Plurale Revista

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AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

OBSERVAÇÃO DE PÁSSAROS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NO SUL DA BAHIA

w w w. p l u r a l e . c o m . b r

ARTIGOS INÉDITOS

TALANOA: UM DIÁLOGO SOBRE CLIMA INCLUSIVO E TRANSPARENTE

NINHO DE HARPIA – RPPN ESTAÇÃO VERACEL (BA) – LUCIANA TANCREDO/ PLURALE

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ano onze | nº 64 | novembro / dezembro 2018 R$ 10,00


Entre tantas essĂŞncias que utilizamos, uma estĂĄ em tudo que fazemos: empreendedorismo.


Mesmo quando já éramos a maior franquia de beleza do Brasil, nós nos tornamos um grupo multimarca e multicanal que hoje é referência no país. Nossa essência empreendedora fala mais alto. Somos muito mais que a união de grandes marcas de sucesso. Somos um grupo com vocação para realizar. O Boticário; Eudora; quem disse, berenice? e The Beauty Box estão presentes em quatro mil pontos de venda próprios, e-commerce e venda direta. Com Multi B e Vult, ampliamos nossa presença para mais de 40 mil outros pontos de venda, como farmácias e lojas multimarcas. Crescemos o dobro da média do mercado de beleza e faturamos 12,3 bilhões de reais. É assim, transformando oportunidades em negócios, que estamos escrevendo a nossa história. E ela está só no começo.

grupoboticario.com.br


Artigos inéditos, por Marina Grossi e Flávia Ribeiro

LUCIANA TANCREDO/ PLURALE/ DA RPPN ESTAÇÃO VERACEL, BAHIA

Contexto

24.

Especial Costa do Descobrimento – Veracel busca conjugar

produção de celulose com desenvolvimento local sustentável, por Sônia Araripe e Luciana Tancredo DIVULGAÇÃO- CEBDS

16 Seguradora Líder-DPVAT ajuda no recomeço no mercado de trabalho de quem convive com algum tipo de invalidez permanente

48

34.

Rio recebe o “Diálogo de Talanoa” GIULIANA PREZIOSI, DOS LENÇÓIS MARANHENSES

44.

A exuberância dos Lençóis Maranhenses, por Giuliana Preziosi

Uma carta emocionante enviada pelo twitter

FOTO DE MARCELO GONDIM/ CNPQ/ DIVULGAÇÃO.

54 Ecoturismo, por Isabella Araripe

61 Cinema verde, por Isabel Capaverde

62

40.

Prêmio Jovem Cientista 2018 valoriza pesquisas

inovadoras de estudantes, por Ana Carolina Maia


E ditorial LUCIANA TANCREDO – RPPN SESC PANTANAL

Muito a comemorar no aniversário de 11 anos de Plurale: A editora Sônia Araripe e a fotógrafa Luciana Tancredo em mais uma reportagem em campo, desta vez na RPPN Estação Veracel (BA); a belíssima foto de Luciana Tancredo do tuiuiu, feita na RPPN Sesc Pantanal, foi escolhida para fazer parte da Exposição “Asas do Pantanal”, no Sesc de Paraty e a ida de Sônia Araripe para o Programa Sem Censura, da TV Brasil.

Aniversário de 11 anos de Plurale com ótimos motivos para comemorar Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

O aniversário de 11 anos de Plurale, por si só, já seria um ótimo motivo para comemorarmos. Afinal, com o cenário restritivo rondando a economia brasileira, com fortes reflexos no segmento de mídia, perseverar com bons resultados por 11 anos é, sem dúvida, uma vitória. Mas temos razões ainda mais fortes que nos ajudam a ter força e fé para seguir em frente. Duas fotos da nossa Editora de Fotografia, a jornalista Luciana Tancredo, foram selecionadas para a exposição “Asas do Pantanal”, realizada em agosto e setembro no Sesc Paraty, em agosto e setembro. Foram tiradas em duas grandes reportagens de Plurale que fizemos na RPPN Sesc Pantanal. Luciana esteve ao lado de grande fotógrafos de natureza na exposição: João Quental, Haroldo Palo Jr. (falecido este ano) e Ricardo Martins. “Foi emocionante”, conta Luciana que esteve no lançamento da exposição, em Paraty. Não nos pegou de surpresa tal escolha. A sensibilidade desta fotojornalista carioca não é mais novidade para nós, de Plurale. Luciana Tancredo é corajosa e guerreira: tem um olhar

poético e detalhista, capaz de fazer a mítica Travessia do Monte Roraima (RR), no extremo norte do Brasil, por oito dias ou caminhar horas, em meio à mata, para conseguir o melhor material para os famosos ensaios que publicamos aqui na revista. Foi assim, por exemplo, na recente visita em campo à RPPN Estação Veracel, no Sul da Bahia, que fizemos juntas. O resultado incrível pode ser conferido na foto de capa desta Edição e no Especial em destaque. Outra alegria foi participar, em outubro, do programa Sem Censura, da TV Brasil, tão bem comandado pela relevante jornalista Vera Barroso. Falamos sobre os 11 anos de Plurale e sobre sustentabilidade. Também estivemos, na sequência, no badalado programa Hora do Blush, na Rádio Sul América Paradiso, da querida jornalista Isabella Saes, conversando sobre o nosso aniversário e ainda dando dicas de Consumo Consciente. Nesta edição tão especial de aniversário, trazemos artigos inéditos de Marina Grossi (Presidente do CEBDS) e da jornalista Flávia Ribeiro; Especial sobre o incrível Diálogo de Talanoa, ocorrido no Rio, em outubro; a exuberância dos Lençóis Maranhen-

ses, pela consultora em Sustentabilidade, Giuliana Preziosi e uma história incrível, originalmente postada no Portal catalão Vilaweb – aqui traduzida e relatada pela jornalista Maurette Brandt – de uma carta enviada a dissidente político preso pelo twitter. Não é só. Participamos de vários eventos relevantes, aqui registrados. Entrevistei a jornalista Cristina Serra, que acaba de lançar excelente livro sobre os três anos da Tragédia em Mariana (MG), provocada pela Samarco, empresa controlada por duas das maiores mineradoras globais, a brasileira Vale e a australiana BHP. A jornalista Ana Carolina Maia foi a Brasília acompanhar a cerimônia e entrega da 29ª Edição do Prêmio Jovem Cientista. Conheceu os talentosos jovens vencedores e nos apresenta a história de cada um. Trazemos também a Coluna Ecoturismo, por Isabella Araripe; Cinema Verde, por Isabel Capaverde e personagem de São Paulo, que faz suas obras de artes em pequenos fragmentos de madeira encontrados nas ruas e nos lixos, pela jornalista Raquel Ribeiro. Boa leitura! Aproveitamos para desejar um Feliz Natal em família para todos e um 2019 de paz e harmonia.

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Quem faz

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Antonio Cruz, da Agência Brasil (Fotos Arquivo de Mariana); Flávia Ribeiro; Flávio Ribeiro (Foto de Arquivo de Bento Rodrigues (MG)/ Portal Vértice); Giuliana Preziosi; Jaílson Souza (RPPN Estação Veracel); Marina Grossi, Kelly Lima e Matheus Zanon (CEBDS), Luís Paulo Ferraz (Foto de Cristina Serra) e Raquel Ribeiro (de Florianópolis) Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

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Cartas

cc a a r tr at a s s @@ pp l ul u r ar a l el e . c. c oo mm . b. b r r

“Cara Sônia, “Mais que uma boa ideia ediCriando o ambiente adequaÉ sempre uma grataas crenças torial, o lançamento de Pludo e respeitando satisfação receber esta da frase rale em Revista e de Plurale de cada um. Lembrei publicação que há oito anos em Site, foi um ato de cora“Yes we can”, com o apoio abre espaço parapara o diálogo gem em um país onde nem governamental viabilizar. entre empresas, sempre é fácil empreender. Abraços, especialistas e a sociedade, É certo também que a deterMaria Cândida Torres, minação e a competência os professora com o objetivoda deFGV, do levaram rapidamente ao suRio de Janeiro, promover os bons por ecesso. À Editora-Chefe, Sô-mail de preservação exemplos nia Araripe, e Equipe, nossos do meio ambiente. parabéns pelos 11 anos desta “Sônia e Silvia, muito Parabéns a todos os obrigado vencedora trajetória e votos por levar a minha história profissionais envolvidos e para de muitas outras realizações. ” os leitores de Plurale em votos de uma vida longa erevisAlfried Plöger, Presidente ta pelo Brasil na edição 63! Já a capa com a sustentável à Plurale em revista.” do Conselho Diretor da Associação Araucária encanta e mostra a riqueza natural Brasileira das Companhias Abertas desse pais que adoro tanto. Essa mesma riKrigsner do Grupo (ABRASCA), de São Paulo, por e-mail.Miguel queza descobri– Fundador ao ler as matérias. Quantas Boticário e daprojetos Fundação Grupo iniciativas, e eventos bacanas e mode Agora Preservação “Agradecemos pelo envio da Edição 63 deBoticário tivadores. precisariada deNatureza, mais três vidas (PR), porconhecer e-mail todas as iniciativas e Plurale em revista, na qual foi publicada aCuritiba no Brasil para entrevista abordando a trajetória do Instituto projetos legais. Enfim, espero que possa conome da Associação dos Analistas e vasto Ethos, em seus 20 anos de história. Plurale“Emlaborar com o meu trabalho para esse foi o primeiro veículo a abordar as duas dé-Profissionais ecossistema de iniciativas catalisam de Investimento do que Mercado de o cadas de atuação do Ethos e a matéria ex-Capitais bem.(Apimec O BrasilSP), precisa de mais revistas como parabenizo toda a plicita os propósitos do Instituto, os quais aequipe a Plurale. Parabéns pela qualidade de Plurale por seus oitos anos dedas matéPlurale tem acompanhado de perto há anos,atividades rias e pela oportunidade de fazer parte edelas. e, acima de tudo, pela seriedade inclusive realizando a cobertura das Confe-qualidade Vielendo Dank und prestado alles Gute!à sociedade, serviço rências Ethos, que também chegam a 20ªao tratar LutzdeMichaelis, Coordenador temas tão relevantes quantode edição. Por todo apoio e reconhecimento,sustentabilidade Programa eSul do Brasil Plant meio ambiente. Que for the nosso muito obrigado”. Planet Brasil, Santa Catavenham muitos outrosAraranguá, anos!” Caio Magri, Diretor-Presidente do rina, por e-mail Ricardo Tadeu Martins , Presidente Instituto Ethos, de São Paulo, por da Apimec SP, São Paulo (SP), por e-mail “Cara amiga Sônia, e-mail Recebi e li com grande interesse – como “Estimada equipe Plurale, sempre - a Edição 63 de Plurale em revista. natureza da Serra Cipó ,todas É extremamente gratificante ler os textos de“Deslumbrante Tive muitasaoportunidades e fizdoquase pela Ana e Artur Vidaurre, na coNícia Ribas na última edição da revista sobreretratada as viagens queCecília queria. Exceto uma: não 49 desta prestigiosa que iniciativas que nos enchem de orgulho aquiedição nheci a Provence! Nãorevista conheci AINDA, porconheci. Parabénsda à toda na Fundação Grupo Boticário. Esperamosrecentemente que depois da reportagem Maria Helena de Plurale! Como mineiro nunca havia que as reportagens sobre os novos negó-equipe Malta, afirmo que não morrerei antes de prea devida importância, cios fomentados pelo Araucária+ e as ricasdadoencher esta lacuna! apesar de ter visto em aulas de geografia anosao 60mérito: sobre as discussões que tivemos no IX Congressofalar Ótimo, como sempre:nos Honra Brasileiro de Unidades de Conservação ins-essematérias edificantes do Instituto Ethos e da parque ambiental; como temos belezas pirem os leitores a inovarem e preservarem anaturais homenagem Sergio Vieira de Melo. Paraem nossoao país e desconhecemos, nossa rica biodiversidade. béns,que sempre! ” situação está sendo resgatada por esta Malu Nunes, diretora-executiva da revista Roberto Saturnino Braga,eSenador dedicada ao meio ambiente ecologia. Fundação Grupo Boticário de Pro- Parabéns Constitutinte, escritor e Jornalista, por abraçarem tão nobre missão e teção à Natureza, de Curitiba, por pelosdo Rio de Janeiro, por e-mail 8 anos de edição e sucesso. e-mail Agradecido por vislumbrar tão bela revista. ” “Nada como receber Plurale em revista em “O Artigo do Professor Marcus Quintella na um domingo, pela manhã, e curtir a revista Benedito Ari Lisboa, engenheiro, São Edição 63, que acabo de ler, trouxe a con- até a última página, sem a mínima pressa. dos Campos (SP), por e-mail solidação da importância do empreende-José Afinal, hoje é domingo! Muito bom aprender dorismo em nossa sociedade e seu papel um pouco sobre o pinhão na mesa, a conSpiller das tornou-se a “embaixadora” na inclusão e na geração de renda. Me fez“Letícia servação araucárias e iniciativas da de proDesmatamento Zero, do lembrar da definição de Shumpeter sobrecampanha jetos que fomentam novos negócios para a Brasil.das Emflorestas, entrevista na Edição a palavra empreendedor “O empreendedorGreenpeace preservação como tão bem Plurale em revista, comemorativa cria novos negócios, mas também pode50 de destacou a jornalista Nícia Ribas. de Quanto à a atriz revelou que sua preocupação inovar dentro dos negócios existentes.”oito anos, matéria da Maria Helena Malta sobre a ProPara mim esta abordagem não é somentecomvence, a minha vontade foi a de as causas ambientais é antiga. Elasair e correnempresarial. A utilização da palavra soluçãooutras doatrizes para Marseille e iniciar umotour por essa e atores falam sobre traz impacto no desenvolvimento sustentá-engajamento região tão linda, aproveitando dicas precionas causas sociais e ambientais. vel. A colocação do sustentável, com o tripéParabéns sas, não apenas turísticas, também, à querida Sônia Araripe emas, equipe do econômico, ambiental e social. A ênfa-pela históricas e culturais.” matéria e pelos oito anos de Plurale!” se no social com o nosso conhecido CHAAnna Mônica jornalista, do do RioRio de Maria Cotta, Ramalho, jornalista, – Conhecimento, Habilidades e Atitudes.de Janeiro Janeiro,(RJ), pelo e-mail por e-mail


Estante Presidencialismo de Coalizão, Por Sérgio Abranches, Editora Companhia das Letras. 440 págs, R$ 69,90 Em Presidencialismo de coalizão, o sociólogo Sérgio Abranches radiografa as entranhas da política na ainda frágil democracia brasileira, formulando soluções renovadoras para a correção de suas falhas estruturais. Mais de setenta anos depois do fim do Estado Novo, com outra longa ditadura de entremeio, o que deu certo e o que tem dado errado no sistema político arquitetado pelos construtores da República? Rastreando as origens da combinação entre democracia e poder oligárquico desde a “política dos governadores” de Campos Sales, o autor revisita com lucidez penetrante os momentos críticos da história do Brasil republicano. Desde 1945, excetuado o período autoritário da ditadura militar (1964-85), os presidentes brasileiros têm dependido de coalizões para governar, tornando-se reféns dos humores das oligarquias congressuais e estaduais. Nesse quadro volátil, a implementação de políticas públicas fica aquém das necessidades do país. Clientelismo, corrupção e judicialização da política são facetas negativas de um sistema democrático que, se permitiu avanços significativos, está à mercê dos partidários do atraso em momentos decisivos.

Orgânicos: Marcos, Desafios e Comunicação, Por Luciana Juhas, Editora LCTE, 240 págs, R$ 40,00 O foco deste livro é o do mercado de produtos orgânicos e sustentáveis, principais entraves, fragilidades do sistema, também sob a ótica da comunicação realizada pela Galeria de Comunicações que esteve no centro dos principais acontecimentos deste setor, e acompanhou de perto momentos importantes. Especialista na área de orgânicos e produtos sustentáveis desde que fundou a Galeria de Comunicações*, a jornalista ressalta que desde que começou a acompanhar esse setor muito de perto, a partir de 2002, ou seja, há 16 anos, sempre o viu progredir, se organizar cada vez mais e ganhar o apoio da população que, mais consciente dos prejuízos da agricultura convencional à saúde e ao meio ambiente, tem aderido também cada vez mais à proposta de desenvolvimento sustentável que ele embute. “Foi uma evolução lenta, mas evolução. Agora, parte dessas conquistas pode ser perdida, se essas leis forem aprovadas, porém as vozes contrárias à aprovação são muitas e vamos à luta”, diz a autora de “Orgânicos: Marcos, Desafios e Comunicação”, livro que retrata exatamente como esse setor evoluiu no Brasil, apontando inclusive desafios tão grandes quanto os que enfrenta atualmente.

Travessias: uma aventura pelos parques nacionais do Brasil, Por Duda Menegassi, Parceria entre a ONG de jornalismo ambiental ((o)) eco, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação Grupo Boticário Em agosto foi lançado o livro Travessias: uma aventura pelos parques nacionais do Brasil, durante o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC). A obra é fruto de uma parceria entre a ONG de jornalismo ambiental ((o)) eco, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação Grupo Boticário e traz as reportagens produzidas pela jornalista Duda Menegassi, que percorreu 11 travessias em unidades de conservação ao longo de um ano. As trilhas acompanharam as comemorações do aniversário de 10 anos do ICMBio e o lançamento do livro ocorreu às vésperas do 11º, um presente adiantado a mais um ano de existência ao órgão gestor das unidades de conservação federais. As caminhadas somaram aproximadamente 400 quilômetros de trilhas e percorreram várias das áreas protegidas mais belas e famosas do país: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE), o Parque Nacional do Itatiaia (RJ), o Parque Nacional da Serra do Cipó (MG), a Reserva Extrativista Chico Mendes (AC), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), o Parque Nacional da Tijuca (RJ), o Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA) e a Floresta Nacional de Brasília (DF). Pela iniciativa ser fruto de uma parceria com o ICMBio o livro, para quem tem curiosidade em conhecer, está disponível para download gratuito em PDF no site do instituto.

Errando na Mosca, Por Juliana Araripe, Editora Realejo, 188 págs , R$ 45 “O humor é um dos poucos valores indevassáveis do mundo. Quando uma pessoa é engraçada? Todos nós somos pessoas engraçadas? Porque, quando tentamos ser, em geral não somos? Juliana é engraçada”, escreve Domingos de Oliveira na orelha do livro de crônicas Errando na Mosca, que a atriz e roteirista Juliana Araripe acaba de lançar. Juliana é reconhecida pelo trabalho como atriz e roteirista, foi protagonista e colaboradora de roteiro da série Mothern no GNT, além de autora de alguns textos da peça Confissões das Mulheres de 30, quatro longas, três séries e dois programas de TV. Também costuma aparecer em muitos comerciais como atriz, o que acaba deixando seu rosto bem conhecido do grande público. Mas é na palavra impressa em livro que ela se apresenta agora, com histórias da própria vida. “Tenho uma relação com a escrita que funciona como uma paixão avassaladora, de repente, pá. Mas só acontece porque você é tudo que viveu e se construiu ao longo da vida, senão não se apaixonaria desse ou daquele jeito”, conta.

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O vitOr descObriu para Onde vai O valOr dO segurO dpvat que ele paga anualmente. 45% vão para o sus, para atendimento médico das vítimas.

5% vão para o denatran, para campanhas de prevenção de acidentes.

50% são usados para pagar as indenizações de acidentados no trânsito.


e você? qual é a sua dúvida?

estamos aqui para você saber mais_ estamosaquiparavoce.com.br


Entrevista FOTO DE LUÍS PAULO FERRAZ

CRISTINA SERRA, JORNALISTA

MEU OBJETIVO FOI CONTAR HISTÓRIAS DE PESSOAS

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Do Rio de Janeiro Fotos de Luís Paulo Ferraz, Editora Record/ Divulgação e Antonio Cruz/ Agência Brasil (Arquivo)

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epórter experiente, com 30 anos de carreira, Cristina Serra sabe identificar quando está diante de uma grande reportagem. Foi assim ao cobrir a maior tragédia ambiental do Brasil, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, empresa controlado meio a meio por duas das maiores mineradoras do mundo – a brasileira Vale e a australiana BHP. Cristina fez para o Fantástico, da TV Globo, emissora à qual trabalhou por 26 anos, a cobertura do acidente, que deixou 19 mortos, centenas de atingidos que ficaram sem casa e um rastro de impacto na biodiversidade de cerca de 800 quilômetros ao longo da Bacia do Rio Doce. “Percebi que tinha ali uma grande reportagem para contar. Comecei

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Repórter com grande experiência lança livro sobre a maior tragédia ambiental do Brasil, que resultou na morte de 19 pessoas e em forte impacto para a biodiversidade na Bacia do Rio Doce ao longo de quase 800 quilômetros. Três anos após o mar de lama ter mudado a rotina de lugarejos alegres e tranquilos, Cristina Serra conta como fez a sua apuração e ainda sobre os novos rumos de sua carreira a escrever o livro. Meu objetivo foi contar histórias de pessoas”, conta à Plurale, nesta entrevista. Passou o Natal de 2015, o primeiro após a tragédia com as famílias sobreviventes e dali para a frente começou a apurar o livro, que acaba de ser lançado. Ao todo foram mais de 100 entrevistas: a descrição dos bastidores da reportagem transporta o leitor para o desolador cenário de devastação. A jornalista fala não só da histórias dos mortos, mas também do Rio Doce, o qual ela

PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2018

também trata como um importante personagem nesta história. A expectativa de Cristina Serra, infelizmente, é que dificilmente a Justiça será feita. “Acredito que este caso tem tudo para dar em nada. A prescrição de alguns crimes já está batendo à porta e o risco de impunidade é enorme.” A jornalista avalia que algumas lições importantes ficam desta tragédia anunciada, uma vez que a empresa sequer instalou uma sirene nas comunidades próximas em caso


de emergência. “São muitas lições, mas uma das mais importantes, foi sintetizada pelo engenheiro geotécnico, Jean Pierre Rémy, francês radicado no Rio de Janeiro, que conhece bem o caso de Fundão. A lição é de que muitas vezes na vida é preciso dizer “não”, mesmo que você tenha que pagar um preço alto por isso - como perder um contrato - e a despeito de todas as pressões. A lição é de que os valores éticos e humanistas tem que estar acima do objetivo de ganhar dinheiro, que é legítimo, mas não pode estar acima da segurança das pessoas e da preservação do bem-estar coletivo e do meio ambiente saudável que, segundo a nossa Constituição, é patrimônio de todos e das futuras gerações”, afirma Cristina. O lançamento do livro Tragédia em Mariana – A história do maior desastre ambiental do Brasil, pela Editora Record (462 págs/ R$ 59,90) marca também novos desafios para Cristina Serra. Depois de ter ajudado a criar o canal no YouTube My News, ela agora segue em voo solo. Quer se dedicar mais às grandes reportagens, especialmente com foco em Meio Ambiente. Fôlego não faltará, certamente. Paraense, a jornalista é formada em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense, trabalhou para várias redações, entre as quais o Jornal do Brasil, Revista Veja e por 26 anos da Rede Globo, onde foi repórter de política em Brasília, correspondente em Nova York e comentarista do quadro Meninas do Jô, no Programa do Jô. Cristina é, sem dúvida, uma das mais bem qualificadas jornalistas de sua geração. A seguir a entrevista para Plurale. Plurale - Você é jornalista experiente, com 30 anos de carreira - foi repórter de Política em Brasília por muitos anos, Correspondente Internacional, cobriu várias tragédias e casos de repercussão pelo Fantástico. Esta foi a reportagem mais difícil e intensa que já fez? Cristina Serra - Como repórter, vi

de perto muitas tragédias, de impacto humano gigantesco, como o terremoto no Haiti e as chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. O colapso da barragem de Fundão, da Samarco, também teve consequências humanas e ambientais dramáticas. O que me motivou a escrever o livro foi um conjunto de fatores, mas especialmente a percepção de que havia responsabilidades pelo colapso. O rompimento não foi decorrência de um fenômeno natural, como um terremoto ou chuvas excepcionais. Foi consequência de decisões erradas tomadas ao longo de todo o histórico da barragem. Achei que ali tinha uma história pedindo para ser contada. Plurale - Quando percebeu que ali havia um livro/reportagem para ser escrito? Em quanto tempo escreveu o livro? Quantas entrevistas foram feitas? Cristina Serra - Fui passar o Natal de 2015 com famílias dos atingidos. Isso teve um impacto muito grande sobre mim. Como era de se esperar, as pessoas estavam muito tristes. Era tudo muito recente. O que mais me impressionou, porém, foi perceber a fibra daquelas pessoas em tentar reconstruir suas vidas, superar as perdas e fortalecer os laços entre

elas. Bento Rodrigues era um povoado com mais de 300 anos. Algumas famílias descendem de escravos que trabalharam na mineração. Portanto, os laços comunitários ali são muito fortes. O rompimento abrupto desses laços provocou um impacto psicológico muito grande nos moradores. Apesar disso, a força deles para seguir em frente me impressionou muito. Lembro de pensar sobre isso no avião, voltando para o Rio de Janeiro para editar a matéria. Acho que isso e outros fatores que já mencionei me levaram, nesse momento, a pensar que tinha um livro nas mãos. Posso dizer que trabalhei no livro nos últimos três anos porque fui juntando material desde que fui à Mariana, em novembro de 2015 para fazer uma reportagem para o Fantástico, onde trabalhava na época. Fui tocando o livro enquanto ainda trabalhava na TV, mas tirei duas licenças, de seis meses cada, para me dedicar integralmente a ele e ao fim da segunda licença meu contrato acabou e decidi não renová -lo para que pudesse terminar o livro com calma. Fiz mais de 100 entrevistas, além de algumas conversas em off. Meu objetivo desde o começo era contar uma história com personagens que o leitor pudesse conhecer, sem que estivessem, digamos, camuflados pelo off. Algumas pessoas, porém, só concordaram em falar sobre alguns aspectos da investigação em off. Como essas pessoas tinham informações importantes, concordei em ouvi-las sob a condição do anonimato. Mas, realmente, foram muito poucas. Plurale - Se tivesse que apontar culpados por esta que foi a maior tragédia ambiental do Brasil e das Américas, quem apontaria? A Samarco... os projetistas da barragem... as instituições do licenciamento ambiental... autoridades que não fiscalizaram como deveriam ter feito... Cristina Serra - A Justiça dirá quem são os culpados. Desde o começo, meu objetivo foi contar histórias: as histórias das 19 pessoas que morre-

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Entrevista

ram; a história da construção da barragem, de seu processo de licenciamento e das pessoas nele envolvidas; da investigação; e do Rio Doce, o qual eu também trato como um personagem. A investigação aponta muitos erros cometidos pelos dirigentes da empresa e dos operadores da barragem e isso está relatado. Meu esforço foi mostrar os vários aspectos dessa tragédia e ouvir o máximo de pessoas que tivessem alguma coisa a contribuir com a compreensão do desastre. Deixo as conclusões para os leitores. Plurale - O seu livro mostra também o poder dos controladores da Samarco - empresa meio a meio controlada por duas das maiores mineradoras globais - a brasileira Vale e a australiana BHP. Cristina Serra - A investigação do Ministério Público Federal mostra isso. O MPF fez um trabalho bastante exaustivo sobre a governança da Samarco e sobre a participação das duas controladoras, por meio do Conselho de Administração. Os Procuradores examinaram praticamente todas as atas das reuniões do Conselho e as das várias instâncias de governança da mineradora. São milhares e milhares de páginas de anexos da denúncia

oferecida pelo MPF e aceita pela Justiça Federal. Nesse aspecto, meu trabalho foi selecionar as informações mais relevantes, interpretá-las com a ajuda de especialistas e fazer as devidas conexões entre os fatos para que o leitor possa entender o que aconteceu. Plurale - Até hoje a Justiça ainda não foi realmente feita. Ninguém foi preso. O pagamento justo de indenizações ainda é questionado. Acredita que será mais um caso para não ser feita Justiça, dentro da morosidade e recursos sempre impetrados pelos mais poderosos? Qual tem sido o papel de Procuradores e do Judiciário neste caso, na sua opinião? Cristina Serra - Os Procuradores fizeram uma investigação bastante abrangente e minuciosa, ofereceram a denúncia com os devidos crimes tipificados, pouco antes do aniversário de um ano do caso e a Justiça aceitou a denúncia. O processo criminal corre na Justiça Federal em Ponte Nova, Minas Gerais, sob cuja jurisdição está Mariana. O processo se arrasta lentamente, o que já era esperado dado o número de réus, 22 ao todo e mais as empresas, e a infinita possibilidade de recursos. O Juiz encarregado do proFOTO DE FÁBIO RIBEIRO/ PORTAL VÉRTICES

cesso tem milhares de outros sob sua responsabilidade. Portanto, acho que este caso tem tudo para dar em nada. A prescrição de alguns crimes já está batendo à porta e o risco de impunidade é enorme. Plurale - De todas as histórias contadas qual mais te emociona? A da Paula, a moça da moto, que ajudou a salvar muitas vidas avisando da enxurrada de lama? Ou a do sobrevivente Romeu, que estava na crista da barragem quando ela rompeu? - Essas duas histórias são especiais, de fato, embora muitas outras me emocionem. Paula Alves é um ser humano extraordinário. Ela estava na área rural do povoado quando viu a lama se aproximando. Subiu na sua motinha e correu para o povoado, onde ela morava com o filho e os pais. Paula rodou por Bento Rodrigues até a gasolina acabar avisando as pessoas para que saíssem de casa. Ela foi a sirene que a Samarco devia ter instalado nos povoados próximos da barragem e não instalou. Romeu estava na crista da barragem quando ela rompeu. Ele afundou na lama e é um milagre que tenha sobrevivido. Outra história que me comove muito é a da diretora da escola, Eliene, correndo com seus alunos para se salvarem, entre eles uma moça de 15 anos que estava grávida de oito meses. Plurale - Lugarejos/distritos inteiros foram engolidos pela lama. A biodiversidade de toda a Bacia do Rio Doce - de Minas Gerais até a foz no Espírito Santo - foi atingida. Ninguém sabe ao certo quando os danos poderão ser reparados. A Renova (empresa criada para gerir a crise e reparar os danos) tem procurado divulgar esforços ao menos para tentar reparar estes danos. O livro mostra também este lado da história? Cristina Serra - O livro mostra o caminho da lama e o impacto desta na bacia do Rio Doce até a chegada

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FOTO DE ANTONIO CRUZ, DA AGÊNCIA BRASIL – ARQUIVO

no Oceano Atlântico. No fim de 2017, percorri o caminho da lama, que eu já havia percorrido em 2015. A mancha no oceano tinha se espalhado, mas continuava lá. Os técnicos do ICMBio, que monitoram a dispersão da lama, encontraram fragmentos da mancha no arquipélago de Abrolhos, ao norte da foz, e no litoral de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, ao sul da foz, que fica em Regência, no Espírito Santo. Isso dá uma ideia do alcance desse desastre. Outros impactos estão relatados no livro, mas o fato é que todos os pesquisadores que ouvi não sabem avaliar se o rio vai se recuperar e em quanto tempo. Menciono algumas iniciativas de recuperação da Renova, mas não pude mostrar esse trabalho de forma mais detalhada por duas razões. Primeiro, a Renova demorou meses para responder ao meu pedido de entrevista. Quando me responderam, o livro estava pronto e eu acabara de entregá-lo para a Editora. O segundo fator é que, ainda que eu tivesse tido tempo, me parece que o trabalho da Renova evolui mês a mês e qualquer coisa que eu escrevesse estaria desatualizada quando o livro fosse publicado. Como eles tem um site para divulgação de seu trabalho, quem tiver curiosidade pode consultá-lo. Me preocupei em contar histórias de quem não teria como contá-las se não fosse o livro. Plurale - Você sofreu muitas pressões ao escrever o livro? Cristina Serra - A única pressão foi a do tempo para entregar o livro

A moradora – e sobrevivente - Paula Alves é um ser humano extraordinário. Ela estava na área rural do povoado quando viu a lama se aproximando. Subiu na sua motinha e correu para o povoado, onde ela morava com o filho e os pais. Paula rodou por Bento Rodrigues até a gasolina acabar avisando as pessoas para que saíssem de casa. Ela foi a sirene que a Samarco devia ter instalado nos povoados próximos da barragem e não instalou. ”

no prazo (risos). Plurale - Você foi repórter da TV Globo por 26 anos. Primeiro pediu licença para fazer a reportagem. Depois saiu. O livro foi responsável pela sua saída? Cristina Serra - O livro foi um dos fatores. Eu percebi que jamais conseguiria fazer o livro que queria fazer se continuasse trabalhando na televisão. Na época, como falei, eu era repórter do Fantástico. Cada semana cobria um assunto diferente em algum lugar distinto do país. Uma semana estava em Manaus, na outra em São Paulo, na outra no Recife. Vida de repórter é assim mesmo e eu adorava o que eu fazia. Mas não estava tendo tempo nem condições de focar no livro. Fiz uma escolha. Não foi fácil. Mas, quando recebi o livro da editora pronto, com a capa impactante que ele tem, me dei conta do trabalho que fiz e tive a certeza de que fiz a escolha certa. Eu me comprometi 100% com essa história e, modéstia a parte, acho que cumpri minha missão. Plurale – Na sua opinião, que lições podem ser tiradas desta tragédia para empresas e para o gerenciamento de crises ambientais no Brasil? Cristina Serra - São muitas lições, mas eu diria que uma das mais importantes, foi sintetizada por um engenheiro geotécnico, Jean Pierre Rémy, francês radicado no Rio de Janeiro, que conhece bem o caso de Fundão. A lição é de que muitas vezes na vida é preciso dizer “não”, mesmo que você tenha que pagar um preço alto por isso - como perder um contrato - e a despeito de todas as pressões. A lição é de que os valores éticos e humanistas tem que estar acima do objetivo de ganhar dinheiro, que é legítimo, mas não pode estar acima da segurança das pessoas e da preservação do bem-estar coletivo e do meio ambiente saudável que, segundo a nossa Constituição, é patrimônio de todos e das futuras gerações.

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Uma nova perspectiva para os negócios Por Eliane Kihara e Priscila Bueno O papel fundamental das empresas na criação de uma sociedade próspera em um ambiente equilibrado é inquestionável. Assim, o sucesso dos negócios também depende do bom relacionamento com as partes interessadas, com o poder público e com o meio ambiente. O endereçamento das perspectivas desses atores requer uma mudança de estratégia, priorizando uma visão de longo prazo que contemple também o monitoramento, reporte e valoração dos impactos positivos e negativos gerados pelos negócios. Assim como a sociedade sofre influência das atividades empresariais, as empresas também são impactadas pelo ambiente externo, seja pela necessidade de profissionais e consumidores ou de recursos naturais, insumos minerais e energia, entre outros aspectos. Isso configura uma clara relação de interconectividade, responsabilidade e dependência que precisa ser reconhecida e gerida. Essa nova forma de dimensionar e mensurar o sucesso, considerando aspectos que vão muito além do desempenho financeiro foi endossada em 2015, quando cerca de 200 países das Nações Unidas decidiram adotar uma nova agenda para o desenvolvimento sustentável, comprometendo-se com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas, e ratificaram o Acordo de Paris sobre mudanças do clima. Esse compromisso representa uma oportunidade para os CEOs repensarem a estratégia e o processo de tomada de decisão sob um novo viés, que considere, além dos aspectos financeiros, o valor da sua contribuição para sociedade e seu impacto na consecução dos objetivos globais. De acordo com a 21ª pesquisa Global com CEOs da PwC (PwC 21st Annual Global CEO Survey), realizada com 1.293 líderes em 85 países, 31% dos CEOs demonstram preocupação com as mudanças climáticas e danos ambientais e 43% classificaram a escassez de recursos e as mudanças climáticas entre as três principais megatendências que podem causar impacto em seus negócios.

Essa preocupação de cerca de um terço dos entrevistados não é sem fundamento. A tendência é que os governos se tornem mais rigorosos no monitoramento e definição de regras para cumprir as metas assumidas globalmente, seja por meio da criação de instrumentos de comando e controle ou vinculados a aspectos econômicos, incentivando as empresas a relatar e reduzir suas próprias emissões e a buscar fontes de energia renováveis. As empresas precisarão responder incluindo os custos de redução de suas emissões em decisões de investimento e estruturas de preços, redefinindo, se necessário, o portfólio de produtos, com base na análise do ciclo de vida e avaliando novos modelos, como a economia circular. Há ainda muito a avançar. Mesmo que um terço dos entrevistados estejam preocupados com os impactos das mudanças climáticas, foi capturada uma avaliação sombria do impacto da globalização para evitar mudanças climáticas e escassez de recursos perante a avaliação de 30% dos CEOs de que globalização não ajudou em nada.


Geopolitical uncertainty

Over-regulation 2017

42%

2017

2018

42%

2018

Uncertain economic growth 26%

2018

31%

2018

38%

2017

42% 29% 36%

2018

Changing consumer behaviour

Availability of key skills 2017

29%

31% 38%

2017

26%

2018

26%

19% 29%

2018

Volatile commodity prices

Social instability

Increasing tax burden

29%

2018

2017

2017

40%

2018

Exchange rate volatility 2017

31%

Speed of technological change 34%

2017

Protectionism

24%

2017

2017

29%

2018

24%

2017

40%

2018

Terrorism 2017

20%

2017

41%

2018

35%

Climate change and environmental damage

Inadequate basic infrastructure

2018

19%

2018

Populism

2018

2017

2018

Lack of trust in business

Cyber threats 2017

20% 42%

20% 26%

2017 2018

31%

Fonte: PwC 21th Annual Global CEO Survey

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Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto sugerir, ao próprio network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure © 2018 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados.


Artigo Marina Grossi

PRECISAMOS FALAR DE

SUSTENTABILIDADE

D

iante da disputa acirrada para as eleições presidenciais deste ano é imprescindível garantir compromissos expressos em uma agenda de políticas de Estado, para além das circunstâncias partidárias e das conveniências eleitorais. E por isso, ciente de nosso importante papel como representante das maiores empresas brasileiras, responsáveis por sustentar mais de um milhão de empregos no País, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) está, desde antes do pleito, reafirmando, junto aos então candidatos, 10 propostas para um País Sustentável. Elas tratam de matriz energética renovável, geração elétrica sustentável, eficiência energética, smart grid, desmatamento líquido zero, mercado de carbono, instrumentos financeiros verdes, saneamento e reúso da água, emissões no transporte urbano e diversidade e inclusão. É uma “Agenda CEBDS por Um País Sustentável”, sustentada em uma pergunta principal: “Que sociedade nossos negócios estão construindo? “. São propostas bastante pragmáticas, sem tergiversação e muito menos a ambição de resolver todos os problemas brasileiros. Foram elaboradas a várias mãos, num esforço de meses que juntou algumas das mais relevantes lideranças empresariais, sobre a tarefa de identificar gargalos, trocar experiências e oferecer soluções para que tenhamos não somente um crescimento

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sustentável, mas um crescimento qualitativo em nossos negócios. Todas as propostas estão atreladas diretamente aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), determinados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um “plano de ação universal” para definir as áreas que devem ser priorizadas para incorporar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: social, ambiental e econômica. Mais do que buscar integrar essas dimensões, esse plano de ação visa à transformação dos atuais padrões de desenvolvimento para um novo modelo que reduza a pobreza, as desigualdades de renda e de gênero, a exclusão social, a degradação dos recursos naturais e que segurança

PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2018

alimentar e uso eficiente dos recursos. Ao garantirmos do presidente eleito o compromisso com essa agenda teremos mais do que um demonstrativo de suas boas intenções, mas a garantia de tratamento de Estado para cenários atuais, de escassez hídrica, mudanças climáticas afetando diretamente a segurança alimentar e direito à vida, e apoio a formas mais eficazes e ecológicas de garantir desenvolvimento e prosperidade. É urgente e necessário que o próximo governante federal, bem como os representantes executivos estaduais e os legisladores eleitos tenham consciência da importância da agenda da sustentabilidade. É preciso posicionar essa agenda em sua dimensão sistêmica, na integração entre empresas, sociedade e políticas públicas. As ameaças que enfrentamos e enfrentaremos são capazes de comprometer nosso modo de vida atual e os negócios como os conhecemos hoje. Afinal, estamos falando de emprego, do impacto que a gestão dos recursos naturais (petróleo e água, por exemplo) pode ter na vida das pessoas e na riqueza do País, de clima afetando agricultura e reservatórios. São temas palpáveis que não podem estar ausentes da pauta dos candidatos. O CEDBS pretende eliminar essa ausência com sua agenda e temos confiança de que o próximo mandatário a leve em conta e não deixe passar essa oportunidade de virada. (*) Marina Grossi é Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável



Colunista Flávia Ribeiro

CAMINHOS PLURAIS PARA UM FUTURO

SUSTENTÁVEL

Como os estudos de futuro podem ajudar indivíduos e líderes a promoverem as mudanças necessárias para um amanhã melhor?

C

omo estudos do futuro estão impactando a gestão e a governança das mudanças que queremos no Brasil e no mundo? Você conhece o significado do conceito de foresight e já ouviu falar do futurismo científico? Já imaginou onde vai trabalhar daqui a 10 anos? Qual o seu propósito, seu papel no mundo? As gerações Y e os milennials nunca estiveram tão inquietos e movidos por fazer a diferença. Mas os modelos tradicionais da economia não absorvem mais a maioria desses profissionais. Como então se preparar para a transição nesse novo modelo de fazer negócios? Vivemos um momento único não só no Brasil, mas no mundo. Uma nova categoria de jovens tem crescido no mercado de trabalho: os freeworkers (digital economy). “Eles serão 50% até 2020 e irão representar 75% da força de trabalho do mundo até 2025. As pessoas estão criando novos ecossistemas para o mercado de trabalho”, comenta a futurista Jaqueline Weigel, da W Future School. Dentro desse contexto, o Brasil não está predestinado ao fracasso. Especialistas apontam que a solução está na capacidade dos profissionais brasileiros. Depende de cada um de nós acreditar que temos os recursos para sair da ruína ética e econômica em que estamos mergulhados atualmente. Olhamos para outros países e a síndrome do patinho feio sempre nos acomete. Por que não rompemos essa barreira e acredi-

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Olhar para o futuro é fazer um exercício de que as possibilidades são plurais e não previsíveis”

tamos que podemos traçar novos arranjos produtivos de inovação e eleger caminhos criativos que nos ajudem a superar o momento de incertezas e grave crise? É bem verdade que a situação que o Brasil enfrenta hoje, quando falamos em desenvolvimento sustentável, é muito grave. Experimentamos um momento que é consequência da governança catastrófica e das escolhas éticas dos últimos anos. O País não tem colocado na pauta o tema da sustentabilidade no longo prazo e atualmente todos estão apenas correndo atrás de sobreviver. Segundo Rosa Alegria, pesquisadora e cofundadora e foi vice-presidente do NEF (Núcleo de Núcleo de Estudos do Futuro) da PUC-SP, nos últimos 25 anos fracassamos nas tentativas de implementar o Triple Bottom Line. “O conceito foi criado nos anos 1990 por John Elkington, mas infelizmente não

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foi profundamente integrado nas grandes empresas. Ele mesmo admitiu que não obteve o sucesso esperado quando projetou um futuro muito diferente do que experimentamos hoje há 25 anos”, destaca a especialista. “Eu incluiria mais um eixo nesse tripé que seria o indivíduo e a necessidade de mudança interior”, complementa. Rosa defende a necessidade de uma mudança profunda cultural da sociedade e que esse movimento precisa de muita consciência coletiva para dar certo. Novos métodos de foresight estão sendo estudados para inovação dos negócios e das instituições sociais. A Astana - a capital do Cazaquistão - é a cidade zero carbono, concebida para viver sem emissão de carbono e um bom exemplo de que temos inspirações

Jaqueline Weigel, da W Future School


Rosa Alegria, pesquisadora e cofundadora e foi vice-presidente do Núcleo de Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP

de que um futuro mais sustentável já é possível. Os estudos do futuro apontam que, no caso do Brasil, o governo está muito atrasado no conceito de foresight. Imaginem que a Finlândia tem um Ministério voltado para o futuro, o Chile tem uma Comissão no Senado focada em estudos do futuro há cinco anos, a Austrália tem uma governança muito avançada também em modelos de gestão no governo. Cases de corporate foresight demonstram que muitas empresas como Basf e Volks, entre outras, estão testando novos modelos na Europa e obtendo sucesso. Na Europa, o termo “prospectiva” tornou-se amplamente usado para descrever atividades como: pensamento crítico sobre desenvolvimentos a longo prazo, debate e para alguns futuristas que são normativos e se concentram na ação dirigida por seus valores que podem estar preocupados com o esforço para criar uma democracia participativa mais ampla. A prospectiva é um conjunto de competências e não um sistema de valores. Rosa ensina que, olhando para toda a história, todas as crises geram sementes para o novo. “É como se fizéssemos uma limpeza de ética, de disrupção com os atuais paradigmas. Temos que passar por essa etapa”, destaca. Somos coautores de um mundo novo. “É pre-

“Os estudos do futuro apontam que, no caso do Brasil, o governo está muito atrasado no conceito de foresight. Imaginem que a Finlândia tem um Ministério voltado para o futuro, o Chile tem uma Comissão no Senado focada em estudos do futuro há cinco anos, a Austrália tem uma governança muito avançada também em modelos de gestão no governo”

ciso agir coletivamente, exercitarmos a nossa indignação de forma positiva. O brasileiro está inerte, paralisado e é preciso mudar o modelo vigente para avançarmos em nova direção”, aconselha. Como então os jovens podem se preparar para essa mudança? Na visão de Jaqueline Weigel, a maior habilidade dessa nova era é a presença: capacidade de observar, tomar decisões e fazer as suas escolhas. Vivemos um momento de estado de alerta: os líderes do futuro precisam encontrar a sua identidade. “O Brasil está experimentando um movimento progressivo para uma evolução do modelo no mercado de trabalho e a alfabetização do novo profissional. Os investidores querem saber qual o impacto social dos negócios e as mudanças são estruturais e a tecnologia precisa de tempo

para amadurecer isso”, comenta Jaqueline. Atualmente, uma das maiores lacunas de gestão é a cultura imediatista e materialista. “Faltam líderes com um mindset diferente, digital, exponencial”, complementa. Como os estudos do futurismo podem contribuir no processo de aceleração do desenvolvimento sustentável? Essa e outras questões, ainda sem resposta, têm sido investigadas por pesquisadores em todo o mundo. Olhar para o futuro é fazer um exercício de que as possibilidades são plurais e não previsíveis. Os futuristas costumam trabalhar com quatro cenários: os tipos de futuro possível, preferível, plausível e provável. Nessa direção, estudos de foresight podem contribuir para ajudar os executivos a se aproximarem da nova realidade. Como dizia o guru Alvin Tofler, o analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender. No Brasil, existem métodos para interpretar sinais do futuro. Falam-se muito em tendências, mas não devemos copiar os modelos estrangeiros. Jaqueline alerta para a necessidade de criarmos soluções no Brasil. “Tudo vai depender de mudanças culturais profundas. O mundo inteiro está se reinventando. Os negócios estão sendo remodelados”, destaca. Vivemos em uma era que o conhecimento está espalhado pelo mundo. “Cada um pode construir a sua trilha do conhecimento e de carreira com um conteúdo totalmente personalizado”, comenta a especialista da W Future School. Há cursos disponíveis em plataformas de ensino digital que podem facilitar muito esse aprendizado, grupos que estão se conectando para trocar experiências, ideias e conhecimento. Não espere nem mais um minuto para começar a se reinventar. Particularmente, estou embarcando para uma nova experiência na Irlanda. E você, quais seus planos para um futuro sustentável? (*) Jornalista e consultora em sustentabilidade

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Pelo Brasil Fundação Grupo Boticário comemorou 28 anos preservando a natureza De Curitiba

Em setembro, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza completou 28 anos de atuação pela conservação da biodiversidade. Quase três décadas dedicadas à produção e aplicação de conhecimento científico em todas as regiões brasileiras, à manutenção e preservação de cerca de 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados no país –; ao desenvolvimento de metodologias e modelos de negócio focados no bom uso e na valoração dos recursos naturais; à sensibilização da população para a causa conservacionista. Para a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, as ações desenvolvidas pela instituição são pautadas pelo desejo de aproximar a natureza do dia a dia das pessoas e de fazer com que o poder público e o empresariado vejam o potencial econômico do capital verde. “A preservação da natureza é essencial para qualquer negócio, para o

bem-estar e para a saúde da população. O que seria de nós sem água, ar de qualidade e solo rico em nutrientes, por exemplo? Queremos inspirar as pessoas e incentivar a reflexão sobre as possibilidades que a natureza nos oferece, principalmente como solução para diversos problemas que enfrentamos atualmente”, destaca. Conquistas Entre as conquistas da Fundação o longo desses anos estão a criação e gestão de duas áreas naturais que equivalem, juntas, ao tamanho de Lisboa (110 km²). As reservas de Salto Morato (PR) e Serra do Tombador (GO) estão localizadas, respectivamente, na Mata Atlântica, onde vivem mais de 70% dos brasileiros, e no Cerrado, onde nascem as três principais bacias hidrográficas que abastecem o país. Além disso, a instituição já financiou ações de criação, implementação e estudos em mais de 500 áreas protegidas brasileiras por reco-

nhecer que esses espaços são a mais efetiva estratégia para a conservação da biodiversidade. Ao todo, são mais de 1,5 mil iniciativas e pesquisas científicas em preservação ambiental apoiadas financeiramente, tornando a Fundação uma das principais instituições da iniciativa privada a fomentar esse tipo de conhecimento. Por meio desse incentivo, mais de 170 novas espécies de animais e plantas foram descobertas. Para 2019, por exemplo, quase R$ 2 milhões estão reservados para programas com foco na proteção dos oceanos. O último edital, encerrado em agosto passado, foi exclusivo para a área costeiro-marinha e os projetos estão em fase de seleção. Isso mostra o alinhamento da instituição com movimentos globais de conservação, como a Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o período de 2021 a 2030.

FOTO DE ANDRÉ DIBB/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA

A Reserva Natural Serra do Tombador, mantida pela Fundação Grupo Boticário, fica em Goiás.

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PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2018


CEBDS reuniu empresários para debater desafios de sustentabilidade De São Paulo

A necessidade de implementação de um mercado de carbono e a urgência do melhor uso e tratamento dos recursos hídricos são, atualmente, alguns dos principais desafios que o Brasil enfrenta para alcançar um modelo sustentável de crescimento nos próximos anos. Essas foram algumas das principais conclusões entre os participantes do Congresso Sustentável 2018, realizado no dia 11 de setembro pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no Teatro Santander, em São Paulo. Durante o evento, que reuniu a mais alta de liderança de grandes empresas brasileiras – responsáveis por gerar mais de 1 milhão de postos de trabalho no Brasil em diversos segmentos –, foi apresentada a Agenda CEBDS por um País Sustentável. O documento, que pode ser baixado no site do CEBDS, contém 10 propostas elaboradas pelos CEOs das próprias empresas associadas à organização e destinadas aos candidatos à Presidência da República. Aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética, segurança hídrica, expansão do saneamento básico, soluções para transição a uma economia de baixo carbono, mecanismos financeiros de estímulo a práticas sustentáveis e equidade de gênero mercado de trabalho são alguns dos temas abordados. “Independentemente da polarização e das paixões políticas, o momento das eleições é para questionarmos: para onde estamos indo? Essa crise tem solução? Tem algo que eu possa fazer?”, provocou a presidente do CEBDS, Marina Grossi, durante a abertura do evento, destacando que a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável depende conjuntamente do indivíduo, do coletivo, da empresa e do governo. “A viabilidade do velho modelo econômico está ultrapassada. O setor empresarial brasileiro tem demonstrado na prática que é possível ampliar os investimentos em processos mais sustentáveis e econo-

micamente viáveis”, afirmou. Mercado de carbono A adoção do modelo de mercado de carbono como instrumento eficiente para estímulo à redução de emissões foi um dos consensos entre os empresários participantes do congresso. A falta de um engajamento maior do setor público para a aplicação de um sistema, contudo, foi mencionada como um obstáculo a ser superado. “Somos a favor da precificação de carbono, e entendemos que a melhor forma de fazer isso é olharmos para o crédito de carbono como uma solução que movimenta a economia. O CEBDS tem liderado essa discussão para que metas de intensidade e previsibilidade para o investimento sejam reguladas e mensuradas”, disse André Lopes de Araújo, presidente da Shell Brasil. Saneamento O presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, destacou o alto engajamento da sociedade durante as eleições deste ano, que propicia conscientização da população sobre o seu papel no processo de transformação. O executivo destacou, contudo, que o Estado precisa estabelecer condições básicas para garantir a segurança dos investimentos a serem feitos pelo setor privado, e citou o setor de saneamento como exemplo. “Por que o setor elétrico cresce? Porque existe um arcabouço confiável e claro e, assim, as empresas vêm investir com retorno aceitável. Por que questão financeira é conturbada quando se trata do saneamento? Porque esse problema não está na nossa tela, mas temos milhões de brasileiros sem água e esgoto”, disse Rial. “É impossível investir no setor sem ter que negociar com 5.600 municípios brasileiros. Assim, o Estado não provê algo fundamental, que é saneamento básico. Não falta dinheiro, não

FOTO DE ULISSES MATANDOS/ DIVULGAÇÃO

faltam investidores, por isso a sociedade deve se mobilizar”. Energia renovável O presidente da Vestas Brasil & Cone Sul, Rogerio Zampronha, observou que a energia eólica já representa 9% da matriz energética brasileira. “No ano passado, o volume de emissões de carbono que deixou de ocorrer por causa da fonte eólica é o mesmo que se teria se deixassem de circular 16 milhões de veículos, o que equivale a 85% da frota hoje no estado de São Paulo”. A superintendente de Sustentabilidade e Negócios do Banco Itaú, Denise Hills, estimou que nos próximos cinco anos o setor financeiro no Brasil deverá ter um avanço significativo na incorporação de aspectos socioambientais. Para André Clark, CEO da Siemens, o Brasil caminha para o powerhouse de geração de energia. “A transição energética passa por três coisas: tecnologia, mudanças climáticas e mercado consumidor. O Brasil foi protagonista em estabelecer marcos, estamos no centro dessas mudanças. Estados Unidos, China e Europa, fazem a transição por causa do carvão. Nós fazemos pelo uso da terra e da água”, compara. O Sustentável 2018 foi patrocinado pelo Santander, Itaú, Braskem, Philip Morris, iCS e Instituto Arapyaú, e contou com apoio da Nespresso e Filtros Europa. O evento terá suas emissões de carbono compensadas, através de compra de créditos de carbono ou plantio de árvores, em parceria com a Neutralize Carbono.

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Pelo Brasil José Roberto Tadros é eleito Presidente da CNC FOTO DE CHRISTINA BOCAYUVA – DIVULGAÇÃO/ CNC

De Brasília

O empresário amazonense José Roberto Tadros foi eleito em 27 de setembro, por ampla maioria - 24 votos contra 4 -, presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O mandato vai até novembro de 2022. A eleição ocorreu de forma democrática e transparente, com a vitória do grupo que consolidou apoio da maioria das federações que integram o Sistema Comércio. “O processo eleitoral foi realizado sob o mais rigoroso respeito ao rito estatutário”, disse o atual presidente, Antonio Oliveira Santos. “Desejamos que a nova Diretoria possa realizar um bom trabalho, reafirmando a relevância da CNC para o País e a defesa dos empresários do comércio de bens, serviços e turismo”, completou. José Roberto Tadros, 72 anos, atual presidente da Federação do Comércio

José Roberto Tadros, novo presidente da CNC: “Vamos dar sequência ao projeto de modernização, permitindo consolidar os avanços conquistados pela CNC e ampliar sua força e relevância”.

de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), assume o comando da CNC em 19 de

novembro, data em que também toma posse a nova Diretoria. Nascido em Manaus, Tadros é formado em Direito pela Universidade do Amazonas e atua como empresário do setor terciário desde 1974. Além das suas atividades comerciais e sindicais, ele é autor e coautor de diversos livros e membro da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia de Ciências, Artes e Letras do Amazonas. Para Tadros, a CNC seguirá ampliando sua presença no debate nacional, com propostas concretas para atuar de forma assertiva no fomento ao desenvolvimento do Brasil por meio do fortalecimento do comércio. “Vamos dar sequência ao projeto de modernização, permitindo consolidar os avanços conquistados pela CNC e ampliar sua força e relevância”, disse o presidente eleito.

Escola Aberje de Comunicação anuncia política de bolsas de estudo DIVULGAÇÃO

De São Paulo

Seguindo a sua missão de fortalecer a Comunicação das empresas e instituições e reforçar o papel estratégico e cidadão do comunicador, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), através da Escola Aberje de Comunicação, anuncia a sua nova política para concessão de bolsa de estudo. A partir de agora, 10% das vagas para os Cursos Livres de 8h e 16h de duração, para os Programas Avançados e para o MBA em Gestão da Comunicação promovidos pela Aberje serão destinadas a bolsistas de forma totalmente gratuita. Outras três vagas por disciplina

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ainda serão concedidas através de descontos nas mensalidades. A ação faz parte da diretriz de responsabilidade social da entidade e tem como objetivo propiciar acesso à formação e o desenvolvimento de comunicadores para um mundo em transformação. As bolsas serão destinadas a profissionais ligados a ONGs de atuação no campo social; de órgãos públicos de assistência social, defesa e

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segurança (Secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social; Secretarias de Direitos Humanos e Cidadania; Secretarias do Meio Ambiente; Polícia Militar; Corpo de Bombeiros e Forças Armadas), profissionais da Comunicação em situação de desemprego (elegível à modalidade de descontos, apenas durante o período do desemprego), além de estudantes e profissionais de baixa renda.


Conferência Ethos incentiva inclusão social, diversidade e combate à corrupção FOTOS DE CLÓVIS FABIANO/ INSTITUTO ETHOS

De São Paulo

A 20ª edição da Conferência Ethos, realizada nos dias 25 e 26 de setembro, em São Paulo, e organizada pelo Instituto Ethos, destacou as duas décadas de atuação da entidade em busca de uma sociedade mais justa e sustentável. Além disso, trouxe debates a respeito dos principais temas defendidos pela entidade, entre eles: combate à corrupção, inclusão social, direitos humanos, integridade corporativa, gestão sustentável, compliance e combate ao trabalho escravo. Entre os destaques do evento esteve o painel de abertura “A agenda econômica e as eleições 2018 – o que esperar para o desenvolvimento sustentável?”, que trouxe um diálogo sobre a agenda econômica nas campanhas presidenciais e as implicações para a recuperação da economia brasileira. O encontro promoveu também o diálogo sobre os desafios e oportunidades do Movimento Empresarial pela Integridade e Transparência. Lançada em julho pelo Ethos, a iniciativa conta com 50 signatárias e espera fechar 2018 com a adesão total de 80 empresas. O movimento produz, entre outras ações, estudos para ajudar na elaboração de políticas públicas. Além disso, o congresso trouxe discussões os temas civilizatórios e incontornáveis da agenda social brasileira como a equidade racial e a diversidade. Durante o painel, a historiadora, antropóloga e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Lilia Schwarcz, afirmou que conviver com a diversidade nos faz ser muito melhores seres humanos. “Infelizmente nossos índi-

Caio Magri, Diretor-Presidente do Ethos fez a abertura do evento, que marcou os 20 anos do Instituto

A educadora Diva Guimarães encantou a plateia com a sua fala

ces atuais tornam nítidas a invisibilidade dessas questões. Falta muito para podermos celebrar equidade racial e de gênero no Brasil”, ponderou a acadêmica. A abertura do segundo dia do evento foi realizada com palestra da educadora Diva Guimarães, que contou sobre sua trajetória de vida, conquistas e desafios. Em seu discurso, Dona Diva falou também sobre o racismo. Segundo ela, ainda possuímos a mentalidade do Brasil Colônia. “Temos que descolonizar as mentes e isso deveria acontecer na escola, no

entanto as escolas são uma fábrica de racismo. Os negros, pobres e indígenas são invisíveis”, disse a educadora. Ainda durante o último dia de debates, o Instituto Ethos promoveu o lançamento do Rating Integra para clubes esportivos. Inédita no mundo, a ação tem como objetivo incentivar os clubes no desenvolvimento da governança e de boas práticas. A ferramenta promete ampliar a transparência dessas organizações no país e aproximar investidores. “Os debates dessa 20ª edição foram enriquecedores para os participantes. Promover sustentabilidade e conduta ética nas empresas e na sociedade é, antes de tudo, uma forma de criar e manter as transformações que queremos conquistar daqui para frente. Precisamos nos desafiar diariamente para que possamos continuar em movimento. Se o futuro é a gente quem escolhe, é fundamental estarmos dispostos a mobilizar, a sensibilizar, a apoiar, a articular e a construir”, afirmou Caio Magri, Diretor-Presidente do Instituto Ethos.

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Especial Costa do Descobrimento

Mosaico: Plantio de eucalipto à esquerda e Mata Atlântica nativa preservada. Para cada hectare plantado pela Veracel, um hectare de mata nativa é preservado.

Aves e eucaliptos na terra onde o Brasil nasceu Veracel, gigante na fabricação de celulose, quer desmistificar a produção de eucalipto com modelo mosaico, misturando plantio com a preservação de Mata Atlântica nativa. Em breve ainda transformará a RPPN Estação Veracel, que está completando 20 anos, em um centro de pesquisa e difusão científica com a implantação de um Observatório de Aves, a ser gerido em parceria com o Observatório de Aves do Instituto Butantan de São Paulo. A observação de pássaros poderá ser uma alternativa para atrair novos turistas e gerar renda para população local Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Luciana Tancredo, de Plurale De Eunápolis e Porto Seguro (BA)

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uando Pero Vaz de Caminha relatou, em detalhada carta endereçada aos Reis de Portugal, a nova terra descoberta, pro-

curou traduzir em palavras e emoções o que por aqui encontraram, em 1500, o Capitão Pedro Álvares de Cabral e seus comandados. Fala em homens nus – “sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas” -, na beleza natural da região e também destaca que os indígenas se alimentavam de inhame, frutas e palmitos, uma vez que não havia animais domésticos, como galinhas ou cabras.

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Como ensinam os livros de História, primeiramente chamada de Ilha de Santa Cruz, o batismo foi corrigido para Terra de Santa Cruz. Na região onde hoje é Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália estão as raízes deste Brasil continental. O turismo é relevante fonte de geração de renda por estes lados que tem sofrido ao longo dos anos com a especulação imobiliária, com as mazelas de centros ur-


Ecoturismo: Ponte pênsil de madeira mistura lado rústico, com segurança, na RPPN Estação Veracel, que recebeu 700 visitantes em um ano.

banos e com a falta de empregos para seus habitantes. Mas o turismo não é a única alternativa econômica. Outra atividade chama a atenção de quem sobrevoa a região antes do avião pousar no Aeroporto de Porto Seguro: o plantio de eucaliptos para produzir celulose e também a produção agrícola e pecuária. Do alto, as árvores formam uma espécie de tapete verde, entremeado por pas-

Celulose de alta qualidade: Fábrica tem equipamentos e padrões internacionais.

tos, rios, Mata Atlântica nativa e outras culturas. Com poucas indústrias na região, a grande fábrica da Veracel, Celulose fincada no município de Eunápolis (vizinho de Porto Seguro) é) quer ser reconhecida como um case na busca por conjugar produção com sustentabilidade, em busca de desenvolvimento local. Produz 1,1 milhão de toneladas de celulose branqueada de eucalipto por ano, toda destinada a seus acionistas, a maior parte destinada à exportação. São 756 funcionários próprios e cerca de 2,5 mil terceirizados. Em 2017, o grupo pagou R$ 105,814 milhões em tributos totais, sendo R$ 16,456 milhões destinados aos municípios de atuação. Não foram poucos os desafios e questionamentos que esta companhia – controlada meio a meio pela suecofilandesa Stora-Enso e brasileiros da Fibria - precisou enfrentar desde que fincou raízes em região tão emblemática, onde nasceu o Brasil, em 1991. Ao longo dos anos foi preciso justificar com dados e explicações - porque estavam plantando uma espécie exótica em terras tão emblemáticas. Ambientalistas e lideranças locais questionaram vários pontos: se houve desmatamento de matas nativas; expulsão de povos indígenas e comunidades tradicionais; uso intensivo de agrotóxicos; se as plantações de eucalipto secaram a água natural da região e provocaram a desertificação do

FOTOS DE LUCIANA TANCREDO/PLURALE

Variedades: Diferentes espécies de pássaros podem ser observadas na RPPN Estação Veracel, como beija-flores, papagaios, periquitos, araras e o ameaçado crejoá.

solo. Os representantes da Veracel acreditam que seguiram todos os padrões legais e que esta fase do que chamam de “mitos” ficou para trás. “A Veracel começou as suas atividades em 1991 com o plantio e o início das atividades da fábrica foi em 2005. Nunca desmatamos. Pelo contrário, protegemos matas nativas. Eram terras que já tinham sofrido forte interferência desde a chegada da BR 101 nos anos 70 e de outras atividades econômicas. Compramos terras e plantamos em mosaicos, formando corredores ecológicos. Geramos empregos e riqueza na região. A Veracel passou a fazer parte da solução”, assegurou o jovem Andreas Birmoser, CEO da companhia, que trabalhou em escritórios no exterior, mas se orgulha de estar no “coração” da história verde-e-amarela com a sua família. Andreas recepcionou grupo de 15 jornalistas especializados em Meio Ambiente e Papel e Celulose convidados a conhecer o modelo de produção e desenvolvimento local da Veracel no Sul da Bahia. Os executivos imaginavam, claro, que seriam questionados pelos visitantes, mas não imaginavam que passariam por uma verdadeira “sabatina”. O Diretor de Sustentabilidade da Veracel, Renato Carneiro, afirmou que as técnicas empregadas “visam gerar o menor impacto ambiental possível, como o cultivo mínimo do solo” e uso consciente de agrotóxicos.

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Especial Costa do Descobrimento FOTO DE LUCIANA TANCREDO/PLURALE

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Andreas Birmoser, CEO da Veracel Celulose - “Nunca desmatamos. Pelo contrário, protegemos matas nativas. Geramos empregos e riqueza na região. A Veracel passou a fazer parte da solução.”

Renato Carneiro, Diretor de Sustentabilidade da Veracel: “As técnicas empregadas visam gerar o menor impacto ambiental possível, como o cultivo mínimo do solo.”

dução de madeira e florestal é feita em equilíbrio com o meio ambiente regional. “Temos feito monitoramento com relação a aves e também mamíferos – mostrando que ao longo destes últimos anos esta população vem crescendo e está em um nível de preservação bastante bom. A fauna utiliza comprovadamente os maciços florestais plantados como área de circulação e passagem para os fragmentos nativos.” Outros questionamentos em relação ao plantio de eucalipto e produção de celulose são o uso da água da região, o descarte de resíduos sólidos da fábrica e ainda a utilização de fertilizantes, agrotóxicos e corretivos para a acidez do solo.

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DIVULGAÇÃO

E que para cada hectare de plantio comercial a Veracel mantém um hectare de área protegida ambientalmente. O modelo adotado, do plantio em mosaico, como o próprio nome indica, mistura o plantio comercial e a preservação de áreas protegidas, preservadas nos vales e encostas, enquanto o eucalipto ocupa os platôs. A área total da Veracel é de 190.376 hectares: a área de escopo de plantio certificado (Relatório FSC 2018) é de 87.263 hectares e a área de preservação de 96.401 hectares. Um sobrevoo de helicóptero ajuda a entender melhor o que os executivos mostram em apresentações de powerpoint. Os eucaliptos verdes mais claros ocupam principalmente as áreas planas e, logo junto, vizinhos, especialmente nas encostas, há Mata Atlântica preservada, em tom de verde bem escuro e produção de culturas locais, como café e mamão. Também se sobressaem quatro Reservas da região: o Parque Nacional do Pau-Brasil e a Reserva Natural do Patrimônio Natural Estação Veracel, a RPPN Rio do Brasil e o Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. Os porta-vozes frisam que a empresa obedece à todas as regras e, em alguns casos vai além. Como o limite de 20% de ocupação de municípios do interior e de 15% para municípios costeiro e que também não faz plantios na faixa de 10 quilômetros do litoral, preservando a paisagem da Costa do Descobrimento dedicada ao turismo. Outra medida importante para gestão ambiental, segundo a Veracel, são os sistemáticos monitoramentos do solo, água e clima que garantem a adequação das operações. Mas o eucalipto – espécie exótica - não enfraquece e resseca o solo, afetando a flora e fauna, especialmente afastando aves e mamíferos? Renato Carneiro garantiu que não, citando que este é mais um mito sobre a produção de eucalipto, reforçando que a pro-

O Diretor Industrial da Veracel, Ari da Silva Medeiros, destacou que “cerca de 98% de resíduos sólidos industriais são reciclados ou reutilizados” e que a queima de licor negro e biomassa geram 100% da energia necessária para a operação da fábrica, ainda disponibilizando excedente para o Sistema Brasileiro de Distribuição de Energia. E mostra o monitoramento ambiental do Rio Jequitinhonha, que acompanha a qualidade da água, flora e fauna aquática. “Isso começou antes mesmo da construção da fábrica”, disse, lembrando que, como garantia de qualidade do tratamento de efluentes, a água necessária ao processo produtivo é captada abaixo do ponto de devolução da água ao rio.


FOTO DE LUCIANA TANCREDO/PLURALE

Os executivos frisaram ainda que mais de 74% dos insumos agrícolas aplicados no plantio (fertilizantes e corretivos para acidez do solo) são provenientes de materiais reciclados do processo produtivo. Executivos da Veracel destacam que a região no Sul da Bahia tem excelente condição climática para o plantio de eucalipto e o processo produtivo ganha competitividade pela proximidade do local de escoamento, o Terminal Marítimo de Belmonte até o Porto no Espírito Santo – Portocel – especializado na exportação de celulose.

Ari da Silva Medeiros, Diretor Industrial, mostra monitoramento 24 horas de todas as atividades da fábrica e também da água e biodiversidade próxima do Rio Jequitinhonha

Passarinhando: incremento para novo turismo local FOTO DE JAÍLSON SOUZA – ESTAÇÃO VERACEL - DIVULGAÇÃO

Bem próxima das áreas de plantio está uma verdadeira “joia da coroa”: a Reserva Particular do Patrimônio Natural Estação Veracel, área particular de 6 mil hectares, mantida pela empresa, com status de RPPN, que está completando 20 anos. As apostas são que a atividade de observação de pássaros possa ajudar no processo de desenvolvimento sustentável local, atraindo novos turistas aficionados por este hobby, para conhecer espécies típicas. A Mata Atlântica desta região é o abrigo de mais de 300 aves, algumas delas bem raras e outras endêmicas, ou seja, ocorrem somente na região. O local está em vias de se tornar um centro de pesquisa e difusão científica com a implantação de um Observatório de Aves, que será gerido em parceria com o Observatório de Aves do Instituto Butantan de São Paulo. “Isso simboliza mais um passo em direção ao nosso compromisso com a construção de uma plataforma de diálogo e pesquisa”, disse Renato Carneiro, Diretor de Sustentabilidade e Relações Corporativas da Veracel. A área – que se estende pelos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália - foi reconhecida pela Unesco como patrimônio da humanidade. Abriga importantes pesquisas sobre o bioma Mata Atlântica e desenvolve um

O tão ameaçado Crejoá (Cotinga Maculata) é encontrado na RPPN Estação Veracel

programa de educação ambiental que atinge comunidades rurais e indígenas vizinhas. Especialistas em Mata Atlântica estão sempre visitando a RPPN para suas pesquisas. Além disso, as trilhas dentro da mata são um atrativo especial para visitação. Em 2018, a Estação Veracel deu início a um programa para observação de aves, o que deve contribuir mais ainda para o ecoturismo na região. Confirmamos de perto este potencial turístico. Em cerca de duas horas de caminhada fizemos a trilha do Pau-Brasil, a mais adaptada aos turistas, com uma ponte pênsil no meio do caminho, em verdadeiro estilo “Indiana Jones” e a visitação de centenárias e incríveis árvores típicas da região, como

a gindiba branca (ou samaúma), imbiruçu, e o pequi preto. As monitoras ambientais da Estação Veracel acompanham o grupo todo o tempo, explicando as características de cada árvore e mostrando os detalhes da biodiversidade que só aparecem nesta região. Pegadas de animais – como antas - não deixam dúvidas que a mata preservada é abrigo para diferentes espécies. Até mesmo uma onça já foi registrada na região por câmeras escondidas. Mas são os pássaros, sem dúvida, que rendem o melhor “espetáculo” para os visitantes. Como o crejoá (Cotinga Maculata), espécie em extinção: de acordo com pesquisa do ornitólogo Fernado Igor de Godoy, biólogo da Casa Floresta Ambiental de Pira-

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Especial Costa do Descobrimento FOTOS DE LUCIANA TANCREDO/PLURALE

cicaba, desenvolvida na RPPN Estação Veracel, o crejoá possui uma dieta composta principalmente de frutos e, algumas vezes, de insetos. Se alimenta sempre pousado e pode permanecer imóvel por até 40 minutos após as refeições, enquanto regurgita e espalha as sementes. Este processo normalmente acontece em uma região sombreada, abaixo da copa das árvores, o que facilita sua camuflagem na natureza. Mas há também beija-flores, papagaios, araras, juruvas (Baryphthengus ruficapillus), choca-de-soretama (Thamnophilus ambiguus), cabeça-encarnada (Ceratopipra rubroapilla), etc. Se Pero Vaz de Caminha relatou aos reis a esperança de ter ouro na Terra de Santa Cruz, não poderia imaginar que mais de 500 anos depois poderia estar na natureza a riqueza para esta gente tão necessitada de oportunidades. “Esta pode ser uma fonte de renda alternativa para moradores da região que podem ajudar na conservação ambiental. Os caçadores podem aposentar a espingarda e armadilhas para passarem a ser guias, com câmeras e binóculos”, espera a Gestora da RPPN, a bióloga Virgínia Londe de Camargos. Apesar de todo o monitoramento, de vez em quando são encontradas armadilhas e indícios de caçadores. Muitos por falta de opção e em busca de alguma caça para amenizar a fome. Virgínia acredita que ninguém melhor do que os moradores do entorno – bem treinados – para ajudar a guiar os turistas: o treinamento começou. “Os locais ainda não entendem o valor desta atividade apenas de observação de pássaros. Os jovens não enxergam opções para o futuro. Estamos nesta fase de educar e mostrar como esta região é privilegiada pela natureza”, contou Débora Jorge, Coordenadora de Comunicação da Veracel. Potencial turístico não falta, desde setembro de 2017 até agora, a Estação Veracel recebeu 700 visitantes. Para 2019 está prevista a construção de uma torre de observação, para facilitar a atividade dentro da Reserva. E a expectativa é que a visitação aumente com a construção de uma torre para observação dos

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A bióloga Virgínia Londe de Camargos, Gestora da RPPN Estação Veracel, acredita que a observação de pássaros pode trazer par a região turistas especializados neste “hobby” e ainda gerar renda para população local.

A jornalista Cris Rappa e sua máquina com objetiva para localizar e registrar os pássaros. Ela passou a unir o hobby com o gosto pela escrita e lançou livros sobre o tema para as crianças.

pássaros. Depois de Paraty e Ubatuba, Porto Seguro pode entrar para a lista de lugares atrativos para a atividade de observação de pássaros, ou birdwatching, como dizem os estrangeiros, os principais aficionados pelo “hobby”. Além da Estação Veracel, outras três Reservas protegidas próximas ajudam a formar atração para o Ecoturismo na Rota do Desenvolvimento. Para ajudar os visitantes, foi lançado o livro “Observação de aves na Costa do Descobrimento”, organizado pela Conservação Internacional, que pode ser baixado gratuitamente. O livro mostra que existem algo em torno de 100 milhões de adeptos do “passarinhar”, termo usado para a contemplação das aves na natureza, com o Brasil se destacando como o segundo maior habitat

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de pássaros do mundo, com mais de 1 mil espécies, perdendo apenas para a Colômbia. Aficionados como a jornalista Cristina Rappa, uma aficionada por “passarinhar”. “Adoro o prazer de estar na natureza, em silêncio, ouvindo os pássaros, buscando o melhor ângulo para avistar e fotografar as aves. Esta Reserva vale ser visitada”, disse, com a experiência de quem conhece bem diferentes biomas, como Amazônia, Pantanal, Cerrado e Semiárido. Acabou juntando as duas paixões – escrever e o avistamento de pássaros. Escreveu alguns livros para crianças sobre pássaros e acaba de lançar mais um livro “O soldadinho do Araripe”, com ilustrações de Maurício Veneza, sobre o pássaro que é símbolo da Serra do Araripe, no sul do Ceará.


Harpias são destaque na Estação Veracel FOTOS DE LUCIANA TANCREDO/PLURALE

Filhote gigante: grupo de pesquisadores do Projeto Harpia na Mata Atlântica comprovou a presença de dois ninhos de harpia dentro da reserva. São dois casais, cada um com um filhote. Luciana Tancredo, de Plurale, conseguiu registrar um dos filhotes no ninho. JAILSON SOUZA

Tem uma expressão muito usada por baianos – pense– válida para diferentes situações. É quase como uma vírgula ou uma pausa. Pois então, pense em um filhote de pássaro. Pensou? Neste caso, porém, não se trata de um pequeno filhotinho que cabe em uma mão. Estamos falando do filhote de gavião Harpia, imenso, soberano e majestoso, no topo da cadeia alimentar, se alimentando de macacos, preguiças e répteis menores. A harpia é a maior ave de rapina do Brasil: quando adulta, do bico à cauda mede quase um metro e, quando suas asas estão abertas, a distância entre suas pontas pode chegar a dois metros. Grupo de pesquisadores do Projeto Harpia na Mata Atlântica comprovou a existência na RPPN Estação Veracel de dois casais de harpias, cada um com um filhote. Também conhecida como gavião real, a harpia é uma espécie vulnerável de risco de extinção e muito rara na região da Mata Atlântica. “A descoberta desses dois ninhos tem um enorme significado porque é o resultado de todo um trabalho de preservação feito ao longo de quase 20 anos da Estação Veracel. Evidencia que o trabalho de conservação da Mata Atlântica na área de nossa atuação, inclusive com processos de restauração florestais, propicia a criação de corredores ecológicos e a viabilização de fluxo de animais entre os fragmentos que antes estavam isolados”, disse a Gestora da RPPN Estação Veracel, Virgínia Camargos, lembrando que a harpia precisa de uma área de 50 quilômetros quadrados para viver em florestas tropicais. Em sobrevoo de helicóptero, com as coordenadas exatas, foi possível registrar um destes filhotes em seu ninho, protegido à uma altura de cerca de 40 a 50 metros. “Não foi fácil registrar. As árvores se assemelham, formando uma espécie de tapete verde e prateado. Mas, lá no alto, bem ao longe, avistamos o ninho com o filhote”, comemorou Luciana Tancredo, Editora de Fotografia de Plurale em revista. O sobrevoo foi rápido e de longe para evitar estresse para a harpia. A foto foi feita com uma lente

Jaílson Souza: “Amo a natureza e os pássaros. Aqui me deram oportunidades e adquiri conhecimento”. Suas fotos ajudam a identificar as harpias que vivem na Estação Veracel.

objetiva para conseguir registrar de tão longe. A foto da capa desta edição foi editada com zoom. O Projeto Harpia na Mata Atlântica, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Amazônica (INPA), em parceria com a Estação Veracel, já reabilitou três harpias, devolvidas à natureza. Após a solturas, as aves passaram a ser monitoradas por telemetria de satélite. Os filhotes serão também monitorados por câmeras fotográficas e as penas coletadas no solo, embaixo dos ninhos, para que possam ser identificados pela genética o parentesco entre os casais e filhotes. Também uma onça pintada foi registrada na Reserva em março de 2017, quase 20 anos sem registro anterior. Foram instaladas 52 câmeras trap, que ficam escondidas e só são acionadas pelo animal, investimento de R$ 560 mil.

Em uma das imagens a onça parece estar quase “pousando” para a câmera. Cria da região, Jailson Souza , 47 anos, conhece bem a Costa do Descobrimento. Já fez de tudo um pouco: trabalhou em fazendas, foi mateiro no Parque Natural do Pau-Brasil e tornou-se brigadista. Trabalha há 11 anos na Estação Veracel, com foco especialmente no Projeto Harpia. Encontrou-se mesmo como fotógrafo de pássaros. São fotos suas, lindas, coloridas, que enfeitam a casa de recepção dos visitantes na Reserva. “Amo a natureza e os pássaros. Aqui me deram oportunidades e adquiri conhecimento”, relatou Jaílson. Com a sua experiência, tem sido possível monitorar as harpias que vivem na Estação Veracel e catalogar muitos dos pássaros registrados na RPPN.

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Especial Costa do Descobrimento

Jovem casal viaja o Brasil na rota dos pássaros No lugar de laptop, terno, gravata, roupas de escritório, estão binóculos, lunetas possantes e um aparelho que emite sons como o piar dos pássaros. Estes são os instrumentos de trabalho dos biólogos ornitólogos Caio Bezerra Mattos de Brito, 29 anos e Tati Pongiluppi, 34 anos. Os dois são guias de observação de aves e rodaram o Brasil de norte a Sul por cerca de 10 mil quilômetros de moto visitando escolas, tentando despertar em moradores e, especialmente, nas crianças o amor pelos pássaros. “Não trocamos a nossa vida no campo por nada”, assegurou a simpática Tati. Os dois acreditam que os pássaros são incríveis instrumentos de educação ambiental. “Pássaro é bom para falar de tudo: educação, pertencimento, saúde mental, etc”, destacou Caio, que primeiro fez uma viagem sozinho, saindo do Ceará para o Sudeste, de moto, para ajudar a mapear pássaros ameaçados de extinção. Escreveu um livro, como um diário de bordo – “Um caderno e uma moto- Narrativas de uma viagem”. Em Ubatuba, encontrou-se com Tati e a paixão em comum pelas aves desdobrou-se não só em novo projeto, mas também na vida a dois.

Os biólogos e ornitólogos Tati Pongiluppi e Caio Brito: unidos pelo amor aos pássaros, rodam o país para mapear espécies mais ameaçadas e praticando Educação Ambiental para estudantes.

Juntos, então, lançaram a Expedição Tesouros do Brasil, preocupados com a situação alarmante de diversos pássaros ameaçados de extinção no Brasil, especialmente por conta da perda de habitat. Passaram, então, a seguir para campo e coletar informações científicas sobre 10 espécies de aves ameaçadas, sobre o estado de conservação do ambiente nos quais vivem e com a missão também de inspirar o público, e as crianças a se reconectar com a natureza. Na RPPN Es-

tação Veracel estudaram e observaram a harpia ou gavião real. A estadia do casal no local acabou rendendo ainda o Mapa das Aves da RPPN Estação Veracel, material educativo cujo objetivo é despertar o interesse da população local pela natureza e o maravilhoso mundo das aves. Oito escolas municipais estão próximas da área protegida. É como se as crianças tivessem uma floresta para estudar ao vivo o que os livros ensinam.

Do plantio à fábrica Do plantio à fábrica, impressiona o alto padrão do processo produtivo da Veracel. Máquinas de última geração cortam os eucaliptos em campo e outras tiram folhas e empilham os troncos em grandes pilhas para serem recolhidos até a fábrica. Não é só: laboratório e especialistas procuram garantir a melhor “colheita”, selecionando as mudas e espécies que serão utilizadas. Em média, as árvores levam em torno de sete anos até crescerem e serem cortadas. Após um descanso, a mesma terra é reaproveitada para novo plantio. Especialistas explicam que a produção de muda leva em consideração vários fatores. É feita uma melhoria genética e seleção de clones com melhor resiliência às mudanças futuras de chuvas e água, lembrando que a região sofreu com forte seca em 2015 e 2016. O plantio das mudas fica a cargo prin-

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cipalmente de mulheres, moradoras do entorno de Eunápolis. Gente simples como Elieudes dos Santos, 29 anos, que antes trabalhava na colheita de café e há dois está nesta função. “Gosto de lidar com a terra”, conta. Tudo é catalogado, monitorado e acompanhado por funcionários e equipamentos de ponta. “Temos aqui o que há de mais moderno na produção de celulose”, disse o Diretor Industrial, Ari da Silva Medeiros, apresentando o “coração” da usina, uma sala com três painéis de controle, que se assemelha com as de grandes usinas hidrelétricas. Ele destacou também o lado sustentável, uma vez que nada se perde: o que sobra dos cavacos de madeira – utilizadas para a produção da celulose – se transformam em biomassa para alimentar as caldeiras. Na fábrica, as toras de eucalipto são transformadas em cavacos – pequenas

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lascas de madeiras – e depois, na linha da produção, passam por vários processos até que a placa de celulose esteja finalizada para embarque. Uma destas etapas é quando o material é cozido em digestor, com produtos químicos alcalinos, como em uma grande panela de pressão, “temperando”, feito uma “feijoada”. A etapa seguinte é o branqueamento: o papel marrom ficará branco como neve. Máquinas imensas depois “esticam” e “moldam” a celulose que será finalizada em placas grossas de material bem branco. Depois de secar e serem embalados como fardos de celulose, o produto segue por caminhões especiais até o Terminal de Belmonte, de onde é embarcado em barcaças até o Portocel, no Espírito Santo, o único porto da América Latina especializado no manuseio de celulose. Segundo os porta-vozes da Veracel, a cabotagem é uma alternativa ambientalmente


correta, pois cada viagem realizada por uma barcaça elimina cerca de 380 viagens de carretas, o que significa menos veículos nas estradas e, consequentemente, menos emissão de CO². Além da boa madeira, de técnicas e máquinas modernas há um diferencial que os dirigentes acreditam fazer diferença: a qualidade dos funcionários, a maioria de locais. Como Cícero José de Oliveira Santana, 37 anos, há 14 na Veracel. “Aqui foi o meu primeiro emprego. É a realização de um sonho”, orgulha-se o hoje operador de painel, que passou por várias etapas de produção e hoje estuda Engenharia de Produção. Quem também entrou para a Veracel jovem foi a estudante de Administração Andressa Campos Freitas, 21 anos, também moradora da região. “Não há muitas oportunidades de emprego por aqui. Tive sorte”, comemora a moça que trabalha na área de apoio a visitantes.

Automação no campo e na fábrica – Operadores controlam grandes equipamentos que colhem, empilham e depois caminhões levam o eucalipto para a moderna fábrica da Veracel, onde quase toda a produção é automatizada.

Setor de celulose brasileiro é líder mundial e vive fase de mudanças no controle acionário O Brasil é hoje um dos principais players no competitivo mercado de celulose no mundo. E não é só em celulose: as florestas plantadas também produzem para fins industriais, como a produção de madeiras, pisos laminados e papel. A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) associação que reúne a cadeia produtiva de árvores plantadas, do campo à indústria, junto aos seus principais públicos de interesse - prevê investimentos de R$ 24 bilhões entre 2017 e 2020 pelas empresas dos segmentos de celulose, papel e painéis de madeira. Os investimentos serão em ampliação de capacidade, moderni-

Elieudes dos Santos planta mudas.

zação das linhas de produção, manejo florestal, pesquisa e desenvolvimento e mecanização da silvicultura. O país possui 7,84 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e demais espécies para a produção de painéis de madeira, pisos laminados, celulose, papel, produção energética e biomassa. Ainda de acordo com a Ibá, as árvores plantadas são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País − os demais 9% vêm de florestas naturais legalmente manejadas. Analistas da área de papel e celulose aguardam ansiosos os desdobramentos

da anunciada aquisição da Fibria pela Suzano, em março de 2018. Os acionistas da Fibria receberão um total de cerca de R$ 29 bilhões e 255 milhões de novas ações da Suzano Papel e Celulose como parte do acordo de fusão. Ao somar a capacidade da Fibria (7,2 milhões de tonelada/ano) com a da Suzano (3,7 milhões ton/ano), a nova Suzano será dona de 16% da capacidade de produção mundial de celulose. Este processo de fusão das duas maiores produtoras de celulose do mundo está passando por avaliação de órgãos antitruste de diversos países.

Cícero José de Oliveira Santana trabalha há 14 anos na Veracel: é operador de painel e está estudando Engenharia de Produção. “É a realização de um sonho.”

A estudante de Administração, Andressa Campos Freitas, teve o primeiro emprego na fábrica e trabalha no programa de atendimento a visitantes.

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Especial Costa do Descobrimento

Cabecinha encarnada ou Ceratopira rubrocapilla

Beija-flor-de-fronte-violeta ou Thalurania glaucopis

FOTOS: LUCIANA TANCREDO,

E n s a i o

Sanhaço cinzento ou Tangara sayaca

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RPPN ESTAÇÃO VERACEL, EUNÁPOLIS E PORTO SEGURO (BA)

Saí-verde jovem ou Chorophanes spiza

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Beija-flor-balança-rabo-canela ou Glaucis dohrnii


Vista Aérea da RPPN Estação Veracel

Maitaca-de-barriga-azul ou Pionus reichenowi

Macacos-pregos

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Especial Clima

UNIDOS

PELA FORÇA DO

DIÁLOGO

Evento organizado no Rio de Janeiro pelo CEBDS reúne contribuições do meio científico, de governos e da sociedade civil para o combate às mudanças climáticas, por meio do Talanoa. Neste modelo de debate, objetivo é estabelecer um diálogo mais inclusivo, participativo e transparente Do Rio Fotos de Divulgação/ CEBDS

Mesmo que os 195 países signatários do Acordo de Paris cumpram suas metas de redução de emissões de carbono, assumidas após a realização a 21ª Conferência das Partes (COP21), em 2015, a temperatura global aumentaria em 2,8 graus centígrados em relação aos níveis do período pré-industrial. O alerta foi feito pelo Professor Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP) e membro da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), durante o Diálogo de Talanoa, realizado em 19 de outubro pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O dado apresentado por Artaxo representa quase o dobro da meta de 1,5 grau defendida pelo IPCC em relatório divulgado poucos dias antes do Diálogo de Talanoa, que lotou o auditório do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Os impactos de um aumento médio da temperatura maior do que esse patamar, explicou o Professor, iriam desde o comprometimento de ecossistemas terrestres à elevação do nível dos oceanos, o

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Professor Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo e membro da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), analisou o recente Relatório do IPCC e alertou para riscos ao não reduzirmos as emissões

que ameaça a existência de países insulares. No Brasil, os efeitos não seriam menos devastadores. A temperatura média na região da Amazônia registraria um aumento em torno de 6 graus, o que traria graves consequências para a sobrevivência do bioma. A queda na precipitação de chuvas na região Nordeste seria da ordem de 80% a 90% até

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o final do século. Como parte das alterações nos regimes de chuvas, o Sul do país teria um aumento 40% de precipitações, resultando em enchentes de grandes proporções. Outra má notícia é que esses efeitos já começam a ser sentidos no país, uma vez que a temperatura média do planeta já aumentou 1,1 grau em relação ao período pré-industrial. “No caso do Brasil, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já fez análises de aumento de temperatura. Toda a região do Nordeste do Brasil já registra um aumento de 2,5 graus e alteração na taxa de chuva, com uma queda de 60% de precipitações, o que é algo bem significativo, dadas as características climáticas da região”, disse Paulo Artaxo. Segundo o Professor da USP, o caminho mais viável para a redução efetiva dos impactos do aumento da temperatura global é o início imediato de um processo drástico de descarbonização das emissões ao longo dos próximos dois anos, até se chegar à eliminação total em 2040. Esforço coletivo Ao longo de toda a programação do Diálogo de Talanoa, um dos pontos em comum entre as falas dos


O público lotou o Auditório do Museu do Amanhã para participar do Diálogo de Talanoa, no Rio

participantes foi o de que o êxito no combate aos efeitos do aquecimento global dependem da soma de forças entre governos, empresa e sociedade como um todo. Mais precisamente na consolidação de políticas públicas que tratem o tema como estratégico, envolvam marcos regulatórios confiáveis e estímulos financeiros que viabilizem o investimento privado em novas tecnologias e a conscientização das populações de grandes cidades e de áreas rurais. “É do entendimento do setor privado que podemos ir além. Podemos promover um avanço mais significativo, com o desmatamento líquido zero nos biomas brasileiros, entre outras ações. Precisaremos trabalhar juntos com as empresas para que contribuam para o aumento da resiliência no mercado de trabalho e com menos custos sociais”, disse Ana Carolina Szklo, Diretora de Desenvolvimento Institucional do CEBDS. “Para promovermos essa transição é imprescindível não deixarmos ninguém para trás, com empregos verdes e decentes. O diálogo nunca foi tão importante, para que possamos trocar ideias, ouvir o outro”. Responsáveis por 70% das emissões globais de carbono, os

grandes centros urbanos são fundamentais para o êxito das ações de mitigação. O Secretário de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes, citou como exemplo o sistema de rodízio de placas de automóveis em São Paulo, criado para tirar uma parcela dos veículos em circulação na cidade com o objetivo de melhorar a qualidade do ar. “No início, a iniciativa foi recebida com muita resistência por parte da população. Hoje, se alguém propor retirar o rodízio, haverá resistência. Ou seja, demorou mais de 10 anos para o cidadão paulistano entender a diferença”, explicou Mendes. A Coordenadora do Portfólio de Política Climática e Engajamento do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Alice Amorim, apresentou as ações realizadas pela organização para a aprovação da nova lei ambiental no município de São Paulo. Aprovada no final do ano passado, o dispositivo legal estabelece meta de redução de 50% de emissões de CO ² em 10 anos e de 100% em 20 anos, a partir dos editais de licitação do sistema de transporte público. “A gente não está falando de carbono, e sim de saúde. E é isso que sensibiliza os moradores das grandes cidades sobre o tema”, disse a coordenadora do iCS.

Ana Carolina Szklo, Diretora de Desenvolvimento Institucional do CEBDS – “É do entendimento do setor privado que podemos ir além. Podemos promover um avanço mais significativo, com o desmatamento líquido zero nos biomas brasileiros, entre outras ações. Precisaremos trabalhar juntos com as empresas para que contribuam para o aumento da resiliência no mercado de trabalho e com menos custos sociais”

Secretário de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes –“No início, o rodízio de carros em SP foi recebido com muita resistência por parte da população. Hoje, se alguém propor retirar o rodízio, haverá resistência. Ou seja, demorou mais de 10 anos para o cidadão paulistano entender a diferença”

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Especial Clima

Segundo o Vice-Diretor para a América Latina da Rede C40, Ilan Cuperstein, as cidades são parte dos problemas relacionados às emissões de carbono, mas também da solução, uma vez que concentram centros de excelência sobre o tema. Criada em Londres em 2005 para tratar da pauta urbana relacionada a emissões de carbono, a C40 mobiliza 96 metrópoles, com um total de 650 milhões de habitantes e 25% da economia global. “As maiores oportunidades nas cidades estão em energia, mobilidade e transporte e no manejo de resíduos”, avaliou Cuperstein. Para o Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Alfredo Sirkis, já era previsível que apenas o cumprimento das metas do Acordo de Paris não seria

suficiente para a mitigação dos efeitos do aquecimento global. Ainda que o Brasil represente 3% das emissões globais e tenha conseguido reduzir significativamente o desmatamento na Amazônia durante o período entre 2004 e 2012, Sirkis avalia que o resultado das eleições trará um enorme retrocesso na pauta ambiental. “A gente vai ter postos-chave do próximo governo ocupados por forças que, no mínimo, não morrem de simpatia pelo debate, e vai haver um primeiro momento basicamente caótico. Nós não temos que perder a calma, nem ter medo do que vai acontecer. Temos que encarar como parte da vida e ter a tranquilidade de entender que, na questão climática, decisão só acontece quando prospera na sociedade e na economia”, avaliou.

O secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Alfredo Sirkis - “A gente vai ter postos-chave do próximo governo ocupados por forças que, no mínimo, não morrem de simpatia pelo debate, e vai haver um primeiro momento basicamente caótico. Nós não temos que perder a calma, nem ter medo do que vai acontecer. Temos que encarar como parte da vida e ter a tranquilidade de entender que, na questão climática, decisão só acontece quando prospera na sociedade e na economia”

Senso de urgência nas empresas Transição energética, redução de emissões e precificação de carbono foram os principais pontos debatidos por empresas no Diálogo Talanoa realizado pelo CEBDS. O painel “Como grandes empresas vêm contribuindo para o cumprimento do Acordo de Paris” mostrou a preocupação e importância da iniciativa privada no combate às mudanças do clima. Carolina Learth, Gerente de Sustentabilidade do Santander, falou da atuação do banco no âmbito da Sustentabilidade. “Começamos desenvolvendo projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), elegemos a economia de baixo carbono com foco estratégico na Bolsa de Valores de São Paulo e criamos um grupo de trabalho conduzido pelo Programa das

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Nações Unidas para o Meio Ambiente que trata do risco climático na carteira dos bancos. Além disso, somos o banco que mais financia energia fotovoltaica”, disse Carolina. Glauco Paiva, Gerente Executivo de Relações Externas da Shell, falou do investimento da empresa em energia renovável. A empresa fez um alerta sobre emissões e mudanças climáticas no início da década de 90 e, desde então, investe em energia solar, eólica e de hidrogênio. “Mesmo durante ciclos de baixa do barril do petróleo, a empresa faz investimentos anuais da ordem de US$ 1 bilhão em pesquisa e tecnologia para captura e sequestro de carbono e novas energias. O Brasil tem potencial energético renovável vasto e variado e pode se tornar uma potência mundial

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com aumento inferior a 2°C na temperatura global”, disse o executivo. Responsável por cerca de 6% das emissões globais de carbono, a indústria cimenteira foi representada por Fábio Cirilo, Consultor de Ecoeficiência da Votorantim Cimentos. Segundo ele, o setor tem o desafio de reduzir de 20% a 25% das emissões até 2030. Por isso, empresa está investindo em inovação no processo produtivo, como a substituição combustível fóssil por renovável, parte do calcário por argila e parte do clínquer por escória siderúrgica. Inovação também foi o tema da apresentação da Gerente de Novos Negócios da Sunew, Luísa Krettli, cuja empresa tem capital 100% nacional e produz painéis fotovoltaicos orgânicos (OPV, na sigla em inglês).


“A nossa tecnologia é muito habilitadora para se levar a comunidades remotas. Isso ainda não é uma realidade porque, como toda empresa de inovação, temos um grande dilema de inovação e custo. Para baratear, é preciso ganhar escala. Uma vez feito isso, a tendência é passarmos para um custo marginal zero até deixarmos de cobrar por material e sim por serviço”, explicou Luísa. “Inovação é um driver importante, mas o mundo pede indústria 4.0, e isso é algo que é demandado muito pouco no brasil. O que falta é uma visão estratégica de planejamento no país.” Precificação de carbono Um preço robusto para o carbono, que estimule um redirecionamento de investimentos para tecnologias mais limpas, foi recomendado pelo IPCC como a estratégia mais efetiva para prevenir uma mudança perigosa no clima do planeta. Por isso, a regulamentação do mercado de carbono no Brasil é uma das principais agendas de sustentabilidade do setor empresarial alavancadas pelo CEBDS. Uma carta aberta assinada por dirigentes de 26 organizações brasileiras e uma proposta de mecanismo precificação já foram apresentadas pela organização ao Ministério da Fazenda, mas enquanto esse mercado não é regulamentado recomenda-se a prática da precificação interna. “Em nossos projetos de investimento já consideramos um preço de carbono, para não corrermos o risco de investirmos em algo que tenderá perder valor ao longo do tempo. Nesse processo, avaliamos se emitimos mais ou menos que os nossos concorrentes, o que significa uma questão de posicionamento da empresa no mercado de cimento”, disse Fábio Cirilo, da Votorantim Cimentos.

Carolina Learth, Gerente de Sustentabilidade do Santander - “No Banco, começamos desenvolvendo projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), elegemos a economia de baixo carbono com foco estratégico na Bolsa de Valores de São Paulo e criamos um grupo de trabalho conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente que trata do risco climático na carteira dos bancos. Além disso, somos o banco que mais financia energia fotovoltaica”

Glauco Paiva, Gerente Executivo de Relações Externas da Shell - “Mesmo durante ciclos de baixa do barril do petróleo, a empresa faz investimentos anuais da ordem de US$ 1 bilhão em pesquisa e tecnologia para captura e sequestro de carbono e novas energias. O Brasil tem potencial energético renovável vasto e variado e pode se tornar uma potência mundial com aumento inferior a 2°C na temperatura global”

Luísa Krettli, Gerente de Novos Negócios da Sunew – “A nossa tecnologia é muito habilitadora para se levar a comunidades remotas. Isso ainda não é uma realidade porque, como toda empresa de inovação, temos um grande dilema de inovação e custo. Para baratear, é preciso ganhar escala. Uma vez feito isso, a tendência é passarmos para um custo marginal zero até deixarmos de cobrar por material e sim por serviço”

Fábio Cirilo, Consultor de Ecoeficiência da Votorantim Cimentos, lembrou que o setor cimenteiro tem o desafio de reduzir de 20% a 25% das emissões até 2030. “A Votorantim Cimentos está investindo em inovação no processo produtivo, como a substituição combustível fóssil por renovável, parte do calcário por argila e parte do clínquer por escória siderúrgica”

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Especial Clima

Talanoa: debate inclusivo e participativo Talanoa é uma palavra tradicionalmente usada pelos habitantes de países insulares do Oceano Pacífico para definir um processo de diálogo inclusivo, participativo e transparente. Esse sistema envolve o compartilhamento de ideias, habilidades e experiências de histórias e narrativas. A adoção desse formato de diálogo no debate sobre o combate aos efeitos do aquecimento global surgiu durante a 23ª Conferência das Partes da ConvençãoQuadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP23), a partir de uma sugestão de Fiji, país localizado no sul do Pacífico. O arquipélago é um dos ameaçados pela elevação do nível dos oceanos provocada pelo derretimento das geleiras resultante do aquecimento global. Desde meados deste ano, alguns

eventos foram realizados nesse formato. O que o CEBDS organizou em 19 de outubro não se encerrou com o encontro. As contribuições reunidas serão consolidadas, disponibilizadas on-line e servirão de subsídio para os debates da COP24, que acontece em dezembro em Katowice, na Polônia. “O objetivo aqui foi coletar contribuições da sociedade civil, das empresas e dos diversos atores que geralmente não participam das negociações climáticas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a qual serão submetidas todas essas contribuições, devidamente consolidadas”, explicou Laura Albuquerque, Assessora Técnica do CEBDS. “O governo em suas três esferas e o setor empresarial precisam implantar essas mudanças de estru-

Laura Albuquerque, Assessora Técnica do CEBDS – “O objetivo aqui foi coletar contribuições da sociedade civil, das empresas e dos diversos atores que geralmente não participam das negociações climáticas da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a qual serão submetidas todas essas contribuições, devidamente consolidadas”

turas que envolvem marcos regulatórios, tecnológicos, fiscais e de financiamento para essa requalificação. E isso poderá consolidar o Brasil como uma nova liderança empresarial, se assim quisermos. O CEBDS se compromete em manter essa agenda e em articular o diálogo com quer que sejam os atores.”

Estudantes de escolas públicas do Rio são premiados em concurso cultural “Como você pode se unir e ajudar na luta contra as mudanças climáticas?” Essa pergunta foi lançada a estudantes de escolas municipais do Rio de Janeiro como desafio de produção de conteúdo sobre temas ambientais que incidem sobre a sociedade. A iniciativa foi do CEBDS, em parceria com a Climate Reality Project – Brasil, e apoio do Centro de Educação Ambiental, Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, Grupo Cataratas e Aquario. Os melhores trabalhos foram divulgados durante o Diálogo Talanoa sobre Mudanças Climáticas, no Rio. “O relatório do IPCC é alarmante e pede urgência no aceleramento das mudanças que precisamos para limitar o aquecimento global em 1,5º C. Se não alcançarmos as metas, desastres ambientais e escassez de alimentos serão inevitáveis. É importante que crianças desenvolvam

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essa consciência, por isso propusemos a intensificação deste diálogo em sala de aula”, explica Marina Grossi, Presidente do CEBDS. Pedro Henrique Cruz, 10 anos, estudante da Escola Municipal Andrade Neves, no Jardim América, na Zona Norte do Rio de Janeiro, venceu em primeiro lugar o concurso cultural sobre mudanças climáticas. O simpático ganhador do concurso destacou para Plurale ser preciso tomar cuidado com as mudanças no clima, o que ajudaria a salvar o planeta seria adquirir novos hábitos de vida: “A gente tem que usar menos carro, pensar na bicicleta que não polui e não jogar o lixo pelas ruas”, disse. O concurso foi direcionado a estudantes de todas as idades, regularmente matriculados nas Escolas Municipais Sustentáveis do Município do Rio de Ja-

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Os vencedores do concurso – Pedro Henrique Cruz (o segundo da esquerda para a direita) tirou o primeiro lugar. “A gente tem que usar menos carro, pensar na bicicleta que não polui e não jogar o lixo pelas ruas”, disse.

neiro. As categorias foram: Desenho (até 8 anos) e Redação (a partir de 9 anos). Os alunos vencedores do primeiro e segundo lugar em cada categoria receberam um kit contendo um jogo, um livro ecológico autografado pelo autor, ingressos para o Aquario, uma camiseta, canudo e garrafa ecológicos.


Seguros FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Presidente da Fenasaúde, Solange Beatriz Palheiro Mendes, agradeceu o alto nível de palestrantes, como o Ministro do STF, Luís Roberto Barroso

4º FÓRUM DA SAÚDE SUPLEMENTAR REÚNE ESPECIALISTAS E AUTORIDADES Da Rio

No fechamento do 4º Fórum da Saúde Suplementar, a Presidente da FenaSaúde, Solange Beatriz Palheiro Mendes, agradeceu o alto nível das palestras e contribuições dos participantes e do público. Durante o evento, foram mais de 30 palestrantes, especialistas e lideranças que apresentaram diversos aspectos de melhorias e construção de um setor mais sustentável. Além disso, mais de 900 pessoas estiveram presentes nos dois dias de evento, realizado no Rio de Janeiro. Este foi o primeiro ano das edições do Fórum em que se utilizou um aplicativo. Nele os participantes enviaram perguntas, participaram de enquetes e fizeram posts com fotos e comentários. O Fórum contou com transmissão online com mais de 3 mil visualizações. Ministro do STF foi um dos destaques - Um dos destaques foi a palestra de abertura do segundo dia do 4º Fórum da Saúde Suplementar sobre ‘O momento institucional brasileiro’, proferida pelo ministro do Su-

premo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que apresentou um cenário bastante otimista sobre o Brasil após a Constituição de 1988 e suas conquistas para a população. Também os Ministros da Saúde e da Justiça participaram da abertura do evento. Ao analisar o setor da saúde no Brasil, o ministro do STF recordou que, no passado, existiam três grupos: os que pagavam o serviço privado, os que tinham a previdência e uma parcela de três quintos da população que não tinha nenhum tipo de assistência médica. A Constituição instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), como um programa universal integral de saúde. Além disso, impulsou a Saúde Suplementar que foi regulamentada no final dos anos 90, quando foi criada a Lei dos Planos de Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Hoje, temos o maior sistema público do mundo de saúde e um dos maiores sistemas privados. É um setor complexo e pressionado por demandas diversas que incluem a exigência de incorporação de novas tecnologias, impacto do envelhe-

cimento da população e variação grande de preço. É composto por três componentes: o consumidor, o provedor e o operador responsável pela sustentabilidade do sistema. O desafio é produzir um equilíbrio entre o atendimento aos usuários, satisfazer o conveniado e assegurar o equilíbrio econômico financeiro”, afirmou Barroso. O ministro do STF também ressaltou os impactos das transformações do mundo atual através das inovações e tecnologias que também atingem a área de saúde como um todo. “Estamos com uma nova revolução em curso, a tecnológica e a do mundo digital. É a quarta revolução industrial. Não há setor da vida que não tenha sido afetado por estas mudanças”, ressaltou Barroso. O ministro finalizou sua apresentação falando sobre a necessidade de olharmos para frente e discutir o tema mais importante para ao Brasil: educação. “Esta é transformação que temos que fazer. Tem que ser uma prioridade verdadeira e plena. Este caminho beneficiará as próximas gerações”, concluiu Barroso.

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Ciência

PRÊMIO JOVEM CIENTISTA 2018: edição foi marcada pela paixão à ciência, inovação e persistência. Plurale acompanhou o evento e conversou com os ganhadores

Por Ana Carolina Maia, de Plurale De Brasília (DF) Fotos de Marcelo Gondim/ CNPq/ Divulgação.

No dia 30 de outubro, em Brasília (DF), foram anunciados os ganhadores do Prêmio Jovem Cientista (PJC) edição 2018 na sede do CNPq. Com o tema “Inovações para a conservação da natureza e transformação social”. Estudantes de instituições de ensino do Rio Grande do Sul, Alagoas e Pernambuco estão entre os ganhadores. Voltado para estudantes e pesquisadores que buscam soluções inovadoras para transformar projetos em realidade o prêmio já mudou a vida de muita gente. A solenidade de abertura contou com a participação do repórter do Fantástico, da Rede Globo, Álvaro Pereira Júnior, que apresentou o evento. Os pesquisadores premiados criaram projetos como embalagem biodegradável feito da casca do maracujá; estudo sobre manejo de pirarucu que garante renda as comunidades ribeirinhas da Amazônia; e uma análise sobre a importância das Unidades de Conservação na rotina de diferentes grupos sociais em Recife. O PJC é uma iniciativa do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, da Fundação Roberto Marinho, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e do Banco do Brasil e apoio da Embaixada do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte do Brasil. Lançado em 1981, o Prêmio Jovem Cientista tem como objetivo revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em jovens pesquisadores.

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Da esq. para a dir.: Bianca Brasil (Fundação Grupo Boticário), o premiado João Vitor Campos e Silva, Malu Nunes (Diretora-Executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza), a premiada Juliana Estradioto, o premiado Célio Henrique Rocha Moura, André Pinto (Fundação Roberto Marinho) e a professora Flávia Twardowski.

Em sua 29º edição, o prêmio propôs linhas de pesquisas que abordassem temas como a agricultura familiar, restauração florestal, tecnologias de gestão, economia criativa, mudanças climáticas, inclusão digital. Além de reforçar a importância da busca por inovações para a conservação dos recursos naturais e consolidar as transformações sociais Mais de 1.500 trabalhos foram inscritos, estudantes e pesquisadores de todo o país participaram da seleção. Todo o material encaminhado para a banca avaliadora do CNPq foi detalhadamente analisado até chegar ao resultado final: três finalistas.

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Ganhadores O primeiro lugar no Ensino Médio foi para a estudante gaúcha Juliana Davoglio Estradioto, do Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Sul (IFRS), que criou um filme plástico biodegradável, através da casca do maracujá, que em vinte dias se decompõe. O material é capaz de substituir as embalagens de mudas de plantas, que geram uma grande quantidade de lixo na agricultura. O primeiro lugar na categoria Ensino Superior, ficou com o estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Célio Henrique Rocha Moura pesquisou a importância da mata de Dois Ir-


mãos e a do Engenho Uchôa na rotina de diferentes grupos sociais do Recife. A partir daí, desenvolveu instrumentos de proteção e gestão de áreas de conservação. O Doutor João Vitor Campos e Silva, paulista que mora em Maceió levou o primeiro lugar na categoria Mestre e Doutor, com o trabalho realizado na Amazônia em parceria com as populações ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no estado do Amazonas. O projeto recupera populações de pirarucu, maior peixe de escamas do mundo, de alto valor comercial. O estudo mostra os benefícios econômicos de áreas protegidas. Prêmios Na categoria Mestre e Doutor, os vencedores recebem R$35 mil (1º lugar); R$25 mil (2º lugar) e R$18 mil (3º lugar). Para estudantes do Ensino Superior, os valores são de R$18 mil (1º lugar), R$15 mil (2º lugar) e R$12 mil (3º lugar). Estudantes do Ensino Médio em 1º, 2º e 3º lugares recebem um laptop. A entrega das premiações será em dezembro, em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília. O Prêmio Jovem Cientista completou 29 anos e se tornou um dos mais respeitados do país. Em quase três décadas, premiou e concedeu bolsas de estudo para mais de 200 pesquisadores e reconheceu o trabalho inovador de 23 instituições de ensino.

Relevância Nacional O Prêmio Jovem Cientista é a mais importante iniciativa do CNPq no que diz respeito a valorização e divulgação da ciência para a sociedade brasileira. Motiva os estudantes e prepara jovens cientistas e possibilita uma ampla divulgação para a sociedade as pesquisas que estão sendo desenvolvidas no país. Durante o evento, o presidente do CNPq, Mário Neto Borges destacou a importância de incentivar os jovens pesquisadores e a ciência brasileira investindo mais no país e lembrou ainda que o Brasil investe apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em ciência, tecnologia e informação. “As grandes nações investem 3%, 4%. Nós precisamos chegar a pelo menos 2% do PIB nos próximos quatro anos, precisamos de investimentos robustos”, afirmou. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, apoiadora do PJC, esteve na premiação e destacou que esse tipo de iniciativa é uma oportunidade excelente para aproximar os jovens de temas como meio ambiente e sustentabilidade e fazer com que mais pesquisas e trabalhos sejam desenvolvidos nessa área. Criar práticas sustentáveis para o futuro é o caminho. A Diretora-Executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Malu Nunes, em entrevista à Plurale destacou a importância de se apoiar a pesquisa: “País nenhum consegue se desenvolver se não produzir pesquisa”, afirmou. André Pinto, coordenador do Prêmio Jovem Cientista na Funda-

ção Roberto Marinho, comemorou os reasultados. “São 29 edições do Prêmio Jovem Cientista, durante as quais, nove em cada dez agraciados consideram que este reconhecimento mudou a vida deles. Este é o número que move o Prêmio e demonstra a contribuição para transformar vidas e desenvolver cada vez mais a cultura científica nos jovens brasileiros. Nesta edição, entre mais de 1.500 trabalhos inscritos, os resultados foram interessantíssimos. Houve um importante equilíbrio territorial, porque foram premiados pesquisadores e instituições das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, que responderam a problemas reais do cotidiano, com grande potencial de retorno efetivo para a sociedade, tanto como produção de conhecimento, quanto como produtos e políticas públicas.” O que pensam os vencedores Juliana Estradioto: A jovem prodígio de apenas 18 anos, explicou que o projeto de pesquisa dela nasceu a partir de um problema muito recorrente no município em que mora, Osório, no litoral gaúcho: “O excesso de restos orgânicos gerados pelo cultivo do maracujá-amarelo, causando acúmulo de lixo e contaminação do solo. O maracujá, depois de processado, gera 60% de resíduo, que são as cascas. Elas são descartadas no meio ambiente, por isso comecei a estudar para buscar uma solução para esse problema ambiental da minha região”, lembra. A estudante comemorou bastante o resultado do prêmio e disse que agora as meninas que pensam em fazer ciência podem se inspirar nela, “Precisamos mudar isso, já que temos poucas mulheres como referência na ciência. Lugar de mulher é na pesquisa e na ciência também”, destacou. Célio Henrique: Ele contou que ficou bastante emocionado e honrado por ter vencido em primeiro lugar na categoria nível superior. Prestes a concluir a graduação em Arquitetura e Urbanismo, o estudante comemora o fato de poder levar pro Brasil o nome do nordeste, em especial a cidade em que mora, Recife: “Muito feliz em

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Ciência

mostrar que nós estamos conseguindo desenvolver, e muito bem, pesquisas científicas, cada vez mais”. João Vítor Campos: Um dos capítulos da tese de Doutorado rendeu o prêmio lugar na categoria Mestre e Doutor. Devido à alta complexidade do tema e o que ele representa para a Amazônia, o pirarucu motivou o pesquisador a trabalhar de forma detalhada o assunto. Importante para muitos ribeirinhos, o peixe originário da bacia Amazônica está em extinção, as populações dessa espécie foram reduzidas de forma drástica devido a sobrepesca Em seu trabalho, o pesquisador investigou um modelo de conservação que recupera o pirarucu, o maior peixe de escamas do mundo e que possui alto valor comercial. A pesca e comércio

Jovens pesquisadores premiados: João Vitor Campos e Silva, Juliana Estradioto e Célio Henrique Rocha Moura.

desse animal só realizada com autorização do IBAMA e os mesmos devem ser criados em viveiros, o que muito ajuda na conservação dessa espécie. João observou que esse tipo de manejo é uma grande ferramenta de conservação da biodiversidade. “Ser

premiado significa também receber reconhecimento de um trabalho bastante árduo que as comunidades tradicionais estão fazendo na Amazônia”, analisou. (*) A repórter viajou a convite dos organizadores do evento.

CONHEÇA OS VENCEDORES DO XXVIII PRÊMIO JOVEM CIENTISTA Categoria Mestre e Doutor 1º lugar João Vitor Campos Silva Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Título da pesquisa: “ O gigante das várzeas: O manejo do pirarucu como modelo de conservação da biodiversidade e transformação social na Amazônia. 2º lugar Carolina Levis Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Título da pesquisa: “ Domesticação da floresta amazônica: um legado dos povos do passado e do presente para a humanidade”. 3º lugar Gelson Vanderlei Weschennfelder Universidade La Salle (Rio Grande do Sul) Título da pesquisa: “ Os super-heróis das histórias

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em quadrinhos como recursos para a promoção de resiliência para crianças e adolescentes em situação de risco” Categoria Estudante do Ensino Superior 1º lugar Célio Henrique Rocha Moura Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Título da Pesquisa: “ Os valores naturais das unidades de conservação do Recife: mata de Dois Irmãos e mata do Engenho Uchôa”. 2º lugar Rafaela Santos Rêda Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Título da pesquisa: “Dispositivo de comunicação para surdocegos através da emissão e recepção de sinais sensíveis ao toque” 3º lugar

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Jeferson Almeida de Oliveira Universidade Federal do Pará (UFPA) Título da pesquisa: “Sobreposição de Parque Estadual a Assentamento Agroextrativista na Amazônia Brasileira” Categoria Estudante do Ensino Médio 1º lugar Juliana Davoglio Estradioto Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS Título da Pesquisa: “Desenvolvimento de um filme plástico biodegradável a partir do resíduo agroindustrial do maracujá”. 2º lugar Sandro Lúcio Nascimento Colégio Estadual Norberto Fernades (CENF) Título da pesquisa: “ Captação e uso da água da

chuva no ambiente escolar através de caixa feita a partir de garrafas pet e cimento ecológico da cinza da fibra do coco (Cocos nucifera)”. 3º lugar Leonardo Silva de Oliveira Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE) Título da pesquisa: “ AQUAMEAÇA: uma aplicação Android para identificação e monitoramento de ameaças a ecossistemas aquáticos” Categoria Mérito Institucional Vera Lúcia ImperatrizFonseca, do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, em Belém (PA). Atuou em ONGs e comissões que defende a preservação do meio ambiente.


O 'QUANDO' O 'QUANDO' DAS MUDANÇAS É AGORA. DAS MUDANÇAS É AGORA. E O MARKETING NÃO E O MARKETING NÃO PODE ESPERAR. PODE ESPERAR.

Para suprir demandas cada vez mais desafiadoras e urgentes, a gestão de marketing

Para suprir demandas cada vez mais desafiadoras e urgentes, a gestão de marketing

focada apenas nos negócios não é mais suficiente. Nesse cenário, as organizações

focada apenas nos negócios não é mais suficiente. Nesse cenário, as organizações

se esforçam para acompanhar as mudanças e corresponder aos anseios

se esforçam para acompanhar as mudanças e corresponder aos anseios

dos consumidores e da sociedade, assumindo novas posições no mercado.

dos consumidores e da sociedade, assumindo novas posições no mercado.

Tudo isso estará debate no ABA In Rio 2018. Tudo isso em estará em debate no Marketing ABA Marketing In Rio 2018.

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Edifício Lubrax da Petrobras Distribuidora.

EdifícioRua Lubrax da Vasques, Petrobras Distribuidora. Correia 250 - Cidade Nova Rua Correia Vasques, 250 - Cidade Nova

Confira a programação no site aba.com.br

ConfiraInscrições a programação noeventos@aba.com.br site aba.com.br pelo e-mail: Inscrições pelo e-mail: eventos@aba.com.br

PATROCÍNIO BRONZE

PATROCÍNIO BRONZE

PARCEIRO ESTRATÉGICO

PARCEIRO ESTRATÉGICO

PARCEIROS DE MÍDIA

PARCEIROS DE MÍDIA

APOIOS

APOIOS


Ecoturismo

Texto e Fotos de Giuliana Preziosi Especial para Plurale De Santo Amaro/ Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA)

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anto Amaro não é a cidade mais procurada para quem vai ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, mas isto está prestes a mudar. A construção da estrada asfaltada que leva à entrada da cidade tem despertado o interesse de muita gente para conhecer a região, até porque na opinião de muitos as lagoas mais bonitas do parque ficam por ali. O que antes eram horas de buracos e solavancos, hoje podem ser horas de conforto e tranquilidade em ônibus e vans que saem diretamente de São Luís para Santo Amaro. A cidade mais conhecida como porta de entrada para conhecer os lençóis é Barreirinhas, porque tem mais infraestrutura. São várias as opções de hotéis e pousadas, restaurantes, mercados etc. De lá são organizados vários passeios para o parque, mas a desvantagem é que para chegar nas dunas leva-se em torno de uma hora e meia. As dunas e lagoas próximas a Barreirinhas geralmente são cheias e os passeios, que às vezes duram meio período ou o dia todo para dar conta de visitar todos os locais programados, permitem pouco tempo para banho. Já em Santo Amaro, as dunas ficam praticamente do lado da cidade e como ainda não é o destino mais popular tem pouca gente, sendo possível ficar até mais de uma hora curtindo as lagoas, dependendo do passeio. A cidade é muito simples, não tem uma vasta infraestrutura. Na praça central o ponto de encontro é a sorveteria em frente da igreja, bem característico de cidades pequenas do interior. Não tem muitos restaurantes, as pessoas costumam comer no local em que estão hospedadas ou nas pousadas vizinhas. Apesar de um pouco caras, são boas as opções de hospedagem. O Parque Nacional dos Lençóis

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LENÇÓIS MARANHENSES O DESPERTAR DE SANTO AMARO

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Maranhenses é único e espetacular, não existe lugar no mundo igual a este. Não é para menos que as cidades próximas comecem a se desenvolver em função do turismo. O que não pode é haver exploração sem respeito, seja pelo meio ambiente ou pelas pessoas que vivem nas comunidades da região. No quesito meio ambiente, é um local que depende da época de chuvas para ter “aquela” foto de cartão postal com as lagoas cheias na cor azul turquesa contrastando com a areia fina e branca. Além disso, é uma paisagem em constante mudança, pois o vento faz com que as dunas se modifiquem a todo momento. Em uma conversa com um morador da região, ele me contou sobre a preocupação local em não deixar as dunas “furarem”. Com a movimentação do vento a duna pode “furar” e perder a água que compõe sua lagoa. Para que isso não ocorra, as cooperativas que administram os passeios da região monitoram o mo-

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Ecoturismo

vimento das dunas e quando é preciso elas intervêm trazendo mais areia para evitar o furo em determinado local. É o turismo que movimenta o desenvolvimento local de ambas as cidades, e no quesito social criou-se uma competição que ficou ainda mais acirrada com a construção da estrada em Santo Amaro. As agências de turismo de Barreirinhas começaram então a realizar passeios de “bate e volta” para Santo Amaro, o que não agradou o pessoal de lá. Alegavam que estavam explorando a região sem deixar nada para a cidade, pois as pessoas não se hospedavam lá e nem consumiam nos restaurantes locais. Assim, a prefeitura de Santo Amaro impediu a circulação de carros de outras cidades e criaram um sistema de cadastro dos veículos locais que possuem permissão para circular. Junto com o social e o ambiental, o quesito econômico sempre aparece e esta “briga” pode ter inimigo

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em comum em breve, pois, o governo do Maranhão está discutindo a privatização do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Os representantes das cooperativas que gerenciam os passeios nas duas cidades foram chamados para discutir o assunto. E provavelmente ainda muita água vai rolar nesta história. Espero que haja diálogo aberto, alinhamento de interesses entre todos os envolvidos e equilíbrio no tripé social ambiental e econômico, será que é pedir muito? Conhecer Santo Amaro foi uma grata surpresa, optei por não ir para Barreirinhas ou Atins (uma outra cidade da região com acesso mais difícil por barco ou estrada de terra) e não me decepcionei com a minha escolha. O clima de cidade pequena aliado ao conforto de uma boa pousada, a simpatia do sorveteiro oferecendo seus carros chefe: o sorvete de tapioca ou de murici, a comida caseira, os peixes frescos, o trabalho da coopera-

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tiva que administra todos os passeios, as dunas incríveis de areia branca e a água morna das lagoas azul turquesa me conquistaram definitivamente.


E n s a i o

FOTOS DE GIULIANA PREZIOSI, DO PARQUE NACIONAL DOS LENÇÓIS MARANENSES (MA)

SERVIÇO Como chegar e dicas em Santo Amaro Em São Luís do Maranhão há um serviço de transporte que realiza o percurso até Santo Amaro. Utilizam ônibus ou vans, dependendo da quantidade de pessoas. A viagem dura aproximadamente quatro horas e tem dois horários diários disponíveis, às 3:00 na madrugada ou às 11:00. De forma bastante informal, mas eficiente, para contatar o serviço basta mandar um whatsapp para o Denilson (98) 98488 6346. Santo Amaro é muito pequena e tudo fica muito próximo para se fazer a pé. A cidade é simples, não tem opções de entretenimento à noite e nem variedade de restaurantes, são pequenos comércios voltados para o público local. Com o aumento da circulação de pessoas de fora, são poucos os negócios que começam a se desenvolver, como a sorveteria da praça ou a pizzaria que abre as portas só a noite e fecha cedo. As opções de pousadas são boas

e com boa infraestrutura, a grande maioria fica próxima à praça central e oferece opções de almoço e jantar. Fiquei hospedada em uma pousada que fica do outro lado do rio que passa pela cidade. Apesar de parecer um problema, na verdade foi divertido, pois era possível cruzar o rio a pé, mesmo na época de cheia a água bate na altura do joelho. Com o calor que faz na cidade foi até refrescante. Os passeios são administrados pela cooperativa local, podem ser privativos ou não. Algumas pousadas também oferecem passeios, formando grupos entre seus hóspedes. Todos os passeios buscam os hóspedes na porta do hotel ou pousada. Uma dica: você pode pedir para o guia passar em um mercadinho para comprar água ou salgadinhos antes do passeio. Não deixe para reservar sua hospedagem de última hora, já os passeios você pode montar seu roteiro quando chegar na cidade.

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Seguro

Primeira turma-piloto de qualificação do Programa Recomeço

Seguradora Líder lança o Programa Recomeço, que oferece oportunidade de trabalho para quem convive com algum tipo de invalidez permanente De Plurale/ Do Rio Fotos de Divulgação/ Seguradora Líder

Um acidente de trânsito muda totalmente a vida de quem é atingido. Infelizmente, muitos ficam com invalidez permanente e passam a ter que enfrentar não só com as várias dificuldades decorrentes do trauma, mas também enfrentam a luta para voltar a se inserir no mercado de trabalho. Pensando nisso, a Seguradora Líder, que administra o Seguro DPVAT, voltado para vítimas de acidentes de trânsito, criou o Programa Recomeço. O objetivo é procurar qualificar e ajudar a reabrir portas do mercado de trabalho para este público que não é pequeno: apenas em 2017

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foram pagas 383 mil indenizações decorrentes de acidentes de trânsito através do Seguro DPVAT, das quais mais de 280 mil para quem passou a conviver com algum tipo de invalidez permanente. O Diretor-Presidente da Seguradora Líder, José Ismar Tôrres, explicou que o programa está avançando aos poucos, com algumas adesões de companhias do mercado segurador e também de outros segmentos, totalizando hoje cerca de 20 empresas. “Estamos procurando parceiros para conseguirmos recolocar profissionais requalificados”, disse à Plurale. Nem todas as pessoas com deficiência (PCDs) que se cadastrarem precisarão ser treinadas pelo Recomeço. Tôrres destaca que algumas empre-

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sas já têm treinamentos para PCDs e a ideia é ir procurando unir as pontas: empresas que precisam cumprir a Lei de Cotas e atingidos por acidentes de trânsito em busca da tão sonhada recolocação profissional. A tarefa, entretanto, não promete ser fácil. Cumprir a exigência da Lei de Cotas para diversas empresas ainda é um desafio. No caso do Programa Recomeço, apesar do grande banco de dados de indenizações do Seguro DPVAT, nem sempre o cadastro está atualizado. Os indenizados podem ter mudado de endereço e de telefone. Além disso, vários prédios comerciais são antigos, não garantindo acessibilidade para receber deficientes em cadeiras de rodas. O programa conta com o Portal


Aline Pereira participou da primeira turma de qualificação e conseguiu emprego na própria Seguradora Líder. “Tenho a oportunidade de recomeçar”, comemora.

do Recomeço, com espaço para o cadastro de profissionais portadores de deficiência e também de empresas oferecendo vagas para estes perfis. As inscrições – seja para os profissionais, seja para as empresas – são gratuitas. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, com oferta de vagas e qualificação profissional, e vagas em São Paulo, o Programa Recomeço está aberto para todas as empresas que tiverem interesse em ofertas as suas vagas para pessoas com deficiência, em todo o país. A auxiliar-administrativo Aline Pereira, 36 anos, moradora de Guaratiba (Zona Oeste do Rio), casada, mãe de dois filhos (18 e 15 anos) está sendo beneficiada pelo Programa Recomeço. Voltava de uma entrevista de emprego quando o ônibus que estava bateu em um poste e um carro na contramão. Sofreu fraturas no punho direito e polegar, passou por três cirurgias para colocar uma pla-

ca e sete parafusos no punho: possui deficiência física, na mão direita, com o punho e polegar, encurtamento do membro e perda de força e massa muscular. Aline participou da primeira turma de qualificação profissional do Recomeço e nem poderia imaginar que seria aproveitada ali mesmo, na Seguradora Líder, que administra o Programa, tendo sido admitida em 3 de setembro, trabalhando na Centra de Atendimento. “O que eu enxergo, através do Programa, é o que o próprio nome dele já diz: uma oportunidade de recomeçar. E isso é muito importante para todos nós, especialmente após o baque do acidente de trânsito. Então, eu vi uma chance de recomeçar, tanto é que voltei para a faculdade de Psicologia, que parei por conta do acidente e agora posso dizer que minha vida está totalmente começando de novo”, disse Aline. Em setembro, 17 participantes da

primeira turma de qualificação receberam a carta e reconhecimento e foram homenageados pela Diretoria da Seguradora Líder e por professores da Escola Nacional de Seguros (ENS). “Este é um momento histórico. A qualificação destes alunos é um grande passo e motivo de orgulho para todos nós. Nossa expectativa é que outras turmas de qualificação aconteçam em outros estados e que o Programa contribua para tornar o mercado de trabalho mais inclusivo”, afirmou José Ismar Tôrres. Beneficiário do Seguro DPVAT, Janilson Júnior, 33 anos, também foi recolocado no mercado de trabalho através do Programa Recomeço. O sonho de ser jogador de futebol foi interrompido quando, aos nove anos, Janilson foi atropelado por um caminhão quando andava de bicicleta. Depois de um longo período no hospital, teve sua perna direita amputada. Em 2010, a memória dolorosa da infância se repetiu: ao descer de um ônibus, voltando do trabalho, sofreu uma queda que resultou em uma fratura na perna esquerda. Nunca perdeu, entretanto, a força. “Sou uma pessoa que, apesar dos acidentes e das dificuldades trazidas por eles, sempre busquei a capacitação e o desenvolvimento. Antes do Programa, estava sem expectativas, por estar fora do mercado de trabalho desde maio. Agora, sinto que posso voltar a sonhar e concluir a faculdade de Administração, que parei no 6º período”, relatou.

SERVIÇO Programa Recomeço https://www.seguradoralider.com.br/Recomeco/Paginas/home.aspx O cadastro no Portal é gratuito e tanto pode ser feito por portadores de deficiências interessados em vagas quanto por empresas que tenham vagas para este perfil de trabalhador

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Seguro

“TRATA-SE DE JUSTIÇA SOCIAL” JOSÉ ISMAR TÔRRES DIRETOR-PRESIDENTE DA SEGURADORA LÍDER-DPVAT Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Foto: Divulgação / Seguradora Líder

Reajuste na tabela do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, mais conhecido como Seguro DPVAT - e também mudança no que é considerado grau de invalidez. Estas são apenas algumas das propostas defendidas por José Ismar Tôrres, Diretor-Presidente da Seguradora Líder, que administra este seguro de foco social que indeniza atingidos por acidentes de trânsito. Em entrevista para Plurale, ele afirma ainda que será preciso investir firme em campanhas educativas de trânsito para evitar verdadeiras estatísticas de guerra: nos últimos 10 anos, 500 mil brasileiros morreram em acidentes de trânsito e 3,1 milhões passaram a serem portadores de invalidez permanente. “Isso é uma tragédia!”, adverte Tôrres. A maioria de jovens - de 18 a 34 anos - no auge da vida produtiva. No caso de acidentes de moto, as estatísticas são ainda mais assustadoras: somente em 2017, dos 17.603 motoristas indenizados por morte, 11.598 eram motociclistas e nos casos de invalidez, dos 119.434 motoristas, 108.778 eram motociclistas. Acompanhe os principais pontos da entrevista.

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Reajuste das indenizações “Defendemos o reajuste das indenizações - o que hoje é R$ 13.500,00 iria para R$ 25 mil e R$ 5 mil o que hoje é R$ 2.700, ao menos recuperando a inflação de 11 anos sem reajuste - e também queremos simplificar a tabela que define a invalidez, que hoje é muito complexa. O Seguro DPVAT é um seguro social, que precisa ser de fácil compreensão. Para que qualquer um possa entender. Isso, porém, depende de mudança na lei. Hoje, a tabela de gradação da sequela de invalidez é muito complexa para o público entender. Precisávamos simplificar, há quatro níveis da gradação da sequela da invalidez. E somente o médico para fazer a perícia, a avaliação da invalidez. Acreditamos que deveriam ser só dois graus. Se perdeu dois membros, seriam os 100% e se a sequela for de um só membro, uma mão, aí seria 50%. Atualmente, há um nível de judicialização muito grande. E isso acontece justamente na hora que o acidentado está em um momento crítico. O ideal seria que, em algum momento, pudéssemos reestabelecer o valor original do DPVAT há 44 anos, que era de 40 salários mínimos, para invalidez ou morte, ajudaria muito mais as pessoas. E aí o ressarcimento das despesas com tratamento iria para cerca de R$ 8 mil. Há

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uma defasagem muito grande. Estes temas estão na nossa agenda para trabalharmos em 2019.” Estatísticas `de guerra` “Infelizmente este assunto não esteve na agenda dos presidenciáveis. Na campanha eleitoral falou-se muito da questão da segurança, de assassinatos e dos mortos pela violência. O que chamamos a atenção é que o número de mortos em acidentes de trânsito são uma tragédia ainda maior. Nos últimos 10 anos, de 2008 a 2018, foram 504 mil mortes pelo trânsito, 3,1 milhões de pessoas que ficaram com invalidez permanente e 881 mil pessoas tiveram o tratamento médico. Isso é uma tragédia! Precisamos dar mais visibilidade para este cenário lastimável. No caso da invalidez, é um problema sério para o País: mais de 50% das pessoas estão na faixa de 18 e 34 anos. Quando se fala no “rombo da Previdência”, há muitos inválidos que estão ali onerando os cofres públicos. Vão se aposentar e depender da aposentadoria. Aí é preciso ter um trabalho intenso em educação e prevenção.” Campanhas educativas “Hoje temos um superávit nas reservas técnicas e temos trabalhado junto com a SUSEP, com o Ministério da Fazenda para que os recursos possam ser aplica-


dos em projetos de benefício da sociedade. Advogados estão defendendo que seja criado um Boletim de Ocorrências on-line no Brasil todo. A Seguradora Líder receberia este boletim e aí poderíamos entrar em contato imediato com as famílias das vítimas, para termos um trabalho proativo. Este superávit poderia também poderia ser utilizado em campanhas educativas. Hoje, 50% são destinados para o setor público – 45% para o SUS e 5% para o Denatran, que deveriam para campanhas para prevenção, conscientização e de educação de trânsito. No entanto, com este problema do Brasil, entra no caixa único do Tesouro, que não chega no fim da linha para fazer a campanha. Não só educativa, mas também do direito do Seguro DPVAT.” Crescimento da frota de motocicletas “A população brasileira cresceu 9,5% de 2008 a 2018, enquanto a frota de veículos brasileira saiu de 73 milhões para 94 milhões, cresceu 77% e no caso de motocicletas avançou 94%, em algumas regiões ainda mais, como na Região Norte e Nordeste. As motos substituíram os jegues. Em alguns estados, 80 a 85% da frota é de motocicleta. A frota nacional de motocicletas é de 27%, mas representa 74% dos acidentes, motivados por motos. Esta radiografia precisamos tomar medidas: usar capacete, não andar com crianças...isso é uma tragédia. Alguns nem têm

a habilitação. O Governo precisa olhar para isso. A sociedade paga esta conta. No momento que são atendidos nos hospitais públicos e o INSS tem que depois pagar a aposentadoria por invalidez. As pessoas vivem muito mais.” Melhoria para reembolso “Se a tabela for reajustada para o caso de reembolso de despesas fará muita diferença. O primeiro atendimento é obrigatoriamente em hospital público. Aí precisa fazer uma fisioterapia, que dificilmente consegue marcar logo na rede pública. Se levar seis meses ou um ano, a sequela pode ser permanente. Mas se tivesse dinheiro para pagar na rede particular, poderia fazer diferença.” Educação no trânsito, fiscalização e punições “Fizemos uma pesquisa com a Datafolha, indicando que a população acredita que deveria aumentar as punições. No caso do uso do telefone celular, tem que ser pela conscientização. E quem não obedecer tem que haver uma punição mais rigorosa. Uma lei mais radical, para trazer consequências maiores. Foi assim no caso da Lei Seca, por exemplo, que é muito divulgada aqui no Rio. Tem que trazer consequências maiores. Se for pego sem cinto de segurança... usar cinto no banco detrás. A fiscalização ostensiva precisa acontecer. Brasília é um

exemplo para só atravessar na faixa de pedestre. Mas os dados dos ouvidos pela pesquisa no Rio impressionam: 72% das pessoas entrevistadas admitem que falam no celular ou mandam mensagens de texto, outros 55% admitem que dirigem acima da velocidade e 51% admitem que dirigem após beber. Poderiam responder mais de um item. Acima de 18 anos, de todas as classes sociais. Isso é uma amostra do Brasil. É preciso ter uma punição maior se matar alguém no trânsito. As leis devem ter penalização forte. Não adianta que a multa não iniba. Se for pego com o celular ao volante, a multa deve ser alta. E dá para fazer isso mesmo sem guarda. Nos EUA parece que há um satélite vigiando: alguém monitora à distância e chegam no infrator. Isso também deveria ser feito no Brasil.” Campanha de conscientização “A ONU tem o compromisso de reduzir os acidentes de trânsito pela metade, até 2022. A década de ação. O Brasil assinou um Plano para até 2028, mas não conseguiremos reduzir até 2022, não fizemos nada e jogamos par a frente. Não tem saída: é educação e conscientização. Vamos focar uma campanha nas crianças, em influenciadores digitais mirins. As crianças serão nossas aliadas para mobilizar os pais. Isso funcionou muito no caso do fumo. Queremos trazer esta mobilização para o DPVAT.”

SERVIÇO • O Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, mais conhecido como Seguro DPVAT é inteiramente gratuito e não precisa de advogados, despachantes ou intermediários para ser recebido. Basta ter toda a documentação necessária e dar entrada em um dos 8 mil pontos indicados. • O pagamento da indenização é feito em conta corrente ou poupança da vítima ou de seus beneficiários, em até 30 dias após a apresentação de toda a documentação necessária. • Foi criado em 1974 e aperfeiçoado muitas vezes desde a a sua criação. Uma destas mudanças ocorreu em 2007, com a criação do formato Consórcio, com uma seguradora – a Líder – centralizando as operações administrativas do Seguro DPVAT.

• A cobertura por morte é de R$ 13.500,00 e pode ser recebida pelos familiares ou herdeiros legais da vítima em caso de óbito de motoristas, passageiros ou pedestres, decorrente de acidente de trânsito. O prazo para fazer a solicitação do Seguro DPVAT é de até três anos, contados a partir do falecimento. • No caso de invalidez permanente, a cobertura é de até R$ 13.500,00. O valor é definido após perícia médica, conforme a gravidade das sequelas e de acordo com os percentuais da tabela de seguro prevista na Lei 6.194/74. O prazo de prescrição para dar entrada no pedido do seguro é de até três anos da ciência da invalidez permanente da vítima. • As despesas na rede privada de saúde (DAMS) são reembolsadas no valor de até R$ 2.700,00, considerando os valo-

res gastos e comprovados pela vítima em seu tratamento. A contagem do prazo de prescrição de três anos para solicitação do seguro se inicia a partir da data do acidente. O valor é variável conforme a soma das despesas cobertas e comprovadas, considerando-se os preços praticados pelo mercado e tendo como limite mínimo os valores constantes da tabela do SUS. • Mais informações – www.seguradoralider.com.br; http://www.estamosaquiparavoce.com.br e nos mais de 8 mil pontos de atendimento, como várias agências dos Correios. Central de Atendimento: 4020-1596 (Regiões Metropolitanas) ou 0800 022 12 04 (Outras Regiões) SAC: 0800 022 8189 ou 0800 022 12 06 (para Deficientes Auditivos e de Fala)

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Arte

VEIOS

ARTÍSTICOS

Cada pedacinho de madeira nativa encontrado por Nelson Naccache é um convite à exploração artística de seus tons e texturas Por Raquel Ribeiro, Especial para Plurale De Florianópolis Fotos de Divulgação Arquiteto e artista plástico, Nelson Naccache é um expert no garimpo de restos de madeiras nobres descartadas em caçambas de entulho. “Para mim, lixo de marcenaria é uma mina de ouro: você encontra imbuia, maçaranduba, roxinho, jacarandá, cedro, peroba, aroeira e até mogno. Recolher esses pedacinhos tem um valor enorme, pois com eles faço pequenas peças.” No caso de haver pedaços grandes no descarte encontrado, o artista aproveita para fazer desde batentes até eixos estruturais de uma construção, tanto que o reaproveitamento de materiais permeou quase toda a reforma de sua casa. Quando se fala de um setor que produz mais de 122 mil toneladas/dia de resíduos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, essa ação de sustentabilidade é exemplar. Tudo indica que a palavra lixo tenha se originado do latim lix (cinza) ou lixare (lixar) e Nelson faz uma analogia com a primeira devastação de nossas matas. “Quando os portugueses começaram a extrair o pau-brasil, as serrarias produziam uma monstruosa quantidade de restos, que eles chamavam de lixo; ou seja, o resultado da lixa. Hoje a gente considera lixo tudo que a sociedade não

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O artista usa canetas, nanquins e tintas aquarelas e naturais, compostas a base de argila, como o chamado bolo armênio.


Uma das obras postadas diariamente em Facebook.com/nelson.naccache

enxerga como útil, mas para mim é o contrário: aquele ‘lixo’ tem um valor fantástico!” Desde 1985, quando iniciou o curso de arquitetura e urbanismo na Faculdade de Belas Artes, em São Paulo, Nelson tem olhar especial sobre os resíduos: “Comecei a trabalhar com arquitetura na reurbanização de favelas, onde desenvolvíamos tecnologias para minimizar perdas de material nas obras; além de retirar pessoas da situação de submoradia”. Este projeto do Núcleo de Desenvolvimento de Criatividade (Unicamp), coordenado pelo espanhol Joan Villà, era focado em diminuir gastos, reutilizar restos da construção civil e propor uma tecnologia “onde os saberes eram trocados e não haveria hierarquias na hora de executar o trabalho, horizontalizando a relação de poder e conhecimento, base do principio de Permacultura. A casa de Nelson e Júlia, em pleno coração da capital paulista, é inspiradora não apenas pelo (re)uso de peças de madeira para formar balcões, mesas, janelas e portas. Ali também tem horta, composteiro, árvores fru-

Pintura com base em madeira reciclada

tíferas, uma colmeia de jataí (abelha nativa) e seu ateliê – que foi todo construído com objetos descartados, como gavetas, janelas e até escadas. Naccache se surpreende que pedreiros (e mesmo marceneiros) não valorizem as madeiras nativas e todas as possibilidades que elas oferecem. “A sabedoria de trabalhar a madeira está se perdendo, pois os marceneiros velhinhos estão morrendo e os jovens preferem trabalhar com mdf e outros materiais mais fáceis, porém menos duradouros.” Para manter vivo esse conhecimento, o arista tem um projeto de formação de jovens de comunidades carentes: ensiná-los a transformar madeiras descartadas em objetos, como colher, tábua de cortar verduras e enfeites artesanais. Fazer da coleta uma fonte de renda e valorizar o ofício do artesão: “Quando trabalho com materiais ‘antigos’ tenho que aprender a lidar com ferramentas e saberes antigos e, assim, reciclar o conhecimento. Ao ensinar, levamos estes conceitos para frente, como uma árvore que carrega

em sua seiva a história da terra. Se, por um lado, Nelson alarga o ciclo de vida da madeira, por outro respeita e valoriza sua origem. A árvore é tema predominante de seus desenhos e pinturas, e reverenciada em suaves pinceladas que a apresentam como elemento essencial à vida. “Na arte de Nelson, a natureza não funciona como pano de fundo ou meta bucólica, mas como matéria-prima rica e vigorosa. Casas germinam de sementes, de caramujos, de cogumelos, de peixes. Árvores brotam de melancias. Luas fazem chover estrelas. Sonhos juntam cores, gente, gestos, bichos, palavras, formas. Montanhas se entrelaçam à linha da paisagem, fazem esticar horizontes, realçam as cores, avolumam matizes. Pássaros reluzem com a mesma fonte que ilumina orquídeas. É nessas miudezas que o mundo se abre em alumbramento”, descreve Julia Pinheiro Andrade, educadora e parceira do artista.” Mais infos: nelsonnaccache. tumblr.com instagram.com/nelsonnbj/elsonnbj@gmail.com

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LAÇOS DE UMA VIDA: UMA CARTA POR TWITTER ENTRE DOIS MUNDOS Matéria publicada originalmente no portal www.vilaweb.cat Prefácio e tradução: Maurette Brandt Publicada em PLURALE com autorização do portal Vilaweb

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ma carta muito particular foi escrita, entre 10 e 17 de junho deste ano, por meio de 92 tweets de 280 caracteres cada. Amizade, coragem, força e denúncia foram a tônica dessa correspondência por via tecnológica, que trilhou os passos do Twitter e, assim, foi compartilhada com milhões de pessoas enquanto era construída, dia após dia. São capítulos de uma escrita amorosa e humana, documentada por imagens de tirar o fôlego e o sono da gente também. O remetente: Gervásio Sánchez, consagrado e premiado fotojornalista espanhol, especializado na cobertura de guerras e conflitos. O destinatário: seu velho amigo Raül Romeva, conselheiro do governo autônomo da Catalunha até outubro de 2017, além de ter sido consultor das Nações Unidas/ Unesco na Bósnia-Herzegovina e observador eleitoral naquele país, a convite da Organização de Segurança e Cooperação da Europa. Romeva é um dos nove políticos catalães que estão em prisão preventiva desde os acontecimentos que se se-

guiram ao referendo popular que, em outubro de 2017, levou à Declaração de Independência da Catalunha, rapidamente sufocada. Preso em 23 de março deste ano, Romeva foi enviado ao presídio de Estremera, localizado a 70 km de Madri, ao lado de Joaquin Forn, Oriol Junqueras, Jordi Sanchez, Jordi Cuixart, Jordi Turull e Josep Rull, todos presos pelo mesmo motivo. Todos eles, além das conselheiras Carme Forcadell e Dolors Bassa, foram trasladados há poucos meses para prisões próximas de suas casas e das famílias, em cumprimento a uma decisão judicial. Essa carta telegráfica, em pílulas contundentes e cheias de humanidade, me fez pensar naquelas mensagens trocadas com extrema dificuldade, em outras guerras ou em campos de refugiados, por rádio ou por telégrafo, sempre com o risco de serem interceptadas pelos inimigos. Estas, no entanto, podem ser lidas no mesmo instante e acompanhadas por todo mundo, em nossos tempos tão virtuais e imediatos. Graças à parceria com o site www. vilaweb.cat, pude traduzir a matéria, complementá-la e compartilhá-la com os leitores de Plurale. Procurei também por Sánchez no Twitter, que me atendeu com toda atenção, em meio ao intenso trabalho em que esteve envolvido na Bósnia. – Trata-se de uma simples carta de uma pessoa a outra, que conhe-

Jornalista Gervásio Sánchez

ce há mais de duas décadas, e a quem conta lembranças de uma cidade e de um país que ambos conhecem. Nada mais – me respondeu, com humildade. Compaixão, amor, indignação, luta, dignidade e tantos outros sentimentos mais que humanos brotam desse confessional relato, que fala das injustiças e da crueza do mundo sem perder de vista o amor e a esperança. Gervásio Sánchez é um repórter fotográfico que vem de uma tradição na qual se insere o nosso Sebastião Salgado: suas imagens e impressões não apenas dialogam com o sofrimento ou o abandono. Antes de tudo, extraem deles a força e a dignidade daqueles que lutam pela vida, pelas causas da humanidade e pela sobrevivência do planeta, entre tantas outras razões pelas quais lutar. (Maurette Brandt)

O reconhecido fotógrafo da guerra da Bósnia, Gervasio Sánchez, publica uma contundente carta diária a Raül Romeva “Querido Raul, decidi te escrever esta carta de Sarajevo e enviá-la em doses de 280 caracteres”, explica o fotojornalista O fotojornalista Gervasio Sánchez, famoso por sua cobertura da guerra da

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Bósnia e, em especial, do cerco de Sarajevo, voltou à capital daquele país a trabalho em de lá, decidiu escrever uma carta pelo Twitter ao conselheiro Raül Romeva, preso desde 23 de março. – Espero que possa lê-la e, melhor ainda, que possas me responder”, escre-

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veu. Segundo Sánchez, quem o convenceu a escrever foi um amigo comum, Manel Vila Tomllo, Diretor Geral de Cooperação e Desenvolvimento do governo autônomo da Catalunha. Em um de seus primeiros tweets, ex-


plica que sua companhia, nesta viagem, é o romance Ponte de Cendra, ambientado na Bósnia, que Romeva publicou em 2015, ainda sem tradução no Brasil. – Você se equivocou na hora de escrever a data da dedicatória e colocou fevereiro de 2018, em vez de fevereiro de 2017. Sinto muita tristeza pelo que está passando” – diz Sánchez. O vínculo do conselheiro Romeva com a república balcânica começa em 1993, quando decide colaborar, como voluntário, nos campos de refugiados na Croácia. Mais tarde, em 1995 e 1996, trabalha como responsável pelo programa educativo e pela promoção

do programa de Cultura de Paz da UNESCO na Bósnia. Foi também observador nas eleições de 1996 e de 1997 naquele país. Sánchez dedica cada tweet da carta a um de seus muitos testemunhos da

guerra da Bósnia. Conta a história de seus personagens e complementa os relatos com fotos de sua autoria, disponíveis no Twitter (@gervasanchez). Fala também de outras questões urgentes do mundo.

A carta de Gervásio Sánchez para Raül Romeva, tweet por tweet 10 de junho - Querido Raül: Decidi te escrever esta carta daqui de Sarajevo e enviá-la em porções de 280 caracteres. Espero que possas lê-la e, quem sabe, dê para me responder. Pode me perguntar o que quiser. Tentarei mandar as respostas durante o tempo em que estiver por aqui. 10 de junho - Há três semanas almoçava em Barcelona com nosso amigo comum @ManelvBcn. Perguntei por ti. Ele me disse que estavas muito bem, muito animado e também muito sarado, porque dedicava muitas horas ao esporte. Me alegra que saibas como ocupar o tempo em um lugar tão fechado. 10 de junho - Foi o @ManelvBcn quem me pediu que te escrevesse. Quero que saibas que eu trouxe na viagem o Ponte de Cedra, aquele livro seu que me deste de presente no ano passado, quando almoçamos juntos. Você se equivocou na data da dedicatória e escreveu “fevereiro de 2018”, em vez de fevereiro de 2017. Estou muito triste pelo que está passando. 10 de junho - Quero te agradecer por me

homenagear em teu livro e por criar para ele um personagem feminino: uma fotógrafa de guerra chamada Ariadna Ribas. Sempre falei que as melhores coberturas da guerra da Bósnia Herzegovina foram feitas pelas mulheres. 10 de junho - Comecei a ler seu livro na viagem de Barcelona para Sarajevo. Vim para começar um projeto do qual vou te falar quando nos encontrarmos de novo. Você vai se emocionar. E também estou aqui porque vai nascer o segundo filho de Adis Smajic, o protagonista de Vidas minadas. 10 de junho - Você se lembra de Adis Smajic, não? Tinha 13 anos quando o encontrei no hospital, em 19 de março de 1996, a ponto de morrer, depois de ser ferido por uma mina. Quando soube que eu era espanhol, me contou que torcia para o Barça e me repetiu toda a escalação de gala. 10 de junho - Adis perdeu um olho, uma mão e grande parte da visão do outro olho. Teve o corpo metralhado. Passou por 30 cirurgias, sete das quais na Clíni-

ca Quirón, graças à generosidade da @ DKVSeguros. Hoje tem 35 anos e já é pai de Alen, de cinco anos. 10 de junho - Quero te contar que foi Pilar Muro – a esposa de Publio Cordón, aquele empresário aragonês que foi sequestrado pelo Grapo em 1995 e cujo corpo nunca apareceu – quem decidiu, sem pestanejar nem por um instante, que sua empresa, a @DKVSeguros, se encarregaria de custear as cirurgias de Adis em Barcelona. 10 de junho - A esposa de Adis se chama Naida. É uma das mulheres mais impressionantes que conheci em minha vida. Transmite uma grande dignidade. Também sofreu o cerco de Sarajevo. Teve de cuidar de suas irmãs pequenas quando ainda era uma menina. Naida e Adis sobreviveram. 10 de junho - Este é o último tweet de hoje. Espero que te agrade esta forma de nos comunicarmos. Te mando a foto de Adis e Naida, que fiz em 2007. Repara que beleza. A dignidade que envolve os seus olhares. A VIDA, em lugar da morte. Ama-

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Pelo mundo

nhã te falarei de Nalena. Boa noite. 11 de junho - Bom dia, querido Raül. Sabe qual é a primeira coisa que faço, toda vez que venho a Sarajevo, desde 1995? Ponho flores na tumba de Nalena Skorupan. Um projétil se estatelou contra sua casa no dia 6 de janeiro de 1994. Dia de Reis. Dia de festejos e de bombas. 11 de junho - Nalena tinha 81 dias de nascida quando a feriram. O atirador foi muito preciso, na Páscoa ortodoxa. Fui até o hospital vê-la. Respirava com dificuldade. Um médico me mostrou sua radiografia. Pareciam ferimentos superficiais. Mas Nalena morreu no dia seguinte. 11 de junho - O que faz com que um bebê morra quando não tem que morrer? Me pergunto isto sempre que visito sua minúscula tumba. Nalena morreu porque estava cansada de um mundo de bombas, no qual se atira contra bebês órfãos. Seu pai havia morrido antes de ela nascer. 11 de junho - Ponho as flores lá e acaricio a terra que cobre o corpinho dela. Estou contente, porque sempre choro quando me sento no túmulo de sua tia Mirsada, que estava ninando o bebê quando, naquele 6 de janeiro, o projétil destruiu a casa. Mirsada morreu na hora e caiu, decapitada. 11 de junho - Num dia de outubro de 2008, encontrei um senhor vestido de preto diante do túmulo de Mirsada. Me disse que se chamava Mirsad, tio de Nalena e esposo de Mirsada. Me contou que foi ele mesmo quem colocou o corpinho de Nalena no fundo da cova, no dia do funeral.

com Mirsad, o tio de Nalena. E ele me deu o melhor presente que poderia esperar: uma fotografia de Nalena e de sua esposa Mirsada, dias antes de serem assassinadas. Nalena teria hoje 24 anos. Imagino-a apaixonada, sorrindo, estudando... Continuo a vê-la e a sentir sua presença. 11 de junho - Como dizia o Bispo brasileiro Dom Hélder Câmara, nós, que trabalhamos em contato direto com o sofrimento, acabamos impregnados pela dor – e algo de nós morre em cada cobertura. É difícil contar o que acontece dentro da gente. É uma espécie de zona escura, que nunca compartilhamos com ninguém. 11 de junho - Boa noite, querido Raül. É junho, como aquele junho de 1992, quando entrei pela primeira vez na Sarajevo sitiada. E num carro que não era blindado. Nunca esquecerei aquele sábado, 6 de junho. A cidade foi bombardeada com 3 mil projéteis. Foi nesse dia que fiz minha primeira fotografia de Sarajevo. 11 de junho - Foram três semanas dormindo na mesma cama de casal com Santi Lyon. Escutando seus pesadelos. Sem comida, sem esperança. Tremendo, porque as bombas caíam cada dia mais perto do nosso hotel. E com medo, ainda que o medo seja o melhor antídoto contra a estupidez. 11 de junho – Você deve se lembrar de que o primeiro jornalista que morreu

11 de junho - Enterraram Nalena de noite, porque os artilheiros que sitiavam a cidade bombardeavam os cemitérios durante os funerais. Voltei no dia seguinte e o coveiro estava aplainando os túmulos de Nalena e de sua tia Mirsada. Nunca encontrei flores no túmulo da tia. 11 de junho - Em 2010 me reencontrei

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se chamava Jordi Pujol (nada a ver com aquele seu homônimo que é a corrupção em figura de gente). Santi Lyon foi a pessoa encarregada de buscar seu corpo no necrotério e tirá-lo da cidade. Cheguei a fazer uma foto de Eric Hauck e Jordi Pujol em Sarajevo. 11 de junho – Devo te confessar que, naquele momento, não queria vir para Sarajevo. Tinha coberto a guerra da Croácia. Fui um dos poucos jornalistas que conseguiu entrar em Vukovar. Vi a morte planar várias vezes sobre a chamada “Stalingrado da Croácia”, e também sobre Osijek, Vinkovci, Karlovac… 11 de junho – Jantei em Belgrado com Santi Lyon. Vinha do funeral de Jordi Pujol, em Barcelona, e queria voltar a Sarajevo. Me pediu que o acompanhasse e eu disse que não. Mas passei a noite toda acordado e, no dia seguinte, estava à espera dele na recepção de seu hotel. Dali fomos juntos para o inferno. 11 de junho - Convertemos a morte num bacanal de números, num negócio de cifras. Escorrendo obscenidade. Falamos de milhares de mortos, de centenas de milhares de refugiados. Renunciamos a personalizar a morte. Cada pessoa que morre deixa uma história inconclusa. 11 de junho – Quando formos capazes de colocar todas estas histórias inconclusas numa estante infinita, começaremos a nos dar conta de que falamos de mortos que poderiam ter sido nossos futuros inventores, esportistas, prêmios Nobel,


dramáticos. E chega sempre tarde: hoje é assim com os imigrantes. Há 25 anos era a mesma coisa com os radicais da Bósnia.

escritores, políticos incorruptíveis… 11 de junho - Em seu romance Ponte de Cendra, a personagem Dragana, de apenas 12 anos, escreve, em fevereiro de 1992: “Era coisa dos políticos, como sempre. Eu não entendia nada de política. Meu pai dizia: Quando se derem conta de que tudo isto não conduz a nada, vão parar, com certeza.” 11 de junho - Mas os “caros fedelhos” (é assim que você se refere aos políticos, no livro) foram incapazes de pôr fim às tensões. Até que começaram os disparos – e Suada inaugurou a longa lista de mortos, ao ser atingida na ponte. Hoje mesmo vi o nome dela, lavrado em uma placa. 12 de junho – Boa noite, querido Raül. Falamos do que ocorreu há um quarto de século, mas você não pode imaginar o quão incrustada está a dor no subconsciente dos cidadãos. Não querem falar do assunto porque intuem que não suportariam. Sentem-se sobreviventes. 12 de junho - Bom dia, querido Raül. A minha especialidade está íntimamente relacionada à cobertura de guerras, de desastres, calamidades, dor, desespero, mas também da dignidade e da luta pela sobrevivência. A intensidade com que odeio a guerra e suas consequências é maior a cada dia. 12 de junho - Não me interessam as matérias exclusivas empapadas de sangue. Nos momentos mais absurdos do homem, quando não existe piedade, há que reivindicar e mostrar dignidade. Mas encontrei poucas pessoas que preferissem morrer antes de matar. A imensa maioria, com certeza, mataria antes de morrer. 12 de junho – Estou cada dia mais interessado nos pós-guerra e nas conse-

quências, a longo prazo, dos conflitos armados. Por isso é que voltei a Sarajevo. Cobrir esta fase é mais complicado, porque a falta de interesse na informação te obriga a trabalhar completamente às cegas.

12 de junho – A União Europeia tem demonstrado sua incapacidade desde o final de 2014, quando a ACNUR advertiu que enfrentaríamos a mais dramática crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, e que deveríamos preparar um plano de emergência sério, que evitasse o sofrimento gratuito e os afogamentos.

12 de junho - O espaço imprescindível, o financiamento e o olhar autônomo para contar as histórias de dor dispersas pelo mundo, são condições que contradizem os interesses da maioria dos meios de comunicação e as promoções dos grandes investidores em publicidade.

12 de junho – As centenas de milhares de refugiados de hoje fogem das guerras na Síria, no Afeganistão, no Iraque, na República Centroafricana, de regimes brutais como os da Eritréia e do Sudão, e também de situações de violência jihadista na Nigéria, em Níger, na Líbia etc. Fogem, como nós também fugiríamos.

12 de junho – Viver entre as vítimas te dá outra perspectiva do conflito. Muitas vezes a gente se encontra com combatentes, sobretudo civis, que são incapazes de explicar as causas das guerras. Que morrem, ficam incapacitados ou traumatizados por razões incompreensíveis.

12 de junho – Em 2015, a União Europeia tinha que ter habilitado uma rota terrestre segura para os refugiados que queriam chegar à Europa, a partir da Turquia. Teria sido fácil: pela Bulgária e pelos Bálcãs, até chegar à Áustria. Isso teria evitado que as máfias ficassem com as economias dos refugiados.

12 de junho – Se você não sente a dor, se não escuta o grito das vítimas, o seu silêncio digno, como poderá transmitir os fatos com alguma decência? É preciso ir à guerra disposto a ser ferido por dentro. A ser capaz de fazer a mediação entre a dor e o esquecimento, entre o sofrimento e a banalidade.

12 de junho - Com milhares de euros no bolso – pois chegaram a pagar até 2.000 euros por cabeça para cruzar o mar da Turquia até Lesbos -, estas famílias de classe média, muitas das quais fugiam de guerras brutais, poderiam ter começado uma nova vida com maior segurança econômica.

12 de junho – Boa noite, Raül. Fico feliz em saber que você conseguiu ler minha carta e que se emocionou. Muito obrigado por sua mensagem carinhosa. Há poucos dias te disse que sinto muito pela tua situação. Não concordo com o teu encarceramento. Espero que logo possas voltar para casa.

12 de junho – Chegamos a esta situação porque a maioria dos cidadãos silencia diante da falta de sensibilidade de seus governantes e diante da dor alheia. Talvez até acreditemos que estamos fazendo muito, apenas por reclamar ou por participar de alguma manifestação, de vez em quando.

12 de junho – Esta noite quero te falar sobre a crise no Mediterrâneo. A União Europeia se parece cada vez mais com um espetáculo de circo. É incapaz de buscar soluções para os problemas mais

Leia a versão integral da carta de Gervásio Sánchez para Raül Romeva na versão online, disponível em www. plurale.com.br

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Pelas empresas

Leites UHT sem estabilizantes Desde outubro todos os produtos das linhas Ninho e Molico, da Nestlé, contém apenas ingredientes conhecidos pelos consumidores, seguindo uma tendência mundial e completamente alinhada ao projeto global da multinacional, que tem por objetivo intensificar a remoção de ingredientes não conhecidos do público até 2020. Texto e fotos de Luciana Tancredo, de Plurale De Carazinho (RS)

Atendendo à uma demanda crescente de um consumidor que procura produtos mais naturais e livres de aditivos, e pensando em construir um futuro mais saudável a Nestlé retirou totalmente os estabilizantes de seus leites UHT, tornando-os os primeiros clean label produzidos em larga escala no Brasil. Mas isso só foi possível, porque nos últimos cinco anos, a empresa investiu em torno de R$ 140 milhões em programas para a melhoria contínua de sua cadeia de produção de leites. Esse dinheiro foi destinado principalmente a programas de pesquisas e de assistência técnica aos parceiros, na implementação de programas de boas práticas ambientais nas fazendas produtoras, e também na criação de sistemas de valorização da qualidade. A partir de outubro todos os produtos das linhas Ninho e Molico vão conter apenas ingredientes conhecidos pelos consumidores, seguindo uma tendência mundial e completamente alinhada ao projeto global da multinacional de simplifyind ingredient lists, que tem por objetivo intensificar a remoção de ingredientes não conhecidos do público até 2020. De acordo com a engenheira agrônoma, Gerente de Qualidade da Nestlé Brasil, Taissara Martins, a retirada dos estabilizantes é decorrência de um crescimento na qualidade de toda a cadeia produtiva, num tra-

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balho que começou há pelo menos 20 anos atrás. Melhorando a matéria prima, aprimorando a produção leiteira na fazenda, implementando a coleta 24 horas e o transporte refrigerado do produto até a fábrica, finalizando com uma enormidade de testes porque passam o produto até o envase. Dentro da fábrica, além das análises feitas nos laboratórios, o leite é fortificado com sais minerais e vitaminas, sem nenhum contato humano, evitando assim qualquer tipo de contaminação. Antes do envase, as embalagens, também tem sua resistência e integridades testadas, até que o leite deixe a fábrica e seja direcionado aos pontos de venda. Sustentabilidade até o produ-

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Taissara Martins


FOTOS DE LUCIANA TANCREDO/ PLURALE, DE CARAZINHO (RS)

tor - O grande desafio de todo esse projeto foi melhorar a qualidade do leite nas pequenas propriedades produtoras, implantando o Projeto de Boas Práticas nas Fazendas, levando sustentabilidade ao produtor. Segundo Jean Carlos Budke, biólogo responsável pela implantação do BPF, a ideia foi levar o olhar sistêmico para a dentro da propriedade. Mapear, analisar os aspectos ambientais e adequar as necessidades de cada fazenda. As principais diretrizes do projeto eram coleta de água da chuva para reuso, instalação de painel solar nas salas de ordenha, higienização ideal na hora da ordenha, reflorestamento das áreas degradadas e na beira de rios. Uma das fazendas beneficiadas pelo projeto, foi a do Douglas Erig, pequeno produtor que há dois anos faz parte do time de fornecedores da Nestle. Sua propriedade já recebeu as 4 fases do Projeto Ambiental, e hoje conta com 42 vacas, 1250 litros

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Pelas empresas FOTOS DE LUCIANA TANCREDO/ PLURALE, DE CARAZINHO (RS)

por dia (média de 30 litros por animal). Na fazenda familiar, onde só ele, a mulher Andreia e o filho Thales trabalham, a ordenha mecânica é feita duas vezes por dia, e o leite é armazenado diretamente em um tanque refrigerado a 4 graus, onde aguarda ser coletado pelo caminhão também refrigerado todos os dias. A outra fazenda visitada, foi a Fazenda Schneider, com um plantel de 70 animais em lactação, é uma propriedade um pouco maior que a primeira, mas que segue as mesmas características de empresa familiar. Rogério, Eunício e João Albino se revezam nas funções da lida com os animais e tocam a fazenda da família juntos. Eles também são fornecedores da Nestle, há pouco mais de 2 anos e já tem um nível de excelência elevado. Presenciamos a segunda ordenha, e pudemos testemunhar a higienização bem feita e a alimentação dos animais depois da coleta. “Vacas bem tratadas, produzem melhor”, garante Rilder Vieira, gerente de região leiteira da Nestle. A coleta em caminhões refrigerados

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Familia Erig, Douglas, Andreia e Thales

todos os dias, garante o frescor desse leite, que chega ao consumidor em menos de 48hs depois de sair da vaca. A Nestle Brasil é uma das maiores captadoras de leite fresco no País, compra 10 bilhões de copos de leite e entrega 5 bilhões de copos fortificados todos os anos. Todo esse investi-

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mento só contribui com o desenvolvimento rural no país, melhorando o relacionamento com centenas de milhares de pequenos e médios produtores rurais. (*) A repórter viajou em grupo de jornalistas a convite da Nestlé Brasil.


ISABELLA ARARIPE

Nova atração na Chapada dos Veadeiros Em setembro, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ganhou um novo atrativo, o Carrossel. A nova trilha possui mirantes, vias de escalada, cânions e cachoeiras para banho. A entrada é pelo centro de visitantes onde o participante receberá orientações da equipe do parque. No local, está autorizada o canionismo e o visitante pode procurar uma operadora cadastrada para a prática.

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Ecoturismo

W Ecoturismo ganha força no Tocantins

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O Jalapão é um dos destinos turísticos principais do Tocantins, principalmente, após virar cenário de novela. Mas, novos roteiros turísticos começam a ganhar forma no Estado, como os municípios de Dianópolis, Rio da Conceição e Novo Jardim, que integram os novos roteiros de ecoturismo propostos pelo programa de incentivo ao turismo, implementado em dez cidades do sudeste tocantinense. Em Rio da Conceição, cidade com pouco mais de dois mil habitantes, a dica é curtir a Lagoa da Serra (foto). O atrativo está inserido em uma propriedade privada, onde o turista paga uma taxa de R$ 15,00 pela visitação.

Casal de brasileiros se destaca em ecoturismo no Atacama Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses pode virar patrimônio mundial O governo brasileiro encaminhou à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o dossiê de candidatura do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses ao título de Sítio do Patrimônio Mundial Natural da Unesco. A candidatura será analisada na reunião da Unesco em 2020. Isso porque, na reunião de 2019, a organização mundial será analisada a candidatura de Paraty e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao mesmo título. Para ser reconhecido como Patrimônio Mundial, é necessário que o sítio atenda a pelo menos um dos critérios estabelecidos pela Unesco. Os Lençóis atendem a três critérios, relativos a uma área de excepcional beleza natural, detentora de processos geológicos significativos e contendo habitats relevantes e significativos para a conservação da biodiversidade, incluindo espécies ameaçadas e endêmicas.

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Cada vez mais pessoas têm largado “tudo” para viajar o mundo e tentar viver de uma maneira diferente e com mais liberdade. E apesar da ideia que se tem de que fazer isso é abandonar uma estabilidade financeira, viajantes como a Carla Boechat e Renato Guimarães, que são nômades e têm um motorhome, mostram que é uma realidade empreender e ao mesmo tempo viver na estrada. O casal abriu em 2017 a Fui Gostei Trips, uma Agência de Experiências, que já recebe mais de 200 brasileiros por mês para conhecer o Chile e emprega 10 pessoas, todas trabalhando remotamente - algumas estão no Chile, outras no Brasil e recentemente recrutaram uma que vive em Portugal. Além do Deserto do Atacama, levam ao Salar de Uyuni, na Bolívia, e em setembro desse ano começaram a oferecer passeios também na capital chilena, Santiago. Entre os planos de Carla e Renato – ambos com 31 anos - está expandir para todas as regiões do Chile que são muito visitadas pelos brasileiros - e já há clientes perguntando quando vão chegar na Patagônia. Do emprego difícil no Brasil - Carla era jornalista e trabalhava com assessoria de imprensa - a uma viajante que já visitou mais de 40 países e que através do seu blog de viagens ganhou dois concursos mundiais idealizados pelas feiras turísticas de Madri, na Espanha, e de Kerala, na Índia - e que hoje empreende no Chile. E Renato, da vida mais do que confortável no Brasil para se jogar pelo mundo sem ter ideia do que esperar, quando acabou empreendendo mais uma vez - antes ele era sócio de uma empresa de homecare em Sao Paulo.

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Campanha “Feed our Future” nos cinemas do mundo

Um olhar sobre o paisagista Burle Marx

Causar impacto sem mostrar as intermináveis imagens de crianças passando fome. Foi o que fez Sir John Hegarty, lenda da publicidade, e The Garage Soho (investidor-anjo e criador de marcas) num filme de 60 segundos exibido em salas de cinema pelo mundo para sensibilizar e incentivar o público a participar da campanha “Feed our Future” (Alimente Nosso Futuro) ajudando assim o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas, a principal organização humanitária de combate à fome no mundo. O comercial mostra uma coletiva de imprensa com jornalistas competindo para entrevistar a vencedora de um prêmio de inovação em pesquisas médicas. Porém, os jornalistas descobrem que, na verdade, não houve nenhum avanço na medicina – a chocante conclusão revela que Miriam Adeke, a jovem em questão, havia morrido de fome quando tinha apenas 8 anos de idade. Quantos futuros talentos o mundo tem perdido para a fome? Dados da PMA revelam que três milhões de crianças morrem todos os anos de fome ou desnutrição. Para assistir o comercial acesse: https://www.youtube.com/watch?v=blrl1nArt2c

O documentário “Filme Paisagem: um olhar sobre Roberto Burle Marx” é um passeio pela arte e personalidade do paisagista e pintor, que apresenta suas ideias e lembranças numa sucessão de paisagens sensoriais. Reconhecido internacionalmente, deu grande contribuição para a arquitetura moderna. Paulistano, morou grande parte da sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados muitos de seus trabalhos como os jardins do Aterro do Flamengo, os jardins do Palácio Gustavo Capanema e do Museu de Arte Moderna (MAM). Também são de autoria de Burle Marx o Eixo Monumental de Brasília. O documentário com direção e roteiro de João Vargas Penna, tem narração baseada nos textos e entrevistas que Burle Marx fez ao longo da vida. As imagens têm direção de fotografia de Carolina Costa. Breve nas salas de cinema.

Websérie viaja pelos parques nacionais

16º edição do Cineamazônia promete

Com patrocínio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e realização de ((o))eco, foi lançada recentemente a websérie “Pé no Parque”, roteirizada por Duda Menegassi. A primeira temporada está disponível no WikiParques (www.wikiparques. org/pe-no-parque) plataforma colaborativa sobre unidades de conservação nacionais. A temporada de abertura composta por quatro episódios foi toda filmada no Parque Nacional de São Joaquim, localizado no interior de Santa Catarina, entre os municípios de Urubici, Orleans, Grão Pará, Lauro Muller e Bom Jardim da Serra. O objetivo do projeto é incentivar o turismo e a visitação nessas áreas. Além dos episódios sobre o Parque Nacional de São Joaquim, o projeto deve percorrer, em 2019, outras áreas naturais de diferentes regiões do território nacional.

Foram centenas de filmes inscritos de várias regiões do Brasil e de outros países. Puderam se inscrever para a seleção da Mostra Competitiva, filmes no formato de curtas, médias e longas metragens, nas categorias de ficção, documentário, animação e experimental, produzidas em qualquer parte do mundo, realizados a partir de 2014. Cineamazônia – Festival Latino Americano de Cinema Ambiental surgiu há 16 anos na Amazônia Brasileira, com o objetivo de realizar a junção entre a sétima arte e o meio ambiente, divulgando e promovendo a mensagem pela sustentabilidade, o respeito à natureza e à tradição dos povos que dela dependem. Fiquem atentos na programação pelo site http://cineamazonia.com.br/

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Pelas Empresas

ISABELLA ARARIPE

O Boticário lança primeiras fragrâncias do mundo desenvolvidas com a ajuda de Inteligência Artificial

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Boticário – maior rede de cosméticos do mundo – acaba de apresentar, em um evento em Nova York, as primeiras fragrâncias do mundo desenvolvidas com a ajuda da Inteligência Artificial. Em duas versões, a novidade começa a ser comercializada nos canais da marca em meados de 2019 e foi criada junto com dois gigantes globais – a Symrise, uma das mais renomadas casas de fragrância do mundo, e a IBM Research. Especialista em perfumaria, O Boticário adicionou à sua alquimia a mais avançada tecnologia para essa nova criação. Pela primeira vez na história, uma fragrância combina emoção e automatização – o nariz do homem e o cérebro do sistema.

DIVULGAÇÃO

“Queríamos criar um produto direcionado para quem quer aproveitar a vida ao máximo. Algo bem característico da geração Millennial – que gosta de se jogar, sem medo de errar, e quer ser livre para fazer suas escolhas – das mais pre-

visíveis às mais inusitadas. E que tivesse tudo a ver com o gosto do consumidor brasileiro, que fosse a melhor combinação para quem é curioso e adora viver novas experiências”, explica o gerente de Perfumaria do Boticário, Jean Bueno.

Startup promove diversidade e inclusão capacitando pessoas e empresas por meio de palestras com pessoas com deficiência DIVULGAÇÃO

Dados da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) mostram que o mercado brasileiro de palestras movimenta R$ 100 milhões por ano. No mundo, a cifra deve chegar a US$ 12 bilhões. Para o empresário Carlos Paes, os números mostram um mercado promissor e é um incentivo para quem, como ele, está ingressando mais fortemente nesse mercado – Paes acaba de criar a startup Converger, que conta apenas com profissionais pessoas com deficiência (PCDs) para capacitar pessoas e empresas em todo o Brasil. Nascido em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, e empreendedor desde os 14 anos, o CEO encontrou no filho Luiz Felipe, de 19 anos, outra fonte de incentivo. Cedo o jovem foi diagnosticado com TDAHA e Deficiência Intelectual (DI). O fato fez com o que o pai abrisse a EMPROLRH, voltada para recolocar pessoas com deficiência no mercado de trabalho, transformando-a hoje na Converger, que

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já realizou mais de 100 palestras e eventos por todo o país. “Percebi que as pessoas com deficiência com as quais tinha contato, além de se destacarem em suas áreas de atuação tinham um elemento importante: experiência de vida. Isso permite que eles tenham empatia com o outro e transmitam de forma mais efetiva conceitos e ideias motivacionais”, explicou o CEO. No casting da Converger estão nomes como os nadadores e medalhistas paralímpicos Susana Schnarndorf Ribeiro – campeã mundial e medalha de prata nos Jogos Rio 2016 – e Clodoaldo Silva, que participou de cinco paralimpíadas, ganhando seis medalhas de ouro, seis de prata e três de bronze; o ator, roteirista e comediante Jeffinho Farias – conhecido por sua atuação na

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TV e no teatro; a jornalista Fernanda Honorato, repórter do programa Especial da TV Brasil – a primeira repórter com Down no país; o palestrante Gustavo Carneiro (foto), administrador de empresas e esportista, que teve a perna amputada em virtude de um câncer; além de outros atletas, artistas, e profissionais da psicologia e administração.


Coca Cola Brasil ganha Prêmio ‘Stevie International Business Awards’ em duas categorias DIVULGAÇÃO

A Coca-Cola Brasil e sua agência de PR, a Textual Comunicação, foram premiadas na edição 2018 do Stevie International Business Awards. Os cases que tratam da sustentabilidade por meio do diálogo e dos desafios da indústria para redução de açúcar, levaram dois troféus de bronze nas categorias Environmental eCommunications or PR Campaign of the Year. Os prêmios refletem a forma de pensar e comunicar a sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, especialmente no último ano.

. A empresa vem transformando o que produz e como produz para atender às novas demandas da sociedade. Com visão de longo prazo, a empresa reafirma seu compromisso de continuar a crescer de forma consciente. O Stevie Awards foi criado em 2002 e se tornou uma referência na premiação de empresas em diversos segmentos. Este ano marcou a 15ª edição do prêmio, que recebe anualmente milhares de inscrições de todo o mundo. Os vencedores são de-

terminados por um júri internacional composto por mais de 200 executivos, que participaram do processo de julgamento de maio até agosto.

Netcredito: nova fintech entra no mercado de crédito pessoal, consignado, imobiliário, de veículos e para PMEs DIVULGAÇÃO

Receber diferentes propostas de crédito e conseguir empréstimo de forma mais fácil. É o que promete a fintech Netcredito, que acaba de ser lançada no mercado brasileiro. A plataforma funciona como uma integração entre pessoas e empresas tomadores de empréstimos e instituições financeiras. A novidade é que por meio de um único cadastro o cliente poderá receber mais de uma proposta, permitindo que ele escolha a melhor opção de crédito, com as menores taxas. Todo o processo é feito on-line e de forma segura, garante a empresa, conferindo mais agilidade no fechamento dos contratos.

Para os empresários Marcus Quintella e Kefferson Jardim, à frente da nova empresa, o setor é promissor, pois as fintechs estão revolucionando o mercado financeiro no Brasil. “Entendo que as fintechs chegaram para dar

mais agilidade ao mercado, especialmente no setor de crédito, pois conseguem mais capilaridade, menos custos e praticamente não há burocracia”, destacou Quintella. A plataforma (www.netcredito.com.br) foi pensada para facilitar o acesso de quem precisa de dinheiro aos empréstimos. Para as empresas, isso significa menos tempo, trabalho e burocracia. Para as pessoas físicas, mais facilidade para conseguir menores taxas de crédito, apontam os empresários. “A Netcredito pretende se destacar pela forma de captar clientes, por meio de seu score de informações, que agiliza bastante as concessões de crédito por nossos bancos e financeiras parceiras”, completou Jardim.

Presidente executiva da ABA, Sandra Martinelli, é eleita a Marketing Citizen 2018 do Prêmio Marketing Best DIVULGAÇÃO

Sandra Martinelli, presidente executiva da ABA, foi eleita, por unanimidade, pelos membros da Academia Brasileira de Marketing (Abramark), a Marketing Citizen 2018 do Prêmio Marketing Best 2018, que será entregue em maio de 2019. A presidente executiva da ABA entrará para o hall de homenageados, ao lado de nomes como Paulo Giovanni, Walter Longo e Luiza Helena Trajano, que também levaram

o prêmio de Marketing Citizen em anos anteriores. Martinelli é a primeira executiva de associação a ser agraciada com este prêmio. Realizado pela Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda, o Marketing Best já premiou cerca de 800 cases, desde a sua criação, em 1988. O prêmio é considerado uma referência de excelência em marketing para as empresas que buscam uma “certificação” no mercado.

Sandra Martinelli com Armando Ferrentini, presidente da Editora Referência, no momento em que recebeu a notícia

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I m a g e m FOTO DE ANA LÚCIA ARAÚJO – VISCONDE DE MAUÁ (RJ)

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om esta belíssima flor de Visconde de Mauá (RJ), desejamos um Feliz Natal de harmonia e um 2019 repleto de luz e trabalho para todos. O registro é da sensível fotojornalista ANA LÚCIA ARAÚJO , que foi Editora em redações jornalísticas, como Jornal do Brasil e O Dia, e atualmente leciona no curso de Jornalismo da ESPM-Rio, passando este olhar para seus alunos com aulas externas por lugares ao ar livre e também ligados à identidade carioca. “Gosto que eles exercitem nas fotos o pulsar da alma carioca”, explica. Esta foto foi tirada recentemente em Visconde de Mauá, considerado o refúgio para uma pausa e meditação de Ana Lúcia. Que os bons ares da serra, das flores e da poesia nos inspirem por caminhos sustentáveis.


Uma instituição que já nasce como referência de ensino em comunicação.

www.escolaaberje.com.br



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