REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
ESPECIAL
R$ 18.00 2009 Nº 65 ROMA EDITORA
ARC DESIGN
Nº 65
2009
INOVAÇÃO E DESIGN PARA VENCER NA CRISE
INOVAÇÃO DESIGN MIAMI LUCIANO DEOS MARCELO ROSENBAUM TOM DIXON
MOSTRAS RON ARAD, POMPIDOU, PARIS SAMBONET, SÃO PAULO
ARQUITETURA BEHNISCH ARCHITEKTEN ISAY WEINFELD
HUMOR FUN DESIGN ANDERSON HORTA
Conteúdo e inovação. ARC DESIGN dedica o mais longo – e útil – tópico desta edição a duas matérias da maior atualidade: “Vencer na Crise” e “Vamos Driblar a Crise?” Títulos semelhantes, como sugerindo continuidade, a primeira é uma entrevista com Luciano Deos, presidente da GAD’ Design, e a segunda, uma visão do mercado que vê no design, no conteúdo e na inovação as grandes armas para vencermos mais esta batalha. Esse tripé salvador – conteúdo, inovação e design – foi a premissa escolhida pela feira CASA BRASIL, realizada pela primeira vez em 2007. Não se pensava ainda em crise econômica, mas na estagnação no design. No entanto, o reconhecimento e a compreensão foram imediatos. Entrava-se na feira como em um mundo novo, sem cópias abusivas, sem ultrapassadas peças de antiquário. A conferência realizada, na ocasião, por Tom Dixon, reforça a ideia e retrata com clareza a mensagem que desejamos passar nesta edição. Mostramos ainda alguns casos de – muito – sucesso de empresas que procuram, de forma intuitiva ou não, trilhar o caminho preconizado por Deos. Marcelo Rosenbaum tem seu perfil traçado como um personagem/empresa, tal a diversidade de seu trabalho – arquitetura, design, interiores, cenografia. Na abrangência e coerência de sua “marca”, criou uma imagem, inconfundível, que transforma em notícia todos os seus projetos. É um exemplo da “marca Brasil”, prontinha para exportação. E por falar em marca, o Design Miami/Basel pegou carona no luxo, no design exclusivo, na liberdade de criação – e se tornou uma forte referência. Não contavam com essa reviravolta do mundo. Agora vejamos o que acontecerá, e os rumos futuros. Mas prestem atenção: fora o luxo, é um mundo possível que se anuncia, casando tecnologia, estética e... inovação. Na arquitetura, o premiado escritório alemão Behnisch Architekten aposta na inovação e no design de alta qualidade – e não nas verbas extras ou em tecnologias mirabolantes – para diminuir o impacto ambiental de seus projetos. E, se você não acredita que apesar dos tumultos estéticos, Deus ainda está nos detalhes, veja o projeto de Isay Weinfeld para uma galeria de modernariato e a mostra de Roberto Sambonet, o artista italiano que se tornou designer no Brasil. Um estimulante deleite. Reflita, primeiro – e coragem –, para não morrer na praia. Depois, deleite-se, com os “detalhes divinos”. Maria Helena Estrada Editora
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Cristina Teixeira Duarte
VENCER NA CRISE: MAIS NEGÓCIOS, MENOS ROMANTISMO
NO DISCIPLINE
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Maria Helena Estrada
Enrico Morteo
ROBERTO SAMBONET
INOVAÇÃO EM LIBERDADE
Maria Helena Estrada
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28
design internacional
mostras
em foco
entrevista
Inovar sem as limitações e constrangimentos da produção em larga escala. Talvez esta seja a chave mestra para entender e apreciar o design que se tem projetado na onda do luxo. É o design-arte, mas é muito mais. Veja no evento Design Miami o que a boa extravagân cia po de tra zer para a renovação no design
Uma das mais belas e impor tantes mostras antoló gicas que já assis ti mos. Apresentada primeiro na Bienal de Brasília, chega a São Paulo com a co-curadoria do prof. Fábio Magalhães. Pesquisas, livro sobre a obra de Sambonet e curadoria geral são do arquiteto Enrico Mor teo, que assina este texto. Imperdível
Instigante, a exposição de Ron Arad no Centro Pompidou, Paris, não segue padrões consagrados de exibição. São 600 peças que se destacam graças ao inesperado dos conceitos, dos materiais inovadores e das propostas formais que falam por si, prescindindo de qualquer discurso
Presidente do GAD’ e da Abedesign, Luciano Deos fala de inovação como arma para superar a crise. E propõe uma nova maneira de pensar, que vai além do produto acabado e passa por valores intangíveis, como conhecimento, marca, sensibilidade, expectativas e os sonhos de cada um
REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
nº 65, março 2009
Na capa, cadeiras em acrílico Oh Void 2, de Ron Arad, expostas no Centro Georges Pompidou, em Paris Foto Paul Denton
DESENHO QUE TRAZ SOLUÇÕES
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Julia Garcez
“DEUS ESTÁ NOS DETALHES”
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Cristina Teixeira Duarte
MERCADO E CULTURA
Maria Helena Estrada
Maria Helena Estrada e Cristina Teixeira Duarte
ZIGUEZAGUE NA CRIAÇÃO
36
66
marca registrada
feiras
radiografia de um projeto
arquitetura
Marcelo Rosenbaum é um criador inquieto. Um universo brasileiro, colorido, ideal atravessa seu talento versá til, dei xando em cada traba lho sua per sona lidade incon fundí vel. Uma obra que faz da nossa cultura a grande inspi ração para pro du tos com a “marca Brasil”, hoje sucesso em todo o mundo
Um duo de peso para o futuro do design, segundo Tom Dixon em sua conferência no seminário “As Várias Ver tentes do Design”. Um evento ocorrido durante a 1ª edição da Casa Brasil, em Bento Gonçalves (agosto 2007), cujo conteúdo é aqui transcrito para propor novas premissas e uma ruptura da estagnação no design
O arquiteto Isay Weinfeld faz do pequeno espaço de uma galeria uma lição de arquitetura: contemporânea, mas fiel a um de seus primeiros mestres, Mies van der Rohe. De um só fôlego, um passeio que vai de 1920 à vanguarda brasileira do século XX, na bem selecionada coleção de modernariato
O aclamado escritório de arquitetura alemão Behnisch Architekten coloca o design a serviço da sustentabilidade. Aposta em novos formatos e em tecnologias simples para criar projetos de grande impacto visual com menor consumo de recursos naturais
news
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VEM POR AÍ GOURMET
design e inovação VAMOS DRIBLAR A CRISE?
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cultura material PURA FUNCIONALIDADE
design brasileiro DESENHO COM HUMOR
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concursos FACA AMOLADA
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como encontrar
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universo FASHION-HITS
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VIDRO FLUIDO COMO LÍQUIDO Copacabana é formada por mesas de centro grande e média que integram a Linha D’Água. Em vidro DiamondGuard, da Guardian, elas representam uma mudança significativa no traço de Jacqueline Terpins, que troca a simetria por uma linguagem de orgânica sinuosidade, como a água em movimento. Uma surpresa da designer, que promete mais em breve, com uma nova coleção que alia ao seu elemento, o vidro, móveis de madeira e estofados. (11) 3872 4497, www.terpins.com
LUZ EM MOVIMENTO A marca inglesa Mathmos chega à Imaginarium com versão para
DROOG NO BRASIL
lá de inusitada. Trata-se de uma luminária-projetor, que envia
Famosa pela visão humanista do design, a Droog aporta
imagens em movimento ao teto ou à parede, a partir do aqueci-
no Brasil pelas mãos de Marcus Ferreira e da sua Deca-
mento de um disco com óleo em seu interior. O resultado são for-
meron. Além de trazer com exclusividade alguns clássi-
mas inesperadas, projetadas a até 1,5 m de distância e tons
cos da marca holandesa, o designer pretende ampliar a
como roxo, vermelho, azul e amarelo, criando efeitos que inspi-
discussão sobre design enquanto conceito, a partir da
ram atmosferas de aconchego e relaxamento. (48) 3269 8396,
inventividade, massa crítica e bom humor de produtos
www.imaginarium.com.br
que falam por si só. Basta obser var o pendente 85 Lamps, de Rody Graumans, uma visão crítica dos antiquados lustres de cristal. (11) 3097 9344 www.decamerondesign.com.br
CERÂMICA LÚDICA Gaúcha radicada no Rio de Janeiro, Letícia Back especializou-se em cerâmica artesanal e esmaltada de alta temperatura. Desde então, assina para a sua Lê Back acessórios que se destacam pelo inusitado. Caso dos vasos Peões, uma bem-humorada mistura do tradicional brinquedo infantil e do boneco joão-bobo. Usados como vasos, porta-trecos ou mesmo esculturas, eles foram lançados na mais recente edição da mostra de design Paralela Gift. (21) 7844 6168, www.leback.com.br
KARTELL CARIOCA As criações da italiana Kartell chegam agora ao Rio de Janeiro via Atec Original Design. A empresa pretende atender a esse exigente mercado com algumas peças representativas do design mundial, a exemplo da estante para livros Bookworm de Ron Arad. Mais que isso, a Atec deseja fortalecer seu compromisso com o desenho original, postura que permitiu que a empresa se tornasse distribuidora certificada de marcas como Herman Miller e Mobilia Contemporânea, assinatura do designer Michel Arnoult. (21) 2267 9795, www.atecnet.com.br
CONFRATERNIZAR COM ESTILO Verão, tempo de valorizar a casa e receber amigos. Daí as novidades da temporada reunidas pela Tok & Stok em três coleções: Regional Romantique, Urbano Contemporâneo e Garden, esta última recheada de soluções práticas e elegantes para móveis e acessórios. Entre eles, a linha Leme, de mesas, cadeiras, poltronas e sofá (de canto, na foto), produzida em resistente madeira de reflorestamento, tratamento fungicida e estofamento impermeabilizado. 0800 70 10 161, www.tokstok.com.br
TEMPORADA DE NOVIDADES Atenta às tendências internacionais, Marília Queiroz já se movimenta em torno de novidades para a sua Pontoluce, prometendo em breve o lançamento de uma coleção de luminárias francesas feitas em matérias-primas sustentáveis. Enquanto isso, mantém o acer vo da marca com originalidades como o pendente Amon (90 x 80 cm), desenvolvida pelo estúdio de criação da Carlesso. A peça tem difusor central em malha amassada de bronze e faixas externas em aço folhado a ouro. (11) 3064 6977, www.puntoluce.com.br
SEM DESPERDÍCIO A empresa mineira Vira Design propõe móveis multifuncionais e direcionados a vários ambientes, com grande aproveitamento de matéria-prima. O corte das peças é cuidadosamente distribuído em chapas de MDF ou acrí lico, para obter a máxima economia de material e o míni-
TÊXTIL DE LUXO
mo de resíduos. A es-
Design para homeware define-se não só pelo visual, mas pela técni-
tante de madeira Equi-
ca de tecelagem, acabamento, quantidade de fios e, claro, criativida-
líbrio, com seus compar ti-
de. Quando se alia ao requinte, então, como os enxovais da Signoria
mentos irregulares, pode ser
Firenze, torna a intimidade irresistível. A Splendore Import traz para
pregada na parede ou utiliza-
lojistas de todo o país os produtos desta consagrada marca italiana,
da como sofá, se colocada
a exemplo da linha Dafne, de estampas vigorosas, brilho acetinado e
na horizontal e preenchi-
textura macia, graças às fibras largas de algodões de primeira linha.
da com almofadas. (31) 3045 8000, www.viradesign.com.br
(11) 3262 2674, www.splendoreimport.com
(RE)CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL A notícia não podia ser mais animadora. Elizabeth de Portzamparc, arquiteta e urbanista brasileira radicada na França, se prepara para mais um desafio: participar da reconstrução da cidade de Blumenau, assolada pelas enchentes em Santa Catarina. A iniciativa, capitaneada pelo ex-governador do Paraná, Jayme Lerner, reunirá uma equipe pluridisciplinar, formada por arquitetos, urbanistas, engenheiros, geólogos e outros especialistas, a fim de reerguer a cidade de forma inteligente e sustentável. Como parte de suas inter venções, Portzamparc propõe a construção de módulos pré-fabricados, em madeira com estrutura metálica, que componham prédios de cinco ou seis andares. Perenes, os módulos podem ser erguidos rapidamente e até mesmo ser vir de modelo para habitações sociais em outros Estados. Ainda em fase de estudos, o processo de construção dos módulos tem início previsto para março deste ano.
MUSCULAÇÃO PIONEIRA Versátil e sempre inovador, o designer Guto Indio da Costa e seu escritório, AUDT, investem no universo da ginástica para criar Next, uma revolucionária linha de equipamentos de musculação para a marca Mo-
COLEÇÃO DE ANIVERSÁRIO Para celebrar seis anos de sucesso, a Marcenaria Trancoso lança sua coleção 2009 repleta de surpresas. Os designers André Poppovic, Marilu Beer e Paulo Alves assinam novidades que conquistam quem sabe apreciar móveis e objetos pontuados por muita brasilidade. É deste último a linha Ranhuras, que inclui aparador, bufe, cabeceira de cama e rack (200 x 50 x 50 cm, na foto), todos em madeira maciça e texturizada. (11) 3816 1298, (73) 3668 1023, www.mtrancoso.com
vement. Fabricados pela Brudden, em parceria com a USP, são dez aparelhos sem as torres de peso acopladas às máquinas, o que torna as academias mais espaçosas e silenciosas. Sua tecnologia permite ainda a programação digital das atividades, sem contato com os pesos, além de completa monitoração da performance do usuário. (21) 2537 9790, www.indiodacosta.com
MOVIMENTO BIOCLÁSSICO Vertente arquitetônica do SuperLimão Studio, o conceito tenta resgatar o desgastado estilo neoclássico, alvo, inclusive, de críticas pelos designers do estúdio, Antônio Carlos F. de Mello, Sérgio Cabral, Lula Gouveia e Thiago Rodrigues. E busca remissão na unanimidade da sustentação, propondo cornijas, colunas, molduras e capitéis de papelão (Júlico, acima) e outros materiais recicláveis. (11) 3518
VANGUARDA COM PÉ NO PAS SADO
8919, www.superlimao.com.br
O britânico Ross Lovegrove assina o pendente Aeros (75 x 18 cm), com cúpula de alumínio anodizado e desenhos vazados que “espalham” a luz e proporcionam efeito escultórico à peça. Apesar de sua
ERRATA
ousadia e modernidade, a luminária evoca elementos da estética
Ao contrário do que foi publicado na edição nº 64,
bizantina e inspira muita leveza, graças à sustentação de três finos
o Sombrero Nau, da Saccaro, não é uma luminária.
fios de aço. Novidade da marca dinamarquesa Louis Poulsen, dis-
Trata-se de um ombrelone de aço inoxidável e tecido
ponível na praça carioca por meio da loja Delmak. (21) 3326 4449
de nylon tratado com proteção UV. (54) 4009 3600, www.saccaro.com.br
LOJA-CONCEITO BY HAVAIANAS Unanimidade nacional que ganhou o mundo, as Havaianas acabam de inaugurar seu espaço, onde estão todas as linhas da sandália já produzidas pela Alpargatas, além de modelos tipo exportação, customizados e outras variações. O projeto do arquiteto Isay Weinfeld recebe farta luz natural, matérias-primas que remetem à nossa cultura e propõe uma nova maneira de se relacionar com as sandálias. Uma das atrações é a fachada de 12 m, praticamente ao nível da rua Oscar Freire, com escada subterrânea que conduz à loja. 11 3079 3415, www.sandaliashavaianas.com.br
Varia Graphics
A Hunter Douglas ® apresenta 3form – painéis de ecorresina com diferentes espessuras, texturas e cores, cuja transparência permite várias aplicações. Graphics é uma coleção com formas perfeitamente coordenadas que vão das simples e modernas circunferências até complexas formas de rendas delicadas que, quando encapsuladas, criam o efeito visual da evolução de um estilo ao outro. Ousada no tamanho, inovadora no desenho, essa coleção é a síntese da personalidade e da sofisticação.
A ecorresina é um material diferenciado que reflete nosso compromisso com o meio ambiente. Trata-se de um material de resina de co-poliéster, atóxico e com 40% de conteúdo reciclado. Hunter Douglas ®, uma empresa que transforma idéias geniais em realidade.
www.hunterdouglas.com.br
ARCHITECTURAL PRODUCTS
INOVAÇÃO EM LIBERDADE Inovação é a atual pala vra de ordem. Todos andam à pro cu ra. E é exatamente inovação o exercício dos designers capazes de criar sem os limites e constrangimentos impostos pela indústria da produção em larga escala. Peças únicas ou pequeníssimas séries de projetistas famosos encontram seu mercado em galerias de arte ou design, em importantes leilões e nas feiras Design Miami e Design Basel Maria Helena Estrada 12 ARC DESIGN
Nas duas pági nas, pro je tos dos arqui te tos norte-ame ri ca nos Benjamin Aranda e Chris Lasch, que já foram des ta que na últi ma Bienal de Arquitetura de Veneza e criam suas pe ças con ju gan do tra ba lho manual e com pu ta ção. Acima, Quasi Table (2007); e abaixo, Quasi Cabinet (2007), ambos em madeira, metal e laca. No pé da página, painel Rules of Six (2008), em espuma de alta densidade e massa de hidrocal
Acima, a sede do Miami Design, uma ten da em mate rial trans lú ci do recor ta do a laser; no pé da página ao lado, Fauteuil, cadei ra em alu mí nio, 2007
13 ARC DESIGN
Gero Grundmann
Nas duas pági nas, a mos tra Talents of the Future, com qua tro desig ners con vi da dos pela Miami Design e que deve riam usar o con cre to como maté ria-prima. Acima, mesa Resillience, de Julia Lohman, pro du zi da em con cre to mol da do sobre manta de lã tra ma da. O con cre to é que bra do, e as for mas frag menta das são sustenta das pela trama da lã
Design Miami é uma exposição e feira que acontece na cidade norte-americana a cada mês de dezembro, e em Basel, Suiça, no mês de junho. O que apresenta? O novo “design arte”, ou seja, projetos não-convencionais que alcançam preços estratosféricos no mercado. Conforto e utilidade cedem lugar a conceitos e inovações. Exemplo? A luminária Moon Lamp, de Matali Crasset, na qual um painel captura a potência do luar e outro a reenvia para o ambiente – inútil para leitura ou outra atividade, mas fortemente poética. James Harris
Acima, cadei ras Bronze Poly, design Max Lamb, em polies ti re no en cap su la do por bor ra cha sin té ti ca, que as esto fa e reves te. Na pá gi na ao la do, no centro, as mesas Terazza, de Martino Gamper, usam con cre to feito com már mo re e pedra moí das, colo ca das em uma su per fí cie lisa em mol du ras de metal que, quan do endu re ci das, são po li das e rece bem pés de madei ra
14 ARC DESIGN
Fernando e Humberto Campana foram eleitos os “Designers do Ano” e levaram para Miami uma “instalação caverna”, com eventuais assentos. Impressionante em sua espacialidade, ainda mais se pensarmos que os irmãos constroem suas peças a partir das
James Harris
James Harris
Acima, os módu los Vendôme, de Reed Kram e Clemens Weisshaar, uma famí lia de 99 obje tos em con cre to colo ri do, com dife ren tes ti po lo gias desen vol vi das por um softwa re que pode gerar um nú me ro in fi ni to de pro pos tas, as quais são sele cio na das, têm seu molde cria do por máqui nas de con tro le numé ri co, geran do peças “one off”, que são pro du zi das por mol da gem rota cio nal
mãos, do próprio trançado, que vai se desenvolvendo
encontrados produzindo para empresas. Seu mercado
e adquirindo formas inesperadas.
é o das galerias de arte e dos leilões de prestígio – que
A década de 1970 e, com mais repercussão, a de 1980
hoje incluem o design. Seu campo de ação, o objeto e
introduziu o design na fronteira da arte. Mas se Gae-
um vocabulário experimental, sem fronteiras.
tano Pesce foi pioneiro na “descoberta” dos materiais
Design Miami e Design Basel são os dois grandes mo-
artificiais, na Memphis a grande revolução foi sobre-
mentos desse novo comércio, o ponto de encontro de
tudo formal.
artistas, designers, galeristas e compradores.
Hoje os designers ousam mais, atingem os limites pos-
A edição de dezembro 2008, realizada em Miami,
síveis da inovação – e se tornam expressões mais cobi-
teve sua sede – uma tenda provisória de 6 mil metros
çadas do que aquelas da arte contemporânea.
quadrados, criada pelos arquitetos Aranda & Lash
Assim, o mercado cria uma hierarquia no design.
(veja ARC DESIGN nº63) – construída em tecido
Mas os novos nomes, profissionais muito jovens, não
translúcido recortado a laser. Além dessa sede, que
têm por objetivo revolucionar, nem criar manifestos,
abrigava as mais importantes galerias, o evento se es-
nem se opor a nenhum conceito vigente. Eles apenas
palhou por toda Miami, com a presença de mais de 50
se colocam livres diante da criação, e raramente são
espaços expositivos. 15 ARC DESIGN
Lee Mawdsley
Acima, colar Ornamentum de Ted Noten, com baganas de cigarro e outros, encapsulados em bolas de vidro; abaixo, chaise longue Morosus (2008), de Roderick Vos, em alumínio polido
Acima, ins ta la ção The Fig Leaf (2008), design Tord Boontje, com bi na folhas de cobre laquea das à mão, árvo re de cera pati na da com bron ze, seda tra ma da em tear e tin gi da à mão, estru tu ra de supor te mode la da à mão, fundo em pin tu ra “trom pe l’oeil”
16 ARC DESIGN
James Harris
Acima, deta lhe da mos tra dos irmãos Campana, esco lhi dos como Designers do Ano e, em pri mei ro plano e ao fundo, cole ção Transplastic, em vime tran ça do. Abaixo, colar Emily, da artista plástica norte-americana Kiff Slemmons, em papel mexicano, presen te no lei lão bene fi cen te Paperlove, de peças úni cas pro movi do pela Luminaire Lab. (Vocês não se lem bram de algo seme lhan te no Brasil?). O lei lão con tou com peças doa das por Ron Arad, Ross Lovegrove, Zaha Hadid, Konstantin Grcic, Naoto Fukasawa e mui tos outros desig ners famo sos
Era possível encontrar designers já famosos, e que hoje atuam em duas frentes – produção em grandes séries e peças únicas ou pequenas tiragens, como Ron Arad, Ross Lovegrove, Arik Levy, Tom Dixon, Matali Crasset, Zaha Hadid, Tord Bontje, Barber & Osgerby, Michele De Lucchi, Andrea Branzi e, claro, Fernando e Humberto Campana, os Designers do Ano. Dentre os jovens, destacamos Aranda & Lash, que trabalham com texturas e recortes a laser; Ted Noten, que entre outros objetos um pouco menos “hard” mostrou uma bolsa Prada com um espaço em acrílico cristal, para um revólver dourado! Um dos destaques da mostra foi o time escolhido pela organização da feira para a apresentação do Designers of the Future: Martino Gamper, Julia Lohman, Max Lamb e Reed Kram & Clemens Weisshaar. Chamava a atenção a empresa Mallet, famoso antiquário londrino, com o projeto Meta, no qual peças antigas recebem uma leitura contemporânea. É a inovação que pede passagem. Claro, separando-se o joio do trigo. ❉ 17 ARC DESIGN
Coleção Roberto Sambonet Archive, Milano
ROBERTO SAMBONET
Uma das mais importantes presenças na II Bienal Brasileira de Design, a mostra sobre a obra de Roberto Sambonet aconteceu também em São Paulo. Enrico Morteo, arquiteto e crítico italiano, é o curador da exposição e das pesquisas realizadas na Itália e no Brasil, onde Sambonet viveu e atuou durante cinco anos
Enrico Morteo Roberto Sambonet (1924-1995) é uma figura singular no panorama italiano do design. Embora tenha tomado parte, como protagonista, em quase todas as situações emblemáticas e representativas da cultura do projeto industrial (comissário da Trienal de Milão, presença marcante na Associação de Desenho Industrial, ADI, e do prêmio Compasso d’Oro), Sambonet é um personagem excêntrico em relação ao perfil habitual do designer italiano. Para começar, não era arquiteto e reivindicava sua identidade e formação de artista. Embora houvesse respirado, desde Sambonet era pintor e dese nhista, que depois se assu miu como desig ner. No alto da pági na, autorre tra to, 1962, óleo sobre tela. Acima, um dos inú me ros dese nhos de doentes mentais rea li za dos du rante sua per ma nên cia (com a per missão do di re tor da ins ti tui ção) no Hospital Psiquiátrico Juqueri, SP
18 ARC DESIGN
sempre, a atmosfera fabril, não descobriu seu talento como projetista na empresa de sua família, mas durante uma longa permanência no Brasil. Seu itinerário não coincide com o percurso acadêmico linear. Seus grandes mestres, Sambonet os encontra, sempre, em outros lugares: em casa, na figura do pai aviador, do tio explorador e no pátio da fábrica.
Fotos Denise Andrade e Juan Guerra
Acima, TIRbar, 1971, con jun to de qua tro copos em corte trans ver sal e volu me modu lar, para a Cia. de Cristais Bac ca rat, Paris. À esquerda, prato redondo em aço inox, 1955, com tampa presa por dobradiça. Pro du ção Sambonet. Abaixo, meios vasos sec cio nais com ba ses semi cir cu la res, 1979, rea li za dos pela Seguso, Murano
Recusa-se a cursar a Faculdade de Direito ou a de Engenharia, e tenta um acordo com o pai inscrevendo-se na de Arquitetura que, no entanto, abandonará rapidamente. Escolhe a arte e a Academia de Brera, sem, no entanto, jamais terminá-la. Em 1949 Sambonet chega a São Paulo e entra “na órbita” de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, que naquele momento cuidavam da fundação do Museu de Arte da cidade. Com Bardi ele inicia uma verdadeira educação artística. Conhece os trabalhos de Max Bill e Paul Klee, e acolhe a sugestão de aprofundar o conhecimento de Brancusi e dos neoplasticistas. Bardi o coloca em contato com Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Roberto Burle Marx, mas o aproxima também da arte antiga. No Brasil, Bardi o envolve em projetos totalmente diversos, como criar um curso de desenho gráfico, de desenho de tecidos e o chama também para colaborar na organização de 19 ARC DESIGN
ARC DESIGN
20
Reproduções fotográficas Denise Andrade e Juan Guerra
Serge Libiszewski
desfiles de moda que seriam realizados nas salas do museu. Sambonet enfrenta os deDenise Andrade e Juan Guerra
safios do Brasil e das experiências que Bardi propõe, não apenas com grande paixão, mas com método científico. Para desenhar tecidos começa a
estudar o patrimônio figurativo dos índios brasileiros, sai da cidade e adentra, submerge na dimensão ainda natural do subcontinente brasileiro, e é essa a dimensão que operará uma mudança de perspectiva: a imanência invasiva da natureza, a imediata coincidência entre paisagem humana, geográfica e cultural, a urgência e a possibilidade de inventar, são um universo estranho, com o qual Sambonet se confronta e ao qual se abre. Como um subsídio produz o filme documentário “Magia Verde”, percorre o semi-selvagem Nordeste brasileiro, entra na Mata Atlântica (floresta litorânea) e no sertão (região árida do interior nordestino). Nesse momento começa a desenhar, colocando no papel as formas de galhos e folhas, palhas e objetos de uso cotidiano. Em seus desenhos brasileiros Sambonet parece procurar um grau zero da linguagem, um espaço sem tempo e sem movimento. Paradoxalmente, quanto mais se abandona e se apaixona pelos lugares e pelas pessoas que encontra, tanto
Na pági na ao lado, car taz para o MASP, 1951, ins pi ra do em sua aqua re la “Jungla Brasiliana”; dois dese nhos da série “Della Pazzia”, 1952; car taz para o des fi le de moda do MASP, 1952. Acima, Sambonet com vaso da série “Préhistoire”, em cris tal maci ço Baccarat, 1975; no alto, à esquerda, talhe res para pique ni que, 1965, em aço inox ace ti na do, no qual os cabos se encai xam para redu zir es pa ço. Produção Sambonet
mais parece interessado em fazer emergir os dados constantes, as estruturas fixas, quase como se, definidas as não-variantes, se possa dar espaço às mutáveis identidades individuais. Desfrutando do estado privilegiado de viajante, Sambonet transforma o encontro e a amizade com o psiquiatra Edu Machado Gomes na oportunidade de frequentar durante seis meses o manicômio do Juqueri, 15 mil internos, a 50 quilômetros de São Paulo. Nos diversos departamentos do hospital psiquiátrico, Sambonet conduz um reconhecimento pessoal nos territórios da doença mental. Seus desenhos registram com extraordiná-
Abaixo, con junto de pra tos de por ce la na Spectrum, 1973, cuja “deco ra ção” per mite com po si ções cro má ti cas abstra tas em três dife rentes esca las de co res. Produção Bing & Grondahl
ria precisão os traços do mal-estar psíquico e humano. Mas os vultos que desenha no manicômio de Juqueri, depois editados no livro “Della Pazzia” (da loucura), Milão 1977, não são apenas um catálogo de patologias: seus retratos são uma viagem de humana participação, um escavar nas pregas da doença e do sofrimento, uma medida fiel e acurada da distância que, muitas vezes, nos separa de nós mesmos. Depois de cinco anos Sambonet volta do Brasil transformado: jovem pintor quando partiu, retorna artista, projetista,
A c e rv o
S IG N ARC DE
21 ARC DESIGN
Acervo ARC DESIGN
Acima, deta lhe da mostra no Museu da Casa Bra si leira, com parte da coleção Rst, 1974; e, em segun do plano, cole ção de vidros. Abaixo, prato com po ní vel, Triângulos Aperitivo, em aço inox poli do, ins pi ra dos na super fí cie do mar
designer. Seu desenho não é um terreno autônomo, uma pesquisa acabada na dimensão técnica do signo ou na análise das formas. Observar e desenhar não são atos exclusivamente preparatórios à pintura, mas configuram uma metodologia pessoal da experiência. A representação, que Sambonet administra com autêntico e extraordinário talento de pintor, se torna instrumento investigativo: observar, registrar, catalogar, selecionar como forma de apropriação do real. Nesse percurso pessoal, desenhar e pintar são ações ao mesmo tempo autônomas em relação à concretude do projeto. Este, visto aqui como escolha e como construção de uma nova estrutura de ordem e significado. O desenho escarnifica o objeto observado até colocar sob a luz as geo-
Serge Libiszewski
metrias da sua estrutura constitutiva. Sambonet usa a forma como pretexto evocativo porque sabe que a função não está nunca nua, mas vestida de intenções, usos, recordações, possibilidades. Uma forma simples é sempre mais versátil porque deixa espaço para novas interpretações, assim como trabalhar por módulos permite inventar funções inesperadas. Em seus infinitos estudos dedicados às estruturas vegetais ele sabe recolher o detalhe do enxerto de uma folha para resolver a junção do cabo de um talher; um anfiteatro grego determina o ritmo de uma coleção de tigelas componíveis; um almofariz de pedra sugere a transparente leveza de uma bola de cristal. É por meio desse procedimento que Sambonet abre espaço para o jogo combinatório do projeto, e é aqui que revela sua extraordinária liberdade. ❉ 22 ARC DESIGN
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NEWS
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O Salão do Móvel acontece neste momento e todos, cada vez mais, perguntam: quais as tendências? O que vai mudar?
E mais: agenda de eventos e matérias especiais.
Podemos afirmar que se há uma tendência irreversível, é a de respeito, cuidado e atenção ao planeta. No mais, em nosso múltiplo universo, tudo convive, do racional ao barroco, da velha madeira aos plásticos de última geração, da normalidade à extravagância. Impossível definir uma reta bem traçada, somos múltiplos, sempre mais livres para assumir nossas diferenças.
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Na agitada Milão tenta-se recriar o mundo – ou modificá-lo um pouquinho – em nome do mercado, ou mesmo, ainda do design. Conseguirão?
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RON ARAD NO DISCIPLINE
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Ron Arad & Associates
Acima, títu lo que resu me o espí rito da mostra e do cria dor – No Dis ci pline. À esquer da, vista par cial, com duas versões da “Oh Void Chair 2”: em Corian (ver me lha) e em acrí li co (lis ta da); à esquer da, as pol tro nas Rover; na esca da, a cadei ra-tape te “London Papar del le”, em malha de aço e, ao fundo, a estan te This Mortal Coil, protó ti po
Maria Helena Estrada Ron Arad é o mais audacioso designer contemporâneo. Desde os primeiros trabalhos, nos quais ele mesmo executava a solda metálica, grosseira e aparente, em um galpão de Londres – cadeiras e mesas em aço –, até a mais complexa e sofisticada tecnologia contemporânea – em Corian, plásticos extrudados ou rotomoldados, prototipagem rápida, aço temperado, metais diversos, fibra de carbono, sistemas de iluminação com LEDs –, ele faz surgir novos vocábulos, descortina o ainda não pensado. Sem fronteiras. “Todas as perguntas sobre arte e design não são pertinentes. Jamais divido as coisas em categorias: são simplesmente aquilo que faço. Não preciso de licença
Toda a força de Ron Arad explode em 600 peças
para passar de um domínio a outro.” Assim, design, arte, ciência, engenharia, arquitetura, em um caos
e 1.200 metros quadrados. Não é uma exposi-
bem orquestrado, fazem surgir o foyer do Teatro de
ção cronológica, ordenada, não segue padrões.
Tel Aviv, uma casa altamente tecnológica em Londres
É “No Discipline”, no Centro Pompidou, Paris.
e luminárias com LEDs como a PizzaKobra, um tubo em metal cromado que pode ser espiralado, “a cobra”,
Em três décadas de atividade, Ron Arad passeia
e se tornar achatada como uma pizza. Ah! E é vendi-
por peças descartadas e pelos diversos mate-
da em uma caixa de pizza.
riais artificiais, desde a poltrona Rover, feita
Só há dois tipos de pessoa, as “charming” e as “tedious”, escreveu Oscar Wilde. E o mesmo pode ser
com o assento de um velho carro já sem uso,
dito sobre os objetos. Ron Arad, sem perder o char-
até a novíssima cadeira “Even the Odd Balls?”.
me, consegue dar mil caras à mesma cadeira, do plás-
Uma obra que substitui e prescinde do discurso
tico ao estofado (coleção Big Easy), da “nua” à vestida por Issey Miyake (Tom Vac). Jorge Lopes, designer brasileiro que tem Ron Arad
Paul Denton / Ron Arad & Associates
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Fotos Ron Arad & Associates Jorge Lopes
Acima, a lumi ná ria PizzaKobra em aço fle xí vel e muito humor – é entre gue emba la da em uma caixa de pizza. À direi ta, as cadei ras Oh Void 2, em acrí li co
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Na página ao lado, uma das pare des de fundo da mos tra, com seus “canu dos expo si to res” em pape lão, refle xos de luz e algu mas cadei ras de série limi ta da. Acima, visão pano râ mi ca da exposição No Discipline cuja área cen tral segue as cur vas da estante Bookworm
como orientador no Royal College of Art, Londres, e é também um colaborador do estúdio para todo experimento ligado à tecnologia, comenta sobre a verdadeira fixação de Ron em relação às experiências que realiza. “Ele tem alma de cientista e segue pelo caminho da tentativa e erro, de modo obsessivo. É como se o resto do mundo não existisse.” Um cientista de alma simples e terna, que tem seu estúdio na zona degradada de Candem Town (vizinho de Amy Winehouse e dos punks). Ron Arad é figura de ar tímido, sempre em seu “super hero outfit”, chapéu (desenhado por ele), camiseta e calças “baggy”, comenta Paola Antonelli. Mas é ligadíssimo, nada escapa à sua percepção. Cristina Morozzi escreve na revista Interni. “Como criativo é um solitário, autônomo em relação às correntes e aos movimentos, que consegue sempre progredir, obstinado a alcançar o futuro. Modificou a semiologia do design mantendo-se sempre fiel à própria matriz expressiva.” “No Discipline”, no Pompidou até 16 de março, segue depois para o MoMA, N. York, sempre com a exuberante cenografia de Ron Arad. ❉ 27 ARC DESIGN
VENCER NA CRISE MAIS NEGÓCIOS, MENOS ROMANTISMO Entrevista exclu si va com Luciano Deos, pre si den te do GAD’, hol ding de ser vi ços de marca, e da Abedesign, Associação Bra si leira de Em pre sas de Design. Arquiteto espe cia li za do em mar ke ting, ele defi ne a ino va ção como arma fun da men tal para os momen tos de crise. E lem bra que, ape sar de ser mos edu ca dos para ope rar com coi sas tan gí veis – mesa, cadei ra, etc –, nosso gran de desa fio hoje é apren der a lidar com fato res intan gí veis, como conhe ci men to, marca, sen si bi li da de, expec ta ti vas e sonhos das pes soas Cristina Teixeira Duarte
ARC DESIGN – A crise pare ce amea çar todo o mer ca do. Como
AD – Um des ses even tos foi a pri mei ra edi ção da Brazil Design
designer, empresário e dirigente do segmento, qual a sua visão
Week, no Rio de Janeiro?
sobre esse momento e seu enfrentamento?
LD – Foi um momento mágico, um salto para o segmento, que
LuCIANo DEoS – Minha ideia é a mesma em todas essas
reuniu nossos talentos, dirigentes, instituições, além de trazer
fren tes. Institucionalmente, é um momen to muito bom, com
experiências importantes do exterior. A Abedesign realizou o
a rea li za ção de even tos impor tan tes que vêm dando matu ri -
evento com a Apex, uma movimentação entusiasmante, os es-
da de ao tema, tra zen do abor da gens dife ren tes das con ven -
tandes todos juntos, troca de experiências durante uma sema-
cio nais e maior inte res se dos agen tes ins ti tu cio nais. Espe -
na inteira. Felizmente, este ano reeditaremos o evento, desta
cialmente agen tes do gover no, como a Apex, com a qual
vez em São Paulo.
desen vol ve mos um pro je to de pro mo ção seto rial na área de
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ser vi ços, ini cia ti va que enca ra design, marca e ino va ção co -
AD – Além des ses apoios, como o gover no atua para fazer do
mo pila res estra té gi cos na cons tru ção de valores para
design uma ferramenta de negócios?
empre sas com pe ti ti vas.
LD – Hoje, a direção da Apex tem clareza de que design, mar-
keting e inovação representam o tripé essencial para agregar valor aos nossos produtos e criar diferenciais para a empresa exportadora brasileira. Por isso seu apoio a um projeto setorial, que visa vender serviços de design no exterior. AD – Serviços de design já são difí ceis de ven der no Brasil... LD – Nós encaramos esse desafio com muita pretensão. E, mais
que vender, o principal é aumentar a massa crítica e o nível de gestão e competência dos nossos players. Essa interatividade também faz com que se comece a permear outros projetos setoriais. São mais de cento e tantos projetos, de 70 setores diferentes. Então, o design ganha importância enquanto projeto setorial de venda de serviços e, de forma transversal, ganha importância estratégica. AD – Ou seja, design, marca, ino va ção podem – e devem – con -
tribuir em outros segmentos? LD – Isso, no projeto do plástico, do cinema, do mobiliário... O
design é absolutamente transversal: somos fim e meio, mas somos mais importantes enquanto meio do que enquanto fim. É bom lembrar que inovação e novidade são coisas diferentes:
Luciano Deos (na pág. ao lado) e alguns clien tes da GAD’, como FaberCastell e Oi. Para ele, mar cas são o gran de patri mô nio das empresas e devem per ma ne cer acima da crise por meio de moder nos pro cessos de reen ge nha ria. Uma ferramenta que passa por diver sas moda li da des de design: for ma to do pro du to, emba la gem, lin gua gem de comu ni ca ção, con cei tua ção, divul ga ção... é o design a ser vi ço do for ta le ci men to ins ti tu cio nal das empresas
inovação traz sucesso comercial por quebrar padrões e estabelecer novos fundamentos. Novidade é apenas um fato novo com a mesma abordagem. AD – Essa pos tu ra tem sido mais esti mu la da por quais agen tes
de mercado? LD – Estamos todos jun tos nesse movi men to, inclu si ve o
SEBRAE e o BNDES, que já fala em linhas de financiamento para intangíveis e inovação. E toda intervenção é muito bemvinda. Agrega patrocínio de eventos, ações em universidades, agentes de fomento, como os governamentais. E mesmo dos profissionais de design, hoje mais maduros. Já existem escritórios com uma visão mais empresarial, o que tem contaminado as novas gerações, sem perder de vista qualidade, com29 ARC DESIGN
Arnaldo Pappalardo
À esquerda, pro du to da Natura, con si de ra da por Deos uma em presa cuja abor da gem de bran ding e design é capaz de expressar seu per fil. Na página ao lado, a pri mei ra Brazil Design Week, realização con jun ta da Apex e da Abedesign, que inau gu rou um tempo para a re fle xão so bre novos para dig mas e fomen to do design enquan to indús tria. É a con so li da ção da impor tân cia do design nas estra té gias de negó cios
petência e criatividade, atributos inerentes à nossa oferta.
por isso, mas não sabem como fazer na prática. Sugerimos que
Algo mais business e menos romântico, entende?
o design, por seu histórico e pelo potencial inerente de transformação que possui, seja o grande instrumento de apoio à
AD – Como tem acon te ci do essa mudan ça de pos tu ra?
inovação. Como disse, temos que nos apoderar dessa bandei-
LD – É um momento espetacular! Com a crise, talvez mais
ra, mostrar respostas consistentes, criar conteúdos.
espetacular ainda, porque nos faz buscar alternativas, com abordagens mais profundas, ações inéditas, palestras, publi-
AD – Uma con sul to ria espe cia li za da não é aces sí vel a todos. O
cações, artigos, promoções. Ficamos mais permeáveis, mais
que poderia sugerir às pequenas empresas, que não podem ban-
abertos a reflexões. A necessidade obriga a nos mexermos. É
car esse serviço?
uma grande oportunidade! Mas tudo necessita de esforço con-
LD – Independentemente do porte, há empresas que pensam
sistente e alinhado ao mundo empresarial. Para mim, aí está
grande e outras que pensam pequeno! Basta ter inteligência,
o desafio: nos apropriarmos desse discurso por meio de uma
olhar o movimento ao redor, pensar de forma lógica, estrutu-
interlocução eficaz com o mundo empresarial.
rada, estar atento aos cenários paralelos. Se você tem um posto de gasolina, olhe a farmácia para ver se está aconte-
AD – Mas até que ponto o empre sá rio bra si lei ro está cons cien -
cendo alguma experiência diferente por lá. Mais que método e
te de que design e ino va ção são fer ra men tas? O setor move lei -
conhecimento, mudança requer coragem para pensar diferen-
ro, por exem plo, há anos pro duz mais do mesmo, enten den do o
te, perseverança e muita decisão de fazer. Mas, lembre-se,
design ape nas como esté ti ca...
sempre dentro de uma estratégia de negócios.
LD – Pois é, nós, designers, temos que nos apropriar dessa ban-
deira de inovação. A Abimóvel é cliente do GAD por conta do seu
AD – Portanto, o tra ba lho depen de de várias ações con jun tas?
convênio com a Apex. Com ela, desenvolvemos um projeto expe-
LD – Abordagens isoladas são frágeis. O problema é gerir tudo
rimental de inovação de processos junto a oito ou dez empre-
isso, integrar pessoas, idéias e ações, construir uma estética se-
sas de móveis. Vamos inserir um sistema, uma metodologia
gundo a cultura da empresa. Sim, porque toda empresa tem uma
interligada para aplicar a cultura da inovação, trabalhar sua
cultura própria. Definida a expressão da marca, algo traduzido
dinâmica, discutir, mostrar, construir novos caminhos. Depois,
pelo design e pelo designer – que é o grande fio condutor dessa
implantamos as ferramentas metodológicas para o uso adequa-
estética –, deve-se então amarrar o todo: produto, embalagem,
do dos recursos disponíveis; e por fim exercitamos o próprio
postura, um procedimento ainda raro em nossa cultura empre-
método, o que levará à execução de um novo produto. Ele é o
sarial, embora já existam organizações orientadas para isso.
teste prático da nova realidade. E o alvo é o mercado externo. AD – Que empre sa ideal men te deve sur gir após a implan ta ção
30 ARC DESIGN
AD – O sen ti men to é que mui tos falam do design enquan to ino -
desses novos métodos?
vação, mas poucos sabem o que realmente significa.
LD – Depende de um diagnóstico seguro sobre ela, do posiciona-
LD – Design é empregado como substantivo, verbo, adjetivo.
mento de seus pontos fortes e da própria dinâmica de implan-
Mas a maioria só o encara como adjetivo. Inovação é um termo
tação do processo de inovação. Por isso mesmo, a ideia é pôr
recorrente em nosso dia a dia com os clientes, que são ávidos
em prática um projeto experimental. Não adianta só criar novos
“Somos educados para lidar com coisas tangíveis, mesa, cadeira, etc. Mas hoje o desafio é lidar com fatores intangíveis, conhecimento, marca, sensibilidade, expectativas, sonhos...”
produtos, isso se faz todo o dia. O legado de um processo como esse é uma nova cultura, uma nova metodologia, um exercício prático de inovação, em que o importante é a metodologia. AD – E que empre sa no Brasil exem pli fi ca ria o design inse ri do
nessa filosofia? LD – A Natura, que ainda não é cliente nosso, mas um dia
será. Marca inconteste, a mais lembrada do Brasil, que tem uma abordagem de branding e de design capaz de expressar tudo isso. Tangencia a linguagem de comunicação no design gráfico, na embalagem, no produto, na sede da empresa, que tem uma arquitetura espetacular. É puro design traduzindo todo o seu posicionamento, uma empresa voltada para a marca e que vai muito além da limitação do produto. AD – O que a Abedesign está fazen do e o quais seus obje ti vos de
tido de criar mais do que essa percepção da realidade possível,
curto prazo?
inserindo outras ações. Por exemplo, a Apex tem a intenção de
LD – Estou junto com o Manoel (Muller, ex-presidente da enti-
criar projetos transversais, fazer workshops para algumas ativi-
dade) há dois anos, quando ele me chamou para ser seu vice-
dades e setores. Vamos contar com um conjunto de ações para
presidente na última gestão e liderar o projeto Apex. E é só o
fomentar a transversalidade do design em vários segmentos, ao
começo. A Abedesign tem desafios enormes pela frente, o que
mesmo tempo que faremos movimentos diretos rumo ao exterior.
me estimula muito. Hoje temos 100 sócios e nossa meta é, muito em breve, ter 500. Espero também que ela seja o principal in-
AD – Acredita que antes de mais nada é pre ci so edu car o desig -
terlocutor do setor no Brasil, sem a intenção de competir com
ner e o empre sá rio para tudo isso?
outras entidades, nacionais ou regionais. O foco será a propa-
LD – Acho que o designer, primeiro, tem que ter uma visão mais
gação da questão de negócios e a qualificação das empresas
humilde. Sempre digo que devemos desmistificar a ideia de que
para gerar demandas, captar financiamentos e multiplicar as
somos soberanos. Há pessoas certas de que a empresa vai pa-
receitas do segmento.
rar para recebê-las, e a coisa não é bem assim. E aqui começa o drama do empresário: chega o designer e diz que design é o
AD – E como Abedesign e Apex pre ten dem mas si fi car essa cons -
mais importante, o funcionário do RH diz que ele é o mais im-
ciência de negócios dentro do design brasileiro e do design nos
portante. Então, temos que dar um passo atrás e entender a
demais segmentos?
nossa real contribuição para o ambiente de negócios; e aí sim
LD – A partir de um conjunto de ações. O grande pontapé, e tal-
elaborar um discurso e uma oferta alinhados a essa realidade. É
vez a grande âncora deste momento, seja a prorrogação do
fundamental nos colocarmos no lugar do interlocutor, ao lado do
convênio com a Apex. Vamos propor uma série de ações no sen-
empresário, para ver melhor e obter resultados mais eficazes. ❉ 31 ARC DESIGN
ia o Le tic ia Re m
VAMOS DRIBLAR A CRISE? Só a mudança é capaz de vencer a estagnação. Se a crise nos alcança, vamos olhar a metade cheia do copo, aproveitar as oportunidades que a atual configuração da economia mundial nos oferece. E a maior delas é sem dúvida a inovação: de imagem, produtos, métodos, posicionamento. Fatores que encontram no design, em suas múltiplas aplicações, uma poderosa ferramenta para alterar paradigmas e enfrentar os desafios que se impõem às empresas Maria Helena Estrada e Cristina Teixeira Duarte
2009 – já dizem muitos – é o estopim de um novo
pressionados pela velocidade crescente do mundo, já
tempo. Estagnação, repetição, desperdício e outras
acionamos o “piloto automático”. Mas o momento é de
mazelas perderam a vez. O que isso tem a ver com
reflexão e de imediata ação. E o design (que não signi-
design? Absolutamente tudo. Desde que percebamos
fica apenas a forma do objeto) pode contribuir decisiva-
ser sua abrangência muito maior do que a execução de
mente nessa transformação. Assim como acontece na
produtos seriais e vendáveis. Hoje, o design exerce uma
história de um produto bem resolvido, este é também
gama de funções em busca de valores intangíveis – mas
um exercício para uma nova mentalidade na empresa.
essenciais – para a identidade de empresas, marcas e,
Apenas desse modo a inovação se concretiza.
por fim, de produtos. A idéia consagrada de que obje-
32 ARC DESIGN
tos de design embutem, em si mesmos, significados e
O NOVO COMO CHO QUE DE GES TÃO
conceitos deve hoje permear todas as atividades da
Velho paradigma: o plástico era destinado à cozinha,
empresa. Esse é um caminho certeiro em direção à tão
não à sala. Nos anos 1990, os utensílios em plástico
ansiada – e nem sempre compreendida – inovação.
elevam seu status, sendo projetados por famosos
Trata-se de outra maneira de pensar as empresas, seus
designers. No Brasil, uma pequena indústria de Ca-
valores primordiais, processos operacionais, o relacio-
xias do Sul, RS, a Coza, acredita na tendência e lança
namento entre as pessoas e o papel de cada um no con-
bons produtos assinados por designers brasileiros.
junto das atividades. Um desafio para todos nós que,
Era o início de uma nova mentalidade. Hoje a Coza
Leticia Remiao
A Coza fez do plásti co um mate rial atraente para pro du tos fun cio nais, esté ti cos e de colo rida bra si lida de. Entre incontá veis itens estão as li xei ras e o dis pen ser para a pia Romeu e Julieta (na pági na ao lado e à direita). Produtos que engrossam cole ções inova do ras e bem-suce didas, que vêm con quistan do as pra te lei ras de várias par tes do pla ne ta
tem seus produtos premiados, detém a liderança de
no design brasileiro a base de apoio para essa trans-
qualidade no mercado nacional e exporta para a Co-
formação. Mudou tudo, trazendo a experiente desig-
reia, Austrália e Europa. “Os preços não são respon-
ner Baba Vacaro para a função de diretora de arte e
sáveis pela aceitação dos produtos. Nossas cores, que
de reestruturação do mobiliário da marca, atualmen-
falam de brasilidade, seduzem o mercado internacio-
te pródigo em nomes importantes, como Sergio Ro-
nal”, afirma Cristina Zatti, diretora de produtos da em-
drigues, entre outros consagrados, e também jovens
presa. Uma bela inovação? A pesquisa de materiais
designers. Tal escolha acabou por se infiltrar na dinâ-
recicláveis. “Hoje utilizamos polímeros nacionais, e há
mica da empresa, seus métodos, postura e mentalida-
três anos trabalhamos com biopolímeros.” Fiel ao
de. Um caminho sem volta e que persiste coerente
design brasileiro, sua próxima coleção trará peças de
em seus propósitos. Quanto à crise, ela por ora não
Heloisa Crocco, Ana Cristina Rezende, Walter Bahci-
preocupa Sergio Buchpiguel, diretor da empresa. Ele
vanji, além de introduzir, com Renata Rubin, o design
acredita que o Brasil já passou por muitas delas e por
de superfície em seu catálogo.
isso sabe se sair bem nos momentos difíceis, desde que não deixe de trabalhar, acreditar, investir. “O fa-
PRODUÇÃO PARA TRANS FOR MAR
turamento tem mostrado que estamos no bom cami-
A partir dos anos 2000, a Dpot optou por uma nova
nho, e o reconhecimento pela marca só reafirma o
imagem. Virou a página de seu antigo perfil e buscou
acerto dessa política”, conclui Sergio. 33 ARC DESIGN
A Melissa é exemplo eloquente do que a múltipla aplicação do design pode fazer pela marca. Seu gerente-geral, Paulo Pedó, foi um dos articuladores da transformação de produtos, imagem, administração, pontos-de-venda e posicionamento de mercado. As populares sandálias de plástico mudaram para ditar moda, com modelos conceituais assinados por grandes nomes do design e expostos em concept-stores como referência para o mundo fashion. A marca dispensa discursos que reafirmem sua posição pioneira, tal a unanimidade que encontrou no mercado. Na foto, à esquerda, sandália desenhada pela arquiteta Zaha Hadid, e, acima, sapatilha Melissa Zig Zag, design dos irmãos Campana
Marcelo Spatafora
A Riva inves tiu no talen to de jovens estu dan tes e recém-formados do IED, Istituto Europeo di Design, uma parceria vitoriosa. Sob a orienta ção do desig ner e presi den te da empresa, Rubens Simões, o resultado são li nhas de ca fé da manhã, que pro põem, entre outras, peças como a jarra Origami (abaixo), inspirada no geometrismo da tradicional arte japonesa
MUDANÇA COM SOLI DEZ Enquanto algumas empresas se reinventam a partir de uma revolução nos produtos, outras apostam na manutenção de alguns clássicos e no reconhecimento de seus valores para manter a boa posição no mercado. “Case” consagrado de design, a caneta esferográfica BIC representou uma revolução nos anos 1950, o que fez dela um produto de tal forma marcante, que acabou por impregnar os valores do grupo francês que a fabrica. Desde então, funciona como guarda-chuva da gigante multinacional Bic Graphic, abrigando mais de 100 itens agregados e divididos entre os segmentos de papelaria, barbeadores e isqueiros, a maioria acessíveis, descartáveis e bem resolvidos. “A base desse fenômeno está na confiança que o consumidor deposita em nosso produto, pois entregamos exatamente aquilo que vendemos”, diz Rogério de Andrade, gerente de marketing da BIC Brasil. Além dos cuidados com layout – proporções adequadas das letras, correção de informa-
34 ARC DESIGN
Quando decidiu revo lu cio nar marca e pro du tos, a Dpot esco lheu a di re ção de arte de Baba Vacaro, investiu em tec no lo gia e, mais ainda, em con ceito. Hoje, seu mobi liá rio é puro design brasileiro; na forma, assi na tu ras, como a de Sergio Rodrigues (ao lado) e prin ci pal mente na ma nei ra de se colo car diante de fun cio ná rios, espe ci fi ca do res e con su mido res. A BIC (abaixo) há dé ca das aposta na cre di bi lida de de seus pro du tos, de bom desenho e acessí veis, pa ra o re co nhe ci mento da exce lên cia da marca
ção nas embalagens, o inconfundível tom laranja de
Design, para suplantar similares com
alguns produtos (caneta, aparelho de barbear) –, a idéia
coleções fundamentadas no tripé traço
de credibilidade é transmitida também aos vários de-
arrojado, diversidade de materiais e bom
partamentos da empresa, que se comprometem com
acabamento. Para tanto, estabelece com
esses valores em suas respectivas etapas de produ-
os alunos uma comunicação direta, foca-
ção. Em contrapartida, pesquisas permanentes junto
da e consistente sobre a conceituação
aos usuários avaliam se essa postura está sendo tra-
dos produtos Riva, tanto formalmente
duzida nos produtos.
quanto em suas estratégias de produção e comercialização. “Nosso objetivo
CRIATIVIDADE, TEC NO LO GIA, ESTRATÉ GIA
é criar peças ousadas e inovadoras,
Rubens Simões, jovem carioca, encontrou em Caxias
mas extremamente duráveis. Objetos e utilitários que
do Sul a oportunidade para realizar uma vocação. Co-
possam enriquecer o dia a dia do consumidor por mui-
meçou a produzir utilitários e adornos em prata e aço
tos e muitos anos, sem perder sua capacidade de sur-
inox com extrema qualidade e apostou desde o início
preender a cada uso e sem a necessidade de descarte.”
em nomes importantes do design brasileiro. Agora pro-
O resultado tem sido a conquista de premiações no
cura no talento jovem e distante dos padrões prees-
Brasil e no exterior – iF Award, Red Dot e Museu da
tabelecidos o caminho para manter a qualidade do
Casa Brasileira –, além da inserção em mercados top
“design Riva”. Assim, investe na criatividade de estu-
de Europa, Canadá e Estados Unidos, ou, mais especi-
dantes e recém-formados do IED, Istituto Europeo di
ficamente, na loja do MoMa de N. York. ❉ 35 ARC DESIGN
MARCELO ROSENBAUM
ZIGUE ZA GUE NA CRIA ÇÃO Tendências? Diluíram-se. Já não ditam mais comportamentos. Os caminhos já não são linhas retas e claras, mas se entrecruzam. Marcelo Rosenbaum, arquiteto e designer, é um dos que traçam seu ziguezague pessoal: rigor e humor, materiais que se alternam do primitivo ao tecnológico, enquanto o inesperado e o inusitado se confundem. É o nome do momento. Seu sonho? Adivinhar o sabor do móvel popular brasileiro
36 ARC DESIGN
No alto da pági na ao lado, Marcelo Rosenbaum e o pai nel de azu le jos do artis ta plás ti co Athos Bulcão. Diante dele, o arqui te to obser va o anda men to das obras do res tau ran te Dalva e Dito, pro je ta do para os chefs Alex Atala e Alain Poletto, que pre ten dem ali res ga tar as raí zes da cozi nha co lo nial bra si lei ra. Na mesma pági na, abai xo, o restau rante Shaya e sua contem po ra neida de capaz de fre quentar qual quer metró po le do pla ne ta
Acima, refe rên cias orien tais per so na li zam o loun ge da Melissa na SPFW de julho do ano passa do. Tradição e moder ni da de se mis tu ram, com direi to a ban cos em for ma de ori ga mi, flo res e luzes mul ti co lo ri das, além de uma es tei ra em movi men to para expor os sa pa tos da marca assi na dos por gran des desig ners. Ao lado, ou tra am bien ta ção do mesmo even to, dessa vez em sua edi ção de ja nei ro de 2008. Ro sen baum coreo gra fou pa ra a Fiat três es pa ços, a fim de mos trar o mo de lo Punto como refe rên cia cria ti va para a moda
O Brasil e sua ver da dei ra rea li da de coti dia na estiveram na Cozinha da Casa Cor SP 2007. Sobre o piso vinílico que lembra ladrilho hidráulico, mesa de jantar com cerâmicas das Ca ja zei ras da Pa raíba, muitas colhe res e ta ças pró prias para ofe ren das no can dom blé. O pa drão das pare des, ins pi ra do nas ren das do Nor des te, foi re ferência para a cole ção de estreia do ar quite to na Tok & Stok, vestin do pol tro nas, tape tes, aba ju res e até tam pos de mesa com a sua estam pa Labi rinto
Lounge do por tal de ten dên cias WGSN na SPFW deste iní cio de ano. Rosenbaum ela bo rou nova car te la de co res para os reves ti men tos viní li cos da marca Fa demac, que pre do mi na ram nesta am bien ta ção retrô-chic. A ideia é esta be le cer um diá lo go entre o pro du to e o uni ver so fas hion, a fim de revi ta li zar sua abran gên cia e ampliar a uti li za ção. Apli ca ções das recém-cria das tona li da des em pa re des e piso, alia das às estam pas de Adria na Barra, per so na li zam a pro pos ta inova do ra
38 ARC DESIGN
Novamente, SPFW, evento onde a cria ti vida de do ar quite to alça voos sem obstá cu los. Em 2006, pro põe que a sim pli cida de come ce em casa, ambientan do a par tir desse con ceito o lounge da WGSN. Usan do 900 pra tos fun dos, mais 350 xíca ras de chá e seus res pec ti vos pires, todos da Oxford, surgi ram ines pe ra das com po si ções: as pare des foram revestidas com os pra tos e as gran des lumi ná rias bro tam da lúdi ca sobre po si ção dos jogos de xíca ras colo ridas
O impac to do lounge foi tal, que Rosenbaum desenvol veu para a Oxford a linha de cerâmica de mesa Brasil. São cinco jogos de jantar divididos em temas que evocam referências fami lia res a todos nós: Iemanjá, Chita, Renda, Maracatu e Car ro ce ria (à esquerda, com gra fis mos inspirados nas carrocerias de caminhões)
Maria Helena Estrada Uma característica do Marcelo? Não acontece de fazer
nacional de MDF se interessou em produzir, uma gran-
apenas um trabalho para um novo cliente. Depois do
de cadeia de lojas gostou do novo material e a meada
primeiro projeto, este se apaixona e logo surgem ou-
foi se desenrolando...
tros. Do mais novo restaurante da moda a uma partici-
A realidade efêmera das cenografias, principalmente no
pação de grande audiência na TV Globo, passando por
SPFW – baú de memórias e caixinhas mágicas de futu-
alguns dos mais chiques endereços comerciais de São
ros –, são espetáculos que nos enriquecem muito mais
Paulo, sua cidade, e do Brasil. E o emotivo Rosenbaum
do que os próprios desfiles. Parece que o mundo e seus
de Coração, nome de seu spot diário no programa de
zilhões de símbolos se abrem à disposição do criador.
rádio Manhã da Globo. Vale um passeio... ou um mer-
Basta lembrar as concepções do arquiteto para os loun-
gulho em tamanha versatilidade.
ges da Fiat, Oxford, Melissa, Diesel, entre outras marcas
As ondas que cortam esse ziguezague de expressões
de prestígio, que recepcionaram seus convidados em
têm a cultura popular brasileira como pano de fundo.
ambientações de uma brasilidade plena de surpresas.
Maracatu, Iemanjá, carrocerias de caminhão, a chita e
Mas o que Rosenbaum realmente sonha é desenhar o
a renda são motivos recriados para louças e revesti-
móvel popular, barato, durável, na proporção certa pa-
mentos; o labirinto e a renascença, rendas nordestinas,
ra o tamanho das casas... e bonito! Não com os padrões
se transformam em padronagens, da mesa ao sofá. As
de beleza do “fino e chic”, mas aquele bonito singelo,
histórias de Marcelo são assim: uma cozinha na Casa
talvez bem colorido, talvez cheio de brilho – ou não.
Cor teve uma de suas paredes coberta por um papel
Nada de estética imposta, mas, sim, assimilada. Um
impresso com o tema do labirinto; uma empresa multi-
móvel capaz de tocar o coração. 39 ARC DESIGN
Pequenos mila gres para o conforto doméstico são o maior atra ti vo do qua dro “Lar Doce Lar”, trans mi ti do pelo pro gra ma glo bal Caldeirão do Huck e pro ta go ni za do por Marcelo Rosenbaum, equi pes de apoio e patro ci na do res. Os resul ta dos obtidos para casas humildes e quase irre cu pe rá veis emo cio nam públi co e mora do res, como a famí lia Ferreira, uma das mui tas bene fi cia das. Nestas páginas, o antes e o depois da interferência do arquiteto
40 ARC DESIGN
Cristina Teixeira Duarte
ção pela mescla de elementos – adobe, mucharabi, um
Enquanto o sonho não acontece, o que faz este inova-
mural em ladrilhos de Athos Bulcão – um visual a ser-
dor? Além de palestras em várias cidades do Brasil, da
viço da nossa culinária. Mas a inquietação de
renovação de casas no quadro “Lar Doce Lar” (Caldei-
Rosenbaum não para aí: a nova loja-hotel da MiCasa
rão do Huck), e da recente participação em rádio com
trará o conceito de casa sustentável, retirando do pró-
dicas para morar bem, o arquiteto assina o Fast
prio terreno a fonte de energia para construções aboba-
Fashion, showroom da marca jovem da Daslu. Sedu-
dadas em superadobe, que funcionam como ocas para
zido pelos móveis feitos por comunidades de “sem-teto”
reunir ou hospedar amigos. Finalmente – se é que tal
com matéria-prima reaproveitada, ele insere no luxo a
palavra cabe na rotina do arquiteto –, uma coleção de
realidade deste universo. Em paralelo, desenvolve a
papéis de parede para a Bobinex, marca pioneira no
linha Croma, uma seleção de novas cores lisas para a
setor, instiga sua fantasia, com a pesquisa de estampas
Fademac (Paviflex). A padronagem utilizada em Casa
e grafismos indígenas, de bichos e plantas. Tudo muito
Cor, baseada no pontilhado dos pixels e inspirada na
brasileiro, de raiz, em cores e linguagem contemporâ-
renda Labirinto, foi impressa em chapas de melamina,
neas. Bem ao gosto de Rosenbaum, um designer que
e já “caminhou” do MDF para o tecido de revestimento
aposta na simplicidade da forma, na racionalização de
de estofados e para acessórios! Há ainda o Dito e Dalva,
materiais, na inclusão social. E, principalmente, no jeito
novo restaurante do chef Alex Atala, que chama a aten-
brasileiro de ser um cidadão do mundo. ❉
A casa do clã cea ren se e sua nova con fi gu ra ção, con cre ti za da em ape nas dez dias. Espaços amplos trans for ma ram este lugar, cujos inte rio res man têm fide li da de à cul tu ra local. Fachada típi ca, cores vibran tes, artesa na to de exce lên cia – com direi to até a adesi vo de cor del na gela dei ra –, e quar tos pri va ti vos, como que riam seus oito mora do res
41 ARC DESIGN
O res tau ran te Dalva e Dito res ga ta, tanto na comi da quan to no visual, um pouco da alma bra si lei ra. A come çar pelas pare des de superadobe, uma evo lu ção da taipa de pilão. Aspectos que ganham toques con tem po râ neos, a fim de inse rir o colo nial na era ciber né ti ca. Essa atmosfera surgiu de muitas pes qui sas e uma imer são na arqui te tu ra bar ro ca de Ouro Pre to. Mucharabis, azu le jos pin ta dos e hi dráu li cos, qua dros, uti li tá rios apa ren tes, mobi liá rio de demo li ção com ple tam uma con cep ção gla mou ro sa e fiel ao seu pró prio esti lo
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IN TER N AC ION AL D E AR QU ITETU R A E C ON STR U Ç ÃO
DESENHO COM HUMOR O jovem desig ner minei ro Anderson Horta levan ta nosso astral com um tra ba lho leve e diver ti do – bons ares em tem pos de crise – que traz refe rên cias de sua infân cia e ado les cên cia. Embalado pelos pre cei tos do design emo cio nal, suas peças são reple tas de con cei tos e res ga tam as boas lem bran ças da vida
Julia Garcez Uma leve ironia atravessa os objetos do designer mineiro Anderson Horta. Sua infância é lembrada e revivida com humor. Aos 25 anos, ele vai além da simples memória, escapa das referências puramente estéticas e transcende o culto às tendências internacionais para apostar em um design emocional, que tenha significado afetivo e desperte reações instintivas. Para isso, além das recordações dos tempos de criança e adolescente no interior de Minas Gerais, ele dá espaço a conceitos e significado, em peças sem grandes apelos tecnológicos. Adepto de diversos tipos de material – desde a cerâmica até o acrílico moldado –, Horta procura subverter processos e trabalhar matérias-primas de forma anárquica e diferente do convencional. O resultado são peças que escapam ao binômio “forma-função” e literalmente têm história para contar. Caso da cadeira Jujuba, inspirada na bala adorada pelas crianças, além da cafeteira Gato Mia,
No alto da pági na ao lado, o Cloud Salt Shaker eli mi na de vez os tapi nhas no fundo do salei ro. Em bor ra cha, ele pode ser espre mi do e lite ral men te faz chover sal no prato. Abaixo, tam bém em bor ra cha, o Milk Shaker pro põe uma nova manei ra de beber leite com cho co la te – ou com o que a ima gi na ção man dar. É possí vel mis tu rar tudo colo can do os ingre dien tes den tro da peça e cha coa lhan do. Depois, é só des pe jar o con teú do em um copo ou beber dire to da fonte. Nesta pági na, abaixo, as cafe tei ras Gato Mia, que evocam o dita do “gato escal da do tem medo de água fria”
Acima, a peça “Vive la revo lu tion” brin ca com a Revolução Fran cesa – quan do as cabe ças dos nobres foram cor ta das pelo povo – ao pro por uma “cabe ça de rei” usada para lavar a louça. A coroa em espu ma entra com faci li da de em copos e outras peças, e pode ser tro ca da depois de gasta, enquan to a cabe ça per ma ne ce a mesma. Abaixo, a linha Jujuba Chair, em acrí li co mol da do, é ins pi ra da na famo sa bala e relem bra os bons tem pos da infân cia. A cadei ra, se aber ta, pode ser usada para guar dar revis tas, toa lhas e outros obje tos
que brinca com o dito popular “gato escaldado tem medo de água fria”. Esse entusiasmo por um desenho impulsionado pela emoção ganhou força após o período de estudos na França, quando o designer decidiu materializar projetos antigos e surpreendeu-se com a boa aceitação. Entusiasta do poder disseminador da internet, Horta faz dela uma vitrine permanente de seu trabalho e mantém uma loja virtual com outros dois profissionais, o Bazar Design (www.bazardesign.com.br). Ainda circunscrito ao design de pequena série, espera, em breve, poder injetar mais alegria e emoção aos resultados dos processos de produção em larga escala. Em busca de empresas ou parceiros que encampem suas idéias, Horta apresenta em ARC DESIGN um pouco do seu trabalho. Aproveitem, empresários em busca da ambicionada inovação, ou renovação! ❉ 45 ARC DESIGN
Designer e consultora sino-francesa radicada no Brasil, Chistine Yufon é destaque permanente na sema na de mo da paulista. Para lá de exuberantes, suas joias e acessórios em acrílico, madeira, madrepérola, bronze, sementes, pedras e o que mais a imaginação permitir dão sempre um show à parte nas passarelas. E arrebatam mulheres poderosas, sem medo de aparecer e ser feliz! (11) 3667 8300, www.christineyufon.com
Volumes, formas em desequilíbrio, retalhos gráficos, geome tris mos. Elementos que poderiam descrever um figurino circense, mas na verdade estão na coleção outono/inverno da Maria Bonita. Personalizam macacões, cardigans, camisa-vestido, calça-camisa, vestido-bermuda e paletós ampliados, que prometem aquecer a estação. www.mariabonita.com.br
A colecção Métiers d’Art “Les Masques”, da centenária casa suiça Vacheron Constantin, remete às relíquias par ticulares de Jean-Paul Barbier Mueller, do Museu Barbier-Mueller. Desde 2007, são quatro novas máscaras por ano – cada qual representando um continente, em séries limitadas de 25 relógios. Um produto para colecionadores, que rende tributo ao homem ao transcender os limites do tempo e almejar – por que não?! – a per feição. www.vacheron-constantin.com
Jovem promes sa do design, Tatiana Arrigoni e suas semijoias já estão em diversas par tes do mundo. A nova coleção Mosaicos, inspirada no arquiteto Gaudí, exibe peças confeccionadas com téc nicas e materiais de joa lheria. Os anéis de latão são como que bordados em ponto de cruz com cristais e gemas. No Clube de Estilo. (11) 3081 0001, www.tarrigoni.com.br
46 ARC DESIGN
ARC DESIGN traz um repertório de objetos em que a melhor performance é garantida por desenho funcional, plasticidade, tecnologia... e muita originalidade
A artista sul-africana Esther Mahlangu imprime traço e cultura de sua tribo Ndebele ao modelo Ultragirl, da Melissa, em edição con cebida para a mais recente SPFW. A estampa integra uma série de ações comemorativas dos 30 anos da marca, e conceitua a coleção outono-inverno 2009 dos sapatos, que exalta a simplicidade enquanto luxo e a diversidade como beleza. 0800 979 88 98, www.melissa.com.br
Os óculos Melancia nasceram da parceria entre a Chilli Beans e o IED – Istituto Europeo di Design, a segunda estabelecida entre ambos. Assinado pela estudante Daniela Lugato, o modelo Special par tiu de tema sugerido pela marca. Tem lentes de nylon com proteção UV, armação de metal e estojo inspirado nas cores e tex turas da fruta. www.chillibeans.com.br, www.iedbrasil.com.br
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Para estimular a adesão ao ciclismo, o designer Torkel Dohmers criou a bicicleta ThisWay. Em carbono ou fibra flexível, ela tem ergonomia semelhante à do automóvel, luzes de aler ta e proteção contra o mau tempo. Bom estímulo para pedalar! www.redtop.se
Parece um robô, mas se trata da lixeira Ovetto, do designer e arquite to ita lia no Gianluca Soldi. Em poli pro pi leno reci clado, a pe ça possibilita a coleta seletiva a par tir de três compar timentos para papel, vidro e plás ti co, e conta ainda com compactador de latas de alumínio. www.gianlucasoldi.com
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Chega de su jei ra na pia! Dotada de um sensor especial, a sabone tei ra da Simplehu man libera pequenas quantidades de sabão líquido de forma automática, sem a necessidade de contato direto – basta colocar as mãos em frente à peça. www.simplehuman.com
O estú dio Chauhan deu nova roupagem ao clássico telefone sem fio. Desenhado para a SGW Electronics, o premiado modelo Colombo mescla beleza e fácil manuseio. O aparelho tem um grande display digital, secretária eletrônica e agenda, além de comando vocal que esclarece dúvidas dos usuários. www.sgwglobal.com
Vem aí a coifa do futuro! Além de possuir quatro velocidades diferentes, filtro antigordura, desligamento automático e comandos touch-screen, a coifa Vela LCD, da ILVE, tem acoplado um monitor de televisão LCD, com entrada para DVD e TV a cabo. Ideal para quem não consegue se desplugar, mesmo na cozinha. www.ilve.com.au
Da norte-ameri ca na Zevro para a Utilplast, por ta-cereais duplo (41 cm), em plástico resistente e um meca nis mo tão simples quanto atraente: basta girar o regis tro para encher as cum bucas à vontade! (11) 3088 0862 www.util plast.com.br
Como o nome indica, Magnetto, da Super Imãs, é um porta-facas em inox magnético, que deixa à mão objetos cor tantes sem prejuízo das lâminas. Elas não atritam com outras super fí cies e dispõem de cabos ergonô micos para faci litar o ma nuseio. (11) 3854 6130, www.imas hop.com.br
A Crissair traz da Itália a coifa Ilha (40 cm de diâ me tro), um cilindro de inox que fun ciona como exaustor ou depu rador. O equi pa mento tem dupla tur bi na, lâmpadas haló genas dirigidas e timer para des liga men to automá tico. (11) 5505 0968, (21) 2429 8322, www.cris sair.com.br
Preparar quitutes ao som da música preferida é o que oferece o iGrill da marca George Foreman. Metálico, com tripla camada antiaderente, controle de temperatura e bandeja coletora de resíduos, o grill conta ainda com caixas acústicas integradas para conexão de MP3, iPod ou outros sistemas de som. 0800 701 7989, www.georgeforeman.com.br
Um cappuccino no capricho; ou chocolates, drinks, pudins, mousses, sopas... a ChocoLatte Bialetti, máquina em aço inox trazida pela Imeltron, prepara em poucos minutos bebidas quentes ou geladas. Vem com temporizador automático, jarra medidora de um litro e acessório especial para a cremosidade. (19) 3783 9797, www.imeltron.com.br
Um toque de humor para a marca Staub, que propõe agora panelas com diver tidos formatos de plantas e animais. Feita em ferro fundido com esmalte colorido e revestimento cerâmico, esta abóbora circula com muito charme do fogão à mesa. (11) 3328 6228, www.doural.com.br
51 ARC DESIGN
Vamos brin car com a comi da! Os uten sí lios da linha Head Chefs, da Fiesta Products, têm corpo em sili co ne e po dem ser usa dos dia ria men te por mes tre-cucas de todas as ida des. www.fies ta pro ducts.com
Pura FUNcionalidade Um toque de humor pode mudar a forma como percebemos os objetos, o nosso entorno e até a dinâmica do dia-a-dia. Tudo isso sem prejuízo do desempenho, da função e da usabilidade de acessórios e utilitários. Veja e inspire-se com estas sugestões!
Aberra
ig n nt Des
s In c
Chega de bana nas amassa das na bol sa! Especialmente dese nha do para aco mo dar a fruta, o Banana Guard é a solu ção para o pro ble ma. Em plás ti co, o pro du to está dis po ní vel em várias cores e faz com que as bana nas car re ga das na bolsa ou na mochi la resis tam intei ri nhas até a hora do lan che. www.bana na guard.com
Precisando de um colo urgen te? Corra para a Lap Pillow. Em poliu re ta no colo ri do, ela des can sa a cabe ça e ali via a carên cia. Sem re cla mar. www.hime yas hop.com
52 ARC DESIGN
Namiko Kitaura
A cor ti na mag né ti ca do desig ner suí ço Florian Kräutli pa ra a Droog Design mol dase a qual quer capri cho. É reco ber ta por peque nos imãs, que se unem ou sepa ram, nos mais diver sos for ma tos, as par tes do te ci do umas às outras. www.droog.com A luminária Shampoo, revestida com uma peruca em fios de nylon, pode ser lavada com o cosmético que lhe dá o nome. Criação do designer Bruno Jahara, ela já foi exposta na Amsterdam Design Week e no Triennale Design Museum. www.brun no ja ha ra.com O Cool Jazz é um con junto de for mas de gelo que leva a mú si ca aos drin ques. Com o for ma to de um vio lão, elas são acom pa nha das pelo braço de plásti co do instru mento, que fun cio na co mo mexe dor. www.funhou se wa res.com
Criação do escri tó rio tai lan dês Pro pa gan da, o Mr. P – One man Try é um por ta-durex que ale gra a mesa de tra ba lho. Em plás ti co, a peça tem várias op ções de cor. www.propagandaonline.com
Com o apoio de Tim e Tweetie, lavar louça fica mais diver ti do. A dupla de esco vas para cozi nha, da Koziol, é pro du zi da em plás ti co com cer das de fibra de vege tal, e está sem pre a pos tos para o ser vi ço! www. koziol.de
© ECAL/Martin Haldimann
Comendo demais? O Cinto de Vigilância do desig ner suíço Martin Haldi mann infor ma o tama nho do estra go. Com o forma to de uma fita métri ca, ele moni to ra o tama nho da cin tu ra e ajuda a man ter a linha. www.ecal.ch
FACA AMOLADA
“Vai ser, vai ser, vai ter que ser, faca amolada”, já cantava o mineiro Milton Nascimento. É o design de Minas Gerais pedindo passagem, no 1º Prêmio Sebrae Minas Design. E, sem sair da poesia, esperamos um dia poder falar, como João Cabral, que o projeto brasileiro é “uma faca só lâmina” – essencial. É ver para crer
Maria Helena Estrada Minas Gerais, além de todas as suas riquezas minerais, tem ainda bucha vegetal, em Bonfim; pedra-sabão em Ouro Preto; um pólo moveleiro em Ubá; aço inox em Timóteo; pequenas indústrias de alumínio e ferro em Cláudio, Divinópolis e Itaúna, além de resíduos em todo o Estado. Estava definido o âmbito do concurso pela simples escolha das matériasprimas. Dedicado a estudantes e profissionais, foram 120 os trabalhos inscritos, com 56 finalistas. E apenas 14 produtos com elementos em madeira. E viva a diversidade!
O pro je to profissional ven ce dor na cate go ria Bucha Vegetal é a lu mi ná ria de Bernardo Senna e Mar celo Lima. Fiel a todos os pre ceitos eco-sustentá veis, suge re a for ma ção de um véu trans lú cido, com posto de bucha vege tal e arame e monta da com régua/cluster fle xí vel de LEDs
São muito pesa das, é ver da de, mas o sabor dos ali men tos com pen sa o esfor ço. Essenciais em suas linhas, os mate riais da pane la Aviador são ferro, vidro, aço inox e poli pro pi le no com carga de fibra de vidro. Design Diogo Borges, Nicolle Rin con, Pedro Nascimento, Richter Queiroz e Ro dri go França, pro fissio nais ven cedores na ca te goria Alumínio e Ferro
54 ARC DESIGN
Enil de Almeida Bracia, Gestora do Centro Minas Design, nos lembra aquilo que é preciso ter sempre em mente. “O design carrega consigo a atual palavra mágica (ou melhor, a palavra tão antiga quanto o próprio termo design): inovação” ... “Inovação é muito mais amplo (do que acreditam muitos, n.d.r.) e visa uma abordagem que subverta padrões. Sendo assim, o design deixou de ser supérfluo e inovar se tornou uma tendência.”
Na pági na ao lado, cadei ra Li bé lu la, design Fabio Toshio Ueno (pro fis sio nal), que se baseou nos con cei tos de vida útil, capa ci da de de renova ção, baixo im pac to extrati vo, mão-de-obra ar tesanal e diminuição de resíduos pro du ti vos. Materiais: aço inox e fibra natural (sisal ou junco)
Mas voltemos aos materiais. As famosas panelas de ferro tornam-se exemplos de design essencial e inteligente, com seus cabos em plástico, que não esquentam; a pedra-sabão é fosca, conservando toda a sua beleza natural; a cadeira, revestida em fibra natural, tem as “ecoqualidades” necessárias (durabilidade, baixo impacto extrativo, mão-de-obra artesanal
Acima, utensílio Gourmet eleva o sta tus de nossa bela pedra-sabão – sem bri lho – da cozi nha à sala. Torneada e em per fei ta har mo nia com o deta lhe em madei ra, é um pro je to de Carolina Araújo, Danilo Ribeiro, Emanuel Neves e Ivan Santos. Projeto de estudantes vencedor na categoria Pedra-Sabão
e diminuição de resíduos); o ninho de bucha vegetal apresenta soluções inteligentes do produto à embalagem, e ainda contém sachês aromatizados e um livreto sobre a cidade; a bucha também desloca sua função e se transforma em luminária; o Puzzle, quebra-cabeças e porta-lápis, tem inspiração no Lego e no Tetris. Peças lúdicas imantadas e proteção nas bordas de aço com certeza afastarão a criança – ao menos por alguns momentos – dos joguinhos do computador. Roberto Simões, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, vê o design como um instrumento útil para as pequenas e médias empresas – em uma visão moderna, que não se preocupa apenas com a beleza do produto. “Pode trazer vantagens como economia de energia, redução e reutili-
Abaixo, Ninho, projeto de estudante ven ce dor na cate go ria Bucha Vegetal. Usa cor dão ence ra do, papel Kraft, bu cha vege tal, pape lão ondu la do e papéis vege tal e adesi vo. Para o tin gi men to, pig men tos vege tais. Daríamos tam bém um prê mio extra para a emba la gem. Design Lucas Ri bei ro Rios
zação do desperdício de matérias-primas, ergonomia e uso eficaz de espaços”, afirma. E conclui, “é uma forma de mostrar aos empresários que esse recurso está ao alcance de todos que querem melhorar seu posicionamento no mercado. O design é um bom negócio”. ❉
Projeto de estudante ven ce dor na cate go ria Aço Inox, o Puzzle é um porta-lápis/que bra-cabe ça. Em aço inox, acrí li co e com bor das iman ta das, per mi te jogar com a po si ção dos lápis. Para crian ças de 3 a 8, ou 80 anos. Design Johana Odebrecht Dias
55 ARC DESIGN
À esquerda, vaso B.M., da coleção “bell metal”, produ zido em uma liga de bronze, latão e cobre. Antigo processo artesanal no qual a cera é espremida sobre o metal criando fios de cera que depois são cober tos por argila e areia e colocados no forno. Design Satyendra Pakhalé. Abaixo, Julian, cachorrinho-banco em nova versão. Magis, Itália. No pé da página, cadeira Fish, em plástico refor çado e “soft touch”, também de Packalé. Cappellini, 2005
MERCADO E CULTURA É deste binômio e também de produção, marketing e design que nos fala Tom Dixon em sua conferência no seminário “As Várias Vertentes do Design” na primeira edição da Casa Brasil, em Bento Gonçalves (agosto 2007) e agora transcrita Maria Helena Estrada
Por que todas as feiras internacionais no setor de
tante agora, para os objetos, não apenas que eles exis-
móveis e iluminação são acompanhadas de
tam – porque há muitos no mundo – mas que esses obje-
uma vertente cultural? A resposta parece
tos tenham uma narrativa, uma razão de existir”.
estar na grande necessidade atual do mer-
Conteúdo, inovação, qualidade são exigências do
cado: inovação e conteúdo. Como afirma
mercado. Foi com estas ideias que se realizou a pri-
Tom Dixon (veja a seguir transcrição
meira edição da Casa Brasil, e se trazemos agora o
de sua conferência realizada na Casa
discurso de Tom Dixon e o que será a
Brasil 2007), “é cada vez mais impor-
segunda edição da feira, é pela semelhança de suas premissas a um momento – e movimento – global de superação de crise. O que norteou a criação de outra feira em Bento Gonçalves, ca-
Nel
son
Agu
ilar
paz de responder aos
56 ARC DESIGN
desejos de uma indústria em grande expansão, também na qualidade? Seguramente
Flavio Serafini
Acima, deta lhe da mos tra “Segredos do Design Industrial”, expos ta na Casa Brasil 2007, com a cole ção ori gi nal do MoMA, N. York, acer vo que per ten ce à FIESP e que teve dire ção e ceno gra fia do arqui te to Ary Perez e cura do ria da desig ner Cyntia Malaguti (ARC DESIGN 52). Abaixo, cadei ra How High the Moon, de Shiro Kuramata, parte da cole ção Maurice Valansi, cujas peças serão expos tas na Casa Brasil 2009
critérios de seleção e atividades culturais paralelas den-
dente da Cassina à direção de vários órgãos institu-
sas em conteúdo – fato que acarretou a adesão das
cionais, como a Federlegno Arredo.
indústrias brasileiras com alto valor agregado e de
E continuando a tradição de mostras importantes
empresas e instituições italianas ligadas ao design e ao
serão expostas peças da coleção de cadeiras “Maurice
mercado. Quais os critérios básicos? A interdição às
Valansi”, o imaginário popular brasileiro com peças da
cópias e aos modelos do passado remoto. Uma garan-
galerista Wilma Eide o Brasil na África.
tia de qualidade, que se soma ao conteúdo de suas
Mas vamos aos conceitos e às idéias inovadores de
mostras e seminário.
Tom Dixon, divulgadas agora em primeira mão.
Este ano quem visitar a Casa Brasil conhecerá o designer hindu radicado na Holanda, Satyendra Pakhale; a jornalista Cristina Morozzi, que em 2010 apresentará uma coletiva do jovem design brasileiro durante o Salão do Móvel de Milão; os múltiplos campos de atuação para um designer, exemplificados na obra de Marcelo Rosenbaum. Aos empresários, a Casa Brasil oferece a experiência de duas figuras importantes e famosas no design italiano: Eugenio Perazza, presidente da Magis; e Rodrigo Rodriquez, com uma larga trajetória, de presi57 ARC DESIGN
CONFERÊNCIA:
TOM DIXON Vou falar um pouco a respeito da minha história, dos projetos nos quais estou envolvido e de como vejo a evolução e o futuro do design. Cresci em Londres, numa época dura da história britânica – faltava cultura. Nunca estive interessado em design, em ter um diploma de designer – estava pensando em coisas mais normais. O design surgiu graças à minha paixão por carros e motos, que eu mesmo deveria restaurar com soldas metálicas. É verdade que eu estava interessado nas técnicas de manufatura, e foi aí que me tornei um designer. Essa era a minha matéria-prima. Comecei, então, a fazer coisas com sucata. Durante 5 ou 6 anos fiz trabalhos em ferro, antes de me dar conta que já tinha uma pequena fábrica com 10 ou 12 assistentes. E eu estava fazendo algo mais do que apenas produzir mobília, pensava também na distribuição. Nessa época criei meus primeiros produtos em plástico. Descobri uma técnica de fabricação com moldes, de custo muito baixo. A coleção começava a crescer, eu tinha que cuidar da distribuição, dos moldes e das ferramentas. Foi quando terceirizei a produção.
Acima, uma das primeiras experiências de Dixon com um novo (em 2002) material Provista, ou Fresh Fat Plastic, que é transparente como o vidro e tem a resistência do plástico. Os fios são torcidos, tramados e moldados ainda quentes. Na página ao lado, no alto, luminárias da coleção Beat Light, em cobre mar telado à mão e exterior patinado preto. Abaixo, Cone Light, luminária multifuncional, tem cone em alumínio e difusor em acrílico
58 ARC DESIGN
Continuei trabalhando com plásticos, dessa forma, por três ou quatro anos, até entrar em contato e colaborar com as indústrias italianas. Percebi o valor e o poder do design que existia na indústria de larga escala. Comecei a criar produtos mais convencionais, a prestar mais atenção para detalhes e
proporções. Minha distribuição tornou-se internacional. Foi um
que há muitos no mundo –, mas que tenham uma narrativa,
aprendizado que me deu a possibilidade de perceber como o
uma razão de existir. Percebi que cada vez mais a batalha será
design pode ser uma ferramenta para estar na frente da com-
pela informação que cerca o objeto, e não o objeto em si.
petição, para inovar e ter uma dimensão global – não apenas dos objetos – mas também do mercado e da distribuição.
Depois de sete anos achei que estava repetindo-me e era hora de tomar outros riscos e recomeçar com minha própria com-
Meu primeiro emprego foi na Habitat, uma das maiores
panhia. E foi fácil, porque ela se chama “Dixon”. Especializada
cadeias de lojas do mundo, que tem, em cada uma, 6 mil itens,
em iluminação e móveis, me permitiu colocar em prática tudo
sendo que mais ou menos 40% deles são trocados a cada ano.
o que havia aprendido. São sempre aparelhos com mínimos
Isso significa 2 ou 3 mil objetos que devem ser redesenhados
componentes, que falam da qualidade da luz e de móveis para
anualmente. Era o meu trabalho. Tive que trocar mais de mil
um mundo real. Tento evitar excesso de design, como na
itens por ano, o que parece fantástico, mas, na realida-
Mirror Ball, que é apenas uma forma esférica.
de, a quantidade de design que você coloca em
Também na cor mais neutra que eu pude pen-
cada objeto é muito pequena. Tive que aprender
sar – o prateado. Em vez de ter a sua própria
muito sobre design e o poder do marketing, da
cor, esse objeto apenas refletiria tudo o que esti-
troca logística e em como funcionavam as indús-
vesse em volta. Mas se a ideia era a de fazer um
trias internacionais. Percebi também que poderia fazer as coisas do meu jeito e, ainda assim, ser parte de um sistema complexo. Eram projetos que combinavam mar-
objeto neutro, tenho a dizer que falhei, em termos de criar uma coisa invisível, porque ela é muito visível.
keting e design, como os que celebraram os 40 anos da marca, para o qual não convidei designers, mas 40 pessoas, de diferentes profissões, que nunca haviam desenhado antes,
Viajo bastante porque a Inglaterra não tem indústrias, e as viagens me servem de inspiração,
eram supermodelos, pop stars, atletas. Gilberto Gil fez
como em uma pequena fábrica na Índia, onde
um banquinho de violão. É cada vez mais importan-
encontrei um trabalho de boa qualidade com
te para o design que os objetos, não apenas existam – por-
o cobre. Mas até na Índia – onde o trabalho custa menos – 59 ARC DESIGN
À esquer da, Mirror Ball, lumi ná rias em aço inox com estru tu ra em poli car bo na to de alto impac to. Abaixo, a ver são esto fa da da S Chair, para a Cappellini, um dos pri mei ros gran des suces sos de Dixon, em 1991
noto que eles es tão sen do pre ju di ca dos
cadei ra por mim. E eles paga ram antes. O plás ti co sai da máqui na como um espa gue te.
pe lo tra ba lho chi nês,
Duas experiências recentes retratam minha forma de pensar e
mais ba -
agir. Os eventos de Trafalgar Square durante a semana do
ra to ain -
design em Londres (veja ARC DESIGN nº 45) e a atuação junto
da.
Um
à empresa finlandesa Artek. Em Trafalgar Square, centro de
problema
Londres, a ideia foi a de um happening com forte acento em
mu n dial que
marketing. Na segunda performance levei 500 cadeiras e fiz
po de acar re tar
publi ci da de dizen do que daria essas cadei ras de graça, du -
a mor te do ar te sa na to
ran te o Design Week. O resul ta do era pre vi sí vel: os ingle ses
tra di cio nal. Os potes para água, que as mu -
come ça ram a che gar e houve até um iní cio de pâni co. Em vez
lhe res carregam na cabeça, estão sendo subs-
de esco lher um méto do muito lento de dis tri bui ção, con se gui
tituídos por outros, chineses, em plásti-
me livrar de 500 cadei ras em 7 minu tos. Estou ten tan do
co. Viajei pela Índia, fui até Jaipur,
copiar uma forma pró xi ma aos negó cios da infor má ti ca,
uma pequena cidade, tentar revi-
como a Google, que está na ver da de ven den do pro pa gan da no
ver ou manter as habilidades dos
site. A difi cul da de de fazer pro pa gan da hoje é que as men -
pequenos vilarejos da localidade.
sa gens rápi das se dete rio ram, como em out doors ou na tele -
O resultado são as luminárias
vi são, e as empre sas que rem for mas per ma nen tes de publi -
Copper Shade, inspiradas no pote
ci da de nos lares.
de água. Foram todas feitas à mão – e confrontadas com as peças industria-
Outra forma de fazer dinheiro com pro-
lizadas do Salão do Móvel de Milão. Fazer o
jetos seria a de copiar o negócio da
oposto do que todos estão fazendo pode ser um bom cami-
moda. Você dá de graça uma primeira
nho. Interessam-me tam bém tec no lo gias mais sim ples de
cadeira ou a vende pelo serviço postal e
arte sa na to e aque las ino va do ras. Na déca da de 1990 mos trei
estabelece uma troca muito rápida dessas
no Salão de Milão, no espa ço de uma igre ja, a idéia de
cadeiras a cada estação. Você vende o servi-
inver ter a cus to sa ope ra ção de pro du ção e fazer uma cadei -
ço e pode trocar a peça a cada seis meses.
ra ape nas depois que o clien te pagas se por ela. O que fiz?
60 ARC DESIGN
Usei a mais bási ca das máqui nas para extru são de plás ti cos,
Há pouco tempo me tornei dire-
a que se usa para fazer tubos, reti rei a parte da fren te e a
tor artístico de uma empresa
colo quei em um con tex to como se fosse um palco, para
finlandesa muito importante, a
enco ra jar as pes soas a virem e ten ta rem fazer a sua pró -
Artek, criada em 1935 para indus-
pria peça, na hora. O sig ni fi ca do da ope ra ção? Em vez de
trializar os móveis de Alvar Aalto, um dos
dese nhar a cadei ra, dese nhei o pro ces so e o even to, e dei -
pais da arqui te tu ra moder nis ta. A
xei as outras pes soas faze rem o dese nho e a fabri ca ção da
Artek ainda tem a mesma fábrica, o
Gideon Hert
À direita e acima, a Blue Chair e instalação de Dixon com as cadeiras em Trafalgar Square, Londres, durante o London Design Week, em 2005
mesmo maquinário e utiliza a mesma madeira. Como respon-
do um novo material, que responde a
sável pela renovação da empresa, passei a ter duas marcas:
vários cri té rios do sécu lo XXI – é re -
uma seria o meu rótulo, a minha grife, moderno, inglês, mais
no vá vel, tem uma qua li da de de en ge -
metal, mais plástico; e a outra, histórica, a Artek, que é mais
nha ria supe rior, etc. É como va lo ri zar
natural e ecológica. Mas a dificuldade com a Artek é que esta
a his tó ria e a psi co lo gia da com pa -
é uma empresa que não fez um só desenvolvimento de produ-
nhia e a levar adian te, ten tan do redu zir os com po -
to em 70 anos! E não deve abandonar esse caminho, porque
nen tes de design ao seu míni mo, em vez de criar pro -
vende muito bem, são móveis que fazem parte da história do
du tos que são extraor di ná rios, que cha mam aten ção
design. O que tenho tentado fazer é reinterpretar esses pro-
ou deco ram. Es tou ten tan do “remo ver” o supér fluo no design,
dutos por meio do material e da introdução de cores.
para que os mes mos durem pelos pró xi mos 70 anos. Na apre sen ta ção feita nos jar dins da Trienal de Milão duran te o
As criações de Alvar Aalto são usadas para jardins de infân-
Salão do Móvel de 2007, o pavi lhão que cons truí mos para
cia, escolas, bibliotecas, teatros, igrejas e até em prisões.
mos trar os móveis em bambu foi o gran de impac to.
Então é o oposto do projeto que eu faço com a minha mobí-
Ecológico, sua estru tu ra era feita do novo mate rial – bambu
lia, que é mais para diversão, para outro tipo de espaço.
e des car tes de papel.
Tenho tentado também fazer uma parte de engenharia, uma inovação na indústria para novos materiais, como o bambu –
O último projeto do qual eu gostaria de falar é uma ideia de
material de grande futuro, a planta que mais cresce no pla-
antidesign, que neste caso seria não produzir nada, mas che-
neta. Em vez de usar o bambu cruzado ou trançado vou indus-
gar a um projeto de reciclo do existente. Você não precisa
trializar esse material. Vamos colá-lo em blocos de um metro
encher o mundo com novos objetos, mas pode reciclar a pro-
de altura, cortá-los e, de uma forma industrial, uni-los. Não
dução existente e torná-la mais valiosa e atrativa. E eu acho
usá-lo de forma artesanal, mas industrial. Estamos produzin-
que esta é uma lição para todos nós aqui. ❉ 61 ARC DESIGN
“DEUS ESTÁ NOS DETALHES”
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A facha da evi den cia a solu ção arqui te tô ni ca, que se sus ten ta na sobre po si ção de dois cai xo tes, tipo con têi ne res, pou sa dos um sobre o outro para bem apro vei tar o ter re no. Além dos volu mes com pac tos e simé tri cos, eles esta be le cem o eter no jogo em preto e bran co, com direi to à vitri na trans lú ci da para agu çar a curio si da de, ilu mi na ção diri gi da aos obje tos e um char mo so letrei ro da loja, cria ção da Spider Painéis
O antiquário Kesley Caliguere aproveita ao máximo o lote de diminutos 70 m2 no bairro paulistano dos Jardins, onde foi implantado o projeto do arquiteto Isay Weinfeld. São 111 m2 elaborados para destacar achados preciosos dos anos 1940 aos 1970, em endereço que faz a alegria de apreciadores e colecionadores da era de ouro do design nacional Cristina Teixeira Duarte / Fotos Nelson Kon 63 ARC DESIGN
Só um mestre no aproveitamento de espaços poderia propor este projeto para um estabelecimento comercial em lote pequeno, comprido e estreito, mas muito bem localizado. Para fazer dele um ponto de destaque, Isay Weinfeld usou a forma como aliada estratégica, erguendo uma estrutura de rígida simetria para tirar partido máximo da área disponível. Como dois contêineres sobrepostos, um branco e outro preto, ele estabelece um jogo de volumes compactos para abrigar móveis, objetos e peças de arte do período moderno, quando o design brasileiro experimentou um boom, que faz dele até hoje objeto de desejo de aficionados e colecionadores. Frequentador assíduo de endereços do modernariato, incluindo anos de garimpo no próprio Kesley Caliguere, Weinfeld providenciou interiores sem quaisquer barreiras visuais, tudo muito claro e despojado o bastante para fazer brilhar as obras expostas. Apesar da excelência de sua arquitetura, aqui ela funciona como pano de fundo para a excelência de outros criadores que ele mesmo reverencia. Vale ressaltar alguns detalhes de grande elegância e de efeito impactante: a porta de madeira pau-ferro na entrada, ladeada pela vitrina curva com cortinado translúcido, a iluminação pontual executada pela Companhia de Iluminação e a escada instalada em uma “caixa” pintada de amarelo e iluminada naturalmente por um domus. ❉ 64 ARC DESIGN
A leveza e o des po ja mento da arquite tu ra aco lhem o me lhor design bra si lei ro, em espa ços tão con vida ti vos quanto uma sa la de estar deco ra da com peças assinadas. O bran co domi na os inte rio res para exal tar móveis de Joaquim Ten rei ro, Sérgio Rodrigues, Zanine Caldas, Lina Bo Bardi, entre ou tros. Um acer vo valio so, que conta ainda com outras pre cio sida des sele cio na das por An dré e Cacá Nóbrega, filhos da anti qua ria Kesley Caligue re: pintu ras de Alfredo Volpi, Tomie Oh ta ke, Mira Schen del, Milton Dacosta e outros mestres do sécu lo passa do
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DESENHO QUE TRAZ SOLUÇÕES O premiado escritório alemão Behnisch Architekten marca presença no cenário internacional com projetos que combinam alta qualidade arquitetônica e boas práticas de sustentabilidade. Design surpreendente faz suas obras se destacarem na paisagem e agredirem menos a natureza, e prova que nem só de custos proibitivos é feita uma construção amiga do meio ambiente Julia Garcez
O pro je to futu rista do Museu Ozeanum – prin ci pal centro euro peu es pe cia li za do em Mar Báltico – deu novo vigor à cida de por tuá ria de Stralsund, na Alemanha. A instituição, que abriga mais de 7 mil animais de dife ren tes espé cies, tem cores e for mas flui das que reme tem mais ao mar do que às cons tru ções típi cas de uma cida de me die val, e presen teia os visi tan tes com uma vista eston tean te
Johannes-Maria Schlorke
Martin Schodder
Para o escritório alemão Behnisch Architekten, a sustentabilidade é uma questão inerente ao design de um projeto arquitetônico, e pressupõe soluções criativas – como o uso de espelhos para refletir a luz natural – que não aumentam o custo das obras. Inaugurado em 1989 como um braço do Behnisch & Partners – fundado pelo famoso Günter Behnisch, autor de projetos marcantes, como o Estádio Olímpico de Munique – o Behnisch Architekten logo chamou a aten-
Na pági na ao lado, vão central do Genzyme Center, se de de uma empresa de bio tec no lo gia contem pla da com a cer ti fi ca ção LEED Prata, em que o dese nho favo re ce o uso da luz natu ral e reduz em 42% o con su mo de energia elé tri ca. Acima, no Institute for Forestry and Nature Research, jar dins aju dam a regu lar as tem pe ra tu ras. Abaixo, o Spa Bad Aibling, na Alemanha, com suas sete constru ções em forma de cúpu las, con fe re um aspec to mais inti mista às tra di cio nais ter mas euro péias
ção por trabalhos que mesclam design de ótima qualidade e boa performance ambiental. Liderado pelo filho de Günter, Stefan, o esAdam Mork & Torbe
critório tem filiais em Stuttgard, Munique e nos Estados Unidos e já participou de 23 projetos dos setores público e privado, vencedores de prêmios importantes, como o Top Ten Green Projects. “Para nós, sustentabilidade é menos um assunto político e mais um assunto humanístico”, afirma o arquiteto David Cook, que, ao lado dos colegas Martin Hass e Cristof Jantzen, é um dos sócios do escritório. “A construção e a manutenção de um edifício naturalmente consomem grandes quantidades de recursos naturais. A questão é: como erguer prédios que se integrem melhor ao mundo em que vivemos, e como causar menos danos ao meio ambiente no processo de construção?” O escritório já completou, na Europa Central e na América do Norte, Anton Grassl
vários projetos que atendem a esses objetivos, escorado em uma metodologia de trabalho que incorpora o cliente e os futuros ocupantes, e propõe novas tecnologias e plataformas de investigação. 69 ARC DESIGN
Fotos Martin Schodder
Um deles é o Genzyme Center, edifício de 12 andares erguido nos Estados Unidos para sediar uma empresa de biotecnologia e agrupar mais de 920 estações de trabalho. Dominado por um grande átrio aberto, que interliga seus pavimentos, o prédio tem no topo um sistema de espelhos que refletem diretamente a luz solar. Isso permite que 75% dos funcionários trabalhem sob luz natural e reduz em 42% o consumo de energia elétrica. “É preciso considerar o custo global de um edifício, tanto em termos de economia quanto de impacto ambiental, levando em conta que, em 60 anos, o custo de manutenção terá ultrapassado o da construção”, diz Cook. “Uma obra só pode ser considerada sustentável se for viável para administrar, caso contrário será um fardo para seus proprietários e consumirá recursos em excesso.” Outras boas soluções estão presentes no Institute for Forestry and Nature Research, na Holanda. O edifício – que, com imperfeições estéticas, destoa das concepções usuais de “belo” – funciona como um verdadeiro organismo vivo. Integrado ao ambiente rural em que se situa, o Instituto tem bonitos jardins internos e externos, que o auxiliam a balancear a temperatura interna e o consumo de água, Nesta pági na, a sede do Norddeutsche Landesbank modifica o hori zonte de Hannover e ocupa um quar teirão inteiro. O prédio, que tem 17 andares organi zados de forma assimétrica, possui os onipresentes jardins inter nos, foi planejado de forma a pri vilegiar ventilação e iluminação naturais e possui um sistema de “fachada dupla”, que protege contra poluição e ruídos exter nos
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respondendo aos ciclos de frio e calor, noite e dia, chuva e seca. “Uma edificação não pode ‘ditar regras’, mas sim possuir estratégias que possibilitem a quem a utiliza que a transforme e adapte de acordo com suas necessidades”, diz Cook. Neste início de século XXI, nada como encontrar novas maneiras de construir e habitar. ❉
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Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DE SIGN para assuntos internacionais
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