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ENCÍCLICA LABOREM EXERCENS
(PRIMEIRA PARTE)
O Contexto Social
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Oprocesso de industrialização da sociedade não para, trazendo mudanças contínuas nos ambientes de trabalho. As tecnologias modernas e a sua introdução nos meios produtivos provocam transformações consideráveis na produção, nas estruturas e nas relações laborais. Vemos isto muito claramente: as indústrias que costumavam empregar tan - tos trabalhadores estão agora gradualmente empregando cada vez menos trabalhadores; cada vez mais robôs irão ocupar o lugar dos trabalhadores.
O interessante processo de globalização que agora vivemos com ainda maior intensidade é começado em 1980: a Internet estava começando (a primeira mensagem entre dois computadores tinha acabado de ser enviada nessa altura), uma nova era iniciava.
Agora, sento-me diante do meu computador e compro uma mercadoria, que é produzida na República Popular da China e armazenada noutro país da União Europeia. Com um clique eu compro essa mercadoria e amanhã antes do almoço ela chega até mim. Antes, para comprar um livro, era preciso ir e reservar o livro, que talvez che - gasse ao fim de três meses. Hoje as coisas mudaram. As coisas mudam com cada vez maior rapidez, com um mecanismo cada vez mais ágil, cada vez mais rápido.
O problema passa da questão da luta entre classes para a própria concepção do mundo e das relações: “Enquanto no passado o problema da ‘classe’ estava no centro desta questão, em tempos mais recentes o problema do ‘mundo’ está vindo à tona”.
Na esfera sociopolítica, a chamada “guerra fria” estava na ordem do dia. Tal movimento geopolítico assumiu essencialmente a forma de uma verdadeira luta entre duas ideologias: o marxismo e o liberalismo. João Paulo II, dada a sua história de vida, não permanecerá insensível aos novos problemas que o contexto coloca à questão do trabalho.
Argumentação: Evangelho do Trabalho
Em geral, o documento apresenta uma visão otimista do trabalho, sem esquecer as dimensões complexas e difíceis envolvidas. Baseado na fé cristã e em argumentos bíblicos sólidos, o documento reconhece o trabalho como uma expressão do ser humano: as suas iniciativas, a sua personalização (a dimensão subjetiva do trabalho), uma fonte de fraternidade e um lugar de apoio familiar, bem como uma possibilidade real de formar uma comunidade. Estes elementos positivos serão reunidos sob o conceito do “Evangelho do Trabalho”.
Três questões principais formam a arquitetura interna da encíclica:
• A distinção entre as dimensões objetiva e subjetiva do trabalho;
• A difícil relação entre capital e trabalho (o economismo e materialismo);
• Direitos dos trabalhadores: emprego, remuneração e participação (direito de associação).
O Evangelho do Trabalho
João Paulo II dedica alguns números (24-27) da sua encíclica para enfatizar alguns elementos sobre a espiritualidade do trabalho. Considerando o trabalho como uma dimensão que toca a totalidade do ser humano, a sua argumentação está essencialmente estruturada em três pontos: I. O trabalho como participação na obra do Criador; II. Cristo como trabalhador; III. As dimensões da cruz e da ressurreição que existem na realidade do trabalho.
O autor argumenta que é dever da Igreja não só pronunciar-se sobre questões morais e o valor humano do trabalho, mas também o seu dever inalienável de ajudar homens e mulheres de todas as idades a reconhecer e construir uma espiritualidade saudável em torno do trabalho.
“Se a Igreja vê como seu dever pronunciar-se sobre o trabalho do ponto de vista do seu valor humano e da ordem moral, na qual ele se insere, e neste ela vê a sua importante tarefa no serviço que presta a toda a mensagem do Evangelho, ao mesmo tempo, vê um dever particular na formação de uma espiritualidade do trabalho de modo a ajudar todos os homens a aproximarem-se de Deus, o Criador e Redentor, a participarem nos Seus planos de salvação para a humanidade e o mundo, e a aprofundarem nas suas vidas a sua amizade com Cristo, assumindo através da fé uma participação viva na Sua tríplice missão: de Sacerdote, Profeta e Rei, como ensina o Concílio Vaticano II em admiráveis expressões.”
Esse assunto continua na próxima edição!