específicos sobre duas rodas. Há um lado ecológico em todo este movimento, já que ninguém suporta mais tantos carros apenas com um motorista, poluindo e tornando ainda mais engarrafado o já caótico trânsito das grandes cidades. As vendas de carros não param de aumentar e os números são preocupantes. Apenas no primeiro semestre deste ano, a indústria automobilística vendeu em todo o país 1,4 milhão de veículos. Neste ritmo, é como dobrar as vendas em cinco anos. E poucos percebem, mas as vendas recordes também de motos estão ajudando a piorar – e muito – a qualidade de ar e de vida de brasileiros. Até junho, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de motos atingiram recorde até junho de comercialização de 175 milhões de unidades. O drama é que as motos poluem mais do que os carros. Os novos modelos de motos poluem por volta de seis vezes mais que os carros de passeio novos. Com crédito farto e melhoria de renda, mais e mais brasileiros sonham em ter a falsa comodidade de poder ir e vir em seu próprio veículo, esquecendo-se dos inconvenientes para o já poluído ar e para o trânsito que não suporta mais tantos carros e motos.

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SOCIAL E existe também um lado socioeconômico o maior uso da bicicleta. Segundo o secretário de Transportes do Rio, Júlio Lopes, muitas pessoas de baixa renda estão excluídas do sistema de transportes públicos. De acordo com o PDTU (Plano Diretor de Transportes Urbanos), 34% da população da Região Metropolitana do Rio não usa o sistema de transporte urbano, por falta de condições financeiras. “A idéia é que o cidadão percorra o primeiro trecho, de casa até os terminais de ônibus, trem, metrô e barcas, pedalando de três a quatro quilômetros, economizando tempo e dinheiro, praticando uma atividade saudável e contribuindo para a qualidade do ar. Ele poderá também usar a bicicleta pública, alugando e entregando em outro ponto da cidade, devolvendo em outro bicicletário, e seguir seu destino.”


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Prêmio Brasileiro Imortal. Valorizando quem se dedica ao meio ambiente.

A Vale investe em tecnologia para a disseminação de mudas das espécies nativas onde atua, e também na recuperação e conservação ambiental dessas regiões. A Vale busca constantemente formas de valorizar pessoas que, assim como ela, trabalham pelo meio ambiente. Por isso, criou o Prêmio Brasileiro Imortal, que irá homenagear brasileiros por projetos, ações e seu compromisso socioambiental. Os 6 vencedores serão escolhidos por voto popular e poderão ter seu nome associado a novas espécies botânicas, descobertas no projeto de avaliação da biodiversidade da Mata Atlântica, por pesquisadores brasileiros, na Reserva Natural da Vale em Linhares – ES. Acesse www.brasileiroimortal.com.br e conheça os indicados e seus trabalhos, e vote. Você pode concorrer a uma viagem ecológica para conhecer uma de nossas reservas naturais. Sim, é possível transformar recursos minerais em riqueza, desenvolvimento sustentável e reconhecimento.

www.vale.com


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reportagem de capa

FALTA UMA CAMPANHA DE BOA EDUCAÇÃO TEXTO [SIMONE GOLDBERG]

Uso a bicicleta como meio de transporte na Zona Sul do Rio faz tempo. Com certeza, muito antes do Al Gore acordar abraçado numa árvore e despertar o mundo para práticas ambientalmente sustentáveis com aquele Power Point no cinema. Mas preciso admitir que não é fácil sair pedalando a magrela por aí. Ciclovia? Tem, nem sempre em bom estado, nem sempre com bom traçado. As pessoas invadem o espaço das bicicletas sem perceberem e ficam indignadas quando um ciclista lhes chama a atenção. Por isso e porque as ciclovias mais freqüentadas da Zona Sul, como na Enseada de Botafogo, na Lagoa e na orla viraram pontos certos para o roubo de bikes – já tive duas roubadas, à mão armada -, frequentemente me vejo pedalando na rua, como se fosse um veículo, o que é verdade, embora poucos acreditem. A maioria dos motoristas, principalmente os dos ônibus, parece achar que aquilo ali se movendo sobre duas rodas é “um brinquedo” e quem está montado nele é uma “criança”, que deveria brincar em outro lugar. Ou seja, respeito zero. Não costuro entre carros, não faço ziguezagues malucos, não ando na contramão. Mas cansei de sentir a poucos centímetros do meu braço a chapa quente de um ônibus passando zunindo e cansei de ver carros a toda jogando o volante para o meu lado, sem nenhuma consideração. As ruas com seus veículos motorizados não estão preparadas para conviver e dividir espaços com os ciclistas. Conclusão: pedalar no Rio é praticamente um dilema. Na ciclovia, o risco é ser roubada ou atropelar crianças e poodles desgarrados de seus respectivos donos – ou os próprios; na rua, o perigo maior é ser atropelada. Mais ciclovias e mais estímulos ao uso da bicicleta precisam vir acompanhados de uma campanha de educação. Ah, e de formas de prevenir os assaltos. Mas isso já seria acreditar em Papai Noel.

NA NORUEGA TEM ATÉ ESTRATÉGIA NACIONAL DO CICLISMO TEXTO [VALÉRIA MACIEL DE OSLO]

Assim é na Noruega. Em Oslo, por exemplo, a prefeitura, em parceria com empresas privadas, disponibiliza bicicletas em vários pontos da cidade que podem ser usadas pela população. Os interessados podem ter acesso a um cartão que lhe dará direito a utilizar a bicicleta por três horas. Para isso, basta pagar uma taxa simbólica de apenas 70 kroner (cerca de R$ 23) por ano. A bicicleta é considerada um meio de transporte tão importante, que o Governo criou a Estratégia Nacional de Ciclismo. O projeto tem como objetivo incentivar ao uso da bicicleta entre a população e faz parte do Plano Nacional de Transporte (Nasjonal transportplan (NTP) 2006- 2015). A estratégia traz três argumentos importantes para convencer a sociedade: o uso da bicicleta melhora a saúde, é econômico, e contribui para a diminuição da poluição. Atualmente, segundo o documento, cerca de 60% das crianças e jovens entre 6 e 13 anos vão a pé ou de bicicleta para a escola. Mas, o que se nota é que este número vai diminuindo à medida que elas crescem: 58% entre 12 e 15 anos, e 29% entre 16 e 19 anos. Os dados revelam que hoje cerca de 5% das pessoas que precisam se locomover seja para o trabalho ou outro local utilizam a bicicleta como meio de transporte. A meta é aumentar para, pelo menos, 8%. Mas, o documento informa que cada cidade deverá montar sua política e estratégia de investimento, que inclui, entre vários pontos, melhorar as ciclovias e dar mais segurança aos ciclistas. O documento ressalta ainda que trocar o carro pela bicicleta pode contribuir para reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera. Eles acreditam que se as metas estabelecidas puderem ser alcançadas, a redução pode chegar a 50-100.000 toneladas de CO2. Atualmente o total de emissão produzida por todo o tráfego de veículos no País é de cerca de 10 milhões de toneladas. “A redução pode significar 0,5-1%, sendo a bicicleta uma boa alternativa para diminuir o uso do automóvel”, diz o documento – que pode ser encontrado no site: www.sykkelby.no.

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O CHARME DAS DUAS RODAS TEXTO [ANDRÉ PALHANO] ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA, DE PARIS

A cidade das luzes é agora também a cidade das bicicletas. Há pouco mais de um ano, a cidade de Paris ganhou repentinamente milhares de novos ciclistas circulando entre suas ruas e praças. Trata-se do sistema Velib (Velô en Libre Service), serviço de aluguel de bicicletas promovido pela Prefeitura de Paris, em parceria com uma empresa privada, que permite a qualquer pessoa alugar uma bicicleta em um dos mais de mil pontos espalhados pela capital francesa e deixá-la em qualquer outro ponto da cidade. O objetivo: incentivar o uso das bicicletas tanto pela população local quanto pelos turistas, em uma cidade que já começa a amargar as conseqüências do trânsito pesado e da superlotação no sistema de transporte público. Basta andar pelas ruas de Paris para comprovar que o projeto é um sucesso. Ainda que restrito à área central da cidade - justamente a de maior movimentação -, fica difícil passar mais de cinco minutos sem encontrar alguém pedalando com as bicicletas cinzas que caracterizam o Velib. E não é somente a geografia plana da cidade ou o respeito dos motoristas que ajudaram o serviço a conquistar o status que tem hoje. Para preparar a chegada do sistema, a Prefeitura realizou um verdadeiro redesenho das principais ciclovias da cidade, instalando sinalizações e novas rotas em praticamente toda a região central. Além disso, o custo também é barato: para fazer o cartão de identificação que permite ao usuário usar as bicicletas, o ciclista paga apenas 1 euro por dia, 7 euros por semana ou 29 euros por ano. A idéia é incentivar a rotação das bicicletas: quem usar as bicicletas para trajetos de até meia-hora não

paga nada pela utilização, não importa o número de trajetos durante o dia. O valor sobe para 1 euro por hora e sobe gradativamente à medida que o usuário não retorne a bicicleta para algum dos pontos. Há também um depósito de garantia, de 150 euros, que não é debitado e serve apenas para evitar roubos (caso aconteçam, basta fazer um BO na polícia e pagar o valor de 30 euros). De acordo com representantes da empresa que opera o Velib, já existem negociações para que o sistema seja empregado em diversas cidades européias nos próximos anos, entre elas Barcelona, Roma e Londres. Ganham o turista e a população local, que contam com uma alternativa eficiente de sistema público de transporte, ganham as cidades, com menos trânsito e menor poluição do ar.

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BELGAS ADORAM. NA HOLANDA HÁ ATÉ SINAIS ESPECIAIS TEXTO [IVNA MALULY] DE BRUXELAS

Rápidas, silenciosas, ecológicas…Há tempos que as bicicletas viraram “mania” na Europa. Em meio às discussões mundiais sobre diminuição da quantidade de CO2 na atmosfera, este veículo de duas rodas está cada vez mais presente na vida dos belgas e dos holandeses. Nestes países, em especial, no segundo, as bicicletas parecem mesmo ter dominado as ruas e é sem dúvida - um meio de transporte alternativo para quem não quer ficar horas no trânsito e para quem respeita o meio ambiente. Além de, claro, ajudar a circulação sanguínea fluir com mais facilidade no corpo entre uma pedalada e outra. Na capital da Europa, é muito comum ver engravatados seguirem para o trabalho em cima das duas rodas. Vêm-se também executivas de saia e salto alto e seus bebês sentados em uma cadeirinha atrás do veículo. Eles têm uma prática incrível! Mesmo com sacolas de compras, conseguem se equilibrar bem! Em setembro do ano passado, um serviço de aluguel de bicicletas foi criado para facilitar ainda mais o vai-e-vem das pessoas. Inspirado na França, o Cyclocity estimula os belgas a não pegarem seus carros e a fazerem pequenos trajetos pedalando. Basta pegar a bicicleta num dos diversos pontos disponíveis na cidade e entregá-la de volta numa outra

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estação credenciada assim que terminar o percurso. Atualmente, existem 23 delas equipadas com 250 bicicletas. O serviço funciona 24h. Os 30 primeiros minutos : 50 centavos de euro, mais outros 50 centavos de euro por horas seguintes e 10 euros pela assinatura anual.O governo belga quer tanto que o veículo vingue que dedicou um dia no ano a deixar seus carros na garagem. A campanha “La journée sans voiture” é destinada a mudar as mentalidades e reúne centenas de pessoas que já entenderam que é um meio de locomoção vantajoso! A historiadora Lies Feron afirma que : “além de ser econômico, se comparado a carros ou motocicletas, não necessita de gastos com combustível, não é poluente, não congestiona a cidade e não acarreta problemas para estacionar”. E mais: “minha filha adora andar da garupa tomando ventinho no rosto”.A Holanda, por sua vez, é conhecida não só como o país dos moinhos de vento, das tulipas, dos sapatinhos de madeira...Mas também como o país das bicicletas. E um meio de transporte extremamente popular por lá. Alguns passos nas ruas e a constatação é imediata. Para se ter uma idéia, em Amsterdam, o estacionamento de bicicletas da Estação Central comporta mais de 8 mil delas. A impressão que se tem é de que existem mais bicicletas que gente na rua. O trânsito está todo adaptado para o tráfego das bicicletas, com ciclovias e até sinaleiras especiais.


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Entrevista

Ú j ArA o LUCINHA

A AIDS ENTROU NA VIDA DESSA MULHER CEIFANDO A DO FILHO, MAS

ELA DEU A VOLTA POR CIMA E AMPARA CRIANÇAS PORTADORAS DO VÍRUS

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tratamento para 150 pacientes – adultos na maioria - e um site informativo, que apesar de receber milhares de visitas por mês, provenientes até mesmo de países africanos, parou de atualizar seu conteúdo por absoluta falta de verba. Para Lucinha Araújo – que já escreveu o livro autobiográfico “Só as mães felizes”, mais tarde transformado em “Cazuza – O tempo não pára”, filme brasileiro mais visto de 2004 -, o dia só vai nascer feliz por completo com a cura da Aids. Enquanto ela não vem, segue lutando para manter de pé a Sociedade Viva Cazuza. Para isso, planeja algumas ações ainda para este ano. A principal delas é lançar, em outubro, um livro contando essa história iniciada em 1990, que já lhe rendeu diversos prêmios. Os direitos autorais serão revertidos para a própria instituição. A inspiração para isso tudo vem, evidentemente, do exemplo deixado pelo filho. “Ele mostrou sua cara, foi a primeira pessoa pública a dizer que tinha Aids, e isso certamente ajudou a mudar o rumo da epidemia no Brasil”, afirma Lucinha.

TEXTO [MARCELO PINTO]

A Sociedade Viva Cazuza é uma referência no enfrentamento da AIDS. Qual a fórmula? Acho que não existe uma fórmula e sim muita vontade de trabalhar. Acredito que estou fazendo a minha parte, a cada dia que passa com mais dificuldade. Estamos enfrentando uma crise financeira séria, que, aliás, é comum a quase todas ONGs que trabalham com Aids.

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

Há 18 anos, morria Cazuza, um dos grandes poetas do rock e da música nacional dos anos 80, vítima da Aids. No mesmo ano, através da iniciativa de sua mãe, Lucinha Araújo, nascia a Sociedade Viva Cazuza, com o objetivo de garantir a qualidade de vida a crianças soropositivas. Fundar essa instituição foi para Lucinha, a princípio, uma maneira de superar a dor da perda precoce do filho, que, no último dia 4 de abril, completaria 50 anos. Mas como o tempo não pára, a vontade de preservar a memória de Cazuza acabou se transformando num projeto maior, hoje considerado referência pelo Ministério da Saúde no enfrentamento da epidemia. Além de ser responsável pela primeira Casa de Apoio Pediátrico da cidade do Rio de Janeiro – que abriga atualmente 20 crianças -, a Sociedade Viva Cazuza mantém ainda um programa de adesão ao

Como tem sido a inserção das crianças assistidas nas escolas conveniadas? Ainda há muito preconceito? Hoje, as crianças estão bem inseridas na comunidade e temos uma excelente parceria com as escolas onde elas estudam, mas isso se deve a um trabalho continuado que iniciamos há muitos anos. O preconceito, infelizmente, irá existir sempre, mas nosso trabalho é tentar informar as pessoas sobre as formas de prevenção e transmissão do HIV e dar uma formação para que as crianças que atendemos possam lutar contra o preconceito e enfrentá-lo. Desde 1999, o site da Sociedade Viva Cazuza vem se firmando como referência em informação atualizada sobre Aids. Como está o projeto? Em 1999 percebemos que as informações científicas sobre Aids eram restritas a um número pequeno de profissionais e pessoas interessadas no assunto, em virtude delas virem na sua maioria em inglês. Dessa forma, desenvolvemos um site que pudesse ser ágil na disponibilização dessas informações, uma vez que as pesquisas e formas de tratamento apresentam uma evolução

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Entrevista muito rápida. Desde o início tivemos um número de acessos crescente, chegando a uma média de 20 mil por mês e uma média de perguntas respondidas também alta, com perguntas de pessoas inclusive de países africanos de língua portuguesa. Acho que esse é o retorno que esperávamos, mas infelizmente o site está no momento fora do ar por falta de verba. Várias crianças atendidas pela Viva Cazuza soronegativaram, e parte delas foi reintegrada à família. Como tem sido essa experiência? O tratamento oferecido a gestantes soropositivas fez com que o número de crianças infectadas através de suas mães caísse muito e hoje trabalhamos com crianças a partir da faixa etária onde se pode definir de fato a sorologia, mas a reintegração familiar é feita também para as crianças soropositivas e fizemos algumas com muito sucesso. Algumas vezes, porém, discordamos dos critérios adotados pelo Juizado de Menores e pelo Ministério Público que exigem mais agilidade nos processos. Mas não acredito que ninguém pode ter carinho, amor e afeto por determinação judicial. Essas reintegrações “apressadas” muitas vezes acabam por colocar a criança ou o adolescente em situação de rua. Como é administrar a Sociedade? O dinheiro dos direitos autorais da obra do Cazuza, dos eventos, convênios e doações tem sido suficiente? Não, infelizmente estamos vivendo um período financeiro difícil, mas acredito que o poder de nosso trabalho e a credibilidade do que realizamos ao longo desses dezoito anos farão com que essa situação se reverta. (Lucinha pede para divulgar a conta da Sociedade Viva Cazuza, para doações. Banco Bradesco, agência 0887-7, conta corrente 26901-8). O que falta "pro dia nascer feliz" a quem depende do sistema público no tratamento da Aids? “Pro dia nascer feliz” seria para mim a cura da Aids, mas temos que reconhecer que muito foi feito desde o início da epidemia até hoje. O Brasil foi o primeiro país a doar medicamentos gratuitos para todos os pacientes e costumo dizer que temos um bom programa de Aids num péssimo programa de saúde, mas infelizmente hoje começamos a ver o início da falta de medicamentos nos hospitais e postos de saúde, assim como a falta de exames. Isso me deixa muito preocupada. Qual o principal legado que Cazuza nos deixou? Além de suas músicas que atravessaram décadas e atingem pessoas que nem chegaram a conhecê-lo, Cazuza deixou também um legado de muita coragem e integridade. Ele mostrou sua cara, foi a primeira pessoa pública a dizer que tinha Aids, e isso certamente ajudou a mudar o rumo da epidemia no Brasil. Só as mães são felizes? Acho que só existe mãe feliz com filho feliz.

Para conhecer melhor a Sociedade Viva Cazuza: www.vivacazuza.org.br

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NOSSOS HERÓIS MORRERAM TEXTO [CARLOS FRANCO]

E sem ideologia, o mundo deixou de conjugar o verbo no plural e seguiu viral e ferozmente a cartilha do singular. "Ideologia. Eu quero uma para viver". Cazuza foi o poeta de sua geração e continua atual, ainda e cada vez mais. O seu canto de guerra revelava, já quando a AIDS invadia o seu corpo, o desencanto de toda uma geração que sonhou, brigou, lutou e amou num mundo dividido entre dois grandes blocos e inúmeras divisórias. O Muro de Berlim pôs abaixo a grande divisão, sepultando sonhos, de lado a lado. E o mundo ficou mais pobre sem a dualidade na qual, erros e acertos poderiam e eram apontados. Na vala comum, caíamos primeiro num capitalismo selvagem e globalizante, para acordarmos depois com a dor na consciência da desigualdade, abraçarmos árvores e os nossos pares. Para alguns, hoje somos melhores, para muitos somos exatamente como nossos pais, naquele canto entristecido de Belchior ao qual Elis Regina deu vida. Cazuza não embarcou nesse trem, no trem da dor-de-cotovelo e da posição eminentemente política. Buscou desafiar a todo, com língua das mais afiadas da MPB. E, se de Ary Barroso, ganhamos o hino que embalava as gerações anteriores e que emprestava àqueles que defendiam a inclusão cultural, de Cazuza veio o hino em forma de navalhada, já que passamos a viver na base do tudo ou nada, na eterna lei do desejo e do levar vantagem em tudo. Mais do que ficar falando do menino que nasceu em berço de classe média do Rio de Janeiro e do homem que enfrentou com dignidade extremada a AIDS, aqui vale falar, deixá-lo falar como o adulto que impecável e derradeiramente historiou e diagnosticou um Brasil que amanheceu pior sem ideologia e que ainda padece das dualiadades, da diversidade, para traçar o seu destino. Como profeta do apocalipse, Cazuza o previu. E, como diria Susan Sontag, que também nos deixou, assim vivemos agora. Lamentavelmente como o cantou e escreveu o poeta em parceria com Nilo Romério e George Israel.

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PELO MUNDO ATITUDE DE PEITO TEXTO [YUME IKEDA, TÓQUIO] FOTO [DIVULGAÇÃO]

O número de pessoas contaminadas pela AIDS no Japão está subindo, o que torna o país o único entre os industrializados e ricos a exibir tais estatísticas. Dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Previdência Social dão conta de que o vírus atingiu nível recorde em 2007. Por conta dessa informação, novas campanhas começam a ser veiculadas com foco, sobretudo, nos jovens. Em especial os "cosplayers", aqueles que se vestem como personagens, jogadores de comic games. Hoje, comuns aos domingos no Metrô Liberdade, em São Paulo. É que esses jovens, com menos de 20 anos, não chegaram a conviver com mortes por AIDS como a geração que nos anos 80 descobriu o sexo e acompanhou a longa agonia de muitos amigos, inclusive de ídolos como Cazuza. São muitas as iniciativas aqui no Japão, algumas até parecem bizarras, mas acabam chamando a atenção para o problema. É o caso de emissora de televisão que colocou no ar, para estimular recursos para campanhas de combate à AIDS, seios de modelos à venda. Para degustação, é claro, ainda que comedida. A Paradise TV, voltada apenas para adultos, que têm que se cadastrar para ter acesso ao canal, realizou, com sucesso, o “24-Hour TV: Eroticism Saves the Earth”, um show em que o erotismo salva vidas. Quem pagasse, em leilão, o valor inicial, tinha o direito de, ao vivo, tocar os seios ofertados. Como o assunto, assegurou mídia gratuita, pode-se concluir que a ação foi totalmente bem sucedida. Mas existem outras, mais sérias, buscando atingir os jovens, como a distribuição de preservativos e o estímulo para que desenhistas de "mangás", os quadrinhos por aqui, abordem o tema com mais liberdade e, assim, consigam alertar quem acha que sexo não mata. Ou mata menos que a gritaria dos pais preocupados com o futuro dos filhos.

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UMA COLHEITA ECOLÓGICA RITA BASTOS, DE LONDRES

O JOGADORES NORUEGUESES AJUDAM AFRICANOS OSLO O jogador de futebol norueguês Ole Gunnar Solskjær é um dos melhores jogadores de seu país de todos os tempos. Ele fez seu último jogo pelo Manchester United no começo de agosto deste ano. Agora ele está se concentrando em ser um "Embaixador da Boa Vontade" para a UNICEF na África. Dagfinn Enerly, outro grande jogador norueguês, que teve que largar o futebol depois de uma lesão, está usando também sua popularidade para ajudar a cons-

Não param de serem anunciadas inovações no mercado

truir escolas para crianças na Áfri-

da sustentabilidade global. A Yanko Design, por exemplo,

ca. No seu caso, fazendo parte do

acaba de lançar no mercado a Eco Box. Nada mais é que

projeto 'Diambar' na África.

uma caixa que pode ser colocada nos pés de frutas, e as

Todos os esforços de Solskjær

guardam desde já protegendo-as dos insetos. As frutas che-

estão direcionados para a cam-

gam ao consumidor embaladas na mesma caixa. É que cres-

panha da construção de escolas

ce na Europa e nos Estados Unidos a procura por produtos

na África, uma iniciativa entre a

orgânicos, livres de agrotóxicos. E, portanto, vulneráveis a

UNICEF e a Fundação Nelson

insetos. A idéia começa a ser difundida pela Yanko Design,

Mandela, que possui o intuito de

que tem interesse também no Brasil, um dos países que tem

oferecer escolaridade para mais

ampliado a participação global nas vendas de frutas.

de 4 milhões de crianças no sul da África até 2009.

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PELO MUNDO QUAL É A FORMA EXATA DA TERRA? Agência Fapesp Qual é a forma exata da Terra? A pergunta pode parecer, mas não é tão simples como se imagina. Hoje se sabe que não é plana, como se pensou durante muitos séculos, mas ao mesmo tempo ainda falta uma medição acurada. Como pela primeira vez estão disponíveis tecnologias para mapear com exatidão o geóide - como se chama a forma referencial da Terra, não esférica, mas achatada nos pólos -, a Agência Espacial Européia (ESA) se prepara para lançar o GOCE Earth, que tem esse entre seus objetivos. Trata-se da mais completa missão já organizada para investigar o campo gravitacional e mapear a forma referencial do planeta com resolução e exatidão sem precedentes. Com lançamento previsto para setembro, o GOCE (sigla para Gravity field and steady-state Ocean Circulation Explorer) será posicionado em órbita por um foguete russo Rockot.

O Ministério do Turismo da França decidiu preservar da especulação

AS LAVANDAS DE GRASSE 28 PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2008

imobiliária na Côte D'Azur, um dos mais caros balneários do mundo, os campos de lavanda de Grasse, capital mundial do perfume. Os agricultores são desestimulados a vender essas terras sob perda de subsídios dados para a sua manutenção. O problema é que os mais jovem se distanciam cada vez mais da indústria perfumista.


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Começou na Europa, em 10 de setembro, a experiência científica considerada a mais

UM NOVO BIG BANG

importante dos últimos tempos, que procura desvendar de onde viemos e para onde vamos. No simulador CERN, o chamado Large Hadron Collider (LHC), foram investidos US $ 4 bilhões. Na realidade um cilindro entre a França e a Suíça, no qual irão colidir prótons, procurando revelar como foi a criação da terra e do surgimentos de seus buracos negros. Muitos temem os efeitos da experiência, mas os cientistas garantem que seus resultados serão um importante passo da humanidade em direção ao futuro.

APELO VEGETARIANO O presidente do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas

(IPCC),

Rajendra

Pachauri, fez um discurso em Londres, em 8 de setembro, apelando para que as pessoas reduzam o consumo de carne. De acordo

o

com as conclusões do IPCC, a

s

indústria da carne responde por

-

18% de todas as emissões de

s

gases, levando em conta todos os

m

aspectos do processo de produção de carne, incluindo desmatamento, o transporte e os gases emitidos pelos próprios animais.


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PELO MUNDO VIEIRA DE MELLO: CONCILIADOR DE DOIS MUNDOS TEXTO [SÔNIA ARARIPE]

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Iraque devastado. Otimista, disse que o seu colete a prova de balas era o fato de ser brasileiro e deixou várias mensagens para a História. Fez questão de frisar que não era embaixador e definiu seu trabalho como uma “ponte entre dois mundos”. A reportagem foi publicada no dia 17 de agosto no Jornal do

Um jornalista, além de ter boas fontes, conhecimento e

Brasil , e, a seguir, no dia 19 de

saber apurar, precisa sempre contar com a sorte. Quis o des-

agosto, um atentado bárbaro jogou

tino que a sorte nos ajudasse naquele agosto de 2003. Após

pelos ares as esperanças de Sérgio e

várias tentativas frustradas, conseguíamos, finalmente, agendar

de tantos outros que trabalhavam

uma entrevista, por telefone, com

no hotel, base da ONU na capital ira-

o Alto Comissário da Organi-

quiana. Este relato pode ser conferi-

zação das Nações Unidas, o

do em Plurale em site, no link

carioca Sérgio Vieira de Mello,

http://www.plurale.com.br/Detal

que servia em Bagdá. Especialis-

haConteudo.asp?cod_not=2839&cod

ta em buscar a paz – ou ao

_caderno=4

menos a conciliação - em áreas

A vida e a obra deixada por Viei-

de conflito, já tinha servido no

ra de Mello ganham pesquisa com-

Timor Leste, em Ruanda e na

pleta feita pela jornalista Samantha

Bósnia. Em meio ao caos e à

Power, ganhadora do Prêmio Pulit-

guerra no Iraque, nosso objetivo

zer. Editado pela Companhia das

era conseguir não apenas o rela-

Letras, “O homem que queria salvar

to de quem, corajoso e firme,

o mundo”, o livro com 688 páginas

aceitou a missão que precisava

foi lançado no Rio, em agosto, quan-

desempenhar. Mas também falar

do completaram-se cinco anos do

do homem, do cidadão brasilei-

atentado que tirou a vida do cario-

ro. De alguém que, apesar de amar sua família e a mulher que

ca e de outros funcionários da ONU.

pretendia se casar assim que a guerra desse alguma trégua -

A família Vieira de Mello - Dona

sua companheira nesta e em outras missões, a argentina Caro-

Gilda (mãe de Sérgio), irmã, sobrin-

lina Larriera, também funcionária da ONU – abria mão de con-

ho e outros parentes - assim como

forto e vida pessoal imbuído da missão maior de defender

sua companheira, Carolina Larriera,

pobres, oprimidos e sem voz. Nos falamos uma só vez. Duran-

receberam Samantha e Kim Bolduc,

te quase uma hora. Com voz firme, forte e sempre solidária,

que era da equipe dele e estava em

Vieira de Mello relatou a sina de todos que trabalharam ali no

Bagdá no local do atentado.

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ético 31 >

Ação Comunitária Empresários e pessoas físicas apóiam a Ação Comunitária do Brasil, uma ONG com quase 40 anos, baseada em duas regiões carentes do Rio de Janeiro – Conjunto Habitacional de Cidade Alta e na Vila do João, no Complexo de Favelas da Maré. Das oficinas saem artigos criativos, como peças de cerâmica negra, camisetas e bonequinhas banto que viram brincos, broches, chaveiros e outros objetos. Para conhecer mais ou encomendar, acesse o site http://www.acaocomunitaria.org.br/home/ind ex.asp ou visite a loja da Ação Comunitária do Brasil na Rua da Candelária nº 4, Centro do Rio, Tel (21) 2253 6443.

Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs


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biotecnologia

COMBUSTÍVEL de sonhos NO AGRESTE PRODUÇÃO DE BIODIESEL PELA PETROBRAS, A PARTIR DE OLEAGINOSAS, ATRAVÉS DA AGRICULTURA FAMILIAR, MOVIMENTA O INTERIOR DO CEARÁ

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[SÉRGIO LUTZ, DE QUIXADÁ (CE)]

O

sertão central do Ceará está sorrindo. Chuva não caiu, nem asa branca voltou, foi à usina de biodiesel da Petrobrás que chegou. Um investimento de R$ 100 milhões, esperança de renda para milhares de pequenos agricultores. As expectativas são enormes. Um grande desafio está lançado: criar renda e trabalho para o sertão, e tecnologia para energia mais limpa e renovável. Alan Kardek, presidente da Petrobras Biocombústíveis, durante solenidade de inauguração da usina em Quixadá, em 19 de agosto, disse que o mundo quer o biodiesel, e prometeu ser parceiro dos agricultores. O presidente Lula pediu para que os sertanejos sejam fiscais do projeto, para que ele não tenha desvios e se transforme em um monstrengo. A agricultura familiar está sendo estimulada a produzir 50% da matéria-prima para a usina, que tem capacidade de produzir 57 milhões de litros de biocombustíveis por ano. Antônia Ivonilde de Melo Silva, representante dos agricultores, durante a solenidade de inauguração da usina, disse querer mais do que a metade de participação. "Queremos mais de 50%. Queremos 85% porque o povo ainda passa fome, não queremos a concentração de terra e de renda para a produção de biocombustíveis, queremos assumir o processo da cadeia de produção de oleaginosas da semente ao esmagamento." No Ceará, já são mais de 7 mil pequenos agricultores cadastrados no programa da Petrobrás; centenas no Rio Grande Norte. Os agricultores cearenses recebem também subsídios estaduais: R$ 150 por hectare de oleaginosas plantadas, com limite de 3 hectares. O governador do Ceará, Cid Gomes, prometeu aumentar o apoio para R$ 200. Os agricultores recebem da Embrapa sementes certificadas de oleaginosas; e a Emater dá assistência durante o plantio e a colheita. Em Quixeramobim, terra de Antônio Conselheiro, onde Chico Buarque faz um grande sucesso, o agricultor assentado, Adriano Leonel Saldanha, junto com outros 15 produtores, planta consorciado em 25 hectares: milho, feijão, mamona, melancia, e girassol. Ele espera ter um aumento de renda em torno de 50% com a venda de matéria-prima para a usina. Vestindo camisa vermelha em homenagem ao presidente Lula, o agricultor, Francisco Célio da Silva, mostra o seu plantio orgulhoso. Depois de colher o feijão, que foi plantado em consórcio com a mamona, a terra já começa a ficar mais seca. "Antes, tudo ficava à toa com a seca. Agora espero colher 2000 kg de mamona". Maria Lúcia, do sítio Lameirão, plantou três hectares de girassol, três de mamona. Ela tem três filhos e cria um sobrinho, todos ajudam no plantio. "Ave Maria, melhorou muito, não tenho do que reclamar". A usina de biodiesel opera com diversas matérias-primas: óleos vegetais, óleos e gorduras residuais, e gordura animal. A mamona como matéria-prima e toda a tecnologia para a produção do biodiesel ainda precisam de aperfeiçoamentos. Segundo o presidente Lula, "ainda tem muita pesquisa para ser feita. A Embrapa ainda tem muita semente para testar. Precisamos tratar deste pro-

grama como uma mãe trata o filho. Aprendendo a educar e educando ao mesmo tempo." Ainda segundo o presidente, os trabalhadores precisam se organizar em cooperativas e adquirir tecnologia para plantar mais em menos terra. Lula arrancou gargalhadas da platéia, durante a solenidade de inauguração, quando disse que a Petrobras está extraindo petróleo de locais tão profundos, "que qualquer dia vai sair um japonesinho na broca da empresa. Para produzir o biodiesel é só cavar 30 cm e jogar uma semente". Reunidas no projeto do biodiesel a força do sertanejo, a competência da Petrobras e da Embrapa, as forças políticas dos governos federal e estadual do Ceará, num esforço que pode transformar uma das regiões mais carentes e esquecidas do país, quem sabe, num exemplo de desenvolvimento sustentável e de tecnologia desenvolvida no Brasil. A sorte está lançada.

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Ponto

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DELFIM NETTO

PRÉ- SAL

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ara o bem ou para o mal, queiramos ou não, temos de enfrentar um problema verdadeiramente "histórico": como explorar o petróleo do pré-sal? Ele só é nosso pela premonição e ousadia de termos estabelecido, no governo Médici, o limite de 200 milhas para o mar territorial brasileiro. E ele só será "recurso" quando estiver disponível para ser utilizado fisicamente ou transformado em outro ativo. Antes que isso aconteça, será preciso um investimento gigantesco (coisa parecida com 1/3 do nosso PIB anual), que não pode, obviamente, ser realizado nem pelo governo nem apenas pela Petrobras, que não têm recursos ou crédito para tanto. Teremos, necessariamente, de cooptar o capital privado nacional e estrangeiro com experiência no setor, como até agora. Antes de decidir como isso será feito, é preciso resolver uma preliminar: como vamos alocar eficientemente essa riqueza não-renovável em benefício do bem-estar da presente geração de brasileiros (e não em consumo do governo) e como vamos distribuí-la, no tempo, em benefício da eqüidade intergeracional? A restrição adicional é que somos uma sociedade comercialmente aberta, e a solução não deve trabalhar contra uma taxa de câmbio competitiva, que é fundamental para o crescimento da economia real e do emprego no longo prazo, inclusive na indústria do petróleo. A

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exploração de recursos não-renováveis não se esgota nos problemas técnicos e financeiros. Implica, também, como conservá-los (se não física, na forma de outros ativos) para a fruição das gerações futuras. Este é o problema estritamente político que envolve uma intervenção estatal maior do que a atual. Sem aferrar-se a idéias pré-concebidas, sem render-se a resquícios ideológicos, sem esconderse na imitação de modelos mal compreendidos e sem inventar novos instrumentos, já dispomos das condições e instituições (Agência Nacional do Petróleo, Fundo Soberano e Petrobras) que, coordenadas e ajustadas com inteligência, resolverão o triplo problema de 1) maximizar os benefícios oferecidos pelo pré-sal, 2) reparti-los com as gerações futuras e 3) não comprometer um robusto crescimento econômico e do emprego no longo prazo. Tem razão o presidente Lula ao dizer que o petróleo do pré-sal é dos brasileiros. Sobre seu governo, pesa a imensa responsabilidade da solução do complexo problema. Porque chegamos tarde não é preciso pressa: podemos nos beneficiar das experiências bem-sucedidas e evitar as desastrosas, submetendo-as a um sério e intenso debate, como sugeriu o presidente.

Delfim Netto é economista e ex-ministro


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Contra Ponto

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GUSTAVO FRANCO

O PROBLEMA DA TRANSFERÊNCIA em todos os economistas estudaram este assunto, que é um clássico na disciplina, porém um tema meio antigo e difícil, e que esteve, por exemplo, no coração das controvérsias sobre as reparações de guerra impostas à Alemanha após a Primeira Grande Guerra. Muitas análises interessantes, de John Maynard Keynes a Paul Samuelson, foram produzidas sobre o problema.O problema da transferência tem tudo a ver com o uso do dinheiro do présal. Imagino que as assessorias dos ministros Mantega e Lobão já devam saber tudo sobre isso.Se não sabem, estamos em perigo. Mas, como o leitor nada ouviu sobre as leituras da comissão interministerial do pré-sal, vale um dedo de prosa sobre a natureza deste problema, que se apresenta toda vez que um país se vê diante de grandes e inesperadas receitas (ou despesas) em moeda que não é a sua.A Alemanha estava obrigada a pagar reparações aos franceses, mas em moeda "forte", dólar ou ouro. Tinha um problema fiscal, pois a obrigação era do governo, e outro de balanço de pagamentos, pois tinham de transformar "marcos-papel", como se dizia, em dólares ou ouro.Rodar a guitarra e fabricar marcos para pagar a dívida era fortemente inflacionário -e mais ainda quando o governo levava o seu papelório para o mercado de câmbio para comprar dólares. A desvalorização tinha de ser monstruosa para que se produzisse um superávit comercial (em dólares) que "transferisse" reparações que correspondiam a 80% das exportações alemãs. Foi uma tragédia.Se quisermos gastar o dinheiro do pré-sal em educação, vamos enfrentar dificuldades parecidas, embora com o sinal contrário. Quando se fala em "dinheiro" do pré-sal, vamos ter clareza que falamos de

N

dólares advindos da exportação, o que está um tanto distante do desejo de gastar em reais, que é assunto fiscal. Como na Alemanha, o problema tem (ou pode ter) um ângulo fiscal, outro de balanço de pagamentos.Se as instalações e equipamentos educacionais fossem importados, e se as professoras ganhassem em dólares e gastassem toda a sua renda em importações adicionais, então, e apenas nessas curiosas circunstâncias, não haveria efeitos cambiais e problemas de transferência. Se não for assim, então, fica claro que os reais usados para fazer as escolas e pagar as professoras serão produzidos por aumento da dívida pública, e para isso não precisamos de pré-sal. A lição, que não é tão complicada, é que o tesouro só é um tesouro se o país tem uso para ele na moeda do tesouro. Gustavo Franco é sócio-fundador da Rio Bravo e ex-presidente do Banco Central

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Ponto final

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MARCIO POCHMANN

MOVENDO O PÊNDULO DO FINANCIAMENTO SOCIAL

c

omo na periodicidade pendular descoberta por Galileu Galilei, as alternativas de políticas governamentais tendem a oscilar em torno de um ponto fixo estabelecido pelas condições gerais do desenvolvimento econômico. É ele que gera, por exemplo, a base necessária pela qual somente uma maioria política pode fazer com que o avanço social transcorra generalizado, equivalente e simultâneo. Do contrário, o braço da política termina executando tão-somente movimentos alternados em torno de uma limitada posição central, também identificado por ponto de equilíbrio estabelecido pela dimensão da base material da economia. Isso talvez possa explicar como as alternativas de políticas governamentais dos últimos 23 anos de regime democrático no Brasil ficaram contidas, muitas vezes, pelos limites das decisões macroeconômicas. O caminho escolhido pelo neoliberalismo dos anos 1990 apequenou não somente o tamanho do braço sob o qual oscilaram as políticas governamentais, como tornou imutável e regressiva a própria base do pêndulo. Ou seja, com crescimento econômico medíocre (2,4% ao ano), as alternativas de políticas governamentais para a área social foram limitadas pela diminuta capacidade de financiamento do setor público. Assim, a necessária assistência terminou assumindo maior ênfase que as políticas de emancipação social. Atualmente, com a maior expansão das atividades econômicas, o braço que sustenta os movimentos alternados das políticas governamentais tornou-se mais longo e fortificado, o que permitiu avanços inegáveis na ampliação de beneficiários dos programas sociais, dos empregos formais e das políticas públicas (crédito, habitação, saneamento, educação, saúde, entre outros). A manutenção do atual ritmo de crescimento econômico para os próximos anos permitirá maiores e melhores resultados ao conjunto da sociedade brasileira. Todavia, frente à herança da dívida social historicamente acumulada e, fundamentalmente, à regressão socioeconômica imposta pelas não tão distantes políticas neoliberais da década de 1990, sabe-se que o caminho presente da emancipação não será pequeno nem simples. Especialmente se o Brasil depender somente do alongamento do braço da expansão econômica para conduzir as políticas governamentais.

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Com a descoberta das novas reservas de petróleo, o Brasil passa a se encontrar diante da inédita oportunidade de poder acertar sua dívida social Torna-se estratégico mover também a base que suporta o ponto de equilíbrio do pêndulo. E é nesse sentido que entra em cena o debate atual a respeito da riqueza a ser obtida pela exploração da reserva petrolífera na camada do pré-sal. A captura de parcela do excedente a ser gerado pela exploração do petróleo na forma de um fundo de garantia da cidadania abriria a possibilidade de o Brasil finalmente estabelecer um padrão superior de sociedade. Durante os últimos 40 anos, a formação de fundos públicos viabilizou o avanço de bens e serviços sociais de importância inegável ainda nos dias de hoje. Na década de 1960, por exemplo, a criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), a partir da tributação mensal de 8% da renda do trabalhador formalmente contratado, serviu para financiar um grande programa de construção habitacional. Pela Constituição de 1988, o estabelecimento do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) permitiu ampliar os recursos públicos direcionados ao financiamento do segurodesemprego, dos programas de qualificação de mão-de-obra e de empréstimos do BNDES ao setor produtivo, além de atender ao pagamento de uma espécie de décimo quarto salário aos trabalhadores de baixa renda (PIS/Pasep). Com a descoberta das novas reservas de petróleo, o Brasil passa a se encontrar diante da inédita oportunidade de poder fazer o acerto com a sua dívida social. Se considerar oito complexos principais que determinam o padrão de inclusão social de um país (edu-


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IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE

WWW. REVISTAPUBLICITTA. COM. BR

IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE cação, saúde, habitação, emprego, cultura, previdência social e tecnologia de informação), o Brasil precisaria investir o equivalente a R$ 7,2 trilhões para alcançar o atual nível de desenvolvimento social observado nas economias avançadas. Isso porque o acesso da população em idade escolar (ensino médio e superior) é muito contido, bem como o déficit habitacional e de bibliotecas é ainda enorme no país. Somente no âmbito da educação, o país precisaria incluir 10,6 milhões de novos alunos. É imperioso, portanto, a construção de 101 mil novas salas de aulas, com a adicional contratação de quase um milhão de professores. Da mesma forma, haveria a necessidade de instalação de 130 mil bibliotecas para que o país pudesse seguir os parâmetros atualmente em vigor nos países desenvolvidos. Com o fundo de garantia da cidadania, constituído a partir da renda do petróleo, o Brasil passa a ter condições de financiar mais rápida e amplamente o investimento social. Mas para que essa oportunidade histórica não seja inviabilizada, cabe, além de maior debate público, uma ampla e forte mobilização social que integre a nação com o seu futuro grandioso, fraterno e solidário.

IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE

Marcio Pochmann é presiden-

te do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.

IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE


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PELO BRASIL

ELAS ASSUMIRAM O COMANDO DO

LAR

O estudo revela que ao longo da última década, a proporção de famílias chefiadas por mulheres passou de 19,7% em 1993 para 28,8% em 2006. “Supondo-se um padrão de família tradicional formado por mãe, pai e filhos, sem considerar os novos arranjos familiares contemporâneos, esse dado nos leva a pensar num horizonte cultural mais igualitário entre homens e mulheres dentro das

TEXTO [TEXTO IVAN RICHARD REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL]

famílias, seguido de maior empo-

FOTO[ANTONIO CRUZ/ABR]

deramento para as mulheres”, diz o texto da pesquisa.

Brasília - Em 13 anos, o total de famílias formadas por casais com

A doméstica Ana Lúcia Cardo-

filhos e chefiadas por mulheres cresceu 10 vezes, passando de 3,4%, ou

so, 53 anos, faz parte dessa nova

247.795 famílias, em 1993, para 14,2%, ou 2.235.233 lares, em 2006.

realidade dos lares brasileiros

Os dados são da 3ª edição da pesquisa Retrato das Desigualdades de

apontada pelo Ipea. Desde os 28

Gênero e Raça, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplica-

anos, quando teve a primeira das

da (Ipea) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Uni-

duas filhas, ela é responsável pelo

das para a Mulher e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

lar. Com R$ 600 de renda, ela sus-

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tenta uma das filhas, três netos e o genro, que está desempregado. “É um aperto, porque se for calcular o aluguel que custa R$ 300 dá para ter uma idéia da dificuldade. Meu genro está desempregado, faz alguns bicos e ajuda com as contas de água, mas a gente sabe que o que pesa mesmo [no orçamento] é a comida. Em alguns meses, compro R$ 300 de comida, mas três crianças pequenas gastam muito”, afirmou. De acordo com o estudo, em 2006, 31,3% das famílias que vivem nas zonas urbanas eram chefiadas por mulheres, um crescimento de 9,6 pontos percentuais em relação a 1993. Nas áreas rurais, no mesmo período, o percentual de mulheres que chefiavam as famílias era de 14,6%, o que corresponde a uma elevação de 3,2 pontos percentuais na comparação com 1993. “Em se tratando de um fenômeno de natureza tão complexa, como são as transformações de padrões culturais e visão de mundo, do ponto de vista simbólico uma mudança desse tipo num período de dez anos é significativa e impactante. Tais dados, tais mudanças apontam para um questionamento do lugar simbólico do homem como o provedor exclusivo”, acrescenta o estudo. O levantamento divulgado pelo Ipea teve como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1993 a 2007. A pesquisa traça o perfil sobre diferentes temáticas relacionadas às desigualdades de sexo e de raça. O estudo aborda temas como população; chefia de família; educação; saúde; previdência e assistência social; mercado de trabalho; trabalho doméstico remunerado; habitação e saneamento; acesso a bens duráveis e exclusão digital; pobreza, distribuição e desigualdade de renda; e uso do tempo.

SANEAMENTO EM DOBRO, PROMETE MINISTRO O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou que o governo pretende dobrar a cobertura de saneamento ambiental no país, com um plano decenal de saneamento básico a ser implementado no fim do ano. O anúncio foi feito durante a comemoração dos 54 anos da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio, no dia 8 de setembro. “Hoje, o Brasil coleta e trata 35% do esgoto domiciliar, o que significa que 65% do esgoto vai in natura para os rios, mares e lagoas. O objetivo é, em 10 anos, passar de 35% para 70%", disse. O ministro adiantou que serão necessários investimentos de mais de R$12 bilhões de reais por ano. Atualmente, segundo ele, contando investimentos federais, estaduais e privados, o investimento é de cerca de R$ 6 bilhões anuais em saneamento. Minc destacou, ainda, que a principal causa da mortalidade infantil no Brasil é a falta de tratamento de esgoto. Para ele, é fundamental encarar o saneamento ambiental como prioridade estratégica do país, por isso, o plano terá o planejamento das ações dos próximos 10 anos.

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PELO BRASIL está bem acima da estimada em pesquisas anteriores, em torno de 1,5 milhão, e foi obtida a partir de questionamentos diretos às mulheres. “O quantitativo de interrupções é muito maior do que a gente falava que existia e que setores religiosos diziam que eram números exagerados”, afirmou. França também destacou a constatação de que mais de 80% das mulheres que praticaram o aborto já eram mães. “Isso nos mostra que não se trata apenas de um problema

UM OLHAR SOBRE O ABORTO NO BRASIL

inicial de desconhecimento de métodos ou de uma primeira relação sexual”. Segundo ele, os dados apontam para a manutenção e o fortalecimento das ações que

TEXTO [ADRIANA BRENDLER - REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL]

já vêm sendo adotadas pelo

FOTO[DIVULGAÇÃO]

governo federal. “Com essa pesquisa, o ministério vai con-

Brasília - Os resultados do relatório Aborto e Saúde Pública, elabo-

tinuar na linha que vem tril-

rado por pesquisadores de duas universidades brasileiras - de Brasí-

hando: fortalecimento do pla-

lia (UnB) e do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) - confirmam a posição

nejamento familiar e amplo

do Ministério da Saúde de que a interrupção induzida da gravidez é um

acesso gratuito a todos os

problema de saúde pública. A avaliação é do diretor do Departamen-

métodos contraceptivos à

to de Ações Programáticas e Estratégicas do ministério, Adson França.

população”, afirmou.

Segundo ele, o relatório é a fonte mais qualificada dos últimos tem-

Neste ano, o Ministério da

pos sobre o problema do aborto no país, já que reuniu todas as

Saúde distribuiu 10 milhões

evidências científicas sobre o tema e incluiu estudos realizados por

de cartelas de anticoncepcio-

métodos de urna, que diminuem o constrangimento para as mulhe-

nais orais e até outubro irá dis-

res pesquisadas, garantindo maior confiabilidade aos dados.

ponibilizar outros 50 milhões.

Para o diretor, a informação mais relevante do estudo é que a

Além disso, também irá repas-

quantidade de mulheres que abortaram no país, cerca de 3,7 milhões,

sar aos municípios, em 2008,

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cerca de 4 milhões de ampolas de anticoncepcionais injetáveis de doses mensais ou trimestrais e mais de 330 mil dispositivos intra-uterinos (DIU). Ele lembrou ainda a reafirmação da políti-

NOVOS INQUILINOS NO GOELDI

ca de estímulo à dupla proteção, com uso de

Às vésperas de completar 113 anos o Parque Zoobotâni-

preservativos associados a outros métodos

co do Museu Paraense Emílio Goeldi ganhou, em agosto,

anticoncepcionais, que além de evitar a gravi-

novos inquilinos. Exemplares da fauna, eles chegaram para

dez protegem contra a aids e doenças sexual-

enriquecer o plantel e atrair os olhos curiosos de visitantes

mente transmissíveis. De acordo com o diretor,

habituais ou não. Alguns dos novos moradores têm expecta-

do início do ano até agora foram distribuídos

tiva de vida centenária. As tartarugas da Amazônia, que, no

22 milhões dos 122 milhões de preservativos

período de julho a dezembro realizam a desova na areia de

comprados pelo ministério para 2008.

recintos do Parque, são exemplo disso. Além das tartarugas,

Para França, o fato de a maioria das mulhe-

chegou de Balbina (AM) a ariranha-macho "Erê", companhia

res que abortaram ter utilizado métodos con-

para a ariranha-fêmea "Yara", que desde quando chegou ao

traceptivos, principalmente a pílula anticon-

Parque, há sete anos, estava solitária.

cepcional, indica que eles não foram usados corretamente e aponta para a necessidade de aprofundar o trabalho de informação. “ Nós temos que persistir na linha de informar quais são os melhores métodos e a forma correta de utilizá-los. A pílula é o método com quase 100% de segurança, um dos métodos mais eficazes em todo o mundo, mas tem que ser tomada diariamente, pois se houver interrupção quebra a proteção”, acrescentou. O diretor informou que além de melhorar a informação sobre o uso dos anticoncepcionais, o ministério quer aumentar a utilização do DIU, que é usado por apenas 1,7% das mulheres brasileiras, enquanto na Europa e América do Norte esse percentual chega a 25%. Segundo o Ministério da Saúde, as complicações em decorrência do aborto são responsáveis por 11% a 13% dos cerca de 1.650 óbitos maternos registrados anualmente o país. O aborto induzido é a quarta causa da mortalidade materna, superada pela hipertensão arterial, hemorragias e infecções pós-parto, mas em algumas capitais como Salvador, o problema é a principal causa da mortalidade materna.

Outro novo morador é "Uruã", um filhote de urubu-rei, resultado de procriação no parque.


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Perfil

M í r iA n

Tenente-Coronel EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS

NO CONTRAPONTO DA TROPA DE ELITE, TENENTE-CORONEL MÍRIAN ASSUMPÇÃO E LIMA FAZ HISTÓRIA COM AÇÕES SOCIAIS NA ONG QUE DIRIGE EM MINAS GERAIS TEXTO [ISABEL CAPAVERDEE]

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FOTOS [DIVULGAÇÃO]

Tenente-Coronel Major Mírian. É assim que muitos a chamam, já que foi como Major que Mírian Assumpção e Lima ficou conhecida servindo a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), quebrando tabus e mudando a imagem que a sociedade tem da corporação. Embora tenha sido promovida acabou carregando junto ao seu nome a patente que a popularizou. Ela não se incomoda. O que importa são os resultados do trabalho desenvolvido na PM mineira e na ONG que dirige, o Instituto Pauline Reichstul. Trabalho reconhecido em 2007 ao ganhar o Prêmio Direitos Humanos na categoria “Enfrentamento à Violência”, concedido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.


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Mírian entrou na polícia militar em 1981. Por sugestão do pai prestou concurso e passou. Integrou a primeira turma de policiais femininos. De lá para cá, foi lotada em diversos setores da PMMG e nas mais variadas funções. Ousada comprou algumas brigas. Uma delas foi questionar o sistema de promoção dos oficiais. Ou melhor, a falta dele. Mexeu num vespeiro, mas criou um plano de carreira onde as promoções passaram a ser por mérito. Por ter idéias demais, seus superiores a mandaram trabalhar nas ruas de Belo Horizonte. Se a intenção era castigar, não deu certo. A rua lhe deu vivência. Mais adiante, percebendo que os colegas ganhavam mal e trabalhavam sob forte estresse, mapeou a tropa e fez o perfil sócio-econômico dos policiais que passaram a ter entre outras coisas, apoio psicológico. Ações que a levaram a direção da Superintendência Central de Modernização Administrativa e a assessoria do Superintendente de Orçamento, da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais. Quando voltou à polícia foi comandar um batalhão na periferia da capital mineira, divisor de águas em sua vida. “Estava com 40 anos, 20 anos de polícia e nunca havia entrado numa favela. No primeiro mês caí em depressão de tanto adolescente que morria. Achei que não teria condições de enfrentar aquela realidade e pedi para sair. Não me tiraram. Então, percebi que tinha dar um jeito naquilo”. Decidiu dar palestras nas escolas públicas locais e criou uma estratégia de impacto para atrair a atenção dos jovens. Chegava nos eventos paramentada como o pessoal do batalhão de choque com touca ninja, colete a prova de balas, revólver, cassetete e tirava o uniforme na frente da platéia. Mostrava aos adolescentes que ela era igual a eles e que existiam outras armas capazes de garantir a segurança entre iguais. Conseguiu não apenas aproximar os jovens dos militares como tirar o velho estigma de

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Perfil polícia violenta. Histórias relatadas no livro A Major da PM que tirou a farda escrito por ela e editado pela Quality Mark. Não parou por aí. Planejou um concurso de bandas, o Som da Paz, para estimular os jovens da periferia. “Não havia limitação no gênero musical. Podia tocar de tudo, de funk a gospel. Consegui o patrocínio de uma rádio FM e o apoio de bandas famosas de Minas como o Skank, Pato Fu, Jota Quest”. A exposição na mídia incomodou seus superiores e mais uma vez Mírian foi transferida de função. “Eu estava feliz com meu trabalho na favela, mas me mandaram ser assessora de imprensa da polícia”. A popularidade entre o pessoal da imprensa, que já era grande devido a forma criativa como tratou da violência na periferia, só aumentou. Mesmo em outro cargo ela permaneceu ligada aos antigos projetos como o iniciado com os jovens do Taquaril, região leste de Belo Horizonte. Usando de sua popularidade e contatos com a banda Skank, conseguiu que eles doassem o cachê de um show para a implantação de uma pizzaria para capacitação e geração de trabalho e renda que no início atendeu 15 jovens. “Porque uma pizzaria? Bem, todo sábado ia para a favela e ficava discutindo e sonhando com os meninos alguma coisa que fosse possível construir juntos. Até que vimos que não havia uma pizzaria na favela”. A pizzaria fez tanto sucesso que desse projeto surgiu a idéia de instalar uma ONG, o Instituto Pauline Reichstul (IPR), que desde 2003 opera em Minas Gerais. Atual subdiretora de Recursos Humanos da PMMG e fellow da Ashoka – organização mundial sem fins lucrativos que apóia o trabalho de empreendedores sociais, Mírian não sossega. Desde junho do ano passado está às voltas com um projeto envolvendo a Academia Musical Orquestra Show da Polícia Militar, visando fortalecer a auto-estima e melhorar o relacionamento interpessoal dos integrantes da corporação. Buscando consolidar a filosofia de que a missão primeira da polícia é a prevenção e, portanto, deve manter contato estreito com a comunidade, dá aulas da disciplina Polícia Comunitária para seus colegas policiais. Mírian comprova na prática que uma outra polícia é possível.

CINCO ANOS EM SETEMBRO O carro-chefe do IPR é o programa das pizzarias batizado de Programa Cidadãos Planetários, que em setembro completa cinco anos de bons resultados. O grau de empregabilidade dos jovens beneficiados – na faixa dos 18 aos 28 anos - chega a 60%. Hoje o programa possui duas pizzarias, no Taquaril e no Lagoa, e o Espaço Cultural Planetários, um centro multifuncional de difusão cultural e educacional, no Taquaril. O objetivo é ter quatro pizzarias funcionando até o final de 2008. Todas na periferia da região metropolitana de Belo Horizonte. Mirian conta orgulhosa que as pizzarias tem sido convidadas para participar de feiras, bazares, grandes eventos e se saído muito bem. “O programa é muito gratificante. São jovens que tem sonhos e o empreendedorismo é a realização desses sonhos”. Num lado não tão claro da vida estão os jovens que se envolveram em problemas com a Justiça e que são atendidos pelo Programa Semiliberdade. “Através de um convênio com a Secretaria de Estado de Defesa Social, representada pela Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas, o IPR mantém duas unidades de cumprimento da medida socioeducativa de Semiliberdade. São casas que comportam dez adolescentes cada uma. Lá eles têm apoio jurídico, psicológico, ocupacional e acesso à escolarização. Não é fácil, pois a preocupação da Justiça sempre foi com o preso adulto e somente depois do Estatuto da Criança e do Adolescente passou a dar mais atenção ao infrator jovem. É ainda um longo caminho até a ressocialização”. No IPR funciona ainda um Programa de Formação para agentes sociais. “Estamos focados inteiramente nos jovens”.

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Direitos

IMATURO NA

maioridade ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMPLETA 18 ANOS COM AVANÇOS MAS TAMBÉM CARÊNCIAS

O

TEXTO [NÍCIA RIBAS-RJ]

,

FOTOS [ABR E DIVULGAÇÃO]

clima era de orgulho e amor à Pátria durante a elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em julho de 1990. Seus idealizadores acreditavam que estavam participando de um momento histórico, que mudaria a realidade brasileira. Dezoito anos depois, constatam que o ECA conseguiu, através de políticas públicas voltadas à juventude, reduzir em 45% a taxa de mortalidade infantil e ampliar para 97,3% o índice de acesso à educação pública para crianças de sete a 14 anos. O avanço foi bom, uma vez que em 1995, quase 10% ainda estavam fora da escola, segundo o IBGE. No entanto, ainda restam 3%, o que significa 650 mil crianças nessa situação. Na educação infantil (zero a seis anos) e no ensino médio, o déficit ainda é maior. Segundo a última pesquisa do PNAD, a taxa de atendimento no ensino médio é de 81,7%; e entre crianças de quatro a seis anos, 72%. Vale comemorar os avanços, mas ainda há muito o que fazer. O ECA reconhece crianças e adolescentes brasileiros como sujeitos de direitos, aos quais se deve prioridade absoluta, porém, ainda não foi capaz de minimizar a falta de atuação do poder público e, além disso, tem sido acusado de proteger menores delinqüentes e prever regras de universalização de benfeitorias dificilmente aplicáveis em países em desenvolvimento, como o Brasil. O filósofo e cientista político Deodato Rivera, 65 anos, um dos articuladores e divulgadores do Estatuto, deu sua opinião à Plurale: “Nesse período, o Brasil mudou para pior. Temos mais miséria e mais negligência por parte das autoridades dos três poderes, que fazem vista grossa diante da lei. Houve avanços em algumas áreas, mas não os necessários para tirar o ECA daquela sombra de faz-de-conta, de tanto faz, de que se dane. É assim que a elite brasileira vê esse grande tesouro que

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é a nossa juventude”. Segundo Rivera, o momento atual é de luta para se colocar a lei em vigor: “É aquilo que o Cristovam Buarque prega: mais recursos para a educação, professores bem pagos, escolas bem estruturadas; temos uma lei brilhante, que colocou o Brasil na vanguarda das legislações mundiais, mas que na prática é pouco cumprida.” O pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa, que também participou do trabalho de redação do ECA, atuou como perito no Comitê Internacional dos Direitos da Criança da ONU, em Genebra, e na Febem de Ouro Preto. Em recente entrevista ao Pravda, ele avalia a situação atual: “A modificação do panorama legal, da legislação em si, já foi feita. Com a redemocratização, acertamos o passo com a comunidade internacional em termos de direitos humanos da criança e do adolescente”. Para ele, agora é hora de reordenar as instituições que executam a política da área: “Antes, tínhamos a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (Funabem) e as fundações estaduais do Bem-Estar do Menor (Febem). Tem que haver mudanças de conteúdo, método e de gestão que substituam os conceitos usados na época, não basta mudar os nomes”. Concluindo, lembra: “É necessário mudar as maneiras de ver, entender e agir do pessoal que trabalha com criança e adolescente, substituindo o modelo assistencialista e correcional repressivo, por um modelo de garantia de direito e educativo”.

CELEBRAR E AVALIAR Dentre as inúmeras comemorações dos 18 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, em todo o país, destacou-se o encontro realizado pelo curso de Jornalismo de Políticas Públicas da UFRJ/ANDI, sob a coordenação do Professor Evandro Vieira Ouriques, pela postura guerreira dos participantes, dispostos a arregaçar as mangas e trabalhar para tornar realidade o que diz a Lei. Convidado ilustre, Deodato Rivera trouxe para o evento a faixa do 1º. Colóquio Científico Nacional, realizado de 21 a 24 de setembro de 1989, em Nova Friburgo. Compareceram também ao campus da Praia Vermelha, o documentarista Dudu Azevedo, que exibiu parte do seu filme realizado na época, em que aparecem Deodato Rivera e Antonio Carlos da Costa; a presidente do conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Vânia Farias; a Conselheira Tutelar, Ana Carolina Loureiro; Luiz Fernando Romão, do Projeto Legal; adolescentes do CRIAM Santa Cruz e do Ballet de Santa Teresa. Na ocasião, Luiz Fernando, 18 anos, leu o 4° artigo da Lei, que diz: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta

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prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. A assistente social Rosane Fratane, traduziu o entusiasmo do grupo que participou do encontro: “Ali se estabeleceu uma rede de pessoas com vontade de propagar as políticas públicas sociais e fazer a população ver que as políticas não são favores prestados pelo Estado, mas respostas de processos de luta da classe trabalhadora por seus direitos. Vamos retomar aquele momento em que a sociedade lutava pela redemocratização do país, com a coragem e a certeza de que podemos mudar e fazer diferente.” Para encantar os presentes, adolescentes do Instituto Villa Lobinhos executaram pérolas da música nacional. Diante da disposição da platéia em trabalhar pela causa, Rivera sugeriu: “Organizem o 2º. Colóquio para marcar os 20 anos do Eca, em 2010.” Otimista, Rivera lembrou que o Brasil tem apenas cinco séculos: “No sexto, espero que possamos nos orgulhar de sermos brasileiros”. E lembrou também que a abolição da escravatura tem 120 anos, mas até hoje convivemos com a discriminação racial; e a Declaração Universal dos Direitos Humanos celebra 60 em meio à rotina de mortes brutais de inocentes.

TEMOS A MELHOR LEGISLAÇÃO DO PLANETA Entre outros pontos, o ECA determina que nenhuma criança ou adolescente será alvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. O Estatuto estabelece a criação de conselhos tutelares e varas especializadas em Direito da juventude, além da universalização de creches e escolas públicas. "Com certeza temos hoje a melhor legislação do planeta. O que nós temos em contrapartida é a pior prática”, disse recentemente o desembargador da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Siro Darlan. Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, o ECA representa um conjunto de normas "de natureza protetiva e preventiva", adotado em substituição ao "autoritário e centralizador" Código de Menores. Para marcar a maioridade do Eca, um grupo formado por organizações governamentais, não-governamentais, organismos internacionais e Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Congresso Nacional propôs18 compromissos que envolvem a implementação e fortalecimento de políticas municipais para trabalhar com temas como renda familiar, mortalidade, desnutrição infantil, escolarização, enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil e de combate ao trabalho infantil, além da definição de parâ-

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metros para a execução de medidas sócio-educativas. Eles recomendam a realização de audiências públicas, nas Câmaras Municipais, em parceria com os Conselhos de Direitos de Crianças e Adolescentes, com a participação de meninos e meninas, em que esta pauta possa ser assumida pelos candidatos e candidatas ao pleito de outubro próximo.

O QUE É DESENVOLVIMENTO? O filósofo Deodato Rivera acredita na pedagogia do encantamento para a criação de uma nova humanidade pacífica, digna e solidária. Pesquisador em felicidade, criatividade e mistérios da vida, o ex-exilado político dos tempos da ditadura atualmente faz palestras pelo país, defendendo o desenvolvimento humano integral e pregando a ciência que desenvolveu, chamada ética biofílica (amor à vida). “O que se diz é que desenvolvimento é ter coisas, ampliar número de máquinas, equipamentos. Mas esse conceito de desenvolvimento é muito pobre e às vezes, contraditório. Ao invés de progresso humano, ele cria progresso material e isso cria uma degeneração. Porque nesse desenvolvimento, o valor principal é o dinheiro, o deus é o dinheiro, é o consumo. Coisas desnecessárias e muitas vezes efêmeras. O ser humano não está no centro. O que deveria estar ali são os valores meios e não os valores fins. A produção é um valor meio, ou seja, é uma produção para fazer o ser humano feliz e não para degradá-lo. Nesse tipo de sociedade violenta há uma degradação cultural e infelicidade coletiva. Na sociedade industrial, o nível de felicidade é baixo. As pessoas têm a ilusão de que ter bens é que é a felicidade. Se os bens não são vistos como meios, mas como fins, a felicidade é ilusória. Você perde o valor relacional. O que adianta ter três carros na garagem e não se relacionar bem com os filhos, com a esposa? A relação é que é fundamental.”


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OS 18 COMPROMISSOS PARA PREFEITOS Compromisso 1 – Assegurar recursos no Orçamento Municipal para as políticas públicas voltadas à infância e adolescência. Ação -- Criar normativas que fixem percentuais mínimos de execução orçamentária. Definir critérios que viabilizem a transparência e a participação da sociedade civil e das próprias crianças e adolescentes na discussão, elaboração e execução do Orçamento. Compromisso 2 - Garantir o pleno funcionamento do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) Se não existir o Conselho, o seu compromisso é criá-lo. Ação – A criação do Conselho de Direitos se dá por meio de uma lei a ser encaminhada para a Câmara de Vereadores. Se o seu município já criou o CMDCA, seu compromisso será fortalecê-lo garantindo a capacitação dos conselheiros, a regulamentação e a destinação de recursos do Orçamento Municipal para o Fundo dos Direitos da Criança. Além disso, é importante assegurar a participação ativa de representantes governamentais que juntamente com os representantes da sociedade civil vão deliberar sobre as políticas municipais necessárias para garantir os direitos das crianças do município. Compromisso 3 – Garantir o pleno funcionamento dos Conselhos Tutelares ou criálos onde não existam. Ação -- Destinar recursos específicos no Orçamento Municipal para estruturar os Conselhos Tutelares e qualificar seus

conselheiros. Compromisso 4 -- Ampliar o acesso das crianças de zero a cinco anos à Educação Infantil de qualidade. Ação – Construir, equipar e manter adequadamente mais creches e pré-escolas, com prioridade para as áreas mais vulneráveis, visando aumentar a oferta de vagas na rede municipal de Educação Infantil. Compromisso 5 -- Melhorar a qualidade do Ensino Fundamental e combater a evasão escolar. Ação -- Investir na qualificação dos profissionais de educação; na construção, reforma e ampliação das escolas; no intercâmbio direto com o MEC com vistas à atualização e melhoria do material didático, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs); criar mecanismos para envolver a família e a comunidade no enfrentamento da evasão escolar, incentivando a formação de instâncias de participação dos alunos, como os grêmios estudantis, e da família, como as Associações de Pais. Compromisso 6 -- Melhorar o atendimento no prénatal, parto e pós-parto. Ação -- Fortalecer a rede municipal de atenção básica à saúde e implementar políticas públicas capazes de oferecer assistência mais humanizada a gestantes e bebês. Incentivar a amamentação exclusiva no peito da mãe até o sexto mês de vida da criança.

Compromisso 7 – Assegurar a ampliação da LicençaMaternidade de quatro para seis meses. Ação – Apresentar projetos de lei à Câmara de Vereadores propondo a licença-maternidade de seis meses. Compromisso 8 – Propiciar condições para que a família ofereça ambientes pacíficos, seguros e adequados ao desenvolvimento integral de seus filhos e se fortaleça como Família que Protege. Ação -- Implementar políticas públicas integradas de apoio às famílias e fortalecimento do ambiente familiar, oferecendo atividades, apoio no que for necessário e formação para que os pais e/ou responsáveis pelas crianças e adolescentes estejam melhor preparados para administrar os diferentes conflitos dentro de casa. Compromisso 9 -- Assegurar a convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes apoiando suas famílias e suas comunidades com políticas, programas e serviços. Ação – Viabilizar políticas públicas de planejamento familiar e assistência psicossocial aos grupos vulneráveis, como, por exemplo, pessoas com dependência química e alcoolismo. Promover a geração de emprego e renda para os adultos, oferecendo condições necessárias para evitar o afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias.

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Direitos Compromisso 10 -- Combater a violência doméstica caracterizada pelos maus-tratos físicos e psicológicos, negligência e abuso sexual. Ação -- Realizar campanhas públicas de esclarecimento sobre a necessidade de denunciar tais situações, qualificar os profissionais das redes de saúde, educação, assistência social e os conselheiros tutelares para identificar esses casos e prestar o atendimento adequado às crianças, adolescentes e suas famílias. Compromisso 11 – Prevenir e enfrentar a violência e a exploração sexual de crianças e adolescentes em todas as suas manifestações. Ação – Mapear a situação no município. Fortalecer os mecanismos de repressão desses crimes e responsabilização dos culpados, aprimorando também a rede de proteção social das crianças e adolescentes. Adotar políticas públicas de prevenção do problema e atendimento das vítimas e de suas famílias. Compromisso 12 – Prevenir, combater e erradicar do município o trabalho infantil em todas as suas formas. Ação -- Mapear a situação no município, identificando crianças e adolescentes explorados. Investir na criação de uma rede de Educação Integral Inclusiva, implementando, no turno complementar ao das aulas formais, atividades educacionais, esportivas e culturais. Oferecer programas de geração de emprego e renda para os adultos das famílias. Compromisso 13 – Desenvolver políticas específicas para ampliar as oportunida-

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des de participação e reduzir a vulnerabilidade dos adolescentes. Ação -- Implementar políticas públicas de qualificação e geração de emprego e renda, oferecendo cursos profissionalizantes articulados com a conclusão do ensino fundamental e o acesso ao ensino médio, sintonizados com o mundo de trabalho da região, preparando os adolescentes para o primeiro emprego, o empreendedorismo e a sua realização profissional. Compromisso 14 – Promover a saúde de crianças e adolescentes. Ação -- Criar ou fortalecer ações de assistência integral à saúde de meninos e meninas, garantindo a implementação efetiva de estratégias como o Programa Nacional de Vacinação Infantil e prevenindo problemas como gravidez não planejada, dependência química, depressão, doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. Compromisso 15 -- Destinar recursos e criar espaços para atividades culturais, esportivas e de lazer, voltadas para crianças e adolescentes. Ação – Organizar atividades, programas e políticas de incentivo à valorização da cultura local, da prática de esportes e de iniciativas comunitárias de lazer e recreação, melhorando os espaços e equipamentos existentes ou criando novos. Compromisso 16 – Assegurar a participação de crianças e adolescentes nas decisões políticas do município. Ação – Incentivar meninos e meninas a estarem presentes nos Conselhos de Direitos criando

um espaço específico de escuta e participação. Promover atividades que facilitem sua participação na elaboração do Orçamento Municipal. Criar Ouvidoria na cidade, coordenada por adolescentes, cuja missão será receber as sugestões de meninos e meninas. Compromisso 17 -- Assegurar a municipalização da execução das medidas socioeducativas em meio aberto (liberdade assistida, semiliberdade e prestação de serviços à comunidade), de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo). Ação – Criar programa municipal, pela administração direta ou em parceria, com ações intersetoriais. Construir retaguarda de atendimento dos adolescentes em conflito com a lei e egressos da internação, visando envolver a comunidade e oferecendo-lhes alternativas concretas para a construção de um novo projeto de vida, baseado em valores como a cidadania, a ética, o respeito, a honestidade e a solidariedade. Compromisso 18 – Promover a igualdade social com ações que valorizem a diversidade de raça, etnia, gênero, orientação sexual e manifestação religiosa e estratégias de inclusão das pessoas com deficiência. Ação -- Promover atividades educacionais e culturais que valorizem a diversidade. Garantir a acessibilidade arquitetônica e preparar a rede de ensino para a inclusão das pessoas com deficiência.


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SUMMERHILL

é aqui

TEXTO E FOTOS [MARIA HELENA MALTA]

Quando o adolescente Antônio Luís da Silva (nome fictício) chegou à Obra de Promoção dos Jovens (OPJ), proveniente da Vara de Execuções Penais, trazia na bagagem uma condenação por envolvimento com o tráfico de drogas. Vivia-se o ano de 2002 e ele tinha apenas 15 anos de idade, o que lhe garantia a pena alternativa __ isto é, a possibilidade, entre outras, de trabalhar numa ONG. O garoto deu sorte: foi parar justamente no belo casarão amarelo de Laranjeiras, Zona Sul do Rio, que fornece uma segunda jornada aos alunos do 1º grau. Mas não se pense em aulas de reforço ou coisa semelhante: a OPJ é uma espécie de casa de cultura e cidadania, que nasceu com a intenção de aumentar o indigente número de leitores no Brasil. Em função disso __ e de seus bons resultados __, despertou o interesse de especialistas de vários países e vem sendo acompanhada, desde o início do ano, pelo doutor em letras Anderson Tibaud, designado pelo Centro de Estudos do Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc), que pode reconhecer a escola como referência na região. O fato é que a ONG tem ajudado, e muito, a garotada mais pobre do bairro. Antônio, por exemplo, continuou estudando: à noite, na escola tradicional, e de dia, na própria OPJ. Além disso, apaixonou-se pelos livros e ajudou até a organizar a biblioteca da instituição. “Ele foi muito dedicado e trabalhava sempre além da hora. Hoje é um funcionário de verdade e se transformou no meu braço direito”, atesta o diretor financeiro Paulo Tozatto, um engenheiro aposentado que trabalha com carentes desde a formatura e hoje, como todos os outros integrantes da diretoria, bate o ponto na casa como voluntário. O jovem Antônio, que nunca mais quis saber de envolvimento com o crime, é apenas uma das vitórias contabilizadas pela ONG, que anos atrás funcionou como hospedaria para estudantes de outros estados e depois passou a dedicar-se ao atendimento de jovens viciados em drogas. Hoje, com mais de 30 anos de vida, o projeto é outro: o ensino __ sempre através da prática da leitura __ é a atividade principal da entidade. A meta é evitar que crianças e adolescentes restrinjam sua educação às matérias básicas da escola convencional. No cardápio há de tudo um pouco __ inclusive teatro e literatura, comunicação em português e inglês, produção de texto, informática, encadernação de livros e até cinema. Não por acaso, alunos da escola entraram na seleção da mostra Geração do Festival do Rio de 2007, com o documentário Retrato mal falado __ um vídeo que focaliza uma sucessão de crianças que desenham os rostos umas das outras. Em apenas 10 minutos, o singelo trabalho flagra o melhor e o pior da alma infantil, inclusive a eventual presença do preconceito, que (pasmem) acaba se mostrando em traços no papel. A maturidade, o espaço e o tempo para criar tal filme certamente vieram da ONG. Ou melhor: de livros, aulas e exemplos de cidadania. Como na progressista Summerhill, fun-

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dada na Inglaterra nos anos 20 do século passado, pelo escocês Alexander Sutherland Neill (autor, entre outros, de Liberdade sem medo e Liberdade sem excesso, que causaram furor nos tempos da palmatória e no Brasil do final dos 60), aqui também se ensina liberdade e democracia, amor ao próximo e ao meio ambiente. “Todo mundo pode dar palpite, pois sempre será ouvido. Só não abrimos mão do respeito ao outro, da integração e da responsabilidade, inclusive pelo espaço que é desfrutado todos os dias. Se o aluno usa a biblioteca, por exemplo, tem que deixar o livro, a mesa e a cadeira exatamente como foram encontrados”, diz a supervisora Celeida Temporal, que também é professora de História e Geografia. E revela: “Certa vez, discuti longamente com um aluno sobre um walkman que ele não largava. No fim, o garoto concordou que o aparelho atrapalhava a comunicação e a própria integração da turma.” “A inclusão é a saída contra o risco de cair no tráfico, na rua, no nada...” Não há dúvida de que a OPJ tem ajudado a evitar grandes males. Entre eles, o analfabetismo funcional, isto é, o despreparo e a alienação cultural, a falta de entusiasmo pela leitura e pela vida, a dificuldade de interpretar, analisar e fazer escolhas __ enfim, tudo que desemboca numa espécie de semi-exclusão, doença que mascara as estatísticas sobre a educação, embora assole boa parte dos jovens egressos do 1º grau. A coordenadora-geral dos projetos da área de educação e cultura da ONG, Eliana Yunes, também da Cátedra Unesco de Leitura e doutora do Departa-

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mento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), resume: “O Antônio é a prova do quanto a inclusão é importante. É a única saída para que esses jovens não caiam no tráfico, na rua, no nada...” Com ela concorda a supervisora Celeida Temporal: “O que eu tento explicar a pais e professores é justamente a importância do mecanismo de transferência do saber. É o que fazemos e é, de fato, o mais importante. No momento em que se aguça a transferência do saber, os meninos desabrocham.” “Exatamente”, afirma o diretor financeiro, Paulo Tozatto. E, pensativo, conclui: “Se Antônio não estivesse aqui, aposto que a essa altura estaria mais enfiado no tráfico...” Mas Antônio Luís da Silva não foi o único que correu esse risco. De outra feita, os professores descobriram, perplexos, que um de seus alunos, morador de uma favela da região, havia sido jurado de morte pelos chefes locais do tráfico de drogas. “Foi uma correria. Tivemos que passar o chapéu para tirá-lo imediatamente do Rio”, recorda Eliana Yunes. “O pior é que o garoto insistia em ir para uma cidadezinha dos arredores, o que seria temerário. Por fim, decidimos enviá-lo para o Nordeste, onde ele tinha parentes. Me lembro que eu estava no banho e tive que sair correndo para comprar a passagem”, completa Celeida.

Bolo de cenoura com chocolate: na mesa e na vida Na escola de Laranjeiras, em meio ao burburinho da turma que desce aos pulos, em busca do lanche, a antiga escadaria de madeira range, parecendo feliz. O grupo de gulosos, de 8 a 11 anos, atravessa o corredor em direção à copa, em curiosa disputa. “Será que hoje é dia de biscoito Traquinas?”, provoca um, referindo-se ao casadinho de morango com chocolate. “Tomara que seja o cachorro-quente modificado!”, arrisca outro, com água na boca, já imaginando o sanduíche acrescido de molho caseiro, com bastante pimentão, tomate e cebola. Ao que um terceiro reage: “O meu lanche favorito é o bolo do Samuel!” E é justamente ele, João Pedro Mendes Santos Gonçalves Martins, de 9 anos, que acerta em cheio. Naquele exato momento, o mestre-cuca Samuel Silveira, um ex-morador da Cidade de Deus, começa a servir as fatias de um belíssimo bolo de cenoura coberto de chocolate e, orgulhoso, ainda tece considerações sobre os segredos da receita e o ponto certo de assados e molhos, mostrando-se totalmente adaptado ao ofício. “Já estou fazendo o curso de gastronomia. Aprendi a gostar muito de cozinhar”, segreda. A integração da turminha de alunos __ que inclui garotos de várias cores e extratos sociais __ imita o colorido do bolo, dando um tom mais saboroso à escola, à vida e à toalha de mesa azul e branco. Ninguém mais se espanta quando eles e elas se levantam e depositam, educadamente, seus pratos e talheres na pia. Assim como ninguém duvida de que todos sabem exatamente o que significa estar ali. É claro que isso levou algum tempo, mas agora eles sabem melhor do que os pais. “Já recebemos muito pai de aluno que dizia assim: ‘Ah, eu queria que meu filho fizesse reforço em tal e qual matéria’. E aí tínhamos que explicar que isso não é uma escola tradicional”, recorda Celeida. Manter uma ONG desse nível não é fácil. Que o diga o gerente financeiro Paulo Tozatto, que já conseguiu inúmeros convênios e parcerias para a Obra de Promoção dos Jovens (OPJ)2 __ inclusive com o Ministério de Combate à Fome e o Comitê Furnas de Ação da Cidadania, que fornecem voluntários, e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), responsável pelo curso Cozinhando para o futuro, que forma chefs de primeira linha. Sem falar nas inúmeras empresas privadas __ como a C & A __, que até doam equipamentos, e a Prefeitura do Rio, para a qual a OPJ há sete anos treina educadores, contrata psicólogos e gerencia o abrigo para vítimas da violência doméstica, que atinge sobretudo mulheres, crianças e idosos. Cinco por cento da verba deste trabalho é repassada como taxa de gerenciamento, o que ajuda no sustento da ONG, que também conta com o auxílio da Associação de Amigos da OPJ.

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Direitos “Esta ONG é lúdica, pois permite estimular a criatividade” Hoje, a maioria dos pais já reconhece e felicita a escola e os filhos pelo progresso obtido. Uma das coordenadoras da OPJ, Cíntia Moreira, pós-graduada em educação, lembra a história de Gabriela, de 5 anos. A mãe da menina, Nilza, notou que a filha não só largou de vez a chupeta como deixou de lado uma arraigada timidez. “Ela está mais falante do que nunca”, contou Nilza à Cíntia, numa de suas visitas. Já Marlene, mãe de Raquel, que antes era muito dependente, comemora: “Ela nem me pede mais ajuda para o dever de casa. Aliás, nem toca no assunto!” Mas quem não seria capaz de progredir num lugar criativo e divertido, onde os mestres são de alto nível e os computadores funcionam? Basta dizer que a professora Luísa Trotta, de inglês, promove intercâmbios com a Austrália pela internet, via Unesco, e a bibliotecária Cilene Oliveira acaba de catalogar mais de quatro mil livros. Renata Valério, professora de português, define a ONG como “algo lúdico”, onde é possível estimular a criatividade e fazer todas as coisas que a escola tradicional às vezes nem tem tempo de imaginar. “Aqui, nós despertamos o interesse pelo português por meio da leitura. Além disso, dinamizamos a língua utilizando a arte, a história e todas as informações trazidas pelos outros professores. O trabalho é interdisciplinar.” Victor Hugo, 9 anos, diz que agora sabe “muito mais coisas” A aluna Natália Maria do Nascimento Cardoso Júnior, de 10 anos, resume tudo numa frase simples: “Aqui tenho mais livros para ler!” À sua volta, em plena aula da professora de Artes, Ana Beatriz Moreira de Santana, dezenas de máscaras e bonecas fabricadas com jornal, recebem os últimos retoques, à base de cola e fita-crepe. O animado grupo de “artistas” aproveita o trabalho para lembrar a peça encenada durante a festa junina. Sobra gozação para Paulo Giovani Pereira da Silva, de 10 anos, que fez o papel do noivo caipira. “Ele fugiu do casamento e foi perseguido pelo delegado!”, diverte-se um dos colegas. Paulo nem liga: afinal, ele foi o astro da festa. Já Victor Hugo Sá Reston Lucchesi, de 9 anos, faz questão de contar que está escrevendo melhor e que sabe “muito mais coisas”, desde que passou a freqüentar a ONG. E acrescenta: “O Dia do Meio Ambiente foi muito bacana: catamos lixo e separamos tudo __ plástico, papel, metal __, cada tipo em uma caixa, para evitar a contaminação e combater a poluição.” Logo em seguida, seu colega Guilherme Avelino, de 10, mostra como baixou histórias no computador, depois imprimiu, fez vários desenhos para ilustrar e, usando cola e costura, encadernou tudo. Já Lucas Leonardo de Andrade Gomes das Chagas, também de 10 anos, foi ainda mais longe: decidiu virar escritor. Ele próprio criou uma história misteriosa, A capoeira encantada, e depois digitou, imprimiu, fez todas as ilustrações e, finalmente, juntou tudo e transformou em seu primeiro livro. Raquel Dias de Lima, de 8 anos, interrompe para dizer que o que mais gostou de fazer na escola foi o passeio ao Museu do Telefone e à empresa Oi Futuro, no Catete. “Adorei os telefones, mas também gostei muito do ônibus que levou a gente: tinha ar-refrigerado, banheiro, TV e até DVD!”

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Um misto de sonho, livro, afeto e liberdade Há pouco tempo a ONG-escola despediu-se de dois irmãos gêmeos, que praticamente cresceram ali. O problema é que, mesmo sendo quase adultos, eles não se conformavam em deixar a OPJ. Um dia, conseguiram emprego em uma farmácia. Mas, uma vez por semana, quando tinham folga, passavam o dia inteiro na ONG, participando de todas as atividades e ajudando no que fosse possível. Agora estão servindo o Exército, onde um deles começou a trabalhar na cozinha e acabou gostando. “Ele já nos avisou que vem fazer o curso de gastronomia”, revela Celeida. É fácil compreender a dificuldade dos dois rapazes para abrir mão da vida na escola __ sobretudo uma escola tão especial. Ali eles tinham tudo: um misto de livro, sonho e afeto, livre-arbítrio e bolo de chocolate. Além do mais, nem todos os pais e educadores pensam e agem como a equipe da OPJ, como o saudoso Alexander Neill ou como sua filha Zoe, que herdou a administração da escola inglesa. Mas o número de adeptos da liberdade cresce a cada dia. Basta lembrar, como disse o psicanalista austríaco Wilhelm Reich (um dos gurus do fundador de Summerhill), que “a vida brota de milhares de fontes vibrantes e recusa-se a ser expressa em frases tediosas, só aceitando ações transparentes e palavras verdadeiras”. Ou então recordar uma frase célebre do próprio Neill: “A criança deve viver sua própria vida __ não a vida que seus pais ansiosos desejam para ela e tampouco a vida ditada pelo professor que se comporta como dono da verdade.”


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á homens públicos que nasceram para só pensar no coletivo. No plural. O senador e exministro da Educação, Cristovam Buarque, é um belo exemplo de quem trabalha pela construção de um presente e um futuro mais dignos para todos os brasileiros. Acaba de lançar o livro “O que é Educacionismo”, da Coleção Primeiros Passos, acaba de ser publicado pela Editora Brasiliense. A publicação apresenta o educacionismo como alternativa para enfrentar a frágil instabilidade da economia global, a desigualdade social e a crise ecológica. Segundo o autor, a saída para interromper a catástrofe para a qual a civilização industrial caminha, exige que a utopia de igualdade na economia seja substituída pela igualdade na educação, isto é, o filho do trabalhador estudar na mesma escola que o filho do patrão. Buarque prega que a educação de qualidade é a solução para todos os problemas brasileiros e mundiais. "O Educacionismo é o movimento que dará ao país essa atitude que nos falta. Mas é um projeto a longo prazo, requer mudança das pessoas", explica o político. Uma das bases do Educacionismo é a federalização do ensino básico - uma espécie de sistema único da educação -, um novo modelo de gestão que permitiria o gerenciamento municipal, mas estabeleceria padrões mínimos de qualidade para todo o Brasil.

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PARA ONGs

O psicólogo especialista em análise organizacional, Edgar H. Schein lança, pela Editora Peirópolis, a obra “Princípios da consultoria de processos”. Direcionada a ONG’s, Universidades e Institutos, a obra apresenta uma filosofia e uma atitude desenvolvida pelo autor a partir dos princípios gerais que devem cercear uma relação de ajuda. Isso significa apresentar os processos sociais e psicológicos que estão envolvidos quando uma pessoa tenta ajudar a outra pessoa. No título, o autor aponta ferramentas para que o consultor possa desenvolver habilidades que o levem ao objetivo final: estabelecer uma efetiva relação de ajuda. “A ênfase está no ‘processo’, porque acredito que o como as coisas ocorrem entre as pessoas e em grupos é tão ou mais importante quanto o que é feito. Tomar consciência de processos interpessoais, grupais, organizacionais e comunitários é, portanto, essencial para qualquer esforço em melhorar o funcionamento de relações humanas, grupos e organizações”, justifica Schein.


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PELAS EMPRESAS INSTITUTO EMBRAER APÓIA ESCOLAS PÚBLICAS

VIRTUAL RIMA COM SOCIAL

O Instituto Embraer de Educação e Pesquisa abriu inscrições para o Programa Ação na Escola deste ano (PAE-2008). O prazo vai até

17

de

outubro

pelo

site:

http://www.cidadaniaembraer.org.br/site/. A iniciativa tem como objetivo estimular a participação da comunidade na gestão da escola pública e financiar projetos que visem melhorias a partir de necessidades identificadas pela própria instituição, a comunidade e os voluntários. O funcionamento do PAE é semelhante ao do Programa Parceria Social (PPS), também desenvolvido pelo

Toda a renda das vendas de produtos da loja virtual da

Instituto Embraer. Escolas da rede pública

Coca-Cola é revertida para os programas sociais do Instituto

apresentam projetos que tenham o apoio e

Coca-Cola Brasil. O comprador pode, inclusive, escolher qual

a participação de empregados da Embraer.

projeto social deseja beneficiar com a sua compra. A Loja CocaCola Brasil (http://www.americanas.com. br/hs/7287) é administrada pela Americanas.Com. Vende produtos variados como bolsa para viagem, toalha, camiseta e caderno.

oA naci s R o i f LEITU andes desa tura e inter- -

gr lei os dos ssup e de e d r a p Um d l o, este ificu utur d d F o a o é rtind o a ht, nais . Pa ibut brec r o e T ã d ç a os oO ama pret ntre rogr daçã e P n a u r o da la F eitu to, Sul da l o pe d o o t a x i i i Ba háb apo ulos do la o Círc o u o ã i t m i e g est proj a re oo ns d d e n v jo poia ia, a h a B ra. eitu L e d

58 PLURALE EM REVISTA | Setembro/Outubro 2008

BANDEJAS DE FÉCULA DE MANDIOCA No lugar das tradicionais bandejas de alimentos, uma empresa de São Carlos (SP), a Cbpak, lançou um produto biodegradável feito à base de fécula de mandioca. A BNDESPar (braço de investimentos do BNDES) entrou de sócia de 35% do capital e a produção avança. A aceitação do mercado tem sido muito boa.


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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA PLURALE@PLURALE.COM.BR

BRASILEIRO IMORTAL

Tom Jobim, a escritora Raquel de Queiroz, os jornalistas José Hamilton Ribeiro e o fundador e presidente do Conselho Curador da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Miguel Krigsner, são alguns dos candidatos ao prêmio “Brasileiro Imortal”, lançado pela Vale. O objetivo do concurso é selecionar brasileiros notórios, com histórico de ações em prol da natureza, que darão seus nomes a espécies da Mata Atlântica descobertas na Reserva Natural Vale, em Linhares, no Espírito Santo. A votação é popular e segue até o dia 30 de setembro pelo site www.brasileiroimortal.com.br. Quem quiser ainda pode concorrer a uma viagem para conhecer a Reserva da Vale.

A 9ª edição da Corrida e Caminhada Contra o Câncer de Mama, etapa São

APOIO DA BRADESCO PREVIDÊNCIA

Paulo, realizada no fim de agosto, no Parque do Ibirapuera, teve o patrocínio máster da Bradesco Seguros e Previdência e apoio da Bradesco Capitalização. Seis mil pessoas correram . O objetivo foi conscientizar a população sobre a doença que esse ano deve resultar em 44.060 novos casos na capital paulista – segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) - e incentivar a prática do auto-exame para a detecção precoce. A renda foi revertida para o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC).

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Ensaio PLURALE

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UM OLHAR ÚNICO SOBRE O RIO GRANDE DO SUL Com fôlego e paixão, o fotógrafo gaúcho Zé Paiva percorreu, de julho a dezembro de 2007, todas as unidades de conservação de proteção integral do Rio Grande do Sul. O material está apresentado no livro “Expedição Natureza Gaúcha”, em edição bilíngüe (Português/Inglês), editado pela Meta Livros, com 144 páginas. Algumas destas imagens – gentilmente cedidas por Zé Paiva - são compartilhadas neste ensaio com os leitores de Plurale. O fotógrafo fez o registro da diversidade da fauna e flora, terrestre e aquática, numa profusão de planícies, montanhas, rios, praias, aves, mamíferos e outros tantos animais, inclusive aquela que se supõe ser a forma mais evoluída do planeta: a humana. O fotógrafo explica que o projeto Expedição Natureza busca redesenhar a ecologia dos Estados brasileiros e chamar a atenção da sociedade para as questões ecológicas. Cor


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61 > [ FOTOS ZÉ PAIVA ]

Cordilheira de Sal: regiĂŁo de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras


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Ensaio PLURALE

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63 > CENÁRIO GAÚCHO REVELA BELEZAS PRESERVADAS


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CARBONO NEUTRO

SÔNIA ARARIPE

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

NOVO LEILÃO A prefeitura

PLÁSTICO VERDE A Braskem já contratou empresa especializada em branding para definir nome e marca

de São Paulo anunciou que fará o segundo leilão de crédi-

do seu novo plástico verde. É o que revela a esta coluna, em entrevista exclusiva, Luiz

tos de carbono

Nitschke, responsável no grupo pelo projeto de polietileno verde,. Uma planta piloto no

brasileiro, no

Pólo de Triunfo (RS) já começa a produzir o polietileno verde a partir do etanol e mostrá-

próximo dia 25

lo para clientes exigentes, como empresas no Japão e na Europa. “Temos muita procura

de setembro,

desde já”, conta o executivo. A novidade começará a ser produzida em escala industrial a

por intermédio

partir de julho de 2010. O produto foi certificado por um dos principais laboratórios inter-

da BM&FBoves-

nacionais, o Beta Analytic, atestando que contém 100% de matéria-prima renovável.

pa. As 713 mil toneladas de Reduções Certificadas de

BRINQUEDO SUSTENTÁVEL Desde que o pre-

Emissão (RCEs) que serão leiloadas foram gera-

sidente Lula ganhou

das a partir da

um carrinho protóti-

redução do gás

po, feito com o polie-

metano produ-

tileno da Brasken, a

zido em dois

novidade tem rodado

aterros sanitá-

o mundo. Aqui no

rios do municí-

Brasil, a Estrela, fabri-

pio, que desen-

cante de brinquedos,

volveram proje-

firmou parceria para

tos do Mecanis-

produzir o Banco

mo de Desen-

Imobiliário Sustentável. E outros podem surgir quando o bioplástico estiver produzin-

volvimento Lim-

do para valer. O jogo tradicional, que apresentava prédios na capital paulista, agora

po (MDL). O

mudou: em vez de retratar um cenário urbano, as casas do tabuleiro apresentam reser-

primeiro leilão,

vas naturais como Pantanal, Rio São Francisco, Chapada dos Veadeiros, Serra da Manti-

realizado em

queira e locais de produção de cana de açúcar como Ribeirão Preto, Três Lagoas (MS),

2007, foi um

Teotônio Vilela (AL).

sucesso.

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AQUECEDOR VERDE

ONU MAIS “COOL”

Foi instalado, em agosto, no município de Palmas, no Paraná, o maior aquecedor

A Organização das

ecológico já construído no

Nações Unidas iniciou

Brasil. Foram utilizadas 3,3

uma campanha para

mil embalagens para a mon-

mudar o guarda-roupa

tagem, sendo 1,8 mil garrafas

de seus funcionários nos

PET e 1,5 mil embalagens longa-vida. As garrafas utilizadas na montagem represen-

PODEROSAS ALGAS As algas poderão se tornar a maior fonte ambien-

escritórios em Nova York. Não, o órgão não quer se inserir no mun-

tam o reaproveitamento de

talmente correta para produção de todos os tipos de

do fashion. O que ele

aproximadamente 100 quilos

combustíveis - dos utilizados em automóveis ou em

pretende, na verdade, é

de plástico. A coordenação

cortadores de grama até os que abastecem aviões de

limitar o uso do ar con-

do projeto é da Secretaria do

grande porte. Como pequenas fábricas biológicas, as

dicionado em seus escri-

Meio Ambiente e Recursos

algas realizam a fotossíntese para transformar dióxido

tórios e, assim, diminuir

Hídricos, aproveitando um

de carbono (CO2) e luz do sol em energia. Pelo pro-

as emissões de gases de

sistema criado pelo catarinen-

cesso de fotossíntese, produzem lipídios e podem

efeito estufa. Chamada

se José Alcino Alano. O

gerar até 15 vezes mais óleo por acre do que qualquer

"Cool ONU", a campan-

aquecedor está ajudando a

outra planta utilizada para produção de biocombustí-

ha determina que, a par-

esquentar 8 mil litros de água

vel. As algas têm a vantagem de se reproduzirem de

tir deste mês, os

consumidos diariamente no

forma extremamente rápida, seja em água salgada,

funcionários deixem de

alojamento do batalhão do

doce ou até mesmo contaminada; no mar ou em tan-

lado os paletós e grava-

Exército na cidade.

ques; sem ocupar terras agricultáveis.

tas. A ordem agora é que todos se vistam de uma maneira mais informal,

CARIOCAS NO GELO Os estudantes Victor Curi e Amanda Furtado Bergman, de 17 anos, da

mais "cool". Com a campanha, a expectativa é reduzir em 10% o consu-

Escola Parque, embarcaram no dia 7 de setembro para uma aventura de 20 dias no

mo de energia somente

Pólo Ártico a bordo de um navio quebra-gelo russo. Eles participaram da expedição

no mês de agosto. Se der

Cape Farewell - com tripulação composta ainda por 26 jovens do Canadá,

certo, a "Cool ONU" sig-

Reino Unido, México, Alemanha, Índia e Irlanda. A viagem atravessou os mares da

nificará uma economia

Islândia, passando pela Groenlândia, até a cidade de Iqaluit na Ilha de Baffin.

de cerca de 1 milhão de

O Cape Farewell é uma iniciativa do projeto "De Olho no Clima", do Conselho

dólares e evitará a

Britânico, e tem o objetivo de estudar e aumentar a conscientização sobre

emissão de 2,8 mil tone-

os efeitos das mudanças climáticas na região.

ladas de CO2 por ano.

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EXISTENTE NO PAÍS E QUE FOI, SEGUNDO ELE, DESPREZADA NO PASSADO.

TEM DOIS OBJETIVOS PRINCIPAIS: ACABAR COM A POBREZA NO PAÍS E RESGATAR A GRANDE DÍVIDA EDUCACIONAL

BROS DA COMITIVA. NA SOLENIDADE, EM VITÓRIA (ES), LULA AFIRMOU QUE O DINHEIRO DO PRÉ-SAL

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O PRESIDENTE LULA “CARIMBOU” O MACACÃO DA MINISTRA-CHEFE DA CASA CIVIL, DILMA ROUSSEF, E DE OUTROS MEM-

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A PRIMEIRA EXTRAÇÃO DE ÓLEO DA CAMADA CONHECIDA COMO PRÉ-SAL FOI MOTIVO DE COMEMORAÇÃO.

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ImageM PLURALE por Ricardo Stuckert/PR

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