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ano doze | nº 67 | setembro / outubro 2019 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
JALAPÃO, FLIP E AMAZÔNIA
ARTIGOS INÉDITOS
CAFÉ DO SUL DE MINAS: EXEMPLO DE SUSTENTABILIDADE
FOTO DE LUCIANA TANCREDO - SOBREVOO DE CAFEZAIS EM BALÃO - CARMO DE MINAS (MG)
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Entre tantas essências que utilizamos, uma está em tudo que fazemos: empreendedorismo. Mesmo quando já éramos a maior franquia de beleza do Brasil, nós nos tornamos um grupo multimarca e multicanal que hoje é referência no país. Nossa essência empreendedora fala mais alto. Somos muito mais que a união de grandes marcas de sucesso. Somos um grupo com vocação para realizar. O Boticário; Eudora; quem disse, berenice? e The Beauty Box estão presentes em quatro mil pontos de venda próprios, e-commerce e venda direta. Com Multi B e Vult, ampliamos a nossa presença para mais de 35 mil outros pontos de venda, como farmácias e lojas multimarcas. Crescemos acima da média do setor e já somos uma das dez maiores redes de varejo do país. É assim, transformando oportunidades em negócios, que estamos escrevendo a nossa história. E ela está só no começo.
grupoboticario.com.br
Contexto
HÉLIO ROCHA – PEQUIM – CHINA
CHINA: DE PAÍS EMERGENTE A POTÊNCIA ECONÔMICA, MAIOR ECONOMIA DO MUNDO AINDA BUSCA HARMONIA SOCIAL E AMBIENTAL, Por Hélio Rocha
LUCIANA TANCREDO – CARMO DE MINAS (MG)
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CAFÉ DO SUL DE MINAS: SUSTENTABILIDADE NA CADEIA DE VALOR, Por Luciana Tancredo ARQUIVO DA AGÊNCIA BRASIL
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ARTIGOS INÉDITOS: Christian Travassos, David Grinberg e Henrique Luz
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EXPEDIÇÃO PURUZINHO/ DIVULGAÇÃO
POLUIÇÃO DE MERCÚRIO ATINGE PEIXES QUE ALIMENTAM RIBEIRINHOS DA AMAZÔNIA, Por Luciana Bezerra, de Manaus (AM)
Ecoturismo, por Isabella Araripe
40 Casa de Ana, templo da arte popular em Floripa, Por Raquel Ribeiro
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GIULIANA PREZIOSI
Novos sabores, menos sesperdício, por Nícia Ribas
60 Cinema Verde, por Isabel Capaverde
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34.
JALAPÃO, ROTA BRUTA Por Giuliana Preziosi
DIVULGAÇÃO – FLIP
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AOS 17 ANOS, FLIP SE ESPALHA E, CADA VEZ MAIS, ESPELHA O BRASIL EM MUITAS DIMENSÕES Por Maurette Brandt
E ditorial
Bons motivos para comemorar os 12 anos de Plurale Nesta edição trazemos temas bem variados: a cadeia produtiva do café sustentável; esforço da China em busca do combate à poluição e pobreza; denúncia de contaminação de mercúrio nos rios da Amazônia; a pluralidade da Flip e entrevista com a primeira reitora da UFRJ
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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
niversário é sempre um período de comemoração e renovação para um novo ciclo. Este é o sentimento que nós, da “família” Plurale gostaríamos de compartilhar com todos vocês – leitores, parceiros, e fontes - que nos ajudaram a trilhar este caminho. Esta história foi escrita com a ajuda de cada um, lendo e compartilhando, apoiando, comentando, escrevendo... Sabíamos, desde o começo que Plurale só seria bem-sucedida se fosse conjugada na primeira pessoa do plural. Não é só minha ou da equipe. É NOSSA, de todos nós. Assim, chegamos aos 12 anos felizes por termos atingido a maturidade e com energias renovadas para os próximos anos. Esta edição reflete este nosso sentimento na busca pela pluralidade. Do Sul de Minas, a Editora de Fotografia, Luciana Tancredo nos conta a experiência de fazer café sustentável pela Nespresso, do começo ao fim do ciclo de vida. Não é só. Ela ainda sobrevoou de balão a belíssima região e nos brinda com fotos incríveis como a que ilustra a capa e também o ensaio desta reportagem. Do Norte, a repórter Luciana Bezerra, uma especialista em Amazônia, ouviu especialistas que denunciam a contaminação por mercúrio de rios e peixes atingindo os ribeirinhos. Nossa especialista em Cultura, a jornalista Maurette Brandt, conferiu mais uma edição da Festa Literária Internacional de Paraty , a 17ª FLIP, e ficou encantada com a pluralidade, apresentada aqui em um Especial. Pura poesia – em texto e fotos - também a matéria linda de Giuliana Preziosi do Jalapão (Tocantins). Trazemos ainda artigos inéditos de Christian Travassos, David Grinberg e Henrique Luz. De Florianópolis, Raquel Ribeiro mostra o rico colorido do artesanato garimpado por Ana Paula Dreher e
O jornalista Hélio Rocha foi selecionado pela Associação de Diplomacia Pública da China como jornalista bolsista e está finaliza esta experiência contando em Plurale o esforço do Governo chinês para combater a poluição e a pobreza.
A Editora de Plurale, Sônia Araripe, entrevistou a Professora de Biofísica Dra. Denise Pires de Carvalho, a primeira Reitora mulher da história da primeira Universidade do Brasil, a UFRJ.
A Editora de Fotografia de Plurale, Luciana Tancredo, sobrevoou de balão os cafezais de Carmo de Minas, no Sul de Minas.
Da Amazônia, Luciana Bezerra nos traz a denúncia de estudo sobre a contaminação por mercúrio de peixes que alimentam ribeirinhos.
no Rio de Janeiro, Nícia Ribas apresenta iniciativa que procura não só usar alimentos sustentáveis e as famosas plantas alimentícias não convencionais (PANC), mas também combater o desperdício de comida pela rede hoteleira Accor. Em um reencontro emocionante, lembrando dos melhores tempos da juventude, entrevistei Denise Pires de Carvalho, médica e Professora de Biofísica, eleita a primeira reitora da conceituada Universidade Federal do Rio de Janeiro, que completará 200 anos em 2020. Respeitadíssima pelos seus pares, escolhida em eleição em primeiro turno, carrega em seu currículo Mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) (1989);
Doutorado em Ciências (1994), ambos pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho; assim como Pós-doutorado no Hôpital de Bicêtre, Unité Tiroïde, Paris, e na Universitá Degli Studi di Napoli, Itália. Do outro lado do planeta, o jornalista mineiro Hélio Rocha, foi selecionado pela Associação de Diplomacia Pública da China como bolsista por seis meses e nos relata o esforço do Governo chinês para combater a poluição e a pobreza. Sem falar nas colunas de Cinema verde, por Isabel Capaverde e Ecoturismo, por Isabella Araripe. Uma edição bem variada. Comemore conosco! Que venham outros tantos anos juntos! Boa leitura!
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QUEM AMA A NATUREZA, BEBE NA LATINHA. Para que os nossos mares e oceanos sejam lindos e saudáveis, escolha a embalagem mais reciclada do mundo: vá de lata! No Brasil, 97,3% das latinhas são recicladas Em 60 dias, no máximo, elas voltam para o mercado São 100% e infinitamente recicláveis
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Cartas
Quem faz
Diretora Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Christian Travassos, Comunicação da Flip (Paraty/ RJ), David Grinberg, Expedição Puruzinho (AM), Giuliana Preziosi (Jalapão, Tocantins), Hélio Rocha (Pequim, China) Henrique Luz, Luciana Bezerra (Manaus/ AM), Raquel Ribeiro (Florianópolis/ SC), Rejane Romano (Instituto Ethos/ Comunicação) e Rosane Marinho (Zaragoza/ Espanha). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: Imprimindo Conhecimento Editora e Gráfica
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“Parabéns pela comemoração dos 12 anos. Sabemos que a luta é árdua, mas há sempre o pódio esperando aqueles que se determinam ao sucesso, trilhando um caminho ético e comprometido com a qualidade da informação.” Alfried Plöger, Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira das Companhias Abertas - ABRASCA., de São Paulo (SP), por e-mail “Parabéns à Plurale pelos seus 12 anos em defesa da sustentabilidade. As discussões em torno deste tema, fundamental para o desenvolvimento do Brasil, nunca foram tão necessárias. Felizmente, hoje temos um veículo de comunicação totalmente dedicado ao assunto e com coragem para abordar desde as melhores práticas empresariais até os temas mais delicados. Como parceiros de longa data da revista, desejamos sucesso e muitos anos de vida!” Paulo Nassar, Diretor-presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, Professor Titular da ECA-USP, de São Paulo, SP, por e-mail “Estimada equipe Plurale, A cada edição da revista, nós da Fundação Grupo Boticário vemos que estamos no caminho certo. A edição 66 da Plurale nos alegra por vermos cada vez mais atores envolvidos com a causa da conservação da natureza em todo o Brasil. Exemplo disso são as reportagens sobre o ecoturismo em Serra Azul, a biodiversidade do Pantanal e o desenvolvimento sustentável em Cazumbá-Iracema e o artigo de André Ferretti sobre as mudanças climáticas. Parabéns à Plurale pelos 12 anos de jornalismo sério, engajado e de qualidade! Malu Nunes, Diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, de Curitiba (PR), por e-mail “Plurale exerce um trabalho singular no jornalismo ambiental do nosso país, que se consolidou em 12 anos de atuação. Por isso, é tão importante para o Sesc Pantanal ter o Parque Sesc Serra Azul na capa da Edição 66 da revista. A unidade abriga uma das nascentes do Rio Cuiabá, que inunda o Pantanal, e é a iniciativa mais recente em prol da conservação do bioma, tema abordado nas três matérias da edição 66. Ao propagar pelo país os detalhes da experiência de estar no Pantanal, Plurale também desperta a vontade de conhecer este paraíso do qual cuidamos há 22 anos.” Christiane Caetano, Superintendente do Sesc Pantanal, de Várzea Grande (MT), por e-mail
PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2019
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“Parabéns por mais um ano de Plurale. Em um momento tão importante em que a comunicação socioambiental precisa ser fortalecida em nosso país, é de grande relevância podermos comemorar mais um ano de plenas atividades deste veículo. A Plurale é um canal que nos conecta aos mais diversos públicos, que transmite a todos o trabalho que fazemos na ponta, pela conservação da biodiversidade, traduzindo a importância das nossas ações para toda a sociedade. Somos felizes e gratos em ter a Plurale como um parceiro na conservação socioambiental”. Suzana Padua, Presidente do IPÊ, de Nazaré Paulita (SP), por e-mail “Recebi a mais recente Edição 66 de Plurale em revista, com as matérias interessantes de sempre, viagens a sítios maravilhosos que ainda não conheço. Ótimo ter tantas informações e dicas de como visitar esses lugares que Plurale mostra e democratiza, tão cheios de atrativos! Por exemplo, eu ainda não conheço o Acre (o único estado do Brasil que não conheço). Quero muito ir lá e irei. E. se puder visitar essa reserva de Cazunbá-Iracema, será a glória, Parabéns, novamente, pelos 12 anos de resistência e relevância de Plurale!” Roberto Saturnino Braga, Senador Constituinte, Escritor e Jornalista, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail
“Gostaria de agradecer à Plurale em revista pelo apoio ao nos prestigiar com a doação de alguns exemplares, que trouxeram conhecimento e informação para nossos alunos da 5ª Série da Escola Alberto Augusto Thomaz. Abordamos temas sobre a preservação do meio ambiente e realizamos pesquisa com base na revista Plurale sobre as Tragédia de Mariana (MG). Foi muito enriquedor! A turma foi dividida em grupos: realizaram leitura compartilhada da entrevista da jornalista e escritora Cristina Serra sobre a Tragédia de Mariana e abrimos espaço para debate, onde os alunos puderam tirar suas dúvidas. Em seguida, os alunos ilustraram através de desenhos como foi a tragédia e os sentimentos das famílias envolvidas. Para finalizar produzimos um cartaz com informações e ilustrações sobre Mariana.” Professora Sônia do Nascimento Santos, da Escola Alberto Augusto Thomaz, de Macuco (RJ), por e-mail
Entrevista
PRECISAMOS DAR EXEMPLO COM UMA CIDADE UNIVERSITÁRIA SUSTENTÁVEL DENISE PIRES DE CARVALHO, PRIMEIRA REITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Arthur Moés/ Coord. De Comunicação da UFRJ e Sônia Araripe
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auditório lotado com cerca de 1 mil convidados para a posse da Dra. Denise Pires de Carvalho como a primeira Reitora mulher da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um excelente cartão-de-visitas. Parlamentares de diferentes partidos, autoridades, empresários e a comunidade universitária fizeram questão de prestigiar o começo do mandato de quatro anos. No discurso, a Professora e Pesquisadora, que foi a primeira mulher a dirigir o renomado Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, destacou seu orgulho de ser “cria da casa”. “Fui a primeira pessoa da minha família a concluir o ensino superior, em 1987, e a primeira diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, em 2010, ano do centenário do nosso fundador, o grande humanista professor Carlos Chagas Filho. Pela primeira vez, em quase 100 anos, uma mulher é investida no cargo máximo da UFRJ.” Há, atualmente, 20 reitoras de instituições federais de ensino superior no Brasil; porém, dentre as 73 instituições, pelo menos 24 universidades brasileiras nunca tiveram mulheres como reitoras. Nesta conversa com Plurale, em seu laboratório de pesquisa, pouco antes de assumir a Reitoria, Denise avaliou haver um certo preconceito com pesquisadoras mulheres, especialmente em cargos mais elevados. “Parece que há um funil, mas acho que não é só isso. As mulheres, mesmo em condições de igualdade, acabam sendo mesmo preteridas.” Um cenário que, acredita, está sendo revertido. O seu maior desafio será, sem dúvida, tentar equilibrar as finanças da mais antiga Universidade brasileira, que completará 100 anos em 2020. Acredita que foi escolhida especialmente pela “capacidade de ges-
“Cria” da UFRJ, a Professora e cientista planeja uma gestão capaz de alterar a dinâmica atual de escassez de verbas até para custeio para focar em pesquisas e projetos em parceria com o setor privado e trazer mudanças significativas para a verdadeira cidade onde está instalada a universidade, na Ilha do Fundão ARTHUR MOÉS/ COORD. DE COMUNICAÇÃO DA UFRJ
tão.” Otimista, a Reitora se orgulha ao ver os avanços obtidos e promete lutar firme – com o Vice-Reitor, o economista Carlos Frederico Leão da Rocha e seus pares – para tentar reverter o cenário de verdadeira penúria da UFRJ e de outras instituições de ensino federal. Com uma universidade autônoma, com ensino público de qualidade, mas que possa definir parcerias com o setor privado. “É preciso acabar com o tabu que a verba privada é diferente. A verba que vem da empresa, no momento em que ela é investida no público, ela se publiciza, fortalece o público, diminui a desigualdade social. Não é uma verba com carimbo diferente.” Denise trabalhará firme para que a Cidade Universitária possa dar exemplo. “O nosso projeto é de uma Cidade Universitária do futuro. Não adianta querer só aumentar o orçamento para pagar uma conta de luz mais cara. Isso não é inteligente. Precisamos de transporte e energia sustentáveis. A sustentabilidade é uma prioridade da nossa gestão. ” A nova reitora sonha com transporte para os alunos que não po-
lua e ainda com energia solar em escala no campus. Aos 54 anos, a filha de professora alfabetizadora herdou o gosto para lecionar: formou-se como médica-professora e pesquisadora, tem Mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica), Doutorado em Ciências (1994), ambos pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, e Pós-doutorado no Hôpital de Bicêtre, Unité Tiroïde, Paris, e na Universitá Degli Studi di Napoli, Itália. A “filha de Minerva” – símbolo da UFRJ - , casada com Professor e Pesquisador da Universidade aposentado, mãe de duas filhas, acredita que terá um desafio e tanto pela frente, mas assegura estar pronta para os desafios. “Faremos o nosso melhor.” Confira os principais pontos desta conversa exclusiva com Plurale. Plurale - Você é “cria da UFRJ”. Formou-se aqui, fez carreira acadêmica aqui. Fale um pouco sobre a sua formação. Denise Pires de Carvalho – Fiz Medicina na UFRJ, me formando em 1987. No
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Entrevista último ano da Faculdade, já tinha ingressado no Mestrado. Fiz uma interseção entre a Graduação e a Pós-Graduação. E não foi só eu, mas também vários outros colegas que queriam ser professores, faziam assim, de forma extra-oficial, com a permissão dos Diretores, o Chefe do Laboratório e Coordenadores da Pós-Graduação. Este programa MD-PHD foi um dos primórdios do que existe hoje: alguns alunos da Faculdade de Medicina já ingressam, agora, oficialmente, no Doutorado direto, a partir do nono período da Faculdade. Eu ingressei no Mestrado. Enquanto nos EUA e em outros países do mundo, como o curso médico é muito longo e tem ali embutido atividades que se assemelham à pós-graduação, como o internato é uma especialização, nem passam pelo Mestrado. Aqui, nós mantemos o Mestrado mesmo para quem cursa Medicina, e isso atrasa a formação do médico, que vai ser Doutor com 40 anos ou até mais. Eu ingressei na Pós em 1987, mas em 2001 nós conseguimos oficializar este programa, o Professor Paulo Mourão, com a a aprovação do MEC, da Capes. Já existe na Unicamp, na PUCRS e em outras, mas não na USP. Outros fizeram o mesmo antes de mim, na década de 70, já pensando em ser cientistas. Plurale - E você já pensava nisso? Queria ser cientista? Denise Pires de Carvalho – Exatamente. Não queria sequer fazer prova de Residência. Quando me formei já tinha três artigos publicados como primeira autora. Durante o curso aqui na UFRJ, temos contato o tempo todo com cientistas. A vocação aparece. Se tivesse feito Medicina em outra universidade, provavelmente não teria sido cientista. Mas segui este caminho exatamente porque estudei Medicina na UFRJ. Mas isso não significa que não goste da parte Clínica. Adoro e talvez por isso faça estudos mais translacionais, visando a melhoria do paciente, do tratamento, do diagnóstico. Gosto da atividade clínica, mas só não exerço porque fiquei na parte básica. A vantagem deste programa criado na Universidade de Columbia, em 1964 – o MD-PHD- é que forma o clínico-pesquisador. Implantamos na UFRJ em 2001. Plurale – Sonhava ou imaginava, lá atrás, que um dia chegaria na Reitoria da UFRJ?
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Denise Pires de Carvalho – Não. Desde o início eu queria ser professora com dedicação exclusiva. O que é uma característica de um cientista. Ainda temos um número de Doutores muito menor do que os países desenvolvidos. Mesmo hoje. Passamos do número de 10 mil Doutores por ano e não tem nem uma década. A minha atividade fim era formação de pessoal, sabia que seria professora. E o cargo máximo na carreira de um professor é ser Professor-Titular. Então, sempre trabalhei para ter uma atividade científica que fosse destacada o suficiente para chegar ao posto de Professora-titular. Plurale – Cargo que você atingiu em que ano? Denise Pires de Carvalho –Em 2011. Era Diretora do Instituto de Biofísica, que também foi um cargo que eu nunca almejei. Aliás, a gente costuma dizer que a direção do Instituto é ocupada por pessoas que não querem ...(rs) O laboratório é bem-sucedido, aí o pesquisador demonstra uma capacidade de liderança, de administrar bem e acaba chegando na Direção e aí não pode recursar. Se olhar a minha carreira, eu sempre me destaquei em atividades administrativas: fui coordenadora da Graduação, da Pós-Graduação por cinco anos (normalmente as pessoas ficam dois anos) e fui para a Itália em 2005 para fazer o Pós-Doutoramento em Biologia Molecular, era uma área à qual eu tinha pouca formação. Foi um área que avançou muito na década de 90 quando eu já era professora. A minha formação era mais de Bioquímica mesmo. Passei o ano de 2006 inteiro na Itália e quando estava voltando, recebi um telefonema de quem seria o Diretor do Instituto Carlos Chagas me chamando para a Vice-Direção. Então, não esqueceram de mim mesmo estando fora do País. Somo todos aqui muito amigos, e fui a Vice no mandato de três anos do Olaf Malm. Quando o mandato estava terminando, então surgiu o convite para que assumisse a Presidência, o que aconteceu em 2010, tendo ficado até 2013. Plurale - Esta sua habilidade de gestão, é natural? Ou você fez alguma especialização neste sentido? Talvez pelo fato de ser mulher, mãe, profissional...multitarefas...
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Denise Pires de Carvalho – Isso. É natural. Nunca fiz nenhum curso. Aprendi na prática, na vida. A mulher tem uma capacidade administrativa grande: administrar a vida pessoal, a maternidade, a vida profissional...isso é uma administração. Não é nada fácil cuidar do crescimento de uma criança, desde a alimentação até o vestuário, a educação...todos os detalhes. A gente faz ao mesmo tempo. Lê a agenda da escola e também lê as teses de Mestrados dos alunos, os artigos...Isso é uma capacidade administrativa. Plurale – Outras Universidades Federais já tiveram mulheres como Reitoras antes, como em Minas. Porém, no Rio, na UFRJ, a mais antiga Universidade federal do país, que compleará 100 anos em 2020, você é a primeira Reitora. Isso faz diferença? Denise Pires de Carvalho – Fui a primeira mulher a ser Diretora do Instituto de Biofísica da UFRJ, a primeira a sentar na cadeira que já foi de Carlos Chagas Filho. Este é um ponto de destaque no meu discurso de posse. Não sou eu. Está havendo no Rio de Janeiro, mudanças fazendo com que mulheres cheguem a cargos de chefia/comando. O Instituto de Biofísica, por exemplo, foi criado em 1945 e a primeira mulher atinge o posto de Diretora em 2010, e não é porque não havia mulheres aqui. Muitas coordenavam a Pós-Graduação. As mulheres paravam neste cargo e a Direção era um cargo masculino, por algum motivo que é reflexo, certamente, da sociedade patriarcal. As mulheres participavam da produção – ministrando aulas, fazendo pesquisas relevantes, coordenando inclusiva a Pós-graduação que é o “coração” do Instituto, mas quando chegava na administração central havia ali um filtro. Então, é histórico que eu tenha atingido o cargo de primeira mulher na Direção do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e agora na Reitoria da UFRJ. Acho que é uma mudança tardia na UFRJ. Mostra que é uma instituição conservadora no seu âmago. Plurale - Isso a preocupa? Denise Pires de Carvalho – Não, porque acho que mudou. Fui eleita em primeiro turno, votação direta. Já nas eleições anteriores, em 2015, ganhei em primeiro turno, mas houve uma virada no segundo
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turno com uma diferença bem pequena. É uma instituição conservadora, mas que está se modernizando. E espero que se modernize ainda mais nos próximos quatro anos. Todas as pró-reitoras acadêmicas são mulheres, por acaso: de Graduação, de Pós-Graduação e de Extensão são do sexo feminino, são quatro mulheres pró-reitoras e três homens. Se fosse um número par seria meio a meio. Mas por acaso foi 4 X 3, poderia ter sido o contrário. Nossa escolha foi por capacidade técnica. As pessoas são super qualificadas, não importa o gênero. Temos que buscar a igualdade. É isso que a sociedade deve buscar. Plurale – Na Ciência, apesar do avanço de mulheres, ainda há muito mais homens do que mulheres no Brasil. E com certeza não é por falta de quadros capacitados. Como mudar este cenário? Denise Pires de Carvalho – Na verdade, as mulheres são maioria na produção do conhecimento. Mais de 50% da Ciência têm como autora mulher. Quando olhamos as bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) de iniciação científica, são concedidas para alunos no nível de Gradução, 59% são mulheres. Mas quando olhamos a bolsa de pesquisador, no nível 2, que é o mais baixo, 42% são mulheres. Já vê um filtro. Quando vai para o cargo 1A, o cargo mais alto, 24% são mulheres, e estes números são mantidos nos últimos cinco anos, de 2014 a 2019. Não houve nenhum avanço . Plurale – E qual a sua leitura destes dados? Denise Pires de Carvalho – Quer dizer que ainda há machismo no sistema. Há preconceito. Na hora de selecionar. Mas é verdade que é preciso analisar também estes números com atenção: como o acesso às bolsas 1A é restrito e as pessoas tendem a renovar, tem um quê aí da renovação, se nesta hora não houver um olhar para privilegiar a entrada de mulheres, esta mu-
dança não irá acontecer. Serão sempre os mesmos. Em igualdade de condição, o que me parece é que o homem ganha. Se não houver uma política que, em igualdade de condições a mulher entre, teremos sempre os 24% por décadas. Plurale – Faria sentido ter um sistema de cotas para mulheres? Denise Pires de Carvalho – A Universidade Federal Fluminense (Uff) está fazendo é levar em conta a maternidade. Não é uma cota, mas as mulheres têm uma pontuação a mais para ganhar bolsa dentro da universidade, como bolsa de iniciação científica. ´E uma forma de dar uma pontuação a mais para quem é mãe. Acho que é um período de transição, porque considerar a maternidade só feminina também não é adequada. O homem deve dividir esta tarefa. Mas no começo da vida da criança, a mulher é muito demandada. A mulher amamenta. É mais difícil ler um paper enquanto está amamentando. Mas os homens já entraram na formação das crianças, ajudando em casa, fazendo tarefas que não faziam antes. Porém, no CNPq no nível máximo acho que a escolha deve ser por mérito mesmo. Se o mérito é o mesmo, se tem igualdade de condição, tem que, durante um período, dar para a mulher até que ela chegue perto dos 50%. Se ela for produtiva, ela ganha, se não for, perde. O que não pode é a mulher continuar produtiva e ser sempre preterida. Me parece que há um filtro que está definitivamente privilegiando um gênero. Não há explicação científica que não seja igual. O que acontece – a mulher deixa de produzir? Claro que não. O que acontece é que há mesmo um filtro. Plurale – A UFRJ passa hoje por uma de suas mais sérias crises financeiras. Falta tudo até para custeio, como luz ou verba para segurança. Como lidar com este quadro? Como lidar com este desafio? Quais são os seus planos?
Denise Pires de Carvalho – Houve muito avanço tecnológico-científico no Brasil. Avançou por conta das Universidades. E não é uma característica do Brasil. Todos os países do mundo com melhor colocação no índice de desenvolvimento são assim porque investiram na Educação, em Universidades de pesquisa. Que não precisam ser todas as Universidades. Mas é preciso ter um grupo de Universidades que tenha esta característica que é a produção do conhecimento no nível competitivo internacional. O mundo hoje consegue extrair petróleo em águas profundas porque esta tecnologia foi desenvolvida aqui na Coppe da UFRJ. A questão mesmo da máquina de cartão com chip, também é brasileira, porque temos capacidade científica tecnológica. O que é preciso fazer para que p Brasil deixe de `patinar`? Mesmo a USP, primeira universidade do ranking do país, está muito atrás, por exemplo, da Universidade de Buenos Aires, aqui do lado, que também passa por dificuldades financeiras. O que nos diferencia da Universidade de Buenos Aires? Temos que parar e fazer uma autocrítica. Será que estamos preenchendo errado os formulários (rs)? O que está faltando? Plurale – O que falta, na sua opinião? Tem muita política? Denise Pires de Carvalho – Falta gestão. A política está equivocada. A política é importante, mas precisa ter uma meta. Qual é a nossa meta? Fica entre as 100 melhores do mundo? Não tenho dúvidas que podemos alcançar esta meta. Mas não adianta a gente olhar de forma umbilical, sem se abrir para o mundo. Precisamos nos abrir para o mundo e definirmos o que nós queremos como instituição. A que questão orçamentária é grave, mas foi muito mais grave há 20 anos. Naquela época, nós tínhamos um orçamento da UFRJ que era dez vezes menor. E o que avançamos neste período com um orçamento dez vezes maior? E somos um país pobre. A Universidade, então, é subfinanciada? Eu não tenho dúvidas sobre isso. Mas há um subfinanciamento também porque precisamos avançar implantando aqui placas de captação de energia solar, para diminuir a conta de luz; precisamos investir mais em energias sustentáveis aqui no Campus. Gastamos dinheiro com transporte que é importantíssimo para os nossos
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Entrevista alunos porque esta é uma cidade que tem problema sério de mobilidade, mas não podemos queimar combustível caro. Dentro da Universidade há uma quantidade enorme de ônibus, que são pagos pela instituição para rodar aqui dentro do Campus. Não poderia ser feito com ônibus elétrico ou com trens elétricos? Não é possível que não possamos ser um exemplo.
co da UFRJ e outras empresas que queiram vir e investir na Cidade Universitária. Temos um Parque Tecnológico fantástico na área de Óleo e Gás; temos a possibilidade de ter um Parque Tecnológico também na área biomédica (já temos de biocombustíveis), para ajudar a fazermos esta Cidade Universitária Inteligente. E isso sem falar na reconstrução do Museu Nacional...
Plurale – Casa de ferreiro, espeto de pau... Denise Pires de Carvalho – Pois é. Precisamos ser um exemplo de Cidade Inteligente para o Brasil, para que outras cidades se inspirem. Aqui é uma Cidade! Temos aqui o MagLev, uma tecnologia que a China está desenvolvendo e nós estamos desenvolvendo aqui. Por que o MagLev não pode transportar os nossos alunos aqui na Cidade Universitária? É preciso investimentos neste sentido. Hoje temos uma Rede Rio obsoleta, não há redundância dos sistemas de tecnologia de informação dentro da UFRJ. Então, adianta aumentar o orçamento em dez vezes se não houver um projeto definido que nós queremos? O nosso projeto é de uma Cidade Universitária do futuro. Não adianta querer só aumentar o orçamento para pagar uma conta de luz mais cara. Isso não é inteligente. Até porque ficará mais cara – mais orçamento são mais laboratórios, mais produção intelectual... mais luz...mas tem que ser sustentável! Senão estamos pegando dinheiro que é investimento público para passar a pagar conta de luz. A sustentabilidade é uma prioridade.
Plurale – Já começou os contatos para atrair empresas na área biomédica? Denise Pires de Carvalho – Estive com o Diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo, Décio Oddone, conversando sobre esta relação da Universidade com as empresas. E vamos conversar com a L’Oréal, com a Natura, com a indústria farmacêutica e com outras que tenham interesse. Queremos ampliar o Parque Tecnológico.
Plurale – Mas como fazer isso sem orçamento em investimento? Denise Pires de Carvalho – Não será fácil. Todo o orçamento em investimentos – obras, instalações e manutenção - foi retirado da Universidade nos últimos anos. O orçamento que cresceu dez vezes como eu falei foi em custeios. Mas a parte de investimento chegou a ser de R$ 90 milhões em um ano e hoje é de R$ 5 milhões. Como fazer os trilhos par o MagLev se não tem investimentos? Plurale – A solução seria estabelecer parcerias com o setor privado? Denise Pires de Carvalho – Vamos tentar buscar fontes de recursos com as empresas que estão aqui no Parque Tecnológi-
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Plurale – O incêndio no Museu Nacional – que pertence à UFRJ – foi uma tragédia, uma catástrofe... Nem sei como nomear. O mundo se mobilizou. O que é possível ser feito? Denise Pires de Carvalho – Foi uma tragédia horrorosa. Estava fora do Rio naquela época...mas aquelas chamas nos deixaram – a todos – perplexos. O mundo viu agora também o incêndio de Notre Dame, na França. E lá há recursos e tecnologia...O mais grave, no nosso caso do Museu, é que não foi possível controlar o incêndio a tempo. Hoje há um resgate do que restou....mas muitas cinzas. Falei no evento “Museu Nacional vive”, realizado pela Direção do Museu e Reitoria, em parceria com o SESC, que está ajudando bastante, que o projeto executivo está ficando pronto – toda a fachada está sendo refeita e o telhado também. Uma vez que esta parte esteja pronta, começaremos as obras internas. Para o prédio do Palácio, temos a verba impositiva da Bancada de parlamentares do Rio que será usada para esta reconstrução da fachada e telhado, mas também para a construção do chamado Anexo ao Museu Nacional, que é um conjunto de prédios ali perto do Maracanã que vão abrigar as salas de aula. Porque muitas pessoas não sabiam que o Museu não era só um equipamento cultural, de exposição, mas um Centro de Pesquisas importantíssimo. Por isso pertence à Universidade. Ali há nove cursos de Graduação. As pesquisas não podem parar. Então, além das ativida-
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des de pesquisa, esses prédios devem contemplar exposições temporárias enquanto o Museu é reconstruído. Para a reconstrução do Museu há contato com o Museu de História Natural de Londres, com o Museu do Louvre, da França – e agora com Pompeia , da Itália, também se posiciona com a possibilidade do envio de peças para o novo Museu. Temos verba para reconstruir algumas alas, mas qual será este novo Museu? Plurale - Qual será o formato deste novo Museu Nacional? Porque estava obsoleto...antiquado. As crianças e jovens já não pensam mais da mesma forma que nós ou nossos pais .... os museus mais modernos, como o Museu do Amanhã, incorporou tecnologia e uma nova forma de interagir com esta geração. Denise Pires de Carvalho – A tragédia aconteceu... infelizmente. O grande desafio é fazer um Museu para o Século 21. Faremos workshops com estes outros museus os quais citei, que são referências, para nos ajudar a pensar sobre como será a reconstrução de um novo Museu Nacional. Como um novo paradigma. Renascendo com esta nova “roupagem”. Plurale - Como falar de Educação em uma época em que é tão combatida, combalida, atingida, enfraquecida ... se nem mesmo o Governo Federal percebe a relevância da Educação e não estabelece uma prioridade para a Educação? Denise Pires de Carvalho – O que acontece no Brasil neste momento é que há este ímpeto neoliberal da área econômica, que foi o projeto vencedor das urnas. Ok. Mas, mesmo olhando para os Estados Unidos, que é uma economia liberal, ninguém tem dúvidas disso, há um cuidado muito especial com a Educação. A educação norte-americana de base é pública e quando chega no nível das Universidades, temos a impressão de que as universidades são privadas, na verdade, são um modelo híbrido: algumas são públicas, outras são privadas. Mas mesmo
SÔNIA ARARIPE - PLURALE
nas universidades privadas, 60% das verbas, no mínimo, são públicas. É para isso que pagamos impostos. É isso que o brasileiro comum tem que entender. Os impostos são recolhidos para que a gente tenha Educação. Um mínimo de Educação que garanta o avanço científico e tecnológico do País. Porque a Educação é o motor que vai gerar este avanço e também o desenvolvimento socioeconômico. Nenhuma sociedade irá avançar sem que haja este investimento em Educação. Dizem que é um jargão, mas as pessoas precisam entender que gasto é quando se joga no ralo (rs), gastou e não transformou em nada. Foi para o lixo. Educação transforma em algo melhor. Então, isso é investimento. Quando você pega o seu dinheiro e compra um imóvel, por exemplo, é diferente de gastar o seu dinheiro num sorvete, que você consome e metaboliza. A Educação é como se fosse um patrimônio imóvel, sempre se transforma em algo melhor. Por isso é investimento. Não é metabolizada. Acho que a população entende isso. Plurale – As manifestações em várias cidades a favor da Educação pública de qualidade e contra os cortes de verbas sinalizaram isso... Denise Pires de Carvalho – Tentaram colocar um cunho ideológico-partidário, mas ficou claro, para quem viu as imagens que era um espaço para todos os partidos. Era um espaço plural. Havia bandeiras de todas as cores. Então, o Governo tem que ficar atento, porque não somos mais o Brasil do século passado. Já houve impacto social das nossas universidades – da USP, da Unicamp, da UFRJ, da UERJ ... Então, todas as famílias que têm filhos que estudaram em nível superior e sabem a diferença que faz vão para as ruas. Porque sabem que faz diferença. O modelo privado não resolve esta questão porque é um modelo de formação profissional, que não é um modelo que faz o País avançar, que é o modelo da universidade de pesquisa. Tem talvez uma ou duas universidades particulares de pesquisa
no Brasil, com pesquisas muito pontuais, muito focadas, que não atuam em todas as áreas do conhecimento. Entre as primeiras, tem a PUC do Rio Grande do Sul, que possui áreas muito definidas de atuação. A própria Mackensie, citada pelo Presidente, também é o mesmo caso. É muito em associação com Universidade do exterior, não é uma produção genuína brasileira. Nas Universidades públicas, temos 95% de produção genuinamente brasileira. Não pode deixar de investir nisso porque seria o fim do País. Um País que deixa de querer ser soberano e passa a ser um país sempre, eternamente, em desenvolvimento. O que não é o que ninguém quer. Trabalhamos para termos um país desenvolvido. Plurale – O resultado é que muitos de nossos pesquisadores/cientistas estão indo para fora, sem perspectiva. Como reverter este quadro? Denise Pires de Carvalho – Só neste prédio em que estamos, falo de quatro pesquisadores que foram trabalhar e morar fora nos últimos anos. É triste. Alguns continuam com vínculo institucional, tem licença sem vencimentos, mas vêm aqui... Recebi hoje mesmo um pesquisador que está na Suécia: ele quer trazer para o Brasil toda a experiência dele da Suécia, mas encontra dificuldades. Há dificuldades na nossa legislação, mas também há dificuldades internas, no âmbito da Universidade. Qual é o modelo de Universidade que nós queremos? É o modelo de uma Universidade pública de excelência, que precisa interagir com empresas ... não há outro caminho. Porque a inovação vai acontecer na empresa. A Universidade é geradora do conhecimento. Plurale – O Brasil ainda tem muito pouca inovação ... Denise Pires de Carvalho – Muito pouca. Porque interagirmos pouco com empresas. Porque ficamos nessa dicotomia: a verba que vem da empresa no momento em que é investida no público, ela se publiciza, fortalece o público, diminui a desigualdade social. Não é uma verba com carimbo diferente. E ainda há muito este tabu, de que a verba da empresa é diferente da governamental. Não. Verba para produção do conhecimento é verba, não importa a fonte, desde que ela seja bem aplicada e
o conhecimento produzido. Precisamos parar de ter este tabu. Nós somos um País que quer avançar. Para isso, precisamos inovar. E para inovar, precisamos nos associar com empresas. E o parque industrial brasileiro tem que crescer. Não poder ser diminuído. Ele tem parado. E é óbvio que a universidade é o lugar para que estes parques se desenvolvam mais. A universidade se desenvolve, a indústria se desenvolve, a empresa se desenvolve, o País cresce, gera empregos. Foi assim em todos os países desenvolvidos. Está sendo assim na China. Plurale - Qual a sua opinião sobre o novo Programa Future-se, lançado pelo MEC, que busca o fortalecimento da autonomia financeira de Universidades e Institutos Federais por meio do fomento à captação de recursos próprios e da autorização para contratos com Organizações Sociais (OS)? Denise Pires de Carvalho - A Universidade precisa discutir o programa tendo por base os documentos divulgados. A Administração Central da UFRJ está analisando o programa detalhadamente e se coloca à disposição para discutir com as entidades representativas em diferentes instâncias acadêmicas. Receberemos sugestões sobre o programa pelo e-mail reitoria@reitoria. ufrj.br até 6/8, para que seja possível consolidá-las para discussão no Consuni em 8/8. O prazo para o término da consulta pública lançada pelo MEC é 10/8. Será necessária a apreciação do tema pela Procuradoria Federal junto à Universidade e pelos órgãos colegiados. O Future-se será divulgado também nas unidades e nos centros, para extensa discussão. A princípio, em relação ao programa, a Universidade estará alinhada com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). A UFRJ se posiciona no sentido de entender que a maior parte dessas atividades já é exercida pela maioria das Instituições Federais de Ensino Superior, e pontua que as mudanças apresentadas pelo programa se referem muito mais ao modelo de gestão dos recursos próprios. O programa precisa ser mais detalhado para a comunidade universitária, para que possamos analisar e contribuir durante o período de consulta pública, pois ainda há muitas dúvidas”.
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Cooperativismo e transformação digital – importantes alternativas para os produtores rurais brasileiros *Por Mauricio Moraes e Fabio Pereira
Ano após ano, o agronegócio brasileiro demonstra sua força e prosperidade ao bater recordes de produção e impulsionar a economia com resultados muito positivos. Em 2018, o setor respondeu por 21% do PIB brasileiro, por 42% do saldo da balança comercial e por 20% dos empregos, tudo isso foi conquistado preservando 66% do território brasileiro com vegetação nativa (fontes: IBGE, Mapa, Cepea, CNA e Nasa). Esses números, que brilham os olhos, são conquistados graças ao trabalho árduo dos empresários rurais que enfrentam muitas dificuldades, especialmente em 2018, ano marcado principalmente pela alta dos preços de fertilizantes, energia, óleo diesel, rações e outros fatores, como a paralisação dos caminhoneiros, que elevaram os custos de produção agrícola. A CNA estima que, em 2018, os produtores de soja e milho apresentaram queda de 40% a 50% na margem. Não é fácil administrar os inúmeros riscos da produção agrícola e, ao mesmo tempo, ser eficiente na gestão financeira. Nesse cenário complexo, as cooperativas agropecuárias vêm ganhando cada vez mais importância dentro do agronegócio brasileiro, por apoiarem o produtor em seus desafios diários. Mesmo com apenas 20% dos produtores rurais associados, as cooperativas agropecuárias produzem ou processam 50% da safra brasileira. No Paraná, um dos estados onde o cooperativismo está fortemente enraizado, o número de cooperados triplicou nos últimos 10 anos e, em 2018, suas 215 cooperativas agropecuárias somaram R$ 83,5 bilhões em faturamento, representando 60% do PIB agrícola do estado, segundo dados da Ocepar.
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Tradicionalmente, as cooperativas são reconhecidas por fornecerem insumos ao menor custo e remunerarem bem seus associados. No entanto, seu papel vem mudando. Um estudo global realizado pela PwC, baseado em entrevistas com as maiores cooperativas agropecuárias do mundo, mostrou que o setor de cooperativas reconhece que também é sua responsabilidade apoiar seus associados com relação à adoção de tecnologias digitais. Na visão de 100% das cooperativas entrevistadas, a adoção de tecnologias digitais é uma tendência importante que vem transformando a forma de produzir, comercializar e fazer negócios. Elas acreditam que a adaptação a este tipo de transformação reduz custos e otimiza processos, garantindo sobrevivência no mercado. Na prática, observamos as cooperativas agropecuárias auxiliando os produtores com soluções de controle biológico em lavouras de milho através do mapeamento e monitoramento com imagens de drones, utilizando dados e sistemas de automatização para fornecer remotamente recomendações de manejo aos produtores de leite e, em alguns casos, utilizando impressoras 3D para fornecer peças customizadas para reparar máquinas e implementos agrícolas. O estudo aponta, também, que as cooperativas estão preocupadas em incorporar as tecnologias digitais nos seus próprios processos internos, com relação, por exemplo, à gestão de compra de insumos, comunicação, comercialização e transporte de produtos, com o objetivo de otimizar processos e adicionar valor aos produtos e serviços oferecidos aos seus clientes e associados. As cooperativas têm se destacado por reconhecerem as tendências e transformações do agronegócio e por inserirem também o pequeno produtor em uma economia cada vez mais globalizada e competitiva. Essas cooperativas, com gestão profissionalizada, adoção de boas práticas de governança corporativa, investimentos em tecnologia e visão de futuro, definem o verdadeiro parceiro estratégico que tanto os produtores brasileiros precisam.
Agronegócio brasileiro 2018 PIB
21%
Balança comercial
42%
Empregos
20%
Vegetação nativa
66%
*Mauricio Moraes, sócio da PwC Brasil e líder de Agribusiness, e Fabio Pereira, gerente sênior de Agribusiness da PwC Brasil.
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Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto sugerir, ao próprio network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure © 2019 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados.
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Colunista Henrique Luz
NÃO HÁ JEITINHO PARA ENSINAR A
PENSAR, PLANEJAR, PERSEVERAR FOTOS DE ARQUIVO DA AGÊNCIA BRASIL
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Brasil é um país com uma capacidade coletiva de improvisação bem ímpar. Essa constatação serve para dois aspectos bem distintos: um para enaltecer a nossa criatividade e “pragmatismo urgente” em momentos complexos. O outro - em uma autoavaliação honesta - para aceitar que somos um povo que não consegue planejar as suas ações. É óbvio que há ilhas de eficiência, mas é importante que nos autocritiquemos fazermos com que essas ilhas se tornem cada vez mais exemplos de nosso normal. O chamado “jeitinho brasileiro” deveria ser enaltecido justamente naquelas circunstâncias excepcionais e especiais. Depois de tudo planejado e bem executado, surgem as exceções provocadas por elementos e influências externas fora de nosso controle e que potencialmente impactam nossas metas. Este “jeitinho” que cria saídas alternativas que garantam nossos prazos e metas deveria ser enaltecido desde que balizado por elemenfos éticos. De fato, é difícil demandar práticas de planejamento quando temos um sistema de ensino fundamental tão falho. O que somos como adultos e profissionais é substancialmente definido por nossos pais - e os valores que nos são passados – além de ambientes escolares, professores, carga horária, conteúdo didático etc. Os dados sobre a educação no país são alarmantes, mas a sensação é que o alarme não soa onde deveria. Os vergonhosos índices de qualidade de ensino em relação aos demais países deveriam mover a sociedade e nossos governantes. A cada novo teste ou avaliação dos sistemas educacionais, o resultado se repete. Recentemente, o Brasil ficou em penúltimo no ranking de 40 países avaliados no projeto The Learning Curve (“A curva do aprendizado), da Pearson International, que avaliou alunos do 5º ao 9º ano do ensino fun-
damental. Também ficamos entre os dez últimos em ciências, matemática e leitura entre as 70 nações avaliadas na edição mais recente do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado em 2015. A nova edição, resultado da avaliação realizada no ano passado, da qual participaram 19 mil estudantes brasileiros, deve ser divulgada em breve, mas não há motivos para acreditar que trará novidades. A pesquisa “Por que o Brasil vai mal no PISA? Uma análise dos Determinantes de Desempenho no Exame”, revela que parte importante do mau desempenho de nossos alunos se deve à falta de habilidades socioemocionais, como motivação e perseverança. Além, é claro, das lacunas nos conteúdos e no raciocínio lógico. Falta às crianças, na escola e em casa, estímulo, atividades que façam despertar nelas a curiosidade e a vontade de buscar ou inventar soluções. A autoestima e a empatia também deveriam ser atributos altamente priorizados nesta fase da vida, pois muitos dos conflitos entre adultos têm origem na falta de autoestima ou de capacidade para lidar com as diferenças e com a diversidade de forma empática. Somando-se a isso, as novas demandas do trabalho, nosso desafio só se torna maior. Na economia baseada em ma-
Os dados sobre a educação no país são alarmantes, mas a sensação é que o alarme não soa onde deveria. Os vergonhosos índices de qualidade de ensino em relação aos demais países deveriam mover a sociedade e nossos governantes.“
nufatura, se aprendia na escola todo o necessário. No mundo atual, a demanda é por habilidades de liderança, criatividade e colaboração. O potencial econômico hoje está baseado em talento, em habilidades comportamentais mais do que técnicas. E o sistema educacional precisa acompanhar esta nova ordem desde seu início. Porque não há jeitinho para desenvolvê-las. Esta mudança requer análise, planejamento e um esforço enorme e é preciso começar logo. Precisamos investir com foco muito mais robusto na qualidade do ensino básico. É nessa faixa de idade que os valores do indivíduo são desenvolvidos. O aprimoramento do ensino básico, seguido de um melhor ensino médio, terá o condão de formar mão de obra mais especializada, aumentar a produtividade, incentivar a inovação, reduzir a violência urbana e muitas outras consequências positivas. Esta é uma das poucas obrigações de investimento e monitoramento que eu aponto para o escopo de trabalho do setor público. (*) Henrique Luz é Colunista colaborador de Plurale, Membro independente de Conselhos de Administração, Conselheiro Certificado Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e Presidente de seu Conselho de Administração.
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Colunista Christian Travassos
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emes são a linguagem da vez. Um assunto toma o noticiário e eles brotam nas redes sociais. Um bastante popular associava a imagem do ator Keanu Reeves à do saudoso humorista Mussum. Afinal, qual seria a relação entre o astro hollywoodiano e o ícone comediante-sambista? “Que ano horrívis!”. Não é o melhor dos memes, mas aqui nos será útil. Circulou em dezembro de 2014, 2015, como uma brincadeira para fechar mais um ano de desafios – e algumas frustrações. Neste 2019, março ainda não havia acabado e já se multiplicavam postagens como “Que ano é esse?!”, “Vem 2020!”. E aqui não entra qualquer matiz político-partidário. Colhemos uma safra de acontecimentos cultivada por décadas. É preciso ter chegado há pouco de Marte, ou acordado de um coma de meio século, para ignorar isso. Comecemos pela cepa de mandatários capaz de manter por 40 anos um esquema de corrupção que desviou do erário fluminense montante estimado pelo Ministério Público em R$ 1,8 bilhão. No estado, os cinco ex-governadores vivos eleitos estão ou já foram presos por corrupção. Deputados estaduais tomaram posse em 2019 no Complexo Penitenciário de Bangu, Zona Oeste do Rio. Não é difícil entender como chegamos até aqui.
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ARQUIVO DA AGÊNCIA BRASIL
Na mesma região carioca, um enredo marcado por falta de investimento público, vista grossa da fiscalização, liberdade para milicianos, vulnerabilidade social, enxurrada tropical resultou na morte de 24 pessoas na comunidade conhecida como Muzema. Sem falar nos demais casos atribuídos, de forma simplista, às chuvas na cidade cartão postal do país, onde o IPTU aumentou em muitos bairros mais de 100% nos últimos dois anos. A corrupção corrói o bem estar social e o ambiente de negócios por
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muitas vias: ceifa vidas, prejudica a prestação de serviços públicos, a alocação de recursos, o PIB potencial, encarece a oferta de infraestrutura – quando existe -, afugenta investimentos. Quando a barragem de rejeitos de uma subsidiária da Vale em Mariana (MG) se rompeu em novembro de 2015, a devastação provocada pelo até então maior desastre socioambiental do país fez muita gente pensar que uma tragédia dessa magnitude jamais se repetiria. Três anos depois, a conduta da empresa e sua influência no qua-
dro de fiscalização em Minas Gerais deram em nova catástrofe, desta vez em Brumadinho. A necrose burocrata desta vez matou mais de 300 pessoas, arrasou a economia da região e seu ecossistema, com impactos num raio de centenas de quilômetros. Assim como havia ocorrido na boate Kiss, em Santa Maria (RS), o incêndio no Centro de Treinamento do Clube de Regatas do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, expôs um enredo de gambiarras e subterfúgios somente explicável quando interesses privados contaminam a fiscalização pública. Essa maquiagem míope custou a vida de dez adolescentes. Se a tragédia por si já é inacreditável, o que dizer da forma blasé como a direção do clube lidou com as famílias das vítimas após a barbárie? Acidentes com aeronaves sem autorização para realizar transporte comercial de passageiros, como indicam as investigações preliminares das mortes do jornalista Ricardo Boechat e do cantor Gabriel Diniz, engrossam as razões para rejeitarmos atalhos. O país se acostumou a bandalhas, a soluções fáceis, ao imediatismo, o que fica ainda mais atraente em tempos de crise, em meio às muitas emergências, ao (ainda) baixo grau de escolaridade da população e à epidemia das fake news, terreno fértil para discursos populistas. Ora, é muito mais fácil emitir um decreto sobre algo periférico do que aprovar uma reforma estrutural no Congresso. É preciso encarar 2019. Enfocar, de forma racional e sem simplificações, raízes comuns de nossos problemas. Independente das preferências políticas do leitor, tornou-se consenso a
A corrupção corrói o bem estar social e o ambiente de negócios por muitas vias: ceifa vidas, prejudica a prestação de serviços públicos, a alocação de recursos, o PIB potencial, encarece a oferta de infraestrutura – quando existe -, afugenta investimentos.
valorização da formação técnica, do controle e da governança no Serviço Público, passo há mais tempo dado pelo setor privado, mas ainda um desafio para parcela das empresas que se relacionam com o Estado. O avanço da tecnologia, combinado ao trabalho técnico continuado em instituições como Ministério Público, Controladoria Geral da União – sobretudo a partir da Lei da Transparência, de 2009 -, Procuradoria Geral da República, Polícia Federal, entre outros órgãos, rendeu-nos um gosto pela maturidade difícil de abdicar. Hoje, sabemos, em poucos dias, quanto se gastou numa viagem oficial de um governante, quem o acompanhou, com que objetivo, de que rubrica sairão os recursos. Temos inegavelmente mais e melhores ferramentas de controle. Uma cultura regida pelo imediatismo, por laços de uma corrupção vista como “tolerável”, pelo interesse privado acima do público em diferentes segmentos da sociedade perpassa as diferentes tragédias que enlutaram precocemente o país neste ano. Reverter esse quadro depende de profissionalismo, do reconhecimento de fatos e dados, de transparência, responsabilidade e soluções estruturais. Não de improvisos. (*) Christian Travassos é Colunista colaborador de Plurale, economista (Puc-Rio) e Mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ)
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Artigo David Grinberg
#ThisIsAMission
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uitas vezes temos dificuldades para lembrar o que aconteceu conosco – seja na vida pessoal, ou profissional – poucos anos atrás. Nossas mentes ocupam espaços com novas experiências, vivências e deixam para trás fatos relevantes que aconteceram em um espaço de tempo não tão distante. Aliás, tenho dificuldades para lembrar de detalhes de 2016, 2017, ainda que tenham sido anos muito bons para mim. O ano de 2018, porém, será inesquecível. Não há como deixar passar um detalhe sequer desses 365 dias que literalmente mudaram a minha vida: para melhor. Pudera, já que passei por diversas emoções. Neste texto, tentarei resumir o que esse período representou para mim. A começar pela realização de um sonho pessoal. Cumprir um IronMan Full pela primeira vez na minha vida. Sou atleta e praticante de triathlon há alguns anos e vinha alimentando esse desejo de enfrentar a prova mais dura que se tem conhecimento no esporte profissional mundial. Já havia completado quatro provas da categoria Meio-IronMan e chegara a hora de conquistar aquela tatuagem do “M” que tanto sonhava. Foram meses e meses de dedicação até que 10 dias antes da prova me acometi de uma doença, que posteriormente saberia a sua gravidade. Enfim, sem querer desistir do sonho por nada, contrariei dois médicos que haviam recomendado a não participação no evento e cruzei a linha de chegada. Apesar das dores, fraquezas, medos e desconfianças, pude sentir uma emoção difícil de explicar, talvez igualada ao que vivi no nascimento
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FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL
dos meus dois filhos gêmeos. Com a missão cumprida, tentei voltar a ser uma pessoa normal – ainda que pós IronMan isso seja um pouco difícil. Mas logo que a adrenalina baixou, a realidade tomou o seu lugar e teimava me lembrar que meu corpo padecia. Neste momento, não sabia muito bem do que era, mas uma síncope dentro de casa, que me fez desmaiar
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e sofrer um leve traumatismo craniano logo tratou de esclarecer tudo. Já no hospital, os médicos – cientes do meu estado pré-Iron – solicitaram alguns exames oncológicos. Resultado: Linfoma Non-Hodgkin de Células Grandes BC, talvez o tipo de Linfoma mais agressivo que possa existir. Assim que recebi a notícia, tive uma nova síncope, desta vez com parada
cardiorrespiratória de 11 segundos, que me levou para a UTI. Ainda bem que foi apenas um lapso emocional. Ciente de que teria que enfrentar mais um ‘ironman’ na vida, resolvi estabelecer um paralelo entre o esporte e o tratamento da doença. Deveria ser disciplinado e metódico para conseguir enfrentar as fases de dor, desconforto, frustação que iriam me acometer pelos próximos meses. Sabia que passar por quimioterapia não seria fácil. Mas também não foi fácil pedalar 150Km e correr mais 32Km na sequência, debaixo de sol escaldante. Tenho apenas 40 anos de idade e muita coisa ainda para viver. Portanto, aquela sentença de morte inicial se tornou uma grande oportunidade de vida. O meu tratamento consistiu em seis ciclos de 21 dias. Sendo cinco dias internado para infusão contínua de quimioterapia e 15 dias em casa se recuperando dos efeitos da droga. Ainda teria um sétimo ciclo, cuja quimio seria cinco vezes mais potente que as anteriores. Isso sem contar no Transplante de Medula, que requer aproximadamente 20 dias de internação. E ainda mais três doses de quimioterapia intratecal, na região da medula pelos meses seguintes. Mas sabia que estava nas mãos de bons médicos, em um ótimo hospital e recebendo o carinho de muita gente.
De familiares próximos a desconhecidos, recebia mensagens de todos os formatos e mídias. Haviam momentos que passava horas respondendo posts de Facebook e mensagens no WhatsApp de pessoas que nem sabia quem eram. Mas que dedicaram alguns minutos de seu tempo para me enviar boas energias. Não tinha como eu não ficar feliz. Toda essa energia que recebi desde que descobri a doença se tornou um dos principais remédios para me curar dela. Além dos coquetéis de medicamentos que teimavam entrar em meu corpo por meio de um cateter instalado no lado direito do meu peito, a motivação por saber que havia muita gente torcendo por mim também fez a diferença. Tanto que já na metade do processo, os exames revelavam que a doença havia sumido do meu organismo. Não nego que esse período foi bastante turbulento e cheio de incertezas, mas tentei há todo momento manter o otimismo e confiar na minha saudabilidade e anos de treinamento para suportar as condições mais adversas possíveis. Recordei que uma vez, com apenas 14 anos de idade, fiz uma travessia de 12Km de natação em uma represa congelante. Que corri uma maratona em Londres debaixo de chuva e com 5 graus de temperatura. Que já havia vomitado
várias vezes dado o esforço máximo em treinos de ciclismo e corrida. Portanto, passar mal no tratamento era como se estivesse tendo um déjà vu da minha época de esportista. Tanto que, ainda no inicio do tratamento e ciente de que teria muito tempo de hospital e recuperação pela frente, resolvi aceitar mais um desafio relacionado à prática de exercícios. Meu superior na empresa que trabalhava, em uma de suas visitas ao meu leito, me propôs um desafio com o intuito de me motivar ainda mais. Que iríamos fazer um IronMan juntos no “ano que vem”. Não hesitei em aceitar a proposta, mas logo me preocupei se ele estaria apto para tal. Eu já sabia como era e o que teria que passar, mas ele não tinha a menor ideia, e ainda estava – digamos – fora de suas melhores formas. Nasceu o projeto #ThisIsAMission, representado por uma pulseirinha verde-e-amarela que distribuímos para os amigos e familiares. Havia dias que andava dentro do hospital aproximadamente três quilômetros – carregando sempre as bombas e fiações atadas ao meu corpo para a entrada de medicamentos – pensando na prova que faríamos dali a alguns meses. O tempo passou, eu concluo o tratamento, voltei a treinar e me preparei para o sofrimento esportivo. Meu superior – que neste interim deixou a empresa e me colocou no lugar dele – também iniciou uma rotina disciplinada de treinos, perdeu peso e estava pronto para a batalha. Dia 09 de junho de 2019, concluímos juntos o IronMan 70.3 Eagleman, em Cambridge, no estado de Maryland, EUA, finalizando assim uma batalha que havia começado um ano antes. (*) David Grinberg é IronMan e VP de Comunicação Corporativa & Relações com Investidores para a América Latina & Cariba da Arcos Dorados
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Pelo Brasil Edital apoia projetos ambientais e de inovação no Paraná
De Curitiba
Pesquisadores com trabalhos voltados à conservação da natureza em território paranaense podem receber apoio financeiro para as suas iniciativas a partir do 8º Edital Biodiversidade do Paraná, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a Fundação Araucária. As inscrições estão abertas nos sites das fundações até o dia 31 de agosto. Os projetos selecionados terão, somados, o apoio de cerca de R$ 600 mil. As iniciativas devem contemplar ao menos uma das áreas abaixo: Unidades de conservação de proteção integral e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs): propostas que contemplem a criação ou a
ampliação de unidades de conservação em áreas continentais ou marinhas. Serão priorizados projetos que se tornem referência em gestão, uso público, pesquisa e que tragam benefícios para as comunidades do entorno; Espécies ameaçadas: iniciativas que promovam a conservação de espécies nativas ameaçadas e que tenham impacto positivo em seu status de ameaça; Ambientes marinhos: projetos que façam conexões entre diferentes atores-chave envolvidos em áreas marinhas protegidas, proteção de espécies ameaçadas e fortalecimento de instrumentos de proteção da biodiversidade marinha diante de pressões como sobrepesca, turismo predatório e exploração inadequada de recursos naturais; Inovações e novas tecnologias
para a conservação da natureza: serão selecionadas iniciativas que proponham novas formas de monitoramento da biodiversidade e o desenvolvimento de dispositivos que contribuam para a conservação de espécies e ecossistemas. Segundo o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz, um dos desafios do edital é encontrar projetos que aliem a conservação ao desenvolvimento econômico do estado. “Os principais remanescentes de Floresta com Araucária estão localizados no Paraná. Precisamos identificar esses trechos e preservá-los, assim como vem sendo feito com a Mata Atlântica, na Serra do Mar e no Litoral do estado. O ponto mais desafiador do nosso edital é conciliarmos o desenvolvimento econômico da região e a manutenção do patrimônio natural paranaense, o que é plenamente possível”, destaca. Dúvidas sobre o edital podem ser encaminhadas por e-mail para edital@fundacaogrupoboticario.org.br Um dos projetos já apoiados pelo edital identificou 15 novas espécies de anfíbios na Mata Atlântica
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DIVULGAÇÃO – FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO
Até 31 de agosto, o 8º Edital Biodiversidade do Paraná, das Fundações Grupo Boticário e Araucária, recebe inscrições de propostas para conservar a natureza paranaense. Ao todo, serão destinados R$ 600 mil
Análise quanto aos desafios marcam debates da Conferência Ethos 360° no RJ Durante a abertura do evento, o diretor-presidente do Ethos, Caio Magri, recebeu a jornalista Flávia Oliveira, da GloboNews, que reafirmou a necessidade de ampliar o diálogo em torno de um ambiente de equilíbrio, bom senso, justiça e respeito em todas esferas da sociedade: “Em diversidade é preciso reconhecer as ausências que existem em nossa sociedade. Há muita diversidade em nosso povo e muita ausência nos espaços de poder. Proponho uma inversão da célebre frase de John Kennedy: ‘Não é sobre o que você pode fazer pela diversidade, mas sim acolher o que a diversidade pode fazer por cada um de nós’”. Em resumo, os temas centrais apresentaram não apenas opiniões, mas exigiram medidas imediatas, sobretudo na agenda do clima, quanto a implantação dos ODS e em ações anticorrupção. Foi anunciada a realização da Conferência Brasileira do Clima que acontecerá no mês de outubro, em Recife. “À medida em que temos um governo
que está abrindo mão dos compromissos assumidos na esfera internacional, entendemos que não podemos depender do governo. É preciso diálogo e ação. Diversos segmentos da sociedade precisam falar sobre a mudança do clima. Quanto à ação, os setores empresarial e financeiro devem considerar a importância da questão climática para seus negócios e para o todo, e agir. Por isso, considero importantíssima a Conferência Brasileira de Mudança do Clima, na qual diversos atores poderão apresentar o que estão fazendo e se comprometer com a agenda”, destacou Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF Brasil. A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, prestigiou o evento e afirmou: “Devemos assumir uma luta política para não abandonar os compromissos que assumimos. O Brasil não pode se esquivar de participar ativamente desse caminho”. Em relação à ciência das mudanças climáticas e as agendas de mitigação e adaptação climática, importantes visões mostram e alertam, que
o tempo está passando rápido e que soluções devem ser aplicadas. “É importante observar que clima é apenas uma das questões que está mudando consideravelmente nosso planeta, mas vai além disso. Já estamos em franco acontecimento dos eventos de mudança do clima e isso não nos surpreende, mas acredito que ainda falamos pouco sobre a perda de produtividade agrícola”, disse Paulo Artaxo, professor da USP e membro do IPCC. Outro tema relevante foi a discussão do pacote anticorrupção e anticrime: “Se aprovadas, espero que não sejam, as propostas do autointitulado projeto anticrime em nada contribuirão no combate à corrupção. Mas, o impacto na democracia será trágico”, disse a Dra. Maria Lúcia Karam, juíza de direito aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Leia a cobertura completa do evento, com os principais destaques da Conferência Ethos no Rio no portal do Instituto Ethos: https://www. ethos.org.br/ DIVULGAÇÃO – INSTITUTO ETHOS
Por Rejane Romano, do Instituto Ethos
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FOTOS DE DIVULGAÇÃO – COLÉGIO BATISTA SHEPARD
Pelo Brasil
O Diretor do Colégio Batista Shepard, Alexandre Paschoal Aló da Silva, abriu o Momento Cívico pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, que contou com várias atividades, como a palestra da Editora de Plurale, a jornalista Sônia Araripe, na foto com o Professor de Biologia, Klaus de Oliveira Telles e a Capelã do Colégio Denise Batista.
Editora de Plurale faz palestra para estudantes do Colégio Batista Shepard No Dia do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, a Editora de Plurale, jornalista Sônia Araripe, fez palestra para cerca de 300 estudantes do Colégio Batista Shepard, na Tijuca. O convite partiu da Diretoria a partir do trabalho de 12 anos da Revista e site na disseminação de temas sustentáveis. O evento contou também com uma peça teatral encenada por professores do Colégio alertando para os efeitos do aquecimento global, arrecadação de agasalhos pelos alunos para doações e também plantio de mudas pelos alunos
do 3º Ano do Ensino Médio. Sônia Araripe falou sobre as atuais ameaças do clima e o que cada jovem um pode fazer para reduzir sua pegada ambiental. “Temos que assumir este compromisso com o planeta”, destacou. Também contou para os alunos que a belíssima Floresta da Tijuca - bem próxima do tradicional Colégio Batista Shepard – é resultado de reflorestamento de antigas florestas de café por determinação do Imperador Dom Pedro II. Foi uma manhã inspiradora e sustentável.
Brasil é um dos países que mais confia em jornais e revistas, mostra pesquisa Ipsos De São Paulo
O Brasil é o quarto país que mais confia no conteúdo produzido por jornais e revistas, aponta a pesquisa global “Trust in the Media”, da Ipsos. Seis em cada dez brasileiros (65%) confiam em veículos impressos. Globalmente, o índice é de 47%. Por outro lado, 8% dos brasileiros não confiam e 23% não têm
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muita confiança. A Sérvia é a nação que menos confia, com 11%. O estudo mostra que outros meios de comunicação também possuem boa aceitação entre a população brasileira: 65% afirmam que confiam na televisão e no rádio e 58% em sites de notícias e plataformas online. No mundo, os índices são de 49% e 45%, respectivamente.
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O Brasil também está entre os países que mais acreditam que os jornais e revistas são relevantes. Enquanto a média global é de 54%, a brasileira está em 70% (empatada com Malásia), atrás apenas de Índia (82%) e África do Sul (74%). A relevância dos outros meios no país também está em alta: televisão em rádio (69%) e sites de notícias e plataformas online (70%).
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Cadeia de Valor
CAFÉ SUSTENTÁVEL Nespresso apresenta fazendas em Carmo de Minas (Sul de Minas) que fornecem o “terroir” perfeito, todo exportado para a Suíça. Plano global procura inspirar colaboradores na empresa, parceiros nas regiões produtoras e consumidores a trabalharem juntos pela sustentabilidade Texto e Fotos por Luciana Tancredo, de Plurale De Carmo de Minas (MG)
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o Sul de Minas Gerais, mais especificamente na pequena e pacata cidade de Carmo de Minas, a Nespresso encontrou o terrroir perfeito para a produção dos seus Cafés Especiais em cápsulas. Por trás de cada xícara de café tomado há todo um envolvimento para procurar alinhar a cadeia de valor com a sustentabilidade. Para conhecermos um pouco mais do processo produtivo sustentável dessa bebida tão apreciada mundo afora, a empresa convidou grupo de jornalistas para visitar a região. Foram dois dias de intenso conhecimento sobre o café e suas peculiaridades. Visitamos as Fazendas IP e Sertão, do mesmo Grupo, que possui ainda a Cafeteria Unique e também a trade Carmo Coffee. O Grupo ficou famoso em 2005, quando a Fazenda Sertão ganhou o prêmio “Cup of Excellence”, que promove o melhor café do mundo, obtendo uma pontuação recorde e ainda não superada até hoje. Com a fama e vários outros prêmios, em 2011, o grupo iniciou a venda de cafés especiais para a Nespresso, e a parceria de sucesso já dura quase duas décadas.
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Os produtores Luiz Paulo Pereira e Hélcio Carneiro se orgulham das plantações e juram que produzir “o melhor café” não é papo de pescador
Em meio às plantações, e caminhando ao redor dos pés de café, vimos de perto como as plantas e frutos são mantidos saudáveis, dentro de padrões de altíssima qualidade e muitas vezes sem a necessidade de defensivos, apenas respeitando regras básicas de plantio sustentável. Nos cafezais de Carmo de Minas, a colheita é manual, já que os cafés plantados nesta região são da variedade Arábica, frutos que se adaptam melhor em altitudes elevadas e que dificultam a utilização de maquinários. Luiz Paulo Pereira, dono da fazenda IP e sócio do grupo, que nos guiou no
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primeiro dia, garante que além da sustentabilidade da lavoura, o pós-colheita também entra como um grande diferencial, para a qualidade dos cafés da região. “O nosso é o melhor café, e não é papo de pescador. Temos a maior pontuação de café do mundo: 95,85 pontos”, destacou o orgulhoso Luiz Paulo. Essa nota foi concedida pela Specialty Coffee Association (SCA), que em uma escala de zero a cem, avalia dez atributos do café, como fragrância, doçura, acidez, entre outros. Um café é considerado especial quando sua nota ultrapassa os 80 pontos.
FOTOS DE LUCIANA TANCREDO – CARMO DE MINAS (MG)
Guilherme Amado, Gerente de Café Verde da Nespresso e Coordenador do Programa no Brasil - “O Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável se baseia num princípio de melhoria contínua, onde você inclui a fazenda, e trabalha junto com o produtor para que eles melhorem esses pilares fundamentais.
Sustentabilidade nas fazendas Os representantes da Nespresso explicaram que uma grande preocupação tem sido com o processo como o café é cultivado, afinal, a produção agrícola é um dos temas mais discutidos na esfera ambiental, principalmente no que diz respeito aos impactos que podem
ser causados na natureza. Dessa forma a empresa criou o Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável , iniciado em 2003, em colaboração com a ONG Rainforest Alliance, com o objetivo de fornecer aos produtores conhecimentos e técnicas que os apoiem na produção de um café de alta qualidade, utilizando práticas ecologi-
camente corretas e que também contribuam com a sua qualidade de vida. No programa, três pilares são fundamentais: a qualidade, a sustentabilidade, envolvendo aspectos sociais e ambientais na fazenda e o terceiro a produtividade, onde a ideia principal é que o produtor seja mais eficiente, evitando o desperdício e controlando o custo da produção. Guilherme Amado, Gerente de Café Verde da Nespresso e Coordenador do Programa no Brasil, disse que atualmente contam com uma equipe de 15 agrônomos responsáveis por oferecer assistência técnica aos produtores de café da região. “O programa se baseia num princípio de melhoria contínua. Inclui a fazenda, e trabalha junto com o produtor para que eles melhorem esses pilares fundamentais. “ completou Guilherme. Há também uma parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, o IMAFLORA, que inicialmente foi o responsável por ajudar a Nespresso a desenvolver a ferramenta de avaliação das fazendas, e atualmente
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Cadeia de Valor
faz toda a parte de treinamento dos agrônomos responsáveis pela implementação do programa na prática. São eles que vão ensinar aos trabalhadores do campo a protegerem e respeitarem o meio ambiente, preservando as florestas nativas e nascentes de água. O uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) adequados para cada atividade dentro da fazenda também é fiscalizado rigorosamente, para que a saúde dos agricultores seja também preservada. O funcionário da fazenda, Amauri Oliveira, “abanando” o café com a peneira.
Qualidade do café O Brasil é o maior fornecedor de café da Nespresso, mas todo esse café atravessa o Oceano Atlântico para chegar a Suíça, país de origem da marca, onde serão produzidas as capsulas de cafés especiais. Para que a qualidade desse café não se perca nesse longo caminho, o produto passa por inúmeros testes: de grão, qualidade da torra, aroma e sabor. Tudo é analisado antes de exportado. Essa é uma etapa importante para a fabricação, e que também está atrelada ao conceito produtivo de sustentabilidade dos cafés especiais. Na Carmo Coffees, uma das empresas que faz a prova dos cafés a serem enviados para a Nespresso, conhecemos a degustação do café in natura, para melhor entender as diferenças entre os cafés tradicionais e os especiais. Paulo César Junqueira, um Q Grader, da Associação Mundial de Cafés Especiais - ou seja, um exímio degustador de cafés - nos
conduziu nessa viagem de aromas e sabores, explicando cada detalhe do processo. Como sentir os aromas, como degustar os sabores e entender as peculiaridades de cada variedade de grão e torra. Reciclagem também é muito importante Com um foco constante na inovação e na sustentabilidade a Nespresso criou o The Positive Cup, plano global para garantir que cada xícara do seu café proporcione uma experiência extraordinária com o café e também gere impacto positivo para o meio ambiente e para a sociedade como um todo. Quem explica melhor é Claudia Leite, Gerente de Criação de Valor Compartilhado e Comunicação Corporativa da Nespresso, “Isso significa investir na aquisição sustentável do café, na reciclagem do alumínio e em medidas globais relativas à mudança climática. Queremos inspirar todos os colaboradores de nossa empresa, nossos
Paulo César Junqueira é um Q Grader, da Associação Mundial de Cafés Especiais, ou seja, um exímio degustador de cafés.
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parceiros nas regiões produtoras de café e nossos consumidores a trabalharem juntos para garantir que toda xícara de café Nespresso seja positiva.” A empresa possui política de logística reversa: os consumidores podem devolver as cápsulas em uma boutique, levá-las até um dos mais de 90 pontos de coleta no Brasil ou em um dos 100 mil pontos ao redor do mundo. O material é recebido nas lojas e encaminhado ao centro de reciclagem, onde o alumínio e borra do café são separados, e cada resíduo recebe um destino diferente. O pó de café, vai para uma empresa chamada Biomix, e lá o lixo orgânico é transformado em adubo. Já o alumínio é destinado a empresas responsáveis por dar outra vida a esse material. A meta da empresa para 2020, é audaciosa, mas não impossível: chegar a 100% neutra. Todos os eventos da empresa são neutralizados dentro do programa zero carbono, inclusive esta nossa viagem.
ARTE DA NESPRESSO
FOTOS DE LUCIANA TANCREDO – CARMO DE MINAS (MG)
Claudia Leite, Gerente de Criação de Valor Compartilhado e Comunicação Corporativa da Nespresso - “O The Positive Cup significa investir na aquisição sustentável do café, na reciclagem do alumínio e em medidas globais relativas à mudança climática. Queremos inspirar todos os colaboradores de nossa empresa, nossos parceiros nas regiões produtoras de café e nossos consumidores a trabalharem juntos para garantir que toda xícara de café Nespresso seja positiva.”
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Cadeia de Valor
VOANDO PELA SERRA DA MANTIQUEIRA POR LUCIANA TANCREDO, DE CARMO DE MINAS (MG)
Por Luciana Tancredo, de Carmo de Minas (MG)
O sol mal tinha saído no horizonte e já estávamos tomando um delicioso café da manhã na cafeteria Unique, no centro de São Lourenco. Em seguida partimos para o que seria uma visita para acompanhar de perto mais uma colheita de café. Quando nos demos conta de que estávamos prestes a embarcar numa viagem de balão pelas montanhas da Serra da Mantiqueira. Entramos nas cestas dos balões, ainda sem entender bem o que nos esperava. E começamos a subir, flutuando por cima dos terreiros de cafés, das plantações, dos talhões, até alcançarmos as alturas e podermos avistar a névoa por cima da mata e das montanhas. Em meio as nuvens e de maneira mágica, conseguimos ver do alto, como as plantações de café, estão em perfeita harmonia com a paisagem local. Florestas naturais bordeiam as plantações de café, eucalipto e banana formando mosaicos em tons diferentes de cor verde. Os pastos também contribuem com esse colorido. Conseguimos perceber também a ausência de erosão nas montanhas, o que significa que o manejo correto do uso do solo está ajudando a preservá- lo e assim também as nascentes de águas naturais da região. O silêncio e as belas imagens fazem parte dessa aventura, além das poucas palavras trocadas com os companheiros de voo e do eventual sopro do gás, não há muito barulho lá em cima. Só a paisagem quase hipnotizante. Um deleite para os amantes da natureza e da aventura. (*) Plurale viajou em grupo de jornalistas a convite da Nespresso.
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GLOSSÁRIO DO CAFÉ Arábica ( coffea arábica ) – é uma variedade de café cultivada em altitudes elevadas. Ele é mais adocicado, suave e apresenta mais acidez Beneficiamento – é o processo de retirada da casca, limpeza e classificação simples do café Blend – combinação de vários tipos de cafés. A arte está em combinar vários tios de grãos para que o sabor fique perfeito Bourbon – um tipo de café arábica, muito comum no Brasil, que apresenta doçura natural Cereja – fruto maduro do cafeeiro, que pode ser vermelho ou amarelo dependendo da variedade Corpo – é a sensação causada na
boca pela persistência do café no paladar. Ao degustar você pode notar um corpo leve ou intenso no café Crema – é a espuma marrom-dourada que se forma na superfície do Expresso. É um sinal de ótima extração Derriça – operação de retirada dos frutos da planta Moagem – o processo de moagem envolve a redução do grão de café recém- torrado a pó Robusta ou Conilon (cofea canéfora) – variedade de café cultivada em planícies. Ela é mais intensa, amarga, encorpada e tem teor mais alto de cafeína Talhão – Determinada área de ter-
ra dentro da fazenda com plantas da mesma característica e mesmo cultivo Terreiro – Lugar onde os frutos são espalhados para iniciar o processo de secagem Terroir – Ambiente natural que dá ao café suas características especiais. Solo, altitude e clima influenciam o perfil aromático e o sabor do café Torra – é um estágio vital na criação de um café Nespresso, já que revela todo o perfil aromático e de sabor dos grãos de café verde. A Nespresso desenvolveu um perfil de torra especifico para cada tipo de blend, ressaltando as propriedades únicas de suas origens.
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Cadeia de Valor
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TEXTO E FOTOS DE LUCIANA TANCREDO CARMO DE MINAS (MG)
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Ecoturismo
JALAPÃO A ROTA BRUTA Texto e fotos de Giuliana Preziosi, Especial para Plurale Do Jalapão, TO
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Brasil é surpreendente e o Jalapão é um exemplo disso. Há cerca de três horas de Palmas em uma estrada cheia de chacoalhões e solavancos, fica o Parque Estadual do Jalapão, uma região que mistura uma abundância de águas cristalinas com cachoeiras e seus famosos “fervedouros” com dunas e formações rochosas inusitadas. Curiosamente, o nome do local veio da batata “jalapa” típica da região, que por ser grande, acabou dando origem ao nome “Jalapão”. Por ser uma região rústica, de difícil acesso, com uma natureza diferenciada, tudo começou há cerca de 10 anos quando o realilty show de aventura “Survivor” gravou uma de suas temporadas por lá. Aos poucos foi chamando atenção de pessoas interessadas em ecoturismo. Mais recentemente outro reality chamado “Largados e Pelados” também resolveu explorar as riquezas desse lugar. Mas o “boom” mesmo foi com a novela da Globo em 2017 “Do outro lado do Paraíso”, dando visibilidade ao Jalapão para muitos brasileiros que nunca tinham ouvido falar das belezas que se escondem nessa região. Segundo a Naturatins, atualmente o Jalapão recebe cerca de 33 mil visitantes por ano, há 5 anos atrás eram apenas 4 mil visitantes. Em 2016, eram 18 agências de turismo cadastradas, hoje são 190. Esse rápido crescimento trouxe um grande dilema em relação ao desenvolvimento local.
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Mesmo sendo um parque estadual criado pelo governo do Tocantins em 2001, algumas áreas ainda são propriedades particulares que cobram taxas de visitação. O acesso ao Jalapão é difícil, é preciso um carro 4x4, o que faz com que a maioria das pessoas contratem guias locais e agências especializadas. Não é recomendável arriscar alugar um carro e ir sozinho, porque não tem sinal de internet e nem uma extensa sinalização nas estradas, além dos inúmeros buracos que requerem um excelente motorista com habilidades de mecânico para o caso de qualquer eventualidade. Tudo isso faz com que cerca de 80% dos habitantes de Palmas e outras cidades próximas não conheçam o Jalapão. Para eles é mais fácil, acessível e mais barato ir para as praias da Bahia, por exemplo. As comunidades locais, seja em Palmas ou nas cidades de Mateiros e São Félix, por exemplo, que ficam dentro da região do Jalapão, brigam por estradas melhores que facilitem o acesso e a locomoção em todo o estado do Tocantins. Por outro lado, ambientalistas temem o que poderia acontecer se hou-
vesse um aumento considerável de visitantes na região, muito maior do que o já existente atualmente. Para compreender essa preocupação, vale apontar alguns atrativos que fazem do Jalapão esse local tão repleto de belezas naturais. O principal deles são os chamados “fervedouros”, tecnicamente são nascentes de rios subterrâneos que, não tendo espaço para vazão da água, formam uma espécie de piscina natural. Através do fenômeno da ressurgência, a pressão exercida pela água que jorra do lençol freático é tão intensa que, atrelada a uma camada de areia muito fina que cobre o solo, causa resistência terrestre e não deixa você afundar. Em outras palavras, são piscinas naturais de água doce, extremamente relaxantes e curiosas. Imagine você de pé na água com uma temperatura super agradável, sem sentir os pés no chão, percebendo que não há o que temer porque simplesmente não afunda, recebendo uma espécie de massagem esfoliante natural e relaxante dos joelhos para baixo. Que tal? Outro ponto alto são as dunas que surgiram a partir da erosão das serras
rochosas ao longo do tempo e somada a baixa densidade demográfica são as razões pelas quais a região é chamada de deserto. Um espetáculo natural, cuja altitude varia de 200 a 400 metros, principalmente no pôr do sol quando a paisagem de areia reflete a luz solar em tons variados de dourado meio avermelhado mesclando o azul dos rios e o verde da vegetação rasteira típica da região. Das dunas é possível ver as veredas de capim dourado, matéria prima de artesanatos maravilhosos facilmente encontrados na região e pequenos lagos como oásis no meio do deserto. Quer mais? Cachoeiras não faltam! E cada uma tem sua beleza e particularidade. Uma das mais visitadas é a Cachoeira do Formiga (nome dado em função do Rio Formiga). A queda d’água não é das maiores, mas o que impressiona é a água muito transparente em tons esverdeados, é possível ver a areia calcária branca e fina ao fundo. A vegetação é composta de palmeiras, samambaias e muitas árvores com pássaros e pequenos animais pulando para cá e para lá. Como o acesso é difícil muitas
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Ecoturismo
pessoas optam por roteiros longos de 6 ou 7 dias no Jalapão, mas é possível conhecer as principais atrações em 3 ou 4 dias. Para acomodar os visitantes, pequenas cidades como Mateiros e São Félix começaram a se organizar para o turismo e oferecem várias opções de pousadas confortáveis e aconchegantes e restaurantes com aquele tempero caseiro. Cada agência de turismo tem seus parceiros nestas cidades, então vale ficar atento e procurar informações sobre quais as melhores opções. A maioria dos pacotes já incluem tudo, hospedagem, alimentação, taxas de visitação, guia etc. A dica é perguntar sobre quais os locais inclusos para hospedagem e o que eles oferecem, comparando opções de cada agência. Conversando com guias locais, o Jalapão tem capacidade de receber
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cerca de 1500 pessoas, mais do que isso poderia comprometer a biodiversidade. Há um controle feito pela Naturatins na entrada das dunas para mensurar o número de turistas. Além disso, cada fervedouro tem capacidade de receber cerca de 4 a 10 pessoas no máximo. Como a maioria dos fervedouros fica em propriedades particulares e cobram taxa de visitação, é como como se tivesse na fila do parque aquático. Os guias organizam seus grupos de acordo com a capacidade permitida e cada grupo tem 20 minutos para curtir o fervedouro. Em alta temporada é possível ficar até 2 horas na fila. A boa notícia é que tem muitos fervedouros e os guias conversam entre eles para encontrar as melhores opções nos melhores horários. Outro ponto importante para manter a preservação destes locais tão incríveis é que não é
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permitido usar protetor solar e repelente antes de entrar nos fervedouros. Como o sol é forte e o calor intenso, 20 minutos é tempo suficiente para curtir cada fervedouro. Conhecer o Jalapão foi para mim uma grande experiência não somente pela sensação indescritível de seus fervedouros, ou pelo pôr do sol avermelhado das dunas, ou ainda pela pureza de suas cachoeiras, mas principalmente pela reflexão sobre as belezas não tão exploradas desse Brasil frente à necessidade de preservação ambiental e o fomento ao desenvolvimento local. O Brasil surpreende em cada canto seja na sua pluralidade de seu povo ou na sua singularidade da natureza de cada lugar. Referência Instituto Natureza do Tocantins: naturatins.to.gov.br/
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FOTOS DE GIULIANA PREZIOSI, JALAPÃO - TOCANTINS
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Ecoturismo
SERVIÇO Como chegar e o que fazer O ponto de partida para conhecer o Jalapão é a cidade de Palmas que possui aeroporto. De lá saem todos os passeios. É muito difícil chegar na cidade e conseguir um passeio de última hora, então verifique antes as opções que melhor atendem as suas necessidades. É possível encontrar agências que trabalham com datas pré-definidas e você terá que ajustar a sua agenda em função da deles. Também é possível encontrar agências que organizam grupos de acordo com a sua disponibilidade de agenda, mas para este caso dar certo, verificar tudo com antecedência é fundamental. Uma dica preciosa: grupos muito grandes podem ser mais baratos, mas trazem uma cer-
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ta morosidade principalmente nas filas dos fervedouros, pergunte para a agência qual o tamanho do grupo antes de fechar o pacote. Fale com pessoas que já foram para buscar indicações de boas agências e confira os reviews na internet. No meu caso, fui com o Silvio, um excelente guia e dono da empresa Jalapão Rota Bruta, adorei o roteiro, hospedagem, alimentação e principalmente a flexibilidade em fazer coisas diferentes. Se não sabia por onde começar a busca, fica a dica! Qual a melhor duração? Varia de acordo com o objetivo de sua viagem. Três dias é o mínimo, e para quem não tem muito tempo, vale a pena, quatro a cinco é o ideal, e para quem quer curtir mais cachoeiras e ficar menos tempo no carro pode pegar um roteiro de 6 ou 7 dias.
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Ecoturismo
Parque Estadual da Pedra Azul
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ISABELLA ARARIPE
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ERICK CALDAS XAVIER/ICMBIO
GABRIEL LORDELO
Localizado em Domingos Martins, no Espírito Santo, o Parque Estadual da Pedra Azul (PEPAZ) é um dos mais visitados por turistas no Estado, principalmente, no inverno. Ele foi criado para preservar os ecossistemas naturais, como as formações rochosas de granito e gnaisse e abriga um dos mais principais cartões postais do Estado, a Pedra Azul, que possui 1.822 metros. A fauna conta com animais ameaçados de extinção como a onça sussuarana e o macaco barbado. Os visitantes podem agendar seus passeios pelo site www.iema.es.gov.br/pepaz.
Expedições Morretes Chef Fundação Grupo Boticário trazem roteiros inusitados da produção de alimentos na Mata Atlântica DIVULGAÇÃO/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO
A 2ª Edição do Morretes Chef trará além de uma gastronomia inovadora e saborosa a opção de ampliar a experiência com as Expedições Morretes Chef Fundação Boticário, que darão a oportunidade de explorar diferentes roteiros turísticos da cidade na região litorânea do Paraná com passeios inspirados na rota de produção de alimentos e bebidas que dão identidade à culinária morretiana, bem como aos pratos elaborados para o evento. A chef Gabriela Carvalho, que assinará o cardápio do restaurante Bistrô da Vila durante o Morretes Chef, há muito tempo é adepta a esse tipo de viagem em busca de novos fornecedores. “Acho que essas expedições são experiências valiosas para o público em geral. Do ponto de vista profissional, no Quintana, em Curitiba, trabalho com vários fornecedores do litoral, a farinha de mandioca e o acaí juçara são de Morretes, o peixe vem de um trabalho com pesca artesanal em Pontal”, atesta. As expedições são acompanhadas de guias de turismo e serão realizadas aos finais de semana do evento (sábado e domingo). A programação inclui produção de palmito, banana e mandioca de pequenas propriedades rurais de alimentos orgânicos. Inscrições e mais informações: https://morreteschef.insidecities.com.br/perfil
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Nova trilha no Parque Ilha Grande O Parque Nacional de Ilha Grande, localizado na Bacia do Rio Paraná, na divisa do Paraná e Mato Grosso do Sul, vai ganhar uma nova trilha, que deverá ser a maior da unidade de conservação, com mais de 17 quilômetros. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Consórcio Intermunicipal para Conservação do Remanescente do Rio Paraná e Áreas de Influência (Coripa) e a Prefeitura de Alto Paraíso deram início à demarcação da nova trilha, que se chamará Trilha da Ilha Grande e passará pela antiga estrada da balsa. Após a demarcação, os próximos passos serão a abertura da trilha, a sinalização e, por fim, um evento experimental com ciclistas da região.
Chapada dos Veadeiros começa a cobrar ingresso ADRIANA BOSCOV- PLURALE
Quem deseja visitar o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, deve preparar o bolso. Desde o dia 25 de junho, o local, que é uma das unidades de conservação mais visitadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), passou a cobrar ingresso. Agora os brasileiros pagam R$ 17,00 e os residentes do entorno R$ 3,00. Para o público estrangeiro, o valor é de R$ 34,00, menos para os visitantes dos países do Mercosul, que pagam R$ 26,00. O pagamento faz parte do processo de concessão de serviços de visitação com a empresa Sociparque. Os recursos arrecadados serão destinados a melhorias e implementação da operação no Parque.
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Amazônia
Poluição silenciosa Por Luciana Bezerra – Especial para a Plurale De Manaus (AM) Fotos da Expedição Puruzinho/ Divulgação
População ribeirinha da Amazônia apresenta perdas neurológicas subclínicas em virtude da contaminação de mercúrio através do consumo de peixes da região aponta estudo
s comunidades ribeirinhas e indígenas que habitam a Amazônia brasileira são as mais expostas ao mercúrio encontrado em rios e lagos da Bacia Amazônica. De acordo com um estudo inédito da neurocientista brasileira e professora convidada da Casa do Saber, Claudia Feitosa-Santana, realizado durante a expedição Puruzinho – projeto mantido pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir) – e, publicado na revista científica NeuroToxicology, em 2018, apontou que mesmo morando em áreas não afetadas por hidrelétricas, extração de ouro, desmatamento ou sem nenhum contato direto com potenciais
fontes de contaminação por mercúrio, populações ribeirinhas da região central da Amazônia apresentam um prejuízo na percepção das cores, sobretudo em tons pastéis, um possível indicativo de alterações no sistema nervoso. O estudo analisou cerca de 78 moradores do sexo feminino e masculino, com idade entre 18 a 64 anos, da comunidade Lago do Puruzinho, localizada no rio Madeira, no município de Humaitá, no Amazonas. Segundo a neurocientista e responsável pela pesquisa, Claudia Feitosa-Santana, as amostras de fios de cabelo dos participantes foram examinadas em equipamento específi-
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co de laboratório para medir o nível de mercúrio no organismo. Além, da realização de dois testes de visão para avaliar a percepção das cores da população. Os testes de cores utilizados na pesquisa foram Farnsworth-Munsell (FM100), teste altamente eficaz para avaliar a capacidade do indivíduo de discernir as cores, o mesmo usado por exemplo, para identificar casos de daltonismo e o D15d, responsável por avaliar rapidamente a distinção de cor, ambos conhecidos pela confiabilidade de resultados. Em paralelo, a linha de pesquisa contou com um grupo controle formado por 194 indivíduos saudáveis, de 17 a 54
anos, das cidades de São Paulo e Belém, que consumiam peixe em sua dieta alimentar no máximo duas vezes por semana. E, de acordo com os resultados obtidos entre os testes realizados na comunidade ribeirinha da região central da Amazônia e do grupo controle de São Paulo e Belém, surpreenderam os pesquisadores. Segundo a neurocientista, os ribeirinhos do Lago do Puruzinho apresentaram mais erros no desempenho da percepção das cores do que os participantes do grupo controle dos centros urbanos. Assim como, possíveis distúrbios neurológicos. “Os testes revelam perdas neurológi-
cas subclínicas, que não afetam o dia-adia dos indivíduos, porém, essas pessoas podem ter maior dificuldade em diferenciar tons mais pastéis e futuramente apresentar algum outro distúrbio neurológico. O mercúrio, mesmo em pequenas doses, provavelmente prejudicou a retina ou cérebro dos ribeirinhos. Indicativo de que o comprometimento da percepção das cores não é uma preocupação, mas sim um risco de saúde generalizado. Se eles fossem submetidos a outros testes, de raciocínio, motor ou de linguagem, talvez apresentem outras alterações”, enfatiza Claudia. O estudo destacou também que a
concentração do metal geralmente é alta em peixes de lugares onde há barragens e garimpo, não é o caso da área pesquisada, o que chamou ainda mais a atenção dos pesquisadores. Quanto maior a presença de pescado na alimentação da população, fator comum na região Amazônica, mais alta é a taxa de mercúrio por gramas de cabelo apresentadas num indivíduo. No entanto, pondera a neurocientista, a quantidade de mercúrio presente no organismo dos participantes é considerada segura, ou seja, abaixo de 50 partículas por milhão (ppm) de mercúrio no cabelo tolerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para quem está em contato direto com a fonte de contaminação, diferentemente da população estudada. Além disso, os danos causados a visão da cor devido ao consumo de peixes contaminados com metilmercúrio podem ser irreversíveis. “A percepção das cores da população nesta região da Amazônia está comprometida, embora as concentrações de mercúrio tenham sido todas dentro da faixa tolerada (menos de 41ppm). É um problema crónico, silencioso e os danos são provavelmente irreversíveis, e seria imprudente de nossa parte, deixar um assunto tão relevante deste, de lado. Não podemos afirmar nossas descobertas como uma associação causal. Mas, serve como alerta para pressionar os governos a implementar políticas públicas de saúde que garantam um ambiente mais seguro para a população amazônica”. Para o coordenador do Projeto Puruzinho e professor da Universidade Federal de Rondônia, Wanderley Bastos,
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Amazônia
que estuda a região há 20 anos, os dados sobre os níveis de metilmercúrio encontrados entre a população ribeirinha do Lago do Puruzinho são relevantes, principalmente entre os habitantes mais velhos, ou seja, da faixa etária pesquisada pela neurocientista. Segundo Bastos, a concentração de mercúrio nesses moradores é superior a recomendada pela OMS (7ppm), para aqueles que não tem contato direto com a fonte contaminadora. Apesar de hoje, o perfil entre a população jovem ser diferente. “Notamos uma sensível redução nas concentrações de mercúrio nessa comunidade, embora, isso venha ocorrendo apenas para a faixa etária mais baixa (de 0 a 25 anos). Isso se dá pela mudança de hábito no consumo de peixes, que vem reduzindo ou pelo menos diminuindo com o consumo de outras fontes de proteínas animal (frango e salsicha). Entretanto, entre habitantes na maior faixa etária, as concentrações de mercúrio por fios de cabelos são superiores as recomendadas pela OMS, o que não deveria existir, já que essa população vive em uma área onde não há potenciais fontes de contaminação por mercúrio”, alerta o professor. Problema antigo e mudanças A exposição a mercúrio na região Amazônica tem sido uma preocupação importante desde a década de 80, quando as atividades de mineração de ouro contaminaram muitas bacias hidrográficas e seus peixes. A exposição ao mercúrio em humanos pode levar a mudanças na função neural. O sistema visual tem sido usado como um indicador funcional de toxidade de metilmercúrio (orgânico) e vapor de mercúrio (inorgânico). As crianças são particularmente vulneráveis a essa exposição ao metal é o que aponta o professor associado da Universidade Federal do Pará, que pesquisa há duas décadas, as comunidades do rio Tapajós e do rio Tocantins, Givago da Silva Souza. Segundo ele, desde 2000 acompanha a exposição de mercúrio nas crianças das comunidades Barreiras e São Luiz do Tapajós, localizadas no município de Itaituba, no Pará. Área, onde a concentração de mercúrio é extensa em
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Neurocientista Claudia Feitosa Santana
virtude das barragens e da extração de garimpo. A primeira amostra contou com um grupo de 176 crianças, com idades entre 7 a 14 anos, dessas comunidades. Apesar do diagnóstico, na época, apontar altas taxas de contaminação de mercúrio entre as populações analisadas, entre 10 a 30ppm, as crianças, durante toda a vida, nunca tiveram contato com o vapor de mercúrio. O que levou os pesquisadores a concluir que a maior parte do mercúrio em seus corpos foi obtida pelo consumo de peixe, pelo fato de serem comunidades isoladas e com difícil acesso a áreas urbanas. Givago destaca ainda que apesar das amostras apontarem alterações nos testes efetuados, essas populações não são doentes e vivem uma vida normal, do ponto de vista de um leigo no assunto. Segundo ele, foi identificado apenas alterações subclínicas, as mesmas encontradas nas amostras analisadas pela neurocientista, na população adulta da comunidade do rio Madeira. No entanto, vale lembrar que o mercúrio, tanto do rio Madeira, quanto do rio Tapajós, é de média dosagem de exposição e, essas populações estão expostas ao mercúrio a partir de muito cedo, ou seja, desde que nasceram e consomem peixes, acumulando o metal no organismo. Atualmente o cenário dessas comunidades é outro e os índices de exposi-
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ção ao mercúrio caiu significativamente com relação as amostras anteriores. “Hoje, os níveis de mercúrio encontrados nas amostras das crianças é em torno de 7ppm, bem diferente dos apresentados no passado. Contudo, ainda é alto, se considerado a um indivíduo saudável. Sem dúvida, é uma questão de saúde pública e não sabemos qual será o impacto causado por essa contaminação no desenvolvimento motor e cognitivo dessas crianças. Vamos continuar acompanhando essa população para ver se eles não apresentam nenhum dano no cérebro futuramente”, enfatiza o professor. Outro ponto considerável, de acordo com Givago, é de que as amostras analisadas pela neurocientista, no rio Madeira, foram coletadas em adultos e não em crianças. Portanto, como o mercúrio é acumulativo, enquanto mais velho é o indivíduo, maior o índice de contaminação do metal no organismo, pelo fato dele consumir o alimento por mais tempo. As pessoas começaram a ficar mais atentas ao rio Tapajós na década de 80/90, onde surgiram os primeiros estudos sobre exposição de mercúrio na região. De lá pra cá, muita coisa mudou. Os grupos de pesquisas têm realizado políticas educacionais para conscientizar a população das comunidades sobre quais grupos de peixes devem ser consumidos. Além, da
introdução de outras dietas proteicas na alimentação. E a população tem seguido esses conselhos. Outro fator importante é que essas comunidades têm deixado de ser tão isoladas como eram no passado, conclui Givago. Mudanças também são visíveis na comunidade do Lago do Puruzinho, onde atualmente vivem cerca de 150 habitantes, divididos entre 32 famílias. De acordo com Wanderley Bastos, inicialmente os trabalhos eram voltados para a qualidade da água e para avaliar a saúde humana da comunidade com relação a exposição de mercúrio. Através do projeto Ensino de Ecologia no Pátio da Escola (EEPE), implantando na comunidade, a vida dessa população tem mudado. “Através do projeto EEPE, as crianças da comunidade têm motivado seus pais a aderirem a ações educacionais, cuidando mais da saúde e da alimentação de suas famílias. Moradores mais antigos também sentiram as transformações desde a chegada dos pesquisadores na região”. Riscos generalizados É importante ressaltar que até hoje
nenhuma população da Amazônia foi diagnosticada com a síndrome de Minamata. No Japão, a exposição foi a um grau muito maior de mercúrio, cerca de 10 vezes mais do que a encontrada na região Amazônica, por exemplo. Em ordem de grandeza podemos dizer o seguinte: Quem vive na cidade tem 10 vezes menos mercúrio no organismo do que quem vive nas adjacências do rio Tapajós ou do rio Madeira. A nossa preocupação é de que essas populações da Amazônia estão expostas a esse metal há muito tempo, ou seja, a vida inteira. Esse tipo de exposição é completamente diferente da apresentada em Minamata. Portanto, não dá para esperar que aconteça a mesma coisa no Brasil. Mas, também não sabemos o que está por vir, finaliza Givago. Após anos estudando a contaminação de vapor de mercúrio nas indústrias, tema de seu Mestrado (USP), Claudia Feitosa-Santana resolveu ampliar sua linha de pesquisa sobre o mercúrio em outras fontes de contaminação e, segundo ela, escolheu a Amazônia Brasileira como campo de estudo, já que a contaminação de
mercúrio na região vem sendo estudada por pesquisadores nacionais e internacionais há mais de 30 anos. A neurocientista alerta que o mercúrio é um problema sério, mesmo que, até hoje, as pesquisas realizadas na Amazônia não tenham identificado nenhum caso de contaminação de mercúrio em altos níveis como os ocorridos na cidade de Minamata, no Japão, na década de 50, que matou mais de 700 pessoas. Todavia, acredita que os órgãos do governo deveriam criar políticas públicas de saúde para garantir que o mesmo cenário não aconteça a população ribeirinha da Amazônia. Bastos também salienta a importância de estabelecer um plano de monitoramento ambiental e um mapeamento de riscos para identificar possíveis fontes de exposição ao mercúrio. Além, de adotar medidas preventivas mapeando as áreas mais isoladas e investir cientificamente. O Brasil é signatário da Convenção de Minamata desde 2013, assumindo a extinção nos diversos usos de mercúrio até 2020. Cujo objetivo é proteger a saúde humana e o meio ambiente das emissões antropogênicas e das liberações de mercúrio.
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Cultura
Aos 17 anos, a Flip se espalha e, cada vez mais, espelha o Brasil em muitas dimensões Por Maurette Brandt, Especial para Plurale De Paraty (RJ) Fotos de Divulgação/ Flip
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oi e continua sendo uma boa ideia: reunir escritores do mundo todo num cenário deslumbrante, numa aldeia do ciclo do ouro onde todas as ruas em pedra rolada podem se encontrar e abraçar o mar. Onde as igrejas são muitas e todos os bares convidam. Onde a cachaça local mostra todo seu poder e onde se pode comer doce em pedaço na rua. Onde celebridades podem se diluir sem preocupações, no embalo de um passado que, ao mesmo tem-
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po que faz escapar, emoldura com muita beleza o presente. Uma festa e não feira, um lugar de conversas e trocas. A Flip, com seu charme particular, para além de ter se firmado como um dos eventos mais originais da cena literária, celebra, informa, liga muitos pontos, aguça ouvidos, desperta vocações – e reflete, com rara eficiência, as condições, normais ou não, de temperatura e pressão do momento. Com as bênçãos da incansável Liz Calder, sua padroeira-mor e fundadora, a Flip se retempera a cada ano – e nunca perde de vista o espírito inaugural da sua existência: a literatura como sentido, razão e paixão.
Um crescimento radial No início eram só o verbo, os autores e uma lona de circo. O sucesso gritou para todos os lados e, no ano seguinte, a tenda aumentou, outra tenda com telão se instalou e muito mais gente chegou. Os ingressos passaram a ser poucos para tantos candidatos a espectadores. O boca-a-boca entre os escritores levou a uma fila razoável de interessados, mundo afora, em conhecer e participar. Personagens singulares invadiram a cidade, como o cordelista que todos os anos sobe numa cadeira e, envergando seu chapéu de cangaceiro, oferece suas obras. Ou como o belíssimo arauto da poesia, em seus trajes bordados no tempo, chapéu de três pontas e rosto de commedia dell’arte. Foram muitos anos áureos, sempre com aquele frenesi anual do público para conseguir comprar ingressos, e com a presença de grandes personalidades nacionais e internacionais da literatura. A Flip se firmava, definitivamente, no cenário internacional como um evento único. Em paralelo, a Flipinha conquista-
va ano após ano as crianças, com sua plantação de livros na praça, bonecos de papier maché por toda parte e cortejos pelas ruas centenárias. Na esteira da Flipinha, a FlipZona chegou, mirou e acertou o público adolescente. Multiplicaram-se os projetos, oficinas de escrita, minidocs e opções variadas para os jovens. Juntas, Flipinha e FlipZona tiveram e têm um forte papel integrador com a cultura e as raízes da cidade, mobilizando as escolas locais e as comunidades tradicionais da região. As casas parceiras começaram a chegar bem mais tarde – e copiaram o modelo das famosas “mesas”, como foram batizadas as sessões entre escritores e público da programação principal. E com um diferencial importantíssimo: ofereciam isso gratuitamente. Em boa hora, uma importante parcela do público interessado, que ficava de fora por falta de opção ou de recursos, pôde integrar-se alegremente à festa. No tom do momento Não seria natural se uma festa literária que reúne tantos representantes do pensamento atual no mundo não
incorporasse, ao seu universo, as questões mais candentes do país e além dele. Nesse sentido, as mesas da Flip têm discutido o ambiente político nacional e mundial, à luz dos fatos reais, em praticamente todas as edições. Não poderia ser diferente neste 2019 em que a Festa chegou ao recorde de ter 38 casas parceiras, com uma programação de fazer a gente desejar ter o dom da ubiquidade e participar de tudo ao mesmo tempo. O momento brasileiro, observado sob a perspecteiva da obra do homenageado Euclides da Cunha – que inaugurou o livro-reportagem com o festejado Os Sertões – ganhou grande dimensão desde o primeiro momento: na abertura solene, a professora Walnice Nogueira Galvão, maior especialista do país na obra de Euclides, decretou, em breves palavras: “Do jeito que a coisa está, todo mundo deveria ler Os Sertões todos os dias.” Depois dessa largada, os momentos de refletir sobre o contexto nacional vieram como enxurrada. Aqui você vê alguns deles, mas a cobertura completa está disponível no site www.plurale. com.br
TEATRO, FOTOGRAFIA, TRADIÇÕES E CONSCIÊNCIA Zé Celso Martinez Corrêa (foto), decano da cultura dos mais inquietos, metamorfoseou-se em Antônio Conselheiro, no espetáculo Mutação de Apoteose, do Teatro Oficina Uzyna Uzona, dirigido por Camila Motta, que aconteceu logo depois da palestra de abertura, no Auditório da Praça. O artista voltaria à cena na sexta, 12/7, com seu estilo inconfundível, na mesa Vaza-Barris, ao lado de Ailton Krenak, protagonizando uma verdadeira pajelança em louvor à arte, demarcando e ritualizando o território formado por público, palco e cidade. O Brasil de Canudos visitou, com Aparecida Vilaça e Paletó, seu pai indígena, o ambiente da etnia ‘wari
e, em outro momento espinhoso da história recente, o abraço ao Museu Nacional, no qual é pesquisadora. O Brasil que ‘quase foi’ apareceu em fotos e canções, quando Adriana Calcanhoto, Guilherme Wisnik e o português Nuno Grande ocuparam o palco do Auditório da Praça e, dali, percorreram a arquitetura musical e física projetada e produzida desde os anos 1950, como uma promessa de país que não vingou. Teve também Zé Miguel Wisnik com a história que conecta a obra de Carlos Drummond de Andrade com a mineração que escavou, furou e engoliu boa parte do sertão mineiro e também Itabira, terra natal do poeta. E teve mais: a celebra-
ção da majestade da fotógrafa Maureen Bisilliat, a mais brasileira das inglesas, que preencheu páginas e páginas da saudosa revista REALIDADE, entre outras publicações, com a poética de um Brasil real e contundente, belo em sua força intrínseca.
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Cultura O historiador José Murilo de Carvalho (foto) foi a maior plateia da Flip, com dois auditórios lotados – o da Matriz e o da Praça – e um monte de gente, como eu, acotovelada entre as frestas da coxia do segundo ambiente. Na lucidez de um pessimismo ancorado na história, desmontou de vez nossa pálida ideia de patriotismo: a independência foi um fato isolado que aconteceu no Rio – e que o resto do país demorou para descobrir. Só a Guerra do Paraguai, mais tarde, conseguiria aglutinar, entre os brasileiros, uma certa noção de patriotismo, disse o autor do livro Jovita Alves Feitosa: voluntária da pátria, voluntária da morte, que acaba de ser lançado. O livro conta a história da jovem de 17 anos que se passou por homem porque queria lutar no Paraguai para vingar as brasileiras de Mato Grosso, que tinham sido
UM BRASIL QUE SÓ DEUS SABE O QUE SERÁ
violentadas por paraguaios. Mesmo com toda essa determinação, acabou descoberta. – O povo foi afastado da luta patriótica – sentencia. – Uma imensa camada de pessoas não via o Brasil como algo que elas construíram.
Aliás, este foi o grande pecado da República nascente: não incluíram o povo na Nação brasileira. O historiador afirma que não existem “forças armadas democráticas” em lugar nenhum do mundo: - Existem, sim, forças armadas que aceitam as regras da democracia – define. Para ele, o Brasil efetivamente não deu certo. – Nosso passado é uma amnésia coletiva; o futuro a Deus pertence; e nós vivemos o dia de hoje. Para José Murilo, essa equação preocupa por não termos garantido, ainda, um nível mínimo de igualdade e uma democracia estabilizada. – E o que é Canudos, hoje? São os milhões de brasileiros que não foram e não serão incluídos – finaliza, atribuindo o seu desencanto, talvez, à idade.
FLIP SLAM: FESTA DENTRO DA FESTA CELEBRA E ENCENA A POESIA Slam ou Islã? A dúvida, para alguns, procedia. Ouvindo falar, assim, o nome bem poderia remeter a alguma coisa árabe. O fato é que, salvo os iniciados, pouca gente sabia o que iria acontecer, de fato, no Auditório da Praça, após a última mesa da sexta-feira, 12/7, da qual já falamos e na qual brilharam Zé Celso Martinez Corrêa e Ailton Krenak. Na verdade, a primeiríssima edição do Flip Slam, maratona de poesia recitada ao vivo pelos autores, foi um sucesso desmesurado, surpreendente, feroz. Sou novata no gênero, mas confesso que, daqui por diante, vou acompanhar. É a vez e a voz dos jograis da modernidade, que se se atiram por inteiro na aventura de escrever o poema, decorar, declamar, interagir com o público e o que mais vier por acréscimo.
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Dizem que é poesia de rua, mas esse rótulo não lhes faz justiça. São poetas que escrevem textos literários, alguns dos quais poderiam ter saído das páginas de Virginia Woolf, por exemplo. Declamados com fé, em plena expansão, materializam-se em expressões vivas de liberdade e talento. Havia concorrentes do Bra-
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sil, da Inglaterra, da Espanha, dos EUA, de Cabo Verde e de Portugal. Em três rodadas de poesia ao vivo, com os jurados misturados com a plateia dando suas notas num placar bem visível, a norte-americana Porsha Olayiwola conquistou o troféu Flip Slam. O segundo lugar coube à brasileira Pieta Poeta. A abertura do evento ficou a cargo de um grupo de jovens do Projeto Educativo da Flip, ensaiados por Joelle Taylor (Inglaterra) e pela apresentadora Roberta Estrela Dalva. Seguiram-se as participações especiais da paratiense Nathalia Leal, criadora do Slam de Quinta (que acontece todas as quintasfeiras na cidade) e do paulistano Lucas Afonso, grande vencedor do Slam BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, realizado em 2015. Sucesso total, aplauso total, vertigem total da plateia.
UM CERTO BRASIL VISTO PELO CINEMA É claro que o cinema brasileiro não poderia ficar fora de uma Flip que, em grande medida, revê o Brasil a partir da ótica de Canudos. Além das apresentações de filmes – Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho, entre outros -, um momento esperado foi a mesa Monte Santo, que reuniu o crítico e professor
de cinema Ismail Xavier e o cineasta português Miguel Gomes (foto), que filmará, a partir deste ano, sua própria versão de Os Sertões. Em janeiro, aliás, ele se mudará para a região de Canudos, para iniciar as filmagens. Enquanto Ismail enfoca a estética de Glauber Rocha, a partir de trechos de Deus e o Diabo, e o Brasil da época em que o filme foi feito, Miguel conta
como se apaixonou por Os Sertões e por que se decidiu a fazer sua própria leitura cinematográfica da obra. Poço de Cima reuniu, no mesmo palco, a multiatriz Grace Passô e o músico, compositor e teórico José Miguel Wisnik. Para falar de seu teatro, Grace escolheu um texto de seu livro Mata teu Pai: uma Medéia contemporânea que fala de racismo, abuso, refugiados e outras questões presentes na trajetória de tantas mulheres. A performance eletrizou a plateia e aconteceu de um fôlego só. José Miguel Wisnik, que abriu a conversa, aplaudiu da plateia e fez uma participação especial com a atriz, no final.
VOZES FEMININAS E VOZES D’ÁFRICA No contraponto entre continentes, a prosa vertiginosa e inovadora da norte-americana Kyrsten Roupenian (Cat Person) e da canadense Sheila Heti (Maternidade), autoras com visões muito particulares sobre a mulher contemporânea e suas motivações, animou o cenário. Gael Faye, rapper nascido no Burundi e radicado em Paris, e o angolano Kalaf Epalanga, músico e dançarino de kuduro, falaram de sua música e também de racismo e da capacidade de construir
histórias positivas, ricas e compensadoras, incorporando suas origens. Na mesa Zé Kleber (Cumbe), conhecemos os quadrinhos impressionantes de Marcelo D’Salete, cartunista, historiador e professor, que recontam muito da história da África e do tráfico de escravos; e a energia de Marcela Cananéa, paratiense que desenvolve projetos junto às comunidades tradicionais do entorno da cidade. A mesa Angico trouxe a prosa espetacular da israelense Ayelet Gun-
der-Goshen (Uma noite, Markovitch) e da nigeriana Ayòbámi Adébáyön(Fica comigo), autoras que foram buscar, nas próprias origens, fatos que merecem a vestimenta da ficção para o leitor acreditar que parecem mesmo ter sido inventadas.
LUGARES, MEMÓRIA, O ESPÍRITO DA LÍNGUA E A RESISTÊNCIA Jovens autores, como a venezuelana Karina Sanz Borgo (Noite em Caracas) e o carioca Miguel Del Castillo (Cancún), ambos jornalistas estreando na ficção, falaram de memórias íntimas atreladas a lugares específicos. As duas obras tiveram sucesso imediato e repercutem, ficcionalmente, experiências pessoais de seus autores. A muito esperada Grada Kilomba, artista interdisciplinar e psicóloga, é portuguesa de Lisboa, mas vive em Berlim e descende de angolanos e sãotomenses. A fala é suave e mansa, sem
abrir mão da contundência. Entre a viagem artística – está em cartaz até 30/9 na Pinacoteca de São Paulo com
a mostra Desobediências Poéticas - e o empenho em descolonizar a língua portuguesa, está o livro Memórias da Plantação, que compila episódios de racismo cotidiano, baseados em conversas com mulheres da diáspora africana. Uma indignação transformada em arte e palavra permeia sua obra, assim como a de Marilene Felinto, vencedora do Jabuti com seu romance de estreia, Mulheres de Tejucopapo, que a autora acaba de reeditar. Marilene protagonizou a mesa Cansanção, na manhã do sábado, 13/7.
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Cultura
Olhares femininos afiadíssimos entraram em cena na mesa Vila Nova da Rainha: a cordelista e romancista brasileira Jarrid Arraes e a norte-americana Carmem Maria Machado (foto) protagonizaram uma bem-humorada conversa com o público sobre sua literatura e seus olhares particulares sobre questões que perpassam o universo feminino. Na mesa Massacará, navegamos pelo universo dos sonhos a partir do ponto de vista científico, e ao mesmo tempo poético, de Sidarta Ribeiro. Conhecer o verdadeiro valor do sonho para a saúde humana e também alguns registros de seu caráter premonitório ao longo da história, foi decerto uma viagem singular. Sidarta também alertou
O meio ambiente fechou a noite de sábado com sombrios prognósticos. Cristina Serra, jornalista que atuou por 26 anos na Rede Globo, falou da tragédia de Mariana a partir do livro que escreveu, Tragédia em Mariana: a história do maior desastre ambiental do Brasil. Dialogou com o norte-americano David Wallace-Wells, autor do livro Terra Inabitável: uma história do futuro , com mediação da jornalista Júlia Duailibi. Além de cobrir a tragédia como repórter, Cristina Serra empreendeu sua pesquisa pessoal de três anos e fez inúmeras viagens à região, onde entrevistou pessoas e testemunhou o drama das famílias, além de realizar uma rigorosa investigação pessoal sobre o andamento das ações judiciais e criminais, que até hoje se arrastam pelos tribunais mineiros, sem definição. Em sua participação na mesa 19 (Corobó) da Flip 2019, Cristina Serra explicou que os riscos para o meio ambiente começam já no processo de licenciamento ambiental das minerações. – São muitas facilidades que as
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CORDEL, POÉTICA FEMININA E SONHOS NA REAL
para o perigo do excesso de exposição às telas de aparelhos celulares, tablets e computadores, que afetam
nossas “centrais de sono” pela ação do LED azul e, com isso, podem causar desorientação e insônia.
A TERRA TREME, VERSÃO SÉCULO 21
empresas têm. Os governos não exigem que elas cumpram todas as exigências da Lei de Licenciamento Ambiental. Na verdade, desde o Ciclo do Ouro que a mineração, no Brasil, tem sido uma máquina de moer gente – relatou. – Segurança nunca é prioridade das empresas. O sistema de alteamento a montante, usado na construção da maioria das barragens, não é usado em nenhum outro lugar do mundo. Seu companheiro de mesa, o norte-americano David Wallace -Wells, escreveu seu livro a partir de uma reportagem-bomba que
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publicou e que teve nada menos que 6 milhões de acessos. A questão do clima, degradado mortalmente sobretudo nos últimos 30 anos (antes disso a situação não era tão grave, por incrível que pareça), precisa ser resolvida rapidamente ou a Terra, em pouco tempo, se tornará inabitável, segundo as rigorosas pesquisas que desenvolveu. O autor, por sinal, não acredita que a Terra sobreviva até seu filho pequeno crescer, assim com Cristina Serra aposta que ninguém será efetivamente punido pela tragédia em Mariana.
Com 20 histórias vividas no Pantanal mato-grossense, o livro “No pulso das águas” conta a trajetória dos 20 anos do polo socioambiental Sesc Pantanal, que tem como capítulos principais a atuação pela conservação da biodiversidade, educação ambiental, turismo sustentável e ações sociais. Escrita por Carla Águas, a obra de 317 páginas ilustrada por 185 fotos foi lançada na programação do Sesc durante a 17ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em Paraty (RJ). Entre as histórias contadas no livro está a do Seu João da Silva, que há 20 anos deixou de amansar cavalos e conduzir gado bravo para cuidar das delicadas borboletas do Hotel Sesc Porto Cercado. Acostumado a lidar com animais de uma tonelada, ele viu a vida se transformar a partir de animais de três gramas. Conhecido como “João do Borboletário”, ele tem o amor pelas borboletas tatuado no corpo. “Eu me transformei com as borboletas”, diz ele, que que participou do lançamento do livro em Paraty. Ele chorou a primeira vez que viu o processo de metamorfose de uma borboleta chegar ao fim, que começa com o ovo, passa para a lagarta até chegar a crisálida, última etapa antes delas baterem as asas. “Eu fiquei tão impressionado que cheguei a chorar na hora. Aquilo tocou muito em mim. Mudei também em casa, com a esposa e filhos. Soube ter mais amor e respeito com eles. Acho que a borboleta trouxe isso para mim por causa da sensibilidade, do carinho que precisava ter com elas. Esse carinho que elas mostraram que eu precisava ter foi a mudança que eu tive para ser mais leve, mais tranquilo”, disse ele à escritora. Além das histórias, o livro também relata a formação do Pantanal, reconhecido como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal e considerado Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco. A diversidade de fauna e flora é apresentada nas páginas que
NO PULSO DAS ÁGUAS DO PANTANAL FOTO DE DIVULGAÇÃO – SESC PANTANAL
destacam, ainda, a importância da porção norte, em Mato Grosso, considerada vital para as demais áreas do sistema devido ao fato de abrigar os afluentes da maior planície inundável do mundo. O sobe-e-desce das águas ganha destaque por exibir as belezas do Pantanal para turistas de todo o mundo, que contemplam a cheia de janeiro a março, as vazantes de abril a maio, a seca de junho a setembro e a enchente entre outubro e dezembro. A cultura é relatada a partir da Dança dos Mascarados, do Cururu e do Siriri, das festas de santos e da Cavalhada, que traz a luta ancestral entre mouros e cristãos, sendo o principal evento do município de Poconé. O Parque Sesc Serra Azul, localizado em Rosário Oeste, na transição entre o Cerrado e a Amazônia, é citado no livro por estar interligado ao projeto de conservação do Pantanal, ao ajudar a proteger o rio Cuiabazinho, um dos rios que formam o Cuiabá, que inunda o Pantanal. A escrito-
ra destaca como diferencial da iniciativa a possibilidade de exercer uma escuta dos vários personagens que estiveram presentes nas duas décadas da entidade. “Pela minha experiência, quando nos propomos a exercer a escuta diante da diversidade das vidas, nos surpreendemos por encontrar uma enorme riqueza e essa riqueza é o ponto forte do livro, que reúne vidas e trajetórias interessantes”. De acordo com a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano, ao aliar bem-estar, cultura e ação social a uma perspectiva socioambiental realmente transformadora, a instituição demonstra respeito por todas as formas de vidas. “Assim, vamos ligando os pontos, incorporando a comunidade ao fazer do Sesc e para além dele. A construção do futuro passa pela crescente aproximação e escuta das populações locais; por isso, o objetivo deste livro é mostrar a visão da comunidade, pois são as pessoas as protagonistas da trajetória do Sesc Pantanal”, declara.
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Artesanato
NOSSO BRASIL EM
FLORIPA
Objetos garimpados nos quatro cantos do país fazem da Casa de Ana, no sul de Florianópolis, um templo da arte popular
Por Raquel Ribeiro, Especial para Plurale De Florianópolis (SC) Fotos: Divulgação
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o meu “caminho da roça” já tinha visto de carro as fitas coloridas e o nome, Casa de Ana, talhado em madeira; mas foi preciso estar à toa e a pé para me ater à beleza da vitrine e sentir o convite de ali entrar. A delicada organização das peças, o cuidado na identificação de cada uma delas e o bom gosto permeando toda a seleção de objetos delinearam a loja como um espaço de celebração do artesanato e arte popular brasileira. Uma gentil vendedora me mostrou os aneis e colares vindos do Acre, as onças típicas do Pantanal, enfeites guaranis e me levou até a dona do espaço. “Gosto muito da renda de tramóia típica daqui e do boi de mamão”, disse Ana Paula Dreher, assinalando as principais referências da nossa ilha. “Mas quis percorrer o interior para descobrir o que mais se produz nesse que é um dos estados mais miscigenados do Brasil.” Em suas andanças por Santa Catarina, ela conheceu, por exemplo, o engobe, técnica para revestir e tingir a cerâmica com pigmento natural, trazida há mais de duas décadas por artistas uruguaios e argen-
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tinos. Depois viu, in loco, mulheres trançando o capim dourado, em Jalapão, moldando barro em Serra Branca no interior paraibano, e tantas outras mãos desvendado a arte adormecida em materiais da natureza. Essas viagens levaram Ana a se aproximar de artesãos que trabalhavam isolados; assim como de reconhecidos mestres, como o xilogravurista pernambucano J.Borges ou a mestre Ininéia, no interior de Alagoas. Arquiteta de profissão, Ana sempre cultivou o olhar curioso de repórter e, assim, registrou histórias de obras expostas na loja, como as peças de seu Bento. Natural de Sumé, na Paraíba, morou muitos anos em São Paulo e, após um acidente, não conseguiu mais trabalho e de-
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cidiu retornar ao estado natal. Encontrou um palete de madeira e descobriu que havia potencial para transformar testos em arte. Foi se aprimorando e hoje é um escultor reconhecido, que tem nos pássaros seu tema. preferido. Os passarinhos de seu Bento são umas das preciosidades da loja; assim como os de seu Zé Valdo, feitos em madeira umburana e que só faltam cantar de tão perfeitos. Originário do sertão baiano, Zé trabalhava em uma empreiteira que fazia a manutenção de linhas de transmissão de energia. Cansado da vida que levava resolveu voltar para o sertão e unir a necessidade ao talento: aprendeu a trançar a fibra de licuri, criando peças especiais. Falecido ano passado, seu Zé deixou saudades – mas
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
também sua técnica, seguida pelos filhos. Ana escutou essas e tantas outras histórias que hoje se fazem presentes na loja. “Ir ao artesão é valorizar seu trabalho. Sou recebida com carinho; eles mostram tudo com muito orgulho”. Ana gosta de se embrenhar Brasil adentro! Em uma expedição ao Pará, visitou comunidades extrativistas junto ao rio Arapiuns e se encantou com trançados feitos em fibra de tucumã com tingimento natural – uma herança de povos indígenas –, assim como com a arte Marajoara e com objetos de látex e sementes de morototó, na Flona (Floresta Nacional do Tapajós). Sempre que pode, leva a filha junto, “pois se a gente só ama o que conhece, vamos conhecer nossa cultura!” A menina, hoje com cinco anos, já identifica obras de J. Borges, Cida Lima e de Valdeci, conhecida como Nem. Esta ceramista do interior de Sergipe trabalha sentada na porta de casa, moldando potes com as mãos. Esta técnica, chamada louça morena,
passa de geração em geração desde o Brasil colônia!
Nada de “industrianato” No quesito sustentabilidade, Ana está engajada em um novo projeto: visita empresas que geram rejeitos possíveis de ser reaproveitados (como sobras de fios emborrachados de uma fábrica de sapatos, que estão sendo testadas para uso no tear). A arquiteta ainda é rigorosa ao checar a procedência de tudo que selecionao: passa longe do “industrianato”, confere se a produção não agride a natureza (observa se o pigmento é de origem nacional ou se a madeira é de fato um resíduo, por exemplo); e se a peça é genuinamente brasileira. O tripé na qual baseia a filosofia da Casa é “ser bom para quem faz, para quem vende e para quem compra”. A Casa ainda abre espaço para exposição de artistas locais; e levanta bandeiras culturais. Quando há algum tempo, o Parque da Serra da Capivara (Piauí) foi fechado, ali foram exibidos documentários e muitas pessoas participaram do abaixo assinado para reabertura do parque. Esse engajamento tem sua importância, claro! Vejo, porém, ainda mais força em outro princípio da Casa: “O Brasil redescobrindo o Brasil”. “A gente acredita que nossa arte popular só vai ser realmente valorizada quando o brasileiro tiver orgulho de usar, de ter em casa. Investimos na vitrine
da loja para mostrar como tudo pode ficar bonito e sofisticado com nossa identidade nacional.” O melhor é que a formosura do artesanal pode ter um impacto social e ambiental positivos. Na loja, há objetos produzidos com fibra de bananeira, de taboa e de butiá; enfeites e acessórios de borracha da seringueira; potinhos e acessórios criados com resto de casca de laranja e utilitários feitos de papier ostra, um processo artesanal de reutilização das cascas de ostras – vindas da costa catarinense. Por conta dessa inovação técnica, a artista Claudia Bartczac foi uma das ganhadoras da 3a edição do prêmio Sebrae Top 100. Ver os potes delicadamente brilhantes de Claudia e tantos outros objetos plenos de histórias me levou a respeitar ainda mais nossa diversidade cultural, e a admirar a fibra, a garra, a força do artesão brasileiro.
PORTAS ABERTAS Em maio, a Casa de Ana comemorou sete anos e abriu o Espaço Semente, um lugar para encontros, palestras, workshops e trocas com a comunidade. “Estamos abertos para conversar sobre bons projetos ligados à arte e à sustentabilidade; juntos podemos fazer germinar pequenas transformações que farão grande diferença”, acredita a idealizadora do espaço. Na inauguração desse espaço, uma das palestras foi sobre compostagem de resíduos orgânicos, tema que, com aprovação de um projeto de lei, ganha força política em Florianópolis e em breve será implementado – exemplo de uma semente que está prestes da germinar. http://www.casadeana. com.br/casa-de-ana/
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Estante A visita de João Gilberto aos Novos Baianos, Por Sérgio Rodrigues, Editora Companhia das Letras, 152 págs, R$ 44,90 Neste originalíssimo livro de contos, Sérgio Rodrigues, premiado autor do romance O drible e de Viva a língua brasileira! brinca com coisa séria. Depois de presenciar um encontro mitológico no céu da MPB, o leitor vai para a cama com Machado de Assis e acompanha um desfile de histórias cheias de graça, prosa afiada, erudição literária e cultura pop. Nos contos de A visita de João Gilberto aos Novos Baianos, o prazer de contar histórias sobre histórias é o antídoto à alardeada perda de potência da literatura em nosso tempo. Assim, a história do mundo pode caber em treze tweets, tornamo-nos cúmplices de uma farsa erótica ambientada na Vila Rica dos inconfidentes e espiamos pela fechadura a intimidade de um famoso personagem machadiano.
Direito e Economia: diálogos, Organizadores - Antônio José M. Porto, Armando Castelar Pinheiro e Patricia Regina Pinheiro Sampaio, Editora FGV, 676 págs, R$ 76,00 A Editora FGV e a FGV Direito Rio acabam de lançar a obra Direito e economia: diálogos. Organizada por Antônio José M. Porto, Armando Castelar Pinheiro e Patricia Regina Pinheiro Sampaio, o livro é composto por textos Antonio Carlos Porto Gonçalves, Carlos Ragazzo, Cecilia Machado, Cesar Mattos, Fernando Leal, Gustavo Kloh, Ivo Teixeira Gico Junior, Jairo Saddi, João Manoel de Lima Junior, Julia de Lamare, Leonardo de Andrade Costa, Luciana Dias, Luciana Yeung, Márcio Souza Guimarães, Patrícia Regina Pinheiro Sampaio, Rômulo S. R. Sampaio, Rubens Sardenberg, Sandro Leal Alves e Thiago C. Araújo, a obra ainda conta com prefácio da jurista Ellen Gracie Northfleet e apresentação do diretor da FGV Direito Rio, Sérgio Guerra.
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Eu escolho ser feliz, Por Susana Naspolini, Editora Agir, 128 págs, R$ 29,90 Em Eu escolho ser feliz, Susana Naspolini estabelece uma conversa com o leitor sobre sua experiência diante de quatro diagnósticos de câncer e da perda do marido em 2014. A primeira foi aos 18 anos, quando diagnosticada com um linfoma. Em 2011, venceu um câncer na mama e outro na tireoide. Já em 2016, novamente enfrentou um câncer na mama. O tumor a fez ficar afastada do telejornalismo por aproximadamente sete meses e ao voltar ao trabalho foi presenteada por bolo pelos telespectadores, que enviavam mensagens e queriam saber notícias dela. Ao lado de sua companheira de todas as horas, a filha Julia — hoje com 12 anos —, a jornalista aprendeu, entre tantas outras coisas, a transformar a pergunta “por que eu?” em “por que NÃO eu?” e, assim, continuar levando a vida com o coração cheio de esperança e otimismo.
Do rock ao clássico: 100 crônicas afetivas sobre música, Por Arthur Dapieve, Editora Agir, 256 págs, R$ 39,90 Durante 25 anos, Arthur Dapieve manteve, no jornal O Globo, uma coluna sobre sua grande paixão: a música. Desse baú de textos, foram selecionadas as cem crônicas que compõem este livro, dividido em cinco partes que acompanham o percurso afetivo-musical do jornalista. O rock, que o arrebatou na adolescência, conforma a primeira parte; a segunda transita pelo rock nacional, batizado por ele de BRock; a terceira é dedicada à música popular brasileira e latina; a quarta representa sua descoberta dos ritmos da black music; a quinta é uma exaltação à música clássica, atualmente a mais ouvida pelo autor. Nesse percurso, que muitas vezes esbarra no do leitor, Do rock ao clássico: 100 crônicas afetivas sobre música se constrói como um diário de ótimas histórias, contadas por uma atenta testemunha auricular da cena musical nas últimas décadas.
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ENCONTRODECONTABILIDADE.COM.BR
Pelo mundo
Forte poluição da Cidade de Wuban, capital de Hubei
UMA TERRA EM
TRANSFORMAÇÃO Texto e Fotos de Hélio Rocha, Correspondente de Plurale na China De Pequim
Q
uando se fala em China, há certo tempo que se ouve certas máximas que, umas certas outras erradas, permeiam o imaginário ocidental sobre o que é hoje o país mais importante do oriente, tendo há mais de uma década superado a importância econômica do Japão. Dona de um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 12,24 trilhões e uma população de quase 1,4 bilhão de habitantes, o gigante asiático corrobora as esperanças por um mundo mais multipolar, ao mesmo tempo que assombra o Ocidente com questões que envolvem respeito aos direitos civis e ao meio ambiente. Por isso, Plurale em Revista inicia este mês reportagem
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De país emergente a potência econômica, China caminha em busca de harmonia social e ambiental especial, dividida em duas edições, sobre os avanços e desafios da China nos temas ambiental e social. A começar pelo meio ambiente, a terra dos antigos imperadores, das místicas tradições orientais e das filosofias taoísta e confuciana assenta-se na busca do equilíbrio para encontrar a fórmula exata da preservação de seus recursos minerais, da saúde física e mental de seus habitantes e do patrimônio natural e histórico de seus 5 mil anos. Hoje, a China encontra-se num momento de desequilíbrio na equação entre o desenvolvimento e a conservação da qualidade do ar e das águas. Isto porque o país é altamente dependente da emissão de gases-estufa, ainda gerando energia por meio de termelétricas e utilizando veí-
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culos a combustão. De 2001 a 2015, no entanto, os índices de gás carbônico emitidos pela China têm se mantido estáveis, em 20 milhões de toneladas. Embora alto, o número não cresceu junto ao seu crescimento econômico, de menos de US$ 1 trilhão em 1999 para os atuais US$ 12,24 trilhões. O salto de mais de 1000%, portanto, não resultou em aumento significativo nos dados de poluentes e, desde 2015, tem encontrado ligeira redução. Isso tem resultado na expectativa de vida, que saltou de menos de 70 anos em 1999 para 76 anos em 2019. Uma das ferramentas para combater os índices de poluição é o investimento em tecnologia verde, isto é, que não utiliza combustíveis como ga-
Esforço para despoluir o principal manancial da China, o Rio Yang-Tsé, em Hubei.
Rua arborizada em Pequim
solina e diesel. Nos dias 17 e 18 de maio, Plurale visitou o Congresso Internacional de Inteligência (WIC – sigla em inglês para World Intelligence Congress), em Tianjin, para conferir os veículos desenvolvidos para ampliar a mudança nos padrões utilização da energia. Por toda a parte, carros de passeio, veículos para passageiros e até um modelo esportivo, adotado pela polícia dos Emirados Árabes Unidos, movidos a eletricidade. No último ano, todas as montadoras que operam em solo chinês ampliaram sua produção de carros elétricos em 53%, visando ao seu mercado interno. Isto porque o país responde por cerca de 40% de todos os veículos de tecnologia verde vendidos no planeta, o que é resultado de uma ampla estrutura criada pelo Governo,
que envolve mais da metade dos postos de recarga de baterias no mundo, 241 de um total de 424. De acordo com o ambientalista exdiretor da Administração Estatal para Proteção do Meio Ambiente, Xie Zhenhua, já premiado internacionalmente por órgãos como o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a World Wide Fund of Nature (WWF), “o desenvolvimento verde da China pavimenta seu caminho para o desenvolvimento sustentável, para uma coexistência harmônica entre o ser humano e a natureza”. O conceito de “harmonia” é uma tônica do pensamento chinês, aplicável a todos os segmentos da sociedade. Por isso, mais que revelar números e gráficos, Plurale busca entender os conceitos filosóficos e sociais que sustentam o caminho chinês para
Carros e ônibus elétricos em Congresso Internacional de Inteligência, em Tianjin
superação das mazelas ambientais. Nas montanhas do Centro da China: o berço da harmonia A China mais conhecida, porque hoje mais midiática, concentra-se em três centros principais: Pequim, Shanghai e a provincia de Guandong e áreas
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Pelo mundo
Pequena cidade de Yan’an, na província de Shaanxi , com produtores de maçã
FOTOS DE HÉLIO ROCHA,
E n s a i o especiais adjacentes, onde estão Guangzhou e Shenzhen, Hong Kong e Macau. Fora desse espaço, no entanto, bate o coração da China tradicional, que vive nas montanhas, plantações, monastérios e vilarejos dispersos sobre o imenso território chinês, pouco maior que o Brasil. Plurale visitou em junho as províncias de Hubei e Shaanxi, no centro do país, e conheceu esses espaços de contemplação e proteção à cultura tradicional chinesa, além das áreas rurais que reverberam uma das mais importantes conquistas do povo chinês: a reforma agrária, ainda tão incipiente no Brasil. Wuhan, a capital de Hubei, é uma das principais cidades onde está localizado o principal manancial do país, o Rio Yang-tsé, que tenta sobreviver aos problemas que, geralmente, o crescimento econômico causa aos mananciais, devido ao escoamento de rejeitos de indústrias e alto grau de urbanização. Se em 2002 os níveis eram alarmantes, com 23,4 bilhões de toneladas de rejeitos ao longo de seus 6.212 quilômetros, em 2010 tinham passado
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CORRESPONDENTE DE PLURALE NA CHINA para 33 bilhões, e estima-se que tenha sido reduzido para 25 bilhões nesta década, segundo a revista Live Science. Isto porque a China despende muitos recursos pela recuperação de nascentes e afluentes que poluem o principal rio do continente asiático. A importância da despoluição do Yang-tsé é transversal, pois parte da proteção ao meio ambiente e chega às políticas sociais, visto que a região é um dos principais polos de agricultura na China, onde predomina o tão conhecido arroz para exportação. Para além da grande Wuhan, centenas de vilarejos pontilham o mapa da província de Hubei, recortando-o nas demarcações retangulares de charcos de arroz, além de pequenas produções para consumo local. A vila de Lijawan, distante mais ou menos 200 km de Wuhan, é uma das beneficiadas com as políticas sociais e ambientais chinesas nos últimos 20 anos. Diante do avanço econômico e de distribuição de renda do país, o povoado que abriga aproximadamente 50 famílias passou por uma acentuada
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melhora nos índices sociais, atingindo 100% de acesso a serviços de educação e saúde, triplicando a renda média familiar e a produção. “O trabalho governamental mostra o quanto a redução da pobreza e o compromisso social têm resultados econômicos efetivos, muito mais que as políticas exclusivamente de mercado adotadas no Ocidente”, explica o chefe da aldeia, Zheng Xingping. A subdiretora Shi Yuyan completa: “qualidade de vida resulta em mais produção, porque o trabalhador saudável e satisfeito produz mais não porque trabalhe mais tempo, mas porque trabalha melhor e mais motivado”. O mesmo se passa na pequena cidade de Yan’an, na província de Shaanxi, mundialmente conhecida pelos Guerreiros de Terracota, na capital, Xi’an. Distante 300 km da capital, a cidade guarda centenas de pequenas produções familiares que se organizam em cooperativas governamentais, beneficiárias da reforma agrária promovida por Mao Tsé Tung. Na China, a terra pertence ao Governo, cabendo ao pro-
Agricultora colhe arroz na vila de Lijawan, distante mais ou menos 200 km da capital Wuhan, é uma das beneficiadas com as políticas sociais e ambientais chinesas nos últimos 20 anos.
Templo taoista nas montanhas de Wudang
dutor o papel de arrendatário, em período que pode ser vitalício se a família cumprir as metas de produção e não incorrer em crimes de desvio de finalidade ou de uso de substâncias químicas proibidas, os agrotóxicos. O principal produto agrícola da cidade é a maçã, mas também se cultiva hortaliças e frutas para consumo interno. Um país e um povo sempre em transformação As mudanças recentes na condução das políticas econômicas e sociais chinesas são fruto da cultura de transformação na busca pela harmonia. Isto ocorre porque a cultura chi-
nesa preza a mutação e o conhecimento, princípio básico do taoísmo e do confucionismo, tão pilares para a organização desta sociedade quanto o cristianismo e a filosofia grega são para o Ocidente. Plurale foi até às montanhas Wudang, em Hubei, para conhecer o berço do taoísmo, doutrina filosófica que norteia o pensamento chinês. Embasada no conceito de complementaridade, proposto no século VI A.C. pelo filósifo Lao Tsé em sua obra Tao Te Ching (o Livro do Caminho e da Virtude), ela vê toda a existência dividida em dois conceitos-chave, interdependentes e complementares: o yin, que é a sombra, o frio, o feminino; e o yang, que é a luz, o calor, o masculino. Constituindo todas as coisas existentes, inclusive as pessoas e o meio ambiente, os dois conceitos formam um fluxo atemporal de prevalência, em que predomina ora um ora outro, fazendo de todo o ser eterna transformação. Há milhares de anos os monges taoístas, guardiães da raiz do pensamento chinês, mantêm estudos sobre o infinito devir e a busca pela integração do ser humano ao mundo em transformação. A trajetória até esse objeti-
vo, a perfeita integração ao universo, é o chamado “Caminho”, ou “Tao”, conceito que compreende a abnegação da própria existência para perfeita integração ao mundo em constante mutação, e assim compreensão do verdadeiro redirecionamento da vida. A essa abnegação os taoístas dão o nome de “vazio”, ou “não pensar”. A aplicação prática mais conhecida do Tao está nas artes marciais, sendo os movimentos rápidos do Kung Fu o uso do Tao na luta corpo a corpo. A síntese de tudo isso é que, do alto das montanhas de Wudang, nasce o espírito da sociedade chinesa, que em cinco mil anos de história transformou-se no curso do tempo, sobrevivendo a invasões, guerras e ciclos de pobreza, mas sempre se redirecionando no caminho do desenvolvimento econômico e social. Daí advém a base filosófica para aplicação dos valores de um povo à solução de seus problemas sociais e ambientais. O conjunto de ideias que norteia o cumprimento com os atuais desafios para o meio ambiente e a qualidade de vida no país, paulatinamente superados, dão o tom do que propõe a China como governança global, nos próximos anos.
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Vida Saudável
NOVOS SABORES, MENOS DESPERDÍCIO Rede Accor apresenta menu sustentável produzido com alimentos que seriam desperdiçados e com o uso de PANC – plantas alimentícias não convencionais -, no restaurante Térèze de um dos seus hotéis no Rio de Janeiro FOTOS DE NÍCIA RIBAS - PLURALE
Por Nícia Ribas, de Plurale Do Rio de Janeiro (RJ)
N
o mês do Dia Mundial do Meio Ambiente e no mesmo dia em que sacolas plásticas foram banidas dos supermercados, a rede Accor apresentou uma culinária com o uso de PANC – plantas alimentícias não convencionais, no restaurante Térèze de um dos seus hotéis no Rio de Janeiro, o charmoso Santa Teresa Hotel RJ MGallery. Fica evidente que os ventos favoráveis à proteção do Planeta sopram cada vez mais fortes em todos os níveis da sociedade. O projeto integra uma série de ações para evitar o desperdício colocadas em prática em seus mais de 3.500 hoteis em todo o mundo, através do Planet 21, programa de desenvolvimento sustentável da Rede Accor, que se orgulha de ter dois terços dos seus 21 objetivos já implementados. Experiências gastronômicas também estão disponíveis por meio de menus produzidos com alimentos que seriam desperdiçados e, devido à conscientização quanto ao desperdício de comida, esses itens se transformam em novos pratos. A culinária PANC deliciosamente praticada pelo chef uruguaio Esteban Mateu, do Térèze, traz para a mesa do brasileiro
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O menu sustentável é produzido com alimentos que seriam desperdiçados e, devido à conscientização quanto ao desperdício de comida, esses itens se transformam em novos pratos.
itens comestíveis dantes inimagináveis. Com isso, ele abre um leque de opções para variar a tradicional salada de alface, por exemplo. No menu do dia 26, folhinhas não convencionais foram oferecidas junto com ají amarelo, quinoa crocante com peixe cru, e como prato principal, raviólis recheados de ervas da floresta. Na sobremesa, pudim de pão (o tradicional reaproveitamento de pão amanhecido das mesas brasileiras) com queijo de cabra da região, goiaba e casca de banana. Nas taças, espumante Hermann, de Santa Catarina. “Trata-se de uma experiência
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culinária verdadeira com produtos sustentáveis”, explicou Esteban antes de descrever cada prato. Sempre priorizando os fornecedores locais, ele disse que só compra peixes do João e de outros 80 pescadores artesanais que fazem pesca sustentável. As plantas e ervas vem diretamente da horta vizinha, a Organicidade, criada há cinco anos pelo casal Daniel Gabrielli e Alice Worcman no quintal do antigo casarão da família dela, ali mesmo em Santa Tereza. ‘Mato’ na mesa Adeptos da agricultura sintrópi-
ca, que produz alimentos regenerando naturalmente as florestas, o casal transformou uma extensa área gramada num paraíso de diversidade de plantas. Pelas ruas de Santa Teresa, a caminho da horta, Daniel ia mostrando, com entusiasmo, o ‘mato’ subindo pelos muros, nomeando cada plantinha: erva pepino, chanana, jambu, feijão borboleta, alho social, vinagreira, araçá, cidró. Atualmente existem 350 espécies catalogadas de PANC. São plantas que se reproduzem facilmente, tolerando adversidades como escassez de água, solos pobres e locais inóspitos. Até a vitória régia contém um fruto comestível. Ao ser questionado sobre o perigo de se ingerir uma planta tóxica, Daniel alertou para a necessidade de buscar informação antes e sempre consumir uma pequena quantidade quando experimentar algo pela primeira vez, “para ver se seu organismo aceita bem.” Em sua horta, Daniel cultiva também frutas, como maracujá, morango, noni ( chamada de gorgonzola por causa do seu cheiro forte). “Quando as lagartas surgem, é hora da poda,” explica ele, vibrando com seu trabalho debaixo do sol quente do inverno carioca. A compostagem é feita ali mesmo e as folhas secas servem para adubar. Não ao desperdício O projeto desenvolvido pela Accor já contabiliza redução no consumo de água em aproximadamente 9%; de energia, em 5,3% e nas emissões de carbono, em 6,2%. Além disso, todos os hotéis estão comprometidos em protegerem crianças contra abusos e mais de 4,5 milhões de árvores foram plantadas pelo mundo desde 2009. O Planet 21 contribuiu para a conscientização das suas equipes de colaboradores, envolvendo hóspedes e parceiros na luta pela preservação do Planeta. Mais recentemente, anunciou a contratação de colaboradores da comunidade LGBT, ajudando no combate ao preconceito. Ventos favoráveis, vida que segue.
Chef Esteban Mateu, do Térèze, traz para a mesa do brasileiro itens comestíveis dantes inimagináveis. “Trata-se de uma experiência culinária verdadeira com produtos sustentáveis”, conta.
Daniel Gabrielli e a esposa Alice Worcman são vizinhos do Hotel e fornecem PANC da horta para o restaurante Térèze como erva pepino, chanana, jambu, alho social e vinagreira.
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CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Meio ambiente é destaque no Festival de Cinema de Vitória Em sua 26ª edição, o Festival de Cinema de Vitória - o maior evento de audiovisual do Espírito Santo – apresenta a 2ª Mostra Nacional de Cinema Ambiental. Neste ano serão exibidos filmes de curta-metragem nos gêneros animação, documentário e ficção com temática ambiental que concorrerão ao Troféu Vitória de Melhor Filme pelo júri técnico. Foram selecionados: Poética do Barro- (Giuliana Danza, ANI, MG); Menino Pássaro(Diogo Leite, FIC, SP); S/N (Renata Malta, FIC, PE); Glória (Yaminaah Abayomi e Nádia Oliveira, EXP, RJ); Quarto de Cura(Castiel Vitorino Brasileiro, DOC, ES); Ka´a Zar Wkyze Wa – Os Donos da Floresta em Perigo (Flay Guajajara, Edvan dos Santos Guajajara e Erivan Bone Guajajara, DOC, SP). O festival acontece entre 24 e 29 de setembro, no Centro Cultural Sesc Glória, Cine Metrópolis e Hotel Senac Ilha do Boi.
Websérie retrata parque ecológico Um dos paraísos arqueológicos do Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, abriga a maior concentração de pinturas rupestres das Américas. Os registros pré-históricos, de aproximadamente 12 mil anos, retratam cenas do cotidiano dos povos antigos e lembram lutas, rituais, danças e caças. Descobertas pré-históricas registradas na nova temporada da websérie do movimento Pé no Parque – ação em conjunto da Associação O Eco, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e WikiParques - criado com o objetivo de incentivar o turismo e a valorização de áreas protegidas brasileiras. A nova temporada está dividida em quatro capítulos disponíveis no You Tube: https://www.youtube.com/channel/ UCUr-ZNieMb6u6JszzE18Zlg
Por mais inclusão e justiça Barragens em Minas Gerais são tema de filme Misto de ficção e documentário, “O Amigo do Rei”, dirigido por André D´Elia, tem como tema o maior crime ambiental da História do Brasil: o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) e suas consequências. O filme acompanha de modo ficcional o cotidiano do deputado federal Rey Naldo nos bastidores do Congresso Nacional, mostrando as relações íntimas existentes entre política e mineração. Traz também imagens de famílias que perderam tudo de uma hora para outra e depoimentos de especialistas no assunto, ampliando a percepção do público sobre a realidade. Produzido pela Cinedelia, “O Amigo do Rei” tem apoio cultural da O2 Filmes, da Quanta, da Mandril Áudio e faz parte do projeto de informação ambiental “Mar de Lama Nunca Mais”.
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Documentário alerta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas brasileiras e aponta as perspectivas de futuro para uma sociedade mais justa e inclusiva. Foi com esses propósitos que a Umiharu Produções Culturais e Cinematográficas lançou o documentário “Mundo Sem Porteira”. O filme, um curta de 27 minutos, roteirizado e dirigido pela cineasta Gisela Arantes, trata dos caminhos percorridos em 20 anos para o enfrentamento do problema. “Mundo Sem Porteira” é baseado em diversas pesquisas, incluindo as realizadas pelas Universidades Federais do Rio Grande do Sul e Sergipe, apoiadas pela Childhood Brasil, e uma série de depoimentos de mulheres que viveram a exploração sexual na infância e juventude. Disponível no You Tube: https://www.youtube.com/ user/UmiharuProdCulturais
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Pelas Empresas
ISABELLA ARARIPE
Ball desenvolve modelo inédito de lata: a X-Sleek 410ml FOTO DE DIVULGAÇÃO
A Do Rio
Ball Embalagens para Bebidas América do Sul, maior fabricante de latas de alumínio do mundo, é a responsável pelo desenvolvimento do modelo X-Sleek 410ml, formato inovador de lata, diferente de todos os padrões já existentes no mercado mundial. A novidade foi elaborada com exclusividade para a cerveja Colorado, que passou recentemente a ser comercializada tam-
bém em latas de alumínio. Nem tão fina como a Sleek e nem tão larga quanto a Standard, o novo modelo comporta um volume de 410ml.
Neste ano, a lata de alumínio completa 30 anos no Brasil. Em 1989, as primeiras latinhas do país de 350 ml foram produzidas pela Latas de Alumínio S.A. Latasa, na cidade de Pouso Alegre (MG). Hoje o mercado dispõe de oito formatos e o consumo das latinhas cresce a cada ano. Em 2018, segundo a Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio), foram vendidas 26 bilhões de unidades no País, com crescimento de 8,5%, em relação a 2017.
Levantamento da PwC sobre varejo e consumo mostra que índice de brasileiros que utilizam esse equipamento subiu mais de três vezes desde 2013 FOTO DE DIVULGAÇÃO
Entre 2013 e 2019, o percentual de brasileiros que afirmam realizar compras pelo smartphone pelo menos uma vez por mês mais do que triplicou: subiu de 15% para 50%. Ou seja, metade dos brasileiros já compra usando o celular regularmente. Nesse mesmo período, os outros meios de compra decaíram ou cresceram pouco: lojas físicas (de 70% para 62%); online via PC (de 69% para 59%) ou online via Tablet (de 20% para 29%). É o que mostra a Global Consumer Insights 2019, produzida pela PwC. O levantamento ou-
viu 21 mil consumidores em 27 países, entre eles o Brasil, ao longo de 2018. Em paralelo, o brasileiro também está cada vez mais exigente na hora de consumir em lojas físicas: quando perguntados sobre a importância de se ter uma experiência de compra agradável, o brasileiro deu respostas acima da média global: 58% querem usar métodos de pagamento mais rápidos e fáceis para reduzir filas (contra 50% da média global). Além disso, cerca de 54% disseram que dão importância a vendedores com profundo co-
nhecimento dos produtos, índice que ficou em também em 50% entre os respondentes do resto do mundo. Outros 43% (contra 34% da média do resto do mundo) disseram que ao visitar uma loja física é importante que ela disponibilize internet rápida e de fácil acesso.
Sistema CNC promoveu a Rodada Sustentável no Rio FOTO DE DIVULGAÇÃO
Do Rio
Em junho, na semana em que se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente, a equipe do Programa Ecos, da CNC/RJ, realizou o evento Rodada Sustentável. Uma roda de conversa fez parte da programação que contou com a mediação da jornalista Sônia Araripe, de Plurale em Revista, e com a participação de Karime Ribeiro, coordenadora técnica do Mesa Brasil, Nathalia Miranda, analista de sustentabilidade do Sesc e Fabiano Araújo, coordenador da
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Coleta Seletiva na Comlurb. Durante o bate papo foram abordados temas voltados a práticas sustentáveis como o desperdício de alimentos, destinação e o seu reaproveitamento nutricional e a capacitação de profissionais da área de Gastronomia para o projeto Redes Gastronômicas, do programa Mesa Brasil, do Sesc Rio. Além disso, o Mesa Brasil esteve presente com a degustação de preparações de aproveitamento integral de alimentos, acompanhados da nutricionista Carla Coratini, do Mesa Brasil no Sesc Rio.
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Grupo Boticário e Unilever se unem por diversidade e equidade de gênero FOTO DE DIVULGAÇÃO
De São Paulo
O Grupo Boticário, responsável pelas marcas O Boticário, Eudora, quem disse, berenice?, The Beauty Box, Multi B e Vult, e a Unilever Brasil uniram forças para ampliar o debate sobre diversidade e equidade de gênero e, assim promover reflexões e mudanças positivas, não somente em seus negócios, mas na sociedade. A primeira aproximação entre as companhias aconteceu durante o lançamento no Brasil da Aliança sem Estereótipos, iniciativa da ONU Mulheres que tem por objetivo mobilizar o mercado para o fim dos estereótipos e vieses inconscientes na publicidade, na qual ambas empresas são signatárias. Após o encontro, o Grupo Boticário convidou a Unilever Brasil para integrar a campanha ‘Com você eu jogo
melhor’, que recebeu a proposta com muito entusiasmo. A iniciativa tem como objetivo convidar a sociedade à reflexão sobre o papel da equidade de gêneros e diversidade, além de incentivar organizações e pessoas a integrarem a torcida pelo futebol feminino brasileiro. As empresas são, ainda, integrantes da Associação Movimento Mulher 360
– que contribui para o empoderamento econômico da mulher brasileira -, da campanha #HeForShe” - de conscientização global pelos direitos das mulheres -, entre outras. “Entendemos que o movimento pela diversidade e equidade de gênero deve ser de todos. Por isso, lançamos a campanha e convidamos empresas e pessoas a refletirem conosco sobre a importância desse debate. Contar com a Unilever Brasil nessa empreitada nos faz acreditar que podemos ser aliados para contribuir para uma mobilização ainda maior e, quem sabe, promover, juntas, uma grande transformação da sociedade”, afirma Eduardo Fonseca, diretor de assuntos institucionais do Grupo Boticário.
Coca-Cola lança campanha “Viva mais retornável” FOTO DE DIVULGAÇÃO
Do Rio
Mudar faz parte da vida. Mudar faz bem para o mundo. E aí, vamos mudar juntos? Viva mais retornável. Mais do que uma mensagem, Coca-Cola faz um convite à mudança em campanha que estreia hoje com o lançamento do filme em TV aberta. Ainda este mês, será anunciada a promoção nacional Coca-Cola Retornável, Viva Mais Sustentável, valendo 10 casas e milhares de prêmios instantâneos em produtos. Em 2018, a empresa anunciou o compromisso global de coletar e reciclar o equivalente a 100% das embalagens que coloca no mercado até 2030. Entre diversas iniciativas, a Coca-Cola lança hoje uma grande campanha voltada para um tema que faz parte da agenda de toda a companhia. “Estamos usando a grande força da marca nesse compromisso, que
será acelerado com o investimento na linha de garrafas PET retornáveis. Essa agenda é urgente para o planeta e para
a sustentabilidade do negócio”, afirma Poliana Sousa, diretora de marketing da Coca-Cola no Brasil.
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I m a g e m FOTO DE ROSANE MARINHO – RODEN VIEJO - ESPANHA
A
experiente fotógrafa brasileira ROSANE MARINHO , que trabalhou em algumas das principais redações jornalísticas no Rio, vive há 14 anos com a família em Zaragoza, Espanha. Desde que se mudou para esta linda região, passou a dar aulas de fotografia. “Um dos meus lugares preferidos para as aulas de fotografia noturna, é o pueblo (cidadezinha) abandonado de Roden Viejo”, conta. Roden foi abandonado durante a Guerra Civil espanhola nos anos 30. A Província de Aragón, onde vivem, foi uma das frentes mais sangrentas desta guerra. Durante os combates, a população de Roden fugiu e, quando a guerra acabou, a cidade estava tão destruida, que já não valia a pena voltar. Hoje estas ruínas compõe um cenário melancólico sobre o que o homem é capaz de destruir. Também nos lembrando como somos pequenos diante do universo. Em recente aula para os alunos, Rosane fez esta foto linda da VIA LÁCTEA – visível de março a setembro deste ponto – agora compartilhada com os leitores de Plurale. 66
PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2019
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