Mercado Parque | TFG 2021 | Julhia Bernardo Araujo

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julhia bernardo I TFG 2021

p a r q u e


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Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Mercado Parque da Enseada Centro da Sardinha - Salvador/BA Trabalho Final de Graduação Orientanda: Julhia Bernardo Araujo Orientador: Prof. Me. Fábio Boretti Netto de Araújo Campinas - 2021. 2


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AGRADECIMENTOS Se eu pudesse resumir esses cinco anos em uma palavra, seria gratidão. Por tudo que vivi, pelos aprendizados, pelos erros e acertos, pelos milhares de sentimentos e emoções vividos dentro e fora dos ateliês e por todos aqueles que cruzaram meu caminho. Obrigada. Essa graduação foi e sempre será muito mais importante pra mim do que eu imaginava. Uma luta diária com meus medos, incertezas e insegurança, mas que sem dúvidas contribuíram para meu crescimento e amadurecimento. Em primeiro lugar agradeço aos meus pais, meus avós e minha irmã. Obrigada por serem meu alicerce e acreditarem em mim mesmo quando eu achava não ser capaz. Por estarem sempre ao meu lado, me dando todo o suporte, educação e amor necessário para que eu me tornasse quem sou hoje. Obrigada por tornarem possíveis meus sonhos. Agradeço também ao meu orientador, Fábio Boretti, que a todo momento me fez refletir sobre a responsabilidade de cada traço colocado no papel, que eles nunca sejam em vão, mas carregados de justificativas, histórias e, acima de tudo, respeito. A você, que muito me ensinou sobre cuidado, gentileza e humanidade, minha eterna gratidão. Aos meus amigos, irmãos que essa graduação me proporcionou, em especial Carla, Gabrieli, Giulia, Helena, Leonardo, Lilyan e Vitória; obrigada por esses eternos e intensos cinco anos de pura emoção. E como

já dizia Emicida, “tudo que nóis tem é nóis”. Vocês são colo e abrigo nessa loucura diária que a gente jamais conseguiria viver sem. Foi um prazer compartilhar essa jornada com vocês, não poderia ter sido melhor. Valeu a pena porque permanecemos juntos. Até o fim. Jamais poderia esquecer de vocês também, Débora, Giackomo, João Vitor, Laura e Milena. Obrigada por sempre me acompanharem. Mesmo com a distância vocês estavam sempre ali, pra me apoiar, me ouvir e serem meu ombro amigo. Meu muito obrigada às minhas companheiras de grupo, que fizeram com que esse tfg fosse conduzido de forma leve, acolhedora e gentil. Vocês são mulheres incríveis. Admiro cada uma e serei eternamente grata por concluir este importante ciclo da minha vida ao lado de vocês. Com um trabalho que nos orgulhamos do resultado, pensando desde o primeiro dia em como conseguiríamos concluir essa graduação com um projeto humano, cauteloso e que idealizasse nossas crenças na profissão a qual escolhemos. E por fim, a todos da XOK Arquitetos Associados, que me acolheram este ano e me ensinam diariamente sobre resiliência e profissionalismo. Obrigada pelas trocas, conselhos, aprendizados e por resgatarem em mim a vontade de seguir, no momento em que nada mais parecia fazer sentido. Vocês foram fundamentais nesse processo. 4


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Indíce Urbano - Centro da Sardinha Introdução 08 Contexto Urbano 10 Projeto Rede 11 Centro da Sardinha 14 Implantação 16

O Projeto Qual compromisso desse projeto na transformação do entorno? 19 Partido 21 Programa 22 Plantas 23 Cortes 31 Materialidade e Técnicas Construtivas 40 Imagens do Projeto 42 Conclusão 56 Referências Bibliográficas 57 6


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INTRODUÇÃO Este memorial compreende a proposta de programa que se desenvolve a partir do Projeto Rede, plano urbano realizado no primeiro semestre de 2021. O plano fundamenta o trabalho final de graduação e é oriundo de um projeto realizado em equipe na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Sob orientação do professor Fábio Boretti Netto de Araújo, o grupo é integrado por Ana Luisa Rodrigues Guimarães, Carolina Mescollotto Moretti, Fernanda de Almeida Farche, Giulia Fioravanti Padovani, Helena Bonfante Dal Bianco e Julhia Bernardo Araujo. O projeto do Mercado Parque origina-se a partir de diretrizes urbanas que visam revitalizar a região da orla do bairro São João do Cabrito, localizado no Subúrbio Ferroviário, em Salvador-Bahia, por meio de pequenas intervenções pontuais que juntas buscam promover mudanças no território estudado como uma rede de transformação urbana. Ele se situa no local que hoje abriga o Porto da Sardinha, onde se desenvolve o comércio de mariscos e pescados com grande precariedade de infraestrutura e salubridade. O projeto busca melhorar as condições de trabalho dos pescadores locais e fortalecer essa atividade que carrega valores ancestrais, culturais e socioeconômicos, criando o Centro da Sardinha, que contempla o Mercado em conjunto com a Cooperativa de Pesca e Mariscagem em um espaço público de livre apropriação social e intensa conexão com o mar. 8


legenda Av. Afrânio Peixoto Av. Beira Mar Rua dos Ferroviários Linha de Trem - Novo VLP Ciclovias Pontos de Ônibus Termial Marítimo da Plataforma

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fonte: Imagem satélite - Google Earth. Mapa elaborado pelos autores.


CONTEXTO URBANO

São João do Cabrito se insere na região do Subúrbio Ferroviário, na cidade de Salvador-Bahia, fazendo fronteira com o Parque São Bartolomeu (uma das principais reservas naturais e remanescentes de mata atlântica em área urbana do país, um lugar de forte importância ambiental, histórica e religiosa), e com um trecho da Av. Afrânio Peixoto, popularmente conhecida como Suburbana. O bairro possui uma forte conexão com o mar, já que possui um importante apelo cultural e socioeconômico pela intensa presença de pescadores e marisqueiras que extraem sua renda desse território. Vale ressaltar que a Enseada do Cabrito se posiciona em uma área privilegiada levando em conta a abundância de recursos naturais e a constante presença do mar no visual do bairro, devido a extensão da orla. Por isso, conforma uma paisagem singular e muito característica. Ainda assim, o bairro apresenta um alto índice de vulnerabilidade socioambiental. De acordo com Cardoso (2009) e em estudos publicados ao longo dos anos, documenta-se que o bairro teve, no decorrer de sua história, um desenvolvimento precário com ocupações em palafitas à margem da enseada. As ocupações começaram como uma alternativa acessível à população marginalizada, que se organizaram em comunidade e construíram sobre a água suas moradias, amarradas umas às outras, como um esforço coletivo de construção do próprio território, conhecido como Novos Alagados. Após intervenção da prefeitura municipal, as palafitas foram removidas e a área passou por um processo de requalificação urbana e ambiental. No entanto, mesmo após este processo, realizado sem a presença participativa da comunidade, São João do Cabrito permaneceu com evidentes hiatos socioeconômicos, de acesso a serviços, infraestrutura precária e problemas habitacionais. 10


centro da sardinha

11 fonte: Croqui elaborado por uma das integrantes do grupo.


PROJETO REDE

Após o “diagnóstico” do território, que se entende como uma análise aprofundada da situação atual da região, e de realizar então um “prognóstico”, que seria nossa compreensão dos principais pontos de fragilidades e potencialidades de São João do Cabrito, passamos a pensar em diretrizes físicas e sociais, e programas específicos a serem implantados que, como rede, pudessem transformar o território de acordo as demandas constatadas no estudo. Diversas foram as diretrizes desenvolvidas para a potencialização do território, mas entre elas destaca-se, para a elaboração do projeto do Centro da Sardinha, a que diz respeito ao desenvolvimento da economia solidária, empreendedorismo local e turismo sustentável, que visa legitimar e favorecer o uso misto na Avenida Beira Mar, alterando o zoneamento dessa área e, ao mesmo tempo, congelando o gabarito de altura para limitar que ocorra um processo de gentrificação do território. Associado a isso, propõe-se a requalificação da área do Porto da Sardinha, com a implantação do Mercado Parque, do Terminal Intermodal de VLP (modal que está em processo de construção, substituindo a antiga linha férrea do Subúrbio Ferroviário), e a reestruturação do ponto de comercialização dos pescados e mariscos, associado diretamente à Cooperativa de Pesca. A fim de otimizar as condições de trabalho e infraestrutura de processamento e venda dos produtos da comunidade local. fonte: Rede social da página Belezas do Subúrbio.

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Enseada do Cabrito

Baía de Todos os Santos

legenda conexão viária domicílios a serem desapropriados Linha do trem - novo VLP Ciclovia novo ponto de ônibus

13 fonte: Imagem satélite - Google Earth. Mapa elaborado pelos autores.


CENTRO DA SARDINHA

A proposta do Centro da Sardinha se localiza no Recorte 1 de intervenção do Projeto Rede, na ponta esquerda da Enseada do Cabrito. Atualmente, é uma área marcada por muitos vazios urbanos, habitações em condições precárias e é onde se desenvolve a venda dos produtos oriundos da pesca e mariscagem, local conhecido como Porto da Sardinha. Na faixa de areia que beira o mar, é onde se realiza o descarregamento, beneficiamento e venda desses produtos de forma insalubre e sem infraestrutura. A proposta é criar um centro pesqueiro para a comunidade, visando a otimização dessa cadeia produtiva e ampliação da cultura local, implantando os novos programas em uma área que tenha relação direta com o mar, com o VLP e com a Avenida Beira Mar, conformando uma rede de mobilidade que se conecte com o entorno e promova um fluxo urbano que amplifique o uso e seja atrativo para esse novo ponto comercial. Os lotes demarcados em laranja encontram-se em condições de alta precariedade, conforme o levantamento realizado no plano urbano. Portanto, estes seriam desapropriados para a implantação dos equipamentos propostos e reimplantados novamente no mesmo recorte de atuação, mas dessa vez com melhor qualidade construtiva. Além disso, para proporcionar a conexão entre a Rua dos Ferroviários e a Av. Beira Mar, visando melhorar a continuidade do fluxo no sistema de mobilidade, proporcionando o acesso do transporte público na Av. Beira Mar, propusemos o redesenho viário e a instalação de um ponto de ônibus nesse trecho. Por fim, criamos pontos de embarque e desembarque de produtos e pessoas por via marítima, com o intuito de reforçar o fluxo intermodal relacionado ao projeto e gerar espaços públicos de convivência integrados aos programas propostos.

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ar

M eira Av. B

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Enseada do Cabrito

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Baía de Todos os Santos 8

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50m


IMPLANTAÇÃO O Centro da Sardinha é composto por duas propostas de intervenção: O Mercado Parque (1), projeto o qual este memorial se trata, e a Cooperativa de Pesca e Mariscagem (2), realizada por Giulia Padovani. Os dois projetos coexistem em um desenho estruturado por algumas preexistências do território: a linha do VLP, a Av. Beira Mar, e a Enseada. A partir delas, criamos um aterro que se delimita, em sua face oeste, por uma via compartilhada proposta para dar acesso às quadras habitacionais que carecem dessa infraestrutura. Simultaneamente, essa nova rua possibilita o fluxo de carga e descarga do Mercado e permite o estacionamento dos automóveis de visitantes que venham de áreas mais afastadas. O desenho de implantação desses dois novos usos se faz priorizando o eixo de mobilidade idealizado nas propostas urbanas, que interliga os modais de via marítima, através das docas públicas de embarque e desembarque de pessoas (3) associado ao parque linear, e os pontos de atracação de embarcações pesqueiras para descarregamento dos produtos (4) com acesso direto à cooperativa, o terminal de embarque e desembarque do VLP e o ponto de ônibus (6) proposto na Av. beira mar. Além disso, estendemos a ciclovia existente na avenida da orla para favorecer a conexão desse modal com outras partes da cidades, que segue para o bairro de Plataforma beirando o mar. E, por fim, associada à cooperativa, propusemos uma rampa de acesso ao mar (5), facilitando a subida e descida de barcos, responsáveis pelo carregamento dos pescados. Ainda no que diz respeito à conexão de modais, a ideia de reforçarmos este eixo de mobilidade (7), é que ele estivesse presente também no desenho paisagístico, de maneira sistêmica, partindo do início da quadra, alinhado à faixa elevada com acesso ao ponto de ônibus proposto do outro lado da rua, margeando a cooperativa em direção ao mercado, chegando até ao acesso da rampa que interliga mercado e parque linear (8), dando continuidade através de uma escadaria disposta em patamares maiores que se alternam chegando até o nível do parque voltado para a Baía de Todos os Santos, estendendo-se até o final do píer de embarcações (3).

Em toda esta faixa que permeia os projetos, ao longo da quadra, utilizamos a pedra portuguesa vermelha, a fim de restabelecer diálogo com outros importantes espaços públicos da cidade de Salvador, como o Pelourinho; e em sua continuidade que chega ao mar, optamos pelo uso de um deck flutuante em madeira, linguagem utilizada em ambas as docas (do Mercado e Cooperativa). E para os demais calçamentos dessa área, a utilização da pedra portuguesa branca. O mar, como elemento de grande importância nesse projeto, símbolo da economia local, onde se desenvolve a atividade da pesca e mariscagem, fonte de renda de inúmeras famílias da região e parte constante da paisagem urbana do bairro; foi pensado para o projeto, de maneira a conectar-se com ambos programas, tanto à Cooperativa como ao Mercado, através de um desenho que conformasse uma piscina de marés (9), com patamares organizados em desníveis sutis, que proporcionam acesso ao mar, além de diferentes experiências sensoriais aos usuários, sendo ora uma praça seca, ora molhada, de acordo com a altura das marés. Serve também como elemento de contenção da água da chuva, em conjunto com o espelho d’água atrelado à Cooperativa e à praça urbana que possui um extenso jardim, reforçando a ideia desses novos espaços de convívio entre ambos os projetos. Conforme mencionado nas propostas urbanas desse recorte, fizemos a realocação dos 23 domicílios removidos em uma área de 467m², divididos em 3 blocos de 3 pavimentos (10). Cada um dos blocos abrigarão 9 unidades habitacionais de aproximadamente 50m², totalizados em 27 novos domicílios de HIS. Além disso, como forma de garantir a subsistência parcial da população, tanto com segurança alimentar quanto com uma possível atividade econômica desenvolvida coletivamente, propusemos uma horta urbana (11) de uso público que ocupasse o espaço vazio da quadra, tendo conexão direta ao parque linear e à via compartilhada.

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17 fonte: Imagem produzida pelo autor.


”Na terra em que o mar não bate Não bate o meu coração O mar onde o céu flutua Onde morre o sol e a lua E acaba o caminho do chão”. Gilberto Gil

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QUAL O COMPROMISSO DESSE PROJETO NA TRANSFORMAÇÃO DO ENTORNO?

Pautado por questionamentos a respeito de como promover o desenvolvimento sistêmico da orla da enseada do cabrito a partir de suas preexistências, levando em conta o potencial comercial, turístico e paisagístico, o projeto do Mercado Parque se manifesta com o intuito de estabelecer condições dignas de trabalho à toda comunidade, a fim de suprir a grande demanda de uma infraestrutura que possibilite a expansão do comércio local. A partir de uma análise urbana criteriosa, onde foram identificados espaços fragmentados de desenvolvimento das atividades comerciais, ao longo da orla, por entre as quadras, fez-se evidente a falta de um local que refletisse a existência da produção artesanal, dos pequenos comerciantes, além dos pescadores e marisqueiras. Um espaço que fosse de fato acessível, no sentido físico e socioeconômico, capaz de sustentar e fomentar a economia local. Frente à atual realidade do porto da sardinha, baseando-se nos princípios da economia solidária, como estratégia para pensar e promover a evolução de um sistema coletivo, local, com bases justas, que valorizam o ser humano, a solidariedade e a sustentabilidade; o projeto emerge como resposta às necessidades de reparo e desenvolvimento futuro dessa região. Atribuindo ao mercado, o caráter de referência do comércio local da enseada do cabrito, a partir de um ciclo econômico, transformador da matéria-prima em produto final, direto para o consumidor, tudo em um mesmo lugar. De maneira a estabelecer o diálogo com a Cooperativa de Pesca, para que tamanha transformação seja realizada pelas mãos dos próprios pescadores, marisqueiros e artesãos. Funcionando como um canal de troca comercial, organizador do espaço e seus atores no contexto urbano; promovendo o lazer, o comércio, a mobilidade, as manifestações culturais e as mais diversas possibilidades de intensa interação humana, o projeto se expande para além do bairro, como atrativo à população soteropolitana. Trazendo um ressignificado a esse território, enquanto lugar que explora a dimensão infraestrutural e sociocultural, onde ocorrem todas as ações e histórias da existência comunitária.

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fonte: Jornal O Correio 24 horas.

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PARTIDO Levando em consideração todos os critérios analisados e a carência local pelo programa proposto, o partido do projeto se consolida na síntese da conexão entre paisagem, modais e comércio. Pensado para abrigar o caráter coletivo de uso dessa comunidade, o projeto se estabelece a partir de uma planta livre, funcionando como um extenso pavilhão, com eixos que articulam as potencialidades do território, desenvolvendo o programa a partir de níveis intercalados que conectam os dois térreos do projeto (térreo praça - cota 1m; térreo parque - cota 3,70m) que integram a paisagem e permite a fluidez do programa. Um espaço onde os comerciantes desfrutem de todo o suporte necessário para vender seus produtos de maneira adequada, mas que ao mesmo tempo tenham a liberdade de se apropriarem e organizarem o funcionamento dessa dinâmica da maneira que considerarem mais adequada. Com o programa disposto nas extremidades do pavilhão, configurando uma ampla praça central coberta, foi possível intensificar a versatilidade dos usos deste novo local de encontro, ora configurando-se como feira livre, eventos comunitários ou manifestações, além do caráter comercial propriamente dito. Organizado com o intuito de proporcionar diferentes experiências aos seus usuários, onde o percurso que conecta praça, parque e VLP também torna-se atrativo, através de um trajeto onde atividades ocorrem de maneiras distintas, em cada um dos pavimentos. E atrelado ao mercado, propõe-se o desenho do parque, enquanto parte do conjunto, garantindo uma extensão dessa área verde com vista para a Baía de Todos os Santos, evitando assim a depreciação dessa área tendo em vista a grande infraestrutura viária que será reconstruída acima para abrigar o VLP.

21fonte: Croqui de estudo inicial elaborado pelo autor.


oeste

leste

programa setor técnico setor administrativo estação do VLP setor comercial setor gastronômico

O PROGRAMA

Um mercado que proporcione diversas experiências. Para provar, comprar, aprender e compartilhar dos inúmeros sabores e sensações que a Enseada do Cabrito pode proporcionar. Local onde a vizinhança encontre um espaço que se renova constantemente. Uma grande praça coberta, circundada por dois blocos onde se organiza o programa de necessidades. Sendo o do setor oeste direcionado às áreas técnicas e funcionais mais restritas do mercado, juntamente com a estação do VLP, localizada no pavimento superior que permite acesso ao modal. E o setor leste que abriga a área comercial e de permanência, com boxes fixos que estabelecem relação direta com a paisagem. Ambos setores se conectam a partir de uma rampa, que organiza o espaço da praça central, articula os níveis ao parque e ao acesso às diferentes mobilidades propostas (transporte hidroviário, ligado ao parque e VLP ao mercado). 22


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térreo praça 1. banheiros públicos 2. depósito 3. sala de controle 4. sala de descarte 5. box comerciais 6. cozinha de apoio 7. depósito de apoio

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TÉRREO PRAÇA

O térreo que abriga o mercado, de livre acesso ao público, se abre para a praça, ambos na mesma cota de nível, estabelecendo conexão direta com a Cooperativa de pesca, possibilitando a total permeabilidade do Centro da Sardinha. Onde ambos programas se comunicam com o desenvolvimento do comércio local, e através do eixo de mobilidade, desenhado como parte do projeto, induzindo o percurso que vai desde à cooperativa até o mercado. A praça interna, enquanto espaço central de chegada, permite as infinitas possibilidades do mercar para a população e configura-se a partir da disposição da rampa, elemento articulador do projeto, estando paralelo ao desenho do parque. No bloco do setor oeste se estabelece a área técnica-operacional, com banheiros de uso público, voltados para a praça do centro da sardinha, podendo ser utilizado por todos que circundam o local; um depósito, este com pé direito duplo, para melhor ventilação, garantido a salubridade do ambiente onde os produtos serão armazenados, juntamente com uma sala de operação, onde é realizado todo o controle de estocagem, do que entra e sai; e também espaço para o descarte de todo o lixo produzido. Toda esta área foi implantada próxima à via compartilhada, com acesso às vagas de carga e descarga, facilitando o transporte dos produtos e resíduos produzidos. Mas organizados de maneira a se integrar a essa paisagem mais contida, do interior da quadra, com calçadas que se direcionam ao parque, juntamente com as áreas verdes. Já no setor leste, com frentes para a enseada, há a disposição dos boxes comerciais fixos, onde poderá ser comercializado todo tipo de produto. Eles são dispostos ao redor de uma ilha central destinada às áreas de apoio para as necessidades dos comerciantes, como cozinha, depósito e um espaço para elevador monta carga, a fim de facilitar o trajeto dos resíduos advindos do pavimento superior. Essa área, diretamente ligada à paisagem, conforma um amplo espaço de convívio e permanência, em conjuto com as escadarias, de caráter urbano, onde as pessoas podem se sentar enquanto consomem os produtos e apreciam a vista para o mar. 24


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térreo parque 8. sala de reuniões 9. administrativo 10. parque do mercado 11. píer de embarcações

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TÉRREO PARQUE

Ao subir um nível de rampa, o transeunte acessa o parque, no nível 3,70m, com vista para a Baía de Todos os Santos, ressignificando o desenho da margem da orla neste trajeto, apresentando-se como parte do conjuto de infraestrutura contruída para o VLP. Tendo seu limite determinado através do desenho do mirante, na ponta da orla, enfatizando o caráter paisagístico e permeável dessa área; além de permitir a continuidade do eixo de mobilidade proposto no térreo da praça, a partir da extensão do píer de embarcações, responsável por transportar as pessoas para o outro lado da enseada, nos demais bairros do subúrbio ferroviário. Neste mesmo nível, se faz também o acesso mais direto, através das escadas, à área técnica-administrativa do mercado, com salas avarandadas, possibilitando que a administração tenha aberturas voltadas para o parque, emoldurando a paisagem. 26


17 12 16

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pav. superior 12. box comerciais - restaurantes 13. cozinha de apoio 14. depósito de apoio 15. guichê de venda 16. box comerciais 17. banheiros públicos 18. acesso VLP

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PAVIMENTO SUPERIOR

Ao caminhar mais um nível de rampa, tem-se acesso ao pavimento direcionado à experiência dos sabores que a enseada pode proporcionar (cota 5,80 metros), lugar que permite a transformação do pescado vendido na cooperativa em um prato final, direto para o consumidor. Local de permanência e contemplação da paisagem, onde as pessoas podem se acomodar nas grandes varandas livres, com ampla circulação de ventilação e iluminação natural; onde o caráter coletivo é reforçado desde o uso dos mobiliários, com mesas extensas e bancos que circundam todo o piso, fixos na estrutura do guarda-corpo, até a ideia das cozinhas compartilhadas, que se repetem com a mesma função do térreo, onde se encontram os boxes comerciais. Por fim, subindo o último nível, na cota 7,90 metros, está localizada a estação de VLP, funcionando como parte integrante do mercado e de suas atividades, abrigando guichê de venda de bilhetes, box comerciais e banheiros públicos para atender as necessidades imediatas de quem passa pela estação. O acesso é controlado através de catracas eletrônicas, sendo liberado após a compra do bilhete. E os usuários podem aguardar a chegada do transporte em uma extensa varanda urbana, na escala da cidade, com vista direcionada à Baía e ao Centro da Sardinha. 28


cobertura

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COBERTURA A cobertura, feita de telhas metálicas termoacústicas e estrutura em madeira, é distribuída em duas águas, ambas com 12% de inclinação, estando a cumeeira alinhada ao eixo inicial que abriga a rampa em sua extensão. Além disso, foram utilizadas telhas translúcidas para a cobertura que demarca a praça central, com amplo pé direito que se apresenta com 11 metros de altura em relação ao ponto mais alto da estrutura. Ela representa a leveza do projeto enquanto elemento que “veste” e abriga todos os acontecimentos do mercado. 30


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corte aa


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corte bb


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corte cc


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corte dd


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telha metálica termoacústica i=12%

MATERIALIDADE E TÉCNICA CONSTRUTIVA

O projeto foi pensado para o uso da estrutura híbrida, a partir da configuração de um extenso pé direito em relação à cobertura que abrigasse a laje dos dois pavimentos, utilizando-se da estrutura de concreto moldado in loco, com caráter mais robusto, estruturando tais lajes em contraponto com a leveza das peças em MLC (Madeira Laminada Colada), estruturando a cobertura feita por telhas metálicas termoacústicas. Ambas estruturas assumem vãos de 8x8 metros e o vão de 6x8 metros na extensão da rampa. O pilar em árvore, utilizado como solução arquitetônica e estrutural, consolida a presença da grande praça coberta, livre da presença dos pilares, trazendo o caráter escultórico para a estrutura que marca o espaço e ao mesmo tempo impõe a importância do vazio mutável e inconstante. Para as alvenarias de vedação, foram utilizados blocos de concreto, possibilitando aberturas com blocos intercalados, que funcionam como elementos vazados que possibilitam a ventilação de ambientes como o depósito e a cozinha compartilhada. Já a rampa, um dos principais elementos articuladores do projeto, responsável por possibilitar o acesso e conexão dos blocos de necessidades, organiza e define o espaço da praça central, em conjunto com a estrutura do pilar em árvore. Possui, em toda sua extensão, 32 metros de comprimento e 3 metros de largura, com patamares intermediários, seguindo as normas de acessibilidade; e também possui sua estrutura em vigas de madeira laminada. A cobertura em duas águas, que delimita o pavilhão do mercado, se apresenta de maneira sucinta, abrigando as múltiplas atividades que esse espaço permite, sem se impor com a grande movimentação ali embaixo. Para as fachadas, foram utilizados brises pivotantes, verticais na face leste e oeste, e horizontais na face norte, a fim de filtrar a luz solar nas laterais do edifício, próximo às áreas edificadas, trazendo maior conforto aos espaços de permanência. Além de ser utilizado como elemento de proteção às margens da rampa voltada para o parque, como parte da linguagem.

telha metálica termoacústica translúcida i=12%

barrotes em MLC 10x20cm

mão francesa em MLC 15x20cm

vigas em MLC 20x40cm

vigas em árvore - MLC 20x30cm

lajes de piso em concreto

pilares em MLC 20x20cm

vigas em concreto 30x70cm

lajes de piso em concreto

vigas em concreto 30x70cm

pilares em concreto d=30cm pilar central em concreto d=60cm

pilares em concreto d=30cm

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41 fonte: Imagem produzida pelo autor.


“É preciso encarar a cultura como algo que vai da tradição à invenção. Temos de preservar o que de melhor criamos e construímos em história...E precisamos apostar no novo, porque ele é ingrediente fundamental de afirmação e de transformação de nossas comunidades e do conjunto da sociedade” - (FERRAZ E FANUCCI, 2020, p. 64).

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43fonte: Imagem produzida pelo autor.


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45fonte: Imagem produzida pelo autor.


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47 fonte: Imagem produzida pelo autor.


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49fonte: Imagem produzida pelo autor.


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51 fonte: Imagem produzida pelo autor.


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53fonte: Imagem produzida pelo autor.


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55fonte: Imagem produzida pelo autor.


É a ponta da orla, na baía de todos os santos, enseada do cabrito, parte de um todo. Lugar que une cultura, identidade, tradição, arte, economia. É o espaço do mercar, dos encontros e reencontros, do samba, carnaval, do acarajé, das marisqueiras e pescadores, dos orixás. Paisagem que conecta, se transforma, se recria e VIVE! Lugar de todos, com acesso para todos. Terra dos soteropolitanos, do subúrbio de Salvador. Obrigada. Julhia Bernardo Araujo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERRAZ, M.; FANUCCI, F. Brasil Arquitetura: Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz - Projetos 2005/2020. São Paulo, 2020. SILVA, L. A Economia Pesqueira Artesanal no Município de Salvador-BA: Da organização Produtiva a comercialização nas colônias de pescadores. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/ bitstream/ri/16344/1/SILVA%2C%20Leidisangela%20Santos%20da.%20A%20ECONOMIA%20PESQUEIRA%20ARTESANAL%20NO%20MUNIC%C3%8DPIO%20DE%20SALVADOR-BA.pdf> Acesso em: agosto/2021. Feiras Livres e seu papel na organização do Espaço Urbano. Disponível em: https://dicasdelisboa.com.br/mercados/mercado-da-ribeira-em-lisboa/> Acesso em: outubro/2021. TERRITÓRIO E ECONOMIA SOLIDÁRIA: RELAÇÕES RELEVANTES PARA A CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Regilane Regilane Fernandes da Silva; Manoel Vital de Carvalho Filho - Abril, 2018. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8392/1/ bmt_64_territ%C3%B3rio.pdf> Acesso em: agosto/2021. Santos, Milton. O retorno do território. Em: OSAL : Observatorio Social de América Latina. Ano 6 no. 16 (jun. 2005- ). Buenos Aires : CLACSO, 2005- . -- ISSN 1515-3282 Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16Santos.pdf> Acesso em: setembro/2021. SANTOS, M. O dinheiro e o território. GEOgraphia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 7-13, 1999. Acesso em: 10 out. 2021. Novo Mercado Guabuliga. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/951027/novo-mercado-guabuliga-applied-foreign-affairs-institute-of-architecture-university-of-applied-arts-vienna?ad_source=search&ad_medium=projects_tab> Acesso em: novembro/2021. CERQUEIRA , Erika do Carmo. Vulnerabilidade Socioambiental na cidade de Salvador - Bahia: Análise Espacial das situações de risco e ações de resiliência. 2019. Tese (Doutorado) - Universidade Federal da Bahia, [S. l.], 2019.

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TFG 2021 Julhia Bernardo Araujo.

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