Plurale em Revista - Ed 52

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ano nove | nº 52 | julho / agosto 2016 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

CORUJAS NO CAMPECHE - FLORIANÓPOLIS –FOTO DE RONALDO ANDRADE

w w w. p l u r a l e . c o m . b r

CAMPECHE, PARAÍSO ECOLÓGICO EM FLORIPA ARTIGOS INÉDITOS

FESTAS POPULARES, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PALESTINA


SABE POR QUE METADE DE NOSSOS VICE-PRESIDENTES SÃO MULHERES? PELO MESMO MOTIVO QUE METADE SÃO HOMENS. Além de duas vice-presidências, quase metade de nossos cargos de gestão é ocupada por mulheres. Nós não privilegiamos um gênero quando contratamos, porque sempre acreditamos que, quando o assunto é criar um mundo mais belo, o que importa mesmo é o que você faz.


grupoboticario.com.br


Contexto

14. 24.

Campeche, recanto

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ARTIGOS INÉDITOS:

Marília Melo, Christian Travassos e Jetro Menezes Festas brasileiras populares, Por Andrea Goldschmidt

mágico em Floripa,

Por Raquel Ribeiro

Ecoturismo, por Isabella Araripe

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42 Produção de azeite, por Celina Côrtes

Educação ambiental, Por Nícia Ribas

44 Bazar ético

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Cinema verde, por Isabel Capaverde

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58.

Especial Palestina, Por Hélio Rocha

PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2016


E ditorial

HÉLIO ROCHA

A repórter Raquel Ribeiro mudou-se com a família para Florianópolis e descobriu o “seu canto” na Ilha, o Campeche. Traz os encantos do lugar para os leitores de Plurale, com fotos incríveis de Ronaldo Andrade. Já Hélio Rocha esteve bem mais longe: foi para a Palestina em misto de viagem de turismo e ativismo social.

RAQUEL RIBEIRO

Florianópolis, Festas Populares, Educação Ambiental, Artigos Inéditos e Palestina Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

Temos rodado por diferentes cantos em busca de grandes histórias para contar. Desde que lançamos Plurale, há nove anos, tem sido este o nosso desafio/ missão: desvendar e revelar notícias que possam emocionar os nossos leitores. Muitas destas histórias são de encantamento, de deslumbre, e mesclam não só texto, mas também imagens. Como as fotos incríveis que Ronaldo Andrade apresente o Campeche, verdadeira joia da natureza encrustada em Florianópolis para matéria de capa de Raquel Ribeiro. Jornalista parece tropeçar em

casos e causos: recém-instalada com a família na cidade deslumbrante, Raquel percebeu que o seu bairro tem o encanto e a benção de pessoas incríveis e é abençoada por gnomos. Com o foco em relatos culturais, Andrea Goldschmidt mergulhou em projeto com foco em fotografar festas populares em várias cidades espalhadas por este Brasil tão continental quanto Plurale. Selecionou algumas destas imagens especialmente para esta Edição 52. No Rio, Nícia Ribas visitou iniciativa encantadora de Educação Ambiental e Isabel Capaverde traz as novidades na sua coluna Cinema Verde. Em Visconde

de Mauá, subindo a serra, Celina Côrtes acompanhou o trabalho de agricultores com foco na plantação de oliveiras, com o objetivo de produzir um azeite de boa qualidade. Já Isabella Araripe esteve em Bento Gonçalves (RS), onde acompanhou a Fiema Brasil (Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos, Águas, Efluentes e Energia). Não é só. O jornalista Hélio Rocha aproveitou as férias para conhecer a Palestina, em um misto de turismo e ativismo social. Artigos inéditos – de Marília Mello, Marcus Quintella e Jetro Menezes – também são destaque nesta edição. Boa leitura! 5


PARQUE NACIONAL DA SERRA

DA CAPIVARA (PI) - FOTOS DE ISABE

LLA ARARIPE/PLURALE

da Capivara, no Piauí. Foi matéria de Em 2013, equipe de Plurale esteve no Parque Nacional da Serra com a exuberância da natureza, mas capa da Edição 37 de Plurale em revista. Nos encantamos não só da arqueóloga Niéde Guidon, da também pelo trabalho desenvolvido no Parque, sob a coordenação que este Patrimônio Cultural deixar os Fundação Museu do Homem Americano, há 40 anos. Não podem os. recurs da Humanidade seja inviabilizado pela falta de

#somostodosserradacapivara


Clima

A

Do Observatório do Clima

campanha “1,5°C: o recorde que não devemos quebrar” encerrou sua primeira fase com a adesão de 102 atletas de 40 países, que mandaram pelas redes sociais sua mensagem sobre o limite máximo para o aquecimento global. Da Dinamarca à Nigéria, do Canadá ao Sudão, a iniciativa contou com a participação de representantes de nações dos cinco continentes, de várias latitudes e graus de desenvolvimento. Grande parte do apoio veio de representantes das nações mais vulneráveis ao clima, como Somália, Ilhas Marshall, Fiji e Papua Nova Guiné, entre outros. Entre eles, o único representante de Tuvalu, Etimoni Timuani, e o levantador de peso de Kiribati, David Katoatau, que ganhou a primeira medalha de ouro para seu país e que roubou a cena com uma dança de comemoração. Vítima de um evento climático extremo que destruíram sua casa, David começou a dançar após competir justamente para chamar a atenção para a situação de Kiribati, uma pequena nação insular que corre o risco de desaparecer por causa da elevação do nível do mar. A atividade esportiva será dramaticamente afetadas pelas mudanças climáticas. Como mostrou relatório Mais Longe do Pódio – Como as Mudanças Climáticas Afetarão o Esporte no Brasil, divulgado pelo Observatório do Clima durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o risco de atletas literalmente morrerem de calor será multiplicado no Brasil e nos demais países tropicais nas próximas décadas caso não se reduzam dramaticamente as emissões globais. Além dos esportistas que competiram na Olimpíada, a campanha também contou com a participação do Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, do diretor-presidente da Fapesp, José Goldemberg, de representantes do mundo internacional dos negócios representados pelo B-Team e das várias organizações nãogovernamentais que integram o Observatório do Clima, – um dos organizadores da campanha, que surgiu a partir de uma ação em rede envolvendo o Fórum das Nações Vulneráveis, o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e o iCS (Instituto Clima e Sociedade). A cam-

Mais de 100 atletas de 40 países na luta contra as mudanças climáticas

ETIMONI TIMUANI

panha conquistou também o apoio da organização de jovens Engajamundo, que coordenou um flashmob com quase cem participantes na Praça Mauá às vésperas do encerramento da Olimpíada. “Mês após mês, ano após ano, estamos vivendo uma sucessão ininterrupta de recordes de temperatura que não deixam margem para dúvida: estamos em meio a uma tendência perigosa de aquecimento do planeta”, alerta Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima. “Precisa-

mos agir rápido para limitar esse aquecimento a 1,5o C. Sabemos como isso pode ser feito: precisamos parar de queimar petróleo e carvão, precisamos parar de desmatar e queimar matas e florestas. Foi esse o recado que atletas de todo o mundo deram durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E isso não apenas é bom para o clima, mas também para a geração de empregos e renda.” A campanha “1,5° C: o recorde que não devemos quebrar” terá uma segunda etapa durante a Paraolimpíada.

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Quem faz

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Andrea Goldschmidt, Celina Côrtes, Celso Guimarães, Hélio Rocha, Jetro Menezes, Leslie Chaves (IHU On-Line), Marcus Vinícius Quintella, Marília Melo, Raquel Ribeiro e Ronaldo Andrade. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

Cartas

cc a a r tr at a s s @@ pp l ul u r ar a l el e . c. c oo mm . b. b r r

“Cara Sônia, “Sônia: viva, amiga querida! Eu sei que não é nome dograta Senhor Ministroreceber de Estado fácil; autoria de Luiz Bello, Colunista parabéns, paraFernando você e todos os que fazem de É“Em sempre uma satisfação do Meio Ambiente, Sarney Filho, agradeço essa Plurale, evidencia esta publicação que há oito anos abre bela revista! A matériaados“irresponsabilidade oito anos é o enviopara da mais recente edição da Plurale antológica, organizada” que fiquei vem sendo praticada pelos espaço o diálogo entre empresas, histórica; orgulhoso de me ver em revista, mídia destacada emo objetivo lá. Amaiores bancos, seguradoras e gestores de especialistas e a sociedade, com matéria do lamaçal da Samarco é Sustentabilidade. Atenciosamente recursos doémercado e internacional de promover os bons exemplos de chocante, mas didática,brasileiro reveladora, é Hellen Ryse Ferreira, Chefe de obrigatória. contrariando do preservação do Alves meio ambiente. Parabéns Muitotoda boa.aOlógica show de da preservação Luciana do Ministro, Substituta, mundonão empodia que faltar; vivemos, trazendo à tona a aGabinete todos os profissionais envolvidos e votos Tancredo rememora pontos Ministério do Meio Ambiente, reflexão sobre quanto tempo nos resta para de uma vida longa e sustentável à Plurale altos da presença dela na Plurale sempre Brasília adquirir a consciência necessária em revista.”(DF) elogiável. E a matéria da AMAR está ótima, dizpara enfrentar o dilema da sustentabilidade. Vale a Miguel Krigsner – Fundador do tudo; obrigado, por mim, pela Irmã Adma e seus “Parabéns aos editores de Plurale em pena sua leitura.” Grupo Boticário e da Fundação liderados. Parabéns outra vez. Quero continuar revista.Boticário Foi uma de ótima surpresa. da Tenho Luiz Guilherme Dias, Sócio da SABE Grupo Preservação acompanhando, agora até os dez anos! ficado tão Curitiba frustrada com conteúdos Natureza, (PR),os por e-mail da Consultoria, Rio de Janeiro (RJ) Roberto Saturnino Braga, escritor, exmídia que acabo lendo por obrigação e senador constituinte, Rio de Janeiro nunca porda prazer. Pluraledos devolveu o emeu “É uma alegria ver as reportagens tão bonitas “Em nome Associação Analistas (RJ), por e-mail prazer pelo Jornalismo com do J maiúsculo. Profissionais de Investimento Mercado A e bem feitas de Plurale em revista sobre pauta, o texto e a edição demonstram que a lugares do Brasil que eu sempre quis conhecer de Capitais (Apimec SP), parabenizo toda “Um absurdo tudo que aconteceu após o equipe está sintonizada nos fatos e na e não pude: na Edição 51, a Chapada a equipe de Plurale por seus oitos anos de desastre ambiental provocado pelo forma. Como jornalismo é muito Diamantina (que cheguei uma vez a comprar atividades e, acima de tudo, pelacompetente.rompimento das barragens da Samarco e a Diante dae Plurale pensei: “nemprestado tudo está as passagens e programar quatro dias de seriedade qualidade do serviço novela que estamos assistindo. Parabéns a no jornalismo brasileiro.” excursão e acabei pegando uma virose forte àperdido sociedade, ao tratar de temas tão Plurale, que deu destaque de capa para o dois dias antes), e o Araguaia, de onde estive Thereza quanto Christina Jorge, jornalista, relevantes sustentabilidade e meio tema na recente Edição 50. Afinal, este canal perto durante tanto tempo em Brasília, e não Rio de Janeiro ambiente. Que venham muitos outros tem sido muito fiel às vítimas de Mariana (MG conheci. Obrigado. Parabéns à Luciana anos!” / ES). Vocês não deixam cair no Tancredo e ao Marcelo Senna.” “Prezados, compartilho Ricardo Tadeu Martinscom , satisfação eesquecimento o maior desastre ambiental do agradecimento atenção em receber Roberto Saturnino Braga, Presidente da pela Apimec SP, São Brasil. Parabéns Sônia Araripe e equipe pela retorno(SP), de tanta simpatia por parte da Escritor e Jornalista, Ex-Senador Paulo por e-mail resistência e trabalho magistral. Não vamos Plurale. Sou pesquisadora do Mestrado Constituinte, Rio de Janeiro (RJ) calar! Creio que estamos desacreditados, em Tradução da Universidade de Lisboa. A “Deslumbrante a natureza da Serra do afinal, antes do crime do rompimento das revista tem me auxiliado a fazer buscas “Excelente artigo “Quem nos pediu licença?”, Cipó , retratada pela Ana Cecília e Artur barragens, foi dito que a fiscalização na históricas de fatos raros para uso da advogada Rafaela Brito, publicado na Vidaurre, na edição 49 desta prestigiosa empresa estava regular. As famílias estão acadêmico e, ainda: me permite ir além Edição 51 de Plurale em revista.” revista que recentemente conheci. desamparadas ainda, fazendo uso da água das matérias! Como de o Plurale! tema da minha Carolina Stanisci, jornalista, São Parabéns à toda equipe Como ainda inapropriada, não há mais dissertação de mestrado baseia-se na Paulo (SP) mineiro nunca havia dado a devida abastecimento por parte da empresa, que comparaçãoapesar de dois deem Stefan importância, de tradutores ter visto falar não tem sido nada isenta. ” Zweig, um deles é anos precisamente aulas de egeografia nos 60 sobre Odilon “Sônia e todos de Plurale, Parabéns por mais Rafaela Cassiano, assistente social, do Gallotti (mencionado matéria da Nícia). uma edição, sempre pertinente com assuntos esse parque ambiental; na como temos Rio de Janeiro (RJ), por e-mail Para jánaturais indico em a leitura texto belezas nossodo país e de título das áreas Ambiental, Sustentabilidade e, “Uma história com finalque feliz” desconhecemos, situação estápublicada sendo principalmente, sobre o SER HUMANO, este “Cara Sônia, parabéns pela cobertura do por Niciapor Ribas (que por sinal ao é muito tão desvalorizado nos dias atuais. Excelente a resgatada esta revista dedicada evento Samarco. Isto é Jornalismo na interessante) meio ambiente :e http://www.plurale.com.br/ ecologia. Parabéns por reportagem de Hélio Rocha sobre os Veia. Estranho muito tratar-se de site/notícias-detalhes.php… Vale a pena abraçarem tão nobre missão e pelos 8 desdobramentos do desastre em Mariana Ajustamento de Conduta do Governo conferir! anos de edição e sucesso. Agradecido (MG) e que esta tragédia jamais seja Federal e Samarco. Ainda estou Marina Brito,tão Lisboa, Portugal por vislumbrar bela revista. ” esquecida. Ela não pode ser enterrada junto desorientado com as consequências Benedito Ari Lisboa, engenheiro, com as histórias de gente que lutou tanto para desta tragédia ambiental e, rapidamente, “De José acordodos com as diretrizes no ter o seu canto e viu tudo destruído pela ação São Campos (SP),contidas por assina-se um Termo de Ajustamento. GRI, o objetivo do desenvolvimento descabida do próprio irmão, o homem. Lindas e-mail Quem autorizou que a barragem tenha sustentável é “satisfazer as necessidades imagens de Luciana Tancredo da Chapada recebido ampliações em sua cota? do presente sem comprometer a capacidade Diamantina, vai além de uma simples matéria, “Letícia Spiller tornou-se a “embaixadora” e respectivas populações ainda das geraçõesDesmatamento futuras de suprirZero, suasdo própriasCidades mas uma ode ao paraíso que muitas vezes da campanha são reféns tragédia. Será quepontos as necessidades”. Vale que na os pontos teimamosdesta em procurar em outros do Greenpeace Brasil. Em dizer entrevista ambientais estão elementares da sustentabilidade visam àautoridades mundo, mas está diante detratando nossos olhos. Edição 50 de Plurale em revista, está tragédia? própria sobrevivência planeta. Uma das melhores virtudes doFinalizo, ser humano comemorativa de oito anos,no a atriz revelou Éadequadamente mais uma vez parabenizando Plurale indiscutível que os diferentes públicos da está na gratidão e venho por meiopelo desta que sua preocupação com as causas faromensagem jornalístico, e pela seriedade no empresa, é antiga. incluindo o atrizes mercado, agradecer a oportunidade no ambientais Ela e outras e dasOconsequências trabalhadores, organizaçõesnas nãoacompanhamento espaço “Imagem”. poema e a foto são atores falam sobre o engajamento desta tragédia. ” governamentais, investidores, contadores apenas uma parte da tamanha inspiração que causas sociais e ambientais. Parabéns à Cida do Nascimento engenheiro, etc. deveriam assumir a responsabilidade VIDA pode nos dar.Silva, Tomara que tenhamos querida Sônia Araripe e equipe pela do Rio de Janeiro (RJ), por e-mail para eassegurar osde Plurale!” objetivos da tempo e inteligência para contemplar o grande matéria pelos oito anos sustentabilidade no curtojornalista, e no longo do prazo. presente que é viver. Obrigada muito, Anna Maria Ramalho, O estudo de caso a tragédia de obrigada demais, obrigada sempre!” Rio de Janeiro (RJ),sobre por e-mail Mariana e o impacto para o setor de Keli Vasconcelos, jornalista, São Miguel mineração e o mercado de capitais de Paulista (SP)


TEMA PRINCIPAL

Gerenciando Crise, Construindo Reputação A sociedade parece estar em permanente estado de crise – potencial ou real. O reflexo mais imediato é a quebra geral dos níveis de confiança. Como trabalhar com comunicação e marketing nessa conjuntura? De que maneira a reputação organizacional pode sair fortalecida desse panorama? Um time de palestrantes de primeiro nível vai estar pronto para compartilhar experiências e construir conhecimento junto com os participantes.

Faça sua inscrição agora mesmo!

(11) 5627-9090 r. 881 | erica@aberje.com.br www.aberje.com.br 25 de outubro de 2016 | das 9h às 18h

Centro Cultural Light Rio de Janeiro Avenida Marechal Floriano, 168 – Teatro Lamartine Babo


Entrevista

“A INDÚSTRIA DA MODA É A QUE MAIS POLUI NO MUNDO” Fernanda Simon, que coordena o Fashion Revolution Brasil e é consultora e sócia-fundadora da agência UN Moda Sustentável uma cadeia produtiva e de descarte responsável dos produtos, consideFotos: Divulgação/ Fashion Revolution/ rando o verdadeiro custo da moda. Brasil de Fato Essa é a preocupação da mobilizaRefletindo ou não a respeito dessa ção Fashion Revolution, que comeação, ao escolhermos uma roupa passa- çou a se articular em 2013, após o mos a fazer parte de uma engrenagem desabamento do complexo de oficique tem amplos reflexos na organiza- nas têxteis Rana Plaza, em Banglação da sociedade. “Somos responsáveis desh, considerado um dos maiores por tudo que compramos. Aos adqui- desastres industriais do mundo, virirmos algo, passamos a fazer parte do timando milhares de trabalhadores. “Hoje esse movimento já está ‘carma’ daquele produto. Se sabemos de onde vem esse produto, quando o com- em 86 países e atua de diferentes pramos estamos compactuando não só formas com o principal objetivo de com sua origem, mas também com seu conscientizar os consumidores dos destino após o uso”, ressalta a especialis- verdadeiros impactos ambientais e ta em moda ética-sustentável Fernanda sociais da indústria da moda e toda Simon, em entrevista à IHU On-Line. a sua cadeia de produção e criaTomar consciência sobre os ção, além de celebrar aqueles que processos envolvidos na indústria têm um envolvimento mais ético da moda, desde a plantação do al- e consciente nesse campo”, expligodão, passando pela tecelagem do ca Fernanda Simon, que também é tecido, confecção das roupas, até a coordenadora do Fashion Revoluchegada do produto ao consumi- tion no Brasil. Em 2016 o movimento está dor final, é fundamental na formulação de medidas que promovam promovendo a campanha “Quem Por Leslie Chaves, da IHU On-Line

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fez as minhas roupas?” com o intuito de chamar a atenção para as condições de trabalho na indústria da confecção de moda, exigir transparência e ética no circuito de produção e circulação dos produtos e ainda retomar o elo entre costureiro e consumidor. “A importância de retomarmos essa ligação é sabermos valorizar as pessoas que produziram as roupas que compramos. O trabalho desses profissionais é muito importante, mas em geral essas pessoas não são valorizadas, acabam escondidas atrás da roupa pronta, e não pensamos em como se dá todo o processo de produção e em que condições e ambientes ele aconteceu”, aponta Fernanda. Fernanda Simon é graduada em Moda pela Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo. Morou durante sete anos em Londres, Inglaterra, onde se especializou na área de moda susten-


Os impactos sociais e ambientais não são calculados no preço final dos produtos

tável e trabalhou com pesquisas, vendas e consultoria, realizando diversos projetos com renomados nomes da moda sustentável. De volta ao Brasil, atualmente coordena o Fashion Revolution Brasil e é consultora e sócia-fundadora da agência UN Moda Sustentável. Confira a entrevista. IHU On-Line – A moda pode ser um agente político? De que maneira? Fernanda Simon – Com certeza a moda é um ato político, pois somos responsáveis por tudo que compramos. Aos adquirirmos algo, passamos a fazer parte do “carma” daquele produto. Se sabemos de onde vem esse produto, quando o compramos estamos compactuando não só com sua origem, mas também com seu destino após o uso. Quando compramos um produto feito a partir de mão de obra escrava, ou produzido com matéria-prima que provocou impactos ambientais, estamos alimentando esse processo e contribuindo para que ele continue acontecendo. Da mesma forma temos que pensar no seu pós-uso. Será que esse produto pode ser reciclado, ou vai virar lixo? Para onde ele vai? São questões com as quais precisamos nos preocupar. E ao tomarmos consciência de todo esse processo é necessário que comecemos a refletir sobre que tipo de mundo queremos. Vejo que esse é o principal objetivo da campanha deste ano do Fashion Revolution. Fazer com que o consumidor tenha consciência e questione a si próprio e as marcas sobre quem fez as suas roupas, exigindo a

transparência da cadeia produtiva. IHU On-Line – Quais são os verdadeiros custos e impactos da indústria da moda em seu ciclo desde a produção até o consumo? Fernanda Simon – Há as questões dos impactos sociais e ambientais, que não são calculados no preço final dos produtos. Em relação ao custo ambiental, a indústria da moda é a que mais polui no mundo. Pesquisas indicam que cerca de 20% das águas contaminadas industrialmente são provenientes da indústria da moda. Fora isso, há ainda o problema das plantações de algodão, as quais muitas são transgênicas e prejudicam o solo e também os trabalhadores. Por exemplo, na Índia há estudos que comprovam que, nos últi-

mos 16 anos, cerca de 250 mil camponeses já se suicidaram por problemas econômicos em decorrência do monopólio da semente do algodão, originando uma crise humanitária no país. Do mesmo modo, não podemos nos esquecer dos produtos tóxicos que ficam nas roupas e na pele desses trabalhadores e também vão para a natureza. Em outra fase da produção, há o dilema dos resíduos que sobram dos processos de corte. Cerca de 15%, no mínimo, acaba indo para o lixo. Esse material poderia ser reaproveitado, mas na maior parte das vezes isso não acontece. No outro extremo da cadeia produtiva, as roupas que deixam de ser usadas pelos consumidores também acabam tendo como destino o lixo, sem reutilização. Então, há inúmeros fatores ambientais que não são considerados na hora da compra de uma roupa. As questões sociais também geram um alto custo. Um dos exemplos é o acidente que aconteceu em Bangladesch, quando em abril de 2013 o complexo industrial Rana Plaza desabou, matando mais de mil pessoas e ferindo gravemente mais de duas mil. Os que não morreram tiveram ferimentos sérios, como a perda de braços ou pernas, e muitos ficaram totalmente incapacitados para o trabalho. Infelizmente, esse tipo de acidente acontece com frequência. Em abril de 2016, também na Índia, houve um incêndio em um prédio onde funcionava uma fábrica de roupas, por falta de segurança no ambiente de trabalho. Essa realidade se reproduz no Brasil,

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Entrevista

onde há casos de situações de trabalho análogas à escravidão em diversas confecções, e em São Paulo isso é muito comum. Muitas vezes, estão envolvidas marcas famosas, que são autuadas com bastante frequência. E nós geralmente não pensamos em como e por quem foram produzidas as roupas que compramos, se foi em uma confecção legal; se os trabalhadores eram tratados com dignidade; quais foram os impactos causados pelo tecido, como, por exemplo, o jeans, que passa por diversos processos de lavagem, além de toda a água que já é utilizada para a produção dessa matéria-prima, em seu tingimento e beneficiamento. O curioso é que os grandes milionários do mundo são os donos das marcas que na produção são autuadas por trabalho escravo. Com esse fato é possível ver que a distribuição da renda ainda é muito irregular. IHU On-Line – De que modo você avalia o mercado das grandes marcas da indústria de confecção têxtil no mundo, que em muitos casos vende roupas com altos preços produzidas em condições insalubres de trabalho? Fernanda Simon – Nas nossas palestras as pessoas sempre nos perguntam se essa situação só acontece no ramo da fast fashion, que é o das grandes redes varejistas de roupas. Mas não. Isso também acontece com roupas de designers, mais caras. Às vezes, essas roupas de altos preços são feitas na mesma confecção da fast fashion. Por outro lado, também existem grandes varejistas e designers que têm uma preocupação maior com essa questão, não podemos generalizar. IHU On-Line - O que é moda sustentável? Esse conceito também inclui a dimensão social? Fernanda Simon – Esse conceito

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também considera as questões sociais, até mesmo porque o desenvolvimento sustentável consiste no equilíbrio dos âmbitos econômico, social e ambiental. Definir moda sustentável é um pouco difícil porque é impossível esse setor ser totalmente sustentável. Na verdade, sustentável mesmo é manter as roupas que já existem, porque toda vez que se vai produzir um produto novo, algum impacto ele vai deixar. O que defendemos é que a moda seja o mais sustentável possível, que gere menor impacto. Isso consiste em avaliar a matéria-prima, sua origem e como foi produzida, por que processos ela passou, da fibra à fiação, até chegar ao tecido. Também é relevante verificar como esse material foi costurado, como a roupa foi pensada, porque trabalhamos muito com design voltado à sustentabilidade. Então, a moda sustentável atenta para todo esse processo e se preocupa com a questão dos impactos ambientais e sociais, se empenhando em defender condições dignas para todas as pessoas envolvidas em todas as etapas da produção têxtil. IHU On-Line – No Brasil, como está o desenvolvimento do campo da moda sustentável? Fernanda Simon – O desenvolvimento desse conceito de moda sustentável ainda está começando no Brasil, mas já existem profissionais brasileiros que trabalham com essa concepção mais empregada, que já criaram marcas com essa base. Isso é muito importante porque atualmente existem outras companhias que cresceram muito, mas que nunca tiveram esse conceito de sustentabilidade na base delas, então agora acabam precisando voltar atrás e rever todo o seu processo de organiza-

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ção e produção para tentar seguir esse caminho. Entretanto, como eu disse antes, existem marcas que já nascem e se desenvolvem dentro dessa proposta. Algumas organizações têm uma preocupação mais social, outras se ocupam mais com a questão ambiental, como a gestão dos resíduos, e também há as que têm um conceito mais slow, isto é, produzem em um ritmo menos acelerado produtos com maior durabilidade e em ateliês menores etc. Considerando que o conceito de sustentabilidade é muito mais difundido e há mais tempo em outros países, acredito que no exterior essa ideia ainda é empregada melhor do que no Brasil. Todavia, nesses dois anos de Fashion Revolution atuando no país, tenho percebido um crescimento surpreendente da difusão da noção de produção sustentável na moda. IHU On-Line – Em que consiste o Fashion Revolution? De onde partiu a iniciativa? Fernanda Simon – O Fashion Revolution se iniciou em 2013, quando aconteceu o desastre em Bangladesh, que foi o desabamento do prédio Rana Plaza, conforme eu citei antes. Grandes marcas conhecidas por nós estavam produzindo nesse prédio quando aconteceu o desabamento, que é considerado um dos maiores desastres industriais do mundo. A partir desse acontecimento, alguns profissionais da Inglaterra, que já tinham a preocupação em trabalhar com uma moda mais voltada à sustentabilidade, mais ética e interessada no bem-estar dos trabalhadores, se reuniram e decidiram organizar um movimento para ressaltar a gravidade do desastre e não permitir que ele fosse esquecido. Assim que esse grupo fundador do Fashion Revolution se fortaleceu em Londres, em outros países, pessoas que também tinham esse engajamento e preocupação aderiram à mobilização. Hoje esse movimento já está em 86 países e atua de diferentes formas com o principal objetivo de conscientizar os consumidores dos verdadeiros impactos ambientais e sociais da indústria da moda e toda a sua cadeia de produção e criação, além de celebrar aqueles que têm um envolvimento mais ético e consciente nesse campo. Todos os anos nós promovemos uma campanha diferente que é intensificada em um dia específico, o qual chamamos de Fashion


Revolution Day. Mas, neste ano, pela primeira vez tivemos o Fashion Revolution Week, que compreendeu uma semana inteira de celebração. O mote da campanha foi a pergunta “Quem fez as minhas roupas?”, em que nós incentivamos os consumidores a se questionarem e também a questionarem as marcas. Nossa ideia é voltar a conectar o elo quebrado entre o consumidor e o costureiro, pois muitas vezes nem as próprias marcas sabem quem produziu a roupa que elas vendem. Estamos há pouco mais de dois anos no Brasil. Atuamos nas frentes de conscientização e educação, em que temos nosso maior enfoque, com a realização de palestras nas universidades onde há cursos de moda e outras atividades nesse sentido, pois acreditamos que os novos profissionais são os responsáveis pelo futuro da cadeia produtiva da indústria da moda. Em abril nós tivemos a celebração da Fashion Revolution Week de 2016, quando foram promovidos mais de 40 eventos em 25 cidades diferentes, com a participação de 27 universidades nessas ações. IHU On-Line – Qual é a impor-

“Nossa ideia é voltar a conectar o elo quebrado entre o consumidor e o costureiro” tância de se recuperar o elo entre o consumidor e as pessoas que produzem as roupas? Fernanda Simon – A importância de retomarmos essa ligação é sabermos valorizar as pessoas que produziram as roupas que compramos. O trabalho desses profissionais é muito importante, mas em geral essas pessoas não são valorizadas, acabam escondidas atrás da roupa pronta, e não pensamos em como se dá todo o processo de produção e em que condições e ambientes ele aconteceu. Por conta dessas questões e

do ritmo da fast fashion, a profissão de costureiro acabou sendo desvalorizada pela despersonalização do produto, que são as roupas agora produzidas em grande escala, e pelas longas e exaustivas jornadas de trabalho implementadas para dar conta dessa demanda das grandes marcas de varejo. Então, nosso objetivo é trazer para a discussão esse contexto e fazer com que esses profissionais sejam reconhecidos e valorizados por realizarem um trabalho que também é importante e muito bonito. A moda é muitas vezes um objeto de desejo e de luxo. Também é um produto muito relacionado à nossa personalidade, à história, enfim, diz muito sobre nós e sobre a cultura de onde vivemos. Assim, esperamos que esse luxo e valor sejam empregados ao longo de toda a cadeia produtiva. IHU On-Line – Como o Fashion Revolution chegou ao Brasil? Fernanda Simon – Morei na Inglaterra por sete anos e trabalhei com uma das fundadoras do movimento. Eu também já trabalhava nessa frente da moda sustentável há alguns anos, na área de pesquisas, consultoria e vendas. Na Inglaterra eu comecei a articular o movimento Fashion Revolution Brasil, mesma época em que eu já estava pensando em retornar ao país, e nessa volta eu trouxe essa mobilização para cá. Antes da minha chegada ao Brasil, algumas pessoas já haviam manifestado interesse de se engajar e em seguida formamos uma equipe. Esse grupo atualmente tem colaboradores em diversas partes do país trabalhando nas ações do Fashion Revolution ao longo do ano. IHU On-Line – Deseja acrescentar algo? Fernanda Simon – Gostaria de convidar as pessoas a se engajarem nesse movimento e a refletirem sobre esse tema, questionando as marcas sobre os processos de produção da indústria da moda e reivindicando que valores como sustentabilidade, colaboração, justiça, igualdade sejam considerados pelas companhias e também pelos consumidores, pois todos somos parte dos problemas e das soluções que envolvem a concepção e a circulação desses produtos. Assim, todos nós podemos exigir mais transparência e ética nessa cadeia produtiva e fazer com que as coisas aconteçam de um modo diferente.

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Colunista Marcus Quintella

HAVERÁ LEGADO PARA A MOBILIDADE URBANA DO RIO?

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ão há dúvida alguma que o Rio de Janeiro se encontra positivamente transformado em termos de transporte público, em comparação a 2009, ano da indicação da cidade como anfitriã dos Jogos Olímpicos 2016. Foram realizados grandes investimentos para a melhoria da mobilidade urbana, inclusive obras não constantes do caderno de encargos do COI, mas precisamos ser honestamente críticos sobre os resultados práticos esperados e quais os benefícios que serão usufruídos pelos habitantes de toda a região metropolitana, após o término do evento, como o tão alardeado legado olímpico. A seguir, seguem as minhas análises sobre cada projeto de mobilidade urbana. Os BRT começaram a ser implantados em 2010 e, atualmente, existem 97 quilômetros de corredores exclusivos em operação, TransOeste (Jardim Oceânico-Santa Cruz/Campo Grande) e TransCarioca (Alvorada-Galeão), e outros 58 quilômetros em fase final de construção, TransOlímpico (Barra-Deodoro) e TransBrasil (Deodoro-Centro), totalizando 155 quilômetros. Conceitualmente, por suas características técnicas e operacionais, os BRT do Rio de Janeiro são considerados como um modo de transporte de baixa capacidade, e não de alta capacidade, como divulgado equivocadamente pelas propagandas oficiais, pois conseguem atender, no máximo, em horários de pico, 10 mil passageiros/hora/sentido. Isso caracteriza um transporte de baixa capacidade e explica as superlotações diárias nos

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AGÊNCIA BRASIL

picos matutinos e vespertinos. Portanto, em um futuro próximo, esses corredores de BRT estarão saturados, em virtude do acelerado crescimento demográfico esperado para toda a Zona Oeste. Em suma, modos de transporte de baixa capacidade não são adequados para atender corredores de médias e altas demandas por transporte. Daqui a muitos anos, não posso precisar quantos, esses corredores de BRT deverão ser desativados para dar lugar a um sistema sobre trilhos, provavelmente, metrô, assim como está sendo cogitado em Curitiba, cujo sistema de BRT, pioneiro no Brasil, existente há 42 anos, a cada dia apresenta sinais de saturação e já existe um projeto de metrô pronto para a mudança de modalidade de transporte. Vale ressaltar que o BRT é um excelente modo de transporte, mas como solução para corredores de baixa demanda e, em alguns casos, de média demanda, dado que possuem capacidade para atender até 15 mil passageiros/hora/sentido, ou como alimentador de sistemas de alta capacidade, como trens e metrôs. A Linha 4 do Metrô, grande so-

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nho dos cariocas das Zonas Sul e Oeste, está sendo parcialmente concluída, mas com o seu traçado significativamente modificado. O trecho original da Linha 4, inicialmente imaginado, ligaria o Centro à Barra e teria as seguintes estações: Santo Antônio/ Carioca, Riachuelo, Laranjeiras, São Clemente, Morro de São João/Rio Sul, Largo dos Leões, Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, São Conrado, Jardim Oceânico, Canal de Marapendi, Nova Ipanema e Alvorada. Entretanto, a “nova” Linha 4 modificada, que deve ser vista como uma extensão da Linha 1, passará a fazer a ligação entre as seguintes estações: General Osório (Ipanema), Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, São Conrado e Jardim Oceânico (início da Barra da Tijuca). Existe a previsão de inclusão da estação Gávea, ainda sem data definida para sua conclusão. Essa Linha 4, conectada com a Linha 1, que, por sua vez, tem ligação com a Linha 2, formará um “linhão” de metrô com cerca de 48 km de extensão. Cabe reconhecer que a obra dessa Linha 4 atual foi um grande esforço


DIVULGAÇÃO

do governo estadual, mas não resolverá os graves problemas de transporte público de massa entre Centro, Zona Sul, Barra da Tijuca e Recreio, uma vez que causará uma importante penalização aos seus usuários com a imposição de transferência modal na estação Jardim Oceânico, entre o BRT TransOeste e a própria Linha 4 do Metrô, e vice-versa. Além disso, haverá sérios transtornos operacionais na Linha 1, especialmente nas estações da Zona Sul, em horários de pico, dado que dificilmente as composições terão capacidade para limpar as plataformas, mesmo com intervalos entre trens mais curtos que os praticados atualmente. Certamente, serão necessárias as indesejáveis e difíceis injeções de trens vazios no meio do trajeto para esvaziar as plataformas, entre outras medidas para a melhoria operacional da Linha 1, que experimentará uma complexidade ainda maior com a convivência entre trens de três linhas ao mesmo tempo, ou seja, os da própria Linha 1 e os das Linhas 2 e 4. No caso dos trens suburbanos, o nível de serviço de transporte melhorou muito com os investimentos realizados no sistema, tanto pelo governo estadual, que realizou a compra de 90 trens novos climatizados, como pela concessionária, que adquiriu mais 20 trens novos, implantou um novo sistema de sinalização e vem melhorando as estações, via permanente, telecomunicações e rede aérea. O veículo leve sobre trilhos, po-

pularmente chamado de VLT, é a grande estrela da magnífica revitalização da zona portuária da cidade e modernização da Zona Centro, e conectará o Aeroporto Santos Dumont à Rodoviária Novo Rio, passando pela Cinelândia, Avenida Rio Branco, Praça XV, Praça Mauá, Central do Brasil e Santo Cristo, com integração aos outros meios de transporte, como metrô, trens, barcas, BRT, redes de ônibus convencionais e teleférico. O advento do VLT promoveu uma ampla reorganização do sistema de ônibus no centro da cidade e restringirá a circulação de veículos na região. Por enquanto, o VLT circulará somente ligando o Santos Dumont à Rodoviária, numa extensão de 18 km, ficando os 10 km de trechos restantes para o final deste ano ou início do ano que vem. Em termos viários, houve a ampliação do Elevado do Joá, para a melhoria do acesso entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca, com a construção de duas novas pistas que aumentaram a capacidade desse trecho em cerca de 35% da capacidade viária. Todavia, isso não garantirá ainda o alívio para os congestionamentos diários entre a Barra e a Zona Sul, e vice-versa, praticamente em todos os horários do dia, pois ainda existirão os gargalos das duas pistas do Túnel Zuzu Angel e do trecho de São Conrado. Devemos GOVERNO DO ESTADO DO RIO - HENRIQUE FREIRE

considerar também a requalificação urbana e a duplicação das avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende, na região do Parque Olímpico, com melhorias nas calçadas e ruas, adoção de padrões de acessibilidade, uso de iluminação eficiente e construção de ciclovia. Por falar em ciclovia, a prefeitura investiu no aumento da malha cicloviária da cidade, hoje com quase 450 km de extensão, mas que apresenta muitos problemas como buracos, ondulações, postes e lixeiras no meio das vias, sujeira, invasões de veículos, insegurança e descontinuidade de pistas. Há também carência de mais pontos de integração com os outros modos de transporte, como trens, metrô e ônibus, além de bicicletários e vestiários públicos. Por fim, segundo a Autoridade Pública Olímpica, legado é um conjunto de obras de infraestrutura e políticas públicas nas áreas de mobilidade, meio ambiente, urbanização, educação e cultura que foram aceleradas e viabilizadas pelo fato de a cidade do Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos. Para o Dicionário Online de Português, legado pode ser definido como aquilo que é passado às gerações que se seguem. Com esse entendimento de legado e com base nas informações passadas neste artigo, espero ter contribuído para que o leitor possa tirar suas próprias conclusões, pesquisar mais sobre o tema e responder à questão formulada no título deste artigo. (*) Marcus Quintella (mvqc@uol. com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Mobilidade. É Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.

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Colunista Marília Melo

SEGURANÇA HÍDRICA OU SANEAMENTO EFICIENTE?

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s moradores da Região Sudeste do país atentaram-se recentemente para um fato: a água pode faltar! A crise hídrica, conforme designado pela grande mídia entre 2014 e 2015, aterrorizou as populações dos grandes centros urbanos do Sudeste. Uma conjunção de fatores desfavoráveis históricos e atuais, entre eles um período de estiagem prolongada e severa produziram a crise. Entretanto foi atribuída a este fator quase toda a responsabilidade sem um aprofundamento da verdadeira origem do problema. Há de se iniciar a reflexão pelo modelo de desenvolvimento urbano que favorece a concentração populacional em poucas grandes cidades, cujos territórios têm uma limitação

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de recursos naturais disponíveis ao uso, dentre os quais está a água. Outro ponto é a visão utilitarista da água, que agregada à cultura da abundância hídrica brasileira, promove o uso sem critérios de eficiência ou sem uma visão sistêmica de como garantir a reposição da água para a sustentabilidade desses usos. Por fim, a despreocupação com o descarte nos rios, que, historicamente viraram local de lançamento do que não se deseja por perto, como o lixo ou o esgoto, deteriorando a qualidade das águas. Pensando esta realidade em números temos: no Brasil 84,4% da população mora em área urbana, sendo que no Sudeste este percentual é 92,9 % (IBGE, 2010). O Sudeste representa 47% da demanda média total de abastecimento urbano de

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água no país (ANA, 2010) e trata apenas 45,7% do esgoto gerado (SISIS, 2014). Ainda achamos que a falta de água foi só por falta de chuva? Os números traduzem cenários: o setor de saneamento de um lado busca água de boa qualidade, mesmo que em locais distantes ao local de uso, com o objetivo de minimizar o custo do tratamento de água e garantir os padrões de potabilidade. Por outro, despreza o investimento em tratamento e lança os efluentes domésticos in natura ou com níveis de eficiência insuficientes para manutenção da qualidade da água compatível com os usos no território urbano. Esta conta não vai fechar! Já em 2010 a Agência Nacional de Águas- ANA havia publicado o


Atlas do Abastecimento Urbano no Brasil que alertava que 46% das sedes municipais requeriam ampliação do seu sistema de abastecimento de água, sendo este percentual para o Sudeste de 39%. Nossos sistemas de abastecimento público, carentes de investimentos, demonstram sua obsolescência também nos índices de perda no sistema de distribuição que no Sudeste é em média 36,9% (Trata Brasil, 2013). Em suma, temos um quadro de adensamento populacional em um território que possui uma alta e concentrada demanda de água, cujos sistemas de abastecimento são insuficientes e ineficazes e cujas águas se encontram poluídas pelo descarte de esgoto sem tratamento. Tudo isso aliado a deficiência de gestão pública, que por cultura brasileira não contempla o planejamento, colapsou o abastecimento em grandes cidades do Sudeste. Como assegurar água para as atuais e futuras gerações? A ONU conceitua segurança hídrica como “A capacidade de uma população de salvaguardar o acesso sustentável a quantidades adequadas de água de qualidade para garantir meios de sobrevivência, o bem estar humano, o desenvolvimento socioeconômico; para assegurar proteção contra poluição e desastres relacio-

nados à água, e para preservação de ecossistemas em um clima de paz e estabilidade política”. (ONU,2013) O conceito da ONU reflete o pensamento sistêmico da gestão das águas, que se preocupa com a quantidade de água, mas também com a sua qualidade, e entende a água como garantia de desenvolvimento social e econômico para o bem-estar humano. Como todos os recursos naturais a abordagem da sustentabilidade é cíclica, não se garante o uso caso não se preserve, se conserve, se trate e reponha ou restaure o recurso. Esta visão integrada está distante da prática das políticas públicas Brasileiras na abordagem da água, que, ao contrário, compartimenta o problema e suas soluções. E em uma visão linear, não entende que o cuidado com a água é a garantia de sustentabilidade do abastecimento público e de desenvolvimento econômico e social de toda a população. O que tivemos então, uma crise hídrica ou uma crise do setor de saneamento? A resposta é simples: as duas coisas! A solução requer também uma visão integrada da água com o saneamento. O investimento em saneamento deve ser priorizado dentro do sistema de sustentabilidade hídrica. Planejar, executar e gerir de maneira

integrada a política da água, desde a sua oferta até a demanda. Entender que planejar e investir em tratamento dos esgotos gerados nas cidades significa aumentar a oferta de água, uma vez que uma parcela de água que até então estava indisponível, por requisitos de qualidade, tornar-se-ão novamente disponíveis para os diversos usos. Ainda na gestão da oferta, o incentivo do aproveitamento de águas pluviais deve ser ampliado, além de apoiar o sistema de drenagem urbana, as experiências internacionais demonstram que a sua utilização diminui a demanda de água nova em cerca de 50%. Na gestão da demanda, incentivos ao uso eficiente de água deve se iniciar no combate às perdas no sistema de distribuição do próprio setor de saneamento e se estender por uma ampla mobilização da sociedade na conscientização do uso racional da água nas atividades cotidianas e no uso em escala. Relacionar os aspectos da hidrologia com a saúde deve ser uma das prioridades e o desafio dos governos e de organizações relacionadas. Os cidadãos e o poder público devem se unir na defesa da água. Os investimentos em saneamento são investimentos em segurança hídrica. A crise não deve ser esquecida, mas deve oportunizar um novo ciclo de investimento no setor de saneamento. Não faltou só chuva!

(*) Marília Melo (mariliacmelo@ yahoo.com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É Engenheira Civil, mestre em Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos pela UFMG e doutoranda em Recursos Hídricos pela UFRJ. É a servidora do Instituto Mineiro de Gestão das Águas do governo de Minas, já foi diretora de monitoramento e fiscalização e Diretora Geral do IGAM, e secretária adjunta e atualmente é subsecretária de fiscalização ambiental e professora universitária.

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Colunista Jetro Menezes

ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA PARA UMA UTOPIA SUSTENTÁVEL. DIA DO MEIO AMBIENTE É PARA SEMPRE!

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esquisei num site bem usado por todos nós a palavra “sustentabilidade” e apareceram mais de 23.400.000 (Vinte e Três Milhões e Quatrocentos Mil) resultados. Depois, pesquisei a expressão “meio ambiente” e encontrei o dobro da anterior, ou seja, 44.800.000 de links para viajar. Continuei a pesquisa e fiz uma busca por “crimes ambientais no Brasil” e apareceram 625.000 resultados. Mais adiante fui atrás de “gestão de resíduos no Brasil” e, pasmem, vieram 3.640.000 resultados. Tentei ainda a expressão “educação ambiental no Brasil” e... surgiram 935.000 resultados. (Destes, mais de 90% artigos acadêmicos.). Para finalizar a pesquisa de curiosidade, digitei “água no Brasil 2015” e o resultado foram 21.400.000 de links para consulta. Pois bem, qual o significado dessa pesquisa? Qual a finalidade? O que o autor deste artigo espera com isso? Espero que você tenha percebido o mesmo. São milhões de pessoas escrevendo, falando e publicando informações nas redes sociais e o resultado prático no ambiente é insuficiente. Temos tido impacto positivo de baixíssimas proporções em defesa do meio. Um caso bom ali, outro acolá e nada de impressionante. Sequer uma política pública que sirva de referência para as cidades brasileiras. O abastecimento de água em São Paulo; a escassez d`água nas repre-

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sas; o lixo nos córregos e rios... Você sabia que existem Comitês e Subcomitês de Bacias Hidrográficas no Brasil? (Pesquisei “subcomitês de bacia” e o resultado foi 11.900 links para pesquisa e consulta). Acredito que a publicação de artigos acadêmicos, sites de empresas da área de meio ambiente, estudos e pesquisas sobre o tema têm de ser melhor divulgados e disponibilizados nas redes sociais. Todos nós temos que fazer isso: compartilhar ideias e informações que possam contribuir com um mundo mais saudável. Mas, a prática na sociedade tem sido diferente. Por que se fala tanto em meio ambiente e as respostas positivas causam impacto tão baixo? O que falta para as pessoas incorporarem hábitos mais saudáveis e ecologicamente corretos no seu dia a dia? Coisas simples, do tipo separar os resíduos para a reciclagem e doá-los para uma cooperativa ou levá-los até um ponto de entrega. Evitar embalagens supérfluas. Adotar uma caneca. Andar menos de carro, para viagens curtas. Fazer compostagem em casa (já existem composteiras de uso

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caseiro). Vale também criar um site para contribuir com a educação/alfabetização ambiental. Ajudar uma associação ecológica. Plantar uma árvore. Ou duas. Ou três. Organizar a coleta seletiva no condomínio. Promover oficinas de arte com sucatas. Estu-


dar mais a área de meio ambiente. Ler bons livros sobre o tema. Fazer cursos nesta área, assistir palestras, debates, vídeos na internet, documentários. Fazer uma faculdade de Gestão Ambiental, de Biologia e tantos outros cursos de excelente qualidade em meio ambiente, inclusive gratuitos. É preciso fazer a diferença! Sabe aquela história do beija-flor levando água no bico para apagar o incêndio na floresta? Então... parecia uma grande loucura um pequenino pássaro tentar apagar o fogo em uma floresta. Mas o intrépido passarinho fazia a parte dele. Ou seja, precisamos encontrar uma maneira de tornar a prática no cotidiano das pessoas cada vez mais voltada para a preservação e os cuidados

com o meio ambiente. Nós precisamos mais do meio ambiente do que ele de nós. Se a raça humana for exterminada da Terra o meio ambiente se recupera em poucos anos. O meio ambiente merece um cuidado mais efetivo, portanto. Ele nos fornece todos os dias da nossa vida na Terra: ar, água e o solo para produzir os alimentos para o nosso bem-estar. Não vivemos sem o meio ambiente! Experimente viver sem água, sem terra para plantar, sem a natureza para contemplar, sem o ar puro para respirar, ao menos um dia. Existe uma máxima que surgiu durante a ECO-92: “Pensar globalmente, agir localmente”. Faça uma experiência: pense no lixo produzido em todo o Planeta e faça a sua parte no carro, em casa, na comunidade, na empresa, no município. Da mesma forma, estenda isso para outras áreas do meio ambiente. Faltam árvores no meu bairro? Junte um grupo de vizinhos e amigos e plante. A resposta do autor para as pesquisas no começo do texto está diretamente relacionada às posturas que todos nós adotamos na vida. Precisamos ter vontade de mudar. Vontade de fazer a diferença e fazer diferente. Temos que reprogramar alguns conceitos que estão em nós e fazer mudanças positivas para a coletividade. É hora de incorporar as atitudes no cotidiano. Isso é mudança de caráter, de postura, ética, revolucionária, altruísta e que pode causar um impacto de grandes proporções n a

preservação do meio ambiente. Em 2012, o autor deste artigo apresentou uma monografia para a conclusão do curso de pós-graduação em docência superior com o tema: “POR UMA ABORDAGEM MAIS CRÍTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR - A FORMAÇÃO DE CIDADÃOS ECOLÓGICOS”. O que nós aprendemos até o presente momento sobre a preservação do meio ambiente já é o suficiente para agirmos. Este recado serve para mim, para você, para a sua família, para a nossa comunidade, para todos os políticos, para as empresas, para as igrejas e todos os religiosos e também para os ateus. Ou seja, para todos os que necessitam de ar, água e solo para sobreviver. Como já disse anteriormente, não podemos e nem conseguimos viver um dia sem ar. Não podemos esperar um salvador da pátria que vai, num passo de mágica, transformar a realidade. Temos que nos comprometer com as respostas positivas. O momento é agora. O futuro é agora. Não podemos esperar que a futura geração se responsabilize pelos nossos erros. Temos que começar a praticar hábitos mais saudáveis hoje, para que os próximos seres humanos, dotados de inteligência e feitos à imagem e semelhança de Deus, possam continuar a praticar as boas ações que deixamos de exemplo. Se a gente sabe o que deve ser feito, por que a gente não faz? (*) Jetro Menezes, 47 anos, é Colunista colaborador de Plurale. É gestor ambiental com especialização em saneamento ambiental. Professor na pós-graduação do SENAC Jundiaí no curso de Gerenciamento de Resíduos. Professor na Oficina Municipal na área de gestão de resíduos e coleta seletiva. Consultor Técnico na ONG Ecocultural. Coordenou o Programa de Coleta Seletiva na Prefeitura de São Paulo e implantou a coleta seletiva em algumas cidades. Site: jetromenezes.wix.com/lixologo

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Pelo Brasil

Eventos SBRio 2016 e a primeira Conferência Ethos no Rio marcaram a agenda carioca Do Rio

O Rio de Janeiro foi palco de dois relevantes eventos com foco em sustentabilidade em junho. A tradicional Conferência Ethos teve a sua primeira versão carioca e o também relevante SBRio ganhou uma nova edição no reurbanizado Centro histórico da Cidade Maravilhosa. Em ano olímpico, não por acaso as duas conferências aconteceram no Rio, pouco antes da realização dos Jogos Olímpicos e em locais que remeteram – diretamente – ao megaevento esportivo e seu legado. A Conferência Ethos carioca teve como cenário o novíssimo Bossa Nova Mall, junto ao Aeroporto Santos Dumont, em vista deslumbrante da Marina da Glória e a Baía de Guanabara. Já o SBRio 2016 foi realizado no Armazém da Utopia, na área portuária antes desativada que agora renasce com a derrubada da Perimetral e descortina o belo casario histórico com o passeio a pé ou de VLT no Calçadão Luiz Paulo Conde, prefeito carioca falecido que um dia sonhou com todas estas transformações agora em curso. Ambos eventos foram inovadores não só na escolha da localização, mas também no formato e, especialmente, em suas abordagens. A Conferência Ethos em versão carioca seguiu o mesmo modelo 360º da bemsucedida e consagrada Conferência paulista, este ano a ser realizada em setembro. Só que em versão pocket, mas nem por isso menos reflexiva: se em São Paulo são realizadas sete palestras sobre diferentes temas ao mesmo tempo a cada rodada, no Rio foram três simultâneas. Os ouvintes – e também o palestrante – usam fones de ouvido e as falas

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são transmitidas pelos aparelhos e microfones, o que facilita também as traduções e o ambiente fica absolutamente silencioso. Quem ainda não conhece este formato é muito interessante. No Ethos foi possível ouvir importantes conferencistas sobre temas mais do que atuais como a transparência dos Jogos Olímpicos no Rio, clima, a corrupção, indicadores, combate ao trabalho escravo e a diversidade dentro das empresas. A gerentegeral de Sustentabilidade da Rio 2016, Tânia Braga, apresentou os esforços dos organizadores em fazer esta Olimpíada no Brasil a mais transparente possível. No entanto, de acordo com estudo divulgado pelo Instituto Ethos no evento, nenhum dos três níveis de governo analisados conseguiu atingir 50% do Índice de Transparência dos Jogos Rio 2016. A Prefeitura do Rio de Janeiro foi o nível de governo mais bem colocado no Índice de Transparência dos Jogos Rio 2016, ficando à frente do governo federal e do governo estadual. No entanto, sua avaliação foi ruim: fez apenas 40,93 pontos em uma escala que varia de zero a 100. O governo federal, ficou logo atrás, com 38,42 pontos. Já o estadual obteve apenas 23,86 pontos Um dos painéis mais concorridos na Conferência Ethos foi o que reuniu especialistas sobre a Lei Anticorrupção. Rafael Jardim, titular da Secretaria Extraordinária de Operações Especiais e Infraestrutura do TCU participou de diálogo sobre o tema e reiterou: “Por que a lei é Anticorrupção? Porque é decisiva na prevenção, detecção e punição de atos ilícitos”. O Sustainable Brands é a maior comunidade global de profissionais dispostos a utilizar a sustentabilidade como direciona-

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dor de negócios e de geração de valor das marcas. No SBRio 2016, o convite já destacava o foco da conversa: propósito, interligado às marcas e pessoas que fazem diferença. Como o famoso arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum que apresentou os resultados de projeto envolvendo comunidades carentes, como no interior do Piauí, através do Instituto A Gente Transforma. Depois de muito procurar e conversar com moradores locais da pequena cidade de Várzea Queimada, Marcelo e equipe descobriram cestos de palha velhos que eram produzidos pelas senhoras mais velhas. “Mostramos que aqueles objetos tinham valor, todos produziram novos e levamos inclusive para editoriais de moda com modelos internacionais”, contou. Não foi só. Uma roda de diálogo sobre moda mostrou não só o lado da inovação, mas também o perigo de uma indústria altamente poluidora e geradora de resíduos no mundo. Também no SBRio 2016, representante de uma grande empresa de distribuição de energia elétrica, com controladores globais, apresentou modificações no programa de bonificação anual, sugerida por funcionários. Como no ano passado 20 empregados e colaboradores tinham falecido e/ou ficado inválidos permanentes com acidentes de trabalho, a decisão foi de atrelar a divisão das bonificações não só por métricas financeiras e de resultados operacionais, mas também de indicadores socioambientais. Enfim, temas para refletir e repensar a economia deste século. Não é fácil, mas com reflexão e propósito o caminho promete ser, ao menos, mais seguro.


Lançado o Primeiro Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros SÔNIA ARARIPE

Do Rio

A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) promoveu, no dia 29 de julho, o I Encontro de Sustentabilidade e Inovação do Setor de Seguros, no Rio de Janeiro. Durante o evento, foi lançado o 1º Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros, elaborado de acordo com as diretrizes e indicadores Global Reporting Initiative (GRI). Este modelo favorece a organização do conteúdo e a comparabilidade dos indicadores do setor, com os de cada empresa integrante ou os de outros setores da economia. Nele, além de uma visão geral, estarão resumidos os mais importantes acontecimentos e destaques do ano de 2015 referentes à CNseg e as suas quatro federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap). Mais de 100 pessoas participaram do evento, promovido pela CNseg, em sua sede, no Rio de Janeiro. A cerimônia de abertura contou com a participação do presidente da CNseg, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, do diretor-presidente da ANS, José Carlos de Souza Abrahão, do diretor presidente da instituição de ensino superior Insper, Marcos Lisboa, e da presidente da Comissão de Sustentabilidade e Inovação da CNseg, Fátima Lima. A abertura do evento ficou a cargo do presidente da CNseg, Marcio Coriolano, que acredita que a participação de soluções de seguro inovadoras são fundamentais para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas, para a diminuição do ritmo de perda de biodiversidade e até mesmo para a redução da pobreza e erradicação da fome. “O debate sobre esses desafios e soluções vêm ganhando espaço na agenda do setor de seguros. O mercado está atento aos riscos socioambientais e às oportunidades de negócio oferecidas pela economia de menor impacto”, pontuou. Na visão de Coriolano, a atividade seguradora, alicerçada nas vertentes da subscrição, gestão de riscos e formação de garantias, está posicionada como protagonista na

busca do desenvolvimento sustentável. “Significa dizer que o principal componente operacional das empresas de seguros é a visão de futuro. O futuro desta e das novas gerações”, analisou. Para o executivo, é por meio da avaliação, do gerenciamento e da assunção de riscos que o setor ajuda a proteger a sociedade, promover a inovação e sustentar o desenvolvimento econômico. Em destaque, a programação do encontro trouxe a palestra “Liderança em Sustentabilidade”, que foi ministrada pelo economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa, e o painel “A jornada de sustentabilidade do mercado segurador colombiano”, que contou com a participação da diretora de Inclusão Financeira e Sustentabilidade da Federação Colombiana de Seguradoras (Fasecolda), Alejandra Diaz. O evento teve ainda um painel voltado à jornada de sustentabilidade e inovação no mercado segurador brasileiro e uma mesa-redonda inti-

tulada “Caminhos para o futuro: sustentabilidade e inovação”, que reuniu representantes de diversas seguradoras.

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Pelo Brasil

Especial

Pacto Global da ONU reconhece Sonia Consiglio Favaretto como uma “2016 Local SDG Pioneer” Do Rio

No dia 22 de junho, no UN Global Compact Leaders Summit 2016, em Nova York, Sonia Consiglio Favaretto, diretora de Imprensa e Sustentabilidade da BM&FBOVESPA, foi anunciada como uma das dez “2016 Local SDG Pioneers”. A diretora da Bolsa foi reconhecida por seus esforços relacionados com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8 sobre Trabalho Decente e Crescimento Econômico. Lançado em 2016 como parte da campanha “Making Global Goals Local Business” do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), o Programa Local SDG Pioneer reconhece pessoas que estão demonstrando como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável podem ativar negócios para alavancar ganhos econômicos, sociais e ambientais para o mundo. Mais de 600 indicações foram recebidas de 100 países entre fevereiro e abril de 2016. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 -adotados por líderes mundiais em setembro de 2015 numa histórica Cúpula da ONU - entraram oficialmente em vigor em 01 de Janeiro de 2016. Ao longo dos próximos quinze anos, com esse novos Objetivos, que são universais, os países vão mobilizar esforços para acabar com todas as formas de pobreza, lutar contra as desigualdades e combater as alterações climáticas. “Cada um dos 10 Pioneiros exemplifica como os negócios podem ser uma força para o bem no enfrentamento dos desafios que temos como uma sociedade global”, disse Lise Kingo, Diretora Executiva do Pacto Global da ONU. “A Sra. Favaretto tem mais de uma década de trabalho promovendo a transparência e a sustentabilidade no mercado de capitais do Brasil. Seus esforços para integrar os ODS em produtos e serviços de mercado a fazem uma Pioneira para bolsas de valores”. Os pioneiros são compostos por empreendedores que estão apoiando e promovendo a sustentabilidade através de

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seus modelos de negócios e por agentes de mudança que estão mobilizando a comunidade empresarial para atuar em favor dos ODS. O Grupo de Seleção dos Pioneiros, composto por especialistas da ONU, academia, sociedade civil e do setor privado, classificou os nomeados com base num conjunto de critérios, resultando nos dez “2016 Global Compact Local SDG Pioneers”. Nos próximos anos, o programa vai se tornar uma parte vital entre as prioridades da organização para cumprir as metas globais através de atividades de negócios locais. “Ter sido escolhida para o primeiro grupo de SDG Pioneers é uma honra, um privilégio e uma responsabilidade”, disse

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Sonia Favaretto. “Representa o reconhecimento por anos de trabalho lutando para construir um mundo verdadeiramente sustentável, que reavalia os seus padrões de produção, consumo e comportamento, mas, acima de tudo, que reavalia a sua própria mentalidade. Ele comprova que este mundo é um sonho alcançável e realista e que está próximo de se tornar realidade. Como uma SDG Pioneer, com o importante apoio e a credibilidade do Pacto Global da ONU, espero ter ainda mais visibilidade, redes e contatos que me permitam intensificar as ações da BM&FBOVESPA e do mercado de capitais brasileiro pelo avanço dos SDGs. Esta é uma jornada estratégica e irrevogável”.


Prêmio von Martius de Sustentabilidade terá este ano uma Categoria Edição Especial /Start up - Recursos Hídricos De São Paulo

A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, no ano 2000, criou o Prêmio Ambiental von Martius que, a partir de 2007, passou a ser chamado de Prêmio von Martius de Sustentabilidade. O prêmio tem a intenção de reconhecer projetos de todo o País que promovam o desenvolvimento socioeconômico e cultural, alinhado ao conceito de sustentabilidade. O prazo para inscrições é até 12 de setembro: inscrições para quaisquer categorias são gratuita tanto para associados quanto para não associados da Câmara Brasil-Alemanha. O Prêmio von Martius é um dos mais importantes do setor, desde sua primeira

edição até hoje, 1.906 projetos foram inscritos nas categorias Natureza, Humanidade e Tecnologia. O objetivo da premiação é reconhecer o mérito de iniciativas de empresas, do poder público, de indivíduos e da sociedade civil, as quais promovam o desenvolvimento econômico, social e cultural no contexto do desenvolvimento sustentável. Comemorando os 100 anos da Câmara de Comércio e Indústria BrasilAlemanha, o Prêmio von Martius de Sustentabilidade terá no ano de 2016 uma Categoria Edição Especial /Start up -Recursos Hídricos. Mais informações estão disponíveis no site http://www.premiovonmartius. com.br/ .


Especial

A vida no

CAMPECHE

Reza a lenda que esse bairro de Florianópolis foi batizado pelo autor de O Pequeno Príncipe. O aviador francês teria poetizado algo como “champ de pêche”. O fato é que há peixes, pesca e um campo fértil para a beleza e o bem viver!

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Texto: Raquel Ribeiro, Especial para Plurale De Florianópolis (SC)

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Fotos: Ronaldo Andrade e Raquel Ribeiro

odo país tem sua história. Assim como toda cidade, bairro ou rua. Cada morador é um mundo, basta a gente dar um pouquinho de corda, ouvir com atenção e ir atiçando suas memórias. Em fevereiro deste ano, vim morar em Florianópolis – mais especificamente no bairro do Campeche – e ainda hoje ando por esse belo naco do sul da Ilha de Florianópolis com interesse de viajante. Reparo no chão de areia, no nome das ruas, nos quintais repletos de frutíferas, nas casas discretas, nas corujas buraqueiras e nos barulhentos quero-queros. Começo a me acostumar com o constante sobe e desce de aviões (o bairro fica exatamente na rota do aeroporto), com o trânsito orquestrado pelo bom-senso sem ajuda de antipáticos semáforos, com a cachorrada latindo e com o famoso vento sul, que subitamente fecha o tempo. Em poucos dias, descobri estar em um bairro muito especial da “ilha da magia”. Não exatamente por conta de histórias de bruxas e lobisomens, contadas pelos antigos, ou pelo agradável impacto de mergulhar num mar limpo, onde a pesca mantém-se artesanal. O que o torna especial é o conjunto da obra. No verão, o Campeche lembra uma cidadezinha litorânea invadida pelos hermanos e surfistas de outros sotaques: as pessoas vivem de havaianas, circulam de bike com a prancha a tiracolo e lotam o comércio no fim do dia. Passado o Carnaval, os “manezinhos da ilha”, como são chamados os nascidos em Florianópolis, retomam seu ritmo: cumprimentam os vizinhos, curtem a praia sem culpa e cuidam do corpo como poucos brasileiros. A valorização da vida saudável se evidencia também na quantidade de lojinhas de produtos orgânicos, de estúdios de yoga ou tai chi... Em geral, sota-


ques de outras terras vigoram nesses charmosos estabelecimentos. Como o do paulista Rodrigo Câmara, produtor cultural da Aldeia Índigo, um espaço focado em autoconhecimento e que é ponto de referência de comida vegana. No gramadão em frente ao restaurante, um grande barco de madeira convida os pequenos a fazer estripulias. Há cinco anos no Campeche, Rodrigão trabalha na promoção de feiras culturais, de troca e em eventos que promovem arte e artesanato. Ali há festas como a dos Gnomos, a das Fadas e o teatro de fantoches. “A Aldeia é um ambiente muito familiar”, resu-

me. Eu diria mais: o Campeche é família, traz sensação de segurança e aconchego. Existe por exemplo, a cultura da carona – em três ocasiões facilitei a vida de jovens e, no breve trajeto, soube um pouco de suas vidas. Seria lindo afirmar que aqui podemos dormir de portas abertas e que a violência não ultrapassa os limites do bairro. Não chega a tanto, mas reparei em como está bem difundida a campanha “vizinhança solidária”, por exemplo. Um morador avisa o outro, as pessoas se falam pelo WhatsApp e a rede de informação se fortalece. Já compramos um apito e instalamos a

pl a qu i n ha no muro. Aliás, essa é outra característica do sul da ilha: a arte nos muros! Painéis com aves há de todos os estilos. E referências ao surf, ao mar, à paz. Próximo à Sociedade Amigos do Campeche há diversos desses muros – um convite, talvez, a deixar a arte entrar no nosso dia a dia, pois ali há aulas de yoga, dança e percussão por um preço simpático. Quem entra no amplo salão nas tardes de quinta se contagia com o ritmo africano, forte, intenso, sensual, que remete às

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Especial nossas raízes. Apesar de aqui a colonização ter sido marcadamente açoriana, negros e índios deixaram suas marcas; assim como povos pré-históricos. A Ilha do Campeche, visível em toda a orla do bairro, preserva mais de cem inscrições rupestres em vários sítios arqueológicos. Tombada pelo Iphan, essa bela ilha tem visitação controlada, é base de estudo para estudiosos e durante um bom tempo atraiu madeireiros por conta do pau-campeche –árvore que contém um pigmento natural, a exemplo do pau-brasil. Por conta do extrativismo, a mata nativa chegou a ser substituída por plantações de mandioca que alimentavam os pescadores. Com o tombamento, a vegetação original voltou a ocupar uma boa parte da ilha. Como sua ocupação é anterior à do bairro, é bem provável que ela seja responsável pelo seu nome – e não Saint-Exupéry... Luta pelo PACUCA Na década de 1920, aviadores franceses pousavam no campo de aviação do Campeche, um dos primeiros do sul do país, para escala do trajeto Paris-Buenos Aires do correio aéreo da Societé Latecoère. Nessa época, o célebre Saint-Exupéry compunha a frota comercial e há vários relatos de que cativou amigos entre os pescadores. Contam que o piloto era chamado de “Zé Perri” e que chamava o lugar de Champ de Pêche (Campo de Pesca) – por corruptela teríamos Campeche. Verdade ou não, o escritor foi devidamente homenageado: a principal avenida do bairro se chama Pequeno Príncipe. Outro marco do tempo em que o enorme gramadão em frente ao mar era um campo de aviação é o Morro do Lampião. Nas noites de pouso de aeronaves, morado-

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res levavam lampiões para o alto desse morro, orientando assim os pilotos. Hoje, tanto o Morro do Lampião quanto o antigo campo de aviação estão na pauta de reivindicações dos moradores, que querem preservação ambiental e mais áreas públicas para lazer. Historicamente os moradores do Campeche demonstram força para conquistar um Plano Diretor democrático. “Em 1990 já éramos conhecidos como a comunidade comunista do Campeche”, brinca Karine Antunes, coordenadora pedagógica da Escola da Fazenda e uma articuladora nata. Tanto ela pessoalmente como a escola, cujo lema é “conhecimento à serviço da transformação”, têm forte atuação social. Todo ano, turmas do ensino fundamental sobem o Morro do Lampião para valorizar esse patrimônio geográfico e histórico; há mobilização para recolher o lixo na Avenida Pequeno Príncipe, na praia e nas dunas; e desde 2003 a escola faz a passeata do Dia Sem Carro, um trabalho integrado de desenvolvimento educacional, político e ambiental dos alunos. O ato, somado à entrega de vários abaixo-assinados, funcionou: hoje há ciclovia nessa avenida. Karine conta que sem a presença marcante da comunidade, o bairro teria outra cara. Um megaprojeto planejava para a região a construção de prédios para abrigar até 450 mil habitantes, com implantação de sistema viário, parque tecnológico, autódromo e shopping! Os moradores rejeitaram esse Plano Diretor e apres e nt a r a m um plano

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KARINA ANTUNES

de desenvolvimento sustentável de acordo com a Agenda 21, como o tombamento do Campo de Aviação para a criação do Parque Cultural Campeche (PACUCA), onde está previsto também um parque ecológico com uma estação de reciclagem e de educação ambiental. O bacana é que, enquanto esse belo projeto continua no papel, ao menos uma fatia da área verde é nobremente utilizada como Pátio de Compostagem. “Nossa instalação é precária, sem verba e sem estrutura, mas estamos compostando em média 300 quilos ao dia”, afirma Eduardo Rodrigues, que com ajuda de um parceiro coleta, todos os dias, os resíduos orgânicos de dez restaurantes. Esses estabelecimentos participam por puro idealismo, pois ainda não entrou em vigor a Lei 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos, que visa a divisão das responsabilidades entre a sociedade, o poder público e a iniciativa privada. Moradores do bairro também levam seus baldinhos com restos orgânicos e ajudam a cuidar da horta. O húmus (resultado da compostagem) alimenta essa horta comunitária e outras do bairro. Uma delas inclusive fica na minha rua! São apenas três canteiros, tem gente que arranca mudinhas e outras largam entulho. Mesmo assim ela é um exemplo de que podemos sonhar com um futuro menos egoísta. Se assim é na terra, na água funciona igual: ainda tem casa despejando esgoto no mar do Campeche. Apesar disso, a água em quase todos os trechos da praia é limpa, com muitos peixes. Os cardumes passam pelas nossas pernas e a pesca das gaivotas é intensa. Em vários pontos, para se chegar à praia é preciso atravessar trechos de dunas, cercadas de vegeta-


gar as dívidas e hoje vive uma vida suave. Vejo que muita gente está na ilha por se identificar com a mesma calmaria. É o caso do artista plástico Márcio Guimarães, um apaixoMÁRCIO GUIMARÃES nado pelo Boi-de-Mamão, uma secular manifestação folclórica de dança, teatro e cantoria em torno do tema épico da morte e ressurreição do boi. Esse alegre folguedo ocorria anualmente na ilha, envolvendo jovens em diversos grupos, mas desção nativa. Outro dia, minha filha encon- de os anos 1970 foi morrendo com a controu um ninho de coruja! A natureza corrência das discotecas e do videogame. preservada proporciona a visão de outras Mesmo assim, Márcio continuou confecaves, como a famosa gralha azul, tucanos, cionando e hoje usa a técnica da papietapica-paus, centenas de quero-queros, mui- gem – colagem de papéis sobrepostos que tos gaviões e passarinhos. O único animal dão forma aos personagens do Boi-de-Maque incomoda no bairro é o cachorro! Há mão. “Era uma brincadeira, virou profissão e agora é filosofia de vida”, conta o artista tantos que seu apelido é Cãopeche. que passa o dia no seu pequeno ateliê na Av. Vale a pena usar de novo Para circular na área é preciso entender a Pequeno Príncipe, com assessoria de sua história da ilha. Por ser terra da marinha, as parceira, Glaucimare. Ali, o casal produz e ocupações foram de usucapião. Assim, em expõe as peças folclóricas que vez de rua, quase tudo é “servidão”, forman- encantam a todos. “Antigamente, o do uma teia nada lógica de transporte. A segredo do sunossa, de areia, tem nome prosaico, Nelson. Mas me encanto com Rua Revoar das Gaivotas, Vento Sul, dos Poetas, das Garças, Mar Azul; Recanto das Dunas, Catavento, das Pitangas, das Palmeiras; Travessa das Flores e da Liberdade. Andando por esse labirinto cercado de pastos meio abandonados, achei preciosidades no comércio local: chamou minha atenção, além da cordialidade no trato, o número de brechós de roupas e acessórios. Peças boas por dois, cinco, oito reais – um belo incentivo à moda sustentável! Na Avenida Pequeno Príncipe conheci um sapateiro chamado Cavalheiro, unindo assim a gentileza no atendimento à reutilização dos calçados. Ele chegou a ser um megaempresário da moda: sua fábrica no Rio Grande do Sul produzia modelos para marcas famosas e exportava grandes quantidades. Até levar três calotes seguidos... Cavalheiro vendeu tudo para pa-

cesso da brincadeira estava no medo causado às crianças, por causa do ambiente noturno e do método rústico na maneira como os personagens eram produzidos. A Maricota, por exemplo batia no público com seus enormes braços. Hoje ela só dança alegremente, porque o folclore atingiu o interesse pedagógico e o público tem de dois a seis anos”, explica Márcio. Filho de pescador, Márcio gosta também de falar do lado místico do Campeche, diz que o pai fazia armadilha para bruxa e sabia identificar se algum inseto era uma delas metamorfoseada. Em quase três meses no Campeche sei que há muito a desvendar; bruxas, por exemplo, ainda não vi. Caminhando pela praia à noite, porém, com iluminação apenas ao longe, o som onipresente do mar, vento cantante, areia deserta, imaginei como corria solta a fantasia dos primeiros moradores e visualizei Saint-Exupéry divagando sobre o livro que faria do Petit Prince um amigo de tantas crianças. Talvez ali teria criado uma das ilustres falas do personagem: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos.”

ALDEIA INDIGO


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Educação

Vem aí uma geração mais capaz! Por Nícia Ribas, de Plurale Do Rio de Janeiro Fotos: Escola Parque, SOS Mata Atlântica e Nícia Ribas

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ês de maio, manhã de sábado. Os portões da Escola Parque da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, estão abertos para o evento “Educar para a sustentabilidade”. O programa vem sendo desenvolvido desde a Rio + 20 e envolve alunos da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Eles criaram a Rio + 20 + 5, com um plano de metas a serem atingidas no período de 2013 a 2017. O alvoroço de crianças do ensino fundamental puxando seus pais e avós para dentro daquele mundo que é a sua segunda casa, dá um ar de festa ao evento. No entanto, eles estão tratando de assunto sério: conhecimento sobre sustentabilidade e respeito à natureza. Logo na entrada, Murilo, oito anos, explica a sua mãe como ocorre a compostagem e até cata uma minhoca com a mão, demonstrando intimidade com o processo. Mais adiante, oferece ao avô o poste de bambu alimentado com energia solar para carregar seu celular. Ele se orgulha de fazer parte da sua Escola. Ali novas gerações de brasileiros, certamente com melhores condições de organizar e administrar este imenso País, estão em formação. Educador que inspirou a criação da Escola Parque há 45 anos, Anísio Teixeira acreditava que a educação deve ser voltada para a democracia e a liberdade de oportunidades. Trata-se de um sistema educacional em que além do currículo básico, os alunos têm acesso a aprendizagens sobre trabalho e sobre o mundo em que vivem e pelo qual são responsáveis.

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Foco no ambiente Para celebrar os 45 anos, em 2015 os alunos plantaram mudas de palmeira juçara, nativa da Mata Atlântica e em risco de extinção. Foi uma parceria com o Pojeto Amável, que faz ações de reflorestamento de juçara (Euterpe Edulis) na Mata Atlântica. Em 2016, ano Internacional das Leguminosas pela ONU, está em andamento a campanha da Alimentação Saudável, que prevê eventos para discutir a questão da alimentação. O projeto envolve a criação de uma horta orgânica com os alunos. Outro projeto em andamento é o Eco Onibus, cuja primeira atividade foi uma visita ao Espaço Feira, empresa especializada em paisagismo comestível, na antiga fábrica Bhering – Santo Cristo. Os pequenos visitantes aprenderam conceitos e experiências de horta urbana e utilização de lâmpadas de LED para crescimento das plantas. E ainda participaram de uma oficina, plantando mudas.

Para despertar a curiosidade sobre energias renováveis, foi instalado o Bambu Smart Point, numa parceria com o Instituto Pindorama de Tecnologias Ecológicas. Trata-de um poste de bambu equipado com painel fotovoltaico captando a energia solar. Pode ser utilizado para carregar eletrônicos como tablets e celulares e está disponível para utilização dos alunos, professores e funcionários. Além disso, a Escola Parque está substituindo gradativamente as lâmpadas fluorescentes por lâmpadas de LED. De olho nas metas A Escola Parque instalou dispositivos para economizar água em todos os cômodos: cozinhas, laboratórios e banheiros, com a meta de reduzir o consumo de água oferecida pela CEDAE. Além disso, foi estruturada a captação de água de chuva para utilização em irrigação e lavagem do pátio e das salas. A meta é recolher águas pluviais para evitar o desperdício na irrigação.

Além da plantação das mudas da palmeira Juçara realizada recentemente, a Escola possui um inventário arbóreo com grande parte das espécies identificadas e com uma ficha de cada uma delas, ilustrando a biodiversidade local. Manter a vegetação nativa e instalar um viveiro de mudas nativas para uso pedagógico estão entre as metas previstas no Plano. Há alguns anos os alunos da Escola Parque estão contribuindo com o reflorestamento, através de plantio de espécies nativas da Mata Atlântica no Parque da Cidade, vizinho da Escola. Além disso, estão implantando composteira, horta e pomar interligados, para que os alunos compreendam o ciclo, desde a formação do adubo na composteira, seu uso na horta e pomar e os resíduos novamente colocados para compostagem. A Escola oferece aos alunos um serviço de transporte, o Expresso Parque, através de linhas expressas, com paradas definidas ao longo do trajeto. Esse serviço visa diminuir número de veículos no

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Educação

entorno da Escola, contribuindo para que haja menos trânsito e um ambiente mais limpo e sustentável. Com o mesmo objetivo funciona o bicicletário e os alunos do Ensino Médio estão trabalhando em projeto para ampliação e renovação do mesmo, dentro da disciplina Projetos Sustentáveis. A coleta seletiva de lixo, o recolhimento de pilhas e baterias de toda a comunidade e o descarte correto de lâmpadas fluorescentes são ações realizadas em parceria com o Instituto Doe Seu Lixo. Além disso, a Escola possui um sistema de compostagem de folhas secas para utilização nos próprios canteiros como adubo orgânico. “O Plano de Metas da Sustentabilidade EP+20+5, criado pelos alunos, é um dos componentes do Projeto Educar para a Sustentabilidade da Escola Parque, que também abrange o enraizamento institucional e pedagógico das questões relacionadas à sustentabilidade, além de ações solidárias, ações no entorno da escola e trabalhos de campo para diferentes biomas do Brasil. Tudo isso, através de uma gestão participativa que inclui alunos, grupo gestor, orientação, coordenação, psicopedagogia, professores, funcionários, pais de alunos e a comunidade em geral, para que todos façam parte da mudança, respeitando um ao outro e todos respeitando o ambiente em que vivemos”. Explica Bruno Maia, coordenador de Sustentabilidade da Escola. Em São Paulo, o Albert Sabin Na Zona Oeste de São Paulo, o colégio Albert Sabin também forma pessoas sensíveis aos desafios ambientais. Com a campanha Recicla +, vem desde 2013 descartando corretamente os resíduos orgânicos e recicláveis gerados pela escola, além de pilhas, baterias, medicamentos e o óleo usado no restaurante. O Colégio está empenhado também em resolver a questão do lixo eletrônico, que vem crescendo assustadoramente nos últimos tempos – em 2014 foram 42 milhões de toneladas, segundo a ONU e exige um descarte adequado para que não cause danos ao meio ambiente e à saúde da população.Numa parceria com a cooperativa Coopermiti, o Colégio está realizando campanha de coleta e encaminhando para reciclagem.

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REFLETINDO SOBRE O AMBIENTE Pela segunda vez seguida a cidade do Rio de Janeiro sediou o Viva a Mata, realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica para promover uma reflexão sobre temas ambientais. Aconteceu de 19 a 22 de maio, com atrações para o público e reuniões técnicas – pesquisadores de diversas áreas trouxeram suas vivências e experiências para trocarem entre si e com representantes dos poderes públicos. Márcia Hirota, diretora executiva da Fundação, considera importante celebrar o dia da Mata Atlântica – 27 de maio – num Estado que se destaca na conservação do bioma: “É reconhecer a urgência de recuperar florestas e recursos hídricos para garantir saúde e qualidade de vida nas cidades.” O painel O que podemos fazer pelo Meio Ambiente do Amanhã?, realizado no Museu do Amanhã, reuniu estudan-

tes que se dedicam a trabalhos inovadores para o meio ambiente e na produção

de alimento, moda e consumo consciente, gestão de resíduos e ecoturismo.

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Estante

Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

Depois da Tempestade, Por Ricardo Amorim, Prata Editora, 200 págs, R$ 49,90

Amaro da Maré, por Regina Zappa, Editora FGV, 152 págs, R$ 38

Uma das mais graves crises da História brasileira gerou um pessimismo profundo sobre nosso futuro. Natural, mas a economia, como o clima, é cíclica. O ciclo de expectativas frustradas talvez esteja mais próximo do fim do que tememos. Para entender por que, este livro explica por que, ao contrário de agora, as expectativas eram altas no início do primeiro mandato da Presidente Dilma e como, de lá para cá, fomos à mais profunda recessão em mais de um século. Quais os erros de política econômica que nos levaram à crise? O que precisa acontecer para que saiamos dela? Por que tirar o Brasil da crise econômica é mais simples do que parece? Por que a recuperação econômica, uma vez solucionada a crise política e reequilibradas as contas públicas, surpreenderá pela força? O que precisa acontecer para que esta recuperação inicial se sustente? Quais as lições e o legado da crise? Por que o Brasil, talvez, esteja passando por mudanças profundas que podem criar um país melhor nas próximas décadas? Seria muito mais fácil e seguro responder a estas perguntas daqui a alguns anos, com a clareza que só a perspectiva histórica traz. Porém, se eu fizesse esta opção e não o estimulasse a chegar a suas próprias conclusões agora, eu não poderia tentar ajudá-lo a preparar-se para o que vem por aí.

O livro Amaro da Maré, escrito pela jornalista Regina Zappa e publicado pela Editora FGV, que narra a trajetória de Amaro Domingues, uma das maiores lideranças comunitárias do Complexo da Maré, foi lançado no dia 14 de maio na Vila Olímpica da Maré, importante espaço de educação da comunidade e centro de esportes e de desenvolvimento de atletas erguido por “seu Amaro”. Ele nunca foi à escola e aprendeu a ler aos 15 anos de idade. No entanto, ler é o que ele mais gosta de fazer. “Ele não para. Cutuca o secretário, cobra da autoridade, separa briga, arruma emprego para ex-presidiário, aconselha, cuida, vigia. Conhece todo mundo e todos o conhecem. Não consegue andar dez metros na Maré sem ser parado várias vezes”, diz Zappa, em um dos trechos do livro. Seu Amaro passou a primeira infância em um ambiente rural próximo à cidade de Campos (RJ). Por causa da doença da mãe, cuidava dos irmãos mais novos. Na adolescência, viveu as dificuldades extremas de uma vida urbana sem perspectivas. Foi soldado e motorista de ônibus e de caminhão, como seu pai. No Rio, foi morar na Favela de Manguinhos. Viu sua casa desaparecer de um dia para o outro e mudou-se para a Nova Holanda. Viu crescer a comunidade do Complexo da Maré, onde vive até hoje, e tornou-se líder comunitário respeitado e imprescindível.

Velho é lindo, Por Mirian Goldenberg (Org.), Editora Civilização Brasileira/ Grupo Editorial Record, 280 págs, R$ 39,90 Reconhecida por inúmeros trabalhos dedicados à análise do comportamento dos brasileiros, a antropóloga Mirian Goldenberg se debruça mais uma vez sobre a temática do envelhecimento. Autora dos livros “Bela velhice” e “Corpo, envelhecimento e felicidade”, a escritora lança agora “Velho é lindo”, uma coletânea de artigos que apresenta alternativas individuais e sociais para a construção de uma velhice mais plena. O envelhecimento da população brasileira e as transformações sociais consequentes deste processo dão o tom dos textos apresentados no livro, que investiga, por exemplo, como a manutenção do corpo jovem ainda é uma preocupação central das mulheres do país e como os brasileiros lidam com questões de gênero e sexualidade na terceira idade. Um dos artigos dedica-se exclusivamente a um estudo aprofundado sobre os idosos de Copacabana, bairro cuja maior parte dos moradores tem mais de 60 anos de idade. EM REVISTA | Julho / Agosto 2016 36 PPLURALE LURALE EM REVISTA | Março / Abril 2016 36

Planejamento Estratégico de Comunicação para o Licenciamento Ambiental, por Por Backer Ribeiro Fernandes, Editora Difusão A editora Difusão acaba de publicar um livro inédito com o título “Planejamento Estratégico de Comunicação para o Licenciamento Ambiental”, de autoria de Backer Ribeiro Fernandes. O texto é baseado em sua tese de doutorado, defendida na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) sob orientação da professora e diretora da ECA, Margarida Kunsch. O livro propõe um novo paradigma na comunicação para os licenciamentos ambientais e defende a exigência de um plano de comunicação que compreenda os interesses dos empreendedores, do governo e da sociedade.


REALIZAÇÃO:

PATROCINADOR DIAMANTE:

A ABRASCA e o IBRI agradecem aos patrocinadores e parceiros que apoiaram a iniciativa deste importante evento. Sua contínua confiança possibilita a realização de eventos cada vez mais atrativos e proveitosos para os profissionais da área.

PATROCINADORES OURO:

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PATROCINADORES PRATA:

PARCEIROS DE MÍDIA:

ORGANIZAÇÃO:

APOIO INSTITUCIONAL:

ABRAPP, ABVCAP, ANBIMA, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC, IBMEC, IBRACON, IBRADEMP


Meio-Ambiente

Sétima edição da Fiema recebeu mais de 8 mil visitantes FOTOS DE ANA CRIS PAULUS / FIEMA BRASIL

Por Isabella Araripe, De Plurale de Bento Gonçalves (RS)

A sétima edição da FIEMA Brasil (Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos, Águas, Efluentes e Energia) apresentou a temática do meio ambiente como oportunidade de negócios e troca de conhecimento, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A feira, realizada pela Fundação Proamb, ocorreu de 5 a 7 de abril e reuniu empresas do país e do exterior. Mais de oito mil visitantes passaram pelo Parque de Eventos, vindos de todos os Estados brasileiros e de mais de nove países, entre eles Portugal, Itália, Alemanha, Canadá, Argentina, Áustria, Espanha, Paraguai e Uruguai. “A FIEMA é uma fonte de inspirações para novos empreendedores”, contou o presidente da Feira Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente, Jones Favretto Além de contar com cerca de 130 marcas expositoras, entre nacionais e internacionais, a FIEMA também apresentou o Fiemacon, uma programação paralela à feira que apontou as principais diretrizes capazes de transformar a preocupação ambiental em vantagem competitiva para empresas e organizações. Entre as atividades da Fiemacon, o 5º Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, 5º Seminário Brasileiro de Gestão Ambiental na Agropecuária, 4º Seminário de Segurança do Trabalho e palestras sobre energias alternativas (solar e eólica). Outra atração foi o Meeting Empresarial que ocorreu no dia 5 de abril, com as palestras de Erino Tonon, Vice-Presi-

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dente de Estratégia e Desenvolvimento da Randon S/A Implementos e Participações; Paulo Renato Herrmann, presidente da John Deere Brasil, e mediação de Ricardo Voltolini. Criador da Plataforma Liderança Sustentável. O presidente da Feira Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente, Jones Favretto, foi quem abriu o 5º Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente da FIEMA Brasil 2016, encontro que promoveu uma discussão a respeito dos caminhos da gestão ambiental além da sua dimensão econômica, envolvendo também seus aspectos ambientais. “A FIEMA tem como proposta auxiliar o crescimento do setor de negócios ambientais no Brasil e na diversificação na matriz de negócios do Rio Grande

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do Sul. Quanto mais diversificados forem os negócios na região, mas resistente à crise essa região será”, disse o presidente da FIEMA. Entre os palestrantes do 5º Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, Mario Pino, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Brasken; Julio Cesar Pascale Palhares, pesquisador Embrapa Pecuária Sudeste; Claudio Manuel Rodrigues, Especialista em Gestão de Organizações de Ciência e Tecnologia em Saúde pela ENSP/Fiocruz; Marcelo de Paula Neves Lelis, gerente de Projetos da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades; entre outros. O líder do Movimento Menos Perda Mais Água iniciativa da Rede Brasileira do Pacto Global das Nações Unidas e ge-


rente de Desenvolvimento Sustentável da Brasken, Mario Pino, falou do movimento pela redução das perdas de água na distribuição. O movimento é organizado em quatro pilares: políticas públicas, narrativa, indicadores, soluções. O Frei Jaime Bettega, da Universidade de Caxias do Sul, falou sobre a Ética e o Meio Ambiente em tempos de mudanças: crise econômica, ambiental ou de valores? Segundo ele é preciso agir de acordo com aquilo que nós queremos que aconteça. “Estamos diante de um cenário complexo”, afirmou Jaime Bettega. O Frei Bettega disse ainda que a maior de todas as crises é a crise de valores. Segundo ele é preciso reinventar o ser humano é para isso a humildade precisa ser reencontrada. “É preciso uma mudança profunda na forma como nos relacionamos com os recursos naturais”, disse o Frei. Antes mesmo da sétima edição estar concluída, as equipes já trabalhavam nos preparativos para o próximo encontro, que já tem data marcada: a oitava FIEMA Brasil ocorrerá nos dias 10, 11 e 12 de abril de 2018, em Bento Gonçalves. Além das definições no calendário, também foram anunciados os nomes dos

profissionais que estarão à frente da organização: Jones Favretto, reconduzido ao cargo de presidente da feira, conta o apoio do vice-presidente, Vitalino Nichetti, do presidente da Proamb, Neri Basso, e da diretora executiva, Marisa Cislaghi na missão de construir, dentro de dois anos, uma FIEMA Brasil capaz de superar as mais otimistas projeções e

consolidando Bento Gonçalves como futuro pólo ambiental. “Esse é o nosso desafio: transformar o município em referência nesse segmento, pela combinação dos trabalhos da Proamb e da FIEMA Brasil”, avalia Basso. (*) A repórter viajou a convite dos organizadores do evento.


Terceiro Setor FOTOS DE ISABELLA ARARIPE

Editora de Plurale faz palestra para alunos do Galpão Aplauso

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erca de 100 alunos do curso de Logística e Operador de Empilhadeiras, que tem o patrocínio das Lojas Americanas (LASA), lotaram o auditório do Galpão Aplauso para ouvir a jornalista Sônia Araripe, Editora e Diretora de Plurale, em uma palestra sobre a sustentabilidade no nosso dia-a-dia. O Galpão Aplauso é uma ONG que existe há 11 anos, cujo princípio está nas premissas de seu método de educação e na qualidade do atendimento. Está localizada na zona portuária, ao lado da Rodoviária Novo Rio, numa área que compreende dois grandes galpões e uma área verde de 800 metros quadrados. A ONG foi fundada e é até hoje dirigida por Ivonete Albuquerque. Guilherme Antoniol, da área de sustentabilidade da LASA, começou a palestra apresentando os 17 objetivos de desenvolvimento de sustentabilidade da ONU – dos quais a empresa é signatária e incentivou os alunos a participarem, listando os pontos que achavam mais importantes. Em sua palestra, Sônia mostrou – sempre de forma muito dinâmica e didática dados de população, a importância dos jo-

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vens numa população que está envelhecendo rápido e questionou a administração dos recursos naturais que são finitos. Um dos pontos principais abordados pela jornalista foi a urgência do presente, sobre o estrago que cada vez mais está sendo feito na natureza e citou como exemplos a seca, que há anos era um problema da região Nordeste do Brasil e hoje já está chegando a outras regiões do país; e o estranho clima frio no Rio de Janeiro, ambos resultados do desmatamento, entre outros fatores. A jornalista ficou impressionada com o engajamento dos alunos nas questões da sustentabilidade. “Vocês estão de parabéns, já entenderam muito bem o que é sustentabilidade”, disse. Antes da palestra, a Cia. Galpão Aplauso apresentou um pocket show criado pelos alunos, em que mostram as dificuldades que enfrentam no dia a dia e alertam para o fato de que as mudanças dependem de cada um e precisam começar hoje. Ivonete Albuquerque destacou a importância do despertar destes conceitos para os jovens. “Trabalhamos sempre a sustentabilidade no diaa-dia deles e como podem atuar para ajudar neste esforço”, disse.


MatĂŠria ONG

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Ecoturismo

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ISABELLA ARARIPE

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Canionismo é a nova atração da E Chapada dos Veadeiros Descer cânions, pelo traçado do curso da água, utilizando técnicas e equipamentos de rapel, salto, tirolesa e natação, em meio a cachoeiras, corredeiras e poços, é uma emoção e tanto. Pois bem, os amantes do canionismo no Brasil têm agora um novo roteiro cheio de aventuras: o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gere a unidade de conservação, autorizou a prática desse esporte no interior do parque, que fica em Alto Paraíso, no noroeste de Goiás, a pouco mais de 200 quilômetros de Brasília. O esporte pode ser praticado no rio Preto, que corta o parque, no trecho entre os atrativos Corredeiras e Salto 80, passando pelo Carrossel.

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Hanauma é eleita a melhor praia dos Estados Unidos A praia de Hanauma, em Oahu, no Havaí, foi eleita a melhor praia dos Estados Unidos de acordo com Stephen Leatherman, professor da Florida International University, conhecido como Dr. Beach. Este é o segundo ano consecutivo que uma praia do Havaí fica no topo do ranking, que tem como base 50 critérios que analisam a qualidade das praias americanas. Entre os critérios utilizados por Leatherman na escolha estão a qualidade da água e areia, ações para a preservação do meio ambiente e, dessa vez, praias onde fumar é proibido levaram pontos extras.

Parque Nacional do Caparaó completa 55 anos de idade Criado em 1961, o Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais, completou, em maio, 55 anos. Região de belas montanhas, o Parque possui cachoeiras e piscinas naturais. Além disso, é um dos ícones do montanhismo no Brasil, abrigando cinco dos dez picos mais altos de todo território nacional, com destaque para o Pico da Bandeira, o terceiro mais alto do país. O Parque Nacional do Caparaó recebe em média 40.000 visitantes por ano e dispõe ainda outros atrativos, entre trilhas, vales e pontos de observação de aves. Conta com ampla estrutura de apoio à visitação composta por centro de visitantes, sistema de trilhas, áreas de acampamento e lazer estruturadas com banheiros públicos, lava pratos e pias, churrasqueiras, lixeiras e postos de guarda.

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Hotéis brasileiros ganham selo internacional de qualidade Os hotéis fazenda Campo dos Sonhos, em Socorro (SP), e Parque dos Sonhos, em Bueno Brandão (MG), obtiveram a certificação internacional NBR ISO 21101 para atividades de turismo de aventura. Estes são os primeiros estabelecimentos brasileiros a obterem este tipo de certificação e um dos primeiros do mundo. Para o Hotel Fazenda Campo dos Sonhos, a certificação contempla as atividades de cavalgada, tirolesa e arvorismo. Já para o Parque dos Sonhos estão contempladas, além dessas, as atividades de rapel e boia cross. Segundo a administração dos hotéis, cerca de 78 mil pessoas por ano fazem essas atividades nas duas empresas.


VIDA S a u d á v e l Menos 1 Lixo lança copo próprio com fabricação 100% brasileira

Espelta, novo grão é ´estrela´ Já tivemos vários alimentos saudáveis em destaque. O grão da vez é a espelta. Para quem ainda não conhece, trata-se de um grão completo que estava esquecido há muitas décadas, volta ao cardápio por seu grande valor nutricional. A espelta apresenta multivitaminas e minerais indispensáveis ao organismo, destacando as do complexo B, ótimo para esportistas, especialmente os que precisam ter muita resistência, como maratonistas. O pão de espelta, ao que se pode adicionar um fio de azeite de oliva durante sua preparação, é a receita mais consumida com este grão completo.

No dia 5 de junho, na simbólica data do Dia Mundial do Meio Ambiente, foi lançado o copo oficial do projeto Menos 1 Lixo. O produto, com fabricação 100% brasileira e sustentável, é o símbolo da campanha encabeçada pela empresária carioca Fernanda Cortez e que segue uma ideia simples: incentivar a diminuição da produção do lixo através da substituição dos copos descartáveis por um modelo reutilizável e portátil que qualquer pessoa possa carregar consigo para onde for. Criar o “copo perfeito” era o grande sonho da idealizadora do projeto, que foi lançado em janeiro de 2015 com um copinho provisório e importado. Depois de muita pesquisa, estudo de fornecedores e de um investimento de R$120 mil – que contou com apoio da marca Farm – foi criado um copo próprio, com design moderno, funcional e, principalmente, sustentável. O copo do Menos 1 Lixo conta com design da Bolei, agência especializada em produtos sustentáveis e a tecnologia é totalmente brasileira para que Cortez pudesse acompanhar de perto toda a cadeia produtiva e se certificar de que a produção era baseada em práticas sustentáveis.

Reforço para o inverno Alguns alimentos ajudam a reforçar a resistência nestes tempos de frio rigoroso. Nutricionistas sugerem o consumo maior de mel, goji berry e pólen. Também o chá verde, rico em catequina e epicatequina, poderosos antioxidantes que atuam no combate aos radicais livres. Não é só: óleo de alho e óleo de coco são ótimos para garantir mais saúde.

Origem Sabor e Saúde: refeições balanceadas A Origem Sabor e Saúde tem como principal ingrediente oferecer alimentação congelada com qualidade e sabor. O cardápio é fruto da parceria entre a nutricionista Carol Accioly e a chef de cozinha Ana Salles. Juntas, essas duas profissionais criam refeições balanceadas e ricas em nutrientes. A economista Gabriela Paranhos é sócia também no empreendimento. Um dos objetivos é sustentar o emagrecimento com saúde e prazer por meio da reeducação alimentar que associa culinária saudável a conceitos nutricionais atualizados. A proposta também inclui o fornecimento de cardápio único e customizado para pacientes que precisam de cuidados especiais e pessoas com restrições alimentares. Conheça mais em : http://origemsaboresaude.com.br/site/

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Ecoturismo

Amoliva viabiliza produção de azeite de Visconde de Mauá

Por Celina Côrtes, Especial para Plurale Fotos: Celina Cortes e Celso Guimarães, da Amoliva

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e o último encontro reuniu nove associados, dessa vez foram 22 participantes. Fundada em fevereiro de 2014 com uma dúzia de sonhadores, a Amoliva, Associação dos Olivicultores da Serra da Mantiqueira na região de Visconde de Mauá, agregou mais quatro participantes ao grupo de oito produtores em sua última reunião, além de inte-

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ressados em entrar para este seleto círculo. Com inegáveis doses de sonho, os produtores investem todas as suas fichas em um projeto que chegou ao Brasil há mais de 30 anos, com as primeiras mudas produzidas pela Empresa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Maria da Fé, a mais de 400 km de Belo Horizonte e a 200 km da Serra da Mantiqueira. A olivicultura já começa a dar resultados em regiões como o Sul do país, que até o fim de 2014 ostentava 1.400 hectares de área cultivada e cinco fábricas de azeite em operação. Um único grande produtor gaúcho já consegue

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prensar até 30 mil litros do mais puro azeite extra virgem. O encontro, realizado em 6 de março no Sítio Auto das Paineiras, no Vale das Flores, em Visconde de Mauá, semeou novas ideias e ajudou a estruturar projetos em estágios diversos, onde cada um já consegue aprender com os erros alheios. Um dos mais antigos produtores do grupo, o empresário paulistano Luiz Carlos Nascimento, 69 anos, dono de um terreno de 30 hectares – correspondente a 30 campos de futebol – no Vale da Santa Clara, em Maringá, foi um involuntário exemplo aos demais. Ao lado de frondosas castanheiras portuguesas, ele


plantou há sete anos 450 pés de oliveiras, sob a cartilha da Epamig. Entusiasmado com o projeto, adquiriu em 2010 uma prensa de origem alemã, quando o dólar ainda estava baixo e, sem se dar conta, acabou enfrentando dificuldades para desenvolver sua plantação. A oliveira, que no Brasil leva quatro anos para dar os primeiros frutos, já começa a produzir economicamente no sexto ano. Nascimento, porém, adquiriu uma espécie de baixa produtividade e comprou o equipamento antes de ter a matéria prima para processá-la. O resultado foi uma floração pífia na safra de 2014, que não rendeu mais do que cinco litros de azeite. Em 2015 o volume foi ainda menor. Nem por isso o empresário desanimou e já planeja novos cultivos. “Meu maior erro foi não dar a devida atenção à agricultura, por isso tive de refazer a plantação”, admitiu. Cultura nova no Brasil - Esse tipo de erro não surpreende o consultor, produtor e engenheiro agrônomo mineiro Luiz Engênio Santana Mattos, 46 anos, há 20 dedicado à pesquisa das oliveiras, com mestrado e doutorado na Europa sobre o tema. “A cultura de oli-

veiras passa por um reposicionamento técnico. Os conceitos de adequação estão sendo revistos, como o espaçamento e a fisiologia da planta, que são diferentes dos europeus. Ainda é uma cultura muito nova no Brasil”, argumenta Mattos. No seu entender, o cultivo das oliveiras foi precocemente tirado no Brasil do status de pesquisa. “Coisas que estão sendo feitas agora já deveriam ter sido feitas no início, como um maior espaçamento entre os pés, porque ainda não existem estratégias de adequação consolidadas, a exemplo da cultura do café, na qual já se sabe o que fazer”, completa. E é justamente este tipo de incerteza que ajuda a fortalecer os vínculos entre os associados da Amoliva. Uma das decisões tomadas no encontro foi a de cada produtor criar um banco de dados, com informações diárias sobre o comportamento das oliveiras diante do clima, do solo, da incidência de chuvas, da temperatura, da adubação e demais características do cultivo de cada um. A própria empresa de Luiz Eugênio forneceu aos proprietários informações sobre a declividade e composição geológica dos terrenos; a necessidade de um

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Ecoturismo espaçamento médio de sete metros entre cada pé, a predominância local da acidez e a saturação por alumínio, o excesso de nitrogênio foliar que contribui para acidificar ainda mais o solo. Ou seja, a correção do solo é fundamental para a qualidade da produção. Mattos também assessora grandes produtores do Rio Grande do Sul – o estado mais organizado do país no cultivo de oliveiras, onde foi criado, em agosto de 2015, o Programa Estadual de Desenvolvimento da Olivicultura – e do Sudeste. Turismo é aliado - O Sul e o Sudeste, especialmente a região da Mantiqueira, têm em comum o clima frio, que favorece o cultivo. Quando a olivicultura começou a ser desenvolvida no país, a referência era o cultivo no semi-árido do Mediterrâneo, de solo alcalino. Na região de Visconde de Mauá, Rio Preto, Aiuruoca e Alagoa – as duas últimas localidades já começaram a produzir azeite, com cerca de 20 mil pés plantados – o solo é predominantemente ácido e necessita de permanente correção. Mattos, que assessora oito produtores da Amoliva, no entanto, é especialmente otimista em relação ao futuro da produção de azeite na região. “São propriedades que podem fazer volume e qualidade. Além disso, há um predomínio do turismo, o que agrega valor ao azeite. O plantio, a colheita e cada etapa da produção podem ser atrações turísticas, como ocorre na Itália, Espanha e Portugal”, exemplifica. Em relação a Visconde de Mauá, onde está a maioria dos associados da Amoliva, pelo menos três deles são do ramo da hotelaria. É interessante observar que a primeira atividade econômica da região foi o carvão, seguido da pecuária de leite e do turismo, não só pela beleza local, como pela mão de obra, que preferiu os serviços de hotelaria ao pesado trabalho de ordenha. A família de Rudolf Bühler, 74 anos, estava entre os alemães que chegaram a Mauá em 1913, com a proposta de desenvolver frutíferas europeias, como a maçã, pêra e pêssego. Se havia frio, faltava solo de qualidade e o jeito foi partir primeiro para a pecuária e depois para a hotelaria. O Hotel Bühler, localizado em Maringá, é um dos mais tradicionais da região. Rudolf adquiriu uma terra perto à Pedra Selada para viver sua aposentadoria e está entre os novos sócios da Amoliva. Em dezembro plantou 500 pés e quer chegar a mil, sem correr o risco de repetir os erros do passado, quando a cultura de frutíferas revelou-se um fiasco. “Estou aqui com muitas perguntas e nenhu-

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ma resposta”, anunciou, com simplicidade e disposição. Ao lado de Cláudio Henrique Dias da Costa, 46 anos, cuja família tem a Pousada Xangrilá, no Vale das Flores, que planeja plantar 500 pés em seu sítio, outro do ramo da hotelaria é Osvaldo Caniato, 63 anos, dono da Pousada Mauá Brasil, uma das mais sofisticadas da região, também presidente da Mauatur. Mais experiente, com 600 mudas plantadas, foi um que arrancou risos dos participantes quando falou de uma tendência à “ejaculação precoce” entre os produtores. “Todos saímos correndo para plantar. Houve quem parou e voltou atrás, até que apareceu o chefe da Embrapa e nos fez chorar com os erros que cometemos, porque ninguém tinha conhecimento técnico”, lembrou. Caniato aprendeu a importância do permanente acompanhamento do solo, lembrou que cada um plantou um blend – mistura de espécies, sendo a Arbequina (espanhola) a mais cultivada, a Kouroneikie (grega), Grapolo (italiana) e a Maria da Fé

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A olivicultura já começa a dar resultados em regiões como o Sul do país, que até o fim de 2014 ostentava 1.400 hectares de área cultivada e cinco fábricas de azeite em operação


(brasileira) as mais usadas na região entre uma variedade de mais de 200 espécies -, e que a Amoliva ainda discute a definição de um blend único para a região. “É um cultivo que requer muita paciência”, pondera o empresário, que conhece muito bem o potencial de Visconde de Mauá, capaz de receber 10 mil turistas em um grande feriado, o que escoaria toda a produção da Amoliva em um único fim de semana. Cultivo orgânico - Um tema também discutido no encontro foi o cultivo orgânico, adotado pela maioria dos produtores, como o novo associado Celso Guimarães, 69 anos, acadêmico da UFRJ da área de Design, proprietário do sítio que sediou o encontro. Quando ele voltou de um pós-doutorado em Portugal, no ano passado, ainda estava sem saber como explorar seu terreno de 40 hectares, até descobrir que dois vizinhos já cultivavam olivas. Além de visitar as plantações, buscou a assessoria de um engenheiro florestal do Viveiro Pedra Selada, em Rio Preto, que o poupou de cometer erros já praticados por seus pares. Já plantou 400

das mil mudas adquiridas e pretende buscar informações sobre equipamentos para prensar as olivas em uma próxima viagem a Portugal, equipamento que será rateado entre os sócios para criação do lagar (área de produção do azeite) da Amoliva. “Estou fazendo tudo certinho, os pés estão brotando e só preciso de paciência para esperar a hora da prensagem”, diz. Outro que conhece bem o potencial local é o presidente da Amoliva, Gustavo Donati, 58 anos, que utiliza desde 1993 a Fazenda Rio Preto, com 126 hectares, da família de sua mulher, como área de lazer. Até que um dia viu na Intranet da empresa onde trabalha no Rio de Janeiro informações sobre a olivocultura. Visitou propriedades e no início de 2013 plantou seus primeiros 500 pés de oliveira. Este mês de março vai plantar mais 300. “Aqui na Mantiqueira temos o mesmo microclima de Maria da Fé. Se compararmos a produção de azeite com o gado leiteiro, a garrafa de um litro vai passar de R$ 1 para mais de R$ 100. O solo a gente corrige, o principal é o clima frio. Na Itália, eles falam no Km 0, a comercialização na própria área de produção, sem necessitar de escoamento”. Luiz Eugênio Mattos assina embaixo: “tudo se encaixa com a maneira como está sendo organizada a produção. Haverá volume suficiente para uma demanda crescente”, acredita. O consumo de azeite continua a crescer no mundo, com uma média per capta de 22 litros por ano, e a Grécia está entre os países de maior consumo. O Brasil ocupa o terceiro lugar entre os maiores importadores mundiais, mas o consumo ainda é incipiente: passou de 40 mililitros per capta para 200 mililitros anuais, ou seja, é um excelente mercado potencial. Por outro lado, um alto percentual do azeite comercializado no país é adulterado. De acordo com Mattos, a adulteração de azeite é a segunda maior máfia do mundo, não apenas misturando o produto a óleos de girassol e canola, como por comercializar um produto como “extra virgem”, que para isso deveria ser fruto de uma primeira prensagem. “O azeite é o suco da azeitona, sem processamentos. O azeite mais novo é o de melhor qualidade. O maior problema continua a ser a criação de uma cartilha técnica, porque se trata de um cultivo muito novo no país. A oliva foi símbolo do império romano e é milenar na Europa, mas aqui no Brasil ainda engatinha”, conclui.

O consumo de azeite continua a crescer no mundo, com uma média per capta de 22 litros por ano, e a Grécia está entre os país de maior consumo. O Brasil ocupa o terceiro lugar entre os maiores importadores mundiais, mas o consumo ainda é incipiente: passou de 40 mililitros per capta para 200 mililitros anuais, ou seja, é um excelente mercado potencial 47


Festas

A incrível diversidade cultural brasileira Por Andrea Goldschmidt Especial para Plurale

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m país com 8.516.000 Km2 de área, mais de 200 milhões de habitantes e que foi formado pela mistura de tantas etnias diferentes (índios, portugueses, negros e imigrantes de diversas nacionalidade) só pode ter uma imensa diversidade em todos os aspectos que se possa pensar. Do ponto de vista cultural, uma importante fonte para observação desta diversidade são as festas populares. Elas acontecem durante todo o ano. Quase todo município brasileiros tem alguma e alguns deles têm mais de uma festa importante por ano! Comecei fazendo uma lista dos eventos que conhecia de nome e pedindo a alguns amigos que fizessem o mesmo. Selecionei 12 que me pareceram interessantes e me propus o desafio de fotografar uma festa por mês. Percebo agora que este pode ser um projeto quase “eterno”, porque, por um lado, uma mesma festa pode ter características completamente diferentes em várias partes do país (o Carnaval, por exemplo, é celebrado de uma dezena de maneiras completamente distintas em diferentes regiões do Brasil) e, por outro, existem mui-

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FESTIVAL FOLCLÓRICO DE OLÍMPIA (SP)

tos eventos regionais super interessantes e, a cada local que visito, descubro várias festas “novas” que passam a fazer parte da lista daquelas que terei que conhecer e registrar algum dia. Com isso, o meu projeto pessoal de fotografar as festas populares brasileiras não tem prazo para acabar. Mesmo que a cada ano eu opte por fotografar uma festa diferente, sem repetir

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aquelas que tenham me atraído mais, serão necessários vários anos para completar esta tarefa. Em 2006, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), começou a fazer o que chamou de Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) com os objetivos de sistematizar e divulgar práticas do nosso Patrimônio Cultural Imaterial. Por enquanto, há 5 dossiês super com-


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pletos relativos a algumas destas práticas, mas, considerando a longa lista de eventos que existem, registrar todo este patrimônio ainda será um trabalho muito extenso tanto para o Iphan quanto para mim! Outro desafio a ser enfrentado é o da pouca estrutura turística que existe em muitos dos municípios que sediam as festas. É uma pena que seja assim, já que elas têm um grande po-

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ANDREA GOLDSCHMIDT


Festas

tencial de impacto econômico, movimentando a economia local. Por exemplo, o município de Goiás (GO), que tem cerca de 25.000 habitantes, recebe 20.000 turistas durante o período da Semana Santa, quando acontece a famosa festa do Fogaréu. Se por um lado isso pode significar que o visitante terá pouco conforto durante a sua estadia, por outro, ele vai poder interagir bastante com a população local, tendo a oportunidade de conhecer mais a fundo seus costumes, sua comida, seu jeito de viver... e isso expande a vivencia desta diversidade para além das representações folclóricas, tornando a experiência ainda mais rica. Ao visitar várias destas festas, foi ficando claro para mim que, apesar da enorme riqueza cultural de que dispomos como povo, estas manifestações são pouco compreendidas, inclusive pelas pessoas que delas participam. Lembro-me de chegar a Nazaré da Mata, no interior de Pernambuco e, ao ver pela primeira vez um caboclo de lança, ficar curiosa sobre o significado de cada uma das coisas que envolvem aquele espetáculo! Por que carregam estes sinos pesados? Por que a gola (espécie de poncho que usam por cima de tudo) tem aquele tipo de bordado? Por que usam um cravo na boca? Fiquei surpresa ao constatar que os próprios participantes não tinham respostas para as minhas perguntas! Há, no entanto, muitas teses e dissertações disponíveis (na internet) sobre estas festas e, nestes 2 anos que estou envolvida com este projeto, aprendi muito sobre a cultura brasileira. Ampliei meus horizontes. Descobri curiosidades dos pontos de vista religioso, social e cultural. Conheci lugares lindos e manifestações culturais que precisam ser preservadas! É reconfortante saber que, neste mundo globalizado em que vivemos, ainda existem pessoas preocupadas em manter estas lindas tradições lo-

FESTA DO PADRE CÍCERO – JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

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FESTA DAS CEREJEIRAS

E n s a i o cais. Ainda assim, resta o desafio de aumentar a divulgação nacional (e até internacional!) destes eventos para contribuir para a manutenção da riqueza cultural brasileira e trazer benefícios financeiros para as populações locais que se esforçam em manter estas tradições intactas. A festa das cerejeiras, por exemplo, é celebrada todos os anos no Parque do Carmo, em São Paulo, no final do mês de julho (ou começo de agosto), quando as cerca de 4.000 cerejeiras do Parque estão no auge da sua floração. Na cultura japonesa, o florescer da árvore de cereja é considerada a mais pura manifestação de beleza. A flor de cere-

FOTOS DE:

ANDREA GOLDSCHMIDT jeira simboliza o amor, a felicidade, a renovação e a esperança, mas, principalmente, simboliza a efemeridade da vida. Por conta da curta duração da sua florada(cerca de 10 dias), as cerejeiras representam a fragilidade da vida e ensinam a lição de aproveitar intensamente cada momento, pois o tempo passa rápido e a vida é curta. Ainda em agosto, em homenagem ao Dia do Folclore, acontece em Olímpia, no interior de São Paulo, Grupos folclóricos de todo o país se apresentam durante os 10 dias do Festival no recinto criado especialmente para esta finalidade e, no último domingo, apresentam-se novamente no desfile

de encerramento pelas ruas da cidade. É uma oportunidade incrível de ver uma variedade tão grande de manifestações culturais em um espaço tão curto de tempo! E, claro, há uma infinidade de festas religiosas (a maioria católicas ou do candomblé): a procissão de finados, em homenagem ao Padre Cícero, reúne cerca de 400.000 romeiros em Juazeiro do Norte, no Ceará, no início de novembro e a Festa de Iemanjá na Praia Grande, litoral de São Paulo, atrai cerca de 150.000 pessoas para a praia no início de dezembro, quando membros de 150 templos prestam suas homenagens à orixá.


Festas

FESTA DE IEMANJÁ/ PRAIA GRANDE –SÃO PAULO

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FESTA DAS CEREJEIRAS / PARQUE DO CARMO - SP

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FOTOS DE:

ANDREA GOLDSCHMIDT

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Conservação

Fundação Grupo Boticário seleciona projetos ambientais para apoio financeiro HAROLDO PALO JR./ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA

A De Curitiba

Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza acaba de abrir as inscrições do tradicional ‘Programa de Apoio a Ações de Conservação’. Para essa edição, é possível concorrer em três categorias: ‘Apoio a Projetos’, ‘Apoio a Programas’ e ‘Biodiversidade do Paraná’. As inscrições ficam abertas até 31 de agosto no link http:// www.fundacaogrupoboticario.org. br/pt/noticias/pages/fundacao-grupo-botic%C3%A1rio-seleciona-projetos-ambientais-para-apoiofinanceiro.aspx. A iniciativa visa potencializar a geração de conhecimento, através de pesquisas e estudos da biodiversidade brasileira, além de estimular ações que promovam mudanças positivas no cenário ambiental do país. “Incentivamos projetos que tragam resultados efetivos para a proteção da biodiversidade e contribuam com o cumprimento das metas ambientais internacionais com as quais o país esteja comprometido” afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. A categoria ‘Apoio a Projetos’ selecionará iniciativas que contribuam para a conservação da natureza no Cerrado e na Caatinga, biomas que juntos ocupam 36% do território brasileiro. “A cada edição, escolhemos um ‘recorte’ específico para promover novas iniciativas. Dessa vez, o foco será em projetos de conservação de dois biomas muito importantes para o país. Na Caatinga vivem 27 milhões de brasileiros, além de ser o único bioma exclusivamente nacional. E o Cerrado abriga nascentes de rios que abastecem as principais bacias hidrográficas do país, tanto que carrega o apelido de ‘caixa d’água do Brasil’, afirma a diretora.

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Com o ‘Apoio a Programas’, são abrangidas iniciativas de média e longa duração, que possibilitem ações de conservação da natureza de maior magnitude e que demandem mais tempo para aplicação. Já a terceira categoria - ‘Biodiversidade do Paraná’-, criada em parceria com a Fundação Araucária, seleciona propostas a serem executadas em qualquer região paranaense, como por exemplo, a área de ocorrência da Floresta com Araucárias, ecossistema característico da Mata Atlântica. Linhas temáticas Para concorrer em qualquer uma das três categorias, é preciso que as propostas atendam a uma das quatro linhas temáticas de apoio. A primeira trata de ‘Unidades de Conservação de Proteção Integral e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)’ e tem como objetivo a criação, ampliação e execução de atividades prioritárias de seus Planos de Manejo (documentos oficiais de planejamento das unidades de conservação). A segunda linha visa a execução de ações prioritárias para espécies ameaçadas, seguindo os Planos de Ação Nacional (PANs), documentos que elencam ações prioritárias para conservação de determinadas espécies e ecossistemas. A terceira, ‘Ambientes Marinhos’, é voltada para estudos, ações e ferra-

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mentas para a proteção e redução de pressão sobre a biodiversidade marinha. Nesta edição, essa linha será destinada apenas a propostas da categoria ‘Biodiversidade do Paraná’. Já a linha ‘Políticas Públicas’ (exclusiva para ‘Apoio a Programas’) visa à implementação e fortalecimento de incentivos para conservação da natureza, instrumentos legais para fiscalização e proteção da biodiversidade, consolidação de áreas protegidas e parcerias para conservação. Inscrições Podem se inscrever no Programa de Apoio a Ações de Conservação instituições sem fins lucrativos, como fundações ligadas a universidades e organizações não governamentais (ONGs). Para a categoria ‘Biodiversidade do Paraná’, pessoas físicas e universidades públicas podem se candidatar através do site da Fundação Araucária: http://www. fappr.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=11 A Fundação Grupo Boticário, ao longo dos seus 25 anos, já apoiou 1.486 projetos de 496 instituições em todo o Brasil, contribuiu para a descrição de 141 espécies e para o estudo de outras 240 espécies ameaçadas. Dúvidas podem ser encaminhadas por e-mail para edital@fundacaogrupoboticario.org.br.


Bazar ético

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Sônia Araripe FOTOS DE MAYRA NOLASCO

RECICLA BIJU NO JARDIM BOTÂNICO DO RIO Desde março deste ano, 20 trabalhadoras terceirizadas do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - jardineiras, serviço de conservação e limpeza, administrativo e vigilantes - foram capacitadas para produzir bijuterias a partir de materiais reciclados, que foram doados por funcionários e visitantes do Jardim. O Projeto Recicla Biju é promovido pelo Comitê de Gênero do JBRJ e pela Associação dos Amigos do Jardim Botânico (AAJB) e tem a coordenação de Ana Batista. A novidade acontece em meio à celebração do aniversário de 208 anos do Jardim Botânico. Para comemorar o resultado, aconteceu o “Cores do Jardim”, um desfile de lançamento das peças produzidas. Para realização do desfile o Jardim Botânico contou com o apoio da Casa Geração Vidigal, da Associação franco-brasileira, criada em 2003, sem fins lucrativos, tendo à frente a brasileira Andrea Fasanello e a francesa Nadine Gonzalez. Segundo Ana Batista, a ideia é que este seja um primeiro passo na criação de uma cooperativa de mulheres de baixa renda que trabalham no instituto, marcando o início de suas ações na área de economia solidária. Assim, as participantes terão oportunidade de gerar mais renda para suas famílias ou, simplesmente, fazerem bijuterias para usar ou presentear. “Há melhora da autoestima e também o incentivo da busca de novas oportunidades. Assim, iniciamos com uma campanha de doações de bijus velhas ou sem uso que guardamos em casa achando que vamos um dia consertá-las ou por um valor afetivo. Este material foi reciclado”, explicou Ana. O projeto contou com o apoio integral da Presidência do Jardim Botânico, o patrocínio do Instituto Coca Cola e também da Fundação Klabin. A artesã Adriana Miguel, auxiliar de serviços gerais, destacou que o curso “foi um presente este curso, uma oportunidade. Penso em ensinar para as minhas irmãs e quem sabe depois vender também. ” As bijus foram doadas, desmontadas, separadas e reaproveitadas. Foram criadas mais de 300 novas peças, colares pulseiras e brincos que estão sendo vendidas na loja do Jardim Botânico e o lucro revertido para suas autoras. As bijus foram doadas, desmontadas, separadas e reaproveitadas. Criamos mais de 300 novas peça, colares pulseiras e brincos. “Foi um trabalho concreto de empoderamento e novas oportunidades”, conclui a coordenadora do Projeto.

Onde encontrar os produtos: Loja “Amigos do Jardim”, localizada dentro do Centro de Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Endereço: Rua Jardim Botânico, 1008 Jardim Botânico Site: http://jbrj.gov.br/ Confira o vídeo sobre o Projeto: https://t.co/d2KGCPmRA9 via @YouTube

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Cinema movido à energia de pedal

Cinema sensorial em exposição sobre natureza brasileira O cinema sensorial é parte da Conexão Estação Natureza exposição interativa que une recursos tecnológicos e conteúdos sobre a biodiversidade brasileira - que vem percorrendo as capitais brasileiras desde março de 2015, numa iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Com seis telas dispostas em 360 graus, os visitantes assistem a um vídeo sobre a natureza brasileira, recebendo estímulos sensoriais: vento, chuva, aromas e variação de temperatura. O objetivo da exposição é sensibilizar os visitantes sobre os ambientes naturais brasileiros, para que reflitam sobre a natureza no seu cotidiano.

Dez Anos de Visões Periféricas Nesta edição, que acontece de 6 a 11 de setembro de 2016, o Festival Visões Periféricas completa 10 anos fazendo a articulação entre o audiovisual, educação e tecnologias ampliando o universo de expressão e percepção estética das periferias do país. O festival foi o primeiro a criar um espaço para filmes e realizadores oriundos de oficinas, escolas livres e projetos de formação do Brasil, como também é pioneiro ao realizar exibições em regiões da cidade do Rio de Janeiro que até então não eram contempladas por festivais desse porte, como as favelas.

Processo criativo de Glauber Rocha em livro “Não é uma biografia. É um livro introdutório, com linguagem direta, sobre a trajetória artística e de ativista cultural de Glauber Rocha, dando elementos para que se conheça seu processo criativo em conjunto com suas posições políticas”, explica o autor de “Glauber Rocha: Cinema, Estética e Revolução”, Humberto Pereira da Silva que é professor universitário na FAAP em São Paulo(SP). Apesar de ter falecido há exatos 35 anos, Glauber é considerado o mais famoso cineasta brasileiro.

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Cine Pedal Brasil. Isso mesmo, sessões ao ar livre com filmes projetados por energia gerada por meio de bicicletas que são pedaladas pelo público. A ideia tem percorrido algumas cidades brasileiras como Florianópolis, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Goiânia. A iniciativa além de ser sustentável, já que a energia produzida é limpa, promove a cultura e estimula a prática de exercícios. Explicando como funciona: são 10 bicicletas fixas e 10 bases onde o público poderá encaixar suas próprias bicicletas, de qualquer modelo, desde infantis até adultos. Também há um pedal manual que pode ser utilizado por cadeirantes, crianças e idosos. Ao serem pedaladas, as bicicletas produzirão a energia, que será recebida por um equipamento condensador responsável por alinhar toda a energia gerada que será redistribuída para o projetor e para os equipamentos de som e iluminação utilizados no evento. Em tempo: na programação são exibidos documentários.

Oportunidade para os jovens discutirem o clima A O Film4Climate Global Video Competition 2016 é uma iniciativa conjunta do Grupo Banco Mundial, Connect4Climate e das Nações Unidas, com o apoio de um grande número de parceiros. A competição convidou jovens a se envolverem na discussão global sobre o clima e compartilharem suas histórias de mudanças climáticas, em vídeos que tenham menos de um minuto ou de um a cinco minutos. Os premiados receberão até oito mil dólares e o júri será formado por cineastas premiados, profissionais de comunicação e especialistas em meio ambiente. As inscrições vão até 15 de setembro. Para mais detalhes entre em contato pelo e-mail: film4climate@worldbank.org.


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Pelo mundo

Turismo e ativismo na

PALESTINA

Texto e Fotos de Hélio Rocha, Especial para Plurale De Ramallah, Palestina

U

m fenômeno turístico e comercial vem sendo observado no Oriente Médio e já começa a reunir empresários, profissionais e agentes de turismo. Ao ano, milhares de europeus e norte-americanos, principalmente, mas também cidadãos africanos e de países do Extremo Oriente, como Japão e Coreia do Sul, reúnem-se na Palestina para conhecer o local e seus sítios arqueológicos, e igualmente para prestar solidariedade a um povo atingido por problemas sociais e desordem política. Estive em abril em Ramallah, capital do Estado Palestino, para conhecer esta rede de iniciativas públicas e privadas voltadas para receber o público que visita a Cisjordânia num misto de viagem de férias e ativismo, em busca de história e cultura, sim, mas com os olhos voltados para a política e a preocupação social. A Palestina é um estado reconhecido por grande parte dos países, inclusive o Brasil e os principais centros da Europa ocidental. Por outro lado, países poderosos como os Estados Unidos não dão suporte à sua luta por independência. Isto porque os territórios palestinos são reivindicados por Israel, que mantém controle sobre toda a área com barricadas militares e pontos de controle do Exército Israelense. O clima de tensão entre as duas nações reverbera pelo mundo, mas apenas a experiência de estar na Palestina e viver as dificuldades da população local pode transmitir aos ocidentais como é a vida nos países árabes. Há uma década o local vem se tornando um atra-

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tivo para o chamado “turismo social”. Hoje, 15% do Produto Interno Bruto (PIB) palestino vem do turismo e o Governo planeja fazer este montante crescer para 25% em dez anos. A aposta é, agora, em viabilizar estrutura para receber este já registrado potencial turístico que mistura engajamento social com a curiosidade pela cultura e pela história do Oriente Médio. Entre as iniciativas da Autoridade Nacional Palestina (ANP) está a realização de um amplo circuito de eventos culturais na capital do país, Ramallah, contando com a parceria da iniciativa privada para a criação de uma rede de hotéis e transporte. Hoje, o principal abrigo para quem vai à Palestina é o hostel Area D, bem avaliado em todos os sites de reservas e o único em Ramallah. O Area D, além de manter os visitantes informados sobre tudo que acontece na capital, realiza viagens por toda a Palestina, tendo em seus destinos sempre o foco no interesse social. Por isso, o viajante, hospedado neste albergue, tem a oportunidade de conhecer locais importantes para a vida palestina, como Hebrom, Nablus, Qalandyia ou Al-Amari. Cada um à sua maneira, os principais destinos da Palestina misturam questões sociais aos três mil anos de história e cultura da região, a poucos quilômetros da movimentada Jerusalém. Segundo o proprietário do albergue, que não pode se identificar para não sofrer represálias das autoridades israelenses, que controlam o acesso à Palestina, a ideia de estabelecer um hostel vai ao encontro do perfil dos viajantes: em sua maioria jovens europeus, estudantes, jornalistas independentes e ativistas. “Uma iniciativa desta, que abriga os visitantes

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para período curto e promove viagens de baixo custo, porém realizadas com profissionalismo, é tudo que esta região precisa para que sua economia cresça com o turismo”, afirma. O dono do Area D explica que, apesar de ser europeu, emprega trabalhadores nascidos no país para todas as funções. Desde o atendimento e a limpeza do albergue, até os guias turísticos. “Faço questão de que todos eles ajam com respeito para com os visitantes, expondo a história, cultura e a realidade da região, mas sem permear os passeios de assuntos ideológicos. O turista deve pensar e tirar suas conclusões. Nosso trabalho é mostrar e informar.”

Campos de refugiados: a história que não é contada O destino “número um” para quem procura conhecer a realidade Palestina são os “campos de refugiados”, locais semelhantes às favelas brasileiras, onde vivem os palestinos cujas famílias, segundo os moradores locais, foram expropriadas durante a chegada dos judeus sionistas em 1948, após a criação do Estado de Israel. Sem ter onde morar, os cidadãos que perderam suas casas se reuniram em redutos protegidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que até hoje ajuda ANP a controlar e manter a estabilidade social destes lugares. Os dois mais facilmente visitáveis são Qalandyia, que fica ao lado do muro da Cisjordânia, mantido por Israel desde 2002, e Al-Amari, nas imediações de Ramallah. Nos dois, o viajante pode se deparar com realidades distintas. A alegria das crianças, a força das mulheres que criam seus filhos e cuidam de suas casas em meio a toda dificuldade e cerceamento à



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liberdade por Israel, a energia dos trabalhadores, são confrontadas com o perigo vindo da própria população palestina: vez por outra, encontra-se bandeiras de movimentos islâmicos radicais, como o Hamas ou a Jihad Islâmica. “O cuidado social é o mais importante. Com medidas que permitam aos palestinos trabalharem honestamente, ter condições mínimas de subsistência e perspectivas para o futuro, além da garantia da liberdade, reduz-se o poder de ação desses movimentos”, comenta o guia turístico Ehab Iwidat. A situação de pobreza ao lado do muro da Cisjordânia sensibilizou a grafiteira basca Pitiki X (nome artístico) a pichar sua mensagem de solidariedade no muro: “Basque solidarity towards Palestine – Solidariedade basca para a Palestina”. “É inacreditável ainda haver aqui a divisão que tivemos na Espanha, décadas atrás”, critica Pitiki X. A segurança mantida pelas forças israelenses, que restringem a liberdade dos cidadãos locais, existe principalmente por causa dos assentamentos mantidos por Israel dentro do território palestino. A estratégia, implementada pelos Governos

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conservadores recentes, consiste em ocupar o estado Palestino com população judia sionista, a fim de aos poucos conquistar a região. Aos olhos da própria ONU, que emite boletins mensais sobre a situação da ocupação da Palestina por Israel, tal movimento é uma forma moderna de colonialismo. Cidade onde jaz Abraão é um dos símbolos do conflito Quando o visitante vai a Nablus ou Hebrom, duas cidades do interior, isto se mostra mais latente. Uma viagem de quarenta minutos pode levar duas horas, visto que a cada vinte ou trinta quilômetros há um ponto de controle do Exército Israelense, onde todos devem se identificar. Às margens das estradas, em muitos momentos, vê-se vilarejos árabes e assentamentos judeus. A sensação é de que ambos os lados são prisioneiros do extremismo religioso e ideológico. “Eu me lembro de quando nós, europeus, vivíamos esta prisão alimentada pelo nacionalismo e pelo autoritarismo. Hoje, temos uma comunidade em que somos livres para transitar entre os países. Isto me dá

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esperança”, depôs o agricultor irlandês Peter Byrne, que, já idoso e católico praticante, estava na região para conhecer os locais sagrados das jornadas do profeta Abraão. Nablus, uma das cidades mais antigas da região e centro cultural importantíssimo do antigo Império Otomano, passa ao largo disso tudo e recompensa os turistas com a imensurável bagagem cultural do velho mercado, das fábricas de sabões artesanais, da culinária regada a açafrão e leite de ovelha. Hebrom, entretanto, é um centro disputado por judeus e muçulmanos. Isto porque a cidade abriga a caverna onde supostamente estariam enterrados o profeta Abraão e sua família. Sobre este local, ainda na Idade Média, o famoso general Saladino ergueu uma mesquita, visto que o velho patriarca é o pai de Ismael, do qual descendem os árabes. Hoje, os judeus reivindicam o espaço para estabelecer uma sinagoga, argumentando que Abraão é sagrado na cultura hebraica, que descende de Isac, irmão de Ismael. Por isso, hoje o edifício histórico está sob controle de Israel, que mantém guaritas militares ao seu redor. Metade dele é mesqui-



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ta, onde rezam os árabes, metade é sinagoga, onde os israelenses vão, escoltados pelo exército, fazer suas orações. Por este motivo, Hebrom é hoje um dos símbolos da divisão e do conflito na região. “Todos querem paz. A maior parte dos cidadãos comuns não endossa qualquer forma de conflito. Nisso incluo muçulmanos, como eu, e também os judeus. Mas como solucionar o problema se há uma política de Estado, hoje, voltada para a ocupação das áreas palestinas?”, questiona o guia Mohammad Abumazen. Já um judeu que mantém uma barraca de folhetos ideológicos sionistas, logo à frente da sinagoga, que preferiu não se identificar, contrapõe. “A situação está assim, hoje, porque no passado, quando não havia todo este esquema de segurança, houve atentados aqui”. Exemplo deste depoimento são as inúmeras ruas de Hebrom que estão fechadas pelas Forças Armadas de Israel, visto que nelas, durante os levantes palestinos conhecidos como a primeira e a segunda Intifada, ocorreram ataques terroristas a cidadãos israelenses. Em Ramallah, cultura e paz no Oriente Médio Apesar dos problemas, a bagagem cultural de Nablus e Hebrom, cuja visita a uma mesquita construída por Saladino traduz uma riqueza que abrange merca-

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dos antigos, comércio de especiarias, teatros romanos e igrejas das primeiras décadas do cristianismo, recompensa quem se arrisca a chegar lá. Ramallah, por outro lado, contraria o senso comum sobre o que é o Oriente Médio. Cosmopolita, não para em momento algum. Durante o dia, feiras a céu aberto. À noite, cafés e bares onde é possível beber e apreciar o narguilé. Além disso, a cidade tem uma estrutura mantida pela ANP para receber eventos de repercussão internacional, como o Festival Palestino de Dança Contemporânea, que foi realizado em abril no Palácio da Cultura. Numa das principais atrações do festival, artistas estonianos e palestinos fizeram uma performance mesclando cinema e dança, com depoimentos em vídeo de pessoas que viveram a ocupação estoniana pela Rússia, assim como a palestina por Israel. Os vídeos eram seguidos de música e dança, alternando depoimentos e performance por quase uma hora. “Dois diferentes momentos da história, dois povos diferentes, um mesmo sofrimento e uma mesma força para lutar”, sintetizou a organizadora da atração, a estoniana Barbara Lethna. “Um dia para lembrar que esta história se repete muitas vezes, com o passar do tempo, e não nos damos conta porque acontece longe de nós”, disse a visitante italiana Irene Vlad.

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DIÁRIO DE BORDO Por Hélio Rocha

Um dos pilares da minha carreira como jornalista é a proteção aos direitos sociais e das minorias, tendo o meio ambiente e a sustentabilidade como parte fundamental do equilíbrio para que haja o bem-estar social que procuro construir ao relatar, discutir, criticar ou denunciar iniciativas, temas ou situações que envolvam questões sociais ou ambientais. Por este motivo, associei-me à Plurale em 2015 e, desde então, tenho feito reportagens neste contexto, sobre África, Amazônia, Mariana e, agora, sobre o Oriente Médio. A situação Palestina é um dos entraves mais importantes da região e, por isso, sempre tive interesse neste assunto, mas não fazia ideia do quanto é complicada a situação e do quão delicada é a relação entre muçulmanos e judeus nas cercanias do estado de Israel. Por isso, inúmeras complicações permearam minha viagem, inclusive ao embarcar e desembarcar do avião

para Israel. A companhia aérea El Al, responsável pela maior parte dos vôos da Europa para Tel Aviv (não há vôos diretos do Brasil) tem um rígido controle de passageiros que envolve, inclusive, interrogatórios com pessoas que eles julguem como potenciais ameaças, isto além da hostilidade da política de fronteira, sobretudo quando sabem que o seu destino é a Palestina. Convém não ter no passaporte carimbos de países árabes vizinhos, como Líbano e Arábia Saudita, mas o visitante deve ser sincero ao informar que vai aos “Territórios Palestinos” (não se diz “Palestina” às autoridades israelenses, pois Israel não reconhece o país). Aos jornalistas que viajam à região, é imprescindível algum cartão internacional de imprensa, que facilita a identificação profissional e garante a idoneidade. Apesar de toda a dificuldade, como está claro na matéria, o país recompensa o viajante com muita cultura, sítios arqueológicos exuberantes e com muita discussão política. Afinal, nos países árabes este é o principal assunto de toda roda de conversa, muito mais que o futebol. Em Ramallah, o principal local para se hospedar é o hostel citado na matéria, que pode ser encontrado

em qualquer site de reservas na internet, com inúmeras resenhas positivas. O transporte até a Palestina é feito a partir de Tel-Aviv. Convém procurar por um transporte tipo lotação que fica na porta do aeroporto, com destino a Jerusalém, pernoitar na cidade sagrada e, depois, embarcar num ônibus árabe na rodoviária de Damascus Gate (atenção para isso, porque ônibus israelenses não entram em áreas palestinas). Já na Palestina, as estações o levam a todos os principais destinos, e o albergue Area D auxilia nisso. O shekel, moeda local, é paritário com o real, mas o custo de vida em Israel é exorbitante. Convém levar bastante dinheiro. O próximo destino para a Plurale é incerto. Ainda quero falar de algumas questões ambientais importantes em discussão no Congresso Nacional, o que deve demandar algumas matérias para as próximas edições. No futuro, uma nova incursão na África, assim como a da Namíbia para falar sobre a água, cuja matéria foi publicada em abril de 2015, mas dessa vez para falar da reconstrução social e ambiental de países que estiveram em guerra civil há vinte anos, como Angola e Congo. Até a próxima.


Pelas Empresas

ISABELLA ARARIPE

Quem disse, berenice? lança projeto “retorna berê”

Q

uem disse, berenice?, marca especialista em maquiagem, coloca em prática o projeto retorna berê. A ação tem como objetivo engajar as consumidoras a reciclarem as embalagens dos seus produtos de maquiagem adquiridos em uma das lojas da marca ou e-commerce e, de quebra, ganhar um batom cremoso. É uma forma, com a cara da marca, de incentivar a redução do impacto ambiental causado pelo descarte inadequado de materiais. Para participar, basta se cadastrar no site do projeto, juntar cinco embalagens vazias e se dirigir até uma loja física de quem disse,

Estreia do documentário “São Sebastião do Rio de Janeiro – A formação de uma cidade”

Coca-Cola Brasil lança programa no Amazonas

A Coca-Cola Brasil lançou no dia 31 de maio, em Presidente Figueiredo (AM), o programa Olhos da Floresta. Em parceria com a ONG Imaflora, o projeto vai incentivar a agricultura familiar e a cadeia do guaraná no Amazonas, trazendo oportunidades de inclusão social, geração de renda e uso racional dos recursos naturais. Entre as iniciativas, o programa dará aos agricultores familiares apoio técnico para adotar os Sistemas Agroflorestais (SAFs), modelo alternativo de produção que combina culturas agrícolas e espécies florestais em um mesmo espaço, o que transforma áreas degradadas em férteis. O guaraná do Amazonas também será certificado, com a adoção de controle e rastreabilidade ao longo de toda a cadeia, do plantio até o produto final. Até 2020, serão beneficiadas 350 famílias amazonenses que produzem o guaraná comprado pela Coca-Cola Brasil. Para os agricultores, o programa aumenta a geração de renda ao dimi-

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berenice?. Todas as embalagens da marca, que precisam estar completas para que a troca seja feita, participam do retorna berê. Todas as informações, além da área de cadastro necessária para troca, estão disponíveis no site www.retornabere.com.br. A ação começou no dia 5 de junho em comemoração ao Dia do Meio Ambiente. quem disse, berenice? vai cuidar da destinação final desses produtos. Todas as embalagens serão doadas para cooperativas de reciclagem de todo o Brasil (homologadas pelo Grupo Boticário) incrementando a renda dos catadores que atuam nessas cooperativas.

nuir a dependência de uma só cultura, permitindo a permanência deles no campo a longo prazo. Pedro Massa, diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil, reafirmou a importância do guaraná como matéria-prima regional essencial para o negócio. “Uma cadeia produtiva forte do guaraná, que fortaleça a agricultura familiar promovendo a inclusão social com o uso sustentável dos recursos naturais, responde não apenas aos desafios relacionados à nossa cadeia de fornecedores, mas também é uma condição para o desenvolvimento do interior do estado do Amazonas”, afirmou. “Não existe empresa sustentável se as comunidades não forem sustentáveis. Esse é um projeto de todos nós”, concluiu ele em seu discurso no lançamento do evento.

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O documentário “São Sebastião do Rio de Janeiro – A formação de uma cidade”, estreou no circuito do Rio de Janeiro e São Paulo no próximo dia 26 de maio, com cópias legendadas em inglês. O filme de 90 minutos conta a história dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, pela ótica da evolução de seu urbanismo, através de ricos depoimentos de especialistas e de imagens, narração, iconografia inédita e computação 3D. O documentário foi patrocinado pela Lojas Americanas, Americanas.com, BTG Pactual, Statoil, Estácio, RioFilme e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Durante o filme, imagens antigas e outras feitas nos dias atuais com utilização de drones, barco, helicóptero e câmera-car, explicam como o povoado carioca surgiu até se tornar a “cidade partida” dos dias de hoje.


Número de mulheres que assumiram cargo de CEO em empresas do Cone Sul é o maior em quatro anos O número de mulheres nomeadas CEOs em empresas que mudaram suas lideranças no Cone Sul, região que inclui Brasil, Argentina e Chile, aumentou 12,1% em 2015, a maior taxa dos últimos quatro anos. As mulheres foram indicadas para o mais alto cargo executivo de quatro das 33 empresas da região em que foi registrada rotatividade de CEOs no ano passado. Em 2014, nenhuma mulher ascendeu ao cargo nas empresas que tiveram este tipo de transição. As informações são da 16ª edição do Estudo Anual de CEOs, Governança e Sucesso, da consultoria Strategy&, que realizou um levantamento de transições, entradas e saídas de CEOs nas 2.500 maiores empresas de capital aberto do mundo. Na região do Cone Sul, foram analisadas para a pesquisa as 175 maiores organizações de capital aberto. O Brasil está entre os países onde mais ocorreram mudanças no cargo de

CEO, no ano passado, e foi o que mais acumulou sucessões no Cone Sul. Foram registradas 26 trocas de executivos do tipo em empresas brasileiras em 2015, contra duas trocas na Argentina e dez no Chile. A rotatividade de executivos no Cone Sul, como um todo, passou de 10,9% em 2014 para 21,1%

em 2015. Este número só é superado pelo observado em outra região que inclui o Brasil, junto com a Rússia e a Índia. No conjunto dos três países, 23,6% das companhias tiveram transição de CEOs no período. O índice global de transições em 2015 foi de 16,6% entre as 2.500 empresas analisadas.

CNSeg lança 1º Concurso Cultural Minha Vida Mais Segura A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), com apoio da Superintendência de Seguros Privados (Susep), lançou o 1º Concurso Cultural Minha Vida Mais Segura (#minhavidamaissegura) com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da proteção da sua vida, da sua família e do seu patrimônio. A iniciativa integra o rol de ações da Confederação alinhadas à Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). Nesse sentido, o diretor Geral Executivo da CNseg, Marco Antonio da Silva Barros, destacou que a Educação em Seguros se faz tão importante que está entre as prioridades estabelecidas pelo Conselho Diretor da CNseg para o triênio iniciado este ano.

A temática do 1º Concurso Cultural Minha Vida Mais Segura (#minhavidamaissegura) visa estimular a reflexão, a pesquisa, o debate, a criatividade e o compartilhamento de experiências e informações sobre a cultura da prevenção e da segurança financeira. Para participar, os interes-

sados podem optar pelo envio de vídeos com até dois minutos de duração, posts em forma de texto, fotografias ou ilustrações que contenham histórias reais ou ficcionais sobre a importância de um ou mais tipos de seguro na vida de uma pessoa ou de uma família.

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I m a g e m FOTO DE HAROLDO CASTRO

O

fotógrafo e jornalista Haroldo Castro exibiu na Galeria FNAC Barrashoping – e pela primeira vez no Rio de Janeiro – uma coleção de 12 fotografias de sete países africanos: Madagascar, Namíbia, Tanzânia, Etiópia, Quênia, Uganda e Sudão. A coletânea é o resultado das viagens realizadas desde a expedição jornalística “Luzes da África” em 2010 e da publicação de seu livro homônimo. Destacando o belo e o inusitado – e rechaçando o preconceito habitual existente com a África –, Haroldo pretende, com suas imagens, sublinhar o lado positivo do continente, o potencial do turismo de natureza e a riqueza de uma cultura pouco conhecida pelos brasileiros. Esta foto mostra os braços de três jovens guerreiros Maasai com diversas pulseiras confeccionadas com miçangas coloridas. Orgulhosos de sua cultura, os Maasai continuam usando suas roupas originais e mantêm uma sociedade onde o gado é a principal riqueza da comunidade.


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Cada edição é pensada para gerar soluções, compromissos e novas políticas que ajudem nossas empresas e a sociedade a realizar estratégias de longo prazo visando o desenvolvimento sustentável.

Nossa programação é feita com diversidade e conexões. Com temas como transparência, combate à corrupção, adaptação à mudança do clima, cadeia de valor, diversidade, empreendedorismo e inovação, preparamos diálogos inspiradores para um público visionário e inovador.

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20 e 21 de setembro no Transamerica Expo Center

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