plurale em revista ed.29

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ano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

PLURALE EM REVISTA

MAI / JUN 2012

FO TO D E IS MA R I NGBER - CALÇADÃO DA PRAI A DE COPACAB ANA (RJ )

Nº 29

www.plurale.com.br

Edição Especial • RIO+20 ARTIGOS INÉDITOS

ENSAIOS: AS BELEZAS DA CIDADE MARAVILHOSA

DEPOIMENTOS: OS FILHOS DA ECO92



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Editorial

20 anos depois, um planeta conectado que emite SOS

E

Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

m 1992, quando cobrimos a Conferência das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Eco-92, o mundo era outro. Computadores já existiam, é verdade que não com as facilidades que hoje temos, mas a Internet e todos os recursos de conexão ainda engatinhavam. Quando os líderes globais estiverem reunidos no Riocentro, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o cenário será bem diferente. Antes, nem sequer se usava e praticava o conceito de sustentabilidade, agora arraigado e cobiçado por uma boa parte da sociedade. Houve sim alguns contratempos no processo de organização – como a disparada de tarifas hoteleiras e por conta de situações locais, foi confirmada ausências de lideranças relevantes como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a primeira-ministra alemã, Angela Merckel. Os resultados a serem esperados destes dias de Conferência não há mesmo como prever. Para os articuladores da Conferência, sejam representantes da ONU ou do Governo Brasileiro, que convocou e é anfitrião do evento, “é um sucesso desde já”. Ambientalistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil se

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preocupam com a falta de ambição no documento prévio apresentado e revelam baixas expectativas. A urgência de diálogo e direcionamentos é mais do que claro. O planeta, hoje conectado, manda SOS. A fome, falta de saneamento básico e insumos mínimos para uma vida digna ainda assolam não só países mais carentes da África, mas também outras nações. A tsunami que matou tantos, metaforicamente no movimento de arrastar o que vê pela frente, também “arrastou” até mesmo economias antes desenvolvidas, envoltas em crise econômica e financeira. Que mundo é este? Para onde vamos? O que pode ser feito? Para tentar delinear melhor este cenário, Plurale em revista preparou esta Edição Especial pela Rio+20. Trazemos artigos inéditos de especialistas, matérias também de fôlego e material de apoio para que nossos leitores possam acompanhar melhor estas rodadas de negociação e diálogo da sociedade civil. Procuramos jovens na faixa de 20 anos que pudessem relatar suas expectativas para o futuro do planeta. Os filhos da Eco 92 mostraram-se preparados e engajados na causa socioambiental. Confira as próximas páginas e confira a cobertura on-line através do portal Plurale em site (www.plurale.com.br). Boa leitura, juntos e conectados!


Conte xto

FOTO: PAULO LIMA

32.

ARTIGOS INÉDITOS FOTO: ISMAR INGBER

22. e 42.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS:

O RIO PELAS LENTES DE ISMAR INGBER E FERNANDO GONÇALVES

10.

FOTO: FERNANDO GONÇALVES

BAZAR ÉTICO

24.

OS FILHOS DA ECO 92 PELO BRASIL

34 ESTANTE

60 CARBONO E ENERGIA

64 CINEMA VERDE

65

28.

ONGS:

PROTAGONISMO SOCIAL PARA FAZER A DIFERENÇA

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Quem faz

Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

Plurale em revista, Edição 28 Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação

Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima

e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Alana Gandra (Agência Brasil) Alexandra Lichtenberg, Alexandre Mansur (Revista Época), Alfredo Sirkis, André Trigueiro (TV Globo), Carolina Gonçalves (Agência Brasil), Cecília Corrêa, Christian Travassos, Edmilson Oliveira, Elizabeth Oliveira, Equipe IHU On-Line, Fernando Gonçalves, Ilan Goldfajn, Ismar Ingber, Jéssica Lipinski (Instituto Carbono Brasil), Lília Gianotti, Marcelo Pinto, Marcus Quintella, Matilde Silveira, Paulo Lima, Raquel Ribeiro, Romildo Guerrante, Rubens Harry Born e Verônica Couto. Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

“Agradeço o envio de exemplar de Plurale em revista. Receba meus cumprimentos. Atenciosamente, “ Michel Temer, VicePresidente da República, Brasília (DF) “Senhora Sônia, Acuso o recebimento e agradeço a gentileza do envio do exemplar da Edição de número 28 de Plurale em revista, Especial Água, que traz a matéria sobre a RPPN SESC Pantanal. Parabéns pela reportagem e belíssimas fotos. Na oportunidade reitero manifestações de distinta consideração. Cordialmente, Antônio Oliveira Santos, Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Rio de Janeiro (RJ) “Foi um privilégio poder contribuir com Plurale em revista pela seriedade e a densidade com que ela traduz os seus artigos. Da mesma forma a diversidade dos temas e a qualidade dos seus colunistas mostram a realidade da questão ambiental no Brasil e no mundo. Obrigado pela oportunidade.” David Zee, Coordenador do Mestrado Profissional em Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida “Mais um belo número de Plurale em revista que vocês conseguiram consolidar (como me lembro do lançamento!). Está muito bom, como sempre, mas gostei do destaque da entrevista feita por Sônia Araripe que abre o número, com o oceanógrafo David Zee, na qual ele chama atenção para a importância decisiva de se dar mais prioridade aos cuidados de prevenção na exploração do pré-sal. Há uma euforia natural, mas o açodamento pode pôr tudo a perder. É uma exploração tecnicamente muito complicada e perigosa, e pode virar uma atividade maldita. Todo o cuidado é pouco; realmente, todo cuidado é pouco. Parabéns pelo alerta.” Roberto Saturnino Braga, escritor e exsenador, Rio de Janeiro (RJ) Excelente texto do Professor Luiz Antônio Gaulia, publicado na última edição de Plurale em revista. Mais uma vez esclarece que as relações internas devem ser pautadas pela transparência e a confiança, através de processos de comunicação frequentes capazes de “hidratar” a organização de maneira saudável em todos os níveis hierárquicos. Parabéns à Plurale pela edição 28! Alessandro Monteiro, Rio de Janeiro (RJ) “Adorei a matéria sobre água com status gourmet, de Letícia Koeler, publicada na Edição 28 de Plurale

em revista. Nunca tinha ouvido falar dessa variedade e que podíamos harmonizar água de qualidade com comida. Ótima sugestão!” Fernanda Galvão, Rio de Janeiro (RJ) “Agradecemos a atenção e comprometimento dos gestores de Plurale em Revista na parceria firmarda com a Biblioteca do Campus CCTA/UFCG, quanto à disponibilização periódica dos exemplares para nossa Unidade de Informação. Salientamos a satisfação e gratidão pela contribuição que enriquece sobremaneira o acervo informacional da Biblioteca deste Campus.” Jacqueline de Castro Rimá, bibliotecária da Biblioteca Campus Pombal do Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar, da Universidade Federal de Campina Grande (PB) Adorei a nova edição da Revista Plurale. A edição especial sobre a água ficou excelente estou utilizando em sala com meus alunos. Parabéns à toda equipe pelo belíssimo trabalho! Clara Portela, professora, Joinville (SC) Edição 27 “Parabéns ao corpo editorial da Plurale pelo excelente trabalho que vem realizando ao longo destes anos e prestando um enorme serviço à sociedade brasileira. Atenciosamente,” Melicia Galdeano, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro (RJ) “Gostei muito de Plurale em revista, Edição 27. De tudo. Artigos inteligentes, informações atualizadas, ilustração limpa. Vocês conseguiram tratar de Sustentabilidade como um todo. Ela aparece de forma transversal, em temas específicos ambientais e em temas socioculturais. Muito úteis as dicas de alimentação, também. Vou divulgar no meu humilde blog (www.guidapv.wordpress.com), com sua permissão. Forte abraço,” Fernando Guida, Secretário Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade de Niterói (RJ) “Trabalhar para o Terceiro Setor parece algo utópico. Pensar que a sociedade civil se organiza para buscar alternativas para os problemas sociais dos quais o Estado não dá conta. O artigo da senhora Maria Elena Johannpeter, publicado na Edição 27 de Plurale em revista, é certo ao falar que estamos vivenciando uma nova realidade social. Os Valores Humanos que norteiam as ONGs e Entidades sem fins lucrativos já formam as bases dessas redes de engajamento cívico e ações de promoção humana. Não há desenvolvimento econômico ou político que consiga persistir sem que venha acompanhado de desenvolvimento social.” Débora Cabral, do Departamento de Comunicação e Treinamento Lar de Maria, Belém (PA)


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Frases “A Rio + 20 já é um sucesso.” IZABELLA TEIXEIRA, Ministra do Meio Ambiente, em entrevista coletiva, descartando a hipótese da ausência de alguns líderes globais, como Barack Obama e Ângela Merckel enfraquecer a Conferência

“A Rio+20 pode não fazer diferença se não avançar nos assuntos já tratados desde 1992” JOSÉ GOLDEMBERG, físico, professor da Universidade de São Paulo, em artigo

“O Rio recebe a Rio+20 mais preparado, passando menos vergonha do que passou em 1992. A Rio+20, como primeiro de uma série de grandes eventos – a Copa das Confederações (2013), a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016) - é uma oportunidade de a gente receber bem, mas é um evento que traz mais autoridades do que massa.” EDUARDO PAES, Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, em entrevista para O Estado de S. Paulo

“O business as usual acabou”. SÉRGIO BESSERMAN VIANNA, economista, principal articulador pela Prefeitura do Rio na Conferência Rio + 20, em entrevista à Veja

“É importante que cada país tenha espaço político para definir e perseguir o seu próprio caminho para uma economia verde. Mas há coisas que nós, como comunidade internacional, precisamos fazer juntos para nos colocar no caminho do desenvolvimento sustentável” SHA ZUKANG, Secretário-Geral da Rio + 20 para a Folha de S. Paulo “A crise afeta os três pilares do desenvolvimento sustentável, o social, o ambiental e o financeiro. Se a ideia é ter um mundo diferente, sob novos paradigmas, o efeito da crise contribui para a discussão de mudanças significativas. A crise ajuda a pensar em alternativas” Embaixador ANDRÉ CORRÊA DO LAGO, negociador-chefe do Governo Brasileiro na Rio + 20, sobre o impacto da crise em países desenvolvidos, em entrevista coletiva 8

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REDE ASTA Escultura do Pão de Açúcar feita pelo grupo produtivo Cerâmica Negra – R$ 55,00

REDE ASTA Ecobag em jeans com detalhe em retalhos do grupo Toque de Mão– R$ 89,90

PROVIDÊNCIA Colar em miçangas e canutilhos colorido R$ 65,00

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Rio de Janeiro respira e inspira moda. Artesãs cariocas têm ganho espaço no cada vez mais competitivo segmento de moda criada por cooperativas e ONGs a partir de material reciclado. Plurale em revista, nesta Edição Especial Rio + 20, apresenta uma pequena, mas representativa, amostra desta diversidade tendo como tema pontos turísticos, cenas e toques que lembrem este clima carioca descontraído. As artesãs da Rede Asta, impulsionada pela jovem Alice Freitas e equipe, apresentam a ecobag estampada com o Cristo Redentor e a escultura lembrando o Bondinho do Pão de Açúcar. Da Providência, trouxemos bijuterias coloridas e divertidas, inspiradas na graça das garotas da Cidade Maravilhosa. A ONG Ressurgir mostra almofada para apoiar laptop com belo desenho da silhueta do Rio, assim como uma prática ecobag também temática. Outra boa notícia é que a Coopa-Roca, da Rocinha, uma das primeiras cooperativas a fazer esta linha direta da moda com o Terceiro Setor, abriu uma loja no afamado e luxuoso Shopping Fashion Mall, em São Conrado, bem próximo da comunidade. As almofadas bordadas em fio de seda foram o item mais procurado, assim como as luminárias com crochê feito a que ilustra esta página. Vale conhecer o trabalho destas e de tantas outras empreendedoras sociais carioca. Boas compras! É sempre bom lembrar que além de estar adquirindo um produto social, você está ajudando a gerar renda as artesãs de comunidades, que poderão se capacitar ainda mais. Contatos: • ASTA – Site com loja virtual: www.asta.org.br Lojas: Rua Mário Portela, 253, Laranjeiras, Zona Sul Rua Diacuí, 81 - Moema - São Paulo - Telefone: (21) 3217 9967 corp@asta.org.br • COOPA- ROCA – Site com loja virtual: http://www.coopa-roca.org.br coopa-roca@coopa-roca.org.br - Loja no Shopping Fashion Mall, 2º andar, São Conrado, Zona Sul - Tel (21) 2259 2618 • PROVIDÊNCIA – Site com loja virtual: www.grifeprovidencia.org.br Quiosque no 4º piso do Shopping RioSul, Botafogo, Zona Sul Tel: (21) 3257 2769 • RESSURGIR – Site: http://www.ressurgir.org.br Telefone (21) 2213-4440/ramal 30 oficinas@ressurgir.org.br Quiosque no Metrô do Largo da Carioca (Centro) até 30 de Junho

10 Fotos de Anna Kahn

A graça do Rio em belas criações

foto: Christina Rufatto/ Divulgação

Bazar ético

COOPA-ROCA Luminária de mesa, de 20 cm com crochê R$ 220 (cada)

RESSURGIR Ecobag com Cristo pintada a mão R$ 25,00

RESSURGIR Bandeja/almofada para apoiar laptop R$ 69,90

Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.



Entrevista

PEDRO ROBERTO professor JACOBI, da USP GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL: UMA DISCUSSÃO PRECARIZADA

Da IHU On-Line

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governança ambiental global, um dos temas centrais que nortearão as discussões da Rio+20 no próximo mês, tem ganhado menos destaque nos debates que antecedem o evento, mas é tão ou mais importante que as discussões sobre a economia verde para definir os rumos do planeta em relação às questões ambientais. “Se essa discussão não tomar outra forma, ainda viveremos uma situação de muita incerteza”, diz o professor da Universidade de São Paulo – USP, Pedro Roberto Jacobi. E ressalta: “O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA não tem recursos nem estrutura suficiente para exercer um papel norteador de políticas globais como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Organização Mundial do Comércio – OMC etc.” Para ele, os chefes de Estados precisam se empenhar na formulação de uma governança ambiental global, pois, sem a definição de agenda política comum, é impossível projetar e definir alternativas planetárias para o meio ambiente. Na avaliação do pesquisador, as discussões sobre a governança global na Conferência Rio+20 serão prejudicadas pela não participação do presidente dos EUA, Barack Obama, e da chanceler da Alemanha, Ângela Merkel. “Na medida em que

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os chefes de Estados entendem que não se torna necessária a vinda deles no encontro, desqualificam o evento. Obviamente esse é um elemento de frustração para o encontro, pois as justificativas deles não ficaram claras”, aponta na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line. Jacobi destaca ainda que não existe uma receita para construir uma governança ambiental global, mas é preciso insistir neste projeto, já que a “experiência que se tem de governança global no caso da ONU tem se demonstrado extremamente frágil por conta das guerras e todos os dilemas internacionais”. E dispara: “As grandes mudanças não acontecem a partir de eventos como a Rio+20. As grandes mudanças acontecem pela perseverança, pela consistência, pela visão mais democrática de debates e discussão ao longo dos anos, ao longo dos dias. Nesse sentido, é fundamental fortalecer as práticas educativas em todos os níveis”. Pedro Roberto Jacobi é graduado em Ciências Sociais e Economia pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Graduate School of Design – Harvard University, e doutor em Sociologia pela USP, onde leciona atualmente. Jacobi e Sonia Maria Flores Gianesella são os organizadores da obra A sustentabilidade socioambiental: diversidade e cooperação (São Paulo: Annablume, 2012). O pesquisador também é um dos editores da revista eletrônica Ambiente & Sociedade.


Confira a entrevista. IHU On-Line – Que concepção ambiental se propõe na Rio+20, considerando os temas mais pertinentes da conferência: economia verde, erradicação da pobreza e governança global? Propõem-se de fato mudanças para garantir a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, ou a mercantilização da questão ambiental? Pedro Roberto Jacobi – Diria que um pouco de tudo. A Rio+20 é um evento que curiosamente está acontecendo de uma forma na qual se verifica muita falta de informação sobre o evento em si e sua dinâmica. Isso acaba tendo um efeito psicológico de frustrações, pois não se sabe qual será o nível de participação da sociedade e nem os resultados que podem surgir. Os temas a serem discutidos na Rio+20 dizem respeito à contemporaneidade e demandam discussão. Haverá, do meu ponto de vista, resultados que de certa forma estarão presentes tanto para agradar como para desagradar os participantes. É preciso entender que o lado econômico não pode ser desconsiderado dessa discussão. Ou seja, as organizações econômicas estão buscando novas formas de se posicionar no mercado. Então, temos de lidar com isso de uma forma muito concreta. Por outro lado, uma das grandes questões hoje é a capacidade que a sociedade civil tem de ampliar essas questões além do momento que precede um evento. Ou seja, entre o antes e o depois, o que está acontecendo? Esse é um lado bastante frustrante porque, de certa forma, nós observamos que, do ponto de vista das transformações da lógica produtiva, a discussão não é colocada. Essa questão aparece muito mais numa abordagem associada ao papel da mudança vinculada com as ecoeficiências, ou com a substituição de combustíveis fósseis por não fósseis, de petróleo por energias renováveis etc. Então, a essência das necessidades que as pessoas focadas no tema ambiental discutem – vinculadas inclusive ao consumo – é abordada de uma forma muito genérica e superficial. Pessoalmente estou preparado para conviver com o avanço, mas também estou preparado para que haja pouco resultado nesse encontro. De todo modo, gostaria de ressaltar que é fundamental que esses eventos aconteçam. Nós vivemos, depois de setembro de 2001, um processo de perda do multilateralismo. Por isso, o encontro em si é importante, independentemente do resultado de fortalecer debates planetários sobre temas que ainda poucas pessoas efetivamente estão sintonizadas, como mudar padrões de consumo, mudar a lógica produtiva etc. – Em que sentido o senhor percebe que há falta de informação acerca da Rio+20? Refere-se no sentido de que muitos não compreendem que o tema central desta discussão diz respeito à mudança dos padrões de produção e de consumo, ou aos temas que serão abordados no evento? – Quero dizer que é um encontro que está sendo organizado de uma forma bastante atabalhoada, que as pessoas têm poucas informações sobre a Rio+20 e também sobre o evento dos movimentos sociais, a Cúpula dos Povos. Isso indica um problema no seguinte sentido: Como as pessoas participarão desses eventos? Como se organizarão? O próprio governo brasileiro tem tido um envolvimento discreto em relação ao evento, considerando que é o organizador da Rio+20.

– As discussões antecessoras à Rio+20 focam bastante no tema da economia verde, mas pouco se fala na questão da governança ambiental global. Está se dando pouca importância para essa questão? – A meu ver, muito além da discussão acerca da economia verde, o tema da governança ambiental global é fundamental nesse evento. Se essa discussão não tomar outra forma, ainda viveremos uma situação de muita incerteza. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA não tem recursos nem estrutura suficiente para exercer um papel norteador de políticas globais como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde – OMS, a Organização Mundial do Comércio – OMC etc. Do meu ponto de vista, precisamos de uma resposta dos governantes em relação à importância da governança ambiental global. – Chefes de Estados de alguns países, como Barack Obama e Ângela Merkel, cancelaram a vinda a Rio+20. Como fica a discussão acerca da governança global no encontro? – Esse é o ponto. A discussão ficará bastante precarizada. É obvio que o Obama, na medida em que está às vésperas do processo eleitoral, entende que a participação na Rio+20 não será muito conveniente, e enviará seus representantes. Na medida em que os chefes de Estados entendem que não se torna necessária a vinda deles no encontro, desqualificam o evento. Obviamente esse é um elemento de frustração para o encontro, pois as justificativas deles não ficaram claras. A Alemanha de fato é um país estratégico. O novo presidente francês provavelmente não virá. Entendo que, mesmo com pouca representatividade, talvez o tema da governança seja tema de encontros intermediários. A falta de alguns presidentes desvaloriza também a tomada de decisões, apesar de eu ser bastante pessimista em relação a uma possível tomada de decisões na Rio+20. – Qual a necessidade de se estabelecer uma governança ambiental global? Que ações e políticas deveriam fazer parte dessa governança? É possível haver uma maior coordenação entre as políticas de governo, considerando que os países têm interesses econômicos diferentes? – Estamos chegando a uma situação na qual ninguém poderá escamotear mais por muito tempo, por conta do aquecimento da global, da camada de ozônio e todos os impactos que demonstram necessidade de respostas planetárias. Então, como se constrói essa governança global? Talvez seja preciso muitas reuniões para se definir isso, mas o fato de se colocar esse tema numa agenda planetária é algo estratégico. Essa pergunta, de como se constrói a governança global, nos dá margem para muitas dúvidas, porque a experiência que se tem de governança global no caso da ONU tem se demonstrado extremamente frágil por conta das guerras e todos os dilemas internacionais. Necessitamos de atores que induzam cada vez mais essa questão. Talvez o exemplo mais concreto seja o fracasso do Protocolo de Kyoto. Embora ele tenha sido um fracasso global, ele abriu pautas, agendas e caminhos para a discussão de processos que são desdobramentos de articulações. Cada momento é um momento. Então, se o presidente Obama não pode tomar decisões porque ele é refém de um Congresso conservador, está colocado um problema sério, porque um dos maiores emissores de gás carbônico do mundo está de mãos atadas.

Continua na página 16...

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Beleza não é só o que a gente vê e admira. Beleza é o que a gente faz. Há 22 anos.


Animais, plantas, flores, rios, florestas. Nada é tão urgente quanto manter o equilíbrio dessa diversidade. Nada é tão importante quanto agir para isso. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foi criada com esse objetivo. Há 22 anos, atuamos em todos os biomas e conservamos a Mata Atlântica e o Cerrado, adquirindo e preservando mais de 11 mil hectares. Assim como investimos em pesquisa e projetos, ajudando a preservar muitas espécies. Porque entendemos que beleza é o que a gente realiza, de fato, para preservar o que a vida tem de mais belo.


Entrevista Continuação da página 13 Agora, qual será o comportamento da China? Ela é contraditória: ao mesmo tempo em que está poluindo e trabalhando com carvão, está investindo em energias alternativas etc. Então, é difícil. Qualquer resposta vai ter um viés. Não quero parecer tão afirmativo, que pareça que a minha resposta circunscreve um momento. Eu quero olhá-la como uma resposta que tem vários momentos. Se nesse momento se coloca um espaço de reflexão e de avanço, que se desejaria em relação há vinte anos, muitos que olham o momento de hoje podem achar que poucos avanços ocorreram. Entretanto, apesar de 20 anos na história da humanidade representar pouco tempo, os avanços conceituais e metodológicos têm sido relevantes. O próprio fato de se constituir um Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima – IPCC é um avanço importante para uma convergência do que se possa falar da relação do conhecimento científico com aplicações concretas nas políticas públicas. Se olharmos essa discussão de uma forma estática, não conseguiremos ver essas questões. PERSPECTIVAS Todos os embates que acontecerem na Rio+20 podem, pós-evento, nos dar uma sensação de que não aconteceu nada, justamente porque não se avançou nas Convenções anteriores. Mas houve avanços em relação à biodiversidade e vários outros temas. Ninguém tem a receita da governança, mas temos de chamar a atenção de que a governança global não se dê a partir de um epicentro, mas sim a partir de uma articulação de epicentros decisórios e de pactos que terão de ser assumidos em nível regional, nacional e internacional. – O senhor identifica atores potenciais que possam propor uma agenda de governança ambiental global? – Poucos. O Brasil, se se dispusesse – mas não parece muito disposto –, poderia ser um provocador. Se o presidente Obama for reeleito, talvez possa assumir parte dessa agenda que não pode assumir antes por conta da reeleição. Outro agente seria a China. Mas também não é muito provável. Li recentemente que as emissões do planeta aumentaram em 2011 na relação com 2010, justamente num período em que o capitalismo está em crise. Não parece uma contradição? Que resposta se dá a isso? Há um total descuido dos governos com as emissões, e 99,9% da população não entende nada sobre essas discussões. De todo modo, quanto mais os governantes trouxerem esses temas para a discussão, melhor. – Como avalia o discurso e a prática da agenda ambiental brasileira? – A prática demonstra um governo claramente focado no desenvolvimentismo e, pelo fato de ter uma área significativa do seu território composta por ecossistemas com rara biodiversidade, constrói um telhado de vidro. A política do governo tem favorecido as formas tradicionais de desenvolvimento. Apesar de haver muitas críticas ao texto do Código Florestal, houve avanços resultantes da pressão da sociedade civil. O governo tem uma agenda desenvolvimentista, por isso frustra

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o movimento ambientalista. Com o passar dos anos, esperamos estar à frente da agenda das políticas públicas, esperamos ter pessoas que assumam uma visão mais transversal sobre um processo que tem de garantir o desenvolvimento, a questão social, e o desenvolvimento sustentável. O Código Florestal atingiu o que o governo estava disposto a conceder como limite máximo. – O senhor também estuda a governança da água. Em que consiste essa proposta? Como tem acontecido o processo no Brasil? É possível pensar uma governança global desse aspecto? – Tenho trabalhado a governança da água em nível nacional, regional e local. Uma argumentação sobre a governança da água já existe no Brasil a partir de 1997, na Política Nacional de Recursos Hídricos. A visão de governança transcende uma visão de gestão, porque é uma construção conceitual, teórica e operacional associada a uma visão hidropolítica. Ou seja, a água como um recurso que não pode ser administrado apenas sob uma perspectiva técnica. Qual é o desdobramento disso quando falamos na governança da água? É a aplicação de uma legislação nacional na qual prevalecem três componentes: a gestão descentralizada por bacias hidrográficas; a gestão integrada; e a gestão participativa. Quando falo em descentralização, quero dizer da importância que assume a gestão por bacias hidrográficas. Praticamente todo o país, com exceção da região amazônica, está organizado nos seus estados a partir da existência de comitês de bacias hidrográficas, ou consórcios. Nesses comitês envolvem-se quatro segmentos: os estados, os municípios e os diferentes segmentos da sociedade civil, além da União. Quando falamos de governança, nos referimos a essa articulação sociopolítica institucional, essa forma de gestão que não depende apenas de uma visão tecnicista, mas também de uma negociação entre os atores. AVANÇOS O Brasil avançou muito, se comparado ao resto da América Latina, em relação a sua governança. Talvez o outro país que tenha avançado em forma mais recente seja o Peru, que tem uma institucionalidade maior, e talvez a Colômbia. Agora quando falamos de governança global da água, nos referimos à governança de rios transfronteiriços. No caso do Brasil, nós temos duas situações muito concretas: a situação da Bacia do Prata e a situação da Bacia Amazônica. Essas são governanças intranações. Ou seja, são governanças transfronteiriças. São situações de água transfronteiriça que demandam governanças internacionais, mais amplas. DESAFIOS O importante é que hoje existam capacidades de governanças por países. É necessário que se avance sobre a governança transfronteiriça. Porque uma grande questão é garantir a qualidade da água de forma que ela seja suficiente para a provisão. O que acontece em muitos casos é a contaminação da água, que tem prejudicado a dimensão quantitativa, além de, obviamente, a qualitativa, e isso é um componente altamente negativo do ponto de vista de direitos humanitários. Não podemos esquecer que também podem existir situações em que essa potencialidade de governança seja prejudicada por conflitos políticos, guerras etc. Pessoalmente, não considero que haja situações que possam provocar a guerra da água, como tem sido dito por algumas pessoas.


Sustentabilidade é a energia que motiva nossas certificações!

Nossa responsabilidade com o Meio Ambiente se comprova com nossas certificações. Trabalhamos com um Sistema Integrado de Gestão nas áreas Ambiental, de Qualidade, de Saúde e Segurança.

Certificações


Rio+20

0 2 + o i R a r e d n e Para ent Temas centrais: Os dois temas centrais da Rio+20 – a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável – foram aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas de forma consensual entre os 193 países que integram a ONU. Nas reuniões do processo de preparação, os países têm apresentado propostas sobre esses temas, buscando resultados que possam ser adotados na Conferência.

O que é? A Rio+20 é uma Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que não faz parte do calendário das reuniões periódicas das Nacoes Unidas. Pertence a um conjunto de reuniões que acontecem esporadicamente em torno de temas ambientais — conhecidas popularmente como Earth Summits ou Cúpulas da Terra, quando tem participação significativa de chefes de governo - e que, ao longo do tempo, foram incorporando ao tema ambiental, questões econômicas e sociais. A primeira dessas reuniões foi a de Estocolmo em 1972, a segunda, a Rio 92, a terceira, a de Joanesburgo em 2002 e agora a Rio+20, que marca os 20 anos da Rio 92, a mais importante desse conjunto de Conferencias.

Onde vão acontecer os eventos:

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Se desejamos deixar um mundo habitável para nossos filhos e netos, os desafios representados pela pobreza generalizada e pela destruição do meio ambiente precisam ser enfrentados e resolvidos agora.

• O mundo tem hoje 7 bilhões de pessoas – em 2050, seremos 9 bilhões. • Uma em cada cinco pessoas – 1,4 bilhão de pessoas – vive atualmente com um dólar e 25 centavos ou menos por dia. • 1 bilhão e meio de pessoas no mundo todo não têm acesso a eletricidade. • 2 bilhões e meio de pessoas não têm vaso sanitário. • Quase um bilhão de pessoas passam fome todo dia. • A emissão de gases de efeito estufa continua a crescer, e mais de um terço de todas as espécies conhecidas podem desaparecer se as mudanças climáticas continuarem sendo desconsideradas. A Cúpula da Terra de 1992 estabeleceu princípios fundamentais. A Rio+20 representa uma nova oportunidade para pensarmos globalmente, de modo que possamos todos agir de forma local e assim assegurarmos um futuro comum para todos nós.

A Conferência acontece no Riocentro, que tem acesso restrito apenas aos credenciados pela ONU. Ali, os líderes globais irão se encontrar em área reservada. A Conferência será precedida pela terceira sessão da reunião do Comitê Preparatório, que ocorrerá de 13 a 15 de junho de 2012 também no Riocentro. Além deste “quartel-general”, o Rio terá even-

tos espalhados por toda a cidade. Na Barra da Tijuca também o Parque dos Atletas e a Arena Multifuncional vão abrigar Pavilhões, Exposições, Seminários e Palestras. A Cúpula dos Povos será realizada no Aterro do Flamengo; vários encontros acontecem no Forte de Copacabana; no Museu de Arte Moderna, Pier Mauá e Galpão Cidadania (Centro); etc

Por que precisamos da Rio+20?

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Transmissão do evento pela Internet

Línguas oficiais da Conferência: As seis línguas oficiais da Conferência são: Árabe, Chinês, Inglês, Francês, Russo e Espanhol, as mesmas das Nações Unidas

Diálogo sobre Desenvolvimento Sustentável: Com o objetivo de garantir que a Rio+20 observe os pilares do desenvolvimento sustentável, o Governo brasileiro criou, no âmbito do Comitê Nacional de Organização, uma Coordenação de Sustentabilidade. Sua função é analisar e propor ações para reduzir, mitigar ou compensar os impactos ambientais e sociais gerados pela conferência. As ações estão organizadas em nove dimensões: gestão das emissões de gases de efeito estufa, recursos hídricos, resíduos sólidos, energia, transporte, construções sustentáveis, compras públicas sustentáveis, turismo sustentável e alimentos sustentáveis.

O que são os “Major Groups”? Desde o início da Primeira Cúpula da Terra, em 1992, percebeu-se que o desenvolvimento sustentável não poderia ser alcançado apenas através da atuação de governos, mas que seria necessária a participação ativa de todos os segmentos da sociedade e tipos de pessoas – consumidores, trabalhadores, empresários, agricultores, estudantes, professores, pesquisadores, ativistas, comunidades nativas e outras comunidades interessadas. A Agenda 21 formalizou nove destes grupos como categorias principais, através das quais todos os cidadãos podem participar das atividades da ONU para alcançar o desenvolvimento sustentável. Estes grupos são oficialmente chamados de “Major Groups”. Acesse a página individual de cada Major Group em inglês (www. uncsd2012.org/rio20/majorgroups.html) ou na versão em português do site (www.rio20.info/2012/ major-groups-2).

Fonte e indicação para pesquisar mais: • Portal Plurale: www.plurale.com.br • Plurale em site no twitter: @pluraleemsite • Portal Rio+20 da ONU (em inglês): http://www.uncsd2012.org/rio20/index.html • Portal Rio+20 do Governo brasileiro: www.rio20.gov.br • Portal Agenda total: http://www.agendatotal.org/

As Nações Unidas realizarão transmissões ao vivo pela Internet (webcast) da Conferência oficial e de alguns eventos paralelos no endereço www.un.org/webcast . Também a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fará a transmissão de vários eventos. Acesse desde já a página especial da EBC em http://rio20.ebc.com.br Acompanhe a cobertura da Rio + 20, Cúpula dos Povos e outros eventos também pelo Portal Plurale (www.plurale.com.br) e pelas nossas redes sociais – Twitter: @pluraleemsite ; Facebook -http://www.facebook.com/plurale e Blog http:// revistaplurale.blogspot.com.br/

Como a sociedade em geral pode deixar um recado

O que é a Cúpula dos Povos

Foi lançado um site, o Futuro que queremos aberto para a participação das pessoas em geral. Pode ser através de um vídeo, foto ou texto. Os procedimentos para credenciamento da sociedade civil estão disponíveis em www.onu.org.br/rio20/ rio20-abre-credenciamento-para-sociedadecivil-e-inscricoes-emeventos-paralelos/

A Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental é um evento organizado pela sociedade civil global que acontecerá entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo – paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20. As inscrições para alguns tipos de atividades durante a Cúpula dos Povos estão abertas no site do evento.

• Portal O futuro que queremos: http://www.ofuturoquenosqueremos.org.br/ • Portal da Cúpula dos povos: http://cupuladospovos.org.br/ • Portal Rio+20 da ONU (em português): http://www.onu.org.br/rio20/ • Guia CEBDS/FBDS: http://fbds.org.br/spaw/uploads/files/RioMais20.pdf • Publicação De olho no meio ambiente em mutação: (Do Rio à Rio+20): http://www.onu.org.br/relatorio-do-pnuma- mostradesafios-e-oportunidades-para-o-desenvolvimento-sustentavel-rumo-a-rio20/


Depoimentos

Eu participei da Eco 92 e, agora, o que espero da Rio+20? A opinião de jornalistas que cobriram a conferência em 1992 e agora estarão novamente acompanhando as decisões 20 anos depois Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista

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o cenário internacional, nada mais simbólico destes 20 anos do que os atentados terroristas, a hecatombe do sistema financeiro capitalista, arrastando impérios e enfraquecendo forças hegemônicas e a revolta popular em países árabes. No Brasil, basta conferir a foto histórica da Eco-92 para lembrar que a pressão da sociedade foi decisiva para o impeachment do então presidente era Fernando Collor de Mello. Isso sem falar que o computador estava ainda “desembarcando” sembarcando” por aqui e que o termo sustentabilidade nem era conhecido pela maioria dos brasileiros. Mas afinal, que planeta é este, 20 anos depois? E o quê esperar desta Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável? Fomos ouvir jornalistas especializados no tema, que cobriram a Eco92 e agora estarão também trabalhando na Rio + 20.

“ O sonho acabou. Ainda bem ” ALEXANDRE MANSUR, EDITOR-EXECUTIVO DA REVISTA ÉPOCA Mesmo quem não estava embalado nos sonhos da Nova Era entende que uma conjunção astral única favoreceu a Rio92. O Muro de Berlim estava no chão. A União Soviética tinha acabado de se dissolver. Novas tecnologias, como o fax e as antenas parabólicas de TV, ajudavam na livre troca de informações. As pessoas estavam descobrindo que podiam se juntar livremente em organizações não-governamentais, com alcance até internacional. Os povos indígenas e tradicionais se olharam no espelho e perceberam que estavam vivos e, em muitos casos, se recuperando. Os povos indígenas e tradicionais se olharam no espelho e perceberam que estavam vivos e, em muitos casos, se recuperando. No vácuo deixado pela queda dos comunistas, uma causa ganhava relevância global:

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o desenvolvimento sustentável. O termo era tão vago naquele tempo quanto a sustentabilidade hoje. Mas serviu para agregar várias aspirações de um mundo melhor, mais justo, limpo e perene. Dentro do generoso guarda-chuva da Rio92, cabia o movimento feminista, manifestações de sincretismo religioso, organizações sindicais e até algumas bandeiras ambientalistas, como “salvem as baleias”, “Chernobyl nunca mais” e “não queimem a Amazônia”. Os transgênicos nem tinham sido inventados. Todo mundo podia escrever seus desejos na Árvore da Vida, uma escultura no meio do Fórum Global, a reunião das ONGs no Aterro do Flamengo, enquanto os chefes de estado no Riocentro assinavam uma Carta da Terra inspiradora. Daqueles dias felizes para cá, a ingenuidade acabou. As evidências científicas das mudanças climáticas roubaram a relevância de outros temas ambientais. A globalização fez mais pelo desenvolvimento e pelo fim da pobreza do que qualquer perdão da dívida. Hoje, no rugido de uma crise econômica internacional, ninguém mais levanta a bandeira de uma economia verde sem considerar seus custos – e seus benefícios mais para alguns do que para outros. Os limites naturais do crescimento estão sendo assimilados por governos e empresas. Essa é a boa notícia. O preço disso é que o sonho acabou.


“A Rio+20: evento incobrível ” ANDRÉ TRIGUEIRO, JORNALISTA DA TV GLOBO — DO BLOG MUNDO SUSTENTÁVEL AS REDES SOCIAIS A Rio+20 pertence à categoria de evento “incobrível”. Simplesmente não há como acompanhar tudo o que vai acontecer no Rio de Janeiro neste mês de junho. Mas na era das redes sociais os provedores de conteúdo estão por toda a parte, registrando e enviando as informações que pareçam importantes. Uma boa pescaria nas redes poderá reduzir a frustração de não poder acompanhar tudo de interessante que vai acontecer por aí. Se algo que você considera digno de registro ficou de fora dessa lista, compartilhe. Para todos os efeitos, a Rio+20 já tem pelo menos um resultado concreto: transformar o Brasil numa imensa plataforma de lançamento de novas ideias em favor de um mundo melhor e mais justo, um mundo sustentável. CÚPULA DOS POVOS Tal como se deu há 20 anos no Aterro do Flamengo – eu cobri o evento pela falecida Rádio JB/AM e guardo dele as melhores recordações – ONGs do mundo inteiro voltarão a ocupar o Aterro do Flamengo num gigantesco caldeirão sócio-cultural, étnico e religioso. Pode-se acompanhar os debates ou simplesmente curtir a experiência de testemunhar in loco a nossa bela e instigante biodiversidade humana. DIÁLOGOS SOBRE SUSTENTABILIDADE COM A SOCIEDADE CIVIL Nunca se viu nada igual na história das Conferências da ONU: convidados especiais de diferentes países debaterão dez temas estratégicos e sintetizarão os resultados em recomendações que serão posteriormente encaminhadas pessoalmente aos chefes de Estado no Riocentro. Alguns dos conferencistas serão escolhidos para entregar os documentos em mãos e trocar ideias com os governantes. A iniciativa é do governo brasileiro e, se der certo, poderá inspirar encontros semelhantes em outras conferências da ONU. Terei a honra de mediar o debate sobre Cidades Sustentáveis, um dos dez temas escolhidos.

“Ecos de Esperança” HIRAM FIRMINO, JORNALISTA E AMBIENTALISTA, EDITOR DA REVISTA ECOLÓGICO Como a natureza não dá saltos, a nossa também caminha de forma aparentemente lenta. Foi assim na Eco/92. Quando o mundo e a opinião pública internacional esperavam um desenrolar impactante de atitudes pós-evento, o que a mídia respondeu também sem pensar na sua lentidão de observar e registrar os fatos? Que foi um fracasso, nada aconteceu. Ou seja, naquela ocasião, quem viu apenas a chamada “Ressaca da Eco”, não viu a revolução interna e silenciosa que se iniciou ali. De maneira irreversível, tal como Freud já tinha nos ensinado: a verdadeira e primordial revolução acontece primeiro na nossa consciência. Isso aconteceu há 20 anos atrás, no Rio. Agora, a transformação de uma nova consciência em atitude, isso leva tempo, surra da natureza, surra dos nossos erros e falta de sabedoria. O que a gente não faz por amor, faz pela dor. Estão aí as mudanças climáticas para acelerar nossa escolha. Capra também nos ensinou em sua obra revolucionária, chamada “O Ponto de Mutação” (quem não leu, já tem nas locadoras), que tudo que é vivo no universo – e nós fazemos parte deste universo, além do nosso ego – tem três características básicas que se repetem desde que mundo é mundo: a vida é criativa, adaptativa e multiplicativa. Ou seja, por mais que a ferimos e nos ferimos também, a vida nasceu para dar certo. Está no seu DNA. Isso significa que, independente do que acontecer, de antemão a Rio + 20 já deu certo. O seu recado já aconteceu. Nada será como antes. Só não vê nem acredita quem não tem paciência, é cego ou pessimista. E como mostra o filme “Home”, é tarde demais para sermos pessimistas.

“A melhor riqueza é a advinda da sustentabilidade em todos os níveis” EDMILSON SILVA, JORNALISTA O governo Dilma Roussef tem parte de sua sustentação, do ponto de vista midiático, por um slogan que reivindica que país rico é país sem pobreza. Ao axioma que os marqueteiros criaram para o Palácio do Planalto, proporia uma modificação ampliada globalmente: mundo rico é mundo sustentável. E explico o porquê. Há duas décadas, quando se realizou a Rio 92, chegou-se a uma carta de princípios para que o mundo pudesse melhorar ambientalmente. Mesmo sem a adesão dos Estados Unidos para a redução da emissão dos gases prejudiciais à nossa atmosfera, o mundo avançou, principalmente no que diz respeito à conscientização necessária quanto à ameaça associada à finitude dos bens verdes, digamos assim. Verdes aqui usado como termo simbólico, para tudo o que nós transformamos a partir da natureza, com o propósito de assegurar a continuidade da vida. Da vida em sociedade. Sede daquele encontro emblemático para a sustentabilidade da Terra, o Brasil demorou a fazer o dever de casa. Apenas um exemplo: só em 2012, conseguimos avançar em algo básico, como o uso de sacolas retornáveis nas principais redes mercadistas dos principais centros urbanos do País. O nosso lixo ainda não pode ser descartado com a separação adequada sugerida há 20 anos, e medida colocada em prática por cidades do interior de outros países, caso da pequena London, no Oeste do Canadá. Uma vergonha para nós brasileiros, mas um dia chegaremos lá. Neste junho de 2012, a Rio + 20 tem que ser mais que a Rio 92: apesar de não ter sido incluída a saúde como um dos eixos principais desta farra cívica, o maior exercício de cidadania mundial que será colocado em prática no Brasil tem a obrigação de dar a si próprio não apenas uma nova carta de princípios, mas passar a crescer a consciência de que os recursos naturais são finitos. Daqui para frente, temos a obrigação de nos unirmos para colocar em prática a fórmula que será capaz de unir capitalismo com cidadania planetária: a exploração sustentável de Gaia, pois mundo rico é mundo sustentável. E em todos os níveis, pois a sustentabilidade é o conceito mais ampliado de saúde, o equilíbrio do nosso planeta. Como diz o poeta: luxo para todos! Chega de lixo, inclusive o conceitual. Vamos nos reciclar.

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Fotos:

ISMAR INGBER

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om a experiência de anos em redações como fotojornalista, Ismar Ingber está acostumado a cobrir e documentar diferentes situações no Rio de Janeiro. No sentido horário: o momento de felicidade e descontração das crianças da comunidade do Complexo do Alemão, após o processo de pacificação; o colorido dos praticantes do kite surf na Barra da Tijuca; o por do sol inesquecível avistando o Dois Irmãos e a Pedra da Gávea; a beleza do desenho de Oscar Niemeyer na passarela de São Conrado; luz e sombra nos Arcos da Lapa e o treino dos remadores na Lagoa Rodrigo de Freitas.

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Sociedade

Os filhos da Eco 92

Jovens na faixa dos 20 anos contam como vivem e o que esperam que possa sair de contribuição da Conferência Rio + 20 para o futuro do planeta Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista (*) Fotos: Arquivo pessoal

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enhum outro retrato espelha de forma mais clara o que mudou em 20 anos a sociedade. Os jovens que estavam nascendo na época da Eco92, ou que ainda eram bem pequenos, são os porta-vozes das boas e más notícias. Plurale em revista procurou encontrar alguns destes “embaixadores” do meio ambiente em diferentes regiões do Rio de Janeiro. Alguns são mais engajados na causa sustentável, outros, à sua maneira, também participam pela defesa de uma socie-

dade ambientalmente mais justa e democrática. Os nomes mudam, os endereços, atividades e personalidades também. Em comum, o discurso forte, a garra e determinação. Conheça os “filhos” da Eco-92: o que fazem, o que pensam, seus sonhos e, principalmente, o que esperam da Rio + 20.

ADRIELLE SALDANHA CLIVE, 25 ANOS: ATIVISTA INCANSÁVEL: Adrielle Saldanha Clive é uma jovem, de 25 anos, que está sempre envolvida com causas que possam melhorar o mundo ao seu redor. Ela conta que iniciou sua militância quando tinha 13 anos e até hoje não parou. Para nos conceder este depoimento, ela teve que abrir uma brecha entre uma e outra reunião da Cúpula dos Povos durante dois dias seguidos de horas intermináveis. Mas qual a opinião da jovem sobre a Rio+20? Bem, ela considera que o evento ainda está longe de ser o que muitos da Sociedade Civil desejam, sobretudo no que diz respeito à Economia Verde. “O que estão impondo à sociedade mundial é muito desrespeitoso, diria que inadmissível”, lamenta Adrielle que aos 16 anos uniu-se a vários jovens para a criação do programa de Voluntários do Parque Nacional da Tijuca Atualmente, ela desenvolve projetos para a Superintendência de Juventude do Estado do Rio de Janeiro. Incansável, Adrielle também participa dando sugestões em políticas públicas em outros municípios como Araruama, Teresópolis, Paracambi, Rio de Janeiro, Duque de Caxias. Embora esteja envolvida, até a ponta dos últimos cachinhos de seus cabelos, com a organização e participação dos jovens na Rio+20, Adrielle não acredita que muita coisa vá mudar. Principalmente, como ressalta a jovem, porque muitos chefes de governo não virão na Rio+20. “Como será essa a Conferência se os principais líderes de governo, ou seja, líderes das oito maiores economias do mun-

do, que detêm o poder político e financeiro, não estiverem presentes? Que tipo de acordos serão feitos se os principais colaboradores para a degradação ambiental não estarão presentes?”, questiona a jovem que apesar das críticas, ainda espera se surpreender, sobretudo, com os eventos paralelos, como a Cúpula dos Povos que ela considera ser o grande diferencial nesta Rio+20. “Quem sabe seja, realmente, um espaço onde a sociedade civil possa dizer quais são as suas metas para o desenvolvimento sustentável”, acredita a jovem, que está quase perdendo a esperança nos líderes governamentais, ainda mais aqueles que prometem e não cumprem o que foi acordado. Sempre em movimento, Adrielle mantém cerca de cinco sites da Internet, sobre o tema juventude e engajamento social . Ah, ela ainda arruma tempo para escrever crônicas. Para conferir, é só acessar o link: http://adriellesaldanha.blogspot.com.br/2011/11/ promessa-de-um-futuro-bom.html?showComment=13222869 64976#comment-c7022039494277944386

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(*) Com reportagens de Cecília Corrêa, Isabel Capaverde, Lou Fernandes e Raquel Ribeiro.

GERAÇÃO SAÚDE EM COPACABANA: CASSIANO RODRIGUES RELUZ, 27 ANOS Carioca, 27 anos, formado em Administração de Empresas e trabalhando na UBC – União Brasileira de Compositores, Cassiano Rodrigues Reluz não é um ativista, mas cultiva hábitos saudáveis - não bebe, não fuma e pratica esporte


diariamente - e sustentáveis. “Sozinho não vou mudar o mundo, mas faço minha parte para que meus filhos e netos não sejam prejudicados. São atitudes simples no dia a dia que se transformaram em hábitos como fechar o chuveiro quando vou me ensaboar no banho ou a torneira ao me barbear, separar o lixo que possa ser reciclado, poupar energia não deixando aparelhos ligados que não estejam em uso”. Da Eco-92 ele lembra da movimentação. “Eu era criança e algumas vezes passava as tardes no trabalho da minha mãe, na Bloch Editores, em frente ao Aterro do Flamengo. Ficava olhando pela janela espantado, pois ainda não compreendia do que se tratava toda aquela movimentação”. Otimista em relação ao futuro do planeta, ele vê com bons olhos a realização da Rio+20. “Gostaria muito de participar como voluntário e acompanhar mais de perto, mas infelizmente não daria para conciliar com o meu trabalho. Creio que será muito positivo o encontro, pois o homem tem todas as ferramentas para reverter o quadro de desmatamento, aquecimento global, poluição das águas e exclusão social em que nos encontramos. Basta aumentar a conscientização da sociedade sobre essas questões e eventos como a Rio+20 ajudam ao informar e trazer a sustentabilidade para debate”. CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM JAPERI: JOÃO VINÍCIUS VIEIRA DA SILVA, 22 ANOS João Vinícius Vieira da Silva, 22 anos, nasceu na Baixada Fluminense, um dos municípios com menor IDH da região Sudeste, é técnico em contabilidade e trabalha na Associação Golfe Público de Japeri. “Uma vez que a escolinha e o campo público de golfe estão abrigados em uma área de preservação ambiental de 70 hectares, o convívio ecológico faz parte do nosso dia a dia aqui na ONG. Por isso, a consciência ambiental é uma rotina tanto dos alunos como da equipe de profissionais da AGPJ”, conta. Além dos ensinamentos do curso de agentes mirins ambientais, as crianças também recebem orientação de como economizar água e energia. “Em casa, eu e minha família temos o hábito de encher galões de água e reaproveitá-la o máximo que podemos. Essa economia é uma atitude consciente e também é uma necessidade, porque em Japeri falta muita água. Eu me orgulho de trabalhar aqui e de poder levar às 120 crianças mais educação e cidadania, além de fazer parte de um projeto de consciência ambiental e ecológica”, diz João Vinícius. SUSTENTABILIDADE PRATICADA NO DIA-A-DIA: MÔNICA MARELLA CORRÊA, 20 ANOS, DA TIJUCA Em junho de 1992, quando as atenções mundiais estavam voltadas às questões ambientais, Mônica Marella Corrêa tinha apenas oito meses de vida. Hoje, aos 20 anos, a jovem moradora da Tijuca é um exemplo de como a ECO-92 contribuiu para mudar a mentalidade de uma geração. Mônica adota práticas sustentáveis no

dia a dia, como separação de lixo, consumo consciente, além de ter escolhido o tema como opção profissional: ela integra a primeira turma do curso de Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde até o ritual de ingresso, o famoso trote, é sustentável. “A turma se organizou para comprar luvas e sacos apropriados para coleta e levamos os calouros a uma praia do entrono da faculdade para que eles catassem o lixo”, conta Mônica. Segundo a jovem, o que mais a motivou a optar por este curso foi a abordagem diferente. “O curso não trata apenas de meio ambiente, mas das questões culturais, sociais, de saúde e de comportamento muito importantes para o entendimento ambiental do mundo de hoje.”, destaca. Mônica lembra que alguns dos desafios da faculdade envolvem simulações de projetos de grandes empresas explorando áreas indígenas ou comunidades ribeirinhas para abrir fábricas ou explorar recursos. “Temos como tarefa buscar caminhos e soluções, levando em conta que a empresa precisa se desenvolver economicamente, mas de forma que as comunidades (questão social) e os recursos naturais da região (questão ambiental) sejam respeitados e preservados. Não há mais espaço pra um discurso eco-chato. É preciso que cada um tenha respeito pelo meio em que vivemos e que adote ações sustentáveis na rotina do dia a dia”, frisa. A estudante da UFF acredita que este é um desafio diário, já que reciclar lixo não depende só da separação em casa, envolvendo principalmente da coleta especial da prefeitura, da destinação adequada. “Mas cada um tem que começar a fazer sua parte. Lá na UFF a gente adota uma série de posturas sustentáveis no dia a dia, coisas simples, como comprar menos coisas supérfluas e usar uma caneca própria para beber água, ao invés dos copinhos descartáveis”. DE ALUNO A INSTRUTOR: ALAN FERREIRA DA SILVA, 25 ANOS, DO BOREL Alan Ferreira da Silva, ex-aluno do projeto Roda Viva, 25 anos, é hoje instrutor de informática desta ONG e Educador Social, atuando na comunidade do Borel onde nasceu e ainda vive. “No morro, a coleta de lixo é muito precária e não há saneamento básico na grande maioria das áreas. Essa realidade levou a comunidade a procurar soluções caseiras, mas que muitas vezes ajudam a minimizar os problemas”, conta. No Roda Viva, explica Alan, os instrutores trabalham com as crianças várias questões relacionadas à educação com o meio ambiente, desde as coisas mais simples como não jogar um papel de bala no chão. Também promovem passeios com as crianças pela comunidade para que elas catem o lixo da vizinhança e para que reaproveitem alguns dos materiais recolhidos nas aulas de artes. “Este ano, eu já passei pros alunos alguns vídeos mostrando as consequências que o lixo traz à natureza, como aquela tartaruguinha que cresceu em volta de um anel de plástico, no oceano Pacífico. As crianças ficam chocadas e vendo esses vídeos elas entendem porque não podem jogar lixo na rua, óleo de cozinha na pia, fazer grandes fogueiras, soltar balões etc”, diz. Alan lembra que só começou a ter consciência sobre a questão ambiental quando saiu do Ensino Fundamen-

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Sociedade

tal e começou o Ensino Médio. “Foi nessa época que eu percebi que cada um fazendo a sua parte, por menor que seja, podemos fazer a diferença.” Hoje em dia, Alan relata que faz sua parte na destinação correta de equipamentos eletrônicos, pilhas e computadores. “Algumas das lojas e mercados que vendem produtos eletrônicos têm um lugarzinho para você depositar esse tipo de lixo. Eu estoco tudo na minha casa e vou levando aos poucos pra descartar de forma certa.” Sobre a Rio+20, ele diz que os educadores e as crianças do projeto estão pesquisando o que é a Conferência, qual a importância política dele e “como nós, do morro do Borel, podemos contribuir”. OTIMISTA DE PLANTÃO: TÁSSIA DA SILVEIRA MARTINS, 22 ANOS, DE NITERÓI A estudante de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), Tássia da Silveira Martins, 22 anos, poderia chamar a atenção apenas por sua beleza. Mas tem dado batente em estágio na Defensoria Pública pensando no dia em que poderá vir a advogar em defesa dos menos assistidos. E que mundo é este, na visão da jovem? “Como é usual se observar em jovens, vejo o mundo a partir de uma ótica otimista. É inegável que nos últimos tempos houve uma maior conscientização das pessoas no sentido de pensarem além do agora”, resume. Mas não se trata mais, segundo Tássia, de se preocupar com um futuro distante e abstrato, lembrando que se a expectativa de vida da população continuar aumentando no mesmo ritmo dos últimos anos, não serão os netos ou bisnetos dos que vivem hoje os prejudicados pelos abusos cometidos, mas os próprios agentes dessa destruição. “Essa tomada de consciência do indivíduo em relação a pertencer a um todo ocorre concomitante a um movimento de preocupação por um estilo de vida mais saudável, o que é um progresso importante, pois a mudança do indivíduo é fundamental para a mudança do todo”, destaca. A bem articulada estudante de Direito lembra que nunca se deu tanto apreço à saúde e à alimentação correta, bem como jamais se reflorestou e reciclou tanto. Quando houve a Eco 92, ela ainda era ainda era muito pequena e o assunto chegou até ela apenas quando se preparava para o vestibular, durante uma aula de História. “Sei que foi de extrema importância pois consagrou a ideia de desenvolvimento sustentável, contribuindo para a tomada de consciência dos efeitos negativos gerados por um modelo de crescimento econômico tão consumista”, diz. E ficou claro também para a estudante de Niterói que esses danos ao meio ambiente “são majoritariamente de responsabilidade dos países de alto poder econômico, que promoveram seu crescimento com base em um modelo insustentável”. Infelizmente, frisa, são alguns deles, como Alemanha e Estados Unidos, que não enviarão seus chefes de Estado para a Rio + 20, diferentemente do que ocorreu em 1992. “Mas como o mundo vem mudando rapidamente desde a crise de 2008, quem sabe mesmo com a ausência desses países a cúpula consiga promover avanços que beneficiem toda a humanidade?”, questiona.

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DANDO VOZ AOS EXCLUÍDOS: MAIRA RENOU, 22 ANOS, ESTUDANTE DE COMUNICAÇÃO NA UFF, DE BELFORT ROXO A futura jornalista Maira Renou, 22 anos conta que os pais são muito politizados e envolvidos com movimentos sociais. “Eles me criaram neste ambiente; então, sempre fui sensível aos problemas da sociedade, às pessoas excluídas e em situação de risco”, conta. A jovem moradora de Belfort Roxo, na Baixada Fluminense não chega a fazer parte de alguma ONG ou grupo, mas como futura jornalista procura fazer reportagens com estas pessoas, para que tenham voz. “Tenho especial identificação com a causa indígena e dos Sem Terra”, destaca. Na sua avaliação, a Eco-92 apesar de ter sido um marco importante – trouxe discussões, debates e preocupações que não constavam na agenda internacional –, pouco gerou em termos de ações. “Minha expectativa em relação ao Rio + 20 é que os debates se aprofundem, ganhem mais corpo e talvez apoio. Mas não acredito que a partir deste momento as coisas mudem”, diz. Destaca que é cética em relação ao futuro do planeta Terra. “Acho improvável uma transformação geral de consciência, mas acredito que podemos caminhar aos poucos para isto. Se pudesse dar um recado a todos, diria ‘veja e cuide do outro com mais humanidade’. Aos organizadores do Rio + 20, indicaria três ações: garantir água a todos os habitantes da Terra; ações para uma agricultura sustentável; aumentar o uso de energias renováveis”, sugere. PREOCUPADO COM AS QUESTÃO SOCIAIS: LEON EGÍDIO DE MATTOS, MESTRANDO EM ECONOMIA DA UNICAMP, 25 ANOS O mestrando em Economia da Universidade de Campinas, Leon Egídio de Mattos nasceu em 1987, na região da Baixada Fluminense. Mora, desde então no mesmo lugar, o município de Mesquita. Ele conta que, como em qualquer outra cidade de periferia, a pobreza e a precariedade das condições de vida da maioria da população “são gritantes”. O convívio contínuo e direto com essa condição despertou o interesse dos jovens para as questões sociais e políticas e, posteriormente, ambientais. “Com relação ao Rio+20, minha visão é pessimista: os organizadores não levam em conta a dimensão social mais ampla da questão; tentam resolver apenas os problemas ambientais”, avalia. Segundo Leon, o problema fundamental não é discutido – porque a nossa sociedade está cada vez menos humana. “O sistema cria mazelas, dentre as quais ambientais, e a causa desses problemas não é questionada. Em um mundo em que a lógica do lucro submete as relações sociais, é necessário pensar em que tipo de sociedade se deseja viver. Por isso, acredito que a lógica do sistema deve ser questionada, caso contrario qualquer proposta será paliativa”, critica. Nossa atitude, sugere o jovem mestrando, deve ser de conscientização no que diz respeito à sociedade em que vivemos e, além disso, “buscar um contato maior com os problemas concretos que se apresentam com o intuito de uma sociedade mais solidária”.


SEVERN SUZUKI, jovem canadense que se tornou símbolo da Eco-92 tem hoje dois filhos

>> No detallhe, Severn Suzuki aos 12 anos de idade discursa na Eco-92 e comove os líderes globais presentes. Acima Severn, em 2012, com 33 anos.

Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados

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á 20 anos, uma criança canadense de apenas 12 anos conseguiu calar e comover líderes globais com um discurso inquietante e acabou se tornando uma espécie de símbolo da participação da sociedade civil na Eco-92. Hoje, aos 33 anos, Severn Suzuki ainda guarda na memória aquele momento e sonha em um mundo sustentável para criar seus dois filhos. Ela deu entrevistas para a equipe da TV Globo e alguns outros veículos. Falou sobre as lembranças da participação na Conferência da ONU, realizada no Rio, há 20 anos. Ela ainda é ativista pelo meio ambiente e educação. Severn dirige a Fundação David Suzuki, criada por seu pai no Canadá para alertar sobre questões ambientais, como o aquecimento global. Ela também é palestrante e em 2010 foi a personagem central do documentário “Severn, a voz de nossas crianças”, dirigido por Jean-Paul Jaud. Depois da Eco-92, seu discurso ficou gravado na memória. “Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados”, disse Severn Suzuki. Em recente entrevista para a Folha de S. Paulo, Severn destacou que a mobilização é essensical e defendeu que as pessoas “trabalhem individualmente para reduzir seus impactos na natureza” e ainda se tornem mais ativas política e socialmente, cobrando ações, sabendo exercer os direitos e compartilhando conhecimento e informação, para que possam ser ouvidas. Na entrevista para a TV Globo ela também destacou a importância do amor pelos filhos.

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ONGs

Manifestação no Parque Ibirapuera / SP - SOS Mata Atlântica, WWF Brasil e outras ongs

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Texto: Elizabeth Oliveira, Especial para Plurale em revista Fotos: Divulgação

A crise econômica internacional já puxou a Rio+20 pra debaixo do tapete, mas, assim como ocorreu com a Rio-92, a marca desta conferência tem que ser a de participação da sociedade”. Quem afirma é o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. O ambientalista não tem esperanças quanto aos resultados dos debates oficiais, mas confessa que o protagonismo social pode provocar uma reviravolta nos rumos da Cúpula da ONU. Um dos sinais positivos nesse sentido é o resultado da campanha Veta,Dilma que se fortaleceu nas redes sociais, ganhou espaço na mídia e levantou apoio inesperado contra as reformas no Código Florestal, demonstrando que o povo brasileiro está atento à agenda ambiental. Mantovani recorda que a SOS Mata Atlântica teve um papel de protagonismo na Rio-92, quando atuou fortemente nas atividades do Fórum de ONGs, programação paralela realizada no Aterro do Flamengo que mobilizou a sociedade de forma inédita, abrindo caminho para que as Convenções da ONU, dali por diante, passassem a ser monitoradas pelos movimentos e organizações sociais. Por conta desse histórico,

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diferen

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que só contribuiu para o fortalecimento do terceiro setor nas décadas seguintes, e pelos avanços que o Brasil vinha conquistando na área ambiental, as expectativas dele em relação à Rio+ 20 já foram bem altas, mas deixaram de ser. “O Brasil que vinha despontando com um conjunto avançado de leis ambientais e ganhando espaço no debate de questões globais, entre outros avanços, agora vai entrar pela porta dos fundos da Rio+20. Além de não ter tido responsabilidade na organização da conferência, o país tomou decisões equivocadas às vésperas do evento, demonstrando total falta de habilidade.” Para o ambientalista, “o Brasil rasgou a Convenção sobre Diversidade Biológica (a CDB, da qual é signatário), ao tirar proteção das Unidades de Conservação por medida provisória” (referência à MP 558, que alterou os limites de 8 UCs federais na Amazônia Legal). Já em relação às polêmicas propostas de flexibilização do Código Florestal, Mantovani opina: “é como se o país estivesse voltando ao século XVII, optando por investir no uso insustentável de recursos naturais como solo, água e florestas para produzir bens primários”.


CRÍTICAS E MANIFESTAÇÕES SOCIAIS A Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) é uma das organizadoras de uma passeata, programada para o dia 18 de junho, que promete marcar as atividades dos movimentos sociais durante a Rio+20. A expectativa é que a mobilização comece por volta do meio-dia, no Aterro do Flamengo

(onde ocorre a programação da Cúpula dos Povos que também prepara uma marcha pela cidade no dia 20 de junho) e siga em direção à Cinelândia, tradicional palco de manifestações políticas e culturais no Centro do Rio. As organizações que apoiam a iniciativa querem expressar, durante todo o trajeto, um posicionamento de crítica à proposta de economia verde como solução para a crise global. Justamente pelo posicionamento crítico à organização dos eventos oficiais, centrados na discussão da economia verde e da governança, o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 (CFSC) divulgou uma nota, no dia 2 de maio, informando que não participará da série Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável - DDS (reuniões preparatórias à convenção da ONU organizadas pelo governo brasileiro para o período de 16 a 19 de junho).

Segundo a nota, as redes e entidades que compõem o CFSC e que organizam a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental vêm historicamente lutando por espaços de diálogo que contribuam para a consolidação de políticas públicas socioambientais. Mas os seus integrantes concluíram que “o método estabelecido pelos DDS não recolhe essa dinâmica de diálogo que temos tentado fazer avançar”. A publicação diz, ainda, que “a proposta dos DDS foi estabelecida de cima para baixo, tendo o governo brasileiro escolhido os temas, os participantes e os facilitadores, indicando de forma inequívoca que os diálogos e seus resultados serão controlados pelo governo”. Diante da recusa de enviar seus representantes aos eventos oficiais e posicionadas contra os atuais padrões de produção e consumo, considerados excludentes e insustentáveis, as organizações e movimentos sociais pretendem buscar outros canais de participação ativa na Rio+20. Para isso vão promover as atividades autônomas no âmbito da Cúpula dos Povos, para as quais é estimada uma mobilização de 40 mil pessoas. Entre 15 e 23 de junho, o Aterro do Flamengo e adjacências devem concentrar a maior parte dos integrantes identificados com as causas socioambientais planetárias. Será uma espécie de caleidoscópio cultural representando a sociobiodiversidade global. A programação vem sendo organizada com apoio de um Grupo de Articulação Internacional, vinculado ao CFSC e formado por 35 redes, organizações e movimentos sociais de 13 países. Saiba mais em: http://cupuladospovos.org.br/

AGENDA AMBIENTAL NA CONTRAMÃO Preocupado, também, com retrocessos na agenda ambiental, Fábio Scarano, vice-presidente sênior da Divisão Américas da organização ambientalista Conservação Internacional, revela uma de suas principais expectativas para a Rio+20: “Espero que uma luz desça sob as cabeças dos governantes para que percebam o tamanho das contradições existentes nas políticas públicas ambientais brasileiras”. Como exemplo de uma situação contraditória, ele menciona que, por um lado o país está bem posicionado em termos de controle de emissões de gases de efeito estufa e é o que mais criou áreas protegidas nos últimos dez anos. Mas, por outro, aprovou alterações no Código Florestal às vésperas de sediar a conferência da ONU. Segundo Scarano, não faltam questionamentos para o movimento ambientalista brasileiro: “Como é que pode o Brasil querer liderar políticas, tendo proposto medidas de redução dos riscos de perda de biodiversidade em 20 anos (no âmbito dos compromissos como signatário da CDB) e, por outro lado, reduzir áreas de Unidades de Conservação para ampliar hidrelétricas na Amazônia?”. Alguns

Fábio Scarano

elementos contribuem para a elaboração das suas próprias respostas: “Falta coerência na tomada de decisão. As políticas não dialogam”, pondera. Ele ainda ressalta que o tempo é curto diante das urgências da agenda ambiental: “Não avançamos muito dede a Rio-92 e não podemos mais esperar por uma RIO+30 ou Rio+40. Já passou da hora de tomadas de decisões mais enérgicas”, opina. Para fazer frente à complexidade que envolve essa temática, o executivo da CI espera que o governo assuma um posicionamento firme durante a Rio+20. “Esta é uma questão de honra para o país, por ser o anfitrião e pela sua condição de liderança global em termos de patrimônio natural”. Entre medidas factíveis que poderiam indicar uma tentativa de acertar o passo em relação à agenda ambiental, Scarano sugere a criação de um

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ONGs

Adriana Ramos

Fundo Fiduciário que destine recursos das compensações ambientais (vinculadas a projetos de potenciais impactos) para fomentar novas práticas de desenvolvimento local, com enfoque no equilíbrio entre inclusão social e proteção da natureza. Ele estima que o país tenha como arrecadar mais de US$ 3 bilhões, o triplo do montante destinado ao Fundo Amazônia, para manter projetos com esse viés de sustentabilidade. “O Brasil tem tudo para assumir uma posição de liderança em busca de um novo modelo econômico, sobretudo porque ainda tem um grande contingente populacional pra tirar da pobreza, mas não pode mais pensar em manter seu ritmo de crescimento às custas do capital natural”, conclui. Adriana Ramos, secretária executiva adjunta do Instituto Socioambiental (ISA) considera que não é possível esperar grandes resultados da Rio+20 porque a Conferência que tinha, na sua origem, que funcionar como uma oportunidade de balanço dos erros e acertos dos últimos 20 anos em relação à pauta ambiental, mudou o rumo das discussões, ao eleger economia verde e governança como temas centrais. “A tendência natural era que ocorresse uma avaliação dos acordos de 1992, a fim de identificar gargalos e avanços. Mas da forma como o evento está sendo conduzido, as questões ambientais passam ao largo da discussão.” A situação, afirma, é no mínimo contraditória para uma convenção que se denomina de Desenvolvimento Sustentável e na qual se busca ofuscar o reconhecimento de que o limite da sustentabilidade esbarra em uma base cada vez mais

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limitada de recursos naturais. “Sem o reconhecimento dessa questão, a nomenclatura da sustentabilidade não passa de mais do mesmo e, assim, não se pode esperar muito desta conferência”, comenta. Mas levando em consideração que o debate central vai de encontro ao fortalecimento da economia verde - conceito ainda em construção e que vem sendo rejeitado pelo movimento ambientalista - Adriana opina que é fundamental aprofundar os debates sobre a inconsistência de manutenção da utilização do Produto Interno Bruto (PIB) como principal forma de mensuração da geração de riquezas. Para ela, outros indicadores precisam ser agregados à contabilidade do desenvolvimento (ainda fortemente percebido como sinônimo de crescimento econômico). Como pano de fundo dessa problemática, a ambientalista acredita que o diálogo sobre a manutenção da natureza precisa sair do nível de um debate periférico para fazer parte das decisões políticas. Na perspectiva da governança, Adriana opina que a discussão de transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em uma agência internacional é um debate pouco ambicioso. “A proposta de fortalecimento do PNUMA, apoiada pelo governo brasileiro, carece de consistência, já que não há detalhamento que demonstre como ele pode ser fortalecido para cumprir o papel necessário dentro da ONU. Não sei como as demais organizações estão se posicionando, mas nós acreditamos que uma agência com poder para assegurar a implementação dos acordos ambientais (tais como os compromissos dos países signatários da CDB e da Convenção do Clima) seria um caminho mais efetivo para garantir a devida prioridade à agenda ambiental.” A ambientalista reconhece que, como obstáculo, uma instância de decisão nesses moldes teria que enfrentar os altos custos de manutenção, o que certamente, contribuiria para inviabilizar Virgílio Viana as mudanças necessárias em programas da ONU como o PNUMA. Para Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), apesar de todas as críticas e das expectativas pessimistas de vários segmentos, em relação à Rio+20, “a sociedade brasileira não deve perder de vista o legado da Rio-92”. Analisando a partir dessa perspectiva, ele confessa que está confiante em relação à conferência da ONU. Viana afirma que existem avanços a comemorar nas duas últimas décadas e que são resultado de toda a mobilização pós-Rio-92. “Seja pelo papel que vem sendo desempenhado por governos locais, empresas e organizações do terceiro setor, bem como pelo governo federal, entre outros segmentos, percebe-se que há um novo paradigma de desenvolvimento em construção, às vezes subestimado”, observa. Como parte dos avanços em busca de uma nova via de desenvolvimento, Viana menciona a Lei de Mudanças Climáticas do Governo do Amazonas, de 2007, a primeira do Brasil. A criação da Fundação Amazonas Sustentável, segundo ressalta, é outro exemplo de que há um movimento positivo em curso, envolvendo uma parceria entre o setor privado e o poder público, em prol da conservação da biodiversidade e da melhoria da qualidade de vida na Amazônia. Quanto à polêmica elaboração do documento-base da Rio+20, um dos outros pontos de descontentamento do movimento ambientalista, Viana pondera: “O documento pode ser considerado acanhado do ponto de vista de objetivos mais quantitativos, mas é importante por reafirmar compromissos assumidos há duas décadas. Além disso, gerar documento de consenso não é tarefa fácil quando se envolve a discussão com uma grande quantidade de países”, conclui.

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Participe da maior conversa sobre o futuro: ofuturoquenosqueremos.org.br

E você também é nós. Todos somos nós. Se nós queremos, nós podemos. Se nós imaginamos, nós vamos fazer acontecer. Porque o futuro será como nós quisermos que ele seja.

A ONU está oferecendo a você a oportunidade de participar da próxima conferência sobre desenvolvimento sustentável. Uma conferência que se transformou em uma conversa aberta, com foco em três grandes pilares:

ofuturoquenosqueremos.org.br social, ambiental e econômico. Você só precisa imaginar como gostaria que fosse o futuro e enviar um texto, foto ou vídeo com seu ponto de vista. Para que o futuro seja como nós quisermos que ele seja.


Artigo

Rubens Harry Born

RIO+20:

PALCO DE UM NOVO DEBATE ANTIGO: que desenvolvimento, com quem e para quem?

E

stamos nos aproximando de mais uma Conferência das Nações Unidas, com a expectativa da presença de muitos Chefes de Governo, mas, passados mais de dois anos do início da preparação da Rio+20, são muitas ainda as incertezas sobre resultados e desdobramento de mais um processo global de debates sobre os desafios do desenvolvimento sustentável. O propósito anunciado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012, a Rio+20, é renovar compromissos políticos e fomentar arranjos institucionais globais adequados para a transformação da economia com vistas à superação da pobreza, levando-se em conta os princípios e perspectivas da sustentabilidade ambiental, social, cultural, entre outras. Seus dois temas principais, economia “verde” no contexto da erradicação da pobreza e promoção do desenvolvimento sustentável e o tema de arranjos institucionais globais para esse desenvolvimento, trazem novos elementos para um debate já antigo.

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Como pano de fundo temos o debate sobre as características do novo desenvolvimento, para que fim e a quem ele deve servir. Ou seja, como os seres humanos devem garantir as condições determinantes de sua sobrevivência e convivência digna em diferentes territórios, e também o desafio de organizar os critérios, instituições e sistemas que definem normas ou definem quem terá o acesso, em que forma e a que tempo a tais condições. Isto é, que arranjos políticos e institucionais governarão o rumo da civilização humana. Vale lembrar que os milhares de participantes do encontro da ONU e de dezenas de iniciativas da sociedade civil programadas para a cidade do Rio de Janeiro ou outras localidades antes e durante a Rio+20, o enorme trabalho de coordenação da Cúpula dos Povos, levarão em conta as decisões e o desafio consagrado pela Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Há 20 anos, aquela conferência serviu para disseminar conceituações sobre desenvolvimento sustentável e estabelecer princípios - como o da precaução; da equidade; da cooperação; da responsabilidade dos Estados, das corporações e das pessoas; da participação e do acesso à informação. Também estabeleceu acordos, instrumentos e processos – como o de planejamento


e gestão participativos de programas e ações que permitissem à Humanidade iniciar efetivamente a alteração do padrão de desenvolvimento ainda antes do início do século XXI. Para isso, a comunidade internacional gerou a Agenda 21, as convenções sobre mudanças de clima e biodiversidade, bem como planos e declarações que resultaram de outras conferências da ONU que abordaram, depois da ECO-92, outras perspectivas inerentes ao desenvolvimento humano. De lá para cá surgiram muitas questões. Por exemplo, que diferenças poderá gerar a Rio+20 no campo da implementação das promessas e dos direitos, por meio de ações efetivas e transformadoras do modelo de desenvolvimento? Quem serão os atores fundamentais na transição e consolidação de formas de convivência e bem estar humano, que lidarão com os limites ecológicos do planeta, face à grave crise que se evidencia com os impactos do aquecimento global e das mudanças do clima? Como ampliar oportunidades de empregos dignos e saudáveis em processos produtivos ambientalmente apropriados dos diversos setores econômicos, sem perder de vista a valorização de iniciativas comunitárias, locais e ou integradas? Há dúvidas se o documento “O Futuro que queremos”, que a ONU pretende obter com a Rio+20, servirá como alavanca política para acelerar as ações de transição do modelo de desenvolvimento, de cuidado com as populações mais vulneráveis e a proteção dos processos ecológicos essenciais que garantem a Vida no planeta. Apesar de não ter caráter legalmente vinculante (ou seja, as decisões terão caráter político, sem obrigatoriedade legal quanto ao seu cumprimento), espera-se que o texto a ser acordado traga forte compromisso e claras recomendações relacionadas a protocolos e convenções já vigentes ou a serem desenvolvidos, quer pela ONU, quer pelos países signatários. O que aparece, por enquanto, não dá sinais de ser substancialmente inovador, e a situação é preocupante. Para alguns, o documento conterá medidas paliativas, insuficientes para alterar o sistema capitalista atual, que promove produção e consumo incompatíveis com os aspectos éticos, ecológicos e de justiça. Para outros, eventualmente, a ONU poderá dar alguns passos adiante na gradativa construção da governança, ou seja, da capacidade de controle democrático do poder político e econômico, nas esferas global, nacional ou local, para que possamos reorientar o rumo da civilização humana. Enquanto a dinâmica da sociedade civil avança, com ou sem articulação integrada, os governos seguem em seu ritmo, tentando contemporizar opiniões e interesses diametralmente opostos. Avançar hoje, a 30 dias do evento, significará começar a colocar em marcha a participação do maior número possível de pessoas no evento para que as pressões se façam sentir e possamos ter mudanças concretas. Se olharmos nossa evolução no tema da sustentabilidade em 20 anos, vemos que muita coisa mudou, mas que também muita coisa não avançou de forma alguma. Houve rearranjos, mas não mudanças profundas. Metas, meios e mobilização – Ora, se objetivos, razões e ações para o desenvolvimento sustentável já foram apontados nas anteriores conferências da ONU e, no caso do Brasil, nas conferências nacionais, na Agenda 21 brasileira, nos planos

Enquanto a dinâmica da “ sociedade civil avança, com

ou sem articulação integrada, os governos seguem em seu ritmo, tentando contemporizar opiniões e interesses diametralmente opostos.

diretores participativos, etc, o que se faz urgente e necessário? Metas mensuráveis e meios de implementá-las, mediante instrumentos políticos e financeiros, além de avaliações contínuas das ações e de seus impactos, e de maior rapidez na justa transição para novos padrões de consumo e produção. Precisamos de ações que tenham também caráter sistêmico e transformador. Em recente documento intitulado “Chega de Mesmice” assinado por relevantes instituições não governamentais do mundo, alguns outros pontos nevrálgicos do debate foram também apontados. Só para destacar alguns, cito a importância de se decretar reformas do sistema de governança global para garantir instituições fortes, com poder real de implantar regras e compromissos internacionais relacionados ao meio ambiente e ao desenvolvimento, e iniciar negociações sobre um tratado global para garantir o direito de acesso público a informação, justiça e maior participação da população, a fim de reforçar a transparência, prestação de contas, responsabilização e monitoramento do desempenho em relação a questões ambientais e do desenvolvimento para cidadãos nos níveis nacional, regional e global. Pode parecer uma tarefa enorme e inviável, mas não é. Trata-se sim de um longo processo e ele já está em marcha. Resta saber se as definições avançarão a ponto de não termos que tomar decisões por bem ou por mal, ou seja, sem muita alternativa a não ser fazer. Outro ponto importante do documento trata da necessária eliminação gradativa de subsídios prejudiciais ao meio ambiente, como os destinados a manter e ampliar a exploração e produção de combustíveis fósseis, e realocar tais recursos para a promoção da pesca sustentável, ao acesso a energia renovável e sustentável e à agricultura familiar e de base ecológica. Como se vê, o desafio é enorme e não se admite que as conferências da ONU sejam pouco ambiciosas em buscar procedimentos e soluções que resolvam os desafios da sustentabilidade. Rubens Harry Born (rubens@vitaecivilis.org.br) é coordenador do Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz (www.vitaecivilis.org.br ) e do FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento e Meio Ambiente e representante desse na Comissão Nacional da Rio+20. Também integra o Grupo de Articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20.

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RIO+20: FINEP LANÇA CONCURSO DE FOTOGRAFIA PARA ESTUDANTES SOBRE ENERGIA SUSTENTÁVEL Estudantes de 14 a 18 anos de todo o Brasil podem se inscrever no Prêmio FINEP Jovem Inovador, que vai selecionar as melhores fotografias sobre energia sustentável. O objetivo é levar o conceito de inovação para as escolas e despertar o interesse dos mais jovens por tecnologia. O tema é uma homenagem à Rio+20 e ao ano de 2012, escolhido pela Assembléia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. Segundo André Calazans, chefe do Departamento de Marketing da FINEP, o prêmio foi criado para aumentar a participação dos jovens em questões relevantes para o País. “Queríamos criar um prêmio voltado para o público pré-universitário, com uma temática diferente a cada ano. Por isso, escolhemos como suporte para a primeira edição a fotografia, que é de fácil acesso e gera bastante interesse entre os jovens. A intenção é fazer com que eles tenham ideias inovadoras e, quem sabe, concorram ao Prêmio FINEP no futuro”, afirma André. As fotos podem ser de paisagens, máquinas, pessoas, objetos, construções e instalações. “Como exemplos de energia sustentável, podemos citar a energia solar, a eólica e a gerada pela biomassa. Queremos que os jovens pesquisem e que as escolas e as famílias se envolvam no processo”, explica André Calazans. A divulgação do Prê-

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mio FINEP Jovem será realizada em parceria com secretarias de educação, e instituições de ensino públicas e privadas. Cada participante pode concorrer com até três fotografias, que devem ser digitais e inéditas. O arquivo deve estar no formato JPEG ou TIFF, com no mínimo 500 KB e, no máximo, 5 MB. As inscrições devem ser feitas até 16 de agosto. Um comitê de jurados da FINEP avaliará as fotos em até 120 dias após o término das inscrições. Os critérios serão a originalidade, a qualidade técnica e estética da foto, e a adequação ao tema proposto. Serão escolhidas as três melhores fotos de cada região do Brasil, e os fotógrafos serão homenageados com troféus em cerimônias de premiação. As fotografias classificadas em primeiro lugar na etapa regional concorrerão ao Prêmio Nacional. Os primeiros lugares de cada região e o vencedor nacional receberão ainda um prêmio no valor de R$ 2,5 mil. REGULAMENTO

http://premio.finep.gov.br/images/regulamento_premio_finep_jovem2012.pdf FORMULÁRIO

http://premio.finep.gov.br/images/formulario_premio_finep_jovem_2012.doc


BARES DO PAVÃO-PAVÃOZINHO E DO CANTAGALO VÃO VENDER PRATOS SOFISTICADOS DURANTE A RIO+20

Por Alana Gandra, Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 será também uma oportunidade para os turistas conhecerem pratos sofisticados, porém com ingredientes genuinamente brasileiros e preços reduzidos. A comida será preparada por moradores das comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, localizadas em Ipanema e Copacabana, zona sul da cidade. A programação começará no dia 13 de junho e se estenderá até o final da Rio+20, no dia 22. O organizador é o professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas Daniel Plá. Dez pequenos bares (biroscas) dos morros estão sendo preparados por quatro chefes de cozinha de restaurantes do Rio para oferecer aos visitantes estrangeiros pratos com toques nacionais, como uma paella carioca, que leva até feijão, ou o ravióli recheado de rabada. As vendas foram “escolhidas a dedo”, em função de sua localização e, também, da qualidade dos serviços prestados, disse Daniel Plá à Agência Brasil. Durante todos os dias da Rio+20, elas oferecerão os pratos diferenciados aos visitantes.

“Cada um dos birosqueiros vai aprender dez frases em inglês. Os pratos serão oferecidos aos turistas a R$ 45, com apresentação de pratos de restaurantes cinco estrelas. Será cobrado um preço especial para quem mora na comunidade. Isso já está combinado”, explicou. O cardápio para os turistas inclui, além do prato principal, o serviço e uma dose de caipirinha. Os pequenos bares dos morros sempre chamaram a atenção do professor pela criatividade, alegria e música que a maioria deles oferece. “É um mundo à parte. É como se tivesse uma cidade do interior do Brasil no miolo de Ipanema e Copacabana”, disse. Segundo o professor da FGV, o momento é bom para mostrar que “se for bem trabalhada na questão do turismo, a favela se autossustenta”. O projeto tem a finalidade de fazer com que a comunidade do morro ganhe dinheiro com a Rio+20 e não apenas as agências de turismo, disse Daniel Plá. A expectativa é que, com a conferência, as dez vendas faturem em torno de R$ 6 mil cada. “O dinheiro vai direto para os birosqueiros envolvidos e os quatro guias turísticos, todos jovens das comunidades, dois dos quais falam inglês com fluência”.

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Fotos de Isabel Capaverde

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5ª EDIÇÃO DA FIEMA BRASIL ATRAI EMPRESAS DE 10 PAÍSES Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista (*) De Bento Gonçalves (RS)

Organizada pela Fundação Proamb e realizada no Parque de Eventos de Bento Gonçalves (RS) no final do mês de abril, a quinta edição da Fiema Brasil teve a participação de 256 expositores de todos os estados brasileiros e de dez países, mantendo o crescimento de 30% em relação à edição passada. Empresas que levaram para a feira soluções ambientais – equipamentos, serviços e muitas inovações – gerando, apenas durante o evento, um volume de negócios em torno de R$ 10 milhões e atraindo um público de 22 mil pessoas nos quatro dias de realização. Eventos simultâneos paralelos à feira, o II Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente focado no tema Ecoeficiência dos Processos e o Seminário de Legislação Ambiental em tempos do polêmico Código Florestal, foram destaques, assim como duas novidades na grade de programação: o Meeting Empresarial e o Fórum de Jornalismo Ambiental. No Meeting para abordar a gestão dentro dos pilares da sustentabilidade a organização convidou como palestrantes, Ricardo Voltolini, autor do livro “Conversas com líderes sustentáveis” e idealizador da Plataforma Liderança Sustentável, os empresários Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak e Mario Pino, gerente corporativo de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Braskem. Todos foram unânimes em dizer que dentro de uma década as empresas que não estiverem em conformidade com a sustentabilidade não sobreviverão e que elas

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serão julgadas pelo próprio consumidor. No Fórum de Jornalismo Ambiental, profissionais especializados, estudantes de jornalismo e interessados pelo assunto discutiram as melhores formas de comunicar o tema ambiental, esclarecendo e informando, já que hoje ele surge em todas as editorias de forma transversal. Andando pela feira, o estande do Sebrae chamava atenção pela expressiva participação de 41 micro e pequenas empresas nacionais, oferecendo as mais variadas soluções como controle e contenção de vazamentos de óleo e outros produtos químicos desenvolvidos pela Ebio ou os telhados verdes e jardins verticais da Ecotelhado. A preocupação com o lixo eletrônico, ainda um desafio para sociedade e governo, também estava presente em alguns estandes como o da empresa Lixo Digital que trabalha com a logística reversa de tecnológicos. Com sede no interior paulista a empresa planeja espalhar ecopontos - postos para recolhimento de equipamentos eletrônicos – pelo país. E se na edição de 2010 a Casa Sustentável foi uma das maiores atrações, esse ano o conceito foi transportado para uma Vila Sustentável que abrigava uma praça e alguns estabelecimentos demonstrando que essas construções são viáveis não apenas para residências, mas também para o comércio. Para a organização da Fiema meio ambiente deixou a muito tempo de ser somente um tema para ser um negócio rentável. (*) A repórter viajou a convite da Fiema.


Fotos de Ale Couto/ Divulgação

CENTRO DE RECICLAGEM É INAUGURADO EM LINHARES

Catadores do projeto com o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (à esquerda), Axel de Meeûs (ao centro) e o prefeito de Linhares, Guerino Zanon. Por Isabella Araripe, de Plurale em site De Linhares (ES) *

Numa parceria entre governo, empresas privadas e terceiro setor o Projeto CRIAR - Centro de Reciclagem, Inovação, Aprendizagem e Renovação – que teve início em 2009 e tem como objeto desenvolver, implantar e colocar em operação um sistema inovador de coleta seletiva foi inaugurado em 16 de maio na cidade de Linhares, no Espírito Santo. Inicialmente o programa contará com cerca de 30 catadores, auxiliados pela Secretaria de Assistência Social do Município, que receberão treinamento e capacitação. “Agora não vai ser tão cansativo igual nós trabalhávamos puxando carrinho”, diz a catadora Pedrolina Nunes, que trabalha há mais de quinze anos com coleta. O projeto é uma parceria entre a Prefeitura de Linhares, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Cidade, a Sucos Mais (SABB Coca-Cola), o Instituto Coca-Cola Brasil, a ONG Doe seu Lixo e a empresa de limpeza urbana Vital Engenharia Ambiental, além da comunidade de Linhares. O projeto é o que um dos mais inovadores na área de reciclagem, disse Thais Vojvodic, gerente de projetos do Instituto Coca-Cola Brasil. De acordo com o gerente de sustentabilidade da SABB Coca-Cola, Fabiano Rangel, o grande diferencial que esse projeto tem em relação aos outros de reciclagem é o fato de trabalhar com a esteira mecanizada, que consegue controlar

o tempo de passagem dos resíduos “Isso permite que com uma boa capacitação dos catadores faça com que você tenha uma melhor produtividade no processo de separação dos resíduos”, diz. Entre os objetivos primordiais do CRIAR está a capacitação dos catadores de resíduos, que passarão a trabalhar organizados em cooperativa, na nova central de triagem capaz de separar 160 toneladas de resíduos ao mês. “A SABB Coca-Cola tem o orgulho de fazer parte desse projeto, contribuindo com um aporte financeiro de R$ 200 mil. Esperamos levar este mesmo formato de gestão de resíduos para outras cidades onde estamos presentes, como Fazenda Rio Grande, no Paraná”, diz Mauro Ribeiro, diretor de Relações Institucionais da empresa. A SABB Coca-Cola é a gestora da fábrica Sucos Mais que emprega diretamente 1% da população de Linhares. Segundo o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, a necessidade da criação veio do crescimento da cidade de Linhares, com 142 mil habitantes, que é uma das que mais se desenvolvem no Estado. Com um investimento total de R$ 500 mil reais Linhares passa a fazer parte de um seleto grupo de 443 municípios brasileiros, segundo relatório do Compromisso Empresarial para a Reciclagem, CEMPRE, que realizam algum tipo de projeto de gestão de resíduos voltada à reciclagem. Segundo o governador, oito dos 78 municípios do Espírito Santo contam com programas de coleta seletiva. Além do investimento em equipamentos, a prefeitura irá custear cerca de R$ 300 mil reais em 24 meses, prazo que o projeto precisa pra se consolidar e começar a se autossustentar. “Se chegar daqui a 24 meses e não tiverem condições de tocarem o projeto com a renda do produto que eles trabalharem a prefeitura vai estar presente, isso é fundamental”, diz o prefeito da cidade, Guerino Luiz Zanon. (*) A repórter viajou a convite da SABB Coca-Cola.

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Alfredo Sirkis

FOTO: PAULO LIMA

Artigo

e g n e l l a h C e t a m i l C o i R

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esde a Conferência de Bali, em 2007, o Brasil, que contribui com cerca de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), vem ocupando um papel proeminente nas negociações climáticas. Naquela ocasião foi praticamente o único país a trazer boas noticias ao anunciar um corte de emissões de 14%, no ano anterior, resultante da queda de desmatamento na Amazônia. Nos últimos cinco anos essa tendência vem se mantendo. Na conferência de Copenhagen, dois anos mais tarde, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a apresentar metas de redução de emissões no agregado. Anunciou sua disposição de reduzir entre 36% e 39% de suas emissões contra a chamada curva Business as Usual (BAU), o que representaria uma redução, em termos absolutos, de mais de 20% em relação ao ano base de 2005. O anúncio de 2009 foi feito, projetando um aumento médio do PIB brasileiro entre 6% e 4%, até 2020, o que, neste momento, parece bastante acima da realidade. Isso, eventualmente, facilitará ao país alcançar essas suas metas voluntárias anunciadas em Copenhagen. Na Conferência COP 17, em Durban, o Brasil deu alguns passos mais ao jogar um importante papel diplomático articulador entre o grupo BASIC --que compõe juntamente com a África do Sul, Índia e China-- a UE e os EUA para que, pela primeira vez, fosse aceito (ainda que genericamente) o princípio de metas obrigatórias de redução de emissões para todos os países, a partir de 2020. Sua diplomacia foi também bem sucedida em negociar uma

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sobrevida ao Protocolo de Kioto, junto com o prazo de 2015 para um novo acordo. O Brasil foi o protagonista diplomático mais destacado no processo, que acabou surpreendendo a maior parte dos observadores que apostavam no fracasso da conferência de Durban. . Na verdade a COP 17 ficou na metáfora do copo, meio cheio, meio vazio. Meio cheio, pelo fato de ter conseguido manter e de algum modo fazer avançar a governança internacional em torno do imenso risco das mudanças climáticas, esse complexo e confuso sistema da UN FCCC (United Nations Framework Climate Change Conference). Meio vazio, porque subsiste enorme distância entre o conjunto de compromissos tanto obrigatórios (Anexo I do Protocolo de Kioto, atualmente restritos à UE) quanto os voluntários, enunciados pelos demais países em Copenhagen e Cancun, em relação à necessidade de se manter a concentração de GEE na atmosfera abaixo de 450 ppm para ter uma chance razoável de limitar o aquecimento médio do planeta neste século a 2 graus centigrados, conforme o consenso científico do IPCC. A distância entre o máximo que a diplomacia consegue e o mínimo que a ciência consegue continua abissal. A atenção internacional agora se volta para a Conferência Rio + 20 a ser realizada no Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho. Ela formalmente não abordará a questão climática que tem seu próprio canal de negociação na ONU, as COP (Conferences of Parties) sob a égide da UN FCCC. Evita-se também proceder um balanço sistemático da implementação dos grandes acordos firmados na Conferência Rio 92, as convenções do Clima, Biodiversidade e Desertificação e a Agenda 21, como seria recomendável numa conferência que se refere explicitamente àquela anterior, há vinte anos, na mesma cidade. Mas paralelamente, será realizado de 13 a 21 de junho, o Rio Climate Challange (RCC), uma iniciativa envolvendo grupos facilitadores, não-oficiais, provenientes de países grandes emissores e de alguns países de grande vulnerabilidade, para simular e modelar um esforço comum mais ambicioso, visando um compromisso internacional sobre Clima, capaz de atender à demanda da ciência face ao aquecimento global. A ideia é “negociar” um “acordo” envolvendo os maiores emissores e alguns dos mais vulneráveis. Isso contribuirá para sensibilizar e mobilizar a opinião pública internacional, mostrando que existem caminhos factíveis desde que os contextos políticos nacionais se tornem mais favoráveis. Isso pode facilitar a negociação dos governos no âmbito da COP 18 e de conferências subseqüentes, oferecendolhes uma modelagem já previamente simulada entre quadros políticos, científicos, acadêmicos e empresariais influentes destes países. O RCC propiciará ao Rio de Janeiro manter o status de cidade de referência internacional nas questões ambientais globais conquistado na Rio 92, quando foi assinada a Convenção do Clima. Alfredo Sirkis, Deputado Federal (PV-RJ), escritor e jornalista, é o presidente da subcomissão Rio + 20 da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

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Artigo

Ilan Goldfajn

Crescimento e bem-estar no Brasil

O

Brasil vem crescendo aceleradamente nos últimos oito anos. Entre 2004 e 2011, o PIB cresceu, em média, 4,5% ao ano, quase o dobro da tendência dos 20 anos anteriores. Mas será que o crescimento maior tem se traduzido em ganhos de qualidade de vida para a população? Há evidências de que as medidas tradicionais de desempenho econômico, como PIB e consumo, não necessariamente refletem a evolução do bem-estar da sociedade. Uma economia pode ter seu PIB, renda e consumo crescendo bem, mas sem o equivalente progresso em termos de bem-estar, medido, por exemplo, através da educação, da saúde e da desigualdade de renda da sociedade. O processo de desenvolvimento pode gerar elevação da desigualdade, da poluição, da jornada de trabalho, da criminalidade, etc. De fato, não se encontra evidência clara de uma relação entre crescimento do produto per capita e aumento da felicidade (ou do bem-estar) medido por pesquisas de opinião (veja sumário em “Will GDP Growth Increase Happinness in Developing Countries?”, Texto para Discussão IZA, no. 5595, março 2011, Andrew E. Clark e Claudia Senik). Os resultados mostram que ao longo do tempo, em um mesmo país, os dados não comprovam que pessoas que enriquecem ficam mais felizes. Apesar de existir, sim, uma tendência de os habitantes de países mais ricos serem mais felizes.

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Porque isso acontece? Os estudos levantam algumas hipóteses. Primeiro, há um elemento relativo: o bem-estar de uma pessoa somente melhora se sua renda elevar-se em comparação com a renda média de seu grupo de referência. Segundo, há uma certa adaptação a níveis mais elevados de renda. O aumento de renda corrente tem forte impacto imediato sobre o bem-estar e a satisfação pessoal, mas se dilui ao longo do tempo. Ambas as hipóteses encontram algum respaldo nos testes empíricos, embora expliquem apenas parcialmente a baixa correlação entre renda e satisfação pessoal. A explicação mais aceita é que há outros fatores (além da renda) que influenciam o bem-estar e podem compensar o ganho gerado pelo crescimento maior. O fato de várias experiências de crescimento elevado virem acompanhadas de aumento da desigualdade social – por exemplo, o Brasil nos anos do milagre econômico – indica que episódios de crescimento elevado não devem ensejar necessariamente aumento da felicidade média da população. Nesse espírito, a equipe econômica do Itaú construiu um indicador para tentar medir o bem-estar da população brasileira e responder a pergunta da introdução do artigo “O Índice Itaú de Bem-Estar Social” (bit.ly/itau_bemestar). O indicador leva em consideração, além das condições econômicas, as condições humanas e a distribuição de renda. Há vários subindicadores que compõem o índice.


Um dos subindicadores leva em conta as condições econômicas (apesar de não serem suficientes para garantir bem-estar). O aumento do poder de compra e a capacidade de pagar as contas no final do mês representam uma parcela importante da qualidade de vida de uma sociedade. Para caracterizar o subindicador de condições econômicas, foram incorporadas informações sobre consumo varejista, mercado de trabalho e inflação. Para caracterizar o subindicador de condições humanas, levamos em conta questões de saúde e saneamento (mortalidade infantil, expectativa de vida, acesso à rede de esgoto), educação (anos de escolaridade) e segurança (taxa nacional de homicídios). São questões que não apenas impactam o dia a dia das pessoas, como permitem que elas se sejam melhor preparadas – e mais produtivas – no futuro. Finalmente, para medir a evolução da distribuição de renda usamos os tradicionais índices de Gini e Theil. Optamos por criar um subindicador apenas para desigualdade social a fim de aumentar sua importância no índice. Ao contrário dos outros dois subindicadores anteriores, a desigualdade social não necessariamente é uma característica que melhore diretamente o bem-estar individual. O ganho vem indiretamente, através da vida cotidiana em uma sociedade mais equânime. O índice final é composto pela média geométrica dos três subindicadores. Portanto, condições econômicas, humanas e de desigualdade têm peso igual no resultado final. O resultado, com dados desde 1992, está no gráfico, Gráfico 5: Índice Itaú de Bem-Estar Social vs. PIB Real 1,2

1 Índice Itaú de Bem-Estar Social

0,8

PIB

0,6 0,4 0,2

2010

2008

2006

2004

2002

2000

1998

1996

1994

1992

0

Fonte: Itaú

que compara a evolução do bem-estar com o PIB brasileiro. A reforma monetária de 1994 produziu não apenas uma reversão abrupta da piora de bem-estar que vinha se observando no Brasil até aquele ano, como impulsionou rapidamente o índice nos anos seguintes. Os anos de 1994 a 1996 registraram a maior elevação marginal de bem-estar no período analisado, que cresceu mais do que o PIB. Entre 1997 e 2001 o PIB seguiu crescendo moderadamente, mas o bem-estar experimentou uma fase de estag-

nação. A melhora das condições humanas (exceto segurança) e da desigualdade (a taxas baixas) foi compensada pela piora nas condições econômicas, resultado das crises sequenciais nos países emergentes, inclusive no Brasil. A partir de 2002, no entanto, o bem-estar volta a melhorar, com avanços sistemáticos nos três subindicadores. PIB e bem-estar passam a crescer em ritmo semelhante. Não houve grandes impulsos de bem-estar como observado em 1994/5, mas foram notadas variações positivas ininterruptas. De 2008 em diante, o bem-estar seguiu melhorando, mas a taxas um pouco mais lentas. A desaceleração está ligada à crise financeira global, de um lado, e ao aumento na taxa de homicídios no período, de outro. Os avanços em educação e saúde e saneamento também foram um pouco mais lentos entre 2008 e 2010. De forma geral, o Índice Itaú de Bem-Estar Social mostra que houve um avanço importante da qualidade de vida nos últimos 20 anos no Brasil. Em que medida o indicador traz novidades diante de outros indicadores já consagrados, como por exemplo, o IDH da ONU? Em primeiro lugar, o índice do Itaú caracteriza melhor e em maiores detalhes os aspectos econômicos e humanos. Especialmente por levar em consideração aspectos mais relevantes para a economia brasileira, como saneamento básico e violência urbana. Em segundo, dá um peso maior à desigualdade social, outro quesito particularmente relevante para o Brasil. Mas ainda existe espaço para que o índice seja ainda mais completo. Por falta de dados, um aspecto importante para a qualidade de vida da sociedade ficou fora de nossa análise: a saturação do ambiente físico. Essa “saturação” tem diversos aspectos. Pode ser congestionamento das vias públicas nos grandes centros – que tem reflexo em aspectos fundamentais da vida das pessoas, como o tempo perdido no ônibus ou no carro para chegar ao trabalho. Ou pode dizer respeito à ecologia, à saturação do meio ambiente. Variáveis como qualidade do ar, poluição e desmatamento poderiam ser consideradas. Em suma, o recém-lançado Indicador Itaú de BemEstar social mostra que o Brasil avançou de forma importante nos últimos 20 anos não apenas do ponto de vista de crescimento econômico, mas também de bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Para a frente, o bem-estar vai depender do “bem-fazer”: ou seja, da capacidade de “fazer” mais e melhor. Não basta consumir mais. Será crucial estimular mais o investimento (público e privado) e a melhora na produtividade. Só assim será possível manter a trajetória de crescimento da economia e a promoção do bem-estar da população que experimentamos nos últimos anos. Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do Itaú BBA.

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E n s a i o FOTOS:

FERNANDO GONÇALVES

O jornalista Fernando Gonçalves adora sair com sua máquina para tentar capturar um pouco da alma do carioca. Este ensaio mostra diferentes ângulos destes passeios de Fernando. No sentido horário: o jovem artista na Praça São Salvador que reproduz casas da favela; o passeio dos barcos na Baía de Guanabara; o mico que faz alerta para os homens; por do sol; a Lagoa Rodrigo de Freitas de noite; o sono das crianças catadoras de latinhas após os blocos de Carnaval e o Corcovado visto do Forte do Leme.

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Amazônia

No interior do Amazonas,

a FAM bota em prática os três pilares da Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista De Novo Airão (AM)

RIO+20

As ondas do rio embalaram a canoa que me serviu de berço, enquanto minha mãe lavava a roupa nas suas margens. O canto dos macacos guariba, mesclado com mil sons do canto dos passarinhos, me induziram ao sono, debaixo dos galhos da árvore que me amparava com sua sombra. Eu e os meus irmãos, todos, vivemos a maior parte das nossas vidas no ventre da Floresta Amazônica. É por isso que meu sangue tem o cheiro da clorofila.” Este trecho do livro do amazonense Miguel Rocha da Silva, filho da índia Almerinda e do pernambucano Malaquias, revela sua paixão pela floresta e explica sua vida de trabalho e dedicação à preservação da Amazônia. Ele foi o idealizador e preside a Fundação Almerinda Malaquias, nome escolhido em homenagem a seus pais. A ONG existe desde o ano 2000, em Novo Airão (AM), na margem direita do Rio Negro, numa região que abrange áreas de preservação, como o Parque Nacional Jaú e a Estação Ecológica das Anavilhanas. Miguel acredita que é fundamental cuidar ao mesmo tempo da natureza e da vida dos ribeirinhos, chamados de caboclos, cuja sobrevivência depende daqueles rios oceânicos e daquelas terras de flora e fauna exuberantes. Em busca de uma resposta para os seus anseios, ele pergunta: ”Até quando estes povos da floresta serão ignorados?” E vem à tona a velha questão: o que é preciso salvar primeiro? A floresta ou os caboclos? O que priorizar? O Planeta ou os seres que o habitam? Especialistas que definem o que desejam para o futuro, durante a Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, optaram por dar o mesmo peso aos três pilares: social, ambiental e econômico. Buscam vida saudável para todos. Enquanto isso, Miguel e seu parceiro, o suíço Jean- Daniel Vallotton vão botando em prática o que o mundo ainda tenta botar no papel.

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Raina, Radriele, Priscila e Klaiver, aprendem arte e preservação do meio ambiente.

APRENDER E FAZER No Centro de Formação Profissional da FAM, em Novo Airão, Netúsia de Araujo Silva, 45 anos, sete filhos, dá os retoques finais numa arraia e vai contando que, graças ao curso que fez na Fundação Almerinda Malaquias, hoje é artesã e ali mesmo trabalha diariamente para incrementar a renda familiar. Seu marido, Clemente Marinho da Silva, é o presidente da Nov`Arte, associação criada para que os artesãos possam comercializar sua produção. Dois filhos estão na universidade e Daniel, 19 anos, já é artesão pela FAM.


Clemente, artesão e presidente da Nova`Arte.

“Além de ser um trabalho lucrativo, é um prazer; passo mais tempo aqui do que em casa”, diz Clemente, mais conhecido pelo apelido de Pastor. Ex-técnico de eletrônica, hoje ele consegue faturar, com o artesanato, em torno de R$ 2 mil mensais numa região em que emprego é coisa rara. No seu entender, a FAM melhorou significativamente a vida de muitas famílias dentre os 16 mil habitantes de Novo Airão. Miquéias Rodrigues de Souza, Fernando da Costa Melo, Edmilson Daniel Barreto e Domingos Sávio Lima também já se formaram mestres-artesãos e hoje ensinam seus alunos a transformar resíduos de madeira, recolhidos em estaleiros navais e serrarias, em obras de arte: sapos, arraias, jacarés, cobras, macacos, da fauna local; utensílios, como pratos, tigelas, colheres, garfos; caixas trabalhadas com marchetaria, com dobradiças também de madeira, enfim, mais de 70 produtos diferentes. “Procuramos adequar a necessidade de gerar renda com o aprendizado porque essa comunidade ribeirinha não pode ficar só estudando, eles precisam sobreviver. Para isso, nossos alunos vendem o que produzem” diz Jean-Daniel, o marceneiro suíço que ensina a transformar restos de madeira em arte. Hoje, a FAM já contabiliza cerca de 500 profissionais formados, 200 famílias de produtores e um movimento anual de cerca de R$ 500 mil. Seus produtos têm feito grande sucesso por todo o Brasil e já conquistaram duas vezes um prêmio nacional: o Top 100 Artesanato Brasil, do Sebrae. Eles se orgulham de mostrar a diversidade da madeira da sua Floresta. Seu próximo passo será a fabricação de móveis. Desde 2005, a FAM trabalha, também, com papel reciclado, produzindo álbuns de fotos, blocos, porta-retratos, cartões, cadernos, embalagens, sob a coordenação de Rosimeire Alves do Nascimento,

que se desdobra nos papéis de secretária da Fundação e mestraartesã. Ela fez curso na FAM, pesquisou muito na Internet e sabe usar sua criatividade aliada aos recursos que tem a mão. Ao fazer uma demonstração para Plurale, durante o processo, ela deu dois passos, catou no terreno um ramo de citronela, e acrescentou à mistura, dizendo: “Isso vai dar cor e aroma ao papel”. DE FILHO PARA PAI A FAM investe na conscientização ambiental de alunos da rede pública, através do Ateliê das Crianças, que há dois anos conta com apoio do Município. Hoje, atende a 120 crianças de cinco a 12 anos, com seis horas semanais de educação ambiental. “Nossa intenção é conscientizar os pais através de seus filhos, pois as crianças se tornam multiplicadoras em suas famílias. Nosso contato com os pais ocorre em três reuniões anuais”, informa Jean-Daniel. Na fachada da sala de aula, em coloridos desenhos feitos pelas crianças, está retratada a história da vida de Almerinda e Malaquias, numa homenagem ao seu fundador, Miguel Rocha da Silva. Todos os programas da FAM têm foco na educação integral. Para trabalhar como autônomo, o caboclo precisa saber calcular o custo e lidar com fornecedores, por exemplo. “Visamos sempre a formação de profissionais autônomos e a melhoria da sua qualidade de vida”, diz Jean-Daniel. Já o programa Profuturo, destinado a jovens de 13 a 15 anos, prepara adolescentes para a vida profissional, o associativismo e valorização do ser humano. Com ferramentas modernas, como o computador, a FAM realiza programas para valorizar a cultura dos antepassados. Seus professores também ficam de olho nos valores morais e na saúde dos alunos: “É muito comum por aqui vermos meninas de 13, 14 anos engravidando e entregando os filhos aos pais”. EKOBÉ – VIDA, EM TUPI A seis quilômetros do centro de Novo Airão, em 32 hectares de floresta, terreno cedido pela Prefeitura, a FAM está ins-

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Amazônia

talando o Ekobé, com apoio financeiro do governo japonês. Foi inaugurado em abril de 2011, quando o cônsul do Japão, Hajime Naganuma plantou um flamboayant no local. Com mais de 50 espécies diferentes, tais como macucu sangue, seringa, louro, rabo de arraia, itauba, ingarana, sapucaia, abacaturana, ocuuba, enviras, cipós, palmeiras, jabuti, urucum, mata mata e outras, além de um pomar rico, com banana, laranja, pitanga, caju, jabuticaba, açaí e cupuaçu, o Ekobé será um centro de estudo do meio ambiente: “Queremos trazer pessoas para conhecer a nossa realidade e aprender a fazer manejos florestais e a permacultura.” Para Jean-Daniel, é preciso encontrar o equilíbrio entre o social e o econômico, de modo que a população local tenha condições de sobreviver, preservando a natureza. Eles perseguem três objetivos simultaneamente: geração de renda, educação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais. O Ekobé dispõe de alojamento para 20 pessoas interessadas em estudar a floresta, sua diversidade e fragilidade. Para atrair leigos em visita à Amazônia, Miguel e Jean-Daniel tiveram a idéia de explorar o ecoturismo. Estão montando uma trilha ecológica den-

Jean-Daniel mostra a tinta do urucum no Ekobé

Ele trabalha como voluntário, cuidando de tudo. Desde a administração da FAM, a captação de recursos, a montagem dos cursos, a orientação profissional em todo o trabalho de marcenaria e marchetaria, sem descuidar nem por um momento da formação das pessoas e da preservação do ambiente. Acompanhando um grupo de crianças em visita ao Ekobé, ao passar por um pé de urucum, ele esmaga a fruta entre os dedos e sugere que se pintem. “Foi um sucesso, elas adoraram!”, vibra o mestre carpinteiro. Um homem feliz com o caminho que escolheu, casado com a amazonense Marta, ele está sempre buscando as melhores – e mais econômicas – soluções para melhorar a vida do povo da floresta que aprendeu a amar. Só se ressente da falta de apoio financeiro para seu trabalho, principalmente agora: “O Brasil está com fama de rico lá fora, por isso fica mais difícil conseguir doações.” Mas o presente maior, a Amazônia já ganhou. É o amor desses homens que dedicam sua vida à preservação da natureza e à melhoria da vida dos ribeirinhos.

Netúsia e o filho Daniel, também artesão.

tro do terreno do Ekobé, com direito à observação da floresta, com guias, e banhos refrescantes nos igarapés de águas cristalinas. Todo esse trabalho – feito de acordo com os pilares social, ambiental e econômico – só foi possível graças ao encontro, de Miguel Rocha da Silva, a alma amazonense, e Jean-Daniel Vallotton, o mestre marceneiro suiço. Em 1992, quando visitava pela primeira vez a Floresta Amazônica, o suíço contratou Miguel e seu barco de turismo e ali nasceu uma amizade e o interesse em trabalhar pela preservação da Floresta e a melhoria da vida daquela gente sofrida. Marceneiro formado em curso de cinco anos, Jean-Daniel, antes de se estabelecer no Amazonas, criou uma ONG na Suiça, a Associação Ailleurs Aussi, já pensando em obter apoio financeiro para o projeto que pretendia desenvolver em Novo Airão. No Amazonas, estabeleceu parceria com a Fundação Vitória Amazônia, que trabalha com tecelagem de fibras. Somente trës anos depois, em junho de 1997, conseguiu juntar o dinheiro e o material necessários para voltar ao Brasil e iniciar seu projeto.

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Miquéias é artesão e caixa da loja de produtos artesanais Nova ’Arte.


14º 02 e 03 de julho de 2012 Sheraton São Paulo WTC Hotel Av. das Nações Unidas, 12.559 Piso C - Brooklin Novo - São Paulo - SP

Realização

Informações e Inscrições ABRASCA (11) 3107.5557 IBRI (11) 3106.1836 www.abrasca.org.br www.ibri.com.br

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Academia

Filosofando sobre a

Economia

Verde

Professor André Campos da Rocha, da UFRJ, pesquisa Filosofia Ambiental e fala sobre sua expectativa para a conferência

Texto: Marcelo Pinto, Especial para Plurale em revista Foto: Milena Renee

M

inha expectativa para a Rio + 20 é a pior possível”, afirma, sem meias palavras, o filósofo André Campos da Rocha, um dos raros que se dedicam hoje a divulgar a Filosofia Ambiental no Brasil. Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor do Museu do Amanhã – que está sendo construído na região do Porto do Rio e cuja missão será promover o debate sobre o desenvolvimento sustentável -, André leciona na Faculdade de São Bento, onde coordena há três anos o programa de iniciação científica e inaugurou, em abril deste ano, a primeira turma do curso de extensão em Filosofia Ambiental. Com estas credenciais, André não hesita em fazer o papel de “gambá da festa”, como o próprio se define em tom de brincadeira, antes de explicar as razões que o levam a crer seriamente no fracasso da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que se realiza no Rio de Janeiro, em junho. Para ele, os acordos das últimas conferências para reduzir o aquecimento glo-

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bal, preservar a biodiversidade e proteger as florestas do mundo, bem como a meta de diminuir a pobreza mundial, até agora não passaram de “mera retórica”. Com “muita expectativa para poucos ou inexpressivos resultados”, a Rio + 20 estaria caminhando para repetir, na opinião dele, o fracasso de Copenhague, em 2009. “Para que a Rio + 20 não redundasse em fracasso, ela deveria se articular a partir de temas como a relação dos homens com os outros animais, as tradições culturais diversas e, sobretudo, pensar a questão da justiça ambiental não apenas como braço de questões econômicas”, enumera André, para quem a decisão de estudar ética ambiental foi movida “por uma questão de responsabilidade social”. Este carioca de 40 anos, crescido em Vila Isabel numa família de classe média como outras tantas – pai engenheiro, mãe dona de casa – defende que o papel do filósofo é “ir para o debate franco com a sociedade, gerar ações e não apenas discussões, debates intermináveis na academia, que se resolvem por ali mesmo.” André, inclusive, revela a preocupação de que a filosofia ambiental venha se transformar “meramente numa disciplina acadêmica”, o que, segundo ele, esvaziaria seu poder de mobilização. Não é por outra razão que André participará do encontro da Associação Internacional de Economia Verde, que acontece paralelamente a Rio + 20. Em uma tese escrita em parceria com a professora de engenharia de produção da Unirio, Heloísa Helena, e intitulada Towards an ethical-philosophical agenda for the Green Economy. (“Para uma agenda ética e filosófica para a Economia Verde”), ele defende que a mera propaganda da economia verde como contraponto da economia marrom, hoje vigente, apresentando esta como perniciosa para a vida no planeta, é insuficiente para a consolidação do modelo de desenvolvimento sustentável. Em outras palavras, usar exclusivamente argumentos econômicos para provar que a economia verde nos trará um futuro melhor seria o mesmo que trocar um número por outro, sem que valores éticos e uma necessária educação ambiental estivessem envolvidos no debate. “Como você vai incutir na cabeça das pessoas, só com argumentos economicistas, que elas têm responsabilidade com as gerações futuras? Ou que você não pode extinguir determinada espécie? Isso passa radicalmente por uma discussão prévia, de cunho ético-filosófico, para que a economia verde seja encarada de


fato como uma alternativa não apenas economicista, mas humana”, argumenta. A raiz do problema está, segundo André, nas ideias do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), “pai da visão cientificista que impera até hoje”. Para Bacon, a natureza deve fornecer tudo que é de direito do homem, mesmo que sob tortura. “Isso foi engendrando uma relação binomial entre conhecer e lidar com a natureza que desembocou na situação insustentável na qual nos encontramos”, explica. Essa tradição inaugurada por Bacon tem seu ápice com Galileu Galilei (1564- 1642) e Isaac Newton (1643-1727), e, mais recentemente, com a mecânica relativista e o tão propalado projeto Genoma, de decodificação do DNA. “O pensamento hegemônico passa a ser o seguinte: eu, como ente privilegiado da natureza, porque dotado de razão, tenho o direito de dominá-la. A partir daí, meu amigo, você faz o que bem entende com a natureza”, resume. Foi justamente o ato de questionar o pensamento hegemônico que levou André ao encontro da Filosofia Ambiental. Ainda na graduação, percebeu que para compreender “o fenômeno da arte” teria que investigar “outro pressuposto”: a teoria do conhecimento, ou seja, “como chegamos a distinguir de forma inequívoca o que é conhecimento daquilo que não é”. Sua tese de graduação enveredou por essa trilha – não o conhecimento científico ou religioso, mas conhecimento de modo geral. Nesse estudo – que teve como base o filósofo, historiador e economista inglês David Hume (1711-1776) – André descobriu que a ciência – aquela que é aceita no Ocidente – pode ser apenas um tipo de conhecimento. Descobriu aí singularidades do conhecimento científico que o levaram a desenvolver, já no mestrado, uma pesquisa sobre a teoria da relatividade de Einstein, até então tida como uma teoria que revolucionou radicalmente a mecânica clássica e a visão do mundo natural. Logo, novas questões surgiriam. Uma delas: de que seria um mito a máxima de que o conhecimento científico é o único capaz de fornecer respostas seguras. André tratou, então, de desconstruir tal mito. A partir daí, como diz, passou “de médico a monstro.” Da grande reverência que tinha para com o conhecimento científico, tornou-se um profundo crítico. Mais tarde, durante o doutorado, desenvolveu a outra reflexão: o conhecimento científico tem uma característica em geral negada pela ciência mais tradicional, a de que ele é, acima de tudo, determinado pela cultura. “Dependendo da cultura em que você

está, o conhecimento científico se altera. Há uma ilusão eurocêntrica de crer que o conhecimento científico da matriz europeia é o conhecimento científico por excelência”, afirma. Após estudar a relação dos tibetanos com a agricultura e a de tribos africanas com a matemática, André constatou que, por mais heterodoxos que aqueles métodos possam nos parecer, eles produzem resultados satisfatórios há milênios, portanto, devem ser considerados como ciência. Retornamos, então, ao ponto inicial. E ao questionamento do nosso professor: por que não considerar as outras tradições, os outros conhecimentos, na hora de se discutir o futuro – logo, a economia verde - que queremos? André cita um exemplo comum no dia a dia de praças e condomínios. Por que é tão difícil, ao menos no Brasil, fazer com que os vasilhames de coleta seletiva sejam usados adequadamente, com plástico no lugar de plástico, lata no de lata e assim por diante? Simplesmente, diz ele, porque essas pessoas ainda não compreenderam profundamente a reflexão que está por trás dessa ação, e tal mudança de comportamento não virá apenas com argumentos econômicos. Apesar da atuação incansável de organismos ambientalistas como WWF e Greenpeace, e de debates nacionais como o despertado pela tramitação do projeto do Código Florestal – que, após uma aprovação controversa, gerou o “Veta Dilma!” nas redes sociais –, a Filosofia Ambiental, paradoxalmente, é uma área de pesquisa quase que totalmente abandonada pelos filósofos brasileiros. “Uma aberração, considerando que há tanto material para reflexão aqui”, analisa André, que lamenta o fato dos filósofos, atualmente, “serem as pessoas mais isoladas do mundo que se possa imaginar”. O desafio hoje é conciliar o avanço desta disciplina no meio acadêmico com uma atuação fora dos muros da universidade. Evitando, enfim, que se repita o que ocorreu à época da criação da primeira universidade, em Bolonha, na Itália, no início da Renascença, quando, a partir da formalização da Filosofia como atividade acadêmica, o filósofo deixa de exercer o papel de protagonista que mantinha em sua comunidade. Sempre inquieto, André já está com a cabeça em um novo projeto: concluir, em parceria com o presidente da Academia Brasileira de Filosofia, João Ricardo Carneiro Moderno, o primeiro Manual de Filosofia Ambiental produzido no Brasil. Em tempo: alguma editora se habilita?

MARCO DO ATIVISMO AMBIENTAL A Filosofia Ambiental é uma corrente relativamente nova dentro da Filosofia. Teve início nos anos 1970, mais ou menos na mesma época em que ocorreu aquele que é considerado o marco do ativismo ambiental. Havia um bosque numa cidade dos EUA que era muito usado pela comunidade para práticas esportivas e lazer. Um dia a prefeitura informou que ele seria derrubado para a construção de um condomínio. Os usuários do bosque se revoltaram e protestaram, sem resultado. Até que um advogado resolveu usar o expediente jurídico de defesa de incapazes - o bosque tem vida, portanto, pode ser considerado um ser vivo incapaz – para representar na corte o seu direito inalienável de permanecer ali. O processo correu e o juiz deu ganho de causa para o bosque. Tal fato abriu as portas para um tipo de ativismo ambiental que passou a ser chamado deep ecology (ecologia profunda), que trata das questões ambientais em sua radicalidade. Como lembra André, a ecologia profunda resgata a mensagem dos filósofos pré-socráticos (antes de Cristo), que defendiam que tudo na natureza está integrado. “Tudo é um”. No início do século 20, o inaugurador da ética da Terra, o engenheiro florestal Aldo Leopold, lançou o imperativo que se tornaria célebre entre os ambientalistas: “Devemos pensar como a montanha”. Atualmente, o professor de Filosofia da Universidade de Nova York, Dale Jameson, tornou-se uma referência. Em 2008, a editora Senac publicou dele “Introdução à Ética Ambiental”, em que as teorias mais relevantes sobre o tema são apresentadas.

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VIDA Saud ável Indicador FIB

Apoio:

Óleo de coco em alta

Durante a Rio+20, o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds) e o Instituto Visão do Futuro, com o apoio da Unimed-Rio, realizam o seminário “Felicidade: novos indicadores para o desenvolvimento”. O evento tem como objetivo apresentar e discutir os parâmetros necessários para a implementação do indicador FIB (Felicidade Interna Bruta), teoria que complementa o conceito de PIB (Produto Interno Bruto), pois, além da ótica econômica, também considera valores ambientais e humanos, como, por exemplo, o uso do tempo pelos indivíduos para o lazer e a vitalidade dos grupos sociais. Em uma atuação inovadora, a Unimed-Rio adotou a FIB como critério norteador de sua filosofia de Investimento Socioambiental. “Trata-se de uma nova forma de pensar e agir, que demonstra a preocupação da Unimed-Rio com a valorização do bem-estar social”, afirma Ana Vargas, gerente de Relações Públicas e Sustentabilidade da Unimed-Rio. O evento acontece no Teatro NET, em Copacabana, no dia 19 de junho. As inscrições são gratuitas. Mais informações em http://fibrio.org.br.

O hit parade no momento nas lojas de produtos naturais é o óleo de coco. Fala-se muito de suas possíveis propriedades para ajudar no emagrecimento, principalmente da gordura abdominal, além de suas funções para ajudar o intestino a funcionar melhor e no combate a radicais livres. O produto é encontrado em óleo líquido ou em cápsulas, mas especialistas recomendam que é bom garantir que o produto tenha sido extraído frio, garantindo todos os seus benefícios. Leia no rótulo se é extra virgem. Caso não solidifique e fique amarelado, não é de boa qualidade. Mas toda atenção: há pesquisas há favor e outras contra. Nutricionistas contrários a modismos alertam que poder ser pura ilusão os benefícios para perder peso e que como uma gordura saturada, o óleo de coco pode não ter tantos benefícios, gerando efeitos ruins sobre o organismo.

Rio saudável

Os povos indígenas e populações ribeirinhas da Amazônia sabem muito bem as propriedades de frutos regionais para pintar o corpo. A indústria da beleza também tem apostado firme neste potencial. A Beraca, fabricante brasileira de tecnologias sustentáveis, acaba de lançar novos extratos naturais e orgânicos da linha BioFunctional Extracts provenientes de quatro frutos amazônicos: urucum, acerola, guaraná e açaí. Além disso, a empresa também marcou o lançamento da linha Beraclays, composta de 13 argilas naturalmente coloridas e extraídas de forma sustentável do solo de diversas regiões do Brasil. O foco é a indústria cosmética: por não sofrerem interferência de água, mantêm a ação do ativo por um período prolongado e são menos suscetíveis à contaminação. Podem ser usados em maquiagens, cremes e loções corporais e produtos para os cabelos.

Esta é uma dica principalmente para quem estará em junho acompanhando os eventos de Sustentabilidade no Rio de Janeiro, como a Rio + 20, a Cúpula dos povos e vários outros. A cidade convida para uma vida saudável. Encontre uma forma de se exercitar, curtindo a beleza dos mais diferentes cantos do Rio: ande no calçadão das praias, alugue uma bicicleta e passeie em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, conheça a Floresta da Tijuca, etc. E aproveite também para conhecer a infinidade de ofertas de lanchonetes e restaurantes mais saudáveis. Prove sucos naturais e curta comidinhas que fazem bem ao corpo e ao espírito.

Foto: ROMILDO GUERRANTE

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Da floresta para a maquiagem


Em agosto temos um encontro marcado. O Congresso Apimec. Momento oportuno para avaliar o Mercado de Capitais. Participe.

Para mais informações acesse: www.congressoapimec.com.br

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Organização


O

cenário é diferente? Podemos dizer que sim. A subida íngreme e tortuosa da ladeira Ari Barros, no Leme, intimida os motoristas mais cautelosos, ainda mais agora que está toda esburacada por conta das obras do Morar Carioca. Estas obras vêm trazer melhorias na coleta do esgoto sanitário e no escoamento das águas pluviais das duas comunidades. A maior parte do tempo contamos com apenas uma pista para o transito das pessoas, dos caminhões e dos moto-taxis. O que mais chama a atenção a um olhar atento é sem duvida a dificuldade de acesso. Assim que chegamos ao final da ladeira Ari Barroso, na Babilônia, encontramos escadarias que dão acesso às moradias, à Associação dos Moradores e aos diversos comércios locais. Todos tem que subir diariamente com suas compras ladeira e escadarias acima, e descer com lixo e outros materiais escadarias e ladeira abaixo (sem contar os carrinhos de bebê, eventuais bicicletas, e as pessoas idosas e com dificuldade de locomoção que necessitam ser carregadas). O mesmo cenário se repete na comunidade do Chapéu Mangueira. Em meio a este cenário, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) decide lançar o projeto Rio Cidade Sustentável em abril de 2011, cujo principal objetivo foi juntar um grupo de empresas dispostas a investirem em um projeto de cunho pratico visando a melhoria da qualidade de vida destas duas comunidades – através da disponibilização de seus produtos e/ou serviços sustentáveis, ou de outras inovações/tecnologias de terceiros. Este desafio foi prontamente aceito pela Axia Sustentabilidade empresa contratada para a co-gestão e implementação do projeto, cujos trajeto e aprendizado serão apresentados na Rio+20. A primeira iniciativa foi tratar de conhecer esta comunidade mais de perto. Elaboramos um questionário de umas 80 questões envolvendo demografia, tipo e tamanho das casas, principais problemas das casas, profissão e ocupação dos moradores, o que as pessoas mais desejavam, escolaridade, creche, escola, mobilidade, emprego, renda.

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Alexandra Lichtenberg

Lições de campo

Foto: Arthur Vianna

Colunista

Com isto conseguimos muita informação sobre estes 7000 moradores, distribuídos em algo como 1200 casas. Informação, bem entendido. Porque conhecer a comunidade, mesmo após um ano de contato quase que diário, estamos só começando a conhecer! Entrevistamos vários especialistas, políticos, formadores de opinião, ongs, acadêmicos, associação de moradores, empresários, aqui no Rio de Janeiro e em Brasília, para entender um pouco das políticas publicas e quais tipos de iniciativas já existiam em andamento. Então, logo após esta primeira fase investigativa, iniciamos o processo de “visioning” para podermos determinar o que poderia/deveria ser priorizado para execução neste um ano de prazo de projeto, que pudesse realmente impactar positivamente a vida das pessoas destas comunidades, tornando-se um modelo para ser replicado em outras cidades Brasil e mundo afora. Aí iniciava-se a fase de construção participativa – realizamos varias reuniões, fóruns, workshops, conversas, tudo para chegarmos a uma visão conjunta do que seria a Cidade Sustentável. O resultado deste trabalho conjunto das empresas patrocinadoras do projeto, dos lideres comunitários, dos moradores, dos agentes da UPP social, das Secretarias Municipais de Habitação e de Urbanismo, do IPP, do Cebds e da Axia espelham quais os principais atributos necessários para a Cidade Sustentável:


Gostaram? Espero que sim. Eu gostei muito. Daí o brainstorming da equipe produziu seis Frentes de Trabalho que deveriam responder aos anseios expressos na visão de Cidade Sustentável apresentada acima. Cada uma destas ideias foi apresentada à comunidade para que os moradores ratificassem que aquilo realmente era algo que eles consideravam importante e que poderia trazer mudanças e melhorias para sua qualidade de vida – melhorias habitacionais sustentáveis, agricultura urbana orgânica, infraestrutura verde, empreendedorismo/turismo, resíduos sólidos, sustentabilidade nas escolas e lares. A frente de trabalho de Melhorias Habitacionais Sustentáveis acabou se tornando a principal iniciativa do projeto. Faz sentido, uma vez que nossa pesquisa inicial mostrou que a grande maioria dos moradores queria ver sua comunidade mais bonita (segurança apareceu em segundo lugar) e queriam consertar, melhorar e ampliar suas casas. A grande maioria das habitações foram construídas pelos próprios moradores, com ajuda de parentes e amigos, sem conhecimentos básicos necessários em estruturas, instalações elétricas e hidráulicas e em conforto ambiental. São todas obras em andamento há décadas, pois o recurso necessário para investir nisto é sempre disputado por outras prioridades. Qual o processo construtivo utilizado nestas moradias? O de sempre, oras, em estrutura de concreto e paredes em alvenaria de tijolos cerâmicos – tecnologia passada de pai para filho há muitas e muitas gerações! O que ainda não analisamos do ponto de vista prático é se este método construtivo está alinhado com a realidade e as necessidades destas comunidades e das tantas outras similares existentes nesta cidade e neste País. Porque esta conversa agora? A verificação por parte da equipe, do esforço necessário para os moradores transportarem este material de construção para o local da obra – na maioria das vezes longe do “ponto final” de acesso de veículos– é surpreendente. Carregar sacos de cimento de 50kg, sacos de areia de 50kg, ferragens, esquadrias, tijolos, é um esforço hercúleo. Sem contar ainda com o calor que faz nesta terra! Quem não tem condições físicas, como as mulheres, e nem dinheiro para pagar alguém para fazer este carregamento, não pode fazer obras em sua residência, simples assim! Não está convencido? Vamos fazer umas continhas básicas para esclarecer: para se construir uma parede de 10m2 este morador precisa carregar 305 tijolos cerâmicos (do grande), 7 sacos de 50kg de argamassa para assentamento de tijolos, 2 sacos de 50kg de cimento, 880kg de areia e 60 kg de cal. Qualquer

Foto: Celso Pulpo

1. Uma rede de atores coordenados e focalizados em objetivos econômicos sustentáveis; 2. Uma cultura cujos valores fundamentais refletem a sustentabilidade; 3. Uma cidade menos emissora e de baixo consumo; 4. Um lugar onde pessoas coexistem, se respeitam e valorizam a diversidade; 5. Um lugar onde se vive perto do trabalho; 6. Um lugar onde lixo gera renda e receita; 7. Um lugar onde a beleza natural é um dos principais ativos; 8. Um lugar onde o “como” é tão importante quanto o “quê”; 9. Uma cidade como a nossa casa; 10. Cada casa como nossa cidade.

casinha de 50m2 de área construída tem pelo menos 100m2 de área de paredes....! Deu para cansar? Estou discorrendo sobre isto para iniciarmos uma reflexão sobre o tipo de serviços e produtos que são oferecidos aos moradores das comunidades. Não acreditamos que possam ser os mesmos oferecidos aos moradores de locais com acesso através de ruas asfaltadas que levam até a porta da casa. Precisamos de produtos e tecnologias construtivas que sejam adequadas a estas condições geográficas e de acesso já estabelecidas. E se estes moradores tivessem acesso a casas pré-fabricadas, com paredes feitas de materiais sustentáveis e leves, onde duas pessoas pudessem carregar cada módulo pronto escadaria acima (e sem gerar entulho, que acaba ficando espalhado por todos os cantos)? Se a estrutura destas casas fosse feita também de materiais leves e sustentáveis, já calculada na fabrica especificamente para o modulo vendido ao morador? Esta moradia poderia ser edificada em poucos dias com o trabalho de poucas pessoas sem muita especialização. E já estaria embutida neste pacote a tão necessária assessoria técnica estrutural, de conforto e livre de patologias construtivas crônicas. Este é um grande legado aprendido neste projeto, precisamos buscar soluções adequadas para situações especificas que afligem milhões de pessoas nesta Cidade Maravilhosa. (*) Alexandra Lichtenberg (alexandra.lichtenberg@ axiavaluechain.com) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. É Consultora Senior da Axia Sustentabilidade

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Artigo

Christian Travassos

O fim

H

pelos meios

á indícios que nos permitem associar as décadas de 1990 e 2000 a um período de convivência e disputa entre duas visões macro do desenvolvimento: uma, “antiga”, de base produtivista e com o olhar no curto prazo, e outra, relativamente “jovem”, de base ecológica e com foco no longo prazo (TRAVASSOS, 2010). A essencial discussão sobre como compatibilizar as atividades humanas com a manutenção de suas bases naturais (VEIGA, 2007). No caso brasileiro, o desafio encontra-se sobretudo na insustentabilidade social, que, por sua vez, acaba por gerar pressões sobre o ambiente: na desigualdade da renda e do acesso a serviços básicos de qualidade, bens de consumo, terra e outros recursos naturais. Em outras palavras, ainda que conquistemos o fortalecimento da cidadania e do espírito comunitário, restará combater o desperdício e o descaso para com o bem público, em meio a elementos elitistas e pouco democráticos (PÁDUA, 1999). Para Chaves e Ashley (2005), o maior desafio do Brasil está em conquistar a igualdade no acesso a serviços públicos essenciais e de qualidade, como também na distribuição da renda, na medida em que a

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desigualdade socioeconômica impediu historicamente e ainda impede grande parte da população de usufruir benefícios do progresso tecnológico e econômico. As oportunidades para a disseminação e fortalecimento de um discurso voltado ao longo prazo contrapõem-se a desafios ainda hegemônicos. Para Gray (1999), as inseguranças do recente capitalismo moderno impactaram alguns dos principais valores de instituição da própria vida burguesa, como as necessidades de segurança e identidade social. A crise financeira mundial, deflagrada em setembro de 2008, nos EUA, e com reflexos, no Brasil, especialmente no quarto trimestre de 2008 e no primeiro semestre de 2009, resultou em graves conseqüências sociais, como desemprego e perdas patrimoniais. Neste caso, as opiniões divergiram. De um lado, aqueles que acreditam que sua ocorrência, em meio às crescentes evidências quanto ao agravamento dos efeitos da mudança climática, incentivaria práticas mais sustentáveis. De outro, os que consideram que reduziria bastante o peso destas no planejamento de empresas e consumidores, o que afetaria em cheio o Terceiro Setor. Por sinal, hoje, vivemos o segundo capítulo desta mesma crise, com o problema da dívida pública na Zona do Euro e o crescimento hesitante norte americano.


Ainda assim, como dissemos, aspectos sociais e ambientais tem ganhado crescente espaço na sociedade – e no mercado. Tais processos intensificam-se na mesma proporção de crises e previsões catastróficas anunciadas por entidades científicas internacionais, com destaque para o IPCC (ONU). Hoje, acompanhar o noticiário permite-nos perceber evidências abundantes a confirmar o cenário de crise socioambiental que recai principalmente sobre populações mais vulneráveis, em muitos casos associada à leniência do poder público face à gravidade do problema. No Brasil, em meio a enxurradas que têm causado centenas de mortes e prejuízos materiais, a justificativa de que “choveu em tantas horas o esperado para o mês inteiro”, ao mesmo tempo em que expõe a fragilidade da infraestrutura nacional e a visão imediatista historicamente hegemônica, deixa claro, por sua repetição cada vez mais frequente, que as previsões do passado não servem mais para o presente. Nem para o futuro.

Às vésperas da realização da Rio+20, vale ressaltar a relevância e eficiência de ações pautadas por educação e emprego na estrutura social brasileira, vis à vis a lógica contumaz da remediação. Em suma, como efetivamente alcançar o fim pelos meios – mais apropriados -, de olho em um futuro verdadeiramente seguro e sustentável para todos

Neste cenário, os resultados de uma pesquisa da Fecomércio-RJ/Ipsos sobre Segurança Pública no Brasil, realizada desde 2007, merecem destaque. O levantamento enfoca a opinião do brasileiro sobre como enfrentar o problema da insegurança pública, que estratégias, afinal, seriam mais eficientes no combate à criminalidade.

A principal conclusão da versão divulgada em 30 de março último está no fato de que, para o brasileiro, cada vez mais, medidas com foco no médio e no longo prazos devem ser prioritárias. Ou seja, combater a violência com repressão perdeu a adesão de uma parcela significativa da população. Neste ano, para 71% dos brasileiros, a melhor solução para a criminalidade está em prestar mais atenção nas condições de vida da população – leia-se educação, emprego, saúde e moradia – ante 59% de cinco anos atrás. Já para 28%, uma forte política de segurança pública, com mais policiais nas ruas, leis e punições mais severas e um número maior de presídios, seria o ideal para combater a violência. Em 2007, esta proporção era de 39%. Não é para menos. Numa outra pesquisa, divulgada em nove de abril último, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) concluiu que quatro em cada dez crianças e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em estabelecimentos com restrição de liberdade são reincidentes. E as infrações que os levam de volta a instituições (a princípio) reabilitadoras costumam ser ainda mais graves do que as anteriores. Os casos de homicídio, por exemplo, revelaram-se muito mais frequentes na segunda internação, passando de 3% para 10%, no país. Provavelmente por isso, hoje, um em cada três brasileiros acredita na implementação de programas de primeiro emprego para jovens como uma das principais formas de reduzir a criminalidade – pela pesquisa Fecomércio-RJ/Ipsos. Em 2007, essa proporção era de 24%. Dar mais opções de lazer e atividades para crianças entre 7 e 14 anos fora do horário escolar também foi estratégia citada por 17% dos entrevistados, ante 14%, em 2007. A aposta em ações estruturais tem a ver com a preocupação em relação à impunidade, com a migração de território ou de atividade do crime face à repressão do Estado e com a frágil capacidade de recuperação das unidades prisionais brasileiras. Às vésperas da realização da Rio+20, vale ressaltar a relevância e eficiência de ações pautadas por educação e emprego na estrutura social brasileira, vis à vis a lógica contumaz da remediação. Em suma, como efetivamente alcançar o fim pelos meios – mais apropriados -, de olho em um futuro verdadeiramente seguro e sustentável para todos. Não apenas em termos de segurança pública, mas também nos campos social, econômico e cultural. Christian Travassos (christian.travassos@ yahoo.com.br) é economista e mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ)

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Colunista

Marcus Quintella

Transporte público

A

e Qualidade de Vida

s grandes cidades brasileiras vêm sofrendo demasiadamente com congestionamentos diários, cujos resultados são os velhos conhecidos malefícios para a saúde física e mental da população: perda de tempo, poluição atmosférica, excesso de ruídos, stress, desconforto e insegurança. Essa insustentável situação decorre da falta de sistemas de transporte público ambientalmente sustentáveis, econômicos, regulares, adequados, abrangentes, confortáveis e integrados, que geram benefícios para todos os cidadãos e promovem a inclusão social das populações mais pobres. A propósito, o ranking 2011 das melhores cidades em qualidade de vida, elaborado pela consultoria internacional Mercer, por meio de pesquisas em 221 cidades do mundo, leva em consideração quesitos como política, sociedade, economia, saúde, saneamento, escolas, serviços públicos, moradia e transporte. A metodologia de pesquisa da Mercer tem a cidade de Nova Iorque como referência de comparação e as condições de vida das cidades são analisadas de acordo

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com 39 fatores, agrupados em 10 categorias. Dessas categorias, uma das mais importantes são os serviços de transporte público e os problemas com congestionamentos, que pesam bastante na avaliação das pessoas sobre qualidade de vida. Segundo o ranking da Mercer, Viena possui o melhor padrão de vida do mundo, seguida por Zurique e Auckland. Munique ocupa o quarto lugar. Düsseldorf e Vancouver estão empatadas na quinta posição. Frankfurt está em sétimo lugar, Genebra, no oitavo lugar, Berna e Copenhagen, em nono e décimo lugares, respectivamente. Pela lista das dez primeiras colocadas, podemos observar que as cidades européias são as melhores no ranking mundial de qualidade de vida. As três últimas cidades do ranking são N’Djamena, no Chade, 219º lugar, Bangui, na República Centro-Africana, 220º lugar, e Bagdá, no Iraque, 221º lugar. Das cidades brasileiras mais bem colocadas, encontramos Brasília, em 101º lugar, e Rio de Janeiro e São Paulo, 114º e 116º lugares, respectivamente.


Devemos notar que as cidades que ocupam as dez melhores posições do ranking de qualidade de vida possuem sistemas de transporte público de excelência, baseados nos modos sobre trilhos, ou seja, metrôs, trens metropolitanos e bondes modernos, devidamente alimentados e integrados pelos modos sobre pneus. Essa mesma constatação ocorre também nas trinta primeiras colocadas do ranking. Por outro lado, a maioria das cidades com baixa classificação possui sistemas de transporte público desorganizados, sem qualquer tipo de integração, geralmente baseado em ônibus e veículos clandestinos. As cidades intermediárias do ranking estão tentando progredir no quesito transporte público e possuem sistemas sobre trilhos incipientes e em evolução, que ainda não conseguem atender suas populações de forma abrangente, econômica e integrada com os demais modos de transporte. O trabalho da Mercer sugere uma correlação do transporte público com a qualidade de vida das populações urbanas e serve como motivação para que as cidades brasileiras invistam cada vez mais em mobilidade urbana baseada em sistemas de transporte de massa, preferencialmente sobre trilhos. Felizmente, os governantes brasileiros já se convenceram que não há solução diferente dos sistemas de transporte público de massa para os gravíssimos problemas de mobilidade urbana das nossas grandes cidades. Eles perceberam que os metrôs, trens, veículos leves sobre trilhos (VLT) e bus rapid transit (BRT) são indutores de desenvolvimento econômico sustentável, promotores da integração com os demais modos de transporte, causadores de valorização imobiliária e geradores de empregos em diversos setores da economia, além de importantes vetores de reaquecimento da engenharia nacional e da indústria. O transporte metroferroviário, por exemplo, consegue reduzir expressivamente o número de acidentes e mortes no trânsito, economizar combustível, melhorar significativamente os índices de poluição sonora e atmosférica e proporcionar mais conforto e ganhos de tempo a seus usuários. Na prática, a solução para as cidades brasileiras deve ter por base sistemas de transporte de massa baseados em metrôs, trens metropolitanos, VLT e BRT, alimentados e integrados aos sistemas de média e baixa ca-

pacidade sobre pneus, como os próprios BRT, ônibus convencionais, barcas, teleféricos, funiculares, táxis, entre outros. No quesito tempo de viagem, os modos de transporte público de grande e média capacidade podem levar benefícios significativos para as populações da periferia, que moram a grandes distâncias dos locais de trabalho e chegam a ficar de 3 a 5 horas por dia dentro de um meio de transporte. O tempo é um valioso bem intangível e a economia de tempo que pode ser proporcionada pelo transporte público eficiente e eficaz é um benefício inestimável para as pessoas, que podem usar o tempo ganho com suas famílias, descansando, em atividades de lazer ou de qualquer outra forma. A qualidade de vida está diretamente relacionada ao tempo livre das pessoas. Posso dizer que não há vida para aqueles que não têm tempo. Segundo o Banco Mundial, em termos econômicos, o transporte público é a seiva que dá vida às cidades e, em termos sociais, pode contribuir com a redução da pobreza, pelo fato de ser o meio de acesso (ou de impedimento) ao trabalho, saúde, educação e serviços sociais essenciais ao bem-estar dos menos favorecidos. Salvo maior juízo, penso que não deve haver outra solução diferente do transporte público de massa para resolver os graves problemas de mobilidade urbana nas grandes metrópoles brasileiras. Não tenho dúvida alguma que, se as cidades brasileiras dispuserem de sistemas de transporte baseado em trilhos urbanos, ou seja, metrôs, trens e VLT, associados ou complementados por sistemas de BRT, competentemente integrados e abrangentes, suas populações serão mais felizes e seus cidadãos usufruirão de melhor qualidade de vida.

“Segundo o Banco Mundial, em termos econômicos, o transporte público é a seiva que dá vida às cidades e, em termos sociais, pode contribuir com a redução da pobreza”

Marcus Quintella (marcusquintella@uol.com. br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade e Transportes. Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.

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P e lo Mundo Economia verde? No, gracias

Argentina dirá não à economia verde na Rio+20

Foto: Divulgação/Portal do Governo Argentino

Por Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina

Quem acompanha de perto a política ambiental da Argentina já imaginava: o país sustentará uma posição contrária ao modelo de economia verde que está na agenda da Conferência das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Segunda a agência de notícias governamental, a subsecretária de Planejamento e Política Ambiental do país, Sílvia Révora, declarou que o modelo proposto pela ONU “não está dirigido a nações em desenvolvimento e exige um nível de tecnologia que só os países como os da União Europeia têm e que funciona como barreira comercial encoberta.” Funcionários do governo e movimentos sociais de base se reuniram na última semana de maio para definir a agenda hermana no encontro e lançaram uma declaração conjunta na qual

alegam que a economia verde pode ser uma desculpa para fechar os mercados a países que não possam implementá-la e acusam os países desenvolvidos de criar condições para um “protecionismo verde.” Enquanto isso, ambientalistas criticam o modelo de desenvolvimento implementado pelo governo de Cristina Fernández Kirchner, que faz cara de quem não viu para a extração de minério a céu aberto e para cultura da soja, fontes importantes de ingresso no país. Este ano, o governo também restringiu as importações com o argumento de proteção à indústria nacional, o que, na prática, tem gerado aumentos de preço e escassez de produtos como eletrodomésticos nas prateleiras dos comércios.

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Acesso à energia com baixo custo é vital na luta contra a pobreza, afirma ONU Da ONU

O Presidente da Assembleia Geral, Nassir Abdulaziz Al-Nasser, destacou no fim de maio a necessidade urgente de fornecimento satisfatório de energia a custo baixo para pessoas em todo o mundo que não têm acesso ao recurso. Al-Nasser enfatizou que facilitar a disponibilização de energia pode contribuir fortemente para os esforços de erradicação da pobreza extrema. “Mais de um bilhão de pessoas continuam vivendo sem acesso à eletricidade”, disse Al-Nasser em conferência organizada pela Associação de Política Externa com o tema O Futuro da Energia. “É claro que as necessidades básicas de energia da vida cotidiana dessas pessoas não estão sendo atendidas. Hoje, mais do que

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em qualquer época, há uma necessidade urgente para garantir o uso sustentável da energia e para enfrentar o desafio da pobreza energética” , acrescentou. Al-Nasser frisou ainda que é amplamente reconhecido que, quanto mais energia disponível para as comunidades, maior o impacto sobre a segurança alimentar, saúde, educação, transportes, comunicações, água e saneamento. “Energia, portanto, virou um componente importante, se não um meio essencial, para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Infelizmente, ao longo da última década, a comunidade internacional não conseguiu chegar a um acordo sobre medidas significativas para enfrentar o desafio da

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mudança climática, incluindo a pobreza energética”, afirmou. O Presidente da Assembleia fez um apelo pela adoção de um novo paradigma de consumo e de produção projetado para limitar as emissões de gases de efeito estufa; desenvolver mecanismos para melhorar a eficiência energética e garantir que tecnologias limpas sejam aplicadas a combustíveis fósseis; construir capacidades; facilitar o acesso à energia renovável e transferir tecnologia. A cooperação entre governos, universidades, setor privado e sociedade civil é fundamental nesse processo.


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Estante ANO + 20: A RECICLAGEM NA VIDA DO BRASILEIRO Por Sérgio Adeodato, com fotos de André Pessoa, patrocinado pelo CEMPRE, 134 págs Para celebrar seus 20 anos, o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) reuniu as principais informações de sua trajetória no livro Ano + 20: a reciclagem na vida do brasileiro. A obra, escrita pelo jornalista Sérgio Adeodato, aproxima a reciclagem ao dia a dia das pessoas, relatando a história da organização, associando com a evolução da reciclagem no Brasil. O livro conta com um ensaio fotográfico sobre grafites produzidos por um grupo de artistas convidados pelo CEMPRE no muro de uma cooperativa de catadores, retratando a visão deles sobre lixo e reciclagem. O autor do ensaio, o fotógrafo André Pessoa, é especializado em registrar pinturas rupestres impressas em paredões rochosos por nossos ancestrais. Há também algumas imagens em 3D de materiais recicláveis, distribuídas ao longo dos capítulos, tiradas pelo fotógrafo Marcos Muzi, especialista em ilusão óptica e fotografia 3D.

GOVERNANÇA DA ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL E INCLUSÃO SOCIAL organizado por Wagner Costa Ribeiro, Editora Annablume, 278 págs, R$ 31,85 O livro Governança da Ordem Ambiental Internacional e Inclusão Social, foi produzido pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do IEA e organizado por Wagner Costa Ribeiro, reunindo artigos de pesquisadores da USP sobre temas que estarão em debate na Rio+20. A obra é dividida em duas partes: “Ordem Ambiental Internacional, Governança e Inclusão Social”, que trata de questões sobre governança ambiental internacional, impasses da ordem ambiental internacional e papel da economia nesse contexto; “Saúde, Pobreza e Mudanças Climáticas” traz reflexões sobre as relações entre economia verde, inclusão social e saúde, os avanços da ciência do clima e os recursos hídricos.

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OS 50 + IMPORTANTES LIVROS SOBRE SUSTENTABILIDADE Por Waine Visser, Editora Peirópolis, 272 págs, R$ 30,00 O Instituto Jatobás, em parceria com a Editora Peirópolis, patrocínio da Braskem e, copatrocinio da WWF e da Universidade Paulista - UNIP, acaba de lançar a obra Os 50 + importantes livros em sustentabilidade – edição inédita em português do trabalho do autor Wayne Visser e da Universidade de Cambridge. O livro é resultado de uma enquete realizada, em 2008, entre líderes seniores e ex-alunos do Cambridge Programme for Sustainability Leadership (CPSL). Dentre as entrevistas e biografias dos autores selecionados, estão nomes de destaque como: Aldo Leopold, Rachel Carson, Donella H. Meadows, E.F. Schumacher, Al Gore , Jeffrey Sachs, Max Neef, Peter Senge, John Elkington e o brasileiro Ricardo Semler.

A SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: DIVERSIDADE E COOPERAÇÃO Aorganizado por Sônia Maria Flores Gianesella e Pedro Roberto Jacobi, Editora Annablume, 448 págs, R$ 45,00 O livro A Sustentabilidade Socioambiental: Diversidade e Cooperação, é o sétimo volume da coletânea de dissertações e teses do Procam/IEE-USP. Seus 14 textos estabelecem um diálogo com a contemporaneidade. Destaca-se nessa obra a gestão socioambiental participativa, transformações nas lógicas agrícolas e impactos nos ecossistemas, medidas judiciais e controle de áreas contaminadas, questões de direitos do cidadão, negociação, questões de empoderamento, respeito à diversidade e cooperação e educação para a sustentabilidade. Os temas abordados indicam o desenvolvimento socioambiental como um caminho para atingir a sustentabilidade, caracterizando um retrato da evolução da discussão ambiental.


A Aberje acredita na importância da comunicação para a transmissão dos valores de sustentabilidade. Pioneira no Brasil, é uma das poucas instituições no mundo com certificação no Global Report Initiative. Desde 2007, já formou cerca de 400 profissionais no curso de Relatórios de Sustentabilidade GRI. Além de cursos, promove eventos, comitês e premia os melhores projetos de Comunicação da Sustentabilidade todos os anos.

Não basta ser sustentável, tem que comunicar. Participe desta rede e faça a sustentabilidade ir além.

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P e las Em pr esas

ISABELLA ARARIPE

Unimed-Rio apoia oficina Papel Pinel O grupo do Papel Pinel participou, em maio, de Ato público do Dia Nacional de Luta Antimanicomial. O evento buscou sensibilizar a sociedade sobre diferentes formas de atendimento, além dos manicômios. O Papel Pinel é uma oficina de artesanato feita por pacientes atendidos pelo ambulatório do Instituto Municipal Philippe Pinel, em Botafogo. 20 participantes fazem ca-

dernos, blocos, camisetas e bolsas com estampas criadas por colagem ou pintura utilizando materiais recicláveis. A Unimed-Rio é uma das empresas parceiras do projeto desde 2006. Iniciou seu apoio com a doação de papel, que era convertida em recurso para o projeto, e atualmente a instituição participa de capacitações oferecidas pela empresa e é fornecedora de brindes sociais para eventos.

Presidente da Tetra Pak Brasil é homenageado Durante o 11º Fórum de Comandatuba, realizado em maio, o presidente da Tetra Pak Brasil, Paulo Nigro, recebeu o Prêmio LIDE 2012, como o Líder de Sustentabilidade do ano. O evento, promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais – ainda homenageou outras oito personalidades, entre elas Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmim. De acordo com Paulo Nigro a conquista reconhece seus esforços realizados à frente da Tetra Pak, em prol da conservação do meio ambiente, da promoção da coleta seletiva do lixo e da reciclagem, bem como a favor do desenvolvimento do esporte como instrumento de transformação social. “Acredito que o respeito ao ser humano é o que nos leva a cuidar do nosso templo maior, que é o planeta em que vivemos”, completa Nigro.

Fundação Telefônica e FGV lançam Mapa da Inclusão Digital

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PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 2012

A Fundação Getulio Vargas e a Fundação Telefônica lançaram em maio o primeiro de uma série de estudos sobre inclusão digital, no sentido de mapear as diversas formas de acesso à tecnologia digital, sua qualidade, seu uso e seus retornos. Uma das revelações do estudo é que enquanto a Suécia lidera a lista com 97% da população tendo acesso à rede em casa, a taxa brasileira é de 33% - ocupa a 63ª posição entre 154 países no mundo. Para a Fundação Telefônica, o estudo dá subsídios para traçar novas estratégias no crescimento da rede de internet banda larga pelo país. “A inclusão digital é vista por nós como uma forma de inserção social e faz parte do negócio da companhia. Esta pesquisa é importante para aceleração do crescimento da internet no País”, disse Luciene Dias, diretora regional da Vivo. O estudo revelou como o brasileiro vem acessando a Internet em seu próprio domicílio. E constatou que São Caetano (SP) apresenta o maior índice do país de acesso a internet em casa (69%). Em compensação, em Aroeiras (PI), esse percentual é igual a zero. No Brasil, 33% das pessoas têm acesso à rede em suas casas. Isso o põe em 63º lugar entre os 158 países mapeados pela FGV. O líder é a Islândia, com 94% de domicílios conectados – um índice igual ao da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Já Rio das Pedras, a favela vizinha, possui o menor percentual da cidade (21%), parecido com o do Panamá.


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Coca-Cola Brasil: 5º ano da Semana de otimismo que transforma “Coleta seletiva sem catador é lixo”. Citando a frase do ex-presidente Lula, Tião Santos, líder do Movimento Nacional dos Catadores, deu início ao encontro com 20 blogueiros de todo o Brasil, que marcou o lançamento da Semana Otimismo que Transforma. Durante a iniciativa, realizada pela Coca-Cola Brasil de 20 a 27 de maio, parte da receita obtida com a venda de todos os produtos do portfolio da empresa será revertida ao programa “Reciclou, Ganhou”, do Instituto Coca-Cola Brasil, criado em 1996. Protagonista da campanha da Semana, veiculada na TV, cinema, teatro e mídia impressa e digital, Tião falou sobre a realidade do dia-a-dia dos catadores. “Ao contrário do que imaginam, trabalhamos com alegria. Como já não é atividade fácil, se formos exercê-la com rancor, ela se tornaria mais difícil ainda”.

Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis tem nova categoria para trabalhos relacionados à Rio + 20 Realizado a cada dois anos, o Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis traz uma novidade este ano: uma premiação especial para trabalhos relacionados à Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, além de uma categoria exclusiva para colaboradores e estagiários das empresas Itaú Unibanco. Para participar do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis, o autor responsável pelo trabalho deverá se inscrever até 6 de julho de 2012. A inscrição é gratuita e deverá ser feita de forma eletrônica direto no site http://ww2.itau.com.br/sustentabilidade/_/No-itau-unibanco/premio-itau-de-financas-sustentaveis.aspx

Fundação Grupo Boticário cria Brigada de Incêndio Comunitária A época da seca se aproxima no Planalto Central e com ela surge a preocupação com os impactos do fogo sobre a biodiversidade do Cerrado. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – que administra a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO), uma das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do bioma – está trabalhando para prevenir e minimizar o problema. Para isso, a instituição conta com uma importante aliada: uma brigada voluntária comunitária de combate a incêndios, pioneira na região de Cavalcante. O treinamento que oficializou a formação da Brigada Voluntária Comunitária da Reserva Natural Serra do Tombador e Vizinhos do entorno foi realizado nos dias 21 e 22 de maio, na própria Reserva, em parceria com a Coordenação Geral de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGPro/ICMBio). A Reserva Natural Serra do Tombador é a primeira RPPN no Brasil a firmar uma parceria com o CGPro para treinamento de combate a incêndios. Participaram 22 pessoas, sendo 5 da equipe da Reserva e 17 moradores de propriedades e fazendas da região.

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ENERGIA & CARBONO

(da esq. para dir.): Presidente do Conselho do Instituto Aço Brasil André Gerdau, Deputado Federal Leonardo Quintão, Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, Diretor do MDIC Alexandre Comin e Presidente-Executivo do Aço Brasil Marco Polo de Mello Lopes.

De Brasília/ Do Portal Instituto Aço Brasil

Em cerimônia presidida pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Instituto Aço Brasil e empresas associadas lançaram, no dia 3 de abril, em Brasília, o “Protocolo de Sustentabilidade do Carvão Vegetal”, no qual ratificam o compromisso do setor com a produção sustentável desse insumo. O evento contou com a presença de representantes do governo, da cadeia minero metalúrgica e da imprensa. “Considero que a divulgação desse protocolo pelos produtores do aço é importante contribuição ao esforço do Poder Público em conscientizar os demais segmentos da cadeia produtiva em também terem compromissos de sustentabilidade social e ambiental na produção de carvão vegetal”, afirmou a Ministra. Um dos pontos mais relevantes do documento é o compromisso da indústria do aço de atingir, em até quatro anos, 100% de florestas plantadas para

BM&FBOVESPA E SANTANDER ANUNCIAM PARCERIA PARA DESENVOLVER MERCADO DE CARBONO NO BRASIL A BM&FBOVESPA e o Santander Brasil firmaram parceria para estimular o mercado de créditos de carbono no Brasil. O objetivo é estudar a criação de novos produtos referenciados em créditos de carbono para negociação em bolsa, como contratos derivativos e produtos à vista. Por meio do acordo, as duas instituições vão avaliar conjuntamente o desenvolvimento de produtos direcionados aos mercados brasileiro e internacional, e também desenvolverão estudos para analisar a viabilidade econômica e sugerir medidas regulatórias necessárias ao lançamento destes produtos. A iniciativa também prevê a criação de um Programa de Formador de Mercado (Market Maker) voltado aos produtos resultantes da parceria.

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Foto: André Telles

FGV REÚNE EM SEMINÁRIO ESPECIALISTAS EM ENERGIA

atender à sua demanda de carvão vegetal. Em 2011, 80% do carvão vegetal consumido pela indústria do aço foi proveniente de florestas plantadas próprias, 10% de florestas plantadas de terceiros e 10% de resíduos florestais legalizados. O presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, André Gerdau Johannpeter, também reiterou a importância dessa iniciativa voluntária do setor: “Com o lançamento do Protocolo, a indústria do aço reafirma seu permanente compromisso com a sustentabilidade. Nesse sentido, o uso de biomassa na produção de aço é uma vantagem comparativa do Brasil em relação aos demais países, por se tratar de um recurso natural renovável e, além disso, contribuir para a redução das emissões dos gases de efeito estufa”. No fim de maio, a Fundação Getúlio Vargas reuniu, no Rio, especialistas para debater sobre a matriz energética. Foram dois dias intensos de palestras com a participação de representantes do Governo, iniciativa privada e entidades do setor. A jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista, foi a moderadora do evento. Na foto (da esquerda para a direita), com o Secretário de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, o ex-ministro Carlos Minc; o professor Werner Grau Neto, sócio do Escritório Pinheiro Neto Advogados e Marcelo Moraes, Coordenador do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico.

PROTESTO DO GREENPEACE NO MARANHÃO Desmatamento, invasão de terras indígenas e trabalho escravo. Foi contra esse cenário que o Greenpeace protestou no dia 18 de maio último: a 20 quilômetros da costa de São Luís (MA), ativistas escalaram e bloquearam a âncora de um navio que estava prestes a receber toneladas de ferro gusa que seriam levadas aos Estados Unidos, com um banner escrito “Dilma, desliga a motosserra”. Largamente exportado para aquele país, onde vira aço para a fabricação de carros, o ferro gusa carrega destruição e violência em sua cadeia de produção. As evidências estão no relatório “Carvoaria Amazônia”, que pode ser encontrado no site do Greenpeace Brasil. O protesto no mar em frente à capital maranhense levantou questões embaraçosas sobre o comprometimento da presidente Dilma Rousseff e seu governo quanto à proteção ambiental às vésperas da Rio+20. Dependentes de grandes quantidades de carvão vegetal para alimentar seus fornos, onde o minério de ferro se transforma em ferro gusa, siderúrgicas como Viena – dona da carga do navio – e Sidepar negociam com carvoarias repletas de irregularidades no Maranhão e no Pará. A lista inclui a extração ilegal de madeira e o uso de trabalho análogo ao escravo. Apesar de a investigação ser um pequeno recorte da cadeia de produção, tanto Viena quanto a Sidepar exportam quase 80% do ferro gusa que produzem na Amazônia para os EUA, onde vira aço usado por montadoras de veículos americanas.

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Foto: Divulgação

INDÚSTRIA DO AÇO LANÇA PROTOCOLO DE SUSTENTABILIDADE DO CARVÃO VEGETAL


CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

Em tempo de Rio+20 Recomendado no site oficial da Rio+20 e disponível no You Tube em duas partes (Parte 1 http://www.youtube.com/ watch?v=T2xDkCO8IK8 e Parte 2 http://www.youtube.com/ watch?v=4f9VqmUQBlw&feature=related) o filme Neste Chão Tudo Dá é um documentário que registra o trabalho do fazendeiro e pesquisador Ernst Gotsch, jovem suíço que transformou uma área de terra que no início da década de 1980 estava degradada no sul do estado da Bahia, em recuperada e considerada hoje, 30 anos depois, uma das regiões mais férteis e biodiversas. Ele desenvolveu um método de plantio e gerenciamento que busca imitar os processos de sucessão natural de espécies das florestas e dessa forma aumentar a quantidade e a qualidade da vida em todas as suas formas. Como resultado surge a chamada Agrofloresta, um sistema que combina culturas agrícolas e florestais, trazendo benefícios para o ecossistema e para o produtor. As práticas de Ernst mudaram e melhoraram a vida de várias famílias da região.

Foto: Divulgação

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

E viva a diferença!

No segundo semestre estará nas salas de cinema do país o filme Colegas, o primeiro longa nacional protagonizado por três atores com Síndrome de Down: Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola. Dirigido por Marcelo Galvão, o filme trata de coisas simples da vida sob a ótica dos três personagens. Apaixonados por cinema, eles trabalham na videoteca do instituto onde vivem e um belo dia, inspirados pelo filme Thelma & Louise, decidem fugir no Karmann-Guia do jardineiro em busca dos sonhos de cada um deles: ver o mar, voar e casar. O longa, que foi exibido em sessão privada no Festival de Cannes, teve além dos três protagonistas, mais 60 atores com Síndrome de Down no elenco de apoio. Uma ideia inclusiva que merece nota.

Defensor das minorias O jornalista Tim Lopes, que foi barbaramente assassinado em 2002 por traficantes em meio a uma reportagem investigativa sobre a exploração sexual de menores na favela da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro, terá sua vida documentada no filme Histórias de Arcanjo (nome de batismo de Tim) desde a infância no Rio Grande Sul. Com estreia prevista para setembro, o filme é dirigido por Guilherme Azevedo. Quem conduz a história é o filho de Tim, Bruno Quintella.

Fomentando o cinema nacional I

Fomentando o cinema nacional II

O concurso de curtas-metragens promovido pelo Sistema FIRJAN, através do SESI Cultural, quer dar voz e vez aos novos talentos, para que recebam seu primeiro reconhecimento e se motivem a seguir carreira na indústria audiovisual. As inscrições para 5ª edição do Curta Criativo estão abertas até o dia 20 de setembro e podem ser feitas gratuitamente através do site www.firjan. org.br/sesicultural. Quem pode participar? Estudantes e recémformados em Cinema, Comunicação, Design, Belas Artes e Produção Cultural, além de alunos de cursos livres e técnicos de cinema do Estado do Rio de Janeiro. O tema é livre e os curtas-metragens podem concorrer nas categorias animação, ficção e documentário. Os filmes devem ter no máximo cinco minutos, incluindo os créditos. Os primeiros e segundos lugares receberão prêmios de R$ 10 mil e R$ 8 mil respectivamente, em cada categoria.

Filma Brasil é um concurso online de roteiros que está em sua segunda edição. Roteiros de curta e média-metragens são inscritos pela internet e depois de uma prévia avaliação ficam disponíveis no portal e passam pelo crivo dos internautas e jurados que podem ler e votar. Filma Brasil é aprovado pelo artigo 18 da Lei Rouanet de incentivo à cultura, podendo receber apoio de empresas que estiverem alinhadas com o fomento ao cinema nacional, pois ao final do concurso os melhores roteiros recebem até R$ 135 mil em prêmios. O apoio aos jovens roteiristas também podem vir através de viagens para polos cinematográficos, equipamentos, curso de capacitação para roteiristas, licenças de softwares de áudio e vídeo. As inscrições para o Filma Brasil 2 iniciam no dia 1º de julho. Mais informações no site www.filmabrasil.com.

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I m a g e m Foto: Paulo Lima

N

Capital da Sustentabilidade

ão por acaso, o Rio de Janeiro tem sido cantado em verso e prosa ao longo da história. O sergipano Paulo Lima, quase um carioca de alma, brinda os leitores com este “postal” com vista panorâmica do Pão de Açúcar, Enseada de Botafogo e Flamengo. Foi justamente neste ponto da Baía de Guanabara, bem do lado direito, onde hoje está um marco bastante visitado, que Estácio de Sá descobriu a região. Em junho, o Rio – de norte a sul, de leste a oeste – estará tomado pelas mais variadas ações da Rio + 20, Cúpula dos povos e dezenas de eventos simultâneos e paralelos. Será a “capital” da sustentabilidade. Os chefes de Estado estarão concentrados no Riocentro, na Zona Oeste. Já as atividades da Cúpula dos povos acontecerão no Aterro do Flamengo, com vista para esta exuberante paisagem. Ali próximo, na Praça Mauá, acontecerão também encontros e do outro lado, em Copacabana, haverá palestras também no Forte.

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