70 X DESIGN CAMPANA’S EXCLUSIVO MARCIO KOGAN GORDON MATTA-CLARK
ECOLOGIA? BAMBU! ECONOMIA CRIATIVA TÁTIL DESIGN
Novos temas invadem o design, agora abrangendo amplos significados. Abolida a ditadura feroz “do que é bom e do que não é”, pois gosto se discute, sim... e agora é aceito sem maiores preconceitos. Então, vamos reabilitar o saudosismo, valorizar o extravagante, dar liberdade a este ente abstrato – o consumidor final – de escolher aquele móvel, objeto, roupa, adereço que lhe fazem bem para a alma, que tocam sua emoção. Com esta edição de ARC DESIGN vocês já podem prever mudanças e andanças ainda não anunciadas. Mas que darão sempre um panorama claro de tudo o que acontece no mundo material, na teoria e na prática, mais perto de seus leitores. Hoje, temos 70 X Design para comemorarmos nossa edição de número 70 e pensarmos em um conceito em dia com a velocidade do mundo. Uma revista para um novo ciclo no consumo do design. A madeira é nosso vício? Olhemos para o bambu. O design arte avança veloz? Leiam sobre a feira holandesa TEFAF. Os brasileiros expõem em Milão? Vejam o que acrescenta e o que subtrai. ARC DESIGN escolheu os irmãos Campana e o conjunto de seus lançamentos no Salão do Móvel 2010 para ilustrar o prestígio crescente do design brasileiro na Europa. Temos também um exemplo da nova realidade: a contaminação entre dois universos na obra de Gordon Matta-Clark, em mostra realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Observação importante: vocês já repararam o quanto e como a natureza está se vingando dos maus tratos causados pelo homem? Então, vamos pensar nos futuros desejáveis, na economia criativa e na frase de Bruce Mau sobre a importância do design do mundo. Boa visão e boa leitura. Maria Helena Estrada Editora
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PRÓTESES E ENXERTOS
Maria Helena Estrada
Da Redação
BRASILEIROS NA VITRINE
Maria Helena Estrada
CAMPANA’S EXCLUSIVO
70XDesign
Maria Helena Estrada Cibele Cipola e Luciane Stocco
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70 x design
em foco
design brasileiro
design brasileiro
ARC DESIGN ao completar 70 edições faz um balanço do material publicado nos últimos 13 anos. Acompanhe o vaivém desse mundo criativo e reveja as peças que ganharam o mundo. Vale lembrar-se do famoso tripé do design “forma-função-sustentabilidade”...
Contemporâneos, surpreendentes e, ao contrário do que se poderia esperar, cada vez mais prolíferos. Os irmãos Campana já eram tidos como os maiores representantes do design brasileiro, mas chegam ao topo da criação mundial com uma produtividade que parece transcender os próprios autores, que ganham agora catálogo com toda a sua obra (ao menos até o material ir para a gráfica!)
Designers brasileiros se apresentaram em Milão. Nós, que por aqui ficamos na expectativa, torcemos pela boa repercussão do trabalho, e sempre lembrando que para o design brasileiro se tornar referência internacional toda exigência é pouca
Marcio Kogan em parceria com o Studio MK27 criou a linha de móveis “Próteses e Enxertos”. A nova tendência está relacionada à linguagem do essencial com um toque “design”, leve e certeiro. Foram selecionados móveis criados por operários de obra que sofreram pequenas intervenções, assim o descartável aproximou-se do arquitetônico
REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
nº 70, abril/maio 2010
Na capa, de cima para baixo, a cadeira Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, à venda na Futon Company (SP); a poltrona da coleção Showtime, design Jaime Hayon, para a BD, Barcelona, à venda na Conceito Firma Casa (SP); cadeira S, Tom Dixon; Solid Chair, de Patrick Jouin; Anelídeos, de EVA, de Eulália Anselmo, para a Prima Design (RS)
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FUTUROS DESEJÁVEIS
Lala Deheinzelin
Ana Weiss
O PULO DO GÁTIL
Maria Helena Estrada
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA
INESGOTÁVEL BAMBU
Ana Weiss
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sustentação
mostras
marca registrada
economia criativa
Com esse material resistente e moldável pode ser produzida desde uma guitarra até uma catedral. ARC DESIGN ressalta os benefícios dessa matéria-prima, seu inexaurível ritual de crescimento e o uso ambientalmente correto da gramínea
A prova concreta da mudança dos ares do design sul-americano são as obras premiadas no Salão Design 2010. Gaetano di Gregorio, Guto Indio da Costa, Francisco Terroba, Marcelo Rosenbaum, Pier Ugo Boffi (esse italiano), entre outros, surpreendem pelas inovações construtivas, qualidade dos acabamentos e novas propostas
A multipremiada agência Tátil inova e renova com suas grandes contas e pequenos achados. Conheça a história dessas cabeças pensantes que pregam o sensorialismo e a consciência ambiental em suas criações. A provocação para a retomada de valores, de defesa da simplicidade com resultados efetivos e bem-humorados sempre é bem-vinda
ARC DESIGN convida você a pensar o futuro desejável traçado pelo design de um mundo melhor. Aqui o conhecimento assume o valor da evolução. O inatingível se faz presente por meio da economia criativa e do desenvolvimento sustentável...
news
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publieditorial O MELHOR DE DOIS MUNDOS
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contaminações ARQUITETURA COMO SUPORTE DE UMA ARTE COMBATIVA
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radiografia de um projeto CENOGRAFIA ILUMINADA
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design-arte PASSADO PRECIOSO
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cidades da Copa CIDADE DIVERSA E EM EXPANSÃO
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como encontrar
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universo LIVROS
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TRADIÇÃO BRASILEIRA EM ROMA A exposição “Brasil Arquitetura – La Tradizione del Nuovo” apresenta um painel da trajetória dos 30 anos de atuação do escritório Brasil Arquitetura. Dando continuidade às passagens pelo Japão e São Paulo, a mostra deixa Roma rumo a Turim, na Itália, seguindo depois possivelmente para Milão e Paris. Composta por projetos recentes, textos, maquetes, croquis, fotos e uma seleção de móveis assinados pelos arquitetos Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, contrapõe tradição e modernidade.
PIMENTA PARA OS OLHOS O pimenteiro foi desenvolvido para evitar o incômodo causado pela pimenta nos olhos quando manuseada. A criação do designer espanhol Hannon Jim Tan encontra inspiração nos equívocos culturais, pois ele percebeu que os italianos ao apimentarem sua massa com as mãos ficavam com os resíduos do condimento nos dedos, provocando queimaduras. Esse utensílio de silicone conserva a malagueta e protege suas mãos. Pois, quem disse que pimenta no olho dos outros é refresco? À venda no site e nas lojas Alessi. www.alessi.com
LUGARES E NÃO LUGARES A Estante VIG, do designer Sergio Fahrer, oferece a parte interna e externa para utilização. É um móvel fora do convencional, com diferentes formas geométricas, 1,62 cm de altura, onde os livros e objetos vão se encaixando nos diversos espaços. Fabricada em alumínio de apenas 4 mm de espessura, utilizado na aviação, é revestida com uma lâmina de madeira natural. Disponível na loja Brentwood. www. brentwood.com.br
A PORÇÃO VAZIA A poltrona Copo D’água nos convida a sentar na “porção vazia” de um copo com líquido até a metade. Dos designers Gerson de Oliveira e Luciana Martins, da OVO, tem estrutura em ferro e base giratória, a peça é revestida em linho ou com uma estampa exclusiva. Ateliê: www.ovo.art.br
ESCRITA FASHION A série “Fashion Font” é uma família tipográfica vestida com glamour. Esse alfabeto feito com colagem de imagens de bolsas e sapatos recortadas de revistas é de autoria da designer coreana Yvette Yunjung. O trabalho foi iniciado em 2007 e continua em processo de criação, mas já estampou uma edição comemorativa da “Vogue” coreana. Yvette escreveu, especialmente, para ARC DESIGN o nome de seu norte criativo: o fashion.
LUXO DO BEM A Adidas encomendou, novamente, parte de sua nova coleção assinada à estilista Stella McCartney, que respondeu com um importante recado ao mundo do luxo, que se torna sinônimo de inteligência. Assim, consumo bom é consumo consciente. Destaque para os calçados feitos de lona natural, tecidos reciclados e polpa de madeira, como o tênis Galbinata, com uma estampa de zebra. Toda a série no site www.adidas.com
A PEÇA QUE FALTAVA O banco Peque, assinado pelo designer e arquiteto Marko Brajovic, é um móvel utilitário construído em laminado de bambu e pintado por dentro com verniz ecológico à base de água. Esse assento tem design inspirado nos ossos vertebrais. Você encontra a peça na Micasa nas cores verde, branco ou preto www.micasa.com.br
VERTEBRADO A Puzzleboard criada pelo estúdio holandês OOOMS possui diferentes usos. Ela pode ser utilizada separadamente como uma simples tábua de corte ou, ao encaixar duas partes, você terá uma superfície maior de trabalho. Mas o diferencial desse utensílio é acomodar sua taça de vinho no chanfro da madeira. À venda pelo site www.oooms.nl
alexatalla_210x280.pdf 1 2/6/2010 11:25:43
PARA AS IDEIAS QUE VÊM NO BANHO AquaNotes é um caderno de anotações à prova d’água. Com 40 folhas de papel impermeável e um lápis especial, você pode anotar suas ideias durante o banho. O papel é feito com polpa de árvore e é 100% reciclável. O bloquinho está à venda no site da empresa: www. myaquanotes.com
A BRASÍLIA DE LUCIO COSTA Prestes a completar meio século, Brasília tem sua história contada na exposição “Lucio Costa – Arquiteto”. Com curadoria de Maria Elisa Costa, filha do arquiteto, a mostra reunirá fotos e maquetes
MANUELINO MODERNO
dos trabalhos vencedores do concurso para a primeira cidade pla-
Pois é, nem o antigo quer continuar a ser antigo! O escritó-
nejada do país. Acontece entre 13 de maio e 3 de agosto no Museu
rio Rosenbaum desenvolveu uma nova linha de produtos
Nacional do Conjunto Cultural da República – Setor Cultural Sul,
para a Brascor Countertops, empresa processadora de
Lote 02, Esplanada dos Ministérios – Brasília. Mais informações
superfície sólida mineral no Brasil. São três peças: crista-
pelo telefone (61) 3325-522
leira, mesa de centro e raque, todos inspirados no estilo Manuelino, incorporado à produção nacional durante o período colonial. A linha dá destaque às proporções, relevos e encaixes, feita de Magic Stone, chapas compostas por minerais naturais e acrílico. Na Brascor Countertops, www.brascor.net
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vE Z E s
des ig n 1.
O design derrubou barreiras, eliminou limites e hoje invade todos os domínios do viver. A partir do indispensável tripé forma-função-sustentabilidade, tudo é possível e desejável. Qual o percurso dos últimos 13 anos? Vamos nos transportar, rever e viajar no espaço e no tempo em 70 edições de ARC DESIGN... e alguma futurologia Maria Helena Estrada / Fotos: Acervo ARC DESIGN
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1. Design para deficientes auditivos, mostra V&A Museum; 2. Ron Arad com Issey Miyake, Moroso; 3. Jayme Hayon na Conceito Firma Casa
Desafios, promessas, diversidade de materiais, designers em destaque ou promissores, conquistas, empresas que fazem acontecer, artesanato, desenho industrial, design-arte, mostras... Qual o alcance do design? Quais os estímulos possíveis? Já é verdade consagrada o real valor do projeto original e inovador: é ele quem abre as portas da exportação e do mercado interno e, com isto, passa a ser prioridade do governo. É hora de aproveitar!
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Começamos com as promessas? A melhor: o uso do bambu – abundante, ecológico, resistente. E o Brasil tem avançado nas pesquisas e na qualidade dos produtos, muitos já industrializados.
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1. Ingo Maurer 2. Nido Campolongo 3. Adriana Adam, Resin Floor 4. Ingo Maurer 5. Ron Arad 6. Olivier Goulet, lรกtex natural 7. Capas revista A&D, publicadas entre 1994 e 1996 8. Jean Paul Gaultier, mostra no Museu Artes Dec., Louvre 14 ARC DESIGN
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Já faz um bom tempo, havia uma faixa atravessando uma esquina em Pinheiros: “nessa rua tem design”. Era uma lojinha com objetos para escritório! Agora, passeando pelo tempo, vemos como essa rua cresceu!
Nestas 70 edições, publicamos muito design, do móvel
Já exportamos know-how em artesanato, sandálias po-
ao automóvel, do reciclo à inovação tecnológica, mos-
pulares (criadas para substituir os tamancos de uma
tras curiosas ou importantes, profissionais que ousam,
época?) se transformam em moda-luxo na Europa, os
indústrias que apostam, seminários, resenhas de livros,
designers internacionais mais famosos vêm ao Brasil
sempre as boas inovações e todos os desafios enfren-
criar seus sapatos de plástico, e nossos primeiros cora-
tados e as conquistas alcançadas. Um grande giro pelo
josos designers do novo pensar e fazer “bombam” em
design, com um olho no mundo e dois no Brasil. i
todo o mundo. O Brasil está na moda e nosso mercado é ambicionado. Vamos responder e avançar para satisfazer aos mais diversos anseios? 4.
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1. Melissa by Zaha Hadid 2. Alexandre Herchcovitch 3. Poltrona Fourline 4. Scholten & Baijing 5. Fogo Design
6. Marcelo Rosenbaum, MiCasa 7. Paulo Mendes da Rocha/Missoni, Futon Co. 8. Melissa by Herchcovitch 9. Furoshiki, mostra no Museu Artes Dec., Louvre 10. Marc Newson 17 ARC DESIGN
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2. 1. Ron Arad 2. Mostra Light Design na Euroluce, Mil茫o 3. Baba Vacaro, Dominici 4. Nanni Strada 5. Ingo Maurer 6. Marcel Wanders 7. Ingo Maurer 8. Santos Dumont, inventor do rel贸gio de pulso
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1-2. Heloisa Crocco 3-4. Equipe Renato Imbroisi, Brasil 5-6. Domingos Totora 7. Campana, H. Stern 8-9. Mรกximo Soalheiro 20 ARC DESIGN
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1. Tom Dixon 2. Ron Arad 3. Patrick Jouin 4. Jum Nakao 5. Campana, Firma Casa 6. Droog Design 7. Ettore Sottsass 8. Eulalia Anselmo, Prima Design
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1-6-7-10-12. Walter Smetak 2. Tord Boontje 3-4-9. Ladrilho hidráulico 5. Philippe Starck 8. Sergio Rodrigues, pelo autor 11. Máximo Soalheiro 13. Bolsa de controlador de trem, coleção Hermès
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CAMPANA’S Apurando, refinando, ousando mais e mais, eles se tornaram os designers mais famosos do mundo. Neste Salão do Móvel de Milão, mais uma vez foram portadores da energia criativa e de uma aragem fresca, muito brasileira, em propostas sempre novas. Maria Helena Estrada Fernando e Humberto, eles passeiam em meio à diversidade de materiais: do mais leve ao mais pesado, do primitivo ao sofisticado, do artesanal ao industrial. E o fazem com a mão leve e o traço espontâneo – características que tornam nossos designers reconhecíveis em cada objeto que desenham. “Sem medo de ousar” era o título de matéria sobre os irmãos, já publicada na ARC DESIGN. E a ousadia segue, acompanhada de grande coerência, sem no entanto repetir fórmulas. 26 ARC DESIGN
Peças da Coleção Esperança, para a Venini. Os vasos (na página ao lado) e a luminária (nesta página) trazem a versão em murano das bonecas produzidas tradicionalmente pelas mulheres da Vila Esperança, como parte do projeto Brinquedos do Agreste Paraibano
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Para a italiana Edra, o acrĂlico espelhado nas luminĂĄrias (acima) e a mesa Cotto, feita de terracota (abaixo)
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Abaixo, Scrigno, também para a Edra, exibe painéis de tons brilhantes. As superfícies aparentes são cobertas de material reflexivo
Acima, as cabanas-estante que “escondem” prateleiras em alumínio à prova de fogo e ladeiam o sofá Atila, uma nova versão do Cipria também para a Edra
As casas editoras Rizzoli (Itália) e Albion (Inglaterra) lançam agora o catálogo “raisonné”, “Campana Brothers – Complete Works (so far)” – lançado em São Paulo, na Firmacasa – com toda a obra, comentada por críticos como Li Edelkoort, Deyan Sudjic, Stephan Hammel, Cathy Lang Ho. Campana “até agora”, como diz o título, mostra a impossibilidade de acompanhar o ritmo desses designers que, me parece, são os que têm o maior número de peças em produção em todo o mundo. O que os torna únicos? Nas palavras de Deyan Sudjic, em texto do catálogo, “os irmãos Campana representam uma nova versão de um antigo diálogo sobre a natureza do design, que pode ser retraçada na tensão entre os pontos de vista de William Morris e de Christopher Dresser. Morris questionava a natureza do sistema industrial, enquanto Dresser trabalhava criando um vocabulário que o englobava. O que torna os Campana tão significativos é o sabor contemporâneo que eles deram a este debate, e sua tradução em um contexto inteiramente novo”. E Cathy Lang Ho completa: “quem poderia esperar que uma estratégia tão pessoal e idiossincrática como a deles (...) poderia produzir um modelo para a prática do design no século XXI? Certamente não os imprevisíveis irmãos, que sempre falam através do coração e agem com as próprias mãos”. i 29 ARC DESIGN
Abaixo, ambiente para aloja Camper, um dos desenvolvimentos da série Transplatic, apresentada pela primeira vez em 2007 na Albion Gallery, em Londres. Feito a partir de uma união de material sintético e fibra da planta brasileira apuí “abraça” confortavelmente objetos, como as cadeiras da loja de sapatos
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Ao lado, o tapete Circus é de cânhamo tingido e apresenta as bonecas feitas por mulheres da Vila Esperança. Abaixo, o tapete São Paulo, feito de algodão, mimetiza um traçado urbano visto do alto. Ambos para a italiana Nodus
A mesa tinha bambu no protótipo. Alberto Alessi, dono da empresa com seu sobrenome, gostou da peça do jeito que estava e a partir dela os designers desenvolveram a série Blow Up Bamboo Collection
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Nesta página, os vasos da série Nativo Campanas, de resina translúcida e flexível e couro natural, foram todos batizados com nomes da cultura e da literatura brasileira. Para a italiana Corsi Design
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De aspecto geológico, a instalação criada para a espanhola Consentino ocupou 100 m² de stand no Superstudio Più, na Via Tortona. A topografia foi criada pelos designers com as superfícies compostas por 75% por materiais reciclados, como porcelana, vidro, espelhos e resina feita de óleo vegetal 33 ARC DESIGN
ARQUITETURA COMO SUPORTE DE UMA ARTE COMBATIVA Ana Weiss / Fotos: cortesia do espólio de Gordon Matta-Clark e galeria David Zwyrner (N.Y.) Gordon Matta-Clark foi um dos maiores artistas da vanguarda norte-americana dos anos 1970. Filho do pintor chileno Roberto Matta, esteve à frente do boicote à Bienal de São Paulo de 1971, em nome das vítimas da ditadura militar da América Latina. A maior parte de seu trabalho se realizou fora dos limites dos museus e galerias, tendo o ambiente público como principal cenário. A desumanização do mundo moderno é a base ideológica de suas intervenções. Entre suas ações mais conhecidas, estão o corte ao meio de uma casa no subúrbio de New Jersey, a abertura de uma fenda numa construção em Paris, um buraco cavado numa galeria de arte, as (premonitórias?) fotografias do espaço entre as torres gêmeas do World Trade Center e tiros disparados contra os vidros do Instituto de Arquitetura e Urbanismo de Nova York. Seu interesse, declarava, era revelar o espaço negativo das cidades. i
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Impress達o de Splitting, de 1974: obra mais conhecida de Gordon Matta-Clark
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No canto, à esquerda, o artista conceitual durante a execução de seu trabalho, que propunha a desconstrução de lugares, ao pé da letra. Ainda na página da esquerda, a série Bingo (Bingone), de 1964. Ao lado, montagem de seu trabalho, que até hoje ganha versões em mostras públicas e bienais de todo o mundo – no Brasil, esteve representado recentemente na 27ª Bienal de São Paulo. Abaixo, a W-Hole House, colagem fotográfica de 1973
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A mesa do escultor Lucio Fontana é feita de madeira e vidro decorado, produzida por Osvaldo Borsani, em 1952, na Itália, foi exibida na feira pela galeria Sebastian + Marquet
Passado precioso Realizada de 12 a 21 de março, a 23ª edição da Feira Europeia de Belas Artes – TEFAF em Maastricht, Holanda, provou, mais uma vez, a atual confluência entre arte e design, seja em seus conceitos ou frente ao olhar crítico dos colecionadores
Waldick Jatobá
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Vários estudos sobre o comportamento do mercado de
que contribuíram para a melhoria do desempenho do
arte internacional durante a recessão econômica têm
setor no período 2007-2009 ser acima do esperado.
sido feitos; o mais recente de uma série desses relató-
Reflexo e comprovação dessa análise foi a feira holan-
rios foi preparado pela economista cultural e fundadora
desa. TEFAF 2010 inovou e criou um pavilhão exclusivo
da revista “Arts Economics”, Clare McAndrew. Segundo
dentro da grande feira para o design dos séculos XIX e
ela, a mudança de hábitos no consumo de luxo e a glo-
XX, a TEFAF DESIGN, reunindo cerca de dez galerias
balização do mercado das artes foram os dois fatores
de grande importância no cenário internacional.
O piano dinamarquês (1932) de Poul Henningsen tem estrutura de aço, bronze cromado e couro. Todo esse luxo na ornamentação nos deixa em dúvida se tratava-se de puro escapismo ou se os efeitos da crise de 1929 repercutiram muito mais lentamente pelo mundo que a de 2008. O PH Grand Piano foi levado à TEFAF por Philippe Denys
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Gerrit Thomas Rietveld criou as cadeiras Beuguel em 1927. De madeira curvada e estrutura tubular em aço, testemunham a visão à frente de seu tempo. As peças foram exibidas pela galeria Ulrich Fiedler
O conjunto de três poltronas e apoio de pés, de Frank Lloyd Wright, realizado por volta de 1955, nos Estados Unidos, foi apresentado pela galeria de Eric Philippe
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A luminária Spiral Lamps, de Poul Henningsen, de 1952, de metal pintado de branco, representou na feira a produção dinamarquesa moderna, exibida pela coleção de Philippe Denys
O conceito do exclusivo, presente nas obras de arte, pode ser verificado nos móveis e luminárias, produ-
De Gio Ponti a escultura em bronze de 70 cm de altura realizada na Itália por Sabattini Height, três anos antes da morte de seu autor, marca a sua presença criativa na feira holandesa. Da coleção de Lisa Licitra Ponti, foi levada por Rita Fancsaly
zidas em pequena escala ou em séries limitadas. Até mesmo alguns protótipos de móveis e objetos, criados por grandes designers e arquitetos, foram colocados à venda, demonstrando assim a importância do design no cenário das artes. A galeria Sebastian & Barquet, de Nova York, trouxe a bela mesa feita por Lucio Fontana em 1952, enquanto que a galeria Yves Macaux, de Bruxelas, mostrou uma luminária criada por Josef Hoffman para a residência da Baronesa Magda Mautner von Markhof. Um grupo de três poltronas e um pufe, desenhado pelo arquiteto americano Frank Lloyd Wright, estava presente na galeria Eric Philippe de Paris. Objetos criados, em séries limitadas, pelo famoso arquiteto e designer Gio Ponti eram vendidos na galeria Fancsaly, de Milão. Gerrit Rietveld, em versão pouco conhecida, também estava presente. Visitar esses espaços, para mim, foi ter a chance de observar a história da criação de cada um dos móveis e objetos; poder constatar que para o designer, o mais importante ao criar um objeto ou um móvel, é poder reinventar seu uso e as emoções que o acompanham. A comprovação do equilíbrio entre a inovação e a eficácia. i 41
universo. livros.univer A premiada parceria entre o designer Fernando Prado e a Lumini traz outra peça ao mercado. É a Bauhaus 90, luminária de piso, em aço cromado ou alumínio, que possui sistema de regulagem de altura e orientação da luz. Ideal para ser colocada ao lado de uma confortável poltrona de leitura. www.lumini.com.br
Criador deste “Marcador Líquido”, o designer japonês Kouichi Okamoto queria que o leitor tivesse a impressão que o acessório derretesse sobre o livro. O resultado final não decepciona: cada marcador é feito à mão por Oka moto, que usa silicone para conferir a sensação de fluidez e viscosidade à peça. www.kyouei-ltd.co.jp
A avalanche de e-readers lançados nos últimos meses marca a anunciada morte do papel como principal suporte de texto. O que chama a atenção é como essas novas tecnologias cada vez mais se aproximam dos tradicionais hábitos de leitura: o livro (eletrônico, impresso, em maços de cigarro) se carrega na bolsa, se guarda na estante, se lê no conforto da poltrona, sob uma iluminação agradável. As folhas de papel podem (e devem?) ter seus dias contados. Mas o ritual da leitura permanece prazeroso e lúdico, como o primeiro livro que tomamos nas mãos
Criação do grupo de designers mexicanos Nel, a “Pack of Dogs 2” é uma linha de peças que se baseia nas posições dos cachorros. As partes podem se agrupar em diversas e divertidas posições, e cumprem tarefas variadas – podem ser uma pequena estante, uma mesa, um banco, um suporte para jornais ou ainda um organizador de livros. Em diferentes madeiras. www.nel.com.mx Stephane Maupin, arquiteta e designer francesa, projetou uma luminária cujo sistema de geração de energia elétrica é simples como são as ideias geniais. Células fotovoltaicas são colocadas sob a base da luminária St. Clair, onde três ventosas se encontram. Afixadas em uma janela, recebem luz solar e a transformam na energia elétrica que alimenta a lâmpada. www.stephanemaupin.com
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rso. livros.universo.
A linha Caruaru, de Marcelo Rosenbaum, é inspirada na famosa feira livre da cidade de Caruaru, em Pernambuco. Os móveis da coleção, feitos principalmente em madeira pínus, buscam retomar os desenhos de objetos expostos na feira. É o caso desta versátil estante modular, com suas seis cores que remetem a uma paleta nordestina, memória acentuada pelas xilogravuras de J. Borges. www.rosenbaum.com.br
A obra da arquiteta de origem iraquiana Zaha Hadid ganha retrospectiva em livro pela editora Taschen. Hadid é autora de projetos como o pavilhão comercial de Zaragoza, Espanha, o Centro Rosenthal de Arte Contemporânea, EUA, e modelos de sandálias Melissa usados no mundo inteiro. “Hadid: Complete Works 1979-2009” traz desenhos, textos e fotos de suas obras, e uma seção em pergaminho fino. www.taschen.com
“Laranja Mecânica”, o livro de Anthony Burgess, foi adaptado por Stanley Kubrick para o cinema em 1971. Em uma das cenas do filme, Alex DeLarge, o garoto-problema que vagueia por uma Inglaterra futurística, senta-se à mesa do Korova Milk Bar para tomar, com seus amigos, leite misturado com drogas. O designer búlgaro Svilen Gamolov presta homenagem ao filme e à mesa com sua “Motto Coffe Table”, em acrílico. www.gamolovdesign.com
A revista inglesa “Tank” tem um pequeno catálogo de livros de tirar o fôlego. Não apenas pelos títulos, clássicos da literatura – Kafka e Tolstói estão entre os seis autores escolhidos –, mas pelo seu formato de caixa de cigarros. Além de práticos (podem ser carregados dentro da bolsa – e do bolso), eles ilustram os versos de Caetano Veloso: nós podemos mesmo amar os livros “do amor tátil que votamos aos maços de cigarro”. www.tankmagazine.com/tankbooks/tankbooks02.html
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livros.universo. livros
A gigante da internet Amazon lançou em 2009 a versão DX do Kindle, o seu leitor eletrônico. No início deste ano, a empresa disponibilizou o modelo DX Global Wireless que permite que o e-reader de 9.7 polegadas baixe livros, revistas, blogs, jornais e documentos em mais de 100 países. Com capacidade para armazenar até 3.500 livros digitais, o Kindle está à venda na Amazon por US$ 489. www.amazon.com
A Sony lançou s i mu l ta nea mente dois modelos de e-readers – as edições Touch e Pocket. O primeiro vem com tela que permite ao usuário virar as páginas digitais com o deslizar de um dedo. Mas o destaque fica mesmo para a versão de bolso que a marca japonesa trouxe ao mercado. A tela de cinco polegadas do Pocket faz dele um herdeiro dos livros companheiros de viagens, e o seu preço – US$ 199, ou 40% o valor do iPad, da Apple – deve ajudar a popularizar esses aparelhos de custo ainda pouco “reader-friendly”. www.sony.com
Um grupo de quatro designers e estudantes sul-coreanos criou o protótipo do Braille E-Book para deficientes visuais. A tecnologia empregada para converter os livros em Braille no formato digital é chamada EAP, ou polímeros eletroativos. Sinais eletromagnéticos são emitidos de forma a mudar continuamente a tela do e-reader, fazendo com que os pontos que compõem o texto venham à superfície. blog.naver. com/prettylazy
O recém-lançado iPad navega na internet, recebe e envia e-mails, toca música, roda games e vídeos e, bem, pode ser usado também para reproduzir livros digitais. Isso tudo numa tela de 9.7 polegadas que responde, como é de se esperar, ao toque dos dedos. Pesando pouco mais de 600 gramas e com meia polegada de espessura, o iPad entra no ringue dos e-readers com toda a munição de atrativos da Apple. O modelo mais barato sai por US$ 499. www.apple.com
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Campana obra completa... atĂŠ agora
304 pĂĄginas do melhor design brasileiro
Lançamento no Brasil
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1522, Jardim Paulistano www.conceitofirmacasa.com.br
VITRINE BBRR AASILEIROS SILEIROS NA VITR INE Finalmente será que começaremos, com mais critério e qualidade, a nos exibir para o mundo? O Brasil desperta curiosidade e desconfiança. Qual seria a melhor abordagem: muito do apenas regular ou pouco do que realmente agrega valor? Vejamos os espaços do Brasil em Milão Maria Helena Estrada
Na foto ao alto, o evento Brazil S/A, que aconteceu durante a semana do Salão do Móvel em Milão, reuniu peças dos brasileiros Humberto e Fernando Campana e também de Paulo Mendes da Rocha, no espaço da via Tortona. Acima, a luminária Ledeggs Light criada pelo designer Levi Domingos a partir de casca de ovo pintada com tinta automotiva. Na imagem à esquerda, o móvel “escultura” Sururu, designer Wagner Archela, faz parte da coleção Mangue Agogo inspirada no manguezal. Sua estrutura em Coriam e metachrome (mistura de acrílico e minerais) garante a cor única e vibrante da peça
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Além dos três mil visitantes (número superado apenas por Europa e China), o Brasil transfere designers e produtos para Milão. Partindo de São Paulo, Bruno Jahara expõe na Trienal, Wagner Archella e também o grupo da A Lot Of estarão no Salão Satélite, uma equipe de organizadores montam um espaço na Via Tortona. Um jornalista de São Paulo escreveu que as mostras resumem a dicotomia entre o design artesanal (São Paulo) versus o desenho industrial (Rio). Nós achamos que é sign carioca se apresenta com um profissionalismo bem embasado, depurado e devidamente produzido. Melhores escolas? Maior senso crítico? Maior apoio governamental? Talvez todos estes ingredientes contribuindo para a formação de uma base sólida. O design carioca recebe o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Serviços e do Sebrae, ambos do Estado do Rio de Janeiro, para a mostra no Palazzo degli Affari. Sua seleção inclui do design de produtos – artesanais e industriais – ao design gráfico.
Fotos: Mauricio Seidl
bem mais do que isso. Para começar, diríamos que o de-
Acima, a luminária Shakti, designer Fernanda Funes, possui difusores móveis que permitem efeitos variados de iluminação. Abaixo, a linha Next de aparelhos de musculação, desenvolvida pelo designer Guto Indio da Costa, inova o desenho das peças ao camuflar a torre de pesos atrás de uma divisória. Tudo funciona por meio de um sistema de roldanas ligadas por cabos de aço. Basta acionar o painel de controle digital e o peso é tracionado. Ao lado, a bicicleta Chico, designer Thiago Maia, é feita de bambu laminado, reforçado com fibras naturais e adesivo vegetal atóxico
Outro ponto: como há o apoio material de instituições, há a possibilidade de se fazer uma seleção apenas pela qualidade do produto e não por interesses de empresas patrocinadoras. O que é decisivo para a qualidade final! Estamos sendo mais realistas – e exigentes – do que o rei? Sim. Mas para o design brasileiro se tornar referência internacional, toda exigência é pouca. i
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Prót ese s e Enxe rtos Que nome incrível, principalmente porque tão carregado de verdade. Os criadores do mirabolante inútil poderiam refletir frente a este mobiliário que resgata a inteligência, a simplicidade e o saber fazer
Mesa Radiola serve de apoio para seu aparelho de som. De madeira de descarte, essa mesa-banco recebeu um enxerto de doca de som, uma entrada para os fios de rádio, iPod, celular ou o que quer que venha por aí
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Maria Helena Estrada / Fotos: Reinaldo Coser e Gabriel Arantes Trabalho coletivo do arquiteto Marcio Kogan e Studio MK27, com mostra acolhida pela MiCasa, apresenta peças de mobiliário construídas com restos encontrados em canteiros de obras dos projetos do escritório, montados de forma anônima pelos trabalhadores. “Os pobres são arquitetos porque não têm as ideias extravagantes dos ricos a respeito da casa”, in Habitat 2003, n.º 51. Assim começa o texto da imprescindível Lina Bo, publicado no catálogo. E esta mostra nos traz saudades do pensamento, da audácia e das verdades simples sempre anunciadas pela arquiteta e amante da cultura brasileira. A MiCasa, que foi inaugurada com ênfase no design europeu, apresenta agora, depois da Caruaru de Marcelo Rosenbaum, a segunda boa amostragem do mobiliário brasileiro. E, nos parece, indica o que poderá se tornar uma nova vertente vitoriosa no design brasi-
Acima, a Mesa Fulo, de madeira de descarte, foi submetida a uma delicada intervenção. Sobre o tampo, de recorte rústico, foi enxertado um Imhoff, cone de laboratório onde se pode colocar flores, plumas ou nada
À esquerda, o Trilili é um porta--objetos que pode ser utilizado como bar móvel, graças ao rodízio industrial. O nome do móvel é uma expressão popular para o efeito da bebida alcoólica. Também lembra o som dos copos e garrafas em movimento 49 ARC DESIGN
À direita, o Banco Amostrado. Um dos sarrafos foi substituído por uma peça metálica folheada a ouro, um brilho inesperado sobre a madeira bruta de construção
À esquerda, a Mesa Banco possui uma luminária acoplada. Abaixo, o banco de descanso ganhou uma almofada de veludo e acessórios dourados, que contrastam com a estrutura rústica de madeira de descarte. Seu nome, Luizão Quinze, uma ironia abrasileirada ao símbolo máximo do uso dos objetos como ostentação
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A Mesa Degutex (na página ao lado) tem ares corbusianos na colocação do seu tampo de vidro. A transparência contrasta com o pé de madeira, em mais uma estrutura confeccionada com material de descarte
leiro, a dos objetos que resgatam uma cultura de raiz e os traduzem em linguagem que poderíamos chamar de contemporânea sem afetação. A linguagem do essencial, com interferências realizadas por mãos firmes e olhar agudo. Mesa Degustex, Radiola e Alumiada, cabideiro Vai-te-Mundo, banco Amostrado, Luizão Quinze e Banquinho Bo são algumas das 16 peças que compõem a coleção. Pequenas interferências – as próteses e enxertos – trazem graça e beleza, sutis, sem alterar a proposta básica. “É por meio dessa transformação, das pequenas próteses, que nos revelam sua natu-
Ao lado, o Banquinho Bo, com 30 centímetros de altura, ganha um apoio girafa, em homenagem à criação de Lina Bo Bardi, a cadeira Girafa. A cadeira de Kogan foi também inspirada em um tipo de escada usada por operários
reza bruta e perfeitamente funcional; e o enxerto, meticuloso e demorado, é a própria exceção”, escreve Gabriel Kogan, que conclui: “talvez o que essa exposição queira ser é um depoimento de saberes e práticas em extinção”. Nós achamos que este depoimento é bem mais amplo. i
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Inesgotável
BAMBU
Imagine um bosque que nunca se esgota. Extrai-se a fibra das plantas maiores, para que as menores possam crescer continuamente, em um ritual que se refaz completamente em sete anos. Imagine essa planta, que cresce até 70 centímetros por dia, bem capaz de gerar um material que suporte a tensão do aço e alcance a performance do ipê. Pois bem, o Brasil possui a maior reserva dessa gramínea, o bambu, e começa a descobrir suas propriedades. “A tecnologia hoje para a construção e confecção de objetos a partir do bambu é o caminho para o fim do desmatamento no país e no mundo”, vaticina o engenheiro agrônomo Danilo Candia, sócio da Carbono Zero, uma das empresas brasileiras que apostaram no caminho da resistência com flexibilidade, aberto pelos chineses há incontáveis séculos Ana Weiss
oré brasil O arquiteto e designer Paulo Fogiatto criou com a empresa catarinense Oré Brasil uma linha de móveis feita em laminado de bambu. Três de suas peças foram premiadas no 23º Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira. Entre elas, destaque para a poltrona Bambu #5 (à esquerda), desenvolvida em 2004, seu design é decorrência direta de sua estrutura em bambu prensado. Acima, a mesa de centro Jabuti com tampo de bambu multilaminado. No canto esquerdo da página, a poltrona Pampeira possui diversas opções de revestimento em tecidos de cores variadas de couro
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jair straschnow A estante de encaixar Bookshelf, da série Grassworks, é assinada pelo designer israelense Jair Straschnow. Trata-se de uma linha de móveis laminados de bambu muito prática. Criada para ser simples e trazer organização ao lar, o móvel chega na sua casa dentro de pequenas caixas. Sua montagem é simples e intuitiva – além de livre de cola e de pregos. O projeto recebeu o prêmio Brit Insurance Designs of the Year Award de 2010 e aguarda um produtor industrial para ser comercializado. O designer procura empresa para produzir a série, que também tem mesas, aparadores e cadeiras
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Raphael Moras de Vasconcellos Segundo lugar no Idea Brasil do ano passado, a guitarra digital JAM é feita com lâminas de bambu e possibilita a conversão digital do som e a conexão direta entre guitarra e computador via USB. Idealizada pelo designer Raphael Moras de Vasconcellos e pelo consultor Eduardo Giacomazzi, é produzida pela MODO Design
o simã
salo
mão
Jo scheer Para construir sua casa sobre palafitas, o americano Jo Scheer usou material de seu próprio bambuzal. Localizada em Rincón, Porto Rico (onde o arquiteto mantém sua plantação de bambu), ela tem da estrutura ao fechamento tudo confeccionado no material. A construção está suspensa devido à resistência e enorme força de tração que permite a manutenção de hastes, desenhando no ar um cone invertido
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campanas A linha Blow Up Bamboo Collection, dos irmãos Campana para a italiana Alessi, é uma releitura de uma série anterior dos designers em aço inoxidável. A nova peça, inteira em bambu, é montada manualmente. Os objetos foram produzidos em comemoração à parceria de cinco anos entre os designers e a empresa
catedral de bambu A Catedral de Bambu da cidade de Pereira, Colômbia, projetada pelo arquiteto Simón Vélez, é um dos grandes símbolos do uso do bambu na construção civil. Criada originalmente para proteger os fiéis de terremotos, ela foi remontada mais de uma vez. Seu desenho lembra a inclinação natural das plantações, onde muitas vezes os troncos se cruzam, criando o desenho semelhante ao teto interno das catedrais góticas. Vélez brincou com as formas e usou o bambu no escoramento da construção, cortando e encaixando as peças, como um quebra-cabeças tubular
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Sobre rodas A bicicleta de bambu foi criada por meio de uma parceria do estúdio Ross Lovegrove com o designer carioca Fábio Deslandes e manufaturada na Dinamarca. A ideia consiste em voltar às origens e fazer uma bicicleta com materiais naturais. Assim surgiu a bambucicleta
Aeroporto O aeroporto internacional de Barajas, em Madri, reúne o que de mais moderno e mais ancestral há na tecnologia construtiva: aço e bambu. Projeto do arquiteto londrino Richard Rogers, a proposta do uso do material é coerente com a ambientação, apoiada em iluminação natural e na sinalização por cores
Design de superfície Os mosaicos de bambu da Carbono Zero são recomendados para ambientes externos. De fácil aplicação, esse revestimento orgânico reproduz o aspecto luminoso das fibras do bambu e pode ser aplicado sobre diferentes materiais, como vidro, plástico, madeira e gesso
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Arc Design sexta-feira, 21 de maio de 2010 10:51:13
publieditorial
O melhor de dois mundos Antena pioneira do design internacional, a Tok&Stok é uma das grandes vitrines da produção jovem brasileira. A marca se tornou sinônimo de um jeito de
Premiado internacionalmente por suas peças que brincam com os limites da curvatura da madeira, Bernardo Senna apresenta ainda este ano a linha Terza. De madeira maciça e laminado melamínico de baixa pressão, as peças (como a mesa aparador acima) têm caráter adaptável a diferentes usos e ambientes da casa
morar moderno, autêntico e inteligente Da Redação A primeira iniciativa do casal Dubrule no Brasil nascia de um DNA escandinavo, e seu nome era Innovator. Em seguida, surge a Tok&Stok, que declara: “estamos no Brasil, sabemos que é difícil, mas vamos formar uma coleção brasileira”. A linha Chill foi desenhada pelos designers Lars Mathiesen e Niels Gammelgaard, do escritório dinamarquês Pelikan Design. Premiados no mundo inteiro por sua proposta democrática de acesso maior ao design inteligente, os objetos da Chili podem ser encontrados na Cappellinni, Itália, na Ikea, Suécia, e na Art Andersen, Dinamarca. O raque e a mesa, exclusivos para a Tok&Stok, são estruturados em MDF e tubos de aço cromado, sendo as sapatas reguláveis
A primeira grande conquista? A gradual mudança de hábitos e preferências por parte de um público que praticamente só tinha um repertório, o do “falso colonial”, do veludo e dos brocados, de tão triste memória. Mas havia um mercado potencial, com ideias jovens, que ansiava por móveis contemporâneos a preços acessíveis. Foram eles que começaram a aderir à proposta, que hoje atinge todos os níveis sociais: móveis leves (é claro!), foscos e claros em sua maioria, práticos e úteis. E assim o mercado foi mudando. Sem abandonar o móvel dinamarquês da Pelikan, cresce a coleção brasileira, sempre com projetos originais. A mesma filosofia, que avança com o tempo, como nos mais recentes lançamentos de quatro estúdios de design. Bernardo Senna, carioca, já se coloca entre os melhores jovens profissionais do país. Tem livros publicados e, dentre eles, “Continuum”, uma resenha do design no Rio de Janeiro. Leo Mangiavacchi, designer italiano que trabalhou nos estúdios de Isao
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O par de cavaletes Regata é assinado por Leo Mangiavacchi, diretor do IED em São Paulo. Projetadas para ocupar pouquíssimo espaço quando fora de uso, as peças são feitas em madeira maciça de reflorestamento certificada e tingidas com acabamento em verniz poliuretano. Qualquer semelhança com linhas náuticas não é coincidência: Mangiavacchi, também arquiteto, é autor do projeto vencedor para a requalificação da marina da cidade italiana de Ravenna
Hosoe e de Antonio Citterio, tem produtos nas coleções Vitra, Flos, Kartell, dentre outras. Desde 2007, é diretor da Escola de Design do Instituto Europeu de Design e inaugura sua presença na coleção Tok&Stok com um inovador cavalete em madeira. Alain Blatché, bastante conhecido do público, completa a coleção brasileira com uma linha de mesas, cadeiras e sofás em madeira. E a Pelikan Design, da Dinamarca, fiel parceira desde 1996, depois da linha Dix, de 1998, apresenta Chill, projeto de Lars Mathiesen, estante ou raque versáteis que reafirmam a filosofia do design escandinavo em sua essencialidade. Um vasto universo, eclético mas coerente, de raiz brasileira sem esquecer leves toques internacionais, tudo criado nesses 30 anos de história. i
A poltrona em madeira maciça de reflorestamento faz parte da linha Bio, do designer Alain Blatché. Uma proposta de mobiliário para ambientes externos conta com acabamento tingidor impermeabilizante, tipo stain, com ação inseticida e fungicida, que não tira o aspecto natural do eucalipto de reflorestamento, reforçado pelas confortáveis almofadas em algodão natural 59 ARC DESIGN
Victor Almeida
Ari Lyra, designer de interiores e de produtos, cria e desmonta cenários no seu apartamento apenas com a dinâmica da luz sobre “obras de arte e afeto”. Como em um espetáculo, ele desenha com a luz o ambiente desejado. Muda os móveis de posição, regula o foco e a intensidade da lâmpada, fecha e abre cortinas. Agora, sente-se e entregue-se ao devaneio e às múltiplas histórias que cada objeto pode contar
CEN O GR A FI A
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ILUMINADA
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Fotos Isabella Infantine
Nas fotos acima, diversos ângulos e momentos do living. A luz modifica o ambiente e destaca cada peça num cenário quase “teatral”. As principais obras: dípitico de Julio Ghiorzi, da fase Almas Gêmeas; escultura de Florian na mesa de centro; escultura de borracha de Otto Sulzbach. No retrato abaixo, Ari atrás da escultura de canos de cobre, designer Nico Rocha
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Fotos Isabella Infantine
No home-office: escultura de bronze pintado de Florian Raiss (ao fundo); mesa Saarinen com tampo especial branco e preto por Ari Lyra; luminária Max de Ingo Maurer
Na foto à direita, cada obra ganha uma iluminação especial. No hall de entrada: foto de Miro; cadeira La Marie, que apoia escultura de borracha de Otto Sulzbach; esfera de Dione Veiga Vieira e recorte de Regina Silveira. A foto no canto esquerdo da página também acompanha o mesmo conceito de “luz focada” no prato de Sandra Tutti; no livro de fotos “Sumo”, de Helmut Newton, sobre base de Philippe Starck; na escultura de borracha Bebe, de Otto Sulzbach 62 ARC DESIGN
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ÁGUA MOLE EM PEDR A DUR A Move-se o design brasileiro. E em boa direção. Uma prova concreta? O Salão Design 2010 realizado durante a Movelsul, em Bento Gonçalves (RS). Concursos de qualidade instigam designers e empresas a participarem de suas seleções Maria Helena Estrada
O que agrega valor ao resultado de um processo de seleção? Sem dúvida a qualidade do júri. Somam-se a apresentação com mostras bem cuidadas e uma eficiente divulgação. Realizado a cada dois anos a partir de 1988, o Salão Design passou a ter periodicidade anual em 2007, com uma divulgação que hoje abrange as Américas e muitos países europeus. O resultado do Salão deste ano nos deixa com a certeza de que insistir na evolução do design, estimular a coragem em arriscar com novas ideias, premiar os produtos apoiados nas premissas da forma/função/cuidado com o meio ambiente acabam transformando a “pedra dura”. Excesso de uso da madeira, tecnologia pouco desenvolvida no uso dos plásticos, falta de opção por outros materiais são recorrências que começam a desaparecer. O que surge – ou ressurge – de novo? O uso do aço, da madeira laminada e curvada, “a proposta de explorar uma linguagem popular para um público de maior poder aquisitivo”, como declara o júri a respeito da coleção Caruaru e, sobre a cadeira IC01, “uma atitude da indústria em oferecer um produto ao mercado que é novo seu posicionamento, preço e utilização”. Fizemos uma escolha ARC Acima, Cadeira Trapeziu, Prêmio Estudante, para mobiliário, design Luis Gustavo B. Pinto, da Universidade Federal (RJ) traz original e prática forma construtiva. No topo da página, Pufe Cloé, em madeira laminada curvada, design Luciana Gonzalez Franco (Buenos Aires, Argentina), selecionado na categoria Estudante. À direita, Saleiro João de Barro, em cerâmica, Prêmio Profissional para acessórios domésticos, design Suzanne Verba Reboh (Porto Alegre, RS) 64 ARC DESIGN
DESIGN a partir da seleção dos classificados pelo júri, seguindo os desejáveis preceitos em relação ao projeto. Não lhes parece um novo panorama? i
por
Cadeira IC01, design Guto Indio da Costa, André Lobo e Felipe Rangel, Prêmio Indústria, produção Pnaples (RJ)
A Prima Collazione, armário em aço com pintura em tinta automotiva em cores vibrantes, da Securit, seleção para o Prêmio Indústria. Design Pier Ugo Boff
Luminária Spy, Prêmio Indústria, produção Iluminar (Belo Horizonte, MG), design Francisco Terroba. Para ambientes internos ou externos, pode ser fixada na terra. Utilizada como spot ou como balizador nas áreas externas, com uso de um Led
Mesa Elastable, criada pelo design Gaetano di Gregório, Veneza, Itália, selecionada na categoria Profissionais, tem uma cinta elástica que ajuda a estruturar a mesa quando alongada Elemento da coleção Caruaru, design e produção de Marcelo Rosenbaum, recupera elementos de uma cultura popular nordestina, em versão contemporânea
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O pulo do Gátil
“A emoção é a melhor cola na montagem da nossa experiência”, dizem Fred Gelli e seus objetos que respiram sensorialismo, cuidado ambiental e novas experiências afetivas
Ana Weiss Fred Gelli virou figurinha fácil nos palcos das maiores premiações da área de criação nos últimos tempos. Levando sempre no ombro o mascote Gátil, um felino em polipropileno com saquinhos de areia no lugar dos pés, o fundador da Tátil Design divide com a equipe prêmios como Caboré, Summit, Idea, Cannes – para citar apenas alguns. Nem sempre foi assim. Há 20 anos, quando Gelli começou a apresentar no mercado seus produtos sem cola, com superfícies encaixáveis feitas de material reciclado, levou muita porta na cara. “Nossos produtos eram tão originais na época que quase ninguém queria comprálos”, brinca o designer, que hoje tem na carteira clientes como a Nokia, a Coca-Cola, a Natura e a TIM, dentre outros. “Ninguém antes da Eco 92 queria associar sua marca ao lixo reaproveitado.” 66 ARC DESIGN
A Tátil resolveu o problema dos panfletos no chão anunciando no verso de folhas de árvore. Logo, é só jogar o folheto fora, sem remorso, que ele volta para seu habitat natural. O mundo todo aplaudiu
O primeiro a acreditar na ideia foi o ex-candidato à Presidência da República Fernando Gabeira. Era campanha eleitoral de 1989 e a recém-nascida agência tinha como missão materializar o discurso pró-ambiente do então candidato pelo Partido Verde. O resultado foi um conjunto de carrapichos (naturais), distribuídos em caixi-
Para a próxima Bienal Brasileira de Design, a ser realizada em Curitiba, Fred Gelli prepara a apresentação de um projeto “emprestado”: a atmosfera terrestre como case de sucesso de embalagem. Mais uma vez a biônica aparece como leme de seus projetos, de maneira bem-humorada
nhas rústicas de papel reciclado. O eleitor customizava a própria camiseta, aplicando os carrapichos (que grudam como o velcro) de maneira a desenhar o símbolo do partido. O “pulo do gato” era a propriedade “viral” da ideia: o símbolo composto pelas bolinhas grudentas era transmitido para uma outra camiseta pelo abraço. Durante os 10 anos seguintes, a Tátil manteve uma fábrica para criar ferramentas para soluções que, na época, não tinham como ser produzidas pelas gráficas comuns. Uma dessas invenções foi a Mini-Pollock, caneta que esguichava jatos de tinta colorida e que viabilizou a criação de exemplares únicos. Nos anos 1990, os produtos nacionais estavam saturados do discurso ambiental. O uso do material reciclável começou a aparecer em projetos caricaturais, incoerentes e de consumo irresponsável. Nesse momento, a Tátil passou a investir mais fortemente em uma pesquisa que contamina até hoje as suas linhas: o sensorialismo. “A emoção é a melhor cola na montagem da nossa experiência”, sentencia Fred Gelli. Durante o festival Cannes Lions, de 2009, a ideia de fazer muito com pouco da Tátil foi representada pelas filipetas desenvolvidas para a Abedesign. Além de distribuídas, as coloridas tiras de papel deram origem à tipografia com a qual se confeccionou a palavra Brasil, em uma imagem que marcou a edição do evento
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A identidade visual do TIM Festival idealizada pela Tátil buscou superar as expectativas do público, ouvindo o próprio público. Das ideias associadas ao tipo de evento, a Tátil desenvolveu um universo eletrônico que remete aos ambientes do circo, parque de diversões e sexo
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O Book Tátil foi inspirado na abóbora, cujas textura e cor trouxeram inovação ao tradicional caderno de anotações. Feito com sobras de materiais recicláveis, o bloco recebeu o prêmio IF Design Awards 2004
A Tátil faz circular suas ideias com o menor impacto possível ao ambiente: para clientes, amigos e parceiros, os arquivos são passados em pen drives embalados em bambu
O Polibotton foi criado como parte da campanha política de Fernando Gabeira. Dentro da caixa estavam alguns carrapichos para serem colocados na camiseta sinalizando o símbolo do partido. Dessa forma, ao abraçar alguém, o símbolo da campanha era transferido para a roupa do abraçado
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Essa fase marca um momento em que a Tátil passou a desenhar ferramentas de pesquisa e percepção, como o Garimpo dos Desejos e o Jogo de Palavras. Estratégias com nomes tão lúdicos quanto a própria marca Tátil definiram projetos como o TIM Festival. “Descobrimos com os nossos ‘jogos’ que as três imagens imediatamente associadas aos festivais de música são o circo, o parque de diversões e o sexo.” Nascia assim a mais
O Box acima é resultado de uma campanha desenvolvida para a parceria da Nokia com a Melissa em 2006. A embalagem desenvolvida é uma colagem de desenhos inspirada no movimento punk, que influencia a moda desde os anos 1970 e 1980
inesquecível cenografia do TIM Festival, com contêineres empilhados, telões, artistas de circo e um jogo de luz que remetia ao ambiente do Bairro Vermelho de Amsterdã e suas vitrines de sexo. Atualmente, a Tátil é uma empresa de design e branding, com escritórios no Rio e em São Paulo. Um dos trabalhos deste ano é redesenhar a marca Natura, um espelho da vontade do consumidor de se sentir parte de ações comprometidas com a sustentabilidade. Cativando a simpatia do público e de empresas, a Tátil cavou um espaço largo de provocação para a retomada de valores, de defesa da simplicidade com resultados efetivos. Mostrou que a graça e o humor podem fazer parte de uma forma de trabalhar bem aparelhada que, como o mascote de saquinhos no pé, da altura que for, cai sempre em pé. i
O cartão de visita do escritório segue a linha ambientalmente comprometida da empresa. Ele é feito com caixas de leite e de suco que os funcionários trazem de casa todas as manhãs
O Banco Do-In foi inspirado no brinquedo Pinhead (tábua de pregos que ao tocá-la são criadas marcas na sua mão), seu assento é formado pela justaposição de pequenos cilindros de madeira de reflorestamento e espuma
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Campana e Habitart. Irmãos. Habitart. Há 10 anos trabalhando com os Irmãos Campana. Há 20 anos trabalhando com design brasileiro.
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Fu t ur o s des e já v eis O desenho do mundo depende dos nossos sonhos. Por isso o primeiro passo para construir a realidade que queremos está na tranformação do modo de pensar. Eis aí o nosso grande desafio: cultivar sonhos do tamanho do que desejamos para o mundo dos nossos filhos, dos filhos dos nossos filhos e, quem sabe, do nosso próprio
Skipe, antena, fax, aviões controlados por rádio foram antecipadas pela ilustração de Frank R. Paul, em “The Future of Radio”, em 1922
Lala Deheinzelin Com muito entusiasmo inicio a conversa neste espaço da ARC DESIGN e começo com um pouco de teoria: explicando os três temas que nos nortearão: economia criativa + desenvolvimento sustentável + futuros desejáveis. Para entender por que este trio de temas nos ajuda no “design de um mundo melhor”, imagine que um historiador do futuro diria que o momento atual é talvez mais importante do que foi o Renascimento... Por quê?
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Porque estamos entrando em uma era onde o intangível
zados...) na maioria dos países em desenvolvimento.
é o elemento central: isso fica claro quando se vê que o
Diferentemente dos setores econômicos tradicionais a
Google é o que hoje tem mais valor (e poder!), ou que
economia criativa (que cresce mais que a média da eco-
75% do valor de um produto está em seus intangíveis
nomia, de acordo com a UNCTAD) vai além do impacto
(como marca, design etc). Estamos na passagem de sé-
meramente econômico. Ela é tão estratégica para um de-
culos (milênios?) em que a vida esteve organizada em
senvolvimento sustentável por ter impactos positivos nas
torno de recursos materiais, tangíveis, para uma fase
outras dimensões: social, ambiental e cultural. O interes-
centrada nos recursos imateriais, intangíveis.
sante é que podemos notar esse impacto positivo multidi-
Recursos tangíveis, como terra, ouro ou petróleo, são
mensional em atividades de uma gama ampla, que vão de
finitos, inelásticos e, por isso, a economia baseada neles
uma São Paulo Fashion Week a um Doutores da Alegria.
é definida pela gestão dos recursos escassos, e a com-
O patrimônio intangível (por exemplo, a imensa diversi-
petição define o modelo social e econômico. Já os recur-
dade cultural dos nossos mais de cinco mil municípios)
sos intangíveis, como cultura, conhecimento e criativi-
pode ser convertido em qualidade de vida se souber-
dade, são infinitos, elásticos. Se dividimos uma maçã,
mos mudar formas de pensar e agir para entrar de fato
temos metade cada um. Se dividimos um conhecimento,
no século XXI.
temos o triplo: o meu, o seu e o que resulta de nossa interação. Além do mais, os bits das novas tecnologias também são infinitos, assim como são infinitas as possibilidades oferecidas pelo trabalho em rede, pela produção colaborativa. Ou seja, neste século XXI falamos de uma nova economia, uma “economia da abundância”, em que a cooperação é o modelo. A economia criativa é a grande estratégia de desenvolvimento sustentável pois, dizendo de forma muito, muito sintética, é aquela que tem o intangível como matéria-prima. É como uma galinha de ovos de ouro, já que são recursos que não apenas não se esgotam, como se renovam e multiplicam com o uso! E que são muito abundantes (porém, ainda subutili-
O “avô” das cirurgias e diagnósticos remotos por vídeo, na ilustração na capa da revista “Science and Invention” de 1925
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Primeiro desafio: fazer com que as lideranças dos seto-
do presente). Senão, seguiremos fazendo canja com a
res público, privado, terceiro setor e empreendedores
fabulosa galinha... Aí entra nosso terceiro tema: futuros
criativos tenham consciência desta mudança rumo à
desejáveis.
centralidade do intangível, os enormes potenciais que
Mudar modelos de pensar e agir é urgente, mas difí-
ela oferece e à mudança de mentalidade e políticas para
cil, pois não temos o hábito nem as ferramentas para
aproveitá-los. Nota-se que a imensa maioria das em-
criar o futuro que desejamos. Pesquisando as imagens
presas e instituições desconhece o fato de que a eco-
do passado do futuro (vejam ilustrações) encontramos
nomia criativa tem a ver com sua atividade. Por exem-
muito do que caracteriza o presente: o desejo pelo
plo: a chave para sobreviver num mundo globalizado
“remoto” (telecomunicações, web, skipe, medicina a
(onde produtos e serviços tendem a homogeneizar-se)
distância, hometheater, naves guiadas). Ou o predomí-
está em ser diverso e único, além de desejado e respei-
nio do carro e cidades em escala inumana. Fica claro
tado por seu público e parceiros. Hoje, o diferencial e
que o futuro é fruto dos sonhos do passado e escolhas
o valor estão em atributos intangíveis: cultura da em-
do presente.
presa, associação com a cultura local e seus elementos,
Visões de futuro desejável sempre existiram, principal-
reputação, atratividade, responsabilidade socioambien-
mente em momentos de crise e mudança, como agora...
tal, design etc.
Mas as visões de futuro atuais, que estão presentes so-
Segundo desafio: entrar no século XXI significa guiar-se
bretudo nos games e ficção científica, são tenebrosas,
pelo farol de milha (criar produtos e processos dirigidos
belicosas, um horror! Será que é isso que queremos se-
para o futuro) e não apenas pelo espelho retrovisor (por
mear para o nosso futuro?
exemplo, seguindo apenas as tendências e pesquisas
Como diz Peter Druker, “a melhor maneira de prever o
O futuro é fruto dos sonhos do passado e escolhas do presente: até a roupa vermelha imaginada em 1928 por Frank R. Paul em “Capa Amazing Stories” (1928) viria a se concretizar na demonstração do Jet Pack H202, em 2007
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O francês Albert Robida anteviu o hometheater com seu “telephonoscopio”, ideia de 1883 que ilustra o livro “The History of The Future Images of the 21st Century”
futuro é criá-lo”. Por isso, para preparar terreno para o futuro que desejamos, foi estruturado o movimento internacional Crie Futuros (saiba mais em www. criefuturos.com.br) com sua Enciclopédia de Futuros Desejáveis www.wikifuturos.com que irão ilustrar essa seção. Os futuros desejados criados apontam para questões essenciais: a reforma (urgente!) da educação; a questão da energia (nós com energia demais, ficando obesos, e a cidade precisando de energia renovável...); a reciclagem fazendo o triplo papel de gerar trabalho, cuidar do ambiente e distribuir cultura. O interessante é que muitos dos futuros desejáveis são realizáveis. Dois catadores de lixo já concretizaram o futuro sonhado e foram retratados no documentário “INGs – Indivíduos Não-Governamentais – Reciclando a Cultura do Lixo”: José Luiz Zagati e seu Mini Cine Tupy e Severino Manoel de Souza com sua biblioteca comunitária dos sem--teto do edifício Prestes Maia. Juntando tudo: criar futuros nos ajuda a entrar de fato no século XXI e preparar terreno para que a economia criativa, essa galinha de ovos de ouro, possa cumprir seu papel estratégico como motor do desenvolvimento sustentável. Economia criativa, futuro desejável e sustentabilidade: três elementos para pensar o design do mundo! i
Lala Deheinzelin é assessora e palestrante internacional em Economia Criativa, Desenvolvimento Sustentável e Futuros. É CEO da Enthusiasmo Cultural, assessora da South-South Cooperation Special Unit/ONU e do Instituto Nacional de Moda e Design. Fundou o Núcleo de Estudos de Futuro da PUC SP 75 ARC DESIGN
Cidade diversa e em expansão Projeto ambicioso, de dimensões superlativas – e muito bem embasadas – a Cidade da Copa, em Recife, poderá ser
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um modelo para a expansão de centros urbanos que já ultrapassaram sua capacidade funcional
Acima, região central da cidade do Recife, entrecortada pelo Rio Capibaribe. Sem ter mais para onde crescer, a cidade deve se exapandir para abrigar os jogos da Copa 2014 até a Zona da Mata, região que origina um dos símbolos da cultura pernambucana, o Caboclo de Lança (foto ao lado), figura central do maracatu rural
Mariana Lacerda
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Vem da ideia do encontro entre diferentes uma das ins-
pos que esgotou a terra e alimentou a separação social,
pirações para o projeto Cidade da Copa apresentado à
mas que, apesar disso, deu o fermento para a preciosa
FIFA e que levou o Recife a ser uma das cidades a se-
cultura que ali se consagra, sobrevive e hoje fornece as
diar o evento em 2014. E a região escolhida para a sua
bases para criações contemporâneas, sobretudo na mú-
implantação é o município de São Lourenço da Mata,
sica que se faz no Estado.
região metropolitana da capital pernambucana e um dos
Falamos de diversidade porque a Cidade da Copa não
principais acessos à Zona da Mata, aquela que só não
deverá ser constituída apenas de uma arena esportiva de
parou no tempo graças aos poetas e lanceiros que fa-
última geração, mas o projeto é o de um empreendimen-
zem o maracatu rural.
to instalado em 270 hectares que inclui complexos resi-
É da Zona da Mata de Pernambuco a imagem de uma
denciais, campus da Universidade da Pernambuco (UPE),
das figuras mais emblemáticas do carnaval pernambu-
hospital, escolas, hotel, centros comercial e de cultura. Se
cano: o Caboclo de Lança. Ele é o personagem marcante
o projeto for traduzido completamente, com investimen-
do maracatu rural, folguedo cuja origem está no encon-
tos na ordem de R$ 1,6 bilhão, constituirá naquilo que o
tro entre etnias africanas e indígenas que se deu nos
arquiteto José de Souza Brandão Neto, conhecido como
engenhos de cana-de-açúcar – riqueza de outros tem-
Zeca Brandão, define como sendo uma “nova centralida-
Flรกvio Alves 77 ARC DESIGN
de urbana”. Brandão, que coordena o Núcleo Técnico de
do Rio Capibaribe, está próximo de uma área remanes-
Operações Urbanas, escritório criado para desenvolver o
cente da Mata Atlântica. Além do fato dessa “nova cen-
projeto de candidatura da capital pernambucana à cidade
tralidade urbana” poder levar oportunidade de emprego,
da Copa, prevê um novo centro urbano que represente
renda e acesso ao lazer e à cultura para uma região tão
um eixo de expansão do Recife, “metrópole que já não
castigada pela pobreza – e todas as suas consequências,
tem mais por onde crescer”, ressalta.
a maior delas a violência. O projeto tem dimensões superlativas. Prevê a constru-
78 ARC DESIGN
Escolhas
ção de nove mil unidades habitacionais, seja em edifícios
São Lourenço da Mata está distante 22 quilômetros do
altos ou baixos, destinadas às diversas classes sociais.
centro do Recife. “Representa uma oportunidade de im-
Inclui, além dos serviços de saúde e educação, apoios
plantação de novos e grandes equipamentos urbanos,
como centros administrativo e comercial, além de um
cujas regiões centrais da região metropolitana já não
parque linear nas margens do Capibaribe. O programa
comportam mais nada”, diz Brandão. Com isso, pretende--
prevê, ainda, um plano urbanístico, uma cidade com cal-
-se, de certa forma, atender a uma demanda por espaços
çadas largas e uma distribuição espacial que permita a
habitacionais nas proximidades do Recife, além de po-
locomoção de pedestres e privilegie o uso da bicicleta.
tencializar uma infraestrutura já existente, a exemplo da
Construções que respeitem os selos de construção de
linha de metrô (e a estação Cosme e Damião); da rodovia
sustentabilidade (como o LEED e o Acqua) também estão
BR 408 (que seria duplicada com a Cidade da Copa) e do
previstas, tendo-se com isso o aproveitamento da ener-
terminal rodoviário, que seria renovado. Outro fator im-
gia solar e da água da chuva. Um projeto ambicioso, que
portante para a escolha do lugar: a localização do terreno
esperamos seja respeitado e executado!
(de propriedade do Governo do Estado), que, às margens
Tudo isso tem um sentido. Para Brandão, pensar na cons-
Ao lado e acima, maquete eletrônica do projeto da Cidade da Copa. Além da arena esportiva, projeto prevê habitações (em prédios altos e baixos) para as diversas classes sociais, centros administrativo e comercial, além de um parque que margeia o Rio Capibaribe, preservando sua mata ciliar. Ciclovias e calçadas largas devem privilegiar o uso da bicicleta e dos encontros casuais nas ruas
trução da infraestrutura da Copa como algo limitado ao
hostis. De certa forma, a Cidade da Copa tem a ambição
evento seria investir exclusivamente na criação de um
saudável de ser, por excelência, uma experiência de ci-
estádio que, no futuro, demandaria muitos investimentos
dade contemporânea: aquela que respeita a diferença e,
para se manter vivo... e certamente com poucas vantagens.
ao promover o encontro entre pessoas diversas, devol-
“Nenhum país que já tenha sediado Copas ou Olimpíadas
ve-lhes a oportunidade de articular o presente e projetar
pensou na sua estrutura simplesmente para responder a
o futuro.
uma necessidade efêmera”, pondera Brandão. “Para que
A torcida agora é para que a Cidade da Copa seja cons-
uma arena esportiva se mantenha economicamente viá-
truída em sua integridade, tal qual o projeto que conven-
vel, é preciso vida em seu entorno.”
ceu a FIFA a incluir o Recife como uma das 12 cidades
E essa vida, por sua vez, será tanto melhor quanto maior
brasileiras a sediar a Copa. “Caso construam um estádio
a variedade de pessoas que a compartilharem. Porque
convencional que sirva apenas à prática esportiva e não
é justamente nas relações entre os habitantes de uma
uma arena multifuncional, ou até mesmo se a cidade se
cidade que reside a troca de ideias, de oportunidades.
destinar somente a uma única classe social, então corre-
Criando-se, dessa forma, a paz nas ruas, “a vigilância
mos o risco de termos um elefante branco”, alerta Zeca
natural social”, explica Brandão. Pessoas diferentes têm
Brandão. Para que o projeto se torne real, contudo, se-
atividades distintas e, portanto, estão nas ruas e nas pra-
rão necessários esforços rápidos e certeiros da iniciativa
ças em momentos específicos – mantendo esses lugares
privada e do poder público visando que o social ganhe e
sempre acesos. É quando a forma de uma cidade termi-
seja privilegiado. A intenção é, no futuro próximo, muito
na por contribuir para compor o perfil social dos habitan-
mais do que emocionantes partidas de futebol, tenha-se
tes. Tanto que o contrário também pode ser verdadeiro:
um lugar propício ao encontro e à soberania da cultura –
espaços mal planejados podem implicar em indivíduos
um traço já tão forte da Zona da Mata Pernambucana. i 79 ARC DESIGN
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Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda.
Apoio Institucional:
Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata Fernanda Sarmento
REDAÇÃO Diretora Editora Maria Helena Estrada Editora-adjunta Ana Weiss Redatora Isabella Infantine
ARC DESIGN Rua Lisboa, 493 CEP 05413 000 São Paulo – SP Telefones Tronco-chave: + 55 (11) 2808 6000 Fax: + 55 (11) 2808 6026
Revisora Deborah Peleias
ARTE Projeto Gráfico Fernanda Sarmento Editora de Arte Cibele Cipola Participaram desta edição Lala Deheinzelin, Mariana Lacerda e Waldick Jatobá (texto) Betina Hakim, Edilson Kato, Fogo design, Mauricio Colombo e Luciane Stocco (design) Mariana Zanarelli e Rafael Carrochi (estagiários)
Editora mh@arcdesign.com.br Redação editora@arcdesign.com.br redacao@arcdesign.com.br Arte arte@arcdesign.com.br Marketing cbarata@arcdesign.com.br
Comercial e Marketing Cristiano Barata
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Circulação e Assinaturas Rita Cuzzuol
Assinaturas assinatura@arcdesign.com.br
Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DE SIGN para assuntos internacionais
Impressão www.graficamundo.com.br Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos.
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