Revista ARC DESIGN Edição 73

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design | arquitetura | comportamento | inovação

| Nº 73 | 2011 | R$ 18,00 |

DESIGN Os produtos campeões de audiência

CARROS:

os museus alemães ARTE: MUSEU INHOTIM

Produtos Nano

(quase) ao seu alcance Rio 2016,

o símbolo das olimpíadas por seu autor


NOSSO NEGÓCIO É DESIGN.

2 AGO a 6 AGO de 2011

CASA BRASIL É UM EVENTO DE DESIGN E NEGÓCIOS, COM EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS CONTEMPORÂNEOS DE ALTO PADRÃO PARA ARQUITETURA E DECORAÇÃO, EXPOSIÇÕES CULTURAIS E SEMINÁRIOS INTERNACIONAIS. A CONVERGÊNCIA ENTRE DESIGNERS, FABRICANTES E LOJISTAS, CONSOLIDA A CASA BRASIL COMO UMA REFERÊNCIA ÚNICA DO SETOR MOVELEIRO, ACESSÓRIOS, ILUMINAÇÃO E UTILIDADES DOMÉSTICAS NA AMÉRICA LATINA.

PARQUE DE EVENTOS DE BENTO GONÇALVES | RS | BRASIL

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO


ArcDesigN

U

ma edição eclética, variada, que viaja pela Holanda, Inglaterra, Alemanha, Portugal e, no Brasil, pinça belezas e talentos de Inhotim a Belo Horizonte, de São Paulo ao Rio e a Bento Gonçalves. Os assuntos? Nanotecnologia na Holanda. É um maravilhoso espanto conhecer um pouquinho de nossa vida no futuro. A união do presente com o passado projetando um futuro mais próximo? Veja as impressões que colhemos em Lisboa. A gestão, base do sucesso, de uma indústria de móveis? Conheçam o exemplo de como conseguir rápida expansão no Brasil e na Europa. As lojas-conceito nos dão mais um exemplo, em Belo Horizonte, de como unir diferentes linguagens para atingir um alvo: a adesão dos consumidores. Ainda em Minas Gerais, nossa mais nova riqueza. A dedicação, beleza, arte, perfeição do Museu de Inhotim. É imperdível! Continuando pelo Brasil, dois exemplos de nosso novo design: o Estudiobola e Renata Meireles. Apresentamos também nosso primeiro grande repertório dos Campeões de Audiência, ou seja, os “best-sellers” do mercado e os principais lançamentos da estação. E mais: os carros alemães vistos por Robero Hirth e as ricas e precisas colaborações de Cyntia Malaguti, sobre o seminário de Marigold e Lamb; Lala Deheinzelin e a economia criativa; Guto Indio da Costa e a 3ª Onda no desenho industrial. E do Brasil para o mundo, temos Fred Gelli e seu símbolo das Olimpíadas, “completa tradução” da união, da dinâmica, da beleza e do colorido do Rio do Rio de Janeiro e das próprias Olimpíadas. Depois de vermos/lermos esta variada quantidade de assuntos, a observação mais justa é a de que o design é muito mais do que a velha expressão ”a forma segue a função”, ou mesmo de que o objetivo do design é o serviço. Design é o mais amplo dos assuntos, é vida em todos os sentidos, é compreensão do mundo e a capacidade de melhorá-lo. Vamos tentar? Maria Helena Estrada Editora

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cOlAborAdores Roberto Hirth Designer, artista plástico e também dedicado à fotografa. Estudou sociologia e ciências políticas, e hoje é sócio de Fernando Almeida na empresa de marcenaria e design contemporâneo Mendes-Hirth

Ângela Carvalho Designer industrial e criadora da própria marca, Ângela Carvalho – design consciente e do Espaço Transforma Design, no Rio Janeiro. Atua na área de imagem corporativa e design estratégico há 22 anos, antes dirigindo o escritório NCS Design Rio

Fred Gelli Designer de produtos e professor do Departamento de Design da PUC, RJ. Sócio–diretor de criação da Tátil Design de Ideias, desenvolve conceitos e produtos baseados na biomimética

Waldick Jatobá Economista, colecionador de arte contemporânea e design. Um dos fundadores da São Paulo Design, empresa dedicada a criar mostras e seminários sobre design, design e arte e arte

Lala Deheinzelin Produtora artística e especialista em economia criativa e desenvolvimento sustentável, dirige a empresa Enthusiasmo Cultural. É articulista das revistas eletrônicas “Cultura e Mercado” e “Mercado Ético” e também criadora de metodologias próprias ligadas à economia criativa leila abe Arquiteta e fundadora da galeria “Paulista em Amsterdã”, reside e trabalha na Holanda há 17 anos. Desenvolve e é curadora de projetos e eventos relativos ao design brasileiro. É ensaísta de publicações acadêmicas sobre arquitetura e tecnologia

Cyntia Malaguti Designer especializada em gestão do design e design para sustentabilidade. É professora e pesquisadora dos cursos de design do Centro Universitário SENAC e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)

guto inDio Da Costa Designer industrial e diretor do escritório A.U.D.T. Desenvolve, além de produtos, projetos em gestão de design para grandes marcas brasileiras e internacionais

ARC DESIGN Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda. Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata

Edição de arte Cibele Cipola Luciane Stocco

Circulação e Assinaturas Rita Cuzzuol

Editora mh@arcdesign.com.br

Diretora Editora Maria Helena Estrada

Produção Gráfica Cibele Cipola

Impressão

redacao@arcdesign.com.br redacao2@arcdesign.com.br

Redatora Camila Marques

Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

Arte

Estagiária Paloma Moreira

Comercial e Marketing Cristiano Barata

Telefones Tronco-chave: + 55 (11) 2808 6000 Fax: + 55 (11) 2808 6026

publi@arcdesign.com.br

Projeto gráfico Fogo Design

Participaram desta edição Ângela Carvalho, Cyntia Malaguti, Fred Gelli, Guto Indio da Costa, Lala Deheinzelin, Leila Abe, Roberto Hirth e Waldick Jatobá (texto)

Revisora Deborah Peleias

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Apoio Institucional:

Rua Lisboa, 493 CEP 05413 000 São Paulo – SP

www.graficamundo.com.br

Redação

arte@arcdesign.com.br

Publicidade Assinaturas assinatura@arcdesign. com.br

Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia da ARC DESIGN, não serão devolvidos.

www.arcdesign.com.br


A alta decoração encontra o mais perfeito equilíbrio. Unimos a genialidade do designer Carlos Motta ao uso responsável de madeira certificada FSC®. Nova Coleção Timbó. Aqui a sofisticação e sustentabilidade andam lado a lado.

Alagoas - Maceió - VB Design - (82) 3311-4242 Bahia - Salvador - Home Design - (71) 3503-5959 Distrito Federal - Brasilia - Hill House - (61) 3363-5273 Espírito Santo - Vitória - Stampa Home - (27) 3089-5555 Goiás - Goiânia - Armazém da Decoração - (62) 3281-7432 Maranhão - São Luís - Espaço Fátima Lima - (98) 3235-9805 Minas Gerais - Belo Horizonte - Tetum - (31) 3261-6660 Pará - Belém - Innato (Habitat) - (91) 3242-2486 Pernambuco - Recife - Casa Pronta Design e Interiores - (81) 3465-0010

Piauí - Teresina - Lilia Design - (86) 3232-7501 Paraná - Curitiba - Inove Decoração+Design - (41) 3014-9393 Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Arquivo Contemporâneo - (21) 2497-3363 Rio Grande do Sul - Porto Alegre - Habitart - (51) 3328-0623 Santa Catarina - Florianópolis - Ettore Design - (48) 3234-5930 Santa Catarina - Balneário Camboriú - Algardi Casa - (47) 3363-2681 Sergipe - Aracajú - Home Design Casual - (71) 3358-0400 São Paulo - Santos - Alhambra Móveis - (13) 3273-4484 São Paulo - São Paulo - D’pot - (11) 3082-9513

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ÍNDice

março | abril | 2011 | Nº 73

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16. Campeões de Audiência e + Paloma Moreira e Camila Marques

ARC DESIGN selecionou peças dos segmentos moda e casa e traz a você os best-sellers e lançamentos do mercado. Conheça os produtos e criadores mais requisitados nas lojas de design, os que estão em alta e os que vão ocupar os postos de campeões de audiência Marca Escultura para uma 24. ACidade Escultura Fred Gelli

Sócio-diretor de criação da Tátil Design de Ideias, agência vencedora do concurso que selecionou o símbolo para as Olimpíadas de 2016, Fred Gelli explica o processo de criação e o desafio de traduzir, em uma logomarca, a identidade de uma nação e de um evento de abrangência mundial

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Nanotech: Já Estamos Vivendo no Futuro! Leila Abe Produtos e tecnologia que até pouco tempo eram inimagináveis já possuem data marcada para lançamento no mercado. O NanoBus circula pelas principais cidades da Holanda com os novos produtos nano, divulgando as vantagens que esta tecnologia nos oferecerá

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50. A Experimentação como

Fio Condutor do Processo de Design Cyntia Malagutti O seminário promovido pela Casa Brasil trouxe a São Paulo e ao Rio de Janeiro dois grandes nomes do design inglês, Peter Marigold e Max Lamb. E uma nova abordagem ao segmento, mais libertária, ousada e empírica

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54. Lisboa: Nostalgia e Identidade Maria Helena Estrada

Tendência no design e na arquitetura de Portugal: a recuperação da memória histórica, demonstrada na ambientação de estabelecimentos comerciais, espaços culturais e também no artesanato local, revela um flashback de referências, para criar novas perspectivas. A editora de ARC DESIGN foi à Lisboa conferir isso de perto e conta como anda o mercado e o design português

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58. Inhotim

Waldick Jatobá Conheça Inhotim, um dos mais belos museus do mundo. Destino ideal para uma visão integrada da arte com a natureza. O conceito de arte sem fronteiras e “sem paredes” é reunido em um grande acervo a céu aberto, localizado dentro de um belíssimo jardim botânico

66. O Negócio do Design:

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o Design do Negócio Maria Helena Estrada

Alexandre Lazarotto e Patrícia Bruscato, criadores da empresa Allê Design, conquistaram rapidamente um espaço privilegiado no mercado graças às técnicas de gestão do design. Hoje, três anos após a criação da marca, estão presentes no mercado londrino, de onde distribuem para a Europa

70. O Design sobre Rodas Roberto Hirth

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Os museus das principais montadoras de automóveis alemãs são verdadeiros templos da arquitetura e do design. Conheça o Mercedes Museum, o Porsche Museum e o BMW Welt+Museum e entenda a sua influência na evolução do mais visado bem de consumo durável

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36. Jovens Designers 64. Cappellini no Brasil 08. News 31. Lojas-conceito 48. Cozinha para quem 74. Biblioteca não cozinha... mas gosta de design

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news

vallvé

Design ecológico

Tecnologia consciente A Vallvé traz para o Brasil as bacias suspensas da marca alemã Duravit e da italiana Ágape. Além do design inovador, o produto facilita a limpeza e poupa o espaço útil do banheiro. A bacia é projetada para suportar o peso de até 400kg e possui o sistema “Dual Fush”, que permite ao usuário controlar o fluxo para a economia de água, sem comprometer a higiene. www.vallve.com.br

Para dormir na sala O formato dos braços e a disposição das almofadas que acompanham o sofá Têvo oferecem o conforto e a funcionalidade de uma cama. Criação recente de Renata Moura para a linha MDesign, da Mannes, o móvel também apresenta os pés com leve toque retrô, que faz alusão à forma de travesseiros dobrados. www.mannes.com.br

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A loja virtual Eco.lógica Design traz alternativas para quem aprecia inovações e se preocupa em preservar o meio ambiente. A proposta é oferecer peças produzidas a partir de matérias-primas reutilizáveis, como alumínio, papel reciclado e madeira reflorestada. A produção é artesanal e a coleção conta com uma variedade de vasos, bolsas, móveis e acessórios para escritório. (27) 3227-5099, www.ecologicadesign.com.br


Antiguidade requintada A banqueta francesa em madeira e assento em juta com impressão traz um toque de anonimato histórico em meio ao design. Garimpada pelas proprietárias da AZ Decor há pouco mais de dois meses, em Paris, a peça tem sido uma das principais atrações da loja de Goiânia. (62) 3281-7432

Nostro Robô O designer italiano Fabio Novembre amplia seu trabalho com um interessante móvel inspirado em um dos mais cotados heróis pós-modernos. A estante Robox, como já diz o nome, traz a figura da personagem com forma humana (ou não) e inteligência eletrônica que há tanto tempo povoa os filmes e histórias ficcionais, mas agora define-se como um novo herói. Criada para a Casamania, a peça é formada por módulos de metal pintado. www.casamania.it

Não basta carregar Além da portabilidade, a garrafa Bobble, criada pelo design egípcio Karim Rashid, filtra a água de torneira, reduzindo o consumo da bebida em garrafas plásticas comuns. Produzida em plástico 100% reciclável, ela possui um filtro de carvão removível que elimina impurezas, odores e gostos e só precisa ser trocado a cada dois meses, ou com 150 litros de água utilizados. Disponível em diversas cores e com capacidade para 550 ml, o utensílio está à venda na Spicy. 0800 168388, www.spicy.com.br 9


news Revestimento fashion Componente da coleção Innova HD, a padronagem de patchwork tem alto relevo e confere fielmente as características do material ao porcelanato da Cerâmica Portinari. A tecnologia 3D e de alta definição fornece a precisão e a qualidade necessárias à imagem impressa para criar o efeito visual e tátil no contato com o produto. A durabilidade e resistência à umidade também são propriedades do revestimento. www.ceramicaportinari.com.br

Ecosimple by Alexandre Herchcovitch A Deluse lança nova coleção de mobiliário revestido com tecidos desenvolvidos por meio de técnicas de reaproveitamento de sobras da indústria têxtil e de garrafas pet. A criação é do Estúdio Alexandre Herchcovitch para a Ecosimple e visa minimizar os impactos ambientais com bom gosto e consciência ecológica. Confira a nova coleção da Deluse no site www.deluse.com.br

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Missoni Home sob nova direção Em fevereiro, o empresário e designer Pedro Franco, proprietário da loja A Lot Of, também assumiu a direção da Missoni Home em São Paulo, localizada na Vila Nova Conceição. O intuito da mudança? Ampliar a divulgação e consolidar o ponto de venda da marca italiana, que comercializa desde produtos para cama, mesa e banho, móveis e objetos de decoração até utensílios para cozinha, importados diretamente da Itália. Em destaque na foto, chaise longue com estrutura metálica e assento produzido com cordas multicoloridas utilizadas no setor náutico. (11) 3320-5555, www.missonihome.com

Design São Paulo Em junho de 2011, São Paulo vai sediar um dos eventos de design de maior qualidade já organizados no país, o Design São Paulo, que ocupará dois andares inteiros da OCA, no Parque Ibirapuera, paralelamente à São Paulo Fashion Week, que acontece no Pavilhão da Bienal. Reunindo o melhor time de profissionais brasileiros e também convidados internacionais importantes das áreas de design e arte, o evento abrigará seminários, workshops, instalações, exposições, a primeira edição em São Paulo do Pecha Kucha e outras manifestações culturais, além de um setor destinado a galeristas e lojistas. Destaque para a exposição dos irmãos Campana, eleitos os designers do ano. Na imagem, luminária em vidro, produzida a partir de fragmentos de vasos famosos das décadas de 1920, 1930 e 1940, para a marca italiana Venini. São presenças internacionais já confirmadas o “poeta da luz”, Ingo Maurer; o italiano Maurizio Galante, que circula entre a moda e o design de produtos; o designer Robert Stadler, que vive e trabalha em Paris, e o designer holandês Gijs Bakker, fundador da Droog Design. O evento é uma iniciativa de três sócios – Waldick Jatobá, Katia Alvarez e Lidia Goldstein – em parceria com a Luminosidade, empresa representante da marca SPFW. A curadoria é da editora de ARC DESIGN, Maria Helena Estrada. 11


news Casa Brasil A próxima edição da feira Casa Brasil, que ocorrerá entre 2 e 6 de agosto em Bento Gonçalves, RS, terá seu espaço cultural valorizado, com mais de mil metros quadrados de área e mostras como o Design Concreto, que aproxima profissionais e indústrias; o resultado do Prêmio Salão Design, um dos mais importantes da América Latina, e um workshop com o designer inglês Peter Marigold, entre outros. O seminário realizado por ocasião da feira contará com a presença do designer alemão Konstantin Grcic, do italiano Ricardo Blumer e dos brasileiros Renato Imbroisi e Fred Gelli, diretor de criação responsável pelo projeto do símbolo das Olimpíadas de 2016. Informações no site www.sindmoveis.com.br/casabrasil

Paralela 2011

Bolsa de inspiração arquitetônica produzida em napa utilizada em roupas e couro sintético. Mada Faccio Design (11) 9234-7357

A 19ª Paralela Gift trouxe produtos artesanais e alguns semi-industriais de qualidade, reafirmando sua imagem de espelho da boa produção em design autoral no país. Sempre sob a batuta de Marisa Ota, tomando a “brasilidade” como fonte de inspiração, a feira apresentou novas tendências estéticas e propostas inovadoras para a combinação de materiais. Destaques: a cadeira Marisa, do arquiteto Eurico Ugaya para a Marcenaria São Jorge; as bolsas “arquitetônicas” e moderníssimas criadas pela arquiteta Mada Faccio; os colares e xales de Renata Meirelles (veja nesta edição); o projeto Artesanato Sustentável do Amazonas e, claro, Renato Imbroisi e suas equipes, destacando-se as “cobre cadeiras” da dupla de arquitetas gaúchas Tina & Lui e a série de peças bordadas à mão criada para a Safira Sedas a convite da empresária Eliane Gamal Mesquita, proprietária da marca. www.paralelagift.com.br

fabio scrugli

Colar Ikale, em fibra de arumã tingida com urucum, produzido por artesãs do Grupo Areal, em São Gabriel da Cachoeira, AM. (61) 8151-8133

Almofadas em seda com bordados e joias aplicados à mão por comunidades de artesãs dirigidas por Renato Imbroisi. Lançamento da Safira Sedas na Paralela Gift 2011 www.safirasedas.com.br

Cadeira em compensado naval com topos aparentes, lateral em fórmica e pés em ferro com pintura eletrostática. De Eurico Ugaya para a Marcenaria São Jorge (11) 3782-5901 12


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fotos Diego Cagnato

news

Feiras A segunda edição da Abup Móvel Show e a estreia da Paralela Móvel, versão da Paralela Gift, apresentaram peças de mobiliário e iluminação que, na verdade, trouxeram pouca ou nenhuma inovação ao panorama atual. Destacamos, no entanto, algumas peças da exposição do grupo Design OK, realizada pela segunda vez consecutiva na Abup Móvel, como a mesa lateral Paula, FG Home, e o buffet da linha José, do estúdio Carbono, selecionado na primeira fase do Prêmio Design MCB 2010. Na Paralela Móvel, que contou com a curadoria de Marisa Ota, destaque para os lançamentos do estúdio paranaense Fetiche Design.

Acima, luminárias da série Crua, produzidas à mão, em tecido resinado com estrutura autoportante e, abaixo, mesa e bancos com estrutura em aço e pintura emborrachada, tampo e assentos em madeiras maciças Tauari (parte interna) e Muiracatiara (parte externa), da Coleção Vergalho 2011. Criação: Fetiche Design www.fetichedesign.com.br

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campeões de audiência

CAMPEÕES DE AUDIÊNCIA e+ Irreverência, beleza, funcionalidade e criatividade. Estas são algumas características que transformam um produto em best-seller. ARC DESIGN traz, para você, um guia com a apresentação destes sucessos, tanto no âmbito nacional quanto internacional Paloma Moreira e Camila Marques

Aparador Encaixe, inspirado nos jogos infantis de montar, projeto da Em2Design. Na Novo Ambiente, www.novoambiente. com.br, tel.: (21) 2239-5090

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Vaso Fidúcia, design Louise Campbell para Kahler. Na Scandinavia Designs, www.scandinavia-designs.com.br, tel.: (11) 3081-5158

Mesa Élo, com corpo adaptável que varia de dimensão e de formato. Projeto da NóDesign, www.nodesign.com.br, tel.: (11) 3814-8939


Luminária Torch, design Sylvain Willenz. Na MiCasa, www.micasa.com.br, tel.: (11) 3088-1238

S

Relógio de parede em alumínio, design Marti Guixé para Alessi. Na Benedixt, www.benedixt.com.br, tel.: (11) 3081-5606

elecionamos as melhores lojas do segmento casa, e também moda, e pedimos que nos indicassem, em cada uma delas, os produtos que estão em evidência no mercado, ou seja, os best-sellers. A intenção? Criar um guia dos produtos mais vendidos. É este o tema dos Campeões de Audiência, resenha que se repetirá a cada nova estação. A divertida poltrona inspirada num ninho de passarinhos, o confortável sofá com estrutura rústica em vime, o sapato que muda de personalidade conforme o estado de espírito do usuário... Os contrastes estão presentes nestas criações e a ambiguidade torna-se um atrativo para os amantes do design. Os “campeões de audiência” sustentam essa posição seja pelo design, conceito, irreverência ou status do criador. Os motivos não importam, eles são atualmente preferidos do público. Veja as próximas páginas e descubra o porquê!

Buffet Código de Barras com estrutura em madeira, design Arbel Reshef. Na Marché Art de Vie, www.marcheartdevie.com.br, tel.: (11) 3853-9760; na MiCasa, www.micasa.com.br, tel.: (11) 3088-1238, e na AZDesign, www.azdesign.com.br, tel.: (11) 3284-9533 17


campeões de audiência Mesa de centro Entretanto, em vidro plano, design Jacqueline Terpins. No Estúdio Jacqueline Terpins, tel.: (11) 3872-4497

Cadeira com assento em polipropileno injetado, com 40% de madeira reciclada e encosto em nylon ou policarbonato, design Marc Sadler. Na A Lot Of, www.alotof.com.br, tel.: (11) 3068-8891

Luminária Smithfield, da Flos. Design Jasper Morrison, produção Flos Itália. Na Onlight Iluminação, www.onlight.com.br, tel.: (11) 3081-3282

Mesa lateral Meduse, design de Stine Gam e Enrico Fratesi para o estúdio GamFratesi. Na Benedixt, www.benedixt.com.br, tel.: (11) 3081-5606

Linha Graves, mesa de centro e mesa lateral revestidas em azulejo, design Estudiobola. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513

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Conjunto de cinco peças Obelisk, composto por quatro poltronas e uma mesa de centro, da Dedon, design Frank Ligthart. Na Collectania, www.collectania.com.br, tel.: (11) 3085-2229


Cadeira Bold Pink inspirada nos clipes de papel, design Elric Petit, Grégoire Jeanmonod e Augustin Scott. Na Benedixt, www.benedixt.com.br, tel.: (11) 3081-5606

Mesa Ora em alumínio cortado a laser e moldado à mão, design Roberta Savelli. Na Casa Matriz, www.casamatriz.com.br, tel.: (11) 3064-6050

Poltrona Timbó com estrutura em madeira, design Carlos Motta. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513

A peça Nestrest da empresa alemã Dedon é inspirada em um ninho de passarinhos, design Daniel Pouzet e Fred Frety. Na Collectania, www.collectania.com.br, tel.: (11) 3085-2229

Sofá Bodoir, estrutura em pinus multilaminado e estofamento com tecido patchwork, design Francisco Pinto. Na Habitart, www.habitart.com.br, tel.: (51) 3328-0623

Luminária Doride, possui difusor interno em policarbonato metalizado e articulação central, design Karim Rashid. Na La Lampe, www.lalampe.com.br, tel.: (11) 3069-3949

Carrinho multiuso estampado, design Ronaldo Fraga. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513 Estante Árbol em cumaru ferro, design Juliana Llussá. Na Decameron, www.decamerondesign.com.br, tel.: (11) 3097-9344 19


lançamentos A cadeira emblemática de Flávio de Carvalho e a chaise de Paulo Mendes da Rocha já têm suas versões em miniaturas. Na Futon Company, www.futon-company.com.br, tel.: (11) 3083.6212

Bota anabela Riva vazada, design Oskar Metsavaht. Na Osklen, www.osklen.com, tel.: (11) 3083-7977 Cavalo Rocinante, em madeira maciça, couro e tubo de metal, design Alfio Lisi. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513

Mesa Hastes, tampo de vidro e base em papelão reciclado, design Domingos Tótora. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513

Mesa ETC, em madeira laqueada ou natural, design Gerson de Oliveira e Luciana Martins para Ovo, www.ovodesign.com.br, tel.: (11) 3661-9562

Mesa de jantar Big Foot, em madeira, aço e vidro, design Alain Gilles. Na ÍconeCasa, www.iconecasa.com.br, tel.: (11) 5051-8263

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Poltrona Matipú, confeccionada em macramê, possui estrutura em ferro cromado, design Jean Pierre Tortil. Na Conceito FirmaCasa, www.conceitofirmacasa.com.br, tel.: (11) 3068-0380 Mesa bistrô, tampo em porcelana esmaltada e base de polipropileno; cadeira Play, com estrutura injetada em polipropileno e fibra de vidro, design Philippe Starck para Dedon. Na Collectania, www.collectania.com.br, tel.: (11) 3085-2229 Miniestufa de cerâmica e vidro, design Matteo Cibic para Asterisko. Na Benedixt, www.benedixt.com.br, tel.: (11) 3081-5606

Luminária Bauhaus, versão mesa, design Fernando Prado. Na Lumini, www.lumini.com.br, tel.: (11) 3898-0222 Cabideiro Hook Me Up, em madeira com corrente para suspender no teto, design Bo Strange, Kajaer Morten e Vinter Martisen. Na Danish Design, www.danishdesign.com.br, tel.: (11) 3062-0085

Cadeira Spider Woman, com encosto e assento em aço galvanizado, design Louise Campbell para Hay. Na Danish Design, www.danishdesign.com.br, tel.: (11) 3062-0085

Luminária Pallet, produzida com descarte de estrados de madeira, design Maurício Arruda. Na Carbono, www. carbonodesign. com.br, tel.: (11) 3815-1699

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lançamentos

Mesa de trabalho Asas, em nogueira americana, design Arthur de Mattos Casas. Na Etel Interiores, www. etelinteriores. com.br, tel.: (11) 3064-1266

Luminária Birdie’s Busch, design Ingo Maurer. Na Fas, www. fasiluminação. com.br, tel.: (11) 3086-1661 Sofá de vime revestido com futon de algodão, design Eulália de Souza Anselmo. Na Dpot, www.dpot.com.br, tel.: (11) 3082-9513

Sofá Luggage, design Rodolfo Dordoni. Na Atrium, www.atrium.com.br, tel.: (11) 3085-7004

Mesa Dueto, em multilaminado, design André Brandão e Márcia Varizo. No Armazém da Decoração, az@azdecor.com.br, tel.: (62) 3281-7432

Cadeira Pantone, em alumínio com vinil, design Grupo Seletti. No Armazém da Decoração, az@azdecor.com.br, tel.: (62) 3281-7432 22


Luminária de mesa Kelvin Led, design Antonio Citterio para Flos. Na OnLight Iluminação, www.onlight.com.br, tel.: (11) 3081-3282

Porta-chaves Offer Hand Hook, de resina e mármore, design Harry Allen para Skitsch. Na A Lot Of, www.alotof.com.br, tel.: (11) 3068-8891

Luminária WoonderLux, design Ingo Maurer. Na Fas, www. fasiluminação.com.br, tel.: (11) 3086-1661

Luminária de piso Pau de Luz, em madeira e aço inox, design Alfio Lisi. Na Dominici, www.dominici.com.br, tel.: (11) 3087-7788

Gaveteiro Pixel em MDF com laca, projeto da EM2Design. Na Home Design, www.homedesign.com.br, tel.: (71) 3358-0400

O Sapato Bolsoo permite a adição de acessórios de cores diferentes através da tela transparente, design Fernanda Yamamoto. Na Ciao Mao, www.ciaomao.com, tel.: (11) 3819-1768

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design brasileiro

A MARCA ESCULTURA PARA UMA CIDADE ESCULTURA Eram 10h20 de 31 de dezembro de 2010! Salão principal do Copacabana Palace. Eu sentia um misto de euforia e nervosismo. Finalmente, aquele momento havia chegado! Juro que, naquela sala, diante de quase 100 jornalistas do mundo todo, eu ainda não acreditava no que estava acontecendo! A marca, que mais de 5 bilhões de pessoas vão ver até os Jogos, tinha sido desenhada por nós!! As etapas da cerimônia de lançamento, no meio da festa de réveillon mais famosa do mundo, pareciam estar em câmera lenta... até o momento em que Daniela Mercury, junto com vários atletas olímpicos, finalmente anunciaram a abertura da bandeira de 1.200 m² que começava a ser estendida sobre a multidão revelando as formas e as cores da marca! Aí virou verdade e surgiram novas questões na cabeça Fred Gelli

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Superuber

Projeção da marca Rio 2016 mapeada sobre escultura de dois metros de largura

Ela é uma escultura, pode ser uma joia, pode girar e ganhar novos ângulos.” Ricardo Leite, designer membro do júri

O

briefing era um grande desfio: representar a paixão e a transformação de uma cidade e de um país inteiro e projetá-las para o mundo. O que deveria expressar? União, além de despertar superação e otimismo. Fugir dos clichês e ser, ao mesmo tempo, uma síntese que traduzisse a cidade como o endereço do maior evento esportivo do planeta, projetando o Rio de Janeiro do futuro. Em resumo: marca poderosa, energética, envolvente, um espelho vivo da cidade, capaz de traduzir nossa diversidade e alegria e abraçar o mundo todo de uma só vez. Foi um processo rigoroso e conduzido com muito profissionalismo pelo Comitê Organizador Rio 2016 e pelo COI, com139 agências inscritas, 24 entrevistadas, oito finalistas. Na etapa final, quando restaram apenas oito agências, era necessário atingir a marca mínima de 80% dos pontos e ser aprovado com unanimidade

pela Comissão Julgadora, um grupo multidisciplinar composto por 12 membros nacionais e internacionais. A Tátil criou mais de 50 caminhos criativos até chegar à opção que foi considerada a vencedora da concorrência. A marca foi escolhida por unanimidade em 1° de setembro de 2010. “Ela é uma escultura, pode ser uma joia, pode girar e ganhar novos ângulos”, afirmou o designer Ricardo Leite, membro do júri. O briefing, além de desafiador, continha uma série de necessidades estratégicas e essenciais. A marca deveria: refletir a cultura local, mas ter um entendimento universal; evitar estereótipos; ser inovadora; estar alinhada com os valores olímpicos; inspirar e emocionar os diversos públicos; contribuir para transformar a imagem da cidade e do país em sinergia com o momento de transformação do Movimento Olímpico; manter-se atual até 2016. 25


Tátil Design

design brasileiro

A essência dos Jogos era “paixão” e ”transformação”. Entendeu-se que este deveria ser um processo coletivo, com os escritórios do Rio e de São Paulo trabalhando juntos. E que antes de desenhar a marca era preciso desenhar a estratégia e aplicar a abordagem do Branding 3.0, que mostra o jeito Tátil de criar marcas. Em que consiste a abordagem do Branding 3.0, pensada para criar marca com propósito, processos e valores – presente no futuro? Há algum tempo a Tátil vem estudando sobre o futuro das marcas e as marcas de futuro. Acreditamos que as marcas que desejam garantir conexões sustentáveis com todos os seus públicos terão de assumir responsabilidades para a transformação do cenário em que vivemos hoje. E que as marcas com maior poder de transformação são aquelas que conseguem dar vida ao seu propósito e aos seus valores com expressões relevantes e autênticas, que gerem experiências memoráveis. Para isso, é preciso começar com um processo de investigação para capturar a alma e a cultura das empresas e pessoas por trás das marcas e traçar diretrizes que ampliem sua capacidade de se manter atualizada, viva, relevante no presente e no futuro. Depois, é preciso interpretar e 26

traduzir estas expressões de forma alinhada em todos os pontos de relacionamento para dar vida às marcas, com expressões poderosas, que ressoem com as pessoas. Por fim, com estratégia e expressões alinhadas devem-se construir as experiências que vão gerar valor sustentável para todas as relações entre a marca e seus públicos. A Marca Rio 2016 tinha tudo para trazer um novo propósito, novos processos e valores. A equipe de estratégia construiu uma dinâmica que reuniu mais de 40 profissionais dos dois escritórios (Rio de Janeiro e São Paulo) para pensar um pouco diferente: construir um planeta chamado Rio 2016. As palavras ”paixão”, “transformação” e “carioca” deveriam ser polinizadas com todos os sentimentos, sonhos, desejos, objetivos e atributos ligados a cada uma delas. Depois, divididas em grupos, as equipes precisavam criar os planetas. Entender como sua população viveria, se relacionaria com a natureza e as pessoas, cuidaria do presente e do futuro. Os melhores planetas foram escolhidos em uma votação ampla e os conceitos de cada um foram sendo recheados com artigos, trechos de livros, imagens, linguagens, cheiros, cores, formas. Tudo o que era descoberto era trocado entre Rio e São Paulo, numa ponte aérea virtual diária.

Acima, projeção virtual de esculturas em grande escala que poderão ser construídas em diversos pontos da cidade. Na imagem, fachada do Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas

A marca tem harmonia gráfica e movimento contínuo, necessário na prática de todos os esportes. Ainda consegue ser em 3D, com ângulos que sugerem o símbolo do infinito, valor significativo, importante para a eternidade desejada pelos idealizadores dos Jogos Olímpicos.” Washington Olivetto, publicitário


Publius Vergili Fernando Mucci

A estratégia da Marca Rio 2016 começou com as palavras “paixão” e ”transformação”. Para consolidar a estratégia da marca e garantir o alinhamento das suas expressões em todos os pontos de relacionamento com seus públicos foi criado o “direcionador da marca”. Mas em que consiste este direcionador? “Diversidade harmônica”: nascemos de uma mistura de povos. Gostamos de celebrar nossa diversidade harmônica. Acolhemos todas as raças, credos, idades. Somos um povo que compartilha, de forma democrática, seu céu, seu mar, sua gente feliz. “Energia contagiante”: a energia contagiante, capaz de unir com um abraço, diferentes países, atletas e povos, desenha uma marca em movimento. Uma marca com um gingado único, feito de alegria, união, celebração e amizade. “Natureza exuberante”: a natureza exuberante do Rio inspira a viver com paixão e leveza e se reflete no jeito descontraído e caloroso de ser do carioca. É ela que dá forma e vida à nossa marca. “Espírito olímpico”: a paixão que nasce no esporte, na garra,

De baixo para cima, a Equipe Tátil Rio de Janeiro e a Equipe Tátil São Paulo e, abaixo, a marca Rio 2016 – escultura sobre o totem – em três dimensões

Rio 2016/Ismar Ingber

A partir daí, a cada semana, os escritórios se juntavam via videoconferência para avaliar as marcas que iam surgindo. Muitas marcas foram nascendo e morrendo. As duas finalistas passaram por um processo de votação individual em que todos os funcionários da empresa — da recepcionista aos sócios — tinham direito a opinar. O critério era o “direcionador da marca”: “diversidade harmônica”, “energia contagiante”, “natureza exuberante” e “espírito olímpico” precisavam estar contemplados. As duas últimas marcas praticamente empataram. A escolhida para representar a Tátil na concorrência tinha muitas características dos maiores potenciais da empresa: era coletiva, experimentável, emocionante, calorosa, tátil.

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design brasileiro no desejo de superação traz para a nossa marca o legado do espírito olímpico, convocando a unir nossas forças e nossas aspirações para transformar o presente e o futuro. A notícia da vitória: muito trabalho e total sigilo. A notícia aconteceu em setembro de 2010, mas chegou com uma advertência: até a marca passar por uma extensa e rigorosa busca mundial para evitar qualquer conflito que impedisse o seu registro, era preciso total sigilo. Por isso, poucas pessoas ficaram sabendo. Entre elas, uma muito especial: a minha avó. Depois de rezar e torcer tanto, ela merecia fazer parte deste grupo seleto. No escritório do Rio foi montada uma verdadeira operação de guerra. Foi criada uma sala com fechadura com impressão digital e acesso restrito a poucos profissionais. Todo final de dia tudo o que tinha sido impresso precisava ser descartado. A comunicação era restrita, sem telefone e as transferências

de arquivo eram feitas por uma rede especial, VPN, ligada diretamente ao Comitê Organizador Rio 2016. Durante quatro meses foram criados 38 manuais para este que é considerado o mais complexo sistema de identidade visual do planeta. “A marca tem harmonia gráfica e movimento contínuo, necessário na prática de todos os esportes. Ainda consegue ser em 3D, com ângulos que sugerem o símbolo do infinito, valor significativo, importante para a eternidade desejada pelos idealizadores dos Jogos Olímpicos”, afirma o publicitário Washington Olivetto. Processo, lançamento e o desejo para o futuro da marca. Foram quatro meses guardando um segredo a sete chaves. Ou melhor, a umas 15 impressões digitais, usadas para abrir a fechadura digital do bunker onde um pequeno grupo do nosso time tivera de trabalhar nesse tempo todo, sem direito à internet e tendo que dar fim

a todas as impressões do dia em um triturador de papéis. O segredo era o fato de que nossa marca havia sido escolhida para representar os Jogos Olímpicos Rio 2016! Como as pessoas iriam reagir? A primeira impressão era muito importante. Em poucos segundos, durante a cerimônia que anunciou a marca escolhida, a bandeira aberta e as pessoas embaixo, ao invés de se sentirem claustrofóbicas como chegamos a temer, começaram a mover os braços para um lado e para o outro fazendo a marca dançar. Suspiro aliviado! Choro, abraços, palmas e gritos... tudo ao mesmo tempo! Nossa marca estava viva! As pessoas a receberam com empolgação, em um grande abraço. Corta. Baixo Gávea. Três dias depois. Parando meu carro no mesmo lugar de sempre, Flávio, o guardador, vira pra mim e diz: “Chefia, entendi tudo, tô emocionado...! É a população

Tátil Design

Evolução da marca Rio 2016

Estudo inicial da marca, já com referência direta às pessoas e ao Pão de Açúcar

Tentativa de deixar a forma da marca mais orgânica

Esboço original da forma final da marca Rio 2016

Primeiros esboços com referências ao relevo carioca e estudos volumétricos 28

Novo estudo da forma da marca, atribuindo mais peso às três figuras. Em paralelo, primeiro estudo volumétrico da marca, feito com massa plástica


do Rio finalmente unida pra mudar nossa cidade! ‘Tamo’ juntos!”. Eu, naquele momento, comecei a entender o que estava acontecendo... tinha dado certo! As pessoas estavam entendendo as ideias que colocamos lá e, o que é melhor, se sentindo representadas pela marca, por seus simbolismos, por suas formas, por suas cores. De Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional ao guardador de carros do BG, a marca estava dando o seu recado. “É uma escultura cheia de vazios, que deixam a imaginação entrar”, disse Rogge. A surpresa foi quando muitas das interpretações que começaram a ser feitas iam se desdobrando em ideias que nós, pelo menos, conscientemente, não tivemos a intenção de colocar ali! A palavra Rio, por exemplo, enxergada pelo prefeito na noite do lançamento, nos contornos dos personagens, ou ainda os três níveis do pódio, representados no abraço e as

Novo esboço da forma final da marca, em uma nova tentativa de deixá-la mais orgânica

É uma escultura cheia de vazios que deixam a imaginação entrar.” Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional

SAIBA MAIS Assista ao vídeo do processo de criação: http:// vimeo.com/18331485. Conheça o site oficial: http://www.rio2016.org.br/ Assista ao vídeo de lançamento: www.youtube.com/user/ rio2016video

inúmeras modalidades presentes nos gestos dos personagens foram leituras que fomos enxergando aos poucos! A marca estava viva! Ressoando nas pessoas! No fundo acredito que, de alguma forma, todas aquelas ideias “extras” foram sendo injetadas na marca pela soma, sem precedentes, da energia criativa de todo o nosso time. Quase 100 pessoas, que movidas por uma energia diferente, talvez pela força do propósito olímpico, desenharam juntas de forma absolutamente cooperativa um símbolo que parece estar inspirando as pessoas! Mas talvez o que nos deixe mais empolgados seja o que eu ouvi do líder comunitário do Morro do Alemão, que visitamos há pouco para um novo projeto: “Fred, essa marca representa a soma das três forças: o povo, o governo e as empresas, que, em um grande abraço, com uma crença comum, se unem para transformar o Rio!”. Que assim seja!

Estudo das linhas de força da marca

Estudo de inclusão de outras formas do relevo carioca nas curvas da marca

Estudo volumétrico feito em 3D a partir da forma final da marca

Marca final 29



paloma moreira

Lojas conceito Os conceitos são distintos, a qualidade e a variedade são a linha comum de leitura das três lojas-conceito desta edição. Tendências futuras e também memórias regionais, São Romão e Axis, em Belo Horizonte, e Benedixt, em São Paulo, são marcas capazes de oferecer o bom design e um lifestyle contemporâneo, com peças brasileiras – sóbrias e tendentes ao clássico – e outras que representam a vanguarda internacional Da Redação 31


interiores

CONTEMPORÂNEO

Rafael Carrieri

MINEIRO

Estante modular Cubo Mondrian, em MDF laqueado, com diversas opções de tamanho, de Flávio Borsato e Maurício Lamosa, disponível na São Romão

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outros, e concentrou a seleção na produção nacional. Hoje, o mix reúne peças modernas criadas por jovens designers brasileiros, como Zanini de Zanine, Luciana Martins e Gerson de Oliveira, e os proprietários do Estudiobola, Flávio Borsato e Mauricio Lamosa e outras, fornecidas por diversas

rafael carrieri

Geraldo goulart

Abaixo, na parede do ambiente, painel Flaxman, em alumínio e MDF, design Fávio Borsato e Mauricio Lamosa e, em destaque, poltrona Diz e Banco Sônia, ambos em madeira, design Sergio Rodrigues, disponível na Axis. Ao lado, Poltrona N, design José Zanine Caldas, com estrutura em madeira e estampa da Again e mesinha lateral Catedral, em madeira maciça e com tampo de vidro, produzidas nos anos 1950. As duas peças fazem parte do showroom da São Romão

Abaixo, banquinhos Alegria, em pinus tingido. Criação da Habitart, Porto Alegre. À venda na Axis

Geraldo goulart

espaço conquistado pelas lojas São Romão e Axis no mercado de decoração de Belo Horizonte, MG, deve-se à experiência comercial e visão de vanguarda de suas proprietárias, a decoradora Tânia Gontijo e suas três filhas, Paula , Renata e Julia Dumont. Antenadas, elas estão sempre em busca de novas tendências dos mercados brasileiro e mundial. Assim, criaram dois showrooms com perfis distintos, inspirados no público ao qual se dirigem. “A Axis é voltada ao público mais jovem, apreciador do design. Já a São Romão tem uma clientela mais sóbria e trabalha diretamente com profissionais”, afirma Tânia. E estas diferenças têm raízes históricas. O clássico dominava o mercado no início da década de 1990 e as lojas não ofereciam nada de moderno. Desta forma, a São Romão foi fundada com a proposta de inovar a linguagem do mobiliário local, comercializando produtos contemporâneos de designers brasileiros consagrados, como Etel Carmona, Arthur de Mattos Casas, Carlos Motta, Sergio Rodrigues, Aristeu Pires, Jorge Zalzupim e, posteriormente, algumas peças-chave de origem internacional que começaram a entrar no mercado. Hoje, o showroom é composto essencialmente por peças do mobiliário nacional e alguns móveis de produção estrangeira, como cadeiras italianas. Mas foram estas últimas que inspiraram a criação de uma nova loja exclusiva. “Foi o que nos motivou a abrir uma loja só para elas”, revela Tânia. A Axis surgiu em 1999, no momento em que as proprietárias puderam selecionar diversas empresas internacionais para representá-las no Brasil. “Tratava-se de um imenso ‘cadeiródromo’, onde vendíamos Driade, Kartell, Casamania e Indecasa”, relembra a empresária. Mas a loja ampliou o leque de soluções com produtos têxteis, móveis para áreas externas, entre

empresas, como Empório Beraldin, Arteforma, Again e Regatta. Conscientes da necessidade de atuar junto aos profissionais e interessados por decoração, tanto a São Romão quanto a Axis utilizam redes sociais – blog e Facebook – como ferramentas de aproximação e oferecem uma atenção especial ao desenvolvimento de projetos. Este atendimento personalizado faz parte do “pacote” para que os clientes tenham um atendimento completo. “A intenção é que o nosso espaço seja a extensão do trabalho do cliente e/ou profissional. Um lugar confortável, criativo e aconchegante, e cada vez mais prático e sofisticado”, acrescenta Tânia Gontijo. Criar dois universos diferentes a partir de um mesmo mix. Foi essa destreza que fez a empresária e sua família conquistarem o próprio espaço e instituírem uma nova linguagem no cenário do design de Belo Horizonte: a contemporaneidade. 33


interiores

Puff Nuance, revestido em couro ou tecido com uma sequência de cores em degradê, design Luca Nichetto

Um ambiente dinâmico somado à excentricidade e peculiaridade de seus produtos formam o universo Benedixt. Hoje, uma referência no garimpo dos melhores produtos de design internacional

De ouro cravejado com pedras preciosas, a joia Saca Rolha é uma edição especial da linha Ana G. da Alessi. Design Alessandro Medini

BENEDIXT 34


Paloma Moreira

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fugindo do padrão convencional e abrindo espaço para um lifestyle moderno, dinâmico e jovem, valorizando todas as peças. “Tudo é design; nossa meta é ajudar, educar, informar e abrir os olhos de todos para que possam entender mais sobre o desenvolvimento e conceito, que vai desde um palito de dente à cadeira que estão escolhendo para sua sala de jantar”, conclui Maksoud. No segundo andar, o cliente se depara com o acervo lúdico da grife italiana Alessi,

referência no design de utensílios domésticos. O espaço da marca conta com peças assinadas por grandes nomes do design e da arquitetura internacional, tais como os italianos Stefano Giovannoni e Alessandro Mendini, o inglês Will Alsop, Toyo Ito, entre outros. A parceria entre a Benedixt e outras marcas internacionais completa a principal missão da loja, que, segundo Marcello Maksoud, é levar ao consumidor a alegria, o espírito jovem e a satisfação de desfrutar o que há de melhor no design.

No segundo andar da loja, o cliente se depara com o espaço dedicado aos produtos Alessi, que remete ao universo lúdico e colorido da marca

Paloma Moreira

ocalizada na Rua Haddock Lobo, em São Paulo, a loja foi uma das precursoras do segmento, tendo recebido em 2003, ao completar dez anos, o Prêmio Gia (Global Innovator Award) de mais inovadora entre as brasileiras, concurso organizado pela GiftFair de Chicago (EUA). Título este que se explica em seu showroom com uma linguagem própria que transparece na distribuição dos produtos em espaços minuciosamente pensados. “Criamos ambientes em que o comprador possa visualizar o produto dentro de um contexto. Nossos clientes, hoje, estão mais exigentes em relação ao design; eles querem o novo, o inédito, o melhor”, afirma o designer de interiores Marcello Maksoud, responsável pela ambientação da loja. A alma da Benedixt está nas cores e no movimento incorporado na criação de seu espaço interno. A loja viaja o mundo em busca de novos talentos, ideias e conceitos. Segundo Marcello, o objetivo é transmitir aos clientes sua intensa paixão pelo design,

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Lテュgia Negreiros

jovens designers

ARTE NO CHテグ

DE Fテ。RICA 36


Camila Marques

Marie Ange Unbekandt

Ao lado, nas duas páginas, detalhes da echarpe REN2X mostram novos padrões gráficos possibilitados pelo recorte a laser; acima, painel da linha 4MC, feito com negativos resultantes de outros processos, remodelados em software 2D e, abaixo, fio Nok124, inspiração para uma nova linha de produtos

Renata Meirelles

Aliar técnicas artesanais às industriais em seus projetos é o que mais fascina a designer e artista plástica Renata Meirelles. “Eu gosto mesmo é de entrar na fábrica e acompanhar todas as etapas do processo. Meu sonho é fazer uma exposição mostrando cada fase do desenvolvimento dos meus produtos e a sua evolução: da concepção da peça ao desenho, à transposição para o desenho vetorial a partir de um programa 2D, até o formato final, utilizando as técnicas do recorte a laser.”

D

epois de cursos com Beth Lima, Renata Rubim, Waldo Bravo e Regina Chiesa, Renata já domina sua técnica inovadora e cria seus próprios caminhos. Antenada com os eventos que carregam o tema “Arte e Indústria”, a designer participou, recentemente, de três exposições importantes, que lhe renderam, além da experiência, reconhecimento e visibilidade comercial. São elas: Bienal Brasileira de Design, para a qual levou uma instalação de 7 m (11 painéis de tecido sobrepostos); Prêmio MCB 2010, no qual recebeu menção honrosa com o painel Pauta M1; e a Exposição Croma, no Hotel Gledstone, em Toronto (Canadá), que também lhe permitiu expor suas peças recortadas e seus acessórios de moda no Museu de Arte Têxtil da cidade. “Também participo de feiras, como a Paralela, duas vezes por ano, expondo com mais pessoas que trabalham com produtos afins; realizo exposições itinerantes com artistas plásticos e profissionais ligados à moda no espaço Consolação, que acontece quatro vezes por ano, e o Ateliê Paulista”, conta. Depois de ter participado da exposição “Destination Brazil”, no MoMA de N. York em 2009, agora a designer está em contato com o Museu de Arte Latino-Americano (Malba), em Buenos Aires (Argentina). 37


à esquerda, echarpe Fitaflor, em tafetá, desenvolvida a partir de fitas de tecido

*Renata produziu painéis brancos e coloridos para a nova sede da O2 Filmes.

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Lígia Negreiros

A reutilização do material no processo criativo é outra característica que define o trabalho de Renata. Os produtos são feitos com recortes ou laminados recortados e soldados pelo calor, a termoadesivagem (técnica em que o tecido é laminado com um adesivo para poder ser adesivado em outra superfície de tecido), e as sobras desta produção são reaproveitadas para criar novas peças. “O que rejeitamos em um processo pode ser reutilizado em outro. Esta retroalimentação é o segredo da sustentabilidade e acabou se tornando parte da linha de produção que envolve o desenvolvimento de diversas peças”, afirma Renata. À frente de sua empresa, Performa, a designer também desenvolve produtos voltados a nichos diferentes de moda e arte, como a arquitetura* e o próprio design. A vantagem desta característica multidisciplinar é a de poder criar novos produtos a partir de uma ideia concebida para outros, alimentando assim, sucessivamente, as várias frentes de trabalho.

Acima, gargantilha Arame, em tafetá, com estrutura flexível que permite diversas possibilidades de uso. Abaixo, xale Ren8x Tiedie, criado com “sobras” de recortes, reforçando a filosofia de retroalimentação de materiais

Marie Ange Unbekandt

Marie Ange Unbekandt

jovens designers


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jovens designers Estante Dixon: chapas de MDF laqueado com acabamento brilhante

Estudiobola 40


Finalistas do prêmio MCB 2010, os jovens designers Mauricio Lamosa e Flávio Borsato unem simplicidade e sofisticação na linha de produtos do Estudiobola Paloma Moreira

fotos julio menezes

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esign autoral, simplicidade formal e elegância. Com estas características, o arquiteto Mauricio Lamosa define o conceito do trabalho realizado pelo Estudiobola. Colegas desde a faculdade, ele e Flávio Borsato trabalham juntos há dez anos e atuam nos segmentos de design industrial, projeto de produtos e comunicação visual. Com uma ampla coleção de mobiliário, a linha de produção contém traços minimalistas sem deixar de lado o toque altamente refinado, identidade que levou a dupla ao ranking de finalistas no Prêmio de Design do Museu da Casa Brasileira em 2010. A peça selecionada para a exposição foi a Estante Petrus, um trabalho que pode ser personalizado de acordo com o perfil do cliente em função de seu projeto simples com padrão industrial de produção. “Com apenas três desenhos de caixas, duas delas inclinadas lateralmente, você pode montar configurações de estantes multiuso com volumetrias inusitadas, formando uma escultura/textura de parede, mas com um uso prático de armazenamento”, explica Lamosa.

Acima, Cadeira Alba: em madeira jequitibá com assento em gomos de couro e espuma; abaixo, mesa lateral Diamante: chapas de MDF usinado e laqueado com acabamento brilhante

Por acreditar que a produção personalizada é industrialmente inviável do ponto de vista técnico, logístico e financeiro, o Estudiobola busca alternativas para abranger a maior parte das necessidades dos consumidores. Ao criar um aparador, por exemplo, os designers elegem três medidas de comprimento, sem alterar profundidades e alturas para que o móvel se adapte a um espaço grande ou pequeno. “Temos um desenho autoral que faz o consumidor pensar, mas não o choca, pois acreditamos que o aspecto comercial do desenho 41


jovens designers

Ao lado, Estante Petrus: finalista do prêmio MCB 2010, é composta por chapas de MDF usinado e laqueado com acabamento brilhante. Pode ser configurada em volumetrias inusitadas Abaixo, mesa de centro Chipre: peças em eucalipto, unidas de três em três, com tingimento disponível em diversas tonalidades

deve estar presente nas criações”, afirma o arquiteto e designer. Segundo ele, apenas 10% do mix de produtos do Estudiobola tem um caráter de desenho conceitual. “Estudamos proporções e espessuras diferenciadas para tornar os produtos sempre elegantes visualmente”, conta Lamosa. Esta elegância é obtida graças ao talento e à pesquisa no campo tecnológico e de matéria-prima. O cuidado com os detalhes reflete diretamente no resultado final, um design de qualidade que carrega um sutil toque de ousadia.

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low tech high design

poltrona Matipu, design Jean pierre tortil

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1522, Jardim Paulistano www.conceitofirmacasa.com.br


tecnologia

Nano Tech: já estamos vivendo

no futuro! Ou, de como o design está sendo utilizado na Holanda com a função de ser um catalisador da atenção pública para a nanotecnologia Leila Abe

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magine receber na sua caixa de correio um folheto com a propaganda de que um supermercado circulante estará no seu bairro nos próximos dias trazendo em suas prateleiras cerca de 50 produtos que, entre hoje e os próximos 10 anos, poderão estar a sua disposição no mercado. Produtos experimentais, de origem totalmente inovadora, baseados 100% na nanotecnologia. O que foi mostrado? Uma luminária, denominada “De Latro lamp”, cuja fonte de energia são as algas marinhas; o “vloeibaarGlas “, vidro líquido a ser aplicado em camadas finas para a proteção dos mais variados objetos; “Twitter implant”, um implante para ser colocado em qualquer parte de seu corpo, como um implante dentário, por exemplo, ou em forma de um dente, que manda mensagens para diferentes receptores de como anda o seu corpo a cada minuto; o “Nanowijn”, uma adega completa em uma só garrafa de vinho que muda suas

características dependendo do programa utilizado no forno micro-ondas. Finalmente o “skinpaper”, papel de pele, fabricado a partir de uma célula única da pele do usuário que, com ela, poderá - literalmente - fazer um diário na forma de um caderno, por exemplo, do estado nutricional ou hormonal do seu organismo!!! Estas exibições têm acontecido nos últimos meses na Holanda, em diversas localidades do país, especialmente em Amsterdã e regiões de maior concentração populacional. Estes eventos fazem parte de um projeto governamental, o Nanopodium, que visa esclarecer a população holandesa sobre a essência da nanotecnologia, levando o público a visualizar entender o assunto na prática, mas com o intuito de originar uma discussão na sociedade sobre as expectativas positivas e negativas desta nova ciência.


Considerei importante entrevistar um dos líderes do projeto Nanobus, o diretor criativo Koert van Mensvoort, filósofo, designer industrial e artista.

cidades, ônibus supermercados que circulam diariamente pelos bairros vendendo gêneros alimentícios dos mais diversos... em domicílio!

ARC DESIGN: De onde veio a inspiração para criar o Nanosupermarket como forma de comunicação direcionada à população em geral? Koert van Mensvoort: Sempre tive fascinação pelo assunto supermercado. Na sociedade mundana ocidental em que vivemos é no supermercado que todas as teorias de consumo se concretizam. O ser humano se acostumou à facilidade de encontrar qualquer objeto para o seu uso diário nestes espaços. A mesmerização da novidade encontra no supermercado o seu melhor aliado. É nesse templo do consumo e consagração de altos desenvolvimentos tecnológicos que, quando um produto novo é lançado, torna-se em dez dias um objeto comum e parte da nossa rotina. Considerei a criação de um supermercado circulante, o Nanobus, o cenário ideal para chamar a atenção do público para um assunto científico num ambiente com o qual ele está familiarizado. Não se esqueça que na Holanda ainda existem, nas pequenas

AD: Como você explica o sucesso do Nanosupermarket? KvM: Quando recebemos esta proposta de projeto ficamos imaginando como poderíamos atingir o interesse do público em geral sobre um assunto tão abstrato e científico. Pensamos em desenvolver produtos de caráter especulativo e de uso cotidiano das pessoas. E também desejávamos demonstrar como, por meio da nanotecnologia, os limites de nossa forma de pensar o design se modificam. Distribuímos 30.000 folhetos pelos correios convidando os moradores locais para conhecerem nossos produtos exibidos no Nanobus. Para cada produto exposto, há uma explicação sobre o status de seu desenvolvimento. Por exemplo, existem produtos puramente especulativos, mas o importante foi demonstrar os que já fazem parte do nosso cotidiano, como os telefones celulares, drogas medicinais, spray líquido de marcadores com DNA (tagging sprays),cosméticos e tecidos

Nanobus, supermercado móvel que divulga produtos desenvolvidos com nanotecnologia e circula pelas principais cidades da Holanda. Embora a maioria dos produtos ainda não seja comercializada, a mostra serve para despertar o interesse do público pelas tecnologias do futuro

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tecnologia

de partículas moleculares de prata, ou seja produtos com os quais já estamos vivendo neste tão comentado nanofuturo. AD: Você poderia mencionar um objeto de design exibido no Nanobus que incorpore o impacto que a nanotecnologia poderia trazer nos costumes da nossa sociedade atual? KvM: Equipamentos se tornam cada vez menores e nos comunicamos cada vez mais através de redes sociais. Poderíamos, já no presente, teoricamente, injetarmos alguns nanoprodutos nos nossos corpos.

Um Twitter implante pode detectar se você dormiu bem ou não, e transmite isto para os seus amigos, os quais poderão imaginar as consequências disto para o seu humor, desempenho etc. Este tipo de produto estabelece uma discussão na sociedade. Queremos isto para nós? E a nossa privacidade? Circulando pelo Nanobus, o cidadão pensará sobre as suas expectativas e angústias em relação ao futuro. Isto acontecendo, alcançaremos os nossos objetivos ao realizar este projeto.

SkinPaper, um diário cujo papel é produzido a partir de células da pele humana por meio do processo de engenharia de tecidos. A sugestão do autor é o uso como um diário extremamente pessoal! Criação de Vanessa Harden e Lanza Tommaso

Meias para pessoas idosas se ajustam e sobem nas pernas por meio dos movimentos de nano partículas. Previsão de lançamento no mercado: 2025. Designer: Nicolas Nelson

Acima, basta um toque para mudar a cor da parede pintada com a Wallsmart. A paleta fica disponível em um programa de computador que pode ser instalado no Smartphone do usuário. A cor da parede mudará com um simples toque em um botão. Criação de Jonas Enqvist, o produto tem previsão de lançamento para 2016 Abaixo, sugestão de painéis solares nos quais as plantas são utilizadas como geradoras de energia elétrica suficiente para recarregar um celular ou um aparelho MP3. Com previsão de lançamento para 2020, o produto apresenta sistema de produção de energia 100% sustentável 46


Com o Nano Lift você pode fazer um Photoshop diretamente na própria face. Similar ao Botox. Previsão de fabricação: ano 2020. Cientista: Orestis Tsinallis. Designer: Wiel Piells

O tipo do vinho muda de acordo com o programa do forno de micro-ondas. Previsão de lançamento: 2012 . Criadores: Koert van Mensvoort, Hendrik - Jan Grievink, Ruben Daas . Tecnologia : Micro Encapsulation

CIENTISTAS E DESIGNERS Informações sobre nanotecnologia na Holanda

Um pequeno elemento a ser implantado no corpo. Um dente artificial , por e xemplo , que emite sinais sobre a sua saúde para os mais diversos receptores. Previsão de lancamento: 2018. Designer: Hendrik-Jan Grievink

O Epicur Pralines é uma alternativa para os que não gostam de tomar remédios. Por meio da tecnologia de microencapsulamento, a medicação ganha uma saborosa “cobertura” de chocolate. Previsão de lançamento: 2016. Projeto: Stephen Case

No país, já encontramos muitos produtos à venda. Entre outros, meias feitas de partículas nano que eliminam odores, por exemplo. Cientistas que trabalham os materiais em nível molecular e atômico têm conseguido, em seus novos experimentos, resultados nunca imaginados. Na escala nanométrica (um milionésimo de milímetro), as transformações são surpreendentes, como nas cores, na condutividade elétrica e na diversidade das combinações possíveis. Neste mundo milimétrico, as possibilidades de transformar a essência dos elementos são infinitas. Reinterpretar e reutilizar os materiais na escala em que conhecemos, por meio da nanotecnologia são assuntos prioritários na pauta dos designers holandeses. Uma interminável viagem ao universo da criatividade, mais do que nunca aliada à ciência.

O colar monitora o tratamento de mulheres com câncer de mama por meio das esferas que compõem seu “desenho”. Cada esfera representa um estágio de recuperação, que é medido pela coloração de uma pequena amostra de sangue. Com lançamento previsto para 2018, o produto utiliza a tecnologia de imagem molecular. Projeto: Marco Van Beers e Pijls Roda

Sites para consulta www.nanofestival.nl - Science Center NEMO - Oosterdok 2 – Amsterdam www.nanopodium.nl www.twenteuniversiteit.nl/MESA - Technische Universiteit Tweente www.tudelft.nl - Technische Universiteit Delft www.tue.nl - Technische Universiteit Eindhoven www.nextnature.net/nano - supermarket www.best4feet.nl - Meias Nano

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design internacional

COZINHA PARA QUEM NÃO COZINHA.. MAS GOSTA DE DESIGN

Projeto de Philippe Starck, para a empresa Warendorfer, que traz a cozinha literalmente “dentro” de uma estante de livros

A cozinha europeia e a brasileira, aquela para a classe A/B e a preferida dos mercados C/D, emergentes. Cozinha living ou laboratório de experiências? Vamos conhecer as novas cozinhas apresentadas na Feira de Colônia, Alemanha, e pensar as cozinhas brasileiras, projetar para elas? Ângela Carvalho 48


Acima, cozinha suspensa com design totalmente integrado ao ambiente da sala de estar e, abaixo, gaveteiro com ferragens da Blum em ângulo que permite o aproveitamento máximo do espaço

M

inha mãe um dia me disse: “Filha... coisa que designer faz não funciona”. Esta frase lapidar, acompanhada de alguns exemplos práticos dados por ela na época, quase me fizeram desistir da profissão que eu acabara de escolher. Nunca me esqueço deste revelador alerta em cada projeto que realizo. Ao ver algumas das mais modernas cozinhas expostas na última edição da Living Kitchen 2011 – setor especializado da Feira IMM de Colônia –, pensei no comentário que muitas pessoas como minha mãe fariam: “Será que quem desenhou esta cozinha já cozinhou alguma vez na vida?”. Este é um bom tema para pensarmos...

O desenvolvimento social e urbano, as mudanças de estilo de vida vêm impactando sobre o espaço arquitetônico das cozinhas e sobre o seu mobiliário. Nas grandes cidades, as áreas dos apartamentos foram reduzidas gradativamente e as cozinhas se abriram para a sala de jantar, numa busca de integração de funções e otimização de espaços. A tecnologia avançou no setor e surgiram produtos inovadores, que economizam energia, economizam espaço e facilitam as tarefas de preparação e armazenamento de alimentos e acessórios. Uma coisa é certa, os modelos de cozinhas apresentados em Colônia deixam claro que elas são feitas para quem não cozinha, mas gosta de design. São móveis

inusitados como o criado por Starck para a empresa Warendorf, que incluem armários e estantes de livros que se integram ao ambiente da sala; ou minimalistas e sofisticados como o sistema apresentado pela Porsche Design e pela Schüller. Estes modelos de cozinhas vão ao encontro da realidade de pessoas que vivem sozinhas ou no máximo em par, não têm filhos, trabalham fora e não cozinham mais em casa. A cozinha, para este público, está se transformando em um móvel de sala, em um local para esquentar refeições pré-cozidas, fazer um café ou chá. Ela deixou de ser um ambiente onde aromas se misturam, onde a alquimia do cotidiano acontece, onde

a conversa flui durante o ritual do preparo do alimento, para se tornar um elemento asséptico e mimetizado com a decoração da sala. Nada contra, mas fica a pergunta: devemos importar esta tendência? Considero que uma das mais importantes responsabilidades que temos como designers é entender a diversidade humana e respeitar as características de cada cultura. Temos também que passar estes valores para as empresas com as quais trabalhamos para que elas estejam cada vez mais conscientes e alinhadas com os desejos e necessidades de seus consumidores. No projeto de cozinhas para o mercado nacional ainda estamos carentes de uma profunda pesquisa sobre os hábitos e comportamentos do brasileiro para que possamos identificar as diferentes demandas que irão influenciar o design das cozinhas do futuro. Temos de buscar traduzir e reforçar os valores positivos que nos diferenciam, como generosidade, fartura, acolhimento e hospitalidade. Em vez de apenas copiar modelos estrangeiros, podemos inovar criando produtos e ambientes conectados com o nosso clima, cultura e hábitos alimentares.

Abaixo, a cozinha minimalista da empresa alemã Schüller Möbelwerke. Linguagem formal sofisticada que inclui gavetas douradas contrastando com a madeira escura

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design internacional

A experimentação como fio condutor do processo de design

Mesa de centro Qow, produzida com retalhos de madeira para a exposição Design Miami “Craft Punk”. Design Peter Marigold

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SCP London

O 1º Seminário sobre design promovido pela CASA BRASIL fora de sua sede, Bento Gonçalves, RS, em fevereiro, teve a presença de dois jovens e talentosos designers ingleses, Peter Marigold e Max Lamb, que mostraram suas obras no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em busca de um caminho próprio, eles estabelecem um diálogo profundo com elementos primários do design, como geometria, materiais e processos. Integrando a tentativa e o erro no processo criativo, conseguem resultados nada convencionais no design de objetos do cotidiano Cyntia Malaguti

A

ainda curta, mas muito promissora trajetória de ambos - formados pelo Royal College of Arts, de Londres, pouco antes do final da última década -, já recebeu vários prêmios, com participação em diversas exposições internacionais - foi vista em eventos realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro (respectivamente em 15 e 17 de fevereiro, no Senac) nos seminários Casa Brasil Design Internacional,

realizados como parte da divulgação da edição de 2011 da feira de design Casa Brasil, organizada pelo Sindicato da Indústria do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis). No lugar de uma fria e autopromocional apresentação dos resultados finais dos projetos, os designers optaram por compartilhar com o público, generosamente, a riqueza do design “in-process”. Peter Marigold, apaixonado pela

Acima, a estante assimétrica Sum, em cerejeira maciça, formada por caixas vazadas e modulares. Abaixo, estantes da linha Make/ Shift, em polipropileno, com estrutura em formato de cone, adaptável a qualquer espaço. Ambos os projetos criados por Peter Marigold


Cadeira Sheet Steel, em aço inoxidável cortado a laser, dobrada à mão, design Max Lamb

Fotos Mamo Vídeo-Produtora

Max Lamb (à esquerda) e Peter Marigold (à direita) em palestras no Seminário da Casa Brasil

Versão industrial do banco hexagonal Pewter, cujo protótipo foi desenvolvido em uma praia da Cornualha, por meio da asperção de estanho fundido sobre um molde esculpido diretamente na areia. O metal derretido, ao entrar em contato com meios sólidos, logo também se solidifica, revelando o banquinho. Design Max Lamb 52

geometria, procura romper com a ortogonalidade monótona do mobiliário, criando estantes modulares expansíveis, que podem se ajustar a diferentes situações e espaços, e ao nomadismo que caracteriza o estilo de vida jovem e contemporâneo. A estante Make/Shift, por exemplo, extremamente simples, se originou do corte de uma pequena tora de madeira em seu eixo, em quatro partes não ortogonais, às quais foram afixadas ripas, formando caixas. Umas podem ser justapostas a outras, fazendo um desenho assimétrico, mas modular, o que confere um equilíbrio ao conjunto. “Eu estava interessado em como a identidade dual dos módulos – como prateleiras e caixas – poderia sugerir um sentido de existência temporária - além de se adaptarem a diferentes espaços, as unidades podem ser usadas como embalagem, numa situação de mudança.” Com formação básica de escultor e experiência também como cenógrafo, Marigold, no entanto, não vê seu trabalho como arte. Procura se distanciar do que chama de frivolidade estética do design, que cria um cenário idealizado, distante da vida real; espera que suas criações tenham um impacto positivo na vida das pessoas, evitando que se sintam desajustadas frente à lógica das máquinas, da padronização. Ao mesmo tempo, busca a simplicidade e o baixo custo, assim como as soluções do tipo “faça você mesmo”, envolvendo as pessoas na montagem dos módulos, de acordo com seu gosto e necessidades. Max Lamb, por sua vez, realiza uma imersão no universo dos materiais e processos para, a partir de um intenso fluxo de experimentação de possibilidades, extrair o novo, o inusitado. Concentrado em especial no projeto de assentos, Lamb trabalha geralmente com um único material, transformando-o por meio de ferramentas simples, manuais e combinando processos que envolvem tecnologias modernas, como o corte a laser, e tradicionais, como a fundição em areia. A cadeira Sheet Steel criada a partir de uma lâmina de aço é um


Cadeira Poly Bronze, em poliestireno encapsulado em borracha sintética, e, ao lado, colheres em argila revestida com liga metálica. Design Max Lamb

exemplo marcante de seu trabalho. A lâmina onde o laser foi aplicado não apenas para recorte do contorno, mas também para confecção de furos oblongos nas arestas, pode ser conformada por meio apenas de dobras manuais com o uso de um gabarito de madeira, como um origami de papel. Segundo Lamb, seu trabalho “não é sobre guardar segredos, eu quero que as pessoas vejam cada detalhe sobre como isso foi feito, e entendam o material”. Para isso, grava vídeos que

mostram o passo a passo de todo o processo. Outro traço característico do designer é a independência de sketches. Segundo ele, a forma é resultado das exigências e possibilidades do material e do processo. Foi assim que desenvolveu o Projeto Granito, na China, em estreita colaboração com os trabalhadores de um depósito de pedras. Com eles, criou um conjunto de mesa e cadeiras, aproveitando pedras descartadas e recursos locais, que incluíam uma serra circular. A

Poly Chair, em poliestireno de baixa densidade, expandido e borracha de poliuretano

intervenção em cada pedra foi mínima, com dois cortes perpendiculares apenas – um para o assento e outro para o encosto, no caso das cadeiras –, sendo que a posição do corte procurava aproveitar o veio natural da pedra. Como acabamento final, as superfícies cortadas foram polidas, criando um forte contraste com a parte “bruta”. Tanto Marigold quanto Lamb, embora tenham projetos produzidos comercialmente e em escala industrial, abrem perspectivas para um design que pensa sobre si mesmo, se posiciona; constroem uma prática, no mínimo, ousada. E não apenas como prestadores de serviços, atendendo ao setor produtivo e às demandas existentes, mas fazendo novas perguntas e gerando novas respostas, seja a partir da observação do cotidiano das pessoas e de seu estilo de vida, seja pelo desafio de explorar as propriedades e comportamentos dos materiais. Nesse panorama, o designer retoma seu papel de artífice, conduzindo todo o processo, da concepção à execução do artefato. 53


design internacional

LISBOA, NOSTALGIA E FUTURO Portugal é nossa matriz e arquetípica influência. A sensibilidade e o caráter nostálgico do brasileiro são portugueses, nossos “modos”, por mais distantes e influenciados por outras culturas, são fincados na tradição portuguesa. Os azulejos pintados nas obras de Niemeyer vêm da memória portuguesa - nosso primeiro designer contemporâneo, Joaquim Tenreiro, era português, e os recalcitrantes conservadores brasileiros ainda mobiliam suas casas com móveis D. Manoel ou D. José I – verdadeiros ou copiados Maria Helena Estrada Fotos Lucas Moura 54


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interiores Na página anterior e abaixo, detalhe da mostra realizada no Museu do Design e da Moda (MUDE) com peças antológicas da moda desde o início do século XX e do design contemporâneo de produtos. O espaço, ainda em restauração, agrega beleza à mostra. Ao lado, escadaria do MUDE com pintura em mosaico

O

que mais nos impressionou em Lisboa foi o caminho escolhido para fugir da depressão econômica: a recuperação da memória, a reproposta de valores arraigados, a própria cultura tradicional. Como chegamos a estas conclusões, ou impressões? Visitando lojas como a Vida Portuguesa, ou almoçando no restaurante Sol e Pesca, que também tem produtos já prontos.... e enlatados... como nas antigas latinhas de sardinha. Fato também notável: quando visitamos Lisboa e Porto na década de 1990, a matéria-prima eleita 56

para recuperar valores artesanais – e a própria economia – era o vidro. Hoje é a cortiça. Portugal sempre foi o maior produtor de cortiça do mundo. Mas ela estava desaparecendo. Agora, replantada e já pronta para uso, são inúmeros os artigos do mais rigoroso design que utilizam apenas este material, de chapéus a cadeiras. Como curiosidade: foi o monge Dom Pierre Perignon quem produziu a primeira rolha para um vinho espumante – em 1680. Atualmente Portugal produz 40 milhões de rolhas por dia! E o melhor design que encontramos

em Lisboa tem como matéria-prima única a cortiça. Mas a cidade tem ainda dois elementos de importância para o design. O evento Experimenta Design e o MUDE, Museu do Design e da Moda, cuja sede está em fase de restauro. Visita imperdível! Arquitetura, design e moda reunidos sob uma segura curadoria e iluminando as ruínas de uma fantástica arquitetura.

Viagem realizada a convite da Associação Turismo de Lisboa (ATL).


Chapéu, carteira e cadeira produzidos em cortiça, matéria-prima natural extraída do sobreiro, uma árvore protegida por lei em Portugal. Para não danificar a planta, a extração é feita de nove em nove anos e grandes plantações de sobreiros são construídas e preservadas no país, que constitui um dos ecossistemas mais ricos e sustentáveis da Europa

Acima, interior do restaurante Sol e Pesca, que traz elementos tracionais da cultura local desde a ambientação, com objetos decorativos como utensílios em madeira e redes de pesca, até o serviço, que oferece e dispõe à venda alimentos e outros produtos enlatados, como a legítima sardinha portuguesa. Abaixo, sabonetes produzidos pela empresa Claus Porto. Aromas diversos e embalagem decorada com gravuras femininas, características da indústria da propaganda no início do século XX

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arte

inHOTIM Já perdi a conta de quantas vezes fui a Inhotim, talvez umas dez ou 12, mas confesso que a cada ida sempre me surpreendo, e no bom sentido. É tudo muito primoroso, belo, os jardins a cada época do ano têm um colorido diferente, instigante, inspirador...

Bruno Magalhães

Waldick Jatobá

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Inmensa (2002). Construção arquitetônica em aço oxidado, projeto de Cildo Meireles

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arte

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pedro motta

andre mantelli

H

á pouco tempo visitei o espaço sem um motivo festivo, não havia inauguração de galerias, nem de exposições temporárias. Apenas fui para passar o dia com amigos estrangeiros que visitavam o centro pela primeira vez. Foi quando aproveitei mais intensamente este local, que, acredito, seja o único no Brasil, quem sabe no mundo, a reunir um acervo fenomenal de arte contemporânea – nacional e internacional – e um jardim botânico com belos exemplares da flora brasileira. Como acredito que uma imagem vale mil palavras, deixo que estas fotos recentes que escolhi traduzam um pouco o significado desta coleção. Arte e plantas se misturam de forma harmoniosa. Cada canto é pensado para receber uma bela escultura ou instalação, onde o convívio do artista – por meio do seu trabalho – com a natureza nos traz uma experiência enriquecedora e única. Chegando a Inhotim, recomendo fortemente um início de visita pela instalação sonora da Janet Cardiff: uma obra inspiradora que nos dará as boas-vindas e criará um “clima” para aproveitar tanta beleza. Não deixem de visitar o pavilhão da Doris Salcedo (um dos meus favoritos), da Adriana Varejão, da Waleska Soares e do Mathew Barney, esta uma ótima combinação entre arte e arquitetura. Já no contexto paisagismo e arte, não percam, entre outras, a obra de Yaiyo Kusama, a instalação de Hélio Oiticica, a bela escultura de Cildo Meirelles, as três esculturas em bronze de Edgard de Souza, que mais parecem um balé naquele grande gramado verde. Chegar em Inhotim não é nada complicado, fica a cerca de 60 km de Belo Horizonte, e a viagem de carro leva algo como uma hora e meia por estrada muito bem pavimentada e sinalizada. Para os que apreciam o conforto, a melhor opção é dormir em Belo Horizonte e retornar no dia seguinte. Mas se você for apenas preguiçoso, arrisque uma pousada mais próxima... com muito menos conforto. E de resto é aproveitar o outono, estação em que as cores das folhas e flores saltam mais aos olhos, num colorido único e rico em matizes, e programar uma ida a esse refúgio de paz, beleza e muita arte!


eduardo eckenfels

Acima, instalação “Invenção da Cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe” (1977), com nove paredes em alvenaria, pintadas com tinta acrílica e cobertas com estrutura de metal e vidro, projeto de Hélio Oiticica. Abaixo, à esquerda, pavilhão com as construções inspiradas nas “Cosmococas” (identificação dada a uma série de obras datadas de 1973 que constituem ambientes sensoriais), criação de Oiticica em parceria com o cineasta Neville d’Almeida, e, à direita, fachada da galeria expositiva com obras de Adriana Varejão, projeto de Rodrigo Cerviño (2008), com rampa de acesso para outra instalação da artista: a Panacea Phantastica (2008), produzida em azulejo serigrafado

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Roberto Hirth

jovens designers arte

Acima, a escultura Beam Drop Inhotim (2008), de Chris Burden, produzida com vigas cravadas em uma vala de cimento e, abaixo, esculturas em bronze (2000, 2002 e 2005), de Pedro Motta, representando a figura masculina referenciada no corpo do próprio artista

pedro motta

Serviço Horários do Museu: De quarta a sexta-feira: das 9h30 às 16h30 Sábado, domingo e feriado: das 9h30 às 17h30 Bilhete de entrada: R$ 20,00 O parque é grande, mas existe transporte interno e cadeiras de rodas motorizadas. De Belo Horizonte para Inhotim, ida e volta, existem vários serviços de transporte. Recomendamos o Giovanni Rago: giovannirago@yahoo. com.br, tel.: (31) 9981-5419

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Roberto Hirth pedro motta

Acima, o conceito de Museu “in natura” oferece opções aos interessados em arte e apreciadores da natureza, e, abaixo, interior do projeto “De Lama Lâmina” (2009), com a escultura que retrata um conflito entre deuses do candomblé, instalada dentro de uma cúpula em meio à floresta de eucaliptos. Projeto de Matthew Barney

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design internacional

Poltrona Peakcock, design Dror (2009), produzida em feltro com um Ăşnico corte em dobraduras, que formam o encosto e o assento

Cappellini no Brasil 64


Se há uma palavra que possa definir a marca italiana Cappellini esta é: visionária. Fundada na década de 1940, a empresa projeta-se com Giulio Cappellini e suas escolhas que dão sempre a impressão de estar à frente de sua época. Objetos que falam de vanguarda, livres de tendências, que se tornam sucessos imediatos de público e de crítica. A Cappellini acaba de chegar ao Brasil, e seus produtos podem ser encontrados, com exclusividade, na MiCasa, com criações famosas que vão de 1988 a 2010 Da Redação

Cadeira Mr. Bugatti, design François Azambourg (2006), com poliuretano injetado e revestido por lâmina metálica, levemente amassada

Estante Cloud, design Renan e Erwan Bouroullec (2004), projeto modular dupla face, fabricada com tecnologia de rotação Thinking Man’s Chair, design Jasper Morrison (1988), em tubo e chapa de metal. Um dos grandes sucessos da década

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estratégia e inovação

O negócio do design;

o design do negócio Guilherme Jordani

Um arco e uma flecha de longo alcance e apontados em direção certeira. Assim podemos definir a trajetória da empresa brasileira Allê Design, que, mesmo antes de atingir todo o mercado brasileiro, já conquistou posição de destaque em Londres, com pontos de venda em lojas como Harrods e Selfridges e a participação na mostra 100% Design Maria Helena Estrada

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Roali Majola

Guilherme Jordani

Q

A coleção de luminárias Disco é assinada pelo estúdio inglês Viable London. Projetadas para oferecer leveza e efeitos específicos de translucidez, as peças são produzidas a partir do empilhamento de discos de metacrilato de diâmetros proporcionais. A linha faz parte do projeto “Degradê”, que continuará a ser desenvolvido nos próximos anos Jum Nakao responde pelo projeto da Poltrona Água-viva, inspirada na estrutura corporal do animal marinho homônimo. Produzido com finas tiras de metacrilato unidas por longos parafusos nos pés, o móvel, em sua aparente estrutura rígida, faz um contraponto sutil aos conceitos de maleabilidade e versatilidade do material

A mesa de centro Híbridos pertence à coleção de mesmo nome criada por José Marton para a Allê. Inspirada na padronagem da série Entrelinhas – criada pelo designer para a própria marca –, ela traz novas soluções e funções agregadas aos objetos. Na imagem ao lado, destaque para os pés torneados e o detalhe do vaso para flores acoplado

ual a estratégia para o sucesso? Da paixão pelo design e, principalmente, de uma apurada visão das oportunidades de mercado vem a decisão de Alexandre Lazzarotto e Patrícia Bruscato de criar a Allê Design. Tudo começou quando Alexandre, há oito anos, criou a Componenti. Especializada no trabalho com metacrilato, a empresa desenvolve e produz peças sob encomenda para clientes de vários segmentos. O domínio adquirido na tecnologia do metacrilato e o investimento certeiro em maquinário importado forneceram base sólida para a criação do “novo braço” do grupo. A Allê Design já nasceu ambiciosa, com o objetivo de se tornar referência no design mundial, lançando acessórios e produtos com as características que identificassem a origem e a produção brasileira, classificada no mundo como “trendy”, ou seja, criativa e lançando moda. Com esta ideia em mente, a empresa convida grandes nomes nacionais e alguns designers estrangeiros, que tenham uma relação forte com o país, para assinar suas coleções. Entre estes, Baba Vacaro, Bernardo Senna, José Marton, o estilista Jum Nakao, Zanini de Zanine, os irmãos Adriano, da Itália, e os britânicos do estúdio Viable London. Desde a pesquisa do comportamento e do potencial da matéria-prima até o desenvolvimento da tecnologia e ferramental necessários, o designer não tem fronteiras para criar. Ele sugere, solicita novos equipamentos e o desenvolvimento de tecnologias. Não à toa, o grupo tem como clientes as melhores lojas de design do país, com as quais trabalha diretamente na comercialização e divulgação dos produtos.

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No detalhe, “caquinhos” de chapas de metacrilato em diversas cores, utilizados por Baba Vacaro na composição da mesa Gelatina. A fusão das sobras gera novos blocos do material em combinações infinitas de cores e formas, caracterizando a “reinvenção da matéria”

“Temos como objetivo que o consumidor adquira com os móveis e objetos da Allê não somente um produto, mas uma história contada”, afirma Patrícia. Para que isso aconteça, em lançamento de coleções e outros projetos, a empresa envolve os designers, arquitetos e diversos profissionais capazes de transmitir ao consumidor o conceito e todas as informações por trás da peça de design. Todo produto tem sua história, e conhecê-la contribui para valorizá-lo. Um capítulo importante nessas histórias é o

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investimento em práticas e processos ambientalmente adequados. Aproveitando as características do material 100% reciclável - e o domínio tecnológico de todo o ciclo de produção, a Allê se tornou capaz de moldar, curvar, picar, aglutinar e até criar novos materiais. O resultado? Lixo zero e nenhum desperdício. Não escapa nem a fita adesiva que protege os painéis, nem o papelão que os envolve. Os fornecedores também seguem a mesma visão; todos são certificados segundo normas internacionais para meio

Guilherme Jordani

Roali Majola

interiores

Mesa lateral da coleção Híbridos, em padronagem da série Entrelinhas, com luminária. Design Marton. A base da luminária é o pé único, que também sustenta a mesa


Guilherme Jordani

A equipe da Allê UK conta com sete pessoas, “não são funcionários contratados, mas estão literalmente ‘vestindo a camisa’ e encantados com a marca, os produtos e, é claro, com o Brasil”, revela otimista Patrícia Bruscato. Ainda segundo ela, “o negócio no Reino Unido foi traçado estrategicamente para acontecer de uma forma crescente, sem grandes investimentos iniciais”. Assim é a Allê, uma empresa que tem o design no centro de sua estratégia. Junto com o design do produto, o design do modelo de negócio. Pensar grande, começar pequeno, agir rápido e crescer de forma consistente. A empresa sabe o patamar em que deseja chegar: “os melhores em design no mundo. Quem sabe?”, afirma entusiasmada Patrícia. “Só importa que quanto menos tempo demorar melhor.”

Objetos da linha de iluminação Folha, criada pelo estúdio italiano Adriano Design a partir de folhas de metacrilato bicolores em versão translúcida

Fernando Zanchetti

ambiente e investem na otimização de processos. Com a participação – inevitável – em feiras e outros eventos internacionais, também cresceu o conhecimento e interesse dos profissionais estrangeiros pelos produtos da marca. O alvo escolhido foi Londres e, em 2009, a feira 100% Design - apresentando a primeira coleção assinada pela empresa ainda antes da criação da marca atual, Allê Design. O Reino Unido tornou-se o ponto estratégico: um canal de fácil comercialização com toda a Europa. Em março de 2010, instalaram a filial da empresa no país, com o nome de Allê UK, e o apoio de uma warehouse terceirizada. “Por meio dela, podemos enviar o estoque para Londres e, de lá, distribuir o produto, controlando tudo, constantemente, do Brasil”, conta Patrícia.

Guilherme Jordani

Coleção de mobiliário infantil desenhada por Zanini de Zanine. O “cavalinho” serve como balanço e apoio para segurar livros e outros objetos

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cultura material

BMW 315/1 de 1934: o primeiro roadster da empresa, um conceito que permanece atĂŠ hoje

o design sobre rodas 70


Os museus de automóveis das grandes marcas alemãs são verdadeiros templos do automobilismo e surpreendem na chegada pelo arrojo da arquitetura. A proposta destes espaços é que o visitante mergulhe no mundo da marca e não se esqueça mais da experiência texto e fotos Roberto Hirth

Porsche 356/2 Coupé de 1948, com carroceria de alumínio

I

luminação cuidadosamente projetada e espaços surpreendentes fazem parte dos projetos do Mercedes Museum, Porsche Museum e BMW Welt+Museum. A BMW se mostra mais antenada ao mundo das artes do que as outras montadoras, com carros pintados por artistas famosos e

cenas de moda contemporânea ao longo da exposição. A Mercedes faz um paralelo entre seus veículos e a história mundial afinal, inventaram o automóvel. E a Porsche ressalta como um design de sucesso pouco precisa mudar ao longo dos anos, de 1948 até hoje.

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cultura material

O Benz Patent-Motorwagen, de 1886, é considerado o primeiro automóvel da história, pois teve seu design concebido para ser propulsionado por um motor

BMW 3/15: o primeiro carro da BMW, produzido de 1926 a 1932. Ao lado, BMW “Art Car”, modelo M3 GT2 pintado pelo artista americano Jeff Koons

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BMW Welt, projeto de Wolf Prix, do escritório de arquitetura Coop Himmelblau de Viena, à frente do BMW Museum e da sede da empresa, em Munique

Sede do Mercedes-Benz Museum, projeto da UN Studio, em Stuttgart

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biblioteca Recebemos e recomendamos os novos livros publicados sobre design, arquitetura e urbanismo, de autores nacionais e internacionais de renome, como Jorge Wilheim, Sarah Roncarelli e Candace Ellicott. São Paulo: Uma Interpretação

Retoma propostas do livro “Projeto São Paulo”, escrito pelo autor em 1982, e faz uma nova abordagem – sociológica - sobre a vida urbana na cidade de São Paulo. Repassa a história da metrópole, analisando seus aspectos físicos e as relações com seus habitantes sob o enfoque de características culturais e político-econômicas que envolvem sua formação. No último capítulo, apresenta propostas para a construção de uma São Paulo mais justa e sustentável. Autor: Jorge Wilheim Editora: SENAC São Paulo (www.editorasenacsp.com.br) Preço: R$ 50,00

Nenhum Dia sem uma Linha

Narra a história do urbanismo em Curitiba por meio de fotos e da cronologia dos acontecimentos a partir de três momentos: a epidemia de febre tifoide em 1917, o Plano Agache do Governo Vargas, na década de 1940, e o novo plano urbanístico estabelecido em 1971, durante o mandato do prefeito Jaime Lerner, e consolidado com a inauguração do Museu Oscar Niemeyer, em 2002. Autor: Irã Taborda Dudeque Editora: Studio Nobel (www.editoranobel.com.br) Preço: R$ 110,00

Oscar Niemeyer – An Architecture of Seduction

A edição em inglês do livro sobre Niemeyer, na coleção “Educação do Olhar” (BEI,˜ 2007), apresenta a trajetória do arquiteto ilustrada com fotografias da singular plasticidade de suas obras. Apoiado em esclarecimentos de Niemeyer e opinião de críticos, André Corrêa do Lago conduz o leitor à compreensão de questões relativas ao modernismo e à arquitetura em geral. Autor: André Corrêa do Lago Editora: BEI˜ (www.bei.com.br) Preço: R$ 165,00

Design de Embalagem – 100 Fundamentos de Projeto e Aplicação

Reúne projetos de design de embalagem provenientes de vários lugares do mundo, que servem de exemplo prático e também ilustram os estágios do processo de desenvolvimento: briefing, conceito, design, impressão, apresentação e marketing. Inclui informações práticas e exemplos motivadores para todos os conceitos abordados. Autoras: Sarah Roncarelli e Candace Ellicott Editora: Blucher (www.blucher.com.br) Preço: R$ 74,00

Miro Artesão da Luz

Belíssimo portifólio comentado com o relato cronológico da vida e os principais trabalhos do fotógrafo brasileiro. Redigida por Pisco Del Gaiso, a publicação traz em diversas fotos os comentários de amigos, colegas e profissionais que já trabalharam com Miro e, na sequência de cada texto, a tradução para o inglês. Textos: Pisco Del Gaiso Editora: Luste Editores (www.lusteditores.com.br) Preço: R$ 119,00 74


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economia criativa

Ilustração Felippe Moraes: martelos

A NECESSIDADE DE AÇÃO E VISÃO CONVERGENTE

Em “Projeto e Execução”, Felippe Moraes nos traz as duas coordenadas complementares (produto e processo, hardware e software). Ideias produzindo ações que produzem ideias, que produzem...

O interessante da economia criativa é que ela nos coloca, quase obrigatoriamente, numa perspectiva de futuro. Uma perspectiva que parte de premissas como a interdependência entre sociedades e natureza. Outras premissas são a necessidade de ser “trans” em tudo, pensando e agindo de forma sistêmica e não fragmentada; de considerar sempre o correspondente intangível de cada aspecto tangível, como a consciência de que sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também sociocultural, ou que a diversidade cultural é tão preciosa quanto a biodiversidade Lala Deheinzelin 76


L

embrando que economia criativa é um conceito que se amplia a partir das indústrias criativas e que, de forma muito simplificada, ela agrega as muitas atividades que têm como matéria-prima os recursos intangíveis (cultura, conhecimento, criatividade, experiência), quais são algumas das forças que podem moldar futuros mais desejáveis a partir dela? Primeiro, a centralidade do intangível, sobretudo tendo em vista o fato de sustentabilidade (e o design de ideias e produtos em prol de sustentabilidade) ser hoje um imperativo e não mais um adjetivo... Explico: cultura, conhecimento, criatividade, experiências são recursos (sim! Recursos e patrimônio!) que não apenas não se esgotam como se renovam e se multiplicam com o uso. Portanto, representam a chave para a sustentabilidade, já que esta não pode ser alcançada com economia e políticas centralizadas no consumo de recursos naturais. Mas, como trabalhar com estes patrimônios que são a “matéria-prima” da economia criativa? O primeiro passo é poder medir valor e resultados intangíveis, algo que provavelmente acontecerá nos próximos anos. Não falamos em capital social, natural ou cultural? Pois em breve será imprescindível ter métricas ou “moedas” que permitam valorar estes capitais, facilitando o processo de “tangibilizar o intangível”. Isto é mais possível do que parece se cruzarmos, primeiro, as informações preexistentes em avaliação de intangíveis – como as pesquisas de Eduardo Rath Fingerl, do BNDES, ou

de Daniel Domeneghetti, em avaliação de intangíveis nas empresas; os indicadores de resultados como os desenvolvidos por várias instituições do terceiro setor, entre elas o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento); e se ampliarmos nossa noção de moedas, lembrando que na verdade representam acordos de troca e podem ser criadas por qualquer grupo de afinidade que queira trocar tempo, valores, competências, serviços e produtos. Uma vez que fiquem mais claros a importância e o valor dos recursos intangíveis, passamos a desenhar processos e projetos onde o intangível aparece como coordenada complementar a tudo o que é feito ou pensado no plano tangível. Exemplos: para o êxito da Copa do Mundo e Olimpíadas não basta fazer o design do tangível, estrutural, o “hardware”, como equipamentos, hotéis, transporte. É preciso pensar o software, processos, como capacitação, gestão, produção de conteúdos. Aliás, quando pensamos em processos “software”, desenhamos soluções mais sensatas e eficazes. O Centro Cultural de Espanha no Brasil é um dos mais ativos e reputados da rede mundial e um dos únicos que não tem grandes instalações próprias. Ele entra com seu “software” (espetáculos, exposições, oficinas) nos “hardwares” já existentes: espaços culturais que necessitam parceria para sua programação. Xangai criou, em 2005, uma escola para formar os profissionais transdisciplinares (com perfil múltiplo, não formado nas demais escolas) necessários

para realizar a Expo de 2010. A percepção da centralidade do intangível faz com que a China considere parte essencial da inovação aquilo que nós chamamos de “tecnologias soft”. São tecnologias para o design de ideias ou processos para aperfeiçoar a sociedade e as pessoas e correspondem em parte às nossas tecnologias socioculturais (um fabuloso patrimônio brasileiro ainda pouco valorizado e explorado). Resíduos sólidos são um potencial pouco explorado tanto quanto o conhecimento que geramos e que, por falta de gestão, é perdido; atentamos para o desperdício de recursos naturais mas não atentamos para o desperdício de saberes e fazeres. O terceiro ponto essencial para que a economia criativa avance é a visão sistêmica e a ação integrada entre setores, e esperamos que a recém-criada Secretaria de Economia Criativa do MinC use a capacidade aglutinadora e transversal que a cultura tem para promover ação integrada com outras áreas como Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento, Indústria, Meio Ambiente, Urbanismo. A partir daí, poderão resultar programas ou, idealmente, uma nova instância (como uma agência de desenvolvimento) com governança integrada dos temas ligados à economia criativa. Afinal, os países que, até o momento, souberam fazer melhor uso de seu enorme potencial como estratégia de desenvolvimento tiveram sucesso justamente por atuar com forças-tarefa e instituições de caráter “trans”, numa convergência de vários setores e áreas de governo. 77


certas questões Design Industrial Brasileiro: a Terceira Onda Cada vez mais a competição migra para a inovação, a criatividade e a diferença Verdade seja dita, o design industrial brasileiro sobreviveu a duras penas até a década de 1990, com pouquíssimos casos individuais de sucesso e também de profissionais ou empresas atuantes no mercado. Isto aconteceu – mas não apenas – no mercado de móveis, onde era possível produzir sem grandes investimentos em ferramental. Sergio Rodrigues, Oswaldo Mellone, Ângela Carvalho e Celso Santos, Lina Bo Bardi, Michel Arnault e alguns poucos outros designers foram os heróis desta primeira onda do design industrial brasileiro. Toda vez que eu me apresentava, em meados da década de 1990, a uma grande indústria oferecendo serviços de design, me perguntavam se eu desenhava móveis. Chegava a ser cômica esta pergunta, vinda de industriais dos mais diversos setores que, na época, ainda não conseguiam perceber a importância do design nos seus produtos. Consequência de um país que viveu décadas fechado para a concorrência internacional e uma indústria que se acostumou com o fato de que qualquer produto seria competitivo no mercado, desde que fosse barato? Falta de opção e de base comparativa geraram este conceito. Já no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, a indústria brasileira de maior porte abraçou e 78

... o segmento automotivo, o design brasileiro nunca se desenvolveu plenamente. Tivemos algumas ousadias de razoável sucesso – Puma, Farus, Miura, alguns bugres (mercado que nunca conseguiu ocupar todo o seu potencial) e uma única grande oportunidade perdida, no caso da Gurgel, mas infelizmente creio que seu fundador era um desses industriais que acreditavam também que ‘designers desenhavam móveis’ (aliás, acredito que essa foi uma de suas grandes, senão a sua maior, falha).”

investiu em design, transformando o produto nacional e dando os primeiros passos para o “made in Brazil” de melhor qualidade e design diferenciado. Esta mudança de atitude foi certamente reflexo da abertura comercial, tanto por conta da concorrência internacional quanto da quantidade de empresas internacionais que compraram grandes indústrias nacionais e importaram uma nova cultura de desenvolvimento de projetos e produtos. Mas as peculiaridades da cultura brasileira foram elemento fundamental nesta nova atitude: ao comprar uma indústria no Brasil, todo o primeiro passo de uma multinacional era tentar vender seu produto aqui. Como muitas vezes estes produtos importados não atendiam às necessidades, aos hábitos e anseios da cultura brasileira, as empresas foram forçadas a investir em design local. Eu diria que esta foi a segunda onda, e é interessante perceber como isso só aconteceu em nichos específicos de mercado (onde a cultura local se expressa mais fortemente na relação com os produtos) como, por exemplo, eletrodomésticos. Arno, Consul, Brastemp, Dako e a Prosdócimo (hoje, Electrolux) são exemplos de marcas brasileiras compradas por multinacionais que trouxeram suas metodologias de projeto e investiram em equipes internas


Guto Indio da Costa Guto Indio da Costa dirige um dos mais famosos escritórios de design do Brasil. Talento, competência e conhecimento das “leis do mercado” nos levaram a solicitar que ele nos desvendasse os aspectos práticos, ou econômicos, da profissão.

ou empresas consultoras de design industrial. Curioso atestar como em outros segmentos onde a cultura local não se relaciona de forma tão específica com o produto, como, por exemplo, o segmento automotivo, o design brasileiro nunca se desenvolveu plenamente. Tivemos algumas ousadias de razoável sucesso – Puma, Farus, Miura, alguns bugres (mercado que nunca conseguiu ocupar todo o seu potencial) e uma única grande oportunidade perdida, no caso da Gurgel, mas infelizmente creio que seu fundador era um desses industriais que acreditavam também que “designers desenhavam móveis” (aliás, acredito que essa foi uma de suas grandes, senão a sua maior, falha). Agora em 2011, eu diria que estamos entrando na 3ª onda do design industrial brasileiro. É entusiasmante perceber a recente mudança no perfil da demanda dos serviços de design no Brasil e ver que finalmente a consciência da importância do bom design chegou a todos os tamanhos e segmentos da indústria brasileira. Se antigamente trabalhávamos para poucas multinacionais, hoje o mercado se ampliou muito e passamos a trabalhar para muitas pequenas e médias empresas e indústrias. Observem-se as premiações de design no Brasil e a variedade

de produtos e nichos. No entanto, trabalhar para pequenas e médias empresas exige muito mais dos designers. Primeiro, porque normalmente nelas não existe ainda a cultura de desenvolvimento de projetos e produtos, o que dificulta muito esta tarefa. Segundo, porque as equipes de marketing e de engenharia são, de modo geral, menores e menos estruturadas. E, por fim, o padrão de qualidade dos produtos ainda não é excepcional, o que é um grande obstáculo a ser ainda vencido. Tudo isto faz com que o sucesso dos projetos seja um desafio muito maior e deposita muito mais responsabilidades nas costas dos designers. Nunca foi tão importante, na história econômica de nosso país e de nossa sociedade, a competência dos nossos designers, hoje responsáveis pela concepção e desenvolvimento do produto “made in Brazil” que chegará amanhã ao mercado. Se por um lado vivemos este inédito e difícil desafio, por outro é empolgante prever o resultado bombástico que essa nova demanda pode trazer para nossas empresas, nosso mercado e nossa sociedade. As empresas menores, mesmo que sofram de algumas deficiências, têm em compensação outras enormes vantagens: primeiro, a agilidade nas decisões

– nada melhor do que falar com um grupo que decide na hora, ao invés de ter de esperar a aprovação da matriz; segundo, a ousadia – empresas menores estão dispostas a enfrentar maiores riscos em busca de sucesso comercial e são menos engessadas que as grandes empresas. E, por último, a ambição – empresas menores sonham em exportar, em levar marcas e produtos brasileiros para fora do Brasil, o que raramente acontece em multinacionais, por exemplo. Dois outros fatores, não menos importantes, vêm alavancando o design brasileiro: a China com seus produtos avassaladoramente baratos e a taxa de câmbio atual com o Real caríssimo. Estes dois fatores são os motores da inovação pela qual vem passando a indústria brasileira. Poucos ainda conseguem competir por preço (maldita praga da nossa cultura!) e cada vez mais a competição migra para a inovação, criatividade e diferença. Por tudo isso, o momento do design brasileiro é agora. Se boa parte do que estamos projetando hoje se tornar um sucesso nacional e, quem sabe, uma parcela disto conseguir atravessar nossas fronteiras rumo a um sucesso global, vamos, sim, mudar a economia desse país. O boom está aí, é agora ou nunca! 79


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Nail Fetish Obra de Vik Muniz, em exibição na mostra “Relicário”, com produções antigas e outras inéditas Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP Material: madeira, pregos de ferro e cordão de fibra

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