continua a sua caminhada no sentido de agregar novos projectos e novas ideias. Desta feita a parceria com o Ensino Técnico-profissional em Moçambique, nomeadamente através das relações com o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e a Fundação Portugal África, que vai permitir testar no terreno uma forma de ensinar/aprender baseada numa geminação entre escolas Técnicas, Portuguesas e Moçambicanas. Desta parceria vão surgir oportunidades de aprendizagem baseadas na utilização das tecnologias instaladas, onde a distância será o factor descartável.
Propriedade e edição Universidade de Aveiro / Projecto Matemática Ensino / Projecto Pensas Director António Batel Anjo Coordenação Soraia Amaro Design/Grafismo Pedro Silva Redacção António Batel Anjo; Soraia Amaro Fotografias Arquivo Pensas; Layout - Ideias e Conceitos; Universidade Católica Portuguesa
Aprender em conjunto, aprender com a experiência e sobretudo aprender com um duplo sentido: PortugalMoçambique / Moçambique-Portugal. É assim que se pretende esta geminação onde todos têm uma palavra a dizer.
Tiragem 1500 Exemplares
Continuaremos a trabalhar para que o Pensas se possa tornar um projecto cada mais enraizado em Moçambique mas sempre a olhar o Mundo.
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“Laços de Lusofonia”: um projecto de geminação de escolas técnicas
págs. 4-7
Entrevista a Joaquim Azevedo: reestruturação e alargamento do Ensino Técnico em Moçambique
págs. 8-9
Geminar para quê?
págs. 10-13 Entrevista a Leda Florinda Hugo, Vice-Ministra da Educação de Moçambique:
O papel do Ensino Técnico no Sistema Nacional de Ensino
págs. 14-17 Escolas Profissionais unidas no projecto “Laços de Lusofonia” págs. 18-21 Entrevista a José Mingocho de Abreu:
balanço positivo na reformulação do Ensino Técnico moçambicano
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O Ensino Técnico na primeira pessoa
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Agenda Pensas
Projecto de Geminação de Escolas Técnico-Profissionaisentre Moçambique e Portugal
PENSAS E MINED AVANÇAM COM UM PROJECTO DE GEMINAÇÃO DE ESCOLAS TÉCNICAS. O OBJECTIVO PASSA POR INTERLIGAR ESTAS ESCOLAS, APOSTANDO NAS NOVAS TECNOLOGIAS.
O trabalho de parceria que o Projecto Pensas e o Ministério da Educação de Moçambique – MINED vêm realizando vai alargar-se ao Ensino Profissional, através da implementação de um projecto de geminação de escolas profissionais entre Moçambique e Portugal, chamado “Laços de Lusofonia”, que conta também com o apoio do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e da Fundação Portugal África. O projecto tem como principal objectivo potenciar a troca de experiências e conhecimentos, criando uma relação entre as escolas geminadas. Pretende ainda identificar as dificuldades e trabalhar os módulos a leccionar no sentido de colmatar as lacunas existentes. A PEA - Plataforma de Ensino Assistido implementada pelo Pensas em Moçambique servirá de base à geminação e à troca de conhecimentos.
Escola Profissional da Mealhada Escola Profissional Domingos Sávio, Inharrime Escola Profissional de Santo Tirso Instituto Médio Agrário do Chokwè Escola Profissional de Abrantes Instituto Médio Agrário de Boane Escola Profissional de Císter -Alcobaça Escola Profissional da Ilha de Moçambique Escola Profissional de Fermil/Celorico de Basto Escola Profissional Familiar Rural de Honoíne
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Joaquim Azevedo, professor catedrático e Director do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, é, através de um trabalho conjunto entre o Governo moçambicano e a Fundação Portugal África, o responsável pelo projecto de reestruturação e alargamento do Ensino Técnico em Moçambique. Pela sua experiência no terreno, acredita que um modelo de educação próprio e ajustado à realidade moçambicana, que tenha como finalidade a melhoria das vidas das pessoas, na dimensão pessoal e social, é a melhor resposta. Esteve directamente ligado à institucionalização do ensino técnico, em Moçambique. Como é que foi conduzido esse processo e quais os resultados? Sim, o Governo de Moçambique pediu, em 1996, à Fundação Portugal África-FPA (presidida pelo Dr. Mário Soares e cujo vice-presidente é o Prof. Carvalho Guerra) para proceder ao relançamento da antiga rede de Escolas de Artes e Ofícios, que existia junto das Missões e que tinha sido devastada pelo Conflito Armado. A missão foi-me entregue e tentei, desde 1997 e até hoje, ao longo destes quinze anos, desempenhá-la o melhor possível, numa perspectiva de serviço público e de solidariedade pessoal com as crianças e os jovens de Moçambique. O processo passou por um primeiro levantamento da situação no terreno, em todo o país, pela definição de um modelo, com o Ministério da Educação de Moçambique (MINED), e pela sua execução, primeiro numa fase piloto e depois em todo o país. A rede tinha, em Setembro de 2011, 35 escolas, envolvendo já 5.200 alunos.
Qual foi a realidade encontrada em Moçambique ao nível do ensino técnico? Havia uma enorme delapidação de um recurso precioso para o desenvolvimento social e para a satisfação das necessidades primárias das pessoas. Por outro lado, havia pouca capacidade técnico-política instalada para o MINED colocar de pé, sozinho, um projecto desta envergadura. Por isso, sustentei, desde o início, que a FPA colocasse em Moçambique, permanentemente, alguém que não deixasse tirar o pé do acelerador e que garantisse desde aí a manutenção da orientação inicial e a rigorosa afectação dos recursos.
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Quais foram as principais dificuldades sentidas? A falta de alunos e professores qualificados foi uma delas? Sim, a falta de recursos locais constitui um dos grandes problemas. Mas o maior é político, isto é, é preciso saber para quê esta nova rede, onde se quer chegar com a reabertura destas escolas, como se vai lá chegar, sob que princípios orientadores da acção e com que actores e recursos, em quanto tempo, com que modelo de gestão e de avaliação. E esta percepção e definição política não abundam. Mas também, da parte portuguesa e da concepção de qual o sentido da cooperação, encontrei muitas debilidades e muita desorientação. O facto de termos uma equipa permanente no terreno, liderada desde sempre pelo Eng. José Abreu, professor que tinha muita experiência no ensino profissional, em Portugal, que convidei para ser o líder executivo do projecto, permitiu dar um pouco mais de orientação, eficácia e eficiência ao apoio que Portugal foi dando ao projecto (apoio este central em todo o desenvolvimento destas escolas). A falta de directores e professores qualificados foi a maior de todas as debilidades.
O que foi feito para ultrapassar as dificuldades encontradas, nomeadamente a falta de professores qualificados que garantissem a qualidade do ensino? Fizemos desde sempre muita formação de professores e de directores e líderes locais
deste projecto. Tanto em Moçambique como em Portugal, temos dado prioridade à qualificação destas pessoas. Têm sido importantes neste processo tanto a Universidade Católica como as Escolas Profissionais portuguesas, que acolhem directores e professores e até alunos (para virem a ser futuros professores especialistas).
Entrevista Joaquim Azevedo
Duas prioridades foram definidas: qualificar muito bem os líderes, pois sem isso nada mais se fará bem, e formar os professores para as áreas técnicas, junto de docentes experientes e no terreno do próprio ensino profissional. A formação pedagógica constituiu outra prioridade, pois a especificidade do ensino profissional de Moçambique, designação que o MINED preferiu adoptar (afastando-se politicamente do anterior modelo das Escolas de Artes e Ofícios, do tempo colonial), requereu uma atenção muito concreta à formação para a qualidade das aprendizagens, para a formação modular, para a ligação escolacomunidade, etc. Aquando do trabalho de implementação e institucionalização do ensino técnico em Moçambique quais foram os critérios utilizados para a definição dos cursos a criar, bem como das regiões onde implementar as escolas? Definimos, desde o início, que este projecto devia ter como finalidade a melhoria das vidas das pessoas, na dimensão pessoal e social, muito antes de qualquer outra coisa. Os projectos deviam ser locais e autónomos, enraizados na comunidade de cada território. A formação deveria estar focada no sucesso educativo dos jovens, diferenciando práticas e flexibilizando propostas, tudo ao serviço do seu crescimento harmonioso, capaz de cimentar projectos de vida e dinâmicas sociais sustentadas.
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riámos cursos nas áreas mais adequadas ao desenvolvimento social de Moçambique e seguindo a necessidade de criar respostas educativas ao nível elementar da qualificação profissional dos jovens: formação nas áreas da agricultura e do desenvolvimento rural, da electricidade e da mecânica, da construção civil, da informática e do secretariado. As escolas foram sendo criadas em função dos pedidos e dos projectos erguidos em cada local, seja pelas autoridades públicas seja por uma enorme diversidade de parceiros socioeducativos.
Houve a preocupação de criar cursos que dessem resposta às necessidades do País e que, ao mesmo tempo, permitissem a criação de emprego nas camadas mais jovens? Sim, os cursos procuram ser respostas educativas para os jovens destas idades (após a conclusão do 7.º ano de escolaridade) e para os dinamismos sociais locais. Mas, atenção, muitas vezes constituem uma aposta, um embrião, um alfobre de jovens qualificados e inovadores, que podem e devem criar os seus próprios empregos e não ficar à espera do que não existe.
Considerou, na altura, que o ensino técnico era uma necessidade em Moçambique? E hoje, mais de uma década depois, considera que continua a ser uma necessidade? A formação profissional elementar de jovens, após a conclusão de uma escolaridade básica de sete anos que, regra geral é concluída bastante acima dos doze anos de idade, não é uma mera necessidade de Moçambique, constitui uma prioridade inadiável. Não há desenvolvimento socioeconómico e cultural sem investimento na educação e na qualificação profissional das pessoas, prioritariamente dos mais jovens. Erro trágico em África é
pensar que se podem reproduzir os modelos europeus, de adiamento sucessivo da educação e qualificação profissional dos alunos, quando a escolaridade média só é capaz de vingar, ligada com o desenvolvimento das comunidades, se se der uma resposta imediata sobre a escolaridade básica (e incluindo esta).
amanhã. Mas é certamente uma boa perspectiva de trabalho. Temos de procurar chegar aí, num horizonte temporal alargado. Mas é muito importante que Moçambique alimente fortemente essa ambição.
É intenção do Ministério da Educação de Moçambique criar uma escola por cada distrito do País. Considera que é uma boa medida por parte do Governo? Porquê?
O ensino profissional em Moçambique, tem sido uma história de sucesso, e espero muito que continue a sê-lo. Para isso vão contribuir vários factores: o trabalho e o esforço dos alunos e dos professores, a acção dedicada, qualificada e competente dos directores das escolas;
Não será uma boa medida se for para
Para o futuro, o que espera do ensino técnico em Moçambique?
Está em curso um projecto de geminação de escolas profissionais de Portugal e de Moçambique. Considera que é um projecto que pode trazer vantagens ao ensino moçambicano? Sim, claro que sim. O projecto de geminação tem duas vantagens. Fortalece as capacidades educativas e organizacionais (incluindo a liderança) das escolas profissionais de Moçambique, que aprendem muito na ligação directa a escolas profissionais de Portugal. Mas estas também aprendem muito, não o esqueçamos, com o convívio, o ensino e a aprendizagem com as escolas profissionais de Moçambique. Destaco a formação de líderes e docentes, a qualificação e o convívio de alunos, o intercâmbio cultural, crucial nos dias de hoje, para criarmos um mundo com mais paz e justiça. Se pudéssemos geminar tudo, em todo o mundo, entre instituições, para lá da acção dos estados, como o mundo seria tão diferente! E isso nada custa, apenas um clik de ligação, de fraternidade. Poder dar é a coisa mais maravilhosa que há. Quem muito der, muito vai receber.
Na sua opinião esta troca de experiências entre Portugal e Moçambique ao nível do ensino técnico devia basear-se em que pilares? O maior pilar é este, o da reciprocidade.
a presença segura e fraterna de muitas instituições que podem criar novas parcerias para o desenvolvimento de uma escola profissional em Moçambique (regiões e distritos dos países desenvolvidos, instituições civis e religiosas de todo o mundo, empresas e fundações de toda a parte); a determinação e a persistência dos líderes políticos, que não podem deixar de manter o pé no acelerador do ensino profissional. Não pode haver sossego enquanto houver um lugar onde os jovens ficam por casa ou na rua, sem saber o que fazer, por falta de uma adequada educação e formação profissional.
profissional pode vir a ser uma das principais alavancas do novo Moçambique, mais próspero e com mais justiça social, mais desenvolvido e com mais ligação fraterna a todo o mundo, mais capaz de se afirmar, em toda a sua identidade, numa comunhão pacífica de países e culturas diferentes. 7
António Batel
A resposta é só uma e imediata: Através destes “Laços de Lusofonia” que unem Portugal e Moçambique, o que queremos fazer é construir uma irmandade de Escolas Técnicas que se apoiam, que debatem e, sobretudo, que aprendem umas com as outras. Ao aproximar as dez escolas que aceitaram ser as pioneiras deste projecto-piloto, o nosso objectivo é formar pessoas, levá-las a questionar o seu modo de ensino e de aprendizagem, motivá-las a criar um conjunto de conteúdos dinâmicos, úteis para a sua escola e para a escola-irmã. Neste projecto, a responsabilidade está de ambos os lados, todos são emissores e receptores de conhecimento. Acredito que ser professor é isso mesmo: inovar, nunca estar contente, achar que nunca é suficiente. E acho que, se conseguirmos transmitir isto neste programa de formação, de ambos os lados, teremos certamente alunos mais activos e mais preparados para implementar os seus conhecimentos e para vencer no futuro.
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Em conjunto, Escolas Técnicas de Portugal e Moçambique vão construir conteúdos comuns, aprendizagens que vão ser feitas nos dois sentidos. Através do recurso aos meios audiovisuais e multimédia, e também à Internet, poderemos assegurar uma melhor formação e uma melhor aprendizagem para os nossos alunos, e também para os nossos professores, que buscam sempre metas de excelência. Nas escolas profissionais, exige-se que o trabalho tenha uma ligação à prática, uma aplicação real do saber, e esse é o saber que nos interessa transmitir aos nossos alunos, não é só princípio, meio e fim, mas sobretudo a sua aplicabilidade.
or exemplo, a montagem de uma máquina. Melhor do que apenas explicar, eu posso filmar a montagem e fazer um filme que dou aos meus alunos, que eles podem ver e parar, e voltar a ver, e esse material, que garante uma base científica sólida aliada à componente visual, fica para a escola e para as escolas-irmãs, ao ser disponibilizado numa plataforma comum que alberga este conhecimento, como uma sala de aula comum. Não tenho dúvidas que um professor, quando tiver de fazer uma peça, ou quando tiver de passar pelo processo de desmontar e montar uma torneira, e tiver de descrever esse processo, estará a aprender e a fazer com que os seus alunos aprendam a fazê-lo. Directores e professores das escolas geminadas devem agora pensar no que gostavam de ver feito de parte a parte. Que temas, que materiais audiovisuais, que abordagens. Numa primeira fase, os materiais podem ser as próprias aulas. Os professores podem preparar a aula, filmá-la, e depois podem visualizar e ver o que deve ser corrigido, partilhar a aula na plataforma, discutir os meios usados, os temas mais relevantes. Não tenho dúvidas de que todos os professores gostam sempre de ensinar
melhor, de envolver mais a comunidade, pensar mais além, entusiasmar os jovens. E com as críticas e o envolvimento de todos os outros colegas é possível melhorar a forma como todos ensinamos. Também os manuais em formato digital, disponíveis na plataforma, são um formato de material didáctico importante. Sem custos de impressão e distribuição, podem estar em revisão permanente, ser relido, alterado por utilizadores que estão em pontos tão distantes. Este é, por isso, um trabalho muito aliciante, e uma grande oportunidade, que nos vai ajudar a ter um Ensino Técnico cada vez melhor. Porque nas geminações aprende-se em conjunto e cada escola irá oferecer o que tem de melhor e mais útil, numa aproximação vantajosa para ambas as partes.
Neste novo projecto, o que faremos é criar condições para que as Escolas Técnicas possam, entre si, partilhar experiência e conhecimento, numa versão alargada e ainda mais ambiciosa do Outclass.
Para terminar, tenho de dizer que geminar, na verdade, não é uma novidade para o Pensas. Geminar é o que já fazemos com o Projecto Outclass, através do qual, todas as semanas, meninos do Colégio da Beira e meninos da Escola de Á-dos-Ferreiros, em Águeda, trabalham nas suas áreas curriculares. Há uma aula dada em conjunto, de um lado e de outro, usando meios tecnológicos rudimentares a que todos já vamos tendo acesso.
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Entrevista Leda Florinda Hugo
DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS,
MAS NUM CONTEXTO DE QUALIDADE A Vice-Ministra da Educação de Moçambique, Leda Florindo Hugo, revelou à Revista Pensas que o Ensino Técnico é uma prioridade do Governo, que pretende implementar pelo menos uma escola profissional em cada distrito do País. Leda Florindo Hugo elogia o trabalho de cooperação que está a ser desenvolvido com Portugal, sobretudo na formação de formadores que irão garantir o corpo docente das escolas técnicas. Para o futuro, a aposta será na qualidade do ensino.
Qual é o papel do Ensino Técnico na política de educação do Governo Moçambicano? O papel primordial é formar os moçambicanos, preferencialmente os jovens em idade escolar, para a actividade produtiva num contexto de desenvolvimento da economia nacional em algumas áreas que são os pivots do desenvolvimento.
E que áreas são essas? Seria, por uma questão de política tradicional, a agricultura. Mas começam a aparecer novas áreas que merecem atenção, como a geologia e minas, o turismo, o eco-turismo e também algumas actividades de aproveitamento do potencial na área das pescas.
jovens que estão a fazer formação técnica e farão ainda formação pedagógica. Ao nível do sistema de formação do ensino técnico há todo um esforço para a integração destes formadores em carreiras específicas com um sistema de evolução de carreira e de remuneração. Voltam de Portugal com um perfil bem definido que lhes permite, logo à chegada, estarem integrados na carreira profissional de formadores. É uma contribuição muito grande e uma articulação com o que são os grandes desafios e prioridades do governo de Moçambique neste momento.
Podemos dizer que o Ministério da Educação e o Governo de Moçambique estão a apostar nas escolas profissionais, uma vez que há a intenção de criar pelo menos uma escola por cada distrito? É um desafio para Moçambique conseguir ter pelo menos uma escola profissional em cada distrito, independente de ter outras escolas de outros níveis de ensino. Mas o ensino profissional tem destaque porque já envolve o jovem na formação de uma área específica logo depois do termo do ensino primário. Este é o primeiro contacto que têm com uma actividade profissional e é um dos primeiros passos para a construção de uma sociedade melhor.
Como já foi dito, o objectivo do Governo é, então, a criação de pelo menos uma escola profissional em cada distrito do País. Mas para isso serão precisos professores. O que está a ser feito para garantir que cada escola terá os professores necessários para a formação que é dada? Há todo um esforço para a formação de professores que complementa o esforço que está a ser feito para a expansão da rede escolar. Há professores a serem formados cá, nos institutos de formação. Uma das componentes que vem responder a esta necessidade de formação está a ser feita em Portugal onde temos, actualmente, 44
O jovem está consciente de que, fazendo a décima classe de ciências gerais, não terá tantas oportunidades de emprego e de inserção social que tem com o mesmo nível na área da profissionalização. Os jovens e toda a sociedade têm essa consciência de que o saber-fazer é importante.
Uma das vantagens do Ensino Técnico é permitir que os alunos adquiram alguma experiência e conhecimento de uma determinada profissão. De que forma isto pode contribuir, por exemplo, para ajudar os jovens a encontrar emprego?
É também uma forma de garantir a continuidade das escolas profissionais, uma vez que o Governo aposta na formação destes alunos para eles depois virem a ser os professores das escolas profissionais onde estudaram?
Aprendem uma profissão que tem uma inserção social e potencial para evoluir. A formação nas escolas profissionais cria espaço para que os jovens possam evoluir para a especialização e para outras áreas profissionais.
Sim, pretende-se garantir o corpo docente das escolas, mas um corpo docente qualificado, com certificação que é válida em qualquer parte do mundo. Este programa com Portugal permite dar essa benesse aos nossos formadores. Fazemos este esforço com as escolas profissionais num momento em que estamos empenhados em apostar na qualidade e em dar resposta às questões relacionadas com a qualidade do nosso ensino. Queremos a expansão das escolas profissionais, mas num contexto de qualidade.
A ideia é que os jovens encontrem emprego ou criem as suas empresas. Queremos dar aos jovens uma formação em que eles tenham a oportunidade de, sendo mais competitivos no mercado de trabalho, conseguir encontrar emprego, pois têm conhecimentos em áreas específicas. Queremos também permitir acesso a linhas de crédito para que eles possam criar as suas empresas e os seus empregos. Esta é a filosofia de todo o sector quando decidimos priorizar o Ensino Técnico.
Nos últimos anos tem-se verificado um aumento do número de alunos que se inscrevem no Ensino Técnico. Na sua opinião, enquanto Vice-Ministra para a Educação, a que se deve este crescimento? Eu penso que, em primeiro lugar, a rede escolar permite esse crescimento, já que há mais escolas e mais oferta de formação. Depois, esse crescimento poderá ser também justificado por todo o trabalho de consciencialização e priorização da formação técnico-profissional dos jovens, preferencialmente a formação geral que é dada.
E que incentivos há durante o percurso escolar para o empreendedorismo e o auto-emprego? Penso que o objectivo fundamental da organização dos cursos é fazer com que os alunos ganhem gosto em aprender, em experimentar e em criar. Com essas habilidades eles podem criar emprego para si próprios e serem um factor de mudança no sector do trabalho. Podem ser actores importantes no desenvolvimento do País ao nível do capital humano, uma vez que podem intervir nas suas comunidades e regiões, promovendo este saber-fazer e marcar a diferença.
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COLOCARMOS OS JOVENS EM CONTACTO COM AS DIVERSIDADES CULTURAIS, ÉTNICAS E TECNOLÓGICAS Neste momento está a ser desenvolvido pelo Ministério da Educação, em conjunto com a Cooperação Portuguesa, através do Projecto Pensas e da Fundação Portugal África, um projecto de geminação de escolas profissionais moçambicanas e portuguesas. Que avaliação faz desta iniciativa? É vantajosa para ambos os países? Definitivamente, muito positiva, porque é um programa de cooperação com uma certa maturidade. Mas esta componente de geminação vem aproximar mais as escolas, os professores, os estudantes e dar a oportunidade de uma escola poder influenciar positivamente outra escola. Vamos permitir uma maior dinamização dos programas formativos e isso só pode vir a ser uma medida positiva. Penso que pelo menos as nossas escolas, que neste momento estão envolvidas neste programa de geminação, só podem tirar grandes vantagens.
Que vantagens gostaria que as escolas moçambicanas conseguissem obter com este projecto? São várias. Nós já temos um programa de formação e formadores em Portugal, em que os moçambicanos graduados e professores em exercício vão às escolas portugueses e fazem formação e de lá voltam como formadores em Moçambique. Com este programa de geminação, é muito fácil para o estudante que sai de Moçambique já com alguma ligação com a escola portuguesa continuar a trabalhar e a estudar num contexto em que está confortável com o sistema de ensino e a inserção social.
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Uma outra vantagem associada é o facto de, com a geminação de escolas, ser possível criar programas e momentos de aprendizagem que podem ser partilhados com Portugal, aproveitando-se os contextos socais de cada País que, no fundo, são muito diferentes. E é importante colocarmos os jovens em contacto com as diversidades culturais, étnicas e até tecnológicas.
Pretende-se que os dois lados cooperem, isto é, que alunos moçambicanos colaborem com alunos portugueses e vice-versa. Considera que esta troca de conhecimentos e de aprendizagem entre escolas dos dois países é o que deve, de facto, ser este projecto? Esta seria a situação ideal e estes são os objectivos fundamentais do programa, por isso espero que seja isso que venha a acontecer no futuro e que a implementação do projecto tenha estes princípios na sua base.
Há a preocupação de adaptar os cursos profissionais às necessidades quer do país quer das próprias regiões onde essas escolas se inserem? A resposta é categoricamente sim, com algumas especificidades. Se falarmos só das escolas profissionais que são um certo tipo de escolas, de um nível mais básico, estas têm uma tarefa particular de serem grandes actores de desenvolvimento das regiões onde estão inseridas. Então, o potencial regional pode ser determinante na definição dos cursos e da modalidade em que são dados. Temos também em conta a articulação que a escola tem com os grandes actores de desenvolvimento da região.
Estes jovens virão a ser os empreendedores do futuro. É isso que se pretende? Eles já são agentes do desenvolvimento económico ao longo da formação e têm a possibilidade de evoluir para outros níveis de ensino. Eles são, neste momento, a aposta do Sistema Nacional de Ensino.
Enquanto Vice-Ministra da Educação de Moçambique, o que espera para o futuro da educação e, em particular, do Ensino Técnico?
E TODA A SOCIEDADE TÊM ESSA CONSCIÊNCIA DE QUE O SABER-FAZER É IMPORTANTE
UM ESFORÇO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE COMPLEMENTA O ESFORÇO QUE
ESTÁ A SER FEITO PARA A EXPANSÃO DA REDE ESCOLAR
O que eu gostaria de ter no futuro era mais escolas profissionais e mais atractividade para este tipo de ensino, isto é, que os alunos optassem mais pelo ensino técnico-profissional. Gostava também que estas escolas pudessem ter equipamentos que permitissem aos alunos, durante o processo de aprendizagem, serem expostos a condições idênticas às do mercado de trabalho onde serão inseridos. Era ainda importante ter cada vez mais professores motivados e qualificados. Gostaria também de ver estes programas que o Ensino Técnico tem com Portugal serem potenciados, pois têm uma importância relevante.
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Escola Profissional Domingos Sรกvio, Inharrime
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DINAMISMO E COOPERAÇÃO SÃO A BASE DO PROJECTO O projecto Laços de Lusofonia assenta numa base firme que pretende estimular a cooperação entre escolas técnicas de áreas de conhecimento semelhantes, em Portugal e Moçambique. Ao mesmo tempo, o dinamismo será conferido, quer pela energia que cada escola colocará ao serviço desta parceria, quer pelo apoio do Projecto Pensas e restantes parceiros no terreno. O recurso às novas tecnologias, nomeadamen-
te aos conteúdos partilhados via Internet, garante também a possibilidade de uma abordagem activa por parte dos vários intervenientes. A par com isto, o projecto Laços de Lusofonia tem em conta as áreas de trabalho de cada uma das escolas parceiras, e procura agrupá-las de forma a que a troca de saberes se revele vantajosa para todos.
NESTE SENTIDO, TORNARAM-SE ÓBVIAS AS LIGAÇÕES EXISTENTES ENTRE AS VÁRIAS ESCOLAS TÉCNICAS, QUE FICARÃO UNIDAS DA SEGUINTE FORMA: ESCOLA PROFISSIONAL DA MEALHADA - ESCOLA PROFISSIONAL DOMINGOS SÁVIO DE INHARRIME
Profissional da Mealhada, a taxa de empregabilidade dos seus cursos é de 86%, sendo que 11% dos alunos optam por prosseguir estudos.
ESCOLA PROFISSIONAL DA MEALHADA
As áreas de formação são bastante diversas, indo desde a Contabilidade e Informática de Gestão às Energias Renováveis e Sistemas Solares Térmicos e Fotovoltaicos, passando por áreas de grande impacto na região, como o Termalismo e a Restauração.
Escola Profissional da Mealhada situa-se no distrito de Aveiro, numa zona onde se destacam como principais actividades económicas a agropecuária e as produções de vinho da Bairrada, de azeite e de leite. Também o turismo tem bastante expressão, nomeadamente o termalismo (Termas do Luso), assim como as indústrias da cerâmica e restauração. A EPM mantém protocolos com empresas de várias regiões do país para realização de estágios. De acordo com a direcção da Escola
Já passaram pela escola 14 alunos de Angola e Cabo Verde, que concluiriam a respectiva formação. Actualmente, frequentam a EPM nove alunos de Cabo Verde e quatro de Moçambique. Para a Direcção desta escola, é “muito gratificante constatar o exemplar comportamento e excelente aproveitamento dos nossos alunos vindos de Moçambique”.
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vasta exploração agrícola e pecuária, que se estende por 29 hectares. Destes, 17 hectares são de superfície agrícola útil e 12 hectares de superfície florestal. No sector agro-florestal, a EPACSB possui culturas arvenses, culturas hortícolas, culturas aromáticas, hortofrutícolas, pomar e vinha. No sector pecuário, são criados bovinos, equídeos e caprinos. No sector da transformação, a escola tem leite para produzir queijo, manteiga e iogurte; rosas para fazer licores e geleias; uvas para elaborar vinho verde e aguardentes vínica e bagaceira; produtos hortícolas e frutícolas para elaboração de compotas e licores. Tem ainda uma área de floresta onde é possível encontrar uma mata com pinheiro bravo e pinheiro manso, castanheiro, carvalho, sobreiro e eucalipto. Os cursos ministrados incluem Tratamento de Animais em Cativeiro, Jardinagem, Produção Agrária, Turismo Ambiental e Rural, Cuidados Veterinários, entre outros. De acordo com a direcção desta escola, são muitos os alunos que, terminando a sua formação na EPACSB, escolhem continuar os seus estudos, situando-se a taxa de prosseguimento de estudos para o ensino superior na ordem dos 40%. Uma percentagem dos alunos opta pela via do auto-emprego, sobretudo aqueles que provêm de famílias que trabalham na área. Assim, cerca de 10% dos alunos dão continuidade às explorações agrícolas familiares, melhorando o seu desempenho, fruto da qualificação obtida. A escola recebe, habitualmente, alunos estrangeiros, tendo já passado pela EPACSB 30 alunos provenientes de países da CPLP. INSTITUTO MÉDIO AGRÁRIO DO CHOKWÈ ESCOLA PROFISSIONAL DOMINGOS SÁVIO, INHARRIME Integra uma rede de sete escolas profissionais da Congregação dos Salesianos em Moçambique. Fundada em 2003, acolhe cerca de 300 alunos. Estes frequentam os cursos profissionais de Construção Civil, Electricidade, Serralharia-mecânica e Marcenaria. A escola possui, desde o ano passado, um espaço que pretende motivar o empreendedorismo, chamado Ninho Empresa. Aqui, nestas oficinas, os alunos que terminam a sua formação podem fazer trabalhos por
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conta própria, receber orientação e ganhar algum dinheiro, por um período de três meses. Desta forma, os jovens graduados são acompanhados na sua entrada no mundo do trabalho. ESCOLA PROFISSIONAL DE SANTO TIRSO INSTITUTO MÉDIO AGRÁRIO DO CHOKWÈ ESCOLA PROFISSIONAL DE SANTO TIRSO A EPACSB – Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento situa-se em Santo Tirso, no distrito do Porto, inserida numa zona essencialmente rural. Instalada no antigo Mosteiro de S. Bento, classificado Monumento Nacional, a escola inclui uma
Esta é a escola mais antiga na formação agropecuária, e, na altura em que foi criada, veio dar resposta ao problema do regadio. Ministra os cursos de Agricultura, Mecânica Agrícola e Agropecuária. Para o seu director, o mais importante, para além da aposta na qualidade na formação e competência, é motivar o empreendedorismo, formando “estudantes capazes de fazer alguma coisa quando terminam a sua formação”. O responsável pelo Instituto Médio Agrário do Chókwè acredita que “a geminação é uma mais valia que pode
trazer vantagens, nomeadamente no trabalho prático, através da troca dos recursos disponíveis”.
ESCOLA PROFISSIONAL DE CÍSTER ALCOBAÇA - ESCOLA PROFISSIONAL DA ILHA DE MOÇAMBIQUE (NAMPULA)
ESCOLA PROFISSIONAL DE ABRANTES – INSTITUTO MÉDIO AGRÁRIO DE BOANE
ESCOLA PROFISSIONAL DE CÍSTER -ALCOBAÇA
ESCOLA PROFISSIONAL DE ABRANTES
Com 21 anos de existência, a Escola Profissional de Alcobaça conta com 335 alunos distribuídos por 20 turmas. Situada numa das mais importantes regiões Frutícolas, Hortícolas e de Suinicultura de Portugal, a maior parte dos cursos leccionados nesta escola estão ligados às Ciências Agrárias e os seus alunos são, quase na sua totalidade, absorvidos pelas empresas da região.
Situada no distrito de Santarém, a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA) encontra-se numa das regiões do país onde o sector agrícola assume um maior peso no contexto das actividades económicas geradoras de riqueza, funcionando como âncora para a fixação das populações locais. Muito próximos estão também núcleos industriais relevantes na actividade nacional, nas áreas da energia e da metalomecânica. Focada essencialmente na agropecuária e turismo rural, a EPDRA ministra cursos de Gestão Equina, Produção Agrária, Turismo Ambiental e Rural, Recursos Florestais e Ambientais, Tratador e desbastador de equinos, Operador de Máquinas Agrícolas, entre outros. A escola possui uma bolsa de instituições para realização de estágios, em Portugal e no estrangeiro, e realiza regularmente um conjunto de actividades de abertura à comunidade envolvente. Desde 1996, a escola tem em curso um protocolo de cooperação para recepção de alunos da CPLP que, desde 2009, inclui também Moçambique. INSTITUTO MÉDIO AGRÁRIO DE BOANE A funcionar desde 1987, o Instituto Médio Agrário de Boane ministra o curso de Agropecuária, com três saídas profissionais na área da Agricultura e Pecuária. A escola, que tem procurado adaptar-se aos novos desafios, acolheu no ano passado 226 alunos, distribuídos pelas suas 11 salas, dois laboratórios, duas salas de informática, uma área de seis hectares para produção e pavilhões para criação de animais. Com um internato para alunos e bloco residencial para docentes, este instituto recebe estudantes de todo o país. “Os nossos cursos têm uma forte componente prática, e temos um historial de parcerias com empresas onde os alunos podem realizar tarefas práticas e estágios”, refere o director.
De acordo com João Raposeira, Director da EPADRC, a empregabilidade dos seus cursos ronda os 100%, o que justifica com o facto de ter havido uma preocupação em “diversificar a oferta formativa de acordo com as necessidades das empresas locais”. Assim, para além dos vários cursos ligados à exploração agrária, a escola alargou a sua oferta formativa a áreas como o Turismo, Restauração e Apoio à Infância. A escola integra uma exploração agrícola com cerca de 35 hectares, onde é possível encontrar um Museu Agrícola, Adega, Estufas para hortofloricultura, Cavalariças, Picadeiro Coberto, Suinicultura, Ovil, Armazéns, Hangar de máquinas, pomares de macieiras e pereiras, vinhas e prados. Ao longo dos 21 anos de existência da EPADRC já frequentaram os seus cursos vários alunos dos países que integram a CPLP, mas esta é a primeira oportunidade de integrar um verdadeiro protocolo de cooperação. ESCOLA PROFISSIONAL DA ILHA DE MOÇAMBIQUE Situada a 180 kms da cidade de Nampula, esta foi a primeira escola técnica criada em Moçambique e estava vocacionada para os cursos de artes e ofícios, como sapataria e carpintaria, por exemplo. Com a reforma do Ensino Técnico, a escola reviu o seu projecto educativo e oferece agora os novos cursos de Empregado Administrativo, Pedreiro e Serralheiro e Soldador. Muitos dos alunos provêm dos distritos vizinhos. A direcção da escola manifesta-se empenhada em formar profissionais de qualidade, que consigam “fazer algo” após
o ciclo de formação. “Eles têm de sair a saber fazer, com uma profissão”, afirma o director desta escola. Aqui estudaram 230 alunos, no passado ano lectivo. ESCOLA PROFISSIONAL DE FERMIL/CELORICO DE BASTO - ESCOLA PROFISSIONAL FAMILIAR RURAL DE HONOÍNE ESCOLA PROFISSIONAL DE FERMIL/CELORICO DE BASTO Situada na região do Minho, a Escola Profissional de Fermil, Celorico de Basto, encontra-se numa zona marcada por uma forte componente agrícola e florestal, exploração de inertes (indústria extractiva), turismo rural, indústria do calçado e vestuário. Com formação técnica em seis áreas Instalações Eléctricas, Mecânica Automóvel, Produção Agrária, Comércio, Turismo Agro-ambiental e Processamento e Controlo de Qualidade Alimentar -, a EPF possui protocolos com uma vasta rede de empresas e instituições nacionais e europeias, o que possibilita aos alunos a realização de estágio em empresas da sua especialidade, em Portugal e no estrangeiro. De acordo com o Director da escola, Fernando Fevereiro, a taxa de empregabilidade dos graduados ronda os 85%. A escola possui uma forte componente em relações internacionais, sobretudo com Espanha e França. Actualmente, estudam na EPF oito alunos de nacionalidade Moçambicana. ESCOLA PROFISSIONAL FAMILIAR RURAL DE HONOÍNE Situada na província de Inhambane, a 30 quilómetros da cidade de Maxixe, a Escola Profissional Familiar Rural de Honoíne é promovida pela APEPFRUM/Caritas Moçambicana. Ministra aos seus cerca de 200 alunos cursos de formação profissional nas áreas da Agricultura e Mundo Rural e Carpintaria e Marcenaria. Está ainda em vista a introdução de um novo curso ligado à Mecânica Automóvel. A escola está inserida num contexto rural e dispõe de uma vasta extensão agrícola que funciona como um espaço privilegiado para as aprendizagens práticas dos seus alunos. Possui um lar/internato feminino e masculino e recebe alunos não só do distrito de Honoíne como também dos distritos limítrofes, oferecendo assim formação a uma comunidade alargada.
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Entrevista José Mingocho de Abreu
OUVIR OS ALUNOS DIZER QUE TÊM PLANOS DE FUTURO
osé Mingocho de Abreu está em Moçambique há mais de 10 anos, como consultor da Fundação Portugal-África. É coordenador da UTA – Unidade Técnica de Apoio ao programa das Escolas Profissionais de Moçambique, que já colocou em pleno funcionamento 33 escolas técnicas, com mais 10 escolas em candidatura. Acredita que “o desenvolvimento de um país passa por ter pessoas profissionalmente qualificadas e que saibam fazer coisas”, e por isso não tem dúvidas que estas Escolas Profissionais, ao conferir capacidades técnicas os jovens moçambicanos, estão a contribuir para o desenvolvimento socioeconómico do país.
Há mais de dez anos que trabalha no projecto de implementação do ensino técnico-profissional em Moçambique. Qual é o balanço que faz deste trabalho? O balanço é muito positivo. De facto, conseguimos pôr em funcionamento 33 escolas profissionais, distribuídas por todo país que espelham, na sua actividade de educação/formação, a realidade das regiões em que se inserem. Assumem-se, assim, como verdadeiros motores de desenvolvimento local e regional. Por outro lado, através da publicação de quatro diplomas ministeriais, demos sustentabilidade institucional a este projecto, o que está a permitir um rápido crescimento da rede das escolas profissionais.
Quais são as principais dificuldades que o ensino técnico enfrentou aquando da sua institucionalização e quais as que enfrenta hoje em dia? O programa, em curso, da implementação de uma rede de escolas profissionais em Moçambique, começou em 1996, quando as autoridades educativas moçambicanas pediram o apoio da Fundação Portugal África para o programa de reestruturação curricular das então designadas “escolas de artes e ofícios”. O estudo que foi necessário realizar, coordenado pelo Professor Doutor Joaquim de Azevedo, começou pelo levantamento, no terreno, da situação em que se encontravam essas escolas. Percorremos todo o país, falámos com autoridades provinciais, distritais, antigos directores, professores e mestres, autoridades civis e religiosas, ONG´s, etc.. E trouxemos connosco a realidade encontrada: as escolas estavam desarticuladas em termos de funcionamento e com todas as infraestruturas físicas muitíssimo degradadas (situação a que não era estranho o conflito armado que se viveu em Moçambique durante 16 anos) mas, por outro lado, as comunidades locais estavam desejosas de ver as “suas” escolas a retomarem o funcionamento.
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ra partir do zero em todos os aspectos, mas estas vontades locais facilitaram o trabalho e o novo modelo de formação arrancou em cinco Escolas Profissionais-piloto, que vieram a substituir as “escolas de artes e ofícios”. O crescimento exponencial da rede tem originado uma salutar “crise de crescimento”. Todo o crescimento deve ser acompanhado, para não se desfigurar. A principal dificuldade que encontramos hoje reside na necessidade de se fazer um acompanhamento sistemático das escolas em funcionamento. O país é muito grande, há escolas em meios rurais muito recônditos e de difícil acesso. Criámos e institucionalizámos as ELIDEP – Equipas Locais de Implementação e Desenvolvimento das Escolas Profissionais – e temos grande esperança no seu desempenho e nas relações de proximidade que podem criar com as escolas.
E quais são os principais desafios? O paradigma de funcionamento das escolas profissionais mudou o “status quo” existente pelo quetemos que fazer com que a mentalidade dos diferentes actores educativos mude em conformidade. E aqui incluo não só os actores que vivem em permanente proximidade com as escolas, mas também os actores institucionais (Direcções Provinciais, Serviços Distritais de Educação Juventude e Tecnologia, e a própria Direcção Nacional do Ensino Técnico). As mentalidades têm de mudar. A progressão curricular passou do regime de “progressão por disciplina” a “regime de progressão modular” (com todas as mudanças que isso acarreta, nomeadamente na transformação do professor/ transmissor para professor/facilitador, na alteração drástica dos processos de avaliação, na necessidade de se praticar uma permanente diferenciação pedagógica, etc.). Por outro lado, as escolas profissionais passaram a ter autonomia administrativa, financeira, pedagógica e cultural. Mais liberdade, mas com responsabilidades acrescidas. Depois, a territorialização dos projectos educativos de cada escola, conferindo-lhes uma identidade própria, desejavelmente diferente das demais e que obriga as escolas a interagirem com as comunidades que as rodeiam. O sucesso estará, portanto, associado à mudança de mentalidades. E isso, em certas e identificadas situações, é difícil de se fazer. Mas estamos a progredir e vamos conseguir.
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É objectivo do Governo Moçambicano criar uma escola profissional por cada distrito. Podemos dizer que é um objectivo ambicioso, mas ao mesmo tempo possível de concretizar? O objectivo é muito ambicioso, de facto. São 128 os distritos de Moçambique. Faltam, ainda, (só!) 90 e tal escolas. E então? Alunos, há. Instalações e equipamentos, conseguirse-ão certamente. Professores? Aqui reside o “calcanhar de Aquiles”. E para o minimizar abrimos uma frente de preparação técnica e pedagógica de novos professores. Ao longo destes anos temos realizado seminários com vista à requalificação técnica e pedagógica dos professores. Já passaram por estas formações mais de 1.500 formadores. Abordamos temas como “Avaliação e Progressão Modulares”, “Projecto Educativo de Escola”, “Avaliação Interna de Escolas” e outros. Temos também 44 alunos bolseiros a fazer formação técnica e pedagógica em Portugal. Serão 44 novos professores das áreas técnicas a trabalharem nas Escolas profissionais de Moçambique.
Num País como Moçambique, quais são as vantagens desta aposta no Ensino Técnico? O desenvolvimento de um país passa por ter pessoas profissionalmente qualificadas e que “saibam fazer coisas”. Carpinteiros, marceneiros, serralheiros civis, mecânicos, administrativos, agricultores, são precisos em Moçambique! As Escolas Profissionais, qualificando profissionalmente com cursos de nível 2 (operários qualificados) os jovens moçambicanos, estão a contribuir para o desenvolvimento socioeconómico do país.
O que se espera que este tipo de ensino venha a oferecer ao País e aos seus cidadãos? Ao país, mais desenvolvimento económico; aos cidadãos, a existência de moçambicanos tecnicamente preparados para o desempenho de várias profissões; aos cidadãos “ex-alunos das escolas profissionais”, uma vida digna e uma cidadania activa.
E hoje em dia, o que oferece? Melhores perspectivas de futuro aos seus alunos, por exemplo? A revista Tecnicando http://revistatecnicando.blogspot.com - tem feito várias entrevistas aos alunos em formação nas diferentes escolas profissionais. É motivante ouvi-los dizer que têm planos de futuro: há quem queira trabalhar por conta de outrem; há quem queira ser
empreendedor e esteja a trabalhar por conta própria e há também alunos que querem prosseguir estudos. Estamos a montar um observatório de pós-formação para acompanhar o percurso profissional ou escolar dos alunos depois da graduação. Vamos segui-los durante dois anos, de forma a ficarmos com dados concretos sobre o seu modo de vida após a graduação. No entanto, temos informações das escolas que apontam para uma grande empregabilidade dos alunos após a formação, o que está em sintonia com os objectivos propostos.
Com base em que critérios são definidos os cursos a implementar? Os cursos são solicitados pelas escolas em sintonia com parceiros locais e devem ajustar-se à realidade socioeconómica e cultural das regiões onde as escolas estão inseridas para assim impulsionarem o desenvolvimento dessas regiões. Tem sentido que a Escola Profissional da Ilha de Moçambique tenha como oferta formativa o curso de “reparador naval”, mas este curso não terá sentido numa escola do interior.
Considera que o ensino técnico pode ajudar a colmatar as lacunas identificadas em algumas áreas profissionais? Que áreas são essas? Estão já identificadas? Consideramos prioritárias todas as áreas formativas que estão em funcionamento, mas destacaremos, pela sua importância, a Agricultura e Mundo Rural, a Construção Civil, a Hotelaria e Turismo e as Mecânicas. Temos em perspectiva uma área formativa transversal ligada à “Assistência social em meio Rural” e, possivelmente, uma área ligada às “Energias para o Desenvolvimento”.
O que espera, no futuro, do ensino técnico em Moçambique? Espero, ou melhor, tenho a certeza que terá ainda que passar por algumas vicissitudes e constrangimentos, mas que se irá afirmar com muita qualidade. As escolas profissionais são o alicerce sólido de um edifício onde devem funcionar os diferentes níveis de qualificação profissional. É preciso construir, igualmente com solidez, os diferentes andares, partindo do princípio que em Moçambique se podem encontrar as soluções para estes desafios. Copiar modelos do estrangeiro é a pior coisa que pode suceder ao Ensino Técnico Moçambicano. E felizmente as autoridades educativas de Moçambique entenderam isto.
Está agora a nascer um projecto de geminação entre escolas profissionais moçambicanas e portuguesas. Que vantagens identifica nesta geminação?
mos com cinco escolas de cada lado, numa experiência piloto e pioneira. Iremos avaliar impactos e suponho que o futuro proporcionará mais geminações.
“Geminar... para aproximar” é o lema. Laços culturais multisseculares ligam Moçambique a Portugal. Temos uma língua comum que nos aproxima muito. Teremos escolas gémeas, escolas irmãs. Professores, alunos e directores a interagirem utilizando as modernas tecnologias da informação e comunicação. Muitos materiais didácticopedagógicos podem ser trabalhados em comum. Vamos partilhar, trocar experiências, fazer intercâmbios entre professores, alunos, directores e quem sabe, num médio prazo, geminar também as comunidades onde se inserem as escolas-gémeas.
A troca de experiências, conhecimento e métodos de aprendizagem são, certamente, algumas das principais bases deste projecto. Qual é o seu papel e importância no fortalecimento do ensino técnico de Moçambique?
Tenho grande esperança neste novo ciclo de aproximação pela formação. Começá-
A partilha origina sempre novos saberes. Há muito que aprender e ensinar de lado a lado. Materiais de aprendizagem podem ser construídos em comum, as TIC são uma fonte, diria, inesgotável de novas possibilidades de aprender e ensinar, facilitando o trabalho dos professores/formadores (sempre insubstituíveis) e a aprendizagem dos alunos (todos diferentes, mas todos iguais).
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Também os alunos reconhecem a importância deste tipo de formação, de carácter mais prático, e valorizam o ensino por módulos, que facilita a aprendizagem e garante que o aluno compreendeu o módulo anterior antes de evoluir para o seguinte. A revista Tecnicando http://revistatecnicando.blogspot.com, que desde 2008 vem dando conta do crescimento do Ensino Técnico em Moçambique, publica, regularmente, testemunhos de alunos de escolas profissionais moçambicanas, que sublinham a importância da aposta nesta formação na definição dos seus projectos de futuro. ELTON SIMAS, 25 ANOS, É ALUNO DO CURSO TÉCNICO DE AGRO-PECUÁRIA. “Estou neste curso a tentar graduar-me e fazer algo de útil para a sociedade. Estou a gostar da formação, estou a aprender novas coisas. Aqui sinto-me bem, gosto de agro-pecuária, gosto de trabalhar na terra. Aprendo melhor neste sistema modular, ajuda muito os alunos a perceberem as matérias. Gosto muito das disciplinas técnicas, mas também não tenho dificuldade nas disciplinas gerais. A minha nota mais baixa é 14 valores. A mais alta é 18!” BENJE MANUEL, 20 ANOS, TAMBÉM FREQUENTA UMA ESCOLA PROFISSIONAL DE AGRO-PECUÁRIA EM MOÇAMBIQUE. “Aproveitei esta grande oportunidade porque gosto muito de agricultura e de pecuária, e matriculei-me para me formar o mais cedo possível como técnico agro-pecuário, para trabalhar a terra e cuidar de animais. Tenho média de 15 valores. Só tive dificuldade na disciplina de Mecanização Agrícola, foi a mais difícil, só tive 13 valores. Quando acabar o ano complementar estou apto para tudo. Se não tiver emprego vou estabelecer-me por conta própria. Tenho a machamba dos meus pais, que produz algodão, milho, mapira e amendoim.”
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pletar esta formação técnica, dando-lhes a possibilidade de trabalhar como docentes na sua área de formação.
«DIAS DA EDUCAÇÃO
E DO DESENVOLVIMENTO»
LANÇAMENTO DO LIVRO “PARA MEMÓRIA FUTURADEZ ANOS A ACREDITAR” Com cerimónia de lançamento agendada para Março de 2012, o livro “Para Memória Futura – Dez anos a acreditar” retrata os dez anos passados desde o início da implementação das escolas Profissionais em Moçambique. Nesta obra estão documentados, através de imagens e textos, os momentos mais importantes deste processo de institucionalização das Escolas Técnicas moçambicanas, uma memória fotográfica das escolas existentes e um conjunto de dados estatísticos que ilustram a situação actual: número de alunos por curso, por género, por província e por escola, quantos prosseguem estudos, quantos obtêm aproveitamento, entre outros dados relevantes.
O Projecto Pensas da Universidade de Aveiro, a par com o Ministério de Educação de Moçambique, a Embaixada de Portugal em Moçambique, o IPAD e o Museu de História Natural voltam a promover, em Julho de 2012, os «Dias da Educação e do Desenvolvimento», uma iniciativa que favorece a troca de experiências e assinala a sua cooperação na área da Educação. A qualidade oratória dos convidados e o contributo das suas apresentações farão, com certeza, desta semana um sucesso, à semelhança do que tem acontecido nas edições anteriores.
PROJECTO PENSAS ORGANIZA
COMPETIÇÕES REGIONAIS
EM MOÇAMBIQUE
O Projecto Pensas volta a dinamizar as Competições de Língua Portuguesa e de Matemática nas cidades de Inhambane, Nampula e Beira. Está ainda em preparação um projecto de alargamento deste evento à cidade de Quelimane. As Competições Regionais de Língua Portuguesa e de Matemática envolvem alunos da 9ª classe de seis escolas de cada província, com o objectivo de suscitar o aprofundamento da aprendizagem da Matemática e da Língua Portuguesa, disciplinas
OPERACIONALIZAÇÃO DO PROCESSO DE GEMINAÇÃO Durante este período, terão lugar as visitas preparatórias de operacionalização do processo de geminação de escolas técnicas. Directores das Escolas Profissionais portuguesas e moçambicanas visitarão as escolas-irmãs, no sentido de aprofundar os trabalhos a desenvolver neste processo de parceria.
INÍCIO DA FORMAÇÃO
PEDAGÓGICA DO PRIMEIRO CICLO DE ALUNOS BOLSEIROS Em Setembro de 2012, terá início a formação pedagógica do Primeiro Ciclo de alunos bolseiros que completam os estudos em Escolas Profissionais portuguesas. Actualmente, 20 alunos moçambicanos estão em Portugal a completar cursos técnicos de nível 4, equivalentes ao 12.º ano. Depois disso, quatro meses de formação pedagógica virão com-
IV BIENAL DA APRENDIZAGEM
EM TIMOR-LESTE
Depois de Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, Timor-Leste irá acolher a IV Bienal da Aprendizagem, um encontro dedicado ao ensino da Língua Portuguesa, da Matemática e das Tecnologias, promovido pelo Projecto Pensas, da Universidade de Aveiro. Durante três dias, professores e investigadores dos países de língua portuguesa estarão juntos para trocar experiências sobre o ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa, da Matemática e das Tecnologias no espaço lusófono. Para António Batel, coordenador do Projecto Pensas, «a Bienal é mais um espaço para afirmar a ciência que se faz em Língua Portuguesa. Este é um tema da maior importância quando se fala da defesa do nosso maior património – a língua. É esta mesma língua que tem de ser encarada como factor de progresso e de desenvolvimento da cooperação e de aproximação dos povos que sem ela seriam, seguramente, mais pobres». Ao mesmo tempo, a actividade pretendeu ainda incentivar o recurso às TIC, através da plataforma de avaliação de conteúdos gerada no PmatE (Universidade de Aveiro) e aqui direccionadas para uma melhoria e desenvolvimento do ensino moçambicano. Recorde-se que estas competições tiveram início em Moçambique no ano de 2006, com a EQUAmat@moz, uma competição nacional de Matemática que utiliza as ferramentas informáticas existentes e adapta os conteúdos ao programa escolar moçambicano. Esta competição foi, mais tarde, integrada no Projecto Pensas e alargada a outras áreas de conhecimento, como a Língua Portuguesa e a Física.
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