mais um périplo nacional com a exposição Educação+ Financeira, na habitual parceria com a Caixa Geral de Depósitos, que nos levará a percorrer mais de 20 locais. Mais, vamos organizar uma conferência internacional sobre a educação financeira que, esperamos, seja concorrida e recheada de apresentações de qualidade.
Este novo número é inteiramente dedicado à educação financeira e à forma de fazer passar esta ideia junto do público em geral. Deste modo este tema torna-se um assunto de divulgação, que se enquadra de forma perfeita na missão do Projecto Matemática Ensino.
Neste tempo, falar da educação financeira combina dois vetores importantes: a oportunidade e a atualidade. Esta é a grande aposta do PmatE, aquilo que o mantém na crista da onda.
Mantemos o mesmo espírito de sair fora dos muros da Universidade de Aveiro e iniciamos
ENTREVISTA “A literacia é um pilar essencial da estabilidade financeira” Maria Lúcia Leitão, Banco de Portugal
CONTEÚDOS DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA A Universidade de Aveiro, no âmbito do seu envolvimento na promoção da Educação Financeira...”
ARTIGO DE OPINIÃO Educação Financeira, porquê? Sandra Henriques
ENTREVISTA “A educação financeira é um valor essencial e um dever”
ENTREVISTA “A educação financeira deveria ser iniciada desde idades muito precoces”
Suzana Ferreira, CGD
Clara Magalhães, Dolceta
PROGRAMA DE LITERACIA FINANCEIRA
EDUFIN
Educação+
atividades e projetos
uma experiência de educação financeira junto das escolas
ARTIGO DE OPINIÃO Educação Financeira no 1.º CEB
ARTIGO DE OPINIÃO
Sandra Sequeira, Cristina Carvalhal e Helena Ferreira
Alguns números da iliteracia financeira Sandra Henriques
PROJETO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO 1.º CEB “€ducar pelo dinheiro” Práticas em contexto de sala de aula
ENTREVISTA A educação financeira pode e deve alertar para os riscos, mas não é solução para tudo
ficha técnica
Costa Leite, vice-reitor da Universidade de Aveiro
Propriedade e edição Universidade de Aveiro Projecto Matemática Ensino
ARTIGO DE OPINIÃO Conhecer o português como forma de compreender o mundo Sara Pita
Director António Batel Anjo Coordenação Cláudia Rêgo Design/Grafismo Pedro Silva Colaboração Ana C. Carvalhal; António Batel Anjo; Catarina Tavares; Cláudia Rêgo; Diogo Conceição; Helena Ferreira; José C. Maximino; Sandra Henriques; Sandra Sequeira; Sara Pita; Sérgio Cruz; arquivo PmatE
Fotografias Diogo Conceição; arquivo PmatE Tiragem 1500 exemplares Contactos Universidade de Aveiro Projecto Matemática Ensino/Projecto Pensas Zona Técnica Universidade de Aveiro Campus de Santiago 3810-193 Aveiro Portugal Telefone: +351 234 372 548 Fax: +351 234 370 207 http://pmate.ua.pt Publicação Semestral | ISSN: 2182-0244
educação financeira,
porquê
por Sandra Henriques
SER FINANCEIRAMENTE ALFABETIZADO É UM PROCESSO VITALÍCIO. Tal como as circunstâncias pessoais e económicas se alteram, também os indivíduos necessitam de atualizar os seus conhecimentos e capacidades para gerir, com êxito, as suas finanças. Alguém que era considerado financeiramente literato, há 50 anos, pode já não o ser nos dias de hoje.
A educação financeira tem uma importância cada vez maior na nossa sociedade, pois todos os dias tomamos decisões financeiras e, para se fazer a escolha certa, é necessário mais do que simples intuição. O ambiente que rodeia as decisões de índole financeira é cada vez mais exigente. O acesso a uma grande variedade de produtos e serviços de maior complexidade tornou-se generalizado, pelo que é imprescindível ter conhecimentos que permitam compreender esta realidade para podermos tomar as decisões mais acertadas. A educação financeira visa dotar os indivíduos de competências que ajudem a evitar o seu envolvimento em situações de
sobre-endividamento, operações fraudulentas ou burlas, ao mesmo tempo que potencia oportunidades económicas (ao permitir superar relutâncias e incapacidades de tirar pleno proveito dos avanços tecnológicos e dos novos produtos) e agiliza o exercício pleno dos seus direitos de cidadão - consumidor. Nos últimos anos, a literacia financeira conquistou a atenção de um vasto conjunto de entidades bancárias, agências governamentais, associações de consumidores e outras organizações, que estão a colocar em causa os conhecimentos mais básicos que os consumidores têm dos conceitos financeiros, questionando, nomeadamente, se estes detêm as ferramentas de que necessitam para tomar as melhores decisões.
A iliteracia financeira pode afetar tanto uma pessoa como toda a família no que se prende com gestão diária do dinheiro e na capacidade de economizar para objetivos de longo prazo (compra de casa, estudos superiores ou reforma), podendo, ainda, resultar em comportamentos que tornem os consumidores vulneráveis a crises e outros imprevistos.
Apesar da sua importância, estas matérias não são, geralmente, abordadas no ensino secundário, nem no superior, pelo que a maior parte dos estudantes entra na vida ativa desprovida dos conhecimentos e das capacidades financeiras necessárias para uma boa gestão das suas finanças.
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PROGRAMA DE LITERACIA FINANCEIRA
O programa Educação+ foi concebido e desenvolvido, no último ano letivo, pelo Projecto Matemática Ensino (PmatE), da Universidade de Aveiro, em parceria com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), com o objetivo de sensibilizar, estimular e mobilizar as pessoas para as questões da educação financeira.
O projeto, que os dois parceiros decidiram reeditar no ano letivo 2011/12, consta de uma exposição itinerante com atividades interativas que colocam os visitantes perante desafios que têm de resolver, quando confrontados com as diversas questões relacionadas com a gestão das suas finanças pessoais – ganhar, gastar, poupar e investir –, despertando, assim, o espírito crítico e a curiosidade, que os levem a aprofundar conceitos bem como a desenvolver atitudes e comportamentos responsáveis e de cidadania. As visitas são organizadas em colaboração com as escolas e os alunos acompanhados pelos professores. Através da participação dos mais jovens nas atividades da exposição, procura-se, também, chegar aos adultos. O objetivo é sensibilizar professores e outros agentes educativos, autoridades, responsáveis escolares e as próprias famílias, enquanto transmissores de valores, conceitos e atitudes às gerações mais novas, para a importância
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dos saberes, das atitudes e dos comportamentos relativos à gestão das finanças pessoais e estimular a sua participação ativa na promoção de futuras gerações financeiramente mais educadas. Aconselha-se, por isso, que, depois da visita à exposição, a escola continue a explorar os temas da educação financeira, de forma sistemática e continuada. Em paralelo com a exposição, são realizadas, sempre que possível, conferências sobre o tema, como estratégia de reforço da sensibilização dos agentes locais e de mobilização para a ação. Os agentes educativos locais (pais, professores, autarcas, funcionários municipais e outros quadros), que podem ter um papel fundamental no desenvolvimento da educação financeira, são o público-alvo destas conferências, que têm assumido diferentes formatos: desde workshop para professores e outros agentes educativos a palestra para alunos.
A exposição é composta por três atividades dirigidas a públicos de diferentes faixas etárias: “Dinheiro para quê?” – Pensado para os alunos dos 1.º e 2.º ciclos, este jogo pretende que os alunos apreendam o significado, o valor e as funções do dinheiro, através de um percurso pela história da evolução do comércio de bens e serviços, desde as trocas diretas até ao aparecimento da moeda.
“Como Gastar o Dinheiro?” – Dirigido aos estudantes do 3.º ciclo, procura-se, com este jogo, sensibilizar os jovens para a importância do consumo responsável, para o valor do trabalho e dos hábitos de poupança, tendo em vista a realização de pequenos ou grandes objetivos e/ou gastos pessoais. “Compro ou não compro?” – Vocacionado para os alunos do ensino secundário e para o público em geral, o jogo traduz-se num exercício de gestão do orçamento de uma personagem virtual. Os participantes são confrontados com diversos estímulos e contrariedades, que se colocam a cada um de nós na vida real (tal como despesas imprevistas, oferta de diferentes bens e serviços e a possibilidade de recurso ao crédito) e com a necessidade de tomar decisões.
assumir na gestão do ensino, as visitas são, geralmente, organizadas em estreita colaboração com as câmaras municipais, que tomam a seu cargo a divulgação da exposição e a mobilização das escolas.
De norte a sul Na organização do percurso procura-se conferir à exposição a maior abrangência possível, quer a nível nacional (garantindo a sua passagem por todos os distritos), quer a nível local (procura-se que a exposição seja visitada por alunos de todos os ciclos e escolas do concelho). Por isso, e considerando as crescentes responsabilidades que o poder local está a
No ano passado, a exposição partiu para a estrada a 6 de Outubro de 2010, em Águeda, na Biblioteca Municipal Manuel Alegre, e terminou em Ansião, a 12 de Junho de 2011, na ExpoEmpreendedor. Ao longo do ano letivo, esteve em 22 locais diferentes, tendo percorrido os 18 distritos do continente e recebido cerca de 14.000 visitantes. Com manifesto agrado. De facto, a exposição suscitou a aprovação generalizada dos visitantes, muitas vezes com entusiasmo, quer pela atualidade do tema, quer pela qualidade das atividades, como o comprovam tanto as inúmeras solicitações recebidas de outros locais e entidades como
os inúmeros testemunhos, dos quais salientamos alguns excertos: - “Foi um ponto de partida muito motivador para iniciar estes assuntos nas aulas.” - “Muita aplicação nos conteúdos das disciplinas.” - “O facto de apresentar atividades práticas com conteúdos interdisciplinares obriga os alunos a consciencializarem-se da importância do saber para o saber-fazer.” - “É fundamental a informação ser veiculada para o seio da família, contribuindo para alteração dos hábitos.” O êxito da exposição e os apelos à continuidade do projeto justificaram a decisão da parceria Universidade de Aveiro / Caixa Geral de Depósitos de reeditar a iniciativa no ano letivo 2011/12, com início em Setembro. (Mais informação em: http://pmate.ua.pt/educacaomais)
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é um valor essencial e um dever ” Entrevista
Suzana Ferreira
Direção de Comunicação CGD
Revista Factus - Faz sentido uma entidade bancária como a Caixa Geral de Depósitos (CGD) envolver-se em (e financiar) ações destinadas a melhorar os níveis de literacia financeira das pessoas?
Suzana Ferreira - A CGD é uma instituição financeira com uma política de envolvimento com a comunidade, tendo sempre procurado promover as melhores práticas e encontrar as melhores respostas aos problemas e desafios da sociedade portuguesa. Este relacionamento privilegiado com a sociedade resulta, por um lado, da dimensão da rede de agências e, por outro, do facto da responsabilidade social ser parte integrante da missão da Caixa. Neste domínio, é de salientar as inúmeras ações e iniciativas no domínio da educação para a poupança, para um consumo consciente e informado e para o investimento na literacia financeira.
Literacia financeira “casa” bem com obtenção de lucros, precisamente da atividade financeira? Clientes melhor informados são capazes de gerir as suas finanças pessoais de forma mais adequada às suas necessidades. Seja como investidores, que aplicam de forma mais informada o seu dinheiro (o que se traduz no aumento dos índices de poupança na Caixa), seja por se acautelarem relativamente ao risco de endividamento (o que previne o incumprimento bancário). Em suma, a educação financeira proporciona uma relação mais transparente e informada entre a Caixa e os seus clientes.
Para a CGD, a educação financeira é uma necessidade sentida ou uma obrigação? A educação financeira integra o programa de responsabilidade social da Caixa. É, por isso, um valor essencial e um dever. Através da nossa identidade e valores, conseguimos garantir um posicionamento valioso e um bem intangível. Com o investimento em ações de literacia financeira, a Caixa é percecionada pela comunidade como uma marca responsável, de confiança, com capacidade de visão e preocupação com o futuro da sociedade.
Ou terá sido a crise que levou a CGD a empenhar-se em ações de educação financeira? A literacia financeira sempre foi uma prioridade da Caixa. Em 2007, antecipando a necessidade de educar para um consumo consciente e informado, num enquadra-
mento de elevado crescimento e consumo, integrámos a literacia financeira num programa estruturado da nossa política de Responsabilidade Social. Em 2008, lançámos a primeira plataforma digital de literacia financeira capaz de dar respostas às perguntas de clientes e não clientes e de indicar soluções para a gestão do dia a dia – o site Saldo Positivo.
Por que é que a CGD escolheu a Universidade de Aveiro e o PmatE, para parceiros do projeto Educação+? Não foi propriamente uma escolha, mas antes a identificação de uma preocupação comum de dois parceiros de longa data. O Educação+ nasce da evolução natural do CAIXAmat, projeto de sucesso desenvolvido, também, pela CGD e pela Universidade de Aveiro, que nos deu o know-how necessário para colocar o Educação+ na rua, otimizando recursos.
Até que ponto o projeto Educação+ acrescentou algum valor ao portal Saldo Positivo, da CGD? É possível um maior aproveitamento de sinergias que potencie os dois programas? Acompanhamos a evolução do número de visitantes do site Saldo Positivo com muita satisfação. Podemos afirmar que, no plano de comunicação que estabelecemos para a sua divulgação, o projeto Educação+ foi uma peça chave, uma vez que pudemos interagir com cerca de 14.000 jovens e professores. Os resultados estão à vista: em 2008 tínhamos cerca de 4.000 visitantes/mês no site Saldo Positivo, em 2009 tivemos 64.000 visitantes e, em 2010, ultrapassámos os 185.000.
A educação financeira manter-se-á entre as preocupações da CGD, na área da responsabilidade social, nos próximos anos? Claramente! Queremos continuar a consolidar e a alargar a nossa intervenção na área da responsabilidade social e da educação financeira, mantendo, nomeadamente a “agência Caixa”, no parque KidZania, que permite aos mais novos conhecerem a linguagem bancária; garantindo a continuidade do portal Ciclo da Poupança, onde ensinamos de forma lúdica aos mais jovens a importância de poupar não só dinheiro mas, também, recursos; continuando a percorrer o país com a exposição Educação+, que ensina às crianças e jovens dos sete aos 17 anos importantes conceitos de literacia financeira, e aumentando as funcionalidades do site Saldo Positivo.
Qual é o balanço que a CGD faz do primeiro ano (2010/2011) do Educação+? Correspondeu às expectativas? Muito positivo, desde logo, quando consideramos o número de visitantes (cerca de 14.000) e a informação que recebemos da passagem da exposição por mais de 20 cidades. A opinião das pessoas (alunos, professores e outro público) foi muito estimulante. Incentivou-nos a continuar e a aperfeiçoar o projeto. O tema da literacia financeira é pertinente e atual, pelo que a Caixa só podia estar presente neste grande desafio por um futuro melhor. Com certeza.
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conteúdos DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA A Universidade de Aveiro, no âmbito do seu envolvimento na promoção da Educação Financeira, tem vindo a desenvolver uma série de conteúdos didáticos.
“JOGO DAS TROCAS DIRETAS” Públicos-alvo: 1.º e 2.º ciclos do ensino básico Áreas científicas: matemática e educação financeira Kit: cartas, cartões de objetivos e tabelas de conversão Tipo de recurso: jogo Breve descrição: através de um percurso pela história da evolução do comércio de bens e serviços, desde as trocas diretas até ao aparecimento da moeda, procurase que os alunos explorem o significado, o valor e as funções do dinheiro. Este recurso pode ser utilizado como atividade complementar à exploração do livro “Viagem à história do dinheiro”.
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“ONDE GASTAR O DINHEIRO?”
“LIVRO DAS CHARADAS – APRENDE COM O EDUCA”
“JOGO DOS NEGÓCIOS”
Público-alvo: 3.º ciclo do ensino básico
Públicos-alvo: público escolar e público em geral
Público-alvo: alunos a partir dos 8 anos de idade
Áreas científicas: matemática, português, ciências e educação financeira
Áreas científicas: matemática, português e educação financeira
Áreas científicas: estudo do meio, matemática e educação financeira
Tipo de recurso: livro de atividades
Tipo de recurso: jogo de tabuleiro
Breve descrição: este livro contém várias atividades que visam explorar conceitos, desafios e situações problemáticas, desde as mais simples às mais complexas, e exigentes em termos de raciocínio.
Breve descrição: este jogo tem como objetivo desenvolver habilidades de estratégia e negociação, através da compra e venda simulada de propriedades e negócios característicos da região, de modo a que os jogadores consigam obter o máximo de riqueza. Paralelamente, são explorados conceitos económicos e financeiros, como “monopólio”, “concorrência”, “hipoteca”, “impostos”, “receitas”, “despesas”, “lucro”, “riqueza” e “falência”.
“COMPRO OU NÃO COMPRO?”
“O DINHEIRO TROCADO POR MIÚDOS”
“VIAGEM À HISTÓRIA DO DINHEIRO”
Públicos-alvo: ensino secundário e público em geral
Público-alvo: 1.º ciclo do ensino básico
Público-alvo: público escolar e público em geral
Áreas científicas: matemática e educação financeira
Áreas científicas: matemática, português, educação financeira e expressões dramática e plástica
Áreas científicas: história, português, matemática e educação financeira
Tipo de recurso: jogo multimédia Breve descrição: este jogo pretende expor situações reais de despesa com vista à satisfação de determinadas necessidades. A sua exploração visa sensibilizar os alunos para o consumo responsável, para a importância do trabalho e dos hábitos de poupança.
Tipo de recurso: jogo multimédia
Tipo de recurso: livro ilustrado Tipo de recurso: jogo multimédia
Breve descrição: trata-se de um exercício de gestão das finanças pessoais de um personagem virtual. Os participantes são confrontados com diversos estímulos e contrariedades, que se colocam a cada um de nós na vida real (tal como despesas imprevistas, oferta de diferentes bens e serviços e a possibilidade de recurso ao crédito) e com a necessidade de tomar decisões.
Breve descrição: este jogo é constituído por atividades de várias áreas, possibilitando a discussão sobre comportamentos de consumo e atitudes de poupança, através do confronto com situações do quotidiano dos alunos.
Breve descrição: história que retrata a evolução do dinheiro, desde as trocas diretas até ao surgimento de moedas, notas e formas de pagamento modernas. A exploração deste recurso permite a discussão de questões relacionadas com a origem do dinheiro e a sua utilidade. Foram também criadas fichas de leitura que permitem explorar a obra, o funcionamento da língua, a expressão escrita e a expressão plástica.
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É nesta linha de pensamento que, analisando o desenvolvimento da sociedade nas últimas gerações, se detetam alguns problemas que necessitam de intervenção urgente. Um deles, que se tem evidenciado mais nos últimos anos é o baixo nível de literacia financeira. Urge a inclusão de programas de educação financeira nos currículos escolares.
NO 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO As interações económicas, sociais, políticas, culturais e educacionais têm-se intensificado extraordinariamente, a nível quase mundial, nas últimas três décadas. O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI defende que as acelerações do mundo do trabalho, da tecnologia e da globalização da informação caminham lado a lado com a exclusão social, as diferenças, os problemas ecológico-ambientais, o analfabetismo e as demais doenças sociais. Com efeito, o contexto socioeconómico português tem sofrido diversas alterações que se têm vindo a refletir no sistema educativo. Atualmente, assiste-se, cada vez mais, a uma diminuição das aprendizagens não formais, o que leva à necessidade de
incluir espaços no meio escolar para estas aprendizagens facilitadoras da formação responsável e ativa, fomentadoras dos valores de cidadania, da compreensão do “funcionamento do mundo” e do desenvolvimento das competências necessárias para enfrentar a vida com segurança e confiança. É, indubitavelmente, fundamental que um sistema de ensino esteja preparado com mecanismos para “aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer os primeiros conhecimentos adquiridos, e de se adaptar a um mundo de mudança” (Jacques Delors, 1996: 77), com base numa educação para a cidadania e para a democracia, bem como na responsabilidade pessoal e social.
De facto, a educação deve procurar criar mecanismos de adaptação dos indivíduos às novas necessidades com que se deparam constantemente, uma vez que “no ambiente de globalização haverá novas formas de vida quotidiana, transações e intercomunicações” (Martins, 2003: 9). Face a esta problemática, o Projecto Matemática Ensino tem vindo a debruçarse sobre a identificação de oportunidades e no desenvolvimento de estratégias, de forma a estimular o interesse pela aprendizagem na área da educação financeira. A presente abordagem aposta num modelo multi, inter e transdisciplinar, pois, para que o desenvolvimento de competências de gestão das finanças pessoais se efetive, são imprescindíveis as diversas aprendizagens de todas as disciplinas e a sua compreensão como um todo, bem como o desenvolvimento de atitudes de responsabilidade e cidadania. Analisando os conteúdos dos programas escolares do Ministério da Educação, identificámos alguns indicadores que nos apontam caminhos e focos programáticos através dos quais se poderá despertar nos alunos o interesse pela educação financeira. Ao longo do tempo, temos vindo a apresentar exemplos de intervenção, em contexto de sala de aula, em diversas áreas do 1.º ciclo do ensino básico, visando explorar conteúdos que, de acordo com Elliott et al, qualquer programa no âmbito da educação financeira deve abordar, nomeadamente, “spending, planning, budgeting, earning, saving, managing financial risk, investing, taxes, credit and debt, and bill paying" (2009: 3).
por Sandra Sequeira, Cristina Carvalhal e Helena Ferreira
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Estas oportunidades pedagógicas são apenas alguns exemplos das inúmeras estratégias às quais se pode recorrer para promover o desenvolvimento dos níveis de literacia financeira nas crianças.
Entrevista
Maria Lúcia Leitão Diretora do Departamento de Supervisão Comportamental, Banco de Portugal
Revista Factus - Foi preciso esta grave crise financeira para despertar as consciências? Maria Lúcia Leitão - A promoção da literacia financeira é importante em qualquer contexto económico. A recente crise veio apenas reforçar a sua importância. No âmbito dos mercados bancários de retalho, a elevada concessão de crédito aos particulares, nos últimos anos, revelou-se pouco apropriada face à capacidade financeira dos consumidores. A sensibilização da população para a necessidade de proceder a uma adequada
os riscos do sobre-endividamento. Nestas áreas, a formação financeira assume uma particular relevância ao difundir conhecimentos e ao promover atitudes e comportamentos adequados às suas necessidades.
O que é o Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF) em termos mais precisos e quais são os objetivos imediatos? O PNFF é um instrumento desenvolvido pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros para o enquadramento de projetos de promoção da literacia financeira e visa cinco objetivos prioritários: melhorar conhecimentos e atitudes financeiras; apoiar a inclusão financeira; desenvolver hábitos de
contribuir para a maior eficiência e racionalidade dos recursos envolvidos na promoção da literacia financeira. Os reguladores financeiros assumirão projetos próprios, sendo de referir a criação do portal do Plano Nacional de Formação Financeira, com conteúdos de formação financeira e de apoio às iniciativas do plano. O plano não dispõe, assim, de um orçamento próprio.
Organizações de consumidores e autarquias foram ouvidas? Até que ponto estão envolvidas no plano? O PNFF foi divulgado publicamente e submetido a um processo de consulta dirigido a diversas entidades, públicas e privadas, vocacionadas para a literacia financeira, as quais foram convidadas a transmitir os comentários e contributos que considerassem relevantes. Paralelamente, algumas entidades, entre as quais organizações de consumidores, foram
“A literacia é um pilar essencial da estabilidade” gestão do orçamento familiar, numa ótica, não só de curto, mas, também, de médio prazo, assume um papel central nos programas de formação financeira. Há, assim, que promover a poupança e reduzir
poupança; promover o recurso ao crédito responsável e criar hábitos de precaução.
Este plano tem custos, pois requer ações de informação, sensibilização e formação. Quanto custa e quem é que o vai pagar? O Plano Nacional de Formação Financeira foi assumido como instrumento para o enquadramento e a coordenação de projetos de formação financeira. Esta abordagem é, também, adotada por outros países nas suas estratégias nacionais de formação financeira.
Maria Lúcia Leitão
Pretende-se com este plano divulgar e enquadrar iniciativas de formação desenvolvidas por diversos organismos públicos ou privados e facilitar o aparecimento e a promoção de novos projetos, pondo em contacto entidades vocacionadas para as ações de formação e públicos-alvo prioritários. Ao aproveitar complementaridades e sinergias existentes, o plano pode
convidadas a integrar os órgãos de governação do PNFF, nomeadamente as Comissões de Acompanhamento.
A educação financeira paga por entidades bancárias, por exemplo, pode ser transparente, imparcial e credível, como deve ser? Reconhece-se a importância da participação das instituições de crédito na promoção da formação financeira e são conhecidos muitos projetos que algumas desenvolvem, designadamente em Portugal. A forma como devem assumir o seu envolvimento nestes projetos é, hoje em dia, um dos mais importantes tópicos de reflexão a nível dos fóruns internacionais que se debruçam sobre estes temas. Reconhece-se que a atividade comercial das entidades bancárias e a sua atuação enquanto formadoras podem dar origem a conflitos de interesse. Dada a relevância do envolvimento destas entidades na formação financeira, importa definir um enquadramento adequado para a sua participação.
Dito de outra maneira: literacia financeira e maximização de lucros são compatíveis? O atual envolvimento de instituições de crédito em ações de formação financeira, também já hoje em Portugal, revela o reconhecimento da importância, para as próprias instituições financeiras, de um maior grau de literacia financeira dos seus clientes. A literacia financeira promove a inclusão financeira e a poupança e reduz o risco de incumprimento. É, por isso, um pilar essencial da estabilidade financeira.
União Europeia já recomenda aos estados membros a adoção de estratégias nacionais de educação financeira há anos. Em Portugal, só se está a avançar agora com um plano.
O Banco de Portugal partilha da preocupação de muitos países da União Europeia em promover a educação financeira, preocupação patente, também, na agenda de trabalhos da OCDE, através da International Network for Financial Education (INFE), órgão criado em 2008 e do qual o Banco de Portugal é um membro fundador. A definição de uma estratégia nacional de formação financeira exige um profundo trabalho prévio, devendo começar com a avaliação dos níveis de literacia financeira da população, de modo a identificar as áreas prioritárias de atuação e os segmentos da população com necessidades específicas.
A educação financeira deve fazer parte dos currículos escolares? Qual é o papel que está reservado às universidades neste plano? O PNFF prevê como segmentos alvo de formação os alunos do ensino básico, secundário e universitário, e reconhece que o envolvimento das escolas e universidades é determinante para a sua implementação.
A partir de 2008, o Banco de Portugal desenvolveu o projeto de lançamento de um inquérito à literacia financeira da população portuguesa, cujas entrevistas foram conduzidas, porta a porta, entre fevereiro e março de 2010. Os resultados deste inquérito constituem um importante diagnóstico das principais carências de formação e não deixarão de ser tidos em conta nos trabalhos a desenvolver no âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira, cujas linhas de orientação foram divulgadas e postas à consulta pública pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, em maio passado.
Qual é o interesse/ benefício que uma entidade reguladora, como o Banco de Portugal, pode retirar do incremento dos níveis de literacia financeira? Os bancos centrais têm vindo a assumir um envolvimento crescente na formação financeira, reconhecendo a sua contribuição para a estabilidade macroeconómica e financeira. Enquanto regulador do setor bancário e, em particular, na sua missão de supervisor comportamental dos mercados bancários de retalho, o Banco de Portugal tem dedicado particular atenção à formação financeira dos clientes bancários. Esta sua atuação é desenvolvida em paralelo com a promoção de uma informação completa e rigorosa das instituições de crédito sobre os produtos e serviços bancários e com a fiscalização do cumprimento do enquadramento normativo destes mercados.
O Portal do Cliente Bancário (www//clientebancario.bportugal.pt) é um instrumento de divulgação das iniciativas desenvolvidas pelo Banco de Portugal a nível da informação e formação financeira.
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PROJETO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO 1.º CEB
PRÁTICAS EM CONTEXTO DE SALA DE AULA urante o ano letivo 2010/2011 teve início um projeto de educação financeira junto de 215 alunos e 12 professores titulares do 1.º ciclo do ensino básico dos municípios de Castanheira de Pêra e de Pedrógão Grande. Este projeto visa sensibilizar a população escolar para a importância de questões relacionadas com a educação financeira. Neste âmbito, foram dinamizadas oficinas por elementos da Universidade de Aveiro, onde os alunos realizaram atividades e exploraram diversos conteúdos com vista à aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de competências. Inicialmente, foi explorado o jogo “O dinheiro trocado por miúdos”, com recurso
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ao quadro interativo, um cubo de esponja, tapetes coloridos e cartões de jogo, tornando a atividade bastante dinâmica e motivante. Este recurso permitiu aos participantes desenvolver, ludicamente, conteúdos de educação financeira e de outras áreas curriculares, como matemática, língua portuguesa e expressões dramática e plástica. Outra atividade realizada foi a exploração do livro ilustrado “Viagem à história do dinheiro”, através da qual foram discutidas questões relacionadas com a origem do dinheiro e a sua utilidade, ligando a educação financeira com a língua portuguesa. Foram elaboradas fichas de leitura, em conformidade com o programa, visando trabalhar a interpretação da obra, o funcionamento da língua, a expressão escrita e, por fim, a expressão plástica.
Os alunos foram, ainda, desafiados a construir um jogo – “negócios da região”, – que passa pela identificação e análise das atividades e dos setores económicos regionais, interligando, desta forma, a educação financeira e a área de estudo do meio. Deste trabalho, resultou um tabuleiro de jogo com os diversos negócios identificados que continua a ser desenvolvido no presente ano letivo. Para encerrar as atividades, decorreu uma mostra de trabalhos em cada uma das
escolas, associada à festa de encerramento do ano letivo, para divulgar os diversos trabalhos realizados pelos alunos. Os professores envolvidos mostraram-se satisfeitos com a implementação do projeto, devido à relação estabelecida entre os conteúdos de educação financeira e das diversas áreas curriculares, como resulta da análise dos inquéritos que preencheram no final do ano letivo, bem patente nos seguintes excertos dos seus testemunhos.
os alunos tiveram uma boa oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos sobre este tema permitindo-lhes ter uma atitude mais consciente e responsável” Cristina Lourenço, E.B.1 de Vila Facaia
é fundamental que se proporcione às nossas crianças a possibilidade de adquirir conhecimentos que poderão fazer a diferença (pela positiva) quando tiverem que gerir o seu orçamento” Cristina Lourenço, E.B.1 de Vila Facaia
o dinheiro estará sempre presente no dia-a-dia, com muito ou pouco, saber geri-lo precisa de uma aprendizagem que quanto mais cedo começar melhor” Teresa Magéssi, E.B.1 de Castanheira de Pêra
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Revista Factus - De um modo geral, a educação financeira tem vindo a fazer caminho em contextos de formação informal. Até que ponto faz sentido uma universidade envolver-se neste tipo de ensino? J. Costa Leite - Numa área com intervenientes muito diversos, incluindo meios de comunicação e autores de livros de autoajuda, a Universidade traz o contributo das suas competências pedagógicas, com programas estruturados de educação financeira. A UA ultrapassa a preocupação por resultados imediatos, pautando a sua intervenção pelo bem comum, num horizonte temporal alargado. Esta aposta da Universidade de Aveiro (UA) na educação financeira, de parceria com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), foi determinada pelo agravamento da crise atual? Ou já era uma necessidade sentida?
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Em Portugal, o crédito ao consumo e o uso de cartões de crédito é, historicamente, muito recente, mas cresceu muito rapidamente nas últimas décadas. A combinação de facilidades de crédito com solicitações de consumo características de uma sociedade
Joaquim da Costa Leite Vice-reitor da Universidade de Aveiro
moderna, propicia situações de descontrolo nas despesas individuais e justifica a necessidade da educação financeira. A Universidade de Aveiro e a Caixa Geral de Depósitos não acordaram, agora, para este problema. A crise atual apenas tornou o problema mais agudo e generalizado, atingindo muitas famílias que, em tempos normais, governavam as suas vidas de forma equilibrada. Mas, a pergunta suscita um esclarecimento: a educação financeira pretende dar conhecimentos que permitam a cada um tomar decisões e manter a sua autonomia, utilizando conscientemente os instrumentos de crédito à sua disposição numa sociedade moderna, sem ficar dependente deles. A educação financeira pode e deve alertar para os ciclos económicos e para os riscos de uma crise, mas não é a solução para todos os problemas. Apesar das semelhanças, a economia dos indivíduos e das famílias não é igual à economia das nações. Quando falamos de educação financeira e crise atual, precisamos de distinguir os problemas e as áreas de atuação.
Qual é a mais-valia que a UA pode carrear para este tipo de intervenções destinadas a incrementar os níveis de literacia financeira? Como referi anteriormente, uma universidade pode perspetivar o bem comum num horizonte temporal alargado. Além disso, como faz em todas as suas intervenções, a UA acrescenta as suas competências e o seu prestígio. Em mais do que uma circunstância, tive a oportunidade de verificar a atenção e o agrado com que era recebida a participação da Universidade de Aveiro. Não há dúvida de que a nossa
intervenção é apreciada, o que aumenta a nossa responsabilidade na escolha dos programas, dos parceiros com quem trabalhamos e dos públicos a quem nos dirigimos. Só devemos fazer aquilo que fazemos muito bem.
O projeto Educação+ tem âmbito nacional. Faz algum sentido, à luz das linhas de orientação da UA, transpor este projeto (ou um projeto semelhante) para o âmbito da cooperação internacional, designadamente com os países de língua oficial portuguesa? Tendo em conta a experiência adquirida a nível nacional, faz todo o sentido considerar a cooperação internacional, especialmente com os países de língua oficial portuguesa. Mas, aqui, a palavra-chave é cooperação: os conhecimentos e a autoconfiança resultantes da experiência nacional devem ser traduzidos em propostas de grande abertura, em matérias fortemente condicionadas pelas culturas e pelas economias dos países onde vão ser aplicadas.
Não faria sentido a UA avançar com um programa de educação financeira dirigido aos seus alunos, em geral, e aos estudantes dos cursos de via ensino, em particular, ou, até, aos seus funcionários? A pergunta envolve conhecimentos e públicos diferenciados. Por exemplo, esclarecer futuros professores sobre a forma como podem transmitir conhecimentos básicos de educação financeira em disciplinas de matemática, é diferente de um curso prático para funcionários. Fica o desafio: clarificar públicos, programas e objetivos e, em função disso, consultar os interlocutores adequados, para avaliar o respetivo interesse.
Entrevista
A UNIVERSIDADE DE AVEIRO, NO ÂMBITO DO SEU ENVOLVIMENTO NA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA, ATRAVÉS DO PROJETO EDUFIN, DESENVOLVEU UM CONJUNTO DE ATIVIDADES QUE COLOCA À DISPOSIÇÃO DAS ESCOLAS, AUTORIDADES, EMPRESAS E ORGANIZAÇÕES COM RESPONSABILIDADES NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO.
TEACHFIN€ WORKSHOP PARA PROFESSORES “Educação Financeira: oportunidades pedagógicas" – 2 a 4 horas. Enquadramento e exploração da educação financeira no âmbito escolar – plano curricular e projeto escolar.
AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO/ CONFERÊNCIAS PALESTRAS E COMUNICAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO FINANCEIRA, NUMA PERSPETIVA DE SENSIBILIZAÇÃO E ATÉ DE PROVOCAÇÃO, DIRIGIDAS A VÁRIOS PÚBLICOS.
WORKFIN€ WORKSHOP PARA ESTUDANTES “Uma visão sobre a poupança”. Do “semear para colher” às atitudes e responsabilidades das escolhas para um presente com futuro. “Consumo responsável”. Entre o “querer” e o “precisar”, as competências e as atitudes para decisões de compra conscientes. Educação financeira: no 1.º ciclo do ensino básico Educação Financeira: no português
"A Educação Financeira: é comigo?”
FORMAÇÃO CREDITADA (PARA PROFESSORES, EM PROCESSO DE ACREDITAÇÃO)
Educação financeira: nas ciências
“Uma abordagem transversal da Educação Financeira" – oficina de formação. Desenvolvimento de um projeto escolar de educação financeira numa perspetiva transdisciplinar.
WORKSHOP
FORMAÇÃO
Educação financeira: na matemática
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“Educação Financeira: Porquê?“
"A Educação Financeira: começar cedo!" “Educação Financeira: dos benefícios à responsabilidade” “Educação Financeira: um novo cidadão para a era da globalização” “Educação Financeira na Escola: um caminho a percorrer”
AÇÕES/ CONFERÊNCIAS
GEM A I V
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A I R TÓ EIRO S I H INH D DOda na Livraria e n À ve iversidad n da U eiro de Av
PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA “Educar pelo dinheiro”. 1.º Ciclo do Ensino Básico
Introdução da educação financeira através da articulação curricular dos conteúdos do 1.º Ciclo do Ensino Básico e dos conteúdos abordados nas AEC, numa perspetiva multidisciplinar, desenvolvendo e dinamizando atividades e materiais didáticos, com envolvência e acompanhamento dos professores, ao longo do ano letivo.
PROJETOS
Revista Factus: O DOLCETA (www.dolceta.eu) é um sítio eletrónico de educação do consumidor financiado pela Comissão Europeia, Já tem alguns anos, mas ainda é pouco conhecido dos portugueses. Porquê? Clara Magalhães: O DOLCETA (acrónimo de Development of online consumer education tools) é um projeto de educação do consumidor através da internet, financiado pela Comissão Europeia, via DG-SANCO e gerido pela EUCEN (European Universities Continuing Education Network). O primeiro contrato entre as duas organizações foi assinado no início de 2004. Este projeto tem oito anos e vai continuar, pelo menos, até 2013. As ações de disseminação só se realizaram nos últimos três anos quando já havia quatro módulos, entre eles o módulo de Educação do Consumidor, concebido para formadores dos vários tipos de ensino e grupos etários. Ainda não é tão conhecido como desejávamos, mas o número de visitas às páginas do DOLCETA em português tem vindo a aumentar de ano para ano de forma consistente. Uma disseminação através do Ministério da Educação teria outro impacto a nível nacional, mas as várias atividades que se têm realizado têm produzido algum efeito.
ENTREVISTA Clara Magalhães, Dolceta
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que é que o DOLCETA faz que o distinga de outras entidades que também atuam na área da educação do consumidor? Há novos projetos na forja para Portugal? O DOLCETA está vocacionado para a educação da população em geral, desde o ensino pré-escolar até aos mais idosos. Tem uma linguagem correta e acessível. Além de conteúdos e planificações para formadores, contém, também, legislação europeia e portuguesa atualizada sobre os diversos temas. Os textos foram feitos pelos especialistas nas diversas áreas e a exploração didática dos temas num ensino mais formal foi concebida por formadores bastante experientes. O DOLCETA está elaborado em todas as línguas oficiais da União Europeia por especialistas dos diversos países e pode ser consultado todo ele, por todas as pessoas, de forma gratuita na internet. Na proposta de continuação só está planeada a disseminação e atualização dos conteúdos. Ainda não se sabe se haverá novos temas.
Uma das áreas em que o DOLCETA tem vindo a atuar, ultimamente, é a educação financeira. Porquê? Trata-se de uma necessidade recentemente identificada? O módulo sobre serviços financeiros foi elaborado em 2004, mas em 2008 foi criado um módulo dedicado à educação financeira, que foi tornado público em finais de 2010. Este módulo aparece, por se reconhecer que os produtos financeiros são cada vez mais complexos e que há necessidade de educar o consumidor, desde idades precoces, para as questões financeiras. Esta necessidade não é recente, mas tem vindo a tornar-se mais premente. A crise económica atual mostra isso mesmo.
Qual é o balanço que faz da atividade do DOLCETA em Portugal e da sua participação no projeto Educação+, da Universidade de Aveiro e da Caixa Geral de Depósitos, através da cedência de materiais didáticos para distribuição durante a exposição? Como referi, há ações específicas de divulgação do DOLCETA desde 2008, mas, no ano letivo de 2010/2011, houve um aumento significativo de consultas ao sítio eletrónico português, que parece estar relacionado com a associação do DOLCETA ao projeto Educação+. Todas as outras atividades que se desenvolveram, desde entrevistas, notícias nos jornais diários e em revistas especializadas, a ações de disseminação em escolas, não mostraram um impacto tão significativo nas consultas das páginas do DOLCETA português como o que resultou das ações promovidas pelo projeto Educação+. O balanço é, por isso, francamente positivo.
Como é que encara a educação financeira que está a ser feita no nosso país? Como não sou especialista neste assunto, não me vou pronunciar sobre ele, mas há que distinguir duas situações muito diferentes: a educação financeira para os especialistas em áreas como economia, finanças, contabilidade, etc. e a educação do consumidor em questões relacionadas com a sua gestão financeira pessoal. No primeiro caso sempre houve especialistas que asseguraram a formação de profissionais qualificados. Quanto ao segundo caso não sei como vai ser feita.
Qual é a sua opinião sobre o plano nacional de formação financeira
recentemente anunciado? O DOLCETA vai estar envolvido? Sobre o plano nacional de formação financeira, não me pronuncio. Mas, sobre a utilização do DOLCETA na educação financeira, essa é uma opção do Ministério. O Ministério da Educação sabe da sua existência, pelo que, se quiser, pode sugerir aos professores a utilização desta ferramenta.
Se o objetivo é fazer de todos e de cada um consumidores capazes de escolhas cuidadosas e racionais, a educação financeira não deveria fazer parte dos conteúdos escolares, desde a escola primária? A escola não é o único local de aprendizagens, mas uma educação financeira encarada como uma educação do consumidor deveria ser iniciada desde idades muito precoces. Contudo, para que haja uma mudança significativa dos comportamentos, a educação do consumidor jovem deve ser feita em parceria com os pais.
Acha que os professores estão motivados/treinados para fazer educação financeira nas suas escolas? As universidades não deviam ter aqui um papel importante, sobretudo ao nível da formação de professores? A educação financeira deve ser parte integrante da educação cívica de qualquer cidadão. Os poucos professores que conheço estão motivados. A educação do consumidor ou para a cidadania é uma área abrangente, que deveria ter docentes de áreas diferentes, alguns dos quais com formação em educação do consumidor.
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ALGUNS NÚMEROS DA
iliteracia financeira por Sandra Henriques
A população portuguesa tem um baixo nível de literacia financeira.
36,9% tinham estudos superiores) estão acima das da população portuguesa em geral (13,9% tem curso secundário e 10,3% estudos de nível superior).
Os estudos realizados neste âmbito - “Aspectos da literacia financeira dos portugueses. Um estudo empírico”* e o “Inquérito à literacia financeira da população portuguesa”** , apesar de distintos, nos seus objetos e metodologias, apresentam conclusões muito semelhantes.
Os mesmos estudos permitem concluir que é na faixa etária situada entre os 25 e os 39 anos que se encontram os portugueses com índices de literacia mais elevados. Geralmente, são pessoas do sexo masculino, casadas ou a viver maritalmente. Têm mais habilitações literárias, estão empregadas e auferem rendimentos mais elevados. Por norma, já possuem alguns produtos e utilizam serviços financeiros, principalmente cartão de débito, ações e/ou obrigações e certificados de aforro.
No primeiro estudo, sobressai o facto de se terem obtido apenas 46,42% de respostas certas às perguntas que procuravam avaliar o conhecimento dos termos, produtos e serviços financeiros mais correntes. No mesmo sentido vai o estudo do Banco de Portugal, quando refere que apenas 9% dos inquiridos conhece com rigor o significado do termo euribor e que só 17% soube responder ao que é o spread. Ainda assim, assume-se que, pelo menos no primeiro estudo, este nível de literacia possa estar sobreavaliado, dado que as habilitações literárias da amostra (39,8% dos inquiridos tinham frequentado o ensino secundário e
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Se outro mérito não tivessem, estes estudos servem para demonstrar, com toda a clareza, que ainda há muito a fazer por forma a dotar os portugueses das ferramentas necessárias à tomada de decisões financeiras mais sensatas. E que é, por isso mesmo, de extrema importância o investimento na formação financeira. Decorrem dos mesmos estudos orientações precisas e muito relevantes quanto aos principais públicos-alvo a atingir em futuras ações de formação financeira e respetivos conteúdos programáticos, podendo concluir-se pela necessidade de uma formação destinada a proporcionar os conhecimentos e as ferramentas capazes de induzir a tomada de decisões mais informadas, criar hábitos de planeamento financeiro e fomentar a poupança, prevenindo, por essa via, o sobre-endividamento.
por Sara Pita
CONHECER O PORTUGUÊS COMO FORMA DE COMPREENDER O MUNDO
A presente edição da revista FACTUS é integralmente dedicada às questões mais prementes da literacia financeira. Conhecer os meandros da área financeira implica em primeiro lugar um conhecimento profundo da nossa língua, pois sem ela não é possível reconhecer os significantes e entender os significados em toda a sua plenitude.
ssim, falamos não só de saber e interpretar o português, mas também da capacidade particular de entender conceitos financeiros. Posto isto, a nossa viagem de hoje será pelos caminhos da etimologia, isto é, da origem das palavras! O termo literacia, oriundo do latim littera que significa letra, refere-se à capacidade de ler e escrever. Combinando ambos os conceitos, a literacia financeira diz respeito à leitura e à escrita da linguagem do dinheiro. O verbo ganhar, por exemplo, teve origem no alemão waidanjan o qual significa buscar alimento ou caçar, uma reminiscência clara a tempos primitivos. Já gastar provém do latim vastare que significa devastar ou aniquilar. Por seu turno,
poupar vem do verbo latino palpare, significando palpar ou acariciar. Falar da área financeira implica, também, falar de economia e de dinheiro. Esta palavra teve origem na palavra denarium, que, na Roma antiga, correspondia à moeda de prata que valia dez asses. Já a palavra moeda derivou do termo latino moneta, a qual significa dinheiro cunhado. O conceito de economia, o qual diz respeito ao estudo da produção, distribuição e consumo de bens e serviços e a repartição de rendimentos, proveio da palavra grega oikonomia que significa governo de uma casa. Mais dois conceitos comuns: crédito e débito. O primeiro teve origem na palavra creditus que significa empréstimo e
confiança e a segunda em debitus cujo significado é dívida. Outro dos tópicos frequentes na literacia financeira: os empréstimos. Este nome surge da combinação do sufixo in com o particípio praestitus (in+praestitus), significando pôr à disposição, emprestar. A este conceito está implicitamente associado o de taxa de juros, sendo que este último teve origem no latim jure, direito em português, pois, na verdade, a pessoa que empresta tem direito a receber uma parcela pela sua ação. E claro não se podia falar em finanças sem abordar o polémico conceito dos impostos. Etimologicamente esta palavra teve origem no verbo imponere, ou seja, impor ou pôr à frente de. E, de facto, todos temos de pôr o nosso dinheiro à disposição mesmo sem o termos efetivamente ganho, como é exemplo o pagamento por conta.
Continuação de boa viagem pela língua portuguesa! 23