Vinte cipós ornamentais para cultivo e exposição em jardins botânicos
JOÃO HENRIQUE DA SILVA CARNEIRO STELIS PAISAGISMO E REVEGETAÇÃO LTDA.
J O Ã O H E N R I Q U E D A S I LVA C A R N E I R O S T E LI S PA I S AG I S M O E R E V EG E TA Ç Ã O LT D A .
Vinte cipós ornamentais para cultivo e exposição em jardins botânicos
E s t a p u b l i c a ç ã o fo i p r o d u z i d a p a r a o Co m p l exo Pe q u e n o P r í n c i p e.
Curitiba 2021
Port.
Cipós
Resumo Os cipós são um grupo de vegetais caracterizados por seu hábito trepador ou apoiante. Eles utilizam outras árvores como suporte para crescer rumo à luz solar, não sendo necessariamente aparentados entre si do ponto de vista genético. Surgiram no final do Paleoceno e, atualmente, são encontrados no mundo inteiro, exceto nas regiões polares; habitam todos os tipos de ambientes terrestres, de desertos a florestas, atingindo o máximo de sua diversidade na zona equatorial. Evoluindo num nicho ecológico específico, esse grupo tornou-se mais resistente e flexível que seus suportes, desenvolvendo também mecanismos específicos de escalada, como gavinhas, terminações adesivas, raízes grampiformes etc. Sua importância para a humanidade é imensa, constituindo importante fonte de alimentos e fornecendo matérias-primas para a indústria farmacêutica, além de uma infinidade de plantas ornamentais. O pioneiro no estudo dos cipós foi Charles Darwin, e logo após suas publicações o grupo passou a ser objeto de investigação de vários botânicos no mundo inteiro. Esta pesquisa apresenta vinte espécies de cipós de vinte famílias botânicas distintas, todas de cunho ornamental, para serem cultivadas em jardins botânicos, especialmente no que está sendo criado junto ao Complexo Hospitalar Pequeno Príncipe Norte. O empreendimento tem o projeto desenvolvido pelo Escritório de Paisagismo Burle Marx; em conformidade com o pensamento do grande paisagista e seguindo as tendências atuais de execução de jardins, o elenco aqui apresentado contempla apenas espécies nativas do Paraná, de maneira a oferecer uma pequena amostra de sua riquíssima flora.
Eng.
Vines
Abstract Vines are a group of vegetables characterized by their growth or trailing habit. They use other trees as support to grow towards sunlight and they are not necessarily being related to each other from a genetic point of view. Vines emerged at the end of the Paleocene and they are now found worldwide, except in the polar regions, inhabiting all types of terrestrial environments, from deserts to forests, reaching the maximum of their diversity in the equatorial zone. Evolving in a specific ecological niche, this group has become more resistant and flexible than its supports, also developing specific climbing mechanisms, such as tendrils, adhesive endings, staple roots etc. Its importance to humanity is immense; vines constitute an important source of food and also supplying raw materials for the pharmaceutical industry, in addition to a multitude of ornamental plants. The pioneer in the study of vines was Charles Darwin; shortly after his publications the group became the subject of investigation by several botanists worldwide. The research presented in this booklet aims to list twenty species of vines from twenty different botanical families, all of ornamental nature, to be cultivated in botanical gardens, especially in the one that is being created to the Pequeno Príncipe Norte Hospital Complex. This project has developed by the Burle Marx Landscaping Office; in accordance with the principles of the great landscape architect and following the current tendencies of garden execution, the list presented in this booklet includes only native species from Paraná, in order to offer a small sample of its rich flora.
Sumário Apresentação
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Introdução
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Cipós: o que são, sua evolução, anatomia, fisiologia
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Características ecológicas e fitogeográficas dos cipós
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Vinte espécies de cipós selecionadas para cultivo e exposição
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Conclusão
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Referência
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Créditos das imagens
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Apresentação Na área de expansão do Complexo Pequeno Príncipe, no bairro Bacacheri, região norte de Curitiba, temos um “hot spot” urbano onde, neste abril de 2021, estão em flor plantas biocenóticas que atraem dezenas de borboletas. Em sua delicadeza e exuberância, o espetáculo maravilhoso das asas coloridas em movimento ao som do canto das cigarras é um contraponto à circunstância terrível a que a humanidade, de um modo geral, e o Brasil, muito em particular, estão submetidos. Tempos estranhos, e mais do que nunca a renovação da Páscoa é necessária. Em plena pandemia, a cidade em que eu nasci está em toque de recolher e o sistema de saúde está em colapso no Brasil. Com milhares de mortos pela peste, nosso país está sendo conduzido de forma errática, negacionista e inconsequente, num combinado de desgraças que aponta para um dos piores momentos de nossa história. Esse conjunto absurdamente incomum é a moldura que temos atualmente. No terreno do Bacacheri, além das instalações da expansão do Complexo Pequeno Príncipe voltadas à assistência, ensino e pesquisa, implantaremos um pequeno jardim botânico (classe C) e cuidaremos de uma Área de Preservação Permanente, um bosque de 8 hectares. As bordas dessa APP nos oferecem ainda um presente: um canteiro natural de borboletas que nos enche de encanto, magia e energia. A inspiração para esse projeto veio do Chelsea Physic Garden em Londres, estabelecido em 1673, bem pequeno se comparado aos jardins botânicos mais conhecidos do
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Brasil (os de São Paulo e Rio de Janeiro) e do mundo. Ao conhecê-lo ficou claro que é possível implantar e manter um espaço destinado a “aproximar os humanos das plantas e da biosfera” em pouco mais de 1 hectare, simultaneamente a cuidar de um bosque maior, no qual possamos fazer enriquecimento biológico. Vamos oferecer, nas trilhas do nosso jardim botânico, informações sobre a fauna e a flora da região, e também trazer alimentação para a alma, pois teremos muitas esculturas por esses caminhos. Natureza e arte juntas. Persistir nesse projeto tem sido possível graças ao contínuo incentivo de meus familiares (e aqui destaco o amor da minha existência, Ety, parceira de sonhos e realizações), dos companheiros de vida, trabalho e convicções, e ainda de pessoas especiais, como a amiga Sayuri Carbonnier (que indicou o Chelsea como fonte de inspiração) e meu irmão João Henrique (autor deste trabalho), desde sempre fascinados pela biosfera. Uma das nossas responsabilidades será a difusão de informações sobre as plantas. Para nossa primeira publicação, escolhemos os cipós que ocorrem em nossa região. De um modo geral, pouco sabemos sobre eles, apesar de sua beleza quando em floração. Fico muito feliz com o contínuo avanço dos trabalhos ambientais do Complexo Pequeno Príncipe, manifestados nesta brochura. Boa leitura! José Álvaro da Silva Carneiro diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe
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Introdução
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A finalidade desta pesquisa é produzir uma visão geral sobre os cipós brasileiros, apontando vinte espécies, uma de cada família botânica, que acreditamos merecedoras de serem cultivadas e exibidas em jardins botânicos. A pesquisa destina-se principalmente a auxiliar na escolha das plantas que serão cultivadas no futuro Complexo Hospitalar Pequeno Príncipe Norte, em Curitiba. Considerando as características arquitetônicas do empreendimento, bem como a futura implantação do jardim botânico projetado pelo Escritório de Paisagismo Burle Marx, selecionamos formas notadamente ornamentais, deixando para serem abordadas posteriormente, em uma segunda etapa, as medicinais, oleaginosas e outras. Ainda em conformidade com o pensamento do grande paisagista brasileiro, e seguindo uma tendência contemporânea para a execução de jardins, optamos pela indicação de espécies autóctones, seguidas das encontradas no Paraná e região Sul (Burle Marx, 2004). A despeito de possuirmos no Brasil a flora mais rica do mundo (Giulietti et al., 2005), tivemos que excluir da lista importantes espécies amazônicas e nordestinas em virtude de sua sensibilidade ao inverno frio de Curitiba, região à qual se destina o projeto. Algumas famílias botânicas inteiras que têm cipós também foram excluídas por não apresentarem os atributos estéticos desejados para um jardim como o que se está projetando para o Complexo. Optamos por incluir, junto de cada espécie, uma rápida descrição da família à qual pertence, a fim de situá-la dentro do reino vegetal. Buscamos também resumir ao máximo as descrições morfológicas para não tornar o texto demasiado extenso, sobretudo para quem não tem familiaridade com a terminologia botânica. A nomenclatura binomial (nome científico) e o gênero estão grafados em itálico, mas apenas gênero e espécie juntos levam aqui a abreviação do nome dos autores, conforme as normas da biologia. Todas as nomenclaturas foram atualizadas de acordo com o APG IV, o mais moderno sistema de classificação taxonômica que existe atualmente (Stevens, 2001).
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Cipós: o que são, sua evolução, anatomia, fisiologia
A palavra cipó origina-se da língua tupi (isi’po) e é sinônimo de liana ou trepadeira. É curioso como um grupo de plantas tão importante para a humanidade demorou para despertar a atenção da ciência. Como exemplo de cipós tem-se: uvas, batatas, abóboras, maracujás, quase todos os tipos de feijão, além de centenas de espécies medicinais e ornamentais. O pioneiro no estudo dos cipós foi Charles Darwin (1867), seguido por Fritz Müller, com quem o naturalista manteve assídua correspondência. Ainda no século XIX, destaca-se a contribuição do botânico Ludwig Radlkofer, sobretudo no estudo sistemático e anatômico de Sapindaceae. Ao longo do século XX, vários botânicos se empenharam no estudo de famílias específicas de cipós, notadamente Frederico Carlos Hoehne em Aristolochiaceae e Alwyn Gentry em Bignoniaceae — a família mais biodiversa das Américas em espécies de hábito trepador (Hoehne, Kulhmann, & Handro, 1941). Os cipós formam um grupo de vegetais lenhosos ou herbáceos, não necessariamente aparentados geneticamente, mas caracterizados por seu
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hábito trepador ou apoiante, germinando
A abundância de tecidos moles nos caules
e permanecendo enraizados no solo por
aumentou a sua flexibilidade, ajudando-os
toda a vida, e utilizando outras árvores como
a evitar danos mecânicos e acelerando
suporte para crescer em busca da luz solar.
sua regeneração quando o hospedeiro cai.
Tal adaptação deixou-os mais estreitos
Ainda, vasos de maior diâmetro tornaram
e flexíveis, com taxas de crescimento
mais eficiente a circulação da seiva,
em altura e comprimento muitas vezes
fazendo essas plantas suportarem folhas
superiores aos vegetais que lhes servem
maiores e mais largas.
de suporte.
É muito comum haver entre os cipós
Através do registro fóssil disponível,
dobras e torções que causam o
presume-se que o hábito apoiante surgiu
entrelaçamento dos caules, fazendo-os
no final do Paleoceno, há cerca de 50
reagir como cabos de múltiplos cordões,
milhões de anos, na mesma época da
em vez de cilindros fixos como as árvores.
grande proliferação de plantas com flores.
O cipó-da-mata, Thinouia ventricosa Radlk.,
Seus antepassados foram árvores ou
e algumas espécies do gênero Serjania
arbustos de crescimento convencional,
desenvolveram múltiplos caules cobertos
sendo que ao longo das eras geológicas
pela mesma periderme.
muitas espécies retornaram ao hábito
A maioria das espécies nasce ereta e
arbustivo quando da colonização de
permanece assim até adquirir lentos
biomas abertos.
movimentos circulares induzidos pelo
Como consequência desse hábito, os
crescimento do caule, chamados “espirais
cipós adquiriram diferentes mecanismos
de circunutação”. Essas espirais costumam
de escalada, incluindo o desenvolvimento
atingir até 50 centímetros de diâmetro
de estruturas especializadas para
no caso dos caules, mas o restante da
agarrar seus suportes, como gavinhas,
folhagem (mais as gavinhas) pode chegar
terminações adesivas, raízes adventícias e
ao dobro dessa medida, aumentando a
grampiformes, constituindo os órgãos de
probabilidade de a planta encontrar seu
fixação ou “aparato preênsil”.
suporte, facilitando sua fixação (Putz, 2011).
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Características ecológicas e fitogeográficas dos cipós
Os cipós são vegetais característicos de florestas tropicais úmidas ou sazonais, onde vivem 90% das espécies; eles atingem maior diversidade nas regiões equatoriais, nas quais representam até 35% do total de táxons e um significativo percentual da biomassa desses ambientes. Não obstante, colonizaram praticamente todos os biomas terrestres, incluindo savanas, estepes e até desertos, estando ausentes apenas nas regiões polares. Na fisionomia da Floresta Tropical, os cipós formam um grupo de espécies de várias famílias botânicas distintas, mas com o mesmo hábito e nicho ecológico, classificado como sinúsia das plantas autotróficas mecanicamente dependentes, juntamente com as epífitas e constritoras (Richards, 1952).
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Ao contrário da sinúsia das árvores,
Amazônica eles são mais abundantes nas
arbustos e ervas que compõem estratos
matas de terra firme, sobretudo em áreas
sobrepostos de vegetação que definem
antropizadas no período pré-colombiano,
a fitofisionomia do ambiente, os cipós se
quando as populações indígenas eram muito
dispersam de modo aleatório, muitas vezes
maiores que hoje em dia. A quantidade
na diagonal, formando pontes e caminhos
volta a cair quando o ecossistema se
que funcionam como uma via de migração
estabiliza, mas o percentual constante na
para a fauna que habita os estratos
biomassa total da floresta é mantido pelo
superiores. Sem essas conexões entre as
crescimento e reprodução dos indivíduos
árvores, muitos animais seriam forçados
que nela persistem.
a descer ao solo, onde ficariam mais
Os cipós são grandes competidores por
suscetíveis à predação.
luz, água e nutrientes; sua infestação pode
São muitos os cipós que produzem
ser danosa para as outras árvores, que
floração abundante, da qual dependem
passam a crescer mais lentamente e a dar
as comunidades polinizadoras, e frutos
menos flores e frutos. Estão livres deles
comestíveis e saborosos, que representam
as palmeiras, com seus caules compridos
um importante recurso alimentar para quem
e espessos, e também as embaúbas
vive no dossel da floresta.
(Cecropia sp.), graças à sua simbiose com
Na sucessão vegetal, os cipós aumentam
formigas que impedem o desenvolvimento
consideravelmente com a perturbação
de qualquer concorrente ao seu redor
da mata; é sabido que na Floresta
(Putz, 2011)
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Vinte espécies de cipós selecionadas para cultivo e exposição
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Adenocalymma bracteatum (Cham.) DC. Bignoniaceae Nome popular: cipó-amarelo.
A família Bignoniaceae, da qual fazem parte os ipês (Handroanthus sp.), é a mais biodiversa em plantas de hábito apoiante ou trepador da região neotropical (Gentry, 1973) e tem seu centro de dispersão no Brasil. Possui 110 gêneros e aproximadamente 800 espécies ao todo, com flores tubulares de quase todas as cores, das incomuns marrom e verde, do branco até o roxo-escuro, passando por todas as tonalidades de amarelo, laranja, rosa e vermelho.
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A escolha óbvia para representá-la seria o cipó-de-são-joão Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers, típico do primeiro planalto paranaense, onde é facilmente encontrado nas matas e cultivado em jardins. Porém, como já ocorre em grande quantidade na área do empreendimento e como tem seu uso previsto no futuro jardim botânico, optamos pelo cipó-amarelo A. bracteatum (Cham.) DC., que atinge grandes dimensões e ocorre na Floresta Ombrófila Mista. Tivemos o primeiro contato com essa espécie quando participamos da elaboração do termo de referência para a revitalização do bosque da Chácara Marumbi, em 1999. O exemplar que examinamos e fotografamos na ocasião tinha escalado uma araucária adulta e cobriu parcialmente sua copa, sendo dessa forma maior em comprimento do que ela. Seus ramos são aveludados (pubescentes) ao toque, tem folhas compostas de dois ou três folíolos com gavinha terminal e flores agrupadas em inflorescências axilares, com cálice em forma de taça e corola campanulada amarelo-clara ou branca. São polinizadas por vários tipos de insetos, aves e morcegos. O fruto é uma cápsula longa, arredondada nas extremidades (Corrêa, 1978). Ela ocorre em várias formações florestais, nas regiões Sul e Sudeste, atingindo também o Brasil Central, a Argentina e o Paraguai.
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Anredera cordifolia (Ten.) Steenis Basellaceae / Nome popular: bertalha-coração ou trepadeirada-madeira. A bertalha-coração ou trepadeira-da-
hepatoprotetora. Esteticamente, o fato
madeira, representante de uma família
de ser uma espécie perenifólia e de ter
pequena, com um gênero e duas espécies
o formato da inflorescência (racemosa)
na flora paranaense, é um cipó perene que
torna-a interessante e com potencial para
pode atingir até 15 metros de comprimento,
o paisagismo.
herbáceo de rizoma carnoso, com
É encontrada em todos os estados da
folhas alternas sem estípulas, brilhantes
federação e países adjacentes, e já foi
e comestíveis. As flores são brancas,
também aclimatada na África e na Ásia.
pequenas, aromáticas e bissexuadas
Considerada ruderal e potencialmente
(Bailey & Bailey, 1976).
invasora, é facilmente encontrada em
Como fitoterápico, tem comprovada ação
terrenos baldios e áreas degradadas.
anti-inflamatória, antiviral, cicatrizante e
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Aristolochia gigantea Mart. Aristolochiaceae Nome popular: cipómilomem, papo-de-peru, cassaú, angelicó, urubucaá.
O gênero Aristolochia, atualmente o único da família na região neotropical (após a recente inclusão de Euglypha e Holostylis), é cosmopolita e tem seu centro de dispersão situado na Amazônia e no Brasil Central. Consiste em cipós apoiantes e volúveis, com caules corticosos nas espécies grandes, folhas cordiformes ou raramente lobadas, com brácteas na base do pecíolo. As flores são geralmente axilares e solitárias, com estrutura tubular e perianto extremamente variável. São plantas que variam muito no porte; a flora brasileira contém as maiores e menores espécies, que são mais de 600 em todo o
contém algumas das flores mais bizarras
mundo (Hoehne, 1942).
do reino vegetal, muitas vezes com cor e
Esses cipós habitam todos os biomas
aspecto de carne em decomposição, junto
brasileiros, incluindo Campos Naturais,
a um forte odor de fezes ou carniça para
onde muitas espécies desenvolveram
atrair seus polinizadores específicos, todos
xilopódios para resistir a queimadas
dípteros.
e grandes estiagens. Sua fama como
A A. gigantea Mart. tem caule lenhoso
fitoterápica é muito difundida graças à
e possui as maiores flores da família,
presença do eugenol e dos alcalóides
chegando a 30 centímetros de comprimento
azarina e aristolochina, substâncias
ou mais. Segundo Martius (1845, p. 4221),
reconhecidamente diuréticas, sedativas,
é nativa do estado da Bahia, mas encontra-
antitérmicas, antissépticas e estomáquicas.
se atualmente bem disseminada por
As duas espécies mais utilizadas para esse
toda a extensão do bioma Mata Atlântica
fim são a A. triangularis Cham. no sul do país
e é cultivada no mundo inteiro para
e a A. cymbifera Mart. na região Sudeste.
fins ornamentais, sendo perfeita para
Não é exagero afirmar que essa família
caramanchões e pérgolas.
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Clematis dioica L. Ranunculaceae Nome popular: cipó-cruz, cipó-do-reino, cabelo-de-anjo.
As Ranunculaceae estão melhor
Tem propriedades medicinais, sendo
representadas na Europa e na Ásia
usada no interior para a dor de dente e
do que na nossa flora. A espécie aqui
para a remoção de manchas da pele.
indicada pode chegar a até 25 metros
Apesar da sua grande distribuição
de comprimento, tem folhas compostas,
geográfica, é uma planta rara e de
flores brancas ou creme, apetaladas, com
ocorrência pontual. Destaca-se que é
estiletes compridos e plumosos, dispostas
importante não confundir essa espécie
em grandes cachos (panículas) que as
com a Chiococca alba (L.) Hitchc., que
tornam atraentes e visíveis à distância.
também é conhecida como cipó-cruz.
Seus ramos opostos, em forma de cruz, conferiram-lhe o nome.
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Combretum fruticosum (Loefl.) Stuntz Combretaceae / Nome popular: papo-de-pavó, flor-defogo ou escova-de-macaco.
Predominam nessa família árvores de
amarelo-esverdeada, chegando a um tom
madeira nobre, como as do gênero
alaranjado intenso quando maduras.
Terminalia. Nosso eleito, o papo-de-pavó, é
Seus dotes paisagísticos já foram
sem dúvida um dos mais belos enfeites das
percebidos e a espécie vem sendo
matas ciliares e várzeas do interior do país.
utilizada com certa frequência em cercas
Trata-se de planta lenhosa e ramificada,
vivas, coroamento de muros, pórticos,
atingindo 7 ou 8 metros de comprimento
caramanchões etc. Tolera bem podas,
por 3 de largura, com folhas opostas e
tutoramento e não é sensível ao frio. Não
elípticas. Suas inflorescências são longas
obstante essa gama de vantagens, ainda
espigas com muitas flores congestas, de
não é encontrada no comércio de plantas.
estame longo, muito apreciadas pelos beija-
Na natureza, é encontrada praticamente em
flores. No início desabrocham com uma cor
toda a região neotropical.
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Dalechampia stipulacea Müll. Arg. Euphorbiaceae Nome popular: cipó-urtiga.
Esses vegetais adquirem o ápice de sua diversidade na África, nas savanas, desertos e montanhas da Província Florística do Cabo, onde imitam com perfeição a morfologia das Cactaceae (que não ocorrem no Velho Mundo), em um caso clássico de evolução
importantes. São poucas as de hábito
convergente (Judd et al., 2009).
apoiante ou trepador. A Dalechampia
A família é composta por 300 gêneros
stipulacea Müll. Arg. é um cipó piloso,
e mais de 7 mil espécies, sendo que só
de porte médio, com folhas trilobadas e,
Euphorbia, que é o gênero maior, tem
como as congêneres, pode ser urticante
cerca de 1.500 (Souza & Lorenzi, 2008).
e causar irritações de pele. Essa espécie
No paisagismo, o bico-de-papagaio E.
também tem propriedades inseticidas e é
pulcherrima Willd. ex Klotzsch e a coroa-de-
regionalmente utilizada como cicatrizante
cristo E. milii Des Moul. são as mais utilizadas.
e purgativa. Seu valor ornamental está
Na nossa flora, são melhor representadas
nas brácteas brancas com nervuras
por árvores e arbustos, sendo as mandiocas
verdes, que envolvem simultaneamente
Manihot sp. de longe as espécies mais
flores masculinas e femininas. Ainda, tem grande distribuição no Brasil mas é mais facilmente encontrada em regiões originalmente cobertas por Floresta Estacional Semidecidual.
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Dioclea violacea Benth. Leguminosae Nome popular: coronha ou olho-de-boi.
As leguminosas, cientificamente denominadas Leguminosae ou Fabaceae (ambos os nomes são reconhecidos pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica), são a terceira maior família de plantas terrestres do mundo, com mais de 19 mil espécies descritas até o momento. Estão distribuídas por todo planeta, à exceção das regiões polares e ilhas remotas (Christenhusz & Byng, 2016). Estão divididas atualmente em seis subfamílias, sendo que as Mimosoideae, com oitenta gêneros e mais de 3.200 espécies, foi recentemente absorvida em
das espécies chamadas de madeiras de
Caesalpinioideae após a criação do sistema
lei, e tendo historicamente no jacarandá-
APG IV. A história do seu uso agrícola está
da-bahia Dalbergia nigra (Vell.) Benth. seu
intimamente relacionada aos primórdios da
melhor exemplo. Os óleos, gorduras, resinas
civilização, com registros de sua cultura, na
e outros compostos presentes nos seus
Ásia e na América, há cerca de 6 mil anos.
tecidos constituem importante matéria-
De lá para cá, o valor das leguminosas
prima para a fabricação de medicamentos
enquanto alimento básico só cresceu, sendo
e cosméticos, sendo usados também na
elas atualmente essenciais como fonte
indústria têxtil (gomas e corantes) (Allen &
de proteína. Basta lembrar dos feijões, da
Allen, 1981). A família é riquíssima ainda em
soja, do amendoim, do grão-de-bico, das
plantas ornamentais de todos os hábitos e
ervilhas, lentilhas, favas etc. para termos
tamanhos, cultivadas há séculos nos jardins
ideia da sua importância. Também são
dos templos e palácios, como a rainha-das-
importantíssimas para a silvicultura e para
árvores Amherstia nobilis Wall ou a glicínia
a indústria madeireira, contendo dezenas
Wisteria sinensis (Sims) Sweet.
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O Brasil é particularmente bem servido
Tem brácteas grandes. A inflorescência,
delas, tendo desde as grandes corticeiras
disposta em racemos eretos, ostenta
do gênero Erythrina e das chuvas-de-ouro
flores vináceo-purpúreas e seu fruto é
Senna multijuga (Rich.) H.S. Irwin & Barneby
uma vagem. Tem até 13 centímetros de
até as delicadas caliandras, periandras
comprimento por 6 centímetros de largura
e plantas ainda muito menores. Se entre
e 2 centímetros de espessura, quase
as leguminosas fôssemos enumerar as
plana e revestida de pelos ferrugíneos,
espécies de cipós com atributos estéticos,
contendo três sementes grandes, duras,
só no bioma Mata Atlântica teríamos uma
castanho-avermelhadas (com um anel
longa lista.
escuro interrompido na borda), muito
Entre as muitas de que lembramos, a
usadas em artesanato.
coronha Dioclea violacea Benth. é de
A planta tem propriedades tônicas e
longe a que nos chamou mais a atenção.
compostos fenólicos, especialmente
É um cipó lenhoso com folhas pecioladas,
flavonoides com potencial ação
compostas por três folíolos grandes, ovais,
antioxidante e imunomoduladora (Barreiros,
arredondados na base e agudos no ápice, e
Barreiros, David, & Queiroz, 2003).
também pilosos na página inferior.
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Dioscorea dodecaneura Vell. Dioscoreaceae / Nome popular: caratinga ou cará-barbado. A ordem Dioscoreales, com base em recentes análises moleculares, passou a incluir mais duas famílias além desta; todas descendem de um ancestral comum e com centro de distribuição no Sudeste Asiático. Interessa-nos sobremaneira o gênero Dioscorea, que é cosmopolita e tem 130 espécies na nossa flora, incluindo 94 endêmicas (Souza & Lorenzi, 2008). Todas são cipós volúveis, com caule cilíndrico ou quadrangular originado de tubérculo subterrâneo em forma variável
Na área do futuro empreendimento foco desta pesquisa ocorre a D. macrocarpa Uline, citada no diagnóstico de vegetação realizado pelo biólogo Luciano Moreira Ceolin, mas ainda não foi encontrada pela nossa equipe. Para cultivo e exposição, a melhor opção é a D. dodecaneura Vell., popularmente chamada de caratinga e já cultivada pelos indígenas antes do Descobrimento, eles mesmos responsáveis pela sua aclimatação em praticamente toda a América do Sul tropical. Muito ornamental, a planta é inteira roxa, com folhas verde-escuras manchadas de branco na página superior. Encontra-se subespontânea em quase todo o Brasil.
e rico em amido. As folhas têm venação reticulada, rara nas monocotiledôneas, e as flores são unissexuais e dispostas em espigas (Judd et al., 2009). Algumas espécies são venenosas e outras ricas em corticosteroides, usados na indústria farmacêutica para a fabricação de contraceptivos. Popularmente, chamam-se carás, nome que vale para os nativos e exóticos usados como alimento por muitos povos das regiões tropicais do globo. Alguns deles foram introduzidos no Brasil há séculos e já se encontram aclimatados em nossos bosques (Corrêa, 1978). O Paraná é particularmente rico em espécies desse gênero, sendo também o limite austral de distribuição de muitas delas; quatro são endêmicas, como a D. curitybensis R. Knuth, da qual temos pouquíssima informação além do que consta na publicação de Engler (1924).
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Diplopterys lutea (Griseb.) W.R. Anderson & C. Davis Malpighiaceae / Nome popular: cipó-de-ouro.
Unidos e no centro da Argentina. Os 10% restantes ocorrem na África e região indomalaia. Fósseis do gênero Tetrapterys, encontrados nos Estados Unidos com aproximadamente 33 milhões de anos, são datados do início do Oligoceno, sugerindo ter sido nesse período o início da diversificação da família e situando sua origem há pelo menos 63 milhões de anos (Davis & Anderson, 2010). A maioria das Malpighiaceae é apoiante ou trepadora, havendo também muitas formas arbustivas e poucas arbóreas. São reconhecidas com certa facilidade por possuírem flores pentâmeras (sempre com cinco pétalas) intercaladas com as sépalas do cálice, que contém um par de glândulas que produzem resinas florais utilizadas pelas várias espécies de abelhas que as polinizam. As folhas são quase sempre
Inseridas na ordem Malpighiales, junto com outras 36 famílias com as quais possuem relações filogenéticas, as Malpighiaceae têm seu centro de diversidade no Cerrado, estando entre as 10 famílias mais bem representadas nesse bioma. Aproximadamente 90% de todas as espécies estão distribuídas na região neotropical do Caribe, no sul dos Estados
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opostas, pilosas, com pecíolos articulados e tricomas unicelulares denominados pelos malpighiáceos. Apesar das espécies apresentarem sempre a mesma simetria floral, seus frutos variam drasticamente nos formatos, podendo ser secos ou carnosos, pilosos ou glabros, alados ou não etc. (Anderson, 1979).
planta — a Psychotria viridis Ruiz & Pav.
A planta mais conhecida da família é a acerola
—, entram na composição da ayahuasca,
Malpighia emarginata DC., originária das Antilhas
bebida utilizada nos rituais da manifestação
e atualmente disseminada em todas as regiões
religiosa Santo Daime.
tropicais do planeta. Seu fruto de polpa carnosa
Alguns estados do nordeste utilizam em sua
tem grande valor nutricional e é importante fonte
culinária os frutos do Murici (nome genérico
de vitamina C. Está estabelecido faz tempo no
das espécies do gênero Byrsonima), que
mercado global, onde atinge uma considerável
são árvores e arbustos cuja madeira é usada
importância econômica.
também na construção civil.
Outro vegetal com grande potencial para a
Neste estudo, citamos o cipó-de-ouro
indústria farmacêutica é o cipó-mariri ou cipó-
D. lutea (Griseb.) W.R. Anderson & C.
jagube Banisteriopsis caapi Spruce ex Griseb.,
Davis, que ocorre no Norte Pioneiro em
que contém três alcaloides psicoativos do
zona de transição entre o Cerrado e a
grupo da harmina. Esses alcaloides, misturados
Floresta Estacional Semidecidual, na
à dimetiltriptamina (DMT) oriunda de outra
altura do Trópico de Capricórnio. É uma das poucas espécies deciduais da família e, na ocasião em que fotografamos um de seus exemplares, ele estava coberto de flores amarelo-cromo e sem folhas, visível a grande distância e produzindo um belo efeito na paisagem. É um cipó de porte médio, com até 4 ou 5 metros de comprimento; suas folhas têm duas glândulas multicelulares visíveis, próximas ao encaixe com o pecíolo e os seus frutos são alados.
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Ephedra tweediana C.A. Mey Ephedraceae / Nome popular: cipó-de-areia ou trepadeira-macarrão.
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É importante mencionar que essa família
É um arbusto muito ramificado e
está contida no filo Gnetophyta, sendo ela
ocasionalmente apoiante; seus galhos,
a única gimnosperma da lista. Do ponto de
com folhas atrofiadas e escamosas,
vista evolutivo, gimnospermas são plantas
deitam-se com o próprio peso, dando-lhe o
que, apesar de primitivas, já apresentam
aspecto de liana. A atividade fotossintética
uma estrutura protetora da semente e
é realizada por praticamente toda a parte
independem de água para sua reprodução.
aérea da planta.
A única espécie dessa família citada para
Dessa forma, considerada
o Brasil é a Ephedra tweediana C.A. Mey,
interessantíssima por seu formato único,
habitante dos pampas e esporadicamente
pode figurar como highlight em qualquer
encontrada nas dunas do litoral gaúcho.
jardim botânico do mundo.
Fuchsia hatschbachii P. E. Berry Onagraceae / Nome popular: fúcsia ou brinco-de-princesa.
As Onagraceae pertencem à ordem Myrtales e são, em sua maioria, ervas mais frequentes no Hemisfério Norte. O gênero Fuchsia, depois de muita divergência entre especialistas com relação às espécies válidas, passou a abranger 107 delas. Por causa da diversidade de formatos das flores e da grande variedade de formas híbridas, foi dividido recentemente em 12 seções ou associações de espécies. Nesse aspecto, o nosso brinco-de-princesa (F. hatschbachii P.E. Berry), endêmico do Paraná, faz parte da seção 9 Quelusia, caracterizada por flores com nectário fundido ao tubo floral (hipanto), geralmente mais longo do que as sépalas e com estames compridos que saem para além da corola. Também figuram nessa seção a F. regia (Vand. ex Vell.) Munz, a F. coccinea Aiton e a F. magellanica Lam., sendo esta a de distribuição mais austral (Berry, 1989). Pode-se destacar, ainda, que seus frutos são comestíveis e que o gênero é neotropical, ocorrendo também em algumas ilhas do Pacífico, especificamente em Hispaniola, Taiti e Nova Zelândia.
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Ipomoea purpurea (L.) Roth. Convolvulaceae Nome popular: campainha ou morning glory. As plantas dessa família, à qual pertence
principalmente no gênero Ipomoea, o
também a batata-doce Ipomoea batatas
maior da família.
(L.) Poir., são cipós volúveis e sem gavinhas
São muitas as que desenvolveram
(são raras as exceções arbustivas), com
uma morfologia adaptada para o clima
folhas cordiformes ou lobadas, facilmente
semiárido (Delgado Junior, Buril &
reconhecidos pelas flores cônicas,
Alves, 2014). Várias delas são medicinais,
bissexuadas e sempre com cores fortes.
usadas principalmente como analgésicas e
Habitam toda a faixa tropical e subtropical
calmantes, outras são alucinógenas, devido
do globo, sendo o Brasil particularmente
à presença de alcaloides indólicos do
rico deles, com 24 gêneros e 408 espécies
subgrupo da ergolina, incluindo a própria I.
distribuídas em todos os biomas nacionais.
purpurea (L.) Roth. e a trepadeira-elefante
Em nosso país, o ápice da diversidade
Argyreia nervosa (Burm.f.) Bojer, usadas
de Convolvulaceae acontece em biomas
antigamente em rituais sagrados. Existem
abertos, sobretudo no Cerrado e na
também muitas espécies ruderais, que são
Caatinga, sendo a região Nordeste a que
tóxicas e invasoras (Lorenzi, 1991).
concentra maior número de espécies,
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Manettia luteorubra (Vell.) Benth Rubiacea Nome popular: cipó-coral. A Rubiaceae é a quarta maior família de angiospermas que existe, englobando desde plantas aquáticas até árvores de grande porte, em seus 611 gêneros e 13.150 espécies (Davis, Govaerts, Bridson, Ruhsam, Moat, & Brummitt, 2009). Seus exemplares habitam todo o planeta, preferencialmente a região tropical, onde ocorrem com mais diversidade no norte da América do Sul e na Nova Guiné, estando ausente apenas nas regiões polares e em zonas centrais e desérticas da Ásia e África. Sua importância para a humanidade é imensa, bastando lembrar do café Coffea arabica L. e da quina-do-peru Cinchona officinalis L., fornecedora do quinino, além de outras dezenas de plantas medicinais e ornamentais.
Aqui, as espécies de cipós são poucas se comparadas às outras formas de vegetais presentes; mas o cipó-coral M. luteorubra (Vell.) Benth. representará bem a família em termos estéticos, com seu porte pequeno e com belas flores de corolas tubulares bicolores (amarelas e vermelhas). Típica da Floresta Estacional Semidecidual e ainda frequente no interior do país, a espécie é substituída nas Florestas Ombrófilas pelos cipós-de-santo-antônio, M. cordifolia Mart. e M. chrysoderma Sprague, ambos com flores inteiramente vermelhas.
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alcançam conjuntamente suas anteras e estigmas, como as mamangavas dos gêneros Bombus e Xylocopa. Também colibris e morcegos participam da polinização. O fruto é esférico, oval ou fusiforme, e muito apreciado pela fauna (Bernacci et al., 2003). Na alimentação humana, a espécie principal é a P. edulis Sims, há muito domesticada e utilizada na forma de sucos, sorvetes, molhos, bolos etc. Seu cultivo ganhou expressão comercial na década de 1960, quando surgiram os primeiros pomares industriais, tendo um incremento nos anos 1990, quando o cultivo se espalhou pelo país e o Brasil se tornou seu maior
Passiflora amethystina J.C. Mikan Passifloraceae Nome popular: maracujá-roxo.
produtor mundial. As raízes e a parte aérea contêm alcaloides e benzoflavonas, sendo a passiflorina a mais utilizada na indústria farmacêutica por suas propriedades calmantes e ansiolíticas.
O nome da família e do seu principal gênero
Na indicação da espécie para cultivo
deriva de flor-da-paixão ou passionária
e exposição, o critério que usamos é
(passion flower em inglês), e foi dado pelos
puramente estético, com ênfase no colorido
conquistadores espanhóis logo após a
das flores e na singularidade do formato.
Descoberta da América, em alusão ao
Para representar a família, escolhemos o
formato dos órgãos florais que lhes lembrou
maracujá-roxo (P. amethystina J.C. Mikan),
os elementos da Paixão de Cristo. Na
o mais ornamental dentre os que ocorrem
corona de filamentos enxergaram a coroa
naturalmente no Paraná.
de espinhos, nos estiletes os cravos, nas anteras as chagas, e assim por diante. Aqui no Brasil é chamado de maracujá, que é o nome tupi (moruku’ia = alimento em forma de cuia) (Corrêa, 1978). Eles são cipós geralmente lenhosos, com gavinhas e enorme variabilidade no formato das folhas. As flores são belíssimas e têm diferentes tamanhos e cores, sempre polinizadas por insetos grandes, que
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Petrea volubilis L. Verbenaceae Nome popular: flor-de-viúva ou flor-de-são-miguel. O Brasil ostenta a maior diversidade de
Stachytarpheta e Lippia fazem parte da
espécies de Verbenaceae do planeta,
farmacopeia popular, Verbena é medicinal
contendo com representantes em todos
e ornamental, Lantana e Duranta são
os seus biomas, mas com a maioria das
ornamentais.
espécies distribuídas nos cerrados e
O cipó mais belo da família e objeto da
campos rupestres do Brasil Central. São 16
nossa escolha é, sem dúvida, a flor-de-
gêneros e 279 espécies, das quais 181 são
viúva ou flor-de-são-miguel (P. volubilis
endêmicas (Salimena & Múlgura, 2015).
L.), atualmente rara na natureza mas já
Seus representantes são, sobretudo, ervas
consagrada e cultivada no mundo inteiro
e arbustos. Assim, alguns gêneros como
como planta ornamental.
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Schwartzia brasiliensis (Choisy) Bedell ex Gir.-Canãs Marcgraviaceae Nome popular: agarra-pé ou norântea.
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São plantas com raízes grampiformes, nativas
la no habitat natural (em 2019, na Serra
das florestas e restingas pouco alteradas,
de Paranapiacaba) e, coincidentemente,
do México ao sul do Brasil. Existe pouca
na mesma viagem, em cultivo no Jardim
informação sobre essa família; S. brasiliensis
Botânico Plantarum, em Nova Odessa
(Choisy) Bedell ex Gir. -Cañas (antigamente
(SP). Os outros dois gêneros, Marcgravia
subordinada ao gênero Norantea) é a espécie
e Souroubea (este último conhecido pelas
mais conhecida e ainda frequente no litoral e
suas propriedades ansiolíticas), também
na Serra do Mar. Também é a única cultivada
são bastante ornamentais, mas habitam
em jardins, principalmente para escalar
preferencialmente matas primárias e
muros. Tivemos a oportunidade de encontrá-
certamente serão de difícil obtenção.
Securidaca lanceolata A.St. Hil. Polygalaceae / Nome popular: caninana.
Tem relação com as Leguminosae, figurando
flores purpúreas de tom tão profundo que
como grupo externo a elas na filogenia da
nem os ipês ou as buganvílias competem em
ordem Fabales. Pertence a essa família,
beleza. Destaca-se, ainda, que tem frutos
também, a interessantíssima jaboticaba-
alados. A S. lanceolata A.St. Hil., da Floresta
cipó (Diclidanthera laurifolia Mart.), de frutos
Estacional Semidecidual e que ocorre no
comestíveis e endêmica da América do Sul.
norte do estado do Paraná, é a ideal para
Já o gênero Securidaca tem espécies com
figurar nesta lista.
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Siphocampylus fimbriatus Regel Campanulaceae / Nome popular: cipó-jarataca. Família que é representada na nossa flora por 6 gêneros, sendo os mais comuns Lobelia e Siphocampylus, dos quais apenas o último tem cipós. Das espécies de hábito trepador que temos conhecimento, S. scandens (Kunth)
Entre as brasileiras, interessou-nos o S.
G. Don do Equador é a única cultivada
fimbriatus Regel, belíssimo cipó de porte
como ornamental.
médio, com folhas de borda denticulada e flores tubulares com corola verde e rosa, que observamos em 2020 no Parque Estadual das Lauráceas, mas que infelizmente não tivemos como trazer para a coleção.
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Temnadenia odorifera (Vell.) J.F. Morales Apocynaceae Nome popular: cipó-capador.
A família Apocynaceae ocorre no mundo todo, exceto na Antártida, e está entre as cinco que mais possuem espécies de cipós, número que cresceu ainda mais após incorporar a família Asclepiadaceae, tratada como subfamília (Asclepiadoideae) na atual concepção de agrupamento taxonômico (Endress, Liede-Schumann, & Meve, 2014). Fazem parte dela árvores grandes como as perobas Aspidosperma sp., frutíferas como a mangaba (Hancornia speciosa Gomez), arbustos medicinais como a pervinca-demadagascar (Catharanthus roseus (L.) G.Don) e outras. Centenas de espécies são ornamentais, como as alamandas, as espirradeiras, as plumérias etc. Muitas contêm látex.
Quanto às flores, geralmente possuem corola helicoidal e costumam ser viscosas devido ao muco produzido no gineceu. São várias as espécies venenosas e que causam prejuízo aos pecuaristas, sobretudo as atualmente inseridas na subfamília Asclepiadoideae. Um dos mais belos gêneros é o Temnadenia, com espécies encontradas mais frequentemente no Cerrado, nas Florestas Estacionais Semideciduais e em seus respectivos ecótonos. A espécie indicada tem flores róseas e aroma delicioso, e certamente representará bem a família.
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na gastronomia como enfeite comestível de muitos pratos, e seus frutos, quando ainda verdes, são usados em muitos países como substitutos da alcaparra. Ainda, o suco da planta produz pigmentos utilizados para tingir lã (Corrêa, 1978). Para o Paraná são citadas duas espécies, das quais nos interessa principalmente o cipó-de-chagas T. pentaphyllum Lam., que tem belo aspecto, é perene, decidual, sem gavinhas e com flores solitárias róseas, salpicadas de manchas mais escuras, dotadas de longo esporão. Ocorre em toda a região Sul do Brasil e em parte adjacente à Argentina e ao Paraguai, mas é uma planta bastante rara e de ocorrência pontual. Em 20 anos de coletas, encontramo-la uma única vez. Seu tubérculo é comestível, inclusive cru, e substituiu a raiz-forte ou crem (Armoracia rusticana P. Gaertn., B. May. & Scherb.) na
Tropaeolum pentaphyllum Lam. Tropaeolaceae / Nome popular: cipó-de-chagas, capuchinha, sapatinho-de-iaiá.
culinária dos imigrantes do leste europeu. A outra espécie que ocorre no Paraná é o T. warmingianum Rohr., com flores amarelas e ciliadas, citada para o baixo Iguaçu até uma parte da província de Missiones, do outro lado da fronteira. Esta
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As Tropaeolaceae são plantas neotropicais,
é ainda mais rara que a espécie anterior,
com o maior número de espécies na região
só a conhecemos através de material
andina, do Chile à Colômbia. Contêm três
herborizado de coletas muito antigas. De
gêneros, sendo o mais importante este que
Minas Gerais até a Bolívia, ocorre também
nomina a família. A espécie mais famosa é a
o Tropaeolum capillare Buchenau, do qual
capuchinha Tropaeolum majus L., nativa do
dispomos de pouca informação.
Peru, introduzida na Europa ainda no século
Todas as espécies brasileiras estão em
XVII, e de lá para o resto do mundo como
franco declínio na natureza e correm risco
planta ornamental. Suas flores são usadas
de extinção pela contínua perda de habitat.
Conclusão Para a pesquisa e elaboração desta
mapear os locais onde foram coletadas.
lista, além da bibliografia mencionada
Se, depois de algumas tentativas,
usamos alguns artigos científicos,
constatarmos a impossibilidade de
notadamente o do professor Francis E.
obtenção de uma ou mais espécies
Putz (2011), “Ecologia das trepadeiras”,
entre as escolhidas, buscaremos boas
e outros websites.
substitutas no mesmo gênero.
Nossas anotações de campo, de mais
Sendo apenas 20 espécies, mesmo
de 20 anos de coletas supervisionadas
que cada uma represente uma família
pelo saudoso Gerdt Hatschbach, foram
botânica distinta a seleção não refletirá
igualmente de grande valia.
a grandiosidade da nossa flora, mas
Das espécies listadas, a P. volubilis (L.)
será um bom ponto de partida para
e a I. purpurea (L.) Roth. são as únicas
a obtenção da amostragem que
encontradas com certa facilidade no
desejamos para o nosso futuro jardim
comércio de plantas. Acreditamos que a
botânico.
E. tweediana C.A. Mey conseguiremos obter através de convênios e trocas com outras instituições. A. cordifolia (Ten.) Steenis, C. fruticosum (Loefl.) Stuntz e F. hatschbachii P.E. Berry já temos em cultivo na estufa, e também não será difícil dominar a cultura da A. gigantea Mart., que já sabemos onde buscar. O restante das espécies provavelmente terá que ser coletada em seu habitat. Nesse caso, teremos mais facilidade para fazê-lo no Norte Pioneiro, em áreas de Floresta Estacional Semidecidual às quais temos acesso. Quanto à S. brasiliensis (Choisy) Bedell ex Gir.-Canãs, traremos do litoral, onde ainda é frequente. Para encontrar algumas delas, devido à sua raridade extrema, deveremos consultar as fichas de herbário do Museu Botânico Municipal de Curitiba, a fim de
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Créditos das imagens Adenocalymma bracteatum(Cham.) DC. Bignoniaceae / Nome popular: cipó-amarelo http://powo.science.kew.org/taxon/urn:lsid:ipni.org:names:108107-1 Anredera cordifolia (Ten.) Steenis Basellaceae / Nome popular: bertalha-coração ou trepadeirade-madeira Foto de Forest & Kim Starr — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6110220 Aristolochia gigantea Mart. Aristolochiaceae / Nome popular: cipó-milomem, papo-de-peru, cassaú, angelicó, urubucaá https://www.monaconatureencyclopedia.com/aristolochia-gigantea/?lang=en Clematis dioica L. Ranunculaceae / Nome popular: cipó-cruz, cipó-do-reino, cabelo-de-anjo Foto de Carmen Galdames — https://serv.biokic.asu.edu/imglib/neotrop/misc/201406/15175_1403072041_web.jpg Combretum fruticosum (Loefl.) Stuntz Combretaceae / Nome popular: papo-de-pavó, flor-defogo ou escova-de-macaco Foto de Noel Leindekar — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=9549845 Dalechampia stipulacea Müll. Arg. Euphorbiaceae / Nome popular: cipó-urtiga http://www.ra-bugio.org.br/especies/1520.jpg Dioclea violacea Benth. Leguminosae / Nome popular: coronha ou olho-de-boi http://rubens-plantasdobrasil.blogspot.com/2014/08/fabaceae-dioclea-violacea-mart-ex-benth.html Dioscorea dodecaneura Vell. Dioscoreaceae / Nome popular: caratinga ou cará-barbado http://unusualediblesandtheirwildrelatives.blogspot.com/2018/02/ornamental-yam-dioscorea-dodecaneura.html Diplopterys lutea (Griseb.) W.R. Anderson & C. Davis Malpighiaceae / Nome popular: cipó-de-ouro https://mapio.net/pic/f-24302405471/ Ephedra tweediana C.A. Mey Ephedraceae / Nome popular: cipó-de-areia ou trepadeira-macarrão Foto de A. Barra — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4056449 Fuchsia hatschbachii P. E. Berry Onagraceae / Nome popular: fúcsia ou brinco-de-princesa Foto de Stan Shebs — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3698680 Ipomoea purpurea (L.) Roth. Convolvulaceae / Nome popular: campainha ou morning glory Foto de Chilepine — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=290463 Manettia luteorubra (Vell.) Benth Rubiacea / Nome popular: cipó-coral Foto de Michael Wolf — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5207170 Passiflora amethystina J.C. Mikan Passifloraceae / Nome popular: maracujá-roxo https://www.aplantadavez.com.br/2016/02/maracuja-ametista-passiflora.html Petrea volubilis L. Verbenaceae / Nome popular: flor-de-viúva ou flor-de-são-miguel http://bauble.botanicalgarden.ubc.ca/images/2014/petrea-volubilis2.jpg Schwartzia brasiliensis (Choisy) Bedell ex Gir.-Canãs Marcgraviaceae / Nome popular: agarra-pé ou norântea http://www.plantsystematics.org/imgs/shimizu/r/Marcgraviaceae_Schwartzia_brasiliensis_36434.html Securidaca lanceolata A.St. Hil. Polygalaceae / Nome popular: caninana Foto de João Medeiros — https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=19910266 Siphocampylus fimbriatus Regel Campanulaceae / Nome popular: cipó-jarataca https://www.flickr.com/photos/andrebenedito/2331229603/ Temnadenia odorifera (Vell.) J.F. Morales Apocynaceae / Nome popular: cipó-capador https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/37/Temnadenia_violacea.jpg Tropaeolum pentaphyllum Lam. Tropaeolaceae / Nome popular: cipó-de-chagas, capuchinha, sapatinho-de-iaiá https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e0/Tropaeolum_pentaphyllum_01.jpg
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