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Escola da Fé Paróquia Santo Antônio do Pari. Aula 1 - Apresentação do Programa Preliminar do Curso. Sujeito a revisão! Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 17 de abril 2012. PROGRAMA PRELIMINAR SUJEITO A REVISÃO I- Fé. 1. O que é Fé? 2. Fé em que e em quem? 3. Em Jesus, o Cristo. 3.1- Vida de Jesus - da Encarnação do Verbo à Ressurreição. 3.2- Jesus depois da Ressurreição na vida da Igreja e de cada um. 4. Fé em Deus Pai, segundo é descrito por Jesus. 5. Fé no Espírito Santo. 5.1- O Espírito nos evangelhos, Atos dos Apóstolos e epístolas. 5.2- Fé na Trindade. 5.3- Fundação da Igreja. 5.4- Os Sacramentos (apenas uma introdução geral). 5.5- Fé na vida fraterna da Igreja e pessoal. 5.6- Alguns aspectos da vida da Fé em nossos dias; pentecostalismo, fundamentalismo, utilitarismo, neo-paganismos? - leitura e explicação dos capítulos 12, 13 e 14 de 1Cor. O parâmetro deverá ser o crescimento na Caridade. - grande tentação: o cristão, com suas instituições, considerar-se especial, ou único! 6. Fé na Igreja Católica. 6.1- O que é a Igreja de Cristo? 6.2- Igreja e Reino de Deus. 6.3- Fundação da Igreja. 6.4- Igreja dos Apóstolos; Papel de São Paulo. 6.5- Igreja das primeiras gerações depois dos apóstolos e seus primeiros escritos; Perseguições. 6.6- Igreja e Constantino: relação com o poder; discórdias doutrinárias; primeiros Concílios; heresias; fórmulas do Credo. 6.7- Igreja Latina (Ocidental) e Igreja Grega (Oriental). - Papado e seu desenvolvimento. - Patriarcados: igrejas regionais, depois nacionais. 6.8- Queda do Império Romano do Ocidente - vazio de poder e suas conseqüências. 6.9- Expansão do Cristianismo pela conversão de povos invasores. 6.10- Igreja na Idade Média: pontos altos; mazelas; século de ferro; renascimento nos séculos 12 e 13; ordens mendicantes (vida em pobreza).

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6.11- Igreja e seus rompimentos: 1054; Lutero e outros: protestantismo. 6.12- Reforma Católica: Concílio de Trento; novas instituições. 6.13- Igreja e a conquista dos povos: expansão para América, Ásia e África. 6.14- Igreja e Padroado; suas influências sobre o Brasil; efeito sobre o Papado. 6.15- Igreja e Iluminismo; Igreja e Revolução Industrial. - perda de poder; empobrecimento. 6.16- Igreja em nossos dias. - Vaticano II. - Igreja agora; e amanhã? 7. Vida Cristã. 7.1- Vida Eucarística e Liturgia. 7.2- Os outros Sacramentos. 7.3- Vida de Oração. 7.4- Vida em família (a pequena Igreja). 7.5- O Cristão na sociedade: o profissional; o cidadão solidário; o agente social; o cristão no lazer. 8. O Cristão, a Moral e a Ética. 8.1- Lei Natural base para a Moral Universal. 8.2- Lei Revelada base para a Moral Cristã. 9. A Palavra de Deus. 9.1- Projeção do filme Deus: a história das religiões - história de Deus. 9.2- Bíblia: introdução; leitura transcultural e contextual. 9.2.1- Como surgiram os livros da Bíblia. 9.2.2- Redatores e inspiração divina. 9.2.3- Erros na Bíblia? Ciência e Fé. 9.2.4- Antigo e Novo Testamento; Bíblia para judeus; para católicos; para protestantes. 9.2.5- Palavra de Deus: alimentadora da Fé; alimentadora da Eucaristia; alimentadora da vida cristã, inclusive da moral e ética. 10. Outros temas. 10.1- Mariologia. 10.2- Culto aos santos; devoções. 10.3- Culto aos mortos. 10.4- Antropologia cristã. - Dignidade humana para o cristão. - Pessoa humana à imagem de Deus. - A sagrada liberdade; ... necessidade de crescer na liberdade. - Pessoa e solidariedade; ser para o outro. 10.5- A família cristã. 10.6- Respeito a vida em todas as suas formas. 10.7- Nossa presença responsável no planeta-vida. 10.8- Propostas e sugestões de outros temas. ESCOLA DA FÉ. Paróquia Santo Antonio do Pari. Aula 2: Fé em quem? Fé em Jesus Cristo.

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Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 03 de maio de 2012. 1. JESUS ENTRA EM CENA. Desde o anúncio do Anjo, seu nascimento, apresentação no Templo aos 8 dias de idade até aparecer publicamente com algum destaque, Jesus já devia ter uns 30 anos. Afinal, pessoas que nascem de famílias pobres, crescem em aldeias pobres da periferia, por mais que sejam destaque naquelas pequenas circunstâncias, não tem condições de se destacarem no mundo maior em qualquer época. Mesmo já homem adulto, Ele está defasado do desenvolvimento normal dos seus concidadãos, pois com essa idade todos os homens estão casados e, provavelmente, com vários filhos em casa própria. Lá está Ele, na Galiléia, província ao Norte da Palestina. É uma região semi-pagã, desprezada pelos “judeus puros” da Judéia. Lembremos que Nicodemos num debate no sinédrio é chamado à atenção pelo sumo sacerdote que deveria estudar mais, “pois da Galiléia não surgem profetas” (Jo 7,50-53). Jesus mora na minúscula Nazaré, sem boa fama sequer na Galiléia. Natanael pergunta, ao saber que Jesus era de Nazaré: “Pode de Nazaré vir alguma coisa boa?” (Jo 1,46). Jesus fala o dialeto dos Galileus ou, ao menos, o aramaico com fortes características da região. Até seu nome Jesus. Nada tem que o recomende ao povo. Aliás, aqui poderíamos fazer uma boa meditação sobre a Encarnação de Deus em Jesus. Deus não só renunciou às vantagens de sua condição divina, como ainda escolheu um homem sem nenhuma vantagem social (posição) ou pessoal. 2. VISÃO RETROSPECTIVA. Julgo importante essa forma de enfocar essa forma de apresentação de Jesus ao povo pelos Apóstolos e autores dos evangelhos e Atos dos Apóstolos. Jesus havia passado perto de três anos em sua função de pregador ambulante e da sistemática cura de doentes, com alguns milagres extraordinários: cura de aleijados, de cegos de nascença, leprosos e três ressurreições de mortos. Isso lhe deu visibilidade colocando-o no centro da Palestina todo. Até Herodes se preocupa e quer conhecê-lo. Mas, sua prisão e execução bárbara na Cruz, em uma Jerusalém inflada pela presença de muitos milhares de peregrinos de toda a parte, dever ter sido o acontecimento mais comentado em muito tempo. “Tu és decerto o único homem de passagem por Jerusalém a ignorar o que se passou nesses dias”, diz Cléofas a Jesus no caminho de Emaús (Lc 24,18). A seguir vem a Ressurreição. É o acontecimento mais grandioso da vida de Jesus, o ponto de partida para sua identidade e da identidade da Igreja, bem como da Fé Cristã. Mas, apesar disso, não teve impacto imediato sobre a multidão, pois era inacreditável e não esperado por todos, sem exceção, pois as Escrituras não falam de ninguém que ao menos tivesse uma declarada esperança que Jesus ressuscitaria. Mas, para os apóstolos e demais discípulos que viram Jesus ressuscitado e creram, bem como para aqueles que ouviram o testemunho das “testemunhas oculares dessas coisas” a ressurreição de Jesus foi absolutamente impactante. A partir daí, tudo o que sabiam ou imaginavam a respeito de Jesus adquiriu novo e maior significado. A reviravolta maior deu-se na compreensão e aceitação da paixão e da morte de seu Mestre. O que ontem fora tão revoltante, tão decepcionante e arrasador, agora adquiria sentido, credibilidade, encantamento e tornava várias passagens da fala de Jesus, antes incompreensíveis, em coisas tão claras e aceitáveis! Em resumo, sem a ressurreição, não só sua morte seria estúpida, como a própria figura de Jesus se apagaria imediata e totalmente. Nada de profeta; nada de Messias. Talvez seu curto sucesso em palavras e milagres fosse até explicado como truques diabólicos para enganar o povo crente e esperançoso de tempos novos e melhores em que Deus voltaria a caminhar com o seu povo (cfr Lc 11.15). 3. PRIMEIRO CREDO DOS CRISTÃOS.

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Jesus ressuscitado aparece aos Onze. Vamos ler Lc 24,36-56. Até o v 43, Jesus tem algum trabalho para provar que Ele próprio é o ressuscitado. Nos vv 44-49 dá instruções precisas e mínimas necessárias para a missão dos apóstolos. - A seguir abriu-lhes o espírito para entenderem as Escrituras. Sem bom entendimento das Escrituras, nada feito! - Pregar a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações. Esse perdão só agora é possível mediante a compreensão que, na Cruz, Cristo morreu por todos. - “E Vós sois as testemunhas disso”. - Para serem fiéis e corretos ao anunciar e testemunhar Jesus, recebem um guia, “uma espécie de manual vivo e infalível”: o Espírito Santo. São assim revestidos do “Poder do Alto”. Esses pontos são essenciais, indispensáveis, para qualquer discípulo de Jesus de todos os tempos, dar seu testemunho. (Aqui ficaria bem uma reflexão para todos, principalmente para os que exercem funções na comunidade.) Hoje em dia quando um adulto é preparado para o Batismo ele precisa mostrar que o conteúdo do enorme catecismo da Igreja Católica é conhecido e aceito e que as principais verdades da Fé declaradas no Símbolo Niceno-Constantinopolitano são também inquestionavelmente aceitas. E os que São Pedro batizou? O que deles se exigia? - Aceitar que Jesus de Nazaré é o Messias anunciado nas Escrituras. - Aceitar que Jesus morreu por todos para que os pecados de todos pudessem ser perdoados. - Crer que Ele ressuscitou e está na Glória, à direita do Pai. - Crer que Deus O constituiu Senhor e Cristo, Salvador. - Estar disposto a participar da comunidade dos que “seguem o Caminho” (primeiro nome dado ao Cristianismo). - Crer também na ressurreição dos seguidores de Cristo. Quanto ao quinto ponto, não está claramente dito, mas parece óbvio, que todos pertencessem à comunidade, quando lemos os capítulos 2 e 4 de Atos. Só não sei como ficaria o ministro da misteriosa rainha Candace, convertido e batizado por Felipe. Aqui seria interessante ver o esquema que Jesus usa para falar aos discípulos de Emaús e explicar a inevitabilidade de sua Paixão e Morte (Lc 24,25-27). A seguir, ler também os sermões de São Pedro em Atos: 2,14-36; 3,12-26; 4, 8-12; 5, 29-32. 4. BIOGRAFIA NÃO ERA IMPORTANTE. Voltemos agora à idéia de visão retrospectiva. Tudo o que se ouviu, pensou e acreditou; tudo o que Ele, Jesus, falou e realizou precisa ser revisto à luz do calvário e do sepulcro vazio. A Ressurreição mudou tudo. Por algum tempo os apóstolos e discípulos ocupavam-se, ao que parece, só com os pontos acima apresentados (ver as instruções de Jesus). Havia ainda outra fonte de influência sobre as pregações do início do Cristianismo. Os pregadores estavam convencidos de que o tempo era brevíssimo. “... não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que

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chegue o Filho do Homem” (Mt 10,23). Ou, “na verdade Eu vos digo, dentre os que aqui estão, alguns não morrerão antes de ver o Reino de Deus vindo com poder” (Mc 9,1). Então, por que “perder tempo” com dados da biografia de Jesus ou outras coisas pequenas? Os evangelhos são as fontes de dados que temos sobre a vida de Jesus, embora sem preocupações de ser uma biografia. Mas acontece que os evangelhos demoraram muito para aparecer. Marcos escreveu o seu em Roma. Diz a tradição que foi muito baseado em pregações e reminescências de Pedro. Nero perseguiu os cristãos de Roma em 64. Só depois apareceu o evangelho de Marcos. Um primeiro evangelho de Mateus, mais simples e anterior ao que temos hoje na Bíblia, foi escrito em aramaico e se perdeu. O atual evangelho de Mateus, redigido em grego, ao que tudo indica, só foi escrito na década de 80. A última parte da vida de Jesus a ser escrita foi sua infância e só aparece em Mateus e Lucas. Marcos nada fala. E, ainda assim, os dois que falam da infância de Jesus, tem muito mais preocupações teológicas que biográficas. Mateus e Lucas querem mostrar que Jesus é realmente de origem humana. Recorrem ao velho expediente das genealogias. Mateus procura os antecedentes humanos de Jesus até Abraão. Jesus é um judeu, o maior entre os patriarcas. Lucas recua até Adão. Jesus é descendente de Davi, judeu portanto; mas é também descendente de Adão, descendente da humanidade. Mas os dois acentuam a origem divina, concebido de uma virgem que “não conhecia homem”, “por ação do Espírito Santo”. João vai à Encarnação do Verbo decidida já na eternidade, “antes que o mundo fosse feito”. 5. NOMES E TÍTULOS Estamos procurando chegar à formatação de um quadro que estampe a personalidade de Jesus. Na próxima nos estenderemos mais sobre o tipo humano de Jesus. Toda pessoa é conhecida por um nome. É bom lembrar que o povo judeu dava importância ímpar ao nome de alguém. O nome devia representar o significado básico de seu portador e a essência de sua pessoa. Com que nomes a jovem Igreja referia-se ao seu adorado fundador? Seu nome próprio de homem era Jesus que significa “Javé salva”. O significado para Jesus é óbvio. Por sua profissão referem-se a Ele como “o carpinteiro”. Por sua nova profissão, pregador e revelador de Deus e de seu Reino, Ele fica conhecido como “Rabi”, isto é “Mestre”. Hoje seria o “Doutor”. Jesus não é um doutor entre doutores. Ele é “O” doutor, o doutor da vida. “Nem permitais que vos chamem de mestres, pois só tendes um mestre, o Cristo” (Mt 23,10). Às vezes Jesus é chamado de “Profeta”. Ele até faz referência ao seu caráter de sucessor dos profetas: “... é inadmissível que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus ...!” (Lc 13,33-34). A Igreja muitas vezes usa o título “o Ungido”. É o mesmo que em hebraico “Messias” e em grego “Christos”. Esse título, o “Ungido”, era usado para os reis de Israel e na esperança do povo, designava “O Rei” esperado para substituir a dominação estrangeira e pagã pela dominação de Deus. Esse era perigoso, pois trazia à tona esperanças e desejos nacionalistas e guerreiros. Se Jesus tivesse usado esse título para si em certas situações “queriam proclamá-lo rei” (Jo 6,15). Jesus só vai aceitar que ele é de fato o Cristo diante do sinédrio (Mc 14,62). Acrescenta prontamente, “Meu Reino não é deste mundo”. Nos outros evangelhos Jesus não parece tão reservado quanto a este título, porque, com o passar dos anos, “Messias” já se tinha purificado dessa conotação nacionalista. Já vimos que na pregação dos Apóstolos depois da ressurreição é essencial anunciar Jesus como o Messias prometido pelos profetas. Jesus, para designar sua messianidade, gosta de usar a palavra “Filho do Homem” tirado do profeta Daniel (7,11-13). Paradoxalmente, Jesus usando esse nome não está acentuando a sua origem humana, mas sua origem divina - é enviado do Céu. Não é questão de modéstia. Ele o usa exatamente para substituir o nome

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Cristo. Ele não deseja associar seu nome à realeza terrena. Quando o sumo sacerdote lhe pergunta: “És tu o Cristo, o Filho de Deus Bendito?” Jesus responde: “Eu o sou.” Aqui Ele reconhece ser o Cristo, mas acrescenta imediatamente: “E vereis o Filho do Homem sentado à direita de Deus, vindo sobre as nuvens do céu” (Mc 13,61-62). O termo é riquíssimo: aponta para a alta dignidade de Jesus e sugere a humildade não terrestre de sua messianidade. “Filho do Homem” (“Ben Adam”) significa simplesmente “homem”, ou seja, membro da humanidade. Jesus é da nossa raça, o homem, o verdadeiro Adão. Outro título é “Filho de Deus”. Antes de Jesus o termo “Filho de Deus” podia ser qualquer pessoa importante que tivesse uma relação especial com Deus: reis de Israel, grandes profetas. Assim é fácil imaginar, que no mesmo sentido, o Messias fosse chamado Filho de Deus. Mas, para Jesus não é só uma relação especial com Deus que queremos ressaltar. Na verdade, queremos ressaltar sua origem eterna de Deus. Ele é Filho do Pai Eterno, gerado antes dos tempos e sendo os dois um e o mesmo Deus (Jo 1,1-2). Desse título origina-se toda a autoridade de Jesus. Ele sim pode dizer “Abba”, “Pai”. Aliás Jesus gosta de dizer “Meu Pai e Vosso Pai”. Nos livros do Novo Testamento Jesus é chamado “o Senhor” (Kyrios, em grego; em latim “Dominus”. No Antigo Testamento “o Senhor” sempre foi título divino. Existem passagens no Novo Testamento onde Jesus é chamado “Deus”. “O Deus Unigênito” em Jo 1,18. Tomé exclama: “Meu Senhor e Meu Deus” (Jo 20,28). São Paulo refere-se a “Cristo” ... que, elevado acima de tudo, é Deus, o Bendito por todos os séculos” (Rom 9,5). Portanto, nenhuma dúvida que a jovem Igreja reconhece Jesus como Deus. Ainda lembramos que no tempo de Páscoa imprimimos no Círio Α e Ω. O livro Apocalipse refere-se muitas vezes a Cristo como princípio e fim de todas as coisas Outras vezes, o chama de o Cordeiro que foi imolado. Mas, o mais bonito é que o povo cristão de todos os tempos preferiu sempre referir-se ao nosso Mestre Senhor simplesmente como Jesus. Porque, afinal, “para o nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e debaixo da Terra (Fl 2,10). observação: Sobre os títulos e os nomes de Jesus, ler O Novo Catecismo, páginas 181 a 185 ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 3: A Pessoa de Jesus. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 10 de maio de 2012. Introdução Procuramos imaginar como seria a pessoa humana de Jesus. Vamos focalizar nossa atenção mais na personalidade que no seu retrato físico, este sim impossível de ser atingido por absoluta falta de informações. Considero esta questão importante para podermos aumentar nossa admiração e encantamento pela pessoa mais importante de nossa vida. Afinal, Jesus não deixa dúvidas. Ele exige que seja o número Um entre todas pessoas por nós amadas. Por isso, Jesus precisa ser a pessoa mais admirada e mais capaz de nos encantar. A Fé para Adultos, o Novo Catecismo, já citado em aulas anteriores, nas páginas 173 a 175, fala das tentativas realizadas, fora da tradição católica, de descrever a pessoa humana de Jesus. Os autores eram racionalistas movidos pelo espírito científico do tempo, sobretudo no século 19 e começo do século 20.

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Isso pode ser bom por causa da dificuldade de verem Jesus realmente como Deus e homem ao mesmo tempo. Mas chama nossa atenção para um ponto fraco desses livros: os autores deixam-se levar mais pelo espírito de seu tempo do que pelo espírito de Jesus. Aqui seria o caso de refletir-se sobre pregadores de hoje. Essa tentação continua bem atual. Vamos então nos ater aos Evangelhos. Primeira observação: traços de sua personalidade misturam-se com o exercício de sua missão. É mais ou menos o que ocorre com a Didática, que pode ser mais expressão da personalidade do professor do que de técnicas. 1- Um Contador de parábolas original. “Jesus começa a falar em ‘semelhanças’ ou ‘parábolas’. São as narrações explicativas. Também os doutores contemporâneos seus faziam parábolas. Mas o uso que Jesus faz delas é totalmente diferente. Para os rabinos tratava-se de esclarecer, por meio delas, textos já existentes. Para Jesus, as parábolas são a própria mensagem, nova e original. Em forma amena e simples, narram estórias de vida cotidiana, acessíveis a todos. De vez em quando, são também acontecimentos tão estranhos que acontecem apenas esporadicamente: um banquete, ao qual ninguém aparece! Mesmo assim são imediatamente compreendidas. ‘Quem de vós ...’ eis a forma tão simples, tão direta, tão cativante com que Jesus costuma começar a narrativa. Essa fórmula é típica para o estilo pessoal, de Jesus. Nenhum rabino do seu tempo parece tê-la usado” (O Novo Catecismo p.120). O Evangelho de Marcos (4,33) afirma que era recurso para fazer se entender, chegar a um público simples, “conforme eram capazes de compreender”. Mas o ouvinte precisa ter um estado de espírito favorável. Muitas vezes Jesus conclui com a expressão que é encontrada em suas pregações: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”. Esse ouvido especial que nem todos tem significa certa disposição do coração para a auto-entrega, o encantamento, a conversão de vida. O ouvinte precisa ter um “feeling” especial para captar o sentido específico mais ou menos oculto. Do contrário, ouve apenas mais uma estória. Costumo dizer que a estória é a embalagem. O sentido, mais ou menos oculto, é a pérola, o conteúdo preciso e revelador. É aí que deve concentrar-se toda nossa atenção e o coração. Ninguém vai discutir se as virgens prudentes deviam ou não, por caridade, repartir o óleo de suas lâmpadas com as não prudentes. O tema de Jesus na parábola das virgens (Mt 25,1-13) é a vigilância prudente e planejada. O Reino de Deus não é fácil de ser identificado, está muito mais para o oculto do que para algo ostentado. Jesus conta, então, a estória do fermento que a mulher coloca na massa do pão. Ela nada sabe o que são bactérias. Não conheçe a natureza do processo de fermentação e só percebe que a massa cresceu (Mt 13,33). Sobre o mesmo assunto, conta também a parábola do grão de mostarda (Mt 13,31-32). O Rei de Deus de quase nada torna-se grande. Jesus recorre com maestria a fenômenos da natureza que o povo simples percebe e observa. A semente semeada nasce e cresce até chegar ao ouro das espigas maduras, sem que o camponês entenda de fitobiologia. Assim o Reino de Deus, de pequenino e oculto, torna-se uma realidade grandre e admirável (Mc 4,26-29). 2- As Oito Bem-aventuranças.

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Vamos ler Mateus 5,3-10. Podemos falar em bem-aventurados, ou felizes. É clássico na Bíblia empregar tais expressões para felicitar alguém por dons recebidos (Mt 13,16; 16,17) ou para garantir que determinados tipos de pessoas alcançaram a felicidade (Mt 11,6; Lc 11;28; Lc 6,20 ss). Aqui Jesus vem dizer quais pessoas estão em melhores condições para receber e aceitar o Reinado de Deus. No fundo são pessoas que tentam viver o tipo de vida, que Ele, Jesus, escolheu para si. Tais pessoas encontram profunda alegria em sua existência terrena, por vezes tão pouco atraente. Deus as consola; Deus as sacia; Deus as declara suas filhas. Às vezes, trata-se de pessoas pobres. Outras vezes são pessoas virtuosas. Mas pode acontecer que um bem-aventurado (igual a aberto para o Reino) não é pobre, nem virtuoso. Você se lembra daquele cobrador de impostos junto à porta do Templo? Leia Lucas 18,9-14. Nem pobre, nem virtuoso, mas aceita tomar consciência de sua auto-insuficiência e começa a sentir “fome e sede de justiça”. Aliás, agora vai bem uma palavra sobre essa justiça aqui colocada. Não se trata de justicialismo socializante que muitas vezes descamba para ajustes de contas e vingança brutal de classes sociais! Mas ninguém fez isso de forma tão bela, tão apropriada e tão impressionante como fez Jesus. Jesus fala da justificação que se dá quando Deus toca o ser humano, santifica-o e o declara justificado, perdoado de seus pecados, salvo portanto. José é qualificado de homem justo. Ele não queria acusar Maria (Mt 1,18-19). Ora, pela justiça legal e social, ele deveria levá-la ao tribunal. Mas a bondade de um homem justo (santo!) não permitia tal coisa. Como dizia no início desse tema, era comum qualificar estes ou aqueles indivíduos de bem-aventurados. Afinal, quem, como Ele, entende das relações entre todos os tipos de seres humanos e Deus? 3- A Pedagogia de Jesus. Ela não é mestrado feito em boas escolas (aliás, não frequentadas por Ele), nem de contato com grandes rabinos. É pura tradução de suas convicções existenciais mais profundas, são expressão de sua pessoa. Daí vem o encanto e a fascinação que exercia sobre os que o ouviam com os “ouvidos que tinham para ouvir” (novamente, Mt 13,16). Algo desse mesmo encanto percebo nas expressões de vocês quando falamos dele, Jesus. Por isso Ele ultrapassa fronteiras, mesmo aquelas consideradas tabu-sagrado. Pessoas que deviam ser evitadas por lei (publicanos, pecadores notórios, leprosos, pagãos). Ele as acolhe e vai para refeições em suas casas; não só não as evita, mas tem até contato físico com leprosos; deixa-se tocar e ser ungido por uma prostituta; convida um cobrador de impostos (Mateus, ou Levi) para integrar o núcleo central de sua confraria. Olhe que estamos a falar dos fundamentos de sua Igreja. Arrogância? Prazer em desafiar a ordem e chocar para marcar sua presença? Longe disso! Jesus faz essas coisas com leveza, humildade, elegância e, acima de tudo, com amor. Ao pecador público Zaqueu diz: “Hoje a salvação entrou nessa casa (Lc 19,9).

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A prostituta que chorou aos seus pés, beijou-os repetidamente (hoje se diria, compulsivamente) e os ungiu, foi presenteada com “Os teus pecados estão perdoados” (Lc 7,48). Outra atitude escandalosa para autoridades e fariseus era sua relação com coisas impuras e suas atitudes frente ao sagrado sábado. Reduziu as abluções rituais (lavagens) a sua real dimensão de higiene e só! (Mt 15,1-20). Trabalhar aos sábados era tão rigorosamente proibido que os escribas desciam a minúcias absurdas. Segundo eles, Jesus não podia sequer proferir uma palavra de cura no sábado. Então Jesus faz a provocadora declaração: “O Filho do Homem é Senhor até do sábado” (Mc 2,28). Em outra passagem fala “o homem não foi feito para o sábado”. O sábado foi instituído para o bem do ser humano. No A.T. ocorrem milagres para punir e humilhar inimigos do povo de Deus, como nas pragas do Egito (Ex 712). Até nos milagres sua pedagogia aparece. Para Ele milagres são acontecimentos, onde o povo vê Deus agindo. No A.T. normalmente os milagres são coisas espetaculares, grandiosas e muitas vezes trágicas. Jesus atua com simplicidade e discrição. Seus milagres em nada tem aspectos pessoais, nunca atendem interesses próprios. Não visam atrair o povo pelo espetáculo, pelo fantástico (Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). Os milagres são apenas sinais de sua missão divina e de que nos tempos messiânicos Deus atua mais com seu povo. O profeta Eliseu parece que era careca. Subindo ele de Jericó a Betel, ocorre uma cena na qual um grupo de meninos resolve gozar da calvície do profeta, gritando atrás dele “vai, careca, vai careca”. E o profeta então surta e amaldiçoa os garotos e, eis que, imediatamente, duas ursas saem do bosque e estraçalham quarenta e dois meninos (2Rs 2,23-24). Jesus realiza suas curas (nem sempre são consideradas milagres) com delicadeza, atenção e desvelo. Toca o doente asqueroso (o leproso, o que era rigorosamente proibido - Mc 1,41). Um surdo mudo Ele o conduz para fora da multidão. Toca seus ouvidos e a língua (Mc 7,33-34). A um cego Jesus o toma pela mão e o conduz para fora da aldeia. Passa saliva sobre seus olhos e lhe impõe as mãos (Mc 8,32-36). Na próxima aula continuaremos o assunto, procurando descrever e salientar aspectos afetivos da personalidade de Jesus. Por exemplo, a tristeza que Dele se apodera diante da total falta de solidariedade dos apóstolos no Horto das Oliveiras e aproximação inevitável de sua prisão e Paixão. “Minha Alma está a ponto de morrer”. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 4: A Pessoa de Jesus - 2ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 17 de maio de 2012. 1 - Fé e Milagres.

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Nos meios de comunicação e em narrações piedosas de pessoas que acreditam terem sido agraciadas com algum milagre, este, o milagre, sempre aparece como comprovação de uma fé fora de série. São normalmente apresentados como testemunhos de fé e fazem sucesso inquestionável em movimentos das igrejas. Não quero que essas considerações sobre o tema tornem-se um problema no caminho espiritual de ninguém, mas acontece que supostos milagres podem fazer bem, mas podem também até fazer mal. Todas as igrejolas que se multiplicam como cogumelos dão forte ênfase em fatos miraculosos e transformações fantásticas que ocorrem na vida de pessoas que frequentam seus cultos. Muita gente já deixou a Igreja Católica e correu para essas “tendas dos milagres”. As motivações subjacentes são muito mais procura de vantagens e bens pessoais do que disposição de fazer-se discípulo e reproduzir em si a imagem de nosso Mestre Jesus (Jo 6, 25-27). Segundo o modelo de Jesus, precisamos procurar tornar-nos pessoas melhores, e não apenas conseguir favores divinos que nos coloquem acima das misérias humanas que afligem tanta gente. Nos Evangelhos, a fé, ao menos em grau inicial na pessoa dele, Jesus, precede o milagre. Jesus pode pedir até uma fé bastante forte. Daí a linda expressão do pai daquele menino epiléptico: “Eu creio, vem em auxílio de minha falta de fé” (Mc 9,22-24) que inspirou a tantos orantes. “Ademais, a exigência da fé, anterior ao milagre, não significa que a fé opere o milagre como o apresentam certos rezadores. A fé, ou seja, a auto-entrega, é exigência primordial, mas é Deus quem cura. Por isso, não é de necessidade que seja o próprio doente que tenha fé. Em Mc 9,24 constatamos que é o Pai. Se o milagre fosse questão de concentração de fé ou obra feita por ela, seria artifício do curado e não sinal do Reino. O milagre é obra de Deus que indica libertação mais profunda: a aceitação do Reino” (O Novo Catecismo, op. cit. p.136). Os milagres de Jesus são, em primeiro lugar, sinais da aceitação do Reino, prova da atuação especial de Deus na pessoa de Jesus. Não nos esqueçamos que muitas curas e doenças nem eram consideradas milagres (Mc 6,5). Além disso, nos Evangelhos, curas e expulsão de demônios muitas vezes são sinônimos. Todas as doenças eram consideradas como causadas por espíritos maus (Lc 4,38-39). 2 - Clareza de objetivos. Voltemos de novo nossa atenção para as características da pessoa humana de Jesus. Não posso deixar de admirar sua clareza de objetivos ligada sempre à consciência da missão de que é portador. Sua compaixão, como vimos, por toda sorte de misérias e sofrimentos, O tocavam profundamente. Curava todos os doentes que lhe traziam. Mas também era capaz de dizer, simplesmente, diante da informação de Simão Pedro de que “toda a gente te procura”, “vamos para aldeias da vizinhança para lá também Eu proclamar a boa nova, pois para isso é que Eu saí ...” (Mc 1,3-39; Mt 9,35; Lc 4,42-44). Os milagres na verdade estão a serviço da pregação. Lembremos de quando falava na aula passada sobre as bem-aventuranças. Dizia que uma pessoa, para ser considerada feliz por Jesus, necessita ter uma atitude, um estado de abertura de coração e mente, de entrega para aceitar a idéia de que o Reino de Deus está chegando, “já está no meio de vós”, pois o Reino está encarnado em Jesus. Aí Ele faz curas e milagres como prenúncio desse Reinado de Deus. Diante de pessoas sem essa disposição de aceitação, como os fariseus, saduceus, autoridades judaicas, Herodes e seus próprios patrícios de Nazaré, nada acontece. Os milagres são início do Reinado de Deus. A base da fé é o conteúdo da pregação de Jesus e sua própria pessoa. O conteúdo básico da pregação é: o Reino de Deus está chegando. Chega a afirmar “Ele já está no meio de vós”; e, “se Eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus” (Lc 11,20). A necessidade da conversão (“convertei-vos pois está próximo o Reino do Céus” - Mt 4,17), a aceitação e a acolhida do Reino, bem como a conversão são elementos casados, inseparáveis. Sem conversão, nada feito! O perdão dos pecados já é realidade, o que possibilita a Justificação e a Redenção de todo o ser humano (Ele declara perdoados os

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pecados a muitas pessoas); como o Amor é a própria natureza de Deus, Ele ama toda a humanidade. “Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho ...” (Jo 3,16; Lc 15,11-32); que Ele, Jesus, é aquele que realiza tudo o que foi prometido no A.T. (Lc 24,27); que sua morte sela a Nova Aliança, no seu sangue; e ainda que “Meu Pai é vosso Pai”, através Dele, Jesus Cristo quer estar no meio de nós, inseparavelmente, para sempre (vida fraterna na Igreja). 3 - Os sentimentos de Jesus. Carl Rogers valorizou extraordinariamente o lado emocional do ser humano, principalmente para conseguir-se bons relacionamentos e resultados positivos no exercício da ajuda entre pessoas em dificuldades. Defendeu a necessidade de uma “compreensão empática” para se chegar a entender alguém. Está muito perto do que falamos anteriormente sobre a disposição do coração para se chegar à Fé e as duas - disposição e Fé - para se compreender Deus e até outros seres humanos. Mas, temendo um culto exagerado ao elemento emocional, acrescenta Rogers que o ideal é um grande coração, mas com “uma mente poderosa” (a powerfull mind). Se Jesus é a perfeita encarnação na natureza humana, então imagino-O exatamente assim. Nenhuma emoção, nenhum sentimento Lhe são desconhecidos. Mas seu equilíbrio emocional é perfeito. Nunca perde o foco de sua mente. Sabemos que nosso mundo emocional nos dá beleza, sabor, romance, e muito mais à vida. Mas as emoções podem por tudo a perder, pois tendem a desligar nossos mecanismos críticos, analíticos, avaliativos e até mesmo das percepções. Em Jesus o equilíbrio é perfeito. Por isso é absolutamente seguro em suas afirmações, propostas e atitudes. Nunca aceita discutir com ninguém. Nada negocia, nem dá “explicações”. Sua segurança pessoal Lhe confere uma autoridade e um poder pessoais nunca encontrados em ninguém. É uma soberania encantadora porque nada tem de presunçoso ou arrogante. Seis vezes no Sermão da Montanha Ele introduz assuntos fundamentais para a convivência dos discípulos com os dizeres: “Ouvistes o que foi dito aos antigos ... Eu porém Vos digo ...” (Mt 5,21-22; 27-28; 31-32; 33-37; 38-42; 4348). Diante das maiores autoridades, Sinédrio (a corte suprema ou o tribunal superior), Sumo-Sacerdote (maior autoridade judaica) e Pilatos (maior autoridade do Império), Ele cala-se com solenidade, ou responde com ousadia e soberania, sem qualquer traço de cinismo ou ironia. O Sumo-Sacerdote começou a perguntar sobre conteúdos de suas pregações e a respeito de seus discípulos - e isso, no tribunal - e foi agraciado com essa resposta “Eu falei abertamente ao mundo, Eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem e nada disse em segredo. Por que Me interrogas? O que Eu disse pergunta-o aos que Me escutaram: eles sabem o que Eu disse” (Jo 18,19-21). E Pilatos não fica por menos. “Pilatos disse então: ‘É comigo que recusas a falar? Não sabes que eu tenho poder de Te soltar, como tenho o poder de Te crucificar?’”. Mas Jesus Lhe respondeu: “Não terias poder algum sobre mim se não te fosse dado do alto” (Jo 19,10-11). Aconselho ler também Lucas 20, 1-8. No entanto, as perguntas sobre identidade pessoal e missão Ele as responde todas (Lc 22,70; Mc 14,60-62; Mt 26, 62-64; Jo 18, 34-38).

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ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 5: A Pessoa de Jesus - 3ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 24 de maio de 2012. Estamos misturando traços de personalidade de Jesus sem preocupações, pensando que assim, a leitura fique mais interessante. 1 - Os sentimentos de Jesus (continuação). 1.1 - Jesus era movido por compaixão. Compaixão não é uma emoção simples, mas é composta de várias emoções. O amor entra na forma de bondade e solidariedade; a empatia leva muita gente a imaginar: “eu podia estar no lugar dela e como gostaria de receber ajuda!” Muitas emoções sentidas por quem sofre, sobretudo se está em estado consciente, são altamente contagiosas, tais como o medo e a angústia. Elas podem até levar-me a fugir da situação para proteger-me do sofrimento. Na parábola do Bom Samaritano (Lc 10,29-37), um sacerdote e um levita protegem-se, apesar de verem a cena, “passando a boa distância”. Mas se voce envolve-se na cena pode sentir-se profundamente perturbado. Então, se for do tipo mais lutador, voce é capaz de engajar-se em uma verdadeira batalha para salvar aquele que sofre. Jesus aparece repetidamente tomado de compaixão. A multidão que o procura comove-O, ora porque está “exausta, prostrada, como ovelha sem pastor (Mt 9,36)”, ora porque O procura com seus doentes (Mt 14,14). Outra vez a multidão O comove por sua perseverança em estar com Ele tres dias seguidos e, consequentemente, deve estar com fome (Mt 15,32; Mc 8,2-3). Em outra oportunidade são dois cegos que O sensibilizam (Mt 20,34). O mesmo acontece ao encontrar um leproso (Mc 1,41). Lucas registra sua compaixão quando Ele encontra a viúva e o povo de Naim, levando para sepultura o jovem filho único (Lc 7,13). A compaixão é talvez a força mais extraordinária a mover o ser humano para ações, por vezes heróicas, de solidariedade e salvação do próximo. Mais do ninguém, Jesus vive isso. Aponta a compaixão como mola propulsora do Bom Samaritano para salvar o ferido que caíra nas mão dos ladrões (Lc 10,33). Se Jesus não tivesse vivido uma infinita compaixão por toda a raça humana Ele não teria aceitado a cruz. A Redenção não se teria dado. 1.2 - Sua bondade é sem limites Mesmo pressionado pela urgência de ter que anunciar a boa nova em todas as cidades e aldeias da Palestina num curto prazo - missão que Ele considerava de número um - ainda tendo que evitar lugares perigosos por causa de seus perseguidores, Ele dá um jeito de curar todos os doentes (Mt 12,14-15; Mc 3, 6-12).

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Chama a si as pessoas cansadas e aflitas para confortá-las (Mt 17 28-30). A bondade O leva ao limite de servir sempre até a entrega da vida (Mt 20 28). Por isso é tocado profundamente com a certeza das desgraças que se abaterão sobre sua capital, a cidade santa, Jerusalém, pela qual gostaria de fazer algo para protegê-la (Mt 23, 37; Lc 13, 34). 1.3 - Alegria Vamos parar um pouco e pensar. Qual seria o estado de humor dominante de Jesus? Pessoalmente não tenho dificuldade de imaginar que, no seu dia-a-dia com os seus mais próximos, fosse a alegria. Aqui podemos recorrer às qualidades de sua pessoa expostas acima para imaginar a alegria Dele. Acima de tudo, destacamos sua total segurança no que se refere ao seu projeto e missão. Quem tem tal confiança e segurança experimenta necessariamente uma linha-base de serenidade e satisfação que irá alimentar a alegria. Além do mais, a alegria anuncia os tempos messiânicos que falam em vida plena. Jesus compara a posse do Reino de Deus, várias vezes com festas de casamento. Pelo visto, eram as festas mais expressivas de seu povo (Mt 22, 1-14). As dez virgens estão ansiosas pela chegada do noivo para entrar no salão de festas (Mt 25, 1-13). Em Lucas, os que estão preparados para receber seu Senhor que pode voltar a qualquer hora, são chamados à mesa e o Senhor os servirá (Lc 12, 32-37). Seus discípulos são cobrados por não fazerem os jejuns como os demais judeus piedosos. Jesus os defende e justifica. Como alguém teria espírito para jejuar estando na companhia de seu amigo noivo, pergunta? Ele, Jesus, é o noivo e Seu casamento inaugura a festa do Reinado de Deus (Mc 9, 19; Mt 17, 17). Ele próprio sabe o que é exultar de alegria intensa, sob ação do Espírito Santo, por Deus revelar-se aos “pequeninos” e nos presenteia com uma ação de graças de beleza única (Lc 10, 21-22; Mt 11, 25-27). Em João fala de Sua alegria pessoal como um dom extraordinário, que seria como motivo suficiente para Ele nascer e vir a este mundo, a fim de comunicar tal genero de satisfação aos seus amigos, ou seja, a todos os seus seguidores. “Eu vos disse essas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita (Jo 15, 11). Ele garante que a tristeza por sua morte vai converter-se em alegria (Jo 16, 20-24; 17, 13). Aqui Jesus não promete pouco. Quer que a alegria que Ele experimenta na sua glorificação aposse-se de nós. 2 - Outros sentimento de Jesus Irritação e aborrecimento. Aparece em diversas ocasiões um Jesus irritado. Normalmente não é muito fácil saber que fatores dispertam sua irritação. Talvez fosse resultado do conflito existente entre Sua missão de pregar rapidamente a Boa Nova em todas as cidades e aldeias da Palestina e os inevitáveis atrasos que a procura de doentes Lhe causava. Outra razão poderia ser que sua fama de curador atraísse muita gente que a Ele a ocorressem não pela casua do Reino que pregava, mas apenas pela por interesses e necessidades imediatas. Afinal, um curador infalível é mais facilmente associado a um Messias tipo super-homem do que com o tipo de Messias que Ele quer ser, mais identificado com o Servo Sofredor. Os seguintes tópicos são os principais.

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Marcos: 1, 43; 3, 5; 8, 12-13; 10, 14; 11,15-17. Vamos ler alguns. Na história do menino epiléptico, Jesus se depara com uma discussão entre discípulos de um lado e do outro o pai e a multidão. A razão foi os discípulos não terem conseguido expulsar o mau espírito. Jesus então fala: “Oh geração incrédula! Até quando estarei convosco, até quando vos suportarei?” (Mc 9, 19). Ou Jesus estaria simplesmente aborrecido com o rebu entre discípulos e povo? Algo semelhante observamos em Mt 17, 17. Ternura Em Mc 10, 13-16, Jesus recebe crianças que os discípulos queriam evitar que chegassem até Ele. Jesus ficou indignado e disse: “Deixai as crianças virem a Mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade Vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo sobre elas as mãos. Há uma passagem mais surpreendente, a do jovem rico, em Mc 10, 17-22. O jovem queria o que fazer para entrar na vida eterna. Jesus olha para ele e começa a amá-lo. Então, responde: “uma só coisa te falta. Vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me”. Vamos à relação de Jesus com Marta, Maria e Lázaro. Indubitavelmente, trata-se de uma relação de amizade profunda. Leiam o capítulo 11 de João. Logo no início quando Lázaro adoece, as irmãs mandam-lhe um recado onde dizem que “aquele que Tu amas está doente”. Foi na casa dos tres que Jesus se hospedou nas últimas noites antes de sua morte. Quando Jesus viu Maria às lágrimas e o povo a chorar, Ele também chorou, provocando comentários de outros mais próximos: “Vede como Ele o amava”. Tristeza e Angústia Como já vimos na morte de Lázaro, Jesus foi tomado de grande tristeza. No Getsêmani, consciente das coisas que estavam por acontecer: traição de Judas, prisão, abono dos discípulos, paixão e morte, desabafa a Pedro e João: “Minha alma está a ponto de morrer” (Mc 14, 34). Antes, Marcos já falara em pavor e angústia. Talvez o sentimento mais difícil de Jesus tenha sido a angústia que se transforma em sensação de abandono de Deus. Muitos seres humanos já entraram em desespero por imaginar que Deus os tenha abandonado. Jesus os redimiu, vivenciando na cruz tal situação e exclama: “Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?” (Mc 15, 34). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 6: Jesus, o Filho de Deus - 1ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 31 de maio de 2012.

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1- Introdução. O Cristianismo tem uma pretensão única: chegar a viver uma vida com Deus, até atingir o “face a face”, ou seja, proximidade total. As grandes barreiras do passado entre Deus e o homem desaparecem totalmente. 2- Como o Judaísmo punha limites. 2.1- No Paraíso. Ao criar Adão e Eva, Deus tinha uma proximidade muito grande com eles. Genesis fala em Deus passeando no Jardim do Éden e conversando frequentemente com os dois. Portanto, nos desejos espirituais do homem o ideal sempre foi de proximidade entre o Criador e a criatura humana. 2.2- Depois do Paraíso. A história do pecado de nossos primeiros pais é super conhecida. Adão e Eva são expulsos do paraíso. Mas, apesar do pecado, Deus não rompeu com os dois. Antes da expulsão Ele providencia tangas mais confortáveis de pele para os dois. Os contatos posteriores de Deus continuam frequentes. Assim, Ele procura Caim, após seu crime. Promete castigo, mas também proteção. A figura com a qual Deus se comunica continuamente é Noé. Afinal, a construção da arca segue uma planta elaborada pelo próprio Deus e deve ser executada precisamente por Noé (e Noé não era nenhum arquiteto!). Deus explica também os motivos do dilúvio, do qual Ele quer salvar Noé e sua família. Pela primeira vez, Deus propõe uma aliança, ainda bem genérica, a Noé, a toda humanidade e também com todo o planeta Terra. Surge agora em cena Abraão. Com Abraão, o primeiro grande Patriarca, “o pai de todos os crentes”, Deus propõe uma aliança mais explícita com ele e seus descendentes, o futuro Povo de Israel. Em Genesis 17.1, lemos: “quando Abraão completou noventa e nove anos, Javé lhe apareceu e disse ‘Eu sou o poderoso, anda na minha presença e sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre Mim e ti e te multiplicarei extremamente’. E Abraão caiu com a face por terra”. Abraão é apenas o ouvinte. No versículo 22, lemos: “quando Deus terminou de falar com Abraão, elevou-se para longe dele”. O capítulo é surpreendente por uma grande proximidade e camaradagem entre Abraão e Deus. Contudo, não podemos esquecer que Deus está metamorfoseado na forma humana. Na verdade são três homens que se apresentam a Abraão. Um assume o papel de Deus e os outros dois de anjos. (contar livremente a estória e acentuar a liberdade que Deus dá a Abraão ao abrir-se com ele.) No capítulo 18, 17-19, o autor escreve: “Javé disse consigo: ‘ocultarei a Abraão o que vou fazer, já que Abraão se tornará uma nação grande e poderosa e por ele serão benditas todas as nações da Terra? Pois, Eu o escolhi para que ele ordene a seus filhos e à sua casa depois dele, que guardem o caminho de Javé, realizando a justiça e o direito; desse modo Javé realizará para Abraão o que lhe prometeu’”. Ato contínuo, Abraão mostra uma liberdade surpreendente. Ele chega a assumir um papel de conselheiro de Deus. (comentar o texto).

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2.3- Mas, ver a face de Deus, nunca! Esse tabu, não ver a face de Deus, assume contornos dramáticos na história de Moisés. Moisés é figura única. É o maior homem do A.T.. Ele é uma espécie de Redentor. Deus, através dele, atua de modo espetacular (conferir a saída do Egito e Tábuas da Lei). Até aqui Deus se manifesta através de uma nuvem, de um lado escura e do outro, luminosa. Mas ninguém vê Deus. Esses sinais que acompanham a presença de Deus chamam-se a Glória. Mas, Moisés pede mais. (contar livremente Ex 33, 1-17). Ouçamos agora os versículos 18 a 23 (ler). O tabu está estabelecido. Não se pode ver a face de Deus, nem conhecer diretamente seu nome. Pois, conhecer o nome de alguém significava ter algum controle sobre o conteúdo desse nome. Para os semitas, o nome significava a essência do próprio ser. 3- Proposta de Deus ao Cristianismo. O Cristianismo nasce com o anúncio da Boa Nova, ou seja, o anúncio da vinda do Reino de Deus. Uma das características do Reino de Deus é a renovação radical do ser humano. São Paulo fala abertamente de uma Nova Criação. Isso envolve a retomada do contato fácil entre o ser humano e Deus. Só que agora, não há mais restrições para o homem conhecer Deus “como Ele é”. No paraíso, Deus não queria que o homem soubesse demais. Agora, não só nos conhecimentos gerais desaparecem os limites, como o próprio Deus quer ser por nós conhecido. Isso significa estabelecer novos vínculos com o ser humano, a ponto de podermos viver em verdadeira comunhão com Ele. Envolve conhecimento mútuo, amor, convivência e, praticamente, uma fusão de realidades e pessoas. Nossos limites são superados e transpostos por essa comunhão com o divino. Vamos pensar quais? Voltemos agora à pessoa de Jesus. 4- Jesus é o Homem-Deus. Em primeiro lugar precisamos considerar que a antiga Aliança, selada entre Deus e o povo de Israel, através de Moisés, não era definitiva. Para começar, era pequena e limitada ao “Povo Eleito”. Deus continuava por vezes apavorante, apesar de se manifestar na Tenda do Encontro (Ex 25, 1; 33, 7) fora do acampamento e eventualmente, se manifestava no Templo de Jerusalém. Agora quer dar-se a conhecer. Deus sabe que não existe outra forma de atrair desinteressadamente o homem para si. João encerra o prólogo de seu Evangelho dizendo: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Único, Deus, que está no seio do Pai, no-lo revelou” (Jo 1, 18). Vamos agora ler e comentar Jo 1, 1-14. Não podemos esquecer que este texto foi escrito no final do primeiro século, mais ou menos setenta anos após a morte e ressurreição de Jesus. João não tem dúvida alguma a respeito da origem divina de Jesus. Nenhum indício sobra para que alguém pudesse interpretar o texto e dizer que Jesus gozava de um título especial (como concedido a outras pessoas especiais) de Filho de Deus.

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Ele é o próprio Filho. Eterno como o Pai. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 7: Jesus, o Filho de Deus - 2ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 31 de maio de 2012. 1. Resumo da aula anterior. Tabu: ninguém pode ver a face de Deus. (ler Ex 33, 20-23). 2. Filho de Deus nos evangelhos. Faço essa escolha, para que nos acostumemos a recorrer aos quatro evangelhos, como nossa fonte de informação número um. Marcos assim começa: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1). Temos aqui um pequeno problema. Será que os apóstolos já tinham clara compreensão da filiação divina de Jesus antes da Ressurreição? Vamos à celebrada confissão de Pedro em Cesaréia de Felipe, narrada por Marcos 8, 23-30; Mt 16, 13-20 e Lc 9, 18-21. Marcos é o mais antigo dos evangelhos e Pedro diz apenas: “Tu és o Cristo” (v. 29), i.é, o Ungido, ou seja, o Messias. Em Mt, Pedro afirma: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (v. 16). Em Lc, Pedro declara: “Tu és o Cristo de Deus” (v. 20). Não dá para não perceber que só Mateus fala em Filho de Deus vivo. Interessante, que dos tres evangelistas, Mt é o mais judeu o mais tradicional e tem linguagem mais próxima ao falar do A.T. Entre as diversas pessoas com uma relação especial com Deus, por terem sido fruto de escolha direta desse Deus, tais como, anjos, o Povo Eleito, israelitas fiéis, todos podiam ser chamados Filhos de Deus. Mas, entre eles, sobressai de modo especial, o Messias como o mais importante (2Sm 7, 14; Sl 2, 7; 89, 27). Provavelmente Pedro está pensando apenas no Messias como homem especial de Deus. Mas, o autor Mateus, certamente, pensa já em Jesus como Filho gerado pelo Pai Eterno. Imediatamente depois da Ressurreição e a vinda do Espírito Santo, com a função de “ensinar toda a Verdade” (Jo 16, 13), os cristãos ampliam o sentido de Filho de Deus do A.T. para o sentido de filiação real e não apenas de um título. Quando Tomé reconhece o ressuscitado, é direto e deixa nenhuma dúvida: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Então, quando Mateus escreve a confissão de Pedro, ele, Mateus, tinha plena fé que Jesus era Deus Encarnado. Mas Pedro só via em Jesus o Ungido de Deus, o Messias, com a idéia de filiação divina do A.T.. Interessante que Lucas escreve mais ou menos no mesmo tempo que Mateus. Ele fica com Marcos e aí Pedro afirma apenas “o Cristo de Deus” (v. 20).

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3. No Prólogo de João. O quarto Evangelho é o mais original, o mais teológico e o menos biográfico dos quatro e foi escrito pelo final do 1º século. O autor vai direto à origem divina e à própria divinidade de Jesus. Vamos ler Jo 1, 1-18. Na primeira nota explicativa da Bíblia de Tradução Ecumênica aparecem, no prólogo, traços de um hino de exaltação ao Cristo como Verbo Divino, empregado na liturgia cristã de Éfeso e sugere a leitura de Cl 1, 15; 1Tm 3, 16; Hb 1, 3-4. Neste cântico ao Cristo de Colossenses, sugiro ler 1, 15-17, pois no v. 17 Paulo diz: “Ele existe antes de tudo!”. É a mesma eternidade do Verbo, ou do Cristo-Deus, de que João fala no prólogo. A mesma Bíblia acima citada, identifica 1Tm 3, 16 como um pedaço do hino da Igreja de Éfeso. Eis o que diz esse versículo: “Ele foi manifestado na carne, justificado pelo Espírito, contemplado pelos anjos, proclamado pelos pagãos, acreditado no mundo, exaltado na Glória”. Lendo também Hb 1, 3-4, o autor não deixa nenhuma dúvida sobre a eternidade sobre e a identificação total do Filho com o Pai. “Ele é o esplendor da Glória do Pai, a expressão do seu Ser”! Isso combina tão bem com as palavras de Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Vamos firmar bem em nossa memória o que é a tal da Glória de Deus que ocorre tantas vezes no A.T. e N.T.. A nossa Bíblia de referência, em nota sobre a palavra Glória em Jo 1, 14, diz: “No A.T. a palavra glória designa aquilo que manifesta Deus aos homens. Trata-se ora de uma espécie de esplendor luminoso que emana do que é santo, ora de acontecimentos através dos quais o poder de Deus se manifesta. João descreverá as diversas atividades de Jesus que manifestam sua Glória (2, 11) e, particularmente, o acontecimento pascal (13, 31; 17, 2-5; 12, 23. 28), como também a unidade dos discípulos” (17, 22-23). Vamos reproduzir parte da nota explicativa da mesma Bíblia sobre a palavra Verbo, que traduz o termo grego Logos. (explicar o sentido de Logos). “... enquanto Filho eterno, o Cristo é expressão perfeita do Pai (cf. Cl 1, 15: imagem do Deus invisível; Fl 2, 6: de condição divina; Hb 1, 3: resplendor da Glória do Pai). Pela Encarnação, Ele se tornará a manifestação suprema de Deus no seio da humanidade”. 4. “E o Logos (Verbo) se fez Carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14)”. Para nós cristãos aqui tudo começa. Nós somos a porção da humanidade que aceita e crê nesta revelação. Não esqueçamos o final de Jo 1, 1: “E o Logos (Verbo) era Deus”. Simples assim: - o Logos é Deus; - o Cristo (Ungido) é esse Logos que se faz Carne; - Cristo é Deus Encarnado; - Cristo é Deus! Mas isso será assunto da próxima aula. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 8: Jesus, o Filho de Deus - 3ª parte.

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Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 28 de junho de 2012. 1- Nota: para o nosso vocabulário católico, O SENHOR. O Senhor é mais um título atribuído a Jesus. O povo católico emprega constantemente a expressão NOSSO SENHOR, aplicado tanto a Deus, como a Jesus Cristo. O povo está expressando-se de forma católica corretíssima. “Na versão grega dos livros do A.T., o nome inefável com o qual Deus se revelou a Moisés, Iahweh, é traduzido por ‘Kyrios’ (‘Senhor’). Senhor torna-se desde então o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É nesse sentido forte que o N.T. utiliza o título de ‘Senhor’ ao mesmo tempo para o Pai, mas também - e aí está a novidade - para Jesus, reconhecido assim como o próprio Deus” (Catecismo da Igreja Católica, CIC, n. 446). Senhor é atribuído indistintamente tanto ao Pai, como a Jesus. Da mesma forma, total e perfeita, tanto o Pai como Jesus são Deus “Eu e o Pai somos um”. Senhor tem a ver com poder, com soberania total. “Todo o poder me foi dado no Céu e na Terra”. Traduzse em respeito e confiança para o cristão orante. É o elemento gerador da verdadeira atitude de adoração, como aprendemos com Tomé na sua expressão de fé. Ele literalmente desaba aos pés de Jesus ressuscitado e sua confissão brota de forma avassaladora: “meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Desde o berço o cristianismo reconhece em Jesus toda a grandeza e senhorio que atribui a Deus. Daqui nasce a festa de Cristo Rei. Nossa piedade, nossa prática religiosa pode deliciar-se com a proximidade e a ternura de Deus conosco em Jesus. Mas nunca podemos cair na banalidade do intimismo e pietismo! Antídoto para esta mania infantil é o tradicional e bom “temor de Deus” dos antigos. Na verdade, o título Senhor, costuma estar muitas vezes em nossa boca quando somos convidados a orar, na fórmula: “O Senhor esteja convosco”. Está na conclusão da prece: “por Jesus Cristo Nosso Senhor”. Homens piedosos em profunda oração, podiam simplesmente exclamar: “Maran Atha” (“O Senhor vem!”) ou “Marana tha” (“Vem, Senhor!”) [1Cor 16,22]. 2- “ E o Logos se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). 2.1- Introdução. A palavra “carne” ocorre constantemente no N.T. para acentuar a natureza humana enquanto terrena, biológica, criada. Nunca ocorre essa palavra carne como uma coisa destacada ou oposta a espírito, alma, ou “Nous”. Encarnar-se é fazer-se um ser humano completo. 2.2 - Por que o Logos se fez um ser humano? Essa pergunta foi posta pelo Catecismo Católico. Vamos ler o n. 456. “Com o Credo niceno-constantinopolitano, respondemos confessando:

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‘E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria e se fez homem’ ”. Vamos continuar seguindo nosso Catecismo. Como primeira razão para a encarnação do Verbo é apontado “para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus”. Três textos do mesmo autor, João, afirmam isso. - “Foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). - “O Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo” (1Jo 4,14). - “Este apareceu para tirar os pecados” (1Jo 2,5). A segunda razão para a encarnação do Verbo está no desejo de Deus de revelar-nos Seu amor. Vamos a mais duas citações de João. - “Nisto manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele” (1Jo 4,9). - “Pois Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho Único a fim de que todo que crer nele não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jo 3,16). Uma terceira razão encontramos no catecismo que diz: “para ser nosso modelo de santidade” (n. 459). Vamos, novamente, aos textos bíblicos. - “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim ...” (Mt 11,29). - “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). - na transfiguração o Pai fala: “Ouvi-o” (Mc 9,7). - Nosso catecismo afirma que Jesus é para nós modelo das bem aventuranças e “norma da Nova Lei”. Jo 15,12 diz: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Amar como Jesus amou exige de nós que estejamos sempre dispostos a fazer oferta efetiva de nós mesmos nos caminhos de Jesus. Uma quarta razão aponta nosso Catecismo dizendo: “o Verbo se fez Carne para tornar-nos ‘participantes da natureza divina’ (2Pe 1,4). O Catecismo diz ainda “Pois essa é a razão pela qual o Verbo se fez homem e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo se torne filho de Deus” (Sto. Irineu, Adv. haer., 3,19,1). Continuemos com o texto do Catecismo: “Pois, o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus (Sto. Atanásio, De Incarnatione 54.3). ... O Filho Unigênito de Deus querendo-nos participantes da sua divindade, assumiu a nossa natureza, para que aquele que se fez homem, dos homens fizesse deuses (Sto. Tomás de Aquino, Opusc. 57 in festo Corp. Chr. 1.-576)” [n. 460]. Vou ousar acrescentar uma razão para a Encarnação do Verbo à lista do CIC. O Verbo se fez carne para aprendermos a nos relacionar com Deus e com o próximo. Na verdade, minha afirmação é um desdobramento da terceira razão acima nomeada. Trata-se de insistir que Cristo é realmente modelo acabado de todos os aspectos importantes da nossa prática religiosa. Entre todas essas práticas sobressai a nossa concepção e relação com Deus. Nosso Deus tem que ser o Deus de Jesus de Nazaré.

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Aqui caberia uma boa reflexão sobre a necessidade de limpar nossa mente de todas as idéias pessoais que construímos sobre Deus. Além de elas afastarem-se da concepção de Deus que Jesus tem, em geral, elas revelam-se verdadeiras armadilhas em nossa caminhada espiritual. Daí vem tantas decepções, revoltas, desistências ... . ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 9: Jesus, o Filho de Deus - 4ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 2 de agosto de 2012. 1- Nota: para o nosso vocabulário católico, O SENHOR. 2- “ E o Logos se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). 2.1 - Introdução 2.2 - Por que o Logos se fez um ser humano? Como primeira razão para a encarnação do Verbo é apontado “para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus”. A segunda razão para a encarnação do Verbo está no desejo de Deus de revelar-nos Seu amor. Uma terceira razão encontramos no catecismo que diz: “para ser nosso modelo de santidade” (n. 459). A aula de hoje. 1- O Logos Renuncia à sua condição divina. Vamos ler Fl 2, 5-8. Esse trecho da Carta de São Paulo aos Filipenses coloca-nos diante de um aspecto fundamental da Encarnação: a renúncia de si próprio, de direitos pessoais, voluntariamente, em função do bem da pessoa amada. O ser humano em toda a sua extensão é a pessoa amada de Deus. Por isso, Deus ao Encarnar-se renuncia a si mesmo. A renúncia de si mesmo para o bem do outro passa a ser, necessariamente, um dos pilares básicos do ser cristão. Não temos escolha! Ponto fundamental da descoberta que São Paulo fez acerca da natureza da Encarnação do Verbo é sua gratuidade. Deus tinha infinitas formas à escolha para chegar ao ser humano. Escolheu esta: fazer-se um ser humano. As consequências desse gesto divino são de um impacto absoluto. Uma das grandes conquistas da vida cristã é cada um desenvolver a capacidade de amar gratuitamente. Toda a relação de amizade, de amor em qualquer nível, toda a prática de caridade, toda a prática de

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piedade: oração, celebrações litúrgicas, vida sacramental, a relação comunitária e a pessoal com Deus, necessariamente, deve ser gratuita, sem qualquer condição. Está aqui uma verdade evangélica que não nos deixa margens para dúvidas ou escolhas, muito menos para tergiversações. Precisamos, cada qual, estabelecer aqui um programa de vida. Dia por dia desenvolver essa capacidade de amor gratuito nas nossas relações com os outros seres humanos e com Deus. Esse programa deverá durar tanto quanto a nossa vida. 2- A Relação Homem-Deus em Jesus. Aqui encontramos sérias dificuldades de compreensão. Falamos constantemente em “ser humano”, em “pessoa”. Quem sabe uma definição de pessoa “na ponta da língua”? Será que todos temos a mesma idéia quando falamos em “pessoa humana”, ou “pessoa divina”? Anjos são pessoas? O diabo é pessoa? Essas perguntas tem razão de ser porque nós dizemos que Jesus é, ao mesmo tempo, homem completo e Deus completo, portanto, é uma pessoa humana e, ao mesmo tempo, uma pessoa divina. Aliás, o termo pessoa, no sentido em que a humanidade hoje entende, é uma palavra de origem cristã. Os gregos não a utilizavam. Eles falavam em “indivíduo” como uma concretização autônoma de uma natureza humana universal. Você se lembra dos “universais” de Platão? O Judaísmo também não falava em pessoa. Os romanos tinham esse termo no seu vocabulário. Mas, pessoa só ocorria em contexto jurídico, para designar um cidadão livre. Como consequencia, escravos, prisioneiros, estrangeiros, etc., não eram pessoas. Aqui seria o caso de examinar as grandes questões humanitárias que mobilizaram as mentes dos melhores pensadores dos últimos séculos: escravidão, direito dos povos, direitos universais de cada membro da espécie humana, direitos políticos da mulher, igualdade homem-mulher, etc. Afinal, o que é ser pessoa? Não vamos entrar no cipoal das questões filosóficas. Quero apenas reportar-me a Boécio, executado aos 36 anos pelos ostrogodos. Ele procurou a síntese do que havia de melhor no mundo antigo dos gregos, dos romanos e da atualidade do cristianismo. Ele definia a pessoa como “uma substância individual de natureza racional”. Posteriormente, os filósofos vão discutir e valorizar os aspectos relacionais (um ser em relação a outros seres e a si mesmo) e aspectos da auto-consciência. Mas, o básico está em Boécio. Conserva a individualidade dos gregos ligado à idéia da racionalidade. Aqui poderíamos voltar a uma aula anterior quando falávamos de Logos. Quando Boécio fala em racionalidade é claro que tem em mente a nossa dimensão espiritual. Vamos refletir um pouco sobre nossa individualidade, nossa espiritualidade, racionalidade, relação com o outro e consigo mesmo e, claro, nossa capacidade emocional.

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Talvez, precisamos também dizer que a capacidade de integração e síntese faz parte de uma dimensão fundamental do ser humano. 3- Alguns problemas gerados por esses conceitos. Há pouco, eu afirmava que em Jesus estavam uma pessoa humana e uma pessoa divina. Como era esperado, ninguém reclamou. Ora, temos aqui um sério desvio do Credo Cristão. Jesus na verdade é o fruto da junção de duas naturezas - a humana e a divina - harmonicamente, atuando numa única pessoa, a pessoa Jesus de Nazaré. Mas, até chegar a esse consenso muita polêmica e muita disputa, muita perseguição e mortes ocorreram. Não vamos entrar em todas as divergências (em geral chamadas de heresias) dos primeiros séculos da história do Cristianismo. Veremos isso mais tarde quando abordarmos a História da Igreja. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 10: O que Jesus fez. - 1ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 12 de agosto de 2012. 1- Por que o Logos se encarnou? Para começar, vamos voltar ao ponto em que falávamos das razões pelas quais o Logos se encarnou. São quatro essas razões, segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos n’s. 456 a 460. - O Verbo se fez Carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus. - O Verbo se fez Carne para que assim conhecêssemos o Amor de Deus. Generalizando, podemos dizer: que foi para conhecer Deus. - O Verbo se fez Carne para ser nosso modelo de santidade. - O Verbo se fez Carne para tornar-nos participantes da natureza divina. 2- Jesus nos redimiu dos pecados. Trata-se portanto da primeira razão para a encarnação, conforme vimos acima. Vou recorrer a 1Jo porque gostaria de frisar que todo o N.T. é essencial para entendermos e fundamentarmos a Fé Cristã. Afinal, todos os autores do N. T. foram reconhecidos como as testemunhas de Cristo. Vamos ler 1Jo 3,5; 4,10.14; 2,2. Os antigos, ou seja, judeus e cristãos, para imaginar os problemas causados pelo pecado do homem nas suas relações com Deus recorreram a imagens tiradas do relacionamento entre proprietário e a propriedade, ou entre patrão e servo. Às vezes, também recorrem a uma visão dualista do mundo. Assim, Deus é o proprietário, o povo de Israel é sua propriedade. Deus é o patrão, nós os servos. O mundo era visto como campo da disputa entre o Bem e o Mal: Deus de um lado e o Príncipe das Trevas de outro. O pecado então era visto como o revoltar-se contra Deus, ou do servo contra seu Senhor.

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Ou, também como o servo de Deus voltar-se contra Deus e bandear-se para o lado de Satã. A propriedade de Deus passava para a propriedade de Satã. A imagem é forte, mas é como se fosse necessário pagar um preço ao Poder do Mal para resgatar o homem. Esse era o preço da morte de Jesus. Quando abordarmos a encarnação como revelação do amor de Deus, vamos entender que a riqueza e a beleza de tal revelação vai muito além do pecado. Independente do pecado, a revelação do amor de Deus pelo ser humano é essencial para a relação entre nós e Deus. É como voltar ao tema da necessidade do conhecer para amar. 3- Jesus veio ao mundo para revelar-nos o amor de Deus. Em outras palavras podemos dizer que um dos objetivos mais importantes da pregação de Jesus é dar-nos a conhecer seu Pai, Deus. Em várias passagens Jesus diz com clareza que só Ele pode falar com propriedade do Pai Eterno, porque só Ele, Jesus, esteve junto do Pai e só Ele conhece o Pai. Ora, se a totalidade da vida cristã, a totalidade das nossas esperanças realiza-se em nossa vida eterna com Deus, nada existe de tão importante como conhecer Deus, amar Deus e ter a certeza de sermos amados por Ele. 3.1- Algumas parábolas em que Jesus fala do amor do Pai. São várias as parábolas. A mais tocante delas acredito ser a do filho pródigo. Essa parábola vem na sequência de três narradas no capítulo 15 de Lucas. Hoje é clássico falar-se nas três parábolas da misericórdia. Com isso queremos mostrar que, mais importante é maravilhar-nos com a extensão da misericórdia do Pai, do que horrorizarmo-nos com os detalhes da maldade encarnada no filho mais jovem. Vamos comentar rapidamente o objetivo do capítulo 15 e narrar livremente a estória da ovelha perdida e aquela da dracma perdida. Observamos um crescendo de importância nas três estórias, passando de coisas materiais perdidas para um filho perdido. Vamos ler Lc 15, 11-32. Vamos a algumas considerações sobre o texto. Sem nenhuma dúvida, esse pai aqui representado, é um retrato nítido do Pai de Jesus Cristo, Nosso Deus e Senhor. Então, cada detalhe atribuído a esse pai podemos atribuir também a Deus. À rigor, isso seria suficiente para cada um de vocês reler e meditar o texto. Vejamos alguns elementos. Em primeiro lugar, o caçula pede a divisão da herança de forma e hora bem inoportunas. O pai não questiona. Aparentemente, sem nenhuma contrariedade, procede a divisão da propriedade. Outro detalhe importante é a partida do filho com todo o seu capital para terras distantes, diferentes e contrárias a tudo que o pai prezava. Além do mais, é importante pensar na natureza do emprego do filho: o patrão era gentio; o emprego era degradante para um hebreu, pois os porcos são por excelência animais impuros. Aparentemente o filho decide voltar por razões interesseiras, literalmente para salvar a pele. O único sinal positivo que aparece é reconhecer que na casa de seu pai todos os empregados são bem tratados. E só. Até a confissão preparada parece interesseira.

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Apesar de tudo isso, o pai corre ao encontro do filho, ainda na estrada. O pai não espera o filho completar a confissão de culpa, pois está concentrado em cobri-lo de beijos e de carinhos. Ato contínuo, põe-se a gritar ordens para que se prepare um festim e para que o filho seja revestido de todo esplendor de um filho digno dele, o pai. Observem que nenhuma pergunta é feita. Nenhuma condição é proposta. Esse pai ama incondicionalmente. Vamos agora ao filho mais velho. Certa vez, meditando esse texto para pais, eu perguntava qual dos dois filhos eles gostariam de ter na sua família. Todos disseram que gostariam de ter o mais velho: sério, obediente, trabalhador, correto, observador de todas as normas da família e honesto. Mas, eis a surpresa. Ele está enfurecido com a forma pela qual o pai se portou com o seu irmão caçula. E, consequentemente, nega-se a participar do banquete. Observem que o pai também vai ao encontro dele. Sabemos que Jesus gosta de usar da imagem de banquetes para descrever a vida eterna com Deus. Agora vem uma pergunta perturbadora. Em relação à salvação eterna, nas relações pessoais dos dois filhos com o pai, qual deles está em melhor situação: o pecador ou o correto filho mais velho? Podemos perceber que aparentemente o problema não está na gravidade dos pecados dos dois filhos, mas a diferença está na forma como cada um conhece e se relaciona com o pai. O filho mais novo conhece melhor e admira o pai. O filho mais velho também pensa conhecer o pai. Mas não conseguiu entender e trazer para sua vida pessoal talvez o traço mais encantador do pai: sua infinita misericórdia. Isso revela-se trágico. Por sua compreensão justiceira e não por seus pecados conscientes, o filho mais velho está perdendo a salvação eterna. Que tal cada um de nós fazer uma revisão cuidadosa de nossas relações pessoais com irmãos que consideramos errados e de nossa forma de avaliar os procedimentos divinos? Quantas pessoas você já teria condenado ao inferno? Quantas correções você faz nos procedimentos divinos? Você se lembra da parábolas dos trabalhadores da vinha e que receberam a mesma paga, embora uns tenham trabalhado até 12 horas e uns apenas 1 hora? ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 11: O que Jesus fez. - 2ª parte. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 23 de agosto de 2012.

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1- Introdução. Na aula 10 desenvolvemos brevemente que o Logos encarnou-se em Jesus para salvar o gênero humano e para revelar-nos o quanto Deus é Amor e como Ele ama. Para mim, pessoalmente, o aspecto mais tocante e profundo da natureza do amor de Deus por nós, como vimos na aula 9, nº1, é a gratuidade da Encarnação e do sacrifício na cruz. Mas o livre imolar-se de Cristo, desta forma bárbara, tinha uma intenção pessoal que ia além da Redenção. Vimos que Deus tinha infinitas formas para nos redimir. Além de gratuito, o amor do Pai precisava ser sem qualquer limitação ou ressalva. Tem de ser total porque isso é da natureza do Pai. 2- Parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20, 1-16). Anselm Grun, em “ A Fé dos Cristãos”, afirma que Romano Guardini diz que “a essência do cristianismo não se encontra em uma determinada doutrina, mas numa pessoa: na pessoa de Jesus Cristo” (p. 19-20). Isso é fascinante. Nós cristãos não nos reportamos a um conjunto cristalizado de crenças, mas a um corpo vivo de crenças sempre a revelar novos elementos, aspectos surpreendentes, pois nossa Fé baseia-se na expressão sempre viva de nosso amado Mestre, “que está conosco todos os dias”. Realmente nossa fé é um tesouro onde sempre encontramos pérolas novas. Vamos ler a parábola dos trabalhadores da vinha. Embora eu costume dizer que não precisamos perder tempo em nos ocupar dos elementos materiais com os quais a estória é constituída, aqui vale a pena ater-nos mais em tais elementos, pois eles dão mais colorido e sentido ao conto. Na parábola das Dez Moças em que cinco delas se negam a repartir o óleo de suas lâmpadas, não adianta discutir se elas deviam ser solidárias ou não com as outras cinco. Poder-se-ia perguntar onde ficou a caridade, o amor ao próximo de que Jesus tanto fala. Não. Se o fizéssemos estaríamos distanciando-nos do ponto essencial da parábola que é a espera, prudentemente preparada, para receber o Filho do Homem quando Ele vier. Na parábola de hoje o assunto é retribuição. Para a situação ficar bem vívida em nossa mente, vou tentar descrever melhor o cenário e os atores. A cena começa na pracinha central de uma pequena cidade. Era comum os pequenos proprietários morarem em tais cidades por questão de segurança. No tempo da ocupação romana havia um fenômeno comum no império, que consistia na distribuição de propriedades agrícolas para fixar soldados nos territórios administrados por Roma. Com isso surgiu o fenômeno dos sem-terra. Esses dependiam então de serem ou não contratados. Esperavam serem contratados na praça. Os salários eram pagos sempre diariamente. Então, um dia sem trabalho, principalmente para os mais pobres, significava um dia sem pão na mesa da família. Todos sabemos de que Senhor da vinha Mateus está falando. Os profetas referiram-se muitas vezes a Javé como o cultivador de uvas. A vinha é sempre o povo de Israel. Proponho para sua leitura só duas passagens de Isaías: 5, 1-7 e 27, 2-5. Os trabalhadores chamados para o eito somos nós, discípulos de Jesus. É muito difícil encontrar alguém que, ao ouvir essa narração, não sinta ao menos certo desconforto com a injustiça do proprietário daquele parreiral. Afinal, pagar o mesmo salário a quem trabalhou mais de dez horas e ao que o fez por uma hora não pode parecer justo em qualquer sociedade organizada.

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Mas acontece que o patrão aqui é o Pai de Jesus. O Mestre Jesus vive dizendo que as coisas e as pessoas no Reino de Deus são regidas de modo bem diferente daquilo que observamos nas organizações humanas, mesmo nas melhores delas. Por vezes, até parece que nossa ordem social precisa ser colocada de cabeça para baixo. Não é muito fácil ouvir afirmações como: “se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e servo de todos” (Mt 9,35). Ou, “se alguém quiser ser grande entre vós, seja o vosso servo. E, se alguém quer ser o primeiro entre vós, seja o vosso escravo” (Mt 26,26). O respeito e a retribuição pelos méritos de quem presta serviços é uma conquista importante no combate a injustiças e arbitrariedades. A principal medida dos méritos se dá pelos resultados alcançados. Isso em geral é muito bom. Mas aqui estamos lidando com o amor de Deus e sua infinita misericórdia. Deus não se contenta apenas em evitar injustiças. Quer o melhor para todos. O operário que trabalhou uma hora apenas, como aquele convidado na primeira hora, tem sua mulher e crianças, bocas famintas para alimentar. Os primeiros trabalhadores, apesar do cansaço e suor mais copiosos, tinham a certeza de que os problemas daquele dia estavam resolvidos. Quanto valem a segurança e a tranquilidade? Enquanto os problemas dos primeiros já estavam resolvidos, os outros, esperando na praça, deviam estar em angústia crescente a cada hora que passava. Na verdade aqui há um elemento novo, imponderado. É a graça de você estar entre os primeiros e descobrir-se convidado a integrar-se no projeto de implantação do Reino de Deus. Isso é basicamente graça e precisa ser aceito de graça. Contudo Bento XVI tem considerações imperdíveis sobre essas figuras que reclamam ao final da parábola, no livro “Do Sentido de Ser Cristão” (editora Principia). O ponto de partida para o Papa é focalizar o desencanto dos trabalhadores da primeira hora, quando descobriram que podiam ter recebido o mesmo pagamento trabalhando apenas uma hora. Os primeiros deviam considerar-se os perfeitos idiotas segundo nossa lógica. O segundo elemento que encanta nosso sucessor de Pedro é constatar que “esta parábola não existe por causa dos trabalhadores daquele tempo; ela existe por nossa causa” (op. cit. p. 44). Alude a uma radical atualidade não apenas quanto ao seu conteúdo básico, mas também nas circunstâncias atuais da vida na Igreja. O terceiro elemento que Ratzinger aponta é a descoberta que se faz em nosso tempos: “existem tantos outros caminhos para o Céu e a Redenção” (op. cit. p.42). Sua pergunta soa então perturbadora. Diz ele: - “a questão que nos inquieta é, em boa verdade, como é que ainda é necessário que nós ainda estejamos de serviço à fé cristã;” - “como é que, quando existem tantos outros caminhos para o Céu e para Redenção, ainda nos seja exigido que tenhamos de suportar todo o peso do dogma da Igreja e do caráter da Igreja dia após dia”. - “E é assim que, a partir de um ponto de partida totalmente diferente, nos vemos outra vez perante a mesma questão que levantamos ontem*, na conversa com Deus, e com a qual nos separamos:” * conforme a sequência das homilias que constituem o livro citado.

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Continuamos citando o Papa: “qual é, na realidade, a verdade cristã, a realidade dos cristãos que extravasa o mero moralismo? Em que reside a particularidade da cristandade que não só justifica, como torna obrigatoriamente necessário sermos cristãos e vivermos como cristãos”? (op. cit. pp. 42-43). Os trabalhadores da vinha parecem que trabalharam com agrado e alegria enquanto pensavam que as coisas deviam estar piores para os outros que não haviam conseguido trabalho. Em nossos dias seria mais ou menos como os católicos que só sentem satisfação em cumprir com as obrigações exigidas pela fé, enquanto imaginam que são os únicos privilegiados, que tem a segurança da Salvação Eterna. Que denário, meu caro! Outro elemento perturbador apontado por Bento XVI está em os primeiros trabalhadores da vinha imaginarem que os outros estavam em situação pior do que eles no parreiral. Transpondo a situação para os nossos dias o Autor afirma que “incorremos facilmente num estrabismo errado sobre a vida supostamente mais fácil e mais cômoda dos outros, que também vão para o céu” (op. cit. p. 43). Diz que somos semelhantes àqueles trabalhadores. O Papa quer saber onde fomos buscar a idéia de que a vida sem fé, sem os exercícios da vida cristã, sem suas obrigações, é melhor, uma vez que tais pessoas podem salvar-se. Eu respondo que ao menos tres elementos estão em falta em nossa vida cristã, no projeto de nos tornarmos imitadores de Cristo. O primeiro elemento, e o mais importante, é não entender a gratuidade de todo o agir de Deus a nosso respeito e trazer essa gratuidade para dentro de nossa história pessoal, para o cerne de nossa existência. Precisamos aprender a agir em tudo gratuitamente. Sugiro voltar para a aula 9, nº 1, inciso 4. É necessário praticar a vida cristã com tudo o que isso implica, até mesmo sem pensar no Céu! Amar e ser amado de graça deve ser a felicidade por si mesma. Eu ouso dizer que, mesmo que Deus revelasse que tudo terminaria na morte, ainda assim eu precisaria encontrar alegria em saber que sou amado por Deus e amar também gratuitamente! Como desdobramento do primeiro elemento pensamos num segundo. A Igreja em sua liturgia fala em antecipar, já aqui na sua vida terrena, coisas que são próprias do Céu. Poderíamos elencar várias dessas coisas ... O Papa levanta a questão de que a Igreja, para além das restrições que nos impõe no exercício de nossa individualidade e liberdade, também “é para nós uma pátria espiritual, na qual estamos seguros na vida e na morte” (op. cit. p. 44). O terceiro fator que pode levar alguém a achar que a vida sem fé pode ser melhor, está em nossa dificuldade de imaginar o quanto a Fé é básica para dar sentido à vida e à morte, numa palavra, à nossa existência. O ser humano é um ser essencialmente necessitado de perceber o sentido nas coisas. Até a sua saúde mental depende desse princípio. Recomendo a leitura do livrinho de Viktor Frankl “Em busca de Sentido”.

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Ou seja, ter fé é um acréscimo fundamental. Não ter fé é deficiência. Por fim Bento XVI mostra-se perturbado com a idéia de que possam existir pessoas cristãs que incluem entre as razões para engajar-se com Cristo e na construção de sua salvação eterna, a condição de que os outros sejam condenados. Afirma que a parábola da vinha tem para nós exatamente o sentido de mostrar quanto essa idéia é anticristã. Vamos ver aonde chegaram Sartre e São Francisco. Sartre viu nos outros o inferno. Francisco viu nos outros, Irmãos enviados por Deus! Sartre chegou a formular o existencialismo na sua forma mais frustrante e desanimadora para nós. Francisco cantou a perfeita alegria. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 12: O Logos se fez Carne para participarmos da natureza divina. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 30 de agosto de 2012. 1- Da 2ª Carta de Pedro 1, 3-4. “Pois que o Seu divino poder nos deu todas as condições necessárias para vida e piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou pela sua própria glória e virtude. Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo, como resultado da concupiscência”. Observamos que o autor nos garante que Deus nos dá tudo o que tem a ver com a vida e a piedade. Entende-se aqui piedade como práticas religiosas. Cabe agora a reflexão sobre a natureza dos dons de Deus ... O autor não fala de coisas materiais, mas na construção da vida alimentada por uma correta prática religiosa ( = piedade) que se abre para a eternidade, reproduzindo em nós qualidades que são parte do Ser Divino de Deus. Pessoas que se amam precisam ter qualidades e virtudes básicas em comum. Vamos juntos procurar algumas dessas virtudes e qualidades que precisamos ter em comum com Deus ... Inevitavelmente diferente é só a personalidade de cada um dos amantes. Mas as qualidades básicas precisam existir em cada um. O que soa realmente grandioso é a prometida participação na natureza divina. Cada dia, no ofertório de cada missa celebrada, literalmente, ao redor de toda a Terra, o celebrante reza: “Pelo mistério dessa água e desse vinho possamos participar da natureza de Vosso Filho, que se dignou a assumir a nossa humanidade”. É impossível rezar tais palavras sem experimentar profunda emoção! 2- Qualidades de Deus que queremos imitar.

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Há pouco falava da necessidade de ter qualidades em comum para pessoas amarem-se. Vamos ao que foi trazido por voces. De todas, a mais importante é o amor inteiramente gratuito, como já vimos. Lembramos que todas as virtudes prezadas e vividas por Jesus são, ao mesmo tempo, virtudes do Pai. Afinal, “Eu e o Pai somos um”. A gente pode recorrer às aulas anteriores sobre a pessoa de Jesus. Ele é a face humana de Deus. Outro dado que não podemos esquecer é que a verdadeira humanidade, aqueles traços do nosso ser que nos distinguem de toda a Criação conhecida, Deus os assumiu através de Jesus. Acho interessante que pessoas de todas as crenças, bem como as que não tem crença em sobrenatural algum, em muitas situações deixam-se tocar e conduzir por razões que chamam de piedade (“pietatis causa”), de solidariedade, ou simplesmente de humanidade. A palavra piedade é deliciosamente ambígua! Ela pode ser um conjunto de emoções expressas de forma necessariamente inconsciente (tentem apresentar feições piedosas ...)que acompanham os humanos em contato religioso com o sobrenatural. Então, práticas de piedade são práticas religiosas. A piedade pode exprimir sentimentos e atitudes que regem a vida entre membros de uma família. Ela aparece como um misto de cuidado respeitoso que aflora em nós nos serviços dispensados aos que sofrem, aos fracos, crianças e idosos do clã familiar, ... A piedade pode brotar das emoções e atitudes de quem cuida de pessoas em qualquer situação de fraqueza, deficiência, necessidade ou perigo. São Francisco sentiu necessidade de não se contentar em atender materialmente o leproso, mas de também abraçá-lo e beijá-lo. É muito comum ouvirem-se estórias ou notícias em que pessoas batem, ferem, matam alguém “impiedosamente”. Isso significa que o fizeram sem piedade, sem misericórdia, sem humanidade. Tais pessoas são cruéis; delas sentimos horror. Com alegria percebemos o termo humanidade entrelaçar-se, inseparavelmente, com o termo piedade. Humanidade (=nossa essência) e piedade misturam-se com bondade, misericórdia, religiosidade e ... com Deus! O exercício da humanidade-piedade poder ser a oração não consciente do cético, do agnóstico e do ateu. Vamos aqui fazer uma pausa e refletir juntos. 3- Misericórdia e Compaixão. Nem vou tentar separar os dois termos. Não sou grandes coisas em análise filológica de palavras, mas compaixão tem a ver com o outro. Não posso impedir que o sofrimento do outro me faça sofrer também. Misericórdia vem da palavra latina “miser”, traduzida como mísero, coitado, infeliz, mal-aventurado, desgraçado (Houaiss). Podemos dizer que “miser” e misericórdia também tem a ver com miséria, pobreza, vazio do coração de quem sente misericórdia. Isso então seria como o estado deplorável de alguém, ter o poder de tornar o meu coração também pequeno, sofredor e miserável. O povo fala em sentir o coração pequeno, apertado. Realmente, não posso sentir-me grande e solene diante de alguém arrasado pelo sofrimento.

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Conhecemos várias passagens dos evangelhos onde se fala em misericórdia e compaixão. Na aula 10 expusemos longamente a parábola do Filho Perdido. Vimos que o pai foi movido por compaixão pelo estado deplorável do filho caçula que vinha com “o rabinho entre as pernas” pedir sua ajuda. Mas vimos como o mesmo pai também foi levado por compaixão ao encontro do filho turrão, que além de negar-se a participar da festa em família, acusava o pai “impiedosamente”. A maioria absoluta dos outros pais ficaria, no mínimo, ofendida e irada pela grosseria e ousadia. Na aula passada vimos como a compaixão do patrão da vinha levou-o a pagar o suficiente para que os trabalhadores da última hora também pudessem atender às necessidades de sua pobre família. Na próxima aula abordaremos a parábola do Bom Samaritano. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 13 - Reproduzir em nós qualidades de Deus. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 6 de setembro de 2012. 1- Introdução. Vimos na aula passada que ter certas qualidades em comum é essencial para pessoas se amarem. Trata-se de uma verdade iluminadora para nosso relacionamento em geral e, particularmente, para nosso relacionamento com Deus. Acontece que podem ocorrer vários problemas de compreensão. Também podemos ter dificuldades na harmonização de qualidades em conjuntos, como se fosse um arranjo. Até a Fé, tão fundamental para a construção espiritual, sem Amor é declarada morta. Podemos ainda ter compreensão incorreta, ou parcial desta ou daquela virtude. Como exemplos podemos lembrar novamente a parábola dos Trabalhadores da Vinha. Muita gente tem dificuldade em harmonizar justiça e amor. Ora, não existe amor injusto. Mas justiça sem amor pode cair em acertos de contas. Aliás, sem o amor, todas as virtudes perdem seu sentido, pois não atingem seus objetivos. Podemos ter dificuldade para partir de uma compreensão parcial e atingir um entendimento mais abrangente e superior do que seja amor, por exemplo. Quem fica no estágio dos sentimentos e emoções e não avança para explorar novos aspectos do amor, não consegue compreender a exigência de Jesus que devemos amar até o inimigo. Afinal, São João afirma que Deus é amor. Se é impossível uma compreensão plena de Deus, o mesmo devemos afirmar do amor. Assim, podemos concluir que participar da natureza divina, ou “fazer-se sua imagem e semelhança” é, em primeiro lugar, reproduzir em si o modo de amar do próprio Deus. A natureza do nosso amor precisa ter sempre mais da natureza do amor de Deus. Se compararmos ao ouro, o amor de Deus seria o amor atomicamente puro. O nosso amor é um pedaço de rocha com algum ouro. Os grandes santos, talvez, uma pepita. Nosso objetivo é reduzir cada vez mais tudo aquilo que não é ouro e aumentar deste a concentração. 2- O Bom Samaritano (Lc 10, 29-37).

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Antes de ler a parábola vamos trazer à mente a situação vivida por Jesus imediatamente antes. Jesus devia estar a pregar ao povo. Certa hora passa a palavra a um legista que deseja falar. O legista hoje seria um advogado, um juiz, um promotor. No tempo de Jesus era um escriba, versado em escrita e leitura, em geral, bom entendedor das Escrituras Sagradas. 2.1- Vamos ler Lucas 10, 25-28. Algumas explicações fazem-se necessárias. Espero que o presente exercício sirva de modelo para toda a leitura em que explicações do texto e seu contexto possam ajudar a captar toda a riqueza da Palavra de Deus. Vamos agora ler a parábola (10, 29-37). Novas explicações fazem-se necessárias. Vamos por pontos. Mostrar sua justiça  a explicação mais simples prevalece. O legista quer explicar a razão para a sua pergunta. Para a época era difícil alguém fazer tal pergunta. Todos sabiam que o “próximo” era todo membro de seu povo, excluídos todos os estrangeiros (“os gentios”). Alguém perguntar quem é o próximo podia parecer uma pergunta boba e desnecessária. Sorte dele que Jesus, como ninguém, sabe conversar. De Jerusalém a Jericó  O caminho era mais ou menos 25 km e passava pelo deserto da Judéia, infestado de ladrões. A descida era de uns mil metros. O sacerdote e o levita  Poderíamos tecer mil conjecturas sobre as razões de ambos para não atender o ferido. Creio que o papel dos dois foi escolhido por Jesus para valorizar ainda mais a ação do samaritano. O samaritano  Lendo Lucas 9 51-56 temos uma ilustração do clima que reinava entre judeus e samaritanos. O sentimento dos judeus em relação aos seus vizinhos podia variar do desprezo ao ódio. Consideravam os samaritanos bastardos, excluídos do povo judeu e das promessas bíblicas. Os samaritanos não reconheciam o templo de Jerusalém como o único e verdadeiro santuário de Javé. Havia entre ambos também grandes divergências sobre os textos sagrados. A recíproca era também verdadeira. Os samaritanos não toleravam facilmente os judeus. E isto tem de ser norma para a igreja. Jesus escolhe o samaritano como protagonista da parábola para romper com as querelas religiosas. O Amor de Seu Pai não se limita a grupos, nem se molda a ortodoxias. Dentro de pouco tempo, o diácono Felipe vai fazer pregações na Samaria e converter muitos deles a Jesus Cristo. Que estava de viagem  Isso valoriza a ação do samaritano, pois tal situação acarreta-lhe dificuldades a mais. Ninguém se põe em viagem sem destino e alguma previsão de chegada. Levava consigo até uma provisão de azeite e vinho no próprio farnel, pois estava fora da Samaria e podia não ser fácil conseguir lugar para fazer uma refeição. E lá se vai seu precioso vinho para lavar as feridas do semi-vivente.

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2.2- Ver. Tres personagens viram o homem na pior. Um passou o mais longe possível. Outro, simplesmente, foi adiante. O samaritano percebeu. Seu coração bom ( = traço divino ), provavelmente seu hábito em ajudar, o moveram para perto da cena “ele o viu e tomou-se de compaixão” ( = outro traço divino ). O Amor aqui está vestido de bondade e compaixão. Podemos repensar o que falávamos na aula passada sobre misericórdia ... Aqui a verdadeira estória começa. Quem não é covarde e arrisca entregar-se aos caprichos do Amor pode correr sérios perigos de ter seus planos e, às vezes, a própria vida colocados de pernas para o ar. O samaritano entregou-se às exigências do Amor e aceitou as consequências: viagem interrompida, assumir papel de paramédico, transportar o ferido, passar o resto do dia e a noite com o doente como se fosse enfermeiro, pagar os gastos, incluindo os futuros em conta aberta. Seus planos pessoais estão transtornados. Aqui pedimos licença a Timothy Radcliffe para reproduzir um exemplo citado por ele numa conferência pronunciada em julho deste ano. “Durante a revolução na Nicarágua um dominicano norte-americano ajudou um grupo de jovens nicaraguenses a representar a parábola do Bom Samaritano durante a missa. Representaram um jovem nicaraguense sendo espancado e abandonado meio morto na beira do caminho. Um frade dominicano passou por ali e continuou seu caminho sem fazer caso dele. Depois, passou também um catequista. A seguir, passou um dos inimigos (um ‘Contra’) com uniforme militar. Parou, pôs-lhe um terço ao pescoço, deu-lhe água e levou-o até a aldeia mais próxima. Nesta altura, metade da assembléia reagiu começando a gritar e a protestar. Era inaceitável que um Contra pudesse agir dessa forma. ‘São pessoas horríveis e nada temos a ver com eles’. A missa foi suspensa no meio do caos. Depois, as pessoas começaram a discutir o significado da parábola. Como tinham ficado chocadas, conseguiram compreendê-la mais profundamente. Temos consciência de quanto esta parábola é chocante”? “Cuida dele, e o que gastares a mais em meu regresso te pagarei”.  Nosso samaritano já se envolveu até a alma na situação. Se já pode viajar, ainda quer ter a certeza de que o convalescente seja bem atendido até o fim. Está disposto a financiar gastos futuros, sem saber quanto. Não se trata somente de apaziguar sua consciência, mas assumiu um compromisso em garantir a recuperação total do necessitado. Quem ama não faz cálculos. 2.3- Jesus não se contenta com pouco. Faz ainda uma pergunta ao legista: “qual dos tres, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes”? Temos aqui uma aparente inversão da lógica. Já descobrimos que nosso próximo é qualquer ser humano necessitado que encontramos. Isso já é um grande passo para a frente.

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Na verdade, a proximidade não é só resultado do necessitado que encontro. Eu preciso assumir o compromisso de fazer-me próximo dele. O próximo do necessitado sou eu. Isso exige uma mobilização e engajamento meus. “Vai, e também tu, faze o mesmo”.  O legista acertara a resposta de quem fora o próximo do assaltado. Agora vem o nó cego: “vai e faze o mesmo”. Sem fazer o mesmo, conhecimentos do cristianismo e de Jesus Cristo são perfeitamente inúteis. Reflexão dos participantes ... 3- Qualidades reservadas. Deus nos convida a conhecê-lo, prontifica-se a caminhar conosco, concede-nos a graça de participar da natureza Dele, mas até onde? Não podemos ter pretensões. Nunca o atingiremos plenamente. Afinal, suas qualidades são infinitas e as nossas são tão medíocres. Há coisas que competem só a Deus. Só Ele pode salvar. Quando Jeremias fala “maldito o homem que confia no outro homem”, ele está falando da hipotética confiança de alguém que qualquer ser humano possa salvá-lo. Só Deus pode santificar. Só Deus nos pode purificar. Só Ele pode levar-nos a superar nossos limites. Mas Ele não fala dessas coisas. Abre, contudo, uma exceção: “não julgueis para serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados ... pois, com a medida com que medirdes sereis medidos também” (Lc 6 36-38). Podemos perceber duas razões para essa proibição. Julgamentos entre nós podem gerar grandes males. Além de condenações, podem justificar grandes fissuras no relacionamento fraterno. Pode inclusive destruir a própria fraternidade. Por outro lado, Deus está a nos dizer que não temos condições para julgar. Para julgar são requeridas condições que nós não temos, ao menos em grau suficiente: conhecimento total da natureza humana, imparcialidade total e a capacidade de balancear justiça com misericórdia. Então, não julgue. Não só por isso competir a Deus, mas por que você seria incapaz. Atenção, falamos aqui em julgamentos e avaliações morais e de valores que tem a ver com a Vida Eterna. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 14 - Creio em Deus Pai - 1. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 13 de setembro de 2012.

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1- Introdução Gostaria que esta aula levasse cada um de voces lá às origens da Fé em sua infância. Lembro-me de uma estorinha que meu professor Frei Boaventura Klopenburg, grande teólogo, perguntado certa vez a quem ele devia sua fé cristã, respondeu prontamente: “aos joelhos da minha mãe”. Nem à Bíblia, nem aos grandes teólogos, nem os longos anos de seminário foram lembrados. Para ele a fonte formadora principal da sua fé era a mãe. Quando no final do ano de 1965 apareci na capela de minha comunidade, capelinha pobre, dedicada a São José, minha primeira catequista, Dona Sofia,estava às portas do Céu, tal a sua felicidade por um aluno seu ter chegado ao sacerdócio. Preciso ainda acrescentar que tínhamos apenas uma missa por mês. Portanto, este vivente que lhes fala, por muitos anos, era um cristão apenas de missa mensal. 2- Fé em Deus Pai. Vimos em muitas aulas anteriores nossa fé em Jesus Cristo. Seria lógico termos começado as exposições pelo início de tudo, que é Deus Pai. Mas Jesus é o revelador oficial do Pai. É o nosso Redentor e nós acabamos chegando a um Deus de Verdade através de Jesus. Por isso, na verdade, começamos por Ele. Na origem do Cristianismo praticamente todos os convertidos vinham do Judaísmo. Deus já fazia parte das crenças de todos eles. Então, seu primeiro objeto de conhecimento tinha de ser a figura de Jesus Cristo. Como vimos numa das primeiras aulas, o conteúdo básico da Fé aceito pela Igreja tinha poucos itens. Vamos tentar recordar? Mas a Igreja foi crescendo com a conversão de centenas de milhares de pagãos. Muitas questões foram surgindo e causando dificuldades para explicar coisas importantes, tais como: - a Encarnação do Verbo; - a natureza da relação entre o divino e o humano em Jesus Cristo; - a morte redentora de Cristo; - a Ressurreição e muitas outras questões. Assim, chegou o tempo em que a Igreja precisou dizer com clareza qual era o conteúdo básico de todas as crenças cristãs. É importante para cada um de nós saber exatamente no que precisamos crer para manter a integridade do Cristianismo e a nossa pertença à Igreja de Cristo. Depois de muitas discussões em vários concílios, finalmente, foi aprovado o texto oficial do conteúdo indispensável da Fé Católica. Foi assim aprovado em 381 na cidade de Constantinopla o texto que conhecemos sob o título “Símbolo Niceno-Constantinopolitano”. O Niceno entrou aqui porque a maior parte das definições fixadas em 381, já estava nas atas do concílio de Nicéia, 325. Chama-nos à atenção a concisão do texto, breve e enxuta: incluindo tudo, de substantivos a artigos e conjunções, contém 207 palavras apenas. Outra curiosidade: o texto que se refere a Deus Pai tem só 21 palavras. Cristo foi contemplado com 127 palavras e o Espírito Santo com 32.

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Por esse critério pode parecer que o Cristianismo importava-se mais com uma das 3 Pessoas da Santíssima Trindade, Pessoas aclamadas como de igual importância e Majestade. Acontece que a doutrina sobre Jesus é mais ampla e havia gerado um número muito maior de polêmicas. 3- “Creio em um só Deus, Pai todo poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Eis aí o texto oficial sobre Deus Pai. Meditemos um pouco sobre cada palavra. Creio  Já vimos no início de nossas aulas que o nosso crer não é apenas assunto de convicção. Crer envolve compromisso, adesão , aceitar sua exigência transformadora sobre nossas atitudes e comportamentos em geral. É uma adesão de vida. Um só Deus  Em nossos dias parece óbvio falar em um só Deus. Afinal, na civilização ocidental cristã, bem como na civilização islâmica, não existem praticamente pessoas que acreditem em deuses. Mas no Judaísmo do A.T. e no Cristianismo dos primeiros séculos a convivência com politeístas era coisa de cada dia. Então, acentuar “um só” era muito importante; era tudo! Pai  Falar de Deus como Pai é falar do óbvio, pois em toda a Escritura aparecem passagens em que Ele fala de seu amor de pai para com o seu povo. Contudo, foi Jesus quem mais gostava de referir-se a Deus como “Meu Pai”, “Vosso Pai que está nos céus”. Quando Ele aborda o tema oração e ensina aos seus Apóstolos como eles devem orar, diz: “Portanto, orai desta maneira: Pai Nosso que estais no céu ...” (Mt 6, 9). Nós também cremos que Deus é a fonte de toda a Vida. Como tal, a paternidade é um conceito inerente à própria idéia de Deus. Essa palavra aplicada a Deus tem consequências que vão além do que falamos até aqui. Trata-se de nos movimentarmos entre a inatingível transcendência e a permanência mais íntima imaginável. Por transcendência entendemos tudo aquilo que em Deus está acima, além de tudo que podemos pensar de grande e de belo na Criação e no ser humano. Temos a tendência de atribuir a Deus todas as virtudes e qualidades boas que admiramos, mas nós as imaginamos em grau absoluto, ou infinito. Mas por outro lado, esse mesmo Deus que nos diz “tanto quanto estão os céus acima da terra, estão os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos” (fonte?),diz também com infinita doçura: “Eu Javé, teu Deus, te seguro pela mão e te digo: nada temas, eu venho em teu auxílio. Portanto, nada de medo, Jacó, pobre vermezinho, Israel, meu filhinho” (Is 41, 13-14). Estamos no Catecismo Holandes, já citado, p. 565. Qual era o momento histórico? Israel estava num parto traumático, dele nasceria o Judaísmo, em pleno exílio de Babilônia. O povo renascia das cinzas e adquiria nova identidade.

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Israel estava descobrindo cada vez mais a grandeza transcendente de Deus e sua regência não só sobre seu povo, mas sobre todos os povos. É o Deus de tudo e de todos que se inclina sobre os destroços de Israel, como uma mãe se inclinaria sobre o seu bebe em grave perigo de vida. Mas, agora não é mais o povo de Israel, é o povo judeu. Nasce a consciência do Judaísmo. Poderíamos dizer que agora ele é o povo de Deus, mas Deus é o Deus de todos os povos. É só questão de autoconsciência. todo poderoso  Uma experiência fantástica e indescritível que eu tive do poder Criador de Deus passouse numa simples sala de cinema. Ocorreu quando via o documentário Hubble. Numa sala Imax, em 3D, voce dá um passeio entre corpos celestes e galáxias ... Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis  É importante para nossa Fé termos consciência bem clara que só Deus é criador. Embora não digamos abertamente, certas afirmações podem levar pessoas menos avisadas (incautas) a imaginar que certas coisas devem sua existência a forças malignas, por exemplo. Fico devendo a vocês uma reflexão sobre a origem do Mal. É uma questão inevitável. Se Deus é Amor, como surgiu o Mal no mundo? ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 15 - Creio em Deus Pai - 2. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 20 de setembro de 2012. 2.1- Deus Todo Poderoso. Dei uma só e rápida pincelada sobre o infinito poder criador de Deus. Fiquei meio perdido e acabei falando muito pouco. Daí a necessidade de retomar o tema. No mundo criador de Deus há coisas que não podemos esquecer: -o tamanho do Universo; -distâncias medidas em bilhões de ano-luz; -o tempo acaba também atingindo a escala dos bilhões de anos; -a idade da atual fase do Universo seria de mais de 13 bilhões de anos. Podemos olhar em direção oposta: do “infinitamente” grande para o “infinitamente” pequeno. Encontramos o átomo e as partículas sub-atômicas. Se voce quer por um filho ou um neto a estudar uma das ciências modernas “mais loucas” , recomendo nano-engenharia. Dê agora uma mirada no espelho. As células de seu corpo são contadas em muitos bilhões.

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Agora vem cientistas a dizer que microorganismos, como bactérias, pegaram carona em seu organismo e seriam dez vezes mais numerosos que todas as suas células. Para eles nosso corpo seria mais ou menos como um enorme planeta. Outro ponto riquíssimo para nossa meditação é a doutrina católica que afirma que tudo quanto existe deve sua existência a uma contínua manutenção divina. Ou seja, eu só existo neste momento porque Deus me sustenta na existência. Isto é o Amor Permanente e Imutável de Deus! Outro tema rico é explorado pelo citado Catecismo Holandês. Refere-se à dinâmica da Criação e da Ação criadora de Deus. “Quanto mais extenso o Universo, tanto mais ampla torna-se nossa idéia de Deus ... ampliam ainda, todos os dias, nossa compreensão do incompreensível poder criador de Deus ... A gênese do Universo desenrola-se diante de nossos olhos e nós a sentimos em nossas vidas. Isto aprofunda a idéia do que se anunciava desde sempre, mas ganhava, em geral, pouca atenção: Deus não criou o Universo, mas, antes, o está criando” (Cat. Hol. p. 562). A seguir fala do “Deus-oleiro” da Bíblia; fala do artesão que passa adiante o seu produto; do poeta que não sobrevive aos seus lindos poemas e conclui: “se Deus retirasse por um momento seu poder criador ... , nada subsistiria” (op. cit. p. 562). Mas Deus não é só todo poderoso enquanto cria e mantem a criação na existência. Ser todo poderoso significa também que nenhum outro poder pode existir capaz de concorrer com o poder de Deus. Só Ele é capaz de poder fazer tudo o que quiser. Imagine agora nosso projeto de vida e salvação eternas na lista das coisas desejadas por Deus! Ninguém pode destruir tais coisas e frustrar a vontade de Deus. É isto que entendo por “ter a vida nas mãos de Deus”. Ouvimos então Jesus falar “ninguém pode arrancar nada das minhas mãos” (fonte?). Só eu mesmo tenho o poder de desistir e destruir tal projeto de vida em e com Deus. Jesus tem a participação total na plenitude do poder do Pai. Para os apóstolos a pregar e a converter o mundo, Ele, Jesus, lhes dá como garantia seu próprio poder e autoridade. “Toda autoridade sobre o Céu e sobre a Terra me foi entregue. Ide, portanto, ...” (Mt 28 18). 2.2- E o mal, de onde vem? Nossa fé em Deus como criador de todas as coisas traz consigo um complicador. Vamos partir, sem discussões, da certeza que o mal existe. Deus criou também o mal? “Se Deus Pai Todo Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas por que então o mal existe”? (CIC, n. 309). Olhe bem para quem levantou essa questão. É o Magistério oficial da Igreja Católica, assistido e iluminado pelo Espírito Santo. Nosso catecismo fala em duas categorias de mal: o físico e o moral. Acontece que nenhum dos dois a Igreja aceita como vindo de Deus. Ao que parece, o ponto de partida para explicar a origem do mal moral deve ser procurado no mau uso do dom da liberdade com que o ser humano foi agraciado.

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Por mal moral precisamos entender tudo o que de ruim brota do mau uso desta liberdade. Até onde eu posso entender, isso se deve à natureza do ato do Amor. Para o Amor ter sentido é essencial que seja expresso livremente. Sem liberdade o Amor seria expresso por necessidade, como necessárias são a respiração e a alimentação. Tal coisa não seria Amor. Para criar um homem capaz de Amor, Deus precisava correr o risco desse homem ser capaz de não amar, capaz de odiar. A questão é uma espécie de armadilha metafísica. Deus não criou o mal, mas aceitou que o mal surgiria com grande probabilidade de seu projeto. No entanto, por mais numerosos que sejam os desdobramentos e consequências do pecado dos seres humanos, nem todos os males podem ser atribuídos ao pecado. Existem dores, doenças mortais, sofrimentos terríveis que acometem pessoas inocentes. Crianças são atingidas por cânceres que as matam após sofrimentos atrozes. Outras vem ao mundo com deficiências que tornam sua vida posterior um verdadeiro suplício lento e contínuo para si e para os seus. Estamos falando de males físicos desvinculados da moral. De onde eles vem? Não acredito que alguém tenha respostas satisfatórias para todas essas questões. O CIC, nos números 311 e 312, afirma “Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral. Todavia permite-o, respeitando a liberdade da sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem: pois o Deus Todo Poderoso ..., por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal. Assim, com o passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, na sua providência todo poderosa, pode extrair um bem das consequências de um mal, mesmo moral, causado pelas suas criaturas: ‘não fostes vós, diz José, que me enviastes para cá, foi Deus; ... o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a fim de ... salvar a vida de um povo numeroso’ ” (Gn 45 , 8; 50 , 20). Posso facilmente ver esta “volta por cima” de Deus na história de José do Egito. Mas há muitas histórias pessoais em que não conseguimos vislumbrar nada de bom vindo do mal. Pessoalmente, gosto de argumentar que nem sempre temos condições para saber se certos problemas físicos são males ou bens travestidos de mal. A dor? Muitas vezes ela é essencial para sinalizar a necessidade de socorros ao organismo e conservar-lhe a vida. É o alarme tocando. Uma doença pode fortalecer todo o sistema de defesa e tornar um corpo mais resistente e saudável. Para outras pessoas que vivem a graça e a união com Deus, meditando o Cristo na cruz, a doença pode tornar-se fator poderosíssimo de superação e de santificação. Até mesmo tratando-se de males morais já encontrei pessoas que encontraram neles pontos de partida e forte motivação para crescimento na virtude e conversão. Mas o que me revolve por dentro e coloca em cheque qualquer explicação e compreensão é o sofrimento de pessoas inocentes e sem recursos, ao menos conhecidos, para encontrar sentido e qualquer esperança ligada ao sofrimento. Claro que não tenho condições de saber como Deus lida com tais situações. Ele sabe tudo e tudo pode, enquanto eu “pobre vermezinho” só tenho que ter a graça de acreditar na sua palavra quando diz: “Eu, teu Deus, te seguro pela mão e te digo: nada temas, Eu venho em teu auxílio” (Is 41,13).

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Daqui para frente prevalece o que o Cristianismo tradicional, na boca de seus mestres, convencionou chamar de “mistério do mal”. Creio que ter a pretensão de entender tudo a respeito do mal seria como pretender compreender tudo a respeito de Deus. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 16 - Creio em Deus Pai - 3. Mais elementos de Fé sobre a Criação. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 27 de setembro de 2012. 1- Trindade Criadora (CIC, nn 290-292) A primeira frase da Bíblia diz: “No princípio Deus criou o Céu e a Terra” (Gn 1,1). O próprio catecismo deixa bem claro que por Céu e Terra entende tudo quanto existe fora de Deus. Isso traz algumas consequências adicionais. Diz que só Deus existia. Só Deus é eterno no sentido completo, olhando-se para o começo e para o fim. Olhando para trás descobrimos que toda a Criação começou no tempo (“no princípio”), não na eternidade. Olhando-se para o futuro, percebemos que Deus quer que sejamos eternos. “Creio na vida eterna” é parte essencial do conteúdo de nossa fé. Acreditar que a Criação, agora entendida como o Universo, não tenha fim, pode caber bem no universo de nossas crenças. Afinal, o vidente de Patmos diz: “Vi então um Céu novo e uma nova Terra” (Ap 21,1). Um certo problema pode vir à mente de pessoas que afirmam que tudo quanto existe no Universo teve início no “Big-Bang”. Calculam os cientistas que essa mega explosão inicial teria acontecido há mais de 13 bilhões de anos. Mas não implica isso em negar que o Universo teve início no tempo, ou negar que foi criado por Deus. O Nada não explode e nada gera. “No princípio era o Verbo ... e o Verbo era Deus ... Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito” (Jo 1, 1-3 cit. por CIC n 291). O N.T. nos diz que tudo foi criado por Deus através de Seu Filho bem amado. E o Espírito Santo? Claro, se a Trindade é eterna as Três Pessoas não são criadas, mas igualmente eternas. Logos e Espírito são consubstanciais ao Pai. Portanto, não é concebível qualquer ação divina sem envolver as Três Pessoas. O Símbolo Niceno-Constantinopolitano fala do Espírito Santo como o “doador da vida”. O magnífico hino “Veni, Creator Spiritus” está incorporado pela Igreja Católica no tesouro de nossa Fé. O Espírito Santo é Criador. O Ofício Divino das Vésperas de Pentecostes da Liturgia Bizantina diz que o Espírito Santo é “fonte de todo o bem”. A nossa Igreja também incorpora essa expressão à Fé Católica (CIC, n 291).

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Conclusão: “a Criação é obra comum da Santíssima Trindade” (CIC, n 292). 2- O Genesis e a evolução; ou Ciência x Fé. 2.1- Introdução. Trata-se de um tema cuja atualidade é recente e de importância crescente. É a principal bandeira dos que poderíamos chamar de “os cientificistas”, que combatem uma visão religiosa do universo. Trata-se de uma armadilha (Jesus qualificaria de “escândalo”) na caminhada da fé para muita gente. O modo como as coisas são apresentadas ajuda a gerar uma suposta dicotomia, onde se acredita que duas determinadas coisas não podem existir e ser verdadeiras ao mesmo tempo. Prometo ser o mais breve possível para não cansar ninguém. 2.2- Teoria científica (Evolucionismo) x “Teoria Religiosa” (Criacionismo). Essa é a forma mais comum como o suposto problema é apresentado. As principais vítimas dessa armadilha são nossos alunos de todos os níveis. Os principais agentes armadores desse falso problema são professores também de todos os níveis, incluindo-se nossos professores de religião, catequistas e muitos e muitos pregadores. Não estou a acusar de desonestidade ou má vontade a ninguém. As maiores fontes desse problema são ignorância, pouca formação filosófica e fundamentalismo religioso. Esses fundamentalistas são os maiores responsáveis pelos estragos causados em nossas crianças e jovens. Para começar, todos que falam do problema, em termos de “teoria científica x teoria religiosa”, precisariam voltar para seus bancos escolares e preencher vazios em sua formação de professores, catequistas ou pregadores. De saída percebemos aí uma confusão imperdoável de conceitos. Todos os que ensinam tem a obrigação moral de empregar conceitos verdadeiros e corretos. A palavra teoria significa um conjunto organizado de idéias e hipóteses explicativas de uma área de conhecimento que ainda não atingiu um estágio de verdade aceita por toda a comunidade científica. A melhor teoria é aquela que melhor explica a realidade. A teoria evolucionista, sem dúvida, é a que melhor explica, pelo menos, a grande diversidade e constantes modificações observadas nos seres vivos. Teoria só tem sentido quando empregada no universo da linguagem científica. Não existem teorias em religião. As religiões lidam com crenças e os conteúdos dessas crenças, sem esquecer os valores. 2.3- Releitura do Genesis. Falo em releitura porque todos conhecem o Genesis. Mas vamos ler de novo e com olhos melhorados. Precisaríamos repassar os principais elementos estudados numa introdução à leitura bíblica em geral e do Genesis em particular. Não vai ser possível fazê-lo aqui.

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Contudo, é necessário dizer que não podemos ler textos bíblicos em geral, sobretudo os textos apresentados em forma de relatos, e entendê-los ao pé da letra. Normalmente, sem perceber, tendemos a entender um relato bíblico da mesma forma que costumamos entender relatos dos dias em que vivemos. Mas se tomarmos relatos dos dias de hoje, quanta variação existe. Imagine uma experiência sua. Você presencia o atropelamento de uma criança. Em pouco tempo você é convidado a relatar o que viu a um repórter. Pouco depois chega a equipe médica e você , como principal testemunha, é convidado a fazer um relato à equipe. Não demora muito e você precisa também fazer um relato para um inquérito policial. Por fim, você também é convidado a contar à mãe o que você viu. Creio que todos podem imaginar que cada um desses relatos vai variar bastante em termos de palavras empregadas, de detalhes, aqui omitidos, ali ressaltados, sem contar a variação no colorido emocional. No mínimo tentamos ler relatos bíblicos com idéias que temos de História em nossos dias. Ora, a História como uma ciência é muito recente. E muitas narrações bíblicas são anteriores à invenção da escrita e tem raízes e linguagem mitológicas. Ler e entender ao pé da letra tais conteúdos antigos pode ser verdadeira falsificação do que o texto quer nos falar. Voltando ao Genesis, o Catecismo Holandês afirma “a narrativa da Criação”, por exemplo, com seus seis dias é um poema! Pretende ensinar que Deus criou todas as coisas. A forma de apresentação literária é uma ‘invenção’ genial, não um relatório histórico. Já Santo Tomás, no século 13, chamou a atenção sobre esse fato” (op. cit. p 62). 2.4- Algumas conclusões. Do que foi dito acima aqui podemos anotar e gravar bem algumas afirmações. -> Um religioso, enquanto religioso, nada tem o que criticar em teorias científicas. -> O cientista, enquanto cientista, nada tem a opinar sobre o campo da fé religiosa. -> Não existe conflito entre linguagem científica e religiosa se ambas forem empregadas corretamente. -> Não há antagonismo entre conteúdos ou pensamentos das ciências e das religiões. Assim, se um autor religioso afirma algo sobre a natureza, e as ciências naturais descobrem que não é assim, deve prevalecer a verdade da ciência. A Bíblia fala em dragões. Cientistas mostram que dragões nunca existiram. -> As Ciências estudam a natureza de toda a Criação. O cristão crê que tudo quanto existe está aí pelo poder criador de Deus. -> O religioso acredita na origem de toda a Criação. Cabe ao cientista pesquisar e descobrir onde e quando cada ser se formou. -> O cientista pode dizer que todo o universo que aí está surgiu de um Big-Bang. Mas não consegue explicar como e de onde surgiu o material que explodiu! -> Por fim, não há oposição ou conflito entre evolucionismo e Fé. O naturalista tenta provar que todo ser vivo está em constante evolução. O religioso afirma apenas que toda vida vem de Deus. O cientista só pode dizer que a vida evolui. Aliás, isso combina melhor com a história de nosso planeta que está em constante mudança. Na aula passada afirmávamos que: “Deus não criou, mas está agora criando o Universo”!

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ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 17 - Creio em Deus Pai - 4. “O Reino de Deus” Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 04 de outubro de 2012. Nas aulas 3 e 4 já falamos um pouco sobre o Reino de Deus (RD). Mas precisamos de uma abordagem mais abrangente. 1- Conceito, Definição. “Apresentação da atuação salvífica de Deus no mundo sob a imagem de um domínio régio” (Dicionário Enciclopédico da Bíblia de A.van den Born, Vozes). “O termo grego βάσιλέίά (também o hebraico) significam em primeiro lugar a dignidade, e sobretudo o governo ativo de um rei e apenas em segundo lugar o território” (idem). “Entrar no R” (Mt 5, 20; etc.) e “entrar na vida” (Mt 18, 8; 19, 17) são imagens equivalentes. Significado? “Participar dos bens messiânicos que Deus reservou para o novo mundo” (idem). Nas teologias do Egito e Oriente Médio, em geral, o deus supremo é criador e reina sobre sua criação e os outros deuses. Nos textos bíblicos muitas vezes este pensamento parece invadir a mente de autores sagrados que colocam Javé como o maior e acima de todos os deuses. O já conhecido Catecismo Holandes (CH) afirma que o RD corresponde à própria realeza de Deus, sua dominação soberana (p. 117). Nós, vocês que me acompanham e eu, poderíamos dizer que o Reinado de Deus é o mesmo que o exercício da própria onipotência divina. Voltando ao CH: “O termo, formado no AT, era como a recapitulação da fé judaica: Deus é o Senhor deste mundo; um dia, isto é, no ‘Dia de Javé’, há de aparecer para acabar com qualquer injustiça e miséria na existência humana, tão cheia de amargas interrogações. É este o núcleo puro da esperança antigotestamentária” (p. 118). 2- Sinais do Reino. De todos os sinais, o mais importante está no fato de que ele se manifesta na pessoa de Jesus. Como o novo Adão, Jesus é o protótipo acabado que vive sob o RD. Se nós partirmos da visão realista do mundo nos seus desvarios mais diversos, com todas as formas de males e pensarmos na infinita bondade de um Deus todo poderoso, então dá para imaginar que Ele, Deus, exercendo sua “dominação soberana” sobre o mundo dos homens, deveria gerar uma humanidade muito melhor. Tudo seria mais de acordo com o coração de Deus. Mas as iniciativas de Deus são sempre surpreendentes e respeitadoras da liberdade concedida ao parceiro humano. A iniciativa de Deus parece pequena, pois resume-se na Encarnação do Logos na pessoa de Jesus, sem estardalhaço, sem trombetas tocando e nenhuma manifestação da glória divina. O Logos se “humaniza” em Jesus tão bem, que ninguém nota. Ninguém pode dizer que isso é pouca coisa. A Encarnação do Logos, como vimos em aulas anteriores, é realmente surpreendente, impensável, absolutamente grandiosa como manifestação do amor de Deus por nós. Contudo, essa grandeza toda está oculta “aos sábios e

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entendidos”, mas “revelada aos pequeninos”, àqueles que se fazem como crianças, confiam no Pai, aceitam e crêem em Jesus. “Mas, em que sentido é que Jesus entende o ‘Reino’? Pois acontece que ninguém pega em armas e estrela alguma cai do céu. Qualquer forma de esperança nacionalista e apocalíptica fica decepcionada. O inesperado em sua pregação é, em primeiro lugar: que não acontece nada” (CH, p. 118-119). Esta é a segunda forma com que Jesus decepciona muita gente que esperava uma intervenção gloriosa e espetacular de Deus no mundo. Mas tudo começa de forma tão pequena e despretensiosa que Jesus chega a comparar esse início com a semeadura de um grãozinho de mostarda. Vamos repetir o conceito de R do início dessa aula. Jesus claramente fala que o poder salvífico de Deus está atuando Nele, Jesus. Os milagres e expulsões de demônios são sinais claros dessa atuação. “... mas, se é pelo dedo (poder) de Deus que Eu expulso demônios, então o Reinado de Deus já vos alcançou” (Lc 11, 20; Mt 12, 28). Isso é o mesmo que afirmar que o “R chegou a vós de surpresa”! 3- Mas, é só isso? Há muitas descrições apocalípticas de uma intervenção total e arrasadora de Deus no final dos tempos e a vinda gloriosa do Filho de Homem. Jesus também fala disso. Mas evita as descrições dos autores apocalípticos. Jesus fala claramente de duas intervenções de Deus no mundo e na história dos homens. Na primeira Deus começa a exercer seu poderio, seu reinado, suavemente e através da pessoa e atuação de Jesus. É compreensível que a caminhada da humanidade sobre o nosso planeta necessariamente terá um fim. A Terra um dia deixará de ser habitável. Mas como e quando será esse fim? O fim virá lentamente ou será por morte súbita da espécie humana num colapso? Jesus fala pouco sobre esse tema. Afirma que o fim virá, mas que só o Pai sabe quando. “Toda a sua mensagem está concentrada, não em um acontecimento externo, mas no próprio fato de Deus reinar” (CH, p. 119). Repetindo, Jesus anuncia o R presente na pessoa Dele e que começa atuar. Doentes são curados, demônios são expulsos. Ele, Jesus, portador da realeza de Deus (pode-se ler poderio) invade os espaços de Satanás e vence seu poder de todas as formas. É “o mais forte” que chegou (Lc 11, 21-22). A sementinha de mostarda está plantada! Jesus vive 100% sob a realeza do Pai. Seu lema preferido é “meu alimento é fazer a vontade de Meu Pai”. Os primeiros discípulos vieram e seu número está crescendo. Os doze apóstolos foram escolhidos, largaram tudo e estão toda hora com Ele. Por sua vez, Jesus garantiu que estará com os seus “até o fim dos tempos”. O R começou para ficar. É definitivo. 4- Algumas características do Reino fundado por Jesus. 4.1- Milagres e ou Sinais. Em primeiro lugar precisamos ter em mente que os milagres de Jesus tem como finalidade essencial mostrar, sinalizar, ao mundo que o poder de Deus (= Realeza de Deus) está atuando. João no 4º Evangelho não fala em milagres, só fala em sinais. Mais para frente falaremos em sinais do Reino na Igreja Católica (IgC). 4.2 - Toda a humanidade é convidada.

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Não só o povo de Israel é destinatário do R, embora seja o primeiro a receber seu anúncio. Foi também ele quem gerou o fundador do R, Jesus. Contudo, sem privilégios, sem nacionalismos, o R é anunciado para todos os povos (Mt 10, 5-7; 8,11; 28, 19). 4.3- O Reino se firma entre pobres e pequenos, “isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para ‘evangelizar os pobres’ (Lc 4, 18). Declara-os bem aventurados pois ‘o Reino dos Céus é deles’ (Mt 5, 3); foi aos ‘pequenos’ que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido ‘aos sábios e entendidos’ (Mt 11, 25). Jesus compartilha a vida dos pobres desde o estábulo até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência (Lc 9, 58). Mais ainda, identifica-se com os pobres e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar no seu R (Mt 25, 31-46)”, conforme CIC n. 544. 4.4- Pecadores são convidados. Isso choca? Creio que nem todos os católicos sentem-se inteiramente à vontade com esse aspecto. Mas é tão lógico. Jesus fala em justos e pecadores. Os justos em muitos aspectos já fazem a vontade de Deus e estão mais ou menos afinados com as exigências do R. Ora, supõe-se que os pecadores estejam em posição oposta. Ouvida e aceita a palavra de Jesus, a senha mágica agora é “converter-se”. Ora, é exatamente o pecador que necessita de conversão (Mc 2 ,17; 1Tm 1,15; Lc 15, 7; Lc 15, 11-32; CIC n. 545). 4.5- Parábolas e outras características do Reino. - O joio (Mt 13, 24-30). É resposta aos impacientes. O R precisa de tempo para crescer e só a Deus compete julgar, sendo sua vontade garantida. - O grão de mostarda (Mt 13, 31-32; Mc 4, 30-32; Lc 13, 18-19). Acentua o crescimento do R que vai de um início tão pequeno que não é percebido pela maioria das pessoas, e chega a um fim esplendoroso! Subentendida está a força interna própria do R. - O fermento (Mt 13, 33; Lc 13, 20-21). Mais uma vez a energia transformadora e o poder de atingir todos os povos são acentuados. O fim é grandioso. Toda a massa cresce. - O tesouro e a pérola. (Mt 13, 44-46). Aqui Mateus acentua o valor único e maior que tudo do R, e sua capacidade de ser o maior sonho de alegria e felicidade de alguém. Isso impõe a quem o descobre a determinação de abrir mão de tudo para chegar ao tesouro. Aliás, esse abrir mão de tudo é repetido exaustivamente por Jesus em toda a sua pregação. Quando Ele aponta as duras condições de renúncia a quem quer segui-lo (largar todos os bens; colocar sua relação com Ele acima de todas as relações de sangue; tomar a cruz e segui-lo), está falando de coisas que a adesão ao R pode cobrar da gente. - A rede (Mt 13, 47,50). Em comum com a parábola do joio esta fala que, apesar do R estar implantado, nele conviverão, até o fim dos tempos, bons e maus. A ameaça sobre os que não prestam (no versículo (v) 38 qualificados de “súditos do Maligno”) é pesada. 5- Reino e Igreja.

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Apesar da clareza dos elementos aqui descritos, a IgC chegou a acalentar a idéia de que ela e só ela era a concretização do R na Terra. Daí a expressão da crença de que fora da IgC não haveria possibilidade de salvação. Até impérios e reinos cristãos chegaram a sonhar que seus mandatários poderiam encarnar o poder de Deus para eles regerem toda a cristandade (Sacro Império Romano-Germânico; o Sebastianismo em Portugal). O Concílio Vaticano II enfrentou esse problema de forma suave e firme. Até seu início (11/10/1962), exatamente há 50 anos, a expressão “extra Ecclesia nulla salus” (fora da Igreja não existe salvação) era quase dogma de fé. O Vaticano II afirma que a Igreja nasceu da pregação do R feita por Jesus Cristo. “Recebeu a missão de anunciar o Reino de Cristo e de Deus, de estabelecê-lo em todos os povos e deste R constituiu na Terra o germe e o início” (Compêndio Vaticano II, nº 6). Não podia a assembléia mundial dos bispos com o Papa dizer outra coisa. Mas, pouco adiante, no nº 21, afirma a não exclusividade da IgC em encarnar a única Igreja de Cristo e também diz que elementos do RD podem existir e atuar fora dos limites visíveis de nossa IgC. “Esta Igreja (Ig de Cristo), constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na IgC ... embora fora de sua visível estrutura se encontrem vários elementos de santificação e verdade. Estes elementos, como dons próprios à Igreja de Cristo, impelem à unidade católica” (op. cit. n. 21). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 18 - Creio no Espírito Santo - 1 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 18 de outubro de 2012. 1- Introdução. “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas”. Isso é tudo o que Símbolo Niceno-Constantinopolitano fala do Espírito Santo (ES). A partir de hoje, vamos ocupar-nos nas aulas com o ES. Muitas vezes ouvem-se críticas à vida cristã na Igreja Católica (IgC), que teria reservado pouco espaço à explanação da doutrina a respeito da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e também não teria desenvolvido uma piedade rica e elaborada envolvendo o ES. Parece que isso é verdade em parte. Mas também é “natural”, pois a própria História da Salvação leva a isso. Vou lembrar só duas coisas. A primeira está na Encarnação do Logos em Jesus Cristo. Afinal, o “Deus invisível” tornou-se em Jesus o “Deus visível”. Tal fenômeno é grande e maravilhoso demais. É inevitável que as atenções dos seres humanos se voltem mais para o Cristo. Um iceberg chama a atenção por sua parte visível , embora essa seja a menor. A segunda razão que explica é que Deus pintado desde o Êxodo como tão grandioso e transcendente, contrariando, aparentemente, sua própria natureza, resolveu tomar a forma de um bebê pobre e indefeso.

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Isso é por si tão impensável que exigiu rios de tinta para explicar. E o que dizer desse Deus na Cruz? Por essas razões, quase todas as polêmicas surgidas dentro da Igreja dos primeiros séculos giraram em torno da pessoa de Jesus Cristo. Enquanto isso, o próprio Jesus fala do ES comparando-o ao vento (dentro da compreensão limitadíssima dos fenômenos eólicos do seu tempo), dizendo que ele (ou é Ele?) “sopra onde quer ... não sabemos de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3, 8). A ação do ES pode ser tão discreta que a gente em geral não percebe conscientemente. O fato de ter-se escrito menos sobre o ES do que sobre Cristo é semelhante ao que ocorreu com o Concílio Vaticano II no se refere à Fé. A Fé não entrou como tema de um documento específico. Mas, “o Servo de Deus Paulo VI, dois anos depois da conclusão do Concílio, se expressava usando essas palavras: ‘Se o Concílio não trata expressamente da Fé, fala da Fé a cada página’” (Homilia de Bento XVI, dia 11/10/12, na Missa para a abertura do Ano da Fé). 2- Ponto de partida atualíssimo. Vamos reproduzir um trecho da homilia que acabamos de citar. O Evangelho de hoje nos fala que Jesus Cristo, consagrado pelo Pai no Espírito Santo, é o verdadeiro e perene sujeito da evangelização. «O Espírito do Senhor está sobre mim, / porque ele me consagrou com a unção / para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4,18). Esta missão de Cristo, este movimento, continua no espaço e no tempo, ao longo dos séculos e continentes. É um movimento que parte do Pai e, com a força do Espírito, impele a levar a Boa-Nova aos pobres, tanto no sentido material como espiritual. A Igreja é o instrumento primordial e neces-sário desta obra de Cristo, uma vez que está unida a Ele como o corpo à cabeça. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). Estas foram as palavras do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos, que soprando sobre eles disse: «Recebei o Espírito Santo» (v. 22). O sujeito principal da evangelização do mundo é Deus, através de Jesus Cristo; mas o próprio Cristo quis transmitir à Igreja a missão, e o fez e continua a fazê-lo até o fim dos tempos infundindo o Espírito Santo nos discípulos, o mesmo Espírito que repousou sobre Ele, e n’Ele permaneceu durante toda a vida terrena, dando-lhe a força de «proclamar a libertação aos cativos / e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor» (Lc 4,18-19). Examinemos alguns pontos. “Jesus Cristo é consagrado pelo Pai no ES”, para ser o “verdadeiro e perene sujeito da Evangelização”. Portanto, Evangelização é a missão número um de Jesus. Depois Jesus encarrega a Igreja de levar avante o projeto de Evangelização. “Como o Pai Me enviou, Eu também Vos envio” (Jo 20-21). Para isso “recebei o ES” (v. 22). Como conclusão podemos dizer que na Igreja um papel importante do ES é ser a alma evangelizadora que atua na Igreja e em cada um dos seus membros engajados. Na verdade, seu papel na evangelização e na vida dos seguidores de Jesus é extraordinário.

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Ele nos ilumina e aquece; nos garante o acesso à Verdade de Jesus (= conteúdos revelados por Jesus), dá-nos conhecimento e sabedoria, além de fogo e energia! Certamente voltaremos a esse assunto mais para frente. 3- Como chegamos à idéia do ES? 3.1- “Quando Deus iniciou a criação do Céu e da Terra, a Terra estava deserta e vazia e havia treva na superfície do abismo; o sopro de Deus pairava na superfície das águas” (Gn 1, 1-2). Logo no segundo versículo da Bíblia aparece a primeira referência de algo divino pairando sobre o caos original, descrito como um abismo tomado pelas grandes águas revoltas. Tudo envolvido na mais completa escuridão. Esta coisa já estava aí desde sempre. É a partir do caos pré-existente que Deus começa a sua obra organizadora e criadora. Na verdade, existiam águas e terra, mas tudo era dominado por esse oceano primitivo (lembrar que esse oceano era entendido como um ser mau. No novo Céu e na nova Terra do Apocalipse, o Mar já não existe). Mas, atenção, por cima disso “pairava o sopro de Deus”. O que significa isso? Em hebraico, a língua dos antigos hebreus, diziam “ruah”. “A palavra hebraica “ruah” significa originariamente, como também o grego “pneuma”, e o latim “spiritus”, ar em movimento, portanto, hálito ou vento” (Dic. Enciclopédico da Bíblia, op. cit. verbete espírito). Parece que lá pelo século V a.C. foi prevalecendo a idéia de identificar-se “ruah” com hálito divino ou sopro das narinas de Javé. Javé podia ser imaginado como um ser impressionantemente gigantesco. “Quem pode medir as águas do mar na concha da mão? Quem conseguiu medir os céus a palmo, medir o pó da Terra com o alqueire e pesar as montanhas colocando-as no gancho?” (Is 40, 12). No salmo 107 (108) Javé aparece conversando com o salmista e afirma: “exultarei repartindo Siquém ... Efraim é meu capacete e Judá, o meu cetro real. Moab é minha bacia de banho; sobre Edom atirei as minhas sandálias”. As grandes tempestades podiam ser o sopro expelido pelas narinas de Javé. Em Gn 2, 7, o autor sagrado escreve singelamente. “O Senhor Deus modelou o homem com o pó apanhado do solo. Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida e o homem se tornou um ser vivo”. Então a vida está no ar, envolvida no processo respiratório. Adão recebe a vida através da respiração de Javé. Que lindo! Esse “ar de Deus” passa a ser logo identificado com o espírito que só pode vir de Deus. Ar de Deus, espírito que vem de Deus, vida de todo o ser vivo misturam-se. Podemos dizer que esse espírito que vem de Deus é a força vital. Toda a vida vem de Deus. É fruto do hálito divino. 3.2- Espírito e Carne. “No AT nunca se diz que Deus seja um espírito ou imaterial. No entanto, as oposições entre homem-carne e Deus-espírito (Is 31, 3) provam que Deus e espírito são duas concepções equivalentes. Homem ou carne é tudo o que é perecível, fraco (Is 40, 6; Jó 10, 4s; Sal 56, 5; 78, 39); Deus ou espírito é aquilo que é poderoso, imperecível (Jó 10, 4s; Jer 17, 5-8; Os 14, 4). Esta oposição parece suposta nas palavras escuras de Gn 6, 3 - (“Javé disse: ‘ meu espírito não permanecerá no homem, pois ele é carne; não viverá mais que 120 anos’”.) Embora não se afirme que Deus seja um espírito, muitas vezes é dito que Ele possui um espírito, que Ele dá o espírito,

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ou que é pelo seu espírito que Ele opera no homem e na natureza” (Dic. Enciclopédico da Bíblia, coluna 480). A mesma obra citada também afirma que os israelitas não especulavam sobre a essência do espírito. Na medida em que angelologia e a demonologia vai progredindo, começam a aparecer espíritos bons e espíritos maus. Em livros apócrifos, como Henoc, almas de falecidos são chamadas de espíritos dos mortos”. Uma exceção clara aparece em Sabedoria, 7, 22-8,1. Vamos ler. Mas não podemos esquecer duas coisas. Esse livro só entrou na Bíblia de tradução grega. O autor começa falando das qualidades de um “espírito inteligente, santo, único”, etc, que está na Sabedoria. Do v. 24 em diante passa a exaltar a Sabedoria como um ser personificado. Mais tarde é fácil ver na Sabedoria um como super dom do ES. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 19 - Creio no Espírito Santo - 2. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 25 de outubro de 2012. Visitem o site do Vaticano. www.vatican.va Vejam a versão em portugues. 1- O Espírito e seus diversos sentidos no N.T.. 1.1- O espírito do homem não perdeu ainda o sentido de ruah, ou hálito, ar da respiração, ou vento. Mas um sentido mais filosófico vai- se impondo. Assim, acredita-se que o espírito vital, cuja presença se percebe na respiração, com a morte separa-se do corpo e continua a existir. Em Lucas, descrevendo a ressurreição da filha de Jairo, lemos: “o seu espírito voltou e ela se levantou no mesmo instante” (8, 55). Nosso povo diria que sua alma voltou. Na morte Jesus exclama: “Pai, em tuas mãos entrego o Meu espírito” (Lc 23, 46). O espírito continua a existir, onde? Jesus, ao entregar o espírito nas mãos do Pai, e ao dizer ao ladrão crucificado ao seu lado “ continua “ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43), não deixa dúvidas aos primeiros cristãos e aos cristãos de sempre que o espírito de um homem bom vai para junto de Deus, ou seja, o Céu. A idéia de um purgatório não existia. A 1Pd no capítulo 2 descreve a vitória de Cristo ressuscitado anunciada a todas as criaturas e diz: “Então é que Ele foi pregar até aos espíritos que se encontravam na prisão, aos rebeldes de outrora ...” (2, 19-20). Observemos que pregar é a mesma coisa que anunciar. Os judeus acreditavam no Sheol. Parece certo que Pedro pensa nele quando fala de espíritos (dos mortos) na prisão. 1.2- Esse espírito que está no homem é a sede dos sentimentos, pensamentos e decisões (Mc 2, 8; 8, 12; 2Cor 2, 13; 7, 13; Rm 8, 16). Assim, o espírito pode ser visto como a vontade forte que se contrapõe à

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vontade fraca da natureza humana natural. Aqui trata-se da natureza humana espiritual. Em Mateus 26, 41, Jesus, na cena do Horto das Oliveiras, diz a Pedro: “... o espírito está cheio de ardor, mas a carne é fraca”. 1.3- Por vezes fala-se no espírito, mas o autor pensa no homem todo, vivo e indiviso. Nem sempre é fácil separar espírito de alma. Em Hebreus 4, 12, falando do poder e sabedoria da Palavra de Deus, diz: “Ela penetra até dividir a alma do espírito”. Alma é aqui entendida como princípio que sustenta a vida biológica e psíquica. O espírito é o princípio que sustenta a vida espiritual. Lucas 1, 46 coloca nos lábios de Maria essas palavras: “Minha alma exalta o Senhor e meu espírito se encheu de júbilo por causa de Deus, meu Salvador”. São Paulo acredita que o homem é corpo, alma e espírito. Essa sua dimensão espiritual serve de ponte para a atuação do Espírito de Deus no ser humano. 1.4- São Paulo coloca como opostos o espírito e a carne. Quando assim fala, ele identifica no espírito a virtude divina que justifica e vivifica o homem. A carne é a realidade material fraca e portadora de toda a sorte de pecado. Mas, aqui na prática, já podemos identificar esse espírito entendido como virtude divina como o Espírito Santo. Recomendo ler Gl 3, 3-6; 5, 16-25 e Rm 8, 4-13. 1.5- Espíritos bons e maus. Sobre espíritos bons ou anjos fala-se relativamente pouco no N.T.. Referências a espíritos maus é muito mais frequente. Em geral são chamados de espíritos impuros. Estes são causadores de toda a sorte de doenças, maus desejos e maus sentimentos. 2- O Espírito Santo (ES). 2.1- O ES no A.T.. Tudo o que se fala no A.T. a respeito do espírito de Deus devemos tentar entender a partir da nota que segue. “Para formar uma idéia da doutrina bíblica (A.T.) a respeito do espírito, é preciso partir do sentido original da palavra ruah que significa hálito, vento, ou espírito. O hálito ..., força vital e o vento eram, para os israelitas, forças misteriosas, poderosas, temíveis .... Ora, exatamente como se fala no braço de Javé ... em sua mão ... sua face ... sua boca (Sl 33, 6), assim fala-se em seu hálito (Jó 32, 8; 33, 4) e em sua força vital ou espírito que opera tanto quanto o próprio Javé. Não admira pois, que os fenômenos misteriosos e extraordinários, seja no homem, seja na natureza, que manifestam um poder especial, sejam atribuídos ao hálito ou espírito de Javé” (Dicionário¹, [B], coluna 484). Isso tudo é uma forma de falar que Deus está agindo. Esse espírito é santo porque Deus é santo. ¹ Dic. Enciclopédico da Bíblia, Vozes. Em nenhuma passagem do A.T. aparece a idéia de um Espírito, santo, porque divino, que possa ser entendido como uma pessoa individual, intelectiva. Esse espírito santo não pessoa, age nos profetas dando-lhes o poder de prever o futuro e de desvendar coisas ocultas, bem como explica seus êxtases e visões. Fala-se então num Espírito de Profecia. Entre os judeus prevalece a convicção de que tal espírito retirou-se de Israel depois das atividades dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Isso aconteceu por causa dos pecados do povo. Faz parte das

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esperanças messiânicas de que o Messias quando vier será precedido pelo Grande Profeta, cheio do Espírito do Senhor, que preparará o povo para recebê-Lo. É a volta do espírito de Javé que passa a viver definitivamente entre o povo. 2.2- O Espírito Santo no N.T.. Quero comunicar a voces que vou ocupar-me longamente com o que está no Dicionário Enciclopédico da Bíblia acima citado, indo da coluna 485 a 488. Para não cansá-los, não vou ficar citando. 2.2.1- Continuando ainda a falar e entender à moda do A.T., podemos afirmar que a maior parte das expressões que descrevem as atividades do ES no A.T. encontramo-las no N.T.. - o ES vem do alto, do Céu (Mc 1, 10; Jo 1, 32; 1Pe 1, 12); - do Pai (Jo 15, 26; 16, 13); - Ele desce (At 10, 44; 11, 15); - é enviado ou dado pelo Pai (Lc 11, 13; 1Jo 3, 24; 4, 13; Gl 4, 6; Rm 8, 15ss); - enche o homem (Lc 1, 15; 4, 1; At 2, 4; 4, 6); - repousa sobre pessoas (Jo 1, 32ss); - mora no ser humano (Rm 8, 9; 1Cor 3, 16). Conforme o Dicionário citado, diz-se que o ES é: - a força sobrenatural pela qual Deus, em casos particulares, intervém para operar milagres no homem, como a expulsão de um demônio (Mt 12, 28; Lc 11, 20, pelo dedo de Deus); - curas ou outros efeitos do poder divino, tais como a gravidez sobrenatural (Mt 1, 18.20; Lc 1, 35, onde o ES está em paralelismo com o poder do Altíssimo); - operar fenômenos sobrenaturais de ordem psíquica tais como: intuições, visões e manifestações proféticas (Lc 1, 41.67; 2, 25s; At 7, 55; 8, 29.39; ...); - o milagre de Pentecostes (At 2, 4.17s); - a glossolalia e interpretações de línguas (1Cor 12, 10; 14, 13.27s); - discernimento dos espíritos (1Cor 12, 10; 14, 29; ... ); - a fé que opera milagres, ... . O autor anota que tais efeitos do ES não são permanentes, embora alguém possa ser permanentemente cheio do ES. Mas alguém que é permanentemente cheio do ES, em ocasiões especiais, pode ficar repleto do ES. Isso acontece com Estêvão (At 6, 3.11; 7, 55). Antes de continuar no Dicionário, vamos a alguns comentários. No que se refere à força sobrenatural, podemos dizer que todo cristão afinado com sua condição cristã pode dispor de forças naturais, divinas. Seria o comum da ação da graça. Mas o autor fala em casos particulares, como milagres. Eles não são comuns. No que se refere a fenômenos psíquicos, podemos dizer que intuições são frequentes em pessoas realmente dedicadas e presentemente ocupadas com as coisas de Deus.

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E a tal da glossolalia? Para mim é assunto secundário e complicado. Recomendo ler o capítulo 14 da 1ª Carta aos Coríntios. É a tal da fala em “línguas”. Não se trata de línguas estrangeiras. Tratar-se-ia de uma linguagem supostamente atribuída a seres sobrenaturais. São Paulo exige que, em suas comunidades, quem falar esse tipo de língua, só o faça se tiver alguém para traduzir o conteúdo. Chega a ser até um tanto quanto antipático aos Coríntios quando diz: “graças a Deus eu falo em línguas mais do que todos vós, mas numa assembléia, prefiro dizer cinco palavras inteligíveis, para instruir também os outros, do que dez mil em línguas” (1Cor 14, 18-19). Pessoalmente, eu digo que, como sempre, deve prevalecer o princípio do amor aos irmãos. O que mais acrescenta ao bem de todos deve prevalecer. Não esquecer o capítulo 13 da mesma Carta. No que se refere ao discernimento dos espíritos, é cada um pedir ao ES a graça de conhecer melhor o seu íntimo e aprender a ler quais são as suas motivações que o levam a fazer isso ou aquilo. Espíritos podem ser entendidos como motivações que muitas vezes são desejos não conhecidos, ou seja, inconscientes. Voltemos ao Dicionário. 2.2.3- O Espírito Santo como força santificadora. O batismo de João Batista era conferido com água para purificar e preparar as pessoas para a vinda do Messias. Mas a grande purificação messiânica viria num batismo que Jesus traria “com o ES e o fogo”. Este batismo purificará, pela força divina, dos males do pecado (Mt 3, 11; Is 4, 4). O fogo serve para purificar metais. O mesmo deve ocorrer com as impurezas do pecado que impregnam o homem. A força santificadora do batismo no ES ocorre em Mc 1, 8 e At 1, 15; 11, 16. “Eu batizei com a água; Ele batizar-vos-á com o ES”. Os profetas falavam numa recriação moral e religiosa do povo na Nova Aliança (Ez 36, 25-27; Jer 31, 32-34). Pentecostes foi para os Apóstolos sinal certo que esses dias haviam chegado (Jl 4, 12; At 2, 17; 11, 18). O Espírito, enviado dos Céus por Jesus, transformou os Apóstolos fracos e covardes em testemunhas corajosas e intrépidas. É interessante observar que isso só se dá depois da Ascensão do Senhor, depois da “entrada de Jesus na Sua Glória”. Agora Jesus exerce seu poder salvítico e o ES passa a operar (Jo 7, 39; 12, 32s; 16, 7). Aqui aparece o que talvez seja o papel mais importante do ES. Ele é a força pela qual Cristo dá a vida sobrenatural aos seus fiéis. Agora a ação do ES não se dá apenas em fenômenos psíquicos, mas sobretudo age como força santificadora, como princípio de vida eterna (1Cor 6, 11; Jo 3, 5-8; 6, 63; 7, 37-39). Ele é “o penhor” que garante a Israel de Deus a sua herança, a glória eterna e também a força divina que “dá a vida em Cristo” (2Cor 1, 22; Ef 1, 13; Gl 6, 16; Rm 8, 2s). Agora entendemos quando Paulo fala que a Nova Aliança não é uma aliança baseada na letra mas baseada no Espírito, pois ser cristão é possuir o “Espírito de Cristo” (Rm 8, 9). Na mesma Carta Paulo fala em “estar no Espírito”, ser “movido” no Espírito de Deus, e ser “morada do Espírito” (8, 11).

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O ES morando num corpo mortal (perecível) faz com que esse corpo possa ressuscitar espiritualizado e imperecível. Esse papel vivificador e santificador está tão intimamente ligado à Cristo que São Paulo diz que o homem é justificado em Cristo, ou no ES (Gl 2, 17; 1Cor 6, 11). A santificação do homem também se dá em Cristo ou no ES (1Cor 1,2; Rm 15, 16). O selo de qualidade e segurança que recebemos para a vida eterna pode ser de Cristo ou do ES (Ef 1, 13; 4, 30). Em 2Cor 3, 17, chega até a declarar que o espírito vivificador é o Cristo. Viver essa vida nova ou divina é viver o Reino de Deus. O homem enquanto carne e sangue (o velho Adão) não pode viver essa vida sem “um novo nascimento do alto”. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 20 - Creio no Espírito Santo - 2 continuação. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 01 de novembro de 2012. Na aula passada paramos no item abaixo. 2.2.3- O Espírito Santo como força santificadora. Espíritos podem ser entendidos como motivações que muitas vezes são desejos não conhecidos, ou seja, inconscientes. Voltemos ao Dicionário. 2.2.3- O Espírito Santo como força santificadora. O batismo de João Batista era conferido com água para purificar e preparar as pessoas para a vinda do Messias. Mas a grande purificação messiânica viria num batismo que Jesus traria “com o ES e o fogo”. Este batismo purificará, pela força divina, dos males do pecado (Mt 3, 11; Is 4, 4). O fogo serve para purificar metais. O mesmo deve ocorrer com as impurezas do pecado que impregnam o homem. A força santificadora do batismo no ES ocorre em Mc 1, 8 e At 1, 15; 11, 16. “Eu batizei com a água; Ele batizar-vos-á com o ES”. Os profetas falavam numa recriação moral e religiosa do povo na Nova Aliança (Ez 36, 25-27; Jer 31, 32-34). Pentecostes foi para os Apóstolos sinal certo que esses dias haviam chegado (Jl 4, 12; At 2, 17; 11, 18). O Espírito, enviado dos Céus por Jesus, transformou os Apóstolos fracos e covardes em testemunhas corajosas e intrépidas. É interessante observar que isso só se dá depois da Ascensão do Senhor, depois da “entrada de Jesus na Sua Glória”. Agora Jesus exerce seu poder salvítico e o ES passa a operar (Jo 7, 39; 12, 32s; 16, 7). Aqui aparece o que talvez seja o papel mais importante do ES. Ele é a força pela qual Cristo dá a vida sobrenatural aos seus fiéis. Agora a ação do ES não se dá apenas em fenômenos psíquicos, mas sobretudo age como força santificadora, como princípio de vida eterna (1Cor 6, 11; Jo 3, 5-8; 6, 63; 7, 37-39). Ele é “o penhor” que garante a Israel de Deus a sua herança, a glória eterna e também a força divina que “dá a vida em Cristo” (2Cor 1, 22; Ef 1, 13; Gl 6, 16; Rm 8, 2s).

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Agora entendemos quando Paulo fala que a Nova Aliança não é uma aliança baseada na letra mas baseada no Espírito, pois ser cristão é possuir o “Espírito de Cristo” (Rm 8, 9). Na mesma Carta Paulo fala em “estar no Espírito”, ser “movido” no Espírito de Deus, e ser “morada do Espírito” (8, 11). O ES morando num corpo mortal (perecível) faz com que esse corpo possa ressuscitar espiritualizado e imperecível. Esse papel vivificador e santificador está tão intimamente ligado à Cristo que São Paulo diz que o homem é justificado em Cristo, ou no ES (Gl 2, 17; 1Cor 6, 11). A santificação do homem também se dá em Cristo ou no ES (1Cor 1,2; Rm 15, 16). O selo de qualidade e segurança que recebemos para a vida eterna pode ser de Cristo ou do ES (Ef 1, 13; 4, 30). Em 2Cor 3, 17, chega até a declarar que o espírito vivificador é o Cristo. Viver essa vida nova ou divina é viver o Reino de Deus. O homem enquanto carne e sangue (o velho Adão) não pode viver essa vida sem “um novo nascimento do alto”. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 20 Creio no Espírito Santo - 3. Espírito Santo Como Pessoa. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 01 de novembro de 2012. Apesar de já ter anunciado o ES como pessoa, temos ainda muitas passagens do N.T. em que Ele ainda continua sendo melhor entendido como uma força divina, e não como uma pessoa propriamente dita. São numerosas as expressões que descrevem o ES como alguma coisa e não como alguém. Podemos até fazer uma lista. - At 2, 33: “... e O derramou como estais vendo”. derramar. - Tt 3, 5-6: “Este espírito Ele o difundiu sobre nós com profusão ...”. espalhar. - 1Ts 5, 19: “Não extingais Espírito”. apagar. - Mc 1, 8: “Ele vos batizará com ES”. batizar com. - At 1, 8: “Mas recebereis uma força, força do ES”. energia. - Ef 1, 13: “Nele (Cristo) ... fostes marcados com o sinete do Espírito prometido”. selo. - At 10, 38: “Esse Jesus ... Deus Lhe conferiu a unção do ES”. ungir. - Cor 12, 13: “pois todos nós fomos batizados (embebidos) em um só Espírito”. ser batizado em. - 2Cor 3, 3: “vós sois uma carta de Cristo escrita com o Espírito”. escrita. - Lc 1, 15: João Batista “será repleto do ES desde o seio de sua mãe”. ser preenchido de. - Lc 1, 41: “E Isabel ficou repleta do ES”. ser preenchido de. - Ef 5, 18: “... mas sede repletos do ES”. ser preenchido de. Fiz este quadro de citações para ver um pouco da enorme riqueza de referências e da diversidade de idéias atribuídas à presença e à ação do ES em nós. Daqui para frente vou apenas colocar as idéias principais e apontar as passagens do N.T.. Voces mesmos poderão ler os tópicos correspondentes em sua Bíblia. - Paralelismo entre o ES e a força de Deus: Lucas 1, 17.35; At 1, 8. - Uma atividade intelectual é atribuída ao ES, tais como, falar: At 8, 29; aspirar: Rm 8, 6; e habitar: Rm 8, 9. No entanto, tais expressões também são aplicadas para coisas personificadas. Vocês se lembram da febre que Jesus ameaçou como alguém que ameaça um ser vivo?

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E a paz que pode ir e repousar sobre alguém ou pode voltar à pessoa que a enviou? As mesmas expressões também podem referir-se a noções abstratas. Assim a carne aspira (Rm 7, 7); o pecado habita (Rm 7, 17). Até mesmo a célebre passagem da blasfêmia contra o ES não constitui uma prova definitiva do ES como pessoa, pois estamos falando da expulsão do demônio pela ação do poder de Deus (o dedo). Lucas 11, 20 pensa no poder de Deus. Mateus 12, 28, falando do mesmo episódio, fala no Espírito de Deus. Ou seja, ambos estão falando do ES como expressão do poder de Deus. Atenção. A única passagem dos evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc) onde não se pode entender o Es a não ser como Pessoa Divina, está em Mt 28, 19: “ide, pois; de todas as nações fazei discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Aqui não restam dúvidas: é a Trindade de Pessoas Divinas. Atos dos Apóstolos - quero dar um destaque especial aos Atos dos Apóstolos. Nesse livro de Lucas, o ES é mais facilmente identificado como uma força de Deus do que como uma pessoa. É sobretudo um dom conferido aos pregadores do Evangelho (2, 38; 10, 45). Muitas vezes aparece como personificação e fala pela boca dos profetas (4, 25; 28, 25). Fala aos apóstolos (8, 20; 10, 19; 11, 12; 13, 2; 20, 23; 21, 11). Determina-lhes uma missão, impelindo Barnabé e Paulo para Chipre (3, 4). Paulo e Silas são impedidos de pregar na Ásia. Vão a Frígia e à região gálata. Os dois tentam ir para a Bitínia, mas novamente são impedidos pelo Espírito de Jesus. Eles são quase que empurrados para a Macedônia (16, 6-10). Constitui governantes para a Igreja (20, 28). O autor do DEB¹, já citado, avalia que só em 15, 28 podemos ver o ES claramente como pessoa (“pareceu bem ao ES e a nós ...”). ¹ Dic. Eenciclopédico da Bíblia. Epístolas Paulinas - São Paulo também merece destaque. Ele emprega a palavra espírito 146 vezes. Fala em espírito do homem. Com mais frequência fala do Espírito como força divina; força santificadora do Pai, ou do Filho, ou de Jesus Cristo (2Cor 3,17s; Gl 4, 6; Fl 1, 19). O ES como pessoa aparece mais claramente em Rm 8, 15s.26; 1Cor 3, 16; 14, 25. Contudo, Paulo chega ao que nós chamamos de fórmula trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo) com clareza em 1Cor 12. 4-6 e em 2Cor 13, 13). 2.2.4 - O Espírito Santo-Pessoa em João. É comum falar-se que Lucas é o evangelista do ES e que os Atos dos Apóstolos (também de Lucas) são o Evangelho do ES. Na verdade, o autor que mais claramente fala do ES como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é São João. Vou reproduzir aqui o que está no nosso DEB, no item d, coluna 487. “Em João o ES (14, 26) é o espírito da verdade (14, 15; 15, 26; 16, 13; 1Jo 4, 6; 5, 6); é um outro auxiliador (Paráclito, conforme eu penso). O ES é um outro auxiliador, porque depois da ascensão de Cristo, Ele O substitui, socorrendo aos discípulos (Jo 14, 26; 1Jo 2, 27), ensinando-os em tudo o que o próprio Jesus

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ainda não tinha dito, e revelando-lhes o futuro (16, 13), lembrando-lhes a doutrina de Cristo (14, 26; 16, 12s), dando-lhes testemunho de Jesus (15, 26; cf. 1Jo 5. 5-10), e glorificando-O (16, 14). O ES como substituto de Cristo na Igreja é descrito aqui, de modo tão pessoal, que é indicado com o pronome masculino (εχείνоς: 16, 8.13s), embora πνευμά (espírito) seja neutro. Segue-se disso que São João pensa numa pessoa distinta do Pai e do Filho, presente e ativa nos fiéis, junto com o Pai e o Filho (14, 16.19.26; 15, 26; 15, 7; 17, 21-26)”. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 21 - Creio no Espírito Santo - 3. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 22 de novembro de 2012. 1- Espírito Santo como Comunicação de Deus conosco. Para começar, podemos dizer que na relação entre Deus e qualquer ser humano tudo começa pelo ES. Ou seja, é Ele que dá o primeiro passo. O nº 683 do CIC diz: “ ‘Ninguém pode dizer Jesus é Senhor a não ser no ES’ (1Cor 12,3). ‘Deus enviou aos nossos corações o Espírito do Seu Filho que clama: Abba, Pai’ (Gl 4, 6). Este conhecimento de Fé só é possível no ES. É que Ele nos precede e suscita em nós a Fé”. Aqui o próprio CIC explica o fundamento das duas afirmações de São Paulo. Isso é possível porque o ES está em nós e age em nós, tomando a iniciativa. Este é um princípio bem estabelecido na Igreja Católica. Recomendo ler o capítulo 12 da 1Cor. Aí Paulo está afirmando que todas as boas qualidades humanas (= talentos) vem do ES. Afirma também que Deus realiza sua obra em nós, os humanos, através do ES que nos dá os mais diversos dons, levando-nos a nos interessar pelos mais diversos serviços prestados ao bem comum da fraternidade. Na próxima aula vou explicar como se dá a combinação entre iniciativas divinas e as nossas próprias iniciativas. Não podemos deixar de dizer uma palavrinha sobre o dom da Fé. A Fé é um dom. Isso já diz que é algo dado, às vezes oferecido. O dom da Fé é o elemento fundador de toda a realidade espiritual, também a dimensão espiritual do ser humano. A Fé é a luz que ilumina e dá sentido a tudo que existe. 2- O ES atua em geral discretamente. Vamos reproduzir o nº 687 do CIC. “O que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus (1Cor2, 11). Ora, seu Espírito que o revela nos dá a conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não se revela a si mesmo. Aquele que ‘falou pelos profetas’ faz-nos ouvir a palavra do Pai. Mas Ele mesmo, não o ouvimos. Só o conhecemos no momento em que nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhe-lo na Fé. O Espírito da Verdade que nos ‘desvenda’ o Cristo, ‘não fala de si mesmo’ (Jo 16, 13). Tal apagamento, propriamente divino, explica porque ‘o mundo não pode acolhe-lo, porque não vê e nem o conhece’, enquanto que os que crêem em Cristo o conhecem, por que Ele permanece com eles (Jo 14, 17)”. Antes de nos debruçar sobre este texto podemos pensar em três tempos ou eras da História da Salvação. A primeira abrange todo o AT onde Deus, em geral identificado como Criador e Pai, é o principal Ator. A segunda era é muito breve e abrange o tempo em que Jesus aparece e atua entre nós até a Sua Ascensão.

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O Filho é o Ator principal. A terceira era começa com o Pentecostes e deverá ir até os fim dos tempos. O principal Ator é o ES. Mas aqui temos um surpresa realmente divina. Se o ator principal é o ES, como é que quase não o percebemos? A resposta já faz parte do nosso repertório de conhecimento. Sem Fé ninguém percebe as ações como sendo de Deus: nem do Pai, nem do Filho, nem do ES! Afinal, nem sequer podemos dizer com propriedade que “Jesus é o Senhor” sem a luz divina da Fé. Ora, se o ES “não fala de si mesmo”, está sendo fiel à sua natureza divina que é a de ser inefavelmente discreto. Aqui temos material para uma noite de oração e meditação. Deus gosta mais de agir e ser conhecido através de coisas pequenas do que através de espetáculos grandiosos e arrebatadores. Enquanto isso, nós temos claras preferências por tudo o que é grandioso! Contudo, aquilo que é grandioso nos arrebata, nos embebeda ... Pode tornar-nos meio loucos, pois nossa racionalidade foi para o espaço. Por sua vez, a maior parte do tempo de existência de cada um de nós costuma ser tão simples, tão desprovida de excitação, tão pouco apelativa, tão rotineiramente monótona. Deus teria então duas formas de comunicar-se conosco. Manifestar-se por uma sucessão de espetáculos grandiosos e acabaria por cansar-nos, ou desorganizar nossa vida. Talvez, simplesmente, enlouqueceríamos. A vida tem necessidade de rotina e regularidade; de simplicidade e serenidade; de silêncio, paz e poesia! Por isso Deus escolheu a segunda forma: comunicar-se de forma simples, suave, respeitadora da nossa natureza. Agora entendo melhor o capítulo 13 da Carta aos Coríntios. A Fé, a Esperança e o Amor na maior parte do tempo de nossa existência são tão simples e despretensiosos, tão em harmonia com o modo de ser de Deus. Mas essas tres virtudes são absolutamente suficientes para iluminar e dar sentido a tudo em nossa vida, tanto às coisas pequenas e insignificantes, como às grandes e espetaculares. 3- Nossa Igreja Católica, lugar privilegiado para conhecer o ES. Estou falando em lugar privilegiado, não único. Dentro da Nossa Igreja podemos destacar como elementos importantes para conhecer como é e como atua o ES: - Nas Escrituras. Destacamos não só a importância da Bíblia, mas também a forma católica de ler e entender a Palavra. - No Tesouro da doutrina católica, onde destacam-se nossa grande Tradição e os Padres da Igreja. - Liturgia e oração. Vai bem uma pesquisa sobre a liturgia eucarística em primeiro lugar. Os textos de celebração dos demais sacramentos também são lindos. Nessa pesquisa procuramos sinais da atuação e presença do ES. - Testemunho dos Santos. Queria apenas lembrar que São Francisco costumava dizer que o ES é o superior de sua Ordem. 4- Missão conjunta do Filho e do Espírito (nº 689). Há pouco falávamos das eras da História da Salvação. Víamos a terceira como a Era do ES. Podemos também referir-nos a ela como a Era da Igreja. Esse tempo é na verdade uma continuação da Era do Filho. Temos aqui a atuação conjunta do Filho e do ES.

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Na verdade a Igreja de Cristo é o local por excelência desse agir conjunto do Filho Encarnado e do ES. São Paulo chega a imaginar a Igreja como um só e grande corpo, um organismo vivo através do qual o Filho atua no mundo. Nós já sabemos bem que Jesus foi ungido. Todo cristão é um ungido a partir do batismo. Mas Jesus é o UNGIDO, isto é, o Cristo. Nós fomos ungidos com óleo santo que associamos firmemente à recepção e atuação do ES em nós. Mas na biografia de Jesus não há notícia de ter sido ungido com óleo santo. É claro que não necessitava de tal coisa. Afinal já fora concebido por ação do ES. Como já vimos, muitas vezes, no NT o ES é chamado de Espírito de Cristo,ou Espírito do Seu Filho (nº 689). São Gregório de Nissa vê na imagem da unção a não existência de qualquer distância entre o Filho e o Espírito, pois nada existe entre a superfície do corpo ungido e o óleo santo (nº 690). Vou ler a última frase da aula anterior. Segue-se disso que São João pensa numa pessoa distinta do Pai e do Filho, presente e ativa nos fiéis, junto com o Pai e o Filho (14, 16.19.26; 15, 26; 15, 7; 17, 21-26)”. Estamos afinal a falar da Santíssima Trindade (SSma). São tres pessoas distintas em comunhão total e contato perfeito. Então podemos concluir que o próprio é e constitui a unção de Jesus. Por isso dizemos que Ele é o Ungido, o Messias, ou o Cristo. 5- O nome, as denominações e os símbolos do ES (nº 691-701). Sempre que o cristão começa alguma oração ele costuma traçar e falar o “pelo sinal”. Dizemos que nós nos “persignamos”. Na verdade, nós nos auto-assinalamos, nos auto-marcamos. Signo ou sinal são o mesmo. Esse sinal em forma de cruz sobre o nosso corpo foi traçado pela primeira vez de forma oficial pelo ministro do Batismo. Nós o repetimos tanto que tornou-se o sinal, como se fosse único. Quando fazemos o “pelo sinal” conscientemente dizemos “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O ES é o nome mais comum e próprio da Terceira Pessoa da SSma Trindade. A cruz que acompanha como gesto as palavras é a cruz da Salvação que abraçamos em Cristo. E tudo que abraçamos em Cristo nós o abraçamos na e em nome da Trindade. Seguem agora algumas das denominações dadas por Jesus e Apóstolos. - Paráclito: Literalmente é a pessoa que é chamada para perto de, para junto de. A tradução literal para o Latim resultou em “advocatus”. Jesus apresentara-se como o Bom Pastor (Jo 10, 1-18). As doenças, as feridas, os sofrimentos das ovelhas de Cristo são habitualmente de ordem espiritual, tais como: desânimos, mágoas, pouca Fé, consciência de culpas e derrotas ... Desses males o Bom Pastor nos medica e cura. Repetindo, a comunhão entre o Filho e o Espírito Santo é total. Tudo o que vimos sobre o papel do Bom Pastor Jesus aplica ao ES quando o chama de Consolador, ou seja, Aquele que é chamado para junto de sua ovelha doente e sofredora. - “Espírito da Verdade” (Jo 16, 13). Recomendo ler 16, 5-15. Entre as funções do ES, Jesus aqui acentua que Ele garante o acesso a toda Verdade da Revelação que Ele (Jesus) fez a quem quiser comprometer-se com Ela. São Paulo fala em: - Espírito da Promessa (Gal 3, 14; Ef 1, 13). - Espírito de Adoção (Rm 8,15); Gl 4, 6). - Espírito de Cristo (Rm 8, 11).

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- O Espírito do Senhor (2Cor 3, 17). - Espírito de Deus (Rm 8, 9.14; 15, 19; 2Cor 6, 11; 7, 40). São Pedro fala em: - Espírito de Glória, como Espírito de Deus (1Pd 4, 14). Nesse versículo alguns manuscritos acrescentam “e de poder”. No tocante aos símbolos do ES vou apenas elencar os que estão nos nº’s 694-701 e explicar só o básico. - A água: simboliza a ação do ES no batismo. Água tem a ver com nascimento e fecundidade. Significa também a água viva brotada do lado do Cristo na cruz, “que em nós jorra em Vida Eterna” (conferir Jo 19, 34; 1Jo 5, 8). - A unção: Chega a tornar-se sinônimo do ES. Jesus é constituído Cristo pelo ES (Lc 4, 18-19; Is 61, 1). - O fogo: liga-se à energia transformadora dos atos do ES. As palavras de Elias queimavam como uma tocha (Eclo 48, 1). Elias também atrai fogo do céu que consome o sacrifício no Carmelo. O ES transforma o que Ele toca. - Nuvem e luz: São símbolos inseparáveis. Pensemos nas teofanias do AT e na Transfiguração de Jesus (Lc 9, 30-35). - Selo: Com ele Deus marca o Cristo (Jo 6, 27). Com o seu selo o Pai marca cada um de nós (2Cor 1, 22; Ef 1, 13; 4-30). - A mão de Jesus sobre doentes e crianças (Mc 10, 16). - A pomba: tem a ver com aquela pomba que Noé soltou da arca após o dilúvio e voltou com um ramo verde de oliveira. A Terra já é novamente habitável, pode abrigar todo o tipo de vida. Quando Jesus sai da água do batismo, o ES, na forma visível de uma pomba, desce sobre Ele (Mt 3, 16). Em cada batizado o Espírito desce e permanece para sempre. 6- O Espírito e a Palavra de Deus no tempo das promessas (nº 702-716). Este tratado é longo como se percebe. Se voce reler o nº 3 da aula 18 e as aulas 19 e 20, vai perceber que segui o roteiro do DEB. Isso lhe dará um bom número de informações que está no CIC. Por outro lado sabemos que o ES é o inspirador dos profetas. Por isso o nº 711 do CIC começa com o subtítulo “a expectativa do Messias e do seu Espírito”. Tudo tem a ver com um dos papéis do ES: manter viva a esperança na vinda do Messias para inaugurar o Reinado de Deus. A pessoa do Messias, a começar pelo nome (= ungido) já fala por si do ES. Conferir Isaías 11, 1-2; Lc 4, 18-19. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 22 - Creio no Espírito Santo - 4. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 29 de novembro de 2012. 1- O Espírito de Cristo na Plenitude do Tempo (CIC nº 717-730). Quando falamos em plenitude do tempo pensamos no tempo que começa com a Encarnação do Filho. É o tempo em que as Promessas começam a realizar-se. A Salvação de Deus chegou para a humanidade. Vamos olhar para os tres personagens principais que entram em cena para Deus realizar o prometido.

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1.1 - João Batista. “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João” (Jo 1, 6). O ES revela a Lucas que João seria “cheio do ES” (Lc 1, 15), profecia que realiza-se em meses. Pois, quando Maria, há pouco grávida e portadora de Cristo, saúda Isabel que, também grávida há uns seis meses, está “cheia do ES” e Joãozinho “pula de alegria em seu ventre” (Lc 1, 41.44). Sua função de Precursor (= aquele que anda ou corre diante de) é alimentada pelo fogo (= energia) do ES, Espírito que completa nele a Sua obra maior do AT: “preparar para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1, 17). Por isso mesmo, João é mais do que um profeta” (Lc 7, 26); que “entre os nascidos de mulher, nenhum é maior do que João” (Lc 7, 28). Outro papel de João Batista é ser a testemunha de Jesus. “Ele vem como testemunha, para dar testemunho da Luz” (João 1, 7). Vamos ler João 1, 25-34. Aqui João testemunha que Jesus é o Cordeiro de Deus; que o ES desce e permanece Nele (Jesus é constituído Messias = Ungido); e “atesto que Ele é o Filho de Deus”. Ora, tudo isso são coisas que estão absolutamente acima das possibilidades de João. Mas não podemos deixar de acentuar que o Batista entregou-se totalmente e deixou-se levar pelo ES. Aceitou o deserto, a vida solitária e sem família de extremas privações, a oração interminável, a meditação e a contemplação. Abriu mão de tudo e entregou-se de alma e corpo às iniciativas do Espírito. Não era por pouco que Jesus o admirava tanto e respeitava com reverência! 1.2- Maria. Podemos até ser mais breves sobre Maria e o ES, pois Ela está muito mais viva em nossa vida do dia a dia, e os textos de Lucas e Mateus sobre Maria são muito repetidos em nossas liturgias. O próprio Pai Eterno nos dá a ficha de Maria através de seu Enviado especial, Gabriel: “alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Temos que entender a afirmação de São Paulo que qualquer palavra boa, pensamento elevado, ou atitude piedosa só pode vir a nós através da inspiração do ES. Então podemos concluir que qualquer forma de graça divina é a atuação do ES em nós. Graça e ES são o mesmo. Mas, por favor, graça divina é muito mais do que favores pessoais, muitas vezes materiais e egoístas, que pessoas gostam de pedir a Deus. Maria cheia de graça é Maria repleta do ES. Maria, por sua vez, coopera em tudo e entrega-se, literalmente, de corpo e alma, inteiramente à ação de Deus. Cheia de graça, não mostrou dificuldades, dúvida, ou condições. Foi só afastar a dificuldade de entender a ausência do fator “outro sexo” para jogar-se inteiramente nas mãos de Deus. “Eis aqui a serva (= escrava) do Senhor. Aconteça comigo segundo a Tua Palavra” (Lc 1, 38). Maria é preparada para ser a Morada onde o Filho do Pai Eternopode aninhar-se, bem como o Seu Espírito. Uma das invocações mais belas da ladainha tradicional da Nossa Senhora dá-lhe o título de “Arca da Nova Aliança”. A antiga Arca da Aliança indicava o ponto onde Javé, por assim dizer, pisava ao resolver baixar na “Tenda do Encontro”. Maria tornou-se a morada da Trindade entre os homens. Por meio dela estabelece-se a comunhão de Cristo com toda a humanidade. 1.3 - Jesus Cristo.

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“Toda a missão do Filho e do ES na plenitude do tempo está contida no fato de o Filho ser Ungido do Espírito do Pai desde a sua Encarnação: Jesus é o Cristo, o Messias. ... Toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do ES” (nº 727). Disso ocupou-se o nº 4 da aula 21. Quando Jesus chega à “Hora em que vai ser glorificado”, promete o ES e passa a falar em revelá-lo plenamente. No nº 5 da aula anterior sobressaem os nomes que Jesus aplicou ao ES. “Paráclito” e “Espírito da Verdade”. Já explicamos seus significados. Tão logo Jesus é glorificado pela Cruz e Ressurreição e aparece aos apóstolos, imediatamente lhes dá o ES (Jo 20, 22). A partir de agora “a missão de Cristo e do Espírito passa a ser a missão da igreja” (nº 730). “Como o Pai me enviou também Eu vos envio” (Jo 20, 21). 2- Espírito Santo e Igreja (nº 731-741). Acima eu dizia que o único dom de Deus que pode se confundir com a pessoa do ES é o Amor. “Deus é Amor” (1Jo 4, 8.16). O amor é o dom por excelência. É o dom número um. Ao descobri-lo, o homem vê nele o grande tesouro e vende tudo para possuí-lo. Isso é conversão. Logo recebe o perdão, a “remissão dos pecados”. Este amor divino “Deus o derramou em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5, 5). Esse amor que é a própria vida da SSma. Trindade está agora firmemente instalado em nós. São Paulo fala dos frutos que esse convívio produz e que são perceptíveis aos que nos rodeiam “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl 5, 22-23). Até aqui falamos das pessoas que acolheram o Dom do Amor. Voltemos agora à Igreja como um todo. Ela é comparada a um corpo vivo que abriga a Trindade. Ela é um instrumento pelo qual o Cristo e ES atuam conjuntamente para realizar sua obra transformadora e salvadora do mundo. A Igreja é o “Templo do ES”, é o “Corpo Místico” do qual o Cristo é a cabeça e age em cada um dos seus membros. A comunhão entre todos os fiéis, a solidariedade e o amor mútuo fazem com que a Igreja apareça como um sinal vivo (= sacramento) dessa presença atuante de Deus no mundo. Com isso a Igreja torna-se luz e esperança para toda a gente. 3- Dons extraordinários e dons comuns. Todos irão ler os capítulos 12, 13 e 14 da Primeira Carta aos Coríntios. No capítulo 12 Paulo começa a responder a solicitações surgidas nas reuniões dos cristãos da cidade de Corinto. Parece que era mais ou menos comum que homens e mulheres, levadas por arrebatamento de inspiração, tomavam a palavra para louvar a Deus ou para fazer exortações aos irmãos. Quando isso se dava na língua do fiéis era considerado como manifestação do dom da profecia (= falar coisas em nome de Deus). Quando a fala se dava em línguas desconhecidas ou composta de sílabas sem nexo inteligível era a “glossolalia”. Podemos ressaltar alguns temas interessantes abordados por Paulo. - Em primeiro lugar começa estabelecendo o princípio de que tudo o que há de bom, de piedoso, de edificante, vem do ES. “Ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor’, a não ser pelo ES” (1Cor 12, 3).

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- Depois aborda a grande variedade de serviços necessários para o bem e o crescimento da comunidade cristã. Os talentos necessários e o exercício desses serviços vem todos do ES. Aliás, Paulo diz que esses serviços na realidade são exercidos pelo ES ou por Cristo, através das pessoas como membros de seu corpo. - A imagem da comunidade como um corpo de muitos e variados membros, tendo o Cristo como cabeça, quer exatamente visualizar como essa atuação conjunta Cristo + ES se dá na Igreja, através da riqueza de tantos de seus membros dotados de dons tão variados e úteis para o bem de todos. - Paulo estabelece um critério para que os dons sejam desejáveis e procurados: a edificação e o crescimento da comunidade. Assim, no capítulo 14 ele manda descartar a fala que ninguém entende. - Por fim, insiste na unidade de todo o corpo da comunidade (= Igreja), pois todos os dons vem do mesmo ES e é Ele que está em atividade nos mais diversos serviços. Voltemos ao título dons extraordinários e comuns. Um dom pode ser extraordinário por sua manifestação em situações especiais e raras, como milagres. São Paulo não está dizendo que sejam mais importantes. Hoje a piedade cristã está valorizando justamente os dons pequenos, cotidianos; serviços simples mantidos com fidelidade e constância. Desses serviços só percebemos a importância para a vida prazerosa e harmônica de todos os envolvidos, quando eles nos faltam. Paulo termina o capítulo 12 dizendo: “Ambicionai os dons maiores. E além disso, eu vou indicar-vos um caminho infinitamente superior” (12, 31). Assim entra para o capítulo 13. A parábola do corpo que falou da solidariedade dos membros entre si, formando a unidade, é agora exaltada neste lindíssimo hino ao Amor fraterno. O próprio São Paulo acabou de dizer que conseguir adiantar-se nesta via não é apenas melhor, mas infinitamente melhor e absolutamente indispensável. Sem o progresso no Amor, nada feito. Afinal, “Deus é Amor”! O capítulo 14 praticamente acentua e consagra o princípio de que os dons devem ser ordenados e desejados em função do crescimento da comunidade(= Igreja). E, pela compreensão do capítulo 13, concluímos que o principal parâmetro para avaliar o progresso de qualquer fraternidade é o Amor. Quero ainda fazer um alerta. Não devemos confundir este ou aquele dom com o ES. Isso significa que ter um dom ainda não quer dizer que alguém progrediu na convivência com o ES. O ES pode atuar em praticamente qualquer pessoa, passando de Sansão a Maria. Leia os capítulos 13 a 16 de Juízes e analise a desastrada figura de Sansão. Compare-a agora com as figuras do nº 1 desta aula. Ter um dom ainda não faz de mim uma pessoa diferenciada. Afinal, posso pô-lo a serviço dos irmãos, como também posso desenvolvê-lo a serviço de objetivos pessoais e egoístas. 4- Nosso diálogo com o ES. Quando se trata de qualquer exercício do bem, o primeiro passo é do ES. Os dons vem dele. A graça vem dele, a inspiração só pode ser dele. Embora tenhamos dito que somos membros de um corpo através dos quais o ES atua, não somos robôs. Somos livres para seguir ou não seguir a inspiração. Costumo dizer que nossa atuação no bem é, por assim dizer, uma atuação a quatro mãos. O resultado tem a ver com a atuação do ES, mas também tem tudo a ver com o ser humano, levando em consideração sua personalidade, seu temperamento, o caráter, a hereditariedade e o todo de sua historia pessoal.

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O Catecismo para Adultos (Catecismo Holandês) usa a imagem do piano. A música pode vir da inspiração do ES, mas a execução depende da maior ou menor maestria de quem o toca. O problema maior talvez esteja na nossa consciência psicológica. Precisamos estar sempre de novo tomando consciência desta cooperação entre o Espírito e nós. Se assim não for, o processo pode ser perturbado pela interferência de mil outros espíritos, outras motivações, quando não até safadezas. Satanás também pode “tirar uma casquinha”. Proponho, entre muitas coisas que costumamos pedir, vez por outra colocar também a pequenina graça de estarmos simplesmente conscientes da presença e atuação do Espírito Santo em nós. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 23 - A SSma. Trindade: creio em um só Deus em tres pessoas - 1. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 6 de dezembro de 2012. 1- Introdução. Pretendo dar uma (ou duas) aula sobre esse tema. As razões para essa brevidade são diversas, e em nenhuma hipótese quero sugerir que o assunto seja pouco importante. Em primeiro lugar, as referências a Tres Pessoas presentes na única Divindade Cristã são numerosas no NT e nos Santos Padres. Na verdade, a SSma. Trindade está continuamente presente e invocada na liturgia eucarística e dos demais sacramentos. Todo cristão que reza tem por hábito iniciar a oração com o sinal da cruz enquanto diz, ou ao menos pensa, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Isso é parte do nosso dia a dia. Por outro lado, as explicações dos textos oficiais costumam ser extremamente difíceis, pois a Igreja teve de recorrer à linguagem filosófica grega, o que resultou numa terminologia muito pouco ouvida, até mesmo em nossa cultura catequética. Não quero cansá-los. E não podemos esquecer que o curso não pode ser muito longo. 2. Os primeiros textos trinitários. As epístolas de São Paulo são os primeiros escritos cristãos em que aparecem referências inequívocas a Tres Pessoas Divinas. Refere-se muitas vezes a Deus (Deus Pai), ao Senhor (Jesus) e ao Espírito Santo. Em 2Cor 13, 13 Paulo deseja que “a graça do Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Esta “fórmula” é repetida ininterruptamente no início de muitas milhares de celebrações eucarísticas diárias ao redor de nosso planeta. Em qualquer momento, em qualquer parte do mundo, alguém a está repetindo. Vale refletir um pouco sobre a comunhão que une a todos os cristãos e sobre o nosso culto que se eleva continuamente para o nosso Deus ... São Pedro começa sua Primeira Carta com uma expressão clara de sua fé na existência de tres pessoas divinas. “... eleitos segundo a presciência de Deus Pai na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo ...”. Sabemos que a morte de Pedro e de Paulo provavelmente ocorreram na perseguição de Nero ( ano 64?).

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Já houve gente que chegou a levantar a hipótese de que Pedro e Paulo tivessem em mente uma tríade divina,(em geralum casal um filho divinos) como ocorrem em muitas mitologias pagãs. Isso é absurdo. O monoteísmo era um conceito e crença inquestionáveis para os dois, bem como para qualquer judeu. Por outro lado, voltando à aula anterior, vimos como Jesus, ao falar do Espírito como Paráclito e Consolador “chamado para junto” dos apóstolos, só pode considerar o ES como uma pessoa distinta do Pai e Dele próprio. Algum cristão poderia duvidar do monoteísmo de Jesus Cristo? Embora os evangelhos tenham sido escritos após a morte de Pedro e Paulo, não podemos esquecer que todos os elementos básicos da teologia (crenças) vieram da vida, ação e ensinamentos de Jesus Cristo. Não é por acaso que Ele nomeia os apóstolos as suas testemunhas oficiais. “Vós sois as testemunhas disto” (Lc 24, 48). Em Mateus Jesus diz: “Ide, pois; de todas as nações fazei discípulos, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a guardar tudo o que vos ordenei” (Mt 28, 19-20). Alguém poderia dizer que os apóstolos receberam uma ordem de ensinar um conteúdo não escrito, embora de Jesus. Pondera então que seria impossível que alguém atendesse satisfatoriamente tal ordem. Seria precário demais essa metodologia de passar para a frente o pensamento do Divino Mestre. Jesus tomou suas providências para garantir a segurança da transmissão. “Quanto a mim, eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28, 20). Jesus garante sua presença e supervisão e, para maior segurança, recorre ao ES. “Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à Verdade Plena” (João 16, 13). Quando Jesus fala em Verdade, como o fez perante Pilatos, não fala de verdades filosóficas, mas da Verdade de Seu Pai. É o conteúdo da Revelação. Voltando a Mt 28, 19, temos a dizer que “as tres pessoas nomeadas aqui são pessoas divinas, porque o batismo é uma consagração a Deus. Ao Filho e ao ES é atribuída igual dignidade que ao Pai que, indubitavelmente, é Deus. Os Santos Padres concluíram disso, com direito, que o Filho e o ES tem a mesma essência que o Pai e, portanto, Lhe são absolutamente iguais” (DEB, C, col 1530). Aproveito para lembrar que Santos Padres são os pensadores que se destacaram pela continuação e explicitação da doutrina dos apóstolos durante os cinco primeiros séculos. 3- A Fé na Trindade segundo o CIC (nn 232 a 267). Fides omnium Christianorum in Trinitate consistit, diz o CIC (n 233). Traduzindo: A Fé de todos os cristãos está, basicamente, na Trindade. É uma afirmação solene e impactante. Fomos todos batizados “em nome” do Pai e do Filho e do ES. O CIC chama a atenção que não está empregando a expressão “nos nomes” dos tres, mas “em nome”. É um só nome, um só Deus! Vamos ao texto. “O mistério da SSma. Trindade é o mistério central da Fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo, é portanto a fonte de todos os outros mistérios da fé. É a luz que ilumina” (CIC 234). O CIC está dizendo com todas as letras que a verdade da SSma. Trindade não é uma verdade qualquer no conjunto da doutrina católica. Trata-se da verdade central, essencial de nossa Fé. É fácil de entender tal afirmação. Sem Deus não haveria o por que de qualquer religião. Então, para nós que cremos em Deus, tudo o que Ele revelou de seu modo ser é fundamentalmente importante. O início do n 236 é um exemplo interessante para o católico entender. Vamos lá. “Os Padres da Igreja distinguem entre a ‘Theologia’ e a ‘Oiknomia’, designando com o primeiro termo o mistério da vida íntima do Deus-Trindade, e com o segundo todas as obras de Deus através da quais Ele se revela e comunica a sua vida. É através da ‘Oiknomia’ que nos é revelada a ‘Theologia’, mas inversamente, é a ‘Theologia’ que

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ilumina toda a ‘Oiknomia’. As obras de Deus revelam quem Ele é em si mesmo; e, inversamente, o mistério de seu ser íntimo ilumina a compreensão de todas as suas obras (CIC 236). É difícil de compreender? Muito difícil. Mas aqui temos uma joiazinha esclarecedora da parte do texto. Continuando o CIC diz: “Acontece o mesmo, analogicamente, entre as pessoas humanas. A pessoa mostrase no seu agir e, quanto melhor conhecemos uma pessoa, tanto melhor compreendemos o seu agir” (idem). Voltando ao início da citação observamos que escreve teologia com TH, porque o autor quer conservar a raiz grega da palavra. Diz que a theologia ocupa-se com a vida íntima de Deus Trindade. Isso tem a ver com o como as tres pessoas divinas são e se relacionam entre si. A palavra teologia significa o estudo, ciência, conhecimento de Deus. A palavra oiknomia é composta de duas: oikos e nomos. Ou seja, algo como casa, lei ou normas. Então a tão conhecida palavra economia tem a ver com a vida doméstica no interior de uma casa, ou seu gerenciamento. Na linguagem eclesiástica a palavra oiknomia ocupa-se com “todas as obras de Deus através da quais Ele se revela e comunica sua vida” (ibidem). Não é raro escritores cristãos mais eruditos gostarem de usar a palavra economia de Deus, quando falam do seu agir. Ora, se o termo tem a ver com casa, ambiente doméstico e normas, “regras de convivência”, então podemos dizer que Teologia trata da natureza do ser divino e a economia ocupa-se com seu “modus operandi”, ou seja, seus modos de agir. 4- Como Deus se revela Trindade. Dizemos constantemente que a Trindade Divina é um mistério. Isso não quer dizer apenas que seria uma realidade totalmente além das capacidades humanas de compreensão. Entendo o mistério em primeiro lugar, como uma realidade divina que só é acessível à nossa mente, se o próprio Deus tomar a iniciativa de nos revelar. Dizíamos anteriormente que só com a luz da Fé podemos entender as coisas de Deus. Nesse sentido, Deus será sempre um mistério. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 24 - A S ma. Trindade: creio em um só Deus em três pessoas - 2. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 13 de dezembro de 2012. 4- Como Deus se revela Trindade (continuação). 4.1- Deus Pai. A invocação de Deus como Pai é comum em muitas religiões.Há vários casos de tríades divinas, onde uma divindade tem uma esposa e filho.É o caso de Osíris, sua esposa Isis e o filho Horus, no Egito. Claro que o Deus de nossa Fé não cabe neste tipo de arranjo. Ele é um Deus único, O Único Deus. Mas Ele gosta de falar aos seus profetas lembrando que Israel é seu filho primogênito. Assim seu maior profeta, Moisés, ao proferir seu cântico (Ex 32, 1-43), impressionado com a contínua rebeldia e infidelidade de seu povo para com Javé, exclama nos vv 5 e 6:

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“Portaram-se mal com Ele, pecaram como se não fossem seus filhos, geração depravada e perversa! É assim que agradeceis ao Senhor, povo louco e insensato? Não é Ele o Pai que te criou, que te fez e te formou?”. Deus é o criador de tudo e ama as suas criaturas, sobretudo o ser humano. Escolheu Israel como o filho especial. Quer sempre estar presente no meio dele, andando com ele em suas idas e vindas entre outros povos. Quer protegê-lo, proporcionando-lhe todo o bem estar. No final do livro de Isaias chega a uma revelação deveras impressionante, ao falar da restauração do povo judeu depois da derrocada na guerra com Nabucodonosor e do exílio. “... sereis amamentados, sereis carregados nos braços, sereis acariciados sobre os joelhos. Como a mãe consola o filho, assim eu vos consolarei” (Is 66, 12-13). Realmente Deus é detentor e fonte de toda a perfeição. A ternura de um coração materno deve chegar mais perto do coração de Deus do que o calor do coração paterno. Deus é paterno e materno. Sinto alegria quando leio o nº 239 do nosso Catecismo, onde ele aborda este tema, lembrando que “Deus não é homem nem mulher, mas é simplesmente Deus!” Estamos no campo das figuras, buscando maneiras de entender o infinito amor de Deus pelo ser humano. 4.2 - Deus Filho. Contudo, existe uma paternidade real, ontológica. Ela só nos chega ao conhecimento porque Jesus, seu Filho Eterno que se encarnou, nos revelou e porque o ES nos concedeu a graça primeira, a graça original da Fé. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e a quem o Filho quiser revelar” (Mt 11, 27). Para João, Jesus é o logos que desde sempre “estava junto de Deus e era Deus” (Jo 1, 1). Os apóstolos confessaram ainda Jesus como “a imagem do Deus invisível” (Cl 1, 15) e como “o resplendor de sua glória e a expressão do seu ser” (Hb 1, 3; conferir CIC 241). Realmente, cremos que a invisibilidade de Deus é cancelada pela figura de Jesus. Hoje estamos no dia 13/12/12. Daqui a poucos dias poderemos ver a glória de Deus entre palhas de um berçinho improvisado. Esse menino quando crescer vai dizer: “ Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Nossa Igreja, iluminada pelo ES, de posse da Tradição dos Apóstolos e com o pensamento iluminado de seus Santos Padres (já expliquei quem eram), em 325 celebrou seu primeiro Concílio Ecumênico em Nicéia, “confessou que o Filho é ‘consubstancial’ ao Pai, i. é, um só Deus com Ele” (CIC 242). Isso significa que, embora pessoas distintas, sua natureza é idêntica. No ano de 381, em Constantinopla, reuniu-se o segundo Concílio Ecumênico e a mesma Igreja confessou “o Filho Único de Deus gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai” (CIC 242). É interessante notar que o único elemento novo do Concílio é o termo gerado, pois não criado é consequência lógica do gerado. O restante está em João 1, 1-5. Afirmei que a paternidade e a filiação são da natureza divina, ontológica, ou seja, do ser de Deus, e não meros títulos. 4.3 - Deus Espírito Santo.

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Que o ES é Deus tanto quanto o Pai e o Filho já vimos claramente. Precisamos ainda ocupar-nos com sua origem. Vamos ao CIC. “A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal. O ES é enviado aos apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pelo Filho em pessoa, depois que tiver voltado para junto do Pai. O envio da pessoa do Espírito após a glorificação de Jesus revela em plenitude o mistério da SSma. Trindade” (CIC 244). O texto citado nos remete a Jo 14, 26; 15, 26; 16, 14; 7, 39. Por missão temporal do ES entende-se o seu agir depois da Criação. O conceito de tempo está ligado à Criação e à história da raça humana. Transformar a Fé Apostólica no tocante às Pessoas Divinas em um programa catequético cristalizado e claro não é coisa fácil. O primeiro Concílio Ecumênico, celebrado em Nicéia (325), começou, e o segundo, o de Constantinopla (381), continuou. Sobre o ES suas atas registram: “Cremos no ES, que é Senhor e que dá a vida, Ele procede do Pai” (CIC, 245). Explicando o dogma da Fé aí declarado, nosso catecismo continua: “com isso a Igreja reconhece o Pai como ‘a fonte e a origem de toda a divindade’ (245)”. Diferentemente do Filho, o ES procede, vem de, não é gerado. 4.4 - Um problema na relação Igreja Católica Romana e Igreja Grega. Todos sabemos que existem a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa ou Grega. Estão oficialmente separadas desde o ano de 1054. Mas tensões e brigas vem de longe. Uma das bordas de atrito (estou pensando em placas tectônicas) está justamente na doutrina trinitária. A Igreja Romana ou Latina continuou sua reflexão e especulações sem preocupar-se muito com a harmonia entre seu pensamento e o modo de entender as coisas por parte das Igrejas Patriarcais. (Mais para frente estudaremos a história da Igreja). Muitos concílios regionais (não ecumênicos) foram celebrados e assim surgiu a questão se o ES procede só do Pai, ou do Pai e do Filho (Filioque). No VI Concílio de Toledo (Espanha 638) ainda se aceita que “o Pai é fonte e origem de toda a divindade”. Mas o XI Concílio de Toledo (675) afirma: “o ES, que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza ... contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho (CIC 245). E continua nosso catecismo: “a tradição latina do Credo confessa que o Espírito ‘procede do Pai e do Filho (filioque)’”! (246). A Igreja Grega (Ortodoxa) nunca aceitou isso, pois essa ligeira modificação representa uma mudança do conteúdo do Concílio Ecumênico de Constantinopla (381). Concílios regionais não podem em nada alterar conteúdos aprovados em concílios ecumênicos (= gerais ou universais). Meus caros, isso é apenas uma ilustração de como os desentendimentos formaram-se e se acumularam entre as duas igrejas históricas de Cristo. O que faltou? Por enquanto afirmarei que só faltou a caridade de parte a parte. Como a liturgia da Semana Santa pode fazer falta! “Onde o Amor e a Caridade Deus aí está”. Quando expulsamos o Amor em qualquer relacionamento com o outro, Deus, por assim dizer, retira-se discretamente. 5- O dogma da SSma. Trindade. Inicialmente temos que ressaltar que a Igreja classifica nossa Fé na Trindade Divina como um dogma. O que é isso? Nos nn 88 a 93 o CIC explica o que entende por dogma. Vou ater-me apenas ao essencial.

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Dogmas são pontos essenciais da Fé Católica relacionados com o conjunto da Revelação do Mistério de Cristo. A Igreja empenha sua autoridade recebida de Cristo ao defini-los. Essas verdades estão sempre contidas na Revelação Divina! Elas obrigam o fiel católico a uma adesão total. Sua função? Servir de luzeiros a iluminar nosso caminho, tornando-o seguro e confiável. Os elementos importantes de nossa Fé na Trindade SSma. Estão todos expostos nos textos que voces tem em mãos. Temos a destacar que : - A Trindade é Una. As Pessoas Divinas são tres: Pai e Filho e Espírito Santo. As tres Pessoas são plenamente divinas, mas a Divindade, ou seja Deus, é Um só. Isso é revelado por Jesus! - As Pessoas Divinas são realmente distintas entre Si. “Deus é único mas não solitário” (CIC 254). Mas a natureza essencial de cada Pessoa Divina é a mesma. O Pai é Pai porque gerou o Filho. O Filho é Filho porque foi gerado pelo Pai. O Espírito Santo é o Espírito do Pai e o Espírito do Filho porque procede do Pai e do Filho. - Deus é completo em cada Pessoa. Não existe nas Pessoas Divinas mais ou menos; mais importante ou menos importante; não existe hierarquia. Resumo do resumo feito pela Igreja: “A Fé Católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade, não confundindo as Pessoas, nem separando a substância: pois uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a Divindade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a majestade”(CIC 266). 6- Trindade Santa fonte de inspiração e modelo de vida. “O fim de toda a Economia divina é a entrada das criaturas na unidade perfeita da SSma. Trindade” (CIC 260). Economia divina. Voce já sabe: é o modo de Deus agir para desenvolver seu Plano de Salvação. Desde o batismo o Deus Trindade já habita em cada um de nós. É tão confortador ouvir Jesus proclamar: “Se alguém me ama guardará minha Palavra, e meu Pai o amará e viremos a ele e, faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 20-23). E, para terminar, não podemos impedir que em nossos ouvidos ressoem estas palavras: “Que todos sejam um como Tu, Pai, estás em mim e Eu em Ti, para que Eles estejam em Nós, e o mundo creia que Tu me enviaste. Dei-lhes a glória que Tu me deste, a fim de que sejam um como Nós somos um. Eu neles e Tu em mim para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo conheça que Tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim” (Jo 17, 21-23). A vida cristã, como a vida em Deus, realiza-se na comunidade. Fraternidade não é um luxo, é o básico. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 25 - Creio na Igreja Católica - 1. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 14 de fevereirode 2012. 1. Leitura de At 2, 1-15.

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Ler e explicar ... Dia de Pentecostes (=Quinquagésima) é o 50º dia depois da Páscoa. Os judeus celebravam a Aliança do Sinai entre Deus e Israel. A Nova Aliança foi firmada entre Deus através de Seu Filho Jesus e toda a humanidade. Agora, 50 dias depois, nasce a Igreja. Podia haver data mais apropriada?  Eles se achavam reunidos todos juntos. Eles quem? Ler At 1, 13-14. O texto nomeia os 11, mais algumas mulheres, das quais só menciona Maria, “com os irmãos de Jesus”. Aqui aparece um fato curioso e edificante. Os irmãos de Jesus que segundo Mc 3, 21 tinham chegado ao ponto de querer prender Jesus porque teria enlouquecido, agora estão no cenáculo, local de encontro dos Apóstolos, onde a Igreja seria fundada. Faltava só Matias que será escolhido no versículo 26. Aí estão “os sócios fundadores” da Igreja! Encontram-se lá onde Jesus celebrara a Última Ceia e aparecera ressuscitado aos Apóstolos reunidos. É o endereço da Igreja que nasce. Observem os elementos: Última Ceia e Eucaristia; Cristo ressuscitado; Espírito Santo que ilumina tudo; Língua falada que todos, embora de línguas diferentes, podiam entender; a Igreja é gerada! O fenômeno das línguas merece algumas considerações especiais. Não se trata do fenômeno chamado glossolalia, um balbuciar de sons não inteligíveis que pode acontecer quando uma ou mais pessoas entram num transe espiritual. Aqui trata-se de línguas faladas pelos diferentes povos. Para São Lucas o símbolo é muito forte. Na estória da Torre de Babel cada um falava um idioma diferente, de tal sorte que ninguém o podia compreender. Isso tornou a convivência inviável, provocando a dispersão da humanidade para todos os recantos da Terra. Agora, pela ação do ES, muitos povos diferentes compreendem tudo que se fala, como se alguém estivesse falando em sua própria língua. Todos podem se entender e reunir-se. É a essência da catolicidade da Igreja de Jesus Cristo. Em linhas gerais, o primeiro discurso de Pedro tem praticamente só dois temas, duas ideias-força. O que aqui está acontecendo é a concretização das promessas feitas ao povo judeu. Faz uma citação do profeta Joel (3, 1-5). O segundo tema diz que Jesus, o crucificado foi ressuscitado pelo Pai. Também a ressurreição de Jesus estava prevista e Pedro cita o Salmo 16, 8-11. Por fim, tira a breve conclusão: “que toda a casa de Israel saiba com certeza: a esse Jesus que vós crucificastes Deus o fez Senhor e Cristo”. O “meu Senhor”, do Salmo 110 é o Rei Messias. Não podemos esquecer que Lucas usava o AT na tradução grega. Esta Bíblia grega dá o título de Senhor só a Deus. Então aqui Senhor é, ao mesmo tempo, o Rei Messias e Deus entronizado à direita do Pai Eterno. É o Messias (= ungido) esperado pelos judeus e mais. É o próprio Filho de Deus dos cristãos. Esse é o núcleo central do Plano de Salvação de Deus e constitui o ponto mais alto da pregação dos Apóstolos. Aceitar esses elementos da Fé era suficiente para alguém ser batizado “em nome do Senhor Jesus”. 2. Leitura de At 2, 36-41 e explicação. O impacto das palavras de Pedro foi enorme. “Com o coração abalado” muitas pessoas sentem a necessidade de fazer alguma coisa nova, diferente, em termos de vida. Não tem idéias claras a respeito do

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que fazer, pois ainda não receberam a luz do ES. Mas Pedro está “repleto do ES” e sabe o que eles precisam fazer.  Em primeiro lugar, converter-se. É uma mudança radical de vida. Consiste em romper com velhos hábitos, pecados e crenças. Fundamental é aceitar a verdade sobre Jesus Cristo. Isso implica em uma nova forma de viver, como veremos logo adiante. Feito isso, importa aceitar ser batizado no nome de Jesus Cristo. Nós já sabemos que o nome trás em si as características mais importantes da pessoa de alguém. Aqui significa que o batizado é colocado numa relação estreita e total com a pessoa de Jesus e tudo o que isso implica.  O primeiro efeito dessa união com a pessoa de Jesus Cristo é o perdão dos pecados. Ainda hoje, quando um adulto é batizado antes ou durante uma missa, ele comunga sem ter confessado. É o contato com o Cristo que perdoa os pecados e sana tudo o que está doente ou degenerou na pessoa do batizado.  “... e recebereis o dom do ES”. Podemos agora entender melhor a importância que Jesus deu quando falou do ES em Jo 14 e 16. Receber o ES é essencial para o sucesso dessa “nova criatura”, fruto de um projeto tão lindo e caro, em todo sentido da palavra, para Jesus. Sem o ES esse projeto desandaria e a nova criatura voltaria ao padrão do ser do velho Adão. 3- Notícia do resultado. At 2, 41 diz:”os que acolherem sua palavra receberam o batismo e houve cerca de tres mil pessoas que nesse dia se juntaram a eles”. A Igreja já existe. Tres mil pessoas em torno dos Apóstolos, sentindo o ES a atuar neles, convictas de que realizam a obra de Jesus. A seguir Lucas dá o perfil médio desses milhares de cristãos, milhares que logo se multiplicaram, pois “cada dia o Senhor juntava à comunidade os que encontravam a Salvação” (2, 47). Traços característicos dessa gente que encantaram Lucas são apontados. “Eles eram assíduos no ensinamento dos Apóstolos e à Comunhão Fraterna, à fração do pão e às orações” (2, 42). Aqui temos umas preciosidades sobre a vida da Igreja recém nascida.  Os Apóstolos logo adotaram um trabalho sistemático de ensino, de formação permanente aos já convertidos. Afinal, tratava-se de todo um programa de vida, vida segundo Jesus Cristo. Esses dados são mais do que suficientes para que qualquer cristão aceite a necessidade de uma formação permanente em toda a sua vida. Parece que as pregações davam-se em ajuntamentos de povo, no templo e aos sábados nas sinagogas e tinham por objetivo atrair e converter novos elementos para engrossar as fileiras “dos salvos”. Outro elemento importante indicado no texto é a Comunhão Fraterna. Em parte essa comunhão se dava na própria fração do pão (= repetição da Ceia do Senhor) e nas orações coletivas. Pouco adiante o texto fala que o espírito de comunhão levava os primeiros cristãos a vender suas propriedades e depositar o produto “aos pés dos Apóstolos”, visando atender às necessidades de todos. Este tema volta em 4, 32-37. Uma observação singela diz tudo: “ninguém entre eles era indigente” (4, 34).

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 A fração do pão merece um destaque. Logo nos primeiros dias de sua existência, os seguidores de Jesus sentiram a necessidade de cumprir a ordem por Ele dada na Ceia Pascal: “fazei isto em memória de mim”. Vida da Igreja e Eucaristia são inseparáveis de berço, nasceram assim. Pode-se até dizer que a Igreja nasce da Eucaristia. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 26 - Creio na Igreja Católica- 2. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 21 de fevereiro de 2013. 1- Definição do nome Igreja (CIC 751-752). Igreja tem a ver com a palavra latina Ecclesia (ae) que vem do grego Ekklesia (as), do verbo ekkalein, cuja tradução é “chamar fora”. É então a assembléia reunida por convocação. Na leitura do AT, principalmente em Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, o povo é muitas vezes convocado por Deus, através de Moisés, e cada qual deixa sua tenda e dirige-se para o local das reuniões, constituindo assim a assembléia. Na tradução grega do AT emprega-se a palavra Ekklesía para essas assembléias. A palavra é traduzida por igreja. De igreja como assembléia, convocação, passa logo para o sentido de todos os moradores cristãos de uma localidade sob a direção de um bispo. Em pouco tempo o sentido mais comum de igreja designa toda a comunidade universal dos que creem e aceitam Jesus Cristo como o Redentor e seu Fundador. Igreja agora é também entendida como uma instituição. 2- Símbolos (CIC 753-757). As Sagradas Escrituras gostam muito de empregar parábolas, símbolos, figuras e imagens. Muitas dessas imagens que o AT tinha para o Povo de Israel estão ligadas a uma idéia-base de Povo de Deus. Como a Igreja assume o papel de “Novo Israel”, Povo da Nova Aliança, a idéia de Povo de Deus para definir a Igreja assume uma força especial. Entre os muitos documentos do Concílio Vaticano II, aquele que trata da Igreja de forma direta e doutrinária, aparece em primeiro lugar, sob o título Lumen Gentium (a Luz dos Povos). Já o segundo documento do Concílio sai com o título “O Povo de Deus”. A partir daqui fica claro que o Vaticano II encontrou na expressão o Povo de Deus sua forma preferida e mais iluminadora para referir-se à Igreja de Jesus Cristo. São os traços dessa Igreja idealizada por Cristo que a Igreja Católica tem de procurar reproduzir em si. Nós somos então “O Povo de Deus” ou se preferir, “O Povo-Luz” para iluminar os povos. Jesus dissera tão claramente: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Agora já temos Igreja Povo de Deus e a Igreja Luz do Mundo. O NT, especialmente Jesus, gosta de recorrer à vida pastoril, vida dos campos, da construção civil, da família e de casamentos. Desses meios surgem outras imagens para a Igreja que vou apenas apontar.  Redil das ovelhas. Cristo é a sua única porta de acesso.  Igreja é a lavoura ou o campo de Deus. Lá voce encontra a multi-secular oliveira (raiz dos patriarcas e dos profetas). Lá está também a “vinha escolhida” (“Eu sou a videira e vós sois os ramos”).

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 Construção de Deus (1Cor 3, 9). O próprio Jesus se considera a pedra rejeitada na construção (Mt 21, 42).  Casa de Deus, onde habita  Sua família (Ef 2, 19-22; Ap 21, 3).  Cidade Santa, ou Nova Jerusalém (Gl 4, 26; Ap 12, 17). 3- Quem fundou a Igreja? Aparentemente essa questão é desnecessária. Mas já apareceram pessoas afirmando que Jesus não teria em seus planos uma formação de igreja ou qualquer movimento que devesse sobreviver a Ele. Queria ser apenas um pregador a proclamar a proximidade do Reino de Deus. Acreditava até que era o Messias. Argumenta-se, inclusive, que Jesus teria sido surpreendido por uma morte prenunciada e executada de forma rápida demais, deixando pouco tempo para o advento glorioso do Reinado de Deus. Em vista desse quadro entender-se-ia mais facilmente o efeito arrasador da prisão e execução de Divino Mestre sobre os apóstolos e discípulos. Sem a ressurreição e a manifestação espetacular, única e avassaladora do ES no Pentecostes, tudo teria terminado naquela sexta-feira factídica e trágica. A narração de Pentecostes pelos Atos dos Apóstolos pode até dar a impressão de que foram os apóstolos, liderados por Pedro, que fundaram a Igreja. Mas, não podemos esquecer as palavras de Jesus em resposta à confiança de Pedro em Cesaréia de Felipe. Pedro havia falado em nome de todos que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. E Jesus “... Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja ...” (Mt 16, 13-19). Nesta passagem Jesus não deixa dúvidas que a Igreja é seu projeto e será fundada por Ele. Os apóstolos são as pedras do fundamento desta construção. Depois temos a ordem clara de pregar o Evangelho a todos os povos e batizar os que crerem. Essas instruções estão no último tópico de cada Evangelho sinótico (Mt, Mc e Lc). Evidentemente, isso pressupõe que haverá um tempo após a morte de Jesus em que os batizados, ou seja, aqueles que aceitaram fazer-se discípulos Dele, terão que viver de forma organizada. O mandamento novo e o reconhecimento, por parte de toda a gente, de que as pessoas que aceitam essa forma de amar própria de Jesus, são seus discípulos, esses dois fatos apontam para uma vida organizada em comunhão depois da partida do Divino Mestre (Jo 13, 34-35). Sem alongar-me, quero ainda lembrar Jesus falando aos apóstolos reunidos no Cenáculo “na tarde do mesmo dia” (isto é, dia da Ressurreição): “recebei o ES. A quem perdoares os pecados, ser-lhes-ão perdoados. A quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”. Também aqui aponta-se para a Igreja. Por fim Jesus dá instruções para ficarem na mesma casa em Jerusalém, à espera do batismo no ES (At 1, 45). No Pentecostes poder-se-ia ter a impressão de que é Pedro quem inicia a Igreja. Mas ele e seus companheiros são totalmente tomados pelo ES que, sem dúvida, é o grande Ator da cena, executando exatamente o plano de Jesus. Por outro lado, Jesus tinha por missão firmar a Nova Aliança da Salvação do Pai Eterno. Assim fica claro: na verdade a Igreja é obra da SSma. Trindade (CIC 758). 4- A Igreja, o Reino de Deus e o fundamento dos Apóstolos (CIC 763-766): Compêndio do Vaticano II, 3). “Cabe ao Filho realizar, na plenitude dos tempos, o plano de salvação de seu Pai; este é o motivo de sua ‘missão’. ‘O Senhor Jesus iniciou sua Igreja pregando a Boa Nova, isto é, o advento do Reino de Deus

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prometido nas Escrituras havia séculos’. Para cumprir a vontade do Pai Cristo inaugurou o Reino dos Céus na terra. A Igreja ‘é o Reino de Cristo já misteriosamente presente’” (CIC 763). “ ‘Este Reino manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo’. Acolher a palavra de Jesus é ‘acolher o próprio Reino’. O germe e o começo do Reino são o ‘pequeno rebanho’ (Lc 12, 32) dos que Jesus veio convocar em torno de si e dos quais Ele mesmo é o pastor. Eles constituem a verdadeira família de Jesus. Aos que assim reuniu em torno de si, ensinou uma ‘maneira de agir’ nova e também uma oração própria” [Mt 5-6] (CIC 763-4). Chamo a atenção do leitor para as várias citações embutidas dentro desses dois parágrafos reproduzidos aqui do CIC. Eles remetem para o Compêndio Vaticano II, Lumen Gentium, números 3 e 5, além de muitas referências aos Evangelhos. Os textos citados nos levam a pensar sobre a relação entre Igreja e Reino de Deus. Às vezes a Igreja, ou pessoas da Igreja já chegaram a identificar Reino e Igreja como sendo a mesma coisa. Que maravilha se isso fosse verdade. Mas elementos do Reino de Deus ou Reino do Cristo sempre estiveram e estão presentes na Igreja. Dá para dizer com propriedade que viver o Reinado de Cristo é o grande objetivo da Igreja. Quanto mais gente vive esse Reinado de Cristo, mais o Reino de Deus está presente e se fortalece na Igreja. O problema é que elementos do reino do Mal também existem na Igreja. Parece que a Igreja situa-se a meio caminho, ou em algum ponto entre o Reino de Deus e o reino do Mal. A realidade da disputa entre o Bem e o Mal impõe-se a nossa mente. Estamos no dia 21/02/13. Esses dias da renúncia de Bento XVI podem nos levar a um bom exame sobre essa realidade divino-humana da Igreja. A leitura da parábola do joio e do trigo vem aqui na hora certa ... ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 27 - Creio na Igreja Católica - 3. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 28 de fevereiro de 2013. 1- O Mistério da Igreja. “A Igreja está na História, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente ‘com os olhos da fé’ que se pode enxergar na sua realidade visível ao mesmo tempo uma realidade espiritual, portadora de vida divina” (CIC 770). Dizer que a Igreja é um mistério já não difícil para nós entendermos. A Igreja é uma realidade onde Deus atua e só com os olhos da fé, o que já é uma graça divina, podemos compreender sua natureza. A Igreja é um campo de atuação humana e divina, ao mesmo tempo. A História tem sempre a espécie humana como seu principal interesse. Investiga sua origem, seu passado, sua evolução e tudo o que a humanidade produziu. Assim, o surgimento da Igreja e sua evolução fazem parte do objeto de estudo da História. Mas muita coisa que se passa no interior da Igreja não é compreensível para a História, enquanto ciência. Sem o elemento fé, a renúncia de Bento XVI não é inteiramente compreensível. Claro que elementos naturais que também intervieram em sua atitude são objeto das ciências humanas, e portanto, ao alcance da História. Mas isso daria apenas uma parte da verdade. Contudo, uma parte da verdade não é a verdade!

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O CIC diz isso afirmando ser a Igreja ao mesmo tempo visível e invisível. Ela é projeto de Jesus Cristo e, como vimos na aula anterior, é fundada pela Trindade Santíssima. Cristo, continuamente e em todos os tempos, dá sustento à sua Santa Igreja. Como uma corporação, ela é humana. Mas essa corporação de irmãos, que vivem a Fé, a Esperança e o Amor está inteiramente impregnada de Deus. Isso é exatamente a vida na graça e pela graça divina. Por isso São Paulo afirma que esse tecido humano, composto de irmãos unidos entre si como os membros de um corpo vivo, estão unidos e atuam conjuntamente no todo do organismo, é o Corpo (Místico) de Cristo (1Cor 12, 27). Cristo ressuscitado incorporou-se neste enorme corpo vivo que é a Igreja. Cada de um de seus membros serve para que Cristo continue atuando através dele para o bem de todos. Os elementos divinos e humanos fundem-se de tal forma que muitas vezes não conseguimos identificá-los. Aqui vai uma pequena digressão sobre certo dualismo fundamentalista que insiste em apresentar o humano e o divino como elementos separados e até opostos. Lembro-me de uma penitente que certa vez me procurou. Meu interesse em ajudá-la era autentico. A situação requeria mais uma orientação do que simples absolvição. Na segunda ou terceira frase explicativa a criatura levantou-se enfurecida, interrompeu a confissão e corrigiu-me, quase aos gritos, que viera para ouvir uma palavra de Deus e não explicações humanas. Isso não é uma visão cristã. É uma antiga visão pagã. Toda a ação da pessoa de fé que age com reta intenção, movida por amor autêntico e que tem preparo, conhecimento da boa doutrina e age em sintonia com Deus, tem em si elementos humanos e divinos atuando de forma inseparável. Não esquecer que entre os dons do ES está também o da ciência. 2- A Igreja e Sacramento da Salvação (CIC 774-776). O número 774 começa explicando a origem da palavra mistério. Do grego mysterion, para o latim resulta em mysterium ou, às vezes, sacramentum. No português, deu sacramento e mistério. Mistério refere-se a realidades da Salvação inacessíveis sem a luz da Fé. A luz é de Deus. Sacramento exprime sinais visíveis da presença e ou atuação do mistério. Assim o grande mistério da Salvação de Deus é Jesus Cristo. Jesus atua na Igreja que é seu corpo. A humanidade de Cristo é santa e santifica aqueles seres humanos que entram em comunhão com Ele. Neste sentido a Igreja, no seu todo, é o grande Sacramento (= sinal visível) de Cristo. Na Igreja Cristo salva e santifica o ser humano, de modo especial, através dos sete sacramentos. As Igrejas do Oriente chamam ainda hoje os sacramentos de “os santos mistérios”. Lumen Gentium (LG, A Luz dos Povos) já apresentada a vocês na aula passada, no número 1, diz que “a Igreja é, em Cristo, como que o Sacramento ou o Sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”. O primeiro objetivo da Igreja é ser sacramento da união íntima dos seres humanas com Deus, afirma também LG. Deste ponto dá-se um desdobramento importante. Nossa união com Deus capacita-nos para uma verdadeira comunhão com outras pessoas. Igreja então aparece como sacramento e esperança de unidade da raça humana. Mas, por favor, unidade não é unicidade! O sonho da unidade deve concretizar-se, realizar-se, na beleza e riqueza da diversidade. O número 776 do CIC é uma riquíssima coletânea de afirmações do Vaticano II. Vamos reproduzi-lo. “Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo. ‘Nas mãos Dele, Ela é o instrumento da Redenção de todos os homens’ (LG 9), ‘o sacramento universal da Salvação’ (LG 48), pelo qual Cristo ‘manifesta e atualiza o amor de Deus pelos homens’ (GS - Gaudium et Spes - 45).

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Ela ‘é o projeto visível do Amor de Deus pela humanidade’ (Paulo VI, discurso de 22.6.73), que quer que o ‘gênero humano inteiro constitua o único povo de Deus, se congregue no único Corpo de Cristo, seja construído no único templo do ES’ (AG - Ad Gentes - 7)”. 3. A Igreja Sacramento, visibilidade e esperança. O conteúdo do texto que acabamos de ler é belo e esperançoso para quem tem a Fé. Para quem não tem a Fé, ele é incompreensível. Mas, ao citar Paulo VI - “é o projeto visível do amor de Deus pela humanidade” -, o CIC está falando em visibilidade para a humanidade. Certo, já sabemos que Ela é sacramento e todo o sacramento se percebe por sinais visíveis. Mas, essa visibilidade específica, sacramental também só é compreensível para quem tem nossa Fé. Contudo quando Paulo VI falou em “projeto visível” creio que deve ter pensado em uma visibilidade maior, também perceptível para gente de outras crenças e até mesmo para aqueles que não tem fé alguma. Jesus gosta de imagens tiradas de colheitas, tais como de figos (Lc 12, 6-9), de uvas (Jo 15, 1-2) e do trigo que rende cem por um (Mt 13, 3-9). Talvez Jesus estivesse revendo em resumo essas diversas referências aos generosos frutos produzidos por tais vegetais quando nos diz que fomos enviados para produzir frutos, e mais, frutos permanentes (Jo 15, 16). Produzir frutos tem de ser algo ligado à própria natureza de nosso ser! Como a figueira que nada produz além de folhas é declarada inútil e deve ser cortada, o que deverá ser feito de nós se não produzirmos frutos? Agora estamos a falar de coisas perceptíveis e compreensíveis a todo o ser humano, com esta ou aquela fé, ou sem fé alguma. Um cristão que nada produz é inútil. É um ser que degenerou, em quem a própria natureza desandou e deteriorou-se. E quais são esses frutos que Deus e todos os outros seres humanos tem o direito de cobrar de nós? Vamos pensar juntos e anotem. Isso pode servir para traçar um bom programa de melhoria de vida ... . É com esses frutos que todos entendem como tipicamente nossos que a Igreja é percebida como a luz do mundo. Observem que Jesus está a falar de luz para todos, para toda a humanidade. Se é luz, a Igreja também é uma esperança para todos. 4- A Igreja é o Povo de Deus (CIC 781-786). Já vimos anteriormente quando falávamos de imagens e definições da Igreja que ela é o Povo de Deus. Esta é uma espécie de marca pela qual o Vaticano II mais gosta de referir-se à Igreja. Também já é do nosso conhecimento, principalmente daqueles que frequentam nossas leituras bíblicas, que no AT Deus referiase, a toda hora, ao povo de Israel como “seu povo escolhido”. Sabemos também que a Igreja é herdeira das promessas feitas lá e continuadora. Melhor, a verdadeira realizadora daquilo que Deus projetou no AT. Lá era uma espécie de experimento em laboratório. Tudo era em escala pequena, um povo só, etnicamente compreendido. 4.1- O que caracteriza um povo. Proponho começar por aquilo que diz o dicionário Houaiss: “povo, conjunto de pessoas que falam a mesma língua, tem costumes e interesses semelhantes, história, e tradições comuns”. Os elementos constitutivos

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de um elemento povo, em geral, formam um conjunto tal que o povo seu portador distingue-se bem de qualquer outro povo. História e tradições tem um significado grande para cada grupo humano. Mas eu queria chamar especial atenção para um elemento constitutivo que é pouco focalizado. Referi-me a autoconsciência de cada membro deste ou daquele povo. É a consciência de pertença. Entre povos antigos muitas vezes tal consciência era pouco desenvolvida. Ela aparecia melhor em clãs e em tribos. Dá para imaginar com facilidade que muitas aldeias celtas, na Gália que Júlio Cesar invadiu e ocupou, tinham pouca ou nenhuma consciência de que pertenciam àquela etnia. Voltando à religião, parece que os maiores esforços dispendidos por Moisés e os profetas de Israel foram investidos na formação da consciência de pertença àquele Povo de Deus. Como soava forte o célebre “Escuta, Israel” (shema,Israel) ... . Parece que a grande desgraça que aos poucos atingiu a Igreja Católica foi a perda dessa consciência por muita gente. A expansão em número e em territórios foi aos poucos diluindo a consciência a ponto transformá-la em inconsciência. Nenhum outro elemento por si só tem força de coesão desta consciência de pertença e identidade própria. Quem duvida disso vá perguntá-lo a palestinos e israelenses, aos curdos ou aos armênios. 4.2- O que caracteriza o Povo de Deus Católico. Este subtítulo pode não parecer muito apropriado dentro de um espírito mais ecumênico. Já vimos que a Igreja de Jesus Cristo é maior que a Igreja Católica, mas quero assim mesmo acentuar um de nosso elementos identificadores, o ser católico, sem perder de vista o dado mais importante de todos, o ser cristão. Mas é importantíssimo ser cristão católico. Afirmo isso meditando muito nos problemas da Igreja Católica nos dias de sombrios de hoje. O CIC aponta sete características que nos distinguem de todos os outros grupos e religiosos. Em primeiro lugar somos o Povo de Deus. São Pedro fala em “uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa” (1Pd 2, 9). Nós fomos escolhidos por Deus, unicamente por sua graça. Gosto de imaginar que a forma de se organizar e de viver dos discípulos de Seu Filho Jesus é o modelo que Deus propõe para toda a humanidade se organizar e viver. Se “vós sois a luz do mundo”, temos de pensar que a luz existe para ser seguida, ao menos nas coisas que ela ilumina.  Cada membro desse povo é a ele agregado não por direito hereditário, mas por graça divina, por um “nascimento do alto ... da água e do ES” (Jo 3, 3-5), isto é, pelo batismo.  Temos como único Líder, Guia e Mestre (Cabeça) a Jesus Cristo (Ungido). São Paulo desenvolveu a magnífica imagem de todos os batizados formando um único Corpo Místico de Cristo, porque cada um é constituído membro de tal corpo pela Unção (isto é, o ES) que recebemos do próprio Cristo, Cabeça. Por isso somos também chamados de “o Povo Messiânico”. O Ungido é o mesmo Messias e nós somos por Ele, com Ele e para Ele ungidos.  Outra característica nossa é a “condição de dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles, como em um templo, reside o ES” (CIC 782).  Além dos dez mandamentos aceitamos como especificamente nossos o “Mandamento Novo” que nos obriga a amar a todos na forma como Cristo pessoalmente nos amou (Jo 13, 34).

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 Nossa missão é ser sal da terra e luz do mundo (Mt5, 13-16). Missão é entendida como razão de ser. É tarefa difícil e, muitas vezes, estivemos longe de atingí-la. Mas o Vaticano II, apesar de tudo, afirma: “Ele (o Povo de Deus) constitui para todo o gênero humano o mais forte germe de unidade, esperança e salvação” (LG, 9). Esta é a nossa fé na Igreja Católica que tem de brilhar apesar das trevas.  Por fim, nossa meta, nosso ponto de chegada, é “o reino de Deus, iniciado na Terra por Deus mesmo. O reino precisa ser estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus” (LG, 9). 4.3- Somos um Povo Sacerdotal, Profético e Régio. Jesus Cristo foi ungido com o ES. Por isso Ele é o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, seu grande e único Profeta e Rei universal. Mas Jesus quer que todo o seu povo participe de tudo o que Ele é e tem. Ao sermos batizados, fomos alertados de que participaríamos de um povo de sacerdotes, profetas e reis. Ou seja, toda a Igreja Povo de Deus consagra o mundo ao Pai, anuncia constantemente o Amor de Deus a todos e, por fim, contribui para a realeza de Deus se exercer na Terra. Não podemos deixar de alertar que Cristo e Seu Povo (nós) exercemos essa realeza servindo a todos. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 28 - Creio na Igreja Católica - 4. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 07 de março de 2013. 4- A Igreja é o Povo de Deus (CIC 781-786). Já vimos anteriormente quando falávamos das imagens e das definições de Igreja que ela é o Povo de Deus. Esta é uma espécie de marca pela qual o Vaticano II mais gosta de identificar a Igreja. Também já é do nosso conhecimento, principalmente daqueles que frequentam nossas leituras bíblicas, que no AT Deus, a toda hora, referia-se ao povo de Israel como “Seu povo escolhido”. Sabemos também que a Igreja é herdeira das promessas feitas lá e continuadora, melhor, a verdadeira concretizadora do que Deus projetou no AT. Lá era uma espécie de experimento em laboratório. Tudo se dava em escala pequena, tratava-se de um só povo etnicamente compreendido. Sei que aqui poder-se-ia aprofundar conceitos de judaísmo pósexílico. Mas agora não é a hora. 4.1- O que caracteriza um povo? Proponho começar por aquilo que um bom dicionário diz. Assim, os elementos constitutivos de um determinado povo em geral formam um conjunto de tal natureza que o povo portador de tais elementos distingue-se bem de qualquer outro povo. Grande significado em geral tem os elementos história e tradições de cada povo. Mas eu queria especial atenção para um elemento constitutivo não suficientemente explorado. Refiro-me a autoconsciência de cada membro deste ou daquele povo. Trata-se de uma consciência de pertença. Entre os povos antigos nem sempre essa consciência era desenvolvida. Ela aparecia melhor em clãs e tribos. Dá para imaginar com facilidade que muitas aldeias celtas na Gália, invadida e ocupada pelos romanos, tinham pouca ou nenhuma consciência que eram daquela etnia. Voltando à religião, parece que os maiores esforços dispendidos por Moisés e os profetas de Israel, aconteceram na formação da consciência da pertença àquele Povo de Deus. Como soa forte o célebre “Escuta, Israel” (shema, Israel) ...

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Parece que a grande desgraça que atingiu, aos poucos e há muito tempo, a Igreja Católica, foi a perda dessa consciência por parte das massas católicas. A expansão em número e em territórios foi aos poucos diluindo a consciência a ponto de transformá-la numa inconsciência. Como faz falta um grande e fortíssimo “Escutem, católicos”! Nenhum outro elemento por si só tem a força de coesão dessa consciência de pertença na formação de uma identidade própria. Se duvidar disso, vá perguntá-lo a palestinos e israelenses, aos curdos, ou aos armênios! 4.2- O que caracteriza o Povo de Deus católico. Esse subtítulo pode parecer não muito apropriado dentro de um espírito mais ecumênico. Já vimos que a Igreja de Jesus Cristo é maior que a Igreja Católica. Mas quero acentuar, de propósito, um de nossos elementos identificadores importantes, o ser católico, sem perder de vista o dado mais importante de todos, o ser cristão! Mas é importantíssimo ser cristão católico. Digo isso meditando muito nos problemas da Igreja Católica nos dias sombrios de hoje. O CIC aponta sete caracaterísticas que nos distinguem de todos os outros grupos humanos e ou religiosos.  Em primeiro lugar somos o Povo de Deus. São Pedro fala em “uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa” (1Pd 2, 9). Nós fomos escolhidos por Deus unicamente por sua graça. Gosto de imaginar que a forma de se organizar e viver dos discípulos de Seu Filho Jesus é o modelo de vida que Deus propõe para toda a humanidade se organizar e viver. Se “vós sois a luz do mundo”, temos que pensar que a luz existe para ser seguida, ao menos nas coisas e caminhos que ela ilumina.  Cada membro desse povo é ele agregado não por direito hereditário, mas por graça divina, por um “nascimento do alto ... da água e do ES” (Jo 3, 3-5), isto é, pelo batismo.  Temos como único Líder, Guia e Mestre (Cabeça) Jesus Cristo. São Paulo desenvolveu a magnífica imagem de todos os batizados formando um único Corpo Místico de Cristo porque cada um é constituído membro Dele pela unção (isto é, o ES) que recebemos do próprio Cristo, Cabeça. Por isso somos também chamados de “o Povo Messiânico”. O Ungido é o mesmo Messias e nós somos por Ele, com Ele e para Ele ungidos!  Outra característica nossa é a “condição de dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles, como em um templo, reside o ES” (CIC 782).  Além dos dez mandamentos, aceitamos como especificamente nosso o “Mandamento Novo” que nos obriga a amar a todos da forma como Cristo pessoalmente nos amou (Jo 13, 34).  Nossa missão (razão de ser) é ser sal da terra e luz do mundo (Mt 3, 13-16). É uma missão difícil e muitas vezes parece que estivemos longe de atingi-la. Mas o Vaticano II, apesar de tudo, afirma: “Ele (o Povo de Deus) constitui para todo o gênero humano o mais forte germe de unidade, esperança e salvação” (LG 9). Esta é nossa fé na Igreja Católica que tem de brilhar nas trevas.  Por fim, nossa meta, bem como ponto de partida é “o Reino de Deus, iniciado na Terra por Deus mesmo, Reino a ser estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo” (LG 9). 4.3- Sacerdote, Profeta e Rei (desenvolver a apartir do CIC 783-786). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari

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Aula 29 - Creio na Igreja Católica - 5. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 14 de março de 2013. 5- A Igreja como Corpo de Cristo (CIC 787-796). 5.1- A Igreja é o Povo de Deus em Comunhão com Cristo (CIC 787-789; LG 12-14). Como tema de fundo que ajuda a esclarecer toda a aula de hoje temos as coisas que Jesus falou aos seus mais próximos sobre união e comunhão de seus discípulos de todos os tempos com Ele para estabelecer igual união e comunhão de seus seguidores entre si. Um rápido passar de olhos só no Evangelho de São João dá para perceber a importância do tema e juntar seus elementos.  “Que todos sejam um como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti” (Jo 17, 21). Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17, 23).  Na imagem da videira (Jo 15, 1-8) Jesus acentua a absoluta necessidade de contato direto entre as raízes alimentadoras, passando pelo tronco, aos ramos todos, até cada baga de uva do cacho. Aqui Jesus mesmo diz que Ele é a cepa, o que inclui raízes, de onde vem a seiva vital. Numa imagem moderna podemos imaginar Jesus como o gerador da eletricidade e cada um de nós uma lâmpada a iluminar. Nenhum interrupção na rede pode ocorrer.  “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Assim como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13, 34). O amor entre nós deve ser da mesma qualidade do amor Dele, de Jesus! Vai até a doação da vida pelo irmão. Aqui também podemos imaginar o amor a circular de irmão para irmão e de cada irmão a Cristo, comparando-o à energia vitalizante da seiva que vai das raízes até às uvas. Destas citações de João que acabamos de ver sobressai uma evidência. O amor é tudo no mundo de ser de Jesus. É tudo no seu plano de redenção do Ser Humano e tem de ser tudo na vida do dia-a-dia dos seus discípulos. O amor pode ser extremo, heróico, mas raro. Não é toda hora que acontece o cristão ser convocado a dar sua vida por alguém. Mas, no cotidiano, a cada momento, somos convidados à solidariedade, à partilha e ao serviço aos irmãos. A partilha total é a parte do amor do dia-a-dia. Contudo, Jesus coloca a partilha em lugar especial. A partilha só é perfeita quando inclui a participação do outro em algo de quem reparte alguma coisa. Esta participação de pessoa em pessoa pode ser maior ou menor. Preparar um prato para um pobre já é amor ao próximo. Mas ideal seria a gente gozar de uma situação de segurança que nos permitisse convidar ao pobre para nossa mesa. Aí teríamos a convivência e, tanto nós quanto o pobre, nos sentiríamos realmente próximos, unidos e iguais. O segredo de Jesus, o modo típico de ser Dele, é querer que os seus discípulos de tudo o que Ele tem. Vejamos a que somos convidados, ponto por ponto.  A participar do universo do conhecimento Dele (a Verdade). “Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz seu Senhor. Eu vos chamo de amigos porque vos dei a conhecer todo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15).

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 A participar de sua alegria (Felicidade). “Disse-vos essas coisas para que minha alegria esteja convosco e vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11). A felicidade de duas pessoas que se amam deve ser uma só. Tua felicidade é a minha felicidade! Isso pode ser vivido privilegiadamente no casamento.  A participar da vitória Dele sobre a morte. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11, 25). Nem a morte pode destruir ou separar pessoas que estão no círculo com amor com Cristo.  A participar até do Seu poder de julgar e salvar. Aos apóstolos prometeu que haveriam de assentar-se sobre doze tronos para julgar as tribos de Israel. “Todo o poder Me foi dado no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos Meus todos os povos ...” (Mt 28, 18-19). Participamos pois também de “Seu poder que domina todas as coisas que domina todas as coisas do Céu e da Terra” (LG 15).  Por fim, a participar do Seu círculo divino mais íntimo. Aqui é interessante voltar a aula 24 onde falávamos da SSma Trindade. 2- A Igreja forma um só corpo, cuja cabeça é Cristo (CIC 790-795). Recomendo cada um começar o estudo desta unidade lendo 1Cor 12, capítulo todo. Do versículo 1 ao 11 São Paulo fala dos dons do ES. Podemos dizer que no seu conjunto eles formam a verdadeira da Igreja, pois é por eles que todos os serviços para o bem de todos são exercidos. O restante do capítulo ocupa-se com a imagem do corpo do qual Cristo é a cabeça. Nos versículos 27-31 o autor mostra que existe uma jerarquia nas funções dos membros deste corpo. A Igreja tem sido tradicionalmente considerada como o Corpo Místico de Cristo. O termo místico nos remete a realidades sobrenaturais, espirituais e tem a ver com mistério, já bem explicados em nossas aulas. Mas cuidado para não chegar à idéia de que a Igreja é só uma espécie de comunhão de almas com Cristo. Este corpo é constituído de cada batizado que vive a comunhão com os irmãos e com Cristo na totalidade do seu ser, alma, espírito e corpo. Vamos voltar aos quadros 5 e 6 da aula 27, a partir da frase: “Por isso São Paulo afirma que esse tecido humano ...” . Quando Jesus comparou a Igreja com uma videira, Ele mesmo colocou-se no papel da cepa e raízes como vimos. Ele é a seiva, a energia vital que faz tudo crescer e frutificar. Agora na alegoria do Corpo Místico, descrita por São Paulo, Cristo é a cabeça, o membro mais importante que comanda a vida de todo o organismo. Mas com Cristo coopera e atua o ES. “Um só é o Espírito que, para utilidade da Igreja distribui seus vários dons segundo suas riquezas e as necessidades dos ministérios” (leia-se serviços e funções), escreve a Lumen Gentium, 14, remetendo para 1Cor 12, 1-11. Através da contínua distribuição dos dons, destinados aos ministérios, feita pelo ES, Cristo Cabeça, por esse mesmo Espírito, na Igreja, “pela força derivada Dele, nos prestamos mutuamente os serviços para a salvação, de tal forma que, vivendo a verdade na caridade, em tudo cresçamos Nele que é nossa Cabeça” (LG 17, remetendo a Ef 4, 11-16). Aqui se diz com todas as letras que até mesmo a salvação eterna que Cristo nos mereceu por sua morte concretiza-se pela ação conjunta, através do tempo, entre Cristo Cabeça e cada um de nós pela prestação de serviços mútuos. Sugiro ler LG 12-19. Aqui vai bem uma conversa entre nós sobre o alcance de nossos serviços. Quais são eles? 3- A Igreja é a esposa de Cristo (CIC 796). A imagem de Javé ora como noivo, ora como esposo apaixonado por Sua Noiva ou Esposa (Israel) foi muito abordada e divulgada pelos profetas. Citarei apenas tres passagens: Is 54, 5-8; Os 2, 16-18 e Ez 16, 1-63. O capítulo 16 de Ezequiel é longo, cru, brutal e chega ao patético. Mas de tudo sobressaí o perdão amoroso do esposo quando não seria mais sequer imaginável.

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O NT apresenta o Cristo como noivo apaixonado. João Batista contenta-se em ser o amigo do esposo, o que já é motivo de alegria perfeita (Jo 3, 29). Em Marcos 2, 19,20, o próprio Jesus se apresenta como esposo que está em convivência com seus amigos. Mateus 22, 1-14 descreve o reinado de Deus com os homens como uma grande festa nupcial, tema que vai repetir-se na parábola das dez virgens (Mt 25, 1-13). Evidentemente que era só a Igreja começar a existir e logo seus pensadores fizeram a ligação, uma espécie de transposição: Cristo é o Esposo predito pelos profetas. A Esposa é a Igreja. São Paulo mais e melhor do que ninguém ocupa-se com esse tema. Proponho a leitura de 1Cor 6, 15-17; 2Cor 11, 2; Ef 5, 25; Ap 22, 17. A imagem é linda! ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 30 - Creio na Igreja Católica - 6. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 21 de março de 2013. 1- A Igreja como templo do Espírito Santo (CIC 797-801). “O que é nosso espírito, isto é a nossa alma, em relação aos nossos membros, assim é o ES em relação aos membros de Cristo, ao Corpo de Cristo que é a Igreja”, diz o CIC ao n. 797 citando Santo Agostinho. A doutrina da Igreja Católica também afirma que a união dos membros do Corpo de Cristo entre si e de cada com a Cabeça, ou seja, Cristo, é também resultado da ação do ES, recorrendo a Pio XII com a Encíclica Mystici Corporis (O Corpo Místico). Durante o Êxodo, depois que Moisés mandou confeccionar a Arca da Aliança e a Tenda do Encontro, uma espécie de santuário desmontável e portátil, muitas vezes “a nuvem encheu a tenda”, significando a presença gloriosa de Javé. Depois disso só me recordo que esse fenômeno visível da presença divina manifestou-se na sagração do Templo de Salomão (1Rs 8, 10-11). Mas o templo deixou de existir. O cristianismo foi agraciado de forma extraordinária com a presença divina real e constante na Igreja de Cristo como um todo; em cada reunião que se dá em nome do Senhor; e ainda em cada um por um de seus membros que vive em comunhão de Fé e Amor com os demais irmãos e com Cristo. Na verdade, tudo o que dizemos da presença do ES podemos e devemos dizer da presença da SSma Trindade. Somos templos vivos da Trindade. Como consequência natural da presença e atuação do ES no tecido vivo de toda a Igreja, entendemos que todas as qualidades, os dons, com que cada membro é agraciado durante a sua vida são formas concretas de graça que o ES concede para o bem de todos. Sempre foram chamados de carismas. Na verdade somos todos carismáticos. A vida cristã pode ser traduzida pela dedicação em descobrir esses dons, desenvolvê-los e colocá-los a serviço de todos. 2. A Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica (CIC 811-870). A Lumen Gentium (Luz dos Povos), primeiro documento oficial do Vaticano II, nos diz: “Esta é a única Igreja de Cristo que no Símbolo confessamos una, santa, católica e apostólica (LG 8). Esses quatro atributos são inseparáveis entre si. Constituem uma realidade não fácil de ser explicada e entendida, sobretudo em épocas desfavoráveis como agora. “Só a Fé pode reconhecer que a Igreja tem essas propriedades da sua fonte divina”, afirma o Magistério Oficial da Igreja (CIC 812). Aceitamos essa afirmação. Contudo, o problema está na mistura de elementos naturais e sobrenaturais; humanos e divinos.

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A Igreja sempre diz que ela é santa e pecadora ao mesmo tempo. Enquanto ela é fundação divina, portadora e hábitat de Deus, ela é santa. Enquanto tem o seu tecido formado por indivíduos humanos, a Igreja é pecadora. Todo ser humano é, inexoravelmente, mais ou menos pecador. O problema é que os mecanismos e efeitos da graça nem sempre são percebidos. Mas os mecanismos e efeitos do pecado costumam ter uma visibilidade que se impõe. Sua repercussão é sempre de proporcionalmente maior. Vamos examinar cada um dos atributos separadamente. 2.1- A Igreja é Una (CIC 813-822). Esse é o elemento constitutivo da Igreja com a visibilidade e compreensão mais comprometida. Alguém aqui tem idéia de quantas igrejas cristãs existem? Parece que falar em unidade da Igreja é ver o contrário do óbvio. Creio que aqui é o caso da jerarquia da Igreja Católica ter uma grande compreensão para com as dificuldades que o mundo e seus próprios filhos tem para compreender isso. A tentação pode ser afirmar que a tal unidade é apenas o ideal proposto por Cristo e que na prática a realidade é totalmente outra. “A Reintegração da Unidade ... a desenvolver citando CIC a toda a criatura” (UR 751). ............ O Vaticano II é muito contundente. A divisão dos cristãos contradiz a vontade de Cristo expressa com tanta força e clareza em João 17, 21. Não posso imaginar qualquer pregador e catequista de qualquer igreja cristã que não conheça esse texto e não seja por ele tocado. Como compreender que haja tantos cristãos a pregar contra e a atacar com tanto ódio irmãos em Cristo, expondo ao mundo o espetáculo dessas rupturas e fraturas? Sem dúvida é de todos o maior escândalo para os não cristãos. A forma como se operam novas divisões e as motivações que levam a fundações de tantas novas igrejas são coisas perturbadoras. Às vezes ponho-me a imaginar sobre o que faria São Paulo aqui nessa cidade tão grande e que se gloria de tê-lo como padroeiro ... . Voltemos ao texto do CIC e do CV II (Concílio Vaticano II). Confesso que o choque causado pelas divisões do cristianismo torna os textos oficiais da Igreja Católica sobre a natureza, por assim dizer ontológica, da Igreja de Jesus Cristo, onde sua unicidade é co-natural, mais difíceis de serem compreendidos para nós católicos e impenetráveis para possíveis leitores não cristãos. E lembrar que São Justino, no segundo século, professor de filosofia e pagão, converteu-se ao cristianismo lendo seus textos ... . Depois de muito pensar creio que estou experimentando uma intuição que pode ser assim expressa. A estrutura ontológica de uma coisa pode ser bem diferente daquilo que nós pensamos sobre tal coisa. Acontece que as pessoas comportam-se não em função daquilo que a coisa é por natureza, mas em função do que pensam e crêem a respeito dela. Um exemplo tirado da antropologia pode ajudar muito. Pela sua natureza constitutiva a espécie humana toda é uma só. Cientificamente falando não faz nenhum sentido falar em raças humanas. Mas diferenças físicas sempre levaram povos a se discriminar mutuamente de formas tão radicais que nós já sentimos dificuldade em compreendê-las. Acaloradas discussões chegaram a ocorrer em universidades européias, no tempo dos descobrimentos, se certos povos tinham alma. A possibilidade de não ter alma significaria que não pertenciam a espécie humana. Alguém poderia dizer que isso era apenas uma esquisitice acadêmica. Não foi bem assim. A escravidão foi generalizada e até nossos dias ainda não foi inteiramente erradicada. O maior horror que eu tenho notícia ocorreu em certos casos de se organizarem caçadas a homens primitivos pelo simples prazer em abater caças diferentes. O quadro é horroroso. Mas ajuda a entender as divisões do cristianismo. A rigor, por natureza, todos os batizados em nome de Jesus Cristo formam entre si um corpo unido de irmãos. São uma só família, uma só Igreja. Mas, diferenças circunstanciais levam a pessoas a ver diferenças essenciais e assim não mais reconhecer uns aos outros como irmãos.

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Para nos ajudar a progredir neste espírito de unidade vamos resumidamente ver os principais pontos que nossa mãe Igreja propõe. Ele estão no CIC 815-816 e no CV II. A caridade constitui o vínculo da perfeição (Cl 3, 14). Ela é o principal elemento unitivo de pessoas entre si e destas com o Cristo. O problema é que o maior de todos os dons do ES pode não ser percebido pelos sentidos e a Igreja tem necessidade de elementos de visibilidade para atingir seus objetivos. A Igreja Católica aponta tres vínculos visíveis de comunhão.  “Profissão de uma mesma fé recebida dos Apóstolos”. Essa fé pregada pelos Apóstolos não é pleiteada só pela Igreja Católica. Todas as igrejas patriarcais tem basicamente a fé recebida dos Apóstolos.  “A celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos”. Ainda teremos aulas sobre os sacramentos mais para a frente. Mas já aproveito para acentuar que os sacramentos tem sempre dois tempos, dois aspectos importantes: sua celebração, cada qual com uma liturgia própria e sua vivência no dia-a-dia. Os que não vivem nossa fé, em geral, nada percebem de nossas celebrações, mas percebem muito daquilo que vivenciamos relacionado ao conteúdo celebrado.  “A sucessão apostólica através do sacramento da ordem custodia a concórdia fraterna da família de Deus” (CIC 815; remete para UR 2 e LG 14). Acredito que essa sucessão na missão encarregada por Jesus aos Apóstolos é muito mais importante do que muitos pensam. Ela garante a continuidade visível através dos tempos. Isso garante também a transmissão de um conjunto de itens de fé que assegura nossa percepção clara da identificação temos com os conteúdos dos textos bíblicos, especialmente os do NT. 2.2- As feridas da unidade; cisões e rupturas (CIC 817-819). Para qualquer grupo humano viver em mútua concórdia, como gostavam de falar os antigos, é extremamente difícil, mesmo tratando-se de pessoas diretamente engajadas no “serviço de Deus”.Tudo o que vem à nossa mente, mesmo aquelas idéias que vem de Deus, passa por uma espécie de filtro avaliador antes de ser traduzido em comportamentos e atitudes. Com os cristãos, na tentativa de constituir e viver a Igreja, não é diferente. Logo nos primeiros anos de sua história os cristãos viveram a dificuldade de assumir a sua própria identidade e abandonar certas práticas religiosas típicas do judaísmo. Recomendo a leitura do capítulo 15 de Atos. Em Atos 15 temos a questão da circuncisão ou não dos que eram batizados convertidos do paganismo. A reunião em assembléia (concílio) dos Apóstolos, junto com Paulo e Barnabé em Jerusalém, é uma beleza de espírito de conciliação e manutenção da unidade na jovem Igreja de Cristo. Mas na prática nem todos os evangelizadores que expandiam o cristianismo tinham a mesma compreensão sobre o conteúdo das resoluções propostas e aceitas em Jerusalém. Ainda antes de terminar a leitura desse capítulo 15, tão conciliador, e já temos o desentendimento entre Paulo e Barnabé de sorte que não mais trabalharam juntos. Lendo Gálatas 1 e 2 percebemos como assunto circuncisão continuava a dividir e confundir corações e mentes em diversas comunidades da Galácia e mais uma vez Paulo aparece em desentendimento até com Pedro. Paulo reconhecia o papel único de Pedro na condução da Igreja. Antes de entregar-se às atividades de evangelização ele passara quinze dias com Cefas (Pedro).

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Todos conhecemos as divisões históricas entre Roma e Constantinopla (católicos x ortodoxos) e entre catolicismo e protestantismo. Nosso catecismo afirma que “as rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo (distinguem-se a heresia, a apostasia e o cisma) não acontecem sem os pecados dos homens” (817). cita então Orígines ... (ver CIC) .  Heresia caracteriza-se por crer e propagar crenças que ferem o conteúdo básico da Fé praticada pela Igreja de Cristo.  Apostasia é resultado da ruptura da Fé. O indivíduo rompe então com a Igreja e sai dela.  Cisma envolve a fundação ou a formação de uma facção que quer ser da Igreja mas não aceita a maioria e, em geral, o líder declara sua facção a única fiel à verdadeira Igreja de Cristo. Cisma tem a ver com corte, separar uma porção. Embora ainda tenhamos pela frente o estudo do Ecumenismo, já adiantamos que as pessoas que nascem de comunidades que se formaram a partir dessas rupturas não podem ser condenadas, se quer criticadas ou discriminadas. “A Igreja Católica os abraça com reverência e amor” (CIC 818). Expressão autêntica de sua Fé recebida no batismo o justifica e o mantém em união com Cristo. Cristo é maior que nossas incompreensões e misérias! Citando a Reintegração na unidade (UR 3) e a LG 15, nosso catecismo adverte que muitos elementos de santificação e da Verdade da Revelação, bem como dons do ES “existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica” (CIC 818-819). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 31 - Creio na Igreja Católica - 7. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 4 de abril de 2013. 1- Rumo à unidade (CIC 820-822). Nós católicos, em união com o Magistério da Igreja, cremos que a Unidade é dada por Cristo como um dom à Sua Igreja. Faz parte de sua preocupação maior e é objeto de sua oração sacerdotal do capítulo 17 do Evangelho de João. Todos já sabemos de cor Jo 17, 21. Certo? ... . Mas esta unidade tem de fazer parte dos nossos anseios mais profundos, se quisermos ser cristãos católicos autênticos. Tem de ser também tema de nossas orações e objeto dos cuidados contínuos para que nossas atitudes, palavras e práticas não criem ou alimentem antipatias e mal estar na convivência com outros grupos cristãos, mas que elas sejam elementos aproximativos e de desarmamento dos espíritos. O número 821 do CIC nos aponta sete elementos que precisamos praticar para respondermos ao apelo de Jesus por Unidade (Jo 17, 21).  Uma constante renovação na fidelidade maior à sua vocação. Trata-se da fidelidade ao próprio Cristo. É Ele que quer a Igreja unida.  Uma constante conversão do coração de cada um tem de ser objeto de atenção e cuidado de toda hora, sem trégua. Nosso relacionamento com os demais cristãos tem de ser expressão de um coração continuamente movido e orientado pelo Evangelho. A infidelidade dos cristãos ao Evangelho causa e alimenta as divisões.

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 A oração em comum é outro fator a promover união. Cita UR 8: “A conversão do coração e a santidade de vida, juntamente com as preces particulares e públicas pela unidade dos cristãos devem ser consideradas como a alma de todo o movimento ecumênico e, com razão, podem ser chamadas de ecumenismo espiritual”.  O conhecimento fraterno recíproco é de extraordinária importância porque isso permite a percepção e a focalização das semelhanças, o que aproxima as pessoas. Alimenta a amizade e o amor fraterno entre cristãos de igrejas diferentes.  A Igreja recomenda a formação ecumênica para os fiéis e especialmente para o clero. A prática ecumênica requer alguns conhecimentos específicos.  Recomenda-se diálogo entre teólogos e encontros entre cristãos de diferentes igrejas e comunidades. Esses encontros precisam ser bem preparados.  Há muitos serviços que cristãos de todas as igrejas podem prestar em programas comuns entre si. Esta unidade é toda tirada do documento conciliar Reintegração na Unidade (UR 1-12). A prática do ecumenismo não é um modismo, uma coisinha moderna e politicamente (da Igreja) correta. É formação de coração e mente evangélicos que anseiam para que a oração de Jesus seja posta em prática na convivência entre si. 2- A Igreja é Santa (823-829). Este capítulo é extremamente difícil de ser explicado para quem não tem nossa Fé, ou ainda para quem tem a Fé mas avançou muito pouco na espiritualidade. No imaginário do povo de modo geral a idéia de santidade liga-se à perfeição moral referente à religiosidade. Neste universo, santidade e pecado são coisas opostas. Quem é santo não pode ter pecados, sobretudo certos pecados, como os assim chamados pecados da carne e crueldade. A virtude que o povo mais associa à santidade é a caridade. Tradicionalmente, pessoas de grande bondade, com práticas de socorro aos pobres, o povo as canoniza antes da Igreja. É pelas mesmas razões que pecados de pessoas com funções muito importantes na Igreja costumam chocar tanto o povo. Mas, esse mesmo povo, de modo geral, também tem ideia de santidade ligada àquilo que é sagrado. Ninguém tem dificuldade de considerar Deus santo. Por um maior contato ou proximidade presumidos de uma pessoa com o sobrenatural, pode ser com Deus ou com os santos, ela passa a ser vista como mais santa. Coisas em contato com o sagrado são santas, tais como vasos sagrados e relíquias. No mínimo despertam a piedade. Por essa via fica mais fácil falar de santidade da Igreja. É consenso de todos os cristãos que Deus é santo e só Ele é totalmente santo. Então tudo o que Deus faz é bom e santo. Tudo o que tem contato ou está muito próximo de Deus é de alguma forma santificado por Ele. Agora o sagrado e o santo são sinônimos. Então a Igreja enquanto obra de Deus, fundação de Jesus, é ao mesmo tempo sagrada e santa. Além do mais, a Igreja é portadora de Deus Trino, como vimos nas primeiras aulas sobre o bloco “Creio na Igreja”. Ao mesmo tempo, a Igreja é depositária dos meios que Deus dispôs para salvação da humanidade. Neste sentido é indefectivelmente, inevitavelmente, santa! Mas a relação entre o “santo por contato divino”, ou o sagrado com o santo por uma mais perfeita prática das virtudes cristãs não é pequena, ou pouco significativa. A consciência da sacralidade de ritos religiosos, sobretudo dos sacramentos, e a consciência da própria sacralidade do irmão em Cristo (o próximo) e de sua sacralidade pessoal (membro do Corpo de Cristo) pode e deve ser um apelo fortíssimo para uma vida pessoal mais santa.

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No entanto a santidade pessoal como vida cristã é muito mais difícil do que gostaríamos que fosse. É comum pessoas progredirem admiravelmente na prática de algumas virtudes e ao mesmo tempo serem miseravelmente fracas em outras. No exercício do crescimento evangélico, ou santidade, a prática da caridade tem um lugar especialíssimo. Ela envolve tanto o socorro nas necessidades de irmãos empobrecidos ou fragilizados pela doença, prisão e outras formas de sofrimento, como a troca constante de gentilezas fraternas. Esse é o Amor-Ágape decantado no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios. Ele vai do mais simples gesto de cortesia, ao mais heróico ato de amor ao oferecer a vida por alguém. LG diz que a caridade “rege, informa e conduz ao fim todos os meios de santificação (LG 42). Informar aqui significa dar forma a alguma coisa. O CIC diz que é a alma da santidade (826). Essa afirmação fica muito clara quando se lê e medita os capítulos 12 e 13 da Primeira aos Coríntios. A caridade vivida nos aproxima de Deus e nos faz participar da natureza divina de Jesus Cristo. Para terminar este tema quero lembrar a tradição da Igreja Católica de canonizar santos. Eles são declarados solenemente santos de Deus para mostrar a todos os fiéis que o Espírito de Santidade continua vivo e atuante em todos os tempos. É interessante notar que os santos aparecem na Igreja em qualquer época, nas melhores como nas piores. Além desse testemunho vivo da santidade da Igreja, eles tem mais duas funções importantes: ser nossos intercessores junto de Deus e servir de modelos na prática, às vezes heróica, das virtudes cristãs. Essas são por assim dizer cristalizações da santidade de Deus em nós seus filhos! 3- A Igreja é Católica (CIC 830-831). Nossa Igreja é católica no sentido de universal (katholikós, grego, universal). Mas esse elemento universal pode ter dois sentidos.  Assim “ela é católica porque Cristo nela está presente” (830) e cita Santo Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107, que disse: “Onde está Jesus Cristo está a Igreja Católica”. Observe que durante a vida desse santo o cristianismo tinha-se espalhado, geograficamente, bem pouco. Não fazia sentido em falar em universal em termos geográficos. Certamente Inácio conhecia os textos de São Paulo sobre a Igreja como Corpo de Cristo. Então a Igreja era vista como a portadora de Cristo na sua totalidade. Tem a ver com plenitude. Interessante que na minha terra pessoas ainda dizem que isso ou aquilo não está muito católico. “Este peixe não parece muito católico”, pode afirmar o comprador. Todos entendem que fala do estado de conservação do produto. A Igreja é mais ou menos católica na medida que Ela tem em si e vive a plenitude dessa presença de e comunhão com Cristo.  Mas a Igreja é também católica no sentido de que Cristo ordenou que os Apóstolos pregassem a todos os povos e batizassem (Mt 28, 19). Ela destina-se à universalidade (totalidade) do gênero humano. É seu sentido mais literal como vimos. Hoje fala-se com certa frequência em igrejas particulares. Normalmente uma igreja particular é a comunidade católica que vive e reúne-se em torno de um bispo. O autor do Apocalipse gosta de falar em “Igreja de Jesus Cristo que está em ...”, nomeando esta ou aquela cidade. São as igrejas locais. Elas são católicas no primeiro sentido visto acima. Estão em plena comunhão com Cristo e com a Igreja toda. A união com o Papa é essencial para essa comunhão (CIC 832-835). Temos também de nos ocupar com a comunhão e a pertença à Igreja dos indivíduos. Quem pertence à Igreja? Em primeiro lugar cabe falar dos batizados católicos e que de alguma forma vivem dentro dos limites da Igreja Católica. Eles pertencem à IC (Igreja Católica), mas podem formar dois grupos. Um grupo está “com o corpo e o coração” (LG 14) em comunhão plena com ela. O outro grupo é constituído por aqueles que

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apresentam rupturas por não perseverar na caridade, por pertencer só de corpo. São os ramos sem a seiva vital do Cristo (836-837). Para terminar esta unidade ainda precisamos lembrar que existem alguns elos entre a IC e todos os batizados de outras igrejas cristãs que querem seguir Jesus Cristo. “Com as igrejas ortodoxas essa união é tão profunda ‘que falta bem pouco para que ela atinja a plenitude que autoriza uma celebração comum da Eucaristia do Senhor’”, citando Paulo VI (CIC 838). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 32 - Creio na Igreja Católica. 8 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 11 de abril de 2013. 1- A Igreja e os não-cristãos (CIC 839-845). Espero mais para a frente dar uma aula só sobre o Ecumenismo, dada a importância desse tema. Lumen Gentium, n. 42, afirma: “os que ainda não receberam o Evangelho também se ordenam por diversos modos ao Povo de Deus” (CIC 839), na verdade, citando Santo Tomás de Aquino. Isso quer dizer que existem elementos comuns que unem todos os homens, evangelizados e não evangelizados. Hoje cada vez mais somos lembrados que a humanidade como um todo é criatura especial e objeto do Amor de Deus. A idéia de uma fraternidade universal unindo todos os seres humanos ganha força. Catolicismo e o melhor de outras igrejas cristãs encontram amplo apoio nas modernas ciências antropológicas. São a ciência e a fé trabalhando juntas. A consciência de que a Igreja precisa por-se a serviço de qualquer ser humano pertence às coisas mais belas e iluminadoras dos valores de nossos dias. Entre os não-evangelizados e nós sobressaem dois grupos que tem um parentesco conosco maior. Um grupo é pequeno, apenas alguns milhões e o outro é imenso, contado em muito mais que bilhão. Conosco formam as tres religiões que acreditam num único e mesmo Deus. As tres partilham do elemento mais geral e ao mesmo tempo mais fundamental da fé: “creio em um só Deus”! O pequeno Povo hebreu tem com o Cristianismo um parentesco especial, além do Deus único em comum. Temos grande parte dos fundamentos da Fé em comum com eles. É, praticamente, todo o AT. Todas as promessas e prenúncios da vinda de um Messias-Deus para a salvação de todos estão lá. O grande grupo dos povos islâmicos (num empate técnico com o Cristianismo em número) tem tambem seus laços importantes conosco. “Mas o plano da salvação abrange também aqueles que reconhecem o Criador. Entre eles em primeiro lugar os Muçulmanos, que, professando manter a fé de Abraão, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos homens no último dia” ( LG, 42). Não dá para negar. Somos parentes espirituais. Cristãos e muçulmanos precisam sepultar e esquecer as guerras do passado, olhar para nosso patrimônio espiritual comum e trabalhar juntos pela paz. Quanto às outras religiões em geral a Igreja Católica aconselha seus filiados a procurar ver “tudo que houver de bom e de verdadeiro... como uma preparação evangélica, dada por Aquele que ilumina todo homem para que, finalmente, tenha a vida” (CIC 844).

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2-Fora da Igreja não há salvação? (CIC 846-848) Minha intenção era nem tocar nesse assunto. Mas acho que é também questão de honestidade abordá-lo. O próprio CIC começa perguntando como se deve entender essa afirmação muitas vezes feita pelos Padres da Igreja. “Formulada de maneira positiva, ela significa que toda salvação vem de Cristo-Cabeça através da Igreja que é o seu Corpo”(CIC 846). Esta afirmação precisa ser bem gravada e entendida. Lumen Gentium diz: “apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que esta Igreja peregrina é necessária para a Salvação. O único Mediador e o caminho da Salvação é Cristo, que se nos torna presente no Seu Corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da Fé e do batismo (Mc 16,16; Jo 3,5), ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo como por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disto não quiserem entrar ou nela perseverar” (LG, 38). Precisamos relembrar certas premissas já aceitas anteriormente para assinalar bem o conteúdo das afirmações aqui trazidas.  A Igreja de Cristo e o Cristo-Cabeça formam uma unidade perfeita.  Todos aceitamos que a Salvação eterna de qualquer ser humano só pode realizar-se em vista da morte redentora de Jesus.  A Igreja de Cristo é seu Corpo, através do qual Ele, o Cristo-Cabeça, atua. Portanto a Igreja é seu instrumento necessário para a Salvação, pertença a pessoa salva aos quadros da Igreja como seu membro consciente e confesso, ou esteja fora dela. O que não pode acontecer é, sabendo destas condições, alguém não aceitar a Igreja de Cristo, pois estaria conscientemente rejeitando Cristo sua Cabeça! Se estiver fora da Igreja por não conhece-la, ou por motivos sérios de consciência, pode ser salvo, mas por mérito de Cristo. 3- Igreja e Missão (CIC 849-856). 3.1- Introdução. Aqui entendemos missão no sentido original do termo, que nos leva a pensar em atividades missionárias. O lado missionário da Igreja pode ser examinado de dois ângulos diferentes. Por um, olho e vejo o quanto as missões sempre fizeram parte da Igreja desde a sua fundação e de sua própria constituição. A ordem de Jesus ressuscitado “ide a todos os povos ...” (Mt 28,19) teve um impacto poderosíssimo sobre o Cristianismo de todos os tempos. Por outro ângulo, olhamos e vemos o apelo missionário enquanto é ouvido e mobiliza as consciências de católicos dos nossos dias. É impossível não se perceber uma crescente quase indiferença desse apelo na mente de muita gente. Porque se dá isso?  Quanto mais longe no tempo, mais tende a enfraquecer a capacidade mobilizadora de um apelo inicial e fundador de uma instituição. Já se passaram dois mil anos!

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 A crença geral de que sem batismo ninguém podia salvar-se exercia uma motivação missionária muito forte. Afinal, quem não se preocuparia com a Salvação ou perdição eterna de outra pessoa? Hoje fala-se tranquilamente que Deus pode salvar quem Ele quer, dentro ou fora da Igreja.  É inegável que a Igreja, enquanto instituição representada pelo Papa, bispos e padres, perdeu muito de seu poder mobilizador junto às massas católicas. 3.2- Ser missionária é exigência da catolicidade da Igreja. Isso é afirmado com todas as letras pelo CIC. É parte do próprio ser da Igreja. Criada por Deus ela tem de ser “o Sacramento universal da Salvação”. Por isso a Igreja precisa estar presente em todos os povos. Mesmo que Deus salve muita gente fora da Igreja, esta verdade é também verdade que a Igreja descobriu, iluminada pelo ES! Fundamental é trabalhar a consciência de cada católico que ele não se pode considerar mais membro pleno da Igreja de Cristo sem esta responsabilidade e envolvimento na sua dimensão missionária. Mateus 28,19 precisa ressoar sempre de novo nos ouvidos de todos. A Igreja tem a consciência do amor de Deus por todos os seres humanos. Levar essa mensagem a todos é mais uma razão para nosso empenho missionário. Por fim, ainda podemos reforçar a motivação missionária do povo católico lembrando que a razão da existência não é só levar a mensagem de uma Salvação eterna para todos, mas é também a de construir já aqui e agora um modo de viver melhor, mais de acordo com os valores do Reino de Deus. Sim, temos a missão de tornar esse Reino mais presente e atuante no mundo todo. 3.3- Missões em duas frentes (CIC 853-856). A ação missionária tem de visar duas frentes de trabalho. A primeira mira todos os homens que não conhecem o Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo. São povos e grupos muito grandes. É na realidade a grande maioria da humanidade. Nestas áreas o primeiro desafio é conseguir penetrar nelas e formar comunidades cristãs que sejam “sinais da presença de Deus no mundo” (AG 900). São os primeiros germes da Igreja de Cristo. O passo seguinte é chegar à formação de igrejas locais, como definimos àcima. Só então a missão atinge um de seus objetivos básicos que é o de expandir a Igreja também geograficamente. A segunda frente de atuação missionária visa os que já conhecem o Evangelho, são batizados e, ou não andam conosco católicos por pertencerem a outras igrejas, ou são dos nossos mas não vivem o Evangelho. São os célebres “católicos só de nome”. Esta segunda frente divide-se também em duas.  Cristãos não-católicos, para os quais a proposta da Igreja Católica é a do Ecumenismo baseado no conhecimento mútuo, respeito, diálogo e cooperação em projetos comuns. Visa a unidade da Igreja de Cristo.  A frente missionária aos católicos só de nome é muito grande. Muitos sofrem de verdadeiro descrédito da Igreja católica e até das religiões em geral. Existe também uma tendência muito forte e difundida, principalmente, nos países de cultura ocidental, de que fé e religiosidade são assuntos pessoais. Esse pessoal é avesso a qualquer ingerência ou intermediação de instituições (igrejas) nas sua vida. Nesta frente acredito que só nos resta cultivar com estes irmãos uma boa convivência, atenção e serviços bem prestados (lava-pés), nenhuma crítica, sempre manifestando compreensão e caridade.

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Está claro que nossas orações contínuas para que nós e eles tenhamos sempre a graça da luz de Cristo a iluminar nossos caminhos só pode fazer bem. Pessoalmente creio que a oração mais eficiente deve ser aquela feita por nós mesmos, para aprendermos com nosso Divino Mestre a conviver e nos relacionar bem com todos. Para terminar esta unidade quero recomendar a todos a leitura do documento do Vaticano II Decreto Ad Gentes sobre a Atividade Missionária da Igreja. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 33 Creio na Igreja Católica. 9 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 18 de abril de 2013. 1.- A Igreja é Apostólica (CIC 857-865). 1.1- Como entender? A Igreja, desde o seu nascimento, nunca duvidou que Jesus A havia fundado sobre os Apóstolos. Eles são, por assim dizer, as pedras do fundamento que Jesus usa para construir sua Igreja. São Paulo, escrevendo aos cristãos de Éfeso, fala da natureza deles como “membros da Família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo como pedra principal o próprio Jesus Cristo” (Ef 2,20). O prisioneiro vidente de Patmos ve a Jerusalém Celeste descer do céu, de junto de Deus. Ela é a Igreja de Cristo, a esposa do Cordeiro. Entre outras coisas, chama a atenção que esta cidade celeste tem sua muralha fundada sobre “ doze pedras fundamentais. Sobre elas estavam os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,14). A imagem impressiona. A fortaleza e a defesa da Igreja baseiam-se nos Apóstolos De Jesus. Então o CIC ve tres razões para nos afirmar que a Igreja é apostólica.  Ela foi e continua sendo construída sobre o fundamento dos Apóstolos (Mt 28,16-20; At 1,8; 1Cor 9,1; 15, 7-8; Gl 1,1; etc.).  A Igreja “conserva e transmite com a ajuda do ES... o ensinamento (At 2,42), o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos Apóstolos” (2Tm 1,13-14).  A Igreja “continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos, até a volta de Cristo, ...” (CIC 857). Isso porque o Papa e os bispos são sucessores dos Apóstolos. No final desta explanação o texto cita a oração da missa dedicada aos Apóstolos. “Pastor Eterno, vós não abandonais o rebanho ...”. 1.2- A missão dos Apóstolos (858-860) A palavra grega apóstolos significa o enviado. Jesus é o Enviado do Pai. Os Apóstolos são os enviados de Jesus. A escolha dos Doze e o envio deles a pregar por Jesus pertencem aos episódios mais lidos e explicados dos Evangelhos (Mc 3,13-14; Mt 28,1820; Jo 20,21).

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A missão dos Apóstolos é exatamente a de dar continuidade à obra de Jesus: pregar a Salvação para todos, implantar o Reino de Deus na Terra, através da fundação e o crescimento da sua Igreja. Após sua morte redentora e ressurreição, a própria pessoa de Jesus passa a fazer parte fundamental da pregação dos Apóstolos. O projeto de Jesus deve durar tanto quanto for a duração da própria humanidade. Através da História cabe ao Papa e aos bispos, como os sucessores dos Apóstolos, conduzir e expandir a Igreja de Jesus Cristo, para que o Reinado de Deus se desenvolva cada vez mais. Nosso Catecismo lembra-nos um elemento próprio dos Apóstolos como um dom pessoal não passível de ser transmitido aos seus sucessores. Só eles pessoalmente foram escolhidos para testemunhar a ressurreição do Senhor e serem os fundamentos da Igreja. Em Mateus 28,20 Jesus prometeu ficar com eles “até o fim dos séculos”. Isso só é possível se os Apóstolos tiverem sucessores legítimos e autênticos em todos os tempos. 1.3- Todos os Membros da Igreja em Comunhão Apostólica (863-865) “Toda a Igreja é apostólica na medida em que, através dos sucessores de São Pedro e dos Apóstolos, permanece em comunhão de fé e de vida com sua origem” (CIC 868). Sem cair num tradicionalismo imobilizante, a Igreja é uma instituição que pode sempre, em todas as fases difíceis de sua história, voltar às origens e encontrar as melhores respostas para se refazer e revitalizar. Claro que somos todos apostólicos na medida em que entendemos que somos enviados ao mundo inteiro e nos mobilizamos para essa missão. O Decreto do Vaticano II Apostolicam Actuositatem, AA, Sobre o Apostolado dos Leigos, coloca no rol das atividades de apostolado tudo que o Corpo Místico (Igreja) faz para expandir e firmar o Reino de Cristo em todo o nosso planeta. Diz que isso é feito “para a glória de Deus Pai, tornando os homens todos participantes da Redenção Salutar e orientando de fato, através deles, o mundo inteiro para Cristo” (AA,1334). Não seria necessário dizer isso que vou afirmar, mas é bom frisar coisas importantes. Cristo é O Apóstolo (Enviado) do Pai. Implantar o Reino é sua maior missão. Para o apostolado de qualquer um de nós dar resultados, é necessário que estejamos em união vital com Cristo. O principal sinal de nossa união com Cristo é a caridade. Por isso o Vaticano II diz que “ela é como que a alma de todo o apostolado” (AA 1336). Por fim, a Igreja é una, santa, católica e apostólica porque ela é portadora, aqui e agora, do Reino dos Céus, Reino que será, na Igreja, levado à plenitude no fim dos tempos. O Apocalipse chama a Igreja de “Esposa do Cordeiro”. Ela é a depositária da vitalidade, da fecundidade do Cordeiro de Deus (cf. Ap 19,6; 21,9-11; Ef 1,4; 4,3-5). 2.- Como se Estrutura a Comunidade Católica, ou a Igreja (CIC 871-873) Pessoalmente, não gosto de falar em comunidade, mas em fraternidade, quando nos referimos à vida interna da Igreja. Mas, a ótica sociológica identifica mais facilmente comunidades que fraternidades. Fraternidade é um conceito que, em nosso caso, já supõe elementos de fé, o que não seria detectável pelo olhar de um sociólogo não-cristão. Toda comunidade, necessariamente, tem alguma forma de organização. Precisa definir papéis e serviços indispensáveis para o bem e a segurança de todos. Tem leis, normas, exigências, retribuições e penalizações. Isso exige exercício de poder, obrigações e obediências. A Igreja enquanto organização de seres humanos, não podia ser diferente. 2.1- A Hierarquia da Igreja Católica (CIC 874-896)

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Vamos começar explicando algumas palavras-chaves que sempre ocorrem em textos ligados a assuntos de governo da Igreja, bem como a funções e poderes dos que ocupam cargos.  Hierarquia vem do grego (hierós,= sagrado e arkhé=autoridade) e significa, em tradução livre, organização do poder sagrado.  Ministério vem do latim ministerium, que significa ofício, mister, trabalho e sacerdócio (cf. Dicionário Houaiss). Observe que o sacerdócio estava incluído no termo ministério. Então, na Igreja, um ministério não é um ofício ou trabalho quaisquer que pessoas possam exercer na, ou para, a Igreja. Quando falamos em ministério, falamos em ofícios e funções sagrados.  Múnus vem do latim e é a mesma palavra. Significa cargo, ofício, emprego (cf. o mesmo dicionário citado). Para nós a palavra múnus, tão empregada em textos eclesiásticos, tem mais a ver com cargo e obrigações a ele inerentes. Como vimos em aulas anteriores, Jesus levou os Apóstolos a participar de tudo que era Dele, inclusive de sua autoridade e poder. Em Mateus 16,19 Jesus chega ao extremo de afirmar a Pedro: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus; tudo que ligares na Terra será ligado nos Céus e tudo que desligares na Terra será desligado nos Céus”. A Igreja sempre entendeu que esse poder sagrado foi concedido não só a Pedro em particular, mas aos Apóstolos e seus sucessores. Aliás, para alguém chegar a ocupar as funções de um sucessor dos Apóstolos (=bispos) necessita da plenitude do sacerdócio, recebendo o Sacramento da Ordem. Ora, o sacramento é sempre algo sagrado, santo e tem a ver com ação conjunta de Deus e do homem. Como já vimos, o sacramento sempre tem dois elementos fundamentais: o celebrativo, quando ele é conferido a alguém, e o elemento vivencial que é a expressão dos conteúdos de fé celebrados ao receber o sacramento, expressão que deve ser percebida através de atos e atitudes do indivíduo. Isto posto, fica muito claro que em todas as funções governamentais dentro da Igreja, desde o Sumo Pontífice (Papa) até ao Cura de Ars (=o menor dos párocos, na minha interpretação), devem ser exercidas como expressão do sacramento sacerdotal. Tem de ser exercidas de forma sempre um tanto impessoal. Não é a pessoa do indivíduo que exerce o cargo, que interessa. Importa só o Cristo sacrificado pelo rebanho e o Povo de Deus, para cujo bem todo poder tem de ser direcionado. Graças a Deus, o Sumo Pontífice (=Sumo Sacerdote, o Papa) declara-se Servus servorum Dei (=Servo dos servos de Deus). Parece que cada vez mais os últimos deles, a partir de João XXIII, tem-se superado para merecer esse que é o único título de honra, acredito eu, que deve levar nosso Divino Mestre a aprovar com um sorriso largo de satisfação! Como, aqui, fica bem um Francisco! Por fim, ninguém que tem funções e serviços oficiais dentro da Igreja pode esquecer que a rainha de todas as vivências sacramentais é a vivência da Caridade. Todo o mais é lixo mal cheiroso. 2.2- O Colégio Episcopal e seu Chefe, o Papa (CIC 880-887) Porque ao invés de falar chefe, não falamos líder? Colegiado é uma idéia profundamente cristã e, dá para dizer, crística, ou seja, uma marca registrada de Jesus. Só podia ser, pois o próprio Deus se nos revela uma Trindade, um colégio. No tempo de Jesus não se falava muito em trabalhos em equipe, principalmente quando se tratava de governar e comandar. Hoje os seres humanos já estão cada vez mais fazendo a experiência de que certas tarefas só são possíveis quando se trabalha em equipe. Colégio é uma reunião de pessoas que tem os mesmos poderes e dignidade. Jesus, antes que a Igreja existisse, escolheu os Doze Apóstolos para com eles fundar esta Igreja. E como já vimos amplamente,

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partilhou com eles tudo que era Seu. Nada reservou só para Si. Os Doze, com Jesus, formavam o Colégio dos Apóstolos. 2.3- O Papa (Sumo Pontífice) Pedro foi escolhido como presidente desse Colégio Apostólico. Só ele recebeu o apelido de Cefas (Pedra, Pedro) para “ser pedra de sua Igreja. Entregou-lhe as suas chaves ( Mt 16, 18-19) e instituiu-o pastor de todo o rebanho” (CIC 881; cf. Jo 21, 1517). Jesus sabia que um governo colegiado precisa de alguém para liderá-lo. Daí o papel especial de Pedro. A Igreja, guiada pelo ES, também sabe disso. Por isso o papel do Papa como chefe do Colégio dos Bispos. O Papa é o sucessor de Pedro e os bispos são sucessores dos Apóstolos. Mas a Lumen Gentium ( Luz dos Povos) diz: “porém, o múnus de ligar e desligar que foi dado a Pedro (cf. Mt 16,19), consta que também foi dado ao Colégio dos Apóstolos, unido ao seu Chefe” (cf, Mt 18,18; 28,1620). O Papa não deve cair na tentação de querer reger a Igreja sozinho. Não devemos esquecer que o Papa é bispo da diocese de Roma e o sucessor de Pedro. O Papa é o grande elo de unidade de todos os bispos em colégio com ele e de todos os fiéis unidos aos seus bispos com o Sucessor de Pedro. 2.4- Múnus de Ensinar, Santificar e Reger (CIC 888-896) Recomendo aqui a leitura da Lumen Gentium 59-62. A tarefa principal dos bispos, com a ajuda de seus presbíteros, é pregar o Evangelho a todas as pessoas. Mas o bispo diocesano precisa também garantir que o assim chamado “Depósito da Fé Católica” chegue íntegro ao conhecimento de todos os diocesanos. O conjunto da doutrina católica tem como bases de segurança da sua qualidade e integridade, a “Doutrina dos Apóstolos”. Para que todas as gerações tenham acesso aos conteúdos da Fé que deverá iluminar e orientar todos os aspectos importantes de suas vidas, Jesus deu um carisma, um dom especial, aos Apóstolos e seus sucessores, o de não errarem em coisas essenciais da Revelação. Assim, o Colégio dos bispos (sucessores dos Apóstolos) reunidos com o Papa ( Sucessor de Pedro) em concílio ecumênico, são infalíveis ao definir princípios de Fé e costumes. O mesmo se diz do Papa se ele precisar pronunciar-se de forma solene e definitiva também sobre Fé e costumes. Mas isso acontece muito raramente. 2.5- Múnus de Santificar (893) O múnus de santificar está diretamente ligado ao Sacramento da Ordem concedido em tres graus: diaconato, presbiterado e episcopado. “É o sacramento do ministério apostólico” (CIC 1536). Portanto, o ministério de santificar está diretamente ligado ao Colégio dos Apóstolos. O bispo, na qualidade de sucessor dos Apóstolos e detentor da plenitude do sacerdócio, é o responsável oficial pela santificação da igreja local a ele confiada. Presbíteros e diáconos compõem sua equipe de trabalho apostólico. O bispo é o “administrador da graça do sacerdócio supremo”, diz a oração proferida durante a consagração episcopal do rito bizantino, citado pela Lumen Gentium, n.63. Esta missão apostólica de santificar é exercida pela:  celebração da Eucaristia;  celebração dos demais sacramentos;

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 pelo Ministério da Palavra de Deus;  por seu exemplo “não agindo como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas antes, como modelos do rebanho” (1Pd 5,3). 2.6- O Múnus de Reger (898-896) “Os bispos governam as Igrejas particulares que lhes foram confiadas, com conselhos, exortações e exemplos, mas também com autoridade e com sacro poder. Deste poder não usarão, senão para edificar sua grei na verdade e santidade, lembrados de que quem é o maior deve portar-se como o menor, e o que manda, como quem serve” (LG, 65, remetendo a Lc 22, 26-27). Para nossas aulas agora, isso é suficiente. Quero apenas frisar que todo o poder e regência, qualquer exercício de autoridade, tudo deve ser exercido sem afastar-se dessas palavras de alerta de Jesus Cristo. A pessoa de Jesus em atuação é o único modelo. Mais uma vez lembro que aqui, mais do que nunca, vale lembrar o exercício da impessoalidade. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 34 - Creio na Igreja Católica.10 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 25 de abril de 2013. Fiéis Leigos, o Grande Povo de Deus (CIC 897-913) 1.- Introdução Tratar o tema que aborda os leigos na Igreja é mais complicado do que pode parecer à primeira vista. As dificuldades tem muitos séculos de história, de clericalismo centralista e dominador por um lado, e, por outro, como seu fruto mais maligno, a despersonalização da parte maior da Igreja, que é sua grande massa a formar o próprio Povo de Deus em si. Creio até que a Igreja foi a única instituição a criar um vocabulário onde a referência à sua maioria constitutiva, o povo, tornou-se sinônimo de algo inferior, iletrado e desprezível. Na quase totalidade do tempo da História da Igreja, suas autoridades deixaram de lado inteiramente qualquer coisa que possa significar consulta ao povo. A Igreja não surgiu como uma entidade autoritária. Mas, é duro dizer, o clero a fez assim aos poucos. No início de sua formação e expansão, a Igreja tinha muitos elementos para gerar autoritarismo. Todos os governantes, sem exceção, eram autoritários e tirânicos. As famílias e as escolas estavam constituídas sob a responsabilidade autoritária só de homens. Mas quando surgiram reclamações sobre serviços prestados aos pobres da Igreja em Jerusalém, “os Doze convocaram então a assembléia plenária dos discípulos e ...” ( At 6,2). Tempos depois, quando irrompeu o conflito entre cristãos sobre que exigências do tipo judaicas se deveriam fazer aos pagãos convertidos, Atos de Apóstolos registra: “De acordo com toda a Igreja, os apóstolos e os anciãos decidiram então escolher, dentre os seus, delegados que ...” (15,22). Os Apóstolos, apesar de terem recebido o poder de “ligar e desligar na Terra” na certeza de que suas decisões seriam ratificadas nos Céus (Cf. Mt 16,18; 18,17; Jo 20,22), sabiam cercar-se de conselhos de anciãos e consultar diretamente o povo em suas celebrações.É que as lembranças das atitudes de Jesus (lava-pés) e o Mandamento Novo, bem como de suas palavras diretas de que entre seus discípulos não pode haver exercício de poder como o de senhores sobre súditos. O único poder aceitável é aquele que é exercido somente como serviço (Cf. Lc 22,24). Tais lembranças eram nítidas e fortes demais. Elas transformaram-se em diretrizes inquestionáveis.

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Contudo, o tempo vai aos poucos apagando lembranças e os exemplos vão perdendo sua força que exigem atitudes e tomadas de posição. E além do mais, o maldito poder tende a corromper sempre. Esta tendência também se observa no exercício do poder em todas as instituições da Igreja, do Papa ao menorzinho dos párocos, em todos os tempos. Espero mais para frente abordar elementos importantes da História da Igreja. Por enquanto, termino a introdução a esta unidade afirmando que os maiores pecados e os maiores escândalos da Igreja sempre ocorreram quando pessoas do poder dentro dela afastaram-se dos exemplos e palavras de nosso Divino Mestre. 2.- Recolocar os Fiéis Leigos no seu Devido Lugar Sem maiores delongas temos de partir do que é óbvio. A massa do povo (os leigos) é, simplesmente, quase o todo da Igreja pelo seu número. Aqui o número é tudo. Jesus exigiu que na sua Igreja todos fossem irmãos e não fez nenhuma distinção de valor entre irmãos maiores ou menores, entre os mais importantes e outros de menor importância. Foi explícito em exigir que os maiores sejam os servos de todos, como vimos acima. Não deixou nenhuma margem para manobras, nenhuma possibilidade de se entender de outra forma. Não há maneira possível de se exercer qualquer poder ou autoridade dentro da Igreja de Jesus Cristo que não seja como serviço para o bem de irmãos. O que vai além disso é pecado de traição ao nosso Redentor e a seu povo.  O povo leigo cristão é o rebanho de Cristo, rebanho pelo qual o Bom Pastor deu sua vida. Os pastores só existem se existirem ovelhas. Pedro só foi confirmado na sua função de pastor do rebanho e líder de todos os pastores ( Colégio dos Apóstolos) quando compreendeu e aceitou que sua caminhada à frente das ovelhas terminaria numa cruz (Cf. Jo 21,19).  O povo leigo cristão é “O Povo de Deus”. Este foi o título mais feliz que o Concílio Vaticano II consagrou e divulgou ao mundo para referir-se aos membros da Igreja como um todo. É o povo que pertence a Deus. É este povo que leva Deus para toda a humanidade. Afinal, somos o templo vivo de Deus! Tudo que foi dito e escrito até aqui sobre a Igreja não teria qualquer sentido sem sua parte principal, os leigos cristãos. 3.- Missão Específica dos Leigos (898-900) Sabemos que o Reino de Deus faz-se presente nas relações interpessoais de todo tipo que constituem o tecido da grande sociedade humana. Aqui podemos pensar ao menos nas relações que seguem.  Relações de família vem em primeiro lugar. Coloco-a em primeiro porque é aí que as pessoas se relacionam mais intensamente, envolvendo todo o seu ser, da concepção à morte. Nela as pessoas cristãs aprendem os valores mais importantes para a vivência do Reino de Deus. A melhor base para a constituição de uma boa família é um casamento proposto pela Igreja Católica onde o Novo Mandamento de Jesus constitui a forma de vida do casal. Ele dá forma a todas as ações interpessoais do casal e dos dois com os filhos. É da família cristã que deve sair as pessoas mais íntegras, mais responsáveis, honestas e solidárias. Serão pessoas amantes da paz e do bem-estar de todos os seres humanos. Irão envolver-se em projetos que visam construir uma sociedade humana cada vez melhor.  Relações de trabalho são de grande valia para a constituição de um povo que goza de estabilidade, paz e segurança. Tem de ir muito além da mera solidez das empresas e do bom ganha-pão dos funcionários. O bem-estar de todos precisa estar em primeiro plano. Quanta falta faz em muitas empresas a honestidade, a retidão de caráter e a responsabilidade assumida por todos. O mundo do trabalho cristão tem de encarnar valores do Reino! Acredito que uma boa empresa cristã tem muito a falar ao mundo. É luz para todos. É lugar de um verdadeiro apostolado leigo.

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 Nas interrelações políticas acredito que estamos engatinhando, se é que não andamos para trás. Pregar, defender e cobrar políticas éticas e de justiça na administração da “coisa pública”, do bem comum de cada cidadão. As políticas aplicadas na administração pública e a própria organização desta precisam revestir-se de valores evangélicos, para que um país inteiro adquira mais semelhanças com o Reino de Deus. Este é o grande capital que o leigo católico tem a oferecer. Esse pequeno exercício que acabo de fazer pode e deve estender-se a outros setores básicos da organização das sociedades humanas. Pensemos no mundo da educação,seja ela pública ou privada. Pensemos no sistema de saúde. Deus do Céu, quanta falta fazem aqui práticas e vivências evangélicas. Podemos ainda pensar o mesmo no campo da segurança pública. Todos estes e outros são setores de presença viva e atuante para verdadeiros cidadãos do Reino. São todas áreas de evangelização abertas e reservadas aos leigos cristãos. Vamos reproduzir um trecho de um sermão de Pio XII, de 1946, citado pelo CIC 899. “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, especialmente eles devem ter uma consciência sempre mais clara, não somente de pertença à Igreja, mas de serem Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis na Terra sob a direção do Chefe comum, o Papa, e os bispos em comunhão com ele. Eles são a Igreja”. Por fim o CIC lembra que todos os fiéis tem obrigação e direito, individualmente ou organizado em associações, “de trabalhar para que a mensagem divina da Salvação seja conhecida e recebida por todos os homens” (CIC 900). E lembra-nos que no mundo de hoje, o povo em geral pode ouvir muito mais falar do Evangelho e conhecer Cristo através do contato com fiéis leigos católicos do que através dos porta-vozes oficiais do clero. 4.- Participação dos leigos no Múnus Sacerdotal de Cristo (CIC 901-903) O múnus, ou seja, a missão que Jesus assumiu com o Pai, além de revelá-Lo ao mundo como Ele é, consiste em consagrar, santificar e oferecer tudo a Deus. Ora, como já vimos amplamente, Cristo partilha tudo o que é Seu com os discípulos, também suas funções e missões. Então é só nos reportar às missões específicas dos leigos vistos àcima e fica fácil imaginar, bem como compreender que tudo o que o cristão pratica no ES, incluindo seu lazer, repouso, sem esquecer seus sofrimentos, provações e enfermidades, enfim, tudo torna-se “hóstias espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pd 2,5). Tudo isso pode ser oferecido com piedade e grande conforto espiritual ao Senhor, na celebração da Eucaristia. Desta forma, a vida do fiel cristão pode ser um verdadeiro culto sacerdotal a Deus! Tendo nosso Catecismo citado o número 87 da Lumen Gentium quase todo, registramos a última frase. “Assim também os leigos, como adoradores agindo santamente em toda parte, consagram a Deus o próprio mundo”. 5.- Sua Participação no Múnus Profético de Cristo (904-907) Cristo é o grande Profeta que “fala tudo que ouviu do Pai” e proclama o seu Reino. Tanto os membros da hierarquia como cada fiel cristão precisam, por palavras e exemplos, continuar essa missão de Cristo. Para isso somos todos membros do seu Corpo. Todos também precisamos anunciar, por palavras e exemplos, as coisa futuras: a vida eterna, passando pela ressurreição da carne; a restauração de todas as coisas em Cristo (Cf. 1Cor 15,27-28) quando de Sua vinda gloriosa e instauração da plenitude do Reino de Deus. Essas coisas darão sentido a tudo na vida de cada pessoa cristã. Todo discípulo de Jesus tem de ser um sinal de esperança aos demais seres humanos. 6.- A Participação do leigo no Múnus Régio de Cristo (CIC 908-913)

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Em primeiro lugar, considero importante trazer algumas explicações sobre o que é esse Múnus Real de Cristo. Nós católicos temos todos os anos a festa de Cristo Rei. Cristo é o anunciador, o implantador e o Regente do Reino de Deus na Terra. Além disso, na medida em que os discípulos de todos os tempos ajudam a estabelecer, em todas as instituições humanas, elementos tirados dos valores do Reino de Deus, eles estão participando do exercício da missão de Cristo: arrancar o mundo das garras do poder do Mal para colocá-lo sob a regência do poder do Pai Eterno. Cooperar com Cristo é reinar com Ele.  Nosso Catecismo afirma que a liberdade conquistada para nós por Cristo concretiza-se na medida em que nós conseguimos vencer o reinado do pecado sobre nós e procuramos nos por sob o reinado da Graça. Santo Ambrósio, num sermão sobre o Salmo 118, afirma: “aquele que submete seu próprio corpo e governa sua alma, sem deixar-se submergir pelas paixões, é seu próprio senhor: pode ser chamado rei porque é capaz de reger a sua própria pessoa: é livre e independente e não se deixa aprisionar por uma escravidão culposa”.  O n. 912 do CIC aponta para um setor da formação da consciência do leigo católico no que se refere a seu perfil de engajado atuante. Vamos transcrever os n. 912 e 913. “Os fiéis devem ‘distinguir acuradamente entre os direitos e os deveres que lhes incumbem enquanto membros da Igreja e os que lhes compete enquanto membros da sociedade humana. Procurarão conciliar ambos harmonicamente entre si, lembrados de que em qualquer situação temporal devem conduzir-se pela consciência cristã, uma vez que nenhuma atividade humana, nem mesmo nas coisas temporais, pode ser subtraída ao domínio de Deus’ (LG 36). ‘Assim todo leigo, em virtude dos próprios dons que lhe foram conferidos, é, ao mesmo tempo, testemunha e instrumento vivo da própria missão da Igreja na medida do dom de Cristo’” (LG 33). Pena que tudo isso esteja apenas no papel. Mas espero que possa servir de guia para bons agentes da Igreja, clérigos ou leigos. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 35 Creio na Igreja Católica - 11 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 02 de maio de 2013. Vida Consagrada, ou Vida Religiosa (CIC 914-933 1.- Introdução Em primeiro lugar quero lembrar que estamos, desde a aula 32, a falar dos componentes da Comunidade Católica. O n.2 daquela aula intitulou-se Como se estrutura a Comunidade Católica. Claramente percebemos 3 grupos de membros da Igreja: Clero que se ocupa com a doutrina (=Formação)católica e com o governo (2.1 da aula 32); Leigos, com o título “o grande Povo de Deus” (aula 34); Religiosos, envolvendo muitas congregações ou ordens religiosas que procuram viver os “Conselhos Evangélicos” expressos nos votos de castidade, pobreza, e obediência. 2.- Fonte Inspiradora da Vida Religiosa

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No AT não temos nada que se assemelhe a qualquer vida consagrada ou vida religiosa como encontramos na Igreja católica. Em primeiro lugar, a cultura religiosa judaica era muito voltada para família e procriação, sinais de ricas bênçãos divinas. Há autores que sublinham a esperança da vinda do Messias como fator a pesar na mística da família como benção de Deus. Ter filhos podia significar que algum descendente teria chance de vir a ser o Ungido do Senhor (Messias). Não ter filhos era sinal de maldição certa. Consequentemente, virgindade constituía apenas condição para o casamento, mas não um valor em si. O pedido da filha adolescente de Jefté de poder por dois meses “errar pelas montanhas e chorar a minha virgindade, eu e minhas companheiras” (Jz 11,37) antes de morrer é revelador. Desde o tempo dos Patriarcas, ou seja, desde o início da história do judaísmo, havia a tradição obrigatória de oferecer e consagrar a Deus o filho mais velho de cada casal. Samuel, o profeta, é até criado no santuário do Senhor, desde o desmame. Mas, celibato não era uma coisa sequer pensável. A fonte inspiradora da vida religiosa só vamos encontrá-la no NT e tem a marca de Jesus Cristo. O jovem retratado no Evangelho ( Mt19,16-22)tinha uma vida correta e despertou vivo interesse em Jesus (Mc 10,21). Vem então as palavras de nosso Divino Mestre que mudaram vidas e caminhos de muita gente nos últimos dois mil anos: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuís, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos Céus. Depois, vem e segue-me” (cf. também Lc 18,22). Na verdade, Jesus faz uma distinção bem clara entre práticas que são obrigatórias para todos e práticas não obrigatórias, mas que são expressão de uma vontade de crescer mais, ir além do exigido, procurar uma perfeição cada vez maior. “Se queres ser perfeito ...”. Os mandamentos são ordens divinas, são obrigação para todos que desejam a Redenção Eterna. Eles garantem a vida eterna. Mas Jesus ocupa-se das pessoas que querem mais já aqui na Terra. Desejam viver inteiramente o Evangelho, imitando mais de perto o Divino Mestre. “Se queres ser perfeito ...” é endereçado aos voluntários de Deus. Estes querem prestar-lhe toda sorte de serviços sem cobrar, ou sequer pensar em retribuição. Esse conselho que Jesus deu ao jovem rico é a fonte daquilo que a Igreja sempre chamou de conselhos evangélicos. Na verdade são três. Vender tudo é a renúncia de bens materiais individuais. É a pobreza. Renunciar aos bens materiais e seguir Jesus implica necessariamente na renúncia ao direito de fundar uma família. Tal pessoa aceita o estado celibatário. Se alguém quer ser seguidor de Jesus, passo por passo, precisa colocar-se em obediência total sob a direção Dele, como Ele estava totalmente a serviço e obediência ao Pai. Daqui surgiu a instituição dos votos de pobreza, castidade e obediência, que devem ser livre e publicamente declarados por todos os que desejam seguir a Vida Religiosa. Isso supõe um amor total à Pessoa e à causa de Jesus. Por isso os mestres da doutrina católica falam que a Vida Religiosa tem como base a perfeição da Caridade. A Vida Religiosa abraça pois os Conselhos Evangélicos e não apenas os mandamentos como forma de vida. Colocar-se inteiramente a serviço de Cristo traduz uma verdadeira consagração da pessoa a Deus. É certo que todo ser humano, ao aceitar o Batismo, já é consagrado (é duplamente ungido) a Deus. Mas agora trata-se de uma entrega pessoal total de seu tempo integral, de todos os outros projetos possíveis, inclusive de uma família. 3.- Um pouco de História (CIC 920-925) Jesus havia abordado discretamente o assunto casamento ou não casamento (celibato) de forma um tanto quanto misteriosa. Chega a dizer que, sem um toque de graça divina, não é possível compreender que alguém renuncie a um bom casamento “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19, 10-12).

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São Paulo chega a dizer que renunciar ao casamento para só servir ao Senhor “sem divisão” é melhor do que casar. Esta seria uma opção de vida mais perfeita (1Cor 7,34-36). Uma coisa é certa. Jesus era solteiro. Escolheu os doze apóstolos sendo uns casados e outros parece que não. Paulo era solteiro e considerava-se assim em vantagem para dedicar-se inteiramente ao serviço do Evangelho, da Igreja e de Cristo, sua verdadeira paixão de vida. Ao menos dois convertidos por ele e que se tornaram seus amigos muito próximos, Timóteo e Tito, e por ele colocados à frente de igrejas como bispos, eram solteiros ao que tudo indica. O CIC fala que havia, desde os tempos apostólicos, virgens cristãs que consagravam-se inteiramente ao Senhor, e que tais decisões eram aprovadas pela Igreja. Nos dias de hoje existem pessoas, em geral jovens, que se consagram ao Cristo e colocam-se a serviço da Igreja. Elas são consagradas, mediante ritual aprovado pela Igreja, pelo bispo diocesano. O cânon 604 do Código de Direito Canônico dá as normas legais para isso. Mas, aos poucos, foram surgindo indivíduos, no começo só homens, que levados pelos Conselhos Evangélicos, metiam-se deserto adentro para viverem em solidão. Visavam fugir das tentações do mundo, vencer o diabo no seu território (deserto). Aí podiam dedicar-se à vida de oração e contemplação, servindo ao mesmo tempo a Deus e a Igreja. Sim, eles acreditavam no valor de sua vida orante e na vitória sobre o Maligno, para santificar a Igreja de Jesus Cristo. Tais homens eram conhecidos como eremitas, do latim eremus, deserto. Eram os homens do deserto, e viviam sozinhos. O primeiro desses homens a tornar-se famoso, conhecido e logo admirado em vida como santo, foi Santo Antão. Teria vivido 105 anos e morreu em 356. Sua fama espalhou-se graças à biografia escrita pelo grande bispo Santo Atanásio. A fama de santidade ainda em vida acabou prejudicando seus planos de solidão. Pessoas o procuravam para receber conselhos e orações. Outros chegavam para viver com ele. Acabou deixando o deserto para fundar uma comunidade num monte perto do Mar Vermelho. Um contemporâneo de Antão foi São Pacômio. Soldado pagão das tropas de Constantino em 313, converteu-se na década de 320 e foi para o deserto como eremita. Também ele logo passou a ser procurado por muitos que queriam a mesma forma de vida. Tratou então de organizar esses seus seguidores, escrevendo as primeiras regras de vida religiosa. Cada eremita vivia isolado no seu abrigo, formando colônias. Seus membros podiam trabalhar em diversos ofícios. Um encarregado vendia os produtos e comprava o indispensável para a vida de todos. Assim Pacômio acabou inaugurando a vida monástica. Monge vem do grego monachos que significa o solitário. Mantém-se o objetivo básico iniciado pelos eremitas, o de viver a sós com Deus. Pacômio morreu em 346. Havia então 11 comunidades seguindo sua regra, inclusive duas formadas por mulheres. Houve também outros fundadores de comunidades de monges, que podiam abrigar muitos membros. Há poucos dias de viagem para o sul de Alexandria, estava a comunidade de Nitria. Um viajante fala em cinco mil monges no local (cf. História do Cristianismo, de Jonathan Hill, Edições Rosari, Ltda, 2008, pág 86 a 89; ou www.rosari.com.br). Mas estamos no Egito, parte oriental da Igreja. Na sua parte ocidental, Igreja Latina, a vida monástica começou a propagar-se com mais intensidade a partir do fim do séc. IV. Mas cada mosteiro tinha suas próprias normas de vida. Eis que então surge São Bento (480 a 550), fundador do mosteiro mais famoso de todos os tempos, o de Monte Cassino, ao sul de Roma. Bento era dotado de um talento organizador raro, e entendedor da arte da liderança fora do comum. Elaborou uma regra de vida monástica realmente completa. Ela vai servir de modelo para praticamente toda a Vida Religiosa na Igreja Romana, ao menos até o séc. XIII.

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Depois da queda do Império Romano do ocidente, a expansão da Igreja para as áreas rurais e para os povos do centro e norte da Europa, todos ainda pagãos, vai se dar, não através das dioceses e seus bispos, mas através de mosteiros da regra de São Bento (cf.op.cit. p. 164-165). Temos na Igreja a Vida Religiosa, muitas vezes também chamada de Vida Consagrada, organizada em ordens e congregações. Ordens religiosas em geral são mais antigas e tem ou tiveram maior importância na Igreja. Beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, jesuítas e outros são ordens. Congregações, sobretudo femininas, são mais numerosas. As ordens estão diretamente sujeitas ao Papa. As congregações são em geral de direito pontifício, sujeitas diretamente à autoridade do Papa. Mas, mesmo que uma instituição de Vida Religiosa esteja diretamente sob a autoridade do Papa, onde quer que ela esteja, deve reverência ao bispo diocesano, e em toda atividade de atendimento ao povo de Deus, ou de apostolado, precisam estar em sintonia com a pessoa do bispo local e seu plano diocesano de pastoral. Nos últimos tempos multiplicaram-se na Igreja os assim chamados Institutos Seculares. “Instituto Secular é um instituto de vida consagrada no qual os fiéis, vivendo no mundo, tendem à perfeição da Caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo, principalmente a partir de dentro” (CIC 928). A novidade dos institutos seculares é realmente viver os votos religiosos sem morar em convento, mas espalhados no meio do povo e exercendo as mais diversas profissões, ou cooperando diretamente com os trabalhos pastorais. Todos participam da missão evangelizadora da Igreja “no mundo, a partir do mundo” (929). Sua principal atuação evangelizadora é a partir do exemplo. É o verdadeiro fermento na massa. Acredito estarmos precisando de muito mais divulgação e propaganda. Por fim, existem ainda Sociedades de Vida Apostólica (930). São também uma forma de Vida Consagrada. “Ao lado das formas diversas de vida consagrada, acrescentam-se as sociedades de vida apostólica, cujos membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria da sua sociedade e, levando vida fraterna em comum, segundo o próprio modo de vida, tendem à perfeição da Caridade pela observância das constituições. Entre elas há sociedades cujos membros assumem os conselhos evangélicos por meio de algum vínculo determinado pelas constituições” (CIC 930 e cânon 731). 5.- Congregação e Missão: Anunciar o Reino de Deus, Vivendo-O (CIC 931- 933) Este simples título diz tudo. Todo cristão, pelo Batismo, já está consagrado. Mas todo aquele ou aquela que quer consagrar sua existência toda diretamente ao serviço divino e ao bem da Igreja anuncia o Evangelho do Reino de Deus pela atuação direta nos serviços apostólicos da Igreja e ou pela pregação do próprio exemplo. Tais pessoas mostram ao mundo que o ES atua na Igreja de Cristo e que o Evangelho é sempre capaz de atrair pessoas que querem viver somente em função dele. O n. 932 do nosso Catecismo frisa que os religiosos e consagrados de vida precisam seguir e imitar a Cristo mais de perto; manifestá-lo mais claramente; e estar mais profundamente presente aos seus contemporâneos no coração de Cristo. É a tradução da escolha do “caminho mais estreito” de Jesus. Para terminar, precisamos lembrar que toda realidade terrena, nossos projetos, realizações e sonhos são passageiros. Nada neste mundo merece a dedicação total da existência do ser humano. A existência de religiosos que consagram sua vida a Cristo e à Sua causa em nosso meio deve sempre apontar para os bens do Reino. São os únicos bens pelos quais vale a pena realmente dar tudo. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 36 Creio na Igreja Católica.12

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Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 09 de maio de 2013. 1.- Creio na Comunhão dos Santos (CIC 946-959) Muita gente podia imaginar que já abordamos tudo o que há de importante sobre a Igreja Católica. Mas ainda não terminamos. Não nos esqueçamos que a Igreja de Jesus Cristo é em parte visível e em parte invisível. É humana e divina, terrestre e celeste. 1.1- Bases para esta Comunhão (946-948) Em primeiro lugar deixemos bem claro que nosso Credo oficial nos afirma: “Creio na comunhão dos santos”. Já vimos bem claramente que os Apóstolos, quando se referiam aos batizados, ou seja, a todos os membros da Igreja, regularmente os chamava de santos. O CIC nos atesta que um dos Santos Padres perguntava: “Que é a Igreja, senão a assembléia de todos os santos ?” e conclui o Catecismo: “A comunhão dos santos é precisamente a Igreja” (946). O fato de a Igreja formar com todos os seus membros o Corpo de Cristo é a principal razão para falarmos na comunhão de seus membros (=santos, batizados). Num corpo todos os bens de cada membro é parte dos bens de todo o corpo. Assim, a vitalidade de cada um faz parte da vitalidade do todo. Na verdade, tudo começa com Cristo-Cabeça, que faz questão de partilhar todo o Seu ser com todos os seus discípulos (=santos). Todo bem, toda riqueza, toda vitalidade circula entre todos e é comum a todos, e liga a todos uns aos outros. Podemos então falar da comunhão dos santos em dois significados, contudo inseparáveis: “comunhão nas coisas santas (sancta)” e comunhão entre pessoas santas (sancti)” (948). No primeiro caso fala-se de coisas santas em si. Aquilo que é santo, no latim, sanctum. No plural, coisas santas, é sancta. No segundo sentido temos “comunhão entre pessoas santas”. Aqui, santas é um adjetivo qualificativo dos batizados em Cristo. “‘Sancta sanctis’ (o que é santo para os que são santos), assim proclama o celebrante na maioria das liturgias orientais quando da elevação dos santos dons, antes do serviço da comunhão. Os fiéis (sancti), a fim de crescerem na comunhão do ES (Koinonia) e de comunicá-la ao mundo” (CIC 948). 1.2- A Comunhão dos Bens Espirituais (949-953) Trata-se exatamente da participação de todos nas coisas santas de que acabamos de falar. A primeira referência clara desta comunhão aparece em Atos dos Apóstolos. “Eles frequentavam com perseverança a Doutrina dos Apóstolos, as reuniões em comum, o partir do pão e as orações” (2,42). A Doutrina dos Apóstolos fornece as bases comuns da mesma fé. O partir do pão dá a todos o corpo e o sangue do Senhor. Estas são as coisas santas (sancta) para os santos (sanctis), na prática da Igreja apenas nascida! E assim deverá ser até o fim dos tempos. Vamos agora destacar os elementos principais desta comunhão.  A comunhão na Fé é essencial para que os cristãos vivam em união e concórdia. Os conteúdos básicos da Fé precisam ser conhecidos por todos, para que a vida cristã seja possível.  A comunhão dos Sacramentos nos garante que temos os mesmos elos que nos ligam a todos e ao mesmo Cristo-Cabeça da Igreja. Podemos dizer que cada um dos sete Sacramentos é comunhão com Cristo. Mas destacam-se nesta função unitiva o Batismo, porta de entrada de todos para a Igreja, e a Eucaristia, o sacramento que, de modo especial, nos coloca vivencialmente nesta comunhão com Cristo e com todos os irmãos. A maior parte do povo refere-se à Eucaristia pelos nomes “Santa Comunhão”. Daí vem a

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importância de uma frequência grande à Eucaristia, principalmente para que esta realidade espiritual faça parte de nossa consciência constante, dia por dia, em todos os nossos relacionamentos (cf. n. 3 da aula 34).  A Comunhão dos Carismas é menos abordada. Nosso Catecismo garante-nos que “o ES distribui também entre os fiéis de todas as ordens as graças especiais para o crescimento da Igreja” (951). Contudo, graças divinas podem muitas vezes ser confundidas com qualidades (dons) pessoais tão naturais que falamos em qualidades inatas. Mas São Paulo assevera que essas qualidades já são dons de Deus. Falta só a consciência e as motivações para colocá-los a serviço de todos (cf. 1 Cor 12).  “Punham tudo em Comum” (At 4,32) era o normal para os primeiros cristãos. Isto é um sinal evidente de que as pessoas vivem na prática o conteúdo do capítulo 13 da referida epístola, que exalta o amor fraterno (Caridade) vivido por Jesus Cristo. “O cristão é um administrador dos bens do Senhor”, afirma o CIC (952). Tudo que temos - bens materiais e espirituais - e somos pertencem ao Senhor.  A Comunhão da Caridade vivida por Jesus Ele a qualifica de o Mandamento Novo. A Caridade de Jesus é, de todos os elos unitivos a ligar os membros da Igreja entre si, o mais importante, o mais perfeito e completo. Tem de estar acima de qualquer outra coisa, acima até dos Sacramentos. Aliás, os Sacramentos só se concretizam em nossa vida se forem expressão da Caridade. Vamos passar rapidamente cada um dos sete Sacramentos, como exercício... . Concluindo, podemos reafirmar com São Paulo que “ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo” (Rm 14,7). Os sofrimentos de um é sofrimento de todos. O progresso e alegria de um é progresso e alegria de todos (cf. 1Cor 12,26-27). 2.- A Comunhão entre a Igreja do Céu e a da Terra (CIC 954-959) Aqui precisamos ter bem presente nossa Fé na Vida Eterna daqueles que são salvos por Cristo, a Fé na ressurreição de toda a gente e a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos. Até lá, o Concílio Vaticano II ensina que podemos falar em três estados da Igreja, ou seja, de três situações diversas em que se distribuem os seus membros. Fala num grupo de cristãos vivendo nesta Terra como peregrinos à procura da Pátria Celeste. Outro grupo é formado pela imensa multidão dos que já chegaram às “muitas moradas que tem A casa do Pai” (Jo 14,2). O terceiro grupo é constituído pelos que já partiram mas necessitam de purificação antes de entrar Na casa do Pai. Sobre o primeiro grupo, o dos discípulos que vivem neste mundo, não precisamos dizer nada agora. Sobre a multidão dos que já estão nas moradas celestes, há muito a dizer e para meditar. Em primeiro lugar, chamá-los a todos de santos. Se os Apóstolos se referiam a todos os batizados daqui na Terra de santos, muito mais apropriadamente chamaremos de santos todos os que estão no Céu. Temos santos especiais que a Igreja canonizou e declarou modelos de práticas cristãs. Mas temos a multidão incontável de santos sem títulos dados pela Igreja. Gosto de referir-me aos nossos falecidos, familiares e amigos, como os santos domésticos. Nós que somos ainda pecadores, egoístas, já somos capazes de solidariedade, prestamos ajuda uns aos outros, e oramos pelos nossos falecidos. Muito mais solidariedade podemos imaginar que eles, a multidão dos santos, livres de nossas misérias, tem para conosco. Ou seja, a comunhão que nos unia na Terra é agora maior e mais sólida. Vejamos o que diz o Vaticano II, citado pelo CIC 954 e remetendo para Ef 4,16. “Todos, porém, em grau e modo diversos, participamos da mesma Caridade de Deus e do próximo e cantamos o mesmo hino de glória ao nosso Deus. Pois todos quantos são de Cristo, tendo o seu Espírito, congregam-se em uma só Igreja e Nele estão unidos entre si”.

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É exatamente isso. A Caridade que vivemos aqui e exprimimos com nossa solidariedade pelos falecidos é a mesma vivida por eles lá, na glória. Só que lá nossos irmãos já vivem a Caridade em estado pleno. A fé na intercessão dos santos por nós pode causar-nos muita alegria e conforto. São Domingos despediu-se de seus frades, ao morrer, com essas palavras: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida”. Santa Teresinha despediu-se dizendo: “Passarei meu céu fazendo o bem na Terra”. O terceiro grupo dos filhos da Igreja é formado por aqueles que já faleceram, mas necessitam purificar-se antes de chegar ao Céu. É a tradicional doutrina sobre o purgatório. Nos dias de hoje fala-se menos do purgatório. Talvez amanhã falem-se coisas diferentes sobre este tema. Mas em todos os tempos a Igreja pensa que na vida eterna todas as limitações e pecados, bem como suas consequências, precisam já estar superados. Ninguém chega à perfeição antes de morrer. Como esta purificação, esta purgação, se dá? Prefiro dizer que não sabemos. Uma coisa é certa. Na liturgia dos funerais e nas missas pelos defuntos, quer na missa de corpo presente, na de sétimo dia e outras, as rogações pelo perdão divino dos pecados daquele que partiu são muito frequentes. Isso é piedade, é Caridade. De minha parte prefiro recomendar todos e a mim próprio à infinita misericórdia. Ela é maior que tudo e não precisa de tempo para nos santificar a todos. 3.- Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja (CIC 963-972) A Igreja é formada por Cristo como Cabeça e por nós, os membros. E Maria? Maria é especial. Eu diria que Ela é o coração da Igreja de seu Filho. Ela é “membro supereminente e absolutamente único da Igreja” (CIC 967, citando LG 141). Tudo começou quando Maria concebeu, pelo ES, seu filho Jesus. Seguindo os Evangelhos e Atos dos Apóstolos vemos Maria em momentos especiais. Lucas descreve o nascimento de Jesus tão celebrado na Igreja desde os seus inícios. Nas celebrações natalinas Maria ocupa lugar tão destacado a ponto de chegar como figura central na cena da festa de Maria Mãe de Deus celebrada dia primeiro de janeiro. Nas bodas de Caná (Jo 2,1-12) Maria aparece num papel bem maternal, assumindo para si os cuidados com o bem estar de todos na festa, intercedendo que Jesus faça alguma coisa para sanar os problemas causados pela falta de vinho. Teve a força extraordinária de não se ausentar da cena da execução de seu Filho Jesus. Ouvindo as palavras de Jesus na cruz: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26-27), Ela integra-se ao Apóstolo João e seus companheiros. Está com os Apóstolos no cenáculo quando Jesus aparece ressuscitado. No mesmo local, com os Doze, está quando o ES vem sobre eles, e a Igreja começa a existir. Jesus nasceu Dela, em Belém. Maria também participa da geração da Igreja de Jesus Cristo no Pentecostes. Maria é mãe da Igreja de Jesus Cristo. Contudo, o título maior e mais espetacular ainda faltava. Se seu filho Jesus é Deus e homem, então chamar Maria de Mãe de Deus é lógico. Demorou um pouco para vencer certas resistências. Podia parecer absurdo o Deus Eterno e Criador de tudo o que fora Dele existe, aparecer com uma mãe humana. Mas, nessa linha de pensamento, a Encarnação do Verbo também não seria imaginável. Só no Concílio de Éfeso, 431, sua aclamação solene como Mãe de Deus não encontrou mais resistência. A Igreja Católica também considera Maria como a Corredentora pela sua maternidade divina e por sua total cooperação com seu Filho Redentor.

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Lumen Gentium abordou esse ítem da Fé Católica no n. 149. “Assim, de modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por tal motivo Maria se tornou para nós Mãe na ordem da graça”. Sei que constantemente surgem, também dentro de nossas fileiras, pessoas com dificuldades de pensar no papel de Maria na Igreja, em vista de Cristo ser o único Mediador entre Deus e os homens, do fato de a Redenção ter-se dado unicamente em função dos méritos de sua paixão e morte. Claro, sem Cristo, Maria seria nada, a Igreja não existiria... . Mas é também verdade que Deus quis restaurar tudo em Seu Filho-Homem! No que se refere à Redenção, tudo se faz com a cooperação humana. E Maria está no centro deste projeto divino, gerando o Filho de Deus. E desde que aceitamos que Cristo quis uma Igreja como seu Corpo Vivo, é evidente que duas grandes coisas seguem como consequência disso.  Maria, depois de Cristo como Cabeça, é o membro mais eminente e extraordinário deste organismo vivo que é a Igreja.  Tendo em vista a comunhão total entre Cristo, Maria e todos os membros do Corpo Místico, é esse Todo que vive, que ora, que sofre, que anseia pela salvação de todos e completa, bem como atualiza, a Redenção de Cristo, Ele que nunca se desunirá de seu Corpo-Igreja. Então é lógico imaginar e crer que todos os membros desse Corpo, principalmente aqueles que chegaram a altos graus de perfeição, rezam pelo bem e salvação de todos. E de todos os membros, qual é o mais perfeito? Maria! 4.- O Culto à Maria (971) “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). É uma profecia que começa a realizar-se logo no início da Igreja. Nosso Catecismo afirma que a piedade da Igreja dedicada a Maria é parte integrante do culto cristão em geral. Não é um apêndice. Não é algo dispensável. Eu diria que o culto católico à Virgem Maria tem seu fundamento no próprio Evangelho. Não fosse assim, Lucas não teria escrito o Magníficat. O povo católico sempre acreditou que Maria, como nossa Mãe, portadora do poder de Mãe de Deus, podenos proteger dos perigos e ameaças do Maligno. O problema está em pessoas que, pelo simples fato de se haverem posto sob a proteção de Maria, acreditam que isso funcionaria como uma espécie de escudo permanente e eficaz. Digo até que os ritos são secundários. Mas exercitar a consciência da proteção que Maria pode nos oferecer em ocasiões de tentações e perigos para nossa vida espiritual, pensar nisso e pedir em horas difíceis é certamente eficiente. Preciso é que se alerte sempre os fiéis católicos que o culto prestado a Maria Santíssima e aos santos é essencialmente diferente do culto de adoração prestado ao Verbo Eterno Encarnado, ou ao Pai, ou ao ES. Até gestos e posturas corporais são distintos. Genuflexão é só para Deus! Nenhuma imagem sacra, nem as de Cristo, sequer a cruz, recebem genuflexões. Única exceção que se admite é ajoelhar-se diante da cruz na Liturgia da morte do Senhor na Sexta-Feira Santa. A imagem do Cristo na cruz nesta hora é viva demais. Ela impõe-se e o cristão desaba diante da cruz, como se o Cristo real nela estivesse. Não confundir genuflexão como gesto de adoração, com o por-se de joelhos para orar mais fervorosamente. Contudo, podemos orar em qualquer lugar, a qualquer hora, em qualquer posição. 5.- Maria Ícone da Igreja Celeste e Eterna (972) Para terminar esta aula quero lembrar que uma das festas principais dedicadas a Maria é a Assunção. É a glorificação total de Maria, de corpo e alma, junto à Trindade Santíssima. A figura da Mãe da Igreja, da Mãe de todos nós, constitui uma espécie de antecipação e concretização de nossas esperanças de glória eterna.

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“Na Casa de meu Pai tem muitas moradas ...” Leitura recomendada: Lumen Gentium 140-160, ou ao menos, de 148-160. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 37 - Creio na Igreja Católica.13 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 16 de maio de 2013. 1.- “Creio no Perdão dos Pecados” (CIC 976-983) 1.1.- Introdução A palavra pecado vem do latim peccatum, com o sentido de falta, culpa, delito, crime (cf. Houaiss). Com a divulgação do cristianismo, sobretudo no Ocidente, a idéia de pecado ligou-se cada vez mais à vida e costumes ligados à religião. Acontece, porém, que as instituições religiosas tem perdido muito do seu poder de convencer. A assim chamada Nova Era insiste que religiosidade é assunto meramente pessoal. Por outro lado, também é frequente o pensamento de que pecado é coisa inventada pelo clero, para mais facilmente controlar o povo. Houve também épocas na Igreja em que pecar era quase só sinônimo de delitos contra a castidade. Neste terreno praticamente tudo era pecado. Como consequencia a tendência oposta veio com força. Quase nada é pecado. Ao mesmo tempo, como as notícias policiais, os escândalos e os crimes hediondos ocupam constantemente grandes espaços na mídia, então desordens importantes no comportamento humano, que são pecados de peso no pensar católico, passaram a ser vistas apenas como contravenções de leis civis, assunto de polícia, de segurança pública e tribunais. O fato é que há apenas quatro ou cinco décadas o povo católico praticante confessava-se semanalmente (o tempo do tudo era pecado). Nos dias de hoje o católico confessa-se raramente (tempo do quase nada é pecado). Afinal, o que é pecado? Costumo empregar uma definição bem simples e prática. Ações, omissões, atitudes e posturas (posições assumidas) pelo indivíduo ,ou por grupos que contrariam o amor de Deus e ao próximo são pecado. A essência do pecado é ser o anti-amor. Abrange o leque de coisas muito pequenas, defeitos e fraquezas, até chegar a situações de ruptura total com Deus e a Fé. Isso seria sem dúvidas um assim chamado pecado mortal. É uma espécie de bancarrota espiritual. Em tais condições, o indivíduo está necessitado de redimirse junto a Deus e junto à sua fraternidade que é a Igreja. Ele está rompido. Precisa de um re-implante. A Igreja precisa de respostas e soluções para estas situações. O Bom Pastor não quer perder nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou. O nosso Catecismo, na verdade, correlaciona a fé no perdão dos pecados com a fé no ES, com a fé na Igreja e a fé na Comunhão dos Santos. Na verdade, tudo volta à imagem da Igreja como o Corpo de Cristo-Cabeça. Esta é uma chave de leitura para compreender muitas coisas na Igreja. Cristo-Cabeça e a Igreja-Corpo atuam sempre em conjunto. Jesus dissera a Pedro que é preciso “perdoar setenta vezes sete vezes a quem pede perdão” (cf. Mt 18, 21-22). Então a Igreja tem que ter essa prerrogativa de perdoar sempre qualquer pecado de quem pede, arrependido, o perdão. O agir de Cristo e o agir de sua Igreja tem de estar em sintonia e em “uníssono”!

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Não podemos esquecer o Evangelho de João 20, 22-23: “Recebei o ES. Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhe serão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, lhe serão retidos” (976). 1.2- “Confesso um só Batismo para o Perdão dos Pecados” (Credo) Como acabamos de ver, fé no perdão dos pecados, fé no ES, fé no Batismo e fé na Comunhão dos Santos formam um conjunto inseparável. “Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à Fé e ao Batismo: ‘ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo (Mc 16,15-16). O Batismo é o primeiro e principal sacramento de perdão dos pecados, porque nos une a Cristo morto pelos nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação (cf. Rm 4,25) para que nós também vivamos vida nova”’(Rm 6,4). A seguir, o n. 978 é ainda mais veemente. Leiamos. “No momento em que fazemos a nossa primeira profissão de Fé, recebendo o santo Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão completo que não nos resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado original, seja dos pecados cometidos pela nossa própria vontade, nem nenhuma pena a sofrer para expiá-los”. Temos duas observações. A primeira: não faz nenhum sentido levar o candidato já consciente de sua situação de pecador a confessarse antes do batismo. O Batismo é o começo de tudo, é a porta de entrada para o “aprisco das ovelhas” (Jo 10,7). O perdão do batismo é total, sem restrições. Segunda observação: o Batismo e a Penitência perdoam todos os pecados. Contudo nossa sina de pecadores continua. A possibilidade de cometer novas infrações faz parte da condição humana na sua vida terrena. Nossa natureza inclinada para o mais prazeroso, o mais fácil, o mais desejável continua em plena forma. Daí que é indispensável a vigilância contínua e a cooperação com a graça divina. 1.3- O Poder das Chaves (981-983) Na questão do perdão divino de pecados, temos dois fatos distintos, ou duas crenças diferentes. No AT acreditava-se que não observar as leis dadas por Deus ao povo, através de Moisés, era pecado. Isso atraía toda sorte de desgraças vistas como castigos divinos. Pessoas especiais como Moisés e os profetas gozavam do favor de Deus de poder pedir e conseguir Seu perdão para o pecador. Em geral, o pecador tinha de submeter-se a penitências, ritos de purificação e oferecer algum sacrifício expiatório. Outras religiões tem crenças e ritos semelhantes. Mas, na Igreja de Cristo dá-se um avanço enorme, fruto direto da pregação de Jesus. Após a confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe, tendo declarado que ele era a rocha sobre a qual queria fundar a Sua Igreja, acrescentou: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo que desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16,19). Quando, já ressuscitado, apareceu aos Apóstolos, tendo-lhes comunicado o Es e dado ordens de pregar a Boa Nova como seus enviados, afirma: “A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados. A quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23). Desde seu primeiro dia de existência, a Igreja, através dos Apóstolos e seus sucessores, sempre entendeu que ela não só pode pregar a fé no perdão divino de nossos pecados, mas que ela própria pode declarar perdoados os pecados. Não é por acaso que no Sacramento da Penitência, o mais humilde e menorzinho

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dos presbíteros, ao pronunciar a fórmula da absolvição, pode dizer com toda fé “... e eu te absolvo de todos os teus pecados, em nome do Pai,...”. Como dizia àcima, a fé no perdão dos pecados está ligada à fé na presença e ação do Divino ES, especialmente nos ministros da Igreja. A Igreja tem, pois, fé em sua prerrogativa de poder, em nome de Deus, perdoar pecados. E qual é o alcance desse poder? Existem limites para o perdão em termos da gravidade do pecado, ou do número de vezes que alguém pode recorrer à Igreja? Não; o que está em ação é o Amor do Pai Eterno. Pedro queria saber quantas vezes se deve perdoar, e Jesus é claro: sempre! (cf. Mt 18,21-22). No que se refere à gravidade dos delitos cometidos por seus filhos como limites para o perdão possível, a Igreja enfrentou graves desavenças internas. Nos tempos das grandes perseguições não era raro cristãos negarem sua Fé. O partido dos rigoristas (como Santo Hipólito de Roma) queria estabelecer duas barreiras para o perdão. A primeira propunha que não se podia perdoar a quem tivesse negado publicamente sua Fé. A segunda barreira era proposta para negar absolvição a quem tivesse confessado alguns pecados muito graves e voltasse a cometê-los. O pecador em certos casos só teria uma chance, não duas. Oficialmente a Igreja aceitou nem uma nem outra dessas coisas. Talvez a negação de Pedro, seguida por suas lágrimas, e da confirmação no seu papel de Líder dos Apóstolos e da Igreja de Jesus, tenha pesado muito para firmeza de posição da Igreja nesta questão. Quero alertar a todos que mais para frente vamos estudar os Sete Sacramentos, e então vamos tratar melhor sobre como o povo católico pode e deve viver sua Fé no perdão divino e sua prática da Penitência. 2.- Creio na Ressurreição da Carne (988-1014) 2.1- Introdução É próprio da espécie humana sonhar com coisas boas sem fim, coisas eternas. Quantos casais românticos já juraram amor eterno... . Quantas estórias foram escritas e terminaram com a expressão “e foram felizes para sempre”. Amor e felicidade eternos supõem uma vida eterna. Muitas religiões pregaram a vida de alguma coisa do ser humano depois da morte. O espírito, ou uma alma, por não ser de ordem material, sobrevive depois da morte do corpo. Mas o Cristianismo vai além disso. 2.2- Ressurreição da Carne Aqui está o elemento novo do Cristianismo. O termo carne tem a ver com a dimensão terrena e biológica, frisando a dimensão de fraqueza e mortalidade do ser humano. Quando a igreja fala em ressurreição da carne ela está a dizer que não só a alma imortal sobrevive, mas que também nossos corpos mortais serão reconstituídos e readquirirão vida (990). Sobre a Ressurreição do Cristo não precisamos dizer nada mais aqui, pois já trabalhamos o tema no princípio dessas aulas. É simplesmente a base do Cristianismo. No que se refere à nossa ressurreição, ela é também fundamental para nossa identidade de cristãos. Tertuliano, no século III, afirmava: “A confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos cristãos” (991). Ele está dizendo, com todas as letras, que a crença na Ressurreição dos Mortos é elemento constitutivo essencial de nossa natureza cristã. Nosso Catecismo propõe a leitura de 1Cor 15,12-14.20. Na verdade, muito antes de Tertuliano, São Paulo dizia a mesma coisa. Quem nega a ressurreição dos mortos em geral, nega também a de Cristo. Tal pessoa nada mais tem em comum com o Cristianismo, nem com a Igreja de Cristo.

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ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 38 - Creio na Igreja Católica.14 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 23 de maio de 2013. 1- Juntas, a Ressurreição de Cristo e a Nossa (992-996) O Catecismo da Igreja nos ensina que a crença na ressurreição é consequência da crença que Deus criou o homem inteiro, corpo e alma. Então a esperança de uma vida além do túmulo precisa abranger o ser humano na sua inteireza. No pensamento judaico, a idéia da ressurreição é bem tardia, ou seja, não longe do tempo de Jesus. Nosso Catecismo cita o Segundo Livro dos Macabeus, que deve ter sido escrito uns 110 ou 115 anos antes de Cristo. “A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos foi se impondo como uma consequência intrínseca da fé em um Deus criador do homem inteiro, alma e corpo... ‘O Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis (2Mc 7,9). É desejável passar para outra vida pelas mãos dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de ser um dia ressuscitado por ele”’(2Mc 7,14). Nos dias de Jesus, os fariseus e muitos outros acreditavam na ressurreição dos mortos. Mas os saduceus não acreditavam. A estes Jesus pergunta: “Não é por isso que errais, desconhecendo tanto a Escritura como o poder de Deus?” (Mc12,24). Para Jesus, crer em Deus como Ele O conhece, traz como consequência a aceitação da ressurreição. Se não fosse assim, a morte destruiria os planos divinos. Jesus termina suas palavras aos saduceus assim: “Vós estais completamente errados”(Mc 12,27). Na verdade Jesus nos ensina uma novidade original nas Escrituras. Ele liga a ressurreição à própria pessoa Dele: “Eu sou a ressurreição e a vida”(Jo11,25). Além disso, Ele promete que nossa ressurreição será obra Dele. Condição para isso acontecer conosco é estarmos em união com Ele pela Fé, desde o Batismo e termo-nos alimentado Dele pela Eucaristia. “Aquele que come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,44). Nas minhas meditações sobre textos do NT para compreender a vida da Igreja, a vida divina que todos os seus membros experimentam (=graça), bem como as funções da Igreja neste mundo, tudo, afinal, fica mais claro e fácil de compreender se assimilarmos a imagem da Igreja como Corpo de Cristo com sua diversidade de membros, mantendo, contudo, a unidade do conjunto. Esta chave de leitura tem um segundo elemento que não podemos esquecer. Jesus tem uma particularidade bem pessoal: partilhar tudo o que é Seu com seus seguidores, chamados por Ele de amigos e irmãos. Ele partilha tudo, até seu poder e sua própria Natureza Divina (cf. Jo15,11-17). Todo triunfo Dele sobre o Mal e sobre a morte, Ele quer que seja também nosso. A natureza imortal Dele Ele a quer para nós. Faz agora parte de nossa natureza. A glorificação Dele Ele a partilha conosco. Por isso somos “novas criaturas” em Cristo (Cl 3,9-11). 2.- Algumas Perguntas do Catecismo Católico (997)  O que significa ressuscitar? (997) É um conceito que a maioria do povo cristão praticante tem presente e parece que todos pensam basicamente o mesmo a seu respeito. Acredito na ressurreição da alma e do corpo glorificado. As narrações

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das aparições de Jesus ressuscitado ajudam muito. Nossa Fé nos diz que Jesus quer o mesmo para nós, ou seja, ressuscitar como Ele.  Quem vai ressuscitar? (998) Todos irão ressuscitar. “Os que fizeram o bem (saíram) para uma ressurreição de vida; os que tiveram praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento” (Jo5,29).  De que maneira? (999) Como Cristo ressuscitou com seu próprio corpo, nós também ressuscitaremos com nosso próprio corpo. Insistir no como pode ser complicado e vai para além de nossa imaginação. É obra de Deus.  Quando? (1001) A Igreja sempre disse “no último dia”, pensando no evangelista João (cf.6,39-40.44.54;11,24). Na vinda gloriosa do Cordeiro de Deus - estamos pensando no Apocalipse - todos, bons e maus, ressuscitarão. 3.- Ressuscitados com Cristo (1002-1004) “Se é verdade que Cristo nos ressuscitará ‘no último dia’, também é verdade que, de certo modo, já ressuscitamos com Cristo. Pois, graças ao ES, a vida cristã é, já agora na Terra, uma participação na morte e ressurreição de Cristo” (CIC 1002). Nunca podemos esquecer que o Cristo com o qual convivemos, o Cristo com o qual nos unimos na Eucaristia, o Cristo que está presente onde “dois ou tres se reúnem em meu nome” é o Cristo ressuscitado. De alguma forma já vivemos como ressuscitados. 4.- Morrer em Cristo Jesus (CIC 1005-1014) 4.1- O que é? Poderíamos começar falando em morrer com Cristo ou por Cristo. Mas a Igreja preferiu dizer morrer em Cristo. Para quem tem uma fé esclarecida é claro. Tudo torna-se mais claro se, mais uma vez, recorrermos à imagem da Igreja como Corpo de Cristo. Todos os seus membros estão em constante união com o CristoCabeça. A vitalidade de Cristo atinge todos os membros. Então todos os membros da Igreja são vistos como que mergulhados em Cristo. Daí viver ou morrer em Cristo. Quem vive em união com Cristo, comparável à união e comunhão que existem entre membros de um corpo sadio, só pode nascer, viver e morrer em Cristo. Mais uma vez insisto que é essencial para a vida cristã a gente treinar a focalização da atenção consciente sobre pontos importantes de nossa fé. Hoje insisto no conteúdo da mais bela conclusão de orações jamais elaborada. Trata-se da conclusão invariável das diversas orações eucarísticas. “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai ...”. Para São Paulo, todo cristão que vive conscientemente sua Fé, desde o Batismo, ele insiste, vive e atua sempre em, por e com Cristo. Nesta condição dá-se também o nosso morrer. Imagino que o Cristo ao morrer na cruz, de braços abertos, recebe todos os nossos moribundos. Aí, a identificação de Deus encarnado com o ser humano é mais total e tocante. Mas, como Ele não podia ficar nos braços da morte, triunfou sobre ela e ressuscitou. Dessa forma podemos entender que a morte nos liberta a todos, pois é passagem para a vida. 4.2- A Morte e o Pecado (1008-1009)

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Este é um tema de compreensão difícil. Nosso Catecismo afirma que “embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador, e entrou no mundo como consequência do pecado” (1008) e nos remete à Sabedoria 2, 23-24. Este texto bíblico diz com todas as letras que a morte entrou no mundo “pela inveja de Satã”. Acredito que muitos cristãos refletem bastante sobre a realidade da morte, se ela é ou não é castigo, ou se é natural para qualquer ser terrestre. Uma coisa é certa. Originariamente só Deus é eterno e Senhor da vida. Ele quis que sua criatura terrena, o ser humano, pudesse alcançar a imortalidade para poder estar com Ele eternamente. Isso é Graça, é Amor; é vontade de Deus e conquista de Jesus Cristo. Acredito que isto é suficiente para alimentar nossa vida durante a peregrinação sobre esta Terra, e encher nossa existência de sentido e esperança. Já avançamos no tema seguinte. 4.3- O Sentido da Morte Cristã (1110-1114) É exatamente o que acabo de dizer. Creio que uma das coisas mais tranquilizadoras e geradoras de paz em nossa vida, é conseguir ver a morte com os olhos da Fé cristã de São Paulo, de Santo Inácio de Antioquia e São Francisco de Assis. Mas antes ainda quero lembrar-me de Cristo pensando sobre Sua própria morte. Ele dizia: “se o grão de trigo ao cair na terra não morrer, fica só. Mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12-24). Fala-se muito em preparar-se e pedir uma boa morte. Contudo, creio que qualquer pessoa que viva em união com Cristo está sempre pronta para a “boa morte”. Mas, temos de admitir que qualquer pessoa ao chegar à hora final de sua existência terrestre, consciente que chegou sua chance de unir-se profundamente com Cristo na cruz, conseguiu uma graça única. A hora da sua morte pode ser de paz e alegria interior. Em tais circunstâncias nossos momentos finais serão plenos de sentido, pois serão redentores e purificadores para nós e nossos irmãos. É uma comunhão redentora com o Cristo Redentor.(Nota: para que ainda imaginar purgatório depois disso?) Desejar e pedir para morrer desta forma pode ser um dos melhores desejos da vida. Assim fica mais fácil ouvir Paulo, “para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). Podemos também ouvi-lo ao escrever a Timóteo. “Fiel a esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos. Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11-12). Paulo merece um breve comentário. Ele fala muito em “morrer com Cristo pelo batismo”. Sempre entendemos que viver o batismo em Jesus Cristo leva-nos, necessariamente, a renunciar a muitas coisas e oportunidades más. São as renúncias declaradas na hora do batismo. Isso nos lembra a imagem da videira podada. Os ramos cortados morrem, secam, são queimados ou viram adubo. Renunciar é entendido como morte, só que esta morte é redentora e purificadora. Eis o que é morrer com Cristo pelo Batismo. “A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente ‘morto com Cristo’, para viver de uma vida nova; e se morrermos na graça de Cristo, a morte física realiza este ‘morrer com Cristo’ e completa assim a nossa incorporação a Ele no seu ato redentor” (CIC 1009). A seguir, o Catecismo nos remete a Santo Inácio de Antioquia. Eis o texto. “É bom para mim morrer em (‘eis’) Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da Terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (...) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem”( Rom 6, 1-2). Como foi a vivência, a experiência de Santo Inácio nos instantes de sua morte? Deve ter sido semelhante a estas e muitas outras palavras que ele, ancião de mais de oitenta anos, falou.

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Temos ainda uma questão: Deus marca a hora de cada vivente morrer? Não acredito. A morte é um fenômeno natural que vem por esgotamento dos recursos vitais ou, circunstancialmente, por acidente. Mas, na morte, Deus chama o homem para Si” ( 1011). O papel de Deus é receber quem mergulha na morte. A Igreja diz isto com outras palavras no Prefácio da missa dos defuntos. “Senhor, para os que crêem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. Preparar-nos para a morte? Sim. Já respondi esta questão no início deste ponto 4.3. Se chegarmos a ver na morte uma irmã, fica tudo mais fácil. “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal...” (Cântico das Criaturas). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 39 - Creio na Igreja Católica.15 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 06 de junho de 2013. Creio na Vida Eterna (CIC1020-1065) 1.- Introdução Na última aula falamos sobre a morte do cristão em comunhão com Cristo. Como conclusão, podemos dizer que a morte pode ser vista como os passos finais ao encontro de Jesus Cristo e como porta de entrada para a vida eterna. Costumo desenvolver uma comparação com o nascimento fictício de um bebe que, antes de iniciar o processo do parto, está em plena consciência dos apertos e perigos pelos quais vai passar. Mas acontece que uma fada benfazeja lhe aponta um quadro das coisas boas que a vida lhe vai trazer. Dá para imaginar o que esse nascituro experimentaria... Quando acontece um sacerdote acompanhar os momentos finais da vida de alguém, ao administrar-lhe o viático (=última comunhão) e a última unção fortificadora, ele pode dizer essas palavras no momento do desenlace: “deixa este mundo, alma cristã, em nome do Pai Todo Poderoso que te criou, em nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, que sofreu por ti, em nome do ES que foi derramado em ti. Toma o teu lugar hoje na paz, e fixa tua morada com Deus ...” (CIC 1020). 2.- O Juízo Particular (1021-1022) Nossa Igreja ensina a seus fiéis que existem dois julgamentos para todo ser humano. O primeiro é particular, bem pessoal, e segue-se imediatamente à morte. Todo povo cristão acredita e fala com frequência do encontro de cada um com Deus na hora da morte. Temos duas passagens nos Evangelhos que falam desse encontro pós-morte. Lázaro, o pobre, morre e é “levado pelos anjos para junto de Abraão” (Lc 16,22). E, na cruz, Jesus fala ao ladrão arrependido e suplicante. “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Também podemos ler 2 Cor 5,8; Fl 1,23; Hb 9,27; 12,23. Estes textos nos falam de um destino último da alma, que pode ser bem diferente para umas e outras pessoas. Embora a bíblia não fale diretamente de um juízo para definir essa diversidade de tratamento recebido depois da morte, impõe-se ao pensamento cristão a necessidade de uma criteriosa separação entre bons e maus logo ao morrer. Daí que sempre a Igreja falou num Juízo Particular, diverso do Juízo Final. A retribuição de cada um pelo tipo de vida que levou aqui na Terra é função reservada a Deus. 3.- O Céu ( 2023-2029)

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Na aula passada, no n. 3, falamos já algo sobre nossa ressurreição, no “último dia” com Cristo. Mas a Igreja tem preocupação em tranquilizar os fiéis quanto ao que se passa com a gente durante o tempo a transcorrer entre a data de nossa morte e esse “último dia” da ressurreição de todos. A Igreja ensina que todos os que morreram tendo feito o bem durante esta vida tem duas chances. Se atingiram um determinado estado de bondade, de santidade, “nos quais não houve nada a purificar quando morreram” (CIC 1023, citando Bento XII) estarão imediatamente no Céu. Os que morreram tendo coisas a purificar irão para esse estágio purificatório (purgatório). Terminado este, irão para a Glória Celeste. A Igreja sempre nos procurou garantir que a mais importante característica do Céu é poder entrar em contato com Deus como Ele é, “sem a mediação de nenhuma criatura” (ibidem). Lembre-se que Deus deixou-se definir por Amor. Prefiro pensar nisso e meditar. Poderia haver algo maior e melhor para um ser humano que ama realmente do que ser mergulhado numa realidade onde tudo que existe é manifestação da infinita riqueza do Amor? Isso será nossa plena comunhão com Deus Trino. Podemos então definir Céu como a fraternidade de todos os que alcançaram esta plena e definitiva comunhão com Deus. Existem muitos textos, principalmente santos místicos, a descrever como imaginam o Céu. São fantasias? Sim. Mas fantasias bem-aventuradas porque nos fazem bem, alimentam a Esperança, fortalecem a Fé. Contudo, costumo dizer que a linha de meditação que deve fazer bem a todo cristão é facilmente acessível e encontra-se nas palavras de Jesus ao confortar seus Apóstolos. Ele sabia que sua prisão, julgamento e execução na cruz mergulhariam os seus amados, seus amigos mais próximos e colaboradores naquilo que nosso povo costuma chamar de “inferno astral”. Jesus sabia que seriam dias horríveis, de aparente e total vitória do Maligno. Para confortá-los Jesus fala com doçura. “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois eu vou preparar-vos um lugar. Quando tiver ido e tiver preparado um lugar para vós, voltarei novamente e vos levarei comigo para que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14, 1-3). Pensar então que a vida após a morte e o mundo de realidade após essa vida terrena são preparados por Cristo que nos ama da forma como Ele nos demonstrou na Paixão e Morte, é mais do que suficiente. Alguém com o poder infinito de Deus, com o Amor infinito do mesmo Deus, vai preparar algo para aqueles que Ele ama... (aqui faremos uma breve partilha envolvendo os ouvintes). Recomendo a leitura de Lumen Gentium 134-137 (ou 49-50, números colocados no início do texto dos grandes parágrafos). No que se refere a passagens bíblicas sobre o Céu, voce já pode procurar este verbete nos índices de sua bíblia para ler. 4.- Purificação Final, ou Purgatório (1030-1032) “Os que morrem ... entram na alegria do Céu” (1030). Assim começa nosso Catecismo o tema purgatório. (!!!!!!!) O purgatório surgiu no conjunto da doutrina católica como uma espécie de saída lógica. Todos aceitam que a vida nos céus deve ser em tudo perfeita e santa. Ora, é imaginável e parece óbvio que muita gente morre sem um grande desenvolvimento espiritual. Por outro lado, não são também pecadores que assumiram posições, consciente e livremente, contrárias a Deus, o que os excluiria de Sua comunhão. Tais pessoas necessitam de algum meio de aperfeiçoamento e santificação para chegar a um estado de perfeição requerido para ingressar na Vida Eterna. O problema é que todos pensam logo em sofrimentos e penas a pagar. Isso parece não combinar bem com a idéia de um Deus infinitamente misericordioso que nada cobrou ao filho pródigo para restabelecê-lo em Seu convívio (Cf Lc 15, 20-24).

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Mas, o CIC cita São Gregório Magno que comenta a conclusão tirada pelo Evangelho de São Mateus ao tratar o assunto blasfêmia contra o ES. São Mateus diz que todos os pecados podem ser perdoados ao homem, com exceção desse pecado contra o ES. Ele não será perdoado “neste mundo, nem no século futuro” (Mt 12,32). Disso conclui São Gregório: “desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (CIC 1031). O fato é que a Igreja, desde seus primeiros tempos, vem orando, oferecendo obras de penitência, especialmente a Celebração Eucarística, pelo perdão dos pecados e purificação de nossos irmãos falecidos. Uma coisa parece certa. A Igreja não tem outra forma para explicar a plenitude da vida eterna para tantos que morrem ainda tão longe da perfeição. 5.- O Inferno ( 1033-1037) 5.1- O que é Inferno? A palavra inferno vem do latim (infernum) e significa as profundezas da Terra. Na mitologia havia a idéia que os fantasmas dos mortos iam para lugares subterrâneos onde passariam a habitar. Isso levou os cristãos a imaginar que os maus, os hereges, os inimigos de Cristo, os assassinos não arrependidos e outros, ao morrerem, tinham suas almas enviadas para as profundezas, onde seriam atormentadas eternamente. Podem ver que a contribuição da mitologia, sobretudo a greco-romana, para o pensamento cristão sobre o inferno não é pequena. As passagens do Novo Testamento que mais claramente falam do inferno estão no Evangelho de São Mateus 25, 31-46, onde o Juiz (o Filho do Homem) dirá aos que não praticaram o amor ao próximo: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos”. Outra passagem está em 1Jo 3, 14-15. O autor afirma: “Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele”. As duas afirmações, aparentemente diferentes, tem a mesma idéia básica. Elas dizem que existe uma incompatibilidade radical entre o Deus-Amor-Encarnado em Jesus Cristo e os seres humanos que não aceitam amar (servir, ajudar...) outros seres humanos. Deus é Amor e é a Vida Eterna. Sem um mínimo de Amor não existe possibilidade de vida. Por isso o Filho do Homem (Jesus) diz a mesma coisa ao estabelecer esta distância entre Ele e os seus que amam, de um lado, e os que negam o Amor, do outro lado. O restante da afirmação, a referência ao fogo eterno, a diabos, etc., é secundário. Jesus está falando ao povo, na linguagem do povo, e recorre a seus mitos. O essencial está em afirmar a radical impossibilidade de existir comunhão entre seres que amam e seres que odeiam. É como a irredutível oposição entre vida e morte. São incompatíveis, ou seja, nenhuma composição é possível. Não amar nunca é inocente. Não amar é sempre odiar, pois ódio combina com morte. Se amar, para Cristo, é fazer o bem ao irmão, odiar é fazer o mal, ou não fazer o bem! Se amar é a essência da graça e da vida, odiar é a essência do pecado e da morte. O maior pecado possível, o chamado pecado mortal, consiste em alguém conhecer Deus-Amor e, livre e voluntariamente, rejeitá-Lo. É uma aversão voluntária a Deus. Se esta aversão perdurar até o fim, esse indivíduo toma o caminho para o inferno. Assim encontramos e entendemos a definição de inferno que nosso Catecismo nos dá: “e este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa ‘inferno’” ( 1033). 5.2- Algumas Conclusões  O principal da doutrina católica sobre o inferno não consiste em elementos físicos, como o fogo ou alguma localização geográfica. A idéia central está na “auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus”.

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 A rigor, Deus não condena alguém ao inferno. Nossa doutrina é clara. O homem é quem escolhe e se auto-exclui da vida eterna com Deus. É impossível conciliar o Amor e a Misericórdia infinitos de Deus com um gesto seu de condenar, definitivamente, alguém à perdição.  O Céu e o Inferno são eternos. É a conclusão lógica. O Juízo é final (Mt 25); ocorre no final dos tempos, é “o último dia”. Mas, já na morte de cada indivíduo sua alma ingressa numa situação definitiva, eterna: Céu, mesmo que inclua um “estágio” purificativo; ou o inferno. É bom lembrar que as almas do purgatório, para muito além de seus sofrimentos, estão ancoradas numa certeza, numa garantia: a salvação eterna já é sua.  Só o pecado mortal pode levar alguém para o “reino das trevas”, como citamos acima no n. 1037 do CIC. Nosso Catecismo fala em “uma aversão voluntária a Deus e a persistência nela até o fim”. Não se trata de um incidente, de um episódio. É uma definição, uma tomada de posição livre e radical! Se dispuséssemos de tempo iria propor lembrar escritos sobretudo os do tempo do jansenismo que, a título de alerta, praticavam algo como terrorismo espiritual. (proponho abrir espaço para a palavra livre). 5.3- Castigos? Parece que os povos mais antigos tinham maior dificuldade de lidar com delitos e culpas sem imaginar castigos e penas. Mesmo perdoado o faltoso, penas perduravam. Isso não é muito fácil de ser conciliado com a bondade infinita de Deus. No fundo somos todos um tanto quanto sádicos. Deliciamo-nos ao ver certos tipos que consideramos malvados serem castigados. A tortura de presos tende a se perpetuar porque, embora inocentes torturados causem revolta e indignação, o grande bandido torturado causa alegria não pequena em grande número de pessoas. Castigos infernais? Contento-me em imaginar um só. Deve ser a infinita frustração de constatar que tudo saiu realmente errado para sempre. Basta a gente fazer uma pequena reflexão sobre a universal dificuldade que temos de lidar com grandes perdas e fracassos. 6.- O Juízo Final (1038-1041) Como vimos na aula passada, citando João 5, 28-29, todas as pessoas, boas ou más, ressuscitarão para o Juízo Final. Vamos a Mateus 25, 31-46. Esta perícope é tão conhecida que vou apenas contar o resumo. Na verdade o Juízo Final é uma espécie de confirmação solene daquilo que já aconteceu após a morte, quando a salvação ou a perdição eternas já foram comunicadas por Deus, imediatamente, quando cada vivente se apresentar diante Dele. Chama muito a nossa atenção o fato de que a matéria do julgamento resume-se a um único tema: o que foi feito ou deixado de fazer de bem aos irmãos. Nenhuma palavra sobre práticas religiosas é ouvida. A religião e suas práticas são meio para o crescimento da pessoa, não um fim em si. Mas a prática do bem é meio e fim a ser alcançado. É determinante, pois é o próprio Amor de Deus que se manifesta em nós. Quando será o Juízo Final? Nossos textos são claros. O Julgamento será por ocasião da volta gloriosa de Cristo. “E de novo há de vir, em sua Glória, para julgar os vivos e os mortos” (Credo). A mensagem do Juízo Final traz forte apelo para a sempre renovada conversão e contínua prática do bem. O tempo de nossa vida é precioso, é dom recebido de Deus, “tempo de salvação” (2Cor, 6,2), tempo de crescimento contínuo, para reproduzir em nós os traços do novo homem, da nova mulher, traços que são os do homem-Jesus e da mulher-Maria. São Paulo fala em atingirmos a “estatura de Cristo em sua plenitude” ( Cf. Ef 4,17-32; Cl 1,28). 7.- Novo Céu e Nova Terra (1042-1050)

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Para alimentar nossas esperanças na vida que há de vir após a morte é suficiente o ponto 3 da aula de hoje. Mas, temos os textos do NT que falam não só da vida eterna celestial dos que foram salvos. Mas a Igreja ocupa-se também com a plenitude do Reino de Deus que será inaugurada quando Cristo vier em sua Glória. Em resumo, todo o mundo criado atingirá a plenitude de sua perfeição, atendendo em tudo os propósitos divinos para os quais foi criado. Trata-se de uma esperança interessantíssima. Deus nada cria para a morte, para o aniquilamento. Os cientistas discutem o futuro do universo entre eles, muitos defendem sua eternidade. Nossos antepassados religiosos viram “novos Céus e nova Terra”. Previram que um dia tudo estará em harmonia sob a regência divina quando Deus “reunir, sob um só chefe, Cristo, todas as coisas que estão no Céu e as que estão na Terra” (Ef 1,10). Proponho à leitura Ap 21 todo. Ali toda a criação, Céu e Terra, tudo estará envolto pela Glória de Deus. Leiam também Rm 8, 19-23, onde nós “gememos no íntimo de nosso ser aguardando a redenção de nosso corpo” e conosco “toda a criação geme e está em dores de parto”. O autor da segunda Epístola de São Pedro diz sobre esse assunto: “nós, porém, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra em que mora a justiça” (3,13). Se quiser, leia também o capítulo 11 de Isaías. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 39 - Creio na Igreja Católica.15 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 06 de junho de 2013. Creio na Vida Eterna (CIC1020-1065) 1.- Introdução Na última aula falamos sobre a morte do cristão em comunhão com Cristo. Como conclusão, podemos dizer que a morte pode ser vista como os passos finais ao encontro de Jesus Cristo e como porta de entrada para a vida eterna. Costumo desenvolver uma comparação com o nascimento fictício de um bebe que, antes de iniciar o processo do parto, está em plena consciência dos apertos e perigos pelos quais vai passar. Mas acontece que uma fada benfazeja lhe aponta um quadro das coisas boas que a vida lhe vai trazer. Dá para imaginar o que esse nascituro experimentaria... Quando acontece um sacerdote acompanhar os momentos finais da vida de alguém, ao administrar-lhe o viático (=última comunhão) e a última unção fortificadora, ele pode dizer essas palavras no momento do desenlace: “deixa este mundo, alma cristã, em nome do Pai Todo Poderoso que te criou, em nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, que sofreu por ti, em nome do ES que foi derramado em ti. Toma o teu lugar hoje na paz, e fixa tua morada com Deus ...” (CIC 1020). 2.- O Juízo Particular (1021-1022) Nossa Igreja ensina a seus fiéis que existem dois julgamentos para todo ser humano. O primeiro é particular, bem pessoal, e segue-se imediatamente à morte. Todo povo cristão acredita e fala com frequência do encontro de cada um com Deus na hora da morte. Temos duas passagens nos Evangelhos que falam desse encontro pós-morte. Lázaro, o pobre, morre e é “levado pelos anjos para junto de Abraão” (Lc 16,22). E, na cruz, Jesus fala ao ladrão arrependido e suplicante. “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Também podemos ler 2 Cor 5,8; Fl 1,23; Hb 9,27; 12,23. Estes textos nos falam de um destino último da alma, que pode ser bem diferente para umas e outras pessoas.

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Embora a bíblia não fale diretamente de um juízo para definir essa diversidade de tratamento recebido depois da morte, impõe-se ao pensamento cristão a necessidade de uma criteriosa separação entre bons e maus logo ao morrer. Daí que sempre a Igreja falou num Juízo Particular, diverso do Juízo Final. A retribuição de cada um pelo tipo de vida que levou aqui na Terra é função reservada a Deus. 3.- O Céu ( 2023-2029) Na aula passada, no n. 3, falamos já algo sobre nossa ressurreição, no “último dia” com Cristo. Mas a Igreja tem preocupação em tranquilizar os fiéis quanto ao que se passa com a gente durante o tempo a transcorrer entre a data de nossa morte e esse “último dia” da ressurreição de todos. A Igreja ensina que todos os que morreram tendo feito o bem durante esta vida tem duas chances. Se atingiram um determinado estado de bondade, de santidade, “nos quais não houve nada a purificar quando morreram” (CIC 1023, citando Bento XII) estarão imediatamente no Céu. Os que morreram tendo coisas a purificar irão para esse estágio purificatório (purgatório). Terminado este, irão para a Glória Celeste. A Igreja sempre nos procurou garantir que a mais importante característica do Céu é poder entrar em contato com Deus como Ele é, “sem a mediação de nenhuma criatura” (ibidem). Lembre-se que Deus deixou-se definir por Amor. Prefiro pensar nisso e meditar. Poderia haver algo maior e melhor para um ser humano que ama realmente do que ser mergulhado numa realidade onde tudo que existe é manifestação da infinita riqueza do Amor? Isso será nossa plena comunhão com Deus Trino. Podemos então definir Céu como a fraternidade de todos os que alcançaram esta plena e definitiva comunhão com Deus. Existem muitos textos, principalmente santos místicos, a descrever como imaginam o Céu. São fantasias? Sim. Mas fantasias bem-aventuradas porque nos fazem bem, alimentam a Esperança, fortalecem a Fé. Contudo, costumo dizer que a linha de meditação que deve fazer bem a todo cristão é facilmente acessível e encontra-se nas palavras de Jesus ao confortar seus Apóstolos. Ele sabia que sua prisão, julgamento e execução na cruz mergulhariam os seus amados, seus amigos mais próximos e colaboradores naquilo que nosso povo costuma chamar de “inferno astral”. Jesus sabia que seriam dias horríveis, de aparente e total vitória do Maligno. Para confortá-los Jesus fala com doçura. “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois eu vou preparar-vos um lugar. Quando tiver ido e tiver preparado um lugar para vós, voltarei novamente e vos levarei comigo para que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14, 1-3). Pensar então que a vida após a morte e o mundo de realidade após essa vida terrena são preparados por Cristo que nos ama da forma como Ele nos demonstrou na Paixão e Morte, é mais do que suficiente. Alguém com o poder infinito de Deus, com o Amor infinito do mesmo Deus, vai preparar algo para aqueles que Ele ama... (aqui faremos uma breve partilha envolvendo os ouvintes). Recomendo a leitura de Lumen Gentium 134-137 (ou 49-50, números colocados no início do texto dos grandes parágrafos). No que se refere a passagens bíblicas sobre o Céu, voce já pode procurar este verbete nos índices de sua bíblia para ler. 4.- Purificação Final, ou Purgatório (1030-1032) “Os que morrem ... entram na alegria do Céu” (1030). Assim começa nosso Catecismo o tema purgatório. (!!!!!!!) O purgatório surgiu no conjunto da doutrina católica como uma espécie de saída lógica. Todos aceitam que a vida nos céus deve ser em tudo perfeita e santa. Ora, é imaginável e parece óbvio que muita gente morre sem um grande desenvolvimento espiritual. Por outro lado, não são também pecadores que assumiram posições, consciente e livremente, contrárias a Deus, o que os excluiria de Sua comunhão. Tais pessoas

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necessitam de algum meio de aperfeiçoamento e santificação para chegar a um estado de perfeição requerido para ingressar na Vida Eterna. O problema é que todos pensam logo em sofrimentos e penas a pagar. Isso parece não combinar bem com a idéia de um Deus infinitamente misericordioso que nada cobrou ao filho pródigo para restabelecê-lo em seu convívio (Cf Lc 15, 20-24). Mas, o CIC cita São Gregório Magno que comenta a conclusão tirada pelo Evangelho de São Mateus ao tratar o assunto blasfêmia contra o ES. São Mateus diz que todos os pecados podem ser perdoados ao homem, com exceção desse pecado contra o ES. Ele não será perdoado “neste mundo, nem no século futuro” (Mt 12,32). Disso conclui São Gregório: “ desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (CIC 1031). O fato é que a Igreja, desde seus primeiros tempos, vem orando, oferecendo obras de penitência, especialmente a Celebração Eucarística, pelo perdão dos pecados e purificação de nossos irmãos falecidos. Uma coisa parece certa. A Igreja não tem outra forma para explicar a plenitude da vida eterna para tantos que morrem ainda tão longe da perfeição. 5.- O Inferno ( 1033-1037) 5.1- O que é Inferno? A palavra inferno vem do latim (infernum) e significa as profundezas da Terra. Na mitologia havia a idéia que os fantasmas dos mortos iam para lugares subterrâneos onde passariam a habitar. Isso levou os cristãos a imaginar que os maus, os hereges, os inimigos de Cristo, os assassinos não arrependidos e outros, ao morrerem, tinham suas almas enviadas para as profundezas, onde seriam atormentadas eternamente. Podem ver que a contribuição da mitologia, sobretudo a greco-romana, para o pensamento cristão sobre o inferno não é pequena. As passagens do Novo Testamento que mais claramente falam do inferno estão no Evangelho de São Mateus 25, 31-46, onde o Juiz (o Filho do Homem) dirá aos que não praticaram o amor ao próximo: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos”. Outra passagem está em 1Jo 3, 14-15. O autor afirma: “Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele”. As duas afirmações, aparentemente diferentes, tem a mesma idéia básica. Elas dizem que existe uma incompatibilidade radical entre o Deus-Amor-Encarnado em Jesus Cristo e os seres humanos que não aceitam amar (servir, ajudar...) outros seres humanos. Deus é Amor e é a Vida Eterna. Sem um mínimo de Amor não existe possibilidade de vida. Por isso o Filho do Homem (Jesus) diz a mesma coisa ao estabelecer esta distância entre Ele e os seus que amam, de um lado, e os que negam o Amor, do outro lado. O restante da afirmação, a referência ao fogo eterno, a diabos, etc., é secundário. Jesus está falando ao povo, na linguagem do povo, e recorre a seus mitos. O essencial está em afirmar a radical impossibilidade de existir comunhão entre seres que amam e seres que odeiam. É como a irredutível oposição entre vida e morte. São incompatíveis, ou seja, nenhuma composição é possível. Não amar nunca é inocente. Não amar é sempre odiar, pois ódio combina com morte. Se amar, para Cristo, é fazer o bem ao irmão, odiar é fazer o mal, ou não fazer o bem! Se amar é a essência da graça e da vida, odiar é a essência do pecado e da morte. O maior pecado possível, o chamado pecado mortal, consiste em alguém conhecer Deus-Amor e, livre e voluntariamente, rejeitá-Lo. É uma aversão voluntária a Deus. Se esta aversão perdurar até o fim, esse indivíduo toma o caminho para o inferno.

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Assim encontramos e entendemos a definição de inferno que nosso Catecismo nos dá: “e este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa ‘inferno’” ( 1033). 5.2- Algumas Conclusões  O principal da doutrina católica sobre o inferno não consiste em elementos físicos, como o fogo ou alguma localização geográfica. A idéia central está na “auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus”.  A rigor, Deus não condena alguém ao inferno. Nossa doutrina é clara. O homem é quem escolhe e se auto-exclui da vida eterna com Deus. É impossível conciliar o Amor e a Misericórdia infinitos de Deus com um gesto seu de condenar, definitivamente, alguém à perdição.  O Céu e o Inferno são eternos. É a conclusão lógica. O Juízo é final (Mt 25); ocorre no final dos tempos, é “o último dia”. Mas, já na morte de cada indivíduo sua alma ingressa numa situação definitiva, eterna: Céu, mesmo que inclua um “estágio” purificativo; ou o inferno. É bom lembrar que as almas do purgatório, para muito além de seus sofrimentos, estão ancoradas numa certeza, numa garantia: a salvação eterna já é sua.  Só o pecado mortal pode levar alguém para o “reino das trevas”, como citamos acima no n. 1037 do CIC. Nosso Catecismo fala em “uma aversão voluntária a Deus e a persistência nela até o fim”. Não se trata de um incidente, de um episódio. É uma definição, uma tomada de posição livre e radical! Se dispuséssemos de tempo iria propor lembrar escritos sobretudo os do tempo do jansenismo que, a título de alerta, praticavam algo como terrorismo espiritual. (proponho abrir espaço para a palavra livre). 5.3- Castigos? Parece que os povos mais antigos tinham maior dificuldade de lidar com delitos e culpas sem imaginar castigos e penas. Mesmo perdoado o faltoso, penas perduravam. Isso não é muito fácil de ser conciliado com a bondade infinita de Deus. No fundo somos todos um tanto quanto sádicos. Deliciamo-nos ao ver certos tipos que consideramos malvados serem castigados. A tortura de presos tende a se perpetuar porque, embora inocentes torturados causem revolta e indignação, o grande bandido torturado causa alegria não pequena em grande número de pessoas. Castigos infernais? Contento-me em imaginar um só. Deve ser a infinita frustração de constatar que tudo saiu realmente errado para sempre. Basta a gente fazer uma pequena reflexão sobre a universal dificuldade que temos de lidar com grandes perdas e fracassos. 6.- O Juízo Final (1038-1041) Como vimos na aula passada, citando João 5, 28-29, todas as pessoas, boas ou más, ressuscitarão para o Juízo Final. Vamos a Mateus 25, 31-46. Esta perícope é tão conhecida que vou apenas contar o resumo. Na verdade o Juízo Final é uma espécie de confirmação solene daquilo que já aconteceu após a morte, quando a salvação ou a perdição eternas já foram comunicadas por Deus, imediatamente, quando cada vivente se apresentar diante Dele. Chama muito a nossa atenção o fato de que a matéria do julgamento resume-se a um único tema: o que foi feito ou deixado de fazer de bem aos irmãos. Nenhuma palavra sobre práticas religiosas é ouvida. A religião e suas práticas são meio para o crescimento da pessoa, não um fim em si. Mas a prática do bem é meio e fim a ser alcançado. É determinante, pois é o próprio Amor de Deus que se manifesta em nós. Quando será o Juízo Final? Nossos textos são claros. O Julgamento será por ocasião da volta gloriosa de Cristo. “E de novo há de vir, em sua Glória, para julgar os vivos e os mortos” (Credo).

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A mensagem do Juízo Final traz forte apelo para a sempre renovada conversão e contínua prática do bem. O tempo de nossa vida é precioso, é dom recebido de Deus, “tempo de salvação” (2Cor, 6,2), tempo de crescimento contínuo, para reproduzir em nós os traços do novo homem, da nova mulher, traços que são os do homem-Jesus e da mulher-Maria. São Paulo fala em atingirmos a “estatura de Cristo em sua plenitude” ( Cf. Ef 4,17-32; Cl 1,28). 7.- Novo Céu e Nova Terra (1042-1050) Para alimentar nossas esperanças na vida que há de vir após a morte é suficiente o ponto 3 da aula de hoje. Mas, temos os textos do NT que falam não só da vida eterna celestial dos que foram salvos. Mas a Igreja ocupa-se também com a plenitude do Reino de Deus que será inaugurada quando Cristo vier em sua Glória. Em resumo, todo o mundo criado atingirá a plenitude de sua perfeição, atendendo em tudo os propósitos divinos para os quais foi criado. Trata-se de uma esperança interessantíssima. Deus nada cria para a morte, para o aniquilamento. Os cientistas discutem o futuro do universo entre eles, muitos defendem sua eternidade. Nossos antepassados religiosos viram “novos Céus e nova Terra”. Previram que um dia tudo estará em harmonia sob a regência divina, quando Deus “reunir, sob um só chefe, Cristo, todas as coisas que estão no Céu e as que estão na Terra” (Ef 1,10). Proponho à leitura Ap 21 todo. Ali toda a criação, Céu e Terra, tudo estará envolto pela Glória de Deus. Leiam também Rm 8, 19-23, onde nós “gememos no íntimo de nosso ser aguardando a redenção de nosso corpo” e conosco “toda a criação geme e está em dores de parto”. O autor da segunda Epístola de São Pedro diz sobre esse assunto: “nós, porém, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra em que mora a justiça” (3,13). Se quiser, leia também o capítulo 11 de Isaías. 5.- AMÉM (CIC1061-1065) Com uma breve reflexão sobre a palavra Amém encerramos a aula 39 e a primeira grande parte de nosso curso. Como podem ver, a primeira parte das aulas versou sobre os conteúdos do CREDO. A segunda parte tratará da Liturgia e Sacramentos. O Amém serve de encerramento para a primeira parte e de introdução à segunda. O NT emprega a palavra amém com grande frequência. Termina seu último livro, o Apocalipse, com esta palavra. A Igreja encerra sua solene declaração de Fé (Credo) com ela. A doxologia após a Oração Eucarística (Por Cristo, com Cristo ...) termina com um solene amém, muitas vezes cantado. O povo cristão finaliza praticamente cada oração com o amém. O que significa a palavra Amém? Na verdade trata-se de um vocábulo hebraico não traduzido. É interessante que tanto a palavra amém como o verbo crer, neste idioma, nascem da mesma raiz que tem a ver com solidez, confiabilidade e fidelidade. Crer é o mesmo que dizer amém. E dizer amém é declarar toda a confiança e fidelidade, sobretudo quando na oração nos dirigimos a Deus. Temos uma passagem linda em Isaías 65,16, onde ele diz: “Todo aquele que quiser ser bendito na Terra quererá ser bendito pelo Deus do Amém”. E também: “Todo aquele que jurar na Terra jurará por ‘o Deus do Amém’”. O comentarista dessa passagem bíblica afirma: “O amém dito pelos homens garante a sinceridade de seus juramentos: Nm 5,22 etc.; dito por Deus, exprime a infalibilidade de suas promessas, cf. 1Rs 1,36” (TEB). Já vimos em aulas anteriores que entre expressões típicas de Jesus, quando queria dar ênfase especial ao que ia afirmar, gostava de começar com “em verdade vos digo”; ou, com mais empenho, “em verdade, em verdade, vos digo”. São Jerônimo quando traduziu a Bíblia para o latim verteu essas introduções de Jesus para “amen, amen, dico vobis” (“amém, amém, eu vos digo”).Parece que o segredo de nossas orações comunitárias, sobretudo na liturgia, reside na concentração consciente de todos no conteúdo dos textos das celebrações. É triste terminar a Prece Eucarística com: “Por Cristo, com Cristo ...” e ouvir meia dúzia de pessoas responderem com um amenzinho anêmico.

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Nosso “Amém”! tem de ser um grito, um clamor de multidão ecoando por todo o universo. É nossa resposta de fé à Palavra de Deus e às maravilhas que o Pai Eterno realizou a nosso favor por meio de Jesus Cristo. Em Ap 3,14 o próprio Jesus é identificado com o “Amém” . “Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, ...”. Lembre-se da Igreja como Corpo de Cristo. É através dos membros dessa Igreja que Jesus responde “Amém” ao Seu e nosso Pai. Estamos na Liturgia. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 40 - A Celebração dos Conteúdos da Fé Cristã 1 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 20 de junho de 2013. Nota: O CIC trata desses assuntos sob o título “A Celebração do Mistério Cristão”. 1.- Introdução Cristo administra os Frutos do Seu Mistério Pascal (1076) Nós já estudamos e expliquei a imagem da Igreja como um corpo vivo do qual Cristo é a cabeça. Já vimos que essa imagem serve para explicar muitos aspectos da estrutura e vida da Igreja. Agora podemos perceber que também serve à perfeição para entendermos a vida sacramental e a vida litúrgica que a Igreja nos propõe. Nosso Catecismo emprega “A ECONOMIA SACRAMENTAL” como título da Primeira Seção sobre Liturgia e Sacramentos. Preferi o título “Cristo Administra ...” porque traduz melhor o termo economia empregado pelo CIC. Como já vimos anteriormente, economia vem do grego e pode ser traduzida como a administração da casa (família). Então podemos imaginar a Igreja como a família de Jesus. Não por acaso Jesus é identificado como Cabeça desta família, a Cabeça administradora de todos os benefícios que Deus Pai tornou acessível, disponível, aos discípulos de Jesus, desde o Seu Mistério Pascal. O que é esse Mistério Pascal? É tudo que há de sobrenatural, de divino, de extraordinário na Paixão, Morte e Ressurreição redentoras de Jesus Cristo. Envolve todo o tesouro de bens, graças e bênçãos do Pai Eterno destinados aos seres humanos que Cristo nos mereceu. Na Igreja Cristo administra e nos ministra (serve) esses bens. Como Jesus age e administra esse tesouro divino na Igreja? Cristo Cabeça da Igreja atua através dos Sacramentos. Agora Liturgia e celebração dos sacramentos são sinônimos. A Liturgia mais elaborada e frequente é a Eucarística (Missa). Mas cada Sacramento tem a sua liturgia. Vamos então começar estudando melhor a Liturgia para depois ocupar-nos mais especificamente de cada Sacramento. 2.- O que é Liturgia? O dicionário (Houaiss) registra “conjunto das formas (palavras, gestos) utilizadas na realização de cada um dos ofícios e sacramentos; rito ...”. Diz que vem do grego, leitourgia que significava “função em serviço público”.

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O CIC também define liturgia. “A palavra liturgia significa originariamente, ‘obra pública’, ‘serviço da parte do povo em favor do povo’. Na tradição cristã ela quer significar que o Povo de Deus toma parte na ‘obra de Deus’ (cf. Jo 17,4). Pela Liturgia, Cristo, nosso Redentor e Sumo Sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa Redenção” (CIC 1069). Não nos esqueçamos que no NT Liturgia também é empregada para anúncio do Evangelho (Rm 15,16) e ações de caridade. Em todas essas situações temos o agir de Deus e dos homens conjuntamente. Em toda prática litúrgica a Igreja age como serva à imagem de seu Senhor, Jesus Cristo, “o único ‘liturgo’, participando do seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio (serviço de caridade)” (1070). Aqui está um dado do tesouro de nossa doutrina capaz de nos mobilizar e converter para uma vivência litúrgica realmente grandiosa, por mais pobres que sejam nossos recursos para celebrações. Elementos humanos misturam-se com elementos divinos, em simbiose, como a da água e do vinho no ofertório. Em nossas liturgias Cristo está em pleno exercício de Sua função de Sumo Sacerdote da Nova Aliança (Hb 8,6.8). Mais uma vez a imagem da Igreja como corpo vivo de Cristo ajuda a compreender o que é uma celebração litúrgica. O Sumo Sacerdote atua através dos membros de Seu Corpo. Por isso entendemos que todo o povo participa desse exercício sacerdotal de Cristo (cf. Fl 2,14-17; SC 7; 9; 10). A sigla SC é a constituição “Sacrossanto Concílio” sobre a Sagrada Liturgia. 3.- Com o que ocupa-se nossa Liturgia? (1066-68) Em linhas bem gerais podemos dizer que a Liturgia ocupa-se basicamente com tudo que envolve nossa Fé em Deus e a História da Salvação da humanidade. Seus pontos altos são os “mistérios da vontade do Pai ao entregar Seu Filho bem-amado e Seu espírito para a Salvação do mundo” (1066). É fácil observar que as maiores festividades no calendário religioso cristão ocupam-se de Jesus Cristo e do Divino ES. (pedir aos presentes para enumerar todas as celebrações do ano relacionadas a Cristo e ao ES). De resto, a celebração dos sacramentos, principalmente da Eucaristia, tem a contínua atuação do Cristo como Cabeça da sua Igreja no dia a dia e na história de cada indivíduo como membro dessa Igreja, no qual Cristo exerce Sua ação salvadora. (pedir aos presentes para fazer o mesmo em relação aos diversos sacramentos na sua vida). Por fim, a Liturgia tem como objetivo contribuir para que os fiéis, por sua vida, possam exprimir e manifestar aos demais o Mistério de Cristo e a natureza da verdadeira Igreja (cf. 1068). 4.- A Liturgia Alimentadora da Vida Cristã (CIC 1071-75) Como já vimos, a Liturgia é o exercício do papel de Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, e o exercício da função sacerdotal de todos os membros de Seu Corpo, a Igreja. Isso tem implicações imensas sobre a vida de cada cristão, na medida em que cada um tenha “uma participação ‘consciente, ativa e frutuosa’” (1071, citando SC 11). Mas para que isso ocorra é necessário que a Liturgia seja “precedida pela evangelização, pela Fé e pela conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o compromisso com a missão da Igreja e o serviço de sua unidade” (1072). Podemos agora resumir as condições para participação na “Grande Liturgia” de Cristo Sumo Sacerdote. Cada fiel precisa: deixar-se evangelizar continuamente, ter Fé, e estar em constante conversão. Os frutos, expressos como vida nova segundo o Evangelho, podem ser vivenciados como alegria profunda de ser cristão e membro celebrante desta Igreja de Cristo; reforço da diária evangelização (no sentido de deixar-se evangelizar) e diária conversão (no sentido de o barquinho de sua vida estar constantemente sendo orientado para o Cristo-Norte). Podemos concluir quea Igreja celebra a Salvação de Deus através de Jesus Cristo e cada indivíduo participante vivencia essa Salvação que age, aqui e agora, em sua vida. Podemos também dizer que a Liturgia é participação de todos na grande oração de Cristo dirigida ao Pai no ES” (1073). Todo cristão sabe que ele precisa tornar-se uma pessoa de oração, segundo as instruções do

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Cristo, que nos estimula a orar sempre. Nosso ser interior que constitui o “homem novo” em gestação, cria raízes e firma-se na vivência litúrgica (Ef 3,16-17). Qual é esse elemento alimentador que o homem interior aí encontra? É o “grande amor com o qual o Pai nos amou” (Ef 2,4) em Jesus Cristo. Cristo é sempre o centro de nossas celebrações. Ele é Aquele a quem celebramos e é, ao mesmo tempo, o Sumo Sacerdote celebrante! Sobretudo a Eucaristia constitui a grande oração da Igreja que se eleva aos Céus, diariamente, em todas as horas, nos diversos recantos da Terra. A Liturgia é a constante Ação-de- Graças por tudo o que Deus realizou no Seu plano de salvação para nós, através de Jesus Cristo. Amém! Para terminar essa introdução à Segunda Parte do Catecismo Católico não podemos deixar de fazer um apelo à catequese. Em primeiro lugar, todo cristão adulto precisa convencer-se que a catequese é nosso recurso permanente para nos instruir continuamente a respeito de Deus, de Sua Salvação conseguida através de Jesus Cristo e da ação contínua do ES. A catequese nunca termina em nossa vida. É como o ar que respiramos. A Liturgia é o ponto de partida onde a Igreja encontra toda a sua força e ao mesmo tempo é o ponto de chegada para toda a sua ação (cf. SC 10). É semelhante ao próprio Cristo apresentado como Alfa e Ômega para todos. As celebrações dos Sacramentos devem ter lugar privilegiado numa contínua ação catequética. É através dos sacramentos que Cristo continua, até o fim dos tempos, a atuar em sua Igreja para a plena transformação dos seres humanos. Esta atuação de Cristo tem de ser focalizada continuamente em nossas celebrações para o crescimento de todos nós em Cristo. Mais para frente estudaremos melhor sacramento por sacramento e talvez façamos a pergunta porque algumas celebrações chegaram a situações tão lamentáveis. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 41- A Celebração dos Conteúdos da Fé Cristã 2 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 27 de junho de 2013. A LITURGIA CELEBRA E VIVE A OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE (1077-1112) 1.- O Pai, Fonte e Fim da Liturgia (1077-83) Comecemos explicando, brevemente, o título para esta aula. Nós aprendemos que tudo o que atribuimos como ação de Deus é sempre entendido como atribuído às Tres Pessoas Divinas: Pai, Filho e ES. Não são tres atores independentes e individualizados. Já vimos, a ação de Deus é sempre colegiada. As Tres Pessoas atuam conjuntamente. Mas, em parte para efeito didático, a gente atribui funções a esta ou aquela Pessoa, correndo contudo o perigo de que se entenda tratar-se de ações específicas de uma ou outra Pessoa Divina. Assim nós falamos que o Pai é fonte e fim da Liturgia. Para começar ouçamos São Paulo. “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos Céus, em Cristo. Nele escolheu-nos, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante Dele no Amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade para louvor e glória de sua graça, com a qual Ele nos agraciou no Bem-amado” (Ef 1,3-6). Nosso já citado dicionário registra o que o povo entende por bênção: “invocação (...) da graça de Deus para alguém ou algo; voto de felicidade ou proteção divina formulado em favor de alguém; graça concedida por Deus”.

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Voltando ao nosso Catecismo, encontramos: “Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao mesmo tempo palavra e dom (benedictio, eulogia; pronuncie eulóguia). Aplicado ao homem, esse termo significará a adoração e a entrega ao seu Criador, na ação de graças” (1078). É fácil perceber que as duas fontes citadas concordam. Nós humanos podemos apenas invocar ou desejar a bênção sobre alguém, pois o único a abençoar de fato é Deus. A bênção implica em comunicar benefícios, dos quais o maior é a vida e esta, de preferência, para sempre. Só Deus é o Senhor da vida. Bênção de Deus envolve a concessão de seus dons. E qual é a essência da nossa maior celebração litúrgica, a Eucaristia? Ela significa exatamente “ação de graças”. Ação de graças porque? Por tudo que Deus Pai fez de bem (comunicação de dons divinos) para a espécie humana através de Jesus Cristo. Boa parte dos escritos do AT ocupa-se de Deus concedendo suas bênçãos à Criação, aos primeiros pais, aos patriarcas, ao Povo Eleito, principalmente através da Aliança com Moisés. Envolve vários nascimentos extraordinários (vamos lembrar alguns?). O NT é uma espécie de tsunami divino de bênçãos. Podemos juntos lembrar as bênçãos principais... . Na liturgia da Igreja as bênçãos de Deus são reveladas (lidas) e comunicadas aos celebrantes (todos nós). O Pai é a fonte de todas as bênçãos e a Ele a ação de graças é dirigida. “ O Pai é reconhecido e adorado como fonte e fim de todas as bênçãos da Criação e da Salvação; em seu Verbo encarnado, morto e ressuscitado por nós, Ele nos cumula com suas bênçãos, e por meio Dele derrama em nossos corações aquele dom que contém todos os dons: o ES” (1082). A Liturgia é Resposta de Fé e Amor a Todas as Bênçãos com as quais o Pai nos agracia (Cf 2Cor 9,15; Ef 1,6). Na Liturgia a Igreja oferece seus dons e pede que o Pai envie o ES sobre esses dons, sobre seus fiéis e sobre o mundo inteiro. Da nossa parte respondemos bendizendo o Pai com adoração, louvor e ação de graças. 2.- A Ação de Cristo na Liturgia (1084-90) Aqui cada frase é uma sentença de importância máxima para nossa vida em Cristo. Cristo foi elevado à direita do Pai (glorificação). “Derramou” o ES sobre Seu Corpo, a Igreja. Mas não se afastou da Igreja, pois Ele é a Cabeça deste Corpo vivo. Cristo ministra (serve) as graças do Pai através dos Sacramentos. Na medida em que existe cooperação humana os sacramentos realizam as graças que eles significam pela ação de Cristo e pelo poder do ES. Como já vimos, o núcleo central que desencadeia tudo é o Mistério Pascal de Cristo. Por Ele:  fomos perdoados dos pecados;  fomos reconciliados com o Pai;  Nova Aliança foi selada conosco;  a vida eterna, a maior de todas as bênçãos, nos foi concedida;  em resumo, fomos salvos;  inumeráveis outras graças (bênçãos) nos foram concedidas (vamos lembrar algumas?). O Mistério Pascal tem características históricas únicas. “Quando chegou sua hora (Cf. Jo 13,1; 17,1), viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita dentre os mortos e está sentado à direita do Pai ‘uma vez por todas’ (Rm6,10; Hb 7,27; 9,12). É um evento real, acontecido em nossa história, mas é único: todos os outros eventos da história acontecem uma vez e passam, engolidos

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pelo passado. O Mistério Pascal de Cristo, ao contrário, não pode ficar somente no passado, já que por sua morte, e tudo que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e neles se mantém presente. O evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida” (1085). Realmente, na celebração, sobretudo a Eucarística, o passado, o presente e o futuro misturam-se e são vivenciados aqui e agora. Isto é uma celebração litúrgica consciente! Outro tema fundamental da liturgia liga-se ao fato de que como Jesus foi enviado pelo Pai, Ele enviou seus Apóstolos, cheios do ES, para anunciar o Evangelho (levar os ouvintes a resumir o básico da Boa Nova...) mas também para realizar aqui e agora a obra da Salvação através da Celebração Eucarística e dos demais Sacramentos (Cf SC 6). Esse processo de salvação é posto em ação - e não só anunciado - na prática litúrgica da Igreja porque Cristo ressuscitado, além de dar o ES, confere a ela o poder de santificar (Cf Jo 20,21-22). Esse poder de santificar é estendido por Cristo também aos sucessores dos Apóstolos. Assim, em todos os tempos, em cada geração, o processo da Salvação pode atingir a todos os que se engajam com Cristo pela Fé. Além de ter delegado esse poder de santificar à Igreja, Ele mesmo está presente, e como Cabeça da Igreja, atua através dos ministros celebrantes na missa e nos demais sacramentos. O Cristo outrora se ofereceu ao Pai na cruz. É o mesmo que agora oferece o sacrifício eucarístico através do ministério dos sacerdotes. “ Quando alguém batiza, é o Cristo mesmo que batiza” (1088). Está também presente quando a Igreja e salmodia, segundo prometera: “Onde dois ou tres estiverem reunidos ...” (Mt 18,20; cf. SC 7). Por isso, nossas celebrações precisam ser de tal natureza que Deus seja plenamente glorificado e as pessoas santificadas e a Igreja exerça seu papel de esposa dileta unida ao Seu Cristo. Não nos esqueçamos que a liturgia perfeita e eterna celebra-se na “Casa do Pai”, a Jerusalém Celeste (Cf. SC 8; Ap 21,2-7; Cl 3,1; Hb 8,2; Fl 3,20; Cl 3,4). Nosso Catecismo, recorrendo a um feliz recurso didático, formou uma frase que serve para destacar quatro partes do ítem Cristo na liturgia e constitui ótimo resumo. “CRISTO GLORIFICADO ...A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS ...ESTÁ PRESENTE NA IGREJA TERRESTRE ...QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE”. 3.-O ES na Liturgia 3.1- O ES é o Pedagogo da Igreja em liturgia (1091-92) Em João 16, 13 Jesus nos diz: “Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos guiará em toda Verdade”. O ES tem a função de garantir que, unidos à Igreja celebrante, tenhamos acesso e compreensão de toda Verdade que Jesus nos trouxe. - Fazer apelo à Catequese - mas esse acesso à Verdade de Jesus não é só uma coisa racional, um conhecimento. O ES quer nos levar a participar da vida de Cristo ressuscitado. Na medida em que formos capazes de dar respostas de fé às mais diversas situações de nossa vida, olhando para Cristo ressuscitado, estabelecemos verdadeira cooperação com o ES. Então a Liturgia torna-se atuação comum do ES e nossa. Como outrora, o ES nos prepara para o encontro com Cristo e rege toda nossa vivência litúrgica transformadora, na medida em que estamos em sintonia com Ele e com Ele cooperamos. “Finalmente, como Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo (1092). 3.2 - O ES Prepara a Acolhida a Cristo (1093-98) Este parágrafo nos remete à História da Salvação. A Igreja é o novo Povo de Deus. Do antigo Povo de Deus, Israel, ela aceita como seus alguns elementos do culto. Em todos os domingos e maiores festas temos leituras do AT. Oração ou cântico de salmos ocorrem na liturgia de todos os sacramentos, principalmente nas missas. Os salmos são o principal nos ofícios divinos. As partes mais importantes do AT na Liturgia Católica são as que tratam de eventos salvadores, com destaque para aquelas realidades que irão realizar-

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se no cristianismo pelo Mistério de Cristo: a Promessa, a Aliança, o Êxodo, a Páscoa, o Reino de Deus, o Templo, o Exílio e a volta dele. Na verdade há uma harmoniosa continuidade entre A e NT. A isto recorre Jesus na Sua catequese de Páscoa para os discípulos de Emaús (Lc 24,13-49). Nas pregações de Pedro e de Paulo recorrer ao AT é comum. Muitos elementos do AT são entendidos pelos Apóstolos e Padres da Igreja como “tipos” ou “figuras” a anunciar fatos futuros. Assim a salvação de Noé e família nas águas do dilúvio “prefigura” a água salvadora do batismo. Lendo 1 Cor 10, 1-6 vemos que São Paulo faz isso com a água do rochedo, a travessia do Mar Vermelho, vendo aí dons espirituais de Cristo. O próprio Cristo fez a transição do maná para “o verdadeiro Pão do Céu” (Jo 6,32). Na Nova Aliança toda ação litúrgica é um encontro entre Cristo e Sua Igreja, entre Cristo e cada um de nós. Aí com Cristo-Cabeça formamos um só corpo vivo, unido e único. Os laços que nos unem são infinitamente mais importantes que todos os laços sociais e os familiares-de-sangue. É tudo e só “por Cristo, com Cristo e em Cristo”! Aqui faz-se necessário um apelo para que a assembléia prepare-se para se encontrar com seu Senhor na condição de “um povo bem disposto” (Lc1,17). Nós, a assembléia, podemos contar com a ajuda do ES se nos colocarmosem sintonia com Ele e O invocarmos. Cf. LG 2; DV 14-16; 2Cor 3, 14-16; 1Pd 3,21 (DV= Constituição Dogmática “Dei Verbum” { A Palavra de Deus} sobre a Revelação Divina). 3.3 - O ES Recorda o Mistério de Cristo (1099-04) Aqui está mais uma possível definição de Liturgia. “Liturgia é Memorial do Mistério da Salvação” (1099). Já explicamos o que é um memorial para nós. Não é um simples monumento, ou uma data festiva a comemorar grandes eventos do passado. Na realidade da Igreja, ao celebrarmos o passado, o personagem principal faz-se, de novo, realmente presente, é o celebrado e celebrante ao mesmo tempo. “O ES é memória viva da Igreja” (1099; cf. Jo 14,26) e o Pedagogo. A Igreja Católica dá tal às leituras bíblicas que chama toda a primeira parte da missa de “Mesa da Palavra”. Nela o nosso ser cristão (o homem novo) alimenta-se também de Cristo (cf. SC 24). Para que sejamos bem alimentados com o pão da palavra de Deus, necessitamos ter boa compreensão de seus conteúdos. Se tivermos boa disposição no coração, podemos contar com a ajuda do ES. “Ele nos ensinará toda a verdade”! Se nos entregarmos de alma e coração à vivência dos Mistérios ouvidos e celebrados, então o ES põe-nos em relação viva com Cristo. Desta forma os fiéis podem incorporar em sua vida “o sentido daquilo que ouvem, contemplam e fazem na celebração” (1101). É a Palavra da Salvação que alimenta a Fé no coração dos que celebram. Mas, atenção! O anúncio da Palavra não é apenas um ensinamento. A Palavra precisa de uma resposta de Fé na forma de consentimento e compromisso. Também a Fé é graça, dom do ES. Mas isso também depende de nossa disposição de coração e busca e constante de sintonia com o mesmo Espírito. Em boas celebrações a comunidade cresce e se fortifica. Não podemos esquecer que as celebrações litúrgicas sempre tem como seu objeto “as intervenções salvíficas na história” (1103). Na Liturgia da Palavra o ES “recorda” tudo o que Cristo fez por nós. Numa aula anterior eu dizia que o ES é como um arquivo vivo a atuar na Igreja. Nosso Catecismo anamnese. Na linguagem da saúde qualifica-se por este termo pormenorizado passado de um paciente que deverá servir para entender melhor os seus problemas atuais. Aqui temos uma anamnese positiva, a memória viva de tudo que Deus fez por nós! Isso nos deve levar à doxologia, ou seja, à expressão de graças e de louvores. 3.4- O ES Atualiza o Mistério de Cristo (1104-09)

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A Liturgia recorda os acontecimentos que nos salvam. Mas, além disso, torna tais fatos salvadores novamente presentes. Mas cuidado para fazer confusão. “O Mistério Pascal de Cristo é celebrado, mas não repetido” (1104). Cristo não sofre, morre e ressuscita novamente. Mas, ressuscitado e unido à sua Igreja, Ele é o Sumo Sacerdote que torna o Mistério presente e novamente se oferece ao Pai. Destaque especial merece a oração chamada EPICLESE (invocação sobre). “Mandai Vosso ES, a fim de que as nossas ofertas se mudem no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”. E o povo concelebrante responde: “ Mandai Vosso Espírito Santo” (Oração Eucarística V). O celebrante pede ao Pai que Ele envie o ES. Ele transformará nossas ofertas de pão e vinho numa oferta nova, agora de valor infinito, o Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Vejam o papel do ES na Liturgia. É dele o poder transformador. Não fosse assim, continuaríamos, com no AT, a oferecer nossos pobres produtos materiais a Deus. Agora participamos de um sacrifício que nos faz antecipar uma comunhão plena com a Santíssima Trindade. Trata-se de uma antecipação da Liturgia Celeste. O ES enviado pelo Pai pela epíclese da missa dá vida aos que O acolhem e nos marca com um selo de garantia como pessoas salvas para a “o dia do Senhor” (cf, Ef 1,14; 2Cor 1,22). Em toda a ação litúrgica o ES coloca-se em comunhão com Cristo para formar e fazer crescer o Corpo de Cristo, a Igreja. Isso lembra Sua Ação no seio de Maria. O ES é a seiva da Videira do Pai pela qual ela cresce (Jo 15,1-17; Gl 5,22). É na Sagrada Liturgia que o ES atua em mais perfeita comunhão e cooperação com a Igreja de Cristo. A epiclese é também oração para que os fiéis alcancem os plenos efeitos espirituais de nossa comunhão com o Mistério de Cristo. Agora nos vem à mente a saudação inicial do celebrante à Assembléia: “a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus Pai e a comunhão do ES” (2Cor 13,13). Entregando-nos vivencialmente a esta realidade temos a garantia que os frutos de salvação e santificação irão estender-se para muito além da celebração eucarística. Por fim, a Igreja pede ao Pai que o ES nos seja enviado para que nossa vida, passando por uma transformação espiritual à imagem de Cristo (“revestir-se de Cristo”), seja também apresentada ao Pai como uma oferenda viva. Agora estamos prontos para ser enviados ao mundo para testemunhar a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, testemunhar que participamos de Sua Missão pelo serviço da caridade. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 42- A Celebração dos Conteúdos da Fé Cristã 3 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 01 de agosto de 2013. O Mistério Pascal dos Sacramentos da Igreja (CIC 1113-1130) 1.- Introdução Para podermos entender bem o que são os tão falados Sete Sacramentos e poder gostar de viver seus conteúdos durante a nossa existência - o que é mais importante - precisamos partir da Páscoa de Jesus Cristo pela qual é firmada a Nova Aliança. A Nova Aliança concretiza-se na Igrejade Jesus Cristo. A Igreja nasce no Pentecostes, mas é concebida e gestada na Páscoa de Jesus. Mais uma vez vamos à figura da Igreja como Corpo Vivo do Cristo.

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Os Sete Sacramentos, Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio são a celebração (Liturgia) dos Mistérios que regem a vida dos fiéis nesta Igreja. Além da celebração litúrgica dos Sete Sacramentos, temos aquilo que é ainda mais importante, a vivência prática dos Mistérios contidos e significados por todos eles. Esses Mistérios da vida em Cristo, do nascer (Batismo) à grande Liturgia celeste, na Casa do Pai são celebrados tendo em vista uma comunhão cada vez mais estreita e harmoniosa entre todos os fiéis (membros do Corpo de Cristo) e a comunhão entre estes e o Cristo-Cabeça. 2.- Os Sacramentos da Igreja e os Sacramentos de Cristo (1114-21) Em primeiro lugar, nossa Igreja, Mãe e Mestra, sem deixar margem para dúvidas, afirma que todos os Sacramentos da Nova Lei foram instituídos por Jesus Cristo (citando o Concílio de Trento).

Quando abordamos cada um dos Sacramentos, devemos acentuar e explicar porque a Igreja insiste nessa origem crística deles. Nosso Catecismo lembra que “as palavras e ações de Jesus já eram salvíficas” (1115). Elas são os fundamentos daquilo que agora acontece nos Sacramentos. Não podemos esquecer que Cristo continua a agir na Sua Igreja através de Seus ministros. “Os Sacramentos são ‘forças que saem’ do Corpo de Cristo (Lc 5,17; 6,19; 8,46), sempre vivo e vivificante; são ações do ES operante no Corpo de Cristo, que é a Igreja; são ‘as obras-primas de Deus’ na Nova e Eterna Aliança” (1116). Jesus prometeu que o ES haveria de conduzir a Igreja à “verdade plena” (Jo 16,13), que é seu verdadeiro tesouro. Ela levou alguns séculos para organizar o cânon das Sagradas Escrituras e definir os elementos básicos indispensáveis de sua doutrina sobre a natureza da pessoa de Jesus Cristo. O mesmo processo aconteceu com os Sete Sacramentos. Claro, os Sacramentos de Cristo são os mesmos da Igreja. É ela que atualiza e ministra esses Sacramentos a seus membros e ela própria se beneficia e cresce através deles. “Os Sacramentos fazem a Igreja” (1118, citando Santo Agostinho e São Tomás de Aquino). Voltando à figura da Igreja como Corpo do Cristo, na celebração dos Sete Sacramentos “a Igreja age como ‘comunidade sacerdotal, organicamente estruturada’”(1119, citando LG 11). Relembrando que pela participação de todos os fiéis no Corpo Vivo de Cristo que é a Igreja, eles todos participam de tudo que Cristo partilha com Seus discípulos. E Cristo partilha tudo, inclusive Seu Sacerdócio, como vimos em aula anterior. Por isso alguns sacramentos intervém mais diretamente na “estruturação orgânica” da Igreja. Assim, o Batismo e a Confirmação conferem a unção no ES pelo óleo santo. São, à semelhança do Cristo, ungidos do Senhor. Participam de modo especial do sacerdócio do Cristo e tornam-se aptos para celebrar a sagrada Liturgia. “Por outro lado, certos fiéis, ‘revestidos de uma ordem sagrada, são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da Palavra e da Graça de Deus’”(1119, cit. LG11). Estamos falando da Ordem, conferida em três possíveis níveis (diáconos, presbíteros e bispos). Todos os ordenados também são ungidos no ES. A Igreja sempre disse que esses três Sacramentos conferem um caráter sacramental, uma espécie de “selo” ou carimbo irremovível e eterno. Por isso nunca podem ser repetidos (1121). 3.- Os Sacramentos da Fé (1122-26)

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A pregação básica ordenada por Jesus a Seus Apóstolos devia visar basicamente duas coisas: o arrependimento para receber o perdão divino dos pecados (Lc 24,47); fazer de todos os arrependidos (convertidos) discípulos Dele, “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do ES” (Mt 28,19). Observemos que o Batismo é o ato essencial para que o perdão seja concedido e declarado por Deus e para que o convertido faça-se discípulo de Jesus. É exatamente o que entendemos por Sacramento, um rito que envolve coisas visíveis, tocáveis, materiais, e pessoas concretas em atuação livre, conscientes e com Fé que sancionados por Deus comunicam Sua Graça, Sua Vida. Batizar é uma missão sacramental e de evangelização. Sua celebração é preparada pela Palavra de Deus e supõe a aceitação desta Palavra pelo batizando. Então podemos dizer: “O Povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus Vivo. ( ... ) A Proclamação da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra” (1122, cit. PO 4. PO=Presbyterorum Ordinis, ou seja, Sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros). Consequentemente podemos visualizar o seguinte quadro em sequência. -A Palavra de Deus gera a Fé. - A Fé ilumina toda realidade (Mistérios). - Cristo age através de Seus ministros, gerando os Sacramentos. - O Batismo é celebrado, comunicando a Graça e a Vida Divinas, gerando novos filhos para a Igreja. - Outros Sacramentos alimentam e fortalecem a vida dos que já fazem parte desse Corpo Vivo de Cristo. Como os Sacramentos são sinais perceptíveis aos sentidos, eles servem para a instrução dos fiéis e realimentam a Fé já presente no início. Mas estou profundamente convencido que essa realimentação da Fé e da vida interior da Graça depende principalmente do cultivo e da vivência, no dia-a-dia, das qualidades e graças supostas pelos Sacramentos, por parte daquele que recebeu o Sacramento celebrado. Isso supõe o exercício diário da escuta da Palavra, da oração e meditação, bem como o exercício da ascese cristã. Sem essas práticas podemos tornar a celebração repetida de Sacramentos em práticas quase inúteis. Sim, nós podemos frustrar a Graça de Deus em nós. Mas é importante chamar a atenção para algumas das orações mais lindas e inspiradoras de todos os tempos que a Igreja nos oferece sobretudo na celebração da Eucaristia. A participação frequente, de forma a envolver conscientemente todo nosso ser, é de importância única para o crescimento dos membros de Cristo! Por causa da importância que a Igreja dá à vida dos Sacramentos, vamos reproduzir aqui o n. 1125 de nosso Catecismo. “É por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia”. 4.-Sacramentos da Salvação (1127-29) Nesta unidade abordaremos um assunto difícil e espinhoso. Ocorrem vários sinais contraditórios. De um lado a Igreja afirma que os Sacramentos são eficazes e produzem necessariamente aquilo que significam. Muita gente afirma que pelo simples fato de participar de um Sacramento, a pessoa torna-se mais santa. Por outro lado podemos perceber que pode acontecer a pessoas assíduas na vida sacramental, praticamente não avançar em sinais concretos de vida cristã, como prática da caridade na convivência do dia-a-dia e o exercício do perdão. Então a pergunta vem: “seus Sacramentos servem para que”? Dada a importância única para a vida cristã de todos nós, vamos ao Catecismo.

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“Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes porque neles age o próprio Cristo; é Ele quem batiza, é Ele quem atua em seus sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo transforma nele mesmo tudo que toca, o ES transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder. Este é o sentido da afirmação da Igreja: os sacramentos atuam ex opere operato (literalmente: ‘pelo próprio fato de a ação ser realizada’), isto é, em virtude da obra salvífica de Cristo, realizada uma vez por todas”(1127-28). Vamos comentar o texto. Em primeiro lugar o Catecismo diz: “Celebrar dignamente na Fé”. Então não se trata de celebrar de qualquer jeito. É dignamente na Fé! Não podemos esquecer que Fé não é só crença; é engajamento, ou decisão de engajar-se na obra de Cristo! Por incrível que possa parecer, por mais perturbador que soe aos nossos ouvidos, estas condições pessoais na celebração dos Sacramentos é mais importante da parte do fiel do que da parte do ministro celebrante. Deus, na sua infinita bondade, para não correr o risco de frustrar seus filhos em coisas tão importantes como a vida de santificação, garante que se o discípulo de Seu Filho tiver as condições subjetivas para a celebração deste ou daquele Sacramento, seus frutos serão alcançados pelo fiel. Para garantir que Seus filhos sejam bem atendidos em suas necessidades espirituais, a eficiência dos Sacramentos não dependem de possíveis indisposições ou misérias do ministro celebrante. É o ES quem atua através do celebrante. Então a eficácia do Sacramento depende somente do poder do ES e das disposições pessoais daqueles que o recebem. Podemos abrir aqui espaço para a participação dos ouvintes... Voltando, lemos acima: “na epiclese de cada Sacramento (a Igreja) exprime sua Fé no poder do ES”. É Cristo a Cabeça da Igreja que tudo rege pelo ES. Só não invade o íntimo de ninguém. Mas sabe contornar as misérias e deficiências de seus ministros. Agora podemos entender a afirmação que os Sacramentos agem “ex opere operato”, ou seja, “ pelo próprio fato de ser realizado”. No principal, a Igreja afirma que é o poder de Deus que atua, e não nosso poder. O Catecismo diz com toda clareza que “os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem os recebem”. 5.- O Sacramento da Vida Eterna (1130) A Vida cristã é profundamente marcada pela expectativa do futuro. Está voltada para a eternidade. Afinal, Salvação é sinônimo de Vida Eterna. Isso é marca de Jesus. “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco... até que ela se cumpra no Reino de Deus”(Lc 22,15-16). Está celebrando a ceia pascal judaica e Sua mente já está em plena celebração celeste e eterna na Casa do Pai. Aliás, apenas terminara a última ceia segundo João, Jesus fala aos apóstolos. “Não se perturbe vosso coração (sua prisão se dará em algumas horas)... Na Casa de Meu Pai tem muitas moradas...pois eu vou preparar-vos um lugar”(Jo 14,1-2). É impossível celebrar Deus sem invocar a eternidade! É também impossível crer e pensar na Salvação sem pensar na vida eterna.

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Depois o tema da vinda gloriosa de Cristo esperada para acontecer em pouco tempo, era lembrado constantemente pela Igreja nos seus inícios. Na celebração da Ceia de Jesus narrada por São Paulo, o registro mais antigo do evento, Jesus diz: “...anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”(1Cor 11,26). Na mesma epístola, mais para frente, quando São Paulo aborda a ressurreição dos mortos, ele vê a apoteose final quando tudo estiver sujeito ao reinado de Cristo “a fim de que Deus seja tudo para todos”(15,28). Temos ainda a Liturgia Celeste descrita no Apocalipse. Passado, presente e futuro estão entrelaçados na Liturgia dos Sacramentos. Por isso São Tomás de Aquino fala que o Sacramento rememora, demonstra e prenuncia. Rememora “aquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo”. Demonstra “aquilo que em nós é realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a Graça” e prenuncia a glória futura”(CIC 1130, cit. S.Th. III, 60,3). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 43- A Celebração dos Conteúdos da Fé Cristã 4 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 08 de agosto de 2013. ASPECTOS GERAIS DA CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTOS. (CIC 1135-1206) 1. Quem Celebra? (1136- 44). Voltamos sempre de novo à figura da Igreja Corpo e Cristo Sua Cabeça. Em toda a celebração sacramental o ‘Cristo todo’ está em ‘ação’. Na grande Liturgia do Apocalipse, a Liturgia Eterna, o único sacerdote o ‘Cordeiro imolado e de pé’ (ressuscitado). Aconselho a leitura de Hebreus 4, 14-15; 5, 5-6; 7, 26-27; 9, 11; 10, 19-21. Em nossa pobre liturgia sacramental, mesmo naquela em que apenas duas pessoas participam, quase às escondidas (confissão), quem realmente absolve, quem atua é Jesus Cristo. Por outro lado não podemos esquecer que Cristo não age sozinho, isolado de Sua Igreja. A igreja forma com Ele um só Corpo. Por isso, embora Ele seja o Único Sacerdote, partilha seu sacerdócio com todos os membros de Seu Corpo, a Igreja, e é a Igreja toda que celebra. Todo o batizado que está em comunhão com Cristo e em comunhão com sua Igreja participa também do sacerdócio de Cristo. Esta comunidade celebrante precisa ser lembrada, incentivada e posta em prática. “É por isso que ‘todas as vezes que os ritos, de acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com assistência e participação ativa dos fiéis, seja inculcado que, na medida do possível, ela dever ser preferida à celebração individual ou quase privada’” (1140; SC 27). Proponho a participação dos alunos numa conversa sobre a realidade de nossas celebrações ... . Concluímos que a assembléia celebrante é composta exatamente pela comunidade dos batizados em comunhão com Cristo e com a Igreja. É o exercício do assim chamado “sacerdócio comum dos fiéis”, direito adquirido por todo aquele (aquela) que foi ungido com o ES no Batismo e na Confirmação. Na verdade, é um e único sacerdócio de Cristo partilhado e participado por todos (cf. LG 10; PO 2). 2. Como Celebrar? (1145-62) 2.1- Recorrendo a Sinais e Símbolos (1145-52). Desde quando o homem aprendeu a rabiscar as primeiras figuras em paredes de cavernas, sinais e símbolos são importantes para a espécie humana, e a Igreja, sabiamente, e inspirada pelo ES, soube recorrer a esses elementos de comunicação fundamentais da cultura humana. Símbolos materiais podem exprimir realidades espirituais. Gestos e ações podem ser verdadeira linguagem, e exprimir também conteúdos importantes de nossa relação com Deus. Na verdade, Deus fala através da criação de todo o

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universo. Tudo fala de Deus distante pela Sua grandeza e transcendência e, ao mesmo tempo, em tudo presente pelo Seu amor e simplicidade. “Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam o seu culto a Deus” (1148). No AT o Povo Eleito (Israel) recebe de Deus sinais e símbolos que marcam sua vida litúrgica. Na verdade, eles exprimem a Aliança celebrada entre Deus e Seu Povo através de Moisés e Aarão, e são um memorial dos grandes feitos de Javé em favor de Seu Povo. Podemos lembrar: circuncisão, unção e consagração de reis e sacerdotes, imposição de mãos, sacrifícios de diversos tipos e significados e a solene Páscoa. A Igreja sempre viu neles sinais precursores dos sacramentos da Nova Aliança. Jesus recorre constantemente em suas pregações a elementos da Criação para representar aspectos importantes do significado daquilo que anuncia. A Palavra de Deus é a semente que cai nos mais diversos tipos de terreno. O Reino de Deus é comparado a uma rede de pesca; a uma semente minúscula destinada a crescer; é um campo semeado com trigo e joio; e a imagem do tesouro de valor incalculável escondido ... . Vocês ouvintes podem trazer mais exemplos que ocorrem em suas curas. Como ponto alto desses fatos Jesus dá um novo sentido aos sinais da Antiga Aliança, principalmente à Páscoa, “por ser Ele mesmo o sentido de todos esses sinais” (1151). A própria Antiga Aliança era apenas prenúncio da Nova e definitiva Aliança firmada na cruz. Por isso Ele é o Cordeiro de Deus ... . Os sinais materiais dos sacramentos, desde Pentecostes, quando os primeiros cristãos foram lavados na água do batismo, são os meios pelos quais o ES santifica os membros da Igreja. Ao mesmo tempo os Sacramentos “prefiguram e antecipam a glória do Céu” (1152). A Igreja nos diz que já vivemos aqui realidades celestes. 2.2- Recorrendo a Palavras e Ações (1153-55). Uma das características mais ricas e belas do ser humano é sua capacidade de comunicar-se pela palavra. Deus chega até a revelar-se como a Palavra Encarnada. Nas celebrações sacramentais sempre há um encontro dos filhos com o Pai em Cristo e no ES. Como em qualquer oração, esse encontro dá-se por um diálogo. Deus também fala aos humanos. Conhecemos Sua Palavra que é parte integrante de toda celebração sacramental. Sobretudo na Liturgia Eucarística, a Palavra é recurso para a celebração e Ela própria é celebrada e respondida. Ela é percebida como alimento da Fé. Por isso falamos em ‘Mesa da Palavra’. E as maravilhas de Deus realizadas em nosso favor e proclamadas pela Palavra realizam-se, “materializam-se” na celebração dos Sacramentos. 2.3 Canto e Música (1156-58). Não precisamos falar aqui da riquíssima tradição musical da Igreja. Já no AT temos muitas referências a salmos e hinos cantados e acompanhados ao som de instrumentos musicais e, eventualmente, até de danças. Santo Agostinho cunhou a frase sempre repetida: “quem canta reza duas vezes”. Canto e música sempre fazem parte da riqueza cultural artística do Povo de Deus. Nosso Catecismo dá três critérios principais para essa expressão cultural: “a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da celebração” (1157). Isso pode ajudar na formação de nossa consciência litúrgica, na escolha e aceitação de cantos e instrumentos musicais em nossas celebrações. Por fim, o Catecismo citando Sacrossanto Concílio (SC), n. 121, nos afirma: “os textos destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica sendo até tirados de preferência das Sagradas Escrituras e

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das fontes litúrgicas. Somos também lembrados que existem rubricas a serem observadas (SC 118). Comentários ... . 2.4- Santas Imagens (1159-62). “A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela Palavra. Imagem e Palavra iluminam-se mutuamente” (1160). Por ícone aqui entendemos qualquer representação artística da divindade ou de temas religiosos e sagrados. Como Deus encarnou-se em Jesus, então a iconografia divina ocupa-se de Cristo. Estes ícones de Cristo são o centro de toda a arte litúrgica. Maria é muito representada por razões óbvias. Os santos também aparecem na medida que foram homens evangélicos ou seja, homens críticos. São nossos modelos no seguimento a Jesus. São João Damasceno dizia: “a beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus” (1162). Um comentário que adoramos imagens vai bem ... . 3. Quando Celebrar? (1163-78). A Igreja sempre gostou de celebrar em certos dias fixos a Obra da Salvação realizada por Cristo. A Páscoa, que envolve a paixão, morte e ressurreição de Jesus, é a maior de todas as celebrações. Por isso mereceu um destaque imediato. A Semana Santa, ou a Semana Maior é toda celebrada com grande solenidade. Sua data porém só foi fixada no Concílio de Nicéia (325) e determina que a Ressurreição deve ser marcada no primeiro domingo que segue à primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio da primavera no hemisfério norte. Para nós é outono, que se inicia a 21 de março. Em função da data da Páscoa fixam-se cada ano, no assim chamado Ano Litúrgico, as festas da Ascensão do Senhor, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi e Sagrado Coração de Jesus. Como a ressurreição de Jesus ocorreu no primeiro dia da semana, as primeiras comunidades cristãs começaram a celebrar a Eucaristia a cada primeiro dia das semanas. Lembrar que esse dia começava ao anoitecer do sábado. Logo esse dia passou a ser chamado Dia do Senhor. É o nosso domingo. Assim a Páscoa é celebrada com a maior solenidade uma vez ao ano, mas na verdade, ela também é celebrada em cada missa. Além do que foi dito até aqui, a Igreja celebra várias solenidades durante o ano: 01.01, Maria, Mãe de Deus; 02.02, Apresentação do Senhor; 19.03, São José, Esposo da Virgem Maria; 25.03, Anunciação do Senhor; 24.06, Natividade de São João Batista; 29.06, - para nós domingo seguinte, Apóstolos São Pedro e São Paulo; 06.08, Transfiguração do Senhor; 15.08, ou domingo seguinte, Assunção de Nossa Senhora; 14.09, Exaltação da Santa Cruz; 12.10, para o Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil; 01.11, ou domingo seguinte, Solenidade de Todos os Santos; 08.12, Imaculada Conceição de Nossa Senhora; 25.12, Natal de Nossa Senhor Jesus Cristo. A todo esse conjunto de datas festivas chamamos de Ano Litúrgico. Aqui também vai bem uma discussão sobre o mandamento da Igreja para guardar os Dias Santos... Os principais santos da Igreja, com destaque especial aos mártires e àqueles de grande devoção do povo, são celebrados em suas datas de morte. São os heróis da Igreja, nossos modelos de vida e nossos intercessores junto do Pai. Para evitar que as leituras usadas nas missas repitam-se muito e outras leituras importantes nunca sejam feitas, a Igreja recorreu ao expediente de variá-las e repeti-las não a cada ano, mas de tres em tres anos. Temos então os Anos Litúrgicos A, B e C, em contínua sucessão. Este ano de 2013 é Ano C. A Liturgia das Horas, ou Ofício Divino, destina-se a santificar nossos dias todos. Em geral é recitado ou cantado pelo clero e religiosos. A Igreja deseja que venha a tornar-se oração de todo Povo de Deus. 4.- Onde Celebrar? (1179-86)

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“Em sua condição terrestre, a Igreja precisa de lugares onde a comunidade possa reunir-se: esses lugares são nossas igrejas visíveis, lugares santos, imagens da Cidade Santa, a Jerusalém Celeste, para a qual caminhamos como peregrinos. É nessas igrejas que a Igreja celebra o culto público para a glória da Santíssima Trindade; é nelas que ouve a Palavra de Deus e canta seus louvores, que eleva sua oração e que oferece o sacrifício de Cristo, sacramentalmente presente no meio da assembléia. Essas igrejas são também locais de recolhimento e de oração pessoal” (1198-99). Na verdade, “nós é que somos o templo de Deus vivo” (1179; cf. 2Cor 6,16 e 1Pd 2,5). Os cristãos unidos à sua Igreja e a Cristo Cabeça desta Igreja, onde se reúnem, formam um templo vivo do Senhor. Nas nossas igrejas o altar precisa ocupar lugar bem visível e central. Mas não esquecer que o verdadeiro altar da Nova Aliança é a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso não temos altares sem uma cruz bem visível. A Igreja também recomenda que o tabernáculo com o Santíssimo e o óleo do Santo Crisma, o “sinal sacramental do selo do dom do ES” devem ser localizados em lugares os mais dignos. 5.- Considerações Finais sobre Diversidade Litúrgica e Unidade do Mistério (1200-09) 5.1- Tradições Litúrgicas e Catolicidade da Igreja Aqui apenas nos interessa saber que na medida em que o cristianismo foi conquistando e se firmando em áreas geográficas e de culturas diferentes, a Igreja de Jesus Cristo passou a celebrar os mesmos mistérios da nossa salvação com expressões litúrgicas e de arte sacra diferentes. Por isso surgiram liturgias ou ritos diferentes. A Igreja Católica tem uma atitude de respeito e aceitação desses ritos, desde que sejam históricos e sejam celebrados em seus espaços culturais. A Igreja Católica é uma só mas pode integrar na sua unidade expressões litúrgicas diferentes. Atualmente temos na Igreja Católica o rito latino, expresso principalmente no rito romano. Mas aceitam-se também ritos de certas Igrejas locais, como o rito ambrosiano, ou ritos particulares de certas ordens religiosas. São também aceitos ritos bizantino, alexandrino ou copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu. A Igreja do Vaticano II afirma considerar “como iguais em direito e dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos” (SC 4). 5.2- Liturgia e Culturas “Por isso a celebração da liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos” (1204). Esta postura da Igreja permite ampla margem de elaboração e expressão litúrgicas diferentes para o rito romano que nós adotamos em povos e culturas diferentes. Claro que isso se restringe aos elementos que são mutáveis nas celebrações. De modo geral, toda Liturgia da Palavra, em todos os Sacramentos, pode ter expressões muito diversas. Contudo, temos elementos das celebrações litúrgicas, referentes à expressão dos elementos centrais dos diversos Sacramentos, que são imutáveis. “Na Liturgia, sobretudo na Liturgia dos Sacramentos, existe uma parte imutável - por ser de instituição divina - da qual a Igreja é guardiã, e há partes suscetíveis de mudança, que ela tem o poder e, algumas vezes, até o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados” (1205, citando João Paulo II). Nesse campo, a criatividade inspirada pelo Espírito pode ser muito bem vinda. Contudo, a conversão e a fidelidade aos Mistérios de Cristo podem exigir que se rompam hábitos culturais antigos desse ou daquele povo convertido que sejam incompatíveis com o modo de ser dos discípulos de Jesus.

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ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 44- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 1 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 15 de agosto de 2013. Celebração e Vida dos Sete Sacramentos (CIC 1210-1690). 1. Nossos sacramentos são Sete (1210-11) 1.1- Introdução. Espero não cansá-los com a insistência. Sei que abordei o assunto na Aula 42, nos itens 3 e 4, mas insisto em repisar. Nossa vida sacramenta não se restringe a celebrar e receber sacramentos. Vimos que, em princípio, os sacramentos nos transmitem aquilo que significam, pois quem realmente confere e ministra os sacramentos é Cristo. No entanto vimos que precisamos incorporar em nosso ser, no dia a dia, os mistérios (conteúdos) celebrados. Vimos que temos o poder de frustrar a ação da Graça Divina em nós. Por isso recorri ao título geral para este bloco - celebração e vida ... . 1.2- Instituídos por Cristo, são sete: Batismo, Confirmação ou Crisma, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Podemos voltar à Aula 42, item 2. Então não temos nenhuma dúvida quanto à origem divina dos sacramentos. Quando entendermos melhor cada um dos sete, percebemos que eles tornam a Graça Salvadora de Jesus Cristo presente e atuante em todas as etapas importantes da vida de um cristão comprometido. Podemos dizer que esta Graça Salvadora é a vida de Fé do discípulo. Nos sacramentos tal vida de Fé tem sua origem (nasce), crescimento (supõe alimento), cura e sua missão. Já estamos percebendo certa analogia entre etapas da vida espiritual e etapas da vida natural. Como acontece com a vida natural, a vida espiritual nasce cresce, enfrenta problemas, tais como males e doenças, necessitando então de cura, alimentação substancial e correta. Na vida natural as pessoas tem as mais diversas funções e profissões. São suas missões na família e sociedade. Assim, na vida cristã cada indivíduo tem a missão de fazer-se um discípulo semelhante ao seu mestre Jesus; ser luz do mundo (fazendo os valores de Jesus brilhar nele); amar todos os outros seres humanos como Ele amou. A missão de cada discípulo precisa realimentar-se constantemente, sobretudo pela Eucaristia. Aliás, nosso Catecismo afirma: “Neste organismo a Eucaristia ocupa lugar único por ser ‘Sacramento dos Sacramentos’” (1211). 2- Os Sacramentos da Iniciação Cristã (1212) Como um organismo vivo nasce, tem de alimentar-se para se fortalecer e crescer, algo semelhante acontece com nossa vida espiritual na Graça. Nasce pelo Batismo, se fortalece com a Confirmação e cresce bem alimentado pela Eucaristia. Esses três Sacramentos são chamados Sacramentos de Iniciação Cristã. 3- O Sacramento do Batismo (1213-84) 3.1- Por que esse nome? (1214-16). Antes de nosso batismo cristão já existiam banhos rituais para a purificação simbólica de culpas e de pecados (são ainda muitos frequentes na Índia de nossos dias). Os essênios em Qumran parece que os

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praticavam com grande frequência. João Batista pregava a penitência e aplicava um banho de conversão aos que acorriam a ele no Jordão. O NT refere-se a esse ritual de João como batismo. Às vezes diz especificamente “batismo de João”, para não confundi-lo com o “Batismo em nome do Senhor Jesus”. “Baptízein, em grego, é mergulhar, imergir. O mergulho na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da qual Ele ressuscita como nova criatura” (1214, cf Rm 6, 3-4; Cl 2, 12). Mais uma vez vai bem a imagem que Jesus fez do grão de trigo (Jo 12, 24) que precisa ser enterrado, necessita morrer, para uma nova planta nascer e produzir muitos grãos. Na verdade é sempre um nascer e um renascer, pois a planta do trigo já necessitara morrer para que os grãos pudessem amadurecer e serem colhidos. É bem clara a imagem. O grão é mergulhado na terra, morre, desaparece e, em seu lugar, nasce uma bela planta cheia de vida. O catecúmeno é mergulhado na água. Seu homem velho morre e, no seu lugar, nasce uma nova criatura humana (cf 2Cor 15,17; Gl 6,15). Impossível não visualizar aqui uma morte em Cristo (sepultado) e uma ressurreição. É fácil então compreender que a Igreja diga que batizado morre para o pecado (homem velho). Pecado é o contrário de Graça. A maior das graças que Deus pode nos conceder é o perdão dos pecados e a vida eterna. O homem natural, assim como vem a esse mundo, não tem em si a capacidade, nem o direito de viver eternamente. A vida nova, também chamada de Graça Santificante, é conseguida pelo homem no momento em que é batizado. Autores antigos, às vezes, referem-se ao Batismo empregando outros nomes. São Paulo a Tito (3, 5) fala em “banho da regeneração e da renovação no ES”. É pela água do Batismo que essa transformação se realiza. Mas a água só faz isso pela ação do ES, o verdadeiro agente transformador em todos os sacramentos. São Justino diz: “Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento (catequético) tem o espírito iluminado ...” (CIC 1216). Observem o acento especial que Justino coloca no ensinamento para iluminar o espírito do batizado! É certo que no batismo recebemos o Logos (Verbo), que é “a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1, 9), mas sem o conhecimento do Mistério (conteúdo da Fé) o homem frustra a ação iluminadora deste Verbo-Luz. Instruído e batizado, o ser humano torna-se um “filho da luz” (cf 1Ts 5, 5). Além de filho da luz, ele próprio torna-se luz (cf Ef 5, 8), um ponto luminoso a brilhar entre as demais pessoas. “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). 3.2- O Batismo na História da Salvação (1217-28). Fazia parte essencial do conteúdo da pregação dos Apóstolos demonstrar ao público ouvinte (principalmente quando este era formado por judeus) que Jesus Cristo era a realização de todas as promessas de salvação do AT. Por isso, na liturgia batismal a Igreja gosta de relembrar elementos ligados à história da Salvação e da formação (constituição) do Povo de Deus sob a regência de Moisés. Isso é mais visível quando o celebrante prepara a água a ser empregada no Batismo. Nestas lembranças do passado, destacam-se duas travessias. A primeira foi a passagem do Mar Vermelho, em que os hebreus passaram da escravidão para a liberdade e para a formação do Povo de Deus. No Batismo passamos da escravidão do pecado (poder do Mal) para a liberdade dos filhos de Deus, formando-se o Povo da Nova Aliança, a Igreja de Jesus Cristo. A segunda, refere-se à passagem pelas águas do Jordão, que levou Israel à posse da Terra Prometida. A passagem pela água do Batismo nos leva à nova Terra Prometida, ou o Reino de Deus na sua plenitude celeste. Por fim chegamos ao momento decisivo, “à Plenitude do Tempo” (Gl 4, 4) anunciado pelos profetas. O tempo das promessas terminou. O Tempo Messiânico, ou o Tempo do Cristo começa. O Batismo de João é o marco dessa transição entre esses dois tempos. O povo que escuta o anúncio de João prepara-se pelo batismo (banho ritual) de penitência para receber o Ungido (Messias) como um “povo bem disposto”.

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Jesus, como Filho de Deus, o inaugurador do Reino definitivo e eterno, não teria porque submeter-se a um ritual de penitência, tanto que assustou João Batista. Mas, “para cumprir toda a Justiça” (cf Mt 3, 15) Ele pede o batismo. É comum esse Tempo Novo que começa com a Redenção em e por Cristo como uma Nova Criação. Por isso, o ES que, no início da primeira pairava sobre as águas, agora desce sobre Cristo. O Pai apresenta Jesus como Seu Filho Amado (Mt 3, 16-17). A Nova Criação e a geração do homem novo podem começar. Jesus é o seu construtor. Agora só falta o Espírito conduzi-lo para seu retiro no deserto para que a implantação do Reino de Deus se inicie. Mas Jesus ainda fala de um outro batismo ao qual aceita ser submetido. Refere-se à sua Paixão e Morte. “O sangue e a água que escorrem do lado transpassado de Jesus Crucificado são tipos do Batismo e da Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível ‘nascer da água e do Espírito’ para entrar no Reino de Deus” (1225; cf Jo 19, 34; 3, 5). Nosso Catecismo faz um forte apelo a cada cristão, citando Santo Ambrósio. “Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, senão da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá está todo o mistério: Ele sofreu por ti. É Nele que és redimido, é Nele que és salvo e, por tua vez, te torna salvador” (1225). 3.3- O Batismo na Igreja (1226-28). Os primeiros batismos “em nome de Jesus Cristo” (expressão para deixar bem claro que não se tratava do batismo de João) foram feitos no dia de Pentecostes, depois que Pedro declarara ao povo: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do ES” (At 2, 38; in 1226). Crer em Jesus Cristo, arrepender-se dos pecados e estar disposto a viver uma vida de convertido era suficiente para qualquer um, mesmo pagão (não-judeu), receber o Batismo. Parece que declarar a Fé em Jesus incluía automaticamente conversão e nova vida e podia envolver o batizado de toda a família quando o chefe dela se convertia e proclamava a sua Fé (cf At 16, 31-33). Interessante que a doutrina sobre o Batismo e suas implicações para quem o recebia já está basicamente completa e encontra-se elaborada nos primeiros escritos da Igreja em seus primeiros anos. Lembro que as Cartas de São Paulo são anteriores aos Evangelhos. Ouçamos o que São Paulo diz aos Romanos. “Batizados em Cristo Jesus, em sua Morte é que fomos batizados. Portanto, pelo Batismo fomos sepultados com Ele na Morte para que, como Cristo foi ressuscitado pelos mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (1227, cit. Rm 6, 3-4 e cf Cl 2, 12). Continuando nessa linha de pensamento São Paulo imagina nosso homem velho, “o velho Adão” crucificado com Cristo. Como o Cristo da cruz está pronto para a ressurreição e a glória, assim o velho Adão (nossa natureza pecadora), crucificado com Ele, morre e nasce, no seu lugar o homem novo, a nova criatura, destinado a reproduzir em si os traços de Jesus Cristo (cf Rm 6, 3-7; Gl 2, 19-20). Aos Gálatas, 3, 7, Paulo fala do batizado como alguém revestido de Cristo. Isso não significa uma espécie de hábito, ou uniforme, mas significa reproduzir em nossas pessoas os traços, as qualidades de Cristo. Ser batizado e reproduzir os traços da personalidade de Cristo é tão importante que derruba todas as barreiras criadas pelas diferentes condições sociais. “Já não há judeu (convertido), nem grego (pagão convertido), nem escravo, nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (os parênteses são meus; Gl 3, 28). Pela ação do ES, se contar com nossa colaboração consciente, o Batismo nos purifica, santifica, justifica, salva e nos assemelha a Cristo. Estamos salvos. 4. Como é celebrado o Sacramento do Batismo? (1229-33)

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Como já vimos, os sacramentos do Batismo, Confirmação (“efusão do ES”) e Comunhão Eucarística fazem parte da iniciação (na vida) cristã. A escuta da Palavra de Deus, com acento principal na acolhida do Evangelho, o que implica em conversão, são condições pessoais indispensáveis para receber o Batismo e os demais Sacramentos. Na Igreja dos primeiros séculos desenvolveu-se muito a prática do catecumenato. O catecúmeno é o indivíduo que se instrui na doutrina e na moral católica para ser aceito para o Batismo e, assim, ingressar nos quadros da Igreja de Cristo. Esta preparação podia levar anos. Mas, com o tempo, o batismo de crianças tornou-se a norma. Então a Igreja começou a praticar um “catecumenato pós-batismal”! A criança vai crescendo e precisa de catequese por evidente necessidade de instrução. Não podemos esquecer que sem essa instrução a Graça Batismal não pode desabrochar na pessoa, mesmo que ela cresça fisicamente. O Concílio Vaticano II restaurou o catecumenato como tempo de preparação de adultos para o Batismo, com ritos distribuídos durante a sua duração. O CIC prescreve que, terminada a preparação, o catecúmeno, numa única celebração, receba o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia (1233). 5. O Sentido Iluminador dos Ritos (1234-45) O CIC fala em mistagogia, que significa a iniciação de quem recebe os sacramentos no seu significado mais profundo, ou seja, o conteúdo do Mistério Celebrado. Os ritos, gestos e palavras, bem como os elementos materiais empregados na celebração (água, óleo, pão) precisam apontar claramente aos fiéis as riquezas que os sacramentos realizam. Vamos detalhar um pouco esses elementos empregados no Batismo.  O sinal-da-cruz traçado sobre o batizando logo na abertura da celebração e as palavras do celebrante falam por si.  O anúncio da Palavra de Deus deve iluminar os candidatos ao Batismo com a luz da Fé. Podemos dizer que o Batismo é o sacramento da Fé. Palavra, Fé e Batismo são inseparáveis.  A unção pré-batismal com as palavras “Cristo Salvador te dê a Sua força. Que ela penetre em tua vida, como este óleo no teu peito” é linda. Lembram-se da Aula 42? Lá dizíamos que “os sacramentos são forças que saem do Corpo de Cristo” (1116).  As promessas do Batismo são a declaração solene, diante de toda a Igreja, daquele que está prestes a ser batizado de que renuncia a todos os caminhos do Mal, às formas de vida com base no Mal e ao pecado em geral. Ato contínuo faz a solene declaração de sua Fé nos mistérios da doutrina cristã. Sem essas disposições o Batismo não teria sentido e seria falso. Nos batizados de crianças, os pais e os padrinhos, bem como todos os adultos presentes, fazem essas declarações na forma de renovação dessas mesmas promessas.  “A água batismal é então consagrada por uma oração epíclese”, uma solene invocação do ES sobre ela. “Para que os que forem batizados nela ‘nasçam da água e do ES’” (1238, cit. Jo 3, 5). Podemos lembrar o diálogo de Jesus com a samaritana, onde Ele promete água viva, ou seja, a água da vida. É bom pensar na água que saiu do lado de Cristo na Cruz ... .  As palavras do rito essencial e o tríplice derramamento da água sobre a cabeça do batizando falam por si ... .  A unção com o Santo Crisma significa o dom (recebimento) do ES.

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Cristo é O Ungido, o Messias. O batizado é também um ungido com o mesmo ES. Ele(a) faz parte do Povo de Cristo e participa do sacerdócio, da ação profética (reveladora da mensagem do Pai) e da realeza do próprio Cristo no Seu Reino.  A veste branca lembra a santidade e a eternidade da vida divina e significa que “nos revestimos de Cristo”.  A vela acesa no Círio Pascal (costumo pedir que o pai do batizado acenda vela no Círio) fala por si. E, ainda, ouvimos as palavras “recebe a Luz de Cristo”. Como vimos acima o batizado é um luzeiro a brilhar para todos que o cercam, por toda a vida. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 45- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 2 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 22 de agosto de 2013. 1.- Sacramento do Batismo, continuação. 6.- Quem pode receber o Batismo? (1246-55) Como veremos mais para frente, qualquer pessoa adulta, praticante da fé cristã, consciente e responsável, pode batizar, em emergências, alguém que peça o Batismo. Portanto, faz parte da formação de qualquer pessoa adulta batizada saber quais pessoas são candidatas a receber o Batismo. Vimos em aulas passadas quais eram as condições exigidas pelos apóstolos para alguém pedir e poder receber o Batismo. Vamos lembrar? ... A Igreja Católica declara que “toda pessoa ainda não batizada e somente ela” (1246) pode receber o Batismo. A Igreja não aceitou, em hipótese alguma, batizar novamente alguém que já foi validamente batizado. 6.1- Batismo de Adultos (1247-49) No início do Cristianismo o Batismo de adultos era a situação normal. E o catecumenato, como tempo de acurada preparação para receber este Sacramento passou a ser mais e mais elaborado e com mais exigências. Em nossos dias os casos de adultos que pedem para serem católicos estão aumentando. De modo geral precisamos novamente cuidar para que a preparação através do catecumenato seja bem elaborada e bem ministrada. Os catequistas precisam de grande preparo para viver intensamente sua própria Fé e dar aulas realmente proveitosas e atraentes. O catecumenato é iniciação à Fé e à vida cristã. O candidato precisa estar bem preparado para, de uma só vez, acolher com alegria e grande desejo o dom de Deus no Batismo, na Confirmação e na Eucaristia, celebrados numa única cerimônia. Esta resposta acolhedora precisa ser expressa com conhecimento básico dos mistérios da Fé, com alegria e como um compromisso para sempre. A Fé precisa ser expressa e vivida maduramente. Antes do Batismo o catecúmeno já precisa ter desenvolvido as práticas de uma vida evangélica. A ordem das coisas não é instrução, profissão de Fé, batizado e depois prática do Evangelho. Mas a ordem é: instrução, profissão de Fé, uma unção pré batismal, prática do Evangelho e, só então, o batizado. Aliás, a iniciação nos mistérios da vida cristã pode ser celebrada em épocas sucessivas e com ritos próprios. A Igreja já considera seus catecúmenos unidos a ela. São seus membros. Eles já tem Fé em Jesus Cristo, vivem a Esperança e a Caridade.

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6.2- O Batismo de Crianças (1250-52) Batizar é um assunto que causa polêmica em nossos dias. A Igreja Católica sempre defendeu esta prática por causa da doutrina do pecado original que precisa ser perdoado e eliminado da pessoa para ela poder receber a Graça Santificante e tornar-se filha de Deus. Pessoalmente vejo aqui dois problemas. Em primeiro lugar acredito que Deus tratará qualquer criança da mesma forma e com o mesmo amor. Em segundo lugar temos o problema de pais católicos apenas por tradição cultural-religiosa, mas sem convicções profundas e sem práticas cristãs. Em tais famílias a criança vai, quase certamente, crescer sem o cultivo da Fé Cristã, o que frustrará a realização da própria Graça recebida no Sacramento do Batismo. É extremamente angustiante definir e discutir com os pais em que situações seus filhos podem ou não ser batizados. A prática de batizar crianças conta com registros até do século II. Mas, casas inteiras (famílias) eram batizadas quando o dono da casa se convertia, como aconteceu com o carcereiro de São Paulo em Filipos (cf At 16,15.33). Não dá para imaginar que crianças também não fossem batizadas em tais circunstâncias nos inícios do Cristianismo. 6.3- Fé e Batismo (1253-55) “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16). Por isso dizemos que o Batismo é o Sacramento da Fé. Aos catecúmenos, ou aos padrinhos de crianças, pergunta-se no início da cerimônia batismal: “o que pedis à Igreja de Deus”? - Resposta: “A Fé”. Os que aceitam o Batismo são chamados a viver na comunidade da Igreja. Isso é essencial porque, normalmente, a Fé daquele(a) que é batizado(a) ainda é inicial, embora básica, necessitada de desenvolvimento contínuo, o que se consegue vivendo e frequentando assiduamente a comunidade da Igreja. A frequência às celebrações e a participação nas atividades propostas pela Igreja local é fundamental, pois quanto maior for o número dos verdadeiramente praticantes, mais fácil o desenvolvimento e o fortalecimento da vida como expressão transformadora da Fé. Por isso toda a comunidade presente na celebração de batizados renovam, solenemente, o compromisso de viver uma vida que seja resposta de sua Fé em Jesus Cristo. Isto é a vida nova em Cristo que em cada um de nós se implantou pelo Batismo. Sobretudo as crianças dependem de como seus pais e padrinhos vivem essa vida nova em e por Cristo. Mas, todos, crianças, pais e padrinhos, outros batizados adultos, todos dependem de quantos membros da Igreja local vivem esta vida nova em Cristo. 7.- A Necessidade do Batismo (1256-61) A Igreja atribui tal importância ao Batismo que afirma: “o Batismo é necessário para a salvação daqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este Sacramento” (1257). Ela não conhece outro meio, a não ser o Batismo, para essas pessoas poderem entrar na bem aventurança eterna. Por isso ela sente obrigação de garantir o Batismo para todos os que podem e desejam ser batizados. Por isso é o sacramento que mais facilmente consegue um ministro celebrante. Ministros ordinários do Batismo são os bispos, seus presbíteros e seus diáconos. Mas, em situações de emergência nosso Catecismo afirma: “em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, que tenha a intenção exigida, pode batizar, utilizando a fórmula batismal trinitária” (1256). É importante que tenha a intenção de fazer o que a Igreja requer e faz. Também deve servir-se de água dizendo as palavras extraordinariamente simples, mas salvadoras: “N., eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do ES”. Isso é o amor zeloso da Mãe-Igreja. A Igreja sempre contou com a luz e assistência do ES. Por isso ela sempre afirmou que pessoas que chegaram à Fé em Jesus Cristo e desejaram o Batismo mas morreram sem o conseguir, chegaram à vida

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eterna pelo assim dito batismo de sangue e batismo de desejo. Nas perseguições não foram poucos os ainda catecúmenos que “derramaram seu sangue como Cristo” (cf. prefácio da Missa dos Santos Mártires). Para justificar suas posições que ela revela neste tópico, a Igreja se sai com essa sábia observação: “Deus vinculou a Salvação ao Sacramento do Batismo, mas Ele mesmo não está vinculado a Seus Sacramentos” (1257). Pelas mesmas razões a Igreja hoje não tem dificuldade em admitir que crianças mortas sem batismo cheguem à vida eterna. Ela as confia à infinita misericórdia do Pai e lembra a ternura do Filho ao dizer: “Deixai as crianças virem a mim, não as impeçais” ( Mc 10,14). 8.- A Graça do Batismo; ou, o que se passa com o Batizado (1262-74) O assunto agora é o que trata dos efeitos do Batismo. Eles estão expressos pelos elementos sensíveis do rito sacramental. Alguma coisa já foi vista no ítem 5 da Aula passada (44).  Como já vimos, o mergulhar na água (Cristo sepultado) encerra o símbolo da morte, purificação, renovação e regeneração. “Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no ES” (1262; cf. At 2,38; Jo 3,5). Purificação dos pecados significa o perdão de todos os pecados de quem é batizado, com as condições pessoais requeridas, seja o pecado original, sejam os pessoais. Ele(a) está pronto(a) a entrar no Reino de Deus. Contudo a Igreja lembra que as consequências temporais do pecado, bem como nossa condição humana que é constantemente atraída para tudo o que é agradável aos sentidos e prazeroso, coisas que constantemente nos levam ao pecado, isso tudo continua ativo em quem converteu-se e foi batizado. Mas tudo isso pode ser superado por uma vida pessoal e comunitária cultivada pelos valores do Evangelho, em comunhão com a comunidade da Igreja local.  Gera uma criatura nova. Esse tema já está bem estabelecido ao longo de nossas aulas. Esta vida nova de que São Paulo tanto fala, envolve o fato de sermos filhos adotivos de Deus ( Gl 4,5-7), nossa participação da natureza divina (2Pd 1,4). Vamos lembrar novamente a mui repetida imagem de sermos membros do Corpo de Cristo, a Igreja, com todas as consequências, é importante (1Cor 12,12 ss). Vamos reproduzir aqui o número 1266, onde a Graça santificante implantada em nós pelo Batismo pode transformar-se em fonte geradora dessa vida nova. “A Santíssima Trindade dá ao batizado a Graça Santificante, a qual torna-o capaz de crer em Deus, de esperar Nele e de amá-Lo por meio das virtudes teologais; concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do ES por seus dons; permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua vida no santo Batismo”.  Incorpora-nos à Igreja, Corpo de Cristo. Isso já foi amplamente explicado. Somos um só corpo e membros uns dos outros (1Cor 12,13; Ef 4,25). Jesus já dissera que os laços a unirem os cidadãos do Reino de Deus entre si estão acima dos laços de sangue que uniam até Sua mãe Maria e Ele entre si. Nunca é demais frisar a necessidade de total união e harmonia entre todos os batizados (Cf. 1271). São Pedro fala em cada um de nós como pedras vivas que formamos a “construção de um edifício espiritual” que é a Igreja, para exercermos “um sacerdócio santo” (1Pd 2,5). Quando falávamos da unção pós batismal vimos que o texto fala na participação do batizado no sacerdócio, no profetismo e na realeza de Cristo. Agora Pedro diz que somos “a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências Daquele que vos chamou das trevas para a luz maravilhosa” (1Pd 2,9).

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Nosso Catecismo lembra um direito e um dever ligados a essa doutrina. O batizado tem o direito de receber os Sacramentos, de ser alimentado pela Palavra de Deus e de ser sustentado com outros auxílios espirituais da Igreja (Cf. 1270). Aqui vai bem uma discussão sobre obrigações de pastores e fiéis...  Um Sinal Espiritual Eterno fica como consequência na pessoa batizada. Somos ovelhas de Cristo. Ele nos marcou, uma a uma, como Suas! Nada, nem uma consciente renegação da Fé, pode apagar este selo de Cristo. Todos os efeitos do Batismo podem ser anulados, menos esta marca. Esperamos que todos nós possamos mostrar esse selo com alegria no Dia do Filho do Homem, quando vier em Sua Glória. Por isso Santo Irineu dizia que “o Batismo é o selo da vida eterna” (Cf. 1274). 2.- O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO (CIC 1285-1321) Batismo, Eucaristia e Confirmação formam o conjunto dos Sacramentos da Iniciação Cristã (1285). A Igreja insiste em não romper este conjunto e afirma que a “Confirmação é a consumação da Graça Batismal” (ibidem). Cita então a Lumen Gentium 11: “Pelo Sacramento da Confirmação {os fiéis} são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força especial do ES, e assim mais estritamente obrigados à Fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras” (1285). 2.1- A Confirmação na História da Salvação (1286-92) No AT os profetas anunciaram que o Messias esperado receberia de forma especial o ES (Cf. Is 11,2). Assim a descida do ES sobre Jesus em Seu Batismo provava que Ele era o Ungido esperado. Jesus fora concebido pelo ES e toda Sua vida, em cada passo ou decisão importante se dá em comunhão com o Espírito. Várias vezes Ele é levado, ou movido pelo ES. O Pai Lhe dá o Espírito sem medida (Jo 3,34). Como já vimos Jesus partilha tudo com os seus. Por isso o ES é prometido a todos quantos aderem ao Povo Messiânico, a todos os seguidores de Jesus (Cf. Ez 36,25-27; Gl 3,1-2). Jesus fala muitas vezes sob a ação e ajuda do ES (Cf. Lc 12,12; Jo 3,5-8; 7, 37-39; 16,7-15; At 1,8). Por isso era natural que os Apóstolos logo começassem a impor as mãos sobre aqueles que eram batizados para seguir Jesus e engrossar as fileiras desse Povo Messiânico e assim cada um pudesse receber o ES. A imposição de mãos foi sempre o gesto dessa doação do ES. Não demorou muito e a Igreja começou a acrescentar à imposição de mãos uma unção com óleo perfumado (o Santo Crisma). Aliás, nosso Catecismo nos lembra que o nome de cristão vem de Cristo, o Ungido com o ES. Nosso nome está ligado à unção com o Santo Crisma que recebemos. O nome Confirmação que prevaleceu na Igreja Católica quer nos dizer que esse Sacramento “confirma o Batismo e consolida a Graça Batismal” (1289). Durante os séculos da História da Igreja houve muitas mudanças quanto à celebração da Confirmação. Às vezes foi durante o Batismo, às vezes logo depois, em outras épocas tempos depois do Batismo. São Cipriano fala em um “sacramento duplo” (1290), pois nos primeiros séculos prevaleceu o costume de celebrar os dois sacramentos numa só cerimônia. Mas, duas dificuldades foram se impondo: o aumento do número de crianças batizadas e o avanço do Cristianismo para áreas rurais, o que dificultava a chegada do bispo a todos os locais de celebração do Crisma a ele reservada. Dá para explicar-se o Batismo de recém nascidos. Difícil é explicar a Confirmação dessas crianças, se olharmos para as implicações desse Sacramento. Impõe-se a celebração do Batismo e da Confirmação não no mesmo tempo e, sim, em idades diferentes. Contudo, por razões práticas e comodistas, antes das reformas do Vaticano II prevalecia o costume de o bispo em cada visita às paróquias de sua diocese crismar todos os que ainda não tinham sido. Acontece que dioceses podiam ser imensas.

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Até quase o final do século 19 Florianópolis pertencia à Diocese do Rio de Janeiro. Imaginem o sertão e a Amazônia do Brasil. Separadas as duas celebrações, Batismo e Confirmação, permaneceu ainda o costume de o presbítero que batizava, logo depois do batismo, aplicar imediatamente a unção com o Santo Crisma, desde que este óleo perfumado e santo tivesse sido consagrado pelo bispo. Essas duas unções já eram o costume normal atestado por Santo Hipólito em sua Tradição Apostólica, na primeira metade do século III. A unção ligada ao Batismo significa a participação do batizado nas funções sacerdotais, proféticas e régias de Cristo. Como a Igreja manda que os adultos, passado o tempo do ecumenato, sejam batizados, crismados, e recebam a Eucaristia, numa única celebração, eles recebam então uma única unção pós-batismal. É norma que o bispo presida essa celebração única Batismo-Confirmação-Eucaristia. Se ele não puder que delegue o poder de celebrar a cerimônia toda a um presbítero. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 46- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 3 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 28 de agosto de 2013. 2. Os Sinais e o Rito da Confirmação (cont.) (1293 a 1301)  Unção é o elemento mais importante da celebração. Usada desde de remotas épocas do AT, ela tem uma simbologia muito rica e variada. O óleo é sinal de abundância (Cf. Dt 11,14 etc) e alegria (Sl 23,5; 104,15). Servia como símbolo de purificação, podendo ser empregado antes e depois do banho. Achava-se que atletas ungidos ficavam mais ágeis. O óleo facilitava a vitória de lutadores e era também curativo, pois amenizava feridas e contusões (Cf. Is 1,6; Lc 10,34). É bom que todos esses significados sejam explicados aos que recebem as diversas unções e ao povo. A unção com óleo dos catecúmenos remete à purificação e fortalecimento. O óleo do Santo Crisma (depois do Batismo, Confirmação e Ordenações) é consagração. Na Confirmação o cristão ungido participa mais intensamente da missão de Cristo que, ungido, tem a plenitude do ES. Por isso o confirmado participa mais da força do ES que nele atua. Ele pode agora “exalar o bom odor de Cristo” (2Cor 2,15). Com a unção o confirmado é marcado com o selo do ES. Relembrar o que foi dito no final do que falamos sobre o sinal eterno do Batismo. O selo no AT era o sinal de uma pessoa única e de sua autoridade (Cf. Gn 38,18; 41,42) bem como de sua propriedade sobre objetos e pessoas (Dt 32,34). Podia servir para autenticar um ato jurídico ou um documento (1Rs 21,8; Je 32,10). Eventualmente tornava o conteúdo secreto (Is 29,11). O próprio Cristo considerava-se marcado (autenticado) com o sinete do Pai (Jo 6,27). Participando da sorte de Cristo, o Pai nos marca com Seu sinete: “Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1,21-22; cf. Ef 2,13; 4,30). Esta marca de Cristo nos diz que pertencemos a Ele, estamos engajados em tudo com Ele. Mas também diz que estamos sob Sua proteção contra o poder do Mal. 2.3- Celebração da Confirmação (1297-1301)

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Lembremos que uma cerimônia litúrgica solene já ocorreu antes do dia em que aqui ou acolá são crismados os nossos catecúmenos. Normalmente na Quinta-feira Santa de manhã o bispo diocesano, com seus presbíteros e diáconos, solenemente, celebra a assim chamada missa dos santos óleos. Nesta cerimônia ele consagra os santos óleos dos enfermos, dos catecúmenos e com maior destaque, o óleo chamado Santo Crisma. Este óleo só o bispo pode consagrar. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Batismo, inicia-se a Liturgia com a renovação das promessas do Batismo e a profissão de Fé dos confirmandos. Isso deixa bem clara a relação de continuidade da Confirmação com o Batismo. As palavras sacramentais constituem uma solene epíclese que cabe ao bispo pronunciar. “Deus todo poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que pela água e pelo ES fizestes renascer estes vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o ES Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito de ciência e piedade e enchei-os do espírito de vosso temor. Por Cristo nosso Senhor” (1299). Segue a unção do Santo Crisma na fronte, feita com a imposição de mão com as palavras concomitantes: “N. recebe, por este sinal, o selo do ES, o dom de Deus” (1300). Na liturgia oriental são ungidas as partes mais significativas do corpo: fronte, olhos, nariz, ouvidos, lábios, peito, costas, mãos e pés, repetindo cada vez a fórmula: “Selo do dom do ES” (1301). O ósculo da paz manifesta a comunhão com o bispo e todos os fiéis em Cristo. 2.4- Os Efeitos da Confirmação (1302-05) A própria celebração já diz qual é o efeito deste Sacramento: uma efusão, ou transmissão especial do ES, como aconteceu em Pentecostes aos Apóstolos. Isso leva ao crescimento e aprofundamento da Graça Batismal. Podemos partir do fato que o ES é a luz a iluminar nossa Fé, nossa inteligência, nossa percepção e consciência dos conteúdos (mistérios) da Fé, na medida em que procuramos nos enriquecer pela oração e leitura meditada da Palavra de Deus. Então nossa percepção da filiação divina, dos laços que nos unem a Cristo e à Sua Igreja torna-se mais forte e mais constantemente presente em nossa mente. Outros dons do ES tendem a aparecer nas mais diversas circunstâncias. A dedicação em difundir e defender a Fé, suave e alegremente, mas com firmeza, torna-se algo natural em nossa existência. O Catecismo fala num “quasi ex officio”, tão natural como algo que flui por um ofício, uma profissão. Tornamo-nos profissionais da Fé! 2.5- Quem Pode Receber a Confirmação (1306-11) Todo aquele que foi batizado e ainda não foi confirmado é candidato ao Sacramento da Confirmação. Os fiéis católicos tem obrigação em recebê-lo. Sem a Confirmação e a prática eucarística a iniciação cristã é incompleta e o crescimento para uma vida adulta da Fé fica comprometido.  Quando se deve recebê-lo? Às vezes fala-se em “idade da razão”; em “sacramento da maturidade cristã”. Definir a idade ideal para receber o Sacramento da Confirmação não é fácil. Maturidade psico-social nem sempre é indicador de maturidade espiritual. Há pessoas que mui precocemente atingem altos níveis de expressão espiritual. Outras nunca progridem. Para católicos que vem crescendo em informação depois da primeira Eucaristia podemos considerar a adolescência uma fase boa para a Unção no ES.  E a preparação? Basicamente o candidato precisa compreender os conteúdos da doutrina desse Sacramento. É fundamental que ele tenha despertado para o senso de pertença à Igreja de Jesus Cristo no sentido universal, como também no sentido local-paroquial. O crismando deve desejar engajar-se como seu membro vivo, em formação, mas já ativo.

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O candidato “adulto” precisa talvez de recorrer ao Sacramento da Penitência. O estado de graça é requisição para receber a Confirmação. Por fim a Igreja propõe que o confirmando (a) recorra a um padrinho ou madrinha que possa incentivá-lo na vida cristã. De preferência pode ser o mesmo padrinho ou madrinha do batismo para ressaltar a natural unidade entre Batismo e Confirmação. 2.6- O Ministro (1312-14) O ministro originário e normal é o Bispo diocesano. Quando temos o caso de adultos recebidos para o Batismo, eles recebem, na mesma cerimônia, o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, segundo o que já vimos. Os bispos são sucessores dos Apóstolos. A mística da união mais completa do confirmando com a Igreja é ressaltada com o bispo local presidindo a celebração. Ele pode delegar este ministério a um presbítero “ad hoc”, em cada caso. Quando ocorre urgência por perigo de morte todo presbítero pode crismar. Sacramento da Eucaristia (CIC 1322-1419) 1.- A Eucaristia é Fonte e Ápice da Vida da Igreja (1322-27) O pão consagrado e guardado no tabernáculo, ou sacrário, é quase sempre qualificado pelo povo piedoso com o nome Santíssimo Sacramento. Isso tem implicações muito interessantes. Na verdade, todos os sacramentos são essencialmente santos. Mas o Sacramento Eucarístico é Santíssimo. É reconhecido pelo povo como uma espécie de super-sacramento. Isso faz todo o sentido, por várias razões. Em primeiro lugar a Eucaristia nos leva diretamente à entrega de Jesus à cruz redentora, por amor a todas as pessoas. Quando falamos em Amor, ou Caridade, entendemos que a Eucaristia sintetiza a essência da vida de Jesus e a de Seus seguidores. A Caridade paira acima de todos os sacramentos. São João transforma o capítulo 13 de seu Evangelho num texto tocante onde tudo gira em torno, e é expressão, do amor de Jesus, a começar do lava-pés até à cruz. Assim começa o relato: “Antes da festa da Páscoa Jesus sabia que tinha chegado a hora de passar desse mundo ao Pai. E tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (13,1). Em segundo lugar, a Eucaristia é tão importante porque perpetua, viva e constantemente, até o fim dos tempos, o sacrifício da cruz. Além disso nos traz nas espécies sacramentais o próprio Cristo vivo. Ele está vivo em carne e sangue, isto é, inquestionavelmente real. Todos os Sacramentos nos levam a Cristo. A Eucaristia traz o Cristo como uma posse nossa! Por isso a “Eucaristia é fonte e ápice de toda vida cristã”, afirma a Lumen Gentium (11). Todos os Sacramentos, os ministérios da Igreja, também todos, os serviços apostólicos exercidos na Igreja, tudo se liga à Eucaristia, nela começa e nela se inspira, e nela termina. Tudo tem de ser expressão do amor-serviço e da comunhão. Todo bem que a Igreja pode aspirar encontra-se em Cristo e a Eucaristia contém o próprio Cristo (Cf. PO 5). Viver a Eucaristia é viver a própria razão de ser da Igreja, “que todos sejam um...” (Jo 17-21). A Eucaristia, celebrada e vivida, significa e realiza a nossa comunhão de vida com Deus e a unidade da Igreja. “Nela está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no ES os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai” (1325). Vejam como Santo Irineu imaginava a mais alta expressão da vida eucarística do cristão. Dizia ele: “nossa maneira de pensar concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar” (CIC 1327). 2.- Os Nomes deste Sacramento (1328-32)

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Com o passar do tempo, os cristãos, encantados com a riqueza extraordinária de conteúdos (mistérios) celebrados nesse Sacramento, foram-lhe dando nomes diversos. A riqueza de denominações já é grande nos autores do NT, sobretudo em Paulo e nos Evangelistas.  Eucaristia (do grego Eukharistia=sacrifício de ação de graças e Eucharistein= proferir as palavras da ação de graças) originariamente entendida como ação de graças. Paulo e Lucas empregam o verbo Eucharistein para dizer que Jesus na Última Ceia (uma ceia pascal judaica) pronunciou as palavras rituais de ação- de-graças. Marcos e Mateus, para a mesma coisa, recorrem ao verbo grego Eulogein que tem a ver com pronunciar palavras boas (Cf. Lc 22,19; 1Cor 11,24; Mt 26,26; Mc 14,22).  Ceia do Senhor, pois refere-se à última ceia pascal judaica celebrada por Jesus com os apóstolos, na qual Ele cria a nova Ceia Eucarística (Cf. 1Cor 11,20).  Fração do Pão é nome muito empregado no NT porque atesta um ritual comum em refeições judaicas que Jesus costumava fazer quando presidia refeições, com destaque para a Sua atuação na Última Ceia (Cf. Mt 14,19; 15,36; 26,26; Mc 8,6.19; 1Cor 11,24). Jesus devia imprimir um modo todo pessoal e tocante nestes rituais de partir o pão e pronunciar a ação-de-graças. Os discípulos de Emaús só O reconheceram quando à mesa com eles Jesus lhes partiu o pão (Lc 24,13-35). Já na Igreja recém nascida Lucas refere-se à perseverança dos primeiros cristãos em frequentar o “partir-do- pão” como referência às ceias eucarísticas (At 2,42.46; 20,7.11).  Memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor. As palavras de Jesus “fazei isto em memória de mim” são repetidas em cada missa.  O Santo Sacrifício, ou Santo Sacrifício da Missa, ou Santa Missa. O Santo Sacrifício é empregado em razão de cada celebração atualizar (tornar atual e atuante) o único sacrifício verdadeiro, perfeito e inteiramente santo, celebrado por Cristo. A palavra Missa é hoje a mais comum entre o povo. Sua origem está no substantivo latino “missio”, para nós, missão, pois toda Celebração Eucarística termina com um convite a cada fiel para sair em missão de evangelização. 3.- A Eucaristia na História da Salvação (1333-44) 3.1- Pão e Vinho (os sinais) Tudo começa com uma oferta de pão e vinho a Deus. No AT a terra era propriedade de Deus. Esta terra por Ele entregue ao homem produz o pão, que exprime a certeza de alimentação, afastando as frequentes calamidades da fome. A terra produz também o vinho, uma espécie de luxo, capaz de trazer alegria ao coração, substituindo as angústias e incertezas tão freqüentes nos trabalhos do campo. Pão e vinho eram muitas vezes oferecidos em sacrifícios de louvor e ação-de-graças a Deus (Cf. Gn 14,18). Na ceia pascal do AT o pão sem fermento (sinal da pressa na saída salvadora do Egito) e vinho tem lugar de destaque. Jesus vem realizar um Novo Testamento, uma Nova Aliança. Com isso leva à plenitude as coisas da Antiga Aliança, atribuindo-lhes significados e valores dignos de Deus. Pão e vinho, “frutos da terra e do trabalho do homem” transformam-se no corpo e no sangue de Jesus. A vítima sacrificada a Deus na mesma ceia pascal era um cordeirinho de um ano. Agora ele é substituído pelo Cordeiro-de-Deus, Jesus, ao mesmo tempo filho da terra e Filho de Deus. Esta é a vítima do único sacrifício da “Nova Aliança em meu sangue” (Cf. Lc 22,20) aceito por Deus.

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Durante a vida pública Jesus foi dando sinais de que Ele em pessoa acabaria sendo o Pão Eucarístico, o “Pão da Vida”. A multiplicação dos pães, por excelência, simboliza o único Pão Eucarístico (Cristo) multiplicado para todos os fiéis que O procuram. A multiplicação de pães era tão significativa que os Evangelhos tem seis narrações (Mt 14,13-21; 15,32-38; Mc 6,34-44; 8,1-9; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15). Em João Jesus anuncia diretamente a Eucaristia e o povo escandaliza-se (dificuldade para crer), como já se escandalizara com o anúncio de Sua morte na cruz (Jo 6,60). 3.2- A Instituição da Eucaristia (1337-40) A mais antiga narração da instituição da Eucaristia encontra-se em Paulo na Primeira aos Coríntios, 11,2325. Os tres Evangelhos cinóticos também registram esta instituição (Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,1520). Surpreendentemente João não registra as palavras eucarísticas de Jesus. Mas é ele que, como ninguém, narra o clima daqueles momentos sublimes. “Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que havia a Sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele que amava os seus que estavam no mundo, levou Seu amor por eles até ao extremo” (Jo 13,1). No rosto de Judas Jesus percebe as sombras de Satanás, pois já acertou os termos de sua traição! Apesar disso, Jesus concentra-se no Amor por Ele expresso por palavras e pelo gesto do lava-pés (Jo 13,2-20). Sem o Amor e o lava-pés a Eucaristia é impensável! Jesus escolheu o tempo da Páscoa para mostrar que a Sua Páscoa e Sua Nova Aliança é o ponto de chegada, o sentido definitivo, da Páscoa dos judeus e da Antiga Aliança. Ao mesmo tempo quer fixar já a atenção na Páscoa final da Igreja quando chegar à Glória do Reino Eterno. Como já vimos, a Liturgia celebra o hoje, recorda o ontem e antecipa o futuro. 3.3- Fazei isto em Memória de Mim (1341-44) Estas são palavras expressas por Jesus. Não são um pedido, ou uma sugestão. São uma ordem, ou um mandamento. Jesus não pensa numa simples lembrança, uma recordação. Fala em Memória no sentido de um Memorial como deve ser entendido na linguagem bíblica. Seu significado é: aquilo que é lembrado torna-se novamente presente. Por isso temos a presença real de Cristo na Eucaristia testemunhada por Ele próprio. Os primeiros cristãos, de posse desse mandato de Jesus, trataram logo de pô-lo em prática. “Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração” (At 2, 42.46). Contudo, “o primeiro dia da semana”, o dia da semana em que Jesus ressuscitou, logo passou a ser o dia escolhido pelos cristãos para repetirem o “Memorial de Cristo” (Cf. At 20,7). Também foi rápida a aceitação da idéia de que esse repetir da ceia era capaz de tornar o Cristo, sempre de novo, presente entre os seus. Por isso devia manter-se, sempre de novo celebrado, “até que Ele venha” (Cf. 1Cor 11,26). Em todas as épocas “o Povo de Deus em peregrinação ‘avança pela porta estreita da cruz’ em direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino” (CIC 1344, lembrando AG 1). 4.- A Celebração Litúrgica da Eucaristia (1345-55) Vamos tentar refazer o roteiro e conteúdos básicos da Celebração Eucarística em sua nascente e ver as semelhanças com nossa missa de hoje.  A Narração do Discípulos de Emaús (Lc 24,13-32) já nos fornece elementos interessantes. Cabisbaixos dois discípulos estão a caminho de Jerusalém para Emaús. O assunto da conversa era deprimente e arrasador: O fim inimaginável que levara Jesus, Aquele que eles viam como o Messias tão esperado. Eis que um andarilho desconhecido junta-se aos dois. Durante a conversação ele revela-se um extraordinário conhecedor das Sagradas Escrituras. De memória puxa todas as passagens em “todas as Escrituras” que se referiam ao Messias Jesus. É a primeira grande parte desse encontro de amigos.

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A segunda se dá na casinha deles, onde quase forçaram o andarilho a entrar. Eis que esse explicador ambulante das Escrituras assume a iniciativa no serviço da refeição. E é na “fração do pão” que a verdadeira identidade dele se manifesta: “É Ele”! Nosso Catecismo, no n.1345, vai ao ano 155 (a Igreja tem uns 120 anos de existência) e toma um texto de São Justino Mártir, escrito ao imperador Antonino Pio. Vamos ler esse documento e apontar os elementos que compõem a estrutura da Celebração Eucarística. A primeira coisa que fica clara é que a estrutura da celebração que ele descreve é a mesma que temos hoje. Compõe-se de duas partes que formam um todo bem coerente.  Temos uma convocação da assembléia dos fiéis, uma grande Liturgia da Palavra, com leituras, cantos de salmos e homilia, terminando com a oração universal. É a primeira parte.  A segunda parte é a Liturgia Eucarística, que inclui a apresentação do pão e do vinho, a grande ação-degraças que transforma o pão e o vinho no próprio Cristo, seguida da comunhão. A Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística constituem uma unidade e completam-se necessariamente. Só a Fé pode dizer-me na certeza que debaixo das espécies de pão e de vinho está o Cristo vivo ( corpo e sangue). Mas a fé nasce e alimenta-se da Palavra de Deus. Os discípulos de Emaús só puderam reconhecer Jesus “ao partir do pão” depois de atentamente terem escutado a Escritura explicada. Por isso a Igreja afirma que temos dois serviços de mesa: a mesa da Palavra e a mesa do Corpo do Senhor. Em ambas e necessariamente em ambas, nosso “homem novo” alimenta-se e cresce visando “atingir a estatura de Cristo”. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 47- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 4 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 12 de setembro de 2013. 4.- A Celebração Litúrgica da Eucaristia continuação) Achei interessante acrescentar mais algumas informações ao ítem 4 da aula anterior (46). Vamos repetir o que foi aí apresentado. Trata-se de tornar a sequência da celebração mais clara.  Todos se reúnem em assembléia. Cristo é a Cabeça desta Assembléia. Ele é o Ator principal da Eucaristia, é o Sumo Sacerdote. Ele convoca a Assembléia Dominical.  A Liturgia da Palavra recorre aos Profetas (Escritos do AT) e tradição ou memória dos Apóstolos: epístolas e Evangelho (NT). A homilia visa levar o povo à prática da Palavra de Deus, para despertar e alimentar a Fé.  Nas missas dominicais e de festas a declaração por todo o povo dos principais conteúdos da Fé (Credo) é demonstração de que a “Mesa da Palavra” deu resultados.

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 A prece universal fecha a primeira grande parte da Celebração Eucarística e mostra a universalidade da Igreja, tendo seus filhos solidários a todas as pessoas e suas necessidades.  A Apresentação da Ofertas (1350-51) começa a segunda grande parte da Celebração Eucarística, a chamada “Mesa Eucarística”. As expressões Mesa da Palavra e Mesa Eucarística são do documento do Vaticano II Dei Verbum (DV), Sobre a Revelação Divina (DV 21). Sobre o significado do pão e do vinho, é só conferir o ítem 3.1 da aula 46. As palavras do Ofertório acrescentam que pão e vinho são frutos da cooperação de Deus e do homem. São “frutos da terra (de Deus) e do trabalho do homem”. Desde os inícios da Igreja os cristãos costumavam trazer para junto do altar, além do pão e vinho para o Sacrifício, outros produtos visando atender as necessidades dos pobres. Hoje esse “ofertório do povo” reduziu-se à coleta em dinheiro. O celebrante termina o Ofertório com uma oração apropriada para o ato e para o tema da Festa do dia da Celebração. A Oração Eucarística propriamente dita (1352-55) começa com o - Prefácio. Ele é anúncio e introdução à grande “Ação de Graças” que se traduz na própria palavra Eucaristia. O Prefácio já é um solene agradecimento por tudo que Deus realizou para a humanidade: criação de tudo o que existe; a Redenção e a Santificação de todos os que procuram a Deus. Tudo que Deus faz tem a marca de sua bondade e santidade. Por isso o povo todo participa aclamando ou cantando que Deus é tres vezes santo! - Na epíclese, que significa uma solene invocação da ação do ES sobre uma coisa ou pessoa, começa o que chamamos de “Consagração”, o grande momento de toda a Celebração. O celebrante pede que o Pai envie o ES para a transformação da simples oferta de pão e vinho na grande e única oferta de Jesus Cristo. Pão e vinho tornam-se corpo e sangue do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. Segue imediatamente - O Relato da Instituição. Ele reproduz as palavras de Jesus sobre o pão: “Tomai, todos, e comei: isto é o Meu Corpo, que será entregue por vós”. E Suas palavras sobre o vinho são repetidas. “Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da Nova e Eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim”. - “Eis o Mistério da Fé” é a proclamação do Celebrante apontando agora para a Nova Oferta que está sobre o altar: Cristo. Todos sabem bem o que significa a palavra mistério: realidades só acessíveis pelo Dom da Fé. Todos sabem bem o que é repetir o Sacrifício do Cordeiro de Deus em memória de Jesus. Ou eu estou equivocado? - Amnanese é o qualificativo que a Igreja dá para a primeira oração que o Celebrante pronuncia após a Consagração. Expressa a eterna lembrança que temos da Paixão, Ressurreição, Ascensão e da prometida volta gloriosa de Jesus. Na mesma sequência a Igreja oferece ao Pai o próprio Cristo em Corpo e Sangue. Na verdade, aqui está o verdadeiro Ofertório da Missa! - Preces são o tipo básico das orações que seguem. Em geral a unidade de todos os que estão presentes faz parte dessas orações. Seguem-se pedidos por toda a Igreja de Jesus Cristo, o Papa, o Bispo da diocese onde se celebra. Temos uma oração específica pelos irmãos falecidos. Também o celebrante reza por todas as necessidades espirituais dos irmãos que participam da Celebração. Basicamente pedimos que o Pai Eterno tenha piedade e compaixão de todos os presentes e nos leve a conseguir a Vida Eterna. Afinal, foi justamente para esta Vida plena na Glória que todos nascemos em Cristo. Até a companhia que teremos de pessoas de destaque, como Maria, São José, Apóstolos, Santos Padroeiros e os Santos celebrados do dia são mencionados.

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- O por Cristo, com Cristo e em Cristo..., sem variações, encerra a Oração Eucarística que começou com o Prefácio. O Missal Romano registra onze Orações Eucarísticas diferentes. Mas o Por Cristo...a grande e solene doxologia (glorificação) à Santíssima Trindade não varia. 5.- O Sacrifício Sacramental: Ação de Graças, Memorial, Presença (1356-81) “Fazei isto em memória de mim” são as palavras-chave que explicam um fato raro. Há dois mil anos a Igreja, nas mais diferentes circunstâncias de tempo, de culturas e de situações históricas por ela vividas, vem celebrando a Eucaristia sem alterações nos ritos básicos, nem no conteúdo de sua Fé básica neste Sacramento. Quando as primeiras celebrações eucarísticas ocorreram tudo era tão claro, na certa Cristo estava presente, eu diria, em cada detalhe. Não havia porque fazer especulações sobre as celebrações eucarísticas e seus conteúdos. Vamos aprofundar tres elementos fundamentais para entendermos melhor a Eucaristia. Na verdade já falamos deles, mas vamos aprofunda-los. 5.1- Eucaristia como Ação de Graças e Louvor ao Pai; 5.2- A Eucaristia como Memorial Sacrifical de Cristo e de Seu Corpo, a Igreja; 5.3- A Eucaristia como presença de Cristo. 5.1- A Eucaristia como Ação de Graças e Louvor ao Pai (1359-61) Pelo fato de o Cristo ter se oferecido ao Pai como “vítima pura e sem defeito” a Eucaristia é o Sacramento da nossa Redenção. É também um Sacramento de Ação de Graças e Louvor por toda a obra da criação, ou, por tudo de bom que o Pai realizou para a humanidade. Mas a Eucaristia é também um Sacrifício de Louvor, um canto de glória a Deus por tudo o que Ele criou e realizou. Cristo e só Ele podia realizar a maravilha que celebramos, pois Ele reúne em Si o Criador e a criação, de modo especial, a criatura humana, pois Ele reuniu em Si todos os fiéis. Em resumo podemos dizer que a Eucaristia é o sacrifício de Cristo, de todos os seus fiéis e, de alguma forma, de toda a criação. 5.2- A Eucaristia é o Memorial Sacrifical de Cristo e de Seu Corpo, a Igreja (1362-72) Já vimos com clareza que na Sagrada Escritura o Memorial é lembrança que torna o lembrado novamente presente. O Cristo real, sacrificado e ressuscitado, está aí. Nós podemos então, viva e realmente, nos unir a Ele em ação sacrifical e podemos conformar nossa vida à realidade celebrada. Nossa vida precisa tomar a forma (maneira) crística de doação por amor aos irmãos (“Amou-os até ao fim”). Por esse Memorial da Páscoa de Cristo, a celebração da Eucaristia constitui-se em verdadeiro sacrifício, o que, aliás, já é acentuado nas palavras de sua instituição: “Isto é o meu Corpo que será entregue por vós” e “este cálice é a Nova Aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós” (Lc 22,19-20). Fala ainda com clareza que seu sangue “será derramado por muitos para a remissão dos pecados” (Mt 26,28). Eucaristia e Cruz são o mesmo sacrifício. A vítima é a mesma e o sacerdote ofertante é o mesmo. Como já vimos muitas vezes, Cristo sempre une a Si, como Seu Corpo, a Igreja. Cabeça e Corpo tem tudo em comum e de tudo participam. Por isso podemos dizer que “a Eucaristia é também o sacrifício da Igreja” (1368). Com Cristo a Igreja é inteira agora também oferecida ao Pai. A oferta é feita por nós e nós mesmos somos ofertados. A Igreja une-se à intercessão de Cristo junto ao Pai por todos os homens.

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Neste sentido podemos concluir que tudo o que somos, junto com nossos sofrimentos e angústias; nossos louvores e orações; nossos trabalhos, principalmente aqueles realizados para o bem de todos os irmãos; tudo está unido a Cristo e à Sua oferenda total. Nós e tudo em nós adquirem novo valor e significado. Por isso, estando a Igreja inteira unida à oferta de Cristo ao Pai, na Celebração, reza-se por todas as pessoas que dão tudo de si para que a Igreja seja o que é e seja bem servida: Papa, Bispo diocesano, presbíteros e diáconos, bem como todos os ministros. Santo Inácio de Antioquia (+107) já declarava: “Que se considere legítima só esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo, ou daquele a quem este encarregou” (cit. in 1369). Eucaristia é expressão de uma Igreja em harmonia e ordem, unida e a serviço. A ação do amor de Deus não está sujeita a limites de espaço. Ela cobre Terra e Céu. À oferenda de Cristo sobre nossos altares unem-se seus membros em marcha nesta vida terrena, e os seus membros que já chegaram à Glória Celeste. Por isso nós nos declaramos em comunhão com eles, nomeando os mais destacados e veneráveis: a Virgem Mãe de Deus, com seu esposo São José; Apóstolos, Mártires... . A Igreja peregrina junto com a Igreja Celeste são uma só e está, em nossas celebrações, como que aos pés da Cruz Redentora de Cristo (1370).  Os fiéis defuntos tem também seu espaço especial nas celebrações eucarísticas. São objeto da solidariedade e das orações da Igreja Celeste e Terrestre. Nosso Catecismo afirma que “o Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis que morreram em Cristo e não estão ainda plenamente purificados” (1371). Lembra Santa Mônica em conversa com Agostinho e seu irmão, pouco antes de morrer. “Enterrai este corpo onde quer que seja. Não tenhais nenhuma preocupação com ele. Tudo o que vos peço é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais” (1371). 5.3- Presença de Cristo na Igreja e na Eucaristia (1373-81) Nossa Fé, em diversas situações em que Cristo está presente conosco, é vivamente respaldada em afirmações Dele mesmo. Prometeu estar conosco “todos os dias”, “onde dois ou tres estão reunidos em meu nome”; nos pobres, nos doentes, nos presos... em todos os Sacramentos nos quais Ele é o único Sumo Sacerdote. Mas, de modo especial, pela intensidade e importância de Sua atuação, Ele está “sob as espécies eucarísticas” (Cf. CIC 1373; remete a LG 48; Mt 25, 31-46; SC 7). Vamos refletir mais especialmente nesta presença eucarística de Jesus. As definições de nossa Igreja, sobretudo no Concílio de Trento, tem uma linguagem de difícil compreensão para o católico médio de hoje. Vamos tentar dizer o essencial da Fé católica de forma que possa ser melhor compreendido.  Presença Real (1374) O acento dado à Presença Real não tem a intenção de dizer que em outras situações nas quais Jesus garantiu Sua presença não seja real, ou que aqui seja mais real. Acontece que o Concílio de Trento queria ser uma resposta direta às formulações da doutrina protestante, com muitos elementos divergentes da Fé Católica. De modo geral, a Celebração Eucarística era para eles apenas uma celebração de memória, sim, mas não de um Memorial. A presença de Cristo era apenas simbólica. Daí a importância de definir com clareza o que é real. O Catecismo afirma: “No santíssimo sacramento da Eucaristia estão ‘contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo’” (1374, cit. Conc. de Trento). É o Cristo Homem-Deus, corpo, alma e divindade. Insiste o Catecismo no elemento real como qualificativo da presença de Cristo para dizer que é substancial. Isto implica em uma conversão do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo.

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 Transubstanciação (1376) Nosso Catecismo recorre a testemunhas históricas antigas para facilitar nossa Fé, como São João Crisóstomo e Santo Ambrósio que afirmam que a mudança nas espécies sacramentais se dão pela atuação do próprio poder de Cristo. Se Ele pode do nada criar coisas, o que é mais difícil, pode mudar a natureza de algo que já existe (1375). Este termo a Igreja emprega para dar ênfase ao fato de que as espécies sacramentais não são mais pão e vinho, mas são corpo e sangue. É de difícil compreensão por causa da linguagem cultural de hoje. Em nossa linguagem e modo de pensar, para algo mudar de substância precisa alterar sua natureza química. Contudo, sabemos que o pão e o vinho consagrados conservam sua natureza química e molecular. Tanto isto é constatado que existem pessoas que necessitam evitar comungar do cálice e outras pessoas devem evitar comungar do pão consagrado, ou “eucaristizado”. Para a linguagem antiga, para a filosofia, coisas correntes na Igreja, substância envolvia natureza, significados, finalidades e valores. Realidades metafísicas, para não falar em realidades espirituais, tem substância. Mas na linguagem popular moderna não tem substância, pois esta seria de natureza química. Não só para o homem de fé, mas para o filósofo do passado o pão pode mudar de substância sem mudar sua natureza química e molecular. Podemos ler o n. 1376 do CIC. ... Em resumo, o que nos importa é que ao comermos o pão eucarístico, ou ao bebermos do cálice “eucaristizado” (S. Justino) estamos nos alimentando do corpo e do sangue de Cristo, com toda sua vitalidade.  O Cristo inteiro é recebido por quem comunga o pão, o cálice, ou ambos. Posso partir o pão, as gotas do vinho consagrado podem ser separadas mas não podemos partir o Cristo. Ele está sempre inteiro em qualquer parte, grande ou pequena, das espécies sacramentais. Mas, por favor, não é o caso de ficarmos preocupados com fragmentos mínimos, microscópicos. Isso não faz sentido. Nossos sentidos precisam identificar as espécies como pão e vinho.  O culto da Eucaristia (1378-81) A Igreja Católica sempre cercou a Eucaristia, desde o momento da Consagração na Missa e também fora da celebração dela, de todos os sinais e gestos de respeito e de autêntica adoração, expressos por profundas inclinações e genuflexões. É o Cristo vivo que está aí e o Homem-Deus sempre é adorado. Atos de piedade individuais e comunitários como “adorações ao Santíssimo” e procissões são incentivadas pela Mãe-Igreja. Cristo quis que celebrássemos sempre o Seu Memorial do Amor de quem nos “amou até o fim” (Jo 13,1). Quis ainda garantir que Ele pode ser encontrado em qualquer lugar onde a Eucaristia é guardada. Assim, nossos doentes e até encarcerados, impedidos de ir às celebrações, podem receber o Cristo, o “Pão dos Anjos, o Pão da Vida Eterna”. A presença real de Cristo sob as espécies consagradas não pode ser descoberta pelos sentidos. Antes pelo contrário, os sentidos podem atrapalhar. Isso faz parte dos mistérios cristãos, aquelas realidades perceptíveis só pela Fé que se contenta com a palavra de Cristo, a Verdade do Pai Encarnada. “Isto é meu Corpo... este é o cálice do meu Sangue” são palavras da Verdade... Vamos encerrar lendo o hino no n. 1381. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 48- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos- 5 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 19 de setembro de 2013.

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6.- Eucaristia, o Banquete Pascal (1382-1401) Em primeiro lugar gostaria de deixar bem claro que o AT e o NT formam um conjunto onde prevalece a continuidade na forma de algo que evolui e se aperfeiçoa. A própria Revelação se dá assim. Dessa forma podemos perceber que nas manifestações religiosas e na Liturgia também existe essa continuidade. No AT eram comuns os sacrifícios oferecidos a Deus em que famílias inteiras participavam de refeições, junto ao altar, onde partes da vítima oferecida eram servidas. Não precisamos insistir no significado simbólico de tais refeições sagradas. Já ouvimos muito sobre a importância e os significados de uma refeição capaz de reunir todo um clã semita. Agora imaginem um banquete onde Deus participa com os homens, principalmente se Ele é quem convida e quem serve os comensais! Esta é exatamente a refeição eucarística. Nela, elementos da vida terrena misturam-se com elementos da Vida Eterna. Falando de Sua vinda gloriosa no fim dos tempos, Jesus diz que os empregados que estiverem vigilantes, esperando seu Senhor voltar de uma festa, alta noite, são bem-aventurados, pois “o Senhor mesmo cingirá o avental, fará com que se ponham à mesa e os servirá” (Lc12,37). Aqui Jesus está falando do banquete da “Páscoa Eterna”. Mas, na sua Páscoa celebrada com os Apóstolos, Ele faz exatamente isso. Ele os chamou à mesa e os serviu. Na celebração eucarística feita “em Memória de Mim” o mesmo acontece. Como já vimos, é Ele quem realmente preside nossa Ceia Eucarística, como único Sumo Sacerdote. Mas, temos uma novidade. Na Eucaristia, Jesus, além de ser o servente, Ele é a vítima oferecida em sacrifício e servida em refeição sagrada a quem Dele comunga. 6.1- O Altar, quase curiosamente para nós católicos, adquire um significado especial e variado. É o Altar do Sacrifício e ao mesmo tempo a Mesa do Senhor. Por isso nós cristãos acabamos identificando o altar com o próprio Cristo. Por isso, ao passar diante dele, antes do Cristo Eucarístico presente e mesmo fora da missa, fazemos-lhe uma reverência. Como a arca da Aliança, com seus dois querubins em atitude de adoração, era o local para Javé se fazer presente nas reuniões convocadas por Ele, assim o altar é o local onde Jesus se faz realmente presente em nossas celebrações. 6.2- Tomai e Comei Dele Todos Vós: a Comunhão (1384-90) Jesus insiste, de modo a não deixar dúvida alguma, que nós O recebemos na Eucaristia. Mesmo sabendo que muitos dos seus discípulos iriam embora por causa disso, afirmou de modo solene: “Em verdade, em verdade eu vos digo. Se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Aqui recomendo voltar à aula anterior (47), n. 5.3, principalmente ao ítem o Cristo inteiro. Nunca é demais recomendar aos fiéis que se preparem bem para a Comunhão. Em caso de pecados graves precisamos antes recorrer ao Sacramento da Penitência. Durante a celebração recomenda-se o exercício da plena concentração de consciência naquilo que celebramos e em nosso gesto de recebermos a Comunhão. Não podemos comungar de forma superficial, distraidamente, ou sem fé. São Paulo fala em comunhão indigna. Chega ao ponto de dizer que tal comungante torna-se “réu do Corpo e do Sangue do Senhor” (1Cor 11,27-29). Dá para imaginar tal pessoa como alguém que estivesse diante de Pilatos cobrando dele a condenação de Jesus. Do fundo da alma, com consciência total de nossa situação e do que estamos a fazer, precisa brotar a declaração: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Poderíamos também recorrer a S. João Crisóstomo e dizer: “Mas, como o ladrão, clamo a Vós: lembrai-vos de mim, Senhor, no Vosso Reino” (CIC 1386).

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Normalmente o fiel deve preparar-se para comungar em cada missa de que participa. Se, por razões pastorais ou de amor fraterno, precisar participar de uma segunda missa no mesmo dia, comungue. Mas não mais que duas vezes (1388, cf. nota 364ª). Outra norma importante da Igreja nos impõe a obrigação de participarmos da missa aos domingos e dias santos. 6.3 - Os frutos da Comunhão (1391-1401) Como ponto inicial quero lembrar que a maioria das graças atribuídas aos Sacramentos só atuam na medida em que criamos conscientemente condições para elas agirem. A Eucaristia é de uma riqueza realmente fabulosa e variada. Vamos então examinar esse “tesouro escondido”.  Aumenta nossa união com Cristo Esta verdade é testemunhada pessoalmente por Jesus, “quem come a minha carne... permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). É também Ele mesmo que explica sua afirmação. “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim (Jo, 6,57). O Ofício siro-antioqueno diz que ao receber o Corpo de Cristo os fiéis proclamam uns aos outros a Boa Nova da certeza de que nos é dada a vida. “Eis que agora também a vida e a ressurreição são conferidas àquele que recebe o Cristo” (CIC 1391). Nosso Catecismo compara o alimento eucarístico com o alimento para nosso corpo. É vivificante e nos faz crescer em Cristo (Cf. 1392).  A Comunhão separa-nos do pecado. Cristo foi “entregue por nós” para a “remissão dos pecados”. É lógico que alguém ao unir-se desta forma eucarística ao Cristo está, por assim dizer, no polo oposto ao pecado. Ele está em comunhão com a santidade divina de Cristo. Por isso fica mais fácil evitar pecados graves futuros (Cf. 1395). Mas, o problema está no fato de nossa natureza continuar pecadora. Carregamos sementes de maldade em nós, mesmo à Mesa Eucarística. Mas, se formos capazes de comungar com alto nível de consciência do que estamos realmente fazendo ao celebrar a Eucaristia e comungar o Corpo do Senhor, e se cultivarmos essa consciência no decorrer do tempo entre uma comunhão e outra, fica muito mais difícil o Maligno nos vencer por um pecado grave. O problema mais comum do cristão que comunga são as falhas e os pecados que espontaneamente brotam de seus defeitos ligados em geral a traços de sua personalidade. Proponho aqui uma conversa com os presentes e recomendo um bom exercício de auto-exame e auto-conhecimento. Mas, como um alimento de boa qualidade fortalece nosso organismo, a Eucaristia também fortalece nossa pessoa espiritual em Cristo. E a Igreja nos garante que “fortalece nossa caridade e apaga os pecados veniais” (Cf. 1394). Isso precisa ficar firmemente instalado em nossa consciência.  A Eucaristia faz a Igreja, reforçando a unidade do Corpo Místico. Creio que em aulas anteriores conseguimos reforçar em todos a figura dos membros da Igreja formando um único Corpo do qual Cristo é a Cabeça. A Eucaristia é a fonte por excelência do fortalecimento dos liames que nos unem a Ele, Cabeça, e nos unem uns aos outros. Isto é exatamente a concretização da nossa Santa Comunhão. Esses laços são necessariamente de ação dupla: união com Cristo e união de todos os irmãos entre si. Uma não se dá sem a outra! “A Eucaristia realiza este apelo: ‘o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o

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Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão’” (1396; cf. 1Cor 10,16-17). “Ouvis esta palavra: ‘o Corpo de Cristo’, e respondeis: ‘Amém’. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro” (CIC 1396, cit. Sto Agostinho). Para que a Igreja local, penso agora principalmente na comunidade paroquial, seja expressão do Corpo Místico unido, precisamos desenvolver mais compromisso com os pobres. A Eucaristia é também fonte inspiradora e alimentadora do desejo de todos que os cristãos de todas as igrejas superem as divisões e possam unir-se cada vez mais. O Catecismo Católico nos informa que em situações de extrema necessidade e a critério do Bispo diocesano, que podemos dar os Sacramentos da Eucaristia, Penitência e Unção dos Enfermos a outros cristãos que os pedem espontaneamente e tem as disposições exigidas (1401). 7. - A Eucaristia como “Penhor da Glória Futura” (1402-1405) Penhor é um documento autenticado pelo qual alguém assume uma obrigação. Neste particular nossa doutrina eucarística é impressionante porque quem assina o documento é Deus. Ele assume o compromisso de nos garantir a “Glória Futura” ou seja, a Vida Eterna! Pela Eucaristia somos repletos (cheios até o limite) “de todas as graças e bênçãos do Céu” (Oração Eucarística n. 1). Por isso ela é uma antecipação da Glória Celeste, como já vimos. Na Última Ceia Jesus fala que esta é realmente sua última, pois Ele não mais deverá “beber deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino de meu Pai” (1402; Mt 26,29). A Celebração Eucarística é uma profunda vivência da esperança das maravilhas eternas que Deus garantiu que nos virão, o que é expresso no pedido de “saciar-nos eternamente da Vossa glória, quando enxugardes toda lágrima de nossos olhos. Então, contemplando-vos como Sois, seremos para sempre semelhantes a Vós e cantaremos sem cessar os Vossos louvores, por Cristo, Senhor nosso” (Oração Eucarística n.3). Para terminar, escutemos Santo Inácio de Antioquia (+107). “E nós partimos um mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto não para a morte mas para a vida eterna em Jesus Cristo” (CIC 1405). O Sacramento da Penitência e da Reconciliação (CIC 1420-98) A Igreja gosta de reunir os tres primeiros Sacramentos sob o título de Sacramentos da Iniciação Cristã. Eles começam, instalam e alimentam a vida cristã em cada membro da Igreja. Um certo paralelo da vida na graça, ouvida da graça em nós, com a vida biológica de nosso organismo é quase inevitável. Afinal, nós somos corpo biológico e alma espiritual ao mesmo tempo. São duas formas de vida, e recorremos aos conhecimentos que temos da vida biológica para tentar, por comparações e imagens, entender também a vida espiritual na Graça de Deus. Assim, falamos em vida mais plena ou em vida mais precária. Falamos em saúde e doença; em medicação e cura, sem esquecer a morte, tudo isso em ambas as formas de vida que portamos. Nossa vida espiritual pode enfraquecer-se, pode adoecer. Às vezes entra em crise e demanda diversas formas de tratamento. Esta é a função dos Sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos. A Igreja os chama de Sacramentos de Cura. 1. - Nomes dos Sacramentos da Penitência (1422-24)

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 Sacramento da Conversão é muito sugestivo, pois em casos de pecados graves (mortais), em circunstâncias normais requer-se que o pecador converta-se e volte para o caminho que leva ao Pai e que faça isso pela via do Sacramento. Além do mais, conversão e confissão de pecados são elementos essenciais e inseparáveis para a celebração da Penitência.  Outro nome comum é Sacramento da Penitência. Vem do latim poenitentia que traduz nossas idéias de arrependimento, pesar, dor e contrição (Cf. Houaiss). Na penitência sacramental o fiel precisa externar real conversão (mudança), arrependimento e disposição de dar satisfações pelo pecado, o que pode envolver reparações e penalidades.  Confissão, simplesmente, é a designação mais comum deste Sacramento para o povo. Envolve dois sentidos concomitantes. É uma declaração dos pecados (declaração de culpa) diante de um presbítero e é um reconhecimento e louvor pessoais da santidade e misericórdia de Deus para com o pecador.  Sacramento do Perdão nos quer dizer que a celebração de um sacramento específico é a via normal para conseguirmos de Deus o perdão dos pecados, depois do Batismo.  Sacramento da Reconciliação é um nome muito expressivo. O pecado destrói ou ao menos compromete seriamente o relacionamento entre o indivíduo e Deus bem como o relacionamento entre ele e os irmãos em Cristo. Aceitando e vivenciando a misericórdia sempre oferecida, o pecador refaz a boa relação com Deus e com os irmãos.  Sacramento da Penitência e da Reconciliação é o nome mais completo. 2.- Por que Reconciliação após o Batismo? (1425-26) Em primeiro lugar eu diria que a necessidade de Reconciliação após o Batismo tem a ver com duas razões. A primeira razão é nossa condição humana sempre pecadora, embora também capaz de santidade. Por outro lado, Deus tem os seus designios, como caprichos e surpresas próprias do Amor que Ele é. Deus quer partilhar com o ser humano pecador a alegria e o mérito da construção dessa nova criação, que deve concretizar-se em cada um de nós. Deus poderia santificar-nos no Batismo e tornar esse estado de graça e santidade como um dado definitivo e irreversível. Isso seria muito divino, mas pouco humano. Deus aceita que nossa conversão e santificação sejam também fruto do esforço e dedicação nossos, apesar de todas as nossas dúvidas, contradições, idas e vindas, acertos e erros. Isso é mais humano e Deus é tão compreensivo e, como ninguém, sabe lidar com nossas contradições. É certo, S. Paulo ao escrever à Igreja de Corinto nomeia algumas situações de pessoas pecadoras que as impossibilitam de possuir o Reino de Deus. E diz que “alguns de vós éreis isto. Mas fostes lavados; mas fostes santificados; mas fostes justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (Cf. 1Cor 6,10-11). A grandeza e a seriedade do amor de Deus por nós pecadores devem levar-nos a compreender que o pecado precisa ser excluído da vida de quem se “vestiu de Cristo” (Cf. 1425; Gl 3,27). Fomos “vestidos de Cristo” fomos redimidos, convertemo-nos a Cristo, alimentamo-nos do Corpo e Sangue Dele. Mas, apesar disso tudo, nossa natureza continua frágil e fraca. Uma contínua inclinação para muitas formas de pecado é parte da nossa sina. Nossa civilização hedonista e sibarita sempre desenvolve novas formas de verdadeiras culturas de pecado. Contudo, todos nós conhecemos irmãos e irmãs à nossa volta que passam muito tempo ou até a vida toda sem que ocorram pecados realmente graves, aqueles que a Igreja qualifica de mortais. 3. - A Conversão dos Batizados (1427-29)

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Na verdade Conversão é um tema que sempre deve estar presente na vida de todo cristão. O Batismo constitui a primeira conversão, a inicial e que deve ser definitiva. Contudo, no decorrer da vida podem acontecer graves desvios da rota, desvios caracterizados pelo pecado. Novas conversões então se fazem necessárias. Mas, afinal, que se entende por conversão? O termo envolve mudanças de hábitos, costumes e comportamento. Daí vem a idéia de correção e transformação. Uma coisa é convertida em outra. Uma imagem bonita é a do barco a navegar pelo oceano. Deus é o norte, o porto de destino. A bússola, hoje o GPS, às vezes está no Evangelho, às vezes na Igreja, mas é sempre Jesus o seu responsável. Converter e corrigir o rumo do barco são o mesmo. Numa tempestade o barco pode sofrer grandes desvios. Mas também em dias normais e calmos pequenos desvios também são frequentes. Constantemente alguém precisa estar no controle do leme. Por isso podemos concluir que conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja e para cada um de nós. Caso extraordinário de uma conversão temos na vida de S. Pedro. Depois de três vezes negar seu adorado Mestre, um exemplo dramático de fraqueza do ser humano, Pedro passa pela ressurreição do Senhor. Então também por três vezes reitera seu amor por Jesus (Cf. Lc 22,61-62; Jo 21, 15-17). 4. - A Penitência Interior (1430-33) Como vimos há pouco, penitência, por sua origem latina, tem a ver com arrependimento, pesar e contrição. Os antigos tinham rituais de penitência envolvendo “saco e cinzas”, jejuns, abluções rituais, etc. Os grandes profetas e sobretudo Jesus voltam a atenção para o coração do penitente. É aí que se dá a reorientação radical de toda a vida para Deus, envolvendo uma ruptura com o pecado. Pedro reconvertido jamais seria capaz de pensar em negar Jesus! (Is 1,16-17; Mt 6, 1-16.16-18). O papel de uma consciência bem formada pela compreensão dos mistérios sacramentais que celebramos e vivemos e, com esta consciência iluminada pelo ES, é extraordinário. É o GPS, de que falávamos, agora instalado em nosso coração. Uma inconsciência espiritual gera uma consciência moral obtusa e até pervertida. Depois da luz da Fé, seria a escuridão reimplantada na pessoa. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 49 - Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 5 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 26 de setembro de 2013. Sacramento da Penitência e da Reconciliação - cont. 5.- As muitas formas de Penitência na Vida Cristã (1434-39) Na verdade a Penitência começa como um estado de alma, um misto de arrependimento, pesar, dor e contrição, como vimos na aula 48. Mas ela pode ser expressa e comunicada a Deus e aos irmãos (aos demais). A Sagrada Escritura e os Padres da Igreja (= os grandes pensadores dos primeiros séculos da Igreja, depois dos Apóstolos) insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola.Traduzem a conversão do coração e da mente.

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Mas, existem outras formas de obter o perdão de pecados. Todos já sabem que o Batismo perdoa todos os pecados. Uma forma heróica de alcançar o perdão dos pecados é o martírio, mesmo que o mártir não tenha sido batizado. Outras formas de obtenção do perdão são nomeadas: - esforços para a reconciliação com o próximo; - intercessão dos santos; - prática da caridade, “que cobre uma multidão de pecados” (1434; cf. Tg 5,20; 1Pd 4,8). Já falamos sobre conversão na aula anterior. Viver a conversão (orientação para o Senhor), no dia-a-dia, requer um estado de vigília e atenção constantes. Para isso a consciência de estar na presença de Deus, do Deus revelado por Jesus, é o melhor recurso deste estado de vigília para a conversão. Literalmente, o Espírito da Caridade passa a marcar nossas atitudes e gestos que traduzem a conversão. Podemos pensar em reconciliação, cuidado dos pobres, de doentes (Cf. Am 5,24; Is 1,17; Mt 25,34-40). Nosso Catecismo ainda acrescenta uma lista: confissão de faltas aos irmãos, correção fraterna, revisão de vida, exame de consciência, direção espiritual, aceitação de sofrimentos e firmeza na perseguição por causa da Justiça (Cf. 435). E afirma que o caminho mais seguro desse estado de penitência é todo dia “tomar a cruz e seguir Jesus” (Cf. Lc 9,23). E tem mais.  A Eucaristia é fonte e alimento dessa vida cotidiana de conversão e penitência. É a celebração do Sacrifício de Cristo que nos reconcilia com Deus. Ela torna nossas faltas mais raras e as perdoa, além de tornar pecados graves muito mais difícil de ocorrer (Cf. 1436). Ler 1437.  A Igreja tem tempos e dias de penitência que são ótimos para nosso exercício de conversão. A quaresma e todas as sextas-feiras são oportunas para meditar sobre o que Jesus fez por nossa Redenção, principalmente se participarmos dos exercícios de penitência oferecidos pela Igreja, tais como liturgias penitenciais, peregrinações, privações pessoais, etc. (Cf. 1438).  Um exemplo de dinamismo da conversão e da penitência é magistralmente descrito por Jesus na parábola do “filho pródigo”. O ponto alto revelador da parábola é a figura do “Pai Misericordioso”. Ler 1439. 6.- O Sacramento da Penitência e da Reconciliação (1440-49) O pecado foi sempre entendido pela Igreja como uma ofensa a Deus. Como nas relações humanas não deixa de ser ofensa. O sentimento de ofensa é gerado por agressões, desrespeito, desprezo, etc. Por outro lado, o pecado é sempre um atentado contra a comunhão com a Igreja. Todo pecado é expressão de um anti-amor. E é exatamente o Amor que estabelece a comunhão dos irmãos de Cristo entre si na e com a Igreja, e de cada irmão com Deus. Por isso é fácil entender que precisamos do perdão de Deus e também tanto mais de reconciliação com a Igreja quanto maiores forem as rupturas causadas pelos pecados. Perdão e reconciliação são expressos e realizados liturgicamente pelo Sacramento da Penitência e da Reconciliação (1440; cf. LG 11). 6.1 - Só Deus pode perdoar pecados (1441-42) Jesus, por ser filho de Deus, mostrou em ação que Ele tem esse poder tanto quanto o próprio Pai. “Teus pecados estão perdoados” (Cf. Mc2,1-12; Lc 7, 38-50).

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Mais uma vez, como Jesus quis partilhar tudo o que é seu com a Igreja, Seu Corpo, estendeu a ela, através dos Apóstolos e seus sucessores, o poder de perdoar e reconciliar. Todos sabemos que isso teve um preço altíssimo para Jesus, o preço de seu Sangue na cruz (1442; cf. 2Cor 5,18.20). 6.2 - Reconciliação com a Igreja (1443-45) Durante a vida pública Jesus perdoou pecadores e refez laços de convivência com eles. Aqui está o significado de Ele ir a refeições em casas deles. Lembram-se da festa na casa de Mateus? (Cf. Mt 8,9-13). Contudo, o exemplo mais completo de reconciliação e reintegração está na cena registrada por João 21,1519. Pedro O havia negado tres vezes diante de todos! (Cf. Lc 15;19,9). Como dissemos no parágrafo anterior, a mesma coisa Jesus quer para sua Igreja. Pedro, o líder dos Apóstolos, mas com sua experiência de pecado tão pessoal e em situação tão inesperada - pouco depois da Ceia e lava-pés, e de suas juras de amor, e disposição de dar a a vida por Jesus (Jo 13,36-38) - recebeu do Mestre a mais extraordinária participação do poder divino de Cristo, “Eu te darei as chaves do reino dos Céus...” (Mt 16,19). Depois Jesus estendeu esse “poder das chaves” ao Colégio dos Apóstolos, e, consequentemente, aos seus sucessores (Mt,18,18; 28,16-20; LG 22). “As palavras ligar e desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão, será excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão, Deus o acolherá também na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus” (CIC 1445). 6.3 - O Sacramento do Perdão para quem? (1446-49) O Sacramento da Penitência foi instituído por Cristo “para todos os membros pecadores de Sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial” (1446). Os Padres da Igreja falam numa “segunda tábua (de salvação) depois do naufrágio que é a perda da graça” (idem, cit. Concílio de Trento...). Estamos falando em pecado grave e a consequente perda da graça. Não se trata portanto de falhas ou faltas pequenas que, na prática, são inevitáveis. Trata-se de coisas graves, que acarretam consequências igualmente graves. A graça de que falamos é também chamada de graça batismal, ou graça santificante. Teremos à frente um tratado especial sobre a graça. Mas já adiantamos uma sua definição. “A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo ES em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la; trata-se da graça santificante ou deificante recebida no Batismo. Em nós, ela é a fonte da obra santificadora” (1999). São Paulo nos ajuda a entender. Ele diz que pelo Batismo nascemos em Cristo como uma nova criatura (Cf. 2Cor 5,17-18). O pecado grave aplica nesta nova criatura traços, marcas e distorções do velho adão! Precisa de um rápido e eficiente restauro para o faltoso recuperar sua bela figura em Cristo. O caminho normal requerido pela Igreja para isso é o Sacramento da Penitência. Nos primeiros séculos da Igreja a prática da Penitência era bem diferente da de hoje. Constatados certos pecados particularmente graves, como idolatria, negação de Jesus num tribunal, assassinato e adultério, o indivíduo era submetido a duras e prolongadas provas de penitência, entendida como sacrifícios. Eram provas de conversão e de reparação. Como havia um tempo de catecumenato para admissão ao Batismo e à Ceia Eucarística, instituiu-se uma espécie de “ordem dos penitentes” à qual não era fácil ser admitido. Como os catecúmenos tinham de retirar-se das celebrações quando começava a parte eucarística da missa, os “penitentes” também tinham de sair.

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Atos extraordinários de caridade por parte de um penitente podiam reduzir o tempo de penitência, ou até encerrá-lo. A pessoa era então absolvida pelo bispo e reintegrada na vida da Igreja, cujo ponto alto era a Celebração da Eucaristia. Está aí o germe das indulgências. No século VII missionários irlandeses inspiraram-se em práticas penitenciais comuns na vida monástica da Igreja Oriental e as trouxeram para as igrejas onde atuavam. A Penitência começa a tornar-se cada vez mais pessoal e secreta entre o penitente e o presbítero. A penitência anterior, como condição para receber o Sacramento da Penitência, cede lugar à obrigação assumida por quem confessa, de cumprir a penitência imposta pelo confessor depois de já ter recebido o Sacramento do Perdão. Isso permitia a repetição mais frequente da celebração da Penitência em que se recebia o perdão de pecados leves e graves. Muitas mudanças ocorreram na forma de viver esse Sacramento. Mas a estrutura básica mantém-se. De um lado estão os atos de alguém que se converte pela ação do ES. Esses atos são: contrição, confissão e satisfação. Por outro lado, Deus atua por intermédio de ministros da igreja autorizados, os presbíteros. Estes concedem o perdão, em nome de Cristo, e fixam o tipo de satisfação. O confessor ora pelo penitente. Vamos reproduzir aqui a fórmula da absolvição mais comum da Igreja. “Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o ES para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do ES” (1449). O perdão é concedido e o pecador está reconciliado com Deus e sua Igreja. 7. - Os Atos do Penitente (1450-60) Um verdadeiro espírito de penitência pode ser a verdadeira oportunidade transformadora da vida do pecador para a santidade (Cf. 1450). 7.1 - A Contrição (1451-54) A Contrição é qualificada por Houaiss de forma surpreendente: “sentimento pungente de arrependimento por pecados cometidos e pela ofensa a Deus, menos pelo receio do castigo do que pelo amor e gratidão à divindade”. O povo não fala em contrição, fala em arrependimento. Mas o arrependimento precisa das qualidades da contrição. A contrição, ou esse arrependimento profundo, tem fundamentos melhores, ou menos bons. O essencial é que seja motivado pela ofensa feita ao amado, ou Deus. O CIC chama a isso de “contrição perfeita” (1452). A rigor pode-se dizer que o pecador, ao responder dessa forma à consciência de seus pecados, já é perdoado por Deus. A celebração sacramental da Penitência é uma espécie de ratificação de algo já acontecido. O exame de consciência precisa ser bem incutido em nossas pregações e catequese. A Palavra de Deus aponta muitas leituras excelentes. São Paulo aos Romanos, capítulos 12-15, é um tesouro inesgotável. 7.2 - A Confissão dos Pecados (1455-58) A confissão de pecados, que vem como fruto de verdadeira contrição, é essencial para receber o perdão sacramental. Mas ela é também benéfica por si, como efeito psicológico que facilita reconciliações difíceis com irmãos.

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Todos os pecados graves, também chamados mortais, devem ser acusados, na medida de que se tem consciência, diz a Igreja. Para tranquilidade do penitente, costumo dizer que podemos confiar em nossa lembrança, ou memória. “Ninguém comete um pecado grave hoje e o esquece amanhã”. A ocultação ou omissão voluntária de um pecado grave numa confissão invalida toda a confissão. Não vamos fazer conjeturas sobre que tipo de pecado cometeria tal penitente. No mínimo deve estar numa confusão mental-espiritual lamentável. Primeiro precisa recuperar-se disso. Quando alguém é portador de algum pecado grave, ele adquire uma obrigação suplementar, a de confessar-se ao menos uma vez ao ano, no tempo da Páscoa, para poder cumprir o mandamento da Igreja de comungar ao menos pela Páscoa. Em pecado grave, alguém só pode comungar, sem a Confissão Sacramental, em situações muito especiais, como um motivo grave de comungar. As faltas leves, ou veniais, não obrigam à Confissão. São absolvidas inclusive na Celebração Eucarística. Mas procurar a Celebração da Penitência, assim mesmo, faz muito bem. Afinal trata-se de celebrar a Misericórdia do Pai. Além do mais, ajuda a formar uma consciência melhor e mais apurada, além de nos proteger de pecados maiores. 7.3 - A Satisfação (1459-60) “A absolvição tira o pecado mas não remedeia todas as desordens que ele causou” (1459). A simples justiça pode exigir reparações e compensações. Essas coisas, para o penitente, são obrigação moral e às vezes essencial para a absolvição. Mesmo não havendo prejuízos diretos a outros a serem reparados, todo pecado gera alguma necessidade de reparação. Todo pecado traz prejuízos espirituais ao pecador e aos irmãos da Igreja, Corpo de Cristo. Então fala-se em alguma “satisfação” ou “expiação”. É a célebre penitência (com p minúsculo) que o confessor aplica ao que confessa. Esta penitência, quase só simbólica, deveria ser bem pensada em função das circunstâncias e de seu valor pedagógico, além de corretivo. A idéia de unir o penitente a Cristo na sua cruz expiadora de todos os pecados pode aumentar muito a aceitação de expiações por parte do pecador. 8. - O Ministro deste Sacramento (1461-67) Todos sabem que os bispos são sucessores do Colégio dos Apóstolos. Por isso bispos e presbíteros que com eles trabalham são os encarregados do ministério da Reconciliação. Por isso são bispos e presbíteros que tem o poder de perdoar pecados “em nome do Pai, e do Filho, e do ES” (1461). O Bispo é o responsável pela disciplina penitencial (LG, 26). Há pecados muito graves que podem levar à excomunhão a quem os comete. É a penalidade mais severa da Igreja. A pessoa fica impedida do acesso a qualquer sacramento e ao exercício de certos atos eclesiais (Cf. Código de Direito Canônico - CDC -, cân. 1331). O Confessor tem de ser “sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus...não é o senhor, mas o servo do perdão de Deus” (1465). E observem essa jóia de afirmação da Igreja para os confessores: “deve orar e fazer penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor” (1466). Todo confessor está obrigado ao sigilo absoluto sobre o conteúdo (pecados) confessado. As penas previstas são muito severas para quebra do sigilo. O confessor não pode tomar qualquer atitude que resulte em

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prejuízo, aborrecimento ou embaraço ao penitente, a partir das coisas que ficou sabendo na confissão (CDC, cân. 983-84). 9. - Os Efeitos da Confissão (1468-70) O primeiro grande resultado de uma Confissão bem feita é a Reconciliação com Deus. Reconciliação, no original latino, tem também o sentido de restabelecimento. Tem sempre a ver com relações rompidas ou gravemente perturbadas entre pessoas e instituições. Isso ocorre quando pecamos gravemente em nossa relação com Deus. Pela Confissão, a relação entre o pecador e Deus é plenamente refeita, sem restrições, ou condições! A Igreja fala numa “ressurreição espiritual” (1468). O pecado também perturba nossa relação com a Igreja. O perdão sacramental também restabelece plenamente a relação do indivíduo com sua Igreja. A relação plena e harmoniosa entre cada membro da Igreja é a saúde do Corpo de Cristo. Um pensamento interessante é o que diz que, de alguma forma, ao nos confessarmos nós nos submetemos ao julgamento misericordioso de Deus. Com isso, de certa maneira, antecipamos o julgamento a que seremos submetidos ao morrermos. Cada celebração da penitência é um sim à vida de e com Deus! 10. - As Indulgências (1471-79) Não me sinto à vontade para desenvolver este tema aqui. Pessoalmente não tenho um conteúdo satisfatório para mim próprio. Não me sentiria coerente. Se mais à frente eu encontrar respostas que procuro, voltarei ao assunto. 11. - A Celebração do Sacramento da Penitência (1480-84) Em primeiro lugar preciso dizer que a forma como geralmente se realiza o Sacramento da Penitência deixa muito a desejar. Como em todos os sacramentos, teríamos que contar com uma ação litúrgica. Caímos todos na tendência do “deixar-se levar pelo mais fácil”. O CIC propõe os elementos básicos da celebração litúrgica da Confissão: saudação e bênção do sacerdote  leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e melhorar a contrição  exortação ao arrependimento  o penitente declara seus pecados  imposição e aceitação da penitência  absolvição  louvor e ação de graças  despedida com a bênção. A Igreja propõe celebrações comunitárias em ocasiões especiais, com liturgia bem elaborada, mas com declaração de pecados e absolvição individual. Depois deve seguir uma ação de graças com o Pai-Nosso, etc. A confissão coletiva com absolvição geral só pode ocorrer em casos excepcionais de emergência. Só o bispo pode examinar os requisitos para esse tipo de celebração e determinar se é o caso de fazê-la. A confissão individual continua sendo o único modo ordinário de os fiéis conseguirem sua reconciliação com Deus e com a Igreja. Cabe aos párocos, com o Conselho Pastoral, procurar formas de celebração e locais apropriados para que o Sacramento da Reconciliação possa comunicar aos penitentes toda a sua riqueza de graças e de cura para o crescimento de todos em Cristo. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 50- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos -6 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 03 de outubro de 2013.

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A Unção dos Enfermos (1499-1532) 1.- As Razões de Ser deste Sacramento (1499-1513) É só a gente se pôr a pensar sobre as razões para a Igreja ter no trato com seus membros enfermos um Sacramento especial só para eles, e várias respostas nos vem à mente com bastante facilidade. A Igreja, a partir de suas raízes fincadas no AT, aceitou e deu novos horizontes à mística do Êxodo. Em nossas liturgias as referências a um povo em marcha, um povo a caminho, à peregrinação sobre esta Terra, ao anseio pela pátria definitiva (Céu), são referências recorrentes. É fundamental para nossa Fé Cristã a aceitação de que Jesus veio anunciar e implantar na Terra o Reino de Deus. Ele está destinado a chegar à plenitude na Pátria definitiva, à Casa do Pai. Não esquecer que a palavra Casa tanto pode ser o templo de Deus, como pode ser a família reinante de Deus, aqui conhecida como dinastia. Nós nos lembramos da “Casa de Davi”. Cristo é o Reinante desse Reino que está já neste mundo, mas “não é deste mundo”. Jesus é o descendente de Davi, O Ungido. A marca de Seu Reinado é o acesso aos “bens messiânicos” a todos os seus súditos. Esses bens messiânicos eram entendidos como o usufruto de uma Paz total e definitiva; bem-estar para todos, coisas que a Igreja resumiu com as palavras “plenitude de vida”. Vida plena assegurada a todos é a Graça divina em sua expressão máxima, e a felicidade total. É claro que saúde está entre os atributos do Reino de Jesus. Saúde e vida andam de mãos dadas. Parece que Jesus embaralhou ambos os conceitos propositalmente. Ele encontra numa sinagoga, era sábado, um homem aleijado de uma das mãos. Ele está disposto a curá-lo, mas escribas e fariseus O observam para ver se vai ou não vai respeitar a guarda do sábado. Eles consideravam transgressão à lei do sábado até mesmo o realizar de uma cura por simples ordem verbal. Ele então pergunta aos zelosos guardiães do sábado: “Que é permitido no dia de sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou matá-la”? (Mc 3,1-4). Para Jesus não fazer o bem é fazer o mal. Vida precária, vida pela metade, é, embora parcial, triunfo da morte. Antigamente as doenças eram muito piores que hoje. A longevidade média das pessoas era baixíssima. A peste junto com a fome e a guerra foram consideradas bestas apocalípticas. Por isso um dos sinais da vinda do Reino de Deus com Jesus está nas muitas curas de toda sorte de doenças que Ele realizava. Quando João Batista, já na prisão, manda alguns discípulos a Jesus para certificar-se a respeito Dele, se Ele seria ou não o Messias, obtém esta resposta. “Ide dizer a João o que ouvis e vedes: os cegos recobram a vista e os coxos andam direito; os leprosos são purificados e os surdos ouvem...” (Mt 11,4-5). O assunto cura de enfermidades era tão importante para Jesus e para a Igreja nascente que, no Evangelho de Marcos, Jesus despede-se dos Apóstolos dando a ordem de pregar e batizar toda gente, e termina com essas palavras: “imporão as mãos sobre os doentes e estes serão curados” (Mc 16,18). São as últimas palavras de Jesus. Para a Igreja, lutar contra doenças é lutar pela vida, é lutar pelo Reinado de Jesus! Falamos um pouco sobre doenças e os sofrimentos causados por elas no passado. Não é só pelo fato de a vida média (duração) ter subido espetacularmente nos últimos tempos e as pestes terem sido erradicadas ou dominadas que as doenças não continuam angustiando e matando seres humanos. Nós continuamos experimentando nossas precariedades, nossos limites e a concreta realidade da morte. Muitos enfermos inclusive sabem com certa segurança que a morte está muito próxima. Há os que enfrentam esta certeza da morte de uma forma acabrunhadamente sofrida. Desesperos e revoltas contra Deus não são raros. Contudo sempre aparecem aqueles, profundamente confortados pela Fé, que enfrentam seus últimos dias com uma serenidade e comunhão com Deus, verdadeiramente edificantes. Já tive a sorte de claramente

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perceber a presença amorosa de Deus nos dias finais de doentes que indubitavelmente intuem seu fim. Isso não aconteceu apenas com São Francisco. 1.1 - O Enfermo diante de Deus (1502) Como acabamos de ver, o enfermo diante de Deus pode ter atitudes muito diversas. Essas atitudes podem ir de um extremo caracterizado pela decepção, mágoa e até de revolta declarada contra Deus que não cumpriria com Sua Palavra, até ao extremo positivo de visualizar o Cristo na Cruz, levando o doente a aceitar sua situação com serenidade e paz. Há casos em que pessoas alegram-se por poderem sentir-se mais semelhantes e unidos ao Cristo. São Paulo desenvolveu uma verdadeira teologia positiva sobre o significado do sofrimento para o cristão que está em união consciente com Cristo. Aos filipenses ele diz que lutas e sofrimentos são sinais de salvação, “porque vos foi concedido não somente crer em Cristo mas também sofrer por Ele” (Fl 1,29). Na mesma carta, mais para frente, acrescenta: “Quero conhecer a Cristo, o poder de Sua ressurreição, participar de seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dos mortos” (Fl 3,10-11). Considerava os sinais deixados pelo sofrimento em seu corpo como “marcas de Jesus” (Cf. Gl 6,17). “Por Ele sofro essas algemas, como um malfeitor”, diz a seu discípulo e amigo Timóteo (2Tm 2,9). Há mais referências sobre o sentido que todo sofrimento pode ter em quem está unido a Cristo. Quero terminar este ítem com uma jóia. “Agora me alegro com os sofrimentos suportados por vós. Eu completo em minha carne o que me falta dos sofrimentos de Cristo em favor da Igreja, Seu Corpo” (Cl 1,24). Aqui julgo necessário um comentário explicativo. Não devemos entender que os sofrimentos de Jesus teriam sido insuficientes para nos merecer a Redenção. Jesus havia alertado os Apóstolos sobre as tribulações que devem anteceder o fim dos tempos. São Paulo interpreta então seus sofrimentos por Cristo e com Cristo como a sua cota. A Igreja é o Corpo de Cristo, e participa de tudo que é de Cristo, também os Seus sofrimentos (Cf. Mc 13,5-10). 1.2 - Jesus Médico (1502-05) Na verdade o amor de Jesus pelos enfermos não terminou com o fim de Sua vida terrena. A compaixão continua a mobilizar a Jesus e aos membros da Igreja, Seu Corpo. É o mesmo Cristo que atua através de nós, seus membros. Nossos cuidados precisam voltar-se para todos os que sofrem, quer no corpo quer na alma. Alguém poderia argumentar que nem eu nem a Igreja somos coerentes, pois exaltamos tanto o sofrimento nas linhas anteriores, que ele deveria ser visto como um bem, e não como um mal a ser evitado. Acontece que o sofrimento só pode tornar-se um bem quando, iluminado pela Fé, adquire um novo sentido, como o de unir o sofredor a Cristo e torná-lo mais semelhante a Ele. Mas ainda assim, a dor, por exemplo, pode ser muito difícil de suportar e pode nos desorganizar a mente e a alma. Apesar da Fé, podemos sofrer angústias e estas, por si, tornam-se o sofrimento maior. O “meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” que Jesus exclama na Cruz, leva-nos a perceber que Ele viveu exatamente essa dimensão contraditória do sofrimento humano. Talvez exatamente por uma experiência tão humana que Ele vivenciou, Jesus foi levado a cuidar com um cuidado terno, solidário, reverente, humano-divino de todos os que sofrem e colocá-los num patamar bem elevado. No Juízo Final narrado por Mateus, Jesus chega ao ponto de tomar o socorro prestado aos irmãos nas diversas formas de sofrimentos como ponto único de julgamento na Sua vinda gloriosa. Quem os socorre está salvo. Quem não os atende está condenado. Simples assim. Não existe margem para negociação ou explicação. O socorro é simples e concreto: para quem tem fome é comida; para quem tem sede é água; para o desagasalhado é roupa; para enfermos e encarcerados é a visita solidária e a palavra confortadora (Cf. Mt 25,31-46).

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Na verdade, quem é capaz de agir normalmente desta forma está traduzindo em gestos concretos conteúdos de seu próprio coração que se tornou semelhante ao coração de Jesus, sempre cheio de misericórdia e compaixão. Aqui proponho voltar para a aula 12, n.3 e também para a aula 4, n.1. 1.3 - Curai os Enfermos (1506-10) Pelos Evangelhos podemos perceber que os discípulos, principalmente os Apóstolos, tiveram verdadeiras aulas vivas sobre doenças e o trato aos doentes. A vida pública de Jesus encontra-se, inseparavelmente, associada aos pobres e sofredores. Seguidores mais próximos de Jesus já participam de um estágio prático como Seus discípulos e cooperadores. “Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo”(Mc 6,12-13). Como vimos há pouco, Jesus ressuscitado, ao despedir-se de sua vida terrena com os Seus, logo antes de subir aos Céus, dá a última instrução, ligada aos enfermos. Podemos dizer que uma Igreja sem cuidados constantes com os enfermos está falida; perdeu sua razão de ser! 2. - Um Sacramento para os Enfermos (1510-13) Nossos enfermos, membros da Igreja, entre muitos cuidados, mereceram um Sacramento só para si. A Unção dos Enfermos é um dos mais bem fundamentados nos textos bíblicos. Ele está lá praticamente pronto, até com o ritual básico na Carta de São Tiago. “Alguém entre vós está enfermo? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da Fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, este lhe serão perdoados” (Tg 5,1415). A 14ª sessão do Concílio de Trento assim escreveu. “Esta unção sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um sacramento do NT, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor” (CIC 1511). Tanto na Igreja Ocidental como na Oriental não faltam testemunhos de que esta prática vem desde a antiguidade. No decorrer da história da Igreja Latina este Sacramento evoluiu até chegar praticamente a ser aplicado só a pessoas já agonizantes. A “Unção dos Enfermos” transformou-se em “Extrema Unção”. Claro que isso era um desvio das finalidades originais do Sacramento. Quais eram as razões para isso acontecer?... Em 1972, dentro do espírito do Concílio Vaticano II, a Constituição Apostólica, “A Sagrada Unção dos Enfermos” estabeleceu o seguinte. “O Sacramento da Unção dos Enfermos é conferido às pessoas acometidas de doenças perigosas, ungindoas na fronte e nas mãos com óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira ou outro óleo extraído de plantas - , dizendo uma só vez: ‘por esta santa unção e por sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do ES, para que, liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teu sofrimento’” (CIC 1513). 3. - Quem Recebe e Quem Administra a Unção dos Enfermos (1514-16)  Em caso grave...A Constituição Apostólica que acabamos de ler fala em doenças perigosas. As consequências dessa posição são claras: não esperar o doente chegar às portas da morte, nem aplicar o Sacramento para alguém acometido de um simples resfriado.

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No caso de esperar demais para “chamar os presbíteros da Igreja,” corre-se o risco de encontrar-se o enfermo em tal estado que não goze mais de condições mínimas para poder participar com consciência e piedade da celebração. Estou convencido de que o doente que recebe a Sagrada Unção em condições de mobilizar toda a sua Fé e a Esperança firme no Cristo que pode curá-lo, está em condições ideais para receber, com os melhores resultados, o Sacramento. Não vou descrever casos para não me estender muito. Mas espero lembrar rapidamente alguns testemunhados e vividos. No caso de uma mesma enfermidade, pode se repetir o Sacramento se ocorrer um agravamento do mal. Em idosos, se a fragilidade se acentua perigosamente, pode se repetir a celebração da unção. Antes de uma cirurgia de alto risco o fiel pode ser ungido.  “...Que chame os presbíteros da Igreja”. Só presbíteros e bispos podem ministrar a Unção dos Enfermos. A Igreja considera dever dos pastores instruir os fiéis sobre a importância de se receber esse Sacramento em boas condições, estando o doente consciente de seus benefícios e bem preparado para a celebração, nas suas melhores disposições. Uma Pastoral dos Enfermos precisa de ministros leigos preparados para, nas visitas aos doentes, falar da Unção dos Enfermos e prepará-los previamente, se for o caso, para receber o “presbítero da Igreja” que vai ungi-lo. 4. - A Celebração (1517-19) Não podemos abrir mão de um elemento importante da Unção dos Enfermos. Como todos os Sacramentos, exige uma “celebração litúrgica e comunitária” (Cf. SC 27), independentemente se ela ocorre em família, no hospital, ou na Igreja; quer seja unção de um ou de vários doentes. Sugiro não deixar a Unção para o hospital, se pode ser celebrada antes, por razões práticas. A Igreja recomenda que a Unção, quando possível, seja celebrada dentro da Eucaristia. Nas celebrações ainda não “in extremis”, a ordem natural deveria incluir Penitência > Unção dos Enfermos > Eucaristia. A Liturgia básica deve começar com um ato penitencial. Segue-se a leitura da Palavra com breve explicação e exortação. Vem então a imposição das mãos sobre o enfermo, em silêncio. A seguir o Celebrante ora sobre ele na fé, incluindo uma epíclese apropriada. Unge então a fronte e as mãos do enfermo, enquanto pronuncia, uma única vez, as palavras sacramentais: “Por esta santa unção e por sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do ES, para que, liberto de teus pescados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos” (1513). Segue uma oração apropriada para a situação, conforme o Ritual da Unção dos Enfermos. Se for o caso, a Eucaristia é agora dada, conforme o rito apropriado para ocasiões em que se leva a Comunhão aos doentes. O óleo a ser empregado seja, de preferência, o consagrado pelo Bispo. Mas por razões práticas e de assepsia o presbítero pode abençoar qualquer óleo que seja vegetal. 5. - Efeitos da Unção dos Enfermos (1520-23)  “É um dom particular do ES” (1520) O Espírito do Pai e do Filho, Espírito de vida e bem-estar, deve trazer paz e a fortaleza para o enfermo enfrentar positivamente as dificuldades físicas, psíquicas e espirituais comuns nas situações de enfermidades graves, principalmente quando há alto risco de morte. A sensação de fragilidade é a mais frequente. O Dom da Fortaleza pode ser essencial para o doente vencer tentações comuns em tais situações; tentações de desânimo, revolta, não aceitação e angústia. Além disso, “se ele cometeu pecados, eles lhe serão perdoados”.

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 A união com a Paixão de Cristo deve fazer parte das palavras de conforto e exortação do Celebrante. A consciência por parte do enfermo de que ele pode estar em tal comunhão com Cristo pode fazer toda a diferença na mobilização de quem vai ser ungido. Este Sacramento recebido na Fé dá, por si, ao doente, a força e o dom de unir-se mais ao Cristo da Paixão. O sofrimento recebe um sentido e dimensão novos. Torna o discípulo enfermo participante da obra salvífica de Cristo (Cf. 1521).  É uma graça para a Igreja. A Igreja, na Comunhão dos Santos, ora pelo bem de seu membro doente. Este, “por sua vez, pela graça deste Sacramento, contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai” (1522).  É uma preparação para a última passagem, principalmente quando alguém recebe a Unção já nas portas da morte. O Batismo começou em nós o processo de morrer em Cristo e com Cristo para o homem velho, o homem do pecado, a fim de nascer a nova criatura. Agora a Unção dos Enfermos consagra, “conforma”, diz a Igreja, o doente ao Cristo na Paixão e Ressurreição. Com esta última Unção terminamos a série das sagradas unções começada no Batismo e continuada na Confirmação. São as tres etapas da Vida Nova em Cristo, nascida no Batismo, fortalecida na Confirmação e que agora, pela Unção, torna essa nova criatura apta para enfrentar as últimas dificuldades já às portas da Casa do Pai (Cf. 1524 que remete ao Concílio de Trento). 6. - O Viático, Último Sacramento do Cristão (1524-25) Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece a última Comunhão Eucarística, chamada de Viático. No latim, viaticum significa “provisões para viagem” ( Houaiss). Esta última Comunhão nos fortalece para a viagem final, a viagem decisiva e definitiva. Se para Santo Inácio de Antioquia a Eucaristia era “remédio de imortalidade”, então esta última Ceia Eucarística nos reveste do poder da vida ressuscitada. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). Agora chegou a hora de passar da morte para a vida. É a nossa páscoa pessoal (Cf. Jo 13,1). Batismo mais Confirmação e Eucaristia, e temos os “Sacramentos da Iniciação Cristã”. Agora temos Penitência mais Sagrada Unção, mais o Viático e temos “os Sacramentos que preparam para a Pátria”. Eis o último ato de nossa peregrinação. RIP ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 51- Celebração e Vida dos Sete Sacramentos 7 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 10 de outubro de 2013. O Sacramento do Matrimônio (CIC 1601-66) 1.- O Matrimônio nos Planos de Deus (1601-20) Sabemos que tudo o que Deus criou, Ele o criou por amor. É muito fácil chegarmos à conclusão que todas as instituições que Ele inspirou ou deu à humanidade foram para o bem do ser humano. Assim, logicamente, o Matrimônio, “elevado por Jesus Cristo, entre os batizados, à dignidade de Sacramento” (cf 1601) visa o bem estar e a felicidade dos cônjuges e dos filhos. Uma curiosidade muito significativa constata-se no fato que a Bíblia começa com a história de um casal humano, homem e mulher, criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27), e termina com a visão das “núpcias do Cordeiro” (Ap 19). Do começo ao fim das Escrituras fala-se em casamento como instituição

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divina; pessoas casadas, vivendo a grandeza do amor, ou vivendo as baixezas e indignidades resultantes do pecado. Por fim, no NT o casamento cristão ganha seu modelo padrão de constituição e vivência do par homem e mulher: o amor dedicação e doação pessoal total de Cristo à sua Igreja (cf Ef 5, 21-33). É exatamente isso que o casal católico promete um ao outro quando celebra o Sacramento do Matrimônio. 1.1- Matrimônio e Criação (1603-05) De todos os sacramentos o Matrimônio é aquele que mais raízes tem na natureza do próprio ser humano e na criação de Deus. Em termos da natureza sexuada, a procura mútua de machos e de fêmeas é muito variada. Podem ser encontros rápidos e ocasionais, ou encontros que resultam em convivência na forma de casais estáveis. Parece que a lei natural é a de que quanto mais regular, organizada e cooperativa é a convivência do casal, mais segura, tranquila, saudável e alegre é vida da prole. Pela simples natureza, o nascituro humano vem ao mundo num estado de dependência total de cuidados para a sobrevivência. Por isso, tanto mais organizada e rica em afeto precisa ser a convivência de seus pais. Por outro lado, a espécie humana tem necessidades afetivas muito altas e demandas espirituais que lhe são próprias. O casal humano não é apenas um par procriador. Ele costuma ter elevados sonhos de felicidades, de superação e realização; seus sonhos são de perpetuidade. Por isso a constituição do casal e a regulamentação de sua convivência é algo que corresponde a traços daquilo que chamamos de condição humana, ou seja, de sua natureza, e não apenas resultado da tendência das instituições dominadoras imporem regras de convivência. Costumo dizer que nenhuma exigência do Sacramento do Matrimônio proposta pela Igreja contraria a natureza humana mais profunda, mais próxima de sua origem divina. O Sacramento do Matrimônio é o mais natural dos sacramentos. Nós acreditamos que “Deus criou o homem por amor e também o chamou para o amor” (1604). A vocação para viver o amor é também a mais natural das vocações. Temos de partir do princípio bem fundamentado de que viver o Amor e em função Dele faz parte dessa natureza antropológica profunda. Portanto, o casamento nunca pode ser visto apenas como uma instituição para garantir a procriação. É quase incrível que a Igreja Católica, se nunca oficialmente defendeu que o casamento visava somente a procriação, na verdade, por pregações e atitudes empregadas por orientadores de fiéis, muitas vezes deu a entender que ter filhos era praticamente tudo no casamento. Lá no Gênesis, no início de nossa história espiritual o autor sagrado já via as coisas para além do garantir a sobrevivência da espécie. “Não é bom que o homem esteja só”, diz Ele (Gn 2, 18). Diante da Eva, logo que acordou do sonho anestésico divino, Adão exclamou encantado: “eis, desta vez, o osso dos meus ossos e carne de carne” (Gn 2, 23). As duas constatações, a de Deus e a de Adão, vão mais além da tarefa de fazer filhos. Precisamos deixar bem claro que um bom casamento não visa em primeiro lugar os filhos, mas os esposos. Deus os criou por Amor e para o Amor! Aliás, o bem estar dos dois é condição para os filhos viverem bem. Ai dos filhos de pais mal amados, frustrados e ressentidos! A fecundidade no passado podia atingir importância dramática para a sobrevivência de clãs, povos e até mesmo da espécie. A humanidade já passou por situações muito mais difíceis do que pode imaginar o simples mortal de hoje. Então era importante os nossos antepassados ouvirem um homem de Deus dizer: “Deus os abençoou e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a” (Gn 1, 28). A mensagem mais importante do Gênesis sobre a nossa realidade é a de que homem e mulher foram criados por Deus um para o outro. E isso é a razão mais do que suficiente para o homem deixar seu pai e

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sua mãe, unir-se à sua mulher, formando os dois uma só carne (cf Gn 2, 24). Jesus, ao exigir que os parceiros no amor formem pares unidos até a morte, firma-se no Genesis para concluir: “de modo que já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 6). 1.2- O Casamento sob o Regime do Pecado (1606-08) O ser humano por natureza procura o bem estar, a satisfação, a alegria e até a felicidade. Semelhantemente, a mesma coisa observa-se na natureza animal. Observem nossos animais de companhia e logo percebam isso. Filhotes órfãos de primatas que podem escolher entre duas mães mecânicas que lhe fornecem exatamente o mesmo leite e na mesma quantidade, sempre irão preferir a mãe mecânica mais macia e aconchegante. No experimento são apresentados dois modelos. Uma mãe é armada com material duro e a outra com tecido, tipo veludo. Todos os filhotes querem mães aveludadas. O problema é que os humanos tendem a repetir sempre de novo qualquer coisa que lhe cause satisfação e prazer. Animais fazem o mesmo. Por isso, qualquer coisa que cause grande prazer pode viciar homens e animais criando dependência. Quando os suprimentos são poucos, animais podem lutar por sua posse para garantir sua sobrevivência. O náufrago não costuma pensar em caridade. E quando os suprimentos são muitos? Vem a tendência a acumular para possuir mais e mais, para aumentar a segurança ou criar mais poder. Ter e poder andam juntos. Não existem muitas coisas que gerem mais satisfação do que o poder. O exercício do egoísmo e da possessividade podem, por muito tempo, dar ao indivíduo a sensação de maior segurança e de vida melhor. Não acredito que as pessoas, assim como elas vem ao mundo, sejam generosas e solidárias. Estas qualidades precisam ser descobertas por persistente educação e com a concorrência de muita graça divina. O casamento é vivido dentro desses princípios gerais. Pode ser uma questão de satisfação egoísta de cada cônjuge e também pode ser fruto de descobertas da beleza da solidariedade e do amor gratuito, o que só é possível por graça divina. A gratuidade não é fruto da natureza. É graça. Mas é também, simplesmente, o segredo indispensável para superar todas as tendências ao egoísmo e para construir um casamento satisfatório para as duas partes. 1.3- O Casamento sob a Pedagogia da Lei (1609-11) Conservei os dois últimos títulos por respeito aos autores do Catecismo. Apesar da tendência humana de sempre procurar formas egoístas e, portanto, pecaminosas, de se comportar, Deus nunca abandona as pessoas. Pode-se até dizer que este amor incondicional pelo ser humano, seja ele santo ou pecador, é o tema central de toda a História da Salvação. Mesmo os sofrimentos que sempre foram vistos como consequência do pecado, portanto castigos, tais como transtornos de gravidez, as dores de parto de Eva e de suas filhas, bem como o duro labor com o suor do rosto de Adão e de seus descentes para arrancar o alimento de uma terra muitas vezes pouco cooperadora, Deus transforma esses sofrimentos em remédio de superação, fortalecimento do caráter e até de satisfação. Este tema será melhor desenvolvido mais tarde. A consciência moral necessária para um bom relacionamento matrimonial vai surgindo e crescendo aos poucos no decorrer do AT. Patriarcas e Reis de Israel tiveram o hábito da poligamia aceito, pois não havia uma rejeição explícita a essa indignidade para com a mulher. O divórcio foi tolerado e objeto de legislação “por causa da dureza do coração”, na interpretação de Jesus (cf Mt 19, 8), para evitar que a mulher fosse ainda mais injustiçada, sendo descartada por qualquer capricho de um homem extremamente machista e injusto. Na Bíblia encontramos dois pequenos livros sobre o casamento fora dos padrões comuns. Eles são de grande beleza. Rute comove e encanta. Nele estão qualidades, virtudes e convivência que são nítidas expressões da vontade de Deus para todo o convívio matrimonial e familiar. O livro de Tobias é mais difícil. Requer conhecimentos da época e a aceitação de que se trata de uma obra de ficção e não uma crônica de um casamento real.

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Contudo o elemento mais revelador sobre o ideal do casamento que deve vir um dia no futuro, o matrimônio por amor mútuo com fidelidade total e duração até a morte, começa a ser pintado pelos profetas quando falam do amor de Javé por Israel, Seu Povo, na roupagem de um esposo apaixonado, zeloso, perdoador e fiel. 1.4 - O Casamento no Senhor (1612-17) Como acabamos de ver, a aliança entre Javé e Seu Povo, Israel, é uma luz a brilhar para que o matrimônio seja organizado e vivido segundo a vontade de Deus. Jesus vai muito mais direto ainda ao tema. Segundo João, o primeiro milagre que ele realiza e praticamente o início da Sua vida pública, começam durante uma festa de casamento (Cf. Jo 2,1-11). Ele gostava de comparar a vida no Reino Eterno com um festim de casamento. Além do mais, ninguém falou de Amor como Ele e ninguém amou como Ele. Ora, o Amor no matrimônio desejado por Deus para Seus filhos é tudo! Não podemos deixar de recomendar aqui a leitura de João 13, 1-15, onde o lava-pés fala por si. Ele lava os pés de Pedro que horas depois irá negá-lo, totalmente acovardado. Também Judas tem a mesma atenção serviçal e, ainda em menos tempo, irá traí-Lo de forma mais abjeta. João 15, 12-17 também não pode faltar para fundamentar bem o Sacramento do Matrimônio na Pessoa de Jesus. Antes, ao final do lava-pés e da Ceia, Jesus fala algumas das coisas mais importantes da Sua vida e tira a conclusão do que se havia passado. “Um Mandamento Novo Eu vos dou: amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, vós também amai-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13, 34-35). O que há de novo no mandamento de Jesus? Em primeiro lugar é novidade ordenar (não é conselho nem convite) que os Seus amem de modo que Ele amou, isto é, até a cruz, incondicionalmente e sempre. Uma segunda novidade está em não exaltar aqui o Amor-Caridade ao próximo, mas o amor fraterno que Seus discípulos precisam ter uns pelos outros, aqui também na forma como Ele amou os Seus. Podemos perfeitamente imaginar Jesus numa situação em que, ao invés de estar com os Doze, estivesse com um grupo de casais Seus discípulos. Ele diria a mesma coisa. Talvez mudasse um pouco e dissesse: “Nisto todos conhecerão que sois os Meus casais”. Bem, poderia alguém dizer que o mesmo se aplicaria para todos os cristãos. Claro que se aplica e é dirigido a todos os Seus discípulos. Mas, o Sacramento do matrimônio cria uma situação privilegiada de vivência do Amor. A maior graça sacramental que os cônjuges recebem é a possibilidade de transformar tudo o que fazem um ao outro, desde o menor gesto de afeto e atenção até o mais entusiasmado encontro amoroso, tudo pode ser transfigurado por esse Amor maior de que fala Jesus. E amar o próximo é amar a Deus. Consequentemente o casal está numa situação privilegiada. Assim é facílimo entender Paulo quando aos Efésios fala que o Amor de Cristo por Sua Igreja (discípulos) é o modelo de amor que deve existir entre marido e mulher. É tudo ou nada. A obediência da mulher ao seu marido era sempre exigida e o marido tinha sobre sua esposa direitos absolutos. Estas coisas são agora substituídas por uma submissão mútua. “Submetei-vos uns aos outros” (Ef. 5,21). Não podemos esquecer que Jesus aboliu a relação de dominação entre todos os Seus discípulos, o que inclui o casamento. A submissão não é mais uma sujeição a um ente superior, mais poderoso, e com mais direitos. Trata-se da submissão ao Amor e ao serviço mútuo. No casamento cristão o machismo foi definitivamente enterrado por Jesus. Isso São Paulo entendeu bem. Os homens ouviram claramente. “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e deu a vida por ela” (Ef 5,25). 2. - A Celebração do Matrimônio (1621-24)

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Existe uma permanente tensão nas celebrações do Sacramento do Matrimônio em nossas igrejas. O normal deveria ser que os noivos, depois de bem preparados para entregarem-se conscientemente e com alegria ao Sacramento que irá inspirar e marcar cada momento da sua vida daqui para frente, recorram ao Sacramento da Penitência, se for o caso. A Igreja recomenda também que o Matrimônio seja celebrado dentro da Missa. Desta forma poderiam perceber e vivenciar a semelhança existente entre a entrega mútua de suas vidas, um ao outro, com a oferenda do Cristo por Sua Igreja. Assim, ambos comungariam no mesmo Corpo e no mesmo Sangue de Cristo e poderiam “formar um só corpo em Cristo” (Cf. 1Cor 10,11). Mas, infelizmente, o que vemos são verdadeiros shows de vaidade e ostentação. Serviços de som normalmente apresentam conteúdos muito pouco compatíveis com uma celebração sacramental. Quando chegamos à expressão propriamente dita da celebração do Sacramento, as palavras sublimes, as mais importantes proferidas na vida dos noivos, palavras sacramentais, pois os noivos são os ministros da celebração do Sacramento, essas palavras podem passar como um detalhe despercebido para muita gente. É isso que acabei de dizer. Na tradição da Igreja Latina os esposos são os ministros da graça de Cristo, conferindo um ao outro o Sacramento do Matrimônio. 3. - O Consentimento Matrimonial (1625-37) “Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para contrair o matrimônio e que expressam livremente seu consentimento” (1625). Na verdade o Catecismo está falando dos requisitos básicos para alguém ser candidato ao Sacramento do Matrimônio católico: homem e mulher, batizados e em condições de expressar livremente seu consentimento. A Igreja também define o que é ser livre nesta situação, a de matrimônio:  não sofrer constrangimento;  não ser impedido por leis naturais ou eclesiásticas;  eu acrescento: deve ser veraz. Constrangimentos podem ser de ordem externa ou interna. O consentimento tem de ser consciente e livre porque é através da expressão dele que se constitui o Sacramento. Se não for livre, o matrimônio é inválido, não se constitui. Marido e mulher são os ministros. O “celebrante”, melhor, o oficiante da cerimônia, é apenas o responsável perante a Igreja para garantir que o Sacramento seja conferido e celebrado da forma requerida; ele recebe o consentimento dos dois e, em nome da Igreja, lhes dá a bênção. É ele também que, através de uma oração de epíclese, invoca o ES para a celebração do Sacramento. O padre ou diácono é também a testemunha qualificada oficial da Igreja para o ato. Quando se consegue provar, insofismavelmente, que houve defeitos graves nos elementos requeridos para a validade do matrimônio a igreja costuma, através de tribunal competente e exames acuradíssimos, declarar a nulidade do casamento. Na verdade ele nunca se concretizou. A Igreja não pode anular casamentos. Para declaração de nulidade não existe prescrição, ou prazo. Em tais situações o casal fica livre para casar-se novamente. A Igreja exige de seus fiéis “a forma eclesiástica” de celebração do casamento, e que a cerimônia seja realizada em espaços públicos da Igreja. Isso se dá porque trata-se de um ato litúrgico. Tem a ver com toda a comunidade católica local.

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O sim dos esposos precisa ser livre e responsável. Por isso é importante que os noivos sejam bem preparados. “O exemplo e o ensinamento dos pais e da família continuam sendo o caminho privilegiado desta preparação” (1632). De minha parte afirmo: muito mais que ensinamentos, conta o tipo de vida de casal que os pais levam. Um Capítulo à parte - Os Casamentos Misto e com Disparidade de Culto (1633-37) Casamento misto: um cônjuge e católico e outro batizado mas não católico. Casamento com disparidade de culto: um cônjuge é católico e outro não é batizado. Na preparação da parte católica a Igreja recomenda, nos dois casos, cuidados pastorais especiais. Nos casos mistos não podemos esquecer que o diálogo entre igrejas cristãs não é geral. Muitas igrejas mais recentes não apresentam condições para o diálogo. Mesmo entre aquelas que praticam o ecumenismo, muitas não conseguiram afastar ou superar todos os problemas pendentes. É importante que cada parte reconheça na outra sua forma de fidelidade a Cristo. Os dois cônjuges precisam aceitar os requisitos básicos para a validade do casamento, como a indissolubilidade, a aceitação de filhos e a fidelidade. A licença para tais casamentos supõe que “a parte católica confirme o empenho, com o conhecimento também da parte não católica, de conservar a própria fé e assegurar o batismo e a educação dos filhos na Igreja Católica” (1635). Já temos casos de “pastoral comum para os casamentos mistos em lugares onde o diálogo ecumênico progrediu. Estamos falando de pastoral de católicos com outras igrejas. São Paulo nos lembra uma coisa interessante. “O marido não cristão é santificado pela esposa, e a esposa não cristã é santificada pelo marido cristão” (1Cor 7,14). Um grande casamento vivido em constante dedicação, humildade e paciência e a prática de virtudes familiares, como a oração perseverante, pode levar até à conversão do cônjuge não cristão. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 52- O Sacramento da Ordem 8 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 17 de outubro de 2013. O Sacramento da Ordem (CIC 1533-1600) 1- Introdução Batismo, Confirmação e Eucaristia foram chamados de sacramentos da iniciação cristã. Penitência e Unção dos Enfermos são os sacramentos da cura. Ordem e Matrimônio são sacramentos destinados à salvação dos outros. Contribuem para a para a salvação pessoal na medida em que se prestam serviços aos outros. Todos os cristãos católicos que foram consagrados pelo Batismo e Confirmação participam do sacerdócio comum de todos os fiéis. Dentre eles “os que recebem o Sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo ‘pela palavra de Deus, os pastores da Igreja’” (1535; cf LG 11). Podemos dizer que o Sacramento da Ordem é o “Sacramento do Ministério Apostólico” (1536) porque é através de ministros ordenados que a Missão confiada por Jesus aos Apóstolos é perpetuamente exercida para que as ovelhas possam ser bem apascentadas sempre. Basicamente trata-se do poder divino de Jesus que Ele partilhou com os Apóstolos e seus sucessores. São o poder de “absolver pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja’ (1553).

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Este Sacramento comporta três graus: episcopado, presbiterado e diaconado, do maior grau ao menor. Temos então, epíscopos (bispos), presbíteros (sacerdotes) e diáconos. A palavra ordem vem do latim Ordo que designava corpos constituídos no sentido civil, sobressaindo os que governavam. Pela “ordinatio” (ordenação) a pessoa era integrada nesta ou naquela “ordem”. Entre nós ainda temos a Ordem dos Advogados do Brasil. Não é difícil de entender que a OAB tenha tanto zelo em qualificar e controlar o ingresso de novos membros. Na liturgia do Sacramento da Ordem, nas diversas graduações, fala-se na Ordem dos Bispos, na Ordem dos Presbíteros e na Ordem dos Diáconos. Grupos diversos podem também receber a designação de ordem: ordem dos catecúmenos; ordem dos esposos, etc. Ordenação (ordinatio) é reservada para celebração do Sacramento da Ordem que se aplica aos candidatos ao diaconato, presbiterato e episcopado. Cardeais e papas não recebem nova ordenação. Ordenação vai além de eleições, designações ou de delegações. A Ordem é um Sacramento e confere um dom do ES que confere ao ordenado o exercício de um “poder sagrado”, poder que vem do próprio Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote. A Ordenação pode também ser chamada de “Consagração”, por entender-se que alguém é “colocado à parte, separado” dos demais, recebe uma “investidura” pelo próprio Cristo para o serviço de Sua Igreja. Sinal visível desta Consagração está na imposição das mãos pelo Bispo ordenante e na oração consagratória. 2- O Sacramento da Ordem e o Exercício da Salvação de Deus (1539-53) 2.1- O Sacerdócio na Antiga Aliança Desde Moisés Deus constituiu o povo de Israel como Seu Povo, “um Reino de Sacerdotes e uma Nação Santa” (Ex 19, 6). A tribo de Levi foi escolhida para o serviço litúrgico, serviços gerais no Templo, arrecadação do dízimo, etc (cf Nm 1, 48-53). Toda a organização sacerdotal e levítica, além dos 70 Anciãos, eram prefigurações e antecedentes do ministério ordenado da Nova Aliança. 2.2- O Único Sacerdócio de Cristo (1544-45) Todo o sacerdócio de Deus, quer do AT, quer do NT encontra sua plena realização e significado em Jesus Cristo, o único Sumo Sacerdote de todos os tempos, e o “único mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2, 5). Melquisedec, lá dos tempos de Abraão, aparece meio misteriosamente como um Rei-Sacerdote e abençoa pão e vinho. A Igreja viu aí sinais antecipados da Eucaristia e percebeu naquela figura sacerdotal da antiga Jerusalém dos cananeus um protótipo do sacerdócio de Jesus Cristo. Jesus é percebido como o único Sumo Sacerdote pelos Apóstolos, mas, “segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 5,10; 6,20; cf Gn 14,18). Nosso Salvador é um Sacerdote “santo, inocente, imaculado” (Hb 7,16). Ele é o único sacerdote que não precisa de oferendas para o perdão de pecados próprios, pois não os tem. “Com uma oferenda levou à perfeição, e para sempre os que Ele santifica” (Hb 10,14). O sacrifício de Cristo é único, e foi oferecido uma só vez na Cruz, mas é repetido como Memorial (que torna-o lembrado novamente presente). A Igreja ratifica o que Santo Tomás falou. “Por isso, somente Cristo é o verdadeiro Sacerdote; os outros são seus ministros” (CIC 1545). 2.3- Duas Formas de Participar no Sacerdócio de Cristo (1546-47) Como já vimos tantas vezes, Cristo sempre partilha tudo com os seus discípulos. Com seu sacerdócio não é diferente. Ele quis sua Igreja como “um Reino de Sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1,6). Isso estende-se a toda a comunidade dos fiéis. Todos os batizados e confirmados receberam duas unções pelas quais foram

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“consagrados para ser ... um sacerdócio santo (1546; cf LG 10). Na medida que cada fiel engaja-se e participa da missão salvadora de Cristo, ele exerce o chamado “sacerdócio comum dos fiéis”. O sacerdócio ministerial de bispos e de presbíteros é recebido por um sacramento próprio, o Sacramento da Ordem, e é um serviço para atender o sacerdócio comum de cada fiel, pois visa o crescimento de todos em Cristo. O sacerdócio de bispos e de padres é um dos meios de que Jesus lança mão para “construir e conduzir Sua Igreja” (1547). 2.4- Na Pessoa de Cristo Cabeça (1548-51)Através de sacerdotes ordenados, Cristo, como Cabeça da Igreja, atua, como acabamos de ver. Por isso, bispos e presbíteros “agem na Pessoa de Cristo” (1548; cf nota 546). São ministros a serviço de Cristo e atuam Nele! Por este ministério ordenado, bispos e sacerdotes tornam a presença de Cristo, atuante na Igreja, visível. O Catecismo cita Santo Inácio de Antioquia que afirmava ser o Bispo “typos tou Patros” (pronuncia-se tipos tu patrós), ou seja, “imagem viva de Deus Pai” (1549). “Infelizmente” (as aspas são para não criticar desígnios de Deus) esta presença tão especial de Cristo atuando em seus membros ordenados não reverte em vantagens de santificação pessoal destes. Sua função é serviço de santificação e salvação do Povo de Deus. Os instrumentos de santificação são iguais para todos: serviço incansável aos irmãos. Em resumo, é lava-pés e Eucaristia para todos. Até mesmo nesse aspecto, o Sacramento da Ordem é diferente dos outros sacramentos. Vimos anteriormente que os pecados do ministro dos sacramentos não impedem a ação da graça sacramental na pessoa de quem recebe um Sacramento. Mas, “há muitos outros atos em que a conduta humana dos ministros deixa traços que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e que podem, por conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja” (1550). Sacerdócio ordenado é só e inteiramente serviço aos fiéis de Cristo. Depende inteiramente de Cristo. “É por Cristo, com Cristo e em Cristo”! Tudo o que um ministro ordenar, em função do sacerdócio, procurar como vantagens pessoais é um anti-sacerdócio, seu e de Cristo! 2.5- “Em Nome da Igreja” (1552-53) Além de representar Cristo perante e para os fiéis, a ação do sacerdote ordenado também se dá “em nome de toda a Igreja quando apresenta a Deus a oração da Igreja e sobretudo oferece o Sacrifício da Eucaristia” (1552; cf LG10). Isso se dá porque a oração e a oferenda da Igreja e a oração e a oferenda de Cristo-Cabeça são inseparáveis. A ação de cada Igreja local é ação da Igreja toda. “É (exatamente) por representar Cristo que o sacerdote pode representar a Igreja” (idem). 3.- Os Três Graus da Ordem (1554-71) O ministério (serviço) da Igreja instituído por Cristo é exercido por bispos, presbíteros e diáconos. Dos três grupos só bispos e presbíteros participam ministerialmente do sacerdócio de Cristo. O diaconato, embora seja conferido pelo Sacramento da Ordem, destina-se a ajudar e servir os que são sacerdotes: bispos e presbíteros. “Que todos reverenciem os diáconos como Jesus Cristo, como também o Bispo, que é a imagem do Pai, e os presbíteros como o senado de Deus e como a assembléia dos Apóstolos: sem eles não se pode falar de Igreja” (1554; cit. Santo Inácio de Antioquia). 3.1- A Ordenação Episcopal - Plenitude do Sacramento da Ordem (1555-61)

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“Entre aqueles vários ministérios, que desde os primeiros tempos são exercidos na Igreja conforme atesta a Tradição, o lugar principal é ocupado pelo múnus daqueles que, constituídos no episcopado, conservam a semente apostólica por uma sucessão que vem ininterrupta desde o começo” (1555; LG 20). Como vimos, os Apóstolos,, para exercerem sua missão foram enriquecidos por Cristo com uma infusão extraordinária do ES. Os próprios Apóstolos, pela imposição das mãos, transmitiam esse Dom do ES a colaboradores seus e estes a outros, sucessivamente. É o Colégio dos Apóstolos perpetuado. Bispos recebem a plenitude do Sacramento da Ordem para que, por meio deles, o Cristo possa exercer o Seu Sumo-Sacerdócio único. “Eles fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice” (ibidem). Todo Bispo tem de ser, pela ordenação, mas também por sua boa prática, “mestre da Fé, pontífice e pastor” (cf 1556). “Alguém é constituído membro do corpo episcopal pela sagração sacramental e pela hierárquica comunhão com o chefe e os membros do Colégio” (1559; cf citação). O exercício do episcopado é essencialmente colegial (Colégio dos Apóstolos). A prática da Igreja é que o candidato já aprovado pelo Bispo de Roma (Papa) seja ordenado (ou sagrado) Bispo por diversos Bispos na mesma celebração. Cada Bispo recebe aos seus cuidados pessoais uma Igreja particular, ou diocese. Mas, ele, enquanto membro do Colégio Apostólico, participa dos cuidados e responsabilidades que esse Colégio tem por todas as Igrejas. Cabe aqui alguns comentários sobre governo colegiado da Igreja Católica... Recomenda-se a participação dos fiéis em celebrações de seu Bispo, quando possível. O Bispo representa visivelmente o Cristo em ação. 3.2 - A Ordenação dos Presbíteros - Cooperadores dos Bispos (1562-68) O Concílio Vaticano II dedicou todo um longo documento chamado Presbyterorum Ordinis (PO), ou seja, a Ordem dos Presbíteros em nossa língua. Neste documento está bem claro que parte do múnus (função) episcopal é conferido “em grau subordinado aos presbíteros, para que - constituídos na ordem do presbiterado com o fito de cumprir a missão apostólica transmitida por Cristo - fossem os colaboradores da ordem episcopal” (1562). O presbítero pode “agir em nome de Cristo-Cabeça em pessoa” (PO, em CIC 1563). Mas isso se dá enquanto está em comunhão com seu Bispo. Participando do mesmo sacerdócio do seu Bispo, mas em grau menor e subordinado, o presbítero é consagrado “para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento” (1564; LG 28). Precisa estar pronto para pregar e implantar o Evangelho em toda parte. Considero importante que essas coisas façam parte da formação de nosso povo católico, inclusive para zelar que as funções presbiterais exerçam-se assim em nossas comunidades. “Eles exercem seu sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sinaxe, na qual, agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, unem os pedidos dos fiéis ao sacrifício de sua Cabeça” (1566). Em cada Igreja local (Diocese) os presbíteros com o Bispo formam um único presbitério. Não devemos esquecer que presbítero vem do grego e tem a ver com velho, ancião, digno e depositário de experiência e sabedoria. O presbitério é também um conselho diocesano. Mas, acima de tudo, tem de ser um corpo sacerdotal bem unido pelo exercício e vivência eucarística. Quando numa ordenação presbiteral o Bispo impõe as mãos sobre a cabeça daquele que está sendo ordenado, depois dele, todos os sacerdotes presentes repetem o mesmo gesto.

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3.3 - A Ordenação dos Diáconos - “Para o Serviço” (1569-71) Aos diáconos “são-lhes impostas as mãos ‘não para o sacerdócio, mas para o serviço’” (1569). Na ordenação diaconal só o Bispo impõe as mãos sobre o ordenando, “significando que ele está especialmente ligado ao Bispo nas tarefas de sua ‘diaconia’” (ibidem; cf Santo Hipólito, em Trad. Ap. 8). Diácono em grego é literalmente o servidor e diaconia é serviço. O diácono recebe o Sacramento da Ordem, sacramento que é um sinal que nada pode apagar. Configura-se especialmente a Cristo que se fez “diácono”. Podemos falar em Cristo-Diácono! O diaconato pode ser visto, por excelência, o Sacramento do Serviço ao Próximo! Suas funções são dar assistência ao Bispo e aos sacerdotes na Celebração Eucarística, onde é encarregado de proclamar o Evangelho e distribuir a Eucaristia. Pode assistir o Matrimônio e abençoá-lo; pode pregar e presidir funerais; e “consagrar-se aos diversos aspectos da Caridade” (Cf. 1570). Desde o Vaticano II a Igreja Católica reintroduziu o diaconato permanente. Ordenam-se também homens casados. São muito importantes para melhorar a qualidade dos serviços da Igreja. 4. - A Celebração deste Sacramento (1572-74) Vou ser muito breve. Ordenações não acontecem com muita frequencia, e quando ocorrem costumam ser bem preparadas e o povo tem acesso a boas explicações. A Igreja recomenda que as ordenações, mesmo as de diáconos, devem ocorrer em dias de mais fácil acorrência de fiéis e, necessariamente, estão dentro da Celebração Eucarística. O rito essencial na Celebração da Ordem, em seus tres graus, consta da imposição das mãos pelo Bispo e da oração consagratória que pede a Deus a infusão do ES, com acento naqueles dons considerados os mais importantes para o ministério a ser exercido por quem é ordenado. É uma soleníssima epíclese. Na ordenação de bispos e presbíteros tem grande destaque a unção com o Santo Crisma, unção especial no ES. Cristo confiou a tarefa dada aos Apóstolos e seus sucessores de edificar a Sua Igreja à supervisão e atuação direta do ES. O mesmo ocorre nas ordenações. Por assim dizer, instrumentos de trabalho e símbolos do poder sagrado de suas funções são entregues aos ordenados. Nos três graus da ordem o ordenado recebe o Evangelho. 5. - Quem pode Conferir este Sacramento? (1575-76) São Paulo diz que é Cristo quem escolhe uns para serem apóstolos, outros, pastores (Cf. Ef 44). As ordenações referem-se a funções do ministério apostólico, ligado ao Colégio dos Apóstolos. Por isso o Celebrante do Sacramento da Ordem, nos três graus, só pode ser alguém pertencente ao Colégio dos Apóstolos, ou seja, um Bispo. 6. - Quem pode receber este Sacramento? (1577-80) A Igreja não abre mão de que o candidato à Ordenação Sagrada seja do gênero masculino (‘vir’) e no mínimo seja batizado. Argumenta que Jesus escolheu os Doze Apóstolos, estes escolheram seus sucessores para sua missão. O Colégio dos Bispos, ao qual os sacerdotes estão unidos necessariamente, torna presente e atualiza o Colégio dos Doze, até o retorno de Cristo. Por isso a ordenação de mulheres é vista como impossível (Cf 1577, com diversas notas).

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Ninguém tem o direito a aspirar às Ordens Sacras. É fruto de vocação divina e da aceitação pela Igreja. Só ela tem o direito de convocar alguém a quem ela considerar em boas condições para receber as ordenações, de diácono a bispo. O Sacramento é graça, um “dom imerecido” (Cf 1578). Todo candidato ao sacerdócio, seja presbítero ou bispo, precisa ser celibatário e comprometer-se a continuar guardando o celibato “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12). Na Igreja Oriental homens casados podem ser ordenados presbíteros, mas não bispos! Se alguém é ordenado presbítero solteiro, não pode casar-se mais. Muitos presbíteros procuram o celibato “por causa do Reino”. 7. - Os Efeitos do Sacramento da Ordem (1581-89) 7.1 - O Selo Indestrutível (Caráter Indelével) Pela ordenação a pessoa é habilitada a agir como representante de Cristo, cabeça da Igreja, em suas funções de Sacerdote, Profeta e Rei. Como já ocorreu no Batismo e Confirmação, esta participação na função de Cristo é para sempre. Trata-se de uma marca espiritual não removível. Ordenados podem conseguir, por motivos gravíssimos, receber exoneração das obrigações e funções inerentes à ordenação. Podem também ser proibidos de exercê-las, mas nunca voltarão a ser leigos no sentido estrito da palavra (1583). É bom observar que o pecado e a indignidade do ordenado não impede Cristo de agir, pois é Ele que opera a salvação. Santo Agostinho compara o dom de Cristo com a luz que passa através de matéria manchada e chega pura a quem a recebe (1584). 7.2 - A Graça do Espírito Santo (1585-89) Pela unção especial no ES o homem ordenado é constituído ministro de Cristo Sacerdote, Mestre e Pastor. A grande graça que o ordenado recebe é o próprio ES. Bispos, presbíteros e diáconos estão diretamente ligados às funções de Cristo e as tornam atuantes hoje e sempre. Ora, Cristo é o que é, exatamente, porque foi O Ungido por excelência no ES.  No caso do Bispo trata-se de uma graça de fortaleza: pois ele precisa “guiar e defender com força e prudência sua Igreja, como pai e pastor, com um amor gratuito por todos e uma predileção pelos pobres, doentes e necessitados. Esta graça o impele a anunciar o Evangelho a todos, a ser o modelo de seu rebanho, a precedê-lo no caminho da santificação, identificando-se na Eucaristia com Cristo sacerdote e vítima, sem medo de entregar a vida por suas ovelhas” (1586). Vamos ler do Catecismo uma oração de Santo Hipólito.  O presbítero, ao ser ordenado, ouve as palavras do Bispo enquanto lhe impõe as mãos, coisas como estas: “Senhor, dignai-vos cumular do dom do ES aquele que vos dignastes elevar ao grau do sacerdócio, a fim de que digno de manter-se irrepreensível diante de vosso altar, anunciar o Evangelho de vosso Reino, cumprir o ministério de vossa palavra de verdade, oferecer dons e sacrifícios espirituais, renovar vosso povo...” (1587).  O diácono ouve também de seu Bispo durante sua ordenação: “A graça sacramental lhe conceda a força necessária para servir ao povo de Deus na ‘diaconia’ da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão com o Bispo e seu presbitério” (1588). No entanto, como nos outros Sacramentos, essa graça sacramental da ordenação, embora diretamente identificada com o ES, atua na medida em que o ordenado coopera e cria condições para isso. Qualquer motivação que tenha a ver com interesses pessoais pode comprometer, e muito, a ação do ES.

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Terminando, o Santo Cura d’Ars dizia: “É o sacerdote que continua a obra de redenção na Terra...o sacerdote é o amor do coração de Jesus” (Cf 1589). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 53- OUTRAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 31 de outubro de 2013. Outras Celebrações Litúrgicas (1667-90) 1- Introdução Na verdade a terminologia não é muito fácil, pois podemos pensar em uma soleníssima e pomposa celebração papal, como também imaginar aquela bênção especial que uma pessoa piedosa costuma pedir, geralmente a sacerdotes e bispos, ou também a religiosos, quando revestidos de seus trajes típicos. Estas bênçãos podem ter algo a ver com sacramento. São ritos que invocam o poder divino em benefício das pessoas, como nos sacramentos, mas não chegam a constituir uma celebração litúrgica. O que devemos deixar bem claro é que celebrações litúrgicas não são apenas celebrações dos Sacramentos. Por outro lado há pequenos ritos que tem elementos de sacramento, mas não envolvem uma celebração. Por outro lado existem celebrações litúrgicas que ocorrem em situações muito importantes, quer para indivíduos, quer para comunidades inteiras. Podem ser celebrações grandiosas sem que sejam de sacramentos. Pensemos na consagração de pessoas a Deus por votos religiosos, ou numa soleníssima consagração de um grande templo, ou basílica. Não são sacramentos, mas também não cabem no âmbito daquilo que chamamos de sacramental. 2. - Os Sacramentais (1667-76) Como ocorre nos sacramentos, os sacramentais também envolvem sinais sagrados que significam efeitos principalmente espirituais, obtidos pela intercessão da Igreja. Nosso Catecismo faz uma afirmação não muito clara. “Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as diversas circunstâncias da vida” (1667, cit. SC 60). Existem situações em que as palavras “receber o efeito dos sacramentos” e “santificar circunstâncias da vida” são facilmente identificáveis. Uma bênção especial dada com imposição de mãos, oração (pode ser uma epíclese) e aspersão de água abençoada contém significados muito ricos. A água me liga ao Batismo, pela qual minha vida uniu-se à vida de Cristo. Imposição de mãos e oração apropriada nos conduzem à Unção dos Enfermos, que visa curar o enfermo e/ou aliviar os seus sofrimentos. Mas isso é perceptível facilmente para quem tem boas informações sobre a doutrina sacramental e sua vivência. Se a pessoa que abençoa explicar esses elementos àquele que solicita a bênção, tudo fica muito melhor. Mais uma vez, o problema pode estar na banalização e na superficialidade com que as coisas ocorrem. Aqui é fácil resvalar para ritos mais ou menos mágicos e não um autêntico sacramental católico. A Igreja também diz dos sacramentais que “são instituídos pela Igreja em vista da santificação de certos ministérios seus, certos estados de vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso de coisas úteis ao homem” (1668).  Santificação de ministérios (serviços). Nos grandes ministérios, do Diaconato para cima, a investidura das funções só é possível mediante o Sacramento da Ordem em três níveis.

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Existem também ministérios menores, mas de extrema importância. Algumas dioceses tem seus serviços bem organizados, outras nem tanto. Podemos lembrar ao menos os mais comuns. Temos o Ministério Extraordinário da Eucaristia, ministérios dos enfermos, dos leitores, dos catequistas, dos encarcerados, etc. Posso imaginar esses diversos ministros, após boa preparação, sendo apresentados ao público numa bela Celebração Eucarística, recebendo sua nova função na comunidade paroquial, com um ritual bem elaborado. Certo que isso não constitui um sacramento, não é uma forma de conferir o ES, mas esse Espírito, do qual somos todos portadores desde o Batismo, pode e deve sempre ser lembrado e invocado para todos os ministros que exercem qualquer função, que exercem qualquer serviço, em nome da Igreja, aos fiéis, ou aos não-fiéis. Destaquei em nome da Igreja para lembrar que todas as motivações pessoais devem ser vistas com cuidado e discernimento. Tudo deve ser determinado unicamente pelo amor a Deus e ao irmão.  Certos estados de vida. Pessoas de vida cristã mais intensa podem querer viver situações especiais, situações que abrangem desde a entrada para Ordens ou Congregações Religiosas, até a permanência na sociedade e em família, mas com consagração a formas especiais de vida. Estas formas de consagração pessoal podem envolver até voto de castidade, sempre tendo em vista uma vida evangélica mais intensa, à semelhança de Cristo. Há pessoas que entram para movimentos leigos católicos à procura de maior crescimento na vida cristã: Renovação Carismática Católica, Canção Nova, Focularinos, Cursilio de Cristandade, Encontro de Casais com Cristo, Equipes de Nossa Senhora, Apostolado da Oração, etc. Todos eles podem ter rituais apropriados para abraçar tais formas de vida cristã. Estamos falando de sacramentais.  Bem como do uso de coisas úteis ao homem. Posso imaginar um católico bem consciente da sua vivência do sacerdócio comum dos fiéis que quer santificar seu trabalho diário, dedicando-o a Deus, Pai de todos os benefícios. Esse cristão deseja que ele e seu instrumento de trabalho sejam abençoados por alguém que tenha o Sacerdócio Ordenado. Feito de forma consciente e na Fé, isso pode ser um fator poderoso de crescimento na espiritualidade. Certas bênçãos podem ter significados muito especiais, como vimos no caso de consagração de pessoas a Deus. Mas objetos e lugares destinados a funções e usos sacros podem também atingir dimensões especiais. Pensemos na bênção de igrejas, de altares, utensílios para o culto: cálices, âmbulas, cruzes, livros sagrados, etc. Pessoas às vezes pedem bênção para sua Bíblia. Poder-se-ia pensar em incentivar esse costume e dar-lhe maior solenidade. Os antigos abençoavam os sinos das igrejas, “batizando-os” com nomes de santos e de anjos... . Alianças, além da solene bênção de que são objeto na cerimônia do Sacramento do Matrimônio, costumam ser abençoadas também no início do noivado e em datas celebrativas da vida do casal. 3. - Religiosidade Popular (1674-76) Para encerrar este pequeno capítulo, quero insistir na importância de uma educação por parte dos pastores para uma espiritualidade mais cristã. Neste terreno misturam-se facilmente elementos cristãos autênticos com elementos de superstição e magia. Mas o ponto de partida deverá ser aquele que nos mostra o povo de Deus um tanto quanto entregue a si mesmo. Trata-se também de respeitar suas iniciativas e orientá-las quando o bom senso o indicar. Afinal, em muitos momentos importantes de sua vida, de seus problemas, o povo não dispõe de algum pastor por perto e à disposição. Ele tem de enfrentar as dificuldades com os recursos que encontrar no repertório religioso de suas crenças. Nosso Catecismo nomeia veneração a relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, via-sacra, rosário, medalhas, até danças religiosas, etc.

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Algumas dessas formas de piedade podem ser de grande valor no desenvolvimento espiritual da população católica. Imaginemos o exercício da via-sacra bem cultivado, além da oração do rosário. São meios excelentes para oração e meditação sobre os mistérios fundamentais da Redenção. Adorações ao Santíssimo, Horas Santas e procissões com o Santíssimo merecem lugar especial na piedade católica. Isso foi visto no final da aula sobre o Sacramento da Eucaristia. Cabe ao pastor apontar sempre para os propósitos fundamentais dessas práticas religiosas e evitar desvios, tais como ritualismos e crenças mágicas. O ideal é que se organizem tais práticas com o acompanhamento dos pastores e, sempre que possível, procurar sintonizá-las com as celebrações do ano litúrgico. Apoiar a piedade do povo é, pedagogicamente, muito frutuoso. Traz alegria a todos. Mas, se for o caso, importa purificar com a luz do tesouro da boa doutrina católica elementos que possam estar desfocados do Evangelho e do Mistério de Cristo. Fora disso, a religiosidade do povo pode servir de guia, como uma espécie de instinto evangélico, para salvaguardar elementos importantes da Fé Católica (Cf. 1676, cit. Doc. de Puebla 448). 4. - Os Funerais Cristãos (1680-90) 4.1 - Nossa última Páscoa (1680-83) “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir” (Credo). Todos os Sacramentos tem por ponto de chegada a última Páscoa de Jesus. O Batismo já selou nosso destino com Cristo. Morrer para o pecado e renascer para a vida em graça com Cristo, como membro sadio de Seu Corpo, cria uma situação em que participamos de tudo o que é de Cristo e Sua história pessoal. Então podemos pensar que nossa morte corporal se dá com Ele e como a morte Dele. Na verdade é um passo necessário. Para o Cristo ressuscitar era necessário morrer. Para o ser humano ressuscitar com Cristo é inevitável morrer com Ele. Com a morte o cristão encerra sua vida sacramental. Durante toda sua vida terrena era pela via dos Sacramentos que ele buscava a união com Cristo, sempre vivo e atuante em todos nós. Mas, ninguém podia celebrar sacramentos a toda hora. Pela morte o cristão nasce para a nova e definitiva vida. Pelo Batismo nossa vida era para tornar-se e desenvolver-se à “semelhança e à imagem do Filho de Deus”. Na vida eterna nossa semelhança com Ele atinge seu ponto máximo de desenvolvimento e a presença de Cristo conosco não é mais de momentos (e esses perceptíveis só pela Fé), mas é permanente e eterna. O ideal é a Igreja, como mãe, poder acompanhar seu filho, sua filha, que está de partida, para entregá-lo(a) às mãos do Bom Pastor. É nossa última caminhada, é nossa Páscoa! A Igreja então, nas celebrações dos funerais, apresenta ao Pai uma oferta particularmente preciosa colhida na vinha do Senhor. Esta oferta é completa se ocorrer numa Celebração Eucarística. Como vimos há pouco, as demais celebrações fúnebres são sacramentais. 4.2 - A Celebração dos Funerais (1684-90) Daqui nasce a mística que gera o respeito pelos restos mortais do irmão. O Cristianismo valoriza o ser humano em toda sua dimensão, também sua dimensão física, biológica. Cristo o salvou inteiro e o santificou também todo. Por isso é importante que o ministro, ou a ministra, que vai celebrar as exéquias consiga envolver as pessoas presentes na celebração. É importante que anuncie, de forma clara e convicta, a Fé na vida eterna e as características pascais da morte cristã (SC 81). O Ritual das Exéquias propõe três tipos básicos para celebração de funerais diferentes, dependendo do local em que a cerimônia se realiza: na casa, na igreja, ou no cemitério. Leva-se também em conta a importância que a família atribui às celebrações da Igreja, costumes locais e piedade popular. Em geral o esquema da liturgia das exéquias compreende quatro momentos importantes.

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 Acolhida e saudação (1687). Se a cerimônia for realizada na igreja local é importante ressaltar aos presentes que a comunidade local, a Paróquia, à qual pertence a família do(a) irmão(ã) que faleceu, acolhe a todos os presentes, solidariza-se com sua dor e quer confortá-los com a mensagem da Fé. A morte de um membro da comunidade cristã deve mobilizar a todos.  A Liturgia da Palavra (1688) A escolha dos textos deve ser criteriosa e bem atenciosa, em vista do público e do local da cerimônia. Em comunidades urbanas, onde ministros celebrantes muitas vezes não conhecem bem a família enlutada e seu membro falecido, costumo recomendar que o(a) ministro(a) celebrante consiga com habilidade e delicadeza abordar alguém bem próximo do(a) falecido(a) para falar coisas fundamentais sobre ele(a), tais como: circunstâncias da morte, idade, sua relação com as pessoas mais sentidas presentes. Se for oportuno, pode perguntar sobre suas qualidades e suas melhores ações. Às vezes chego a perguntar que qualidades do(a) falecido(a) gostaria de ressaltar. Com um quadrozinho sumário assim fica mais fácil escolher textos, orações, e sobretudo as palavras mais apropriadas para confortar na Fé os irmãos que aí estão a sofrer.  O Sacrifício Eucarístico (1689) A celebração litúrgica ideal das exéquias ocorre numa Celebração Eucarística com o corpo presente. “A Eucaristia é o coração da realidade pascal da morte cristã” (CIC 1689). A Igreja mostra então sua total solidariedade com seu filho(a) que partiu para sua Páscoa pessoal, sua passagem de uma vida cheia de imperfeições e sofrimentos, para a vida plena, sem qualquer sinal de atribulação, pois “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 21,4). Oferecendo ao Pai a única grande preciosidade que a Igreja tem, o sacrifício de Cristo no seu altar, ela apresenta ao Deus Pastor seu filho(a) e o(a) recomenda aos Seus cuidados. A Igreja pede que Ele perdoe todos os pecados de seu filho(a) e que cancele todas as suas consequências. Pede então que ele(a) seja recebido(a) na plenitude da Celebração Pascal da Mesa do Reino. É importante a família participar dessa Eucaristia. Ela aprende a rezar por e com seu membro falecido; falecido, mas que vive. E realmente, daqui para frente, a família descobre que pode rezar por e com a pessoa que partiu. Pode também aprender a orar por seus falecidos(as) para que eles(as), na Casa do Pai, orem por nós. Isso é muito confortador.  O Adeus (“a Deus”) (1690) O adeus ao defunto(a) é sua “encomendação” a Deus. O povo conhece todo o cerimonial litúrgico das exéquias, simplesmente, por “encomendação do falecido”. A parte assumiu o papel do todo. A comunidade cristã despede-se do seu membro que parte. É muito consolador o celebrante deixar bem claro que a pessoa falecida vive e está a caminho da Casa do Pai, na qual Jesus diz haver muitas moradas. O oficiante da cerimônia pode insistir que a separação é temporária. “Amanhã estaremos todos juntos na grande Família de Deus, em Sua Casa para sempre”. O corpo está bem preparado para baixar à sepultura. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 54- VIDA CRISTÃ ou NOSSA VIDA em CRISTO - 1

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Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 31 de outubro de 2013. 1- Introdução (CIC 1691-98) Parece coisa fácil o povo cristão, sobretudo vocês que vem acompanhando nossa Escola da Fé desde o início, saber o que caracteriza uma vida cristã. Embora sejam exatamente a mesma coisa, quando se fala na Vida em Cristo parece que as coisas ficam mais difíceis para se ter na ponta da língua uma resposta. Já vimos em aula anterior que vida cristã é em geral entendida como um conjunto de práticas religiosas cristãs. Vimos, porém, que vida cristã é muito mais que isso. Nossa Vida em Cristo envolve tudo que pensamos e fazemos; todas os nossos comportamentos, atitudes e posturas. É todo nosso modo de ser que precisa ser adaptado ao modo de ser de Cristo. Isso é a verdadeira imitação de Cristo. Nosso Catecismo começa esse tema descrevendo as mudanças que se operam em nós e em nossa vida desde o Batismo. Quando fomos recebidos na Igreja de Cristo e, consequentemente, nos unimos a Cristo, como membros de Seu Corpo. Ouçamos o que São Leão Magno falou sobre isso num sermão. “Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da natureza divina, não te degeneres, retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da Cabeça a que pertences e do Corpo de que és membro. Lembra-te que foste arrancado do poder das trevas e transferido para a luz e o Reino de Deus” (CIC 1691, cit. São Leão Magno). Em linhas gerais a Igreja quer nos mostrar a grandiosidade das coisas que em nós aconteceram quando unimos nossa vida a Cristo e assim despertar uma resolução firme de tudo fazer para nos tornarmos seguidores e imitadores de nosso Mestre e Senhor. Isso é importante, sem dúvida. Vamos tentar resumir e reduzir tudo só aos temas principais. Depois os desenvolveremos melhor, na medida em que estudarmos os próximos temas.  Nosso Credo aponta as grandezas de tudo que Deus fez por nós, abrangendo desde o fato de nos criar, até à nossa Redenção e santificação.  O cristão torna-se filho de Deus (1 Jo 3,1) e “participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4). Nossa vida precisa ser “digna do Evangelho de Jesus Cristo”. Dons do ES e a graça de Cristo, sempre renovados por uma autêntica vida sacramental, tornam isso possível (1692).  Como Jesus viveu sempre em comunhão com o Pai, nós os discípulos precisamos também crescer sempre mais nesta comunhão com Deus, procurando nos aproximar do ideal “sede perfeito com vosso Pai Celeste” (Mt 5,48).  Incorporados a Cristo pelo Batismo, os cristãos estão “mortos para o pecado e vivos para Deus em Jesus Cristo” (Cf. Rm 6,11). Incorporado significa que fomos implantados no corpo de Cristo, que nos tornamos membros Dele. A palavra incorporar pode ser entendida também como algo que é absorvido, anexado, por um organismo, ou instituição. Mortos para o pecado não quer dizer que nos tornamos impecáveis, não capazes de pecar. Mas, no mínimo, quer dizer que princípios, regras, posturas geradores de pecado não podem mais fazer parte da vida do cristão. Precisamos tornar-nos imitadores de Jesus e do Pai, sempre, em todas situações de nossa vida (Cf. Jo 13, 12-16).  “Justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6,11), “santificados ... chamados a ser santos” (Cf. 1 Cor 1,2), tornamo-nos “templos do ES” (1 Cor 6,19).

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Já explicamos alhures, as palavras santo, santificado que podem ser entendidas em dois sentidos: algo ou alguém consagrado a Deus, tocado por Deus, ou que atingiu alto desenvolvimento espiritual em cooperação com a Graça. Para dizer que Maria atingiu a plenitude da santidade, o Anjo disse e o povo repete, “Ave, cheia de graça”. Pelo Batismo fomos consagrados a Deus. Desde então somos pessoas santas, embora ainda pecadoras por causa de nossas imperfeições. Esta santidade de cooperação com a Graça precisa ser conquistada. Desde o Batismo já somos todos “ ‘templos do ES’ (1 Cor 6,19). Esse ‘Espírito do Filho’ os ensina a orar ao Pai e, tendo-se tornado vida deles, os faz agir para carregarem em si ‘os frutos do Espírito’ pela caridade operante. Curando as feridas do pecado, o ES nos ‘renova pela transformação espiritual’, Ele nos ilumina e fortifica para vivermos como ‘filhos da luz’ (Ef 5,8), na ‘bondade, justiça e verdade’ em todas as coisas” (Ef 5,9).  Jesus fala repetidamente na existência de dois caminhos. O caminho proposto por Ele “conduz à vida”. O contrário “leva à perdição” (Mt 7,13-14). O caminho da vida requer constante cooperação com a Graça. Cobra corretas decisões morais em nosso dia-a-dia.  A Igreja propõe a seus membros uma catequese que deve acompanhá-los a vida toda. É a catequese da “vida nova” de São Paulo (Rm 6,4). Ela precisa abranger praticamente todos os aspectos importantes de nossa vida. * Precisa ser uma catequese do ES. Fomos ungidos com Ele e desde então Ele é nosso Mestre interior, “o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à Verdade plena” (Jo 16,13). A Verdade plena é Jesus Cristo e só Ele. Nossa catequese deve ser basicamente uma catequese a respeito de Jesus, iluminados pelo ES que nos “inspira, conduz, retifica e fortifica nossa vida” (1697). * A Graça é tema fundamental da catequese, pois Graça é o contínuo toque divino, a cooperação de Deus que torna nossas obras capazes de “produzir frutos para a vida eterna” (idem). * Nossa catequese é uma catequese das bem-aventuranças, pois elas, além de serem a forma de traduzir como é o caminho de Jesus, forma proposta pelo próprio Jesus, elas traduzem um estado permanente de abertura, de disponibilidade, de absoluta necessidade e dependência frente a Deus. Eu digo que esse estado de alma é tudo! * Mas também é uma catequese de pecado e perdão. Sem reconhecimento de nossos pecados não conseguimos nos conhecer de verdade. Sem esse auto-conhecimento não chegamos a um agir realmente humano e moral. Sem o perdão divino não suportaríamos nossa realidade, nossa verdade. Seria a perdição. * Nossa catequese precisa conhecer bem as virtudes humanas e as virtudes tipicamente cristãs da Fé, Esperança e Caridade. As virtudes cristãs nos levam à santidade. Mas elas podem depender bastante de virtudes e qualidades humanas naturais. Antes da Caridade vem a bondade de coração, a solidariedade, a empatia. Antes da santidade temos de cultivar a honradez. * Mas, fundamentalmente, nossa catequese deve ser catequese da Caridade. Ela é a perfeição de todas as virtudes e “cobre uma multidão de pecados” (Cf. 1 Pd 4,8). * Por fim, precisamos de uma catequese eclesial. Nossa vida é uma vida da e na comunhão dos santos, isto é, de todos os batizados unidos na Igreja de Cristo. Não esquecer que toda catequese cristã terá sempre a Pessoa de Jesus como ponto de partida, ponto de referência constante e ponto de chegada. Só Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Vamos ler a citação de São João Eudes (1698). Primeira Parte: A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CIC 1699-1876) Introdução (1699-1700)

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A Igreja nos garante que o ser humano precisa descobrir que ele tem uma vocação bem geral e ampla. É chamado a viver de uma forma cada vez mais espiritualizada. Por natureza somos seres espirituais e essa dimensão espiritual aponta para a esperança da imortalidade e da eternidade. Nosso espírito entra em contato e comunhão com o Espírito de Deus, o ES e esse nosso destino começa a tornar-se realidade. Nosso Catecismo afirma então que o ser humano é chamado para a VIDA NO ESPÍRITO. A grandeza e a dignidade da pessoa humana está justamente nesta natureza espiritual. É nela que descobrimos havermos sido criados à imagem e semelhança de Deus. Deus, ao nos criar espírito, criou-nos à imagem Dele, Espírito Eterno, tornou possível nossa relação com Ele. São Paulo escreve que o Espírito de Deus fala ao nosso espírito. 1. - O Homem Imagem de Deus (1701-15) “Novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação” (1701, cit. GS 22,2). Ao citar Gaudium et Spes o Catecismo está nos dizendo que só podemos chegar ao verdadeiro conhecimento do homem através do conhecimento de Cristo. A natureza humana só é plenamente acessível ao conhecimento pela Fé! É realmente revelador o fato de o homem não ter chegado, por si mesmo, a uma definição abrangente e satisfatória de si mesmo. Os sábios chegam mais a contradições do que a consensos ao tentar defini-lo. Os humanos só conseguem ver sua verdadeira e real imagem recorrendo ao espelho de Deus. Vamos ver quais são esses traços de Deus em nós.  Imagem restaurada. Jesus é conhecido como o “novo Adão”, o protótipo do ser humano recuperado dos estragos do pecado, pleno do ES e da Graça divina. Jesus é o resultado do Logos que assumiu toda a natureza humana. Ele a redimiu, purificou e santificou. A verdadeira grandeza do ser humano está no fato de Deus ter se feito homem!  Nossa imagem divina manifesta-se nas pessoas que vivem em comunhão entre si, pois Deus é Amor.  por sermos dotados de alma “espiritual e imortal”, somos a “única criatura a quem Deus quer por si mesma” (1703).  Dotados de razão, somos capazes de compreender as obras de Deus, desde a criação até a Redenção. Em cooperação com a Graça, a razão nos leva a procurar e amar a Verdade e o Bem (Cf. GS 15,2).  Em virtude da alma espiritual, dotada de inteligência e vontade, somos dotados de liberdade. Inteligência e vontade livre, só Deus tem em plenitude.  Pela razão o homem é capaz de detectar a vontade de Deus, que o convida para fazer o bem e evitar o mal. É o princípio da moralidade que pode ser muito obnubilada pelo pecado mas iluminada pelo Espírito de Deus, ela é facilmente aceita como lei básica de nossos comportamentos. Esta lei básica é cumprida quando amamos a Deus e ao próximo.  Entregue a si mesmo, o ser humano não consegue evitar os atrativos do Mal e das concupiscências. Cristo, por sua Paixão, conseguiu quebrar a escravidão do mal, redimindo-nos do pecado. Ao nos receber no Batismo, Cristo instalou em nós a Vida Nova no ES e nos tornou filhos de Deus. Agora sim, somos realmente a imagem de Deus para a qual fomos criados. Podemos até dizer que todo progresso espiritual, todos os resultados da santificação tem como objetivo tornar a imagem de Deus cada vez mais nítida e acabada.

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2. - Nossa Vocação à Bem-Aventurança (1716-29) A Igreja gosta muito de falar em vocação. Realmente podemos pensar e compreender que Deus está constantemente a nos chamar para as mais diversas funções, formas de vida e a alcançar graus superiores de desenvolvimento da perfeição nos seus mais diferentes aspectos. Embora as bem-aventuranças não sejam o resumo completo da vida cristã - faltam temas como Eucaristia e morte redentora de Cristo - estão no núcleo central da pregação de Jesus. Elas abordam as atitudes fundamentais do cristão, sua postura que o torna apto a acolher o Reino dos Céus e até mesmo a atitude correta para apresentar-se diante de Deus. As bem-aventuranças são um retrato da alma de Jesus enquanto homem de Deus. Mas o retrato não está completo, como acabamos de ver. Vamos ler Mateus 5, 1-12 e explicar os elementos principais. As bem-aventuranças são também as respostas de Deus a um desejo natural da alma humana, o desejo de felicidade. A plenitude da felicidade humana só é alcançada quando o Reino de Deus chegar à sua glorificação. Mas as bem-aventuranças já mostram a alma de quem está no rumo certo para essa realização suprema do ser humano. Os grandes homens de Deus, de alguma forma, simplificam tudo, colocando em Deus tudo o que o homem espera em termos de promessas de felicidade. Ela já é firmemente instalada em nós no dia em que encontramos realmente Deus. “Então, como vos hei de procurar, Senhor? Visto que, procurando a vós, meu Deus, eu procuro a Vida bemaventurada, fazei que vos procure para que minha alma viva, pois meu corpo vive de minha alma, e minha alma vive de vós” (1718, cit. Santo Agostinho). Para Santo Agostinho, São Paulo, São Francisco e tantos outros santos, Deus é tudo. A certeza do amor de Deus já é a felicidade. Para eles as bem-aventuranças iluminam o fim último dos atos humanos. Tudo deve começar por Deus e terminar em Deus. Cada pessoa é chamada pessoalmente por Deus para participar da Bem-Aventurança Dele Próprio. Na parábola dos talentos a recompensa daqueles que produziram os resultados esperados pelo pai escutam o anúncio da recompensa com estas palavras: “Entra na alegria do teu Senhor” (Cf. Mt 25,14-23). Todo cristão que está realmente no caminho de Deus é um bem-aventurado. Melhor, é duas vezes bem-aventurado: por ter aquelas disposições de alma e de coração caracterizadas pela abertura e dependência da misericórdia de Deus bem como por já estar em comunhão com o Pai, vivendo já o Reino de Deus. O objetivo da existência humana praticamente já está concretizado na Terra. Cada pessoa individualmente e toda a comunidade da Igreja são chamados para essa vida com Deus. Formamos um povo novo, o Povo de Deus. No estágio do desenvolvimento deste tema em que nos encontramos, creio que todos já perceberam que a palavra bem-aventurança é empregada muitas vezes no singular, não sendo mais descrição de características de pessoas declaradas felizes por possuírem tais qualidades. Bem-aventurança é sinônimo de felicidade e plenitude de vida às quais Deus nos chama. Trata-se da vida eterna, do Céu. Repassando as diversas classes de indivíduos declarados bem-aventurados por Mateus, vemos os diversos tipos de recompensa, ou de objetivos alcançados. São diferentes nomes que Jesus usa para as bemaventuranças que designam objetivos atingidos. Na verdade, as diversas bem-aventuranças são diferentes aspectos da única e grande Bem-Aventurança, que traduz a felicidade total alcançada por todos quantos chegaram à Casa do Pai. Vamos então a Mateus.  A vinda do Reino de Deus é razão para a conversão (Cf. Mt 4,17). A vinda do Reino é certeza de felicidade para todos os que o recebem.  A visão de Deus é a bem-aventurança dos que tem o coração puro, de pessoas sem maldade.

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 A entrada na alegria do Senhor aparece como prêmio para quem produziu o que Deus esperou dele (Mt 21.23).  Entrada para o repouso de Deus é a definitiva recompensa para todos os que lutaram por conseguir uma vida sem quedas, segundo a vontade de Deus (Cf. Hb 4,7-11). Seria interessante se cada um ficasse atento e, ao ler outros textos do NT, anotasse possíveis outras formas de felicidade, ou de bem-aventuranças prometidas. “Aí descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a essência do fim sem fim. E que outro fim mais nosso que chegarmos ao Reino que não terá fim?” (1720, cit. Santo Agostinho). Uma Fé firme nas promessas de Deus, nas bem-aventuranças e a transformação de Deus na grande BemAventurança que procuramos, ajuda poderosamente fazer as escolhas decisivas acertadas. Também as escolhas morais ficam mais claras e fáceis. Tudo fica mais fácil. A certeza do acerto da decisão tomada, por si só, é muito gratificante. A simples consciência da presença contínua de Deus em todas as situações e circunstâncias de nossa vida torna também mais fácil conhecer nossas fraquezas, pois sabemos que o amor do Pai por nós não depende delas, nossas inclinações para o mal, nosso lado sombrio da vida. É mais fácil identificar os ídolos mais importantes de nossos dias: riqueza; poder e procura constante de projeção; desejo por cargos e honrarias; procura constante de tudo que possa causar prazer (hedonismo); cultivo narcísico do corpo e da fama, etc. Digo que as escolhas ficam mais fáceis quando temos certeza que possuímos o tesouro maior, a pérola escondida do Reino de Deus. Então todas as outras coisas, por mais belas e atraentes que possam ser, empalidecem e não atraem mais. Tudo se resolve em crer firmemente que somos os possuidores do Tesouro do Reino. Essa é a “sorte grande”, melhor, é a Graça Divina. ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 55 - VIDA CRISTÃ ou NOSSA VIDA em CRISTO - 2 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 14 de novembro de 2013. 3. - NOSSA LIBERDADE (CIC 1730-48) 3.1 - Introdução “O homem é dotado de razão e por isso é semelhante a Deus: foi criado livre e é senhor de seus atos” (1730, cit. Santo Ireneu). Liberdade é um conceito que todos tem e eu acredito que todas as pessoas imaginam saberem o que é liberdade. Trata-se de um dos valores básicos que todos defendem. Pela liberdade multidões lutaram no decorrer de toda a História. No entanto as discussões sobre o que é realmente liberdade, e até sobre sua real existência, parece que nunca terão fim. Mas, como vimos, Santo Ireneu (+202) acreditava, e a Igreja sempre ensinou, que o ser humano foi criado livre. Hoje talvez fosse mais interessante dizer que o homem foi criado para a liberdade. Ela precisa ser conquistada a duras penas. Depois da santidade, talvez a conquista humana mais difícil é a da liberdade. “A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e de amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança” (1731). Ela

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supõe o uso da razão e da vontade, bem como um exercício de auto-conhecimento cada vez maior. Por isso podemos dizer que a liberdade é a capacidade de autodeterminar-se. E devemos acrescentar para o bem. Quanto mais alguém é capaz de autodeterminar-se para o bem, mais livre ele é. Nosso Catecismo diz isso com outras palavras. “A liberdade alcança a perfeição quando está ordenada para Deus”. A liberdade tem de ser vista como uma graça extraordinária de Deus, um bem pelo qual pode valer a pena morrer. Deus correu o risco de ser rejeitado e odiado por muitos para ser amado livremente. As grandes tentações contra a liberdade na vida da Igreja sempre vieram e vem da doutrina sobre o pecado. É fácil imaginar que o uso da liberdade aumenta o número de mal-feitos das pessoas. Com isso educadores cristãos facilmente tem medo de entregar-se a um programa pedagógico de educação para crescimento na liberdade e o desenvolvimento da capacidade do seu correto exercício. Sem liberdade não há dignidade, moralidade, nem amor de verdade. Afinal, sem liberdade até mesmo a determinação para o bem não teria sentido. 3.2 - Liberdade e Responsabilidade (1731-38) Nós cristãos, mulheres e homens de Fé que tem Deus como referência maior para tudo, temos a capacidade de nos determinar para o bem, escolher o bem, amar o bem e persegui-lo sempre. Mas a possibilidade de, ao menos circunstancialmente, escolher coisas más continua a fazer parte de nossa vida. Isso também deve-se à liberdade. É ela que caracteriza o agir próprio e característico do ser humano. Nossa sorte é que quanto mais praticamos o bem, mais livres nos tornamos. Fator importante é a auto-consciência de nossas escolhas, de nossas determinações e da liberdade de tomá-las. Graças a essa consciência de liberdade amadurecemos para a responsabilidade. Capacidade de assumir responsabilidade por seus atos é essencial para alguém tornar-se adulto e alcançar maior capacidade de uso da liberdade. Daí nasce o que chamamos de imputabilidade. Isso implica que a sociedade tem o direito de considerar alguém responsável por determinada ação. É a correta atribuição de responsabilidade moral pelos atos de alguém. Da parte do indivíduo envolve consciência do que estava fazendo e das possibilidades de agir de outra forma. Elementos que podem diminuir ou suprimir a imputabilidade e a responsabilidade são “ignorância, inadvertência; violência, medo, hábitos, afeições imoderadas e outros fatores psíquicos ou sociais” (Cf. 1735). Por afeições imoderadas podemos entender paixões, ou grandes descontroles emocionais. Toda ação livre e diretamente procurada é de responsabilidade do autor. Não se pode argumentar com ignorância quando se trata de coisas que a pessoa tem obrigação de saber, como por exemplo, considerar inocente quem provocou um acidente por ignorar o código de trânsito. Outro setor importante para avaliação de responsabilidade está em efeitos ruins de ações que não foram diretamente procuradas ou desejadas. Ninguém vai qualificar de suicídio a morte de alguém que tentava salvar um náufrago, por exemplo. Mas existem efeitos ruins indesejáveis que são previsíveis. É o caso de morte causada por motorista alcoolizado ou drogado. Fala-se então em ações indiretamente voluntárias. “O direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo em matéria moral e religiosa” (1738, cit. DH, Dignidade Humana). 3.3 - Liberdade e Salvação (1739-48) A capacidade humana para gozar e viver a liberdade é finita e constantemente sujeita a percalços. Novas formas de dependência e escravidão vão aparecendo. Talvez a razão mais simples para isso acontecer esteja na dificuldade de compreender que ser livre tem o seu custo. É o preço da responsabilidade pessoal e das constantes escolhas que invariavelmente supõem renúncia. Quem escolhe renuncia. Em geral ao optarmos por alguma coisa precisamos abrir mão de outras. Outra incompreensão do que é liberdade está na idéia de que quem é livre pode fazer praticamente tudo que quiser.

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Conhecemos os estragos que a dependências das drogas faz na vida livre de qualquer pessoa. Contudo o problema é muito mais frequente e generalizado. Tudo que causa satisfação e prazer pode ser ocasião de apegos e dependência. No início as pessoas costumam pensar e dizer que são inteiramente livres e que fazem só o que querem. Depois de algum tempo podem encontrar-se em situação de não mais desejar outra coisa. Todos esses apegos descontrolados envolvem pecado. A verdadeira liberdade é graça de Deus e o oposto à graça é o pecado. “‘É para a liberdade que Cristo nos libertou’ (Gl 5,1). Nele comungamos da ‘verdade que nos torna livres’. O ES nos foi dado e, como ensina o apóstolo, ‘onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade’ (2 Cor 7,17). Desde agora participamos da ‘liberdade da glória dos filhos de Deus’” (1741). Liberdade é disponibilidade de cooperar com toda sorte de atividades na Igreja para o bem de todos. O serviço do Amor requer muita liberdade expressa em desapegos e disponibilidade. Neste serviço a liberdade pode acabar atingindo formas de doce escravidão! 4. - Moralidade dos Atos humanos (1749-61) 4.1 - Fontes da Moralidade Sem liberdade não existe moralidade no agir do homem. Por atos humanos entendemos aqueles que são próprios do ser humano, ou que são específicos. Só os atos que passaram pelo juízo da consciência e são livremente escolhidos podem constituir comportamentos morais, isto é, podem ser bons ou maus. Muitas de nossas ações, mesmo escolhidas, são indiferentes. A moralidade de nossos atos depende: - da coisa escolhida; - finalidade que temos em mente (intenção); - das circunstâncias. Esses três elementos, coisa escolhida, intenção e circunstâncias, são constitutivos da moralidade. No modo normal de entender as coisas, moral como substantivo ou adjetivo sempre deve referir-se ao bem. Consequentemente o objetivo de nossas escolhas tem de ser bom. Escolher algo mau seria um ato imoral. A intenção também tem de boa para o ato ser moral. Objeto bom e intenção boa são inseparáveis. Uma intenção maligna perverte e torna má uma escolha em si boa. Mas uma intenção boa não torna uma escolha má em coisa boa. Fins não justificam meios. Vocês querem dar alguns exemplos? As circunstâncias, inclusive as consequências, são elementos secundários do ato moral, mas podem ser muito importantes. Elas podem agravar o mal de comportamentos já maus. Mas podem também ressaltar o bem. As circunstâncias conseguem tornar um ato de caridade num acontecimento heróico. Mas, elas, por si só, não podem modificar a qualidade moral de um ato. Ação má não fica boa ou justa. 4.2 - Atos Bons e Atos Maus Para um agir ser moralmente bom, é necessário que bons sejam o objeto escolhido, a finalidade e as circunstâncias. Uma finalidade má corrompe a ação boa. Existem coisas que são objetivamente más, sem depender de circunstâncias ou intenções. Destas a Igreja nomeia algumas que são gravemente ilícitas em qualquer situação: blasfêmia e perjúrio, homicídio e adultério. 5. - Atos Bons e Atos Maus (1762-75)

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A palavra paixão nos leva a pensar em sentimentos, em gostar de, ou amor intenso a ponto de comprometer a racionalidade de alguém. Mas na linguagem da Igreja paixão significa sentimentos em geral. A paixão ou sentimento mais fundamental dos humanos é o amor provocado pela atração que o bem exerce sobre eles. Do contrário, a percepção do mal ou daquilo que imaginamos ser mal provoca sentimentos como ódio, aversão, medo e tristeza. “Só existe o bem que é amado. ‘As paixões são más se o amor é mau, boas se o amor é bom’” (1766, cit. Santo Agostinho). Na verdade, pode existir coisas boas, mas proibidas. O amor a um bem proibido é um amor mau, um sentimento maligno. Por si mesmos os sentimentos não são nem bons, nem maus. Só com a intervenção da razão e da vontade as paixões, como a Igreja as define, podem adquirir dimensões morais, boas ou más. A razão ilumina a situação para formar-se o juízo. A vontade nos leva a querer ou não querer algo. A vontade pode ser muito má. Os grandes sentimentos, as emoções mais intensas não determinam a moralidade de alguém, quer se trate de sua maldade ou de sua santidade. Paixões são moralmente boas quando ajudam nas boas ações; quando se dá o contrário, são más. Proponho uma conversa ... . A vontade que nasce do amor ao bem nos determina para o bem. A vontade má leva o ser humano a sucumbir a paixões desordenadas e a toda sorte de atos maus. Nosso catecismo nos ensina que o ES atuando em nós, mobiliza o nosso ser inteiro, incluindo suas dores, angústias, tristezas e medos. Cristo em sua Agonia e Paixão também redimiu essas nossas sombras. Em Cristo todos os nossos sentimentos podem receber sua consumação, ou transformação e iluminação na energia maior, na paixão total, ou seja, no Amor. Por fim, o homem chega a um estágio superior de aperfeiçoamento moral quando ele é motivado não só por sua vontade, mas pelos seus sentimentos, por seu ser total, coração e mente, alma e corpo. “Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo” (Sl 84,3; cf CIC 1770). 6- A Consciência Moral (1776-1802) “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno, a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração ... . É uma lei inscrita por Deus no coração do homem ... . A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa a sua voz” (1776, cit GS 16). 6.1- O Juízo da Consciência Estamos falando de uma percepção, de um modo de pensar que leva o indivíduo a aceitar valores morais, a saber o que é certo e o que é errado, o que aceitável e o que não é aceitável. Comumente, a pessoa se programa para, ou se dispõe a fazer o bem e a evitar o mal. A Igreja vê nisso um sinal da presença e atuação de Deus em nós. “Quando escuta a consciência moral, o home prudente pode ouvir a Deus que fala” (1777). A consciência implica em um julgamento da razão, iluminada pelo ES, pelo qual somos capazes de reconhecer a qualidade moral de atos que praticamos, ou estamos pensando em praticar. Sentimo-nos obrigados a seguir fielmente o que sabemos ser justo e correto. Isso acontece porque reconhecemos em nossa consciência prescrições da Lei Divina.

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“A consciência é uma lei de nosso espírito que ultrapassa nosso espírito, nos faz imposições, significa responsabilidade e dever, temor e esperança ... . É a mensageira daquele que no mundo da natureza, bem como no mundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo” (1778, cit. Newman ...). Nossa Igreja recomenda o auto exercício de consciência psicológica ou exercício de vida interior. “Volta à tua consciência, interroga-a ... Voltai, irmãos ao interior e em tudo o que fizerdes atentai para a testemunha, Deus” (1779, cit. S. Agostinho). A retidão da consciência moral faz parte da dignidade da pessoa humana. O juízo moral reconhece e compreende os princípios, ou seja, os fundamentos da moralidade. A verdade sobre o bem moral constitui o fundamento da lei da razão. Reconhecer esta verdade moral é papel do juízo prudente e sábio da consciência. Estamos diante do homem possuidor do Dom da Prudência. Mesmo que tenhamos errado, pecado, a boa consciência nos leva a assumir responsabilidades sem auto enganos ou explicações falsas, aceitando a real extensão de nosso delito. Aí, só nos resta pedir perdão a Deus, confiados em sua misericórdia. “Diante Dele tranquilizemos nosso coração, se nosso coração nos acusa, porque Deus é maior que nosso coração e conhece todas as coisas” (1Jo 3, 19-20). É um direito de toda a pessoa poder agir segundo a sua consciência e liberdade, para poder tomar suas decisões morais. 6.2- A Formação da Consciência A formação e educação de uma consciência moral cristã é de extrema importância. Todos sabemos que os valores definidos pelo Cristianismo não combinam com muitas práticas seguidas pela civilização neo-pagã em que estamos imersos. Creio que vocês podem apontar diversas práticas comuns não aceitáveis para o cristão. Por outro lado, uma consciência moral retamente desenvolvida é ponto essencial para que a pessoa cristã atinja sua moralidade e autonomia desejáveis para todos. É importante a pessoa poder pensar, avaliar e decidir acertadamente, por si, com seus recursos. “Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho” (1785). Mas para isso é necessário o estudo para entendermos a Palavra e não acontecer que se tente sua aplicação fundamentalista na formulação de normas para o dia de hoje. Neste processo somos assistidos pelo ES. Mas precisamos também recorrer ao testemunho e sábios conselhos de irmãos do Senhor. O ensinamento autorizado pela Igreja necessita ser conhecido. 6.3- Escolher Conforme a Consciência Às vezes vivemos situações em que os juízos morais podem ser bem difíceis. Ter em mente os pontos apontados no título anterior, 6.2, ajuda muitíssimo. A oração, pedindo luzes do ES e serenidade de espírito é capaz de nos surpreender. Nosso Catecismo aponta umas regras que servem sempre, em todos os casos. - para produzir, ou alcançar um bem, nunca é permitido praticar o mal. Fins não justificam meios. - a célebre “regra de ouro” diz: “tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7,12).

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- a Caridade sempre respeita o próximo e sua consciência. Muitos bons relacionamentos são rompidos porque um quer impor ao outro coisas que sua consciência não pode aceitar... 6.4 - O Juízo Errôneo Um juízo moral correto cria para o sujeito uma obrigação. É como receber a voz de Deus. Vimos que o ES participa desse processo de formulação do juízo. Problemas aparecem quando a pessoa ignora coisas importantes para o juízo, ou pratica coisas errôneas. Se a ignorância não é culpa, ou não é da responsabilidade do sujeito moral, o ser humano é considerado inocente e a responsabilidade não lhe pode ser imputada. Se o desconhecimento do indivíduo é fruto de displicência, de não cumprimento de obrigações, então a culpa é dele. Ignorância de Cristo e do Evangelho nunca são desculpas para o cristão. A consciência pode estar mal formada ou deformada por maus hábitos, coisas que supõem pecados sempre repetidos, ou a não aceitação da autoridade da Igreja para legislar e dirigir em assuntos de Fé e Moral. Tal consciência precisa passar por uma boa revisão. Contudo precisamos ainda frisar que, embora uma ignorância seja invencível, incontornável, os efeitos de decisões daí resultantes não deixam de ser maus. Hoje, em certos meios, é comum eleger a cultura de povos primitivos como princípio de moralidade. Por exemplo, o infanticídio de crianças defeituosas existente em certos povos indígenas não pode ser coibido. Raciocínio semelhante pode ser desenvolvido sobre o aborto e outras práticas contra a vida. A luz de Cristo veio para iluminar todas as realidades humanas, também para corrigir desvios de culturas. Uma consciência é constantemente iluminada por uma vida de Fé como nós entendemos. E a Caridade, que deve estar em todas as nossas atitudes e ações, precisa “de um coração puro, de uma boa consciência e de uma Fé sem hipocrisia” (1Tm 1,5). ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 56 - VIDA CRISTÃ ou NOSSA VIDA em CRISTO - 3 Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 21 de novembro de 2013. 7. - AS VIRTUDES (CIC 1803-45) Começamos com São Paulo aos Filipenses. “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4, 8). Em sentido bem geral aqui virtude é a prática do bem. O CIC diz que “a virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem” (1803). Podemos então dizer que a virtude leva a pessoa a dar o melhor de si. Na prática cristã o exercício da vida virtuosa nos faz semelhantes a Deus, segundo o pensamento de São Gregório de Nissa. 7.1 - As Virtudes Humanas (1804-11) podemos dizer que a prática de qualquer bem atinge a categoria de virtude quando ela se torna algo fácil, como expressão natural de uma pessoa. A prática está incorporada na pessoa. Isso se percebe quando as virtudes são firmes; as disposições estáveis e as perfeições são habituais. Virtude é hábito! O hábito torna o agir uma coisa normal, fácil e, por assim dizer, automático.

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7.1.1. - Virtudes Cardeais Entre as muitas virtudes humanas podemos distinguir uma classe a que chamamos de “virtudes cardeais”. Cardeal vem do latim “cardo”, ou seja, dobradiça. Em torno delas agrupam-se outras virtudes. Os romanos também chamavam de cardo a rua principal onde se agrupava o comércio da cidade. Assim a virtude cardeal atrai outras virtudes.  A Prudência põe a razão prática em ação. Em quaisquer situações ela focaliza o verdadeiro bem e escolhe os meios apropriados para alcançá-lo. Para Santo Tomás é “a regra certa da ação” (CIC 1806). Os antigos chamavam a prudência de “cocheiro” ou “portadora” das virtudes. Ela conduz as demais. O juízo da consciência é diretamente orientado por ela. Assim a conduta é decidida e ordenada. Os princípios morais gerais são corretamente aplicados aos casos particulares.  A Justiça concretiza-se na vontade constante em “ dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido” (1807). Justiça para com Deus é chamada de “virtude da religião”. Justiça para com os homens podemos chamar de “virtude social”, pois ela nos leva a respeitar os direitos de cada pessoa. Ela leva as relações humanas a ter harmonia e equilíbrio. Uma pessoa justa tem pensamentos e atitudes para com o próximo guiados pela correção e retidão. O Levítico (19,15) ordena: “Não favoreças o pobre, nem prestigies o poderoso. Julga o próximo conforme a justiça”.  A Fortaleza nos torna seguros nas dificuldades, resolutos nas tentações e na superação de obstáculos numa vida moral. Medo, provações e até a morte são vencidos por pessoas resolutas e fortes. “No mundo tereis tribulações. Mas, tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).  A Temperança põe freios e racionaliza os apelos dos prazeres materiais e temporais. Traz equilíbrio no uso dos bens criados. Põe ordem nas paixões do coração. “Não te deixes levar por tuas paixões e refreia os teus desejos” (Eclo 18,30). Talvez o desejo mais perigoso e difícil de ser modelado é o do poder. 7.1.2 - As Virtudes e a Graça Pessoalmente não gosto muito da divisão de virtudes humanas e virtudes teologais. Isso requer explicações contínuas para não resvalar para certo maniqueísmo, como se existisse oposição entre boas qualidades humanas e qualidades divinas. Na verdade todas as boas qualidades dos seres humanos são traços do Criador nas suas criaturas. Já as assim chamadas Virtudes Teologais são frutos da Revelação Divina como entendida pelo Cristianismo. Não podemos dizer que só os cristãos tem Fé, Esperança e Caridade. Mas sua forma de compreendê-las é única. Com o título acima a Igreja nos ensina que Deus, com Sua Graça entra no processo de desenvolvimento das virtudes humanas. Estas são resultado de educação, cultura, perseverança, disciplina, etc. Com a Graça Divina elas facilitam a prática do bem em geral e levam o homem virtuoso a sentir-se feliz. Com tantos apelos do pecado e todas as suas formas não é fácil o ser humano desenvolver e manter um equilíbrio moral. 7.2 - As Virtudes Teologais

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As virtudes teologais conferem novo sentido às virtudes humanas. A maior parte das pessoas é esperançosa. A esperança pode ser simples traço de personalidade assim dita otimista. No cristão a Esperança está em Deus, do Qual espera até a vida eterna. O amor que faz parte da vida de todo ser humano mais ou menos normal torna-se Amor de Deus. Temos o Amor de Deus, somos por Ele amados e aprendemos a amar o outro do modo Dele com Jesus Cristo. A Fé ilumina e dá novo sentido a tudo na vida do cristão. 7.2.1 - A Fé (1814-16) A Fé leva-nos a Deus, nos faz crer firmemente Nele, fonte da Verdade, e a aceitar toda a Sua Revelação e Obra Redentora. Isso se estende à Sua Igreja e ao que Ela nos propõe a crer. Fé dá sentido à vida. São Paulo afirma que “o justo vive da Fé” (RM 1,17) e “age pela Caridade” (Gl 5,6). O dom da Fé permanece até no pecador que pecou gravemente contra tudo, menos contra a própria Fé. Ela é a âncora salvadora do pecador. O estado de alma do pecador torna-se gravíssimo quando envolve a negação ou a perda da própria Fé. No exemplo dado por Cristo fala-se do pecado contra o ES. Nele a ação de Deus é qualificada de ação diabólica (Cf. Lc 11,4-5). A escuridão é total. A luz da Fé extinguiu-se. Como vimos, a Fé é a Graça Divina que dá sentido à vida e é causa de nossa alegria e paz interior. A Fé que diz estar nossa vida nas mãos de Deus gera profundo bem-estar. É importante que tenhamos essa vivência bem-aventurada da Fé. Desta vivência nasce o desejo que todas as pessoas possam chegar a esse tesouro da vida. É esta experiência que gera o espírito missionário. 7.2.2 - A Esperança (1817-21) A esperança enquanto um estado de espírito é também traço de personalidade, mais comum em pessoas otimistas que em outras. Mas quando ela descobre Deus (pela Fé), torna-se Esperança, uma das tres virtudes maiores que Deus nos concede. Esperamos e desejamos o Reino de Deus, a vida eterna. “Este Espírito que Ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados por Sua Graça e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna” (1817, cit. Tt 3,6-7). Todo ser humano tem aspiração à felicidade. Isso é um dom que Deus coloca no coração de todos. São as esperanças, aspirações e desejos que precisam ser organizados para o bem da pessoa e de todos os demais, para que a vida seja viável e tenha boa qualidade para todos. Elas necessitam de ser purificadas de excessos. Nada faz isso melhor do que uma autêntica Fé e compreensão do que é o Reino de Deus. Sem isso é bem difícil as aspirações não caírem na esfera do egoísmo. Exemplo heróico de esperança está na figura de Abraão no sacrifício do filho Isaac (Cf. Gn 22,1-19). A virtude da Esperança abrange todos os conteúdos da Fé presentes na Revelação de Deus. Tem tudo a ver com outra virtude natural, mas que a Fé transforma numa força extraordinária do homem de Deus. Seu nome é confiança. Na realidade a confiança é uma mescla de Fé e Esperança. Gera a certeza. A certeza básica é a de que Deus não falha nas Suas promessas. Mártires vivem essa confiança, verdadeiro dom de Deus, em escala extraordinária. 7.2.3 - A Caridade (1822-29) “A Caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus” (1822). O Catecismo fala em amar a Deus “por si mesmo”. A razão pela qual procuramos Deus e lhe declaramos nosso amor é por Deus ser o que é. Procurá-lo só por coisas que Ele pode fazer pela gente não seria verdadeiro amor. Seria interesse.

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Jesus deu um toque pessoal novo à Caridade. Fez de seu modo pessoal de encarar o Amor o que Ele chamou de Mandamento Novo. Aconselho ler João 13,1-35 para não separar o versículo 34 da riqueza de seu contexto. Neste texto os estudiosos vêem que Jesus no centro da vida cristã não apenas a Caridade que leva os irmãos ao socorro mútuo, o que já é uma grande coisa para a boa convivência humana. Na verdade Jesus quer tudo, quer o Amor em momentos especiais, sem limites, mas que vai até a doação da própria vida; mas exige também como essencial o Amor na forma de convivência de irmãos. É o amor fraterno que os leva a trocar cuidados e desvelos até em coisas pequenas como um simples lava-pés. Ele o quer assim porque a fraternidade está fundada na Pessoa Dele, de Jesus. Os laços que unem seus discípulos entre si são mais importantes até que os laços de sangue que uniam Ele, Jesus, e Sua Mãe Maria (Cf. Mt 12,46-50). Seus discípulos formam com Jesus sua nova família e Ele, como Pai-Mãe dessa família, lava-lhes os pés. O amor fraterno, o amor pequeno da boa e gentil convivência é exaltado, junto com a doação na Cruz, à categoria de um Mandamento Novo: o Mandamento n. 1 e único de Jesus. Realmente, quem ama os irmãos de Jesus dessa forma cumpre toda a Lei, todos os mandamentos. tendo Jesus dado a vida por nós homens quando éramos ainda “inimigos” (Rm 5,10). Então Ele exige que nós também amemos os inimigos e lhes lavemos os pés (Cf. Mt 5,44). Proponho ler o capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios, onde São Paulo coloca exatamente a Caridade envolvida nas relações entre irmãos em Cristo. “A Caridade é paciente, a Caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se enche de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (13, 4-7). Sem Caridade nada somos. A ausência dela zera todas as outras virtudes, incluindo a fé mais intensa. O Amor inspira e anima todas as virtudes, todos os lances da vida. Por isso ele é o “vínculo da perfeição” (Cl 3,14). Toda a prática moral, quando animada pelo Amor, torna os filhos de Deus cada vez mais livres (Cf. 1Jo 4,19). O Pensamento de São Basílio é muito interessante. Diz ele: “Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando assim na posição do escravo; ou buscamos o atrativo da recompensa, assemelhando-nos aos mercenários; ou é pelo bem em si mesmo e por amor de quem manda que nós obedecemos...e estaremos então na posição de filhos” (CIC1828). 7.3 - Os Dons e Frutos do Espírito Santo (1830-32) A Igreja afirma que os dons do Espírito Santo , em primeiro lugar, são disposições permanentes para tornar a pessoa capaz de perceber e seguir os impulsos do mesmo Espírito para o bem e para sustentar todas as práticas morais. Nosso Catecismo os nomeia em número de sete: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus (Cf. Is 11,1-2). Jesus tinha esses dons em plenitude e dizia “Meu alimento é fazer a vontade Daquele que me enviou” (Jo 4,34). Nós, na medida em que temos e cultivamos os dons do ES, tornamo-nos instrumentos mais dóceis e afinados nas mãos de Deus. Tudo fica mais fácil. Sacrifícios deixam de ser sacrifícios, pois tornam-se fonte de alegria. Como uma espécie de primícias da vida eterna, como uma antecipação das qualidades dos cidadãos celestes, podemos experimentar, ainda que de forma precária, o que a Tradição da Igreja chamou de “frutos do Espírito Santo”, em número de doze: “caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade”. Na verdade, foi São Paulo quem primeiro falou em “frutos do Espírito” (Cf. Gl 5,22-23). 8. O Pecado (1846-76)

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8.1 - A Misericórdia e o Pecado (1846-48) De alguma forma o capítulo 15 de Lucas serve de introdução ao tema- base do anúncio de Jesus: a misericórdia de Deus para com os pecadores. Ao mesmo tempo, este capítulo tem praticamente todos os elementos importantes e suficientes para uma boa teologia da relação do pecador com Deus que está disposto a perdoar sempre e quer a salvação de todos. Jesus já carrega no próprio nome Sua função salvadora (Cf. Mt 1,21). Na Eucaristia continuamente replicada ao redor do planeta repete constantemente: “Este é o cálice do meu sangue, o sangue da Nova e Eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados”. São João aponta com clareza nossa realidade e atitude básica diante de Deus: “Se dissermos: ‘não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça”(1Jo, 1,8-9). Em primeiro lugar o pecador precisa da graça de poder reconhecer seus pecados e aceitar a verdade de sua condição e então, com confiança dirigir-se ao Pai. Falamos em confiança porque temos em mente que “onde avultou o pecado, a graça super- abundou” (Rm 5,20). Em segundo lugar deve vir a conversão, a mudança, a correção, a disposição de não mais transigir com o mal feito. 8.2 - Definição de Pecado (1849-51) Nosso Catecismo diz: “Foi definido como ‘uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna’” (1849, cit. Santo Agostinho). De minha parte acrescento a atos, palavras e desejos, atitudes, posturas e omissões. Sabemos que podemos arrasar pessoas, em certas situações, sem dizer uma palavra, sem qualquer ação. Uma postura errada frente a um problema pode gerar muitos pecados. Omissões podem levar irmãos à morte. É claro que todo pecado é sempre uma ofensa a Deus. Deus é Amor e o pecado, em todas as suas formas, é sempre contrário ao Amor. Nossa missão na vida é glorificar o nome do Senhor. Pecar é desonrar o nome do Senhor. Vamos agora fazer um levantamento das pessoas envolvidas na Paixão de Jesus Cristo, onde Ele venceu o poder do pecado. Vamos ver uma por uma, identificando seu pecado e como isso deve ter repercutido em Jesus ... Jesus enfrentou a hora das trevas e do Príncipe deste mundo (Jo 14,30). Nesse encontro único e definitivo brota a fonte da água viva e inesgotável do perdão dos pecados de todas as gerações. 8.3 - A Diversidade dos Pecados (1852-53) A diversidade dos mal-feitos humanos é imensa e impossível de serem numerados. Variam de época para época e dependem da tremenda variedade de nossa fantasia colocada ao serviço do mal. São Paulo fala das obras boas como obras ou “frutos do Espírito” e das obras más como obras da carne, querendo significar o velho homem não redimido, entregue a si mesmo e às suas paixões. Diz ele: “As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5,19-21). Em nossos dias, como seria esta lista de São Paulo? ...

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8.4 - A Gravidade do Pecado: Pecado Mortal e Venial (1854-64) Considero este o capítulo mais difícil da doutrina sobre o pecado. A Igreja sempre teve preocupações em classificar as infrações de seus filhos, pois em muitos casos os pecados obrigam-na a tomar medidas restritivas e punitivas quando estes são particularmente graves e danosos para as pessoas envolvidas. Nos primeiros tempos a Igreja considerava gravíssimos três pecados: a negação da fé em Jesus Cristo (nas perseguições), o assassinato e o adultério. Depois, aqui e ali, outros mal-feitos graves foram sendo apontados como não aceitáveis. Por exemplo, a vingança que levava à destruição de algum patrimônio do qual dependia a subsistência de uma família e que levava muito tempo para ser refeito, como destruir oliveiras e figueiras. Como podemos ver, a Igreja tinha particular cuidado em focalizar os males resultantes do pecado grave. Creio que esse pode ser um critério para uma discussão mais corajosa das autoridades da Igreja com o Povo de Deus a respeito de seus pecados e de suas sanções. A classificação mais comum que a Igreja nos propões para o pecado fala em pecado mortal e pecado venial, com suas respectivas explicações. Começa dizendo que é importante “avaliar os pecados segundo sua gravidade” (1854).  “O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da Lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior.  O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofenda e fira” (1955). Afirma, a seguir, que o pecado mortal exige uma nova conversão, normalmente passando pelo Sacramento da Reconciliação. Outro princípio importante e esclarecedor é este. “Para que um pecado seja mortal requerem-se tres condições ao mesmo tempo: ‘É pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena consciência e deliberadamente’” (1857). Isso é importante para tornar a avaliação moral mais objetiva.  A matéria grave, em princípio, é estabelecida pelos Dez Mandamentos. Jesus fez um apanhado brevíssimo e claro a um jovem que O havia interrogado. “Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe” (Mc 10,19). Mas, mesmo em se tratando de claras transgressões dos Dez Mandamentos, existe maior ou menor gravidade em transgressões de um para outro mandamento e dentro de um mesmo mandamento. Assassinar friamente alguém é mais grave que roubar. E roubar um pequeno valor não é grave, embora errado, ao passo que roubar uma fortuna é algo muito mais sério. Mas roubar um valor pequeno de um indigente revela particular perversidade de coração!  O pleno conhecimento e pleno consentimento também são condições para que um ato pecaminoso atinja a marca do mortal. O pecador precisa saber que seu ato é pecaminoso, é contra a Lei de Deus e é algo muito importante. Envolve um estado de consciência psicológica suficientemente lúcida para constituir uma escolha pessoal. Mas existe uma ignorância que é fruto de minha negligência em aprender o que devia. Pode ser um embotamento da sensibilidade do coração, resultante de práticas más repetidas. Essas coisas não diminuem a culpa, mas a aumentam.

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A ignorância involuntária, ou invencível, diminui a culpa ou até a elimina inteiramente. Atenção! Ninguém está autorizado a avaliar e julgar a situação moral de outra pessoa perante Deus. Isso compete só a Ele. Os pecados veniais muitas vezes são inevitáveis. O principal é não admiti-los facilmente, só pela razão de não serem graves. A leviandade com eles facilmente pode nos levar a pecados graves. Eles não nos obrigam a recorrer ao Sacramento da Reconciliação. “Todo pecado, toda blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada” (Mt 12,31). Trata-se do assim chamado “pecado contra o Espírito Santo”. Já explicamos acima. Tenho ainda uma dificuldade frente a tudo que aqui expressamos. Venho há anos pleiteando que talvez fosse o caso de falar-se de pecado mortal, pecado grave e pecado leve, ou venial, em três classes. Isso porque em muitos casos de pecados classificados de mortais podemos perceber que pessoas existem que continuam, basicamente, o que eram antes. Conservam grande capacidade de amor ao próximo e sua honestidade em geral. Temos muitos casos de casais em segundas núpcias, dos quais se diz que vivem em situação de pecado, que vivem uma vida cristã recomendável a muita gente. Adolescentes carregam sentimentos de culpas mortais que não fazem sentido. Já em 1966 meu professor de moral defendia a tese de que um adolescente ainda não tem equilíbrio psico-emocional suficiente para cometer um pecado mortal. Muitos dos nossos adolescentes e jovens precisam de uma orientação melhor do que a que vem recebendo. 8.5 - A Proliferação do Pecado (1865-69) O pecado aumenta a propensão para novos pecados. Repetições podem criar hábitos e estes tendem a incorporar-se a pessoas como uma espécie de traço de personalidade. Existem pessoas que mentem sempre, com ou sem razão para mentir. A Igreja fala em Pecados Capitais. Esse qualificativo se deve ao fato de que tais pecados são verdadeiros nascedouros de outros pecados. Pecados capitais facilmente podem confundir-se facilmente com traços de personalidade. Eles são o orgulho, a avareza, a inveja, a ira, a impureza, a gula e a preguiça, ou acídia. Apesar de o pecado sempre ter a característica de ser pessoal, podemos também ter responsabilidades em pecados de outros. Pode ser por escândalo e, principalmente, por cooperação com quem os comete. Isso se dá quando: - participamos direta e voluntariamente; - damos apoio direto ou indireto; - não os revelamos, ou não os impedimos, apesar de termos obrigação de fazê-lo; - protegendo quem faz o mal. Cumplicidade entre pessoas envolvendo o pecado é contra a moral. Podemos abordar e discutir situações sociais e instituições que tornam-se fonte inesgotável de males e pecados. Como a Igreja defende sua Doutrina Social, como falamos em Justiça Social, podemos também falar em “pecado social”. Vamos apontar pecados sociais e estruturas geradoras de malefícios mais comuns em nosso meio?

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