PETER PAN: UMA HISTÓRIA DE MENINAS. VOLUME 2 - TERRA SEM TEMPO

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Dois anos depois, temos aqui o segundo volume da narrativa gráfica Peter Pan: uma história de meninas. No volume anterior, “Sombras”, conhecemos Janice, filha de Clara, por sua vez filha de Margareth e neta de Wendy Darling. Esta, como sabemos, teve sua história contada por James Matthew Barrie. Peter Pan and Wendy termina quando Wendy, já crescida, vê a filha Jane voando em direção à janela aberta em companhia de Peter Pan, que a levará para Neverland. Isso aconteceu em 1911. Janice tem 35 anos no momento em que a sua história, assumida por mim, inicia. Ela trabalha como designer de moda em Porto Alegre, uma cidade do sul do Brasil, e está grávida de uma menina. Como mulher descendente dos Darling, Janice teme que a história se repita mais uma vez. Também ela teve chance de voar com Peter Pan, como vimos no volume anterior, e viverá suas próprias aventuras em uma Neverland muito particular, iniciadas neste segundo volume. Além disso, vocês irão conhecer João, o namorado de Janice e pai o bebê que estão aguardando. Ele é bem mais jovem que Janice, e ainda não concluiu o curso na universidade. É um rapaz amoroso, mas meio inseguro. Ele ainda depende economicamente dos pais. Neste volume apresento também a Terra Sem Tempo, um lugar imaginário, inspirado fortemente na região amazônica e sua fauna, flora, e também em alguns de seus habitantes. Sim, vocês verão garotos perdidos por lá, provavelmente meninos de rua que Peter raptou em seus vôos pelas diferentes regiões do nosso país. E encontraremos, não piratas do mar, mas contrabandistas ribeirinhos, liderados por um belo e extravagante capitão, cujo linguajar lusohispânico acusa a vida na fronteira e cuja mão mecânica, de dedos substituídos por pequenos ganchos, já nos diz de quem estamos tratando. O indígena norte-americano figurado na obra de Barrie teve que ser, por motivos claros, substituído: optei pelos yawanawás como etnia-modelo para criar Putaní, a pajé-menina que substituirá Tiger Lily. Tenho consciência das eventuais conotações que tal nome poderá acarretar no pensamento imediato de muitos leitores, mas insisto em homenagear aquela que é, senão a primeira, uma das mais destacadas pajés do sexo feminino: a Putaní real é uma importante defensora da cultura indígena e yawanawá. A Terra Sem Tempo é a nova Neverland. Entretanto, não se trata de imaginar um “nunca”, mas um “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”. Floresta recriada a partir de um exótico sonho europeu e de uma realidade equatorial sul-americana, a Terra Sem Tempo é disforme, retorcida, e vive em eterno eclipse solar. Para este volume, não estranhem a abolição dos quadros, a grade desfeita, os painéis de duas páginas. Continua sendo quadrinhos, mas... só que não. A tradicional linearidade temporal precisava ser rompida, em nome da sensação de simultaneidade. Ainda assim, é claro que os balões de fala se oferecem em uma certa ordem. Preservei o formato de virar páginas, mesmo em mídia digital. Peter, menino que vive num limbo espaço-temporal, está perfeitamente à vontade nesse


lugar cujos habitantes o sincretizam com o Curupira, ou — em linguajem pana (falada pelos yawanawás) — Jusín. Pequeno Pássaro Branco (Little White Bird), como o apelidou originalmente seu criador em 1902, ou Espírito (Jusín) da Floresta, tal como o invoca Putaní, são denominações que se encaixam perfeitamente à figura inspirada em Pan, entidade caprina que compõe a paisagem alegórica e anímica da natureza, conforme a mitologia grega. A energia erótica (no sentido de Eros, espírito primordial e organizador da vida no universo) e explosiva desse personagem compensam as cores frias e invernais com que o autor escocês o descreveu em Peter Pan in Kensington Gardens. A cabra que lhe servia de montaria acabou desaparecendo, mas a flauta ainda o acompanha em meus traços. Peter-Curupira-Jusín, o menino do qual me apropriei, não tem cabelos verdes, nem pés virados, mas deixa de ser, através desta transcriação, um personagem de propriedade exclusiva do imaginário europeu.

Porto Alegre, 2020








































Este volume foi composto no In Design a partir de páginas editadas no Adobe Photoshop e de artes originalmente produzidas no Autodesk Sketchbook Pro. Para esta edição on-line, foram utilizadas as fontes Shadows into Light e Kohinoor Bangla, além da escrita manual da autora. Todos os direitos reservados a PaulaMastroberti. Site da autora: www.mastroberti.art.br Porto Alegre, 2020.

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/.




Janice Darling,

uma brasileira, designer de moda e tataraneta de Wendy Darling, está grávida de uma menina. Tal como aconteceu com ela própria, com sua mãe, Clara, com sua avó Margaret e com sua bisavó Jane, Janice sabe que o bebê que está por nascer viverá o mesmo ritual pelo qual passaram todas as mulheres da família. Também o quarto dela será invadido pelo estranho menino que jamais cresce, por não pertencer nem ao mundo dos vivos, nem ao mundo dos mortos. Embora adulta, Janice prossegue sob os efeitos de suas aventuras. Em seus sonhos, ela retorna ao passado, quando, levada por Peter Pan, foi parar na Terra Sem Tempo. A notícia de sua chegada mexe com todos os habitantes desse lugar exótico. Portadoras do sedutor “beijo escondido”, as meninas Darling são, para mim, as verdadeiras heroínas do universo conjurado pelo escritor e dramaturgo escocês James Matthew Barrie, em sua obra publicada em 1911, a partir da peça teatral que também é de sua autoria. Este é o segundo volume de uma narrativa gráfica cuja inspiração é uma das minhas obras preferidas desde a infância. O primeiro volume, “Sombras”, pode ser acessado no seguinte endereço: https://indd.adobe.com/ view/6fc0ee0c-35e2-4fed-abe2-745577b0e303. Se quiser ir acompanhando o processo deste trabalho que começou em 2016, siga o perfil do projeto no Instagram @peterpanproject. Paula Mastroberti


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