Revista ARC DESIGN Edição 58

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R$ 16.50 Nº 58

ARC DESIGN

2008

Nº 58

2008

REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO




Anun TOPXXI 2008 Simples:TOPXXI 2008 Final

3/5/08

9:17 PM

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Depois do sucesso da primeira edição, você pode esperar muito mais em 2008 Novas categorias de premiação: maior abrangência Cresce o número de parceiros: mais representatividade Uma grande festa para o design brasileiro: mais visibilidade E você também pode participar, indicando os produtos, projetos e profissionais de sua preferência para concorrer ao Prêmio

Acesse, confira e participe!

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Troféu para os vencedores, criação Fernando e Humberto Campana


Uma edi ção bas tan te inter na cio nal. Começamos pelos trans na cio nais Campana, pas sa mos pelo Japão, Argentina, França, China. Um gran de giro em torno a diver sas cul tu ras e a diver sos sig ni fi ca dos pos sí veis da pala vra “design”. Ce nário e figu ri nos do Ballet de Marseille, os “bone cos” inte ra ti vos japo ne ses, a arqui te tu ra na China e o Salão de Paris, no olhar de Cristina Morozzi. No artigo sobre a mostra “Genealogias del Sur”, realizada no Museu de Arte de Buenos Aires, podemos traçar um paralelo entre as inquietações e pesquisas realizadas na Argentina e no Brasil, em relação aos respectivos patrimônios culturais. Uma entrevista com Jum Nakao desvenda o universo desse criador multidisciplinar. É mais uma vez o design, sinônimo de projeto, que alarga seus próprios horizontes e atua nos diversos campos da criação. É sintomático que muitos designers pesquisem novas fronteiras para se expressar, nesse momento de indefinição, sobretudo estética, em relação aos objetos cotidianos. Um momento no qual a estética se torna muitas vezes secundária, dada a gravidade dos problemas a serem enfrentados por esses mesmos designers. Uma dessas questões é abordada na mostra internacional “Moradias Transitórias”, reali za da em Brasília. Os assun tos entre la çam-se no Caderno sobre sustentabilidade, que traz uma entre vis ta com o arqui te to e enge nhei ro Tom Paladino, espe cia lis ta em cer ti fi ca ção verde, ou “LEED”, da casa à cida de. E mais. Design brasileiro, do industrial ao experimental e um panorama da carreira do arquiteto mineiro Carlos Alexandre Dumont, o Carico. No Caderno de Arquitetura, uma construção “vazada” pela paisagem, na China, projeto do escritório suíço HFH Architects; Richard Rogers com suas casas produzidas industrialmente, que receberam o House Building Innovation Awards, e o Museu do Pão, na serra gaúcha, projeto de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Uma edição plena de perspectivas e novos caminhos. Viaje com ela! Maria Helena Estrada Editora Na capa, uma das cenas de Meta mor fo ses, cria ção do Ballet de Mar seille, em novem bro 2007, com cená rios e figu ri nos de Fernando e Humberto Campana. Foto Pino Pipitone


Fernando e Humberto não desenham – eles constroem volumes no ar. Método ideal para criar uma obra “em movi mento”, onde cená rio e figurino se confundem e são transpor tados pelos corpos dos bailarinos. Balé encenado no final de 2007 em Marselha e em Paris. E, quem sabe, qualquer dia no Brasil?

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O Salão de Paris cresce e aumenta seu prestígio. Um dos motivos é o tradicional decorativismo francês, hoje em alta. Mas a força está também no bem articu lado reper tó rio apre sentado pela feira, e à harmoniosa convivência entre design e decoração. Leia o que nos diz Cristina Morozzi

A Argentina, assim como o Brasil, recupera seus valores culturais expressando-se pelo design. Quatro desig ners reunidos em uma exposição original no Museu de Artes de Buenos Aires, com a curadoria de Carolina Muzi, que também assina o texto em que nos baseamos

CADERNO SUSTENTAÇÃO

Mariana Lacerda

GENEALOGIAS DO SUL

Da Redação

BIZARRO BAZAR

Cristina Morozzi

Maria Helena Estrada

BALLET DE MARSEILE BY CAMPANA

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Exposição em Brasília propõe o debate sobre a transitoriedade da casa contemporânea. Entrevista com o engenheiro Tom Paladino: reflexão sobre a relação entre as cer tificações “verdes” e a vida em comunidade. Um novo bairro na região metropolitana de Florianópolis surge com a pretensão de ser exemplo de “novo urbanismo” no Brasil

NEWS

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REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO

DEVICE ART: VIABILIZANDO O CONCEITUAL

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nº 58, março 2008

UM DESIGN AMIGÁVEL

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A reflexão sobre o papel que os criadores têm face à sociedade. É esta uma das linhas mestras do trabalho multidisciplinar de Jum Nakao. Instigar, conectar as pessoas com o invisível, inventando novas formas de expressão e de difusão, Nakao é um criador de poéticas urbanas e humanas

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Design como busca, parece ser o lema de Rodrigo Almeida. Quais serão as respostas a esse momento de transição? O segredo estará no conteúdo, na mensagem que os objetos transmitem? Como chegar ao comercial sem aderir à repetição e à mesmice. Como produzir sem poluir?

Às vezes mais racional e minimalista, às vezes menos, mas sempre desprezando o desnecessário e valorizando a fluidez dos espaços. Esta é a personalidade dos projetos de Carlos Alexandre Dumont, conhecido por Carico. De estilo inconfundível, o arquiteto mineiro faz qualquer tipo de obra, mas sua precisão e seu detalhismo o tornaram um especialista em lojas

MOSAICO DE MATÉRIA E VAZIO

Winnie Bastian

O MÁXIMO DO MÍNIMO

Ana Sant’Anna

MARCA REGISTRADA: CARICO

ANTROPOFAGIA CONTEMPORÂNEA

Maria Helena Estrada

JUM NAKAO

Mariana Lacerda

ENTREVISTA

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Nem só de cons tru ção é feita a arquitetura. No projeto de jovens arquitetos suíços para uma casa de hóspedes no noroeste da China, por exemplo, as áreas “residuais” têm papel funda mental na integração entre a edificação e o ambiente natural. Confira

QUERIA SABER POR QUE

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COMO ENCONTRAR (ENDEREÇOS)

PANORÂMICA

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ENGLISH VERSION

80 www.arcdesign.com.br




MAIS UM RED DOT Serve para guardar tranqueiras das mais variadas possíveis. Pode ser compactado, cabendo na bolsa, ou pendurado na parede em forma de um disco de pequena espessura. Produzido em lycra, o porta-trecos Buraco Negro, que já havia sido premiado em concurso do Museu da Casa Brasileira, permite o acondicionamento de diversos objetos, de maneira informal. Criado pela Nódesign – escritório paulista dos sócios Márcio Gianelli, Flávio Di Sarno e Leonardo Massarelli –, foi contemplado na categoria Concept Design, em novembro de 2007, no Prêmio Red Dot – uma das principais e maiores competições de design internacional. www.nodesign.com.br Carlo Cattadori

TRIENAL DE MILÃO Diversos eventos, mostras e apresentações de livros abrem o ano na Trienal de Milão. O site da instituição também anuncia a exposição no Museo dei Bambini, Milão, “Vietato non Toccare: Bambini a Contatto con Bruno Munari”, que explora estímulos táteis e visuais a fim de desenvolver a sensibilidaIoram Finguerman

de, a curiosidade e as necessidades do público-alvo, de 2 a 6 anos. Encerramento em 30 de março. Com término previsto para a mesma data, a Triennale apresenta a mostra “Annisettanta: il Decennio Lungo del Secolo Breve”, que reflete um dos períodos mais ricos, complexos e contraditórios do design italiano – a década de 1970. Já o livro “Antonio Citterio Architettura e Design”,

CUR SOS: TEORIA E PRÁTICA

de Alba Cappellieri, con-

Transformar o “saber” e o “saber fazer” num processo interdiscipli-

ta a trajetória de Citte-

nar que reúna teoria, prática, tecnologia, criatividade, pensamento

rio, mais conhecido por

estratégico, empreendedorismo, conceitos tecnológicos avança-

seu mobiliário e am-

dos e tendências é a proposta dos cursos master, promovidos pelo

bientações, combinan-

IED (Istituto Europeo di Design). Voltados para profissionais que já

do desenho industrial

atuam no mercado, eles têm duração de 15 meses e carga horária

com projetos arquite-

de 360 horas. Nas áreas de Design Estratégico, Industrial Design,

tô nicos para edi fica-

Design Graphic Editorial e Fashion Marketing, todos são baseados

ções privadas e gran-

na relação entre a teoria e a prática, utilizando estudos de casos

des espaços.

reais, parcerias com empresas e projetos experimentais. Inscrições

www.triennale.it

até o final de março. www.iedbrasil.com.br


1,2,3, 4, 5, 6... VASOS EM UM Chapas de inox e tubos de ensaio se unem, resultando no vaso Zig. A peça, formada por seis módulos – três encaixados na parte de cima dos tubinhos de vidro e três, na de baixo –, é inteiramente articulável. A graça está justamente aí! O encaixe pivotante entre as par tes confere diversas configurações ao todo. O Zig pode se apresentar longilíneo, com todos os pedaços alinhados; formar um ziguezague mais ou menos fechado; um desenho circular ou até um hexágono. Você escolhe. Basta interagir com a peça. O autor e designer Marcelo Kiokawa assina embaixo. Tel. (11) 4066-7768, e-mail kiokawa@kiokawa.com.br

40 ANOS: E SUPERJOVEM! Reflexo de uma cultura, de um momento histórico. Mais do que um móvel, a poltrona Sacco representa uma era. Irreverente, rebelde. Criada para a Zanotta em 1968 por três jovens arquitetos, Gatti, Paolini e Teodoro, ela foi – e ainda é – um verdadeiro culto à informalidade. Uma espécie de novo tipo de poltrona, deixa sentar, os que quiserem; deitar, quem preferir; se jogar, os mais ousados; e até usá-la como apoio, se a idéia for amaciar e esticar seu recheio – e nosso corpo. À venda no Brasil na Firma Casa, a Sacco é um grande saco, muito bem desenhado, feito de fatias de vinil, parcialmente preenchido com pellets de poliestireno. De fato, um sucesso capaz de resistir ao tempo e moti-

CONCUR SO: MELHORES LOGOTIPOS E MAR CAS

var, hoje, celebrações de 40 anos de existên-

Designers, agências, estúdios e estudantes de todo o mundo podem

cia repletas de exposições, publicações

se inscrever no “Worldwide Logo Design Annual (Wolda)”. A fim de

em sites e até filmes e, infelizmente, ...

promover a excelência na comunicação visual e prestar reconheci-

também cópias malfeitas.

mento para as pessoas que investem neste domínio, a Wolda premia

www.zanotta.it

os melhores logotipos e marcas, concebidos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2007. Os vencedores serão selecionados por um júri internacional constituído por dez designers, escolhidos pelo Icograda, dez gerentes de marketing, escolhidos pela Aquent, e ainda dez membros do público, determinados pela Consumers International. Todos os logotipos vencedores serão apresentados on-line e publicados em um impresso anual. Prazo de inscrições: 20 de maio de 2008. Mais informações: www.wolda.org


Em 24 de janeiro de 2008 faleceu José Carlos Bornancini, aos 85 anos. Ícone do design nacional, o engenheiro e designer gaúcho, junto com o parceiro Nelson Ivan Petzold, criou mais de 200 produtos – de tesouras a garrafas térmicas, de computadores a tratores, passando por móveis, fogões, elevadores e brinquedos. Entre as obras mais conhecidas estão os talheres Camping, que fazem parte da coleção permanente Norberto Marques

do MoMA (Museu de Arte Moderna de N.York), e a linha de tesouras Mundial Ponto Vermelho, da Zivi, que recebeu o prêmio argentino

DESIGN CONTEMPORÂNEO

Lapiz de Plata em 1985 e Top de Marketing da ADVB/RS em 1986.

A Vallvé procura a inovação em tipologias que já esgotaram a

Bornancini também teve participação ativa na carreira acadêmica,

capacidade de inventar formas e, mesmo, de introduzir mate-

como professor titular de universidades como UFRGS, PUC e UFSC.

riais. É o caso da cuba Dolce, fabricada em resina, com acabamento polido ou fosco, ideal para banheiros com design contemporâneo. Elegante, bonita. Mas vamos tentar inovar, ou agregar outras funções? Nas versões apoio (14 cm de altura,

MEMÓRIAS DE UM ACER VO

56 cm de largura e 42 cm de profundidade) e semi-encaixe

Qual a vocação do Museu da Casa Brasileira, afinal: histórica ou con-

(13 cm de altura, 56 cm de largura, 42 cm de profundidade e

temporânea? A atual exposição poderia ser vir como tema para a

5 cm acima do tampo), é encontrada, na Vallvé, em 36

discussão sobre os critérios e a finalidade para a formação de uma

opções de cores. A empresa indica sua utilização em conjun-

coleção permanente em um museu dedicado ao mobiliário. É um

to com outros produtos arredondados e ovais, como a linha

tema polêmico em todo o mundo, e, em razão dos espaços exíguos

Cilindro, Linha Cubo e Cubo Light. www.vallve.com

da sede desse museu, nos parece bastante oportuna. A exposição “A Casa Brasileira do MCB – Memórias de um Acervo”, em cartaz até 30 de março, conta com quase 250 móveis e objetos, do século 17 ao

ENSAIOS DESENHADOS E ESCRITOS

21, distribuídos nas cinco salas de exposições temporárias e no

Diversas formas de expressão e uti-

espaço destinado a eventos de longa duração. O aparador Étagère

lização do desenho são abordadas

(início do século 20, Mogi das Cruzes, SP), um entre muitos móveis

no livro “Disegno. Desenho. Desíg-

históricos, é um exemplo de ecletismo,

nio”. Organizado por Edith Derdyk e

pela soma do neoclássico, presente

editado pelo SENAC São Paulo, o

na simetria dos estriados na frente das

título reúne, em 314 páginas, 30

gavetas e laterais, e dos ornamentos

ensaios – alguns escritos, outros

art nouveau, na parte superior do

desenhados e outros desenhados e escritos. Do teatro ao

móvel. O museu dedicará tam-

cinema, passando pela publicidade, artes plásticas e até

bém espaço para grandes exposi-

ciências, as peças são assinadas por um eclético time de

ções de design contemporâneo,

autores. Entre eles, destacamos Arnaldo Antunes, Guto La-

como parecia ser sua vocação?

caz, Gal Oppido e Marcelo Ferraz. Tel. (11) 2187-4450, site

Esperamos que sim.

www.editorasenacsp.com.br

www.mcb.sp.gov.br

Felipe Bozzetti

ÍCONE DO DESIGN



LIÇÕES DO MESTRE Pioneiro no segmento de design corporativo, Norberto Chamma,

DESIGN E ARQUITETURA CONTEMPORÂNEOS

o Lelé, e seu sócio, Pedro Pastorelo narram a saga de um escri-

O trabalho recente de 90 dos profis-

tório de criação de marcas no livro “Marcas & Sinalizações –

sionais e empresas mais importantes

práticas em designcorporativo” (Ed. Senac São Paulo). Em tex-

na cena mundial do design está reu-

to objetivo, os arquitetos orientam iniciantes na carreira quan-

nido no livro “Design Now!”, lançado

to às exigências para a implantação de um escritório de de-

recentemente pela Editora Taschen.

sign gráfico, passando pela administração da rotina, custos

Editada por Charlotte e Peter Fiell, a

operacionais e até o convívio entre seus quadros. A abordagem

coletânea é organizada de forma enciclopédica, com entradas pelos

baseia-se nos 30 anos de vivência à frente do Und Corporate

nomes das empresas e dos designers publicados, dentre os quais

Design, fundado pelo mestre Le-

alguns velhos conhecidos dos leitores de ARC DESIGN: Ronan e Erwan

lé, que registra “cases” de suces-

Bouroullec, Naoto Fukasawa, Zaha Hadid, Ross Lovegrove, Jasper

so na área. É do Und a identifica-

Morrison, Marc Newson e Tokujin Yoshioka.

ção visual da Casa Santa Luzia,

No final do ano passado, a Taschen também lançou o quinto volume da

Casa do Pão de Queijo e Droga

série “Architecture Now!”, editada por Philip Jodidio, que combina traba-

Raia, entre muitas outras mar-

lhos de arquitetos renomados e jovens promissores de todo o mundo.

cas de forte memória afetiva.

Vale destacar que esta edição inclui projetos de quatro arquitetos brasileiros:

MADEIRA EM MOVIMENTO Sobras de imbuia, itaúba e marfim viram velocípedes e bicicletas nas mãos do artista plástico e designer Ted Benvenuti. Ele desenha, produz e monta todas as peças, cola e lixa tudo depois do objeto acabado. “O trabalho é todo artesanal, do começo ao fim”, frisa o profissional. Por que bicicletas? “Pelo simples fato de achá-las bonitas e, de certa maneira, ícones

Marcos Acayaba, Marcio Kogan, Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer. Ambos os livros estão disponíveis na versão português/espanhol/italiano e podem ser encontrados nas principais livrarias de todo o Brasil. www.taschen.com

da história”, diz Ted. A coleção também inclui uma linha de animais e outra de insetos. www.zonad.com.br

ACORDO PROMIS SOR A Masisa amplia sua atuação no mercado brasileiro. Líder na América Latina na produção e comercialização de painéis de madeira para móveis e arquitetura de interiores, a empresa comprou, em janeiro deste ano, 37% da Tafisa Brasil – que tem como principal atividade a fabricação de painéis de madeira. O valor da compra foi de 70 milhões de dólares. “Esse acordo demonstra que estamos consolidando nossa liderança regional no segmento”, afirma Jorge Hillmann, diretor-geral da Masisa Brasil. “Ele colabora para consolidar um crescimento no mercado brasileiro que já se configurava com a aprovação pelo conselho de acionistas da Masisa, no fim de setembro de 2007, da construção de uma fábrica de MDP (Medium Density Particleboard) no Rio Grande do Sul, orçada em 119 milhões de dólares.”


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BALLET DE MARSEILLE by Campana

“Uma arquitetura efêmera – a dança – que dialoga com outra arquitetura, mais perene”, são palavras de Frédéric Flamand, diretor do Ballet de Marseille, França, utilizadas para evocar um passado remoto e melhor se interrogar sobre nossa contemporaneidade Maria Helena Estrada / Fotos Pino Pipitone

Acima, dese nho de Frédéric Flamand, dire tor do Ballet de Marseille, publi ca do no livro com o “story board” de Metamorfoses, que inclui refe rên cias a balés ante rio res, com Nouvel, Hadid, Perrault, entre outros, como cola bo ra do res

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No alto das duas pági nas, cenas de ensaios para defi ni ção de cená rios e figu ri nos. Nas fotos maiores, cenas do espe tá cu lo “Metamorfoses”

Os irmãos Campana foram convidados a criar cenário e figurinos para o balé “Metamorfoses”, livremente baseado na obra de Ovídio (43 a 17 a.C.). Entre as 246 fábulas, Flamand, diretor e coreógrafo, escolheu as de Pégaso, Perseu, Narciso e Medéia. Todos os meses, durante um ano, em 2007, Fernando e Humberto viajaram a Marselha para “afinar” idéias, sempre próximos a Frédéric Flamand e aos bailarinos da Escola Nacional de Balé. Flamand, a cada encontro, contava as histórias dessas figuras míticas. As reuniões eram workshops que iam desenrolando-se em formas tridimensionais na mente dos designers. Eles também visitavam o mercado das pulgas, as lojinhas tipo 25 de Março, os camelôs de Marselha. Um exemplo dessas pesquisas é a malha metálica, Medusa, que envolve e solta o corpo do bailarino, obedecendo a seus movimentos. Qual a origem dessa “roupa-cenário”? “Uma bijuteria turca encontrada no mercado, um elástico envolvido por uma fita metálica”, contam os designers em meio à história de outros achados inusitados. Em cena, cenário e figurino se confundem, nada é fixo, estático. Criava-se a partir do corpo do bailarino e obedecia-se aos movimentos que deveriam fazer. Designers e bailarinos interagiam, testavam as roupas em 16 ARC DESIGN


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Cenários em movi men to, que se con fun dem com os figu ri nos e os cor pos dan çan tes. O entre la ça men to de linhas, o uso de mate riais trans for ma dos e trans for má veis, encon tra dos em mer ca dos e fei ras, e a cum pli ci da de com os dan ça ri nos, pela com preen são de seus movi men tos

movimento. Uma abordagem totalmente nova, que espantava os bailarinos pela cumplicidade e o calor humano reinantes, clima bem diverso do que estavam habituados. “O único material que pedimos à produção foi uma estrutura metálica para que, a partir dela, criássemos o cenário”, dizem os irmãos. No mais, o “método” foi o mesmo que usamos no Brasil, o de visitar briques e feiras, colher materiais e começar a criação a partir deles. Os quadros metálicos foram suspensos no ar por tensores elásticos para gerar uma interatividade com os bailarinos. E esses quadros se sucediam de acordo com os temas das “Metamorfoses”. Era um verdadeiro “work in progress”, onde toda a equipe contribuía. Tudo deveria ter pouco peso. Roupas dupla-pele em tecido negro, por exemplo, eram presas por velcro e se abriam, deixando entrever outra pele, vermelha. “Para os tubos fixados aos bailarinos, era preciso achar o diâmetro justo. Na verdade, todo nosso trabalho pode parecer improvisado, mas há uma verdadeira ciência por trás dessa pesquisa”, afirma Humberto. Uma ciência que deveria ser comprovada pelos próprios bailarinos, no uso desses cenários-móveis. “Depois do dilúvio, as pedras se metamorfosearam em corpos”, escreve Frédéric Flamand no livro-reportagem sobre sua obra. Metamorfoses interpretadas por cores, formas e movimentos. ❉ 18 ARC DESIGN


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BIZARRO BAZAR Parc des Expositions, parada do metrô parisiense. Desce uma enxurrada de pessoas, difícil de ser contida, que

valises, bolsas, sacolonas e uma babel de línguas. Os visitantes crescem e a feira dobra sua extensão. Quais as razões do crescente sucesso do Salão de Paris?

Fotos Antoine Giraudo

corre em direção à saída. Vão todos à Maison & Objet:


Cristina Morozzi A partir de 2008, além da Maison & Objet e do Planeta Móvel, entrou na órbita do SAFI (seus organizadores) o agonizante Salão do Móvel de Paris, transferindo-se da Porte Versailles, central, para Le Bourget, na periferia da cidade. As feiras, assim como o mercado de ações, conhecem altos e baixos mas, ao contrário da Bolsa, se começam a descer, é difícil que se reergam. Maison & Objet cresce, agrada aos visitantes, sempre mais

Abaixo, vaso “trom pe l’oeil”, em cris tal inco lor e preto, de Philippe Starck para a Baccarat. Na pági na ao lado, biom bo Swell, de LN BOUL, é o resul ta do de um tra ba lho de pes qui sas sobre a per cep ção e as ilu sões de ótica. A par tir de um único molde pro duz lâmi nas de madei ra, todas iguais, varian do ape nas a largu ra. As lâmi nas são uni das por cabos ten sio na dos, colo ca dos no alto, embai xo e no meio do biom bo. O usuá rio pode criar sem pre uma peça única, que se man tém está vel pela ondu la ção. Edição Vange, Bélgica

numerosos. Tentar saber quais as razões serve também para entender as flutuações culturais. Não é apenas a quantidade da oferta, a eficiência da organização, os eventos paralelos, as mostras, a escolha das datas. Todo este conjunto básico, mas também a alquimia feita de vários matizes, que fazem desse encontro parisiense uma atração para diversas categorias de profissionais, de cultores do design a estilistas e a compradores de cada categoria. Talvez o seu segredo seja o de acolher todas as tipologias e tendências: o design “doc” na seção “Now design à vivre”, agora em novo pavilhão externo ao prédio central, e inaugurado em janeiro 2007; também a decoração, o étnico, os acessórios de jardim, a arte topiária, artigos para a mesa, toalhas, papelaria, etc., nos outros seis pavilhões. As mais diversas propostas são temperadas e unificadas por um difuso gosto francês, que não perdeu uma só migalha de seu fascínio. Maison & Objet é uma feira que funciona, porque não exclui, na verdade inclui. Porque sabe mover-se com leveza do design de autor ao clássico, despertando a curiosidade com propostas divertidas e não-usuais. “Gadgetísticas”, mas desejáveis. Dá espaço ao rigor e à loucura, à ortodoxia e à fantasia. Seu mérito é o de ser eclética: todos encontram alguma coisa. Quantos pensavam que o design não poderia andar de acordo com a decoração, profetizando a falência de “Now design a vivre”, tiveram que mudar sua opinião. Convivem juntos, e muito bem, um complementar à outra e vice-versa. Essa mistura espelha o nosso viver: as casas verdadeiras são contaminadas pelos vestígios da vida, se modificam no tempo, seguindo o humor do habitante. Maison & Objet é uma feira bem-humorada. Espelha, até mesmo, as fraquezas e deslizes de mau gosto, em ambientações com animais 21 ARC DESIGN


empalhados e conchas, o que a torna acessível a todas as categorias de público. Sabe espichar os olhos em direção ao luxo, mas não esquece da ética, dando espaço a produtos de recuperação e reuso. Coquete, e mesmo kitsch, não descuida do funcional. Documenta a tecnologia, mas também o artesanato e seus virtuosismos. Sugere o sonho, mas sabe ser também realista e cotidiana: do vaso em cristal “trompe l’oeil” de Philippe Starck para a Baccarat, à lata de lixo “design” de Konstantin Grcic para a Authentics. E até a surrealista porcelana da Lladró, projeto de Bodo Sperlein. Há sempre uma surpresa, alguma loucura criativa que serve Acima, vaso em por ce la na Hairclipping, da Qubus Design, República Tcheca. No alto, à direita, mesinha ou ban que ta em metal esmal ta do, design Aldo Ci bic para a loja Paola C. Abaixo, Estante Joe (eta gè re Joe, urso polar híbri do), para CDs, DVDs e li vros, em la mi na do de madei ra, para ser mon ta da pelo pró prio usuá rio. Faz parte da cole ção “ objets déco Ibride”

para dar sabor, seja o estilo burguês, seja aquele design. E, mesmo que seja sempre mais difícil, consegue ainda fazer um “talent scouting”. É uma feira insuperável na organização dos “espaços tendência”: pontuais e temáticos, que representam o fio vermelho capaz de recosturar a variedade das propostas. Ambientações cenográficas, que orquestram com grande fantasia os produtos mais estimulantes dos expositores, junto a alguma peça rara (protótipos ou séries limitadas), úteis para enfatizar os diversos temas. Arrisca previsões, em modo onírico, sem tomar-se muito a sério, fornecendo, no entanto, chaves de leitura para que possamos destrinchar o universo das ofertas. Propõe páginas em liberdade, mas oferece também os instrumentos para ordená-las. ❉ Uma das mais brilhantes jornalistas e críticas de design italianas, Morozzi escreve na imprensa internacional e colabora com revistas como a francesa Intramuros e a italiana Interni, entre outras. Autora de diversas obras, em 1998 publicou o livro “Oggetti Risorti”, que trata a questão do reciclo no design. Em 2007 foi curadora da mostra com a primeira coleção de móveis e objetos para a loja de departamentos Coin, Itália, evento que se repetirá durante o Salão do Móvel de 2008

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Acima, The Body, ou bizar ras extrava gân cias, vaso com aca ba mento em ouro, do estú dio norte-ame ri ca no Sie ger Design, de Michael e Christian Sieger. Pro du ção pró pria, edi ção limita da a 25 peças, seu preço é de 8.850 dólares, cada! À direita, Rangoli, tape te em lã, tecido à mão na Nova Zelândia, de Nani Marquina. Ins pirado nos clássi cos mosai cos hin dus, é fabri ca do em três medidas, sem pre con ser van do a manei ra de com por o dese nho, do centro para as bor das

À esquerda, frag men tos de peças clássi cas, trans for ma dos em novos obje tos: é a cole ção Re-Cyclos Magical, lan ça da pela empresa es pa nho la Lladró. Na foto, uma fru tei ra em por ce la na do desig ner inglês Bodo Sperlein

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DEVICE ART VIABILIZANDO O CONCEITUAL Amantes das tendências que movimentam o mundo criativo, fiquem atentos: vem do Oriente uma forma de expressão que está mexendo com o consumismo ja po nês e ex pan din do-se para o Oci den te. É a uni ão da arte com a Jun Mitsuhashi

ci ência e a tecnologia. Seu nome? Device Art

Daniel Paronetto A cultura japonesa sempre se mostrou eufórica com o consumo de ornamentos expressivos e possui opções ilimitadas para a personalização de objetos de nosso cotidiano. Trata-se de um aspecto cultural muito evidente, que pode ser identificado desde os famosos “Tamagotchis” – que traçaram sua jornada de sucesso até nas Américas – até mais recentemente a Toy Art. Agora, liderada por um grupo de artistas que uniram suas habilidades com o universo da produção industrial, inicia-se uma nova tendência no mundo criativo: a Device Art, um conceito que reexamina a relação entre arte, ciência e tecnologia, usando tanto a perspectiva histórica quanto a contemporânea, visando criar uma forma de mídia. Sua proposta é viabilizar para o consumo produtos que usam a tecnologia como essência, além de referências artísticas ao dadaísmo e ao surrealismo para redefinir as atuais formas de produtos conceituais. A influência da linguagem artística japonesa é clara, assim

Jun Mitsuhashi

como a sua forte cultura visual, que cresceu totalmente independente dos paradigmas ocidentais. A Device Art teve início em 2004 com um projeto que reuniu um grupo de nove artistas e pesquisadores que, contando com o subsídio da Agência de Ciência e Tecnologia do

À esquerda e no alto da página, os robóticos instrumentos musicais da May wa Denki. Eles geram sons acústicos por meio de mecanismos eletrônicos e incoporam um es ti lo es tra nho de ma nu seio


Nesta pági na, o pro je to Spore 1.1 da empresa Swamp, con sis te em um ecossis te ma ele trô ni co para uma seringueira que se alte ra de acor do com as ações da empresa Home Depot. O com pu ta dor usa a tec no lo gia Wi-Fi para acessar os dados da Bolsa de Valores na inter net, atua li zan do-os uma vez por sema na, fazen do a plan ta ficar sau dá vel com as ações em alta e mur char quan do elas caem


Acima, Infinity Case, da empre sa Ja mes Clar. Instalação por tá til: seus dois es pe lhos cau sam a im pres são de uma linha infi ni ta de LEDs ani ma dos. À esquer da, Bit man, da Maywa Denki: obje to que, mes mo haven do movi men to late ral, sua figu ra fica sem pre na ver ti cal por meio de sen so res inter nos

Japão durante cinco anos, visava criar um modelo de produção, exibição e distribuição de seus trabalhos. Assim, eles tornaram viáveis para o consumo produtos conceituais antes vistos somente em museus e galerias de arte. Entre as empresas que investem nesse segmento destaca-se a Maywa Denki, que se define como uma unidade artística. Liderada por Nobumichi Tosa, ela mistura alta e baixa tecnologia para fazer instrumentos robóticos que são revelados ao público em apresentações com os próprios criadores. Nesses eventos, Nobumichi explica cada objeto e curiosamente, às vezes, os instrumentos não funcionam imediatamen-

Abaixo, e à direi ta, o Flexgrid da empresa James Clar. Um dis play de LEDs dobrá vel cria do com a em presa Ha ri ri+Ha riri. In te gra do a uma peça de roupa, esse dis play per mi te ao usuá rio se comu ni car com o traje, cau san do rea ções dife ren tes nas lu zes de acor do com os movi men tos e sons emi ti dos pela pessoa

te, fato que é integrado à exibição. Nada é escondido do público. A transparência, tanto física – mostrando seus componentes eletrônicos e inovações tecnológicas –, quanto conceitual, é uma característica importantíssima da Device Art. A tecnologia não é encarada como algo que deve ser camuflado atrás de um conceito artístico. Ao contrário, procura-se torná-la elemento central da peça, mostrando ao público o que ela tem para oferecer. A Device Art, de fato, pode levantar muitas questões sociais, como a necessidade desses produtos em um momento no qual o mundo está reavaliando seus valores de produção industrial. Mas essa nova tendência está em busca de respostas. A experimentação e a evolução de novas tecnologias são a essência desse trabalho, que pode ajudar a responder uma das últimas grandes questões contemporâneas: o impacto da era digital na sociedade. ❉

26 ARC DESIGN


Arc_Design_Dez_Casamatriz.indd 1

11/23/07 4:51:25 PM


Fotos Alejandro Lipszyc

GENEA LO GIAS DO SUL Trazer à tona, desvendar as próprias raízes

“Condutas em Perspectiva” é o título do artigo de

cul tu rais, foi a pro pos ta da expo si ção rea li -

Carolina Muzi, curadora da mostra “Genealogias del Sur”, no qual baseamos este texto. “Como auxiliar da

za da no Museu de Arte Latino-Americana

história, a genealogia se utiliza de atores do presente

(Malba), Buenos Aires. Através da obra de

para buscar, em seu passado, traços comuns da ascen-

co nhe ci dos desig ners argen ti nos – Diana

dência que, possivelmente, o futuro verá repetir-se em seus descendentes”, afirma Muzi.

Cabeza, Alejandro Sarmiento e a dupla Carlos

São três os caminhos apresentados. Diana Cabeza, par-

Gironda e Arturo de Tezanos Pinto, do Estúdio

tindo da investigação das topografias argentinas e de como estas abrigam os ritos sociais, repensa a arquite-

Usos, a mostra coloca seu foco em uma nova

tura urbana; Alejandro Sarmiento utiliza o lixo e o

metodologia de pesquisa, capaz de criar um

reuso para provocar a reflexão e a mudança de padrões

design contemporâneo de características niti-

cotidianos; o estúdio Usos, de Jujuy, região noroeste da Argentina, inaugura o regionalismo expresso em lin-

damente argentinas

guagem contemporânea, utilizando um remix de subsDa Redação

28 ARC DESIGN

tratos culturais.


Na página ao lado, série de banquetas que retratam a obra dos designers presentes na mostra “Genealogias Del Sur”. Acima, pano râ mi ca da mostra, vendo-se em pri mei ro plano o banco Topográfico, de Diana Cabeza

“O design argentino é muito jovem – 130 anos se

pelo exercício da liberdade expressiva que, muitas

tomarmos como ponto de partida o arado Schneider

vezes, chega ao limite da arte. Além do mais, todos se

(1878), ou 70 anos, considerando-se a cadeira BKF

unem ao redor de algumas das grandes problemáticas

como a precursora”, comenta Muzi. Um bom começo,

atuais do design: o esgotamento dos recursos mate-

diríamos, dada a fama que até hoje acompanha a BKF,

riais e seu correspondente desafio, a integração e a

mais conhecida como Tripolina.

acessibilidade nas grandes cidades, as vias de expres-

Alguns escritores, como Hector Tizon e Flora Guz-

são e de comércio justo em nossa era globalizada.

man (Usos), Graciela Speranza (Cabeza) e Juan José

“Por essa razão”, conclui Muzi, “a mostra tem início em

Becerra (Sarmiento), tiveram seus textos utilizados

um espaço polifônico, no qual os designers dialogam a

na mostra. A intenção era a de enriquecer o registro

partir de uma antiga genealogia do homem, que aqui

desses fragmentos do presente por meio de outros

conserva conotações ‘campeiras’, como o costume de

enfoques, possíveis de serem cruzados, dada a sen-

tomar chimarrão com o pé apoiado no banquinho.

sibilidade de cada escritor em relação aos respecti-

Assim, em um Jardim de Banquinhos, próximos ao

vos contextos.

chão, conversam sobre os usos, as formas, a cor, os

Diversos em suas formas, conteúdos e objetivos,

materiais, as técnicas e as curiosidades de seus pró-

Cabeza, Sarmiento e o estúdio Usos se caracterizam

prios entornos.” 29 ARC DESIGN


Alejandro Lipszyc

Acima, espa ço dedi ca do a Diana Cabeza, com o sofá Pampa Sensual, da déca da de 1990, lan ça do pela Cappellini e à venda no Brasil na Casa 21. Abaixo, as bolas de bor ra cha que ser vi ram de maté ria-prima para Alejandro Sarmiento

DIANA CABE ZA A desig ner Diana Cabeza ganha fama inter na cio nal com o lan ça men to do sofá Pampa Sensual, edi ta do pela Cappellini, Itália, no iní cio da déca da de 1990 (veja ARC DESIGN 17). Focada no homem e seu con tex to, hoje ela dedi ca parte de suas pes qui sas e pro je tos aos equi pa men tos urba nos. São três as suas preo cu pa ções cen trais: a pro cu ra das pró prias raí zes; a refle xão sobre o uso dos espa ços comu ni tá rios e seus ritos; a con vic ção de que bele za e fun cio na li da de são indi vi sí veis. Formada em Belas Artes e, tendo apro fun da do as inter se ções en tre ma té ria e massa cor po ral, vê o espa ço como algo ativo. Seus dois re fe ren ciais são as áreas públi cas e o com por ta men to hu ma no. Diplo ma da em arqui te tu ra, logo enten deu que “neces si ta va uma esca la que per mi tis se a veri fi ca ção com o pró prio corpo”. Pos tura fun da men tal da desig ner é a valo ri za ção dos mate riais lo cais e da mão-de-obra ar te sa nal. As ondu la ções pró prias à to po gra fia a r gen ti na exer cem fas cí nio, e esse espa ço sen sual está pre sen te em toda sua obra. Ad mi radora e estu dio sa de Lina Bardi, ou viu do edi tor cata lão Joseph Ser ra que “ambas cria vam com o que tinham em mãos, sem menos pre zar os mate riais e abrin do no vas pos si bi li da des de uso dos mes mos”. Diana Cabeza é auto ra do mo bi liá rio ur ba no de Puerto Madero, entre outras áreas de Buenos Ai res, e já faz parte da pai sa gem de cida des como N. York e Bangcok. 4 30 ARC DESIGN


Alejandro Lipszyc

Acima, instalação de Sarmiento, especial para a mostra, e cadeira Rubier ta Iron (borracha e ferro), que usa câmaras de ar reaproveitadas. Abaixo, as bolas de borracha plástica, “vestidas”, compõem o assento Tupac

ALEJANDRO SARMIENTO Alejandro Sarmiento per ten ce à gera ção que, por falta de

Standard, que traduz sua forma de projetar, reunindo peças indus-

empre sá rios que acre di tas sem no design nacio nal, optou pela

triais ao trabalho manual. Uma conduta que ele define como

au to pro du ção e é hoje um nome inter na cio nal (veja ARC DESIGN

“dese nhis mo”, ou seja, “ir desde a autogestão até ao objeto, à

48 e & Fork, edit. Phaidon). Sua abor da gem ao design é in de -

não-tecnologia, à intervenção direta sobre o produto. Uma con-

pen den te e alter na ti va: na ins pi ra ção con cei tual e for mal, na

cepção de oficina, mas com essência industrial, que permite a

pos tu ra pro je tual, na aten ção aos mate riais. “A rela ção com

serialização em grandes quantidades”. Sua apa ri ção no cená rio

os mate riais é o mais impor tan te e tra ba lho a par tir do que

inter na cio nal acon te ceu com a cadei ra Con te nidoneto, que re -

estes suge rem. A res pos ta vem da inves ti ga ção so bre suas

pre sen ta outra pos tu ra-chave de seu tra ba lho: a ca pa ci da de de

pro prie da des, modos de uso e pos sí veis novas uti li za ções. Não

atra ves sar os subs tra tos da cul tu ra para recu pe rar e uti li zar o

é um cami nho típi co, mas é aque le que me per mi te avan çar

que con vém à sua época. Para esta cadei ra, em plás ti co re ci -

sem pre ci sar dis por de tec no lo gias de ponta”, afir ma Sar -

cla do de gar ra fas, ele uti li za uma fer ra men ta mui to sim ples do

mien to. Seus ob je tos mui tas vezes lem bram os “ready made” de

acer vo “criou lo”, ligei ra men te modi fi ca da, que per mi te recor -

Achille Castiglione, usando partes de produtos com uma vida

tar e di mi nuir a espes su ra do plás ti co, uti li zan do as tiras para

ante rior, na cria ção de ou tro obje to. Essa opção tem tam bém

criar cadei ras e lu mi ná rias, ou outros. Con te ni do neto se tor -

uma raiz cul tu ral, de quem vi veu em am bien te rural, pobre,

nou o no me de um mo vi men to de alta sen si bi li da de ambien tal.

acostumado a catar o que havia sido jogado fora. Uma tendência

Di plo ma do em Be las Ar tes, sua cumplicidade em rela ção aos

fortalecida no início dos anos

mate riais vem des de a infân cia, cons truin do peças com peda -

1990, quando viveu no Soho

ços de pro du tos in dus triais, de des car te, que ele trans for ma -

no va-ior qui no, com seu

va. Foi por razões co mo essas que “Ge nea lo gias del Sur” bus -

“lixo primeiro-mundista”.

cou cons ti tuir, com a obra de Sar miento, uma “mate ria lo te ca”,

De volta a Buenos Aires,

como um gabi ne te de ciên cias onde se cru zam as dife ren tes

fundou o estúdio IndustriAL

linhas de inves ti ga ção do desig ner e seus res pec ti vos pro du tos.

Valeria Pedelhez

31 ARC DESIGN


USOS Alejandro Lipszyc

“Olhar para o centro teve como consequência a perda de muitos valores da região andina. No lugar do sonho bolivariano, as fronteiras que se desenharam a partir da independência fizeram com que o noroeste argentino começasse a olhar artificial e forçadamente para Buenos Aires, dando as costas às suas próprias referências: Sucre, Potosí, Chuquisaca, o mundo andino”, afirmam os designers do estúdio Usos. “Quando pequenos, nossos heróis eram aqueles do mundo Inca, a Argentina soava como algo europeu e Buenos Aires, muito distante, mas era a meca… Ao contrário, agora, vemos um renascimento da nação andina.” O estúdio Usos é formado pelos arquitetos Carlos Gronda e Arturo de Tezanos Pinto, diplomados na Argentina, com pós-graduação em temas relativos aos patrimônios culturais na Universidade de Columbus, Ohio (EUA). “Mas misturaram tantas coisas em nosso mate! Nossas amas eram indígenas, participávamos de suas crenças, sua língua, nos preparavam suas comidas”, comenta Gronda. As peças cria das pela Usos, que come çam a ganhar visi bi li da de inter na cio nal, tra zem essa forte carga de refe rên cias nos mate riais, nas cores, nos cos tu mes e nos faze res arte sa nais de sua terra. “Isso que as pes soas de fora vêem como rea lis mo má gi co não é mais do que nossa rea li da de.” Acima, Charmiri, cole ção da Usos, ins pi ra da na cul tu ra e tra di ção andi nas. Abaixo, deta lhe de uma festa popu lar na região dos Andes Argentinos, fonte de ins pi ra ção para os desig ners do estú dio Usos


SUSTENT A ÇÃO SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA, DESIGN E URBANISMO

MORADIAS TRANSITÓRIAS

ENTREVISTA: TOM PALADINO CERTIFICAÇÕES VERDES PARA BAIRROS

NOVO URBANISMO OU URBANISMO SUSTENTÁVEL

Instalação de Mana Bernardes para a mostra Moradias Transitórias / Foto Cristiano Sérgio

REFLEXÕES SOBRE FORMAS DE MORAR


Sobre as cidades invisíveis ou como estar sozinhos, acompanhados. Exposição em Brasília realizada no final do ano passado reuniu designers e arquitetos, do Brasil e do mundo, que propuseram a construção de moradas transitórias. Em comum, as criações trouxeram a reflexão pertinente sobre como construímos e vivemos em nossas cidades, a formação de abrigos como espaços de afetos – sempre e cada vez mais em contínua mudança Nicola Goretti, curador da mostra / Fotos Cristiano Sérgio 34 ARC DESIGN


A transitoriedade é um estado que nos define, e o tempo é a medida que utilizamos para determinar nossa permanência. Ambos formulam a equação da existência. Somos seres barrados pela consciência e pelos sentimentos, em que o instinto de sobrevivência se conjuga com a transitoriedade do corpo, dos pensamentos, dos sentidos. A questão do habitat nos assentamentos urbanos forma parte de um repertório de exigências elementares para a sobrevivência e, como consequência, para o surgimento de novas sociedades. Esses núcleos habitáveis expressam os sonhos de seus integrantes, permitem a convivência e o encontro entre os similares ao compartilhar espaços, objetos e desejos. Na atualidade, é improvável alcançar espaços com uma configuração natural e originária. São raros os lugares intocados. Fundar um lugar, ocupar, plantar, construir são seqüências amadoras que pertencem ao passado. Possivelmente, a mais recente experiência é Brasília.

Acima, monta gem da expo si ção “Moradias Transitórias”, no pavi lhão do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília. Abaixo, a obra “Arquitetura do Corpo – Lar D”, dos arquitetos franceses Lucy e Jorge Orta. O trabalho sugere uma habitação coleti va e sua forma se assemelha a de um iglu. Na página ao lado, embaixo, proposta da carioca Mana Bernardes, intitulada “No papel não caberia / O que no corpo já não cabia / Na poesia caberia”. Ao todo, 36 pares da silhueta humana são reproduzidas em papel, formulando a idéia que o corpo é a nossa morada

35 ARC DESIGN


Acima, o “Dirigible”, do desig ner Emiliano Godoy, México. A cober tu ra flu tuan te em madei ra, de forma polié dri ca, pode ser pen du ra da em qual quer lu gar. Formando assim um espa ço sus pen so, não mais que uma área co ber ta onde basta ao mora dor abri gar-se abai xo da pro te ção, sem pre cam bian te

Acima, a pro pos ta dos bra si lei ros Jum Nakao e Pop Carvalho, “Pai sa gem Urbana”: a casa sobre rodas, que reco lhe os des car tes da cida de e por isso não pára em lugar nenhum. A car ro ça, cuja base é ori gi nal de um cata dor de lixos da capi tal pau lis ta, lança um olhar sobre os rumos do mundo con tem po râ neo

36 ARC DESIGN

Um “não lugar” transformado em “lugar” a partir da

quiteturas como refúgios, asilos para seres que se

medida do homem. Um espaço racional no qual seria

comunicam por meio de códigos e a aparição de novas

possível um novo encontro entre as pessoas. Um

ordens familiares organizadas fora das relações for-

espaço “moderno”.

mais de parentesco.

Os mecanismos para tentar evadir-se do sentimento de

Estas são algumas das questões que a exposição “Mo-

transitoriedade se repetem em todos os casos. Eram e

radias Transitórias” indagou. Fugir do mundo arquite-

continuam sendo múltiplos e complexos, projetados no

tônico e tecnológico para entrar na construção artesa-

presente por meio da busca contínua de lugares dispo-

nal e mecânica, nos universos dos subprodutos indus-

níveis, espaços construídos e antropomorfizados. Essa

triais que a sociedade moderna cria. Pensar arquitetu-

lacerante realidade está moldada pelo fenômeno das

ras orgânicas que permitam a mobilidade das pessoas

migrações. Existem aquelas locais que originam movi-

e a incorporação de seus refúgios dentro do tecido das

mentos programados de massas de pessoas, as migra-

cidades, transformando os espaços de coexistência.

ções controladas. Existem outras, de maior violência e

Esses elementos outorgam uma nova composição co-

impacto social, provocadas por uma questão que defi-

munitária, colocando em risco os espaços presumida-

ne a nossa modernidade: as fugas dos habitantes dos

mente protegidos que surgem dia após dia. São zonas

países “pobres” em direção aos “ricos”. Uma realidade

“imaculadas”, com edifícios luxuosos que confinam em

que é ainda mais atormentada pela sintonia cruel e am-

vastos e miseráveis territórios sem qualidade de vida.

bígua dos controles fronteiriços.

São subúrbios que fundam condomínios fechados como

Os temas referentes à habitação passam a ser a base de

prisões, onde o mote de “seguros” estimula os novos

inúmeros estudos. Casa, ninho, caverna, como identifi-

postulados contemporâneos de índole segregacionista.

cação material e simbólica das espécies vivas. Microar-

Por um lado a cidade visível e ostentosa, governada por


Acima, a insta la ção “Plug Out Unit”, dos argenti nos Gustavo Diéguez e Lucas Gilardi. Lugar para orga ni za ção do corpo cuja ins pi ra ção são jo gos de encai xe. Abaixo, o tra ba lho “Rosa Morada”, da bra si lei ra Ana Miguel, pro põe a refle xão sobre onde acaba o corpo e se ini cia a mora da

milhões de habitantes que tentam, com dificuldade, se comunicar. O crescimento populacional não garante a união comunitária, colocando habitantes diante da experimentação da solidão, ainda que acompanhados. Por outro lado, há a cidade invisível, transitória, um território impregnado de novas arquiteturas sobrepostas e ambulantes, esparramadas nos espaços livres que a cidade habilita, por obrigação e por distração. As obras aqui apresentadas contam nossa realidade. As moradas transitórias continuarão ocupando o tecido urbano, fundando setores de cidades e definindo novas formas de viver porque, na realidade, são prolongações de nós mesmos. Zygmunt Bauman define o fenômeno do habitat transitório como o verdadeiro gerador das cidades do futuro. Acrescenta, em tom otimista, que o único modo possível para compartilhar nossos espaços íntimos – aqueles referentes ao afeto e ao amor – será construir os espaços cotidianos de convivência e de proteção, mesmo que transitórios e vulneráveis. Uma questão irremediável que nos “atravessa” desde sempre. ❉ 37 ARC DESIGN


Pelas mãos do arquiteto e engenheiro Tom Paladino já passaram mais de 250 projetos em busca do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), modelo norte-americano para a certificação de edifícios sustentáveis. À frente do escritório Paladino Green Building Strategies, em Seattle, ele também foi um dos responsáveis pela própria criação dos conceitos e requisitos do “selo verde”. De passagem pelo Brasil para mais uma consultoria (ver matéria “Por um bairro sustentável”), Tom Paladino falou à ARC DESIGN sobre os desafios da construção de edifícios e cidades sustentáveis


Nas duas pági nas, pro je tos que tive ram a con sul to ria de Tom Paladino para obten ção do selo LEED. À esquer da, abai xo, pro je to do edi fí cio Primavera Office Green, em Florianópolis. Ao lado, edi fí cio Three PNC Plaza, em Pittisburg, nos Estados Unidos: reci cla gem de 50% da água uti li za da e estru tu ra, de 12 anda res, que uti li za 50% de aço reci clado

ARC DESIGN – Que tipo de expe riên cias coti dia nas você tem com

o seu trabalho? TOM PALADINO – É um trabalho, mas também é um estilo de

vida. Comecei minha trajetória profissional como engenheiro mecânico. Engenheiros desenvolvem soluções pragmáticas. Achei que ainda faltava algo na minha formação, assim, voltei para a universidade e me transformei num arquiteto. Conclui o curso no momento em que temas ligados à ecologia e à sustentabilidade estavam em evidência. O ano era 1992, justamente quando ocorreu a ECO 92, no Rio de Janeiro. Então devo muito do meu estilo de vida ao Brasil. Sustentabilidade é uma questão complexa que exige um trabalho multidisciplinar, o que me fez, de alguma forma, estar no lugar certo, na hora justa. No meu trabalho diário estou em constante contato com profissionais de todas as disciplinas, humanas e exatas, e com questões que envolvem equações matemáticas, mas com doses altas de subjetividade. AD – O LEED Neighborhood Developments (o LEED ND, que certifica AD – O LEED é um sis te ma de cer ti fi ca ção bas tan te numé ri co.

bairros) pode ajudar nessas questões, digamos, mais subjetivas?

Como considerar a variante social ou mesmo humana nos siste-

TP – Primeiramente, é um conceito, uma idéia, que pressupõe

mas de cerificação verde?

o seguinte: se formos capazes de pensar na construção de um

TP – Chegamos até aqui, e estamos na presente situação com

prédio sustentável, por que não imaginarmos bairros sustentá-

essa ordem de problemas. Temos que reparar, pois se trata de

veis? A certificação LEED ND considera a circulação entre pré-

uma dívida que temos. Em qualquer área, a sustentabilidade

dios, as ruas, as áreas verdes, o saneamento, etc. Mas é

não existe se não envolver três quesitos importantes: conser-

importante sempre pensarmos os projetos como “pilotos”, uma

vação da natureza, capital e pessoas felizes. Acontece que,

vez que vamos aprendendo com a vida do bairro, e assim ajus-

atualmente, observamos que ainda é grande a preocupação

tando os projetos à realidade cotidiana. Atualmente, existem

com o capital em detrimento da natureza e da própria vida

200 bairros em que essa certificação está sendo testada, a

humana. A indústria gosta de números, empreendedores gos-

maior parte deles nos Estados Unidos.

tam de números. De certa forma, os processos de certificação são bastante numéricos e atendem bem aos empresários. Mas

AD – Como essas certificações podem se adequar às realidades

computar o fator humano e social no LEED ainda é um dos

de comunidades locais?

nossos desafios, uma vez que de nada adiantam os números

TP – Imagine que existe um distrito, um bairro, e um proprie-

se realmente não estivermos entendendo como as pessoas vi-

tário que deseja construir um novo prédio. Teremos, primeira-

vem, como são suas culturas.

mente, uma construção nova que existirá a partir da calçada 39 ARC DESIGN


para den tro. O esco po de influên cia é da cal ça da para den -

AD – Já exis te uma indús tria, no Brasil ou no mundo, que aten -

tro. É nesse âmbi to que você pode con tro lar o que está

da às necessidades da construção verde?

sendo cons truí do. No caso do LEED ND, é pre ci so con si de rar

TP – É uma questão complicada quando observada a partir de

a pai sa gem, as cal ça das, e tudo que está fora do pré dio.

um contexto geral. Mas necessariamente o mercado irá se

Para isso, é pre ci so conhe cer o entor no, o bair ro, o dis tri to

adequar. De um modo geral, em todas as áreas do conheci-

e até a cida de.

mento, 5% das pessoas são aquelas realmente inovadoras. Outras 12% ou 15% são aquelas que percebem e adotam a

AD – Como tor nar sus ten tá veis perí me tros já cons truí dos? É

inovação muito cedo. A grande maioria vem depois, e assimila

possível certificar um bairro existente?

a inovação quando talvez o primeiro grupo, aquele primeiro

TP – A maior parte dos novos projetos de LEED ND nos Estados

dos 5%, já esteja criando outras soluções. Qualquer mudança

Unidos consiste em tentativas de regiões que já existem e que

que aconteça com o nosso modo de vida começa com as

desejam tornar-se sustentáveis. Mas o que se deve realmente

soluções propostas pelos inovadores. Bons urbanistas e bons

entender é que sustentabilidade não depende necessariamen-

arquitetos são inovadores. E estão criando mercado para que

te de um selo verde, tampouco de um governo. Se cada um de

suas inovações se tornem realidade. ❉

nós tentarmos resolver o problema em nossas casas, em nossos bairros, esses lugares vão se tornar sustentáveis. Sim, podemos certificar um bairro, mas isso não deixa de ser um experimento que vai depender muito da ação de cada um. Os norte-americanos em geral gostam de deixar tudo dentro de caixas e explicar tudo em números e o LEED ND serve bem a isso. Contudo, não deixa de ser apenas uma tentativa de um grupo de pessoas de viver de forma mais sustentável. AD – A LEED ou o LEED ND con si de ra como parâ me tro a pre ser -

vação da história de um lugar? TP – Não muito. Quando consideramos a sustentabilidade

como algo que inclui pensamentos, boas idéias, preservação histórica, essas certificações terminam sendo uma ferramenta secundária. Há casos em que devemos observar uma construção ou a recuperação de um prédio – ou de uma área – de uma forma mais holística e que transcenda os “cartões de pontuação” da certificação LEED. Os “cartões” são formas de controle de padrões mínimos que garantam a sustentabilidade de um prédio. Mas, para preservamos construções históricas, o que inclui a memória de vida de um grupo de pessoas, precisamos de uma visão mais holística do mundo.

Ao lado, edi fí cio Desert Living Center Fact Sheet, em Las Vegas. Espaço para expo si ções, tem siste mas de cap ta ção de energia solar, uti li za madei ra de reflo resta mento, revesti mentos eco ló gi cos (como tintas e ver ni zes à base de água) e car pe tes feitos com mate riais reci clá veis

40 ARC DESIGN


A.F. ANº PAIXÃO POR (21x28)

2/29/08

4:32 PM

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Holcim. Paixão por construir o futuro.

Responsabilidade ambiental, responsabilidade social, sustentabilidade, para nós, não são simples palavras que hoje estão na moda. São compromissos inegociáveis. Em 2007, pelo 3º ano consecutivo, fomos reconhecidos como líderes da indústria pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Somos a única indústria cimenteira do mundo a ter esse reconhecimento. O que nos incentiva a continuar buscando um futuro sustentável para nosso planeta. www.holcim.com.br

Líder mundial em cimento, concreto e agregados.


Idealizado para abrigar 30 mil pessoas nos próximos 15 anos, um novo bairro na Região Metropolitana de Florianópolis será um experimento sobre o quanto viver de forma sustentável se relaciona com a maneira de se projetar ruas, praças e edifícios Mariana Lacerda

Acima, pro je to do bair ro Pedra Branca, na Região Metropolitana de Flo rianópolis, que, exem plo de “novo urba nis mo”, foi pre mia do pela úl ti ma XI Bienal Internacional de Buenos Aires. Na página ao lado, acima, cro qui do anfi tea tro, dese nha do por Jaime Lerner, coor de na dor do pro je to urba nís ti co. No pé da página, à direita, projeto do Centro Cultural, também de sua autoria. Ao lado, as cal ça das e ruas largas que vão com por o tra ça do do con junto, com pai sa gis mo de Be ne dito Abbud

42 ARC DESIGN


Nos últimos anos, vem ganhando força nos Estados Uni-

E por tudo isso, essa maneira de pensar e organizar as

dos um movimento chamado Novo Urbanismo, que sur-

cidades é considerada “urbanismo sustentável”.

giu em resposta ao crescimento desordenado dos subúr-

Os seus preceitos estão guiando um grupo de arquitetos

bios norte-americanos. Esses, por sua vez, são constituí-

na criação do Conjunto Pedra Branca, Região Metropoli-

dos por aglomerações de casas onde seus moradores es-

tana de Florianópolis. Condomínio aberto, o projeto tem

tão distantes de locais de trabalho, serviços públicos, lazer

a coordenação dos urbanistas Silvia Lenzi e Jaime Ler-

e dependem excessivamente do transporte coletivo ou

ner, com a consultoria do escritório norte-americano

mesmo do carro, quando existente. A propósito: alguma

DPZ, percussor do Novo Urbanismo.

semelhança com as periferias das metrópoles brasileiras?

Ao todo, oito escritórios de arquitetura de Florianópolis

Os defensores do Novo Urbanismo apóiam o surgimen-

estão envolvidos, responsáveis por projetar escolas, hos-

to de bairros menores, porém mais populosos. Suas

pitais, moradas. As construções serão erguidas confor-

construções devem abrigar moradias, comércio, escolas,

me os preceitos do LEED, sigla para Leadership in Ener-

universidade, hospitais, padarias; e também gentilezas

gy and Environmental Design, certificação verde norte-

urbanas como bancas de revistas, bares. Uma microcida-

americana para construções sustentáveis – motivo pelo

de, enfim, com tamanha diversidade social e de serviços,

qual os desenhos têm o acompanhamento do engenhei-

que é possível morar, trabalhar, se divertir sem se loco-

ro Tom Paladino (veja entrevista nesta edição). Por fim, o

mover por longas distâncias.

que se pretende é que o Pedra Branca seja o primeiro

Calçadas largas estão incluídas na idéia do Novo Urba-

bairro do Brasil a obter o LEED Neighborhood Develop-

nismo. Faz sentido, pois em um lugar onde o comércio e

ments (o LEED ND, a certificação para bairros inteiros).

o trabalho, por exemplo, estão perto de casa, o uso do

Um experimento que poderá nos mostrar o quanto o

carro torna-se secundário – e as calçadas repletas de

viver sustentável se relaciona não apenas com mecanis-

pessoas (lugar de encontros). Os bairros projetados pelo

mos sustentáveis de erguer edifícios, mas, também, com

Novo Urbanismo têm logradouros generosos e ciclovias.

formas de se pensar, projetar cidades e nelas viver. ❉


MATE RI AIS

FIBRA DE BAMBU O uso da seda, do algodão e do linho se intensifica na decoração e na moda. No Brasil, o mercado de tecidos de fibras naturais passou a contar com mais uma opção “ecologicamente correta” – a que sugere, portanto, que seu processo de produção inclua o uso de recursos naturais renováveis. Trata-se do tecido que tem como matéria-prima o bambu – que por isso mesmo ganhou o nome de “Bamboo”. A malharia Marles tem exclusividade na produção de malhas com fios obtidos a partir da planta. O “Bamboo” é resistente aos raios ultravioleta, tem boa absorção da umidade, além de capacidade termodinâmica – essas são, inclusive, propriedades da fibra. Por conta disso, recebeu a certificação OKO TEX Stadards 100, selo internacional do mercado têxtil, garantia de que não carrega substâncias químicas – e regulamenta seu uso até mesmo em bebês recém-nascidos. A cada estação, a Marles lança novas cartelas de cores do tecido “Bamboo”.

MADE IN BRAZIL

MADE IN BRAZIL II

Aparentemente, este ônibus é semelhante a qualquer outro:

A comunicação visual do primeiro ônibus brasileiro movido a hidro-

tem os mesmos 12 metros de comprimento e capacidade pa-

gênio tem a assinatura das alunas de Belas Artes da UFRJ Aline

ra transportar 109 passageiros. Mas o modelo ao lado traz

Lima, Carolina Cadaval e Dandara Dantas. Vencedoras de um concur-

uma diferença: trata-se do primeiro exemplar brasileiro e sul-

so promovido pela COPPE/UFRJ, as linhas leves e cur vas do design

americano movido a hidrogênio. A iniciativa resulta de pes-

remetem às idéias centrais da pesquisa que originou o ônibus: ener-

quisas feitas no Laboratório de Hidrogênio, da Coordenação

gia renovável, meio ambiente e desenvolvimento tecnológico

dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (COPPE) da UFRJ. “Não é poluente, emite pouco ruído e tem como único resíduo a emissão de vapor d’água”, afirma o coordenador do projeto, Paulo Emilio Valadão de Miranda. Ainda este ano, o ônibus estará circulando pelas ruas do Rio de Janeiro. Com isso, o Brasil passará a integrar o grupo de países da Europa e da América do Norte onde já foram desenvolvidos ao menos dez modelos de protótipos de ônibus movidos a hidrogênio, totalizando 80 veículos circulando no mundo. A versão brasileira de ônibus movido a hidrogênio foi desenvolvida com o apoio da Petrobras e Finep.



Marcos Faria

ENTREVISTA

AÇÃO SUSTENTÁVEL: ADALBERTO VERÍSSIMO

A Amazônia é superlativa. Abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, a maior floresta tropical, a maior área contínua de manguezais, além de expressiva diversidade de povos indígenas. Tudo isso vem sendo ameaçado pela exploração econômica de seus recursos naturais. O mais grave é que esse processo não se converte em benefícios duradouros para a população amazônica, nem mesmo para o Brasil. Em prol do desenvolvimento sustentável da região, 80 entidades, entre organizações da sociedade civil, movimentos sociais, empresas e instituições de pesquisas, criaram o Fórum Amazônia Sustentável. O que é? Trata-se de uma plataforma comum de atuação e diálogo que reco-

PLANE TA ÁGUA

nhece os interesses distintos dos setores envolvidos. Estabelece,

Uma previsão nada otimista feita por especialistas sugere que

também, a necessidade da criação de uma agenda positiva, feita com

em breve a falta de água será a principal causa dos conflitos

inclusão social, respeito à natureza e desenvolvimento econômico.

entre as nações. Apresentar alternativas e soluções para o problema da escassez de água potável em vários lugares do

Como funciona?

mundo é o objetivo da Expo Zaragoza 2008, que abordará o

O importante é a transparência e que todas as atuações realizadas

tema “Água e Desenvolvimento Sustentável”. Ao todo, 102 paí-

na Amazônia, de empresas às instituições de pesquisa, se realizem

ses, incluindo o Brasil, participam do evento, que acontece de

de forma clara, em um processo de respeito múltiplo. Criamos gru-

14 de junho a 14 de setembro. Trata-se, portanto, de um

pos de trabalhos para que isso aconteça. Começamos a trabalhar,

encontro entre culturas diversas, povos diferentes, em um

por exemplo, com os bancos que operam na Amazônia, no sentido de

espaço criado para o surgimento de idéias e troca de experiên-

inserir parâmetros de sustentabilidade nas linhas de crédito. Acre-

cias positivas sobre o problema de água no mundo. O tema

ditamos que esse é o caminho, ou seja, o da economia do novo milê-

será abordado considerando a água como um direito de todos

nio, que estabelece a sustentabilidade como produção de riqueza.

os humanos para que se atinja a equidade social. A Expo Zaragoza 2008 é um evento internacional regulamentado pela BIE, sigla em francês para Bureau International des Expositions. A primeira “Expo”, evento realizado a cada cinco anos, foi celebrada em Londres, em 1951. www.expozaragoza2008.es

Adalberto Veríssimo é coordenador do Fórum Amazônia Sus ten tá vel junto à Imazon, ONG de pes qui sas em Belém. www.imazon.org.br


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UM DESIGN AMIGÁVEL Heloisa Crocco é desig ner, artis ta plás ti ca e pes qui sa do ra, além de atuar como con sul to ra no uni ver so do arte sa na to. Seu tra ba lho é minu cio so, fun da men ta do, e os resul ta dos são sem pre sur preen den tes, seja pela forma cons tru ti va e pelos con cei tos em que se baseia, seja pela poe sia do objeto

Maria Helena Estrada De simples artigo de moda e luxo, a bolsa se transforma em peça fundamental para um viver ecológico. Abaixo os saquinhos plásticos que poluem “ad eternum” nosso planeta! Agora já podemos sair preparadas para as pequenas compras com bolsas-sacola... mas sem perder o charme e a elegância. É uma transformação de hábitos que faz da simples bolsa um objeto multiuso. Com esse lançamento também se realizam duas outras transmutações: Heloisa Crocco vai do artesanal ao industrial; a indústria Coza, ao comemorar 25 anos, agrega uma nova coleção ao seu repertório – a dos objetos de uso pessoal. Lançada em dezembro no ateliê da designer, em Porto Alegre, a Next Bag foi em seguida apresentada em Punta del Este – sucesso absoluto. A bolsa, produzida pela indústria Coza, de Caxias do Sul, RS, tem seu desenho baseado no próprio logotipo da empresa. A alça é a letra “C”, invertida, que se completa em um redondo “O”, e o corte oblíquo reproduz o “A”. O material é o poliesti-

daqueles objetos que conquistam à primeira vista ou, dito no jargão do design, um objeto amigável. ❉

Acerv

pesquisa em tendências da moda, e o resultado é um

o ARC D E S IG N

reno de baixa densidade, as cores foram definidas em uma

49 ARC DESIGN


Pop Carvalho

ENTRE VIS TA: Fábio Cancela / Estúdio FM

JUM NAKAO A agenda de Jum Nakao está lotada – eventos que comemoram o centenário da imigração japonesa no Brasil, destaque em exposição na Nova Zelândia, direção de arte de um filme de longa-metragem, desenvolvimento de design de produtos –, mas há espaço para uma parte importante de seu trabalho: a reflexão sobre o papel que criadores como ele têm face à sociedade Mariana Lacerda 50 ARC DESIGN


ARC DESIGN – Em que pro je tos você está atuan do? JUM NAKAO – Hoje, é difícil responder o que eu sou, o que eu

faço. Difícil pen sar nisso quan do tudo tem uma velo ci da de inten sa. E seria um retrocesso me definir de um único modo, designer, estilis ta. Nesse momen to, desen vol vo alguns pro je tos vin cu la dos ao cen te ná rio da imi gra ção japo ne sa no Brasil, e um deles é uma instalação em que vou transpor o Lago das Carpas do Ibirapuera para o Museu da Casa Brasileira. Também estou envolvido na direção de arte de um longa-metragem. Há ainda as aulas que dou na Faap. Outro projeto envolve o Museu de Tóquio e o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Também desenvolvo uma linha assinada de ladrilhos hidráulicos e participo de uma exposição do Museu de Arte Moderna da Nova Zelândia. Além de um livro em conjunto com os irmãos Campana e o Alex Atala, sobre o processo de criação em três áreas: moda, design e culinária. AD – O que você tem a dizer sobre pro ces so de cria ção? JN – Penso que existe uma experimentação, uma incerteza muito

necessária e que isso faz parte do processo comum a qualquer criador. Certezas nos confinam a repetir fórmulas. As

Fábio Cancela / Estúdio FM

incertezas impulsionam a experimentar, é quando se descobrem

Acima, cro quis para o figu ri no da ópera “Kseni”, dire ção de arte de Jum Nakao e Kiko Araújo. Abaixo, cena da peça ence na da em 2006 no Rio de Ja neiro, São Paulo e Alemanha. No alto da pági na, ao lado, Na kao e a obra “Paisagem Urbana”, para a expo si ção “Moradias Transitó rias”


Pop Carvalho

possibilidades adormecidas, desconhecidas. O que me faz voltar

mas são formas de desenvolver uma nova percepção e de inter-

a um conceito que sempre trago em meus trabalhos: o do invi-

ferir no real. Eu, que trabalho na área criativa, tenho essa res-

sível. Um exemplo disso é a instalação “Paisagem Urbana” (na

ponsabilidade ética de não calar, nem me isolar. E dentro desse

exposição “Moradias Transitórias”, veja matéria nesta edição).

elenco de projetos que estou desenvolvendo, percebo que não

Imaginei uma carroça, algo estático, mas coberto por uma col-

estou hermético em um único universo, seja design ou moda.

cha de retalhos, onde peixes passeiam. Utilizo a carroça de um

Tenho um valor que é o da independência, o de poder trabalhar

catador de lixo de São Paulo, alguém que enfrenta sol, chuva,

interferindo no entorno de forma eficiente, efetiva e afetiva. Não

que limpa a cidade e que é, ao mesmo tempo, invisível. As pes-

adianta pensar em algo se você não entende o todo. E vários

soas passam pelos catadores e não os percebem. No entanto,

nomes podem servir de bons exemplos: o Philippe Starck e os

são profissionais ativos e ecologicamente corretos, que estão

Irmãos Campana. Tudo o que eles produzem têm o eco e está

trabalhando duro. O objetivo da instalação foi criar essa visibi-

moldado dentro do tempo, necessidades e oportunidades.

lidade, tanto para aqueles que os vêem, como deles com relação a si próprios, para que possam se perceber de uma forma

AD – A “Costura do Invisível”, des fi le apre sen ta do no São Paulo

mais digna. É uma poética tanto urbana quanto humana.

Fashion Week em 2004, foi um tra ba lho mar can te. De algu ma for ma, repre sen tou um divi sor de águas na sua car rei ra?

52 ARC DESIGN

AD – Procura falar sobre esses temas em suas palestras e aulas?

JN – Foi um trabalho que teve a intenção de instigar as pes-

JN – Sim. Procuro sempre conectar a realidade, para que os

soas. O rasgar, o abrir são ações que carregam vários outros

criadores dialoguem com o todo considerando a generosidade.

significados. Há ainda a metáfora do papel, da performance e

Porque senão a criação fecha-se e não estabelece conexões

de todos os elementos que estavam lá e que propunham um

nem evidencia o que está acontecendo com o mundo. De uma

instante de desconexão, ruptura. Talvez por isso o desfile

forma geral, as artes não precisam ter uma conotação política,

tenha ecoado e continue ecoando na cabeça de todos nós.


Sandra Bordin

Embora fosse um trabalho situado em um evento de moda, tinha a intenção de revelar o que está por trás dos nossos pensamentos, das nossas idéias. Tiveram ainda características individuais, onde cada um dos envolvidos e dos espectadores encontrou significados diferentes. A repercussão igualmente foi ciona e que estabelece um diálogo, uma sinapse, com o repertório do observador. Independentemente de qualquer esforço da minha parte, eu apenas criei aquele momento: um traba-

Sandra Bordin

diferenciada, como acontece com qualquer trabalho que fun-

Na página ao lado, mon ta gem da ins ta la ção “Gerin gon ças ani ma das pelo sopro do ven to”, de Jum Nakao e Pop Carvalho, para a expo si ção ”Moli na Remix”, SESC Paulista, 2007. A mos tra home na geou o mes tre Ma nuel Moli na, cria dor de obje tos movi men ta dos por en gr e na gens me câ ni cas. Neste tra balho, Nakao e Carvalho se ins pi ra ram na pri mei ra obra do ar tis ta, cujos bonecos eram movi dos pelo ven to, para criar um teatro de sombras

lho que começava no final, pois foi a partir daí que ele passou a existir na memória das pessoas e no que ela estabelece com o presente – porque o passado também compõe aquilo que nós somos. Com aquele trabalho, estabeleci uma ruptura profissional. Um rasgo também nesse sentido, que é como eu me situava dentro do mercado da moda. Eu tentava conduzir minha marca dentro dos formatos convencionais. Foi quando preferi pensar novos caminhos, e não me adequar àqueles já existentes, de estrutura comercial, produtiva e de difusão. Mantenho a mesma essência nas minhas criações, e agora consigo expandir conceitos com os quais eu trabalho para outros suportes além da roupa.

Acima, ima gem do book Brothers Quay, para a cole ção 2003/2004 de Jum Nakao. A obra é uma refe rên cia aos irmãos Stephen e Ti mo thy Quay, que, na déca da de 1970, res ga taram téc ni cas de ani ma ção de bone cos uti li za das pelas es co las tche ca e ingle sa no final do sé cu lo 19. Atual mente, as ma que tes e bo ne cos (à es quer da) inte gram o acer vo do Mu seu de Ar te Bra sileira (na Faap, em São Paulo)

53 ARC DESIGN


Fotos Jum Nakao

Acima, estu dos e figu ri no de “Hoje é Dia de Maria” (2005), minissérie produzida pela TV Globo. Mais de mil folhas de papel Kraft e dois qui los de ouro em pó deram vida aos bone cos. Abaixo, des fi le “A Costura do Invisível”, São Paulo Fashion Week 2004. As rou pas em papel inte gra ram a mos tra “Show time” (2006) que, or ga ni za da pelo Museu de Moda de Paris, incluiu cria ções dos me lho res esti lis tas do mundo para con tar a his tó ria dos des fi les de moda

Fernando Louza

AD – De quais con cei tos e supor tes você está falan do? JN – Esse em que eu procuro conectar as pessoas àquilo que é

invisível. Posso trabalhar com instalações, com vídeo, com design de produtos, com a criação de espaços. Mas a minha percepção sempre foi a de compreender o espectador como um receptor multissensorial. Nos trabalhos apresentados em moda, nos preocupávamos sempre com o espetáculo total, a cenografia, a coerência de desenho do som, da luz, das texturas sensoriais que as pessoas poderiam perceber. Isto facilitou a transição do meu trabalho para a área de design, de artes plásticas, atividades cênicas, curadoria e também na área acadêmica, onde transmito essa forma mais complexa de se criar, que não se atém ao objeto, mas ao espectador. AD – A lin gua gem seria um recur so? JN – Todos os tipos de mídia servem para compor uma linguagem.

Porque para ser linguagem, pressupõe um significado. É óbvio que o criador terá que lidar sempre com limites. Não trabalho mais com moda como empresário. Até 2004, eu aspirava a ter minha marca. Agora trabalho com moda, mas como uma pessoa que escreve, analisa, que força uma evolução. Acho importante, por exemplo, pensar o design do negócio em que você está envolvido, que não se aplica só em inventar um produto. É preciso pensar sempre em novas formas de design estratégico, que vai definir quando e de que forma o produto deve estabelecer contato com o público, para que seja potencializado e difundido. Hoje, busco trabalhar assim, inventando novas formas de expressão e difusão. ❉ 54 ARC DESIGN


DvCM foto . Kon, Nelson.

arquitetura e cidade A sociedade contemporânea vive a era da transformação acelerada. A arquitetura insere-se

pós-graduação

lato sensu cursos de especialização

no contexto das mutações em todas as escalas. A metrópole

materializa

no

seu

território

fragmentado os pontos de ruptura e falta de urbanidade. Busca-se,

neste

curso,

discutir

as

áreas

degradadas da metrópole pós-industrial. As disfunções urbanas e as áreas residuais, as fraturas urbanas (terrain vague). Objetivamos físico-ambiental

diagnosticar e

os

a

qualidade

resultantes

das

apropriações dos espaços urbanos, por meio de uma análise multidisciplinar na prática de um processo

gerenciador

e

conformador

do

ambiente urbano. Entender o espaço urbano como parte do conhecimento baseado na percepção da paisagem, arte, linguagem gráfica e arquitetura da cidade.

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ANTRO PO FA GIA CON TEM PORÂNEA 56 ARC DESIGN

Nesta página, luminária Sylix, 2005. Uma apoteose lúdica formada por carrinhos de brinquedo, garrafas PET, ursinho de pelúcia com máscara, cauda de baleia em plástico e um difusor de luz feito com peneirinha infantil para areia! Brincadeira e liberdade no reciclo


O mundo da comunicação dá incessantes sal tos, e com ele o design, sobre tu do aque le para a casa. A estagnação de formas sem conteúdo incomoda e o design que se repete em floreios elegantes perde seu prumo na história. Estamos em um momento de transição, e ousar, experimentar são as palavras-chave. Nossa “mente elástica” precisa estar rodeada de novos estímulos À esquerda e acima, mais duas luminárias de 2005 utili zando reciclo. A Taca (esquerda), composta de um par de tênis, jacaré de brinquedo e garrafa térmica de Indio da Costa; acima, Tênis – desta vez uma idéia minimalista. Abaixo, cadeira Balde, 2005, cestos plásticos sobrepostos sobre estrutura metálica. Faz parte da série de expe ri men tos com obje tos indus triais des via dos de sua fina li da de

Maria Helena Estrada “Elastic Mind” é o título da mostra a ser inaugurada no MoMA, N. York, que publicaremos na próxima edição, e o trabalho de Rodrigo Almeida nos parece uma boa introdução aos questionamentos atuais que esta exposição seguramente levantará. É o design conceitual – em novas leituras – ganhando espaço. “No início, as experimentações partiram do exercício das formas, do volume e da tentativa de criar um projeto fechado, um produto. Mas logo percebi que, para mim, isso não era suficiente, pois não conseguia fazer com que o projeto explodisse”, comenta Rodrigo Almeida a respeito de seus objetos. Na verdade, ele divide sua obra entre produtos criativos e comportados, como a cadeira Cintos, e chega à cadeira Balde, feita de cestos plásticos empilhados. Desde 2005, a obra de Rodrigo é um imenso universo lúdico, pleno de referências e de significados – objetos para quem deseja não apenas ter uma cadeira, mesa ou luminária, mas ouvir uma história ser contada. E, com esses novos enredos, ele abre caminhos e perspectivas para o design doméstico que as exigências comerciais tornam muitas vezes insípido e incolor. 57 ARC DESIGN


Refazer os próprios objetos usando materiais mais flexíveis, que pudessem ser manuseados de forma amigável, foi o início das experimentações. “Ao pesquisar, por exemplo, cestos de todos os tipos, dos indígenas aos de plástico, não pensava em um produto, mas em um exercício, um laboratório que afastasse qualquer precon-

No alto da pági na, Wedding Gows, pro je to de 2007 a pedi do da Contrasts Gallery, Xangai, para a mos tra Miami/Basel. Bastidores de bor da do são a idéia cen tral para mesas e lus tre. Utilizam metal (fios para o bor da do e base com pés em aço), madei ra (para o aro do bas ti dor) e couro (que subs ti tui o teci do). Metáfora sobre a con di ção femi ni na, se refe re tam bém às bor da dei ras do Nor deste e suas mãos machu ca das

ceito, qualquer idéia consagrada quanto à maneira como um objeto deve ser produzido e que aparência deve ter”, comenta Rodrigo, que conclui, “no trabalho com brinquedos, tênis e embalagens, além de falar sobre a produção exagerada de objetos inúteis, queria criar objetos antropofágicos contemporâneos”. ❉

À direi ta, cadei ra Cintura, 2007, com estru tu ra metá li ca e assen to/encos to feito com cin tos de couro. No pé da pági na, cadei ra Me hi na ku, 2007, estru tu ra em aço ara ma do e es tei ra bor da da da tribo de mesmo nome, do Alto Xingu

Rodrigo Almeida é autodidata e, segundo ele, ouviu falar em design pela primeira vez com a revista ARC DESIGN. “Depois, eu lia tudo o que encontrava. Quando achei o livro ‘Tempos de Grossura: Design no Impasse’, de Lina Bo Bardi, tudo mudou para mim.” Outras influências são Gaetano Pesce e os irmãos Campana. Entre suas atividades recentes: orientou o workshop “Restart” na Nova Academia de Belas Artes, Milão; exposições na Alemanha, Itália, Bélgica e na Miami/Basel Design, com o projeto Wedding Gowns, produzido pela Contrasts Gallery, Xangai; assina uma coluna da revista italiana Made. Hoje mora em N. York 58 ARC DESIGN


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“O designer é uma esponja, é verdade, mas uma esponja cósmica”, afirmava Sottsass. Em 31 de dezembro 2007, parte Ettore Sottsass Jr., aos 90 anos. Simbólico até na morte, com Sottsass desaparece o último dos grandes mestres do design italiano – Munari, Castiglioni, Magistretti. Sobre sua últi ma expo si ção “Vorrei Sapere Perchè”, inau gu ra da em Trieste algumas semanas antes, ele diz: “gostaria que todos saíssem chorando, como depois de uma grande emoção”

Reprodução catálogo “Ettore Sottsass”, Cosmit, 1999

QUERIA SABER POR QUE


Maria Helena Estrada Sottsass, arquiteto e designer, filho de outro importante arquiteto, embora nascido em Innsbruk, Áustria, sua formação foi feita na Itália. Mas também na América, durante os anos 1960, da cultura pop que, na época, fez nascer um novo olhar e muito o influenciou. Apaixonado é uma palavra que bem lhe cabe – pelas mulheres, por seu tempo, que ele fazia avançar, sem fronteiras no pensamento. Fundador do grupo Memphis em 1981, provocou uma reviravolta no design, contrapondo-se ao conceito de função, tão caro aos velhos bauhausianos. Revolucionou também a forma, à qual deu sempre grande ênfase, pois para ele a “forma não é um gesto gratuito”. Trouxe colorido e um formalismo inusitado. Construções, casas, design de móveis ou de objetos, a obra de Sottsass é a de um arquiteto: suas estantes e armários são volumes justapostos; em sua coleção de vidros vê-se o mesmo conceito arquitetural que rompeu com o simétrico e o homogêneo.

Na pági na ao lado, Ettore Sottsass em dois momen tos (veja texto). Nesta pági na, na aber tu ra, vaso da cole ção Capricci & Eser cizi, de 1998. No alto da pági na, estan te Carlton, 1981, pro du to emble má ti co da cole ção Mem phis. À esquerda, Valentine, pri mei ra máqui na de escre ver por tá til da Olivetti e fra casso de ven das em seu lan ça mento –, hoje está na coleção de diversos museus do mundo. Abaixo, um dos muitos pro je tos de arqui te tu ra resi den cial, a Casa Wolf, no Colorado, 1987-1989

sia com seus diários de viagem. A Índia, o Oriente o fascinavam, entre ruínas e decadência. Sua visão aguda apontava para a precariedade da vida e do mundo. As duas fotos de abertura desta matéria, emblemáticas, mostram um Ettore Sottsass respeitoso, de terno e cabelo cortado, durante a inauguração da mostra sobre seu pai (Trento, 1991). No detalhe, o Sottsass “real”, com sua charmosa trancinha de chinês, durante a inauguração de sua própria mostra no Pompidou, Paris, em 1994. Como o jornal Le Monde o definiu, em entrevista realizada em 2006, foi “um criador à escuta do Universo”. Ainda em dezembro, em resposta à pergunta de um amigo que viajava para o Brasil, sobre o que desejaria que lhe trouxesse, respondeu: o Sol. ❉

Reprodução livro “Sottsass Associati: 1980-1999 frammenti”, Rizzoli, 1999 / Foto Santi Caleca

Sottsass era também fotógrafo e cronista, criando poe-

63 ARC DESIGN


Rogério Franco

MARCA REGISTRADA: CARICO

Rogério Franco

O MÁXIMO DO MÍNIMO

Carlos Alexandre Dumont, no registro de nascimento. Para o mercado de arquitetura e todos seus clientes, o talentoso profissional é conhecido por Carico. Aquele arquiteto mineiro que imprime em suas obras uma personalidade inconfundível. Às vezes mais racional e minimalista, às vezes menos, entretanto, sempre desprezando o desnecessário e valorizando a fluidez dos espaços e o bem-estar Márcia Charnizon

Ana Sant’Anna

LOJA ART MAN, BH, 1988 Acima e na página ao lado, 64 metros qua dra dos de pura ou sa dia. À frente das solu ções arquite tô ni cas da época, Ca rico resol veu pro je tar um espa ço na penum bra com canhões ce no grá fi cos aponta dos somente para o vestuá rio. “Queria ressal tar as rou pas”, justi fi ca. Uma das ara ras fica entre ca bos de aço em forma de leques e a outra, destacada por esculturas esfé ri cas de bronze maci ço, assi na das por Erli Fantini

64 ARC DESIGN



MOS TRA CASA COR, BH, 2007 No living, acima, uma com po si ção dife ren cia da da maio ria das obras do arqui te to: mesa reves ti da com folha de ouro, ima gem de San ta Ana (exe cu ção do Mes tre do Cajuru) e clássi cos do design con tem po râ neo – como as pol tro nas How High the Moon (1986), de Shiro Ku ra mata, e a Cité (1930), de Jean Prouvé, entre outros. “Tudo isso para pro var para mim mesmo que é pos sí vel har mo ni zar exces sos”

66 ARC DESIGN

O mínimo de recursos em busca do máximo de resulta-

mente, uma arquitetura calma e sem apego ao desne-

do. Essa é a premissa que conduz o trabalho do arqui-

cessário”, diz. Em todo o tipo de obra, no entanto, para

teto Carico, natural de Araxá, Minas Gerais. Nos mais

alcançar um resultado satisfatório, o arquiteto vai a

de 700 projetos desenvolvidos desde que se formou

extremos: “Sou profundamente detalhista. Já cheguei a

pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em

entregar 200 pranchas para representar uma casa”,

1982, o arquiteto expressa um estilo peculiar de enxer-

conta. Quando se trata da execução de lojas, aí então o

gar o espaço, seja ele residencial ou comercial. “Odeio

perfeccionismo do profissional se acentua ainda mais.

excessos”, é categórico. “Prefiro qualidade à quantida-

“Espaços comerciais exigem custos e prazos exatos. E

de.” Nas lojas, que acabaram tornando-se sua especia-

eu faço questão de cumpri-los”, afirma. Por essas e ou-

lidade desde o início da carreira, ele assume uma pos-

tras razões, entre suas obras estão mais de 80 que le-

tura projetual que, antes de mais nada, valoriza o pro-

vam a marca Forum, 12 elaboradas para a atual Forum

duto a ser vendido. “O espaço arquitetônico nunca deve

Tufi Duek, duas para a Rosa Chá – uma em Lisboa e

se destacar mais que as peças à venda. Deve ser boni-

outra em Miami – e uma para a M2000, na mesma cida-

to, impactante, mas sempre um pano de fundo”, afirma.

de norte-americana. O estilo desses e de outros proje-

Nos projetos residenciais, o profissional dispensa a

tos de sua autoria – embora racionais e quase minima-

supervalorização de móveis, objetos e obras de arte em

listas – tem personalidade suficiente para escapar da

busca do bem-estar. “Procuro soluções que ofereçam

frieza do cinza e dos materiais industrializados. Na loja

conforto ao caminhar, descanso para a vista, luz natu-

Art Man, em Belo Horizonte, a maneira de expor as rou-

ral, contato com a natureza – se possível – e, principal-

pas expressa um ritmo contínuo no espaço. “Uma das


Fotos Jomar Bragança

RESIDÊNCIA EM BELVE DE RE, BH, 2000 À direi ta, vista pano râ mi ca da capi tal minei ra gra ças à trans pa rên cia dos pai néis de vidro – que sepa ram a sala de estar do ter ra ço, no mesmo nível da pis ci na – e das pol tro nas do mesmo mate rial assi na das por Jacqueline Terpins. Abaixo, na mesma sala, as pol tro nas Coconut, dese nha das por George Nelson em 1955, são o gran de des ta que. No piso, már mo re bran co. Na esca da, gra ni to preto

67 ARC DESIGN


Fotos Jomar Braganรงa


ESCRITÓRIO DO ARQUI TE TO, BH, 1995 Na opi nião do arqui te to, um escri tó rio tem que refle tir a per so na li da de de quem tra ba lha nele. O de Carico (na página ao lado) esban ja lumi no si da de e, segun do ele, uma sen sa ção de liber da de que faz as horas tra ba lha das pare ce rem pou cas. As escul tu ras esfé ri cas no piso foram fei tas de vários cubi nhos de ma dei ra, cola dos um a um, e, depois, tor nea dos. A tela é de Thales Siqueira

SHO WROOM DA PRIN TEMPS, BH, 2006 Na entra da da loja de 80 metros qua dra dos (acima), bran co, preto e focos de luz evi den ciam as peças da cole ção. À esquer da, sime tria no pro je to arqui te tô ni co e arara de 12 metros de com pri men to. Abai xo, pedras semi pre cio sas, pen du ra das por cabos de aço, inter rom pem o ritmo dos cabi des. “A idéia foi criar estí mu los visuais, ofe re cen do dina mis mo”, diz Carico

araras, posicionada em L em relação à outra, fica entre cabos de aço assemelhados a leques, enquanto a segunda arara se destaca entre esculturas esféricas suspensas.” O resto do ambiente é fluido, valorizado por vazios e tons neutros, assim como o showroom da marca Printemps e o escritório do arquiteto, ambos em Belo Horizonte. No primeiro, além de tirar partido desses elementos e da simetria, Carico novamente explora o efeito de continuidade. No escritório do arquiteto, a limpeza projetual e a consequente sensação de liberdade são o que mais fascina o profissional, que desenvolve seus trabalhos no local há 12 anos. A mesma leveza – expressa pelo estilo clean – caracteriza a residência mineira de Belvedere. Já o living projetado para a Mostra Casa Cor 2007, embora também marcado por traços de extrema delicadeza, revela um lado diferente de Carico: “queria provar que conseguia valorizar os excessos, sem perder o meu prumo”. Parece que deu certo. Sua destreza resultou em uma decoração capaz de harmonizar elementos clássicos do design contemporâneo com uma mesa revestida de folha de ouro e uma santa de madeira maciça! ❉ 69 ARC DESIGN



MOSAICO DE MATÉRIA E VAZIO Flexibilidade, inovação formal e reverência à natureza se combinam no projeto dos jovens arquitetos do estúdio suíço HHF Architects

Acima, maque te ele trô ni ca da sala de estar: design mini ma lis ta e gran des aber tu ras colo cam a pai sa gem natu ral em des ta que. Ao fundo, nas duas pági nas, foto mon ta gem inse re a casa no entorno: os volu mes dinâ mi cos são resul ta do da matriz pen ta go nal das plan tas


Na página ao lado, vista da casa em obras. Infelizmente, a construção foi interrompida pelo cliente sem nenhum moti vo aparente. Os arquitetos informam que, uma vez retomadas as obras, a casa poderá ser concluída em seis meses

PAVIMENTO INFERIOR

Acima, plan ta do pavi men to infe rior; à direi ta, plan ta do pavi men to supe rior: é possí vel obser var a com po si ção de cada uma das plan tas a par tir da soma tó ria de pen tá go nos, de forma a dei xar espa ços não-cons truí dos onde exis tiam árvo res. A míni ma inter fe rên cia da cons tru ção no ambien te natu ral é expli ci ta da na foto abai xo, que evi den cia como a casa flu tua sutil men te sobre o lago e, ao mesmo tempo, incor po ra a árvo re pree xis ten te PAVIMENTO SUPERIOR


Winnie Bastian O Waterville Golf Resort em Lijiang, na província chi-

entrada, lobby, jantar, cozinha, biblioteca, estar e duas

nesa de Yunan, se localiza em uma área natural privi-

suítes, enquanto o inferior se destina exclusivamente a

legiada, margeada por um grande lago e cercada por

uma suíte master, que fica parcialmente em balanço

montanhas. Convidados pelos proprietários do resort

sobre a água. “Os clientes acreditavam que o lago,

para criar uma casa de hóspedes, os arquitetos Tilo

assim como algumas árvores, eram sagrados”, explica

Herlach, Simon Hartmann e Simon Frommenwiler

Frommenwiler. O balanço, portanto, é uma forma de

estabeleceram a riqueza da paisagem como ponto de

reverência, pois se aproxima do sagrado sem tocá-lo.

partida, buscando integrá-la ao projeto tanto visual

À complexidade do conceito, traduzido em uma planta

quanto fisicamente.

inovadora, contrapõe-se a simplicidade dos materiais

Além de dirigirem o olhar dos visitantes para a água e

adotados: concreto e madeira. As paredes são execu-

as montanhas, os arquitetos e o artista plástico Ai

tadas em concreto aparente feito com formas de

Weiwei, parceiro neste projeto, buscavam incorporar à

bambu, material abundante no local e que, além de

casa algumas árvores existentes no terreno. A planta,

barato, confere uma textura suave ao concreto. A

então, foi desenvolvida a partir da somatória de vários

madeira surge nos pisos e nas janelas, assim como

pentágonos. Os arquitetos explicam que esse conceito

nas venezianas, cujo desenho também foi criado a

foi adotado porque a adição de pentágonos sempre gera

partir do padrão pentagonal que norteou o projeto da

“sobras”, espaços vazios que são essenciais neste pro-

planta. A cobertura da casa é revestida em grama,

jeto, pois conectam o interior à natureza existente e

buscando maior integração ao entorno.

permitem a preservação das árvores.

Um belo projeto, concebido a partir do sutil equilíbrio

Com cerca de 400 metros quadrados, a casa se desen-

entre simplicidade e complexidade, ambiente natural e

volve em dois níveis: o superior abriga um pátio de

construído, tradição e inovação. ❉ 73 ARC DESIGN


Nelson Kon

ARQUITETURA COMO MEIO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL cederão lugar a pousadas, restaurantes. Nasce assim um novo roteiro turístico no Brasil, a Rota dos Moinhos, que se inicia em Iliópolis (a 150 km de Porto Alegre) e envolve outros quatro municípios do entorno. Um exemplo de como a arquitetura pode ser um trabalho de ação social, geração de emprego e renda e, claro, preser vação da história e da memória de um lugar. Detalhe digno de nota: o símbolo do Museu do Pão. O desenho foi encontrado pintado nas paredes de uma casa próxima, abandonada. A casa, que pertencia à família Romã, foi demolida para que sua madeira fosse reaproveitada no restauro do Moinho Colognese. Mas sua marca principal, um desenho feito por um daqueles que ali viveu, foi preser vada. Delicada homenagem à antiga morada posta ao chão e à família que ali viveu. Brasil Arquitetura: www.brasilarq.com.br Nelson Kon

Marcelo Ferraz, arquiteto de São Paulo, resolveu comprar um antigo moinho de trigo, herança da migração italiana, que estava ruindo no centro da pequena cidade de Iliópolis, no Rio Grande do Sul. Com um amigo gaúcho, teve a idéia de restaurá-lo e criar um museu para contar a história do trigo e do fubá no Brasil e no mundo. O apoio financeiro veio da Nestlé e o escritório Brasil Arquitetura, que tem à frente Ferraz e Francisco Fanucci, fez o projeto da restauração do Moinho Colognese. Seu restauro foi feito por 20 alunos da região, formados por técnicos vindos de Florença, por meio do Instituto Ítalo Latino-Americano de Restauração, que apoiou a iniciativa. O maquinário, por sua vez, retornou à vida graças ao trabalho de um antigo moleiro, chamado para reavivar peças e engrenagens. Para completar a história, foram construídos dois volumes ao lado do moinho: um dedicado ao Museu do Pão e o outro, a uma escola para padeiros. Para os novos prédios, adotou-se uma linguagem propositalmente destoante àquela do Moinho: dois volumes baixos, onde predomina o concreto. “A intenção foi a de marcar a interferência”, diz Ferraz. Outro detalhe: um dos volumes é levemente solto do chão, respeitando o terreno charco. O outro “está cravado ao chão, e lembra um navio no mar”, diz Ferraz. Com a ação de Ferraz e Fanucci, ficou preser vada ainda a principal marca do lugar: sua história contada através da feitura do pão. Após a iniciativa, população local e administração pública já se mobilizaram para o restauro de outros cinco moinhos, que


Weber Shandwick

PRODUÇÃO INDUSTRIAL E SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA

© Rogers Stirk Harbour +Partners

O arquiteto britânico Richard Rogers e seu escritório, o Rogers Stirk Harbour + Partners (RSHP), ganharam recentemente o Prêmio Housebuilding Innovation Awards por seu projeto para casas produzidas industrialmente pela empresa George Wimpley Plc. A fabricação em larga escala permitirá a redução do custo das unidades, além de possibilitar a rápida montagem das mesmas (apenas dois dias), sem desperdício de matéria-prima. O surgimento de casas pré-fabricadas não é algo recente, como sabemos. A novidade, aqui, está na conjunção de diversos fatores. O primeiro deles diz respeito à sustentabilidade: as casas serão construídas com materiais sustentáveis e trazem soluções como o “ecohat”, uma espécie de chaminé que reaproveita o ar quente para otimizar o consumo de energia. O partido adotado pelos arquitetos – a concentração das zonas de ser viço

(banheiros, cozinha e escadas) em um único núcleo –, por sua vez, permitiu melhor aproveitamento dos recursos, tanto do ponto de vista energético como econômico. Além disso, como são formadas a partir de módulos, as casas podem ser modificadas para atender às necessidades dos proprietários (há dez opções diferentes). Pode-se iniciar com uma casa de dois quartos e expandi-la até chegar a cinco quartos, por exemplo. As 145 unidades já estão sendo implantadas no condomínio Oxley Woods, na Inglaterra. Unindo projeto de qualidade, produção em larga escala e princípios sustentáveis, o projeto do RSHP é um exemplo de construção sustentável em série, uma solução que seria muito bem-vinda também em nosso país, podendo contribuir significativamente para a diminuição do déficit habitacional. www.rshp.co.uk

Ao contrá rio da casa tra di cio nal (à extre ma esquer da), as casas pro postas pelo RSHP con centram as zonas de ser vi ço em um nú cleo inde pen dente, fle xi bi li zan do a con figu ra ção das áreas ínti mas e sociais


NASCE UMA PRAÇA Lá se vão 40 anos. Foi no Edifício Rui Barbosa, na rua Maria Antônia, em São Paulo, que em 1968 forças militares invadiram a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP, que ali funcionava. O lugar, antes marcado por discussões vanguardistas feitas por estudantes, acrescentou à sua história a tristeza de ter sido palco de algumas das mortes provocadas pelo período militar brasileiro. Após a invasão, a Faculdade de Filosofia foi transferida para a Cidade Universitária, e o Edifício Rui Barbosa, abandonado. Emblemático por conta de sua memória, e tombado pelo governo do Estado, o lugar foi recuperado e reaberto ao público, ainda parcialmente, em novembro do ano passado. O projeto de restauro, que teve à frente o escritório paulista Una Arquitetos, levou em consideração o novo uso do edifício, que, agora integrado ao Edifício Joaquim Nabuco, comporta também o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), formando assim o complexo do Centro Universitário Maria Antônia, com, ao todo, 7.500 metros quadrados. Além da recuperação das fachadas e a nova qualificação dos prédios, o restauro incluiu uma agradável surpresa: a área livre entre os dois volumes fez surgir uma simpática praça, que, nivelada com a rua, constitui uma continuação da calçada. Mais adiante, num nível inferior, um pátio arborizado liga os dois edifícios e cria, ainda, uma espécie de teatro para apresentações ao ar livre. Quem antes passava pela rua Maria Antônia e via um extenso muro, agora encontra esse simpático refúgio, um respiro em meio ao caos da região, lugar doravante para troca de idéias, onde antes se assistiu à violência e repressão. Instituto de Arte Contemporânea: www.iacbrasil.org.br Una Arquitetos: www.unaarquitetos.com.br

Sérgio Gicovate

LIÇÃO DE CALÇADA A ação foi de madrugada, mas não passou despercebida por ninguém – sobretudo por quem frequenta o SESC Pompéia, uma das obras mais emblemáticas da arquiteta italiana e naturalizada brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Na madrugada de 30 de dezembro, a prefeitura de São Paulo resolveu substituir as pedras originais do projeto de Lina por outras, as lajotas que estão padronizando o calçamento da cidade de São Paulo. O que a prefeitura esqueceu de fazer, no entanto, foi consultar o próprio SESC, para se informar, ao menos, de que a calçada em questão fazia parte do projeto de uma das mais importantes arquitetas brasileiras. A própria Lina, aliás, na década de 1970, já havia tido o cuidado de preser var a antiga construção que ali existia, uma fábrica de tambores. Motivos que justificam o fato de o SESC Pompéia estar em processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, o CONDEPHAAT. A reação da população, entre comerciantes do entorno, usuários e a própria administração do SESC, foi imediata. E a prefeitura assegurou que, no final do mês de janeiro, iniciaria as obras de reconstituição da calçada original, tal qual, espera-se, àquela idealizada por Lina (com seixos e ardósias). Que a lição sirva de exemplo para essa e futuras administrações. Sesc São Paulo: www.sescsp.org.br


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projeto inserido no mercado. ARC DESIGN retratou o Salão do Móvel de Milão 2007 por meios virtuais, em seu site. Em www.arcdesign.com.br você vai encontrar a íntegra da ma-

notícias indispensáveis de todo o mundo

téria. Aqui, reproduzimos alguns tópicos – abordados por três profissionais importantes e famosos.

sobre design, arquitetura, moda, cultura

“Todo pen sa men to dig no des se no me precisa, de agora em diante,

material, exposições e matérias especiais.

ser ecológico.” Le­wis­Mum­ford, so­ci­ó­lo­go

“O objetivo do design não é o de ide o lo gi zar, mas de co mu ni car men sagens de curiosidade, divertimento e afetividade.” Achil­l e­ Cas­t i­g li­o ­n i, um­ dos­ mais im­p or­­t an­t es­de­s ig­n ers­do­sé­c u­lo­XX

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“Fantasia, sim, é ótimo. Mas é como geléia, se não houver uma bela fatia de pão, firme, por baixo, ela vai escorrer e melar tudo.” Ítalo­Cal­vi­no, es­cri­tor,­en­saís­ta­e­pro­fes­sor­

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Leonardo Finotti

AO SABOR DA PASSAGEM DO TEMPO

NIE ME YER REVI SI TA DO: UM NOVO OLHAR Fotografar cem obras de Oscar Niemeyer, no Brasil e no exterior, em apenas um ano. Foi este o desafio a que se propôs o fotógrafo mineiro Leonardo Finotti, no intuito de homenagear o centenário do mestre e documentar sua obra. O resultado foi exposto na mostra “100 Fotos, Obras, Anos de Oscar Niemeyer”, que teve curadoria da arquiteta Michelle Jean de Castro e foi apresentada até o dia 02 de março na Sala de Exposições do Museu da Electricidade, em Lisboa. Na mostra, 100 fotografias de tamanhos variados (definidos conforme a escala do prédio) transpor tavam o visitante a uma verdadeira viagem pela arquitetura de Niemeyer. A sensação de estar junto às obras (ou “penetrar nas fotos”, nas palavras de Finotti) era ainda maior devido ao conceito adotado para a montagem da mostra: todas as fotos expostas foram alinhadas pela linha do horizonte, que por sua vez foi posicionada na altura dos olhos do expectador. A lente de Finotti também nos traz um novo olhar sobre a pro du ção de Niemeyer, ao explorar ângulos inusitados, que fogem do lugar-comum às tão fotogênicas obras do arquiteto carioca. Segundo o fotógrafo, a exposição deverá ser montada tam bém no Brasil, embora ainda sem data definida.

“Os julgamentos são provisórios e estão sujeitos a correções com o tempo”, escreve Leonardo Benevolo, na introdução a seu livro “Arquitetura do Novo Milênio”, um panorama de projetos contemporâneos ao redor do mundo, recémlançado no Brasil pela editora Estação Liberdade. Arquiteto e urbanista, professor na Itália e em outros países, Benevolo é também conhecido como o autor do clássico “História da Arquitetura Moderna” (1960). A diferença, explica Benevolo, é que seu novo livro não trata mais da história dessa disciplina vista ponto a ponto. Dessa vez, o autor diz querer obser var a arquitetura em seu “work in progress”, incluindo uma visão sobre o que temos construído ao redor do mundo, com impressões que, como ele mesmo alerta, podem ser passageiras. Parte do livro aborda os modelos de urbanização, colocando a arquitetura como saber inseparável do urbanismo – o que poderia parecer bastante óbvio se vários exemplos de cidades não mostrassem exatamente o contrário. A arquitetura holandesa aparece como exemplo do quanto a gestão pública conseguiu assegurar a intercessão saudável entre prédios, história, paisagens e vida no entorno. Há também um capítulo dedicado aos “herdeiros da moderna tradição européia”, ou seja, os seguidores de Le Corbusier, Gropius e Mies van der Rohe, como Vittorio Gregotti, Rafael Moneo e Álvaro Siza. Benevolo também analisa o trabalho dos arquitetos “inovadores”, Norman Foster, Renzo Piano, Jean Nouvel, reconhecidos porque tiraram partido da tecnologia dos materiais em prol de linhas puras. A arquitetura do Japão e um leve balanço do que se tem feito na América Latina, nos antigos países comunistas, nos países muçulmanos, além da arquitetura na China e na Índia completam o livro, outra importante contribuição de Benevolo para o estudo da arquitetura. Editora Estação Liberdade: www.estacaoliberdade.com.br


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