Revista ARC DESIGN Edição 72

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design | arquitetura | comportamento | inovação

| Nº 72 |2011 | R$ 18,00 |

design brasil:

ótimos lançamentos

Interiores lojas conceito

Tendências

o futuro é feminino

FEIRAS:

Londres e Courtrai

EUROPA produtos e conceitos



editorial

O

design brasileiro mostrou tamanha força neste final de 2010 que mandamos a vocês um newsletter anunciando o BIG BLOG BRASIL, que editamos para que as novidades chegassem “quentinhas”. Nesta edição, ampliamos o que foi anunciado. Que o Brasil está na moda, já sabemos todos. As empresas e as revistas internacionais nos mandam representantes e jornalistas, para contatos comerciais e artigos sobre arquitetura, design e lifestyle brasileiros. Conclusão? Devemos ficar atentos para que este momento brasileiro nos traga vantagens – de imagem e financeiras – que já são bem merecidas. É também o momento de estarmos atentos, de melhorar a qualidade de nossa produção e de demarcar território sem, no entanto, nos furtarmos aos conceitos, ideias, tecnologia e produtos que possam nos enriquecer, vindos de onde vierem. Sem fronteiras. Nessa edição, publicamos as feiras de Londres e de Courtrai, as tendências internacionais, a edição de um Le Corbusier ainda desconhecido – e muito design brasileiro. Concursos, premiações, lançamentos – uma energia concentrada, que traz jovens designers e também se reflete na inauguração de novas lojas – que publicamos nessa edição – como a Cool Life e a Ciao Mao, em São Paulo, e chega a Goiânia, com o Armazém do Design. Essa é uma edição que privilegia o design. Guto Indio da Costa, nosso colunista, alerta os designers sobre direito autoral e seus meandros. Importante! E se você está ligado nas tendências internacionais, leia o artigo de Ângela Carvalho sobre o resultado da pesquisa realizada pela Feira de Colônia, Alemanha, que nos diz ser o futuro “leve, intuitivo, sensorial”. Deleitem-se com a beleza pura das criações de Heloisa Crocco publicadas no livro “Topomorfose”, das Histórias da Cazumbinha na rubrica Biblioteca, e da instalação de Jum Nakao no MAM do Rio de Janeiro. A capa dessa edição? Uma obra de Fernando Campana, colagem artística que resgata o antigo logotipo da revista, quase como um rito de passagem. É um presente especial dedicado aos leitores de ARC DESIGN. Maria Helena Estrada

NOSSA CAPA Colagem artística de Fernando Campana que traça retrospectiva histórica da revista (foto de Achille Castiglioni, nossa primeira capa; Porca Miseria, de Ingo Maurer; projeto Bombachas, de Renato Imbroisi), como um rito de passagem da antiga para a nova fase de ARC DESIGN. Um belo presente de Ano Novo para nossos leitores 3


cOlAborAdores Ângela Carvalho Designer industrial e criadora da própria marca, Ângela Carvalho – Design Consciente e do Espaço Transforma Design, no Rio Janeiro. Atua na área de imagem corporativa e design estratégico há 22 anos, antes dirigindo o escritório NCS Design Rio. É formadora de opinião e tendências em design

Guto Indio da Costa Designer industrial e diretor do escritório Indio da Costa A.U.D.T. Desenvolve, além de produtos, projetos em Gestão de Design para grandes marcas brasileiras e internacionais

Leila Abe Arquiteta e fundadora da galeria “Paulista em Amsterdã”, reside e trabalha na Holanda há 17 anos. Desenvolve e é curadora de projetos e eventos relativos ao design brasileiro. É ensaísta de publicações acadêmicas sobre arquitetura e tecnologia

Lala Deheinzelin Produtora artística e especialista em economia criativa e desenvolvimento sustentável. Diretora da empresa Enthusiasmo Cultural, tem participação em diversos eventos culturais brasileiros e internacionais. É articulista das revistas eletrônicas “Cultura e Mercado” e “Mercado Ético” e também criadora de metodologias próprias ligadas à economia criativa

Baba Vacaro Designer industrial e diretora do escritório Design Mix. Atua como consultora em gestão estratégica de design e diretora de criação das marcas Dominici, Dpot e St. James. É articulista convidada de veículos especializados em design e decoração e apresenta, desde março de 2010, um boletim sobre design na Rádio Eldorado

Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda. Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata Diretora Editora Maria Helena Estrada mh@arcdesign.com.br

Redação Camila Marques redação@arcdesign.com.br

Edição de Arte Luciane Stocco e Cibele Cipola

Projeto Gráfico Fogo Design Participaram desta Edição Ângela Carvalho, Baba Vacaro, Guto Indio da Costa, Lala Deheinzelin, Leila Abe (textos) Revisão Deborah Peleias Produção Gráfica Cibele Cipola

Comercial e Marketing Cristiano Barata cbarata@arcdesign.com.br

Circulação e Assinaturas Rita Cuzzuol assinatura@arcdesign. com.br

Departamento Financeiro administraçao@arcdesign. com.br

Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores e o seu conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião da revista. As imagens de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos. A revista ARC DESIGN é uma publicação da Roma Editora Projetos de Marketing Ltda., rua Lisboa, 493, São Paulo – SP. CEP 05413 000 Tel: (11) 2808 6000 / Fax: (11) 2808 6026 Inscrita no ISSN sob o número 2179-4707

www.arcdesign.com.br Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Impressão Gráfica Mundo

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Apoio Institucional:


ANTIGA OU MODERNA? CONTEMPORĂ‚NEA.

CADEIRA SMOKE, PLENA DE SIGNIFICADOS. Design Marcel Wanders

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1522, Jardim Paulistano www.conceitofirmacasa.com.br


ÍNDice

dezembro | janeiro | 2011 | Nº 72

26. IMAGINÁRIOS Camila Marques

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Uma “aventura”, quando “o livre pensar é só pensar”. Coleção de produtos possíveis ou imaginários, propostos por Baba Vacaro para a Dpot. Destaque, entre outros, para Guinter Parschalk, Isay Weinfeld, Heloisa Crocco, Sergio Rodrigues

32. TOPOMORFOSE

Maria Helena Estrada Heloisa Crocco extrai a alma, o significado e a poesia da madeira. O livro “Topomorfose”, mesmo sem palavras, traz a declaração de uma visão de vida e é um retrato de seu trabalho e da riqueza que se desprende de cada pequeno fragmento de um tronco de árvore

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DESIGNERS 34. JOVENS Camila Marques Os designers apresentados nesta edição são “inventores” jovens e criativos. A Ház Design dá novas funções a pequenos achados, como a estrutura de uma colmeia, ou o cubo mágico. Sabrina Arini cria um mundo novo com papelão estampado

38. LOJAS CONCEITO

Da redação com a colaboração de Ciça Carvalho (AZ Decor) Espaços com personalidade, que se destacam pela coerência com o produto apresentado, trazem nesta edição exemplos que vão do mobiliário aos sapatos – sempre falando a “linguagem design”. Ciao Mao e Cool Life em São Paulo, Armazém da Decoração, em Goiânia

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48. LONDON DESIGN FESTIVAL Baba Vacaro

A semana do design em Londres é rica em novos talentos e suas mostras se espalham por toda a cidade. Veja nesta edição alguns produtos da vanguarda internacional e um “mapa da mina”, com a localização das principais exposições

56. NOVO MUNDO? O QUE É ISSO? Leila Abe

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A feira bienal de design Interieur, em Courtrai, Bélgica, se diferencia das demais pelo seu caráter conceitual, sua ênfase em conteúdos – seminários e debates – sobre a cultura do design, além de mostras da vanguarda europeia... e brasileira

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62. LE CORBUSIER INÉDITO Maria Helena Estrada

O mobiliário de Le Corbusier, conhecidíssimo, usado e abusado em todo o mundo, recebe novos exemplares – agora em madeira. Desconhecidos até hoje, nunca produzidos industrialmente, são exemplos antológicos, e conseguem ainda ser inovadores em seu conceito básico

64. O FUTURO É LEVE, INTUITIVO E SENSORIAL Ângela Carvalho

Tendências anunciadas no lançamento do livro “Trend Book”, resultado de pesquisa realizada pela IMM, feira internacional de móveis de Colônia, Alemanha. Parece que o futuro, como já previram alguns, será feminino

08. News 16. Um panorama e alguns contrastes 24. Experimentando com os jovens 46. Nem só de roupas vive a moda 7o. Biblioteca

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news A inteligência da madeira O designer Sérgio Fahrer acaba de lançar sua nova coleção de móveis em madeira curvada e fibra de carbono – técnica que lhe garante reconhecimento internacional – com a parceria do irmão e também designer, Jack Fahrer. São 10 peças, entre mesas, cadeiras, poltronas e outros objetos produzidos com matérias-primas certificadas e madeira de manejo sustentável. As peças se destacam pelo design leve, com linhas orgânicas e marcado por desafios estruturais. www.sergiofahrer.com.br

Cultura sobre a mesa A tradição chinesa inspira o design contemporâneo além das fronteiras artísticas. Do designer Stefano Giovannoni para a Alessi, a nova linha Chin Family traz um livro ilustrado sobre seu processo de criação. A origem dos personagens, flores e frutos inspirados na cerâmica chinesa dos séculos XVII e XVIII, é contada nas palavras do autor. Os objetos, que fazem parte do projeto realizado em parceria com o Palácio do Museu Nacional de Taiwan (2007), são em porcelana e resina termoplástica e decorados à mão. Disponível para compra na Benedixt. (11) 3081- 5606, www.benedixt.com.br

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Clássico do lado de fora A Futon Company vai lançar a Paulistano Outdoor, poltrona clássica de Paulo Mendes da Rocha com base e capa para uso em áreas externas. O novo modelo tem estrutura de aço inox e tecido acrílico Sunbrella® com tratamento à base de fluocarbono, capaz de garantir impermeabilidade e antiaderência. Disponível também com tecido liso. (11) 3083-6212, www.futoncompany.com.br

Itália em SP Este mês, os produtos da italiana Skitsch, do catálogo 2011, começaram a ser comercializados, com exclusividade, pela A Lot Of, em São Paulo. Entre peças criadas por designers de todo o mundo e alguns brasileiros, destaque para o Sofá Sack, com estrutura em madeira, encosto regulável e estofado em tecido antiderrapante, do designer austríaco Marc Sadler, e para as luminárias Wood Table e Wood Floor, em teca maciça com estrutura de aço inox, design Fernando e Humberto Campana. (11) 3068-8891, www.alotof.com.br

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news Bienal Ibero-americana de Design Vai até fevereiro de 2011 a exposição de trabalhos referentes à Bienal Ibero-americana de Design 2010, na Central de Design do Matadero, em Madrid. A mostra foi inaugurada em 22 de novembro, junto às conferências, debates, workshops e demais atividades culturais do evento, realizado até o dia 26 de novembro. Organizada em parceria com a Associação de Designers de Madrid e a Fundação Design Madrid (DIMAD), a BID10 teve como temas principais “Design para o Desenvolvimento” e “Design para Todos” e contou com a participação de mais de 400 profissionais de diversas áreas do segmento, provenientes da América Latina, de Portugal e da Espanha. Entre os palestrantes brasileiros estavam Eduardo Queiroz, Miriam Korokolvas e Heloisa Crocco, além de Ruth Klotzel e Giovanni Vannucchi, que representam o país no Comitê Assessor do evento. Também estiveram presentes, para receber o prêmio pelos trabalhos que apresentaram na exposição, os designers Mateus de Paula Santos, Domingos Tótora, Eduardo F. Queiroz, Marcelo Aflalo e Mana Bernardes. As peças foram selecionadas pelo Comitê Assessor da Bienal e por um júri composto por outros designers representantes dos países participantes. Quem não puder visitar Madrid até fevereiro, pode acessar o site da Bienal e fazer o download das imagens das peças da exposição. www.bid-dimad.org

Não é o que parece O designer César Burgos levou ao espaço de exposições da La Lampe, SP, as luminárias ousadas e estranhas que produz a partir de fragmentos industriais e sucata. Com aparência de instalações e de pequenos circuitos elétricos, as peças reinventam formas, gerando novos objetos feitos com pedaços de metal, madeira, louça, entre outros materiais alternativos, muitas vezes resgatados de outras épocas. A mostra vai até 20 de dezembro. Parte da seleção estará à venda na loja por tempo limitado. (11) 3069-3951, www.lalampe.com.br 10


Rio + Design A Semana do Design no Rio de Janeiro fez questão de enfatizar que “ele é carioca”. E pelo o que foi visto, cada vez melhor. Destaque para a cerimônia de abertura com a presença de Ewa Kumlin, da Svensk Form, Suécia, e a exposição de peças cariocas – claro – de Antonio Bernardo, Guto Indio da Costa, Latoog e outros; seminário organizado por Virginia Moraes do Senac Rio, com Tulio Mariante, Christian Ullman e Ligia Mefano; inauguração de Ângela Carvalho, que apresentou sua nova empresa, Design Consciente, com linda festa no Espaço Transforma Design, e a presença da Lua cheíssima, no “quadrado” da Urca; o design carioca reunido na loja Novo Desenho, de Tulio Mariante; o lançamento do GUIA DESIGN RIO, edição da ARC DESIGN com o patrocínio do Sebrae Rio, e muito mais. Não percam a edição de 2011!

Wagner Ziegelmeyer

www.riomaisdesign.com.br/site/

Cadeira ICO1, design Guto Indio da Costa, Andre Lobo e Felipe Rangel, exposta no Rio + Design 2010

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news Os reciclados O Estúdio RosaPinc produz objetos exclusivos para decoração em cerâmica, desenvolvidos pela proprietária e designer que lhe dá o nome. A nova série é composta por peças produzidas com sobras de argila da produção de outros objetos. Assim, a matéria-prima excedente é reaproveitada, evitando o desperdício, e a coleção pode contar com mais de 10 opções de peças, entre vasos, abajures, gamelas e outros utensílios. (11) 3501-9478, www.rosapinc.com.br

Brincando com palitos/fogo A mesa Phosphoro oferece diversas aplicações a partir do objeto que inspira o seu nome. Do designer Gustavo Engelhardt, tem lateral em compensado impresso, com pés rosqueáveis em madeira maciça e tampo estilizado que serve como gaveta. À venda na Novo Ambiente. (21) 3325 2529, www.novoambiente.com.br

Como quase sempre, menos é mais Lançamento da Herman Miller, a Sayl Side Chair foi criada para ser montada de maneira prática e ocupar menos espaço no ambiente. Produzida em material reciclado, com o encosto ergonômico e sem moldura, não exige o uso de ferramentas na montagem e vem em caixas de tamanho médio. E, com a assinatura Herman Miller, já temos a certeza de que o produto é original e de “primeira geração”. www.hermanmiller.com.br 12


A alta decoração encontra o mais perfeito equilíbrio. Unimos a genialidade do designer Carlos Motta ao uso responsável de madeira certificada FSC®. Nova Coleção Timbó. Aqui a sofisticação e sustentabilidade andam lado a lado.

Alagoas - Maceió - VB Design - (82) 3311 4242 Bahia - Salvador - Home Design - (71) 3503 5959 Distrito Federal - Brasilia - Hill House - (61) 3363 5273 Espírito Santo - Vitória - Stampa Home - (27) 3089 5555 Goiás - Goiânia - Armazém da Decoração - (62) 3281 7432 Maranhão - São Luís - Espaço Fátima Lima - (98) 3235 9805 Minas Gerais - Belo Horizonte - Tetum - (31) 3261 6660 Pará - Belém - Innato (Habitat) - (91) 3242 2486 Pernambuco - Recife - Casa Pronta Design e Interiores - (81) 3465 0010

Piauí - Teresina - Lilia Design - (86) 3232 7501 Paraná - Curitiba - Inove Decoração+Design - (41) 3014-9393 Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Arquivo Contemporâneo - (21) 2497 3363 Rio Grande do Sul - Porto Alegre - Habitart - (51) 3328 0623 Santa Catarina - Florianópolis - Ettore Design - (48) 3234 5930 Santa Catarina - Balneário Camboriú - Algardi Casa - (47) 3363 2681 Sergipe - Aracajú - Home Design Casual - (71) 3358-0400 São Paulo - Santos - Alhambra Móveis - (13) 3273 4484 São Paulo - São Paulo - D’pot - (11) 3082 9513

Acesse o site e conheça todos os itens da nova Coleção Timbó

butzke.com.br/unique _

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news Produção de primeira linha Os Campana foram os primeiros designers brasileiros a se consagrarem mundialmente e agora lançam no Brasil peças criadas para a Riva. Na foto, uma bandeja em aço inoxidável dobrado e soldado com pontos invisíveis. O acabamento também pode ser em titânio fosco. Produzidos artesanalmente, os objetos unem criatividade e sensibilidade para homenagear a escola modernista da Bauhaus. 0800 6061600, www.riva.com.br

Descanso ao ar livre Entre as novidades de verão da Danish Design está o Sofá de Balanço Lansing Natural, com teto de proteção. Em fibra de polietileno trançada manualmente, o móvel oferece conforto nas refeições e momentos de repouso ao ar livre e também protege contra variações climáticas. (11) 3062-0085, www.danishdesign.com.br

Parede de papel Assinada por Ana Maldonado, a linha Ruído dá o aspecto de papel amassado às rígidas placas cimentícias da Solarium, por meio da aplicação de folhas de algodão tramado. São quatro texturas distintas com padrões que se complementam e compõem um efeito de movimento irregular, como o de dobras. O projeto ganhou a primeira colocação na categoria Design de Superfície do prêmio Bornancini 2010. www.solariumrevestimentos.com.br

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design brasileiro/concursos

UM PANORAMA E ALGUNS CONTRASTES

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Em meio à avalanche de prêmios e concursos, alguns merecem nossa atenção pelo “tempo de vida”, ou seja, pela persistência de seus organizadores, e outras premiações, como aquelas dedicadas a estudantes, valem por revelar futuros profissionais. O design brasileiro – é visível – subiu de patamar. Vamos aproveitar e exigir ainda mais? camila marques

Sofá da linha Tiras, da OVO, design Gerson de Oliveira e Luciana Martins, feito com madeira de reaproveitamento ou em compensado e estrutura em aço inox polido. Um dos premiados com a 1ª colocação na categoria Mobiliário

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design brasileiro/concursos

N

ovos materiais, base fundamental da verdadeira inovação, segundo Gaetano Pesce... e muitos outros designers. Mas qual a diferença no resultado final? “Uma nova linguagem expressada com materiais tradicionais veicula a incerteza da mentira”, afirma o designer e arquiteto italiano. Em suma, a teoria propõe que um novo produto não pode ser concebido de maneira antiquada. Linguagens atuais, técnicas avançadas e novas opções de matérias-primas devem ser incorporadas. Reforçando esta constatação, o 24º Prêmio do Museu da Casa Brasileira mostrou, nos projetos concorrentes, a diversidade de materiais utilizados na produção nacional. A madeira, normalmente explorada na categoria Mobiliário, deu lugar a novas soluções entre os produtos selecionados e premiados.

Luminária Folha, de Moshe Gorban e Eduardo Ernesto Dutra, com refletores em aço inox e alumínio, base em Corian com esfera de baquelite, haste em fibra de carbono e iluminação com Led

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Ao lado, o também premiado em 1º lugar, Módulo 7, de Zanini de Zanine, em plástico e fibra de vidro, com prático sistema de montagem; abaixo, o xale da linha Pauta M1, de Renata Meirelles, em tafetá cortado a laser com adesivos aplicados com ferro e soldagem em prensa térmica, ganhador da Menção Honrosa na categoria Protótipos Têxteis

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design brasileiro/concursos

Acima e à esquerda, painel frontal e perfil do toca-discos, design de Max Targanski Medeiros, com alto-falante e prato giratório em acrílico e duas opções de acabamento

Ao lado, nas duas fotos, o dosador de espaguete Pazzo, da LB2 Design, em bambu e alumínio. Abaixo, banco Solo, de Domingos Tótora, com estrutura em ferro e assento feito manualmente com papelão reciclado, que dividiu o 1º lugar na categoria Mobiliário que, nesta edição, premiou três produtos

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Da mesma forma, os projetos finais também não se repetiram com a mesma frequência, mas no lugar das muitas cadeiras, por exemplo, surgiram novas tipologias desenvolvidas com tecnologias construtivas menos tradicionais. São exemplos alguns produtos que dividiram o primeiro prêmio, como o Módulo 7, de Zanini de Zanine, em plástico e fibra de vidro, produzido por injeção, e também dois projetos que fazem referência à sustentabilidade: a linha Tiras, da OVO, feita com madeira de reaproveitamento e compensado, e o belo banco Solo,

em papelão reciclado, design Domingos Tótora. Na categoria Iluminação, o primeiro lugar coube às luminárias da linha Bauhaus, com pintura eletrostática, design Fernando Prado. Outro aspecto que não passou despercebido foi a maior participação de profissionais consagrados, indicando o crescimento da produção – em quantidade e qualidade – do mercado brasileiro. E também a confiança no concurso. Mas a desigualdade ainda é grande, em algumas categorias. O cartaz, símbolo representativo do Prêmio, surpreendeu e agradou por ser a primeira

vez que um desenho não figurativo, mas que deixa perceber um sutil “24”, ganha o prêmio. Parabéns ao júri e a Nadezhda da Rocha e Julia Masagão, as criadoras do projeto. Ao contrário de alguns exemplos internacionais que, na atual crise europeia, se autocopiam e parecem, em muitos casos, não ter uma direção certa, o Brasil tem se revelado, a exemplo do que vimos no Prêmio Design MCB, um campo promissor para um número cada vez maior de industriais e empresários que já acordaram para a nova realidade.

Mesas da linha Clips, em aço, com tampo de MDF laqueado, design Ilse Lang

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Fotos Marcelo Scandaroli

Nesta página, nas duas fotos, vista geral do espaço do Museu, que evidencia a variedade de tipologias e a primorosa montagem da exposição

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EXPERIMENTANDO COM OS JOVENS Quer melhor estímulo para um estudante de design do que ver seu projeto materializado? É esta a oportunidade oferecida aos projetos selecionados nos concursos bienais da Masisa maria helena estrada

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evo afirmar como testemunha que participa do júri dos concursos bienais da Masisa desde sua primeira edição – e em 2010 aconteceu a 5ª edição – que os projetos concorrentes, e também seu desenvolvimento, crescem em qualidade a cada ano. Crescem exponencialmente. Coordenado por Solon Cassal, gerente de produtos da Masisa, o concurso tem como exigência o uso prioritário das chapas de madeira fabricadas

Cadeira Own, totalmente desmontável, com desenho que permite o encaixe das peças e montagem em poucos minutos

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pela empresa e a economia de material. Destas premissas se segue a necessidade de trabalhar no “chão de fábrica”. Talvez aqui esteja um dos segredos, ou explicação, da diferença de qualidade na transformação do projeto em protótipo e deste em produto. Esta distinção se mostra clara durante as entrevistas que o júri faz com cada concorrente selecionado para a fase final do concurso: quem trabalhou em seu projeto junto à indústria sabe explicá-lo e defendê-lo. E aqui vai uma segunda observação para quem se inicia na carreira: é preciso saber “vender” seu projeto ao empresário. Uma certa noção de marketing não é desprezível... Durante a premiação da fase nacional ocorrida em Curitiba, Jorge Hilman, diretor geral da Masisa Brasil, mostrou sua alegria e entusiasmo ao notar a elevação significativa no nível dos projetos apresentados. Mas o concurso é internacional, e traz a oportunidade de compararmos o nível de desenvolvimento entre Brasil, Chile, Argentina, México e Venezuela. Além do mais, os prêmios são estimulantes, daqueles “em espécie” a uma bolsa de estudos integral no Instituto Europeu de Design, a uma visita ao Salão do Móvel de Milão.


Concurso de Design Masisa para Estudantes 2010 RELAÇÃO DE PREMIADOS FASE NACIONAL 1º lugar: Mobiliário Infantil Mobille, de Lucileni Cristina Ribeiro e Lisset Veja Figueredo, alunas da UDC – União Dinâmica de Faculdades Cataratas, de Foz do Iguaçu (PR) 2º lugar: Own, de Hugo Hayashi Hisamatsui, aluno da Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, de Bauru (SP) 3º lugar: Mesa FiftyThree, de Vinícius Lopes Leite, aluno do Senac (SP) Menção Honrosa: Toy – Equipamento para engraxate, de Leandro Gava e Muriele Pasini Vivian, alunos da UCS – Universidade de Caxias do Sul (RS) FASE INTERNACIONAL 1º lugar: Estante EME, de Isabel Tapia e Gustavo Concha, alunos da DuocUC – Instituto Profissional e Centro de Formação Técnica da Pontifícia Universidade Católica do Chile 2º lugar: Mobiliário Infantil Mobille, de Lucileni Cristina Ribeiro e Lisset Veja Figueredo, alunas da UDC – União Dinâmica de Faculdades Cataratas, Foz do Iguaçu (PR) 3º lugar: Natural Kid Table, de César Daniel Murillo, da Universidade de Monterrey, México No alto, Toy, sofisticado projeto que substitui e soluciona a precariedade do atual modelo “clássico” para engraxates ambulantes. Acima, estante EME. Abaixo, Mobille, conjunto de peças com formas intercambiáveis (que também inclui prateleiras fixadas à parede): bom desenho e economia de material – foi utilizada apenas uma chapa de madeira

Júri (da fase nacional): Ivens Fontoura, designer, professor e crítico de design; Amilton Arruda, designer e coordenador do curso de pós-graduação do IED Brasil - Istituto Europeo di Design; Bernardo Senna, designer; Maria Helena Estrada, editora da revista ARC DESIGN. Na fase internacional, também participou Ignacio Gonzalez, diretor de Comunicação e Marketing da Masisa Chile

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IMAGINĂ RIOS

design brasileiro

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Como se não fosse possível realizar tudo que imaginamos! Para construir um novo cenário – bem brasileiro – a Dpot e sua diretora de criação, Baba Vacaro, convidaram um time selecionado, o melhor de nosso design, para realizar uma obra concreta e outra virtual camila marques

CEcASA, design Guinter Parschalk. Construção arquitetônica com caixotes “amarrados” por “sargentos” vermelhos. Brilhante ideia, absolutamente contemporânea

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design brasileiro

R

eferências brasileiras, populares ou eruditas, passadas ou contemporâneas, o casual, o funcional e o emocional marcam a série Imaginários Dpot. O projeto ganhou sua tradução virtual com um documentário, série de programas criados para a televisão. Dois aspectos entrelaçados serviram de inspiração para o desenvolvimento da série: a cultura e a sociedade brasileiras. É possível também notar esta influência nos materiais e conceitos aplicados ao desenvolvimento de cada peça. O móvel “pobre”, com valor agregado pelo design, se materializa no armário CEcASA, de Guinter Parschalk, com a reutilização dos caixotes de madeira e o uso de “sargentos”, que estruturam e dão graça à sua miniarquitetura; na sutil delicadeza de Heloisa Crocco, com suas gaiolas empilhadas sobre uma base de madeira; nas cadeiras Pajaros Amazonicos, design Roxanne Duchini, com retalhos coloridos. Proporções criadas como em uma boa arquitetura estão presentes na Farmacinha de Isay Weinfeld, um “puzzle” de gavetinhas e, ainda, no desenho de Guinter. A tendência à imaterialidade e à leveza está presente no contêiner muito chique de Ari Lyra, de acabamento impecável na transparência do vidro. A mesa Gelatina, bela ideia, design Baba Vacaro, que utiliza sobras de metacrilato, cria para a Allê Design a possibilidade de trabalhar com um novo material e reduzir o descarte da indústria.

Acima, divisórias Wabi Sabi, design Heloisa Crocco, com delicadas gaiolas empilhadas, vazadas, vazias, sutis 28


E retornando à nossa tradicional madeira, não poderia faltar a Chifruda, a mais recente criação do mestre Sergio Rodrigues. “A ideia era a de fazer os designers pensarem livremente, para o presente e para o futuro”, comenta Baba Vacaro.

Fotos Eddu Ferraccioli

O VIRTUAL Cinco programas para a TV (GNT), com o título “Casa Brasileira”, mostraram nosso morar sob o ponto de vista e o trabalho de profissionais da arquitetura e do design. Thiago Bernardes & Paulo Jacobsen, Carlos Motta, os Campana, Isay Weinfeld e Sergio Rodrigues deram as diretrizes. Baba Vacaro escreveu o roteiro e a equipe comandada por Alberto Renault pesquisou paisagens, ambientes assinados ou espontâneos e também habitantes de cidades e povoados. “Visitamos cidades, serra, mar, casas, fazendas, apartamentos, moradores anônimos e famosos”, conta o diretor. Nos depoimentos de Bernardes & Jacobsen e de Carlos Motta, uma preocupação em comum: a preservação ambiental. “Temos de entender o que deu certo e errado na construção da arquitetura brasileira, a mistura de materiais e o que tem de ser preservado”, afirma Thiago Bernardes. Carlos Motta cita, entre outros projetos, a construção de sua própria casa, no litoral norte de São Paulo. O objetivo? “Colocar a casa em um pedaço de Mata Atlântica sem estragá-la”, afirma o arquiteto e designer.

No alto, Container AL|RS, design Ari Lyra, em vidro, com acabamento e proporções perfeitas. Acima, Farmacinha, do autodenominado hipocondríaco Isay Weinfeld. Como sempre, trabalho de mestre nos mínimos detalhes

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design brasileiro

Acima, instalação Caixa de Memórias, de Jum Nakao inspirada por um balanço infantil, rudimentar. Abaixo, cadeira Chifruda desenho ousado e divertido de Sergio Rodrigues

Os Campana, em entrevista concedida ao apresentador Zeca Camargo, falam sobre sua contribuição para a formatação atual do design brasileiro e a importância da mensagem transmitida pela produção do vídeo. “O móvel é personagem na casa de alguém, algo que você escolhe para estar lá e, por isso, tem de ter características que facilitem esse convívio”, defende Fernando.

Um tour virtual pela exposição e outras fotos da série Imaginários estão disponíveis no site da Dpot, www.dpot.com.br

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design brasileiro

Carlos Stein

Fรกbio Del Re

Fรกbio Del Re

Fรกbio Del Re

Fรกbio Del Re

TOPOMORFOSE:

O COERENTE DESENROLAR DE UMA OBRA maria helena estrada 32


Fábio Del Re

Fábio Del Re

Carlos Stein

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m livro sem palavras. Mas quem precisa delas para entender ou se emocionar com o trabalho de Heloisa Crocco? “Topomorfose” é um livro – com o perdão do lugar comum – que atinge de imediato nossos cinco sentidos emocionais. Página a página, árvores, um close em seus troncos cortados, as texturas, um trabalho de joalheria criando relevos que seguem os caprichos da madeira, os recortes. Uma série de fotos – magníficas – nos conta esta história. E continuam com os carimbos, minúsculos, que desenham padrões, que tecem uma infinidade de pequenas obras de arte – apenas com uma visão profunda e obediente da linguagem da madeira. E estes padrões se transformam em imagens aplicadas a tecidos, louças, cadernos, e o que mais você pensar. Depois, a arte de Heloisa nos leva à série de “telas” feitas com os triângulos descartados das ponteiras de cercas de madeira exportadas (são perigosas...). Com elas, a designer artista cria painéis de engenhosa composição. Preciso dizer que são maravilhosos? Finalizando esse fantástico passeio, vemos a casa de Heloisa, toda em madeira, de uma simplicidade monástica, mas de uma graça toda feminina em seus detalhes. E uma belíssima e rigorosa arquitetura debruçada, do alto do morro, sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre. Um texto de José Alberto Nemer completa o poema.

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jovens designers

HÁZ DESIGn Funcionalidade, técnica e identidade própria são características marcantes da linha criativa do Studio Ház. A ideia é fazer com que os produtos não pareçam o que são e assumam diversas funções além das que possuem originalmente. Um jeito lúdico e contemporâneo de se fazer e pensar o design camila marques

Tecnologia e artesanato reunidos nas luminárias Ponto, da Ház Design, cujos produtos têm sempre uma “pegada” ecológica e sustentável 34


Acredito que todos os nossos móveis possuem uma harmonia de cores, funções e formas que os diferecia e os destaca. Principalmente porque buscamos reaproveitar materiais para mostrar a proposta de sustentabilidade no design”, afirma Fernando Oliveira.

E

le e o sócio utilizam madeira de demolição, vergalhões de construção, entre outros materiais de descarte, para desenvolver as peças da marca. Instalado em São Paulo no início de 2010, o Studio Ház (da palavra casa, em húngaro) já conta com cerca de 80 peças, entre móveis e objetos de design projetados e desenvolvidos pelos proprietários sob o critério da versatilidade. A personalidade do trabalho de design dos arquitetos Fernando Oliveira e Saulo Szabó, revelada na linha de mobiliário que deu origem à marca, levaram o head designer da A Lot Of, Pedro Franco, a convidá-los para criar uma coleção exclusiva para o showroom da loja. Qual o segredo para tal afinidade? A vontade da A Lot Of de montar um conjunto de peças com boa qualidade de design e originalidade na criação. A mesa Mel foi a primeira a ser produzida. Feita com

Caixas de colmeias! Este é o material reaproveitado pela dupla de designers para a criação do gaveteiro Mel

caixas utilizadas na apicultura, é resultado da simples e curiosa observação da realidade por parte de seus autores. “Estávamos na fazenda do Fernando quando vimos as caixas, que nos chamaram a atenção pela cor, resistência e pelo novo uso que poderíamos dar a elas”, explica Szabó. Os produtos são feitos em tamanhos compactos, com sistemas de encaixe e poucos parafusos, para oferecer praticidade no uso diário, e alguns ainda são multifuncionais. São exemplos a mesa Robb, em madeira de demolição e MDF laqueadas, que também apresenta uma bandeja acoplada, com pinos, para ser utilizada separadamente, e a mesa lateral na forma e com o nome de Cubo Mágico, por suas pequenas gavetas multicoloridas que mudam de posição. “O visual é lúdico, mas o acabamento de dobradiças mostra uma atualização da marcenaria”, declara Oliveira.

Cubo Mágico, mesa e gavetinhas secretas, em madeira com pintura brilhante. Todas as peças são exclusivas da A Lot Of e reforçam a imagem da loja pela coerência dos produtos que oferece

Saulo Szabó e Fernando Oliveira dirigem o escritório de arquitetura Szabó e Oliveira desde 2008 e atuam em obras residenciais e comerciais principalmente na cidade de São Paulo.

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jovens designers

REIvENTANDO.. COM MUITA

GRAÇA Filha de arquiteto, a designer Sabrina Arini cresceu em um ambiente onde a criatividade era latente e os objetos marcados por um caráter inventivo camila marques

Jacaré Jaya Kids. A ideia era criar uma estampa estilizada com desenhos que remetessem às estruturas que formam o corpo do animal 36

Em casa, sempre pudemos quebrar as tradições e fazer diferente. O novo, o nosso e o inusitado eram celebrados. Assim, fui crescendo e achando que as coisas não são como são e ponto, mas apenas são como são para que possamos mudá-las, transformá-las e inventá-las de novo. Essa é a grande graça”, declara.


Fotos Pedro Loes

Centopeia Jaya Kids. A proximidade entre os pequenos desenhos de círculos coloridos gera uma sensação de preenchimento total quando o objeto é visto de longe

Monstroleta. O motivo de bichos ganha nova versão com figuras imaginárias que mais parecem os animais que habitam o fundo do mar

E

que graça! Não à toa, a linha de objetos em papelão da Jaya!, (empresa da designer) – sucesso entre as crianças – encantou a equipe do Destination Brazil do MoMA, N. York, que levou os banquinhos Zoo para expor e vender na loja do Museu, em 2009. “O trabalho dos bichos de papelão é um dos que me dão mais orgulho, porque foi feito de ponta a ponta, pensado em cada detalhe, em um momento muito inspirado, quando pude contar com uma equipe

Girafa Jaya Kids. A técnica de impressão por clichê foi utilizada para reproduzir a mesma textura do corpo da girafa

informal, porém ótima”, revela Sabrina, que é designer gráfica, mas trabalha essencialmente com produtos. Inovação e sustentabilidade, com o uso de um único material e poucos recursos – as peças são estruturadas somente com encaixes, sem o uso de colas, parafusos ou madeira – é o ponto de partida do processo. O estúdio Jaya!, em São Paulo, também apresenta outras coleções próprias em diversos materiais com estampas criadas pela designer. O que ela tem de diferente? Na

técnica, a imagem digital, que é impressa diretamente na peça, não adesivada; na forma, os desenhos com aspecto de movimento causado pelo uso de traços fluidos e combinações inusitadas de cores. Um trabalho quase artesanal em que os materiais e recursos são determinados, de forma aleatória, pela autora. Sabrina Arini venceu o concurso para novos designers “O Meu Brazil é com S”, do IED de Barcelona, para o qual também ganhou uma bolsa de estudos de um ano.

Todos os móveis são feitos com papelão ondulado e estruturados por encaixe, com excessão da Centopeia Jaya! Kids, cujas partes são ligadas por cordas. 37


interiores

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LOJAS COnCEITO Elas não conhecem fronteiras. Objetivo comum: oferecer produtos apreciados e reconhecidos, brasileiros ou internacionais. São lojas que atendem ao mercado com inovações, experimentos e parcerias inusitadas. Cool Life, Ciao Mao e Armazém da Decoração, as duas primeiras em São Paulo, a última em Goiânia. Cada uma em seu segmento, representam o melhor design seja no showroom ou nos produtos que apresentam. São marcas que acompanham as tendências do mercado sem perder de vista os princípios que inspiram sua produção Da redação com a colaboração de Ciça Carvelho (AZ Decor)

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interiores

AQUI, TUDO RESPIRA DESIGN “N Os conceitos integrados de design e dualidade, presentes no nome – Ciao (ocidente) Mao (oriente) – conduzem o trabalho da grife de calçados e acessórios da estilista Priscila Callegari e de suas duas lojas em São Paulo

osso objetivo foi o de criar um ambiente onde seja possível a reflexão sobre a importância dos pés e de que os sapatos devem ser considerados mais do que meros acessórios de moda”, explica a estilista que, na ambientação de seu showroom, já se diferencia das “normais” lojas de sapatos. As referências ao oriente estão espalhadas na decoração, como algumas raridades e antigos sapatinhos japoneses. Os móveis e objetos que compõem a decoração são feitos, em sua maioria, de materiais de descarte e organizados de maneira a “harmonizar” com os sapatos e acessórios. Exemplos curiosos são o sistema de estoque, modular disposto em sapateiras feitas com lona de caminhão e latas de alumínio e – na loja da rua Mello Alves – são complementados pelos gaveteiros, com bases que reproduzem diferentes épocas do mobiliário brasileiro, criação da arquiteta Moricy Lui Chaim. Tiras, cordões, elásticos, lenços e outros acessórios em diferentes cores, materiais e textu-

ras ficam à disposição das consumidoras para o desenvolvimento de novos modelos – os calçados interativos – em um processo colaborativo de criação. “A consumidora pode formar um par de calçados único, personalizando-o, ou ‘vários calçados’ em um mesmo modelo”, garante Priscila. Oferecer diferentes padrões de medidas e gostos é uma das características que melhor identifica a Ciao Mao. Engajada no lema “conforto dos pés para a cabeça e design da cabeça para os pés”, a marca celebra a diversidade com a renovação constante e independente de seus espaços e coleções. “Valorizamos o design como linha condutora, desprendido de modas passageiras, mas atento a tendências sociais. Afinal, tal como a arte, o bom design nunca sai de moda”, afirma a criadora. E na saída, a surpresa final, uma bolsa-embrulho estilizada em algodão, fazendo alusão ao furoshiki japonês, feito com um lenço de seda - serve de embalagem e proteção aos sapatos.

Imagem ampliada do modelo Oby Mol, que pode receber acessórios diversos, como palas de tecido, amarras com cordões elásticos e também lenços de algodão

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FOTOS e fotoilustração Priscila Callegari

No alto da página, à direita, modelo Meia, em pelica supermacia, com desenhos vazados feitos a laser; à esquerda, metamorfose do modelo Oby Mol, com solado em couro flexível e salto baixo em crepe; e, à direita, fotoilustração de imagens de “Albert Einstein” com padronagens disponíveis para a “língua”, que pode acompanhar o modelo Tong, abaixo, em couro, com salto e detalhe em borracha reciclada

Vistas do interior da loja, com destaque (foto à direita) para o sistema de estoque, modular e aparente, projeto de Moricy Lui Chaim

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interiores

Cool life O nome traduz o conceito da loja: “proporcionar um ótimo estilo de vida, sem nenhum estresse”, numa tradução livre da popular expressão inglesa

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FOTOS Samuel Chaves

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as a inspiração vem da larga experiência de produção e exportação no setor moveleiro. O empresário André Rizzon e a esposa, Daniela Lopes, que representam a indústria gaúcha Rizzon Furniture desde 1999, decidiram estender o mesmo conceito de criação exclusiva voltada ao mercado mundial a um espaço que pudesse servir de laboratório e showroom para as peças e projetos de design desenvolvidos pela empresa. Inaugurada em março deste ano nos Jardins, São Paulo, a loja Cool Life tem como proposta atuar como uma oficina de criação. “Isto nos permite não seguir o modelo já conhecido de ’inspiração‘ em outros mercados mas estudarmos tendências, e utilizar nosso know-how unido a muita tecnologia”, declara Daniela. Localizado na Rua da Consolação, o prédio de três andares onde funciona a loja lembra uma instalação fabril, propositalmente, por escolha dos donos, que desejam transmitir aos clientes a paixão que têm pelo “chão de fábrica”. No mesmo espaço da loja há um estúdio próprio, o Eros Concept, com uma equipe exclusiva de designers, responsáveis pela criação das quatro linhas produzidas pela Rizzon, embora apenas

Acima e na página ao lado, projetos de estampas de parede, móveis (cômoda) e desenhos aplicados com impressão digital, design Gina Elimelek e equipe Tergoprint. Abaixo, em destaque, poltrona Maael, mesa de centro e estante em laca vermelha fabricadas pela Rizzon Furniture

a linha Premium seja comercializada no showroom da Cool Life. O resultado são peças com design exclusivo, aliadas a padronagens e colorido originais, alguns ressaltados pela excelência da laca. Os projetos de ambientes (dormitórios, salas de estar e jantar, home office, outdoor) são desenvolvidos com a parceria de outras empresas e profissionais do mercado, como a designer Gina Elimelek, designer e proprietária da Tergoprint, que realiza projetos de design de superfície e impressão digital para algumas linhas da loja. “No caso da Cool Life, desenvolvemos um conteúdo gráfico para as linhas de papel de parede e tecidos para mobiliário e cortinas, onde a interação com a linha de móveis produzida pela empresa possibilita uma nova abordagem em sua cultura de negócios, com a customização de peças associada aos espaços projetados”, explica a designer. O desejo de oferecer design exclusivo com tecnologia de ponta é o que impulsiona a Cool Life. “E é assim que atingimos nossa principal meta”, afirma André Rizzon, “proporcionar ao cliente produtos de qualidade e design, com preços e prazos de entrega que superem as expectativas.”

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interiores

Design

sem fronteiras Ciça Carvelho de Goiânia

A

história do Armazém da Decoração, em Goiânia, confunde-se com a trajetória de suas proprietárias – arrojadas, cultas, ecléticas. Desde 1998, elas viajam, pesquisam e acertam no alvo: o design contemporâneo e de vanguarda, com leves toques “retrô”... para acompanhar a moda. Abadia Haick e Daniela Haick Mallard deram à loja um clima aconchegante sem ser tradicional, ousando reposicionar o mercado de design na cidade. O design era a bola da vez, uma tendência de consumo que só poderia ter como resultado a expansão. Foi o caminho escolhido pelo Armazém da 44

Decoração sempre acompanhando o crescimento do mercado e, aos poucos, imprimindo um novo olhar ao design de interiores em Goiânia, GO. Mix de linguagens, a ambientação da loja funciona como um cenário para as peças, com referências à moda, à dança e ao teatro no desejo de traduzir a arte e as sensações provocadas pelas diversas linguagens. O design brasileiro sempre foi presença forte na AZ, e muito bem combinada com novos ingredientes internacionais. Hoje, o “garimpo intuitivo” de Abadia e Daniela inclui nomes como Droog Design, Stockholm Design, Alvar

Aalto e outros “achados”. Atenta à necessidade de acompanhar a vertente comercial daquela cultural, o Armazém da Decoração realiza um dos eventos mais importantes no calendário nacional, a Mostra Brasileira de Design, na qual grandes nomes são convidados a expor suas obras. Fernando e Humberto Campana, Carlos Motta, Sergio Rodrigues, Jaqueline Terpins, entre outras personalidades do design, já foram convidados. Com isso, a loja deixou de ser regional e ganhou uma cara de mundo, atraindo a curiosidade de todos que buscam o novo e inusitado.


Fotos Hélio Sperandio

Acima, vista geral do showroom. Nas outras imagens, design Campana: à esquerda, cadeira Harumaki, com estrutura em ferro e pintura eletrostática, tem assento e encosto trabalhados com os “sushi” em tapete e EVA; abaixo, as cadeiras Vermelha e nova versão da Multidão, com as pernas revestidas com couro e lona

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publieditorial

NEM SÓ DE ROUPAS VIVE A MODA

A Tok & Stok não apenas acompanha como também cria tendências. Trazer o mundo da moda, ou do fashion design e seus criadores, para os utensílios da casa já se tornou uma constante na coleção da empresa. Agora temos Ronaldo Fraga com ilustrações carregadas de humor e uma fina ironia maria helena estrada 46


As linhas Valsa e Risco de Giz foram inspiradas nas bailarinas de Pina Bausch das coleções originais do estilista. Ao lado, da esquerda para a direita, conjunto de porta-copos com duas faces, em EVA revestido com papel e vinil e estampa com desenhos em silkscreen; almofada em poliéster, com enchimento em manta acrílica siliconizada e forro “no woven”, estampada com impressão digital; e caneca em porcelana, com estampa aplicada sob alta temperatura

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ícaras, canecas, pratos, porta-copos, jogos americanos, lençóis, e muito mais, são objetos que vemos e usamos logo ao acordar, são plenos de significados e têm o poder de despertar nossa fantasia, nos alegrar e levar para outros mundos. É esta a sensação que temos ao olhar a nova coleção de Ronaldo Fraga para a Tok & Stok. Podemos considerar o projeto apenas como design de superfície, mas o conceito original e seu resultado têm

maior dimensão, e cada um dos desenhos, do romântico (nos artigos para banho) ao lúdico – este sempre com uma dose de humor, como a louça “bolacha Maria” – passando pela incrível série de saias, definem um estado de espírito. Tomar um café da manhã acompanhando os traços de Ronaldo Fraga na sua desmaterialização da saia das bailarinas, concordemos, é bem mais estimulante do que uma louça simplesmente branca. “As linhas trazem registros gráficos de várias coleções.

São fragmentos afetivos de histórias para serem usadas na cama, na mesa, no banho. É a decodificação da moda aplicada ao universo Tok & Stok”, comenta Ronaldo Fraga. É essa uma das características da marca Tok & Stok, nas palavras de sua gerente de marketing, Flavia Lucena: “trazer sempre produtos ligados ao aspiratório, ao mundo sensível. Neste caso, a associação entre design e moda”. Objetos com imaginação e história. Use-os, e torne seus dias mais leves!

À esquerda, caneca, prato e tigela da linha Biscoitos, em porcelana decorada com aplicações feitas sob alta temperatura, inspiração nas bolachas “Maria” e, à direita, Ronaldo Fraga em um de seus momentos inspirados de “Playground Criativo”, que caracteriza seu trabalho e também a linha de decoração criada para a Tok & Stok

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design internacional

No coletivo The Tramshed, em Shoreditch, a coleção Clinker, em madeira e vidro, primeiro projeto do estúdio americano Rich, Brilliant, Willing para a empresa inglesa Innermost

LONDON DESIGN FESTIVAL: mapa do garimpo 48


O poder da indústria criativa, que fincou raízes desde os anos 1990 na Inglaterra, fica palpável em eventos como o London Design Festival. Depois de anos de fortalecimento e investimento, o setor transformou-se em um dos mais férteis e produtivos do país. Conheça os “hot points” da cidade, onde as mostras, a cada ano, acontecem baba vacaro

O

design é hoje reconhecido como essencial para os negócios de cidades e países, que cada vez mais desejam tornar-se polos de inovação, e isto é evidente para a direção do London Festival. Nos últimos anos, a partir da iniciativa britânica (sem falar no exemplo da Itália), por volta de 1970, cidades pelo mundo criaram suas próprias versões de um festival de design. Com a mais recente delas, Beijing, os ingleses acabam de firmar um acordo de colaboração, troca de ideias e experiências. Mas enquanto o mundo ainda acorda para o valor da promoção do design, Londres já pavimentou sua estrada. Nos últimos anos, o festival cresceu juntamente com o interesse do público, e hoje seus mais de 200 eventos simultâneos acontecem em polos distribuídos pelos quatro cantos de Londres. É uma tradição, nesta cidade de contrastes, que convivam lado a lado jovens designers, exibindo suas criações em espaços pouco ortodoxos, e empresas com maior tradição e investimento em design.

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design internacional

Foi na área oeste da cidade que tudo começou, há 16 anos, com o salão 100% Design. A mostra reúne sob o mesmo teto marcas reconhecidas mundialmente e empresas que começam a despontar no cenário internacional. Além disso, há espaços dedicados a nações com menor tradição em design, como Argentina, Portugal, República Tcheca e Coreia, entre outras. O Brasil esteve bem representado pela empresa Allê Design, com uma coleção de móveis e objetos em metacrilato, criada por designers brasileiros e ingleses. A proposta da marca é que os designers atuem na própria fábrica, intervindo diretamente na matéria-prima, reduzindo o desperdício e transformando o que seria “descarte” em produtos vibrantes e intrigantes. Brompton Design District. Desde 2007 vem se firmando como um polo, bem perto do Victoria & Albert Museum, este também um grande centro do festival. Na Saatchi Gallery, a exposição Thin Black Lines, do estúdio japonês Nendo, foi uma das mais bonitas e poéticas instalações do ano. Uma série de 29 trabalhos feitos a partir de finas barras de aço dobradas, como os traços de croquis desenhados no ar que, na sala de exposição, assumem superfícies virtuais e uma nova relação espacial entre bi e tridimensional. Para os designers, esses traços são expressões de significado, condensadas como a caligrafia japonesa. Clerkenwell Design District. Do outro lado da cidade, reúne empresas que comercializam produtos reconhecidos pelo mercado e pela crítica.

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Drawn to the Light, instalação luminosa dos designers ingleses Dominici&Frances Bromley


Saatchi Gallery, Thin Black Lines. Poética exposição do estúdio japonês Nendo

FOTOS Baba Vacaro

Ao lado, luminária Lucinda, em isopor, projeto da jovem designer francesa Elise Fouin, cujo processo criativo sempre parte do próprio material e suas possibilidades técnicas e formais; na sequência, detalhe da instalação luminosa Drawn to the Light, em porcelana branca esmaltada


design internacional

Shoreditch Design Triangle. Bem próximo ao Clerkenwell, toma corpo o mais novo polo de design de Londres, por onde pipocam pequenas galerias, lojas e ateliês de designers emergentes ou estabelecidos, como Jasper Morrison. Há também exposições maiores, em locais como a Dray Walk Gallery, sede do Tent London, evento que em alguns anos transformou-se no segundo maior do festival e que organizou as mostras “Norwegian Prototypes”, cuja proposta era criar móveis e objetos que coubessem numa mala de viagem, e também “Made not Manufactured”, que propõe a valorização de técnicas artesanais tradicionais aplicadas ao fazer contemporâneo.

Relógio Fan, em tecido, do estúdio norueguês Frost Produkt, exibido na mostra “Norwegian Prototypes”, em Shoreditch. O relógio tem 60 dobras, cada uma representando um minuto, o que torna a leitura intuitiva e precisa

Duas peças do estúdio Frost Produkt. Abaixo, inteligente mesa de apoio cuja fenda no tampo permite que os pés sejam fixados na posição correta, funcionando como alças. À direita, o pufe Otamano, com uma cordinha na superfície que permite o ajuste de sua altura

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The Tramshed. Na mesma zona da cidade e estreia do ano, foi um dos mais fervilhantes espaços do festival, com uma pequena mas eclética e charmosa seleção. South Bank. O tradicional Design Museum apresentou uma exposição dedicada ao designer inglês John Pawson. Um espaço em tamanho real, feito de branco, madeira e luz, demonstrava o poder das sensações criadas pela simplicidade de sua arquitetura minimalista. E ainda fotos e maquetes de alguns de seus projetos mais belos, como o de um mosteiro construído na República Tcheca.


Marcelo Trad

Design Baba Vacaro, Jelly Table, lançamento da empresa brasileira Alle Design. Um novo material criado a partir de sobras de metacrilato

BROMPTON BIKES Um produto com mais de 30 anos de existência, em constante processo de evolução e que chamou a atenção durante os dias do festival de design foram as bicicletas dobráveis Brompton. Bicicletas dobráveis existem há mais de 100 anos, mas estas realmente funcionam e são um exemplo de bom design. Criadas por Andrew Ritchie em 1975 e lançadas no mercado nos anos 1990, são hoje produzidas numa escala um pouco maior, sempre baseada na excelência do design e na qualidade conseguida pelo total controle da fabricação. Além de robustas e ágeis, como as boas bicicletas devem ser, elas são facilmente dobráveis. Em segundos ficam pequenininhas e param em pé sozinhas, sobre um carrinho

que você movimenta puxando. Não sobram peças para guardar e você nunca se machuca nem se lambuza de graxa com a corrente ou engrenagens. E cabem numa maleta de mão, que pode ser levada para casa, para o escritório, ou carregar no ônibus, no metrô, no avião. E até nos mínimos porta-malas dos novos veículos urbanos, sem sujar nada que esteja em volta. As incríveis Bromptom podem ser personalizadas de acordo com o desejo e a necessidade de cada um e, como são feitas para durar, todas as melhorias criadas podem ser adaptadas nos modelos mais antigos. Um produto bom como poucos.

Bicicleta dobrável Brompton

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Acervo Origin

design internacional

Prato retangular em prata, inteiramente trabalhado à mão pelo designer Sidsel Dorph-Jensen, na mostra Origin, no Old Spitafields Market

Designersblock. Espaço já tradicional, na mesma zona, chamava a atenção com a mostra coletiva que neste ano espalhou mais de 100 jovens criadores de várias partes do mundo numa área de 1.500 m². Notting Hill foi o bairro escolhido por Tom Dixon para seu showrooom The Dock, um espaço misto de loja, galeria, café e restaurante, no simpático Portobello Dock, às margens do Grand Union Canal. De modo diverso ao que acontece em eventos mais comerciais, ou de proporções faraônicas como a Design Week de Milão, em Londres

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o investimento em design traz sempre consigo a busca pelo singular, pelo que é único e especial, pelo que proporciona um entendimento mais amplo do significado do design. Fica evidente o poder transformador que o investimento em educação traz aos jovens designers ingleses, pois a eles é permitido experimentar enquanto estudantes, sem preocupação com o resultado comercial. E ao fazer isso, podem sair da superficialidade, e buscar a essência. É neste ambiente favorável que surgem novas ideias, novos usos para antigos materiais e técnicas, e novos materiais para usos que ainda estamos por descobrir.


Guarda-roupas que se transforma em mala de viagem, do designer norueguês Kim Thome na “Norwegian Prototypes”, Shoreditch

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design internacional

novo mundo? o Que é isso? Na Bélgica, em Courtrai, um novo mundo se anuncia na feira bienal que não se autoexibe, não procura megaexposições, nem extensão de sua área expositiva. Mas é a única feira europeia que propõe questionamentos. E apresenta a vanguarda da vanguarda na cultura do design texto e fotos leila abe

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Instalação PICNIC, de Junya Ishigami

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design internacional

O

tema da Bienal 2010 foi o “Mundo Novo” e a procura por entender o que seria este mundo multicultural, capaz de construir caminhos sustentáveis, indagando e oferecendo alternativas. Foram estas premissas que definiram as escolhas dos curadores na seleção dos designers que ocuparam os principais espaços da feira: De Vylder Vink Taillieu, o convidado de honra, o arquiteto Junya Ishigami (Leão de Ouro Bienal de Veneza), responsável pela instalação PICNIC, e o Designer do Ano, Bram Boo, com a mostra retrospectiva de seus trabalhos. A combinação feliz destas três escolhas fez com que a mensagem chegasse diretamente ao coração do público: poesia, arte e interesse pelo 58

Detalhe do estande da Kvadraat Peça exposta no estande do Design Competition


social, combinados e expressos por meio de uma avançada tecnologia e traduzidos em peças de design bem resolvidas. A preocupação central, na opinião dos curadores, é o homem, ser social e perpetuador das espécies, mas, antes de tudo, usuário à procura de beleza e funcionalidade. A mensagem “estamos vivendo em um mundo novo” está presente em toda a feira, nas instalações de Junya Ishigami e também na programação cultural da Interieur, quer seja pelas paredes espelhadas dos estandes projetadas por De Vylder, ”mirror morrir on the wall”, onde o espectador se vê refletido e se mistura ao novo mundo, quer durante as palestras no fórum da feira, com personalidades do mundo da arquitetura, arte e design, como Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn (NL), Andrea Tosi (IT), Nipa Doshi (GB), Andrea Branzi (IT), Dan Formosa (EUA) e Tom Dixon (GB). O espaço reservado ao Design Competition, com 220 concorrentes provenientes de 27 países, obedeceu ao mesmo tema – o novo mundo – apresentando soluções inusitadas e coerentes, seja na escolha dos materiais ou nas técnicas construtivas. Também obediente à temática da feira foram as mostras “Design at Work” (desenho industrial e pesquisa tecnológica) e a exibição de novos talentos, “The Young Design Fair”.

Móveis da instalação de Bram Boo, o Designer do Ano

Estande do Studio MK27, de Marcio Kogan, vencedor do Design Competition

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design internacional

Três respostas à mesma pergunta ilustram o que seria esse Mundo Novo e quais as perspectivas e ambições do designer contemporâneo

DIETER VAN DEN STORM curador

“Designers do mundo novo são pessoas presenteadas com talento, que pressentem as mudanças que ainda virão, e ‘enxergam’ o mundo futuro. Quando comecei a pensar no tema dessa bienal, ‘The New World’, meu ponto de partida foi pesquisar sobre novos materiais, mas gradualmente concluí que existia um aspecto mais importante a ser enfocado – o social. Soluções em design, arquitetura e desenho industrial expostos nessa feira mostram como os designers estão preocupados e conscientes com os problemas ligados ao homem. Nipa Doshi ou Jeroen Koolhaas, com a favela “painting”, nos mostram exemplos que não podem ser ignorados. Outro problema, amplamente abordado no fórum, foi o da sustentabilidade.”

JUNYA ISHIGAMI arquiteto

“We need to be light” (precisamos ser leves), é a primeira afirmação de Ishigami. “Eu tenho necessidade de desenhar e estou sempre à procura de representar o equilíbrio no meu trabalho. Acho que faz parte da minha cultura, a japonesa. É muito importante a procura deste novo equilíbrio, as pessoas desejam fazer algo novo, de redefinição e busca de uma certa suavidade, depois de um século de guerras. Deveríamos possuir atualmente um objetivo conjunto nesse mundo novo. Não temos, ainda, um forte direcionamento que nos guie; por isso, devemos ir com cuidado. Na cultura japonesa, tradicionalmente colocamos as questões e as perguntas em primeiro lugar. Os europeus, ao contrário, têm sempre em primeiro lugar a pronta resposta.”

BRAM BOO

designer do ano “Você não precisa de alta tecnologia ou um monte de dinheiro para criar coisas lindas e boas. ’The new world means freedom!’ (o novo mundo significa liberdade)”, exclama Boo. “Veja o caso do Brasil. Para mim o mundo novo é muito particular para cada indivíduo, é a liberdade de criar com a sua própria visão: o que o novo significa para você? Nunca tivemos tantas possibilidades tecnológicas nos ajudando a criar o novo. Mas conseguir essa liberdade interior de criar foi muito difícil para mim, mesmo tendo crescido em um lar de artistas e com uma educação rica e orientada para a liberdade; mas eu não queria ser diferente, não queria um brinquedo de papel machê, queria o de plástico, igual ao dos meus amigos. Apenas depois de adulto fui buscar inspiração no cotidiano, em cenas do dia a dia. Meu trabalho explora o inusitado, a surpresa do usuário de um objeto ao se deparar com uma forma não usual de unir elementos e materiais em uma peça. Há sempre um sorriso no rosto de quem, pela primeira vez, o toca.”

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Neighbours Exhibition


Instalação em forma de colmeia Beehuahua, feita com cubos de papel reciclado executados por detentos da prisão SintGillis, Brussel. Criação de Charles Kaisim

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design internacional

Módulos básicos para composição da série de móveis em madeira. Abaixo, detalhe de encaixe

le cOrbusier inédito Apresentamos Le Corbusier em madeira. Porque a série em estruturas tubulares já foi abusada à exaustão! maria helena estrada

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Mesa na qual o geometrismo da base dá espaço ao ovalado do tampo, forma pouco usual na obra de Corbu. Abaixo, estação de trabalho

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ste é o Le Corbusier da completa maturidade artística, apresentando peças contemporâneas e arquetípicas. A mesma pureza no desenho, nos encaixes, na inteligência e essencialidade

dos objetos. Geometrismo, racionalismo, austeridade. É a coleção que acaba de ser lançada pela empresa Cassina, Itália, à qual o próprio Le Corbusier, ainda em vida, pediu que fabricasse seus móveis.

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tendências

Natureza como ideia – não acreditamos que exista diferença entre o real e o virtual

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O futuro é leve, intuitivo e sensorial Prever o futuro não é privilégio de cartomante, pai de santo ou de economistas conhecidos como futurólogos. Para a indústria da moda e do design é um exercício essencial, que contribui para definir investimentos, minimizar riscos e disseminar a ideia de que o mercado precisa de orientação sobre o que é in e out ângela carvalho

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tendências

Essencialismo – a essência do objeto

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Materiais, cores e texturas da tendência Austeridade Emocional – materiais naturais como feltro, couro, diferentes tipos de madeiras e fibras se complementam com materiais de alta tecnologia em matizes de verde, rosas pálidos, marrons e turquesas

P

ara entender e traduzir em previsões os gostos, estilos de vida e a tendência em design de interiores e mobiliário, a IMM - Feira Internacional de Móveis de Colônia convida anualmente um grupo restrito de designers, arquitetos, especialistas em materiais e jornalistas a unirem suas experiências em um workshop. Na sequência, publica os resultados em seu famoso “Trend Book”. O desafio colocado para estes profissionais antenados é desvendar, no emaranhado de informações que caracteriza nossa cultura global, sinais dos comportamentos que influenciam a forma como moramos hoje e iremos compor nossos am-

bientes amanhã. Este ano, participaram do time de famosos Patrícia Urquiola, a festejada e criativa designer espanhola que vive em Milão e trabalha para grandes empresas; Defne Koz, designer turca com atuação em Milão e Chicago; o austríaco Harald Gründl, sócio da EOOS, importante estúdio de design de móveis e também participante do Instituto de Pesquisas em Design de Viena; Martin Leuthold, especialista em design têxtil, criador de processos e tecnologias no setor; e Marco Velardi, editor-chefe da revista ítalo-espanhola “Apartamento”. As palestras de apresentação e o lançamento festivo do livro de tendências ocorrem a

cada outono em uma cidade diferente, escolhida para recepcionar um grupo de cerca de 50 convidados composto por jornalistas, redatores de grandes veículos e formadores de opinião. Este ano, Istambul foi o cenário desse encontro e “mimou” os convidados com seu charme e diversidade. As quatro tendências para 2011 têm nomes herméticos, espelham contradições e deixam à mostra os efeitos dos tempos de crise sobre o comportamento contemporâneo. São eles: Austeridade Emocional; Empatia Surpreendente; Re-Balancing; Perspectivas em Transformação. Na avaliação do grupo, a crise que assolou as economias nos últimos anos teve 67


tendências Permanente recriação

C

M

Y

CM

MY

CY

o efeito positivo de provocar e aprofundar o debate sobre estratégias sustentáveis de desenvolvimento. Sustentabilidade e qualidade são, hoje, conceitos norteadores e presentes em qualquer projeto. Nos móveis e objetos para a casa, o high tech se une a formas tradicionais, o essencial procura emocionar e provocar o desejo. A surpresa é elemento presente em detalhes e composições inusitadas. “Menos é Mais” (isso já sabíamos há longo tempo...) e a ordem é sair da zona de conforto para experimentar, fazer com as próprias mãos, assumindo o papel criativo de protagonista e não apenas de

consumidor passivo. Objetos comuns, simples e cotidianos se tornam cults em ambientes onde formas arcaicas são revisitadas sem medo algum. O futuro, sem dúvida, é “leve, intuitivo e sensorial”. Patricia Urquiola questiona a ideia de inovação e sua estreita correlação com o conceito tradicional de progresso industrial. Para ela, o termo inovação está cada vez mais associado – e dependente - de valores como a sustentabilidade. Ela pontifica que “as pessoas estão prestando mais atenção ao ‘como’ as coisas são feitas e também se questionam sobre ‘porquê’ usá-las”. Harald Gründl deixa, no

“Trend Book”, um recado claro para aqueles que procuram fórmulas prontas: “espero que as empresas sejam encorajadas a pensar por si próprias e que os ‘trends’ sejam considerados apenas como linhas de pensamento a serem desenvolvidas e não como um manual de instruções a ser seguido na produção das próximas coleções de mobiliários”. A forma lúdica como as tecnologias estão interagindo com detalhes novos e antigos é sintoma do desejo de desconstrução, de resignificação que mistura todas as cartas e torna esse jogo de adivinhação cada vez mais difícil e instigante.

O livro “Trend Book 2011” será vendido na IMM – Feira Internacional de Móveis de Colônia, que acontece de 18 a 20 de janeiro. Ângela Carvalho é designer e foi convidada a participar da apresentação do “Trend Book 2011” lançado em Istambul.

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biblioteca

interiores

Histórias da Cazumbinha – Fantasiando a realidade com arte e bom humor Lançado em 4 de dezembro na loja da Companhia das Letras da Livraria Cultura (Conjunto Nacional), na Av. Paulista, o livro “Histórias da Cazumbinha” é quase uma autobiografia. Retrata com sensibilidade e ritmo real o universo das crianças residentes no quilombo Rio das Rãs, na Bahia, onde a autora dos textos, a advogada Meire Cazumbá, nasceu e, agora, passou dois verões na companhia da organizadora e diretora geral da publicação, a artista e educadora Marie Ange Bordas, que há dez anos se dedica a projetos colaborativos de arte e mídia para jovens e crianças de comunidades carentes e abrigos para refugiados na África e na Europa. A tradicional Festa do Divino Espírito Santo, as brin-

cadeiras feitas com gravetinhos e qualquer objeto que se encontrar, a calvagada no chão árido do sertão, o banho no rio São Francisco, tudo isso é narrado com a oralidade de uma declamação em voz alta e ilustrado com a magia dos livrinhos de contos de cordel. O projeto, concebido por Marie Ange, que também criou as fotoilustrações com a colaboração das crianças do lugar, é o piloto para outro, maior, que envolverá 13 comunidades tradicionais brasileiras em processos de educação em arte para crianças e de criação de livros, obedecendo aos princípios de economia criativa. Mas essa é uma outra conversa, pois o projeto está previsto para os próximos quatro anos.

Histórias da Cazumbinha Autoras: Meire Cazumbá e Marie Ange Bordas Editora: Companhia das Letrinhas (www.companhiadasletras.com.br) Preço: R$ 34,00 70


Recebemos e recomendamos os novos livros publicados sobre design, arquitetura e urbanismo, com autores nacionais importantes como Gilberto Strunck e Maria Helena Werneck Bomeny

Tadao Ando Arquiteto Autobiografia ilustrada com a trajetória e os fatos que determinaram a visão pessoal e profissional do arquiteto japonês por meio de suas principais obras. Escrita no auge da carreira de Ando, a publicação conta com a versão em português – única no Ocidente – por iniciativa do próprio arquiteto. Tradução: Jefferson José Teixeira Editora: BEI (www.bei.com.br) Preço: R$ 70,00 YACHT Design Lançado pelo engenheiro e yacht designer Fernando de Almeida, aborda o design voltado a embarcações por meio da desconstrução do produto final, mostrando o processo de criação e os conceitos empregados no desenvolvimento dos produtos. Primeiro volume da coleção “Design & Processo”, também traz a história náutica brasileira, seis projetos e um perfil do autor. Autor: Fernando de Almeida Editora: C4 (www.editorac4.com.br) Preço: R$ 70,00 Textos Clássicos do Design Gráfico Reúne textos históricos que descrevem o percurso do design gráfico e sua transição de forma de arte comercial para atividade profissional. Apresenta trabalhos originais, como manifestos, panfletos, artigos e texto de conferências, que auxiliam na compreensão do desenvolvimento desta área específica do design. Autores: Michael Bierut, Jessica Helfand, Steven Heller e Rick Poynor Editora: WMF Martins Fontes (www.wmfmartinsfontes.com.br) Preço: R$ 75,00 Entre sem Bater Retrata o processo criativo na construção da casa de Marcelo Rosenbaum, em São Paulo, com resgates de histórias da infância e flagrantes do cotidiano do arquiteto e designer, na convivência com a família e em alguns trabalhos. Também mostra seu estilo de vida, suas visões e crenças e aborda de forma mais ampla sua relação com a sustentabilidade. Editora: Abril Preço: R$ 90,00 “Viver de Design” – 6ª edição Reedição, atualizada e com novo projeto gráfico, do livro que se tornou um best-seller na profissionalização em design, com dicas sobre práticas cotidianas e inserção no mercado de trabalho. Traz o prefácio do autor, Gilberto Strunck, e tem direção de arte de Carolina Kaastrup e Letícia Melo, do Studio Creamcrackers. Autor: Gilberto Strunck Editora: 2AB (www.2ab.com.br) Preço: R$ 39,80 71


IlustraçÃO Luciane stocco

economia criativa

SAINDO DO SÉCULO XIX E ENTRANDO NO XXI Lala Deheinzelin

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is aqui uma notícia que deveria estar em manchete nos jornais, trazida por Wang Xingquan, da Shanghai Academy of Social Sciences: neste ano, e como consequência da crise financeira, a economia criativa passou a ser a estratégia número 1 de desenvolvimento da China! Sábia decisão: por se tratar de economia baseada em recursos que não apenas não se esgotam, mas se renovam e se multiplicam com o uso, a economia criativa é uma das únicas soluções possíveis para um futuro sustentável. Afinal, os recursos naturais são finitos, mas cultura, conhecimento e criatividade são recursos infinitos – ainda mais se aliados aos infinitos bits das novas tecnologias. 72


Enquanto isso, por aqui, nota-se que a economia criativa começa a entrar na pauta de candidatos e governos. Pena que avance tão pouco e que ainda sigamos modelos importados, que não se aplicam ao nosso cenário. Seguem algumas sugestões de estratégias na esfera pública para que a economia criativa cumpra seu papel como motor de desenvolvimento sustentável. • Convergência. Planejamento e gestão devem ser feitos de forma integrada, unindo várias pastas, como Planejamento, Ciência e Tecnologia, Relações Interiores, Cultura e outros. Para isso, são necessários instrumentos de governança, instâncias de tomada de decisão e gestão como Agência de Desenvolvimento ou Agência de Sustentabilidade que “orquestram” a ação integrada (e têm um plano técnico e de longo prazo, que não pode ser mudado com novos governos). Para nos orientarmos, necessitamos de duas coordenadas que se cruzam e nos localizam. Seguem alguns pares interessantes. • Visão sistêmica: hardware + software. Considerar não apenas a parte “hardware” (estrutural, recursos materiais, tangíveis, ecossistemas ambientais), mas, principalmente, o componente “software” (processos, recursos humanos, intangíveis, ecossistemas socioculturais). Exemplo: os processos de restauro e revitalização geralmente contemplam apenas o estrutural, as obras arquitetônicas. E tendem a fracassar, pois não têm o “software” - a parte humana, os processos ligados à educação, à geração de conteúdo e de renda, à mudança de mentalidade. Neste sentido, são assustadoras as perspectivas em relação ao que está sendo pensado para a Copa do Mundo e Olimpíadas – “hardwares” caríssimos que tendem a deixar pouco além de enormes dívidas. • Setorial + territorial. Tradicionalmente, a economia criativa é organizada e fomentada em setores (audiovisual, moda, artes plásticas etc.). Problema 1: está cada vez mais claro que a chave está no local, no território;

é aí que o desenvolvimento pode acontecer. Problema 2: o futuro está na economia de nicho, onde muitos e diversos produzem para muitos e diversos. Ocorre que o “blend” que diferencia e gera valor de cada criativo, coletivo, empresa ou município é uma mistura de setores. Problema 3: o futuro não é setorial, pois os limites entre as linguagens e área serão cada vez mais difusos. Problema 4: metade dos municípios do Brasil tem até 10 mil habitantes, fica difícil pensar em estratégias setoriais quando a escala é pequena. • Produção + circulação/promoção. As políticas geralmente dão apoio a produtos (e não a processos), ou seja, apenas à produção. Mas o maior investimento deveria ser feito nos pontos de gargalo de todas as áreas da economia criativa: circulação (ser distribuído) e promoção (ser visível e desejado). Garantir a circulação e visibilidade, resulta em produção (vide o caso do Circuito Fora do Eixo - http://foradoeixo.org.br/). • Transdisciplinar, multifuncional. Este é o conceito que deveria orientar tanto a formação de novos profissionais – pois precisaremos muito de profissionais “modem”, que dominem várias disciplinas, conectando linguagens e áreas diferentes – quanto da criação de espaços públicos, que devem ser pequenos, adaptáveis, multifuncionais, o que permitiria otimizar recursos, espaço e tempo. Formular política que atenda a estes quesitos é possível e já foi feito: um exemplo? Os Pontos de Cultura/ Programa Cultura Viva, criado por Célio Turino, um dos conceitos mais em sintonia com o futuro que conheço e espero que tenha continuidade (www. cultura.gov.br/culturaviva/ponto-decultura/). Agora, resta aos nossos líderes não perder o bonde da história, o que acontecerá se continuarmos com políticas e economia ainda com cara de “milagre brasileiro”, anos 1970, indústria de commodities... Vamos avançar para o século XXI? 73


certas questões A propriedade intelectual e o valor do design Na ultima coluna aqui publicada, citando alguns exemplos tais como Apple, Nespresso e Veuve Clicquot, tentei exemplificar o equilíbrio de valores da economia moderna, onde não é no produto nem na fabricação que reside a maior fatia de valor, mas, sim, na propriedade intelectual e no valor das marcas. Conversando e negociando com indústrias e empresas Brasil à fora, tenho me surpreendido com a falta de conhecimento e de visão dos designers e até de empresas de design em relação ao que realmente estamos vendendo, quanto isto vale e como deve ser negociado. Alguns designers e mesmo grandes empresas de design acham que vendem homem/hora, ou seja, não entenderam nada até hoje! E por isso ouço barbaridades de potenciais clientes, expressas pelos seus departamentos jurídicos como verdades incondicionais, e me apavoro com o gênero de cláusulas que os designers brasileiros

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... entregar de bandeja a propriedade intelectual irrestrita de uma criação não remunerada é a maneira mais eficaz de depreciar de vez o valor do que fazemos!”

assinam, possivelmente sem entender suas possíveis consequências. Começo pelo exemplo mais simples: propriedade intelectual é regional, assim como a abrangência de um projeto de design. Um mesmo projeto, se destinado exclusivamente ao mercado brasileiro não pode

custar o mesmo preço caso seja destinado ao mercado global. Os fotógrafos sabem bem disto, os designers não. Não pode haver surpresa quando cobrarmos uma taxa excedente pelo uso de nossos projetos em outras regiões do mundo, pois a diferença de valor é óbvia. E o mundo é também um universo muito grande. O raciocínio se torna mais simples se o dividirmos em pelo menos quatro partes: Américas, Europa, Ásia e o resto do mundo. Desta forma, um mesmo projeto deve ter sempre cinco preços diferentes, pois deve ser proporcional aos mercados aos quais se destina. Ainda simples: propriedade intelectual tem prazo de validade. Seguindo o mesmo raciocínio do parágrafo anterior, o valor de um projeto de design deve ser proporcional ao seu tempo de uso. Você se surpreendeu? Ora, pergunte a uma agência de modelos quanto custa um cachê, e você verá que qualquer modelo, já aos 15 anos de idade, negocia


Guto Indio da Costa Guto Indio da Costa dirige um dos mais famosos escritórios de design do Brasil. Talento, competência e conhecimento das “leis do mercado” nos levaram a solicitar que ele nos desvendasse os aspectos práticos, ou econômicos, da profissão.

o tempo de uso de sua imagem dependendo do prazo da campanha publicitária (ou alguém imagina que as agências de modelos cobram o valor modelo/hora?). “ ... a subjetividade, a complexidade, a longa demora e a consequente imprevisibilidade dos mecanismos de proteção da propriedade intelectual depreciam fortemente o valor de nossas criações.” Agora vamos ao mais complexo: a defesa da propriedade intelectual é de responsabilidade do cliente. Jamais seja responsável por ela a não ser que você seja seu efetivo proprietário e usuário (e se for o caso, prepare-se!). Aqui reside um dos aspectos mais complexos e perigosos da negociação de um contrato de design: algumas empresas tentam por todas as formas responsabilizar o designer pela defesa da propriedade intelectual de suas criações. Ora, todo designer tem de garantir boa-fé, mas nenhum designer pode garantir o absoluto ineditismo de suas criações: mi-

lhões de designers e inventores registram e patenteiam suas ideias todos os dias em todo o mundo. Mesmo se gastássemos uma fortuna com advogados e agentes de propriedade intelectual, nenhum deles jamais garantirá, por mais bem feita que seja a sua busca, que um projeto é inédito e não traz o risco de conflitos de propriedade intelectual. O curioso é que mesmo se fosse realmente inédito, cada país tem seus examinadores e suas leis específicas sobre propriedade intelectual. Um mesmo projeto pode ser protegido na Europa ou nos Estados Unidos e não ter sua proteção aprovada no Brasil. Ou vice-versa! Infelizmente esse processo mundial de proteção da propriedade intelectual, agravado aqui no Brasil pela pequena estrutura frente à demanda do nosso INPI, não contribui em nada para que este tema seja tratado e negociado com facilidade, pois a subjetividade, a complexidade, a longa demora e a consequente imprevisi-

bilidade dos mecanismos de proteção depreciam fortemente o valor de nossas criações. E depois de tudo, mesmo que seu design seja efetivamente registrado, publicado, mesmo que você solicite um exame de mérito ao INPI e por meio dele fique provado seu absoluto ineditismo e anterioridade, prepare-se para combater os copiadores, com a paciência que acompanha os lentos passos de nossa justiça. Para terminar, quero ainda condenar aqui uma outra prática que tenho visto pelo mercado: designers criando produtos sem nenhuma remuneração prévia, em um processo absoluto de risco, onde “se o cliente aprova eu ganho depois”. Ora, ora... Isso pode, sim, ser feito se o designer retém a propriedade intelectual de suas criações (afinal de contas, financiou sua criação!), mas criar de graça e entregar de bandeja a propriedade intelectual irrestrita de uma criação não remunerada é a maneira mais eficaz de depreciar de vez o valor do que fazemos!

Tex, projeto de veículo expresso sobre trilhos desenvolvido pelo escritório do designer Guto Indio da Costa com base nas necessidades urbanas atuais e em princípios de economia de energia

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Topomorfose – O Coerente Desenrolar de Uma Obra

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Economia Criativa – Saindo do Século XIX e entrando no XXI Circuito Fora do Eixo http://foradoeixo.org.br

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últiMA pÁgina

O Sonho de Darcy Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ

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Instalação de Jum Nakao integrante da série Brasilidade em homenagem a Darcy Ribeiro



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