design | arquitetura | comportamento | inovação
| Nº 74 |2011 | R$ 18,00 |
O GRANDE prêmio brasileiro do design
Caem os muros AUTÊNTICOS DE VERDADE
Casas e coleções A VOLTA AO MUNDO EM
1.825 dias
Arquitetura: razão e ambiente
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O
mundo do design “acontece”, vê seu público ampliado, seus eventos multiplicados. Falamos aqui de três recentes iniciativas de sucesso: o evento Design São Paulo, a mostra antológica dos irmãos Campana no Museu Vale, a exposição e entrega dos troféus do Prêmio TOP XXI Design Brasil 2011. Três eventos que falam de linguagens inovadoras e de produtos de sucesso. Se o Design São Paulo apresentou móveis e objetos produzidos em pequena escala, na fronteira da arte, aquele que pode ser encontrado em lojas exclusivas ou galerias de arte, o Prêmio TOP XXI contemplou produtos, industrializados ou não, que estão no mercado, homenageou novos talentos e também entidades que dão incentivo ao design brasileiro. A exposição dos Campana, que já deu a volta ao mundo, chega agora ao Brasil. Importante, trazendo o acervo dos irmãos ao longo de seus 20 criativos anos de atuação, do design de peça única à inserção na indústria, sempre mudando a matéria-prima básica – razão pela qual nunca se repetem. Um bom “gancho” este para enfatizar que hoje, e cada vez mais, é o material que define a forma final de um objeto, de onde se conclui que, sem tecnologia e materiais inovadores, continuaremos a produzir “mais do mesmo”... pedindo desculpas ao planeta. Mas, mais importante do que este alerta é a tomada de consciência em relação aos novos paradigmas do design, seus aspectos tangíveis e intangíveis, as diversas “utilidades” e serviços que esse poderá prestar. São inúmeras as vertentes do design e os focos de discussão se tornam cada vez mais abrangentes e emergenciais. É preciso estar alerta e projetar o que é inovador e necessário. O famoso “mais do mesmo” não encontra mais espaço. Nesta edição, temos também a arquitetura, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, que apresentou a mostra “Razão e Ambiente”, com curadoria do professor Lauro Cavalcanti. A exposição já foi encerrada, mas por sua importância e primorosa apresentação acreditamos ser útil publicá-la, não como um chamado para a visita, mas como um documento para a reflexão, a ser guardado e consultado. Guto Indio da Costa e Fred Gelli trazem temas para a discussão. Jovens designers, casas e lojas mostram o “estado da arte” em relação ao design de produtos e de interiores. E não deixem de prestar atenção na matéria sobre a empresa alemã Authentics, agora revigorada. Design útil, leve... e muito bom. Apreciem sem moderação. Maria Helena Estrada Editora
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cOlAborAdores
Fred Gelli Designer de produtos e professor do Departamento de Design da PUC, RJ. Sócio–diretor de criação da Tátil Design de Ideias, desenvolve conceitos e produtos baseados na biomimética
guto inDio Da Costa Designer industrial e diretor do escritório A.U.D.T. Desenvolve, além de produtos, projetos em Gestão de Design para grandes marcas brasileiras e internacionais
leila abe Arquiteta e fundadora da galeria “Paulista em Amsterdã”, reside e trabalha na Holanda há 17 anos. Desenvolve e é curadora de projetos e eventos relativos ao design brasileiro. É também ensaísta de publicações acadêmicas sobre arquitetura e tecnologia
ARC DESIGN Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda. Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata
Edição de arte Cibele Cipola Luciane Stocco
Diretora editora Maria Helena Estrada
Produção gráfica Cibele Cipola
Redatora Camila Marques
Participaram desta edição Fred Gelli, Guto Indio da Costa, Leila Abe
Revisora Deborah Peleias Estagiária Paloma Moreira Projeto gráfico Fogo Design 6
Comercial e Marketing Cristiano Barata Circulação e assinaturas Rita Cuzzuol
Apoio Institucional:
Rua Lisboa, 493 CEP 05413 000 São Paulo – SP
Impressão
Redação
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Distribuição nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Telefones Tronco-chave: + 55 (11) 2808 6000 Fax: + 55 (11) 2808 6026 Editora mh@arcdesign.com.br editora@arcdesign.com.br
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Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram, cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia da ARC DESIGN, não serão devolvidos.
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ÍNDice
junho | julho | 2011 | Nº 74
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O GRANDE PRÊMIO BRASILEIRO DO DESIGN Da redação A terceira edição do Prêmio TOP XXI Design Brasil destacou o valor da criação original na nova categoria “Conceitos” e reuniu empresas e profissionais, renomados e emergentes, vindos de diversas regiões do país. Mostramos, a seguir, os detalhes da cerimônia de entrega dos troféus, realizada na Oca, Parque do Ibirapuera, durante o Design São Paulo
A VOLTA AO MUNDO EM 1.825 DIAS Maria Helena Estrada Uma das mais importantes e longas mostras sobre a obra dos irmãos Campana. “Antibodies”, organizada e inaugurada pelo Vitra Design Museum em sua sede na Alemanha, chega ao Brasil – no Museu Vale, em Vila Velha, ES – depois de ter percorrido a Europa. Com cenografia de Mathias Schwartz-Clauss, diretor do Museu Vitra, a mostra reúne coleções diversas, desde a primeira peça criada e também curiosos objetos “de estimação”. Um retrospecto evolutivo de 20 anos de design
MUSEU VALE: A ARTE DE ACERTAR Leila Abe Com o suporte da Fundação Vale e a direção de Ronaldo Barbosa, o Museu Vale, localizado em Vila Velha, “bairro” contíguo a Vitória, é composto pelos prédios que abrigam a sede do Museu na antiga estação de trens, o Galpão de Exposições, a Sala de Arte Educativa e a Reserva Técnica. O prédio principal, restaurado e adaptado às suas funções atuais, foi construído na década de 1920 quando a arquitetura moderna já tinha começado a fazer escola no Brasil
CAEM OS MUROS Maria Helena Estrada Em sua primeira edição, o Design São Paulo estabelece conexões culturais e se torna evento pioneiro ao reunir moda, arte e design. A programação apresentou seminários e mesas-redondas, além de mostras e espaço para galerias, e atraiu profissionais e empresários dos três segmentos que viram no Design São Paulo a oportunidade de entrar nesse novo universo do design de peça única
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AUTÊNTICOS, DE VERDADE Da redação A produção da alemã Authentics, caracterizada por objetos industrializados e essencialmente funcionais, mostra-se mais original e lúdica com a nova coleção. Desenvolvidos em materiais diversos, do plástico à porcelana, são produtos familiares e, ao mesmo tempo, totalmente novos, que reinventam e criam tipologias com uma simplicidade sem igual
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CASAs e coleções Paloma Moreira e Camila Marques Ambientes personalizados, que chamam a atenção pela harmonia entre o projeto de interiores e o perfil de suas criadoras e proprietárias de importantes lojas de design. Mostramos a casa da sócia da AZ Decor, em Goiânia, GO, Maria Abadia Haick, e da designer e arquiteta gaúcha Ilse Lang, cada uma com seu projeto e identidade próprios, e ambas convictas colecionadoras do design contemporâneo
RAZÃO E AMBIENTE: SER ATRAENTE É TÃO IMPORTANTE QUANTO TER O QUE DIZER Leila Abe Para quem não a visitou, apresentamos a mostra que acaba de ser encerrada no MAM-SP. Segundo seu curador, Lauro Cavalcanti, a intenção era mostrar uma representação da produção arquitetônica atual, direcionada à preservação ambiental. Para isso, “Razão e Ambiente” utilizou projetos desenvolvidos por nomes expoentes da arquitetura contemporânea e alguns idealizados por graduandos da Escola da Cidade, cujo diretor, Ciro Pirondi, concede entrevista a esta edição
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REDESENHANDO O FUTURO Fred Gelli Sócio-diretor da Tátil Design de Ideias fala sobre o conceito da biomimética, área da ciência que estuda e pesquisa os processos utilizados pela natureza como base para a criação de soluções e inovações. Para ele, tecnologia e ecologia caminham juntas na construção do futuro a partir de projetos menos agressivos e mais sustentáveis
10. News
47. Lojas Conceito
60. Jovens Designers
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news Origami iluminado O designer Marco Ficarra criou a Galileu, luminária de piso produzida em madeira natural e tecido, lançada pela La Lampe. Com 1,80 m de altura, suas quatro hastes curvadas formam uma coluna, para iluminação geral, complementada pela cúpula, em tecido branco. A peça tem o mesmo apelo de origami proposto pelos modelos de Issey Myake que revolucionaram a moda na década de 1980 e foram homenageados na última SPFW. Disponível também na versão para mesa. (11) 3069-3949, www.lalampe.com.br
Nelson Swag Chair Mais de 50 anos depois de sua concepção, a cadeira Nelson Swag Chair, do designer inglês George Nelson, permanece atual graças a seu design futurista e funcional. Reintroduzida pela marca Herman Miller, a cadeira é produzida em polipropileno reciclável. Seu formato de concha se encaixa ergonomicamente ao corpo, oferecendo conforto e flexibilidade. À venda na loja C|O|D. www.codbr.com
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Joias do Brasil Uma forma de expressão da cultura nacional, a arte joalheira atual mostrou sua essência na exposição “Joia Contemporânea Brasileira”. Com curadoria da artista Miriam Mirna Korolkovas, a mostra reuniu obras desenvolvidas por 12 artistas brasileiros em materiais naturais, industrializados e alguns recicláveis. O evento aconteceu entre 6 de abril e 3 de junho em A Casa – Museu do Objeto Brasileiro – Rua Cunha Gago, 807, Pinheiros, SP. Confira mais fotos no site. www.acasa.org.br
Comendo com os olhos Levando a sério o termo “comer com os olhos” e agregando valor ao design na arte de servir, a empresa gaúcha <OU> apresenta a linha de utensílios para saladas Elipse. Produzida em PS Cristal (translúcido) ou plástico polipropileno (fosco), a coleção traz diversas opções de cores e tamanhos. À venda na Emporium São Paulo. www.emporiumsaopaulo.com.br 11
news Árvore da vida Bolsas, chaveiros, carteiras e até roupas são produzidas com os descartes da fabricação de automóveis da empresa Fiat, localizada em Betim (MG). A loja Cooperárvore é uma extensão do Árvore da Vida, um programa da Fiat em parceria com duas ONGs, que visa apoiar o desenvolvimento socioeconômico da comunidade Jardim Teresópolis, vizinha da fábrica. Os produtos também são vendidos pelo site e a renda obtida é destinada aos moradores que trabalham na cooperativa. www.cooperarvore.com.br
Para encaixar A loja Casa Matriz traz para o Brasil a estante Kaar, desenvolvida pela empresa italiana spHaus e assinada pelo casal de designers japoneses Setsu & Shinobu Ito. O móvel, que lembra os tradicionais brinquedos Lego, pode ser personalizado em até três módulos por meio de um encaixe, que permite a flexibilidade dos cubos. www.casamatriz.com.br 12
Design bifuncional Chega ao Brasil a série Tafelstukken, da marca Daphna Laurens, criada pela dupla de designers holandeses Daphna Isaacs Burggraaf e Laurens Manders. Produzidas em porcelana pigmentada e carvalho, as peças bifuncionais são luminárias com compartimentos que podem ser usados para acomodar objetos de uso cotidiano. A coleção está à venda na Benedixt. www.benedixt.com.br
Geometria sem emendas Já conhecida pela valorização do metacrilato reciclado, a Allê Design acrescenta dois novos produtos em seu catálogo. As mesas Rex e Pocket, desenvolvidas pelo escritório britânico Sono Design, brincam com formas geométricas produzidas em uma única peça, sem emendas. Na Marché Art de Vie. www.marcheartdevie.com.br
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news ABC do design Criada pela dupla de designers italianos Alessandro Canepa e Andrea Paulicelli, a Fontable é uma linha de mesas alfanuméricas composta de letras de A a Z, em tipologias maiúsculas e minúsculas, além de números de 0 a 9. Produzida em chapas de aço nas cores branco, preto e vermelho, a coleção possui pernas em alumínio com ajuste de altura, o que possibilita a personalização de acordo com o ambiente; já a composição das palavras fica livre para a criatividade do usuário. Se quiser adquirir a sua, a loja Outdoorz Gallery, localizada em Paris, exporta inclusive para o Brasil. www.outdoorzgallery.com
Totalmente personalizáveis, os tecidos autocolantes da Casa Rima podem ser aplicados a superfícies frias, como metais e vidros, e também a móveis e outros objetos em madeira. “Dublados” com película adesiva, também são produzidos a partir de fibra natural e sua coloração à base de água, sem solvente, utiliza a tecnologia de impressão direta (DDP), sem nenhum processo químico. Os desenhos das estampas provêm de autores de diferentes lugares do mundo, anônimos, estudantes de design e profissionais consagrados. Uma das parcerias de sucesso é a mais recente com o arquiteto Guto Requena, que vai assinar uma linha exclusiva para a empresa. Entre as lojas que comercializam produtos fabricados com tecidos Casa Rima estão a Desmobilia, a Maiora Design, a Faro Design e a bó Jeito de Morar. www.casarima.com.br
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Leticia Remião
Tecido dupla face
harmonia talentos desejo
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www.alledesign.com.br 15
news
De volta ao passado Com acervo focado no design brasileiro de época, a galeria Passado Composto Século XX, localizada em São Paulo, traz peças assinadas por nomes que se consagraram na fase de ouro do design nacional – um mobiliário raro criado, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960. Destaque para a poltrona Tião, de 1959, com estrutura em madeira jacarandá, de Sergio Rodrigues, e para o conjunto de cadeiras criadas e executadas sob encomenda por Joaquim Tenreiro, em 1968, com estrutura em jacarandá e imbuia, com encosto e assento estofado. www.passadocomposto.com.br
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GALERIAS DE DESIGN | EXPOSIÇÕES | ECONOMIA CRIATIVA Ajudando a projetar o design no Brasil e o design do Brasil no mercado internacional.
Design são Paulo parabeniza e agradece galeristas, artistas, palestrantes, fornecedores e parceiros pelo sucesso de público e crítica!
foto: AgenciA fotosite
www.designsaopaulo.com.br
iniciativa
realização
TOP XXI
O GRANDE PRÊMIO BRASILEIRO DO DESIGN A premiação do terceiro TOP XXI Design Brasil, realizada na Oca, no Parque Ibirapuera, chamou a atenção por reunir profissionais e empresas de diversas partes do país e por encontrar no design brasileiro talentos competitivos para o mercado internacional Da redação
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Troféu TOP XXI DESIGN BRASIL, criação dos designers Fernando e Humberto Campana
FOTOS Gustavo Ribeiro
Acima, colares produzidos com esferas de vidro de alta resistência, fio de prata e, opcionais, bolinhas metálicas separadoras, design Rosa Steiner. Na foto abaixo, Farmacinha, design Isay Weinfeld e, na sequência, a Estante CEcASA, produzida com caixotes de madeira, design Guinter Parschalk, peças da Série Imaginários DPOT, direção criativa de Baba Vacaro
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TOP XXI
A
Cápsula Ecotrack, projetada pra armazenar roupas e artigos esportivos da Track & Field, também serve como sistema de estoque na loja da marca. Criação Dezign com Z
Vitória Cuervo, finalista na categoria “Destaque - Novos Talentos”, ao lado da sua coleção Caleidoscópio, inspirada na combinação de padronagens e patchwork a partir das estampas das capulanas (tecido utilizado por mulheres africanas para envolver o corpo)
Designers consagrados, jovens talentos e empresas apoiadoras do design se reuniram no evento de premiação do TOP XXI 2011 20
cerimônia de entrega de troféus do TOP XXI Design Brasil, ocorrida no dia 16 de junho, revelou a larga abrangência da produção nacional. Como parte da programação do Design São Paulo, o evento reuniu designers consagrados, jovens talentos e empresas apoiadoras do segmento, provenientes de diversas regiões do país, em um ambiente de alegria, confraternização e, principalmente, de conexões. A terceira edição do TOP XXI estreitou ainda mais os laços entre o design e o seu público, por meio do sistema de votação aberto na internet, e deu nova formatação às categorias – 12 nesta edição –, inclusive com a introdução da categoria “Conceitos”. “É uma contribuição muito importante para a divulgação das variadas abordagens do trabalho em design atualmente. E a votação online funciona como uma espécie de convite à reflexão e à crítica, endereçado tanto ao público em geral quanto à própria comunidade de designers”, comenta a jornalista especializada em design Mara Gama. Produtos, profissionais, empresas e seus projetos desenvolvidos a partir de 2009 passaram por um primeiro julgamento que resultou em 36 finalistas, três para cada categoria do concurso. Na fase final, não só o júri técnico, formado por profissionais renomados do mercado, indicados pelos editores da revista, mas leitores, assinantes e internautas de plantão puderam avaliar e votar nos produtos em cada categoria e escolher os vencedores, tendo o júri o voto de maior peso, ou seja, 70% do total dos votos. Todos os finalistas receberam o troféu criado e produzido pela Allê Design e os vencedores, a já consagrada estatueta, design irmãos Campana – a bonequinha de pano Esperança, finalizada com um banho metálico. Citamos, entre os profissionais e empresas que receberam o prêmio, o arquiteto Marcelo Rosenbaum, vencedor na categoria “Sustentabilidade”, com o projeto Design Útil; o designer
Ao lado, mesas Rob II e Cubo Mágico, da Ház Design, vencedora na categoria “Destaque – Novos Talentos” e no fundo do ambiente, banco Luisão XV, do estúdio MK27, de Márcio Kogan, finalista na categoria “Conceitos”
Peças da Série Topomorfoses, design Heloisa Crocco, vencedora da categoria “Conceitos”
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TOP XXI Ao lado, em destaque, linha de objetos infantis produzidos em papelão serigrafado, design Sabrina Arini, finalista na categoria “Destaque – Novos Talentos”, e cadeiras empilháveis ICO1, design Guto Indio da Costa, André Lobo e Felipe Rangel, finalistas na categoria “Mobiliário”
Nas pontas, Fábio Machado, representante da Electrolux, e Oskar Metsavaht, finalistas na categoria “Destaque - Empresas”; entre eles, Cristiano Barata, diretor da revista ARC DESIGN, e Peter Fassbender, diretor do centro de design da Fiat, vencedora na categoria “Destaque - Empresas”
Acima, Oskar Metsavaht, proprietário e fundador da Osklen, recebe troféu especial em sua homenagem pelos trabalhos desenvolvidos aliando design de produto e moda, e os projetos com foco sustentável que viabiliza por meio do Instituto e
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Na foto ao lado, à esquerda, Elsie Quintaes Caloête, representante do SEBRAE, finalista na categoria “Apoio ao Design Brasileiro”, e, à direita, Leticia Castro Gaziri, representante do Centro de Design Paraná, a instituição vencedora
Da esquerda para a direita, Vera Santiago, representante da designer Eulália Anselmo, finalista na categoria “Mobiliário”, Leonardo Lattavo e Pedro Moog, os vencedores, e Adélia Borges, que lhes entrega os troféus
Acima, Mana Bernardes, vencedora na categoria “Embalagem”, recebe o troféu de Waldick Jatobá, um dos fundadores do Design São Paulo
Fred Gelli, vencedor na categoria “Destaque Profissional”; a FIAT, ganhadora nas categorias “Destaque Empresa” e “Inovação”, pelo processo de desenvolvimento do Fiat Mio. E na categoria “Novos Talentos”, o destaque foi dado ao estúdio Haz Design, de Saulo Szabó e Fernando Oliveira. No catálogo do prêmio, que apresenta todos os finalistas com imagens das peças, a editora de ARC DESIGN, Maria Helena Estrada, manifesta a satisfação, em nome de toda a equipe da revista, por colaborar para o crescimento do design no país. “Estamos felizes em poder contribuir para apontar problemas, levantar questões e destacar o talento brasileiro que, cada vez mais, está se inserindo no mercado nacional e internacional. Parabéns aos vencedores.”
Na foto ao lado, os finalistas na categoria “Conceitos”, Baba Vacaro, Heloisa Crocco, ganhadora do primeiro prêmio, e Márcio Kogan, recebem o troféu do Professor Fábio Magalhães, jurado do TOP XXI 2011
Marcelo Rosenbaum comemora o primeiro lugar na categoria “Sustentabilidade” com Ronaldo Barbosa, jurado do TOP XXI 2011 e Nina Braga, diretora do Instituto e, finalista na mesma categoria
Confira a relação completa de vencedores do TOP XXI – Design Brasil 2011 e mais fotos do evento de premiação no site oficial do concurso, www.arcdesign.com.br/__novosite/top21/. Acesse também o Blog Maria Helena Estrada, www.arcdesign.com.br/mariahelenaestrada e o nosso Twitter, @ARC_DESIGN, para mais informações. O TOP XXI contou com o apoio e patrocínio de importantes parceiros, aos quais manifestamos nosso agradecimento.
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design brasileiro
A VOLTA AO MUNDO EM 1.825 DIAS
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Abaixo, uma das múltiplas “leituras” do sofá Sushi. No pé da página, as bicicletas criadas pela dupla Campana e produzidas no Japão pela Aeon, considerada a melhor fabricante do mundo. Não estavam na mostra, mas bem que serviriam para uma volta ao mundo
O Museu Vale expôs até o dia 3 de julho, a mostra “Anticorpos (Antibodies), 1989-2009”, organizada pelo Vitra Design Museum. Inaugurada na sede do Museu, em Weil am Rheim, Alemanha, no dia 16 de maio de 2009, já percorreu toda a Europa. Passa pelo Brasil, viaja para o Oriente e será encerrada no retorno ao Brasil, em 2014! Maria Helena Estrada
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design brasileiro
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ão duas belas obras lado a lado – a exposição Campana e a sede do Museu Vale, em Vila Velha, Espírito Santo. A riqueza da mostra está tanto na possibilidade de observação do percurso evolutivo da obra dos designers quanto na divertida observação dos pequenos objetos, coletados de forma aleatória, por afinidade, e que compõem o universo da dupla. Fragmentar para reunir, deixar a casualidade se manifestar, captar a poesia quando esta surge, pois ela é breve e veloz, são pensamentos constantes desses designers, e ponto de partida de suas criações. No início, com a coleção “Desconfortáveis”, a razão não encontrava espaço e a intuição era tudo que contava. Depois do ferro, o arame, a corda... sempre materiais ou produtos existentes como base, em “uma espécie de desenho emergencial”, dizem os irmãos, onde, na falta da possibilidade de trabalho com a indústria, eles foram traçando os próprios 26
Acima, flagrante da inauguração da mostra e, em primeiro plano, a Black Iron Chair e a Vermelha Iron Chair. Abaixo, exemplar único da cadeira Multidão
caminhos. “Quando descobrimos que era possível utilizar materiais já existentes e reprocessar a matéria para criar objetos ricos, originais, de grande carga semântica e emocional – havíamos encontrado a nossa estrada”, afirmam. De acordo com Marco Romanelli, jornalista italiano e um dos grandes conhecedores da obra dos Campana, em longo artigo publicado na segunda edição da revista italiana “Inventario”, “existe uma grande confusão entre artesanato e ‘assemblaggio’, ou seja, a reunião de elementos diversos, confusão esta que se reflete na crítica à obra ‘by Campana’, porque o artesanato não é simplesmente alguma coisa feita com as mãos, mas um sistema complexo, dotado de uma grande tradição e de leis precisas, que levam à transformação da matéria por meio de intervenções manuais. E, analisando a obra Campana, o que vejo é uma operação de
Ao lado: acima, lustres em fragmentos de murano e, abaixo, sofá Boa, em veludo. No pé da página, recorte da mostra com, à esquerda, as Iron Chairs; à direita, o sofá Papelão e, ao fundo, as mesas Fios e a cadeira Favela
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design brasileiro
Acima, fruteira Nazaré, em porcelana com banho metálico. Abaixo, o sofá Jacaré, tendo ao fundo uma foto publicitária e, em primeiro plano, o curador da mostra e diretor do Vitra Design Museum, Mathias Schwartz-Clauss, com Fernando e Humberto Campana
‘coleção de fragmentos’, que não tem nada a ver com o artesanato”. A verdade é que este design intuitivo, de grande impacto a cada nova criação, influencia o design internacional contemporâneo. É semente para liberdades formais e matéricas, é irônico, sensual, à vezes brutalista, outras vezes muito delicado. “Antibodies, design dos anos 1989 a 2009”. É emocionante, para quem acompanha de perto o trabalho de Fernando e Humberto, percorrer a mostra, rever 20 anos de propostas, sempre novas, mas com um fio condutor de total coerência. Em Vila Velha, no Museu Vale, na opinião dos designers, foi criada por Mathias Schwartz-Clauss, diretor do Museu Vitra, uma das mais belas cenografias para esta exibição. E saímos conjeturando, pensando o que faz com que dois rapazes criados no interior de São Paulo, em Brotas, vivendo a primeira infância em uma fazenda, possam ser compreendidos e admirados por todas as culturas do mundo. Como é apreendida essa “alma brasileira”, capaz de falar uma linguagem universal? 28
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arquitetura
MUSEU VALE:
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a arte de acertar Existe em nossa cultura a ideia generalizada ou, digamos, um jargão da linguagem popular que caracteriza o fora de moda, o antigo, ou em desuso, como “peça de museu”. Mas esse não é o caso do Museu Vale, em Vila Velha, ES
Fachada da Estação Pedro Nolasco, de arquitetura eclética
Leila Abe
Luiz Sagrilo
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Museu Vale é uma instituição dinâmica, um local onde a licença poética criativa aliada às ideias visionárias de seu diretor, Ronaldo Barbosa, com o suporte da Fundação Vale, surpreende os incautos visitantes de primeira viagem pelo minucioso cuidado e conhecimento histórico com que as peças expostas foram selecionadas. Além disso, vale ressaltar a alta qualidade de suas instalações, o grau de inovação e – maravilhosa – a enorme maquete do percurso do trem, que viajava entre as montanhas da região e carregava o minério. Não se pode esquecer também da beleza do prédio, à beira de uma baía, quase sobre o mar. O Museu atende a população de Vitória, afirma seu diretor, Ronaldo Barbosa. Da arte contemporânea a projetos sociais, passando pela educação, formação profissionalizante, exibições circulantes, levadas aos 31
Leila Abe – Originalmente, de onde veio a inspiração para o projeto? Ronaldo Barbosa – Fui chamado, 32
fotos Ronaldo Barbosa
quatro cantos do país, o Museu Vale é um grande sucesso social, visto a sua integração com a comunidade local e os municípios adjacentes. Cerca de 3,5 mil – número que já chegou a 14 mil ao mês em épocas de exibições – desfrutam dessa infraestrutura. Também de Ronaldo Barbosa é o projeto de museografia e as edições curatoriais realizadas desde 2008. Localizado em Vila Velha “bairro” contíguo a Vitória, o conjunto arquitetônico do Museu Vale é composto pelos prédios que abrigam a sede do Museu na velha estação de trens, o Galpão de Exposições, a Sala de Arte Educativa e a Reserva Técnica. Construídos na Baía de Vitória, com vista espetacular do entorno, os prédios são circundados por um projeto de paisagismo que ressalta as qualidades plásticas dos edifícios. O prédio principal, restaurado e adaptado às suas funções atuais, foi construído na década de 1920 quando a arquitetura moderna já tinha começado a fazer escola no Brasil. Mas ainda representa um exemplo da arquitetura eclética vigente na época, com grande influência europeia, trazida, principalmente, pelos construtores imigrantes. Inaugurado em 1927 para ser a antiga Estação São Carlos, passa a se chamar Pedro Nolasco em 1935. Implantado em frente à baía, impõe-se na paisagem local não só pela sobriedade das linhas claras e elegantes, mas, também, pela escala do edifício em relação ao entorno. Nos interiores, materiais sóbrios, como o assoalho de táboas de madeira restaurada e conservada, produzem um contraste agradável entre as cores em tom pastel escolhidas para os ambientes. De cenografia muito particular, as peças da exibição permanente são oriundas dos galpões e oficinas de trabalho dos funcionários da antiga estação. Conversamos com Ronaldo Barbosa sobre algumas peculiaridades do Museu.
Luiz Sagrilo
arquitetura
No alto, nas duas páginas, o galpão onde são realizadas as exposições de arte contemporânea, que fica ao lado do porto da baía de Vitória. Acima, display cenográfico produzido a partir de dormentes em vidro pintado com tinta automotiva, expondo moldes de madeira para fundição de peças de locomotiva e, ao lado, detalhe de objeto em exposição
Acima, Sala da Manutenção. Cenografia com placas utilizadas na sinalização ferroviária e elementos de madeira para fundição. Ao lado, Sala das Construções. Cenografia sobre a construção da Estrada de Ferro Vitória – Minas. Solução museográfica com trilhos soldados a 45 graus. Apresenta teodolitos para medição. Cenografia do Studio Ronaldo Barbosa, 1998
inicialmente, pela Fundação Vale para desenvolver o projeto de museografia do prédio principal, onde o foco era a história da ferrovia, seu universo temático e sua importância na história do Brasil. Foi um projeto a longo prazo e, desde o início, a Fundação Vale compreendeu muito bem a cultura e a arte como ferramentas do diálogo social com a comunidade local. Atualmente, o Museu Vale está alicerçado em três pilares: história, arte contemporânea e projetos educativos. Posterior ao projeto de museografia, veio o convite para ser o diretor do Museu Vale, cargo que ocupo até hoje. LA – Visitantes estrangeiros, provavelmente, se impressionam com a beleza do cenário e do envolvimento da comunidade local com o Museu... RB – Sim. Especialmente profissionais do mundo dos Museus, quando nos visitam, ficam muito surpresos pelo olhar universal das nossas instalações enquanto museu, mas também pelas exposições que oferecemos por aqui. Ficam surpresos também pela organização, de forma geral, e pela demanda local da população. Um fato curioso
aconteceu quando o diretor do Museu do Louvre veio até aqui dar uma palestra para 600 pessoas. Ele me contou que, pela primeira vez em sua carreira, ficou nervoso ao se apresentar, notando a seriedade, o silêncio e a expressão das pessoas da plateia, em sua maioria, jovens e crianças estudantes de Vitória, interessados em aprender! A exposição “Anticorpos”, dos irmãos Campana, organizada pelo Museu Vitra, e que
acabamos de expor, contou com a presença de Mathias Schwartz-Clauss, diretor do Museu Vitra e curador da mostra. Orgulhosos por termos inugurado a “excursão” da mostra pelo Brasil, mais felizes ainda ficamos de ouvir dele que esta foi a mais bela entre todas as montagens realizadas, pois possuímos o melhor corpo de montadores, uma equipe de jovens formados pelos projetos educacionais do Museu Vale. 33
design São Paulo
Nelson Aguilar
Mostra Interware – Design Transversal, do designer italiano Maurizio Galante em parceria com o israelense Tal Lancman. Acima, do lado esquerdo, a poltrona Aura, com encosto flexível, é revestida com pequenos tubos de vidro e pérolas, e, do lado direito, a poltrona Aura Fiorita, que no lugar de vidros traz bordados produzidos artesanalmente. Ao fundo, as luminárias Danae produzidas com pequenas bolsas triangulares abastecidas com um líquido translúcido especialmente formulado para manter a luminosidade por longo tempo
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CAEM OS MUROS Conexões, interatividade, a livre expressão e a ampliação do conceito do que é ou não design derrubam diversas barreiras e se inserem em um contexto cultural mais amplo. Foi isto que vi e entendi durante a semana do Design São Paulo, realizado em junho de 2011 pela WKL e Luminosidade Maria Helena Estrada
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design São Paulo
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uito além da intenção original, ou seja, a de unir arte e design, a leitura feita por aqueles que visitaram os dois andares da Oca foi o que nos trouxe a real dimensão do evento. Primeira experiência, largamente aprovada por público e mídia, o Design São Paulo criou impacto pela diversidade de olhares, em suas diversas manifestações. Maurizio Galante e Tal Lancman, unindo moda e produtos em uma suntuosa embora minimalista instalação, traziam, como uma chama vermelha, o moderno com pinceladas barrocas. Fernando e Humberto Campana desvelaram a raiz de suas criações com a mostra “De Fio em Fio”. Um desenrolar de projetos que começam no algodão, seguem no plástico, chegam ao metal e ao bambu. Os irmãos prestaram, também, uma homenagem a Getúlio Damado, artesão carioca que se expressa em toda a pobreza e beleza cotidiana. O prêmio TOP XXI Design 2011, uma iniciativa da revista ARC DESIGN, destacou o melhor da criação brasileira, seja esta material ou conceitual, em 12 categorias.
Acima, luminária Spiky, produzida à mão com vidro de murano, design Nigel Coates. Abaixo, Poltrona Pompadour, em seda com detalhes de botão ao longo de todo o estofamento, faz parte da coleção Baroccabilly, design Nigel Coates
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Acima e abaixo à direita, espelho e porta-guarda chuva da linha Blow Up, produzidos em alumínio. Uma série em bambu nasceu primeiro, como protótipo da coleção em alumínio. Depois a Alessi quis colocar essa série na coleção. Design Fernando e Umberto Campana. Abaixo, também dos irmãos Campana, a cadeira Janette, criada sob encomenda em 1999, foi batizada com o nome da colecionadora
As diversas expressões da economia criativa estiveram presentes nas conferências internacionais do inglês Nigel Coates, do holandês Gijs Bakker e da dupla Campana, que, em um jogral não ensaiado, empolgaram o público. Os painéis de discussão foram divididos em três temas: “Design e Arte”, “A Gestão do Design” e “As Vertentes do Design”. Além dos painéis, a programação ofereceu mais algumas atrações diversificadas, como o inovador “Pecha Kucha”, com a presença de 12 profissionais brasileiros consagrados, e a exibição “Campana De Fio em Fio”, uma homenagem especial aos irmãos, eleitos “designers do ano”. Faziam parte da mostra as cadeiras representativas das diversas fases – ou dos diversos materiais utilizados –, além da coleção Alessi, Itália, de objetos em metal e em bambu. As conferências internacionais foram também um ponto alto no evento, tendo como convidados o inglês Nigel Coates, o holandês Gijs Bakker, fundador da Droog Design, e o designer de produtos e moda Maurizio Galante, cujos lançamentos mais recentes, desenvolvidos em parceria com Tal Lancman e apresentados no Salão do Móvel de Milão, foram exibidos em uma bela exposição – “Interware
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design São Paulo
Acima e ao lado à direita, os pufes da linha Tato-Tatoo, design Maurizio Galante e Tal Lancman, produzidos a partir de fotografias originais de animais, plantas e objetos que são impressas em um tecido elástico, dando efeito de tridimensionalidade. Abaixo, inspirado nas sandálias aladas de Hermes, deus grego, o refletor para ciclistas Windrider – em forma de asas – tem como proposta trazer mais segurança ao pedalar durante a noite, já que é produzido em PVC fluorescente, que brilha no escuro. Design Gijs Bakker
Transversal Design”, semelhante à que foi realizada na Itália. Ocupando todo um andar da Oca, o Espaço Galeria, uma feira de design e de design arte, não deixou de lado a valorização do produto e atendeu aos interesses do consumidor final – colecionadores de arte, galeristas e lojistas de móveis e objetos de design. O alto nível técnico dos profissionais e empresas que se uniram para produzir o evento pôde ser observado na qualidade dos espaços. O projeto de design de interiores dos dois andares ocupados pelo evento foi do arquiteto Marko Brajovic, que se destacou pelo olhar minimalista e competente. As empresas e profissionais que se apresentaram foram também fatores fundamentais para a qualidade na concepção e desenvolvimento dos estandes, que, assim como as exposições e conferências, tiveram um sucesso além do esperado, segundo constatações das pesquisas e a resposta da mídia. A edição de 2012 promete! E já existem galerias internacionais candidatando-se. 38
Nelson Aguilar
Abaixo, a primeira edição do Design São Paulo trouxe os mais diversos olhares sobre o design, revelando novos conceitos e ideias
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design internacional
AUTÊNTICOS, DE VERDADE O espírito da simplicidade é o mote da Authentics, empresa alemã que desde sua fundação cumpre cada preceito do design, ou seja, fazer com que o produto, antes de tudo, sirva ao usuário Maria Helena Estrada
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Plant Saks, design Patrick Nadeau, é um cachepô que não vaza água e pode ser colocado em qualquer superfície. É comercializado com um saco interno e tem processo de drenagem em feltro e cerâmica expandida, e um indicador do nível da água. Produzido em quatro tamanhos e três cores diversas, pode ser facilmente aberto por meio de um zíper
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design internacional
Outra vers찾o dos Plant Saks, desta vez suspenso, permite decorar toda uma parede pendurando o conjunto na pr처pria parede ou no teto. O conjunto vem com cintos e ganchos que auxiliam e regulam a suspens찾o
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rodutos funcionais e industrializados para o uso diário. Assim a Authentics, em sua nova fase, se apresenta ao mercado. “Nos inspira da mesma forma usar novas tecnologias de produção para produtos familiares quanto o uso de formas manufatureiras tradicionais para produtos totalmente novos”, afirma Elmar Flototto, seu novo diretor, que acrescenta: “Esta é a quarta geração de nossa família a criar produtos para a casa. Vocês podem confiar em nossa qualidade”. A nova coleção traz a bolsa Kuvet, design Stefan Diez; os versatilíssimos e inovadores vasos para plantas, na série Urban Garden, design Patrick Nadeau; a lâmpada de mesa Munich, estilizadas canecas de chope e a louça desenhada por Tord Boontje, para citar poucos. A Authentics utiliza materiais plásticos da mais alta qualidade, além de aço, MDF, vidro, borracha termoplástica e, para a coleção de Boontje, a porcelana. Grande variedade tipológica conservando os mesmos preceitos. Uma visão geral do catálogo se faz com um sorriso de surpresa: ideias originais e lúdicas, uma simplicidade de invejar. Na paralela, temos a coleção Kali, de artigos para banheiros, criada pelo estúdio inglês Doshi Levia. A filosofia é a mesma, e Nipa Doshi declara: “A linguagem que me interessa é a dos híbridos. A linguagem visual que não pode ser catalogada ou definida. A linguagem deve falar sobre pluralidade da cultura global de ideias”.
Table Stories é mais uma história romântica de elfos, pássaros e contos de fadas contada por Tord Boontje. Pratos em porcelana branca em três formatos e quatro histórias diversas
O design colaborando com a higiene. Graças aos chanfros as escoves não se tocam.
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design internacional
Wardrobe, design Veronika Wildgruber e Susanne Stofer. Menos ainda ĂŠ mais
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Konstantin Grcic desenha para a Authentics desde o início da empresa. Produtos de linhas simples e sempre bem-resolvidos – marca registrada do designer. A lixeira Bin, em polipropileno com mecanismos metálicos, é produzida em três tamanhos e diversas cores
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design internacional
Acima, Munich Table Lamp, design Volker Albus e Stefan Legner. Em polipropileno opaco, pode ser carregada como um grande copo de chope Abaixo, Eiko, ovos quentes que vão da panela à água e desta à mesa. As “colheres” são penduradas na borda da panela e, pela cor, cada pessoa reconhece a sua. Design Christina Schäfer. Ao lado, Benny Brush, de Steffano Giovannoni, um cachorrinho que engraxa seu sapato.
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Lojas conceito Selecionamos duas lojas que buscam oferecer produtos com uma história para contar – atemporais, inusitados, criativos. No interior, tanto serviço quanto ambientação proporcionam ao cliente o prazer de estar em casa. Suas particularidades? Via Manzoni, no Rio de Janeiro, causa impacto pela ambientação e showroom riquíssimos, com as melhores marcas internacionais. Decameron, em São Paulo, traz um projeto arquitetônico ousado e produtos brasileiros desenvolvidos com tecnologia low-tech, além de criações da holandesa Droog Design. Assim são essas lojas, acostumadas a garimpar nas maiores feiras e galerias de design do mundo, mas conservam a alma brasileira, bem hospitaleira por sinal 47
interiores
O prazer de estar em casa Serviço, bom e necessário. Esse é o novo conceito para o design e também para quem o comercializa. É também a missão da Via Manzoni. A loja carioca aproxima os clientes oferecendo tratamento personalizado, um acervo de marcas renomadas e um ambiente que descontrai o cliente, fazendo-o sentir-se em casa
fotos Sergio Caddah
Paloma Moreira
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Acima, o showroom da loja é convidativo: enquanto aguarda o fechamento das compras o cliente pode se sentar em um confortável sofá e ler um livro, ou assistir TV, por exemplo. Abaixo, a mesinha Tré, de Flavio Faccini, um produto exclusivo da Via Manzoni, produzida em MDF laqueado, pode ser encontrada em até 700 opções de cores
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la tem nome italiano e sangue brasileiro, bem carioca. A loja Via Manzoni, localizada em Ipanema, no Rio de Janeiro, é uma referência no quesito design, iluminação e arquitetura. Fato perceptível no colorido da vitrine, que contrasta com o verde da arborizada Rua Barão de Jaguaripe, e na arquitetura versátil, que consegue apresentar-se moderníssima e, ao mesmo tempo, preservar as características da construção original, datada do final dos anos 1940. O conceito de “sentir-se em casa” proposto pelos proprietários também é logo notado no showroom, que mais parece uma residência contemporânea. O prédio de dois andares é dividido em ambientes domésticos, como sala, banheiro, cozinha e biblioteca – e até um forno à lenha, utilizado em happy hours promovidas na loja, pode ser encontrado por lá. “O espaço é pensado de forma que os produtos 49
interiores
Acima, a fachada da loja foi projetada a partir da reformulação de um antigo casarão dos anos 1940. Abaixo, nos corredores da Via Manzoni design e arte dividem espaço no showroom
fiquem expostos naturalmente, como se estivessem em uso”, explica Gustavo Ribeiro, um dos sócios. E estão – literalmente. O cliente pode, por exemplo, sentar em um sofá e assistir à televisão ou repousar lendo um livro. Arquitetos, decoradores e colecionadores de objetos de design formam o público tradicional da casa. Eles procuram inovação, padrão de qualidade, beleza aliada ao bom humor, além de um atendimento personalizado, segundo Gustavo Ribeiro. “Muitos arquitetos trazem projetos, até mesmo de iluminação, pois temos lighting designers para atendê-los”, conta. A loja também possui um espaçoso galpão para o cliente organizar e simular um ambiente, visualizando nele os produtos que pretende adquirir para seu projeto. Nem toda a semelhança é mera coincidência. O nome da loja foi inspirado na famosa rua de Milão, e a característica em comum entre as duas Manzonis é a concentração de grandes marcas. Droog Design, Kartell, Seletti, Alessi e Belux são alguns nomes que compõem o acervo da Via Manzoni carioca. Os donos estão sempre em busca de novidades nas principais feiras de design do mundo. “A loja pretende proporcionar aos clientes novas sensações e experiências com produtos ousados, criativos e cheios de significado”, revela o proprietário. “Fazemos isso para que a Via Manzoni seja um lugar diferente, onde tudo tenha uma história, uma razão para existir”, conclui. 50
Acima, as luminárias Pressed Glass, produzidas em vidro prensado, do designer inglês Tom Dixon. Abaixo, um galpão anexado à loja é usado para simular ambientes de acordo com o planejamento do cliente
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interiores
MODERNIDADE E IRREVERÊNCIA 52
Portas em policarbonato translúcido, ligadas aos contêineres com aberturas paralelas, formam um sistema de ventilação cruzada, que, junto ao jardim, traz leveza e frescor ao ambiente da Decameron
A construção, inédita para um showroom, e a presença de produção autoral, seja de criadores brasileiros ou da famosa Droog Design, dão destaque à nova sede da Decameron, em São Paulo Camila Marques
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interiores
Acima, em destaque, mesa Liss, em madeira tauari; poltrona Giramundo, base em inox e capa em linha; chaise Rippa, em madeira e capa removível de linho – todos design Marcus Ferreira; no fundo do ambiente, Estante Árbol, em cumaru ferro, de Juliana Llussá, e luminária 85 Lamps, criação Rody Graumans, da Droog Design. No pé da página, Poltrona Ri-Piegatta, com assento e encosto em lona e estrutura em madeira, com três opções de acabamento: natural, em madeira de nogueira ou preto
O
projeto arquitetônico é fantástico. E não poderia ser diferente – seu autor é o arquiteto Márcio Kogan. Impactante e arrojado, utiliza a cor e materiais pré-fabricados como elementos estruturais. Acima do pequeno hall com um único balcão isolado, seis contêineres em aço com pintura em tons de fluor são soldados uns aos outros, formando o corredor expositivo da loja – a Decameron –, que traz projetos de seu proprietário, Marcus Ferreira, além de outros assinados por designers e estúdios parceiros. A entrada original teve sua estrutura preservada e uma abertura paralela foi criada para possibilitar a ventilação cruzada e ligar a construção principal a um galpão com 54
portas em policarbonato translúcido e pé-direito duplo. Além do escritório, nos fundos, encontramos um grande jardim. A seleção das peças, bem como a ambientação do espaço, é feita pelo criador e head designer da marca, Marcus Ferreira. “Procuro peças atemporais, que tragam um pouco de arquitetura ou da história do designer e do projeto”, revela. Mas o cliente também pode personalizar o próprio projeto com a ajuda de profissionais especializados da equipe de produção da loja. “É como alfaiataria”, comenta Marcus, “as pessoas dizem o que desejam e nós buscamos apresentar o móvel ou objeto que vá ao encontro das suas necessidades.” Oferecer produtos contemporâneos
Acima, à esquerda, vista externa do corredor expositivo formado por contêineres em aço, empilhados; à direita, balanço Swing With The Plants, com assento em poliestileno e cordas em nylon, que podem ser recobertas por folhagens, criação Droog Design; abaixo, mesa de centro Assim, em Fox Anticato, que imita granito, design Rodrigo Ferreira e Roberta Rampazzo
com características e simbolismos do trabalho artesanal sempre foi o diferencial da Decameron, que tende a se expandir com o tempo. As peças da nova linha, In/Outdoor, sejam de criação própria ou assinadas por parceiros, como os designers Rodrigo Ferreira, Roberta Rampazzo e Paolo Pellion, em sintonia com a marca
holandesa Droog, são produzidas com tecnologia low-tech. As brasileiras privilegiam a madeira natural e lâminas de pedra, com ênfase nos estofados; a holandesa Droog conserva o espírito de vanguarda que fez sua fama, tirando partido do inusitado em suas propostas. O despojamento e informalidade
do espaço fazem com que os clientes aproveitem a proposta da loja, de total descontração, para criarem seus próprios projetos e customizá-los com os elementos que tiverem à mão. “Um belo jardim e as grandes portas, totalmente abertas”, explica o proprietário. “É um convite: Sintam-se em casa.”
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interiores casas e coleções
A sala de um colecionador
Apesar de conter uma coleção totalmente diversificada, a composição da sala de Abadia é harmônica e clean
Desde que fundou o Armazém da Decoração, Maria Abadia Haich passou a ter uma relação mais íntima com o design. A loja-conceito, que é referência no mercado goiano do segmento, tem a filosofia refletida na sala de sua proprietária Paloma Moreira
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fotos Helio Sperandio
Q
ual seria a sensação de entrar em um lugar e imediatamente se deparar com Fernando e Humberto Campana, Sergio Rodrigues e Paulo Mendes da Rocha? Certamente, a mesma que se tem ao visitar o apartamento da proprietária do Armazém da Decoração, Maria Abadia, em Goiânia (GO). Você vai encontrar estes mestres do design brasileiro, para além da presença física, em sua identidade marcante, em um sentido puro e poético – as formas que desenharam. Maria Abadia é colecionadora de design e decoradora de sua própria casa. São os garimpos pelo mundo, as afinidades eletivas, sem ideias ou julgamentos pré-concebidos, que abastecem sua loja e seu acervo particular. Ela compõe o ambiente com contrastes gritantes. Logo na entrada da sala nos deparamos com a rusticidade da cadeira Favela, criação dos irmãos Campana; alguns passos à frente, três convidativas poltronas Moles, no nome e no conforto, de Sergio Rodrigues. Na parede, uma evidente e intencional contradição: bem ao lado da moderna televisão de plasma encontra-se um antigo relógio Carrilhão, no estilo século XIX. Com excentricidade e bom gosto, a empresária compõe o ambiente sem deixá-lo pesado. A escolha dos produtos é harmônica, mesmo sendo de universos tão distantes. Abadia é eclética – livre de preconceitos – e em sua sala, o clássico e o glamouroso habitam o mesmo espaço que o anônimo e o prosaico.
Acima, poltrona Chifruda e poltrona Mole, ambas de Sergio Rodrigues. Abaixo, a cadeira Favela, de Fernando e Humberto Campana, compõe um espaço da sala tipicamente brasileiro com objetos que remetem à nossa cultura
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casas e coleções
Design com alma Pé-direito alto no andar térreo e baixo nos pavimentos superiores e a combinação de esquadrias de vidro com piso de madeira e tijolos à vista revelam a concentração em proporções no projeto da casa de Ilse Lang e Trajano Silva
Uma adequação não intencional é perceptível entre a arquitetura e o design do mobiliário no projeto de interiores da casa de Ilse Lang e Trajano Straggiotti Silva. Situada em um condomínio vizinho ao rio Guaíba, é uma das construções mais bonitas e modernas que compõem esta paisagem de Porto Alegre, RS Camila Marques 58
FOTOS Eduardo Aigner
É
impossível ignorar a grandiosidade construtiva da residência do casal de arquitetos gaúchos e o seu interior, que abriga detalhes fundamentais, do ponto de vista do design, e que não podem deixar de ser mencionados. E o fato mais importante é que, embora a maioria dos móveis tenha sido criada nos anos 1950, é total a harmonia com a arquitetura. Nada foi adquirido especialmente para a nova casa, mas “herdado” dos três apartamentos ocupados anteriormente pela família – com dois filhos adolescentes. “Partimos de objetos que já existiam e o resto foi sendo encaixado. A maioria das mesas e banquinhos é de nossa autoria, mas também há peças de profissionais que admiramos, como Saarinen, Charles Eames, Pierre Paulin, e alguma coisa de amigos designers, como a cadeira do Hugo França e as luminárias da Baba Vacaro e do Fernando Prado”, conta Ilse. Alguns protótipos criados pela arquiteta – e posteriormente lançados no mercado – também compõem a ambientação do local. São exemplos a mesa Caixa e os banquinhos Tribo. Essa seleção reforça o conceito – defendido pelo casal – de valorização do significado afetivo do objeto para o usuário em detrimento da correção na decoração. “Um valor do design é tornar as coisas menos ‘coisas’ e lembrar que existe um autor, um cuidado e uma história por trás da peça, que nos faz sentir acompanhados pela sua alma. Não adianta estar tudo certinho na decoração, se não tiver alma”, afirma a designer e arquiteta. Características do projeto arquitetônico também interferem na composição do espaço interno da casa, como a utilização de amplas esquadrias de vidro e de materiais aparentes. “A vegetação ao redor é muito exuberante, com árvores de grande porte, então os panos de vidro fazem com que a natureza inunde o ambiente com muita claridade. Contrapondo esses
No alto da página, cômodos interligados dão uma aparência mais ampla ao ambiente. Em destaque, à direita, a mesa em ipê maciço e aço pintado e, ao centro, protótipos do banco Tribo, design Ilse Lang, vencedor do prêmio Liceu de Artes da Bahia; ao lado, detalhe da luminária Chifre, produzida a partir de chifres de boi e, acima, protótipo do banco Café, em madeira e metal, ambos design Ilse Lang; abaixo, flagrante da vegetação inundando o ambiente por meio da esquadria de vidro. No centro, mesa Caixa, em vidro, com estrutura móvel para armazenagem de objetos, design Ilse Lang
elementos, utilizamos piso de madeira e tijolos à vista”, explica Ilse. Em tudo, o projeto da casa, bem como todo o trabalho desenvolvido pelo casal, acompanha a linha modernista do discurso “a forma segue a função”, sem apego a detalhes meramente decorativos, buscando a fluidez e soluções adaptadas ao
espaço original, como sofisticação e iluminação natural. “Nada que não atendesse às expectativas usuais de uma família com três filhos adolescentes”, comenta modesta, Ilse Lang. “Mas temos muito orgulho porque os amigos dos filhos são os que mais curtem a casa”, completa.
* O projeto da casa e do condomínio onde residem Ilse Lang e Trajano Straggiotti Silva foi desenvolvido pelo casal em parceria com o arquiteto Flávio Lembert. 59
jovens designers
Latoog Design =
+ Mole
Coconut
Poltrona Moleco, em aço inox, com pés em madeira torneada e assento em capitonê, resultado da fusão entre a poltrona Mole (1957), de Sergio Rodrigues, e a Coconut Chair (1955), design George Nelson. Criada pela Lattog Design para a série Vira-Lata em 2009 60
Inspiração na cultura brasileira, e muito carioca. Formas orgânicas e diversidade no uso de materiais, leveza de ideias e olhar agudo identificam o trabalho da Latoog Design. Assim, a empresa conquistou diversos prêmios, nacionais e internacionais, publicações importantes e algo muito necessário atualmente, a multidisciplinaridade Camila Marques
"N
ão somos especializados em marcenaria ou serralheria – somos especializados em bom desenho e boas ideias”, afirma o arquiteto Leonardo Lattavo. Juntos, ele e o sócio, o designer autodidata Pedro Moog, não fazem restrições na seleção de materiais para desenvolver as peças da marca. Fundada em 2005, em Ipanema, no Rio de Janeiro, a Lattoog (junção dos sobrenomes dos proprietários) já possui uma vasta gama de produtos, entre móveis, objetos e até projetos arquitetônicos, produzidos por meio de parcerias com profissionais e empresas de diversos estados do país. A qualidade da produção em design dos parceiros cariocas, presente nas diversas peças de suas coleções, rendeu uma participação
No alto desta página, sofá Almofadas, produzido em madeira, com estofamento em tecidos diversos, disponível com três ou quatro lugares 61
jovens designers
na exposição Global Edit, promovida pela revista “Wallpaper” em Milão, em 2006. Como se deu a seleção? “Não fizemos nenhuma inscrição. Os editores da 'Wallpaper' haviam contactado o designer carioca Jorge Lopes para que ele indicasse algumas empresas e produtos brasileiros. Fomos um dos indicados e a poltrona Redonda foi selecionada”, conta Lattavo. De lá para cá, surgiram outros eventos, prêmios e projetos. Os designers criaram a série Vira-Lata (2008), que traz peças produzidas a partir da combinação da forma e dos materiais que remetem a móveis e objetos preexistentes e já consagrados. É também uma sutil referência ao processo de formação da população, ou “raça”
brasileira. É exemplo a Poltrona Pantosh, resultado do “cruzamento” da cadeira de Verner Panton com uma de Mackintosh. “É um conceito que começamos a esboçar em 2005 e que está em sintonia com a noção de ‘antropofagia cultural’ – lançada por Oswald de Andrade em 1928 – que é a ideia de ‘devorar’ a cultura colonizadora e transformá-la em cultura brasileira e revolucionária”, explica Lattavo. Recentemente, eles também lançaram a poltrona Vidigal, em aço carbono revestido com trama de taboa natural, uma experiência em busca de texturas e contrastes diferenciados, e também a Burle Marx, em madeira de catuaba certificada, com encaixes aparentes, inspirada nos projetos do paisagista que lhe dá nome.
No alto da página, a Poltrona Vidigal, em aço carbono revestido com trama de taboa em duas opções de textura: lisa e felpuda. À esquerda, detalhe da poltrona Burle, em catuaba maciça, produzida a partir de encaixes em sua estrutura, assento e encosto, cortados na máquina de fresa
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+ Mackintosh
Acima, a representação do “cruzamento” entre a cadeira Panton, de Verner Panton, e a poltrona Willow, de Charles Rennie Mackintosh, que deu origem à polrona Pantosh, em compensado pintado
= V. Panton
Como outras peças recém-lançadas, estes móveis são produzidos a partir de técnicas de corte computadorizado, empregadas para simplificar e aperfeiçoar a produção. Afinal, o conceito que direciona a criação da Lattog é aquele da boa relação entre designer e indústrias, na qual o profissional busca entender o fabricante e
Pantosh
este o deixa criar livremente. “Não adianta desenhar peças que sejam de fácil manufatura, mas que não tenham um desenho sedutor. Também não há valor em projetar peças com design diferenciado que tenham difícil fabricação. Assim, é a parceria designer-indústria que orienta o nosso trabalho”, finaliza Lattavo.
Mesa Twist, em compensado curvado e ripas de madeira maciça, com tampo de vidro, disponível em duas versões: mesa de jantar e mesa lateral
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jovens designers
Sensibilidade e bom humor Depois de participar de diversos concursos e vencer alguns deles, os jovens designers Rodrigo Braga França e Ulisses Neuenschwander decidiram transformar o estúdio de criação em marca própria, conheça a Notus Design Paloma Moreira
A
Notus Design, da Incubadora de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, foi fundada em 2007. Começou elaborando projetos para empresas mineiras de diversos segmentos, porém a criação de trabalhos com fins comerciais não foi suficiente para satisfazer a necessidade de inovação dos designers e sócios Rodrigo Braga França e Ulisses Neuenschwander – eles queriam mais.
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Na página ao lado, um trabalho de destaque dos designers Rodrigo Braga França e Ulisses Neuenschwander, a estante Poleirinho, finalista do Salão Design Casa Brasil 2011, faz alusão às casas de passarinhos. Acima, a emblemática cadeira Elíptica pode ser usada em duas posições, em pé ou deitada, exposta na II Bienal Brasileira de Design e no Salão Design/Movelsul
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jovens designers
Desenvolver projetos pessoais, desvinculados das exigências do mercado, para prêmios e concursos, foi uma válvula de escape que estes jovens designers encontraram para explorar a criatividade pulsante em suas veias e nas paredes do estúdio. O investimento rendeu frutos – desde 2008, a Notus coleciona uma série de títulos no currículo. Foi vencedora por dois anos consecutivos (1ª e 2ª edições) do Prêmio Sebrae Minas Design e finalista dos prêmios Movelpar 2010, Craft Design, INOVA Whirlpool, Prêmio Minas Design e Salão Design/Movelsul. O reconhecimento despertou um desejo antigo: ter a própria linha de produtos da Notus Design, independente e conceitual. O sonho vem se concretizando desde o começo do ano e a primeira peça da marca que chegou às lojas foi a premiada estante Poleirinho, disponível na coleção 2011 da Carbono Design, em São Paulo, e na Via Manzoni, no Rio. “Queremos despertar a curiosidade das pessoas e transmitir boas sensações ao usuário. Não temos uma linha estética específica, gostamos de deixar cada conceito nos guiar a novas e inesperadas formas e mesclas de materiais”, define Rodrigo França.
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Acima, projeto da cadeira Farroupilha, com protótipo exposto no Salão Design da Casa Brasil 2011. Abaixo, mesa Sarrafo, produzida em madeira, com tampo de vidro
A cadeira Notus, produzida em acrílico, foi inspirada na tecnologia, com grafismos que remetem a códigos binários
Os produtos O conjunto Farroupilha e a estante Poleirinho estão na seleção final do Salão Design da Casa Brasil 2011, expostos no evento, que acontece entre 2 e 6 de agosto. Rodrigo fala sobre o conceito de ambos: “o conjunto Farroupilha é inspirado no ‘puxar fios’ da manta reciclada, uma proposta para áreas externas que visa transformar o que é considerado farrapo em um produto interessante e encantador. A Poleirinho tem um
formato lúdico, brinca com a ideia de empoleirar as coisas, as bugigangas, a bagunça. Alguns veem no produto uma árvore, outros uma referência às favelas, um cortiço colorido, ou casinhas de passarinhos... é tudo isso e o que mais o usuário imaginar”. Outra referência no recente trabalho da Notus é a cadeira Elíptica, que pode ser usada tanto deitada quanto em pé. Selecionada para compor o livro "Design and Design – Book of the Year 2009", faz parte do repertório
internacional. “O que desejamos é mexer com as pessoas, o produto não pode passar despercebido da alma dos usuários, o uso das coisas não pode ser automático e sem reflexão. Desenvolvemos produtos que façam parte da vida, que tenham um significado de estar ali, uma estima”, declara Rodrigo, que finaliza defendendo sua profissão: “O designer é um observador do cotidiano, da cultura, dos desejos. A partir disso, identificamos novas possibilidades de surpreender e encantar”. 67
mostra
RAZÃO E AMBIENTE:
SER ATRAENTE É TÃO IMPORTANTE QUANTO TER O QUE DIZER! Uma exibição de arquitetura comentada por arquitetos Leila Abe
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O
Na página ao lado, projeto de implementação do Parque da Juventude, construído no local do presídio do Carandiru, em São Paulo, com plantas recobrindo as “carcaças” dos prédios remanescentes da demolição, ocorrida em 2002; acima, projeto Arquitetura Essencial (2007), do escritório Andrade e Morettin Arquitetos; abaixo, foto do estudo do projeto para o Conjunto Itamambuca (1965), idealizado por Lina Bo Bardi
que faz uma exibição ser interessante e se destacar em relação a outras com o mesmo teor e mensagem? O diferencial, no caso da mostra “Razão e Ambiente”, que foi exibida no MAM, é a beleza além do conteúdo. Iluminação, cores escolhidas como fundo, escala, diagramação dos painéis, materiais utilizados, projetos escolhidos expostos como obra de arte, as quais formam uma composição agradável e harmônica que presenteiam o espectador com um ambiente intimista, estabelecem imediatamente uma forte relação com as obras expostas, seus autores e seus dizeres. Logo na entrada da sala Paulo Figueiredo, vemos painéis refinados pintados com cores quentes, do ocre ao vermelho terra, que servem de fundo para os desenhos técnicos, croquis, fotos dos arquitetos expoentes da nossa arquitetura moderna, Lucio Costa, Lina Bo Bardi e Sergio Bernardes, e suas respectivas contribuições pioneiras ao tão atual assunto ecologia. No espaço
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mostra
Acima, o desenho do projeto para a Casa Circular (1962), de Lina Bo Bardi, mostra como a estrutura do prédio comporta bem a utilização de elementos naturais nos detalhes da construção, provando a preocupação em oferecer soluções tecnológicas com os recursos disponíveis no ambiente
LINA BO BARDI (desenhos exibidos) - Nova Prefeitura de São Paulo. São Paulo, 1990 - Casa Valeria Piacentini Cirell. São Paulo, 1958 - Casa Figueiredo Ferraz, 1962 - Conjunto Itamambuca, 1965 - Casa Circular, 1962
SERGIO BERNARDES (desenhos exibidos) - Vulcões de Paris. Parc la Villette, 1982 - Visarga, uma cidade sob os gelos eternos. Alaska, 1981 - Cartaz da exposição com símbolo do LIC (Laboratório de Investigações Conceituais). MAM RJ, 1983 - Aquedutos. Brasil, 1991 - Transporte. Brasil, 1991 - For You, uma cidade suspensa por cabos - Paraty, RJ, 1993 (cinco pranchas)
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da exibição, nos deparamos com mais uma surpresa, a sensação inusitada de estarmos em um ambiente inesperado para os moldes urbanos paulistanos. As redes suspensas que nos convidam a deitar, fazem parte da instalação “RIPOSATEVI”, de Lucio Costa, recriada a partir da concepção original para a Trienal de Arquitetura de Milão, em 1964. Sentados nas redes podemos assistir a projeções de obras de mais de 21 arquitetos contemporâneos, como Rosa Kliass, Indio da Costa, entre outros, os quais fazem do assunto sustentabilidade o moto dos seus projetos. Ainda no espaço de exibição, a feliz combinação da contribuição acadêmica às exibições institucionais idealizadas pelo curador Lauro Cavalcanti trazem a Escola da Cidade, que participa da mostra com uma seleção de trabalhos de alunos graduados pela escola onde o foco dos projetos é a reutilização do existente e a inovação nos projetos para as causas ecológicas.
local especial na exibição, onde “a ideia principal é a alusão à aplicação de técnicas artesanais em obras de pequeno porte e o uso de elementos construtivos para obter uma adaptação natural ao clima tropical”, nas palavras do próprio curador.
LUCIO COSTA A instalação “RIPOSATEVI”, ocupa
ESCOLA DA CIDADE Projetos de graduação escolhidos por
SERGIO BERNARDES/ LINA BO BARDI Nesse primeiro espaço da exibição, encontram-se fotos originais e projetos dos arquitetos. Provas concretas de preocupações em resolver detalhes e soluções tecnológicas compatíveis com a realidade brasileira, quer seja na escolha da matéria-prima nacional, da climatização não artificial e do aproveitamento da luz solar. ARQUITETOS CONTEMPORÂNEOS Projetos com elementos reapropriados a partir dos mesmos princípios utilizados por Lina Bo Bardi, Sergio Bernardes, Lucio Costa, exibidos nas telas da sala “RIPOSATEVI”.
Henrique Luz
Segundo croqui da instalação “Riposatevi”, concebida por Lucio Costa para a Trienal de Arquitetura de Milão (1964) e remontada em “Razão e Ambiente”. Consiste em uma sala de exibição com redes suspensas – para acomodar os visitantes – cercadas pelos elementos (telas ou objetos) da mostra
serem representativos no assunto sustentabilidade e ecologia. Alunos: Anita Rodrigues Freire, Felipe Hess, Beatriz Vanzolini, Ananda Albuquerque Lavor. Entrevista com CIRO PIRONDI – arquiteto e diretor da ESCOLA DA CIDADE Leila Abe – Ciro, interessa-me saber o que vai pela cabeça de alguém por trás de projetos tão idealistas, mas também inovadores no âmbito brasileiro como este seu e do grupo de professores da Escola da Cidade, especialmente estes projetos que levam a Escola para a comunidade em todos os níveis: dos projetos atendendo à população carente das periferias aos projetos como essa exibição no MAM – “Razão e Ambiente”. Esse processo da Universidade cada vez mais na rotina do cidadão já foi iniciado na Europa nas últimas duas décadas. Como você vê a possibilidade de levar em frente esta cruzada cultural dentro do panorama de desigualdade social que temos no Brasil?
No desenho do projeto Visarga (1981), Sergio Bernardes cria condições para a vida humana habitar a “cidade sob os gelos eternos”, Alasca, EUA
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mostra
Acima, projeção do Parque Urbano Vertical, espaço de convivência com núcleos de cultura e lazer que reaproveita o “esqueleto” do antigo prédio da Eletropaulo e atual sede do banco Santander, em São Paulo. Projeto do estudante, Felipe Hess. Ao lado, à esquerda, projeção virtual do moderno sistema de cooperativa de reciclagem proposto pela estudante Beatriz Vanzolini, em 2009. Utiliza transporte fluvial e por trem, e à direita. Os dois projetos foram desenvolvidos para conclusão da graduação na Escola da Cidade
Ciro Pirondi – O panorama de desigualdade social tem suas origens na forma exploratória de nossa colonização. Superar esta condição, seja social, cultural ou no campo estético, é o desafio. A Escola da Cidade tem como principal objetivo a transformação da sociedade brasileira. Nosso caminho para isto é o ensino da arquitetura com base na responsabilidade social do arquiteto. A questão do ambiente é urgente e permanente. Qualquer forma de ocupação espacial e de ensino deve tê-la como um dos seus objetivos essenciais. LA – Uma de nossas maiores ferramentas como brasileiros é resultante de podermos nos adaptar 72
às adversidades e à falta de recursos tecnológicos. A vantagem é que, com isso, nos tornamos criativos ao extremo. Sustentabilidade já vinha sendo praticada por nossos antepassados brasileiros numa escala doméstica pelos nossos arquitetos famosos como mostra essa exibição. E os projetos escolhidos dos alunos da Escola para a mostra seguem essa premissa? CP – Os projetos da Escola tentam sempre direcionar o estudante para este fim. Ao longo de seis anos, eles são incentivados a pensar a arquitetura como uma forma específica do conhecimento humano, um saber sem fronteiras, como um rio que margeia outros saberes. A tecnologia é um deles; a sedução por ela não
deve inverter o valor primordial da arquitetura: desenhar espaços que favoreçam o convívio, sem o qual perde sua principal razão. LA – Quais são os planos da Escola da Cidade e os projetos sustentáveis com implantação prevista para os próximos anos? CP – A Escola atingiu em torno de 30% de nossos sonhos e desejos. Estamos organizando a Escola Fábrica de Humanidades para o 2° grau, em conjunto com o Instituto Habitat, do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Vamos também, com os Institutos Arapiau, Isa, Ethos e o Movimento Nossa São Paulo, aprimorar a Escola Itinerante e incentivar cada vez mais a Editora Cidade.
Feira de design e produtos contemporâneos
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20ª edição | 24 a 27 de agosto de 2011 novo endereço prédio da Bienal simultaneamente com a ABUP Show Parque Ibirapuera Entrada pelo Portão 3 São Paulo SP exclusivo para lojistas e profissionais da área
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certas questões Premiações de Design e o Compasso d’Oro
S
empre gostei e sempre me esforcei para participar do maior número possível, mas confesso que já andava meio intolerante com premiações de design recentemente. São tantas e por toda a parte! Designer que não tem pelo menos um prêmio ou é muito jovem ou é coisa rara! Além disso, virou moda, até publicitário agora quer premiar design... Porém, nos últimos anos, passei a viver a interessante experiência de passar para os bastidores: fui júri de prêmios de design no Brasil; júri do D&AD na Inglaterra; do L’Observeur na França; do Red Dot na Alemanha; e acabo de voltar do júri do Compasso d’Oro na Itália. Esta última experiência revigorou minha relação com os prêmios. O D&AD, na Inglaterra, teve um sabor especial por ter sido Dick Powell chefe do júri de design de produtos no ano em que participei. Dick Powell é um grande designer, sócio de um dos mais importantes escritórios ingleses de design industrial, Seymour Powell. Dick coordenou o júri de forma impecável, trouxe seus próprios valores para a discussão e foi implacável não apenas com a qualidade do design, mas também com a qualidade da execução das peças: ”Wonderfully designed and superbly executed” era seu lema. Porém, a premiação em si deixava muito a desejar. Sendo um prêmio originalmente publicitário, não bastou que abrissem uma categoria de produtos para que se tornasse um sucesso. Nem o fato de ter se tornado uma premiação internacional motivou muito a categoria, ou seja, as inscrições não eram muitas e a maioria tinha uma qualidade bastante duvidosa, fato 74
“
ADI (Associação do Design Italiano) mantém uma coleção com todos os produtos premiados com o Compasso d’Oro desde sua primeira edição, há 50 anos! Desta forma, o dado mais relevante sobre o Compasso d’Oro é o de termos a maior e mais importante coleção de design do mundo!" que demonstrava o pouco interesse dos designers industriais (até mesmo dos ingleses) no prêmio. O L’Observeur, promovido pela APCI francesa, tem como especial o fato dos produtos vencedores serem expostos por alguns meses na Cité
de L’Industrie, em La Villete, Paris, um centro de exposições educativas e variadas, muitíssimo visitado por um público leigo e bastante jovem. Este é um grande atrativo, mas a premiação em si, em um país cuja tradição de design é ainda recente – e, por muitos anos, mérito de um personagem único – no ano em que fui júri, o resultado, digamos, foi mediano. Havia também uma maioria de produtos sem grande expressão e, neste caso, havia um júri muito grande: mais de 15 pessoas, de variadas culturas e países - impossível uma decisão unânime e difícil uma decisão de comum acordo. Votos individuais e um sistema de pontuação traziam os resultados, por vezes surpreendentes, por vezes decepcionantes. Tudo isso depois de horas de intensa discussão (afinal, trata-se de um prêmio francês e de um júri predominantemente francês!). Viam-se muitos produtos de empresas orientais e de grandes multinacionais. O Red Dot, prêmio anual alemão com muitos anos de experiência
Guto Indio da Costa Guto Indio da Costa dirige um dos mais famosos escritórios de design do Brasil. Talento, competência e conhecimento das “leis do mercado” nos levaram a solicitar que ele nos desvendasse os aspectos práticos, ou econômicos, da profissão. e forte reputação, já foi um tanto quanto diferente. Uma avalanche de produtos de todo o mundo, inclusive os mais nobres produtos alemães, júri composto por mais de 20 designers de toda a parte (alguns bastante reconhecidos), porém divididos em pequenos grupos por categoria. Organização alemã, impecavelmente conduzida por Peter Zec, o mestre de honras do design em Essen. O local, apesar de pouco conhecido, tem o maior museu de design do mundo em uma antiga mina de carvão completamente reformada, um lugar incrível que todo designer deveria um dia visitar. Não há pré-seleção no Red Dot. O júri tem acesso a todas as inscrições e todos os produtos estão in loco para manuseio e avaliação – superdivertido para qualquer designer e indispensável para qualquer bom julgamento. Se por um lado o fato de não haver pré-seleção nos dá acesso a tudo, por outro, também rebaixa um pouco a qualidade de boa parte do que é julgado. Muito industrial, bastante comercial, mas com tamanha quantidade de produtos que o resultado final, apesar do volume do catálogo, é impactante e muito respeitado. Assim como o iF, o Red Dot também oferece a divulgação de sua logomarca como um selo de qualidade de design aos produtos vencedores. Importante notar que um prêmio minimamente sério proíbe a qualquer membro do júri de concorrer no ano em que julga. Por menos que se permita ao membro do júri defender seu produto, existe um evidente constrangimento do grupo em não reconhecer o mérito de um de seus membros. No D&AD, prêmio originalmente do mercado publicitário,
tivemos uma destas situações constrangedoras, e até Dick Powell reconheceu a dificuldade em evitar a premiação de um membro do júri. Anos depois, percebi que isso é um mau hábito corrente desses prêmios publicitários, e por eles nutro absoluto descrédito e desrespeito. O Compasso d’Oro, por sua vez, é o mais bem-estruturado e mais prestigioso prêmio de design que conheci. Primeiro, é um prêmio essencialmente italiano: premia os designers italianos ou designers estrangeiros que tenham projetado para empresas italianas. Pode parecer restritivo, mas isto já o faz bem mais interessante, pois é frustrante premiarmos a Apple em Londres ou a Samsung em Paris (essas premiações internacionais, abertas a todos, fazem com que as mesmas marcas e, muitas vezes, os mesmos produtos sejam julgados e premiados por toda a parte - fato um tanto quanto sem graça), enquanto que a restrição do Compasso d’Oro nos confronta com uma seleção diferente, nem sempre tão publicada ou conhecida mundo afora. Depois, trata-se de uma premiação trienal. Agora em 2011, julgamos produtos de 2008, 2009 e 2010. Isto faz com que o efeito do tempo sobre os produtos nos ajude a julgar o que é realmente bom. Muitas vezes, o que parece inicialmente um bom design não ultrapassa o teste do tempo e poucos anos depois já se mostra envelhecido e datado. Esta perspectiva do tempo faz a premiação bem mais interessante e a perenidade torna-se um fator preponderante no julgamento. Outro fato interessante é que, em cada edição trienal, são no mínimo dez e no máximo 20 produtos
agraciados com o Compasso d’Oro. Ou seja, menos de sete por ano, o que é garantia da excelência dos premiados. Além disso, ninguém se inscreve: a seleção é feita anualmente por críticos de design de toda a Itália ao longo dos três anos anteriores à seleção final. Neste ano, julgamos um pouco menos de 300 produtos, que vieram de uma seleção inicial de quase cinco mil! Ou seja, o top do top, o que torna hercúlea a tarefa do júri, pois não é nada fácil julgar e decidir entre Lovegrove, Pininfarina, Matteo Thun, Michele de Lucchi, Urquiola, Citterio, Grcic, Alberto Meda e tantas outras estrelas internacionais... Da mesma forma, gigantes do design italiano como Luceplan, Alessi, Maseratti, Fiat, Flos, Plank, Wally etc. Não há prêmio por categorias (falha de todos os outros prêmios). Julga-se o que é bom e o que é excepcional. Não existe nenhuma restrição em premiar igualmente qualquer categoria ou segmento de mercado. Isto evita premiados menos notáveis. Por fim, e o mais sensacional, a ADI (Associação do Design Italiano) mantém uma coleção com todos os produtos premiados com o Compasso d’Oro desde sua primeira edição, há 50 anos! Desta forma, o dado mais relevante sobre o Compasso d’Oro é o de termos a maior e mais importante coleção de design do mundo! E, a cada três anos, essa coleção aumenta em pelo menos dez produtos. E não perca, em Roma, a exposição em curso com um recorte dos últimos 50 anos do Compasso d’Oro, leitura realizada pelo arquiteto e crítico Enrico Morteo – uma verdadeira aula histórica de design com obras-primas de todos os mestres italianos. 75
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O Convite/ Folha foi uma criação da Tátil Design para o Festival de Publicidade de Cannes 2008
Tátil Design
REDESENHANDO
design sustentável
O FUTURO! Se existe uma coisa que me mobiliza hoje como designer, cidadão, ser humano, pai e criativo é participar do enorme desafio que temos pela frente na reinvenção do nosso modo de vida, da nossa condição de “consumidores” (o que já me parece uma redução terrível da nossa razão de existir, como se fôssemos cupins, que estamos aqui apenas para “consumir”) da nossa relação com o planeta Fred Gelli
U
m desafio de caráter essencialmente “criativo”! Trata-se do redesign de quase tudo que está a nossa volta para que possamos pleitear um lugarzinho no futuro para a espécie dos homo sapiens sapiens! Como fazer das nossas cidades ecossistemas sustentáveis? Como dar um destino inteligente ao enorme volume de resíduos que geramos? Como criar materiais menos agressivos para o entorno? Briefings complexos como estes vão exigir uma enorme dose de nossa capacidade criativa! Que tal buscar inspiração em um centro de inovação com 3,8 bilhões de anos de experiência? Esta é a proposta da biomimética, ciência que propõe um olhar diferenciado à Natureza. Isto é, devemos deixar de olhá-la como fonte de recursos a serem explorados para encará-la como fonte de inspiração
para qualquer desafio criativo, nas mais diversas áreas do conhecimento, como design, engenharia, arquitetura, negócios, entre outras. Meu interesse por esta abordagem surgiu no meu projeto de graduação em design de produto, na PUC, em 1987, quando decidi entender como a Natureza desenhava embalagens. Das cascas dos frutos à atmosfera do planeta, da membrana plasmática ao útero da mulher, a Natureza desenvolveu através dos tempos as embalagens mais sofisticadas que podemos imaginar. Foi do encantamento que tive com esse projeto e a ampliação do que poderia ser o design na minha vida que, dois anos depois, surgiu a Tátil! De lá pra cá, muita coisa mudou. O mundo passou por transformações, as demandas por soluções mais inteligentes e de menor impacto ambiental têm se tornado cada vez mais urgentes, e aqui na Tátil, a biomimética está mais viva do que nunca!
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design sustentável
A estratégia das flores serve de inspiração. Elas estabelecem uma relação de troca e até ampliação da fauna. Sem elas não existiria evolução
De fonte de inspiração constante e informal em muitos dos nossos projetos nos últimos 20 anos, essa ciência ganhou força em nosso núcleo de ecoinovação a partir de parcerias ambiciosas com alguns dos nossos clientes, no sentido de torná-la parte de suas estratégias de inovação. Desenvolvemos um trabalho em conjunto com a Biomimicry Gulid, da Janine Benyus, bióloga americana considerada a maior autoridade global no assunto e que criou o site 78
Ask Nature, no qual você pode consultar uma gama de "cases naturais". Quase como se fosse um "Google" da Natureza! Com a Janine e seu time, promovemos treinamentos na metodologia para um grupo de pessoas das áreas de logística, design, marketing e negócios de um grande cliente da Tátil, voltado ao ramo de cosméticos. Estamos também com o projeto de um laboratório de pesquisas em biomimética, pronto para ser instalado
no Rio, em parcerias com o Jardim Botânico e INT. Na verdade, o brilho está no fato de que a Natureza tem sempre muito tempo para experimentar soluções diversas para problemas complexos. Neste processo criativo, aspectos como mínimo gasto de energia, utilização de materiais “amigos” do ambiente, máxima adequação com o contexto e a lógica dos ciclos fechados são pedágios para cada ideia posta no mundo, e o que é melhor, são todas copy left, ou seja, estão aí para serem copiadas! Estamos, por exemplo, desenvolvendo uma pesquisa com a Fundação Getúlio Vargas que tenta entender “como a Natureza opera. Olhamos para os ecossistemas como grandes ambientes de negócios, nos quais trocas de matéria, energia e informações acontecem o tempo todo, de uma forma completamente sustentável.
Fizemos diversas analogias inspiradoras entre os bancos de corais e as metrópoles, identificando inúmeras oportunidades de desenhar negócios, em que todos ganham, já que a humanidade não suporta mais tanto desequilíbrio. Outro projeto que trouxe insights para a nossa área de “experiência de marca” foi o mergulho no universo das flores, entendendo que este foi um case revolucionário de inovação desenhado pelos criativos da Natureza. As flores são incríveis “armadilhas sensoriais” que estabelecem uma relação de sintonia fina com seus clientes. Pássaros e insetos, que até então não tinham nada a ver com a reprodução dos vegetais, entraram em uma relação ganha-ganha que, em troca de espalharem o pólen das flores, garantindo o aumento da diversidade, deliciam-se com o néctar. Esta estratégia, além de ter
promovido a revolução no reino vegetal (hoje 90% das plantas usam flores pra se reproduzir), foi decisiva para garantir a ampliação da fauna e até a nossa presença aqui. Sem flores não existiriam frutos e sem frutos os primatas não teriam tido combustível para seus cérebros evoluírem até o nosso. A ironia disso tudo é que, hoje, a espécie humana reflete todo esse processo “brilhante” e gera pela segunda vez na história um impacto geológico no planeta. A outra espécie capaz de “tamanho feito” foram as algas azuis, que há 2 bilhões de anos começaram a fazer fotossíntese, criando condições para a vida florescer. Nosso impacto, infelizmente, é negativo e agora o que nos resta é tentarmos olhar para a Natureza como fonte de inspiração. E aí, quem sabe, conseguiremos encontrar saídas para a encrenca em que nos metemos.
O ecossistema serve de inspiração para o estudo. A imagem retrata uma analogia entre os bancos de corais e as cidades: os corais ocupam apenas 1% da superfície dos oceanos, sendo que mais de 50% das espécies de peixes vivem ao redor deles, situação semelhante à vivida pelas cidades 79
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como encontrar A Casa – Museu do Objeto Brasileiro (11) 3814-9711, São Paulo (SP) www.acasa.org.br
La Lampe (11) 3069-3949, São Paulo (SP) www.lalampe.com.br
Armazém da Decoração (62) 3281-7432, Goiânia (GO) az@azdecor.com.br
Lattoog (21) 2512-6182, Rio de Janeiro (RJ) www.lattoog.com
Authentics # (49-5241) 9405542 Gutersloh, Alemanha www.authentics.de
Marché Art de Vie (11) 3853-9760, São Paulo (SP) www.marcheartdevie.com.br
Benedixt (11) 3081-5606, São Paulo (SP) www.benedixt.com.br
Maurizio Galante Interware # (33-40) 070070 Paris, França www.maurizio-galante.com
Casa Matriz (11) 3087-7214, São Paulo (SP) www.casamatriz.com.br
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) (11) 5085-1313, São Paulo (SP) www.mam.org.br
Casa Rima (51)3333-0393, Porto Alegre (RS) www.casarima.com.br
Museu Vale (27) 3333-2484, Vila Velha (ES) www.museuvale.com
COD (11) 3816-7233, São Paulo (SP) www.codbr.com
Nigel Coates # (44-20) 78381068 Londres, Inglaterra www.nigelcoates.com
Cooperárvore (31) 3591-5896, Betim (MG) www.cooperarvore.com.br Decameron (11) 3097-9344, São Paulo (SP) www.decamerondesign.com.br Design São Paulo (11) 3061-2855, São Paulo (SP) www.designsaopaulo.com.br Emporium São Paulo (11) 5054-8000, São Paulo (SP) www.emporiumsaopaulo.com.br Estúdio Campana (11) 3825-3408, São Paulo (SP) www.campanas.com.br
Notus Design (31) 3088-3314, Belo Horizonte (MG) www.notusdesign.com Outdoorz Gallery # (33-6) 87480675 Paris, França www.outdoorzgallery.com Passado Composto (11) 3088-9128, São Paulo (SP) www.passadocomposto.com.br Prêmio TOP XXI - Design Brasil www.arcdesign.com.br/__novosite/top21/ Via Manzoni (21) 2267-7050, Rio de Janeiro (RJ) www.viamanzoni.com.br
Faro Design (51) 3333-1715, Porto Alegre, (RS) www.farodesign.com.br Gijs Bakker # (31-20) 6382986 Amsterdam, Holanda www.gijsbakker.com www.chihapaura.com
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últiMA pÁgina Fontana Rivivo Peça de Fernando e Humberto Campana criada para a exposição retrospectiva em comemoração aos 90 anos da marca italiana Venini. Pátio do Museu Bagatti Valsecchi, Milão, Itália
Foto divulgação Venini+
Material: vidro de murano, refugos de peças clássicas do catálogo Venini
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