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ano quatorze | nº 73 | março / abril 2021 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
ENTREVISTA COM A DRA. MARGARETH DALCOLMO SOBRE A PANDEMIA
ARTIGOS INÉDITOS, HORTAS CASEIRAS E FLORES EM ALTA
HAVAÍ:
EM BUSCA DO ESPÍRITO ALOHA
FOTO DE VIVIANE FAVER – MOLUKEIA BEACH PARK – WAIALUA – HAVAÍ
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Quem faz
Diretora e Editora-Chefe Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter, facebook e instragram: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale @revistaplurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior
Cartas “A luta contra o fogo no Pantanal, em 2020, foi intensa, impactante e deixou muitos aprendizados. A edição nº 72 da Plurale trouxe, com excelência, toda a mobilização realizada no bioma, que inclui o trabalho pioneiro da brigada do Sesc Pantanal e da pesquisa da fauna realizada na maior RPPN do país. Parabéns, Plurale, pela cobertura que marca esse momento histórico” Christiane Caetano, Superintendente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal (MT), por e-mail
Fotografia Fotografia Luciana Tancredo (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Felipe Araripe (Estagiário), Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, João Victor Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Elisabeth Cattapan Reuter (Hamburgo/Alemanha), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Dario Menezes, Flávia Carvalho Ribeiro, Gabriela Schuck, Gustavo Pedro, Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Jeferson Prado, Karina Toledo (Agência Fapesp), Léo Rodrigues (Agência Brasil), Marcus Quintella, Mariana Lessa, Maria Augusta de Carvalho, Dra. Margareth Dalcolmo, Maria Elena Johannpeter, Maurette Brandt, Observatório do Clima, Paula Martinelli e Viviane Faver. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
Impressa com tinta à base de soja Plurale é uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: Imprimindo Conhecimento Editora e Gráfica
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos e®outras fontes controladas certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
“Em nome da corporação, agradecemos a importante reportagem Especial Pantanal na Edição 72 de Plurale em revista.” Tenente-Coronel Dércio Santos da Silva, Diretor-Operacional-Adjunto do Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso, por e-mail “A reportagem de capa da Edição 72 de Plurale em revista aborda , com olhar multidisciplinar, os diversos aspectos envolvidos na maior tragédia ambiental ocorrida no Pantanal brasileiro. Diante do depoimento de pessoas envolvidas no combate e na tentativa da mitigação dos impactos, somos levados a questionar se eventos como estes voltarão a ocorrer. E se estamos preparados para isso.” Renata Libonati, professora e pesquisadora Lasa/ Ufrj, do Rio de Janeiro (RJ), por email.
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“Parabéns para a equipe Plurale! A última edição estava tão boa que fica impossível comentar uma matéria só! Mas destaco os artigos da Anatricia Borges e da Giuliana Preziosi e a matéria sobre o livro da Ana Paula Araújo. E aplaudo o Especial Pantanal, riquíssimo! Sempre um prazer e uma ampliação de conhecimento ler Plurale! Obrigada por tanta informação qualificada.” Daniele Torres, diretora da Companhia da Cultura, de São Paulo (SP), por email.
“Super relevante a Edição 72 de Plurale. Completa e reflexiva, como sempre, com destaque para a reportagem sobre o Pantanal, não só pela relevância do tema, como também pela sensibilidade da abordagem, falando a "língua dos homens". Luciana Brafman, jornalista e Professora da Faculdade de Comunicação da PUC-Rio, por e-mail. "A edição 72 da Plurale em revista está maravilhosa! Adorei a entrevista com a Ana Paula Araújo. Um tema mais do que oportuno e essencial nos dias de hoje. E o artigo da Denise Pires de Carvalho, Reitora da UFRJ, de quem eu sou muito fã, é leitura obrigatória para conhecer a centenária Universidade do Brasil. Destaco também as belíssimas fotos da Luciana Tancredo em Tiradentes. Parabéns, Sônia e toda equipe que participou da revista!" Mônica Cotta, jornalista, do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail.
E ditorial FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL
Plurale em ação (da esq. para a dir): a correspondente Viviane Faver mudou-se recentemente para o Havaí, deixando para trás o pico da pandemia em Nova Iorque e nos conta mais sobre o Espírito Aloha; a blogueira Paula Martinelli conseguiu viajar com segurança, de motorhome, com o marido Mike e os cachorrinhos Pingo e Cooper, pelos parques naturais do Novo México e no Rio; e a jornalista especial Nícia Ribas aproveitou a pandemia para aumentar a sua horta caseira.
Vamos em frente! Um ano após o começo da pandemia, com tantas perdas tão tristes, as vacinas começam a chegar para todos e a vida voltará a florescer
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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
ano de 2020 dificilmente será esquecido. Pelas perdas tão tristes, pelo o que perdemos e vivenciamos. Foram dias longos e melancólicos, marcados por isolamento total para muitos. Esta edição é publicada, justamente, um ano desde que os primeiros casos de contaminação pelo Covid-19 começaram a surgir. Logo a pandemia se espalhou pelo mundo e também chegou ao Brasil. O que parecia um pesadelo distante, tornou-se uma tragédia anunciada, com nomes e sobrenomes de Norte a Sul, Leste a Oeste de todas as cidades brasileiros – de megalópoles a pequenos municípios. Até aqui, já ultrapassamos a dolorosa marca de 262 mil mortes no Brasil e 2,5 milhões no planeta. A História nos ensinou que mesmo após grandes tragédias – como Guerras, Pestes, catástrofes naturais – sempre há um renascer. É esta a nossa esperança. Mais do que esperança, a nossa fé. Assim, pensamos em uma edição noticiosa e atualíssima, mas também marcasse este olhar esperançoso para a humanidade.
Que possamos sair desta hecatombe com mais compaixão, menos arrogância, menos preocupados com o ter e sim com o ser. Para contextualizar este diálogo, começamos ouvindo a principal porta-voz sobre o combate à epidemia: a cientista e pesquisadora da Fiocruz, a Dra. Margareth Dalcolmo. Em entrevista exclusiva para Plurale, a pneumologista alerta que as vacinas são – sem dúvida – a nossa única e principal arma. E lamenta que, como sociedade, tenhamos pago um preço tão alto – com milhões de vidas – para os que pregaram o descrédito da Ciência e de medidas tão simples de combate ao coronavírus. Trazemos também artigos inéditos de Colunistas Plurale, que nos ajudam a entender e refletir melhor sobre o cenário atual e o que virá pela frente: Maria Elena Johannpeter, Flávia Carvalho Ribeiro, Dario Menezes, Marcus Quintella e Mariana Lessa. Não é só. A matéria de capa é da jornalista Viviane Faver, carioca da gema que trabalha e mora há 10 anos em Nova York. Preocupada com o elevadíssimo nível de contaminação em Nova Iorque, mudou-se com marido e a família para o Havaí. Nos apresen-
ta a busca pelo “Espírito Aloha” que tem atraído brasileiros e muitos outros para o conjunto de ilhas. A blogueira Paula Martinelli – mais conhecida como Paulapinstheplanet – adotou um jeito seguro e prático para viajar e combater o stress do isolamento caseiro: viajar de motorhome por regiões de incrível beleza, nos Parques naturais do Novo México, tendo como alegres companhias o marido Mike e os cachorrinhos Pingo e Cooper. Em terras brasileiras, mais especificamente mineiras, a jornalista Maria Augusta de Carvalho nos conta que, apesar da crise, as vendas de flores cresceram em torno de 10% em 2020. Outra boa notícia, apresentada pela nossa jornalista Nícia Ribas, é que – diante de dias de isolamento e tristeza – mais brasileiros passaram se dedicar ao cultivo de hortas, em busca de uma vida mais saudável e de harmonia. Cinema verde é o tema da coluna de Isabel Capaverde; Isabella Araripe dá dicas de Ecoturismo e apresentamos as novidades sobre empresas sustentáveis, por Felipe Araripe. Maurette Brandt traz um novo olhar para a arte produzida por artistas especiais. Tudo isso e muito mais. Boa leitura!
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FOTO DE VIVIANE FAVER – HAVAÍ
Contexto
36. 28.
Havaí: em busca do espírito aloha, por viviane faver, de honolulu
Hortas caseiras, por nícia ribas
Artigos inéditos, por maria elena johannpeter, flávia carvalho ribeiro, dario menezes, marcus
Mercado de flores em alta, por Maria Augusta de Carvalho
quintella e mariana lessa
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Entrevista com a dra. Margareth dalcolmo sobre o combate à pandemia,
Um novo olhar, por Maurette Brandt
62 Pelas empresas, por Felipe Araripe
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por sônia araripe AGÊNCIA BRASIL
Cinema verde, por Isabel Capaverde
PAULA MARTINELLI
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Ecoturismo, por Isabella Araripe
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Novo méxico (eua) e suas paisagens naturais incríveis, por paula martinelli
Entrevista
“AS VACINAS SÃO A ÚNICA E MAIS PODEROSA ARMA, E A VERDADEIRA SOLUÇÃO PARA CONTER A COVID-19” Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Peter Iliciev - Fiocruz/ Divulgação e Agência Brasil
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e faltou um plano de comunicação oficial das autoridades brasileiras para o combate e o enfrentamento da crise gerada pela covid-19, a comunidade científica procurou suprir a sociedade com todas as informações disponíveis. Um rosto esteve presente, quase onipresente, incansável, para explicar – sempre de forma muito didática, mas elucidativa – como a doença estava se espalhando e como deveríamos agir: a Dra. Margareth Dalcolmo, uma das maiores pneumologistas do país, cientista-pesquisadora referência da Fiocruz. Médica humanista, conquistou a todos com sua simplicidade e determinação. Quase como se fosse uma “mãe” ou “avó” de cada brasileiro, sabendo dosar sabedoria e conhecimento - com um tom de puxão de orelha, sempre que preciso. Recentemente, no fim de março, a pesquisadora capixaba recebeu uma das muitas honrarias a reconhecer o seu engajamento na causa: “Embaixadora do Turismo do Rio” - por ironia do destino, a mesma com que também fui contemplada pelas ações em sustentabilidade. Uma honra. Mandei-lhe uma mensagem, falando do orgulho de estarmos conectadas nessa premiação. Achei que levaria alguns dias para me responder. Qual! A Dra. Margareth é a fortaleza em carne e osso de nossos melhores sonhos. Não só me respondeu rápida e delicadamente, como aceitou dar esta entrevista ainda naquela semana. Na conversa com Plurale, a Dra. Margareth falou dos acertos e dos erros do gerenciamento da crise da epidemia; da demora na contratação de um leque maior de opções de vacinas; criticou a lentidão no programa de vacinação, recomendando a abertura de uma rede
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FOTOS DE PETER ILICIEV - FIOCRUZ
DRA. MARGARETH DALCOLMO
mais ampla de locais da sociedade civil, como estádios de futebol; defendeu que as vacinas são a única e mais poderosa arma que existe contra a doença e lamentou que tantas vidas tenham sido perdidas, com o ápice agora em março. “Não tenho dúvidas de que pagamos um preço alto demais.” Confira esta entrevista especial para Plurale. Plurale - A senhora é cientista, pesquisadora da Fiocruz, uma das maiores pneumologistas do país. Em algum cenário, mesmo o mais pessimista - ao longo de seus estudos - chegou a imaginar uma pandemia deste porte, com impacto tão forte para a humanidade? Se imaginava trabalhando tanto – assim como seus colegas - para melhor informar e defender a Ciência? Dra. Margareth Dalcolmo - Como pneumologista e trabalhando com doenças endêmicas, a área de pesquisa à qual eu me dedico há muito tempo é a tuberculose, que é uma doença endêmica de grande magnitude no Brasil
PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2021
ainda, com 75 mil casos novos a cada ano. Além disso venho trabalhando, nos últimos anos, em um projeto do Banco Mundial para doenças respiratórias na África subsaariana - local onde, por diversas vezes, tivemos experiências de ver epidemias de perto, como a epidemia do ebola, por exemplo. Acompanhei a assessoria médica do Ministério da Saúde no período da epidemia da SARS, da gripe aviária, na época da H1N1 - e, nesse sentido, aprendemos muito: não me surpreende que tenhamos epidemias. Isso é algo esperado, na medida em que o planeta tem sido muito maltratado por nós. E não é surpreendente que nós tenhamos epidemias que, inclusive, migrem do mundo animal, atravessando a barreira humana e causando males dessa magnitude. Mas nós nunca esperávamos ter uma epidemia da dimensão da covid-19. Essa, realmente, era possível de ser pressentida; desde que me manifestei, em março do ano passado, nós já sabíamos que a pandemia seria muito dura, na medida em que se tratava de uma doença cuja transmissão não ocorre de pessoa a pessoa, mas de uma pessoa para várias outras, como a experiência de Wuhan, na China, já havia mostrado. De modo que estava claro, desde aquele momento, que no Brasil dada nossa obscena desigualdade social - nós teríamos essa desigualdade desnudada, inclusive nessa questão epidêmica, o que evidente se concretizou. Como a covid-19 chegou entre nós como uma doença respiratória, então fomos os primeiros médicos que, digamos, tratamos e internamos os pacientes, logo depois do carnaval de 2020, quando surgiram os primeiros casos no Brasil. Muito depressa aprendemos, na nossa profunda e intensa curva de aprendizado, que não se tratava de uma pneumonia atípica e sim de uma doença sistêmica, comprometendo todos os órgãos do corpo e caracterizada por duas fases: uma fase inicial virêmica e uma segunda fase
inflamatória, que é uma fase na qual os pacientes pioram mais, entram em crise respiratória aguda e fazem fenômenos vasculares importantes, como trombose, embolia... Então a doença se caracterizava, desde muito precocemente, como uma doença de alta capacidade inflamatória e trombogênica. Essa é a patogênese, digamos assim, da doença que fez com que nos debruçássemos sobre todo o conhecimento nesse enorme número de publicações científicas - perto de 100 mil publicações científicas - produzidas nesse um ano de epidemia pelo mundo. Plurale - Temos capacidade de vacinar mais brasileiros em uma velocidade maior do que a atual? No ritmo de hoje, poderemos levar muito tempo vacinando, até atingir a meta de pelo menos 70% da população. Temos um problema no fluxo de vacinas, mas o ideal não seria abrir mais postos de grande capacidade, em locais como estádios, estacionamentos de shoppings, quadras de escolas de samba, igrejas etc.? Temos visto filas imensas, idosos aguardando... O Brasil tem um histórico muito bem-sucedido de vacinação, reconhecido globalmente. O que nos falta para avançar? Dra. Margareth Dalcolmo - Nós teríamos capacidade, aproveitando a enorme expertise do Programa Nacional de Imunização brasileiro, e toda a experiência acumulada com campanhas, como foram as campanhas de poliomielite, aquelas do Zé Gotinha, que todo mundo se lembra, as campanhas de sarampo e as campanhas de febre-amarela, quando houve os casos de febre-amarela urbana no Brasil. Então, o Brasil é um país que podemos dizer que sabe vacinar; no entanto, neste momento, nós temos ainda escassez de vacinas, cenário que esperamos que seja sanado num curto período de tempo. Precisamos de eficiência somada a uma enorme capilaridade de atendimento, para que consigamos aquilo que seria absolutamente importante para controlar a epidemia: vacinar, pelo menos, mais de 50% da população brasileira durante esse primeiro semestre de 2021. Acho que será possível, se soubermos aproveitar outras estruturas que não as formais do serviço de saúde, como estruturas de organizações da sociedade civil, por exemplo. Tenho conversado muito com esse grupo extraordinário chamado Mulheres do Brasil, coordenado pela Luiza Trajano; na verdade, é espantosa a capacidade deles para ajudar e contribuir com as pre-
feituras - sendo as prefeituras a célula, digamos assim, mais importante, para assegurar isso que eu estou chamando de capilaridade necessária para que nós consigamos vacinar muita gente no menor período de tempo. Plurale - Num evento recente, a senhora falou que seria preciso fazer a “Revolta da Vacina ao contrário”, com a população se engajando de verdade para tomar a vacina. Como seria? O oposto do que aconteceu em 1904, quando houve boicote à vacina de varíola no Rio, defendida pelo sanitarista Oswaldo Cruz e pelo prefeito Pedro Ernesto? Dra. Margareth Dalcolmo - Este é o exemplo que eu dei; é um documento histórico que todos conhecemos, desde quando Oswaldo Cruz era o responsável pela saúde, no Rio de Janeiro, ainda como capital da Primeira República, em 1904. Foi quando Oswaldo Cruz quis fazer a vacinação maciça para varíola no Rio de Janeiro e a população se revoltou - o que foi chamado, nos registros históricos, de Revolta da Vacina. O que eu tenho usado é essa metáfora de uma Revolta da Vacina do bem; com isso, eu tenho sido muito consistentemente crítica em relação a esses aventureiros movimentos antivacina, que nunca prosperaram muito no Brasil, ao contrário de países europeus, ou mesmo dos Estados Unidos, onde eles existem e resistem. No Brasil, a partir de um discurso ideologizado, equivocado e profundamente lesivo, a opinião pública tem propalado informações absolutamente não-verdadeiras sobre as vacinas. É preciso deixar claro que, na epidemia da covid-19, as vacinas são a única e mais poderosa
No Brasil, a partir de um discurso ideologizado, equivocado e profundamente lesivo, a opinião pública tem propalado informações absolutamente nãoverdadeiras sobre as vacinas. É preciso deixar claro que, na epidemia da covid-19, as vacinas são a única e mais poderosa arma, e a verdadeira solução para poder conter a epidemia.”
arma, e a verdadeira solução para poder conter a epidemia; então, isso é importante, e o exemplo que eu tenho dado é um exemplo histórico, que me parece muito pedagógico nesse sentido. Plurale - A Fiocruz e o Instituto Butantã estão dando um belíssimo exemplo de como é importante o Brasil investir em inovação, em tecnologia de saúde, em Medicina gratuita para todos, na Ciência. Importantes pesquisadores foram transferidos para outros centros de pesquisa no exterior; alguns estão inclusive trabalhando nas vacinas apresentadas. Será que, daqui para a frente, serão reforçados investimentos em Pesquisa e Ciência para que, em breve, possamos ter condições de produzir o IFA em quantidade para sermos autossuficientes e até exportar para outros países? Dra. Margareth Dalcolmo – Sem dúvida, quem vai dar a resposta à epidemia no Brasil, fundamentalmente, são nossas duas grandes instituições públicas: a Fiocruz e o Instituto Butantan. Ambas são, em toda a América Latina, as únicas capazes de produzir vacinas em grande quantidade, quantidade de escala, capaz de suprir o Brasil e até outros países vizinhos, se necessário for. Sem dúvida nenhuma, é um esforço que representa a pujança da ciência brasileira – o que, aliás, é um dos resultados positivos; se nós pudéssemos aludir a algum resultado positivo dessa tragédia humanitária e sanitária que estamos vivendo, esse resultado seria o reconhecimento, por parte da sociedade civil brasileira, da capacidade da ciência brasileira. Não há dúvida de que nós perdemos cérebros preciosos, que não encontraram condição de dar seguimento a suas pesquisas no país. E eu acho que essa epidemia, uma vez controlada, poderá deixar como herança o reconhecimento de que a ciência brasileira é capaz não só de produzir ações de saúde pública, mas também belos trabalhos científicos, publicados em revistas importantes – internacionais, inclusive, quer por instituições só brasileiras, quer em colaborações com outras instituições estrangeiras; então, isso tudo está muito bem demonstrado, e eu acho que faz parte da herança. A outra herança que considero muito positiva nesse sentido - sobre a qual tenho falado bastante e até escrito em algumas das minhas crônicas - é o reconhecimento, por parte da sociedade civil brasileira, do que seja um novo voluntariado
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nacional. O Brasil nunca teve uma grande tradição de doações, sabemos disso; a concentração de renda no Brasil é algo que nos constrange, não há dúvida. No entanto, nós temos visto um comparecimento importante da iniciativa privada, no sentido de contribuir com ações governamentais ou não governamentais, em projetos de grande representatividade - como foram, por exemplo, o Todos Pela Saúde e o União Rio, que forneceram equipamentos, equipamento de proteção individual, respiradores, financiamentos de projetos de grande envergadura. Como a Fiocruz, que desenvolve, por exemplo, um trabalho nas comunidades da Maré e de Manguinhos; para isso nós recebemos milhares de cestas básicas e milhares de cestas de material de higiene, doadas por várias empresas privadas. Então são projetos que atendem um número grande de populações desassistidas nessas grandes cidades. Plurale - Não houve um erro de avaliação da gestão pública de “apostar” em poucas opções de vacinas, quando o mundo todo produzia várias alternativas e todos os países já demandavam todo o “leque” dessas alternativas? A imagem que usamos é que chegamos tarde nesta “fila”. A Anvisa trabalhou tecnicamente de forma correta? Qual a sua avaliação? Dra. Margareth Dalcolmo - Eu acho que nós perdemos o timing. Tivemos atitudes muito louváveis em relação às vacinas, que foram as duas iniciativas do Instituto Butantan e da Fiocruz, no sentido de estabelecer projetos de transferência de tecnologia com duas fabricantes de vacinas. A Fiocruz começou a costura do acordo de transferência de tecnologia integral, em resposta a uma encomenda tecnológica do Ministério da Saúde: na medida em que é um acordo de transferência, ele prevê não só o fornecimento do IFA para fabricar as vacinas no Brasil, mas a transferência completa de tecnologia para que a Fiocruz, a partir do outono desse ano, já fabrique o IFA no Brasil - de modo que, até o final do primeiro semestre de 2021, a vacina AstraZeneca-Fiocruz, como passa a ser chamada, será integralmente fabricada no Brasil, em todas as suas etapas; então, esse foi um processo muito interessante. O processo do Instituto Butantan foi igualmente interessante; deve ter características específicas que eu não conheço, conheço o da Fiocruz. Mas nós perdemos, sem dúvida, um timing que, ao meu juízo, teria sido muito impor-
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tante, que foi a negociação e o asseguramento de vacinas de outros modelos, inclusive com causas farmacêuticas que desenvolveram estudos de caso 3 no Brasil muito bem - como por exemplo a Pfizer, como a Johnson & Johnson. E são vacinas que hoje estão sendo registradas lá fora, como a Johnson & Johnson, que pediu registro no FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos. Então nós deixamos de assegurar essa diversidade, digamos assim - o que seria perfeitamente justificável para um país do tamanho do Brasil, para que nós pudéssemos vacinar o mais rápido possível a maior parte da nossa população. A Anvisa não é uma agência do governo, é uma agência do Estado; então deve ter total independência do seu trabalho de natureza técnica, na avaliação da aprovação emergencial das duas vacinas ora em uso no Brasil. A Anvisa trabalhou de modo impecável, com pareceres muito corretos; de modo que nós esperamos dela - nossa expectativa como pesquisadores, como médicos e como cidadãos brasileiros - que o mesmo se dê em outros pedidos de aprovação. Em relação à vacina AstraZeneca, a Fiocruz já deu entrada no processo de registro definitivo, que está em análise junto à Anvisa nesse momento. Plurale - O caso de Manaus (AM) nos parece o mais dramático. Uma crise de pandemia depende de médicos, equipes preparadas e insumos. Como as autoridades – mesmo alertadas - deixaram faltar oxigênio para quem dependia de oxigênio? É claro que o quadro é de extrema urgência/ gravidade, mas, ao se realizar a transferência de doentes de Manaus para outros estados, não se corre o risco de estar “exportando” vírus de nova cepa – mais transmissível – para outras regiões? Dra. Margareth Dalcolmo - Era previsível a situação de Manaus, porque o Amazonas teve o primeiro pico epidêmico muito antes de outros locais no Brasil, logo em abril. Houve uma grande disseminação viral e era perfeitamente esperado, dadas as atitudes, do ponto de visto político-administrativo, que não foram tomadas em Manaus. Nunca houve fechamento de escolas, nunca houve fechamento do comércio, nunca houve lockdown algum em Manaus. De modo que era natural que, passados seis meses, a imunidade conferida pela doença - e aqui cabe um parêntese: é absolutamente injustificável esperar
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FOTO DA AGÊNCIA BRASIL
Entrevista
e querer que uma população alcance imunidade por doença, porque o custo humanitário e o número de mortes que isso pode resultar é enorme, é indefensável - não ocorresse. Então, em Manaus aconteceu isso. Não era surpreendente que houvesse uma segunda onda, hoje completamente materializada. No entanto, houve um agravante: o aparecimento dessa variante viral denominada P1, que surgiu no estado do Amazonas, descoberta pela família dos quatros japoneses que viajaram para o Japão, alertando sobre a nova cepa. É importante saber que os vírus são seres que estão sempre mudando; mudam permanentemente. E mudam mais; quanto mais circulação eles encontram e quanto mais existe a pressão seletiva das novas variantes, eles criam novas variantes. Então isso é algo esperado. A situação de Manaus nos entristece muito, mas era esperado. E pode ocorrer em outros locais do Brasil. O que não vai ocorrer é a questão do suprimento do oxigênio, pois Manaus, de maneira totalmente indefensável, concedeu o monopólio de fornecimento de oxigênio a um único fornecedor - o que, para uma cidade de difícil acesso como Manaus, não é a melhor das escolhas, e é muito difícil de justificar, de qualquer maneira. Não, não é a transferência de pacientes que vai fazer a disseminação da cepa. A cepa já estava fora do estado do Amazonas quando os pacientes começaram a serem transferidos; além disso, essa atitude tem que ser calculada e medida, pois é uma questão humanitária que evidentemente precede - e é maior do que qualquer risco que se possa ocorrer. Não se pode deixar um paciente morrer sem a assistência adequada, mesmo considerando todos os riscos; é fundamental que ele possa ser atendido e ter sua vida salva em outro local. De modo que foi correta, sim, a atitude de transferir pacientes para outros estados e locais que tinham melhor condição de tratá-los. Plurale – A senhora acredita que muitas mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas se houvesse melhor gerenciamento da crise – desencontros
de lideranças políticas, falta de engajamento da sociedade em medidas tão simples como usar máscara, lavar bem as mãos e fazer o distanciamento ou quarentena quando necessário? A sociedade não está pagando um preço alto pelo negacionismo e pela falta de compaixão e empatia pelo próximo? A senhora imaginava que haveria tanta resistência à Ciência em pleno século 21? Fake news, informações desencontradas, como o uso de remédios em tratamento precoce, dúvidas da população sobre a eficácia das vacinas... Esta foi uma crise de falta de informação? Dra. Margareth Dalcolmo – Não há dúvida de que nós estamos pagando um preço muito alto. Não apenas pela falta de coordenação desde o início - e eu falei muitas vezes sobre isso, que o Brasil carecia de uma coordenação centrada e muito bem montada com harmonia, sobretudo com harmonia entre as autoridades sanitárias, as autoridades políticas e a comunidade científica e acadêmica. Sem dúvida nenhuma, isso nunca houve, e sempre tivemos discursos paradoxais - desde a condução da própria epidemia mesmo, do reconhecimento da magnitude do problema, até recomendações técnicas que até hoje, de maneira muito triste, perduram no Brasil, inclusive com anuência de alguns conselhos de classe nossos, o que nos entristece muito. Já em maio do ano passado publicamos, com um grupo de colegas do qual eu fiz parte, um documento que fazia uma revisão sistemática da condição da cloroquina: mostramos que não havia o menor sentido e, a despeito disso, o governo continuou defendendo, até muito recentemente, de maneira muito patética, o seu uso. Gastou dinheiro com isso, gastou energia, iludiu pessoas - enfim, com consequências que nós ainda não temos o recuo histórico necessário para mensurar. Eu considero desastrosas todas essas recomendações e o uso político de tratamentos medicamentosos que não têm o menor sentido para a covid-19, de uma maneira que já denominei inclusive de saquinhos de ilusão essa maneira como os remédios são distribuídos: em saquinhos, misturando antibiótico, vitamina, corticóide e entregando às pessoas! Na medida que não servem para nada, as pessoas se iludem e deixam de se proteger de maneira adequada. Então, acho que todo esse processo negacionista, que une todos esses setores da sociedade brasileira, fez muito mal à própria sociedade; já é o momento de cair em si e ver que esse comportamento
foi muito deletério para o resultado da pandemia como um todo. Agora eu não tenho dúvida de que teremos o mais triste março de nossas vidas. Isso é resultado do Carnaval e do descompasso entre o que nós, cientistas, dizemos, e o que as autoridades afirmam. Nos últimos dias, ouvimos que não é para usar máscaras. Não há dúvidas, está demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que protege quem usa e todo mundo ao redor. Plurale - Esta é uma doença que mexe não só com o estado físico, mas também com a saúde mental. Sem falar que aumenta ainda mais as desigualdades sociais. O contaminado fica isolado, sem contato até mesmo com os mais próximos, e sempre esperando o pior. A senhora teve covid na forma moderada e contou que temeu pela falta de ar. E que sentiu-se ainda mais conectada com os doentes que tratou. Poderia, por favor, falar um pouco de como foi este processo? Dra. Margareth Dalcolmo – Acredito que a vivência de quem já passou pela covid-19, grave ou não grave, é uma vivência muito particular, porque é uma doença que gera medo. Nunca tive constrangimento de falar disso: ela gera medo. Todos nós tomamos atitudes; eu não só já havia vivido diversas atitudes em relação aos pacientes. Por exemplo, se preocupar com a família, fazer modificações em documentos e até em testamentos; nós já vimos isso com pacientes. E quando fiquei doente também tomei algumas providências, de modo a deixar questões mais claras se eventualmente eu ficasse grave e precisasse ir para a ventilação mecânica, o que felizmente não aconteceu. Passei bem pela doença e, depois de três semanas, estava recu-
“A Anvisa não é uma agência do governo, é uma agência do Estado; então, deve ter total independência em seu trabalho de natureza técnica, na avaliação da aprovação emergencial das duas vacinas ora em uso no Brasil. A Anvisa trabalhou de modo impecável, em pareceres muito corretos.”
perada - de modo que, sem dúvida nenhuma, isso nos sensibiliza fortemente. Durante a minha doença, tive muitas manifestações de doentes que já haviam se curado inclusive e se manifestaram de maneira muito solidária - eu diria, de cumplicidade doce da parte de pacientes, de amigos, colegas. Enfim, nunca pensei que pudesse receber tantas manifestações de afeto como recebi. O que certamente ajuda, dado o fato de que a covid-19 exige um isolamento radica,l para que você não contamine ninguém; então nisso, sem dúvida nenhuma, essas manifestações ajudam. Outra questão que considero importante é que a tecnologia também ajuda muito nesse momento: nós teríamos salvado mais vidas se tivéssemos, através do próprio SUS, dado acesso a várias pessoas isoladas em suas casas. O número de mortes nos domicílios poderia ter diminuído se tivéssemos acessado os lares, usando aparelhos celulares, telemedicina e várias possibilidades que a tecnologia hoje oferece, e que deverão ficar como mais uma herança dessa epidemia, para ser implementada, no sentido de aproximar as pessoas dos profissionais de saúde. Plurale - Como a humanidade deve sair desta pandemia? Mais solidária? Dra. Margareth Dalcolmo - Eu não tenho tantas ilusões de que a humanidade possa sair, como um todo, mudada para melhor, dada sua grande heterogeneidade, falando no bom sentido; mas falando no mau sentido, acho que as desigualdades continuam aí, reveladas da maneira mais óbvia. Até a própria guerra pelas vacinas mostra, mais uma vez, que os mais ricos terão mais vacinas e mais rapidamente do que os mais pobres, e isso é mais um exemplo muito paradigmático do que sejam as diferenças sociais e econômicas nesse mundo que justo não é. É interessante, é diverso, mas justo ele não é. De modo que eu espero que a humanidade, principalmente, e que a história mais uma vez se mostre rica, como foi em outra epidemias. Afinal de contas, as epidemias têm marcado a história do homem nos dois últimos milênios. E se nós pensarmos só no último exemplo de que a grande Peste Negra, no final do século XIV. rendeu posteriormente o Renascimento - nós temos um lado de esperança de que essa pandemia possa, pelo menos, aproximar mais as pessoas, fazer com que olhemos para o outro com um pouco menos de distância, e que, quem sabe, possamos sonhar utopicamente com um novo Renascimento.
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Colunista Maria Elena Pereira Johannpeter
O QUE AS EMPRESAS ESPERAM DOS SEUS LÍDERES NO PÓS-PANDEMIA?
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os tempos de VUCA¹ (ou será muVUCA?) os Pensadores gregos estão mais atuais do que nunca. Podemos lincar os desafios do século 21 ao ENIGMA DA ESFINGE, quando ela diz: “Decifra-me ou eu te devoro”. Há, também, o MITO DA CAVERNA, inúmeras vezes praticado por nós. Quando voltamos as costas à realidade, adentramos na caverna. Esse século une essas duas figuras: a ESFINGE e a CAVERNA. A expressão “Novo Normal” não terá vez. É melhor nos conscientizarmos que a expressão mais verdadeira daqui para frente, será: “Novo Novo”. O que o século 21 está mudando em nossa Vida? Estamos entrando em uma Nova Era – a Era de Aquarius. Estamos sendo chamados a olhar para dentro de nós e para VIDA em sua plenitude, o que nos chama a responder à pergunta: QUEM REALMENTE
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SOU EU? Gosto de ressaltar a palavra “realmente”, pois a maior parte das respostas bate-pronta, não satisfazem. Você terá que refletir mais, pois levamos uma existência inteira para chegar perto de uma resposta. O nosso querido poeta, Mário Quintana dizia: “a Vida é o dever escolar. É o homework que trouxemos para aqui executar”. Então, para atendermos esse homework eu complemento: não basta fazermos o Planejamento de Carreira. O mais importante, é fazermos o Planejamento Existencial, o qual também podemos identificar como PROPÓSITO. Uma vez identificado, tudo o mais se derivará dele: a nossa Carreira, a Familia, a Formação, os relacionamentos, os interesses em geral, etc. E aqui entro em algo que pouco é falado e esse é o “Novo Novo”. Se estamos falando em Planejamento Existencial ou PROPÓSITO da nossa existência, então entraremos
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numa jornada de ampliação de consciência: QUEM eu sou? POR QUE estou aqui? Para O QUE estou aqui? COMO e O QUE vou fazer para melhor atingir RESULTADOS QUALITATIVOS nessa Jornada que se chama VIDA ou Homework? O mais interessante nessa reflexão é percebermos que, o que hoje estamos chamando de Propósito nada mais é do que os OBJETIVOS que elegemos para o atingirmos o verdadeiro PROPÓSITO de nossa Jornada Existencial. Mas por que eu fiz toda essa introdução se o título acima é “Desafios das Lideranças para os tempos atuais”? Fiz com a perspectiva de defesa de quem hoje estamos chamando de Líderes. Você, que está lendo esse texto, já parou para pensar, o quanto está sendo exigido dessa pessoa? É algo tão vasto e tão complexo que ele precisará ser um Super Homem. É
só pegar qualquer manual ou assistir a seminários e congressos sobre como tornar-se um bom líder, que você certamente sairá com a sensação de que nunca poderá ser um. Todavia, se separarmos as figuras de Líder e de Gestor, aí você ficará mais tranquilo. Muitas vezes a empresa tem um ótimo e maravilhoso Gestor, mas que não é um Líder. A recíproca é verdadeira. Um maravilhoso Líder nem sempre é um ótimo Gestor. Você já analisou a figura de um Maestro? Você acredita que ele possa cuidar desde os detalhes da bilheteria, à divulgação do evento até a afinação dos instrumentos e a regência de sua orquestra? A entrega da melhor apresentação musical, o maravilhoso som que extasie a plateia, é o real propósito do Maestro. Assim como o Maestro, o Líder responde ao Por Quê da existência da sua empresa. A isso chamamos de Planejamento Existencial daquela empresa. Agora, a entrega de Metas atingidas é papel do Gestor, assim como o uso assertivo das melhores e atualizadas ferramentas operacionais. Ao Líder, cabe cuidar de todas as siglas atuais e de outras que ainda virão, tipo RSE, ODS, ESG, GBV. Cuidar intra e extra muros. Estar sempre atualizado. E, na atualidade, ser também um pouco vidente. Pensando assim, acredito que a melhor estratégia é que Líder e Gestor sejam uma dupla uníssona, buscando RESULTADOS qualitativos e
quantitativos. Ao novo Líder, cabe ser um facilitador para o desenvolvimento de Seres Humanos em sua plenitude e não apenas, de Colaboradores. Ao novo Líder cabe, em primeiro lugar, conhecer-se e, após, fazer o seu auto desenvolvimento, tendo por base a RSI – Responsabilidade Social Individual que diz: “Trabalhar os valores internos, faz despertar na pessoa o seu VERDADEIRO valor, o que a torna mais ativa e socialmente transformadora do mundo ao seu redor”. (ONG Parceiros Voluntários) Ao novo Líder, cabe conscientizar os que estão ao seu lado, de que toda ordem social é criada por nós, conforme diz o filósofo Bernardo Toro. O agir ou não agir de cada um, contribui para a formação ou a consolidação da ordem em que vivemos. (Bernardo Toro, filósofo, sociólogo e educador colombiano) Ao verdadeiro Líder cabe ir à frente. Parafraseando as épocas de guerra, “levar as primeiras flechadas”. O Líder não exerce poder. Exerce uma figura de autoridade por sua legitimidade. Une coração e razão. O Líder apoia e estimula a ampliação das consciências. Estamos em novos tempos. Essa é a Era de Aquarius, que quer que expandamos a nossa consciência, a nossa Visão de Vida. É para isso que aqui estamos. Ao atingirmos e compreendermos a magnitude desse presente, aí seremos felizes. Ser feliz é a
consequência da compreensão maior. Agora eu lhe pergunto, caro leitor e leitora: se sua vida fosse um Livro, qual Título que ele teria? Reflita bem, pois esse, poderá ser o Significado, o Sentido de SUA Vida. Jung disse tudo: O Homem não suporta uma vida sem significado. A Humanidade, com quase 8 bilhões de pessoas, está num momento de Travessia. Mesmo para os que não sabem ou não querem saber, a travessia está acontecendo. TEMPO DE TRAVESSIA Fernando Pessoa “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, Que já tem a forma de nosso corpo. E esquecer os caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos fazê-la, Teremos ficado, para sempre, À margem de nós mesmos.” (*) Maria Elena Pereira Johannpeter é Fundadora e Membro do Conselho de Administração da ONG Parceiros Voluntários É Colunista de Plurale Idealizadora e produtora do Canal - Youtube. com/Travessia 1. VUCA (é uma sigla em inglês:: Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade). Ela é usada para descrever as mudanças rápidas e com diversas facetas, do mundo em que vivemos atualmente.
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Colunista Dario Menezes
OS DESAFIOS DAS ORGANIZAÇÕES FRENTE AOS PRINCÍPIOS ESG:
RISCO OU OPORTUNIDADE DE UMA NOVA FORMA DE COMUNICAÇÃO PARA AS MARCAS? Focar em questões ESG é cada vez mais fundamental para as organizações, porém, a comunicação deve ser pautada por fatos, e não por propaganda das suas boas intenções.
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o exato ritmo de evolução da consciência da sociedade global, de tempos em tempos, nós incorporamos novos temas ao vocabulário empresarial. Foi assim na década de 80 com o conceito de Qualidade Total. O mesmo aconteceu nos anos 90 com a reengenharia e no início dos anos 2000 com as questões relacionadas com a pauta da sustentabilidade. Neste momento, temos mais um tema que veio redefinir a atuação das organizações. Seu nome está na capa dos jornais, nos relatórios dos bancos de investimento, nas discussões do Fórum Mundial e nas mídias sociais. A Agenda ESG entrou de vez na pauta das agendas corporativas como a grande possibilidade de reinvenção do capitalismo para um modelo de atuação mais sustentável. Vários fatores contribuíram para seu fortalecimento: o papel de evangelizador de grandes fundos de investimento (exemplo: Black Rock), o entendimento das empresas da amplitude deste tema (exemplo: Natura) e na maior cobertura e análise do tema pela mídia global. Mais do que um modismo, o ESG é um grande momento de transformação para as organizações e isto reflete na forma como será avaliada pelos seus públicos
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hoje e no futuro. Uma frase recente do executivo Fábio Barbosa me parece concluir esse pensamento: “Essa juventude tem mais consciência ambiental, ética e cidadania que minha geração. Esses jovens cada dia mais são os que representam os consumidores e os investidores... Cada dia sai do mercado um investidor que não acha essa questão importante e entra um que considera sim. O que é o mesmo entre funcionários e consumidores. Resumindo: é irreversível”. Investimentos em ESG reduzem os riscos, a insegurança jurídica e trazem maior valor para as organizações.
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– Bem para estruturar o pensamento central deste artigo precisaremos voltar no tempo e entender que o tema ESG é uma resultante de várias “frentes de batalha”: do pensamento do capitalismo consciente (*) propondo uma volta do sentido mais amplo do papel das empresas, o resgate do propósito da organização e seus valores centrais, a integração contínua da organização com seus stakeholders, uma cultura e gestão conscientes apoiados por uma liderança consciente, focando em fazer o certo simplesmente porque é o certo a ser feito. Na esteira deste conceito, surgiu a proposta do valor compartilhado (*) demonstrando que a melhor equação
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é quando a empresa e a sociedade trabalham e progridem juntas gerando valor de longo prazo. E para finalizar esta volta no tempo surgiu também o desenvolvimento de negócios com impacto social (*). E não podemos esquecer dos esforços globais em torno da governança corporativa capitaneados no país pelo IBGC resultando em um maior esforço na prestação de contas e transparência. Estes e vários outros autores descritos na bibliografia apresentaram propostas de um novo modelo de negócios para esta geração e para as futuras. Retornando ao debate do presente momento, é cada vez mais intensa a discussão em torno do Green New Deal (em português, Novo Acordo Verde) que é um conjunto de propostas econômicas que têm o objetivo de uma nova ordem mundial propondo uma mudança estrutural para conter a crise financeira, energética e climática, chamada de “tripla crise”. Todos esses esforços encontram eco na agenda ESG que fundamenta sua posição no pressuposto de que a economia trabalha para as pessoas e não ao contrário. Se o tema ESG definirá daqui para frente a atuação das empresas e guiarão as tomadas de decisões pelo mundo, como os profissionais de comunicação devem comunicar para a sociedade, seus acionistas
ação bem realizada e bem comunicada, vale mais do que mil posts baseados em banco de imagens. – Não caia na armadilha de comunicar “boas intenções”. Uma empresa mesmo pagando bilhões de multa pode simplesmente se vangloriar de patrocinar eventos da cultura nacional tendo incorrido em centenas de mortes? Um supermercado reincidente em impactos pode simplesmente “tentar o esquecimento do seu passado” e anunciar proteção a áreas da Amazônia? O que não é real não fica de pé em tempos de mídias sociais. – Desenvolva métricas para entender a compreensão dos seus públicos sobre a atuação da empresa. Analise suas expectativas e percepções.
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e demais stakeholders de uma forma correta para que faça sentido a estes públicos? Qual o papel dos profissionais de comunicação nesta nova era? Na minha opinião, as áreas de Comunicação e Marketing tem papel fundamental nesse novo momento. Seu desafio é funcionar como uma grande parabólica, filtrando as demandas relevantes dos seus públicos, trazendo para análise da organização e conseguindo expressar de forma seus compromissos em se estabelecerem como marcas responsáveis (*). Com o intuito de colaborar neste momento desafiador para as organizações descrevo aqui 10 ações que considero fundamentais para a comunicação assertiva da era ESG. – Revisite o propósito da organização. Ele ainda faz sentido à luz da temática ESG? Lembrando que o crescimento de qualquer organização deve gerar prosperidade ao seu entorno e públicos. – Os atributos ESG não são os mesmos para todas as empresas. Cada empresa precisa fazer uma leitura estratégica da sua atuação e en-
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tender o que é importante vincular a estratégia da organização. Uma empresa mineradora tem desafios ESG diferente de um banco ou de uma empresa de alimentos. – Entenda todo o ecossistema de públicos com que a sua organização se relaciona. A empresa precisa desenvolver mecanismos de escuta e de relacionamento com cada um deles. – Fortaleça a cultura da organização e de toda sua cadeia de suprimentos em torno do seu propósito. – Pratique os 3 C’s fundamentais para a comunicação: Coerência no discurso e ação, Consistência de conseguir manter uma comunicação em todos os pontos de contato e Continuidade na sua jornada de construção de valor. – Entenda que as práticas de ESG irão exigir novas competências da alta liderança. – Desenvolva uma narrativa que seja crível e acima de tudo que seja engajadora. – Somente comunique o que seja passível de comprovação. Não pratique o “ESGgwashing”. Uma
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Desta forma, seguindo um planejamento de comunicação estruturado, entendemos que construiremos um caminho de oportunidades para as nossas organizações frente aos desafios ESG. (*) Dario Menezes é Colunista de Plurale, Diretor Executivo da Caliber, consultoria internacional especializada na reputação corporativa (www.groupcaliber.com.br) e professor da FGV, IBMEC e ESPM. Autor do livro sobre Gestão da Marca e Reputação Corporativa da Editora FGV. (*) Bibliografia SISODIA, RAJ e MACKEY JOHN. Capitalismo Consciente. Como libertar o espírito heróico dos negócios. Editora HSM. 2013 YUNUS, MUHAMMAD. Criando um negócio social. Editora Campus 2010 PORTER, MICHAEL. O capitalismo de valor compartilhado. Harvard Business Review. 2011 Ethos. Novo contrato social. Propostas para esta geração e para as futuras. Editora Planeta Sustentável. São Paulo. 2013 KOTLER, Philip. Marketing 3.0
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Colunistas Marcus Quintella
Mariana Lessa
GOVERNANÇA E COMPLIANCE NAS EMPRESAS ESTATAIS: OS IMPACTOS NO PROGRAMA DE DESESTATIZAÇÃO
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s institutos de governança corporativa e de compliance estão amplamente estabelecidos no cenário empresarial privado e têm sido introduzidos no contexto das empresas públicas nos últimos cinco anos, buscando trazer parâmetros de gestão técnica transparente para o setor público, devidamente alinhados às melhores práticas das empresas privadas. O conceito de governança pode ser abordado e considerado tanto sob a ótica pública, quanto sob a ótica privada. A governança pública está relacionada à direção da economia e da sociedade, visando objetivos coletivos. Sua concretização está relacionada (1) ao estabelecimento de metas coletivas coerentes que constituirão os objetivos para os quais os governos e seus parceiros na sociedade tentarão mover a sociedade e a economia; e (2) à implementação dos programas que permitam alcançar as metas selecionadas, com a subsequente avaliação de seus impactos. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a governança corporativa é “o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas”, e as boas práticas de governança corporativa contribuem objetivamente para o “alinhamento de interesses das partes interessadas na administração adequada da sociedade e para a otimização do valor econômico de longo prazo da organização, contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longe-
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vidade e o bem comum”. A ideia de compliance está relacionada com a conformidade da regulação aplicável a determinado setor da economia e atividade empresarial, cuja materialização ocorre por meio da implementação, monitoramento e revisão de normas internas que assegurem aderência às leis e regulamentos aos quais a empresa está sujeita. Enquanto a governança corporativa já vem sendo trabalhada há algumas décadas no contexto brasileiro, apesar de restrita às empresas privadas, a ideia de um programa de compliance – nesse caso voltado principalmente ao combate à corrupção e identificado como “programa de integridade”– foi introduzida no ordenamento jurídico através da Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) e seu decreto regulamen-
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tador, o decreto 8.420/15. Segundo o art. 41 do 8.420/2015, o programa de integridade consiste “no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira.” Essas normas são aplicáveis às empresas privadas e, ao menos parcialmente, às empresas públicas e foram as responsáveis pela introdução de uma cultura de conformidade que, embora ainda carente de desenvolvimento, já existe nas sociedades empresárias brasileiras. Tanto é assim que, por alguns anos, a ideia de compliance no Brasil esteve rela-
cionada quase que exclusivamente ao combate à corrupção e à integridade. Atualmente, o compliance se direciona também para a busca de conformidade com regramentos de proteção de dados e de proteção ambiental, para além das normas regulatórias próprias de cada setor da economia. De fato, o regramento existente estimulou a implementação de programas de compliance nas empresas privadas brasileiras. Contudo, não havia mecanismos de incentivo para adoção de programas de compliance nas empresas estatais. É nesse contexto que foi editada a Lei das Estatais (Lei 13.303/2016), que visa regular o estatuto jurídico das empresas públicas e das sociedades de economia mista que atuam na exploração da atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços. O objetivo principal da lei foi trazer mais credibilidade às estatais, por meio do reforço da transparência, da redução da margem para interferência política na gestão dessas empresas e da fixação de regras aptas a concretizar no dia-a-dia dessas instituições a aplicação dos princípios da Administração Pública – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Tudo isso para trazer mais profissionalismo à gestão das empresas públicas e evitar a prática de atos de corrupção. Independentemente de possíveis críticas, a Lei das Estatais buscou impor maior necessidade de capacitação técnica aos dirigentes da empresa estatal, como forma de tentar desvincular a indicação do caráter meramente político. No que diz respeito ao compliance, a Lei das Estatais buscou mitigar os riscos decorrentes da falta de transparência estabelecendo uma série de requisitos que obrigatoriamente deverão ser observados, especialmente em relação à implementação de estratégias de prevenção a corrupção, de incremento da transparência e de imple-
As mudanças relativas à transparência e profissionalização da gestão das empresas públicas e sociedades de economia mista, trazidas pela Lei das Estatais, se implementadas de forma efetiva e eficaz, podem repercutir positivamente no valor de mercado dessas empresas e aumentar o valor obtido por elas em um processo de desestatização.” mentação de controles específicos nos setores de licitação e contratos. A despeito da necessidade de fortalecimento e amadurecimento da cultura anticorrupção, a instituição de normas e procedimentos relacionados à integridade que estejam alinhados com as melhores práticas representam verdadeira evolução no combate a corrupção no país. No que tange aos impactos no programa de desestatização do governo federal, cabe debater se uma governança corporativa adequada e alinhada às melhores práticas do mercado e a existência de um programa de compliance efetivo aumentariam e influenciariam a possibilidade de venda de uma empresa estatal e poderiam afetar o valor recebido pelo Poder Público na alienação de controle/abertura de capital. Existem estudos de casos brasileiros que encontraram evidências de que programas de governança corporativa e compliance consistentes e competentes exercem impacto positivo sobre os retornos financeiros e a liquidez das empresas, bem como
reduzem a volatilidade de suas ações no mercado. Além disso, a correlação entre governança e valor da empresa é significativa, ou seja, quanto maior o nível de governança e compliance de uma empresa, maior o seu valuation. Assim, pode-se dizer que as mudanças relativas à transparência e profissionalização da gestão das empresas públicas e sociedades de economia mista, trazidas pela Lei das Estatais, se implementadas de forma efetiva e eficaz, podem repercutir positivamente no valor de mercado dessas empresas e aumentar o valor obtido por elas em um processo de desestatização. Um ponto importante, que embasa a ideia de que um programa de integridade efetivo pode ser decisivo para o valor de mercado das empresas estatais, é o potencial que o compliance tem para mitigar os riscos do investidor privado no âmbito do programa de desestatização, notadamente no que se refere à responsabilidade por atos de corrupção ocorridos nessas estatais antes da aquisição. Por todo o exposto no presente artigo, tem-se que a Lei das Estatais, apesar de não ter avançado tanto quanto poderia, trouxe uma efetiva melhoria na transparência e controle das empresas públicas e sociedades de economia mista por meio da aproximação das melhores práticas de governança corporativa e compliance. A implementação adequada dessas práticas, por sua vez, poderá facilitar e elevar os ganhos decorrentes do processo de desestatização que o governo brasileiro vem tentando implementar. * Marcus Quintella - Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/ UFRJ. Diretor da FGV Transportes. Professor e Coordenador Acadêmico da FGV Educação Executiva. ** Mariana Lessa - Mestre em Direito Público pela UERJ. Doutoranda em Administração e Gestão de Projetos pela Universidade de Bordeaux, França. Professora convidada da FGV Educação Executiva.
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Colunista Flávia Ribeiro
O CANCELAMENTO COMO EXPRESSÃO DE JUSTIÇA SOCIAL
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e você deseja testar a reputação de sua marca, experimente enfrentar uma crise envolvendo uma massa crítica de pessoas obcecada por cancelar alguém. É como um campo de guerra onde você tem apenas um fuzil, e o inimigo, um exército armado com bombas atômicas. Afinal de contas, o que a cultura do cancelamento quer dizer sobre nós, seguidores? Por que cancelamos pessoas, marcas e movimentos e o que ganhamos com isso? Quanto tempo dura um cancelamento, e o que é preciso para retomar a empatia da opinião pública? Na batalha pela audiência, o risco de expor uma marca a perfis de personalidades famosas (que perdem milhões de seguidores da noite para o dia), a programas de entretenimento, a patrocínios de eventos, entre outros, e escorregar na fila do cancelamento é alto. Vivemos mergulhados em um sistema que capta e monetiza nossa atenção o tempo todo - por meio de tecnologia que monitora o nosso comportamento cibernético – e da vigilância constante dos ativistas de sofá, criadores de fake news, concorrentes e uma fila enorme de pessoas loucas para você excluir do jogo. Mesmo não tendo um marco exato de origem, a cultura do cancelamento aparentemente teve
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início a partir da mobilização de vítimas de assédio e abuso sexual (Movimento #MeToo), que ganhou maior visibilidade em 2017, por força das denúncias realizadas em Hollywood. O fenômeno tem chamado a atenção, principalmente nas redes sociais, por tratar de uma onda que incentiva pessoas a deixarem de apoiar determinadas personalidades ou empresas, públicas ou não, em razão de erro ou conduta reprovável. Na Era do “Tribunal da Internet”, pessoas e empresas têm sido canceladas como forma de justiça social e pressão para um compromisso diante de determinada causa. Durante a pandemia, muitas marcas foram punidas sem dó nem piedade. Tolerância é um ativo cada vez mais raro. Na minha opinião, há dois elementos que contribuem nesse processo: a liquidez das relações humanas (como dizia Bauman) e o fenômeno da “sociedade do cansaço (Byung-Chul Han). Em um mundo onde tudo é rápido, fluido e descartável, busca-se agir imediatamente conduzindo a um erro sem receio das consequências. O boicote de marcas é resultado do olhar atento de muitos internautas, cada vez mais conscientes do poder que têm nas mãos. O cancelamento ou linchamento virtual é uma forma de exigir a responsabilização das empresas, ou seja, as organiza-
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ções precisam apresentar sua prestação de contas, a velha “accountability” aos stakeholders. Não é novo o fato de organizações serem pressionadas para mudarem o seu comportamento e adotarem uma atitude politicamente correta. Há quase 10 anos, a Arezzo removeu todas as bolsas e sapatos com couro de crocodilos originais de suas prateleiras. A indústria da moda também foi alvo de muitos protestos contra o trabalho escravo e a exploração da mão de obra de crianças. Durante a pandemia, a Osklen retirou do mercado suas máscaras com preços exorbitantes de R$ 147,00. Muitos clientes consideraram o preço abusivo, e a marca recebeu uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Nenhuma marca está livre do cancelamento, mesmo aquelas com fãs leais. Um estudo da consultoria Porter Novelli sobre a cultura do cancelamento nos negócios, divulgado esse mês, mostra que dois terços (66%) dos norte-americanos afirmaram que, mesmo que amem os produtos ou serviços de uma empresa, irão cancelá-la se esta fizer algo antiético ou ofensivo. No primeiro “erro”, 84% dos respondentes disseram que dariam uma segunda chance. No estudo, 38% das pessoas esperam que as empresas mudem a sua atitude frente a um comportamento inadequado.
Sabemos que boas práticas de gestão sustentáveis aliadas à uma política de integridade efetiva são fundamentais para a administração de escândalos e até um pedido de desculpas perante um evento inesperado. A maioria (79%) dos norte-americanos do estudo afirmou que estaria mais disposta a “perdoar” uma empresa se a mesma se desculpasse publicamente ou se comprometesse a fazer mudanças. Outra pesquisa realizada pela consultoria KPMG mostrou que, em âmbito global, um em cada quatro consumidores se preocupa com os aspectos socioambientais e de governança na hora de decidir por uma compra. A pesquisa ouviu 75 mil consumidores de 12 países entre maio e setembro de 2020 e 16% consideraram relevante o aspecto de consciência social das marcas. O grande desafio é que os seres humanos são imperfeitos e as organizações são feitas de pessoas. Claro que o cancelamento é um meio
poderoso de expressarmos o nosso desencantamento e forçar as empresas a mudarem e a adotarem atitudes mais responsáveis. Como pesquisadora na área de Sustentabilidade, percebo que o momento é muito oportuno para criarmos uma narrativa consistente, autêntica e verdadeira que fortaleça a reputação das marcas e sensibilize sua audiência. O que inspira, engaja e move os consumidores que promovem o cancelamento de uma marca? Há um grande investimento afetivo de grupos de jovens ativistas e de ONGs que estão dispostos a desvelar o greenwashing. Toda a força desse discurso gera, em muitos casos, benefícios sociais e talvez uma reflexão (por parte das organizações) sobre a sua função social e a importância da comunicação da sustentabilidade dos negócios. Finalmente, um levantamento da Kantar Brasil, realizado entre os dias 13 e 16 de março de 2020, indicou o que os brasileiros esperam das
marcas: que elas sirvam de exemplo e guiem mudanças (25%); sejam práticas e realistas e ajudem consumidores no dia a dia (21%); ataquem a crise e demonstrem que ela pode ser derrotada (20%); usem seu conteúdo para explicar e informar (18%); reduzam a ansiedade e entendam as necessidades dos consumidores (11%); por último, que sejam otimistas e pensem de formas não convencionais (3%). O mercado está com um grande dever de casa nas mãos se pensar em atender parte dessas expectativas! Nos bastidores, percebo que há um longo caminho para a construção de uma cultura de autocuidado e respeito. É necessária também a desconstituição da cultura do ódio, visto que só atrapalha a formação e a educação das futuras gerações. O mundo precisa de menos “juízes” e mais mediadores com escuta empática para valer. *Jornalista e consultora de Comunicação e Sustentabilidade. Colunista de Plurale.
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Pelo Brasil Instituto Neoenergia conclui segunda edição do Programa Impactô com capacitação e mentorias de ONGs e negócios sociais
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FOTO DA ASSOCIAÇÃO NAGAI - INSTITUTO NEOENERGIA/ DIVULGAÇÃO
Do Rio
segunda edição do Programa de Aceleração Social Impactô acaba de ser concluída, com a avaliação dos 16 projetos e negócios sociais de impacto dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo - selecionados via edital, realizado em maio de 2020. Uma banca de investimentos, formada por profissionais da Neoenergia e do Instituto Neoenergia, avaliou as organizações ao final do programa e escolheu a destinação de um total de R$ 90 mil distribuídos entre oito organizações participantes, para desenvolverem os projetos apresentados. A iniciativa, uma parceria entre o Instituto Neoenergia e o Instituto Ekloos, ocorreu no segundo semestre de 2020, com o objetivo de potencializar o apoio às organizações selecionadas, oferecendo mentorias online nas áreas de gestão estratégica, negócios e inovação, durante um período de sete meses. Nesta edição, além do recurso disponibilizado pela banca de investimento, o Impactô teve uma preocupação em responder à necessidade imediata de instituições do terceiro setor, fortemente impactadas com os desafios impostos pela Covid-19, e, por isso, destinou um investimento emergencial, no valor de R$ 20 mil, para apoio na gestão financeira daquele momento das 16 participantes, totalizando R$ 410 mil repassados diretamente às organizações. “Para nós, o Impactô é um programa estratégico, pois além de capacitar as organizações sociais, ele promove um fortalecimento das redes do terceiro setor. Nessa edição, ficamos impressionados com a transformação ocorrida nos projetos selecionados em 2020, principalmente se levarmos em conta o cenário da pandemia”, diz Renata Chagas, Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia.
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Associação Nagai
O Programa de Aceleração Social Impactô- Especial Covid-19 envolveu, em mais de 1420 horas de mentorias, 58 gestores e colaboradores das organizações e negócios de impacto social, beneficiando diretamente mais de 210 mil pessoas, além de mobilizar 19 líderes da Neoenergia, que se inscreveram para participarem do programa como mentores voluntários. “A pandemia agravou muito a desigualdade social no Brasil, por isso a atuação da sociedade civil se tornou ainda mais importante para minimizar este impacto. O programa de aceleração tem por objetivo apoiar os gestores que estão na linha de frente nas comunidades, para que possam realizar atividades com mais qualidade e minimizando a situação de vulnerabilidade social de crianças e jovens”, diz Andréa Gomides, presidente do Instituto Ekloos. Para Benigna Siqueira, coordenadora de projetos na Associação Cultural Comunitária Pró-Morato, o programa foi responsável por manter as atividades da instituição em curso diante de um cenário desafiador. “Com a pandemia, ficamos muito desanimados, pois tivemos que interromper nossas aulas de iniciação musical e a nossa orquestra, suspendendo temporariamente o contrato de nossos professores de música. O Impactô não trouxe uma, mas foram várias
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novas luzes no túnel na história do Pró-Morato. Com o recurso inicial, chamamos os professores de música, tocamos a iniciação musical e retornarmos com a orquestra, totalmente no ambiente digital. Nossa primeira ação foi realizar uma apresentação musical da orquestra, num carro que circulou por vários bairros de Francisco Morato, em São Paulo, levando música e orientações sobre a prevenção à COVID”, conta. A coordenadora Administrativa e Financeira da Associação Nagai, Rejane Luna, reflete sobre como os recursos recebidos ajudaram a instituição a repensar a forma de fazer, contar sua história e viabilizar o projeto realizado na comunidade do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. “Nossa fundadora, Silvana Nagai, sempre diz que, se algum dia um dos nossos atletas for um campeão de judô nos Jogos Olímpicos, muito mais do que o reconhecimento ao nosso trabalho, teremos cumprido nossa missão em incluir jovens, formando cidadãos a partir do esporte, educação e da cultura. Com esse espírito, ficamos muito impactados com o programa de aceleração, pois foi um divisor de águas. Passamos a entender melhor nossos limites, estruturamos melhor nosso projeto e refletimos na construção de indicadores de mensuração e na nossa comunicação”, destaca.
Orçamento do Meio Ambiente é o menor em 21 anos Análise do Observatório do Clima mostra que proposta orçamentária para 2021, a mais baixa do século para a pasta, coroa estratégia de desmonte ambiental do governo Bolsonaro Do Observatório do Clima
O orçamento proposto pelo Governo para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e órgãos vinculados para 2021 é o mais baixo desde, pelo menos, o fim do século passado. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) deste ano, que será analisado pelo Congresso em fevereiro, prevê R$ 1,72 bilhão para todas as despesas do MMA, inclusive as obrigatórias. Na série histórica, desde o ano 2000, o montante autorizado nunca foi menor do que R$ 2,9 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA (índice de preços considerado oficial pelo governo federal). Os dados são de uma análise do Observatório do Clima. O relatório “Passando a Boiada”, lançado no dia 22 de janeiro, analisa o segundo ano de desmonte ambiental do governo de Jair Bolsonaro, com dados de
2020. E mostra que as promessas feitas pelo atual presidente na campanha eleitoral de 2018 — de acabar com o ativismo ambiental e fechar o MMA — estão sendo cumpridas à risca. Apesar de dois anos consecutivos de aumento do desmatamento e das queimadas, o governo inicia 2021 com uma redução de 27,4% no orçamento para fiscalização ambiental e combate a incêndios florestais, considerando Ibama e Instituto Chico Mendes. A atual administração aprofundou em 2020 o desmonte das estruturas de proteção socioambiental do Estado brasileiro, eliminando regulamentações e abdicando da gestão ambiental. O corte de recursos se soma a medidas como a flexibilização do controle da exportação de madeira, o loteamento de cargos nos órgãos ambientais com policiais militares e
ARTE DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA
a proposta de extinção do Instituto Chico Mendes. Ao mesmo tempo, houve um esforço de relações-públicas de resultados pífios ao entregar também a Amazônia — além da saúde, da articulação política e de diversas outras áreas da gestão estatal — aos militares. A boiada, porém, tem encontrado a resistência de instituições, da sociedade civil e da comunidade internacional.
Relatório da Polícia Federal conclui que perfurações feitas pela Vale na barragem de Brumadinho provocaram o rompimento que matou 270 pessoas Relatório divulgado pela Polícia Federal, em 26 de fevereiro, concluiu que perfurações realizadas pela Vale na Barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, foram o gatilho para provocar o rompimento da represa onde eram armazenados os rejeitos da mineração. Na tragédia de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019, morreram 270 pessoas - até hoje 11 corpos não foram localizados. De acordo com a PF, a Vale contratou, em outubro de 2018, uma empresa para identificar as condições de resistência de diferentes seções da barragem. A parte mais baixa da estrutura era composta por um material mais fino, de baixa capacidade de suporte e, portanto, mais frágil. O laudo contradiz as argumentações da Vale de que uma combinação
de deformação da barragem, provocada pelo seu próprio peso, e fortes chuvas teriam contribuído para o colapso. O documento mostrou, em relação às chuvas, que em 2019 o regime pluviométrico foi inferior a anos anteriores. A Polícia Federal informou que a Vale contratou uma empresa para avaliar o estado da barragem, a fim de instalar novos equipamentos para medir a pressão interna da barragem. A empresa contratada, cujo nome não foi revelado pelas autoridades, apresentou um relatório com os resultados do estudo, mas, segundo as autoridades brasileiras, a Vale não fez uma análise aprofundada do mesmo e começou a perfurar em alguns pontos do local onde os resíduos estavam sedimentados. De acordo com o relatório, cinco dias antes da tragédia, perfuraram um
local considerado crítico da barragem, atingindo uma profundidade de 68 metros, que deu início a um processo de liquefação dos resíduos minerais que se estendeu por toda a represa. Ainda segundo a PF, esse processo de liquefação, no qual o material passa do estado sólido para o líquido, ocorreu de forma muito rápida e devido ao movimento causado pelas perfurações, segundo os investigadores. O relatório poderá servir para o Ministério Público apresentar uma acusação criminal contra os possíveis responsáveis pelo desastre. A Vale informou, em comunicado, que “avaliará” o conteúdo do relatório pericial apresentado pela Polícia Federal e “oportunamente se manifestará nos autos por meio” dos seus advogados.
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Pelo Brasil Nova campanha da Shell Brasil conta histórias que inspiram “Energia que Vem da Gente” mostra a trajetória de seis pessoas responsáveis por transformar a sociedade e a energia da companhia e seus projetos Do Rio de Janeiro
A Shell Brasil é uma das maiores empresas de energia integrada do país e, acima de tudo, é feita de pessoas, que estão à frente de cada passo dado. Para reverenciar a energia dessas pessoas, que movem os negócios do Grupo e o impulsionam para um futuro melhor, a empresa lança a sua nova campanha de marca, “Energia que Vem da Gente”. O objetivo é enaltecer a beleza e a força de seis trajetórias individuais que têm a diversidade e inclusão como tema em comum. Depois da última campanha de marca #ORioTemEssaEnergia - que, em 2019, buscou fortalecer a imagem e autoestima da cidade e do Estado do Rio de Janeiro -, a empresa quer, agora, inspirar os brasileiros com relatos de vida
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de quem faz parte do time Shell Brasil e participa de projetos da companhia. “Estamos ansiosos para compartilhar essa série de experiências únicas e feitas da energia que só a gente tem”, conta Alexandra Siqueira, gerente de Comunicação Externa da Shell Brasil. A personagem inicial da campanha “Energia que Vem da Gente” é Barbara Souza, gerente de Operações do Parque das Conchas, ativo de produção de petróleo e gás da Shell Brasil na Bacia de Campos. Primeira mulher brasileira a conquistar essa posição na companhia, ela comanda uma equipe de 70 pessoas em um dos projetos de águas profundas mais desafiadores e bem-sucedidos da empresa. Leandro Pinheiro, também protagonista na primeira fase da campanha, ajuda a construir um mundo melhor gerenciando os contratos da área de
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Pesquisa & Desenvolvimento. Em seguida, serão apresentados Sanny Macedo e Roberto Irineu. Ela é gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios em Gás e Energia da Shell Brasil, e ele já foi vencedor do Prêmio Shell de Educação Científica. Fecham a campanha Gabriela Palma, uma das ganhadoras do programa Shell Iniciativa Jovem, e Luiz Rogé, que atua no Marketing da área de Lubrificantes da companhia. As histórias serão contadas em vídeos veiculados em uma série de mídias nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Brasília. A diversidade e inclusão, tema de extrema importância para a Shell - que possui quatro redes de afinidades para os funcionários -, é o tema que permeia toda a campanha e torna cada trajetória ainda mais forte e especial.
Jornada ESG Talks!
A gestão ESG é o novo mindset. Empresas, organizações e governos estão sob mais pressão da sociedade que apresenta novos propósitos e reivindicações, num mundo cada vez mais hipermidiático. Essa jornada evolutiva nos negócios traz inúmeros desafios às lideranças na transformação da gestão. Exige entender seus riscos e oportunidades, e como contar esse novo storytelling com transparência, autenticidade, integridade e afetividade, gerindo sua reputação.
A p re s e n ta mo s :
Jornada ESG Talks: Um Novo Mindset
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Dario Menezes, Sônia Araripe e Anatricia Borges. Três reconhecidos especialistas em ESG/ Reputação, Sustentabilidade e Storytelling, se unem na apresentação do Talks Training - Jornada ESG: Um Novo Mindset. Um workshop/treinamento dirigido a lideranças executivas para ajudá-las a melhor trilhar essa jornada.
Informações: jornadaesg@dosto.com.br
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Biodiversidade
Mais de 80% dos remanescentes de Mata Atlântica já foram impactados pela ação humana Por Karina Toledo, da Agência FAPESP
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studo brasileiro publicado na Revista Nature Communications revela que a ação humana já causou – direta ou indiretamente – perda de biodiversidade e de biomassa em mais de 80% dos fragmentos florestais remanescentes da Mata Atlântica. Segundo os autores, em termos de estoque de carbono, o prejuízo equivale ao desmatamento de até 70 mil quilômetros quadrados (km2) de florestas – quase 10 milhões de campos de futebol – e representa algo entre US$ 2,3 e 2,6 bilhões em créditos de carbono. “Esses números têm implicações diretas nos mecanismos de mitigação das mudanças climáticas”, afirmam os cientistas no artigo. Distribuída ao longo de toda a costa, a Mata Atlântica chegou a cobrir 15% do território brasileiro (1.315.460 km² de extensão). Hoje restam cerca de 20% da área original, distribuída em fragmentos de diferentes tamanhos e características. Para estimar o impacto humano sobre esses remanescentes, os pesquisadores se basearam em dados de 1.819 inventários florestais realizados por diversos grupos de pesquisa. “Esses inventários são uma espécie de censo arbóreo. Os pesquisadores vão a campo e estabelecem uma determinada área a ser estudada, geralmente de 100 por 100 metros. Dentro desse perímetro,
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todas as árvores são identificadas, analisadas e medidas”, explica Renato de Lima, pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e líder do estudo. “Fizemos um grande compilado de dados disponíveis na literatura científica e, em seguida, calculamos a perda média de biodiversidade e de biomassa nesses fragmentos estudados, que representam 1% do bioma. Em seguida, por meio de métodos estatísticos, extrapolamos os valores para os outros fragmentos não estudados, assumindo que os impactos seriam constantes em toda a Mata Atlântica”, conta. Depois de identificar as espécies arbóreas em um fragmento, os pesquisadores avaliam o tamanho das sementes por elas produzidas e também o que se chama de “grupo de sucessão ecológica”. Esses dois fatores, segundo Lima, podem indicar o quão saudável está uma floresta. “Há plantas pouco exigentes em relação às características do local em que vão se estabelecer. Podem crescer em terrenos baldios, no pasto ou nas bordas das florestas. Essas espécies pouco exigentes, como a embaúba [Cecropia pachystachya], são conhecidas como pioneiras”, conta o pesquisador. De modo geral, as árvores pioneiras tendem a produzir muitas sementes, mas de tamanho reduzido. Como a chance de uma delas vingar é pequena, a estratégia da planta é ganhar na quantidade. No outro extremo estão as chamadas espécies clímax, como o
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pau-brasil (Paubrasilia echinata) ou a canela (várias espécies do gênero Ocotea), que crescem somente em ambientes favoráveis. São árvores que produzem sementes maiores, com farta reserva nutricional. “Esse tipo de semente requer um maior investimento energético da árvore-mãe. As áreas em que essas espécies estão presentes, em geral, suportam uma fauna mais diversificada. É, portanto, um indicativo da qualidade da floresta como um todo. Já as áreas em que predominam espécies pioneiras, muito provavelmente, foram perturbadas há pouco tempo”, explica Lima. O grupo do IB-USP buscou mostrar como a perda de espécies de final de sucessão ecológica se relaciona com a perda de biodiversidade de modo geral e também com a perda de biomassa – ou seja, com a redução na capacidade da floresta de estocar carbono, mantendo esse gás de efeito estufa fora da atmosfera. Em média, os fragmentos florestais estudados têm entre 25% e 32% menos biomassa, 23% e 31% menos espécies arbóreas e 33% e 42% menos indivíduos de espécies de sucessão tardia, de sementes grandes e endêmicas (que ocorrem somente naquela área). A análise mostrou ainda que a erosão da biodiversidade e da biomassa é menor dentro das unidades de conservação de proteção integral, principalmente nas de grande extensão. “Quanto menor o fragmento de floresta e maior a área de borda, mais fácil é para as
FOTO DA AGÊNCIA BRASIL
pessoas acessarem esses remanescentes e causarem impacto”, diz Lima. A boa notícia, na avaliação do pesquisador, é que as áreas florestais degradadas podem recuperar sua capacidade de estocar carbono se restauradas. “Há um foco grande no combate ao desmatamento e na restauração de áreas abertas totalmente degradadas, como o pasto. Essas duas estratégias são importantíssimas, mas não podemos esquecer os fragmentos que estão no meio do caminho”, defende Lima. Segundo Paulo Inácio Prado, professor do IB-USP e coautor do estudo, essas ilhas de floresta que sobraram, se restauradas, podem atrair bilhões de dólares em investimentos relacionados a créditos de carbono. “Florestas degradadas podem ser vistas não como um ônus, mas como uma oportunidade para atrair investimentos, gerar empregos e, ao mesmo tempo, conservar o que ainda resta da Mata Atlântica”, afirma.
Lima acredita que essa pode ser uma estratégia atraente para os proprietários de terra em áreas protegidas do bioma. “Não há necessidade de reduzir a área agrícola, basta incorporar biomassa nos fragmentos florestais. Depois, reaver parte do custo da restauração na forma de créditos de carbono. Não tem como falar no futuro da Mata Atlântica sem considerar os proprietários privados de terra, pois apenas 9% dos remanescentes florestais estão em áreas públicas.” Banco de dados De acordo com Lima, o estudo teve início ainda durante seu pós-doutorado, realizado com apoio da FAPESP sob a supervisão de Prado. O objetivo era desvendar quais fatores são mais determinantes para a perda de biodiversidade e de biomassa nos remanescentes de Mata Atlântica. “Observamos que a ação humana tinha um grande peso. Consideramos atividades como corte de madeira, caça e invasão por espécies exóticas,
além dos efeitos indiretos da fragmentação florestal”, diz o pesquisador. Os dados obtidos nos 1.819 inventários florestais usados na pesquisa estão armazenados em um repositório chamado TreeCo (sigla em inglês para banco de dados de comunidades de árvores neotropicais), desenvolvido durante o pós-doutorado de Lima e ainda hoje administrado pelo pesquisador. O conteúdo da base de dados foi descrito em artigo publicado na revista Biodiversity and Conservation. O banco está aberto a outros grupos de pesquisa interessados no compartilhamento de informações relacionadas a florestas neotropicais. “Esse repositório virou um subproduto do meu projeto de pós-doutorado e hoje mais de dez doutorandos e mestrando estão fazendo uso das informações em seus projetos”, conta Lima. O artigo The erosion of biodiversity and biomass in the Atlantic Forest biodiversity hotspot pode ser lido em https://www.nature.com/articles/s41467-020-20217-w.
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Biodiversidade
Gravadores na floresta investigam presença de fauna em áreas reflorestadas e conservadas da Mata Atlântica Projeto do IPÊ e CTG Brasil usa tecnologia para avaliar valor econômico dos serviços da natureza no Oeste Paulista Do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) Foto de Simone Tenório - IPÊ/ Divulgação
A restauração florestal é o principal caminho para restabelecer o habitat natural e salvar espécies ameaçadas na Mata Atlântica de interior. Para isso, o IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, há mais de 20 anos realiza plantios estratégicos de florestas no Pontal do Paranapanema, extremo Oeste de São Paulo. Mais de 3 milhões de árvores já foram plantadas pelo instituto. Parte delas, em parceria com o setor privado. Para avaliar o impacto desses reflorestamentos e o quanto ter floresta é importante para a região, o IPÊ realiza o projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, uma parceria com a CTG Brasil, uma das líderes em geração de energia limpa do País e responsável pela operação de oito usinas hidrelétricas no Rio Paranapanema, por meio de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento - P&D ANEEL. Desde 2015, pesquisadores têm avaliado a presença de animais em áreas florestais estratégicas, como fragmentos e corredor florestal, e também analisam o valor econômico dos serviços ecossistêmicos (serviços da natureza) prestados por essas áreas (melhora da água, do clima, dispersão de sementes, qualidade do solo, entre outros). Em sua segunda fase, com duração de 40 meses, o projeto dá sequência ao
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uso da tecnologia, como a instalação de gravadores para ouvir e identificar quais animais estão utilizando as florestas nas Áreas de Conservação Ambiental (ACAS), mantidas pela empresa, que já investiu em ações que resultaram no plantio de 14 milhões de árvores (em 8.392 hectares), e na conservação de 3.990 hectares de áreas em regeneração natural, auxiliando na conservação das paisagens nas ACAs envolvidas. A escolha dos gravadores como suporte à pesquisa está repleta de benefícios para a ciência a curto e longo prazo. “Os equipamentos são simples, confiáveis e tem um valor acessível. É possível monitorar além das espécies, a paisagem acústica e detectar os impactos na região além de proporcionar a criação de um grande banco de dados, na verdade um banco de vozes para pesquisas em longo prazo e monitoramento de áreas”, explica Simone Tenório (foto), pesquisadora do IPÊ que coordena a frente de Biodiversidade. No início de fevereiro, pesquisadores do IPÊ realizarão o terceiro ciclo do rodízio de 90 gravadores já instalados para identificação de aves, anfíbios e morcegos em remanescentes florestais. Ao final do mês, quando voltarem à região, os pesquisadores terão registrado mais de 800 mil minutos de sons da biodiversidade, incluindo também as gravações realizadas em dezembro de 2020 e janeiro de 2021. “Fizemos uma pré-seleção das áreas pensando em uma amostragem diversa relacionada à paisagem. Instalamos os gravadores dentro do Parque Estadual do Morro do Diabo e também em fragmentos florestais localizados em áreas próximas a pastos, canaviais, outras culturas e corpos hídricos. Tanto no
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FOTO DE SIMONE TENÓRIO - IPÊ/ DIVULGAÇÃO
primeiro ciclo da pesquisa quanto no atual utilizamos a mesma configuração nos gravadores, a cada 10 minutos eles registram 1 minuto de som”, diz Simone. Com esse banco de dados, o IPÊ vai iniciar a análise no ARBIMON (Automated Remote Biodiversity Monitoring Network) “Teremos mais informações sobre como a restauração florestal gera esse ciclo de restauração/ recuperação dos serviços ecossistêmicos”, completa o pesquisador do IPÊ, Alexandre Uezu, coordenador das frentes de Solo e Água e que também assina o delineamento experimental do estudo. ARBIMON é um sistema utilizado por pesquisadores de todo o mundo para tornar o processo de captura, armazenamento e identificação da vocalização (sons) da fauna mais simples para a pesquisa e ao mesmo tempo acessível a outros pesquisadores. Segundo Leandro Barbieri, da área de Meio Ambiente da CTG Brasil, os resultados obtidos poderão indicar que investimentos em infraestrutura verde, como restauração de ecossistemas florestais nativos, podem reduzir custos operacionais de manutenção de reservatórios, dentre outros potenciais benefícios para a empresa e para a sociedade. São parceiros do projeto a FEALQ - Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ, Universidade de Lavras e GVCes da Fundação Getúlio Vargas.
FOTO DE GUSTAVO PEDRO
PREFEITURA DO RIO DESISTE OFICIALMENTE DE CONSTRUIR AUTÓDROMO NA FLORESTA DO CAMBOATÁ Do Rio Foto de Gustavo Pedro
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Prefeitura do Rio encaminhou ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), no dia 29 de janeiro, ofício que pede o arquivamento do processo, do qual é titular, de licenciamento da construção do Autódromo Internacional do Rio, na Floresta do Camboatá, na Zona Oeste da capital. A medida garante a preservação de até 200 mil árvores, num terreno de Mata Atlântica de baixada, uma floresta considerada rara, abrigando espécies em extinção. No documento encaminhado ao
Inea, órgão responsável por licenciar o empreendimento, o secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Cavaliere, destaca que a Floresta do Camboatá é um patrimônio ambiental da cidade do Rio, que exerce papel fundamental de conexão entre os maciços da Pedra Branca e do Mendanha, unidades protegidas por legislações estaduais e municipais. Cavaliere ressalta que o Camboatá é considerado prioritário para o projeto de criação de "Corredores Verdes" da capital. O secretário determinou, em despacho interno de 29 de janeiro, a reabertura de processo (iniciado em 2013) para a criação de uma unidade de con-
servação na área. - No que depender da Prefeitura, esse autódromo não será construído no Camboatá. Foi uma promessa de campanha do prefeito Eduardo Paes que está sendo cumprida. Na Década da Restauração Ambiental, precisamos falar em recuperar espaços verdes, e não destrui-los - afirma. Com 160 hectares (dos quais 108 estão em bom estado de preservação), Camboatá faz alusão à suave elevação de terreno que ali existe, o Morro do Camboatá. Abriga 146 espécies da flora, das quais 14 estão ameaçadas, além de 150 de pássaros e 19 de mamíferos. Em maio de 2019 a empresa Rio Motorpark venceu o certame para a construção do autódromo no local.
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Sustentabilidade
MAIS TEMPO EM CASA, HÁBITOS MAIS SAUDÁVEIS Por Nícia Ribas, de Plurale Fotos de Arquivo pessoal, Portal da Isla Sementes, Oficina Muda/ Divulgação, Jean Verdaguer e Chantal Verdaguer (de Visconde de Mauá/RJ)
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lém de ler, assistir filmes, cozinhar e conviver com os filhos, muita gente tem se dedicado a trabalhos manuais, como costurar, bordar e lidar com a terra nas hortas caseiras. Com criatividade e uma postura otimista diante da pandemia, o isolamento social leva a novas descobertas nessa aventura de viver. Durante seus mais de 25 anos na prisão, Nelson Mandela tinha a horta como sua atividade preferida: “Eu via a horta como uma metáfora para certos aspectos de minha vida. Um líder também deve cuidar de sua horta; ele também planta sementes, e então observa, cultiva e colhe o resultado”, diz em sua biografia. Para o rapper Emicida, que, durante a pandemia, passou a brincar mais com os filhos, ouvir mais música e ler, cuidar das plantas também foi atividade prazerosa: “Elas me fizeram ter uma rotina. Notei que a jabuticaba está crescendo, é maravilhoso perceber essa evolução, agora estou dentro do andar natural do tempo”, disse em recente entrevista.. Fato é que durante a pandemia, o cultivo de plantas em casa cresceu e essa tendência segue firme para quem começou a plantar, cuidar e colher. “Existem várias motivações para se ter uma horta em casa que vão desde
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ter alimentos extremamente frescos disponíveis para consumo, utilizar essa atividade como ferramenta de conhecimento, conexão com a natureza e até mesmo como terapia”, explica Diana Werner, presidente da ISLA Sementes. A ISLA mantém o Clube de Assinatura de Sementes do Brasil e devido à pandemia, aumentou o leque de opções para os mais diversos formatos de horta em casa, tendo como opções assinaturas para plantio em varandas e jardins, vasos e floreiras e microhortas. Cuidado e amor, adubos valiosos Moradora de Itaipava desde antes da pandemia, dona de uma pousada, Patrícia Maranhão intercala a administração do seu negócio com a arte de reaproveitar móveis usados e cuidar da sua horta. Alma de artista, de bem com a vida, ela atribui o sucesso de qualquer empreendimento ao “fazer com amor”. Atrás de casa, tem seu ateliê e na
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Emicida
frente, mantem uma horta rica em ervas. É ali que ela abastece sua cozinha com todos os temperos – alecrim, manjericão, hortelã, cebolinha, sálvia, orégano e até erva cidreira para o chá. Ela contou à Plurale o segredo para manter as plantas viçosas: “É uma sensação preciosa mexer com a terra, ver brotar, crescer e colher, mas o cuidado tem que ser constante e prazeroso.” Ela avisa: “se não curtir, não vale a pena.” Com a pandemia, Patrícia teve mais tempo para suas atividades preferidas: dar novo significado a móveis e cortinas de madeira e lidar com a terra. Vitória de olho na saúde do Planeta Maria Vitória Cantidiano, 25 anos, carioca da gema, moradora do Humaitá, pouco antes da pandemia começou a se incomodar com o lixo orgânico de sua casa. Ela havia participado do projeto Rio ao Mar, que organiza mutirões de limpeza que a fez mergulhar no descarte sustentável de resíduos. Tentou fazer compostagem caseira, mas como mora em apartamento, pesquisou e acabou descobrindo o Ciclo Orgânico, empresa que busca o lixo em casa. Em abril de 2019, ela criou o blog VireiEco e diariamente posta exemplos de como manter a saúde do Planeta, inspirando seus seguidores. Desde então, ela vinha tentando mudar sua alimentação, mas como saía para trabalhar (é formada em Publicidade e Marketing), ficava difícil evitar a carne. Com a pandemia, tornou-se vegetariana e aprendeu a cozinhar, optando por alimentos que antes nem provava, como grão de bico, lentilha e todos os grãos e leguminosas, sempre garantindo as proteínas. “Impressionante como não fico mais doente e meu intestino funciona muito bem!”, comemora. Especialista em Gestão de Resíduos Sólidos, Rafael Zarvos dá uma aula sobre compostagem: “Trata-se de um processo biológico de transformação de resíduos orgânicos em adubo pela ação de microrganismos, principalmente bactérias”.
Patrícia Maranhão e sua horta em Itaipava (Petrópolis-RJ).
Maria Vitória Cantidiano, a @vireieco
Para quem está começando, ele deixa duas dicas: comprar uma composteira doméstica ou fazer o próprio vaso-compostor. O primeiro método utiliza minhocas, e o segundo método utiliza matéria seca, mas ele garante que nenhuma das duas opções libera odor. “Estamos atravessando um momento ímpar onde podemos observar a quantidade de resíduos que geramos em nosso dia a dia. É a oportunidade de começarmos a repensar os nossos hábitos. A compostagem, somada à separação dos resíduos recicláveis, contribui para fecharmos o ciclo”, reforça Zarvos.
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Sustentabilidade
Oficina Muda
Reaproveitar, a melhor forma de poupar Outro hábito novo resultante da pandemia é a consciência do consumo. O setor da moda é um dos que mais utiliza recursos naturais no planeta, pois a fabricação de novas roupas aumenta a emissão de CO2, além de deixar cada vez mais escassas as matérias-primas retiradas do meio ambiente. Como uma opção sustentável, o mercado de segunda mão vem crescendo. “Um mesmo vestido pode contar
diversas histórias e ainda salvar o meio ambiente, reduzindo 79% de emissão de gases poluentes no mundo”, explica Carol Esteve, fundadora da plataforma Buy My Dress, a primeira marca e-commerce de roupas usadas do Brasil. Segundo dados levantados em uma pesquisa encomendada pela americana Thread Up, peças de segunda mão podem reduzir a emissão de 7,3 bilhões de CO2, somaria um equivalente de 94,6 bilhões de litros de água economizados e evitaria o desperdício de matéria-prima.
Vida na roça
Na Praça São Salvador, no Rio, funciona a Oficina Muda de moda sustentável. Eles reaproveitam peças de descarte de marcas parceiras em produtos exclusivos que são novamente colocados no mercado com preços diferenciados. Larissa Greven, dona da Muda, diz: “a indústria da moda traz inúmeros impactos socioambientais, como consumo excessivo de água, algodão e produtos químicos, além da alta emissão de gases que causam o efeito estufa. Queremos minimizar o resíduo têxtil no Rio de Janeiro.” FOTO DE CHANTAL VERDAGUER
Por Raquel Ribeiro
“Por sete anos morei em um sítio na região de Visconde de Mauá, na banda mineira, onde ainda vigora a esburacada estrada de terra e a presença de moradores nativos. Em 2014, voltamos para a urbe e retomei o ritmo acelerado, produtivo. Idas anuais à serra sempre entravam na agenda, mas com data marcada de ida e volta. Com a Era covid, algo mudou. Por que a pressa? Por que não usufruir desse tempo não-tempo em um lugar que amo? Dormir sob um céu estrelado, ouvir o barulho do rio, respirar – ah, respirar! – o ar puro das montanhas! Pois bem, cá estamos, em plena Mata Atlântica, colhendo limão, taioba, capuchinha e outros alimentos quase selvagens. O básico feijão-com-arroz tem nas vendas da roça e nos mercadinhos das vilas de Maringá, Maromba e
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Jornalista e escritora Raquel Ribeiro ao lado da palmeira que plantou em Visconde de Mauá (RJ)
Mauá. Ainda não sei se vou reativar a horta, mas retomei contato com os vizinhos, que nos abastecem de queijos, pães, bolos, mel e outras delícias locais. Muitos prosperaram e todos estão conectados, via WhatsApp. Acredito que o acesso à internet na roça está sendo um fator de empoderamento: quem tem uma pousadinha, um restaurante escondido, uma produção caseira, tem agora
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oportunidade de mostrar seu negócio e atrair a clientela. Se for bom, será curtido, divulgado. E valorizado por quem vem de fora. Sinto que nesta volta ao campo, estamos mais abertos a conviver, trocar, aprender com os moradores locais. O fato é que estamos vivendo uma mudança de paradigmas. Produzir com as próprias mãos se tornou algo bacana. Ora, se aplaudimos quem faz pão de levain
Madeiras criativas: objetos de decoração sustentáveis
Tem gente que radicalizou Para fugir da cidade durante a pandemia, a jornalista e escritora Raquel Ribeiro foi com a família para sua casa em Visconde de Mauá e de lá não pretende voltar. Sempre em busca de sustentabilidade no seu cotidiano, autora do livro infantil A Fuga das Minhocas, que ensina a montar uma composteira, ela está curtindo o convívio direto com a natureza e com a vida no campo.
Com uma pegada bem sustentável, a Madeiras Criativas surgiu há dois anos, quando a fotógrafa Luciana Tancredo resolveu que mudaria de vida e iria morar, com o marido, em um sítio na Serra de Petrópolis, no Brejal. Reaproveitando madeiras de demolição, árvores que caem com as chuvas, raízes e galhos encontrados em suas caminhadas, Luciana começou a criar objetos de decoração, cheios de personalidade. Garrafas recicladas e peças garimpadas em ferro velho completam as peças, ressignificando os pedaços de madeira descartados naturalmente. O estilo rústico e as formas naturais das madeiras encontradas são preservadas, assim
a ideia de trazer um pouco da natureza para dentro de casa faz sentido. Contatos Instagram: https://instagram.com/ madeirascriativas?igshid=8664vez iiiab Telefone (WhatsApp) (21) 99975 8020 Vendas na Internet através de O Mercado em todo o Brasil FOTOS DE LUCIANA TANCREDO - DIVULGAÇÃO
Do Rio
ou kombucha, louvamos também aquele que assa o pão de queijo! Beber água de mina e pisar descalça na terra me impulsionam a plantar, cuidar do entorno e ser ainda mais atenta ao consumo, evitando embalagens e itens desnecessários. O composteiro foi reativado, a separação de recicláveis, idem – e voltei a levantar essa bandeira em Mauá. Desta vez, entrando nos grupos de Face e Zap para conscientizar o turista que cada um é responsável pelo resíduo que produz e que estamos em uma área de preservação ambiental. O local acolhe, sim, quem vem da cidade. E se você vem de coração aberto, passa a aceitar, talvez entender, o não-tempo que estamos vivendo...” “Eu tenho a esperança que nada se perde, tudo alguma coisa gera… O que parece morto, aduba… O que parece estático, espera!”. Adélia Prado
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Meio ambiente
FOTOS EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS/ DIVULGAÇÃO E IBRAFLOR/ DIVULGAÇÃO
Mercado de flores supera a Covid-19 e encerra 2020 com crescimento de 10% De Maria Augusta de Carvalho, de Poços de Caldas (MG) Fotos Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais/ Divulgação
A
pesar de Holambra, no interior de São Paulo, ser conhecida como a capital das flores de corte no país, é a cidade de Andradas, com pouco mais de quarenta mil habitantes, no sul de Minas Gerais e a pouco mais de uma hora de carro de Holambra, que está ganhando relevância por ter um clima mais propício ao cultivo das rosas. A afirmação é do produtor de rosas, Adriano van Rooyen, proprietário da Rosas Adriano van Rooyen, e presidente da Andraflores (Associação dos Produtores de Flores e Plantas em Cultivo Protegido da Serra de Andradas e Região). E, para Van Rooyen, especialista em rosas de corte, que apesar da sede de sua empresa ainda ser em Holambra, polo comercial relevante para os produtores, é essencial manter estufas em Andradas. A diferença está no clima do Sul mineiro em comparação ao da cidade paulista. “A produção de rosas está se deslocando para locais mais apropriados de cultivo, o que significa locais de maior altitude, onde o clima é mais ameno. O ideal seria altitude combinado com local mais próximo da linha do Equador, pois aí, teríamos produção com qualidade e quantidade estável o ano todo”, ressaltou. Andradas está a quase mil metros de altitude em relação nível do mar,
contra 600 metros de Holambra. Segundo ele, o Brasil não tem estas condições ideais, diferentemente da Colômbia, Equador, na América do Sul e, Etiópia e Quênia, na África, que são as principais regiões produtoras no mundo. Em termos comparativos, o Equador, líder mundial, exporta 140 mil toneladas de flores por ano, para mercados como Estados Unidos, Europa e Rússia, além da China. Somente, para os Estados Unidos, envia 14,3 mil toneladas apenas de rosas, na época do Dia dos Namorados, que nos Estado Unidos e Europa é comemorado em fevereiro. “A maioria das variedades produzidas aqui também são produzidas lá, mas com uma qualidade superior por causa das condições climáticas mais vantajosas deles. Por isto produzimos basicamente para o merca-
do local”, afirmou o produtor. Nossa estimativa é de que no Brasil haja uma produção em estufa de mais ou menos 250 hectares de flores. Isto está localizado principalmente em Andradas e Barbacena em Minas Gerais, Atibaia, em São Paulo e Serra de Ibiapaba, no Ceará. Certificação - Em suas propriedades, as rosas são produzidas em estufas e no campo, com o auxílio de mais de 100 colaboradores. Adriano van Rooyen tem orgulho em ressaltar que sua produção possui a certificação de produtor A+ pelo MPS. “Nota máxima para a sustentabilidade da nossa produção”, disse. A MPS é uma certificadora holandesa que confere certificados internacionais de registro ambiental. MPS A, B e C são certificados atribuídas aos participantes que registram seu uso de defensivos agrícolas, fertilizantes, água, energia e resíduos durante os períodos. A qualificação MPS A significa “o cultivo mais amigável ao meio ambiente”. Já a Andraflores registra 110 hectares, com 11 produtores associados, gerando dez milhões de botões de rosas mensal, o que faz da região a maior do país, em produção de rosas em estufas; empregando, diretamente, mais de mil e duzentos funcionários, só na cidade de Andradas. Como 70% desta produção é destinada a decoração em eventos (casamentos, formaturas etc), os empreendedores tiveram que arcar com um
prejuízo de 95% em seu faturamento, ao longo do ano passado. A minoria da produção, 30%, vai para o comércio varejista. Para o vice presidente da Andraflores, Guilherme Reijers, o preço médio do botão de rosas sai das estufas valendo R$ 0,60, o que deu um prejuízo de R$ 6 milhões. Embora em um primeiro momento, no início da pandemia e o estabelecimento da quarentena, as vendas de flores e plantas ornamentais tenham sofrido a brusca queda de mais de 90%, ao longo do ano o mercado floricultor brasileiro foi se recuperando e fechou 2020 com crescimento geral de 10%. Quem ainda amarga os efeitos da pandemia são os produtores de flores de corte - mais usadas na decoração de eventos, ainda proibidos, que acumularam, no ano passado, perdas de 40%. O presidente do Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura), Kees Schoenmaker, informa que, no geral, o crescimento do setor no Brasil será de 10%, porém fortemente concentrado nos vasos com flores e plantas verdes (ornamentais). Foi a partir de maio que esse setor começou a fase de recuperação, com o Dia das Mães, e a situação mudou. O Dia das Mães é a melhor data para os produtores, é o pico, também, do consumo de flores. “As demissões no setor, que chegaram, no máximo, a 10%, foram revertidas. Os produtores se readequaram, alguns mudaram os produtos (espé-
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Meio ambiente FOTOS EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS/ DIVULGAÇÃO E IBRAFLOR/ DIVULGAÇÃO
cies e variedades de flores), mas, no geral, reagiram junto com a demanda. Para este ano de 2021, a Ibraflor estima um crescimento entre 8% e 9%, com o pé no chão e ainda considerando o impactado da Covid-19”, disse. Holambra - Para a cooperativa paulista Veiling Holambra (CVH), a mais importante do país, com mais de 400 integrantes, apesar de todos os contratempos vividos neste ano e da baixa sofrida pelos produtos de corte, devido ao cancelamento e à proibição dos eventos, a expectativa é de fechar o ano de 2020 com crescimento entre 8% e 10% no faturamento geral, em relação ao ano anterior. A Ibraflor, por sua vez, atribui este crescimento ao consumidor que, isolado socialmente, aproveitou para cuidar do jardim, e para decorar a casa com produtos naturais. “As pessoas descobriram as flores e as plantas verdes naturais para garantir mais vida e alegria aos ambientes residenciais, que passaram a servir, também, como escritórios (home office) e escolas” disse Kees Schoenmaker. A Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) confirma a fala dos produtores. Segundo seus dados, a estimativa, até o final do ano passado, era de que o município sul mineiro produzisse 500 mil toneladas de dúzias de flores de corte. Para o gerente
regional da Emater, em Guaxupé, Willem Guilherme de Araújo, “realmente, Andradas se destaca na produção de flores de corte tanto em quantidade, como em qualidade”, ressaltou. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais vem desenvolvendo atividades nas áreas de floricultura há cerca de 15 anos. Durante este período, foram realizados trabalhos com copos-de-leite, plantas tropicais, como bastão do imperador, sorvetão e helicônias, e também com rosas. “Diversas dessas pesquisas foram focadas em avaliar a produção de rosas, com práticas ambientalmente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis. Dentro dos projetos de produção integrada de rosas avaliou-se a redução da adubação química, uso de biofertilizantes e adubos orgânicos, para o controle biológico de pragas”, avaliou a pesquisadora da Epamig, especializada em flores, Simone Novaes Reis, que fica baseada em São João Del Rey. Para ela, um dos principais problemas nas flores de corte é a ocorrência de pragas e uma pesquisa está em andamento, em parceria com o Instituto Federal de Inconfidentes, um produtor de rosas e a Epamig. “Temos procurado entender as necessidades dos produtores para planejar os próximos passos a serem dados”, disse.
Produtos por Município Safra Agrícola (8/2020) Prod. anual estim. (t)*
Nº Agric. familiares
Nº Agric. não familiares
Produção Agricult. Familiar*
Produção Agri. Familiar (%)
Flores de Corte
500.000,00
4
19
100,00
0,02
Total Geral
500.000,00
4
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100,00
0,02 FONTE: EMATER-MG.
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Especial Havaí
FOTOS DE VIVIANE FAVER- HAVAÍ
MAKULEIA BEACH NORTH SHORE
Em busca do
Espírito Aloha
Olu`olu - o mesmo que agradável, para ser expresso com prazer; Ha`aha`a – quer dizer humildade, para ser expressa com modéstia; Ahonui - que significa paciência, para ser expresso com perseverança. Ou, em bom português: seja legal ou vá embora. Vendo como o arquipélago havaiaa coordenação da mente e do cora- no compreende algumas das ilhas mais ção dentro de cada pessoa. Na con- remotas do mundo - a mais de 3.100 templação e presença da força vital, km do continente mais próximo - faz Aloha, o conceito havaiano unuhi sentido que um conceito como “aloha” laulâ loa pode ser usado. Alo - signi- surgiu. Durante décadas, os havaianos fica compartilhar e Ha - significa o ar tiveram que dar certo, porque, simda vida. Até hoje, quando os nativos plesmente, não havia outro lugar para havaianos se encontram em festas ir. A lei se tornou oficial em 1986, mas de família e luau eles cumprimen- está enraizada na cultura local. tam encostando uma testa na outra A essência dessa lei também é a rae respiram e inspiram o mesmo ar. zão de muitas pessoas largarem tudo Akahai - significa gentileza a ser ex- se mudarem para o Havaí em busca de pressa com ternura; uma vida melhor. Exemplo disso são Lôkahi - quer dizer unidade, a ser dois brasileiros: a professora de yoga expressa com harmonia; Alessandra Lopes e o surfista e mergu-
Conhecer ou morar no Havaí é um sonho cada vez mais procurado. Agora há restrições e controle por conta da pandemia, já que o arquipélago quase não tem registro de casos. Brasileiros reencontram a felicidade trabalhando ao ar livre na belíssima região. Texto e Fotos de Viviane Faver Especial para Plurale De Honolulu, Havaí
D
izer à alguém que “deve desejar e transmitir bons sentimentos aos outros” pode soar como um tipo de altruísmo, mas é, na verdade, uma lei real no Havaí. É chamada de lei Espírito Aloha (Aloha Spirit) e está codificada nos Estatutos Revisados do Havaí, Seção 5-7.5. Segundo a lei, o Espírito Aloha é
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HANAUMA BAY – HAVAÍ
lhador profissional, Ricardo Taveira. Na busca de compartilhar seus ensinamentos, assim como no Espírito Aloha, a professora paulista de yoga, Alessandra Lopes, encontrou no Havaí tudo o que sentia falta na sua vida pessoal e profissional. Ela se mudou para os Estados Unidos há 20 anos com o marido e a filha. Alessandra, junto à amiga japonesa, Tomoko, são professoras do grupo de yoga no parque, chamado 2F Beach Park Yoga, em Waikiki, no Havaí. Inicialmente, Alessandra foi morar na Califórnia, mas, após alguns anos, ela sentiu necessidade de um estilo de vida mais saudável. "Apesar de ser maravilhoso morar na Califórnia, não era o que nem eu ou meu marido estávamos buscando para as nossas vidas, e por isso, decidimos nos mudar para o Havaí em 2009 em busca do espírito Aloha. Minha proposta era dividir o que aprendi com yoga e como essa prática me ajudou nas fases mais difíceis da minha vida. Sempre sonhei em ter uma classe ao ar livre, pois sempre gostei da ideia de meditar no pôr do sol e estar em contato com a natureza, além de dar aula numa classe aberta que qualquer pessoa pudesse participar, sem ter que fazer parte de um estúdio ou uma determinada escola ou empresa”, relata. Alessandra conta que recomeçar a vida na ilha de Oahu só foi difícil no primeiro mês. No segundo mês, já es-
tavam fazendo amizades com famílias locais e sendo convidados para festa de aniversário e praia aos domingos. “As pessoas aqui são muito abertas e sempre dispostas a fazer amizades, brasileiros são bem-vindos.” Rica fauna submarina - Com 19 ilhas espalhadas no norte do oceano pacífico, o Havaí tem mais da metade do seu território composto por água, seus moradores dividem o dia entre a terra e o mar. As águas claras com corais coloridos, a rica fauna submarina - com mais de 500 espécies - atrai mergulhadores do mundo inteiro. Na superfície, as ondas perfeitas e praias que são mundialmente famosas, como Pipeline, atraem os surfistas mais famosos do mundo. Apaixonado pelo mar, o mergulhador e surfista de ondas grandes, Ricardo Taveira, 44 anos, não poderia ter encontrado um lugar mais perfeito para viver e fundar sua empresa de mergulho. Sempre fazendo esportes como skate, surf e capoeira, Ricardo nasceu e cresceu na cidade de São Paulo, mas sempre teve o desejo de desbravar a natureza. Ele conta que a primeira vez que subiu numa prancha de surf, aos 13 anos, encontrou amor. Esse amor o levou a viajar o mundo em busca da onda perfeita. Há 14 anos ele chegou no Havaí, local onde conseguiu juntar sua paixão pelo surf e mergulho e fazer disso seu
tão sonhado estilo de vida. “Meu sonho sempre foi encontrar a felicidade no lado profissional, executar minha profissão com meu grande amor que é o oceano e ser feliz com isso.” Ricardo conta que a ideia de virar instrutor de mergulho surgiu num dia em que o mar estava sem onda para surfar: resolveu fazer mergulho FOTO DE ARQUIVO PESSOAL DE ALESSANDRA LOPES
A professora paulista de yoga, Alessandra Lopes, foi atrás do “Espírito Aloha” e se encanta com as aulas dadas ao ar livre.
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Especial Havaí
FOTO DE ARQUIVO PESSOAL DE RICARDO TAVEIRA
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Apaixonado pelo mar, o mergulhador e surfista de ondas grandes, o paulista Ricardo Taveira, 44 anos, não poderia ter encontrado um lugar mais perfeito para viver e fundar sua empresa de mergulho. FOTO DE VIVIANE FAVER- WAIKIKI BEACH - HAVAÍ
de snorkel no norte da ilha de Oahu e ficou encantado com os peixes que apareceram. Hoje, o paulista tem uma empresa, chamada Hawaii Eco Divers, que ensina mergulho, sobrevivência na água e cursos de apneia para surfistas. Deu tão certo que Ricardo ficou conhecido no Brasil como referência de mergulhador profissional brasileiro no Havaí, sendo convidado para participar de feiras e programas de televisão. “O Havaí é mágico, é um dos lugares mais energéticos da terra, principalmente a maior ilha do conjunto, chamada Big Island, por estar conectada ao núcleo do mundo pelos maiores vulcões e os mais ativos, com larvas sendo jorradas diariamente”, destaca o paulista. Porém, ele também diz que a ilha tem o poder de decidir quem vai e quem fica. “Muita gente vem para cá e não se sente bem e outras, chegam aqui e fazem a vida, como aconteceu comigo e muitas outras pessoas.’ O Havaí também é um refúgio para alguns dos animais selvagens mais diversos do mundo, como por exemplo focas-monge ameaçadas de extinção, localizadas nas ilhas remotas e ao norte, e de golfinhos-rotadores, conhecidos por seu comportamento acrobático e proximidade da costa. Outros habitantes são os albatrozes, que podem ser vistos na reserva natural no lado oeste da ilha de Oahu, Ka’ena Natural Reserve. Já no norte da ilha podem ser vistos tubarões de recife de ponta preta que vivem na costa; tubarões-martelo, que usam lagoas como viveiros; baleias-piloto de barbatana curta que se socializam durante o dia, que caçam 2 mil pés abaixo da superfície da água; pássaros tropicais de cauda vermelha, que fazem ninhos em grandes grupos e 500 tipos diferentes de moscas-das-frutas. Com isso, o Havaí é apontado por muitos como o paraíso da nação talvez do mundo. é uma utopia para as pessoas e sua vida selvagem indígena única num dos lugares mais remotos da terra.
Não se espante se estiver na praia e uma foca-monge aparecer para um “espetáculo” particular. Os moradores ajudam a proteger a fica biodiversidade local.
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"Voluntariar no Havaí - melhor coisa que fiz durante essa quarentena" Por Viviane Faver, do Havaí
Se você quer uma experiência de viagem diferente, contribuindo com a comunidade e fazendo amigos locais para conhecer a verdadeira cultura da cidade/país, esqueça os tours turísticos e procure um lugar para se voluntariar. Eu precisei me mudar no meio da pandemia de Nova Iorque (onde vivo há 10 anos) para o Havaí. Por ser fascinada sobre como as ilhas havaianas foram formadas por inúmeras erupções de lava, ao longo de milhões de anos, oriundas de gigantescos vulcões submarinos, decidi começar a procurar trabalhos voluntários ligados à natureza para entender melhor como as plantas e as árvores começaram a brotar nessas ilhas. Não demorou muito para encontrar uma oportunidade num dos maiores Jardins Botânicos da Ilha de Oahu, Ho’omaluhia (que significa refúgio pacífico) com 161 hectares de plantas e árvores. Uma das primeiras coisas que aprendi foi que, através da natureza , é possível conhecer a história do lugar - desde a colonização até os tempos atuais. Os polinésios chegaram ao atual Havaí entre 600 e 750 D.C. Vieram do Sudeste Asiático, passando pela Malásia, pela Indonésia e pelas Filipinas, em suas canoas de tronco de árvore, alimentando-se de peixe seco e coco. No começo, eles trouxeram das viagens fruta-pão, tarô, banana, batata-doce e cana-de-açúcar. Posteriormente, os colonizadores trouxeram manga, mamão, abacaxi, maracujá e uma variedade de vegetais, flores como plumria (jasmim-manga), orquídea, protea, helicônia, gengibre, jasmim (pikake) e hibisco. E também animais como passarinhos, galinhas e galos. Esse é o motivo o porquê a ilha
Viviane Faver se engajou como voluntária no jardim botânico Ho’omaluhia
é cheia de galos e galinhas por toda parte, na praia, na floresta e nas ruas. O processo de voluntariar - Assim que fui liberada pelo governo dos 15 dias de quarentena fui no escritório do Jardim Botânico Ho’omaluhia e fiz a entrevista com o diretor do jardim. A maioria das vagas é de um ano, mas existem algumas colocações mais curtas também, eu consegui uma colocação de três meses. No meu grupo tem gente trabalhando em reservas naturais, em fazendas ecológicas, em prefeituras, fazendo educação ao ar livre com as crianças, e até tinha alguém trabalhando em um veleiro! Passei as primeiras três semanas sendo responsável por limpar os caminhos e canteiros, regar as plantas e alimentar os sapos e alguns passarinhos na parte do jardim tropical. Em janeiro comecei a ajudar com o plantio e corte de plantas. Os próximos passos serão ajudar na semeadura, cuidar das mudas e replantar
quando já estão grandes. Além disso, existe uma parte do programa de voluntariado no qual os voluntários podem criar seus projetos pessoais, e eu achei que seria interessante fazer registros filmando e fotografando. Meu tempo no jardim está sendo definitivamente cheio de novas experiências e aprendizado como a identificação de plantas. Trabalhar cuidando da natureza tem acrescentado muito à minha vida e sinto que é uma pequena forma de retribuir ao mundo. É muito importante fazer coisas que nos fazem sentir vivos e incorporar autodisciplina para agir. Voluntariando podemos experimentar e exercitar nossa autodisciplina em áreas pelas quais temos paixão. Quando combinamos compromisso, ação e coisas que amamos, isso leva à paixão criativa e ao trabalho de uma vida inteira. Era tudo o que eu estava precisando nesse momento.
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Especial Havaí
Teste para o Covid e rigor na quarentena nosso telefone, os e-mails e o endereço da casa onde ficamos, cheganNos Estados Unidos, cada estado do a ligar para casa para falar com tem as suas leis. O estado do Havaí a pessoa que nos alugou. Todos os é hoje o mais restrito em relação dias de manhã, recebia por e-mail a Covid-19. Todos os turistas que um questionário do governo do chegam à ilha precisam ficar 15 dias Havaí para confirmar que estava em casa, mesmo tendo feito o teste e cumprindo a lei. Viajamos em três: o resultado ter sido negativo. O go- eu, meu namorado e a mãe dele verno do Havaí nos fez seguir todas (ambos americanos). as regras, ficando em quarentena Três dias depois da nossa chegada sob intensa vigilância do governo. A eles mandaram um oficial da justimulta para quem sair da quarenta é ça, de surpresa, na nossa casa para de U$ 5 mil e até um ano de prisão. checar se nós estávamos cumprinAinda no aeroporto, pediram o do a quarentena. Atendi a porta, ele Por Viviane Faver, do Havaí
pediu minha identidade e fizeram perguntas de rotina. Foram bem simpáticos, na verdade, e eu , particularmente, acho que eles estão certos ao fazerem isso: o Havaí se mantém o lugar com pouquíssimos casos de infectados em relação não só os EUA, mas outros países do mundo. Depois de seguirmos todas as regras da quarentena, fomos liberados para levar uma vida normal no arquipélago. Aqui pretendemos ficar para uma temporada. Isto é...se o “espírito Aloha” não nos pegar de vez e resolvermos fincar raízes”
SERVIÇO E DICAS LANIKAI – DO ALTO DA TRILHA PILL BOX
r O melhor de Oahu é que há
muito o que fazer e você não precisa apenas se limitar a belas praias. Contanto que você tenha transporte (alugar um carro é muito simples), há uma abundância de coisas incríveis para fazer em toda a ilha, e o melhor é de graça. Por exemplo, a pequena praia de Makapu’u, onde o mar é calmo, mas com ondas suficientes para quem gosta de surfar na paz de uma praia quase deserta. r Perto dessa praia tem um pequeno templo quase escondido da famosa deusa dos vulcões e fogo, Pelée, chamado Pelée’s Chair (Cadeira Pelée) uma jóia escondida com uma das melhores vistas da ilha. É um pouco difícil de escalar, mas vale a pena. Estacione na Makapu’u Lighthouse Road e pegue a trilha não pavimentada em direção ao mar (à direita da estrada - Kaiwi Shoreline Trail). O caminho se bifurca quando você chega ao mar - pegue a bifurcação da esquerda. r Como a ilha está bem vazia por causa da pandemia, os lugares
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turísticos estão vazios, e tivemos muita sorte de pegar a reabertura - depois de sete meses fechado - de um dos lugares mais turísticos da ilha, que se fosse em tempos normais eu provavelmente evitaria, o Hanauma Bay. É uma área marinha protegida incrivelmente popular para mergulho com snorkel e com cilindro. Cheguei lá antes de abrir e entramos direto. Se você chegar lá depois, espere encontrar
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filas enormes e um estacionamento lotado. Honestamente, eu senti que o mergulho com snorkel em Hanauma Bay foi um pouco superestimado. Mas valeu a pena visitar, já que era a reabertura. r Se você gosta de snorkel tenho uma sugestão melhor. Compre o kit de snorkel na Target - não esqueça dos pés de pato -, custa cerca de $20, e vá para praia de Lanikai, onde o mar é sem onda com muitos
MACAPU’U BEACH
corais e peixes coloridos. Lá você também pode alugar uma canoa para ir até uma ilha no meio do mar em frente à praia, aproveite e fique para o pôr do sol que é espetacular. Eu tenho feito isso três vezes por semana. Indo para o lado oeste da ilha. r Uma das melhores formas de entrar em contato com a natureza e ver as belezas da ilha é fazer caminhadas nas reservas naturais. Há muitos lugares em O’ahu, mas a Reserva Natural Ka’ena Point é a melhor delas. Localizada na ponta isolada do noroeste de O’ahu, a Reserva Natural Ka’ena Point é um cartão postal perfeito com um quilômetro de extensão de praia de areia branca. Kaena Point é a ponta oeste da ilha de Oahu e a praia fica entre o azul do Oceano Pacífico e as montanhas Waianae. r Como é um lugar remoto, certifique-se de trazer água suficiente, levar protetor solar, pois o sol é implacável na trilha. A trilha não é pavimentada e tem alguns pontos rochosos, então o calçado apropriado como tênis para trilhas é recomendado. Existem duas maneiras de acessar o ponto. Para chegar lá de Honolulu, pegue a H1 oeste que também levará à Farrington Highway (rota 930) e continue dirigindo até chegar a Keawa’ula, mais conhecida como Yokohama Beach, que recebeu o nome de um trabalhador ferroviário que trocou de trilhos para a ferrovia O’ahu and Land Company (Arrigoni 6). Você pode estacionar seu carro na praia de Yokohama. Para uma viagem panorâmica ainda mais longa, você também pode pegar a H1 oeste de Honolulu e, em seguida, fazer um corte para entrar na H2 norte, que o levará à Farrington Highway (rota 930) e você passará pela antiga cidade de plantação de Waialua, passan-
do pelos pontos de partida para as trilhas Mokuleia e Kealia e vá até o final da Mokuleia. Você pode estacionar seu carro em Mokule’ia. De qualquer maneira, não é aconselhável passar pela estrada macadamizada devido ao seu terreno acidentado (Arrigoni 4). Depois de estacionar, em qualquer direção, você deve prosseguir a pé. A caminhada é cerca de cinco quilômetros para ir e mais cinco para voltar. r Junto com a variedade de vida marinha, Ka’ena também é um santuário para a Pardela-de-cunha, Patola-de-pés-vermelhos, Albatroz-de-Laysan e o Iwa ou grande fragata. Pássaros Mynah e cardeais. r Ka’ena Point teria o nome de um irmão ou irmã de Pelé (A deusa dos Vulcões e fogo). O ponto também é conhecido como Leina a Ka’uhane, que significa o “local onde as almas saltam”. O mito é que os havaianos acreditavam que as almas dos mortos saltaram para a próxima planície de existência de Ka’ena Point. r As piscinas naturais oferecem algum refúgio e também um bom lugar para ver os peixes do Havaí. Tubarões e raias também são abundantes e às vezes são vistos frequentando essas piscinas naturais. Desde 1983, Ka’ena Point foi adotado como reserva natural e a maioria das plantas e animais estão protegidos. Foi fechado para veículos devido ao
desenraizamento de algumas das populações de plantas endêmicas no final dos anos setenta. r Com todas essas atividades, se alimentar bem é muito importante. Por favor, esqueça os restaurantes para turistas em Waikiki, e explore os restaurantes locais criados por gerações de famílias com comida nativa. Minha sugestão é o Restaurante Helena ‘s Hawaiian Food, que existe desde 1946 (antes do Havaí pertencer aos EUA), criado por Helena Chock. É um restaurante simples e despretensioso que agora é administrado pelo neto de Helena, Craig Katsuyoshi. - Neste local, comi as melhores costelas de porco e Ahi frito da minha vida. Se quiser um prato super tradicional experimente Poi e Laulau (o gosto é meio esqusito, mas quem está na chuva é para se molhar). r Para fechar, os amigos do Jardim Botânico me deram dois livros sobre a história do Havaí que eu estou amando e super recomendo para quem deseja absorver mais ainda a história da cultura havaiana. São eles: “A Concise History of the Hawaiian Islands”, que conta a história desde a colonização até os tempos modernos de forma resumida e concisa, e o livro escrito pelo jornalista Samuel Langhorne Clemens que morou meses na ilha trabalhando como correspondente para um jornal, “Mark Twain in Hawaii: Roughing It in the Sandwich Islands, Hawaii in the 1860’s”
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MACAPU’U BEACH
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TEXTO E FOTOS DE VIVIANE FAVER, DO HAVAÍ
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KOKO CRATER BOTANICAL GARDEN
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TEXTO E FOTOS DE VIVIANE FAVER HOOMALUHIA BOTANICAL GARDEN
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FOSTER GARDEN
Koko Head- trilha radical em antiga estrada férrea Por Viviane Faver, do Havaí
Koko Head é uma trilha estimada em 2,4 km de ida e volta na área de Portlock e a conhecida reserva natural de Hanauma Bay. São 1.048 degraus de uma ferrovia militar em má condições com inclinação de 90 graus, por isso é também conhecida como Stairway to Hell (escadaria para o inferno). Lugar que há 10 mil anos atrás era o único vulcão ativo de Oahu, foi transformado por militares, na Segunda Guerra Mundial, numa ferrovia usada para transportar cargas e suprimentos até o topo, onde foram construídos bunkers com canhões para ataque. Como meu aniversário é no dia 2 de janeiro, praticamente junto com o Ano Novo, resolvi me presentear com uma superação pessoal, além de começar o ano testando meu limite a ideia era de enfrentar o meu primeiro desafio do ano, já que estamos num momento tão difícil.
Mas não sou atleta e a única atividade que faço é andar de bicicleta. Então, para mim foi bem difícil: confesso que quase chorei, tive que descansar uma hora no topo antes de descer e, mesmo assim, com as pernas tremendo. Sem falar que fiquei um dia sem andar depois da aventura. Porém, valeu a pena! Me senti realizada e feliz comigo mesma. As escadas de Koko Head não tem formato uniforme e são quase o dobro da largura de uma escada normal, cada degrau lá equivale a dois em tamanho normal. Alguns dos “degraus” também estão muito desgastados, então é preciso improvisar, além do solo empoeirado que pode ser bastante escorregadio. O desnível das escadas foi um dos meus maiores desafios. Mais ou menos na metade do caminho, você encontrará a ponte ferroviária, que se estende sobre um trecho onde o solo desaparece sob a trilha, sendo substituído por
folhagem verde. Aqui, você está literalmente cruzando uma ponte ferroviária para a próxima seção. Se você tem medo de altura, pode fazer um desvio para dentro dos arbustos, mas sempre com cuidado. Quando finalmente chega-se ao topo da ferrovia, há algumas árvores onde muitas pessoas param para recuperar o fôlego. Parece um campo de batalha com pessoas deitadas por todo o lugar. No topo, a brisa e a sombra das árvores ajudam o visitante a se refrescar rapidamente. Porém, o fim da ferrovia não é o topo da caminhada na cratera de Koko. Para obter a visão real do topo da trilha da ferrovia da cratera Koko, é preciso subir em direção à plataforma de grade de metal. Embora esta caminhada teste a sua resistência, você será recompensado com algumas das melhores vistas da ilha, além de um dos melhores locais da Ilha para ver o nascer e o pôr do sol!
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Sustentabilidade
Um ecologista de plantão Joaquim Dário d`Oliveira - Coronel da Aeronáutica da reserva, que também foi pescador, atleta, professor de Educação Física e artista amador - era um amante da natureza. Gostava de bichos, plantas e sempre se orgulhava de falar de Plurale Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Arquivo da família
J
á nem lembro quanto anos tinha, talvez sete ou oito. Mas uma – de muitas das passagens – que me marcou foi a visita ao Rio São Francisco, na Bahia. Era um “mar” imenso, diferente do que víamos do jardim de casa, na Praia de Boa Viagem, no Recife, algo como eu nunca tinha visto. Como esta viagem, tivemos várias: os pais sempre gostaram de apresentar aos quatro filhos o Brasil profundo, sua gente, seus sabores e a sua biodiversidade. Lindo casal, como tantos outros dos anos de 1950 no Rio de Janeiro – o jovem militar que se apaixona pela linda professora do Instituto da Educação: o tenente Joaquim Dário, piloto de Caça da Força Aérea Brasileira, conheceu a professora Ayr Maria em baile de Carnaval e nunca mais se separaram. Ele, nascido em Vila Isabel, em 1929, filho de um imigrante açoriano de fibra, Joaquim Homem, que veio trabalhar na fábrica de um patrício e casou-se com a sua filha, Margarida. Ayr Maria, nascida na Tijuca, em 1932, filha de professora e militar de alta patente do Exército. Foram casados por 68 anos, quatro filhos e nove netos, e certamente comemorariam Bodas de Vinho – 70 anos de casamento em 2022 – não fosse a ironia do destino que levou o piloto a fazer uma passagem serena, voltando a cruzar os ares em novembro de 2020. Mamãe e papai foram os primeiros incentivadores de Plurale (ao lado de Newton, filhos e irmãos) e também por isso tornaram-se leitores privilegiados, “Chegou a Plurale!”,
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Ayr Maria e Joaquim Dário, 68 anos de união sólida: quatro filhos e nove netos.
comemoravam juntos, a cada nova rodada. Esta Edição, de número 73, é a primeira que os dois não lerão juntos. Ayr Maria, certamente, manterá a tradição da primeira leitura. Ficam as grandes lembranças. Como das histórias narradas com tantos detalhes e das passagens em casa localizada na Ilha do Governador, em meio à tanta biodiversidade. Em que outro lugar uma mãe rolinha se sentiria segura para fazer o ninho na janela da sala? Papai vigiou o ninho e cuidou que a janela ficasse sempre com uma parte aberta para que a mãe rolinha pudesse ir e vir sem ser incomodada. Ou micos circulariam livremente em busca de uma fruta?
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“Temos uma casa ecológica”, orgulhava-se. Era autêntico, verdadeiro e desapegado de bens materiais. Manteve a rotina de exercícios físicos para manter a boa forma: caminhou na Praia da Bica por muitos anos, aproveitando para recolher pedaços de madeira e material que transformava em verdadeiras obras de arte em casa. Atleta (nadava, jogava vôlei, mergulhava e atirava), o que acabou levando-o a ser um dos primeiros Professores de Educação Física na Escola de Barbacena (MG), nos anos 50. Mais tarde, a serviço do Correio Aéreo Nacional e em outras missões esteve inúmeras vezes nos mais distantes rincões do Brasil, como com os Irmãos Villas-Boas,
FOTOS DE ARQUIVO DA FAMÍLIA
Medalha Ordem do Mérito Aeronáutico: reconhecimento pelos serviços prestados.
Lançamento de Plurale em 2007 na Livraria Argumento: Sônia com os pais Ayr Maria e Joaquim Dário e os amigos Gilda Vieira de Mello e André Simões.
Casa ecológica: Micos circulam livremente pelo jardim, frondosa amendoeira e rolinha fez ninho na sala de sua casa.
com o cacique Raoni e os índios da etnia caiapó e tantos outros brasileiros incríveis. Grande contador de histórias, lembrava de voos difíceis, em tempos nos quais a tecnologia ainda “engatinhava” e era preciso conhecer mesmo rios e detalhes. Valente, destemido, colecionador de muitos amigos, não faltavam histórias e testemunhas. Recebeu a Ordem do Mérito Aeronáutico, pelos serviços prestados: além das posições já relatadas, participou
de inúmeras missões nacionais e internacionais, também serviu na Base do Galeão (RJ), em Barbacena (MG). comandou o 1/6º GAV, em Recife, foi Instrutor da ECEMAR e do Cenipa, que investiga acidentes aéreos. Já na Reserva, Joaquim Dário não parou e continuou trabalhando, por 20 anos, desta vez, na Superintendência do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Aposentado, aproveitou para pintar, entalhar e curtir a vida em família.
Festa de 90 anos com a família – em 2019.
Soube tão bem viver. Nós – esposa, filhos e netos - esperamos levar sua missão adiante. Estamos certos que a sua luz continua a nos iluminar aí do alto. Voa alto, pai. (*) A jornalista Sônia Maria Araripe d`Oliveira Meyohas é a mais nova de quatro filhos de Joaquim Dário d´Oliveira e Ayr Maria Araripe d`Oliveira. Angela é arquiteta, Flavio é engenheiro aeronáutico e Celso também é engenheiro.
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Ecoturismo
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ISABELLA ARARIPE
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Refúgio no litoral paulista Prado: o caribe baiano Cercada de vasta vegetação, a cidade de Prado, no sul da Bahia, possui muitos coqueiros, grandes falésias e águas cristalinas, calmas e mornas. A Praia do Novo Prado possui um clima de praia deserta, com mar calmo e belos coqueirais. Visitar Prado é uma aula de história. Um dos pontos turísticos da cidade é o Monte Pascoal, primeira porção de terra avistada pelos portugueses quando chegaram no Brasil.
O Litoral Norte de São Paulo oferece muitas atrações de ecoturismo. Uma delas é a praia de Calhetas, praticamente deserta, localizada a cerca de 25 minutos de Maresias, só é acessível via caminhada, guardando um visual de areias brancas e águas cristalinas, além de mirantes e uma cachoeira – de onde também é possível fazer rapel.
República Dominicana é reconhecida como exemplo de turismo responsável Refúgio no litoral paulista II A Trilha dos Mirantes, ligando as praias de Maresias e Paúba, é outra opção no litoral de São Paulo.Com dois quilômetros, a trilha proporciona diversos visuais panorâmicos do lugar, com faixas de areia, costões rochosos e muito verde. O final do passeio leva até o Costão da Paúba, local ideal para a prática de rapel. Com dez metros de altura e duas descidas, o rapel de Paúba é indicado para todos os níveis de praticantes, inclusive os corajosos de primeira viagem.
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O secretário geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), Zurab Pololikashvili, afirmou que a República Dominicana é a prova de que é possível viajar de maneira responsável e que o destino cumpre com os protocolos para oferecer segurança aos seus visitantes. Desde setembro de 2020, a República Dominicana colocou em prática o Plano de Recuperação Responsável de Turismo, que inclui várias medidas para o segmento, como oferecer plano de assistência gratuito para turistas com cobertura para todos os tipos de emergências (incluindo um possível contágio por coronavírus) e realizar exames aleatórios nos passageiros que chegam nos aeroportos.
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Estante Um Olho no Peixe e outro no Leão, por Sandra Martinelli, Editora Leader, 160 págs, R$ 79,90 “Um Olho no Peixe e outro no Leão” traduz o propósito dos anunciantes brasileiros e reflete a grande influência que os profissionais de marketing têm na construção de uma sociedade mais justa, livre, ética e responsável. Com esse título instigante, Sandra Martinelli compartilha seu exercício diário como presidente-executiva da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), cargo que ocupa há seis anos. A autora, que atua há mais de 30 anos no mercado de marketing, destaca para os profissionais dessa área a importância da prática de gestão de time, resiliência, ética, transparência, eficiência, superação, criatividade e bom humor. Essa obra traduz o propósito dos anunciantes brasileiros e reflete a influência que os, executivos de marketing, tem na construção de uma sociedade mais justa, livre, ética e responsável. Por meio dessa obra, a autora, também se preocupou com profissionais atentos à marca da organização e traz seu olhar de constatação de que o propósito não pode mais ser uma opção ou um plano, mas sim uma constante na atuação das empresas com exemplos reais do poder do Marketing de transformar e influenciar pessoas positivamente.
Amores confinados, coletânea de contos inéditos de 26 autores Esta coletânea de contos inéditos – “Amores confinados”- reúne nossos amigos e amigos dos amigos que têm a escrita como ganha-pão e alimento da alma. Confinadas na pandemia e experimentando as dores deste exílio forçado, nós duas convidamos outros vinte autores para tratarmos de forma bem criativa e pessoal de um tema universal: o amor, esse velho conhecido. São 26 autores: André Gabeh, Arnaldo Bloch, Aziz Filho, Bárbara Pereira, Daniel Belmonte, Estevão Ribeiro, Fernanda de Mello Gentil, Gilberto Scofield Jr., Gustavo Annecchini, João Pimentel, Lais Mendes Pimentel, Luciana Neiva, Luís Pimentel, Marcela Esteves, Marcelo Várzea, Maria Clara Mattos, Maria Elisa Coelho, Martha Mendonça, Nelito Fernandes, Renata Andrade, Rita Fernandes, Sidney Garambone, Silvio Essinger, Thais Pontes, Toninho Nascimento, José Guilherme Vereza. Cada autor escreveu livremente sobre as relações amorosas em tempos virulentos. Durante um mês, os contos foram enviados para um grupo criado no whatsapp que tinha uma única exigência: ser usado com bom senso para não perturbar a paciência de ninguém. Enfim, o tal grupo acabou reunindo muitos amigos e criando novas relações.
POR FELIPE ARARIPE
Uma Jornada Adolescente – 50 anos de história da Sodiprom, fomentando a cidadania, organizado por Sandra Mimoto e escrito pelo jornalista Nelson Tucci, 180 págs, gratuito Nascida da inspiração de um juiz de Direito, fomentada por um corpo de voluntários e mantida com o esforço de empresários locais, a Sodiprom - Sociedade Diademense de Proteção ao Menor completa 50 Anos. Entidade assistencial, oferecendo treinamento e encaminhamento de meninos e meninas para as empresas via programas `Jovem Aprendiz`, ganhou um presente em seu Jubileu de Ouro, que pretende dividir com todo o ABC paulista: o livro “Uma Jornada Adolescente – 50 anos de história da Sodiprom”, cujo lançamento ocorreu no dia 12 de fevereiro, com poucas pessoas em razão da pandemia e do distanciamento social. A Sodiprom conseguiu reunir alguns de seus 131 parceiros tradicionais para apoiar a edição de um livro, capa dura, quatro cores, 180 páginas. Dessa História saíram protagonistas para o primeiro emprego 20 mil alunos, entre bombeiro, operários, profissionais liberais, empresários bem-sucedidos e um juiz de Direito. Vinculada ao Rotary Club de Diadema, tem administração exemplar e sempre muito transparente, publicando Demonstrativo Financeiro em jornal local, inclusive. “Após 50 anos de relevantes serviços em prol da comunidade de Diadema, fomos honrados com a publicação do livro, cuidadosamente organizado pela Sandra Mimoto e escrito pelo jornalista Nelson Tucci. Ao final, esta grande contribuição é de muitos amigos que nos apoiam e são parte desta história”, comenta Waldir Lixandrão, o gestor que nos últimos oito anos tem se dedicado em tempo integral ao funcionamento da Casa.
Está (quase) tudo bem, por Luciana Rangel, Editora Folhas de relva, R$ 42,90 Depois de nove anos morando na Alemanha, a jornalista carioca Luciana Rangel tem a oportunidade de retornar ao Brasil. Agora, torna-se o momento de responder à pergunta que muitos brasileiros e brasileiras que deixam o país se fazem: “e se tivesse ficado? E se voltar, como será?” O livro é construído por crônicas que se entrelaçam, atravessam cidades e oceanos em uma velocidade que esboça cores, sabores e saudades. Está (quase) tudo bem fala do pertencimento e também do não pertencer, da dificuldade do mercado de trabalho lidar com a maternidade. Também passeia pelo Brasil e por Berlim.
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NOVO MÉXICO, EUA A TERRA DO ENCANTAMENTO Texto e fotos de Paula Martinelli, do Novo México, EUA Especial para Plurale
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estado do Novo México, na região Sudoeste dos Estados Unidos, é chamado de Terra do Encantamento, e com razão. De antigas maravilhas naturais, a cultura nativa americana do país, a incríveis Parques Nacionais, o estado é um dos destinos mais únicos e incríveis não só dos Estados Unidos, mas do mundo. Com paisagens variadas que vão de mesas de rocha vermelha a montanhas cobertas de neve, o Novo México encapsula todas as características geológicas que atraem visi-
tantes para essa região dos Estados Unidos em busca de aventuras em meio a muita natureza. Nenhum outro estado norte-americano, no entanto, tem uma paleta tão única de cores infundidas de luz, razão pela qual tantos artistas chamam o Novo México de seu lar. O Novo México está localizado na região sudoeste dos Estados Unidos. Fazendo fronteira com o Arizona no oeste, Utah no noroeste, Colorado no norte, Oklahoma no nordeste e Texas no leste e sudeste. Além disso, também compartilha sua fronteira internacional com o México. Além de sua diversidade cultural e natural, aqui é possível encontrar uma culinária fantástica, moradores amigáveis e muita aventura a ser
E n s a i o explorada. Uma viagem de carro é a melhor maneira de explorar tudo o que o Novo México tem a oferecer. Você pode visitar os lugares mais incríveis do Estado em uma viagem de uma semana. Se tiver mais tempo, ainda melhor. Na minha viagem de 20 dias, dirigimos – eu e meu marido Mike - 8 mil quilômetros pelos lugares mais espetaculares, explorando a natureza, conhecendo mais sobre os povos antepassados dos EUA e explorando os Parques Nacionais dessa região, ainda tão pouco explorada ainda pelo turismo internacional. Estou aqui para dividir com os leitores de Plurale um pouco dessa aventura, o que aprendi e o que vivi, e espero que um dia também possam incluir esse roteiro fascinante em suas férias nos Estados Unidos. Viajar durante a pandemia de covid-19 Como o cenário é muito diferente nesse momento, por conta da pandemia, é muito importante também dividir essa experiência, e vale ressaltar que sempre viajo com res-
FOTOS DE PAULA MARTINELLI, DO NOVO MÉXICO, EUA ponsabilidade, e agora, fui extremamente cautelosa, cuidando da minha saúde, e da saúde do próximo. Em dezembro de 2020, no auge da pandemia de Covid-19 nos Estados Unidos, resolvemos explorar o “quintal da nossa casa” (moramos na costa Oeste da Flórida): seguindo os protocolos de segurança de isolamento social, e evitando aglomerações de aeroportos e voos lotados. Optamos por uma maneira supersegura, talvez a mais segura, para poder viajar. Alugamos o que aqui chamamos de RV (recreation vehicle) e no Brasil chamamos de motorhome, e fizemos uma viagem fantástica do Estado da Flórida, onde moro, até o Sudoeste dos Estados Unidos. Fomos eu e Mike, meu marido, e os dois “pimpolhos” da raça west highland white terrier: Pingolito e Cooper. O lado positivo dessa viagem durante a pandemia é que o transporte de motorhome foi a nossa “bolha de segurança” durante toda a viagem. Com bastante espaço incluindo quarto, cozinha, banheiro e uma
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Ecoturismo
mesa para poder trabalhar, não precisei usar espaço público como hotel nem restaurantes durante a viagem. Por outro lado, muitos dos Parques Nacionais e Históricos do Novo México, pertencem aos índios Navajo Nation (Nação Navajo), e como eles estão em isolamento total, esses lugares estão com acesso fechado para visitação durante a pandemia. Reconhecemos que é um momento delicado para eles, pois dependem
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do turismo local para sobreviver, mas ficamos aliviados em saber que o governo está protegendo o povo local, e sua cultura. Também, vale ressaltar que não visitamos cidades, apenas lugares abertos onde o distanciamento social foi possível. Em uma outra oportunidade, voltaremos para visitar o resto do Estado e os lugares que não pudemos visitar nessa viagem.
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Dirigindo pelo Novo México e visitando lugares incríveis Apesar do Novo México ser um lugar com uma grande diversidade a ser explorada, o destaque mesmo fica para as atrações de cultura viva da forte influência dos índios Nativos Americanos, e o cenário espetacular das estradas que dirigimos. Uma das paisagens mais incomuns do Novo México e do mundo é o White Sands National Park (Parque Nacional da Areia Branca), cobrindo uma enorme área de 700 quilômetros quadrados dunas de areia branca, e o maior campo de dunas de gesso do mundo. A areia é composta por 8 bilhões de toneladas de cristais de gesso soprados ao longo de milhões de anos de um lago efêmero rico em minerais. Ao andar pelas dunas parece que você está em outro planeta, com uma fauna e flora única e riquíssima. Outro fato bem interessante sobre o White Sands, é que foi eleito o mais novo Parque Nacional dos Estados Unidos e agora é aberto para visitação, pois essa área era apenas usada pelo Exército americano para testes de misseis. Outro lugar incrível a ser visitado é a Carlsbad Caverns National Park, um complexo impressionante de 48 quilômetros, composto por cerca de 120 cavernas. A Big Room
E n s a i o (Grande Sala) tem 3.3 hectares e é a maior câmara de caverna da América do Norte, um espetáculo de perder o folego. A caverna é esculpida em calcário depositado em um mar há cerca de 265 milhões de anos, com formações incríveis de estalagmites e estalactites de tamanhos massivos. Foi um dos lugares mais impressionantes que visitei, pois, apesar de ter visitado muitas cavernas em diferentes lugares no mundo, tenho que admitir que a Carlsbad é sem dúvida a maior e mais bonita. Entre maio e outubro, existe o voo diário dos Brazilian Free Tailed Bat, ou, morcego brasileiro sem cauda, onde milhares de morcegos voam para dentro da caverna pela entrada principal, oferecendo um espetáculo que pode durar até 3 horas. Além da beleza natural do Novo México, existem também uma cultura indígena muito rica, e o Estado é um museu a céu aberto. Durante a minha viagem eu visitei o Gila Cliff Dwellings, que é considerado um dos Parques Nacionais mais remotos do Sudoeste do país. Cercado por uma paisagem selvagem localizado no meio da Flo-
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Ecoturismo resta Nacional de Gila, contendo as ruínas de cavernas interligadas construídas em cinco nichos de penhasco pelos povos Mogollon entre os anos de 1275 e 1300 DC, onde é possível chegar por uma trilha fácil de uma milha ao longo de um desfiladeiro estreito em uma jornada através das colinas íngremes e vale. É impressionante saber que por milhares de anos, grupos de nômades usaram as cavernas ao longo do rio Gila como abrigo temporário. Então, no final dos anos 1200, algumas pessoas da cultura Mogollon decidiram construir e fazer dela sua casa. Eles construíram quartos, moldaram cerâmicas e criaram seus filhos aqui. Por que eles abandonaram essas moradias, só podemos especular. Agora a surpresa mais incrível que encontrei na minha viagem ao Novo México, foi poder visitar o Patrimônio Mundial da UNESCO, da Cultura de Chaco. Aninhado em um canto remoto do estado e de muito difícil acesso, dirigindo por estradas sem pavimento e com péssimas condições, mas ao chegar no local, confesso que valeu a pena a jornada. Aqui ainda é possível vagar pelo labirinto de quartos de uma vila ancestral de Puebloan erguida há cerca de 1.000 anos atrás, com paredes de pedra contra um pano de fundo dos penhascos de cobre do Chaco Canyon. É o mais perto que os EUA chegam das pirâmides do Egito e de Machu Picchu do Peru, e ainda é considerado um local sagrado pelos nativos americanos descendentes desses ancestrais Puebloans. E uma viagem ao Novo México não é completa sem visitar as famosas Ghost Towns, ou, cidades fantasmas, onde é possível encontrar mais de 400 cidades fantasmas espalhadas pelo Estado. A razão que existem tantas cidades fantasmas no Novo México é por causa do subproduto da mineração e da história da ferrovia do Novo México. Mas às vezes há cidades fantasmas que são assustadoras mesmo sem a presença de fantasmas, como é o caso de Cuervo, que foi a cidade que visitei durante a minha viagem. Cuervo foi uma cidade fer-
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roviária construída no ano de 1901 e, na época, dependia do tráfego da famosa Rota 66. Tanto a ferrovia quanto a Rota 66 pararam de passar pela cidade, quando a rodovia I-40 surgiu, e foi quando a cidade foi literalmente enterrada enquanto a nova rodovia cortava uma faixa através da seção residencial da cidade. O Novo México oferece uma oportunidade única de viajar no
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tempo, passando pelas Cidades Fantasmas, com paisagens belíssimas que lembram os filmes de Velho Oeste, e onde é possível conhecer mais da história dos povos nativo Americano que aqui vivem há cerca de milhares de anos como os Pueblo, Apache, Comanche e Navajo, e que ainda tem uma forte influência indígena presente por todo o Estado.
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SERVIÇOS Quando visitar - O Novo México é um lugar com temperaturas extremas. Tem neve no inverno e verões sufocantes e secos. No Novo México há também chuvas repentinas e tempestades com raios ao longo do ano. A melhor época para visitar é de março a junho ou setembro a novembro. O outono é uma época menos popular para os turistas, o que também é uma ótima opção pois os preços são melhores. Como alugar motorhome ou carro: Se você também quiser se aventurar e alugar motorhome, a melhor opção é alugar pela empresa Cruise America, pois eles oferecem bom preço e assistência técnica 24-horas no país todo. O aluguel pode ser feito através do website.
Agora se você prefere alugar um carro, eu sempre recomendo RentalCar pois essa locadora oferece preços de várias locadoras e você pode comparar as melhores opções. Onde começar a viagem ao Novo México: O Aeroporto principal fica na cidade de Albuquerque (ABQ). Aqui você pode retirar o carro alugado, ou se optar por motorhome, pode pegar um taxi até o local mais próximo de retirada na locadora da cidade. Onde se hospedar: Se optar por uma viagem de motorhome, a pernoites são em campings específicos que cobram uma média de US$40 por noite e você tem direito a sua vaga com local para conectar com água, eletricidade e também oferece banheiros,
lavanderia, playground para as crianças e até piscina. Se preferir alugar um carro, as opções de hotel são muitas e variam muito de preço, dependendo do que cabe melhor no seu bolso. A média de preço vai de US$50 a US$120 por dia para 2 pessoas. Eu sempre uso e recomendo o Booking.com pela qualidade de serviços e por ser uma fonte confiável. •Paula Martinelli •Blog: Paula Pins the Planet •Website: https://www.paulapinstheplanet.com/ •Paula Pins the Planet é um blog de viagens focado em experiências autênticas nos lugares menos explorados do Planeta, priorizando um turismo sustentável e viagens éticas.
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Inclusão
Uma jornada em busca de
UM NOVO OLHAR
O projeto, uma parceria entre Funarte e UFRJ, revoluciona a percepção genérica sobre pessoas com deficiência. Empoderamento, arte-educação, capacitação e novas ideias surpreendem e renovam valores. Confira!
A acrobata Analu Faria e seu parceiro, Elder Oliveira, em mais um ensaio
Por Maurette Brandt, Especial para Plurale Fotos da Funarte - Divulgação
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unca me imaginei num trapézio; na verdade, só de levantar a cabeça para espiar o artista lá nas alturas, praticamente solto no ar, fico apavorada. Já Analu Faria se sente em casa nessa arte tão antiga quanto antigo é o circo. Como é bom poder tocar um instrumento, ensinava Caetano Veloso há muito tempo. Amo a música, mas não aprendi a tocar nada. Sara Bentes, cantora, pianista e compositora, dá banho de talento, qualidade e simpatia em seus shows literalmente mágicos. Desenho razoavelmente bem, traço herdado do pai publicitário e de minha mãe, que se arriscou como pintora na juventude. Mas nunca passei dos trabalhos do curso primário. Lúcio Piantino, artista múltiplo que vive cercado de cores vivas e telas gigantes, fez sucesso na Itália e é um pintor no auge da carreira. Escultura é um mistério fascinante para mim, mas não para Rogério Ratão, que deslinda os segredos dos materiais e é criador de obras cuja beleza flui em linhas geométricas perfeitas e en-
FOTOS DA FUNARTE - DIVULGAÇÃO
Lúcio Piantino, artista visual, concentradíssimo numa nova obra
Sara Bentes, cantora, pianista e compositora
Rogério Ratão, escultor
caixes sofisticados. Todos esses artistas fantásticos, que fazem ressoar várias cordas da minha alma, são presenças fortes no projeto UM NOVO OLHAR – parceria entre a Funarte e a UFRJ que coloca à nossa disposição a chance de mudar nossa leiga e preguiçosa percepção em relação às pessoas com deficiência – como Analu Faria, Sara Bentes e Rogério Ratão, que têm deficiência visual, e Lúcio Piantino, que tem síndrome
de Down. Ao conhecer um pouco da vida deles e de outros artistas que o projeto me apresentou, me transformo e espano de mim, com energia, dogmas rançosos e ideias preconcebidas sobre os mundos – invisíveis para a maioria, infelizmente – de incrível potência e riqueza, ao qual muitas pessoas, artistas ou não, pertencem com muito orgulho. Em três vertentes, o projeto UM NOVO OLHAR oferece grandes
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Inclusão
oportunidades de aprendizado e de crescimento, disponíveis para qualquer pessoa: cursos voltados para acessibilidade, partituras para canto coral de grandes compositores brasileiros e uma intensa programação de espetáculos criados por artistas com deficiência – além de palestras e de uma quantidade incrível de informações que nos ajudam a encontrar esse novo olhar que todos precisamos ter, para que tenhamos acesso a toda uma gama de possibilidades de criar, crescer e produzir magia, ao penetrar em universos que estão ao nosso alcance, mas a que gente não sabia - como a cultura cega, a cultura surda e muitas outras que podemos e precisamos descobrir. Todo um mundo novo de surpresas Nossa cultura, pautada num conceito vazio de “normalidade”, nos rouba a oportunidade de reconhecer como riqueza tudo que é “diferente”. Antes de conhecer muitas das iniciativas do projeto UM NOVO OLHAR, eu nunca ouvira falar de uma cultura surda, nem no movimento Arte Surda – ou De’VIA–Deaf View/Image Art, em inglês. Sem o projeto, eu jamais saberia que o Slam do Corpo – batalha de poesias que se constroem na fricção entre a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e a língua portuguesa – já é um evento-chave no universo dos slams, e tem revelado muitos artistas. Desconhecia completamente o fato de que a Libras é um idioma com gramática e léxico próprios, e que há várias línguas de sinais diferentes – mas que é bem mais fácil duas pessoas surdas se comunicarem, mesmo se suas línguas de sinais forem diferentes, do que duas pessoas ouvintes que não conheçam a língua uma da outra. Se não fosse pelo projeto, não conheceria também Edvaldo Santos e Leonardo Castilho, artistas e poetas que hoje são referência para as novas gerações de surdos, aqui e em outros países.
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Ana Amália Barbosa: Não há barreiras para o talento quando a vontade se une à tecnologia assistiva
Depois de levar um tombo atrás do outro e ver desmoronarem diante de mim, de modo definitivo, tantas ideias preconcebidas que nem eu sabia que tinha, inventei para mim mesma uma jornada pessoal, em busca desse Novo Olhar tão necessário e tão acessível agora, com os conteúdos e ferramentas que o projeto disponibiliza no site www.umnovoolhar.art.br. Em que consiste o projeto UM NOVO OLHAR Incluir atividades artísticas na vida de crianças, jovens e adultos com algum tipo de deficiência é o foco principal. Mas ampliar a percepção das deficiências em todos os setores da sociedade é fundamental para fortalecer o crescimento e a cidadania da pessoa com deficiência. Para isso, os professores da rede de ensino fundamental – desde que capacitados para que tenham, nas artes, uma poderosa ferramenta facilitadora no trato da pessoa com deficiência – tornam-se grandes aliados para difundir essa percepção junto ao público leigo. Por isso o projeto idealizou e oferece o Curso Artes Integradas + Acessibilidade + Inclusão, em seis módulos, que está disponível gratuitamente no site. O incentivo e respaldo ao canto coral, considerada uma das atividades artísticas mais inclusivas, promove a capacitação de regentes de coros juve-
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nis, infanto-juvenis e adultos, além de desenvolver metodologias, materiais pedagógicos e conteúdos exclusivos acessíveis (videoaulas com tradução em Libras, partituras em Braille e audiodescrição, entre outras). Inspirar é preciso, e como! E de inspiração o site do UM NOVO OLHAR está repleto: dá para assistir espetáculos de todas as variantes das artes, além de ouvir depoimentos de artistas e palestras espetaculares. Lá todos podem conhecer um pouco mais os artistas que mencionei no início desta matéria. De sentidos e de sentido Desenvolver os sentidos é descobrir a verdadeira diversidade do mundo. A gente não sabe o quanto precisa ter um olhar novo e aberto sobre tudo até ser literalmente “derrubado” por algo totalmente surpreendente, que subverte até nossas crenças mais arraigadas. Aprendemos na escola, em tenra idade, que os sentidos são cinco: visão, audição, tato, olfato e paladar. Os espiritualistas dizem que possuímos o sexto – que seria a intuição – e até mesmo o sétimo, a sinestesia, que nos permite associar cheiros e cores a ambientes e situações diversas, inclusive evocando memórias. A lista vai longe. Basta a gente acordar para a possibilidade de despertar tanta coisa inesperada que vem de dentro - como fizeram e fazem as pessoas retratadas nestas páginas.
FOTOS DA FUNARTE - DIVULGAÇÃO
Ana Mae Barbosa: a primeira brasileira a se doutorar em Acessibilidade
Um encontro marcante Nos dias 5 e 6 de agosto, o projeto Um Novo Olhar realizou, em formato online, o Encontro Um Novo Olhar de Arte/ Educação + Acessibilidade, que recebeu em sua abertura, dois ícones do tema Acessibilidade: Ana Mae e Ana Amélia Barbosa, mãe e filha, ambas doutoras. Aliás, Ana Mae Barbosa, considerada uma das maiores autoridades em Acessibilidade no
país e autora de vários livros sobre o assunto, foi a primeira brasileira a doutorar-se nessa área. Num depoimento arrebatador, mãe e filha compartilharam sua própria experiência com acessibilidade, depois de Ana Amélia ter sofrido um AVC de tronco cerebral, que mantém intacta a parte intelectual do paciente, mas suas sequelas atingem a fala e o movimento. Nada disso impediu que Ana Amélia, com a ajuda
da tecnologia, tenha prosseguido os estudos e seu trabalho acadêmico, com muito êxito. O encontro, que teve como convidados formadores e profissionais com atuação na promoção da cultura acessível, de diferentes instituições e regiões do país, abordou temas como o contexto da Arte-Educação inclusiva no Brasil, os desafios da formação de professores em diferentes áreas do campo das artes para atuação nas escolas e a contribuição dos espaços culturais na formação de professores em arte e cultura acessível, entre outros.
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CINEMA
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ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Documentário foca na reutilização do lixo Incomodado com os efeitos públicos da gestão do lixo, inclusive em sua vida privada, Leonardo Brant apresenta ”Descarte”, documentário produzido pela Deusdará Filmes, com histórias inspiradoras e educativas sobre como se pode dar novos destinos a tudo o que é consumido. Rodado durante a quarentena em filmagens presenciais e remotas, e com a utilização de três câmeras diferentes para as conversas por meio de videochamadas, “Descarte” – patrocinado pelo Atacadão, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – tem como pano de fundo o drama social do lixo no Brasil e traz ao centro da discussão os 10 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/10), que organiza a forma com que o Brasil lida com o lixo, exigindo dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de seus resíduos. O documentário está disponível nas plataformas de streaming Now, Vivo Play e Loke.
“Favela é Moda” acompanha modelos das periferias cariocas A narrativa de “Favela É Moda”, documentário de Emílio Rodrigues, segue o dia a dia de jovens modelos em sua árdua batalha na luta contra preconceitos e dificuldades de ordem financeira, social, familiar, afetiva e psicológica. E mostra que, apesar da dura realidade em que vivem, eles ainda sonham com as passarelas internacionais. O filme acompanha também o surgimento de agências de modelos nas comunidades, empresas que pensam a cultura da juventude como um negócio que obtenha retorno financeiro, além de visibilidade e reconhecimento a seus locais de origem. Produção da Espiral e da Osmose Filmes, viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o filme venceu o Prêmio de Melhor Documentário pelo voto popular no Festival do Rio 2019 e de Melhor Longa Metragem do XIII Prêmio Pierre Verger. “Favela É Moda” está disponível na plataforma Curta!On, o novo clube de documentários do NOW, da Claro NET.
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Plataforma para assistir em casa o filme em cartaz Apesar de nada substituir o escurinho do cinema, o Cinema Virtual é uma plataforma de streaming desenvolvida em parceria com os cinemas para trazer para dentro de sua casa, com toda segurança em tempos de pandemia, os filmes em cartaz. Mais informações acesse: www.cinemavirtual.com.br
Festival Sesc SP Melhores Filmes A edição de 2021, 47º Festival Sesc Melhores Filmes, está prevista para acontecer ao longo do mês de abril, com exibições em streaming, na plataforma do Sesc SP Digital. Na noite de abertura do festival, serão revelados nomes premiados pelo público e pela crítica especializada nas categorias de melhor filme, direção, atriz e ator nacionais e estrangeiros, e melhor roteiro, fotografia e documentário nacionais que foram votados pela internet, das 176 produções que estrearam em 2020, ano que ficou marcado pelo início da pandemia de covid-19, impactando diretamente o lançamento de filmes nas salas de cinema do mundo todo.
O meio século de ativismo do Greenpeace Os 50 anos do mais conhecido movimento ativista do mundo está registrado no documentário “A História do Greenpeace”. Tudo começa num encontro entre pacifistas americanos, canadenses, um grupo religioso e anarquistas que até hoje criam estratégias e inventam novas formas de combater as emergências climáticas. No Brasil eles atuam desde 1992. O trailer do filme pode ser visto em: https://www. youtube.com/watch?v=j4JG63Zcn1o&feature=emb_logo
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Pelas Empresas
FELIPE ARARIPE
Gerdau completou 120 anos preparada para um novo ciclo de crescimento sustentável
A De São Paulo
Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço e uma das maiores do mundo, completou 120 anos no dia 16 de janeiro. Nos últimos anos, a Gerdau novamente se reinventou: transformou-se em uma organização ainda mais focada em pessoas, mais digital, inovadora, diversa e inclusiva, mantendo um sólido desempenho financeiro. Pensando no futuro, a empresa avança de forma acelerada em dois grandes desafios: gerar mais valor para seus clientes localizados em seus principais mercados, especialmente nas Américas e tornar-se uma organização ainda mais sustentável, em todas as suas dimensões. Nascida em Porto Alegre (RS), com uma pequena fábrica de
ões onde opera. Atualmente, a companhia, maior recicladora de sucata ferrosa das Américas, busca ser um modelo para a indústria global do aço, tornando os conceitos de sustentabilidade um dos eixos centrais do seu modelo de negócios. “CheJoão Gerdau e seu filho Hugo lançam as bases da gar aos 120 anos é um marco Gerdau com inauguração da Fábrica de Pregos muito significativo para uma Pontas de Paris em Porto Alegre (RS), em 1901. empresa brasileira. Uma história construída por muitas gerapregos, a companhia, ao longo dos 120 ções de colaboradores e parceiros que anos, destacou-se pela capacidade em- tornaram possível a Gerdau que temos preendedora liderada pela família Ger- hoje. Por isso, queremos aproveitar o dau Johannpeter e se transformou em momento para honrar a nossa trajeuma das principais multinacionais tória e projetar os próximos 120 anos. brasileiras, com operações presentes Queremos ser uma empresa diferente em diversos países. do modelo tradicional de produção de A empresa procurou sempre ser aço e ter foco centrado cada vez mais uma agente de transformação social nos nossos clientes”, comentou Gustae de preservação ambiental nas regi- vo Werneck, CEO da Gerdau.
Neoenergia inicia entrega dos refrigeradores científicos para armazenamento de vacinas Do Rio
Os mais de 700 refrigeradores científicos doados pela Neoenergia e destinados ao armazenamento de vacinas começaram a ser distribuídos, no dia 18 de fevereiro, para os 673 municípios beneficiados pela iniciativa da companhia. Os primeiros equipamentos foram entregues pelas distribuidoras da Neoenergia na Bahia (Coelba) e em Pernambuco (Celpe). Na Bahia, as entregas estão ocorrendo em municípios próximos a Feira de Santana, já em Pernambuco, as câmaras de refrigeração começam a ser entregues em postos de saúde do Recife nesta sexta-feira (19). Os municípios escolhidos em São Paulo e no Rio Grande do Norte, nas áreas de concessão da Elektro e da Cosern, respectivamente, devem receber as primeiras unidades
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na próxima semana. A doação, que totalizou R$ 7,5 milhões em recursos que fazem parte do Programa de Eficiência Energética (PEE), regulado pela Agência Nacional de Eficiência Energética (Aneel), terá distribuição gradativa, com previsão de entrega de todos os refrigeradores até o final de abril. Todas as cidades
PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2021
escolhidas são atendidas pelas concessionárias de energia da companhia – Coelba (BA), Celpe (PE), Cosern (RN) e Elektro (SP/MS). A ação contribuirá com a imunização da população e o combate à pandemia de covid-19 nas cidades com os menores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) das áreas de atuação das empresas. “O nosso objetivo é de auxiliar a população dos municípios mais necessitados das nossas áreas de concessão a conter a pandemia. Os refrigeradores científicos doados são adequados para armazenar as vacinas que fazem parte das campanhas de imunização, por terem temperatura programável e constante entre 2ºC e 8ºC, sensores e bateria, para o armazenamento adequado das doses”, afirma a gerente de Eficiência Energética da Neoenergia, Ana Christina Mascarenhas.
Instituto Coca-Cola Brasil faz 20 anos com a missão de gerar impacto social em escala pelo Brasil INSTITUTO COCA-COLA BRASIL
Do Rio
Flicts é uma cor que não consegue ser aceita em lugar nenhum: não se encaixa no arco-íris, nos estandartes, nas bandeiras, no céu, no mar… Não há lugar no mundo para Flicts. Ninguém quer ser seu amigo ou deixá-la participar das brincadeiras nem reconhecem seu valor. Essa cor (um tom de marrom mais amarelado) inventada por Ziraldo, que dá nome ao seu primeiro livro infantil, é peça essencial do logotipo que celebra os 20 anos do Instituto Coca-Cola Brasil. Estampada entre as oito cores que fazem parte da marca, Flicts está ali pois representa perfeitamente a inclusão. “Esse é um dos meus livros favoritos e fala justamente sobre inclusão, que é o objetivo principal do Instituto Coca-Cola Brasil. Então achei que adicionar essa cor ao logotipo faria todo o sentido”, conta Daniela
Instituto Coca-Cola Brasil atualmente se concentra no desenvolvimento de comunidades de baixa renda, com foco em empregabilidade de jovens e acesso a água
Redondo, diretora da organização cuja missão é promover transformações sociais, em larga escala, potencializadas por parceiros e por todo Sistema Coca-Cola Brasil. Ao longo desses 20 anos, o instituto trabalhou nas áreas de educação,
reciclagem e, hoje, se concentra no desenvolvimento de comunidades de baixa renda, com foco em duas grandes frentes: empregabilidade de jovens e acesso a água. Ambos os temas serão prioridade absoluta, pelo menos, até 2025.
Campanha do Bradesco com vagalumes se torna maior ação simultânea de realidade aumentada do mundo De São Paulo
Em um 2020 marcado pela incerteza da pandemia do coronavírus, o terceiro filme da campanha de fim de ano realizada pelo Banco Bradesco com vagalumes foi lançado para resgatar a esperança e o brilho interior de cada pessoa para superar os momentos difíceis. O resultado: a maior ação simultânea de realidade aumentada já registrada no mundo. Criada pela agência Publicis e produzida pela Zombie Studios, a terceira parte da animação trouxe os vagalumes Lúcio e Luna vendo cenas que ficaram marcadas
durante os períodos de distanciamento social. Nas imagens, Sr. Oswaldo é o protagonista do filme em meio à escuridão de tristeza. Porém, ele é recebido pelas luzes dos vagalumes que mostram que existem muitas razões para seguir em frente. Para acompanhar uma mensagem tão mágica e impactante, foi utilizada uma das maiores inovações já apresentadas pela televisão brasileira nos últimos tempos: a digitalização do off-line, com todas as métricas que a internet pode oferecer. Saem os clássicos 30 segundos de um comercial e entram horas de engajamento e interação de prospects e clientes.
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I m a g e m FOTOS DE GABRIELA SCHUCK E JEFERSON PRADO/ SESC PANTANAL
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curi, canjiqueira, jatobá, bocaiuva, jenipapo, figueira e marmelada já voltaram a dar frutos na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país, a RPPN Sesc Pantanal, localizada em Mato Grosso. Essas árvores servem de alimento para araras, queixadas e a anta, o maior mamífero da América do Sul. Os primeiros sinais de recuperação na unidade de conservação, que teve 93% da área atingida pelo fogo, deixam pesquisadores otimistas, mas cautelosos diante dos impactos em longo prazo dos incêndios sobre o bioma. No Dia Nacional das RPPNs, em 1 de fevereiro, pesquisadores mostraram-se otimistas com os primeiros sinais de recuperação, mas cautelosos diante dos impactos a longo prazo. Em 2020, como denunciou a Edição 72 de Plurale - Especial Pantanal, 4,350 milhões de hectares incendiados no Pantanal, ou seja, 30% do bioma, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA). Na reserva do Sesc Pantanal, um dos locais mais severamente atingidos pelo fogo foi a grande área com acuris, mas essa espécie surpreendeu os pesquisadores e, após quatro meses, já volta a dar seus primeiros frutos. A expectativa inicial era que a nova safra de frutos ocorresse somente um ano após os incêndios.
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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2021
Nelcina Tropardi, Arcamais, Presidente da ABA
Frank Pflaumer, Nestlé, 1º Vice-Presidente da ABA
O FUTURO PASSA POR AQUI. Para você, o futuro inspira medo ou inspira? Profissionais que caminham na direção do futuro, movidos por ideias e ideais. Impulsionam negócios, transformam a sociedade e uns aos outros. Sorte das marcas que têm profissionais que pensam assim. Eles se reúnem na ABA. Faça parte da ABA. aba.com.br
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANUNCIANTES