Ceará Socialista

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Publicação do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL CEARÁ

l Outubro/Novembro de 2013

PERFIL

Padre Haroldo Coelho

Conheça um pouco da memória do nosso padre comunista

página 13

o c o C O e p #Ocu

CAPA

FOTO: LEVY MOTA

ade e direproitjeotoàde cid Por um ta, ento socialis desenvolvim . libertário ecológico e

balas mogêneo e ri c la s á g e d ? ia, bombas e pra quem Sob violênc lama: cidad c a z le a rt o a, F de borrach

DIREÇÃO

É preciso estar atento e forte Desafios para o IV Congresso do Psol

página 3 ENTREVISTA

INTERNACIONAL

Em debate: 1964

Capitalismo em crise

páginas 6 e 7

página 12

Gilvan Rocha nos conta sobre sua trajetória militante e o ano "fatal"

Depois do século XX, mais guerras e mais revoluções


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INFORMATIVO DO PSOL - CEARÁ OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2013

Ceará Socialista: presente, presente, presente!

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emocratizar a comunicação não é apenas brigar pela forma como os meios de comunicação de massa retratam a nós, socialistas libertários, vândalos, baderneiros, moradores de periferia, mulheres, negros, homossexuais, transgêneros. Na nossa luta, precisamos também produzir nossas próprias alternativas midiáticas, contar nossas próprias histórias, falar por nós mesmos para quem quiser ouvir – ou ler. Assim, enquanto o Ceará passa pela maior seca dos últimos 30 anos – que é muito mais política que climática, como você poderá ler na página Regional – o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL-CE) tenta dar mais um sopro de vida à disputa de consciências e lança este jornal, o Ceará Socialista, com nome em homenagem a um outro periódico de luta do ano de 1919, ideias de imprensa alternativa da década de 1970 e possibilidades temáticas e estéticas dos anos 2000. O CS vem depois de muito debate e se propõe como espaço para que esses debates sejam feitos, na tentativa de recuperar as ideias de Lenin sobre o papel do jornal no partido – e, sim, acreditamos que ele tem um papel essencial. Prova disso é a nossa primeira vitória: o Ceará Socialista é um jornal feito pela militância. Aqui tem texto de sindicalista, de sociólogo, de bióloga e até de jornalista, na tentativa de uma produção tão diversa e plural quanto as nossas fileiras. Também não por acaso, o CS nasce num momento definidor para o PSOL como um todo: estamos às vésperas do IV Congresso Nacional e faz-se essencial que este Partido continue necessário, posição que você confere na página Direção. É preciso continuar à esquerda dos governos, lutando por uma sociedade livre de exploração, onde sejamos “socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, como nos disse Rosa Luxemburgo, sem opressão e sem repressão (e, sobre repressão, veja o artigo do Setorial de Direitos Humanos sobre desmilitarização da polícia e da política). Por fim, não há liberdade sem direitos e não há direito sem cidade. Durante 84 dias, compartilhamos da luta do #OcupeOCocó, pela preservação da maior área verde de Fortaleza. No final, apesar da desocupação do acampamento, nossa vitória foi gigante: fomos atrás de respostas para a pergunta “que cidade queremos?”, pois o Cocó não é e nunca foi uma luta isolada, e colocamos na pauta o modelo de desenvolvimento que está posto, debate que você acompanha na matéria de capa. Além disso, trazemos uma entrevista sobre 1964 com o histórico militante Gilvan Rocha e reflexões sobre esporte e cultura– porque isso também é disputa social. Aproveite a leitura! Setorial de Comunicação - Psol Ceará

Partido Socialismo e Liberdade

EDITORIAL DIREÇÃO

ENTREVISTA

pág. 03

pág. 10 e 11

Quando a nossa palavra de ordem é Ousadia pra seguir em frente!

SETORIAL

Gilvan Rocha Então veio 1964

INTERNACIONAL

Contra a violência do Estado: Desmilitarizar a Polícia e a Política

Uma nova época de guerras e revoluções

pág. 04

pág. 12

REGIONAL

PERFIL

pág. 05

pág. 13

A seca não é climática, é política

CAPA

Padre Haroldo O homem da fé vermelha

PSOL NO PARLAMENTO

Fortaleza pra quem nela trabalha

Um mais um é sempre mais que dois

pág. 06 e 07

pág. 14

ESPORTE

CULTURA

Criminalizar as torcidas não diminui a violência, só aumenta a repressão

pág. 08

Resenha >> Filme O Capital Das histórias em quadrinhos ao cinema

GALERIA

Charge >> #OcupeOCocó

pág. 09

pág. 15 e 16

Com vandalismo, produção do Coletivo Nigéria

EXPEDIENTE Jornalista responsável: Livino Neto // Edição e revisão: Joana Vidal, Natasha Cruz // Colaboradores: Afranio Castelo, Ana Vládia Holanda Cruz, Bruno Costa, Cecília Feitoza, Érico Dias, Eronilton Buriti, Joana Vidal , Júlia Lopes, Livino Neto, Moésio Mota, Osvaldo Aguiar, Rafaele Esmeraldo, Raoni Oliveira Marques, Rodrigo Santaella // Fotos e ilustração: Arihel Marreiro, Coletivo Nigéria, Levy Mota, Ramon Cavalcante, Raissa Veloso // Tratamento de imagem e vetorização: Samir Braga // Projeto Gráfico e Diagramação: Sâmila Braga (Mandalla Comunicação)


DIREÇÃO

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FOTO: ARIHEL MARREIRO

Quando a nossa palavra de ordem é Ousadia pra seguir em frente!

Os levantes de junho fazem da ousadia a principal palavra de ordem do IV Congresso do PSOL Cecília Feitoza - Executiva Estadual PSOL Ceará

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Manifestação da jornada de junho, nos arredores do estádio Castelão

iante de uma nova onda de manifestações no cenário nacional, outubro de 2013 marca também um importante momento para a história do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL. No desenrolar da crise internacional e dos impactos que ela vem trazendo para o Brasil, mais do que nunca, somos, todas e todos que se dedicaram ao longo desses anos à construção dessa ferramenta partidária, desafiadxs e convocadxs pelas ruas à resgatar e defender nossos objetivos e princípios fundacionais, quando da fundação do partido como um instrumento à serviço da luta em defesa da classe trabalhadora, exploradxs e oprimidxs do campo e dos centros urbanos, contribuindo com a reorganização da esquerda socialista em um novo bloco contra hegemônico. Ao longo deste outubro, no Brasil inteiro estarão ocorrendo as etapas estaduais do IV Congresso do PSOL, que acontece num cenário de efervescência política pelo país. Refletindo o início de uma virada qualitativa na conjuntura, são greves dxs trabalhadorxs da educação – a exemplo dxs professorxs na cidade do Rio de Janeiro e de Porto Alegre – mobilizações nacionais dos povos indígenas contra a Medida Provisória 215, o #OcupeOCocó em Fortaleza, a campanha pela desmilitarização da polícia e da política. Lutas que expressam a insatisfação popular com a lógica privatista dos governos e das elites que os sustentam. Lutas que questionam a ausência de recursos para a garantia de direitos sociais básicos e as vultuosas quantias destinadas aos megaprojetos de infraestrutura e megaeventos esportivos. Lutas que demonstram a desilusão com o modelo institucional que rege a vida política. Lutas que buscam combater o crescente recrudescimento do Estado, a militarização das polícias e a criminalização dxs lutadorxs sociais. Lutas que dão sinais do esgotamento de um ciclo que já dura pelo menos uma década desde o advento do governo petista, pois vêm para anunciar tempos vindouros. Nesse momento temos adiante, talvez como nunca antes, a possibilidade de nos tornarmos concretamente alternativa de massas e travar uma disputa de projeto na sociedade. Para isso devemos ser capazes de ouvir a voz das ruas, da revolta popular, e transformar o coro em agenda políti-

Para isso devemos ser capazes de ouvir a voz das ruas, da revolta popular, e transformar o coro em agenda política. ca. É necessário que sejamos uma esquerda capaz de pensar sobre novas formas de organização social que estejam profundamente conectadas com os anseios populares de autonomia e de democracia direta, é necessário que sejamos capazes de criar, reinventar e ousar, sem abrir mão do nosso conteúdo e do programa anticapitalista que nos orienta. O avanço do conservadorismo, orquestrado pelas bancadas ruralista e fundamentalista religiosa no Congresso Nacional, nos demonstra a necessidade de hastear com firmeza nossas bandeiras em defesa da reforma agrária e urbana, da demarcação das terras indígenas, da educação e da saúde públicas e de qualidade, do combate à homofobia, ao racismo e ao machismo, da busca de Justiça Social e Ambiental. Nossos parlamentares, como verdadeiros tribunos do povo e como vozes públicas do PSOL, devem ser expressão objetiva dessa agenda: uma oposição radical, combativa e programática pela esquerda à estes governos. Para esta nova etapa histórica é hora de consolidar uma nova direção para o partido, fiel às jornadas de junho, capaz de enfrentar esses desafios. É hora de consolidar o PSOL como alternativa de esquerda, para construir uma verdadeira alternativa socialista à barbárie da civilização do capital. Que sigamos atentos e fortes, radicalizando a democracia interna, oxigenando o debate político à quente, buscando a coerência necessária à tarefa que nos dispomos. Ousadia é a nossa palavra de ordem pra seguir em frente!


FOTO: LIVINO NETO

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SETORIAL

DIREITOS HUMANOS

Contra a violência do Estado: Desmilitarizar a Polícia e a Política Construído em plenárias amplas, documento do setorial de Direitos Humanos do PSOL Ceará debate a desmilitarização. Setorial de Direitos Humanos do PSOL Ceará

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m março deste ano, a ação de reintegração de posse executada pela Policia Militar na Aldeia Maracanã gerou perplexidade pela inabilidade e violência injustificadas. Nos meios de comunicação, mesmo entre grupos abertamente identificados com projetos elitistas, o “confronto” foi descrito ressaltando-se a brutalidade dos agentes que atropelaram a negociação através de desocupação forçada e as denúncias feitas ao MP e à corregedoria da PM sobre os abusos da autoridade policial. A mesma cobertura, no entanto, não aconteceu nas manifestações populares que se intensificaram a partir de junho em todo o país e que anunciaram a possibilidade de uma nova configuração na correlação de forças políticas. Ao contrário, em que pese o contínuo incremento da força repressiva – esta mesma mobilizadora de várias manifestações – a contenção policial de atos públicos foi justificada como necessária para “neutralizar vândalos e baderneiros”, e em nome da “manutenção da ordem” assistimos e vivenciamos autoritarismos inadmissíveis em uma sociedade que se reivindica democrática: prisões arbitrarias, intervenções constantes dos batalhões de operações especiais, “desaparecimentos” de pessoas sob a guarda do Estado, apreensões de livros e cordões de isolamento para impedir o acesso à concentração de atos públicos são apenas alguns exemplos. Tantos outros poderiam ser dados, a parte a desproporcionalidade do contingente e da força policial que justifica

sua truculência com argumento de autoridade: “porque eu quis”. A insistência do Estado em responder com violência criminal aos diversos desdobramentos das contradições econômico-sociais, todavia, não é fato novo. Nas camadas populares, a brutalidade e o desrespeito aos direitos humanos e às liberdades individuais e coletivas é regra. Nossa polícia é uma das que mais mata no mundo e o faz num claro exercício de criminalização da pobreza e etiquetamento penal. Embora a necessidade de reformular as intervenções estatais no trato das conflitualidades seja bem mais ampla, a exigência da imediata desmilitarização dos agentes de segurança pública reflete lutas históricas e pode obter resultados concretos para quem paga com a vida a recusa injustificável do Estado em enfrentar os desdobramentos da Questão Social. Ela consiste em uma resposta promotora de direitos no lugar da cultura do medo e da vingança que aposta no recrudescimento e no controle penal, invariavelmente dirigido aos setores mais pobres e discriminados, e ineficaz onde quer que tenha sido aplicado. Ela representa também mais um importante passo no fortalecimento da democracia e no enfrentamento das heranças do período ditatorial, época em que a Policia Militar assumiu a atividade do policiamento ostensivo com uma lógica belicista voltada aos “inimigos” que perdem a condição de sujeitos de direitos (inclusive nas práticas de tortura e fuzilamentos, estes

últimos disfarçados nos “autos de resistência” ou na “resistência seguida de morte”). Ela abarca igualmente a denúncia do caráter racista e classista dos elementos da política criminal; a demanda da sociedade por um controle externo através de ouvidorias independentes que fiscalizem de forma eficaz os abusos e ilícitos cometidos por policiais; a reformulação radical na estrutura das corporações e na formação policial e a desvinculação das forças armadas nas atividades de segurança interna. A luta pela desmilitarização propõe a valorização da vida e dos direitos humanos através de ações integradas e multissetoriais que considerem as demandas específicas dos mais diversos atores sociais, assegurando liberdades; a revitalização dos espaços públicos ao revés do domínio territorial e da ameaça ostensiva e a promoção de um modelo de gestão sensível à complexidade social e apta a implementar políticas sistêmicas. Se a luta pela desmilitarização não é apenas um fim em si mesma, ela pode efetivamente contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Fortalecer e articular este debate passa a ser uma tarefa fundamental de todos lutadores e lutadoras sociais, e nosso combativo partido, em presença maciça, não se furtará a causa! Para tanto nos somamos à construção do comitê nacional pela desmilitarização da polícia. Em Fortaleza, a reunião para a formação do comitê acontece dia 10/11. Todos e todas pela desmilitarização!


REGIONAL

A seca não é climática, é política Moésio Mota, Osvaldo Aguiar e Eronilton Buriti FOTO: COLETIVO NIGÉRIA

Parte aberta do canal do projeto Eixão das Águas

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semiárido brasileiro é o mais populoso do planeta, onde habitam 22 milhões de pessoas. Uma de suas principais características é seu déficit hídrico: o índice de evaporação é bem maior que a quantidade de chuvas, além de estas serem distribuídas irregularmente no tempo e no espaço. Isso, contudo, não significam falta d'água. Na verdade, nosso semiárido é o mais chuvoso do planeta. No entanto, a ação humana tem influenciado para agravar esse quadro de irregularidade climática e de escassez hídrica. Para conviver com o semiárido, o agricultor familiar e camponês necessita da posse da terra e do conhecimento de tecnologias sociais para armazenar água. É imprescindível estar preparado para a chegada das chuvas, pois captar e armazenar água que cai é fundamental para garantir a segurança hídrica durante o período que não chove. Além disso, o cultivo e armazenamento de forragem mantêm os animais e reduz o trabalho durante a estiagem, garante renda e

segurança alimentar da família. O morador do semiárido também é vitima do “desenvolvimento predatório”, da modernização conservadora no campo que mantem a estrutura agrária com alta concentração da propriedade privada, renda, riqueza e água. A profunda desigualdade estimula o êxodo para os médios e grandes centros urbanos, para onde jovens trabalhadores são atraídos com a possibilidade de empregos, em geral, precarizados.

A política de águas para o Ceará O campo também tem seu catálogo de megaprojetos. A Transposição das Águas do Rio São Francisco, o Eixão das Águas e o Cinturão das Águas são alguns exemplos disso que, aos moldes dos projetos executados nos centros urbanos, são impostos verticalmente, com participação limitada da sociedade civil, além de se constituírem em soluções caras e de altíssimo risco social e ambiental. Desde D. Pedro II a ideia de transposição das águas do São Francisco é apontada

A seca e os privilégios do Estado

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modelo de desenvolvimento adotado pelo Estado privilegia o capital e seus representantes, que detêm a posse da terra e da água. A agricultura de mercado abusa do uso de agrotóxicos, do desmatamento de áreas protegidas pela legislação ambiental, da exploração barata da mão de obra e, por vezes, na condição análoga a de escravo. No Complexo Industrial e Portuário do Pecém, somente para uma termelétrica a carvão, de propriedade do Sr. Eike Batista, estão destinados 993 litros de água por segundo - o suficiente para abastecer uma cidade de quase 600 mil habitantes. Apesar do enorme consumo de água doce nesse empreen-

dimento e da emissão CO2, o Governo do Estado aprovou mensagem, por meio dos deputados da base de apoio na Assembleia Legislativa, concedendo abatimento de 50% no preço da água bruta fornecida a essa Termelétrica pela COGERH. O PSOL está ao lado dos que resistem e lutam pela democratização da terra, da água, da riqueza e do saber. É necessário apostar no conhecimento popular e em sua aliança com o conhecimento tecnológico e científico para aperfeiçoar e difundir tecnologias sociais desenvolvidas por quem habita aqui. É possível conviver com as adversidades climáticas com base no uso sustentável dos recursos naturais e na quebra da propriedade dos meios de produção.

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como solução para a seca no Nordeste. Nos sucessivos governos republicanos, de Getúlio Vargas a Figueiredo, a proposta de transposição ganhou um projeto consistente por conta da estiagem ocorrida de 1979 a 1983. Com a criação da Lei das Águas e a implantação dos Comitês de Bacias, no governo Fernando Henrique, o debate em torno da revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco foi fortalecido, mas foi no governo Lula que se deu a reformulação e continuidade dos estudos ambientais para fins de licenciamento do projeto pelo IBAMA. O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), divulgado pelo Ministério da Integração Nacional, revela a finalidade desta obra: 70% para irrigação; 26% para uso industrial e somente 4% para o consumo da população difusa e animais. Os seja: a transposição não servirá para as vítimas das secas. No Ceará, as águas da transposição deverão chegar ao Açude Castanhão e seguir para o Pecém através do Eixão das Águas. A ideia do Eixão é levar água do Castanhão para garantir o abastecimento de Fortaleza, da região metropolitana e, sobretudo, do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, possibilitando o atendimento aos projetos de irrigação do agronegócio no decorrer de seu percurso, sobretudo em regiões de tabuleiro da Bacia do Rio Jaguaribe e nas chamadas “manchas de solo da chapada”. Nas mesmas áreas em que os grandes proprietários de terras e empresas dispõem de recursos hídricos para projetos de irrigação, há milhares de famílias que não têm água, sequer para consumo humano. O sistema adutor do Eixão se estende até o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, mas não é capaz de beneficiar os moradores dos municípios onde o canal passa. O Cinturão das Águas, por sua vez, é outro ambicioso projeto que pretende garantir segurança hídrica para o estado do Ceará. Ocorre que este modelo também é modelado pelas grandes obras, tendo finalidade de beneficiar o agronegócio, a carcinicultura, a indústria e os grandes empreendimentos. A população difusa, mais empobrecida e geralmente sem terra, continua refém da política do carro pipa e da troca de favores, que causa dependência e perpetua a dominação oligarca da política. O conhecimento popular, forjado na resistência, acumulou experiências e produziu conhecimento capaz de assegurar a convivência com o semiárido a partir de tecnologias sociais com base sustentáveis. As cisternas de placas, as cisternas calçadão e barragens subterrâneas são exemplos de tecnologias de baixo custo que, associadas a outras, permitem a convivência sustentável com o semiárido.


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CAPA

a z e l a t r o a F h l a b a r t a l e n m e para qu

senvolvimento e d e d to je o r . Por um p ico e libertário g ló o c e , ta s li socia

ivino Neto ntaella e L a S o g ri d o R , maistencialista ss á a o çã p ce fantil. a con rtaleza est o F de volta um mental da educação in n e m ci a n a ia ista e instru opressões d emos cotid do moldada n e s modelo ch olítica de combate às o Ceará, v pela a m d u ta e n d o o m uçã sendo des or e A p s te a reprod uas elites s a ento opress s. dade vem também e a criminalização do r a im p lv o v n se e de de ualdad pressão tensificada turismo r de desig is é do gestão, a re o a têm sido in nível de r is a a p ci fomentado a so e m s a o ento erno nad o movim úvida sobre Nosso gov o clássico d ia alguma d teria, a relação prolites de d v a ti e h n s se se a o e, d n ia o e u tã o rq es e a g g d li rism nciadoras pção que a que uma o o, autorita lugares s pri- corru com as empresas fina s. o fisiologism r o t m m u co o co , o co li ra a a term púb íscu u tudo às cl nstante do estado m nha já deixo rução de uma cidade a aís e do p confusão co to grande parte do p m o ca d a d st n n ta n a co n e u a q co m d fo vado. En Trata-se água por ara carros e escassez de do contiada, feita p undo. ri za está z ti iá le m li a m e rt e se o F a o padece da z n l. n a o ci ci çã so la ir o u p ru çã a po para o tuda segrega sca-se const seca e noss suas elites e o país e pobreza, bu ral de Forta- tadora ra a a p m e a tr d x a e ld a o o lito nua n gares d do m o aquário n recursos públi- sen das elites de outros lu ri á n essoas io il m um smo s em airros, as p e ri b õ h s o il o it d m u a o m p d o Em edo da da C leza, gastan do mundo. o contexto ruas, por m n s , a a a ri z n e le rc a m a a rt p h o in a socieem cos. Em F sequer cam ado ou a d do estado, st o e o rn ss o e d v ce o a ro g p ja o um meio aos a, se Mundo, inha-se em cidade implementa moções. A violênci m , ra ca u s, it o fe tr re u com a p de. Em o com as re rojeto de bre de da ação social aberto. O p iadutos e conde higieniz retirar a população po des- esgotos a céu ncreto, de v o lé . tônica gera s e buscar a valorizaçã rce- de tapumes e co do povo de Fortaleza a o o p sori é ó s m o it e ã to rr n l, n a e te s, it seus movim omínio do cap d s o ta d is s l v e re e o p d a d p la junho tes do ponto os principais especu Por isso, é i às ruas em fo e u q e d m tu co en L consria direta ciais, da juv de. a, e do PSO tivo e a d d é a ci iz se a il n b d o re s a o m e le capital ce imobiliári e que segu ocrático, co ário. te hoje na intal dos rojeto. Dem u on p q ci o o tr lu m O que exis u o o v co re ir a ular e - tru p funcion n o e co p u , q o o st em tã Ju o d . es sa ia, nos feit tário uma g nos pede ou , com tudo tado. A con- iguali co es ri m tó o is G h a to ir o. Quando en do es Ferre no O mom e nos pede organizaçã ecológico o governo er v m o g co o a el ci p n ta sonâ cada de lu alismo cidade colo ente e opressora. pe amos a luta pelo soci mos cepção de d rm r que busca su e fi cl a iz ex d s é a o p io m d m re u e ca lá , qu livre a ma Roberto C e libertário baseado na e financiara o u q m çã a s u h d ra n a ei ro g it p e que ecisão deAs empre um modo d as mesmas dores, na d a a d o lh to sã a b r l a o ra tr p to s s do ssas necesobra nha elei s sociação e coletiva cerca das no e assumem se u es q u ra o a p es ca a. É um modelo licitaçõ a, mocráti da nossa produção, tação algum d ci a li n exm er v se o g e d o a cida ades e ciedade sem tem sid d so e si d e a d , d e ci es to d a n e e u ver e to interesses q ento das nossas áreas desenvolvim ressões e onde todas rução de p m st dos o ta n e a m s co m a se a es , id d o v ra eo e suas ploraçã ocó, pa d s C ta o só d is n é e o u s g rq io u de ma prota mín como o Pa s ou condo educação, dos sejam ciedade. Não se trata dade, te n o p s, to e jeto. Na de viadu mos da so jeto de soci tas desse pro ração’, ru e outro pro luta cotidiana, uma das face o absurdo de ‘reestrutu s de utopia, e sim d o nstruído na ss ui mecanism sur- que deve ser co s da vida. há um proce cl ex e u q , ático os, retira ab das as esfera antidemocr jovens adult dantes e traz em to ra a p o çã educa s estu s letivos do damente dia

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ocó #OcupeOC urgência a evidencia e modelo d no debate de cidade o do

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FOTO: LEVY MOTA

da Ocupaçã sto s 84 dias rote Cocó, em p tenParque do re p e u q rojeto contra o p menca n o tr n ir o e de substitu nheiro nidas Enge vias to das Ave s por ntônio Sale m pelo A e r io n Santana Ju ue avança 0 viadutos q amente 10 elevadas aproximad s o e d n rd a e v rt s co a Parque, ucas áre o p s a d o a çã um ta legaliza árvores em pela imedia rgência de e a z le a rt m a u de Fo demonstrara que modelo de , e u rq a P do bre o debate so ir. Os governos aprofundar ru st n co remos Robercidade que nicipal (Cid Gomes e or u m ra e ) opta m p estadual ctivamente e os sp a re tr , n io co d fensiva to Clau o e d o ss s charoce abrir um p nam contra ao que ele escio s manif que se posi fendendo o ferindo o , o ss re g mam de pro stiam no Parque, de resi república tantes que curador da ro p o a tr rtaleza n calunias co ilho, o vereador de Fo CríF a d s st ante o Oscar Co L) e as milit O S (P a Luio d re sêca e Mari João Alf n o F a d sa forte l, Ro tilização de vas tica Radica u a d m lé a lle, idas tentati za Fontene or nas segu ss re p violenta re to apara inando na lm cu , o çã a de desocup 0. 4/1 r um amplo ação do dia vés de abri in o a , o rn e itir que fosO gov jeto e perm ernativas ro p o re b debate so postas alt ntadas pro ana na sem aprese r a mobilidade hum ca do bepara qualifi em um modelo atrasa otoiu m st região, insi icamente o transporte n ais de u d e o o d d m a n s a o id ci tr nefi Ac to de ou n e im tr e ra d r g ndes rizado em o de provoca m m o o lé c a , , to u n e e ara a regiã debat deslocam e sociais p criou meis ta n ie b , m s danos a movimento nunca ante . O próprio ipação direta: estucó o C o d lo de sentara a partic canismo pa etos e urbanistas apre dos qual mode it u ento ativas à obra dantes, arq postas altern o, em parceria ro p e z desenvolvim uir. n o ram abert m concurso de arquitetura da deve seg viadutos, e o ic m ê o acad ilidade com o centr ria da mob com o lh e m a o d d n a ra teg a UFC, vis de forma in l ca lo o n a human iente. ação, o o meio amb ses de ocup e m s ê tr se mpleApós qua peOCocó, co libecu O # o d to n as de acampame , tendo su diárias, o d ri e g to u s tamente a assembleia didas em ci dade dee ci d a s : e a ri çõ ó ra ensa vit im a lo de m u iu qual mode consegu s, te n a ca n ntindo o nu bateu, com nto deve seguir, gara e monsdesenvolvim articipação direta e de que p e s zar o parqu mecanismo cia de legali ucionalmente, n ê rg u a o d tran instit to, mas não ara intervenções existe de fa p s e d a passibilid este precioso abrindo po m e d ra g e d e m ce que avan biental. trimônio am


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ESPORTE

Criminalizar as torcidas não diminui a violência, só aumenta a repressão Nós, torcedores organizados, vivemos um período difícil, sofrendo ataques dos governos que apontam o fim das TO’ss como solução para o problema da violência em dias de jogos.

S, A D I C R O T S A NTRE E A R R E U G M NE SSES! A L C S A S E R T NEM PAZ EN Raoni Marques

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e início, é importante compreender que praticamente todas as torcidas organizadas se massificaram nas principais periferiais das grandes cidades brasileiras e é na periferia onde explode a violência do capitalismo, sobretudo a policial, que tem hoje na juventude negra e pobre a sua principal vítima. De qualquer modo é evidente a pré-existência de grupos juvenis disputando os espaços das cidades, portanto percebemos que a violência impressa em tais disputas não foi “inventada” nas arquibancadas. A violência expressa pelas torcidas organizadas é mais um dos elementos explosivos da opressão de classe que se estabelece no capitalismo. Portanto, essa violência brutal não começou nem terminará com as torcidas organizadas. Entendemos que o capitalismo é violento por essência. A violência física e ódio expresso muitas vezes nas TO’s é também expressão do ódio da opressão de classe que se estabelece sobre a juventude da classe trabalhadora extremamente precarizada que amontoa as periferias brasileiras. Esta violência não pode ser sanada com o aumento do efetivo policial nos estádios, pois aumentar o efetivo policial significa aumentar a opressão de classe exercida pelo estado burguês e, por conseguinte aumentar mais ainda a violência na sociedade capitalista! Exemplo paralelo a isso são os bailes

funk’s. São estes que em algumas cidades brasileiras, como Fortaleza, na segunda metade da década de 1990 comportava inúmeros grupos juvenis (autodenominavam-se “galeras”). São estas galeras de bairros que, neste período, disputavam a geopolítica juvenil da cidade de Fortaleza, tendo seu campo de encontro as festas funk. Os bailes funk’s foram alvos da criminalização por parte da mídia burguesa, que buscava alardear, de forma ácida, que o fim da violência na cidade partiria do fim dos “sanguinários” bailes funk. O discurso conservador ressoou tanto que no ano de 2002 o ministério público do Ceará proíbe os bailes tendo o índice de violência como justificativa. A violência some ou só muda de lugar? A violência que estava localizada nos bailes funk, após a proibição destes, não teve fim, mas se realocou em outros espaços, dentre estes as TO’s (claro, não de forma linear). Compreendemos, então, que do mesmo modo que a violência não acabou com a proibição dos bailes, não terá fim com a proibição das TO’s. O fato de as torcidas serem compostas majoritariamente por uma juventude negra, pauperizada e moradora das periferias das cidades, evidencia o caráter classista e racista das políticas de segurança. Querem proibir as torcidas no mesmo mote dos bailes funk, em uma política enviesada que não acaba o problema, mas o transfere para outros lugares, dificultando uma ação mais efetiva.


GALERIA

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Com Vandalismo! A Copa das Confederações entrou para história do Brasil, mas não pelo futebol. Nas cinco cidades-sede, a população foi às ruas com pautas diversas:contra as remoções da Copa do Mundo, por saúde, educação, transporte - por direitos. Uma geração que, até então, não havia participado de grandes manifestações, de repente se faz 10, 30, 50, 80 mil nas avenidas de Fortaleza. E é sem moralismo! O Coletivo Nigéria - que produziu o documentário Com Vandalismo, disponível no Youtube - gentilmente nos cedeu algumas imagens para contar um pouco do que foi esse processo que ficou conhecido como Jornadas de Junho. Confira!

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ENTREVISTA

Então veio 1964 P Livino Neto

olêmico, Gilvan Rocha é daqueles que gosta de um bom debate; é duro no combate das ideias e extremamente firme em suas convicções. Pertence a uma safra rara de socialistas, daqueles que foram educados politicamente no tempo em que o sonho por uma transformação radical da sociedade esbarrava na tirania do governo militar - e que mesmo depois de muito calejar, em andanças clandestinas, não mudou de lado. Para Gilvan é fundamental falar de 1964, ano que considera fatal; ele avalia que, naquele momento, o Brasil vivia uma situação pré-revolucionária e isto só poderia desdobrar em duas alternativas: ruptura revolucionaria ou a contrarrevolução. Trata-se de um debate de estratégia que grita silenciosamente enquanto aflige os contornos da nossa recente história política. Em nossa versão impressa faltou espaço para tantas palavras, por isso optamos por nos deter nos cruzamentos da trajetória de nosso entrevistado com a história do país: o início da militância, a chegada em Fortaleza, uma breve ideia do que era a conjuntura em 1964 e o significado do golpe para os dias atuais. Estas poucas linhas são insuficientes para ter noção da profundidade do debate que Gilvan nos traz. Esperamos, no

entanto, que fique claro que para este militante há um inimigo, que se chama Capitalismo. Confira a entrevista na íntegra no site do Psol (psolceara.org.br).

Ceará Socialista - Você iniciou a sua militância no PCB de Pernambuco. Como foi esse processo? Gilvan Rocha - Em 1958 eu tinha 16 anos. Era um momento que se começava um flerte da juventude com o rock’n’roll, o balanço da hora era a chamada “juventude transviada”, que tinha como ídolo o James Jean. Logo, logo, em 58, tive a oportunidade de ingressar no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que estava na clandestinidade. Eu cheguei a ele através de um processo de luta estudantil pelo rebaixamento do preço da carteira estudante. Depois, no processo eleitoral de 58, se estabeleceu uma aliança esdrúxula entre o Partido Comunista e os Udenistas, extrema direita da época, e inicia-se uma frente única imensa, a Oposição Unida de Pernambuco. Eu participei desse processo onde pude conhecer a juventude do PCB e passado o processo eleitoral me chamaram para conversar. O PCB, naquela ocasião, tinha uma postura nacionalista e de reformas. Em 1960 houve a eleição para presidente da república, e o Partido Comunista resolveu apoiar a candidatura

do marechal Henrique Duff Batista Texeira Lopes, extremamente reacionário que, pelo fato de ser nacionalista, o PCB resolveu apoiá-lo. Depois desta experiência eleitoral eu fui para as Ligas Camponesas.

CS - As Ligas Camponesas tinham influência do PCB? Gilvan - Em 60, as Ligas tinham um viés radical bastante acentuado. A orientação do Partido Comunista, naquela ocasião, era estar nas Ligas para tentar minimizar o seu radicalismo, mas aconteceu um fato interessante: nós que estávamos nas Ligas fomos ganhos pelo seu radicalismo e nos afastamos do PCB. Nas Ligas, tentamos a experiência de guerrilha em Goiás, onde passei um ano, em 62. Depois deste episódio, eu sou enquadrado na Lei de Segurança Nacional, no tempo do Goulart, e volto para o nordeste. No nordeste, a gente tenta organizar um grupo chamado Vanguarda Leninista, que passa a existir e se organizar em Pernambuco e na Paraíba. CS - Quantos militantes tinha na organização? Gilvan - Olha, era um grupo pequeno, de 40 a 50 militantes em cada estado, agora todos jovens muito aguerridos. Uma coisa muito interessante é que tínhamos uma ligação concreta com o movimento de massa, tínhamos capacidade de colocar milhares de pessoas na praça, porque tínhamos uma relação muito intima com o pessoal do sindicato do cimento, com o pessoal dos sindicatos dos camponeses e no movimento estudantil com o Liceu da Paraíba, em Pernambuco a coisa se repetia. CS - Como vocês conheceram a Quarta Internacional? Gilvan - Quando a gente estava nesse processo de agitação de arregimentação é que chegam os trotskistas, Pedro Maiakovski, do Uruguai, em nome da Quarta Internacional, e Jeremias. Entram em contato com a gente e, pegando nosso panfleto, dizem que temos uma posição semelhante a deles e nos chamam para uma conversa. Na conversa, eles expõem aquela análise do Trotsky que a revolução foi traída, que o stalinismo nasce com a morte do Lenin e nós assumimos esse discurso. Ai acontece o seguinte: logo quando aderimos ao trotskismo e entramos para o Partido Operário Revolucionário Trotskista, a gente vai perdendo a nossa inserção nas massas, dada a postura muitas vezes insolente e sectária. Com isso fomos perdendo nossas alianças que não eram do grupo, mas facilitavam algumas iniciativas, fomos ficando no gueto


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Esse reformismo e nacionalismo era dito como uma postulação da esquerda, mas uma esquerda desfigurada, não era uma esquerda revolucionaria ou socialista.

- foi uma das grandes “contribuições” que nos deu o contato com o trotskismo: cair no gueto, e lá ficamos até o golpe de 64. CS - Qual era o quadro das organizações de esquerda da época? Gilvan - Quem tinha a hegemonia do movimento de esquerda organizada era o PCB, que defendia a tese do caminho pacífico para o socialismo. Em relação à Liga Camponesa, o Julião já não tinha muita expressão e esta estava em processo acelerado de esvaziamento. Na verdade, quem tinha um perfil de confronto, de reagir ao golpe, era o Leonel Brizola, e de fato ele fez isso. Ele era deputado no Rio Grande do Sul, mas assumiu o governo do estado em função do golpe, convocou a brigada militar e, junto do comandante do terceiro exercito, o General Ladário, convocou o Goulart e disse “o senhor me nomeie ministro da justiça, o General Ladário ministro da guerra, que nós reverteremos”. O Jango se negou, com o argumento de evitar derramamento de sangue, confronto, luta fratricida... Isso tudo era, na verdade, retórica, ele se negou porque tinha medo de perder o controle daquele processo. Iam reagir e aquilo poderia gerar uma insurreição sob a qual ele perderia controle, então resolveu não “patrocinar” o confronto. O Brizola ainda demorou uns três ou quatro dias e depois foi para o exílio. CS - Apesar de todo o mito, principalmente em função do nacionalismo, o Jango não chegava a ser propriamente um comunista... Gilvan - Primeiro há de considerar que a instalação do parque industrial do Brasil, durante a década de 50, ainda no governo do Juscelino Kubitschek, acentuou as con-

tradições entre dois setores da burguesia: a burguesia industrial e a burguesia conservadora ligada ao campo. Estas contradições se davam em torno dos seguintes fatos: a burguesia industrial precisava ter espaço para o desenvolvimento capitalista mais comprometido com a industrialização e foi este segmento burguês quem formulou o chamado Programa para as Reformas de Base. Para que o capitalismo pudesse se desenvolver, era necessária reforma agrária, reforma administrativa, reforma política... Este era um pleito deste setor da burguesia, que pretendia atingir estas reformas por via do parlamento. O Partido Comunista endossava este programa burguês e o Goulart era um político com afinidade completa, um programa de reformas dentro dos limites do capitalismo, que pretendia superar as amarras que impediam o franco desenvolvimento do capital no Brasil. O Jango não era um milímetro a mais que um quadro comprometido com uma proposta de desenvolvimento capitalista. Esse reformismo e nacionalismo era dito como uma postulação da esquerda, mas uma esquerda desfigurada, não era uma esquerda revolucionaria ou socialista. O Jango era a expressão dos interesses de um segmento mais avançado do capitalismo, nada mais que isso. CS - No período que sucedeu o golpe, o que aconteceu contigo e como você veio para Fortaleza? Gilvan - O golpe se dá em março. Em maio, fui preso, só que as prisões eram de massa, saiam prendendo indistintamente. Eu tinha 22 anos e tinha um corpo mirrado, tinha cara de secundarista. Quando me interrogaram, eu sabia que eles não sabiam quem eu era, ai eu assumia uma de estudante se-

cundarista, que era do grêmio. Ai depois o General Rezende baixou uma portaria que ninguém poderia ficar preso mais de 50 dias sem culpa formada. Me soltaram dizendo para ir e em uma semana me reapresentar. Obviamente eu não voltei. Talvez eu tenha sido o primeiro caso que estamparam fotografia no jornal: “O quarto exercito, junto com a secretaria de segurança pública, pede a todo bom brasileiro que souber do paradeiro do perigoso agitador Gilvan Rocha...”. Ai fui embora para o sertão da Paraíba, depois para o sertão de Ceará, até chegar a Fortaleza. Chegando aqui, conseguimos nos articular com alguns companheiros e voltar nos organizar montando uma imprensa clandestina. CS - Há heranças do regime militar na nossa atual democracia? Gilvan - Uma coisa que temos que compreender é que o estado burguês se apresenta sob duas roupagens: o chamado estado democrático de direito, que é a forma ideal de dominação da burguesia, aquela que a própria massa consente a dominação; e outro é o estado de exceção, é quando estes postulados são suspensos e se estabelece o rigor do chicote, mas não é a forma ideal de dominação, costuma ter um caráter transitório e cirúrgico. O golpe de 64 teve um proposito cirúrgico, para os burgueses arrumarem a casa, intervir nos sindicatos, desarticular a esquerda, para só depois retomar o estado democrático, mas depois descambou para uma ala mais a direita. Não deixou marcas, a ação cirúrgica do golpe nesse estado democrático de direito, mas, evidentemente a burguesia sendo ameaçada, ela suspende o estado democrático e implementa o estado de exceção.


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INTERNACIONAL ILUSTRAÇÃO: JOSÉ SMITH VARGAS // TURQUIA

Uma nova época de guerras e revoluções Afranio Castelo

H

á pouco menos de um século, após ter analisado as condições da emergência da fase imperialista do capitalismo, o marxista russo Lenin concluiu que o mundo estava adentrando em uma época de “guerras e revoluções”. De lá para cá, essa imbricação entre o desenvolvimento econômico do sistema e o acirramento dos embates políticos entre classes e nações foi plenamente confirmado. O século XX foi de longe o período mais violento já vivido pela humanidade. Entretanto, a consciência deste aspecto do desenvolvimento histórico foi cuidadosamente reprimido pelo discurso dominante logo após a queda das tiranias burocráticas na antiga URSS e seus satélites no Leste Europeu. Segundo a fantasia neoliberal, a supremacia do capitalismo ocidental, comprovada pelo ocaso de seu concorrente burocrático, abriria à humanidade as portas de uma verdadeira era de ouro, amparada no livre desabrochar de todas as potencialidades sugeridas pela livre movimentar-se do mercado. Logo vimos aonde a desregulamentação e as privatizações levaram a economia mundial. Sem qualquer tipo de controle, o capital pôde desenvolver nos anos 1990 e 2000 suas tendências mais profundas de crise, unindo uma intensa reestruturação produtiva poupadora de mão de obra a uma assombrosa canalização dos capitais para a esfera especulativa. Como era de se prever, o capitalismo mundial preparou de forma paciente e inevitável a grande crise aberta com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. Esse fato, cujo paralelo histórico é apenas o da queda da Bolsa de New York em 1929, foi o estopim de uma crise financeira que atinge as principais economias mundiais já a cinco anos, sem perspectivas de superação. Embora os governos e as instituições de coordenação econômica do capital tenham respondido prontamente com o abandono dos pudores neoliberais sobre a intervenção do estado na economia, através do resgate de bancos falidos, de subsídios milionários às indústrias e severos planos de austeridade econômica, a crise permanece e tem servido de pano de fundo para uma nova fase de endurecimento dos conflitos políticos e sociais em todo o mundo. Ao contrário do “fim da história”, o que estamos vendo hoje é um inegável acele-

ramento da História, com nações inteiras pondo-se em movimento e rompendo com décadas de dominação ditatorial em vários países do Norte da África e Oriente Médio (“Primavera Árabe”), enfrentando nas ruas e praças os planos de austeridade capitalistas em países atolados na estagnação econômica (Grécia, Espanha, Portugal, Chile, etc) e reinventando novas formas de luta e ação política para além da representação burocrática e da política tradicional (Praça do Sol na Espanha, Praça Taskim na Turquia, Ocupy, manifestações de junho no Brasil). Este é, sem dúvida, o principal resultado da crise do capitalismo mundial. Seu agudo ressurgimento não apenas tornou novamente atual à crítica global ao sistema (incluída aqui a central questão ambiental) como também recuperou o direito de rebelião para os povos. Com certeza, as guerras e as revoluções voltaram ao centro da História.

O século XX foi de longe o período mais violento já vivido pela humanidade.


PERFIL

Um homem de fé vermelha

A religião é o ópio do povo? A história de Haroldo Coelho nos dá uma resposta negativa a esta questão. Joana Vidal

O

padre cearense, adepto da Teologia da Libertação, foi uns dos que ressignificou os ensinamentos de Cristo em pleno regime de exceção no Brasil. Ou, talvez, tenha apenas os recuperado da desvirtuação de uma igreja elitista. Enquanto o vaticano dizia que não, Padre Haroldo, assim como dom Hélder Câmara, dom Fragoso, dom Aloisio Lorscheider e tantos outros, reproduziam as práticas originais de Jesus: a opção pelos pobres, a organização comunitária através da coletividade e a insurgência contra governos exploradores. Padre Haroldo se relacionava mesmo com as pessoas. Entre as comunidades eclesiais de base, as populações empobrecidas das periferias urbanas, os camponeses sem terra do interior do estado, os movimentos populares e os partidos políticos, ele transitava, com sua oratória inflamada, falando em nome da vida, da liberdade e da justiça frente às situações de opressão e repressão. Para este profeta agitador, porém, o reino de deus na terra tinha um nome claro: socialismo. Com o final da ditadura militar, boa parte da militância social do Brasil encontra abrigo embaixo de uma estrela e assume o 13 como seu número. No início da década de 1980, Padre Haroldo passa a integrar o Partido dos Trabalhadores (PT) e participa da gestão da prefeita Maria Luiza Fontenelle em Fortaleza. Em 1986, sai candidato a “governador do povo”, contra os militares representados no coronel Adauto Bezerra e a burguesia industrial de Tasso Jereissati. Numa campanha heroica, cuja marca foi a defesa da reforma agrária, candidato e militância percorriam capital e interior, fazendo comícios no

meio das feiras, em cima de caminhões, e conversando com as pessoas. A derrota eleitoral foi drástica e previsível, mas os sonhos deste padre comunista nunca couberam nas urnas mesmo. E, inclusive, muito perto estes sonhos se provavam possíveis: no final da década de 1970, acontecia a Revolução Sandinista, onde fé e política, religião e revolução caminhavam juntas. A vitória da “pequenina Nicarágua” o arrebatou apaixonado, sendo intensamente referenciada em seus discursos e sermões. No Brasil, porém, a história seguiu o rumo inverso. A igreja se tornou mais conservadora. O PT inicia um ciclo de crises, culminando num racha em 1988 com a saída do grupo de Maria Luiza. Padre Haroldo foi junto. Nas inúmeras batalhas sociais da década de 1990, ele nunca se deixou abater. No início dos anos 2000, porém, seus olhos ganham um novo brilho: agora, é a vez do sol. Desde o princípio, ele anima a fundação do Partido Socialismo e Liberdade no Ceará e, até o final de sua vida, a este é filiado. Padre Haroldo jamais deixou de estar presente nas lutas, estivessem elas na anistia dos presos políticos, nas ocupações de terra, nas periferias, na luta por moradia digna, em especial no Pirambu, nas greves operárias e, sempre, sempre, sempre contra o imperialismo – chegando à posição polêmica de defender o ditador libanês Kadafi por estar em posição contrária aos Estados Unidos. Sua história permanece, marcada pelo punho erguido e pela coerência. Sua fé e convicções políticas – seriam a mesma coisa? – não vacilam nem apaziguam com a idade. Para ele, definitivamente, a vida tinha sentido.

FOTO: ACERVO PSOL

2013

Morre Padre Haroldo, aos 77 anos, em Brasília, por uma parada cardiorrespiratória

2009

Comemora os 45 anos de sacerdócio. No convite, o texto: “Estava o mundo cristão preparando-se para o Advento – festa de encarnação do jovem carpinteiro de Nazaré, o Homem Divinizado – quando dom Clemente Isnard, bispo emérito de Nova Friburgo/ RJ, impôs as mãos sobre mim, consagrando-me para o serviço do Povo de Deus e se todos os pobres e injustiçados”.

2005

Anima a criação do Psol no Ceará, partido ao qual é filiado até o fim da vida

LINHA DO TEMPO 1935

No dia 24 de março, José Haroldo Bezerra Coelho nasce em Fortaleza. É o quinto filho de seis homens e duas mulheres de uma dona de casa e um funcionário público

1949

Ingressa, aos 14 anos, no Seminário Menor dos Padres Lazaristas, no bairro Antônio Bezerra.

1963

Ordena-se diácono pela Diocese de Nova Friburgo (RJ)

1964

Em 29 de novembro, foi ordenado padre na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, com 28 anos.

1971

Vai para a França, onde cursa a pósgraduação na Universidade de Sorbonne. Antes, havia cursado a Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo.

1979

Volta ao Brasil depois da anistia. Passa a lecionar na Universidade Estadual do Ceará.

1986

Candidato a governador do Ceará pelo PT, contra o coronel Adauto Bezerra e o industrial Tasso Jereissati

1988

Sai do PT junto ao grupo da ex-prefeita Maria Luiza Fontenelle


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PSOL NO PARLAMENTO

Um mais um é sempre mais que dois A atuação da Bancada do Sol na Câmara Municipal nunca titubeou: nossa luta é junto aos movimentos sociais, numa postura de enfrentamento ao governo atual e sua base de sustentação na CMFOR

Bancada do Psol na Câmara Municipal de Fortaleza

C

aminhamos para o fim do primeiro ano de atuação da Bancada do Sol: e nesse período, estivemos numa luta incessante por um maior acesso, da população, a seus direitos. Desde que a cidade elegeu João Alfredo e Toinha Rocha como seus legítimos representantes, em outubro de 2012, os mandatos Ecos da Cidade e Cidade em Movimento têm desenvolvido sua atuação, dentro e fora da Câmara Municipal de Fortaleza, na busca pelo ideal de igualdade e democracia. É nas ruas, nas lutas que acontecem na cidade onde a bancada tem procurado estar mais presente. Assim foi nas jornadas de junho, nas grandes manifestações à época da Copa das Confederações, assim foi no apoio dado (inclusive, presencialmente) no acampamento de quase três meses do Ocupe o Cocó, em defesa do Parque, que, depois de duas tentativas, foi violentamente despejado por ordem da Justiça Federa. Mesmo que isso represente o incessante enfrentamento à política dos que hoje ocupam os cargos do executivo. Diametralmente opostos aos nossos, os projetos de cidade levados a cabo pela oligarquia Ferreira Gomes – aí incluído o prefeito Roberto Cláudio – não dialogam com o povo que quer e precisa de uma Fortaleza mais verde, justa e democrática, que quer não só debater, mas, decidir também sobre moradia, preservação ambiental, transporte público, educação, saúde. Os mandatos do PSOL têm procurado ser parceiros, interlocutores, porta-vozes e, ao mesmo tempo, canais de comunicação com a população, a cidadania e os movimentos sociais.. Por conta de nossa postura de coerência, muitos dos requerimentos e projetos de lei da bancada do Psol foram rejeitados pela base do prefeito, inclusive, aqueles de óbvio interesse público. Em meados de setembro, por exemplo, a Câmara votou o

É nas ruas, nas lutas que acontecem na cidade onde a bancada tem procurado estar mais presente.

Plano Plurianual 2014-2017 (PPA), que é o instrumento que rege os gastos da Prefeitura por quatro anos. Todas as emendas propostas foram rejeitadas – como, por exemplo, a que instituía a regularização fundiária e melhorias urbanas na Zona Especial de Interesse Social (Zeis) do Bom Jardim, no valor de R$ 2.100.000. A base governista, sempre em consonância direta e irrestrita ao poder municipal, rejeitou tais emendas alegando estarem criando despesas, o que é proibido ao legislativo. A alegativa é falaciosa: as emendas remanejavam despesas com gastos em publicidade.

FOTO: RAISSA VELOSO

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CULTURA

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RESENHA

IMAGENS: DIVULGAÇÃO

FILME >> O CAPITAL

Outros filmes de CostaGavras Z (1969)

Relata o assassinato de um político cometido como se fosse um acidente, baseado na morte do socialista Gregoris Labrakis, na Grécia dos anos 1960.

Afranio Castelo

“O

Capital”, último filme do cineasta de origem grega Costa-Gavras, chegou ao circuito de cinemas brasileiros no início do mês de outubro. Como o próprio nome do filme indica, seu enredo interpela a realidade da economia mercantil e de como os atos e a moralidade das pessoas são moldados por esta. O diretor, celebrizado por filmes de temática crítica como o clássico, “Z” (1969) e os excelentes “Estado de Sítio” (1972) e “Desaparecido, um grande mistério” (1982), volta a explorar o caminho seguido em “O Corte” (2005), de converter a realidade material dos personagens em um pano de fundo psicológico para que estes possam executar de forma cínica e despudorada ações que o senso comum não hesita em chamar de cínicas, imorais e até mesmo de criminosas, provocando a degradação moral do indivíduo e de todo o círculo cuja máscara social ele enverga. Embora seu tema seja o capitalismo e suas tendências a absolutizar a esfera financeira como principal forma contemporânea deste, o título não se refere diretamente à obra do grande Karl Marx, mas ao livro homônimo do francês Stéphane Osmont, um expert do mercado financeiro. Mesmo podendo servir facilmente de fio condutor para o debate das relações capitalistas e seus fetiches, especialmente em sua forma finaceiro-especulativa, o filme na verdade desdobra-se na conjunção entre a ambição de seu personagem principal, Marc Tourneil (interpretado por Gad Elmaleh) e as condições de crise econômica que este tem que vencer para ascender como executivo de uma importante instituição financeira. Ou seja, o que guia a narrativa é a ascensão de um gestor capitalista e os jogos de poder que ele enfrenta para se manter na presidência do banco Phenix. Produzido no olho do furacão em um momento em que o capitalismo mundial ainda move-se sob os efeitos da grande crise aberta em 2008, o tema do filme não poderia deixar de ser mais atual. Alguns de

seus diálogos são de grande atualidade e permitem entrever algumas das principais perverões geradas por um sistema que só pode existir aprofundando os piores traços da sociabilidade humana, estimulando o egoísmo, a corrupção e a sede de poder e riqueza. Tais traços, típicos da subjetividade capitalista comparecem claramente, quando por exemplo o personagem, discursando em uma reunião, diz aos acionistas que sua função é roubar os pobres para dar aos ricos - declaração que é recebida com aplausos e assobios. Com tudo isso, fica impossível não associar a obra à dura realidade que atinge o capitalismo europeu e norte-americano. O próprio Gavras tem se referido ao assunto em várias entrevistas, onde mostra claramente a ligação entre o filme e a situação de crescimento do desemprego e cortes nos gastos sociais executados pelos governos, a exemplo inclusive do que ocorre na Grécia, país de origem do cineasta. Em uma outra cena fundamental do filme, o protagonista, durante um almoço familiar, tem um confronto muito duro com o seu pai, antigo militante socialista. Aí diz-se que finalmente “o internacionalismo triunfou”, porque agora já não há uma produção nacional, as corporações e os bancos são multinacionais”. Ou seja, mesmo sem querer, ao fim das contas, “O Capital” de Gavras acaba por remeter o debate sobre o sentido da crise atual do capitalismo ao seu maior crítico: Karl Marx. Este certamente resmungaria contra a identificação superficial entre o mundo das bolsas e dos bancos e o capitalismo em geral, mas ele também entenderia que esse limite – que de resto é o de toda uma geração que fez da luta contra os excessos do capitalismo financeiro no último quarto de século sua principal bandeira de luta – pode ser também o prenúncio de uma nova retomada da crítica anticapitalista em um sentido muito mais profundo e radical, capaz de retomar também à escala internacional a inciativa política necessária a derrocada desse sistema que desumaniza tanto quanto explora e destrói.

Estado de Sítio (1972)

Filme em que o corpo de um americano que ensinava métodos de tortura a regimes militares da América do Sul é encontrado em um carro, inspirado na captura do agente da CIA Dan Mitrione por guerrilheiros uruguaios, em 1970.

Desaparecido, um grande mistério (1982) Conta o desaparecimento de um jovem escritor no Chile após o golpe que depôs Allendem, em 1973. Para buscá-lo, seu pai viaja dos EUA até o país e testemunha a violência do regime Pinochet.

O Corte (2005)

O filme desenvolvese em torno da vida de um executivo francês que perde o emprego, e que dois anos depois, ainda desempregado, decide matar seu substituto para recuperar o antigo emprego.


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CULTURA

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Das histórias em quadrinhos ao cinema Adaptações que acumulam

CHARGE >>

Ramon Cavalcante

para qual discurso? Bruno Costa

O

que significa para nós um Super-homem que mata os vilões? O que podemos dizer de um Batman que tortura criminosos para conseguir informações? E de tantos outros super-heróis dos quadrinhos com adaptações ao cinema cujas histórias são alteradas para adequarem-se ao gosto de uma nova geração? A resposta positiva dos leitores e espectadores a essa “atualização das condutas” dos super-heróis nas novas mídias tem raiz em um conservadorismo tácito na sociedade, que já é bastante reforçado para o público pela indústria do entretenimento. O Homem de Aço (2013), do diretor Zack Snyder e do produtor Christopher Nolan, nos mostra uma "modernização” da história do super-herói clássico dos quadrinhos e introduz uma grande polêmica para os fãs do gênero: o novo Super-homem mata. Independentemente de terem gostado ou não, a grande maioria do público viu isso como uma forma de atualizar o personagem aos anseios de uma nova geração, que, pelo visto, entende que bandido bom é bandido morto. O princípio que proibia os super-heróis de assassinarem os vilões nos quadrinhos surgiu em 1954 com a criação de um selo de aprovação que buscava moralizar as revistinhas, antes disso, na “Era de Ouro” dos quadrinhos, heróis matando vilões era algo comum. Hoje o paradigma de herói que vem ganhando corpo é expressão de um discurso que criminaliza, julga e dá a sentença instantaneamente a quem é visto como vilão no dia a dia, e cujos fins justificam os meios. A grande reflexão que deve ser feita por nós, na verdade, não é em cima de um Super-homem que mata o vilão, e sim sobre o público que quer que ele mate, por considerar que esta é a melhor solução.

Informativo bimestral do PSOL Ceará Tiragem: 2000 exemplares Impressão: Expressão Gráfica

AGENDA

10/11

Reunião para a formação do Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política

29/11

IV Congresso Nacional do PSOL


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