Capítulo Provincial 2018

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CAPÍTULO PROVINCIAL 2018

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Minoridade Franciscana Lugar de Encontro e Comunhão

“Sejam chamados Irmãos Menores” (RnB 6,3)

Agudos – 2018


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Apresentação Há poucos dias de nosso Capítulo Provincial, Frei Almir Guimarães novamente oferece algumas reflexões em torno do tema. Comenta algumas indicações sobre o Documento Ite Nuntiate, de 2017, que versa sobre as novas forma de vida e missão da Ordem. Traz ainda algumas provocações sobre o sentido profundo da opção de Francisco e as atualiza para nossa vida hoje. Por último, apresenta uma série de “Pensamentos que podem iluminar o caminho”, citando mestres da Espiritualidade. O material pode ser de grande ajuda na preparação de cada confrade para uma participação plena e ativa neste momento central de nossa vida consagrada, o Capítulo Provincial.

Sumário

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N ovas formas de vida e missão da Ordem dos Frades Menores

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Francisco, o que te faz viver? E a nós, o que nos faz viver? Novas formas de vida - Viver com Deus P ensamentos que podem iluminar o caminho

Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP | www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br


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Novas formas de vida e missão da Ordem dos Frades Menores O Secretariado Geral para Evangelização da OFM publicou um texto com diretrizes sobre novas formas de vida e missão na Ordem (Ite, nuntiate... Roma, 2017). Num determinado momento da exposição os autores elencam elementos que sempre deverão estar presentes nas novas formas de vida e missão (págs. 30-31).

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ão há dúvida. Renovar ou morrer. Com todas as adaptações e atualizações, aggiornamentos e novas diretrizes necessitamos estar abertos ainda e sempre a novas formas de vida franciscana. É um crime para com o nosso passado franciscano, preguiçosamente, repetirmos as coisas como eram, sobretudo não acreditando de verdade no que realizamos e, monotonamente repetindo as coisas. Nossos encontros, capítulos, congressos haverão de ser espaços de estudo e de decisões. Evangelizar, sim, de verdade, mas nunca fazendo apenas

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girar uma máquina aparentemente brilhante, numa “pseudo” modernidade... É preciso ir ao fundo. Não se trata de mudar por mudar. Talvez não se trata mesmo de deixar muita coisas, mas de fazê-las diferentemente, com alma, com fogo, com o interior, treinando-nos para ler os sinais dos tempos, caligrafia do Espírito Santo. Vejamos alguns dos princípios que deverão estar presentes em todas as mudanças. Cuidado: quando se joga fora a água com que lavou a criança, prestar atenção para lançar não sei onde a criança que estava na água...

1. P rimado da vida de oração e da escuta da Palavra - O Documento fala da lectio cotidiana ou semanal; uma hora por dia de oração pessoal; reza “contemplativa” da Liturgia das Horas.

Comentário Não há outro modo de reverter as coisas. Os frades haveremos de redescobrir a intimidade pessoal com o Senhor e a vontade de rezar juntos. Não só vontade, mas decisão. Sabemos que a oração será fecunda quando deixa de ser um palavreado meio vazio e apressado. Uma hora por dia... que pode incluir o saborear um salmo, ler páginas de homens e mulheres de Deus, reflexões feitas por membros da Ordem ou por “vigilantes”, outros “Diógenes” que andam à escuta do Deus e dos sinais dos tempos, sentinelas suscitados pelo Senhor. Haveremos sempre de cuidar que a lectio não seja mera ocasião de preparar a homilia para o domingo seguinte. Liturgia das Horas “contemplaAgudos – 2018

tiva”: silêncio antes de começar, como pessoas que estão entrando na sala do amor e depois, saindo devagar, com alguns raios de claridade na fronte. Sem pressa frenética, sem gritos externos e internos. Vale a pena refletir sobre este parágrafo: “A profundidade e a velocidade das mudanças de nossas sociedades, a quebra das crenças, a hiperestimulação a que vivemos submetidos, o ruído, as tecnologias, a competitividade, a precariedade das referências...

e poder-se-ia alongar indefinidamente a exposição dos fatores que, na atualidade tornam agudo o sentimento de falta de raízes. A “sociedade líquida”, a que se refere Z. Baumann, gera uma espécie de “náufragos existenciais” que necessitam encontrar solo, casa, paz. A interioridade se converte deste modo numa sorte de promessa, refúgio e, quando bem entendida, retorno” (Maria José Mariño, Recuperar el corazón, la interioridad como cuestión hoy, Revista de Espiritualidad, 75, 2016, p. 167). 2. C uidado para que haja autênticas e profundas relações fraternas que irradiem um testemunho de vida fraterna. (Capítulos locais frequentes; momentos cotidianos de diálogo fraterno, defendidos pela disciplina no uso dos meios de comunicação, como a internet, o celular, a televisão).

Comentário Nada de substancial a comen-


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tar ou acrescentar. Trata-se de rever seriamente o Capítulo local. Uma pauta suculenta e não sobrecarregada de elementos para que as coisas caminhem. Um pauta meramente funcional. Um cuidado para que o mais simples dos frades coloque em pauta a mensagem que o Altíssimo andou lhe sussurrando discretamente. Nada de dominação de ninguém sobre ninguém. As pessoas de fora percebem nitidamente quando há um clima de irmãos que gostam dos irmãos. Como, de fato, seremos fraternidades? Ninguém atire a primeira pedra em ninguém. Todos temos nossa parte de responsabilidade. 3. E stilo de vida simples e sóbrio, minoridade e testemunho (escolhas concretas como fidelidade ao trabalho manual desejado por São Francisco; assumir os serviços da casa, possivelmente sem pessoas assalariadas, compromisso com o autossustento).

Comentário Em muitos lugares do mundo as casas franciscanas não contam mais com funcionários assalariados. O tema precisa ser estudado com esmero. Compreende-se e deseja-se que religiosos cheios de entusiasmo adotem um estilo de vida sóbrio. O Documento da Ordem aponta para o caso de frades fazendo o trabalho manual em casa e fora de casa. Casas simples, bem arrumadas, mas simples. Espaços cuidados quando se volta dos trabalhos apostólicos. Tudo simples. Gênero de vida alternativo. Tudo precisando ser feito com pé no chão. Casas simples, simples de verdade. Tudo funcional e simples. A experiência mostra que, mesmo com intensa atividade em todos os campos, os frades podem manifestar um gosto franciscano pelo trabalho manual.

4. Acolhida e partilha de vida com pessoas, sobretudo com os pobres.

Comentário O Documento se limita a acrescentar encontro com as pessoas do povo. Muitas vezes nossos encontros com “as pessoas do povo” se dão no quadro da missa e da administração dos sacramentos, quando, como frades assumimos o trabalho paroquial. Há outros espaços. Os padres diocesanos vão assumindo paróquias que antes nos haviam sido confiadas. Os frades haveremos de inventar fóruns com jovens, com pessoas que estão sendo chamadas a uma vida santa, amigos da espiritualidade franciscana sem que sejam imediatamente “engessados” em estruturas pesadas e cheias de regulamentações que asfixiam. Descobrir outros espaços de encontro fecundo, “suculento”, com “pessoas do povo”.

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5. Missão evangelizadora com caráter inter gentes, de itinerância, de presença em regiões desconhecidas, difíceis, de risco e de proximidade com os mais pobres, sofredores, excluídos, com uma atenção especial aos lugares de fronteira e com novas formas de evangelização e fraternidades inseridas (saindo do claustro conventual rumo ao claustro do mundo).

Comentário Estamos diante de formas novas de vida franciscana testadas aqui e ali. São marcadas fortemente pela itinerância. Quais são os lugares de fronteira? Educação, cultura da sobriedade, encantamento diferente da frase de Francisco dizendo o “Amor precisa ser amado”? Criar espaços pequenos de atenção ao humano? Escutar, simplesmente escutar vozes roucas? Agudos – 2018


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Francisco, o que te faz viver? Muito se fala dele. Escreve-se sem cessar a seu respeito. Há os que o seguem nas Ordens. Outros vão atrás dele sem mais. Ele encanta. O que ele vive nos faz viver. Mas, afinal de contas, o que faz Francisco viver?

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Francisco está muito perto de nós, bem presente. Deixou a terra dos homens há tantos séculos e tem-se a impressão de que está vivo e que vamos encontrá-lo nas esquinas de nossa vida. O cardeal argentino Jorge Bergoglio, adotando o nome de Francisco, parece que anda fazendo com que o Poverello reviva. De seus escritos, suas falas, salta a figu-

ra e as posturas de Francisco. Há tempos atrás um filme coreano chamou minha atenção. Um casal, a vida de todos os dias, as horas cinzentas, o desgaste do casamento, a usura do tempo... O marido havia optado por situações conjugais confusas e turbulentas. Um dia, uma das mulheres que tinham passado por sua vida colocou a questão: O que te faz viver?

• Francisco tem um temperamento nobre. Não pode ser colocado no número dos pecadores contumazes. Ao longo de sua vida, no entanto, sentiu uma saudade do infinito, do que é grande, do que é nobre. Não podia e não queria contentar-se com o viver por viver. Tinha sede de plenitude. Sede do Infinito. Sede de entrega ao Mistério que o andava rodando. Francisco é um ser irrequieto e buscador das estrelas. Achegou-se, foi atraído pelo Senhor e de seus lábios não saia outra pergunta: “O que queres de mim?” A busca da resposta a esta indagação fará com que ele viva. Longe dele, a rotina e a mesmice. Está sempre disposto a recomeçar. A sede não cessa de arder em sua garganta. • Francisco deixa-se fascinar pelo Senhor. Não sabe o que fazer para encontrá-lo, estar com ele, viver um Agudos – 2018

O homem não sabia o que contestar. Ficou com a cabeça baixa, todo desajeitado. Penso que todos nós, homens, cristãos, frades não podemos deixar de enfrentar essa mesma interrogação e respondê-la pessoalmente. Lançando mão de alguns dados da vida de Francisco tentamos ver o que era importante para Francisco, aquilo que o fazia viver.

relacionamento esponsal e terno com esse Deus que o encanta. No meio das tarefas da vida, das contradições e oposições, sempre buscará o silêncio, o eremitério, a intimidade com Deus. Nada o fará perder o espírito da santa oração. Chegará mesmo a ser possuído pelo Senhor. Ficará imóvel acolhendo as visitas do Altíssimo. •O que faz Francisco viver é certamente o desejo de seguir Cristo Jesus. Não se trata de uma teoria. Quer colocar seus passos nos passos do Mestre. Aos poucos vai fazendo com que seu eu e seus desejos cedam lugar a Cristo. Francisco reescreve o Evangelho em sua carne. Cristo é seu companheiro de estrada. Parece ter encontrado Cristo, entre outros lugares, na miséria do leprosos. Pouco depois, deixa o jeito mundano de viver. Quando lemos seus escritos,


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temos certeza de que Cristo o faz viver. De tanto conviver com Cristo, falar dele, viver dele, foi sendo dele. Ou foi sendo outro igual a ele? • Francisco deseja dar sua colaboração para que o amor seja amado. Faz de sua vida um labor de anúncio do amor. Não consegue reter dentro do peito o amor que o Senhor lhe dedica e vai, enquanto pode, chorando o amor que não é amado e que precisa ser amado. Um andarilho, um viandante um espalhador de sementes, um alegre arauto do Grande Rei. Isso que o faz viver. • S imples, vivendo simplesmente, nada de sofisticação. Restituindo ao Senhor o que do Senhor rece-

bia, vivendo exteriormente pobre e nunca com “nariz arrebitado”. Sem discursos, pensa no outro, dá lugar ao outro, vai comer uva com o irmão doente, chama de “irmão” a uma senhora Jacoba. Uma pobreza que encanta e não uma miserabilidade exterior. Um ser que se esvaziou de si mesmo e viveu livremente para os outros. Simplicidade, pobreza e fraternismo se unem em sua figura. Isso o faz viver. • Um ser aberto, livre de si mesmo, extasiado diante do Altíssimo, irmão dos homens, das plantas, do vento, do lobo, um bailarino diante de Deus, rico de toda pobreza. Um encanto de ser humano. Agudos – 2018


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E a nós, o que nos faz viver? Estamos às vésperas de um Capítulo Provincial. Novo governo, novos projetos, novos sonhos. Sem romantismo, desejamos retomar o primeiro amor. Queremos viver esse amor de maneira nova porque Deus faz novas todas as coisas. • Que pretensão! Querer colocar preto no branco aquilo que nos faz viver! • Queremos viver, viver intensamente. Não queremos deslizar por entre as coisas. Queremos que nosso peito, nossos anseios, nosso ser mais íntimo

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sintam-se profundamente ligados ao Altíssimo e Bom Senhor. Não queremos perder o espírito da santa oração que não é apenas balbucio dos lábios, mas um estar sempre com Aquele que nos envolve. Queremos respirar o Senhor a cada momento. Isto nos


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faz viver. Custe o que custar. • Queremos viver em profundidade. Temos receio da correria desenfreada de um lado para o outro. Queremos colocar gestos e pronunciar palavras que saiam de dentro de nós, do nosso mistério. Não queremos ser agitados, ventoinhas que não saibam dizer a razão de seu existir, que vivem de aparência, satisfeitos com pequenos sucessos. Queremos cavar profundidade em nós. • O que nos faz viver é esse propósito de desvencilharmo-nos de nós mesmos, de abandonar o culto macabro de nossos interesses. Sim, desvencilharmo-nos de nós mesmos e ter a consciência de uma pobreza que nos liberta e nos faz profunda e alegremente dependentes do Senhor e dispostos a acompanhar respeitosamente a vida dos que estão jogados à beira da estrada e que carecem serem levados à hospedaria da atenção e do amor. Que hospedarias temos a oferecer aos que vivem sem sentido, drogados, mal casados, mal amados? Será que o peso das coisas que precisam continuar nos atrapalha? • Queremos, efetivamente, que o Amor seja amado. Durante a viagem da vida, não desejando outra coisa, pelo modo pessoal de viver, pelos traços de bondade em nossos rostos e nos rostos dos irmãos. Queremos sempre mostrar o rosto do Amado: no jeito de estar com as pessoas, de fazer a homilia, de visitar os doentes, de criar novas chances para os pecadores, de atender na portaria, de “administrar”. Não queremos ser meros funcionários da paróquia, de um

educandário. Queremos fazer de sorte que transpire nosso desejo de ver amado Aquele que amamos. Por mais fraca que possa ser nossa luz, ao longo dos oitenta ou noventa anos de vida, queremos que o Amor seja de fato amado. • Os tempos são turbulentos. Muitos de nós, franciscanos, fizemos nossa profissão há muitos anos atrás. Não queremos nos fixar no passado. Temos medo da esclerose, da repetição das coisas de ontem. E, no entanto, sentimo-nos mal com o mudar por mudar. Mas temos que descobrir o novo: novo na formação do frade, novo na oração em comum, novo na partilha de vida mais profunda, novo no jeito de organizar nossas casas, novo na maneira de falar ao povo das coisas do Evangelho, novo para além de manias e ritos vazios. O que nos faz viver é a esperança de que o Espírito Santo não deixa sua Igreja e que ele é o Ministro Geral de nossa Ordem. • Não queremos fazer de nossa vida uma “museu de recordações” como diz o Papa Francisco (Gaudete et Exsultate, n. 139). Queremos que nossa vida e a vida das pessoas tenham sentido. Nesse mesmo documento, o Papa Francisco fala de algo que nos pode ajudar a viver: “Deus é sempre novidade, que nos

impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida” ( n. 134). • Sentimo-nos mal nessa sociedade do consumo e do mercado, da indiferença e do “selfismo”, da pressa e da falta de coragem de olhar olhos nos olhos. Sentimos que uma vida profética poderia nos fazer viver. Faz-nos bem as palavras do Papa Francisco, dizendo que os religiosos são profetas. Temos vontade de viver o que ele diz: “Espero que saibais sem vos perder em meras utopias criar outros lugares onde se viva a lógica evangélica do dom, da fraternidade, do acolhimento da diversidade, do amor recíproco”. Mesmo sabendo que nossos efetivos diminuem continua nos fazendo viver o fato de podermos ser apontadores de um mundo diferente. • O que nos faz viver é pensar no ser humano. Antes de tudo olhamos a pessoa. Tudo começa dentro de nossa casa. Seres humanos na secretaria das paróquias, nas missas de domingo, no confessionário, nas reuniões de catequese. Não queremos encher a cabeça das pessoas com doutrinamentos, mas abeirarmo-nos dos humanos. Nossa alegria é projetar luz nessas vidas a partir de nosso modo de ser, com as cores do retrato humano de Francisco de Assis. Agudos – 2018

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Novas formas de vida Viver com Deus “Ite, nuntiate... Diretrizes sobre as novas formas de vida e missão da Ordem do Frades Menores” é um documento da Cúria Geral (2017). Tendo em vista o Capítulo de Agudos, colocamos na mochila aquilo que ali é dito sobre a vida com Deus. Os capitulares certamente lerão todo o documento. Reflexões sobre a vida fraterna e a missão evangelizadora não poderão ser deixadas de lado. Aqui apenas as considerações sobre a vida com Deus.

10 A vida com Deus está na base de tudo, é o coração de nossa vida de Frades Menores; é a linfa que nos nutre e que nos dá força de cada dia para viver e aprofundar as relações fraternas; é a energia que acende o fogo da missão. Viver a relação vital com Deus significa ter:

• Um coração generoso, terno, aberto, disponível, que se deixe traspassar pelo Amor de Cristo e por aquele amor dos próprios irmãos, em particular em relação com os mais sofredores; uma relação amorosa com Deus misericordioso, que se perceba no frade paz consigo mesmo e com os próprios irmãos. A verdadeira paz que vem de Deus, o irmão pode comunicá-la se ele mesmo é reconciliado. Torna-se então possível promover, no Espírito de Assis, uma cultura da não violência, da benevolência, da docilidade nas relações fraternas, do perdão e do respeito pela criação, para tornar-se, de acordo com o Evangelho, um semeador e um artesão da paz; Agudos – 2018

• U ma capacidade de não reter as próprias certezas e de confiar no Senhor, que cuida de nossas vidas. É o que alguns frades itinerantes experimentam já há alguns anos, partindo sem dinheiro e sem saber com antecedência onde vão dormir, confiando totalmente na Providência de Deus. Em cada uma de suas missões, lhes é possível ver como o Senhor se antecipa em cada ponto, velando com eles com grande bondade; •U ma capacidade de saber descentrar-se para dar lugar a Cristo e de reconhecer que é efetivamente ele que conduz a missão e não o próprio frade, As competências de


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cada um são verdadeiramente úteis e muitas vezes bem empregadas, mas é importante cuidar para que não sejam dissociados Daquele que é autor desses talentos recebidos. É reconhecer em profundidade, em nível pessoal e comunitário, que o autor de nossas vidas é efetivamente o Cristo e que somos animados pelo sopro de seu Espírito. A vida da fraternidade e de cada um dos irmãos tem Cristo como fundamento primeiro de solidez e de coesão,

e não as capacidades e os poderes pessoais de uns e de outros; • Uma atenção regular, sincera e renovada à meditação da Palavra de Deus, ao silêncio e aos tempos de adoração, cuidando da leitura orante da Palavra e vivendo com intensidade a Liturgia, com a sua densa espessura de evangelização; • Um amor pela Igreja, por seus santos e santas e, em particular pela Virgem Maria. Agudos – 2018


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Pensamentos que podem iluminar o caminho Apresentamos uma série de pequenas reflexões que, de alguma forma, reforçam ou desdobram os assuntos aventados ao longo das páginas anteriores. São chispas que podem reorientar nossos passos...pequenas estrelinhas... Agudos – 2018


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• Profecia: nossa vida religiosa franciscana será, de alguma forma, um protesto profético contra uma acomodação letal constatada à nossa volta. Os religiosos contestam um certo estado de coisas. Jean Sulivan fala assim da figura do profeta: “O profeta não é alguém que diverte. Não observa o voo dos pássaros e nem lê nas linhas da mão ou na borra de café. Sua missão não consiste em anunciar o futuro, mas em compreender o presente. Porque para compreender um momento do tempo é indispensável a visão do tempo em sua totalidade. Como para entender uma palavra precisa-se da frase; e para um versículo a Bíblia toda. O profeta em vez de divertir, dispersando como o prima, concentra toda a luz difusa num foco incandescente, na atualidade do acontecimento. Tudo o que acontece é pleno de passado e de futuro. O profeta é o diário de Deus”. Jean Sulivan Provocação ou a fraqueza de Deus Editora Herder, São Paulo, 1966, p. 51

• U ma vida em plenitude, um ser renascido: os que ingressamos na vida religiosa franciscana temos experiência de um novo nascimento: “Nascer de novo é nascer para além do egotismo, para além do egoísmo, para além da individualidade, em Cristo. Nascer da carne é nascer para a raça humana e para nossa sociedade com suas batalhas, seus ódios, seus amores, suas paixões, suas lutas e seus apetites. Nascer do espírito é nascer em Deus (ou no Reino de Deus), para além do ódio, para além da luta, na paz, na alegria, na modéstia, no serviço, na mansidão, na humildade e na força”. Thomas Merton Amor e Vida Martins Fontes, São Paulo 2004, p. 209

•E scuta: para que o caminhar de nossos passos no tempo que passa seja significativo será fundamental escutar: “Numa cultura de avalanche como a nossa, a verdadeira escuta só pode se configurar como um recuo crítico perante o frenesi das palavras e das mensagens que a todo minuto pretendem aprisionar-nos. Experimentamos como os modelos de vida impostos são atordoantes. A compensação para nossas existências atenuadas é o entretenimento. No entanto, a própria palavra “entreter” é reveladora: entre-ter, ter ou manter entre, numa espécie de suspensão que nos captura. E em determinado momento já não vivemos de lado nenhum, numa terra de ninguém que, é ao mesmo tempo a nossa morada e o nosso exílio. A arte da escuta é, por isso, um exercício de resistência. Ela estabelece uma descontinuidade em relação ao real aparente, à sucessão ociosa dos contatos, à enxurrada que a telenovelização do cotidiano (político, econômico ou cultural) comporta. A escuta constitui, por vezes, uma incisão, um corte simbólico, uma recusa, uma deslocação. Uma coisa é certa: sem ela nossa vida se torna invadida, colonizada, uma vida que não nos pertence. Na sociedade da comunicação há um déficit de escuta”. José Tolentino Mendonça

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A mística do instante O tempo e a promessa Paulinas 2016, p. 116

•D ar um passo em frente: a habituação, a rotina nos fazem marcar passos e perder a oportunidade de viver uma vida nova. Vejamos o que nos diz o Papa Francisco: “A habituação (a rotina) seduz e diznos que não tem sentido mudar as Agudos – 2018


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coisas, que nada poderemos fazer diante de tal situação, que sempre foi assim e todavia sobrevivemos. Pela habituação (rotina), já não enfrentamos o mal e permitimos que as coisas ‘continuem como estão’ ou como alguns decidiram que estejam. Deixemos então que o Senhor venha despertar-nos, dar um abanão na nossa sonolência, libertar-nos da inércia. Desafiemos a rotina, abramos bem os olhos, os ouvidos e sobretudo o coração, para nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva e eficaz do Ressuscitado” Papa Francisco Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, n. 137

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• Pode estar chegando a primavera: “Chegam já, Senhor, em cada dia, discretos sinais do que virá: o amarelo das primeiras flores da mimosa, o verde tenro das hervas sobre os muros, a luz que se despede sempre um pouco mais tarde. Essas coisas, que quase nem vemos, soletram a consolação que tu, o Criador, ofereces às tuas criaturas. A nós que vivemos a desolação dos invernos do mundo, anuncias a vizinhança da primavera. E, ao nosso coração, fazes perceber que isso não é apenas uma notícia, é também uma expressão de promessa”. José Tolentino Mendonça Um Deus que dança Itinerários para a oração, Paulinas, p. 74


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ORAÇÕES

Pelo CAPÍTULO PROVINCIAL Oração 1 Dir.: Senhor, Deus Altíssimo, ajudai-nos a sermos irmãos e menores! Onde houver sentimentos de superioridade, T.: que cultivemos o amor e a comunhão fraterna. Dir.: Onde houver julgamentos fáceis e superficiais dos irmãos, T.: que cultivemos a misericórdia e o perdão. Dir.: Onde houver a tentação de subjugar o irmão, T.: que cultivemos o respeito e a compreensão fraterna. Dir.: Onde houver calúnias e fofocas, T.: que cultivemos a caridade e a sabedoria. Dir.: Onde houver ira e perturbação pelo pecado do irmão, T.: que cultivemos a consciência das nossas misérias e fragilidades. Dir.: Onde houver a tentação do comércio de favores, T.: que cultivemos a gratuidade e a generosidade. Dir.: Onde houver o risco do autoritarismo e do espírito de superioridade, T.: que cultivemos o espírito de serviço e a opção pelos mais pobres. Dir.: Onde houver desprezo e desrespeito pela Criação, T.: que cultivemos o louvor, a admiração e o cuidado pela Casa Comum. Dir.: Ó Mestre, T.: fazei que sejamos testemunhas de vosso Evangelho. Contemplando o mistério de vossa Encarnação e de vossa Cruz, aprendamos o real sentido da fraternidade e da minoridade. Que saibamos dialogar com o diferente, colocar em comum nossos dons, estabelecer relações de humildade e confiança, e valorizar os dons que vós suscitais nos outros. Assim, construiremos um mundo mais justo, uma Igreja mais evangélica e Fraternidades mais proféticas e inspiradoras. Amém. Frei Alberto Eckel Junior

Oração 2 A.: Ó Pai dos pequenos desta terra, / somos teus filhos, / chamados à fraternidade para defendermos o clamor dos pobres, / vivermos com transparência

nossas relações / e escutarmos tua divina voz nas dores e alegrias da humanidade. B.: Senhor Deus, / Pai e Filho e Espírito Santo, / fortalece a nossa fé, / perdoa nossas incoerências e sombras, / dá clareza aos nossos pensamentos e ações, / revigora nossa esperança e nosso entusiasmo para partilharmos a vida com teu povo. Todos: E com a intercessão de tua Mãe, a Imaculada Conceição, / ajuda-nos a sermos menores neste tempo de ódio e violência, semeando paz e bondade, /testemunhando o amoroso abraço de Deus no encontro do humano, / e, em nossos espaços de missão, / tendo a coragem da mudança e a perseverança em nossa vocação. Amém! Frei Edrian Josué Pasini

Oração 3 Dirigente: Senhor e mestre Jesus, Deus encarnado e irmanado, que nos ensinaste a viver em comunhão, inspira-nos a força virtuosa da minoridade. Todos: Que possamos renunciar à ostentação de quem tem, pode e sabe, para vivermos com sabedoria com tudo e com todos. Dirigente: Senhor da humildade e do serviço, ajuda-nos a renunciar à superioridade. Todos: Torna-nos pobres, desapegados e desinstalados, como natural irradiação de nosso Ser Menor. Dirigente: Nosso Pai São Francisco de Assis, que na carta aos Fiéis nos motivaste para “nunca desejarmos estar acima dos outros, mas sermos servos e submissos a toda humana criatura por causa de Deus”, Todos: Faze que sejamos simples e descomplicados, que não queiramos estar acima dos outros ou acima de tudo, mas que sejamos presença modesta e amorosa. Dirigente: Senhor, que inspiraste a vida franciscana na minoridade, como consciência e afirmação de ser criatura entre as criaturas, Todos: Ajuda-nos a sermos pequenos diante da grandeza de todo ser criado, sermos irmãos de toda família criatural, num perene estado de gratidão e de graça. Que nossa Fraternidade seja lugar de encontro e comunhão de verdadeiros irmãos menores, chamados ao serviço prestado com amor. Amém! Frei Vitório Mazzuco Agudos – 2018


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explicação do artista para a arte contempla o tema e lema do Capítulo Provincial: “Minoridade Franciscana: lugar de encontro e comunhão” e “Sejam chamados irmãos menores” (RnB 6,3). Na palavra “minoridade”, que é a dimensão que qualifica nossa vocação fraterna e o modo de nos relacionarmos com Deus e os irmãos, ocorre o encontro com Deus (em Jesus, a figura central cuja cabeça forma o “O” de minoridade) que inspira os dois frades na dimensão da diaconia e do serviço ao menino de boné. Este, por sua vez, representa a todos os homens e mulheres de nosso tempo, os que necessitam de nossa atenção e cuidado, os que habitam as periferias existenciais, os excluídos e

marginalizados. Além da relação da minoridade com o serviço, estabelecese a relação do encontro com a Criação e a evocação do cuidado com sua integridade através do broto de planta que nasce da letra “D”, da palavra “minoridade”. Quanto às cores escolhidas, que alternam do verde ao roxo, elas fazem referência aos tempos litúrgicos e às etapas da maturação da uva, que, ao alcançar o ápice de sua vida, está pronta para tornar-se o vinho que alegra o coração do homem e foi escolhido por Cristo para ser sacramento de Seu próprio sangue. Esta relação é importante em nossa espiritualidade franciscana, que compreende o mistério da Encarnação do Filho, como mistério de sua minoridade, assim como o mistério

eucarístico também o é. Deus, tão humilde, se rebaixa para aparecer a nós na modesta aparência do pão. Assim, além do exemplo do Lava Pés, já lembrado, que demarca um modo de relação com os irmãos, o Sacramento Eucarístico é o sacramento que nos permite, cada vez mais, aprofundarmos nossa identidade de menores através da oração e ação de graças a Deus.

A logomarca foi criada pelo Frei Rodrigo José Silva, frade estudante no tempo de Filosofia. Frei Rodrigo José Silva é natural de Campo Largo (PR), onde nasceu no dia 2 de abril de 1983. Vestiu o hábito franciscano em Rodeio no dia 6 de fevereiro de 2017 e professou temporariamente na Ordem no dia 8 de janeiro de 2018. Mora na Fraternidade São Boaventura, em Rondinha.


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