Plurale em Revista ed 32

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

ano cinco | nº 32 | novembro / dezembro 2012 | R$ 10,00

www.plurale.com.br

ENSAIO PLURALE, A BELEZA DA SERRA DO CARAÇA

ARTIGOS INÉDITOS LIXO: NO BRASIL E NA ARGENTINA

ESPECIAL EDUCAÇÃO

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Editorial

Por Edit Sônia A ore s de raripe e Plu rale Carlos em F rev ranco ista ,

Que venha 2013!

N

em é preciso olhar o calendário, ou mirar o relógio para perceber que a noção de tempo tem se acelerado. Se, por um lado, a evolução da tecnologia nos trouxe a modernidade de comunicações e digitalização, ao mesmo tempo nos mantém atados a tarefas e rotinas que ainda parecem intermináveis. Falamos aqui acima, na nossa mensagem de um Feliz 2013, de conceitos e valores intangíveis. Todos estes juntos podem ajudar a traduzir nossa percepção de sustentabilidade. Mas, afinal, de que sustentabilidade estamos falando? Nesta edição trazemos artigos inéditos, reportagens especiais, colunas e belíssimas fotos. Luciana Tancredo esteve na Serra do Caraça, em Minas Gerais, e conheceu a beleza da biodiversidade da região e ainda assistiu ao tímido e arredio loboguará. Marcelo Pinto, Nícia Ribas e Lenina Mariano prepararam relevante e emocionante bloco de reportagens sobre educação e sustentabilidade. De João Pessoa (PB), Raquel Ribeiro nos revela os cuidados de um hotel que é verde até no nome

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e descobre belos produtos sustentáveis para o Bazar Ético. Isabella Araripe apresenta o segundo número da Coluna Ecoturismo, com dicas de roteiros sustentáveis. Da Europa, a correspondente Vivian Simonato mostra os desafios para a Irlanda ao assumir o comando da Comunidade Europeia e Mônica Pinho, da Austrália, descobre uma criativa horta urbana. Nossa correspondente na Argentina, Aline Gatto Boueri, aborda a questão do lixo no país vizinho. Isabel Capaverde, nossa especialista em cinema sustentável traz as últimas notícias deste segmento. De Fortaleza (CE), Flamínio Araripe antecipa como será evento importante em 2013 sobre o semiárido. Tudo isso, e muito mais, em uma edição variada e colorida. Como esperamos que seja este novo 2013. Temos ainda a seção Estante Especial, com duas páginas de dicas de livros interessantes para o fim de ano e as férias. Homenageamos ainda o genial arquiteto Oscar Niemeyer. Também apresentamos colunas e matérias sobre energia, ameaça à vida marinha e vida saudável. Estaremos juntos novamente em 2013! Torcendo que seja um ano mais fraterno, justo e sustentável.



Conte xto

48.

SERRA DO CARAÇA E LOBO-GUARÁ POR LUCIANA TANCREDO

FOTO: LUCIANA TANCREDO

FOTO: CRISTINA DAVID

28, 32 e 36. ESPECIAL: EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ESTANTE ESPECIAL

22 VIDA SAUDÁVEL

35

FOTO: THIIAGO RIPPER

45.

BAZAR ÉTICO

16.

ARTIGOS INÉDITOS

COLUNA ECOTURISMO

41 ENERGIA

58 e 59 PELO MUNDO

62 CINEMA VERDE

66 6

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38.

OS JOVENS E A MOBILIDADE URBANA


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Quem faz

Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Agência Brasil, Alda Marina Campos (Pares), Caio Albuquerque (ESALQ), Christian Travassos (CPDA/UFRRJ), Daniela Robertta (Alusa), Fabiano Ávila (Carbono Brasil), Flamínio Araripe, Flávia Ribeiro (WSPA Brasil), Flavia Frangetto, Henrique Dumont (Pares), Ismar Ingber, Jean Pierre Verdaguer, Lenina Mariano (Ipema), Maria Elena Pereira Johannpeter (Parceiros Voluntários), Márcia Vaz (Fetranspor), Marina Fernandes de Oliveira (Pares), Mônica Pinho (Austrália), Raquel Ribeiro, Redação do Gife, Redação da IHU ON-Line, Redação do Portal Petro Notícias e Rodney Vergili (Apimec).

Plurale é a uma publicação bimestral da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Há cinco anos Plurale em Revista desenvolve um jornalismo que contribui significativamente para a implementação do desenvolvimento sustentável no Brasil. Cumprimento e parabenizo os editores pelo belo trabalho desenvolvido nos últimos cinco anos e desejo vida longa à Plurale em Revista!” Marina Grossi, Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Rio de Janeiro (RJ) “Prezada Sônia, Recebi a Edição de nº 31 de Plurale em revista, comemorativa aos cinco anos de sua fundação. Congratulações por essa celebração de especial significado, que evidencia o compromisso da Plurale com a transparência, a cidadania e o desenvolvimento sustentável. Cordialmente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, DiretorPresidente do Bradesco, Cidade de Deus, Osasco, SP “Os artigos de Antoninho Trevisan são excelentes pelo conteúdo, equilíbrio e bom senso. Parabéns para o Trevisan e para Plurale em revista”. Claudio Contador, Ph.D. Diretor Acadêmico da Escola Superior Nacional de Seguros (Funenseg), Rio de Janeiro, RJ “Sônia querida, Falar de Plurale em Revista é verificar que ela completa cinco anos é ver como o tempo voa. Parece que foi ontem que assisti ao seu lançamento. Tenho sempre o desejo de elogiar a excelente equipe que contribui para ensinamentos e esclarecimentos de assuntos tão atuais e interessantes. Você é um exemplo de perseverança em tudo o que faz. Outros cincos anos virão para nossa alegria. Parabéns e beijos da amiga”, Gilda Vieira de Mello, professora aposentada, mãe de Sérgio Vieira de Mello (in memorian), Rio de Janeiro (RJ) “Muito obrigada pela ótima matéria sobre o Instituto Azzi na Edição 31 de Plurale em revista. Contem sempre conosco” Marcos Flávio Azzi, presidente do Instituto Azzi, São Paulo, SP “A matéria “Esportes e Cidadania”, de Nélson Tucci, publicada na Edição 31, está muito bem, escrita. Rememora dois grandes ídolos esquecidos pela mídia - do “aqui e agora” - e que concretizaram conquistas de expressão na história no esporte brasileiro. Parabéns”

Anselmo Ferreira, São Paulo (SP) “Parabéns a todos de Plurale em revista! Recebemos a edição comemorativa dos 5 anos. Linda! A capa com o relevo ficou maravilhosa! Beijo grande, Oscar e Cidinha Araripe, artista plástico e produtora cultural, Tiradentes (MG) “Sônia e Carlos é com enorme prazer que vejo vocês materializarem o sonho de Plurale, revista e site cada dia melhores, com foco, ensinamento e coragem. Foco nos objetivos a que se propõe, ensinamentos a todos nós com matérias e opiniões substanciosas e coragem de fazer avançar o empreendimento. E com enorme orgulho de fazer parte desse time, ainda que timidamente, cumprimento todos os colegas colunistas, equipe e colaboradores de texto e imagem.” Nélson Tucci, jornalista, Sócio-Diretor da Virtual Comunicação, São Paulo, SP “Parabéns à Plurale! Parabéns ao time que faz a revista acontecer e contribuir com inteligência e lucidez na busca por uma sociedade mais sustentável de fato. Um grande abraço,” Luiz Gaulia, professor da ESPM-Rio, Rio de Janeiro (RJ) “Amiga Sônia, meus parabéns por sua vontade de fazer uma revista toda pela natureza com este brilho, pois você e uma mulher de garra. Um cordial abraço à sua equipe!” Carlos Di Paola, fotógrafo, Diretoria da ASFOC, Rio de Janeiro (RJ) “Parabéns pela coragem e por acreditar que o mundo pode ser sim melhor! Muito mais sucesso pra vocês! Beijo grande,” Ana Cecília Vidaurre, publicitária, Rio de Janeiro (RJ) “Estou muito feliz ao folhear a edição comemorativa de quinto ano de Plurale em Revista, título já consolidado como uma das melhores publicações sobre sustentabilidade editadas no Brasil. Vida longa e muita inspiração a toda a equipe pelo belo trabalho, desenvolvido com dedicação, responsabilidade e paixão. Edições ricas e bem cuidadas são o resultado permanente desse esforço. Abraços,” Elizabeth Oliveira, jornalista especializada em Sustentabilidade, Rio de Janeiro (RJ)


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Entrevista

MAURÍCIO WALDMAN, Escritor, Professor Universitário, pesquisador e consultor ambiental

A CIVILIZAÇÃO DO LIXO Da IHU On-Line Admite-se que atualmente exista um descarte mundial de 30 bilhões de toneladas de resíduos por ano. Seria meritório advertir que os lixos já assumiram os contornos de uma calamidade civilizatória. Em termos mundiais, apenas a quantidade de refugos municipais coletados – estimada em 1,2 bilhões de toneladas – supera nos dias de hoje a produção global de aço, orçada em 1 bilhão de toneladas. Por sua vez, as cidades ejetam rejeitos – 2 bilhões de toneladas – que superam no mínimo em 20% a produção planetária de cereais, demonstrando que o mundo moderno gera mais refugo que carboidrato básico. Contudo, mesmo esta notável volumetria de resíduos parece não satisfazer a obsessão em maximizá-los. O resultado disso é uma autêntica cascata de lixos”. Os dados impressionantes são trazidos pelo consultor ambiental Maurício Waldman, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. Maurício Waldman (foto) é escritor, professor universitário, pesquisador e consultor ambiental. Tem graduação em Sociologia, mestrado em Antropologia e doutorado em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP. É pós-doutor pelo Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente desenvolve, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São

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Paulo – Fapesp, seu segundo pós-doutorado em Relações Internacionais, na FFLCH-USP. Foi chefe da coleta seletiva de lixo da capital paulista e coordenador do meio ambiente em São Bernardo do Campo. É autor e/ou coautor de 15 livros, um dos quais é Lixo: cenários e desafios (São Paulo: Cortez Editora, 2010). Confira a entrevista. IHU On-line – De modo geral, como você define o problema do lixo na sociedade moderna? Maurício Waldman – Há um problema mundial relacionado ao lixo que é inegável. Neste prisma, um dado que chama a atenção é fornecido pela literatura técnica relacionada com o tema. Admite-se que atualmente exista um descarte mundial de 30 bilhões de toneladas de resíduos por ano. Seria meritório advertir que os lixos já assumiram os contornos de uma calamidade civilizatória. Em termos mundiais, apenas a quantidade de refugos municipais coletados – estimada em 1,2 bilhões de toneladas – supera nos dias de hoje a produção global de aço, orçada em 1 bilhão de toneladas. Por sua vez, as cidades ejetam rejeitos – 2 bilhões de toneladas – que superam no mínimo em 20% a produção planetária de cereais, demonstrando que o mundo moderno gera mais refugo que carboidrato básico. Contudo, mesmo esta notável volumetria de resíduos parece não satisfazer

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a obsessão em maximizá-los. O resultado disso é uma autêntica cascata de lixos. Exemplificando, a população norte-americana cresceu quase 2,5 vezes entre 1960 e o ano 2000. Porém, o já magnânimo descarte dos Estados Unidos praticamente triplicou desde 1960. Adicionalmente, outras peritagens mostram que no ano 2020 a União Europeia estará descartando 45% mais rebotalhos do que em 1995. Na União Europeia, um pormenor candente é que o lixo domiciliar se expandiu inclusive em países com evolução populacional pouco expressiva. No caso espanhol, sete anos (1996-2003), foram suficientes para incrementar os refugos em 40%. – E no Brasil, como se situa este problema? – Malgrado uma nebulosa peça acusatória culpabilizar os países do Norte pela geração do lixo, o Brasil – ao lado de outras nações do hemisfério Sul – ocupa uma incômoda posição na questão dos refugos. No caso, tanto pelas proporções como pela média per capita. Na verdade, o lixo brasileiro supera a maioria das nações periféricas. Não seria demasiado sinalizar, que conquanto corresponda a 3,06% da população mundial e 3,5% do PIB global, o Brasil seria, por outro lado, origem de um montante estimado entre 5,5% do total mundial dos resíduos sólidos urbanos. Dito de outro modo: o país é um grande gerador mundial de lixo e deve assumir


sua responsabilidade em contribuir para com a resolução do problema. – Quais os principais e mais urgentes desafios a serem enfrentados? – A situação não admite vacilação e precisamos adotar de verdade os famosos quatro “Rs”: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. A ordem de aplicação é exatamente essa, começando com repensar e terminando com reciclar. Repensar a sistemática de ejeção dos lixos é fundamental, pois o problema, apesar de normalmente visto como uma problemática econômica, é, em larga escala, um tema também pavimentado por injunções sociais, políticas e culturais. No caso brasileiro, o país vivencia nos últimos 20 anos uma escalada na desova de descartes de uma forma que não têm precedentes. Entre 1991 e 2000 a população brasileira cresceu 15,6%. Porém, o descarte de resíduos aumentou 49%. Sabe-se que em 2009 a população cresceu 1%, mas a produção de lixo cresceu 6%. Essas dessimetrias são também evidentes em dados como os que indicam a metrópole paulista como o terceiro polo gerador de lixo no globo. Perde apenas para Nova York e Tóquio. Mas devemos reter que São Paulo não é a terceira economia metropolitana do planeta. É a 11a ou 12a. Ou seja, gera-se muito mais lixo do que seria admissível a partir de um parâmetro eminentemente econômico. – Qual a relação entre a questão do lixo e o consumo (e a consequente geração de lixo) como indicativo de desenvolvimento? – A cultura organizacional da modernidade, cuja mola mestra são ritmos cada vez mais velozes impostos à produção, obrigatoriamente tem na reposição constante dos bens uma meta estratégica da sua reprodução material. Dito de outro modo: trata-se de conduzir o consumo para a satisfação de necessidades que não se justificam em si mesmas, mas prioritariamente constituem pressuposto para a produção. No seu entrosamento mais literal, validar o dinamismo do mercado implica promover o descarte contínuo dos bens, ejetados pelo carrossel do consumo. Na perspicaz argumentação do filósofo Abraham Moles, vivemos numa civilização consumidora que produz para consumir e cria para produzir, um ciclo onde a noção fundamental é a de aceleração. Consequentemente, quanto mais rápida for a substituição das mercadorias, tanto mais encorpado será o giro do capital. Quando antes e quan-

to mais os produtos se tornarem inúteis, tanto maiores serão os lucros. Ainda que a contrapartida seja sobre-explorar os recursos naturais e, é claro, maximizar a geração de lixo. Como seria possível arrematar, este conceito de economia é caduco, ambientalmente irresponsável e não tem condição nenhuma de manter continuidade. Não hesitaria em afirmar que ele se tornou uma ameaça para o futuro da espécie humana. Urge redirecionar a economia para outras vertentes: qualidade de vida, preservação ambiental, utilização racional dos recursos naturais, revisão do estilo de vida e da economia dos materiais. – O que deveria fazer parte de um plano de gestão de resíduos municipal ideal? – Essa é uma pergunta muito comum. O interessante é que as pessoas imaginam que seja possível criar um “plano padrão” para a gestão dos resíduos. Isto é, um programa capaz de ser aplicado em qualquer contexto. Para citar um exemplo, chegaram a entrar em contato comigo solicitando um plano para uma cidade de 200 mil habitantes. Como é que pode? Claro que o conhecimento do perfil demográfico importa para a confecção de um plano de gestão de resíduos. Todavia, esse dado por si só é insuficiente. Por exemplo, as cidades de Marabá (Pará), Presidente Prudente (São Paulo) e São Leopoldo (Rio Grande do Sul) possuem contingente populacional semelhante, em torno de 200 mil habitantes. Mas isso não significa que uma estratégia de gestão bem sucedida em São Leopoldo possa ser repetida em Marabá ou em Presidente Prudente. Então, é importante primeiramente obter dados do perfil do lixo de cada cidade, país ou região, assim como as dinâmicas responsáveis pela ejeção de descartes e, na sequência, trabalhar com os aspectos sociais, econômicos e culturais envolvidos naquilo que se joga fora. Não existe lixo: existem lixos. Expressão plural e não singular. Outro aspecto essencial é mudar a visão tradicional que observa o lixo unicamente como um resultado. Na realidade, o lixo reporta a um processo, a um dinamismo cujo monitoramento não tem como ser bem sucedido atendo-se a ele enquanto um resultado final. Objetivamente, o importante é pensar as causas, origem dos problemas – e não o fim da linha. – Quais são os principais fatores que envolvem o gerenciamento do lixo no plano municipal?

– Entendo que existem duas diretrizes matriciais: uma de índole filosófica, que seria o caso, por exemplo, dos quatro “Rs” e outra, atinente aos aspectos logísticos de gestão do lixo. De qualquer modo, assevere-se que nosso temário é o lixo brasileiro, que é dotado de uma série de especificidades que devem estar colocadas no centro das atenções. Em nome dessas peculiaridades que o trabalho dos catadores deve, por exemplo, ser protegido, incentivado e valorizado pelas administrações municipais. Mas isso é o oposto do que acontece na maioria dos casos. Estigmatizados socialmente, o trabalho dos catadores – que corresponde a mais de 98% dos materiais encaminhados às recicladoras – segue, a despeito do seu enorme valor social e ambiental, repudiado, quando não hostilizado abertamente, pelas administrações municipais. É o que pondera nota oficial divulgada pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em 2010. O manifesto recorda que apenas 142 municípios em todo o país (2,5% do total) mantêm relação de parceria com associações e cooperativas de catadores. Tal situação requer revisão imediata. – Como estes fatores então devem ser levados em consideração? – Entendo que o problema do lixo pode, ao menos, ser mitigado com o concurso de procedimentos inteligentes e práticas ambientalmente corretas. Um exemplo bem concreto: dependendo da bibliografia, o volume de detritos orgânicos no lixo domiciliar brasileiro pende entre 52% a 69,6% do total. Qual seja: independentemente da fonte, o que ninguém discute é a magnitude da fração úmida no lixo residencial. Normalmente, o sistema de limpeza urbana desova toda essa portentosa massa de sobras nos aterros. Mas existem outras soluções. Deveríamos priorizar a educação ambiental, trabalhar contra o desperdício. Afinal, um documento da FAO (órgão da ONU relacionado com a alimentação e agricultura), datado de 2004, revela que o Brasil está entre os dez países que mais jogam comida no lixo, com perda média de 35% da produção agrícola. Segundo levantamentos, cada família brasileira desperdiça cerca de 20% dos alimentos que adquire no período de uma semana e a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab estima perdas em grãos em torno de 10% da produção. Outras avaliações indicam que praticamente 64% do que é cultivado no país acaba lançado na lata de lixo. Isso é um

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Entrevista contrassenso manifesto numa nação rotineiramente assediada por campanhas de combate à fome. Portanto, devemos atacar a raiz do problema e parar de pensar que gestão dos resíduos se resume a tirar saquinho da calçada. A gestão dos resíduos deve se situar antes do saquinho, e não depois dele. – Mas ainda assim existirão sobras... – Sem dúvida alguma. Inclusive aproveito o momento para questionar o conceito de Lixo Zero. Isso é uma mitologia, uma verdadeira peça de ficção. Toda atividade humana consome água, solicita energia e gera lixo. Essa ponderação vale inclusive para a atividade recicladora. Mas se eliminar lixo é uma afirmação insensata, por outro lado é perfeitamente possível pautar a redução dos rejeitos. Retomando o caso do lixo culinário, o meio ambiente e as cidades lucrariam muito mais na hipótese de se universalizar a compostagem doméstica do que ficar investindo em caros sistemas de logística de coleta de resíduos, em aterros e incineradores. Com a adoção de minhocários domésticos, a redução do lixo orgânico pode alcançar a proporção de 95% do total. Isso significa que os gastos com coleta de lixo urbano podem retrair em até 50%. Consequentemente, haveria grande economia para o erário público, propiciando mais verba para saúde e educação. Mesmo que apenas uma parcela da população adote o sistema, ainda assim os ganhos seriam consideráveis. – Que tipo de lixo é o grande vilão? O domiciliar é um dos maiores? – O lixo jamais constitui vilão. Ele é transformado em um estorvo em razão do papel que os resíduos assumiram na nossa civilização. Como recorda o geógrafo francês Jean Gottman, vivemos um período que poderia ser definido como a Era do Lixo. Esta é a primeira vez na história que os resíduos passaram a ocupar um nexo central nas preocupações humanas. Trata-se de um fato inédito cuja origem é o ineditismo de como os rejeitos são trabalhados pela modernidade. Quanto à questão do lixo domiciliar faz-se importante lembrar – no que causaria espécie a um difuso senso comum – que os rejeitos residenciais perfazem não mais que 2,5% do total do lixo mundial. Na realidade, o que é descartado pelas resi-

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dências é suplantado de longe, em ordem de importância, pelos rejeitos da mineração, da indústria e da agropecuária. Note-se que esses três segmentos são responsáveis pela geração de aproximadamente 91% do lixo planetário, cabendo tanto para a pecuária quanto para a mineração algo mais que a terça parte do total, e para a agricultura cerca de 20%. Na sequência, temos o lixo industrial, com 4%, o entulho, com 3%, e os resíduos sólidos urbanos, com 2,5%. Entretanto, caberia sublinhar que, embora o lixo domiciliar seja 2,5% nessa conta, processualmente é o mais importante de todos. Isso porque tudo ou quase tudo que se produz no mundo acaba descartado no saquinho que colocamos na calçada ou na lixeira do prédio. O lixo domiciliar é o último elo de uma longa cadeia de geração de lixos. Segundo a ativista de sustentabilidade norte-americana, Annie Leonard, professora da Universidade Cornell, atrás de cada saquinho colocado na calçada existem 60 outros sacos de lixo descartados no processo da produção. Em resumo, o lixo domiciliar é o último avatar na ciranda da geração de lixos. – Quanto lixo é gerado nos municípios brasileiros e o que é feito com ele? – Os dados compilados mais recentes são de 2008. Constam na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, um trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Segundo este levantamento, em 2008 eram coletados 183,5 mil toneladas/dia de resíduos sólidos urbanos. Importa esclarecer que para o PNSB a categoria lixo urbano subentende os refugos procedentes do âmbito domiciliar e do comércio e atividades de serviços. De qualquer modo – para além dos dados impressionantes dos números do IBGE –, a situação da gestão do lixo preocupa no aspecto qualitativo. Por exemplo, na capital paulista cerca de 35% do lixo obtido pela coleta seletiva da administração municipal – que sendo materiais já segregados deveriam ser 100% reaproveitados – é encaminhado para aterros devido a falhas operacionais e logísticas do sistema. Mesmo Curitiba – cidade icônica em termos de reciclagem – 60% dos materiais desovados nos aterros seriam itens passí-

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veis de reciclabilidade. Em termos técnicos, não há nenhuma cidade de porte no Brasil com reciclagem em termos de excelência. Ademais, no país 60,5% dos municípios descartam lixo de modo inadequado. Para complicar, mais de 6,4 milhões de toneladas sequer são coletadas, sendo despejadas irregularmente ao longo das vias urbanas, em córregos, praias, etc. Na área rural, a coleta alcança apenas 33% dos domicílios. Ainda com base no PNSB, o documento revela que em 80% do território nacional existem lixões e aterros controlados (na verdade, “lixões melhorados”), sendo que isso acontece justamente nas áreas de maior interesse ambiental: Amazônia, Pantanal, áreas de mangue, cerrado, etc. – Qual sua opinião sobre os aterros sanitários como destino do lixo? É a melhor alternativa? – É óbvio que, sendo impossível existir uma sociedade sem resíduos, há um momento no qual o lixo deve ser encaminhando para algum tipo de disposição final. É importante frisar que o aterro sanitário ao menos atenua alguns dos agravantes relacionados com a disposição irregular dos detritos. Reconhecidamente, o lixo domiciliar origina efluentes líquidos (chorume) e gasosos (metano), que constituem complicadores ambientais de monta. O chorume é 200 vezes mais impactante que o esgoto quanto à demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Em suma, atua como poderoso elemento destrutivo das águas doces. Quanto ao metano, trata-se de item crucial da agenda das mudanças climáticas. Ainda que as emissões de metano sejam inferiores às do dióxido de carbono (tido como carro-chefe do efeito estufa), seu efeito é consideravelmente maior: cerca de 20 vezes mais. A discussão relacionada com o metano conquista relevância especial pelo fato deste gás ser dotado de preocupante implicação quanto ao aquecimento global. Acredita-se que no Brasil o lixo domiciliar, devido ao elevado teor de matéria orgânica, represente 12% das emissões brasileiras do gás, sendo que a disposição final responde por 84% desse valor. Ora, ao menos os aterros sanitários drenam o metano e coletam o chorume. Outro detalhe importante é que as áreas eleitas


para acolherem aterros sanitários requisitam estudos geotécnicos e medidas de implantação precisas e rigorosas. Em 2008, existiam 1.723 destes equipamentos em operação no Brasil, recebendo 110 mil toneladas/dia de lixo: 58,3% do total nacional. Contudo, advirta-se que, apesar do rigor técnico sugerido pelos aterros sanitários, o modelo incorpora diversos questionamentos, a começar por obrigar a seleção de vastas áreas de terreno – cada vez mais escassas em todo o mundo – exclusivamente para confinar rejeitos. Outro dado é que a pontuação do aterro depende de pessoal técnico qualificado, o que não necessariamente está à disposição. Por fim, os aterros reclamam verbas pesadas para enterrar materiais cuja produção requisitou água, energia, recursos naturais e trabalho humano, um contrassenso a toda prova. – E o que dizer dos chamados vazadouros a céu aberto, ou simplesmente lixões? Quais os danos que eles provocam ao meio ambiente e à saúde humana? – Sem meias palavras, o lixão é um verdadeiro caso de polícia. As áreas de lixão no país exibem o que de pior existe na “não gestão” dos rebotalhos. Entre outros problemas temos emissões de chorume e de gás metano sem controle, insetos e toda uma fauna transmissora de doenças, ameaças ao meio ambiente e à população em geral. Essa é a sintomatologia de um lixão. Há aproximadamente 12 mil lixões em atividade ou desativados no território nacional. Nesse sentido, importaria assinalar que a tão propalada Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS de 2010, embora tenha por meta a extirpação do lixão como “equipamento” para confinamento dos resíduos, foi antecedida neste mister pela Lei de Crimes Ambientais de 1998. Para esta legislação, a deposição de resíduos a céu aberto já era considerada ilegal. Mas pelo jeito, foi uma lei que “não pegou”. Para complicar, não obstante a apologia que muitos técnicos do Ministério do Meio Ambiente teceram com abnegação inconsequente ao longo de 2010 quanto ao PNRS, existe o fato concreto de que até este momento, apenas 10% dos municípios elaboraram planos de gestão de resíduos. É um fato que preocupa, e muito, todos os especialistas da “lixologia”. Em especial, os que querem ver a erradicação final dos lixões no Brasil.

– Qual a importância da reciclagem do lixo como alternativa para o problema? – Essa pergunta é instigante, tanto pelo fato da reciclagem ser uma estratégia matricial na minimização dos impactos provocados pela verdadeira avalanche de lixo que está dominando o planeta quanto pelas próprias limitações da atividade recicladora – no que pode surpreender muitos leitores desta entrevista. Importa esclarecer os seguintes fatos: primeiro, que nas condições como a sociedade e a economia globais estão hoje estruturadas a reciclagem não tem como deter a disseminação do lixo e tampouco impor recuos na expansão dos rebotalhos; segundo, a reciclagem tem se articulado com a dinâmica maior do sistema de produção de mercadorias responsável pela depleção dos recursos naturais e gerador de rejeitos.

Cada um de nós deve fazer sua parte sabendo que toda contribuição é necessária e indispensável. É uma tarefa difícil, mas não impossível

Ou seja, foi cooptada pela lógica da produção incessante; terceiro, a reciclagem não contesta a espiral de consumo e apenas a apresenta sob nova roupagem, agora adornada com afetações ambientais e beatificada pelo evangelho do desenvolvimento sustentável. Em síntese, a reciclagem, conforme já sugeri, é somente o último dos quatro Rs. É antecedida em ordem de importância por repensar, reduzir e reutilizar. – É viável apostar nela, considerando a sociedade capitalista em que vivemos, onde tudo deve gerar lucro, até o lixo? – Viável ela é e deve ser incentivada. Outra coisa é transformá-la no ícone da defesa do meio ambiente, o que simplesmente não é correto. É preciso rubricar

que a ciranda do sistema produtivo, articulada com o que denominei no meu livro Lixo: cenários e desafios, como “cornucópia dos lixos”, tem objetivamente nivelado a zero os ganhos advindos com a recuperação dos materiais. Exemplificando, embora no caso do papel a atividade recicladora tenha imposto certa desaceleração no crescimento da demanda por polpa de madeira, ela serviu bem mais como complemento do que substituto para a fibra virgem. Sabidamente, nunca se produziu tanta celulose na história humana quanto nos dias atuais. O consumo de materiais celulósicos cresce num nível tão rápido que suplanta a possível poupança de recursos promovida pela recuperação dos papeis. Outros itens de resíduos repetem o mesmo tipo de desempenho no contexto maior da engenharia econômica. Exemplificando, no Japão, entre 1966 e o ano 2000 a reciclagem do plástico PET cresceu 40%. Todavia, neste mesmo lapso de tempo o consumo duplicou, cancelando o quinhão de benefícios providos pela recuperação desta sucata. O resgate de metal das lixeiras também não consegue acompanhar o ritmo alucinante de consumo de cargas sequestradas do reino mineral. A produção de aço secundário (metal refundido proveniente da reciclagem) atinge 35% da produção mundial total. Mas os números globais não param de crescer. Assim, se em 1950 as siderúrgicas produziam 189 milhões de toneladas de aço, em 2008 a produção alcançou 1,3 bilhões de toneladas, quase sete vezes mais. Em tempo, precisamos acima de tudo repensar o conjunto da sociedade contemporânea. – Gostaria de acrescentar mais algum comentário? – Sim. Gostaria de destacar que a discussão do lixo põe em xeque a civilização do lixo, impondo uma revolução completa da forma como são produzidas as coisas, como são consumidas e como são descartadas. Cada um de nós deve fazer sua parte sabendo que toda contribuição é necessária e indispensável. É uma tarefa difícil, mas não impossível. Atentemos para as palavras do ambientalista Paul Hawken: “Não se deixem dissuadir por pessoas que não sabem o que não é possível. Façam o que precisa ser feito, e verifiquem se era impossível exclusivamente depois que tiverem terminado”. É isso: sigamos em frente!

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Foto: Rosane Bekierman/CNSEG

Premiação

Seguro sustentável CNseg premia cases de empresas com práticas sustentáveis e recebe a ex-ministra Marina Silva para palestra Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

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om as presenças da ex-senadora Marina Silva e do principal homenageado do dia, o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, mais conhecido como Braguinha, um dos fundadores da atividade de seguros no Brasil, foi bastante concorrida a cerimônia de entrega do Prêmio que leva o seu nome, organizado pela Confederação Nacional de Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização, a CNseg no último dia 11 de dezembro, no Rio. Cerca de 400 executivos estiveram presentes ao evento, onde todos os detalhes foram pensados para marcar a sustentabilidade: os porta-guardanapos, por exemplo, foram feitos de papel-semente para depois germinarem e os banners foram doados para ONG que aproveitará tudo em bolsas e pastas. A ex-senadora e ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez um discurso fortemente aplaudido pelos executivos. Alertou para a grave crise civilizatória atual, destacou a relevância de praticar sustentabilidade em várias frentes, inclu-

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sive política e ética e marcou o papel de cada um nesta busca por um modelo de desenvolvimento mais sustentável. Marina frisou o compromisso do mercado de seguros com a sustentabilidade e o papel relevante do Brasil na busca por um modelo sustentável, principalmente dos mais jovens. “O Brasil é um país jovem, que não pode desperdiçar a grande oportunidade de fazer desenvolvimento sustentável. E os jovens precisam ter ideais, acreditar que podem ser protagonistas deste processo”, afirmou. Antônio Carlos de Almeida Braga conversou com Plurale. Lembrou que no seu tempo de empresário não se falava ainda em sustentabilidade, mas várias premissas já estavam presentes. Destacou também o relevante papel dos jovens, que devem ter acesso a Educação de qualidade e todos os serviços básicos e lembrou que o Brasil está literalmente na moda no mundo todo. “Vejo isso na Europa e em outros países”, disse o executivo. Prêmio - Dividido em três categorias – Comunicação, Processos e Produtos, os vencedores do Prêmio Antônio Carlos de Almeida Braga receberam os prêmios, que variam entre 5 e 15 mil reais, das mãos dos presidentes das federações associadas à CNseg.

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Na categoria Comunicação, a vencedora foi Adriana Boscov, da SulAmérica, com o trabalho “Programa de educação ambiental para sustentabilidade”, sobre a estratégia de disseminação do tema sustentabilidade para os stakeholders internos da seguradora entre os anos 2009 e 2011 e para profissionais do mercado segurador, de 2011 a 2012. Na categoria Processos, o primeiro lugar ficou com Ishiguro de Lima, também da SulAmérica, com o projeto de certificação digital em saúde, cujo objetivo é disseminar uma mudança cultural que é a redução de papel no processo de faturamento de contas médicas-hospitalares, entre os prestadores de serviços médicos e as operadoras de plano privado de assistência à saúde. Ainda da SulAmérica, Kleber Lopes de Almeida Junior e Lívia Prata Nascimento garantiram o primeiro lugar na categoria Produtos com o trabalho “Tinta à base d’água”, que visa estimular a utilização de uma linha de tintas mais moderna onde, em sua composição, a maior parte do solvente é substituída por água. Conheça a lista completa no site: http://www.cnseg. org.br/cnseg/home.html Novos presidentes - As quatro Federações associadas à CNseg promoveram formalmente no mesmo dia do evento, as eleições presidenciais. Na Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), o executivo Paulo Miguel Marracini (Allianz Seguros) foi eleito à presidência da entidade. Ele sucederá Jayme Brasil Garfinkel. Na Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), o executivo Osvaldo do Nascimento (Itaú Vida e Previdência) será o novo presidente da entidade. Osvaldo do Nascimento vai substituir Marco Antonio Rossi (Bradesco) no comando da FenaPrevi. O executivo Marcio Sêroa de Araújo Coriolano (Bradesco), que concorreu à reeleição na presidência da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), teve seu novo homologado nas urnas. Também executivo Marco Antônio da Silva Barros (BrasilCap) foi reeleito na presidência da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap). Os novos dirigentes das quatro federações cumprirão mandato de três anos, com a posse prevista para o começo de 2013.


Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI

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Colunista Maria Elena Pereira Johannpeter

Gestão é

fundamental

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esenvolver a responsabilidade de ser transparente e planos de gestão na busca de resultados não é uma ação exclusiva de empresas ou de governos. Ao Terceiro Setor também é fundamental a profissionalização e transparência em suas práticas, para que seja autossuficiente e efetivo em suas missões. Segundo o IBGE, no Brasil existem 338 mil ONGs, que respondem por 5% do PIB do país, o que representa o montante significativo de cerca de 32 bilhões de reais. Mas tornar as instituições mais eficientes e beneficiar um número maior de pessoas não depende apenas de recursos financeiros. A questão central é

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trabalhar a gestão dos projetos e acompanhar minuciosamente sua expansão. A ideia de que o Terceiro Setor é sustentado somente por idealismo é uma visão ingênua e utópica. Se o profissionalismo não entrar em cena, os sonhos não se concretizam e resultados não são alcançados. Ainda mais com o crescimento da cobrança por transparência. Por mais que a causa seja nobre, nenhum empreendedor social quer encaminhar recursos financeiros, tanto humanos e materiais, em um projeto que não mostra evoluções ou que não permite o acesso as suas informações. A falta de transparência e de controle contribuiu para o surgimento de instituições fantasmas, fato que ganhou

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visibilidade na mídia no ano passado. Os questionamentos quanto a seriedade de alguns projetos sociais criaram dificuldades aos demais não só para a captação de recursos, mas também para o envolvimento da sociedade no trabalho. Por isso, na Era da Informação, um trabalho ético e estratégico, aliado à prestação de contas, virou pré requisito para a manutenção e crescimento das organizações. Dessa forma, quando a organização impede o acompanhamento de suas práticas, está fechando as portas a investimentos públicos e privados. E ao não apresentar comprometimento em alcançar metas, os projetos sociais acabam sendo um dos primeiros cortes em momentos de recessão nas empresas. Profissionalização em gestão e voluntariado confere credibilidade aos projetos sociais. Ao encontro dessa necessidade de capacitar o setor é que a ONG Parceiros Voluntários, em parceria com o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – FUMIN/BID, patrocínio da Petrobras e uma grande rede colaborativa se uniram para a construção da metodologia, “Desenvolvimento de Princípios de Transparência e Prestação de Contas em Organizações da Sociedade Civil”. O trabalho foi executado entre os anos de 2008 e 2011, envolvendo, no projeto piloto, a participação de 148 representantes de 76 organizações sociais, em 21 cidades do Rio Grande do Sul. Cada etapa da capacitação teve duração de oito meses, com 80 horas de curso presenciais e mais 20 horas semipresenciais. Após este processo, as instituições continuaram recebendo consultoria de especialistas por um período de 10 meses. O resultado foi a formulação e implantação de práticas concretas de gestão que elevaram o nível organizacional das entidades envolvidas. Dentre elas, 85% buscaram novas parcerias, 79% desenvolveram novos projetos, 90% implantaram rotinas de prestação de contas, 95% passaram a disponibilizar suas prestações de contas aos stakeholders, sendo que 76% obtiveram aumento


Foto: Divulgação

de receita e 87% implementaram novas ferramentas de gestão. Um exemplo da eficiência da metodologia aplicada são os frutos colhidos pela Sociedade Espírita Estudo e Caridade – Lar de Joaquina, de Santa Maria (RS). A instituição aumentou sua receita, encontrou novos parceiros, dobrou o número de projetos, passou a oferecer atendimentos psicológico, nutricional e de assistência social, e cursos de música e computação. A APAE de Santa Rosa (RS) também mudou sua lógica de trabalho e conseguiu maior visibilidade com novas estratégias de comunicação. Passou a divulgar suas ações em site, jornais e emissoras de rádio da região, e criou peças informativas, vídeo institucional e um canal de telemarketing. Entre as mudanças administrativas, estão a implantação de nota fiscal e software em rede para qualificar e dar agilidade a seus processos. A transformação trouxe sustentabilidade com 64 novas parcerias. A metodologia, os processos aplicados e os resultados estão expostos no livro ONG – Transparência como Fator Crítico de Sucesso, lançado pela Parceiros Voluntários em maio de 2012. A obra mostra que o fortalecimento do Terceiro Setor não requer fórmulas complicadas ou revolucionárias, somente uma gestão bem articulada, um sistema de prestação de contas e um relacionamento com as Partes Interessadas que reforce os laços de confiança interpessoal e redes de cooperação para a produção de bens coletivos. Para as 76 instituições, a equação deu muito certo. O que queremos agora é que empresas, governos e fundações avaliem a metodologia construída e pensem nela como um pré

ONGs organizadas atraem não só investimentos financeiros, como também parceiros. O recurso humano voluntário traz sua grande contribuição e permanece nas organizações sociais que tenham eficiência e eficácia em sua gestão.

requisito estratégico para seus investimentos sociais. ONGs organizadas atraem não só investimentos financeiros, como também parceiros. O recurso humano voluntário traz sua grande contribuição e permanece nas organizações sociais que tenham eficiência e eficácia em sua gestão. O potencial do voluntariada não deve ser desprezado. Segundo Lester Salamon, catedrático da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre o Terceiro Setor, “se todos os voluntários formassem um país, este país seria o segundo maior do mundo”. No Planeta, o valor econômico da força de trabalho do voluntariado representa a fabulosa cifra de 1,3 trilhão de dólares. E mais: a pesquisa encomendada ao IBOPE pela Rede Brasil

Voluntário, em final de 2011, aponta que um em cada quatro brasileiros, com mais de 16 anos, já fez ou faz trabalho voluntário. São 35 milhões de pessoas em ação. Esses dados ilustram o quanto o Terceiro Setor é fundamental na economia de um país e o quanto é necessário e urgente contribuir para a sua sustentabilidade. Sobre a ONG Parceiros Voluntários: A teia social criada ao longo de 15 anos de atividades (fundada em 1997) está beneficiando 1,5 milhão de pessoas por meio da atitude solidária de quase 400 mil voluntários que prestam serviços em 2.784 organizações sociais conveniadas às Unidades instaladas em 51 cidades gaúchas. Os dados do Relatório Anual de 2011, indicam 2 mil escolas e 2,5 mil empresas mobilizadas. Desde sua fundação, a Parceiros Voluntários assessora gratuitamente entidades beneficentes e de assistência social, suas lideranças e seus usuários, no fortalecimento de seu protagonismo, capacitando-os para a gestão sustentável. O processo de planejamento estratégico mobiliza a Organização, desde seus voluntários aos integrantes do Conselho Deliberativo, com ampla consulta às partes interessadas. A partir de 2003, passou a utilizar a ferramenta BSC – Balance ScoreCard –, com a consultoria voluntária da empresa Symnetics Business Transformation, de São Paulo. O aprendizado tem contribuído para o fortalecimento de uma cultura de monitoramento de resultados. Maria Elena Pereira Johannpeter Presidente (Voluntária) ONG Parceiros Voluntários www.parceirosvoluntarios.org.br

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Colunista

Christian Travassos

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Cidade maravilha

Foto: Isabella Araripe

mutante

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stá difícil conter o otimismo com o Rio. A cidade respira confiança. A ambiência de negócios melhora paulatinamente, enquanto as perspectivas são ainda melhores, diante de uma agenda singular de eventos. E, enfatize-se, as razões para celebrar este momento certamente vão muito além do que nos proporcionam belezas naturais, história e monumentos. O mercado interno, que sempre se destacou pelo setor de serviços, sobretudo de educação, saúde, lazer e governamentais, pela concentração de uma verdadeira indústria de entretenimento e criatividade, ganha hoje evidência e força ainda maiores. A cidade atrai cada vez mais turistas, mas também profissionais vindos dos quatro cantos do mundo. As oscilações da economia fluminense frente às intempéries econômico-financeiras globais de 2008 para cá, relativamente brandas, evidenciaram tal consolidação, com crescimento homogêneo e calcado em investimentos em curso e no mercado consumidor doméstico. Além disso, ao lado dos grandes eventos e do fortalecimento do mercado consumidor, podemos mencionar alguns avanços recentes na composição de um quadro particularmente benigno para o Rio nos próximos anos. Entre tais pilares, certamente encontram-se: uma maior sinergia entre as três esferas de governo, que facilitou, por exemplo, a destinação e aplicação de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC no estado; o fato de termos sido o primeiro estado brasileiro a conquistar o selo “grau de investimento”, concedido por agências internacionais de classificação de risco, em 2010; as descobertas e externalidades positivas relativas à exploração do petróleo na camada pré-sal; o processo de pacificação de comunidades populares, com melhorias em termos de qualidade de vida, acesso à Justiça, ambiente de negócios e segurança pública; e a revitalização de bairros como a Lapa, com sinergias empresariais incentivadas pela organização de polos comerciais. Não por acaso, a cidade entrou definitivamente no circuito internacional de shows, com a presença cada vez mais frequente de artistas líderes em popularidade e vendas entre os mais variados públicos. Em termos de dinamismo econômico, a cidade se destaca em ranking elaborado pela London School of Economics. O estudo Global Metro Monitor estima o desempenho econômico de 150 regiões metropolitanas pelo mundo, com base em indicadores de emprego e renda. A edição de 2010 do indicador, a mais recente, aponta o Rio de Janeiro como a cidade brasileira mais bem colocada, em 10º lugar. Em seguida, figuram Belo Horizonte (22º), São Paulo (25º) e Brasília (32º). No topo da lista, Istambul. Para se ter uma ideia, no período pré-crise (2007), o Rio ocupava apenas a 100ª colocação. Nesta e em outras pesquisas internacionais recentes, o Rio de Janeiro é visto para muito além do badalado calçadão de Copacabana. De acordo com o onipresente guia internacional Lonely Planet, a cidade é a líder entre os destinos indicados aos viajantes na edição Best in Travel 2013 na categoria “best value” – melhor benefício x custo.


A publicação recomenda aproveitar a oportunidade de conhecer a cidade antes dos mega eventos esportivos internacionais previstos, em especial Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, dada a majoração em vista dos preços. Nas palavras do Lonely Planet, “venha agora e veja uma cidade em processo de aperfeiçoamento para receber o mundo, mas antes que os custos aumentem”. Se desejasse detalhar melhor essa agenda ao leitor, o guia poderia citar ainda, apenas em relação ao ano de 2013, os Jogos Mundiais dos Trabalhadores, a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude e o Rock in Rio. A intensificação do turismo já começou. Uma pesquisa da consultoria Euromonitor International, divulgada em 2010, indicou o Rio como o principal destino turístico do Hemisfério Sul. Ainda que no ranking global – com Norte e Sul considerados – tenha ficado em 40° lugar, a cidade figurou à frente de Berlim, Tóquio e Atenas, entre outros tantos notórios cartões postais mundiais. Não para por aí. O Rio está em mais um sem número de listas e rankings recentes. A revista de design inglesa Wallpaper elegeu-o a “Melhor Cidade”, de acordo com o prêmio Design Awards 2011. Pesou na decisão a preparação para a agenda de eventos: os avanços conquistados pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o incremento da infraestrutura, a revitalização de espaços e equipamentos urbanos e projetos como o do Porto Maravilha – com destaque na seara cultural para o Museu do Amanhã. Já segundo a revista Forbes, o Rio é a “Cidade mais feliz” (2009), com seu carnaval e “imagens de jovens dançando pela noite, tendo ao fundo as montanhas e o mar”. Para a Forbes, “desde que Fred Astaire e Ginger Rogers apareceram no filme Voando para o Rio, em 1933, o mundo ficou fascinado com o Rio de Janeiro”. Para a rede de TV CNN, por sua vez, o povo brasileiro encabeça o ranking em uma categoria inusitada: “Mais legal”. No entanto, entre as referências citadas como base na votação, não há como não se remeter ao Rio: praia, Copacabana, Carnaval, samba, favela, Seu Jorge – eterno “Farofa Carioca” – e Ronaldo Fenômeno – cria do bairro de Bento Ribeiro -, sem falar em “minuscule swimwear and toned bodies” – embora tais atributos não resumam mais a visão do turista estrangeiro sobre a cidade.

Nessa linha, em estudo divulgado em 2009 pelas Universidades de Michigan e da Califórnia – EUA, o Rio aparece como a cidade com o “Povo mais cordial” entre 50 pesquisadas no mundo. Como se não bastasse, em 2011, o Rio serviu de palco para uma animação da FOX que exibiu em salas de cinema de todo o mundo esse conjunto ímpar de predicados. Baseada na história de uma ararinha azul de verdade, o filme do cineasta brasileiro Carlos Saldanha chamou atenção de crianças e adultos para a importância da preservação ambiental, mas também para uma cidade sem igual. Por sua vez, na televisão, a Av. Brasil carioca conquistava o horário nobre da líder de audiência TV Globo em novela de mesmo nome, com um cotidiano que arrebatou níveis recordes de audiência, seguido pelo dia a dia no recém pacificado Complexo do Alemão, retratado por sua sucessora, e de um novo seriado, com foco na juventude dos subúrbios do Rio. Isso para nos restringirmos apenas à programação mais recente, porque para os brasileiros não se trata de novidade ver e entender o país por meio de estórias desenroladas na cidade. Nem para os estrangeiros. E se, em 2007, o carioca já havia se enchido de orgulho com a eleição do Cristo Redentor como uma das “Novas Sete Maravilhas do Mundo”, de acordo com a New7Wonders Foundation, o ano de 2012 renovaria sua autoestima. Como um coroamento entre tantas conquistas, em julho último, a cidade tornou-se a primeira do mundo a receber da Unesco o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana. A titulação, inovadora sob o ponto de vista da candidatura da cidade por inteiro, expõe ainda mais as belezas naturais cariocas, harmonicamente conjugadas às intervenções humanas. O momento parece realmente único. Talvez nunca a definição de Carlos Laufer, Fausto Fawcett e Fernanda Abreu tenha soado tão apropriada: “cidade maravilha mutante”. Agora, se dispomos de uma economia em ascensão, de uma série de mega eventos na agenda, de belezas naturais tanto no litoral quanto no interior do estado, com praias, Mata Atlântica e um povo hospitaleiro como protagonistas, isso não significa obviamente que tenhamos equacionado um elenco de desafios estruturais ao desenvolvimento carioca e fluminense. Enfrentamos, sim e

ainda enfrentamos problemas em termos de capacitação de mão-de-obra, mobilidade urbana, nas condições de rodovias e aeroportos, preparação adequada a desastres naturais – leia-se enxurradas cada vez mais frequentes e danosas -, na prestação de serviços por concessionárias públicas – em casos como energia elétrica, água, esgoto, estacionamento e telefonia celular – e no campo tributário. Ademais, recentemente, o crescimento do número de usuários de crack ganhou contornos epidemiológicos sobretudo entre jovens em situação de risco e população de rua. O bonde do desenvolvimento carioca está de partida da estação. Da mesma forma em que se encontram em reforma os trens que circulavam em Santa Teresa e deixaram de fazê-lo após grave acidente em agosto de 2011. Ainda que pareça óbvio, não custa lembrar que os diferenciais da economia do Rio de Janeiro estão exatamente representados naqueles bondes. Em sua elegância, em sua estética, em seu charme, em sua poesia, enfim, em sua identidade tão carioca, que a tantos encanta e a tantos ainda certamente encantará. Aprimorar as condições para empresas se instalarem na cidade e em seu entorno, contribuir para facilitar o deslocamento de trabalhadores e consumidores, aprimorar a drenagem pluvial, combater o desmatamento, avançar na concessão planejada de aeroportos e autopistas, entre outras ações, permitirão o atendimento a contento de uma demanda ascendente e cada vez mais exigente – suscitada tanto pela realização de grandes eventos internacionais quanto pelo crescimento e amadurecimento do mercado consumidor regional. Hora de aproveitar o capital político angariado pela atual gestão governamental para o avanço em reformas capazes de oxigenar o ambiente produtivo carioca e fluminense. Momento de reduzir a burocracia governamental para as empresas, de tornar o transporte coletivo mais eficiente e de aprimorar a fiscalização em prol da adequada prestação de serviços públicos e da lisura na aplicação do erário. Christian Travassos (christian.travassos@yahoo.com.br) é colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. É economista e mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ)

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Colunista

Flavia Frangetto

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QUERO SER

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uero ser sustentável, mas como é difícil. Em 2011, nasceu o meu filho e planejei comigo que daria encaminhamento correto a todos os resíduos que gerasse. Na hora “H”, não havia meios para manter a linha. Por mais que fraldas pudessem ser reutilizáveis, o fato de ter que gastar na água, no gás para fervê-la, no detergente ou no sabão em pó me trazia peso na consciência. Se a fralda era descartável, então, jogá-la no lixo me deixava com mais agonia ainda. Aonde elas irão parar? Soluções vinham à minha cabeça, como levar todas as fraldas (sujas mesmo) juntas para o lugar adequado, seja lá onde fosse ele – mas, que pelo menos se eu soubesse que ele existia, que a partir dali o tratamento ao resíduo seria adequado. E as embalagens de remédios, vitaminas? Guardei-as por um bom tempo, pois queria, adicionalmente, mostrar que aquelas utilizadas em favor do meu filho, foram contabilizadas e compensadas. No final, amontoei uma série de caixinhas e vidrinhos, e para me desfazer delas, acabei por incluir no meu pacote semanal de lixo reciclado que levo às lixeiras de coleta seletiva do supermercado. Uma pena não haver um sistema com o qual eu possa contabilizar todos os impactos da criança desde o seu nascimento e dar a devida contrapartida para que seja um ator ambiental, no lugar de ser um poluente. O fato de ser possível (e, um dia quem sabe, viável) elaborar esse sistema me deixa mais tranquila. Bastaria um software no qual se possa incluir os dados de tudo o que entra e que sai e para onde vai. Na exata medida calculada do impacto, eu trataria de plantar árvores, reutilizar água, reduzir a pegada e pagar por melhorias ambientais compensatórias. Sem esse sistema, vou fazendo o que posso. Sem precisão, porém. Sem poder dizer que meu filho é “limpo”, que não provoca nenhum dano ambiental. No mundo real, no qual as coisas acontecem por naturalidade, começo,


então, a achar que devo encarar essa deficiência como um fato normal: a condição humana leva a esses impactos negativos no ambiente. Permaneço triste, pois, realmente, desejo um mundo mais limpo. De verdade, quero que as futuras gerações possam viver no Planeta sem causarem ainda mais dano para as gerações subsequentes. Já chega a geração dos nossos pais, dos nossos avós, a nossa geração mesmo, provocar passivos ambientais para o futuro. Deve haver um jeito de parar com isso. De reverter os impactos negativos em positivos. Pelo menos, física e cientificamente é possível sequestrar carbono, reduzir emissões de gases de efeito estufa, diminuindo a intensidade da mudança do clima, evitando-se mais aquecimento global. Mantenho-me na esperança que essas e todas as práticas que evitam poluição, local ou global, possam ser apli-

cadas. E que o sejam facilmente. Que o prático seja optar pelo caminho mais saudável, menos intensivo em carbono, mais apropriado para a vida sem ameaça ou dano ambiental. Nesse passo, as tecnologias de geração de energia renovável precisam ser massificadas. Tudo isso precisa de estímulo, de força de política pública que induza os comportamentos para posturas evoluídas, em favor do ambiente ecologicamente equilibrado. Anseio por viver em uma Terra capaz de absorver o que há de melhor da inteligência humana para não mais prejudicar esse equilíbrio. Para não manter sujo o que pode ser limpo. Para descontaminhar onde está contaminado. Para possibilitar a paisagem transformando o deteriorado em belo. Enfim, fazer valer os recursos naturais como a Natureza nos apresenta no seu estado puro.

Creio que as relações de consumo bem selecionado, preferindo-se os produtos verdes ou as empresas sociambientalmente responsáveis, são um excelente caminho para aperfeiçoarem-se as maneiras que o indivíduo têm de atuar de forma sustentável. Embora comprar signifique de algum modo impactar, que este impacto seja positivo, ora. Sim, quero ser sustentável. Espero sê-lo cada vez mais, pelo menos eu e meus descendentes. Flávia Frangetto (flavia@frangetto.com) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. É advogada especializada em Meio Ambiente e consultora ambiental, proprietária da Frangetto Assessoria e Consultoria. É Conselheira do Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP.

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Estante O PELO NEGRO DO MEDO Por Sérgio Abranches, Editora Record, 208 págs, R$ 34,90 Com fortes influências de Guimarães Rosa e Thomas Mann, o mineiro Sérgio Abranches constrói uma história permeada pelas mais íntimas sensações. Ambientado de maneira engenhosa na Paraty dos anos 1980, O pelo negro do medo é um romance que expressa um forte “sentimento de travessia” e de “busca sem solução”. “A ambição de O pelo negro do medo foi a de deixarse inspirar por aquelas narrativas que tomam momentos afetivos ou existenciais particulares e procuram torná-los transcendentes, universais. O encontro entre a pessoa – ou persona – específica e o ser humano geral”, explica o autor. Os protagonistas criados por Sérgio Abranches, um escritor e uma compositora, se encontram na tênue fronteira entre o medo de um novo fracasso amoroso e a promessa de uma relação madura. Eles então decidem passar um final de semana fora em Paraty (RJ). Afinal, nada como uma viagem para quebrar a rotina a dois. Às vezes, porém, o dia a dia camufla o impalpável transformando viagens em experiências únicas, desconcertantes.

HERANÇA DE SANGUE Por Ivan Sant`Anna, Editora Companhia das Letras, 200 págs, R$ 34,00 Num relato de lances cinematográficos, cheio de luta, crime, ódio, paixão, selvageria e crueldade, Ivan Sant’Anna reconstitui a saga de Catalão, o lugar mais perigoso do Brasil até a primeira metade do século XX. Ivan Sant`anna nasceu no Rio de Janeiro, em 1940. Passou parte da infância em Catalão, na casa dos avós paternos. Formado em mercado de capitais pela Universidade de Nova York, trabalhou por quase quarenta anos no mercado financeiro. Em 1995, tornou-se escritor, ensaísta e roteirista — um de seus trabalhos foi a série Carga pesada, da Rede Globo. É autor de Rapina, Os mercadores da noite e Plano de ataque, entre outros

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s %SPECIAL DE FIM DE ANO E FÏRIAS s

ÉTICA E POLÍTICA Por Roberto Saturnino Braga, Editora Contraponto, 126 págs, R$ 25,00 Roberto Saturnino Braga buscou sempre fundamentação em ideias para sua atuação política. Tem oito livros publicados, de artigos, ensaios e discursos políticos. Lança agora mais um volume de seus artigos, precedidos de um pequeno e trabalhado ensaio sobre um tema que tem sido preocupação constante durante toda a sua vida política: as relações, difíceis, entre a política e a ética. Fruto de reflexões elaboradas em cinquenta anos de vivência da política brasileira, o novo livro de Saturnino traz uma contribuição importante para a grande polêmica que hoje se trava sobre o assunto, no Brasil e em todo o mundo democrático.

OI! O TUCANO ECOLOGISTA A ANTA DA AMAZÔNIA Por Fernando Rebouças, Editora Fernando Rebouças Editorial, R$ 4,00

Oi! O Tucano Ecologista – A Anta da Amazônia é o gibi n° 04 da turma do Oi!, a edição é toda colorida e, na história principal, a turma do Oi! O Tucano Ecologista ajuda a salvar uma anta da Amazônia. O gibi também apresenta quadrinhos das Formigueiras e do Sapatudo. E uma história sobre a reciclagem e as cores do lixo. A revista é desenhada e escrita pelo próprio autor e lançada pelo selo Fernando Rebouças Editorial. A coleção completa de gibis do Oi! foi citada em evento paralelo na Rio+20, lançada em eventos como o IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental. A compra pode ser feita pelo site: http://www.loja. oiarte.com/ Todos os gibis da coleção do Oi! O Tucano Ecologista também estão disponíveis em livrarias especializadas do Rio de Janeiro: http://www.loja.oiarte.com/ pontosdevenda.html


Carlos Franco - Editor de Plurale em revista

MARIA LUIZA E A BANHEIRINHA (INFANTIL) Por Ivna Chedier Maluly, Editora Escrita Fina, 20 págs, R$ 19,00 A maior parte das crianças não gostam de tomar banho, certo? Não na casa de Maria Luísa, onde a hora do banho é pura diversão. A banheirinha é um dos lugares preferidos da menina. Sapeca e curiosa, Maria Luísa faz de tudo uma diversão. No banho ela brinca de bater as mãozinhas e as perninhas e de fazer da esponja um chuveirinho. A diversão máxima da menina é destapar o ralo do banheiro para ver a água escorrendo e ouvir o barulhinho dela caindo. Com a história de Maria Luiza, a jornalista e escritora Ivna Chedier Maluly resgata um dos melhores momentos de interação entre pais e filhos e de farra garantida para as crianças pequenas. Uma narrativa breve, na medida para os pequenos leitores, que convida para um banho divertido e gostoso. Com delicadas ilustrações da jovem ilustradora paulista Camila Carrossine, Maria Luiza e a banheirinha atrairá a atenção dos bebezinhos e agradará toda a família.

MEGALÓPOLIS, UM OLHAR INTENSO SOBRE GRANDES CIDADES Por Alfredo Sirkis, TIX Editora, 399 págs, R$ 39.90

Megalópolis traz escritos de Alfredo Sirkis sobre grandes cidades, do período 2001-2010. Tratam de questões urbanas em grandes cidades. No primeiro capítulo, Urbe, há reflexões mais abrangentes sobre cidades e ecologia urbana. O segundo, Favela, trata da chamada “cidade informal” com foco no Rio de Janeiro. No capítulo Clima, também se aborda o Rio pelo ângulo das cidades e incluem–se escritos sobre enchentes, lixo e energia solar. Em Megalópolis, capítulo que dá o título à obra, há uma série de artigos e reportagens sobre grandes cidades pelo mundo afora.

ENERGIA EÓLICA Organizador José Eli da Veiga, Autores: Adilson de Oliveira e Osvaldo Soliano Pereira, Editora Senac São Paulo, 216 págs, R$ 39,90 Em continuidade ao relevante debate sobre alternativas energéticas, iniciado com a publicação do livro Energia Nuclear, em 2011, a Editora Senac São Paulo acaba de lançar o título Energia Eólica, organizado por José Eli da Veiga, professor titular da Universidade de São Paulo (USP). Com textos dos professores Adilson de Oliveira e Osvaldo Soliano Pereira, o livro discorre sobre o cenário em que a energia gerada pelos ventos encontra, no Brasil e no mundo, o seu potencial como fonte complementar de energia elétrica sustentável e fala sobre as vantagens que sua adoção pode promover.

SEU AMIGO ESTEVE AQUI- A HISTÓRIA DO DESAPARECIDO POLÍTICO CARLOS ALBERTO SOARES DE FREITAS Por Cristina Chacel, Editora Zahar, 232 págs, R$ 32,00 Em clima de suspense, o livro narra uma contundente história verídica passada no período da ditadura militar no Brasil. A partir de pesquisas e depoimentos de familiares, amigos e antigos companheiros de militância, a autora revela o incrível personagem que foi o mineiro Carlos Alberto Soares de Freitas, o dirigente Breno da organização clandestina de esquerda VAR-Palmares. Conhecido como Beto, pela força de sua liderança atraía para a resistência política inúmeros jovens, entre eles a então secundarista de dezesseis anos Dilma Rousseff, atual presidente da República e uma das personagens dessa trama. Beto foi um dos três militantes citados e homenageados por Dilma em seu primeiro discurso como candidata à Presidência. Em fevereiro de 1981, uma década após seu desaparecimento, descobre-se que Beto, como outros perseguidos por seus ideais, havia sido assassinado em uma casa em Petrópolis (RJ), conhecida como a Casa da Morte, onde presos políticos eram mantidos em cárcere privado, sendo barbaramente torturados e quase sempre mortos.

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P e lo B rasi l Pesquisas em mudanças climáticas são incipientes

Haroldo Palo Jr./Fund. Grupo O Boticário

Mudanças climáticas impõem alterações aos diversos biomas do país, porém falta de conhecimento dificulta ações e estratégias de adaptação

Da Fundação Grupo Boticário

As pesquisas sobre mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil, apresentadas nos últimos anos pela comunidade científica nacional e internacional, são incipientes. É o que mostra a “Análise de Publicações Científicas Existentes Relativas aos Impactos das Mudanças Climá-

ticas sobre a Biodiversidade”, trabalho realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. “A análise cientométrica, que durou cerca de um ano, teve por objetivo gerar indicadores para avaliação quantitativa do progresso científico de pesquisadores, periódicos e instituições sobre o tema em questão”, explica a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes. Segundo ela, o diferencial desse trabalho em relação a outras análises cientométricas sobre mudanças climáticas é justamente o fato de ele ser focado nos impactos sobre a biodiversidade brasileira. Além disso, o período de tempo pesquisado, que soma 22 anos, é um dos maiores entre os estudos já realizados. Foram identificados 948 artigos publicados entre 1990 e junho de 2012 e que têm como temática a relação entre as mudanças climáticas e a biodiversidade em todo o mundo, sendo que os resumos de todos eles estão disponíveis para consulta no link: http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/publicacoesmudancasclimaticas. Do total de artigos, apenas 59 (6%) tratam especificamente dos impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade do Brasil. O primeiro foi publicado em 2001 e houve um crescimento significativo a partir de 2009.

Do GIFE A sexta edição do Censo GIFE, mapeamento bienal que o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) faz sobre a atuação de seus associados, mostrou que o investimento social da rede aumentou 8%, em relação ao ano passado, chegando a R$ 2,35 bilhões neste ano. Uma série consecutiva de aumento após o ano 2009, ápice da crise econômica mundial, quando o investimento sofreu uma redução de 5%. Entre 2009 e 2011, o crescimento foi de 14%. Com 100 organizações respondentes (o GIFE possui 143 associados), que incluem empresas, institutos e fundações empresariais, mas também organizações familiares, independentes e comunitárias, o levantamento indica que a relação entre investimento e as oscilações econômicas no período tiveram pouco impacto. “A crise econômica de 2008 já havia indicado uma consolidação do investimento social das empresas, deixando de ser um custo facilmente cortado diante de uma situação de crise. O crescimento regular dos investimentos sociais desde 2009, mesmo diante

Censo GIFE mostra que investimento social cresceu mais qualificado e abrangente

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Dessas publicações focadas no Brasil, 19 foram classificadas dentro da temática de “mudanças futuras previstas” e 11 em “mudanças atuais registradas e monitoramento”. Entre esses estudos, os temas mais abordados são: distribuição geográfica de espécies, diversidade biológica e serviços ecossistêmicos. Quase a totalidade dos estudos (87%) trata de ambientes terrestres e a maioria dos que cita algum bioma específico faz referência à Mata Atlântica. Não houve estudos com microorganismos e fungos, e há equilíbrio entre artigos com fauna e flora. Das 16 publicações com animais, 75% são com vertebrados, principalmente aves. O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) é um exemplo de espécie citada em publicação sobre mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil. É uma ave que ocorre em ambientes terrestres de Mata Atlântica e que foi abordada em artigo classificado nas categorias “mudanças futuras previstas” e “distribuição geográfica de espécies”. Se as previsões estiverem corretas, poderá haver no futuro redução na distribuição dessa espécie que hoje já é ameaçada de extinção.

de um contexto econômico instável, reforça essa tendência”, explica o secretário-geral adjunto do GIFE, Andre Degenszajn, responsável pela pesquisa. QUALIFICAÇÃO O levantamento aponta também uma série de fatores que comprovam uma maior qualificação do investimento, com base na estratégia e na qualidade da ação social. “Em 2010, o GIFE construiu com seus associados uma visão de 10 anos para o setor de investimento social (Visão ISP 2020). Nesta visão, apontávamos para a ampliação da diversidade de investidores, particularmente pelo aumento de organizações familiares e independentes, e também da abrangência do investimento, tanto geográfica como de sua capacidade de cobrir um amplo conjunto de áreas temáticas de atuação”, lembra.


Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista

A Semana Sebrae de Tecnologia e Inovação que acontece em paralelo a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia promovida pelo governo federal, reuniu na manhã de quarta-feira, 17 de outubro, no Hotel Sofitel, no Rio de Janeiro, interessados em saber mais sobre empresas consagradas durante o seminário Franquias – Casos de Sucesso de Negócios Sustentáveis. ”Nosso objetivo é sempre trazer as melhores práticas para as micro e pequenas empresas que são o foco do Sebrae. Desde o ano passado estamos realizando esse evento de uma semana com temas ligados a sustentabilidade, economia verde, comércio justo. Além das palestras e seminários, no evento os micro e pequenos empresários tem a oportunidade de fazer consultorias gratuitas através de instituições parceiras sobre oportunidades de negócios verdes, ações de gestão ambiental e de responsabilidade socioambiental”, explica Dolores Lustosa, Analista de Unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia do Sebrae. E acrescenta que sustentabilidade não é mais assunto apenas das grandes empresas. “Não só houve um maior entendimento de que ser sustentável não é somente custo e sim ganho econômico, como as normas aplicadas pelo governo ficaram mais rígidas e a fiscalização mais rigorosa”. O seminário, mediado pela Editora de Plurale, Sônia Araripe, iniciou com a apresentação da MegaMatte que tem como proposta oferecer aos clientes além de mate, salgados e sucos, uma alimentação rápida e mais saudável e que abriu franquia em 2005. Fátima Rocha, diretora executiva da empresa e presidente da Associação Brasileira de

Foto: Eny Miranda (Cia da Foto)

Seminário promovido pelo Sebrae-RJ apresenta cases de sucesso de franquias sustentáveis

Da esquerda para a direita: Jaqueline Garcia, do Sebrae-RJ; Sônia Araripe, de Plurale; Mauro Martins do Bob`s; Fátima Rocha, da Megamatte e Rafaela Rabello, do Mundo Verde Franchising, seccional Rio (ABF-Rio), falou dos projetos sustentáveis na área social e ambiental. No social, a empresa apoia os projetos Sonhar Acordado e Onda Solidária e o seu próprio projeto, o MegaAção Cidadania. “O MegaAção é um projeto onde realizamos uma ação anual no Dia das Crianças. A renda de um dia inteiro de venda de mate é usada para a compra de brinquedos que são distribuímos para crianças que vivem em situação de risco social”, contou Fátima. A MegaMatte também tem um programa de responsabilidade ambiental - que está sendo realizado em duas unidades piloto programa de energia e eficiência energética. “Temos uma gestão econológica, isto é nossos fins são econômicos mais mantemos a lógica do respeito ao meio ambiente e ao ser humano”. Na sequência, Mauro Martins, gerente de operações e treinamento da BFFC, proprietária do Bob`s - tradicional rede de fast-food que está completando 60 anos em 2012 - falou um pouco das práticas sociais, de inovação e ambientais que estão sendo seguidas pela empresa e passadas aos franqueados. Destacou programas como o do Primeiro Emprego e o da Melhor Idade, que capacita trabalhadores com mais idade para retornar ao mercado. Citou ações inovadoras como o Portal de Treinamento, onde cerca de 90% dos funcionários da rede já se cadastraram e tem acesso a complementos do treinamento presencial com e-learning, videoteca, e também a universidade corporativa BFFC que ao formar líderes os direciona para a sustentabilidade do negócio. Nas questões ambientais o Bob`s tem tido cuidado em criar novas embalagens, reduzir o sódio dos lanches e a usar gordura de

palma, procurando deixar mais saudáveis os alimentos vendidos. Outro cuidado do Bob`s é em relação aos equipamentos utilizados nas lojas, otimizando espaços e filtrando a gordura, além de projetos arquitetônicos sustentáveis aproveitando mais a luz natural, diminuindo os gastos com energia. Ações que ainda não estão sendo divulgadas aos clientes e usadas como diferencial competitivo. “O conceito de fast-food vem mudando. Ele não é mais a refeição principal como antigamente. Está mais associado a um momento de satisfação, de descontração e lazer. As pessoas sabem que além da alimentação é preciso outros cuidados para ter uma vida saudável. E temos acrescentado novos itens ao cardápio como sucos e iogurtes”, disse Mauro. Encerrando a manhã, Rafaela Rabello, coordenadora de marketing do Mundo Verde, rede de lojas de produtos naturais que hoje associa seu nome a bem-estar, depois de um breve histórico da empresa que deixou de ser familiar em 2009 e hoje ostenta números como 240 unidades no Brasil (e duas em Portugal) até o final do ano com 150 mil clientes ao dia, detalhou um projeto social batizado de Mundo do Faz e Conta. Projeto onde uma contadora de histórias, a tia Dulce, visita escolas e instituições públicas pelo país contando histórias de sustentabilidade, uma maneira de informar e conscientizar crianças de forma lúdica. Mais de 90 mil crianças já ouviram as histórias de Tia Dulce em cerca de cinco mil instituições. Dentro dos projetos das lojas franqueadas o Mundo Verde também insere uma variedade de itens de sustentabilidade. “Para atingir a sustentabilidade lá na ponta, também é primordial a seleção e a capacitação da equipe que trabalha na rede”, finaliza.

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P e lo B rasi l APIMEC divulga os resultados das eleições 2012 Entre os dias 19 e 29 de novembro de 2012, a APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) realizou eleições para a escolha dos futuros governantes da Associação. Neste processo, foram eleitos os novos presidentes e vice-presidentes da Apimec e de suas regionais. Houve ainda renovação parcial do Conselho Diretor das regionais. Abaixo, seguem os nomes dos candidatos eleitos:

APIMEC NACIONAL Chapa eleita: Nova Governança Presidente: Reginaldo Ferreira Alexandre (Apimec SP) Vice-presidente: David Rodolpho Navegantes Neto (Apimec Rio)

APIMEC RIO Chapa eleita: Chapa única Presidente: Carlos Antônio Magalhães de Almeida Vice-presidente: Helio Darwich Nogueira Novos membros do Conselho Diretor: Victor Luis de Almeida Vohryzek, Nelson Sebastião de Almeida, Washington Maurício da Silva, Antônio Carlos Vieira Góes, Marcos Oscar Tisser, Antônio Jorge Vasconcelos da Cruz, Nelson Priori e Antônio Carneiro Alves.

APIMEC SÃO PAULO Chapa eleita: Envolvimento e Compromisso Presidente: Ricardo Tadeu Martins Vice-presidente: Pedro Roberto Galdi Novos membros do Conselho Diretor: Flávio Ramalho Conde, Marco Antonio de Almeida Panza e Francisco D’Orto Neto.

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APIMEC DISTRITO FEDERAL Chapa eleita: Renovação Presidente: Renan Sebastião Silva Junior Vice-presidente: João Carlos Penna Esteves Novos membros do Conselho Diretor: Célio de Assunção Martins Menezes, Tânia Mara Gonçalves dos Santos e César Guimarães. APIMEC MINAS GERAIS Chapa eleita: Chapa única Presidente: Juliano Lima Pinheiro Vice-presidente: José Domingos Vieira Furtado Novos membros do Conselho Diretor: Adão Martins Pereira, Antônio Sávio de Resende, Gilson de Oliveira Carvalho e José Adair de Lacerda. APIMEC NORDESTE Chapa eleita: Dedicação e Seriedade Presidente: Geraldo de Lima Gadelha Filho Vice-presidente: Francisco Assunção e Silva Novos membros do Conselho Diretor: Raimundo Porto Filho e Gregório Pinto Matias. APIMEC SUL Chapa eleita: Chapa única Presidente: Marco Antônio dos Santos Martins Vice-presidente: José Junior Oliveira Novos membros do Conselho Diretor: Ari Rui Morais Mattos, David Prikladnicki e Valter Bianchi Filho. O presidente e vice-presidente da Apimec Nacional tomarão posse em 13 de dezembro de 2012, e os presidentes, vice-presidentes e conselheiros de regionais serão empossados ao longo de janeiro de 2013.


Fotos: Noel Faiad

Seminário da ABDE apresenta caminhos para integrar a comunicação O 11º Seminário Nacional de Comunicação Social e Marketing para Instituições Financeiras de Desenvolvimento, promovido pela ABDE, em outubro, em Belo Horizonte, na sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), colocou em debate a gestão dos processos comunicativos e das marcas corporativas.

Paulo Henrique

Executivos do mercado, como Marco Rezende, diretor da Marcar, Carina Almeida, diretora da Textual Assessoria de Imprensa, e Paulo Henrique Soares, gerente geral de Comunicação da Vale, apresentaram aos gestores dos Associados experiências bem-sucedidas e projetos desenvolvidos na busca por uma comunicação mais integrada e eficiente.

Sônia Araripe

Uma das atividades que despertou debate foi a palestra da Publisher da Plurale, Sônia Araripe, que mapeou as transformações ocorridas nos últimos 20 anos na cobertura dos temas de sustentabilidade e meio ambiente. Anualmente, a ABDE organiza o seminário com o objetivo de trazer as tendências na área de comunicação para os integrantes da Associação. Fotos: Estevam Avellar / Divulgação

Carina Almeida

Em iniciativa inédita, UNESCO e Rede Globo anunciam projetos sociais que serão beneficiados pelo Criança esperança em 2013 Representantes de projetos sociais espalhados por todo o Brasil marcaram presença na noite do dia 4 de dezembro, no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para a grande festa que anunciou os projetos que serão beneficiados no próximo ano pelo Criança Esperança. Os atores Julia Lemmertz e Alexandre Borges foram os mestres de cerimônias da noite e informaram o destino de mais de 17 milhões de reais que foram arrecadados até agora com a mobilização neste ano de todo o país pela defesa dos direitos das crianças e jovens brasileiros. No próximo ano, o Criança

Esperança alcançará 86 projetos sociais, além da Pastoral da Criança e de quatro Espaços Criança Esperança, no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Com isso, o Criança Esperança, reconhecido pela ONU como modelo internacional, alcançará 65 cidades de todas as regiões do país, beneficiando diretamente 32 mil pessoas. Vale destacar que as doações podem ser feitas o ano inteiro nas mais de 20 mil casas lotéricas espalhadas pelo país, e pelo site do Criança Esperança. A campanha apoia projetos de cidades como Porto Alegre no Sul, passando por

Anápolis no Centro Oeste, Mossoró no Nordeste, até Macapá no Norte do país. Desde pequenas cidades do interior, com cerca de três mil habitantes a grandes metrópoles com mais de seis milhões de pessoas. Essa ampla seleção reflete as múltiplas realidades regionais de um país continental, em toda a sua diversidade cultural e social. São projetos que trabalham em diferentes frentes pela transformação social. Confira a lista completa dos 86 projetos sociais que serão beneficiados pelo Criança Esperança em 2013 no site: www.criancaesperanca.com.br.

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Educação

e d s a c i t á r p s a l u A

Sustentabilidade

Duas escolas do Rio de Janeiro dão exemplo de educação ambiental através de parcerias e projetos focados em práticas sustentáveis Texto: Marcelo Pinto Especial para Plurale em Revista Fotos: Cristina David e Divulgação Alba Canizares (*)

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Foto: Cristina David

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uas escolas do Rio de Janeiro vêm dando lições de como incorporar ao dia a dia de seus alunos a agenda do desenvolvimento sustentável. Desprezando a distância geográfica e econômica, a Escola Municipal Alba Canizares do Nascimento, localizada em Campo Grande, Zona Oeste, e a Edem (Escola Dinâmica de Ensino Moderno), no tradicional bairro de Laranjeiras, Zona Sul, têm se aproximado pelas iniciativas. Parcerias – com o poder público e o terceiro setor –, formação continuada dos professores e engajamento dos pais são os principais itens dessa fórmula comum. Ciente de suas limitações orçamentárias, a direção da escola pública decidiu ir atrás de parcerias. Hoje, a diretora Carla Gonçalves revela, com orgulho, uma lista que inclui o Posto de Saúde da Família do bairro, Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Com o apoio técnico dos profissionais de saúde do PSF Ana Gonzaga, a escola passou a colaborar no trabalho de prevenção da dengue, ainda

Daniel Garza, da Sustentarte, coordena plantio de mudas com alunos


Foto: Cristina David

Celso Sanches, biólogo e pai de aluna, explica os principais temas da agenda sustentável tão necessário na região. Em caminhadas pelo bairro, alunos identificam possíveis focos do mosquito transmissor e alertam moradores sobre o destino correto do lixo. “O objetivo dessa parceria é transformá-los em agentes multiplicadores de informação dentro dessa cadeia de esforços para prevenir doenças causadas pelos danos ao meio ambiente”, explica a diretora. Enquanto o Projeto Suderj estimula a prática de esportes – para participar de suas oficinas de futebol, balé e tae-kwon-do o aluno precisa ter boa frequência escolar e assistir às palestras extracurriculares –, a Cedae promove a valorização de nossas florestas. Periodicamente, funcionários da companhia promovem com os alunos o

plantio de mudas de árvores nativas, e explicam a importância de preservar espécies ameaçadas de extinção e a relação entre crescimento desordenado, desmatamento e desastres ambientais. Nessa mesma linha, a Edem desenvolve há três anos com a ONG Sustentarte o projeto Escola Floresta. Através dele os alunos têm a oportunidade de se envolver em todas as etapas para a criação de uma floresta típica da Mata Atlântica, começando pela germinação de uma semente, dentro de um viveiro de plantas montado na escola, até o seu plantio, em uma área próxima do bairro ou em um dos parques florestais da cidade. Este ano, em atendimento às demandas dos próprios participantes do Foto: Cristina David

Escola Floresta, que reivindicavam ir além do plantio de mudas, a ONG – que, além da Edem, mantém projetos em outras nove escolas –, inaugurou a Oficina de Bioconstrução, sob a coordenação do diretor da Sustentarte, Daniel Garza. Utilizando materiais como bambu, argila, esterco, areia e palha, um grupo de alunos do ensino médio construiu uma pequena grande casa, que terá um destino pra lá de sustentável, integrando-se ao pátio de recreação das turmas do ensino infantil. (Leia mais na página 49). RIO+20 Como já era de se esperar, as duas escolas desenvolveram, em 2012, projetos inspirados na Conferência realizada no Rio no mês de junho. Com o projeto “Horta Aérea”, desenvolvido por Gabriel Nunes, do 8º ano, a Escola Alba Canizares participou da Feira do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, dentro da programação oficial da Rio+20. A horta suspensa, embalada em garrafas PET e presa em um aramado, fez tanto sucesso no evento - produzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a finalidade de popularizar a ciência –, que Gabriel acabou virando tema de uma reportagem exibida pelo principal telejornal nacional. Na Edem, a conferência mundial não somente inspirou o tema de sua Semana das Ciências – “Ciência, capitalismo, sustentabilidade” –, mas foi incorporado ao projeto pedagógico como um todo. Até os pequenos entraram na onda do evento. Alunos das primeiras séries do ensino fundamental leram e comentaram reportagens de jornais, discutindo em sala as questões em pauta. Enquanto colegas do 5º ano estu-

Estudante leva o debate da Rio + 20 para as ruas

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Educação

PAIS PARCEIROS Com a experiência única de ter participado da Eco 92 e da Rio+20 e ainda ser pai da Amanda, do 6º ano, o biólogo Celso Sanchez, professor e pesquisador da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), foi convidado pela Edem para falar aos alunos. Celso conta o que mais o surpreendeu nessa troca com turmas entre o 6º e o 9º ano. “Através de perguntas simples sobre a conferência, ficava claro o nosso constrangimento adultocêntrico que nos enrubesce ao não saber responder coisas do tipo: como um país que é recordista em exportação de grãos e carne tem tanta gente faminta?” Para Celso, um questionamento como esse é fruto do investimento feito pela escola na “visão crítica do mundo, desde suas desigualdades às suas possibilidades”.

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*Alunos da Escola Alba Canizares plantam mudas doadas pela Cedae Foto: Divulgação

daram as mudanças de atitude necessárias para a conservação dos recursos naturais do planeta, turmas do 6º panfletaram no Largo do Machado, difundindo informações sobre a Rio+20. Já o ensino médio teve uma participação mais direta na conferência, frequentando os encontros preparatórios, indo à abertura oficial, no Riocentro, à Cúpula dos Povos e saindo às ruas no dia da mobilização global. A professora de Geografia do Ensino Médio da Edem, Cristiane Adiala, acredita que essa experiência deu aos alunos uma “perspectiva crítica”. ”Foi muito valiosa a nossa vivência com temáticas ambientais mais urgentes. Ao mesmo tempo, eles perceberam o quanto as claras informações científicas foram incapazes de sensibilizar e comprometer chefes de Estado e delegações na produção de um documento final realmente propositivo”, avalia. Mas a professora destaca as lições aprendidas. “A diversidade cultural e política que animava as atividades autogestionadas, plenárias, as intervenções artísticas e religiosas fez da Cúpula um evento grandioso”. Ainda segundo ela, “os frutos dessa experiência toda ainda estão amadurecendo, nos jovens e no próprio corpo docente”. Para Cristiane, o legado da Rio+20 deverá resultar em um número maior de projetos relativos à sustentabilidade ambiental nas escolas.

Foto: Cristina David

Alunos da Edem panfletam no Largo do Machado

O envolvimento dos pais também tem rendido frutos para a Escola Alba Canizares. Com o apoio do pai de uma aluna do 7º ano, que vem a ser funcionário da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a escola se prepara para promover um novo plantio de mudas no bairro. Contando também com a participação dos pais, outro projeto acaba de sair do papel: uma oficina sobre alimentos orgânicos, complementada por um debate sobre dieta calórica e obesidade na adolescência. Os resultados já se fazem sentir na mudança de postura dos alunos. Como a de Larissa Dutra Chao, 17 anos, do 2º ano da Edem. A experiência de participar das principais discussões da Rio+20, e de ter construído, ao longo do ano, uma biocasa para as crianças do

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ensino fundamental, mudou, admite ela, sua compreensão do que seja um “mundo sustentável”. “Antes, eu responderia que é um mundo verde, onde você vive de bem com a natureza. Agora vejo que é bem mais que isso, descobri que sustentabilidade não se refere apenas ao meio ambiente, mas ao lado social e econômico, as três partes precisam estar integradas”. Há algum tempo, Larissa já pensava cursar Engenharia. Hoje, porém, ela sabe o que mais pesará na hora de escolher entre as 42 especialidades dessa profissão. “Quero escolher uma engenharia que torne possível melhorar o mundo”, resume. Acompanhe na web os projetos desenvolvidos por essas escolas, acessando escola-alba.blogspot.com.br e www.edem.g12.br


Fotos: Cristina David

Construindo a Supercasa

Marcelo Pinto

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ntre abril e dezembro, toda segunda-feira à tarde, cerca de 10 estudantes do ensino médio da Edem tinham um encontro marcado para aprender a construir uma casa de uma forma totalmente incomum – pelo menos, se comparada às técnicas usadas na construção civil. E com um detalhe que fez tanta diferença quanto o bambu que sustenta as paredes dessa bioconstrução: tirando umas poucas aulas iniciais exclusivamente teóricas, todos aprendiam as lições, literalmente, com a mão na massa. Quer dizer, com a mão na argila, no esterco, na areia, no cimento, na palha, na lona... O responsável por essa obra é o “arquiteto descalço” Daniel Garza. Nascido na Cidade do México, ele é formado em Relações Internacionais com especialização em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e certificado em desenho e construção de ecovilas pelo Global Ecovillage Network. Ao lado da bióloga Nina Arouca, ele fundou em 2010 a ONG Sustentarte, que mantém, também, o projeto Escola Floresta.

O projeto de Bioconstrução teve início este ano. Coordená-lo valeu para Daniel reafirmar sua crença no valor do aprendizado prático. “Essa turma virou uma grande família. Todos aprenderam, eu também aprendi muito com eles. Isso que é mais maneiro na bioconstrução. Construir uma casa é incrível, assim como usar materiais naturais. Mas o que mais enriquece meu coração é a comunidade que você consegue gerar em torno do processo de construir a casa. Você vira irmão da galera que está com você pisando o barro, pensando junto como vai fazer o telhado...”

O telhado da SuperCasa, como Daniel prefere chamá-la, é um capítulo à parte. O “teto verde” é composto de lona, cobertor, terra e... plantas. A ideia é tornar a casa mais fresca e o ar mais limpo – com ajuda da fotossíntese – sem abrir mão de uma hortinha. Para Gabriela Bringhenti, 17 anos, do 2º ano, conceitos como biomimetismo e permacultura foram mais fáceis de serem absorvidos, justamente, graças ao método adotado na oficina. “A gente aprendeu tudo na marra. Isso fez muita diferença. Quando o Daniel ensinava o nó, imediatamente você tinha que fazer. Quando você aprende assim você não esquece”, comprova. Daniel não tem a menor dúvida disso. Segundo ele, uma pesquisa em neurolinguística revelou que os seres humanos aprendem 10% do que leem, 20% do que debatem e mais de 90% do que praticam. No total, foram quatro SuperCasas em 2012. Atualmente, a ONG Sustentarte mantém projetos em 10 escolas – sete particulares e três públicas. A expectativa para 2013 é chegar a seis SuperCasas. Um crescimento, digamos, sustentável. Saiba mais: sustentarte.org.br

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Educação

UM O Ç I V R E AS

Texto: Nícia Ribas, De Plurale em revista Fotos: Divulgação

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mbalagem de pizza, ovo ou amaciante, caixa de fósforos, rolha, espetinho, postal, disquete, fita VHS, CD, lápis, enfim, sucatas diversas, de papel e de plástico nas mãos do artista plástico Joba Tridente viram arte. Há 18 anos, o oficineiro cultural recicla tudo, até palavras e ideias. Os brinquedos articulados feitos por ele são para brincar mesmo, nada de apenas enfeitar o quarto do filho. Sucesso entre as crianças, os seus bonecos e animais são inteiramente feitos de lixo reciclado. O Tiranossauro Rex já foi até para o Japão. A boneca Cíntia, o lobisomem, o cachorro que sacode a cabeça e o rabo, a série girapião e a carteira mágica fazem a alegria dos pequenos. Em suas oficinas de bonecos e no seu blog (lixo que vira arte – lixo que virarte), Joba ensina o passo a passo de alguns dos seus trabalhos. “Sou um livre pensador, um contador de histórias e um artesão de palavras e imagens. Trabalho com a palavra do olhar e com o olhar da palavra para falar de ci-

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nema, literatura, artes, cultura popular”, disse à Plurale, por telefone. De tanto pedir pizza em casa nos fins de semana, ele acabou criando o projeto 1001 Reutilizações da Embalagem de Pizza, que transforma em plataforma para jogos de dama e de xadrez, por exemplo, ou em bonecos articulados, como o Pizzatella. O seu mais recente projeto é o A Arte Anda,

em que reutiliza ingressos plásticos de museus e teatros, estampados com obras de artes, para criar, entre outros objetos esculturais, cobras articuladas, que levam o nome do artista estampado. “As diferentes texturas e colorações das embalagens são muito interessantes e despertam a

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criatividade,” diz ele. O que Joba busca em suas oficinas, seja para crianças, seja para professores, é liberar a criatividade que existe em cada um. OFICINA DE PALAVRAS Em outubro, durante o V Encontro Ação Integrada para o Letramento, em Curitiba, sua oficina de Poesia Aleatória - Reciclando a Palavra fez sucesso entre as pedagogas de diversas escolas municipais, responsáveis por classes de alunos da 1ª. a 5ª. série. Inicialmente, Joba distribui revistas e jornais descartados e propõe que façam recortes de frases, palavras soltas. Durante o exercício, ele fala sobre poesia e lê algumas. Em seguida, os recortes são colados sobre papel cartão e novamente recortados. Por detrás de cada recorte é colado um imã para que o oficinando possa montar a sua poesia até mesmo na porta de uma geladeira. “Ao aprender a reciclar a palavra, o oficinando cria uma poesia casual, descontraída e até mesmo distraída, O exercício leva a pensar no significado da palavra que tem em mãos ao construir um verso e descobrir que algumas são


poéticas e outras esperam a vez de se tornarem poéticas”, explica ele; No final, todos expõem os seus poemas, em placas imantadas, e publicam um livro. “Joba Tridente é um artista plástico focado na educação e tem nos ajudado muito a inovar o aprendizado através das suas reciclagens e do seu processo de criação; nesta oficina, ele não só nos fez lidar com a palavra de maneiras diversas, como nos abriu os olhos para o mundo gráfico, que inclui tipologia, ilustração, fotografia e até a textura do papel”, disse a professora do departamento de Letras da Universidade Federal do Paraná, organizadora do encontro, Lúcia Cherem. Em outra oficina realizada recentemente junto com professores da UFPR, Joba Tridente “’brincou” com a linguagem oral e a escrita: “Trabalhamos com a palavra que as pessoas ouvem ou pensam que ouvem e criamos outras”, diz ele para explicar o projeto Virundum, palavra originada de Ouviram do Ipiranga às...... Cantando clássicos da MPB, já saíram vários “virunduns”: barracão de zinco virou barracão distinto e Avenida girando, estandarte na mão... virou avenida Ipiranga, estandarte na mão. “Estudamos a ambiguidade da linguagem e buscamos novas maneiras de levar para a escola básica uma alternativa mais curiosa e instigante de trabalhar, por exemplo, a diferença de funcionamento da oralidade e da escrita. Essa atividade também leva a ler desde o início buscando o significado e não apenas aprendendo a decodificar, o que leva, muitas vezes, à perda do siginificado”, explica a professora Lúcia Cherem. Quando começou a orientar oficinas culturais, Joba criou a Oficina PoéticaPostal, que trabalhava (em bibliotecas e salas de aula) todas as possibilidades formais do Poema Visual ou Concreto. Logo surgiram a Oficina de Arte-Postal e InterAtividade, que integra poesia, artes plásticas e gráficas. Em 2001 e 2002 as atividades foram selecionadas para o Bibliomóvel do Comboio Cultural, projeto da Secretaria do Estado da Cultura do Paraná, que levou música, teatro, contação de histórias, biblioteca, às ruas e praças de diversos municípios paranaenses. “Meu propósito era divulgar arte de um município no outro, então os artistas de ocasião doavam suas artespostais. O exercício da Arte-Postal esti-

mula a criatividade do oficinando e expõe o seu jeito de olhar o mundo e se comunicar com o outro”, explica Joba.” Os trabalhos foram expostos em varais, inclusive em São Paulo e Rio de Janeiro, quando o Comboio Cultural foi para essas cidades. CONTADOR DE HISTÓRIAS Frequentemente, Joba Tridente é contratado para contar histórias em feiras de livros, lançamentos, exposições, teatros, escolas do interior. “Eu conto histórias que ouvi e ouço contar e que li em livros e gibis físicos e virtuais. Histórias das minhas memórias. Histórias que continuam as mesmas, como chegaram a mim, cheias de remendos. Gosto de histórias com remendos, estranhas, que foram se moldando ou se adaptando em centenas de bocas outras”, diz ele.

Professora Lúcia Cherem, da Universidade Federal do Paraná, é uma entusiasta do letramento

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Educação NO RIO, HORA DA LEITURA

São histórias brasileiras e histórias universais, de autoria conhecida e ou desconhecida. Joba vai apresentando um pouco da palavra de cada povo, traduzida em contos, lendas, fábulas, causos, folclore, para que seus ouvintes possam encontrar, na linguagem de cada um, o mesmo encanto que ele encontrou quando a ouviu ou leu pela primeira vez.

Criado em agosto de 2008, o Programa Hora da Leitura incentiva crianças que cursam do 2º. ao 5º. ano do ensino fundamental das escolas públicas do Rio de Janeiro, a descobrirem o mundo dos livros. Desenvolvido pelo Instituto da Criança, o Programa lida com mais de 1000 crianças e adolescentes a cada ano. Em Salas de Leitura, até 15 estudantes reúnem-se toda semana, com livre acesso aos livros, por um período de um ano. Os pequenos leitores são incentivados a ler e a escutar histórias através de um mediador – estagiário universitário – que é treinado por especialista. Esse mediador passa por uma supervisão semanal feita por coordenadores capacitados. Os resultados do Programa Hora da Leitura são aferidos trimestralmente pelo Instituto da Criança, garantindo o ajuste dos pontos necessários e o aprimoramento contínuo da metodologia. O patrocínio vem unicamente da iniciativa privada. Para contribuir, qualquer pessoa pode doar livros; divulgar o Programa entre seus contatos; manter três leitores, doando R$ 50,00 por mês ou R$ 600,00 por ano; ou através de cotas de Biblioteca, com R$ 100,00 por mês ou R$1.200,00 por ano. Pessoas jurídicas patrocinam 100 leitores, doando R$1.500,00 por mês. AS DOAÇÕES PODERÃO SER FEITAS DA SEGUINTE FORMA: 1) Depósito identificado na conta do Programa Hora da Leitura: Banco Santander | Nº 033 | Agência 4328 | Conta Corrente 13-000229-0 | Favorecido: INSTITUTO DA CRIANÇA | CNPJ: 02.744.697/0001-30 – enviar comprovante de depósito para emissão de recibo. 2) Opção boleto bancário mensal: - Contate o Instituto da Criança via e-mail:horadaleitura@institutodacrianca.org.br ou pelo telefone: 21 2239-9555 (Falar com Ana Pisco) - Informe: nome, endereço, cpf, telefone, e-mail, data de aniversário e o valor da doação.

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VIDA Saud á vel

Apoio:

Dicas para quem sofre de dores na coluna

Renda é relevante para o consumo de alimentos orgânicos Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da USP, em Piracicaba, um estudo que descreve a disponibilidade de alimentos orgânicos nos domicílios brasileiros revelou que existe uma relação entre o aumento da renda e a disponibilidade domiciliar desses produtos em todas as regiões brasileiras. O nível de renda é fator relevante ao consumo de alimentos orgânicos. “No Brasil, as informações com relação à disponibilidade e ao consumo alimentar de orgânicos são escassas, não existindo dados obtidos por meio de pesquisas de base populacional, em nível nacional, que permitam conhecer a situação atual e também viabilizar o acompanhamento das mudanças ocorridas nos últimos anos”, afirma a economista doméstica Edinéia Dotti Mooz.

Foto: Divulgação

Cervejas de Açaí, Priprioca e Cumaru Para celebrar e homenagear a riqueza natural mais importante do mundo, a Amazon Beer apresenta três novas cervejas, Red Ale Priprioca, IPA Cumaru e Açaí Stout. Fruto tradicional da região norte do Brasil, a priprioca serviu de inspiração para criar a RED Ale Priprioca. Maturada com a raiz do fruto, a cerveja apresenta notas herbais, frutadas e amadeiradas, além de equilíbrio entre maltes e lúpulos, conferindo alta drinkability. A bebida tem 6,0% de teor alcoólico. A IPA Cumaru é maturada com sementes de Cumaru, também conhecida como baunilha da Amazônia e que possui propriedades medicinais. Entre os índios, essa semente é conhecida como tônico cardíaco. A cerveja, com 5,7% de teor alcoólico, possui aroma cítrico e frutado. A Açaí Stout apresenta notas de café, toffee, chocolate, malte torrado e traz a força e a energia do açaí, um dos frutos mais conhecidos da região amazônica. Com espuma escura da cor do açaí, tem alto teor alcoólico de 7,2%.

Proteger a sua coluna e prevenir todos os tipos de dor nas costas, deve ser uma atividade diária. Você não pode apenas ter boa postura, por vezes, ou só às vezes exercitar e comer bem. Dor nas costas causada pela osteoporose e fraturas de coluna vertebral também é evitável. Você precisa manter seus ossos fortes e saudáveis para evitar a osteoporose. Ao comer alimentos ricos em cálcio e outros nutrientes vitais, você estará fazendo o seu corpo e ossos bons. Há muitas outras coisas que você pode fazer para prevenir a osteoporose, é uma das doenças mais possível de prevenção. • Aprenda a pratica de uma boa postura, se você está sentado, em pé ou em movimento. • Exercite-se regularmente. • Alcance e mantenha um peso saudável. • Pare de fumar. • Levante pesos de forma segura e adequada. • Coma bem, de ao seu organismo os nutrientes de que necessita para funcionar bem. • Realize pequenas atividades de alongamento e evite posições fixas por muito tempo durante o seu trabalho.

Hit do momento A novidade da vez nas lojas de produtos naturais e saudáveis é a spirulina pacífica havaiana, vendida em cápsulas. De acordo com informações do site do Mundo Verde, este pode ser considerado um superalimento, por conta do alto valor nutricional: a alga é cultivada em Kona, no Havaí (EUA). Com uma vantagem que tem sido cantada em verso e prosa nas rodas de conversa: teria capacidade de ajudar no emagrecimento. A produção é isenta de pesticidas, herbicidas e poluentes industriais, feita em tanques abastecidos com água potável, extraída dos aquíferos havaianos, e água pura retirada do oceano profundo, que apresenta oligoelementos. Cada porção de Spirulina 3g fornece, aproximadamente, os mesmos nutrientes de cinco porções de frutas e legumes.

Foto: Mundo Verde

Por Caio Albuquerque, da Esalq em Piracicaba Da Agência USP de Notícias

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Saúde

Alunos de Ubatuba se beneficiam com juçara em sua alimentação Por Lenina Mariano, de Ubatuba Especial para Plurale em revista Fotos de Divulgação/ Ipema

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vitamina de polpa de juçara com banana ou com suco de laranja foi introduzida na alimentação dos alunos da rede municipal de Ubatuba. Escolhida por seu alto valor nutricional e por ser produto da agricultura familiar, a juçara foi totalmente aprovada pelas crianças. Os alunos gostaram muito do novo alimento, pedindo para repetir e colorindo seus rostos de roxo. A iniciativa, fruto da parceria entre os produtores, o IPEMA e a Prefeitura de Ubatuba, com recursos do TFCA, através do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), visa não só acrescentar valor nutricional à alimentação infantil, como estimular a geração de renda para as comunidades tradicionais do município, que fornecem a polpa do fruto. A compra de polpa neste semestre chegou a 1 tonelada. Distribuída entre as escolas do município, atendeu cerca de 16 mil alunos. A proposta dos parceiros é de ampliar esse abastecimento gradativamente, garantindo maior frequência, contribuindo dessa forma para a saúde da população estudantil.


OS PRODUTOS LOCAIS NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR Além da banana e da mandioca produzidas no município, que já faziam parte do cardápio, foram incluídos a polpa de juçara, o limão cravo e o cambuci. Este último é um fruto rico em Vitamina C, além de possuir agentes antioxidantes e adstringentes, que combatem os radicais livres e fortalecem o sistema imunológico. A JUÇARA A juçara, que tem entre seus nutrientes, grande concentração de antocianinas (antioxidante), cálcio e fósforo, é alimento com alto valor energético. A Palmeira Juçara (Euterpe edulis) é uma espécie de extrema importância para o equilíbrio da biodiversidade da Mata Atlântica. Seus frutos servem de alimento para mais de 70 espécies de animais, sendo considerada espécie chave para a conservação de florestas no Bioma Mata Atlântica, que tem a maior diversidade de fauna e flora do mundo. O corte predatório e ilegal para retirada do palmito resultou na redução drástica do número de árvores e sua inclusão na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção. Encontrada em remanescentes florestais da Mata Atlântica, com diferentes características de altitude e temperatura, a época de frutificação varia de local para local. Em Ubatuba a colheita acontece de março a maio. Durante a colheita, as comunidades colocam em prática o Plano de Manejo Sustentável da Colheita dos Frutos da Juçara, que prevê a quantia de frutos a serem retirados das áreas de coleta, garantindo que parte dos cachos permanecerão nas palmeiras. Isso resulta na disponibilidade de alimento para a fauna silvestre e consequentemente na dispersão natural de sementes na mata, cooperando assim para a manutenção do ciclo natural da Juçara. Além disto, parte das sementes coletadas voltam para a área após a despolpa, através de ações de plantio.

A JUÇARA NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR A nutricionista Fernanda Saporito Rivellino, Chefe do Departamento de Atendimento ao Aluno, destaca a importância de incluir a juçara, por ser produto que tem seu manejo praticado de forma sustentável, desde seu plantio até a elaboração do produto final, no caso a polpa. Segundo ela, a intenção é de ampliar o uso da polpa na composição de outros alimentos, como bolos, por exemplo. Além disso, considerou positiva a capacitação que as merendeiras receberam, sem falar no resgate de hábitos alimentares que foram perdidos, incluindo muitas vezes alimentos que estão nos quintais das casas e não são

conhecidos. Por fim, acredita no foco do projeto, contribuindo para a preservação da floresta e dos animais que se alimentam da juçara. O IPEMA CAPACITA MERENDEIRAS O Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica - IPEMA está ampliando suas ações de recuperação da espécie dentro do Programa Juçara,

apoiando as ações de manejo sustentável e de comercialização da polpa através do Projeto Manejo Florestal Comunitário da Juçara e do Cambuci, com financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - FUNBIO. As parcerias com as secretarias municipais de Educação e da Agricultura, Pesca e Abastecimento, garantem o sucesso dessa iniciativa. As merendeiras da Prefeitura foram capacitadas para conhecerem as características do novo produto e seu preparo. Avaliaram positivamente a iniciativa, já que a maioria ainda não conhecia o fruto. Percebem que os alunos gostam do suco e pedem para repetir, e, segundo Silvana Antunes Assunção, merendeira da Escola Municipal Olga Gil, a mistura com banana é mais apreciada. Ela foi uma das pessoas que veio a conhecer o fruto durante o curso. Já a Diretora da unidade, Maria Aparecida Vanzella, acredita na importância dessa formação e salienta que a juçara deveria ser incluída com maior frequência na alimentação dos alunos. Além de ser um produto local, sabe dos benefícios nutricionais desse alimento, garantindo qualidade especialmente para aquelas crianças que têm restrições nutricionais.

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Responsabilidade Social Empresarial

Jovens quebram paradigma na mobilidade urbana Programa coordenado pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) mobiliza jovens para o diálogo sobre mobilidade urbana. Eles empolgam participantes de evento, mudam antigas percepções e se tornam protagonistas desta conversa Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Fotos de Thiago Ripper/Divulgação

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os 13 anos, o jovem Wanderson Lucas da Silva Nogueira, morador da Zona Oeste do Rio de Janeiro, ganhou altura e voz em recente evento institucional do setor de transportes urbanos, o 15º Etransport (Congresso sobre Transportes de Passageiros), realizado a cada dois anos. No palco armado no Riocentro, diante de expressiva plateia da área de transportes, não se intimidou com a presença de autoridades ou de intelectuais de renome, como do Secretário Estadual

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de Transportes, Júlio Lopes, do presidente da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira e do jornalista/cineasta Arnaldo Jabor. Com a vibração de atacante, como se fosse o Neymar da área, o garoto extrovertido deixou bem claro que queria fazer seu gol. Estudante da escola municipal Jardim Guararapes, autor de blog sobre jovens, mobilidade e acessibilidade, em parceria com a jovem Lívia Klein Madureira, Wanderson mostrou-se um verdadeiro protagonista: falou ao microfone e deu seu recado na plenária ao fim do evento. Antes, conversou com o jornalista Edmilson Ávila (Rede Globo); tagarelou com outros jovens do grupo; mas não sossegou enquanto não conseguiu o que queria: entrevistar o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira. “Quero entrevistá-lo para o nosso blog”, insistiu. Não só conseguiu, como empolgou e deixou a sua digital e a do grupo em processo revolucionário de gestão empresarial e diálogo com partes interessadas que está apenas começando.

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Wanderson faz parte de grupo de jovens da Zona Oeste especialmente convidado para participar de evento normalmente focado em empresários, executivos e especialistas de empresas de ônibus de diferentes pontos do Rio de Janeiro, o Etransport, realizado pela Fetranspor. Ao todo, 60 jovens - entre universitários, estagiários ou funcionários do Sistema Fetranspor e jovens do projeto Mobilidade Cidadã - se juntaram para formar um verdadeiro “choque” no diálogo no Encontro normalmente restrito aos executivos da administração das empresas de ônibus, fornecedores e representantes do chamado Sistema de transportes urbano do Rio. “Foi uma espécie de revolução. Os jovens conseguiram sensibilizar os empresários e dar seu recado”, conta Márcia Vaz, gerente de Responsabilidade Social da Fetranspor. A partir do sucesso da iniciativa, o grupo de lideranças na flor da idade integrará um Conselho, junto a executivos e especialistas em mobilidade


Márcia Vaz, da Fetranspor, ao centro, com Marina de Oliveira (E) e Alda Marina (D)

No Diálogo Jovem sobre Mobilidade foram realizadas diversas iniciativas: oficinas, palestras e atividades artísticas, além de um desafio. Alguns dos jovens dirigiram, filmaram e editaram um vídeo participativo que demonstre seu olhar sobre a informação e as questões vivenciadas nos três dias de evento, no Riocentro. Um grafiteiro chamava a atenção dos visitantes da 15ª Etranspor e a participação dos jovens não parou por aí. Facilitadores gráficos ajudavam a transformar os anseios e inquietudes da garotadas em desenhos. “Fizemos várias dinâmicas, com metodologias como o Open Space e o aquário. Todos podiam participar e opinar. Foi uma quebra de paradigma dialogar com as diversas partes interessadas do

Etransport reúne especialistas em torno da mobilidade inteligente

Foto: Divulgação

urbana para discutir propostas e temas tão presentes no dia-a-dia das cidades e de seus habitantes. “Os jovens trazem este novo olhar e são capazes de mexer mesmo com conceitos e serviços”, destaca Márcia. A Fetranspor Social, que cuida das ações de responsabilidade social e sustentabilidade da entidade contou com a experiência em metodologias participativas da Pares, liderada por Alda Marina Campos e Marina Fernandes de Oliveira -, que desenvolveu projeto de engajamento e diálogo com partes interessadas do Sistema Fetranspor, tendo os jovens como protagonistas. Para viabilizar o convite de jovens do Sistema, o projeto contou com a parceria dos sindicatos e do CRC – Central de Relacionamento com o Cliente da Fetranspor. Para convite de jovens da Zona Leste, foi estruturada parceria com o Instituto JCA. O Instituto JCA foi fundado em 2004 pelo empresário do setor de transportes Jelson da Costa Antunes e é hoje referência no setor, pela atuação no desenvolvimento profissional e humano de jovens. Na Zona Oeste, participaram jovens do projeto Mobilidade Cidadã. programa da FETRANSPOR conduzido pela VeliMobi.

Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor

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15º Congresso sobre Transporte de Passageiros (Etransport), realizado em novembro, no Centro de Convenções Riocentro (RJ), reuniu cerca de 10 mil pessoas - entre profissionais do setor, técnicos, estudiosos, empresariado, imprensa e representantes do poder público e da população - para debater e refletir sobre questões centrais da mobilidade nas grandes cidades. A mobilidade inteligente é o grande tema guarda-chuva para inovações em gestão e tecnologia visando a eficiência e a qualidade de vida no deslocamento de pessoas. Vários especialistas participaram de fóruns e debates sobre o tema, que renderam material relevante. No encerramento, o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, destacou a importância do evento que já transformou-se em referência internacional, tendo, nesta etapa contado com a participação de mais de 20 países da América Latina, da Europa, além dos Estados Unidos. “Estamos fazendo uma transição do modelo antigo de transporte para o modelo do futuro, que está sendo implantado nas grandes cidades. Hoje, estamos discutindo sistemas, integrações, BRTs, sustentabilidade. Temos um novo patamar de transporte de massa, com foco no cliente. São temas relevantes para a vida dos nossos 104 mil rodoviários e da população”, afirmou. Foram apresentados “cases” de sucesso do Brasil e também de outros países. Também foram discutidos temas como o ônibus do futuro; questões ambientais; tendências do mercado de pagamento eletrônico e de educação corporativa, dentro outros. “O evento contou com a participação de entidades e especialistas internacionais na discussão da mobilidade inteligente, soluções para a mobilidade urbana e sua fundamental importância para termos cidades sustentáveis”, frisou Paulo Fraga, Diretor de Marketing e Comunicação da Fetranspor. Simultaneamente, também no Riocentro, foi realizada a 9ª FetransRio, feira bienal de ônibus, reunindo expositores de todo o país. A FetransRio é uma feira especial para o segmento. E há bons motivos para que assim seja. Um deles é que o Rio de Janeiro está entre os maiores mercados de ônibus do país, o que leva a feira a ganhar cada vez mais importância para os fornecedores de produtos para o setor. Em 2012, a feira abrigou mais de 150 expositores em seus 20 mil m², 100 ônibus de última geração, com a visitação de mais de 10 mil pessoas, entre representantes da indústria, serviços, governo e diversas organizações voltadas para o transporte de pessoas.

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Responsabilidade Social Empresarial

Wanderson Nogueira e Lívia Klein falam na plenária ao fim do Etransport

Sistema sendo o jovem o protagonista”, avalia Alda Marina, sócia da PARES. A tônica foi a inexistência de hierarquia e a valorização do livre pensar e do compartilhamento de conhecimentos, buscando a emersão de ideias inovadoras e transformadoras. Com câmera na mão e muita garra, os jovens ousaram mesmo. Fizeram perguntas sem papas na língua, como aos 18/20 anos ao menos já passaram na cabeça: “Para quê serve este encontro?” e “O quê vão fazer com nossos depoimentos?”. Não foi só, através de som, arte e outras formas de expressão, a garotada deixou claro que não veio para esta roda de diálogo apenas por diversão. “Foi incrível! Um trabalho sério de todos envolvidos mesmo na busca de soluções”, comemora Márcia. Os resultados foram tão positivos que além do Conselho, outros desdobramentos estão sendo estudados para 2013. “Não se trata de uma ação isolada apenas para um evento”, frisa Alda Marina. Ao fim do evento, o retorno veio nos questionários de avaliação, com resultados bem positivos e na reação positiva dos empresários do Sistema Fetranspor (leia os depoimentos abaixo).

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Márcia lembra que os jovens trabalhando nas empresas do Sistema estão também fazendo diferença. Ainda mais com o reforço do transporte de ônibus em todo o Estado do Rio, especialmente na capital, com os novos ônibus rápidos, os BRTs, que trafegam em corredores exclusivos e são considerados o grande diferencial em termos de mobilidade urbana desde já e nos grandes eventos, como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, de 2016. “Em uma época que não é fácil formar e reter mão-deobra qualificada, estes jovens têm tudo a somar”, frisa. Funcionários como o bacharelando em Administração e estagiário do Sindicato de Empresas de Transportes em Duque de Caxias e Magé (Setransduc), Vinícius Sant`Anna Silva, de 21 anos, que ficou entusiasmado por participar ativamente do grupo de jovens no 15º Etransport. “Nós trocamos experiências com outros jovens e conversamos sobre as iniciativas que deram certo onde eles moram. A mobilidade é um tema essencial, até porque enfrentamos problemas diariamente com o engarrafamento”, disse Vinícius. Wanderson também tem tudo para trilhar o mesmo caminho. Depende só dele. Um empresário gostou tanto do garoto que contou na roda de diálogo ter interesse em vir a contratá-lo no futuro. Um outro executivo, ao lado, foi mais rápido: disse que já tinha tomado a iniciativa e deixado cartão com o garoto. São jovens como este – e outros tantos já trabalhando no Sistema – que protagonizam estas mudanças por melhor mobilidade urbana.

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Alguns dos depoimentos colhidos junto aos jovens:

- “Eu como jovem posso realmente fazer a diferença” - “O principal aprendizado é que a mobilidade não depende apenas de um agente (governo, empresa ou sociedade), mas de uma integração desses três pilares”

- “Inovador, produtivo pra identificar necessidades dos públicos de transporte” LINKS PARA LER MAIS SOBRE O TEMA: Site da Fetranspor: http://fetranspor.com.br/ Site do Etransport: http://www.etransport.com.br/ Confira o vídeo dos jovens no site: http://www.mobilidadetv.com.br Facebook https://www.facebook.com/mobilidadetv Site da PARES: http://www.pares.etc.br/ Blog de Wanderson Nogueira e Lívia Klein: dialogojovemsobre.blogspot.com.br/


Ecoturismo

ISABELLA ARARIPE

Gramado terá neve durante o ano inteiro Já pensou em fazer snowboarding e airboarding no Brasil? A família Caliari, juntamente com um grupo de investidores gaúchos, está construindo o primeiro parque de neve indoor das Américas, o Snowland. “A ideia inicial surgiu em 2008, quando começamos a nos questionar de que maneira poderíamos contribuir de forma mais efetiva para o turismo da região. Chegamos à conclusão de que isso seria possível com a criação de uma atração turística, mas ela teria que ser surpreendentemente inovadora”, conta Anderson Caliari. O parque será construído na RS-235, em Linha Carazal, e serão investidos R$ 60 milhões. O Snowland terá atrações para todos os gostos, mas com um mesmo objetivo: criar uma relação das pessoas com o ambiente nevado. Serão mais de 7,2 mil metros quadrados dedicados a neve, com mais de 30 atividades recreativas. O parque está com suas obras aceleradas e tem previsão de abertura para novembro de 2013.

Programa Desmatamento Evitado adota primeira área no Rio Grande do Sul

A Reserva Maragato, em Passo Fundo, é a primeira área do Rio Grande do Sul a integrar o Programa Desmatamento Evitado. A iniciativa é da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) que incentiva empresas a adotarem áreas verdes privadas, viabilizando a conservação da biodiversidade e manutenção do fornecimento de serviços ambientais por meio do apoio financeiro aos proprietários. Reconhecida como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) desde 2007, a Reserva Maragato tornou-se oficialmente uma unidade de conservação privada e protege em seu interior 41,56 hectares de Florestas com Araucária, os quais foram adotados pelo HSBC. Com essa nova adoção, já são 20 propriedades apoiadas pela empresa, que é uma das principais financiadoras do Programa Desmatamento Evitado.

Encontro no Maranhão discutiu Turismo Sustentável e Infância Lagoa Misteriosa é uma das principais atrações turísticas do MS Considerada uma das cavernas inundadas mais profundas do Brasil e a sétima maior caverna em extensão no país, a Lagoa Misteriosa recebeu, no final do mês de julho, a Licença de Operação para visitação turística do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul – IMASUL/MS. Além das atividades de Mergulho com cilindro e Mergulho Técnico, a Lagoa Misteriosa oferece o passeio de Trilha e Flutuação, na qual é possível contemplar a imensidão e toda a beleza do abismo azul. A água cristalina e a temperatura agradável fazem do passeio de flutuação uma experiência inesquecível. Os grupos, com número limitado de pessoas, são acompanhados por guia de turismo credenciado e as reservas para o passeio são feitas através das agências de turismo de Jardim e Bonito, cuja lista pode ser encontrada na seção “Como Visitar – Onde comprar” no site: www.lagoamisteriosa.com.br

No dia 30 de novembro, São Luís recebeu o I Encontro de Turismo do Maranhão. O evento reuniu gestores públicos, prestadores de serviços turísticos, instituições de ensino e representantes da sociedade civil. Na pauta, importantes temas para o desenvolvimento do setor, como a proteção de crianças e adolescentes na cadeia produtiva. Segundo o coordenador-geral do programa Turismo Sustentável e Infância (TSI) do Ministério do Turismo, Adelino Neto, os debates foram uma grande oportunidade para reafirmar a importância social do turismo. “Mostramos as ações desenvolvidas pelo ministério, como os seminários de sensibilização, a formação de multiplicadores, as campanhas publicitárias que alertam para o tema e os projetos de inclusão social, que retiram jovens da condição de vulnerabilidade, oferecendo capacitação no setor turístico”, afirmou Adelino Neto. O coordenador-geral do programa Turismo Sustentável e Infância também reforçou a importância das denúncias de casos de exploração de crianças e adolescentes que podem ser feitas tanto ao Conselho Tutelar ou por meio do Disque 100.

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Turismo

ARTE EM ECODESIGN DE JOSÉ RUFINO

Verde até no nome No aprazível bairro Manaíra, em João Pessoa, o Verdegreen, com apenas qu atro anos de vida, é referência em hotelaria suste ntável

Texto: Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em revista De João Pessoa (PB) Fotos: Divulgação e Jean Pierre Verdaguer

Ao se deslocar de um pavimento para outro, dê preferência às escadas”, sugere uma das plaquinhas do Verdegreen, um hotel que oferece conforto sem descuidar do impacto ambiental que nossos pequenos prazeres acarretam. Nesse prédio compacto, com apenas quatro andares (o último é um jardim) e 140 apartamentos, localizado à beira-mar no mais agradável bairro da capital paraibana, somos convidados a usar água e energia com sabedoria. Ali há captação de energia solar e da água da chuva, boa parte da iluminação é feita com LED

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(que gasta metade da energia da luz fluorescente), a madeira usada na decoração e no mobiliário é certificada, os elevadores são “inteligentes”, boa parte dos resíduos vai para reciclagem e há bicicletas à disposição dos hóspedes. Todas essas medidas ganharam o merecido reconhecimento: o Verdegreen recebeu o Certificado de Excelência pelo TripAdvisor, foi eleito o Hotel Sustentável do Ano (2012) pelo Guia Quatro Rodas e a primeira colocação na classificação geral de hotéis da capital paraibana, segundo a mesma publicação (2010, 2011 e 2012), sendo o único do estado reconhe-

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cido com o selo “folha verde”, concedido somente a hotéis sustentáveis. Tem mais: esse ano, conquistou o ISO 14001, sistema de padronização que estabelece diretrizes sobre gestão ambiental nas empresas e é aplicado em mais de 170 países. Os títulos não poderiam ser mais significativos, mas nada como conferir in loco, Durante a estadia de três dias, reparei cada detalhe acompanhada pela assistente de sustentabilidade, Marlone Gonzaga. Apaixonada pelo tema, ela contou que desde o início das obras houve campanhas de conscientização dos trabalhadores, coleta


seletiva de lixo, reutilização de água, uso privilegiado de fornecedores locais; e que a primeira intervenção completada no terreno foi... criar um jardim! Ações que simbolizam a responsabilidade com a preservação ambiental e valorização da comunidade local. Ao entrar no hotel, bastam alguns passos para você perceber uma arquitetura em harmonia com a economia dos nossos recursos naturais. No saguão principal, uma ampla claraboia central garante luz natural aos quatro andares da construção; uma das paredes é formada por tijolos de demolição e, o mais impactante, há uma típica obra de ecodesign, assinada por José Rufino. Aliás,

todos os trabalhos expostos são de artistas da região. Foi uma alegria, inclusive, reconhecer em uma exposição na Estação Cabo Branco uma obra de José Altino semelhante ao quadro do meu quarto. Essa valorização da arte paraibana tem por influência direta Janete Costa, que assinou o projeto arquitetônico do hotel. Famosa por defender o uso de materiais recicláveis e a arte popular, faleceu pouco antes da inauguração e hoje tem uma sala em sua homenagem. “Ela foi uma visionária”, sintetiza Marlone.

Não são, porém, reservadas apenas aos hóspedes as belezas do Verdegreen: “Recebemos muitas visitas – especialmente estudantes – e somos exemplo em uma tese de doutorado sobre projetos de redução no gasto de energia”, relata Camilo Juliani, gerente geral. As ações sustentáveis se estendem para a comunidade: o hotel promove a visita de estudantes à Associação Guajiru, que coordena o Projeto Tartarugas Urbanas, e ao longo de 10 anos já protegeu e liberou para o mar mais de 120 mil filhotes. E, no último dia 2 de setembro, o hotel foi a base, em João Pessoa, do Limpa Brasil Let’s do it na cidade, movimento realizado em mais de 140 países que incentiva a população a virar catador por um dia – e a partir dai ser responsável pelo lixo que produz. “Ficou todo mundo de saco cheio”, brinca Marlone. Estas ações, assim como a trajetória do Verdegreen, estão expostas em forma de “linha do tempo” em um grande painel no térreo. Vale dar uma olhada e, se quiser colaborar com essa história, participar do Atitude Verde Interativa, espaço para indicar novas ações sustentáveis. Iniciado na Semana do Meio Ambiente de 2010, o programa já rece-

beu 233 sugestões. Dessas, 35 foram aprovadas, representando um percentual de 15%. Entre as sugestões colocadas em prática, estão o uso de canetas produzidas de material reciclável e a inclusão de um prato vegetariano no cardápio. Vale dizer que o hóspede que tem sua sugestão aprovada ganha duas diárias em apartamento duplo! O funcionário é igualmente incentivado a participar: caso sua ideia seja aprovada, ele recebe um “vale-cultura”, a ser usufruído em algum programa sócio-cultural. Foi proposta da Magda – a dedicada governanta – construir uma horta no terraço. Suas ervas aromáticas hoje temperam os saborosos pratos servidos no restaurante – entre eles, o bife de glúten com espaguete de legumes, uma opção vegana ecologicamente correta. No café da manhã também há varias gostosuras sem ingrediente animal, como a tapioca recheada de coco e regada a melado. E sempre há um bolo feito com reaproveitamento de ingredientes (outra sugestão aprovada). Provei o de casca de banana. E aprovei! Apesar do buffet caprichado, não exageramos, pois uma plaquinha nos lembra a consumir com responsabilidade, sem desperdiçar alimentos. O conceito de sustentabilidade se estende à lojinha de souvenirs: camiseta, chinelo e bolsa feitos de pet; além do sabonete biodegradável e

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cem por cento vegetal, o hit do banho! O hóspede não vê, mas os produtos de limpeza utilizados também são verdes. Sobras de sabonetes e todo o óleo usado são doados para uma cooperativa, a Ecoclean, que os transforma em material de limpeza. Os recicláveis têm por destino uma cooperativa de catadores, no bairro de Cabo Branco. E recentemente se iniciou a compostagem de resíduos orgânicos; está em fase de teste, mas já é um passo relevante em se tratando de um hotel vertical com pouca área livre. “A sustentabilidade se tornou a essência do Verdegreen e sempre estamos fazendo por onde manter esta essência; além da busca de novos desafios”, conclui Marlone.

A ALMA DO NEGÓCIO A eficiência da comunicação visual é preponderante na conquista da atenção do hóspede do Verdegreen. Mesmo se o visitante não for adepto de atitudes ecológicas, ele é vencido pelo cansaço: onde quer que olhe, mil plaquinhas avisam que, ali, a sustentabilidade é levada a sério. Elegantes, os avisos são bem diagramados e a logomarca do programa Atitude Verde Green é onipresente. No apartamento, desde o menu dos canais de televisão até a pastinha com papeis e caneta seguem o projeto visual do programa e são feitos, óbvio, de papel reciclado – até a caneta! No banheiro, há pelo menos três avisos: um sobre a lavagem das toalhas, outro sobre o consumo consciente da água do lavatório e do chuveiro, e mais um sobre o uso correto da descarga. O elevador tem um monitor de LED que intercala imagens do hotel e dicas ecológicas. Nos corredores, incentivo para usar as escadas e, ainda, explicações sobre a economia da iluminação feita com lâmpadas de LED.

NÚMEROS INSPIRADORES Para ser efetivamente sustentável, o empreendimento precisa ter firme o seguinte tripé: apoio da comunidade, respeito ao meio ambiente e ser economicamente viável. Já sabemos que as duas primeiras exigências são atendidas no Verdegreen; pois a terceira também o é. - Investir em energia solar custa caro, mas em longo prazo dá retorno; 80% da água quente do hotel vêm desse sistema. - Com a captação da água da chuva e da água de subsolo, o hotel economiza cinco mil reais por mês na conta de água da companhia municipal. - Quase toda a equipe do hotel usa uniforme confeccionado de algodão agroecológico, um tecido ecoeficiente, pois não desbota – e que gera renda e a agricultores familiares. - Com a campanha de consumo consciente durante o café da manhã houve considerável redução de no desperdício de alimento. Verdegreen Hotel - Av. João Maurício, 255, Manaíra, João Pessoa (PB). Tel.: (83) 3044-0000. Site: www.verdegreen.com.br

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Bazar ético A capital paraibana sabe valorizar seus artesãos Texto: Raquel Ribeiro Fotos: Jean Pierre Verdaguer e Divulgação

Peças de cerâmica, cestarias, bordados, rendas e mil objetos utilitários e decorativos estão à venda na feirinha de artesanato (em frente ao Hotel Tropical Tambaú) e no Mercado de Artesanato Paraibano, um espaçoso e ventilado prédio de dois pavimentos construído em 1991 e que abriga 128 lojas. Ambos ficam no bairro de Tambaú e abrem diariamente. Entre interessantes objetos, destaque para os personagens feitos de cabaça: há desde delicadas bailarinas, a coloridos palhaços e divertidas galinhas. O mais típico, porém, são as roupas, bonecas e souvenirs de algodão colorido. Resistente à seca, o algodão da Paraíba já nasce em cores que vão do bege ao marrom escuro, sem uso de aditivos ou corantes. Gera renda e cidadania aos agricultores familiares e, por não passar pela etapa de tingimento como o algodão comum, economiza até 70% de água em seu ciclo produtivo (até a indústria). O artesanato mais fino – e igualmente sustentável – você encontra na Babel das Artes. Há peças de vestuário com renda renascença, delicados bordados, crochês e acessórios confeccionados com palha de buriti, ossos, couro e escama de peixe. Além de peças de artistas como Bento de Sumé (santos e animais em madeira) e Oziel Coutinho (bichos e móveis) – ambos citados em livros de arte popular e presentes em galerias de arte. José Altino, premiado na Bienal Naïf 2012, faz gravuras e tem trabalhos e camisetas na loja. “Nossa proposta é divulgar peças exclusivas feitas à mão, estimular o consumo consciente e defender a arte popular como identidade e prática de responsabilidade sócio-cultural”, define Francisco Milhorança. Mercado de Artesanato Paraibano Av. Senador Ruy Carneiro, 241 – Tambaú Artesanato a partir de R$ 10,00 Babel das Artes Manaíra Lj 102, Av. João Maurício, 157, (83) 3031 5772 Tambaú Lj. 3 (83) 3226 5570 http://babeldasartes.com.br/blog

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

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Animais Fotos: WSPA / Divulgação

a ingestão acidental de sacos plásticos pode levá-las à morte por sufocamento em questão de minutos. Já as baleias podem passar vários anos arrastando redes ou equipamentos de pesca, acumulando terríveis ferimentos em seus corpos e podendo até morrer em consequência de infecções ou inanição por não mais poderem se alimentar. No caso dos pássaros – e, muito provavelmente, de milhões deles –, é bastante comum a confusão entre plásticos e alimentos, com consequências obviamente trágicas. Estudos recentes

ATÉ 135 MIL ANIMAIS MARINHOS SOFREM POR ANO COM RESÍDUOS DESPEJADOS NO MAR Da WSPA té 135 mil focas e cetáceos sofrem, todos os anos, danos causados pelo lixo oceânico despejado em todo o mundo. Esta é a estimativa apresentada em um novo relatório elaborado pela WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal, intitulado “Trapped” (em português, “Presos”). Esta e outras questões são também discutidas no primeiro Simpósio Mundial sobre Bem-Estar Animal, Entrelaçamento e Detritos Marinhos, que terminou dia 6 de dezembro, em Miami. Promovido pela WSPA com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), este é o primeiro simpósio dedicado à questão do lixo oceânico a partir da perspectiva do bem-estar animal. O evento traz ainda diversas outras discussões, análises críticas e a parti-

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cipação de mais de 60 especialistas de governos, organizações intergovernamentais e instituições de pesquisa. Segundo Claire Bass, à frente das campanhas para oceanos da WSPA Internacional, a WSPA planeja tomar iniciativas globais para enfrentar o problema. Através do simpósio, a ONG quer compartilhar informações acerca de suas causas e proporções, e acordar soluções que tenham como foco o bem-estar animal. Os debates serão estabelecidos em torno da: redução do atual montante de destroços marinhos que levam ao emaranhamento de animais; remoção de destroços marinhos já encontrados no habitat natural destes animais; e resgate de animais vitimados por esse lixo oceânico. “Nosso simpósio representa o primeiro grande passo desta nova campanha da WSPA para combater os resíduos oceânicos. Ele nos ajudará a entender onde e como poderemos agir para darmos um fim a este sofrimento covarde e totalmente desnecessário para os animais,” frisou Claire. Apesar de bem documentada por ambientalistas e conservacionistas, a questão do sofrimento animal ainda não havia sido, até então, devidamente abordada nas discussões sobre lixo e destroços oceânicos - problema que afeta centenas de espécies. Estimativas do relatório informam que, por ano, entre 57 mil e 135 mil animais focas e baleias de grande porte se entrelaçam com algum tipo de lixo oceânico, como cordas, redes, fitas adesivas e embalagens plásticas. O estudo também destaca os inúmeros sofrimentos de que estes animais são vítimas. No caso das tartarugas, por exemplo,

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com as espécies mais afetadas no Mar do Norte demonstraram que 94% dos pássaros analisados continham, em média, 34 pedaços de plástico em seu organismo. O tamanho médio dos materiais plásticos ingeridos é de 0,3g, o que, em proporções humanas, equivaleria a uma porção de comida para um ser humano adulto. Ventos e correntes marítimas carregam estes materiais, ao longo de várias milhas, para pontos críticos dos oceanos, como a área denominada “Lixão do Pacífico”, que contém plásticos, resíduos químicos e entulhos, em um volume estimado em torno de 100 milhões de toneladas, abrangendo hoje uma área equivalente aos territórios da França e da Espanha juntos.


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TEXTO E FOTOS:

LUCIANA TANCREDO

E n s a i o Santuário do Caraça (MG)

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Santuário do Caraça é uma Reserva Particular de Patrimônio Natural, localizada entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, em Minas Gerais. O Santuário nasceu a partir de um Colégio para instruir meninos com educação humanista, seguindo os princípios europeus e vicentinos. Porém, em 1968, sofreu um grande incêndio e a partir daí passou pela reconfiguração de seus objetivos, transformando-se em um Centro de Peregrinação, Cultura e principalmente Turismo. Conta com um Centro de Visitantes, um Museu, o Centro Histórico (com Igreja, claustro, catacumbas e calvário) uma Pousada, jardins e muitas trilhas, pequenas e longas que levam os visitantes a cachoeiras, lagos, mirantes e piscinas naturais.


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Ao Santuário do Caraça vêm, em média, 200 escolas, tanto públicas quanto particulares, e 10.000 alunos por ano, a fim de terem contato com a rica biodiversidade do local. De acordo com informações do site oficial do Santuário, o conjunto orográfico da Serra do Caraça constitui o penúltimo contraforte meridional da Cordilheira do Espinhaço e situa-se a leste do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. O ponto culminante, que é também a maior elevação da região, é o Pico do sol, com 2072 m de altitude, sendo sua cota mais baixa de 750 metros, no vale do Córrego do Engenho (Fazenda do Engenho). Devido a sua localização geográfica (altitude, clima, relevo, etc.), a Reserva do Caraça apresenta em seu território três tipologias vegetais: a Mata Atlântica de Interior, o Cerrado e os Campos de Altitude, com tipo de vegetação predominante a partir dos 1300m de altitude. O Santuário tem uma área de 11.233 hectares, sendo 10.187,89 hectares reservados como área de conservação, na categoria de RPPN. A reserva abriga uma grande diversidade de fauna e flora que precisa ser preservada. Por ser administrado por padres, o Santuário possui características diferenciadas em relação ao turismo ecológico tradicional: os horários de refeição são mais rígidos, o silêncio é uma peça fundamental, há missa regularmente na igreja e não há televisão nos quartos. Mas nada disso atrapalha quem vem apreciar a beleza da natureza da região. Mais informações: http://www.santuariodocaraca.com.br/inicial.php (31) 3837-2698 — pousadadocaraca@gmail.com

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LOBO GUARÁ

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ma das grandes atrações da Reserva Serra do Caraça é a chamada “Hora do Lobo”. Durante anos, os padres acostumaram os lobos-guarás da região a virem se alimentar no pátio principal do Santuário, bem na frente à Igreja. Por ser o lobo-guará um animal de hábitos noturnos e muito arisco, dificilmente ele é visto pelos visitantes durante os passeios pelas trilhas, e a possibilidade de se conseguir apenas observar este animal que é o maior canídeo da América do Sul atrai muitos turistas ao santuário. Seu nome científico é Chrysocyon brachyurus, que quer dizer “animal dourado de cauda curta”. Como ensina o site oficial da Reserva, o lobo é chamado Guará porque em tupi-guarani, a língua dos indígenas, guará significa “vermelho”. Como tivemos o privilégio de poder reconhecer de perto, seu corpo é todo dourado, com patas e os pelos da nuca pretos. Já a cauda, o papo e um pouco do rosto são como que “tracejados” de branco. Assim como parte das orelhas, que se movimentam como um radar, captando todos os sons e movimentos. De acordo com o site do Santuário, estima-se que a espécie do Chrysocyon brachyurus vive 16 anos, pesa em média 25kg e anda 30Km por noite caçando. É um animal de hábitos noturnos, mais ágil ao entardecer e ao amanhecer. Durante o dia fica descansando sobre a relva, deitando-se cada dia em um lugar. Não fica em tocas. A experiência de observação do lobo-guará é realmente impressionante. O horário é com a noite adentro, após o jantar dos visitantes. No começo, a maioria duvida que ele vá mesmo aparecer. Aí, o padre coloca a bandeja de comida, e começa a chamar o lobo, fazendo barulho com a bandeja no chão e falando o nome dele: guará, guará, guará... Neste momento, você passa a acreditar que o lobo chega a ser domesticado e que vai subir a escada e comer tranquilamente na sua frente. Mas não é bem assim. Ele demora a aparecer, precisa de silêncio absoluto, e que as pessoas não façam movimentos bruscos para não assustá-lo. Finalmente, o animal aparece na escuridão lá embaixo e vem subindo as escadas lentamente. Arredio, como que desconfiando, olha as pessoas, fita mesmo, olha para trás para escuridão, volta a olhar as pessoas da ponta da escada... Então, o lobo-guará caminha em direção a bandeja e volta para a escada, repete o mesmo movimento várias vezes. A impressão que dá é que o animal irá embora sem comer nada... Mas, de repente, como que em um passe de mágica, quase como se fosse um ato de cumplicidade ou de confiança, o loboguará volta, chega até a bandeja, vira de costas para a igreja e fica de frente para a escada: pega um pedaço

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TEXTO E FOTOS:

LUCIANA TANCREDO RESERVA SERRA DO CARAÇA (MG)

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de carne e sai comendo pela escada abaixo. Volta, repete o movimento, pega outro pedaço e desce de novo. É claro que neste ponto, eu e minha eterna cúmplice, a máquina fotográfica, já nos sentimos satisfeitas com o que vimos e registramos: aquele bicho selvagem e tímido, grande, dourado, olhando bem desconfiado. Fiz uma foto, depois outra, quase como se fosse um generoso balé de pessoas que estão apenas se mirando. Fantástico. Como se aquele tempo não passasse. O lobo-guará é realmente muito bonito, magro, alto, com a pelagem dourada e preta, cabeça e orelhas pequenas, muito diferente da imagem de um lobo normal.

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Fico com receio. Pode ser que ele se assuste, e não volte mais. Talvez ele possa deixar para só voltar de madrugada, quando as pessoas já tiverem ido dormir. Tudo depende da quantidade de gente a seu redor, do barulho ou mesmo da fome, já que, às vezes, ele encontra comida antes de chegar ao Santuário. Quiçá o lobo nem apareça... Eu dei sorte, muita sorte. O loboguará estava tranquilo, eram poucas pessoas (apenas oito no pátio), ele voltou várias vezes, levou comida para a fêmea, que apareceu lá embaixo. Foi realmente mágico...

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Clima

Conferência da ONU discute destino da população das terras secas do mundo Conferência no Ceará enfoca contribuições da ciência e estratégias de combate à desertificação Texto: Flamínio Araripe, Especial para Plurale em revista De Fortaleza (CE)

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s regiões secas do mundo, as mais vulneráveis às mudanças climáticas cobrem 40% da superfície do planeta e nelas vivem mais de 2 bilhões de pessoas, na maioria abaixo da linha da pobreza. O tema, que não recebeu na Rio +20 uma abordagem condizente com a sua dimensão social e ambiental, será o foco da 2ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação (UNCCD), a ser realizada de 4 a 8 de fevereiro de 2013, no Centro de Eventos, em Fortaleza, uma agenda oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, disse que “a 2ª Conferência adquire importância capital após a Rio +20 que politicamente não foi clara em relação às questões do desenvolvimento sustentável no semiárido, questão que ficou obscurecida muitos anos em relação a outras regiões do planeta”. O tema agora aparece com mais destaque – observou – ao avaliar que o evento em Fortaleza vem coroar um momento político global e que o Brasil tem

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um papel de liderar em muitos aspectos esse desenvolvimento. A Conferência será realizada com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Integração Nacional e Ministério do Meio Ambiente, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e governo cearense, com participação prevista dos 194 países membros da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação (UNCCD). Também são esperadas na Conferência as organizações da sociedade civil acreditadas junto à ONU e as instituições das Nações Unidas, cerca de cem entidades como Pnud, Pnuma, Unicef, Banco Mundial e outras. Dois eventos preparatórios para a Segunda Conferência Científica da UNCCD serão realizados no Brasil. A Conferência Brasileira organizada pelo Ministério do Meio Ambiente está definida para Campina Grande, na Paraíba. Na semana anterior à da Conferência nos dias 30, 31 de janeiro e 1º de fevereiro ocorre em Sobral, no Ceará, a reunião da Iniciativa Latino Americana de Ciência e Tecnologia para o Combate à Desertificação, para a qual foi lançado um chamado para apresentação de trabalhos. Será uma contribuição do governo do Ce-

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ará e da prefeitura de Sobral para a Conferência, com participantes cientistas de todos os países das regiões, que vão discutir trabalhos científicos sobre desertificação e secas, visitar experiências no semiárido cearense como a Embrapa Sobral-Caprinos e depois participar na reunião científica principal em Fortaleza. Como fatores para sediar no Ceará a 2ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, citou a capacidade do estado por ter realizado a 1ª e a 2ª Conferência Internacional sobre o Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento das Regiões Áridas e Semiáridas (ICID), em 1992 e 2010. Os dois eventos foram coordenados por Antonio Rocha Magalhães, presidente do Comitê Científico da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD) da Organização das Nacões Unidas (ONU). Antônio Rocha Magalhães assinala que a ICID não foi uma conferência oficial, mas uma contribuição do Brasil para a Rio + 20 sobre o tema das terras secas, como o semiárido. A UNCCD foi uma das institui-


ções que apoiaram a ICID e participaram do evento. “Um dos resultados da ICID foi tentar elevar a prioridade mundial para a UNCCD, que é a Convenção que trata das questões de desenvolvimento sustentável das terras secas”, disse ele. O evento tem como tema “Avaliação econômica da desertificação, da gestão sustentável da terra e da resiliência de zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas”. O tema se desdobra em dois subtemas: “Impactos econômicos e sociais da desertificação, da degradação do solo e da seca” e “Custos e benefícios das políticas e práticas abordando a desertificação, a degradação da terra e a seca”. A 2ª Conferência Científica da UNCCD será realizada durante a terceira sessão especial da Comissão de Ciência e Tecnologia (CST S-3), como parte principal desta sessão. O conclave tem como objetivo reunir uma ampla gama de interessados acadêmicos, políticos, atores da sociedade civil e do setor privado – e aproximá-los, de uma perspectiva econômica, das questões prementes da Desertificação, Degradação da Terra e Seca (DLDD). “A conferência irá fornecer orientações para os governos e atores não-governamentais afins, sobre o porquê eles devem e como eles podem, juntos, inverter as atuais tendências DLDD, apoiar os países afetados e as comunidades para melhorar suas práticas de gerenciamento da terra e aumento de resiliência”. Os resultados científicos do evento, orientação política e recomendações são fonte de informação para a formulação de políticas e do diálogo. Estas recomendações devem ser submetidos à CST e Conferência das Partes (COP) para sua consideração. As recomendações devem fornecer um quadro claro de opções disponíveis e cenários possíveis para os tomadores de decisão sobre a avaliação econômica de desertificação, a degradação da terra e gestão sustentável da terra em áreas afetadas, espera a UNCCD. Avalia a UNCCD que os resultados combinados deverão levar a maior reconhecimento internacional dos problemas relacionados com a desertificação progressiva, degradação dos solos e a seca e chamar para investimentos focados na gestão sustentável da terra, preservação do solo e para aumentar a resiliência. “Há um consenso generalizado de que as questões prementes da Desertificação, Degradação da Terra, e Seca (DLDD) ainda não estão devidamente incluídos e tratados

nas agendas de hoje do setor político e privado nos níveis global, nacional e local. É, portanto, de vital importância para aumen-

Antônio Rocha Magalhães tar a conscientização sobre os impactos negativos que as decisões relativas à gestão da terra e dos serviços ecossistêmicos pode ter, mas também as oportunidades que elas criam para melhorar as práticas atuais de gestão de terras para uma maior sustentabilidade e resiliência aumentada”. Com os resultados das discussões em cada subtema vão ser produzidos dois livros complementares um ao outro. O primeiro concentra-se sobre os impactos da falta de ação e demonstra que a ignorância continuada da desertificação progressiva, degradação dos solos e a seca tende inevi-

“O Ceará tem liderado o conhecimento científico e a aplicação deste conhecimento na direção do desenvolvimento das suas regiões semiáridas e do planeta com grande penetração internacional”, assinalou Carlos Nobre, pesquisador na área climática. O secretário do MCTI lembrou que há 20 anos passava 10 dias por mês em Fortaleza, de janeiro a março, para ajudar a Funceme a criar o sistema de previsão de secas, “hoje consagrado nacional e internacionalmente sob liderança do Marco Antônio Raupp, na época diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)”. Segundo ele, o estado foi o primeiro a utilizar a previsão climática para a distribuição de sementes na safra, no final dos anos 80, e desde então avançou muito. Antes desta data, Raupp acrescentou que já andava no Ceará na época em que Ariosto Holanda era secretário da Ciência e Tecnologia do governo Tasso Jereissati para implantar o sistema de previsão de chuvas na Funceme. O ministro disse que o MCTI vai participar de modo efetivo da Conferência com a parceria dos ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente. “O que se quer é que essa Conferência dê subsídios para políticas que o governo possa e deva implementar”, ele afirmou. Carlos Nobre informou que na Conferência apresentará um estudo sobre como o Brasil se prepara para diminuir a vulnerabilidade aos desastres naturais, com destaque para a seca, por meio Pla-

Foto: Flamínio Araripe

tavelmente a produzir mais custos ambientais, sociais e econômicos. O segundo livro sublinha os benefícios de ações voltadas para combater a desertificação progressiva, degradação dos solos e a seca e enfatiza os ganhos ambientais, sociais e econômicos da gestão sustentável dos solos, serviços ambientais, e aumento da resiliência.

no de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais, com previsão de R$ 18 bilhões para operar nos três primeiros anos. Segundo ele, vai ser investido pelo Plano mais de R$ 1 bilhão na infraestrutura de previsão da secas, seus impactos na sociedade e o aumento da resiliência da população, na maior parte em obras.

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P e las Em ppr esas

ISABELLA ARARIPE

Corrente do bem: Cooperados da Unimed-Rio beneficiam 30 mil pessoas Para um médico, fazer o bem já faz parte de sua rotina. Mas ele pode ir além. Desde 2010, a Unimed-Rio possui o programa Receita do Bem, por meio do qual o médico cooperado destina até 6% do seu Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para projetos aprovados pelos Ministérios da Cultura e dos Esportes e selecionados pela própria cooperativa. O projeto faz parte da política de Responsabilidade Social da Unimed-Rio e é uma forma diferenciada de oferecer ao médico a possibilidade de incentivar o desenvolvimento social, cultural e esportivo da cidade do Rio de Janeiro. Desde o lançamento do Receita do Bem, há dois anos, mais de 800 médicos já aderiram e foram captados cerca de R$ 2 milhões, beneficiando aproximadamente 30 mil pessoas. Em 2011, seis projetos sociais foram apoiados: Escolas de Música e Cidadania, Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM, Associação Viva e Deixe Viver, Arte é o Melhor Remédio, Nadando Contra a Corrente e a peça de teatro: Uma Noite na Lua. Acesse o site www.unimedrio.com.br/receitadobem e veja os resultados obtidos até agora com o programa.

Assentos de PET no Maracanã para Copa do Mundo Parceira oficial da FIFA desde 1974, a Coca-Cola anunciou no dia 7 de novembro um projeto inovador de sustentabilidade na área esportiva. A Coca-Cola Brasil fará uma campanha para a doação de garrafas PET que serão utilizadas no revestimento de 6.773 assentos premium a serem instalados no novo Maracanã, palco da final da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A iniciativa inédita na história do esporte terá a parceria do Governo do Rio de Janeiro, do Consórcio Maracanã Rio 2014 e da Giroflex-Forma, que fabricará os assentos. “A Coca-Cola é referência mundial em sustentabilidade e reciclagem e acredita que sempre é possível inovar. A Copa do Mundo da FIFA é uma (da esquerda para a direita): Linaldo Vilar (Giroflex-Forma), Victor Bicca grande oportunidade de massificar ainda mais a cultura da reciclagem. Neto (Coca-Cola Brasil), Márcia Lins (Secretaria Estadual de Esportes e Lazer RJ) e Icáro Moreno (EMOP) fazem doação simbólica de garrafas PET Este é um dos legados que pretendemos deixar para o Brasil”, afirmou para o Maracanã Victor Bicca Neto, diretor de assuntos governamentais, comunicação e sustentabilidade da Coca-Cola Brasil para a Copa do Mundo da FIFA 2014. Reciclagem, ao lado de comunidade e vida ativa, é um dos três legados chaves que a Coca-Cola Brasil planeja assegurar para o país durante suas ações para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

Itaú Unibanco é incluído na carteira do ISE 2013 da BM&FBOVESPA pelo oitavo ano consecutivo

Denise Hills

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O Itaú Unibanco está presente, pelo 8º ano consecutivo, na carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Das 183 empresas convidadas, 45 responderam o questionário desenvolvido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes), da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Entre as respondentes, 37 foram selecionadas, o que demonstra o comprometimento com a gestão sustentável dos

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negócios e a atuação como promotores de boas práticas no meio empresarial brasileiro. “A permanência do Itaú Unibanco desde a criação do índice, em 2005, reafirma o compromisso do banco com o alcance de nossa visão de ser o banco líder em performance sustentável e em satisfação dos clientes”, afirma Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade. “Um dos nossos desafios é integrar a sustentabilidade no dia a dia dos negócios e esse reconhecimento mostra que estamos trilhando o caminho certo”.


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR

CNC apresenta sua nova marca a todo o Brasil A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apresentou a sua nova marca, em âmbito nacional, no dia 14 de novembro. Com o slogan “Uma nova marca. A atuação de sempre”, a campanha, lançada no intervalo do Jornal, traduz o conceito da transformação e os valores que envolveram a criação da nova identidade visual da Confederação. “A modernização da marca e da identidade visual é uma extensão do processo contínuo de transformação da CNC, sempre visando o crescimento das empresas do comércio de

bens, serviços e turismo e o desenvolvimento do País”, afirma o presidente da CNC, Antonio Oliveira Santos. Porta-voz e representante máxima do empresariado do setor, com forte presença no desenvolvimento social por meio do Sesc e do Senac, a CNC trabalha em sinergia com o Sistema Comércio, composto por 27 federações estaduais e sete nacionais, que agrupam mais de 950 sindicatos do comércio de bens, serviços e turismo. Junto com os processos de modernização das marcas do Sesc e do Senac, feitos de forma coordenada, a CNC chegou ao resultado que traduz o sentido de unidade do Sistema Comércio, representado na nova identidade visual. O símbolo escolhido para a nova marca, a asa, possui linguagem iconográfica e representa o sonho, o resultado alcançado e a capacidade de realização. Em comemoração à nova marca, foi lançado, também no dia 14, um selo comemorativo personalizado, em parceria com os Correios.

Tetra Pak patrocina livro ilustrado sobre fauna da região de Campinas (SP) Após dois anos de observações e um intenso trabalho de campo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Tetra Pak patrocina o lançamento do livro “Monte Mor, a vida às margens do Capivari”. Ilustrada pelo famoso pintor naturalista Tomas Sigrist, a obra deve ser distribuída para escolas municipais e estaduais da região de Campinas e de Monte Mor, em São Paulo. Além de informações da mata ciliar, as 400 páginas do livro são preenchidas com 200 fotografias, 300 ilustrações e dados detalhados dos animais encontrados às margens do rio Capivari, como

suçuarana e jaguatirica. De acordo com Fernando von Zuben, Diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, a ideia de registrar a rica biodiversidade local, surgiu após a recuperação da área de mata nativa do clube da Tetra Pak em Monte Mor.

Bikes “Felisa Lithium” e “Trânsito+gentil dobrável” já estão nas ruas A Porto Seguro lançou a “Felisa Lithium”, segunda geração da bicicleta elétrica da Companhia, lançada em 2008; e a bike “Trânsito+gentil” dobrável, inspirada no movimento que promove a prática da gentileza no trânsito. As novas bicicletas são comercializadas em São Paulo (Capital, Grande São Paulo, Santos, Campinas, São José dos Campos e Sorocaba) e no Rio de Janeiro (Capital e Região Metropolitana), apenas pela Central Telefônica 3004-BIKE (o mesmo que 3004-2453). Clientes Porto Seguro Auto, funcioná-

rios da Companhia e corretores contam com vantagens exclusivas na aquisição das bicicletas. Foi também desenvolvido um seguro para quem quiser adquirir uma proteção para as bikes. Segundo Fabio Luchetti, presidente da Porto Seguro, “ao apresentar as novas linhas de bicicletas, seguimos adiante com as iniciativas de estímulo ao uso de meios de locomoção mais sustentáveis, que aliem maior mobilidade à necessidade ambiental”, explica. “Quem utiliza está colaborando para diminuir o trânsito dos grandes centros urbanos e reduzir as emissões de poluentes.”

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ENERGIA & CARBONO CONFERÊNCIA DO CLIMA ESTENDE PROTOCOLO DE QUIOTO ATÉ 2020 Por Fabiano Ávila, Fonte: Instituto CarbonoBrasil com informações do MMA

COPERSUCAR E ECOENERGY JUNTAM SUAS OPERAÇÕES PARA CRIAR A MAIOR COMERCIALIZADORA DE ETANOL DO MUNDO

Depois de se prolongar por 24 horas a mais do que o esperado, terminou neste sábado (8) a 18a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 18), apresentando resultados pouco expressivos. Ninguém tinha grandes expectativas para a COP 18, realizada na cidade de Doha, no Catar, e o evento acabou realmente sem nenhum destaque inesperado. A principal decisão concreta

Da Copersucar

A Copersucar, maior comercializadora de açúcar e etanol do Brasil, e Eco-Energy, uma das principais tradings de biocombustíveis dos Estados Unidos, anunciaram em novembro a internacionalização de suas operações de etanol, através de investimento conjunto na Eco-Energy para fortalecer e expandir plataforma integrada de biocombustíveis e assumir posição de liderança global. Com a transação, as empresas conjuntas somam capacidade de oferta global do biocombustível de 10 bilhões de litros (2,6 bilhões de galões) anuais, com uma significativa presença nos dois principais mercados de etanol, Brasil e Estados Unidos.

BP VAI INVESTIR R$ 716 MILHÕES EM EXPANSÃO DE USINA DE ETANOL NO BRASIL Do Portal PetroNotícias

Não é só o pré-sal que atrai os olhares das grandes petroleiras. A BP, por meio de sua subsidiária BP Biocombustíveis, planeja investir R$ 716 milhões na expansão de sua usina Tropical, localizada no município de Edeia, em Goiás. O objetivo é dobrar a capacidade de processamento de cana, passando dos atuais 2,5 milhões para 5 milhões de toneladas por ano. Com a expansão, que deve começar em 2013, a produção de etanol na unidade deve subir para 480 milhões de litros de etanol por ano, além de uma cogeração de 340 GWh. “Essa ampliação reforça nosso compromisso com a indústria sucroalcooleira brasileira e vai nos permitir expandir nossos negócios no futuro”, afirmou o presidente da BP Biocombustíveis no Brasil, Mario Lindenhayn (foto). Além dessa unidade, a BP Biocombustíveis possui outras duas plantas de processamento de cana no Brasil, sendo que já investiu cerca de US$ 2 bilhões em pesquisa, desenvolvimento e produção no Brasil e na Europa.

EMISSÕES DE GEES DEVEM AUMENTAR 2,6% EM 2012 Os grandes países emergentes, em especial China e Índia, aparecem como os responsáveis pelo crescimento das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) mundiais nos últimos anos. As emissões chinesas aumentaram 9,9% em 2011 e as indianas 7,5%. O Brasil também apresentou aumento, 1,4%, chegando a 424 milhões de toneladas. Os dados, divulgados no dia 2 de dezembro pelo Global Carbon Project (GDP), apontam que os chineses já liberam

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terminou sendo a já esperada extensão do Protocolo de Quioto para 2020, e mesmo isso veio depois de negociações muito arrastadas. Muitas divergências se colocaram no caminho dos negociadores, sendo que a maior delas foi o que fazer para diminuir o excesso de créditos de carbono nos mecanismos de Quioto, a chamada crise do “Hot Air”.

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6,6 toneladas anuais per capita, chegando perto da marca europeia, 7,3, mas ainda longe da norte-americana, 17,2. Por sua vez, as nações desenvolvidas registraram queda nas emissões, com menos 1,8% nos Estados Unidos e 2,8% na União Europeia. A China consolidou ainda mais sua posição como a maior emissora mundial, com 28% do total. Os EUA aparecem em segundo com 16%, depois a UE, com 11%, e a Índia, com 7%. O Brasil é responsável por 1,4%. (Por Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil)


Energia

Dois em um: iluminação do futuro une geração eólica e solar Alusa Engenharia, através de sua nova empresa, a Greenluce, lança tecnologia de ponta capaz de iluminar com geração de energia eólica e solar. Novidade já está sendo utilizada em canteiros de obras da Alusa

I

magine um poste que possibilite a geração de energia solar. Agora, pense na torre com pá de energia eólica, embalada pelos ventos. Pensou? Pois acaba de surgir tecnologia ainda mais revolucionária, que une as duas gerações: solar e eólica em um sistema híbrido. A novidade está sendo utilizada pela Alusa Engenharia - uma das maiores do país em infraestrutura e líder no segmento de iluminação pública, responsável pelo maior parque de iluminação do mundo, o de São Paulo, com cerca de 600 mil pontos - em alguns de seus canteiros de obras. A tecnologia está sendo apresentada pela Greenluce, a mais nova empresa do grupo Alusa. Especializada em soluções sustentáveis para iluminação em grandes espaços, a empresa traz ainda mais inovação ao portfólio do grupo. Muitos países desenvolvidos da Europa além dos Estados Unidos, Japão e China já utilizam esta tecnologia há mais de cinco anos. “Ao optar por fontes limpas e renováveis, reduzimos o uso de fontes poluentes como as geradas pela queima de carvão, petróleo ou gás natural. A energia nuclear, embora seja não poluente, produz uma grande quantidade de lixo nuclear — o que também é negativo”, explica Carla Van Deursen, sócia-diretora Greenluce, à Plurale em revista. Ela explica que a tecnologia está baseada na microgeração de energia, ou seja, na produção de energia para consumo próprio. A ideia é possibilitar aos consumidores a geração de energia por meio de fontes energia renováveis, como a eólica e a solar. O sistema é autossustentável porque não dependente

Foto: Divulgação

da existência da rede elétrica externa para o fornecimento de energia. A novidade já está sendo utilizada nos canteiros de obras da Refinaria Abreu e Lima (PE), com 15 postes. Outros 38 encontram-se no canteiro de obras do Comperj (RJ). E há postes desses também na fábrica da Cavan Rocbra, no Maranhão. Outras unidades estão sendo avaliadas em São Paulo: pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e pelas concessionárias de rodovias CCR Via Oeste e OHL-Rodovia Fernão Dias. Também existe um poste instalado no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, que está sendo monitorado pela Rioluz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O objetivo é homologá-lo na Prefeitura carioca, com vistas à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016. Carla lembra outras vantagens do sistema, especialmente que os postes dispensam o uso de cabos de rede para sua conexão, tornando-se práticos e economicamente atrativos em diversas situações. Não é só: em tempos sustentáveis, nada melhor do que imaginar a economia de cabos por quilômetros e também afastar a ação de ladrões e vandalismo. Tecnicamente falando, a eletricidade é produzida por meio de um aerogerador e dois painéis fotovoltaicos (solares). O primeiro produz energia a partir do vento (eólica) e os outros dois captam a luz do sol. A energia é armazenada em baterias que alimentam a luminária, que é acionada por um fotosensor. A autonomia do sistema garante 36 horas de funcionamento — o suficiente para a iluminação por três noites. A diretora explica que as demais soluções do mercado apresentam apenas energia solar como fonte geradora. “A solução desenvolvida pela Greenluce é a única no mercado nacional a reunir num mesmo sistema as energias eólica e solar, comprovadamente testada em diversas regiões. Isto faz toda a diferença, pois uma fonte supre a outra na eventual ausência de sol ou de ventos. Outro diferencial importante é que em lugar das lâmpadas tradicionais, que usam o vapor de mercúrio ou sódio, o nosso sistema utiliza luminárias à --- LED (sigla em inglês para diodo emissor de luz)”, conclui a sócia-diretora da Greenluce. Para mais informações: www.greenluce.com.br

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Reciclagem

) o x i l e ( s o ñ e u S o d n a l Recic S E R I A S O em BUEN Plurale visitou uma cooperativa de catadores da Grande Buenos Aires para entender o problema do lixo pela ótica de quem vive dele

Texto e Fotos: Aline Gatto Boueri Correspondente de Plurale em revista em Buenos Aires, Argentina

O lixo vale ouro”, comenta com um sorriso Marcelo Loto, de 46 anos. Com sua voz mansa e fala pausada, o cartonero (catador de lixo), resume a crise na gestão de resíduos na cidade e de Buenos Aires e sua área metropolitana. Um pouco antes de assumir a o governo da capital argentina, em 2007, o atual prefeito Mauricio Macri, reeleito em 2011, deixou escapar

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uma frase que ficou na memória de quem trabalha como catador, justamente porque se referia a eles, os artesãos da coleta diária de resíduos: “Os cartoneros estão roubando o lixo”, disse Macri. A Argentina tem uma empresa nacional que se encarrega da gestão dos resíduos, a Coordenação Ecológica Área Metropolitana Sociedade do Estado (CEAMSE). Criada em 1977, durante a última ditadura militar da Argentina, a CEAMSE trouxe com ela a criminalização do cirujeo, como era conhecida a atividade dos catadores até o final da década de 90. O lixo pertencia ao Estado.

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O apelido de ciruja para os catadores de outras épocas, segundo Marcelo, é derivado da própria arte de reciclagem. “Naquela época não havia plástico. Os catadores coletavam principalmente metal, papel e ossos descartados pelos frigoríficos. Para vender os ossos era preciso tratá-los, e faziam com tanto cuidado que pareciam cirurgiões”, conta. Somente em 2002, logo depois do default e da crise econômica que mudou a configuração do país – e incluiu de forma dramática o trabalho dos cartoneros na paisagem urbana de Buenos Aires -, os catadores ganharam o reconhecimento por sua atividade. Na província (estado) de Buenos Aires, esperaram até 2006 para sair da ilegalidade. Mesmo assim, o conflito permanece. A CEAMSE gestiona o lixo nos aterros sanitários, mas a coleta é terceirizada – e agora a frase de Mauricio Macri talvez faça mais sentido – em licitações municipais. “O trabalho dos cartoneros diminui muito a quantidade de resíduos. Reduzimos em mais de 50% o volume e em 30% o peso do lixo. Nosso ofício demonstra que o que antes era descartado pode voltar ao setor produtivo”, afirma Marcelo. Como as empresas licitadas para a coleta pelas prefeituras de Buenos Aires e da Área Metropolitana cobram por peso, aí nasce o conflito entre as empresas e os catadores. INSPIRAÇÃO BRASILEIRA Marcelo trabalha na cooperativa de catadores de lixo Reciclando Sueños, que funciona em La Matanza, o maior município da Grande Buenos Aires, onde recebeu a reportagem de Plurale e mostrou, orgulhoso, o trabalho que fazem. “Nossa relação com o Brasil é muito estreita, o Movimento de Catadores é o espelho onde nos olhamos.” Marcelo conta que participou do Festival Lixo e Cidadania de Belo Horizonte em 2002 e se inspirou. “Me chamou muito a atenção que os companheiros brasileiros faziam coleta seletiva. Aqui, nós não trabalhávamos ainda dessa maneira, vendíamos o que encontrávamos ou trocávamos em feiras solidárias”, lembra. Hoje Marcelo percorre o galpão onde a cooperativa funciona e conta o processo de profissionalização pelo qual passaram ao longo dos anos. Explica que as máquinas que usam para limpar os resíduos recicláveis ou para separar os diferentes


tipos de plástico são feitas pelos próprios cartoneros, muitas vezes com o material recolhido das ruas. “A gestão do lixo deve ser integral, responsável e sustentável. É preciso pensar na fabricação, na venda, no consumo, na forma como se joga fora, se coleta e se separa. Todos esses passos têm que ser pensados para uma gestão sustentável do lixo. E foi isso que aprendemos com os anos de trabalho. Também aprendi que tenho uma profissão e a me sentir orgulhoso dela.” O diferencial da Reciclando Sueños é o trabalho feito de porta em porta com os moradores da zona. Os trabalhadores da cooperativa tocam campainha aos vizinhos e os convencem de que separar o lixo orgânico do reciclável é bom para todo mundo. “No início nos diziam que era uma loucura que os vizinhos abrissem a porta para os catadores e entregassem o lixo”, recorda Marcelo. “Primeiro pedíamos que por favor nos deem o lixo. Hoje exigimos que separem. E lhes contamos que vamos ajudá-los a ser melhores cidadãos, melhores pessoas. Foi uma transformação. Não somos coitadinhos, somos trabalhadores que coletamos o lixo de forma seletiva. Somos sócios, trabalhamos juntos. Estou agradecido porque os vizinhos são bons com o meio ambiente, e eles devem estar agradecidos porque eu sou bom com o meio ambiente. Todos somos importantes.” UM PROBLEMA POLÍTICO Na cidade de Buenos Aires algumas cooperativas têm subsídios do governo – ainda que muito inferiores aos contratos das empresas coletoras -, mas na grande Buenos Aires, onde fica a Reciclando Sueños, isso ainda não existe. O trabalho feito pelos recicladores ainda não é considerado um serviço público e essa é uma das lutas do setor hoje. “Queremos que se reconheça que uma gestão diferenciada do lixo é necessária e que é um serviço público. Hoje há um monopólio para a gestão do lixo na cidade e na Grande Buenos Aires”, reivindica Marcelo. “As empresas coletam o lixo e entregam sem separá-lo. Nós fazemos uma coleta seletiva, reciclamos. As empresas não fazem isso porque dá muito trabalho, cobram dinheiro por quilo de lixo que entregam e contaminam. As cidades pagam para que contaminem.” Segundo o atropólogo Santiago Sorroche, integrante de uma equipe da Universidade de Buenos Aires (UBA) que trabalha com a Reciclando Sueños, os cartoneros

O antropólogo Santiago Sorroche:

“Só os cartoneros garantem a sustentabilidade hoje” são essenciais para a gestão sustentável do lixo. “Quem mantém a sustentabilidade da gestão de resíduos hoje são os cartoneros, em termos ambientais e socioeconômicos. Geram trabalho a muitas pessoas que não têm acesso a outros empregos, são especialistas. São os únicos que respeitam a lei, diminuindo o volume de resíduos aterrados, além de regressar parte desses resíduos ao circuito produtivo”, adverte. Santiago se refere à lei Basura Cero (Lixo Zero), da Cidade de Buenos Aires, promulgada em 2006 e regulamentada em 2007, que determina a redução progressiva dos aterros sanitários, administrados pela CEAMSE. A empresa paralisou o serviço várias vezes este ano para reclamar o não cumprimento da lei e para advertir que os aterros sanitários estão a ponto de atingir sua capacidade máxima. Tanto a cidade quanto a Área Metropolitana enterram seus resíduos na Grande Buenos Aires.

As medidas de força deixaram nas ruas de Buenos Aires a evidência de que uma economia baseada em consumo produz mais lixo do que podemos suportar ver. A CEAMSE pede a ampliação dos aterros sanitários, o que pressiona os pequenos municípios da Grande Buenos Aires e tem um custo político altíssimo. “Nenhum prefeito quer sequer escutar esse rumor”, reconhece Santiago. “O lixo é também um problema político.” Santiago também aponta ao que chama de “contradição do modelo industrial argentino”, que estimula a substituição de importações. “Com o trabalho dos cartoneros poderíamos substituir importações de derivados do petróleo, como plásticos, ou mesmo minerais, como o alumínio, que poderiam regressar ao circuito produtivo”, analisa. Há poucos anos, os cartoneros eram ilegais. Hoje, são imprescindíveis para uma Argentina sustentável.

Marcelo mostra orgulhoso máquina para amassar latinhas feitas com material encontrado nas ruas

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P e lo Mundo Expectativas e desafios: a Irlanda na Presidência da UE em 2013 Por Vivian Simonato, de Dublin (Irlanda) Correspondente de Plurale na Comunidade Europeia

Coincidindo com o 40º aniversário da sua adesão à União Europeia, a Irlanda assume pela sétima vez a presidência da UE em 1º de janeiro de 2013. A posição, considerada a mais importante no grupo, tem caráter rotatório e é ocupada a cada seis meses por um dos Estados-Membros. Desde 2007, também ficou determinado que o país no comando deve desenvolver seu plano de políticas em conjunto com os dois Estados-Membros subsequentes a ele, estabelecendo uma agenda política para um período total de 18 meses. Assim, Irlanda, Lituânia e Grécia entregam no final de dezembro de 2012 o plano completo de ações da UE para o próximo um ano e meio. Assuntos-chave já são destaque e durante os seis meses de mandato a Irlanda prevê finalizar o acordo sobre o quadro financeiro plurianual que irá determinar o orçamento da UE de 2014-2020. Outras decisões estão ainda diretamente relacionadas com o país, como a reforma da Política Agrícola Comum (PAC), da Política Comum das Pescas e a definição de um framework para o programa Horizonte 2020 (destinado à pesquisa e inovação). Uma das missões é continuar a restaurar a estabilidade financeira na UE, através da implementação de novas regras de governança econômica e procedimentos. A Irlanda também anunciou que estará focada em planos de educação e treinamento direcionados a jovens desempregados. Diretamente relacionadas a políticas de desenvolvimento sustentável, as expectativas da sociedade civil e terceiro setor para o mandato irlandês na presidência da UE também são altas. Existe uma cobrança ferrenha de que o país influencie os Estados-Membros para convencerem a Organização das Nações Unidas a estabelecer novas políticas de desen-

volvimento sustentável pós-2015, quando expiram os Objetivos do Milênio (ODM). A discussão atual é de que os oito ODM, definidos em 2000, e que previam diminuir pela metade o número de pessoas vivendo em pobreza extrema, alcançar educação primária global e igualdade de gêneros até 2015, por exemplo, não serão alcançados. Logo, o foco em atender as necessidades básicas daqueles mais vulneráveis não deve mudar. À frente da discussão está a Associação das Organizações Não-Governamentais da Irlanda – Dóchas – que lançou a Campanha The World We Want (O mundo que queremos). A campanha está reunindo e discutindo com a sociedade civil uma agenda de desenvolvimento “Além 2015”. A expectativa dessa mobilização é que até setembro de 2013, quando acontece a próxima reunião de balanço dos ODM, a Irlanda tenha usado a oportunidade do mandato na presidência da UE para conquistar o apoio dos Estados-Membros e apresentar uma nova proposta de desenvolvimento à ONU.

Por Mônica Pinho, de Perth, Austrália Especial para Plurale em revista

Um dia desses, passando pelo Centro de Perth (Austrália), estacionei meu carro num grande edifício garagem que fica bem entre o Centro e North Bridge. Lá sempre encontro uma vaga. Peguei o elevador e desci na direção de Northbridge para fazer umas comprinhas no mercado Kakula’s, especializado em itens multiculturais. Caminhei prestando atenção a tudo e a todos, observando a vida e os costumes que até hoje me interessam nessa linda cidade. Passei pelo artista de rua,

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por um homeless que pedia ajuda com um discreto cartaz e de repente me deparei com ....uma horta urbana! Aquilo me chamou muita atenção. Não só pelo fato de ver uma horta em pleno Perth Cultural Centre, mas porque há respeito em manter tudo que se tira dali para a comunidade local. Achei fantástico. O responsável pelo lançamento e manutenção da ideia é o MRA -Metropolitan Redevelopment Authority. Eles pegaram uma área absolutamente inutilizada, no teto de um estacionamento central e reciclando os restos da construção para formar os canteiros onde plantam frutas, legumes, verduras e ervas fresquinhas.

PLURALE EM REVISTA A | Novembro / Dezembro 2012

Foto: Mônica Pinho

Horta Urbana, uma descoberta em pleno Centro


Nos últimos cinco anos, repórteres e fotógrafos de Plurale em revista cruzaram o Brasil de norte a sul para descobrir boas histórias de transformação. De gente simples e aguerrida, protagonista de mudanças que estão apenas começando...

Lima (FAS)

TiĂŁo Santos Jardim Gramacho, RJ

Foto de AntĂ´nio Batalha (Firjan)

Foto de AntĂ´nio

...como a história de Seu Luiz Gonzaga, na Reserva de Uatumã, na Floresta Amazônica (AM), que estå aprendendo a escrever graças à Fundação Amazonas Sustentåvel e tem como objetivo defender as necessidades de sua pequena comunidade...

Seu Luiz Gonzaga ...distâncias percorridas de barco, de carros fora de estrada e pequenos aviĂľes. Foi assim para mostrar a exuberância do Pantanal em projeto de preservação da ararinha azul e vĂĄrias outras espĂŠcies, trabalho de proďŹ ssionais zelosos como a biĂłloga Luciana Pinheiro Ferreira, na RPPN SESC Pantanal...

Itairan Cardoso Serrinha, BA Foto de NĂ­cia Ribas

Foto de Luciana Tancredo

Reserva do UatumĂŁ, AM

...ou do jovem TiĂŁo Santos, que cresceu no lixĂŁo de Jardim Gramacho (Baixada Fluminense), lutou para mudar nĂŁo sĂł a sua vida, mas a dos catadores: virou estrela da obra do artista plĂĄstico de Vik Muniz e de ďŹ lme com direito a tapete vermelho de Hollywood...

nheiro LucianPNaSEPi SC Pantanal, MT

...neste período tambÊm conhecemos diversos projetos inovadores, como o de educação e geração de renda para crianças de comunidade de Serrinha, no sertão baiano, como Itairan Cardoso.

PoconĂŠ, RP

anos Com Plurale Ê assim: vamos onde a notícia estå. Para que cada um apresente sua história, capaz de inspirar tantas outras transformaçþes. Plurale: plural atÊ no nome. WWW PLURALE COM BR s TWITTER PLURALEEMSITE

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Frases

OSCAR NIEMEYER

Um homem a frente de seu tempo e de uma genialidade incrível. Esta poderia ser a definição do arquiteto Oscar Niemeyer, que faleceu aos 104 anos deixando incrível obra para a posteridade. Esta página homenageia Niemeyer político, sempre simples e humilde, que marcou a História com frases incríveis. Algumas reunidas aqui.

“A Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.”

“Costumo dizer aos estudantes de Arquitetura que não basta sair da escola para ser bom profissional. O sujeito tem de se abrir para o mundo e não ficar atrás da visão estreita dos especialistas.”

“A gente precisa sentir que a vida é importante, que é preciso haver fantasia para poder viver um pouco melhor.”

“Eu diria que sou um ser humano como outro qualquer, que vim. Deixo a minha pequena história que vai desaparecer como todas as outras.”

“Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa deles. Não permito que ideologia nenhuma interfira em minhas amizades.”

“Urbanismo e arquitetura não acrescentam nada. Na rua, protestando, é que a gente transforma o País.”

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I m a g e m Foto de ISMAR

INGBER, São Conrado / Ro

cinha (RJ)

O ARQUITETO DAS CURVAS E DO POVO

O

genial arquiteto Oscar Niemeyer – que faleceu aos 104 anos em dezembro de 2012 – não será lembrado apenas pela longevidade e pelas centenas de verdadeiras obras de arte espalhadas por diferentes países. O mesmo artista comunista desde sempre que deu forma a palácios e museus, se sentia ainda mais feliz ao desenhar para o povo. Como na Passarela do Samba, o conhecido Sambódromo, no Rio de Janeiro ou em um de seus últimos projetos na cidade carioca, a passarela que interliga a comunidade da Rocinha. A tradicional curva em M, que lembra o “derrière” das mulheres brasileiras, já tinha sido muito bem recebida na Praça da Apoteose do Sambódromo. Mas ganha versão ainda mais moderna, solidária e carioca na Passarela da Rocinha. O fotografo ISMAR INGBER,

também apaixonado por Niemeyer, fez este clique noturno, com a vista ao fundo da Pedra da Gávea. Só para firmar este lado solidário de Niemeyer, contam os amigos que, ao saber que seu fiel motorista não tinha casa, projetou uma para ele em comunidade ali próxima, no Vidigal. Ajudou ainda um sem número de amigos perseguidos: o mais célebre foi o líder comunista Luiz Carlos Prestes, a quem deu um apartamento em Copacabana para morar com a família. Generoso, o arquiteto das curvas e do povo compartilhava com os amigos sonhos, ideais e víveres. Como o próprio Niemeyer disse certa vez: “Meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância pra mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor. O resto, é conversa fiada.”

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

A mesma proposta tem Tainá, a Origem continuação dos filmes Tainá – Uma Aventura na Amazônia e Tainá 2 – A Aventura Continua, previsto para chegar às telas em fevereiro. No filme a garota Tainá é órfã e não conhece muito bem as suas origens, nem tão pouco sua tribo. Para agravar a situação, ela e seus amigos terão de enfrentar o Jurupari, a reencarnação do mal, que pretende destruir toda a Floresta Amazônica. Quem interpreta Tainá neste filme é a indiazinha Wiranu Tembé, selecionada pelos produtores depois de mais de dois mil testes e escolhida por votação na Internet e pela própria equipe. Ela é da aldeia Tekohaw, no Pará, norte do Brasil, e até o filme não falava português e nunca tinha saído de sua aldeia.

Entreter e divertir sem deixar de conscientizar. É a proposta da animação nacional em cartaz nessas férias, Brichos II – A Floresta é Nossa, de Paulo Munhoz que ganhou as vozes de Marcelo Tas, Antonio Abujamra e Fabíula Nascimento. A animação conta a história dos brichos (com “r” mesmo) que precisam decidir o futuro de sua cidade ameaçada de perder a floresta para investidores/terroristas. Na trama Mr. Birdestroy (Marcelo Tas) e AL Corcova (Antonio Abujamra) começam a se aproximar da Floresta da Vila dos Brichos, conhecida internacionalmente como Brainforest, cheios de más intenções. Com mentiras, máquinas destruidoras, conexões internacionais, muito dinheiro e nenhum caráter, os bandidos querem a qualquer custo as riquezas naturais da floresta. Para isso tentam convencer os habitantes das vantagens que teriam em transformar a vila numa megalópole, trocando seu atual estilo de vida por um modelo mais “moderno” e “progressista”.

Green Film é mais que cinema Para quem não conhece, o Green Film Festival é uma rede que reúne alguns dos principais festivais de cinema do mundo com foco em questões ambientais. O objetivo da rede é coordenar os eventos dos festivais associados, promover e distribuir filmes na cena internacional e estimular iniciativas e projetos para fazer com que as pessoas parem e pensem sobre as condições do meio ambiente. Existe, entre os membros dessa rede, um compromisso de que em cada evento eles se reúnam para estabelecer as bases de discussão e pesquisa que levarão ao público e as escolas. Tudo para criar uma nova cultura que preste mais atenção às relações entre o homem e seus ambientes naturais, sociais e culturais. Entre os membros da rede estão festivais de Portugal, Alemanha, Canadá, Itália, México, Rússia, Kosovo, Estados Unidos, França e Brasil.

Foto: Divulgação

Para a criançada em férias II

Foto: Divulgação

Para a criançada em férias

Cinema leva esperança

Foto: Divulgação

Garimpando na web

Apesar da quantidade de festivais e mostras, os filmes com temática ambiental e social ainda não atingem grandes públicos. Mas garimpando na web é possível encontrar filmes muito interessantes postados na rede You Tube. Como a Areia de Quissamâ, um vídeo de pouco mais de 13 minutos feito por Rafael Costa, aluno do Curso de Cinema Ambiental da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Campus Macaé, sobre a relação de amor de uma senhora de 75 anos com o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. O filme – etnográ-fico aborda o aspecto histórico da vida de uma mulher, criada em Quissamã (RJ) e seu envolvimento com a preservação da natureza e da memória local. Um exemplo de que uma andorinha só pode sim fazer verão. Para assistir basta acessar o link: http://www.youtube.com/watch?v=JmXY424vuX4

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Eles são sobreviventes de uma tragédia, alunos da Escola Municipal Tasso Silveira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que em abril de 2011 foi invadida por um atirador que matou 12 adolescentes e depois se suicidou. O episódio jamais será esquecido, mas para superar o trauma a escola foi a piloto do Projeto Oficine-se de Paz, uma iniciativa da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Ponto Solidário e que terá continuidade nas Escolas da Rede Pública Municipal, em áreas atendidas pelas UPPs. O projeto consiste na aplicação de oficinas, com aulas teóricas e práticas sobre toda a cadeia produtiva cinematográfica – produção, distribuição e exibição-com foco na capacitação de exibidores e montagem de uma sala de exibição na escola. As oficinas foram realizadas por profissionais reconhecidos no mercado como o produtor e roteirista Rafael Dragaud, premiado em Los Angeles com o Grammy Latino, o teledramaturgo da Globo Euclydes Marinho e os diretores Cacau Amaral, Cadu Barcelos, Manaíra Carneiro, Rodrigo Felha e Wagner Novais, do premiado “5 x favela, agora por nós mesmos”.


ALUSA ENGENHARIA:

Gerando Energia Renovável

O GRUPO ALUSA ENGENHARIA, através da Greenluce Soluções Energéticas, está utilizando, pioneiramente, em alguns canteiros de obras, o novo sistema híbrido que produz energia solar e eólica ao mesmo tempo. Tecnologia de ponta a serviço da sustentabilidade. Saiba mais no site: www.greenluce.com.br.

Há 50 anos trabalhando em soluções em infraestrutura sustentável.


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Escolha seus decretos em unimedrio.com.br/meusdecretos

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