Complexo Maguezal | TFG 2021 | Helena B Dal Bianco

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TFG | 2021 Helena Bonfante Dal Bianco

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“A paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, numa construção transversal.” Metamorforses do espaço habitado - Milton Santos

“Aqueles que passam por nós não vão sós e não nos deixam só. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupery

Orientanda Orientador

Helena Bonfante Dal Bianco Professor Mestre Fábio Boretti Netto de Araújo

Trabalho Final de Graduação | 2021 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Centro de Ciências Exatas e de Tecnologias | CEATEC

Pontifícia Universidade Católica de Campinas 02

“Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço A Bahia já me deu régua e compasso Quem sabe de mim sou eu Aquele abraço” Aquele abraço - Gilberto Gil


Gisele Dal Bianco Moacir Dal Bianco Laís Dal Bianco Lídia Bonfante José Bonfante Marta Dal Bianco Brunno de Palma Julhia Bernardo Leonardo Martins Carla Monara Vitória Cappello Gabrieli Cavalari Lilyan Laurenne Giulia Bakaukas Ana Paula Beltrão Camila Kuhl Lídia de Sá Carol Moretti Henry Farkas Beatriz Sartori Fernanda Garcia Barbara Sousa Nádia Lopez Ana Luisa Guimarães Giulia Padovani Fernanda Farche Paula Pereira Daniella Souza Danilo Cipola Letícia Scavone Nathália Bertolucci Isadora Saragiotto Fernando Moreno Luiz Augusto Costa Maia Reinaldo Ricarte Laura Bueno Fábio Boretti Joaquim Caetano de Lima Fábio Muzetti Pedro Paulo Caio Ferreira Antônio Fabiano Júnior Leandro Schenk Maria Eliza Pita Cláudia Ribeiro Ana Cecília Campos Débora Frazatto Antonio Kfouri Luis Amaral Helena Padovani Claudio Manetti Luis Campanella Monica Moreno Patricia Samora Roberto Leme João Caçador Maxim Bucaretchi

a g r a d e c i m e n t o s Agradeço à minha mãe, Gisele, pela sensibilidade; ao meu pai, Moacir, pelo olhar aos detalhes; à minha irmã, Laís, pela sede de viver cada momento. Esses ensinamentos, dentre tantos outros, intrínsecos à nossa vivência juntos, moldaram a pessoa que sou e, consequentemente, a arquiteta que nasce a partir desse trabalho. À minha família, agradeço pelo suporte incondicional, pelo esforço incansável que me permitiu viver essa experiência, pela honra de ter aprendido em casa aquilo que escola nenhuma ensina. Agradeço ao meu companheiro, parceiro de outras jornadas, Brunno de Palma, por me acompanhar em todos os momentos desse processo. Por acreditar em mim e me fazer acreditar também. Que um dia eu possa me ver pelos seus olhos. À todos meus amigos que dividiram comigo dias quentes e madrugadas frias nos ateliês, que fizeram dos fardos mais leves e das conquistas mais prazerosas. Sem eles esses anos seriam vazios, pois hoje somos família e, por isso, serei eternamente grata. Ao meu orientador, Prof. Me. Fábio Boretti N. de Araújo, pela grandiosidade de suas colocações, pelo olhar crítico e sen-

sível, que resultou em reflexões transformadoras, e por me guiar com maestria rumo à vida real. Ao Prof. Dr. - e amigo - Luiz Augusto C. Maia, por me inserir no universo da pesquisa e participar deste processo projetual, juntamente com sua orientanda de doutorado, Adriana T. Bahia, ambos contribuindo imensamente com seus conhecimentos e vivências. À minha orientadora de iniciação científica, Prof. Dra. Laura M. M. Bueno, por me abrir caminhos e despertar em mim o amor pela escrita e a sede pela pesquisa. Às integrantes do grupo responsável pelo projeto urbano, pela leveza que o mesmo foi conduzido, pelo respeito às diferenças e pela dedicação incessante para evoluir de acordo com nossas convicções. Agradeço a todos os professores e funcionários da FAU-PUCCAMP, que tocaram minha trajetória e revolucionaram minha percepção sobre a arquitetura, em mais humana que exata. Por fim, agradeço ao universo, que me permitiu conhecer pessoas incríveis e traçar essa jornada de aprendizados e autoconhecimento, me tornando uma melhor versão de mim mesma, e me proporcionando memórias inesquecíveis ao longo do caminho. 03


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Introdução

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Contexto

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Inserção

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Situação atual

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Diretrizes urbanas

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Economina pesqueira

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Conceito

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Sistema estrutural

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Insolação, fluxograma e setorização

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Térreo

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Biblioteca

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Cortes

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Imagens

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Considerações finais

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Referências bibliográficas

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Este memorial compreende a proposta de programa que se desenvolve a partir do Projeto Rede, Rede, plano urbano realizado no primeiro semestre de 2021, localizado no bairro São João dos Cabritos, pedaço de terra que toca o mar dentro da Baía de Todos os Santos, no Subúrbio Ferroviário em Salvador, Bahia. O plano fundamenta o Trabalho Final de Graduação e é oriundo de um projeto realizado em equipe na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Sob orientação do Prof. Fábio Boretti Netto de Araújo, Araújo, o grupo é integrado por Ana Luisa Rodrigues Guimarães, Carolina Mescollotto Moretti, Fernanda de Almeida Farche, Giulia Fioravanti Padovani, Helena Bonfante Dal Bianco e Julhia Bernardo Araujo.. O presente trabalho origina-se de diretrizes urbaAraujo nas que, com respeito à toda pré-existência, visam revitalizar a Enseada dos Cabritos por meio de intervenções pontuais, trazendo usos essenciais e infraestruturas reor-

ganizadoras do sistema urbano que, quando interligados geram uma rede de transformação em todo o território. Em cada laço dessa rede existem nós conectores, que miram na orla com o intuito de desenvolvê-la e potencializá-la, criando uma nova centralidade nesse espaço que hoje é renegado pela cidade. Essa rede é costurada aos projetos, buscando promover a economia local, o bem estar dos moradores, habitação digna, saúde, educação e conexão com a paisagem, fazendo com que a rede, além do mar, esteja também na terra. O projeto do Complexo Manguezal se situa em um ponto estratégico entre dois importantes ecossistemas e tem como objetivo promover a recuperação ambiental, além de fortalecer a economia da pesca e mariscagem. Este programa se conecta, por essência e nicho de intervenção, com os projetos do Centro da Sardinha, que também enaltecem os valores ancestrais, culturais e socioeconômicos da pesca.

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São João dos Cabritos faz fronteira com o Parque São Bartolomeu (uma das principais reservas naturais e remanescentes de Mata Atlântica em área urbana do país, marcada por sua importância ambiental, histórica e religiosa), e com um trecho da Av. Afrânio Peixoto, popularmente conhecida como Suburbana. O bairro possui uma forte conexão com o mar, já que o mesmo assume um caráter cultural e socioeconômico dada sua relação de dependência para com pescadores e marisqueiras, que extraem sua renda desse patrimônio natural. Ademais, a constante presença do mar no visual local faz com que a região seja envolta de uma paisagem privilegiada, com abundância de recursos naturais. Ainda assim, a Enseada apresenta um alto índice de vulnerabilidade socioambiental. De acordo com Cardoso (2009) e em estudos publicados ao longo dos anos, documenta-se que o bairro teve, no decorrer de sua história, um desenvolvimento precário com ocupações em palafitas dispostas às margens da baía. As mesmas começaram como uma alternativa acessível à população marginalizada, que se organizaram em comunidade e edificaram sobre a água seus casebres, amarrados uns aos outros, como um esforço coletivo de construção do próprio território, o qual ficou conhecido como Novos Alagados. Através de uma intervenção de requalificação urbana e ambiental, as palafitas foram removidas e essa população realocada para habitações na mesma região. No entanto, a comunidade de São João dos Cabritos segue enfrentando hiatos socioeconômicos, e de acesso a serviços básicos, apresentando vulnerabilidade quanto à infraestrutura precária de esgotamento sanitário, alagamentos, deslizamentos de terra e problemas habitacionais.

Fonte: CONDER e SEDUR, 2014 | Data: 1996

Fonte: CONDER e SEDUR, 2014 | Data: 2006

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Autor: Não identificado

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Complexo Manguezal

Centro Base Projeto Coral Vila dos Pescadores

Mercado Parque COOPESBAS 0

100m

Fonte: Google Earth, 2021. Editado pela autora.

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s i t u a ç ã o . a t u a l Assim como todo o bairro, a área de implantação do Complexo é marcada pela alta densidade populacional e construtiva, situação agravada por se situar em área de risco de alagamento. Isso se deve à presença de um rio tamponado onde sua estrutura é utilizada como via e sua APP é ocupada irregularmente por habitações. Ademais, o córrego recebe conexões clandestinas de esgoto, gerando a poluição da Enseada. Nota-se também a ausência de espaços públicos de qualidade, equipamentos de esporte e lazer ligados à orla e à natureza, em um território que se configura sem vínculos contemplativos com a paisagem. Somado a isso, os ecossistemas presentes nesse recorte são ameaçados com a apropriação crescente nas bordas do Parque São Bartolomeu e nos aterros existentes inseridos no manguezal, sendo essas edificações de alta precariedade. Fica evidente, ainda, a ausência de estruturas de apoio às embarcações e de acesso à rua da orla, dificultando a conexão entre sistema de mobilidade terrestre e os modais marítimos.

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30m

Fonte: Google Earth, 2021

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30m

Fonte: Google Earth, 2021. Editada pela autora. Via compartilhada com redução de velocidade Quadra esportiva Módulo de saúde - Centro Base Ciclovia Realocação de habitações com uso misto Intituto da Pesca e Mariscagem Portaria Parque São Bartolomeu Escola de Ensino Médio

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A fim de solucionar as problemáticas existentes nesse território foi proposto o auxílio de assistência técnica para a reconstrução completa de 14 habitações em situação precária, além da remoção de 24 famílias cujas habitações se localizam dentro do Parque São Bartolomeu, na APP do córrego tamponado e no aterro do mangue. As mesmas serão realocadas para novas moradias, passíveis de adaptações para uso misto voltado para a Suburbana, em até 3 pavimentos, envoltas de espaços verdes públicos em uma área de 2600m². Para garantir a criação do eixo ecológico, faz-se necessária a abertura de duas novas vias no entorno do rio para delimitar sua APP e garantir o caráter de parque linear que, juntamente com o destamponamento do rio, possibilitarão a despoluição progressiva da água e a redução de alagamentos através de jardins drenantes ao longo de toda sua extensão. Foi prevista também a implantação de novos usos de alta demanda que hoje são ausentes no recorte. Dentre eles, uma Escola Pública de Ensino Médio com acesso ao principal eixo de mobilidade do bairro, a realocação da Escola de Educação Infantil removida do perímetro do parque; e o Instituto da Mata Atlântica, localizado dentro no Parque São Bartolomeu, com o objetivo de trazer subsídios para manter a preservação ambiental. Além dos usos anteriormente mencionados, também foi proposto o Complexo Maguezal, Maguezal, que é composto por uma praça esportiva com quadra de areia, playground infantil, pista de esportes radicais e um módulo do Centro Base - equipamento de saúde básica - todos dispostos ao longo do novo parque linear. E, por fim, o programa que molda o complexo, o Instituto da Pesca e Mariscagem, atrelado a um atracadouro flutuante, que se insere na extensão do bairro que adentra o mar.


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dos pescadores brasileiros sobrevivem da pesca de forma autônoma

9,39%

da população de São João do Cabrito tem a pesca como economia de subsistência

70%

dos profissionais que vivem do mar em São João do Cabrito são mulheres

pescadores (%)

99,16%

26% do PIB da produção pesqueira do nordeste, entre 2000 e 2011, é advinda da produção do estado da Bahia. Neste cenário, Salvador possui 46.142 pescadores profissionais inscritos no RGP (Registro Geral de Atividade Pesqueira), porém esse número representa apenas uma parcela desse profissionais, dado que muitos se vinculam a cooperativas, associações e colônias de pescadores. Em São João do Cabrito existem 1.000 pescadores artesanais associados à cooperativa local (SILVA, 2013), e estima-se que esse número representa pelo menos metade da totalidade de pescadores do bairro. Apesar de a maioria dos profissionais brasileiros praticarem a pesca artesanal, a mesma vem perdendo espaço progressivamente para a aquicultura no estado da Bahia. 30 25 20 15 10 5 0

Associados Não associados Rio Vermelho Bom Jesus dos Passoa Ilha de Mará Itapuã Subúrbio Ferroviário

A B C D E

A B C D E Pescadores artesanais (%) de Salvador associados em organizações representativas Fonte: SILVA, 2013. Editado pela autora.

Levando em consideração os dados levantados, e após com entrevista com Vinicius - estudante de Engenharia de Aquicultura na UFSC - para melhor compreensão do programa escolhido, foi proposto o Instituto da Pesca e Mariscagem, uma instituição de pesquisa científica e tecnológica que desenvolve projetos nas áreas de Pesca, Maricultura e Aquicultura. Visando a obtenção e transferência de novos conhecimentos e tecnologias, tem como principal objetivo desenvolver técnicas e ferramentas para a melhoria da prática financeira do pescado e da qualidade ambiental. Isso é possível por meio de pesquisas, experimentos, acesso à informação e captação de recursos para investimentos locais, oferecendo apoio à comunidade pesqueira e valorizando esses profissionais. Além disso, essa infraestrutura também poderá ser utilizada para análise e controle de qualidade das espécies mais comercializadas, evitando o alastramento de doenças e aumentando o valor agregado à matéria prima. 11


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O Instituto foi inserido em dois aterros existentes, posicionado ali como um marco simbólico a fim de encerrar o processo recorrente de ocupações irregulares e degradação do mangue. Parte do aterro volta a ser ecossistema, enquanto o restante será utilizado com o único objetivo de protegê-lo, ressignificando assim o vazio urbano. O programa se divide em dois setores posicionados estrategicamente em meio ao manguezal e conectados por meio de uma estrutura leve suspensa que se projeta sobre o mar, continuando o percurso até ligar o Instituto com o novo parque linear - ação oriunda do Projeto Rede - e seguindo em terra até o Parque São Bartolomeu. Assim, cria um elo entre ecossistemas e traça um eixo de comunicação entre mata atlântica, manguezal e oceano. Essa passarela representa a criação do novo território, atuando como uma expansão do passeio da orla, mas que adentra a vegetação e, de maneira poética, promove a educação ambiental através desse contato direto. Ademais, com a alta densidade construtiva e a ausência de espaços de permanência, parte do objetivo do projeto está relacionada à criação de novos espaços públicos de qualidade que possam ser apropriados pela população. Está na essência do Complexo conectar o morador com essa paisagem de maneira contemplativa e educativa, dado que a conexão existente entre ambos está majoritariamente voltada à economia.

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O mar que gera vida que traz o peixe que vira dinheiro que deixa o sono tranquilo O mar onde brinca a criança onde trabalha a mãe onde se inspira o poeta que é de todos Que esse mar seja mais e mais, a cada dia um sentimento bom do que uma memória sofrida dessa gente que mora na terra mas tem no mar sua vida Autor: Graham Berry

Cabritos no mar - Helena Bonfante Dal Bianco 13


s i s t e m a . e s t r u t u r a l Com o objetivo de se inserir no contexto da enseada de maneira coerente e sem causar grandes interferências na paisagem, o Complexo se materializa a partir de técnicas construtivas comuns ao meio e utiliza de materiais, em grande maioria, naturais e econômicos, também presentes nas edificações locais. Estrutura-se a partir de pilares, ora de seção quadrada ora circular, e vigas menores, ambos maciços de madeira local Jatobá, de alta densidade, resistência e durabilidade. Já para vencer os maiores vãos do projeto, de 10 metros, foram utilizadas vigas de MLC (madeira laminada colada), que apresentam melhor desempenho que a madeira maciça, mas ainda consistem em materiais naturais e leves quando comparados às estruturas de concreto por exemplo. Essa configuração estrutural em madeira acontece em toda a parte externa do projeto, exceto no pavimento inferior subterrâneo, o qual conta com muros de arrimo em todo seu perímetro, pilares de concreto redondos dispostos em planta de acordo com a malha estrutural do pavimento acima, e vigas metálicas de perfil I com forro de madeira para passagem de fiações e tubulações. A escolha dos perfis metálicos se justifica, pois os mesmos vencem vãos maiores com seções menores e, portanto, possibilitam menor pé direito, consequentemente menores escavações ao lado do mar, menores intervenções no ecossistema e menores estruturas de concreto quanto aos pilares e arrimos. Bambu

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Madeira Jatobá

Pedra portuguesa

As vedações são variadas de acordo com a necessidade de cada programa, buscando sempre uma alternância gradual entre dentro e fora, luz e sombra. A principal utilizada é o tijolo cerâmico maciço, que além de dialogar com o entorno quase todo construído em alvenaria de tijolos, também é eficiente no isolamento acústico e térmico, e sua tonalidade e textura remetem à terra e à natureza, conectando função com conceito. Em alguns momentos essa vedação é transformada em plano vazado através de alterações na amarração, gerando uma trama com aberturas que possibilita a ventilação e iluminação natural, além da conexão visual entre espaços. Também são utilizados planos de vidro, brises verticais de madeira e brises horizontais de varas finas de bambu com fixação em cordas tensionadas, todos trabalhando a fim de deixar a luz natural entrar de maneira filtrada e controlada. Seguindo a lógica de todo o projeto, para se fundir à morfologia local e garantir a leveza que as estruturas já enunciam, as coberturas dos volumes de permanência são realizadas através de telhas metálicas termoacústicas com acabamento inferior tipo forro, com fixação auxiliada por terças. Quanto à cobertura do percurso feito em passarelas, também estruturada em pilares e vigas de madeira maciça, reproduz uma variação de brise ao dispor varas finas de bambu lado a lado na horizontal para filtrar a incidência solar e, sobre esse plano, recebe telha translúcida para proteger da chuva.

Deck de madeira

Concreto

Tijolo maciço

Grade metálica


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O Complexo Manguezal é dividido em dois setores de implantação, delimitados pelo perímetro dos aterros existentes. O aterro 1, de 1.760m², constitui o setor de eventos de caráter mais público, com grandes praças livres para apropriação dos moradores. Conta com anfiteatro; espaço de exposições; lanchonete/café; bloco administrativo/recepção; vestiário público; biblioteca pública; mirante e atracadouro. O aterro 2, de 1.050m², se limita ao âmbito de pesquisa do Instituto, abrigando os espaços destinados às atividades práticas, sendo eles os laboratórios de reprodução e engorda e o tanque de mariscos; bloco de apoio aos pesquisadores/pescadores; despensa e sala de reuniões. Soltos dos aterros e inseridos em meio ao mangue, existem ainda dois espaços de descanso, acessados pelas passarelas.

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A organização de todo o projeto ocorre em decorrência dos principais eixos estabelecidos desde sua concepção. Por se tratar de um espaço público, são diversas as formas de cruzar o complexo. O eixo que termina no mirante e se inicia na via de acesso, passando pelas rampas, do atracadouro e do anfiteatro, e pela recepção do instituto, demarca a entrada principal do setor de eventos. Já a entrada do setor de pesquisa, atravessa de fora a fora o aterro dos laboratórios. O fluxo em passarelas é responsável pelas conexões, com o Pq. São Bartolomeu e entre os dois aterros, cruzando os acessos principais de ambos. Além disso, a praça livre e o atracadouro também se configuram como importantes eixos de acesso, dado que o segundo é um conector do novo modal da canoa a partir do Projeto Urbano Rede.

Os volumes do projeto estão implantados na enseada de maneira comunicativa com eixos existentes do entorno e se relacionando com a movimentação da via da orla. Dessa forma, cada estrutura possui uma incidência solar variada, no entanto, todas as faces voltadas para a Baía de Todos os Santos recebem insolação sudoeste ou oeste, criando um forte laço contemplativo com o pôr do sol. As fachadas que recebem insolação norte são comtempladas com brises horizontais para controle da incidência e, consequentemente, da temperatura, dado que Salvador atinge médias de 30ºC durante o ano todo. Além disso, todas as coberturas apresentam beirais generosos e grandes aberturas, com diversos elementos vazados, que possibilitam a ventilação cruzada natural e a proteção do sol.

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Levando em consideração os eixos estruturadores já mencionados, a organização espacial do setor de eventos se dá a partir de: -- Praça livre de contemplação da paisagem e de possível adaptação para eventuais feiras ou outras apropriações; -- Bloco administrativo do Instituto, que também atua como um ponto de informação e recepção para grandes eventos, localizado em uma praça livre e com face de atendimento ao público voltado para o eixo do mirante; -- Vestiários públicos com banheiros P.N.E. masculinos e femininos, lavatórios em um espaço de transição e duchas externas voltadas para a praça, para atender principalmente os pescadores. Sob mesma cobertura que o bloco administrativo; -- Anfiteatro 1,60m abaixo do nível do térreo, com arquibancadas encaixadas na topografia e degraus intermediários que formam uma escadaria de acesso, e rampas acessíveis partindo do eixo mirante. No centro, um piso elevado que configura o palco, coberto por uma estrutura trapezoidal e vedado nas laterais por brises de madeira, posicionados em diagonais paralelas ao piso e à cobertura, reforçando a perspectiva rumo à paisagem; -- Sob a cobertura principal localiza-se um quiosque, com mesas ao entorno, de apoio aos eventos do anfiteatro e aproveitando a potencialidade da vista nesse ponto como possibilidade de fortalecimento do novo eixo comercial/serviços estabelecido na orla; -- Dividindo o mesmo espaço que o quiosque, e sob mesma cobertura, a área de exposições tem planta livre para variação na disposição de totens e banners informativos e expositivos sobre as atividades do Instituto na orla e os resultados de pesquisas ali produzidas. No centro desse espaço existe um aquário que expõe as principais espécies que embasam a economia local, trazendo o mar para dentro do projeto ao reproduzir esse ecossitema e aproximando a população do mesmo, levando conhecimento e promovendo a valorização da cultura pesqueira já difundida. 21


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No setor de pesquisa foram previstos 1 Laboratório de Reprodução (tanques de 500L); 1 Laboratório de Engorda (tanques de 5.000L) e 1 Tanque de mariscos (estrutura em rede inserida no mangue). É a partir de uma cobertura metálica única, estruturada em madeira, que se conectam dois blocos de laboratórios cortados pela passarela suspensa que atravessa o aterro. Nesse espaço de intersecção entre os laboratórios se localiza o bloco de apoio, sendo protegido pela mesma cobertura, que passa a ser translúcida nesse trecho. O terreno de implantação tem caimento natural nas encostas, criando uma relação gradativa com a água e o mangue em uma espécie de praia, a qual se tem acesso pelo deck de descanso, o qual abriga um redário convencional atirantado aos coqueiros e espaço livre para mesas de refeição dos ususários. A organização espacial se dá a partir de: -- Eixo seco interno de pesquisa dividindo a planta, o qual começa e termina em aberturas envidraçadas nos dois extremos da edificação; -- Eixo molhado externo e coberto pelo balanço da cobertura, o qual configura o principal acesso entre rua e laboratórios, além de ser o espaço onde acontece o transporte das espécies; -- Trama de tijolo virado voltado para o eixo de circulação externo, limitando o acesso sem imperdir o contato visual; -- Bancadas de trabalho com pias e computadores em frente ao rasgo horizontal envidraçado de fora a fora, voltado para a vegetação e limitado pelo eixo de circulação interno; -- Despensa e área de reuniões em comum, próximo ao bloco de apoio, o qual contempla banheiros e copa, desconectado dos volumes e ligado ao eixo de acesso; -- Piso em grade metálica sob as caixas d’água com vazio abaixo para drenagem da água descartada, facilitando assim a manutenção dos tanques; -- Peitoril da varanda de acesso, em alvenaria para proteger os laboratórios da água externa, movimentado para abraçar a vegetação e reforçar a perspectiva que aponta para o mangue. 22

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Localizada em um pavimento semi-subterrâneo, situado logo abaixo da área de exposições, aproveitando os muros de arrimo existentes e fortalecendo-os, a biblioteca pública conta com dois acessos. A partir do nível do anfiteatro dá-se o acesso em rampa. Seguindo um rasgo quadrado no piso do térreo, desenvolve-se acima uma caixa envidraçada que cobre o acesso em escada e plataforma elevatória inclinada. A iluminação natural da biblioteca acontece através de um rasgo estreito horizontal e alto, de fora a fora, voltado para o jardim externo no nível do anfiteatro. E, a partir de um vão circular tipo oculum,, “olho” do latim, se abre para o mangue, possibilitando a visão acima oculum e abaixo da água do mar de acordo com a variação da maré. Essa abertura contece nesse formato pois o círculo não possui quinas e, por isso, facilita a vedação. A planta da biblioteca conta também com: -- Espaço de espera atrás da escada e próximo ao acesso em rampa, delimitado por um jardim interno e um brise de madeira; -- Bloco fechado para a recepção e posicionado em frente à escada; -- Área de leitura central segmentada pelo aquário contínuo desde o térreo, configurando mais uma abertura na laje de cobertura e trazendo iluminação filtrada pela água; -- Bloco fechado, com dois banheiros P.N.E., segregando a área de leitura e o acervo físico; -- Acervo físico com fileiras de estantes, delimitado pelo bloco de banheiros e brise vertical de madeira; -- Espaço linear de estudo com mesas protegido por brise; -- Acervo digital, área de pesquisa e acesso à internet com grandes bancadas compartilhadas para computadores, delimitada por brise de madeira e jardim interno. 0 24

5m


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+1,00 +0,00 -0,60

+1,00

Corte geral do conjunto, passando pelos laboratórios, cobertura do palco do anfiteatro e bloco administrativo/vestiário público. +1,00

+1,00

+1,00

Viga Fixação Mão francesa

Pilar

6 1,50

5 6,95

4 3,00

1,50

1,10

+1,00

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5m

+1,00

4 9,00


Fixação Viga principal

Pilar

A

Fixação

Pescoço Fundação

Viga secundária

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9,00

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1 9,00

+1,00 +0,20

+0,00 -0,60

-0,60

+1,00 - ATERRO +0,00 - NÍVEL DO MAR -0,60 - ANFITEATRO

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+1,00

b +0,00 -0,60

-0,60

Corte geral do conjunto, passando pela área de apoio dos laboratórios, chegando até o espaço de exposições. Passa também pelo rasgo da escada que dá acesso à biblioteca, e pela biblioteca em si.

Viga

Fixação Viga principal

Pilar Fixação Pescoço Mão francesa

Viga secundária

1,50

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5m

Fundação

Pilar

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Fixação

5 6,95

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+1,00 - ATERRO

+1,00 +0,20

+0,00 - NÍVEL DO MAR -0,60 - ANFITEATRO

Viga

B

Fixação

Pilar

2

1 9,00

1,10

+1,00 - ATERRO +0,00 - NÍVEL DO MAR -0,60 - ANFITEATRO

-1,90 - BIBLIOTECA

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Corte que evidencia a variação dos níveis do projeto, no setor de eventos. Mostra, também a relação de altura entre diferentes coberturas.

Viga Pilar Pescoço

Fixação

Fixação

Fundação Pilar

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2,81

10,00

+1,00

0 30

5m

-1,90


Viga principal

Viga secundária

C Pilar

C

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10,00

A

10,00

+1,00

+0,00 - NÍVEL DO MAR

+0,00 -0,60

+1,00 - ATERRO

-0,60

-0,60 - ANFITEATRO

-1,90 - BIBLIOTECA

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Secciona o principal eixo do projeto, acabando no mirante que se projeta sobre o mar. Pilar Fixação

Pescoço

Fixação

Fundação Viga Pilar

A

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+1,00

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C

10,00

10,00

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Viga principal

Viga secundária

D Pilar

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2,81

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A

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+1,00

+0,00 - NÍVEL DO MAR

+0,00 -0,60

+1,00 - ATERRO

-0,60

-0,60 - ANFITEATRO

-1,90 - BIBLIOTECA

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Vista do setor de eventos que evidencia a conexão do conjunto com o entorno e com a paisagem.

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Palco do anfiteatro apropriado pela população por meio de manisfestações culturais.

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Acessos à biblioteca, por escada e rampa, e área de leitura interna segmentada pelo aquário.

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s

Pôr do sol no mirante, com as extremidades da Enseada dos Cabritos abraçando e enquadrando a vista.

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Extensão das passarelas que dá acesso ao atracadouro através de rampa. Ao lado, em meio às pedras, uma estátua em homenagem à população pesqueira.

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Vista da área de exposições e café, conectada com a passarela que liga os aterros.

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Diferentes momentos da passarela, a qual se conecta com todo o projeto. Nas imagens, passando respectivamente pelo mangue, pela estrutura em rede tensionada e pelo tanque de mariscos.

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Acesso principal dos laboratórios, vista do deck de descanso e vista interna com os tanques posicionados sobre o piso de grade metálica.

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c o n s i d e r a ç õ e s . f i n a i s

A sensibilidade impressa nos traços da arquitetura permitem que a transformação de um território aconteça sem descaracterizá-lo. O Complexo Manguezal representa uma síntese dessa intenção, imprimindo minhas principais diretrizes do que significa uma boa arquitetura. Essa, por sua vez, não diz respeito à um monumento edificado ou às técnicas mais modernas e complexas. A boa arquitetura em que acredito é aquela feita para pessoas, como para Ana Paula, uma das moradoras que nos aproximou desse território. É convidativa e acessível; que não distingue raça, credo ou classe social, mas que une todas as individualidades de um povo num mesmo espaço. O complexo busca, por essência, promover o encontro dessa pluralidade e diversidade baiana, no âmago da origem, livre de esteriótipos. Do baiano que se origina dos escravos africanos, dos índios e dos portugueses; da miscigenação étnica e cultural; do pelourinho e da metrópole urbana. Unindo o pescador analfabeto e o pesquisador pós graduado, gerando uma troca social rica em saberes científicos e saberes populares. Dessa forma, fez-se uma arquitetura “empática”, que surge a partir da reflexão sobre o outro e sobre suas necessidades e relações. Uma arquitetura da comunidade e do indivíduo.

Lucian Hely

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Autor desconhecido

Autor desconhecido

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MUSA - Museu da Amazônia

Studio MK27

Álvaro Siza

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Chu van đông


r e f e r ê n c i a s . b i b l i o g r á f i c a s ÁLVARES, Maria Lúcia Politano; ÁLVARES, Diego; ÁLVARES, Helena Spinelli; DOS SANTOS, Maria Elisabete Pereira; MORAES, Luiz Roberto Santos. Delimitação das Bacias Hidrográficas e de Drenagem Natural da Cidade de Salvador. Salvador. Revista interdisciplinar de gestão social, [s. l.], 1 jan. 2012. CERQUEIRA , Erika do Carmo. Vulnerabilidade Socioambiental na cidade de Salvador - Bahia: Análise Espacial das situações de risco e ações de resiliência.. Tese de Doutorado, Universidade Federal da Bahia, [S. l.], 2019. ência CONDER, Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia; SEDUR, Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Projeto Integrado: Borda da Baía: Subúrbio - Salvador. Salvador. Salvador - BA, 2014. Disponível em: < http://abc.habitacao.org.br/wp-content/uploads/2018/01/A-Imp-Reg-Sustentabilidade-CONDER-BA-Projeto-Borda-da-Bahia.pdf > Acesso em: jul 2021. DA SILVA, Leidisangela Santos. Economia Economia Pesqueira Artesanal no Município de Salvador-BA: da Organização Produtiva a Comercialização nas Colônias de Pescadores. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Economia, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2013. DE SANTANA, Marcelle Bianco Bittencourt. A Importância Cultural do Parque São Bartolomeu para a Comunidade da Suburbana. Suburbana. Caleidoscópio: Outro olhar sobre o lugar, nº 6, Ano IV, pág 17. Salvador, 2018. DOS SANTOS, Raissa Evangelista. Arte da pesca no Porto das Sardinhas e sua relevância socioeconômica para os moradores do Subúrbio Ferroviário. Caleidoscópio: Outro olhar sobre o lugar, nº 6, Ano IV, pág 25. Salvador, 2018. ITA CONSTRUTORA. Caderno de detalhes contrutivos: Madeira Laminada Colada (MLC). 2019. Disponível em: < https://pdfcoffee.com/caderno-de-detalhes-mlc-pdf-free.html >. Acesso em: 20 nov 2021. PINTO, Jeremias Pereira; DE SOUZA, Tatiana Araújo. Transformações socioespaciais de Salvador e a formação do Subúrbio Ferroviário. Ferroviário. XXI Semana de Mobilização Científica – 21ª SEMOC, p. 01-09, 26 out. 2018. Disponível em: http://ri.ucsal.br. Acesso em: 16 set 2021. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1998.

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TFG | 2021 Helena Bonfante Dal Bianco Obrigada

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