Plurale em Revista ed. 37

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE ano seis | nº 37 | setembro / outubro 2013 | R$ 10,00

www.plurale.com.br

FOTO DE ISABELLA ARARIPE – PEDRA FURADA- PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA (PI)

SERRA DA CAPIVARA, PIAUÍ: ECOTURISMO

ARTIGOS INÉDITOS

NOVA SEÇÃO:

anos

ESTUDO DE CASO 1



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Editorial

Seis anoss de constantee aprendizado: compartilhaar,, dialogar, infformar, empreeender, e,, acima de tudo, seempre perseveerar

anos

POR SÔNIA ARARIPE E CARLOS FRANCO, EDITORES DE PLURALE EM REVISTA

E

sta Edição Especial de 6 anos é a prova viva que é possível sim acreditar em nossos sonhos. Após passar cerca de 20 anos de carreira em algumas das mais importantes redações e experiências em Comunicação Corporativa, acalentamos a vontade de partir para voo solo, sabendo que não seria um caminho fácil. Se o Brasil é sim um dos países mais empreendedores do planeta, também é um dos que tem mais barreiras para serem superadas pelos os que desejam inovar. Percebemos que seria preciso, desde o começo, contar com parceiros engajados na busca pela Sustentabilidade, que acreditassem em Plurale. Tivemos sorte: semeamos e colhemos uma safra e tanto de apoiadores que impulsionaram o projeto e nos incentivaram na jornada. Se o tão sonhado Desenvolvimento Sustentável é um processo ainda em construção, Plurale mergulhou disposta a participar deste diálogo. Uma rede muito qualificada de compartilhamento de conteúdo e ideias também nos incentivou a sempre perseverar. Para não corrermos o risco de esquecer alguma citação, gostaríamos de agradecer a todos que nos apoiaram na jornada. Também

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agradecemos a nossa equipe, aos fiéis colaboradores, jornalistas, colunistas Plurale e um número aguerrido de escudeiros que hoje formam uma verdadeira família. E sem você, leitor, sempre participativo, interativo, em nossas diferentes plataformas, nada disso teria sido possível. Preparamos esta Edição Especial de 6 anos ainda com mais carinho. Da Serra da Capivara, no Piauí, Isabella Araripe nos descortina a exuberância da Caatinga e a inclusão social pela cerâmica. Maria Helena Malta esteve no Norte do Portugal e apresenta o lirismo do berço de nossos descobridores. A correspondente Vivian Simonato visitou os Lagos da Croácia e Aline Gatto Boueri revela a disputa entre Argentina e Uruguai envolvendo uma fábrica de papel. Artigos inéditos – de Patrícia Almeida Ashley, Miguel Krigsner e Antoninho Marmo Trevisan – provocam reflexões. Também para esta Edição Especial, conversamos para a entrevista com o filho da Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança (nossa primeira entrevistada em Plurale), o também médico envolvido com as causas sociais Nélson Arns Neumann. Ele nos fala dos 30 anos de trabalho ativo da Pastoral, do legado de sua mãe e também

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dos desafios pela frente. Dr. Nélson faz uma alerta surpreendente: há mais obesos entre os mais pobres do que entre os mais ricos, fazendo com que a missão de voluntários se intensifique não só no combate à desnutrição, mas também ao mal da obesidade. De Curitiba, Nícia Ribas apresenta projetos revolucionários de incentivo à leitura e Isabel Capaverde foi à comunidade pacificada no Rio de Janeiro mostrar a garra e disposição de mulheres. Raquel Ribeiro mostra o engajamento em torno da causa do vegetarianismo. Sempre em evolução, Plurale lança hoje a primeira de uma série de novidades para o sétimo ano, seja na edição impressa, no Portal Plurale em site ou nos projetos especiais: a seção Estudo de Caso, apresentando aqui o Coletivo, programa da Coca-Cola Brasil que está mudando realidades em comunidades na Amazônia e em outras regiões brasileiras. Afinal, nada melhor do que compartilhar conhecimento e casos bem sucedidos. Tudo isso e muito mais. Por você, para você, nosso leitor que também tanto tem nos incentivado: que nos permitam vir outros tantos anos. Juntos, em rede, conectados. A todos, nossos eternos agradecimentos.



28.

Conte xto ISABELLA ARARIPE

ECOTURISMO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA (PI) POR ISABELLA ARARIPE

18.

BAZAR ÉTICO

EDUCAÇÃO,

POR NÍCIA RIBAS

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54.

MARIA HELENA MALTA

31.

ANTONINHO MAR MARMO TREVISAN, MIGUEL KRIGSNER, MIGU PATRICIA ALMEIDA ASHLEY

MULHERES UNIDAS E FORTES

DIVULGAÇÃO

38 CROÁCIA

POR VIVIAN SIMONATO

42 ENTRE SABIÁS E COLEIRINHOS

POR FELIPE ARARIPE

VEGETARIANISMO POR RAQUEL RIBEIRO

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NOVA SEÇÃO ESTUDO DE CASO: PLATAFORMA COLETIVO, DA COCA-COLA BRASIL POR PEDRO MASSA

POR ISABEL CAPAVERDE

59

PATRICIA ALMEIDA ASHLEY

ARTIGOS INÉDITOS:

44.

A POESIA DAS ALDEIAS DO NORTE DE PORTUGAL POR MARIA HELENA MALTA

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Quem faz

Cartas

PLURALE 6 ANOS c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Nícia Ribas, Paulo Lima Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Ana Cristina Campos (Agência Brasil), Antoninho Marmo Trevisan, Assessoria de Imprensa do CEBDS, Carolina Stanisci (1PapoReto) e Rosenildo Gomes Ferreira (Jornalista), Marcelo Camargo (Agência Brasil) Maria Helena Malta, Miguel Krigsner (O Boticário), Lúcia Cherem (UFPR), Nélson Neumann e Roberta Ferreira (Pastoral da Criança), Patricia Almeida Ashley (UFF), Pedro Massa (Coca-Cola Brasil) e Vagner Ricardo (CNseg)

“Sou fã incondicional da Plurale pelo sortimento de assuntos sempre interessantes, a qualidade dos articulistas e a coragem de mostrar temas que nem sempre são cobertos com a devida profundidade pelas mídias convencionais. Vida longa para Plurale!” André Trigueiro, jornalista da TV Globo, Editor de Mundo Sustentável

Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint

“Prezada Sônia e equipe Plurale, Participar da evolução da sustentabilidade no Brasil e acompanhar também o amadurecimento e o engajamento da cobertura da imprensa especializada é algo que nos inspira a compartilhar e criar cada vez mais conhecimento e valor. Parabéns à Plurale pelos seis anos de vida e pela contribuição que seu conteúdo traz à agenda de sustentabilidade, que contribui para que as empresas integrem o tema no dia a dia dos negócios, ações, compromissos e parcerias, gerando valor para toda sociedade.” Um abraço, Denise Hills, Superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Plurale é tudo de bom, faz justiça ao nome : é diversa mas com conteúdo e debate. Que a esses seis anos se sigam mais seis e outros seis e que os seis seguintes sejam de comemoração da transformação do mundo, do desenvolvimento sustentável” Sérgio Besserman, economista e ecologista

“Nossos parabéns à Plurale pelos seis anos de dedicação às questões socioambientais, e também ao grande apoio que dá a causas como as que o IPÊ defende. Somente juntos é que poderemos fazer deste planeta um lugar melhor. Longa vida a publicações como esta! “ Suzana M. Pádua , Presidente do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas


“O ano de 2007 foi marcado por diversos acontecimentos da área ambiental. O exvice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU ganhavam o Prêmio Nobel da Paz. A então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, vencia o prêmio da ONU Champions of the Earth (Campeões da Terra). No Rio de Janeiro, ao fim de setembro, acontecia a Rio+15, conferência que preparou a arena para a Rio+20 anos depois. Também no Rio de Janeiro, nascia a Revista Plurale, publicação que tanto admiramos e comemoramos seus seis anos agora. Mas, esse período não foi apenas de boas notícias, naquela época verificávamos um aumento no desmatamento da Mata Atlântica nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória (ES), no período entre 2005-2008, ao contrário do que havia acontecido entre 20002005. Então, o importante é continuarmos na luta e comemorar as vitórias. É isso que a Revista Plurale tem feito, desde 2007. Que a revista continue na busca pela pluralidade!” Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.

“Plurale tem se constituído num importante espaço de debate sobre a sustentabilidade e a responsabilidade social empresarial. No atual estágio de desenvolvimento social do país, torna-se imprescindível a existência de veículos que se atentem e se dediquem a essas questões É com alegria que cumprimentamos toda a equipe pelo sexto aniversário da revisa e desejamos vida longa à publicação.” Françoise Trapenard - Presidente da Fundação Telefônica Vivo

“Trabalhar pelo desenvolvimento do País, valorizando ações sustentáveis e gerando valor a toda a sociedade é um dos objetivos da ABRASCA. Com propostas semelhantes – e muitas vezes sinérgicas - encontramos organizações e pessoas focadas em um Brasil melhor. É o caso de Plurale em Revista, cuja performance tem elevado os méritos ambientais e sociais.Pela seriedade com que conduz o trabalho de fomento às ações em prol da cidadania, meio ambiente e da sustentabilidade de uma forma geral, cumprimentamos toda a Equipe de Plurale neste sesto e vitorioso ano de vida.” Antonio Castro, Presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas - ABRASCA

“Plurale vem se consolidando como uma revista de informação e análise que contribui singularmente para o debate em torno às questões de sustentabilidade. No universo de revistas do Brasil que consolidou um determinado padrão que na minha opinião não consegue ir além do que já foi consagrado há muito tempo e está envelhecendo, Plurale é um sopro de renovação.” Alfredo Sirkis, Deputado Federal (PSB-RJ)

“Parabéns a toda equipe da Plurale pelo sexto aniversário da revista. Faço um agradecimento especial à Sônia Araripe, que sempre abre espaço para a divulgação da causa da conservação da natureza. É muito bom sabermos que podemos contar com profissionais sérios e competentes para disseminar a importância da defesa do patrimônio natural brasileiro. Desejamos que, nos próximos anos, a Plurale continue se fortalecendo e ganhando escala, para que seu conteúdo possa ser acessado por uma gama ainda maior de leitores.“ Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.


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Entrevista

Nelson Arns

POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE PLURALE EM REVISTA FOTOS: DIVULGAÇÃO / PASTORAL DA CRIANÇA

Neumann, E

Coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança

“Hoje no Brasil há mais obesidade entre os pobres que entre os ricos” 12

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2013

m janeiro de 2010, quando começaram a chegar as notícias do terremoto que assolou Porto Príncipe, a capital do Haiti, o Brasil se comoveu não só com a tragédia dos haitianos, mas porque lá estavam brasileiros em missão de paz. Morreram também soldados brasileiros que serviam pela Organização das Nações Unidas (ONU) , o carioca Luiz Carlos da Costa, funcionário da ONU que era o segundo homem na hierarquia local e a fundadora da Pastoral da Criança, a médica Zilda Arns Neumann, que estava por lá em missão humanitária, com o objetivo de lançar a ONG também por lá. A perda da médica que não mediu esforço para afastar do risco da linha da morte milhões de crianças desnutridas entristeceu a “família” de voluntários da Pastoral da Criança e ainda mais a sua família. Dor e comoção, mas também a certeza, que D. Zilda morreu fazendo o que mais gostava: ajudando os mais necessitados e reduzindo desigualdades. “Ela já tinha preparado sua sucessora e não substituta, porque sempre dizia que uma nova gestão precisava seguir seus próprios passos. Talvez pelo fato de o nosso pai ter morrido cedo, ela tinha uma noção prática da importância de manter o trabalho, de sempre seguir em frente”, contou à Plurale seu filho, o também médico Nélson Neumann Arns, 48 anos, Coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança. D. Zilda teve seis filhos, perdeu um três dias após o parto e uma filha em acidente de carro. Vinha também de família grande: seus pais, pequenos agricultores, de família de origem alemã, de Forquilhinha (SC) tiveram 16 filhos Ao completar 30 anos, a Pastoral da Criança registra resultados reais do enfrentamento da desnutrição infantil e de cuidados com a saúde de brasileiros mais necessitados. A surpresa veio nas últimas estatísticas. O novo diagnóstico, explica o Dr. Nélson, é que os mais pobres estão correndo novo risco: o da obesidade. “Hoje no Brasil há mais obesidade entre os pobres que entre os ricos. Em 40 anos, inverteu-se o padrão. Caminhamos rapidamente também para ter mais crianças obesas no Nordeste que no Sul do Brasil. Mas a prevenção da obesidade começa na gestação”, alerta. Recém-chegado de mais uma das muitas viagens a campo, desta vez para o interior do Piauí e Maranhão, regiões com baixos Índices de De-


senvolvimento Humano (IDH), Nélson Arns Neumann conversou com Plurale em revista sobre o trabalho desenvolvido, o legado de sua mãe e o Brasil de hoje. O médico - formado pela Universidade Federal do Paraná, com Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas e Doutorado em Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo - demonstra que está mesmo no DNA da família, de sólida formação católica, a preocupação pelo bem-estar de todos. Acredita que “se cada um fizesse a sua parte, não haveria tanto sofrimento no mundo”. Confessa que o maior desafio, em um sistema do consumismo desenfreado e do partido do eu primeiro, é mostrar aos voluntários as vantagens da opção pelo coletivo. “O principal desafio de hoje é demonstrar aos possíveis voluntários que o ter sozinho não traz a felicidade. Sem a partilha do nosso tempo com as pessoas sofridas, necessitadas, não alcançaremos sequer nosso bem estar pessoal quanto mais a paz coletiva.” Acompanhe os principais pontos desta entrevista.

Entrevista Plurale em revista - A Pastoral está completando 30 anos de trabalho. Na sua opinião, quais são os principais resultados? Nelson Arns Neumann - Em 2012, o Brasil atingiu antecipadamente uma das metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) no documento

“Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”. O número atual de óbitos no país é de 16 a cada mil nascimentos, inferior à meta de 17,9 óbitos por mil, imposta pela ONU e que deveria ser atingida até 2015. Conforme a revista médica Lancet, da Inglaterra, em artigo científico, as ações preventivas de saúde e nutrição das crianças pobres realizadas pelos voluntários da Pastoral da Criança contribuíram decisivamente para reduzir a mortalidade infantil no país nos últimos trinta anos A Pastoral da Criança tem sido uma grande aliada, junto com outros organismos, no cuidado com as crianças e gestantes, no trabalho de prevenção que tem contribuído fortemente com resultados importantes para a saúde dos brasileiros. Hoje estamos acompanhando no Brasil cerca de 1,3 milhão de crianças menores de 6 anos de idade e 70 mil gestantes, com foco no desenvolvimento integral das crianças desde o ventre materno até os 6 anos. São 30 anos atuando para não apenas reduzir os índices de mortalidade infantil, mas também para que as crianças e suas famílias tenham melhores condições de vida, tenham acesso aos serviços básicos de saúde e educação. Ao longo desses anos, superamos muitos problemas e agora olhamos para o futuro, a “Centralidade da Criança”, projeto que responde ao apelo dos bispos no Documento de Aparecida para que a infância seja destinatária de ação prioritária da Igreja, da família e do Estado é um dos destaques da ação da Pastoral da Criança nos próximos anos, assim

como a ampliação das ações de acompanhamento nutricional para prevenção da obesidade infantil e os cuidados nos primeiros mil dias (período da gestação mais os dois primeiros anos de vida). Plurale- Na sua visão, como cada um - indivíduo, ONG, empresa e governo - pode praticar a solidariedade e a sustentabilidade? Sua mãe nos falava na Edição 1 de Plurale sobre a importância da aliança entre estes stakeholders, o relevante papel do Estado como indutor de políticas e frisava a urgência no combate à corrupção. Qual é a sua visão? Dr. Nélson - Se cada um fizesse a sua parte, não haveria tanto sofrimento no mundo. Quantos estão dispostos a enfrentar um transporte coletivo ruim para amenizar a poluição das cidades? É mais fácil esperar que o transporte coletivo melhore para depois tomar uma atitude. Quantos enfrentam as dores do trabalho de parto para esperar o momento que a criança está madura para nascer? É mais fácil antecipar o parto, ainda que a

no Brasil “háHoje mais obesidade entre os pobres que entre os ricos. Em 40 anos, inverteu-se o padrão. Caminhamos rapidamente também para ter mais crianças obesas no Nordeste que no Sul do Brasil. Mas a prevenção da obesidade começa na gestação.

criança nascida apenas duas semanas antes do tempo tenha 120 vezes mais chance de ter problemas respiratórios em relação à criança nascida no tempo certo - note que o parto normal também pode ser feito com anestesia.

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Entrevista

Quantos dão o leite materno para seus filhos? Muitos preferem dar leite em pó, ainda que esteja provado que crianças que receberam o aleitamento materno têm menos diabetes, hipertensão arterial e obesidade. Quantos, em nome da carreira, deixam para ter filhos tarde, mesmo sabendo dos riscos aumentados de prematuridade e retardo de crescimento intrauterino após os 28 anos de idade que podem levar seus filhos a terem, na idade adulta, mais problemas cardíacos coronarianos, diabetes, osteoporose, problemas metabólicos (colesterol alto), problemas renais, osteoporose? Quantos defendem um Estado paternalista ao delegar a este a tarefa cuidar de bebês em creches, de decidir o que seus filhos devem assistir na TV? Por que não exigir do Estado, assim como os países Europeus, a possibilidade da própria mãe cuidar de seu filho em casa, recebendo ajuda monetária? Obviamente, além do descrito acima, precisamos de corruptos na cadeia - não creio que a corrupção vá ser extinta, mas é necessário que seja punida. A Paz é fruto da justiça! Plurale - Dra Zilda também nos falava nesta entrevista sobre o desperdício absurdo de alimentos no Brasil. Um país que produz tanto, no qual alguns ainda têm fome. Como o senhor vê este drama? Dr. Nélson - Acabo de voltar do Piauí e do Maranhão. Trabalhei neste estado nos anos de 1988 e 1989. É incrível a diferença no nível nutricional das crianças, em sua saúde. Mais um ponto para o SUS: impossível melhorar a saúde de um povo sem acesso universal a pré-natal, a vacinas, aos cuidados de puericultura. A saúde não

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pode ser um benefício apenas para quem pode pagar, seja atendimento particular, seja plano de saúde. Não gastando energia com doenças, o que a criança consome é melhor aproveitado para seu crescimento. A fome hoje está mais concentrada na falta de solidariedade. Não aquela de distribuir cestas básicas, mas aquela de ver o problema real da família: a mãe trabalha o dia todo e as crianças ficam cuidando de si mesmas em casa? Onde está o pai? Pai e mãe tem a doença do alcoolismo ou consumo de drogas e a criança fica largada enquanto estão “chapados”? Plurale - O legado da Dra. Zilda Arns Neumann é muito grande. Como conseguir continuar sua obras mesmo sem sua presença? Como manter o número elevado de voluntários? Dr. Nélson - A presença dela continua na nossa Pastoral. Vemos isto no dia-a-dia das comunidades. O principal desafio de hoje é demonstrar aos possíveis voluntários que o ter sozinho não traz a felicidade. Sem a partilha do nosso tempo com as pessoas sofridas, necessitadas, não alcançaremos sequer nosso bem estar pessoal quanto mais a paz coletiva. Plurale - O senhor herdou a mesma profissão da mãe, com vocação para o bem maior e social. Como vê esta prática da medicina em tempos de tão forte apelo mercantilista e comercial? Dr. Nélson - Vemos muitos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais de saúde extremamente dedicados, competentes e que fazem a diferença em nossa sociedade. Infelizmente, os fatos negativos acabam ganhando mais destaque. Sou a favor de punição rigorosa para os que se desviam da ética profissional. Plurale - O caminho para a maior qualidade de vida no Brasil é mesmo este, o acompanhamento das crianças, da família? Dr. Nélson - Não resta dúvida. Sem um bom alicerce, a casa cai. Plurale - O que o trabalho da Pastoral tem detectado de mudança no perfil dos brasileiros?

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A fome hoje está “mais concentrada na falta de solidariedade

Dr. Nélson - Hoje no Brasil há mais obesidade entre os pobres que entre os ricos. Em 40 anos, inverteu-se o padrão. Caminhamos rapidamente também para ter mais crianças obesas no Nordeste que no Sul do Brasil. Mas a prevenção da obesidade começa na gestação. A Pastoral da Criança tem projeto de acompanhamento nutricional que está sendo expandido para todo o país. Além de pesar, medimos a altura das crianças obtendo o Índice de Massa Corporal (IMC) adequado para a idade da criança. O importante é que com esse indicador dado por programa de computador, o líder voluntário pode orientar melhor a mãe sobre a alimentação saudável, as atividades físicas e como auxiliar seu filho. Plurale - Como é possível combater a obesidade infantil? Dr. Nélson - A Pastoral da Criança está reforçando suas ações sobre os cuidados nos primeiros mil dias (fase da gestação e mais os dois anos de vida da criança). O trabalho considera os avanços na área da prevenção trazidos pelas pesquisas do epidemiologista britânico David Barker. De acordo com o estudo, a obesidade, diabetes, hipertensão arterial e problemas cardíacos - doenças crônicas da população adulta - podem ser prevenidos nos primeiros mil dias da criança. Também as consultas de pré-natal e os exames necessários, o controle da pressão arterial, a boa nutrição, a abstenção do fumo e de bebidas alcoólicas não são apenas importantes para o parto e o nascimento de um bebê com saúde. São fundamentais para o desenvolvimento da criança e podem determinar uma vida adulta mais saudável. Apesar da conscientização sobre os males do fumo na gravidez, o número de mulheres fumantes aumentou, especialmente nas camadas mais pobres. O cigarro é um dos elementos que fazem a criança perder peso durante a gestação. Outra conclusão do estudo mostra que crianças com baixo peso ao nascer (abaixo de 2,5 kg) estão mais vulneráveis às doenças coronarianas.


A WalPrint parabeniza a Plurale pelos seus 6 anos e tem muito orgulho de imprimir esta publicação através de processos sustentáveis que respeitam o meio ambiente. A “gráfica verde” está há 12 anos no mercado e é certificada pelo FSC . ®

A WalPrint não cobra nada a mais pela aplicação do selo FSC no seu material. ®

Consulte-nos!

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Rio Mountain Festival 2013

Pela justiça social

Desde 2001 o Rio é palco de um festival de filmes de montanha. Na época era somente uma mostra, parte do tour mundial do Banff Mountain Film Festival realizado na cidade canadense de mesmo nome, no ano anterior. De lá para cá evoluiu muito. Na edição de 2013, na mostra competitiva abriu para filmes estrangeiros e teve inscrições de países como Rússia, Bélgica, Eslovênia, China, Áustria, Suíça, entre outros. Ou seja, além dos já tradicionais filmes do Banff Mountain Film Festival, o universo dos filmes ambientais, de montanha, aventura ou exploração, soma também as produções dos mais variados locais do planeta. A diversidade também está presente no Natura Doc, mostra paralela com filmes ambientais e culturais ligados à montanha.

Usando as armas do jornalismo, o repórter investigativo Tim Lopes lutou pela justiça social. E foi durante uma de suas reportagens sobre tráfico de drogas e abuso de menores em bailes funks da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio, que foi morto por traficantes. Essa história o Brasil inteiro conhece. Mas quem era o homem, o filho, o pai vai ficar sabendo ao ver Histórias de Arcanjo – um documentário sobre Tim Lopes, roteirizado por Bruno Quintella, filho de Tim, com direção e fotografia de Guilherme Azevedo, cinegrafista que trabalhou com o jornalista em diversas reportagens de denúncias. Antes de entrar em circuito comercial e depois de ter ganho na categoria melhor documentário no Festival do Rio 2013, o filme segue a trajetória dos festivais pelo mundo como o de Paris e o de Biarritz, na França.

Elas investem no cinema Aclamado pela crítica internacional nos festivais de cinema de Veneza e de Toronto, filme de abertura do Festival de Cinema do Rio 2012 e “Prêmio Ambiente WWF” - concedido pela ONG internacional WWF aos filmes que melhor contam a história da riqueza da vida no planeta e das ameaças que o comprometem - o longa metragem 3D Amazônia – Planeta Verde contou com o patrocínio das empresas Tetra Pak® e Natura, além da participação do Fundo Setorial do Audiovisual. Produzida pela brasileira Gullane e pela francesa Biloba, a maior produção cinematográfica já realizada na Amazônia traça a saga de um pequeno macaco prego – personagem principal da história – após ser o único sobrevivente de um acidente de avião na floresta.

Elas investem no cinema 2 A Sabesp é outra empresa que investe pesado no cinema nacional. Em 2004 aderiu ao “Programa de Fomento ao Cinema Paulista”, da Secretaria Estadual da Cultura e, desde então, já patrocinou mais de 140 filmes nacionais por meio da Lei do Audiovisual, número que faz da Sabesp a empresa que mais investe em cinema no estado e uma das três maiores incentivadoras do setor no país. Entre os filmes mais recentes patrocinados pela empresa e ainda inéditos estão Vazante, de Daniela Thomas; O Bosque, de Cao Hamburger; e A Comédia Divina, de Toni Venturi.

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I Cine de Gestão Social Durante o VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social (ENAPEGS) que será realizado no mês de abril do ano que vem, na cidade de Cachoeira (BA) na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, acontecerá o I Cine Gestão Social. O objetivo é apresentar e debater filmes e vídeos de cunho sócio-político-cultural com base nas propostas dos grupos de trabalho do VIII Enapegs, com qualidade técnica reconhecida no campo, para discussão com pesquisadores interessados nos usos das imagens em processos de pesquisa e formação. Poderão se inscrever produções nacionais e internacionais de documentários de longa ou média-metragem (a partir de 31 minutos até 70 minutos e produzidos em qualquer formato) e documentários de curta-metragem (até 30 minutos e produzidos qualquer formato, incluindo vídeos feitos por câmeras em celulares e câmeras digitais, e em película 16 mm e 35 mm). Se for uma produção estrangeira deverá ser em DVD com legendas em português, sistema NTSC, região 4 (brasileira) ou região 0 (aberta). As inscrições podem ser feitas até 17 de novembro de 2013. Mais informações pelo e-mail enapegs2014@gmail.com ou telefone (75) 3425-2732.


Frases “Hoje o rico não é mais elite. O sábio é a elite” Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), na Edição 6

“Muitas dessas crianças trabalham para ajudar em casa, mal frequentam a escola, e acredito que essa foi a primeira vez em suas vidas que elas ganharam um presente. A alegria desse momento para essas crianças foi visível e, para mim, inesquecível”. Navid Rasa, fundador da ONG Let`s Help Afghan Children to Study, Edição 36, em entrevista para a correspondente Vivian Simonato

“Ainda há relatos do rito de emancipação do jovem Maasai, que inclui matar um leão. Mas este costume está desaparecendo por uma serie de fatores, inclusive pela globalização e pelo acesso à Internet. Hoje, os jovens entendem que é mais sustentável manter os animais vivos e ganhar com o ecoturismo” Virgínio Sanches, jornalista e fotógrafo de natureza, que produziu Ensaio Especial da Reserva Maasai Mara, no Quênia na Edição 31

“Um líder sustentável sabe ouvir e assumir responsabilidades por sua equipe. Conquistar espaços e admitir que ainda não sabe exatamente como chegar lá, pois assim terá ajuda para ir mais longe” Dal Marcondes, jornalista/Editor da Envolverde, em entrevista para Sônia Araripe, Edição 25

“A maior deficiência do ser humano é o mau humor” Manuel dos Anjos, cego desde 1985, vítima de acidente de trânsito, em entrevista para Nícia Ribas, na Edição 23

“Acho que as pessoas estão mais conscientes e começam a desenvolver um sentido de cidadania e tudo aquilo que ela representa: mais saúde, educação, segurança, etc. Os jovens que conheci estão engajados em alguma luta, em alguma reflexão. Eles batalham muito pelo que querem, pelos seus sonhos, para mudar as suas realidades e vão atrás mesmo. São multiplicadores.” Neide Duarte, jornalista da TV Globo sobre o programa “Caminhos e Parcerias”, em entrevista para Isabel Capaverde sobre produção de documentários por jovens da periferia, na Edição 12 17


Colunista Antoninho Marmo Trevisan

PESQUISA, INOVAÇÃO & SUSTENTABILIDADE

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m meio à resistência à duradoura crise econômica mundial, o Brasil mantém um patamar de baixíssimo desemprego, num mercado de trabalho que, ao contrário do que ocorre em numerosas nações, verifica-se a falta de profissionais qualificados. Constato isso na Trevisan Escola de Negócios, que fundei há cerca de onze anos, que forma profissionais de contabilidade especialistas em auditoria, controladoria e tributos, bem como administradores de empresas.

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O fato é que triplicou nos últimos dois anos o número de alunos matriculados no curso de Ciências Contábeis em busca de uma segunda graduação. São advogados, administradores, economistas e até engenheiros atraídos pela demanda criada pela padronização mundial dos princípios contábeis e a invasão sem precedentes de capitais estrangeiros, que descobrem o Brasil para investimentos seguros e de alto retorno. E diretor de empresa ou presidente que não entenda de contabilidade ou de balanços e contas

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começa a ficar fora do jogo corporativo. Por isso, cresce a importância das escolas de negócio em nosso país. O chamado “apagão profissional” brasileiro precisa ser solucionado. Para avançarmos de modo adequado na formação de profissionais em todas as áreas e também em P&D, há algumas lições de casa exponenciais. No âmbito do setor privado, é preciso aprimorar a cultura da inovação, aumentar os recursos próprios para investimentos em ciência, criar centros de pesquisa e de-


senvolvimento e incorporar nos balanços contábeis o valor do intangível das marcas, patentes e pesquisas. Nesse sentido, a nova Lei das Sociedades Anônimas (11.638) e a Lei 11.941/2009 (de Conversão da Medida Provisória nº 449, de 2008) significam expressivo avanço. Apenas para lembrar, o objetivo principal dessa legislação é criar condições para que as normas brasileiras de contabilidade estejam convergentes com os padrões mundiais. O aspecto preponderante quanto à inovação é que a lei incluiu o grupo de ativo intangível no patrimônio das empresas, definindo-os como “os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia”. Os ativos intangíveis podem ser representados por gastos com pesquisas e desenvolvimento, software, patentes, direitos autorais e sobre filmes cinematográficos, listas de clientes, direitos sobre hipotecas, licenças de pesca, quotas de importação, franquias, relacionamentos com clientes ou fornecedores e fidelidade de clientes, dentre outros itens. Portanto, a lei valoriza a atividade de P&D no universo corporativo. Contudo, para explorar devidamente todo o potencial aberto pela legislação é necessário o conhecimento que as escolas de negócios transmitem aos seus alunos. No contexto dos desafios a serem vencidos, as universidades, obviamente, têm papel determinante: cada vez mais, devem gerar conhecimento e formar pessoal qualificado. Às empresas, cabe a responsabilidade de apontar caminhos e perspectivas de oportunidades. Quanto ao governo, deve facilitar, integrar e acelerar o processo inovativo, por meio de marcos regulatórios, financiamentos e formulação de políticas públicas. Se cumprir de modo eficaz todas essas tarefas, o Brasil poderá ser um líder global. Tal liderança, contudo, passa necessariamente pelo aumento da inovação, com reflexos diretos na economia, qualidade da vida e distribuição de renda.

Com mais aporte em P&D, por exemplo, o País pode equilibrar a sua pauta de exportações e, além de ser um grande exportador de minérios, grãos, carne e outras commodities, vender, também, produtos com maior densidade tecnológica e maior valor agregado. Há segmentos nos quais temos condições inigualáveis para liderar: Pré-sal (cadeia de fornecedores nacionais de produtos e serviços), fitoterápicos e fitocosméticos, energias renováveis, etanol de segunda e terceira geração, serviços e logística. Em paralelo, devemos fortalecer as políticas públicas de tecnologias sociais e assegurar o acesso das micro e pequenas empresas e dos empreendimentos associativos aos recursos públicos de ciência, tecnologia e inovação. Afinal, também é prioritário garantir recursos para o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços voltados à resolução de problemas sociais, como saúde, saneamento, habitação, segurança alimentar e transportes de massa. Fica claro que o avanço em P&D deve contemplar a sustentabilidade em sua mais ampla acepção, incluindo a prosperidade econômica, a salubridade ambiental, a erradicação da miséria, a reversão das mudanças climáticas e o estabelecimento de um equilíbrio maior entre as nações. A inteligência, portanto, será a base de todas as transformações históricas neste século. Nosso país tem tudo para ser um dos protagonistas nesse processo. Para isso, deve pautarse pela premissa de que inovar é uma responsabilidade de todos os brasileiros, compartilhada pelo governo, as empresas, os trabalhadores, as universidades e nossos cientistas.

No contexto dos desafios a serem vencidos, as universidades, obviamente, têm papel determinante: cada vez mais, devem gerar conhecimento e formar pessoal qualificado. Às empresas, cabe a responsabilidade de apontar caminhos e perspectivas de oportunidades. Quanto ao governo, deve facilitar, integrar e acelerar o processo inovativo, por meio de marcos regulatórios, financiamentos e formulação de políticas públicas.

Antoninho Marmo Trevisan é o presidente da Trevisan Escola de Negócios e membro do CDES-Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.

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Artigo Miguel Krigsner

Adrian Moss

EMPRESAS E NATUREZA: ALIANÇA POSSÍVEL E NECESSÁRIA

Figueira: Localizada no litoral norte do Paraná, a Reserva Natural Salto Morato conserva 2,4 mil hectares de Mata Atlântica.

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Frear a perda de biodiversidade e de habitats é um dos grandes desafios de todo o Planeta e o engajamento das empresas é fundamental nesse processo. Por meio de sua Fundação, que completou 23 anos em setembro, o Grupo Boticário inspira o setor privado ao mostrar na prática que é possível e viável inserir a proteção da natureza na agenda empresarial e realizar ações efetivas que vão além do mero cumprimento da legislação ambiental.

Criado em 2010, o Grupo Boticário controla as unidades de negócio O Boticário (criado em 1977), Eudora (2011), quem disse, berenice? (2012) e The Beauty Box (2012), além de manter a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que é a principal expressão da política de investimento social privado do Grupo. O desejo de se criar uma instituição que atuasse em prol da conservação da natureza foi colocado em prática no ano em que a unidade de negócio O Boticário completava 13 anos, em 1990, numa época em que havia pouca discussão sobre ações de proteção à natureza e mesmo as ideias de responsabilidade social empresarial eram muito pouco conhecidas e aplicadas. No entanto, a semente que deu origem à criação dessa Fundação havia sido plantada em mim anos antes.


Mico-leão-dourado: Considerado um dos primatas mais ameaçados do planeta, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) já foi beneficiado por projetos apoiados pela Fundação Grupo Boticário.

Comecei a me interessar pelas questões ambientais por volta dos 20 anos, quando iniciei a faculdade de Farmácia na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba (PR), em 1972. Algumas disciplinas da graduação me apresentaram tudo que a natureza nos fornece gratuitamente, desde substâncias para a cura e prevenção de doenças, até serviços ambientais indispensáveis à vida na Terra, como produção de água, solos férteis, purificação do ar e controle do clima. Senti a necessidade de preservar a fonte de tudo isso de alguma forma, mas ainda não sabia como. Esse despertar de consciência tornouse ainda mais evidente quando, em um curso de extensão universitária, conheci José Lutzenberger, um dos primeiros ativistas ambientais brasileiros. A partir desses momentos cruciais, despertei-me para as questões ligadas à ecologia e passei a me incomodar com os descasos em relação ao meio ambiente que aconteciam no Brasil na época, a exemplo da devastação da Mata Atlântica. Em meados nos anos 1980, fiz uma viagem para Israel e conheci a Keren Kayemeth LeIsrael (KKL), uma organização de mais de cem anos que faz a recuperação do deserto por meio do plantio de árvores. Os recursos que financiam as ações de reflorestamento provêm de judeus de todo o mundo que querem resgatar as áreas degradadas. A KKL incentiva as pessoas a plantar árvores e as retribui com certificados. Em vez de dar presente, é comum em comunidades judaicas ao redor do mun-

do oferecer certificados de plantação de árvores na terra sagrada, que descrevem que determinada pessoa ou sua família plantou árvores no nome do presenteado em um certo local. Poucos anos depois dessa viagem a Israel, decidi colocar em prática meu sonho de contribuir para o meio ambiente no Brasil. A premissa era implantar uma ação concreta, que gerasse resultados práticos para a proteção da biodiversidade brasileira e que fosse perene. Depois de análises e conversas com renomados conservacionistas, chegamos à definição na diretoria de O Boticário que a melhor estratégia para aquele momento era financiar projetos de conservação da natureza realizados por outras instituições. Isso porque, dessa forma, conseguiríamos uma amplitude nacional e, como teríamos uma estrutura física e de recursos humanos enxuta, poderíamos disponibilizar o máximo de recursos para apoiar aquelas pessoas que estavam na ponta promovendo efetivamente a conservação. Para atender essa estratégia, O Boticário poderia ter instituído na empresa apenas um programa para apoiar projetos, mas a opção foi ir além. Em setembro de 1990, a empresa criou uma fundação privada sem fins lucrativos com a missão de promover e realizar ações de conservação da natureza brasileira. A instituição iniciou suas atividades como uma apoiadora de iniciativas voltadas à conservação da natureza, ação que realiza até hoje, tendo se tornado uma das principais financiadoras brasileiras, ligada à iniciativa privada, de projetos em conservação da biodiversidade: em 23 anos, já foram apoiadas 1.375 iniciativas em todos os biomas brasileiros – com resultados efetivos para a conservação. Por exemplo, por meio desses estudos, já foram descobertas 67 novas espécies, sendo que cinco delas possuem o nome Boticário no “sobrenome”, como homenagem dos pesquisadores que as descobriram ou descreveram, pelo apoio da Fundação. São elas: a rã Megaelosia boticariana, os peixes Aphyolebias boticarioi e Listrura boticario, o arbusto Gymnanthes boticario e o maracujá Passiflora boticarioana Cervi. Com o tempo, a Fundação Grupo Boticário passou a investir em novas formas de proteção do patrimônio natural brasileiro, como a manutenção de áreas naturais próprias, por meio das Reservas Par-

ticulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Atualmente, a instituição protege 11 mil hectares dos dois biomas mais ameaçados do país: Mata Atlântica (Reserva Natural Salto Morato, adquirida em 1994) e Cerrado (Reserva Natural Serra do Tombador, adquirida em 2007). Outras novidades vieram em 2006, quando foi o criado o Oásis, iniciativa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que já beneficiou mais de 200 proprietários de terra que protegem áreas naturais em suas propriedades e adotam práticas conservacionistas de uso do solo. Em 2012, quando foi realizada no Brasil a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a Fundação lançou mais uma inovação: uma nova metodologia do Oásis que é adaptável a qualquer região do país. A Fundação Grupo Boticário investe ainda em diversas outras iniciativas pela causa da conservação da natureza: atuação em políticas públicas na agenda de mudanças climáticas, sensibilização ambiental por meio de duas Estações Natureza (São Paulo e Corumbá–MS) e organização do maior congresso brasileiro de unidades de conservação (CBUC), realizado periodicamente desde 1997. Em 2010, criou o Gastronomia Responsável, movimento que insere a causa da conservação na culinária, disseminando conceitos entre chefs de cozinha de todo o Brasil, os quais preparam pratos responsáveis, com impacto reduzido para o meio ambiente. Nesses 23 anos, a Fundação Grupo Boticário se consolidou nacional e internacionalmente pela capacidade de produzir resultados efetivos na conservação das riquezas naturais do Brasil. Isso permite a todo o Grupo deixar um legado a favor da vida, já que a proteção da biodiversidade traz e trará benefícios para todas as espécies, inclusive a humana. As empresas que também assumirem o compromisso de contribuir para a manutenção do patrimônio natural estarão na vanguarda de um movimento que certamente não tem mais caminho de volta. Miguel Krigsner é fundador de O Boticário e presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. Também é fundador e presidente do Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

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CONEXÕES

PLURALE

No Girassol da Chácara: No Tempo de Nosotros

PATRICIA ALMEIDA ASHLEY (*)

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m 2009, quando morávamos em uma chácara em São João del-Rei, Minas Gerais, em meio a pássaros, insetos, galinhas (cada uma com um nome próprio), horta, árvores, estrelas, água e ar preservados e limpos, um dos hábitos de nossa família era alimentar os pássaros com sementes que jogávamos no quintal. Nem sempre o mato estava bem cortado, pois na correria dos cuidados com a família, a casa, o trabalho e o bem-estar da mulher, sobravam arbustos, gramíneas que se levantavam no entorno da casa. Ríamos quando ao anoitecer sentíamos o receio de caminharmos com mato alto ao lado da trilha do portão até a casa. De noite, ouvíamos sons de pegadas de bichos no mato e ficávamos imaginando qual seria o daquela noite. De dia, a relva e novamente o ato de sentar nos degraus da cozinha para o quintal, com os sentidos dedicados a apreciar a delicadeza e, ao mesmo tempo, força da vida que nos cerca. Olhando o matagal crescendo em volta da casa, na Primavera, já com as chuvas de outubro voltando com maior frequência e intensidade, eu concluí pela necessidade de intervir em curto prazo e pensei: ou eu solto as galinhas ou eu pago alguém para roçar esse mato todo. Só que percebi, no meio do mato, uma planta que se destacava entre as gramíneas e arbustos, forte caule, reto e alto, cada vez mais alto a cada dia. Acompanhei diariamente para saber do que se tratava até que um dia, do caule veio a sua apresentação à famí-

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lia: sou um girassol! Eu que sempre fui encantada por girassóis, na dinâmica da rotina de alimentar os pássaros, uma semente germinou no meio do mato e na frente dos três degraus da cozinha para o quintal. Imaginem a poesia da situação. Adiei o corte do mato e não liberei as galinhas além das cercas, pois vi no girassol um Mestre em tempos de mudança (eu já tinha conhecimento dos dois anos seguintes que ocuparia na Cátedra Príncipe Claus de Desenvolvimento e Equidade, na Holanda). Sigo agora a tratar do que o Girassol da Chácara me ensinou e pude refletir desde então no campo de conhecimento de responsabilidade social, governança e desenvolvimento sustentável com uma perspectiva multiatores e multinível para esse campo de conhecimento. Principalmente olhando o miolo de um girassol, percebemos harmonia do conjunto entre as partes, o que nos recupera o sentido de Unidade do Eu com Outros, transitamos para Nosotros no convívio da diversidade de consciências livres e responsáveis. Assim, cada parte do miolo exercendo, com cuidado, a sua contribuição, combinando Liberdade e Alteridade, em estética coletiva desenhada pelas relações da Unidade que formam. E, como bússolas comunicadoras, captando e refletindo luz em tons de amarelo, as pétalas envolvidas pelo plasma da luz e do ar aquecido, sinalizam onde agora posiciona-se o Sol. POLÍTICAS MULTIATORES E MULTINÍVEL PARA CULTURAS E ECONOMIAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL Desde 1999 venho pesquisando, refletindo e escrevendo sobre os discursos, práticas, modelos e políticas – privadas e públicas – no campo da responsabilidade social e sustentabilidade e, como desdobramento, acompanhan-

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do a formação de agendas no Brasil e outros países. Alguns países, como a Noruega, Dinamarca, Suécia e Alemanha dando passos largos para avançar o patamar mínimo de práticas de organizações estatais, privadas e da sociedade civil a partir da discussão coletiva sobre o que precisa ser deixado no passado de políticas públicas e privadas e o que precisamos realinhar em discurso e prática no espaço nacional e internacional. Algumas empresas multinacionais atuando em países com regras mais frouxas ou simplesmente inexistentes, mesmo tendo sua origem e sede em países mais avançados que participam da OCDE e são signatários das Diretrizes OCDE para Conduta Empresarial Responsável, encontram-se em encruzilhadas decisórias: baixar ou não baixar os seus próprios padrões, contrariar ou não as Diretrizes da OCDE? A queda do prédio na capital de Bangladesh, com várias confecções superlotadas, 24h confeccionando roupas para grandes marcas europeias e norteamericanas, mostrou que o que parecia uma questão local de descumprimento de normas urbanísticas e da fiscalização de condições de segurança das edificações, era também parte de um grande ‘miolo’ de desarranjos entre a dimensão social, econômica, ambiental e institucional da (in)sustentabilidade local, nacional e internacional. A rede de negócios (in)sustentáveis é global, mas é também nacional e é local. Não percebemos harmonia nem no discurso que enfatiza a agenda global dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em formação na ONU, visto que enfatiza métricas nacionais em indicadores totalmente a critério das nações. Não há desenho de Unidade que oriente as partes, combinando o que caberia ao local das escalas organizacionais e municipais, o que caberia ao


As hle y

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regional e setorial do território-rede de cadeias de negócios e territórios-zona de micro e mesoregiões e estados ou províncias, o que caberia ao territóriozona da escala nacional e dos territórios-zona e rede da escala internacional. E, fundamentalmente, ao que caberia na composição das partes elementares da família e comunidades que abrigam seres humanos. O livro Territories of Social Responsibility: Opening the Research and Policy Agenda, publicado pela Editora Ashgate (Reino Unido) em 2012, que pude editar em conjunto com Prof. David Crowther, nos permitiu publicar uma posição em prol de escala multiatores e multinível para a responsabilidade social, a partir da contribuição conjunta de diversos colegas em universidades e organizações da sociedade civil no Brasil, Camarões, Nigéria, Holanda, Inglaterra, Portugal e China. Deslocamos a crença no voluntarismo baseado no individualismo possessivo como mola mestra e exclusiva do sentido societal. No livro, optamos pelo caminho da fraternidade pelo trabalho coletivo em múltiplas escalas como princípio e sentido de organização societal orientada para a sustentabilidade. Acenamos para a inclusão e qualificação social pelo respeito aos direitos humanos que dignifica o sentido do (con)viver humano e o cuidado ambiental como princípio e caminho das políticas, o que passa pelo gesto diário de cada uma das ‘partes’, inclusive na faxina do que não é mais do nosso tempo ‘futuro atual’. FAXINA DO QUE NÃO SERVE MAIS PARA O NOSSO TEMPO ‘FUTURO ATUAL’ Práticas rotineiras de transporte individual no deslocamento de casa para o trabalho, de casa para o comércio, de casa para a escola, por meio de veículo motorizado em carros é algo que não é mais do nosso tempo ‘futuro atual’. É cultura do individualismo possessivo. Políticas de transição nas alternativas de mobilidade urbana,

fomentando a ciência, tecnologia e indústria para uma economia baseada em transporte coletivo com energia renovável e limpa são parte do tempo ‘futuro atual’. Embalagens de unidades de produto também são hábitos do passado que insistimos em adotar nos modelos de negócio. Resgatar a economia de embalagens em escalas maiores, reutilizáveis, retornáveis ou degradáveis ou em venda a granel é adotar políticas para o tempo ‘futuro atual’. Leis ultrapassadas, que só enxergam aspectos financeiros ou fiscais, sem considerar as dimensões social e ambiental das atuais e futuras gerações estão fora de nosso tempo ‘futuro atual’. Se a proposta do novo marco legal da mineração só olhar o quanto será gerado a mais de CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, está fadada a nos arrastar de volta a um tempo ultrapassado, fora de nosso tempo ‘futuro atual’, pois não associa em seu conteúdo requisitos ambientais e sociais para as responsabilidades sociais das empresas, das Prefeituras, dos estados e da União na concessão de áreas para exploração de recursos minerais e no uso das receitas da CFEM. O Estado tem que reconhecer, pelas políticas públicas e planos de governo, em todas as suas escalas (municipal, estadual e nacional), que a agenda do desenvolvimento sustentável requer uma total faxina do que não nos serve mais em leis, decretos, portarias e resoluções. Não precisamos de mais leis e normas, mas de melhores leis e normas, antenadas com o nosso tempo ‘futuro atual’. O Girassol da Chácara, em sua Maestria, nos ensina.

Sigo agora a tratar do que o Girassol da Chácara me ensinou e pude refletir desde então no campo de conhecimento de responsabilidade social. Professora Associada e Coordenadora do grupo de pesquisa e extensão Rede EConsCiencia e Ecocidades, do Departamento de Análise Geoambiental do Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense. Contato: www.econsciencia.uff.br.

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P e lo B rasi l Voluntários em ação: como é bom fazer o bem! POR NÍCIA RIBAS, DE PLURALE EM REVISTA, DO RIO DE JANEIRO

cionou: “Já participei de seis Dias dos Voluntários, mas é a primeira vez aqui no Rio, a minha terra, por isso estou tão feliz.” Em ocasiões como essa, o espírito de solidariedade do carioca aflora. Não foi à toa que a pesquisa de 2012 sobre o Perfil do Voluntariado Empresarial Brasileiro, realizada pelo CBVE (Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial), o Rio de Janeiro ultrapassou São Paulo no quesito “região com maior participação em ações de voluntariado empresarial”, 33,3% contra 29%. MELHORIAS IMPORTANTES Além de limpeza, jardinagem e pintura em toda a imensa área do Lar Pedro Richard, os voluntários implantaram melhorias como a substituição dos pisos de tacos muito desgastados por lajotas brancas, que deixaram os ambientes muito mais claros e alegres. O parque com piso de terra foi revestido com cimento e ganhou uma cobertura de telhas de amianto. “Fizemos rifas entre os colaboradores para arrecadar fundos que nos permitiram adquirir material de construção”, disse, orgulhosa, Luciene Dias, diretora regional da Empresa e grande entusiasta do Dia dos Voluntários.

Fotos: Nícia Ribas

Sexta-feira, quatro de outubro, manhã cinzenta com vento e chuva forte. Diante da multinacional Telefônica Vivo, na Avenida Ayrton Senna, Barra da Tijuca, uma movimentação inusitada: 400 colaboradores deixam seus postos de trabalho e seguem, alvoroçados e felizes, para mais um Dia dos Voluntários, promovido pela empresa. O mesmo acontece simultaneamente em 37 municípios brasileiros e em mais 24 países da América Latina e da Europa, envolvendo um total de 24 mil colaboradores. No Rio de Janeiro, a instituição escolhida para ser beneficiada com a ação foi o Lar Pedro Richard, em Jacarepaguá, que acolhe 200 crianças e 51 idosos. Movimentando-se em grupos, como formigas trabalhadeiras, os voluntários chegam ao local e vão logo desempenhando suas funções. Pintura dos ambientes, limpeza e organização dos jardins, montagem do parque infantil e criação de novos ambientes, como biblioteca, brinquedoteca, sala multicultural e ateliê de pintura, são algumas das suas atividades. Ao chegar ao local, diante dos olhares agradecidos de idosos e crianças, e do entusiasmo dos seus colaboradores, o presidente da empresa, Antonio Carlos Valente, se emo-

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Outra importante conquista foi a máquina de fazer fraldas geriátricas, que vai garantir uma boa economia para os moradores. Eles estão até planejando oferecer o produto para venda. O Bazar existente logo na entrada da propriedade ficou de cara nova. Roupas e sapatos doados foram organizados por tamanho e expostos em prateleiras. A moradora Maria Alves Limeira Pinto, 65 anos, responsável pelo brechó, comemorava: “Estava tudo tão amontoado que nem dava para abrir a janela”. O fim do Dia dos Voluntários foi de muita emoção, com todos, moradores, frequentadores e empregados do Lar Pedro Richard cantando junto com o pessoal da Vivo e acenando com rosas brancas.


Vagner Ricardo/ CNsegl

Carlos Nobre propõe parceria público-privada com setor de seguros POR VAGNER RICARDO, DA CNSEG

Reconhecendo o mercado segurador como um aliado importante para mitigar o potencial de perdas das intempéries climáticas, o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, propôs a criação de parcerias público-privadas (PPPs) com o setor. Como exemplo, ele sugeriu uma aproximação do mercado da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Ele acredita que a parceria com a Embrapii pode ser um passo importante para o mercado dispor de inovações tecnológicas que viabilizem sua atuação mais proativa nos riscos envolvendo as mudanças climáticas. Segundo ele, a execução de projetos e pesquisas no âmbito recebe um terço dos recursos do Governo Federal, outro um terço fica a cargo do setor envolvido e os demais são oriundos de outras fontes. “Enfim, estamos abertos a ouvir e desenhar sistemas que atendam à indústria de seguros

nessa área”, afirmou Nobre durante o seminário “Mudanças climáticas e desastres naturais no Brasil – desafios e oportunidades para o setor de seguros”, realizado em setembro pela Academia Brasileira de Ciências e Associação de Genebra, com apoio da CNseg, no Rio de Janeiro. Segundo ele, “o governo começou a adotar atitudes preventivas e não mais reativas para reduzir os efeitos de desastres naturais no País. Entre os exemplos, citou a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI), em julho de 2011, órgão responsável por gerenciar as informações emitidas por radares, pluviômetros e previsões climáticas.” O foco do plano do governo é salvar vidas. A nova postura do governo, de prevenção, é um elemento que muda a estrutura básica da indústria de seguros”, afirmou, ao destacar que as informações geradas pelo Cemaden podem ser usadas pelo setor.

Clarissa Lins cria a Catavento A economista Clarissa Lins, especialista em Sustentabilidade, acaba de criar a consultoria Catavento. Depois de ter trabalhado nove anos como Diretora Executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, dirigida por Israel Klabin, Clarissa parte para voo solo levando a experiência acumulada em anos de trabalho reconhecido. Na área de Sustentabilidade Corporativa, a especialista tem realizado trabalhos de assessoria a empresas, com foco no estabelecimento de instrumentos gerenciais voltados para a sustentabilidade. Dentre esses, destacam-se projetos para melhoria da Gestão para Sustentabilidade nas empresas Suzano Papel e Celulose, Suzano Petroquímica, Light e Wilson Sons. Também participa de vários Fóruns relevantes na temática Sustentabilidade.

Antes de integrar a FBDS, Clarissa trabalhou no setor público por diversos anos, na administração direta e indireta. Foi assessora da equipe econômica que elaborou o Plano Real (Ministério da Fazenda, Secretaria de Política Econômica, 1993-94). No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, assessorou diversos Presidentes da instituição em projetos especiais (1995-99). Na Petrobras (1999-2002), desempenhou funções executivas de primeira linha na administração de Philippe Reichstul (gerente executivo de planejamento corporativo da companhia e assessoria ao Conselho de Administração da Petrobras). Nas Organizações Globo (2002), foi Diretora de Desenvolvimento Corporativo e trabalhou no plano de reestruturação financeira do Grupo.

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P e lo B rasi l Divulgação

Sustentável 2013 traz foco no movimento Ação 2020 A fala de Denise Hamú foi contestada por Sérgio Margulis, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Republica. “Nos últimos 10 anos o Brasil foi um dos países que mais rápido minimizou a questão da pobreza. Em 2003 tínhamos 17% da Vânia Borgerth (BNDES) e Gustavo Pimentel (Sitawi) população em situação participaram do Sustentável 2013 de pobreza extrema. Em 2009, esse número caiu Do CEBDS para 8%. Isso é o que podemos chamar de O VI Congresso Internacional SustentáObjetivo de Desenvolvimento Sustentável”, vel 2013 - da Visão 2050 à Ação 2020, promoafirmou Margulis. Os chamados ODS, que vido pelo Conselho Empresarial Brasileiro deverão substituir os Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento Sustentável (CEaté 2015, foram alvo de críticas e elogios. BDS), foi realizado no dia 24 de setembro, Marcos Bicudo, diretor de Desenvolvimenno Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, to de Negócios da Masisa, foi enfático: “Não Rio do Janeiro. O movimento Ação 2020 é só na esfera mundial, mas na nacional é inédito e visa estruturar a agenda empresapreciso compromissos claros dos goverrial necessária para responder às exigências nos, com planejamento de longo prazo. Por de áreas prioritárias da sociedade, definidas exemplo, no Brasil a adoção de termoelépor especialistas e ancoradas na ciência, petricas está crescendo, o que é o pior dos los próximos sete anos. mundos”, considerou Bicudo. Com a participação de 450 pessoas, enJosé Eli da Veiga, professor do programa tre empresários, representantes do governo de pós-graduação do Instituto de Relações e da sociedade civil e especialistas em susInternacionais da Universidade de São Paulo tentabilidade, o evento abordou questões (IRI/USP), criticou em parte o governo brarelacionadas à governança global, aos finansileiro, mas elogiou os ODS. “Não é errado ciamentos e investimentos voltados para dar foco ao pré-Sal, nenhum governo agiria empresas que promovem a sustentabilidade diferente. É preciso, porém, definir como o e os desafios das cidades como catalisadorecurso proveniente dele será usado, pois ras para essa transformação. deveria ser utilizado para desenvolver as Desafios - O papel do governo, bem renováveis, que, aliás, eram prioridades do como os chamados Objetivos de Desenvolviatual governo no início, mas foram praticamento Sustentável (ODS), foram as questões mente abandonados. Já os ODS vejo como centrais apresentadas no primeiro painel do um dos poucos avanços obtidos na Rio+20. Sustentável 2013. Durante o debate “DesenEles forçam que o desenvolvimento econôvolvimento e Sustentabilidade: os desafios mico mundial abranja também o desenvolda governança até 2020”, moderado pelo jorvimento ambiental. Hoje ainda são assuntos nalista William Waack, Denise Hamú, repredescolados”,afirmou Eli da Veiga. sentante no Brasil do Programa das Nações Ao final do debate, Franklin Feder – Unidas para o Meio Ambiente, destacou a impresidente da Alcoa – preferiu salientar o portância do papel do Brasil em questões da papel das empresas que, particularmente sustentabilidade em termos mundiais. “Por em momentos de crise, têm posição de vancausa da riqueza natural temos possibilidade guarda. “O setor empresarial precisa exterde dar escala aos projetos, que muitas vezes nar suas ações não só no âmbito financeiro, não acontece com outros países. Para alcanmas também nas medidas sustentáveis adoçar, porém, um equilíbrio entre o econômico, tadas. Estabelecendo uma parceria com os o social e o ambiental não há um caminho outros atores conseguiremos dar escala à único, mas uma necessidade extrema: o Brasustentabilidade. Não podemos ser descrensil precisa erradicar a pobreza. É um preceito tes. Temos que ser otimistas no futuro, mesbásico”, ponderou Denise. mo no futuro que está próximo”, finalizou.

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Financiamento - Questões como financiamentos de projetos sociais e de iniciativas que envolvam riscos socioambientais foram debatidos no segundo painel do dia no Sustentável 2013, “Financiamentos e Investimentos: a sustentabilidade como critério para a gestão de riscos e tomada de decisão”. Durante o debate, moderado pelo jornalista William Waack, ficou evidente a falta de critérios claros de sustentabilidade exigidos para repasse ou não de financiamento. “Basta um agricultor ou mesmo uma empresa me informar que não causa danos ambientais que, em tese, ele está apto. A falta desses critérios dificulta o trabalho dos agentes financeiros”, ressaltou Hugo Penteado, economista chefe do Santander Asset Management. Da falta de definições também reclamou o diretor geral da Construtora CRV, Claudio Carvalho. “Quando apresento um projeto para obtenção de recursos de uma instituição financeira sempre me perguntam, por exemplo, sobre questões de solo. Nunca fui questionado, porém, se irei fazer uma sala de aula no meu canteiro de obras para tentar minimizar o problema do analfabetismo. Na avaliação, entretanto, a sustentabilidade engloba tanto um problema quanto o outro”, enfatizou Carvalho. Roberto Dumas Damas, Head de Risco Socioambiental do Banco Itaú BBA, salientou que apenas regulamentação não basta. “Na verdade todo projeto causa dano. O que é preciso observar é se o dano é aceitável. Metas claras ajudam, mas não são suficientes, pois bancos e financeiras lidam com riscos de diferentes esferas. É preciso analisá-lo para decidir pelo repasse do recurso ou não”, concluiu o executivo do Itaú BBA. Gustavo Pimentel, diretorResearch&Advisory da SITAWI – Finanças do Bem, mostrou preocupação com o não-avanço do assunto. “Tivemos algum progresso em finanças sustentáveis, mas estamos atrasados. Na parte de investimentos sustentáveis até avançamos, mas hoje estamos estagnados”, ponderou o executivo. Ao final, a assessora da Presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vania Borgerth, defendeu que, para dar mais transparência para investimentos e financiamentos, a adoção de relatórios integrados é uma boa medida. “Hoje o lucro ou o prejuízo de uma empresa, por exemplo, não pode ser o único critério para mensurar uma posição favorável. Há que se integrar os ativos sociais e ambientais. Uma companhia, seja ela pública ou privada, é composta pelos três fatores”, concluiu Vania Borgerth.


Búzios, com meta de tornar-se uma cidade inteligente, terá táxi aquático elétrico

POR ISABELLA ARARIPE, DE PLURALE ESPECIAL DE ARMAÇÃO DE BÚZIOS (RJ)

O VI Congresso Internacional Sustentável 2Búzios irá se tornar a primeira cidade inteligente da América Latina. A cidade da Região dos Lagos do Rio de Janeiro já possui medidores inteligentes de consumo de energia, um posto de recarga para veículos elétricos, chuveiros eficientes, geração de

energias solar e eólica e luminárias de LED com pontos de luz telecomandados. Além disso, o projeto Cidade Inteligente Búzios, parceria entre prefeitura de Búzios, Ampla e Governo do Estado, conta com uma rede de wi-fi gratuita para turistas e nativos que passam pela Rua das Pedras, um dos principais pontos turísticos da região. Segundo o presidente da Ampla, Marcelo Llévenes, o objetivo do projeto é trazer as tecnologias de energias renováveis que estão disponíveis em serviço da comunidade. Um exemplo disso é o aquatáxi elétrico, inaugurado em 26 de setembro, que será usado para fins de pesquisa e, uma vez por semana, para transporte de moradores, estudantes e turistas. Ele é quatro vezes mais eficiente que o aquatáxi tradicional (muito utilizado na região para deslocamento entre as praias). “O aquatáxi elétrico não emite ruído, não

contamina e gera uma redução do custo de manutenção”, disse Llévenes. A cidade também recebeu 10 bicicletas elétricas para uso da Guarda Municipal e 30 para aluguel em pousadas. Marcelo Llévenes também falou que no futuro próximo medidores eletrônicos vão permitir que a comunidade possa optar de forma voluntária a ter tarifa horária diferenciada por horário de consumo, coisa que hoje ninguém tem acesso no Brasil. “Até o final do ano esperamos já ter instalado 6 mil medidores de um total de 12 mil que será completado no próximo ano”, afirma o presidente da Ampla. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que esteve presente no lançamento do programa disse que a ideia é expandir o projeto para todo o estado, tendo Búzios como um laboratório. (*) A repórter viajou a convite da Ampla.

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ESPECIAL SERRA DA

Ecoturismo

Parque Nacional da Serra da Capivara:

ISABELLA ARARIPE

CAPIVARA

TEXTO E FOTOS: ISABELLA ARARIPE, DE PLURALE DA SERRA DA CAPIVARA (PI)

E

m meio à secaa do nordeste no brasileiro, um oásis de histó história natural. O Parque Naciona acional da Serra erra da C Capiva apivara, localizado do no sudeste do Estad E tado do Piauí, possui uma imensa riqueza pré-hi pré-histórica. pr A principal atração são as artes rupes rupestres ru que ue retratam a vida cotidiana do ho homem home pré-histórico, é-histórico, espalhadas ao longo ngo do d parque rque que é dividido em quatro quatr ser serras: Serra ra talhada, Serra ra Prata, Prat Serra Vermelha e Serra da Capivara. Ca Criado C em 1979, o parque que tem 12 129 mil hectares e ocupa áreas eas dos municípios de São Raimund undo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí uí e Co Coronel José Dias. Desbravadora, a arqueólo eólog ogaa Niède Guidon abandonou a França paraa estudar a região e acabou transformando a realidade do local. As pesquisas iniciadas pela

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arqueóloga em 1973 não param. Já são 40 anos de pesquisas e segundo Niède a cada dia se descobrem mais coisas. “A gente não para de encontrar coisas novas. Agora mesmo nós estávamos cavando um sítio que era pra fazer uma pequena sondagem para fazer uma passarela para turistas poderem observar de cima, e a pequena sondagem já está entrando no 4° mês, virou uma imensa escavação em que foram encontradas doze sepulturas e também a prova de um movimento tectônico que abalou a região e agora estamos escavando para datar quando houve esse movimento”, diz Niède. Apesar do nome, capivaras no parque, hoje em dia, só as desenhadas nas paredes. Mas há vestígios da presença do animal na região durante a pré-história: um dente de capivara que data de sete mil anos atrás já foi encontrado. O clima é seco e o acesso ao parque é difícil. Para quem vai de avião, a maneira mais rápida de chegar é através de Petro-

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lina, cidade do Estado de Pernambuco, da qual dista 300 Km. Já para quem chega na capital do Piauí, Teresina, a distância é de 530 Km. Mas, o esforço vale a pena. Paisagens exuberantes e pinturas encantadoras te levam a mergulhar na história de um Brasil pré-histórico. O parque que em 1991, foi declarado junto a Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade abriga 1335 sítios, sendo 940 com pinturas e com gravuras, e 200 estão abertos para visitação. Mas, em breve esse número vai aumentar. “Estamos fazendo a preparação 8 a 10 sítios para visitação no município de João Costa”, afirmou Niède. Nele além das pinturas pré-históricas é possível encontrar diversas espécies de mamíferos, como o mocó, o macaco-prego e o veado-catingueiro, morcegos, aves ameaçadas de extinção como o urubu-rei, 19 espécies de lagartos, serpentes e sapos. Com a criação do parque a região começou a se desenvolver. “Nosso lugar começou


a se levantar desde o momento que a doutora Niède pôs os pés aqui. Antes do parque nosso povoado era muito isolado, agora não. Tenho orgulho de dizer que moro próximo ao Parque Nacional da Serra da Capivara”, afirmou a vereadora Oneide P. Oliveira. TURISMO E INCLUSÃO Segundo estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, encomendados por Niède, nunca a agricultura e a criação daria resultado nessa região devido ao solo salgado, já que por ali havia um mar, e, além disso, a região sofre com a falta de chuvas. Mas, foi detectado que havia um potencial turístico muito grande. Em 1972, um grupo de suíços foi contratado para fazer o projeto da exploração turística do Parque e foi constatado que o parque com hotel e aeroporto teria uma visitação naquele ano de 5 milhões de turistas e hoje o parque tem apenas entre 15 e 18 mil visitantes por ano. Com o apoio do Banco Interamericano, do Governo da Itália, do BNDES e de várias firmas brasileiras como a Petrobras o parque chegou a ter 270 funcionários, 28 guaridas (a cada 10 km uma com sistema de rádio). Mas, atualmente a situação piorou. “Hoje apenas 14 guaritas funcionam por falta absoluta de dinheiro”, diz Niède que teve que investir parte do seu dinheiro. “No mundo inteiro os guardas que trabalham nos parques nacionais são funcionários, mas aqui são terceirizados e cria o problema do governo pagar mais para a firma do que para os funcionários. Eles já ficaram cinco meses sem receber e parece que agora vão romper o contrato por falta de dinheiro.”

Niède Guidon

Além disso, a equipe de 12 pessoas que garantia que as pinturas ficassem intactas deve que ser demitida há quatro anos por falta de recursos. Raimundo de Lima Miranda foi um deles. Ele trabalhou durante nove anos como técnico de conservação das pinturas no parque e após a demissão decidiu empreender e abrir um mercadinho na região do Sítio do Mocó, onde moram cerca de 130 famílias, localizada na área de preservação permanente que circunda o Parque Nacional Serra da Capivara. “Hoje em dia ganho mais do que quando trabalhava no parque”, afirmou Raimundo de Lima. O que hoje é caatinga há 10 mil anos atrás era completamente diferente. “No alto do planalto nós tínhamos a Floresta Amazônica e aqui embaixo a Mata Atlântica. E nos vales mais profundos tinha restos desses dois biomas. Você tinha espécie de animais e vegetais tanto da Floresta Amazônica quanto da Mata Atlântica”, diz Niède. A vigilância dos limites do Parque é feita por uma equipe de guardas do Instituto Chico Mendes, que percorrem as estradas e trilhas em busca de caçadores e pessoas não autorizadas. GUIAS SÃO OBRIGATÓRIOS Para visitar o Parque Nacional da Serra da Capivara é obrigatório a presença de um guia turístico cadastrado. Cada guia trabalha com oito pessoas no máximo. A taxa cobrada pela diária é R$ 75,00. Vale ter a companhia e apoio dos guias, moradores da região, para descortinar a exuberância da natureza. Não faltam opções de trilhas e sítios para visitação. Algumas são

adaptadas para deficientes físicos, outras são mais íngremes e é preciso coragem e fôlego. “Um dos destinos mais procurados no parque é o do Desfiladeiro da capivara, onde os primeiros sítios foram escavados por Niède Guidon. A Serra Talhada também é um dos circuitos mais importantes do parque, nela é possível observar a Pedra Furada do alto além de ver dois sítios arqueológicos: Toca do Boqueirão do Pedro Rodrigues e Sítio do Meio”, diz o guia turístico Nestor Paes Landim Neto. O Sítio Boqueirão da Pedra Furada, onde é possível encontrar datações de até 100 mil anos atrás, com iluminação para visitação noturna é imperdível! São aproximadamente 1100 pinturas. No Museu do Homem Americano, localizado na cidade de São Raimundo Nonato, é possível saber mais sobre a história do Parque e ver objetos que foram encontrados em escavações. Aberto das 9:00 às 17:00 horas de terça a domingo, a entrada para o museu custa R$ 8,00.

ONDE SE HOS

PEDAR

O albergu em Corone e da Serra da Capiv ara, l José Dias uma ideia , de comple tem três anos e foi mentar a u de venda m ma oscilaç uito grand ão e mesmo te rreno da C . Localizado no erâmica e entrada pri perto da nc a melhor o ipal do Parque, o alb ergue é pção para quem que a Serra da r c o nhec Cap Telefone: (8 ivara. Mais informaç er ões : 9) 3582-17 60 - Ende Sítio Barre reço: irinho - Ac esso da Br(Estrada d 020 o Bpf) Km 05, CEP: 6479 3-000

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Ecoturismo

Transformação social pelo artesanato

C

riada em 1994 como uma alternativa de renda para a população local, a Cerâmica ` pioneiro que leva o artesanato local para o mundo todo. Localizada no povoado de Barreirinho, em Coronel José Dias, os produtos da Cerâmica tem como marca registrada a reprodução das artes rupestres encontradas ao longo do Parque da Serra da Capivara. A região que antes era conhecida pelas “viúvas de marido vivo”, já que os homens iam embora para trabalhar nas grandes cidades e nunca mais voltavam, hoje, com a criação do Parque e da Cerâmica consegue empregar grande parte da mão de obra local. “Hoje as pessoas não vão mais pra São Paulo porque estão trabalhando aqui. E os que têm a oportunidade de trabalhar conosco ou com outros projetos estão voltando”, afirmou a administradora da Cerâmica, Girleide Oliveira. A cerâmica é feita apenas por homens, mas com o toque feminino da administradora, Girleide Oliveira. Ela foi para a Serra da Capivara para fazer projetos desenvolvidos pela Niède. Era para ficar apenas por 1 ano, mas ela já

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está lá há 12 anos. O trabalho artesanal que começou com apenas 4 pessoas, hoje emprega 48, incluindo os que trabalham no albergue e no atelier de costura, que foram criados como alternativa de renda. “Hoje a cerâmica se tornou parte da sociedade. Conseguimos que toda a comunidade se envolvessem no projeto”, diz Girleide Oliveira. Para fazer cerâmica é necessária uma mistura entre dois tipos de argilas. A técnica da cerâmica foi desenvolvida por um japonês, contratado para ensinar a população local. O artesão Josias Pereira foi um dos alunos. Ele começou com apenas 9 anos de idade, na escola de ceramistas onde o japonês ensinava. “Na primeira semana eu cheguei a desistir porque achei muito difícil, mas voltei logo depois”, afirmou Josias. Atualmente, o artesão consegue produzir até 200 peças em um dia. Segundo ele,o segredo para a fabricação dos produtos é ter paciência. A Cerâmica possui Certificação de Saúde Pública e de Meio Ambiente. Os fornos utilizados na produção dos produtos são a gás. As argilas são retiradas das barragens quando é feita

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ESPECIAL SERRA DA

CAPIVARA é limpeza. A peça demora em 18 dias para ficar pronta, sendo 10 dias apenas no processo da argila. A Cerâmica Serra da Capivara atualmente produz entre 5 mil a 6 mil peças por mês, mas tem capacidade de produzir 10 mil peças. O principal comprador dos produtos é o Grupo Pão de Açúcar, através do Caras do Brasil, programa de comercialização para pequenos produtores de manejo sustentável, incentivando o comércio ético e solidário, a geração de renda, o respeito ao meio ambiente e a inclusão social. Lançado em 2002, o Caras do Brasil busca valorizar a cultura local por meio da exposição de produtos desenvolvidos por comunidades e organizações de todo o país. Através do programa, a Cerâmica da Serra da Capivara conseguiu ter estabilidade e alcançar novos objetivos. “Antes do Caras do Brasil, nós tínhamos uma situação complexa, não tínhamos estabilidade, então não podíamos ter desafios. Quando começamos a vender pro Caras a cada 60 dias e a compra foi crescendo, ganhamos fôlego para outras coisas como o albergue e a oficina de camisetas”, afirmou Girleide. A compra representa de 30 a 40% da produção da Cerâmica. “Hoje os produtos da Cerâmica da Serra da Capivara estão em 99 lojas do Pão de Açúcar”, diz Patricia Santana, coordenadora do Caras do Brasil. (Isabella Araripe)

(*) A repórter viajou em grupo de jornalistas a convite do Grupo Pão de Açúcar que apoia a Cerâmica Serra da Capivara através do Programa Caras do Brasil.


Bazar ético Fotos: Isabella Araripe

POR ISABELLA ARARIPE

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CERÂMICA SERRA DA CAPIVARA Xícaras, pratinhos e objetos de decoração. Há um leque de opções de produtos da Cerâmica da Serra da Capivara. Em tempos modernos, os itens podem ser utilizados no microondas, no forno a gás, no forno elétrico, no lava-louça e até no forno a lenha. Seis peças são vendidas nas lojas do Grupo Pão de Açúcar, como parte do Programa Caras do Brasil. A moringa, que é a mais procurada. Quem tiver a oportunidade de visitar o Parque Nacional da Serra da Capivara pode encontrar as peças no Museu do Homem Americano ou então na própria loja dentro da sede da Cerâmica (quem comprar na loja tem 20% de desconto). Os produtores também aceitam encomendas de empresas interessadas em brindes, que podem até ser personalizados, como a caneca com nome do seu dono.

Os produtos também podem ser encontrados pelo site www.ceramicacapivara.com ou através dos telefones (89) 35821760 (89) 81190131

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicoss e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

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ESPECIAL SERRA DA

E n s a i o

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CAPIVARA


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FOTOS:

ISABELLA ARARIPE

SERRA DA CAPIVARA, PIAUÍ

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Ecoturismo

Divulgação

Isabella Araripe

ISABELLA ARARIPE

Ecoturismo atrai público do Viaja Mai M is Paraná terá quatro novas regiões turísticas

Isabella Araripe

Divulgação

O Paraná vai ampliar suas regiões turísticas de 10 para 14. As novas regiões são Vale do Ivaí, Roteiros da Comcam, Norte Pioneiro e Cantuquiriguaçu. O processo de reorganização dos municípios turísticos está em fase de conclusão pelos 27 estados, de acordo com novas diretrizes do Programa Nacional de Regionalização do Turismo, que priorizam a gestão descentralizada, os investimentos em qualificação profissional e infraestrutura. O Paraná é um dos estados que já concluiu seu novo mapa do turismo.

Andorinhas encantam no semi-árido Nordestino No Baixão das Andorinhas, localizado na Serra da Capivara, no Piauí, é possível observar o voo dos pássaros ao entardecer. As andorinhas começam a se agrupar ao mesmo tempo em que o sol vai se pondo. A magnitude dos rasantes para entrar nas tocas e o som emitido pelas andorinhas acoplados a beleza da paisagem natural fazem do local ainda mais encantador. Um verdadeiro: show das andorinhas!

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Os cenários naturais do país estão atraindo idosos, aposentados e pensionistas para os pacotes de ecoturismo do Viaja Mais Melhor Idade, iniciativa do Ministério do Turismo. Entre os mais acessados estão Trancoso e Itacaré (BA), Chapada dos Guimarães (MS), Bonito (MS) e Maragogi (AL). Há pacotes que incluem passagem aérea, refeições e hospedagens. Outros oferecem apenas passeios avulsos. O ecoturismo é o segmento turístico que mais cresce no mundo (entre 15 e 25% ao ano), de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT). De acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), a população com mais de 60 anos deve movimentar R$ 1,62 bilhão no mercado de turismo este ano, 8% a mais que em 2012.

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Parque da Tijuca é eleito o melh lhor lugar do mundo para caminhadas O Parque Nacional da Tijuca, unidade de conservação (UC), gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Rio de Janeiro, foi eleito pelo Lonely Planet, considerado o maior guia de viagens do mundo, o melhor lugar para caminhadas em área urbana. A nova edição do Lonely Planet lista mil aventuras ao redor do planeta e faz um ranking dos melhores locais. O ranking coloca as trilhas do parque carioca acima das de outros lugares como Londres, capital inglesa; Cidade do Cabo, na África do Sul; Sidney, na Austrália; e Vancouver, no Canadá.


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Educação

Ler é o melhor remédio

Leitura para todos! TEXTO E FOTOS: NÍCIA RIBAS, DE PLURALE EM REVISTA DE CURITIBA (PR)

Rir é o melhor remédio”, consola-se o povo brasileiro diante dos abusos do poder. Já ler pode ser o único remédio para a construção de um novo Brasil. Desde a conferência de abertura, Cadê o leitor?, com Affonso Romano de Sant`Anna, até o seminário Como construir leitores, tema desta matéria, com a doutora em Letras da Universidade Federal do Paraná, Lúcia Cherem; o escritor Ronaldo Correia de Brito, de Pernambuco; e a doutora em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Antonieta Cunha, o tema foi destaque durante a Semana Literária Sesc, em Curitiba, de 16 a 21 de setembro. Com a premissa de que o leitor se constrói na infância, entre a casa e a escola e a triste realidade da maioria das famílias brasileiras, que não têm condições de comprar livros e nem tempo para ler para suas crianças, uma questão foi colocada para a plateia que lotou o auditório montado na Praça Santos Andrade: de que maneira colocar a leitura no dia-a-dia dos brasileiros? Para Maria Antonieta, secretária de cultura de Belo Horizonte, “a leitura é um bem que deve ser levado a todos e por isso tem que ser tratado como política públi-

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ca.” E ela vai mais fundo, defendendo a participação de toda a sociedade, desde a universidade, as empresas, enfim: “todos podem e devem colaborar”. Maria Antonieta destacou os resultados alarmantes da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, terceira edição, feita em 2011 pelo Instituto Pró Livro, que foram piores do que os de 2007, quando 55% da população entrevistada se disseram leitores de pelo menos três livros por ano. Em 2011, este número baixou para 50%” Essa oscilação ocorreu em praticamente todas as regiões brasileiras, com exceção do nordeste, onde permaneceu estável, graças ao grande número de pessoas estudando atualmente, sobretudo nas faixas etárias onde a leitura é considerada mais frequente: dos 5 aos 17 anos, período escolar. Seria consequência do Programa Bolsa Família? Segundo a pesquisa, apenas 15% dos pais e 16% das mães têm o curso fundamental completo e menos de 15% das escolas possuem biblioteca, sala de professores e sala de equipamentos. “Sendo assim, a escola passa a ser a principal responsável por criar leitores e a atuação do professor é fundamental”, disse Maria Antonieta.

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C CONTAR HISTÓRIAS É PRECISO Confessando que para ele a leitura é quase um vício, o escritor Ronaldo Corqu reia de Brito explicou que “até Mário de re Andrade e Câmara Cascudo, o Brasil não A tinha resolvido sobre sua formação oral e ti escrita e até hoje ainda não se tornou um es país de escrita. p Ele, que além de autor de romances de ficção, é médico psiquiatra e trata de d adolescentes, constata no seu dia-a-dia ad a gravidade do problema dos jovens brasileiros com a leitura, como forma de essi truturar sua capacidade de pensar e a sua tr formação: “não há qualquer concatenação fo porque ele perdeu sua capacidade de exp pressão através da narrativa oral”. Para Brito, o Brasil precisa resgatar a oralidade das sociedades rurais e indígenas, porque houve um corte: “Através da tradição de ouvir histórias, que desapareceu, as pessoas ordenavam seu pensamento e daí passavam para a escrita”. Em sua participação, Lúcia Peixoto Cherem apresentou o trabalho que vem fazendo com sua equipe da UFPR, Ação Integrada para o Letramento (Leia o box). Sua fala despertou o interesse da plateia e ela teve que responder a questões, como esta: “os professores da escola básica estão preparados para construir leitores para vida inteira?” Lúcia reconheceu que neste ponto reside o maior problema da educação brasileira: “melhorar a situação dos professores era o que esperávamos do governo

Ronaldo Correia de Brito atual, aproximando o salário dos professores do ensino fundamental ao salário dos professores de ensino superior, mas isso até agora não aconteceu.” No entanto, como ela mesma afirma no texto abaixo, a hora não é de espantar-se com resultados alarmantes, mas de apresentar soluções e trabalhar pela qualidade do ensino na escola básica.


Relato de uma experiência de sucesso no Paraná

PROFESSORA LÚCIA PEIXOTO CHEREM, DA UFPR “Minha experiência neste assunto se confunde com minha relação com a literatura enquanto leitora e o meu trabalho de professora de língua materna no ensino médio, no passado, e o de língua e literatura estrangeiras, atualmente na UFPR. As reflexões e pesquisas que temos feito em conjunto no projeto Ação Integrada para o Letramento nos dão algumas pistas interessantes. Os problemas de leitura que encontramos na escola, em todos os níveis, tem a ver com o fato de a escola privilegiar um modelo de ensino de leitura linear, baseado na decodificação. Faz isso através de perguntas formuladas para levar o aluno a encontrar respostas nos textos e não a ler de fato esses textos na sua complexidade. Muitas vezes a escola não se ocupa de elucidar os implícitos dos textos que apresenta aos alunos. A prática sistemática do percurso linear de leitura, pontual, leva a uma busca da informação, como se ler fosse apenas localizar informações. Mas ler é buscar compreender o ponto de vista daquele que organiza um texto, utilizando-se, sim, de informações de uma determinada maneira para tentar construir uma visão sobre determinado fato do mundo. Portanto, a informação nunca é neutra. Aparece no texto a serviço de um modo de pensar. Por isso, precisamos tanto dos textos para ensinar as línguas maternas ou estrangeiras, sejam eles orais ou escritos. Mas é preciso não confundir leitura com simplificação do universo da escrita, com transposição da oralidade. Para se entrar efetivamente no mundo da escrita, é necessário lermos textos que circulam no meio social, desde o início da aprendizagem e

isso é possível de se fazer e já está sendo feito pelas secretarias de educação do Paraná, muitas vezes com a nossa participação. No entanto, o que se percebe é que ainda temos alguns professores com problemas para entender textos teóricos em geral, mostrando dificuldade em reconstruir suas redes argumentativas. Mas esse não é o único problema. Temos muitos outros professores capazes de selecionar textos e que se comunicam bem com seus alunos, mas, muitas vezes, negligenciam a passagem por um processo que nos parece fundamental: o estudo da materialidade linguística desses textos. O que se tem feito, na maioria das vezes, na prática escolar, é apresentar um texto que é lido uma única vez e a partir disso, fazer uma leitura conteudística, discutindose o tema central e passando-se à produção de texto, como se num passe de mágica, nossos alunos se tornassem autores, sem passar por um estudo aprofundado da configuração do texto na página, da articulação das ideias na defesa de um ponto de vista. O que é dito parece interessar mais à escola do que o como é dito. É desse como que nos deveríamos ocupar mais, promovendo sucessivas leituras de um mesmo texto, cada vez indo em busca de um novo elemento, para apreender o funcionamento da escrita ao trabalhar com o texto escrito. Para se chegar a isso, é preciso conhecer e estudar com seriedade como se dá o processo da leitura, tentar entender como se aprende a ler (e não apenas a decifrar, como tornar-se um letrado e não apenas um alfabetizado), tentar perceber quais são os diferentes níveis de leitura do nosso aluno, até que, pelo trabalho desenvolvido na escola, ele possa se tornar um leitor proficiente. É preciso investigar a pedagogia da leitura, valorizar o fazer pedagógico dentro dos cursos de Letras e de Pedagogia, estudar teorias da leitura nos cursos de pósgraduação. Parar de ter preconceito com o trabalho prático nas universidades, porque a prática reflexiva se alimenta da teoria e as teorias podem sair enriquecidas pelas evidências da prática. Mas a Associação Francesa pela Leitura nos diz e nos demonstra que é possível reverter essa situação em qualquer momento da vida, por isso quando nos defrontamos

com problemas assim, temos tentado engajar esses possíveis leitores em projetos mais amplos, dentro e fora dos muros da escola, que ultrapassem a tarefa escolar, recolocando a leitura na sua função de prática social significativa para o aluno. É o caso da Escola João Gueno, em Colombo, região metropolitana de Curitiba, onde um grupo de professores ligados à problemática do Letramento e estudantes da Iniciação Científica, cada um com a sua contribuição, vem agindo junto ao conjunto de professores de todas as áreas, não só com os de Línguas, para avançar na questão da leitura. A ideia de promover leituras e escritas significativas é importante. E também a ideia de que os leitores das 8ªs e 9ªs séries, assim como os do ensino médio, poderão se tornar formadores, ajudar a ler pessoas que leem ainda menos que eles. Para desenvolver projetos desse tipo, é preciso fazer com que eles se inteirem dos textos, estudandoos com o acompanhamento e preparação do material por equipes de professores nas escolas, para serem capazes de passar suas experiências de leitura adiante. Um dos nossos projetos em preparo para 2014 na João Gueno é promover a leitura em uma casa de idosos junto à escola e também num posto de saúde, na fila de espera. Para concluir, pode-se continuar dizendo que há sim problemas de leitura na escola, mas não só nela. Em toda a sociedade. Mas é preciso também lembrar que já passamos da fase de apontar somente os problemas e os dados alarmantes. O momento, a, nosso ver, é o de uma ação muito mais concreta e, para isso, é preciso arregaçar as mangas num trabalho efetivo de formação de leitores na escola e fora dela, com o texto não-literário e com o texto literário, porque justamente como nos diz um dos pioneiros das ciências cognitivas, “parece termos desde o começo da vida, uma predisposição para a narrativa”, predisposição essa que não pode ser abortada. Então, acreditamos que para crescer e poder um dia formular sua própria história, as crianças precisam da literatura e vão precisar mais tarde do domínio da escrita para se tornarem sujeitos de linguagem em sua vida profissional e como cidadãos, um direito de todos e não apenas dos dominantes.”

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Terceiro Setor

RESISTÊNCIA FEMININA

Organizadas em Rede, mulheres empreendedoras moradoras das comunidades Cantagalo, Pavão Pavãozinho e Borel, no Rio de Janeiro vão em busca de seus sonhos e resistem à especulação imobiliária pós UPP´s. POR ISABEL CAPAVERDE, DE PLURALE EM REVISTA DO RIO DE JANEIRO / FOTOS: HENRIQUE ZIZO

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om a implementação do projeto das UPP`s (Unidade de Polícia Pacificadora) pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro a partir de 2008, muita coisa mudou nas comunidades da capital que receberam as chamadas bases policiais comunitárias. Houve a valorização dessas áreas, ocasionando a ameaça ou a efetiva remoção da população, seja para atender interesses do próprio governo ou do mercado, a conhecida especulação imobiliária. Nesse cenário, a equipe da Asplande – Assessoria & Planejamento para o Desenvolvimento, ONG que desde 1992 trabalha prioritariamente com mulheres empreendedoras moradoras de comunidades do Grande Rio, fez uma pesquisa em parceria com a associação de costureiras do Cantagalo e Pavão Pavãozi-

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nho, na Zona Sul carioca, a Corte & Arte, entre as empreendedoras da região. “Fizemos uma pesquisa com 155 mulheres empreendedoras. O objetivo era conhecer

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2013

o ambiente, suas realidades, escutar seus desejos e necessidades. Como fortalecer essas mulheres para que elas permanecessem em suas comunidades. Em 2012


surgiu a oportunidade de escrevermos o projeto, não só com as mulheres da Corte & Arte, mas também em parceria com as Arteiras da Tijuca, cooperativa popular de mulheres do Borel, na Zona Norte, e passarmos na seleção do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania”, conta Dayse Valença, da Asplande. Assim nasceu o Projeto Mulheres em Rede – Tecendo Teias de Solidariedade e Conhecimento com ações baseadas em três eixos: a capacitação com cursos, oficinas e encontros; a organização em Rede, fundamental para que superem os problemas juntas e comercializem serviços e produtos; e a assessoria e acompanhamento dos empreendimentos in loco. Serão dois anos de projeto patrocinado pela Petrobras e apoiado por parceiros como a Fundação São Joaquim e o CRJ – Centro de Referência da Juventude, que cedem seus espaços no Borel e no Cantagalo, respectivamente, para a realização das ações. Lançado oficialmente em setembro, o projeto tem atualmente mais de 90 mulheres participando. “As mulheres podem participar dos três eixos ou escolher os que mais se adequem as suas situações. O ideal é que estejam sempre na Rede para viabilizar a troca, estimular intercâmbios que criem e fortaleçam os laços entre as mulheres e os empreendimentos que elas gerenciam”, fala Dayse. Dados recentes divulgados pelo Sebrae revelam que entre as cerca de seis milhões de micros e pequenas empresas do país, em torno de 35% são lideradas por mulheres. A taxa de sobrevivência dessas empresas também é maior do que as lideradas por homens. Mas para sobreviver, especialistas indicam como primeiro passo, o Plano de Negócios, curso que as mulheres do projeto têm acesso, assim como o de Gestão Administrativo-financeira e Desenvolvimento de Novos Produtos/Serviços. No desafio de mobilizar e envolver as mulheres das comunidades do Cantagalo, Pavão Pavãozinho e Borel no projeto, estão moradoras locais como Rosangela Rangel e Monica Santos Francisco. Rosangela, nascida e criada no Pavão Pavãozinho, é formada em Design de Moda. Pela primeira participa de um projeto social e tem gostado muito de ver que as ações estão somando na vida das mulheres. Conta que as comunidades vizinhas do Pavão Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul, estão sofrendo com a valorização da área e consequente especulação por conta das belas vistas de Copacabana e

Ipanema, além do encarecimento do custo de vida, levando os moradores para comunidades mais afastadas. “As mulheres são responsáveis pelas famílias, tem filhos cedo ou precisam ajudar os maridos que ganham pouco. Perceberam que precisam se organizar e buscar mais informações para que suas atividades possam gerar renda, seja o seu salão de cabeleireiro, a venda dos seus artesanatos, de seus doces e salgados ou a administração do seu hostel”. Diz que quando uma ou outra falta aos encontros semanais e a vê pelas ruas da comunidade, vai logo avisando o motivo da ausência. “Algumas já estão ampliando suas atividades nos contatos via Rede e às vezes precisam faltar para atender uma encomenda maior. Esses dias mesmo uma empreendedora que faz salgadinhos me disse que não abandonaria os encontros do projeto por razões como os contatos e as articulações feitas”. Rosangela se refere a articulações como a realizada com a AgeRio – Agência Estadual de Fomento que atende empreendedores com linhas de financiamento que vão de R$ 300 a R$ 15 mil com juros muito mais baixos que o de mercado, de 0,25% ao mês.

Mais as articulações não param no microcrédito. Monica, formada em Ciências Sociais, moradora do Borel, integrante do grupo Arteiras da Tijuca e ativista social experiente fala animada dos contatos que fez com o pessoal do Moda Fusion – organização francesa que aposta na criação genuína das comunidades como uma identidade de forte potencial para a moda brasileira e uma fonte de inspiração fora do comum para a moda ocidental – da linha de produtos para cabelos Matrix e com o projeto social da Essilor – lentes e produtos oftálmicos que quer melhorar a qualidade de vida a partir da visão. “Nesse tempo de projeto já dá para sentir o quanto elas estão empolgadas. Todas as articulações são portas que se abrem para novos mercados, novas possibilidades para as empreendedoras”, esclarece Monica. Empreendedoras que tem se mostrado ansiosas na criação de suas identidades visuais, trabalho assessorado por outro profissional da equipe Asplande, Henrique Zizo. Formado em Ciências Sociais, Henrique estudou Fotografia e Antropologia Social e explica como pretende desenvolver junto com as mulheres a comunicação visual. “A dinâmica é encontrar junto com elas a identidade coletiva, o que elas têm em comum, o que as une. Primeiro produziremos um selo para o Cantagalo e Pavão Pavãozinho e um selo para o Borel, fazendo com que as empreendedoras sejam reconhecidas por aquele selo. Depois buscaremos a identidade visual de cada empreendimento. A ideia não é apenas fazer uma identidade visual que atenda ao mercado, mas que também que elas se reconheça naquela criação. Vamos procurar palavras-chaves, símbolos fortes. Será um exercício criativo. Foco no mercado e foco no empoderamento dessas mulheres”, finaliza.

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Mobilidade

Rio Como Vamos divulga pesquisa sobre transportes e trânsito

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ONG Rio como Vamos, que está completando seis anos, tem procurado mergulhar nos números existentes sobre a Cidade do Rio e também realizar pesquisas para entender melhor o que o carioca pensa dos principais serviços públicos. A mais recente pesquisa acaba de ser divulgada: é sobre transportes e trânsito e foi realizada em junho, apenas dez dias antes de terem começado as manifestações nas ruas que, entre outras reivindicações, pediram a redução na tarifa de ônibus e melhoria na prestação dos serviços. “Quando as manifestações chegaram às ruas foi uma surpresa para nós e para muitos. Mas a pesquisa mostrou que a população quer mais qualidade e não quantidade na oferta de serviços de transportes”, disse Thereza Lobo, coordenadora-executiva do Rio Como Vamos, convidada para apre-

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transporte público. Em 2012, havia cerca de 2 milhões de automóveis na cidade, contra 1,9 milhão no ano anterior, para um total 6,3 milhões de habitantes. Entre os ouvidos, há críticas que alguns motoristas trafegam em velocidade excessiva e queixas sobre superlotação nos ônibus e também má conservação dos pontos nas ruas. Sobre o trânsito, houve muitas críticas entre os entreThereza Logo, coordenadora- executiva do Rio Como vistados sobre o tempo excesVamos, foi convidada a apresentar a pesquisa sobre sivo perdido em longos engartransportes e trânsito na sede da Fetranspor rafamentos. Recente pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro calcula que foram perdidos R$ 27,2 bilhões em 2012em 130 quilômetros de engarrafamentos. Outro estudo, desta vez do IPEA, mostrou cerca de 20% dos moradores de regiões metropolitanas gastam mais de uma hora para chegar ao trabalho. O crescimento do número de veículos nas ruas e de algumas regiões específicas do Rio – como a Barra da Tijuca - são pano de fundo para a pesquisa. O surgimento de novas opções de transportes – como os BRS, BRT, novas JORGE DOS SANTOS / FETRANSPOR linhas do metrô e novos trens – gera também expecsentar os resultados para empresários e tativas, frisa a coordenadora-executiva do representantes de Recursos Humanos de Rio Como Vamos. empresas de ônibus na sede da Fetranspor “Muito mais do que quantidade, os mo(Federação das Empresas de Transportes radores querem qualidade”, destaca Therede Passageiros do Estado do Rio de Janeiro). za Logo. Ao encerrar o evento, o presidente Como destacou o presidente da Fetranspor, da Fetranspor, Lélis Teixeira, destacou a Lélis Teixeira, estudos como este reforçam importância de dados para auxiliar no diáloa importância do diálogo entre as partes e go com todos os atores sobre a questão da que o tema transporte e trânsito é um desa- mobilidade urbana, citando o Plano Diretor fio de todos os envolvidos - poder público, de Transportes do Rio. sociedade e empresas. A pesquisa ouviu 1.521 moradores do SAIBA MAIS SOBRE: Rio, de diferentes regiões e níveis sociais, com margem de erro de 2,5%. Para ter também um recorte qualitativo, foram feitas A pesquisa do Rio Como vamos: entrevistas acompanhando até o trajeto do http://www.riocomovamos.org.br/portal/ trabalho 15 trabalhadores, quatro cadeiranEstudo do IPEA: tes e também a rotina de 15 motoristas de http://www.ipea.gov.br/portal/images/ ônibus. Os resultados apontam que 52% stories/PDFs/comunicado/131024_ da população da cidade deixariam o carro comunicadoipea161.pdf em casa se houvesse uma boa alternativa de

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P e lo Mundo FOTOS DE VIVIAN SIMONATO

Croácia: Parque Nacional dos Lagos de Plitvice POR VIVIAN SIMONATO, CORRESPONDENTE NA COMUNIDADE EUROPEIA

Avistadas do avião, a sequência de porções de terras rodeadas por um mar verde esmeralda explicam o por quê da Croácia ter se tornado um dos destinos mais populares da Europa. Também conhecida como Republika Hrvatsk, o país têm paisagens e refúgios para todos os gostos. O destaque para aqueles que procuram aproveitar o verão à beira mar fica por conta da costa Dálmata, cujas cidades como Zadar, Split e Dubrovnik surpreendem ao reunir construções medievais bem conservadas, boa gastronomia, ilhas e praias paradisíacas, aumentando a popularidade do país. No entanto, a Croácia não se resume a praias encantadoras. Em direção às montanhas, o Parque Nacional dos Lagos de Plitvice da um show à parte. Com área de 294,82 quilômetros quadrados, esse é o maior dos oito parques Nacionais da Croácia – e destino mais que obrigatório para amantes da natureza que queiram conhecer como preservação se faz com excelência. A região foi proclamada parque em 1949, e é o mais antigo do país. Trinta anos depois, em 1979, a UNESCO declarou o sítio Patrimônio da Humanidade e todos os anos mais de 1,2 milhões de pessoas visitam o parque. O roteiro curto dura cerca de quatro horas, onde os 16 principais lagos são visitados. Para conhecer todo o parque são necessários dois dias. Logo de início, a guia croata adverte: “Vocês vão sair daqui apaixonados”. Já na primeira curva, árvores se deitam sobre um lago de águas tão cristalinas que é difícil acreditar naquilo que os olhos veem. Ouço que a preservação do local é motivo de orgulho para os croatas e que reza a lenda que uma deusa deu os lagos de presente para os antigos povos, que tinham dificuldade em armazenar água. Todas as outras informações se perdem como num sussurro, sigo a trilha, agradeço pela oportunidade de visitar tamanha beleza e admiro tanta perfeição à minha volta. Já estou apaixonada!

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Serviço: Parque Nacional dos Lagos de Plitvice http://www.np-plitvicka-jezera.hr

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Viagem igreja imponente triunfa, desproporcional, como que num esforço de mostrar que ainda guarda seu velho poder.

NORTE DE PORTUGAL: A POESIA DAS ALDEIAS TEXTO E FOTOS POR MARIA HELENA MALTA, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA DA REGIÃO DO MINHO NORTE DE PORTUGAL

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inheiros, carvalhos, vinhedos plantados em toda parte, até mesmo nos pequenos quintais... Tudo passa, como num filme, pela janela do comboio ou do autocarro que segue para o Norte, entre uma e outra paragem, na verdejante região do Minho. Ao viajante que parte em busca das pequenas cidades e aldeias como Ponte da Barca, Viana do Castelo ou Guimarães, o que mais encanta é o que resta de outrora e mesmo de arcaico __ não apenas na arquitetura, nos costumes ou nas pedras de estreitas ruelas mas, sobretudo, nas lembranças literárias da região que, ao lado da Galiza, foi berço da poesia galego-portuguesa medieval e ainda nos deu grandes artistas modernos e contemporâneos. Tudo isso sem falar na beleza de alguns olhos e feições camponesas que parecem guardar mágicas histórias. Agora mesmo, próximo ao que parece uma antiga olaria desativada, a janela do vagão emoldura um homem de cabelos grisalhos que entra numa velha caminhonete. Uma furgoneta, ele diria. Seu corpo ligeiramente arqueado parece cansado. Seria Cipriano Algor, o oleiro de José Saramago? Sem dúvida, é o personagem de A caverna, que vivia atirando pazadas de carvão à boca da fornalha, apesar da brusca queda de encomendas da rústica louça de barro que produzia há tantos anos...

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Mass as hortênsias Ma M hortênssias que qu anunciam a a chegada gada à pequena ga peq equeena vila villa de d Ponte Pon de Lima, cujo nome nome no me vem vem dos dos arc arcos cos de de u uma velha ponte romana, ro oma man na,, despertam na n desp de sper erta tam o viajante, viajan que salta das memórias memó me m mó óri rias as do do livro lilivr vro o para p ra a ccalçada de pedra. pa O Porto, Porrrt Po rto, o, ponto pon onto to de de partida p rtida da viagem às alpa deeiass (e terra ter erra ra do do romântico Almeida Garrett, deias o inquieto inqqui uiet eto o Ra Rama m lho Ortigão, Ortig da premiada do Ramalho So oph phiiia d Mellllo Breyner Andresen Me An Sophia dee Mello e de seu fillho Miguel Mig igue uell Sousa Tavares, Tavares autor de Equafilho do or) r),, vai vvai ficando ficaando cada vez mais fic m longe. dor), A ponte pont po n e sobre o rio Lim Lima __ que nasce lon ongí gínq nqua u Galiza, na Espanha, Esp na longínqua e deságua Atltlân ântitico, depois de atr no Atlântico, atravessar boa pardo Norte No português p rtuguês __ leva à Igreja de po te do S nt Sa nto o António, Antó An tóniio, do século XV. X É inevitável: Santo a imagem religiosa de Ponte de Lima insiste em devolver à imaginação o passado dos vilarejos, quando a fé era obrigatória e o padre ditava as rígidas regras da moral ocidental e cristã, decidindo o que era certo ou errado na vida pública e na vida privada. Não importa o colorido burburinho dos turistas: a

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SAUDADE DOS VELHOS LAVRADORES, ZELO EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE Mas os traços antigos também convivem com modernas pastelarias e lojinhas de lembranças, algumas ostentando, na parede externa, um prato com a pintura de um beijaflor e uma única frase: “Nós pela natureza” __ uma demonstração da preocupação com o meio ambiente. Outra marca registrada da cidadezinha, apesar dos veranistas que mudam o perfil do centro comercial, são as homenagens à agricultura. Ponte de Lima tem vários monumentos sobre o tema, alguns com arados e outras máquinas antigas, sem contar a velha tradição dos mercados e feiras que às vezes se estendem ao longo do rio. Os versos de um poeta local, Cláudio Lima, gravados em uma placa pela Câmara Municipal, exaltam a natureza, do mar à terra, sobretudo os trabalhadores do campo. Num desses, pode-se ler um trecho de “Saudade”, que diz muito sobre a mudança dos tempos: “Lides tão lindas que não vemos mais/desde a invasão ruidosa dos tractores./Hoje os bois bocejam nos currais/Apodrecem arados e apeiros tais,/vão morrendo os honrados lavradores”.


Mas a agricultura, seja qual for a pequena cidade portuguesa, é uma herança marcada a ferro e sangue: impossível não lembrar os tempos duros, de trabalho árduo, que trazem à memória os versos de outro poeta, o neorrealista Carlos de Oliveira. Ele viveu parte de sua vida na região rural da Gândara, mais ao Centro de Portugal, e seu olhar, talvez por isso, tenha sido muito sensível aos camponeses, durante todo o período salazarista. O turista que aprecia os românticos vinhedos ou os vasos de flores coloridas que enfeitam as janelas talvez não se lembre da imagem da “pequena casa portuguesa, honrada e feliz”, inventada e manipulada por Salazar. Na verdade, o campo era um largo espaço de miséria e analfabetismo, onde a fome provocou altos índices de emigração, num país em que mais da metade da população recenseada (4,7 milhões, só em 1930) dependia direta ou indiretamente da agricultura __ afirma o professor Fernando Rosas, que preside o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e é autor, entre outros, de Salazar e o poder: A arte de saber durar, que chega ao Brasil no início do ano que vem. Durante a ditadura, o neorrealista Carlos de Oliveira fez do poema e da prosa uma refinada estratégia de subversão, como se vê nos versos de “Névoa”, do livro Cantata: “A morte/em flor/dos camponeses/tão chegados à terra (...)/e eu julgo ouvir/ao longe/ nos recessos da névoa/os animais feridos...” A terra, para ele, era uma espécie de metáfora de pátria/povo e as palavras, sua trincheira. Foi discreto, mas intenso; isolado, mas solidário, e, segundo Izabel Margato, especialista em Literatura Portuguesa (PUC-Rio), esteve “sempre munido de rigor moral, poético e ideológico para atuar sobre o Portugal de seu tempo”. Carlos de Oliveira viveu constantes mudanças estéticas até as últimas edições revistas do romance Casa na duna, mas jamais tirou os olhos da amargura de sua gente ou perdeu a esperança na resistência e na transformação. Era um daqueles que, segundo Gramsci, pareciam estar sempre tentando manter o otimismo da vontade e o pessimismo da razão. Basta ler outro trecho, pinçado da antologia Mãe pobre: “Aço na forja dos dicionários,/as palavras são feitas de aspereza:/o primeiro vestígio da beleza/é a cólera dos versos necessários.” Um pequeno solavanco apaga a página do livro, pois estamos chegando à sede do município de Ponte da Barca. O nome da cidade remete a outra ponte histórica, que foi

substituída por uma barca de transporte. Casas coloniais, lampiões, entalhes românicos e arcadas preservadas desde o século XVI dão o clima de viagem no tempo, em ruas pontilhadas de palacetes antigos. PARADA LINDOSO PARECE HABITADA POR PERSONAGENS DE VALTER HUGO MÃE Mas o passeio é breve, pois é preciso seguir viagem. Mais uns vinte quilômetros (e agora só mesmo de carro) são marcados por vinhedos e pequenas residências, além de uma sequência de pinheiros, carvalhos, silos antigos e terrenos cobertos de samambaias selvagens e flores silvestres. E, de repente, o incauto viajante se assusta com a paisagem subitamente selvagem. Estamos chegando ao Lugar de Parada Lindoso, bem perto do Parque Nacional da Peneda-Gerês, considerado pela Unesco como Reserva Mundial da Biosfera e que envolve as montanhas da Serra do Gerês e da Serra da Peneda, indo até Trás-os-Montes, em Portugal, e Galiza, na fronteira espanhola. Cortado pelo rios Lima e Cávado, o parque tem mais de 70 mil quilômetros quadrados de florestas, ruínas e uma fauna numerosa, que inclui lobos e águias. Pois foi no Lugar de Parada Lindoso, que fica nas cercanias do parque e pertence ao município de Ponte da Barca, que Valter Hugo Mãe se escondeu durante dez dias, em fevereiro de 2011, para terminar de escrever O filho de mil homens. Foi lá, segundo ele, que descobriu a existência de “lobos e bichos de ferrar nunca vistos” e conheceu, na missa, uma senhora com um filho de olhos azuis, que só lhe disse uma coisa: não via “nenhuma beleza num casal de namorados mortos”. De fato, Parada Lindoso é pequenina e única: há grande presença de granito, como em todo o Norte português, mas aqui não há casa que não seja de pedra e as ruelas sobem sempre, incansáveis, nesta aldeia de mistério e silêncio, encravada no alto da rocha. Motorista e viajante cuidam de olhar para o lado de fora, pois os caminhos são tão estreitos e íngremes, que o carro passa por pouco, sempre tirando fino das grossas paredes de pedras, algumas em estado bruto, coladas umas às outras. Aqui e ali, em

meio a pequenos vinhedos com pesados cachos de uvas, um fio de sol penetra por entre as folhas. O verão do Norte parece tão quente quanto o do Porto ou o de Lisboa, e mesmo quando o céu está nublado. Mas a temperatura, como naquelas grandes cidades, cai bruscamente no início da noite (hora de vestir a jaqueta) e, não raramente, pode chegar aos 16 graus durante a madrugada. De repente, um fragmento que parece ter saído do passado. Ou teria sido dos livros? Uma mulher de rosto redondo e corado recolhe gravetos. Rápida e ágil, apesar da saia rodada e do corpo roliço, ela coloca a carga nos ombros e segue, a passos largos, certamente para alimentar o fogão à lenha. Talvez se chame Maria ou Antônia, quem sabe Manuela, mas é impossível perguntar. Ao primeiro olhar atento, ela trata de apressar o passo, tímida, com um meio sorriso nos lábios. Quem sabe não seria a dona Hortênsia, personagem de Valter Hugo Mãe (O nosso reino), que adora os santos porque seriam “os homens mais próximos de Deus”? Ou então a falecida avó do garoto-narrador, que conta sua história como quem fala, esgarçando a sintaxe? Desconfia-se que ele usa a memória do próprio escritor, que passou boa parte da infância numa dessas aldeias. Embora trabalhasse na cozinha, sobretudo no bacalhau dos Natais, a criatura jamais suava, estava sempre cheirosa, e isso simplesmente “porque era rica”. Mas também poderia ser a “vizinha abelhuda” do Camilo, de O filho de mil homens. Ou mesmo a mãe do pobre Antonino, a Matilde, que dedicava a vida à ilusão de transformar o filho “maricas” num homem “de verdade”. O narrador, agora em tom adulto e pensamento arcaico, explica o tormento vivido pela mulher, sempre às voltas com a possibilidade de ter alguma culpa: “Era, quando muito, culpa sua não o ter desfeito.

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Viagem Mas desfazer um filho não era para qualquer mãe, porque o ódio nunca era completo e o amor estava sempre presente, deturpando as melhores e mais sensatas decisões.” A marca do passado religioso, exposta nos livros de Valter Mãe, parece não ter sido esquecida. Continua guardada ali, como em tantas outras aldeias portuguesas, nos gestos de personagens sempre lembrados e no medo que paira no ar. Ainda há santinhos que enfeitam algumas portas em busca de proteção, além de cartazes que convocam para a festividade do fim de semana, “em honra de Santa Maria Madalena”. Por aquelas estreitas ladeiras, agora caminhando rua abaixo, tem-se a impressão de ouvir vozes, apelos, ameaças envolvendo o pecado e o fogo do inferno, ou mesmo a sensação de enxergar pequeninos monstros brotando dos canteiros de hortaliças. Às vezes, é possível jurar ter visto figuras como o senhor Gemúndio, o velho apaixonado pela miúda Rosinha. Logo depois, é possível encontrar o quarentão Crisóstomo, que parece dançar, todo ele sorrisos e palavras que saem cantadas, comemorando o encontro de um filho que será seu. A cem metros, há uma igreja de pedra, desta vez pequenina e com um sino pendurado no topo. Ao lado, uma casa que de tão minúscula só pode pertencer à anã. Mas não, não pode. A anã morava na casa mais afastada da aldeia de Valter Mãe, onde as vizinhas entravam com medo. “Como estariam enganadas, por pensarem que um palmo de gente assim não serviria para nenhum homem...” Como que saídos das pedras, podem-se ouvir os delicados suspiros da personagem. “A verdade era que não tinha encontrado um cavalheiro e os amores não lhe viam nunca mais. Estava grávida, sim, mas não era coisa do amor, antes de uma rotina de solidão que enfraquecia a resistência e intensificava as vontades”. Na porta, as vozes raivosas e entrecortadas das vizinhas, criticando a presença de uma cama grande, nova, “que é coisa para um homem de fazer filhos, não é cama para você dormir sossegada”. E novamente os balbucios da anã, que agora parecem sair de ínfimos buracos no encaixe de algumas casas de pedra. Suspiros aparentemente resignados, como a quietude do verão em Parada Lindoso. Mal sabem as vizinhas que a anã tem um papelzinho com uma lista de quinze nomes de homens da aldeia e um deles certamente é o pai de seu filho.

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E quem diria que toda aquela gente acabará se entendendo no fim da história? Quem diria que a veia onírica de Valter Hugo Mãe é capaz de transformar o pequeno e dividido mundo rural num universo plural, habitado de singularidades solidárias, como pregam Negri e Agamben? Mas é preciso deixar para trás os personagens que assombram Lindoso e retomar a estrada, agora em direção a Viana do Castelo. As margens são emolduradas por parreiras e oliveiras, entrecortadas por campos de arbustos com delicadas flores amarelas: as maias. O motorista português explica que o nome tem direta relação com o 1º de maio que, além de festejar o trabalho, é, sobretudo no campo, o Dia das Bruxas __ bruxas boas, nesse caso. Tão boas e mágicas, que homens e mulheres tratam de ornamentar os carros e as casas com ramos de maias, na esperança de afastar o mau-olhado. De Viana do Castelo, a velha cidade do século XIII situada no estuário do Rio Lima, partiram vários navegadores para a conquista e a pilhagem das colônias, sobretudo da África. As casas locais têm variados estilos __ inclusive o manuelino, o renascentista e o art déco __ e o destaque é a Praça da República (antiga Praça da Rainha), com sua bela fonte e os arcos góticos do florido edifício que abrigou o Paço de Concelho. DIOGO, O CARAMURÚ, É LEMBRADO COMO “HERÓICO NAVEGANTE VIANENSE” A Câmara de Viana do Castelo, aliás, é responsável por uma placa em homenagem a um velho conhecido do Brasil,

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Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que sobreviveu a um naufrágio em 1509 e viveu por aqui entre os índios tupinambás __ sobretudo entre as índias, como reza a lenda. Caramuru é festejado como “heróico navegante vianense” que, ao casar-se com uma das mais belas nativas da então colônia, deixou numerosa prole que serviu de “semente à sociedade multirracial que caracteriza a nação brasileira”. Auxiliar de grande importância no contato entre portugueses e índios, o fato é que Caramuru seria celebrado em inúmeras obras, a começar, já no século XVIII, pelo poema épico que leva seu nome, de autoria do Frei Santa Rita Durão. Ideologicamente posicionado com a catequese e preconceituoso em relação ao outro __ no caso, o indígena brasileiro, visto como bárbaro e canibal __, o poema narra os feitos do português Diogo, o Caramuru, e a fundação da Bahia. “Já estava em terra o infausto naufragante,/Rodeado da turba americana;/Vem-se com pasmo ao poremse diante,/E uns aos outros não creem da espécie humana:/Os cabelos, a cor, barba e semblante/Faziam crer aquela gente insana/Que alguma espécie de animal seria/Desses que no seu seio o mar trazia” (estrofe XIV, Canto 1) Mais adiante, ao ver outro náufrago que morre, a reação dos índios é assim descrita: “Correm depois de crêlo ao pasto horrendo;/E retalhando o corpo em mil pedaços,/Vai cada um famélico trazendo,/Qual um pé, qual a mão, qual outro os braços:/Outros da crua carne iam comendo . (XVII)


Na saída de Viana do Castelo, vale a pena passar pelo pequeno balneário de Póvoa de Varzim, conhecido não só como porto de pesca, mas como a terra que nos deu Eça de Queirós, autor de O primo Basílio e Os Maias, entre outros. Nascido na Praça do Almada (uma homenagem ao modernista radical Almada Negreiros) em 1845, Eça também deixou um romance póstumo, A cidade e as serras, no qual alguns enxergam uma reconciliação do autor com o governo português, que tanto criticara, enquanto outros veem uma proposta de dar as costas à civilização europeia e voltar à vida agrária do Norte. O melhor é levar a polêmica para uma boa mesa, em meio à animada vida noturna varzinense, aquecida principalmente pelos turistas. Aliás, a praia ao longo da avenida litorânea tem tendas VIPs e barraquinhas de todos os tamanhos, que podem ser alugadas por dia, semana ou mesmo por mês. Quase uma continuação de Póvoa de Varzim é a cidade de Vila do Conde, que fica no caminho de volta ao Porto, com velhos edifícios de dois andares defronte ao mar, em meio a casarões antigos e a modestas casas de pescadores. O discreto Valter Hugo Mãe, que nasceu em Angola e mudou-se com a família, ainda criança, para Paços de Ferreira (distrito do Porto), tem uma casa em Vila do Conde. Difícil é encontrar quem fale no assunto. Tanto ali quanto em Parada Lindoso (onde ele viveu uns dias para escrever), os nativos pouco sabem a seu respeito. Mais conhecidos por aquelas bandas são Zélia Gattai e Jorge Amado, o casal de escritores brasileiros, com direito a fotos em um dos restaurantes que servem bacalhau e outros frutos do mar, além, é claro, da famosa tripa (semelhante à nossa dobradinha). Não por acaso, os portugueses do Norte são chamados no Sul de “tripeiros” e devolvem a implicância aos sulistas, nomeando-os de “mouros”, devido à maior influência dos árabes de Lisboa para baixo. Vila do Conde também tem barracas na praia e um forte construído no século XV para defender-se dos piratas franceses, muito ativos na época. Além disso, há uma bela estátua em homenagem à mulher rendeira, que mostra uma jovem tecendo uma rede de pescador. Como em quase todos os lugarejos do Norte, há fábricas e lojas de renda de bilros.

Mas não dá para fazer tudo em pouco tempo. A bela cidade de Guimarães, primeira capital de Portugal e hoje Patrimônio Cultural da Humanidade, por exemplo, certamente merece um ou dois dias do visitante. Cerca de uma hora depois do embarque no Porto, no comboio que sai da Estação de São Bento (a dos famosos painéis de azulejos), nespereiras e buganvílias desfilam pela janela, que também mostra modernos viadutos em tranquila convivência com as antigas mansardas de pedra. Já em Guimarães, numa das muralhas medievais, há um registro orgulhoso: “Aqui nasceu Portugal”. De fato, D. Afonso Henriques escolheu o lugar para sediar o reino de Portugal, após várias batalhas que culminaram com a conquista da independência contra o domínio de Leão e Castela, em 1139. Além de linda, Guimarães é um convite para a caminhada. Mas, sob o sol inclemente do verão, parar para um almoço leve é uma boa pedida, sobretudo se incluir uma pescadinha com salada e arroz de tomate,

defender o reino do ataque de mouros, normandos e outros “bárbaros”. Mas o melhor é simplesmente flanar pelas ruelas da cidade, encantar-se com os lampiões antigos, descer e subir as ladeiras, observar os sobrados de janelas gradeadas e visitar as confeitarias, onde é possível provar um pedaço de toucinho do céu (uma espécie de leve torta de amêndoas) ou os famosos pastéis de nata. As lojinhas de arte, de extremo bom gosto, vendem pequenas gravuras e outros delicados objetos para suprir a bagagem das lembranças. Tente pegar o trem para o Porto antes do anoitecer __ o sol de verão só se põe às 21h. E, de volta ao ponto de partida, use o metrô que sai da mesma Estação de São Bento e aproveite para ver as últimas cores do dia num bar do Cais da Ribeira, diante do Douro. Para acompanhar o espetáculo, uma boa taça de vinho do Porto. Outra opção é viajar (em cerca de quinze minutos) para a Belle Époque. Basta caminhar da estação até a Rua Santa Catarina e pegar uma mesinha no Café Majestic __ uma espécie de pequena e luxuosa Colombo, onde as comidinhas são sofisticadas e servidas com a rigorosa eficiência europeia, apesar da crise. Em meio ao burburinho

acompanhada de uma taça de vinho verde branco bem gelado. Na praça principal do centro histórico, o Largo da Oliveira, há bares e restaurantes com mesas ao ar livre, além de um antigo mosteiro e um santuário gótico do século XIV. Também vale a pena dar uma olhada no sólido Castelo de Guimarães, com uma grande torre quadrada e mais oito torres menores, construído para

festivo do lugar, que foi point de artistas e escritores nos anos 20, feche o livro por alguns momentos, contemple os móveis trabalhados em madeira maciça e observe os lustres, as esculturas de estuque e os delicados cristais. É hora de sentir o frescor do início da noite e degustar um bom vinho ou a enorme taça de sangria gelada. A vida (às vezes) pode ser bela, pá.

ORGULHO NA MURALHA DE GUIMARÃES: “AQUI NASCEU PORTUGAL”

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E n s a i o


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FOTOS:

MARIA HELENA MALTA

NORTE DE PORTUGAL


Meio Ambiente

Fábrica de celulose reacende conflito ambiental entre Argentina e Uruguai Desde 2006 os dois países trocam acusações sobre poluição do Rio Uruguai, onde a finlandesa UPM instalou uma fábrica de celulose no lado uruguaio TEXTO E FOTO: ALINE BOUERI GATTO, CORRESPONDENTE DE PLURALE EM BUENOS AIRES

A

fábrica de celulose finlandesa UPM (ex-Botnia), instalada no lado uruguaio da fronteira com a Argentina, voltou a gerar tensão entre os dois países. No início de outubro, sem um acordo depois de reuniões entre chanceleres, o presidente uruguaio José Mujica decidiu autorizar provisoriamente o incremento na produção da empresa e desencadeou novo conflito ambiental. Em funcionamento desde 2007 na cidade uruguaia de Fray Bentos, a UPM foi autorizada a aumentar em 100 mil toneladas por ano a sua produção – que era de 1 milhão de toneladas até agora – com a condição de que instale uma torre de esfriamento de efluentes a menos de 30 graus e de que diminua a quantidade de fósforo que despeja no Rio Uruguai, que separa Argentina e Uruguai. Durante quatro anos, entre novembro de 2006 e junho de 2010, manifestantes da Assembleia Cidadã Ambiental de Gualeguaychú, na fronteira argentina com o Uruguai, fecharam a ponte que

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atravessa o Rio Uruguai, de águas compartilhadas, em protesto pela instalação da fábrica de celulose. NOVO CONFLITO VELHO Com a decisão uruguaia de autorizar o incremento da produção da UPM, o chanceler argentino Héctor Timerman considerou que o diálogo foi interrompido e declarou que seu país levará a questão mais uma vez ao Tribunal Internacional de Haia. Em 2006 o então presidente argentino Néstor Kirchner apresentou ao tribunal uma queixa contra o país vizinho por desrespeito ao Estatuto do Rio Uruguai. Assinado em 1975 pelos dois países, o acordo determina em uma de suas cláusulas que qualquer empreendimento que afete as águas compartilhadas deve ser submetido a consulta e aprovação prévia de ambos países. O Tribunal de Haia concluiu em 2010 que a UPM não poluía acima dos níveis aceitados pelo Estatuto, mas determinou que o Uruguai prestasse esclarecimentos à Argentina. Os dois pa-

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íses envolvidos na disputa retomaram as relações bilaterais e elaboraram um plano conjunto de monitoramento das atividades da indústria de celulose. O monitoramento ambiental é tarefa da Comissão Administradora do Rio Uruguai (CARU), integrada por equipes do Uruguai e da Argentina. A comissão também é motivo de discórdia. Desde o acordo de monitoramento, em novembro de 2010, argentinos e uruguaios não chegaram a um consenso sobre os parâmetros de medição dos níveis de poluição aceitáveis, o que impossibilita uma relatório conjunto. Na segunda semana de outubro a delegação argentina divulgou uma relatório no qual conclui que a planta de celulose da UPM emite dejetos em uma temperatura média de 32 graus, enquanto a do rio é de 20 graus. A equipe argentina também encontrou fenóis em quantidades superiores às permitidas em 11 de 27 amostras dos efluentes da UPM. Segundo o relatório argentino, também há excesso de níquel e cromo, além de presença de fósforo e endosulfan, agrotóxico de alta


Fábrica da UPM (ao fundo) pivô do conflito ambiental entre Argentina e Uruguai

toxicidade. No Brasil, uma resolução da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que o endosulfan deveria ser banido e seu comércio está proibido desde 31 de julho deste ano. Por sua parte, a delegação uruguaia da CARU divulgou, alguns dias depois, um relatório em que afirma que os efluentes da UPM não contêm endosulfan e que não encontraram em nenhuma amostra dejetos químicos em níveis superiores aos permitidos. O relatório também afirma que o maior problema vem do rio Gualeguaychú, afluente argentino do rio Uruguai, onde há 120 vezes mais fósforo que nos efluentes da UPM e de onde chegam por dia 14.034 vezes mais despejo de ferro e 682 vezes mais de cromo em comparação com os dejetos da fábrica de celulose. CONFLITO DIPLOMÁTICO Depois da decisão do presidente uruguaio de autorizar temporariamente o aumento da produção da UPM, ativistas de Gualeguaychú organizaram uma passeata na ponte que liga sua cidade a Fray Bentos. O governo uruguaio não permitiu a entrada do protesto no país e da ponte os assembleístas leram uma petição na qual responsabilizam o gover-

no uruguaio e a fábrica de celulose pela contaminação ambiental no Rio Uruguai. No comunicado, os ativistas afirmaram que o conflito “só terminará quando a planta da UPM for erradicada e a causa que prejudica a união de dois povos irmãos desapareça.” Em entrevista à Rádio Nacional argentina, Héctor Timerman declarou que “a UPM realizou todas as manobras possíveis para forçar o Uruguai a tomar uma decisão que viola os acordos vigentes e que leva a um problema muito sério entre ambos governos”. Uma semana depois, em coletiva de imprensa ao anunciar o relatório da delegação argentina da CARU, Timerman anunciou que a Argentina solicitou formalmente que o governo uruguaio “volte à mesa de negociações e volte atrás em sua decisão unilateral.” O chanceler argentino também lembrou que o aumento da produção da UPM sem o consentimento da Argentina “viola o Estatuto do Rio Uruguai e a sentença do Tribunal Internacional de Haia” e que a decisão unilateral “privilegia os intereses da UPM em detrimento da história de dois povos irmãos.” Segundo jornais locais, José Mujica pediu silêncio sobre o assunto a seus

...só terminará quando a planta da UPM for erradicada e a causa que prejudica a união de dois povos irmãos desapareça.

funcionários depois das declarações do chanceler argentino. Ao ser consultado pelo jornal uruguaio El Observador sobre o “ultimato”, negado pela chancelaria argentina, a que o Uruguai volte à mesa de diálogo, respondeu com seu estilo irreverente que “quem dá ultimato é Deus.” A finlandesa UPM se mantém alheia ao conflito diplomático que sua planta de celulose gera no sul da América.

Para saber mais sobre o conflito ambiental entre Argentina e Uruguai, leia a Edição 17 de Plurale em revista pelo site: www.plurale.com.br.

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P e las Em ppr esas Itaú lança campanha nacional de incentivo à leitura para crianças

O Itaú lançou no dia 5 de outubro nova campanha nacional de incentivo à leitura para crianças. Nesta ação, os adultos serão convidados a ler paras as crianças e, para apoiar esse convite, o Itaú oferecerá gratuitamente 2,2 milhões de Coleções Itaú de livros infantis, totalizando 4,4 milhões de títulos. As coleções, voltadas para crianças de até cinco anos, serão compostas por dois livros recomendados por especialistas em literatura infantil e um folheto com dicas de leitura. A iniciativa, que faz parte do programa Itaú Criança, da Fundação Itaú Social, integra amplo conjunto de programas que são parte do investimento social do banco. O objetivo é mobilizar e sensibilizar a sociedade para a importância de ler para uma criança, mostrando como esse gesto pode contribuir para a garantia dos seus direitos, para o desenvolvimento da capacidade de aprender, de se expressar, além de fortalecer o vínculo afetivo entre ela e o adulto e de estimular desde cedo o gosto pela leitura. Desde 2010, mais de 30 milhões de livros foram entregues pelo programa. Você pode pedir livro gratuitamente ou obter mais informações da campanha pelo site: https://www.itau.com.br/itaucrianca/

ISABELLA ARARIPE

Alusa Engenharia: Projeto Biblioteca Espaço do Saber A fim de incentivar o hábito da leitura nos trabalhadores do empreendimento e criar um espaço tranquilo onde os colaboradores/estudantes pudessem ter um tempo para se dedicar aos estudos, a equipe de Comunicação e Responsabilidade Social disponibilizou no Canteiro Alusa Engenharia, o “Espaço do Saber”. A biblioteca que conta com um acervo de mais de duzentos livros didáticos e de leituras, doados pelos próprios colaboradores. O espaço funciona durante o horário de almoço e ainda é possível fazer empréstimo dos livros disponíveis, dessa forma, o trabalhador também pode incentivar a leitura na família, pois a biblioteca conta também com livros infantis. O espaço foi desenvolvido para atender a mão de obra da empresa de uma maneira geral, em especial os alunos das turmas do PDMO (elevação de escolaridade e encarregados), para apoiá-los nas realizações das atividades extraclasse e os colaboradores/estudantes que necessitavam de um ambiente adequado para se dedicarem aos estudos. O objetivo principal foi desenvolver o hábito da leitura não só entre os colaboradores da Alusa Engenharia S.A, mas fazer com que os trabalhadores levem esse hábito para seus familiares. Além de incentivar que os colaboradores/estudantes continuem frequentando o ambiente escolar e criar um local diferenciado no canteiro de obras.

Coca-Cola Brasil lança bebida de açaí com banana que traz projeto p inovador de transformação social na Floresta Amazônica Uma bebida com os benefícios nutricionais das superfrutas pe e, ao mesmo tempo, um projeto inovador para pa desenvolver a cadeia de valor do açaí produzido por po comunidades extrativistas do Amazonas. Del Valle Reserva Re Açaí+Banana, lançamento da Coca-Cola Brasil, sil alia essas duas propostas numa única embalagem, ao trazer para o mercado a linha especial de néctares de Del Valle. A entrada da empresa no crescente segmento me de superfrutas – definidas pela alta concentração de nutrientes –, por meio do selo Reserva, vem acompanhada da criação c do Coletivo Floresta, que irá trabalhar com os extratores de açaí em ações geradores de renda, com foco no bemestar social e cultural da comunidade, e na conservação da biodiversidade da Floresta Amazônica. O projeto é uma parceria da Coca-Cola Brasil com o governo do Estado do Amazonas. Através de um termo de cooperação entre a em-

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presa e o estado, foram firmados 10 princípios que vão reger o relacionamento com as comunidades extratoras, com o objetivo de preservar a cultura e o meio ambiente, e contribuir para seu desenvolvimento sustentável. O termo foi endossado por 16 instituições empresariais e não-governamentais, entre elas, a agência de implementação da cooperação alemã para o desenvolvimento, a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ). “A Coca-Cola Brasil trabalha para ampliar o leque de opções de bebidas prontas para o consumo, criando cada vez mais alternativas práticas que proporcionem hidratação e bem-estar. E a inovação trazida por Del Valle Reserva Açaí com Banana ao modelo de negócio da empresa espelha nossa visão e nossos valores”, diz o vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade, Marco Simões. “É um produto que traz benefícios nutricionais e é sustentável do início ao fim de sua cadeia”.


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA SABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR

A melhor história é aquela que se aprende contando lúdico para tornar o momento delicado vivido pelas crianças mais alegre. O projeto Viva e Deixe Viver existe desde 1997 e está em oito estados brasileiros e em 22 cidades, tendo mais de 1.200 voluntários em todo o Brasil. Anualmente, nos meses de janeiro e fevereiro, o Instituto Rio de Histórias abre vagas para seleção/treinamento de novos voluntários de contadores de histórias. Os interessados devem entrar no site vivaedeixeviver.org.br para se inscreverem.

Jardim Botânico lança herbário virtual com patrocínio da Vale A partir desta segunda-feira, 30 de setembro, pesquisadores de todo o mundo e o público em geral terão acesso a mais de 420 mil imagens em alta resolução e dados de amostras de plantas brasileiras, com o lançamento do Herbário Virtual-Reflora. A iniciativa é do CNPq, com execução do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que sedia o Herbário Virtual, em parceria com o Royal Botanic Gardens, Kew, no Reino Unido, o Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris, FAPERJ e FAPEMIG, com apoio das empresas Vale e Natura. Nos séculos XVIII e XIX, naturalistas es-

Divulgação

Divulgação

O Instituto Rio de Histórias, que representa no Rio de Janeiro a Associação Viva e Deixe Viver, em parceria com a Unimed-Rio, formou em setembro mais uma turma de contadores de histórias. Setenta e quatro pessoas somam-se a um grupo de mais de 100 voluntários que estão presentes em 20 hospitais do Rio de Janeiro. Munidos de livros, criatividade e muita paixão pelo que fazem, o grupo percorre a pediatria de hospitais públicos e privados contando histórias de príncipes e princesas, usando todo o universo

trangeiros que visitavam ou residiam no Brasil, e alguns brasileiros, coletaram grande quantidade de amostras vegetais no país e as remeteram para herbários europeus. Essas amostras, denominadas tecnicamente de “exsicatas”, são de fundamental importância para o conhecimento da flora brasileira. Para ter acesso a elas, os pesquisadores são muitas vezes obrigados a viajar para os países onde estão guardadas. A iniciativa de repatriálas em formato digital e disponibilizá-las online tem como objetivo dar um grande impulso para os diferentes tipos de estudos que elas possibilitam.

Mundo Verde prevê chegar a 500 lojas e atingir R$ 1 bilhão de faturamento até 2018 Enquanto o mercado encontrava-se estagnado no primeiro semestre deste ano, ta a Mundo Mu Verde fechava contratos para abertura de franquias. O crescimento das vendas no primeiro trimestr trimestre girou em torno de 18%. Atualmente, a rede conta com 244 lojas em operação e até o final do ano chegará a 270 unidades. Para 2013, a empresa projeta aumento de 19% no faturamento, chegando a um total de R$ 305 milhões. Em apenas quatro anos, cresceu 142% nas vendas e 183% sobre a geração do ebitda.

“A estimativa é que a Mundo Verde tenha 500 unidades até 2018. O diferencial das nossas lojas é a experiência nos pontos de vendas – todas as unidades foram projetadas para aumentar o bem-estar na hora da compra - a qualidade dos produtos que comercializamos e o atendimento consultivo. Além das nutricionistas nas lojas, temos o serviço telefônico Alô Nutricionista, além de atendermos também pela web”, diz Sergio Bocayuva, diretor executivo da rede.

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ESTUDO DE CASO

COLETIVO COCA-COLA: UM CASO DE TRANSFORMAÇÃO

POR PEDRO MASSA (*)

C

oletivo Coca-Cola é a plataforma de valor compartilhado do Sistema Coca-Cola, que promove o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo a jovens e mulheres, em comunidades de baixa renda do Brasil, com o objetivo de gerar benefícios mútuos em toda a cadeia de valor da empresa. A plataforma Coletivo é inovadora ao promover empoderamento de comunidades por meio da valorização da autoestima, oferecendo assistência técnica e acesso ao mercado, através de parcerias com instituições locais. Atualmente há 500 Coletivos em operação, presentes em 150 municípios, impactando mais de 65 mil pessoas. A partir de um diagnóstico das necessidades sociais de cada comunidade, a CocaCola desenvolve modelos de Coletivo que usam a cadeia de valor da empresa como alavanca para o desenvolvimento e criação de oportunidades. Atualmente há sete modelos diferentes de Coletivo: • Coletivo Varejo: Capacita jovens para o primeiro emprego utilizando os parceiros e clientes da Coca-Cola como empregadores. • Coletivo Logística e Produção: Capacita jovens adultos em logística para trabalharem nas fábricas ou em empresas parceiras; • Coletivo Excelência em Eventos: Capacita jovens em eventos para aproveitarem as oportunidades geradas em torno da Copa do Mundo e Olimpíadas.

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• Coletivo Artes – oferece técnicas em design a grupos de artesanato femininos que trabalham com material reciclável além de acesso ao mercado. • Coletivo Reciclagem – Apoia cooperativas de catadores e os integra na cadeia de fornecimento de resina PET para o programa bottle-to-bottle da Coca-Cola. • Coletivo Empreendedorismo – Promove e incentiva o empreendedorismo local focado em pequenos estabelecimentos comerciais • Coletivo Floresta - promove a inclusão socioeconômica dos extratores de comunidades ribeirinhas do estado do Amazonas através de capacitação e integração à cadeia de fornecedores da Coca-Cola ao mesmo tempo em que se mantem a floresta em pé. A inovação e o pioneirismo do Coletivo Coca-Cola são possíveis pela presença de quatro componentes principais: • Tecnologia Social Proprietária • Transformação Social em Larga Escala • Modelo de Parceria de Valor Mútuo • Mensuração de Impacto

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TECNOLOGIA SOCIAL PROPRIETÁRIA O Coletivo é operado através do Instituto Coca-Cola que é responsável pela implementação da Tecnologia Social da plataforma. O Instituto Coca-Cola concentra todo o conhecimento para implantação dos diferentes modelos de Coletivo, desenvolvimento dos processos e ferramentas para garantir a qualidade em todas as unidades além do monitoramento da plataforma nas comunidades. Um aspecto importante é a capilaridade e a capacidade de interação com todas as comunidades diariamente através de um time diversificado com mais de 50 colaboradores presentes em todas as regiões do Brasil. Além disso, o Instituto Coca-Cola Brasil em parceria com a Fundação Roberto Marinho desenvolveu uma metodologia educacional própria baseada nos valores de horizontalidade das relações e valorização da autoestima; além de competências técnicas e comportamentais que se misturam para gerar impacto social positivo nas comunidades. TRANSFORMAÇÃO SOCIAL EM LARGA ESCALA A plataforma iniciou em 2009 com cinco unidades em quatro cidades e atualmente conta com 500 unidades espalhadas em 150 cidades. Por se tratar de uma plataforma conectada à cadeia de valor da Coca-Cola, o potencial de impacto em escala é alto. Em 2009 foram beneficiadas cerca de 500 pessoas, ao passo que em 2013 esse número já é de 65.000 pessoas. Além disso, como a cadeia de valor da Coca-Cola envolve vários aspectos, da compra do insumo até a reciclagem, o Coletivo se diversificou. Em 2009, existia apenas a modalidade Coletivo Varejo e atualmente existem mais de sete com perspectivas de crescimento.


Impacto

Solução

Problema

Público Alvo

MODELO DE PARCERIA DE VALOR MÚTUO O Coletivo é um catalisador de diversos parceiros que juntos podem amplificar o impacto social mais do que se operassem de forma individual, trabalhando juntos com o tripé Empresas, Sociedade Civil e Governo. Dentro desse modelo, existem diversas formas de parcerias: • Parceiros locais: Responsáveis por operar os Coletivos em suas diversas modalidades. São 125 ONGs que possuem salas que oferecem as modalidades Logística e Produção, Varejo e Excelência em Eventos. Além desses, ainda são parceiros os 25 Grupos Produtivos de Artesanato, 400 Cooperativas de Reciclagem Floresta (500 até o fim de 2014) e as 50 comunidades de extratores. Adultos • Parceiros nacionais: contribuem para execução nacional do U Risco para a projeto, tendo tamfloresta bém papel decisivo na coordenação com U Cadeia de valor parceiros locais. São não desenvolvida parceiros a Aliança Empreendedora, Asta e Doe Seu Lixo. 1. Melhorar as • Parceiros instituciocondições de logística, segurança nais: parceiros fundado trabalho e mentais para a execução manejo sustentável do Coletivo e para po2. Promover formas tencializar os resultados. de organização Atualmente McDonald’s, Microsoft, Banco Interamericano de Desenvolvimento, ONU Mulheres, IPSOS e Fundação Roberto Marinho são parceiros formais do Coletivo. • Parceiros de empregabilidade: responsáU Aumento da veis por contratar os renda através do jovens que cursaram o desenvolvimento da cadeia justa Coletivo. São mais de U Empoderamento 300 em todo o Brasil. comunitário e Todos os parceicidadania ros possuem expertiU Manter a floresta se complementar a da em pé Coca-Cola para, dessa

forma, amplificar o impacto social positivo nas comunidades. MENSURAÇÃO DE IMPACTO A Coca-Cola mede cuidadosamente o valor social e de negócio gerado pelo Coletivo, o que rendeu ao projeto uma citação na última publicação da Harvard Business Review como uma das melhores práticas de modelo de mensuração de impacto. Dois resultados sociais se destacam. O primeiro é a geração de renda através da empregabilidade e acesso ao mercado onde verifica-se um incremento de renda familiar em até

50% dentro dos beneficiários. O segundo é o aumento da autoestima, que obtém em média um incremento de 20% entre os entrevistados. A pesquisa é realizada em três etapas: antes do projeto, logo após o término do curso e até seis meses após a conclusão do Coletivo. Esse indicador é considerado o mais importante pela Coca-Cola com impacto a longo prazo. O instituto IPSOS, parceiro externo ao sistema Coca-Cola, mede os resultados, garantindo a credibilidade do processo. (*) Pedro Massa é Gerente de Negócios Sociais da Coca-Cola Brasil.

Varejo

Empreendedorismo

Reciclagem

Logística e Produção

Excelência em Eventos

Artes

Jovens e mulheres desempregados de comunidades urbanas

Mulheres empreendedoras de comunidades urbanas que planejam abrir ou possuem um pequeno empreendimento residencial

Cooperativas de reciclagem de comunidade urbanas

Jovens e Mulheres desempregados de comunidades urbanas

Jovens e Mulheres desempregados de comunidades urbanas

Grupos de Artesanato Femininos que trabalham com material reciclável

Falta de conhecimento e habilidades requeridas para mobilidade socioeconômica (emprego e educação formal)

Falta de conhecimento Falta de em gestão em pequenos conhecimento empreendimentos técnico para aumentar a produtividade e acesso ao mercado para venda de materiais

Falta de conhecimento e habilidades requeridas para mobilidade socioeconômica (emprego e educação formal)

Falta de conhecimento e habilidades requeridas para mobilidade socioeconômica (emprego e educação formal)

Falta de conhecimento de em design e sem canal de vendas estruturado

1. Treinamento em técnicas de varejo

1. Treinamento em gestão de pequenos negócios

1. Treinamento técnico e gestão com foco em produtividade

1. Treinamento em técnicas de Logística e Produção

1. Treinamento em operação de eventos

1. Técnicas em Design

2. Técnicas comportamentais, ambiente de trabalho e entrevistas de emprego

2. Mentoring e treinamento em liderança

2. Liderança e valorização da autoestima e catadores

2. Técnicas comportamentais, ambiente de trabalho e entrevistas de emprego

2. Técnicas comportamentais e ambiente de trabalho

2. Liderança e valorização da autoestima

3. Emprego em parceiros da Coca-Cola e desenvolvimento dos pequenos pontos de venda das Comunidades onde os jovens atuam como consultores

3. Formalização dos negócios e cadastramento na base de clientes da CocaCola

3. Integração com o bottleto-bottle, o que garante a venda dos materiais à indústria

3. Emprego nas 3. Emprego na fábricas da CocaCoca-Cola e Cola e em parceiros em parceiros relacionados a grandes eventos que acontecem no país (Copa do Mundo, Rock in Rio, por exemplo)

3. Acesso a canal de comércio justo

U Empregabilidade dos jovens

U Aumento dos pontos de venda

U Aumento de receitas das cooperativas

U Empregabilidade dos Jovens

U Empregabilidade dos jovens

U Produtos com melhor design e maior valor agregado

U Desenvolvimento dos pontos de venda das comunidades

U Aumento na formalização de negócios

U Aumento da renda dos catadores

U Capacitação em uma área com forte demanda

U Aumento da autoestima

U Preço justo possibilita aumento da renda

U Aumento da autoestima

U Aumento na autoestima

U Aumento da autoestima

U Aumento da autoestima

U Aumento da autoestima

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Data: 28 de novembro de 2013 Local: BM&FBOVESPA End.: Rua XV de Novembro, 275 – 1º andar – São Paulo/SP

15º PRÊMIO ABRASCA RELATÓRIO ANUAL

| PROGRAMA | | 09:30 horas | Recepção e credenciamento dos convidados | | 10:00 horas | Abertura | | Dr.Antonio Duarte Carvalho de Castro, Presidente da Abrasca | | 10:20 horas | Pronunciamento da Professora Lucy Sousa, Presidente da Comissão Julgadora do Prêmio Abrasca – Melhor Relatório Anual | | 10:30 horas | Palestra Relato Integrado, Ricardo Catto, Sócio de Sustentabilidade, EY | | 11:00 horas | Palestra de Lélio Lauretti, ex-presidente da comissão julgadora do Prêmio ABRASCA Melhor Relatório Anual e especialista na área.| | 11:30 horas | Entrega das Menções Honrosas e pronunciamento dos vencedores nas categorias | | Análise econômico-financeira | | Aspectos sócio-ambientais | | Estratégia | | Gestão de Risco | | Governança Corporativa | | 11:45 horas | Entrega do prêmio para a vencedora da categoria Organização não Empresarial e pronunciamento da vencedora | | 11:50 horas | Entrega dos prêmios para as empresas fechadas vencedoras das categorias 1 e 2 e pronunciamento dos premiados | | 12:00 horas | Entrega do prêmios para as companhias abertas Vencedoras das categorias 1 e 2 e pronunciamento das premiadas | | 12:20 horas | Encerramento do evento | | 12:30 horas | “Brunch” e show-room de relatórios anuais |

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES ABRASCA – Tel.: [11] 3107.5557 Realização

Patrocínio

Apoio Promocional

Apoio Institucional

Organização


ENERGIA & CARBONO INFLUÊNCIA HUMANA É PRINCIPAL CAUSA DO AQUECIMENTO GLOBAL, REITERA IPCC ANA CRISTINA CAMPOS REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL

Brasília - Relatório divulgado em 27 de setembro pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) mostra que a influência humana no clima é a principal causa do aquecimento global observado desde meados do século 20. O aumento das temperaturas é evidente e cada uma das últimas três décadas tem sido sucessivamente mais quente, informa o Sumário para os Formuladores de Políticas do Grupo de Trabalho 1 do IPCC. “O relatório concluiu que a temperatura da atmosfera e dos oceanos se elevou, a quantidade de neve e de gelo diminuiu e que o nível do mar e de concentração de gases de efeito estufa aumentou”, destacou um dos coordenadores do documento, Qin Dahe. Segundo o texto, há 95% de probabilidade de que mais da metade da

elevação média da temperatura da Terra entre 1951 e 2010 tenham sido causadas pelo homem. Os gases de efeito estufa contribuíram para o aquecimento entre 0,5 e 1,3 graus Celsius (ºC) no período entre 1951 e 2010. “A continuada emissão de gases de efeito estufa vai causar mais aquecimento e mudanças climáticas. Limitar a mudança climática vai requerer substanciais e sustentadas reduções das emissões de gases de efeito estufa”, disse Thomas Stocker, outro coordenador do documento. O relatório ressalta que, até o fim do século 21, há pelo menos 66% de

chance de a temperatura global se elevar pelo menos 2ºC em comparação com o período entre 1850 e 1900. “A mudança na temperatura da superfície da Terra no final do século 21 pode exceder 1,5ºC no melhor cenário e, provavelmente, deve exceder 2ºC nos dois piores cenários”, disse Stocker. Na pior das possibilidades, a temperatura pode alcançar 4,8ºC até 2100.

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Estante GRACIAS A LA VIDA - MEMÓRIAS DE UM MILITANTE Cid Benjamin, Editora Record, 284 páginas, R$ 35,00 Por Cristina e Leandro Konder “Neste Gracias a la vida - memórias de um militante, Cid Benjamin faz um relato de suas ricas eexperiências pessoais, mesclado com oportunas reflexões sobre as venturas e desventuras da esquerda brasileira nas últimas décadas. Sua militância política incorpora acertos generosos, mas também evidencia o franco reconhecimento dos erros cometidos. Líder estudantil, figura destacada na guerrilha urbana contra a ditadura militar, um dos idealizadores do sequestro do embaixador americano, Charles Burke Elbrick – do qual participou ativamente – e dirigente do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), Cid viveu o movimento de massas em 1968, a prisão, a tortura e a clandestinidade. Em seu longo exílio, trabalhou como engenheiro numa fábrica de confecções em Cuba, e ganhou a vida como funcionário administrativo numa escola e professor numa creche na Suécia. De volta ao Brasil, em setembro de 1979, Cid Benjamin foi fundador e dirigente do PT, partido do qual acabou se afastando para filiar-se ao PSOL. Jornalista, desenvolveu suas qualidades de escritor, tornando-se um dos grandes contadores da história de sua geração.

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Carlos Franco - Editor de Plurale em revista

NOVOS NEGÓCIOS NO BRASIL por Sílvio Meira, Casa da Palavra, 416 páginas, R$ 49,90. O cientista Sílvio Meira é, acima de tudo, um ser multimídia. Engenheiro formado pelo ITA, fez d doutorado na Inglaterra e quando lt ao B ti voltou Brasilil continuou a dar aulas na Universidade e criou o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), centro de conhecimento e incubadora de empresas especializado em soluções tecnológicas de ponta. Sílvio tornou-se celebrity como palestrante no mundo dos bytes e incentivou algumas bem-sucedidas carreiras de jovens empreendedores. Agora, ele resolveu reunir sua experiência no livro. Novos negócios no Brasil (Casa da Palavra, R$49,90), um guia ilustrado que lista e discute os desafios de criar negócios inovadores no País Percorrendo a atual conjuntura socioeconômica do país, o autor discorre sobre como a combinação educação e oportunidade pode fazer florescer grandes projetos para enriquecimento pessoal e para o desenvolvimento da nação como um todo.

Q QUANDO O TRABALHO É A MELHOR DIVERSÃO - WARREN BUFFETT PPor Carol Loomis (org.), Editora: Grupo EEditorial Record/ Editora BestBusiness, 4434 páginas, R$ 40,00

CIDADE DO PARAÍSO – HÁ VIDA NA MAIOR FAVELA DE SÃO PAULO Por Bruna Belazi e Vagner de Alencar, Primavera Editorial, 176 páginas, R$ 22,00

A primeira vez que a jornalista Carol J. Loomis m mencionou o hoje bilionário americanoWarren B Buffett em uma de suas matérias para a revista FFortune foi em 1966, quando ele não passava de um bem suc bem-sucedido gerenciadorde fundo de investimento. Ao longo de cinquenta anos, a revista da qual Carolse tornou editora sênior publicou centenas de artigos sobre Buffett, entre eles 13 de capa. Parte destes textos e trechos de cartas aos acionistas daBerkshire Hathaway foram reunidos em Quandoo trabalho é a melhor diversão (Editora BestBusiness), que chegou ao topoda lista de mais vendidos do New York Times na categoria nãoficção. Biografiada vida profissional de Buffett, o livro vai ajudar a entender como pensa umdos mais bem sucedidos investidores do mundo. Este americano de Omahatransformou sua empresa, a Berkshire Hathaway, num poderoso conglomerado econômico,que conta com participação acionária em empresas de diversos ramos. Em 2013, se associou aos brasileiros do fundo 3G Capital, comandado por Jorge Paulo Lemann,Beto Sucupira e Marcel Telles, para comprar a Heinz.

A Primavera Editorial acaba de lançar Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo, livro-reportagem dos jornalistas Vagner de Alencar e Bruna Belazi sobre os moradores de Paraisópolis, comunidade na zona sul da capital paulista. Repleto de personagens fascinantes – que revelam um cotidiano que vai além da violência divulgada pela mídia – o título foi uma das atrações da VIII Mostra Cultural de Paraisópolis. Os protagonistas não são o tráfico e a violência, mas os moradores anônimos – a alma da vida cotidiana –, homens e mulheres que tecem suas histórias entre os becos e as vielas. Na obra, são relatadas histórias como a do morador transforma sucata em arte; da locutora da rádio comunitária e das artistas divididas entre a arte e o telemarketing. Esses e outros personagens se encontram em Paraisópolis, local que não é somente um endereço, mas um paraíso para cada um deles. Paraíso, inclusive, conhecido por Vagner de Alencar, um dos autores da obra, que morou em Paraisópolis por mais de uma década.

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2013


Literatura

Entre sabiás e coleirinhos POR FELIPE ARARIPE, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA DO RIO DE JANEIRO

N

ão sou um editor profissional ou um grande âncora do jornalismo. Gasto boa parte do tempo estudando. O tempo livre que sobra me divirto no cinema, em aparelhos eletrônicos e leio bastante. Adoro livros. Mas não vim aqui para falar de minha vida pessoal e sim de um livro sobre passarinhos. Quando pensamos em pássaros, pensamos em animais pequenos com asas, bem bonitos. De preferência sempre livres. Porém,, infelizmente algumas pessoas capturam e prendem em gaiolas essas pequenas belezinhas que enfeitam o céu com seu bailar único e incompreensível. A pergunta é: quem entende eles, quem ama os passarinhos, quem os ajuda, e quem os protege afinal? Acho que descobri a resposta no dia 22 de setembro no Leblon, especificadamente no shopping onde as pessoas costumam ir i mais para se divertir e comprar. Fui para desvendar esta questão e encontrar a resposta na Livraria da Travessa às 16:30, no lançamento de “A perigosa vida dos passarinhos pequenos”, de Miriam Leitão, pela Editora Rocco, Selo Rocco Pequenos Leitores. A fila estava bem grande, mas não desisti e lá encontrei grandes jornalistas. A mais importante de todas era a autora do livro, Míriam Leitão, jornalista de economia que encanta o Brasil todos os dias com suas análises objetivas. Como sempre muito carinhosa, me recebeu falando sobre o livro e contando seus detalhes, mostrando a importância dos passarinhos. Quem é que iria saber que essa grande mulher das análises econômicas iria fazer um livro infantil? A inspiração, eu li, veio de vários acontecimentos em sua Fazenda Brejo Novo, no interior de Minas Gerais.

Na verdade, o livro é dela, foi dedicado aos netos, mas quem viveu tudo isso foram os pássaros de lá. Miriam me contou no lançamento que o livro pode ser lido tanto pelos pais e avós para os bem pequenos como também para os já alfabetizados. E também por crianças maiores, feito eu, para entender o papel da união, da estratégia para uma ação bemsucedida e, principalmente, a importância da preservação da natureza. Bom, vamos começar com o resumo do livro: Estava chovendo na Fazenda e justo naquela manhã o casal de coleirinhos tinha saído para pegar comida e quando chegaram no ninho, procuraram seu filhote e o acharam no chão. Enquanto discutiam com o Sabiá-laranjeira sobre o local onde o ninho havia sido feito, um humano apareceu e botou o pequenino no ninho. O que acontecia era qu lá tinha poucas árque

Pássaros invadiram a fazenda querendo um lugar, mas os nossos amigos no começo não queriam deixar. Depois acabaram deixando os pássaros invasores ficarem e os ajudarem na orquestra.Todos foram atrás do Trinca-ferro na mata profunda. Foi difícil, mas nossos pequenos conseguiram. Entretanto, eles teriam que cumprir um acordo e chamar todos os pássaros da mata profunda. Todos se perderam na mata, no entanto, um casal de Jacus os ajudou e então todos os pássaros campestres e da mata profunda fizeram um concerto que deu certo. Os humanos entenderam e viram que tinham que aumentar a mata. Vários especialistas visitaram o local e fizeram com que os bois se afastassem e mais árvores fossem plantadas. E assim, o filhotinho coleirinho começou a voar pelos céus. O mais importante nessa história é que todos podem lê-la pelos objetivos dos nossos amiguinhos. Então entenderam a resFelipe entre Miriam Leitão e Sônia Araripe

vores boas para tantas aves e os pássaros maiores pousavam nos melhores galhos, atacando os ninhos dos pássaros menores. Além disso, tinha muitos bois perto do grande bosque. Para resolver de vez o problema, os passarinhos fizeram uma assembleia e tiveram a ideia de convencer os donos da fazenda a deixar a mata crescer. O Canarinho-da-terra sugeriu que fizessem um concerto para chamar a atenção dos humanos. O pássaro com o canto mais lindo era o Trinca-ferro, então os pequeninos combinaram de ir procurá-lo.

posta? Espero que sim e agradeço a Sérgio Abranches, ao ilustrador Rubens Matuck, à Editora Rocco, por ter sido a editora do livro, e agradeço mais ainda a Miriam Leitão, uma mulher que nosso Brasil nunca irá se esquecer, essa linda amante de plantas de animais e, agora, também fada-madrinha dos pequenos leitores.

(*) Felipe Araripe tem 12 anos, cursa o oitavo ano e adora ler. Mora no Rio de Janeiro. É filho da jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista.

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Alimentação ores da 2013 de SVB, em Brasília, abril

de coordenad ontro Foto: to:Enc Gabriel Heusi

10 ANOS DE VEGETARIANISMO Pelas pessoas, pelos animais, pelo planeta. Com esse slogan simples e direto, a Sociedade Vegetariana Brasileira completa uma década de grandes conquistas RAQUEL RIBEIRO, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA - DE JUIZ DE FORA (MG)

Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar”. Assim transparece a caminhada de Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Não que seja religiosa no sentido clássico da palavra, mas ela acredita (piamente, pode-se dizer) no despertar para o vegetarianismo como um modo de vida sintonizado com nosso planeta, que precisa se recuperar de tantas agressões da humanidade. E, assim, se envolve, se emociona e se dedica de corpo e alma à SVB, sociedade criada por ela e um punhado de adeptos da causahá dez anos atrás. Eram poucos, mas eram bons! De cara, assumiram a organização do 36º Congresso Vegetariano Mundial, um mega evento sediado em Florianópolis, que serviu como prova de fogo. E que resultou em um enorme sucesso! Monica Buava, hoje coordenadora da Campanha Segunda Sem Carne (SSC) estava lá e viu a Marly recebendo palestrantes, falando com a

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Marly Winckler

imprensa, distribuindo crachás, se desdobrando em mil. “A SVB nasceu grande, porque ela pensa gigantesco! Sonha alto, contagia todo mundo com seu otimismo; e, muito articulada, ela consegue tudo!” O nome remete a certa pompa, porém a Sociedade Vegetariana Brasileira sempre

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dependeu de trabalho voluntário e funciona com pouquíssimos recursos; para se ter uma ideia, até o inicio de 2013, a “sede” era na sala de estar da presidente e o telefone de contato era o número de sua casa. Em julho, porém, a SVB foi agraciada pela cessão de um amplo escritório no coração de São Paulo, com vista privilegiada da Praça da Se. Outros generosos colaboradores também deram importantes contribuições, como bancar a impressão dos livretos Impactos sobre o Meio Ambiente do Uso de Animais para Alimentação, que recebeu mais de 30 mil downloads e virou fonte em trabalhos acadêmicos, e Tudo o que você precisa saber sobre alimentação vegetariana. Ambos são ferramentas para derrubar mitos ate hoje repetidos pela mídia. Não raro, publica-se alguma matéria afirmando que a dieta vegetariana é “perigosa” para crianças, que gestantes podem ficar anêmicas e bobagens do gênero. Por outro lado, aumenta a procura, entre nutricionistas e outros profissionais da saúde (médicos ainda são raros) por cursos de especialização em nutrição vegetariana.


Anúncio relaciona indústria da carne ao aquecimento global O mérito cabe, principalmente, ao Dr. Eric Slywitch, um dos pioneiros que ajudaram a dar vida a maior organização vegetariana do Brasil e uma das mais ativas do mundo. Médico nutrólogo, ele levanta um dos pilares da entidade: a saúde. O recente parecer do Conselho Regional de Nutrição, favorável ao vegetarianismo é uma de suas conquistas mais notórias. Sempre disposto a tirar dúvidas, derrubar mitos alimentares e promover a alimentação sem carne, Eric divulga que vegetarianos tem índice 50% menor de diabetes, 31% menor de cardiopatias, e menos tendência a ter cânceres (sendo índice do câncer de próstata 54% menor e o do de intestino grosso, 88% menor). De quebra, coordena as publicações na área de nutrição distribuídas pela SVB. Os outros dois pilares são “direitos animais” e “meio ambiente”. Vale lembrar que a indústria da carne é a principal responsável pelo uso do solo e pela contaminação da água; que 20% da Floresta Amazônica já foi desmatada para se plantar soja (destinada quase unicamente para alimentar animais confinados) e abrir pastos. No Brasil, há mais bois do que pessoas! Segundo a ONU,18% das emissões de gases de efeito estufa vem do setor agropecuário. Para sustentar esses pilares, a SVB contou com os biólogos Paula Brugger e Guilherme Carvalho, e a expert em direitos animais, Mônica Buava. O trabalho voluntário se estende à produção de eventos, como o Salão Vegetariano, o Festival de Cozinha Vegetariana e o Seminário de Alimentação Ética, Saudável e Sustentável, o 12º Festival Vegano Internacional, o Veg Fashion, a Parada Veg e a Mostra Internacional de Cinema pelos Animais. Como angariar voluntários? Fácil! Apaixonada pela causa e extremamente convincente, Marly percebe o interesse do interlocutor e rapidamente o “laça”, convidando-o

a assumir tarefas. Assim foi com a tradutora Beatriz Medina: “Eu a conheci numa lista de tradutores há muitos anos e lhe mandei um e-mail quando vi o link do sítio vegetariano na sua assinatura (é sempre bom conhecer colegas vegetarianos!). Nos encontramos, conversamos bastante e ela já foi me passando tarefas. Desde esses primeiros contatos a admirei muito: sempre diplomática, sempre profundamente democrática É uma pessoa movida pelos seus ideais e esses ideais são do melhor tipo: fazer o bem, levar os outros a exibir e pôr em prática o que têm de melhor e disseminar informações que tornem este nosso mundo mais feliz. Como não gostar de uma pessoa assim? Como não respeitá-la?” “Estive com a Marly em muitas reuniões e jantares com diferentes grupos de vegetarianos (não apenas os da SVB), sempre num clima muito bacana, excelente comida vegana e espaço para o florescimento de ideias”, lembra Paula Brugger. Sim, a postura da presidente faz toda a diferença. “Sou muito ciosa da liberdade, além de valorizar o respeito ao tempo de cada um – sobretudo no processo de se tornar vegetariano. No âmbito da SVB, me esforço muito para imprimir (enquanto for sua presidente) uma atmosfera de respeito, honestidade, liberdade e auxílio mútuo, pois acredito que, sem isso, dificilmente poderíamos criar algo de real valor”, diz Marly Winckler. O resultado são mais de 20 grupos espalhados pelo pais, onde vigora a pluralidade de opiniões, mas a mesma vontade de divulgar o vegetarianismo e conquistar cada vez mais pessoas para a causa. Alias, em todos os grupos e eventos promovidos pela sociedade, as portas estão abertas aos não-vegetarianos! Com uma visão ampla do movimento vegetariano, afirma: “Tudo está ligado e, por não termos, principalmente no ocidente, uma alimentação ética, entre outros fa-

tores, temos tanta pobreza, doenças, fome, violência. Quando acordarmos para isso como humanidade e tivermos líderes esclarecidos e com força política para reverter essa situação, privilegiando a alimentação ética, saudável e sustentável, representada apenas pelo vegetarianismo, podemos ter esperança de um mundo melhor, sem a enorme violência em que vivemos mergulhados no momento.” Talvez o sucesso da SVB esteja vinculado à personalidade da presidente: ser firme nos propósitos, mas maleável na conversa com o público. Sempre com paciência e bom humor. Nada do fundamentalismo e da agressividade que caracteriza outros grupos. Afinal, o que move o movimento é a fé. Fé em um mundo em que homens e animais convivam em harmonia, entre si e com o meio ambiente.

A REVOLUÇÃO COMEÇA NO PRATO Uma das bandeiras da SVB é a campanha Segunda Sem Carne (SSC), adotada por um estado, sete cidades e o Distrito Federal. Com a proposta de substituir ingredientes de origem animal por “novos sabores”, como sugere o slogan, ela está sendo muito bem aceita por diversas empresas, instituições e prefeituras. Para subsidiar a implementação do dia sem carne, a sociedade lançou o livro Merenda Vegetariana, com 102 receitas saudáveis, fáceis de fazer, éticas e plenamente sintonizadas com o Guia Alimentar do Ministério da Saúde. Particularmente adequados às crianças acima do peso, os pratos vegetarianos são deliciosos quando bem preparados – e essas dicas de chef estão no livro! A publicação ainda sugere atividades que trazem, com criatividade, o tema do vegetarianismo para a sala de aula.

• Sociedade Vegetariana Brasileira www.svb.org. br • SítioVeg: www.vegetarianismo.com.br União Vegetariana Internacional www.ivu.org

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O 4º Seminário de Comunicação Integrada Aberje traz uma visão de várias interfaces da comunicação em um ambiente intimista para debater e trocar experiências com profissionais de referência que desenvolveram projetos inovadores e que conquistaram bons resultados para os negócios nas áreas de:

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VIDA Saudável Café verde em alta

Você acha que café bom é torrado, em pó, servido quentinho como bebida a qualquer hora do dia? Pois saiba que o grão verde é o mais novo hit do momento nas lojas de produtos naturais. A explicação é que o grão – vendido já processado, na forma de cápsulas – é o mais novo aliado do emagrecimento. De acordo com especialistas, o grão do café verde tem efeito termogênico e antioxidante. Assim, quem toma sentiria o efeito do aumento da temperatura corporal, acelerando o metabolismo e o gasto calórico, enquanto os oxidantes agem sobre os radicais livres combatendo o envelhecimento. Mas, como toda novidade, é bom tomar cuidado: nada de tomar em excesso ou sem antes consultar o seu médico e nutricionista. O produto é contraindicado para pacientes com hipertensão, com tendência ao nervosismo, hipertireoidismo, gastrite crônica, úlceras gastroduodenais, problemas hepáticos e reumáticos, sem falar nos que devem ficar longe da cafeína.

Agência Brasil

Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é lançado Brasília – O governo federal lançou no dia 17 de outubro o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica - Brasil Agroecológico, com a meta de atender a 75 mil famílias, por meio de assistência técnica voltada à produção orgânica, e apoiar 50 mil agricultores para que consigam a certificação de produtores orgânicos. Ao anunciar a abertura do edital de contratação de serviços de assistência técnica e extensão rural para atender a 58 mil agricultores, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, ressaltou que o plano prevê o atendimento de 75 mil famílias em três anos, com foco na produção orgânica. “Essas chamadas públicas preveem uma cota de 50% para mulheres agricultoras”, disse Vargas. Segundo o ministro, o país tem atualmente cerca de 10 mil agricultores certificados, que produzem de forma agroecológica e tem como meta chegar a 50 mil agricultores. “É uma meta ousada”, ressaltou. A estimativa do ministro é que 5% das compras públicas no Programa de Aquisição de Alimentos e no Programa Nacional de Alimentação Escolar sejam de produtos orgânicos em até três anos.

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Lave as mãos contra doenças Uma solução simples, fácil e barata pode nos prevenir contra graves doenças transmitidas por vírus e bactérias: lavar as mãos. É prático, mas muita gente esquece desse detalhe, e apenas 5% das pessoas lavam as mãos corretamente após usarem o banheiro. Entre os homens, 15% simplesmente não lavam. Entre os que disseram lavar, somente 50% usam sabão. Já as mulheres, 78% lavam, mas sem sabão! Esse descuido é uma porta aberta a doenças como hepatite, diarreia, gripe, meningite, herpes, conjuntivite, entre outras. O pior é que aqueles que não lavam as mãos põem em risco a saúde de todos, inclusive a dos que lavam e depois são obrigados a segurarem em maçanetas, notas e moedas, bebedouros, assentos de transportes e pegadores de ônibus ou trens, por exemplo.

Gastronomia responsável O desperdício de alimentos em todo o mundo tem impacto direto na perda da biodiversidade do planeta. Esse dado serve de alerta no Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro. Estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelam que, anualmente, os alimentos produzidos e não consumidos provocam a perda de 250 km³ de água (superficiais e subterrâneas), recurso não-renovável do qual a biodiversidade depende intrinsecamente. No Brasil, existe um movimento que incentiva a utilização integral dos alimentos para evitar o desperdício. É o Gastronomia Responsável, criado em 2010 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, na capital paranaense, e cujos restaurantes participantes comercializam os chamados ‘pratos responsáveis’. As receitas que fazem parte do movimento possuem impacto reduzido para o meio ambiente e seguem os quatro princípios do movimento: usar integralmente os alimentos, utilizar alimentos orgânicos, priorizar fornecedores locais para reduzir a emissão de CO2 e não utilizar espécies ameaçadas de extinção. Saiba mais no site www.gastronomiaresponsavel.com.br.

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Fotos Pessoais / Divulgação / Papo Reto

Comunicação

COMO NASCEU 1 PAPO RETO... TEXTO: CAROLINA STANISCI E ROSENILDO GOMES FERREIRA ( * ) — WWW.PAPORETO.NET.BR

Q

uando Rosenildo me falou da ideia do 1 Papo Reto, eu curti de cara. Escrever com uma linguagem mais simples e acessível, para que todos possam entender, e não só meia dúzia de iniciados nos temas complexos, é tudo o que uma jornalista como eu, com um pé no social e outro no ambiental, pode querer. O desafio é mega, super, total. Primeiro, por uma razão que afeta todos os profissionais de comunicação. O mercado está passando por uma transição violenta. Jornais e revistas esvaziaram suas redações como nunca em 2013, e ninguém tem bola de cristal para saber como será o futuro da

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informação. O fato é que ela não virá apenas de um ou dois cânones, como uma emissora de TV e um grande jornal. Outra razão é que, aconteça o que acontecer no futuro, a informação terá que vir qualificada, com credibilidade e numa embalagem super agradável. Pronta para o consumo do público. No nosso caso o desafio é falar sobre sustentabilidade, sim – mas não apenas para o público acostumado a ler grandes reportagens sobre o assunto. Queremos buscar, cada vez mais, o diálogo das redes sociais. Acreditamos na força dessa nova forma de se comunicar. Há um potencial enorme, intocado ainda, nas redes. Elas não são depositários

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de notícias ou informações: são uma ferramenta valiosa de troca. Esse nosso objetivo, o diálogo, foi imensamente debatido entre o núcleo duro, eu e Rosenildo. Com pitacos de amigos e colegas de profissão, é claro! Nossa aposta é a conversa. É por meio dela que estamos conhecendo o nosso público e vamos elaborando e afinando nossas pautas. Nossa “largada”, digamos assim, é a sustentabilidade. O conteúdo tem esse conceito como fio condutor que deve atravessar todos os assuntos de relevância nacional. É preciso dizer que não nos interessa o bastidor da vida partidária. A declaração


deste ou daquele político. Não estamos nem aí se o gestor em questão é do partido X ou Y – e até vamos além, achamos que esse Fla-Flu entre os dois partidos majoritários empobreceu o debate na vida pública. Pensamos que, independentemente do partido no poder, os gestores em todas as esferas de nossa Federação devem ser “sustentáveis”. No sentido mais amplo e generoso que a acepção dessa palavra possa ter. Responsáveis, comprometidos com o futuro dos cidadãos. Em resumo, suas gestões devem primar pela viabilidade. Poderemos eventualmente citar nomes de políticos ou partidos em alguns casos. Por exemplo: se há uma pressão pela criação de novos partidos, isso é pauta para nós. Afinal, queremos entender se isso vai afetar o bolso do brasileiro. Se isso vai de fato intensificar a nossa democracia. Se isso de fato é a tradução da voz das ruas. E, se for, por que alguns partidos encontram facilidades, e outros, dificuldades? Faremos essas perguntas às fontes. Assim, nos interessa postar que as duas casas legislativas do Congresso Nacional ficaram com o plenário vazio em uma quinta-feira útil apenas três meses após as manifestações de junho. E também é cabível publicar em nossas plataformas que a energia que faz a luz acender na casa do leitor do 1 Papo Reto tem relação direta com os leilões do governo para projetos de geração de energia. Queremos ir além e problematizar se os projetos vencedores de fato são viáveis, responsáveis, comprometidos com o nosso futuro. Vamos tentar fazer tudo isso usando uma linguagem simples, sem academicismo, evitando ao máximo termos técnicos complicados. 1 Papo Reto! Mudando de canal e continuando na pegada sustentável: queremos opinar sobre a surra que a moça da novela Amor à Vida levou. Sim! Se no horário nobre da principal emissora de TV, mulheres são espancadas em uma ficção, seja pelo motivo que for, esse assunto não pode ficar restrito a revistas de entretenimento. A novela da TV Globo ainda é um espelho da nossa sociedade: arcaica, que vitima mulheres, que resolve conflitos através da violência. Isso tudo, segundo aquele conceito de que falamos lá em cima, não é comprometimento com o futuro, não é viável. É, no mínimo, atrasado. Ou, poderíamos ir mais longe: recurso pobre da teledramaturgia para alavancar audiência à custa de mostrar violência.

Gostamos de revelar gente que atua em prol de um bem maior, seja a preservação da infância, ou a transformação de realidades. Em um mês de existência 1 Papo Reto trouxe duas boas entrevistas. Uma com o MC Garden, um rapaz de 19 anos da zona sul de São Paulo que compõe letras de funk consciente. Ele escreve com o pai, que o ajuda a pesquisar sobre atualidades e tem como objetivo “gerar dúvidas nas pessoas”, fazendo com que elas busquem “a verdade”. Nossa segunda grande entrevista foi com Alan Brum, morador do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e coordenador da ONG Raízes em Movimento. Ele nos contou os pontos altos e baixos da intervenção intensa das obras do PAC no território. Ele sabe que muita coisa melhorou, mas

Pensamos que, independentemente do partido no poder, os gestores em todas as esferas de nossa Federação devem ser “sustentáveis”. No sentido mais amplo e generoso que a acepção dessa palavra possa ter.

há problemas que a propaganda oficial não consegue esconder ou escamotear. É claro que falaremos dos grandes temas da sustentabilidade. A energia, o aquecimento global a mobilidade urbana, que entrou de vez na pauta das grandes e médias cidades brasileiras. Esta última é uma demanda constante de pauta recebida em nossa conversa com nossos leitores. Andar de bicicleta é uma opção? Por que o transporte público é tão ruim? Não dá para melhorar? Muitas vezes, porém, é em histórias supostamente menores que encontramos o que queremos dizer em uma faixa, como fizeram os manifestantes em junho. É no rodapé que está nosso ouro. Porque às vezes a pauta de sustentabilidade é tão básica como o saneamento que falta no Complexo do Alemão e também em Alagoas, que foi

castigada este ano por uma epidemia de diarreia, com quase 50 mortos. Sem contar que vamos propagar notícias que passam “batidas” das manchetes da grande mídia, como a negativa do governo para a inspeção do estado do saneamento básico no País que seria realizada este ano pela ONU. Não estamos sozinhos. Nosso trabalho, aliás, é consequência do entendimento claro de que estamos na era da convergência e do trabalho colaborativo. Reunimos um time de blogueiros super especial: os jornalistas Adriano Catozzi, Fernando Neves e Sergio Cross; o professor da rede estadual de educação em SP Vanderlei Alves dos Santos; a DJ Miria Alves, o chef de cozinha Maílson da Silva, o arte-educador e designer gráfico Rodrigo Garcia, a estudante de ciência política Isadora Harvey, a mestranda da Sorbonne Nouvelle Fernanda Coelho. São pessoas de lugares diferentes, com histórias de vida e trajetória social variadas. Boa parte dos colaboradores foi recrutada no cursinho pré-vestibular Coletivo Griot XX de Novembro, baseado na Comunidade São Remo, no bairro do Jaguaré, em São Paulo. Jovens com enorme potencial que cresceram profissionalmente e intelectualmente ancorados na educação aprendida nas ruas, nas redes sociais, e depois sistematizada nos bancos de faculdades públicas e privadas. Rosenildo é professor-voluntário do coletivo há uma década, onde ensina atualidades, ética e direitos humanos. O que o atraiu para esse projeto foi o protagonismo de jovens que montaram um cursinho a partir de um grupo de estudos. Sem apoio governamental ou financiamento privado. Independentemente de sua trajetória de vida, cada um de nossos colaboradores, chamados carinhosamente de GRIOTs, na África ancestral aqueles que abrem caminhos às novas gerações, tem uma importância fundamental para o sucesso dessa empreitada. Afinal, no trabalho em rede e colaborativo, a união das partes é sempre maior que o todo.

Carolina Stanisci é jornalista, advogada e editora de conteúdo de 1 Papo Reto Rosenildo Gomes Ferreira, jornalista especializado em sustentabilidade e negócios.

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I m a g e m Foto: Marcelo

Camargo Agência Brasil

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rotesto realizado em 5 de outubro, na frente do Museu de Arte de São Paulo (MASP), clamou pela libertação de 30 ativistas do Greenpeace que estão presos há mais de um mês na Rússia. Integra este grupo a bióloga gaúcha Ana Paula Maciel, de 31 anos. A acusação das autoridades russas é que os ativistas - ao fazer a ação pacífica para chamar a atenção do mundo para os riscos da exploração de petróleo no Ártico – teriam, na visão deles, praticado pirataria ao escalar a plataforma. Nos juntamos aos apoios vindos dos mais diversos pontos do planeta: #freetheartic30 ou em português #libertemos30.

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ALUSA ENGENHARIA:

3a de CAPA - Anúncio Alusa (o mesmo da 36)

Gerando Energia Renovável

O GRUPO ALUSA ENGENHARIA, através da Greenluce Soluções Energéticas, está utilizando, pioneiramente, em alguns canteiros de obras, o novo sistema híbrido que produz energia solar e eólica ao mesmo tempo. Tecnologia de ponta a serviço da sustentabilidade. Saiba mais no site: www.greenluce.com.br.

Há 50 anos trabalhando em soluções em infraestrutura sustentável.

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4a de CAPA – Anúncio Unimed (no FTP)

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