Revista Plurale - Ed 36

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br

ESPECIAL AFEGANISTÃO: CORRENTE DO BEM

ACORDA BRASIL: ARTIGOS INÉDITOS

IBIRAPUERA, O PULMÃO DE SÃO PAULO

FOTO DE WILSON DIAS - DE BRASÍLIA, AGÊNCIA BRASIL

ano seis | nº 36 | julho / agosto 2013 | R$ 10,00


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Editorial E ditorial

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista a véspera de comemorarmos juntos o aniversário de seis anos em setembro/ outubro, trazemos aqui edição bem diversificada para já entrarmos em clima de festa. Recente notícia também animou ainda mais nossa equipe: Plurale foi indicada na categoria Sustentabilidade do Prêmio Comuniquese pelo terceiro ano consecutivo. Não chegamos a finalistas, mas estar entre os 10 melhores em nossa área nos encheu de orgulho. Sentimos que tanto esforço ao longo de seis anos tem valido a pena e estamos conseguindo ser reconhecidos por você e muitos pelo trabalho apresentado. Muito obrigada em nome de toda “família Plurale”!

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Nossa correspondente na Comunidade Europeia, Vivian Simonato, nos brinda com um Especial emocionante de ONG do Afeganistão com foco em educação, cultura e esportes. Uma história incrível de Navid Rasa, sua namorada Lilian Ferrari e amigos espalhados por diferentes países. Da Argentina, a correspondente Aline Gatto Boueri, destaca temas sociais e ambientais importantes no debate das eleições locais. E da Austrália, Mônica Pinho, fala sobre os brechós do bem. A repórter Nícia Ribas esteve em São Paulo e conferiu de perto como o Ibirapuera venceu votação realizada pelo site Trip Advisor como o melhor Parque da América do Sul. Aqui do Rio, Maria Serpa conheceu propostas interessantes de escolas que inserem a Educação Ambiental no dia-a-

dia. Da Serra da Mantiqueira, Romildo Guerrante nos apresenta a beleza de Ibitipoca e Isabella Araripe traz outros destinos irresistíveis na Coluna Ecoturismo. Sem falar na série de seis incríveis artigos inéditos, especialmente para os nossos leitores. Um time de primeiríssima: Adrielle Saldanha, Dario Menezes, Denise Hills, Luiz Antônio Gaulia, Maria Elena Pereira Johannpeter e Roberto Saturnino Braga. Conversei com Jailson de Souza e Silva, fundador da ONG Observatório de Favelas que faz análise relevante sobre as comunidades e suas urgências. Já Isabel Capaverde nos traz novidades em sua coluna Cinema Verde. Tudo isso e muito mais em uma edição especial para você. Boa leitura!


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48.

ESPECIAL AFEGANISTÃO

Foto: Navid Rasa

Conte xto

CORRENTE DO BEM POR VIVIAN SIMONATTO

ACORDA BRASIL: ARTIGOS INÉDITOS POR ADRIELLE E SATURNINO BRAGA

10.

32. IBIRAPUERA: O “PULMÃO” DE SÃO PAULO POR NÍCIA RIBAS Foto:Nícia Ribas

Foto: Marcelo Camargo, ABR

16.

ENTREVISTA COM JAILSON DE SOUZA E SILVA POR SÔNIA ARARIPE

PELO BRASIL

28 ECOTURISMO

43 PELO MUNDO

46 CONEXÕES PLURALE E

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PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2013

26.

BAZAR ÉTICO


Quem faz

Cartas

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

Edição 35, Especial Meio Ambiente “Caros editores de Plurale em revista, A Conservação Internacional (CI-Brasil) gostaria de parabenizálos pela Edição número 35, que conta com excelentes reportagens e uma entrevista muito enriquecedora com Washington Novaes, chamando a atenção de todos para a falta de consciência sobre a gravidade das questões ambientais no Brasil. Com muita lucidez ele deixa claro que ainda falta ao Brasil adotar um modelo de desenvolvimento que seja realmente sustentável, e nós da CI-Brasil estamos totalmente imbuídos neste esforço de fazer com que o país consiga realizar um salto rumo a uma economia mais verde. Gostaríamos ainda de agradecer à revista pela abertura de um canal de comunicação com os leitores da revista, pela seção de cartas do leitor, dando oportunidade para que as pessoas possam se manifestar, aprofundando assim o debate sobre importantes temas socioambientais. Gabriela Michelotti, gerente de comunicação da CI-Brasil, Brasília (DF) “Prezada Sônia Obrigado. Continuo gostando muito da Plurale. Abraço, Antonio Matias, Vice-Presidente da Fundação Itaú Social, SP “Amiga Sônia, Agradeço o envio do exemplar da Edição 35 de Plurale em revista e felicito-a pela excelente entrevista com o jornalista Washington Novaes! Adionel Carlos da Cunha, Assessor de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ “Queremos agradecer os exemplares que temos recebido por intermédio do Sr. Jader Figueiredo que tem nos repassado os exemplares periodicamente.” Acácio Luiz, Biblioteca Municipal Fábio Villaboim, Paraty (RJ) “Acuso o recebimento e agradeço a gentileza da remessa de exemplar da Edição 35 de Plurale em revista e felicito essa empresa pela qualidade da publicação. Com as expressões de apreço, firmo-me, Maurício Azedo, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro (RJ) “Obrigada pelo envio da Edição 35 de Plurale em revista. Gostei.” Mariza Lomba Pinguelli Rosa, Assessora Especial da Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro

“Adorei a Edição 35 de Plurale, em especial a matéria de Maria Helena Malta sobre o novo livro de José Eduardo Agualusa, Parabéns!” Adriana Ervilha, Brasília (DF), pelo twitter Plurale em site “Cara Sônia, Em 2000 participei como cirurgião-dentista da turma de 70 brasileiros do 3º BPE (Porto Alegre) na Missão de Paz - ONU - no Timor Leste. Tive a honra de no final do período de seis meses receber a medalha da ONU no referido país numa solenidade bastante bonita diretamente das mãos do nosso ídolo Sergio Vieira de Mello. Tínhamos contato com alguma frequência, pois éramos subordinados diretamente pela administração da ONU ao qual ele era uma peça fundamental. Muito triste saber que perdemos uma pessoa extraordinariamente cativante e que certamente contribuiria muito mais para melhorar a vida da população em muitos outros países. Agradeço por relembrar a trajetória e reavivar nossas memórias com o seu relato. Parabéns!” Márcio Cardoso Renner, cirurgião-dentista, Porto Alegre (RS) “Parabéns Sônia pela matéria postada em Plurale em site neste dia 19 de agosto sobre a lembrança desse homem que passou pela Terra, ajudou a salvar milhares de vidas e foi vitima da raça humana - Sergio Vieira de Mello. Um brasileiro que dedicou sua vida inteira aos Refugiados da ONU. Hoje completam-se 10 anos de seu falecimento: o mundo lembra-se dele, poucas pessoas fizeram tanto pelo ser humano e cumpriram aquilo que também um Homem que passou pela Terra há 2013 anos, Ame o teu próximo como a Ti Mesmo, Sergio fez isso, porém, foi vitima de um covarde ataque a Sede da ONU, no Iraque, onde os EUA invadiram e ocuparam o país. Que o seu Espírito descanse em Paz na companhia do Criador, pelo que fez aqui na Terra e pelos milhares de crianças, jovens e adultos que salvou enquanto em vida. Vamos em frente.” José Pedro Naisser, Curitiba (PR) “Muito interessante a matéria sobre o semiárido de Paulo Lima na Edição 30 de Plurale em revista. É um olhar importante do autor, sensível aos interesses do semiárido. A concepção de combate está atrelada ao poder de grupos que lucram com a seca e a concepção de convivência pode ser colocada na linha de consolidação de outros interesses históricos, econômicos e socialmente relevantes para todos.” Alba Regina Neves, Professora, Salvador (BA)

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Nícia Ribas, Paulo Lima Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Adrielle Saldanha, Agência Brasil, Assessoria de Imprensa da Fundação Abrinq, Assessoria de Imprensa da Fundação Grupo Boticário, Comunicação do Observatório de Favelas, Comunicação e Marketing do IBEF-Rio, Comunicação da WWF Brasil, Ciça Guirado, Cláudia Siebert (Blumenau), Dario Menezes, Denise Hills (Itaú-Unibanco), Fabiano Ávila (Carbono Brasil), Fernando Frazão (Agência Brasil), Imazon, Jailson de Souza e Silva (Observatório de Favelas), João Victor Araripe, Lúcia Sevegani e Édson Schroder (Universidade Regional de Blumenau), Luiz Antônio Gaulia (Universidade Estácio), Maria Elena Pereira Johannpeter, Maria Serpa, Mônica Pinho (Blog Mônica em Perth, da Austrália) Navid Rasa e Lilian Ferrari (Let`s Help Afhgan Children to Study), Redação Petro Notícias, Roberto Saturnino Braga, Romildo Guerrante, Yara Aquino (Agência Brasil) e Wilson Dias (Agência Brasil). Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista


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PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2013


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Entrevista

JAILSON DE SOUZA E SILVA, fundador do Observatório de

Favelas do Rio de Janeiro

Foto: Davi Marcos / Obs. de Favelas

“Não precisamos de Unidades de Polícia Pacificadora, mas sim de unidades de políticas públicas”

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

ítulos acadêmicos não faltam para o professor Jailson de Souza e Silva, intelectual de renome do Rio de Janeiro: Graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Doutorado em Sociologia da Educação pela PUC-Rio e Pós-Doutorado pelo John Jay College of Criminal Justice de Nova York. Mas esteja certo que tantos anos de estudo não transformaram o então jovem nascido e criado em co-

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Plurale em revista – Há, nos dias de hoje, muito preconceito em relação ao morador da favela? A imagem da Cidade Partida como o jornalista Zuenir Ventura classificou há anos - ainda existe ou você acredita que está caindo em desuso para ter um cenário de uma sociedade mais integrada, sem tanta discriminação?

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munidade em um intelectual esnobe, distante de suas raízes. Jailson fundou a ONG Observatório das Favelas – que atua em cinco áreas, Políticas Urbanas, Educação, Comunicação, Cultura e Direitos Humanos - e tornou-se especialista que transpira e defende seu objeto de estudo com toda garra. Foi assim, por exemplo, em lamentável episódio recente quando a Polícia Militar do Rio invadiu a Comunidade da Maré, onde está localizada a ONG, e no confronto morreram moradores inocentes. Nesta entrevista para Plurale em revista, Jailson alerta que é um erro tratar ainda hoje a favela “como território de exceção” e defende que estas áreas ainda

são carentes de políticas públicas e não de ações policiais. “Digo sempre que não precisamos de Unidades de Polícia Pacificadora, mas sim Unidades de Políticas Públicas”, frisa. Ele admite que ainda há um longo caminho a ser trilhado. Jailson defende que é preciso defender o “direito pleno dos moradores as favelas” e garante que várias empresas estão empenhadas em apoiar trabalhos sócioeducacionais sérios em comunidades. O ex-Secretário de Educação de Nova Iguaçu e Subsecretário Executivo da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro fala com a experiência de quem tem a favela no DNA.

Jailson de Souza e Silva - Vão se ampliando, de forma progressiva, os espaços de encontro, interlocução e partilha de significados comuns à vida. Temos cada vez mais “novos cariocas”, seres que se sentem pertencentes à cidade como um todo. Mas, evidentemente, as visões hegemônicas ainda são sociocêntricas, estigmatizantes e elitistas. E levaremos ainda um longo tempo para alterar esse quadro, embora os avanços sejam evi-

dentes, em especial por causa das organizações da sociedade civil, das politicas de distribuição de renda e de democratização da educação. Plurale - O Observatório de Favelas protestou, recentemente, pelas recentes mortes de trabalhadores moradores do Complexo da Maré em ação da Polícia do Rio dentro da comunidade. O que houve, na sua avaliação, de errado naquela ação?

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Davi Marcos / Observatório de Favelas

A favela é um espaço constituinte da cidade, que deve ser reconhecido em toda sua plenitude e não apenas em função de seu potencial econômico” Jailson - Houve o de sempre: uma ação desastrada, violenta e autoritária do Estado, que continua agindo na favela como um “território de exceção”. A estratégia bélica nas favelas é um fracasso reconhecido inclusive pelo Governador Sérgio Cabral e pelo Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que tanto se beneficiaram das UPPs - que tem muitos limites, mas parte de outra perspectiva. Todavia, eles são incapazes de construírem uma proposta coerente e que respeite os direitos fundamentais dos moradores em que ainda não foram instaladas essas unidades. Plurale - Qual a sua opinião sobre o projeto das UPPs? Jailson - Como já disse, ele é um avanço em relação à lógica de guerra de extermínio tradicional, mas ainda é insuficiente e com equívocos. A favela não carece de “pacificação”, nem de uma força de ocupação militar, mas de uma política de segurança pública nos mesmos termos do conjunto da cidade. Precisamos, na verdade, de outro tipo de UPP, que chamo de Unidade de Política Pública. Ela tem como referência a entrada, de forma integrada e centrada em um projeto de desenvolvimento, de diferentes setores e instâncias do Estado e não apenas a polícia. Sem isso, o Comandante da unidade militar se sente o novo “dono da favela” e passa a regular, de forma discricionária, o seu espaço público.

Plurale - O Rio vive um momento único, de novos investimentos, obras, reurbanização, eventos esportivos internacionais, etc Que cenário vocês veem pelo Observatório de Favelas? Jailson - Temos tido avanço na oferta de equipamentos e serviços sociais, culturais e esportivos nas periferias, favelas e subúrbios. A orientação geral, todavia, ainda é centrada numa lógica empresarial. Falta ao poder municipal uma preocupação maior com as demandas cotidianas, com as dimensões simbólicas, com a participação popular no uso do dinheiro público e maior sensibilidade em relação ao que se entende como regulação urbana. O Estado brasileiro é historicamente autoritário, cartorial e hierarquizado. E os governos do Rio não avançaram nessa perspectiva. Plurale - Qual é a sua opinião sobre programas oficiais como o Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família e outros? Há quem acredite que há muito assistencialismo e poucas ações para fazer com que esta imensa classe trabalhadora acredite no seu potencial de crescimento, naquela imagem de dar a vara para pescar. Jailson - Discordo disso e acho uma visão elitista. O dinheiro a uma renda mínima é uma conquista já cristalizada em muitos países desenvolvidos e é um direito do cidadão. O imenso número de pes-

soas que deixam o programa mostra que o Bolsa Família não tem sido um elemento assistencialista, mas tem aberto novas possibilidades para a população mais pobre. Sobre o Minha Casa, Minha vida, a intenção era boa, mas seu desenho é péssimo: entregar o dinheiro para os empreiteiros só tem feito a cidade se periferizar, aumentar seus custos e dar lucro a estas empresas. Outras alternativas, tais como cooperativas de construção, o investimento para a melhoria das casas existentes e o crédito para compra de imóveis em áreas centrais seriam mais úteis. Plurale - A economia parecer ter “acordado” para o poder consumidor das classes D e E. Muitos estão em comunidades como a Maré. Há campanhas, ações públicas voltadas para estes. Na sua opinião, ainda há preconceito nesta abordagem da publicidade, mídia e empresas para este público ou está na direção certa? Jailson - O desafio é que o nosso mercado venda para o cidadão e não o veja apenas como “consumidor”. O mercado é muito preconceituoso - até hoje não temos agências bancárias ou de correios na Maré, uma favela que é maior do que 90% das cidades brasileiras, apesar deles estarem na Rocinha desde a década de 80. De qualquer forma, o aumento do poder de compra da classe trabalhadora negra - é disso que estamos falando, em geral, quan-

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Entrevista do falamos em “classes C e D”, foi uma fantástica obra do governo Lula e mudou, de forma profunda, o país. Esta política deve ser preservada e ampliada. Plurale - Ainda há muito preconceito de empresas privadas em contribuir com ONGs como o Observatório de Favelas com foco em comunidades ou isso já não existe mais?

Temos tido avanço na oferta de equipamentos e serviços sociais, culturais e esportivos nas periferias, favelas e subúrbios. A orientação geral, todavia, ainda é centrada numa lógica empresarial. Falta ao poder municipal uma preocupação maior com as demandas cotidianas, com as dimensões simbólicas, com a participação popular no uso do dinheiro público e maior sensibilidade em relação ao que se entende como regulação urbana” Jailson - Não temos esse problema. A questão é que fazemos parceria que contribuam para ampliar os direitos dos moradores das favelas e o direito à cidade para todos. Assim, há várias instituições, inclusive empresas privadas, que estão comprometidas com essa perspectiva, buscando agregar

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valor às suas marcas a partir de ações como essa. Precisamos, acima de tudo, construir um “mercado socialmente responsável”, em que as empresas não naturalizem a ganância, o lucro financeiro acima de tudo; elas devem buscar contribuir para o desenvolvimento do território onde estão instaladas. Esse desafio ainda é imenso. Plurale - O Fórum Nacional, coordenado pelo ex-ministro Reis Velloso, acaba de publicar, em parceria com Marília Pastruk, dois livros sobre “Favelas como oportunidades”. É isso mesmo? Há um leque grande de oportunidades para as favelas ou as oportunidades continuam sendo sempre desiguais para quem é do asfalto/Zona Sul comparado com comunidades periféricas? Jailson - Gosto da Marília e do seu trabalho; acho que sua intenção é positiva e generosa; O cuidado que temos de ter é se o olhar centrado nas “oportunidades” contribui para o reconhecimento dos direitos plenos dos moradores das favelas. A favela é um espaço constituinte da cidade, que deve ser reconhecido em toda sua plenitude e não apenas em função de seu potencial econômico. A ideia de potência, rompendo com o paradigma da “carência” que domina o imaginário urbano, deve ser proclamada em todos os sentidos, de modo a se reconhecer o direito pleno dos moradores. O livro é um avanço nesse reconhecimento, e podemos ir mais longe. Plurale - O Observatório de Favelas tem feito um trabalho consistente com jovens de comunidades. Pelos resultados obtidos, há indicadores positivos ou os números indicam que há uma verdadeira “bomba-relógio” diante das poucas oportunidades de estudo e trabalho para estes jovens? Jailson - Não acho que existam poucas oportunidades nestes campos. Pelo contrário, elas têm crescido. E os jovens têm buscado, cada vez mais, formas inovadores de construir suas caminhadas. Plurale - Fale um pouco mais, por favor, sobre o Programa de Jovens Comunicadores da ONG. Que resultados foram atingidos?

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Jailson - A Escola Popular de Comunicação Crítica busca formar novos quadros no campo da fotografia, vídeo, publicidade afirmativa e jornalismo, tanto das favelas como dos bairros formais. Eles adquirem um novo olhar sobre a cidade, sobre a favela e seus moradores, utilizando essas referências na construção de uma ação urbana. Já formamos centenas de jovens, que têm feito belas coisas, das mais variadas formas, pela cidade. E somos muito orgulhosos da excelência desse trabalho. Pois detestamos os juízos “condescedentes” em relação ao trabalho social nas favelas: temos de ter qualidade, compromisso ético e engajamento político. Não é porque o público é de origem popular que pode receber uma formação de menor qualidade. Plurale - A sua visão do Brasil é otimista, neutra ou pessimista? O que poderá fazer mesmo diferença para jovens de comunidades? Educação? Oportunidade de Emprego? Jailson - Minha visão é sempre otimista: estamos muito melhores, como Nação, do que há vinte anos, as manifestações demonstram o interesse na ação política, os partidos e o Estado terão de se reinventar e construir novas formas de relação com a sociedade. E os jovens estão na frente dessa luta pela democracia. E isso, junto com o crescimento econômico, nos tornará um país melhor para todos nos próximos anos. Saiba mais sobre o Observatório de Favelas no site: http://observatoriodefavelas.org.br/


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Frases

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

O legado de Sergio Vieira de Mello O tempo passa mesmo muito rápido. Já se vão 10 anos desde que realizei, sem saber, a derradeira grande entrevista do brasileiro Sergio Vieira de Mello, Alto-Comissário de Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas (ONU). Na época, trabalhando pela busca da paz em Bagdá, o carioca foi uma das vítimas do atentado ao hotel que servia de representação da ONU na capital iraquiana. Nos falamos por quase uma hora. Uma entrevista para nunca mais esquecer. Sergio Vieira de Mello deixou um legado relevante de trabalho intenso pela paz e respeito aos Direitos Humanos em áreas de conflito como Ruanda, Timor Leste e Bósnia, dentre muitos outros. Confira aqui alguns dos principais trechos desta entrevista. Leia mais sobre Vieira de Mello em Plurale em site: http://www.plurale.com.br.

“Tenho duas garantias, dois coletes à prova de bala, digamos assim. Deus é brasileiro e procuro estabelecer boas relações com todas as partes envolvidas no conflito.”

“Reconstruir o Iraque é um trabalho de andar para frente e para trás, todos os dias. Há sabotagens nas obras que estão sendo feitas na rede elétrica e em todo o país. Bagdá ainda é um lugar muito perigoso. Ninguém passeia aqui. Há assaltos e crimes.”

“Gosto do que faço. Acho que tenho uma missão no mundo.” 14

“O importante em nosso trabalho, o essencial para ser considerado um verdadeiro parceiro, independente e imparcial, é justamente estar aberto ao diálogo com o leque completo da sociedade. Inclusive daquelas forças do mal. É nesse diálogo que vamos nos transformando em uma espécie de ponte, de elo, de laço.”

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“Faço meu trabalho tranquilamente. Não sou um aventureiro, um caubói. Tomo precauções. Tenho cuidado. Apesar das missões que já realizei, cá estou. Passei perto de situações críticas. Devo ter nascido sob uma estrela favorável.”

“Não fiz prova para o Itamaraty por um motivo forte. Cassaram meu pai em 1969. Não faria sentido seguir essa carreira.”


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Artigo Adrielle Saldanha

Verás que um filho teu

não foge a` LUTA! Tenho a certeza de que um dia contarei para meus filhos e netos, de que fui às ruas lutar por um futuro melhor, não só para eles, mas por toda uma geração de jovens que há de vir depois de mim” 16

om a experiência de quem acompanha há mais de uma década os movimentos sociais no Brasil, posso afirmar que venho assistindo ao longo desse tempo, inúmeros movimentos de juventude construindo seu presente, traçando seu futuro. Durante a Ditadura Militar tínhamos a repressão visível aos nossos jovens, em que muitos tinham suas vidas ceifadas e sem o direito sequer, de receber as lágrimas de suas famílias, como o caso do jovem Stuart Angel. Muitas foram às lutas travadas por essa juventude no chamado “Anos Dourados”, tendo como objetivo, o desejo de dias mais democráticos, onde o direito de ir e vir fossem assegurados, onde tivessem a liberdade de lutar por seus direitos sem serem reprimidos ou violentados por um sistema opressor. Uma juventude que foi às ruas pedindo o fim da Ditadura, que pintou a cara

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e lavou a rampa do Congresso Nacional pedindo o Fora Collor. E não mais esses jovens, mas muitos de seus filhos e netos foram às ruas anos depois, colocando no comando do país, um nordestino e operário. Um rompimento com os velhos paradigmas começavam a ser quebrado. Novos jovens começavam a surgir, com novas lutas, brigando por direitos garantidos perante a Constituição Brasileira, alcançada graças à luta de muitos jovens do passado. Centenas de jovens, em diversos cantos do país, saiam de suas casas para lutarem, cada qual de sua maneira, cada qual com sua bandeira, pela aprovação do Estatuto da Juventude. Estatuto esse, que recentemente aprovado no Congresso Nacional, permitirá aos jovens desse país, mais direitos, mais políticas públicas que lhes assegurem condições de melhor qualidade de vida, mobilidade urbana, saúde, educação, trabalho e tantos outros direitos.


Foto: Fernando Frazão - Abr

O que em anos de Ditadura no Brasil, a mobilização da sociedade era feita através de mecanismos ocultos, muita das vezes através da chamada “Rádio Peão”, na qual a informação passava boca a boca dos operários nas fábricas, enquanto a mídia televisiva e jornalística noticiava os “belos exemplos” de um sistema repressor, onde quem se expressava contra o Governo, tinha seu direito cerceado e caçado, podendo ser preso e morto por uma polícia que não tinha dó, quanto mais piedade em acreditar que aquela luta era o melhor que nossa juventude poderia dar ao Brasil. Durante a Ditadura, milhões de jovens se organizaram em estruturas políticas que deram guarida para seus sonhos, para seus ideais. Hoje no Brasil, não os mesmos jovens, não mais com os mesmos sonhos e ideais, se organizam, não só em movimentos sociais, mas também em estruturas partidárias, que embora, muitos, não mais com a mesma ideologia do passado, afinal, o tempo passa e as coisas mudam, mas que o ajudam a se desenvolver como Ser político e cidadão desse país. Muito nos preocupa o despertar de uma parcela da sociedade, muita das vezes, não politizada, sair às ruas para protestarem suas insatisfações e ao mesmo tempo “posar” frente a instrumentos de cunho repressor da população menos abastada. Temos presenciado uma onda de manifestações, sendo reprimida pelo Estado, com violência exacerbada, principalmente contra nossos jovens que estão na linha de frente dessa luta. A onda de manifestações que levantaram o país no mês passado e que fez com que nossos governantes de fato olhassem para a população e suas reivindicações, hoje vem cada vez mais perdendo força e dando lugar novamente ao que há tempos vinha tomando conta do país. A mesma juventude que despertou contra a corrupção, que foi às ruas, que reprimiram os jo-

Uma juventude que luta há anos por direitos que venham a contribuir com seu desenvolvimento social, cultural e transformador de uma sociedade, não pode e não deve ser chamada de uma geração problema e muito menos de que tenha acordado agora. Nas últimas semanas, temos visto acontecer no país, uma onda de protestos que foram de encontro com os anseios de toda uma geração. Uma geração insatisfeita com os mandos e desmandos de uma política desvirtuada dos ideais que levaram milhões de jovens a organizarem suas lutas no passado por meio de bandeiras partidárias. Nunca imaginei presenciar tamanho despertar de uma sociedade como o ocorrido nas últimas semanas, como os acontecimentos que levaram milhões de pessoas às ruas para protestarem. Vimos um Gigante despertar de uma maneira avassaladora como há algumas décadas não víamos acontecer e que nos remeteu as lembranças dos anos de chumbo no país.

vens de movimentos sociais e partidários, que há anos carregam suas bandeiras e reivindicam por todos seus direitos, hoje esvaziam as ruas e permitem que todas as incertezas ocupem novamente seus lugares na sociedade e nos governos. Jovens que tiveram seu despertar recente, clamam por mudanças, mas reprimem, hostilizam quem há anos está na luta. Clamam por um governo sem políticos, mas se esquecem de que já vivemos esse sistema no passado e que não deu muito certo. É preciso clarear para os jovens que saíram as ruas demonstrando suas insatisfações, descrença dos governantes, nos partidos políticos, que esses governantes que estão ai hoje, estão porque representam uma boa parcela da população. Que esses jovens militantes políticos partidários, que saíram as ruas para somar com as manifestações, carregam suas bandeiras hoje e tem todo o direito de fazer isso, pois houve no passado, uma onda de repressão, de sangue para que hoje, todos nós pudéssemos ir às ruas, com toda a democracia que existe no Brasil. Em meus 26 anos de idade, não vivi o período negro da história brasileira, onde os filhos desse país, onde os jovens que me antecederam na luta por um Brasil melhor, morreram tentando deixar para nós, o que hoje temos. Mas tenho a certeza de que um dia contarei para meus filhos e netos, de que fui às ruas lutar por um futuro melhor, não só para eles, mas por toda uma geração de jovens que há de vir depois de mim. A história do Brasil não pode ser resumida à negação do direito de ir e vir dos cidadãos brasileiros. É preciso que estejamos nas ruas, nas escolas, nas universidades, nos bares, em cada esquina pregando a luta por um país melhor. Que nossos jovens possam ter a sabedoria de que o futuro de nossas próximas gerações depende de cada um de nós e que cabe a cada um projetar no presente, aquilo que desejamos de mudança para o mundo, para nosso Brasil. (*) Adrielle Saldanha, estudante de Relações Internacionais, Presidente do Conselho Estadual da Juventude do Rio de Janeiro e especialista em juventude e meio ambiente.

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Colunista

Foto: Marcelo Camargo, ABR

Roberto Saturnino Braga

ENERGIA e CRIATIVIDADE “ A Cabe ao Governo em geral, ao Poder Público dar uma resposta convincente, aceitando criativamente um diálogo democrático instaurado nessa manifestação massiva e surpreendente.

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multidão que encheu as nossas ruas foi uma irrupção de energia política represada há décadas pela cultura individualista do cada um por si na competição do mercado e da política não é coisa séria para ocupar nosso tempo e nosso esforço. A vontade política finalmente irrompeu num grosso caudal desordenado de gente jovem e adulta interessada na coisa pública, querendo manifestar sua vontade de mudança que se expressava basicamente numa exigência de Padrão FIFA não nos estádios mas nos serviços públicos, nos transportes, na saúde, na educação. Cabe ao Governo em geral, ao Poder Público dar uma resposta convincente, aceitando criativamente um diálogo democrático instaurado nessa manifestação massiva e surpreendente. Se o protesto

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não foi muito claro e objetivo na sua reivindicação, a resposta pode assim mesmo intuir a real motivação e marcar um feito histórico no Brasil, aproveitando a força do povo para enfrentar desafios, que estão aí há muito tempo gangrenando nossa sociedade urbanizada. Refiro-me, por exemplo, às absurdas condições de sacrifício e desgaste a que nosso povo é submetido cotidianamente nos deslocamentos de casa ao trabalho. A tal ponto que hoje se deve considerar o nosso transporte urbano um problema de saúde pública. E, é claro, a referência tem de abranger também o calamitoso atendimento público de saúde. Eis o momento mais oportuno para consolidar a confiança na democracia dando uma resposta completa e eficaz a essas duas questões que afligem demasiadamente os brasileiros. Vejo como auspiciosas as primeiras


reações na saúde: os 25% dos royalties já aprovados, o serviço público obrigatório após a graduação e a importação de médicos para as áreas mais carentes. Bem, mas há uma outra dimensão nesse vasto descontentamento popular que saiu às ruas. Vasto e vago, penso que ele gritava também por uma profunda reforma política. É importantíssimo intuir e ressaltar esta vontade popular dentro do caudal que lotou as nossas ruas. E o Governo obviamente intuiu e tomou a iniciativa de proposições sobre questões que têm de ser urgente mas profundamente discutidas. Assim é que está na pauta a Reforma Política; espera-se que, desta vez, em atenção e respeito ao povo na rua, seja para valer. Para o meio político, esta Reforma compreende questões eminentemente eleitorais, como o financiamento das campanhas, o voto em lista partidária, a proibição de coligações, o voto distrital, o voto facultativo entre outras. Considero algumas dessas modificações realmente importantes, para reforçar o significado dos partidos e reduzir a influência do dinheiro nas eleições, como o financiamento público e a proibição de coligações proporcionais, mas não me parece que fossem estas as reivindicações dos manifestantes da rua. No sentimento do povo, me parece, a verdadeira reforma política estaria ligada à redução ou eliminação dos privilégios dos políticos: a contenção dos salários de deputados e senadores, a obrigação de comparecimento todos os dias, as férias de 30 dias, as passagens ao Estado limitadas, a aposentadoria como todos, os assessores de gabinete limitados ao mínimo necessário, enfim uma reforma dos políticos em geral que também é importante em vários aspectos para acabar com abusos revoltantes. Dentro desse conjunto, o Ministro Joaquim Barbosa mencionou um outro ponto, que nunca é discutido mas deveria sê-lo, que é a perda de mandato por decisão popular daqueles representantes que decepcionam profundamente seus eleitores constituintes. Esses dois conjuntos abrangem reformas do sistema político vigente, com o sentido de aperfeiçoá-lo. Sem querer reduzir sua importância, que realmente é grande, quero sugerir que algo mais está

sendo exigido nas ruas, do Brasil e do mundo: uma dimensão mais diretamente participativa da população. O sistema representativo clássico vai perdendo rapidamente sua legitimidade, seu reconhecimento, na medida em que vai sendo crescentemente deturpado, desviado, corrompido pela influência do dinheiro, do capital. O sistema representativo passou a representar, no mundo todo, mais o interesse do capital do que a vontade geral do povo. E os povos todos sentem isso e anseiam por uma mudança que restabeleça o princípio fundamental da democracia, que é o governo do povo para o povo. É muito relevante, é decisivo que isto seja intuído nessas manifestações populares, e seja considerado na Reforma Política que se deve discutir. Esse, que seria um novo modelo, representativo e participativo, não oferece muita dificuldade para ser implantado a nível municipal: as exitosas experiências dos Conselhos Governo-Comunidade no Rio e do Orçamento participativo em Porto Alegre são exemplos bem marcantes. No âmbito federal, sim, é muito mais complicado. O que não quer dizer que seja impossível. Na gestão Lula, o Governo Federal criou um número expressivo de conselhos setoriais que discutiam seus problemas e sugeriam medidas frequentemente acatadas. Realizou também grande número de Conferência Nacionais para discutir questões mais candentes e prioritárias, como Educação, Saúde, Comunicações, entre outras. Por tudo o que sei, o resultado dessa participação organizada na sociedade tem sido altamente positiva; podia ter sido institucionalizada em Lei, ampliada e aperfeiçoada. Não o foi mas ainda é tempo. Acho mesmo que a reedição ampliada e institucionalizada desses conselhos e conferências, com prerrogativas de apresentarem projetos de Lei ao Congresso e participarem da elaboração dos Planos Plurianuais, podia ser um bom começo para a implementação dessa dimensão participativa que a Política brasileira está reclamando. Assim também, a realização de consultas populares procedidas de forma absolutamente transparente por meio de grandes amostras bastante representati-

vas da população eleitoral, usando tecnologia digital, bem podia ser experimentada. E, obviamente, a realização mais frequente de Plebiscitos, uma ou duas vezes a cada ano, com perguntas simples formuladas pelo Congresso, precedidos de amplas campanhas de esclarecimento pela televisão sobre razões de cada lado, seria um instrumento valiosíssimo de mobilização e participação política, de custo relativamente baixo. Bem, nada disso é inviável nem muito complicado. O que é difícil, o que é extremamente difícil, é convencer o Congresso a discutir e votar essas reformas. Daí a ideia da Constituinte específica e exclusiva, como única possibilidade de ver efetivada esta Reforma Política há tanto tempo reclamada e há tanto tempo engavetada. O Congresso atual, deputados e senadores, foram eleitos por um sistema que eles conhecem; qualquer modificação feita nele pode significar um risco para a reeleição. E basta este risco para gerar a paralisia. A energia irrefreável do caudal de povo nas ruas pode bem ser aproveitada e canalizada para sacudir esta inércia paralisante. E a criatividade desse mesmo povo, organizado em conselhos e conferências pelo País a fora pode bem apontar caminhos férteis para a institucionalização de uma dimensão participativa muito importante na nossa Democracia. O Brasil tem criatividade, maturidade e oportunidade para fazer isso agora. E eu penso o que já tenho repetido por aí: que o mundo olha com interesse e expectativa para o Brasil, na esperança de um novo caminho.

Roberto Saturnino Braga é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. Exsenador, com experiência pública de toda a vida, coordenador da ONG Instituto Solidariedade Brasil, autor de vários livros. O último é “Cartas do Rio” (Editora Record).

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Artigo

Denise Hills

30 vida melhor minutos para uma

ocê sabe quanto tempo dedica ao trabalho para, no fim do mês, ganhar o seu dinheiro? E para escolher como vai gastá-lo? Provavelmente, a resposta para a primeira pergunta deve estar na ponta da língua. Mas é possível que a segunda questão faça você pensar mais, ou ainda, traga dúvidas e inquietações.

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Os brasileiros vivenciaram um longo período de inflação alta até meados dos anos 90. Quem viveu essa época deve se lembrar do overnight, dos carrinhos cheios de compras no início do mês, das tentativas de fazer o dinheiro valer cada centavo antes que fosse corroído pela inflação. Esses hábitos geraram no brasileiro uma cultura de curto prazo em relação ao dinheiro. A estabilidade econômica iniciada pelo Plano Real modificou este cenário, com a primeira expansão de crédito e o surgimento de novos produtos bancários. Essa di-

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versificação dos produtos financeiros foi positiva, pois ofereceu diferentes possibilidades às pessoas, além de estimular a economia. No entanto, a utilização dos produtos e serviços ofertados – principalmente o crédito - pode se tornar desfavorável, caso as pessoas não saibam utilizá-lo de acordo com os seus objetivos e momentos de vida. Além de todo esse contexto, o brasileiro não está acostumado a falar de dinheiro e o tema planejamento financeiro raramente está na pauta das famílias por aqui, assim como geralmente não faz parte da formação dos filhos. É como se falar de dinheiro fosse errado ou tivesse algo de negativo. Em média, o trabalhador brasileiro dedica 160 horas mensais p para ganhar o salário no fim do mês. Então, por que Ent não reservar alguns minutos minuto por semana para sentar, escolher e planejar como pl gastar bem o que recebeu? A maioria das pessoas gasta todo o g fruto de seu esforço sem saber ao cers to como. Estatísticas mostram que os most consumidores não sabem para pa onde vão pelo menos 30% da renda. renda Os outros 70%, os trabalhadores “acham” que sa“ach bem qual destino têm. Assim, Assim não é possível ter clareza sobre quanto quan cada um realmente usufruiu e quanto quant “desperdiçou” do salário. É bem provável que, se prov a pessoa não lembra como com empregou aquele dinheiro, é porque porqu não o utilizou da melhor maneira. maneir Isso ocorre, em parte, par por cauim sa do consumo por impulso, com compras que nem sempre são m necessárias ou até mesmo desepopu “se cabe jadas. Impera o popular paga sem conno bolso, posso pagar”, d casos, o siderar, na maioria dos total da dívida que se assume. No fim e ao cabo, temos um consusuperendividad com alta midor superendividado, inad probabilidade de inadimplência e limitação do crédito, o que pode desac contribuir para a desaceleração da economia.


Os dados recentes de endividamento das famílias, divulgados pelo Banco Central no fim de junho, mostram números crescentes. Em abril deste ano, a dívida total das famílias correspondia a 44,46% da renda acumulada nos últimos 12 meses – maior percentual já registrado. Mas além de ser extremamente importante acompanhar o percentual de endividamento, é fundamental também compreender o nível de satisfação das pessoas em relação às dívidas contratadas: a decisão está sendo tomada de forma consciente e de acordo com os objetivos e com o momento de vida? Se cada vez que você for comprar alguma coisa fizer uma rápida conversão para entender quantas horas de trabalho são necessárias para adquirir aquele bem ou serviço, saberá quanto suor foi necessário para fazer aquela aquisição. E poderá avaliar melhor se o gasto realmente faz sentido para você. Fazer escolhas com essa perspectiva pode mudar o hábito de consumo, pois com consciência e com perspectiva de presente e futuro, as decisões ficam mais equilibradas, é possível começar a guardar dinheiro e tornar-se uma pessoa mais satisfeita com as escolhas financeiras. Quem faz um bom uso do seu dinheiro tem menos estresse financeiro, interage melhor com os colegas e é mais produtivo no trabalho. Fica mais próximo de conquistar objetivos, como adquirir a casa própria, viajar, garantir a educação dos filhos, construir uma nova carreira ou se planejar para a aposentadoria. Ou seja, tem mais segurança sobre os rumos da própria vida. Também possui relações mais saudáveis em casa, além de proporcionar um ambiente familiar em que os filhos aprendem a lidar com o dinheiro através do exemplo dos pais. Ou seja, com uma prática simples, é possível se estressar menos, melhorar a saúde, o relacionamento com a família e até mesmo a carreira. Tudo isso por causa do bem-estar financeiro.

Há estudos indicando que a produtividade de um trabalhador estressado chega a ser 25% menor, e o mesmo pode ser dito em relação a um profissional endividado. Um levantamento elaborado pelo Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas mostra que trabalhadores com dificuldades em lidar com as finanças, faltam mais e pedem mais abonos médicos. O nível de estresse financeiro, ainda de

Em média, o trabalhador brasileiro dedica 160 horas mensais para ganhar o salário no fim do mês. Então, por que não reservar alguns minutos por semana para sentar, escolher e planejar como gastar bem o que recebeu? acordo com a pesquisa, não tem relação com a faixa salarial do colaborador, ou seja, afeta igualmente tanto os que recebem mais quanto os que ganham menos. Assim, podemos correlacionar a desinformação financeira com o estresse, que pode acabar gerando mais ansiedade e estimular ainda mais gastos por impulso.

Há, no entanto, uma maneira relativamente simples para reduzir o estresse e usar o dinheiro com o que realmente faz sentido para você e sua família. Dedique alguns minutos de seu tempo para tirar uma fotografia de sua situação financeira: o que tenho, quanto devo, quanto recebo e para onde vai o dinheiro. Pelo menos uma vez por mês faça esta experiência. Identifique o destino do dinheiro, faça uma lista do que realmente gostaria de ter ou fazer e caminhe em direção a essas realizações. Planejar a vida financeira é uma tarefa mais fácil do que muitos imaginam. Basta um pouco de dedicação e reflexão para fazer melhores escolhas. Para ter uma ideia dos resultados práticos de um maior cuidado com as finanças, fizemos uma avaliação com colaboradores do impacto de todo o programa de educação financeira que implantamos ao longo dos últimos anos, que compreende palestras, site, cursos presenciais e a distância, campanha perene de comunicação e programa de voluntariado. A pesquisa feita mostra que houve um aumento de 37% na adesão à previdência, um crescimento de 56% no número de pessoas que têm poupança e a quantidade de colaboradores que tinham algum outro investimento dobrou. Um importante aprendizado deste processo é que, de fato, investir em educação financeira de forma consistente traz resultados positivos. Portanto, dedicar alguns minutos para planejar como usufruir melhor o dinheiro pode ser um excelente remédio para melhorar a qualidade da vida pessoal e profissional, sem falar na financeira. Que tal tentar essa experiência?

(*) Denise Hills é Superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco

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Colunista Maria Elena Pereira Johannpeter

GESTÃO

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a chave para o Terceiro Setor

s recentes manifestações que se espalharam pelo Brasil, evidenciaram a força da mobilização e o poder que ações coletivas podem exercer sobre a sociedade. São atitudes riquíssimas, que estão impulsionando a busca por direitos palpáveis e valores intangíveis e que contribuirão para a resolução de problemas em diferentes âmbitos. O Terceiro Setor é um grande exemplo de que o espírito de coletividade é

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a chave para se atingir o bem comum. E o trabalho da ONG Parceiros Voluntários prova isso a cada novo projeto que desenvolve, ao permear os valores internos, que fazem despertar nas pessoas o seu verdadeiro valor, o que as torna mais ativas e socialmente transformadoras do mundo ao seu redor. Neste sentido, as metodologias e os cursos de capacitação que está realizando com o intuito de transmitir as experiências e os conhecimentos, mostram a importância da fun-

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ção que cada um exerce dentro das organizações, o que gera efeitos positivos sobre o conjunto. Com uma metodologia personalizada, desenvolvida de acordo com as demandas das organizações, o programa tem obtido resultados bastante positivos. Um exemplo aconteceu, recentemente, no Rio de Janeiro, quando levou a experiência em voluntariado e seus cursos a cinco das 32 comunidades pacificadas da cidade. Durante quatro meses, a insti-


tuição formou consultores e treinou 110 lideranças de 55 organizações da sociedade civil das comunidades do Borel, Formiga, Andaraí, Pavão – Pavãozinho e Cantagalo. Trabalho semelhante foi desenvolvido na Bahia, onde 50 representantes de 23 entidades foram capacitadas no curso Educando para a Transparência. Com foco na qualificação da gestão e no crescimento sustentável, o curso possibilitou a reflexão do papel de cada liderança dentro das instituições, além do intercâmbio de informações entre elas. Na etapa presencial, que totalizou 80 horas, foram repassados conceitos sobre o Terceiro Setor, prestação de contas, relacionamento com os diversos segmentos da sociedade, aspectos jurídicos e tributários e práticas contábeis. Na próxima etapa, semi-presencial, os gestores implementarão, em conjunto com a equipe, as ações para a melhoria dos processos internos. Na terceira e última etapa do curso, as instituições receberão visitas técnicas dos consultores que realizam procedimentos de diagnósticos, de planejamento e de acompanhamento. O monitoramento vai permitir a orientação do planejamento, auxílio no desenvolvimento de planos de ações, análise de problemas e tomadas de decisões. O Curso Educando para a Transparência tem um período de abrangência de 11 meses. A não adequação das instituições às metodologias de profissionalização impede o desenvolvimento das suas próprias ações, ao passo que dificulta sua candidatura a novos financiamentos, por exemplo. Por isso, há uma urgência em preencher esta lacuna, o que acaba se tornando um círculo vicioso, pois se para a ONG é um desafio conquistar patrocinadores, logo não irão dispor de recursos para o cumprimento de sua Missão, que é o compromisso com o seu público interno. Daí a importância de se buscar, cada vez mais, o compartilhar de experiências entre elas e do papel da Parceiros Voluntários, se consolidando como uma ONG especializada na assessoria de outras ONGs. Embora a Parceiros Voluntários crie metodologias específicas para as demandas de cada organização, é funda-

mental ressaltar a importância da rede colaborativa formada entre as diferentes entidades. A capacitação administrativa não anda sozinha, ou seja, não é capaz de solucionar todas as necessidades que surgem em uma instituição. É preciso ter conhecimento sobre processos mais adequados a serem aplicados, e isso é possível através do diálogo entre as ONGs. É uma forma de aprender com os acertos e/ou com os erros de outra entidade. Assim, encurta-se caminhos. O consistente trabalho de capacitação da ONG Parceiros Voluntários é, também, uma resposta e um apoio às empresas, fundações e patrocinadores, que precisam saber o destino e o resultado do capital investido nas instituições e o quanto a comunidade beneficiada está evoluindo. É a maneira mais efetiva encontrada para colaborar com o desenvolvimento profissional de outras organizações. Mais do que uma entidade engajada em disseminar a cultura do voluntariado, hoje a Parceiros Voluntários é uma Organização que se dedica à assessoria de outras Organizações. É importante lembrar que estas ações só são possíveis a partir da colaboração de investidores que acreditam que o trabalho colaborativo é a melhor forma para passar adiante conhecimentos preciosos para o desenvolvimento das entidades, multiplicando os resultados e os impactos sociais. O Brasil encontra-se em um contexto de mudanças, é inadmissível que as organizações permaneçam enraizadas em processos amadores, que impeçam a sua evolução. Se não acompanharem o desenvolvimento da sociedade, pecam no cumprimento de seu compromisso de buscar respostas eficientes para as demandas do seu beneficiado, no que diz respeito ao atendimento das políticas públicas e de projetos que contribuam para o desenvolvimento local, o bem-estar coletivo e uma melhor qualidade de vida. É o Terceiro Setor em um novo patamar. Sua profissionalização é indispensável para o país, pois consolida o seu papel de complementariedade às ações governamentais e o seu compromisso e apoio para o atingimento dos Oito Objetivos do Milênio.

O Brasil encontra-se em um contexto de mudanças, é inadmissível que as organizações permaneçam enraizadas em processos amadores, que impeçam a sua evolução.

Maria Elena Pereira Johannpeter é presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários integra Conselhos de entidades empresariais e de Fundações nacionais e internacionais do segmento.

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Fundação Abrinq - Save the Children: pelos direitos da criança e do adolescente Promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania dad de crianças e adolescentes. Esta é a missão da Fundação Fun Abrinq, que há 23 anos luta para transformar a vida de crianças e adolescentes por todo o Brasil. Em uma parceria firmada desde 2010 com a Save ve the Children Internacional, a maior e mais antiga ONG de defesa defe de direitos da criança, a Fundação Abrinq posossui a meta de atender aproximadamente 1 milhão de crianças crian e adolescentes ao ano, atuando nas áreas de educação, educaç saúde, proteção e emergência. Por meio de seus programas e projetos, a instituição age de modo a sensibilizar governos, organizações da sociedade socieda civil e empresas para que priorizem a infância e a ado adolescência no país, trabalha também para proteger as crianças crian e os adolescentes que estão em situação de risco e as que sofrem qualquer tipo de violação de direitos e fa facilita o acesso à educação, saúde, cultura, lazer, esportes, esporte música e formação profissional. Para isso, a Fundação Abrinq - Save the Children trabalha como uma ponte, ligando aqueles que desejam c colaborar colabor com a causa às organizações sociais que se dispõem a atender crianças e adolescentes. Ela também acredita que cada um pode ajudar a construir ainda mais pelo fut futuro das nossas crianças. O ssite da Fundação Abrinq – Save the Children conta com uma um loja virtual e reverte toda a renda arrecadada pela compra dos produtos para manutenção e desenvolcco vimento vimen de seus programas e projetos. AAlém de divulgar a instituição através dos produtos, oferece ofere aos indivíduos mais uma forma de contribuir com a causa. cau A Loja Virtual comercializa atualmente um modelo dde avental e dois tipos de camisetas, nas cores preta e bra branca. As formas de pagamento são cartão de crédito, débito automático e depósito em conta, todos realizados via v PagSeguro. Ao adquirir um produto Fundação Abrinq Abrin – Save the Children, o comprador proporciona mais oportunidades de educação, saúde e proteção para milha de crianças e adolescentes. milhares Contato: www.fundacaoabrinq.org.br Loja virtual: ht http://www.fundabrinq.org.br/loja_virtual.php

Este espaço é destina destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário solidár de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

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P e lo B rasi l IBEF certifica e premia cases em Sustentabilidade Em sua terceira edição, o projeto recebeu o maior número de cases de empresas que adotam práticas sustentáveis. Fotos: Divulgação

Aconteceu no último dia 30 de Julho, em evento no Jockey Club Brasileiro, no Rio, premiação e certificação das empresas na terceira edição do Prêmio IBEF de Sustentabilidade, criado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF), com patrocínio da Petrobras, SEBRAE, Deloitte e Oi. As empresas que receberam o prêmio em cada categoria foram: Petrobras Distribuidora, na categoria Administração de Conflitos; Grupo Segurador Banco do Brasil e MAPFRE em Estrutura da Operação; na categoria Gestão, Sá Cavalcante levou o prêmio; Votorantim Industrial (VID) ganhou na categoria Governança; e em Valorização, Correios levou o prêmio. As vencedoras como micro e pequenas empresas foram: AgroTools (Administração de Conflitos), Saúde Criança (Estrutura da Operação), i9Brasil (Gestão), EAmbiental (Governança), Reserva Real (Valorização). A Banca Examinadora do projeto, formada por executivos e acadêmicos de reconhecida atuação em suas respectivas áreas, analisou os 82 cases recebidos levando em consideração os requisitos da Metodologia do Pentágono em Sustentabilidade, com base no livro “Avaliação de Investimentos Sustentáveis”, de autoria de Marcos Rechtman e Carlos Eduardo Frickmann, Professor da UFRJ. Foram selecionados 25, todos certificados durante o evento. A premiação contou com a participação de cerca de 350 convidados, entre autoridades, empresários, executivos, homens públicos, acadêmicos, profissionais libe-

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rais e jornalistas. Durante a oportunidade, o público conferiu um espetáculo, cujo tema ressaltou a importância da mudança de hábitos para melhorar o planeta. Criado em 2010, o “Prêmio IBEF de Sustentabilidade” foi desenvolvido para orientar a atuação das empresas nos diversos aspectos que envolvem o tema, tais como: a responsabilidade ambiental, justiça social, viabilidade econômica, gestão, administração de conflitos, governança e estrutura da operação. Além disso, oferecer visibilidade das boas práticas exercidas pelas empresas e organizações. O direcionamento estratégico foi baseado no livro “Avaliação de Investimentos Sustentáveis”, de autoria de Marcos Rechtman (Diretor de Sustentabilida-

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de do IBEF) e Carlos Eduardo Frickmann (Professor da UFRJ). Os autores, por meio de pesquisas, estudos e orientações de profissionais da área, estabeleceram conceitos de direção e gestão empresarial, - a Metodologia do Pentágono em Sustentabilidade - caracterizando e disseminando a responsabilidade socioambiental como paradigma complementar a performance econômico-financeira.


Por Yara Aquino, Repórter da Agência Brasil

Brasília – No dia em que a Lei Maria da Penha completa sete anos, 7 de agosto, a ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, destacou a importância da denúncia para a efetividade da lei e a punição aos agressores que cometem violência contra as mulheres. “Se as mulheres não denunciarem, não existe crime. Como podemos acabar com a impunidade sem a denúncia? Quero aqui chamar as mulheres para denunciar a violência contra qualquer mulher, criança ou adolescente”, disse a ministra que participou da 7° Jornada Lei Maria da Penha, organizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Dados divulgados pelo Instituto Patrícia Galvão e Data Popular mostram que, após sete anos de vigência, 98% da população dizem conhecer a lei. Ao fazer um balanço do período, a ministra Eleonora Menicucci apontou a demora do Judiciário em expedir medidas protetivas em favor das mulheres como um dos gargalos a ser resolvido. Ela lembrou que, em alguns casos, a medida para determinar que o agressor se mantenha à distância da vítima é expedida quando a mulher já foi agredida ou até morta. “A medida protetiva salva mulheres. E eu conclamo todos os juízes a olhar com cuidado e severidade, mas com determinação para a violência contra as mulheres expedindo, o mais rápido possível, as medidas protetivas”.

Foto: Agência Brasil

Lei Maria da Penha completa sete anos

Greenpeace Brasil sob nova direção Do Greenpeace Brasil O antropólogo e jornalista Fernando Rossetti, 51, é o novo diretor-executivo do Greenpeace Brasil. Fernando assumiu o escritório brasileiro em julho, em um momento de maturidade e de expansão da organização no país. E enfrenta o desafio de mostrar que o Brasil pode continuar crescendo com respeito a seu patrimônio ambiental. Com graduação em Ciências Sociais pela Unicamp e especialização em Direitos Humanos pela Universidade Columbia, dos Estados Unidos, Fernando é especiaFernando Rossetti lista na área de educação. Por quase dez anos (19901999), cobriu esse tema pelo jornal Folha de S.Paulo. Foi também co-fundador do Aprendiz, organização focada nos jovens da cidade de São Paulo e que desenvolveu o conceito de “bairro-escola”. Desde 2004, Fernando estava a frente do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), uma rede sem fins lucrativos que reúne organizações de origem empresarial, familiar, independente e comunitária, que investe em projetos de finalidade pública. Fernando recebe a organização das mãos de Marcelo Furtado, que após 23 anos trabalhando no Greenpeace, cinco deles como diretor-executivo do escritório brasileiro, decidiu trilhar novos desafios profissionais.

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P e lo B rasi l Sebrae/RJ realizou a 2ª Semana Porto Empreendedor de negócios dimensionados para as necessidades locais. Uma atenção especial do evento 2ª Semana Porto Empreendedor foi dedicada aos microempreendedores da região em torno do Porto do Rio. Rodada de palestras com depoimentos de quem já está atuando há alguns anos como microempreendedor nesta região e também em Nova Iguaçu, Sônia Araripe, Editora de Plurale (direita), moderou o com apoio da Incubadoevento no qual empreendedores como Marisa (esq), da ra de EmpreendimenArte Carinho, contaram suas experiências tos Populares. Como a simpática Sonia, que vende comida baiana na Ladeira do Sal e artesanato a partir da reciclagem de PET também o artesão Henrique Martuscello, e Marisa, da Arte Carinho, contou sobre a autor de belas esculturas de mulheres experiência bem sucedida com bonecas de negras. Outros empreendedores mais pano. A jornalista Sônia Araripe, Editora de experientes no processo de incubação de Plurale em revista, foi a moderadora destas seus negócios também trouxeram depoirodas de diálogo. “Foi emocionante ver os mentos relevantes para que os mais jodepoimentos de quem empreendeu a parvens não desistam. De Nova Iguaçu, Mary tir de uma boa ideia e venceu com o apoio Farias, mais conhecida como a Z-Mary, da incubadora. O Brasil é feito de gente balembrou como passou a produzir belo talhadora e empreendedora”, disse Sônia. Foto: Divulgação –SEBRAE/ RJ

O Sebrae/RJ, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), realizou a 2ª Semana Porto Empreendedor entre os dias 09 e14 de julho. Foram oito pontos de atendimento que formam um circuito dedicado a bons negócios na região. Atendimento sob medida, palestras, rodadas de negócio, crédito e consultorias fazem parte da programação gratuita. Um dos principais símbolos do cenário de transformações do “renascimento” do Rio de janeiro é a Operação Urbana Porto Maravilha. Aliados à transformação da infraestrutura, estão em curso esforços para a preservação do patrimônio e da cultura. A requalificação urbana da Região Portuária estabelece uma nova dinâmica econômica para o território. O foco estratégico é contribuir para a sobrevivência e o fortalecimento das atividades empreendedoras existentes, além de estimular novos negócios oportunizados pelas obras na região. Hoje são aproximadamente 30 mil pequenos negócios (estimativa de 10 mil formais e 20 mil informais). Os empreendedores do Porto contam com soluções de capacitação, orientação empresarial, crédito e eventos

Goiás poderá ter coalizão contra o fogo Da Fundação Grupo Boticário De Cavalcante (GO) Um dos principais impactos negativos à biodiversidade do Cerrado, segundo bioma mais ameaçado do país, são as queimadas que atingem esse bioma, principalmente nos meses de seca, entre junho e outubro. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que 47,8% dos cerca de 20 mil focos de queimadas registrados neste ano no Brasil ocorreram em áreas de Cerrado. Diante desse cenário, nos dias 7 e 8 de agosto, foi realizado o II Encontro de Prevenção a Queimadas, evento que definiu uma série de direcionamen-

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tos para o correto tratamento da questão do fogo na região. Realizado em Cavalcante, cidade do nordeste de Goiás que abriga 60% do território do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o Encontro contou com a participação de representantes de entidades com atuação local. No primeiro dia, eles palestraram para uma plateia de mais de 300 pessoas, formada por estudantes de uma escola da região, vereadores, profissionais que trabalham no combate ao fogo e sociedade civil. A professora Marildete da Silva, que acompanhou uma das turmas de alunos no Encontro, considerou a abordagem do tema estratégica.

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Foto: Divulgação / Fundação Grupo Boticário

“Vivemos em um ambiente de Cerrado e as pessoas culturalmente se utilizam muito do fogo para suas atividades agrícolas. Por isso, foi de grande relevância tratar dos diversos problemas que envolvem as queimadas tão praticadas por aqui. Estou certa de que os alunos compartilharão esses ensinamentos em seus meios de convívio, contribuindo para uma mudança de conduta”, analisou.


Foto: Isabella Araripe

Curitiba recebe o 2º Fórum de Sustentabilidade & Governança P Isabella Araripe, de Plurale em revista Por D De Curitiba

O Fórum de Sustentabilidade & Governança, realizaddo nos dias 20 e 21 de agosto em Curitiba, teve como objetivo j contribuir para o desenvolvimento de novas práticas t em instituições privadas e governamentais através de d palestras, painéis e debates com grandes nomes do setor. s Esta foi a segunda edição do evento realizado pela STCP S e Milano, que reuniu executivos e empresários de segmentos s diversos. Durante o fórum foi apresentada pesquisa sobre sustentabilidade t e governança feita na edição anterior. Mais da d metade dos entrevistados informaram que a empresa o organização na qual trabalham ainda não reconhece ou Sérgio Abranches a existência, não identifica e não mensura (financeiramente) suas externalidades externalidades, mesmo qque tenham conhecimento sobre a importância de planejar as ações da empresa seguindo os preceitos da sustentabilidade. O motivo disso, segundo eles, é a falta de conhecimento e cultura no assunto. O cientista político Sérgio Abranches falou sobre a “Sustentabilidade e Governança: Ontem, Hoje e Amanhã. “As sociedades estão se transformando muito rápido e isso assusta os conservadores, pois elas não dão sinais para onde vão”, afirmou Abranches. Já Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, que participou do

painel Sustentabilidade e Governança como Critério de Investimento falou sobre o ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial e de sua importância para as empresas. “Fazemos nosso mercado de emissões, ele é verificado e a partir desse ano estamos compensando as emissões que não se consegue reduzir”, disse Favaretto. O evento também contou com a participação de Joésio Siqueira, vice-presidente da STCP, Miguel Milano, da Milano Planejamento e Consultoria, Fábio Abdala, gerente de Sustentabilidade da Alcoa para América Latina e o Caribe, Lindolfo Zimmer, presidente da Copel, Matthew Arnold, diretor chefe da Área de Meio Ambiente / JP Morgan Chase & Co. e Ian Thomson, sócio-diretor / On Common Ground Consultants Inc, entre outros. A terceira edição do Fórum de Sustentabilidade & Governança já tem data marcada: 19 e 20 de agosto de 2014. (*) A repórter viajou a convite do Grupo Boticário, um dos patrocinadores do evento.

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Bem-estar

! e u q r a p e d a i c í l e d e ! s u o d o Ai q t e d r o h l e m O : a Ibirapuer Texto e Fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista De São Paulo

ocê sabia que o Parque do Ibirapuera foi eleito o melhor da América do Sul numa pesquisa sobre as principais atrações de destinos turísticos ao redor do mundo? “Não sabia, mas acho merecidíssimo!”, disse a paulistana Marli Pacheco Seccato, 62, que costuma frequentar o Parque com sua família, nos fins de semana. A premiação considerou milhões de avaliações e opiniões de viajantes que são usuários do site TripAdvisor. Foram feitos rankings mundiais, por região e por país, que incluíram 1.263 parques, museus, parques de diversões e parques aquáticos vencedores. Entre os sulamericanos, venceu o Ibirapuera, que fica na zona sul de São Paulo, em pleno burburinho da grande metrópole. Marli mora na Vila Romana, longe do Parque, mas seu lazer é lá. Recentemente

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Renata e Mário treinam kickbox.

ganhou uma bicicleta de presente do filho e adora pedalar com ele, a nora e a netinha Gisele, seis anos. A menina tem aulas com a professora de ciclismo Claudia Franco ali mesmo no Parque. “Algumas das vantagens deste Parque é que fica numa área central, fácil de chegar; oferece boa infraestrutura; e permite que profissionais como nós possam

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exercer aqui suas atividades, sem custo”, diz Claudia, enquanto orienta as manobras da pequena Gisele. Já o ciclista Ronaldo Luiz Chiri, 40, que dá duro numa oficina mecânica a semana toda, sai de casa, na Vila Madalena, pedalando pela cidade aos sábados e domingos, com “pit stops” nos parques. “O Ibirapuera é um


lugar de interação, ar puro, relaxamento”,diz ele num intervalo do bate-papo com outros ciclistas na Praça Burle Marx, uma das mais movimentadas do Parque. Ana Lúcia Moraes, de cima de sua bike, toda to equipada para o ciclismo, aproveita a boa b notícia para fazer algumas reivindicações: çõ “Em alguns pontos, o piso de cimento está e em péssimo estado; outro dia vi um ciclista cl derrapar e cair”. Ela ainda sugere que o Parque tenha um grupo de funcionários para p educar os frequentadores, orientando os o praticantes de ciclismo, skate, jogging para p utilizarem os locais próprios para sua atividade, sem invadir as demais áreas. at “Gosto muito deste parque, costumo vir “G sempre aqui, também durante a semana”, se diz d ela, que além de pedalar na ciclovia de 3 km, corre nas trilhas dentro da mata. Duplas de treinandos e treinadores praticam kickbox sob a marquise do local chamado Antiga Serraria. Renata Campos soca e chuta os braços devidamente protegidos do seu treinador, Mário Machado. Eles fazem um rápido intervalo para falar com a Plurale. Renata trabalha na área comercial de uma empresa francesa de alimentação e vai lá para se reenergizar:” Aqui é meu lugar de inspiração, aqui corro, penso, vejo gente e pratico o kickbox toda quarta-feira, às 6h da manhã, antes de ir para o trabalho”. Mário valoriza a oxigenação que o Parque oferece no meio do trânsito caótico da cidade. No centro de uma extensa área gramada, na manhã de sábado, mamãe e filhinha tomam sol sobre uma toalha. Luciana Balardine e a pequena Ambar, argentinas, moram em Bariloche e estão em São Paulo por apenas dois meses, enquanto o pai trabalha como técnico de equipamento de acrobacia no Cirque de Soleil, que faz temporada na cidade. “Lá também temos

Foto à esquerda: Ana Lúcia aproveita para pedir melhorias. Acima: Claudia treina a pequena Gisele.

parques lindos, mas este aqui merece o título”, diz Luciana. Ela só está estranhando o barulho da cidade grande. ERA UMA VEZ UM PARQUE Foi a paixão por plantas de um funcionário da Prefeitura que deu origem ao Parque do Ibirapuera em 1927, quando Manequinho Lopes plantou naquela área alagadiça as primeiras mudas de eucaliptos australianos, com o objetivo de drenar o terreno.Mas somente em 1951 foi criada uma comissão para implantação de um parque e o arquiteto Oscar Niemeyer passou a cuidar do projeto arquitetônico do lugar. Roberto Burle Marx se responsabilizou pelo projeto paisagístico. Foi Inaugurado oficialmente em 21 de agosto de 1954 para a comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo.

O Parque oferece pista de Cooper, parque infantil, lanchonetes, áreas de estar, ciclofaixa, bicicletário com aluguel de bicicleta, fonte multimídia, quadras poliesportivas, campos de futebol, aparelhos de ginástica. Funcionam lá dentro Escola de Jardinagem, Viveiro Manequinho Lopes, Planetário e Escola Municipal de Astrofísica, Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz - UMAPAZ, Herbário, Museu Afro-Brasil, Pavilhão das Culturas Brasileiras, OCA, Fundação Bienal, Auditório Ibirapuera, MAC, MAM e Pavilhão Japonês. Ao todo são158 hectares de área para lazer e cultura, no meio do agito paulistano. FAUNA E FLORA RICAS Ibirapuera (ypi-ra-ouêra) quer dizer pau podre ou árvore apodrecida em língua tupi: “ibirá”, árvore, “puera”, o que já foi. Ali restava o que havia sido uma aldeia indígena na época da colonização. Hoje é o mais importante parque urbano da cidade de São Paulo. Habitam o local 218 espécies que dividem

A flora é rica: 494 espécies.

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Bem-estar espaço com milhares de usuários, sendo 35 de borboletas, 10 de peixes, oito de répteis (cágados, tigres-d’água e serpentes), uma de anfíbio, mamíferos incluindo morcegos e gambá-de-orelha-preta e 156 espécies de aves. No lago já foram vistos colhereiro, cabeça-seca e marreca-parda. Nos gramados, joão-de-barro, canário-da-terra e cardeais. Nos bosques, papagaios, maracanãs, periquitos, sabiás. Na primavera chegam várias espécies de beija-flores, pica-paus, pombos silvestres e papa-moscas. A presença de tantas aves atrai predadores como o gavião-de-cauda-curta, gavião-de-cabeça-cinza, gavião-miúdo, quiri-quiri, falcão-de-coleira e peregrino, além de corujas como mocho-diabo. A Divisão de Fauna Silvestre dá assistência aos animais silvestres de vida livre, que são levados pelas pessoas ou apreendidos pela Polícia Florestal, Ibama, Corpo de Bombeiros e Centro de Controle de Zoonoses. Eles fazem atendimento veterinário e reabilitação. A flora do Parque também é rica. Um bosque de eucaliptos, jardins, gramados e alamedas de alecrim-de-campinas, alfeneiro, bambu-chinês, chichá, falsa-figueirabenjamim, guariroba, ipê-roxo, jerivá e seafórtia. Há ainda recantos com carvalhobrasileiro, jaqueira, pinus e sete-capotes e exemplares isolados de espécies como figueira-de-bengala, pau-brasil, pau-ferro e tamareira-das-canárias. No Córrego do Sapateiro há vegetação ribeirinha espontânea protegida por uma cerca. Ao todo são 494 espécies, das quais 16 estão ameaçadas como a cabreúva, o chichá e o pau-marfim. O Viveiro Manequinho Lopes produz mudas de espécies ornamentais herbáceas, arbustivas, trepadeiras, de interior e plantas medicinais para uso no município, além de receber e distribuir mudas de árvores usadas nos programas de arborização urbana. O parque conta ainda com as coleções de plantas ornamentais, hortícolas e medicinais do campo experimental CENTRO CULTURAL Símbolo da moderna arquitetura brasileira, o prédio da Bienal, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, abriga a mais importante mostra de arte do Brasil. Aberta apenas quando há exposições, não tem acervo permanente. Concebido por Oscar Niemeyer no

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projeto original para o Parque Ibirapuera, MAC – USP, criado em 1963, possui cerca o Auditório Ibirapuera, com 800 lugares, de 10 mil obras de artistas como Pablo foi inaugurado em outubro de 2005. Ele Picasso, Matisse, Modigliani, Tarsila do abriga uma escola de música com 120 jo- Amaral, Portinari e Di Cavalcanti. Além do vens e crianças que formam a Orquestra Brasileira de Escola do Auditório. A Escola Municipal de Astrofísica Professor Aristóteles Orsini – EMA – oferece cursos à população, cumprindo importante papel no cenário da divulgação científica. No Quarto Centenário da Cidade de São Paulo, em 1954, foi construído o Pavilhão Japonês no Parque Ibirapuera. O edifício da Oca é um pavilhão utilizado para receber grandes exposições e eventos. O prédio, projetado por Oscar Niemeyer em 1954, já abrigou o Museu da Aeronautica e o Museu do Folclore. Inaugurado em 1957, o Planetário Professor Aristóteles Orsini foi o primeiro do Brasil. Dispõe de um projetor Zeiss StarMaster e uma Thayná no Parque: Extenso e diversificado, o parque infantil é uma cúpula de 18 metros festa para os pequenos. de diâmetro. A Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz é uma instituição pública e em rede que oferece cursos para formação de pessoas para a convivência socioambiental, sustentável e pacífica. É um ponto de disseminação de informações, conhecimentos e experiências sobre a educação ambiental e para a paz na cidade de São Paulo. Foi concebida em 2005 e acervo, realiza diversas exposições temporárias de arte moderna e contemporâiniciou suas atividades em janeiro de 2006. O MAM –primeiro museu de arte mo- nea, de artistas brasileiros e estrangeiros. derna da América Latina, inaugurado em Oferece atividades e serviços como cur1948, foi projetado por Lina Bo Bardi. Abri- sos, visitas orientadas, biblioteca e loja. Com tantas instituições culturais e ga mostras de arte brasileiras e internacional, possui acervo de 5 mil obras e oferece tamanha área verde, o Parque do Ibirapuera tinha mesmo que se destacar no cursos e visitas monitoradas pera escolas. O Museu de Arte Contemporânea – cenário mundial.

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Educação

Escol as praticam

Texto: Maria Serpa, do Rio de Janeiro (RJ) Especial de Plurale em revista - Fotos: Divulgação

“Queremos uma justiça social que combine com a justiça ecológica. Uma não existe sem a outra” - Leonardo Boff.

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m seu artigo “Pedagogia da Terra – Ideias Centrais” o professor Moacir Gadotti afirma que a ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas para intervir no mundo revertendo a cultura do descartável. Uma educação para a cidadania planetária visa à construção de uma cultura da sustentabilidade que vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Esta implica em um equilíbrio do ser humano consigo mesmo, com o planeta e, ainda mais, com o universo. Refere-se ao próprio sentido do que somos, de onde viemos e para onde vamos. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada na Suécia, em 1972, a sociedade conscientizou-se dos problemas ambientais e os governos definiram que a saída para mudar o mundo seria a educação. O tão discutido desenvolvimento econômico aliado à preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e, nesse ponto, o papel das instituições de ensino faz-se fundamental. A sustentabilidade deve ser um princípio interdisciplinar, que proporcione um novo norte à educação, ao planejamento escolar, aos sistemas de ensino e aos projetos politicospedagógicos das escolas. Já é possível se vislumbrar essa realidade. Pouco mais de um ano após a realização da Rio+20, algumas instituições de ensino cariocas, das redes pública a particular, se mantém firmes no propósito de formar novas gerações cuja consciência ambiental e social é trabalhada desde os primeiros anos de vida. Esse trabalho é parte imprescindível na formação de um cidadão integral, preparado não só para os desafios escolares e, posteriormente, profissionais, mas também para aturarem de maneira consistente na luta pela preservação do planeta e pela igualdade social. Cenoura para os porquinhos da índia, folhas para as tartarugas e patos. É preciso alimentar todos os bichos antes de começar a aula de yoga que ajudará a dar energia para a próxima atividade, o trabalho com sucatas. Estas atividades fazem parte da rotina dos alunos da Escola Pedra da Gávea, na Barra da Tijuca. A instituição de ensino, que comemora 10 anos de atividade, tem a ecologia como um dos pilares de sua filosofia educacional desde que foi inaugurada. Para a escola, trabalhar as questões ambientais vai muito além dos aspectos

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naturais e preservacionistas. Estende-se às relações sociais e culturais. O tema é tratado sob três aspectos: ecologia ambiental, pessoal e social. Na primeira, além dos cuidados com os animais e o trabalho com sucatas, tem-se o dia-a-dia na horta e as brincadeiras no chão de terra. As ervas cultivadas pelos pequenos tornam-se deliciosos temperos utilizados no preparo da merenda. A “hora do quintal” resgata ainda brincadeiras da época da vovó como o corre-cotia, amarelinha, elástico, pneu e bolinhas de gude. No âmbito pessoal, desde os primeiros anos de vida os alunos, que têm entre 0 e 6

anos, aprendem na prática a importância de cuidar da mente e do corpo com atividades que desenvolvem habilidades de concentração, auto-confiança e disciplina. A ecologia social envolve apoio a instituições e ONGs como o Papel Pinel, fábrica terapêutica do ambulatório do Instituto Municipal Philippe Pinel onde os pacientes produzem cadernos, blocos, agendas, cartões, camisetas, mochilas e bolsas. Em 2003, a escola adotou ainda a Praça Raoul Wallenberg, que fica a poucos metros de sua sede e faz regularmente campanhas na comunidade para a sua restauração e preservação. DE MÃOS DADAS COM A COMUNIDADE, UMA VISÃO HUMANISTA. Em que mundo vivemos? Qual o mundo que queremos? São perguntas que permitem diversos olhares e múltiplas respostas. Entretanto, não se pode deixar de pensar a educação como uma prática de humanização e de luta contra a barbárie. As desigualdades sociais, a violência, a intolerância, o individualismo, o empobrecimento das relações e o consumo exacerbado são questões que têm comprometido a qualidade de vida das pessoas. Por isso, o trabalho deve ser desenvolvido em parceria com a comunidade e em direção à qualidade das relações, à cooperação, à valorização da vida e à diversidade cultural e à solidariedade.

Patos, porquinhos da índia, entre outros, são alimentados pelos pequeninos que estudam na Escola Pedra da Gávea.

A parceria entre escola, família e comunidade proporcionou a inauguração de um novo departamento na Pedra da Gávea: a Sucatoteca, que recebe lixo reciclável dos alunos e de moradores do entorno. Parte do

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material recebido é reaproveitado na própria escola para a confecção de trabalhos escolares. O restante tem destino certo. A escola encaminha à Comlurb que faz uma coleta especial, uma vez por semana. As sucatas já são entregues devidamente limpas e prontas para a reciclagem. Já nos primeiros seis meses de funcionamento, a Sucatoteca proporcionou uma redução de 50% no consumo de papel da instituição. Foi desse departamento que saíram ainda as 500 peças artesanais distribuídas como brindes na festa junina da escola. “Procuramos repensar o papel da escola na formação dos adultos do novo milênio. Através desses 10 anos de atividade, percebemos que o trabalho de consciência ambiental, pessoal e social desenvolvido com as crianças torna-as agentes multiplicadoras dessa nova ideologia e reflete-se, inclusive, numa mudança comportamental dos familiares e pessoas próximas”, explica Cristiane Edelman, diretora da escola. “Ao longo desses anos trabalhamos diariamente para que nosso espaço esteja em total harmonia com aquilo que acreditamos e ensinamos. Nesse contexto mudamos algumas práticas. Por exemplo, adotamos o açúcar orgânico na merenda das crianças e substituímos os copos descartáveis utilizados pelos visitantes por “ecopos”, que são feitos a partir de madeira de reflorestamento e 100% recicláveis”, completa. No Colégio Teresiano, na Gávea, desde o ano passado os alunos recolhem diariamente papel, componentes eletrônicos, óleo de cozinha usado e garrafas PETs para reciclagem. O resultado da coleta é redistribuído para instituições assistenciais do Rio e para a Fábrica Verde, projeto da secretaria estadual do Ambiente que recicla computadores. Os materiais são levados ao colégio por alunos e familiares, sendo depois recolhidos pelas parceiras ou levadas até elas. O sucesso do projeto é motivo de festa para os alunos, que dedicaram um dia de comemoração para festejar a transformação daquilo que iria para o lixo. “A comemoração é uma forma de reafirmamos nosso compromisso com o cuidado com o meio ambiente. O próximo passo é apresentaremos novas metas para a coleta do material que estamos recolhendo em favor das instituições que os reutilizam”, diz a professora Marília Dias.

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Foto: Divulgação

Educação

“Nosso objetivo é levar os alunos a alcançar o equilíbrio entre a aquisição de conteúdos já elaborados e a produção de novos entendimentos sobre o mundo, desenvolvendo suas dimensões cognitiva, afetiva, transcendente e social”, conclui.

Alunos do Colégio Teresiano também têm aulas sobre Educação ambiental

NOSSO PLANETA, NOSSA CASA Fundada em 1952, a Escola Municipal Edmundo Bittencourt pode ser considerada uma obra de arte pública em pleno bairro de Benfica, Zona Norte da cidade. Projetada pelo arquiteto Eduardo Reidy, o mesmo responsável pelo Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, sua fachada principal é composta por um belíssimo painel de azulejos de autoria de Cândido Portinari e seu projeto paisagístico leva a assinatura do mestre Burle Marx. Toda essa beleza é ainda mais valorizada por um projeto pedagógico que visa à valorização das práticas sustentáveis. Nele está incluído o reaproveitamento da água utilizada no preparo da merenda para regar a horta plantada e cuidada por pais e alunos, além da revitalização das jardineiras das salas de aula. Através de uma parceria com a ONG Junior Achievement, cerca de 400 alunos, do quarto ao nono anos, participarão, no segundo semestre, do programa “Nosso Planeta, Nossa Casa” que apresenta e desenvolve concepções de crescimento sustentável. O projeto oferece condições para que os estudantes reflitam criticamente sobre os problemas contemporâneos e compreendam sua dependência dos recursos naturais, incentivando a valorização da vida humana e

da biodiversidade. Para tanto, utiliza uma metodologia lúdica, que integra conceitos de preservação, consumo consciente, reutilização, reciclagem e redução através de cinco momentos que incluem um jogo de tabuleiro, exercícios, debates trabalhos em grupo e dinâmicas, num ambiente agradável de aprendizagem. As Nações Unidas passaram a usar a expressão “desenvolvimento humano” como indicador de qualidade de vida. Entre os fatores levados em conta estão os índices de saúde, longevidade, maturidade psicológica, educação, ambiente limpo, espírito comunitário e lazer criativo. Estes são também os indicadores de uma “sociedade sustentável”, ou seja, uma sociedade capaz de satisfazer as necessidades das gerações de hoje sem comprometer a capacidade e as oportunidades das gerações futuras. Para resolver os problemas ambientais é necessário mais do que separar o lixo para reciclagem ou fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Refletir sobre o próprio comportamento e sobre as relações com a natureza e as pessoas também é parte fundamental desse processo. Sem dúvida, isso se torna muito mais fácil quando é um hábito desenvolvido e estimulado desde a mais tenra idade.

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Estão abertas as inscrições para o 3º Encontro de Contabilidade e Auditoria para Companhias Abertas e Sociedades de Grande Porte, promovido pela ABRASCA e pelo IBRACON. O evento, cujas edições anteriores obtiveram grande sucesso em termos de público e de avaliação, contará com renomados palestrantes do Brasil e do exterior e é dirigido a auditores, contabilistas, diretores e Gerentes <hgm§[^bl ]^ \hfiZgabZl Z[^kmZl% Ze®f ]^ Znmhkb]Z]^l% ]bkb`^gm^l ]^ ^gmb]Z]^l ^ ]^fZbl ikhÛ llbhgZbl eb`Z]hl Zh f^k\Z]h Û gZg\^bkh ^ ]^ \ZibmZbl' Informações e inscrições: 11 3107.5557 nilsonjunior@abrasca.org.br Patrocinadores Ouro

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Apoio Promocional

Apoio Institucional: ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANCORD, ANEFAC, APIMEC, BRAIN, CODIM, FIPECAFI, IBEF, IBGC, IBRADEMP E IBRI

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Ecoturismo

Serra do Ibitipoca Um paraíso natural muito bem cuidado no Alto da Mantiqueira

Texto e Fotos de Romildo Guerrante Especial para Plurale em revista De Ibitipoca (MG)

cantora Adriana Calcanhoto canta o inverno do Leblon como quase glacial. Logo ela, gaúcha, que conhece o inverno rigoroso das serras. Mas Adriana não tem ideia do que é um inverno glacial. Glacial no duro é o inverno na Serra do Ibitipoca, onde a cumeeira chega a 1.800m. Ali se criou, há 40 anos, um parque estadual para preservar um dos mais lindos cenários da Mantiqueira. Ali as temperaturas caem a menos de 4 graus no auge do inverno, a relva perde a cor sob a pálida neblina, os campos rupestres de rara beleza – um misto de Caatinga com Cerrado – somem a poucos metros dos olhos da gente. Ibitipoca, no município mineiro de Lima Duarte, é um lugar mágico, onde os rios ácidos e sem peixes que servem a duas bacias são cor de caramelo, onde as rochas de quartzito se amontoam em placas, onde as

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cavernas encantam de tempos em tempos os passantes no roteiro das trilhas. Ibitipoca, em tupi guarani, significa alguma coisa como montanha rachada, rocha fragmentada, estilhaçada. Um cenário encantador, um parque que seguramente é dos mais bem cuidados do Brasil. Ninguém leva lixo lá pra dentro, ninguém deixa lixo lá na natureza pura que se está conseguindo, a duras penas, preservar. Entram 300 de cada vez, como em Noronha. E não adianta implorar. A guarda da PM mineira é implacável. Educadíssima e firme. Vai pra lá quem respeita a natureza e sabe com ela conviver. E eles não param de chegar, jovens em sua maioria, mochileiros e campistas, admirando cada pedaço de chão que se pisa, cada metro de cenário que se avista. Chamam a atenção as araucárias, presentes em toda a região. Araucárias que, constatou o botânico francês Saint Hilaire, em 1822, são constantes nas serras do Mar e da Mantiqueira, sempre que a altitude ultrapassa mil metros. Fazem, essas árvores esguias, um contraponto interessante com a vegetação baixa, coroada de líquens, candeias, cactos, orquídeas e bromélias. Não se sabe se, na caminhada, se deva olhar pra cima e contemplar o topo das altas araucárias, ou se olhar o chão em seu desfile incansável de incríveis variedades de pequenos adornos florais de tudo quanto é cor. A 70 km de Juiz de Fora, o Parque Estadual do Ibitipoca, com pouco menos de 1.500 hectares, não é dos maiores parques brasileiros, mas o que tem de mirantes, grutas, praias de água doce e areia fina, picos, cachoeiras e piscinas não tá no gibi. Dos muitos rios que nascem ali dentro, o mais interessante é o Rio do Salto, em cujas margens se sentam pra descansar os milhares de turistas que acorrem diariamente em busca da contemplação de uma natureza ainda não mexida. Chega-se ao Parque através da vila de Conceição do Ibitipoca, por uma estradinha de 27km. Da portaria à cantina, de onde se desfruta da grande vista do paredão de pedra em volta do Rio do Salto, caminha-se mais 3km. Morro acima. Mas vale a pena. Chega-se sem fôlego, perde-se ainda mais fôlego com o cenário que se abre à chegada na cantina. O Parque é um dos mais ricos campos de estudo de vegetação do país, objeto de atenção das universidades devido à riqueza de sua biodiversidade. Felizmente preservada. Chova ou faça sol. No calor ou no inverno glacial.

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VIDA Saud á vel Frutas Vermelhas Poderosas

Duas frutinhas vermelhas “estrangeiras” estão conquistando os brasileiros. Uma é a cranberry, muito consumida nos Estados Unidos e Canadá. Pesquisas mostram que a cranberry pode ter efeitos positivos no sistema cardiovascular, gastrintestinal e do trato urinário, pois contém proantocianidinas de tipo A (PACs) que possuem um mecanismo de antiaderência, ajudando a prevenir que determinadas bactérias venham a aderir a células em todo o corpo e reduzindo sua capacidade de infecção. É muito rica em fibras, vitamina C e quercetina. Já a goji berry é originária da China e do Tibete. As bagas de goji berry são ricas em carotenóides: betacaroteno e zeaxantina, que desempenham papel fundamental em manter a retina saudável. Também têm efeito protetor contra doenças cardiovasculares e inflamatórias.

Os perigos da automedicação Uma pesquisa do Sistema Nacional de Informações TóxiN cco-Farmacológicas (Sinitox), liggado à Fundação Oswaldo Cruz, m mostrou que dos quase 108 mil ccasos de intoxicação humana rregistrados no país, os mediccamentos lideram a lista dos pprincipais agentes tóxicos, com 330,5% das ocorrências. O uso irracional, além de ggerar custos ao paciente, que ppode não estar sendo tratado da maneira mais adequada, também onera o Sistema de Saúde. Saúde É importante que as pessoas entendam que o medicamento também é uma droga, e que o seu excesso pode trazer malefícios. O médico que prescreve também precisa estar atualizado com informações isentas de interesses da indústria farmacêutica, e a prescrição deve sempre vir acompanhada de uma orientação adequada. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso racional acontece quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade.

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Apoio:

Inscrições abertas para o Vegfest 4º Congresso Vegetariano Brasileiro

Estão abertas as inscrições para o Vegfest - 4º Congresso Vegetariano Brasileiro, a ocorrer em Curitiba entre os dias 25 e 29 de setembro de 2013. No ano em que completa 10 anos de vida e após três anos sem uma edição do Congresso, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) anuncia com muita alegria que as informações e inscrições para o maior evento vegetariano do Brasil já estão disponíveis no endereço: www.vegfest.com.br. A novidade esse ano é que o evento não será apenas um Congresso; em 2013 a SVB prepara um grande festival com atividades multiculturais distribuídas em alguns locais de Curitiba — em especial o Mercado Municipal – Setor de Orgânicos e a Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), fazendo com que tanto a área acadêmica quanto o comércio local tenham a oportunidade de receber mais de 70 palestrantes e uma série de atividades culturais e artísticas entre os maiores nomes da comunidade vegetariana do país. O evento tem como tema a celebração e o fortalecimento deste momento de formação de massa crítica do movimento, contando com a estimativa de que já existem hoje no Brasil cerca de16 milhões de vegetarianos (IBOPE, 2012).

Óleo de abacate: aliado dos homens As mulheres já conheciam há anos as propriedades para a beleza e para a saúde do abacate e seu óleo. Agora, pesquisas indicam que o óleo de abacate (Persea americana Mill), Mill) extraído da polpa da fruta madura, também pode ser um importante aliado dos homens. Em sua composição há uma substância chamada betasitosterol, que pode auxiliar no tratamento da hipertrofia prostática benigna. Há evidências de que os fitoesteróis presentes no abacate possam reduzir o risco de câncer de próstata.


Ecoturismo

Prefeitura de Corumbá prepara projeto de d revitalização do Parque Marina Gattass Transformar o Parque Marina Gattass, que fica a poucos quilômetros da fronteira entre o Brasil e a Bolívia, em um dos principais destinos da cidade que beneficie não apenas o turista, mas principalmente a população corumbaense. Esse é o objetivo do prefeito Paulo Duarte que ordenou a limpeza completa da área que deve durar quase um mês. “Essa ação de limpeza será feita de forma responsável, onde apenas o mato e o lixo serão retirados. As plantas características de região e outras ornamentais que já localizamos aqui serão mantidas”, explicou a diretora-presidente da Fundação de Desenvolvimento Urbano e do Patrimônio Histórico de Corumbá, Maria Clara Scardini. O projeto do engenheiro Wilson Cavalcanti tem a intenção de interligar toda a orla uma área de quase 6,5 hectares, com muito verde e uma vista privilegiada do Pantanal. O local deve ser um dos princidos Jogos ppais pontos p J g de Aventura do Pantanal.

ISABELLA ARARIPE

Praias e marinas brasileiras são candidatas a certificação Bandeira Azul para a temporada 2013/2014 Em reunião realizada em Brasília, o Júri Nacional do Programa Bandeira Azul decidiu sobre as candidaturas a certificação Bandeira Azul para a temporada 2013/2014. Foram aprovadas as candidaturas da Praia do Tombo (Guarujá, SP), da Prainha (Rio de Janeiro, RJ), da Marina Costabella (Angra dos Reis, RJ) e também a primeira temporada da Marinas Nacionais (Guarujá, SP). As praias e marinas inscritas no programa comprometem-se com o cumprimento de critérios distribuídos em quatro categorias (educação ambiental, segurança e equipamentos, qualidade da água e gestão ambiental). Para ser certificada, a praia ou marina deve passar por três instâncias de avaliação, inicialmente pelo Operador Nacional do Programa, em seguida pelo Júri Nacional e finalmente pelo Júri Internacional. O resultado final para a temporada 2013/2014 será divulgado nos primeiros dias de outubro.

Noronha oferece refil de água a turistas e reduz lixo

Cumuruxatiba e sua beleza exótica

Setenta por cento do lixo descartado no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, no litoral de Pernambuco, é constituído por garrafas PET. Para tentar controlar a “praga”, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gere a unidade, e a concessionária de serviços Econoronha, lançaram uma campanha de incentivo ao uso de squeezes (aquelas garrafinhas d´água reutilizáveis, que costumam ser usadas por ciclistas). Implantada desde abril, a iniciativa oferece abastecimento de água gelada aos turistas. O serviço custa de R$ 2 a R$ 3, de acordo com o tamanho do squeeze. Quem for desprevenido para a praia, também pode aderir: a ação comercializa garrafas reutilizáveis e, de brinde, o comprador ganha o direito de abastecer a água duas vezes de graça. Desde abril, o consumo de garrafas plásticas caiu 40% em Noronha e um em cada 12 turistas passou a comprar um squeeze. Antes da campanha, apenas um em cada 30 optava pela garrafa reutilizável.

Localizada na Costa da Baleia, extremo-sul da Bahia, Cumuruxatiba, mais conhecida como Cumuru, é cercada por quilômetros de praias virgens, desprovidas de poluição visual ou sonora, recortadas por rios de águas límpidas e provenientes de muito sossego. Destaca-se pela sua simplicidade e belíssimas praias rasas, calmas e translúcidas, emolduradas por falésias, coqueirais e uma mata atlântica em abundância, que proporciona grande contraste de cores em seu inesquecível cenário. Cumuruxatiba recebeu esse nome pelos índios da etnia Pataxó, devido ao fenômeno que lá ocorre denominado “maré rasante”, uma diferença entre a maré alta e baixa. Iniciou suas atividades turísticas a cerca de quinze anos quando a comunidade recebeu os primeiros pontos de energia elétrica. Hoje, a vila, a 30 km de Prado, é um dos pontos mais procurados por brasileiros e estrangeiros que buscam tranquilidade em suas deslumbrantes praias de natureza exótica.

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Biodiversidade Catarinense: Características, Potencialidades e Ameaças

Em 2009, uma dissertação da estudante Rosilda Stürmer despertou a atenção da professora do Mestrado em Ensino de Ciências Naturais Universidade Regional de Blumenau (FURB), Lúcia Sevegnani, para um problema que parecia dominar os livros didáticos de todo o país: em suas páginas, a Mata Atlântica aparecia sempre como um bioma devastado, quase extinto. Sobre Santa Catarina, então, as poucas informações se resumiam, muitas vezes, às florestas de araucárias do Planalto Serrano. “Percebemos que faltava uma boa base de informações para os professores ensinarem sobre o tema, para envolverem as crianças neste assunto”, relembra.

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Fotos:

Lúcia Sevegnani

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Em Santa Catarina, falE tava tava. Com o lançamento do livro “Biodiversidade Catarinense: Ca Características, Potencialidades Po e Ameaças”, org organizado por Lúcia Sevegna nani e pelo colega Edson Schroeder, os professores Sc d do Estado ganharam uma fe ferramenta completa e atraeente para aprofundar suas aulas sobre a fauna faun e a flora locais. E com informações recentemente reunidas pelo projeto “Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina”, que também contou com a participação de pesquisadores da FURB, um outro dado derrubou, pelo menos localmente, um mito sobre nossa Mata Atlântica: segundo o estudo, 41% do estado está coberto por florestas nativas, com formações em estágio médio ou avançado de regeneração. Organizado em nove capítulos e 250 páginas, com muitas fotografias e ilustrações, como estas que ilustram este ensaio, o livro conta com a colaboração de diversos especialistas e aponta, além das ameaças aos ecossistemas catarinenses, as suas potencialidades econômicas, sociais e didáticas. O território estadual foi dividido em três grandes vertentes: Atlântica (esta incluindo o Vale do Itajaí), Planalto e Oeste. “Queremos preencher uma lacuna. O material didático sobre a biodiversidade catarinense é, de maneira geral, muito superficial e vago. Com este livro, pretendemos melhorar muito o repertório dos professores sobre essa temática”, argumenta Schroeder.

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P e lo Mundo Eleições na Argentina: relembre leis que marcaram o Congresso nos últimos anos Lei de matrimônio igualitário foi a primeira na América Latina; lei de proteção a glaciares só entrou em plena vigência depois de dois anos de promulgada Por Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina De Buenos Aires

A Argentina está em clima de eleições. Depois das primárias, em 11 de agosto, quando partidos e alianças apresentam, cada um, uma ou mais listas de pré-candidatos – que devem ter ao menos 1,5% dos votos para seguir na briga - no fim de outubro o país renova metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. Até lá, Plurale acompanha o debate eleitoral e lembra as leis que marcaram o parlamento argentino nos últimos anos.

PROTEÇÃO A GLACIARES Em outubro de 2010, alguns meses depois da histórica aprovação do matrimônio igualitário, outra lei marcou o ano legislativo na Argentina. Em um acordo histórico, o senador Daniel Filmus, que busca manter seu cargo nas próximas eleições pelo Frente para la Victoria (FpV), partido da presidenta, e o deputado opositor

Miguel Bonasso apresentaram um projeto conjunto para a proteção do glaciares (geleiras) e ambiente periglaciar (noticiada na edição 20 de Plurale em revista). A lei também foi promulgada rapidamente pela presidente Cristina Kirchner, muito criticada por movimentos sociais que a acusam de ser permissiva com empreendimentos de extração de minério em áreas que deveriam estar protegidas. No entanto, algumas semanas depois da promulgação da lei de Proteção de Glaciares e Ambiente Periglaciar, um juiz de San Juan, apresentou medidas cautelares que impediam a aplicação da lei no estado, onde funciona Veladero, segundo maior empreendimento de extração de minério a céu aberto do país, que pertence à multinacional Barrick Gold. Somente em julho de 2012 as medidas cautelares foram revogadas pela Suprema Corte argentina, o que permitiu que a lei entrasse em plena vigência no país, dois anos depois de promulgada.

Foto: Aline Gatto Boueri

MATRIMÔNIO IGUALITÁRIO A lei que transformou o casamento em um direito de todas as pessoas foi aprovada na Argentina em julho de 2010 (noticiada na Edição 19 de Plurale em revista). Com 33 votos a favor, 27 contra e três abstenções a votação, que entrou madrugada adentro

no Senado, foi acompanhada do lado de fora do Congresso por ativistas, famílias e amigos que festejaram o resultado. A Argentina foi o primeiro país da América Latina em que o casamento entre pessoas do mesmo sexo virou lei, promulgada pela presidente Cristina Kirchner na semana seguinte. Na ocasião a mandatária, que é católica, declarou que “somos uma sociedade mais igualitária que na semana passada.” Em três anos de vigência da lei, mais de 7 mil casais puderam transformar sua união em casamento na Argentina.

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Alerta vermelho: em 20 de agosto, humanidade excedeu orçamento da Terra para 2013

Da WWF Brasil

No dia 20 de agosto o planeta acendeu um alerta vermelho. Nesse dia, a humanidade esgotou o orçamento da natureza para o ano e começamos a operar no vermelho. Os dados são da Global Footprint Network – GFN (Rede Global da Pegada Ecológica), instituição internacional parceira da rede WWF, que gera conhecimento sobre sustentabilidade e tem escritórios na Califórnia (EUA), Europa e Japão. O Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra) é a data aproximada em que a demanda anual da humanidade sobre a natureza ultrapassa a capacidade de renovação possível. Para chegar a essa data, a

Brechós do bem Por Mônica Pinho, de Perth, Austrália monicaemperth.blogspot.com.br Especial para Plurale em revista

Desde que chegamos em Perth, tenho um especial interesse pelas lojas da Red Cross e Save the Chidren, que recebem doações e realizam vendas dos mais variados tipos de produtos, normalmente com até 95% de desconto: de vestuário passando por cama, mesa e banho, além de louças, móveis etc Doei e ainda faço doações para estas duas instituições que ficam bem pertinho

GFN faz o rastreamento do que a humanidade demanda em termos de recursos naturais (tal como alimentos, matérias primas e absorção de gás carbônico) - ou seja, a Pegada Ecológica - e compara com a capacidade de reposição desses recursos pela natureza e de absorção de resíduos. Os dados demonstram que, em menos de oito meses, utilizamos tudo o que a natureza consegue regenerar durante um ano. O restante ficou descoberto em nossa conta. À medida que aumenta nosso consumo, cresce o débito ecológico, traduzido na redução de florestas, perda da biodiversidade, colapso dos recur-

sos pesqueiros, escassez de alimentos, diminuição da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Tudo isso não apenas sobrecarrega a capacidade de recuperação e manutenção do meio ambiente, como também debilita nossa própria economia. As mudanças climáticas -- decorrentes da emissão de gases de efeito estufa em ritmo mais rápido do que sua absorção pelas florestas e oceanos – são o maior impacto desse consumo excessivo. “O enfrentamento de tais restrições impacta diretamente as pessoas. As populações de baixa renda têm dificuldade em competir por recursos com o restante do mundo,” afirma Mathis Wackernagel, presidente da GFN e co-criador da Pegada Ecológica, uma medida para contabilizar o uso de recursos naturais. A contabilidade da Pegada Nacional de 2012 feita pela GFN demonstra que, no ritmo em que a humanidade utiliza os recursos e serviços ecológicos hoje, precisaríamos de um planeta e meio (1,5) para renová-los. Se continuarmos nesse ritmo, vamos precisar de dois planetas antes de chegar à metade do século.

da minha casa, em Scarborough, mas existem centenas espalhadas por Perth. Recentemente, descobri que são chamadas Thrift Shops ou OP Shops (o “OP” vem de opportunity/oportunidade). E oportunidades realmente não faltam quando a gente resolve pisar numa dessas encantadoras lojinhas, seja pra doar ou comprar bem barato. Os preços são inacreditáveis e os produtos também, se você não tem problemas com coisas de segunda mão. É preciso ter paciência, mas vale à pena! Os itens estão dispostos de forma bem organizada e fica até bem fácil de encontrar o que estamos procurando (e também o que não estamos procurando). A Salvos Store, que fica em Mount Hawthorn é uma das maiores que conheci e tem coisas lindas com preços bem em conta.

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Afeganistão

CORRENTE DO

BEM

Pessoas comuns que estão ajudando a mudar a realidade de um Afeganistão fragmentado pela guerra

Por Vivian Simonato Especial para Plurale em revista Correspondente de Plurale na Comunidade Europeia De Dublin, Irlanda Fotos de Navid Rasa

rianças de sorrisos tímidos posam para foto em frente a uma faixa onde diz: “Muito obrigado pelos seus presentes. Nós queremos Paz e Estudo para nossas crianças”. Vejo e revejo cada detalhe dessa imagem e chego à triste conclusão que essas crianças ainda não sabem o que é viver em um país sem guerra. A neve cobre o chão e sabendo que a foto foi tirada em Herat, Afeganistão, é impossível não lembrar do Afeganistão de Khaled Housseini, retratado em O Caçador de Pipas, A Cidade do Sol e O Silêncio das Montanhas. Mas, essas fotos falam de outra história, verdadeira, também contada por um jovem afegão comum, que decidiu plantar uma semente de esperança para mudar seu país.

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BOA CAUSA Era noite quando uma mensagem no Facebook, enviada pelo meu amigo Navid Rasa, perguntava se poderia me incluir no grupo Vamos Ajudar as Crianças Afegãs a Estudar (Let’s Help Afghan Children to Study). Aceitei o convite na hora porque sou fã incondicional de pessoas comuns que decidem abraçar uma boa causa. E, não só a educação, mas muitas outras áreas comprometem a mínima qualidade de vida dos cidadãos desse país. O Afeganistão ocupa a posição 172 (cuja classificação vai somente até a posição 187) no recém publicado Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), que mede o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD). O objetivo do IDH é acompanhar resumidamente o progresso a longo prazo em três dimensões básicas: renda, educação e saúde, oferecendo um contraponto a outro indicador amplamente utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB), que considera apenas o aspecto econômico do desenvolvimento. Somente em relação à educação, enquanto no Brasil a população passa em média sete anos na escola, no Afeganistão, esse número caí para menos da metade, três anos. No geral, o IDH no Afeganistão (0,374) está abaixo da média de 0,466 para países já com baixo desenvolvimento humano e ainda abaixo da média de 0,558 para países do Sul Asiático, como Nepal e Paquistão. Navid, que já nasceu num Afeganistão fragmentado pela guerra, conta que os cidadãos afegãos mais velhos não aceitam a situação em que o país se encontra. Enquanto os jovens afegãos, que representam 68% da população não conhecem outra realidade senão a guerra e a violência, os mais velhos relembram uma época em que o país era moderno e a cultura efervescia, sendo rota popular de turistas e estudantes europeus. UM SONHADOR Navid mora atualmente na Itália, onde estuda Ciências Políticas na Universidade de Bolonha. Porém, até chegar ao país, ele conta que foram tantas aventuras que somente essa parte de sua vida já daria um livro de mil páginas. Impossibilitado de estudar em Herat, sua cidade natal, Navid deixou seu país há 7 anos. A viagem, que inclui episódios como a travessia do Mar Egeo num pequeno barco à noite, dormir em estábulos, escalar montanhas, passar fome e frio, e que poderia ter custado sua vida, durou quase um ano. Depois de che-

Navid Rasa (esq) distribui os kits escolares com a ajuda de amigos

gar à Itália, Navid passou muitos anos sem voltar para seu país e foi quando comprou as passagens para visitar sua família que pensou que tinha que fazer algo mais durante o tempo que estivesse em casa. UM PROJETO, MUITOS APOIADORES “No início só eu e a Lilian (sua namorada) estávamos no grupo, e, aos poucos, fomos adicionando nossos familiares e amigos. Foi uma reação em cadeia tão inesperada que em pouco tempo o nosso grupo no Facebook Vamos Ajudar as Crianças Afegãs a Estudar já contava com mais de 1,000 integrantes”. A corrida contra o tempo para divulgar e levantar fundos para o projeto durou até o dia anterior do embarque de Navid para o Afeganistão. O resultado não poderia ser mais empolgante. “Em pouco tempo conseguimos juntar um valor significante em dinheiro para ser direcionado 100% ao projeto. Esta iniciativa somente foi em frente por causa da reação em cadeia dessa corrente do bem e da atitude de pessoas que decidiram não ser indiferentes à causa que decidi abraçar”, conta Navid. Assim, no início de 2013, 100% das doações foram convertidas em kits escolares

compostos por mochilas, lápis, lápis de cor, cadernos, apontadores, canetas, borrachas e escova de dentes. Uma escola localizada numa vila pobre de Herat, onde os avós de Navid moram, foi escolhida para a doação. Para que as crianças viessem à escola numa hora determinada de um sábado, Navid disse que haveria um concurso de desenho e que todas elas estavam convidadas a participar. A notícia se espalhou rapidamente e no dia combinado mais de 300 crianças apareceram na escola. “Elas não sabiam que receberiam as mochilas com o material escolar e muitas delas começaram a gritar felizes e bater palmas porque não acreditavam no que estava acontecendo”, conta Navid. E completa, “muitas dessas crianças trabalham para ajudar em casa, mal frequentam a escola, e acredito que essa foi a primeira vez em suas vidas que elas ganharam um presente. A alegria desse momento para essas crianças foi visível e, para mim, inesquecível”. Quando todas as crianças terminaram de desenhar (usando os materiais novos) os desenhos foram recolhidos e elas quiseram saber imediatamente quem havia ganhado o concurso. Nesse momento, Navid explicou que todas eram vence-

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Afeganistão doras e pediu os desenhos de presente, como recordação. Atualmente, Navid tem planos de ampliar o projeto e os desenhos recolhidos na fase inicial do Vamos Ajudar as Crianças Afegãs a Estudar são expostos em eventos na Itália para lembrar-nos que incentivar as crianças Afegãs a persistirem na escola e terem ampliadas suas escolhas, capacidades e oportunidades é um meio de ajudá-las a serem não o que a guerra determina que sejam, mas sim aquilo que desejam ser.

de 50% são crianças que moram e sobrevivem nas ruas e 40% dos estudantes são meninas. Hoje, a ONG também atua no Cambodia, reforçando sua missão de usar o esporte como ferramenta para empoderar a juventude, criando oportunidades e potencial para mudança. APRENDIZADO COM DIVERSÃO

IGUALDADE SOB RODAS

Muitas outras atividades, assim como a iniciada por Navid, têm hoje contribuído para dar esperanças aos jovens afegãos e mudar a sociedade aos poucos. Em 2007, quando o skatista australiano Oliver Percovich trouxe os três primeiros skates para Cabul, não desconfiava o alcance que essa atitude teria. Ao verem os skates crianças de toda idade rodearam Ollie para saber mais sobre o esporte. O interesse e progresso dos jovens que arriscavam algumas manobras foi tamanho que motivou o skatista a abrir uma pequena escola, sem fins lucrativos, que contasse com mais skates para ensinar o esporte a mais jovens, incluindo meninas. Assim, começava a Organização Não-Governamental (ONG) Skateistan, a primeira escola de skate dedicada a ensinar o esporte para meninos e meninas no Afeganistão. Atualmente, além de proporcionar aos jovens uma oportunidade de se reunirem, pois muitos somente trabalham e quase nunca tem lazer, a iniciativa também ajuda a acabar com disparidades de gênero, tão acentuadas no país. A Skateistain trabalha com afegãos e afegãs de 5 a 18 anos, dos quais mais

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Fundado em 2002, o Mini Circo Móvel para Crianças (Mobile Mini Circus for Children – MMCC), que opera em parceria com o Circo Infantil de Educação Afegão (Afghan Educational Children Circus - AECC), é uma ONG cujo principal objetivo também é empoderar os jovens afegãos. A filosofia do projeto parte do princípio que crianças sabem a melhor maneira de se comunicar com outras crianças. Assim, o objetivo é fornecer as ferramentas necessárias para que elas desenvolvam novos e criativos meios de espalhar com diversão a educação no Afeganistão. O projeto conta com uma sede urbana, a Casa Infantil da Cultura, localizada em Cabul, que apoia em caráter permanente 120 meninos e meninas. Nesse espaço, os estudantes aprendem e desenvolvem suas habilidades diariamente, criando novas ideias e metodologias de transmitir conhecimento. No entanto, cerca de 77% da população no Afeganistão vive na área rural e, por este motivo, toda metodologia desenvolvida em Cabul é adaptada e levada para área rural do país por meio do grupo profissional de artistas adultos, que se apresentam para as crianças no meio rural. Esta mobilidade é um dos diferenciais do projeto, que acaba levando conhecimento para todos os cantos do país. Um dado animador mostra que desde 2002 o Mini Circo Móvel já realizou oficinas educacionais para mais de 2,7 milhões de crianças em 25 províncias em todo o Afeganistão. A combinação de mensagens educativas e de entretenimento, tais como saúde, paz, sensibilização em relação às minas e importância em ir à escola, são abordadas nas oficinas e mostraram-se um caminho eficiente para fomentar atividades culturais, mesmo em partes do país onde a música, canto e outras formas de expressão artística foram suprimidos ou esquecidos por décadas como resultado da guerra e pobreza. Outro aspecto é que durante os encontros as crianças também são incentivadas a brincar, o que também estimula a amizade e a transformação social positiva por criar uma identidade de união, independentemente de formação religiosa, etnia ou região, desenvolvendo confiança e fortalecendo a voz desses pequenos cidadãos que são o futuro do país.

Agradecimentos especiais: Navid Rasa e Lilian Ferrari – por dar-nos a oportunidade de ajudar e provar que todos podemos transformar vidas. Para conhecer mais sobre os projetos acesse: Vamos Ajudar as Crianças Afegãs a Estudar (Let’s Help Afghan Children to Study) www.facebook.com - Let’s Help Afghan Children to Study Mini Circo Móvel para Crianças (Mobile Mini Circus for Children – MMCC) www.afghanmmcc.org Skateistan - http://www.skateistan.org

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E n s a i o

NAVID RASA

FOTOS: De Herat, Afeganist達o

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CONEXÕES

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Vale o quanto preza “Menos eu e mais nós”

Cartaz utilizado nas passeatas pelo Brasil

DARIO MENEZES (*) m 1801, a notícia de que Portugal e Espanha estavam em guerra demorou três meses para chegar ao Rio Grande de Sul. Quando chegou, o capitão de armas do estado declarou guerra aos vizinhos espanhóis, sem saber que a batalha na Europa já havia acabado. De lá para cá muita coisa mudou. Vivemos hoje intensamente os fatos globais, totalmente conectados pelas notícias, índices das bolsas de valores, denúncias e principalmente pelas percepções de transparência, desempenho, valores e atitudes que criamos das personalidades, governos e empresas e que compartilhamos a todo momento com a nossa rede de relacionamentos, seja por um clique, um testemunhal, uma crítica ou erguendo faixas como forma de protesto nas ruas da Turquia, Nova York, Espanha ou no Brasil. Essa ”nova classe média global” cada vez mais informada e ativa politicamente, exige cada vez mais das pessoas e organizações um nível crescente de transparência e propósito organizacional. Ela quer ser ouvida, opinar e participar da construção de um novo modelo de sociedade e demanda por melhores oportunidades e relações de consumo e cidadania mais efetivas. Enquanto seus públicos experimentam novas formas de integração e empoderamento através das plataformas sociais, as empresas continuam

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presas em um modelo empresarial ultrapassado, onde a meta de cada período por ser mais desafiadora do que a anterior, dificulta a tomada de decisões de novos projetos que criem benefícios de médio e longo prazo e a superação do seu propósito social sobre a sua razão econômica (bottom line). Para completar esse cenário, ao longo dos anos os líderes das empresa e da sociedade civil deram demasiada atenção ao atrito que os dividiu por décadas e insuficiente atenção aos seus pontos de interseção, dificultando o entendimento da interrelação positiva que uma empresa tem com toda a sociedade. Esses fatores combinados fazem com que estejamos vivendo uma crise de confiança generalizada no mundo, tanto de governos quanto de empresas. Segundo um recente estudo internacional, as empresas e governos

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estão vendo declinar ano após ano o seu índice de confiança, que se reflete em um estado permanente de desconfiança dos seus públicos de interesse, dificultando em muitos casos a implantação da sua estratégia corporativa. Neste cenário, permeado de incertezas, várias empresas recorrem a tradicional fórmula de investir em publicidade, procurando dar ampla cobertura as suas ações, entendendo que a visibilidade por si só resolverá todos os seus problemas de credibilidade. Entretanto esta fórmula não tem funcionado com o vigor de outrora, pois é importante considerar que vivemos uma era em que mais do que o conhecimento de uma marca, produto ou empresa, o que vale é o seu reconhecimento. Reconhecimento genuíno dado pelos seus públicos de que o propósito da organização, suas atitudes e tomadas de decisões


caminham alinhadas com as expectativas dos seus stakeholders. Época esta onde as verdadeiras práticas das empresas são vistas e analisadas por todos os seus públicos. Esse cenário leva as empresas a um ponto de decisão: garantir o resultado de curto prazo a qualquer custo ou gerar valor de longo prazo ainda que sem entregar na sua totalidade o resultado esperado no curto prazo? Como atuar de forma proativa, decodificando sinais, interpretando tendências sociais que se multiplicam em frente aos nossos olhos? Como avaliar os efeitos desses novos movimentos sociais para as empresas e suas marcas? Como evitar que as nossas empresas continuem agindo da mesma forma que o capitão de armas de 1801 que vivia a reboque das informações da sua época? Como podemos ver as questões acima sintetizam a qualidade do relacionamento que as empresas vêm construindo com os diversos segmentos da sociedade e a oportunidade, que tanto empresas e suas marcas tem de tornarem-se mais relevantes dentro do contexto social, econômico e político atual. Empresas que querem criar de uma forma diferenciada a sua história corporativa e colaborar na construção de uma sociedade melhor, estão desenvolvendo permanentes ambientes de diálogo com os públicos que são impactados pelas suas ações e decisões. Estão evoluindo da visão egossistêmica para a visão ecossistêmica. Estão se desprendendo da busca por resultados trimestrais e procurando construir relações éticas e duradouras com os seus fornecedores, comunidades, colaboradores, investidores e parceiros entre outros, potencializando esse ecossistema. Estão desenvolvendo negócios inclusivos e colaborativos, reinventando modelos de negócios, onde a visão coletiva de valor prevaleça sobre a visão estreita de resultado a qualquer custo. Elas partem da premissa de que o sucesso empresarial desses novos tempos pavimenta-se na significativa criação de valor compartilhado

com toda a sociedade, baseando-se em decisões transformadoras e inovadoras. Suas atitudes confirmam o seu propósito organizacional de atuar em harmonia com os demais atores sociais. Essa dependência mútua de empresas e sociedade demonstram que cada vez mais tanto as decisões empresariais quanto as políticas sociais devem seguir esse princípio: gerar benefícios para todas as partes, como por exemplo condições mais justas de trabalho, respeito ao meio ambiente, conformidade com a legislação, desenvolvimento de fornecedores locais, além do diálogo constante com parceiros e clientes. Esse caminho de maior transparência e espírito de colaboração tornam as empresas mais atraentes para investidores, parceiros e talentos, facilitando o desenvolvimento da sua estratégia corporativa. Finalizando, cabe lembrar que para que esse esforço seja produtivo, a empresa precisa a visão de valor compartilhado como um pilar da organização, estando presente na tomada de decisão de toda a organização exigindo convicção dos líderes e gerentes e senso de importância. Deve prezar pelo bom relacionamento com os seus públicos, seja nos momentos de prosperidade ou nos momentos em que a sua atuação ou a de todo o seu segmento está sendo questionada. Deve prezar pela habitual prestação de contas dos seus projetos e decisões. Nessa caminhada, irá incorporar ao seu vocabulário corporativo, novas palavras como equidade, transparência, inovação, sustentabilidade, ética e coerência entre propósito e a ação. Com o reconhecimento das suas ações e propósito irá gerar confiança e melhoria contínua do negócio, além de ampliar a entrega de valor para os diferentes públicos, elevando através dos seus atos a compreensão da relevância da atuação corporativa, redefinindo a forma como conduzimos os negócios e colaborando para a construção de uma sociedade melhor onde caiba mais a visão do sucesso coletivo sobre a vitória individual.

Segundo um recente estudo internacional, as empresas e governos estão vendo declinar ano após ano o seu índice de confiança, que se reflete em um estado permanente de desconfiança dos seus públicos de interesse, dificultando em muitos casos a implantação da sua estratégia corporativa.

Dario Menezes é consultor e professor de Responsabilidade Social e Governança Corporativa da Fundação Getúlio Vargas, IBMEC, FDC e ESPM.

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CONEXÕES

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A sustentabilidade de uma marca é a sua singularidade

LUIZ ANTÔNIO GAULIA

Num ambiente de mercado no qual se falam as mesmas coisas sobre a sustentabilidade, só se destaca a marca que sabe dar valor ao que lhe é singular e único. A sua história, seu jeito de agir e sentir e seu compromisso na busca do seu modelo de sustentabilidade. s marcas são um ativo valioso das empresas. Marcas carregam uma simbologia que representa atributos de valor, identidade, estilos de vida, modelos de pensamento e atitudes. Mesmo as marcas de produtos considerados como commodities podem ser percebidas de maneira diferenciada. O cimento, por exemplo, já teve o atributo “conforto” valorizado de forma única por uma grande companhia francesa e sua história já foi contada não pelo preço e o peso da embalagem, mas pelo seu processo de produção que buscava ser cada vez menos ambientalmente agressivo. Uma grande empresa de alimentos do Brasil, de origem japonesa, cujo produto literalmente era engolido pelos consumidores percebeu durante um seminário sobre comunicação interna que a marca era comida e essa percepção trouxe outro significado para seus em-

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pregados. O respeito e o cuidado dessa marca-alimento tornaram-se muito mais nítidos nos discursos, gerando maior engajamento nas rotinas de produção. O sal, contido nos produtos, passou a ser visto como item prejudicial à saúde e assim, já se procura sua redução na fórmula e no preparo dos produtos. Outra grande indústria, de cosméticos, capitalizou valor ao definir como atributo de marca e pensamento estratégico da gestão o cuidado com a rede de relações e o sentido da beleza enquanto um bem-estar pessoal, no convívio com outras pessoas e também com o ambiente. Já uma mineradora global optou por ter foco na segurança e no respeito à vida como valor inegociável e atributo desejado. Ou seja, é possível perceber que a singularidade de cada marca e seu jeito de buscar a sustentabilidade acabam necessariamente se entrelaçando. E nesse processo, ganha valor a marca que souber contar a sua história e seu conheci-

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mento sobre a sustentabilidade adquirida de forma única. Já vimos a história de um banco que falou pela primeira vez da forma como eram cobrados os juros em seus relatório de sustentabilidade e já vimos como empresas de roupas estamparam anúncios que diziam para o consumidor não comprar o produto. Quero frisar aqui que nem sempre todas as dimensões da sustentabilidade podem estar mapeadas ou consideradas nas estratégias das marcas, seja por imaturidade organizacional, por falta de recursos para cobrir cada tema material do negócio ou mesmo por resistência cultural dos colaboradores. Mas isso não compromete os avanços realizados. Se ao menos uma parte, ao menos um tema material está sendo considerado, analisado e trabalhado em prol da sustentabilidade é preciso dar o devido crédito, apoiar o processo em curso para não comprometer todo o trabalho de construção de valor sustentável no longo prazo.


Em postagens recentes no seu blog, uma grande agencia de comunicação inglesa, cuja expertise se destaca no terreno da comunicação para a sustentabilidade, questionava a importância das marcas num mundo que busca a sustentabilidade. Se as marcas estimulavam o consumo de objetos que acabarão cedo ou tarde no lixo, descartados por sua obsolescência programada ou por seu consumo completo, as marcas eram responsáveis pela insustentabilidade . Contudo, no mesmo texto, também podíamos enxergar que eram as marcas os faróis de liderança e influ-

ganhar espaço, compradores, admiradores. Culturas burocratizadas, repetidoras de processos externos e comunicações pasteurizadas pelos apelos de um marketing tradicional e seguidor de pesquisas que todas as empresa utilizam, tendem a perder a sua alma, o essencial característico do seu jeito de sentir e de agir. Pensando nisso, ser singular é ser sustentável, sendo também inovador, inédito e original. Nas construção de uma trajetória de longo prazo, de vínculos de confiança com múltiplos interlocutores e do mérito de entusiasmar a

Se as marcas estimulavam o consumo de objetos que acabarão cedo ou tarde no lixo, descartados por sua obsolescência programada ou por seu consumo completo, as marcas eram responsáveis pela insustentabilidade ência para novos comportamentos, atitudes, ideais, estilos de vida, vocação e provocação a respeito de opções de escolha, de compra, de negócios. Oportuna contradição, valiosa observação. Cada marca só se destaca através da sua história, da sua genética singular. Os produtos podem ser similares, os preços aproximadamente iguais, o público-alvo idêntico, mas a proposta de valor sustentável vai fazer a diferença pois estará baseada numa cultura. E cultura é o que faz uma marca ter vida,

equipe de colaboradores para acreditar e fazer a sustentabilidade da marca acontecer de verdade. Não por mando e desmando, mas por crença, propósito e comprometimento. (*) Luiz Antônio Gaulia – Mestre em Comunicação Social. É professor e gestor de Comunicação Corporativa na Estácio, gerenciando pessoas e projetos de marca e de engajamento para uma cultura de sustentabilidade.

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P e las Em ppr esas

ISABELLA ARARIPE

Natura é premiada pelo engajamento socioambiental da rede de fornecedores A Natura conquistou prêmio na quarta edição do Responsible Business Awards, concedido pela Ethical Corporation, organização que celebra a excelência empresarial em sustentabilidade. A premiação deste ano, realizada em Londres, em junho, contemplou a líder brasileira de produtos de higiene e beleza na categoria “Best Supplier Engagement”. O reconhecimento é resultado do protagonismo e compromisso da Natura na relação com sua cadeia de suprimentos, que é baseada na estratégia triple bottom line de responsabilidade ambiental, social e financeira. Na ocasião, o diretor presidente da Natura, Alessandro Carlucci, também foi homenageado pelo Conselho Consultivo da Ethical Corporation como o “CEO do ano”. O critério para a definição do executivo, há oito anos no cargo, foi a sólida liderança dos negócios estabelecida sob o tripé da sustentabilidade.

Alessandro Carlucci (Diretor-Presidente da Natura)

Unimed-Rio forma segunda turma de técnicos de enfermagem Por meio do Projeto de Atualização de Técnicos em Enfermagem, a Unimed-Rio acaba de abrir sua segunda turma de alunos. O curso pretende atualizar conhecimentos e práticas de profissionais da área que estejam fora do mercado de trabalho (somente para desempregados), para que, dessa forma, tenham melhores chances de concorrer a oportunidades de emprego, seja na Unimed-Rio, que possui uma rede própria de unidades assistenciais, ou em qualquer outra empresa de saúde. O projeto é patrocinado pela Unimed-Rio em parceria com o Curso Bezerra de Araújo e a Secretaria Estadual de Trabalho do Rio de Janeiro. O curso tem duração de três meses, aproximadamente, com aulas três vezes na semana. Com a nova turma, o objetivo é chegar próximo dos 70 participantes no projeto até o momento.

3º Encontro de Contabilidade quer deixar legado de transparência para o mercado Como melhorar a qualidade das informações contábeis das empresas? Para responder a esta pergunta a ABRASCA e o IBRACON promovem o 3º Encontro de Contabilidade e Auditoria para as Companhias Abertas e Sociedades de Grande Porte, dias 16 e 17 de setembro próximo, em São Paulo. “Será um evento de sucesso, eu tenho certeza”, comentou Alfried Plöger, VP da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA) e membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Segundo ele, serão abordados temas recorrentes da pauta

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contábil que tem provocado “calorosas discussões, inclusive no âmbito do IASB” – sublinhou. A expectativa da ABRASCA e do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) é que o evento contribua decisivamente para o aperfeiçoamento das instituições e das companhias. O 3º Encontro será realizado no Auditório da AMCHAM Business, discutindo ainda a Mensuração do Valor Justo, a MP que substitui o RTT, o IFRS, o SISCOSERV e o Entendimento Conceitual sobre Materialidade e Relevância para o bem da Comunicação Contábil das Empresas. E, nesse aspecto, a Sustentabilidade é item preponderante.


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CNseg realiza 3ª edição do Prêmio de Inovação em Seguros Antonio Carlos de Almeida Braga Em sua terceira edição, o Prêmio de Inovação em Seguros Antonio Carlos de Almeida Braga, criado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), assume definitivamente a preocupação com a questão do desenvolvimento sustentável, incorporando-a a seu nome. “A atividade seguradora apresenta uma

relação direta com a questão da sustentabilidade, uma vez que atua na prevenção e no gerenciamento de riscos, com a missão de proteger vidas e patrimônios”, afirma a diretora-executiva da Confederação, Solange Beatriz Palheiro Mendes. As inscrições estarão abertas até 31 de outubro de 2013, são gratuitas e devem ser feitas exclusivamente pelo site http://www.premioseguro2013.com.br/

Colaboradores da Alusa Engenharia que estão construindo a Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco (CAFOR), tem feito alongamento no canteiro de obras. A supervisão fica a cargo de uma fisioterapeuta. “O alongamento deve ser um exercício diário e rotineiro, antes e após as atividades. É super rápido! Não leva mais do que 10 minutos”, reforça Dyana. No ambulatório da CAFOR existe uma sala exclusiva para a fisioterapia. Nela, o colaborador tem acesso a equipamentos e profissional eficazes no tratamento de dores e desordens osteomusculares. Este é um benefício que a Alusa disponibiliza para ampliar ainda mais o suporte a saúde e ao bem estar.

Alexandre Magnum de Seixas

Alongamento para funcionários da Alusa Engenharia

A Coca-Cola Brasil instalou em um fim de semana de julho a “Lixeira da Felicidade” – uma generosa lata de lixo gigante, que premiou quem fez o descarte do lixo de forma correta. A ação, em parceria com a Comlurb e com o estúdio criativo Moove House, faz parte da campanha de conscientização sobre o programa Lixo Zero, que prevê multar quem desrespeitar a Lei de Limpeza Urbana, já em vigor no Rio de Janeiro. A lixeira foi instalada em dois pontos: Largo da Carioca e Praia de Copacabana. Durante a ação, aqueles que usaram a rua ao invés da lixeira receberam também informações sobre a nova lei e suas consequências. A reação das pessoas foi registrada em um vídeo que também fará parte da campanha de conscientização.

Divulgação - Coca-Cola

Lixeira da felicidade

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Diálogo

Divulgação

Desafios da sustentabilidade movimentam Fórum da Fetranspor Social

Fórum de Responsabilidade Social da Fetranspor Social, realizado no Centro de Convenções da Bolsa de Valores do Rio no dia 6 de junho, foi uma oportunidade única para se discutir os desafios da sustentabilidade. Já na abertura do evento, Márcia Vaz, gerente da Fetranspor Social, destacou que o tema se tornou estratégico para a Federação. “Seja na sua atuação com os diversos públicos que se relaciona, como também no sentido de sensibilizar e mobilizar o sistema para uma Gestão Sustentável.” A proposta, acrescenta, é compartilhar conhecimento, experiência, ideias e assim criar um ambiente colaborativo e participativo. “Se atuarmos como um sistema integrado, poderemos encontrar soluções para desafios e dilemas,

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identificar oportunidades e perseguir a meta de gerar valor para o negócio e para a sociedade”. O título do painel de abertura, “Desafio da sustentabilidade: Como gerar valor para o negócio e para a sociedade” era uma provocação. Coube a Cid Alledi Filho e Alda Marina Campos a tarefa de instigar os participantes e, assim, fornecer elementos capazes de fechar esta equação. A moderação desta rodada de abertura foi da jornalista Sônia Araripe, Diretora de Plurale em revista. Administrador de empresas e professor, Cid é um estudioso dos desafios de uma gestão para Sustentabilidade. Alda também tem experiência semelhante na Pares Consultoria, uma organização que visa gerar e compartilhar soluções para o desenvolvimento sustentável

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SUSTENTABILIDADE, NA PRÁTICA À tarde, o Fórum de Responsabilidade Social trouxe experiências de sustentabilidade e mobilidade urbanas implementadas por empresas do setor de transportes. Cristina Gullo, Supervisora de Desenvolvimento Humano do Grupo JAL, relatou o trabalho que vem sendo desenvolvido nas empresas do grupo, liderado pela Transportes Flores de São João de Meriti. O primeiro passo foi desenvolver um sistema de gestão que integre os três padrões ISO: ISO 9001 (para o Sistema da Qualidade), ISO 14001 (Para o Meio Ambiente) e OHSAS 18001 (para Saúde e Segurança). A certificação do primeiro padrão foi alcançada em 2008. Nesse novo modelo, a melhoria da eficácia do sistema de gestão agrega também a satisfação de colaboradores, acionistas e comunidade. Tatiana Antunes, presidente do Instituto JCA, falou sobre a história e os resultados obtidos. Mantido pelas empresas do Grupo JCA, o Instituto foi criado em 2004 pelo empresário Jelson da Costa Antunes. Ele acreditava que o futuro do país dependia da boa formação do jovem como aluno, profissional e cidadão. Tatiana explicou que as ações do Instituto têm como objetivo fazer frente a dois desafios: como ampliar a inserção do jovem no mercado e como minimizar o impacto na transição da vida escolar para o mundo do trabalho. Para oferecer respostas a estas questões, o Instituto desenvolveu dois programas sociais (“Fortalecendo Trajetórias” e “Oficina do Ensino”) e o projeto piloto da Rede Agir. O “Fortalecendo Trajetórias” oferece apoio e investimento educacional a talentos oriundos de escolas públicas. Já o programa “Oficina do Ensino” tem como foco a educação e formação profissional de jovens de baixa renda. O Projeto “Rede Agir”, por sua vez, tem como objetivo fomentar uma rede de jovens empreendedores sociais. Os números impressionam: são 200 jovens beneficiados anualmente pelas iniciativas do Instituto e 1.100 desde 2005.


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ENERGIA & CARBONO STANFORD: ATUAL MUDANÇA CLIMÁTICA PODE SER 10 VEZES MAIS RÁPIDA DO QUE EVENTOS SEMELHANTES NO PASSADO Por Fabiano Ávila Fonte: Instituto CarbonoBrasil

O planeta sempre apresentou alterações no clima. Então qual o problema com o que está acontecendo agora? Por que tanto alarde sobre o aquecimento global se é algo que já ocorreu antes? O alerta que a imensa maioria da comunidade científica vem fazendo nas últimas décadas é que as atuais mudanças estão acontecendo em um ritmo muito mais rápido do que no passado. Uma velocidade que pode ser demais para muitas espécies

se adaptar e que ameaça também toda a nossa economia, saúde e segurança. Esse alerta acaba de ganhar ainda mais força nessa semana, com um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirmando que durante esse século as mudanças climáticas podem se dar em um ritmo dez vezes maior do que qualquer outra alteração no clima dos últimos 65 milhões de anos.

INSTITUTO IDEAL LANÇA NOVAS VERSÕES DO SIMULADOR SOLAR E DO MAPA DE EMPRESAS DO SETOR FOTOVOLTAICO

WINDEO ABRE NOVA FILIAL NO BRASIL

Do Portal Petronotícias

O Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal), com sede em Florianópolis, acaba de lançar novas versões do Simulador Solar e do Mapa de Empresas do Setor Fotovoltaico. O simulador auxilia no cálculo da potência de um sistema que atenda à necessidade energética anual de um imóvel. A novidade desta versão desta ferramenta é a aba “Fatura de Eletricidade”, que mostra a economia que o consumidor terá na conta de luz com a instalação de um sistema fotovoltaico. Já o Mapa de Empresas ajuda na busca por corporações que prestam serviços fotovoltaicos. O sistema já possui 216 empresas cadastradas. Na nova versão, o mapa ganhou um sistema de busca que permite procurar uma companhia específica. A gerente de projetos do Ideal, Paula Scheidt, explicou que as mudanças realizadas vão facilitar a utilização das ferramentas, além de trazer mais informações para apoiar o usuário na decisão sobre investir em um sistema de geração própria de energia.

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A Windeo Green Futur, empresa belga de soluções em geração de energia eólica e solar de pequeno porte, lucrou R$ 100 milhões em 2012 e abriu uma nova filial, no Brasil. A empresa espera faturar este ano R$ 5 milhões no País, que possui condições favoráveis tanto em termos de potencial eólico, são mais de 7.000 km de litoral, como de radiação solar. Segundo Alexandre Bretzner, Diretor Operacional da Windeo Green Futur, o local de menor insolação no Brasil é melhor que o de maior insolação na Alemanha, sendo que este é o país com maior capacidade instalada em energia solar fotovoltaica no mundo.

Este Es é um sistema híbrido, com uma torre eólica eó de 350 watts e três painéis de 330 watts cada, totalizando 1.340 watts de potência instalada. Este sistema está instalado na Casa Cor SP, no projeto da arquiteta Jóia Bergamo, e gera energia suficiente para suprir o consumo do sistema de automação da casa, criando economia e eficiência energética.

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CARLOS NOBRE ALERTA PARA EXTINÇÕES QUE SERÃO CAUSADAS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Em sua participação no programa Roda Viva da TV Cultura, o Secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Carlos Nobre, destacou que muitas espécies não conseguirão sobreviver às mudanças climáticas. “Nós somos muito adaptáveis. É claro que uma grande mudança climática traz impactos, ela afeta os mais pobres e vulneráveis, mas é muito possível que nós, como sociedade humana, consigamos superá-la. Quem não vai conseguir superar é um grande porcentual das espécies”, disse Nobre, citando como exemplo a destruição de recifes de corais que deverão desaparecer em até 80% com aumento da temperatura nos oceanos.


CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Jobs como inspiração

Talvez muitos não saibam que Steve Jobs, o criador da poderosa Apple (iPod, iPhone, iPad, iTunes, iMac...) e que nos deixou em 2011 depois de lutar anos contra um câncer, veio de família classe média baixa, foi rejeitado no colégio e com todas as condições adversas se tornou um dos maiores empresários do universo da tecnologia do século XX. Para servir de fonte de inspiração aos jovens, o diretor Joshua Michael Stern levou para as telas a cinebiografia de Steve, que no longa intitulado Jobs é interpretado pelo ator Ashton Kutcher. “Começando um negócio com Steve Wozniak numa garagem, ele serve por si só como inspiração para todos alcançarem o que desejam. Jobs vai realmente aumentar o espírito de inovação e mudanças nas pessoas, tanto quanto conseguir algo que se poderia pensar, que era impossível. E isso é o que ele realmente fez. E ele tinha muitos obstáculos”, diz o diretor. Jobs chega aos cinemas em setembro.

“Assim Vivemos” chega a 6ª edição O “Assim Vivemos” – Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência” que é evento bienal, chega à sua 6ª edição comemorando dez anos de existência com a exibição de 26 filmes de 17 países diferentes e garantido para pessoas com deficiência visual, auditiva e cadeirantes, acesso em todas as sessões. Realizado em agosto no Rio de Janeiro, em setembro em Brasília e em outubro, em São Paulo, sempre nas sedes do Centro Cultural Banco do Brasil, tem entrada gratuita. O objetivo do festival é ultrapassar barreiras e acabar com preconceitos, reunindo documentários nacionais e internacionais sobre o tema deficiência, mostrando as capacidades das pessoas e as possibilidades de sua inserção na sociedade. O “Assim Vivemos” é uma celebração de inclusão social, utilizando para pessoas com deficiência visual, a audiodescrição em todas as sessões e catálogos em Braille, e para pessoas com deficiência auditiva as legendas Closed Caption nos filmes e interpretação em LIBRAS nos debates. A organização do festival revela que nunca haviam recebido tantas inscrições de filmes brasileiros como nessa edição. Quantidade com qualidade. Para conhecer os filmes selecionados e a programação completa acesse o site www.assimvivemos.com.br.

ONG cria festival de curtas-metragens A edição inaugural do Festival de Curtas Geração Care terá como tema “Jovens que Transformam”. A Care Brasil é uma ONG que busca um país com justiça social, esperança e orgulho de sua diversidade, onde a população viva com dignidade, segurança e estabilidade. O festival é uma ação para promover entre os jovens, a discussão e conscientização sobre questões sociais, incentivando a reflexão crítica e iniciativas criativas de combate à pobreza. Para tanto só serão aceitos filmes produzidos por jovens estudantes de até 25 anos, sendo que cada grupo de estudantes poderá participar com um filme de 1 a 5 minutos de duração. O formato é livre, poderá ser ficção, documentário ou animação, desde que capte e mostre uma realidade transformadora que mereça ser descoberta. As inscrições poderão ser feitas até 13 de outubro de 2013. Os filmes inscritos serão votados por um júri popular (votação pública) e um júri artístico. Os 10 finalistas escolhidos pelo júri artístico, serão exibidos em salas de cinema ao redor do Brasil. Todo o processo do festival acontecerá online. Inscrições e regulamento podem ser encontrados no site http://festivaldecurtas.care.org.br .

Na luta pelos animais A IV Mostra Animal Mostra Internacional de Cinema Pelos Animais, acontece nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, na Cinemateca, em Curitiba, no Paraná. O foco da Mostra, que hoje já faz parte do calendário de programações alternativas da cidade, é abordar a relação entre humanos e animais. Promovem o debate e a reflexão sobre a defesa e o respeito aos animais e os inúmeros pontos que cercam o tema. Organizado pela SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura da Cidade, o evento tem apoio de várias empresas como ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais. Detalhes no site www.mostraanimal.com.br.

Achados no You Tube Para quem gosta de produções audiovisuais alternativas, dessas que não entrarão em cartaz nas salas de cinema, nem nos canais de televisão, o You Tube, rede social de vídeos na internet, apresenta programação diversa, interessante, democrática e gratuita. Como o canal Webseriados.com, dedicado a webséries nacionais de ficção, drama ou suspense e que em breve também abrigará webcurtas e webdocumentários (http://www.youtube.com/user/webseriados?feature=watch).

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Estante G GILBERTO BEM PERTO PPor Gilberto Gil e Regina Zappa, Editora Nova Fronteira, 400 págs, R$ 43,00 N Provavelmente não existe um brasileiro q que não saiba quem é Gilberto Gil ou não llembre de cabeça algum dos seus refrões m mais famosos. Mas, além de saber que Gi Gil é um cantor e compositor baiano, foi um dos pais da Tropicália e chegou a ser ministro da Cultura, o que o grande público conhece da sua vida? As suas origens, como se consagrou como um dos músicos mais importantes e premiados do mundo, as barras-pesadas que enfrentou, os grandes amores que viveu, os dilemas existenciais e as grandes causas que o movem… tudo aquilo de que é feito o bordado da vida é alinhavado nesta biografia assinada por Gil e pela jornalista Regina Zappa. Escrita quando o músico já ultrapassa sete décadas de estrada, ela é fruto do desejo de Gil de expor, pela primeira vez, a sua história em detalhes.

O GUIA DO VIAJANTE DO CAMINHO DE SANTIAGO – UMA VIDA EM 30 DIAS S PPor Daniel Agrela, Editora Évora, 208 ppágs, R$ 49,00 A Abandonar os antigos hábitos, libertarsse das pressões do cotidiano e mergullhar na busca de novos ideais de vida ssão algumas das motivações de muitos que decidem percorrer p o Caminho de Santiago. Esse trajeto já foi tema de filmes, romances, músicas, poemas e, agora, o jornalista Daniel Agrela lança o primeiro guia brasileiro, que apresenta o percurso com dicas e relatos diários que podem ser úteis para o peregrino de primeira viagem ou até para aqueles que gostariam de retomar esse projeto há muito engavetado. Ao orientar o futuro peregrino a respeito das características de cada etapa, o livro traz dicas sobre as melhores épocas do ano para realizar o caminho, custo estimado da viagem, preparo intelectual, físico e clínico e itens necessários para levar na mochila. Aborda também as diferentes rotas existentes, os cuidados durante a viagem e até pequenos detalhes como as temidas bolhas nos pés, além de mapas topográficos de todas as etapas. O guia apresenta ainda informações de como surgiu o Caminho de Santiago, considerado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.

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Carlos Franco - Editor de Plurale em revista

O FIM DA POBREZA - COMO ACABAR COM A MISÉRIA MUNDIAL NOS PRÓXIMOS 20 ANOS Por Jeffrey Sachs, Editora Companhia das Letras, 434 págs, R$ 63,00 Todos os anos, 8 milhões de pessoas morrem no mundo em consequência da miséria. São milhares de mortes por dia, provocadas pela fome e por doenças como malária, tuberculose, diarreia e aids. Na África, uma criança morre a cada dez segundos em consequência da pobreza extrema. Enquanto isso, o governo americano gasta apenas 1% de seu orçamento com ajuda internacional e 25% em atividades militares. E o montante que os países desenvolvidos destinam por ano à luta contra a aids representa somente três dias de gastos com armamentos. É possível mudar esse quadro escabroso em vinte anos? Este livro diz que sim, e mostra como. Pode parecer utopia, mas é possível acabar com as desigualdades econômicas que levam à pobreza nos países de terceiro mundo. Para isso basta que as grandes potências, em vez de destinarem aproximadamente 1/4 de seus orçamentos para a indústria bélica, invistam da mesma forma em programas assistenciais e de desenvolvimento.

SOS MATA ATLÂNTICA LANÇA SÉRIE DE LIVROS: DOIS PRIMEIROS ESTÃO À VENDA Por Erika Guimarães, Maura Campanili e Andrea Vialli; Editora SOS Mata Atlântica; O kit com os dois volumes da série custa R$ 50,00. Cada livro separadamente tem o valor de R$ 30,00 A Fundação SOS Mata Atlântica lançou os dois primeiros volumes da “Série SOS Mata Atlântica”, conjunto de quatro obras que têm o objetivo de contribuir para a evolução do movimento socioambiental e inspirar a criação de novas iniciativas por outras organizações. Os dois primeiros livros são “25 anos de mobilização”, escrito pela bióloga Erika Guimarães e pela jornalista Maura Campanili; e “O azul da Mata Atlântica”, de autoria da jornalista Andrea Vialli. A Série tem coordenação de Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, e conta com o patrocínio de Bradesco Capitalização e Bradesco Cartões. Os livros poderão ser encontrados na loja virtual da SOS Mata Atlântica (www.loja.sosma.org.br). O kit com os dois volumes da série custa R$ 50,00. Cada livro separadamente tem o valor de R$ 30,00.


Literatura

Paulo Lima desbrava falsas paisagens Por Ciça Guirado, Especial para Plurale em revista

Foto: Paulo Lima

POESIA EM FLASHES

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brem-se falsas paisagens atrás da porta: feixes de triângulos, agudos, retos e obtusos. Ao dobrar das páginas, paisagens falsas se transmutam em palavras-espadas, que espetam versos e reversos. Paisagem com distância de favela “lembra um abstrato de paul klee”. Registro de cenas urbanas, com “polícia perseguindo meninos de rua”. A rosa de Gertrud Stein continua se desdobrando em rosas, como os signos de Peirce, enquanto “uma rã salta e se estatela”.

presságio triiiiim! telefone na madrugada trauma Vê-se o poeta clicando a vida em seus reveses de beleza e de suspense. Como fotógrafo, congela momentos e ideias com abertura máxima: num diafragma que se deixa penetrar pelas mais variadas coisas. banquete nesta cidade (era o tempo do rei) o branco portuga janta a negra almoça a índia dá um arroto indelicado e se põe a dormir o sono do conquistador desalmado

Variações do amor e do humor, infidelidades, simplicidades. Falsas paisagens. E mais: a síntese do modus vivendi do nosso tempo, que brinca de se drogar no servomecanismo virtual, enquanto a vida urge de afetos na pele: admirável mundo velho facebook twitter orkut - maravilha! lá fora o sol brilha Nada escapa ao poeta. Vida cotidiana, filosofia e processo de criação: estética poeta bom é poeta morto o poema pronto e posto

O poeta é Paulo Lima. Jornalista criador e editor do Balaio de Notícias e colaborador de Plurale em revista. Para saborear é preciso pousar os olhos, sem pressa, em Falsa Paisagem, livro de poemas lançado recentemente pela Editora Penalux. (www.editorapenalux.com.br) E mais não falo. (*) Cecília Guirado é jornalista, escritora e professora universitária.

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I m a g e m Foto: Fernando

Frazão

Agência Brasil

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primeira visita do Papa Francisco ao Brasil, quando realizou-se a 28ª Jornada da Juventude, no Rio de Janeiro, transcorreu com grande tranquilidade. Apesar do grande afluxo de peregrinos e moradores do Rio na Praia de Copacabana – chegando a mais de 3 milhões – felizmente não houve casos mais graves de registros policiais. Uma grande corrente de fé se espalhou pelo Rio, como esta bela foto de FERNANDO FRAZÃO, da Agência Brasil. Confira o Especial sobre a visita do Papa Francisco e a Jornada da Juventude em Plurale em site (www.plurale.com.br). Basta escrever no espaço para busca (no alto, do lado esquerdo da home) a palavra Papa ou Jornada.

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ALUSA ENGENHARIA:

Gerando Energia Renovável

O GRUPO ALUSA ENGENHARIA, através da Greenluce Soluções Energéticas, está utilizando, pioneiramente, em alguns canteiros de obras, o novo sistema híbrido que produz energia solar e eólica ao mesmo tempo. Tecnologia de ponta a serviço da sustentabilidade. Saiba mais no site: www.greenluce.com.br.

Há 50 anos trabalhando em soluções em infraestrutura sustentável.


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