R$ 16.50 2007 Nº 52
Nº 52 ARC DESIGN
QUADRIFOGLIO EDITORA
2007
REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO
TIPOGRAFIA – CERÂMICA FEIRAS: PARIS E COLÔNIA DESIGN ANTOLóGICO NA FIESP GREEN HOUSES EM WASHINGTON TRIENAL DE MILãO E O NOvO DESIGN
Rodrigo Zeferino
“Fron tei ras” foi o te ma da mesa-re don da or ga ni za da pe lo Mu seu da Casa Bra si lei ra por oca si ão da mos tra de Má xi mo So a lhei ro. Mas, fron tei ra, é exa ta men te o que ele der ru ba, di lui, ig no ra. Nascido em Sardoá, Minas Gerais, Soalheiro trabalha como oleiro entre 1974 e 1978, quando fabricou todos os ti jo los da Fun da ção Fiat em Be tim, MG. Em 1978,
Mariana Chama
Acima, uma das peças de Soalheiro em cerâmica estampada sobre desenho de matriz tipográfica
di versifica: faz filtros, moringas e “tigelas para despacho”. Seus materiais são a argila e os óxidos minerais; seu instrumental, a curiosidade e a pesquisa. Ao longo do tempo seu trabalho se desloca dos objetos utilitários para aprofundar o conhecimento dos materiais e incluir sua velha paixão – a tipografia – nesse universo. A montagem da exposição é precisa, perfeita. Mas ao co nhe cer a obra des te ar tis ta-ar tí fi ce fi ca mos em dú vi da so bre o que é mais ad mi rá vel: as pe ças ou seu mé to do de tra ba lho. Nes te, tudo é re a li za do de for ma ino va do ra e pes so al – re me te à es cri ta pri mor di al e à lin gua gem da in for má ti ca, do bar ro à tela e ao pa pel, em um per ma nen te ziguezague en tre os su por tes.
Mariana Chama
Puro en can to, que con ta mi nou a to dos que es ti ve ram na mos tra ou vi ram o li vro “Ti po gra fia – Ce râ mi ca”. Como co men tou Ma ri lia Scal zo, “na obra de So a lhei ro tudo co me ça mu i to an tes do co me ço e aca ba mu i to de pois do fim”.
À esquerda, na imagem do centro, visão parcial da mostra, no jardim do Museu da Casa Brasileira. Embaixo, outra perspectiva da ex po si ção com peças únicas em argila com diferentes acabamentos
ARC DE SIGN, como sem pre an te na da no que está para acon te cer, des cor ti na nes ta edi ção os fa to res que afe tam o de sign con tem po râ neo no que diz res pei to aos no vos ce ná ri os mun di ais. São pa la vras de es tu di o sos como An drea Bran zi e Ro dri go Ro dri quez, que ana li sam o pre sen te e de co di fi cam o fu tu ro ime di a to. Mercado global, o aquecimento do planeta, o “dragão” chinês? São todos elementos que determinam o design do século XXI. O acúmulo de materiais não-recicláveis, as novas exigências e preferências do consumidor? Exige-se hoje do designer muito mais do que a solução de problemas técnicos e formais. A Itá lia co me ça a dar sua res pos ta ao “gap” cri a do com o gra du al de sa pa re ci men to dos mes tres do sé cu lo XX, e seu de sign em ble má ti co, au to ral. Veja na ma té ria so bre a mos tra em car taz na Tri e nal de Mi lão. A ar qui te tu ra se de di ca, cada vez mais, à cri a ção de “gre en hou ses”, ou seja, o projeto de espaços sustentáveis. O National Building Museum, Washington, apresenta a mostra “The Green House: New Directions in Sustainable Architecture and Design”. Com ple tan do esse giro pelo mun do, da mos no tí ci as das fei ras de Co lô nia e de Pa ris, e apre sen ta mos uma das me lho res lo jas de de sign em Mi lão. No Bra sil, te mos as no vas cri a çõ es de Mar ce lo Ro sen baum, a es ti lis ta Chia ra Ga da le ta na se ção Lou cos por De sign, além de ma té ri as so bre dois es pa ços ce no grá fi cos – uma lo ja e um café, nos quais a luz de sem pe nha pa pel fun da men tal. Duas gran des ex po si çõ es re a li za das em São Pau lo com ple tam este pa no ra ma do de sign e da de co ra ção. A pri mei ra, que será iti ne ran te, foi re a li za da na FI ESP, em seu novo es pa ço, e re tra ça va um im por tan te e cu ri o so per cur so do de sign bra si lei ro e in ter na ci o nal. A se gun da foi o gran de pre sen te, o es pe tá cu lo de be le za e ex ce lên cia que a ci da de re ce beu. O Mu seu da Casa Bra si lei ra (e po de ria ser ou tro?) abriu suas sa las e seu par que/jar dim para o ce ra mis ta, e ago ra tam bém ti pógrafo multimídia, Máximo Soalheiro. Confluência de linguagens, maestria no trato dos materiais, tecnologia e percepção do novo, ou seja, design. Se você não visitou a mostra, não perca a oportunidade: veja e leia a matéria publicada nesta edição. Bom ro tei ro! Ma ria He le na Es tra da Edi to ra
O ca mi nho de Má xi mo Soa lhei ro, da cerâ mica à ti pografia, resgata velhas for mas de impressão, uti liza matrizes ti pográ ficas, atravessa a tec nologia digital e re torna à argi la. O resultado de suas pesqui sas foi visto na mostra Ti pografia/Cerâ mica, no Museu da Casa Brasi lei ra, em São Pau lo
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O tradicional decorativismo francês agora exibe atitude contemporânea, e os objetos passam a ser “completados” pelas ações do usuário. Confira os destaques da última semana do design de Paris
PROVOCAÇÕES SOBRE O HABITAR
Winnie Bastian
A REINVENÇÃO DO COTIDIANO
Marcelo Lima
Maria Helena Estrada
O RENASCIMENTO E A MÁQUINA DO TEMPO
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Os arquitetos Naoto Fukasawa e Zaha Hadid foram os convidados da Feira do Móvel de Colônia para a apresentação da “Casa Ideal”, instalação com dois projetos utópicos, que acontece a cada ano na Alemanha
NEWS
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ENTREVISTA: MARCELO ROSENBAUM
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CENOGRAFIA AMAZÔNICA
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REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO
nº 52, fevereiro 2007
Exposição que soube unir o design internacional da primeira metade do século XX ao design brasileiro contemporâneo, “Os Segredos do Design Industrial”, realizada na FIESP, SP, chamou a atenção da indústria para os valores e as vantagens proporcionadas pelo design
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Os projetos luminotécnicos das lojas Adidas e do bar-café Nespresso, em São Paulo, traduzem a identidade das marcas e definem áreas de atendimento: do expressionismo ao minimalismo
O proje to ita lia no renas ce com uma nova geração de de sig ners, cu jos pro du tos po derão ser vis tos du rante o pró xi mo Sa lão do Mó vel, na Trienal de Mi lão. No catá logo da mos tra, impor tante tex to de Andrea Bran zi, repro du zido em par te na maté ria
CASAS SUSTENTÁVEIS
Mariana Lacerda
NOVOS CENÁRIOS, NOVO PROJETO
Maria Helena Estrada, baseada em texto de Andrea Branzi
A LUZ COMO DEFINIÇÃO DO ESPAÇO
Da Redação
Maria Helena Estrada
SEGREDOS DO DESIGN INDUSTRIAL
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Ex po si ção no Na ti o nal Bu il ding Museum, em Was hing ton, mos tra que ar qui te tu ra de vanguarda não deve apenas ser boni ta e fun cional: o uso racional de recur sos natu rais tor nou-se impres cindí vel
VOCAÇÃO: LIDERANÇA
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LOUCOS POR DESIGN: CHIARA GADALETA
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COLUNA ASSINADA: RODRIGO RODRIQUEZ
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COMO ENCONTRAR (ENDEREÇOS)
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ÀS COMPRAS EM MILÃO
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ENGLISH VERSION
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ARQ DESIGN 01
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PER SONALIZANDO TENDÊNCIAS A for te tendência do uso de adesivos decorativos em residências gerou a parceria entre a recém-lançada marca I-Stick, – especialista nesse tipo de adesivo – e a 3M, responsável pela qualidade do produto. Sua aplicação pode ser feita em paredes, tetos, vidros e outras super fícies em diferentes estampas. A marca disponibiliza oito linhas, como a Stick Talking-Wall, que inclui poemas, letras de músicas e frases motivacionais, e a Enigma, a qual contém um kit com muitas possibilidades de criação. www.istickonline.com
FOGÃO MÓVEL Se depender da bancada móvel da Facilities, a rotina de cozinhar sempre no mesmo lugar está com os dias contados. Os rodízios desta bancada permitem que o “chef” a posicione em qualquer local: o gás pode ser colocado no seu interior com a mangueira embutida no tampo ou outra opção é o uso da eletricidade. Projetado por Edgar CaRenato dos Anjos
sagranda Arquitetura, em madeira, a peça pode ser encontrada no novo show-room da S.C.A, em Alphaville, São Paulo. S.C.A.: Alameda Araguaia, 640/650, São Paulo. Tel.: (11) 4193-1779 www.sca.com.br
DE ES CULTURA À DECORAÇÃO
OBJETOS DE DESEJO
A sobreposição de lâminas de EVA – a mesma matéria-prima
A loja da nova empresa Glosh, na alameda Gabriel
usada na confecção das sandálias Havaianas –, intercaladas
Monteiro da Silva, está repleta de objetos de
com lâminas de acrílico, forma a cadeira Pazetto, criada pelo
desejo para mesa e cozinha, a começar pelo
designer Wagner Archela. A cadeira com desenho retrô, que
bastão para chá, da Blomus, que substitui os
pesa cerca de 20 quilos “foi concebida originalmente como
famosos saquinhos: as ervas são depositadas
uma escultura repleta de lápis para compor o cenário de um
em um compartimento que se abre quando o
evento promovido pela Fa-
bastão é pressionado. Depois basta colocá-lo na
ber-Castell”, conta Wagner.
xícara. Há ainda a “colher para servir azeitona”, da
Hoje é produzida sob enco-
Blomus, com as laterais mais curvas e um rasgo
menda e em diversas cores
para a saída do líquido. Outra novidade é o espumador de leite, da
como lilás, verde e amarela.
Clatronic, que pode vir acompanhado de peças como um polvilhador
Wagner Archela Design Store: Alameda Araguaia, 762, Alphaville – SP. Tel.: (11) 4689-0465 www.wagnerarchela.com.br
de canela e chocolate. Glosh: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 837, São Paulo. Tel.: (11) 3081-2874 www.glosh.com.br
UM MUSEU ATI VO A SER VIÇO DA CULTURA Design, arquitetura, artesanato, cultura são a matéria-prima do Museu da Casa Brasileira, que tem mostrado o que empenho, critério e uma boa administração são capazes de fazer. Olhando-se em retrospectiva a história e as atividades do museu, desde sua criação, constata-se o óbvio: essa instituição está no caminho certo, e sua diretora, Adélia Borges, merece nosso agradecimento. Primeira semana de fevereiro, e o MCB já hospeda duas importantes exposições; organiza um debate; divulga o livro, publicado pelo museu, que reúne os produtos vencedores de concursos passados; abre inscrições para a escolha de cartazes do Prêmio 2007! A mostra “Prata Italiana do Século 20 – Da Arte Decorativa ao Design”, em exposição até o dia 25 de março, é composta por utensílios da prataria italiana a partir da década de 1960 – quando o design italiano ganha destaque – e que fazem parte do acervo do Museu de Prataria Contemporânea da Fundação Sartirana Arte, de Pavia. As peças são assinadas por nomes expressivos do design, como Roberto Sambonet e Vico Magistretti. Excepcional a mostra “Tipografia/Cerâmica”, inaugurada na mesma data, com duração até 4 de março. Veja matéria de capa nesta edição de ARC DESIGN. Na recepção do museu, está à venda o livro “16º ao 20º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira”, que revela os 105 produtos contemplados em primeiro e segundo lugares, além das menções honrosas da mais antiga premiação de design de produto existente no país. O MCB também comunica que já estão abertas as inscrições (até 3 de abril) para o Concurso Identidade Visual, que irá divulgar o 21º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira. O regulamento e outras informações podem ser encontrados no site www.mcb.sp.gov.br. Museu da Casa Brasileira: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.705, São Paulo.
Marcos Suguio
MODA SUSTENTÁVEL Sustentabilidade está na moda! Ao menos foi esta a sugestão que ficou da São Paulo Fashion Week, ocorrida em janeiro. Mas vale lembrar que a Natura está na moda faz tempo – ao menos há 37 anos, quando surgiu a empresa – e que lançou aos poucos o indicador ambiental no mundo dos negócios. Na 22ª edição do SPFW, a Natura, maior patrocinadora do evento, trouxe ao seu lounge o tema “Conhecer o que se consome é o primeiro passo para a construção de um mundo melhor”. Com esse foco, o cenógrafo gaúcho Beto Von Poser projetou o espaço. O piso foi revestido com uma chapa de composto misto de madeira, cer tificada pelo Forest Stewardship Council, selo que comprova o manejo de florestas seguindo padrões ambientais. Paredes ganharam papel reutilizado, enquanto painéis suspensos, de até 4,4 metros, foram decorados com frascos PET, todos reciclados. A escolha pelos tons claros levou em consideração o aproveitamento máximo da luz. À tarde, ela vinha da fachada envidraçada do prédio da Bienal de São Paulo. À noite, jogos de luzes e sombras envolviam o ambiente e ressaltavam a natureza dos materiais escolhidos: todos de origem e destino sustentáveis. www.natura.com.br
PRATICIDADE E CONFORTO Ecologicamente corretas e funcionais. A nova lavadora – com certificação A pelo Inmetro – e a secadora ECO Turbo, da Electrolux, agregam esses valores por diversos motivos. No caso da primeira, um sistema mede automaticamente a quantidade de água necessária para a lavagem das roupas, de acordo com o volume e a sujeira das mesmas. Dispõe também de um programa chamado Limpeza Profunda/Sanitização, que elimina 99,9% de tipos comuns de bactéria infecciosa. A secadora possui um sensor que detecta a umidade da roupa e desliga automaticamente o ar quente se as roupas já estiverem secas, evitando estragos e gasto desnecessário de energia. Apresenta também programação
exclusiva
BRA SILEIROS NO IF
para toalhas, peças pesa-
Vinte produtos brasileiros venceram o prestigiado prêmio de design
das ou delicadas, tira vin-
IF Product Design Award 2007, sendo que 19 foram inscritos pelo
cos e tem quatro diferen-
Design Excellence Brazil (DEBrazil) e um por iniciativa própria – o
tes níveis de secagem:
Misturador de Lavatório, de Paulo Setúbal, para Deca. O bom índice
mais e menos seca, seca
pode ser comprovado também pelo fato de 35 países terem concorri-
ou levemente úmida.
do ao prêmio e todos os 132 projetos inscritos pelo DEBrazil terem
www.electrolux.com.br
sido selecionados como finalistas. “Isso se deve à alta qualidade e inovação do design brasileiro e à eficiência na escolha de materiais, entre outras características, que são essenciais para a seleção dos projetos”, explica Paula Marques, coordenadora da
PAISAGISMO CORRETO
DEBrazil. Alguns destaques: na catego-
O livro “Rosa Kliass: Desenhando Paisagens, Moldando
ria Produto, a luminária Bossa, de Fer-
uma Profissão”, da Editora Senac, com tex to de Ruth Verde
nando Prado, para a Lumini; e o Brinco
Zein, faz uma retrospectiva por meio de imagens e tex tos
Impulso, de Antonio Bernardo; na cate-
dos melhores projetos da arquiteta paisagista, em meio
goria Estudos Avançados (projetos que
século de atividade, divididos em três etapas: ambiente,
ainda não estão em produção), venceu
cidade e arquitetura. A obra revela também a preocupação
o SADPLA – Vending Machine para pro-
constante de Kliass em imprimir nos seus trabalhos o
dutos de limpeza, que visa a sustentabi-
equilíbrio entre espaço pú-
lidade – de Vanessa Espínola Coutinho e
blico e pri vado, sis tema
Dayane Queiroz.
urbano e natural, cresci-
www.debrazil.com.br
mento econômico e preser vação do am biente. Nas últi mas pá gi nas, há uma versão em inglês. www.editorasenacsp.com.br
AGENDA Prepare o seu calendário para os principais eventos de design, decoração e arquitetura no Brasil e no mundo.
ABRIL •
SALÃO INTERNACIONAL DO MÓVEL, Milão, Itália. Terá
estandes de designers brasileiros no Salão Satélite e mostra de Sergio Rodrigues apresentada pela LinBrasil no Corso di Porta Nuova 52. De 18 a 23.
CIDADE SUSTENTÁVEL O escritório paulistano Andrade Morettin Arquitetos acaba de rece-
MAIO
ber um impor tante prêmio. O “Concurso Internacional Galápagos –
•
Franja O: Urbanismo e Arquitetura Sustentáveis”, lançado na XV Bie-
N. York, EUA. De 19 a 22.
nal Interamericana de Quito, propôs a criação de uma cidade sustentável para solucionar os problemas criados pelo crescimento de-
INTERNATIONAL CONTEMPORARY FURNITURE FAIR,
• CASA COR, São Paulo, SP. Última semana de maio e termina
na primeira semana de julho.
sordenado na ilha Galápagos, Patrimônio Natural da Humanidade. A idéia do escritório foi a de cercar o entorno dos monumentos com um elemento quadrado, com 100 metros de lado. Uma ação de infraestrutura que, entre outros fatores, conteria a mancha urbana e cria-
AGOSTO •
exportação de móveis. De 6 a 10.
ria um passeio perimetral exclusivo para pedestres, o qual atuaria como mediador entre o núcleo habitável, o Parque Nacional e o mar. Também foi indicada pelos arquitetos a criação de uma galeria de ser viços urbanos (como rede elétrica e água potável) no nível inferior desta nova estrutura. www.andrademorettin.com.br, www.baq2006.com
FENAVEM, São Paulo, SP. Feira internacional de vendas e
•
CASA BRASIL, Bento Gonçalves, RS. Feira de móveis,
luminárias e equipamentos para a casa, com foco no design. De 21 a 25. • CRAFT •
DESIGN, São Paulo, SP. Segunda quinzena.
PARALELA GIFT, São Paulo, SP. Feira de design e artesana-
to contemporâneo. Segunda quinzena.
OFÍCIO: DE SIGN GRÁFICO
• GIFT
FAIR, São Paulo, SP. De 18 a 21.
Os recursos e técnicas usados pelo artista
•
gráfico João Baptista da Costa Aguiar para
móveis e acessórios para casa. De 24 a 28.
TENDENCE LIFESTYLE, Frankfurt, Alemanha. Feira de
criar cartazes, capas de livros e logomarcas estão presentes no livro que leva o seu nome, lançado pela Editora Senac e com ensaio crítico de Ethel Leon. Cerca de 350 imagens, divididas em 10 capítulos, expõem o seu processo de criação, a maneira como se formam e se buscam as imagens, por meio de desenhos, mapas, sinais e imagens domésticas. Dessa maneira, a obra expõe também as exigências do mercado focadas em apelos comerciais belos, elegantes e eficazes. www.editorasenacsp.com.br
SETEMBRO • 100%
DESIGN, em Londres, Inglaterra. De 20 a 23.
NOVEMBRO/DEZEMBRO •
BIENAL DE ARQUITETURA, São Paulo, SP. Mostra interna-
cional de arquitetura e urbanismo. De 5 de novembro a 16 de dezembro.
O RENASCIMENTO E A MÁQUINA DO TEMPO Máximo Soalheiro começou sua carreira como oleiro, tornou-se ceramista famoso e hoje mostra o M á x im o
S o a lh e
ir o
resultado de 20 anos de pesquisa com a
ar gi la e com óxi dos mi ne rais, além dos seis anos em que vi rou do avesso e entrelaçou barro, papel, computadores de
No alto, ti jo lo, pro du ção ma nual, 1976. Abai xo, im presso ra Gua ra ni ma nual da dé ca da de 1930, re cu pe ra da pelo desig ner; à es quer da, ob je to s/tí tu lo, im pressão a rolo com o tor no em movi men to, e as co res e tex tu ras tí pi cas da obra de Soa lhei ro
Miguel Aun
Leandro Aragão
última geração e velhas máquinas impressoras manuais
Miguel Aun
Aci ma, Má xi mo Soa lhei ro e, abai xo, al gu mas pe ças da co le ção de se pa ra do res, ou “bran cos”, im por tan tes na cons tru ção dos tra ba lhos ti po grá fi cos e com os quais re a li za obras de pu re za ge o mé tri ca. No pé das duas pá gi nas: com po si ção re a li za da com os bran cos, em di fe ren tes cí ce ros de es pessu ra
Um olhar interior que se desloca, veloz, para a diversidade do mundo. Esse é Máximo Soalheiro, em cujo estúdio/laboratório/oficina tudo foi criado por ele – dos fornos às “receitas” de cores, às pequenas engenhocas, à recuperação de antigas impressoras, à forma de utilizar a informática em seus últimos trabalhos. O resultado foi visto na incrível mostra “Tipografia – Cerâmica”. Nesta trajetória, Soalheiro experimenta, cria, solta seu olhar, e faz nascer um vocabulário próprio, que parte de antigas matrizes tipográficas e do barro, passa pelo papel, atravessa as vias da computação gráfica e retorna, transformado, ao barro e ao papel.
Miguel Aun
Maria Helena Estrada
Arquivo Atelier
Aci ma, an ti go for no que, como os de mais, foi pro je ta do e cons tru í do pelo ce ra mis ta. Abai xo, nas duas pá gi nas, com po si ção com ce râ mi cas em di men sõ es va ria das, estampadas, totalmente fechadas e ocas – um exercício de maestria de Máximo Soalheiro
Miguel Aun
O processo de trabalho é longo e minucioso. Soalheiro
cores, utilizando-se da mistura de minérios – que ele
viaja para escolher, na fonte, as argilas que lhe servem
conhece profundamente –, como, aliás, tudo em que
e atravessa, paciente, todas as necessárias e ancestrais
“põe a mão”. Mas não é nesse trajeto que está sua origi-
etapas para o preparo do material. Marilia Scalzo, no
nalidade, e sim nas maneiras pessoais de percorrê-lo,
texto do livro que acompanha a mostra, cita um ditado
sem se servir de modelos já explorados, mas recriando
chinês que bem traduz essa etapa do trabalho: “o avô
a matéria a partir de pesquisas e conhecimentos cientí-
tira a argila para os netos trabalharem”.
ficos, persistência, prática e intuição. Assim nasceram
Peças torneadas, aplica-se o engobe, pele do barro, com
os objetos utilitários de Máximo Soalheiro.
receita desenvolvida pelo ceramista; faz-se a queima
E a tipografia?
biscoito; aplica-se a tinta. Soalheiro, ao longo de suas
“Da discussão sobre a materialidade da cerâmica – e
experiências, desenvolveu cerca de 1.500 provas, ou
das dificuldades que ela impõe –, Soalheiro parte para
Rodrigo Zeferino
Aci ma, ti ge las de bar ro e de por ce la na, com pa re des fi níssi mas, dão uma idéia da pa lhe ta de co res desen vol vi da por Soa lhei ro. Abai xo, um dos mu i tos ar te fa tos cria dos por ele: um ro le te para im pressão uti li zan do mo ti vos ti po grá fi cos, e a peça de argi la já im pressa por esse mé to do
as experiências com papel” ... “a tipografia e o trabalho
Transitar com os minérios nessas mídias é a possibilidade de chegar mais perto das cores desenhadas na cabeça”, escreve Scalzo. Soalheiro vem colecionando, ao longo de suas viagens, uma enorme variedade de antigas matrizes tipográficas, com motivos decorativos ou letras, bem como separadores, ou “brancos”, seja em chumbo ou madeira. Em um dado momento, já com algumas idéias na cabeça, encontra duas velhas impressoras – uma
Miguel Aun
com imagens digitais permitem maior controle visual.
Miguel Aun
Aci ma, alguns dos óxidos mi ne rais que se rão uti li za dos nas tintas, já tritu ra dos e pu ri fi ca dos na pró pria ofi ci na. Soa lhei ro vi sita as re giões ri cas em mi né ri os, es co lhe as “pe dras” e re a li za to das as ope ra çõ es ne ces sá ri as para a trans for ma ção do mi né rio bru to em ma te ri al para pin tu ra
Heidelberg, de 1950, e uma Guarani, de 1930 –, além de um prelo de 1930, os quais ele restaurou, desenhando e fabricando pequenas peças faltantes. Era o início das experiências tipográficas, que o levariam à linguagem digital – e de retorno. Como é realizada essa operação? Os elementos gráficos são utilizados para criar modulações. Esses elementos são fotografados, depois reproduzidos vetorialArtur Miglio
mente no computador ou escaneados, impressos sobre
20 ARC DESIGN
um fundo de cor mineral, seja em impressão mecânica ou captação digital.
José Israel Abrantes
Nas duas pá gi nas, abaixo, sé rie de “co pi nhos”, provas de co res que reú nem as to na li da des e tex tu ras – cer ca de 1.500 –, ob ti das por So a lhei ro em suas pes qui sas, as quais são ca ta lo ga das e suas “re cei tas”, con ser va das. Ao lado, peça em vidra do Ten mo ku so bre por ce la na. No pé da pá gi na ao lado, exem pla res do li vro Ti po gra fia – Ce râ mi ca, que reú ne as obras da ex po si ção
Miguel Aun
“Soalheiro imprime um novo olhar na tipografia. Não é ti-
de imagens, de edição. Ele mistura as técnicas e con-
pografia nem cerâmica – fica difícil denominar, encontrar
seguiu mesmo fazer passar, ou “queimar”, o papel no
lugar, renomear”, comenta o designer gráfico Marcelo
forno de cerâmica para obter a fusão de minérios. O
Drummond. E acrescenta: “ele é um híbrido que trabalha
resultado é belo e surpreendente. Mas para ele, “o co-
com a dissolução de fronteiras entre as linguagens”.
nhecimento só ganha sentido se for capaz de determi-
Para chegar a esse resultado, Soalheiro tornou-se gran-
nar escolhas e se estiver a serviço da necessidade de
de conhecedor de argilas de diversas procedências;
se descobrir e se contar”.
de minérios e suas misturas, suas fusões, seu peso
O que ele denomina de Azulejaria Tipográfica é o resulta-
atômico; da natureza do papel e suas reações; da
do de modulações a partir das pequenas matrizes tipográ-
construção de fornos e de suas diversas performan-
ficas. Também aqui ele inventa artefatos que lhe permitem
ces; da tecnologia digital de impressão, de captações
a impressão e a texturização, seja na argila ou no papel. 21 ARC DESIGN
Aci ma, lado a lado, im pressão no pa pel e na ce râ mi ca, com uti li za ção de uma pe que na ma triz ti po grá fi ca – me to do lo gia cri a da por Soa lhei ro, que vai da ar gi la ao pa pel com eta pas que re cor rem ao uso da in for má ti ca, e re a li za a ma gia do con jun to. À esquerda, car tõ es-pos tais uti li zan do di fe ren tes co res e mo ti vos ti po grá fi cos
Miguel Aun
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Guto Lacaz, outro admirador da obra de Soalheiro, escreve: “Ele mistura tipografia com mineralogia. Faz a peça gráfica passar pelo forno. É um bruxo que articula com tudo que tem à mão, com tudo o que conhece”. Na exposição e no livro que a acompanha, Soalheiro mostra a excelência e a diversidade de suas linguagens como artista, ceramista, tipógrafo, designer gráfico, autor, impressor e editor. Por que o Renascimento nos vem à cabeça quando visitamos o local e o trabalho de Soalheiro? Ressurgir,
Miguel Aun
acordar, renovar-se em tudo o que diz respeito aos sentimentos, idéias e usos, parece ter sido uma das características do Renascimento. Sem nos atermos muito a detalhes ou à precisão histórica, vemos essa época ser representada por figuras que souberam criar e recriar, olhando para o futuro, sem limites, sem fronteiras, libertos do passado, mas capazes de aproveitar seus ensinamentos. ❉
Acima, ob je to s/tí tu lo, im pres são com ma triz ti po grá fi ca so bre grés; à di rei ta, peça tam bém em grés, im pres sa pelo mes mo mé to do. Abai xo, nas duas pá gi nas, com po si çõ es com a co le ção de ma tri zes ti po grá fi cas, par te da co le ção de So a lhei ro, en con tra das em di ver sas par tes do mun do Miguel Aun
A obra de Máximo Soalheiro esteve em exposição no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, entre 03 de fevereiro e 03 de março; a partir de 25 de abril, a mostra poderá ser visitada no Centro Cultural Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Rio de Janeiro.
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MAISON & OBJET E SALÃO DO MÓVEL, PARIS
A REINVENÇÃO DO COTIDIANO Orgulhosa de suas tradições, a França mergulha – de cabeça – na onda decorativa que invadiu a praia do design internacional. Mas atenção! É preciso ir além das aparências. Por trás de todo o visual retrô, o que não falta é atitude. E contemporânea Aci ma, de ta lhe de fi xa ção do sis te ma de mo bi li á rio co le ti vo Bou gez Les Meu bles, dese nha do por Noé Noviant, a par tir de ca dei ras de alu mí nio que se en tre la çam la te ral men te (abai xo), dan do ori gem a um con jun to de assen tos in ter li ga dos que pode assu mir di ver sos ta ma nhos. À di rei ta, o es cul tu ral man ce bo de pa re de com bolas de es pu ma re ves ti das em cou ro, do gru po pa ri si en se Eno, pro põe uma ati tu de des po ja da e al ter na ti va para o ato de pen du rar o ca sa co
Marcelo Lima Caleidoscópico, o espelho emite sinais luminosos à menor aproximação, enquanto, na parede, o portacasacos formado por bolas e cordas aguarda a intervenção de seu usuário para assumir sua conformação final. Condição experimentada também pelo mais novo integrante da família Starck: um utilitário de desenho híbrido, com taça e prato fundidos em um mesmo objeto. Ou ainda com a mala compartimentada desenhada por Inga Sempé. Invocando a supremacia do uso – não raras vezes sobre a própria função do objeto –, a semana do design de Paris (Salão do Móvel e Maison & Objet à frente) prenuncia tempos de maior interatividade e leveza para o desenho francês. Um sopro de renovação mais do que bem-vindo, principalmente se tomarmos por base a tradição decorativa francesa, afeita há décadas à idéia da peça-ícone, não raras vezes carregada de excessos estilísticos.
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Aci ma, va li se com com par ti men tos da fran ce sa Inga Sem pé para o VIA: uma mala que se trans for ma em cô mo da as sim que che ga a seu des ti no, co lo can do cada item da ba ga gem ao al can ce do seu dono,
por sim ples ex ten são da es tru tu ra. Abai xo, um dos cor re do res do Pa lá cio de Ex po si çõ es da Por ta de Ver sa lhes, sede do Sa lon du Meu ble, edi ção 2007
Propostas menos formais e pretensiosas, que parecem retomar o prazer da descoberta – e a alegria dos pequenos gestos –, convocando o consumidor para tomar parte no processo criativo, aparecem na maioria das novas coleções, abrindo a possibilidade de uma conexão ainda maior ao objeto. Aparentemente aberto e incompleto, o objeto parece aguardar que seu usuário a ele acrescente um dado novo, capaz de trazer à tona um produto único, em última análise, a expressão de suas escolhas. Uma atitude que exige uma consideração maior pelos objetos que povoam o cotidiano, transformando o ato anônimo em criativo. Na raiz desse processo de renovação, a atuação do VIA, que há 27 anos desenvolve seus programas de financiamento (Carte Blanche, o mais amplo deles, e Les Aides à Projets), contribuindo para a afirmação de jovens designers (não apenas franceses, mas baseados na França), tendo revelado importantes nomes no cenário internacional. Este ano, por exemplo, Inga 25 ARC DESIGN
À esquerda e abaixo, Miss Folding, mesa desmontável desenhada por Pierre-Léon Luneau em papelcartão dobrável: apresentado como uma folha, o móvel só adquire sua conformação após ser montado pelo usuário; ao final, uma capa com zíper dá estabilidade ao conjunto
Abai xo, de ta lhe de um dos pés da mesa Mi gra ti on – em fi bra de vi dro re for ça da com alu mí nio –, de Matt Sin dall, in glês ra di ca do em Pa ris pa tro ci na do pela Car te Blan che em 2007 e que pes qui sa pa drõ es de co ra ti vos apli ca dos a mó veis con tem po râ ne os
Sempé e Matt Sindall foram os escolhidos nos quadros da premiação principal. Com uma série de objetos de desenho marcadamente simples, Sempé foi responsável por alguns dos melhores momentos da feira deste ano, com uma eficaz estante com acesso duplo, além de uma série de pequenos e interessantes objetos de uso cotidiano. Menos conceitual, Matt Sindall, por sua vez, insiste no discurso ornamental e pesquisa motivos decorativos obtidos por computação gráfica, para fazer deles sua principal referência em dois novos produtos: a poltrona “It got in the way” e a mesa “Migration”. Entre os projetos individuais patrocinados pela instituição, o destaque foi a Chair#71, projeto de Amma Eloueini e François Brument: uma cadeira obtida por protipagem rápida, em plástico, com desenho que reproduz sequencialmente uma estrutura tipo colméia. De sabor deliciosamente pop, o destaque no circuito das galerias parisienses ficou por conta do trabalho de 26 ARC DESIGN
Aci ma, o es pe lho cria do por Oli vi er Si det emi te si nais lu mi no sos pro gressi vos, por meio de um pro je tor ins ta la do em cai xa de aço – que fun ci o na como dis tan cia dor. Em car taz na To ols Ga le rie. Na se quência, ele gan te e des car tá vel, a ban de ja em plás ti co Lux, dese nha da por Phi lip pe Starck, traz pra to e taça aco pla dos no mes mo ob je to
Olivier Sidet, cartaz na Tools Galerie do Marais, com sua série de espelhos com efeitos luminosos e um conjunto de lustres em borracha, que ironicamente injetam atitude contemporânea a formas e comportamentos herdados do passado. Em suas palavras, como uma tentativa de retomar uma aura perdida em peças nas quais todas as questões já foram respondidas e todos os mistérios, desmistificados. Um enfoque também presente nas criações do grupo Eno, com uma série de objetos simples nas formas e nos materiais, como cintas capazes de transformar pilhas de livros em bancos ou tiras equipadas com bolas dependuradas em paredes para funcionar como porta-casacos. Sinal dos tempos, nem o ícone Philippe Starck escapou da onda de renovação que parece contaminar o design francês. Além de sua bandeja Lux, um de seus clássicos, a poltrona Mademoiselle, ganhou guarda-roupa novo, assinado pelo primeiro time da moda internacional. O figurino? Ao usuário de “choisir”... ❉
Acima, ob ti da por pro to ti pa gem rá pi da, a ca dei ra Chair#71, dese nha da pelo li ba nês Am mar Elou ei ni e pelo fran cês Fran çois Bru ment em fi bra de po lia mi da. Par tin do do con cei to de me to do lo gia do movi men to, a es tru tu ra tipo col méia, con ge la da em 3D na tela, desen ca deia a pro du ção de uma nova ca dei ra
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IDE AL HOU SES CO LOG NE
PROVOCAÇÕES SOBRE O HABITAR O mo rar em duas pers pec ti vas di ver sas.
Há alguns anos, a Feira do Móvel de Colônia criou um evento no qual convidava dois profissionais do proje-
Zaha Ha did e Nao to Fu ka sa wa lan çam suas in ter pre ta çõ es da casa con tem po râ nea – ou
to para apresentar suas versões da “casa ideal”. A proposta, que provoca e surpreende os visitantes, fez tanto sucesso que se tornou permanente na feira alemã,
do fu tu ro? – e pro vo cam os vi si tan tes na
realizada todos os anos em janeiro. E se a intenção é provocar, os nomes escolhidos na edição 2007 – e
mais re cen te edi ção do já tra di ci o nal even to
seus projetos com abordagens opostas – não poderiam ser mais apropriados: a arquiteta israelense radi-
“Ide al Hou ses”
cada em Londres Zaha Hadid e o designer japonês Winnie Bastian / Fotos Koelnmesse
Naoto Fukasawa.
Nas duas pá gi nas, a “casa ide al” de Zaha Ha did, for ma da por cur vas e con ca vi da des. Aci ma, vis ta ex ter na: ape sar das es ca va çõ es, per ma ne cem al gu mas re fe rên ci as ao cubo ori gi nal. Na pá gi na ao lado, os es pa ços in ter nos trans mi tem sen sa ção de aco lhi men to, o que de no ta a re le vân cia dos as pec tos emo ci o nais no tra ba lho de Ha did
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Nas duas pá gi nas, vis tas da casa cri a da por Nao to Fu ka sa wa. Aci ma, à es quer da, vis ta ex ter na: o de sig ner fez uma in ter fe rên cia mí ni ma nas pa re des, ape nas o su fi ci en te para per mi tir a pas sa gem dos vi si tan tes. Na se quên cia, um dos es pa ços in ter nos: des ta que para o con tras te de es ca la en tre os mó veis, de ta ma nho pa drão, e as pa re des su per di men si o na das
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A proposta de Hadid, coerente com sua linha de traba-
Na proposta de Naoto Fukasawa, por outro lado, pare-
lho, é pontuada por formas orgânicas esculturais. A ar-
des e móveis são estruturas separadas e independen-
quiteta escavou o interior do cubo – unidade básica de
tes. Por meio desse projeto, o designer nos fala da des-
todas as “ideal houses” – para criar cavidades que abri-
materialização que permeia os processos contemporâ-
gam os ambientes.
neos: muitas coisas que nos são familiares do cotidia-
Hadid vê sua instalação como expressão da consciên-
no desaparecem ou perdem sua forma e presença físi-
cia crescente das pessoas sobre a importância do am-
ca, em diversas esferas – arquitetura, mobiliário, ves-
biente ao seu redor. No habitar contemporâneo, é cada
tuário. As paredes, por exemplo, hoje assumem funções
vez mais comum a utilização do espaço não apenas
que ultrapassam a simples criação e definição de uma
para propósitos funcionais, mas também para aqueles
estrutura espacial, como a integração de iluminação e
emocionais. Assim, a estrutura proposta pela arquiteta
equipamentos de som e vídeo. E foi justamente este o
remete à forma tradicional da casa, no sentido de uma
elemento simbólico escolhido por Fukasawa: paredes
concha protetora. Todo o resto, contudo, não tem nada
extremamente altas dominam o ambiente, mas ao
de convencional: a impressão é a de um ambiente vivo,
mesmo tempo direcionam, por meio do contraste, a
com formas “líquidas” – valorizadas pelo alto brilho das
atenção do espectador para o mobiliário, evidenciando
superfícies –, e no qual o mobiliário – também criado
seu papel de interface entre o homem e as paredes.
por Hadid – “brota” das paredes e do piso, resultando
Para o designer, é preciso escolher o tipo de mobiliário
em um ambiente fluido e contínuo.
que precisamos em razão de seu valor emocional e de
Nes ta pá gi na, dois exem plos da “ab sor ção” dos equi pa men tos pe las pa re des, uma re a li da de apon ta da por Fu ka sa wa em sua pro pos ta: aci ma, um ni cho aco mo da o equi pa men to de home the a ter; abai xo, o apa re lho de CD com design mi ni ma lis ta (pro je ta do por Fu ka sa wa para a Muji) tam bém é ins ta la do di re ta men te na pa re de
conforto, e então usá-los para projetar o espaço vazio da casa ideal. Ao levantar questões como estas, Hadid e Fukasawa nos chamam à reflexão, saudável e necessária, sobre diversas questões do hábitat contemporâneo. Mas este não é o único benefício de eventos como o Ideal Houses. A arquitetura efêmera é valorizada pelos arquitetos e designers tanto pela liberdade que permite como por seu valor experimental. “A rápida realização dessa arquitetura temporária nos oferece a oportunidade de trabalhar com engenheiros para examinar as novas tecnologias e sua adequação ao uso com grandes dimensões”, explica Zaha Hadid. Graças a experiências como essas, é possível levar mais longe o “princípio do design de cavidades”, acredita a arquiteta. Provocação conceitual e inovação tecnológica/matérica: união perfeita! ❉ 31 ARC DESIGN
Flavio Serafini Thomas Susemihl
SEGREDOS DO DESIGN INDUSTRIAL Uma exposição do melhor do design brasileiro e internacional, realizada em plena Avenida Paulista, certamente revela segredos. E não apenas revela, como faz o público em geral – não apenas aquele especializado – saber de onde vem, por que existe, por que é tão famosa essa palavrinha – design Maria Helena Estrada 32 ARC DESIGN
Aci ma, vis ta ge ral da mos tra; em pri mei ro pla no, o mo bi li á rio de Le Cor bu si er, Char lot te Per riand e Pierre Je an ne ret, de 1928. À direita, ta lhe res Camping, design José Car los Bor nan ci ni e Nel son Ivan Pet zold, cria dos em 1974 para a Hér cu les S.A. No pé da pá gi na ao lado, alguns dos pro du tos bra si lei ros pre mia dos no IF Design: fil tro para água da Dap Design e bowl para marinar Origin, de Gértri Bodini
Realizada no andar térreo do prédio da FIESP, a mos-
A mostra – que reúne peças do design internacio-
tra promovida e realizada pela Federação das Indús-
nal do finalzinho do século XIX à década de 1960,
trias do Estado de São Paulo podia ser visitada de 12
e ainda o design brasileiro contemporâneo pre-
de dezembro a 19 de janeiro. Agora seu percurso se
miado em Hannover, no IF Design Awards – reto-
estenderá por diversas cidades brasileiras.
ma uma história iniciada há muito tempo: a aqui-
“O design sempre foi o grande instrumento de inova-
sição, pela FIESP, em 1978, do acervo original da
ção na indústria”, afirma Paulo Skaf, presidente da
primeira coleção permanente do MoMA, N. York.
FIESP. “Conscientes dessa importância, decidimos
Exposta na época, essa coleção ganha agora uma nova
realizar a exposição ‘Segredos do Design Industrial’,
apresentação, didática, que destaca os grandes nomes
que inaugura o Espaço FIESP, com o objetivo de pro-
na criação do mobiliário e dos objetos do século XX e
mover a indústria, levando à população em geral o
XXI, além dos conceitos básicos do design, por meio
que existe de melhor na área”, acrescenta.
de citações de mestres, como José Mindlin e outras 33 ARC DESIGN
Flavio Serafini
personalidades internacionais, das mais diversas,
os resultados que os transformam em “casos de sucesso”.
como Coco Chanel e Louis Kahn.
No momento em que o design passa a ser visto como a
Com direção e cenografia do arquiteto Ary Perez, e cu-
mais poderosa arma para enfrentar a competitividade
radoria de Cyntia Malaguti, foram selecionadas 150 pe-
mundial, recolher mais de um século da história dos ob-
ças do acervo da FIESP, e cerca de 50 produtos brasilei-
jetos induz à reflexão sobre a natureza mutante desse
ros contemporâneos, de aparelhos eletrônicos a jóias, e
exercício criativo, bem como seus parâmetros e objetivos.
muitas, muitas cadeiras... o grande desafio do designer.
“Estamos no início de uma transformação material do
A mostra, embora dividida em duas partes distintas que
mundo, tão imensa e veloz quanto foi a internet nas co-
realizam um salto no tempo, consegue perfeita integra-
municações”, afirma Ary Perez. ❉
ção, ou simbiose entre as partes, traçando uma história do design que tem início em 1860, com a cadeira de balanço Thonet, chegando em sua parte internacional até a poltrona Donna, da série Up, de Gaetano Pesce, e a luminária Boalum, de Livio Castiglioni, ambas de 1969. É também uma verdadeira contraposição entre os mestres do século XX – aquele do design emblemático – e a produção brasileira na virada para o século XXI. Nesse conjunto de mais de 200 peças, comenta Cyntia Malaguti, recorremos a uma “lente de aumento” sobre cerca de 20 produtos, para recontar sua história, o processo e 34 ARC DESIGN
Denise Andrade
© Antonio Bernardo
Aci ma, pai néis ex pli ca ti vos so bre os pro du tos e, em pri mei ro pla no, pro du tos bra si lei ros também pre mi a dos em Han no ver: guar da-sol Spi rit, de sign Cel so San tos e Chris ti an Al ba ne se, do es tú dio Rio 21 De sign, e ob je tos em es ta nho de Car los Al can ta ri no. À esquerda, anel Puzz le, de An to nio Ber nar do. Abai xo, uma das es tru tu ras em pa pe lão cor ru ga do cri a das por Ary Pe rez, que apre sen tavam a ver ten te di dá ti ca da mos tra
Denise Andrade Thomas Susemihl
Aci ma, em pri mei ro pla no, da direita para a esquerda: ban que ta, de sign Poul Kjae rholm; ca dei ra com bra ços, de Joe Co lom bo; e Faia Chair, de Bru no Math son; ao fun do, me si nhas, de Al var Aal to. Na foto abai xo, vi tri ne com em ba la gens, como as da Na tu ra Ekos, de sign Fi lo me na Pa dron, e pro du tos que re ce be ram o Prê mio IF, como o pren de dor de rou pas mul ti u so, de sign de Ta ci a na de Abreu e Mar ce la Al bu quer que, e o por ta-copo para café Loop, da Ber tus si De sign dus tri al
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A SEN SA ÇÃO QUE VEM DA LUZ Dois pro je tos dis tin tos, os das lo jas Adi das e Nes pres so, em São Pau lo, mos tram como é pos sí vel uti li zar a luz para pro du zir am bi en tes que es ti mu lem sen sa çõ es di ver sas, como mo vi men to e quie tu de
Marcio Bruno
Da Redação O projeto leva a assinatura de Francis Krempp, arquiteto francês. Foi ele o responsável pela ambientação das Boutiques Bar Nespresso existentes no mundo: N.York, Munique, Praga, Frankfurt e, a mais nova da rede, São Paulo, inaugurada em dezembro de 2006. O projeto de iluminação ficou a cargo da equipe da La Lampe, que, seguindo a linguagem da marca, utilizou luzes fluorescentes suaves, de apenas 35 watts, na iluminação geral. As prateleiras embutidas, por sua vez, receberam lâmpadas do tipo AR 111. “A idéia foi a de valorizar os nichos”, diz a designer Solange Costa, que coordenou o projeto luminotécnico. Com isso, o
Nas duas páginas, Boutique Bar Nespresso. Nesta página, acima, potes de acrílico fazem as vezes de luminárias, completando a iluminação. Marcio Bruno
Abaixo, feixes de luzes focados, produzidos por lâmpadas dicróicas embutidas, ajudam a definir os ambientes
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Marcio Bruno
Marcio Bruno
maquinário utilizado pela Nespresso para moagem e
em São Paulo. As três listras da grife
passagem do café, assim como suas xícaras, foram
alemã seduzem o olhar do visitante
valorizados e incorporados à decoração da casa.
em meio aos 750 metros quadrados da primeira
As cápsulas de alumínio colorido e vibrante, que
loja-conceito da marca na América Latina. O projeto
conservam, a vácuo, o café moído também foram
tem inspiração na filial do Soho, em N.York, onde pre-
destacadas pela iluminação e são parte integrante do
domina a cor preta. “Mas fomos além”, diz a arquiteta
ambiente. O resultado final sugere que o ambiente
Patrícia Anastassiadis.
seja a própria expressão do que de melhor ele ofere-
Foi a ela, exímia na criação de espaços comerciais e cor-
ce: acolhimento. Uma idéia cada vez mais presente
porativos, que a Adidas no Brasil confiou a ambientação
do quanto a iluminação pode ser parte importante na
da sua nova loja. Para ir além, Anastassiadis diz que
expressão de uma marca.
abusou dos tons escuros. E tirou partido deles para evi-
Outro exemplo é a loja da Adidas, na rua Oscar Freire,
denciar as três listras brancas que, desde 1946,
No alto da página, prateleiras receberam lâmpadas do tipo AR 111, destacando os nichos. Abaixo, os pendentes em seda valorizam o balcão dos Marcio Bruno
baristas; as cápsulas coloridas de alumínio que conservam o café moído são ícone da marca: iluminadas, foram incorporadas à decoração
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Nesta página, vistas internas da loja Adidas. Para iluminar as três listras brancas da marca, a La Lampe usou tecnologia Barrisol: lâmina de PVC de alta resistência que possibilita a instalação de spots de iluminação. Para os feixes diretos (acima, à esquerda), foram escolhidas as luminárias Wall T5, para destacar nichos e objetos
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traduzem a imagem da empresa. Conseguiu imprimir,
projeto. Ela aparece sugerindo dinamismo, ao mesmo
então, em todos os espaços da loja, o principal conceito
tempo que pontua os lugares onde estão as peças de
da marca alemã: movimento.
roupas, tênis e acessórios, objetos que, para além de
As três listras paralelas surgem na fachada e, já no inte-
esportivos, fazem parte do atual universo fashion.
rior da loja, fazem as vezes de uma única luminária que
O projeto de iluminação tinha como desafio vencer o
rasga ambientes e segue contínua até o piso superior.
tom escuro do interior da loja, que Patrícia resume
Mais que evidenciar os produtos, a intenção foi a de
como sendo uma “caixa preta”. A La Lampe forneceu
instigar a sensação de locomoção. “A faixa de luz natu-
as luminárias e lâmpadas que, por sua vez, foram dire-
ralmente conduz o visitante a todos os lugares”, diz
cionadas pontualmente entre nichos, provadores e um
Patrícia. A iluminação, portanto, foi ponto crucial em seu
simpático hall no centro da loja. ❉
21X28_ARCAF.pdf
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9/2/2007
10:00:59
ENTREVISTA:
MARCELO ROSENBAUM Ele é um exí mio con ta dor de his tó ri as. E tam bém ado ra es cu tar ca sos. A pon to de di zer que se ali men ta dis so, de con ver sas, di á lo gos. É as sim, com olhos e ou vi dos aten tos pelo Bra sil afo ra, co nhe cen do pes so as – seus gos tos e há bi tos –, que Mar ce lo Ro sen baum co lhe o re per tó rio vi su al de ob je tos, es pa ços de in te ri o res e ce ná ri os que pro je ta e pro duz. Ao fa zer isso, con se gue unir os pa ra do xos do país: sim pli ci da de e exu be rân cia. Como? Ele ex pli ca, nes ta con ver sa Mariana Lacerda
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Acima, o stu dio de Marcelo Rosenbaum: ob je tos que re me tem às suas lem bran ças e à cul tu ra po pu lar bra si lei ra. Na página ao lado, de co ra ção para a loja Plas tik: re ves ti men tos com ma te riais 100% re ci cla dos, ga rim pa dos em ca çam bas de lixo nas ruas de São Pau lo
ARC DESIGN – Você diz que seu tra ba lho é in tu i ti vo. Como?
da mais. Além disso, tem uma questão de memória muito
MAR CE lo Ro SEN bAuM – In tu i ti vo por que não par to com ne -
presente. Por exemplo, quando crio um espaço que será ocu-
nhuma tese, nada preconcebido. Eu deixo a minha intuição
pado por uma pessoa, resgato suas lembranças, símbolos que
entender e interpretar a personagem. Que pode ser você, um
lhe tragam vida. Isto serve para uma casa, uma loja ou um
ami go, um cli en te. E to dos são tão di fe ren tes. Daí ser pos -
lounge e tem a ver com acolhimento, pois nos sentimos con-
sí vel dei xar a in tu i ção mais agu ça da, li vre. É ela quem vai na
fortáveis quando estamos em lugares cujos ícones fazem par-
frente, seguida dos sentidos. Ouvir, observar, conversar. Tudo
te de nossa memória afetiva.
sempre ligado. AD – Nesse sentido, o Brasil é uma enorme fonte de referências? AD – Tudo?
MR – Muito farta. É a nossa memória, é o nosso país, apesar
MR – Sim, a moda, por exemplo. A moda enquanto comporta-
de ser bastante diverso. Eu sou um exemplo dessa mistura.
mento. O jeito como alguém se veste diz sobre sua persona-
Sou filho de um pai que tem ascendência alemã e russa, en-
gem, tipo. Além da música que ouve, o lugar onde sai, viagens,
quanto minha mãe tem traços italianos e portugueses. Ao
o carro que tem ou não, a arte que consome. O conjunto disso
mesmo tempo que somos tão diversos, existe nisso algo de
constitui um ser humano. E são elementos que você só percebe
original e único. Que, em geral, usamos pouco, ou seja, recor-
se aproximando do outro.
remos pouco à nossa memória.
AD – Cada vez mais, você uti li za íco nes da cul tu ra po pu lar bra -
AD – Te mos re al men te ne ces si da de de re cor rer à cul tu ra e à
sileira. Como se dá essa aproximação?
me mó ria?
MR – Es tou fe liz com os re sul ta dos e as su min do esse lado ain-
MR – Acho que não existe outro jeito. Primeiro porque a dita
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Acima, am bi en ta ção do loun ge da WGSN, na São Pau lo Fas hion Week: ho me na gem à casa bra si lei ra, lu gar de ate liê de ren dei ras, pal co de ce le bra ção e ri tu ais de ma ra ca tu. As ca dei ri nhas, po pu la res, fo ram en con tra das em ci da des do in te ri or pau lis ta. Ao lado, a li nha de pra tos cria das por Ro sen baum para a Ox ford
globalização deixa a vida muito rápida e talvez sem sentido.
pesquisar a fundo, criar e acompanhar trabalhos que cami-
Se não percebermos onde está o que é autêntico, vamos nos
nhem nesse sentido.
perder. No meu trabalho, por exemplo, eu nunca penso em fazer as coisas fora do Brasil. Quero fazer o Brasil brasileiro
AD – Isso pas sa ria por uma von ta de de so ci a li zar o de sign?
para o brasileiro. Algo que atenda às nossas necessidades. Mi-
MR – Sim. O “Lar Doce Lar” – quadro que apresento no pro-
nha vontade é criar peças que possam ser vendidas em super-
grama Caldeirão do Huck, da TV Globo – tem essa perspectiva.
mercados, realmente acessíveis para todos e com uma carga
Recebo um briefing com a indicação de uma casa que, na mai-
de informação que nos diga respeito.
oria das vezes, você não imagina que alguém more lá. Então eu dou idéias, soluções, sugiro cor, enfim, com a intenção de dar
AD – Lan çar uma nova co le ção de pra tos em ple na São Pau lo
dimensões reais, trabalhar com as realidades possíveis daque-
Fashion Week seria um exemplo?
le ser humano. Este é um trabalho multiplicador, que eu enca-
MR – Claro. Desenhei para uma das linhas mais baratas da Ox-
ro como uma atividade social, um serviço. Estou fazendo para
ford. Tem inspiração na renda, nas vestes do Maracatu Rural,
uma pessoa, mas atinjo um público de 40 milhões de brasilei-
no grafismo das boléias de caminhão. É bacana. Eu chamo isso
ros. Que podem passar a perceber a questão do morar como
de antropofagia do modernismo. Porque é contemporâneo, é
algo importante para a auto-estima e para a cidade.
pop, tem cores que são novas, tem referência em manifesta-
42 ARC DESIGN
ções populares, mas com releitura e utilização diversas. Esta-
AD – Você tem sido iden ti fi ca do como de sig ner cult. Con cor da?
mos, enfim, incorporando o design aos elementos que há mui-
MR – Eu não julgo nada. Essa é uma leitura que as pessoas
to já fazem parte de nós. Isso não é novo. Era o desejo de Lina
têm. Não me vejo como cult, nem kitsch, necessariamente. Mas
Bo Bardi: criar uma indústria pautada no que temos. Atual-
se algum lugar me permitir trabalhar no kitsch, eu vou ado-
mente, este é o meu maior desejo: o de me voltar cada vez
rar, porque me agrada muito. Como dizia a Lina Bo Bardi: “o
mais para nossa cultura, mergulhar mesmo, e ter tempo para
povo nunca é kitsch”. É isso. ❉
507997_210x280_348.pdf
February 16, 2007
09:39:00
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INSCRIÇÕES PARA O PROCESSO SELETIVO de 2 a 28 de maio de 2007
Para quem pensa design.
Qual é a relevância do design para a cultura contemporânea? Através de quais estratégias o design gera comunicação e conhecimento? Quais as relações entre arte, design e tecnologia? Qual o impacto social dos videogames? Visando ao enriquecimento destas e outras reflexões e à produção do conhecimento, o Mestrado em Design do Centro Universitário Senac é formado por pesquisadores de renome internacional, e contempla, na área de concentração Design: comunicação e cognição, duas linhas de pesquisa: Design: Dinâmicas estético e sócio-cognitivas Design: Informação e interfaces Coordenação: Prof a. Dr a. Priscila Lena Farias
0800 883 2000
www.sp.senac.br/mestrado/design
Flavya Mutran
Aci ma, a luz azul va lo ri za as cen te nas de va sos com uros pa tas – flores na ti vas da Ama zô nia – que com põ em a ce no gra fia do es pa ço Água
CENOGRAFIA AMAZÔNICA Uma exposição com elementos naturais da região amazônica, ressaltados graças à sonoplastia e à iluminação, transformou um galpão de 4,5 mil metros quadrados em um espaço voltado ao sentir, olhar, ouvir e aprender sobre a Amazônia e seu potencial, em diversas áreas Keila Bis “O objetivo era mostrar tudo o que a Amazônia produz
a relação do homem com a água por meio da pesca,
e o processo de transformação, desde a extração até o
portos, rios navegáveis e mananciais hídricos.
produto final.” Assim o designer Carlos Alcantarino
Em seguida, o chão tornava-se barro – piçarra –, com pe-
resume o foco do seu trabalho no projeto cenográfico
dras revestindo algumas áreas. Vulcões reproduzidos
do Amazontech 2006 – fórum de discussão sobre os
com o auxílio de vidro e luz guardavam fósseis e pedras
rumos do desenvolvimento sustentável da Amazônia –,
da região. Um túnel de madeira coberta com barro ex-
realizado em Belém do Pará, em dezembro. Para tan-
punha bauxita, ferro, ouro, manganês, caulim e pedras
to, dividiu a mostra em quatro temas, situados em
semipreciosas. Fotos revelavam a transformação desses
ambientes diversos.
minérios em produto final. Era o espaço Terra.
No primeiro, Floresta, folhas secas cobriam o chão, de
No espaço Multimídia, vídeos mesclavam paisagens
onde emergiam caibros envoltos por névoas e cores que
amazônicas e depoimentos de pensadores locais.
mudavam a todo momento, ao som de pássaros, grilos
Era a floresta e seus recursos, em todo seu potencial,
e sapos, enquanto totens exibiam textos explicativos
reunidos, de forma teatral e didática, em uma grande
sobre raízes, frutos, óleos, sementes, madeira e flores.
exposição. E para que a Amazônia fosse representada
Mais adiante, no espaço Água, a paisagem era outra:
de maneira autêntica, “a mão-de-obra era nativa, assim
aquários, vasos com flores nativas, “pufes de água”, ver-
como todos os elementos presentes nos cenários, facil-
dadeiras piscinas, estavam repletos de tucunarés. Painéis
mente encontrados na região, de baixo custo e de gran-
exibiam os recursos hídricos da região, evidenciando
de efeito cênico”, revela Alcantarino. ❉ 45 ARC DESIGN
Martin Szimick
Aci ma, vi tri ne da loja For ma na Av. Ci da de Jar dim, São Pau lo, design Ra phael Ben vi nis te. Abai xo, pol tro na Egg, design Arne Ja cob sen: a es tam pa flo ral (cujos motivos foram reproduzidos na vitrine) re nova o clássi co do design di na mar quês
VO CA ÇÃO: LI DE RAN ÇA Por quanto tempo resiste a memória da marca, quando esta não é revigorada? Ou, por
Face às mudanças do mercado, esse é o mais atual dos questionamentos. Nesta edição publicamos duas matérias que falam dos mestres do design do século
quanto tempo uma
XX e da passagem do tempo, com suas novas pro-
empresa pode viver
postas (mostra na Trienal de Milão) e da direta relação que o design, para ser competitivo, deve estabelecer
sem se renovar, sem
com o mercado (“Opinião”).
apresentar novas propos-
Escolhemos, como exemplo das teorias expressas
tas ou seguir
nesses artigos, a Forma, talvez uma das primeiras empresas brasileiras de mobiliário contemporâneo a
o fluxo do
ser fundada em São Paulo. Líder no mercado por
tempo e das
muitas décadas, com uma imagem fortemente definida, a Forma parecia ter perdido sua energia inicial. Foi ela
novas idéias e conceitos?
quem introduziu no Brasil o mobiliário dos mestres da Bauhaus e a vanguarda norte-americana dos anos 1950 e 1960, foi também quem lançou as coleções de Le Corbusier, Rietveld e Mackintosh, quando estas
Maria Helena Estrada 46 ARC DESIGN
começaram a ser produzidas, sob licença, no Brasil.
Martin Szimick
Martin Szimick
Aci ma, lounges mobiliados pela Forma durante a úl ti ma São Pau lo Fas hion Week: à es quer da, na sala de im pren sa, projeto da A2 Arquitetura, a clássi ca mesa Saa ri nen faz con tra pon to às con tem po râ ne as ca dei ras Hud son, de Phi lip pe Starck para a Eme co; na se quên cia, no espaço do site Gla mu ra ma, cria do por Már cio Ko gan, ca dei ras Hee, design Hee Wel ling para a Hay, e mesa Plano, da Fritz Hansen. No detalhe, a Hee em duas novas ver sõ es: pol tro na e ban que ta alta
É verdade que esse mobiliário, esses ícones do design,
A Forma respira, mais
de Mies van der Rohe a Saarinen e Bertoia, propostos
uma vez, novos ares,
pela empresa nos anos 1970, hoje foram assimilados
retoma fôlego. Ocupa, junto com
por uma larga faixa de consumidores – e vende muito
lojas e indústrias que aqui editam e produzem
bem, com suas cópias que vão do péssimo ao razoável.
o projeto brasileiro, ou importam o design contem-
Mas há que distinguir entre empresas líderes e aque-
porâneo internacional, seu lugar como pólo difusor de
las “followers”.
novos comportamentos, de um novo desenho.
Como dinamizar uma imagem que, aos olhos de obser-
Saindo de seu temporário “acanhamento”, a empresa
vadores mais atentos, se mostrava desgastada pela
investe em eventos de sucesso, como o SPFW, pela
repetição, por lançamentos que não obedeciam a uma
mão de arquitetos famosos, entre os quais Marcio
lógica interna capaz de manter a empresa em sua
Kogan. Sua coleção, que arriscou e acertou em 2006
vocação para a excelência, principalmente no que se
com a cadeira Prince, em aço e borracha, agora encon-
refere ao design?
tra companheiras de estrada, produtos já conhecidos
Parece que essa hora chegou. Não falamos em aban-
como os da Arflex e Acerbis, e empresas que se reno-
dono dos caminhos percorridos nesses mais de 50
vam, como a Fritz Hansen e a Hay, dinamarquesas, e a
anos. Muito pelo contrário. A idéia é retomar um per-
Emeco, norte-americana, editora de Philippe Starck.
curso de sucessos, que apostava na vanguarda, na
É parte de um fenômeno que readquire seu fôlego, com
arquitetura de Paulo Mendes da Rocha.
um olho no design... e outro no mercado. ❉ 47 ARC DESIGN
NOVOS CENÁRIOS, NOVO PROJETO
A mostra “The New Italian Design”, inaugurada na Trienal de Milão – a qual ainda estará em cartaz durante o Salão do Móvel –, apresenta a nova geração de designers italianos e analisa os rumos do design diante de novas condições sociais e do mercado
Aci ma, Uovo al Pros ci ut to, de Massi mo Bot tu ra: o ovo re ce be o sa bor de presun to por meio da in je ção. Ao lado, Qua der no di Mare (ca der no de mar), de Car lo Crac co: fo lhas de pei xe co zi do, lula, pol vo e ca ma rão são se pa ra das por uma fo lha de ace ta to para im pe dir que os sa bo res se mis tu rem. Na pá gi na ao lado, cha péu de Fe de ri ca Mo ret ti: o pa pel é do bra do inú me ras ve zes com pre ci são mi li mé tri ca se gun do a téc ni ca de ori ga mi, es pon ta ne a men te rein ter pre ta da
Maria Helena Estrada Baseada em texto do arquiteto, designer e teórico Andrea Branzi “Para nós, hoje, o problema não é aquele de julgar o
O século dos grandes mestres e dos empresários me-
design atual, mas de procurar entendê-lo; não explicar
cenas – ou visionários – encerrou seu ciclo. “Mudou a
como deveria ser, mas como é, na realidade.”
economia, a política, a tecnologia e também as motiva-
Ninguém melhor do que Andrea Branzi, curador da
ções que geram o projeto”, afirma Branzi. O design co-
mostra, para nos falar da proposta desta exposição e de
loca-se como gerador de produtos destinados a atender
como está se formando o novo design italiano, o qual,
faixas maiores do mercado, sem desviar a atenção das
seguramente, projetará reflexos nos rumos do design
exigências ambientais.
brasileiro. Se a mostra reúne apenas designers italia-
Em seu texto, Branzi detecta “os sete graus de separa-
nos, a base para a criação é comum a todo o mundo, ao
ção” que estariam na origem das atuais transformações.
menos àquele ocidental. No texto introdutório ao catálogo, Branzi deixa claro
1. O DE SIGN COMO PRO FIS SÃO DE MAS SA. “Uma primeira sur-
que devemos encarar o novo design italiano como “um
presa” é que, apesar da crise mundial, o número de
fenômeno autônomo, sem relação de continuidade com
escolas e de designers passa por um crescimento ex-
o design do século XX – apenas um leve parentesco –
ponencial. E esse fenômeno se manifesta principal-
com fatos históricos já longínquos”.
mente nos países em desenvolvimento (e não tanto 49 ARC DESIGN
Aci ma, à es quer da, ele mentos em pi lhá veis Hula-Hoop: so bre postos, for mam um wine-co o ler; uti li zan do-se o kit com ple to, pode-se re vestir a gar ra fa va zia, que se tor na então um vaso, ga nhan do nova apa rên cia e uso; criação In dustreal. Na se quên cia, ro dí zio Ro to la, de Adria no Design: o cor po gi ra tó rio se com bi na com um eixo vir tual mente inexistente; tra ta-se de um cír cu lo que gira em tor no do nada, o pró prio centro da no ção de roda. Ao lado, sa pa tos The Mid night Pump: misto de de co te re trô com um sa pa to fu tu rista e high-tech, em po li u re ta no ter mo plásti co trans pa rente estam pa do com uma téc ni ca nun ca antes ex pe ri menta da; design Ama te ra su
naqueles de industrialização avançada). A razão, na
mas reversíveis, “sistemas elásticos, modelos imper-
opinião de Branzi, é ser o design hoje um dos moto-
feitos e provisórios. Passamos de uma realidade forte
res do crescimento econômico; “seu papel não é
e concentrada a outra, fraca e difusa”.
mais, apenas, aquele de resolver problemas estéticos, mas o de inventar novos produtos, novos merca-
4. UM DE SIGN (NÃO APE NAS) IN DUS TRI AL. Existe uma econo-
dos, nova economia”.
mia industrial clássica e, na paralela, “uma nova economia social, a do ‘self brand’. (...) O design jovem faz par-
2. DO PRO JE TO À INO VA ÇÃO. Não se pensa mais em produ-
te desse novo fenômeno social, do momento em que
tos definitivos, mas em “energias dinâmicas” capazes de
responde apenas em parte a necessidades industriais
enfrentar a concorrência internacional. O designer, hoje,
precisas. Ele, muitas vezes, representa uma atividade
não é destinado apenas a projetar, mas a atuar como di-
espontânea, destinada a afirmar a própria capacidade
retor de arte, consultor estratégico, comunicador, pro-
de imaginar o novo e o diverso, seja como produto ou
moter, pesquisador. “A inovação é uma energia multifor-
como empresa, serviço, informação”.
me, que deve, continuamente, redefinir-se a si mesma”. 5. A CI DA DE PULVE RI ZA DA. “Esse estranho ‘estado gasoso’
50 ARC DESIGN
3. UMA MO DER NI DA DE SU TIL. Refere-se aos sinais fracos,
do design contemporâneo, o seu ser débil e, ao mesmo
assunto já muitas vezes abordado por ARC DESIGN em
tempo, invasivo, corresponde a um fenômeno que se-
contraposição ao conceito de tendência. Fala de uma
ria errado julgar nos limites de uma só disciplina. Ele
cultura do projeto que não procura soluções definitivas,
descreve, na verdade, uma condição metropolitana (e
Acima, à esquerda, a gaiola Sinus tem concepção e materiais inovadores: trata-se apenas de uma bola em vidro perfurado; design Enrico Azzimonti e Jordi Pigem. Na sequência, a estufa Smeg é capaz de recriar três microclimas di versos (tropical, desér tico e temperado) e compor ta todos os tipos de plantas, das or quídeas aos bonsais. Abaixo, Fiat Trepiùno, releitura do conhecido Fiat 500 da década de 1950; apesar do tamanho redu zido (apenas 3,3 m de comprimento), seu interior tem um espaço notável graças a recursos como a espessura mínima dos assentos anteriores, em poliureta no rí gido re vestido com po li u re ta no ma cio: esse “san du í che elásti co” os tor na mais con for tá veis do que os tra di ci o nais
existencial) totalmente nova. A cidade contemporânea
7. UMA PO LÍ TI CA
não é mais representada por um sistema de ‘caixas ar-
MO LE CU LAR.
quitetônicas’ rígidas e especializadas, mas por um fluxo
“Esta práti-
ininterrupto de mercadorias, produtos, serviços, infor-
ca política
mação – portanto, design. (...) As qualidades urbanas
acon te ce
são hoje definidas, em larga medida, pela qualidade
sem teo-
desse universo dos objetos, dessa estrutura pulveriza-
rização;
da que muda, se transforma, cria softwares territoriais:
(...) é fraca
e não produz, jamais, catedrais.”
mas
difusa
e
age seguindo uma energia 6. A QUA LI DA DE ES TÉ TI CA. “A época das revoluções acabou
molecular.” Falamos de uma geração que
e não existem mais soluções unitárias capazes de mu-
atua “a partir do infinitamente pequeno (design), do
dar a sociedade com um só gesto”. Assim, não é justo
aparentemente supérfluo, de estruturas inadequadas.
dizer que o jovem de hoje é um alienado: ele tem cons-
Depois de cem anos de megaprojetos, de maxirefor-
ciência de que “a sociedade se tornou uma realidade
mas, de projetos galácticos, chegou a época das trans-
sensível à qualidade ambiental, às questões estéticas e
formações por meio de sub-sistemas e de microestru-
aos direitos civis”. Vêem que o mundo que os circunda
turas. O século XXI nos ensina que é possível mudar
é “feio e errado” – e procuram mudá-lo a partir do pro-
não apenas com os megaprojetos, mas também com os
jeto de objetos simples e cotidianos.
vasos de flores.” ❉ 51 ARC DESIGN
DESIGN E INOVAÇÃO... Rodrigo Rodriquez Convidado a participar do seminário “Profissão Designer:
das especializações profissio-
Gerando Oportunidades”, abordei temas que conside-
nais: nasceram, em breve tem-
ro fundamentais hoje, no design, alguns dos quais
po, o design de produtos, de
transcrevo aqui.
interiores, de serviços, o design
Primeira afirmação: já acabou a era dos mestres, que
estratégico, o basic design, o ambiental, o design da co-
operavam por produtos únicos, produzindo objetos
municação, o light design, o dos materiais, o design
inigualáveis. Neste momento o design se tornou, como
gráfico, o web design. E outros provavelmente nasce-
dizem muitos, um dos motores da economia mundial,
rão para satisfazer as exigências específicas de novos
porque veicula a energia da inovação, determinante
setores de atividade.
para o desenvolvimento dessa mesma economia. De-
Fala-se muito em inovação. Agora a veremos como um
vemos prestar, assim, muita atenção à formação dos
instrumento para confrontar-se com a concorrência.
futuros designers.
Esquematizando, podemos dividir as estratégias da ino-
Nos últimos anos, em todo o mundo, as escolas de
vação, do ponto de vista da empresa, em três categorias:
design se multiplicaram de forma exponencial. O que fa-
• podemos defini-la como a estratégia de atração dos
rão essas dezenas de milhares de futuros profissionais?
mercados, ou seja, a empresa reage a um preciso de-
Como primeira contribuição a essa resposta, ressalta-
sejo do mercado;
mos que nos últimos 20 anos o design, até então consi-
• a segunda hipótese é aquela que nasce a partir de
derado uma disciplina unitária, deu início a um longo
uma constatação, por parte da empresa, de que já está
processo de articulação interna ligada ao crescimento
disponível uma nova tecnologia ou um novo material
52 ARC DESIGN
Emilio Tremolada / Reprodução do livro “iMade 2001”
Donatello di Bello / Reprodução do livro “iMade 2001”
Nes ta pá gi na, pol tro na Air One e ban que ta Air Two, design Ross Love grove para a Edra. Pro du zi das uti li zan do pe que nas es fe ras de po li pro pi le no ex pan dido que são intro du zidas no inte ri or de uma for ma pressu ri za da e então solda das entre si por meio da in je ção de va por sa tu ra do no molde fe cha do. Essa tec no lo gia per mi te a re a li za ção de for mas com ple xas em ci clos re la ti va men te cur tos
OU NOVAS VISÕES que merece ser explorado. Dessa constatação materia-
du Soleil, surgido quando um “engole-fogo” se decidiu
liza-se o pedido ao designer para que projete produtos
por um novo circo, sem animais, mas oferecendo um
que incorporem essas novas potencialidades;
espetáculo de alta qualidade.
• a terceira, e aquela que nos interessa mais, é a estra-
Assim, inovação significa fazer coisas novas capa-
tégia do “pushing design”, ou seja, o que estimula a
zes de ocupar espaços onde ainda não haja concor-
inovação é a capacidade de compreender, prever e, se
rência. Mas como saber quais os produtos que o mer-
possível, influenciar o emergir de novos produtos.
cado desejará em breve, os anseios latentes? Uma das
Aqui entra uma nova componente, importante, a da
maneiras é utilizar o “focus group”, já conhecido, que
percepção dos sinais fracos.
consiste em encontros triangulares entre o consumidor
Acredito que a capacidade de colher os sinais fracos –
potencial, a empresa e o designer. Nesses encontros, é
conforme afirma Igor Ansoff, estudioso norte-america-
possível distinguir os ingredientes a partir dos quais a
no de estratégias empresariais – possa ser objeto de
demanda está se formando.
formação por parte das escolas de design, para fazer
Mas de qual inovação estamos falando? De qual design?
com que o designer fique atento a como o mercado se
Com certeza não apenas de novas formas. A inovação,
desenvolve e de que modo ele poderá dar sua resposta.
hoje, é muitas vezes invisível, ou visível apenas ao
Quando uma empresa coloca no mercado um produ-
consumidor atento.
to ou um serviço que responde a um desejo ainda não
Nos anos 2000 e 2001, a Federlego-Arredo propôs, du-
expresso, obtém uma sólida vantagem competitiva.
rante o Salão do Móvel de Milão, duas mostras impor-
No livro “Blue Ocean Strategy”, de Chan Kim e Renée
tantes e, de certa forma, prenunciadoras da atual rea-
Mauborgnee, publicado pela Harvard Business School
lidade: “iMade, a inovação material na indústria italia-
Press, leio uma curiosa “metáfora marinha”. Eles definem
na do mobiliário”; e “iMade, maneiras de produzir” (as
como oceano vermelho o mercado no qual navegam mui-
quais serão desenvolvidas na versão total do texto)*.
tas empresas que oferecem produtos similares e onde,
Nelas, acredito, se encontra o núcleo ao redor do qual
portanto, a concorrência é forte, impiedosa. Conclusão?
se constrói, também no Brasil, o futuro do design.
Uma empresa que está no mercado só conseguirá vencer
Devemos estar todos muito atentos, evitar os aspectos
o concorrente por meio de intervenções que a impeçam
negativos da globalização, tudo o que tende a homolo-
de precisar estreitar as margens operativas, a ponto de
gar as culturas. Coloquemos em evidência aquilo que
não poder financiar o próprio desenvolvimento.
nos diversifica dos outros. E a vocês, amigos brasilei-
O oceano azul, ao contrário, é ocupado por aquelas em-
ros, digo: construam um design brasileiro, que seja
presas que oferecem produtos ou serviços novos, ou
expressão da vossa identidade, das vossas raízes. ❉
diversos daqueles dos concorrentes: um oceano onde a concorrência não existe ou, se existe, é irrelevante. Um interessante exemplo do oceano azul é o Cirque
* Tradução de alguns tópicos abordados na conferência do empresário italiano R. Rodriquez no seminário “Profissão Designer: Gerando Oportunidades”. A tradução da conferência completa estará disponível no site de ARC DESIGN, na edição 52 53 ARC DESIGN
ARC DESIGN
E-NEwS
Ágil. Instigante. Informativo. Opinativo.
SALÃO DO MóVEL DE MiLÃO Novo local para o Salão do Móvel de Milão, que acontece de 5 a 10 de abril de 2006: a exposição passa ocupar o pólo de Rho-
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Pero, projetado pelo arquiteto Massimiliano Fuksas. O novo complexo é composto por oito edifícios organizados a partir de
notícias indispensáveis de todo o mundo
um eixo linear, que é coberto por uma estrutura ondulada em metal e vidro. Fuksas sintetiza: “a idéia é tornar a ligação entre os diversos pavilhões, o eixo central e os acessos um percurso rico de arquitetura. A grande cobertura mo-
sobre design, arquitetura, moda, cultura material, exposições e matérias especiais.
difica, varia e define os espaços”. É nesta “paisagem construída” que acontecerão, além da feira principal, o Salão Complemento (acessórios de decoração) e três exibições bienais: a 16ª Eurocucina (móveis de cozinha), a 13ª Eimu (móveis de escritório) e o novo Salão Internacional do Banho. www.cosmit.it
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CASAS SUSTENTÁVEL Uma exposição no National Building Museum, em Washington, traz 21 projetos de casas sustentáveis construídas em várias partes do planeta. Os exem plos mos tram que a ar qui te tu ra de van guar da não deve ser ape nas bo ni ta para o olhar: o uso ra ci o nal de re cur sos na tu rais tor nou-se im pres cin dí vel Mariana Lacerda No início de fevereiro, o mais aguardado diagnóstico da saúde mundial foi divulgado. Trata-se do relatório “Mudança Climática 2007: a Base da Ciência”, assinado pelo Intergovernmental Panel on Climate Change, grupo criado pela ONU com especialistas de 40 países. O documento mostra que somos nós, humanos, os responsáveis pelo aquecimento global. E que, se nada for feito, nos próximos cem anos a temperatura da atmosfera poderá subir tanto a ponto de aumentar o nível do mar e fazer desaparecer várias cidades costeiras no mundo. Quando o relatório foi divulgado em Paris, o presidente da França, Jacques Chirac, anunciou que uma revolução nos padrões do consumo de energias naturais precisava ser feita. A boa notícia é que essa revolução já começou. Aos poucos, surgem iniciativas comprovando que, sim, os paradigmas de consumo estão mudando. E começam pela forma de construir e morar. Ao menos é o que mostra a exposição “The Green House: New Directions In Sustainable Architecture and Design”, que segue até o mês de junho. Ao todo, 21 moradas estão em exposição, escolhidas pelo curador Donald Albrecht, que resume a exposição como sendo uma reunião de “exemplos de que as prioridades ambientais e os padrõ-
SOLAR TUBE Num pe que no lote ar bo ri za do, no su búr bio da ci da de de Vi e na, Áustria, esta casa, cons tru í da em 2001, inova ao criar o So lar Tube. Idéia do ar qui te to Ge orge Dri endl, este “tubo so lar” é todo em vi dro e de fi ne o dese nho da casa. Na fa cha da pos te ri or, vol ta da para o nor te do ter re no, o vi dro está in cli na do para den tro da casa. Na fa cha da fron tal, sua po si ção é in ver sa. A ló gi ca é aprovei tar ao má xi mo a cap ta ção da luz do sol, cujo ca lor é ar ma ze na do pela es tru tu ra de con cre to da mo ra da que, assim, se man tém aque ci da sem o uso de sis te mas de ca le fa ção. O te lha do, tam bém de vi dro, ilu mi na os quar tos, to dos no ter cei ro pavi men to. Além disso, a luz atravessa a es ca da e che ga à co zi nha e ao es cri tó rio
Ja mes Mor ris / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
es de estética podem ser perfeitamente complementares”.
JMC Pho to grapfy / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
GLIDEHOUSE
JMC Pho to grapfy / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
O de sa fio foi mos trar que ca sas pré-fa bri ca das po dem ser, além de eco nô mi cas, eco ló gi cas. A Gli de hou se foi pro je ta da em 2004 pela ar qui te ta Mi chel le Kauf mann, da Ca li fór nia. Com pe ças mo du la res mon tá veis, fei tas com aglo me ra do de ma dei ra, não há des per dí cio na cons tru ção. Ver sá til, o pro je to foi con ce bi do para ter tamanhos variados e ser im plan ta do em qual quer ter re no e clima, per mi tin do, in clu si ve, a oti mi za ção da cir cu la ção de ar e apro vei ta men to da luz na tu ral que acon te ce através de la te rais de vi dro ou ja ne las com
58 ARC DESIGN
aber tu ras bem ge ne ro sas. A in cli na ção do te lha do tam bém foi ide a li za da para re ce ber os pai néis fo to vol tai cos – para captação da energia solar. Todo o re ves ti men to do piso é de bam bu, re sis ten te e árvore de cres ci men to rá pi do. Na co zi nha (abai xo), as ban ca das uti li zam pa pel re ci cla do em sua com po si ção. Pias e des car gas têm dis po si ti vos eco no mi za do res de água que, ali ás, pode ser reu ti li za da, con for me o uso. A pin tu ra da Gli de hou se tam bém res pei tou o meio am bi en te: a tin ta, à base de água, não é tó xi ca
Pe ter Hyatt / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
SWART RESIDENCE
Projeto dos arquitetos Cath Hall, Mike Verdouw e Fred Ward, a casa Walla Womba (acima) foi construída em 2003 na beira do mar, na ilha de Bruny, Tas mâ nia. Sua im planta ção, com esta cas de aço, bus cou mi ni mi zar o im pacto no solo, mantendo os padrões naturais de drenagem do terreno. As madeiras utilizadas – na obra e no mobiliário – são recicladas e todas obtidas na região. O projeto prevê a armazenagem de água da chu va, recolhida em calhas. Além disso, o telhado generoso permite a instalação de placas fotovoltaicas e forma um beiral expressivo que protege as aber turas das janelas – também de grandes propor ções – da entrada da luz do sol
Projetada por Peter e Cocks Carmichael em 2004, esta casa (abaixo) situase próximo a uma agitada avenida e à baía do por to de Melbourne, Austrália. O principal desafio foi solucionar a entrada de ar fresco sem que fossem feitas aber turas na fachada. De vidro, ela permite a entrada de luz, mas não a de ar, devido ao barulho e à sujeira da avenida e do por to. Uma câmara capta o ar fresco pela par te mais alta da casa, onde as correntes de vento estão menos expostas à poluição. Detalhe interessante: a luz do sol é conver tida em energia elétrica, mas se a casa não consumir toda a for ça produzida, o excedente é disponibilizado para a rede pública
De rek Swal well / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
WALLA BOMBA GUEST HOUSE
59 ARC DESIGN
Hol ger Hill / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
Phi lip Be aur li ne / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
CHARLOTTE RESIDENCE
TAYLOR HOUSE Numa região de montanha nas Bahamas, esta casa projetada em 2001 pelo ar quiteto Frank Harmon tira par tido do clima tropical, quente e úmido, para tor nar-se auto-sustentável (à direita). Um telhado generoso capta toda a água das chu vas – bem regulares na região. Antes de atingir a cister na, a água circula pela calha que contor na o terceiro pavimento, re frescando o ambiente. Altos, os três andares têm janelas que podem ser mantidas aber tas todo o tempo, mas no caso de uma nu vem atravessar o local, elas vedam os ambientes, protegendo-os da umidade
du pla de ar qui te tos Al li son Ewing e Wil li am McDo nough, a Char lo te Re si den ce foi cons tru í da em 2002 no su búr bio de Ca ro li na do Nor te, Es ta dos Uni dos. Toda flo res ta de pi nus do seu en tor no foi pre ser va da na sua implantação
Ja mes West / Na ti o nal Bu il ding Mu seum
Para que a luz na tu ral in va dis se as áre as in ter nas da mo ra da, a co ber tu ra foi ins pi ra da em um tol do. Es ten di do e trans lú ci do, ele per mi te que a lu mi no si da de se es pa lhe. Ar má ri os e pra te lei ras, sempre móveis, ser vem de di vi só ri as entre os ambientes. Pro je to da
HOUSE WITH SHADES Criação dos ar quitetos Joachin e Gabrielle Achenbach, o projeto (na página ao lado) foi construído em 2000 na região dos alpes Bavarian, na Inglaterra. O nome vem das venezianas automáticas que pendem da fachada de vidro e regulam a entrada ideal de luminosidade. No inverno, elas ficam suspensas: os raios de sol aquecem a morada. No verão, os sensores – que funcionam a energia solar – regulam automaticamente a entrada ideal de luminosidade. Um detalhe: por serem translúcidas, as venezianas não tiram a vista da paisagem. No lugar do telhado, foi plantada grama nati va, que absor ve a água da chu va e refresca o clima nas áreas internas. A madeira utilizada em assoalhos, forro e divisórias veio de pinus plantados na região. Ou seja: custo zero no transpor te de materiais e, consequentemente, menor emissão de gás car bônico na atmosfera
61 ARC DESIGN
Uma Publicação Quadrifoglio Editora ARC DESIGN nº 52, março 2007
Apoio:
Diretora Editora Maria Helena Estrada Diretor de Marketing Cristiano S. Barata
Apoio Institucional: Diretora de Arte Fernanda Sarmento REDAÇÃO Editora Geral Maria Helena Estrada Chefe de Redação Winnie Bastian Redatoras Keila Bis Mariana Lacerda
ARC DESIGN – endereço para correspondência Rua Lisboa, 493 – CEP 05413-000 São Paulo – SP
Revisora Jô A. Santucci
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Designer Ana Beatriz Avolio Estagiário Danilo Costabile Participaram desta edição Marcelo Lima Nelson Aguilar Rodrigo Rodriquez Marketing Ana Thereza Gil, Guilherme Vilela Circulação e Assinaturas Lúcia Martins Pereira, Silvia Rosa Silva Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DESIGN para assuntos internacionais Pré-impressão e Impressão Eskenazi Indústria Gráfica
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Papel: Suzano Papel capa: Supremo Duo Design 250g/m2 miolo: Couché Suzano Silk L2 130g/m2
Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos.
Distribuição nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
www.arcdesign.com.br
ÀS COMPRAS EM MILÃO Designers de prestígio e novos talentos convivem lado a lado na coleção da Dovetusai, criada no “off-circuito” milanês no início dos anos 1990. A loja traz uma seleção apurada de produtos do mundo todo, além da linha própria, criada por Fabio Cocchi e Luigi Rotta, seus fundadores. A idéia é trabalhar com produtos que “alarguem o conceito de design”, explicam
Aci ma e no alto da pá gi na ao lado, vis tas do in te ri or da Do ve tu sai. À direita, pra te lei ras Skyli ne, em aço; de sign Fre de rik Roi jè. Abai xo, a par tir da es quer da: co le ção An toi ne de can de la bros e jar ra Tracy, am bos em vi dro so pra do, cri a ção Do ve tu sai; Bank in a Pig, de sign Harry Al len: co fre sim bó li co, co me mo ra o ano chi nês do por co, que sig ni fi ca Far tu ra
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Abai xo, à es quer da, san dá li as em ma dei ra, cou ro e bor ra cha, cri a das pe los de sig ners ja po ne ses Hi bi mo ko due / Mi zu do ri. Ao cen tro, o por tagar ra fas Re a lity 2 é re sul ta do de uma idéia sim ples e prá ti ca: ba se a do no pro ces so na tu ral de em pi lha men to das gar ra fas, o de sig ner Harry Al len pro pôs “gar ra fas” in fe ri o res re pro du zidas em resi na. Na se quên cia, iro nia é o for te do man ce bo de pa re de mo de la do em resi na Hand Hook, também de Harry Al len: ou tra peça da sé rie Re a lity, na qual o designer se apro pria de mo ti vos da vida real
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Projetos personalizados, com design e tecnologia: hotéis, restaurantes, Resin Floor recebe prêmio Material Excellence 2003 por desenvolvimento de materiais e tecnologia conferido pela Material Connexion N. York
hospitais, lojas e show-rooms
Loja Lucy in the Sky
Espaço Nike – Authentic Feet
Foto Levi Mendes Jr.
Projeto e fotos: Studio Sucre, designers Karina Schrappe Sucre e Eduardo Sucre
poliuretano de alta resistência acabamento fosco ou brilhante desenhos personalizados e sem emendas isolante termo acústico
av. angélica 580 8ºp sp adriana adam tel/fax 11 3666.9629 3822.0858 resinfloor@uol.com.br www.resinfloor.com.br
Perfildecores:PerfilgenéricodeimpressoraCMYK ComposiçãoTelapadrão
W W W. P A R A L E L A G I F T. C O M . B R
Realização
C:\Gautio_dairo\CLIENTES\11PARALELA\art_anuncio_arc.cdr sexta-feira,16defevereirode200711:13:39
Apoio
LOUCOS POR DESIGN
Design e estilo são palavras que pertencem ao mesmo universo na concepção da stylist Chiara Gadaleta, e que podem atingir campos inusitados. As peças por ela escolhidas ilustram claramente seu modo de sentir e sua formação Da Redação / Fotos Nelson Aguilar
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ARC DESIGN – Quan do e com qual ob je to sua aten ção foi des -
for tes, fai xas es pe cí fi cas de ca da épo ca. Meu ma ri do, o
per ta da para o de sign? ChIARA GADAlEtA – Tive pais que se preocupavam com o senso estético ao seu redor e acredito ter começado a ter con-
fo tó gra fo Da ni el Klaj mic, é mo to ci clis ta, além de co le ci o -
tato desde muito pequena. Por isso não foi um objeto especi-
nar Har leys. Nos so pri mei ro
ficamente, e sim a maneira como fui educada. Minha mãe foi estilista e sempre manipulava as peças, tanto roupas como móveis da casa, à sua maneira. Aprendi que peças simples podem ter mais estilo que muitas complicadas. Meu pai sempre foi muito exigente e sofisticado e aprendemos a identificar a qualidade de tudo à nossa volta.
en con tro foi de Har ley e, des de en tão, fi quei mu i to per to de to das as pe ças, rou pas, aces só ri os dos mo to ci clis tas, como a ja que ta Per fec to ori gi nal, que era do meu pai. Tan to a Sna p On, quan to a Har ley Da vid son ou a Per fec to são mar cas no tó ri as pelo de sign e pela qua li da de.
ARC DESIGN – A que você dá mais aten ção: à for ma, ao ma te -
ri al de que o ob je to é fei to ou à uti li da de? CG – O que me seduz de primeiro é o estilo da peça. Não conseguiria separar a forma do material, da cor... Para mim, estilo são todos esses fatores juntos. Claro que tenho minhas preferências, gosto dos anos 1920, dos 1970 e algumas peças mais robustas dos 1980. Quanto à pintura mais acadêmica, sou louca pelo expressionismo alemão, em especial pelo Max Beckman. ARC DESIGN – O que motivou sua escolha das peças aqui publicadas? CG – Desde que chegou aqui em casa, me apaixonei pelo car-
rinho de ferramentas da Snap On. Para mim, é puro design, é multifuncional, pois poderia ser um bar, por exemplo, ou um aparador… e é lindo! Os capacetes têm servido de inspiração há bastante tempo. Eu poderia desenvolver coleções inspiradas em cada um deles. São sempre muito decorados, com cores
ARC DESIGN – Qual de sig ner bra si lei ro você ci ta ria como des ta -
que? Por quê? CG – Se falarmos de moda, destacaria o Alexandre Herchcovitch. Ele entende sua época e seu trabalho. É um dos poucos a ter um estilo pessoal. ARC DESIGN – E quan to aos de sig ners in ter na ci o nais, há al gum que você admire mais? Por quê? CG – Focando no design, me interesso muito por marcas esportivas, ou em parcerias com estilistas. Por exemplo, a Y3 (Yoji Yamamoto + Adidas) ou a Nike, a Puma… são empresas que fabricam objetos com muito design. Para mim, um tênis é um objeto como um carro.
No alto da pá gi na, he ran ça de fa mí lia: a ja que ta Per fec to origi nal per ten cia ao pai de Chia ra. Abai xo, a co le ção de ca pa ce tes se inte gra à de co ra ção do apar ta mento. Na pá gi na ao lado, a stylist e desig ner posa – com as pul sei ras de sua cria ção – em frente ao car ri nho de fer ra mentas da Snap On
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COMO ENCONTRAR
O RENASCIMENTO E A MÁQUINA DO TEMPO
ENTREVISTA: MARCELO ROSENBAUM
Máximo Solheiro www.soalheiro.com.br
Marcelo Rosenbaum www.rosenbaum.com.br
Museu da Casa Brasileira Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.705 – São Paulo Tel.: (11) 3032-3727 www.mcb.sp.gov.br
VOCAÇÃO: LIDERANÇA
PROVOCAÇÕES SOBRE O HABITAR
Forma Av. Cidade Jardim, 924 – São Paulo Tel.: (11) 3816-7233 www.forma.com.br
Feira do Móvel de Colônia www.imm-cologne.com
NOVOS CENÁRIOS, NOVO PROJETO
A REIVENÇÃO DO COTIDIANO
Trienal de Milão www.triennale.it
ENO www.eno.fr
CENOGRAFIA AMAZÔNICA
IPI www.ipi.fr
Amazontech www.amazontech.pa.sebrae.com.br
Maison et Objet www.maison-objet.com
Carlos Alcantarino www.alcantarino.com
Tools Galerie www.tollsgalerie.com
CASAS SUSTENTÁVEIS
VIA www.via.asso.fr
National Building Museum www.nbm.org
SEGREDOS DO DESIGN INDUSTRIAL
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LOUCOS POR DESIGN A SENSAÇÃO QUE VEM DA LUZ Adidas Rua Oscar Freire, 1.055 – São Paulo Tel.: (11) 3083-2171 www.adidas.com.br La Lampe Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.258 – São Paulo Tel.: (11) 3069-3951 www.lalampe.com.br Nespresso Rua Padre João Manoel, 1.164 – São Paulo Tel.: (11) 3064-9974
Chiara Gadaleta chiara@chiaragadaleta.com.br
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