N.º 174 Abril | www.flfrevista.pt |
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ALQUEVA
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ENTREVISTA PRESIDENTE DO INIAV DESTACA «ESTREITO ENVOLVIMENTO ENTRE A PRODUÇÃO E A INVESTIGAÇÃO»
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4 EDITORIAL 6 NOTÍCIAS 8 OPINIÃO ENTREVISTA 10 «Há um estreito envolvimento entre a produção e a investigação» – Nuno Canada, presidente do Concelho Directivo do Instituto Nacional de Investigação Agrária de Veterinária ACTUALIDADE 14 Frutitec retorna à Exposalão Futuro do pêssego está na mecanização e redução de custos
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Fitofármacos e mobilização no combate à estenfiliose Hubel Verde mais próxima dos produtores alentejanos Temos estado a identificar novos fornecedores» «Uma política agrícola com futuro tem de ser económica»
FILEIRA 26 Estenfiliose da pêra Rocha Kiwi: do crescimento da oferta à diversidade de espécies
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30 Vitacress e McDonald’s, uma relação «biunívoca» 32 Prisma | Agricultura biológica: uma “cultura” que se enraíza nas sociedades de consumo 34 CAMPOS DE DEMONSTRAÇÃO GRANDE PLANO 40 Alqueva: está construído, “porra”! LOGÍSTICA 60 Notícias INTERNACIONAL 62 Empresas apresentam novos produtos na Fruit Logistica INOVAÇÃO 66 Garantidamente biológico CONSUMO 68 Freshpoint | Entre castanhas e gelados, vende-se fruta 70 Fórum | O mercado perde dinamismo e inovação é a palavra de ordem 72 AGRO-NEGÓCIO 74 AGENDA frutas, legumes e flores | Abril 2017
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CHEGOU A PRIMAVERA… Chegou a Primavera e com ela a melhoria do tempo, a mudança de hora, os dias mais longos. A título pessoal, é a estação de que mais gosto, sobretudo para ir ao campo. Este é o pretexto para sair de casa e arejar as ideias por esse Portugal frutícola, completamente florido. As cerejeiras, as amendoeiras, as fruteiras de caroço e outras polvilham de branco a paisagem e, seguramente, que nos dão alento neste renovar de mais um ciclo de vida que frutificará mais tarde. Escrever para profissionais, que todos os dias lidam com estes ambientes, é seguramente redutor, mas nunca é demais lembrar que é graças a eles que os ditos “urbanos” se encantam com a magnificência destes autênticos postais ilustrados. A propósito de postais ilustrados, está aí mais uma emissão de selos das Frutas de Portugal, disponível em qualquer loja dos CTT, para coleccionadores e não só, que nos remetem para mais uma viagem, sob a égide das frutas portuguesas, de Norte a Sul, passando pelas regiões autónomas. Os selos têm Amêndoa do Douro, Maçã de Alcobaça, Uva de Mesa D. Maria, Figo do Algarve, Anona da Madeira e Maracujá dos Açores. O lançamento desta colecção de mais seis frutos portugueses – em que a “salada de frutas filatélica” se enriquece de forma única e intransmissível, uma vez que incide sobre frutas “únicas” no Mundo –, é sem dúvida um contributo para o conhecimento da história de Portugal, não só no contexto tradicional da aprendizagem mas, obviamente, porque cada um dos frutos encerra uma parte da história de cada região, reflectindo e
DIRECTOR João Miguel Pereira jpereira@flfrevista.pt DIRECTOR EXECUTIVO Jorge Reisjorgereis@flfrevista.pt EDITORA Sara Pelicano – sarap@flfrevista.pt JORNALISTAS Carlos Afonso – carlos@flfrevista.pt Rita M. Costa – ritacosta@flfrevista.pt CONSELHO EDITORIAL António Serrano Domingos Almeida Eduardo Diniz • Vítor Araújo Maria do Carmo Martins
intersectando variáveis como os solos, o clima, a geografia, a biodiversidade, as gentes… em suma, a capacidade de cada um de nós poder, face àquilo que a Natureza nos oferece, tirar o melhor partido e ter capacidade de acrescentar valor. E que impacto tem o projecto Alqueva? Segundo um estudo realizado pelo professor Augusto Mateus, o empreendimento terá originado na economia nacional um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de 2.000 milhões de euros, o que reflecte a dimensão desta infra-estrutura. Acresce agora a expectativa do aumento das áreas irrigadas, cujo projecto se encontra em análise de financiamento, depreendendo-se desta maneira o que já foi feito e o quanto há a fazer para contribuir de forma expressiva para os chamados bens transacionáveis. O Alqueva será outro pretexto para rumar até ao Sul, passando pela Ovibeja, que decorre de 27 de Abril a 1 de Maio (com direito a fim-de-semana prolongado e tudo). Mais uma vez, todo o Alentejo deste Mundo. E porque se realiza no próximo dia 5 de Maio o Congresso Nacional do Azeite, em Valpaços, a sugestão de leitura passa por aí. Sugestão de Leitura (consulta): Guia dos Azeites de Portugal 2016, Enigma Editores, Março de 2017 Despeço-me com um abraço até à próxima edição…
FOTOGRAFIA Publiagro DESIGN GRÁFICO Catarina Estácio REVISÃO Publiagro DEPARTAMENTO COMERCIAL Jorge Reis jorgereis@flfrevista.pt ASSINATURAS info@flfrevista.pt ADMINISTRAÇÃO João Miguel Pereira Jorge Reis
João Miguel Pereira jpereira@flfrevista.pt
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frutas, legumes e flores | Abril 2017
Sumo de laranja 100% de fruta motiva visita ao Algarve Duas empresas algarvias da área dos citrinos receberam uma visita promovida no contexto do Fruit Juice Matters, um programa europeu dedicado aos sumos 100% de fruta. A visita dos representantes das entidades envolvidas no programa às unidades da Lara – Laranja do Algarve (situada em Silves) e da Cacial – Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (instalada em Faro) decorreu no fim de Março. Os participantes na visita tiveram a oportunidade de conhecer as várias fases do processo de produção de sumo de laranja 100% de fruta, desde a produção do fruto até à sua selecção e transformação. O Fruit Juice Matters é uma iniciativa de âmbito europeu da Associação Europeia de Sumos de Fruta (AIJN), que tem como objectivos principais partilhar conhecimento sobre os sumos 100% de fruta – da composição ao processo de produção –, demonstrar os processos envolvidos na sua preparação e estimular o diálogo em torno deste alimento. Pretende-se assim promover um maior conhecimento destes sumos e do seu potencial enquanto complemento ao consumo diário de fruta, quando integrados numa alimentação equilibrada e saudável. Este programa decorre em 14 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Irlanda, Holanda, Polónia, Portugal, Reino Unido e Suécia.
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Candidaturas abertas para o Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola Até 24 de Julho, os interessados podem submeter a sua candidatura à 4.ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola. O galardão divide-se em quatro categorias exclusivamente para empresas, nomeadamente “cereais”, “floresta”, “hortofruticultura” e “produção animal”. Haverá ainda uma outra categoria – “inovação em colaboração” – que «foi pensada para projectos de inovação promovidos por mais do que uma entidade e, ao contrário das anteriores, requer a participação nos ateliers de inovação», explica o Crédito Agrícola. «Os ateliers de inovação irão realizar-se durante o primeiro semestre do ano, em quatro regiões do País, permitindo aos participantes adquirir e praticar ferramentas e boas práticas ao nível da estruturação e implementação dos seus projectos.»
Nesta iniciativa, haverá ainda espaço para premiar um empresário individual, sociedade, associação, fundação, organização não-governamental, entidade do sistema científico e tecnológico nacional, organismo da administração pública e projecto submetido por associado do Crédito Agrícola, reconhecendo assim o seu mérito. «A análise dos projectos terá como base três critérios: grau de inovação, potencial de mercado e sustentabilidade», pormenoriza a entidade bancária. Os vencedores de cada categoria receberão 5.000 euros e serão anunciados numa cerimónia, em Lisboa, no final do ano. Toda a informação sobre o prémio está disponível em www.premioinovacao.pt
Valpaços acolhe Congresso Nacional do Azeite 2017 No dia 5 de Maio decorre, no Pavilhão Multiusos de Valpaços, Trás-os-Montes, o Congresso Nacional do Azeite. Entre as 9h30 e as 17h vão ser debatidos temas como “azeite e saúde”, “sequestro de carbono no olival e pegada de carbono do azeite” e “denominações de origem e indicação
geográfica do azeite”. O encontro, organizado pela Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo, vai contar com a intervenção de diversos agentes do sector nacional e internacional. Está prevista a presença de Abdellatif Ghedira, director executivo do Conselho Oleícola Internacional, e confirmada a participação de Luís Capoulas Santos, ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Paulo Ribeiro, presidente da Direcção da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços e, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República. O dia de debate termina com a entrega de Prémios Concurso Nacional de Azeite Virgem da Feira Nacional de Olivicultura. As inscrições para participar no evento estão abertas até 1 de Maio e devem ser realizadas através do e-mail cepaal@ azeitedoalentejo.pt
frutas, legumes e flores | Abril 2017
«Sector agro-alimentar está bem e recomenda-se» Esta foi uma das mensagens deixadas durante o 6.º Congresso da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-alimentares (FIPA). O evento centrou-se no tema “Criar valor, construir futuro”. Representantes de empresas e associações ligadas à fileira foram convidados a reflectir sobre os desafios e constrangimentos da afirmação do sector agro-alimentar nacional em Portugal e no Mundo. Durante o painel dedicado há reflexão sobre “Competir no mercado global”, Maria João Veiga Gomes, directora de Relações Institucionais e Mercados Externos da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep), defendeu que o «sector agro-alimentar está bem e recomenda-se», com o crescimento das exportações a ultrapassar o das importações. Contudo, sublinhou que a cooperação entre empresas é «importante» para o seu sucesso internacional. António Simões, presidente do Conselho de Administração e CEO da Sovena, explicou que «dimensão do mercado local é um constrangimento» pelo que 80% das vendas da empresa são fora de Portugal. Na Imperial, a aposta também recai pelo mercado externo. «Há 15 anos, a empresa decidiu que o mercado interno era limitado» e decidiu apostar lá fora, explicou Manuela Tavares de Sousa, CEO da Imperial. Já a Cerealis, vê em Portugal um mercado importante, especialmente no que toca à «substituição das importações». Rui Amorim de Sousa, CEO do grupo, pormenorizou que «nas exportações sempre estivemos mais focados no mercado da saudade». Por sua vez, Rui Lopes Ferreira, presidente da Comissão Executiva da Unicer, defendeu que «o mercado da saudade é um segmento interessante mas não é a receita para a internacionalização». O evento decorreu a 4 de Abril, no Convento do Beato, em Lisboa.
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ALQUEVA: UMA REALIDADE EM CONSTANTE EVOLUÇÃO
A agricultura de características mediter-
rânicas, sendo uma mais-valia no contexto das produções agrícolas ao nível internacional, devido à sua especificidade e diversidade, é particularmente exigente ao nível da disponibilização de água, devido ao nosso clima de sol abundante e com risco de secas ocasionais. Assim, o regadio tornou-se um factor incontornável em termos de culturas permanentes. Actualmente, é indispensável para qualquer novo investimento, inclusivamente, assistimos já às primeiras experiências na floresta com rega, mais concretamente no montado. Deste modo, a construção de Alqueva, tendo em conta a sua dimensão, veio alterar não apenas a agricultura que se pratica naquela zona do Alentejo, mas também o clima e a paisagem da região. É um dado relevante para a realidade do nosso País, o facto de a conclusão da obra, prevista para 2025, ter sido efectuada em 2015, 10 anos antes, e num contexto financeiro particularmente difícil para Portugal. Isto demonstra que Alqueva se 8
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impôs como obra de inegável mais-valia, quer para o desenvolvimento da agricultura, quer para o progresso da economia nacional. Contrariamente ao que se pensa, Alqueva não é apenas uma barragem, é um complexo de 64 barragens, e respectiva rede de irrigação, que, tendo já abrangido 120.000 hectares, se prepara para alcançar, na segunda fase, uma totalidade de 160.000 hectares. Ainda assim, também ao contrário do que se julga, Alqueva, apesar da sua grande dimensão, abrange apenas uma pequena parte do Alentejo. Um detalhe, ainda pouco conhecido sobre esta infra-estrutura, é que Alqueva pode suportar quatro anos consecutivos de seca – hipótese felizmente remota e ainda nunca verificada – sem comprometer a sua capacidade de irrigação. Este facto garante aos investidores a segurança necessária para aplicarem os seus recursos naquela região e, inclusivamente, constata-se já o interesse, por parte de fundos de investimento estrangeiros, em operar na zona de abrangência de Alqueva.
Toda esta infra-estrutura tem permitido alterar positivamente o rendimento dos produtores e das respectivas explorações e aumentar a diversidade de culturas – não apenas com uma expansão muito significativa do olival, beneficiando de mais mecanização dos sistemas produtivos, mas também com a introdução dos frutos secos e, inclusivamente, dos hortícolas. Neste último caso, há que ter em conta que se trata de cultura com elevada necessidade de mão-de-obra, a qual não está disponível no Alentejo, nem no resto do País, o que constitui um problema para a expansão deste sector. Outro problema, neste caso para a generalidade das explorações, é o custo da água. Foi anunciada, muito recentemente, uma descida do custo deste factor de produção em Alqueva. No entanto, é fundamental que o preço de mantenha em níveis que permitam a rentabilidade das explorações e que garantam a sustentabilidade das culturas instaladas. Alqueva está ainda longe do seu potencial máximo. Para que se verifique mais investimento por parte dos produtores e que mais explorações se implantem e produzam na área de abrangência da barragem é fundamental que se instalem novas agro-indústrias na região, que absorvam as produções e permitam aos agricultores pensar em mais e maiores investimentos. E, assim, potenciar ainda mais a capacidade de Alqueva para influenciar positivamente a agricultura portuguesa e a economia do nosso País.
Luís Mira Secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP)
«HÁ UM ESTREITO ENVOLVIMENTO ENTRE A PRODUÇÃO E A INVESTIGAÇÃO» Nuno Canada, presidente do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Iniav), defende que, em Portugal, as empresas deviam financiar projectos de inovação e afirma que a investigação trabalha de mãos dadas com a produção. O Iniav está a consolidar a sua vertente laboratorial e, na vertente da experimentação, pretende «criar uma verdadeira rede nacional». Carlos Afonso
Quais as principais áreas de investigação no Iniav? Fizemos o desenvolvimento das áreas principais de investigação em função das principais fileiras para o País. Temos a área florestal e a área agro-alimentar. Dentro da agro-alimentar, temos as fileiras da produção animal e da produção vegetal. As estações experimentais, que temos vindo a desenvolver, são temáticas: em Alcobaça, temos uma relacionada com a fruticultura; no litoral alentejano, temos uma estação, a Fataca, onde é feita grande parte da experimentação em pequenos frutos; em Dois Portos, na Estação Vitivinícola Nacional, estamos a dar apoio, de abrangência nacional, como em Alcobaça, à área de viticultura e enologia; em Salvaterra de Magos, temos uma estação experimental relacionada com o arroz – entraram agora no mercado duas novas variedades de arroz, desenvolvidas no âmbito dessa estação, em parceria com a produção e com a indústria. É sempre esse o nosso modelo: ter a produção, a indústria e a investigação. Em Coruche, a estação está a ser desenvolvida em parceria com a Anpromis [Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo]. Está em fase de instalação, lá, o Centro Nacional de Competências para o Milho – InovMilho. Em Elvas, temos as áreas de olivicultura, trigos, cevadas, leguminosas e pastagens. Têm todas o mesmo peso, o mesmo orçamento, ou alguma tem preponderância? Temos um plano estratégico e há áreas que ainda não têm o peso que se pretende. São áreas que estão em desenvolvimento. Um dos exemplos disso é a da fruticultura. Queremos que ela se desenvolva na Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade, que tinha muito poucas pessoas, muito poucos equipamentos. Agora, está a fazer-se esse investimento. É uma área que não tem o peso na estrutura que gostaríamos que tivesse, mas que vai ter um desenvolvimento crescente. Quando fizemos a fusão, em 2012, não ficámos logo com as pessoas que queríamos, quer em número quer em qualificações, nos vários sítios do País. Essa correcção está a ser feita, no sentido de reforçar a capacidade de investigação nas 10
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várias estações experimentais, que estavam muito “desertificadas”. Temos uma dotação financeira directa do Estado, mas, na sua maioria, o nosso financiamento é conseguido através de projectos de investigação – nacionais e internacionais –, que ganhamos de forma competitiva, e também através da prestação de serviços laboratoriais e de consultoria. Por isso, o peso de cada uma das estruturas pode ir variando em função dos projectos que têm em curso. O vosso orçamento permite uma gestão eficiente e obter resultados? Quanto mais orçamento tivermos, mais rapidamente conseguimos progredir. Em alguns países do Norte da Europa e nos Estados Unidos, a cultura dos privados investirem em inovação e desenvolvimento é muito maior do que em Portugal. É importante os receptores do conhecimento participarem mais no financiamento das acções de investigação e de transferência, para haver mais investimento nesta área e porque isso favorece o compromisso das organizações privadas. Tem havido uma evolução muito positiva nesse aspecto. Há algumas organizações que já estão a investir. Na área hortofrutícola, temos um projecto a decorrer com a Associação Nacional dos Produtores de Pêra Rocha (ANP), em que parte do financiamento é deles. E nota-se que há cada vez mais interesse do
Bilhete de Identidade
• Nome: Nuno Canada • Data de nascimento: 17/11/1968 • Formação académica: Licenciatura em Veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa; Doutoramento em Ciências Veterinárias pela Universidade do Porto; Curso Geral de Gestão pela Universidade Católica • Cargo actual: Presidente do Conselho Directivo do Iniav • Fruta, legume e flor preferidos: Pêra, rúcula e rosa
são mostrados aos agricultores em Setembro, num dia de campo. Porquê apostar em centros dedicados a uma cultura específica? A política seguida para identificar as fileiras foi olhar para o peso, a importância que elas têm para o País. Esta é uma fileira muito importante. O nosso projecto de desenvolvimento com a Anpromis é nas vertentes da produção de milho para alimentação humana e para alimentação animal. Há outra vertente que ainda não tem muita relevância: tentar recuperar variedades antigas de milho para produtos diferenciados. Por exemplo, para broa de milho para as cadeias de slow food ou para fazer pão também com farinha de milho misturada, para produtos de valor acrescentado, diferenciados, relacionados com gourmet. Temos variedades de milho portuguesas antigas no Banco Germoplasma Vegetal. Com a Anpromis, vamos fazer ensaios em Coruche, para ver quais têm melhor aptidão para este efeito.
sector privado em tudo o que sejam actividades que lhes possam aumentar o conhecimento. Vão trabalhar também nas áreas dos hortícolas e das flores? A actividade que temos na área da horticultura está a ser feita em Oeiras. Também temos a componente da conservação e das sementes – no Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga – e um conjunto de parcerias com um dos principais players desta área. A parte dos hortícolas é um processo que já está em desenvolvimento. A componente das flores é uma área nova. É a que está menos desenvolvida, está numa fase embrionária. Só no fim de 2016 é que começámos com conversações com o sector. Prevemos que, ao longo de 2017, estejamos em condições de começar a dar um apoio mais efectivo a esta fileira, em qualquer uma das três vertentes: árvores ornamentais, flores de vaso e flores de corte. Já foi feito o levantamento de necessidades, com a Apppfn [Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais]. Agora, está do nosso lado conseguir criar as competências necessárias, ou juntá-las, para começarmos a fazer alguma coisa em conjunto. Que projectos estão inseridos na agenda do InovMilho? Em termos das grandes áreas, o que se pretende é investigação e inovação, formação de técnicos e agricultores e depois transferência de conhecimento e tecnologia, através da experimentação. Vamos definir a agenda de investigação deste Centro de Competências em Abril. Já temos projectos de investigação em parceria com a Anpromis, na Estação Experimental António Teixeira: um para estudar as doenças do milho; outro relacionado com o desenvolvimento de tecnologias de rega. Temos também em fase de submissão nos grupos operacionais do PDR [Programa de Desenvolvimento Rural] um novo projecto na área das micotoxinas. Além disso, temos ensaios comparativos das principais variedades de milho que são comercializadas. Este já vai ser o terceiro ano desses ensaios, que depois
As estações experimentais trabalham directamente com as fileiras, nomeadamente os produtores? Todos os projectos estão a ser feitos em estreita articulação com os produtores. A cultura que temos é fortemente orientada para o mercado e para o interesse das fileiras e da agricultura nacional. Desenhamos e pensamos o projecto com os produtores e depois, ao longo de todo o projecto, eles estão envolvidos. Há um estreito envolvimento entre a produção e a investigação. Como estão a transferir o conhecimento para o sector? Normalmente, falamos com os agricultores e com os técnicos que lhes dão apoio para identificar os temas em que vamos fazer investigação. Montamos os projectos com eles e depois esses técnicos levam os resultados aos agricultores, em linguagem que eles percebam. À medida que vamos tendo resultados, vão sendo feitas sessões de divulgação, dias de campo ou cursos de formação, em que os técnicos são envolvidos. Por exemplo, técnicos da Anpoc [Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais] e agricultores estão a ter um curso ao longo do roteiro da cultura do trigo, com várias sessões: uma antes de cada momento de decisão, em que se discute, com as condições concretas deste ano, qual é a decisão a tomar. Está a ir-se muito neste caminho, de haver uma formação mais fina, que permite que, para cada cultura, técnicos e agricultores possam tomar uma decisão diferente em função do ano. Muitas vezes, a produção questiona o que se investiga e queixa-se de não ter acesso a informação. Que mensagem pode deixar à produção? O aspecto central é o próprio sector fazer um exercício interno de ver o que é que precisa. O Iniav está muito aberto e interessado em ajudar a fazer esse exercício. Se houver um sector que acha que precisa de ter maior incorporação de conhecimento e tecnologia, podemos ajudá-los a ter uma abordagem estruturada aos problemas e a montar uma agenda de investigação à medida deles. É o primeiro passo: saber para onde é que queremos ir. Depois, tem que se ver o que é necessário para pôr essa agenda em prática frutas, legumes e flores | Abril 2017
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em termos de infra-estruturas científicas, de equipamentos e de pessoas. Também podemos ajudar nesse aspecto. Além da capacidade, temos o networking muito desenvolvido e as competências que não temos podemos ir buscar ao sistema científico e tecnológico nacional ou a parceiros internacionais… e ajudar a montar as linhas de investigação, a transferência de conhecimento – incluindo a procura em conjunto de financiamento para essas actividades –, para dar resposta às preocupações do sector. Também trabalham com a indústria? Sim. Temos alguns bons exemplos de trabalho com a indústria. Por exemplo, na área dos cereais há uma parceria, chamada Clube Português dos Cereais de Qualidade, que tem a indústria, a produção e a investigação. Visa desenvolver projectos de fileira, que envolvam todos estes sectores. Com a produção e com a indústria, define-se uma lista de variedades recomendadas, que são as variedades de interesse para a produção pelas suas características agronómicas e produtivas, mas que, em simultâneo, têm interesse para a indústria. Tivemos um projecto de fileira que incluiu também a distribuição – a Sonae –, em que lançámos o Pão de Cereais do Alentejo. O Iniav recebeu equipas diferentes nesta área da indústria, do ex-INIA [Instituto Nacional de Investigação Agrária], do ex-Ineti [Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação] e da Estação Florestal Nacional. E embora estejamos já a trabalhar com a indústria, não estamos a trabalhar tanto como gostaríamos. Em 2017, estamos a reestruturar a área de apoio à indústria. Estamos a criar dentro do Iniav uma unidade autónoma: a Unidade de Tecnologia e Inovação, que vai fazer a interface de todo o Iniav com a indústria, para transferência de conhecimento e tecnologia. Ao longo de 2017, esta unidade vai fazer um caminho semelhante ao que as outras áreas já fizeram: ir falar com os industriais, perguntar o que precisam em termos de transferência de conhecimento e de prestação de serviços laboratoriais e adequar a nossa capacidade àquilo que eles precisam. Que balanço faz da actividade do consórcio de investigação e inovação Agro-Tech Campus de Oeiras? Esse foi o primeiro consórcio a ser tornado público. Estão em fase de publicação em Diário da República mais três consórcios. Estas parcerias vêm de um processo de cooperação que se iniciou entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Ciência, no sentido de criar redes que permitam potenciar a capacidade instalada – em Portugal, há muita capacidade instalada de investigação nesta área, em termos de instalações, de equipamentos, de equipas, mas muito fragmentada. Há muita gente boa, mas se olharmos para cada instituição, a massa crítica é reduzida. Se olharmos para a massa crítica nacional, não é reduzida. E isto pretende pôr as instituições 12
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a trabalhar umas com as outras. No âmbito desta cooperação entre ministérios, foi pensada uma rede nacional de investigação agrária e veterinária, que envolve o Iniav, as direcções regionais de agricultura, o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] e as oito escolas agrárias, que está para publicação em Diário da República. Também foram pensadas algumas redes complementares a essa: o Agro-Tech é uma delas; estamos a fazer outra rede complementar com a Universidade de Évora; outra com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. E surgirão ainda outras. Estas redes todas complementam-se e permitem cobrir as várias áreas do conhecimento. O consórcio Agro-Tech centrou-se na capacidade instalada na Quinta do Marquês, em Oeiras. A ideia é transformar esta quinta num parque de ciência e tecnologia muito orientado para o sector agro-alimentar e florestal. Nesta primeira fase, estamos a tentar criar complementaridades e sinergias para um uso partilhado de espaços, de equipamentos, e passar a ter equipas de investigação mistas. Já se criou a Plataforma Tecnológica: no mesmo espaço físico, vamos ter equipamentos e investigadores das três instituições a trabalhar numa lógica de equipa multidisciplinar, a partilhar espaço e equipamentos. É o primeiro passo, que depois tenderá a estender-se ao resto do campus. Em paralelo, está a ser desenhado um plano estratégico de médio-longo prazo para desenvolvimento deste campus. A Agência Nacional de Inovação está a fazer o mapeamento de infra-estruturas científicas e tecnológicas existentes e a criar. Está a um ano e meio do fim do mandato de cinco anos à frente do Iniav. Qual é o balanço? O Iniav tem uma vertente mais laboratorial – tem os laboratórios de referência: de sanidade vegetal, saúde animal e segurança alimentar – e outra mais de investigação – agrária, pecuária e florestal –, com as estações experimentais. Na vertente laboratorial, o nosso projecto de desenvolvimento assentava na concentração dos laboratórios em dois campus e na qualificação dos espaços e dos equipamentos desses laboratórios. Esse processo está terminado. Os laboratórios estão já em instalações novas e estão bastante bem equipados. Em termos de recursos humanos, temos vindo a reforçar os quadros. Os próximos passos serão reforçar a capacidade que já está instalada. A vertente das estações experimentais está mais atrasada. Está em curso e visa requalificar estas estações temáticas na mesma lógica – ao nível de instalações, equipamentos e pessoas –, para que cada estação, na sua área, seja a estação nacional de estudos naquela área, que dê apoio a todo o País naquela área – como estamos a fazer na Estação Vieira Natividade. Há estações que estão mais avançadas do que outras. Esta necessidade de criar uma verdadeira rede nacional de experimentação é o objectivo principal para este ano e meio que se segue.
FRUTITEC RETORNA À EXPOSALÃO A 5.ª edição da Frutitec/Hortitec, que decorreu em simultâneo com a Expojardim e a Iberopragas, voltou a reunir as empresas auxiliares do sector hortofrutícola na Exposalão, Batalha. Carlos Afonso e Rita Marques Costa
Na manhã do primeiro dia da Frutitec/Hortitec, enquanto alguns
expositores ainda davam os retoques finais nos seus stands, já alguns visitantes entravam na Exposalão para ver as novidades das empresas. Ao mesmo tempo, começava o seminário “Mercados e Internacionalização”, promovido pela Frutas, Legumes e Flores, pelo Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional e pela Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. Quanto à estratégia de internacionalização, Gisela Pires, responsável de Marketing na consultora TerraProjectos, destacou que o primeiro desafio é «analisar criticamente a estrutura da empresa». Depois, é necessário equilíbrio entre procura e oferta e capacidade de desenvolver um plano de internacionalização. O Crédito Agrícola, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep) e a Agrogarante apresentaram as suas soluções de apoio à internacionalização. Rui Garcia, da Direcção de Negócio Internacional do Crédito Agrícola, salientou que «os benefícios da exportação são maiores do que os riscos». Já Artur Mendes, director comercial da Agrogarante, sublinhou a preocupação da empresa em auxiliar projectos de arranque, muitas vezes com mais dificuldades de acesso ao financiamento. Paula Cruz de Carvalho, subdirectora-geral da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), explicou as diligências para a abertura de novos mercados, necessárias devido ao «risco fitossanitário associado à deslocação de material vegetal». A proposta de abertura de um novo mercado para um determinado produto parte de uma empresa ou organização de produtores e o processo é levado a cabo pela DGAV e pelo Ministério da Agricultura, referiu Paula Cruz de Carvalho. Gonçalo Santos Andrade, vice-presidente da Portugal Fresh, defendeu que «precisamos de abrir novos mercados, até para diminuir
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pressão nos mercados já existentes». Porém, «existem mercados muito mal explorados». A representar a vertente da distribuição, Ana Trigo Morais assinalou a importância crescente do comércio on-line na venda de produtos agrícolas frescos. Segundo a presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, calcula-se que a venda de alimentos on-line vai valer 134.000 milhões de euros em 2025. Ao final do dia, no stand da Magos Irrigation Systems, o tema de conversa eram as novas técnicas de produção em cerejeiras. Filipa Queirós, investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Iniav), partilhou a sua experiência e deu alguns conselhos sobre as melhores práticas no que toca à produção de cerejas. Optar por porta-enxertos ananicantes, que vão atenuar o vigor vegetativo da árvore e, consequentemente, «reduzir os custos da colheita», foi um dos conselhos deixados. Contudo, os produtores devem estar atentos à combinação entre o porta-enxertos e a variedade, de forma a evitar «incompatibilidade», avisou a investigadora. Feira de contactos No total, 62 expositores marcaram presença no evento. O Mercado Agrícola PT On-line, uma plataforma para comercialização de produtos agrícolas, participou pela primeira vez na Frutitec em 2017. «Ainda temos poucos anúncios, porque ainda não fizemos muita publicidade e porque o agricultor também é céptico em relação às novas tecnologias. Isto é pena, porque recebemos muitos e-mails de pessoas do estrangeiro que querem que juntemos alguns agricultores para mandar paletes para o exterior e nós não temos contactos», afirmou Hugo Borga, um dos responsáveis pelo projecto. Para quem quer vender os seus produtos, basta criar um anúncio no site e só paga no caso de querer ficar em destaque na página principal ou «se quiser prioridade na pesquisa». A segunda versão da Agrozapp foi lançada a 1 de Março e a empresa esteve na Frutitec para a apresentar. Jorge Costa, director-geral da Impact Wave, empresa responsável pelo desenvolvimento da plataforma, destacou que esta reúne informação adaptada ao perfil de cada agricultor. «Já tem uns milhares de utilizadores e está a crescer.» Este foi o quarto ano em que a Hidrovista participou no certame, importante para «rever os clientes habituais», atestou Vítor Santos, responsável pela empresa que fornece sistemas hidropónicos. «É um ponto de encontro.» Para a Agrogarante, que participou como expositora nas três últimas edições da Frutitec, esta feira é «importante» devido ao peso da fruticultura no seu negócio e porque permite estabelecer contacto com clientes (correntes e potenciais) e dar a conhecer os serviços desta sociedade de garantia mútua. «Aqui, directamente, não concretizamos negócios. Começa aqui o contacto, para posteriormente
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2017 FEIRA INTERNACIONAL DO SETOR DE FRUTAS E LEGUMES
conseguirmos concretizar isso em negócio efectivo», indicou Francisco Moreira, gerente da agência de Coimbra da Agrogarante. A Calibrafruta, cuja sede está perto da Exposalão, participa na Frutitec desde a primeira edição – «principalmente, para os nossos clientes que não vão a Berlim», nas palavras de Mauro Santos, comercial da Calibrafruta. «Aqui, estamos perto da zona de produção. É uma boa feira para se fazer negócio com os nossos clientes que não têm tempo nem logística para ir a Berlim, especialmente os mais pequenos. Vêm à Exposalão e é um bom ponto de encontro.» A motivação da Magos Irrigation Systems para estar presente também foi dar a conhecer produtos e serviços, tanto a clientes actuais como a clientes potenciais. Esta empresa tem sido expositora na Frutitec há quatro edições. «Este ano, achei muito pouco público nos dias dos profissionais», destacou Luís Ramos. Para a Isagri, também foi o quarto ano como expositor, com o objectivo de dar a conhecer produtos e estabelecer contactos com clientes. «Normalmente, nas feiras fazemos mais contactos e o negócio é feito a posteriori», diz Jorge Neves, responsável da Isagri Portugal. Nesta edição, tinham uma novidade lançada em Janeiro, o Geofolia: uma plataforma usada em 12 países europeus, com cartografia 3D, que trabalha na cloud, que tem referenciais de fitofármacos e de adubos e que optimiza a realização de cadernos de campo, entre outras funcionalidades. «É uma plataforma transversal, que vai desde o agricultor até à grande estrutura agrícola.» No ano em que celebra o 50.º aniversário, a Cotesi participou pela sexta edição consecutiva no certame. «É uma feira com ambiente profissional e que acaba por ser consequente», ao que acresce a data («um pouco antes das grandes campanhas»), o horário e a duração, salientou António Martins, do departamento Comercial da empresa. Joana Pereira, da Lisagri, empresa de equipamentos para agricultura, considera que a visita de profissionais tem vindo a decrescer na Frutitec. Ainda assim, há sempre interesse em mostrar os produtos e demonstrar como se usam, numa feira em que a Lisagri participa desde o início. A Agim – Associação para os Pequenos Frutos e Inovação Empresarial levou ao certame empresas da área dos pequenos frutos. «Já é o quarto ano que eles vêm e isso é a prova de que a Frutitec é uma montra para os produtos e serviços deles e que, realmente, também vale a pena participar em eventos desta natureza», sublinhou José Manuel Silva, técnico de comunicação da Agim. A 6.ª edição da Frutitec/Hortitec já tem data marcada: de 9 a 11 Março de 2018.
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FUTURO DO PÊSSEGO ESTÁ NA MECANIZAÇÃO E REDUÇÃO DE CUSTOS
A inovação, que permite mecanização dos pomares de pêssego e a consequente redução dos custos de produção, foi uma das ideias-chave das 1.as Jornadas Técnicas das Prunóideas – Pêssego. Sara Pelicano
O evento decorreu na Covilhã no dia 15 de Março. O auditório
solene da Universidade da Beira Interior (UBI) encheu-se para ouvir as últimas tendências na cultura do pêssego, representativa nesta região do País. Ignási Iglesias, do IRTA – Estação Experimental de Lleida, Espanha, apresentou uma forma de condução do pomar a que chamou de “vaso catalán”. «Trata-se de um sistema de investimento reduzido, de fácil execução e gestão da planta desde o solo», comentou o investigador. Neste sistema, há uma poda das árvores por cima, deixando-as pequenas e acessíveis à altura do homem. «A altura das árvores não ultrapassa os 2,5 metros, o que permite realizar a maioria das operações manuais, tais como poda, desbaste e colheita, desde o solo», explicou Ignási Iglesias. A densidade de plantação normalmente adoptada neste sistema é de 5x3 metros, mas pode variar em função do vigor da planta. «A estrutura da árvore é formada por quatro a seis ramos principais, nos quais se inserem ramos mistos e outros órgãos de frutificação.» Ignási Iglesias referiu ainda que «é preciso ter atenção ao coberto vegetal e ter muito cuidado para não ficar descontrolado» e sublinhou que o «futuro passa pela mecanização e redução de custos». O investigador espanhol concluiu que a marca e a comunicação são essenciais para a promoção do pêssego. «É preciso ser capaz de criar marcas como já acontece para outros frutos, como são exemplo a Pink Lady, Envy, Val Venosta e outras.»
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Ao longo do dia, foram várias as intervenções. De França, chegou o exemplo da empresa Agro Selections Fruits. Laurence Maillard, gerente, explicou que «a obtenção varietal é um processo que demora muito. Para obter uma nova variedade é preciso um trabalho de pesquisa que dura entre 12 e 15 anos». O objectivo da empresa é conseguir «variedades adaptadas a diferentes climas, mas sobretudo frutos com sabor».
Uma mesa-redonda abordou as pragas e doenças da cultura. Paula Barateiro, da Associação de Protecção Integrada e Agricultura Sustentável do Zêzere (Appizêzere), comentou que «a mosca do mediterrâneo é um inimigo-chave e há falta de soluções para combater esta praga devido ao desaparecimento de substâncias activas». Neste sentido, defendeu que «devem ser criados métodos alternativos para combater a mosca». A mesma responsável salientou ainda a problemática do piolho-verde e desafiou as empresas de fitofármacos a encontrar novas soluções para este afídeo. Francisco Vieira, da Associação de Agricultores de Produção Integrada dos Frutos de Montanha (Aapim), destacou a moniliose. «Hoje já temos soluções para aplicar na fase final do ciclo, contudo levanta-se a questão dos intervalos de segurança. Hoje quer-se quase resíduos zero. Este é um desafio para a moniliose.» Francisco Vieira falou ainda dos ratos que infestam os campos. No seguimento destas intervenções, técnicos de empresas de fitofármacos, nomeadamente Bayer, Sapec Agro e BASF apresentaram as soluções disponíveis, sobretudo para a moniliose.
À margem das jor+PÊSSEGO EM LIVRO nadas, Maria Paula Inovação nas técnicas de produção é o título do segundo Simões, professora na Escola Superior volume lançado no âmbito do projecto +Pêssego, iniciado em Agrária de Castelo Maio de 2014 e concluído em Dezembro de 2016. O objectivo Branco e uma das deste trabalho foi elevar o conhecimento e testar técnicas organizadoras do culturais inovadoras ao nível da cultura do pessegueiro e evento, salientou a contribuir para a valorização global da fileira. O livro aborda importância destes questões relacionadas com a monda das flores e dos frutos, encontros. «Es tas jornadas são requeria rega e o solo. O livro, assim como o projecto +Pêssego, das pelos produtores. tem coordenação de Maria Paula Simões, professora na Estes, para avançarem Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Neste projecto no seu modo de proparticipam nove instituições: Sociedade Agrícola da dução, precisam de Quinta dos Lamaçais; a Aapim; a Appizêzere; a Escola conhecimento novo e Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco; a temática do encontro o Instituto Superior de Agronomia; a UBI; o Centro de Apoio Tecnológico Agrofoi muito importante porque falámos de novas cultivaAlimentar, o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional e o Instituto res, novos porta-enxertos, novas Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. formas de condução, ou seja, novas formas de produção». A investigadora quer também fundar um centro experimental testar a adaptabilidade do conhecimento novo, produzido noutros países, à nossa região.» A ideia foi submetida no de fruticultura dedicado à cultura do pêssego e da cereja orçamento participativo e aguardam resposta. na região. «Esse centro é fundamental para conseguirmos
FITOFÁRMACOS E MOBILIZAÇÃO NO COMBATE À ESTENFILIOSE
Foto: Associação para o Desenvolvimento do Instituto Superior de Agronomia
José Saramago Natividade, da BASF, na sua intervenção manifestou o desacordo com as ideias do professor de Castelo Branco, tal como o fizeram alguns dos produtores presentes. No dia 14 de Março, decorreu o 9.º Encontro Rocha em Flor José Saramago Natividade defendeu, contudo, que «não é a que centrou o debate na estenfiliose, doença que afecta os luta química por si só que vai resolver a estenfiliose». Sugeriu, pomares de pereira Rocha do Oeste. Técnicos, agricultores para casos considerados graves, uma mobilização da entrelie investigadores falaram sobre as medidas de combate a nha, evitando assim «a presença de ervas secas que são um adoptar. repositório para a estenfiliose». O orador sublinhou que deve Sara Pelicano haver «um uso sustentável dos fungicidas» e que deve haver «uma mistura de fungicidas com modos A estenfiliose, causada por Stemphyde acção diferentes». lium vesicarium, é um problema que A audiência voltou a manifestar-se e afecta há vários anos as pereiras Rocha considerou que a mobilização também e preocupa os produtores. Assim, esta não é o caminho porque seria «um retrodoença foi o tema do 9.º Encontro cesso», destruindo a matéria orgânica Rocha em Flor, promovido pela Assoque se tem conseguido recuperar desde ciação dos Produtores Agrícolas da que há coberto vegetal nas entrelinhas. Sobrena (APAS), dia 14 de Março, em Os produtores de pêra Rocha conhePragança (Cadaval). cem já diferentes métodos de como lidar Produtores, técnicos de empresas de com esta doença, mas é sempre tempo fitofármacos e investigadores lançaram de recordar medidas para controlo do a discussão sobre o que fazer para cominóculo de estenfiliose no ecossistema bater esta doença. O uso de produtos do pomar. Nelson Isidoro, da Coopval, químicos e a mobilização na entrelinha falou «da retirada dos frutos infectaforam algumas hipóteses apresentadas dos do pomar logo após a colheita; da mas que não geram consensos. aplicação à queda das folhas de ureia › Pêra inoculada com manchas castanhas deprimidas, A discussão acendeu-se com a apresenou outros compostos que acelerem a secas e aureoladas de vermelho, típicas de estenfiliose tação do professor João Pedro Luz, da degradação das folhas e dos resíduos Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Este levou a cabo um dos solos; do varrer das folhas da pereira para a linha e proceder a uma trituração das mesmas para acelerar a sua decomposição, estudo com 56 isolados de Stemphylium, recolhidos na região se possível depois da aplicação de ureia ou outro antagonista Oeste, em 2015, e testou cinco substâncias activas homologabiológico; do retirar das folhas de pereira com um aspirador». das no mercado para o combate à estenfiliose. À excepção de O 9.º Encontro Rocha em Flor serviu ainda para algumas empreuma – iprodiona – as restantes revelaram-se ineficazes nos sas como Sapec Agro, Bayer, BASF e Syngenta apresentarem testes in vitro. «É uma situação alarmante a falta de eficácia o seu portefólio para o combate à estenfiliose nos pomares dos fungicidas. A iprodiona mostrou-se mais eficaz, possivelde pereira Rocha. mente porque tem sido menos usada», disse João Pedro Luz. 18
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HUBEL VERDE MAIS PRÓXIMA DOS PRODUTORES ALENTEJANOS
› As novas instalações
Desde 2016, que a distribuição dos adubos da Hubel Verde aos produtores do Baixo Alentejo é feita a partir das instalações da empresa em Ferreira do Alentejo. Contudo, o espaço só foi inaugurado em Março deste ano. Rita Marques Costa
No Parque de Empresas de Ferreira do Alentejo, já há pouco
espaço para receber novas empresas. Segundo o presidente da Câmara da vila alentejana restam «cerca de três ou quatro lotes». A Hubel Verde vem juntar-se às dezenas de empresas agrícolas que escolheram este município para estarem mais próximas de quem produz, quer pela questão geográfica, quer pelo dinamismo com que o município tem sabido incentivá-las a lá se fixarem. Se a proximidade entre os agricultores alentejanos e a Hubel Verde já era fomentada pela empresa, agora essa relação está 20
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facilitada. A empresa, que se dedica à distribuição de adubos sólidos e líquidos, instalou-se em Ferreira de Alentejo em 2016, mas foi a 3 de Março de 2017 que oficializou a inauguração do novo espaço. Mais de 200 pessoas, entre colaboradores, clientes, parceiros e entidades oficiais, marcaram presença no evento. As novas instalações contam com um armazém para produtos fitossanitários e uma área de 1.400 m2 para armazenamento de produtos paletizados. Tem ainda capacidade para mais de 300.000 litros de adubo líquido. O espaço actual será ampliado e, em 2018, terá mais 2.000 m2 de armazém. «A Hubel trabalha aqui há 20 anos e sempre sem grande apoio logístico. Com o [Empreendimento de Fins Múltiplos de] Alqueva impunha-se este investimento. Sem ter apoio logístico seria impossível potenciar a nossa presença no Alentejo», disse João Caço, director executivo da Hubel Verde. «Temos estado mais centrados nas grandes culturas, apesar de também trabalharmos muito as culturas protegidas com estufa.
Aqui no Alentejo a presença impunha-se pelo crescimento da área de regadio. Nós somos uma empresa que trabalha essencialmente as culturas regadas e, de um momento para o outro, temos uma área de 120.000 hectares», detalhou o responsável. Além da dinâmica do município, a importância do tomate de indústria na região, que entretanto decresceu, também motivou a escolha da Hubel Verde. «Infelizmente o tomate de indústria diminuiu. É uma questão que se prende mais com a falta de indústria transformadora. Seria óptimo que o Alentejo viesse a ter essa indústria. O grosso dos agricultores [que trabalham com a Hubel] já não está só em Ferreira do Alentejo», assegurou João Caço. Expansão e novos investimentos Isabel Gonçalves, administradora do Grupo Hubel, relembrou o lançamento recente de uma nova empresa focada na agricultura de precisão. Trata-se da Hubel Positive Lightning, focada na prestação de serviços de monitorização, controlo e automatização de equipamentos com vista à optmização dos recursos. A empresa tem uma plataforma, a Fulgor IT, através da qual gere os equipamentos apetrechados com sensores. Por exemplo, as centrais inteligentes de bombagem e fertirrega, cujos dados passam por esta plataforma e depois se traduzem em informação que auxilia a gestão da exploração em causa. Além de Ferreira do Alentejo, a Hubel Verde está fisicamente presente com instalações em Olhão e
› Os convidados tiveram direito a uma visita guiada pelo espaço
› João Caço, director Executivo da Hubel Verde
Alpiarça. A empresa está a estudar a possibilidade de se implantar também na costa vicentina e no Norte do País. O dinamismo de Ferreira do Alentejo Ferreira do Alentejo pode considerar-se a «capital do Alqueva». Quem o diz é Aníbal Costa, presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo. «A instalação da Hubel Verde no concelho tem um carácter simbólico porque tem origem no Algarve, está no Ribatejo e agora vem para o Alentejo, para a zona de Alqueva.» O responsável sublinhou «a importância que o concelho está a ter na nova agricultura do Alqueva» e o «papel fundamental da câmara em permitir que estas empresas se instalem no concelho». O município vai investir cerca de dois milhões de euros, suportados pela própria Câmara Municipal, na ampliação do Parque de Empresas. «Para acolher mais empresas e mais emprego», anunciou Aníbal Costa. «O desenvolvimento económico passa pela agricultura e agro-indústria.» frutas, legumes e flores | Abril 2017
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› Luís Marques, director de Nutrição Saudável da Sonae MC
«TEMOS ESTADO A IDENTIFICAR NOVOS FORNECEDORES» A Sonae MC tem uma nova cadeia de supermercados, a Go Natural, dedicada aos produtos dietéticos e biológicos. Luís Marques, director de Nutrição Saudável da Sonae MC, explica que, mesmo antes da aquisição desta marca, o grupo já estava a identificar novos fornecedores neste segmento ou a reforçar as compras junto daqueles que já fornecem o Continente. Sara Pelicano
No final de 2016, a Sonae MC adquiriu 51% da Go Well – Promoção de Eventos, Catering e Consultoria, que detém a cadeia de restaurantes Go Natural. Quais os objectivos da Sonae ao entrar neste segmento de bem-estar e “alimentação saudável”? A Sonae MC tem como missão ser a referência na área de saúde e bem-estar. Para isso, temos vindo a desenvolver uma oferta diversificada de soluções adaptadas ao estilo de vida dos consumidores e às suas diferentes necessidades, garantindo sempre os nossos valores core: qualidade, confiança, conveniência e acesso (via preços baixos e promoções). Foi estabelecido um acordo para a aquisição de uma participação de 51% da Go Natural que se encontra em aprovação pelas várias entidades competentes. A par dessa operação, fizémos um acordo de licenciamento da marca Go Natural para o retalho alimentar, que se materializou na abertura do primeiro supermercado da Sonae MC sob a insígnia Go Natural, em Dezembro de 2016. Os supermercados Go Natural têm como missão democratizar a nutrição biológica e saudável, responder a necessidades nutricionais específicas, oferecer produtos saudáveis com sabor e garantir preços baixos. 22
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Em Dezembro, inauguraram, em Lisboa, o primeiro supermercado Go Natural, que incluiu venda de produtos alimentares e restauração. Quantos mais estão previstos para o ano de 2017 e em que localidades? Para levar a cabo a nossa missão, queremos expandir o parque de lojas de forma a estarmos mais próximos do consumidor e oferecer-lhe um leque distintivo de soluções práticas, convenientes e acessíveis à promoção de um estilo de vida saudável. Assim, queremos abrir não só em Lisboa, como também em outros centros urbanos no resto do País, onde a procura por estas soluções é cada vez maior. Prevemos a abertura de pelo menos cinco lojas durante este ano.
A Go Natural marca presença sobretudo em centros comerciais. Mas o primeiro projecto sob o chapéu Sonae surge em formato loja de rua. Vão dar preferência às lojas de rua em detrimento do centro comercial? Porquê? São conceitos distintos. A Go Natural opera com sucesso mais de 20 lojas de restauração em centros comerciais em Portugal e a previsão é de que se mantenha a crescer nesse segmento. Já os supermercados Go Natural, apesar de também incluírem zona de restauração, inserem-se no sector do retalho alimentar e o seu conceito é urbano de proximidade, servindo propósitos diferentes.
O segmento saudável e biológico tem crescido dentro do grupo Sonae MC? De que forma? O estilo de vida saudável e activo é cada vez mais uma preocupação para o bem-estar a médio e longo prazo na vida das pessoas. Os hábitos saudáveis serão tanto mais incorporados na vida das pessoas quanto mais convenientes, acessíveis e, no caso da nutrição, saborosos sejam, para que não se tornem num sacrifício, mas uma forma de estar natural. A Sonae MC estabeleceu como uma das suas principais avenidas de crescimento a área Health & Wellness, que tem vindo a desenvolver através dos espaços especializados em alimentação biológica e saudável do Continente e do conjunto alargado de produtos e serviços especializados de saúde e bem-estar da Well’s. Os novos supermercados Go Natural vêm complementar esta oferta, com um leque alargado de produtos saudáveis, biológicos e dietéticos, alimentos adequados a pessoas com restrições e intolerâncias alimentares, bem como uma área de restauração. Com uma proposta de gama alargada, e a ambição de oferecer o melhor preço do mercado com marcas exclusivas, reforçamos assim o posicionamento de liderança da Sonae MC neste
segmento, com associação à principal marca de restauração no segmento saudável. Como é que este projecto se diferencia de outros que têm surgido, nomeadamente supermercados, no segmento da alimentação saudável? Actualmente, não existe uma oferta no mercado que combine desta forma o conceito de supermercado com restauração e cafetaria, numa oferta exclusivamente dedicada à nutrição saudável com sabor, com inclusão de produtos biológicos e dietéticos, aos melhores preços. Os supermercados Go Natural surgem com a missão clara de democratizar o acesso a produtos saudáveis e biológicos, de forma adaptada às pessoas que procuram uma one stop shop com uma oferta acessível e diversificada focada num estilo de vida saudável. O espaço concebido com materiais naturais e orgânicos, inclui um supermercado com mais de 4.000 produtos, tem não só a componente de mercearia e frescos, como também de restauração e cafetaria com capacidade para 40 lugares sentados. Destaca-se a oferta de frescos biológicos, a gama de grab & go e a transparência da comunicação da composição dos produtos, respondendo às necessidades de conveniência do dia a dia, sem abdicar dos preços mais baixos e do ecossistema promocional do cartão Continente. Há oferta de produtos portugueses suficiente para abastecer um restaurante e supermercado biológicos? Na Sonae MC procuramos desenvolver relações duradouras com os nossos parceiros, que nos permitam satisfazer as necessidades não apenas das lojas Go Natural, mas também das lojas Continente, visto que um dos grandes objectivos passa por democratizar o acesso aos produtos biológicos. A procura dos consumidores tem vindo a crescer de forma acelerada nos últimos anos, bem como a produção nacional de produtos biológicos. Alguns produtos, pela sua natureza e especificidade, dificilmente poderão ter origem nacional (por exemplo devido ao clima), enquanto que, em alguns casos, a produção nacional poderá não acomodar a procura dos clientes de produtos biológicos. Como pode o grupo Sonae também trabalhar nesse sentido, ou seja, aumentar a oferta de produtos biológicos nacionais? A Sonae MC tem vindo a fazer, ao longo da sua história, várias iniciativas de incentivo à produção nacional, como é exemplo o Clube de Produtores, e continuaremos a trabalhar com os produtores e fornecedores nacionais, sempre no sentido de garantirmos a melhor qualidade aos melhores preços para os nossos clientes. Com quantos produtores biológicos já trabalham actualmente? Temos vindo a desenvolver a relação com produtores já existentes e a desenvolver novas parcerias que permitam satisfazer a procura dos nossos clientes de forma consistente, todo o ano, com preços acessíveis. frutas, legumes e flores | Abril 2017
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«UMA POLÍTICA AGRÍCOLA COM FUTURO TEM DE SER ECONÓMICA» João Pacheco é membro do Think Tank Farm Europe e ex-director-geral adjunto da Direcção Geral de Agricultura da Comissão Europeia. Em entrevista à Frutas, Legumes e Flores fala do futuro da Política Agrícola Comum e do impacto dos acordos de comércio na agricultura europeia. Rita Marques Costa
Quais os principais eixos que devem ser tidos em conta na elaboração da nova Política Agrícola Comum (PAC)? Uma política agrícola com futuro tem de ser económica. Tem de ser virada para o futuro dos agricultores e da fileira de produtos agrícolas. Para ser uma política de futuro, tem de tornar a agricultura mais produtiva e mais competitiva e reverter a situação actual, que não é favorável. Esse é um elemento importante. Para isso, tem de se investir mais e de forma inteligente. Investir de forma inteligente quer dizer investir em sectores e em instrumentos para aumentar a competitividade, mas também para aumentar a sustentabilidade ambiental – um factor que hoje é politicamente muito importante e também pelas regras que temos na UE [União Europeia]. Para isso, é preciso que a nova PAC tenha um pacote que seja mais favorável e tenha um cariz de maior auxílio ao investimento (e mais bem direccionado). Outra questão, é o combate à volatilidade dos preços e às crises. A PAC actual está baseada nos pagamentos directos, que continuarão no seu essencial, mas provou-se, com a crise leiteira, que não estava desenhada para responder à volatilidade dos preços e às crises.
Como é que isso pode ser feito? Terão de haver novos instrumentos de combate, por exemplo, os seguros. Com uma política que favoreça mais a contratação de seguros e a criação de mútuas. Isso não custa muito dinheiro e pode dar muito mais segurança à produção agrícola e a toda a fileira. Também é preciso melhorar a posição dos agricultores na cadeia comercial, porque os agricultores são o elo mais fraco. Isso pode ser feito já, reforçando a capacidade das OP [organizações de produtores] para negociarem preços e contratos. Se não houver OP, pode criar-se a obrigatoriedade de contratos. Este tipo de medidas têm de fazer parte da PAC. Não podemos continuar a repetir que são questões que têm a ver com direito de concorrência, porque nada fazer não é opção.
No Congresso do Milho de 2017 disse que o impacto ambiental do greening não será relevante. Que alternativas é que podem ser pensadas no contexto da nova PAC? O essencial é que os agricultores tomem em mãos a questão da política ambiental. Hoje em dia, são-lhes impostas regras e procedimentos, mas não há qualquer contratação de objectivos. O agricultor tem de respeitar todas as regras do greening mas não há qualquer impacto ambiental contratado com o THINK TANK FARM EUROPE: PENSAR A FILEIRA COM OS SEUS AGENTES agricultor. O que se devia fazer, até para O Think Tank Farm Europe foi criado em 2014. João Pacheco, senior fellow, melhorar a posição dos agricultores nesse explica que «está nos seus primeiros anos de actividade, mas preenche dossiê ambiental, era dar a possibilidade, um espaço que não estava muito ocupado na cena europeia. É uma além do greening, de que os agricultores continuidade do trabalho que eu tinha feito antes e que permite reflectir se comprometessem a reduzir a emissão sobre o futuro, não só com os agricultores, mas com toda a fileira». O de CO2 ou outros elementos. Por exemobjectivo é «desenvolver ideias sobre o futuro da Política Agrícola Comum plo, reduzir a utilização de pesticidas e na União Europeia, numa perspectiva que não junte só os agricultores, outros produtos de forma voluntária e, com isso, poderem continuar a benefimas também a fileira (a agro-indústria e outros serviços associados à ciar das ajudas. Isto pode ser feito utiagricultura)», detalha. lizando uma política de investimentos
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que favorece a sustentabilidade ambiental. Por exemplo, o smart farming permite reduzir a utilização de consumos intermédios e, consequentemente, a emissão de CO2 e de outros elementos nocivos para o ambiente. É uma solução que pode ser ganhadora para ambas as partes e dá mais liberdade ao agricultor. Em vez de ter de respeitar um conjunto de regras, cujo impacto ambiental é pequeno, e depois ser ainda sujeito a mais pressão de sectores ambientalistas para respeitar um conjunto de regras e ficar num colete de forças, tem mais liberdade e é mais contundente e realizador naquilo que é a produção e a sustentabilidade ambiental. As duas coisas ao mesmo tempo. E os pagamentos directos vão acabar? É politicamente impensável acabar com eles. Acho que têm de continuar como uma espinha dorsal da política agrícola. Agora, não fazer nada não é opção. Porque não melhora a situação. É importante dar uma visão de futuro em relação à política agrícola e à sustentabilidade ambiental e para isso, que haja mais recursos que sejam dedicados a apoiar seguros agrícolas e investimentos. Isto não quer dizer que se eliminem os pagamentos directos, mas um reajustamento dos recursos. Sensibilidade e equilíbrio nos acordos comerciais Como é que os acordos comerciais podem ter impacto na agricultura europeia? Os acordos comerciais podem ter um impacto muito grande. Depende da maneira como forem negociados. O Mercosul [Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai], por exemplo, tem um impacto certamente positivo para o sector dos vinhos e lacticínios, mas contrário para o sector das carnes. Tanto o Brasil, como a Argentina e o Uruguai, são muito produtivos. O mesmo para o sector do açúcar. O equilíbrio geral do acordo dependerá da forma como ele for negociado. A Comissão já disse que ia negociar de forma apropriada os sectores mais sensíveis. A Comissão Europeia tem força suficiente para negociar a favor destes sectores? A Comissão tem força porque negocia em nome dos Estados-membros e o resultado dessa negociação é que é depois aprovado. A questão que se coloca é se no equilíbrio geral da negociação, não só no sector agrícola, mas entre este e outros sectores, como o industrial e dos serviços, a agricultura terá um resultado globalmente satisfatório. O acordo é sempre algo que é feito tendo em conta vários interesses. Há sectores que são ofensivos, em que a Europa tem interesse em abrir o mercado. Por exemplo, o Mercosul. Há outros sectores em que tem interesse em não abrir. Agora, é uma questão de equilíbrio. Não só dentro do sector agrícola, mas também entre este e, por exemplo, o sector industrial. Tem é de haver do lado dos agricultores e da fileira uma sensibilização da Comissão para a vulnerabilidade de alguns sectores para que negoceie bem.
Que benefícios para a agricultura europeia é que podem vir destes acordos? Pode vir uma abertura de mercados em sectores que estão em desenvolvimento ou são extremamente importantes. Por exemplo, em mercados como o dos Estados Unidos da América [EUA] e Mercosul, a Europa é a mais competitiva e pode beneficiar em toda a gama de produtos transformados. A agricultura europeia pode ganhar muito com isso. E no caso das frutas e dos legumes? O panorama das frutas e legumes é muito equilibrado. Pode haver alguns ganhos e aumento de importações para a Europa. Julgo que haverá oportunidade de exportação. Se se fizer um acordo TTIP [sigla inglesa para Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento] com os EUA, haverá mais importações nalguns produtos. O cômputo global tenderá a ser mais equilibrado.
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ESTENFILIOSE DA PÊRA ROCHA Na sequência do trabalho publicado sobre
Isolamentos (%)
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existem trabalhos que provam que certas infes- não hospedeiras do fungo. estenfiliose no número anterior desta revista tantes espontâneas podem ser repositório de Os resultados apurados ao longo deste traba(edição 173 de Março de 2017), prosseguimos Stemphylium sp., sendo por isso importante a lho, resumidos no Quadro 1, são decorrentes com a descrição dos resultados apurados para adopção de um enrelvamento com espécies das condições de campo em que teve lugar as seguintes questões, o ensaio, sendo da maior formuladas na tese de importância a sua repeti70 mestrado: ção durante pelo menos PIB PIM 4. Há influência do hisdois anos. 60 52 tórico do pomar? Importa salientar que 47 50 5. Há influência de parte destes resultados 42 37 40 mobilização do solo foi semelhante aos ante35 31 versus enrelvamento? riormente publicados no 29 30 25 25 Finalmente, apresenManual Técnico de Pro18 20 ta-se um programa tecção Integrada da Pêra inovador de estratégia Rocha (2005), que reforça 10 integrada de protecção o Programa Integrado de 0 para a estenfiliose. Controle Sustentável da Flores 1.ª Flores 2.ª Frutos 1.ª Frutos 2.ª Frutos 3.ª colheita colheita colheita colheita colheita Relativamente à Estenfiliose que a seguir Frutos influência do histórico propomos: › Figura 1: Percentagem de isolamentos de Stemphylium sp. nas duas colheitas aleatórias de flores e do pomar na incidên- implementar práticas três de frutos para as duas modalidades em ensaio: PIB – pomar com histórico de incidência baixa de cia de estenfiliose, estenfiliose; PIM – pomar com histórico de incidência média de estenfiliose culturais para redução do ao longo das cinco inóculo: remoção de folhas colheitas efectuadas e frutos infectados e lenha de poda, 80 (duas colheitas de floqueima ou compostagem do material Flores 1.ª colheita Flores 2.ª colheita 70 res e três de frutos), os infectado; Frutos 1.ª colheita Frutos 2.ª colheita Frutos 3.ª colheita 60 resultados da percen- seleccionar, para o enrelvamento, 60 tagem de isolamentos espécies de infestantes não hospedei51 48 50 47 de Stemphylium foram ras de Stemphylium; 43 40 40 sempre superiores no - promover o equilíbrio do estado nutri40 38 37 pomar com histórico cional das plantas; 32 30 de média incidência - protecção fitossanitária do pomar de estenfiliose (PIM), desde a floração; 20 o que permitiu concluir - efectuar tratamentos preventivos 10 que este parâmetro (período de incubação da doença influencia a incidência muito curto, três a sete dias); 0 PE PM da doença (Figura 1). - alternar os modos de acção de funModalidades Quanto aos resultagicidas de forma a evitar a repetição dos apurados para a › Figura 2: Percentagem de isolamentos nas duas colheitas aleatórias de flores e três de destes com idêntico modo de acção e, para as duas modalidades em ensaio: PE – pomar com enrelvamento; PM – pomar influência de mobili- frutos consequentemente, aumentar o risco com mobilização zação do solo versus de desenvolvimento de enrelvamento, verifiestirpes resistentes nas Questões Resposta cou-se que, em média, populações de Stema percentagem de isolaphylium sp.; 1. As infestantes são repositório de Stemphylium? Sim mentos foi ligeiramente - eliminar os pomares 2. As peças florais são infectadas desde início da floração? Sim superior nas parcelas abandonados. com enrelvamento 3. Os isolados de Stemphylium são todos patogénicos? Não T. Comporta, P. Reis, M. Mota C. (46%), quando compaOliveira e C. Rego 4. Há influência do histórico de incidência de estenfiliose do pomar? Sim rada com a obtida nas LEAF – Centro de Investigação em Agronomia, Alimentos, parcelas com mobiliAmbiente e Paisagem 5. Há influência de mobilização do solo versus enrelvamento? Não Instituto Superior de zação (41%) (Figura Agronomia, Universidade de › Quadro 1: Resultados preliminares obtidos no trabalho experimental realizado num pomar situado no 2). Adicionalmente, concelho do Bombarral Lisboa, Tapada da Ajuda, Lisboa 26
frutas, legumes e flores | Abril 2017
KIWI: DO CRESCIMENTO DA OFERTA À DIVERSIDADE DE ESPÉCIES
O aumento da área de produção de
kiwi em Portugal conduziu ao crescimento da importância do nosso País no ranking mundial pela produção crescente em quantidade, mas sobretudo pela valorização da qualidade do kiwi produzido em Portugal, com predomínio do Entre Douro e Minho e da Beira litoral. A introdução da espécie Actinidia deliciosa trouxe novas perspectivas para a fruticultura nacional. Rapidamente, a fileira se organizou para produzir e comercializar um produto novo e fortemente competitivo na agricultura do Norte e Centro de Portugal. O kiwi, normalmente conotado como fruto de polpa verde e columela branca
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(região mais interna do kiwi), depressa se enraizou na produção, entre os hábitos de consumo dos portugueses e ganhou uma janela de mercado para a exportação. Mas, à semelhança de outros países, a oportunidade comercial não se esgota nesta espécie. Recentemente, foram introduzidas na produção nacional variedades de polpa amarela, pertencentes à espécie Actinidia chinensis, e kiwis mais pequenos, sem pubescência externa, da espécie Actinidia arguta. Se as técnicas de produção – momento e caraterísticas dos frutos à colheita, e condições de armazenamento e refrigeração – tendem para a optimização, no que concerne ao kiwi de polpa verde, a introdução de novas espécies requer o aprofundamento do estudo de adaptação às condições edafoclimáticas e à optimização do momento de colheita e do acondicionamento, para salvaguardar
a qualidade durante o maior período de tempo em pós-colheita. A diversificação da oferta exige também o aperfeiçoamento da informação ao consumidor, fazendo ressaltar as diferenças e a importância relativa do consumo de kiwi de diferentes variedades e espécies. Estamos na presença de frutos, cuja colheita ocorre em pleno Outono, quando a produção de outros frutos é escassa, e cujo tempo de vida útil é longo (seis a 12 meses) – sob refrigeração (-0,5 a 0 oC e 90% a 95% de humidade relativa) e em atmosfera controlada (2% de O2 e 4,5% de CO2, com temperatura de 0 oC). Em estudo recente, levado a cabo em Portugal sob a nossa orientação na UTAD [Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro], foi possível observar algumas diferenças entre kiwis de polpa verde e amarela, além dos parâmetros cromáticos
associados à polpa de ambas as espécies. De facto, os frutos de A. chinensis (kiwis de polpa amarela) apresentaram menor massa e diâmetro equatorial, mas muito maior quantidade de sólidos solúveis totais, pelo que apresentam maior quantidade de açúcares totais e livres – como sacarose, frutose e glucose – e menor acidez titulável (ainda que não haja diferenças significativas no valor de pH). As quantidades de ácidos málico e cítrico são superiores em frutos de A. deliciosa. A importância relativa do consumo de kiwi está associada aos seus efeitos na saúde, valorizados pela quantidade de ácido ascórbico (antioxidante), maior à que está presente em citrinos, e que é superior em kiwi da variedade Jingold (polpa amarela), relativamente à variedade Hayward (polpa verde). No entanto, a presença da columela faz decrescer ligeiramente a capacidade antioxidante total deste fruto, o que pode levar à questão pertinente de ser ou não importante consumir a polpa rejeitando a columela. De retorno à produção primária e à escolha de variedades de kiwi, é necessário ter presente o problema fitossanitário associado à bactéria Pseudomonas syringae, que tem vindo a afectar a produção nas diferentes latitudes (também em Portugal), havendo evidência de maior sensibilidade em A. chinensis. No entanto, as caraterísticas organolépticas, fortemente potenciadas no contexto produtivo nacional, e as cotações de mercado, que têm valorizado este género, fazem da cultura do kiwi uma realidade da fruticultura nacional. Esta tem elevado potencial de expansão no mercado internacional. Mas impõe-se ajustar, ano após ano, campanha após campanha, as práticas agrícolas às diferentes espécies produzidas de Actinidia sp, identificar e optimizar as datas ideiais de colheita (tendencialmente anteriores à da variedade Hayward, quando na presença de kiwi de polpa amarela e de baby kiwi). Urge também estudar,
monitorizar e optimizar as condições de acondicionamento, armazenamento, expedição, transporte e venda a retalho, em função das novas espécies que têm vindo a ser introduzidas na produção de kiwi em Portugal. À tendência crescente de área e quantidade produzida, devem os kiwicultores portugueses primar por alguma antecipação da produção de variedades e espécies de kiwi mais precoces e que beneficiam das condições edafoclimáticas do Entre Douro e Minho e Beira litoral, mas também fazer ressaltar nos mercados (nacional e internacional) o sabor distintivo do produto made in Portugal. Para tal, torna-se necessário aproximar produção, retalhistas, exportadores e investigação para valorizar, credibilizar e melhor informar os clientes – com especial destaque os consumidores finais. No kiwi, como na generalidade dos frutos e hortícolas frescos, é fundamental trabalhar e disponibilizar informação acertiva para o consumidor. Convém ainda saber valorizar frutos de refugo e tirar partido do processamento para conseguir utilizações que vão além do consumo em fresco.
Carlos Ribeiro, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, departamento de Agronomia, Quinta de Prados, Vila Real cribeiro@utad.pt
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VITACRESS E MCDONALD’S, UMA RELAÇÃO «BIUNÍVOCA»
Há cinco anos que a Vitacress fornece a McDonald’s Portugal. A parceria, em que ambos ganham, é para continuar e vai além dos restaurantes. A produtora de hortícolas é uma “quinta modelo” da marca estadunidense e fornece também as casas Ronald McDonald’s que apoiam famílias com crianças hospitalizadas. Sara Pelicano
A grião de água, uma salada com mistura de folhas baby,
alface iceberg e cenouras baby são os produtos com assinatura Vitacress na cadeia de restaurantes McDonald’s. A parceria tem já cinco anos e irá continuar. Luís Mesquita Dias, director-geral da Vitacress, comenta que «a principal mais-valia é trabalhar muito de perto com uma empresa profissional, que pelas suas exigências, legitimas, justificadas e bem fundamentadas, nos leva a também sermos mais exigentes com nós próprios». A empresa produtora de hortícolas prima a sua actividade pelo rigor e pela constante certificação, mas a McDonald’s veio reforçar ainda mais este critério da marca. «Naturalmente, cada novo cliente, com as características da McDonald’s, tem algum tipo de exigência acrescida. Para nós, isso é muito bom.» Luís Mesquita Dias aponta ainda como mais-valias desta parceria o negócio – porque com a dimensão que a McDonald´s tem, há «algum impacto na companhia» – e 30
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a imagem. «Ser parceiro da McDonald´s é um cartão de visita porque toda a gente sabe até que ponto eles são exigentes e uma empresa que consegue trabalhar com eles, com certeza que tem credenciais para trabalhar com outros.» A Vitacress pertence ao Grupo RAR, que actua também em Espanha e Inglaterra. A actividade em Portugal iniciou-se na década de 1980 com uma exploração em Odemira, Alentejo. Exploram actualmente 250 hectares e ponderam recolher produção de outros agricultores, sobretudo de iceberg, para poder fornecer a cadeia de restaurantes estadunidense todo o ano com produto nacional. «Por questões climatológicas, em alguns momentos do ano, não conseguimos fornecer a 100% a alface iceberg. Todos os outros produtos são nossos. Recorremos a Espanha quando precisamos de iceberg.» Luís Mesquita Dias esclarece que estão a procurar produtores e esse trabalho é desenvolvido em parceria com a empresa
de restauração. «Qualquer novo produtor a trabalhar para nós tem de ser aprovado pela McDonald´s, por isso os princípios de rigor e exigência são os mesmos.» Na facturação da empresa produtora no Alentejo, o fornecimento dos restaurantes de fast food, apenas de Portugal, representam 8%, sendo que são ali entregues entre 1.500 e 2.000 toneladas de produto. «Eventualmente, poderíamos fornecer Espanha, mas da mesma maneira que a McDonald’s Portugal faz questão de ter produtos locais, em Espanha acontece o mesmo. A proximidade da origem é um dos aspectos que temos em conta.» A cadeia de restaurantes acompanha de perto o trabalho dos seus parceiros, realizando auditorias nas quais avaliam a qualidade do produto e da operação, a tipologia das máquinas e a sua manutenção, os aspectos de segurança no trabalho e responsabilidade social. Esta relação passa também por sugestão de novos produtos, bem como de compreensão quando o clima não está favorável à agricultura. O director-geral da Vitacress explana que esta é uma relação «biunívoca». A título de exemplo recorda que sugeriram à McDonald’s o uso da sua “folha-rainha”, o agrião. «Imagino que se não trabalhassem connosco, talvez tivessem um hambúrguer com outra coisa qualquer, mas não com agrião de água. Esse é um caso concreto, de que me lembro, de termos sido nós a sugerir que o agrião de água fosse utilizado. Mas o contrário também é verdade. E, nesse sentido, tentamos sempre responder às necessidades deles.» Este ano, a agricultura foi difícil porque as condições climáticas não foram as mais favoráveis. Colocaram-se desafios que, em parceria, foram ultrapassados. O nosso interlocutor
conta que em «Em períodos difíceis, de matéria-prima escassa devido ao mau tempo, exige-se um trabalho próximo e conjunto. Neste Inverno, tivemos a certeza, tanto nós como eles, de que se não houvesse, de um lado e do outro, uma parceria de qualidade e dedicação tão grandes, teria sido muito mais difícil ultrapassar o problema. Nestas ocasiões, a McDonald’s faz um rearranjo pontual da operação logística de maneira que facilite a nossa acção». Vitacress, a flagship farm nacional Em 2015, a Quinta da Azenha, em Odemira, foi distinguida como flagship farm, uma “quinta modelo” na óptica da McDonald’s. Esta distinção é a única atribuída em Portugal e destaca as «práticas económicas, financeiras, sociais e ambientais de excelência» da Vitacress. Esta distinção «dá-nos um prazer muito grande. Não sendo especificamente uma certificação, é um estatuto que só se consegue com um conjunto de práticas muito exigente, muito acima da média, que na Quinta da Azenha conseguimos garantir», afiança Luís Mesquita Dias. As preocupações com a produção passam pelo controlo do uso de fertilizantes, pela redução da utilização de água, pela manutenção da biodiversidade e pela preocupação com a formação dos colaboradores. Fornecedores da Casa Ronald McDonald’s A Vitacress fornece também as casas Ronald MacDonald´s de Lisboa e do Porto desde o início da parceria. Este projecto é da Fundação Infantil Ronald McDonald (FIRM), que existe em Por tugal desde 2000. Tratam-se de casas que abrigam famílias de crianças hospitalizadas por doenças graves. «É “uma casa longe de casa” onde os pais podem estar com outros, amparando-se emocional e mutuamente», lê-se no site da FIRM. frutas, legumes e flores | Abril 2017
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Ilustração: Natali Nascimento
AGRICULTURA BIOLÓGICA: UMA “CULTURA” QUE SE ENRAÍZA NAS SOCIEDADES DE CONSUMO
No mês em que ficou disponível para con-
sulta a “Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica”, Abril, na qual o Governo apresenta os cinco objectivos estratégicos e as dez metas a atingir no espaço de uma década, o tema “anda à solta” e as “gordas” desmultiplicam-se: “Portugueses vão ter app para procurar produtos Biológicos”; “Agricultura biológica ganha Federação Nacional”; “Mercado biológico cresce a ritmo elevado”; “Escolas vão ter produtos biológicos e Dieta Mediterrânica”; “AKI torna-se na primeira cadeia de distribuição a vender insectos auxiliares”; “Governo quer duplicar área de agricultura biológica”; “França importa 24% dos produtos de agricultura biológica que consome”; “Estratégia: 130 milhões para a agricultura biológica”; “Agricultura biológica é tema de conferência na Ordem dos Engenheiros”; etc. Se durante muitos anos se falava na “insustentabilidade” deste modo de produção – existindo até 2006 apenas um supermercado especializado em alimentação biológica em Portugal: a Cooperativa Biocoop – hoje, e pelo reconhecido esforço de muitos, o modo de produção biológico está em voga. Multiplicaram-se os espaços/ conceitos de retalho dedicados à alimentação saudável. Nas grandes superfícies, o espaço dedicado aos produtos biológicos aumentou (entre outras especificidades: 32
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sem glúten ou lactose, direccionados para dietas específicas). Os “novos agricultores” trazem consigo novas dinâmicas e consciência da importância da sustentabilidade e da multifuncionalidade, daí que muitos projectos agrícolas se interliguem cada vez mais a projectos de turismo rural. O número de produtores biológicos em Portugal tem vindo a aumentar durante a última década. Segundo a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Dgadr), «em 2015, chegou aos 3.837». Também a tendência europeia se coaduna com este modelo de produção. «A superfície na União Europeia (UE 28) aumentou significativamente, tendo quase duplicado entre 2002 e 2014, passando de cinco milhões de hectares (ha) para 11,1 milhões de ha (+6% ao ano)», segundo a Dgadr. Ao nível do consumo, valerá a pena reflectir sobre o caso específico noticiado em França. De acordo com a Agricultura e Mar: «O mercado francês de produtos biológicos está a ser “vítima” do próprio sucesso. Actualmente, cerca de 24% dos produtos alimentares de origem biológica são importados». O barómetro Agence Bio de 2016 explana que são as frutas e os legumes que lideram as compras de origem biológica. Um dos principais motivos desta mudança/ crescimento prende-se com as aspirações das sociedades de consumo que, pela lei da
procura, cada vez mais se identificam com este modo de produção, não só pelo facto das suas caraterísticas proporcionarem produtos mais saudáveis, mas também por se tratar de um modo de produção ambientalmente sustentável. Princípios reforçados com a ascensão da geração millennials (nascida entre a década de 1980 e o início dos anos 2000), que está disposta a redireccionar um maior investimento para a sua ementa diária, partilhando as suas experiências de consumo ao segundo nas redes sociais. O mercado da comida saudável está a crescer e o apetite pelos produtos biológicos, está cada vez mais em voga em toda a fileira, desde as empresas de produção agrícola, às industrias agro-alimentares, passando pelas novas formas de retalho e restauração. Caso para dizer que cozinhar estratégias de marketing e comunicação para estas novas exigências, aos vários níveis, terá de ter – cada vez mais – a transparência da sua “naturalidade” como ingrediente fundamental no apimentar das expectativas dos novos consumidores globais.
Gisela Pires Marketing & Comunicação gpires@terraprojectos.com
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CAMPOS DE DEMONSTRAÇÃO
PARCERIAS EM CAMPO
Pêra Rocha, maçã, couve-brócolo e romã são as quatro culturas em análise na segunda edição dos Campos de Demonstração, uma iniciativa da Frutas, Legumes e Flores que coloca em contacto a produção e a indústria auxiliar. As empresas de sementes, de nutrição, de protecção das culturas, de desenvolvimento e promoção, os viveiros e os produtores envolvidos vão, ao longo dos próximos meses, partilhar o conhecimento entre si e com os leitores. Nas próximas páginas, conheça os parceiros da indústria auxiliar e os agricultores envolvidos.
Sementes A Sakata vai fornecer cerca de 33.000 sementes de brócolo da variedade Naxos para o campo de demonstração dedicado às couves – a única cultura anual que integra esta edição do projecto. Jorge Faria, responsável de zona da Sakata em Portugal, diz que o objectivo é «consolidar a variedade», já conhecida dos produtores e líder das culturas Primavera/Verão. A empresa, originária do Japão, está presente em Portugal desde 1999. Apesar de trabalhar com o mercado português antes dessa data, foi na viragem do milénio que a presença em território nacional se oficializou, como dependência da filial ibérica. No mercado nacional, é especialmente vocacionada para as brássicas, nomeadamente a couve-brócolo, a couve-flor, a couve-coração e a couve-lombarda. Mas também comercializa sementes de nabos, nabiças, grelos, tomate, cucurbitáceas, entre outros produtos.
Germinação A empresa viveirista Germiplanta, criada em 1987, reproduz, numa área coberta de cinco hectares, em Leiria, as couves que o produtor irá fazer crescer no seu campo de demonstração. A Germiplanta volta a ser parceira nesta iniciativa porque gosta de estar nos projectos que têm como «objectivo a promoção dos legumes e também por que é uma forma de estar próximo daqueles que trabalham a horticultura, dos agricultores», diz Uziel Carvalho, gerente da empresa. As plantas são colocadas em tabuleiros desinfectados antes de entrarem nas instalações, para evitar
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a passagem de microorganismos patogénicos. São sujeitos a uma lavagem a alta pressão e a desinfecção química, seguindo-se 18 minutos numa mufla, a cerca de 80 graus. A empresa tem duas máquinas de sementeira que prepara os tabuleiros, conforme as encomendas. Há a possibilidade de programar ao pormenor as especificações de cada variedade, nomeadamente profundidade de sementeira, tipo e quantidade de cobertura e, entre outras, tipo de tabuleiro. Podem ser usados substratos simples ou misturados, através de um misturador com balança electrónica. Depois de germinadas as sementes – que até este momento permanecem em câmaras de germinação –, estas são transportadas para o seu destino na estufa através de um equipamento sobre carris, desenvolvido pela Germiplanta. Os tabuleiros com as plantas ficam junto à base das estufas, assentes em cabos de aço. Assim têm uma maior câmara-de-ar por cima e estão menos expostos ao calor no Verão. No Inverno, são aquecidos – entre 15 a 20 oC – por baixo, ao nível da raiz, através da circulação de água quente. Além de desenvolver brássicas, a Germiplanta é igualmente especializada em cucurbitáceas, tais como melão, meloa, melancia e abóbora.
Fitofármacos A Bayer será a empresa que vai fornecer os produtos fitofármacos para as culturas que integram a 2.ª edição dos Campos de Demonstração. Jorge Matias, coordenador de Marketing Operacional da Bayer, revela que a empresa tem dois objectivos ao participar nesta iniciativa. Por um lado, testar os produtos «nas condições do agricultor» e, por outro, «divulgar a nossa
CAMPOS DE DEMONSTRAÇÃO
gama mais recente e actual». No caso da fruticultura, a estenfiliose, doença que afecta a cultura da pêra Rocha, é a que será alvo de maior atenção por parte da Bayer. Ainda não há uma solução para o problema, mas «vamos tentar encontrar a melhor alternância de produtos», ajustando as aplicações de cada um de acordo com as famílias químicas e os modos de acção, pormenoriza o responsável. Além disso, a empresa está interessada em perceber como o insecticida Movento se comporta ao ser adicionado à estratégia de combate à Psila na pêra Rocha, onde já são usados o Alsistin Max e o Calipso. No caso das brássicas, a Bayer vai testar o Movento e o Serenade Max. Neste último, o uso neste tipo de culturas foi recentemente autorizado. A Bayer é uma empresa de dimensão mundial com mais de 150 anos de existência. Com presença em Portugal, a área dedicada aos fitofármacos e sementes – Bayer CropScience – visa produzir alimentos de forma sustentável tendo em conta o crescimento populacional. O lema é “Ciência para uma vida melhor”. A divisão dedicada aos produtos químicos para protecção das culturas existe desde 1892.
Nutrição A NutriSapec é o parceiro da área de nutrição dos Campos de Demonstração. A marca que integra o Grupo Sapec foi constituída em 2008 e autonomizou-se em 2015, passando a ter uma equipa própria especializada. Actualmente, está inserida na empresa Tradecorp Internacional, que faz parte do Grupo Sapec desde 2001. Além da comercialização de soluções de nutrição, também fabrica, formula e sintetiza estes produtos. Pelo que são desenvolvidos de acordo com as necessidades específicas da produção. No âmbito dos Campos de Demonstração, a NutriSapec conta que as expectativas estão «altas» para a segunda edição do projecto. No ano passado, «correu bem» e Elisabete Viegas, Crop Nutrition Marketing Manager na NutriSapec, espera que este ano seja possível «afinar ainda melhor todo o projecto». Neste segundo ano, a responsável explica que será realizado um protocolo adaptado a cada produtor, tarefa facilitada porque já existe um «histórico e relação com o produtor». A participação nos Campos de Demonstração é importante
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pela «visibilidade para falar dos nossos produtos», declara Elisabete Viegas.
Desenvolvimento e promoção A Associação para o Desenvolvimento do Instituto Superior de Agronomia (Adisa) volta a participar no projecto Campos de Demonstração. Cecília Rego, vogal da associação, comenta que «tendo como objectivo a promoção e divulgação da qualidade da fruta e legumes produzidos em Portugal, os campos de demonstração promovem uma produção agrícola de qualidade e sustentável para a comunidade e para o meio ambiente». A Adisa considera que com esta iniciativa será possível «divulgar o conhecimento científico junto das empresas produtoras de fruta e legumes seleccionadas para o projecto; estabelecer parcerias com outras empresas do sector agrícola associadas ao projecto; promover cursos de formação especializada junto dos agentes associados ao projecto; estabelecer uma rede de transferência de conhecimentos duradoura entre as empresas produtoras, as empresas auxiliares da produção e a Adisa». A associação foi formada em 1992 por um grupo de professores do Instituto Superior de Agronomia (ISA). A Adisa conta com 89 associados e tem-se afirmado no mundo académico e empresarial como entidade prestadora de serviços à comunidade e também pela formação especializada e capacidade de translação de conhecimento entre a instituição de ensino lisboeta e as empresas. «A Adisa, através dos seus sócios, maioritariamente professores e investigadores do Instituto Superior de Agronomia, promove a transferência de conhecimento e o desenvolvimento de actividades de excelência que, certamente, irão contribuir para o sucesso desta iniciativa e para o desenvolvimento sustentável e a competitividade do País», conclui Cecília Rego.
O campo de demonstração de couve-brócolo vai funcionar na freguesia do Pó (concelho do Bombarral), numa parcela da Viveiros Vitioeste, empresa associada da Hortapronta – Hortas do Oeste, S.A. No hectare dedicado a este campo de demonstração será plantada couve-brócolo da variedade Naxos, da Sakata – também usada na edição anterior dos Campos de Demonstração. As cerca de 33.000 sementes que vão ser utilizadas neste hectare vão passar seis semanas nas instalações da Germiplanta. Primeiro, vão ser acondicionadas nos tabuleiros e colocadas em câmara de germinação. Após a germinação, segue-se um período de desenvolvimento das plantas de couve-brócolo. Estas deverão ser plantadas no fim de Maio ou no início de Junho. Com um período médio de 65 a 70 dias de campo, a colheita deverá ocorrer no fim de Julho. Sediada em Vale do Grou (Atouguia da Baleia), esta organização de produtores (OP) tem as couves como o seu principal produto, que cultiva o ano inteiro. Além das brássicas, a Hortapronta produz outros hortícolas: cenoura, batata, alho-francês e abóbora. Esta OP tem uma produção anual de cerca de 30 milhões de plantas de couves, numa área que varia entre 750 a 1.100 hectares por ano. Na Hortapronta, a cultura da couve-brócolo envolve cerca de 30 produtores – que cultivam anualmente 200 hectares desta brássica – e uma produção estimada de 1.800 toneladas por ano, para consumo em fresco. A maioria da produção é escoada no mercado nacional. Segundo Humberto Bizarro, responsável de produção da Hortapronta, a participação na iniciativa Campos de Demonstração é importante para divulgação da organização de produtores e para aprendizagem: «Aprende-se sempre».
Maçã O campo de demonstração de maçã funciona, pelo segundo ano, no pomar de Luís Ferreira, produtor e elemento do Conselho de Administração da Cooperfrutas. Este pomar, situado em Hortas, Alfeizerão (no concelho de Alcobaça), foi plantado em 2008, com macieiras Brookfield (um clone da Royal Gala), no porta-enxerto M9. Após a colheita, em Setembro, foram realizados tratamentos pós-colheita. Posteriormente, a erva do enrelvamento foi triturada, foi aplicado herbicida na linha, foram realizados tratamentos de Inverno (à base de cobre) e também foi aplicado adubo de cobertura (Labin adubo orgâno-mineral NPK 5-9-18, da NutriSapec), na linha. No fim de Março, o pomar encontrava-se no ciclo vegetativo adequado para a época, entre o estado C3 (escarchamento do gomo) e o estado D (botão verde). «Estamos no início do ciclo. Nota-se que a planta está a começar a trabalhar», afirma Luís Ferreira. «Tivemos um Inverno com bastantes horas de frio, pelo que poderá ser um ano bom de produção. Os princípios são bons, mas a natureza é que impõe as regras. Temos que aguardar o que a meteorologia nos reserva.» Na campanha anterior, devido ao estado do pomar, em resultado das condições meteorológicas, «não deu para tirar grandes conclusões em termos de nutrição». «Relativamente aos tratamentos fitossanitários, acho que se fez um bom trabalho. Chegámos a algumas conclusões. Métodos de trabalho diferentes em relação àqueles que estou habituado a fazer, que vou também transpôr para a restante exploração.» Neste segundo ano, o objectivo, «principalmente com os tratamentos fitossanitários, é tentar reduzir o número de resíduos à colheita». «Em relação à nutrição, será aumentar a produção, porque o ano passado não foi possível, não havia número de frutos suficiente para se conseguir isso.»
CAMPOS DE DEMONSTRAÇÃO
Brócolo
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Pêra O campo de demonstração de pêra Rocha funciona novamente na Quinta da Freiria, situada na freguesia da Roliça, Bombarral, numa parcela explorada por João Alves, produtor e associado da Lusopêra. Devido a problemas com estenfiliose no campo da edição anterior, optou-se por um novo campo: um pomar de 2011, plantado em sistema de eixo central revestido, com um compasso de quatro por um. Após a colheita, que decorreu durante Agosto e Setembro de 2016, foram efectuadas neste pomar as fertilizações normais para fim de ciclo. No Inverno, foi feita a poda – «adequada ao porte da planta e às necessidades e à amostra de órgãos de frutificação». Posteriormente, já foi aplicada uma «calda cúprica e oleosa de ciclo vegetativo invernal» e foi realizada «uma fertilização com um NPK: um trenário de início de campanha, uma adubação de cobertura, simples, em que se privilegiou o fósforo e o potássio, nesta fase que é determinante», refere João Alves. No final de Março, as pereiras estavam em início de ciclo. «Apresentam órgãos de frutificação já na fase C (C3) – o que quer dizer que estão escarchados e em ponto branco – e D – já com flores abertas. A planta, visualmente, até está equilibrada, porque não há grande diferença entre o primeiro e o último terço da árvore. Apresenta-se em condições normais.» A estratégia a aplicar neste campo visa «contrariar um pouco as dificuldades naturais, particularmente as provocadas pelo Stemphylium». Por agora, salienta João Alves, «temos uma boa perspectiva para a campanha deste ano». «Há muitos órgãos de frutificação. As temperaturas no Inverno foram difíceis, mas o mês de Janeiro ajudou a regular o metabolismo das plantas.»
Romã Luís Sabbo volta a ser o anfitrião do campo de demonstração dedicado às romãs da variedade Acco, mais precoce, cujos frutos se caracterizam pelo vermelho intenso e pouco ácidos. A exploração fica em Santa Lúzia, uma pequena localidade a poucos quilómetros de Tavira, no Algarve. Entre a colheita, que se realizou em Setembro de 2016, e o mês de Abril, o produtor diz que procedeu apenas à poda de Inverno. Agora, as árvores encontram-se em fase de pré-floração. Nesta edição do projecto Campos de Demonstração, o objectivo é «testar os produtos». Com a NutriSapec será desenvolvido um plano de adubação foliar. Uma abordagem diferente da do ano passado, em que se optou por adubar por via foliar e fertirrega. O produtor destaca a importância deste projecto para «estreitar relações» entre parceiros e permitir que «essas empresas percebam as necessidades e as dificuldades dos produtores».
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Tal como foi inicialmente pensado, o projecto de rega do Baixo Alentejo, cuja infra-estrutura maior é a albufeira de Alqueva, fica concluído na próxima campanha de rega. Mas já está previsto o alargamento do perímetro de rega. Olival e amendoal são as culturas que mais adeptos têm conquistado, mas hoje faz-se de tudo um pouco nesta região. Rita Marques Costa e Sara Pelicano
Os caminhos rurais são hoje, na sua maioria, de alcatrão ou
em terra batida bem acomodada. As estradas principais, em muitos locais, foram também conservadas e melhoradas. Esta recuperação das infra-estruturas, que beneficia toda a sociedade, é também fruto da barragem do Alqueva. A obra, aguardada durante anos, chega ao fim na próxima campanha de rega com a entrada em funcionamento dos aproveitamentos hidroagrícolas de Caliços/Machados, Pias e Moura Gravítico. No total, são 120.000 hectares (ha) de área regada, mas que até 2020 vão chegar aos 167.000 ha. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) esclarece que estão em preparação «os projectos para a instalação de mais 47.000 ha, correspondentes à área de expansão a executar até 2020». Actualmente, há uma adesão ao regadio na ordem dos 67%. A disponibilidade de água trouxe, inicialmente, grandes culturas de olival. Importaram-se variedades de azeitona mais rentáveis e adaptadas a sistemas de cultivo intensivos e super-intensivos. Contudo, subsistem ainda variedades regionais, como a Galega, a Cobrançosa e a Cordovil de Serpa. Qual o papel destas? Devem ser preservadas? Colocámos estas questões a alguns agentes do sector. A mancha verde do olival tem vindo a ser salpicada pelo rosa da amendoeira. A cultura da amêndoa tem conquistado muitos adeptos. As razões são essencialmente duas: o elevado preço de comercialização do miolo e as semelhanças com o olival,
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Foto: Afonso Alves
ALQUEVA: ESTÁ CONSTRUÍDO, “PORRA”!
no método de cultivo, o que permite o aproveitamento de alguma maquinaria utilizada na produção de azeitona. Será esta cultura rentável quando houver uma baixa de preço? Qual o investimento no amendoal? Haverá espaço a outros frutos secos? Qual o papel da agro-indústria neste sector? Alguns empresários dão resposta a estas e outras questões. Neste extensa área, que ainda mantém culturas de sequeiro, há ainda quem esteja a fazer pomares de frutas de caroço, cucurbitáceas, vinha para vinho, uva de mesa e cereais. Uma nova vida para a agricultura no Baixo Alentejo que segue a ritmos diferentes. O município de Ferreira do Alentejo foi dos primeiros a ter água da albufeira de Alqueva e soube aproveitar essa riqueza. Hoje tem agro-indústria, grandes empresas produtoras e, no parque industrial, têm-se instalado diversos negócios de apoio à produção. O entusiasmo com o projecto nota-se nas palavras de Aníbal Reis Costa, o presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo. Em 1994, o autarca foi um dos militantes da Juventude Socialista de Beja que ousou escrever “Construam-me, porra!” na parede do pontão que unia as duas margens do rio Guadiana. Referia-se à obra de Alqueva, hoje concluída. Nos 12 anos que passou à frente da Câmara de Ferreira do Alentejo, Aníbal Reis Costa testemunhou várias fases de desenvolvimento do empreendimento. Desde a chegada de água às explorações do município – «um balão de ensaio
de Alqueva» –, passando à instalação das culturas e, mais recentemente, à chegada das agro-indústrias. Foi aqui que, por várias razões, muitas empresas de produção e de agro-indústria se decidiram instalar nos últimos anos. Aníbal Reis Costa diz que é pela «posição central» do município
Foto: Afonso Alves
› Aníbal Reis Costa, presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo
e porque «procurámos, dentro das nossas modestas possibilidades, criar um clima de confiança empresarial, para que as empresas e pessoas se sentissem cá bem». O parque de empresas e serviços, para o qual já existe um projecto de ampliação, e o parque agro-industrial de Penique, foram elementos fundamentais na afirmação do concelho como agregador destas empresas. O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) provocou grandes mudanças neste município, onde 20.000 ha são regados, nomeadamente, ao nível da paisagem e disponibilidade de água. «Estamos aqui a falar de um território que é praticamente sempre verde. Coisa que não era comum em nenhuma zona do Alentejo, sobretudo o Baixo Alentejo.» Hoje «os agricultores têm a garantia de poder contar com água com pressão e de qualidade». Nota-se no município «uma vivacidade e energia diferentes das que havia anteriormente e da que existe, por exemplo, em muitos concelhos onde não há estas perspectivas de desenvolvimento». Em Outubro, Aníbal Reis Costa termina o seu terceiro mandato à frente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo e não poderá voltar a candidatar-se, mas sai convencido da evolução do concelho. «Só um milagre é que faria com que não continuássemos este caminho de progresso, desenvolvimento económico e, sobretudo, grande projecção da economia agrícola do nosso concelho.»
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ALQUEVA PODE GERAR UMA RIQUEZA DE «254 MILHÕES DE EUROS» José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) fala do valor do projecto e do seu futuro, bem como da produção energética através de painéis fotovoltaicos. Sara Pelicano
Qual o investimento da EDIA no último ano no projecto Alqueva? E qual tem sido o retorno desse investimento? O valor total do investimento em Alqueva, desde o início do projecto, foi de 2,4 mil milhões de euros. Os impactos do projecto foram recentemente quantificados num estudo liderado pelo professor Augusto Mateus, tendo a equipa chegado a valores deveras impressivos. De acordo com os resultados obtidos, a fase de construção do EFMA [Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva], com investimentos de 2,4 mil milhões de euros, terá originado na economia nacional um valor acrescentado bruto (VAB) acumulado superior a 2.000 milhões de euros. Os efeitos no emprego, em pico da actividade de construção, terão atingido a ordem dos 10.000 postos de trabalho, traduzindo-se ainda em receitas fiscais de mais de 690 milhões de euros. O mesmo estudo indica que os 120.000 hectares beneficiados por Alqueva deverão gerar anualmente, quando se atingir a adesão planeada (mais de 80%), um aumento no valor bruto da produção (VBP) de 340 milhões de euros, um incremento da riqueza criada (VAB) de 254 milhões de euros e mais de 7.500 trabalhadores envolvidos na produção. Mas hoje é possível projectar um incremento muito substancial da área servida com o correspondente impacto na economia regional e nacional. Pode pormenorizar? Resultado das opções culturais – com predominância da cultura do olival – e dado os enormes avanços nas técnicas de
› O grande lago de Alqueva
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regadio, as dotações médias verificadas são cerca de metade das projectadas. Podemos assim projectar regar mais cerca de 50.000 hectares com o volume concessionado (590 hm3), mantendo todas as garantias de abastecimento em períodos de seca. Estima-se que este cenário de alargamento da área de intervenção implicará um investimento de cerca de 200 milhões de euros, mas terá impactos directos para o sector agrícola no ano de cruzeiro – com acréscimo aos números anteriores – de 119 milhões de euros no VBP, de 89 milhões de euros no VAB e de 2.630 trabalhadores em volume de mão-de-obra. Como decorre o processo de expansão do perímetro de rega? O projecto foi submetido para aprovação ao Banco Europeu de Investimentos, ao abrigo do plano Juncker aguardando-se brevemente uma decisão. Em Janeiro deste ano, foi instalado o primeiro conjunto de painéis fotovoltaicos flutuantes. Quais os objectivos deste projecto? O primeiro conjunto de painéis fotovoltaicos flutuantes foi instalado no reservatório da Cegonha, do aproveitamento hidroagrícola de São Matias. Trata-se de um sistema off-grid, desligado da rede eléctrica, com uma potência instalada de 11 kW e que inclui um sistema de armazenamento de energia, com autonomia para cinco dias sem Sol, permitindo abastecer
painéis flutuantes ou a instalação de painéis na cobertura da sua sede, em Beja. Temos também pequenas centrais fotovoltaicas instaladas em Alqueva, na Estação Elevatória do Pisão ou na Estação Elevatória da Amoreira. Esta política energética requer grandes investimentos e parceiros que acolham esta tipologia de projectos, pelo que a sua concretização depende dessas alianças. Como é que a produção de energias renováveis em Alqueva pode contribuir para a redução dos custos dos produtores com energia? Na medida em que a EDIA possa baixar a sua factura energética, incorporando a produção fotovoltaica na sua gestão, na mesma medida os custos de adução de água poderão sofrer uma redução proporcionalmente equiparada, valor a ser determinado e fixado pelo accionista.
os órgãos hidráulicos do reservatório, os sistemas de monitorização e telecontrolo e ainda a estação de filtração de um bloco de rega com 2.163 hectares. Está prevista a instalação de mais painéis? A EDIA tem vindo a apostar em soluções energéticas “amigas do ambiente” e ecologicamente compatíveis com um processo de desenvolvimento sustentado que se deseja para a região. Damos o exemplo através de soluções fotovoltaicas, como os
Como decorre a captação de investimento estrangeiro? Este é um processo que leva tempo. Não se conseguem investimentos, seja estrangeiro seja nacional, de um dia para o outro, ou mesmo, de um ano para o outro. Há mesmo situações em que o investidor se desloca várias vezes ao terreno, durante um ou mais anos, e só depois decide o seu investimento. O que lhe posso dizer é que, no universo dos clientes de Alqueva, temos 153 estrangeiros a explorarem cerca de 30.000 hectares de regadio. Claro que só uma percentagem deste número resultou de contactos directos na captação de investidores além-fronteiras.
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MODERNIZAR SIM, MAS MANTER O TRADICIONAL
A manutenção de variedades tradicionais de azeitona, menos produtivas nos sistemas de condução de cultura intensivos e super-intensivos, é tema presente entre os alentejanos ligados ao sector. Alia-se a internacionalização e a necessidade de diferenciação. Rita Marques Costa e Sara Pelicano
DADOS DA CULTURA
O olival era já uma cultura característica do
Alentejo. As árvores eram dispostas com compassos grandes e a apanha era essencialmente manual. A construção da barragem de Alqueva trouxe nova vida à agricultura do Baixo Alentejo e o olival rejuvenesceu. A produção de azeitona para azeite continua a ter um peso significativo na região, dando lugar a novos sistemas de cultivo e novas variedades do fruto. O Centro de Estudo e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal) representa entre 40% a 60% da produção de azeite do Alentejo. Henrique Herculano, director técnico do Cepaal, comenta que o maior desafio do azeite, neste momento, é conquistar a diferenciação, optimizando os custos. «É necessário trabalhar a marca, a qualidade, a diferenciação e apostar no produto embalado.» A promoção é importante e internacionalizar torna-se imperativo. Assim, ainda este ano, o Cepaal vai arrancar com uma campanha internacional para promoção do azeite do Alentejo e dos seus associados. «Temos um trabalho diário de promoção do azeite em geral, e do Alentejo em particular, que se traduz em iniciativas como a organização do Congresso Nacional do Azeite, que este ano tem lugar em Valpaços dia 5 de Maio e gestão de redes sociais.» O mesmo responsável reforça que a «internacionalização é vital». Estados Unidos da América, Canadá, Suécia, Dinamarca e Alemanha são os países onde a acção de promoção vai decorrer. A conquista do Mundo, e do mercado nacional também, poderá 44
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passar por dar a conhecer a diferença do azeite desta região, em relação a outras zonas de produção. E, neste aspecto, a preservação de variedades tradicionais é muito relevante. Para Henrique Herculano urge preservar «o elemento de diferenciação do Alentejo» que passa pelas variedades, além das características edafoclimáticas. «As variedades são um elemento de diferenciação importante.» Henrique Herculano recorda que «outras regiões produtoras de azeite exportaram as suas variedades durante anos e agora procuram novas para puderem diferenciar-se. Não podemos cair neste cenário». Uma das
› Henrique Herculano, director técnico do Cepaal
formas de preservação será o reconhecimento com Indicação Geográfica Protegida e Denominação de Origem Protegida (DOP) de azeites onde se incluam azeitonas típicas da região. «O sucesso do reconhecimento do azeite do Alentejo como indicação geográfica e denominação de origem, que se arrasta há alguns anos e continua num contexto difícil, é um instrumento principal na defesa desta linha estratégica. Não é a defesa das variedades, mas do elemento de diferenciação que o Alentejo possui e que não se deveria perder», defendeu o entrevistado. As variedades mais características desta região são: Galega, Cobrançosa, Cordovil de Serpa e Verdeal alentejana. Na senda da protecção das variedades, sobretudo a Galega, tem andado também a Cooperativa Agrícola de Vidigueira. Criaram um Clube da Galega – um espaço para divulgação do azeite e vinho da região – e mantém um azeite monovarietal desta variedade. José Baptista, director-geral da Cooperativa, conta que em 2003/2004 realizaram um trabalho de recuperação de 150 hectares de olival de galega, colocando 100 a 120 árvores por hectare. O responsável compreende que a produção de um olival de galega é inferior ao das variedades exóticas, com as quais se fazem olivais em sistemas intensivos e super-intensivos. Por isso, defende a valorização do azeite com galega, encontrando mercados que paguem o trabalho que é feito no campo. Existe, desde 1997, uma DOP Alentejo Interior «que vive fundamentalmente da Galega. A DOP é a única coisa que nos pode
› José Baptista, director-geral da Cooperativa Agrícola de Vidigueira
diferenciar em qualquer parte do Mundo». Mas, sublinha José Baptista, «é preciso que a entidade gestora da DOP, a União das Cooperativas Agrícolas do Alentejo Interior (Ucaai), passe o testemunho se não tem capacidade de a gerir». O mesmo responsável vê ainda como possibilidade uma actualização da DOP Alentejo Interior, por exemplo juntando outras variedades tradicionais mais competitivas como a Cobrançosa e a Cordovil. José Baptista sublinha que o empreendimento de Alqueva trouxe nova vida ao Alentejo. A Cooperativa tem 500 sócios e prepara a passagem a organização de produtores (OP). «A
› José Palhete produz azeitona para azeite e para conserva
› Paulo Madeira, produtor de azeitona para azeite
OP será importante para agregar pequenas estruturas e criar dimensão, dentro do que é pequeno. Em conjunto é sempre mais interessante do que estar isoladamente a remar.» A média de produção são as 750 toneladas de azeite, maioritariamente virgem extra, comercializadas, sobretudo, a granel.
conforto», explica. Apesar da satisfação com as obras em Alqueva, o produtor alentejano lamenta «que isto não tenha sido feito há alguns anos atrás. Se calhar o panorama da agricultura já estava mudado há muito tempo» Entre Moura e Pias, Paulo Madeira tem 140 ha, divididos entre intensivo e tradicional. Quanto à área intensiva, a intenção é investir e plantar mais e até já há um projecto para a plantação de uma nova parcela. Quanto à área tradicional e em sequeiro, o objectivo é «ir reconvertendo». «Não vale a pena manter porque as árvores [tradicionais] levam mais tempo a desenvolver-se, as outras fazem-lhe sombra…». A reconversão poderá também acontecer em parte dos 80 hectares de olival de sequeiro que Henrique Herculano tem próximo de Amareleja, concelho de Moura. Mas será sempre uma reconversão parcial do terreno, uma vez que o produtor está satisfeito com as suas árvores, com compassos largos, que dão origem a azeite biológico. Produz as variedades que integram a DOP Azeite de Moura – Cordovil, Galega e Verdeal. «Posso ponderar uma modernização do elemento produtivo, eventualmente uma actualização de parte do olival.»
A produção Neste périplo pelo Alentejo regado com água do Alqueva, falámos com alguns produtores. Do escritório de José Palhete, às portas da Vidigueira, vêem-se os 75 ha de olival que herdou do seu pai. Quando começou a actividade, em 2002, os campos já lá estavam, então dedicou-se à industrialização e, em 2004, construiu um lagar. Agora, faz o próprio azeite e vende-o com a marca Quinta da Nossa Senhora das Neves, o mesmo nome que dá à exploração. As azeitonas que não são transformadas em azeite têm como destino a conservação. Depois de um período a vender os frutos da oliveira a terceiros para que depois a transformassem em conserva, José Palhete comprou a maquinaria necessária para fazê-lo na exploração. A variedade que mais produz é a Cobrançosa «pela dupla aptidão». Toda a exploração de José Palhete é regada com água da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA). «Embora tenha furos e charcas, utilizo exclusivamente água da EDIA, porque é mais certo. Esta é uma zona que não é muito boa de água e em anos mais secos tínhamos sempre problemas. Com a água de Alqueva, o panorama mudou radicalmente, porque é um
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A FEBRE DO AMENDOAL
Em Alqueva, a disponibilidade hídrica, a seca na Califórnia e a iniciativa tomada por Armando Sevinate Pinto, quando optou pela amêndoa em detrimento de outros frutos secos, alinharam-se no tempo para dar o pontapé de saída ao arranque da cultura no Baixo Alentejo. Rita Marques Costa e Sara Pelicano
DADOS DA CULTURA
Quando visitámos Alqueva, não chegámos
a tempo de ver as amendoeiras em flor, mas não foi por isso que os campos ocupados com a cultura passaram despercebidos. Entre explorações recém-instaladas, em que as árvores ainda nos dão pela cintura e se contam pelos dedos da mão as folhas que brotam dos troncos, e outras, de onde já se colheram e venderam os primeiros frutos, é perceptível a dinâmica que a cultura está a atingir na região. Em 2016, existiam cerca de 5.000 hectares (ha) de amendoal, um valor que deverá crescer ainda mais nos próximos anos. Armando Sevinate Pinto (1946-2015), ministro da Agricultura entre 2002 e 2004 e consultor agronómico, foi um dos primeiros a investir na cultura regada com água do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, motivado pela disponibilidade hídrica, pela seca na Califórnia, pela elevada rentabilidade da cultura e pela partilha de recursos com o olival. Muitos seguiram-lhe os passos.
› Pedro Branco, responsável pela Herdade da Lentisca
Um Alentejo branco e rosa Basta percorrer escassos quilómetros para ir da Barragem do Alvito (também conhecida como Albergaria dos Fusos) à Herdade da Lentisca. É de lá que vem a água que rega os amendoais e nogueirais instalados na exploração. 48
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A herdade, localizada às portas de Oriola, concelho de Portel, é gerida pelo grupo espanhol Joselito, que também se dedica à produção agro-pecuária. Pedro Branco, responsável pela Herdade da Lentisca, conta que no total exploram 1.125 ha, destes, 105 ha estão actualmente ocupados com amendoeiras (o objectivo é chegar aos 150 ha ainda este ano). O primeiro projecto de regadio na Herdade da Lentisca arrancou em 2006 com a plantação de nogueiras para madeira, avançou depois para as nogueiras de fruto e, em 2014, para as amêndoas. «Temos uma filosofia de diversificação», nota Pedro Branco, daí a aposta nos dois tipos de frutos secos. A opção recaiu primeiro sobre as nogueiras de fruto porque «o preço é muito mais estável». Já a amêndoa tem mais «oscilações». Por outro lado, «se analisarmos aos preços de hoje, são semelhantes, mas, no caso da amêndoa, o período de retorno é mais curto». De facto, enquanto a primeira produção de noz, «incipiente», ocorre no quinto ano após plantação, na amêndoa, ao terceiro ano, já se colhem quantidades «interessantes». A Herdade da Lentisca apanhou as primeiras amêndoas no Verão de 2016. A produtividade rondou os 300 quilogramas de miolo de amêndoa por hectare. As árvores desse pomar, plantado em 2014, foram colocadas com um compasso 6,5x6 metros. «Na nova fase, já estamos a intensificar e a fazer um compasso de 6x4 metros», diz Pedro Branco. Nas nogueiras, a realidade é outra. Estão plantadas com um compasso de 6x4,5 metros, o que já é «uma intensificação muito grande» tendo em conta o porte destas árvores. No caso das amêndoas, a Herdade da Lentisca produz quatro variedades: a Belona, a Soleta, a Guara (espanholas) e a Laurrane (francesa). No que respeita às nozes, a variedade Serr é a única que cresce nestes campos. Manuel Engrola apaixonou-se pelo amendoal e tem já, entre Moura e Pias, perto de 20 ha destas árvores e o «objectivo é aumentar». Junto a um campo de experimentação de quatro hectares, o produtor confessa acreditar «na cultura da amêndoa. Mesmo com a retoma da Califórnia [Estados Unidos da América], acho que há sempre um cantinho para nós». Nestes quatro hectares, plantou as árvores com um compasso de 7x5 metros. Com mais experiência neste fruto seco, Pedro Sevinate Pinto tem a seu cargo 32 ha de amendoal, mas o espaço de produção é partilhado com outros familiares e, no total, esperam chegar aos 100 ha. Têm árvores em diferentes fases de crescimento e vão testando também diferentes métodos de condução das árvores. Conhecimentos que partilham com os interessados em investir nesta cultura. Iniciaram as plantações em 2013. «Em 2017, vamos ter o primeiro ano de colheita mais expressiva. Estas árvores terão a velocidade cruzeiro sensivelmente ao quinto ano, nesta fase já têm uma produção estimada entre os 1.000 e 1.200 quilos de miolo por hectare. No sexto ano poderá chegar à produção média mais estável de 1.500 quilos/ha. Nesta área de produção, perto de Ferreira do Alentejo, têm as variedades Soleta e Belona, «muito valorizadas em termos de qualidade». Apresenta diferenças na produção, no porte da árvore e na forma de condução da mesma, mas são complementares. «A Belona tem um valor de mercado um pouco mais alto
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do que a Soleta, mas esta tem um pouco mais de produção pelo que compensa o seu valor ligeiramente inferior. Mas estamos sempre a falar de variedades de valor elevado», explica Pedro Sevinate Pinto. Os pomares intensivos, com compasso de 7x5 metros, são regados com água de Alqueva. Na exploração agrícola têm uma charca onde centralizam a água vinda da barragem do Roxo, actualmente abastecida com água do Alqueva. «A partir do momento em que temos água, podemos fazer estas culturas que são muito exigentes neste recurso.» A apanha é mecânica com uma componente manual, ou seja, um vibrador colocado no tronco faz o fruto cair para o chão onde são colocadas redes. Estas são recolhidas pelos trabalhadores contratados para o efeito. Pedro Sevinate Pinto › Pedro Sevinate Pinto, produtor de amêndoa comenta que a existência de uma fábrica de descasque e comercialização na região, a Migdalo, é uma mais-valia. O jovem agricultor diz que «a cultura é viável por si só, mas a fábrica dá uma forma de trabalhar diferente». A amêndoa tem sido comercializada a elevados preços que tenderão a baixar com a retoma de produção na Cali› Miguel Matos Chaves, director-geral da Migdalo fórnia. Mesmo assim, o produtor continua a acreditar na viabilidade da amêndoa alentejana: «O miolo tem tido preços elevados nos últimos anos, mas havendo abaixamento, a cultura continua viável. É evidente que há um limiar em que o deixa de o ser, mas estamos ainda bastante longe desse limiar». › Nogueiral para fruto na Herdade da Lentisca 50
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Transformar localmente Todos estes produtores venderam a sua amêndoa à Migdalo. A unidade de transformação, que começou a laborar em 2016, é a única que se dedica ao descasque de amêndoa de casca dura em todo o Baixo Alentejo. Sediada em Ferreira do Alentejo, a localização foi escolhida pela centralidade do município em relação às várias zonas onde se está a produzir amêndoa, pela disponibilidade das entidades municipais em receber o projecto e pela proximidade emocional dos sócios fundadores à região, a família Sevinate Pinto. Miguel Matos Chave é o director-geral da unidade fabril. Antes de se envolver no projecto, confessa que «não gostava muito de amêndoa», mas agora gaba-lhe a versatilidade e a riqueza nutricional. A unidade laborou pela primeira vez em 2016 e «correu bastante bem». Os objectivos de «abrir as portar a tempo da campanha, trabalhar e escoar a amêndoa de quase todos os produtores da região» foram alcançados. Neste momento, a empresa dedica-se exclusivamente ao descasque da amêndoa e venda do miolo ao natural. No futuro, existem planos para o alargamento da capacidade de produção –actualmente é de 2.500 toneladas e pode triplicar – e para o avanço na cadeia de valor, transformando o miolo em amêndoa torrada, palitada, farinha, entre outros sub-produtos. Hoje, a comercialização é feita quase exclusivamente em big bags e vendida em Portugal e em Espanha. Uma das apostas futuras será a «diferenciação» deste produto, já que cada variedade tem características nutricionais e organolépticas distintas, e a entrada no mercado com a marca Migdalo. Quanto ao preço da amêndoa, o responsável da Migdalo assegura que «mesmo que haja alguma deflação em termos de preço, há espaço para a cultura continuar a ser rentável». «Pelas contas que temos, há espaço para o preço da amêndoa cair 30%, o que não põe em causa os investimentos que estão feitos.» A experiência da Migdalo no amendoal começou em 2013, com a instalação do primeiro amendoal. Miguel Matos Chaves sublinha que «nos fomos apercebendo de alguma falta de conhecimento», pelo que a unidade de transformação tem funcionado como um local de reunião de produtores e partilha de conhecimento. «Já tivemos aqui uma sessão com vários produtores em que debatemos a temática dos tratamentos fitossanitários, da adubação e da fertilização.» No futuro, a ideia será transmitir este conhecimento através de um clube de produtores da Migdalo. A empresa não tem ambição de se constituir como organização de produtores (OP), «embora seja importante haver organização e ajuntamento da produção, pensamos que isso se pode fazer externamente e depois trabalharmos com as várias OP.» José Maria Falcão, produtor de cereais, azeitona e amêndoa, é o responsável pela recém-criada Alentejanices com Tomate. A OP vem substituir a Altol e, apesar de estar apenas certificada para a produção de tomate, está em curso o processo de ampliação do seu espectro de acção para a amêndoa e outros frutos secos. «O alargamento do espectro da Alentejanices serve para criar outros caminhos para que as pessoas continuem dentro do ramo e consigam sobreviver.»
HÁ VIDA PARA LÁ DO AZEITE E DA AMÊNDOA
Se bem que o olival e o amendoal dominam a paisagem das terras regadas por Alqueva, os agricultores também apostam em culturas como os frutos de caroço, as cucurbitáceas, os cereais ou a papoila. Rita Marques Costa e Sara Pelicano
Manuel Engrola é agricultor desde que se recorda. Começou
ainda miúdo a seguir os passos do pai, pisando terra sedenta. Com recurso a furos e produzindo em locais onde chegava a água de pequenas barragens, o agricultor produz em regadio há 20 anos. Mas Alqueva é uma revolução. «Com os furos nunca sabemos o que temos, a água da EDIA [Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva] tem mais vantagem», explica Manuel Engrola. Perto de Pias, produz melão branco e verde em 30 hectares (ha) regados. Colhe no início de Julho e escoa para o País todo através de uma cadeia de supermercados e dos mercados abastecedores. Não tem dificuldades em comercializar, mas admite que uma organização de produtores de hortofrutícolas poderia ser útil na região. «Falta a parte da indústria ou, mais que não seja, um ponto de recolha.» Para os lados de Serpa, fica a exploração de José Saramago de Brito. O produtor, que se dedica à actividade há 20 anos, também está preocupado com a falta de agro-indústria. «Estávamos a tentar puxar para aqui alguma coisa, mas não é fácil. São investimentos avultados.» Começou pelo sequeiro, mas actualmente já rega quase todos os 200 ha que estão dentro do perímetro do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA). Actualmente, José Saramago de Brito produz cebolas, brócolos, papoilas, cereais, colza e girassol. Em 2015, tinha planos para transformar o seu olival tradicional em intensivo e regá-lo, mas, em vez disso, optou por ali fazer culturas anuais. Já tinha quatro pivôs e instalou mais dois nessa área. «Acabei por tomar esta decisão, porque o custo da
› Colza
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› Meloal
infra-estrutura de regadio por hectare é mais barato e porque acabo por trabalhar em função do que o mercado pedir.» O agricultor nota que a aposta no olival é «normal» dada a valorização do azeite. Contudo, avisa que «começa a ser um bocadinho de mais para um futuro próximo. Vamos cair um bocado no que aconteceu nos anos 1930, com a monocultura do trigo». É por isso que aposta na «diversificação e rotação de culturas». A única cultura permanente que faz é a vinha, onde utiliza o sistema gota-a-gota para regar os 12,5 ha. O custo da água, conta, é «elevado». O anúncio da redução do preço deste factor de produção, anunciado por Luís Capoulas
› José Saramago de Brito
› Manuel Engrola
Santos, ministro da Agricultura no mês de Março, foi uma «boa notícia». Contudo, José Saramago de Brito alerta que as taxas de conservação e manutenção também têm «um preço elevado». João Serrano, responsável da Fairfruit, uma multinacional de origem suíça que produz frutos de caroço e azeitona em Alqueva desde 2013, diz que «não sentimos tanto a questão do custo da água, porque produzimos noutros países e lá o preço é mais elevado». No total, a empresa tem 114 ha de pêssegos, alperces, nectarinas e paraguaios. Até ao final do ano, conta plantar mais 35 ha e, nos próximos dois anos, mais 40 ha. Quanto ao armazenamento dos frutos, «estamos a fazer um projecto para uma central de embalamento aqui em Beja e vamos começar a construir em princípio este ano para estar pronta na próxima [campanha]».
O que a Fairfruit produz é vendido na íntegra para o mercado externo, nomeadamente Espanha, Itália e França. Quanto aos preços de arrendamento e compra dos terrenos, João Serrano avança que «temos sentido claramente o aumento do preço da terra». «Aqui à volta, em tudo o que é regadio, os preços inflaccionaram bastante. O arrendamento [quando a FairFruit se instalou] rondava os 300/400 euros por hectare (€/ha) e agora anda entre os 500 e 600 €/ha. Para compra, andavam dentro dos 10.000 €/ha e agora anda tudo para cima de 15.000 €/ha. O investimento estrangeiro é que tem possibilidade para pagar esses valores.» Para José Saramago de Brito, esta questão prende-se com «a falta de terra com uma dimensão interessante». Pelo que, «são as parcelas de grande e maior dimensão que depois têm os preços inflacionados».
PRODUZIR FORA DE ALQUEVA É em Elvas, no Alto Alentejo, já fora do EFMA, que está sediada a Cersul. O Agrupamento de Produtores de Cereais do Sul foi criado em 1990 e foi o primeiro agrupamento de produtores de cereais reconhecido em Portugal, em 1993. José Maria Falcão é um dos responsáveis pela organização e conta que «cada vez mais o sector dos cereais está a passar por períodos difíceis. Há uma alteração grande nas áreas regadas de culturas de Outono/Inverno e mesmo de Primavera, para culturas permanentes». Nesse sentido, a recente criação das organizações de produtores (OP) Alentejanices com Tomate e Azeitonices, das quais José Maria Falcão é o responsável, funcionam como «alternativas» para os produtores que querem diversificar a sua produção. «As medidas políticas estão todas viradas para Alqueva. É aí que toda a indústria está a apostar, há muita deslocalização de meios para lá e esta vai ser uma zona que, se não lutarmos como estamos a lutar, vai ser esquecida. As pessoas estão a unir-se e reclamar ao poder político que esta zona não pode morrer», adianta. Com esta conjuntura, o produtor e dirigente associativo, não tem dúvidas: «O Alto Alentejo e o Centro Norte vão ser o novo Alentejo profundo». No que respeita à produção de cereais, a Cersul tem apostado nos «nichos de mercado». Nesse sentido, os produtores do agrupamento dedicam-se à exploração de trigos com baixos teores de pesticidas, trigos melhoradores e super melhoradores, trigo rijo, cevada para cerveja, colza, espelta, aveias de alta qualidade, entre outros. Neste momento, «estamos a tentar introduzir a soja para leite». Os 180 associados da Cersul reúnem uma área de 50.000 ha, distribuída entre explorações regadas, outras em sequeiro e montado.
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COM ALQUEVA FAZ-SE «OUTRO TIPO DE VITICULTURA» A tradição da produção de uva para vinho, na zona que hoje é regada pelas infraestruturas do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), é longa e antecede a construção do EFMA. Contudo, à semelhança de outras culturas, a chegada de água foi uma lufada de ar fresco que permite pensar o negócio de outras formas.
Rita Marques Costa
DADOS DA CULTURA
Os primeiros documentos que relatam a
existência da vila da Vidigueira datam do século XIII. Diz-se que o local histórico, de onde é natural Vasco da Gama – e a quem a vila foi cedida em 1519, por D. Jaime, duque de Bragança –, deve a origem do seu nome à palavra videira, pela preponderância da cultura da vinha. É neste município que se localiza a Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito e a Herdade Cortes de Cima, os dois locais de produção de vinho que visitámos.
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Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito Foi na vila da Vidigueira que, em 1960, foi assinada a escritura pública que deu origem à Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, mas só após três anos a associação começou a laborar. Hoje, conta com 300 associados que exploram 1.500 hectares (ha). José Almeida dá a cara pela Adega Cooperativa da Vidigueira desde 2012. Nascido e criado no concelho, o presidente da associação diz que viveu a fase em que Alqueva era um «mito». «Olhávamos para Alqueva como qualquer coisa que nunca estaria acabada.» Ao longo do tempo, os residentes
Outro dos desafios é a «remuneração justa das uvas aos nossos cooperantes». José Almeida é categórico: «Não vale a pena pensar em estratégias de produção, comunicação e enoturismo se o objectivo central e mensurável não for sempre a melhoria do pagamento do produto final aos nossos associados.» O ano de 2016 foi aquele em que a Vidigueira aboliu as vendas a granel. Dos 7.334.887 quilogramas de uva recebida pela cooperativa, resultaram 5.550.887 litros de vinha, todos engarrafados. O mercado de destino é essencialmente Portugal, onde «o consumo de vinho tem aumentado, bem como o consumo das nossas marcas», atesta o responsável.
Foto: Herdade Cortes de Cima
aperceberam-se «do aparecimento de uma série de culturas que não existiam aqui nesta zona ou, pelo menos, não com a representação que tinham». A construção do EFMA foi importante para a produção de vinho pela «uniformidade da disponibilidade hídrica», conta José Almeida. Isto permite «fazer outro tipo de viticultura». «Já temos uma área interessante regada, mas ainda temos muitas áreas que não são regadas e que os viticultores gostariam que fossem», declara. Apesar do preço da água, captada pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva (EDIA), ser considerado
› José Almeida, presidente da Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito
caro, o presidente da cooperativa defende que «os custos de não a ter e de a captar por outras vias também são elevados». Quanto aos desafios que a cooperativa enfrenta, José Almeida identifica vários. Por um lado, a «limitação na implantação de novas vinhas». Sobre este assunto, o presidente detalha que «o ano passado, para o Alentejo, foram autorizados 100 ha de nova vinha. Este ano, tomámos a liberdade de manifestar junto da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) a nossa preocupação com a reduzida área que tinha sido atribuída e fizemos uma proposta, pelo que a CVRA veio a aprovar 800 ha».
Em matéria de exportação, José Almeida confessa que «temos sido muito comedidos», já que «o segredo da venda dos nossos vinhos é em Portugal». O vinho, que depois de engarrafado é vendido com as marcas Navegante, Vila dos Gamas e Vidigueira, chega à cooperativa vindo de explorações cujos proprietários vêm de «realidades muito diferentes». «Desde as pessoas que são agricultores de profissão, às que têm parcelas grandes e pequenas, às pessoas que têm mais sensibilidade para a inovação e outras com menos», o perfil dos associados é distinto. Mas esta diversidade não preocupa José Almeida que explica frutas, legumes e flores | Abril 2017
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que para as «abraçar» é preciso apenas «entendê-las». «Se fossem três produtores, todos com a mesma dimensão e o mesmo foco, era uma empresa.» Herdade Cortes de Cima Visitámos a Herdade Cortes de Cima no primeiro dia de Primavera. O Sol brilhava no céu azul e os pássaros chilreavam atarefados enquanto construíam os seus ninhos. A escassos 10 quilómetros da vila da Vidigueira, a Herdade Cortes de Cima foi construída por Hans e Carrie Jorgensen, um casal americano-dinamarquês que por ali se fixou em 1988. Contudo, é Edgar Gomes, viticultor na empresa, que nos recebe e conta de cor a história que deu origem ao projecto. Foi de veleiro que Hans, dinamarquês, e Carrie, norte-americana, chegaram a Lisboa. Percorrendo o País, descobriram os terrenos que têm hoje cobertos de vinha. Carrie sentiu-se em casa. A paisagem fez-lhe lembrar a sua terra natal, a Califórnia. Por ali ficaram, criaram dois filhos e produziram muito vinho. O Incógnito, um monovarietal feito a partir da casta Syrah, resume a resiliência de quem o pôs no mercado. Primeiro, é feito a partir de uva tinta, na altura pouco utilizada na «região dos [vinhos] brancos», como recorda Edgar Gomes. Depois, porque a Syrah não era aprovada pelas regras de Denominação de Origem do Alentejo. «Graças ao senhor Hans, hoje em dia, a Syrah é uma das castas mais plantadas em Portugal.» Hoje, na propriedade de Cortes de Cima, existem 170 hectares (ha) de vinha. Desses, cerca de 40% são ocupados com a “jóia da casa”, a Syrah. Os outros › Edgar Gomes, Herdade Cortes de Cima dividem-se entre Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. Mas a produção não se restringe à Herdade Cortes de Cima. «Temos 18 ha de vinha em modo de produção biológico muito perto de Selmes. Depois, temos uma vinha com 23 ha encostada à albufeira do Pedrogão. E, desde 2008, estamos em Milfontes. Temos lá 43 ha de vinhas», resume Edgar Gomes. A deslocação para a costa alentejana prendeu-se com a aposta nos vinhos brancos, «mais frescos», explica o viticultor da empresa. «É uma viticultura mais difícil devido à humidade, temperatura e fungos, mas tem corrido bem.» À semelhança de muitas das explorações que se têm fixado nesta região, a água é essencial para a agricultura praticada em Cortes de Cima. «A primeira obra feita pelo senhor Hans 56
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› As talhas de 1828 onde será feito o vinho centenário
SÉCULOS DE HISTÓRIA NUM SÓ VINHO A Adega Cooperativa da Vidigueira tem em curso um projecto para a produção de vinho feito em talhas centenárias, a partir de uvas que cresceram em vinhas com mais de um século e feito com técnicas utilizadas pelos romanos há mais de dois milénios. O método é relativamente simples, segundo José Almeida, presidente da cooperativa. «As uvas são armazenadas na talha, passados três ou quatro dias começam a fermentar e vamos mexê-las todos os dias, duas vezes por dia, ao longo de dois meses, para homogeneizar as massas. Passados 60 dias, abrimos a torneira e sai um vinho turvo. Após alguns dias de passagem desse vinho turvo pelas massas, o líquido vai sair cristalino.» Esta iniciativa faz parte de um projecto de enologia e enoturismo. O objectivo é investigar estas vinhas centenárias, perceber que castas estão presentes nessas explorações e com que «variabilidade». José Almeida assegura que «há vinhas pequeníssimas que têm 10 ou 12 castas brancas». Depois disso, o objectivo é mostrar este património e criar um projecto de enoturismo.
foi uma barragem enorme», destaca Edgar Gomes. Em 2010, foi feita uma captação de água da barragem do Pedrogão, por conta própria, e, em 2012, a exploração passou a beneficiar da água fornecida pela EDIA. «Sem a EDIA era muito difícil.» Apesar das necessidades hídricas, Edgar Gomes conta que «praticamos uma agricultura sustentável e de precisão». Para isso, recorrem a rega subterrânea e têm sondas que indicam os níveis de água no solo. «Só queremos dar o que a planta necessita.» Além disso, a empresa investiu na instalação de painéis fotovoltaicos na exploração. «A ideia é reduzir ao máximo o nosso impacto ambiental.»
A REGA MEXE COM ALQUEVA
Com a finalização das obras em Alqueva, as empresas de rega não têm mãos a medir com tanto trabalho. As expectativas para o alargamento do perímetro são de ainda mais dinamismo. Rita Marques Costa e Sara Pelicano
Entre a rede primária, que liga barragens, reservatórios e
açudes, e a rede secundária, que leva a água às explorações dos agricultores, contam-se 2.002 quilómetros de condutas, o que equivale à distância necessária para ir de Lisboa a Bruxelas (Bélgica) de carro. No total, as infra-estruturas permitem que a água chegue a 120.000 hectares (ha), mas é preciso especialistas para pôr tudo isto a regar. Luís Brito é um deles. O sócio-gerente da Irripax trabalha na região há 20 anos. Com a finalização das obras no perímetro de rega de Alqueva diz que «há mais trabalho» e que, no último ano, até teve de contratar mais pessoas. No total, a empresa sediada em Beja tem 24 trabalhadores. O alargamento do perímetro de rega para os 167.000 ha, traz ainda mais expectativa. «Vamos ter mais trabalho durante mais tempo», diz Luís Brito. A disponibilidade de água não permite, contudo, um uso abusivo da mesma e os agricultores estão cada vez mais sensibilizados
› Calendário de rega criado pela Hidrosoph
MONITORIZAR E GERIR A Hidrosoph não fornece equipamento para rega, mas é um parceiro na gestão da mesma. Diogo Zibaia, agrónomo da empresa, avalia que «o mercado na região de Alqueva tem vindo a aumentar muito nos últimos quatro anos». «A disponibilidade de água, sem dúvida, introduziu uma mudança significativa no modo de produção agrícola. Os produtores não tinham know-how de como regar e estão muito abertos ao conhecimento sobre gestão de rega. São um público-alvo muito mais exigente, pois têm a experiência de produzir em sequeiro e diferenciam
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para práticas agrícolas sustentáveis e economicamente mais eficientes. «O nosso lema, assim como o da nossa representada Rivulis, é “cada gota conta”. Isto reflecte o nosso pensamento e a forma como estamos no mercado. O nosso objectivo é o agricultor fazer o uso sustentável da água», comenta Miguel Empis, administrador da Magos Irrigation Systems, SA. Já Luís Brito, da Irripax, refere que «os sistemas de regadio mudaram muito» e que «a telegestão permite gerir toda a rega». A Magos Irrigation Systems, SA tem a sua sede em Salvaterra de Magos mas pauta a sua actuação pela proximidade com os clientes. Nesse sentido, a região do Alentejo, à semelhança de outras no País, tem uma sucursal da empresa que comercializa material de rega. Foi há três anos que inauguraram as instalações em Beja. Desde então, «a evolução da empresa e do mercado tem sido impressionante», salienta Miguel Empis. O administrador da empresa sublinha que «nos últimos anos, as culturas e tendências têm-se alterado. Têm surgido novas culturas, tais como fruteiras, amendoal, nozes, entre outras. O objectivo da Magos tem sido acompanhar essas alterações e manter-nos na linha da frente». Sobre o alargamento da obra de Alqueva, Miguel Empis comenta que, «cada vez que o perímetro de rega aumenta, crescem novas culturas e as de sequeiro passam a ser regadas, pois a rentabilidade e uniformidade são muito melhores para o agricultor».
a mais-valia, em termos de aumento qualitativo e quantitativo da produção das suas culturas de regadio». Como, quanto e onde regar são os critérios para os quais o agricultor precisa de obter resposta e que lhe permitem fazer uma rega eficiente. É nesta base que a Hidrosoph actua e, por isso, desenvolveu o programa Irristrat, que «gera os calendários de rega, com as quantidades de água que se deve incorporar no solo, tendo em conta a cultura, o tipo de solo, os dados meteorológicos, entre outros», explica Diogo Zibaia. «De modo a validar e poder introduzir correcções ou melhorias no solo, que até então não tinha a estrutura mais indicada para a prática da rega, elaboramos mapas de electrocondutividade aparente do solo. Com a cultura instalada, avaliamos o seu desenvolvimento vegetativo através dos mapas de NDVI [sigla inglesa para Índice de Vegetação por Diferença Normalizada].»
NOVAS TECNOLOGIAS PARA UMA GESTÃO INTEGRADA DA REGA O aumento da competitividade no sector
agrícola apela ao uso de tecnologias inovadoras, lançando discussão sobre quais as técnicas que devem ser implementadas para uma gestão integrada da rega melhorada, peça fundamental na agricultura de regadio. Esta nova realidade passa, obrigatoriamente, pela criação de um apoio técnico às explorações que inclua tecnologias de informação, comunicação e gestão, permitindo melhorar a produtividade e rentabilidade económica, e minimizar o impacto ambiental, através da optimização do uso dos recursos naturais. A escassez dos recursos, a variabilidade climática, o aumento dos custos de produção e a sensibilização ambiental apelam ao uso destas tecnologias inovadoras. O Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR) incentiva, desde a sua criação, a aplicação de metodologias, criando um conjunto de ferramentas que possibilitem criar condições de aplicação de técnicas correctas de gestão da água de rega e que contribuam para o uso duradouro e sustentável destes recursos, dos quais a actividade económica agrícola está fortemente dependente. A inovação da gestão da rega tem um objectivo muito claro: a optimização e racionalização de recursos, aplicando a água no momento certo, na quantidade certa, da maneira mais eficiente e uniforme possível. Temos que visar a
realização de toda e qualquer tarefa de uma forma optimizada, observando e registando os dados agronómicos, climáticos e pedológicos da exploração, recorrendo a ferramentas de apoio à decisão e a metodologias capazes de realizar as operações de forma adaptada à variabilidade da parcela. Uma aposta na criação de serviços que combinem a informação proveniente de estações meteorológicas; das sondas de humidade do solo; das imagens de satélites, drones e aviões (equipados com câmaras multiespectrais); cartas NDVI (sigla inglesa para Índice de Vegetação por Diferença Normalizada); cartas de condutividade eléctrica e variabilidade dos solos; modelos de simulação do balanço hídrico do solo, permitem ao regante aplicar a água estritamente indispensável, no local certo e no momento oportuno. Assim, o COTR pretende, num futuro (muito) próximo, disponibilizar, uma adição aos serviços já existentes novas ferramentas que permitem visar uma gestão integrada da rega desde o primeiro momento. Serão disponibilizados serviços que permitam caracterizar a variabilidade dos solos, em termos de condutividade eléctrica aparente, textura, compactação, pH, e teores de matéria orgânica e água, sendo esta informação incluída no projecto
dos sistemas de rega. Um projecto que tenha comtemplada esta variabilidade, assegurará que seja apenas aplicado o volume de água estritamente necessário ao bom desenvolvimento das culturas. Tendo bem assente esta pedra basilar, temos como desafio seguinte alcançar um patamar de alta eficiência do uso da água e energia. Para tal serão melhoradas as plataformas já existentes, permitindo que cada recomendação de rega tenha por base não só o balanço hídrico do solo e a informação recolhida pelas sondas de monitorização de água no solo, mas também o estado real da cultura através da disponibilização de cartas de vigor vegetativo e do tratamento de imagens multiespectrais, sejam elas captadas por imagens de satélite, drones ou voos por aeronaves tripuladas. Toda esta informação estará disponível à distância de um clique, seja no computador, no smartphone ou no site do COTR. Estas ferramentas de gestão optimizada não só melhoram a produtividade e rentabilidade da exploração agrícola, como também minimizam o impacto ambiental e optimizam o uso dos recursos naturais. Gonçalo Rodrigues, coordenador Executivo do COTR
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Linde Material Handling Ibérica organiza assembleia da rede A XXXIV Assembleia da Rede da Linde Material Handling Ibérica (MHI) decorreu de 1 a 4 de Março em Baiona (Pontevedra, Espanha). No evento participaram mais de 100 membros da direcção da Linde e da sua rede de concessionários e delegações da Península Ibérica. Esta assembleia realizou-se sob o lema “Subámonos al avance” (Juntos rumo ao futuro). Nela foram abordados temas como «o cliente como razão de ser, a
Stihl reuniu rede de distribuidores na Expojardim O certame que decorreu entre 10 e 12 de Março, na Batalha, em paralelo com a Frutitec/Hortitec e a Iberopragas, foi o local eleito pela Stihl para reunir a sua rede de distribuidores. Durante o evento, a empresa, que fabrica e comercializa maquinaria florestal, agrícola e de jardinagem, anunciou que, em 2016, ultrapassou pela primeira vez os 17 milhões de euros de facturação anual. A profissionalização crescente da rede de distribuição, o investimento em publicidade, «o constante lançamento de novos produtos e segmentos» e uma «colaboração muito estreita entre empresas e distribuidores» são as razões que a empresa apresenta para este crescimento. Quanto à gama de produtos, a Stihl e a Felco realizaram uma parceria para a venda de tesouras de poda manuais. A empresa também apresentou recentemente a linha Lithium-ion «para utilizadores particulares que procuram um produto básico mas fiável».
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qualidade do atendimento e do serviço, a necessidade de estar sempre na vanguarda tecnológica e a importância de continuar como fornecedor líder de soluções logísticas integrais», diz a Linde MHI em comunicado. Também foram analisados o sector ibérico da movimentação de cargas e «os bem-sucedidos resultados de 2016, que implicam um grande desafio a ultrapassar em 2017», refere a Linde. Desta forma, a estratégia da empresa, «para este ano e seguintes, passa por continuar a apostar na avançada tecnologia dos seus produtos e proporcionar a máxima variedade na disponibilidade de serviços». O evento contou ainda com um exercício de team building (uma regata pela ria de Vigo) e com o habitual jantar de gala da rede Linde MHI. No jantar foram entregues os Prémios Linde Diamond, «que premeiam a excelência na gestão empresarial de cada uma das delegações e concessionários Linde de Espanha e Portugal». Os galardoados foram todos de Espanha. Segundo Jaime Gener, director da Linde MHI, «as nossas assembleias são uma forma de fortalecer a nossa organização, criar vínculos e estabelecer estratégias regionais, analisando o que somos e o que queremos ser». «Para nós, é evidente que os nossos clientes são a razão de ser da nossa empresa e por isso trabalhamos constantemente numa única direcção, para ganhar a sua confiança e fidelidade.»
Jungheinrich lança order picker vertical sem condutor O EKS 215a é o novo sistema de transporte sem condutor com base no order picker vertical EKS da Jungheinrich. A empresa, com uma subsidiária em Portugal, «reduziu as dimensões do equipamento», comparativamente ao modelo anterior. «Com a remoção do lugar do condutor, foi possível obter uma manobrabilidade melhorada», explica a Jungheinrich, em comunicado de imprensa. O EKS 215a tem uma elevação de seis metros com uma capacidade de carga de 1,5 toneladas. Atinge uma velocidade máxima de até 2,5 m/s. «Através dos garfos montados no porta-garfos, o EKS 215a também está devidamente equipado para o transporte de suportes de carga especiais e paletes fechadas e pode operar estações não transportáveis.» A segurança foi pensada e o novo equipamento tem «scanners de protecção de pessoas na direcção de tracção e de carga, que detectam obstáculos e param o equipamento, sensores laterais e botões de paragem de emergência no equipamento.» A navegação ocorre através de controlo por laser e é accionado com tecnologia de corrente trifásica de 48 V. O EKS 215a reaproveita a energia gerada na descida e na travagem.
EMPRESAS APRESENTAM NOVOS PRODUTOS NA FRUIT LOGISTICA A Fruit Logistica decorreu de 8 a 10 de Fevereiro em Berlim, Alemanha. Este é um momento de convívio, mas também uma oportunidade para as empresas apresentarem novos produtos. Sara Pelicano
A Fruit Logistica celebrou a 25.ª edição no início de Fevereiro.
Empresas de todo o Mundo acorreram ao certame alemão para conviver com os clientes, estabelecer novos contratos comerciais e apresentar produtos. O Grupo Arc Eurobanan anunciou a linha Isla Bonita Premium no decorrer da feira. Nesta linha de produto estão incluídos frutos como manga, ananás, abacate e papaia. «É fruta seleccionada para paladares exigentes», diz a empresa. A Tecnidex revelou a sua ampla gama de produtos fitossanitários Textar, com especial destaque para o Textar Coad, que «inclui produtos com uma acção muito eficaz durante os processos de higienização e desinfecção de citrinos, pimento, tomate e outros produtos na chegada aos armazéns, bem como nas águas de
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lavagem. Destaque ainda para outra inovação desta gama, o Textar Pure Air, que tem nova fórmula «para eliminar o etileno mediante a técnica de absorção, alargando assim a vida dos frutos na conservação e processo de logística, facilitando que chegue ao consumidor final em perfeitas condições». Estes produtos podem ser utilizados com o Control-Tec Cam Pure Air, um equipamento de purificação e esterilização do ar. A Tecnidex apresentou também produtos tradicionais do seu portefólio, como o Scholar e Bravatia. «A forte e constante aposta na inovação tem permitido à Tecnidex marcar a diferença ano após ano e distinguir-se no certame pelo amplo catálogo de soluções para a sanidade e segurança alimentar de sector de pós-colheita», diz a empresa.
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PALETES
No stand da Agrofresh, representada em Portugal pela Selectis, falámos com Jean-Christophe Leterme. O comercial para França, Portugal e Marrocos comentou que Portugal tem ainda um peso pouco significativo nas vendas da empresa, no entanto «queremos crescer». A cultura de pêra Rocha é a mais importante para a Agrofresh, representando 60% das vendas no nosso País. No espaço da Syngenta, cruzámo-nos com Rafael Salinas Iribarne, gerente do portefólio de tomate para a Península Ibérica. O responsável afiançou que vão testar, em Portugal, uma nova variedade, a Bravante. «Trata-se de um tomate de bom calibre e sabor para consumir em fresco, em saladas, que tem produção nos meses de Primavera e Verão.» Há também empresas que aproveitam a Fruit Logistica para assinalar efemérides. Foi o caso da Primland que celebrou os 40 anos da produção de kiwi. A história deste grupo começou em França, em 1977, com objectivo de reunir produção e promover este fruto. O tomate Monterosa foi novamente o grande anfitrião da Semillas Fitó. A empresa, além da mostra de produtos num stand com nova imagem, deu também a provar os hortofrutícolas que disponibiliza no mercado. Alface hidropónica, cenouras coloridas e snacks de vegetais foram as novidades apresentadas pela Bayer. Ronald Guendel, responsável do Food Chain Relations da Bayer, explicou que 64
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«em todos os projectos falamos com os nossos parceiros para perceber quais as suas necessidades. Com este conhecimento, desenvolvemos internamente produtos que vão ao encontro das necessidades dos produtores». Na secção das sementes vegetais, a Bayer deu especial destaque à alface de produção em hidroponia. «À primeira vista a produção de alface neste sistema pode parecer mais cara do que o cultivo no solo, no entanto há inúmeros benefícios. Produzir em estufa permite libertar o agricultor das condições atmosféricas, a colheita é mais precoce e os processos são mais simples, por exemplo, não é preciso lavar tanto a alface. Este último é um benefício para o consumidor», explica comunicado de imprensa. Cenouras coloridas foi outra das novidades do grupo. Um sortido baseado nas variedades disponíveis na Nunhems (uma marca Bayer) que é mais resistente a doenças e mais atractivo para o consumidor. Comparadas com as cenouras tradicionais, estas são mais crocantes e doces. Por fim, a Fruit Logistica foi também palco para apresentar a marca Minigustos, snacks de vegetais. O primeiro lançado no mercado foi de pepino. Todos estes produtos e empresas poderão ter sido vistos pelos 75.000 visitantes que a feira acolheu ao longo dos três dias. De acordo com a organização, a Messe Berlin, houve um crescimento de 5%, face a 2016, no número de visitas. A Fruit Logistica regressa em 2018 nos dias 7 a 9 de Fevereiro.
VINHAS CAMPEÃS COM O NOVO FORUM® GOLD DA BASF
«Os vinhos portugueses ganham prémios
em todo o mundo. Com a introdução do Forum® Gold queremos contribuir para esse sucesso. O Forum® Gold dá uma proteção de ouro contra o míldio e é isto que as vinhas portuguesas merecem», sublinha
contempla a introdução de novas soluções e tecnologias em Portugal e no mundo. À experiência do líder Forum® F, um produto à base de dimetomorfe, a BASF juntou o ditianão, um fungicida com ação multilocal pertencente ao grupo químico das quinonas, diferente das ftalimidas e ditiocarbamatos, que é eficaz sobre estirpes de míldio resistentes a outros modos de ação. José Saramago, diretor técnico da BASF, explica que «a substância activa ditianão, cumpre as normas atuais e tem futuro». A BASF redescobriu o ditianão e «se com o Forum® F o patamar já estava bastante elevado, agora com o Forum® Gold temos um produto ainda mais completo», acrescenta.
Gunther Sthamer, o diretor-geral da BASF Portuguesa. Em março, o Forum® Gold foi apresentado aos clientes em quatro eventos em Arraiolos, Alenquer, Bussaco e Guimarães. Este novo produto inicia uma fase de inovação da multinacional alemã que
O que o Forum® Gold traz de novo? A combinação do ditianão com o dimetomorfe. Esta inovação proporciona uma proteção mais robusta, fiável, eficaz e persistente nas várias fases de desenvolvimento do míldio na videira. Graças à fórmula com elevado teor de dimetomorfe e à forte ação preventiva do ditianão, a BASF consegue um produto com uma proteção superior das folhas e dos cachos. «O Forum® Gold é o membro de ouro da família Forum®», conclui José Saramago.
que nos falou das vantagens da tecnologia Co-Cristal presente no Faban® e da sua experiência com o produto em diversos países europeus. José Saramago, diretor técnico da BASF Portuguesa, partilhou a experiência obtida com Faban® em Portugal, tanto na cultura da pereira, como da macieira. A tecnologia Co-Cristal de Faban®, otimiza a ação do pirimetanil e ditianão contra o pedrado,
melhora a aderência aos tecidos vegetais, apresenta maior resistência ao arrastamento pela chuva, tem uma ação independente da temperatura, e apresenta maior eficácia do que a mistura em tanque de pirimetanil e ditianão. Faban® é uma excelente formulação líquida com uma ampla janela de aplicação, sendo um produto ideal para maximizar o controlo do pedrado em pomóideas.
FABAN® PARA CONTROLO DO PEDRADO NA MAÇÃ E PÊRA Em Março, a BASF Portuguesa realizou dois eventos, um no Oeste e outro em Viseu, para lançar Faban®, inovador fungicida da BASF para o controlo do pedrado nas culturas da maçã e da pêra. Faban® é composto por ditianão e pirimetanil, substâncias ativas de referência no combate a esta doença, que estão dispostas numa estrutura cristalina específica – Co-Cristal – que lhes confere propriedades únicas e diferentes das substâncias ativas na forma livre. Os eventos de lançamento contaram com a presença do responsável europeu pelo desenvolvimento técnico de fungicidas para a fruticultura da BASF, Martin Teichmann,
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GARANTIDAMENTE BIOLÓGICO Muitos alimentos são vulneráveis à fraude e os produtos de origem biológica, pelo seu elevado valor acrescentado, não são excepção. Para combater este fenómeno, foi criada a Check Organic, uma plataforma que segue os produtos ao longo da cadeia de abastecimento. Rita Marques Costa
A procura crescente
por produtos de origem biológica, o seu elevado valor acrescentado, a facilidade em rotular alimentos como tendo sido produzidos através do modo de produção biológico (MPB), quando afinal não foram, e a facilidade em contornar os actuais sistemas de certificação são algumas das razões que fazem com que estes produtos sejam alvo de falsificações. A Check Organic, uma solução da empresa austríaca Organic Services, é uma plataforma na cloud, que faz a ponte entre certificadores e distribuidores, e que tem como objectivo aumentar a transparência e rastreabilidade dos alimentos ao longo de toda a cadeia de abastecimento. «A Check Organic contribui para tornar o sector biológico mais eficiente, ao eliminar a necessidade de processamento off-line, melhorando o acesso a documentação e, desse modo, a transparência», avança Frank Gerriets, director da Organic Services. O processo começa no campo, quando a entidade certificadora insere uma quantidade de produção em MPB para cada produtor, com base no tamanho de cada exploração e no histórico de produção. Este valor vai sendo verificado à medida que
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a mercadoria vai avançando pela cadeia de abastecimento. Apesar de não ser desenhada especificamente para os produtores pode ser utilizada pelos mesmos, no sentido de procurar compradores que também cumprem os requisitos inerentes à certificação biológica e para se promoverem no mercado enquanto agricultores em MPB. Os utilizadores da Check Organic podem consultar os perfis de outros operadores, seguir as cargas e a sua quantidade à medida que estas avançam na cadeia e ser notificados quando existem problemas. Resumindo, o comprador pode ir à plataforma e garantir que aquilo que está a comprar é mesmo biológico. Esta solução foi vencedora do prémio TP Organics 2016, na categoria “Aumentar a transparência na cadeia de valor dos produtos biológicos”, atribuído durante os Organic Innovation Days. O evento decorreu em Bruxelas, Bélgica, a 6 de Dezembro de 2016. Casos de fraude Em 2013, o departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América multou 19 produtores e empresas em 87.000 dólares, aproximadamente 82.000 euros, pelo uso indevido do rótulo de produto biológico. Um ano depois, um grupo de empresas, com sede em Malta, foi acusada de importar cereais produzidos em modo convencional na Ucrânia, Moldávia e Cazaquistão e vendê-los para Itália como se fossem biológicos. Entre 2007 e 2013, foram vendidas 350.000 toneladas de milho, trigo, soja, entre outros produtos, num valor de 126 milhões de euros. Os cereais eram depois utilizados na agro-indústria, na produção de alimentos para consumo humano e animal. Recentemente, a União Europeia adoptou um conjunto de medidas para combater as fraudes alimentares. O novo pacote de regras, que inclui os alimentos biológicos, ainda não é conhecido mas a Comissão declara que pretende «devolver credibilidade à cadeia de abastecimento».
34.a OVIBEJA “TODO O ALENTEJO DESTE MUNDO” COM “TODO O MUNDO NO ALENTEJO” Promover a excelência como passaporte para a internacionalização
A 34.ª Ovibeja, que se realiza de 27 de
Abril a 1 de Maio, aposta na internacionalização através do Projecto AgroAlentejoExport. Com grande incidência na produção animal, no potencial das raças autóctones e no ecossistema do Alentejo como garante de qualidade dos produtos de origem animal. Este espaço inclui também uma programação de conferências, com a participação de peritos nacionais e internacionais e projecta-se em vários espaços da feira. Promover e facilitar contactos e partilhar estratégias, esclarecer os produtores e empresários agrícolas, são alguns dos propósitos da organização da feira. De acordo com a Comissão Organizadora da Ovibeja, «a promoção dos produtos agro-alimentares da região do Alentejo é uma temática incontornável numa altura em que os produtos da terra se têm revelado de grande importância para o País, com contributos significativos para a exportação e para o equilíbrio da balança comercial». Além do Espaço AgroAlentejoExport, a temática da internacionalização vai estar patente no Pavilhão da Pecuária e no Pavilhão Terra Fértil – Mostra de Inovação Agrícola e Agribusiness. Já com provas dadas – classificado como o melhor do mundo – o Concurso
Internacional de A zeites Virgem Extra – Prémio CA Ovibeja, já na 7.ª edição, tem como propósito estimular a cultura de excelência dos azeites nacionais como passaporte para a internacionalização. Este ano recebeu 150 amostras de azeites de 11 países, sendo que os azeites nacionais alcançaram cinco prémios, e outros tantos receberam menções honrosas. A entrega dos prémios aos vencedores do concurso vai ser feita no dia 29 de Abril na Arena do Azeite que vai ainda ser palco do II Simpósio Internacional Azeites do Sul. A decorrer durante todo o dia no Salão Internacional Alentejo Export – Arena do Azeite, o Simpósio conta com a presença de membros do Júri do Concurso de 12 nacionalidades, e ainda membros do Governo e de entidades públicas, produtores e cooperativas de produção e comercialização e jornalistas. Os temas que vão ser colocados em discussão, em formato de mesa-redonda, são: “Produção e transformação de azeitona”; “A
promoção do azeite e oportunidades nos mercados internacionais” e ainda “Comercialização e exportação de azeite”. «Aumentar o conhecimento e a notoriedade dos nossos produtos de origem alentejana, contribuir com informação e ferramentas que permitam uma maior proximidade e acesso das empresas a mercados-alvo internacionais, dar a conhecer mecanismos inovadores de prospecção» são algumas das metas propostas. Ao reunir o melhor de “todo o Alentejo deste mundo”, a 34.ª edição da Ovibeja reúne este ano “Todo o mundo no Alentejo”, com a presença de comitivas políticas, delegações empresariais de vários países e representações diplomáticas internacionais. A organização é da ACOS – Associação de Agricultores do Sul. frutas, legumes e flores | Abril 2017
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ENTRE CASTANHAS E GELADOS, VENDE-SE FRUTA Na Primavera, os vendedores ambulantes trocam as castanhas assadas do Outono/Inverno e os gelados do Verão pela fruta fresca. Os turistas são os principais clientes, porque «acham piada» ao conceito. Rita Marques Costa
Em Lisboa, quando acaba o Inverno e começa a Primavera, o
cheiro a castanhas assadas deixa de se sentir nas ruas. Os dias mais soalheiros e luminosos já não combinam com os frutos cozinhados em grandes assadores fumegantes, mas antes com fruta fresca. Os vendedores ambulantes, habituados a adequar a sua oferta à mudança da estação, dão aos clientes aquilo que eles querem. A fruta apresenta diversos formatos. Os morangos são o fruto mais predominante e podem ser vendidos em pequenas embalagens de 100 gramas (1,20 euros) ou em caixas de um quilograma (2,80 euros). Depois, vendem-se copos de salada de fruta, com uvas, morangos, kiwis, entre outros, que descansam numa cama de cubos de gelo para se manterem frescos até que alguém os compre.
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Numa dessas bancas ambulantes, em plena Baixa de Lisboa, encontramos Sofia Alves, que nos conta, entre clientes, que a venda de fruta se iniciou a meio de Março. Não é a gerente do posto de venda, mas sabe que o comércio destes produtos é o que se sucede à venda de castanhas assadas e o que precede a comercialização de gelados, pelo que se deve manter até ao início do Verão. Por dia, Sofia diz que vende entre 100 e 150 quilogramas de fruta. Os morangos frescos são comprados diariamente no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa a um produtor de Almeirim. Os principais clientes são os turistas porque «acham piada» ao conceito. Os locais também compram, «mas menos». A alguns metros desta banca, é frequente verem-se os pequenos copos de fruta, já vazios, na mão de turistas. Além do ponto de venda onde encontrámos Sofia, os seus patrões têm outro, a poucas ruas de distância, às portas da Praça D. Pedro IV, ou como é mais conhecida: Rossio. Os locais de venda vão mudando porque há rotatividade, visto que «se vende melhor nuns sítios do que noutros», portanto é provável que não voltemos a encontrar Sofia no mesmo local. Mas não será preciso procurar muito para nos cruzarmos com um destes vendedores.
O MERCADO PERDE DINAMISMO E INOVAÇÃO É A PALAVRA DE ORDEM
Segundo o mais recente estudo Mar-
cas+Consumidores, realizado pela Centromarca, o universo de produtos FMCG (Fast Moving Consumer Goods), no último trimestre de 2016, continuava positivo, mas menos dinâmico do que há um ano. Isto deve-se, em parte, à menor quantidade de produtos comprados a cada ida ao hipermercado e que tem impedido o crescimento do sector. Este foi essencialmente penalizado em volume pelas categorias “alimentação” (-1,4%), “higiene pessoal e beleza” (-0,6%) e “bebidas” (-0,1%), face ao mesmo período do ano anterior. Já a categoria “limpeza do lar” apresenta-se em contra ciclo (+1,2%) com a tendência geral e é a grande impulsionadora do aumento do volume da cesta. Dentro da categoria, os detergentes para a roupa mantêm-se como o maior investimento dos lares dos portugueses, ainda que os produtos para a loiça tenham vindo a perder importância no universo da limpeza da casa. Os dados agora divulgados revelam também que os consumidores, principalmente os da faixa etária até aos 34 anos, estão mais atentos à inovação e querem mais conveniência quando se deslocam aos hipermercados. Estes compram e experimentam, cada vez mais, novos produtos, facto que pode ser explicado pelo crescimento promocional, que tem levado à experimentação de novas marcas e ao aumento das compras exclusivas em promoção. De facto, os novos produtos já representam, em Portugal, 14% do sortido, um valor acima da média europeia (10%). Este estudo demonstrou ainda que a inovação introduzida no mercado é fundamental. No caso concreto português, os novos produtos são mais renovação (novo sabor, tamanho ou variante) do que inovação (nova marca ou submarca). 70
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Portugal está acima da média europeia no que diz respeito ao total das vendas de novos produtos (13,5% versus 16%), o que o posiciona como um dos países mais inovadores quando comparado, por exemplo, com Espanha, Polónia, Alemanha e Bélgica. A tendência é, no entanto, negativa, observando-se um decréscimo de três pontos percentuais desde 2012. Um dos motivos para explicar o fenómeno prende-se com o facto dos preços dos novos produtos, na generalidade dos países europeus, incluindo Portugal, ser 34% superior à média de valores praticados o que, conjugado com as dificuldades económicas e a compressão do orçamento disponível das famílias neste período, tornou marcas e retalhistas menos ambiciosos no que refere ao lançamento de produtos inovadores. Os shoppers revelam também uma tendência crescente por produtos mais saudáveis, independentemente do preço. Estes não se importam de pagar mais por alimentos sem aditivos e sem conservantes, mas também com menor teor de sal e menos gorduras. Esta aposta por um estilo de vida mais saudável é transversal entre populações e extensível à categoria das “bebidas”, o que revela que os esforços da distribuição moderna na adaptação a este tipo de consumidores tem sido recompensada. Os produtos saudáveis sofreram um aumento de 2,4% em volume face ao período homólogo de 2015. Por outro lado, o valor “saúde” está cada vez mais presente nas opções de compra dos portugueses. Isto reflecte-se, por exemplo, na retoma de produtos frescos, bem como nas características e posicionamento de muitos produtos inovadores lançados em Portugal e nos restantes mercados europeus. Também do lado dos
retalhistas, esta preocupação parece ser clara quer na renovação do layout das suas lojas, quer noutros investimentos que têm realizado. Marcas de distribuição representam apenas um terço do valor do FMCG. Utilizando os dados de um estudo comparativo da realidade de diferentes mercados, entre 2012 e 2015, na Europa, e ao contrário do que ocorre em Portugal, verifica-se uma tendência de crescimento da marca de distribuição (MDD). Desde 2012, Portugal tem vindo a apresentar uma tendência negativa ao assinalar um decréscimo regular na quota de mercado das MDD na ordem dos 12%. Ao contrário, por exemplo, estão os mercados alemão (+9%) e espanhol (+2%), que representam um maior peso do sortido das MDD. No mercado nacional, as marcas de distribuição representam mais de 50% do sortido, mas valem apenas um terço do valor do FMCG. Apesar disso, os dados revelam que Portugal oferece a MDD mais atractiva da Europa, apresentando o melhor índice de preço face à marca de fabricante, ultrapassando países como França e Espanha. Blandine Meyer, da Kantar Worldpanel, empresa responsável pela elaboração do Marcas+Consumidores, fez ainda questão de salientar que «num estudo comparativo, englobando 11 dos mais relevantes mercados europeus, Portugal apresenta o mais elevado percentual de sortido de marcas do distribuidor nos lineares (mais de 50%) e, de longe, o maior diferencial de preços face às marcas de fabricante. Apesar disso, a parcela das vendas em valor das marcas dos retalhistas vem diminuindo e representa actualmente cerca de um terço do total do mercado».
Syngenta apresentou resultados do projecto The Good Growth Plan Desde 2014, a Syngenta instalou mais de 3.700 quintas modelo (23 culturas agrícolas), em 42 países, onde dá apoio aos agricultores e estimula a agricultura de conservação no âmbito do projecto The Good Growth Plan (GPP). O objectivo deste plano é dar respostas aos desafios da sociedade, ou seja, alimentar a população mundial que tende a aumentar, combater a pobreza em zonas rurais, preservar os solos e o meio ambiente. O projecto tem como meta promover a biodiversidade em cincos milhões de hectares. «Trata-se de instalar margens funcionais e corredores ecológicos junto das explorações agrícolas e dos cursos de água, com vista a criar habitats naturais para a fauna e flora locais», lê-se em comunicado de imprensa. A capacitação dos pequenos agricultores, protagonistas da agricultura familiar que produz 80% dos alimentos, está também na mira do GPP. «Em três anos, foram beneficiados 16,6 milhões de pequenos agricultores, o que revela que o compromisso de ajudar 20 milhões de pequenos agricultores a aumentar a produtividade em 50% está no bom caminho.» Toda a informação reunida pela Syngenta nestas quintas modelo é partilhada de forma aberta, através da iniciativa GODAN–Global Open Data for Agriculture and Nutrition, para que outros agricultores possam melhorar o seu desempenho. Os resultados do terceiro ano do GPP foram apresentados em Março, em Bruxelas. O projecto coloca em prática os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela Organização das Nações Unidas até 2030.
Cotesi comemora 50 anos de actividade A Cotesi – Companhia de Têxteis Sintéticos, S.A. celebrou a 13 de Março 50 anos de actividade. A empresa foi fundada em 1967 pelo Comendador Manuel Violas e, actualmente, está integrada no grupo económico nacional Violas SGPS. Em comunicado, a Cotesi refere que foi «pioneira» nas suas áreas de actuação, nomeadamente «na produção de fios, cordas, redes e cabos de matérias-primas sintéticas e naturais». Nos dias de hoje, a empresa «conta com uma forte experiência e tradição no mercado nacional e internacional» e «é o maior produtor mundial de fio agrícola», acrescenta. A Cotesi tem hoje «uma presença global» e conta com mais de 1.000 colaboradores em todo o Mundo. Segundo o comunicado, «é a figura de destaque nos canais de distribuição e abastecimento mundial e está na Europa (Portugal, Reino Unido, Dinamarca, Alemanha, Bélgica e França), na América do Norte (Estados Unidos da América e Canadá) e na América do Sul (Brasil)». A empresa afirma que estes 50 anos foram «uma longa viagem, cheia de esperança, determinação, fé e entusiasmo». Por fim, destaca «a inovação técnica e a modernidade» como suas características e que os seus produtos «são usados em projectos vanguardistas a nível agrícola, naval e náutico».
Sapec Agro promove produtos para a vinha Nos dias 1 e 2 de Março, a Sapec Agro reuniu os técnicos das empresas distribuidoras dos seus produtos e promoveu as novidades na gama vinha. O primeiro encontro, na Casa Ermelinda Freitas, em Palmela, «foi apresentado o conceito “Enhance Technology Process”», fez-se ainda «uma breve abordagem ao mercado português dos produtos fitofarmacêuticos» e foi apresentado o «fungicida Ksar Vitis». Além desta solução, foram dadas a conhecer outras, nomeadamente, Trunfo F, Spyrit M e o Spyrit C, todos para a cultura da vinha. No dia 2 de Março, no Hotel Mercury, em Vila Nova de Gaia, cerca de 50 técnicos do Centro e Norte do País conheceram os mesmo produtos e debateram questões técnicas. 72
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Mac Fruit Attraction também na China O Centro de Exposições e Congressos de Fornecimento Internacional de Xangai, na China, vai acolher, entre 22 e 24 de Novembro, a primeira edição da Mac Fruit Attraction China. Este evento vai decorrer no âmbito da feira Horti China, certame de hortofrutícolas, cuja primeira edição se realiza nos mesmos dias também em Xangai e que terá quatro secções: Horti Seed (dedicada à indústria das sementes), Horti Tech (tecnologia aplicada à produção), IFresh (indústria hortofrutícola chinesa) e Mac Fruit Attraction (feira de expositores internacionais de hortofrutícolas). A Mac Fruit Attraction China foi criada em resultado de uma aliança entre Ifema – promotora da Fruit Attraction, que tem lugar anualmente em Madrid (Espanha) –, Cesena Fiera – responsável pela Macfrut, também anual, e que se realiza em Rimini (Itália) – e VNU Exhibitions Asia – organizadora da Horti China. Há dois anos, Ifema e Cesena Fiera criaram a Mac Fruit Attraction, uma marca conjunta para a realização de certames internacionais de hortofrutícolas, com o objectivo de promover a internacionalização de empresas
do sector hortofrutícola, nomeadamente de Itália e de Espanha. A primeira iniciativa desta marca, a Mac Fruit Attraction Mena (Cairo, Egipto), vai já na segunda edição, que este ano decorre de 22 a 24 de Abril. A organização explica que, devido ao «sucesso» da Mac Fruit Attraction Mena, surge agora este evento na China. A Mac Fruit Attraction China pretende ser um «ponto de encontro entre os operadores da Ásia e o comércio internacional de hortofrutícolas», afirma a organização.
AGRO-NEGÓCIO DIARIAMENTE EM WWW.FLFREVISTA.PT
ABRIL 24 HORAS AGRICULTURA SYNGENTA 1 de Abril Coimbra http://24horasdeagricultura.sfori.com
6.º CONGRESSO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA AGRO-ALIMENTAR 4 de Abril Lisboa www.fipa.pt
MAC FRUIT ATTRACTION CHINA
22 a 24 de Abril Cairo, Egipto www.ifema.es/macfruitattraction_01/index.html
7.º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BRÁSSICAS 22 a 26 de Maio Pontevedra, Espanha http://brassica2017.com/web/
JUNHO 8.º CONGRESSO IBÉRICO DE CIÊNCIAS HORTÍCOLAS
7 a 9 de Junho Coimbra www.aphorticultura.pt/iberico-2017.html
54.ª FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA
MEDFEL
10 a 18 de Junho Santarém www.feiranacionalagricultura.pt
34.ª OVIBEJA
SETEMBRO
25 a 27 de Abril Perpinhão, França www.medfel.com
27 de Abril a 1 de Maio Beja www.ovibeja.pt
MAIO INTERPACK
4 a 7 de Maio Dusseldorf, Alemanha www.interpack.com
9.º CONGRESSO IBÉRICO DE AGROENGENHARIA 4 a 6 de Setembro Bragança http://esa.ipb.pt/agroeng2017/
9.º CONGRESSO INTERNACIONAL DO KIWI 6 a 9 de Setembro Porto www.aphorticultura.pt/ixisk.html
AGRO SHOW
22 a 25 de Setembro Bednary, Polónia www.agroshow.eu
OUTUBRO
FRUIT ATTRACTION
18 a 20 de Outubro Madrid, Espanha www.ifema.es/fruitattraction_01
PMA FRESH SUMMIT
20 e 21 de Outubro Nova Orleães, Estados Unidos da América www.pma.com/events/freshsummit
NOVEMBRO
1.º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HORTICULTURA 1 a 3 de Novembro Lisboa www.clbhort2017.com
FEIRA INTERNACIONAL DE FLORICULTURA E HORTICULTURA
8 a 10 de Novembro Vijfhuizen, Holanda www.hppexhibitions.com/floriculture/2016/holland/
MAC FRUIT ATTRACTION CHINA
22 a 24 de Novembro Shanghai, China
Leia sempre o rótulo da embalagem, siga as instruções de uso e esteja atento às frases e símbolos constantes do mesmo.
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