Revista Baú Cultural

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EDITORIAL

Novos É tempos

EDITORIAL Revista Experimental do curso de Comunicação Social da FACCAMP - 2013. Anderson de Oliveira Cruz André Cardoso de Medeiros André Luiz dos Santos Rocha Anna Lydia Lopes Acuio Bruna da Costa Camila Gabriela Gonçalves Daniel Sérgio Sousa Debora Cristina Santos Porfirio Fabiano Henrique Duarte Giovane de Oliveira Almeida Gislaine Rafaela de Souza Joyce Silva dos Reis Karen de Faria Simoni Luciano Maciel Mayeda Luma Angelica Leal Monique Joyce Borges Nathalia Sardinha Lacerda Priscila Rodrigues da Silva Rafael Godoy da Silva Renata Rodrigues de Macedo Rosalha Donizeti Machado Rubens Pereira da Silva Samir Lorosa Rodrigues Tamires Ferrigno da Silva Vania Fernanda Crivellaro Vivian Santana Costa Wellington Alves Pereira Supervisão dos professores: Ms. Cecília Luedemann Edição Ms. Paulo Genestreti Fotografia Esp. Leonardo Feitosa Diagramação As matérias não representam necessariamente a opinião da FACCAMP.

com grande satisfação que apresentamos a você, leitor, a primeira revista cultural do curso de jornalismo. Baú Cultural tem o objetivo de recolher as riquezas da cultura de Campo Paulista e Região. Nas páginas a seguir, você encontrará a reportagem sobre a orquestra de violeiros de Itatiba, a entrevista com o grupo de Rap Ladeira 1, reportagem sobre os Coletivos Culturais de Campo Limpo e Jundiaí e sobre a Congada de Atibaia, a matéria sobre o Cine Clube, as Crônicas sobre o Festival Sabores de Jundiaí e sobre a Biblioteca Itinerante, entre outras matérias. Tudo isso dedicado a você, jovem antenado que quer curtir a sua cultura de raiz na região. Os jovens brasileiros estão no caminho certo, fazendo manifestações e não aceitam mais os legisladores corruptos que reduzem os investimentos em educação e cultura de nosso país. Nós lutamos por uma democracia direta e mudanças imediatas, principalmente na cultura. Os alunos do curso de jornalismo da Faccamp se dedicaram para que você leitor possa usufruir das matérias que lhe darão uma nova visão sobre a arte existente nas cidades do interior de São Paulo próximas a Campo Limpo Paulista. Neste primeiro exemplar lembramo-nos das dificuldades que levaram ao fim de algumas revistas, como o baixo número de anúncios publicitários, o pouco interesse dos anunciantes em pautas dedicadas à cultura. A evolução digital e o relativo baixo número de exemplares vendidos contribuíram com o apagar das letras das revistas culturais de renome nacional. Novos tempos, os estudantes de jornalismo estão exercitando a reportagem cultural para suprir essa carência. A juventude se ergue com novas ideias e novos olhares para o Baú Cultural. Saudações a todos, um bom entretenimento e até a próxima edição. Rubens Pereira Estudante de jornalismo


ÍNDICE

EXPRESSO TURISMO LUZ- JUNDIAI Pg. 4

Coletivos Culturais: Uma nova forma de fazer cultura Pg. 8

Crianças, escondam seus brinquedos, os palhaços querem brincar

Pg. 6

Uma viagem ao tempo. A Biblioteca Móvel. Pg. 10

Cineclubismo em Jundiaí Pg. 12 Os Saraus voltaram Pg. 14 Feira da amizade retorna com a solidariedade do passado Pg. 18

UM TEATRO PARA VIVER E BEM AQUI ENTRE NÓS Pg. 16

Observar é Mudar! Pg. 20

Natal afro em Atibaia Pg. 24

Caipira de raiz, violeiro Pg.de 28 coração

Agenda Cultural

O poder da atração Pg. 34

Um rolê na Ladeira Pg. 30

Pg. 32

Festival Sabores de Jundiaí Pg. 34

Uma moto para amar Pg. 38


A

estação da Luz foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1867 e teve a inspiração de Londres a terra do Big Ben. Era o tempo em que o trem era o meio de transporte do país, pois era um luxo naquela época avião e nem existia tantos carros como tem hoje na capital paulista. E para relembrar aquele tempo bom, vamos embarcar em uma viagem no Expresso Turismo Jundiaí.Um passeio que começa sempre aos sábados, pontualmente as 08h30min, e leva exatamente 1h30min. No balanço do vagão, iniciamos uma viagem no tempo, com ar de história, pela primeira ferrovia de São Paulo que ligava Santos a Jundiaí e transportava produtos agrícolas, principalmente o café. Em um vagão da década de 1950 todo reformado no Brasil, tracionados por uma locomotiva a diesel nos leva em uma viagem de 60 km, ao passar por várias cidades, avistamos o Pico do Jaraguá e logo mais a primeira fábrica de cimento do país, de 1926, na cidade de Perus. Ansiosos com o que iríamos encontrar na cidade, resolvemos bater um papo com alguns passageiros que,

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reprodução

história

EXPRESSO TURISMO LUZ- JUNDIAI

pelo olhar, transmitiam lembranças do passado. A dona Janete, uma senhora muito simpática de 89 anos, relembra que quando era criança por volta dos seus 9 a 10 anos, viajava com sua vozinha de trem e ela ficava pendurada na janela do vagão e era uma diversão: “Me sinto completamente feliz, por estar revivendo meu passado...” diz ela com o brilho no olhar. Já a dona Valdete, advogada de 48 anos, diz que como adora fotografar, esse é um passeio que além do contato com a natureza, vai poder fazer o que mais gosta: “Sair da rotina do dia a dia, esquecer a roupa social e o sapato de salto e curtir a natureza não tem preço.” Diz a advogada ansiosa pela chegada ao destino. Ao ouvir o som da buzina do trem, fooommm... fooomm!!! É a chegada à cidade de Jundiaí, referente ao Rio Jundiaí, cujo nome é proveniente da língua tupi e significa “rio dos peixes jundiás”. A vocação da região, além da produção de fruta,é a indústria, não foi por acaso que a cidade foi escolhida para abrigar a primeira fábrica da APPLE no Brasil. Sem contar a tranquilidade que a região oferece.


Começando o turismo rural, visitamos um sitio com produção de uvas e vinhos, acompanhados de explicações e curiosidades sobre o plantio da uva e o resgate da fabricação de vinhos. Fomos recepcionados por um grupo italiano, muito animado, com a história dos imigrantes italianos da região de Jarinú. Jundiaí é a maior produtora de uva Niágara do país e na fazenda além das plantações encontramos toneis de vinho, produzidos por aqui mesmo. “A propriedade faz parte do circuito das frutas, onde temos um sitio produtor de uva, caqui e pokan e nesse sitio está localizado a Adega Beraldo Di Cale”. No sitio, além da Adega, há o restaurante Beraldo Di Cale, batizado com este nome em homenagem ao avô Beral , nascido em Cittaducale na Itália, e que em 1905 veio com seus pais para o Brasil trazendo na bagagem o gosto pelo vinho e pelo cultivo das vinhas. Solange Paulini Sgarioni, neta de Beraldo e hoje proprietária da adega localizada na estrada de Jarinu, km 12 – Caxambu – Jundiaí SP, explica cada processo, desde o plantio da uva até o momento em que o vinho é vazado e disponibilizado para a venda. Em um tour pela adega, degustando de vinho a vinho, e se encantando com o processo de fabricação, o apetite vai se abrindo e nosso passeio segue. De volta para a estrada, em direção ao município de Louveira para experimentar o melhor da comida caipira, deparamos com um cardápio mais do que caprichado pela cozinheira Edna. Dentro de tantas opções, o aroma vai me conquistando de panela a panela, e assim saciando a nossa fome que naquele momento parecia ser sem fim. Alguns passos a mais, avistamos uma igreja, uma praça e um banco, chegamos ao centro de Louveira, com o céu cinza, cidade calma e barriga cheia foi tudo o que eu precisava. Toca o sino e já esta na hora de voltar, deixamos a vida no campo de lado e voltamos para a rotina da minha cidade grande.

Jundiaí é a maior produtora de uva Niágara do país e na fazenda além das plantações encontramos toneis de vinho, produzidos por aqui mesmo. “A propriedade faz parte do circuito das frutas, onde temos um sitio produtor de uva, caqui e pokan e nesse sitio está localizado a Adega Beraldo Di Cale”. No sitio, além da Adega, há o restaurante Beraldo Di Cale, batizado com este nome em homenagem ao avô Beraldo, nascido em Cittaducale na Itália, e que em 1905 veio com seus pais para o Brasil trazendo na bagagem o gosto pelo vinho e pelo cultivo das vinhas. Solange Paulini Sgarioni, neta de Beraldo e hoje proprietária da adega localizada na estrada de Jarinu, km 12 – Caxambu – Jundiaí SP, explica cada processo, desde o plantio da uva até o momento em que o vinho é vazado e disponibilizado para a venda. Em um tour pela adega, degustando de vinho a vinho, e se encantando com o processo de fabricação, o apetite vai se abrindo e nosso passeio segue. De volta para a estrada, em direção ao município de Louveira para experimentar o melhor da comida caipira, deparamos com um cardápio mais do que caprichado pela cozinheira Edna. Dentro de tantas opções, o aroma vai me conquistando de panela a panela, e assim saciando a nossa fome que naquele momento parecia ser sem fim. Alguns passos a mais, avistamos uma igreja, uma praça e um banco, chegamos ao centro de Louveira, com o céu cinza, cidade calma e barriga cheia foi tudo o que eu precisava. Toca o sino e já esta na hora de voltar, deixamos a vida no campo de lado e voltamos para a rotina da minha cidade grande. amanda suzano


PALHAÇADA

Crianças, escondam seus brinquedos, os palhaços querem brincar “Se por acaso virem carros flutuando, o Sol a piscar, flores a cantar, chuva de Turbaína caindo, não se assustem, há algum palhaço por trás disso!”

N

ão é à toa que chamamos palhaço àquele que nos incomoda. Pois este ser destemido, invariavelmente, mete seu nariz vermelho onde não é chamado. Ele zomba da ordem, tem atitudes egocêntricas e está pronto para tirar do sério a qualquer pessoa ou coisa que apareça à sua frente. Aliás, é o seu próprio nariz pulsante quem chama para si as atenções a fim de provocarlhes reações ou risos. Segundo a explicação de Benjamim (personagem de Selton Mello em O Palhaço, 2011): “o rato come queijo, o gato bebe leite, e eu... Sou palhaço”. Ele é uma criança inteligente e mimada. Quem se aventura ou intenciona tornar-se Palhaço é levado, antes de qualquer coisa, a despir-se de suas camadas, a mandar o seu adulto politicamente responsável, polido e pudico a tirar férias em um SPA. O sujeito vai encontrar em si mesmo a identidade da criança sincera, com galo na cabeça e um belo ranho no nariz. E vai brincar. O espaço para fazer esta experiência existe, fica na Rua Dr. Almeida, em Jundiaí, e chamase Ateliê Casarão. 6

Sem datas preestabelecidas, a oficina “A Arte do Riso” é ministrada por Cláudio de Albuquerque, proprietário da casa e palhaço maior. Geralmente realizada em quatro dias, os candidatos imergem em suas próprias vivências e personalidades e vão aprender a rir de si mesmos. - Há uma animação da Pixar em que um velhinho joga xadrez sozinho e debocha de seu adversário, que é ele. Podemos definir assim o espírito do curso. Como dissemos ainda, o Palhaço não é apenas uma criança, mas uma criança inteligente. Todo o processo é envolvido em História e estudos de estereótipos, jogos de cena e estratégias de patifaria. Para dar outro exemplo, podemos usar o personagem de Charlie Chaplin em Tempos Modernos: uma figura inocente, mas perspicaz, que zomba sutilmente da estrutura industrial e a subverte. E mimado, porque para o Palhaço simplesmente não existe a palavra “não”. De sapatos grandes e coloridos nas ruas Ao encerramento de cada oficina,


Palhaços do Ateliê Casarão fazendo arte no Parque da Cidade

os neófitos da pândega saem pelas ruas com suas novas roupas, narizes de plástico, nomes de bufões e seus sonhos. O mundo é então o seu playground, e as pessoas (desconhecidas normalmente), seus colegas de play. O palhaço Lexotan sentiu do fundo do deserto da sua alma uma sede de camelo e sugeriu aos seus amigos tomarem água. Purpurina, não se sabe o porquê, achou que estava sendo desafiado e intimouos todos a beberem a água da cidade inteira! Palhaço não diz não. De loja em loja, de casa em casa, exigiram água para beber às cuspidas e engasgos. Subiram ao prédio da Rádio Difusora, queriam a água que lhes era de direito. Não só conseguiram “matar a sede”, como entraram no ar e deram entrevista para os ouvintes da cidade. Um triunfo de missão. É meio pesado dizer, mas beberam água até no banheiro. Despido da sua criança, então como gente normal, o palhaço Abacate (Renato Borges, 26) deu o seguinte depoimento:

“A intervenção artística mostra o lado cômico de situações, por vezes reais, em que o público (que se vê na mesma situação das personagens) compartilhará dos pequenos distúrbios que enfrentamos na batalha do dia a dia. O Objetivo central é a quebra da rotina através do riso, que é a válvula de escape de todos nós e o fio condutor da força que nos mantém vivos, para enfrentar o stress diário”. Mais ou menos o mesmo que disse ao vivo para a Rádio: que queria apenas beber água. serviço O Ateliê Casarão fica na Rua Dr. Almeida, 265, Centro, Jundiaí. O espaço também oferece oficinas de dança, tambores, teatro. Além de ser uma opção para a exposição de artistas e espetáculos. Todo primeiro domingo do mês acontece o Sarau dos Arteiros.

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CULTURA

Coletivos Culturais: Uma nova forma de fazer cultura

A cultura da região tem novas opções para atrair pessoas de diversas tribos e classes A alvorada nasceu e trouxe o brilho do descanso, era domingo. A cidade descansava depois de uma longa semana de trabalho. Das redes sociais via se uma movimentação estranha. Um sarau, jamais tinha visto algo parecido. Do cartaz vi uma proposta interessante, “artistas da cidade e apreciadores locais com a intenção de utilizar os espaços públicos e fazer cultura sem qualquer ajuda governamental” assim descrevido pelo Organizador David Gustavo. David e seus amigos, Willian Sanches Grilo, Tiago Afonso e Viviane Almeida formaram há dois anos o “Coletivo Corredor Cultural”. Afinal, o descaso com a cultura ali já via de administrações anteriores e por isso resolvi ver de perto e fui até a praça central da cidade. Lá chegando deparei com crianças e idosos, jovens e mais jovens, artistas e pessoas que só estavam de passagem. Assistiam uma apresentação de teatro no qual me juntei à roda para acompanhar. A apresentação parecia estar na metade, sem entender muito acompanhava as risadas e olhava para o resto do evento. Detalhes com uma exposição de quadros, uma biblioteca livre e um varal de ideia não passaram despercebidos e tive certeza de estar no lugar certo.

público. Os saraus vieram como principal ação daquele Coletivo que reunia esses artistas, a maioria independentes, para festejar junto com a população e para a mostrarem seu trabalho. Mesmo não tendo muito contato com a prefeitura nos últimos dois anos, os organizadores ainda insistem em reuniões com pessoal do poder, tentam diálogos e projetos que detêm a ajuda de outros dois Coletivos Culturais, o “Cultura Jundiaí” e o “Coisarada”, parceiros de ideias e projetos. Enquanto o Coletivo Corredor luta em Campo Limpo Paulista por um Conselho Municipal de Cultura, para direcionar as verbas culturais do governo somente para a Cultura, o “Coisarada” tem como objetivo promover a produção artística e eventos alternativos, como os realizados no segundo semestre de 2013, a Semana do Audiovisual (SEDA), Cineclubes e o evento musical “Sambinha na Laje”. De repente volto à realidade. Perdi-me em um Cartaz explicando as intenções do Coletivo, e ao lado a programação dizia que naquele horário um grupo de rap iria se apresentar. E enquanto o Ladeira 1 mandava suas rimas eu reparava que mais pessoas chegavam e paravam para ver o espetáculo. Mais de 300 pessoas estavam ali. Um grupo de skatistas, famílias, fotógrafos. Todos apreciadores da Cultura. O crepúsculo chegará e lua minguante sorria para o “grand finale”. Bandas agitavam a noite de um evento marcado por atrações, educação, companheirismo, e o mais importante, Cultura. O único modo de juntar pessoas de todas as raças, comportamento e estilo. COLETIVOS CULTURAIS NO BRASIL

Sarau da Boa Vizinhança, assim nomearam, em referência à união de Chaves, Seu madruga e os personagens daquela Vila. Organizado pelo “Coletivo Corredor” como citei lá em cima. O coletivo começou de discussões entre artistas e apreciadores de Cultura sobre a deficiência da cidade em projetos culturais e depois passou para reuniões semanais abertas ao 8

O surgimento dos coletivos culturais no país teve ligação direta com o cenário musical independente, iniciado nos anos 70. Com o aumento da seletividade da indústria fonográfica, os artistas precisaram ter meios alternativos para mostrar sua arte. O modelo mais conhecido e que deu início ao que conhecemos como Coletivos Culturais nos dias de hoje se deu com o Fora do Eixo, em 2005, originado para levar as atividades culturais fora do Eixo São Paulo- Rio de Janeiro. Os coletivos modernos são assim, associações entre pessoas com objetivo comum de desenvolver o cenário artístico e cultural de determinada região, como explicam Cristiane Olivieri e Edson Natale, no livro Guia brasileiro de Produção Cultural.


Coletivos Culturais: Uma praça e muita história Uma praça comum bem no centro da cidade, espaço para descanso durante o dia e à noite, o ponto de encontro de prostitutas. A Praça das Rosas já foi local de reunião de famílias e de histórias de amor década atrás, mas por conta do descaso hoje está esquecida. Um grupo de jovens resolveu retomar a Praça como um espaço em comum e agradável a muitas pessoas que passam por ela, com um gesto simples. Redecorá-la com rosas, caixinha de livros e pintura dos bancos, e a praça já estava com outra cara. Esta foi a primeira ação do Coletivo Cultura Jundiaí, projeto que ganhou vida no ano de eleição municipal de 2012, após o encontro de artistas e ativistas culturais, Claudio de Albuquerque, Cíntia Carvalho, Carmen Nogueira, Ede Galileu e Henrique Parra Parra. O momento foi propício para convidar artistas, ativistas culturais e, claro, políticos. “Um dos principais objetivos do coletivo é unir quem produz quem consome e quem também está à frente da Cultura na Cidade, através do uso de políticas culturais.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Esta era a hora”, afirma Cíntia Carvalho. Pode definir como políticas públicas o conjuntos de ações, atividades e programas desenvolvidos pelo estado, com a participação de entidades públicas e privadas, que visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento cultural social, cultural, étnico ou econômico. São direitos assegurados constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e poder público. Como exemplo de política pública temos educação e saúde que para assegurá-las estão instituídas pela própria constituição federal, as políticas públicas de educação e saúde.

O resultado de encontros e debates sobre política cultural- sempre agregado por mais interessados no assunto-, foi a Carta de Compromissos, escrita pelo grupo e que foi entregue aos candidatos a prefeito, com propostas para a Cultura durante os próximos 4 anos. “Começamos a mudar a lógica dessas eleições, e pela primeira vez os artistas se uniram para dizer o que querem para sua cidade. Ao

contrário de outras campanhas, onde os artistas serviam de atrativos para os partidos e escondiam a falta de interesse e conhecimento dos candidatos em relação à cultura, mostramos que estávamos ali e íamos cobrar”, conta Henrique Parra Parra.

Desta forma, o Coletivo Cultura Jundiaí conquistou um diálogo eficiente e concreto, onde os artistas e interessados puderam expor sua opinião e seus desejos para a cidade. “Além da Intervenção na Praça e a Carta de Compromissos, o Coletivo organizou bate papos com os artistas, para fortalecer e enriquecer as diversas manifestações culturais, além de propor um catálogo de contatos destes talentos e participação efetiva no Conselho Municipal de Cultura”, explica Ede Galileu. De uma simples intervenção em uma Praça de Jundiaí até a interferência em projetos públicos culturais, isto mostra a importância de um Coletivo, quando formado por pessoas que desejam a mudança, assim como a participação da sociedade, para a consolidação da cultura na cidade. Mesmo após as eleições, o grupo mantém sua postura de cobrar e apontar novas ações para fortalecer, promover e fomentar a cultura e seus artistas. “Continuaremos inspirando e cobrando, fazendo nossa parte”, finalizam. CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA A política cultural de cada município brasileiro está totalmente ligada ao sistema nacional de cultura do ministério da cultura que visa manter a participação de todos no controle social dos recursos destinados a projetos, culturas e ações e na definição de políticas culturais do município.

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cultura

O Encontro Uma viagem ao tempo. A Biblioteca Móvel. Um pequeno espaço com muitas imaginações, imaginações grandes, pequenas assustadoras, sentimentos essenciais. Prateleiras imensas com histórias diferentes e distintas, porém algo lhe chamara a atenção. Seus olhos brilham, lhe enchiam de orgulho e satisfação. Isto lhe fazia muito feliz. Ao mesmo tempo em que podia se aproximar cada vez mais do local desejado, podia se afastar e sentir saudades. Saudades que deixam um gostinho de quero mais, sede de conhecimento para desvendar novos caminhos, criando um novo mundo imaginário. Suas imensas rodas, seu desenho colorido e chamativo e o roncar da partida, cada aceleração da um novo caminho a traçar. A porta se abria, o primeiro passo já estava a diante, e ao entrar sabia que já não queira sair dali tão cedo. O mundo se fechava e era a abertura para desvendar seus sonhos. Havia uma menina, ali. Estava parada em pé, diante de tudo que lhe convinha. Carol estava com sede, sede de tudo que lhe era negado, negado pela vida, pelo tempo. Mas o universo estava em seu favor, e em turbilhões de pensamentos, Carol não achava sua fuga. Sua sede aumenta mais e mais e os pensamentos a colocam em êxtase.

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O que ela mais precisava era de um único mergulho, dentro do imaginário. Ela se sentia assim, querendo sempre mais. Então o que a vida não lhe proporcionou estava ali diante de seus olhos, e atônita, com uma respiração ofegante, deu um passo a frente. E quando menos esperava, Carol encontra um lugar pra chamar de seu e mergulha naquele copo, mata a sede e tudo começa a fazer sentido, as palavras se encaixam. E tudo o que ela precisava era estar diante daquilo que era uma imensidão, que fazia sentido, cada palavra, as prateleiras. E quando Carol percebeu estava diante dos contos que ouvia falar, mas que nunca havia visto com os próprios olhos, que ao mesmo tempo brilhavam, mas não descansavam, e a sensação daquelas folhas em suas mãos, ao virar cada página, e o cheiro de papel, talvez antigo, ou não, às vezes até coçava o nariz, mas não a importava. Diante de tudo, passará algum tempo. Tempo que o fez relembrar aquele momento vivido quando criança. Sentada na praça, era outono e ela apenas relembrava este momento que a fez feliz quando criança, dentro do ônibus-biblioteca, em Jundiaí. A biblioteca ambulante que já não existe mais.


Cultura

Livros caminhantes

A cultura

está acima

da diferença

da condição social.

A biblioteca móvel surgiu há mais de 70 anos em Jundiaí, com a doação de um caminhão. Mas, em 1942, devido à necessidade de racionamento de combustível na II Guerra Mundial, a biblioteca ficou encostada. Somente em 1979 o serviço foi retomado a adaptado por uma Kombi, com o objetivo de atender a bairros desprovidos e recursos culturais. Em Jundiaí, um ônibus levava a esperança às regiões mais distantes das bibliotecas até 2009. A verba da prefeitura foi então usada para investimentos maiores, uma biblioteca foi criada no complexo da Argos, e foram gastos 4 milhões de reais, para abrigar mais de 19 mil livros. Mas, milhares de crianças e jovens não podem chegar na magnífica biblioteca de Argos. O ônibus carregadinho de livros não circula mais entre as ruas empoeiradas e esburacadas onde mora a maior parte da população. Faltou à adminstração burocratizada ouvir o conselho do poeta e pesquisador modernista: “Em vez de esperar em casa pelo seu público, vai em busca do seu público onde ele estiver.” Mario de Andrade.

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cinema

Cineclubismo em Jundiaí Cineclube consciencia

O CINECLUBE CONSCIÊNCIA é um espaço aberto e democrático de exibição gratuita e de debate de filmes e possui uma programação variada de produções que estão, em sua maioria, fora do circuito comercial. Essa alternativa surgiu em 2007, com o objetivo de proporcionar o desenvolvimento da cultura audiovisual em Jundiaí e região. A palavra “Cineclube” muitas vezes é entendida como um clube em sua forma tradicional, que necessita de carteirinha para ser frequentado: essa visão está totalmente errada! Somos um espaço aberto, e para assistir a um filme não

é necessário conhecer ninguém que vá ao Cineclube Consciência ou que faça parte da Comissão Organizadora, também não é necessário avisar: é só chegar e assistir, como um cinema, mas de graça. Procuramos trazer ao Cineclube uma discussão rica com os frequentadores; por isso também procuramos trazer palestrantes ou convidados com o objetivo de buscar a reflexão sobre os assuntos baseados em vários pontos de vista. Além do espaço para o cinema, o Cineclube Consciência está aberto para outras formas de expressão cultural promovendo festas, saraus e outros. Parceiros

Rua Livre

N

osso projeto paralelo: encontro mensal de cultura no espaço do Grupo Zama, com exibição de filmes, debates culturais, música, dança, teatro e etc, também gratuito, e feito por quem quiser!

Bicicletada Jundiaí CECISP (Centro Cineclubista de São Paulo) Cineclube CineUFSCar (São Carlos/SP) Cineclube Osvaldo de Oliveira (Itu/SP) Cinema Sem Tempo (críticas) Coletivo Video Popular Cultura Jundiaí Fórum Caxambu (movimento socioambiental de Jundiaí) Guia Vamos Lá Jundiahy (descobrindo e redescobrindo a cidade) Ong. Voto Consciente Jundiaí Overdose de Cultura (informações culturais de Jundiaí) Revista Bagre RUA Revista Universitária do Audiovisual

Projeto Rua Livre 12

Saudades do Bom Cinema (críticas)


MÁXIMO BARRO EM JUNDIAÍ

PROJETO CINECLUBE NA CIDADE TRAZ O MONTADOR MÁXIMO BARRO PARA JUNDIAÍ

O cinema está de volta ao centro da cidade! O Projeto Cineclube na Cidade está no seu último mês de realização e inicia novembro com uma superprodução nacional, exibindo o filme “Cinema, Aspirinas e Urubus” na próxima quarta-feira. O filme é a primeira direção do diretor recifense Marcelo Gomes. A Prefeitura de Jundiaí por meio da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio do Cineclube Consciência, promove o projeto Cineclube na Cidade, proporcionado mais uma opção de cultura à cidade, com sessões de cinema gratuitas às quartas-feiras de agosto a novembro na Sala Glória Rocha. O projeto Cineclube na Cidade cria um espaço alternativo de cinema com debates e convidados, oferecendo reflexão e difusão cultural. Sala Glória Rocha Rua Barão de Jundiaí, 1093, Centro 4521-0971 Verifique a classificação indicativa do filme

Quando? Sessões de filmes: Todos os sábados às 19 horas. Sessões na Fatec O Cineclube exibe e discute filmes gratuitamente todos os sábados às 19h no auditório da Fatec de Jundiaí - SP. As sessões são escolhidas dentro de um tema mensal e buscamos sempre er um convidado especial por mês

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SELO

Os Saraus voltaram Daniel Sérgio

Em Jundiaí, no interior paulista um grupo traz a magia da poesia

O

s tempos dos saraus culturais estão de volta, ao menos em Jundiaí, interior paulista. Há nove anos, um grupo de escritores, poetas , músicos e amantes da literatura, resolveram criar um espaço destinado a declamações de poesias e apresentações musicais. A ideia surgiu meio que por acaso, como lembra Júlia Heimann, diretora social e uma das fundadoras do Grêmio Cultural Professor Pedro Fávaro. “Estávamos em uma reunião da Academia Feminina de Letras, quando sentimos necessidade de mais reuniões para apresentação dos trabalhos dos acadêmicos.” Foi aí que

A alegria da poesia 14

surgiu a ideia da criação do Grêmio. A homenagem do ex-prefeito e professor Pedro Fávaro, foi importante pela realização nas terras jundiaienses, lembrou Júlia. Era o dia 17 de abril de 2004. As escritoras Júlia Heimann, Olga de Brito e Mercedes Rinaldi fundaram o Grêmio Cultural. Nove anos já se passaram e o grupo continua levando poesia, música e cultura à comunidade. “Não somos um grupo fechado”, disse Júlia, mas qualquer pessoa com vocação para a poesia e artes em geral, pode participar das reuniões e dos saraus. Ótima oportunidade a quem aprecia a literatura.


Fundação Criado oficialmente no dia 12 de agosto em 2004, data nacional das artes em solenidade no Gabinete de Leitura “Rui Barbosa”, centenária entidade de Jundiaí, o Grêmio Cultura Pedro Fávaro passou a oferecer um espaço importante às artes literárias e apresentações musicais. As reuniões acontecem no Museu Histórico e Cultural Solar do Barão, localizado no centro de Jundiaí. O prédio, aliás, no passado foi residência da família do Barão de Jundiaí, Antonio de Queiroz Teles. Como curiosidade, hospedou o imperador do Brasil D. Pedro II. Também acontecem reuniões na Biblioteca Pública da cidade. O nome foi uma sugestão do senhor Ivan Fleming Taibo e foi aprovado por todos, sem dúvida uma justa homenagem àquele que foi prefeito e sempre contribuiu pela elevação do nome de Jundiaí, em todas as áreas do conhecimento humano. A primeira gremista a ocupar a presidência foi a escritora Ester Benessutti. No ano de 2009, uma homenagem foi prestada ao então prefeito da cidade, Ari Fossen, quando do lançamento da segunda edição da coletânea dos trabalhos do Grêmio. Anteriormente, em 2007, fora lançada a primeira coletânea. O prefeito Ari morreu em 2012. Na organização das coletâneas, Ester Benessutti, Olga de Brito, Celso de Paula e Elisângela Pelegrinelli. Esta última participou do lançamento na segunda edição. Ambos os trabalhoscontam com poesias, crônicas e contos e estão disponíveis na biblioteca municipal de Jundiaí para consulta e empréstimo aos leitores interessados. Vale a pena, uma oportunidade de leitura, além de usufruir do espaço público que a biblioteca oferece. Algumas das reuniões do Grêmio Cultural Professor Pedro Fávaro, também ocorrem nas dependências da biblioteca jundiaiense, que localiza-se na antiga sede da fábrica Argos. Por si só, um retorno às tradições jundiaianas.

Trilha Maria Ligia Biancardi Pés descalços Anseiam justiça Caminham sobre pedras Sangram Não param Encontram percalços E descalços continuam Superam-se na existência Vitória? A persistência. Beijos Agda Leal Sensação gostosa do agrado do aquecer da esperança de ser feliz beijo beijo beijo beijo

na boca molhado livre gostoso

beijo finito beijo infinito beijo eternamente beijo beijo, sempre beijo, beijos!

Declamando versos 15


CULTURA

UM TEATRO PARA VIVER E BEM AQUI ENTRE NÓS A história de teatro experimental em Campo Limpo Paulista. Tudo começou há oito anos, com o professor de teatro Cleber Lima, em Campo Limpo Paulista. Assim nasceu o Núcleo XIII de teatro experimental. Cena 1: Sala de direção professor Nelson Gentil. Personagem 1 Nelson Gentil: Olá Cleber, estava pensando em criarmos um musical para a Faccamp, pois, como você sabe, eu gosto muito de teatro! Personagem 2 Cleber: Nossa que legal, mãos obra. Cena 2: Seleção da equipe para o musical com a presença de um coreógrafo e figurinista. Personagem 2: Nelson, já consegui formar o elenco do nosso primeiro espetáculo que contará a história da música popular Brasileira o Brasil em Sete Notas. Personagem 1: Excelente, estou ansioso. Cena 3: O grande dia. Narrador: Com o sucesso do primeiro espetáculo o grupo deslanchou com muitas outras apresentações ao longo dos anos. Como Isto é Guarani e Respiração. Cena 4: Primeiro Festival de Monólogos. Narrador: O diretor do Núcleo Cleber Lima realizou a primeira edição de Festival de Monólogos com a intenção de promover um intercâmbio entre os alunos da Faccamp e artistas de fora. Cena 5: Bate bola com a imprensa. Personagem 3 Imprensa: Cleber, em sua opinião ,qual foi a peça que mais marcou a história do grupo ? Personagem 2: tem dois espetáculos que são muito significativos na história do núcleo e cada um com o seu motivo.

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Um é o Tinho que é o um espetáculo juvenil e eu acho que ele é muito importante na história do núcleo, porque ele tem uma produção muito grande, uma cenografia, figurino, e o projeto desse espetáculo ganhou prêmios, foi patrocinado pelo Governo do Estado e da Sabesp. Então, eu acho que ele é significativo por conta do tamanho dele, da proporção que ele tomou, é um espetáculo cheio de informação visual, mistura teatro com dança, música e produção multimídia. Então, eu considero bem completo nesse sentido. E o outro é o Isto é Guarani. Por que eu acho que ele é significativo na história do núcleo? Porque foi o primeiro espetáculo que o grupo rompeu com o modelo de teatro mais tradicional com a história de começo, meio e fim, foi o espetáculo que os participantes se identificaram muito com uma linguagem diferente, mas corporal.


Personagem 3: Gilka, como atriz, o que você acredita que pode ser feito para resgatarmos a cultura em nossa região? Personagem 4 atriz do elenco Gilka: Há muito por se fazer. Enfrentamos uma sociedade arraigada de tradições interioranas, e quem se dispõe a encarar novos desafios artísticos sempre sofre um pouco mais! Creio na infinita possibilidade de nos ajustarmos melhor quando às políticas públicas estiverem mais abertas a um diálogo que englobe os artistas de diversos gêneros a construírem espaços na sociedade onde sua arte garanta prestígio e valor aqui no interior, além de proporcionar uma ampla abertura do consumo de cultura. Personagem 3: Cleber muitas pessoas alegam não ter acesso à cultura pelo fato de terem que pagar valores muitos altos para assistirem um espetáculo de qualidade. Em média, qual valor de espetáculo do Núcleo XIII? Personagem 2: A maioria das peças que são apresentadas aqui na Faccamp são gratuitas, algumas vezes a gente faz o projeto: “Pague quanto pode”. A pessoa vem, assiste, e, na saída, se ela quiser contribui com alguma quantia. Cena 6: Agradecimentos. Narrador: Obrigado, a todos e todas que de alguma forma nos ajudaram a construir e realizar esse sonho, um teatro experimental em Campo Limpo Paulista! E registrar um pouco de sua história.

Espetáculo “Respiração”.

Espetáculo “Há vagas”.

Bastidores do I Festival de monólogos.

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CRÉDITO DE FOTÓGRAFO: CANTO SUPERIOR ESQUERDA NA VERTICAL

FEIRA DA AMIZADE 18

Feira da amizade traz jovens, adultos e crianças para festejar ao som de Ba-Boom


Música, comida e artesanato são as atrações da Feira em Jundiaí

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Feira da amizade é uma festa em prol das entidades do município de Jundiaí para celebrar com amigos e a familiares. Em 1969, o público compareceu em peso para ver o Rei Roberto Carlos, como lembra o estudante de jornalismo Rubens Pereira: “Na época eu tinha 15 anos, era um adolescente de classe baixa que, com muito custo conseguiu comprar o ingresso. Afinal, eu tinha que comparecer ao show de um cantor espetacular, que era nada mais que o rei da Jovem Guarda, foi uma festa que jamais esquecerei”. Atualmente, esse evento é uma oportunidade para colaborar com o trabalho de 28 entiCRÉDITO DE FOTÓGRAFO: CANTO SUPERIOR ESQUERDA NA VERTICAL

ENTRETENIMENTO

Feira da amizade retorna com a solidariedade do passado

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Primeiro dia da feira da amizade reune vários amigos e familiares.

dades beneficentes. Nos dias da feira, há vários shows de artistas de fora e da região e inúmeras barracas de comidas típicas como italiana, alemã, japonesa, entre outras. “O público realmente comparecia para prestigiar, pois se tratava de uma feira beneficente. Todos ajudavam a feira”, explica o estudante de jornalismo Marcio Teixeira. Ele participou do evento em 1993 e sente saudades: “Ainda bem que voltaram com a feira este ano. E, pelo que fiquei sabendo, passaram por lá aproximadamente 20 mil pessoas nos dois finais de semana. Infelizmente não pude ir esse ano”, completou Marcio. Um evento para todos os gostos

Um grande presente para os Jundiaienses A Feira foi retomada em Jundiaí após 15 anos e com grande estilo. O objetivo principal era reunir amigos e familiares em um dia diferente e agradável. A Secretaria de Cultura de Jundiaí selecionou apresentações de bandas e artistas, que foram compostos por: Trupe Pling, Chico e banda, Samba Chic 2, Fábio Porte, Ba-Boom entre outras e encerra com a Patrulha Noturna. O evento é para todos os gostos, com restaurantes temáticos que serviram comidas italianas, brasileiras, japonesa e alemã. Além disso, há botecos com porções e salgados diversos. Para as crianças, a Turma da Mônica agita o espaço Feirinha da Amizade. Já os jovens contam com um lounge cheio de tecnologia, jogos e música eletrônica.

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POLÍTICAS PÚBLICAS 20

Observar é Mudar! Segundo Mário Quintana quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação

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odos os dias a maioria da juventude faz o mesmo caminho, a maratona se inicia às7h, corro para tomar o café da amanhã no trajeto de minha casa ao ponto, pulo de emprego a outro até as 18h, enfrento a terceira fila do Marginal. Lembrando que cada uma tem aproximadamente 15km e ainda espero chegar a faculdade até as 19h30mim. Ironia a parte, mas não para por aí. Entro no ônibus carinhosamente apelidado de ”expresso sardinha” que se prepara pra sair, olho ao meu redor e vejo pessoas penduradas uma sobre as outras, vozes unidas num coro de reclamações que vão desde o dia estressante com o chefe até a situação do país, “pois é tudo culpa do governo”. Tive a sorte de conseguir um lugar ao lado do cobrador para sentar, respiro aliviada. Porém, essa alegria dura pouco, porque o jovem consciente tem que dar lugar aos idosos. Nada como uma música para relaxar. O problema é quando a sinfonia começa a ficar desordenada, é uma mistura de funk, pagode, rap, gospel, sertanejo, que deixa qualquer tribulante do “expresso sardinha”, irritado. A juventude está dividida em várias tribos, vários ritmos, mas se é trabalhador, o problema é sempre o mesmo: falta de participação política. Essa é a realidade que milhares de adolescentes e jovens enfrentam, mas podem ser mudadas, com alguns projetos de conscientização e políticas públicas. Na verdade, os direitos da juventude estão sendo disputados e redigidos no Estatuto da Juventude. Assim, reeducar uma porcentagem de jovens que seja, não garante recuperar

os valores que estão se perdendo com a violência, falta da valorização da educação, de cultura, de estímulo ao trabalho. Por diversas vezes, os jovens são privados do exercício da cidadania e veem seus direitos fundamentais sendo ameaçados ou violados pela omissão ou ação inadequada do Poder Público. O Observatório da Juventude, é uma exceção, em 2006 ganhou apoio durante um encontro do projeto ”100 Cidades para 100 Projetos Itália – Brasil”, onde representantes de Várzea apresentou o projeto “Entrando na rede” despertando o interesse dos representantes de Turim, que aprovaram o projeto no município. Para a o população em geral, quando falamos em Políticas Públicas logo remetemos a algo impossível ou cem por cento burocrático e mal podemos imaginar que pode ser bem mais simples que isso. Ao descobrir sobre o Observatório da Juventude,localizado no espaço Cidadania de Várzea Paulista, na rua: Avenida Ipiranga, 151 - Centro; Cidade, resolvi conhecer este espaço contra a discriminação enfrentada por jovens e adolescentes por morarem nas periferias. No Observatório, os objetivos, missões e valores implantados são diferentes. Logo me veio à cabeça uma palavra: “Eureca”. Em seguida, me questionei será possível tudo isso em Várzea Paulista? Queria algo novo em minha cidade, para desmistificar a velha expressão “ Tinha que ser Várzea”. Soube de um grupo de jovens que vai busca melhorias para a Cidade. O que impressiona é ver jovens e adolescentes de 14 a 29 anos defender o lugar onde


instrumentos musicais, prateleiras repletas de livros, quadros pintados pelos próprios frequentadores, por todo espaço. Detalhe! Tudo isso em uma pequena sala da Prefeitura. O coordenador me apresentou o time, duas estagiárias: Bruna Manoela e Daniela Mattos ambas com 17 anos, antes frequentadoras e agora idealizadoras do movimento, Leandro Gonzaga, professor e orientador. Vinícius explica: “O objetivo é articular os projetos juvenis na cidade, buscando um diferencial, um resgate de identidade, formar cidadãos confiantes e líderes”. O que impressiona é a força com que defendem seu espaço, por meio de argumentos, brincadeiras, intervenFOTOS: JOYCE REIS

vivem, pois Várzea é um lugar de muitas recriminações pelos próprios moradores. Sabendo sobre projetos de participação política da juventude, decidi fazer um caminho diferente do habitual, desembarquei na prefeitura com o objetivo de conhecer os jovens do Observatório da Juventude. Vinícius Rocha, o coordenador do projeto, me guiou até sala, e,ao abrir a porta para conhecer o pequeno “grupo”, de início ficaram desconfiados, mas logo dispensaram apresentações e disseram tchau à timidez. Na sala havia pufes, bancos, paredes coloridas, computadores, videogame, havia um som ambiente,

Hoje em dia é tudo na mão, tudo vem fácil e não há uma valorização. Aqui buscamos devolver esse olhar , ir em busca e mudar um pouco que seja essa realidade Leandro Gonzaga

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ções sociais em praças, paredes, ou apoio com outras secretarias da prefeitura. Daniela, uma menina mulata de voz doce, sorriso largo no rosto e brilho nos olhos.Nas palavras, simplicidade. Fez questão de começar a falar sobre o projeto. No começo toda formalidade, procurando minunciosamente as palavras corretas para argumentar, depois deixou-se tomar pelos sentimentos, falando do relacionamento com os organizadores e como entrou no projeto. Daniela sempre estudou no bairro Jardim América III em Várzea Paulista, considerado periférico na Cidade, tinha tudo para ir para se deixar influenciar pela criminalidade, marginalização, o respeito mútuo pela cidadania não era prioridade. O brilho no olhar buscava mais e mais: “Foi assim que Daniela fez, buscou na primeira instância o Centro de assistência Social (CRAS) , de lá pra cá sua visão começou a mudar, perceber as mudanças que poderia fazer em sua cidade, a importância de projetos voltado para a juventude e a politicas publicas. Ela quer fazer faculdade de serviços sociais e trabalhar em Várzea, pois para faltar do observatório, só se estiver de cama” com um sorriso discreto, afirma Daniela. O Observatório da Juventude faz parte da mesma secretaria que envolve o CRAS, os adolescentes e jovens a grande parte são frequentadores do centro de assistência, de baixa renda no município. Quando perguntei a Daniela o que mudou em sua vida depois de ingressar no grupo, a resposta foi concisa, acertou diretamente o alvo: “TUDO! Desde a minha forma de agir, de pensar e me comunicar. Não vou dizer que vou mudar o mundo, pois é utópico demais, porém é possível, mudar minhas atitudes, minha casa, meu bairro , minha Cidade”, conclui ela. Por meio das oficinas, de Web Cidadania, formação de liderança, reuniões com os facilitadores do CRAS, 22

corresponsabilidade, todo mês é realizado uma temática diferente. Com o objetivo de salientar a deficiência do público juvenil no município, com pequenas intervenções em espaço físico, montar uma amarelinha numa praça para valorizar as cantigas e brincadeiras que estão se perdendo hoje em dia e dar outro sentido ao lugar, até mesmo plantar flores, fazer poemas, graffitis, em outros espaços públicos. Intervir é dar vida, cor, é trazer a arte, expressar-se e também sentir-se responsável pela cidade. SERVIÇO Público: Jovens de 15 a 29 anos Horário de Funcionamento: De segunda a sexta das 8h às 17hs Atividades: Todo mês é trabalhado um tema por meio das atividades facilitadas pelos jovens educadores. O ciclo inicia na segunda com uma atividade cultural geradora das discussões e ações. Terça: Entrevistas e pesquisas sobre o tema. Quarta: Oficina de Webcidadania (Cyberativismo), Fórum de discussão. Quinta: Formação de Liderança por meio de roda de conversa sobre o tema e produção de materiais colaborativos (fanzines, jornal mural, cartazes, vídeos e fotos) Sexta: Eventos Mais informações: Visite a página no facebook Observatório da Juventude


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fernando maia/divulgação

Congadas

Natal afro em Atibaia Marcio Mariano e Agostinho Almeida, congos atibaienses, explicam a origem da cultura afrobrasileira preservada com suas cores, músicas, danças e fé

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Por Renata Macedo tibaia, cidade paulista, que comemora o natal não com a figura estrangeira do Papai Noel e seus presentes, mas com as congadas, cavalhada e alvoradas é uma alternativa para seu roteiro de fim de ano. De 25 de dezembro ao primeiro domingo de janeiro, a cidade tem as congadas nas ruas e levantamento dos mastros dos santos de devoção. O Baú Cultural viajou até a cidade da Pedra Grande que mantém a memória da cultura afrobrasileira em nosso continente para conversar com os congos Marcio Mariano, 55 anos, coordenador da Congada Rosa, e Agostinho Almeida. Venha conhecer conosco as nossas tradições afrobrasileiras nessa longa e boa prosa. Baú Cultural: O que é a Congada? Marcio Mariano: A Congada é fé, é religião, é família, é saudade, é tradici24

nalmente uma grande festa. Iniciei aos sete anos, admirando e imitando meus pais, hoje coordeno, muitas vezes com lágrimas nos olhos, mais de 60 pessoas; entre elas, homens, mulheres e crianças que lá, são: mestres, dançantes e violeiros. “São os meus guerreiros”! Baú Cultural: Existem outros grupos de congadas em Atibaia? Marcio Mariano: Sim, existem cinco grupos de Congada em Atibaia: Rosa, Vermelha, Verde, Azul, Branca. . Baú Cultural: Como surgiram as primeiras apresentações? Marcio Mariano: Atibaia, fundada em 1665, foi caminho obrigatório para os Bandeirantes rumo a Minas Gerais. Com isso, chegaram os negros vindos da África para o trabalho escravo. Nesta época, os fazendeiros e coronéis possuíam a fazenda e a “casa da cidade”.


Após servirem o almoço de natal, nas casas da cidade, os escravos se dirigiam para a igreja do Rosário, construídas para eles e por eles por volta de 1776, para realizarem suas manifestações. Surge, assim, para comemorar o Dia do Senhor Menino, o levantamento dos mastros de nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, dando início ao ciclo natalino. As festividades em Atibaia iniciam no dia 25 de dezembro e vão até o primeiro domingo após o dia 6 de janeiro. Os dias de comemoração incluem muita devoção, manifestação de fé e homenagens. Baú Cultural: O que significa levantar o mastro? Marcio Mariano: Para mim, significa a união entre o céu e a terra. “É como se esse mastro levasse, por intermédio de nossa Sra. do Rosário e de São Benedito, nossos agradecimentos e pedidos a Deus”. Levantamos no início da festa, no dia 25 de dezembro de cada ano e derrubamos no dia 6 de janeiro, encerrando a festividade. Baú Cultural: Como é estruturada uma apresentação da Congada Rosa? Marcio Mariano: Normalmente o grupo se apresenta em duas fileiras, tendo a frente os líderes, que entoam as melodias, que são respondidas pelos demais integrantes. Baú Cultural: O que significam as cores das vestimentas dos congos em uma apresentação? Marcio Mariano: As cores representam nossa identidade. Eu, nasci Rosa, ... (Risos). Como a formação dos grupos das congadas está ligado à fazenda a qual os escravos pertenciam no passado, eram seus donos quem os davam as roupas,daí os grupos serem diferenciados pelas fardas. Os trajes, em geral são: Calças compridas, camisas e chapéus, sendo que o diferencial está nas cores que compõem o figurino ou a cor da camisa e do chapéu.

Baú Cultural: O que determina que instrumentos sua congada irá utilizar em suas canções? Marcio Mariano: O instrumental é parte de nossa história, da história da nossa região, do nosso povo. Sendo assim, dependendo da região temos: Violas, violões, rabecas, pífaros e muita percussão como bumbos, caixas, taróis, surdos, chocalhos, cuícas entre outros. No litoral de São Paulo, por exemplo, temos a marimba. A Congada Rosa, traz como símbolo a principal a espada, implemento esse encontrado também no Moçambique, em forma de bastão feito de madeira. Baú Cultural: Qual o objetivo das músicas? Marcio Mariano: As músicas são homenagens aos nossos padroeiros, festeiros, povos. Normalmente, são curtas e repetitivas. A Congada Rosa têm como padroeiros Sra. do Rosário e São Benedito. Baú Cultural: Fale sobre a Congada Rosa. Marcio Mariano: Natal em Atibaia tem congada, “nós estamos lá, tocando, cantando, dançando e louvando. Nossa grande reunião acontece na praça do Rosário, no centro da cidade. É maravilhoso ter nosso povo unido no coração da nossa cidade!” Falar da Congada Rosa é também falar da vó “Chica”, que tinha um jeito todo especial para trazer novos congos para nossa família. Ela era nosso exemplo, bastava dizer que íamos dançar, que a criançada começava a choradeira para ir junto. Hoje, é difícil trazer os jovens para manter nossas tradições. Parece que eles perderam o valor de nosso povo, esqueceram nossas lutas. Tenho que citar também os “festeiros”: pessoas que valorizam nossas raízes e perpetuam as cerimônias realizadas pelos nossos antepassados. Eles trabalham de diversas maneiras para 25


angariar fundos para nos ajudar a realizar as festas. Destaco ainda a ajuda incondicional recebida da prefeitura do município de Atibaia, que nos direciona e apoia sempre tornando possível cada festividade. Baú Cultural: Quem é o responsável pela Congada Rosa? Marcio Mariano: Após a morte do Sr. Norico, Alfredo Pereira da Silva, eu, Marcio Mariano, minha esposa, Benedita Maria de Jesus Mariano, a “Bene”, e a Sra. Maria Antônia Oliveira assumimos esse compromisso com muito orgulho. Contamos também com a ajuda de outros membros, como: Adriana Aparecida Oliveira, Janaína Aparecida Caetano da Silva. Baú Cultural: Quem é o integrante mais antigo? Marcio Mariano: É o Sr. Agostinho Almeida, ele têm 73 anos, é nosso compositor, cantor e violeiro. “É um exemplo de dedicação e devoção”. Baú Cultural: Como Funciona os bastidores das apresentações, quem organiza cada detalhe da apresentação? Marcio Mariano: Quando digo que somos uma grande família é porque realmente somos. Quem produzia as fardas era a Sra. Maria Aparecida Hydalgo, costureira e moradora de Atibaia, amiga da D. Maria Antonia. Esse ano, nós a perdemos. Os chapéus são forrados pela “ Bene” e pela Sra. Maria Antonia. Cada congo é responsável pela higiene de suas vestimentas e o Sr. Antônio de S. Amaral, cuida carinhosamente de cada instrumento. Baú Cultural: Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela Congada Rosa? Marcio Mariano: Com certeza a falta de dinheiro, de divulgação e a baixa participação de jovens e crianças. “Hoje, somos reconhecidos em várias cidades 26

da região, e pouco conhecidos em nossa própria cidade”. Baú Cultural: Sr. Agostinho, o que é a congada Rosa para o senhor? Agostinho: “Congada Rosa é minha religião, dança, é vida, a minha vida! Sou devoto e me manterei ativo até quando eu aguentar. E olha que eu aguento até as bolhas nos pés durante os dias de apresentação de fim de ano, e olha que doem.”. (Risos) Baú Cultural: Quem é o integrante mais novo? Agostinho Almeida: É o Paulinho Batista, de quatro anos, da cidade de Bom Jesus dos Perdões, iniciou por influencia dos pais. Baú Cultural: Como é um dia que tem apresentação para o Sr. Agostinho? Agostinho Almeida: “Nossa, fico agitado, muito ansioso, não vejo a hora de começar. Parece que na congada reencontro todas as pessoas que amo e que não estão mais conosco, sinto como se ainda estivessem comigo, ali, no meio da dança, da nossa fé...” fernando maia/divulgação


• Por Atibaia passaram os antigos bandeirantes no século XVII, que desbravaram as terras em busca de índios e minerais preciosos. A cidade fica numa região de serras, possui, segundo senso 2010, 126.614 habitantes. Situada a sudeste do Estado de São Paulo, Atibaia abrange uma área de aproximadamente 490 km², sendo 57% zona rural e 43% zona urbana. • O município localiza-se entre três

importantes regiões do Estado: fica a 67 km de São Paulo, 60 km de Campinas e a 90 km de São José dos Campos. Além disso, está no centro do maior pólo consumidor do País, no cruzamento de duas das mais importantes rodovias para o desenvolvimento da região, do Estado e da nação: a Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, e a Rodovia Dom Pedro I, que liga Campinas a Jacareí. fernando maia/divulgação

Levantamento de mastro

União entre o céu e a terra

• A festa do Mastro, ou festa do levantamento do Mastro, é uma cerimônia em que um grupo de pessoas levantam um tronco de árvore. É uma tradição ancestral, de origem pagã, originalmente celebrada em diversos países da Europa, simboliza a força e fertilidade masculina. A tradição de Atibaia foi trazida pelos portugueses e

é encontrada também em cerimônias de festas juninas. • O mastro é de madeira, geralmente eucalipto, podendo ter até 15 metros. Traz a imagem de um santo padroeiro em uma bandeira colocada na ponta do mastro. O levantamento do Mastro geralmente coincide com o início da festa ou do ciclos do qual pertence. 27


POLÍTICAS PÚBLICAS

Caipira de raiz, A Orquestra de Violeiros de Itatiba alia técnica e paixão para o renascimento da música caipira brasileira

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expressão do rosto sempre dividida entre a ansiedade, a felicidade e o prazer. A mesma bolsa preta pendurada em um dos ombros carregando sua viola e no outro seu tripé e pasta com partituras. Camisa branca, lenço azul enrolado no pescoço e, claro, o chapéu que praticamente é sua marca registrada, sua identidade e também de todo seu grupo. Está aí mais um violeiro pronto para se apresentar e resgatar uma cultura que, a princípio, parecia perdida, porém, está mais viva do que nunca no coração dos apaixonados pela música caipira. O Conservatório Municipal “Alba Panzarin Degani”, grande prédio histórico da cidade de Itatiba, é onde toda essa magia acontece e se desenvolve a cada dia. É lá que a Orquestra de Violeiros de Itatiba, formada praticamente por integrantes da terceira idade, é mais uma prova clara de que é possível reunir sentimen-

“Antigamente nem um sonho existia...” “Mágoa de Boiadeiro” – (Nonô Basílio e Índio Vago)

“Na estrada longa da vida, eu vou chorando a minha dor...” “Meu Primeiro Amor” – (Hermino Gimenez)

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to, trabalho e satisfação. O projeto começou com poucas pessoas e se expandiu de forma gratificante, capaz de levar alegria e resgatar lembranças de nossa cultura através de seu repertório. A Orquestra começou a se formar em 2009 por meio de uma parceria entre o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), o Sindicato Rural de Itatiba e a própria Prefeitura. Com as aulas ministradas pelo Professor Marcos José dos Santos, oito alunos concluíram suas aulas onde aconteciam na Casa de Agricultura. No ano seguinte, o curso foi oferecido novamente, sempre sob o comando do professor. Logo, os locais para ensaio estavam ocupados, e assim, começaram a utilizar a garagem de uma integrante, onde ficaram por um ano. Visto todo o esforço e dedicação, o Grupo com então 22 violeiros fizeram uma parceria com a AEPTI (Associação de Escritores, Poetas e Trovadores de Itatiba) que permitiu o uso das instalações a ela destinadas para as aulas, permitindo assim que o professor Marcos continuasse a ensinar.


Apresentação após apresentação, o grupo de violeiros se desenvolveu cada vez mais e chamou a atenção tanto do município quanto da região. Passaram a participar das famosas viradas e reviradas culturais, festas juninas entre outros eventos. Todo o preparo, toda a organização e também repertório que vão desde a música de caipira raiz como por exemplo Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco até os mais atuais como Roberta Miranda e Victor e Léo. São eles que produzem o repertório e é sempre notado o gosto, o prazer, o talento e o dom de se trabalhar com a música e cultura caipira. O mais surpreendente não é só esse trabalho, mas sim por quem é feito. Atualmente, o grupo é formado pela terceira idade e entre eles, alguns jovens. O destaque fica em saber que essa terceira idade é responsável por resgatar essa cultura. É responsável por se preocupar com essa raiz e principalmente, por trazê-la de volta não só nos palcos, mas no coração daqueles que admiram.

divulgação

violeiro de coração

A Orquestra de Violeiros é um grupo com idades, raças e pensamentos variadíssimos, cabeças diferentes, então, principalmente por ter uma maioria “maior idade”, agrega amizade, conhecimento, vontade de aprender, não buscando ser um artista famoso, não é este o objetivo, mas é fazer alguma coisa boa, propagar as raízes da música caipira e levar essa alegria ao público. Neste mundo onde vemos tantas coisas ruins, cantar e tocar é uma forma boa de levar uma mensagem. Poder participar é uma realização pessoal, porque saímos de casa, deixamos seu trabalho e vida pessoal até de lado para se dedicar a música que traz uma satisfação muito grande. Tenho certeza que as pessoas que lá estão esquecem de suas dores, dos problemas e levam para dentro de si uma motivação para viver.

Yvone de Souza Igarashi, 65 anos, diretora cultural da Orquestra de Violeiros de Itatiba

“Seus lábios de rosas para mim sorrindo...” “Índia” – (M.O. Guerreiro e José Fortuna)

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MÚSICA

Um rolê na Ladeira Trocamos ideias com o grupo de Rap da cidade Campo Limpo Paulista, o Ladeira 1 Matéria produzida pelos alunos do curso de Jornalismo Anderson Cruz e Nathalia Lacerda 3º Semestre e Bruna Costa 4ª Semestre

divulgação/GINO TADEU

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divulgação/GINO TADEU

divulgação/GINO TADEU

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Agenda Cultural

20/11 5ª Virada Municipal da Consciência Negra

Calçadão em frente a estação de trem de Francisco Morato Ás 10h - Entrada Franca

22/11Lançamento

do Livro “O sol do oriente” Câmara Municipal de Cajamar Ás 19h - Entrada Franca

23/11Yamandu Costa e Borguetti Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h30 - Entrada R$ 10,00

23/11“Ser tão Caipira”

Teatro Ralino Zambotto - Itatiba Ás 20h

23/11Festival de dança e teatro Câmara municipal de Louveira Ás 19h30 - Entrada Franca

24/11Oficina de Violino

Teatro Ralino Zambotto - Itatiba Ás 20h

24/11“O menino que mordeu Picasso” Teatro Ralino Zambotto - Itatiba Ás 10h

25/11Dança “A Loja Mágica de Brinquedos”

Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h30 - Entrada R$ 20,00 plateia R$ 25,00 camarotes 32


26/11 Recital de Piano Solar do Barão - Jundiaí Ás 19h - Entrada Franca

28/11 Dança “Belly Vegas”

Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h - Entrada R$ 20,00 plateia R$ 25,00 camarotes

30/11 Trair e Coçar é só Começar Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h

3/12 Apresentação musical Projeto Guri 4/12 Grupo Serenata Naquele Tempo

Museu Histórico e Cultural- Solar do Barão - Jundiaí Ás 18h

Museu Histórico e Cultural- Solar do Barão - Jundiaí Ás 19h30 - Entrada Franca

6/12 Apresentação da Banda São João Batista

Museu Histórico e Cultural- Solar do Barão - Jundiaí Ás 19h30 - Entrada Franca

6/12 Show Vale Tudo – Tributo a Tim Maia Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h30 - Entrada Franca

6/12 Noite Jazz

Conservatório Municipal - Itatiba Ás 20h

14/12 Orquestra de Violeiros de Itatiba Conservatório Municipal - Itatiba Ás 20h

14/12 Menor Que o Mundo! Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 19h - Entrada Franca

16/12 Dorothy e o Mágico - Espaço do sapateado Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h30 - Entrada R$ 32,00

17/12 Mulan - Escola de dança Anna Paula Ballet Teatro Polytheama - Jundiaí Ás 20h - Entrada R$ 20,00 plateia R$ 25,00 camarotes

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Gastronomia

Uma linda e saborosa massa que forma um elegante envelope com recheio de mussarela de búfala e rúcula.

Festival Sabores de Jundiaí

Uma viagem gatronomica fascinate, cultural e deliciosa na região de jundiaí

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eço licença para contar a minha experiência. Talvez muitos de vocês já tenham feito algo parecido, mas pra mim foi algo inusitado e sem igual. Sou uma pessoa apaixonado por gastronomia. O meu prato favorito é aquele bem feito, não tenho um específico. Também adoro conhecer lugares novos, culturas diferentes e história. Por isso sempre tentei juntar minhas coisas preferidas, viagem e comida, em um único trabalho. Confesso que não é uma coisa muito fácil, mas é muito prazeroso. Todo ano participo de um tour gastronômico que acontece no centro de São Paulo, onde moradores e turistas podem conhecer a cidade de um modo diferente, divertido e delicioso, saboreando os mais diversos tipos de lanche que a capital paulista pode oferecer. Tem para todos os gostos. Sempre pensei que algo desse gênero só acontecesse longe da 34

gente, ou seja, apenas nos grandes centros gastronômicos. Ignorância da minha parte, pois sem saber direito o que tem na região onde moro, fugia para o centro de São Paulo em busca de novas “culturas”. Há alguns meses fiquei sabendo que a cidade de Jundiaí estaria “construindo” um circuito gastronômico na cidade com o nome de Festival Sabores de Jundiaí. A primeira impressão não foi das melhores. Eu particularmente não conhecia direito os restaurantes da cidade, muito menos as especialidades de cada um. Acho que a minha pergunta foi a mesma de outras dezenas de moradores: Jundiaí tem estabelecimentos suficiente para isso? Decidi entrar no site para entender melhor e, quem sabe, poder participar. O site é bem explicativo e de fácil entendimento. O Festival Sabores de Jundiaí uniu 50 tipos de restaurantes diferentes, in-


cluindo franquias, onde cada um deveria montar uma receita diferente do qual já servia na casa, e dar o nome fazendo alguma referência à cidade, seja histórica, cultural ou turística Já achei interessante, pois muitos moradores da cidade (me incluo nessa parte), não conhecem os atrativos turísticos, nem gastronômicos que a cidade tem a oferecer. Além desse diferencial, os organizadores do festival criaram uma espécie um de “passaporte gastronômico”. Em cada estabelecimento que o cliente for e comer o prato participante do festival, ele ganha um carimbo no passaporte. As primeiras mil pessoas que conseguirem 10 carimbos ganham seis copos personalizados com imagens de monumentos e atrativos turísticos de Jundiaí. A ideia é excelente e chamativa. Decidi, então, partir em busca de novos sabores e “cai de boca” nesse festival. Meu ponto de partida foi no próprio site, onde pude fazer um pré-roteiro e me

localizar pra pegar meu passaporte gastronômico. No dia 04 de novembro, dia do lançamento do festival, (anunciado em uma universidade da cidade), fui até o Centro de informação Turística pegar meu passaporte, convidei minha noiva para almoçar e comecei meu roteiro saboreando o Manicaretti Caxambu, uma linda e saborosa massa formada por tiras de massa verde (trigo, ovos e espinafre) e massa branca (somente trigo e ovos), que forma um elegante envelope com recheio de mussarela de búfala e rúcula. Assim como dizia em meu passaporte, a massa era leve, saborosa e surpreendente. Até então, eu nunca havia saboreado algo tão delicioso como esse prato. Sai satisfeito do restaurante e com gostinho de quero mais. Meu primeiro carimbo no passaporte foi no Família Brunholi Restaurante, no Caxambu. Passaporte carimbado tracei meu próximo destino. Fui saborear o Yakisoba Parque da Cidade, do restaurante Jin Jin Wok. Um prato delicioso de Yakisoba Tradicional. E de sobremesa o Rolinho Romeu e Julieta, feito com uma massa fina e recheio de mussarela com goiabada, outro prato delicioso! Em cada restaurante que vou, uma história fascinante e um sabor irresistível. Até agora, o atendimento dos restaurantes, pratos e histórias oferecidas vem sendo excelentes e eles estão cumprindo com que o festival se propõe a oferecer. Se você quer se deliciar e aproveitar essa oportunidade para conhecer melhor a cidade de Jundiaí, é melhor correr. O festival se encerra no dia 30 de novembro.

Uma viagem deliciosa

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CRÉDITO DE FOTÓGRAFO: CANTO SUPERIOR ESQUERDA NA VERTICAL

MÚSICA

O coral durante uma apresentação no dia 27 de outubro, em Campos do Jordão

O poder da atração Há mais de 20 anos, o Coral Adulto do Centro Cultural de Campo Limpo Paulista canta e encanta o público, além de representar a cidade em competições em todo o Estado

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rinta vozes ecoando juntas num salão. No som, terapêutico, é possível identificar os primeiros versos da canção O cio da terra, de Milton Nascimento e Chico Buarque, que faz parte da trilha sonora que o grupo embalou na apresentação durante o 4º Encontro de Corais Corporativos, em Campos do Jordão. A música faz analogia ao ciclo dos alimentos e da vida e pode ser comparada à etapa em que vivem os cantores desse coral, em sua maioria, na terceira idade. No ensaio, os poucos espectadores sentiram um inusitado incomodo no pescoço. Nada grave. É que no final da tarde de todas as sextas-feiras o Coral Adulto do Centro Cultural de Campo Limpo Paulista se reúne para ensaiar, e pelos vidros da fachada do prédio é possível vê-los. Os encontros acontecem no cento da cidade, na avenida principal, e quem a utiliza não deixa passar des36

percebido, atrás da placa de vidro, uma iluminação, os movimentos das mãos do regente Marcos Antonio de Almeida Rosa e de uma pianista ao teclado, levando ritmo a canção. Quem tem a oportunidade de entrar se depara com um espetáculo que vai além da música. A forma como os alunos mostram prazer pela vida e pela convivência com seus colegas pelos olhares durante uma canção e outra. É a satisfação de fazer parte de algo. De cantar, e por que não, de compartilhar com alguém os seus interesses. O Coral Adulto é apoiado por uma empresa, e através desse tipo de contribuição outras atividades como oficina de cultura e um coral infantil são desenvolvidas. O grupo participa de diversos eventos tanto dentro como fora da empresa e já tem gravados dois CDs, “Sons, Culturas e Canções” e “Missa Criola”.


A cena

CRÉDITO DE FOTÓGRAFO: CANTO SUPERIOR ESQUERDA NA VERTICAL

A apresentação aconteceu durante o Encontro de Corais Corporativo em Campos do Jordão, no dia 27 de outubro, com lotação do auditório interno Claudio Santoro no Museu Felícia Leirner, com capacidade para até 870 pessoas. Sua arquitetura moderna mistura elementos rústicos com grandes paredes de vidro que valorizam a luz natural e a paisagem do entorno, além de manter o conforto do público. Tudo isso, misturado ao clima da cidade e à sensação de calma proporcionada pelo canto dos corais. Com o local e o som da apresentação a sentimento é de paz. Ao descerem do palco, no rosto de cada um já estava estampada a alegria e satisfação de dever cumprido. Alunos como Carlos Bento Silva Júnior, 58 anos, é uma das poucas vozes masculinas que compõem o coral. Para ele, sair da sua casa e ir até ao Centro Cultural, no coração de Campo Limpo Paulista, e uma “verdadeira terapia”, onde “a música tem o poder de entrar no espírito”. A iluminação da pura luz do dia, a arte de apresentar a música existe e resiste, sempre e nunca faltará.

A pinanis do coral, durante a apresentação em Campos do Jordão, no dia 27

Ensaios do Coral Adulto

ASSINATURA OU FONTE DE BOX OU INFOGRÁFICO

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adrenalina


Uma moto para amar Vender sonhos é o intuito das grandes marcas, e ainda que inconscientemente, satisfazer o desejo implantado como chip pela sociedade contemporânea chip na cabeça do consumidor. Na 12ª edição do Salão Duas Rodas, em outubro deste ano, os seus sonhos eram realizados somente ao montar nas motocicletas antes “intocáveis”. Entrar no estande da fabricante italiana Ducati, e sentir de perto a moto 1199 Paginale S Senna – produzida exclusivamente para o mercado brasileiro com 161 unidades, número de corridas de F-1 que o piloto participou na carreira -, era um convite às pistas. Sentar na Paginale S “do Senna” os seus desejos são aguçados, e em seu consciente reina apenas uma vontade: adquirir aquela moto. Moto que faz o coração acelerar devido à velocidade, desempenho, e claro, tradição e liderança ainda que esses atributos dependam exclusivamente da montadora. Uma das principais características da contemporaneidade é o consumo. O consumismo que manipula o consumidor em consequência ao aumento do sistema de produção capitalista. Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001), o atual sistema social envolve as pessoas primeiramente como consumidores, pois somos guiados por desejos movidos pelas marcas. Bauman considera o consumo não como um fenômeno que surge espontaneamente e sim como fruto da sociedade contemporânea. Graças a produção em série, os objetos atuais estão perdendo o significado que ainda possuem os objetos antigos, produzidos artesanalmente, devido à redução de vida útil dos industrializa dos, o que induz o consumidor a sem-

pre desejar novidades na maior parte das vezes dispensáveis. Esse processo está associado a busca pela identidade, o homem moderno se perde a procura da autenticidade nos objetos, que ele mesmo já não possui. O pensador francês Jean Baudrillard (1968) afirma que os objetos são a materialização das relações humanas e que despertam desejos, decepções, exercendo uma relação de significações, e nessa perspectiva, o ser humano cai da profundeza de suas interações na superficialidade dos objetos, ocasionando uma decadência das relações humanas. A marca agrega valores subjetivos, molda a personalidade e chama a atenção mais pelas suas qualidades “superficiais”, atendendo momentaneamente as “necessidades” do consumidor e visando o lucro do produtor. Atualmente, podemos encontrar uma grande variedade de produtos que, mesmo enfatizando a marca do fabricante, trazem consigo um valor agregado de outra marca e/ou personalidade que marcou época, tornando o poder da marca ainda mais decisivo na hora da compra. Segundo Roland Barthes, nos salões de exposição, o carro modelo é visitada com uma aplicação interna, amorosa: é a grande fase tátil da descoberta, o momento em que o visual maravilhoso irá sofrer o assalto racionador do tatear: a lataria, as junções são tocadas, o design admirado, o assento experimentado, o painel acariciado, e diante do guidão, faz-se a mímica de pilotar com todo o corpo. Dessa forma, as marcas aumentam o seu “valor agregado” sem que o produto tenha qualquer outro atrativo ou diferença na qualidade em relação aos concorrentes. Tudo muda muito rapidamente. Os desejos, os anseios e a tecnologia. O que hoje é novidade, amanhã já ficou para a história. E como já dizia Zygmunt Bauman: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”.

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