Revista ARC DESIGN Edição 42

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REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

FUK

TIPOG RAFIA

R$ 15.00

W NE THE AND R FAI

QUADRIFOGLIO EDITORA

AN MIL

PAR IS

OP IN

NAT UR AE NAT M PA UR A S RIS H

S ALÃ

LOJ A

2005

2005

SAS

Nº 42

FUK

Nº 42

ÃO MIL RA FEI VA NO

ARC DESIGN

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T YPOG RAPHY

SAS

RAÇÃO O C E D X NOLOGIA C E T : Z U L

N ECORATIO D X Y G O ECHNOL LIGHT - T

O DO

MÓVE

L , MI

LÃO

F URN

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Fotos Fernanda Sarmento

Ezri Ta ra zi. Nas ci do em 1962, em Is rael, era ain da um nome des co nhe ci do no uni ver so do mo bi li á rio. Inau gu rou seu pró prio es tú dio em 1990 e tem como cli en tes gran des em pre sas in ter na ci o nais, en tre as quais In tel e Mi cro soft. Foi premiado em 2002 pelo governo de Israel por sua atividade no país e no exterior e já expôs em diConvidado a criar um produto para a Edra, Ezri Tarazi projetou a mesa Baghdad. O projeto Baghdad-Brasília, idéia do diretor de arte da Edra, Massimo Morozzi, propunha contrapor duas visões no design, representadas em um mesmo objeto – a mesa. A mesa Baghdad (acima e abaixo), em per fis de alumínio vistos de topo, reproduz o mapa da cidade. Os par cei ros de Ta ra zi na ex po si ção, com a mesa Bra sí lia, fo ram os ir mãos Cam pa na

versas galerias e museus em todo o mundo. Du ran te oito anos foi di re tor do de par ta men to de de senho industrial da Academia Bezalel, de Jerusalém, onde hoje conduz o programa de mestrado. Em 2001 fun dou o De sign Cap, uma rede com pos ta por 70 de sig ners de todo o mun do, com os quais de sen vol veu um works hop in ter na ci o nal so bre de sign al ter na ti vo. É mem bro do novo mu seu do de sign de Is rael e fun dou, em 2004, o Cen tro de De sign de Is rael.

Abai xo e no fun do das duas pá gi nas, a mesa Bra sí lia, em es pe lhos cor ta dos – mu itas vezes justapostos – que refletiam, na mostra, uma foto da catedral de Niemeyer


O even to in ter na ci o nal mais im por tan te no mun do do de sign? Sem dú vi da, o Sa lão do Mó vel de Mi lão e todo o re per tó rio que se cria em tor no – a Mi la no De sign Week. A mais am pla re por ta gem no Bra sil? A co ber tu ra re a li za da por ARC DE SIGN, des co brin do ino va çõ es onde só pa re ce exis tir mes mi ce, tra du zin do-as em con cei tos, en con tran do ex pli ca çõ es para os “des vi os de rota”, que na ver da de não são ten dên ci as... mas con tin gên ci as. Para abor dar as ino va çõ es tec no ló gi cas pre sen tes na Eu ro lu ce, o Sa lão da Ilu mi na ção, cha ma mos o ligh ting de sig ner Guin ter Pars chalk, que nos fala da luz como so fis ti ca do ele men to da vida con tem po râ nea. Nes ta edi ção tra ze mos tam bém a obra do ar qui te to Mas si mi li a no Fuk sas, au tor do pro je to da nova sede da Fei ra de Mi lão. Es pe ta cu lar! O Bra sil de pri mei ra qua li da de ex por ta do para a Fran ça. É a loja da Na tu ra em Pa ris. Um belo pro je to, de Ar thur Ca sas, evi den ci an do as ma té ri as-pri mas bra si lei ras e o con cei to eco lo gi ca men te cor re to da em pre sa, ao in tro du zir ri que zas de nos sa flo ra ain da des co nhe ci das dos eu ro peus. No de sign grá fi co, An dré Sto lars ki en tre vis ta Ro bert Bring hurst, au tor do im por tan te li vro “Ele men tos do Es ti lo Ti po grá fi co”. Para fi na li zar, a men sa gem dos jo vens de sig ners, de di ver sas par tes do mun do, cons ci en tes de que são eles os gran des res pon sá veis pela saú de do pla ne ta e pela me lho ria de nos sa qua li da de de vida. Uma boa al ter na ti va para quem pre fe re só fa lar de flo res. Ma ria He le na Es tra da Edi to ra


28

Os produtos da Semana do Design em Milão e as fugazes tendências que já invadem o mundo. Os principais designers, as revelações e as empresas que se destacaram

Os jovens designers de todo o mundo, presentes no Salão Satélite e em vários espaços da cidade, apontam seu foco para um design responsável e criam projetos para a melhoria da qualidade de vida no planeta: projetos sociais, muitas vezes de baixa tecnologia, soluções práticas para moradias precárias, propostas para um viver contemporâneo

Da Redação Consultoria técnica Guinter Parschalk

TECNOLOGIA E COMPORTAMENTO

Maria Helena Estrada

JOVENS: AMÉRICA DO SUL, CANADÁ, ISRAEL, JAPÃO, EUROPA

Maria Helena Estrada

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

16

36

A Eu roluce, mostra internacional de ilu mi nação que aconteceu du rante a Sema na do Design em Mi lão, lançou pro du tos que vão além do mero cla rea mento do espaço. Con fi ra

NEWS

10

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

SALÃO DESIGN MOVELSUL NEWS

13

nº 42, maio/junho 2005

PUBLI TOK STOK

14


FAZENDO AS PAZES COM A TRADIÇÃO

André Stolarski

MASSIMILIANO FUKSAS

Winnie Bastian

MESTRES DA ARQUITETURA

Ana Paula Orlandi

DA AMAZÔNIA A PARIS

44

Foi inaugurada a primeira loja da Natura – e logo em Paris! A filosofia da empresa e a qualidade brasileira, exportadas e apresentadas em um cenário com rigor internacional... mas com um forte sabor brasileiro

CADERNO ESPECIAL

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Paisagem em aço e vidro ou aço e vidro na paisagem? Ambos. ARC DESIGN publica as obras mais recentes do arquiteto romano, concluídas e em andamento

Recém-lançado no Brasil, o li vro “Elementos do Estilo Tipográfico” é unanimidade entre os designers gráficos do mundo inteiro. Confira a entre vis ta ex clusi va que seu au tor, Robert Bringhurst, concedeu a ARC DESIGN

A NOVA COLLECTANIA

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EXPEDIENTE

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ENGLISH VERSION

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SUZANO 4-5

20/05/2005

19:51

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SUZANO 4-5

20/05/2005

19:53

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an pés 1

24.05.05

18:51

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Quando você usa uma cadeira ergonômica, cada parte do seu corpo agradece.

www.giroflex.com.br


26.05.05

10:24

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+FB

an pĂŠs 2


an AERON 1

25.05.05

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an AERON 1

25.05.05

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SE ESTA RUA FOSSE MINHA... De fabricação ar tesanal, o ladrilho hidráulico é um piso que faz par te da memória dos brasileiros, independentemente da classe social. Com curadoria de Lúcio Gomes Machado e cenografia de Haron Cohen, a mostra “Se Essa Rua Fosse Minha” reúne cerca de 500 ladri lhos hidráu licos, além de moldes metálicos, ferramentas, fotografias e corantes que mostram o processo produtivo ar tesanal. O ladrilho hidráulico chegou a São Paulo trazido pelos imigrantes italianos no início do século 20, momento em que a cidade passava por um grande crescimento imobiliário. O material começou, então, a ser utilizado nas áreas frias das casas, e sua complexidade variava conforme o poder aquisitivo dos morado-

19º PRÊMIO DESIGN: INSCRIÇÕES ABERTAS

res: dos ladrilhos lisos ou em duas cores – para os mais modestos –

Estão abertas até 25 de junho as inscrições para a 19ª edi-

às peças mais elaboradas, no caso das famílias mais abastadas.

ção do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira. O concurso

Os ladrilhos expostos pertencem ao pesquisador Antônio Alves de

está organizado em oito categorias: Mobiliário, Utensílios, Ilu-

Car valho, que já acumulou mais de 2 mil peças. A exposição fica em

minação, Têxteis e Revestimentos, Equipamentos Eletroele-

cartaz no Museu da Casa Brasileira até 3 de julho.

trônicos, Equipamentos de Construção, Trabalhos Escritos e

Museu da Casa Brasileira: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.705, São Paulo.

Novas Idéias/Conceitos.

Tel.: (11) 3032-3727.

Para selecionar a identidade visual do prêmio, o Museu da

www.mcb.sp.gov.br

Casa Brasileira realizou o concurso Prêmio em Cartaz, que este ano atingiu um recorde de 370 trabalhos inscritos. O cartaz vencedor (foto acima) é do mineiro Eduardo Albuquerque,

LEVEZA

27 anos, formado pela Escola de Design da Universidade do

As mesas do tipo “ninho”, muito utilizadas nas décadas de 1970 e

Estado de Minas Gerais (ex-FUMA) em 2000. Os 3 primeiros

1980, acabam de ganhar uma releitura assinada pela designer Délia

colocados e outros 12 selecionados participarão da exposi-

Beru. As mesas Tango 1, 2 e 3 têm

ção com os resultados do 19º Prêmio Design, que será inau-

estrutura em aço carbono trefilado

gurada no dia 6 de outubro.

pintado com tinta epóxi branca ou

Os comentários do júri do Prêmio em Cartaz e o edital com-

preta e tampo em vidro cristal biso-

ple to do Prê mio De sign es tão dispo ní veis no site

tado transparente ou colorido.

www.mcb.sp.gov.br. Mais informações sobre o prêmio podem

Casa 21: Av. Europa, 385, São Paulo.

ser obtidas pelo e-mail premiodesign@mcb.sp.gov.br

Tel.: (11) 3088-9698.. www.casa21.com.br


INOVAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL Conhecida pelos painéis que fabrica (OSB, MDF e outros), a Masisa do Brasil lança agora uma linha de molduras (acabamentos utilizados em rodapés e vistas de portas) em MDF. A produção é realizada pela Terranova Brasil, outra empresa do Grupo Nueva, localizada em Rio Negrinho, SC. A fabricação desse novo produto intensifica a sinergia entre as duas empresas, que devem passar por um processo de fusão em breve, afirma Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa do Brasil e também da Terranova. “As molduras em MDF constituem uma inovação no mercado de acabamentos para construção civil e têm potencial para igualar neste setor a aceitação que os painéis de MDF tiveram junto à indústria de móveis”, afirma Hillmann. O produto já está disponível no mercado brasi lei ro. Mais in for maçõ es no site www.masisa.com.br

ARTEFACTO EM MOSTRA... PELO BRASIL Com 22 ambientes projetados por 29 profissionais, acaba de

ROCA BY MONEO

ser inaugurada a 14ª edição da Mostra Artefacto em São Pau-

Elementos que se integrem com a parede como se estivessem

lo. O evento, que este ano conta com o patrocínio do Uniban-

nela fundidos. Este foi o conceito lançado pelos arquitetos Belén

co, se estende até 16 de abril de 2006.

e Rafael Moneo para a linha de louças Frontalis, recém-lançada

Além disso, já estão abertas as edições da mostra em Goiânia

pela Roca na Espanha. A coleção, que se destaca pelo design or-

(em cartaz até 1 de março de 2006), na loja recém-inaugura-

gânico, é composta por banheira, pias em dois tamanhos, vaso

da, e no Rio de Janeiro. A mostra carioca segue até 31 de janei-

sanitário, bidê, piso para box, chuveiros, torneiras e acessórios,

ro de 2006 e conta com 3 mil metros quadrados de espaços

como por ta-toalhas, em porcelana.

ambientados por 46 arquitetos e designers de interiores.

A linha Frontalis ainda

Com 11 lojas no Brasil, a Artefacto passou, há dois anos, a expor-

não é comercia lizada

tar seu mobiliário, 100% fabricado no Brasil. A empresa possui

no mercado brasileiro.

duas filiais na Flórida, Estados Unidos, duas na Cidade do México

Para mais in for ma -

e uma em Santo Domingo, República Dominicana. Em outubro,

çõ es, aces se o si te

mais uma filial será inaugurada no exterior, dessa vez em N. York.

da Roca na Espa nha:

Mostra Artefacto São Paulo: Rua Haddock Lobo, 1.405. Tel.:

www.roca.es. No Bra-

(11) 3061-5855.

sil, a empresa controla

Mostra Artefacto Rio de Janeiro: Av. Ayrton Senna, 2.150, blo-

as marcas Celite, Ince-

co K / loja A. Tel.: (21) 3325-7667.

pa e Logasa.

Mostra Artefacto Goiânia: Av. 136, 290. Tel. (62) 238-3838.

Roca: 0800 701 1510

www.artefacto.com.br

www.rocabrasil.com.br


“SÃO PAU LO – GUIA DE AR QUI TE TU RA CONTEMPORÂNEA”

LENTES AUTORAIS

“Em muitos aspectos, a escala metropolitana transforma

do sex to volume da Coleção

São Paulo em uma cidade secreta. (...) Desse modo, não é

Senac de Fotografia, recém-

tarefa fácil encontrar as obras mais estimulantes da arqui-

lançado pela Editora Senac.

tetura paulistana contemporânea.” Escrito por Fernando

Responsável pela seleção das

Serapião e lançado pela Viana & Mosley, o livro tem como

imagens publicadas, Kon op-

objetivo facilitar essa descober ta, reunindo os 40 edifícios

tou por apresentar um panora-

mais significativos construídos em São Paulo nas duas últi-

ma de seu trabalho. O fotógrafo, arquiteto formado pela FAU/USP,

mas décadas. O guia inclui obras de Oscar Niemeyer, Paulo

tornou-se conhecido por seus ensaios urbanos e registros singula-

Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Königsberger Vannucchi,

res da arquitetura brasileira. Para ele, é difícil distinguir os limites

Ruy Ohtake, Aflalo & Gasperini, MMBB e Marcio Kogan, entre

entre a fotografia da cidade e aquela de arquitetura. “Ao falar de fo-

outros, e já está disponível

tografia de cidade, estou falando de fotografia de arquitetura. Arqui-

nas livrarias de todo o Brasil.

tetura de forma ampla é o espaço construído pelo homem, seja a

Viana & Mosley Editora: Av.

apropriação da caverna ou a construção de uma cidade”, afirma.

Ataulfo de Paiva, 1.079, cj.

Com 52 fotos, o livro tem formato compacto e preço acessível (esta

704, Rio de Janeiro. Tel.: (21)

é a proposta da coleção), e pode ser adquirido em livrarias de todo

2540-8571.

o Brasil ou pelo site www.editorasenacsp.com.br

A obra de Nelson Kon é o tema

www.vmeditora.com.br

DUBUGRAS REVELADO “TIPOBIOGRAFIA”

Lançado em mar ço, o li vro

Edi çõ es Rosa ri e Tupigrafia lançam “Histó rias de Al fabe -

“Victor Dubugras – Precursor

tos”. O li vro, uma au tobiografia do impor tante ti pó grafo,

da Ar quite tu ra Mo der na na

ca lí grafo e desig ner de li vros alemão Her mann Zapf, per -

América Latina” tem como ob-

mite acompa nhar sua tra je tó ria profissional – da dé cada

jetivo revelar ao grande públi-

de 1940 aos dias de hoje – e conhecer mu itas de suas

co a impor tância da obra do ar-

criaçõ es ca ligrá ficas e ti pográ ficas. Dentre suas fontes

quiteto nascido na França e ra-

mais conhecidas estão a Palatino

dicado no Brasil. Escrito pelo

(1950) e a Optima (1958). Sua

professor Nestor Goulart dos

criação mais recente, a Zapfino,

Reis Filho, o livro apresenta, de forma didática e clara, a trajetória

per mite, por meio de recur sos

do arquiteto e a evolução de sua arquitetura.

avançados da tipografia digital, a

“É o reconhecimento da importância de projetos de Dubugras na cha-

si mu lação magis tral de tex tos

mada fase da arquitetura protomoderna, que antecede e antecipa as

manuscritos.

formas e os processos construtivos que ser viram de base para os

www.rosari.com.br

primeiros estágios do Movimento Moderno no Brasil”, explica o autor.

www.tupigrafia.com.br

Publicado pela EDUSP com patrocínio da Quota de Arte, o livro traz, ainda, versão na língua francesa. Vale conferir! www.edusp.com.br www.quotadearte.com.br


PUBLI EDITORIAL

SALÃO DESIGN MOVELSUL NEWS MOVELSUL BRASIL 2006 10ª edição Bento Gonçalves, RS www.movelsul.com.br

Acima, ca dei ra Mimo, design Tho maz Ri bei ro Bon di o li, Men ção Projeto Nacional. À venda na Dpot. No alto, poltrona Meta 2, design Mar ce lo Ro sem baun, pro du zi da pela A.L. Com po nen ti, de Ben to Gon çal ves. Prê mio In dús tria 2004. À ven da na Dpot

“O ins tru men to mais im por tan te do de sign é o ta len to.” Esta fra se, es tam pa da na capa do ca tá lo go do Sa lão De sign Mo vel sul de 2004, ex pres sa não a to ta li da de, mas um dos com po nen tes bá si cos na cri a ção de um bom pro je to. Ou tro in gre di en te fun da men tal é a exis tên cia de uma in fra-es tru tu ra bá si ca para que um pro je to se tor ne pro du to – ino va dor, ca paz de ser fabricado e co mer ci a li za do. É esta última, talvez, a principal razão para que o Concurso Salão Design Movelsul esteja tornando-se a mais importante vitrine do novo design na América Latina: a aproximação com a indústria aliada ao empenho do setor, no pólo de Bento Gonçalves (RS), para atingir a liderança não apenas na qualidade física de seus produtos, mas também no design. Na semana de 17 a 22 de junho, Gustavo Bertolini, diretor do Salão Design Movelsul, estará em Bogotá, Colômbia, para lançar as bases e divulgar o regulamento do 10º Salão Design, que acontecerá durante a feira Expocons truc ción e Expodiseño, de 13 a 17 de março 2006. Nesta primeira parada de um roteiro pela América Latina, os projetos selecionados do Salão Design Movelsul 2004 estarão expostos em um estande especial na própria feira. Ao lon go de suas nove edi çõ es an te ri o res, bi e nais, o Sa lão De sign Movelsul já recebeu 3.526 projetos de toda a América Latina, um número que vem cres cen do a cada ano – de 72 pro je tos em 1988 a 125 em 1990, atin giu-se o nú me ro de 1.142 con cor ren tes em 2004! O con cur so é uma pro mo ção da Mo vel sul Bra sil e, se não bas tas se o apoio direto da indústria, oferece o mais “atraente” prêmio, no Brasil: 60 mil reais distribuídos entre suas 4 premiações. As inscrições encerram-se em 28 de outubro. In for ma çõ es pelo site sa lao de sign@mo vel sul.com.br ou pelo te le fo ne (54) 452-3067.

À direita, ca dei ra Gra zzia, design Pau lo Ko ba yas hi Dou ra do, Al ber to Re zen de, Au gus to M. Kuba, Au gus to Lan ze lo ti, Alain Schra ner e Wil li am Cou ti nho. Prê mio Van guar da 2004. À ven da na Fir ma Casa

13 ARC DESIGN


PUBLI EDITORIAL

TOK & STOK Tok & Stok Av. Tucunaré, 500 Barueri, SP Tel.: (11) 4196-8462 www.tokstok.com.br

Abaixo, racks em aço da li nha Con vex, cria da por Gui lher me Ben der em 1998 e à venda até hoje. Da es quer da para a di rei ta: rack para CPU e mo ni tor; rack para CPU e es ta bi li za dor; su por te para CPU. Ao fun do, dese nhos da linha completa. Na pá gi na ao lado, am bi en te com pos to por mesa e es tan te Haus Cris tal. Em ma dei ra de re flo res ta men to com aca ba men to la quea do e tu bos de aço cro ma do, a es tan te Haus é o pro du to assi na do por Ben der que per ma ne ceu mais tem po em li nha: 15 anos!

BOM, BO NI TO E... RA CI O NAL

14 ARC DESIGN

“Inteligência de projeto não é apenas o design, mas

Mas nem sempre foi assim: o aspecto estético já foi

também a forma de produzir, a logística e uma série de

prioridade para o designer, que no início de sua carreira

outros fatores.” A frase é do designer paranaense

cursou Belas Artes, com ênfase na escultura. Dedica-se

Guilherme Bender e espelha sua filosofia de trabalho.

ao design desde 1971 e, a partir de então, idealiza seus

Designer de “chão de fábrica”, sempre atuou ligado à

produtos sempre com foco no mercado. “Trata-se de

produção em grande escala. Por esse motivo, seu modo

um compromisso do designer com a empresa”, explica,

de projetar envolve uma visão global do processo pro-

“pois não se pode movimentar uma empresa sem ter a

dutivo. Para Bender, a racionalidade construtiva e a ob-

certeza de que vai haver retorno. Colocar um produto

servação das oportunidades de mercado são tão impor-

na prateleira da loja envolve um custo muito alto.” E

tantes quanto o aspecto formal do produto. “E muitas

sem esse cuidado prévio o cliente pode acabar pagan-

vezes o desenho da peça sofre mudanças em função

do por um custo, muitas vezes, desnecessário.

desses outros fatores.”

A experiência comprova o sucesso dessa filosofia: a


Uma empresa preocupada em fornecer bom design a preços acessíveis ao grande público. Um designer em sintonia com o mercado, profundo conhecedor dos processos produtivos e do funcionamento da indústria. Eis a receita de sucesso da parceria entre a Tok & Stok e Guilherme Bender parceria entre Bender e a Tok & Stok já tem quase 20

único móvel requer mais de um fornecedor. É o caso

anos. Nesse período, mais de 170 produtos já foram de-

da estante Wide – em madeira, vidro e metal –, que en-

senvolvidos, divididos em 34 linhas. Atualmente, 15

volve três indústrias, cada uma responsável pela exe-

itens estão sendo desenvolvidos pelo designer com

cução das peças em um tipo de material.

exclusividade para a Tok & Stok.

É nesse momento que se torna clara a importância da

O primeiro produto assinado por Guilherme Bender

vivência no chão de fábrica, do conhecimento do ma-

para a empresa foi a estante Sistar, laqueada na cor pre-

quinário e dos processos, de suas limitações e poten-

ta. “Foi um choque, pois na época (meados da década de

cialidades. O “lado artista” solta-se no momento da

1980) só havia móveis claros no mercado, mas a Tok &

montagem do protótipo, que Bender faz questão de

Stok ousou e lançou uma tendência”, diz o designer.

executar – “me dá muito prazer”, justifica-se. Neste

O desenvolvimento dos produtos envolve um detalha-

momento, a racionalidade do designer encontra a sen-

mento preciso, já que muitas vezes a produção de um

sibilidade do escultor. ❉ 15 ARC DESIGN


SALÃO DO MóVEL, MILÃO

À esquerda, o Du o mo de Mi lão pa re ce es tar em sin to nia com a “moda de em bru lhar”, vis ta no Sa lão do Mó vel. No pé das duas pá gi nas, a par tir da es quer da: os jar dins do Su pers tu dio; vis ta parcial da Euroluce; de ta lhe do es pa ço Mo o oi com o es to fa do Dic ki es; es tan de da Kar tell, pro je to Fer ruc cio Lavia ni; show-room da Mo ro so com a ca dei ra Rip ples, de Ron Arad. A Eu ro lu ce se es ten deu pela ci da de, com um per cur so-la bo ra tó rio com qua tro insta la çõ es: A Céu Aber to. No alto da página ao lado, à es quer da, si lhue tas ilu mi na das na es trei ta vi e la que cir cun da o Pic co lo Te a tro, pré dio de Za nu so; projeto de En ri co Mor teo com Cinzia Ferrara, Sergio Padula, Gianni Berengo Gardin, Philippe Daverio, Davide Rampello. Na sequência, ar qué ti pos de ele men tos do més ti cos rein ter per ta dos, com o uso de néon e cores; projeto de Manolo De Giorgi com Marinella Patetta, Claudio Valent, Eugenia Marcolli, Gabriele Basilico, Paola Valeria Jovinelli e Piero Pinto

Já dizia Mies van der Rohe não ser necessário inventar uma nova arquitetura a cada segunda-feira... mas uma certa inovação, digamos, é fundamental. Este ano no Salão do Móvel ficou claro que, se não surge a desejada grande idéia, ou quem nela invista, não importa: embrulhe, envolva ou salpique de flores o antigo produto. Eis aí a inovação 2005. ARC DESIGN já anunciava, em sua edição sobre o Salão 2004, a tendência ao decorativismo, que este ano atingiu seu ponto culminante – esperamos. Mas há o momento das sementes e aquele dos frutos maduros... Maria Helena Estrada

PARA NÃO DIZER QUE Fotos Acervo ARC DESIGN


Lombardi Vallauri

Lombardi Vallauri

Brincadeiras à parte, para entender os caminhos do de-

pensados para melhorar condições precárias de vida,

sign de produtos é preciso estar atento ao significado e

para responder a novas necessidades do habitar, pelo

à importância do sistema industrial italiano – principal-

respeito à ecologia e à sustentabilidade, em busca do

mente nos setores ligados ao hábitat. É esta uma questão

projeto necessário.

bem mais complexa, e diz respeito a duas vertentes

Assim, Milão 2005 nos leva a observar o design contem-

básicas da sobrevivência: a econômica e a socioambiental.

porâneo de duas perspectivas diversas, de dois pontos de

Será que o espetáculo do Salão 2005, em Milão, poderia

vista: o das sementes e aquele dos frutos maduros, con-

ser visto como uma pausa para a reflexão, para a des-

solidados. Este ano, as sementes – a visão futura, as

coberta e a adoção de novos conceitos ou paradigmas? O

idéias ainda em germinação – eram muitas, e ricas. Os

Salão Satélite e algumas exposições ligadas às escolas

frutos, aqueles produtos comerciais por definição, lan-

de design respondem de modo afirmativo, com produtos

çamentos das grandes empresas consolidadas – em meio

NÃO FALEI DAS FLORES

*


Ta jo li C la u d io

presas, não mais familiares, começam a se constituir em

crise econômica (ou de criatividade?). Sem investimentos

grandes grupos econômicos, como o Charme (Cappellini,

torna-se inviável o projeto inovador, aquele que faz avan-

Thonet, Poltrona Frau, Gufram), cujo proprietário é

çar a história – que hoje reside nos materiais e na tec-

também presidente da Ferrari. A Cassina, cujas ações

nologia, não nos aspectos puramente formais.

já estavam na Bolsa, quase foi comprada por um grupo

Design no limite do efêmero, é como podemos definir a

japonês. E assim a realidade vai se transformando.

maior parte dos produtos apresentados – como na moda,

Mas as empresas estão abertas à diversidade, e o leque

como um fogo de artifí cio a ser consumido na velocida-

de nações é cada vez maior. Uma globalização às avessas,

de de um clarão. Um grande “show-off” que não chegará

que traz o sabor de cada cultura, o encanto multiétnico...

nem mesmo a se transformar em tendência.

sem cair no folclórico.

A Itália é o grande centro produtivo da Europa – mesmo

O que mais nos chamou a atenção, no entanto, foi a op-

com a nova polí tica de descentralização de sua produção –

ção de grande parte dos jovens designers por um “design

e é para lá que se dirigem designers de todo o mundo.

para a necessidade”, em contraposição à atitude de algu-

Sustentar, manter essa “máquina” na liderança mundial

mas velhas estrelas – especialmente as propostas pro-

tem um preço, às vezes pago com a diminuição de seu

vocatórias – , mas sem o fino humor de um Castiglioni.

próprio ritmo, com a abdicação de antigos ideais. As em-

Designers de Israel, Senegal, Mali, Brasil, França, Japão,

Acervo ARC DESIGN

a muitas flores, brilhos, cores – , espelhavam uma real

Acervo ARC DESIGN

Aci ma, MT3 e MT1, ca dei ra nas versõ es ba lan ço e fixa, em ro to molda gem, design Ron Arad para a Dria de. Abai xo, à es quer da, mesa Bagh dad, em per fis de alu mí nio (veja con tracapa) do de sig ner is rae len se Ezri Ta ra zi, e mesa Bra sí lia, com es pe lhos par ti dos (veja tex to), de Fer nan do e Hum ber to Cam pa na, am bas no show-room Edra. Na pá gi na ao lado, ca dei ra Je net te em ver são co lo ri da, dos irmãos Campana também para a Edra


Emilio Tremolada


Acervo ARC DESIGN

No alto das duas pá gi nas, mos tra no pré dio Ex-Pos te do novo gru po Char me (veja tex to): a par tir da es quer da, ca dei ra Felt (anos 1990) de sign Marc New son para a Cap pel li ni, na ver são em fi bra de vi dro de co ra da com a ima gem da chai se-lon gue Orgo ne (edi ção li mi ta da a 99 pe ças); ca dei ra de 1850, em ma dei ra, um dos pri mei ros pro du tos Tho net; Pra to ne (1971), design Ce ret ti, De rossi e Rosso para a Gu fram, em espuma de poliuretano e ver niz; estante Cloud dos irmãos Bouroullec (2004), em po li e ti le no, em va rian te com ilu mi na ção em bu ti da. Ao lado e abai xo, pro du tos Kar tell, T-ta ble, de Pa tri cia Ur quio la, em PMMA com dese nhos re cor ta dos, como um bor da do, e mesa Op tic, design Pa trick Jou in em PMMA mul ti fa ce ta do. Na pá gi na ao lado, em bai xo, estante Cloud e ca dei ra Fish, de Sat yen dra Pa kah lé, em plás ti co la quea do com efei to em bor ra cha do, na mos tra da Cap pel li ni


Fotos acervo ARC DESIGN

Inglaterra, Holanda, Suí ça, Bélgica, Espanha, Canadá,

se pode escrever ou comer), O Banqueiro (com espaço

Alemanha, Chile, Argentina, toda a Escandinávia e, claro,

para ficar em pé, porque estes passam os dias sentados),

Itália, compõem nosso variado cardápio das três princi-

O Filósofo (que ama estar só, mas também gosta de con-

pais feiras: Salão do Móvel, Euroluce e Salão Satélite,

versar), O Solitário e, se são dois, A Dupla, porque tam-

além das mostras paralelas.

bém é possí vel dividir um banco sem ter alguém ao lado.

O que encontramos por trás da simples aparência? Pri-

A Bd apresentou ainda dois outros bons produtos: na co-

meiro, a história dos Bancos Suizos, de Alfredo Haberli

leção Transit Furniture Concept, Ross Lovegrove utiliza o

para a Bd de Barcelona. Homenagem aos bancos catalães,

Millstone e o Sandstone (polietileno e granito); e Cotlet

de Tusquets e Clotet (Bd, 1974), que eram uma adapta-

e Tusquets criam Mail Me, uma caixa de correio para pré-

ção dos bancos de Gaudí para o Parque Guell, segundo

dios com engenhosidade e humor. Seria o prenúncio da

eles, insuperável. Como variantes da linha, O Poeta (onde

retomada do design espanhol?


Acervo ARC DESIGN

onde estava nossa cadeira Paulistano, de Paulo Mendes

às grandes mostras dos anos 1980-1990? O grupo Char-

da Rocha. Era também o local da mostra institucional

me, com sua imensa exposição na antiga sede central

da feira Promosedia, curadoria de Marco Romanelli.

dos correios (referências desde o convite, estampando

Também nesse espaço encontramos o melhor design

selinhos), com modelos que iam de 1850, um belo e sin-

africano (Senegal, Dakar, Mali): Baay Xaaly Sène (ARC

gelo exemplar Thonet, até releituras “decoradas” de an-

DESIGN 29), Cheik Diallo, Babakar Niang, além do ho-

tigos sucessos, incluindo os estilos de habitar em diver-

landês Piet Hein Eek.

sas capitais do mundo, com cenários da Poltrona Frau. E,

Onde se encontrava o melhor conjunto de mostras? Sem

beleza pura, a coleção Gufram dos anos 1970, pop art em

dúvida na Trienal de Milão: Design de Israel, Sottsass

três dimensões.

com Abet Laminat, o importante projeto de Enzo Mari, e

Qual o mais charmoso espaço? A galeria Rossana Orlandi,

a mostra antológica de Gaetano Pesce, O Rumor do

Desenhos Alfredo Häberli

Qual o grande “show-off”, que parecia nos transportar

22 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

Tempo, cujo catálogo ostenta a capa com a brasileirí ssi ma ras pa de coco com re si na! Pes ce, o “pás sa ro so li tário” do de sign, pre cur sor no uso dos ma te ri ais sintéticos (desde os anos 1960), emociona por seu design autobiográfico, ou seja, um design portador de idéias e ideais para nosso tempo - mas sempre à frente desse tempo - que escreve na epí grafe do catálogo, “essa mostra é dedicada ao transcorrer do tempo: isso a tornará obsoleta”. Um designer que soube expressar e valorizar a imperfeição, a desigualdade, a natureza feminina do

Acervo ARC DESIGN

projeto e da vida, e tantas outras questões humanas,

Acima, à esquerda, ban co em alumínio, da sé rie Fa mily One, design Kons tan tin Grcic (Ma gis). Na sequência, ca bi dei ro Oka, com re gu la gem de al tu ra, design do fin lan dês Tep po Ai si kai nen para a Val vo mo; e ca dei ra de Ron Arad (Ma gis): “this is not ro ta ti on mol ding”, es cre ve Arad na pró pria ca dei ra – a mes ma for ma em mais um pro cesso tec no ló gi co de pro du ção. No alto da página ao lado, Ora Ïto em dois momentos: à esquerda, exposição na sede da Aliança Francesa (os containers de Corian abrigavam as peças, vistas por um pequeno orifício frontal); à direita, chai se-lon gue (B&B) e lu mi ná ria One Line (Ar te mi de). No pé das duas páginas, produtos com design de Alfredo Häberli: abaixo, conjunto TT (Alias); na página ao lado, Los Bancos Sui zos (Bd), um dos mais in te ressan tes pro je tos des te ano (veja tex to) – se guem uma tra di ção for mal que vem de Gau di, com três dese nhos di ver sos para as fu ra çõ es e aca ba mento gal va ni za do ou pinta do com resi na de po li éster

23 ARC DESIGN


IGN DES ARC rvo Ace

Aci ma, à es quer da, Trus sar di O’ Chair, em alu mí nio cor ta do a la ser (a moda se vale do de sign na se ma na mi la ne sa); à di rei ta, mesa ara ma da do de sig ner in glês Si mon Pen gelly na co le ção Mo dus, de Lon dres. Ao lado, as ban que tas Hoc ker, de Her zog e de Meu ron para a Vi tra, são o en con tro de três mo vi men tos cir cu la res. Abai xo, mos tra/ins ta la ção La Casa Di Ali ce, de Mar kus Be nesch na ga le ria Post De sign, na qual o de sig ner de sen vol ve sua lin gua gem em um mo bi li á rio que nos re me te a Sottsass e à Mem phis – com de ta lhe in te res san te: o pu xa dor, em acrí li co, úni co para to das as por tas e gave tas, fun ci o na com uma ven to sa (no detalhe)

24 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

D o ARC

ESIGN

Aci ma, à es quer da, con so le Dessous chic (chi que em bai xo), design Noé Du chau four La wran ce, na Za not ta – um dis cre to ace no ao neoclás si co ver são 2005 – e es pe lhos Milo, design Carlo Mollino, década de 1930, hoje produzidos pela Zanotta. Na sequência, ca dei ra Boing, de To ku jin Yos hio ka, em fina pe li ca plissa da, na co le ção Dria de. À es quer da, mesa au xi liar Tod, em po li pro pi le no, de Todd Bra cher para a Za not ta. Ao lado e no pé da página, Gae ta no Pes ce: capa do ca tá lo go em ras pa de coco, resi na e cer das de por co, pro du zida em Ve neza; as pec to da monta gem da mostra (abaixo, à es quer da), com car ri nhos de su per mer ca do e pran chas de ma dei ra, e a Fem mi ni no Chair (2004), tam bém em ras pa de coco; lu mi ná ria Mano di Dio (abaixo, à direita), criada por Pes ce em 1969, um pro je to sim bó li co

Acervo ARC DESIGN

Acervo ARC DESIGN

Acerv

25 ARC DESIGN


Yoshiharu Matsumura

tar o “sugi”, madeira muito macia para uso no mobiliário

Destaque também para “Enzo Mari e dez mil milhões de

e de assumir, com Mari, seus nós e belos veios, como

árvores de sugi”, mostra de cadeiras em “sugi”, árvore tí -

elemento estético. A coleção de cadeiras de Enzo Mari é

pica do Japão, utilizada no pós-guerra em grande escala

uma resposta ao problema.

para reflorestamento, hoje em desuso, precisa dar espaço

Quais os paí ses que procuram se unir nas manifestações

a outras espécies (o Japão, embora tenha 67% de seu

para dar uma idéia articulada do próprio desenvolvimento

território ocupado por áreas florestais e de campo, é

do design? Inglaterra e França. A primeira com mostras

autônomo em apenas 18%, importando madeira em gran-

espalhadas por toda a cidade (Great Brits, Designers-

de quantidade: rigorosa e respeitada polí tica florestal

block, Design London, além de Tom Dixon e Habitat), mas

está modificando a situação atual, que é também causa de

em um esforço conjunto de empresas como Hidden Art,

danos ambientais). Mas a grande descoberta de Sanzo

do British Council, e outros órgãos governamentais; a

Okada, presidente da empresa Hida, foi de como compac-

França com a tradicional mostra do VIA e, este ano, na

Erwin Olaf

26 ARC DESIGN

sociais, sempre traduzidas no desenho.


sede da Aliança Francesa com Ora Ïto, o novo e talento-

A mostra Sur reunia peças do Brasil, da Argentina e do Chile, com desta-

so “enfant terrible” parisiense (veja em ARC DESIGN 39).

que para a chaise-longue Apero (acima), design Francisco Gomez Paz,

Na Feira, quais os estandes mais elaborados, brilhantes,

que parte de uma pesquisa para resgatar o valor de uma tradição de artesãos do norte da Argentina, “uma zona rural esquecida pelo mapa do

coloridos? Kartell e Edra, esta – claro – com os irmãos

progresso”, explica o designer argentino radicado em Milão. A peça utiliza

Campana, que tinham a cadeira Jenette em versão co-

couro cru e sua costura segue a técnica empregada na fabricação dos

lorida na própria Feira e, no show-room, a mostra

“aperos”, sela tradicional da região. Abaixo, design africano: cadeiras de Dominique Pétot, do Senegal (com listas amarelas) e de Cheick Diallo –

Baghdad-Brasí lia, com o contraponto entre duas mesas:

ambas na Galleria Rossana Orlandi.

Brasí lia, em espelhos fragmentados e sobrepostos refletia,

No alto da pá gi na ao lado, à es quer da, ar má rio, na mos tra do desig ner

como representação metafórica, a imagem representada

ho lan dês Piet Hein Eek (Gal le ria Ros sa na Or lan di), fei to com so bras de ma dei ra, na tu rais ou en ver ni za das. Na sequência, dois exemplos

por sua Catedral; Baghdad, do israelense Ezri Tarazi,

de cadeiras em “sugi”, design Enzo Mari (veja tex to). Embaixo, con jun to

com o mapa da cidade em perfis de alumí nio, é a capa

Dickies, em feltro, design Anthony Kleinepier na coleção Moooi, Holanda

desta edição.

Acer

vo A RC D ESI

GN

* “Para não dizer que não falei das flores” é o título de uma canção – quase hino da resistência – de Geraldo Vandré, gravada durante os anos da censura e da repressão no Brasil.


AMÉriCA dO SUL, CANAdÁ, iSrAEL, JAPÃO E EUrOPA

design experimental, projetos sociais, idéias inovadoras, baixa tecnologia, preocupação e cuidados ambientais, soluções para moradias precárias. distantes do luxo, os jovens designers indicam novos e possí veis caminhos para um design responsável, expõem seus projetos nos estandes do Salão Satélite e se espalham pela cidade, ocupando inúmeros espaços, quase sempre em mostras coletivas

L.Pascali

Maria Helena Estrada

Es pa ços de con ví vio do Sa lão Sa té lite, este ano em versão Pop, acom pa nhan do o es pí rito dos pro du tos apresenta dos na Fei ra. Pro je to de Ri car do Bel lo Dias e pro gra ma ção grá fi ca de Pao la Van ni. Hoje em sua oitava edi ção, o Sa té lite é uma ini cia ti va da Fon da zi o ne Cos mit Eventi, orga ni za do des de o iní cio por Mar va Grif fins Wills hi re. Fo ram cer ca de 500 as ins cri çõ es para o Sa té lite 2005, vin das de cin co conti nentes, sen do se le ci o na dos 181 ex po sito res, entre es co las e desig ners. Cres cen do a cada ano, em nú me ro e qua lida de, é no Sa té lite que as em presas vão bus car novos ta lentos, os cria do res do fu tu ro. Na pá gi na ao lado, pri mei ro prê mio do Sa lão Sa té lite. Lu mi ná ria Me mento, design e pro du ção To ne ri co, Ja pão, em aço pinta do, cor ta do a la ser. O re co nhe ci mento foi desti na do ao mais belo, em bo ra a tô ni ca do Sa té lite seja, cada vez mais, e prin ci pal mente entre as es co las, a pre do mi nân cia do “design útil”, de fun ção so ci al, ou pro je tos ba se a dos nos cri té ri os da sus ten ta bi li da de

Fotos acervo ARC DESIGN

JOVENS dESigNErS:


29 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

Acervo ARC DESIGN

Ruy Teixeira

Cora

Acervo

ARC D

E S IG N

A Design Aca demy Eind hoven, com a mostra Dutch Vil la ge, orga ni za da por sua di re to ria e cor po do cente, com no mes como Li Edel ko ort, Lis beth in’t Hout, Hel la Jonge ri us, Jurgen Bey e Ilse Craw ford, era das mais ri cas em sig ni fi ca do. Fun ci o na lida de vista sob um novo ângu lo, ou um novo olhar. Fun ci o na lida de em um mun do so bre ro das (da bicicleta do bombeiro à cadeira de rodas que restaura a mobilidade dos de ficientes físicos); fun ci o na lida de alia da à ima gi na ção, aos ma te riais de reu so, ou no mo bi li á rio, ex plo ran do novas técnicas e materiais como borracha, elástico, papelão e madei ra; fun ci o na li da de e sen si bi li da de para um mun do de per cep çõ es so fis ti ca das. Aci ma, a par tir da es quer da: ca dei ra de ro das Stand Up, design Tristan Frenc ken; es tan te com es ca da in cor po ra da; lu mi ná ria de co ra ti va com pos ta por di ver sas minilâm pa das. Ao lado, Fi re bi ke, equi pa men to de emergên cia para os bom bei ros de Ams ter dã, design Roel van Heur. Abai xo, à es quer da, dois de ta lhes do ina la dor de Can na bis sa ti va para fins me di ci nais, design Ec khardt Schraven; à di rei ta, jar dim ver ti cal Bi o to pen, design Rein der Bak ker

30 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

Acima, à esquerda, na mostra Design London, mesa Archipelago, de Charles Trevelyan, uma tradução em 3D da produção gráfica do designer; na sequência, cadeira Nori, design Patrick Frey e Markus Boge (Ale ma nha), na mostra da Promosedia. À direita, cabideiro autoportante de Magnus Long, com desenho que facilita o acesso dos usuários de cadeira de rodas. Abaixo, “casa completa”, uma das instalações do Livingspace, mostra com alunos do Royal College of Art, de Londres. Os projetos, soluções lúdicas de aproveitamento espacial em moradias, foram inspirados no cotidiano de jovens estudantes que – assim como os próprios designers – vivem em apartamentos pequenos e antigos, se deparando com choques culturais, problemas estruturais e de convivência

31 ARC DESIGN


CW Sasquatch Acervo ARC DESIGN

Aci ma, no pé da pá gi na e na pá gi na ao lado, a mostra Pro mi se design, com pro je tos de Is rael, na Tri e nal de Mi lão. Aci ma, Dan gling Li brary, do Stu dio de Lan ge, é com pos ta por ele men tos me tá li cos sus pen sos, em for ma de es pi ral. Abai xo, ca dei ras do estú dio Mill, sa cos de ci men to em pa pel kraft su per resis ten te, in flá veis. À es quer da, bi om bo/estante, mesa e bancos da co le ção Juju Set, em MDF pro du zido com ma qui ná rio CNC e monta da com en cai xes: o estú dio Sas quatch, de Mi chael Lam e Ste ven Choe, Ca na dá, ofe re ce con sul to ria em design e em inte ligên cia do pro je to. Sa lão Sa té lite


Fotos acervo ARC DESIGN

Acima, à esquerda, cadeira de Tal Gur em canudinhos de plástico; na sequência, cadeira em tricô de algodão e material termoplástico, design Ofri Sat. Abaixo, rede em cou ro tran ça do, pode ser usada em duas posições: reclinada ou sentada; design Sil van Naar


© Elastico

A Uni versida de ICE SI, de Cali, Co lôm bia, apresentou o pro je to Nó ma das, de mo bi li á rio e obje tos para os mo ra do res das zo nas ru rais obriga dos a dei xar suas ca sas, emigran do para as cida des em fun ção da vi o lên cia. Para o desen vol vi mento dos pro du tos os te mas centrais fo ram os fa to res hu ma nos, a esté ti ca, a cul tu ra, o dese nho para o ar tesa na to e a re la ção com o meio am bi ente. O obje ti vo era a me lho ria da qua lida de de vida dessas po pu la çõ es. Aci ma, à esquerda, sis te ma de cul ti vo ur ba no cria do para que os ve lhos que mo ram nos al bergues possam ter seu pe da ci nho de ter ra e con ti nuar a cum prir as ati vi da des que desen vol viam nos cam pos. Pro je to Mar ce la Ji ne te e Ca mi lo Men dez, em fi bra de pa pel re ci cla do. Na sequência, Ex plo ri, mo bi li á rio de ex pe ri ên cia, um pro je to in te ra ti vo para crian ças. De An dréa Agua do e Nini Es pi tia, em pa pe lão cor ru ga do e tu bos de car tão. À direita e abai xo, Elas ti co, sis te ma pa ten te a do de mó du los em plás ti co uni dos por en cai xe e ca pa zes de for mar os mais va ri a dos ob je tos. Design Si mo ne Ca re na, Itá lia. Pra ti ci da de, cus to, ver sa ti li da de, des con tra ção: ele men tos da vida con tem po râ nea

Ac

34 ARC DESIGN

erv

o

A

D RC

ES

IGN


Acervo ARC DESIGN

Acima, à esquerda, Mash’et, pro je to da Zero2, loja/es tú dio de Tali Deri e Boaz Bar-Hil lel, de Is rael. O cli en te leva a ma té ria-pri ma (jor nais) até a loja e re ce be o pro du to pron to, no caso uma luminária. A tec no lo gia é a mes ma das em ba la gens de ovos. Sa lão Sa té li te. Na sequência, Made in Tai o ne: ca dei ra Party, da Tai o ne Design, Re pú bli ca Tche ca, com assen to/en cos to em ca ma das de fel tro co lo ri das. O mo de lo vem com duas ca ma das, mas po dem ser usa das até dez, para mai or con for to. A UTEM, fa cul da de de design de San tia go do Chi le, apresen tou um con jun to de brin que dos em la mi na do cur va do de ma dei ra que im pressi o nava pela de li ca de za do dese nho e por sua exe cu ção. A ma dei ra la mi na da, por ra zõ es ób vias, re co me ça a ga nhar es pa ço no design in ter na ci o nal

35 ARC DESIGN


Tom Vack

Objeto luminoso ou a luz como sofisticada – e tecnológica – fonte luminosa? Abajur, plafond, arandelas, candelabros, ou complexos equipamentos para a iluminação interna, externa e urbana? São questões respondidas parcialmente pela Euroluce, realizada em Milão no mês de abril. Múltiplos são os aspectos desse campo que a cada dois anos mostra, na Itália, o fantástico desenvolvimento da iluminação Da Redação Consultoria técnica: Guinter Parschalk

Acervo ARC DESIGN

EUROLUCE 2005

TECNOLOGIA E COMPORTAMENTO

Aci ma, fa cha da la te ral do es tan de Ar te mi de. Na página ao lado, lu mi ná ria Big Dish, design Ingo Mau rer e equi pe: com di fu sor em fi bra de vi dro im preg na da com resi na trans lú ci da, seu me ca nis mo de con tro le per mi te o ajus te da in ten si da de e da cor da luz


37 ARC DESIGN


Tommaso Sartori

38 ARC DESIGN

Os produtos que se destacaram na Euroluce 2005 não se

Como acentua Guinter Parschalk, essa utilização do lighting

restringem a descobertas formais, como de costume, mas

design para criar novos referenciais reflete a transfor-

incorporam tecnologias inéditas ou exploram o aspecto

mação pela qual a iluminação vem passando: de mero cla-

comportamental/psicológico ligado ao projeto, como é o

reamento a um componente importante na arquitetura.

caso da luminária Aria, design Lapo Grassellini. A peça

Além do conforto ambiental, é importante zelar também

tem como objetivo proporcionar uma nova forma de vi-

pelo conforto psicológico avançado, avançando além do

venciar o espaço: criada para ambientes internos (e

simples clareamento do espaço. No caso da Aria, esse

especialmente indicada para escritórios), sugere a idéia

objetivo é atingido com sucesso: além do aspecto psico-

do contato com o meio externo. Consiste em uma caixa

lógico já mencionado, a luz indireta e uniforme garante

quadrada cujas quatro faces são revestidas de espelho,

um bom ní vel de iluminação e conforto visual.

enquanto o fundo reproduz a imagem de um céu azul. Para

Mas o grande lançamento da feira, ainda segundo a ava-

quem ocupa o espaço, a sensação é de estar olhando para

liação de Parschalk, foi o sistema i-Light, apresentado

uma clarabóia e vendo, através dela, o céu. Além da luz,

em diversos modelos, o qual introduz a tecnologia Plani-

há um contexto semântico com a natureza.

lum®, desenvolvida pela Saint Gobain e utilizada exclusi-


Tom Vack

vamente pela empresa italiana Targetti. Trata-se de uma evolução da lâmpada fluorescente: pós de fósforo e uma mistura de gases rarefeitos (xenon/néon) preenchem um intervalo mí nimo entre duas lâminas de vidro, que recebe corrente elétrica alternada produzida por dois eletrodos nas extremidades das lâminas. O resultado é um conjunto finí ssimo e transparente: “uma luminária sem lâmpada e uma lâmpada sem luminária”, como explica o próprio fabricante. No interior e no verso da moldura que estrutura as placas não há nenhum tipo de lâmpada, chip ou componentes elétricos: o vidro e o gás em seu interior são a própria luz. Assim, quando a luminária está desligada, as

No alto, à esquerda, luminária de embutir Aria, design James Turrel para a Targetti: “acende o céu e apaga o estresse”, afirma o designer. Na sequência, Satel.light: com refletor em fibra de vidro, possui articulação que permite movimento giratório; como a luminária Big Dish, proporciona luz direta e indireta. Design Ingo Maurer e equipe. No alto da página ao lado, à esquerda, luminária 45, design Tim Derhaag para a Flos. Na se quên cia, Ne tlight, de sign Ross Lo ve gro ve para a em presa ja po nesa Ya ma gi wa: com posta por ele mentos em me ta cri la to bran co com juntas em bor ra cha, pode ser usa da como um mó du lo iso la do ou como um teto fal so, em qual quer di men são. Detalhes no site www.yamagiwa.co.jp No pé da página ao lado, à esquerda, luminária em policarbonato injetado Junior Hertz, design Konstantin Grcic para a Flos. Na sequência, pen den te iLight, lan ça do pela Target ti: o pri mei ro pro du to a uti li zar a tec no lo gia Pla ni lum, desen vol vida pela Saint Go bain

placas ficam transparentes, o que provoca um efeito intrigante no observador. Outro fator positivo é a alta

Ace

rvo

AR

CD

Acima, luminária para leitura Mix: na “cabeça” estão alojados os LEDs, a lente que direciona o fluxo luminoso, o circuito eletrônico, o dissipador de calor e dois filtros giratórios que permitem regular a temperatura de cor de acordo com a exigência do usuário. Disponível em versões de parede e de mesa (à esquerda). Design Alberto Meda e Paolo Rizzatto para a Luceplan

39 ARC DESIGN

ESI

GN


durabilidade, estimada em mais de 40 mil horas (graças

Acima, vis ta ge ral da ex po si ção de Ingo Mau rer no Spa zio Kri zia. No pé da pá gi na: à es quer da, Su per no va, em lâ mi nas de me tal, de sign Ri chard Hut ten para a Mo o oi; à di rei ta, Pen du lum, um “es pe lho” em for ma oval cria do por Ingo Mau rer para re fle tir – e mo di fi car – o es pa ço que o cir cun da. No pé da página ao lado, à es quer da, lu mi ná ria em fi bra óti ca cria da por Fran çois Azam bourg como par te do pro gra ma A Me tá fo ra do Ni nho de Abe lhas, que tra ta do tema da le ve za a ser vi ço da mo bi li da de no hábi tat. Na se quên cia, Gher kin, lu mi ná ria de Nor man Fos ter, re a li za da em vi dro so pra do se gun do uma an ti ga téc ni ca de Mu ra no, é a “mi nia tu ra” de sua tor re lon dri na; lan ça da pela Kun da li ni em sé rie li mi ta da e assi na da, que será ven di da em ga le rias de arte

à ausência de mercúrio), ou mais de 11 anos de funcionamento para uma utilização de 10 horas diárias! No estande do designer alemão Ingo Maurer, um grande disco suspenso chamava especial atenção: a luminária Big Dish, que explora a luz de forma direta (orientada pela abertura circular do difusor) e indireta (filtrada pela fibra de vidro translúcida com trama quadriculada). Uma peça que garante uma luz muito agradável e com alto grau de eficiência, pois o í ndice de perda após a filtragem da luz pela cúpula é muito pequeno. Também lançamento, a luminária de piso Satel.light era uma variação desse partido, com duas diferenças básicas: a cúpula é articulada (o que

Tom Vack, Monique

Erwin Olaf

permite direcionamento variado) e não é translúcida.


Um novo segmento que vem atraindo atenção crescente da indústria italiana de iluminação é o das luminárias urbanas. Como exemplo, o lançamento, pela Flos, da luminária 45, concebida para uso em áreas internas ou externas (públicas ou privadas). Em sete tamanhos, possui articulação angular de 45 graus que permite a mudança da forma da peça – e a consequente orientação do facho de luz – em zero, 45 ou 90 graus. Pode funcionar com lâmpada fluorescente ou de vapor metálico, em três opções de acabamento: alumí nio acetinado,

Acima, à esquerda, Ta ra xa cum, design ir mãos Cas ti gli o ni, 1960. Lu mi ná ria em ble má ti ca, mar ca o nas ci men to da Flos e tem um in tri gan te mé to do de fa bri ca ção: pri mei ro cons trói-se uma es tru tu ra em fer ro; em se guida co lo ca-se essa estru tu ra em um tor no e, gi ran do, va po ri zase um com pos to po li u re tâ ni co surgi do nos EUA em 1959, o “co co on”, que vai re co brin do a es tru tu ra como uma teia de ara nha que ca ta li sa ime dia ta mente, mas leva dois dias para en du re cer; de pois desse tem po, apli ca-se uma ou tra ca ma da de “co co on”, e no quar to dia um ver niz trans pa rente. No estan de da Flos (acima, à direita), estavam as re e di ções das luminárias dos Castiglioni e a de Tobia Scarpa, além do Zeppelin (em primeiro plano), “lus tre” criado por Mar cel Wan ders, com “ve las” fei tas em fino metacrilato trans pa ren te, como um cris tal, que por re fra ção di fun dem a luz cen tral

pintura epóxi fosca preta ou madeira (teca). Nossa redação destacou ainda, na Euroluce 2005 e em algumas exposições paralelas, novos produtos que se destacam pela baixa tecnologia aliada a forte apelo formal.

41 ARC DESIGN


Fotos acervo ARC DESIGN

Nas duas pá gi nas, lu mi ná rias es cul tó ri cas pro du zi das pela es pa nho la Be lux. No alto e ao lado, Cloud, design Frank Gehry, utili za um ma te rial se me lhan te ao pa pel, vo lu mo so po rém ma cio e trans lú ci do, es tru tu ra do por anéis transparentes em policar bonato. Construída em ca ma das, pode ter sua for ma mo di fi ca da pelo usu á rio: mes mo pro du zi da in dus trial men te, con ser va as ca rac te rís ti cas de di ver si da de pró pri as do fa zer ar te sa nal. Na pá gi na ao lado, Jing zi, design Her zog & de Meu ron, com haste e glo bo em si li co ne: um to que no glo bo de si li co ne acen de ou apa ga a lâm pa da


43 ARC DESIGN


DA AMAZÔNIA A PARIS De forma ousada, a Natura abre sua primeira loja em nada menos que Paris – a meca da indústria cos mé ti ca. Para con quis tar o exi gen te pú bli co fran cês, a mar ca bra si lei ra con ta com vários trunfos, a exemplo do elegante espaço criado pelo arquiteto Arthur Casas, que promove uma viagem sensorial em meio a materiais certificados. Para completar, as prateleiras abrigam uma linha de produtos feita de forma sustentável e à base de matéria-prima natural. Com design di fe ren ci a do e es pe ci al men te pre pa ra dos para o con su mi dor eu ro peu, os itens en fa ti zam a ima gem de bem-es tar que ce le bri zou a em pre sa

Tuca Reinés

Na Maison Natura, projeto de Arthur Casas, piso e pa re des são re ves ti dos em ca ne la, ma dei ra de de mo li ção proveniente de uma fa zen da cen te ná ria; mo ni to res de TV in se ri dos nos ni chos exi bem a his tó ria da em pre sa


Ana Paula Orlandi Antes mesmo de ser inaugurada em abril, a Maison Natura já atraía olhares curiosos de quem passava pelo Carrefour de la Croix Rouge, no bairro parisiense de Saint Germain des Près. Tudo porque a fachada da loja, então em construção, era protegida por um generoso painel fotográfico mostrando a Floresta Amazônica “invadindo” uma das margens do Rio Sena. A imagem fictícia traduz a estratégia de internacionalização

1969 e hoje presente em países da América Latina, como Argentina, Chile, Peru e Bolívia. De acordo com os executivos da empresa, diferenciar a Natura do padrão de beleza estereotipado e investir no conceito de

Tuca Reinés

Cada de ta lhe re fle te o es pí rito Na tu ra de bem-estar. Aci ma, a fa cha da provi só ria da loja no dia da inaugu ra ção. Abai xo, com for ma to orgâ ni co, o bal cão de li mesto ne so bre base de aço po lido pa re ce flu tuar; as co lu nas estru tu rais ga nha ram re vesti mento de aço e fo ram in cor po ra das ao am bi ente

Fernanda Sarmento

da marca brasileira de cosméticos, inaugurada em


Fotos Tuca Reinés

Aci ma, à es quer da, piso su pe ri or da Mai son Na tu ra. Con ce bi do pelo nor te-ame ri ca no Ross Muir, o pro je to lu mi no téc ni co foi exe cu ta do com pro du tos da Erco. Na se quên cia, ci pós re mo vi dos por ín di os da Ama zô nia, com con ces são do Iba ma, or na men tam a loja, que va lo ri za o de sign na ci o nal. À di rei ta, a pol tro na Sus hi, de sign dos ir mãos Cam pa na para a Edra. Na pá gi na ao lado, ao fun do, a pol tro na Jan ga da de se nha da por Jean Gil lon, de sig ner fran cês ra di ca do no Bra sil

46 ARC DESIGN

biodiversidade e desenvolvimento sustentável são no-

materiais utilizados na construção são certificados,

vidades que tendem a agradar aos europeus.

como as divisórias de fibra de bananeira”, diz Casas,

Seguindo esse conceito, o elegante espaço projetado

que acompanhou de perto os quatro meses de obra

em Paris pelo arquiteto Arthur Casas, de São Paulo,

executados por uma equipe francesa.

promete contribuir para o sucesso da empreitada.

De fato, um clima de brasilidade impera na Maison Na-

Distribuída em dois pavimentos, a loja oferece um au-

tura, aberta não por acaso no último dia 22 de abril,

têntico passeio sensorial por texturas, cores e aro-

data do Descobrimento do Brasil. Em pleno ano do

mas. Fazendo jus à filosofia “Bem Estar Bem” da em-

país na França e com o verde-amarelo na crista da

presa, o segundo andar abriga um canto para massa-

onda na Europa, os clientes chegaram a fazer fila em

gens e também um bar, com livros e discos brasilei-

frente à loja decorada para a noite de inauguração, que

ros, onde se pode saborear um cafezinho ou sucos de

contou até com uma cachoeira na calçada. Música bra-

frutas típicas. Nesse mesmo pavimento, o visitante

sileira, apresentação de capoeira, além da venda de

poderá também assistir a conferências e exposições

produtos artesanais completaram o cardápio da festa.

retratando a realidade das comunidades que extraem

Com investimentos previstos na casa de 16 milhões de

ou cultivam os ativos naturais da Ekos – a única linha

euros (cerca de 56 milhões de reais) para os próximos

vendida na loja, que chega à Europa com 70 itens es-

três anos, a loja em Paris servirá como piloto para uma

pecialmente desenvolvidos para o consumidor europeu,

possível expansão para outros países europeus, como

como espuma de pitanga, “leite” de andiroba e manteiga

Alemanha, Inglaterra e Itália. Segundo pesquisas reali-

de murumuru.

zadas pela marca, Paris é o melhor lugar para a estréia

“O maior desafio do projeto foi traduzir a marca Natura

deste empreendimento em função do gosto apurado

em um espaço físico e apresentá-la a um público que a

dos franceses pelos cosméticos e pelo exótico.

desconhece”, conta o arquiteto. Com essa meta, a loja

Ao lançar a linha Ekos, em 2000, a Natura começou a

de 200 metros quadrados combina materiais naturais e

colocar em prática o uso sustentável de ativos da bio-

móveis assinados por designers brasileiros. “Todos os

diversidade brasileira. Na prática, isso contempla o



Natura/Reserva do Iratapuru (AP)

Há ge ra çõ es, a co lhei ta da cas ta nha-do-pará (abai xo), hoje tam bém cha ma da de cas ta nha-do-bra sil, está in ti ma men te as so ci a da às fa mí li as da re gião do rio Ira ta pu ru. Ver sá til que só ela, a cas ta nhei ra é es pé cie pro te gi da por lei. Da amên doa se ob têm um fino e va li o so óleo co mes tí vel, que tam bém pode ser uti li za do na pro du ção de cos mé ti cos. Ou tra ri que za da re gião é o breu bran co (no pé da pá gi na), resi na ex traí da de uma ár vo re na ti va da Ama zô nia, que exa la um aro ma ine brian te. Não à toa, os povos da flo res ta cos tu mam uti li zar essa sei va como de fu ma dor e in cen so em ri tuais re li gio sos. À di rei ta e na pá gi na ao lado, pro du tos cria dos pelo es cri tó rio Nó Design para a Mai son Na tu ra. Ao lado, o ta pe te anti-estresse traz uma nova apli ca ção da bu cha ve ge tal (o pro du to vem com man ta an ti der ra pan te)

Arn

a

Pa p ldo

pal

ard

manejo correto da atividade extrativista e o desenvolvimento das comunidades parceiras da empresa. Atualmente, a marca compra óleos de castanha, breu branco e copaíba da Comaru, uma cooperativa composta por 30 famílias que vivem em uma vila próxima à Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, uma unidade de conservação estadual com 800 mil hectares no sul do Amapá. A Natura trabalhou na montagem de um projeto piloto de desenvolvimento sustentável para a comunidade. A experiência foi acompanhada pela ONG Amigos da Ter-

Natura/Reserva do Iratapuru (AP)

ra – Amazônia Brasileira, que em colaboração com os moradores desenvolveu várias atividades de apoio administrativo, comercial e produtivo. “Além do contrato inicial de 12 toneladas de óleo de castanha, a Natura adiantou parte do dinheiro para a construção de uma fábrica de beneficiamento da matéria-prima, ajudando a comunidade a se reerguer”, enfatiza Luiz Cruz Villares, gerente do Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Entre as conquistas relevantes obtidas pela parceria está a certificação dos três ativos pelo selo verde FSC (Forest Stewardship Council), que dá a garantia de que a matéria-prima foi obtida com o menor dano possível à floresta. O desenvolvimento sustentável também diz respeito ao desafio proposto pela Natura ao Nó Design, escritório paulista dos designers Leonardo Massarelli, Flávio

o


Barão Di Sarno e Márcio Giannelli. “Nossa missão foi criar uma linha de acessórios de banho para ser vendida na loja de Paris, que contribuísse para a preservação do meio ambiente e gerasse renda para as comunidades”, explica Massarelli. Assim, para dar forma às suas lúdicas criações, o trio

Aci ma, à es quer da, sa bo ne tei ra es fo liante em bu cha e cou ro ve ge tal. Como o sabonete já vem preso à esponja, para produ zir es pu ma bas ta es fre gar o acessó rio ao cor po. Na se quên cia, massa ge a dor Se men te, em ce râ mi ca: além de ati var a cir cu la ção, in cor po ra uma lixa es fo lian te. Abai xo, luva Dois De dõ es: uma face em toa lha de al go dão e ou tra com es pon ja ve ge tal: o dese nho per mi te o uso dos dois la dos da luva em qual quer uma das mãos

de profissionais elegeu materiais que cumprissem esses requisitos. É o caso do couro vegetal produzido pelos moradores da Floresta Nacional Mapiá Inauini, no Amazonas, além da Reserva Extrativista do Alto Juruá e da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, ambas no Acre. De quebra, as cerca de 200 famílias das comunidades beneficiadas aprendem técnicas de produção e capacitação gerencial em oficinas ministradas pela Amazonlife – empresa que comercializa o produto sob a marca Treetap. Já a bucha vegetal livre de agrotóxicos, material recorrente nessa nova linha de acessórios, vem da Orgânica, empresa que trabalha com uma

São Paulo, e da Eco Buchas, uma cooperativa formada por pequenos agricultores assentados pela reforma agrária no Pontal de Paranapanema, SP. “A iniciativa já resultou no plantio de mais de um milhão de árvo-

Fotos Arnaldo Pappalardo

comunidade carente dos arredores de

res nativas da Mata Atlântica e na melhoria da qualidade de vida daquela comunidade”, conta o designer Márcio Giannelli. ❉ 49 ARC DESIGN


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al.gabriel monteiro da silva, 1487 * 11 3068 0377 * são paulo sp * 01441 001

e andré diniz

PAG 50

jenette fernando e humberto campana A

poltrona cubo • aristeu pires B poltrona M • kiko salomão e ari peres C pufe vitória régia • campanas D sofá stay • marcus ferreira E mesa sushi • campanas F mesa H • fabrício costa

D F B A

C

E


C A D E R N O E S P E C I A L A R C D E S I G N Nยบ42

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MESTRES DA ARQUITETURA

Massimiliano Fuksas


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Uma Publicação Quadrifoglio Editora / A Quadrifoglio Editora Publication Diretora Editora / Publisher – Maria Helena Estrada Diretor de Marketing / Marketing Director – Cristiano S. Barata Diretora de Arte / Art Director – Fernanda Sarmento Redação / Editorial Staff: Editora Geral / Editor – Maria Helena Estrada Chefe de Redação / Editor in Chief – Winnie Bastian Revisão / Proofreading – Jô A. Santucci Tradução / Translations: Paula Vieira de Almeida Arte / Art Department: Designer – Betina Hakim Estagiária – Ana Beatriz Avolio Gerente de Publicidade / Advertising Manager: Ivanise Calil Foto da Capa / Cover Picture: Fernanda Sarmento

Fernanda Sarmento

English version available on the last pages of ARC DESIGN 42


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MASSIMILIANO FUKSAS

DETALHES INVISÍVEIS De origem lituana, Fuksas nasce em Roma em 1944. Abre seu estúdio na mesma cidade em 1967, dois anos antes de se graduar em arquitetura pela Universidade La Sapienza. Em 1989, 1993 e 2003, abre filiais em Paris, Viena e Frankfurt, respectivamente. Sua prática profissional é centrada, sobretudo, na realização de obras públicas das mais diversas tipologias, como museus, complexos esportivos, parques, escolas, cemitérios, lojas, centros culturais, hotéis e escritórios. Em comum entre os projetos, a pesquisa contínua de novos materiais e técnicas construtivas, um dos fatores que contribuíram para a reputação de “futurista” do arquiteto romano. Autor de obras de alto impacto visual, Fuksas, no entanto, persegue o minimalismo em seus projetos. “O melhor detalhe é aquele que não se vê, a poética do pormenor me incomoda. Amo o detalhe não-aparente, que conduz a água, faz entrar a luz; tudo funciona, o ar frio não entra, mas não se vê os mecanismos”, declara o arquiteto em entrevista a Marco Casamonti (maio de 2002). Dentre suas obras recentes, destacam-se a entrada para o Museu do Grafitti em Niaux, França (1988-1993), a reestruturação urbana da Praça das Nações em Genebra, Suíça (1995-1999), as Torres Gêmeas em Viena, Áustria (1999-2001), o Empório Armani em Hong Kong, China (2001-2002), e o Centro de Pesquisas da Ferrari em Maranello, Itália (2001-2003), além da nova sede para a Feira de Milão e do Centro de Pesquisas e Eventos Nardini, aqui publicados.

“Nos projetos, há três tipos de luz: uma direta, uma indireta e uma luz que ninguém sabe de onde vem. É a luz mágica, aquela que na alquimia da arquitetura transmite a emoção.” Massimiliano Fuksas


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NOVOS PAVILHÕES DA FEIRA DE MILÃO

HIGH-TECH DEMOCRÁTICO: DO MACRO AO MICRO Um colossal complexo expositivo em Milão e um pequeno edifício no interior da Itália. As duas obras mais recentes de Massimiliano Fuksas compartilham o espírito inovador do arquiteto, que emprega, com forte ousadia,

Federico Brunetti

novas soluções projetuais e construtivas

Winnie Bastian Futuro palco de espetáculos efêmeros, a nova sede da

das maiores refinarias petrolíferas da Itália. A escolha da

Fiera Milano é em si um grande espetáculo permanente.

área, desde então abandonada, agradou ao arquiteto, que

Pavilhões em aço e vidro combinam-se a coberturas cur-

também se dedica ao estudo dos problemas urbanos nas

vas e leves, que assumem formas inesperadas e criam

metrópoles. “Este projeto procura a identidade, uma nova

uma paisagem construída no amplo recinto da feira,

geografia para áreas que foram esquecidas. As periferias

projetada por Massimiliano Fuksas e inaugurada no iní-

são o verdadeiro banco de provas para nós arquitetos”,

cio de abril, ainda inacabada.

declarou em recente entrevista ao jornal local PeRhò.

A nova sede localiza-se a oito quilômetros da área atu-

O conjunto concebido por Fuksas é um sistema linear,

al, no distrito de Rho-Pero, subúrbio de Milão, região es-

estruturado por um eixo central com 1,5 quilômetro de

tratégica para as conexões rodoviárias, ferroviárias e

comprimento (e sucessivas esteiras rolantes), que se

aeroviárias. O complexo ocupa um terreno de 2 milhões

desenvolve entre os acessos leste e oeste e interliga os

de metros quadrados que sediou, entre 1952 e 1992, uma

oito pavilhões expositivos.


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© Massimiliano Fuksas Architetto

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Nas duas páginas, os elementos que caracterizam a nova Fiera Milano: o “logo” (acima, visto do alto e do seu interior), que acolhe o centro de serviços e convenções, e a “vela” (abaixo), que cobre o eixo central. O novo complexo de exposições exigiu um investimento de 750 milhões de euros, totalmente financiados pela Fondazione Fiera Milano

Os edifícios são suspensos sobre áreas que receberam tratamentos paisagísticos diversos: água, áreas verdes e concreto. As fachadas dos pavilhões, em vidro e aço inox, se tornam o cenário. Cobrindo o eixo central está a “vela”, uma estrutura leve e ondulada com mais de 32 metros de largura e 1.300 metros de comprimento, resultando em uma superfície superior a 46 mil metros quadrados. Fuksas explica: “a idéia é tornar a ligação

um percurso rico de arquitetura e uma experiência por meio da sucessão de verde e água. A grande cobertura modifica, varia e define os espaços”.

Federico Brunetti

entre os diversos pavilhões, o eixo central e os acessos


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Elevando-se e abaixando-se para seguir as diferentes al-

O prazo exíguo para a construção (30 meses para mais

turas dos edifícios, a vela atinge, em seu ponto máximo,

de 500 mil metros quadrados) foi um fator decisivo na

a cota de 23 metros. A armação que sustenta essa co-

opção pelo aço: foram utilizadas 77 mil toneladas do

bertura de vidro laminado é formada por uma retícula

material, além de 200 mil metros quadrados de vidro e

rombóide em perfis de aço pré-fabricados, conectados

400 mil metros cúbicos de concreto.

entre si por meio de mais de 32 mil nós esféricos. A tra-

O complexo foi inaugurado no início de abril, mas,

ma é suportada por 183 colunas em aço, as quais se sub-

devido às obras no sistema viário e nos estaciona-

dividem em pequenos “braços” a 12 metros de altura.

mentos, estará pronto para operar em janeiro de

Além da “vela”, outro elemento caracteriza o novo pólo: o

2006, quando a atual sede expositiva (que passará

“logo”, uma estrutura que remete a uma onda oceânica.

a ser chamada “Fiera Milano City”) assumirá um

Com 36 metros de altura, esse pináculo cobre o grande

caráter complementar, funcionando em 185 mil

hall e a sala de congressos do Centro de Serviços e sua

metros quadrados (um terço da área atual). O espaço

concepção construtiva, uma retícula metálica, é análoga

restante abrigará um novo bairro marcado por três

à da “vela”, embora a superfície envidraçada seja menor

torres projetadas por Arata Isozaki, Daniel Libeskind e

para evitar o superaquecimento dos ambientes fechados.

Zaha Hadid. ❉

6

Acima, exemplo da integração entre a “vela” e os edifícios do complexo: a cobertura em aço e vidro protege todo o eixo central sem que este perca o caráter de espaço externo, graças à leveza da estrutura e às aberturas laterais. Na página ao lado, o eixo central: as paredes em aço refletivo e a oscilação da cobertura constroem a “paisagem” desejada por Fuksas

1 3

1 Pavilhões térreos (pé-direito com 12 a 16 metros de altura) 2 Pavilhões com dois andares (pé-direito de 12 metros no térreo e 10 metros no piso superior) 3 Área expositiva descoberta 4 Centro de Convenções e Centro de Serviços 5 Hotel e Centro Comercial 6 Estacionamentos

2 1

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1

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6

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CENTRO DE EVENTOS E PESQUISAS NARDINI

Com uma escala bastante diversa, mas também tendo

contraposição de elementos opostos: sólido x volátil,

aço e vidro como protagonistas, o edifício que abriga o

pesado x leve, simples x complexo.

centro de pesquisas e eventos da Destilaria Nardini foi

O projeto desenvolve-se em dois “mundos”, como define

inspirado na transmutação da matéria: “destilar é como

o próprio arquiteto: o primeiro submerso e o segundo

imitar o sol que evapora as águas da terra e as reenvia ao

suspenso. Um espaço esculpido no terreno como um câ-

solo em forma de chuva”.

nion natural abriga um auditório de 100 lugares. Os labo-

A nova estrutura, localizada em Bassano del Grappa, pe-

ratórios do centro de pesquisa são envolvidos por duas

quena cidade da região do Vêneto (norte da Itália), surge

bolhas elípticas transparentes – “um grande alambique

junto à fábrica para hospedar eventos e acolher os viajan-

de vidro”, segundo o arquiteto.

tes do turismo enogastronômico (a empresa, famosa pela

Por trás do partido poético, um programa funcional e am-

“grappa” que produz desde 1779, recebe cerca de 1.500

bientalmente correto: a nova construção não impõe qual-

visitantes por mês).

quer impedimento à vista do interior do edifício preexis-

Fazendo referência ao processo de fabricação da “grappa”

tente (destilaria e engarrafamento), além de permitir o

(que parte da videira enraizada para chegar à bebida

máximo aproveitamento do espaço disponível sem a der-

alcoólica), Fuksas concebe o projeto a partir da constante

rubada de árvores.

Matteo Danesin

Matteo Danesin

Abaixo, vista geral do conjunto, envolto pelo espelho d’água que simboliza a “acquavita” produzida pela Nardini. As duas “bolhas”, de dimensões diversas, são compostas por 360 placas de vidro laminado curvadas em duas direções. Na página ao lado, detalhe de uma das “bolhas”, suspensa por finas colunas metálicas oblíquas, e sua conexão visual com a fábrica preexistente (ao fundo)


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Maurizio Marcato

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Acima, à esquerda, vista parcial da “bolha” superior e da escada de acesso ao auditório subterrâneo: destaque para o desenho formado pela estrutura metálica e para as sombras projetadas por este no piso. Na sequência, detalhe da escada que liga o subsolo ao térreo, com o volume oblíquo do elevador “perfurando” a parede e a laje superior. Abaixo, corte longitudinal ilustra a ligação entre as três estruturas: “bolhas” inferior, superior e auditório. Na página ao lado, a estrutura “invisível” da escada de acesso permite a visão da “bolha” ao longo do percurso

A temática dos opostos também é evocada na linguagem do edifício: o sofisticado aspecto tecnológico das bolhas de vidro contrasta com a rude materialidade do concreto aparente do auditório. “Dois estilos: um refinado, elegante, tecnológico e imaterial. O outro rudimentar, no qual a matéria, o concreto armado, se torna epifania da forma”, diz Fuksas. Implantadas de forma assimétrica, as “bolhas” apóiamse em colunas metálicas esbeltas – com diversas inclinações – e no volume oblíquo do elevador, uma estrutura central em aço que suporta a maior parte do peso dos Maurizio Marcato

volumes elípticos. Permeando todo o conjunto, um grande espelho d’água: o arquiteto faz referência à “acquavita” que a companhia tem produzido por três séculos. ❉

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Imagens © Massimiliano Fuksas Architetto

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CENTRO DE CONGRESSOS EUR – ROMA, ITÁLIA O edifício será formado por um contêiner horizontal em aço e vidro que abrigará, em seu interior, uma “nuvem” suspensa, apoiada apenas nos três pontos onde se localizam os elevadores e as escadas rolantes. Nos dois lados da nuvem, correm duas lâminas paralelas, praças abertas ao entorno imediato e à cidade. A primeira comunica-se diretamente com a área local, enquanto a segunda atua como um espaço de acolhida aos participantes de conferências e organiza as diversas salas do centro. Com 3.500 metros quadrados, a nuvem em aço e teflon abrigará um auditório com 1.800 lugares e diversas salas de reunião, e “flutuará” sobre uma superfície de 10 mil metros quadrados. Localizado em um terreno de 27 mil metros quadrados, o complexo

terá condições de receber cerca de 10 mil congressistas. Além da nuvem, duas salas destinadas a congressos e/ou exposições, e um hotel com 600 quartos (situado em uma torre anexa) completam o conjunto. O projeto foi vencedor absoluto de um concurso realizado em 2002. “Na primeira fase [do concurso], completamente anônima, recebemos 12 votos de 12. Foi a vitória que mais festejei na minha vida: estava felicíssimo por fazer uma obra em Roma” (Fuksas em entrevista ao jornal La Repubblica, de 1/2/2005). Com custo estimado em 225 milhões de euros e cerca de 30 mil metros quadrados de área construída, o centro de convenções deve estar concluído até o final de 2007.


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NOVA SEDE DA REGIÃO DE PIEMONTE – TURIM, ITÁLIA Um edifício simbólico e facilmente reconhecível, que possa se tornar um novo ponto de referência para Turim, é a proposta de Fuksas para a nova sede da região do Piemonte. Com 100 metros de altura, a torre caracteriza-se pelas fachadas transparentes e pela inserção de uma série de “lâminas” em seu interior, em diferentes alturas e com inclinações diversas. Ao contrário do que possa parecer, essa solução não compromete em nada a funcionalidade do edifício, que irá receber cerca de 1.300 pessoas, distribuídas em sete Câmaras de Vereadores e 20 departamentos administrativos. Anexo à torre, um edifício horizontal abrigará o centro de convenções e um pólo de serviços para a cidade. A interface entre as duas instalações é um “grande vazio” que serve como átrio tanto para os escritórios quanto para o centro de congressos e seus espaços públicos contíguos. Com 35 mil metros quadrados de área construída e custo estimado em 100 milhões de euros, o conjunto deve estar concluído até a metade de 2006.

MABZEIL – FRANKFURT, ALEMANHA O programa prevê a realização, em uma superfície relativamente pequena, de uma estrutura bastante complexa: escritórios, um hotel quatro estrelas com centro de convenções, um fitness center e um cinema. As diferenças não dizem respeito apenas às características do projeto, mas também à logística, aos horários de abertura e à subdivisão da estrutura. Para um programa tão amplo, um plano único de acesso não seria suficiente. Assim, além do térreo, Fuksas estabelece outro acesso pelo quarto pavimento, ligado diretamente ao térreo por uma grande escada rolante. A área comercial está posicionada no segundo e no

terceiro pavimentos, enquanto o quarto nível abriga o cinema, o centro esportivo e os restaurantes, tornando-se referência para as atividades de entretenimento e o plano principal do edifício. O quarto pavimento também desempenha papel importante para os escritórios: ali estão situados a recepção (ligada às partes abertas ao público na cobertura) e os acessos para as torres. Um sistema de vazios que desce a partir do quarto piso proporciona luminosidade ao restante do edifício e conduz aos níveis inferiores. Com 70 mil metros quadrados de área construída, o complexo deve ser inaugurado no primeiro semestre de 2006.



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A NOVA COLLECTANIA DESIGN E ELEGÂNCIA... SOB MEDIDA

66 ARC DESIGN

Quando se fala em design italiano, a referência imedia-

empresarial – propicia um estilo de vida sofisticada-

ta não é exatamente Milão, mas a Brianza, um pouco

mente simples, atenta a cada detalhe de seus produtos

mais ao norte. São da Brianza as grandes empresas de

– da cor à textura, ao design.

formação familiar que fizeram a fama do design italia-

Assim, o que a Collectania e a MisuraEmme lançam

no, como a MisuraEmme, fundada em 1939. O enge-

no Brasil é um novo conceito, o da Sartoria, ou seja, a

nheiro Borgonovo, seu diretor proprietário, esteve no

alfaiataria no mobiliário. Com um número inacreditá-

Brasil para firmar um acordo, mais precisamente, uma

vel de modulações, de acabamentos, de cores e de

licença de produção com a Collectania, de Liliana Tuneo.

perfis, é sempre possível fazer o seu armário sob me-

Qual a grande importância desse acordo, além da pos-

dida – no melhor alfaiate!

sibilidade de podermos ter armários, produzidos no

As decisões de compra são tomadas pelas mulheres?

Brasil, com a alta qualidade do “Made in Italy” e um

Ótimo, vamos falar a linguagem feminina, de atenção

preço competitivo em nosso mercado? O aval da qua-

ao detalhe, às nuances, à praticidade. Um estudo de co-

lidade brasileira.

res e padronagens vai lhe introduzir em um universo

No momento em que uma empresa italiana permite des-

de sutilezas talvez nunca imaginado. É esse o repertó-

locar sua produção – o que, há muito tempo, não mais

rio da Sartoria Italiana Armadi.

víamos – quer dizer que a indústria brasileira já alcançou

Mauro Lipparini é o designer de grande parte da cole-

um nível excelente de qualidade. E, significativo, que em-

ção MisuraEmme, mas é seu proprietário, o engenhei-

presários brasileiros também merecem essa confiança.

ro Gianni Borgonovo, o diretor de arte da empresa, o

A MisuraEmme produz armários, estofados, camas,

que faz com que esta possa continuar realizando o so-

mesas, estantes, acessórios e – graças à sua filosofia

nho dos primeiros moveleiros italianos... e o nosso. ❉


caderno

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O cader no Design Gráfico tem patrocínio da Suzano Papel e Celulose. Esta edição de Arc Design foi totalmente impressa no novo papel Couché Suzano® Silk L2, o único cou ché semi-bri lho, com dupla camada de revestimento, produzido no país.

Papéis utilizados nesta edição de Arc Design: Capa – Supremo Duo Design® 250 g/m2 Miolo – Couché Suzano® Silk L2 150 g/m2

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FAZENDO AS PAZES COM A TRADIÇÃO

“Estilo tipográfico não significa nenhum estilo particular – meu estilo, seu estilo, neoclássico ou barroco –, mas o po der de mo ver-se li vre men te por todo o do mí nio da ti po gra fia e de agir a cada pas so de ma nei ra gra ci o sa e vi tal, sem ser ba nal.” Robert Bringhurst

André Stolarski

A tra di ção ti po grá fi ca do Oci den te vem sen do, des de o sé cu lo pas sa do, sis te ma ti ca men te des mon ta da e mo di fi ca da pelo con ta to com lin gua gens no vas – tais como a fo to gra fia e o ci ne ma – ou em fran ca trans for ma ção – como as ar tes plás ti cas e a pró pria li te ra tu ra. No Bra sil, o es ta be le ci men to de uma tra di ção ti po grá fi ca propriamente dita nunca ocorreu, e as sucessivas revoluções tec no ló gi cas dos úl ti mos 50 anos di fi cul ta ram esse de sen vol vi men to his tó ri co. Com as atenções voltadas, durante muito tempo, para as novidades dessas revoluções e desmontagens, pouquíssimos autores interessados no aspecto essencialmente conservador da tipografia conseguiram produzir obras inspiradas na tradição que não se reduzissem a versões requentadas de antigos manuais dogmáticos. Robert Bringhurst, autor do livro “Elementos do Estilo Tipográfico”, recém-lançado pela editora Cosac Naify, é uma radical exceção. Evitando enxergar a tradição como uma opção moral ou estética, o autor produziu uma obra seminal, que sugere (ou ao menos permite) a convivência pacífica e estimulante entre as heranças do ofício e as aventuras experimentais. “Os princípios da tipografia (…) não são um conjunto de convenções mortas, mas costumes tribais de uma floresta encantada, onde vozes ancestrais ressoam em toda a direção e onde

Na página ao lado, a ilustração de André Stolarski mostra que a diversidade da escrita espelha a diversidade das linguagens que ela traduz. O alfabeto latino deixou de ter apenas 26 letras há muito tempo, para incorporar um sem-número de variantes, caracteres diacríticos e outros sinais ao seu uso cotidiano. Para Robert Bringhurst, autor do livro “Elementos do Estilo Tipográfico”, essa é uma realidade impossível de ignorar



No alto da página, algu mas liga tu ras da fonte Mrs Eaves, de Zu za na Lic ko. Existem 30 ligaturas para os versaletes, 40 para a caixa-baixa e uma híbrida. Cada uma de las exis te em três for mas: ro ma no, itá li co e bold. Acima, três tipos gregos antigos. No topo, o Grego Complutensiano, fonte ortóptica de 16 pt gravada por Arnaldo Guillén de Brocar em 1510. Ao centro, a cursiva de 10 pt gravada por Francesco Griffo em 1502. Na última linha, fonte grega caligráfica de 18 pt gravada por Robert Granjon na década de 1560. Abaixo, um bre ve passeio pela di versi fi ca da pai sa gem ti po grá fi ca do pla ne ta: mi lha res de ca rac te res que só ago ra co me çam a ser ade qua da mente aco mo da dos pelo pa drão digital OpenTy pe

70 ARC DESIGN

Acima, uma fonte etrus ca sem se ri fa de 14 pt grava da por Wil liam Cas lon para a Ox for d U ni ver sity Press por vol ta de 1745. As le tras cur si vas sem se ri fa são tão an ti gas quan to a pró pria es cri ta, mas este é um de seus pri mei ros es pé ci mes. Abaixo, du pla de pá gi nas que obedecem às proporções áureas, onde as re la çõ es pro por ci o nais en tre to dos os seus ele men tos per ma ne cem as mes mas, num im pressi o nan te jogo de si me trias. Pro je to ori gi nal do fran cês Vil lard de Hon nen court, sé cu lo 13


Abaixo,, uma fonte etrus ca sem se ri fa de 14 pt grava da por Wil liam Cas lon para a Ox ford Uni versity Press por vol ta de 1745. As le tras cursi vas sem se ri fa são tão antigas quanto a pró pria es crita, mas este é um de seus pri mei ros es pé ci mes

vozes novas passam, indo em direção a formas das quais não há

Acima, dois tipos recentes feitos de acordo com a tradição

registro”, escreve. (Para ver aonde essa metáfora vai dar, experi-

maneirista. A Poetica (na linha de cima) é uma itálica

mente substituir “floresta encantada” por “linguagem” e “tribo”,

chanceleresca baseada em modelos do século 16. Foi projetada por Robert Slimbach e publicada pela Adobe em 1992. A

por “humanidade”.)

Galliard (na linha inferior), desenhada por Matthew Carter,

Assim, Robert Bringhurst deixa de lado a “solidão tipográfica” da ex-

foi publicada pela Linotype em 1978. É baseada em letras

perimentação individual e segue pelas “estradas velhas e viajadas

gravadas no século 16 por Robert Granjon. No pé da página, florão em forma de folha de hera, um dos mais antigos ornamentos tipográficos, presente em ins crições gregas antigas

que passam pelo coração da tradição. (…) A tipografia”, sustenta o autor, “desenvolve-se como um interesse comum, e não há nela qualquer caminho onde não haja desejos e direções em comum”. O livro também deixa de fora o interesse e a atraente autonomia estética das letras e de outras formas tipográficas, que estão no centro do trabalho de designers como o suíço Wolfgang Weingart e o brasileiro Tide Hellmeister. “A tipografia”, afinal, “existe para honrar seu conteúdo”. O tipógrafo? “Deve fazer o seu trabalho e desaparecer.” Tratando dessas e de outras questões espinhosas com uma prosa clara, inspirada e muito bem informada, “Elementos do Estilo Tipográfico” transformou-se em um “clássico instantâneo” desde o seu lançamento em 1992, passando a figurar no topo de inúmeras listas de livros recomendados sobre tipografia. A obra alia textos práticos, históricos, linguísticos, teóricos, técnicos e poéticos a um extenso catálogo de fontes selecionadas e comentadas pelo autor e a diversos glossários que complementam o tema. A edição brasileira traz ainda um glossário inglês-português de termos tipográficos com mais de 300 verbetes. A entrevista a seguir foi concedida com exclusividade a ARC DESIGN.

71 ARC DESIGN


O estilo de um tipo é geralmente identificado por três fatores: a direção do eixo, o contraste entre as espessuras dos traços e o tamanho da aber tura de cer tas letras. As classificações propostas por Robert Bringhurst relacionam movimentos ar tísticos à produção tipográfica. RENASCENTISTA (sécs. 15 e 16, acima, à esquerda): traço modulado; eixo humanista (oblíquo); terminais precisos; itálico equi valente e independente do romano. BARROCA (séc. 17, acima, à direita): traço modulado; eixo variável; serifas e terminais modelados; aber tura moderada; itálico subordinado e intimamente ligado ao romano

NEOCLÁSSICA (sé c. 18, acima, à esquerda): tra ço mo du la do; eixo ra ci o na lista (ver ti cal); se ri fas ad na tas e re fi na das; ter mi nais em gota; aber tu ra mo de ra da; itá li co in tei ra men te sub ju ga do pelo ro ma no. ROMÂNTICA (sé cs. 18 e 19, acima, à direita): tra ço hi permo du la do; eixo ra ci o na lis ta in ten si fi ca do; se ri fas abrup tas e fi nas; ter mi nais em bo tão; aber tu ra pe que na; itá li co sub ju ga do. Nas le tras ne o clássi cas e nas ro mân ti cas, o eixo pri má rio é nor mal men te ver ti cal e o eixo se cun dá rio é oblí quo

aRc design – Você é um poeta e um escritor reconhecido no

que praticam tipografia e se interessam pelo assunto. Elas não

Canadá. Alguns de seus poemas chegaram a ser traduzidos

precisam de livros de receitas tipográficas que digam passo a

para o por tuguês pelo poeta João Cabral de Melo Neto. Como

passo o que devem fazer, mas precisam – e sabem que preci-

foi a sua aproximação com a tipografia?

sam – entender-se com o coração da tradição. Quanto ao res-

RoBeRt BRinghuRst – Aos 20 anos, as sim como acon te ce

to, são capazes de se virar por si mesmas – e podem se diver -

com vários poetas jovens, juntei-me a alguns amigos e fundei

tir bastante.

uma pequena editora. De imediato, fui golpeado por um fato óbvio: os livros, assim como os barcos, as pás e as casas,

ad – Para quantas línguas seu livro foi traduzido? O que acon-

precisam ser projetados – de forma consciente ou não – e a

teceu em países onde o sistema de escrita predominante não

rotina do seu projeto incorpora milhares de anos de tradição

era o romano?

– consciente ou inconsciente. Eu sabia que eu não sabia nada

RB – A primeira tradução – ainda não publicada – foi a espa-

a res peito dessa tradição. Assim, comecei a pas sar um bom

nhola. As traduções italiana e grega vieram depois, e finalmen-

tempo na companhia de impressores, tipógra fos e enca derna -

te a holandesa, a francesa e a russa, que devem ser lançadas

dores, além de ler a respeito da história das le tras e dos li-

em breve. Achei que a edição grega (publicada pela Imprensa

vros. Isso pode não ter feito com que eu me tornasse um po -

da Universidade de Creta) deveria ter mais informações a res-

e ta me lhor, mas fez com que eu me tornas se um poe ta mais

peito da história do design de tipos gregos. Anexei um portfólio

feliz e menos ignorante.

de ilustrações e longas legendas explanatórias para cada uma. Fiz também algumas novas ilustrações para a tradução russa,

72 ARC DESIGN

ad – Seu livro não possui o arsenal de exemplos, ilustrações e

mas não sei ao certo quantas estão sendo usadas. Antes mes-

fotografias de outros livros sobre o assunto e não trata de

mo que a tradução para o russo fosse iniciada, os leitores rus-

questões ligadas à ruptura com os padrões estabelecidos pela

sos – em especial Maxim Zhukov, que naquela época era che-

tradição. A que você deve o seu sucesso?

fe de tipografia na sede da ONU em N. York – já haviam me

RB – Há muitas pessoas letradas, inteligentes e auto-orientadas

envolvido no debate acerca das letras cirílicas e me ensinaram


REALISTA (sé c. 19 e iní cio do sé c. 20, acima, à esquerda): tra ço não-mo du la do; eixo ver ti cal presu mi do; aber tu ra pe que na; se ri fas au sen tes ou abrup tas, de pe so igual ao tra ço prin ci pal; itá li co au sen te ou tro ca do pelo ro ma no in cli na do. MODERNISTA GEOMÉTRICA (sé c. 20, acima, à direita): tra ço não-mo du la do; ar cos mu i tas ve zes cir cu la res (sem eixo); aber tu ra mo de ra da; se ri fas au sen tes ou de peso igual ao tra ço prin ci pal; itá li co au sen te ou tro ca do pelo ro ma no in cli na do. A mo de la gem, po rém, nor mal men te é bem mais su til do que apa ren ta

MODERNISTA LÍRICA (sé c. 20, acima, à esquerda): re des co ber ta da for ma re nas cen tis ta; tra ço mo du la do; eixo hu ma nis ta; se ri fas e ter mi nais com for ma ori un da da pena; aber tu ra gran de; itá li co par ci al men te li ber ta do do ro ma no. PÓS-MODERNA (fi nal do sé c. 20 e iní cio do sé c. 21, acima, à direita): pa ró dia fre qüen te da for ma ne o clás si ca, ro mân ti ca ou bar ro ca: eixo ra ci o na lis ta ou va ri á vel; se ri fas e ter mi nais afi a dos

bastante sobre uma tradição a respeito da qual sabem natural-

ou PC?”, “Você é PostScript ou TrueType?”, como se estivessem

mente mais do que eu.

perguntando: “Você é católico ou protestante?”, ou “Você é suni

ad – Você chama a atenção dos tipógrafos para o aspecto po-

pouco suas espécies. Elas não têm o poder de evitar a extinção

liglota do alfabeto romano, que há muito tempo deixou de ca-

de qualquer uma das histórias, tradições ou princípios que

ber nas vinte e tantas letrinhas com as quais sempre foi iden-

certos membros de nossa espécie valorizam mais que o senso

tificado e virou uma espécie de embaixador das linguagens do

comum, a beleza ou mesmo a verdade.

ou shi’a?” Mas as tecnologias não vão salvar o planeta, tam-

planeta. Como você vê a relação entre ele e outros sistemas de escrita menos difundidos e mais frágeis? Que riscos e transfor-

ad – Você, que demonstra grande domínio formal nas análises

mações aguardam a tipografia nesse novo “império romano”?

dos tipos que aparecem em seu livro, nunca considerou a

RB – O alfabeto é como uma faca. Pode ser usado para fazer

hipótese de passar do plano da análise para o da ação, dese-

cirurgias delicadas, entalhar imagens estupendas ou perpetrar

nhando uma família tipográfica própria?

ataques indiscriminados. É estimulante vê-lo adaptar-se a con-

RB – Eu me envolvo quase diariamente com a edição de tipos –

dições locais, mas isso não elimina seus perigos, que não es-

ou seja, o refinamento de projetos existentes –, mas em minha

tão no alfabeto, mas no coração das pessoas.

opinião o projeto de tipos concebidos a partir do zero, em sua grande maioria, deveria ser deixado para quem tem talento

ad – Em seu livro, você se refere diversas vezes ao potencial

para isso. Sempre que passo alguns minutos na companhia do

da tec no lo gia di gi tal, mas tam bém ao seu atra so e às suas

designer de tipos Hermann Zapf, fica absolutamente claro para

li mi ta çõ es ti po grá fi cas e cul tu rais. Quais são hoje os seus

mim que ele deveria estar projetando tipos e eu falando ou es-

mai o res de sa fi os e quais são, até o mo men to, suas mai o res

crevendo a respeito do assunto. Em outras palavras, cada um

con quis tas?

de nós deve fazer aquilo que faz melhor. O mesmo ocorre com

RB – Algumas pessoas comprometem-se com certas tecnolo-

a pintura – outra arte a respeito da qual falo e escrevo, mas

gias como se fossem religiões. Elas perguntam: “Você é Mac

de cuja prática não me ocupo. ❉ 73 ARC DESIGN


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Uma Publicação Quadrifoglio Editora / A Quadrifoglio Editora Publication ARC DESIGN n° 42, Maio/Junho 2005 / May/June 2005

Apoio / Support:

Diretora Editora / Publisher – Maria Helena Estrada Diretor de Marketing / Marketing Director – Cristiano S. Barata Diretora de Arte / Art Director – Fernanda Sarmento Redação / Editorial Staff: Editora Geral / Editor – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico / Graphic Design Editor – Fernanda Sarmento Chefe de Redação / Editor in Chief – Winnie Bastian Revisão / Proofreading – Jô A. Santucci Traduções / Translations – Paula Vieira de Almeida Estagiária / Trainee – Carolina Barros

Apoio Institucional / Institutional Support:

Arte / Art Department: Designer – Betina Hakim Estagiária – Ana Beatriz Avolio Participaram desta edição / Contributors in this issue: Ana Paula Orlandi André Stolarski Guinter Parschalk Departamento Administrativo / Administrative Department: Silvia Regina Rosa Silva Departamento de Publicidade / Advertising Department: Ivanise Calil Departamento de Circulação e Assinaturas / Subscriptions Department: Cristiane Aparecida Barboza Schiavon Conselho Consultivo / Advisory Council: Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta (Fundação Padre Anchieta’s director); arquiteto (architect) Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia (designer, expert on ergonomy); Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de Arc Design para assuntos internacionais (expert on European culture and design, Arc Design consultant for international subjects) Pré-impressão / Pre-press: Cantadori Artes Gráficas Ltda. Impressão / Printing: Eskenazi Indústria Gráfica Papel / Paper: Suzano Papel capa: Supremo Duo Design 250g/m2 miolo: Couché Suzano Silk L2 150g/m2 Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. The rights to photographs and articles signed by ARC DESIGN contributors are property of the authors. Photographs for publicity were provided by the companies, institutions or professionals referred to in the articles. Total or partial reproduction of any part of the magazine is only permitted with prior, written consent by the publishers.

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EDITORIAL The most important international event in the world of design? Undoubtedly Milan Furniture Fair and the entire repertoire created around it – Milano Design Week. The most extensive article on Brazil? The coverage by ARC DESIGN, discovering innovations where there seems to be only the very same, translating them into concepts, finding explanations for the “route deviations”, which in fact are not trends… but contingencies. To approach technologic innovations at Euroluce, Lighting Fair, we have invited Guinter Parschalk, who addresses light as a sophisticated element of contemporary life. In this issue, we also publish the work of architect Massimiliano Fuksas, author of the project for the new headquarters of the Milan Fair. Spectacular! First-quality “Brazil” exported to France. It is the Natura shop in Paris. A beautiful project, by Arthur Casas, evidencing the Brazilian raw-materials and the company’s ecologically correct concept when introducing riches from our flora, still unknown to Europe. In graphic design, André Stolarski interviews Robert Bringhurst, author of the important book “The Elements of Typographic Style”. Finally, the message of young designers, from several parts of the world, aware that they are the ones responsible for the planet’s health and for the improvement of our life quality. A good alternative for the ones who prefer to only talk about flowers… Maria Helena Estrada Publisher

English Version

MOVELSUL DESIGN FAIR – page 13 “The most important instrument of design is talent.” This sentence, printed on the front cover of the catalogue of Design Movelsul 2004 (Movelsul Design Fair 2004), does not express totality, but one of the basic components in the creation of a good project. Another essential ingredient is the existence of a basic infrastructure for the project to become a product – innovative, able to be produced and commercialized. This is, perhaps, the main reason for the Movelsul Design Competition to become the most important display of Latin America’s new design: the approach together with the industry allied to efforts developed in the field, in the region of Bento Gonçalves (Rio Grande do Sul, Brazil), to achieve leadership not only in the physical quality of its products, but also in design. From 17 to 22 June 2005, Gustavo Bertolini, director of Movelsul Design Fair, will be in Bogotá, Colombia, to release general lines and announce the regulations for the tenth Design Fair, which will be held during the exhibition: “Expoconstrucción e Exposidiseño”, from 13 to 17 March 2006. At this first stop of an itinerary through Latin America, the project selected at Movelsul Design Fair 2004 will be exhibited on a special stand at the fair. Throughout its nine previous biennial editions, Movelsul Design Fair has already received 3,526 projects from all over Latin America, a figure that grows every year – from 72 projects in 1988, to 125 in 1990, to 1,142 competitors in 2004! The competition is a promotion of Movelsul Brasil and, as if the direct support from the industry was not enough, it also offers the most attractive award in Brazil: 60 thousand Brazilian reais distributed

through its 4 categories. Registrations end up on 28 October. Information at salaodesign@movelsul.com.br or by telephone: +55 (54) 452-3067.

GOOD, BEAUTIFUL AND… RATIONAL – page 14 A company concerned with providing good design - and affordable to the public. A designer well in balance with the market, great specialist in productive processes and industry operation. This is the recipe for success of the partnership between Tok & Stok and Guilherme Bender “Project intelligence is not only design, but also the way of producing, the logistics and a series of other factors.” The sentence is from designer Guilherme Bender from Paraná and reflects his work philosophy. The “shop-floor” designer has always worked related to large-scale production. For this reason, his way of designing involves a global view of productive process. For him, constructive rationality and observation of market opportunities are as important as the formal aspect of a product, “and, many times, the design of a piece suffers changes due to those other factors.” But not always has it been like that: the aesthetical aspect has already been a priority for Bender, who, in the beginning of his career, studied Fine Arts with emphasis on sculpture. He has devoted to design since 1971 and, since then, has idealized his products, always focusing on the market. “It is about a commitment of the designer with the company,” he explains, “for it is not possible to move a company without being sure that there is going to be reward. To place a product on the shop’s shelves involves a very high cost.” And, without such previous concern, the client might pay an often-unnecessary price. Experience proves the success of such philosophy: the partnership between Bender and Tok & Stok has already lasted 20 years. During this period, over 170 products have been developed, divided in 34 collections. Currently, 15 products are being developed by the designer exclusively for Tok & Stok. The first product signed by Guilherme Bender for the company was the Sistar bookshelf, enameled in black. “It was a shock, once, in that period (middle ‘80s), there was only light-colored furniture, though Tok & Stok dared and released a new trend,” said the designer. The development of the products involves accurate details, once the production of a single furniture piece often requires more than one supplier. This is the case of the Wide bookshelf – made of wood, glass and metal – which comprises three industries, each one responsible for the manufacturing of the pieces in a type of material. It is at this point that the importance of having experience within the factory becomes clear, as well as the knowledge of machinery and processes, their limitations and potentials. The “artistic side” is revealed at the assembly moment of the prototype, which Bender insists in performing – “it gives me much pleasure”, he explains. At such moment, the designer’s rationality finds the sculpturing sensibility.

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES (NOT TO SAY THAT I DID NOT TALK ABOUT FLOWERS)* – page 16 Mies van der Rohe said once that it was not necessary to invent a new architecture every Monday… although a certain innovation


Maria Helena Estrada

Jokes apart, in order to understand the directions of products design, it is necessary to pay attention to the meaning and importance of the Italian industrial system – especially in the fields linked to habitats. This is a much more complex matter, which regards two basic directions of survival: the economical and the socioenvironmental one. Could the spectacle of the 2005 Fair, in Milan, be seen as a pause for reflection, for discovery and adoption of new paradigm concepts? SaloneSatellite and some exhibitions by design schools reply affirmatively, with products thought-out to improve precarious life conditions, to respond to new inhabiting necessities, for the respect for ecology and sustainability, in search of the necessary project. In this manner, Milan 2005 takes us to observe contemporary design from two different perspectives, two points of view: the seeds and the ripe consolidated fruits. This year, the seeds – the future vision, the germinating ideas – were many, and rich. The fruits (commercial products by definition, releases by great consolidated companies), among much glow, many flowers and colors, reflected a real economic crisis (or crisis of creativity?). Without investment, the innovative project (the one that makes history progress – which, nowadays, resides in materials and technology, not in purely formal aspects) becomes unfeasible. Design at the limit of ephemerality is how we can define the majority of the products presented – as in fashion, as a firework to be consumed at a glaring speed. A great show-off that will not even be transformed into trend. Italy is the great productive center in Europe – even with its new decentralization production policy – and it is there where designers from all over the world are heading to. To sustain and maintain this “machine” at the worldwide leadership has a price, sometimes paid with the decrease of its own rhythm, with the abdication of old ideals. Companies, no longer familiar, start to establish large economic groups, such as Charme (Cappellini, Thonet, Poltrona Frau, Gufram), whose owner is also president of Ferrari. Cassina, whose actions were already in the stock market, has almost been bought by a Japanese group. And in such manner reality transforms itself. But companies are open to diversity, and the range of nations is bigger and bigger. An untoward globalization, which holds the taste of each culture, the multiethnic enchantment… without becoming folkloric. However, what really called our attention was most of the young designers’ option for a “design for necessity”, unlike the attitude of some old stars – especially the provocative proposals – though without the fine humor of a Castiglioni. Designers from Israel, Senegal, Mali, Brazil, France, Japan, England, Holland, Switzerland, Belgium, Spain, Canada, Germany, Chile, Argentina, the whole Scandinavia and, of course, Italy, compose our varied display of the three main fairs: Furniture Fair, Euroluce and SaloneSatellite, besides parallel exhibitions. What do we find beyond the simple appearance? Firstly, the history of the Swiss Benches (by Alfredo Haberli, for Bd,

Barcelona) pays homage to the Catalan seats, by Tusquets and Clotet (Bd, 1974), which were inspired by the seats by Gaudí for the Guell Park (according to them, insurmountable). As variations of the collection we highlight The Poet (where one can eat or write), The Banker (with a space to stand up, once bankers spend days seating), The Philosopher (loves to be alone, but also to talk), The Solitarian and The Twosome, because it is also possible to share a seat with no one sitting next. Bd also exhibited two other good products: in the Transit Furniture Concept collection, Ross Lovegrove utilizes Millstone and Sandstone (polyethylene and granite); and Cotlet and Tusquets create, with humor and ingeniousness, Mail Me, a mail box for buildings. Would it be the presage of a Spanish-design recall? What was the great “show-off”, which seemed to transport us to big exhibitions from 1980-1990? The group Charme, with its immense exhibition at the former post office headquarters (also referenced in the invitation stamps), presented models from 1850 (a beautiful and simple Thonet) up to “decorated” reinterpretations of old successes, including the inhabiting styles in several capitals in the world, with sceneries by Poltrona Frau. And, as pure beauty, the Gufram collection from the ‘70s, representing pop art in three dimensions. What was the most charming space? The Rossana Orlandi gallery, where our Paulistano chair, by Paulo Mendes da Rocha was placed. It was also the site of the institutional exhibition of Promosedia, curated by Marco Romanelli. Also at the same place we found the best African design (Senegal, Dakar, Mali): Baay Xaaly Sène (Arc Design 29), Cheik Diallo, Babakar Niang, besides Piet Hein Eek (from the Netherlands). Where was the best combination of exhibitions? Undoubtedly, at the Milan Triennial: Designers by Israel, Sottsass together with Abet Laminat, the important project by Enzo Mari, and the anthological exhibition by Gaetano Pesce, The Rumor of Time, whose catalogue displays on its cover the more-than-Brazilian coconut slats with resin! Pesce, the “lonely bird” of design, pioneer in the use of synthetic materials (since the ‘60s), causes emotions for his autobiographic design (that is, a design of ideas and ideals for our time – though he is always ahead of it), which displays on the catalogue’s epigraph: “this exhibition is dedicated to the elapse of time: this will make it obsolete”. A designer who expressed and highlighted very well the imperfection, the inequality, the feminine nature of project and life, and so many other human social matters, always translated in design. Another highlight was “Enzo Mari and ten thousand million sugi trees”, an exhibition of chairs made of “sugi”, a typical Japanese tree, utilized after wars in great scale for reforesting, now in disuse, to give opportunities to other species (although 67% of Japanese territory is occupied by forest and field areas, it is autonomous in only 18%, importing wood in great quantity: a rigorous and respected forest policy modifying the current situation, which is also the cause of environmental damages). But the great discovery of Sanzo Okada, president of the company Hida, was of how to compact “sugi”, soft wood used for furniture, and to assume, with Mari, its nodes and veins, as aesthetical elements. The chair collection by Enzo Mari is an answer to the problem. Which countries got together in the manifestations in order to give an articulated idea of the development of design? England and France. The former with exhibitions spread through the entire city (Great Brits, Designersblock, Design London, besides Tom Dixon and Habitat), though in a combined effort of companies such as Hidden Art (British Council), and other governmental entities; and France with the traditional VIA exhibition, this year at the Alliance Française headquarters with Ora Ïto, the new and talented Parisian “enfant terrible” (see ARC DESIGN 39).

English Version

is, let us say, fundamental. This year, at the Furniture Fair, it became clear that, if the great desired idea does not come up, neither one that invests in it, there is no problem whatsoever: wrap up, involve in, or sprinkle flowers over the old product. Here comes the 2005 innovation. ARC DESIGN already announced, in its issue on the 2004 Fair, the trend towards decorativism, which has reached this year its culminant point – so we hope. But there are the seeds and the ripe fruits…


At the Fair, what were the most elaborated, glossy and colorful projects? Kartell and Edra, this – of course – with the Campana brothers, who presented the Jenette chair in a colorful version at the Fair, and, at the show-room, the Baghdad-Brasília exhibition, the counterpoint between two tables: Brasília, in fragmented and superposed mirrors reflected, as a metaphorical representation, the image represented by its Cathedral; Baghdad, by Ezri Tarazi from Israel, with the map of the city in aluminum profiles, which is the front cover of this issue. * “Para não dizer que não falei das flores” (“not to say that I did not talk about flowers) is the title of a song – almost a hymn of resistance – by Geraldo Vandré, which was recorded during the 1960’s, period of censure and repression in Brazil.

YOUTH: SOUTH AMERICA, CANADA, ISRAEL, JAPAN AND EUROPE – page 28 Experimental design, social projects, innovative ideas, low technology, environmental care and concern, solutions for precarious homes. Distant from luxury, young designers indicate new and possible directions towards a responsible design, exhibit their project at SaloneSatellite, and spread out through the city, occupying several spaces, often in collective exhibitions Maria Helena Estrada

Now in its 8th edition, Salone Satellite is an initiative taken by Fondazione Cosmit Eventi, organized from the beginning by Marva Griffins Willshire. Around 500 entries were registered for Satellite 2005, from five continents, considering that 181 exhibitors were selected, among schools and designers. Growing each year, in quantity and quality, it is at SaloneSatellite where companies search for new talents, the creators of the future.

EUROLUCE 2005: TECHNOLOGY AND BEHAVIOR – page 36 Luminous object or light as a sophisticated – and technological – luminous source? Lampshades, plafonds, lamp holders, chandeliers, or complex equipment for indoor, outdoor and urban lighting? Those are questions answered by the lighting exhibition Euroluce, held in Milan in April. Multiple are the aspects in this field which, every two years, shows in Italy the fantastic development of lighting design

py the place, the feeling is to be looking at a skylight and observing, through it, the sky. As Guinter Parschalk notes, such utilization of lighting design to create new referential elements reflects the transformation which lighting has been experiencing: from simple illumination to an important component in architecture. Besides environmental comfort, it is important to consider psychological comfort, reaching beyond simple luminosity. In the case of Aria, this objective is reached successfully: apart from the psychological aspect already mentioned, indirect and uniform light assures a good level of lighting and visual comfort. But the great release of the exhibition, still according to Parschalk’s evaluation, was the i-Light lamp, which introduces the Planilum® technology, developed by Saint Gobain and utilized exclusively by the Italian company Targetti. It is an evolution of fluorescent light: phosphoric powder and a mix of rarefied gases (xenon/neon) fulfill an extremely fine layer between two glass laminates, which receives alternated electricity produced by two electrodes at the laminates’ extremities. The result is a very fine (2.35 millimeters thick) and transparent set: “a lamp without a light bulb and a light bulb without a lamp”, as explained by the manufacturer. Inside and at the back of the frame that structures the plates there are no luminous sources or electric components of any kind: the glass and the gas in its interior are the light itself. Therefore, when the lamp is lit, the plates become transparent, generating an intriguing effect for the observer. Another positive element is the high durability, estimated in over 40 thousand hours (thanks to the absence of mercury), or over 11 years functioning for a 10-hour daily use! At Ingo Maurer’s stand, a great suspended disc drew special attention: the Big Dish lamp, which explores light in a direct way (guided by the diffuser’s circular opening) and indirect (filtered by translucent glass fiber with squared weft). It is a piece that ensures very pleasing light with high efficiency, once damage percentage after light filtering through the vault is quite small. Also a new release, the floor lamp Satel Light was a variation of this idea, with two basic differences: the vault is articulated (which provides varied angles) and not translucent. A new segment that has been attracting growing attention of the Italian lighting industry is the one of urban lamps. For example, the release, by Flos, of Lamp 45, conceived for indoor or outdoor areas (public or private). In seven sizes, it provides articulation allowing the change of the piece’s form – and the consequent orientation of light – in angles of zero, 45 or 90 degrees. It also functions as a fluorescent or metallic vapor lamp, in three possible finishes: silky aluminum, black frosted epoxy paint or wood (teak). Our editorial staff also highlighted, at Euroluce 2005 and in some parallel exhibitions, new products that stand out for low technology allied to strong formal appeal.

English Version

By the Editorial Staff Technical consultant: Guinter Parschalk

FROM THE AMAZON TO PARIS – page 44

The products highlighted at Euroluce 2005 are not limited to formal discoveries, but incorporate latest technologies or explore the behavioral/psychological aspect linked to projects, which is the case of the Aria lamp, designed by Lapo Grassellini. The piece has the objective of providing a new way of experiencing space: created for indoor environments (and specially recommended for offices), it suggests the idea of contact with outdoor environments. It consists of a squared box with its four sides covered by mirror, while the bottom reproduces the image of a blue sky. For the ones who occu-

On a daring way, Natura opens its first store in nothing less than Paris – the Mecca of cosmetics industries. To win the demanding French public, the Brazilian trademark counts on several tricks, exemplified by the elegant space created by architect Arthur Casas, which promotes a sensorial voyage among certified materials. To finish it up, the shelves display a line of products developed in a sustainable way and made of natural raw-materials. With a differentiated design and especially prepared for the European


Ana Paula Orlandi

Even before being inaugurated in April, Maison Natura already attracted curious looks from who passed by Carrefour de la Croix Rouge, in the Parisian district of Saint Germain des Près. That was due to the shop’s façade, in construction by then, protected by a generous photographic panel showing the Amazon forest “invading” one of the margins of the Seine River. The fictitious image expresses the internationalization strategy of the Brazilian cosmetics trademark, inaugurated in 1969 and now established in Latin American countries such as Argentina, Chile, Peru and Bolivia. According to the company’s entrepreneurs, to differentiate Natura from the stereotyped beauty pattern and invest in the concept of biodiversity and sustainable development, are novelties that tend to please Europeans. Following this concept, the elegant space designed in Paris by architect Arthur Casas, from São Paulo, promises to contribute for the success of the undertaking. Distributed in two floors, the store offers an authentic sensorial voyage through textures, colors and scents. Recalling the company’s philosophy of “Well Being Well”, the second floor has a corner for massages and also a bar, with books and Brazilian records, where one can taste some coffee or typical fruit juice. On the same floor, visitors can also watch conferences and exhibitions portraying the reality of the communities that extract or cultivate the natural active ingredients by Ekos – the only collection sold at the shop, which arrives in Europe with 70 items especially developed for European consumers, such as pitanga foam, andiroba butter and murumuru lotion. “The project’s main challenge was to translate the trademark Natura into a physical space and present it to a public to whom it is unknown,” explained the architect. With this objective, the 200-square-meter store combines natural materials and furniture signed by Brazilian designers. “All materials utilized in the construction are certified, such as the partitions made of banana-tree fiber”, said Casas, who followed closely the four-month work executed by a French group. Actually, a Brazilian atmosphere rules over Maison Natura, open not by coincidence on 22 April, when Brazil was discovered in 1500. In such Brazilian celebrative mood in France, clients had to queue in front of the store decorated for its debut night, which even counted on a waterfall on the sidewalk. Brazilian music, capoeira presentation, besides the sale of handcrafted products completed the party’s menu. With investments estimated around 16 million euros (around 23 million dollars) for the next three years, the store in Paris will work as a pilot-project for a possible expansion to other European countries, such as Germany, England and Italy. According to the research carried out by Natura, Paris is the best place for the debut of such undertaking due to the French refined taste for cosmetics and exotic products. When the Ekos collection was released in 2000, Natura started to put in practice the sustainable use of active ingredients of Brazilian biodiversity. In practice, this contemplates the correct handling of the extractive activity and the companies’ development of partner-communities. Currently, the trademark buys Brazil-nut oils, breu branco (a slimtrunked tree whose resins have sweet aromas) and copaíba from Comaru, a cooperative society composed by 30 families who live in a village nearby the Sustainable Development Reserve of the Iratapuru River, a state-preserved facility with 800 thousand hectares in the south of Amapá.

Natura worked in a pilot-project of sustainable development for the community. The experience was supported by the Non-Governmental Organization Amigos da Terra – Amazônia Brasileira (Earth Friends – Brazilian Amazon), which, in collaboration with the residents, developed several activities of administrative, commercial and productive support. “Besides the initial contract of 12 tons of Brazil-nut oil, Natura advanced part of the money for the construction of a factory for raw-material improvement, helping the community recover,” emphasizes Luiz Cruz Villares, manager of the Services Center for Sustainable Business of Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Among the relevant achievements obtained by the partnership is the certification of the three active ingredients by the green seal FSC (Forest Stewarship Council), which assures that the raw-materials were obtained with minimum possible damage to the forest. The sustainable development also concerns the challenge proposed by Natura to Nó Design, an office in São Paulo owned by designers Leonardo Massarelli, Flávio Barão Di Sarno and Márcio Giannelli. “Our mission was to create a line of bath-accessories to be sold by the store in Paris, which would contribute to the preservation of the environment and generate income to the communities,” explains Massarelli. Therefore, in order to shape the ludic creations, the three professionals selected materials that would meet such requirements. It is the case of the vegetal leather produced by the residents of the Mapiá Unauini National Forest, in the state of Amazonas, besides the Extractive Reserve of Alto Juruá and the Indigenous land Kaxinawá from the Jordão River, both in Acre. Furthermore, the 200 families of the benefited communities learn techniques of production and managerial skills in workshops promoted by Amazonlife – company that commercializes the product under the trademark Treetap. The vegetal agrotoxic-free bath-wad, a material recurrent in this line of accessories by Nó Design, comes from Orgânica, a company that works with a destitute community nearby São Paulo, and from Eco Buchas, a cooperative society formed by agriculturists settled by the agrarian reform in Pontal de Paranapanema, located on the extreme west of the state of São Paulo. “The initiative has resulted into the planting of over one million native trees in the Atlantic Forest and into the improvement of that community’s life quality,” states designer Giannelli.

THE NEW COLLECTANIA: DESIGN AND ELEGANCE CUSTOM-MADE – page 66 When it comes to Italian design, the immediate reference is not exactly Milan, but Brianza, located a little more to the North. From Brianza are the large companies of family formation, which made Italian design so famous, such as MisuraEmme, founded in 1939. Engineer Borgonovo, its director-owner, was here in Brazil to establish an agreement, more precisely, a production license with Collectania, by Liliana Tuneo. What is the major importance of this agreement, besides the possibility of closets production in Brazil with the high “made-in-Italy” quality and competitive price in our market? The Brazilian surety bond. When an Italian company allows its production to be transferred – which, for a long time, we have not seen – it means that the Brazilian industry has already reached an excellent quality level. And, significantly, that Brazilian entrepreneurs also deserve such trust. MisuraEmme produces closets, upholstered furniture, beds, tables, shelves, accessories and, thanks to its company philosophy, propitiates

English Version

consumer, the items emphasize the image of well-being that rendered the company famous


a life style, sophisticatedly simple, attentive towards each detail of its products – from texture color to design. Therefore, what Collectania and MisuraEmme release in Brazil is a new concept, the Sartorial one, that is, furniture tailoring. With an incredible range of modulations, finishes, color and profiles, it is always possible to have your closet custom-made – at the best tailor’s shop! Are the shopping decisions made by women? Great, let us talk in the feminine language, from attention to detail, shades, practicalness. A study of colors and standardization will introduce you to a universe of subtleties perhaps never imagined. This is the repertoire of Italian tailor’s shop Armadi. Marco Liparini is the designer of most of MisuraEmme’s collection, but it is its owner, engineer Gianni Borgonovo, the company’s art-director, who makes it able to continue to make the dreams of the first Italian furniture makers – and ours too – come true.

MAKING UP TO TRADITION – page 68 “Typographic style does not mean any particular style – my style, your style, neoclassical or baroque –, but the power to move freely throughout the domain of typography and to act, step by step, in a graceful and vital way, without being trivial.” Robert Bringhurst

English Version

André Stolarski

The Occidental typographic tradition has been, since last century, systematically taken to pieces and modified through the contact with new languages – such as photography and cinema – or in loose transformation – such as plastic arts and even literature. In Brazil, the establishment of a typographic tradition has never really happened, and the successive technological revolutions from the last 50 years raised difficulties to such historical development. With attention drawn to, during a long time, novelties from these revolutions and detachments, very few authors interested in the essentially conservative aspect of typography produced works inspired by tradition which would not be reduced to renewed versions of old dogmatic manuals. Robert Bringhurst, author of the book “The Elements of Typographic Style”, just-released by the Brazilian publisher Cosac Naify, is a radical exception. Avoiding to see tradition as a moral or aesthetical option, the author produced a seminal work, which suggests (or at least allows) pacific and stimulating acquaintance among legacies of the profession and experimental adventures. “The principles of typography (…) are not a set of dead conventions but the tribal customs of a magic forest, where ancient voices speak from all directions and new ones move to unremembered forms”, he wrote. (To check where this metaphor leads to, try to substitute “magic forest” by “language” and “tribe” by “humanity”.) Therefore, Robert Bringhurst leaves apart the “typographic solitude” of individual experimentation and follows through “the old, well-travelled roads at the core of the tradition. (…) Typography”, the author emphasizes, “thrives as a shared concern, and there are no paths at all where there are no shared desires and directions”. The book also disregards the interest and attractive aesthetical autonomy of fonts and other typographic forms, which are the core of the work of designers such as Wolfgang Weingart from

Switzerland and Tide Hellmeister from Brazil. “Typography”, after all, “exists to honour its content”. The typographer? “Must do its work and disappear”. Regarding these and other challenging matters with clear writing, inspired and very well informed, “The Elements of Typographic Style” became a “spontaneous classic” since its release in 1992, featuring the top of innumerous lists of recommended books about typography. The book combines practical, historical, linguistic, theoretical, technical and poetical texts to an extensive catalogue of fonts selected and commented by the author and to several glossaries that complement the theme. The Brazilian edition also comes with an English-Portuguese glossary of typographic terms with over 300 entries. The following interview was granted exclusively to ARC Design. ARC DESIGN – You have earned considerable recognition as a poet and a writer. Some of your poems were eventually translated to Portuguese by João Cabral de Melo Neto. How did you get in closer touch with typography? Robert Bringhurst – In my twenties, like many young poets, I got together with some friends and founded a small publishing house. One second later, I was struck by an obvious fact: that books, like boats and shovels and houses, have to be designed, either consciously or otherwise, and that their design routinely embodies thousands of years of unconscious and conscious tradition. I knew that I knew nothing about this tradition. So I began to spend a lot of time with printers, typographers and bookbinders, and to read about the history of letterforms and books. This may not have made me a better poet, but it made me a happier and less ignorant one. AD – Your book does not bear the same cornucopia of real-world examples, illustrations and photographies that is to be found in similar publications. It also leaves many contemporary questions behind, dealing with the “heart of tradition”. What is the reason for its striking success? RB – There are a lot of very literate, intelligent, self-directed people who are interested in typography and practising the craft. They don't need typographic cookbooks to tell them, step by step, what they should do. They need – and know that they need – to come to grips with the heart of the tradition. For the rest, they can fend for themselves – and can have a very fine time doing so. AD – To how many languages was your book translated? Were you involved in any particular adaptation? What happened in the countries where the roman alphabet was not the main writing system? How have these experiences affected or altered each of its editions? RB – The first translation – still unpublished – was into Spanish. The Italian and Greek translations came next. Then Dutch, French and Russian, which are all about to come out. I felt that the Greek edition (published by the University Press of Crete) should have more information on the history of Greek type design, so I assembled a portfolio of illustrations and wrote a long, explanatory caption for each one. I made some new illustrations for the Russian translation as well, but I'm not sure how many of these are being used. And before the Russian translation was even begun, Russian readers – especially Maxim Zhukov, who in those days was head of typography at the United Nations in New York – had engaged me in debate about Cyrillic letterforms. They taught me a great deal about a tradition that they, of course, know better than I.


AD – In your book, you refer to the potential contributions of digital technology but also to its narrow mind, as well as to its cultural and typographic limitations. What are the biggest challenges and achievements of this technology? RB – Some people commit themselves to technologies as if they were religions. They ask, "Are you Mac or PC?" or "Are you PostScript or TrueType?" as if they were asking, "Are you Catholic or Protestant?" or "Are you Sunni or Shi'a?" But technologies will not save the planet. Nor will they save the species. Nor will they, in themselves, save any of the stories, traditions or principles that certain members of our species value more than life or common sense or beauty or truth. AD – The type descriptions and evaluations which appear in your book reveal a wide knowledge of the formal aspects involved in type making. Did you ever consider leaping from type analysis to type design? RB – I'm involved on an almost daily basis in the editing of type – that is, in refining designs – but in my opinion, designing type from scratch should be left, for the most part, to those who have the gift. Anytime I spend a few minutes in the company of Hermann Zapf, it is absolutely clear to me that he should be designing type and I should be talking or writing about it. Each of us, in other words, should do what we do best. It's the same with painting – another art that I often write and talk about but have no business practicing myself.

MASTERS OF ARCHITECTURE

MASSIMILIANO FUKSAS INVISIBLE DETAILS Lithuanian descendant, Fuksas was born in Rome in 1944. He opened his studio in the same city in 1967, two years before graduating in Architecture from La Sapienza University. In 1989, 1993 and 2003, Fuksas opened three more offices in Paris, Vienna and Frankfurt, respectively. His professional practice is mainly centered in public buildings of the most diverse typologies, such as museums, sports complexes, parks, schools, cemeteries, stores, cultural centers, hotels and offices. As a common factor in his projects, continuous research on new materials and constructive techniques has contributed for his reputation of “futuristic” architect. Author of high-visual-impact works, Fuksas, however, pursues minimalism in his projects. “The best detail is that which you don’t see; the poetics of details bothers me. The detail I like best drains off water, lets light in; everything works, cold air doesn’t get in, but you don’t see the mechanisms,” stated the architect in an interview to Marco Casamonti (May 2002). Among his latest works, we highlight the entrance of the Graffiti Museum, in Niaux, France (1988-1993), the urban restructuring of the Place des Nations in Geneva, Switzerland (1995-1999), the Twin Towers in Vienna,

Austria (1999-2001), the Armani Emporium store in Hong Kong, China (2001-2002), and the new Ferrari Research Center in Maranello, Italy (2001-2003), besides the new headquarters for the Milan Fair and the Nardini Events and Research Center, published in this issue. “In projects, there are three types of light: a direct one, an indirect one, and a light that nobody knows where it comes from. It is the magical light, the one that, in the alchemy of architecture, transmits emotion”. Massimiliano Fuksas

NEW PAVILIONS OF MILAN FAIR AND NARDINI EVENTS AND RESEARCH CENTER

DEMOCRATIC HIGH-TECH: FROM MACRO TO MICRO A colossal exhibition complex in Milan and a small building in the interior of Italy. The two latest projects by Massimiliano Fuksas experience the innovative spirit of the architect, who conceives, with strong boldness, new design and constructive solutions Winnie Bastian

Future stages of ephemeral shows, the new Fiera Milano headquarters are a great permanent show. Steel and glass pavilions are combined to light undulating roofs, which assume unexpected forms and create a “constructed landscape” in the wide site of the fair, designed by Massimiliano Fuksas and inaugurated in the beginning of April, still ongoing. The new headquarters are located eight kilometers from the actual area, in the district of Rho-Pero, a suburb in Milan, which is a strategic region for highway, railway and airway connections. The complex occupies a 2-million-square-meter ground, which housed, from 1952 to 1992, one of the largest oil refineries in Italy. The choice of the area, which was abandoned, pleased the architect, who also studies urban problems in metropolises. “This project seeks identity, a new geography for the forgotten areas. Peripheries are the true challenge for us, architects”, he asserted in a recent interview to the local newspaper PeRhò. The complex designed by Fuksas is a linear system, structured by a 1.5-km-long central axis, which extends along the east and west entrances and interconnects the eight exhibition pavilions. The buildings are suspended above diversely treated landscaped areas: water, green areas and concrete. The glass and stainless steel façades become the scenery. The central axis’ cover is the “sail”, an undulating lightweight structure wider than 32 meters and 1.3 meters long, resulting in a surface of more than 46 thousand squared meters. Fuksas explains: “the idea is to make the interconnection among the pavilions, the central axis and the entrances a rich journey of architecture and an experience through the sequence of green and water. The great roof modifies, diversifies and defines the spaces.” Rising and lowering to suit the different heights of the buildings, the “sail” reaches, at its highest point, the elevation of 23 meters. The structure that supports such laminated-glass roof is formed by a rhomboidal mesh in prefabricated steel profiles, connected by over 32 thousand spherical nodes. The “sail” is supported by 183 steel columns, which then split to smaller supporting arms above the 12 meters of height. Besides the “sail”, another element characterizes the new pole: the “logo”, a structure that resembles an oceanic wave. Such 36-meter-high pinnacle covers the great hall and congress room of the Service

English Version

AD – Your book emphasizes the polilingual aspect of the roman alphabet, which since long has ceased to fit the twenty-six little slots with which it used to be identified, becoming a kind of planetary ambassador. How do you see its relation with other specific and sometimes fragile writing systems? What risks and changes await typography in this new “Roman Empire”? RB – The alphabet is like a knife. It can be used to perform delicate surgery, to carve exquisite visions, or to mount indiscriminate attacks. It is heartening to see it adapt to local conditions, but this does not eliminate the dangers, which lie in people's hearts, not in the alphabet itself.


English Version

Center; and its constructive conception, a metallic reticule, is analog to the “sail”, although the glazed surface is smaller in order to avoid overheat in closed environments. The short period for the construction (around 30 months for more than 500 thousand squared meters) was a decisive factor in the option for steel: 77 thousand tons of the material were utilized, apart from 200 thousand squared meters of glass and 400 thousand cubic meters of concrete. The complex was inaugurated in the beginning of April, but, due to constructions in the transport system and parking lots, it will be ready in January 2006, when the current exhibition headquarters (which will be called “Fiera Milano City”) will assume a complementing character, operating in 185 thousand squared meters (one third of the actual area). The remaining space will house a new district delineated by three towers designed by Arata Isozaki, Daniel Libeskind and Zaha Hadid. With a quite diverse scale, though also having steel and glass as protagonists, the building that hosts the center for research and events of the Nardini Distillery was inspired by the transmutation of matter: “to distill is like to imitate the sun that evaporates the waters of earth and resends them to the soil in form of rain”. The new structure, located in Bassano del Grappa, a little town in the region of Veneto (north Italy), emerges next to the factory to host events and welcome eno-gastronomic tourists (the company, famous for the “grappa” it produces since 1779, receives around 1,500 visitors per month). Referring to the production process of “grappa” (which starts with the rooted vine to become the alcoholic drink), Fuksas conceives the project from the concept of the constant contraposition of opposite elements: solid x volatile, heavy x light, simple x complex. The project is developed in two “worlds”, as he defines: the first is submerged and the second is suspended. A space sculpted in the terrain as a natural canyon shelters a one-hundred-seat auditorium. The research center’s laboratories are involved by two ellipsoidal transparent bubbles – “a great glass still”, according to the architect. From the poetical vision, a functional and environmentally correct program emerges: the new construction does not hinder the view from inside of the preexistent building (distillery and bottling), and it also provides maximum utilization of available space without having brought down trees. The thematic idea of combining opposite elements is evoked in the building’s language: the sophisticated technologic aspect of the glass bubbles contrasts with the rough materiality of the raw concrete of the auditorium. “Two styles: one is refined, elegant, technological and immaterial. The other is rudimentary, where matter, reinforced concrete, becomes the epiphany of form”, says Fuksas. Established asymmetrically, the bubbles are supported by slender metallic columns – with different inclining angles – and in the oblique volume of the elevator, one central steel structure which holds up most of the weight of the ellipsoidal volumes. Permeating the whole complex is a great water mirror: the architect refers to the “acquavita” which the company has been producing for three centuries.

CONGRESS CENTER EUR – Rome, Italy The building will be formed by a horizontal steel and glass container which will shelter a suspended “cloud”, supported only by the three points where the elevators and escalators are located. On both sides of

the cloud, two parallel “blades” converge, plazas open to the immediate surroundings and to the city. The former communicates directly with the local area, while the latter welcomes conference participants and organizes the various rooms in the center. The 3,500-square-meter steel-and-teflon cloud will hold a 1,800-seat auditorium and several meeting rooms, and will “float” over a 10-thousand-squared-meter surface. Located in a 27-thousand-squared-meter site, the complex will be able to welcome around 10 thousand congress participants. Besides the cloud, two rooms reserved to congresses and/or exhibitions, and a 600-room hotel (situated in a supplementary tower) complement the complex. The project was the absolute winner of a contest carried out in 2002. “During the first phase [of the contest], completely anonymous, we received 12 of 12 votes. It was the most celebrated victory of my life: I was extremely happy for constructing a building in Rome”, said Fuksas in an interview for the newspaper La Repubblica, on February 2, 2005. With an estimated cost of 225 million euros and around 30 thousand squared meters of total constructed area, the convention center will be concluded by the end of 2007.

NEW HEADQUARTERS OF REGIONE PIEMONTE – Turin, Italy A symbolic and easily recognizable building, which may become a new landmark in Turin, is Fuksas’s proposal for the new headquarters of the Piemonte (Piedmont) Region. The 100-meter-high tower is characterized by transparent façades and by the insertion of a series of “blades” in its interior, in different heights and with various inclinations. Unlike what it may appear to be, such solution does not affect the building’s functionality, which will receive around 1,300 people, distributed among 7 counsellorships and 20 administrative departments. Attached to the tower, a horizontally-oriented building will house the convention center and a service center for the city. The interface between the two constructions is a “great void” functioning as an atrium for the offices as well as for the congress center and its adjoining public spaces. With 35 thousand squared meters of constructed area and an estimated cost of 100 million euros, the complex shall be concluded by the end of the first semester of 2006.

MABZEIL – Frankfurt, Germany The program demands the construction on a relatively small surface, of a quite complex structure: offices, a four-star-hotel with a convention center, a fitness center and a movie theater. The differences do not regard only the project’s features, but also the logistics, the opening hours and the structure’s subdivision. For such a wide program, a single access plan would not be enough. Therefore, besides the ground level, Fuksas established another access through the fourth level, directly connected to the groundfloor through a large escalator. The commercial area is positioned on the second and third levels, while the fourth level comprises the movie theater, the sports center and the restaurants, becoming a reference for entertaining activities and the main floor in the building. The fourth floor also plays an important role for the offices: the reception (connected to parts open to the public on the roof) and the tower entrances are located there. A system of voids which descends from the fourth level provides luminosity to the rest of the building and conducts to the underground. With a total constructed area of 70 thousand squared meters, the complex is to be inaugurated in the first semester of 2006.


Project1

5/20/05

8:14 PM

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