REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
R$ 18.00 2008 Nº 62 ROMA EDITORA
ARC DESIGN
Nº 62
2008
ILUMINAÇÃO EM FOCO + BATE-BOLA COM DESIGNERS
ESPANHA: 300% DESIGN 10 ANOS COM RUY OHTAKE CARROS DO FUTURO DESIGN: ARMA PARA A FAMA E O LUCRO
Jamais publicamos mensagens elogiosas de nossos leitores. Talvez por modéstia? Mas o Luiz Roberto Villa, que não conheço, traduziu de forma tão fiel o pensamento que orienta a concepção da ARC DESIGN que resolvi transcrevê-lo. “... acho que descobri como editar 61 números de revista... total falta de preconceito e muita persistência. Em um campo onde ‘teóricos’ vivem selecionando definições, vocês com excelência acatam de Zaha Hadid ao artesanato, sabem viajar do Brasil à Europa, entre o útil e o belo. Parabéns, que esses bons olhos continuem.” Pois é, “mundo, mundo, vasto mundo”. Design, artesanato, arquitetura são algumas das diversas faces que procuramos retratar, prever, sem esquecer a indispensável visão crítica. Sem ela o mundo não caminharia. Então, nosso repertório nesta edição fala de uma nova forma de pensar o mundo, a Economia Criativa; do crescente prestígio do design espanhol, que estará em mostra no SESC; da obra do arquiteto Ruy Ohtake nos últimos dez anos; de uma empresa que, trabalhando com tecnologia de ponta, incorporou o design em seu DNA; traz um belo projeto de arquitetura de interiores e uma Buenos Aires design. E um tema ainda inédito: o web design. Como sempre, sem premeditação, os temas se entrecruzam em uma mesma edição: design e tecnologia avançada, design de universitários, desenho industrial, falam de carros, protótipos e tecnologia. E mais: leiam, com certeza, o “bate-bola” estimulante entre os designers Baba Vacaro e Guinter Parschalk. Imperdível! Oferecemos esta boa oportunidade de passear pelo “mundo, mundo, vasto mundo”, onde a poesia é, sempre, necessária.
Maria Helena Estrada Editora
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AMIGO DA PERFEIÇÃO
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Cristina Teixeira Duarte
Julia Garcez
PRAZER EM INOVAR
Maria Helena Estrada
300% SPANISH DESIGN
Maria Helena Estrada
LUZ, ESTÉTICA, POESIA OU TECNOLOGIA?
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34
em foco
mostra
design brasileiro
design brasileiro
Tecnologia e esté ti ca, dis cu tidas em bate-bola entre os desig ners Baba Vacaro e Guinter Parschalk. Para onde cami nha o design de lumi ná rias? Quem decide a forma? O desig ner, a tec nologia ou a lâmpada? E mais: um reper tó rio dos últi mos lança mentos no mercado brasileiro. Acima, luminária Calandra, de Fabíola Bergamo
Saiba como será a mostra 300% Spanish Design – 100 móveis, 100 luminárias e 100 cartazes, escolhidos em um reper tório dos últimos 100 anos! Saiba também por que o design espanhol alcança agora repercus são, qua lidade e fama
Celeiro de idéias inovadoras, a 5ª edi ção da Maratona Universitária da Efici ên cia mos tra pro tó ti pos de veí cu los econô micos, criados por estudantes de design e de engenha ria
Um designer e muitos protótipos. ARC DESIGN abre espaço para designers, como o catarinense Ricardo Barddal, mostrarem projetos inéditos para que editores e produtores, desejosos de lançar profissionais brasileiros, encontrem seus parceiros
REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
nº 62, setembro 2008
Na capa, luminária AR, de Ingo Maurer e Ron Arad, do período em que a dupla expunha em parceria no Salão do Móvel. Sob conceito de Maurer e pesquisa de Arad, a luminária é uma flor em ninho de abelha metálico, incorporando o melhor do design de iluminação: tecnologia, eficiência e plasticidade
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Da Redação
DESIGN EM BUENOS AIRES
PROVOCAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
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Carine Portela
ESPÍRITO SUSTENTÁVEL
Cristina Teixeira Duarte
DESIGN É PARCEIRO NO SUCESSO
Da Redação
36
64
criação e produção
radiografia de um projeto
marca registrada
onde comprar
Indústria fornecedora de peças de plástico para os interiores dos car ros apos ta no design e expande sua pro du ção. Com sede exclusi va pa ra a criação – o Hangar 44 – e com um con cur so para arquite tos e engenhei ros, a Mueller traz estí mu lo aos pro fis sio nais que atuam tam bém em outros seg mentos
Aproveitando a topografia do lote, uti lizando estru tu ras racionais e aplicando recur sos econô micos, o arquite to para na en se Guilherme Torres mos tra como a ele gân cia pode ser sim ples e, por isso mes mo, bem-resol vida
Explorar for mas não con ven cio nais tem sido a marca registrada do arquite to Ru y Ohtake, ao longo de seus quase cin qüen ta anos de exer cí cio profissional. Em hotéis arrojados ou na revi ta lização da maior favela de São Paulo, ele impri me sua origi nal assi natu ra nas cidades brasi lei ras
Em Buenos Aires pulsa um universo muito par ticular em torno do design, que desvendamos em trajeto “sherloquiano” por bairros como Palermo. Uma espé cie de Vila Madalena por tenha, que sur preende pela quantidade e varie dade de bons pro du tos e novos nomes de desig ners
news
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MISSÃO: ORGANIZAR O CAOS
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loucos por design
universo VEM POR AÍ TRAMAS FASHION-HITS
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design e comunicação
entrevista O QUE É SENTIDO FAZ SENTIDO
leitura
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ELISABETH ABDUCH
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como encontrar
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9/9/08
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!L 'ABRIEL -ONTEIRO DA 3ILVA s 3ÎO 0AULO 30 4EL 2UA #URITIBA ,OURDES s "ELO (ORIZONTE -' 4EL
O MELHOR DA ITÁLIA Representante exclusiva de marcas importantes do design italiano – caso da B&B e Moroso, a Atrium traz agora a poltrona Antibodi (87 x 87 x 77 cm), desenhada por Patrícia Urquiola e produzida pela Moroso. O móvel comprova o quanto moda e design hoje caminham de mãos dadas. Cheia de glamour, a peça homenageia Valentino, aqui em versão inspirada nas estampas do estilista e tão vermelha quanto seus famosos vestidos de gala, confeccionados para estrelas e celebridades das últimas décadas. (11) 3061 3885
DESIGN PELO ARTE SANAL Do utilitário ao contemplativo, Ana
7º PRÊMIO MAX FEFFER: MAIOR E MELHOR “Um prêmio organizado por designers, para designers”, afirma Gustavo Couto, gerente de marketing da Suzano. Até 31 de outubro, serão aceitas as inscrições para o Prêmio Max Feffer. Aumenta o leque de opções em termos de papel – poderão
Paula Castro cria peças engenhosas, que estabelecem elo sutil entre design e artesanato, sempre sob inspiração da natureza. Repare nesta bandeja com apenas duas chapas recortadas a lazer: uma de madeira, menor, e outra de aço, cujas extremidades dobradas fazem as vezes de alça. Puro encaixe, sem colas ou soldas, o que também permite o uso avulso de ambas. (27) 3345 0411, ofiar te@terra.com.br
ser utilizados todos os tipos de papel da Suzano – e é criado um júri internacional da maior competência. O curador nesta
PAZ, AMOR E PATCHULI
edição é Ronald Capaz, do estúdio Oz, e
Nem só de jóias se expressa o talento de Lu
na equipe de jurados, além da canadense
Barros. A designer retomou outra paixão, o
Mirian Bantjes, teremos Kiko Farkas, Rafic
vidro, com a mesma liberdade conceitual
Farah, Rico Lins, Chico Homem de Melo e
que empresta à sua joalheria. Surgem,
João de Souza Leite. O Prêmio Max Feffer
assim, peças como Patchuli, que integra
para Design Gráfico compreende cinco
uma coleção de vasos inspirada no movi-
categorias: embalagens, promocional,
mento hippie. Daí a ebulição dos traços em
editorial e miscelânea. Ao todo serão pre-
cores fortes, algo psicodélico, propondo uma re-
miadas as 15 melhores peças inscritas.
leitura da estética contestadora daqueles tempos.
www.premiomaxfeffer.com.br
(11) 5071 4332, www.lubarros.com.br
TRAÇO AUTORAL A paulista Amélia Tarozzo chega ao Rio de Janeiro com exclusividade pelo showroom Hetty Gold-
TOQUE ESCULTURAL
berg, especializado em design
Acrílico, aço e madeira reflorestada são os
contemporâneo. O traço autoral
materiais preferidas de Zanini de Zanine, que assina as
da designer está em uma coleção
linhas da marca 2Z Móveis. Para este banco hi-tech, porém,
de 12 peças confeccionadas
o jovem designer escolheu o polietileno para desenvolver, por
artesanalmente em madeira
processo de rotomoldagem, um objeto com ares esculturais
maciça e MDF laminado, sem-
e rigorosa ergonomia. É leve, estável, dispõe de amplo apoio
pre autorizados pelo Ibama ou
para os pés e faz das molduras laterais as alças para movi-
cer tificadas pelo FSC. Móveis
mentar a peça. Em preto, branco, laranja, roxo e vermelho.
que privilegiam as tradicionais
(21) 2529 8594, www.2zmoveis.com.br
técnicas marceneiras de encaixe e que seduzem pelo purismo geométrico. (21) 2259 6413, www.hettygoldberg.com.br
NOVAS COLEÇÕES A Brentwood propõe duas coleções para a nova temporada. Com nomes auto-explicativos, a Natural Relax, de móveis indoors para praia e campo, e a Urban Classic, que mescla versões clássicas e contemporâneas, reúnem móveis de linhas simples, cores neutras e muita tecnologia com fibras, madeiras e acabamentos diversificados. Com itens para diversos ambientes, os móveis trazem assinaturas de peso, como Marcus Ferreira, Pedro Mendes, Ricardo Fasanelo, Sérgio Fahrer e Pedro Useche, autor da Flexus (na foto), aqui com almofadas no assento e encosto. (11) 5507 3172, www.brentwood.com.br
MOVIMENTO EM GARRAFAS Silvia Barral e Márcia Lamounier, designer e arquiteta, uniram seu potencial artístico sob o Barral & Lamounier, estúdio mineiro de criação e desenvolvimento de objetos, que passeia por diversos estilos e materiais. A ênfase, é claro, está nos utilitários e decorativos contemporâneos, feitos com apuro artesanal em metal, vidro, espelho e madeira. Caso destas garrafas, cujas formas inspiram originalidade e movimento. (31) 3241 4876, www.barrallamounier.com.br
Denílson Machado
ENDEREÇO DA LUZ Ipanema vai reforçando sua vocação para o décor e o design com a chegada da Dominici na rua Alberto Campos, 175. Ao lado de outras cobiçadas lojas do segmento, o novo endereço da marca de iluminação ocupa 200 m2 projetados com ousadia pelo arquiteto André Piva. A linguagem espacial ampla e despojada não poderia ser mais apropriada para acolher luminárias, lustres e arandelas assinados por um time de peso do design mundial contemporâneo. (21) 2267 8300, www.dominici.com.br
DELICADA HOMENAGEM Trazido da Indonésia pela Espaço Til, o banco Nakashima (2,10 x 1 x 1,05 cm) é uma homenagem ao mestre que lhe inspirou o nome. A delicadeza formal da peça faz referência, e também reverência, o designer nipo-americano George Nakashima, que tem na madeira sua matéria-prima por excelência. Aqui, duas delas, teca e tamarindo, se harmonizam e alternam no assento e encosto ripado. (11) 3063 5603, www.espacotil.com.br
ASSINATURAS ACES SÍVEIS Conhecido por seus móveis de qualidade e pelo repensar constante da dinâmica do design, Marcus Ferreira acaba de implantar na Decameron mais uma vertente para o mobiliário assinado. Carbono é marca de peças elaboradas por vários criadores, todas acessíveis a jovens consumidores de design e em medidas adequadas para ambientes reduzidos. São dez peças, entre sofás, chaises e poltronas, a exemplo da Carbono 20, do próprio Ferreira (85 x 70 x 70 cm), confortável com seus dois braços em alturas diversas. (11) 5641 1528, www.carbonodesign.com.br
JUBILEU DE PRATA Para celebrar 50 anos de atividades, a Italma traz novidades que vão de lançamentos à repaginação de clássicos do seu mobiliário corporativo. São reedições de mesas, divisórias, armários, gaveteiros, cadeiras, poltronas e sofás em cores, tecidos e revestimentos inéditos, além de exclusividades como Seattable. Um conjunto de mesa-cadeira em aço cromado e polipropileno injetado, ideal para treinamento, conferência ou dinâmica grupal. (11) 3069 9200, www.italma.com.br
JOVEM SUCES SO Fernando Akasaka é o nome por trás
BRINCADEIRA SUTIL
da F. Akasaka, marca que produz
A face designer do arquiteto Julio Pechman nutre as cria-
móveis, objetos e luminárias de
ções assinadas pelo Estúdio Pechman, que acaba de apre-
design em madeira, fibras de vidro e
sentar sua coleção 2008 de móveis e objetos. Entre as novi-
carbono, além de metais como aço
dades está a mesa lateral Trançada (70 x 70 x 70 cm), con-
inox, bronze, latão e alumínio. Caso da
feccionada em rádica de imbuia.
mesa 24, em latão cromado e detalhe
Uma peça que brinca
espelhado no tampo. Akasaka prepara
com formas e volumes ao
agora sua primeira coleção de joalheria, prometendo surpresas em design também de acessórios pessoais. (11) 3057 3565, www.fakasaka.com
trançar dois pés apoiados numa base quadrada, na mesma medida do tampo. (11) 3812 2018, www.estudiopechman.com.br
UCS
UNIVERSIDADE
DE CAXIAS DO SUL
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PEQUENOS GRANDES LUXOS Investir em design virou premissa para a St. James, marca premium de objetos de prata, hoje sob a direção de criação da designer Baba Vacaro. É dela, por sinal, uma das quatro séries (Seixos) que compõem a recém-lançada coleção Pequenos Luxos Cotidianos, um elenco de peças especiais para ser viço de bar e mesa. As outras séries são assinadas por Ary Lyra (Ziggy), Jun Sakamoto (Kaguya Hime) e Cláudia Moreira Salles (Babel, à esquerda), esta uma instigante sobreposição de cones excêntricos, inclinados e chanfrados. (11) 6955 5344, www.saintjames.com.br
TEMPOS MODERNOS Com um time de designers antenados, a Mooa cria móveis corporativos que pretendem otimizar as áreas de trabalho para romper com a mesmice que muitas vezes impregnam esses ambientes. Para tanto, desenvolve móveis diferenciados e totalmente adaptados às novas tecnologias hoje imprescindíveis nos escritórios. Entre mesas, cadeiras, armários, estantes e divisórios, surgem objetos úteis e lúdicos como o biombo-cabideiro Amalia, dos designers catalãos Curro Claret & Gaspar González. (34) 964 100 830, www.mooa.eu
VÁRIOS EM UM ELEGÂNCIA MULTIFUNCIONAL
Criadora independente, Roberta Rampazzo já conquistou
Juliana Llussá empresta funcionalidade ao
espaço, entre outros, em endereços como Decameron e
seu mobiliário variado, que inclui este sofá (200 x 82 x 85 cm), ver-
Conceito Firma Casa. Por ser pesquisadora atenta de novas
sátil o suficiente para se transformar em cama de solteiro. A peça
tendências e materiais, a designer confere variedade de
tem estrutura de freijó, palhinha indiana trançada à mão e assento
recursos estéticos e funcionais às suas peças. A mesa
em peça única e fixa, com molas que seguem a tapeçaria tradicional
Friends, por exemplo, é feita em MDF laminado e tem bande-
de um colchão. Retiradas as almofadas soltas do encosto, acomoda
jas retráteis para ampliar sua área útil e, mais ainda, as
hóspedes com muito conforto. Também em medidas sob encomen-
possibilidades de utilização do móvel. (11) 8207 7708,
da. (11) 3031 1300, www.llussamarcenaria.com.br
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missão do curso:
formar arquitetos e urbanistas com sensibilidade artística e consciência sócio-ambiental.
menção honrosa no prêmio opera prima 2007 ecourbanismo vila darcy penteado – projeto sustentável hotel vila rossa projeto da aluna Patrícia de Almeida O’Reilly Levy
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LUZ ESTÉTICA, POESIA OU TECNOLOGIA? Um bate-bola com Baba Vacaro e Guinter Parschalk revela os mistérios e as complexidades que se escondem por trás de um raio de luz artificial. ARC DESIGN acompanhou essa troca de visões e selecionou um repertório das me lho res luminárias do mercado Maria Helena Estrada
Guinter Parschalk – O design de objetos trata da materialização de
nossas necessidades. E é a tecnologia que, hoje, pode suprir essas necessidades. Luminária, simplesmente, dá luz. E o que é preciso hoje para fazer a luz? Fio elétrico, lâmpada, o que segura essa lâmpada, joga para cima, para baixo, ou seja, essas várias formas de ter luz ou de se fazer ver os espaços. E aí começa a complexidade com as questões do desenho, dos materiais, da linguagem, da tecnologia.
Acima, Casino, design Tobias Grau, 2007. Utiliza LEDs da pró xi ma gera ção, o que per mitiu qua dru pli car a potên cia da luz bran ca. Fontes de luz LED 2 x 2, cor bran ca quente. À direita, lumi ná ria AR, 1984/2006 design Ingo Maurer e Ron Arad, dupla que por muito tempo expôs em par ce ria durante o Salão do Móvel. A flor é em ninho de abe lha metá li co, resul ta do de uma pes qui sa de Arad. O con ceito da lumi ná ria, de Maurer. A poesia, dos dois. Coleção Ingo Maurer
BaBa Vacaro – A palavra ‘iluminação’ hoje está definida pelo seu final –
ação. A luz tornou-se dinâmica, tudo é baseado na alta tecnologia, nos controles digitais, no sistema de RGB, que permite mudar a cor da luz e transformar a arquitetura. As luminárias tornaram-se múltiplas e criativas. Já existem aquelas ativadas por controle de voz, outra que é também exaustor. São pesquisas da Carlota Bevilaqua que, no início, achávamos pura loucura! Desenho e tecnologia criam a luminária contemporânea, cada vez mais ‘ativa’.
Abaixo, Taccia, design do mes tre Achile Castiglioni, 1962, uma das mais famo sas lumi ná rias do sécu lo XX. A fonte lumi no sa se escon de na base, e a cúpu la sobre posta, em vidro, gira tó ria, rece be uma su per fí cie refle to ra. Coleção Flos. No alto da pági na ao lado, Skygarden, de Marcel Wanders, 2007. Uma imensa cúpula recebe, em seu inte rior, dese nhos em rele vo sem pre na cor bran ca. Obedece ten dên cias, “de co ran do” o obje to, sem per der a maestria de seu dese nho. Coleção Flos
GP – Por outro lado, me pare ce que o desen vol vi men to da tec -
do recolhimento, mesmo a entediante… É a questão da importân-
nologia e da miniaturização dos materiais da construção civil
cia psicológica da iluminação em nosso comportamento, que está
conduz também a uma desmaterialização da arquitetura, o que
fazendo com que a indústria, em termos de tecnologia, possa
resulta, cada vez mais, em uma iluminação integrada a essa
propiciar no mesmo ambiente diversos climas de luz que irão
arquitetura, que pode estar oculta, no teto, no piso, na parede,
gerar sensações diversas.
dentro de um móvel. Embora oculta, ela é muito sofisticada, pelas situações de calor gerado, de manutenção, sem falar na precisão
BV – Criar todas as nuances de todas as luzes naturais, do ama-
da ótica, porque a luz que essas fontes luminosas geram é extre-
nhecer ao anoitecer, já é uma realidade, que foi mostrada pela
mamente funcional e precisa. Voltando à luminária visível, que é
Artemide, na instalação La Casa del Maestro, de Luca Ronconi,
ainda elemento decorativo, esta hoje também deve obedecer às
onde havia uma janela e, por trás, aparelhos sofisticadíssimos.
exigências tecnológicas, pensar na indução luminosa e nos refle-
Pura tecnologia! Mas se corre o risco de aproximar demais a
xos. Vistas como elementos fixos, presos à parede ou ao teto, já
casa do mundo do espetáculo. Na verdade, sempre criamos rela-
são hoje desnecessárias.
ções emocionais por tudo o que está à nossa volta, e ainda é difícil criar uma relação emocional com essa luz que vem de não sei
BV – Quando pensamos no cubo d’água das Olimpíadas na China,
onde, ao passo que, como a Taccia que você mesmo disse ser seu
ou no edifício com paredes feitas apenas de água, como na expo-
objeto de desejo, você cria um vínculo, traz a personalidade e o
sição de Zaragoza (ARC DESIGN 61), nos assustamos com essas
pensamento de Castiglioni.
novas realidades possíveis! E nos maravilhamos. GP – Sem dúvida! Acho que não podemos viver sem a presença GP – O conceito contido no termo 'iluminAÇÃO', a interação do
do objeto. O que acontece é justamente, por essa possibilidade de
ser humano, de uma quarta dimensão, ou seja, a questão do
hoje a luz estar cada vez mais integrada à arquitetura, e criar
tempo na iluminação, está cada vez mais presente! Invenções
formas não-usuais, luzes que desenham a arquitetura por trans-
como mudança de cor, dimer, automação, recur-
lucidez, que podem ser mínimas, fazem com que a presença do
sos marcantes na iluminação, servem
objeto adquira um valor ainda maior. O desenho das luminárias
não só para a conservação de
continua sendo desenvolvido, sempre com mais novidades em ter-
energia, como para alterar e
mos de tecnologia e nos materiais que, muitas vezes, uma pre-
caracterizar ambientes. Um
sença, até simples, como no caso da Twiggy, de Marc Sadler, con-
cubo branco pode se transfor-
segue nos intrigar. Como é que aquela haste tão fininha segura
mar em qualquer cenário.
aquela cúpula tão grande? É a engenharia que confronta o conhecimento visual.
BV – Podemos também criar a luz do entardecer,
a luz do meio dia…
BV – Escrevi um artigo para a ARC DESIGN sobre a Euroluce onde
eu dizia que a tecnologia se ocupa de ocultar. Ela desaparece, GP – ... a luz do inverno, aquela motivadora, a
16 ARC DESIGN
tanto nas luminárias, que têm uma levada mais decorativa (como
as de Tord Boontje, que
tiver a aceitação no merca-
faz flores de papel para
do. Morre na arte, vira um
colocar em cima de
ícone, é histórico, pronto e
uma lâm pa da, que
acabou. É um dos fenôme-
parecem feitas à mão e
nos do design contemporâ-
são resultado de tecnologia), ou
neo. E há outro elemento fundamental:
como na luminária que foi desenvolvida para sumir no meio da
faturamento! O mundo econômico gira sem parar. Call centers,
arquitetura e fazer a casa flutuar. Há 30 anos a tecnologia deve-
acompanhamento de bolsas de valores operam 24h por dia.
ria ser exibida como valor agregado, hoje se dá o contrário.
Dormir é um prejuízo absurdo! E a luz é fundamental! Não nos basta o dia, estamos vivendo a noite.
GP – É, realmente nossa percepção mudou! Antes o homem tinha
que se condicionar à ciência exata. Por exemplo, se você não se
BV – Mas vamos olhar por outro prisma. Com a tecnologia, o
sentisse confortável em uma cadeira, dita ergonômica, você era
mundo se desmaterializa e temos necessidade de objetos – não
taxado de incompetente ergonômico. Com o tempo, começou-se a
só de uso, mas aqueles afetivos. A pessoa se identifica, se mis-
perceber que a ciência exata está a serviço do ser humano. Então
tura com o que está próximo, com as coisas necessárias para
a potência do motor, a lâmpada, todo o desenvolvimento tecnoló-
afirmar sua própria personalidade. E começamos essa conversa
gico tem que estar a serviço do bem-estar humano. É o que inte-
com a idéia de que o objeto, o design, é a materialização da
ressa, e toda a tecnologia deve atender essa demanda subliminar
necessidade.
humana. Isso significa que nós, enquanto população mundial, evoluímos na questão da percepção visual.
Mh – Do ponto de vista formal, do objeto palpável, como você,
Baba, acha que está o mundo da iluminação? BV – Porque também temos cada vez mais repertório. BV – No começo do século passado havia o ideal da forma pura, GP – A iluminação é a área que mais está evoluindo na arquite-
que era o resultado da tecnologia do momento, como uma dobra-
tura. Por quê? Graças à evolução da lâmpada. São novas tecno-
dora de tubo. Hoje a tecnologia permite muito mais, e a forma
logias para fluorescentes e para as alógenas, e temos as novas
ganhou liberdade de expressão, o design, às vezes se confunde
fontes, como o LED, higthlight, indução luminosa, indução magné-
com a arte, outras é o material que determina sua forma.
tica… As indústrias também criam componentes técnicos com cada vez mais precisão ótica. Existe a automação, que permite a
Mh – … a forma segue a tecnologia?
economia de energia, programando o “liga-desliga”. Por outro lado, um de nossos cinco sentidos – o visual – se transforma. TV
BV – A forma segue a tecnologia e a função hoje é muito mais emo-
a cabo, internet, revistas e viagens difundem a informação. O
cional. É bom aquilo que faz você ser feliz, que melhora sua vida.
design faz parte desse universo visual e necessita da aceitação do mundo global. Nenhuma tecnologia, nenhum design vinga se não
GP – … é a ciência exata servindo a ciência humana.
17 ARC DESIGN
LANÇAMENTOS NO MERCADO BRASILEIRO
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1. A linha Sinua, da Puntoluce, conta com essa lumi ná ria de chão em metal e teci do elás ti co, com trama tex tu ri za da que fil tra suave men te a luz 2. Pindorama, de Cristiana Bertolucci, é uma famí lia de pen den tes com ima gens impressas na cúpu la de qua tro paisagens do país. Entre elas, a Ma ta Atlân tica, nas versões peque na (70 X 32 cm) e gran de (100 x 45 cm) 3. Isa de Paula Santos criou e a Benedixt comer cia li za Voluptuosa (60 x 30 cm), peça de mesa em poli pro pi le no sobre alu mí nio
1
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4. As luminárias de piso, mesa e teto Wish, de Fer nando Prado para a Lumini, tem cúpu la de teci do, usa lâm pa da incan des cen te e, no caso do pen den te, tem um con tra peso que per mi te regu lar a altu ra da peça 5. Zeppelin (110 x 74 cm), luminária de Marcel Wanders para a Dominici, ho me na geia o mes tre Castiglioni. A peça evoca um can de la bro em bru lha do por um não-tecido, material desenvolvido com exclusividade pela Flos 6. O tripé Orbital, 70 X 55 cm, é uma lumi ná ria de mesa feita para a Marco 500 por Isa de Paula Santos. Em alu mí nio poli do e poli pro pi le no, com uti li za ção de lâm pa da incan des cente até 100w E-27
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1
1. Originalmente em cobre, o pen den te Alcachofra, do dina mar quês Poul Henningsen, faz 50 anos com uma ver são come mo ra ti va e limi ta da: 50 uni da des ba nha das a ouro 24 qui la tes, uma exclu si vi da de no Brasil da cario ca Delmak 2. Com haste de inox poli do, o aba jur de mesa Bu ra no, de Marilena G. Design, tem base e cúpu la acrí li ca com pa pel ren da do nas cores bran ca, como esta, ou cas ta nho 3. O arqui te to Marco Valiengo assi na para o Studio Light a lumi ná ria Tra ma (20 x 153 cm), de chão e para duas lâm pa das, com tex tu ra obti da a par tir de papel especial trançado
2
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6
4. Da desig ner Rita Valla da res, o pen den te Perle, da Scatto, é uma peça concebida em homenagem à Coco Chanel. Tem estrutura de ferro e correntes de latão banhadas a ouro para sustentar uma inédita profusão de péro las de vidro alter na das (de 10, 12, 14 e 16 mm) 5. Wagner Archela pro põe para a Wall Lampe sua versão hi-tech dos tra di cio nais aba ju res em tecido plissado. Em Lumiére, o efeito é obtido graças à sobreposição de 80 lâminas de acrílico sobre discos no mesmo material. Encontrado em quatro alturas e diâmetros
5
6. De Baba Vacaro para a Dominici, o pen den te Essayage (75 x 45 cm) uti li za difu sor de não-teci do bor da do em duas cores. Uma mes cla de papel e fila men tos de polie ti le no em forma de capa removí vel, que reco bre estru tu ra metá li ca com altu ra regu la da por finos cabos de aço
3
1. Fernando Akasaka criou para a Conceito Firma Casa a lumi ná ria de chão FA28 (33 x 33 x 180 cm). Ver são mini ma lis ta em latão cro ma do ou dou ra do, com fio, inter rup tor e toma da trans pa ren tes, para lâm pa da de 100w E27 2. A Wall Lamps traz da Prandina a lumi ná ria de mesa ABC, con cep ção de Sandro Santantonio. A base de metal rece be cúpu la de cris tal de mura no, deco ra do por letras do alfa be to em alto-rele vo
4
3. O sistema modular fluorescente ST5, de Fred Mamede, Ruana Barros e Willames Verçoza para a Light Design, aceita diferentes montagens e dispõe de versões para parede, arandela, plafon, teto e pendente. Como este, em alumínio com difusor de policar bonato 4. Tutto é o pendente da Scatto Lampadário por Rita Valladares. Um prisma de PE natural expandido em duas versões: com LED, para inspirar sensações e efeitos a par tir da projeção de luzes e cores, e com lâmpada tra di cio nal, para que a ousa dia da forma pre va le ça
1
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5. O estú dio ita lia no Artificia faz e a Puntoluce impor ta Ufo (90 e 120 cm), pen den te em teci do plissa do para lâm pa das de 100w – E27, que tira provei to da forma e da lumi no si da de para reme ter ao uni ver so lúdi co dos dis cos voa do res 6. A Lumini traz Mirror Ball Stand, em aço inox com estrutura em policarbonato de alto impacto. Criação de Tom Dixon 7. Ross Lovegrove criou para a Artemide a série Aqua Cil, agora na La Lampe. O difu sor interno da peça emana intensa luminosidade, refletida em sua superfície espelhada. Um efeito que desmaterializa a estrutura de alu mí nio fun di do
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1. A Linha Arabesco é uma con cep ção da desig ner Fabíola Bergamo para a pau lis ta Munclair. Nas ver sões pla fon, aran de la, colu na e pen den te (50 x 21 cm), este com cilin dro de alu mí nio escova do, cúpu la de polies ti re no bran co ou ver me lho e altu ra regu lá vel 2. Louis Poulsen lança e a Delmak traz a linha de lu mi ná rias Collage, da dina mar quesa Louise Campbell. A desig ner busca ins pi ra ção nos mati zes da luz inci din do sobre as folha gens e repro du zi das em cúpu las de acrí li co cor ta do a laser (60 cm de diâ me tro), em cinco cores dife ren tes 3. Cristiana Bertolucci pro põe para sua marca a linha Urucum Cores Longo (16 x 63 cm). São aba ju res de alu mí nio pin ta do em diver sas cores, ideais para lâm pa das de 40w 4. Twiggy, de Marc Sadler para a Foscarini, à venda na Lumini. Linha de lumi ná rias laquea das em várias cores, com estrutura em material sintético composto e base em fibra de vidro. A leveza das peças (165 x 250 cm) é refor ça da pelo siste ma de contra peso, que ajus ta a altu ra das has tes em até 30 cm 5. Rex (12 x 20 x 6 cm) é a lumi ná ria em meta cri la to do desig ner Zanini de Zanine para a sua marca 2Z. Elaborada em dife ren tes cores, ini cial men te para crian ças, sua ori gi na li da de já con quis tou adul tos e o décor de dife ren tes espa ços
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O que é preciso para que um país possa emergir como portador de idéias e formas, de novos signos que traduzam sua cultura? Já está provado: boas escolas, alguma estrutura industrial, um forte apoio do governo. Essa é a fórmula da Espanha, cujos produtos invadiram o último Salão do Móvel de Milão, e agora se apre-
300%
senta com mostra coletiva no SESC Paulista
S PANISH DESIGN Maria Helena Estrada Juli Capella, arquiteto e designer, jornalista e crítico de design, é o curador desta mostra que reúne 100 cadeiras, 100 luminárias e 100 cartazes criados durante o século XX, e avançando um pouco nos anos 2000. Design espanhol “made in Spain”. Embora muitos projetistas espanhóis, principalmente os mais jovens, editem e produzam suas peças na Itália, nesta coleção tudo é 100% Spanish. A exposição faz parte da aposta do governo espanhol em sua produção com alto valor agregado. Vemos o aporte financeiro do governo, decidido a fazer a Espanha ocupar lugar de destaque no panorama do design internacional. País que até há bem pouco tempo competia no mercado internacional, principalmente por preço, agora compete pela qualidade e pelo valor agregado de sua produção. Bingo! Mais uma vez essa fórmula dá certo. A tradição espanhola é valiosa, começando por Salvador
Acima, cadei ra de Gaudí, em madei ra, hoje edi ta da pela BD Diseño. À direita, publi ci da de da Ibéria, de Tomás Vellvé (1950), e cartaz Tacones Lejanos, de Juan Gatti (1991). Na pági na ao lado, lumi ná ria Cajones, de Salvador Dali (1937)
Dalí e Gaudí, passando por Picasso – expressões do design arte e do design gráfico. A Guerra Civil na década de 1930 interrompe a trajetória, que é retomada a partir dos anos 1950, com o início da industrialização da Europa. Mas é a partir do início de 1960, com a criação de ótimas escolas de ensino superior de design e a abertura de algumas indústrias e empresas nesse setor, que começamos a sentir a presença do design espanhol. No início, poucos nomes se destacam, entre eles Pensi, Llusca. A empresa BD Diseño edita esses novos nomes, além do mobiliário de Gaudí. Mas é agora, século XXI, que a Espanha verdadeiramente se projeta. É agora que podemos perceber e identificar o espírito espanhol, feito de irreverência, humor e ironia. Muito colorido, seu mobiliário dispensa a sisudez do design italiano, o essencialismo do design escandinavo, a tendência decorativista francesa. 27 ARC DESIGN
À direi ta, lumi ná ria Calder, design Enric Franch (1974). Ao pé da página, à direita, cadeira Toledo, de Jorge Pensi (1986), produzida pela Amat
“O design espanhol é imaginativo e atrevido, com seu caráter mediterrâneo e latino”, escreve Juli Capella no catálogo que acompanha a mostra. “Estamos em um momento de mudança de gerações”, Acima, car taz Las Arenas, de Josep Renau (1930). Abaixo, Proyector, de Mariano Fortuny y Madrazo (1907), pro du zi do pela Écart desde 1991
explica Capella, curador da mostra, e também de maior interesse por parte da indústria. Na verdade, os jovens designers espanhóis, como Ana Mir, Emili Padrós, Marti Guixé, ganharam visibilidade de público e mídia depois de serem chamados pelas empresas italianas. Isso sem falar na famosa Patrícia Urquiola, que ainda não retornou às origens. Barcelona é o grande centro de design da Espanha. Mas a variedade de linguagens é grande, inclusive as contraposições, neste país rico em dialetos, em preservação do passado e em nacionalidades. Existe uma forte tradição artesanal e popular que transparece – sem predominar – nos projetos contemporâneos. “Há um substrato vernacular presente em muitas propostas”, enfatiza o curador. Cadeiras, luminárias, cartazes, “a Espanha entra na era da globalização com o estandarte do design como emblema distintivo”, anuncia o brilhante curador Juli Capella. i
300% Spanish Design é uma realização do SEA CEX e da Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior, em exposição no SESC-SP (av. Paulista, 119), de 5 de setembro de 2008 a 11 de janeiro de 2009. www.sescsp.org.br
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PRAZER EM INOVAR Em sua quinta edição, Maratona Universitária da Eficiência apresenta protótipos de carros econômicos, criados por alunos de 14 faculdades. Disputada nas categorias Elétrico e Gasolina, a prova funciona como celeiro de boas idéias, aproxima empresas e estudantes e mostra propostas criativas para produzir veículos mais econômicos e ecologicamente corretos Julia Garcez
ECOMAUÁ 1 – INSTITUTO MAUÁ DE ENGENHARIA – 2º lugar Gasolina – 333,91 km/l Uma das pou cas equi pes de enge nha ria a ter um estu dante de design, a Mauá aproveitou essa vanta gem para criar um pro tó ti po que com bi na fun cio na lida de e apuro esté ti co. “Graças ao design, fize mos um carro que, além de se desta car pela impo nên cia, teve um ótimo desem pe nho”, diz o aluno de enge nha ria ele trô ni ca e chefe de equi pe Fábio Jerena. Desenhado pelo estu dante Murilo Gomes, o EcoMauá tem boa quantida de de mate riais reci clá veis, como fibra de car bo no, poliu re ta no, PET e PVC. Para unir as peças, inova ção: em vez da solda, a opção foi fibra de car bo no
TUBARÃO – UNICAMP – 7º lugar Elétrico – 10,63 km/bate ria O carro Tubarão tem o chassi em honey comb e fibra de car bo no, e car ro ce ria em plásti co refor ça do com fibra de vidro. “Esco lhe mos mate riais bem leves, clássi cos da indústria ae ro náu ti ca”, diz Caio Glauco San chez, pro fessor de ter mo di nâ mi ca res pon sá vel pela equi pe, que não tinha alu nos de design. “O dese nho é um aspec to impor tante do carro, pois inter fe re no con su mo de energia”
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ERRBATRONIC 3 – ANHEMBI MORUMBI – 1º lugar Gasolina – 343,17 km/l O carro Errbatronic 3 tem a forma de uma gota. Com monobloco em fibra de vidro estruturado, ele tem boa eficiência aerodinâmica e literalmente “veste” o motorista. O projeto teve o apoio de um pro fessor que trabalha com design. “O desenho favoreceu a aerodinâmica, permitiu economia de combustível e melhor desempenho, além de criar um visual bonito”, diz o chefe de equipe Caio Tadeu Machado, aluno de engenharia de produção. Não à toa, o Errbatronic 3 foi o campeão na sua categoria Gasolina
Foi dada a largada na corrida por automóveis que
seriedade pelos alunos, que a consideram um impor-
gastem menos combustível e que ajudem a preservar o
tante canal para pôr em prática os conhecimentos obti-
meio ambiente. A 5ª edição da Maratona Universitária
dos no curso. As melhores idéias se destacam. “Cerca
da Eficiência, que ocorreu entre 24 e 26 de julho no
de 30 alunos utilizaram os projetos apresentados como
kartódromo de Interlagos, em São Paulo, mostrou 28
espelho para chegar a grandes empresas do setor auto-
protótipos com boas idéias nessa área. Desenvolvidos
motivo, como Fiat e General Motors”, diz Andriolo. Em
por alunos de 14 faculdades de design e engenharia, os
sua 5ª edição, a Maratona ainda tem uma participação
veículos disputaram uma animada corrida em que o
tímida das faculdades de design. Este ano havia apenas
menos importante era vencer – o que valia mesmo era
duas, mas a expectativa é de que a situação mude. “Os
apresentar soluções criativas e trocar conhecimento.
designers trazem alternativas interessantes e propõem
Inspirada em iniciativas semelhantes existentes na Eu-
o uso de materiais muitas vezes não imaginados pelos
ropa, a Maratona foi criada em 2004 pelo promotor de
engenheiros, mais preocupados com o desempenho do
eventos Alberto Andriolo, proprietário da Projeto de Co-
carro”, afirma Andriolo.
municação, empresa organizadora da prova. “Desejava
A união das duas especialidades pode gerar ótimos
criar uma competição entre escolas que mostrasse os
resultados. Prova disso está na performance do Institu-
maiores talentos nesse setor, para que o mercado per-
to Mauá de Engenharia, que contou pela primeira vez
cebesse a existência de profissionais com sensibilidade
com o suporte de um futuro profissional do desenho e
para buscar novas soluções e apostar no uso de mate-
obteve o segundo lugar na categoria elétrico – sua
riais que permitam maior eficiência”, conta ele.
melhor classificação na Maratona. Sinal de que as duas
Hoje, passados quase cinco anos de sua criação, a ma-
áreas devem, cada vez mais, trabalhar juntas para atin-
ratona atingiu seus objetivos e é encarada com muita
gir maior eficiência. i 31 ARC DESIGN
PROMIC – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – 5º lugar Gasolina – 215,37 km/l Em sua estréia na Mara to na, os estu dan tes cria ram um carro com chassi em alu mí nio e care na gem em fibra de vidro, com pára-brisa em PET. O resul ta do foi um veí cu lo leve e resis ten te. “Tínhamos pou cos recur sos e che ga mos a per noi tar na facul da de”, conta o chefe de equi pe Cristiano da Luz Coimbra, aluno do 5º ano de enge nha ria mecâ ni ca. “Mas o esfor ço com pen sou, pois a Mara to na é uma ótima opor tu ni da de para mos trar nosso poten cial e apresen tar novas tec no lo gias, que podem ser aprovei ta das pelo mer ca do”
FIO 5 – FADIM – 12º lugar Elétrico – 2,64 km/bate ria A Faculdade de Desenho Industrial de Mauá foi a pri mei ra esco la de design a par ti ci par da Mara to na, e este ano apresen tou um carro feito em aço e plás ti co. E como eles se posi cio nam em uma com pe ti ção domi na da por futu ros enge nhei ros? “Nós, desig ners, somos pro fun dos pes qui sa do res e esta mos sem pre em busca de novos mate riais”, diz Leandro Bradna, pro fessor-assis ten te de pro je to, res pon sá vel pela equi pe. “Prestamos muito aten ção à parte ergo nô mi ca e cria mos um carro que não inco mo da o pilo to”
FOCAR II – FACULDADES OSWALDO CRUZ – 13º lugar Elétrico – 2,49 km/bate ria As Faculdades Oswaldo Cruz tinham uma das úni cas equi pes for ma das por estu dan tes de design. Seu carro, o Focar II, mos trou care na gem em inu si ta do mate rial, o plás ti co. “Quisemos usar uma maté ria-prima mais leve e resis ten te que o aço, e que tam bém pudesse ser reci cla da após o des car te do pro du to”, diz Valdenor Bispo, chefe de equi pe. “O design aju dou muito a pen sar um carro híbri do e con tri buiu com a ergo no mia, favo re cen do a cria ção de um mode lo ajus ta do às carac te rís ti cas do pilo to”
32 ARC DESIGN
NOEN – UNICAMP – 3º lugar Gasolina – 327,40 km/l Feito em fibra de car bo no com nomex, sub pro du to da polpa de celu lo se, o carro Noen tem chassi de honey comb. A apos ta sem pre recai sobre novos mate riais – até folha de bana nei ra já usa ram no pas sa do! Segundo o chefe de equi pe Rafael Savioli, con tan do ape nas com “futu ros enge nhei ros de bom gosto”, o Noen alcan çou dese nho mais vol ta do à aero di nâ mi ca, embo ra o fator pre pon de ran te tenha sido o desem pe nho
ECOMACK 2008 – MACKENZIE – 6º lugar Elétrico – 12,28 km/bate ria Os alu nos do Mackenzie fize ram o EcoMack com estru tu ra de alu mí nio e care na gem de papel. Os mate riais, embo ra pouco durá veis e resis ten tes, foram esco lhi dos por pro por cio nar leve za ao veí cu lo, expli ca o chefe de equi pe Alexandre Ruiz, aluno de enge nha ria. A equi pe tinha um estu dan te de dese nho indus trial, moda li da de que, acre di ta Ruiz, con tri bui para o sucesso do pro tó ti po
EESM02 – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – 2º lugar Elétrico – 28,28 km/bate ria Os alu nos fize ram um carro com care na gem em meta lão, além de reves ti men to em arame de aço e vinil usado para aero mo de lis mo. “Escolhemos mate riais que pudessem ser reci cla dos e per mi tissem menor con su mo de energia”, diz Luiz Antonio Righi, pro fessor de enge nha ria elé tri ca res pon sá vel pela equi pe. Ele sen tiu falta do supor te de um desig ner. “O design é muito impor tan te, pois ajus ta a aero di nâ mi ca às carac te rís ti cas do pilo to, usan do fer ra men tas que nós, enge nhei ros, ainda não domi na mos”
CAMELO 3 – ULBRA – 4º lugar Gasolina – 267,05 km/l Os alu nos da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) cria ram o Camelo 3, feito de estru tu ra em aço e fibra de vidro – mate riais que per mi ti ram a sua cons tru ção na pró pria facul da de. “Em um grupo de enge nhei ros, o design faz falta”, diz o chefe de equi pe Luís Fernando de Leon, aluno de enge nha ria auto mo ti va. “O bom dese nho faz muita dife ren ça para apli ca ção de novos mate riais e a visua li za ção dos mode los, tor nan do-os mais bem-aca ba dos”
33 ARC DESIGN
AMIGO DA PERFEIÇÃO Com desenho elegante, Ricardo Barddal soma cerca de 500 diferentes criações em móveis contemporâneos, muitos deles em estado de protótipo e à espera de editores e fabricantes de móveis que apostem em sua proposta: o slow-down, movimento que preconiza uma desaceleração da produção a fim de construir peças perenes para reduzir desperdícios e mudar nossos hábitos de consumo em favor do meio ambiente e da qualidade de vida Cristina Teixeira Duarte
No alto da pági na, pol tro na Horus, com estru tu ra de inox maci ço e poli do de 12 mm, que rece be assen to em couro mol da do e cos tu ra do à mão, no melhor esti lo tay lor made. Acima, a namo ra dei ra Xaveco, com base tam bém de inox maci ço poli do de 12 mm, fibra de vidro lami na da e reves ti da com espu ma D28, de 5 cm, além de teci dos de puro poliés ter, que acei ta bem qual quer for ma to
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Criar, sim, mas não a qualquer preço. Ricardo Barddal especializou-se o suficiente em design para construir de pranchas de surfe a barcos de competição cobiçados por gente que, como ele, vive à beira-mar. E foi para a sua casa em Florianópolis (SC) que desenhou os primeiros móveis, depois encomendados por amigos, amigos de amigos e hoje fabricados por terceiros, marcas respeitadas como a Veneza Móveis e pelo escritório paulistano de design Decameron. Mas o alvo maior Acima, mesa de centro Jangada, ela bo ra da com tam po de apa ras da indústria move lei ra cola das entre si, a fim de aproveitar as sobras de madei ras no bres. Os pés são de aço polido e redon do, de 10 mm. Ao lado, pol tro na Ufo, uma con cha em chapa de aço 1,5 mm, cor ta da a laser, cur va da, sol da da e reves ti da com espu ma de alta den sida de de 5 mm. En cai xa da sobre base de inox maci ço e polido de 12 mm, pode rece ber revesti mento de cou ro poliéster ou neo pre ne
do designer é mesmo a criação autoral, de caráter artesanal e com uma funcionalidade impregnada de valores subjetivos. Barddal almeja o serial, mas em tiragens limitadas, capaz de ir além da beleza e do conforto para propor um estilo de vida nascido no bojo da globalização: o slow-down, movimento que preconiza a desaceleração do nosso ritmo em prol da qualidade de vida, e que já se desdobrou em iniciativas como as criações low-tech, o slow-food e outras vertentes “no fast”. A idéia é resgatar o prazer de criar, executar, conviver e desfrutar a plenitude das habilidades humanas em todas as suas atividades, incluindo a interação responsável com o meio ambiente. Uma convicção que afasta o designer da madeira em favor de materiais como fibra de vidro, resinas de poliéster e acrílicas que, mesmo poluentes em seu processo industrial, não devastam a natureza. Ricardo Barddal acredita ser possível, assim, reprogramar a obsolescência dos produtos, racionalizar o reuso da matéria-prima e – fundamental – repensar o atual modelo indiscriminado de consumo. Mesmo à custa de novos empregos e da estagnação econômica! As linhas enxutas de seus móveis, tanto aqueles já em linha de produção quanto os protótipos que mostramos aqui com exclusividade, testemunham a coerência de suas propostas e a possibilidade de concretizá-las. Sem pressa e com perfeição. Com Barddal abrimos espaço para designers à procura de editores e empresas desejosas de lançar novos autores. ❉
O sofá Flip, acima, é feito com madei ra de lei, molas no assen to e pés de inox maci ço de 10 mm. Tem três tipos de módu los, – assen to com ou sem encos to, além de can tos com assen to e encos to. São encai xá veis, o que per mi te incon tá veis con fi gu ra ções, segun do a neces si da de do usuá rio. Podem vir com des can so para a cabe ça e as per nas
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DESIGN: PARCEIRO NO SUCESSO Tecnologia sim, muita, de processos avançados. O que não exclui a criação de um “hangar”, espaço para a criatividade, longe da fábrica e livre para pensar. Ou, como diria Millôr Fernandes, “livre pensar é só pensar”... e criar Da Redaçao / Fotos Victor Almeida
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“Hangar é um local onde são construídas e armazenadas máquinas destinadas a alçar altos vôos. O nome do novo espaço criado por nossa empresa, a Plásticos Mueller, tem relação direta com o objetivo que norteou sua criação”, observa Esther Faingold, CEO do grupo. Exemplo de empresa que tem o binômio design e tecnologia em seu DNA, a Plásticos Mueller, produtora de peças em plástico injetado, principalmente para a indústria automotiva, cria o Hangar 44, estúdio de design. Fundada em 1937, a Mueller é uma das pioneiras no setor de transformação do plástico, acompa-
Na página ao lado, hall de entra da do Hangar 44, com instalação de Ram sés Marçal, utilizando cai xo tes para expor obje tos da cul tu ra popu lar. É o car tão de apresen ta ção do espaço – leia-se: “aqui nada é con ven cio nal”. Ao centro, logo ti po do Hangar. Nesta pági na, no alto, deta lhe do papel de pare de inspirado no espaço. Acima, dois sketches de car ros dese nha dos com re cursos digitais, que per mitem ao desig ner man ter seu traço apesar do uso do computador. Abaixo, deta lhe de miniatura de avião antigo, à entrada
nhando a evolução industrial brasileira. É especialista no desenvolvimento e produção de peças plásticas e cabos flexíveis para os segmentos automobilístico e eletroeletrônico, além de desenvolver projetos para criação de outras aplicações para o plástico, como a substituição da maior e mais complexa peça de plástico em um veículo leve – o rack de teto – por termoplásticos nanoestruturados. O resultado é a maior leveza do veículo (seu peso foi de 6,3 quilos para 4,7 quilos), gerando economia de combustível e menor custo do próprio carro. A aplicação da nanotecnologia resultou em mais leveza e maior resistência e durabilidade. Extremamente focada em pesquisa e inovação, a Mueller inaugurou, no início de 2007, o seu próprio Centro Tecnológico, e mantém parcerias com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para o desenvolvimento dos nanomateriais. Tem, ainda, dois parceiros internacionais – um na Alemanha e outro no Japão – para troca e transferência de tecnologias e processos. Entre seus clientes, estão Fiat, General Motors, Volkswagen, DaimlerChrysler, Honda, Iveco, Scania, Toyota, Volvo, Epson, Hewlet Packhard, Flextronics e 37 ARC DESIGN
Yamaha. Outra inovação proposta pelo Centro Tecnológico da Mueller é a gradual substituição dos componentes metálicos, como no caso dos paralamas, por peças em plástico. Sempre atenta às implicações ambientais, os componentes em material sintético que são utilizados têm sempre um percentual de fibras vegetais. “São duas as formas de trabalho do Centro de Criação”, informa o designer Ramses Marçal, gerente do Hangar. “A indústria faz um briefing do conceito e desenvolvemos o projeto, ou o desenho já vem pronto e a engenharia trabalha junto com a equipe de design do Hangar para encontrar a melhor solução para a produção.” A Mueller conta com três unidades industriais: São Paulo, Contagem e Matozinhos (MG), com um total de 1.900 funcionários. Um produto inovador e de grande sucesso é o detector de combustível adulterado, que utiliza um pequeno reservatório com eletrônica capaz de avaliar a qualidade já no tubo de enchimento do tanque. "É nesse contexto de inovação que nasce o Hangar 44, uma decisão fundamental de investir em design, colaborando para aumentar a eficiência do processo projetual de seus clientes. Criamos um ambiente estimulante”, salienta Esther Faingold, acrescenNo alto, sala de espera com detalhe do papel de parede, no estilo “lambe-lambe”. Abaixo, mochilas desen volvidas pe la equ i pe de cria ção do Hangar 44, uma ini cia ti va que inte gra as estra té gias da com pa nhia para ca pita li zar as novas opor tu nida des do mer ca do, amplian do seus dife ren ciais com pe titi vos
tando: “Com a sua instalação, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, estabelecemos uma plataforma de novas idéias, conceitos e formas. Reunimos profissionais altamente capacitados, que atendem a Mueller, mas têm plena liberdade para propor outros produtos". E o grande diferencial é o fato de fazer parte de um grupo industrial com tradição de 71 anos como fornecedor da indústria automobilística. Sem rigidez de pensamento, Ramses Marçal, designer com experiência em artes plásticas, tem o olhar voltado para o projeto criativo. “Hoje existe um departamento responsável pela estratégia da empresa em relação a novos produtos e à integração de novas tecnologias. São arquitetos, designers, engenheiros e um antropólogo, trabalhando com equipamentos de última geração. Tratamos de questionamentos, oportunidades e soluções para novos negócios.” É o Hangar 44. “O número 4 faz alusão ao fato de ser a quarta unidade do Grupo Mueller; o duplo 4 totaliza 8, ou seja, o símbolo do infinito, expressando nossa certeza de que criatividade, inovação e design não têm limites no universo das possibilidades", conclui Esther Faingold, esta CEO que soube incorporar o design à cultura da empresa. ❉
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Em razão de sua política de assumir o design como elemento integrante da estratégia da empresa, a Mueller instituiu, em parceria com a FIAT, o concurso Talentos do Design, que investe na criação de peças para o interior dos carros da montadora. O conceito foi o da linha do tempo, com projetos para hoje, para um prazo de cinco anos e a futurologia, ou ficção científica. Aberto em setembro 2007, para estimular profissionais que atuam fora do setor automotivo, terá seu resultado divulgado em outubro
Acima, car taz para o lan ça mento do con curso Talentos do Design, em par ce ria com a FIAT. Abaixo, deta lhe do es critó rio com equi pa mentos de últi ma gera ção. Re pa rem que o pro fissio nal dese nha dire ta mente sobre a tela, pa ra as equi pes de cria ção e design e desen vol vi mento, com arquite tos, desig ners, enge nhei ros e um antro pó logo
O QUE É SENTIDO FAZ SENTIDO Lala Deheinzelin, assessora em Economia Criativa da Unidade Especial de Cooperação Sul-Sul da ONU, faz um trabalho de sensibilização junto às lideranças governamentais e empresariais para que os dirigentes e políticos possam passar, de forma criativa e eficaz, do século XX para o XXI. Mas o que é Economia Criativa?
ARC DESIGN – Fala-se cada vez mais em Economia Criativa. O que sig ni fi ca, real men te,
essa expres são? LALA DEHEINZELIN – É uma nova maneira de pensar o mundo e nossas ações, a partir dos
recursos que dispomos, visando alcançar um futuro desejável. Podemos dizer que a Economia Criativa é o guarda-chuva que abrange as atividades que têm a criatividade e os recursos culturais como matéria-prima. Até o século XX, exploravam-se unicamente os recursos tangíveis: a terra, o petróleo, etc., que são finitos. O século XXI é aquele dos recursos intangíveis, ou seja, da criatividade.
AD – Como e por que acon te ce – ou deve rá acon te cer – essa mudan ça em nos sas ati tu des e
for mas de pen sar? LD – Estamos em um momento de transformação. É o momento que sucede o da tomada de
consciência de que não podemos basear nosso sistema econômico e produtivo em recursos não-renováveis. A economia criativa é a dos recursos renováveis, portanto estratégicos, que têm o poder de transformar a sociedade e seus fatores sociais, ambientais e culturais.
AD – Soa ainda estranha a expressão que une a palavra “economia”, que se refere ao universo
tangível, à noção de “criativa”, que pertence ao mundo intangível. Como se dá essa união? LD – É este, exatamente, um dos aspectos interessantes da Economia Criativa, pois ela atua,
de forma interdependente, com os dois ecossistemas. Nesse binômio, o criativo lida com o ecossistema cultural, que tem quatro dimensões: a simbólica, onde estão inseridos os valores culturais; a social, que abarca o setor público, o privado e a sociedade civil, por meio de redes; a dimensão ambiental, que inclui o ambiente natural e aquele tecnológico; e a econômica, que atua como mediadora das outras. 40 ARC DESIGN
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Economia Criativa no Brasil: do pro ble ma nasce a solu ção. Cabaceiras, inte rior da Paraíba, terra onde não chove nunca e, por isso, foi eleita co mo cená rio ideal para fil ma gem de ce nas exter nas. E são tantas as equi pes de fil ma gem que “ po vo am” a região, que à cida de foi dado o no me de Roli ú de Nordestina. Com direito a ins cri ção em cima do morro
AD – Como acontece essa transformação que afeta diretamente nossas “estruturas pensantes”?
Quais os indícios de que o Brasil pode ser parte dessa nova realidade? LD – Esse pro ces so já come çou, já exis te um pen sa men to que não trata da indús tria cria ti -
va, aquela que se refere à produção de grandes quantidades e utiliza pouca mão-de-obra. Em vez do muito produzido por poucos, começamos a valorizar a produção feita por muitos, onde cada um vende pouco. Um exemplo divertido está na indústria cinematográfica, com a diferença entre Hollywood e a Roliúde Nordestina, situada na cidade de Cabaceiras, Paraíba. Local onde nunca chove, começou a ser escolhida como cenário para produções cinematográficas – um problema que, na economia criativa, se transforma em solução. O Brasil já trabalha, como no design e no artesanato, com a mentalidade da economia criativa. Estamos ligados nos processos, não nas linhas de produção de fábricas, mas na gestão e no intangível. AD – O que já existe, no panorama internacional, em termos de dados que comprovem as vanta-
gens dessa mudança de perspectiva na economia? LD – De acordo com a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), os ne-
gócios criativos são bons negócios. Conforme o Creative Economy Report, eles crescem duas vezes mais que a indústria, quatro vezes mais que a manufatura e seis vezes mais quando o assunto é a economia da experiência, por exemplo, o turismo. AD – Como avaliar, hoje, a dimensão e a abrangência dessa nova forma de agir? Como os gover-
nos e as instituições reagem? LD – Ninguém tem noção do tamanho da economia criativa. Precisamos desenvolver parâme-
tros para enfrentar a nova realidade. As políticas de desenvolvimento deveriam ser baseadas nessas novas idéias. As coisas finitas se medem com régua. O que não é finito é multidimensional. É como querer medir litro com régua. 41 ARC DESIGN
Koy Pereira
CASES DE SUCESSO Podemos citar três “cases” de suces so no âmbi to da eco no mia cria ti va. O pri mei ro é o São Paulo Fashion Week, que não é um pro du to, mas um pro ces so de coe são. Trabalha-se, for t e men te anco ra da em valo res, a orga ni za ção de um setor, que é pri va do, não tem apoio do gover no, e é estra té gi co
SPFW, o evento da moda em São Paulo, reali zado no prédio da Bienal de São Paulo. Não é encarado como apenas um produto. É um processo de coesão de um setor, apoiado em valores for tes que, sem nunca ter recebido verba oficial, se tornou estratégico para o setor moda e para a cidade. Doutores da Alegria, idéia que nasceu de um desejo de ajudar crianças hospitali zadas. Tornou-se uma ONG com palhaços pro fissionais, gerando diversas outras ati vidades
para a cida de. Outra expe riên cia é a dos Doutores da Alegria, uma inter sec ção entre o ter cei ro setor e a cria ti vi da de. Wellington Nogueira, fun da dor deste grupo que come çou com volun tá rios ves ti dos de palha ço para visi tar crian ças em hos pi tais, espe ra que no futu ro tenha mos “bes tei ro lo gis tas”, ou palha ços qua li fi ca dos. Hoje, eles se pro fis sio na li za ram, são bem pagos, têm for ma ção ade qua da. E o pro je to já deu mui tos “filho tes”, com publi ca ções, pes qui sa aca dê mi ca, trei na men to de empre sá rios. O ter cei ro exem plo vem da Nigéria, onde não há (ou não havia até bem pouco tempo) cine mas. Graças a essa pre ca rie da de resul tan te da pobre za, atualmente o país é o maior pro du tor de audio vi suais do mundo. É sem pre uma pro du ção casei ra, sem gran des recur sos, mas Hollywood pro duz 300 títu los por ano, e a Nigéria dis tri bui 30 títu los por sema na! As fontes de renda dessa nação são, por ordem de grandeza, a agri cul tu ra, o audio vi sual e, depois, o petró leo. 42 ARC DESIGN
Lala Deheinzelin, além de assessora em Economia Criativa, é superintendente de cultura do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP e membro do conselho do IN-MOD * “O que É Sentido Faz Sentido” é o título do livro que a entrevistada está finalizando
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SUSTENTAÇÃO E-NEWS
OS DESAFIOS E PROPOSTAS PARA A SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA, CONSTRUÇÃO CIVIL, URBANISMO E DESIGN. CADASTRE-SE E PARTICIPE!
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Que iPhone que nada! Modernidade em telefonia celu lar é o con ceitual Nokia Morph, que usa nano tec no lo gia para flexi bi lizar o apa relho em aplicações quase infi nitas: estica, retorce, torna-se imper meá vel, muda de forma – vira até pul sei ra! –, além de alte rar cor e mo ti vos segun do a fo to cli ca da. O pro tó ti po é uma par ce ria en tre Nokia Research Institute e Uni ver sidade de Cam bridge, e já está em expo si ção no MoMA, NY. www.nokia.com
Qual o destino do livro? Quem propõe uma resposta criativa e bem-humorada é o ilustrador e desig ner inglês Kyle Bean. O seu projeto “The Future of Books” reinventa as obras em papel, trans for mando-a em um di ver tido híbrido entre livro e computador tradicional. Tem teclado, entrada para CD-ROM, monitor e aquele aspec to de livro encader nado, irresistível à memória afetiva de to das as gerações. In cluindo os internau tas. www.kylebean.co.uk
Um leve e fluido vestido feito de luz. Assim é a peça desenvolvida pelo Skin Probe Project, iniciati va ex peri mental encampada pela Phillips Design. Uma criação tão inusitada quanto elegante, que dispõe de duas camadas: uma interna, com sensores especiais para captar as emoções de quem o enverga; e outra externa, que transforma essas emoções em inesperados padrões de luz e cor. www.phillips.com
A cada edição, ARC DESIGN trará um repertório de objetos destinados a diversos segmentos, em que a melhor performance é garantida por desenho funcional, plasticidade, tecnologia... e muita originalidade
Com a lixei ra Bin, o estú dio sueco Front Design torna diver tido o prosaico ato de jogar coi sas fora. Quanto mais lixo, mais gordi nha ela fica, e ao esva ziá-la, a peça “emagrece” e volta ao ta ma nho nor mal. Ideal para escritó rios, Bin é de metal pintado, lem bra a inter face da lixei ra do Macintosh e já conquis tou prê mios de design, como o British FX Award. www.frontdesign.se
Vaka é uma luminária que chama atenção pela inventividade e bom humor. Criação do inglês Ian Bach, é formada por vários bulbos por táteis, cada qual abrigando dois LEDs e suas respectivas baterias. Fixadas na base principal por uma estrutura de borracha, as lâmpadas proporcionam até quatro horas de iluminação contí nua, po dendo ser instaladas de diferentes formas para criar efeitos visuais criativos. www.ibachrecreative.co.ok
As diferentes possibilidades dos ta lheres encantam a desig ner inglesa Kathryn Hinton. Basta reparar neste garfo, faca e colher, criados artesanalmente em prata de lei para a feira anual dos alunos de pós-graduação do londrino Royal College of Art. De forte impacto visual, os Talheres Exaustos subver tem o formato tradicional das peças, adequando-se à superfície sobre a qual descansam. www.kathrynhinton.com
A Animi Causa é um dos mais conhecidos fabricantes de móveis de Israel. Tecnologia de ponta e sensibilidade artística dão às suas peças estilo próprio e inovador, que resultam em criações como o assento Feel. Visivelmente relaxante e confor tável, tem 120 bolas de espuma que assumem tantas formas quantas a imaginação permitir. Feito à mão com técnica exclusiva da marca, leva alguns dias para ficar pronto e, melhor de tudo, procura parceiros para ser comercializado no Brasil. www.animicausa.com
Entre móveis Cappellini, Cassina, Alias e de nomes expressivos do design nacional, a Casamatriz oferece as criações da sua Tecer, marca de tapetes e carpetes em sintonia fina com as tendências mundiais para revestimentos. As mais recentes novidades do Estúdio Tecer são as coleções Cotton e Buena Vista, esta detentora do modelo Cookie, em fios de poliamida com 14 mm de espessura, 29 cores e detalhamento de bolinhas com alturas e tons variados. (11) 3064 6050, (21) 2497 3363, info@casamatriz.com.br
O sucesso dos tecidos In-Fluências, do Empório Beraldin, se repete também nos tapetes desta nova coleção da marca, que buscam inspiração nos decantados veludos brocados. Em couro bovino, eles surpreendem pela gravação a laser. Seus motivos gráficos dão contornos bem-definidos à superfície, sem prejuízo da aparência natural do material, trabalhado em bege e preto. (11) 3512 7300, (21) 3512 7800, www.beraldin.com.br
Celebrando 30 anos de ati vidade, a Avanti vai além das quatro novas coleções para a temporada 2008 e traz ao mercado um inédito revestimento para estofados, paredes e até luminárias. O Touch of Class é feito a partir de carpete, tem 25 cores em fios longos, brilhantes e macios, o que o torna mais leve e maleável que os tapetes convencionais. Com 10, 17, 25 e 70 mm de espessura, trazem o selo nylon soft, fibra importada com pioneirismo pela marca. (11) 3088 5200, (21) 2511 0649, www.avantitapetes.com.br
Três gerações consolidaram a Punto & Filo, que confecciona tapetes e carpetes a partir de muita pesquisa tecnológica e caprichos artesanais. Texturas, motivos e materiais passam pelo crivo do designer Alfredo Barbosa de Oliveira, que, além da criatividade, zela pela maior concentração possível de fios por m2, pelo pontiamento manual dos desenhos e por um rigoroso controle de qualidade. Virtudes presentes também neste tapete semi-artesanal em nylon antron. (11) 3061 1412, www.puntoefilo.com.br
Project3
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Conotações étnicas têm pontuado nosso design, especialmente na criação de jóias. O talento de duas designers comprova o quanto elementos da cultu ra brasi lei ra podem conferir identidade própria às criações made in Brazil É de Angela Correa de Solanas coleções de objetos e acessórios em tecidos africanos exclusivos, cada qual de uma região do continente. Após muitas pesquisas, a designer incorporou os saberes daqueles povos às peças de sua marca Negra Angela. Como este colar totalmente artesanal, costurado, virado e preenchido com cordão de algodão. (11) 5579 0593, www.museuafrobrasil.com.br
Heloísa Nilo foca sua ousadia na coleção Mata Atlântica, inspirada em contos e lendas prin ci pal mente indí genas. A atmosfera da vida selvagem surge em peças como o colar Taturana, confeccionado em shantung de seda recor tado de forma a remeter à arte plumária. A designer incorpora em sua técnica fios de cobre tramados com agu lha de cro chê, em ponto criado por ela. (11) 9255 8220, heloisanilo@yahoo.com.br
A Villa Nova vai além dos tecidos para decoração, nacionais e impor tados, e oferece uma gama de opções em objetos de design para casa e uso pessoal. Fechada, esta mala dobrável, útil e facílima de guardar, lembra uma grande car teira (50 x 20 cm) que cabe em qualquer cantinho do armário; aber ta, vira maleta para viagens rápidas (50 x 33 x 17 cm), com direito a bolsos e divisórias estratégicas. (11) 3030 0390, www.villanovatecidos.com.br
Priscila Callegari é a alma da Ciao Mao, marca que a designer define como de calçados interativos. Vários acessórios avulsos modificam os modelos por ela assinados, inventando um novo sapato a cada novo adereço. Caso da linha de sapatilhas Babba Rug, em couro molinho, piercings de ajuste e lenço indiano para amarrar no tornozelo. (11) 3819 1768, www.ciaomao.com.br Mayumi Ito é arquiteta, mas há décadas foi arrebatada pelo design têx til. Tanto nos 15 anos em que atuou em Tóquio, quanto na cidade de Muzambinho, MG, onde hoje confecciona roupas à mão para a marca Amaria, juntamente com habilidosas artesãs da região. Este quimono em crepe de seda e dupla face, recebe bordado shibori em fios de seda viscose. A peça e outras criações da designer têx til podem ser vistas em exposições perió dicas na A Casa, Museu do Objeto Brasileiro, de Renata Mellão. (35) 3571 4845, www.amaria.com.br
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12/6/08
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NEWS
ARC DESIGN E-NEWS Cadastre-se e receba ARC DESIGN E-News, informativo eletrônico com notícias indispensáveis de todo o mundo sobre design, arquitetura, inteSALÃO DO MÓVEL ESSENCIAL, MILÃO
riores, moda, cultura material, sustentabilidade.
O Salão do Móvel acontece neste momento e todos, cada vez mais, perguntam: quais as tendências? O que vai mudar?
E mais: agenda de eventos e matérias especiais.
Podemos afirmar que se há uma tendência irreversível, é a de respeito, cuidado e atenção ao planeta. No mais, em nosso múltiplo universo, tudo convive, do racional ao barroco, da velha madeira aos plásticos de última geração, da normalidade à extravagância. Impossível definir uma reta bem traçada, somos múltiplos, sempre mais livres para assumir nossas diferenças.
ARC DESIGN E-NEWS ARC DESIGN mais perto de você
Na agitada Milão tenta-se recriar o mundo – ou modificá-lo um pouquinho – em nome do mercado, ou mesmo, ainda do design. Conseguirão?
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Um gran de cubo des tam pa do, segu ro entre muros e com espa ços total men te inte gra dos. Assim se desen vol ve esta arqui te tu ra, que faz dos exte rio res uma exten são do living e tam bém da cozi nha, aber ta à área de lazer com total segu ran ça e pri va ci da de
ESPÍRITO SUS TEN TÁ VEL Uma arquitetura de acentuada volumetria, que aproveita a topografia do lote, utiliza estruturas racionais e aplica recursos econômicos. Com essa visão pragmática, mas também poética, o arquiteto paranaense Guilherme Torres mos tra como a ele gân cia pode ser sim ples e, por isso mesmo, bem-resol vi da Cristina Teixeira Duarte / Fotos Beto Consorte 50 ARC DESIGN
51 ARC DESIGN
Peças de design, como a poltrona Ball, versão suspensa, do fin lan dês Eero Aarnio, e as lumi ná rias Arco, de Achille Castiglioni, e Mamma, de Ronaldo Mafra, Yrurá Garcia Jr. e Eduardo Barros Lopes, con vi vem com peças feitas sob medida. Fiel ao espírito sustentável, a mesa de centro reúne paletes colhidos nas ruas, reci cla dos e unidos para criar uma gene ro sa super fí cie de apoio. Nos deta lhes, brin que dos das crian ças e o banco abai xo, feito por um janga dei ro com galhos de mangue e um poema escrito no tampo
“Less is more.” Muitas vezes usado indevidamente, o lema do mestre Mies Van der Rohe ganha justa tradução neste projeto de Guilherme Torres. Aqui e em muitos outros de sua autoria, já que racionalização de soluções, áreas e elementos é um partido do arquiteto paranaense. O que poderia ser mais sucinto do que um amplo espaço único e integrado, trabalhado com materiais comuns a quase todos os ambientes, a partir de cores básicas e móveis sempre funcionais? O “menos recursos” virou “mais inteligência construtiva”. E, melhor ainda, mais elegância. A idéia inicial de uma reforma foi derrubada junto com a casa para que outro projeto fosse erguido. Aproveitando a pronunciada inclinação do lote, a nova arquitetura de 600 m2 foi encaixada, como um cubo destampado, entre muros de 7,5 m de altura, implantação ideal para a segurança e a privacidade da família, numa rua de considerável movimento, em cidade do interior do Paraná. O declive permitiu a criação de dois andares, ambos organizados em torno do pátio aberto, com piscina. Ao nível da rua, com acesso por uma discreta fachada limitada à entrada, ao muro e ao portão, está a ala íntima, com escritório e quatro suítes. O subsolo abriga o setor social e de serviços num grande volume retangular, que percorre o terreno de ponta a ponta e se volta totalmente à área ao ar livre. Para obter luz natural em uma obra em parte subterrânea, domus estratégicos estão em toda a cobertura, suprindo a necessidade de luz durante o dia; de noite, ela é gerada por energia solar, que movimenta todos os sistemas, incluindo aquecimento de
De gran des dimen sões, o sofá tem nichos para orga ni zar os livros e fica dian te da pare de de alve na ria pin ta da, que embu te tela de plas ma e fia ção dos sis te mas auto ma ti za dos da casa. A uni da de de mate riais e o fecha men to com largas por tas de vidro sobre tri lhos fazem do con jun to uma única estru tu ra
água, refrigeração e a automação de muitos itens. Cumaru natural foi usado no piso dos quartos, enquanto os locais de convívio recebem cimento branco. Para atender os sempre numerosos convidados, os móveis são de grandes dimensões: só a mesa tem 7 m e o sofá, 9,5 m! Como um móvel dessa magnitude rouba a cena, Guilherme Torres fez da face posterior do sofá uma autêntica biblioteca, com nichos em toda sua extensão. O restante dos móveis ficou por conta de algumas peças recicladas e de aquisições de design da Mi Casa, selecionadas para fazer a base da decoração. O que vai mudando são os detalhes, especialmente aqueles de valor afetivo, como os brinquedos das crianças que enfeitam a sala de estar. E nada de investimentos onerosos em arte: os quadros são reproduções de obras importantes, para que se possa renovar permanentemente os objetos de contemplação. O pano de fundo é o contraste entre o preto e o branco, em jogo cromático que se repete também na área externa. Ali, aproveita-se toda a metragem disponível, sem jardins, que são lembrados pelas palmeiras chinesas da Flora Decari, próximo à piscina com Vidrotil na cor de musgo. i
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SISTEMAS CONSTRUTIVOS
Julio Taubkin
RUY OHTAKE
PROVOCAÇÕES CONTEMPORÂNEAS O uni ver so de Ruy Ohtake é sinuo so e mul ti co lo ri do. São Paulo é a sua cida de e Vilanova Artigas, o seu mes tre, mas ele nunca se con ten tou em se guir a esco la pau lis ta. Em vez disso, pre fe re de cla rar guer ra à mono to nia e tri lhar o cami nho do des co nhe ci do a cada pro je to. Vanguarda ou exi bi ci o nis mo? Para ele, tanto faz. Criticadas ou aplau di das, suas obras facil men te tor nam-se mar cos urba nos Abaixo, Gráfica Aquarela, em Barueri, SP, raro exem plo de for mas retangu la res no port fó lio de Ohtake. Na pági na ao lado, a moder na sinuo sida de do edi fí cio de escritó rios FCC, que contrasta com o pala ce te Conde de Sarzedas, pré dio tom ba do pelo patri mô nio histó ri co, onde fun cio na o Museu do Tribunal da Justiça de São Paulo
Angelo Yeh
Carine Portela
Nelson Kon
Nelson Kon
Ruy Ohtake cres ceu entre as telas e escul tu ras de sua mãe, a artista plásti ca Tomie Ohtake. Dessa pro xi mida de, adqui riu o gosto por todos os tipos de mani festa ção artísti ca. Acima, uma das retri bui ções pela va lio sa heran ça: residên cia ate liê Tomie Ohtake, pro je ta da em 1966 e re pa gi na da em 1997. Abaixo, uma forma de pro lon gar o ciclo: Menino Pes cador, pavi lhão de arte e cul tu ra des ti na do a crian ças e ado les cen tes, em Ubatuba, SP
Chico Prestes Maia
58 ARC DESIGN
Nelson Kon
Acima, suíte do Hotel Unique, que inau gu rou um novo con cei to de hos pe da gem de luxo em São Paulo – o des ta que dos quar tos late rais fica por conta do piso, que acom pa nha a cur va tu ra do edi fí cio. Ao lado, casas refor ma das na Heliópolis, a maior fave la de São Paulo. Incentivados pelo arqui te to, os mora do res tor na ram-se co-auto res dos pro je tos. Ohtake tran si ta pelos bair ros nobres e pela peri fe ria com o mesmo lema – “rom per com o que está esta be le ci do”
Daniela Schneider
Quando Ruy Ohtake desliza o lápis sobre o papel para
Ohtake não passa despercebida aos olhos de um tran-
tirar da prancheta um novo projeto, surgem formas
seunte. Não raro, suas estruturas esculturais tornam-
desconcertantes. Seus traços expressam um declarado
se referência e, assim, fazem despertar no público leigo
prazer pelas curvas e uma verdadeira implicância com
um súbito interesse por arquitetura.
os ângulos retos. Figuras conhecidas, daquelas que a
Um passeio pelas avenidas de São Paulo revela alguns
gente bate o olho e logo entende do que se trata, costu-
exemplos dessas marcantes inserções na trama urba-
mam ficar de fora: se há uma marca registrada na obra
na, como as carambolas lilases e as curvas multicolori-
desse provocativo arquiteto, são os desenhos inéditos,
das do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, a fachada
que admitem inúmeras interpretações.
em movimento do Edifício Berrini 500, no Brooklin, e o
Sim, a tentativa de causar surpresa e emoção a cada
arco invertido do Hotel Unique, no Jardim Paulista. O
projeto lhe rende críticas. Há os que torcem o nariz
badalado hotel, inclusive, merece um capítulo à parte.
para suas criações espalhafatosas – que são, de prefe-
Suspenso do solo, o corpo principal da edificação –
rência, arrematadas por vibrantes combinações cromá-
para uns, um barco; para outros, uma fatia de melan-
ticas. Mas é incontestável o fato de que a obra de
cia; para Ohtake, simplesmente, uma forma “única” – 59 ARC DESIGN
Leonardo Finotti
Para Ohtake, “o con tem po râ neo de hoje é o his tó ri co de ama nhã”. Acima, uma expressi va capa metá li ca curva envol ve o espa ço des ti na do ao embar que e desem bar que no Terminal Sacomã, recém-inau gu ra do con jun to de inter li ga ção de trans por tes públi cos pau lis ta nos. Abaixo, hall do Hotel Blue Tree, em Brasília: impossí vel ficar indi fe rente. Na página ao lado, a dinâ mi ca facha da do edi fí cio de escri tó rios Berrini 500, que expressa pura ousadia formal, uma incessan te busca do arqui te to
Chico Prestes Maia
apóia-se sutilmente em duas finíssimas empenas de concreto, que em alguns pontos atingem o pico de apenas três centímetros de espessura. Por trás do efeito que parece mágica, há um engenhoso sistema estrutural: a maior parte da carga do volume é sustentada por oito pilares distribuídos em seu interior, bem ao centro da base do arco. A fama do Unique se espalhou pelo mundo e o hotel chegou a ser apontado como uma das sete maravilhas do sécu lo 21 pelo res pei ta do crí ti co Paul Golderbeger, do New York Times, em um artigo na revista norte-americana Condé Nast Traveler. Ruy Ohtake tem motivos para se orgulhar. Na mesma lista, aparecem a Igreja do Jubileu, em Roma, de Richard Meier, e o Auditório de Tenerife, nas Ilhas Canárias, de Santiago Calatrava. Outro elogio de tirar o fôlego? Sobre seu trabalho, Oscar Niemeyer declarou: “[há um] amor pela criatividade, pelo espetáculo arquitetural, que o faz um dos mais legítimos representantes da arquitetura brasileira”. E, para os que classificam o “espetáculo” a que Niemeyer se refere como individualismo, uma vez que esse adjetivo sugere falta de preocupação com a harmonia do conjunto urbano, Ohtake responde com
ARC DESIGN
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Chico Prestes Maia
Paulo Fridman
Endereço pres ti gia do, o Complexo Ohtake Cultural, em Pinheiros, SP, a bri ga a sede do Grupo Aché (que idea li zou e finan ciou o pro je to) e o Ins tituto Tomie Ohtake. Há ainda espa ço para exposições, tea tro, loja, livra ria, res tau ran te e café. A reu nião de ati vi da des tão diver si fi ca das per mi tiu a cria ção de duas tor res com múl ti plas iden ti da des visuais. No de ta lhe, o volu me da base, reves ti do por pla cas metá li cas ondu la das de dife ren tes cores e dimen sões
alguns trabalhos que estão longe de ser, apenas, visualmente ricos. Um exemplo é o programa Identidade Cultural Heliópolis, realizado na maior favela de São Paulo. A proposta, iniciada em 2004, inclui uma série de melhorias para a comunidade, como a criação de um pólo cultural e a completa repaginação de algumas casas. Segundo o arquiteto, em um bairro nobre ou na periferia, “da estética e da dignidade não se pode abrir mão”. Para conferir os detalhes desse e de outros projetos que marcaram sua produção na última década, vale conferir o livro Ruy Ohtake: 10 Anos 1998-2008, lançado em agosto como parte da coleção Portfolio Brasil – Arquitetura (Editora J.J. Carol). A partir de 10 de setembro, 80 projetos de sua autoria, entre os mais de 300 executados em quase meio século de exercício, são exibidos na mostra “Ruy Ohtake: Presente!“, que comemora os 60 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde o arquiteto se formou, em 1960. O evento acontece até 27 de setembro, no Salão Caramelo FAU-USP, Cidade Universitária, SP, de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h; e aos sábados, das 9h às 14h. Imperdível. ❉ 62 ARC DESIGN
RIO: DE PROVÍNCIA A METRÓPOLE Reedição de texto publicado por Oscar Niemeyer em 1980, uma carta em que relembra aspectos da cidade do Rio de Janeiro de sua infância e juventude. O foco, porém, está na discussão de projetos arquitetônicos que melhorem a vida na cidade, sem cunho saudosista. Desenhos e croquis do arquiteto são o ponto forte da obra. Autor: Oscar Niemeyer Editora: Revan Páginas: 78 Formato: 21 x 26 cm
RETRO _ VISÕES: REVI SI TAN DO A PRODUÇÃO DE ESTUDANTE Catálogo da mostra Retro_visões, evento que inaugurou em maio a Galeria 13, um espaço dos estudantes de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes, SP. A exposição trouxe também trabalhos de professores da instituição, feitos quando eles próprios estavam na faculdade. Organização: Helena Freddi Editora: Belas Artes Páginas: 52, ilustrado, colorido Formato: 20,5 x 24 cm
DESIGN GRÁFICO: DO INVISÍVEL AO ILEGÍVEL A autora faz uma reflexão sobre o design gráfico e salienta o papel de mediador que ele exerce no processo de comunicação. A discussão se dá em torno da tipografia, campo de atuação altamente relevante no âmbito dessa prática. Autor: Ana Cláudia Gruszynski (Coleção Tex tos Design) Editora: Edições Rosari Páginas: 119, brochura, ilustrado, p&b Formato: 13,5 x 20,5 cm
MORADAS DO BRASIL – 2008 Organizada pela AGRA Incorporadora, reúne o acer vo do fotógrafo goiano Rui Faquini e o conhecimento do arquiteto paulista Carlos A. C. Lemos. Trata-se de uma homenagem a pessoas comuns que, independentemente de classe social e etnia, desenvolveram um jeito brasileiro de morar. Realização: AGRA Incorporadora Editora: DBA Páginas: 132, ilustrado, colorido Formato: 28 x 28 cm; edição bilíngue em português e inglês
PRODUÇÃO GRÁFICA: ARTE E TÉCNICA DA MÍDIA IMPRES SA Os principais conceitos, técnicas e recursos relativos à produção gráfica atual. O autor mostra o segredo de um bom projeto gráfico, que vai além do uso de softwares de última geração e envolve conhecimentos artísticos, socioculturais e históricos. Autor: Antônio Celso Collaro Editora: Pearson Education Páginas: 176 Formato: 17 x 24 cm
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DESIGN EM
BUENOS AIRES A c e rv o
ARC DE S IG N
Buenos Aires sur preen de pela quan ti da de e varie da de de novos desig ners e pro du tos. Não exa ta men te pelo mobi liá rio ou ilu mi na ção, mas pela moda e suas diver sas decli na ções, nos mais variados mate riais, além de peque nos obje tos. Bairro Palermo, na região que já se cha mou Palermo Viejo e hoje é o Palermo Soho. Uma Vila Madalena de arqui te tu ra ainda pre ser va da, e sem la dei ras. Os desig ners mais conhe ci dos são Perfectos Dragones (cujos brin cos tam bém são ven di dos na lo ja da Trienal de Mi lão), Alejandro Sarmiento (já bas tan te co nhe ci do no Brasil), Fer nan do Poggio, Pa trí cio Lixkleet, além da
No alto da pági na, uma rua de Palermo Soho; ao centro, Pier re, lumi ná ria em fel tro do estú dio A2-20, na loja Ca pital; ao lado, bolsa da linha X dos Perfectos Dra gones, em plásti co ou couro, com inte rior em tecido, tam bém da cole ção da Capital
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Acervo ARC DESIGN
mais in ter na cio nal, Dia na Ca beza, auto ra de to dos os ban cos dos es pa ços públi cos nos moder nos bule va res de Buenos Aires. As lojas, no que se refe re ao design, são pou cas, mas exce len tes, como a Humawaca, com mara vi lhas em cou ro e a Capital, que ofe re ce um mix de obje tos de jovens desig ners. O Malba, Mu seu de Arte de Bue nos Aires, abri ga a Tienda Malba, uma lo ji nha sedu to ra, com sua
Da Redação
Acervo ARC DESIGN
varie da de de peças de design
No alto da página, facha da da loja Capital, em Palermo Soho, onde podem ser encontra dos vários pro du tos de conhe cidos desig ners argenti nos. À direita, Cartera Lola, da série Casino, em couro eco ló gi co estam pa do, design Perfectos Dragones. Acima, os Jugables, objetos da Diseñaveral, em lami na do de madeira (acima, Urbano; à direita, Utilitário)
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Acervo ARC DESIGN
Acima, vitri ne da Tienda Malba, loji nha situa da à entra da do Museu de Ar te Latinoamericano de Buenos Aires, que vende “pro du tos design” de dife ren tes tipo lo gias
Acima, bolsa Dangerous Beauty, pro du to da série Pe le te ria Humana, em couro, design Nicola Constantino, da co le ção da Tienda Malba. Ao lado, ban que ta Circus Stool, design Ale jan dro Sarmiento, em car tão e lami na do plás ti co, estru tu ra do com rebi tes
À esquer da, Joyas Contemporaneas Xolar, design Fernando Poggio, em alu mí nio ano di za do. Colar, pul sei ras e anéis que podem ser personalizados por meio da com bi nação de peças encaixáveis
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Acima bule Tetera, da série de uti li tá rios de Lola Goldstein, em cerâ mi ca com cache col em tricô. À esquer da, Cherry 3, da série de cola res do estú dio Perfectos Dragones, em PVC e metal, à venda na Tienda Malba
À esquer da, Anillos, anéis em acrí li co e prata da série CMYK, design Marina Molinelli Wells; e, à direi ta, Pe que ño Señor e Cajitas, bro ches em prata de Rita Ham pton
À esquerda, Pencilpal, bone qui nho “acro bá tico” para ser encaixado no lápis, da série Playing; e, à direi ta, Piggy Bank, am bos em cou ro reciclado, design Vacava lien te, todos encontrados na Tienda Malba
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Acima, cole ção La Feliz, de Patrício Lixkleet, pro du tos já expos tos na Paralela Gift e que mere ce ram mos tra espe cial na loja Tramando, de Martín Churba
Acima, duas bolsas da Humawaca, a mochila BKF, design Ingrid Gutman, em couro que se amolda ao corpo, inspirada na cadeira BKF, vulgo Tripolina de Bonet, Kurchan, e Hardoy. A maleta Puesto (fechada e aberta), com aberturas laterais, que foge das tradicionais pastas para computador e é toda dobrável, com peças acopláveis. Imperdíveis!
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MISSÃO: ORGANIZAR O CAOS “Páginas devem ser desenhadas para serem vistas, não para serem lidas”, disse o norte-americano Steve Krug, especialista em usabilidade. A afirmação sintetiza certas particularidades do design para a web. Em um meio dinâmico como a internet, não é possível apenas transpor os conceitos de design gráfico para a tela. É necessária a presença de um profissional multifacetado, capaz de ordenar as informações sem confundir o usuário. Entrevistamos alguns desses profissionais para desvendar os mistérios de uma atividade ainda pouco conhecida Julia Garcez
Ao lado, Amaztype, buscador que procura livros na Amazon.com e orga ni za os resul ta dos de maneira inusitada. O site trabalha de um jeito interessante a questão de inter face e conteúdo na web, separando um do outro e reaproximandoos em seguida. Na outra página, portfólio de Andy Foulds, desig ner que apos ta em sites comer ciais mais cria ti vos e ousa dos
“O designer de mídias digitais tem uma formação que mescla elementos do design gráfico – como fonte, cor, proximidade, agrupamento – e do design de produto, mas não se restringe a isso”, afirma Cláudio Eduardo Bueno, professor do curso de design da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O profissional conhece profundamente a tecnologia e as peculiaridades da plataforma em que atua, e tudo aquilo que ela pode proporcionar. Domina os conceitos de navegabilidade, usabilidade e arquitetura da informação. “Esse profissional não é artista plástico ou diretor de arte. É mais especializado”, diz Luli Radfahrer, consultor de comunicação digital e professor de design e comunicação digital da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). “Ele é capaz de entender a interação entre o usuário e a internet, e a resposta que será dada a certos estímulos. A internet é um meio que oferece experiências muito diferentes a seus usuários, e o designer precisa saber lidar com tudo isso.” Desenhar para a web, portanto, requer uma formação longa e diversificada. “O principal ponto é conhecer bem a ferramenta e ter consciência de que ela não tem nada a ver com o papel, meio no qual os designers eram mais acostumados a atuar”, afirma Marcelo Guernieri, diretor de criação da Lobbus Soluções em Internet.
MEDO DE OUSAR Em tempos de web 2.0, os designers de mídias digitais têm um amplo mercado a ser explorado. Atualmente, os sites são um importante canal de comunicação e relacionamento com o consumidor, o que aumentou a importância estratégica do seu trabalho. Entretanto, no Brasil e no exterior, uma rápida passagem pela web mostra que os designers têm aproveitado pouco as possibilidades da rede mundial de computadores. Os sites parecem oferecer apenas mais do mesmo – como bem demonstram os últimos vencedores do Prêmio iBest. Falta espaço para ousadia e inovação? “Após o estouro da bolha da internet, as empresas perderam muito dinheiro e temem apostar em novos formatos”, diz Radfahrer. “Por isso, copiam os modelos norte-americanos que deram certo e criam um círculo 71 ARC DESIGN
vicioso.” Ele também acredita que é difícil inovar na web pois os clientes pouco sabem a respeito. “Precisamos educar sobre o que é design na internet, chamar a atenção para a importância do assunto.” Outro problema é a minimização da importância do trabalho dos designers. Nesse sentido, o país tem muito a caminhar, como afirma Marcelo Guernieri. “Impera a mentalidade de pagar barato. A demanda por bons profissionais é alta e falta pessoal qualificado”, explica. “Algumas pessoas se formam em cursos fracos, que apenas ensinam a usar Adobe e Flash, sem nenhum conceito que oriente a ação. Contratar um profissional sem formação adequada – sempre cara e demorada – só gera prejuízo.” No entanto, para quem tem fôlego e encara a formação completa, há boas perspectivas, pois os designers podem fazer a diferença para os objetivos estratégicos de uma empresa. A eles cabe a tarefa de classificar e hierarquizar inúmeras informações, e garantir a identidade da companhia nos diferentes meios em que ela atua. “O designer organiza o caos e chega a ordenar o que nem ele mesmo sabe o que é”, aponta Cláudio Bueno. Mas não há “receita de bolo”, apenas um grande mercado. “Navegue na internet e observe o que é oferecido. Veja se o problema está claro e pense em qual resposta seria possível”, aconselha o professor. ❉
DESIGN É TRANS PA RÊN CIA Na área de design para mídias digi tais, o Brasil tem pro fis sio nais livres, que não se pren dem a regras e fazem muito suces so lá fora com tra ba lhos que mes clam explo são grá fi ca e arrou bo cria ti vo. Em meio à mes mi ce domi nan te, eles se des ta cam, mas podem ser rapi da men te supe ra dos por solu ções mais cor re tas e re le van tes, mesmo se forem visual men te menos im pres sio nan tes, como aler ta Luli Rad fahrer. Segundo o espe cia lis ta, um dos pro ble mas do design bra si lei ro é achar que design é sinô ni mo de exu be rân cia visual. “Design é trans pa rên cia”, diz. “Você só repa ra nele quan do não fun cio na.” O Google, com seu dese nho sim ples e sem flo reios, é um dos melho res exem plos dessa afir ma ção. É muito difí cil sen tir-se per di do no bus ca dor, ao con trá rio do que ocor re com sites visual men te belos, porém exces si va men te rebus ca dos e de nave ga ção com pli ca da. “O desig ner bra si lei ro tra ba lha a exu be rân cia visual como nin guém, mas fal ta a ele uma for ma ção mais con sis ten te em outros aspec tos”, afir ma Radfahrer. 72 ARC DESIGN
Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda.
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Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata Fernanda Sarmento REDAÇÃO
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Editora Geral Maria Helena Estrada Chefe de Redação Cristina Teixeira Duarte Redatora Julia Garcez Revisora Jô A. Santucci
ARC DESIGN Rua Lisboa, 493 – CEP 05413 000 São Paulo – SP
ARTE Projeto Gráfico Fernanda Sarmento Editora de Arte Betina Hakim
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Redação editora@arcdesign.com.br redacao@arcdesign.com.br
Produtor Gráfico Mario Rayel Participaram desta Edição Carine Portela Comercial e Marketing Cristiano Barata Bruna Lazarini (estagiária) Publicidade Christiane de Almeida Sandra Pantarotto Circulação e Assinaturas Lívia Sinkovits Carmem Lúcia Madalosso Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DE SIGN para assuntos internacionais Pré-impressão Cantadori Impressão IBEP Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Arte arte@arcdesign.com.br Marketing cbarata@arcdesign.com.br Publicidade publi@arcdesign.com.br publi1@arcdesign.com.br Assinaturas assinatura@arcdesign.com.br
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ELISABETH ABDUCH 74 ARC DESIGN
Nesta pági na, Elizabeth Abdouch, di re to ra de mar ke ting da Vidros Guar dian para a América Latina, na pol tro na Bergère Glass, do Estúdio Nada se Leva. Redesenho atua li za do da clássi ca bergè re de 1720, é pro du zi da com o vidro Diamond Guardian. Em São Paulo, está na Conceito Firma Casa. No alto da pági na ao lado, vaso de Philippe Starck dos anos 1990, pro du zido pela Daum, França, relem bra o Starck do iní cio da car rei ra. Ao pé da pági na, Achille Castiglioni e sua lumi ná ria sus pen sa Brera, 1992, para a Flos. “Forma ele mentar e pura, é um dos obje tos eter nos do desig ner”
Elizabeth Abdouch pode ria se preo cu par ape nas em ven der as melho res pla cas de vidro do mer ca do, a Guardian. Mas era pouco para ela. Essa empre sá ria, “louca por design”, ambi cio nou mais e se tor nou a gran de incen ti va do ra de desig ners e arqui te tos de inte rio res capa zes de tra zer novas e belas idéias
ARC DESIGN – Quem ou o que a despertou para o design?
devido ao seu grande sucesso. Ainda utilizando o vidro Diamond-
ElISAbEth AbDuCh – Sempre fui ligada às artes e ao design,
Guard – minha predileção, claro – cito a dupla Guilherme
quando pequena eu adorava desenhar e observar o traçado de
Ribeiro e André Bastos que criou a Bergère. Finalmente, lógi-
tudo em minha volta: pessoas, paisagens, objetos, quadros, etc.
co, os Irmãos Campana, que promoveram e elevaram o design
Acho que herdei isso de minha mãe, que também sempre amou
brasileiro mundialmente. Sou apaixonada pela cadeira Ver-
viver cercada de belos objetos.
melha, lançada em 1993.
AD – Qual o móvel ou luminária que você julga um clássico do
AD – Aponte um designer internacional – único pelo conjunto de
bom desenho?
sua obra – e um de seus objetos que a apaixone.
EA – O design de Mies van der Rohe é um dos mais célebres
EA – Philippe Starck. Para continuar no vidro, o vaso em forma
exemplos do mobiliário dos anos 1920. Incrível que só agora,
de cornucópia, edição Daum, da década de 1980 e, mais recente,
quase 100 anos depois, tenha atingido a unanimidade. A linha
a Coleção Prive, para Cassina, em 2007. Nas luminárias fico com
Barcelona representa a estética da época, mas continua sem-
Achile Castiglioni, insuperável! Suas luminárias me dão sempre
pre contemporânea.
prazer de olhar, estejam apagadas ou acesas.
AD – E qual o objeto de design contem-
AD – Você, como empresária elegante, qual
porâneo brasileiro que mais gosta e que
seu fashion designer preferido? Qual são
julga irá se tornar um clássico?
suas peças fetichew?
EA – No Brasil, destaco a poltrona 4, de
EA – Não sou fiel a um único designer mas
Jacqueline Terpins. Ela é atemporal, tem
a um estilo, aquele que combina comigo.
design simples e bem resolvido, faz uso
Visto G que considero um clássico moderno
de um material 100% reciclável, é con-
e também Tufi Duek e Lino Villaventura. Para
fortável e discretamente elegante, com-
trabalhar, adoro terninhos Armani. Ganhei
bina com qualquer ambiente e estilo. Em
uma carteira em croco marrom, da Lenny e
2006, ela foi relançada em DiamondGuard
Cia, que virou realmente um fetiche. i
75 ARC DESIGN
LUZ – ESTÉTICA, TECNOLOGIA OU POESIA?
PRAZER EM INOVAR
Lobbus Soluções em Internet www.lobbus.com.br
2Z Móveis www.2zmoveis.com.br
Maratona Universitária da Eficiência www.maratonadaeficiencia.com.br
Benedixt www.benedixt.com.br
AMIGO DA PERFEIÇÃO
DESIGN EM BUENOS AIRES
Bertolucci www.bertolucci.com.br
Ricardo Barddal ricardobarddaldesign.blogspot.com
Alejandro Sarmiento www.alejandrosarmiento.com.ar
Conceito Firma Casa www.conceitofirmacasa.com.br
DESIGN: PARCEIRO NO SUCESSO
Capital www.capitalpalermo.com.ar
Delmak www.dellmakrio.com.br
Plásticos Mueller www.mueller.com.br
Fernando Poggio www.fernandopoggio.com
ENTREVISTA: LALA DEHEINZELIN
Humawaca www.humawaca.com
Dominici www.dominici.com.br
Luli Radfahrer www.luli.com.br
O QUE É SENTIDO FAZ SENTIDO La Lampe www.lalampe.com.br Light Design www.lightdesign.com.br Lumini www.lumini.com.br Marco 500 (11) 3662 5530 Marilena G. Design www.marilenag.com.br Munclair www.munclairlustres.com.br Puntoluce www.puntoluce.com.br Scatto Lampadario www.scatto.com.br Studio Light www.studiolight.com.br Wall Lamps www.wallamps.com.br
Creative Economy Report 2008 www.unctad.org/en/docs/ditc20082 cer_ en.pdf Lala Deheinzelin www.enthusiasmo.com.br/lala.html
ESPÍRITO SUSTENTÁVEL Flora Decari www.floradecari.com.br MiCasa www.micasa.com.br Studio Guilherme Torres www.guilhermetorres.com.br Vidrotil www.vidrotil.com.br
PROVOCAÇÕES CONTEMPORÂNEAS Ruy Ohtake Arquitetura e Urbanismo www.ruyohtake.com.br
Sesc SP www.sescsp.org.br
Lola Goldstein www.muitotosto.com/lola Marina Molinelli Wells www.metalisteria.com.ar Nicola Constantino www.nicolacostantino.com.ar Patricio Lixkleet www.lixkleet.com.ar Perfectos Dragones www.perfectosdragones.com Rita Hampton www.ritahampton.blogspot.com Tienda Malba www.malba.org.ar/web/latienda.php Vacavaliente www.vacavaliente.com
ELISABETH ABDUCH MISSÃO: ORGANIZAR O CAOS
300% SPANISH DESIGN
Jugables www.jugablesargentina.com
Escola Superior de Propaganda e Marketing www.espm.br
Guardian Brasil www.diamondguard.com.br