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Responsabilidade de todos

Todos os anos, a Igreja do Brasil propõe uma reflexão no tempo da Quaresma sobre algum tema relevante para a sociedade brasileira e que desafia nossa experiência de fé, que chamamos Campanha da Fraternidade. Este ano, o tema proposto é “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). É a terceira vez que a Igreja aborda esse tema (1975, 1985 e 2023), sempre precedido pelos Congressos Eucarísticos Nacionais, como o que foi realizado em 2022 em Recife. Isso para nos lembrar que não há comunhão verdadeira com o Corpo e Sangue do Senhor, se ignoramos o corpo sofrido e debilitado dos nossos irmãos que não têm o necessário para sua alimentação. Como lembra o próprio texto-base da CF-2023, a Campanha não esgota a celebração da Quaresma, mas dá-lhe uma direção a fim de nos despertar para o enfrentamento de situações cuja raiz mais profunda é o pecado.

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O Brasil convive com o triste e vergonhoso paradoxo de ser considerado o “celeiro do mundo”, já que anualmente bate recordes na produção agrícola e na pecuária, no lucrativo setor do agronegócio e, ao mesmo tempo, convive com o flagelo da fome que afeta milhões de brasileiros. Essa situação foi agravada com a recente pandemia da Covid-19 que escancarou os contrastes sociais estruturais do nosso país. Calcula-se que cerca de 125,2 milhões de brasileiros convivem com algum tipo de insegurança alimentar, desde a impossibilidade de comprar alimentos de qualidade até a situação de fome.

Para enfrentar essa situação é necessário, antes de tudo, uma atitude sincera de conversão, que possibilite quebrar o egoísmo e abrir as nossas mãos para partilhar. Faz-se necessário também a adoção de políticas públicas de irradicação da fome que vão desde investimentos na agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa, passando pela garantia de acesso à alimentação saudável para a população, até a irradicação total da fome em nosso país. Como bem sintetiza o Papa Franscisco: “Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Diante dessa triste realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis” (Mensagem para os 75 anos da FAO, 2020).

No coração do discípulo de Jesus não pode haver indiferença frente a este triste cenário. A tentação é de despedirmos aqueles que têm fome para não nos envolvermos. Mas Jesus nos convoca à responsabilidade frente às necessidades do outro, com o imperativo: “Dai-lhes vós mesmo de comer”. Para além do milagre no relato da multiplicação dos pães (cf. Mt 14,13-21) está o desafio à comunhão e a ajuda mútua que a Igreja deve testemunhar. Na mesma perspectiva, as Constituições da Congregação Redentorista afirmam que “os membros da Congregação têm como incumbência o anúncio explícito do Evangelho e a solidariedade com os pobres, a promoção de seus direitos fundamentais na justiça e na liberdade” (n. 5). Nós realizamos isso no investimento em nossas Obras Sociais, nas pastorais sociais de nossas paróquias e no engajamento pessoal nas causas sociais. O esforço pela superação da miséria e da fome deve contar com a participação de todos os setores da nossa sociedade. Nós, Redentoristas, acreditamos que só há autêntica evangelização acompanhada de uma adequada promoção humana e social.

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