ano oito | nº 44 | novembro / dezembro 2014 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br
ABROLHOS, SICÍLIA E ARTIGOS INÉDITOS
FOTO DE LUCIANA TANCREDO - MONTE RORAIMA (RO)
ESPECIAL: EXPEDIÇÃO AO MONTE RORAIMA EDITORA DE PLURALE RECEBE PREMIAÇÃO 1
A MAQUIAGEM CERTA PODE AUMENTAR A AUTOESTIMA DE UMA MULHER. ACREDITAR NO TALENTO FEMININO AUMENTA A AUTOESTIMA DE MILHARES. O Grupo Boticário acredita no poder transformador das mulheres. Por isso, 70% da nossa rede colaborativa é formada por elas. Contribuir para aumentar a autoestima de nossas colaboradoras é a maneira mais inspiradora de continuar crescendo.
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Editorial
Um ano repleto de boas notícias A jornalista Sônia Araripe recebeu o Prêmio “Os 100 Mais Admirados Jornalistas Brasileiros” do VicePresidente de Marketing e Assuntos Corporativos da Samsung para a América Latina, Mário Laffitte.
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista
J
ornalistas estão acostumados a dar más notícias ou aquelas que, mesmo sem serem de todo ruins, são rascantes. Dever do ofício. Em um ano de tantas denúncias, catástrofes e falecimentos, pudemos, em Plurale, compartilhar algumas boas notícias. Principalmente as ligadas aos avanços na direção da migração para a chamada economia de baixo carbono. Alguém poderá pensar, em leitura apressada, que aqui estamos apenas para ofuscar a realidade ou que estejamos, como personagens infantis e literários, buscando o lado ingênuo e colorido de cada história. Não é verdade. Ao longo de sete anos temos procurado dosar as denúncias – e não foram poucas – com as histórias relevantes espalhadas não só por este Brasil continental, mas também por diferentes pontos do planeta. Plurale tem sido assim: plural no olhar e na abordagem. Mas quais seriam, então, as boas notícias? As melhores são que estamos todos mais conscientes que as relações – sejam de trabalho, de governo ou da sociedade - como sempre aconteceram vivem hoje um verdadeiro “descortinar”. Como se a sociedade, atuante e presente, não aceitasse
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mais práticas tão abusivas e lesivas como a corrupção e métodos inaceitáveis como o uso de mão-de-obra infantil e escrava. Ao longo destes sete anos, temos procurado mostrar este novo Brasil que se descortina. De gente simples, honesta, que dá duro e trabalha intensamente na direção de uma sociedade mais ética e justa para todos. Procuramos também mostrar belos exemplos de preservação da exuberante natureza que cada vez são mais frequentes. Histórias que estão por todos os lados. Como as comunidades em torno de Abrolhos e Caravelas, na Bahia, apresentadas aqui por Marina Guedes. Também em terras baianas esteve a repórter Isabella Araripe que foi conhecer case bem-sucedido de moeda social. De Minas Gerais, chamada por Guimarães Rosa “a caixa d`água do Brasil”, trazemos notícias e soluções para a crise hídrica e do Rio, apresentamos o frescor de programa envolvendo jovens e mobilidade urbana Nesta edição tão especial também mostramos a exuberância da natureza para ser preservada. Nossa editora de Fotografia, Luciana Tancredo, esteve por uma semana fazendo a travessia até o Monte Roraima, no extremo norte do país, “personagem” da novela “Império”, através do personagem “Comendador” José Alfredo.
PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2014
Exemplo de determinação e superação, Luciana conta como foi esta árdua caminhada e dá dicas para quem também quiser chegar lá com a ajuda de profundos conhecedores da região. Da Itália, a correspondente Vivian Simonato nos apresenta a linda Sicília, com suas cores, prédios históricos e praias ensolaradas. Não é só: trazemos também artigos inéditos de Christian Travassos, Jetro Menezes e Rafaela Brito. Aos nossos colunistas colaboradores, desde já, o nosso muito obrigada pela generosidade de compartilhar conhecimento com os leitores. No Rio, Lou Fernandes mostra a riqueza da mãe-natureza para tratar as mulheres e Raquel Ribeiro traz ótimas dicas de quitutes vegetarianos para a ceia de fim de ano. Tudo isso e muito mais. Encerramos o ano de 2014 compartilhando com os nossos leitores a alegria de termos recebido mais um Prêmio – “Os 100 mais Admirados Jornalistas Brasileiros”, concedido pelos portais Jornalistas & Cia e Maxpress. Agradecemos imensamente a generosa premiação e a honra de estarmos juntos a muitos de nossos mestres neste ofício. Desejamos a todas e todos um 2015 de muita luz e só boas energias! Obrigada por sua audiência tão qualificada. Boa leitura!
FOTO: LUCIANA TANCREDO
Conte xto
26.
A TRAVESSIA ATÉ O MONTE RORAIMA, por LUCIANA TANCREDO
22.
FOTO: ISABELLA ARARIPE
EDITORA DE PLURALE RECEBE O PRÊMIO “OS 100 mais admiradoS jornalistas brasileiros”,
FOTO: VIVIAN SIMONATO
por ISABELLA ARARIPE
56. POR RAQUEL RIBEIRO
A EXUBERÂNCIA DA SICÍLIA,
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por VIVIAN SIMONATO
ESTANTE
15 SEGUROS: PRÊMIO ANTONIO CARLOS ALMEIDA BRAGA
48 PELAS EMPRESAS
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40.
PLURALE ESTEVE EM ABROLHOS E MOSTRA O DILEMA DOS PESCADORES, por MARINA GUEDES
FOTO: MARINA GUEDES
CEIA VEGETARIANA
16.
ARTIGOS INÉDITOS POR CHRISTIAN TRAVASSOS, JETRO MENEZES E RAFAELA BRITO
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TM Rio 2016. Fale com os Correios: correios.com.br/falecomoscorreios CAC: 3003 0100 ou 0800 725 7282 (informações) e 0800 725 0100 (sugestões e reclamações) Ouvidoria: correios.com.br/ouvidoria – SIC: correios.com.br/acessoainformacao
Os Correios têm um compromisso com o maior serviço de entrega do mundo: a natureza. Atitudes sustentáveis como a Coleta Seletiva Solidária, o EcoPostal, os veículos elétricos, e muitas outras, são atitudes dos Correios para preservar a natureza e permitir que ela continue fazendo o seu trabalho. E, com o Sistema de Gestão Ambiental, o compromisso com o meio ambiente se tornou ainda maior e mais efetivo.
remetente
destinatรกrio
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Quem faz
Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no Twitter e no Facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcelo Tristão e Marcos Gomes Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabella Araripe, Isabel Capaverde, Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Anna Carolina Düppre e Ariane Mondo (Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente/Fiocruz), Berna Barbosa, Christian Travassos, Flávio Almeida, Jetro Menezes, Lou Fernandes- Prem Indira, Marina Guedes, Rafaela Brito, Raquel Ribeiro e Tatiana Maia Lins.
Impressa com tinta a ` base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint
Plurale em Revista é impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Plurale em revista, Edição 43 “Queridos colegas da Plurale, É uma alegria e uma honra parabenizá-los pelos sete anos. Alegria por ver um projeto tão especial, diferenciado e corajoso chegar à maturidade dos simbólicos sete anos. E uma honra porque assisti a este nascimento. Nestes sete anos, Plurale, cresceu, amadureceu, inovou, testou. Mas, principalmente, cumpriu seu papel fundamental de colaborar para o entendimento e debate da inadiável agenda do Desenvolvimento Sustentável. Que venham os próximos 7, 14, 21, 28...Abraços” Sonia Consiglio Favaretto, Diretora de Comunicação e Sustentabilidade da BM&FBovespa, São Paulo (SP), por email “Parabenizo Plurale e seus idealizadores pelos sete anos de existência e de sucesso editorial. Esta revista, ainda tão jovem, já nasceu madura no sentido de transformar em mentes cidadãs , no sentido “plural”, tanto a mente dos executivos como a dos estudantes que um dia serão profissionais. Obrigada, Sônia Araripe e equipe, por ajudarem neste sentido com suas palestras para o público acadêmico”. Marilene Lopes, Professora da Faculdade de Comunicação Social da PUC-Rio e especialista em Comunicação Empresarial , Rio de Janeiro, por e-mail É um prazer festejar o aniversário da Plurale. Prova de que é possível crescer fazendo algo diferente, cheio de qualidade e, principalmente cheio de vida e talento. Gosto muito de ver na revista e no site temas que só encontro ali, editados de forma séria, mas ao mesmo tempo leve e divertida. Parabéns para toda a equipe! Hélio Muniz, Diretor de Comunicação Corporativa do McDonald`s Brasil, de São Paulo, por e-mail “A matéria de capa de Plurale em revista, Edição nº 43, intitulada Gastronomia Sustentável, por Lília Gianotti e Cecília Corrêa, está sensacional. A equipe da Plurale conseguiu reunir em um só texto tantos projetos interessantes focados em uma alimentação mais responsável, como é o caso do movimento Gastronomia Responsável, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Isso prova que o assunto está ganhando força e se disseminando pelo Brasil.” Thais Machado, Comunicação e Relacionamento da Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza, Curitiba, por e-mail
“Que felicidade poder abrir uma revista como a Plurale, referência em seu nicho e encontrar uma pela matéria sobre o verdadeiro trabalho que tentamos fazer aqui no Restaurante Lasai. O importante é que fazemos isto para um Mundo melhor e com real interesse em tentar apoiar os verdadeiros produtores e produtos.” Rafael Costa e Silva, chef do Restaurante Lasai, Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “Parabenizo toda a equipe de redação e produção de Plurale em Revista pelo magnifico trabalho realizado ao longo desses sete anos de sucesso e realizações. Leitor desde o primeiro número, sempre aguardo ansioso a próxima edição. Matérias jornalísticas, artigos e pesquisas refinadas e empolgantes. Um grande abraço a todos e votos de pleno sucesso e muitas realizações.” Renê Garcia, economista da Fundação Getúlio Vargas, por e-mail “Desde que foi lançada, há sete anos, Plurale tornou-se referência quando o tema é meio ambiente. Suas matérias são profundas, esclarecedoras e vitais para o debate. Parabéns aos amigos Sônia Araripe, Carlos Franco e equipe!” Vicente Nunes, jornalista, Editor de Economia do Correio Braziliense, Brasília (DF), por e-mail “Parabéns, Sônia e equipe pela forma “sustentável” que Plurale, ao longo destes sete anos, vem contribuindo brilhantemente para a difusão das melhores práticas de Sustentabilidade juntos as nossas empresas e a sociedade. Vida longa à Plurale!!” Ronnie Nogueira, Publisher da Revista RI, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “Parabéns à Plurale pelos sete anos. É uma revista única que nos brinda com matérias sempre especiais, de textos bem cuidados, fotos maravilhosas e temas que são hoje de cada vez maior relevância para o cuidado com o planeta que é nosso habitat. Parabéns à garra da editora Sônia Araripe e aguerrida equipe. Desejo muitos mais longos anos de vida.” Belisa Ribeiro, jornalista, Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “Plurale é uma publicação inovadora na sua proposta e sempre alerta aos detalhes. Traz artigos para quem quer pensar e publica ideias plurais assim como é a nossa vida nessa rede de relações. Sete anos de sucesso e muitos outros pela frente”. Luiz Antônio Gaulia, Coordenador de Sustentabilidade da Estácio e professor, Rio de Janeiro (RJ), pelo site
Frases Inspirados pelo novo ano que se aproxima, trazemos nesta edição algumas frases para refletirmos sobre a virada de ano. Desejamos a todos muita paz, harmonia e luz!
Clarice Lispector “Não pedi coisas demais para não confundir Deus que à meia-noite de ano novo está tão ocupado.” CARLOS HEITOR CONY “Ano novo, vida velha. A vida é mais do que calendários, fusos ou orbita gravitacional.”
PAULO LEMINSKI
MÁRIO QUINTANA
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.
DESCONHECIDO “Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos.” 10
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“Ano novo anos buscando um ânimo novo”
“Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
CHARLES LAMB “O dia de ano novo é o aniversário de todo homem.
Bazar ético
Por Sônia Araripe
Lola: foto, design e negócio social Duas jovens apaixonadas por fotografia dos bons tempos, a analógica, com máquina e alça colorida, descobriram que poderiam aliar esta paixão com a ideia de abrir um negócio. Mas não um negócio qualquer. Lojacomlola.com.br, parceria da designer Tânia Piloto, 30 anos e a arquiteta e ilustradora Emika Takaki, 35 anos, é um negócio social. Lindas bonecas de pano e os acessórios da loja virtual se tornaram verdadeiros “hits” de consumo e design. As meninas gostam de tirar fotos e também colecionar máquinas antigas, garimpadas em brechós e feiras de antiguidades. Começaram em 2010 e não pararam mais. As duas sócias acreditam que a fotografia é capaz de unir pessoas e descobriram uma verdadeira legião de fãs, como elas, deste hobby. Além das alças de máquinas, a grife vende também bolsinhas, cadernos para anotações e outros acessórios que chamam de analógicos. Os produtos comercializados com a marca são feitos artesanalmente e por isso nunca saem um igual ao outro. Além do portal, Tânia e Emika também fazem uma ação de arteterapia vivencial, onde a criança tem a possibilidade, através de elementos da arte, de ressignificar sua história, o “Brincando ...com Loja”. Tânia explica à Plurale: “Nossa empresa é um negócio social, então nossa missão é ressignificar a vida de crianças em situação de risco. O Brincando ...com Lola é a essência, é o motivo do ateliê existir.” A cada peça vendida na loja virtual, uma boneca é doada: desde que a iniciativa começou, há dois anos, foram doadas 1.074 bonecas. Os produtos e preços variam, mas uma boneca média sai por R$ 35 e uma grande custa R$ 65. Há opções femininas, as Lojas, e também para os meninos, como Dôdu, Joaquim, etc. A nova coleção – que inclui ecobags, almofadas, canecas, bolsinhas e acessórios - chama-se “ Let it rain”. Serviço: http://www.lojacomlola.com.br/
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
11 > Fotos Divulgação
Entrevista
Marina Grossi, presidente do CEBDS
Executiva fala da Agenda recém-lançada com o objetivo de estabelecer diálogo entre as empresas e o setor público e apresentar propostas de ações Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos: Divulgação
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sustentabilidade é feminina. E feminina também tem sido a força que move boa parte da mudança que tem sido realizada no diálogo entre empresas, governo e sociedade civil organizada. Á frente desta articulação estão algumas mulheres com trabalhos relevantes no tema, como Marina Grossi, presidente do do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) desde 2010. Como especialista no assunto, Marina tem sido
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uma incansável interlocutora nesta tarefa da articulação entre as chamadas partes envolvidas. Integram o CEBDS algumas das maiores empresas brasileiras. Da mesma forma que circula nos principais gabinetes e fóruns internacionais, Marina mantém os seus pés fincados no reforço para ajudar a sua cidade, o Rio de Janeiro, a avançar na linha da sustentabilidade. Pode ser vista também subindo as escadas e ladeiras da Comunidade do Chapéu Mangueira (no Leme, Zona Sul carioca) para acompanhar os avanços do Projeto Rio Cidade + Sustentável, desenvolvido com parceiros, para humanizar e valorizar a região com telhados verdes e melhorias no acesso e também nas casas. Economista na formação, com larga experiência no governo, em rodadas de negociação internacionais e também no setor privado, Marina tem procurado avançar no trabalho do CEBDS de ser um grande aglutinador de trazer para a mesma roda diferentes interlocutores. Um think tank, com foco em reunir especialistas em torno de comissões temáticas, papers e trabalhar em torno da defesa de interesses comuns do segmento empresarial. O Conselho é representante do Brasil do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com quase 60 conselhos nacionais e regionais em 36 países e de 22 setores industriais, além de 200 grupos empresariais que atuam em todos os continentes. Marina foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia, na Coordenação de Pesquisa em Mudanças Globais, e na Coordenadoria de Comunicação Social e chefiou a Assessoria Internacional da Televisão Educativa (Funtevê). Em 2003 fundou e presidiu a empresa de consultoria em Sustentabilidade Fábrica Éthica Brasil (FEB), prestando assessoria para governos e empresas, lançando, entre outras iniciativas o projeto “CarbonDisclosure Project”, quando conheceu o CEBDS e passou a focar sua atuação em sustentabilidade junto às empresas. Nesta entrevista à Plurale, ela fala sobre um dos documentos recentes preparados pelo Conselho e ainda sobre outros temas relevantes. Ela acredita que as empresas podem – e devem – contribuir com soluções empresariais. O chamado business as usual mudou e Marina acredita que esta agenda da migração para a nova economia de baixo carbono está avançando. Acompanhe a entrevista.
ENTREVISTA Plurale - O CEBDS acaba de lançar a Agenda por um país sustentável? Qual é o objetivo deste trabalho? Marina Grossi - O documento tem o objetivo de estabelecer um diálogo entre as empresas e o setor público e apresentar propostas de ações que, na visão do setor empresarial, deverão ser foco da atenção dos candidatos eleitos nos próximos anos de governo. Não se trata de uma lista de pedidos ou cobranças, mas são propostas que, se implementadas pelo governo, poderão alavancar a implementação de soluções de negócios mais sustentáveis, por parte das empresas. Plurale - Quais são os principais pontos? Marina - A agenda inclui temas diversos como biodiversidade, mobilidade, energia, saúde e economia. Dentre as 22 propostas, 11 foram consideradas prioritárias e tratam de educação, a instituição de um Selo Brasil que diferencie produtos brasileiros com menor impacto ambiental, a adoção de critérios de sustentabilidade nas compras governamentais, a partir de uma abordagem de ciclo de vida dos produtos e serviços, incentivo ao Pagamento por Serviços Ambientais e a instituição de um novo marco legal do patrimônio genético, dentre outros. Plurale - E os desafios? Marina - São muitos. O Selo Brasil, por exemplo, é uma medida que já foi alvo de tentativa de implementação por parte da Apex – Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimento, mas que esbarrou em muitos trâmites burocráticos. Acreditamos que o diálogo entre lideranças do setor empresarial e o alto escalão do governo, com o acompanhamento da sociedade, permitirá dirimir estas dificuldades. É preciso priorizar as ações que poderão ser implementadas nos próximos anos e estabelecer um planejamento detalhado, indicando os recursos que deverão ser aportados em determinadas linhas de ação e de onde tais recursos serão provenientes. Plurale - Nos últimos 30 anos muito tem sido falado sobre uma Agenda mais sustentável para o Brasil. Mas há desafios imensos por executá-la. A começar pela falta de embasamento político para colocar em prática as mudanças necessárias. A senhora acredita que é possível esperar estas mudanças nos próximos anos?
Marina - Acredito que é possível, mas para isso o governo precisa ser mais coeso em relação às questões ambientais. A estrutura atual que temos com quase 40 ministérios não ajuda. Os temas que lidamos na pasta de meio ambiente são muitas vezes transversais a outras áreas do governo e se não houver diálogo e alinhamento, o avanço dessa agenda fica comprometido. O tema dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, por exemplo, deixa clara a necessidade de diálogo e atuação conjunta por parte do governo para tratar de questões como Produção e Consumo Sustentável, que é absolutamente transversal. Plurale - E qual é o papel das empresas? Temos visto algumas realmente engajadas e muitas outras ainda na fase do greenwashing. Sem falar nas que insistem no velho argumento da falta de responsabilidade em toda a cadeira produtiva, seja em trabalho escravo ou análogo ou outras práticas ilegais e absurdas em pleno século 21. Na sua opinião, ainda há muito por avançar neste campo? Marina - O documento que elaboramos junto com as empresas e, inclusive, seus CEOs, deixa claro que as empresas estão preocupadas em tratar de questões socioambientais que vão muito além do seu core business. Temas que anteriormente eram tratados apenas pelos governos, como saúde, educação e saneamento, passam a vislumbrar soluções que envolvem uma parceria com o setor empresarial. O papel das empresas é, sem dúvida, contribuir, por meio de soluções empresariais, com objetivos que acordamos ser essenciais para toda a sociedade. Plurale - A nova Lei Anticorrupção está diretamente ligada à esta temática. Não podemos pensar em uma nova Agenda por um país Sustentável se não houver real cumprimento desta Lei pelas empresas. Escândalos recentes mostram a sua relevância. Qual a avaliação do CEBDS? Marina - A intolerância com a corrupção e a preservação da responsabilidade quanto ao uso mais adequado dos recursos financeiros no âmbito do poder público e empresarial são premissas para ações e produtos sustentáveis, como deixamos claro no documento que lançamos durante a Rio+20, o Visão Brasil 2050. Este documento prospectivo tem o propósito de apresentar uma visão de futuro sustentável e qual o caminho possível para alcançá-lo, além da segurança
jurídica e pública, estabilidade econômica e inclusão social que também são questões consideradas condicionantes para um país sustentável, na visão do CEBDS, conforme aponta o documento. Plurale - O CEBDS tem acompanhado rodadas importantes como a COP (Conferência do Clima das Nações Unidas) e tantas outras. Qual a avaliação feita da postura do Governo brasileiro nestas negociações multilaterais? Poderia ser mais firme ou em outra direção? O que o CEBDS pode colaborar? Marina - Acompanhamos de perto as negociações multilaterais tanto de clima, quanto de biodiversidade. Em mudança do clima, percebe-se uma maior aproximação do governo junto à sociedade, e isso é importante, especialmente neste momento de negociação de um novo acordo. O CEBDS esteve em Lima, acompanhando as negociações e avaliando de que forma esses avanços vão se refletir no setor privado nacional. Em biodiversidade, embora a participação das empresas seja mais recente, desde 2008, sua importância já ficou clara, tendo sido oficializada no principal documento de negociação do tema na COP realizada este ano na Coreia do Sul. Temos defendido sempre nestes fóruns as vantagens que o Brasil pode ter de liderança na transição que vivemos rumo a uma economia de baixo carbono. Plurale - Água e energia são temas essenciais dentre outros tantos. O que o trabalho mostra? Marina - Além de essenciais, os temas de água e energia são inclusive tratados em conjunto no documento. Sugere-se, por exemplo, o estabelecimento de uma política de bonificação tarifária para a adoção de tecnologias de eficiência e consumo inteligente tanto de água quanto de energia, na indústria, no comércio e em ambientes condominial e rural. Questões específicas para cada tema, como o funcionamento dos Comitês de Bacias Hidrográficas e medidas de eficiência energética e incentivo ao smart grid também são tratadas. Plurale - O trabalho também aponta para a relevância da questão tributária. Será preciso desonerar ou dar algum incentivo para que esta migração para a economia verde aconteça? Em tempos de livre mercado isso é aceitável?
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Entrevista
informação, capacitação, uso de ferramentas e advocacy são tratados em conjunto, minimizando custos e riscos para as empresas e maximizando o compartilhamento do conhecimento. Mais informações sobre a Agenda por um país sustentável e outros trabalhos do CEBDS no site : http://cebds.org/
Renata Costa/ECOTV
Acreditamos que o diálogo entre lideranças do setor empresarial e o alto escalão do governo, com o acompanhamento da sociedade, permitirá dirimir estas dificuldades. É preciso priorizar as ações que poderão ser implementadas nos próximos anos e estabelecer um planejamento detalhado”
Marina - Não faltam exemplos da aplicação de subsídios e taxações diferenciadas para incentivar o uso e consumo de determinados bens e serviços na economia brasileira. O que não é mais aceitável é seguirmos incentivando o uso de combustíveis fósseis em detrimento dos de origem renovável. O documento defende, portanto, políticas de incentivo para investimentos em tecnologias como smart grid, bem como à cogeração e à microgeração a partir de fontes renováveis de energia e gás natural. Plurale - Empresas ainda hoje temem compartilhar bons cases de gestão sustentável. De que forma as câmaras setoriais do CEBDS podem colaborar neste sentido? Marina - As Câmaras Temáticas do CEBDS funcionam como um foro multisetorial de troca de experiências e aprendizado para as empresas. É natural que informações confidenciais não sejam compartilhadas, mas percebemos que há o reconhecimento de um enorme valor nessa troca por parte das empresas. Temas relacionados à
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PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2014
Estante QUE MISTÉRIO TEM CLARICE?, por “http://globolivros. globo.com/autores/sergioabranches” Sérgio Abranches, Editora Globo, 310 págs, R$ 44,90 O ano é 2012. Clarice, escritora e professora bem-sucedida, recebe uma notícia inesperada. Tem um tumor maligno e só mais alguns meses de vida. Anos 70. Uma adolescente sai de uma delegacia, em São Paulo, com o vestido encharcado de sangue. Seu rumo é a clandestinidade. Em 1972, uma moça chamada Amália visita cidades do interior de Minas Gerais, dizendo estar à procura de uma tia. Réveillon de 1978. Um casal de jovens amanhece nas areias de Ipanema sem saber que aquela noite mudaria
MINHAS AMIGAS: RETRATOS AFETIVOS, POR JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS, Editora Objetiva, 208 págs, R$ 39,90 O cronista descreve 100 amigas reais ou ficcionais, seus desejos e medos, como aquela que tem pânico de usar a calcinha errada no encontro certo ou a outra que, linda e cortejada até por presidente da República, na verdade vive só. Não é muito ofício. Procuro mulheres, no sentido literário da coisa. Gordas, magras, ricas ou pobres. Não importa. Mulheres reais que estejam dispostas a contar histórias de suas vidas cotidianas. Nada épico, nada que tenha mudado o curso da Humanidade, mas que seja saboroso e, de causo em causo, deixe que todas as outras mulheres se identifiquem.
INFLAÇÃO, JUROS E CRESCIMENTO NO GOVERNO DILMA, de Fábio Alves, Editora Alta Books, 304 págs, R$ 49,90 A maioria da população reelegeu Dilma. A presidente, no entanto, foi desaprovada pelo mercado financeiro. Ao desmontar o chamado tripé econômico, adotado em 1999 com metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, ela desfez um acordo com investidores domésticos e estrangeiros e empresários.
PUBLICIDADE AC/DC (ANTES E DEPOIS DO COMPUTADOR), Publicidade AC/DC (Antes e Depois do Computador), por Cristina Vaz de Carvalho e Edson Scorcelli, Editora Sinergia, 240 págs, R$ 28. Link: www.publicidadeacdc.com.br O livro “Publicidade AC/DC (Antes e Depois do Computador) – Entrevistas, casos e curiosidades narrados por quem viveu esse marco divisório da profissão” trata da revolução silenciosa, sem precedentes, ocorrida há vinte e poucos anos, e que trouxe completa mudança na estrutura e também no status do mercado publicitário. Os autores são o publicitário Edson Scorcelli e a jornalista Cristina Vaz de Carvalho. A motivação deste livro foi mostrar, tanto para a nossa quanto para as gerações posteriores, que trabalham ou pretendem trabalhar na área de comunicação, um registro do antes e do depois da chegada da computação e da internet ao mercado da propaganda e, por que não dizer, às nossas vidas. Os casos mostrados neste livro, às vezes curiosos, às vezes engraçados, de períodos AC e DC, são reais e foram pinçados da memória de um dos autores. A ordem dos fatos não é cronológica, para demonstrar que são flashes, lembranças de momentos da história pessoal de um profissional de criação. Mesmo os estudos de caso, sob o ponto de vista dos negócios, são tratados de maneira leve e coloquial.
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Colunista Christian Travassos
Êxodo
O
mestre Sebastião Salgado, fotógrafo e economista, revelou sem meias palavras o drama de refugiados em seu livro Êxodos, de 2000. O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima em 11,4 milhões o número de retirantes no mundo, acuados por guerras, desastres naturais, epidemias, fome. São também 13,7 milhões de “internamente deslocados”, entre outras classificações. No total, 31,7 milhões de pessoas, feridas fisicamente e em sua dignidade. Sem rumo, carentes de moradia, saúde, Pátria. Sedentos de humanidade.
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Este artigo não trata dessa forma de êxodo, que marca duramente a vida de pessoas tão vulneráveis, mas de outra bem próxima ao público socialmente incluído, provido de segurança e bem estar. Êxodo meu, teu, nosso. Êxodo quase homogêneo. Êxodo recente, muito recente. Êxodo sem fronteiras, onipresente. Não olhes agora, mas talvez tu, leitor, encontre-se retirante neste momento. A esta altura de tua Time Line ou Feed de Notícias, ou, quem sabe – tem gosto pra tudo -, de tua revista, é provável que já saibas de que êxodo se trata: do êxodo real x virtual, que permeia de tal modo nossas vidas que não merece indiferença,
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nem resignação, dada a maneira insustentável como se instalou no nosso dia a dia. Em casa, no trabalho, na rua, no transporte, no cinema, no restaurante. Para sair de casa, trabalhar, circular pela cidade, ir ao cinema, ao restaurante. De antemão, cabe exaltar os muitos e significativos benefícios que a tecnologia da informação nos proporciona. Não se trata de negá-los, absolutamente. Os avanços falam por si. Há grande chance, por exemplo, de tu estares lendo este texto em teu smartphone. A Internet encurta distâncias, aproxima pessoas, promove o comércio de bens e serviços, economiza recursos, dissemina campanhas sociais,
Assim que nasceu, um dos médicos o segurou e me disse: “- Tira uma foto!”. Meu filho chorava, óbvio. Eu sorria. Respondi que não queria bater a foto. O médico insistia. O bebê chorava mais. Eu dizia que não queria tirar a foto, mas o médico parecia ordenar: “- Bate a foto!”. Na terceira ou quarta vez que falou e eu neguei, entregou a criança a outro médico, contrariado. A equipe ficou visivelmente constrangida. Eu estava muito feliz para dar importância ao episódio, mas, hoje, ele me serve para reconhecer essa revolução silenciosa em curso.
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conhecimento, enfim, facilita, e muito, nossas vidas. Agora, não há como negar que revolucionou e continua a revolucionar a comunicação entre as pessoas, o que tem gerado resultados benignos e colaterais. A oportunidade de estar o tempo todo conectado à Internet, com opção de compartilhar fotos e vídeos instantâneos por um canal virtual à mão, de alcance inimaginável há até pouco tempo, está transformando o modo de se relacionar das pessoas – e mesmo atitudes como o simples “estar presente”. É de fato uma revolução, a reboque da disseminação de smartphones e redes sociais. À luz desse processo, os tradicionais telefone, TV e vídeo game parecem veteranos coadjuvantes num jogo bem mais atraente e complexo. E ainda há muito por ocorrer. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a parcela de brasi-
leiros com 10 anos ou mais conectada à Web foi de 50% em 2013. Considerando brasileiros com idade entre 15 e 19 anos, o acesso girou em torno de 75%, enquanto apenas 22% dos maiores de 50 anos conectavam-se à Internet. Já os brasileiros que possuíam telefone celular, em 2013, perpassavam 76%. Muitos dos mais conectados já nem disfarçam: conversam entre si sem tirar os olhos dos smartphones. Tropeçam uns nos outros nas ruas. Não há certo ou errado para o uso das redes sociais – cada um sabe de si –, mas será que não estamos exagerando? É como um Big Brother no ar entre o real e o virtual. São selfies para todos os gostos. Tem os que curtem as próprias postagens. Ou ainda os que avisam se vão dormir ou se estão com fome – não a fome da introdução. Outro dia, uma pessoa próxima me perguntou o que eu havia feito na véspera e, sem que houvesse tempo de resposta, emendou: “- É que não entrei no Face hoje ainda”. E os conteúdos não haveriam de se encerrar no ambiente virtual, mas, junto a lançamentos de modelos e aplicativos, pautam também a comunicação real. Sem falar que se tornou muito comum repercutir pessoalmente assuntos em destaque (ou não) nas redes sociais. “- O quê? Você não viu? Olha aqui.”, e a pessoa se apressa a te mostrar, mesmo que tu não demonstres muito interesse. Recentemente impressionou a repercussão em torno de uma pequena novidade no Whatsapp, pela qual os sinais na mensagem ficam azuis para o remetente assim que o destinatário a lê. O detalhe foi tema obrigatório da semana, citado por âncora de rádio líder nacional de audiência, comentado em almoços por colegas de trabalho. Ainda no cenário recente, chamou atenção no Brasil a disseminação pelas redes sociais de uma série de mensagens preconceituosas, intensificadas após o resultado das Eleições 2014 – motivadas por geografia, condição econômica, opção política, sexual ou religiosa -, tão chocantes quanto a prática cada vez mais banal de se compartilhar conteúdos extremamente agressivos, registros de brigas em escolas, linchamentos, assassinatos e barbáries do gênero. Outro dia, a BBC publicou reportagem sobre o fotógrafo japonês Keisuke Jinushi, de 29 anos, que ganhou fama por forjar momentos com uma namorada imaginária. Ele usa perucas e tinta nas próprias unhas para aparentar estar com uma mulher de verdade. Na era da superexposição, a moda
agora são redes sociais que congregam internautas com um desejo curioso: compartilhar fotos dos momentos íntimos com seus parceiros – suas relações sexuais. No Brasil, o Grupo de Dependência de Internet do Hospital das Clínicas de São Paulo já orienta pais de internautas viciados. No Japão, o Ministério da Educação promove “acampamentos sem Internet” para jovens com o mesmo problema, que já afeta 50 milhões de pessoas no mundo, segundo estudo da La Salle University, dos Estados Unidos, cuja Associação de Psicólogos desenvolve tratamentos contra o Internet Addiction Disorder. Ainda que seja um caso muito pessoal, o argumento aqui me leva a relatá-lo. Ocorreu no parto de um dos meus filhos. Assim que nasceu, um dos médicos o segurou e me disse: “- Tira uma foto!”. Meu filho chorava, óbvio. Eu sorria. Respondi que não queria bater a foto. O médico insistia. O bebê chorava mais. Eu dizia que não queria tirar a foto, mas o médico parecia ordenar: “- Bate a foto!”. Na terceira ou quarta vez que falou e eu neguei, entregou a criança a outro médico, contrariado. A equipe ficou visivelmente constrangida. Eu estava muito feliz para dar importância ao episódio, mas, hoje, ele me serve para reconhecer essa revolução silenciosa em curso. O grão compositor Cartola, em um de seus maiores clássicos, marca-nos com os versos “ouça-me bem, amor” e “preste atenção, querida”, numa intenção firme, clara e sincera de passar sua mensagem: “o mundo é um moinho”. Hoje, o mestre certamente teria dificuldades ainda maiores em captar a concentração desejada. Quem sabe não diria, “o mundo não é um smartphone”, porque, para muitos, às vezes parece se resumir a tal. Não é, leitor. Tu não és refugiado. És navegante e, nesta nau, o leme está em tuas mãos. Sigas firme no teu rumo e não deixes de usufruir dos benefícios proporcionados pela tecnologia, que tem ajudado tanto e ainda ajudará muito a melhorar a vida das pessoas. Mas sigas consciente. Afinal, tua humanidade, tua saúde, teu bem estar e dos que te cercam dependem disso. Aprecia com responsabilidade. Do contrário, “quando notares, estás à beira do abismo, abismo que cavaste” com teus dedos. Por Christian Travassos, economista e mestre em Ciências Sociais (CPDA/ UFRRJ)
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Colunista Rafaela Brito
A importância do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade para a conservação de conhecimentos que passam de ancestrais para descendentes ao longo dos séculos. Fotos de Rafaela Brito Círio de Nazaré, Belém (PA)
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temática sobre o Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade requer uma análise um pouco mais apurada do que vem a ser esse patrimônio e da importância para as gerações atuais e futuras. Também denominado de Patrimônio Cultural Intangível, ou seja, é literalmente um patrimônio que não pode ser medido, tampouco ser tocado. Por conta disso, acaba sendo menosprezado em relação aos Patrimônios Mundial Cultural e Natural e Subaquático, que são visíveis aos olhos, não diminuindo, com isso, as suas importâncias. Para começar a desenvolver o tema, é importante mencionar que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura-UNESCO(United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization), criada em 16 de novembro de 1945, é a agência das Nações Unidas que atua nas seguintes áreas: Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura e Comunicação e Informação. Tem como objetivo primordial garantir a paz por meio da cooperação intelectual entre as nações. Assim sendo, a cada dois anos a UNESCO escolhe os bens culturais e os titula de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a partir das candidaturas apresentadas pelos países signatários da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003.
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A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial define Patrimônio cultural imaterial ou intangível “... por patrimônio cultural imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua inte-
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ração com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e do desenvolvimento sustentável.” O mais recente título foi concedido ao Círio de Nazaré, reconhecendo “o respeito à diversidade cultural, ao diálogo e à criatividade humana”, elementos presentes na festividade que ocorre anualmen-
te, há mais de dois séculos, na cidade de Belém do Pará, no segundo domingo de outubro, e congrega mais de 2 milhões de pessoas. Na ordem decrescente de inscrição, no Brasil, configuram na lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: 2013,Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará); 2012, Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife, 2011 , Yaokwa, ritual do povo enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica, Chamada pública de projetos do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, Museu vivo do Fandango; 2008, As expressões orais e gráficas dos wajapis, Samba de roda do Recôncavo Baiano. Como paraense, sinto-me orgulhosa por ter sido o primeiro bem cultural do estado a configurar na lista. O Círio de Nazaré é a maior procissão católica do mundo, é uma festa religiosa, carregada de significados e de manifestações de rituais de devoção particular e coletivo, além de apresentações de expressões culturais ecléticas. O Círio de Nazaré congrega devotos, promesseiros e muitos curiosos. As casas dos paraenses que participam da festividade são acolhedoras e sempre hospedam algum amigo “de fora” que foi lá para conhecer o Círio. Por ser um bem imaterial, acredito que o conhecimento passa pelo ‘sentir’ o que é o Círio, pois não são raras as frases que escutamos de gente “de fora”, dizendo que “é inexplicável”, “só vindo aqui para saber a dimensão”, “eu não imaginava que fosse tão grandiosa a festa”. Além de vivenciar o sentimento de participar da festividade do Círio de Nazaré, posso dizer que os sentimentos de coletividade, de comunhão, de fraternidade e de solidariedade são elementos indispensáveis para a celebração. As iguarias tradicionais da Amazônia, como o pato no tucupi e a maniçoba, e a fabricação de brinquedos, utilizando madeiras locais, como aqueles feitos de miriti, também se fazem presentes. É a prática cultural tradicional, neste período do ano, que faz passar de pais para filhos o sentido do Círio de Nazaré, envolvido de misticismo e de caráter multicultural. O Patrimônio Cultural Imaterial, segundo a Unesco, “abrange práticas e ex-
pressões vivas passadas de uma geração para a outra e inclui tradições orais, artes performáticas, práticas sociais, eventos celebratórios, sabedorias e práticas relacionadas à natureza e ao universo, bem como os saberes e habilidades de trabalhos artesanais tradicionais”. Por isso, a importância de promover o desenvolvimento humano e social, incentivando o desenvolvimento de projetos de cooperação técnica com os governos dos entes federativos, da sociedade civil e da iniciativa privada. Podemos perceber a importância da preservação, conservação e do fomento ao diálogo entre as culturas e as civilizações, além da necessidade de estimular e incentivar a diversidade da cultura imaterial. Acreditaremos, assim, que a conservação de conhecimentos poderá ser valorizada e passada de ancestrais para descendentes ao longo dos séculos para que haja a real salvaguarda do rico patrimônio imaterial da humanidade. Com essa salvaguarda, as gerações futuras terão o direito de conhecer e apre-
ciar o que várias gerações passadas e presente presenciaram e vivenciaram, sem que a essência seja perdida. Assim, como uma boa paraense, orgulhosa com o título conferido pela UNESCO, espero deixar para os meus filhos, netos e bisnetos a melodia da canção dos dias de hoje: “Pois há de ser mistério agora sempre. Nenhuma explicação sabe explicar.É muito mais que ver um mar de gente. Nas ruas de Belém a festejar.É fato que a palavra não alcança. Não cabe perguntar o que ele é. O Círio ao coração do paraense. É coisa que não sei dizer.. Deixa pra lá...” Rafaela Brito é Bacharela em Direito com Habilitação em Direito Agrário e Direito Ambiental pela Universidade da Amazônia Belém. Advogada, em Fortaleza e em Brasília, atuante no direito e nas relações internacionais. Membro da comissão de Direito Ambiental da OAB-DF.
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Colunista Jetro Menezes 1ª Edicão
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Revista Plurale 7 anos de prestação de serviços ambientais
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ensando nos sete anos da Revista Plurale, resolvi fazer um resgate dos principais assuntos abordados por aqui. Entre tantos temas, escolhi um que me chama particularmente a atenção: Uma relação de respeito com a água, escrito em 2013. Nele, abri mão do texto acadêmico por outro, mais direto e mais simples, sobre a nossa relação com a água que usamos todos os dias. A razão da troca de estilo é simples. Em vez de olhar para fora de casa, minha opção foi olhar, digamos, do registro de água para dentro. E veio à tona uma série de questões. Como tem sido o meu consumo de água? Como me relaciono
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com ela? O que faço quando vejo um vazamento na rua ou na calçada? De onde vem à água que uso nas minhas atividades? Será que sempre será assim, é só abrir a torneira que a água aparece? Será que pode acabar? Há um ano, já prevíamos a escassez da água em São Paulo. No mesmo artigo, pontuei que o Brasil tem a maior cobertura florestal do Planeta, o que favorece a maior reserva hídrica existente em nosso país; que aprendemos na escola sobre o ciclo hidrológico, mas continuamos poluindo rios, mares, córregos e lagos das nossas cidades; que a chuva, uma das formas de ocorrência de água na natureza, faz parte do processo de trocas do ciclo
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hidrológico, sendo fundamental para a recarga dos rios, dos aquíferos, para o desenvolvimento das espécies vegetais e também para carregar as partículas de poeira e poluição existentes na atmosfera. Desenrolando o fio da meada, também citei o tão desejado aproveitamento da água de chuva. Caracterizado por ser um processo milenar, adotado por civilizações astecas, maias e incas, o aproveitamento da chuva tem um dos seus registros mais antigos datado de 850 a.C., de acordo com as inscrições encontradas na Pedra Moabita, no Oriente Médio, onde o rei Mesha sugere a construção de reservatórios de água de chuva em cada residência. Da-
dos apontam que há aproximadamente 2000 a.C., a água da chuva era utilizada nas bacias sanitárias. Aproveitar a água da chuva é uma alternativa relativamente simples e de baixo custo: captação, filtragem, armazenamento e distribuição da água que corre nas calhas dos telhados. Outro artigo que explora o tema foi A natureza chora. E chora duas vezes: quando chove e quando essa chuva não cai na terra, mas no piso de cimento, impermeabilizado. A maioria das cidades está optando, obsessivamente, por asfalto, tampando os velhos e fortes paralelepípedos das ruas, que tinham vãos por onde a água podia passar. Como se mantê-los representasse um atraso no desenvolvimento. Os rios, lagos e córregos estão cobertos! Vivemos neste histórico ano de 2014 uma seca jamais vista em São Paulo e em muitas outras cidades. Temos, excepcionalmente, um bom exemplo na cidade de Osasco, onde a Secretaria de Meio Ambiente tem o Programa Municipal de Preservação e Conservação das Nascentes. No norte do país, por outro lado, famílias estão perdendo suas casas devido às inundações nos rios e reservatórios. O desequilíbrio é óbvio e ameaçador. Em agosto de 2013, relatei os meus 20 anos de ambientalismo, assistindo a muitos avanços ideológicos e poucos resultados práticos. Mostrei o lado bom e outro nem tão bom assim. Exemplos bons: leis para regular o uso dos recursos, programas de coleta seletiva que vão surgindo nas prefeituras e nas empresas, a criação e os investimentos de todas as esferas de Governo para as cooperativas de catadores, a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e a exigência de Planos Municipais para as prefeituras, entre outros programas. Exemplos ruins: a falha na fiscalização ambiental em todas as cidades, o enfraquecimento ou esvaziamento dos Conselhos das Bacias Hidrográficas, a educação ambiental rasa e pouco crítica, raros programas de coleta seletiva implantados em cidades e empresas, uso e ocupação do solo sem a menor preocupação com os aspectos ambientais, incluindo invasão de áreas de mananciais, córregos poluídos e falta
de saneamento básico expressos em números cada vez mais assustadores. Minha experiência em meio ambiente não foi convencional. Não começou em faculdade e nem por modismo, mas pela paixão, pelo espírito, pela vocação. Fui aprender na prática. Comecei a pesquisar sobre a área de resíduos sólidos em 1994, no Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana do Município de São Paulo), atual Amlurb (Agencia Municipal de Limpeza Urbana). Tive a experiência de criar um movimento de cultura e meio ambiente que realizava eventos abertos ao público alguns anos antes. Uma das primeiras paixões foi aprender a fazer papel reciclado e cursos livres na área. Até que me formei em Gestão Ambiental, fiz especialização em Saneamento Ambiental e Auditoria Ambiental. Hoje, sou docente universitário na disciplina de Gestão Ambiental e estou cursando mestrado em Mudanças Climáticas. Ao longo dos anos, ganhei uma experiência significativa em gestão pública. Tive a oportunidade de escrever dois Planos de Gestão de Resíduos e dois Programas de Coleta Seletiva, sementes que espero ver germinarem. Depois de tanto envolvimento, cheguei à conclusão de que, nesses primeiros 20 anos (quase 21 anos), há poucos resultados concretos! Fazer eventos, do tipo “pão e circo”, para comemorar o Dia do meio ambiente não é suficiente para gerar consciência crítica, assim como plantar árvores que ficarão sem manutenção não faz sentido. As prefeituras não estão preparadas para atender demandas nas áreas de meio ambiente, pela falta de quadros técnicos capacitados. No penúltimo mês do ano, apesar do festejado aparecimento das primeiras chuvas, a capital paulista e as cidades ao redor vivem uma de suas maiores crises no abastecimento de água, com a escassez nas Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ). Atendendo uma população de mais de 5 milhões de habitantes (IBGE, 2010), essas bacias alimentam uma intensa atividade industrial e agrícola, com importante contribuição para a economia nacional. Segundo a ONU (Organização
das Nações Unidas), nas épocas de estiagem, a quantidade de água existente (disponibilidade hídrica) numa determinada Bacia Hidrográfica deve ser de 1.500m3. Nas Bacias PCJ, essa quantidade estava em 1.041m3 no início da estiagem (a falta de chuvas que ocorre normalmente entre os meses de abril e setembro). O inicio de 2014 já sinalizava o problema. Choveu pouco, houve falta de água nos rios dessa região e a situação foi se agravando. Para se ter uma ideia do grau de estiagem, no mês de fevereiro, a quantidade de chuvas foi até 90% menor do que o esperado. Vale lembrar que os governos, as indústrias, o comércio e o setor rural também têm a sua parcela de responsabilidade, por não darem a devida importância a ações de planejamento de recursos hídricos, ao uso racional da água, à redução das perdas no sistema de abastecimento, além do tratamento de esgotos, da conservação das matas ciliares e de outras medidas que poderiam contribuir com os municípios nesse período de seca. Concluo que, nesses sete anos de vida Revista Plurale, a intenção foi despertar o interesse nas pessoas e chamar a atenção das autoridades para as crises ambientais. Espero contribuir com mais artigo por muitos anos. Afinal de contas, essa é a minha missão. Escrever textos temáticos para que possamos viver em um ambiente mais equilibrado. É isto que a Plurale vem apresentando nesses anos. Parabéns e obrigado pelo espaço. Jetro Menezes é colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É gestor e auditor ambiental, especialista em Saneamento Ambiental, docente superior e mestrando em mudanças climáticas. Consultor ambiental nas áreas de resíduos sólidos. Foi coordenador do Programa de Coleta Seletiva da Prefeitura de São Paulo, ex-diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Franco da Rocha e atualmente é Coordenador de Programas de Projetos da Secretaria de Obras, Serviços e Habitação na Prefeitura de Mairiporã.
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P e lo B rasi l Entrega do Prêmio “Os 100 mais Admirados Jornalistas Brasileiros” é marcada pela defesa da livre imprensa
A jornalista Sônia Araripe recebeu o Prêmio “Os 100 Mais Admirados Jornalistas Brasileiros” do Vice- Presidente de Marketing e Assuntos Corporativos da Samsung para a América Latina, Mário Laffitte
Editora de Plurale, Sônia Araripe, recebeu premiação ao lado de grandes colegas de 30 anos de carreira Texto e Fotos de Isabella Araripe, de Plurale De São Paulo
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entrega do Prêmio “Os 100 mais Admirados Jornalistas Brasileiros”, na noite do dia 8 de dezembro, em São Paulo, foi marcada pela defesa da imprensa livre. Vários homenageados alertaram para tentativas de controlar a liberdade do exercício do Jornalismo. “Trago um recado dos amigos de Brasília que alguns querem nos calar. Mas não vamos deixar”, advertiu o jornalista Vicente Nunes, Editor de Economia do Correio Braziliense, um dos premiados e vencedor recentemente do Prêmio Esso. “Pela livre imprensa”, complementou Eliane Cantanhêde, referência na cobertura jornalística em Brasília, que acaba de ser contratada para voltar ao O Estado de S. Paulo, mantendo suas atividades como comentarista do jornal
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Em Pauta, da Globonews. Não foram os únicos a fazerem o mesmo alerta. Jornalistas veteranos também fizeram coro. “Sou um otimista. Acredito que a democracia vencerá e que ninguém conseguirá calar a imprensa e seu livre exercício da profissão”, opinou Ricardo Boechat, da Band, um dos principais homenageados da festa realizada no tradicional Clube Homs, na Avenida Paulista, que reuniu cer-
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ca de 500 convidados. Ao seu lado, a também premiada Miriam Leitão, concordou, lembrando que os jornalistas devem aprender a conviver com “as fases de altos e vales” e agradecendo a generosidade de Boechat que, há muitos anos, estendeu a mão para ela e lhe ofereceu emprego. “Sou eternamente agradecida”, disse Miriam, dedicando o troféu aos dois filhos, também jornalistas Vladmir Neto (TV Globo) e Matheus Leitão
Fotos de Isabella Araripe
(Blog próprio). Miriam e Boechat ficaram praticamente empatados no primeiro lugar. Conheça a lista completa no site do Prêmio (http://www.portaldosjornalistas.com.br/ noticias-conteudo.aspx?id=2946 ) Jornalistas de diferentes perfis, idades, estados e especializações ganharam a premiação - concedida pelo Portal Jornalistas & Cia e Maxpress - que é definida por um colégio eleitoral formado por especialistas em Comunicação. Foram premiados desde jovens jornalistas até premiados veteranos, como Ricardo Kotscho (Revista Brasileiros e Balaio do Kotscho), que está completando 50 anos de carreira, Audálio Dantas (Revista Negócios & Comunicação e da Comissão da Verdade), José Hamilton Ribeiro (TV Globo), Elio Gaspari (O Globo e O Estado de S Paulo) e Clóvis Rossi (Folha de S. Paulo). “Os velhinhos estão na moda” , brincou
do Bueno, Cristina Calmon, Cláudia Reis, Altair Thury, dentre outros - e comemorou estar ao lado de tantos colegas de 30 anos de carreira, como Rosenildo Gomes Ferreira (Isto É), André Trigueiro (TV Globo, G1 e CBN), Lúcio Flávio Pinto (Jornal Pessoal), Flávia Oliveira (O Globo e Globonews), Dora Kramer (O Estado de S. Paulo) e Eliane Brum (Colunista da Época e escritora). Ao receber o prêmio do Vice-Presidente de Marketing e Assuntos Corporativos da Samsung para a América Latina, Mário Laffitte. Sônia lembrou dos ensinamentos de seus editores. Flávia Oliveira (O Globo e Globonews) defendeu a presença de mais negros no jornalismo e Rosenildo Ferreira, também negro, assinou embaixo, falando em discurso ainda sobre a relevância do livre exercício da profissão. Muitos premiados não puderem estar presentes porque
Os amigos Ricardo Boechat e Miriam Leitão empataram na primeira colocação da premiação.
Kotscho. O tom de emoção na noite ficou por conta da premiação de Carlos Nascimento, que ainda se recupera de grave doença e agradeceu as boas energias de todos. O anfitrião da noite, o jornalista Eduardo Ribeiro, Editor do Jornalistas & Cia, foi de chapéu panamá em homenagem aos premiados. “Decidi usar pela primeira vez em minha vida um chapéu, um típico chapéu Panamá, para poder tirá-lo em público e nesse meu gesto simbólico homenagear a todos os jornalistas brasileiros, em especial esses profissionais premiados”, disse. A Editora e Diretora de Plurale, a jornalista Sônia Araripe, também foi premiada. Em entrevista ao Portal Jornalistas &Cia, ela agradeceu aos editores - como Miriam Leitão, Ricardo Boechat, Augusto Nunes, Suely Caldas, José Casado, Luiz Cesar Faro, Ricar-
Vicente Nunes (dir) recebe o Prêmio de Rodrigo Mourão, Gerente de Comunicação da Coca-Cola
Flávia Oliveira defende maior presença de negros nas redações
O jornalista Rosenildo Gomes Ferreira é premiado
estavam trabalhando, mas fizeram questão de agradecer a homenagem. O projeto dos “100 + Admirados Jornalistas Brasileiros” foi viabilizado pela parceria entre a Jornalistas Editora, que edita o J&Cia e o Portal dos Jornalistas, e a Maxpress, empresa do Grupo Boxnet, especializada em mailing de imprensa e que também atua na construção de banco de dados. A junção e atualização desses mailings resultou numa listagem com aproximadamente 2.100 nomes, base da eleição. Nesse grupo estão diretores e gerentes de comunicação das principais empresas brasileiras, sócios e diretores das agências de comunicação e dirigentes de comunicação de empresas e órgãos públicos dos Três Poderes e das esferas federal, estadual e municipal.
A eleição foi feita em dois turnos de votação. No primeiro, de livre indicação, cada um desses 2.100 executivos foi convidado a indicar até cinco nomes de jornalistas de sua admiração. Foram quase 500 votos e mais de 700 nomes indicados, dos quais, pela linha de corte definida pelos organizadores, 246 foram indicados finalistas e levados para o segundo turno. A condução da festa esteve a cargo dos apresentadores Fátima Turci e Carlos Tramontina, também premiados, e contou com show do ilusionista Philip Blue e de um conjunto liderado pelos músicos Dom Paulinho Lima e Marcinho Eiras. Foi uma noite em clima de reencontro de velhos amigos. “Parece reunião de clube”, brincou Fátima Turci.
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P e lo B rasi l Novo parque de energia eólica Fotos: Divulgação
Por Nícia Ribas, de Plurale De Xangri-lá (RS)
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angri-lá, longe de ser o lugar paradisíaco das montanhas do Himalaia, como no filme Horizonte Perdido, destaca-se no cenário brasileiro por abrigar desde o dia 26 de novembro, um projeto pioneiro no grupo Honda. Situada no litoral do Rio Grande do Sul, em apenas 10 meses, a localidade viu surgir uma plantação bem diferente da de arroz: um parque eólico, com nove turbinas – as maiores já trazidas para o Brasil, que vai permitir a redução da emissão de 2,2 mil toneladas de CO2 por ano no meio ambiente, o que representa 30% do total gerado pela fábrica da Honda em Sumaré (SP). Nas unidades da Honda no mundo, o nível de CO2 emitido é constantemente monitorado, com planos de melhoria contínua. Os conceitos de Green Factory, Green Logistic, Green Dealer e Green Office adotados pela empresa consolidam ações de redução dos impactos ambientais em toda a cadeia produtiva, desde seus fornecedores, passando pelas fábricas e transporte de seus produtos até a rede de concessionárias. Em Xangri-Lá, sobre uma área de cultivo de arroz, que em nada será prejudicado, foram fincadas as torres de 94 metros de altura, com suas pás de 55 metros e 15 toneladas, e os naceles, que contém caixa de engrenagens, gerador, controle eletrônico e transformador. O primeiro Parque
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Eólico da Honda Energy começou a gerar na quarta-feira 95 mil megawatts/ano de energia, que será transmitida para a Estação Atlântida 2, da Eletrosul, instalada dentro do Parque, e integrada ao SIN – Sistema Integrado Nacional de Energia. “Estou muito orgulhoso, este é um dia especial para o Grupo Honda porque se trata de um importante passo na nossa luta para minimizar os impactos das nossas atividades no meio ambiente”, disse o presidente da Honda Brasil, Carlos Eigi Miyakuchi (foto), durante a inauguração. Presente ao evento, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro agradeceu o investimento de R$ 100 milhões, “que demonstra a confiança do Grupo Honda no nosso Estado”. Além da geração de energia alternativa, Calos Eigi lembrou que a Honda está no Brasil desde 1971 e sempre se preocupou com a preservação ambiental: “há algum tempo já fabricamos veículos híbridos, elétricos e a combustão.” O conceito de sustentabilidade, incorporado por todo o Grupo, é o foco da equipe Shizen E, que em japonês tem o significado aproximado de energia natural. Seu gerente, Celso Shinohara, e toda a equipe foram chamados ao palco do evento de inauguração do Parque Eólico e aplaudidos a pedido do presidente Carlos Eigi. “Agora utilizaremos uma energia mais
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limpa, mais sustentável”, disse Shinohara. Esse volume de energia, 95 mil MW, será quase todo consumido através do SIN, pela fábrica de veículos Honda de Sumaré, no interior de São Paulo. Se tudo funcionar como esperado, o presidente Eigi garante que outros projetos semelhantes poderão surgir, visando o abastecimento da fábrica de motos de Manaus e da nova fábrica que será inaugurada no ano que vem, em Itirapina (SP). As primeiras ações socioambientais da Honda surgiram na década de 60, quando, por iniciativa de seu fundador, Soichiro Honda, foi criado um departamento para estudar e reduzir as emissões de poluentes de seus produtos, além de promover ações para reforçar os laços com as comunidades locais. Em 2011, a empresa estabeleceu a meta de reduzir em 30%, até 2020, as emissões de CO2 de seus automóveis, motocicletas e produtos de força, e também de seus processos produtivos em todo o mundo, em comparação com os níveis obtidos em 2000. Assim, o parque eólico é uma das diversas iniciativas que a empresa vem realizando para contribuir significativamente para que as metas sejam atingidas no Brasil. A cerimônia de inauguração contou ainda com a presença do presidente da Honda South America, Issao Mizoguchi, da presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Melo, e do prefeito de Xangi-Lá, Cilon Rodrigues da Silveira. A repórter viajou a convite da Honda Energy.
Divulgação
7ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente premiou 68 alunos e professores
Por Anna Carolina Düppre e Ariane Mondo, da OBSMA/Fiocruz
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ambém no dia 26 de novembro 11, foi realizada a cerimônia de premiação da 7ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA) na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Os 68 premiados de todas as regiões do Brasil, entre alunos e professores, receberam medalhas e assistiram à palestra do jornalista ambiental André Trigueiro sobre consumo consciente. Também durante a cerimônia foram revelados os destaques nacionais, trabalhos considerados os melhores dentre os premiados regio-
nais, que receberam placas comemorativas. Estiveram presentes na solenidade de abertura Nilo Sergio Diniz, diretor de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Cristina Araripe, coordenadora nacional da Olimpíada, Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, e Paulo Garrido, presidente da Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc-SN), além de demais convidados. Sônia Araripe, Editora e Diretora de Plurale em revista e Plurale em site, foi uma das juradas. Nísia Trindade, vice-presidente de Ensino,
LEITURA, A MAIOR CURTIÇÃO VIVALEITURA vai para projeto divulgado em Plurale
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estaque nas páginas da Plurale em duas edições passadas, o projeto Ação Integrada para o Letramento, da Universidade Federal do Paraná, acaba de receber o prêmio VIVALEITURA 2014, entregue pelos Ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), em Brasília. Quem recebeu a premiação foi a jovem professora Érica Rodrigues, que participou do evento Ação Integrada para o Letramento em 2012, coordenado pela professora Lúcia Cherem. Ela aplicou na escola estadual João Gueno, em Colombo, a cerca de 20 quilômetros de Curitiba, a metodologia assimilada: “Além de serem despertados para o gosto pelos livros, os
alunos tornaram-se agentes de leitura, lendo para idosos, recomendando livros e também passaram a escrever melhor”, disse Érica à Plurale. Gosto Pela LEITURA - Desenvolvido com a turma do 6º. Ano, o trabalho incluiu a leitura literária nas aulas de Língua Portuguesa. Crianças pertencentes a um nível socioeconômico médio-baixo, descobriram o prazer da leitura, quando tinham apenas como diversão os programas de TV. A biblioteca da escola conta com um bom acervo de literatura infanto-juvenil e a professora passou a levar para a sala de aula uma caixa de livros previamente selecionados. Os alunos escolhiam livremente para ler durante os 50 minutos da aula. Os que se interessavam podiam emprestá-los para terminar a leitura em casa.
Informação e Comunicação da Fiocruz, declarou que os trabalhos apresentados, muitas vezes projetos que já existem há alguns anos, mostram a dimensão dos problemas no país mas, sobretudo, evidenciam a criatividade, união e participação social. “O consumo favorece a vida. O consumismo depreda, degrada e destroi as condições de vida. (...) A sociedade de consumo é hipnotizada por uma avalanche de publicidade que remete ao consumo pelo consumo, e o mundo que se dane!”. Este foi o tom da palestra de André Trigueiro, professor e jornalista atuante na temática ambiental. Suas colocações sobre o compromisso dos indivíduos com o próprio meio animaram e provocaram a plateia, que teve a oportunidade de fazer perguntas ao final. “Qual é a relação entre meio ambiente e injustiça social?”, perguntou uma das estudantes. A degradação ambiental impacta com mais intensidade os mais pobres, declarou Trigueiro. Camadas sociais mais abastadas, que podem consumir em um ritmo muito maior, não são afetadas da mesma maneira pela escassez de água, comida ou energia. Por isso, avaliou ele, é necessário que se pense e pratique o consumo equilibrado e consciente.
As atividades de leitura individual se alternavam com a leitura dos livros em voz alta pela professora. Uma destas leituras resultou numa atividade extremamente estimulante para todos. A professora leu em voz alta, o livro a Maldição da Moleira, da autora Índigo. Eles gostaram tanto da história, que pediram mais e acabaram fazendo contato com a autora e recebendo a visita dela. “Os alunos enfeitaram a escola e sentiram-se valorizados com a visita simpática de uma pessoa importante”, diz Érica. O Prêmio - Com o objetivo de estimular a leitura, a 7ª. Edição do VIVALEITURA concedeu R$ 25 mil a quatro experiências na área de leitura desenvolvidas dentro de quatro categorias: “Bibliotecas Públicas, Privadas e Comunitárias”; “Escolas Públicas e Privadas”; “Práticas continuadas de leitura em contextos e espaços diversos desenvolvidos pela sociedade”; e “Promotor de Leitura (pessoa física)”. Para a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, o Brasil só dará o salto de qualidade que seus cidadãos desejam e precisam “quando formos um país de leitores”. O evento foi realizado no Salão Nobre na Câmara dos Deputados.
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Especial
A travessia ao Monte Roraima Ao longo de uma semana, a nossa editora de fotografia fez a caminhada até o alto de um dos principais extremos do país, na fronteira com a Venezuela e Guiana. Venceu seus desafios e pode apreciar a exuberância e grandiosidade da região. Agora, compartilha com os leitores de Plurale de Texto e Fotos
credo, Luciana Tangrafia to Editora de Fo de Plurale (RR) De Boa Vista
L
endas indígenas, mistérios, paisagens exuberantes e um clima de aventura. Estes são alguns dos “ingredientes” que renderiam, sem dúvida, um bom livro ou até novela. Pois é justo um cenário da novela “O império” que fomos desvendar e conhecer de perto. Na verdade, muito antes do Monte Roraima, no extremo norte do país, passar a ser conhecido como o “Monte do Comendador José Alfredo” – personagem vivido na trama de Aguinaldo Silva pelo ator Alexandre Nero – já tínhamos acertada este Especial. Depois de desbravarmos diversas outras regiões, de diferentes biomas, para os nossos leitores – como o Pantanal, vários pontos da Amazônia brasileira e peruana, a região Sul, a Mata Atlântica, Fernando de Noronha, Chapada dos Veadeiros, Serra da Canastra (MG), etcsabíamos que tínhamos um “encontro
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marcado” com o extremo Norte, uma subida de 2.800 metros, caminhando quase 90 quilômetros ao longo de oito dias em terreno acidentado e íngreme, cruzando rios, enfrentando sol e chuva e fugindo das pedras escorregadias. Nas aulas do nosso tradicional Primário aprendemos que o Brasil era marcado ao Norte pelo Monte Roraima e ao Sul pelo Arroio Chuí. Pesquisando com calma, descobrimos que o ponto mais extremo em Roraima é o Monte Caburaí, na Serra com o mesmo nome, marcando a fronteira entre o Brasil e a Guiana. Mas o Monte Roraima marca o nosso imaginário há muitos anos. Há cerca de um ano, decidimos que iríamos fazer esta travessia. Como não sou uma aventureira de carteirinha – embora já tenha rodado vários destinos pelo Brasil e pelo mundo fotografando roteiros de natureza, normalmente com a providencial ajuda do carro, barco ou helicóptero – fazer trekking nunca foi uma rotina em minha vida. Quando mais em um terreno íngreme e acidentado. Desafio - Encarei a missão como um verdadeiro desafio. Ao completar 50 anos, levando uma vida agitada, mas como comum de moradora de grande
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centro, era preciso rever hábitos, reencontrar o equilíbrio com a balança e reorganizar o corre-e-corre diário do trabalho para conseguir realizar este sonho. Chegar ao Monte Roraima não de helicóptero – há esta opção, a preço bem mais caro, claro -, mas caminhando, em grupo de trekking ao longo de sete dias. Antes, no entanto, foram meses de preparo e um roteiro bem disciplinado para dar conta da missão. Fiz meu “dever-de-casa”, treinando com disciplina: caminhadas em média de 10 quilômetros por dia, pelo menos três vezes por semana e de preferência em terrenos acidentados e carregando uma mochila com 5 quilos. Acompanhe o serviço e dicas ao fim desta reportagem. Asseguro: até mesmo para uma andarilha pouco experiente, é possível sim atingir a meta traçada. Não é preciso escalar, basta ter coragem e seguir todas as indicações dos experientes guias. Especialistas - Aqui já faço uma ressalva. Nada disso teria sido possível sem os guias e equipe envolvida no roteiro. Gente acostumada com grupos deste tipo há 10 anos. “Nossa missão é esta. Dar todo o suporte para que o visitante possa aproveitar cada minuto da beleza do Monte Roraima”, diz Joaquim Magno Souza, dono da Roraima Adventures, agência especializada neste roteiro e em outros tantos de aventura. O guia Borracha nos desvendou as lendas e soube garantir segurança para todos do grupo. Éramos 19 visitantes de diferentes perfis, idades e nacionalidades: brasileiros de diferentes regiões, dois franceses e três suíços. Para minha alegria, tive a companhia de outras duas mulheres. No grupo há novatos na experiência e também verdadeiros profissionais em trilhas, como o fotógrafo suíço Hans Peter Gass Migliati, que dá aulas para grupos de turistas em caminhadas e escaladas nos Alpes. Especializado em fotografia de Natureza, ele estava encantando com o que via. “Muito mais espe-
tacular do que esperava”, disse. Hans estava acompanhado de dois amigos, Roni Lopes que é enfermeiro e Paulo Zingg, todos filhos de brasileiros, mas residentes na Suiça. Grupos de amigos e parentes também são bem comuns. Como dois irmãos e marido de uma prima. Luiz Eduardo Hargreaves é vegetariano, largou emprego em Brasília e está viajando há cerca de um ano, em período sabático por diferentes pontos. O irmão, Paulo Hargreaves, e o primo, Ricardo Alexandre Mendes Calvo, o Rick, formavam o trio do trekking. Outro grupo bem animado e unido eram os Catarinas, 3 amigos que gostam de se aventurar em escaladas, Dieter Lichtblau, Francisco Gruber e Laercio Linzmeyer. A caminhada também pode ser a dois, como para o casal de veterinário e fisioterapeuta, Renato Valentin e Berenice Chianello, que são maratonistas , mas com pouca experiência no trekking. Ou de solitários que logo se enturmam e viram grandes amigos, como Pedro Horigoshi, acostumadíssimo ao trekking de longa distância ou o Louc Durieux, um francês super simpático que trabalha com turismo de aventura. Luiz Tropardi, que me emprestou um de seus batões de caminhada, que eu agradeço muito, ou a corajosa Caroline Migault, uma jovem francesinha que viaja o mundo de hoje de mochila nas costas completamente sozinha.Não posso esquecer do Coelho, Vilmar e o Rogério, o trio divertido de Manaus. Dicas - Mas como foi a caminhada? Que cuidados tomar? Como suportar os desafios? Conto isso a seguir em uma espécie de diário de viagem. Compartilho com os leitores em fotos especiais de
Piscinas naturais no topo do Monte Roraima
cenários muitas vezes beirando o surreal. O Tepui Roraima, também conhecido pelos índios como a Mãe das Águas, nos inspira a tentar olhar a natureza de uma forma diferente. Assim que olhamos as montanhas ao longe, com a chuva caindo em cima delas, é difícil imaginar tudo que vamos encontrar pelo caminho. A primeira dica para garantir uma boa caminhada é tomar todo o cuidado com os pés. Passe sempre vaselina nos pés e use duas meias para garantir pés secos e saudáveis. Uma só bolha e o serviço estará perdido. Arrumar as malas, ou melhor, as mochilas, também foi um outro desafio. Primeiro organizar e comprar tudo o que recomendavam como essencial e depois tentar colocar tudo e o mínimo de roupa possível (o que para uma mulher já é bem difícil) dentro de duas mochilas. Sem, é claro, esquecer que eu estava indo para fotografar, ou seja meu equipamento também tinha que ir. E não é leve. Por mais minimalista que eu fosse nessa hora, seriam pelo menos 4 kg só de equipamento. A tarefa estava complicada, mas não impossível. Como já estava acertado que teria um carregador pessoal, para a minha mochila cargueira, barraca e outros materiais, que não poderiam passar de 15kg, resta-
va uma mochila e um cinto de fotografia para o resto todo: equipamento fotográfico, água, barrinhas de cereal, repelente, filtro solar, corta vento, capa de chuva, óculos escuros, creme para os pés (pode parecer frescura, mas foi um dos itens mais importantes da mochila). Verdadeiro tesouro - Posso assegurar que não chega a ser um trekking tão pesado e que, com a ajuda de locais e especialistas, é possível, sim, cumprir a missão. Garanto ainda que todo esforço diário de cerca de sete horas de caminhada – em clima adverso – mais do que compensa ao chegar no topo do Monte e ver não só a imensidão, mas também cada detalhe da biodiversidade local. Que “Comendador” que nada. O Monte é nosso, de todos nós. Tenho orgulho de dizer que o verdadeiro “diamante cor-de-rosa” – diferente da trama da novela – pode ser encontrado por cada um dos visitantes que respeitem a região, suas lendas e tradições. Sem levar ou interferir em nada. O “tesouro” – a natureza preservada- está e deve ficar na montanha. Acompanhe nas próximas páginas fotos e o diário desta incrível caminhada até o Monte Roraima.
Paredão rochoso do Tepui Roraima
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Trilha com Monte Roraima ao fundo
E n s a i o Visual do chão do monte com poças de água da chuva formando lagos com jardins
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Bonnetia roraimae e Orectanthe sceptrum, plantas endêmicas do Monte
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Vale Sucre
Vista do Mirante no alto do Monte
A BELEZA ESTÁ NA IMENSIDÃO, MAS TAMBÉM NOS DETALHES
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ma característica que chama a atenção do visitante quando se depara com o Monte Roraima pela primeira vez é a imensidão. Tudo parece superlativo: o paredão rochoso, a densa floresta, as distâncias percorridas, os rios, etc. Também a importância de respeitar os “mandos” da natureza, que costuma mostrar a sua força e os seus “caprichos” a todo o momento. Do sol rascante já pela manhã, pode-se ter um cenário completamente diferente, com pancada de chuva forte e frio mais tarde. Tudo em um só dia. Mas não é só a riqueza da paisagem macro que
Texto e Fotos: LUCIANA TANCREDO - Monte Roraima (RR)
Formações rochosas do topo do monte
Utricularia quelchii, planta carnívora endêmica na região 29
Samambaiaçus (nome científico, Alsophila Taenites, família das Ciateáceas)
Texto e Fotos:
LUCIANA TANCREDO, do Monte Roraima (RR)
A névoa que aparece por entre as rochas em minutos, transforma a paisagem e é uma constante no topo do Monte 30
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Brilho dos lagos formados pela água da chuva no topo do Monte
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fica logo marcada na memória do viajante. Também os pequenos detalhes mostram a sua poesia. Orquídeas, flores, musgos, por todos os lados há o que ser mirado. Nas quatro páginas deste ensaio procurei apresentar uma pequena amostra de tudo o que nos deparamos nestes sete dias de caminhada. A beleza é de tirar o fôlego, dentro da densa floresta na base da montanha, onde os detalhes chamam a atenção e é praticamente impossível não apreciar cada flor – como a carnívora Utricularia quelchii, que parece sair direto das rochas-, cada folha, cada musgo que aparece. Dos gigantes samambaiaçus, que podem ser conferidas na grande foto em preto-e-branco, junto ao paredão rochoso, às pequenas bromélias. Já no topo as imagens esculpidas pelos ventos e pelas chuvas, nas escuras rochas durante milhares de anos, se mostram tentadoras a adivinhar com o que elas se parecem. O chão do Roraima lembra inúmeras pegadas gravadas nas pedras. Em alguns pontos do alto desse monte inóspito, as lagoas brilhantes espelham os desenhos das nuvens no céu. O Vale Sucre e as piscinas naturais são um deslumbre. Se um dia sonhamos como será o céu, já tivemos aqui uma boa amostra. Do alto, como se estivéssemos bem perto das nuvens, o mundo parece fazer mais sentido. E nós, regressamos ainda mais empenhados na missão de tentarmos fazer a nossa parte pela preservação do planeta.
Formações rochosas esculpidas pelo vento por milhares de anos.
Orectanthe sceptrum, parace uma bromélia, mas não é, tem a cor azulada e é muito comum no topo formando lindos jardins naturais 31
Especial
Diário de caminhada: minha Viagem ao Tepui Roraima Por Luciana Tancredo, de Plurale
1º dia Partimos no começo de outubro, dia 4. A previsão do tempo indicava que poderíamos ter alguns dias de chuva, mas sol forte também. A primeira coisa em se tratando de Roraima é bom saber que tudo nesta travessia se aproxima dos extremos: calor, umidade, frio e chuva. Algumas vezes em um só dia. Mas vale mesmo conhecer e ter esta oportunidade. Começamos o briefing cedo, 9h, no Aipana Plaza Hotel, no qual o grupo estava hospedado. Joaquim Magno, dono da Roraima Adventures, apresentou o grupo: éramos 19 aventureiros, de diferentes idades e histórias. Ele explicou tudo sobre a expedição: roteiro, dificuldades, clima, histórias de outros visitantes, etc. Magno assustou, e ao mesmo tempo, incentivou, deixando bem claro para todos que o sucesso da viagem dependeria única e exclusivamente
2º dia
Agora era para valer. Acordamos cedo, tomamos um rápido café da manhã no hotel e partir em carros 4X4, rumo à aldeia indígena de Paratepuy, onde a aventura realmente começou. Esse trecho, sacudindo dentro dos carros, já começava a colocar os viajantes um pouco mais no clima, com a Gran Sabana venezuelana começando a se mostrar. Subimos uma serra de estrada de terra e quando chegamos à aldeia, já estávamos a mais ou menos 1.300 m de altitude. Começou a distribuição das bagagens, identificação de todos que estão entrando no Parque e um papo rápido com o coordenador do grupo. Nesse momento, meu carregador pessoal,
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tem que estar conosco em nossas mochilas de ataque. Começamos a caminhada por volta das 11h30. E mal começamos a de cada um de nós e do comportaandar, logo percebi que o meu ritmo era mento diante das dificuldades que totalmente outro. O grupo foi indo e eu a montanha apresenta. Também frificando para trás, olhando a volta, procusou que a equipe e os guias são muito rando ver tudo: o céu, as plantas, o chão, preparados para dar todo o suporte as pedras, os Montes ou Tepuis ao lonnecessário, mas que o que importaria ge, tudo me chamava atenção. Começo a mesmo seria a responsabilidade com a fotografar avidamente: da formiga, ao laqual cada um iria encarar a sua viagem. garto verde; da textura do chão ao capim Depois de tudo explicado e entendido, que beira a trilha. Parece que chove separaram-se as barracas, distribuíramforte apenas em cima do Roraima, -se os sacos de dormir, colchonetes, e que na língua dos índios, significa cada um terminou os seus preparatia mãe das águas. Ainda não tinha convos. Seria a hora também de desistir se seguido vê-lo de verdade, o Monte panão se achar preparado para a expedirece que se escondeu atrás das nuvens. ção. Neste momento, nem quis pensar Enquanto que o Tepui Kukenan, menos mais nisso, e resolvi que dali em diantímido e já estava lá exibindo, em todo te seriam só bons pensamentos e o seu esplendor, é difícil parar de fotobom humor. Depois do almoço, era grafá-lo. Visão linda! A caminhada parecia chegada a hora de partir em duas vans tranquila, mas foram 16km por trilhas de para Santa Helena de Uiarem, já na Veterra dura e pisada. Pelo menos nesse nezuela. Lembrando: Tepui (grande primeiro dia foram poucas subidas e desmontanha para os indígenas) Roraima cidas, o terreno ainda é um pouco mais fica na tríplice fronteira entre o Brasil, plano. De repente, olho para frente e Venezuela e Guiana. Até aqui, viagem lá está ele já sem nuvens próximas, tranquila. Passagem pela fronteira, com o Tepui Roraima, nosso objetivo aquela fila normal, para que todos temaior nessa aventura. Agora sim ele nham seus documentos vistoriados e já se mostrava que era tudo aquilo carimbados. Apenas a ansiedade é que que falam dele, aquela imensa monvai aumentando. Depois de um jantar tanha em forma de mesa, imponenanimado, agora que todos já se conhete, linda e mística. Já quase no fim do ciam um pouco, voltamos para o hotel, percurso, chegamos ao primeiro grande para a última noite de sono em cima de rio que iríamos atravessar, o Rio Tek. Trauma gostosa cama. Pois a partir de agovessia tranquila seguida de uma grande ra iríamos dormir nas barracas. Confessubida, no topo uma igrejinha toda de so: não acampava desde os 22 anos. pedras, linda. E por fim descemos até o segundo grande rio a atravessamos antes de chegarmos ao acampamento, o Shasa, e os de quem mais quis contratar, pe- o Kukenan, onde do outro lado, meus garam as nossas mochilas cargueiras. Tudo que companheiros de aventura já tomavam a gente precisa para essa primeira caminhada, um banho relaxante.
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Theodoro e Borracha na travessia do Rio Tek
4º dia
Paredão rochoso do Tepui Roraima
3º dia
A caminhada foi mais dura, fizemos 7 km de subida, o que para mim é o mais complicado, pois a minha capacidade aeróbica é baixa. Mas, vamos que vamos, sem medo e seguindo o mantra: bons pensamentos e bom humor. O café é cedo; às 8h em ponto já estávamos partindo para o acampamento base do Monte Roraima, bem embaixo da montanha. O dia estava lindo, e um sol bonito estava batendo no paredão do Kukenan, iluminando todos os detalhes desse Tepui sagrado, vizinho ao Roraima. Kukenan significa o pai dos Ventos e, nas lendas dos povos locais, ele era o lugar onde os sacrifícios para Makunaima (Deus e guardião das montanhas) eram feitos. Pode ser conhecido também como o Vale dos Mortos. É uma montanha agressiva e de difícil acesso, por isso, as autoridades venezuelanas proíbem as expedições de turistas por lá. Reza a lenda, que em uma antiga expedição ao Kukenan, os guias indígenas, sentindo a energia negativa local, abandonaram os exploradores repentinamente. Perdidos na montanha, os visitantes nunca mais teriam sido encontrados. Os caminhos até o Monte Roraima, agora já parecem mais difíceis, a trilha batida, começou a dar lugar as subidas de cascalho solto, que escorregavam um pouco, o bastão de trekking que o Luiz (um dos meus companheiros de aventura) me emprestou foi muito bem aproveitado. Ajudou – e muito - nas subidas mais íngremes. Recomendamos que todos tenham o seu. O belo paredão do Roraima se aproxima lentamente, mas já é possível perceber a cor rosada das rochas e as imensas fendas que se formam na montanha. Rosada sim, mas não há diamantes cor-de-rosa por aqui, feito na novela, por favor. Ficção é ficção, realidade é realidade. As orquídeas e as bromélias começam a aparecer
uma aqui outra ali, colorindo a vegetação da Gran Sabana, até então bem árida. Uma flor lilás me chama a atenção e procuro saber o nome. Nesse momento, descobri que Tensing, um dos guias que me acompanha hoje, é um expert em plantas e me dá a partir daí uma verdadeira aula de botânica da região. A “flor”, na verdade, é uma planta carnívora, que tem em suas raízes bolsas que “comem” larvas minúsculas encontradas na terra encharcada em que elas se encontram. Foi aqui também que aparecem as primeiras “provas” de que este é mesmo um santuário muito especial a ser estudado por especialistas: uma planta encontrada somente em Utricularia Humboldtii, dois lugares planta carnívora no planeta, aqui na região do Roraima (no topo inclusive) e na África, o que reforça a tese de que esses continentes a muitos e muitos anos atrás eram unidos. Já bem próximos do acampamento base, o tempo começou a mudar e Tensing me apressou, alertando que tinha que andar mais rápido e parar um pouco de fotografar, pois a chuva vai cair. Chegamos ao acampamento-base e 5 minutos depois, a chuva desaba forte. Vesti rápido o biquíni e tomo um banho de chuva: a água estava fria, mas é melhor do que ficar restrita aos lencinhos umedecidos. Já com a noite caindo, uma surpresa no céu - a Lua cheia brilha em cima do paredão do Roraima, iluminando o topo do monte.
O dia amanheceu bonito, e, como de costume, acordamos bem cedo para arrumar tudo e levantar acampamento. Depois do café, pose do grupo todo para uma foto antes da grande subida. Os guias anunciaram que este deveria ser o dia mais bonito e mais cansativo também. Estou bem animada, e fiz uma grande descoberta, consigo dormir muito bem numa barraca. Duas noites se passaram e não tive nenhum problema para pegar no sono e acordei muito bem disposta nos dois dias. Como já tinha percebido que seria sempre a última a chegar mesmo, resolvi deixar todo mundo subir antes e saí por último. Tive uma companhia especial - além do líder dos guias, Everaldo, o super experiente Borracha, escalado para me acompanhar nessa subida – também Hans, o jovem fotógrafo suíço-brasileiro quis seguir o
Fotógrafo suíço-brasileiro Hans
trajeto com calma para poder fotografar melhor cada detalhe. Após a primeira curva, já estávamos dentro da densa floresta, e aí entendi, nesse momento, tudo que falaram a respeito deste local. Realmente, para mim, que adoro fotografar plantas, parecia que tinha chegado ao paraíso. Para todo os lados onde olhava, via preciosidades - orquídeas, bromélias de diversas cores, e tamanhos, algumas atingindo até altura de 4m a procura da luz do sol. Entre uma curva e outra, vi o guia Borracha sentado numa pedra me esperando. Nesse momento, eu pensei: ou tinha alguma coisa muito legal para fotografar ou o que me esperaria era algum trecho bem perigoso que ele precisaria estar perto de mim. Ainda bem que era a primeira opção: o desenho do mapa do Brasil surgiu na minha
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Dado, Paulo e Rick no Marco da tríplice fronteira: Brasil, Venezuela e Guiana
Especial
Desenho do mapa do Brasil no paredão rochoso
frente desenhado no paredão do Roraima, com direito a floresta amazônica e tudo (foto de capa desta edição). O que é a natureza! São essas sutilezas que fizeram o diferencial nessa aventura. Chegamos na parte mais complicada e bonita ao mesmo tempo dessa jornada ao Monte Roraima - o Passo das Lágrimas. O lugar é tudo o que falam dele: lindo, perigoso, surpreendente, escorregadio, com uma vista fantástica e, obviamente, tinha que estar chovendo um pouco; mas até a chuva caindo próxima rende imagens lindas. Estávamos de capa, o que complicava um pouco mais a subida, pois perdíamos parte da mobilidade. E eu, querendo fotografar, ao mesmo tempo em que subia nas pedras soltas e molhadas; tendo que segurar com as mãos onde fosse possível. Fiquei um tanto atrapalhada, no entanto, passei por mais esse desafio sem nenhum problema maior. Porém, confesso, sem vergonha: minhas pernas tremeram e eu fiquei um pouco assustada. Se você acha que acabou, posso confessar que ainda falta um bom pedaço e mais pedras soltas. As subidas pareciam verdadeiras escadas formadas por imensas pedras quadradas, bem difíceis. O experiente Borracha percebeu que eu estava ficando um pouco cansada e me avisou que faltava pouco, que era para me animar, porque estávamos nos aproximando do lugar que chamam de Portal, onde pedras escuras começam a aparecer, formando imagens interessantes, rostos, que parecem deuses protegendo a entrada da montanha. Ali estava Makunaima, o formato de um rosto perfeito esculpido pelo tempo nas rochas do Tepui Roraima. Nesse momento, todos devem pedir permissão para continuar. É o que diz a lenda: Makunaima é impiedoso com quem não respeita os mandamentos
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dessa montanha sagrada. Os índios o veneram até hoje. Dizem que ele não gosta que gritem no Tepui, e que quem faz isso terá consequências. Muitas lendas foram contadas ao longo da viagem, essa é só mais uma. Enfim chegamos ao Topo do Monte Roraima! As plantas mudam totalmente, agora, tudo é rasteiro, e pequeno, mas não deixaria de ser lindo: verdadeiros jardins coloridos que parecem que passaram pelas mãos de um paisagista. Tudo parece combinar - as plantas parecem distribuídas harmoniosamente, cada uma em seu lugar por entre pedra e poças d’agua. Surgem plantas insetívoras, carnívoras, bromélias quase azuis, orquídeas vermelhas com um formato incrível. Chegamos ao acampamento e recebi uma salva de palmas. Todos se divertiram com os meus atrasos. Mas eu
Orectanthe Sceptrum Vegetação no topo da montanha
não podia deixar de fotografar, e ainda sou (admito) café-com-leite no que se refere às caminhadas O que importa no final é que todos estavam felizes.
5º dia
A caminhada foi ao Topo, sem se preocupar com ter que levantar acampamento. E vamos à ela: Vale dos Cristais, Ponto Triplo e El Foso. Como sabia que era um pouco mais lenta que os demais, fiz um caminho diferente, um pouco mais curto, porém, tão bonito quanto. Me acompanharam dessa vez, Theodoro e Johan, me guiando pelo que eles chamam o caminho dos índios: como geralmente, eles estão carregando muito peso, fazem alguns atalhos. Foi por esses atalhos que eu caminhei. O topo do Roraima, é quase todo composto por formações rochosas de cor escura, que com o tempo foram adquirindo formatos incríveis, de pássaros, tartarugas, camelos, algumas até parecem letras japonesas. Imensos vales verdes surgem por entre as várias cadeias de pedras, lagoas que mesmo sem chuvas
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continuam ali e em suas bordas belíssimos jardins de bromélias, orquídeas e plantas endêmicas da região. Algumas horas depois de caminhar por essa paisagem tão incomum, chegamos ao Ponto Triplo, que nada mais é do que o marco entre as três fronteiras do Monte: Brasil, Venezuela e Guiana. A Venezuela, detém quase que 80% do Monte, a Guiana uns 15% e o Brasil tem a menor parte, não mais do que 5%. Por isso a maioria das agencias operadoras de turismo no monte são venezuelanas, e são também as autoridades desse país que controlam a entrada e saída dos turistas do Parque Canaima, onde fica o Tepui. Do ponto triplo dei uma rápida passada no Vale dos Cristais para fazer umas fotos, e me impressionou ver aquelas pedras transparentes, brotando das rochas negras. De repente, vi Johan deitar no chão. Perguntei e ele contou que, deitar de costas nos cristais, faz com que saia toda a energia ruim do seu corpo e ele se enche das boas energias que vem das pedras. Mais uma das tantas lendas desse lugar fantástico. Para quem esperava pegar muita chuva e baixas temperaturas aqui em cima, tive a grata surpresa de ter pego dias bonitos na maior parte do tempo, com alguma neblina que apareceu inesperadamente, mas logo se foi, sem que a chuva caísse em nenhum momento. Estava muito bem acompanhada pelo guia Theodoro, índio experiente e com uma relação muito especial com os deuses que protegem o Monte: ele fez uns gestos que dizem espantar a chuva, várias vezes, e deu certo em todas. Verdade. Chegamos de volta ao acampamento quase escurecendo.
6º dia
Este seria o dia de descanso, mas o grupo resolveu que era mais interessante fazer mais um passeio pelo topo, e eu fui aconselhada a descer em dois dias, como na subida. Assim,
Grupo caminhando: ritmo intenso todos os dias
não ficaria tão cansada e também teria mais tempo para fotografar. Pensei bem e resolvi aceitar o conselho dos experientes guias: faria um passeio mais curto que os outros, passando apenas nas Jacuzzis e depois descendo para o acampamento-base com mais tranquilidade, dormindo lá e seguindo no dia seguinte cedo para o acampamento junto ao Rio Tek. Enquanto os outros do grupo fariam um passeio mais longo, dormiriam no topo e, no dia seguinte, desceriam direto para o acampamento Tek, onde todos nós encontraríamos novamente. Foi uma ótima ideia, assim pude fotografar com mais calma. Era mais legal poupar as minhas energias e descer em dois dias, sem correr nenhum risco da descida, já que apesar de fazermos bem menos esforço, ela seria muito mais difícil e perigosa. Tomei um gostoso banho nas Jacuzzis e fotografei bastante, pois é um lugar lindo, com imensas poças de água em tons de verde. Deixei a montanha feliz e muito realizada, pois consegui superar o desafio de subir o místico Monte Roraima, fiz belas fotos desse lugar mágico e volto¬¬¬¬ inteira, apesar de um pouco cansada. Não tive nenhum tipo de problema, não me machuquei, me alimentei bem, e continuo muito bem humorada. Alguns do grupo, não tiveram tanta sorte: tiveram desidratação, diarreias e outros saíram com joelhos e costas bem doloridos. Mas nada que estragasse a viagem - acho mesmo com esses pequenos imprevistos, todos ficaram com a mesma sensação de realização e de conquista. Chegamos ao acampamento-base por volta das 16h. Comemos, descansamos e fomos dormir, para sair bem cedo amanhã.
7º dia
Após uma noite tranquila na base da montanha, seguimos rumo ao acampamento Tek, onde passamos a última noite e tivemos uma confraternização regada a cerveja quente. É que os índios trazem da aldeia cerveja para bebermos no
acampamento, mas ela tem que ser gelada no rio. Dá para imaginar como elas ficam, mas depois de tantos dias de esforço, a cerveja - mesmo quente - é muito agradável. Esse trecho, de toda a jornada, foi o mais tranquilo: descemos relativamente rápido. Como já tinha fotografado bastante na subida, acabei nem fazendo muitas fotos durante a descida. Chegamos no acampamento as 11h e depois de tomarmos uma cerveja e comermos umas castanhas, fomos para o rio para tomar um banho. Neste dia, consegui até lavar o cabelo! Lá pelas 16h, começaram a chegar os primeiros membros do grupo, vindos direto do topo do monte. Estavam muito cansados da dura descida. Fui até o Rio Tek para fotografar a chegada dos meus novos e queridos amigos. Banho refrescante no rio e descanso merecido. Depois, foi a hora do jantar. O grupo estava animado, falando ao mesmo tempo, cada um tentando falar das suas impressões sobre o Monte. Hora também dos agradecimentos, da troca de contatos, todos trocando emails e telefones. Mas ainda tínhamos uma última caminhada pela frente. O meu guia combinou que sairíamos bem de madrugada, antes dos outros, para que ninguém precisasse ficar me esperando ao final.
8º dia
que o Tepui está ficando para traz, cada vez mais longe. Deu vontade de andar de costas para olhar para ele mais um pouco. Essa volta foi mais tranquila, pois o sol demorou a esquentar, e só começou a incomodar quando já estávamos quase no fim da caminhada. Aí sim, foi bem desgastante: o cansaço acumulado de todos os dias de esforço e de intensa emoção, se fez presente. Confesso que, no final, já estava quase sem energia, e os últimos 500m foram uma verdadeira provação. Depois de sete dias de subidas, descidas, pulando pedras no alto do monte, ainda teria que subir uma imensa ladeira até chegar à Aldeia de Paratepuy, onde iríamos encontrar os carros que iriam nos levar de volta. Hora de se despedir dos índios e carregadores que nos acompanharam, de assumir de novo a minha mochila e toda minha bagagem. Paramos ainda em um lugarejo próximo para almoçar e comprar artesanato local e lembrancinhas e depois voltamos para Santa Helena de Uiarem, onde trocamos novamente de carro a seguimos nas vans para Boa Vista. Fim de uma aventura maravilhosa que eu recomendo a todos que gostam de viajar e principalmente de conviver com a natureza da forma mais próxima e pura possível. Luciana Tancredo: Missão Cumprida
Último dia de viagem, último dia de caminhada. Deixei o acampamento com o guia ainda no escuro, por volta das 5h. Um pouco depois, o dia começou a nascer e paro para fazer fotos do acampamento ficando para trás: o céu é de um lilás azulado lindo, marcando o contorno do Monte Roraima. Já olho com uma certa saudade. Volto a caminhar, pois não posso perder muito tempo fotografando, o dia seria cheio e muito longo. Fui caminhando devagar, no meu ritmo, e o pessoal vai passando por mim, um por um. Fiz mais algumas fotos, só para me despedir das montanhas lá atrás. Foi estranho saber que o monte, nesse momento,
Agradecimentos: A realização desta reportagem especial não teria sido possível sem a ajuda de várias pessoas envolvidas. Como Joaquim Magno de Souza, da Roraima Adventures Turismo e toda equipe; aos guias da agência, aqui representados através do guia Everaldo Cunha Souza, o Borracha e seus parceiros Tensing, Theodoro, Johan e todos; aos carregadores, como o meu Shasa, tão essenciais e decisivos em uma jornada longa como esta; aos aventureiros amigos também parceiros nesta caminhada, que tiveram paciência com a nossa jornalista/fotógrafa e com os nossos objetivos alcançados; em especial ao solidário companheiro de travessia Luiz, que me emprestou um de seus bastões (tão útil); ao time do Aipana Plaza Hotel, representados por Wendy que tão bem nos acolheram em Boa Vista e a todos que, direta ou indiretamente, tenham contribuído para esta jornada e possamos estar esquecendo de citar nominalmente. Sintam-se, todos, cumprimentados. a todas e todos, a nossa eterna gratidão. 3535
Dicas e Serviço para chegar ao topo do Monte Roraima sem susto Por Luciana Tancredo, Editora de Fotografia de Plurale
M
esmo para quem já está acostumado a praticar o trekking, é importante seguir as recomendações e dicas de quem conhece a região. Assim, não recomendamos, de forma alguma, fazer esta subida sem o apoio especializado de quem vive e sabe cada detalhe da travessia. A Roraima Adventures leva grupos de visitantes para esta região – e outros pontos extremos do país, como o Chuí, ao sul - há 10 anos. “Procuramos dar todo o apoio aos visitantes para que eles se sintam seguros e tranquilos com a viagem e possam curtir cada momento”, explica Joaquim Magno de Souza, dono da agência, que é filiada à Abeta (Associação Brasileira de Agência de Turismo de Aventura). Há também a opção de chegar ao Monte Roraima de helicóptero, mas dependerá das condições de tempo. Os valores devem ser conferidos com a agência. Confira as principais dicas a partir da nossa experiência: Preparo físico – Mesmo os aventureiros mais acostumados, devem se preparar para a travessia até o Monte Roraima. São muitos dias em terreno acidentado, condições de clima que podem ser adversas, etc. Os menos experientes, como eu, devem reforçar os preparativos. Foram cerca de três meses de caminhadas intensas com mochila nas costas para ir se acostumando. Sob sol, chuva, subindo, descendo, experimentando diferentes situações. Mesmo assim, esteja certo que é não é um turismo calmo e suave. Quem estiver fora do peso ou muito cansado do estresse de trabalho deve esperar época melhor para partir. Este é um roteiro para os “fortes” em espírito e disposição. Antecedência – Os preparativos devem ser feitos com bastante antecedência. A Roraima Adventures
envia um roteiro bem detalhado com todas as explicações e sugerindo várias providências prévias. Como parte do Monte está na Venezuela e outra na Guiana, é preciso ter o passaporte em dia e também as vacinas em dia, principalmente a de febre-amarela. Carregador – Como era uma caminhada muito longa, em terreno acidentado e eu levava equipamentos (máquina, lentes, acessórios, etc), decidimos desde o princípio que precisaríamos de um carregador pessoal para ajudar com o material da caminhada, como barraca e mochila com as roupas. Foi a decisão acertada. Assim, fiquei mais livre para poder fotografar e sem tanto peso para andar. Não é tão caro e vale mesmo: custou R$ 40 por dia pago na moeda local venezuelana diretamente ao guia, contratado pela agência, além da alimentação deste guia, que saiu por cerca de R$ 300 todos os dias. Aventureiros acostumados com estas travessias podem levar seu material tranquilamente. Equipamentos – Esta é outra parte decisiva para um bom trecking. Ainda mais em se tratando deste roteiro. É bom cuidar do calçado para que não seja tão novo, nem tão usado que possa acabar gerando um escorregão. Veja também roupas apropriadas e acessórios essenciais, como chapéu apropriado, casaco, bastão para ajudar na caminhada, etc. Os guias carregam, mas é bom ter o seu kit básico de emergência com bandaid, pomada para alívio de dor muscular, remédio que esteja acostumado para tosse ou dor-de-cabeça, repelente, filtro solar, etc. Saco de lixo para carregar o seu próprio lixo e também lenços umedecidos são essenciais. Lembre-se de levar biquíni/ maiô ou calção no caso dos rapazes. O “banho” será coletivo, de rio, uma delícia. Cada um pode levar sua barraca que será levada pelos guias, sem custo adicional. Quem tem, deve levar o seu bom saco de dormir e isolante térmico. Quem não tiver, pode alugar na agência estes materiais: saco de dormir, R$ 80,00; isolante térmico simples, R$ 35,00; colchonete, R$ 80,00; e mochila cargueira, R$ 80,00. Estes valores são por toda expedição e não por dia.
Boa opção de hospedagem em Boa Vista para quem vai seguir a (95) caminhada ao Monte Roraima | PLURALE EM REVISTA Novembro / Dezembro 2014 36
3212-0800
Tempo – Por ser um ponto bem extremo, o Monte Roraima costuma chover boa parte do tempo. Mas também faz sol. Enfim, é como se você tivesse várias estações em uma apenas um curto período de tempo. Esteja preparado para começar o dia com camiseta sem manga e colocar casaco impermeável e capa de chuva mais tarde quando chover. Não adiante levar guarda-chuva, claro, mas uma boa capa apropriada ajuda bem. Antes de partir, converse com a agência para decidir a melhor data. Há períodos que chovem muito e o roteiro fica ainda muito mais difícil. Comida – O pacote inclui três refeições por dia (café, almoço e jantar). Ninguém passa fome, mas é bom se acostumar que vida de aventureiro é assim mesmo. Macarrão um dia, no outro também e fé na andança porque ninguém veio aqui pensando em menu especial, não é isso? Recomendamos levar de casa algumas barrinhas energéticas e algumas castanhas. Pouca quantidade, afinal você irá feito um caracol, levando sua “casa” nas costas. Caso o cliente tenha interesse em adicionar itens que não fazem parte do cardápio previsto, é necessário o adicional de R$ 150,00 para alimentação diferenciada. E se o viajante tiver interesse em lanchar na trilha, para comer durante a caminhada, deverá trazer e carregá-lo. Custos – Depende da época, do número de pessoas no grupo (quanto mais pessoas, mais em conta), mas um roteiro como este que fizemos sai ao custo de R$ 1.860,00 por pessoa já que o grupo era bem grande. Em grupos menores de duas ou três pessoas, sai por cerca de R$ 2.500 a R$ 3.000. Recomendamos um grupo médiou ou maior até para os mais experientes para poderem compartilhar as alegrias e as dificuldades. A caminhada fica mais “suave” em boa companhia. As passagens aéreas também dependem da companhia e da época, mas custam em torno de R$ 1.200 e diária em quarto individual em um dos melhores hotéis de Boa Vista, o Aipana Plaza Hotel (http://www.aipanaplaza.com.br) custa em torno de R$ 200 a 300, dependendo do quarto, da época, etc. Como os voos para Boa Vista são pela madrugada e a excursão começa aos domingos, sugerimos ir um dia antes para se ambientar melhor. Na volta dá para chegar e encarar o voo da madrugada na seguida, porém, combinando um bom banho no Hotel.
www.aipanaplaza.com.br
Divulgação/ Roraima Adventures
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TURISMO
www. roraima- brasil. com. br
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Social
Bancos comunitários revolucionam pequenas comunidades Experiência foi lançada na Vila de Abrantes, em Camaçari, Bahia, com apoio do Instituto Invepar em parceria com a Universidade Federal da Bahia. Até o fim de 2014, o estado terá 10 unidades
J
Por Isabella Araripe, de Plurale. De Vila de Abrantes, Camaçari (BA) Fotos: Thyago Bezerra da Silva/ Divulgação
á pensou ter uma moeda própria circulando onde você mora ao invés do Real? Isto é possível com a criação dos bancos comunitários. Em novembro, a novidade chegou à Vila de Abrantes, parte do município de Camaçari, localizado na região metropolitana da Grande Salvador, aonde foi inaugurado o primeiro Banco Comunitário do Litoral Norte da Bahia. No lugar do Real, a moeda que passa a circular na região é Abrantes. Este é o oitavo banco comunitário do estado, que até o final do ano terá dez bancos. A iniciativa conta com apoio do Instituto Invepar e da Concessionária Litoral Norte (CLN), empresa da Invepar, e tem como
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objetivo promover o desenvolvimento econômico local, por meio da criação de uma moeda social e liberação de microcrédito popular para microempreendedores da região. Zilma Ferreira, do Instituto Invepar, ressaltou a relevância de apoiar iniciativas como essa e trabalhar em conjunto. “A parceria nesse projeto foi muito importante, sem ela isso não seria possível”, conta Zilma Ferreira. A Invepar é um dos maiores operadores privados de infraestrutura de transporte da América Latina, com atuação nos segmentos de rodovias, aeroportos e mobilidade urbana e dentre os investimentos e concessões do grupo estão a Linha Amarela e o Metrô no Rio, o Aeroporto de Guarulhos (SP) e a Estrada do Coco e a Linha Verde,
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administrada pela CLN, que passa junto à região de Camaçari. O projeto é executado pela Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento Territorial da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (ITES/UFBA), em parceria com o Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Costa dos Coqueiro e conta com apoio da Rede de Bancos Comunitários e da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. O coordenador da ITES, Genauto Carvalho de França Filho, que participou da articulação de todos os bancos comunitários da Bahia conta que a demanda surgiu da própria comunidade, o que facilita a gestão
do banco. “O banco comunitário ajuda no desenvolvimento da própria comunidade na capacidade de auto-organização, mas o sucesso do banco depende muito da sua aceitação no território”, afirma Genauto Carvalho. Microcrédito - O banco possui um fundo de 10.000 Abrantes e sua política de crédito é dividida em duas linhas: a de consumo e a de produção. Na linha de consumo os valores variam de 50 a 300 Abrantes, com TAC de 10 reais, e o prazo para devolução do dinheiro é de até 5 meses, com parcelas mensais mínimas de R$ 50,00. Já na linha de produção os valores variam de 100 até 1.000 Abrantes, com juros de 3% ao mês. De acordo com Valquíria Juriti, presidente do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da Costa dos Coqueiros e uma das agentes de crédito do banco comunitário uma das grandes vantagens do banco é o fato de não precisar ter carteira de trabalho
O comerciante Marcos de Oliveira Santana está ansioso para que o dinheiro comece logo a circular na comunidade.
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O vizinho sempre sabe se a pessoa é confiável e se vai ter condições de pagar
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assinada para conseguir um microcrédito. Entre os pré-requisitos para ser aprovado pelo conselho de avaliação de crédito estão ter mais de 18 anos e comprovar que existe uma fonte de renda que fará com que aquele dinheiro retornar ao banco. No caso do agricultor, um dos pré-requisitos é ele não poder trabalhar com agronegócios. A agente de crédito conta ainda que a relação de confiança com o cliente é essencial e um dos critérios da avaliação de crédito é conversar com os vizinhos. “O vizinho sempre sabe se a pessoa é confiável e se vai ter condições de pagar”, conta Valquíria. Personagens locais - A população foi importante no desenho das cédulas que possuem dispositivos de segurança. As notas variam de 50 centavos até dez Abrantes e resgatam a história de Abrantes. Entre os personagens representados na moeda social estão um índio e uma baiana negra (que estão presentes em todas as moedas), o agricultor, o pescador, a lavadeira, etc. De acordo com Rosângela Tigres da Silva, da Rede de Bancos Comunitários da Bahia, é uma honra ter mais um banco comunitário no estado. Rosangela Tigres também é agente de crédito há seis anos
O feirante Agostinho Ribeiro já está recebendo abrantes e também está otimista
do Banco Comunitário de Matarandiba, em Vera Cruz, e conta que na região já foi possível perceber avanços graças a moeda social. Segunda ela a comunidade teve uma boa aceitação e dos sessenta comércios do local, apenas dois não aceitam a moeda social. A expectativa é que o mesmo sucesso aconteça em Abrantes. O comerciante Marcos de Oliveira Santana, que administra há cinco anos um restaurante na comunidade, está ansioso para que o dinheiro comece a circular na comunidade. “Há princípio achei estranho. Nós temos sempre medo do novo. Mas acho que essa nova moeda vem para incentivar ainda mais o comércio local”, conta o comerciante. Além da moeda social e do microcrédito, os moradores terão acesso à assessoria técnica, capacitação, construção de planos de gestão para empreendimentos e diversas iniciativas, desde necessidades básicas do consumo das famílias, como alimentação e remédios, financiamento da produção e prestação de serviço de empreendedores individuais, até as atividades de produção de associações e cooperativas.
O feirante Agostinho Ribeiro que trabalha há mais de 30 anos na feira que acontece aos sábados na comunidade também está otimista. “Já estou vendendo meus produtos em Abrantes. Depois trocarei o dinheiro por real. Mas só vou poder ter certeza que a troca é positiva quando ver o resultado”, conta Agostinho. A estudante Débora Dourado foi uma das primeiras a utilizar a nova moeda para comprar produtos na barraca do Agostinho Ribeiro. “Achei a moeda bem bonita e um atrativo a mais”, conta. O banco funciona no posto avançado da Prefeitura de Camaçari de segunda a sexta-feira das 8h às 16h. Aos sábados ele será aberto apenas quando houver eventos especiais como feiras, palestras e oficinas. O projeto foi selecionado no primeiro edital de seleção do Instituto Invepar, em 2013, e sua implementação começou em setembro do ano passado. A iniciativa também foi selecionada no segundo edital da instituição, em 2014. Ao todo serão beneficiados 31 projetos, no referido edital, dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. (*) A repórter viajou a convite da Invepar.
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Especial Abrolhos
Abrolhos: paraíso das baleias e preocupação no sul da Bahia Texto e fotos por Marina Guedes, Especial para Plurale De Caravelas e Abrolhos (BA)
À
primeira vista, o adjetivo que melhor define a cidade de Caravelas, no extremo sul da Bahia, poderia ser estar associado a um local de tranquilidade, sem grandes conflitos sociais. Entretanto, na principal porta de saída para um importante destino de mergulho no Brasil - Abrolhos - a boa noticia de que a população de baleias jubarte aumenta na região, em média, 7% ao ano, é motivo de preocupação entre a classe pesqueira. “Estes conflitos estão se tornando mais frequentes. Em parte, porque existe uma frota pesqueira, e em parte porque a população das baleias está aumentando. Estamos em uma fase de diagnóstico, tentando entender o problema para propor soluções. Alguns pescadores estão até trocando a arte de pesca, deixando de pescar com rede. A construção deste processo tem que vir junto com eles. Não adianta chegar com algo pronto, de fora, que às vezes a comunidade não aceita”, comenta Milton Marcondes, médico veterinário diretor de pesquisa da organização não governamental Instituto Baleia Jubarte (IBJ).
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O presidente da APESCA, Associação dos pescadores que abrange todas as modalidades de rede de pesca de Caravelas, Hélio Borges explica que uma das prioridades da entidade é encontrar uma harmonia à situação conflituosa. “Para a nossa pesca a baleia é um problema. Não vamos sair matando estes animais, mas elas nos dão bastante prejuízo. Nossa associação foi criada para ver onde poderíamos encontrar, pelo menos, a reposição dos materiais perdidos. E isso até hoje não aconteceu. O que fazer com a rede, com o apetrecho de pesca que a baleia destrói? Ela está ali, em seu habitat, mas nos dá prejuízo. Não tem ninguém que nos ajude a reparar, um pouco, esses impactos causados por elas”. Segundo a APESCA, são estimados de 1300 a 1700 pescadores na região de Caravelas, entre homens e mulheres. São 6 a 8 mil pessoas que dependem direta e indiretamente da atividade, incluindo zona rural e urbana. Uma das soluções, na avaliação do presidente, é a criação de um seguro defeso, como já ocorre para espécies como o camarão, por exemplo. “Temos que arranjar um meio de conviver com elas. Será que o governo e ONU vão liberar para
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Equipe do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) durante cruzeiros de pesquisa em Abrolhos.
matar, como era antigamente? As baleias têm que sobreviver, e nós também. Deveríamos ter ou um defeso ou a reparação dos danos. Essa é nossa luta. Ninguém disse que isso não poderia ser feito. A associação gostaria de saber o que se pode fazer”, questiona Borges. No caso do defeso do camarão em Caravelas, o pescador fica proibido de pescar por 45 dias, em dois momentos: de 1º de abril a 15 de maio e, novamente, de 15 de setembro até 31 de outubro, durante a reprodução da espécie. Nestes dois períodos, o governo federal paga quatro salários mínimos (no valor de R$ 724 cada), sendo dois por temporada. Muitos pescadores, como Braz Gonçalves dos Santos, 60, reclamam que o pagamento demora a ser feito. “Ficamos 45 dias sem receber um centavo, esperando o seguro ser pago. Chega esta época e fica uma situação precária. Fazemos um sacrifício para comprar a embarcação, empréstimo para comprar a rede e material. Botamos a rede na embarcação, satisfeitos, pensando que vamos ter uma renda para assumir o compromisso e a baleia vem, mete a cara, arrebenta tudo. É prejuízo na certa”, lamenta Braz. Aposentado, Ariovaldo Pinto Barreto, conhecido como Zezê, garante que não foram poucas as vezes em que teve problema com as baleias durante uma saída para a pesca de sarda ou cação a bordo de seu barco “Izadora”. “Me aborreci e parei. Sempre que botava a rede no mar, a baleia vinha e saia arrastando, acabava com tudo. Hoje, só pesco camarão, mais perto da praia, com outro material, a rede balão”. A rede usada para a pesca artesanal de espécies de peixe como sarda ou cação que são acidentalmente arrastadas pelas baleias - é chamada boieira ou de caída.
São lançadas ao mar normalmente ao final da tarde, e recolhidas cerca de duas a três horas depois. Tem esse nome porque vão, aos poucos, adentrando no oceano, conforme o vento e a maré. Algumas chegam a ter dois quilômetros de comprimento. “A gente só pesca mais tranquilo quando as baleias vão embora”, diz Zezê. SUSTO NO MAR Não é difícil encontrar pescadores de Caravelas com relatos curiosos sobre situações de susto em alto mar por conta da presença destes mamíferos aquáticos que chegam a medir, segundo a literatura da espécie, até 16 metros, no caso das fêmeas, e 15 metros, se machos adultos. “Uma vez, uma passou embaixo do barco. Estávamos puxando a rede de volta e quando olhei para baixo vi aquele bicho enorme parado, boiando. O coração ‘chegou à boca’. Imagina aquele animal maior que o barco, quem é que não fica com medo? Ela levou a rede, não fez nada no barco, graças a Deus. Mas já ouvi falar de outros locais em que atacaram o barco. Dizem que quando estão com filhotes é que é perigoso”, relata Zezê. Gilson Guedes, apelidado pela população local como Dú, está à frente da Colônia de Pescadores Z25, em Caravelas. “A cada ano, temos mais dificuldade por causa da chegada das baleias. Os órgãos públicos protegem a espécie e deixam à deriva o pescador. Se o governo não tomar providência, fizer alguma coisa em prol da classe pesqueira, pode ter certeza de que a dificuldade só vai aumentar”, queixa-se o representante. Em seus 32 anos de pesca artesanal, Dú recorda um problema recente que teve durante a temporada das baleias. “Perdi 22 peças de rede. Foram achar no Rio de Janeiro, em Macaé, toda enrolada. Na época, o prejuízo foi na base de uns R$ 6 mil. A solução seria ter o defeso ou liberar a matança. Não falo de acabar com a espécie, mas pelo
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Uma vez, uma passou embaixo do barco. Estávamos puxando a rede de volta e quando olhei para baixo vi aquele bicho enorme parado, boiando. O coração ‘chegou à boca’. Imagina aquele animal maior que o barco, quem é que não fica com medo? Ela levou a rede, não fez nada no barco, graças a Deus. Mas já ouvi falar de outros locais em que atacaram o barco. Dizem que quando estão com filhotes é que é perigoso Ariovaldo Pinto Barreto, conhecido como Zezê
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menos liberar para a matança como ocorria. A cada dia que passa a vida do pescador fica mais difícil”. Em 2014, pelo menos duas baleias foram encontradas mortas em praias da Bahia com restos de apetrechos de pesca presos em seus corpos. Antes mesmo de nascer, Wilson Alexandre Jesus Farias já tinha um apelido: “Lixinha”. Isso porque seu pai, também pescador, era conhecido como “Couro de Lixa” em alusão à semelhança da textura de sua pele com a do peixe Cação de Lixa. “Na barriga de minha mãe, me deram o apelido. Se o ‘Couro de Lixa’ ia ser pai, então o filho seria Lixinha”, conta em tom de brincadeira. Hoje, Lixinha parou de pescar para atuar em prol de sua classe. Dentre outras responsabilidades, faz parte do Conselho Deliberativo de uma das unidades de conservação marinha da região dos Abrolhos, a Reserva Extrativista do Cassurubá. “Cada embarcação leva, no mínimo, 30, 70 até 80 panos de rede, explica Lixinha. Cada panagem é em tor-
Pescadores artesanais de Caravelas estão tendo prejuizos durante a temporada de baleias na região
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Especial Abrolhos no de 70 metros. A baleia quando pega leva praticamente 80% do material. Arrebenta e vai arrastando até onde consegue se soltar. Algumas não conseguem e morrem. Às vezes, o pescador tem uma perda de 30, 40 panagens, em torno de R$ 15 mil, R$ 20 mil de material. Para repor isso depois, vai levar anos. É um prejuízo gigantesco dos dois lados, ao pescador e a baleia, que acaba morrendo logo na sequência, fica uns três, quatro dias se batendo na rede e acaba morrendo depois”, comenta. Lixinha. Algumas baleias podem ficar com a rede presa por meses sem conseguirem se alimentar. Nestes casos, morrem depois de meses de sofrimento. INICIATIVAS EM ANDAMENTO Um dos focos do IBJ é contribuir para alternativas que minimizem o problema entre pescador e baleia jubarte. Neste sentido, a mais recente iniciativa foi um documentário produzido a partir de recurso de edital em que a instituição foi contemplada. A ideia foi expandir o trabalho para os municípios da Costa das Baleias como Mucuri, Nova Viçosa, Prado e Alcobaça e, novamente, Caravelas. “Nesses outros quatro municípios discutimos pela primeira vez o emalhe de baleia com os pescadores (quando ela fica presa na rede de pesca, acidentalmente). Há também um relatório do trabalho. A ideia é organizar as informações do relatório em um documento e junto com o vídeo entrar em contato com autoridades em Brasília, Ministério da Pesca, do Meio Ambiente, deputados, senadores, para mostrar o problema. O vídeo será uma forma mais fácil de atingir este público. Em 2015 começaremos a articulação em Brasília”, antecipa o diretor. A tentativa de trazer para a região uma autoridade de Brasília já ocorreu, mas não se concretizou. “Tentamos uma reunião onde os pescadores iriam apresentar o problema, mas na última hora cancelaram a vinda do representante do Ministério da Pesca. A questão do emalhe de baleia não é um problema local, acontece em vários países. Na Comissão Internacional das Baleias há workshops sobre emalhe. Um dos próximos, talvez em abril de 2015, será sobre formas de prevenção. Queremos trazer experiências do mundo para discutir aqui”, diz Milton.
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Du (à esquerda) acredita que uma das formas de resolver o problema com a pesca em Caravelas seria criar um novo defeso durante a temporada de baleias na região.
CRESCIMENTO DA ESPÉCIE Há 25 anos o IBJ desenvolve ações voltadas à conservação de cetáceos em Abrolhos. No último levantamento feito pela ONG, em 2011, foram estimados 11.400 indivíduos da espécie jubarte na costa brasileira. “Projetando para agora, estamos imaginando algo em torno de 14 mil, 15 mil baleias. Em 2015 faremos outro sobrevoo para acompanhar”, conta o diretor. A metodologia usada para a contagem das baleias é denominada transecção linear, feita em uma área que abrange do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, onde há uma boa porção da distribuição das baleias. A contagem é feita entre o final de agosto e começo de setembro, no auge da temporada. “Estabelecemos linhas dentro desta área e vamos percorrendo, sobrevoando e contando as baleias que avistamos”, explica Marcondes. Os voos são feitos a uma altura baixa, cerca de 152 metros acima do mar. “Na verdade, é uma estimativa que fazemos, não contamos todas as baleias que existem. Fazemos uma contagem das que são vistas nas linhas que percorremos e extrapolamos para o restante da área”. Por ser feita com avião, ele diz que não há risco de que a contagem seja duplicada. “Passamos por uma linha e as baleias que vamos contando ficam para trás. No dia seguinte, estaremos trabalhando a uma distância muito grande da anterior. Se fosse de barco, poderia haver o risco de contar o mesmo animal mais de uma vez. Mas, no caso do sobrevoo, que é rápido, não há este problema”, complementa o diretor. O trabalho leva, em média, dez dias.
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A CAÇA NO BRASIL Dentro da Comissão Internacional da Baleia foi estabelecida uma moratória que proibia a caça comercial, que passou a vigorar em 1º de janeiro de 1986. O último ano em que o Brasil caçou baleias foi 1985. A moratória poderia ser revogada a qualquer momento. Para evitar isso, conservacionistas lutaram pela criação de uma Lei que estabelecesse a proibição definitiva da caça no País, fato que ocorreu em dezembro de 1987. Estima-se que existiam em torno de 25 mil, 30 mil jubarte no Brasil antes da caça. Com a atividade, a espécie foi reduzida para menos de 1 mil animais na década de 60. Durante muito tempo a população não mostrou sinais de recuperação. Ações para resguardar a espécie quando está na costa do Brasil, como proibir a exploração sísmica no litoral da Bahia, Espirito Santo e Sergipe entre julho a novembro, além da definição de uma rota para a circulação das barcaças que transportam eucalipto na região em uma área de menor concentração dos animais - de forma que minimize o risco de atropelamento - são medidas que contribuem para a conservação da espécie. A capacidade de adaptação da jubarte em diferentes situações é apontada também como razão para o aumento da espécie. Em maio de 2014, o Ministério do Meio Ambiente retirou a jubarte da lista de animais ameaçados de extinção no Brasil. A baleia jubarte vem para a costa baiana para reprodução e cria dos filhotes. Elas acasalam no Brasil, nascem, começam a ser amamentadas e quando tem condições de acompanhar as mães começam a migração para a região de alimentação. Achava-se que elas se alimentavam perto da península antártica. Hoje, se sabe que a área de alimentação diz respeito às ilhas Geórgia do Sul, Sandwich do Sul e o Mar de Scotia, no meio do caminho entre a
América e África, ao sul do oceano Atlântico, quase em oceano Austral, em torno de 40º, 50º Graus de Latitude Sul. SOBRE O IBJ: O Instituto Baleia Jubarte começou em 1989 como Projeto Baleia Jubarte. Em 1996 foi criado o IBJ, para gerir o projeto e captar recurso para a execução da pesquisa. O Instituto cresceu e hoje, além das pesquisas com baleias, trabalha com educação ambiental e monitoramento de botos em Caravelas. Também desenvolve ações para salvar baleias e golfinhos encalhados. No caso de animais vivos, a instituição resgata e devolve para água para ver se tem condições de sobrevivência.
de rede, atropelamento, doenças”, explica Milton Marcondes. Manter o equilíbrio, literalmente, é uma das habilidades que os participantes do cruzeiro de pesquisa adquirem. Em sua maioria, estagiários do Instituto que levam da experiência boas noções da vida embarcada. “A maioria chega aqui sem saber nada de navegação e termos náuticos. No final da temporada saem um pouco marinheiros. É um aprendizado diferente, como foi para mim também, que sou médico veterinário de formação. Fui aprendendo com o tempo”, lembra Marcondes. Biólogos, oceanógrafos e veterinários costumam ser o perfil
BALEIADA De julho a novembro, uma equipe do IBJ - normalmente formada por pesquisadores de universidades parceiras, voluntários e estagiários – desenvolve a atividade batizada entre os pesquisadores de “baleiada”. O destino são as águas da região dos Abrolhos nos arredores do Parque Nacional Marinho de mesmo nome. Cada saída dura, em média, três dias. Na temporada de 2014, o barco de apoio foi o “Moriá”, comandado por Bernardo da Silva Cerqueira, Edilomar Boaventura Passos (Mazinho) e Kezia Morais Monteiro. Sendo ela a responsável pela tranquilidade gastronômica de todos a bordo. “O trabalho é concentrado no período reprodutivo da jubarte. Contamos os grupos que localizamos, registramos o comportamento, composição social, se tem filhote, se é grupo competitivo, o local onde são vistos. Isso nos dará uma ideia da distribuição ao redor da região. Fotografamos ao máximo possível as baleias, tanto a nadadeira caudal, para identificar o individuo, como o corpo para ver marcas
dos participantes em cada temporada. A meta é que todos passem pelas atividades de pesquisa, embarcados ou não. “Todos têm a chance de passar por cada atividade”, diz Milton. PESQUISAS A coleta de amostra de pele e gordura também é feita durante o cruzeiro. Para isso, é necessário habilidade para manusear a balestra (instrumento semelhante a arco e flecha que, com uma flecha específica para pesquisa retira uma pequena amostra de gordura e pele da baleia). “A pele usamos para análise genética. Também permite identificar os indivíduos. A gordura usamos para dosagem de hormônios reprodutivos. Estamos pensando em trabalhar com contaminantes, para ver alguns indicadores nos animais”, explica o diretor. A gravação do canto da baleia também costuma ser feita. Uma das novidades da temporada deste ano é a pesquisa do biólogo e mestrando em ciências do comportamento da Universidade de Brasília (UnB), João Paulo Gravina. O foco é analisar os níveis de cortisol
e comportamentos associados a diferentes contextos pelos quais os animais passam durante a temporada reprodutiva. O projeto encontra-se no âmbito da neurociência, que busca explicar como funciona e se desenvolve o sistema nervoso. Os hormônios fazem parte desse processo, sendo que os contextos em que os animais se encontram podem alterar os níveis hormonais e o comportamento. O cortisol, hormônio de interesse do projeto, promove alterações fisiológicas no organismo, voltadas para uma maior mobilização de energia diante de desafios (disputa por fêmeas, gravidez, amamentação). Em um grupo de baleias, por exemplo, o pesquisador explica que quando disputam por uma fêmea, os machos batem a nadadeira caudal na água, um comportamento agressivo para outros machos. “Se você pega um borrifo, de forma não invasiva como fazemos, podemos fazer uma análise do nível de cortisol daquele indivíduo. Não sabemos o que é considerado nível de cortisol alto ou baixo para Jubartes, mas ao coletarmos ao longo da estação para várias situações diferentes seria possível delinear, por comparação, em quais situações estaria mais alto ou baixo. O cortisol é um hormônio muitas vezes associado a situações de estresse extremo. Aqui, estamos vendo um cortisol que se aproxima do natural. Prepara o organismo para enfrentar uma situação. Se o animal está em disputa das baleias, pode ajudar para que mobilize mais energia”, explica João Paulo. Para a coleta do borrifo é usada uma placa de acrílico sobre um cabo. Na placa é enrolado um papel filme onde o borrifo da baleia será coletado com a ajuda do vento contra na direção do barco. Sobre as hipóteses iniciais, o pesquisador comenta algumas. “Em grupos competitivos a tendência é ter um nível de estresse maior porque os machos estão disputando uma fêmea. Para as fêmeas, naturalmente a gente acha que as grávidas e as com filhote tenderiam a ter um estresse maior, natural para mamíferos”. Durante cada cruzeiro, o trabalho em equipe é fundamental. Marinheiros devem estar em sintonia com pesquisadores, principalmente na hora de reduzir a velocidade quando as baleias são avistadas e todos desempenham as atividades na proa da embarcação (parte da frente do barco). Quando as encontram, a reação de encantamento diante daquele enorme cetáceo é o denominador comum entre os que estão
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Especial Abrolhos a bordo. “Sempre que vejo uma, me emociono”, declara a voluntária canadense, Delphine Durette-Morin. Mesmo que estar a bordo não seja tanta novidade para alguns, como o estudante de oceanografia Gustavo Farah, o mesmo não pode ser dito sobre o aprendizado ao longo dos quase cinco meses na região. “O trabalho que desenvolvo na universidade (FURG, no Rio Grande do Sul) é voltado para laboratório. Aqui, com o IBJ, há um enfoque totalmente diferente. Existe o levantamento de dados, mas tudo é mais aplicado à prática, como a parte de educação ambiental”, exemplifica o estudante. Responsável por esta temática no IBJ, Carlos Aguiar, o Kid relata que o trabalho é feito com a comunidade. “Tudo que é feito na pesquisa é traduzido para uma linguagem popular, levado ao público”. Dados como a quantidade de baleias avistadas e conceitos sobre a espécie são ensinados de forma que se tornem atores na conservação. “Nossa função é interligar a relação entre o homem, econômico e toda a parte ambiental também, como que isso pode ser feito de forma sustentável”, salienta Aguiar. Decorridos 25 anos de existência do IBJ, Milton Marcondes destaca que a meta é ampliar a atuação do Instituto. “O Instituto desenvolveu uma expertise, metodologia de trabalho no mar com baleia. Talvez seja a hora de começar a diversificar e aplicar o que aprendemos para a conservação de outras espécies. Queremos começar a trabalhar com a toninha, uma espécie de golfinho costeiro ameaçado de extinção”, finaliza. PROJETO PESCA MAIS SUSTENTÁVEL A busca para garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros é uma das prioridades da ONG Conservação Internacional (CI). Em outras palavras, garantir que recursos como o camarão, peixes e caranguejos, não sejam exauridos. Em maio, a instituição foi uma das premiadas em um concurso intitulado “Desafio Google Social”. Eduardo Camargo, gerente da regional Abrolhos da ONG explica a iniciativa. “O desafio era unir uma tecnologia de comunicação em prol de uma mudança social importante. Vamos criar um aplicativo, um portal de transparência da sustentabilidade dos produtos pesqueiros que seja acessível ao usuário comum. A pessoa vai
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poder chegar ao mercado e checar o status de sustentabilidade daquele pescado, se pode consumir tranquilo ou não através de seu telefone celular”, diz Eduardo. O próximo passo, como relata Camargo, é identificar e refinar as pescarias para que se tornem sustentáveis. “Não há, no Brasil, nenhuma que se possa dizer que é sustentável. Estamos buscando iniciativas em todas as Reservas Extrativistas do Brasil. O prazo é colocar no ar o portal em dois anos. Selecionamos quatro áreas iniciais: as RESEX do Cassurubá e Canavieiras (BA) e Mãe Grande do Curuçá e São João da Ponta (PA). Estamos na fase de identificar as pescarias. Por enquanto, selecionamos o caranguejo-uçá. A meta é usar o potencial Google para fazer nascer um mercado sustentável”. A atividade pesqueira no Brasil vem sendo mal gerida, critica Camargo. “Mesmo com a criação do Ministério da Pesca, os incentivos são sempre de aumento de esforço, são subsídios para que o pescador tente sempre pescar mais. O próprio monitoramento pesqueiro começou e foi paralisado. Sem informação dos estoques, fica impossível fazer manejo”, avalia. Para conhecer melhor o projeto Desafio Google Social: https://desafiosocial. withgoogle.com/brazil2014/charity/conservation-international ADOTE ABROLHOS: Sobre outra ação recentemente realizada em prol da conservação de Abrolhos, intitulada “Adote Abrolhos”, de janeiro a outubro deste ano, Eduardo Camargo destaca o alcance da campanha virtual. A iniciativa ocorreu graças a uma parceria entre as ONGs CI e SOS Mata Atlântica, com a interação das principais instituições que atuam em Abrolhos. “Os números mostraram que muitas pessoas que nunca ouviram falar de Abrolhos, que estão fora do circuito do mergulho ou da conservação, ficaram conhecendo mais a região. A campanha levou para um público muito significativo, mas principalmente para um público que nunca tinha tido contato com a região. Espero que a gente mantenha Abrolhos online daqui para frente”. TURISMO EM ABROLHOS Anualmente, cerca de cinco mil turistas visitam o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos para conhecer um pouco mais da
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Todo barco de turismo é recepcionado por um funcionário nosso com palestra sobre as características do ambiente, importância da conservação e normas. Além disso, temos monitores no Centro de Visitantes, na praia do Kitongo, em Caravelas, que recebem os turistas e explicam um pouco sobre a região
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área cuja riqueza maior está embaixo das rasas águas. A região dos Abrolhos concentra a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, proporcionando ao visitante a inesquecível experiência de mergulho em águas transparentes ao lado de uma enorme variedade de corais, peixes e tartarugas. No meio do ano, há chance de avistar baleias jubarte também. O Parque é de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), subordinado ao Ministério do Meio Ambiente. Por ser uma área de preservação ambiental, há regras de conduta, como explica o chefe do parque, Ricardo Jerozolimski. “Todo barco de turismo é recepcionado por um funcionário nosso com palestra sobre as características do ambiente, importância da conservação e normas. Além disso, temos monitores no Centro de Visitantes, na praia do Kitongo, em Caravelas, que recebem os turistas e explicam um pouco sobre a região”. A pesca, por exemplo, não é permitida nos limites do parque. Atrativos do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos: caminhada na ilha de Siriba. Além do mergulho no Arquipélago, há mergulho nos chapeirões, que são estruturas coralíneas que só existem no Banco dos Abrolhos. São colunas de corais formadas em centenas de milhares de anos, com deposição de um esqueleto de coral sobre o outro em formato de cogumelo até a superfície, às vezes até 30 metros de altura. Esses chapeirões concentram uma biodiversidade muito grande. Além dos corais há fauna e flora que vivem em conjunto. Há, ainda, três naufrágios identificados no parque e que são abertos à visitação. O turista pode conhecer um pouco da historia, de onde vinham porque afundou etc.
Foto: Divulgação/ICMBio
Berna Barbosa em atividade na Ilha Siriba, no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos
Berna Barbosa
DEDICAÇÃO AMBIENTAL Maria Bernadete Barbosa (ou simplesmente Berna, como é carinhosamente conhecida) e Erley Cruz são dois dos três monitores que se revezam, normalmente por 15 dias no parque. Eles têm em comum a paixão por Abrolhos e pela função que desempenham. “Ter dedicado parte da minha vida a Abrolhos valeu muito a pena, não me arrependo, faria tudo de novo. Vim do Pará, não conhecia o fundo do mar. Aprendi tudo aqui, a mergulhar, nadar. O mar é algo que a gente tem que respeitar muito. O mar me ensina a cada dia muito mais”, desabafa Berna, que há 26 anos dedica sua vida à conservação em Abrolhos. Erley Cruz também compartilha da visão de sua colega de função e amiga. “Algumas pessoas estão preocupadas com o lado ambiental, mas ainda é pouco. O importante é que mesmo se vier um grupo de 10 pessoas, se duas saírem com o pensamento melhor ou diferente, estou satisfeito”, declara.
PRESENÇA MILITAR EM ABROLHOS Em Abrolhos, das cinco ilhas que compõem o Arquipélago (Siriba, Sueste, Redonda, Guarita e Santa Bárbara) a única que não pertence ao parque marinho é Santa Bárbara, a maior de todas. Sua administração é de competência da Marinha do Brasil. O local é abrigado por sete militares que se revezam ao longo de quatro meses. Além deles, há sempre um monitor do ICMBio que, além de orientar os turistas quando chegam à Ilha Siriba (onde os visitantes desembarcam), também auxiliam nas pesquisas. Anualmente, 25 pesquisadores desenvolvem atividades e ficam alojados em uma casa cedida pela Marinha na ilha de Santa Bárbara. A principal atividade da Marinha é garantir a navegação segura de quem passa por Abrolhos. Pero Vaz de Caminha, nos idos do século XV já alertava para o perigo de se navegar em águas rasas (em média, são 30 metros de profundidade), onde a presença de corais é intensa, como é caso daquela região. Esta é, inclusive, uma das origens do nome Abrolhos, por conta da recomendação de que os navegantes “abrissem os olhos para os perigos do fundo do mar” com grande quantidade de recifes de corais. No final de setembro deste ano, em sua primeira comissão à frente do Navio Balizador Tenente Boanerges – um dos Navios da Marinha do Brasil que prestam apoio à Ilha de Santa Bárbara e ao radiofarol Abrolhos - comandante Juarez Ferreira explica que a maior preocupação envolve a segurança nas atividades. “A navegação é tranquila. O que é necessário de maior atenção é a faina (trabalho) de fundeio (colocação da âncora na água) e transferência de óleo combustível, para sempre fazermos o trabalho com a maior segurança possível”. Subordinado ao Serviço de Sinalização Náutica do Leste, cuja sede localiza-se em Salvador, o Navio desempenha
diferentes funções, normalmente a cada dois meses, detalha Juarez. “Nesta missão foi feito transporte de material de alvenaria para a reforma do radiofarol, material para as casas que guarnecem a ilha, transferência de combustível, assistência médico-odontológica à equipe que guarnece o radiofarol e, ainda remoção de material obsoleto e lixo sólido”, pontua Juarez. Natural do sertão do Ceará, na cidade de Pedra Branca, o suboficial Domingos Sávio Cosme de Lima passou os últimos quatro meses à frente do grupo de militares em Santa Bárbara. Sobre a importância de sua atividade, ele destaca o apoio aos navegantes. “Nossa responsabilidade aqui é voltada ao apoio à navegação por meio do radiofarol”. Construído na França e encomendado pelo Brasil na época do império, o farol foi instalado na ilha em 1861 e possui 22 metros de altura, com alcance de 51 milhas náuticas, o equivalente a 90 quilômetros, aproximadamente. Antes, funcionava a base de querosene, posteriormente passou a ser elétrico. Outro militar que tem vasta experiência em Santa Bárbara é o sargento Givanildo Morais, que chegou a permanecer por três anos e meio na ilha, entre os anos de 2002 a 2005. “A maior importância dos que ficam em Abrolhos é manter o farol aceso e salvaguardar a vida humana. O ponto chave de Abrolhos é o farol. Salvaguardar a vida do homem no mar, essa é nossa função”, ressalta Morais. “Nosso trabalho é de grande importância aos navegantes. O farol serve como um ponto de referência. O navegante que avista o farol se localiza. A costa do Brasil tem uma navegação segura justamente por causa das nossas cartas náuticas, atualizadas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação, da Marinha, e por causa dos faróis, que não podem nunca apagar”, reforça Sávio. E finaliza: “Cuidar de um Arquipélago como este é um trunfo muito importante em nossa vida. Perceber a importância da Marinha na preservação da natureza neste ambiente e do apoio à navegação é muito importante”, avalia o suboficial.
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E n s a i o ABROLHOS
Caravelas, outrora chamada de “Princesa dos Abrolhos” possui, aproximadamente, 21 mil habitantes, incluindo os distritos de Ponta de Areia, Barra de Caravelas e, também, a zona rural. As ruas da sede do núcleo urbano ainda lembram um pouco de sua história, com chão de pedras no lugar de asfalto. No local, o principal meio de transporte não são os carros. “Aqui tem mais bicicleta do que pessoas, brinca o peruano Frank Escobar, 45. Na companhia da esposa e filhas deixou seu país de origem para atuar no setor hoteleiro da localidade. Para chegar até a cidade de Caravelas, de onde partem as embarcações para o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, há três alternativas: via Porto Seguro (Bahia), Vitória (ES) ou Teixeira de Freitas (BA). Tanto para Porto Seguro como para Vitória há voos diários das principais companhias aéreas nacionais (GOL e TAM). Ao chegar em Porto Seguro, o trecho terrestre será de 260 quilômetros até Caravelas, que pode ser feito de ônibus ou táxi. A viação Águia Branca opera na região. Se a opção for via Vitória, são 450 quilômetros por estrada até Caravelas. De ônibus, a viação Águia Branca leva até Teixeira de Freitas, na Bahia. Depois, há outra linha de ônibus até Caravelas. Outra opção é, ao chegar em Teixeira de Freitas, ir de táxi até Caravelas. A terceira opção é a recém-lançada rota da Azul Linhas Aéreas, desembarcando no aeroporto de Teixeira de Freitas (BA). São três voos semanais (2ª, 4ª e 6ª) a partir de Belo Horizonte (MG). Neste caso, o trecho terrestre será de, aproximadamente, 80 quilômetros até Caravelas, que pode ser feito de ônibus ou táxi. As embarcações que levam turistas ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos para mergulhar – seja na modalidade de superfície ou autônomo, com cilindro – partem do píer municipal de Caravelas. Há quatro empresas que fazem saídas ao Parque: Abrolhos Embarcações (http://www.visiteabrolhos.com.br) Horizonte Aberto (http://www.horizonteaberto.com.br) Apeacatu (http://www.apecatuexpedicoes.com.br) Sanuk (http://www.abrolhos.net/abrolhos/sanuk.htm)
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Foto: Flávio Almeida
COMO CHEGAR:
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MARINA GUEDES
DE ABROLHOS, SUL DA BAHIA
Foto: Berna Barbosa
TEXTO E FOTOS:
O passeio pode ser feito com duração de um dia ou pernoite, conforme acerto prévio com a operadora de turismo. Se for de um dia, o visitante tem a chance de descer na Ilha Siriba e conhecer um pouco sobre a biodiversidade da região, guiado por um monitor do ICMBio. No caso da segunda opção, dormindo no barco de turismo, a pessoa pode, com autorização da Marinha do Brasil, ir ao farol na Ilha de Santa Bárbara. De acordo com a Secretaria Municipal de Turismo de Caravelas, há sete estabelecimentos para o setor hoteleiro na cidade, totalizando cerca de 300 leitos. Rodoviária de Caravelas: (73) 3297-1422
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Seguros
Os premiados em primeiro lugar nas três categorias Processos, Comunicação e Produtos e Serviços
CNseg anuncia vencedores do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros 2014 Projetos incorporam aos processos de trabalho maneiras de minimizar impactos no meio ambiente e melhoram a qualidade de vida das pessoas Da CNseg Fotos de Rosane Bekierman/ Divulgação CNseg
O
s vencedores da edição 2014 do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros foram conhecidos no dia 16 de dezembro, em cerimônia que contou com a presença dos principais líderes do mercado segurador, realizada no Hotel Copacabana Palace.
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Dos 78 projetos habilitados, nove chegaram à final, recebendo prêmios de R$20 mil, R$10 mil e R$5 mil para primeiro, segundo e terceiro lugares de cada categoria, respectivamente. A categoria Processos foi a que abrigou o maior número de concorrentes. Depois de duas etapas de avaliação, o primeiro lugar ficou com o trabalho “Gestão de Casos Complexos”, de Viviane Mathias e Tatiana Ferreira, da SulAmérica. Os colaboradores da Bradesco Seguros Mau-
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ricio Barbieri, Sylvio Vilardi, Rony Sakuragui e Ricardo Manfrim conquistaram o segundo lugar com a “Carteira Digital Bradesco Seguros”. O terceiro colocado foi o projeto “Loja de Seguros Itaú”, desenvolvido por Marcelo Sampaio Pinto, Francisco Ferraz de Castro, Tatiana Araujo Davigo, Leticia Cilento Assad, Barbara Bressan, Christian Araújo Costa e Thiago de Oliveira Borghese, do Itaú Seguros. Na categoria Comunicação, o trabalho “Plataforma do Conhecimento
– Educação Financeira”, de Rodrigo Moreira Pádova e Humberto Sardenberg de Freitas, da Icatu Seguros, foi o vencedor. Em segundo lugar, ficou o projeto “Seguro DPVAT ao alcance de todos”, de José Marcio Norton, Angela Amparo, Antonio Munró Filho, Lídia Monteiro, Luiza Rangel, Noé Vaz, Paulo Amador e Therezinha França, da Seguradora Líder DPVAT. O terceiro na classificação da categoria foi o “Sistema de Gestão de PerEvento foi realizado no Copacabana Palace e contou com a presença dos principais líderes do mercado segurador
O presidente da CNseg, Site sobre o Prêmio Antonio de Rossi, MarcoCarlos Antonio Almeida Braga de Inovação Seguros.dos destacou aeminovação www.premioseguro.com.br cases apresentados
consumidores”, avalia Marco Antonio Rossi, presidente da CNseg, explicando que eles “trazem para dentro dos processos de trabalho maneiras de minimizar impactos no meio ambiente e melhoram a qualidade de vida das pessoas.” Os trabalhos foram avaliados pela Comissão Julgadora do Prêmio, integrada nesta edição por Antonio Penteado Mendonça, Bruno Miragem, Julio Bierrenbach, Mariana Meirelles e Marcos Augusto Vasconcellos, profissionais reconhecidos nas áreas acadêmica, de seguros, de sustentabilidade, de inovação e da imprensa.
Vencedores em segundo lugar comemoram a vitória
formance dos Canais de Venda do Auto-RE”, de Rodrigo de Freitas Sampaio de Melo, da Bradesco Seguros. O primeiro colocado em Produtos e Serviços foi o projeto “Estratégia Digital da Mongeral Aegon – Um novo modelo de distribuição”, de Rafael Rosas e Cecília Seabra. Em segundo lugar, ficaram Patrick Paiva e Bernardo Dieckmann, da Icatu
Seguros, com o trabalho “Essencial Vida – Seguro de Vida Individual Flexível”. Em terceiro lugar, ficou o trabalho “Pagamento Direto de Sinistro a Terceiros”, de Marcelo Pires e André Hirszberg, da Bradesco Auto-RE. “Os projetos surpreenderam pela contribuição que trouxeram ao mercado e à forma como ele se relaciona com os
O Prêmio O Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros, criado pela CNseg em 2011, conta com um número cada vez maior de projetos inscritos. Em 2014, houve aumento de 41,5% em relação ao total de concorrentes na última edição, em 2013. Com o objetivo de estimular a evolução do mercado segurador e o aprimoramento das relações com os seus públicos, a premiação busca reconhecer o trabalho dos colaboradores da indústria de seguros que contribuem para a inovação no setor. Um dos fundadores da Bradesco Seguros e pioneiro no mercado segurador, Almeida Braga esteve presente à premiação, acompanhado de seus filhos. O evento incorporou elementos sustentáveis: as toalhas das mesas, por exemplo, eram de material reciclado de outros eventos. Cerca de 500 executivos compareceram à premiação.
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Rede
Diálogo Jovem sobre Mobilidade: Integrantes mobilizam evento e entregam Carta de Princípios para empresários do Sistema de ônibus do Rio Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos: Jorge Santos/ Fetranspor
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ntegrantes do Diálogo Jovem sobre Mobilidade – programa da área de Responsabilidade Social da Fetranspor, lançado em 2012, com o objetivo de envolver jovens e adolescentes nas questões relativas à mobilidade nas cidades – participaram ativamente do 16º Etransport, realizado nos dias 5, 6 e 7 de novembro. O Congresso sobre Transporte de Passageiros, um dos principais eventos do setor, teve como tema central a mobilidade inteligente, através da tecnologia, inovação e sustentabilidade. Em um ambiente alegre e lúdico, cerca de 30 jovens e adolescentes participaram da montagem da agenda e também da metodologia da dinâmica. “Foram três dias muito cansativos, mas certamente muito proveitosos. Jovens sugeriram muito. Aqui estiveram reunidos todos os atores do Sistema
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de transporte”, explicou a gerente de Responsabilidade Social Corporativa da Fetranspor, Márcia Vaz. Entre as novidades deste ano, a principal foi a construção, com a participação de todos os jovens, de uma Carta de Princípios entregue, na cerimônia de encerramento do 16º Etransport, na sexta-feira, para autoridades e empresários do Sistema. O que era para ser uma cerimônia tradicional, transformou-se em um momento de alegria com a presença dos jovens. Eles reforçaram que “o Diálogo constrói” e apresentaram vídeo com diversas entrevistas realizadas ao longo do evento com autoridades, jornalistas e formadores de opinião. Três representantes do programa Diálogo Jovem leram a Carta de Princípios pedindo que todos se unam na construção deste diálogo.
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Estamos participando das mudanças do Sistema pela melhor mobilidade urbana. Isso passa, certamente, pela inovação e nós, jovens somos inovadores
Carlos Costa, 29 anos
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O presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, confirmou a boa aceitação do convite ao diálogo. “Como vocês cos-
tumam dizer, este diálogo não será, já é”, afirmou. Ao longo dos três dias de encontro, os integrantes do Diálogo Jovem sobre Mobilidade destacaram algumas das mensagens que foram debatidas como: Diálogo que constrói, Mobili-
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Cresci muito participando do programa. Acredito que podemos ajudar a melhorar a mobilidade urbana do Rio através do diálogo e de nossas ações
Premiação - Ela comemorou, com sua equipe, a conquista, no evento, de duas premiações para programas da área social da Fetranspor. Os programas Diálogo Jovem sobre Mobilidade e Mobilidade Sonora – que apoia jovens orquestras e faz a inclusão através da música – ganharam o Prêmio Bienal de Marketing da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). O Diálogo Jovem venceu na categoria Fortalecimento Institucional e o Mobilidade Sonora foi o vencedor na categoria Responsabilidade Socioambiental. “É o reconhecimento dentro de nosso setor e também para o público externo. Fortalece institucionalmente e dá maior visibilidade para os projetos”, afirmou Márcia A Bienal ANTP de Marketing é uma iniciativa da ANTP, organizada pela sua Comissão Técnica de Marketing, com o objetivo de promover o reconhecimento das experiências de uso do marketing que contribuem para ampliar a ressonância das propostas que defendem a mobilidade urbana apoiada no uso intensivo do transporte público e a gestão de um trânsito seguro. Vaz. No último dia do evento foi realizada uma roda de diálogo envolvendo os jovens e vários formadores de opinião associados ao serviço de ônibus – empresários, motoristas de ônibus, o Secretário de Transportes do município do Rio, Alexandre Sansão, empregados, etc. O jornalista Edmilson Ávila, da TV Globo, especialista em transportes, foi um dos âncoras deste encontro. Confira o vídeo e fotos desta ação aqui mesmo em Plurale em site.
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Wanderson Lucas Nogueira, 15 anos
dade inteligente, União entre as partes, Integração e soluções conjuntas e Superação de obstáculos. Os jovens estavam ansiosos pela construção deste diálogo. “Estamos participando das mudanças do Sistema pela melhor mobilidade urbana. Isso passa, certamente, pela inovação e nós, jovens somos inovadores”, disse Carlos Costa, 29 anos, há um ano e meio trabalhando em uma empresa de ônibus do Sistema de Ônibus do Rio de Janeiro. Wanderson Lucas Nogueira, 15 anos, é uma espécie de “mascote” do: Diálogo Jovem: começou a participar aos 13 anos, mas, desde cedo, mostrou ter voz ativa. “Cresci muito participando do programa. Acredito que podemos ajudar a melhorar a mobilidade urbana do Rio através do diálogo e de nossas ações”, falou à Plurale. Outra novidade do Diálogo Jovem nesta edição do Etransport foi o Papo Reto, um espaço para entrevistas com especialistas nos temas mobilidade e sustentabilidade. Também foi lançada uma plataforma multimídia para reunir todas as informações sobre o programa e integrar os jovens, com vídeos, canal de comunicação, etc “Queremos estes jovens cada vez mais conectados e compartilhando ideias”, frisou Marcia Vaz.
A gerente de Responsabilidade Social da Fetranspor, Márcia Vaz e Andrea Marins, da mesma área, recebem de Valeska Peres Pinto o Prêmio Bienal ANTP pelo Projeto Diálogo Jovem.
Em um grande painel colorido, todo o resultado do trabalho dos jovens foi fixado no corredor do evento para ser compartilhado com os participantes do evento. Logo no primeiro dia, os grupos de jovens relacionaram também sete temas do Etransport com os temas levantados por eles durante os dois anos de programa Diálogo Jovem. Estes grandes temas foram: - Excelência no Transporte - Qualidade de serviço e melhores práticas - Novas fontes de recursos para o transporte no país - Tecnologia para o transporte - Modelos de gestão para a qualidade - Planejando a cidade do futuro - Mobilidade Corporativa: o impacto nas cidades - Pessoas: a chave para o sucesso do Transporte Público A Pares coordena a facilitação e operacionalização do Diálogo Jovem desde o seu nascimento, há dois anos. Designers transformaram em imagens coloridas as ideias e propostas dos jovens. Alda Marina, sócia-diretora da Pares, destacou que a definição dos princípios e macrotemas de trabalho dos jovens “demonstrou que o programa está muito conectado com o que é relevante para o Sistema”.
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Especial Água
Fórum das Águas tem como tema Escassez Hídrica e Saneamento: Impactos e Oportunidades”
Da direita para a esquerda; Breno Carone (Presidente do Consórcio Intermunicipal da Bacia do Rio Paraopeba (Cibapar), Danilo Vieira (Secretário Adjunto de Meio Ambiente do Governo do Estado de Minas), Marília Melo (Diretora Geral do IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas), José Carlos Carvalho (ex-ministro do Meio Ambiente e conselheiro do Museu de Inhotim), Denes Lott (Presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba) e Thiago Carone (secretário executivo da Cibapar)
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale De Inhotim, Brumadinho (MG) Fotos de Túlio Costa (Divulgação)
O
s chineses têm o mesmo ideograma no mandarim para as palavras crise e oportunidade, justamente por entenderem que é possível, a partir do alerta, partir para a busca por soluções. Bem distante do cenário chinês, mas nesta toada, em solo mineiro, genuinamente em tons de terracota e verde, que foi realizado o evento “Fórum das Águas – Escassez Hídrica e Saneamento: Impactos e Oportunidades”, uma co-realização do Consórcio Intermunicipal da Bacia do Rio Paraopeba (Cibapar) e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas. O local não poderia ser mais apropriado. No auditório do museu a céu aberto do Instituto Inhotim - onde obras de arte parecem se encontrar com os quatro elementos da natureza – água, terra, ar e fogo (pela fundição das peças) - especialistas no tema estiveram reunidos para dialogar ao longo de dois dias não só sobre a crise hídrica, mas, principalmente, sobre os caminhos para as oportunidades.
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Especialistas e autoridades apresentaram um amplo panorama dos impactos da estiagem ao longo de 2014, avaliando o período no contexto climatológico. A análise subsidiará a elaboração do Plano de Ação 2015, com abrangência e execução em todo o estado. Palestraram e acompanharam o Fórum, diversos representantes dos Comitês de Bacias, de empresas privadas, do Poder Público, do Judiciário, da academia e da sociedade civil. “O objetivo é ter uma abordagem realmente plural do tema para que possamos discutir as principais dificuldades enfrentadas nesse cenário, avaliar a realidade e definir ações de médio e longo prazo”, explicou logo na abertura, Marília Melo, Diretora-Geral do Igam. Minas Gerais, que ficou conhecida como a “caixa d`água do Brasil”, tem enfrentado a escassez hídrica assim como o resto do país. A nascente do Rio São Francisco, localizada na Serra da Canastra (matéria de capa da Edição 41 de Plurale em revista) chegou a secar. Rio Paraopeba - “Precisamos debater e pensar ações para a nossa Bacia do Paraopeba e para outras também”, disse Breno Carone, Presidente do Consórcio Intermunicipal da Bacia do Rio Paraope-
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FOTO: TULIO COSTA/ DIVULGAÇÃO
Evento realizado em Inhotim, Brumadinho (MG), reuniu especialistas no tema que debateram soluções e desafios
ba (Cibapar). Um dos focos do evento foi justamente a Bacia do Paraopeba, principal afluente do Rio São Francisco, que apresentou queda no volume da água em alguns trechos e corta a cidade de Brumadinho e outros 47 municípios mineiro. Como observou Carone, a proposta é tentar reduzir os possíveis problemas decorrentes da seca, com o desenvolvimento de ações de conscientização voltadas para a população e para os representantes destas regiões impactadas. Na região da Bacia do Paraopeba, vivem cerca de 2,5 milhões de pessoas e estão localizadas cidades importantes para a economia nacional, como Contagem, que dispõe de indústrias dos setores químico e metalúrgico e Betim, berço da fábrica da Fiat. Só esses dois municípios detêm 12,5% do PIB de Minas Gerais, de acordo com dados da Fundação João Pinheiro. O presidente da Cibapar contou aos jornalistas que, uma semana antes da realização do evento, a Cibapar promoveu uma barqueata, reunindo cerca de 200 moradores – de diferentes idades- em mutirão de limpeza no Rio Paraopeba. “Cuidar do Paraopeba é um prazer. E, felizmente, é um prazer para muita gente!
secam bem mais rápido e destacou a relevância da instalação de cisternas em áreas remotas para que a população tenha o que beber assim como possa continuar com a agricultura e criação de subsistência. Ações - O diagnóstico do período de estiagem em Minas Gerais e a avaliação do gerenciamento em cenário de risco foram apresentados pela Diretora-Geral do Igam, Marília Melo. Ela demonstrou as perspectivas mundiais com relação à gestão dos recursos hídricos, os desafios brasileiros e a situação do estado de Minas. De acordo com Marília Melo, “apesar da escassez vivida este ano, o Brasil ainda tem uma situação confortável com relação à disponibilidade hídrica”, disse. Já em Minas Gerais, a Diretora argumentou que a situação apresentada em 2014 pode ser avaliada como um acúmulo de déficit de chuva nos últimos três anos, que foi muito menor do que o esperado. Diante dessa situação, o Igam vem trabalhando para gerenciar os conflitos pela água. Diversas ações veem sendo desenvolvidas como a articulação com outros setores; a produção quinzenal de boletins informativos de estiagem que servem de subsídios para os municípios que enfrentam a crise, além de subsidiar as ações dos comitês de Bacia Hidrográfica e das Defesas Civis municipais e Estadual; a publicação de um Edital diferenciado para o Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (FHIDRO), com propostas de ações para enfrentar a escassez de água; o estabelecimento de critérios para operação e implantação de equipamentos para monitoramento e para gestão das informações de reservatórios de abastecimento e do setor elétrico, por meio de resoluções, além da proposta de contratação de um Plano de Segurança Hídrica para o Estado de Minas Gerais em 2015. Convênios – O diretor-geral da Agência Nacional das Águas, Vicente Andreu, veio especialmente de Brasília para o segundo dia do Fórum e falou sobre o cenário de escassez, mas também de ações envolvendo todas as partes. Na opinião da autoridade, o sistema tem que ser tratado como um todo: as políticas públicas tem que envolver os tratamentos de esgoto, das nascentes dos rios, as reservas legais e os perdas de água, que em alguns casos chegam a até 60%. “A questão da água envolve energia elétrica, agricultura, psicul-
FOTO: THIAGO/ DIVULGAÇÃO
A barqueata mostrou isso. Muita gente saiu de casa cedo, em pleno domingo, para cuidar no nosso rio. A tarefa de preservá-lo é de todos. Fico satisfeito em constatar que essa forma de pensar está sendo disseminada”, afirmou o presidente do Cibapar, Breno Carone, que levou seu filho mais velho, de oito anos para se engajar na causa. A barqueata foi realizada pelo Cibapar, com o apoio do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e da Polícia Militar Ambiental. Ministro - Com a experiência de muitos anos lidando com o tema, o ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, hoje consultor do Instituto Inhotim e de vários outros conselhos, foi um dos destaques do encontro. Ele alertou para o novo cenário de escassez onde antes era tido como abundância e falou da relevância do modelo de gestão compartilhada dos Comitês de Bacias. Na avaliação do ex-ministro, isso pode acabar resultando em aumento de tarifas. “Não se iludam. Escassez resulta em aumento de preço. O objetivo não é assustar a população. Mas mostrar que teremos que nos adaptar a uma situação nova”, afirmou, em entrevista aos jornalistas. Carvalho, referindo-se à queda nos níveis de reservatórios de água, na região Sudeste, especialmente no Estado de São Paulo, que adotou uma política na qual quem gasta menos ganha um bônus, mas pouco se fez para punir os perdulários, advertiu o ex-ministro. Carvalho defendeu uma tarifa social, que não penalize os mais pobres. “Não é razoável que uma pessoa pobre pague para o uso da água tratada o mesmo que quem mora nos Jardins – bairro chique paulistano. É importante destacar que, quem quiser ter piscina ou tomar um banho de 30 minutos, vai pagar caro por isso.” Exemplo do Ceará - O professor Roberto Bruno Moreira Rebouças, da Universidade Estadual do Ceará, foi outro palestrante de destaque no Fórum das Águas. Ele mostrou aos prefeitos e gestores de Comitês de Bacias de Minas várias ações implantadas em seu estado, como os açudes e dutos com tecnologia inovadora e mais em conta do que os tradicionais. Segundo Rebouças, a experiência cearense comprova ser possível sim conviver com o problema desde que as soluções envolvam toda a sociedade. O professor mostrou ser vantajoso construir lagos com maior volume de água do que os menores pois esses
Marília Melo, Diretora-Geral do IGAM assinou três convênios que fortalecem a gestão das águas, sua qualidade e o saneamento.
tura, saúde, etc. É um conjunto e temos procurado, no governo, tratar de forma integrada”, explicou. Andreu procurou evitar falar de culpados. “Não há um culpado. O que temos de olhar é para a frente. Sou sempre otimista. Todos podem fazer um pouco mais. Mas temos que reconhecer o belo exemplo do setor empresarial e também da agricultura.” No evento, Marília Melo, Diretora-Geral do IGAM, Breno Carone, prefeitos da região e autoridades assinaram três convênios que fortalecem a gestão das águas, sua qualidade e o saneamento. Primeiro um Protocolo de Intenções pelo Saneamento do Rio Paraopeba – assinado pela Cibapar e Prefeitos da Bacia do Paraopeba. Na seguida, o Convênio Programa Qualiáguas, entre a Secretaria de Meio Ambiente de Minas, o IGAM e a Agência Nacional das Águas (ANA) e, por último, o Protocolo de Intenções para Conclusão do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraopeba, envolvendo Cibapar, Igam, Ana e Comitê da Bacia do Paraopeba. O jornalista George Vidor, Colunista do Jornal O Globo e comentarista da Globonews, brincou que a sorte do atual cenário foi o baixo crescimento e que as atenções estão voltadas para o regime de chuvas. “São Pedro tem também a chave do crescimento”, brincou. (*) Com colaboração de Milene Duque (Ascom/ Sisema) e Silvia Marcuzzo (Envolverde).
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P e las Em pr esas
ISABELLA ARARIPE
Grupo Boticário é destaque no Prêmio Época Empresa Verde O Grupo Boticário está entre as empresas mais sustentáveis do país, segundo o Prêmio Época Empresa Verde – iniciativa que premia as melhores companhias na preservação do meio ambiente. A organização foi Destaque Especial no prêmio, com a iniciativa de redução do consumo de energia elétrica na planta de São José dos Pinhais e pela compra de crédito de logística reversa da BVRio. “Para o Grupo Boticário, a sustentabilidade permeia todas nossas decisões e processos, desde a pesquisa e desenvolvimento de nossos produtos aos processos de logística reversa, e estar neste prêmio é mais um exem-
plo que estamos no caminho certo para a manutenção do negócio de forma que contribua para a preservação dos recursos naturais do planeta”, afirma a gerente de sustentabilidade do Grupo Boticário, Malu Nunes. A redução em energia elétrica foi atingida devido à modernização e à expansão de “chillers”, equipamentos utilizados na empresa para resfriamento de água consumida nas etapas de fabricação e também para a climatização, que são 20% mais eficientes que os equipamentos anteriores. Já os créditos de logística reversa foram negociados por meio da BVTrade, plata-
forma eletrônica da bolsa de valores ambientais BVRio. O sistema da instituição permite que empresas de todo o país possam contribuir para atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), ao mesmo tempo em que promovem a inclusão de catadores no processo, que passam a receber o pagamento pelos serviços prestados ao meio ambiente e para toda a sociedade.
Novo site de Sustentabilidade da CNseg
Divulgação
Já está no ar o novo site de Sustentabilidade da CNseg. Mais moderno, bonito, colaborativo e informativo, ele foi desenvolvido para as mais novas tecnologias de internet, adaptando-se aos dispositivos móveis e proporcionando uma boa leitura em todas os tamanhos de tela. Além disso, o novo hotsite de Sustentabilidade da CNseg também traz novas áreas e um avançado sistema de busca de conteúdo. Reforçando seu compromisso com a sustentabilidade - de vital importância para a atividade seguradora - a CNseg oferece mais essa contribuição para o tema. Para conhecê-lo, acesso o link: sustentabilidade.cnseg.org.br
Evento na BM&FBOVESPA marca o início das comemorações dos 10 anos do ISE São Paulo - O Toque de campainha simbolizando a abertura do pregão de hoje marcou o início das comemorações dos 10 anos do ISE e contou com a presença do diretor presidente da BM&FBOVESPA, Edemir Pinto, do coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP (GVces), Mario Monzoni e de representantes das 11 companhias que fazem parte do ISE desde a primeira carteira: AES Eletropaulo, Banco do Brasil, Bradesco, Braskem, BRF, Cemig, CPFL Energia, Fibria, Itaú Unibanco, Natura e Tractebel. Durante o evento, foram anunciadas uma série de iniciativas que serão implementadas até novembro de 2015 em comemoração aos 10 anos do Índice. Um dos destaques é a Plataforma de Indicadores do ISE, que será lançada no início de dezembro no novo hotsite do ISE http://10anos. isebvmf.com.br/. Por ela, o usuário poderá consultar uma base de dados
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acumulada ao longo dos 10 anos da carteira, tanto em relação ao desempenho econômico do índice como ao desempenho das empresas e aos temas enfocados, possibilitando a geração de gráficos dinâmicos e análises com base nos critérios do questionário, indicadores e temas.
ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR
Supergasbras conquista Prêmio Chico Mendes 2014 em Gestão Socioambiental
Divulgação
A Supergasbras – empresa do Grupo SHV Energy, líder mundial em distribuição de Gás LP – conquistou o Prêmio Socioambiental Chico Mendes 2014 na categoria “Gestão Socioambiental Responsável”. Além disso, na avaliação sobre sustentabilidade, a companhia atendeu a 93% dos requisitos necessários e manteve o Selo Verde já conquistado. A premiação, que será entregue no dia 03 de dezembro no Clube Sírio, em São Paulo, visa destacar empresas que desenvolvem projetos relevantes para o país no segmento. Essa é a terceira vez que a Supergasbras conquista o título. No ano passado a companhia também recebeu o
prêmio pela gestão da área. Em 2011, o prêmio foi conquistado por um dos projetos da companhia, o “Mais Energia” – que utiliza uma cozinha escola itinerante – promovendo aulas de culinária, reaproveitamento de alimentos, nutrição, higiene, consumo consciente, reciclagem e segurança doméstica. “Ficamos extremamente gratificados pelo reconhecimento do nosso empenho na área. Nossos projetos visam promover práticas sustentáveis que melhorem a qualidade de vida das comunidades onde atuamos. Essa conquista é de todos os funcionários que, além dos projetos, implementam melhores práticas no dia a dia da empresa”, explica
Lucinda Miranda, Coordenadora de Responsabilidade Socioambiental da Supergasbras.
Coca-Cola Brasil lança relatório de sustentabilidade
Marco Simões apresentou o Relatório de Sustentabilidade
Navegar por nove dias no Rio Juruá, no Amazonas, e até 21 dias contra a correnteza para chegar até Manaus e ter açaí certificado nas agroindústrias e a inclusão de catadores no processo de reciclagem são apenas duas amostras do trabalho que a Coca-Cola Brasil desenvolveu – com parceiros – para avançar no seu compromisso com a sustentabilidade. “Nosso trabalho com reciclagem, água e energia já estão bem consolidados e estamos muito felizes com os resultados obtidos. Agora,
estamos em uma nova fase, avançando na direção do valor compartilhado , explicou Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil. O executivo apresentou no início de dezembro, na fábrica do sistema, do grupo Andina, em Jacarepaguá (Zona Oeste do Rio) o novo Relatório de Sustentabilidade de 2012/ 2013. Após vários anos no Sistema, Simões segue em carreira solo, passando o bastão para Cláudia Lorenzo, que ocupava o Instituto Coca-Cola, também com larga experiência na área.
Volkswagen/ Divulgação
Fundação Volkswagen completa 35 anos oferecendo projetos de Educação e Desenvolvimento Social A Fundação Volkswagen, que coordena os investimentos sociais da Volkswagen do Brasil, completa 35 anos oferecendo projetos de Educação e Desenvolvimento Social para comunidades de baixa renda no Brasil. Um dos destaques de 2014 foi a atuação inédita no Amapá (que recebeu o projeto “Jogo da Vida em Trânsito”) e na Bahia (com o “Aceleração da Aprendizagem”), ampliando para 13 o número de Estados brasileiros atendidos em seu histórico. Apenas por meio de seus projetos educacionais, a Fundação Volkswagen já beneficiou na última década, até 2014, 1.374.630 alunos em todo Brasil e ofereceu formação continuada a 18 mil educadores da rede pública de 407 cidades, em 13 Estados. Os projetos de educação também apresentam resultados expressivos na frequência de participação de alunos em aulas e na melhoria do desempenho escolar. Os projetos de Desenvolvimento Social, por sua vez, já beneficiaram mais de 15 mil pessoas.
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Pelo Mundo
Estupenda Sicília Monumentos históricos, praias lindas, exuberante natureza e, principalmente, sua gente fazem desta ilha um excelente destino Texto e Fotos por Vivian Simonato, Correspondente de Plurale na União Europeia De Palermo, Sicília (Itália)
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a janela do avião, Palermo estende-se entre campos de um verde pálido e um mar de azul turquesa vibrante. Chego à Sicília cheia de encantamento e pronta para explorar esta região, que além de muito conhecida mundialmente por seus mafiosos, também é famosa pela cultura e beleza natural. Por ser a maior ilha do Mediterrâneo, um dos maiores problemas em ter pouco tempo para uma viagem dessas é escolher quais locais visitar. Fugindo um pouco do roteiro super. turístico que ficou pra uma
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outra oportunidade, o foco desta viagem ficou no norte da ilha, começando por Palermo, depois Cefalu, e gastando mais tempo em Castellamare del Golfo, com a Riserva Naturale dello Zingaro, e região. Palermo: uma cidade para ser contemplada e vivida Fundada pelos Fenícios com o nome de Ziz (que significa flor) e, depois rebatizada de Panormos pelos gregos, Palermo tornou-se uma cidade próspera entre os séculos IX e XI D.C., durante a dominação Árabe. Nessa época, também ficou conheci-
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da como cidade das delícias, por conta dos maravilhosos jardins, mesquitas e palácios. Os vários conflitos pelos quais a região passou imprimiu uma característica muito particular à arquitetura siciliana, que é resultado dessa mistura de influências, onde arabescos dividem espaço com mosaicos bizantinos e arquitetura românica. A decadência de Palermo teve início no século XIX. No entanto, esta foi uma das regiões mais atuantes para o sucesso do Mille (mil em italiano), a expedição de patriotas liderada por Giuseppe Garibaldi que resultou na unificação da Itália. Giuseppe
Garibaldi, aliás, é figura ilustre também na Sicília, e muitos são os lugares que foram batizados em sua homenagem. Nos jardins de Garibaldi, localizado na Piazza Marina em Palermo, encontra-se uma imponente Figueira Estranguladora de 150 anos que é a atração da praça. Em Cefalu, a Porta Garibaldi é importante ligação entre o porto e a cidade e, na encantadora Erice, uma placa discreta ao lado de julho de uma sacada lembra o discurso que ele fez para a população de Erice. Sob o clima mais ameno de setembro (e sabore-
ando um gelato no brioche) começo a descobrir Palermo. Prédios majestosos estão por todos os lados e, assim como eu, outros turistas não só contemplam, mas vivem a vibrante cidade que transborda energia. Seja no vai e vem de pessoas em frente à Catedral de Palermo, com sua cor de caramelo e arquitetura de influência Catalan, ou na Piazza Pretoria com a famosa Fontana Pretoria, que fica pertinho do charmoso cruzamento Quattro Canti, com os quatro prédios em estilo barroco, Palermo oferece sempre um banquete aos olhos.
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Pelo Mundo
Mas, para falar da energia contagiante de Palermo é impossível não mencionar também as feiras livres, onde o siciliano expressa 100% sua identidade seja como bom negociador, ao tentar te vender as melhores azeitonas da Itália, ou quando habilmente vão fatiando em postas os gigantes peixes espada, expostos com orgulho e um dos pratos mais típicos da região. Observando os peixes espada lembro de Hemingway e minha parte preferida de O velho e o mar, quando Santiago não mede esforços na captura desse nobre peixe. Penso que a Sicília também tem muitos Santiagos e admirando o mar pela janela do trem que chego à Cefalu.
principal objetivo dessa viagem. Às 8 da manhã a temperatura já está alta e o céu limpo. O recorte da costa de Castellamare del Golfo vista do barco é surpreendentemente linda. Vez ou outros olhos mais atentos desvendam cavernas encrustadas nos rochedos e esculpidas pelo vai e vem da água do mar. Mais à frente, uma torre se ergue imponente e solitária numa rocha que avança mar à dentro, estamos na famosa Tornara de Scopello. Pouco tempo depois chegamos à Riserva Naturalle dello Zingaro (Reserva Natural de Zingaro). Criada em maio de 1981, a Riserva Naturalle dello Zingaro foi a primeira a ser fundada na Sicília e estende-se por 7 quilô-
Entre a montanha e o mar Espremida entre um rochedo e o mar, Cefalu, é uma das maiores atrações turísticas da região, principalmente no verão quando sua população de apenas 14 mil habitantes triplica. O estilo medieval com ruelas de pedra e tudo muito bem conservado, abriga tesouros imperdíveis, como a catedral em estilo Siciliano Romanesco de 1131, além das áreas de banho da época dos romanos, com sistemas de tanques que ainda funcionam. Um tesouro bem guardado Ainda não tão popular quanto Cefalu, Castellamare del Golfo é um cidade estratégica para ter como base e explorar essa região da Sicília que tem importantíssimos sítios arqueológicos, como o Templo e Teatro de Segesta, a maravilhosa cidade de Erice, algumas das praias mais bonitas da Itália e a Riserva Naturalle dello Zingaro, meu
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metros a partir da costa de Castellamare del Golfo. Sua principal característica é a cadeia de montanhas com penhascos íngremes que vez ou outra forma pequenas baías com prainhas de água cristalina. A reserva conta com uma enorme variedade de fauna e flora e também tem um passado arqueológico rico, como o Uzzo Grotto, um dos primeiros assentamentos pré-históricos na Sicília. Apesar de contar com uma vasta opções de caminhos, abrigos, áreas para piquenique, museus, estacionamento e outras comodidades, não há estradas na reserva e o acesso se dá somente a pé ou pelo mar, que foi a opção escolhida. Giuseppe, nosso guia, para o barco próximo à margem rochosa de uma das prainhas da reserva natural e pede
para que o sigamos a nado. Em menos de cinco minutos nadando, atravessamos uma passagem e entramos numa caverna onde a água é verde cristalina e peixinhos minúsculos ficam ao nosso redor, automaticamente, nesse momento a Riserva Naturalle dello Zingaro se torna uma das minhas lembranças inesquecíveis da Sicília.
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Vida Saudável
NatalLegal Invista na qualidade dos ingredientes, ouse nos temperos, capriche na apresentação dos pratos e prepare uma festa sintonizada com a vida
Texto: Raquel Ribeiro Fotos: Blog Chubby Vegan
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Não coma o presépio nesse Natal”, sugere uma propaganda da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira). O tom bem-humorado busca despertar a atenção das pessoas para a época do ano em que se celebra o amor e a paz – e que, no entanto, é quando mais animais são servidos à mesa. Como, porém, substituir as chamadas “carnes nobres” por pratos éticos, estéticos, saudáveis e, sobretudo, saborosos? Pois a SVB está lançando a terceira edição do livro Festa Vegetariana: receitas perfeitas para ocasiões especiais. Justamente para você oferecer aos convivas iguarias tão dignas quanto divinas, e sem ingredientes de origem animal. Para começo de conversa, há que se ater à consistência do que será servido como prato principal. Sejamos honestos: quando mal planejada, a comida vegetariana tende a uma textura mais pastosa. Sempre falta aquele elemento “cronch-cronch”. Se optar por uma torta, que a massa seja firme e que haja elementos crocantes no recheio. Se resolver adaptar um estrogonofe, que venha acompanhado de chips sequinhos (batata, inhame ou cará, em rodelas fritas bem finas) e saladas incrementadas com nozes e croutons. Legumes? Sempre al dente! E nada como contar com vegetais crus: cenoura, pepino, aipo, rabanete, couve-flor. São refrescantes, consistentes e ainda enfeitam os pratos. Selecionamos algumas receitas do livro: uma mais sofisticada e duas bem fáceis. Todas saborosas! São assinadas
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por Nathalia Soares, técnica em Nutrição e Gastronomia e uma das novas colaboradoras. Conhecida como Naa, ela partilha suas descobertas, receitas e experiências em um site repleto de receitas tentadoras. Também aceita encomendas de “queijos”, chocolates, kits para festas e outras gostosuras veganas e ainda realiza cursos em São Paulo. A receita de “bacalhau” é da Kashi Dhyani, que contribuiu em todas as edições do Festa e acaba de lançar seu primeiro livro: Delicias da Kashi. Ela tem um restaurante charmoso em Visconde de Mauá e cativa a clientela com pratos inspirados na Índia, Líbano e Costa Rica, onde morou. Inspire-se nas fotos, dicas e receitas e prepare uma ceia onde a paz e a compaixão aparecem no prato!
Palmito pupunha assado • 500g de pupunha sem a casca • Pimenta-do-reino moída na hora, azeite, orégano seco e sal a gosto
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Pré-aqueça o forno em 200C. Corte a pupunha ao meio e tempere. Cubra com papel alumínio e leve ao forno por 15-20 minutos. Verifique se está no ponto fork tender, ou seja, se você espetar com um garfo não deve ter resistência. Caso não esteja neste ponto, cubra novamente e leve ao forno, verificando a cada 5-10 minutos. Retire o papel alumínio e volte ao forno até que a pupunha fique levemente dourada. Sirva imediatamente. Coxinha vegana Massa • 4 xícaras (chá) de farinha de trigo • 4 e ½ xícaras (chá) de água • 8 colheres (sopa) de óleo de soja • 1 colher (chá) de curry • Sal e mix de pimentas moídas na hora a gosto Em uma panela, grande e funda, coloque a água e os temperos. Mexa bem com uma colher ou fouet até que o curry se dissolva. Adicione o óleo. Leve a panela em fogo alto, até ferver o líquido. Abaixe o fogo. De uma única só vez, adicione a farinha de trigo e mexa vigorosamente com uma colher até que se forme uma bola que desprenda do fundo da panela. Retire a massa da panela e sove até obter uma massa lisa (com a massa quente ainda). Cubra com filme plástico e deixe descansar enquanto você faz o recheio:
Naa, mestre-cuca do Chubby Vegan
Montagem e cocção: Passe as coxinhas na água e, em seguida, na farinha de rosca. Esquente bem uma panela com bastante óleo e frite as coxinhas. Deixe escorrer em papel absorvente e sirva. Dicas: o que dará sabor à massa é o tempero, que pode ser: caldo de legumes (industrializado ou não), curry, colorau, ervas frescas ou secas. Outro fator a ser mudado a cada vez que faz as coxinhas são os recheios. Pode ser palmito, pts + tofupiry, jaca desfiada ou “carne” de castanha-de-caju desfiada. “Bacalhoada” de soja • 5 xíc. de batatas cortadas em rodelas de 1 centímetro (cozidas em água, sal e louro) • 3 xíc. de tomate em rodelas • 3 xíc. de cebola em rodelas • 3 xíc. de pimentão em tiras (vermelho, de preferência) • 2 xíc. de PVT graúda • 1 xíc. de leite de coco • 2 folhas de alga nori • 1 xíc. de azeitonas pretas picadas • ½ xíc. de óleo de girassol • 4 dentes de alho • 1 xíc. de suco de tomate • ½ xíc. de salsinha picada • 1 colherzinha de cominho • 1 colherzinha de coentro em pó • sal a gosto
Recheio • 4 xíc. de pts clara miúda hidratada • 2 dentes de alho em brunnoise* • ½ cebola em brunnoise* • 4 colheres (sopa) de óleo vegetal • Mix de pimentas moídas na hora, sal e salsinha picada a gosto
Esquente bem o óleo em uma panela. Refogue o alho e a cebola até dourar. Acrescente a pts e tempere. Mexa de vez em quando, o objetivo é dourar a pts sem deixá-la queimar. Desligue o fogo e adicione a salsinha, mexa bem. Deixe esfriar.
Hidrate a PVT em água durante 20 min. Escorra, espremendo toda a água. Adicione o leite de coco, o cominho, o coentro, o sal, o óleo de girassol, o suco de tomate e os alhos espremidos. Deixe o prato descansar por no mínimo 2 horas (mas pode ser a noite toda). Desfie a PVT (passe rapidamente no processador com a hélice em S ou bata com um rolo de massas para que fique uma pasta fibrosa). Numa assadeira untada com óleo de girassol, arrume em camadas as batatas, a PVT desfiada, as folhas de alga nori picotadas, cebola, tomate, pimentão e as azeitonas temperados com um pouco de sal, orégano e óleo de girassol. Leve ao forno por 40 minutos. Decore com salsinha. Saiba mais: http://chubbyvegan.net comidaviva-kashi.blogspot.com www.svb.org.br
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Bem estar que nasciam no nosso quintal, em Minas Gerais”. Minha mãe me mostrou como uma mulher pode ser forte e ao mesmo tempo feminina. Sua personalidade cuidadora me inspirou a fazer medicina e a me interessar pelo estudo das plantas medicinais. Afinal, ela sempre encontrava uma função para cada erva, recorda a filha. Hoje, Dra. Lívia, consultora do Ministério da Saúde, segue pelo Brasil dando palestra sobre “Plantas medicinais amigas da mulher”, como fez recentemente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na Coleção Temática de Plantas Medicinais. Segundo a Ginecologista e Obstetra, é preciso advertir que a mulher está ferindo muito o seu lado feminino e isso vem trazendo consequências sérias à sua saúde. Ela conta que nas consultas, sempre pergunta se sua cliente sabe em qual fase da lua estamos? E cada vez mais percebe como muitas mulheres estão desconectadas da sua natureza feminina e pagando um preço muito alto, que vai além de um corpo esculpido ou de um rosto sem rugas. “A consciência do feminino, na mulher, é a sua grande força. Para isso é necessário que encontre tempo de se ligar à natureza, à simplicidade dos dias, o cuidado com a terra e o cultivo das plantas, aos ciclos da lua e a sua semelhança com os ciclos femininos”, enfatiza a Dra. Lívia. De acordo com a Ginecologista, a conexão da mulher com a natureza é fundamental. Embora ela afirme que a energia masculina, de se jogar num trabalho, é fabulosa, porque traz o desafio. “Não se pode perder a conexão com o lado selvagem, que nos reporta à natureza e seus ciclos”, enfatiza a médica. O preço deste afastamento tem levado às mulheres a exaustão. Seria muito restaurador que conseguissem arrumar tempo para tomar banho de lua, caminhar colocar
As plantas e o resgate do feminino
Por Lou Fernandes – Indira Prem Especial para Plurale Do Rio de Janeiro
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m cada planta habita um espírito onde o Grande Criador deposita uma parcela de sua infinita sabedoria e, a cada uma delas, é dada uma espécie de dom de cura, como afirmava o médico e filósofo suíço, Paracelso, em sua obra “As Plantas Mágicas - Botânica Oculta” por volta de 1500. Descobrir este dom e aplicá-lo vem mudando a prática de muitos profissionais da saúde, como ocorreu com a Ginecologista e Obstetra, Lívia Martins Carneiro, que se tornou especialista em Fitoterapia. Há mais 30 anos, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, ela constata que foram as suas próprias clientes que a levaram a descobrir o valor das plantas na medicina. “Elas me traziam informações sobre chás, emplastros, banhos com ervas que foram me levando a buscar novo saberes, incorporando a fitoterapia em meu trabalho”. No entanto, pesquisando mais fundo na sua memória, Dra. Lívia observa que sua grande mestra foi a mãe, dona Maria José. “Ela sempre expressou muito carinho com todas as ervas
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os pés na terra, tomar um chá, aconselha a médica. Segunda Lívia, esta prática ajudaria a reduzir o estresse e com ele alguns distúrbios hormonais, como a retenção de líquidos, que comprometem o cérebro e a mama fica mais dolorida, bem como, o inchaço nas pernas e no abdómen. UM JARDIM PARA CHAMAR DE MEU Para a Ginecologista, o uso da medicina das plantas pode ajudar muito a resgatar este cuidado com o feminino. Um dos caminhos que ela mesma vem trilhando é a criação do “Jardim das Plantas Medicinais Amigas da Mulher”. Dra. Lívia conta que está iniciativa nasceu a partir do contato com a população ribeirinha do Amazonas, que há vinte anos ela vem estabelecendo, através do programa de rádio da locutora Mara Régia, na Rádio Nacional do Amazonas. Segundo a médica, as mulheres escrevem para saber como lidar com inflamações, febres e até tristezas por meio das plantas e nesse contato foi nascendo o jardim de plantas que cuidam de doenças femininas como corrimentos, cólicas, inchaços, TPM. As principais plantas são Aloe vera (babosa), alecrim, sálvia, folha santa (saião), hortelã graúda, moringa oleífera, açafrão, copaíba, lavanda e erva-cidreira. AROMATERAPIA E AS FASES DO FEMININO Além do jardim de plantas amigas da mulher, Dra. Lívia Martins Carneiro, criou uma linha de aromaterapia que reúne plantas que acalmam a ansiedade, reduzem o estresse como a sinergia (junção/união) Criativa de gerânio e lavanda que alivia ansiedade e os desequilíbrios femininos da fase reprodutiva como TPM, cólicas menstruais, alterações de humor. Já a sinergia Serena, por exemplo, é feita com óleos essenciais de sândalo, sálvia, ylang-ylang e lavandim que auxilia nas flutuações hormonais e emocionais, sobretudo dos desequilíbrios da menopausa. Sinergia Presença é feita com óleos essenciais de manjerona, petigrain, lavanda e hortelã resgatando a harmonia em momentos de grande estresse e dispersão. As plantas foram entrando na vida da Ginecologista diante dos resultados que elas proporcionavam às suas clientes. Segundo a médica, quando se formou, há 35 anos, ela não se imaginava como uma fitoterapeuta. Mas sua ida para Goiás, um estado onde se tem uma bio diversidade imensa por conta do Cerrado, aliada à demanda que as mulhe-
UM JARDIM DE PLANTAS AMIGAS DA MULHER PARA CHAMAR DE SEU Para montar seu jardim de plantas amigas da mulher, vai precisar de uma boa terra orgânica e adubada, mudas ou sementes da espécie que deseja cultivar. O adubo tem que ser adicionado pelo menos a cada dois meses e deve se regar uma vez ao dia, tendo cuidado para a água não ficar parada no prato. Há várias opções de sementes, até em supermercados, e vasos criativos, inclusive feitos por você mesmo. Veja abaixo algumas sugestões de canteiros:
Quatro sugestões de plantas amigas da mulher para iniciar seu jardim
Sálvia - Salvia officinalis Propriedades: • Tônica, estimulante, anti-sudorípara, digestiva, espasmolítica, diurética, hipoglicemiante, dermopurificante, anticaspa e antiqueda de cabelo Indicações: • Ondas de calor, secura vaginal, sintomas da menopausa • Estimula a menstruação e alivia a TPM e cólicas • Favorece a concepção e o parto • Cólicas estomacais e intestinais • Afecções da pele, micoses e feridas, antisséptico bucal
Babosa - Aloe vera Propriedades: • Constituintes químicos: antraquinonas, mucilagens, vit A, B, C, E • Sais minerais: Ca, K, Na, Cl, Mn, enzimas • Ações farmacológicas: cicatrizante, antinflamatória, antimicrobiana, imunoestimulante. Indicações: Queimaduras, irritações e ferimentos na pele, eczemas, acnes, psoríase, erisipela • Hemorróidas e fissuras • Problemas digestivos e hepáticos • Queda de cabelos, caspas, piolhos • Hidratação da pele, nutrição e proteção solar leve.
FOTO: Lou Fernandes – Prem Indira
res lhe traziam, colaboraram na sua formação. Hoje, junto com a família, criou a Livealoe, uma empresa familiar, que tem a Aloe vera (babosa) como o carro-chefe, devido ao seu grande poder medicinal. Uma Dra. Lívia Martins tem atualmente como meta, incentivar que em cada lugar possa se criar e cultivar o “Jardim de Plantas Amigas da Mulher”, e segundo ela é bem simples e até mesmo um apartamento pode acolher este jardim.
Alecrim - Rosmarinus officinalis Propriedades: • Hepatoprotetor, digestivo, carminativo, espasmolítico, dispepsias, inapetência. Tônico cerebral – melhora a função cerebral, o humor e a memória. • Anti -inflamatório, cicatrizante e analgésico. • Estimula o crescimento capilar • Agente antimicrobiano (bactérias, vírus, fungos) • Efeitos anticancerígenos • Ação antioxidante maior que a vit E. Indicações: • Amenorréia, dismenorréia, enxaquecas associadas à discinesia hepatobiliar. • Depressão, dores reumáticas e musculares, astenia; • Neuralgias, alopécia, dermatite seborréia, insuficiência venosa, feridas.
Erva Cidreira Brasileira - Lippia alb Propriedades: • Tranquilizante suave, antidepressiva, hipnótica e tonificante • Antinflamatória, cicatrizante, diurética • Analgésica, antialérgica • Estimulante da digestão, espasmolítica, mucolítica Indicações: • Ansiedade/depressão • Cólicas gástricas • Cólicas menstruais, enxaqueca, TPM, • Dermatites alérgicas
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CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
História de bispo que defendeu a população indígena vira filme
Wilson Dias/Agência Brasil
Medida muito bem-vinda
João Pedro Zappa e Deborah Secco em “Boa sorte”
Pode ser que quando você estiver lendo esta coluna a medida já esteja em vigor. De qualquer forma, vale registrar que é ou será muito bem-vinda a limitação do número de salas de cinema a um mesmo lançamento. Explicando melhor: num universo de cerca de 2800 salas de cinema, muito mal distribuídas por um país de dimensões continentais como o Brasil, é inadmissível que um mesmo filme seja lançado em 1200 delas, citando apenas um exemplo de uma recente produção de Hollywood. Então, para evitar que isso se repita a Ancine – Agência Nacional de Cinema está propondo um controle da distribuição cinematográfica, como é comum em países da Europa e nos Estados Unidos. Aqui, a proposta é que o mesmo filme só possa ocupar 30% do mercado nacional, evitando assim que ao chegarmos a um complexo de salas encontremos todas elas exibindo o mesmo filme ou que é pior: duas produções brasileiras como Irmã Dulce e Boa Sorte – estreia na telona do jovem talentoso João Pedro Zappa fazendo par com a veterana Deborah Secco - dividindo a mesma sala com opção de apenas dois horários cada filme.
Vídeo em homenagem à Malala
Baseado no livro que leva o mesmo nome escrito por Francesc Escribano, o filme Descalço sobre a Terra Vermelha conta a história do bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga que dedicou a vida a lutar para que a população pobre e os indígenas da região do Mato Grosso conhecessem os seus direitos e lutassem por eles. Coprodução da TV Brasil com as televisões públicas espanhola TVE e catalã TVC, o filme tem a direção de Oriol Ferrer, cineasta catalão. Descalço sobre a Terra Vermelha conquistou os prêmios de melhor ator e melhor trilha sonora original na 27ª edição do Festival Internacional de Programas Audiovisuais (Fipa), na França, e foi premiado no New York International TV & Film Awards.
Nossa presença nefasta na Terra O documentário Caminhando Sobre a Terra - Uma Viagem a 10 lugares ameaçados no Planeta é fruto da pesquisa científica de Thiago Cóstackz que responde ainda pelos textos e direção. Em cerca de 1h20min, a câmera de Thiago percorre mais de 60 mil quilômetros ao redor do mundo, passando pela Groenlândia, Islândia, Rússia, Itália, Oceano Glacial Ártico, os corais do Atlântico Sul, Holanda e diversas regiões do Brasil mostrando como nosso estilo de vida e os modelos de cidade que criamos estão colocando em risco a nossa própria existência. É um retrato bem atual do mundo, com imagens do que tem provocado a interferência do homem na natureza. Interessados em assistir o documentário podem acessar pela internet no endereço https://www.youtube.com/watch?v=ryI35huexs4
O cinema na educação básica
Uma menina entre muitas é o título do vídeo feito pela ONG Plan Brasil - que desenvolve programas e projetos com o objetivo de capacitar e empoderar crianças, adolescentes e suas comunidades para transformar a sua realidade - em homenagem a Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz em 2014. No vídeo mais de 40 meninas de 12 países, incluindo o Brasil, reproduzem o discurso que Malala fez na ONU em defesa da educação de todas as crianças do mundo. O vídeo está disponível no You Tube no endereço: https://www.youtube. com/watch?v=A6SD8vph8-8#t=78
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PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2014
Depois da bem sucedida experiência piloto do projeto Cinema para Aprender e Desaprender no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com foco na pesquisa Currículo e linguagem cinematográfica na Educação Básica do Programa de Pós-graduação em Educação da UFRJ, foram criadas seis escolas de cinema em instituições de ensino públicas. São duas em escolas municipais, duas estaduais e duas federais (especializadas em estudantes cegos e surdos). Nas escolas do CINEAD (nome do projeto) são realizadas atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo professores e pesquisadores da educação e dos estudos de cinema, profissionais e técnicos, doutorandos, mestrandos, bolsistas de extensão e iniciação científica de graduação e de ensino médio. Os estudantes e professores das escolas contempladas participam na produção de ensaios audiovisuais e do currículo escolar.
“Algo só é impossível até que alguém duvide e resolva provar o contrário”. Albert Einstein
Quando você escolhe um caminho para sua vida profissional, pensa em ir o mais longe possível. Na trilha da sua carreira, uma coisa é certa: não dá para parar de aprender e se surpreender. A Aberje, com sua história e tradição, forma milhares de pessoas desde 1967. E oferece soluções inovadoras para acompanhar você nessa jornada e ajudar a explorar ao máximo o seu potencial. Escolha um dos nossos cursos e siga em frente.
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Internacionais
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I m a g e m
Foto: Isabella
Araripe
Gramado (RS)
B
ons exemplos de sustentabilidade ancoradas no turismo são as cidades de Gramado e Canela. Além de várias ações ao longo do ano, é a partir de novembro e dezembro que a região recebe milhares de turistas para conhecer o chamado Natal de luz. Vale conferir de perto as atrações. Aqui, foto de Isabella Araripe da Parada de Natal na Expogramado, espetáculo que agrada não só o público infantil, mas também de todas as idades. Há ainda várias opções de passeios ao ar livre e outros tantos parques e atrações. Como a cada ano o fluxo de visitantes é maior, recomenda-se reservar com bastante antecedência o passeio, correndo o risco de não achar hotéis ou ingressos para os shows e parques.
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PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2014
O Brasil desperdiça cerca de R$10 bilhões por ano devido ao mau uso da energia. Nestas festas, apague todas as luzes antes de dormir. A WayCarbon deseja a todos um fim de ano brilhante e um 2015 mais consciente!
tinno
Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco)
ALÉM DO ÓBVIO INOVAÇÃO EM CONSULTORIA AMBIENTAL Vantagem sustentável para uma nova economia.
Porque a solução para o desenvolvimento sustentável depende de todos nós. 67