10 ANOS
de Voluntariado Juvenil e Açþes Transformadoras
Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (Ficha técnica): T822 Tribos nas trilhas da cidadania: 10 anos de voluntariado juvenil e ações transformadoras / coordenação Maria Elena Pereira Johannpeter, Daniela Haetinger – Porto Alegre: Parceiros Voluntários, 2013. 184 p. : il. ; 21 cm. ISBN 1. Trabalho Voluntário. 2. Voluntariado. 3. Cidadania. 4. História I. Johannpeter, Maria Elena Pereira. II. Haetinger, Daniela. CDU 364.4(091) Conceito Original: Maria Elena Pereira Johannpeter Projeto Cultural: Gisele Cristina Longhi Pesquisa: Rede Parceiros Voluntários Capa e Projeto Gráfico: Redesenhar Comunicação e Arte - Adel Fabian (Nirvan) Giacomini Editoração: Cristiano Marques Design Instrucional: Instituto Criar Ltda. - Max Günther Haetinger Revisão: Flávio Cesa Dotti Impressão: Gráfica e Editora Comunicação Impressa Nossa gratidão aos Patrocinadores, Apoiadores, à REDE ONG Parceiros Voluntários e, principalmente, aos milhares de jovens, educadores, pais e escolas que são os protagonistas em suas comunidades. Porto Alegre/RS, Brasil, Julho de 2013. Agradecimento especial às empresas Gerdau S. A. e Alberto Pasqualini-REFAP pelo patrocínio nos 10 anos de atividades da ação Tribos nas Trilhas da Cidadania.
SUMÁRIO PREFÁCIO...................................................................................................................................................................................05 APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................................................07 I. A AÇÃO DOS JOVENS...............................................................................................................................................11 II. Trajetórias das Tribos: histórias de vida, aprendizagens e emoções....................................17 III. COMO TUDO COMEÇOU...................................................................................................................................53 Trilhas da Cidadania....................................................................................................................................................................55 Comunidade tecida a partir do compartilhamento....................................................................................................57 IV. O CAMINHO PERCORRIDO.............................................................................................................................61 Linha do tempo.............................................................................................................................................................................62 Regiões e culturas diferentes, emoções iguais...............................................................................................................73 Região da Serra..............................................................................................................................................................................73 Região das Hortênsias................................................................................................................................................................80 Região Metropolitana e Litoral..............................................................................................................................................83 Região Vale do Sinos..................................................................................................................................................................90 Região Central/Vale do Taquari/Rio Pardo.....................................................................................................................95 Região Sul.........................................................................................................................................................................................98 Região da Fronteira..................................................................................................................................................................100 Região Noroeste/Produção..................................................................................................................................................101
V. SER JOVEM HOJE..................................................................................................... 107 Tempos de incertezas e de religação..............................................................................................................................107 Múltiplas juventudes e territórios socioculturais........................................................................................................110 VI. INDICADORES SOCIAIS NO BRASIL..................................................................................................115 Protagonismo juvenil e empreendedorismo................................................................................................................118 VII. EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI....................................................................................................125 VIII. DIRETRIZES EDUCACIONAIS NO BRASIL................................................................................133 IX. A LDB E A AÇÃO TRIBOS...............................................................................................................................143 X. PROPOSTA EDUCATIVA DE TRIBOS....................................................................................................147 Guia de Ações ...........................................................................................................................................................................151 Impressões dos educadores.................................................................................................................................................154 XI. TRIBOS PASSO A PASSO..................................................................................................................................159 XII. A ERA DOS INDIVÍDUOS.............................................................................................................................165 XIII. SOBRE A ONG PARCEIROS VOLUNTÁRIOS ..........................................................................179
PREFÁCIO A MOBILIZAÇÃO QUE BEM CONTAGIA O conceito de desenvolvimento humano introduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no início da década de 90 refere-se, de modo geral, à ampliação das oportunidades e das escolhas para as pessoas para que elas possam ser e fazer o que desejam no processo de busca por uma vida melhor. Oferecer aos jovens a oportunidade do voluntariado – e das escolhas que esta prática traz consigo – é colocá-los diante de uma ferramenta indispensável para o despertar do senso de engajamento cívico capaz de torná-los verdadeiros protagonistas das mudanças transformadoras em suas comunidades e em suas próprias vidas. Ao comemorar 10 anos do projeto Tribos nas Trilhas da Cidadania, a ONG Parceiros Voluntários celebra uma década de sucesso na promoção não apenas do voluntariado, mas de valores diretamente ligados a este exercício, como a cidadania, a responsabilidade, a solidariedade e o empreendedorismo, entre tantos outros. Por isso, é com grande satisfação que escrevemos sobre este livro comemorativo, que, certamente, servirá de inspiração para muitos jovens e futuros agentes da transformação social para o bem. O voluntariado é amplamente reconhecido pela ONU como um poderoso meio de transformar o ritmo e a natureza do desenvolvimento. Em 2012, o PNUD teve a oportunidade, em parceria com o governo brasileiro e o Programa de Voluntários da ONU (VNU), de capacitar e acompanhar de perto o engajamento e a dedicação de mais de 1.000 jovens voluntários que contribuíram para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Muitos deles estavam em busca de novas experiências, novos aprendizados, outros à procura do contato com diferentes culturas, mas todos movidos por um objetivo comum: a oportunidade de contribuir – dentro de suas capacidades – para a construção de um mundo melhor para a atual e as futuras gerações. No início de 2013, um fundo dedicado ao voluntariado jovem foi criado pela ONU para promover esse tipo de engajamento e aproveitar a energia de jovens de todo o mundo na promoção do progresso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e na construção da agenda pós-2015. O fundo, entre outras coisas, irá fornecer a base, o desenho e a implementação da modalidade, ainda
este ano, de atividades de voluntariado juvenil dentro do Programa VNU. Ele permitirá também o apoio a iniciativas de voluntariado de jovens que melhorem diretamente o engajamento deles em atividades importantes para suas comunidades, fortalecendo igualmente a capacidade dos governos para desenvolver seus próprios sistemas nacionais e regionais de jovens voluntários. O voluntariado contribui diretamente para o despertar do senso de autonomia e de liderança nos jovens. Neste ano, o grupo de Governança Democrática do PNUD, em parceria com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (Aecid), lançou uma plataforma online para participação e promoção de jovens líderes da América Latina. O portal Juventude com Voz* é um espaço de encontro internacional e de debate com o objetivo de promover a participação dos jovens, trazendo à luz suas propostas e, especialmente, as vozes que ainda não são plenamente ouvidas. O objetivo é oferecer a eles a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento humano e o fortalecimento da liderança política jovem na região, para que, individual e coletivamente, eles possam pensar, informar e debater sobre a participação, a democracia, a cidadania e a agenda pós-2015. Por meio de ferramentas digitais, os jovens são autores e protagonistas da informação compartilhada. O projeto Tribos consolida todos esses princípios e inciativas e vai além: envolve não apenas os jovens, mas o comprometimento e a conscientização de pais, escolas, empresas, comunidades e governos sobre a importância dessa construção conjunta da cidadania. Estimular o engajamento social e a participação na vida da comunidade, fortalecendo nos jovens a autoestima, a autoconfiança, autorrealização e o sentimento da importante contribuição social que cada um pode oferecer, elemento essencial nesse processo, além de ser uma estratégia de participação cidadã das sociedades modernas. Parabéns à ONG Parceiros Voluntários por nos trazer um livro assim e por promover condições reais de empoderamento e protagonismo aos jovens, fornecendo as ferramentas necessárias à conquista da autonomia e do reconhecimento de sua condição de cidadãos dentro da sociedade, situando-os no tempo do aqui e agora, não apenas tendo os jovens como futuro. Jorge Chediek Coordenador Residente do Sistema ONU no Brasil Representante Residente do PNUD no Brasil
APRESENTAÇÃO COMPROMISSO HUMANO Compartilhar é uma atitude própria do Ser Humano. E quando se tem a felicidade de poder compartilhar o sentimento de alegria com um incontável número de pessoas é o máximo! Esta oportunidade me está sendo dada por intermédio desta obra, que conta um pouco da história dos 10 anos da ação Tribos nas Trilhas da Cidadania. Vou fazer a roda do tempo girar para trás, para me conectar com a imagem que ainda está muito viva em minha memória. Foi em 2004, quando, tímidos, lançamos o primeiro livro “TRIBOS NAS TRILHAS DA CIDADANIA – Histórias e Guias para o Voluntariado Juvenil”, distribuído para as escolas de vários estados. E, emocionada, descrevia sobre o Encontro Estadual realizado em Porto Alegre, que era o momento de celebração das ações realizadas durante o ano, no qual reunimos cerca de 800 jovens de várias cidades gaúchas, todos vestindo suas camisetas pretas, transformadas em modelitos próprios que cada um se encarregava de cortar, encurtar, amarrar, pintar, bordar, tudo o que a imaginação fértil de adolescentes pode criar. Porém, não poderíamos imaginar que apenas três anos depois teríamos que alterar essa nossa estratégia, quando chegamos perto de 5 mil jovens. Foi com pesar, mas por segurança aos jovens, que tivemos de descentralizar e passar a realizar Encontros Regionais. Na Abertura daquele livro – o primeiro –, escrevi sobre o Compromisso Humano e RSI – Responsabilidade Social Individual. No livro atual, 10 anos após, estamos falando e demonstrando a mesma coisa. Estamos registrando a evolução da cultura participativa dos jovens em suas comunidades, apoiados principalmente por suas Escolas, Educadores, Pais e Familiares. Essa obra é a nossa singela homenagem aos que fizeram e fazem a Ação Tribos acontecer e aos quais continuamos, carinhosamente, chamando de TRIBEIROS. A campanha institucional criada um pouco antes dessa época, cujo slogan era “Dá para mudar. É só começar”, mostrou-se acertada. Convidamos o querido leitor a nos acompanhar nesta narrativa, que está metaforicamente associada a um mapa, com TRILHAS, percursos geográficos e destinos traçados, permitindo, assim, melhor compreensão da metodologia educativa dessa Ação. Começaremos a leitura pelo depoimento dos jovens que nos contam o quanto o seu envolvimento nas causas sociais, além de lhes trazer
felicidade e aprendizado, também foi decisivo para a escolha de sua futura profissão, ou o quanto foi e é norteador para a formação de uma atitude crítica aos cenários da atualidade. Seguiremos por uma Linha do Tempo, passando pelas oito Regiões de culturas diferentes, porém jovens com emoções iguais. Também veremos como é ser jovem nos dias de hoje, os Indicadores Sociais no Brasil, a convergência entre a LDB, a Ação Tribos e sua Proposta Educativa. O livro é muito mais: traduz a missão que chama todos nós – família, escola, comunidade, governantes – para a formação de crianças e jovens que possam interagir na realidade de forma responsável, com vistas a sua transformação, a de todos e de tudo ao seu redor. Dentre milhares de ações desenvolvidas pelos TRIBEIROS, há as que foram dedicadas às coisas simples do dia a dia, porém de um significado muito grande, como, por exemplo, grupos que escolheram a Trilha Educação para a Paz e tiveram a oportunidade de discutir e pensar alternativas para a violência em suas múltiplas formas: no trânsito, nas relações sociais dentro e fora da escola, no bullying, nas questões de gênero, etc. Definitivamente, a educação para a paz ocupa um lugar fundamental na formação dos cidadãos de uma comunidade democrática e que quer fortalecer o seu Capital Social. A Educação para a Paz não é uma educação sobre a paz, mas sim pela e para a paz! Humberto Maturana, um dos grandes pensadores da educação e que ilumina os caminhos metodológicos pelos quais a ONG Parceiros Voluntários trilha, diz que a grande missão da educação é “formar seres humanos para o presente, para qualquer presente, seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar, seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que é preciso como um ato responsável a partir de sua consciência social”. Continuando a nossa leitura, a nossa caminhada pelas trilhas do mapa, encontraremos um mundo, um tempo e uma era que devem ser entendidos como contexto histórico no qual acontece, hoje, esse protagonismo juvenil de voluntariado, solidariedade, cidadania e empreendedorismo. O filósofo Fernando Luís Schüller denomina esse tempo como a “A era de indivíduos”. Se perguntarmos a um jovem como ele se imagina 20 ou 30 anos à frente ou que rumo quer dar à sua vida, talvez a resposta que receberemos seja mais de sonho do que realidade. Todavia, se a pergunta for: você quer colocar mais vida em seus anos ou mais anos em sua vida, com certeza a resposta estará em cima da primeira parte da pergunta. A ação Tribos nas Trilhas da Cidadania coloca mais vida nos anos dessa juventude!
Como se pode demonstrar o sentimento de gratidão? Eu gostaria, sinceramente, de saber, pois assim poderia demonstrar a minha gratidão às crianças, aos jovens, educadores, pais, comunidade em geral, empresários, pessoas em cargos públicos, todos que, de alguma maneira, apoiam os TRIBEIROS durante o ano em suas ações e em suas cidades. Encerrando, queria relembrar o nosso querido Pe. Marcelo Rezende Guimarães (Dom Irineu Guimarães/França), quando escreveu no primeiro livro, em 2003: “(...) estou convicto de que há algo profundo como a solidariedade e o espírito comunitário que motiva você a mergulhar na leitura deste pequeno texto. Lá no fundo, de você e de cada um de nós, há um vazio que só se plenifica quando nos disponibilizamos a outros, quando abraçamos a aventura da solidariedade, enfim, quando incluímos em nosso projeto de vida o projeto de vida do outro. Somos todos parceiros voluntários desejosos de qualificar melhor nossa ação”. Desejamos que este livro contribua para, como diz Fernando Schüller, fazer a vida valer cada vez mais a pena. Toda minha gratidão. Maria Elena Pereira Johannpeter Presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários
I. A AÇÃO DOS JOVENS
T
ribos nas Trilhas da Cidadania é uma ação de mobilização social protagonizada
por jovens voluntários das escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul, empenhados em vivenciar e protagonizar atividades que, além de transformar positivamente o seu entorno e de contribuir com a qualidade de vida de suas comunidades, ainda lhes proporciona aprendizagens que dificilmente encontrariam em outro contexto. Eles organizam-se em “Tribos”, que são grupos de alunos, planejam e empreendem práticas sociais, percorrendo as “Trilhas” em três eixos temáticos, exercendo, assim, a sua “Cidadania”:
Os TRIBEIROS identificam demandas em suas comunidades, elegem, planejam e desbravam os caminhos a trilhar. Aprendem a construir um projeto social na prática, com o apoio de
•
Educação para a Paz;
suas escolas, seus educadores e pais. Também
•
Meio Ambiente;
mobilizam outros estudantes e estabelecem
•
Cultura.
alianças cooperativas com agentes e organi-
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zações da sociedade civil, como moradores e lideranças do bairro, representantes dos po-
“Quando eu vi que isso era um aprendizado, eu adorei, e vi que os jovens de
deres públicos, entidades sociais, empresas lo-
hoje são os adultos de amanhã, e tudo o
cais, veículos de comunicação, etc. E assim se
que fizermos vai ser o resultado que vai
1
concretizam parcerias do tipo ganha-ganha, ou seja, todos ganham com o trabalho voluntário: a comunidade, pelos benefícios das ações de mobilização; os jovens, pelas oportunidades de
dar nas crianças. Eu aprendi a ter responsabilidades e eu quero ser uma liderança em alguma coisa.” ALESSANDRO DOS REIS BARCELOS, jovem Tribeiro.
inserção2 e de aprendizagem – aprender a cuidar do outro e do ambiente, a se sentir útil e responsável pelos demais, a ser autônomo, a ter um espírito empreendedor, a ser cidadão; e as empresas, porque têm a sua marca associada a uma causa genuína, oriunda da sua comunidade. 1 Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano, destaca as
experiências das Tribos nos
indicam que o jovem continua sendo um idealista que quer mudar o mundo. Ele quer agir, quer participar. Se lhe damos responsabilidades, ele responde.
transações do tipo “ganhar-ganhar” como as que promovem o
Temos visto filhos que conduzem os
crescimento e a igualdade social, em contrapartida com a ótica
pais ao voluntariado. Temos ouvido com
dos sistemas de competição e de exclusão presentes em nossa
frequência pais manifestando mudanças
sociedade, nos quais predominam relações “ganhar-perder” – para
positivas que a ação voluntária produz
que uns ganhem ou se destaquem socialmente, outros perdem e são subestimados. O pensador propõe a inversão desse paradigma
nas atitudes dos filhos, pela maneira
vigente do êxito para o paradigma do cuidado, pois este último
corajosa como enfrentam os problemas
possibilita a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
sociais, Alguns chegam a dizer: acho
2 Inserção como inclusão social e como sentimento de
que meu filho está se tornando um ser
pertencimento. Ser pertencente significa ser aceito e reconhecido
humano melhor do que eu.”
pelos demais membros do grupo, sentir-se pertencente a uma comunidade/lugar/contexto, e sentir que essa comunidade/ lugar/contexto também lhe pertence, num elo de união e interdependência social.
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“As
GRAZIELA LOUREIRO DOS SANTOS, Diretora de Ensino do Colégio São Judas Tadeu.
Além de toda capacidade e garra dos jovens, Tribos fundamenta-se em um método educativo, que abrange uma capacitação para lideranças juvenis e cursos para educadores. A Ação e a metodologia Qualificação para Educadores em Participação Social e Mobilização Juvenil são certificadas como Tecnologias Sociais pela Fundação Banco do Brasil3, ou seja, são metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social. Os números a seguir ilustram a dimensão dos resultados e do número de escolas que oportunizaram aos seus jovens participar das Tribos.
3 Saiba
mais em www.fundacaobancodobrasil.org.br. 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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II. TRAJETÓRIAS DAS TRIBOS: HISTÓRIAS DE VIDA, APRENDIZAGENS E EMOÇÕES
N
este capítulo conheceremos histórias de
Com o objetivo de ilustrar o sentimento de
vida, de aprendizagens, de solidariedade
grande número dos envolvidos com as práticas
e uma amostra que representa o universo de
voluntárias, colhemos depoimentos de jovens
jovens TRIBEIROS nas mais diversas regiões do
que dão o seu testemunho de quanto mergu-
Rio Grande do Sul, ao longo desses 10 anos de
lharam e vivenciaram o voluntariado jovem e o
Tribos nas Trilhas da Cidadania. Histórias
quanto foram orientados, pela sua prática como
que testemunham a transformação de cada pes-
TRIBEIROS, para a escolha de suas profissões.
soa, pois “quando você abraça uma causa, toda
Isto mais uma vez comprova que o transforma-
a causa abraça você”. Os exemplos servem tam-
dor também é transformado.
bém como ideias e sugestões para novos TRIBEIROS, pois como diz Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano:
“Toda ordem social é criada por nós. O agir ou não agir de cada um contribui
Ou podemos afirmar que para toda ação há uma reação!
para a formação da consolidação da ordem em que vivemos”. José Bernardo Toro, sociólogo colombiano.
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a época eu tinha 16 anos. Acredito que foi em 1999, quando eu e mais alguns colegas (Lauren
Salatino, Marcela Vargas, Miguel Carvalho e Caroline Lengler), do Colégio Farroupilha, em Porto Alegre/ RS, procuramos o professor Carlos, porque queríamos fazer algum tipo de trabalho voluntário e que fosse vinculado com o Colégio, para que os pais não se preocupassem e para que fosse organizado... Assim o Carlos nos apresentou a Parceiros Voluntários. Recordo-me que tínhamos, em alguns dias da semana, que cumprir uma agenda, como ir ao Hospital de Clínicas na área infantil Oncológica e interagir com as crianças. Além disso, eles nos recomendavam algumas instituições para irmos brincar com as crianças e também fazer doações. Organizamos campanhas de Páscoa, de Natal...
Acredito que essa participação aumenta não só a nossa visão de cidadania como também de responsabilidade de uma maneira geral. Ao se comprometer com algo é impossível não se doar, e isso fica evidente ao longo da vida pessoal e profissional.
Laura Blancher,
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30 anos, arquiteta
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a verdade fomos eu e mais duas amigas falar com o professor Carlos, isso em 1999, no Colégio
Farroupilha. Falamos que queríamos fazer trabalho voluntário. O Carlos levou a Parceiros até o nosso Colégio. No início fizemos uma peça teatral, O Mágico de Oz, apresentada em várias comunidades, em creches e escolas públicas. Depois que terminei o Colégio segui sendo voluntário.
Acho que ajudar o próximo é tão gratificante, se cada um fizesse um pouco o mundo estaria muito menos desigual. Admiro muito quem desenvolve esta virtude. Para a minha formação foi muito importante e também muito gratificante fazer pessoas felizes.
Miguel Carvalho,
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29 anos, designer
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u participei em 2000, 2001 e 2002, era aluno do Colégio São Judas Tadeu, em Porto Alegre, e fui
do primeiro grupo de voluntários da escola.
A experiência mais marcante foi quando voluntariei em uma creche, me lembro de ter a sensação de realmente estar influenciando no futuro daquelas crianças. Além disso, os encontros com outros voluntários me fizeram enxergar que muitas pessoas estavam, assim como eu, dispostas a fazer deste mundo um lugar melhor. Eu não estava sozinho! A participação fez com que eu pudesse escolher minha profissão. A partir da minha experiência como voluntário comecei a pensar que o esporte poderia mudar a vida das pessoas e decidi que queria isso para minha vida. Hoje trabalho como professor no SESI/RS com o Programa Atleta de Futuro. É um programa gratuito para crianças e adolescentes, inserindo-os no esporte. Atendemos crianças vindas de abrigos e aldeias (onde várias crianças moram com uma mãe “adotiva”). Tudo isso foi o voluntariado que despertou em mim: tentar transformar um pouco, para o bem, a sociedade!
João Cunha,
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28 anos, professor de Educação Física
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u participei de 2000 a 2002, no total foram três anos. Eu tive diversas experiências marcantes,
meu crescimento como indivíduo foi enorme, pois consegui aliar meu conhecimento intelectual dentro da escola e meu crescimento como pessoa. Eu fui monitora de uma creche extremamente carente de Porto Alegre, e meus “alunos” se obrigavam a me levar até o ponto do ônibus devido ao alto grau de violência naquela região. Eu era uma adolescente normal de classe média, e aquele foi meu primeiro contato com uma realidade totalmente diferente daquela que eu vivia diariamente.
Eu acredito sinceramente que essa vivência me fez uma pessoa muito mais consciente dos problemas sociais que envolvem nosso país, assim como me plantou uma semente de buscar pela justiça e pela igualdade social, por me sentir tocada com a pobreza e vida totalmente diferente da minha que aquelas crianças levavam. Hoje tenho 27 anos, sou casada, advogada, tenho meu escritório, e como disse anteriormente, eu devo muito do que sou hoje à Parceiros Voluntários, pois a semente da justiça e a busca pelo equilíbrio social foram plantadas desde os primeiros anos do meu Ensino Médio, no Colégio São Judas Tadeu.
Thiana Paludo,
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27 anos, advogada
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u participei das Tribos desde o ano de 2003, no Colégio São Judas Tadeu, Porto Alegre. Realizamos
ações que mexeram com a minha consciência de cidadã.
Pude entender o quão importante são as pequenas ações diárias que podem mudar uma realidade. Fazer a diferença, sabe?! Lembro que o objetivo era atingir desde o micro até o macroambiente. Então, nossa primeira ação foi conscientizar nossos colegas com a limpeza da escola, não jogar lixo no chão, economizar água de bebedouros e banheiros, separar o lixo do lanche, etc. Depois de terminado o Ensino Médio, consegui meu primeiro emprego, aos 17 anos, devido às experiências ambientais que realizei como TRIBEIRA. Trabalhei durante dois anos e meio como educadora social de meio ambiente no Projeto Saci Colorado. O Projeto tinha como objetivo tratar de temas como meio ambiente, dança, música, educação sexual, artesanato e tradições gaúchas em escolas estaduais de bairros carentes de Porto Alegre. Pude replicar meu conhecimento para 4.500 crianças e adolescentes de 4 a 18 anos. O espírito de coletividade e a educação ambiental aprendidos na época em que eu era Parceira Voluntária e TRIBEIRA já fazem parte da minha personalidade. Sinto-me orgulhosa de fazer parte desses 10 anos de Tribos, de fazer parte de um grupo de pessoas que fazem a diferença.
Fernanda Costa, 25 anos,
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graduada em Comércio Exterior
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articipei mais ativamente entre os anos de 2005 a 2008, quando cursava o Ensino Médio, na Esco-
la Rainha do Brasil, em Porto Alegre. Fazíamos um trabalho muito legal. Agora, sou professor de inglês.
Fez muita diferença, pois aprendemos a enxergar o outro, e não somente nosso próprio umbigo. O mundo é incrivelmente melhor quando as pessoas se unem por causas nobres. Aplico com meus alunos, hoje, conceitos aprendidos na Ação Tribos.
Adriano Follmann,
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22 anos, professor de Inglês
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u comecei nas Tribos em 2005, no Colégio São Judas Tadeu, e até hoje quando posso tento ir nas
ações. Acho que a minha primeira ação foi a mais marcante.
Iniciei por pura curiosidade, não sabia direito o que era, e quando nós chegamos em um asilo e eu comecei a interagir e ouvir as histórias que eles tinham pra nos contar, todo o carinho que tinham pra nos passar, eu senti uma emoção muito grande, e até hoje, apesar de já terem se passado tantos anos, eu lembro com detalhes da minha primeira ação... Foi ali que eu decidi que era aquilo que eu queria fazer. Ser uma TRIBEIRA fez toda a diferença na minha vida. Eu era uma guria extremamente tímida, com 14 anos, e conforme fui participando das ações eu fui aprendendo a lidar com a minha timidez, e hoje esse é um fator essencial pra minha profissão, já que pretendo advogar. Além disso, como comecei muito cedo a participar de Tribos, então fez parte de todo meu crescimento, que junto com a criação dos meus pais foi agregando meus princípios e valores.
Carolinne Severo,
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21 anos, estudante de Direito
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omecei a fazer voluntariado nas Tribos, em 2007, no Colégio São Judas Tadeu, e faço até hoje. Não pretendo parar nunca. O voluntariado de início pra mim não era nada de mais, eu era muito nova quando comecei, tinha 12 anos, e não tinha ideia do tamanho do sentimento e do que as nossas ações e palavras provocavam nas pessoas que visitávamos e ajudávamos. Com o tempo fui assimilando tudo isso e descobrindo o quanto eu levava pra casa em mim, e que era muito mais do que aquilo que eu doava, tanto material quando sentimental. Acredito que foi em 2009, não lembro muito bem, foi quando visitamos um colégio para assistir a palestras e confraternizar com várias escolas, e dentre todos havia um grupo de deficientes auditivos que me chamou muita atenção.
Quem ministrava as palestras acabou nos ensinando como “bater palmas” em LIBRAS e eu achei incrível. Foi disso que nasceu minha vontade de entender a linguagem de sinais, que foi um ponto importante na hora de escolher o que eu faria na faculdade. No momento curso Pedagogia na UFRGS, estou no primeiro semestre, mas já tendo a certeza de que é nisso que quero trabalhar. Gosto tanto de aprender que decidi aprender a ensinar. Uma das minhas vontades é dar aula de LIBRAS ou braille, ou ser professora de deficientes auditivos e visuais. Assim como trabalhar com inclusão. E Tribos tem sua grande fatia nessa minha vontade. Talvez sem Tribos eu não tivesse descoberto o caminho que eu queria seguir, ou talvez demorasse mais tempo pra eu perceber.
Gabriela M. Iablonovski,
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17 anos, cursa Pedagogia
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omecei nas ações de voluntariado ainda bem jovem, com 13 anos, no Colégio São Judas Tadeu, e nes-
se primeiro ano tive uma experiência bastante esclarecedora. Numa dessas visitas, encontrei um paciente de 12 anos, apenas um ano mais jovem do que eu, e julgando que seria esquisito ler para ele, entreguei-lhe um livro para que, sozinho, ele pudesse se entreter. No entanto, o garoto não sabia ler e acabei o ajudando.
O absurdo da cena, eu tendo que auxiliar alguém tão próximo de mim, um garoto que poderia ser o meu colega na escola, na realização de uma tarefa tão básica e essencial, me fez perceber: era impossível negar que havia alguma coisa errada ali, e se eu ou qualquer outra pessoa tivesse condições de ajudar, talvez as coisas pudessem tomar uma forma menos assombrosa. Sou grato por ter tido a oportunidade de cruzar as barreiras da minha realidade, conhecendo melhor a matéria-prima do meu trabalho, a mesma sobre a qual posso interferir com ele... Aprendi que todas as crianças são iguais, independentemente da classe social, claro que o ambiente em que elas crescem interfere, e muito, no comportamento delas, mas a essência é a mesma.
Gabriel Pessoto, 19 anos,
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cursa Produção Audiovisual e Artes
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articipei das ações de Tribos de 2008 a 2010, no Colégio São Judas Tadeu. Nos anos anteriores,
participei apenas ajudando na arrecadação das doações. Todas as experiências são marcantes, mas ainda me lembro de quando visitei pela primeira vez a Spaan (Sociedade Porto-Alegrense de Auxílio aos Necessitados).
Chegando à ala dos homens, avistei um senhor sentado, sozinho, bem quieto, parecia pensativo. Ver aquilo me cortou o coração, mas me deu alegria em saber que eu estava ali de certa forma fazendo algo por aqueles idosos. Participar de Tribos me fez crescer como ser humano. Fazer parte de ações voluntárias te agrega valores que serão levados para o resto da vida, como respeito, saber valorizar o que se tem e agradecer pela vida que levamos. O que se vive nas ações voluntárias de Tribos se leva para a vida inteira.
Bianca Vecchio, 19 anos, cursa Relações
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Públicas, assistente de Marketing
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omecei a participar de Tribos quando estava na oitava série do Colégio São Judas Tadeu, no ano
de 2007. No mesmo ano era voluntária assídua, comparecendo a todas as ações. As experiências vividas durante esse tempo de trabalho voluntário são inenarráveis. A alegria no olhar era visível toda a vez em que adentrávamos o lugar escolhido para realizarmos nossos trabalhos. A melhor parte de tudo era quando tu chegavas em algum desses locais e as crianças te chamavam pelo nome. Aquilo era tão especial, me trazia um sentimento bom, difícil de explicar somente com palavras.
Uma lição que tirei para toda minha vida participando de Tribos foi a de que doação não é somente feita por meio de bens materiais, vai muito além disso. As pessoas se sentem muitas vezes melhores com um simples abraço ou até mesmo um sorriso. Antes de sermos bons profissionais precisamos ser pessoas melhores, e é isso que o Tribos nos ensina. Aprendi muitas coisas neste projeto que me fizeram enxergar tudo de uma maneira mais simples, e isso vai estar pra sempre comigo.
Bruna Mezzomo Ranzan,
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19 anos, cursa Jornalismo
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articipei no ano de 2005, na Escola Rainha do Brasil, exatamente no ano em que me formei. Uma
das coisas mais marcantes durante minha participação foi a Corrida contra o Diabetes. Como tenho casos na minha família, foi importante participar de uma causa tão nobre.
Acredito que participar de uma atividade voluntária, seja ela qual for, é de extrema importância para a formação de um cidadão crítico, que não se conforma com a realidade e a desigualdade e, por consequência, faz tudo que está a seu alcance para tornar o mundo um lugar melhor. Esse sentimento teve início nas Tribos e, hoje, sou muito grato pela experiência vivida.
Maykon Müller, 24 anos,
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doutorando em Ensino de Física
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u comecei no projeto quando estava na 5ª série do Colégio São Judas Tadeu. O grupo era muito
menor do que é hoje, e como era muito nova ainda não podia participar/ajudar em muita coisa fora da Escola. A partir da 7ª comecei a me envolver mais. Parei no 1º ano do Ensino Médio para trabalhar, mas no 2º já voltei (louca de saudades).
Hoje sei que sou uma pessoa muito melhor, muito mais solidária e compreensiva por ter participado de Tribos. Passei a dar valor a tudo que tenho e deixei de reclamar pelas coisas que AINDA não conquistei. Tenho certeza de que tudo que eu vivi e aprendi se refletirá na profissional que serei. No projeto, coloquei em prática valores que aprendi em casa e adquiri alguns novos também.
Louise Zilz,
42
19 anos, cursa Administração
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
43
E
u participei de Tribos desde a minha 5ª série do Ensino Fundamental (2006) ao 3º ano do Ensino
Médio (2012) da Escola Rainha do Brasil.
São experiências incríveis, pois de certa maneira nós nos colocamos no lugar de diversas pessoas e realidades e experiências de vida, o que nos afeta emocionalmente e mexe com nossa racionalidade, e coloca em xeque o “eu sou humano”. Participando conheci pessoas, realidades e lugares, que passaram diversas mensagens e histórias que acabam por nos afetar, e com isso ganhamos filosofia de vida e, claro, experiências que levamos para toda a vida.
Guilherme Danne,
44
18 anos, cursa Engenharia Mecânica
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
45
R
esolvi participar de Tribos na minha escola, o Rainha do Brasil em Porto Alegre, quando os jovens
apresentaram as ações que faziam junto à Parceiros Voluntários. Analisando também os atos solidários de minha família com o próximo, e motivada cada vez mais a fazer o bem, percebi a essência da união do ser humano para alcançar nossos objetivos e ajudarmos outros a alcançarem os seus.
Foi então que, com 11 anos de idade, resolvi integrar-me a esse grupo, para juntos distribuir solidariedade pelas ruas, escolas e asilos nos quais passássemos. A cada dia que passa e a cada obstáculo que enfrentamos na vida, percebi que minha visão do mundo mudou completamente, me tornei uma pessoa madura para resolver meus problemas, percebendo que tudo pode melhorar. O que importa é ter força de vontade para seguir em frente. No ano de 2012 decidimos criar uma rádio escolar para que houvesse integração com alunos, professores e funcionários, na intenção de informar a todos sobre as ações que realizávamos... Como resultado, o número de jovens no grupo aumentou e aumenta cada vez mais. Esses jovens passaram a incentivar todos, para que nós, cidadãos, possamos colaborar nem que seja um pouco para tornar o mundo um lugar melhor, mais humano, mais justo e livre para se viver.
Natália Steques Ferreira,
46
17 anos
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
47
Q
uando estávamos na 5ª série, eu e minha colega Samantha gostávamos muito do trabalho que
observávamos: o trabalho do voluntariado do Colégio São Judas Tadeu.
Ter participado, ter vivenciado uma realidade distante da minha, ter recebido um carinho totalmente sem cobrança, ser bem recebida sempre, brincado, rido, chorado, ter planejado atividades, tudo e cada coisa, ter recolhido latinha, ter lido histórias, tudo me ensinou a ser uma pessoa melhor, a não ser tão egoísta, a saber que existem problemas maiores que os meus, a ver outra faceta do mundo que eu não conhecia, a entender melhor algumas coisas; me ensinou a querer ajudar, a ser solidária, a ter paciência, me ensinou a acreditar que as coisas podem mudar, a querer fazer parte dessa mudança, me ensinou muito, as crianças me ensinaram a ter alegria, mesmo se nem tudo está como queremos, os mais velhos me ensinaram o valor da atenção, de simplesmente sentar e ouvir, de querer viver, outros me ensinaram que quando não se consegue fazer tudo, um pouco já é algo; me ensinaram muito, muitas coisas, a dar valor às pequenas coisas, eles fizeram toda a diferença pra mim, e não apenas na minha profissão.
Thais Dias Gregis,
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21 anos, cursa Relações Internacionais
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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N
ão podia realizar as ações fora da escola por não ter idade suficiente, tinha 11 anos na época.
Fiquei até o ano de 2008, quando me formei no 3°ano e completei 1.000 horas de trabalho voluntário. Portanto, participei de Tribos desde a criação.
Ter participado da Ação Tribos fez toda a diferença na minha vida, pois permitiu que eu crescesse consciente do mundo ao meu redor e com a certeza de que a frase, mesmo que clichê, é de fato verdade: a gente pode, sim, fazer a diferença. Um sorriso, uma palavra, uma ação são capazes de transformar a realidade de vida tanto de outras pessoas como até mesmo a nossa. Por isso, a experiência foi realmente muito válida e devo a projetos como esse a pessoa que eu sou hoje.
Samantha Brum,
50
21 anos, cursa Biomedicina
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
51
III. COMO TUDO COMEÇOU
A
história de Tribos começa em outubro
Segundo o Prof. Carlos, aqueles jovens es-
de 1998, no Colégio Farroupilha, de Por-
tavam prontos para vivenciar um programa de
to Alegre, com seis alunos do Ensino Médio, o
inserção comunitária. E ele, tão disposto e in-
Prof. Carlos Alberto Barcellos (Coordenador de
quieto quanto aquela juventude, procurou de
Orientação Vocacional) e o apoio do Prof. Hans
imediato a Parceiros Voluntários. Juntos come-
Sille (Diretor da Instituição).
çaram a organizar as ideias e os interesses co-
O professor Carlos partia do pressuposto de que "ninguém escolhe bem uma profissão se não tiver uma base sólida de autoconheci-
muns, o que resultou no Programa Voluntariado da Escola. Este foi o caminho aberto para as futuras Tribos.
mento e de compreensão do que seja a vida
O Programa Voluntariado da Escola entrou
em comunidade”. Essa perspectiva motivava
em ação em março de 1999, quando ocorreu
suas aulas com os estudantes, para discuti-
a primeira reunião de sensibilização com a equi-
rem questões-chave da adolescência e da vida
pe da ONG Parceiros Voluntários no Colégio
como um todo. Depois de um desses encon-
Farroupilha. Foi um encontro emblemático: 187
tros, os jovens Miguel Carvalho, Lauren Sala-
estudantes do Ensino Médio compareceram em
tino, Laura Blacher, Marcela Vargas, Caroline
plena sexta-feira de um feriadão. Essa atitude de-
Lenger e Marilia Padilha dirigiram-se ao Prof.
monstrou o quanto os jovens sentiam vontade
Carlão (como era carinhosamente chamado) e
e até mesmo o dever1 de se engajar em práticas
compartilharam a sua inquietude e vontade de
solidárias, como forma de participar dos proble-
colocar a mão na massa: "A gente cansou de ouvir sobre os problemas. A gente quer saber como é trabalhar em cima dessa realidade de que tanto falamos".
1 Entenda-se “dever” como destacado por Madre Teresa de Calcutá: “O dever é uma coisa muito pessoal; decorre da necessidade de se entrar em ação, e não da necessidade de insistir com os outros para que façam qualquer coisa”.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
53
mas sociais e de encontrar soluções para os mes-
légio Maria Imaculada também aderiram ao Pro-
mos. Daquele evento já saíram grupos cheios de
grama, sendo coordenadoras de voluntariado
planos para o exercício do trabalho voluntário.
nessas escolas as professoras Graziela Loureiro
“Nós
conhecemos a ONG Parceiros
Voluntários por intermédio da Escola Mãe Admirável, que na época participava do programa de voluntariado escolar. Então lá fomos nós, conhecemos o Programa, nos engajamos... Os alunos se engajaram, buscavam a instituição social onde queriam trabalhar, e semanalmente iam até lá... Essa Ação traz ao jovem a possibilidade de escolher dentre as
ti, respectivamente. A culminância dos primeiros grupos de voluntários foi em outubro, com cerca de 400 jovens compartilhando experiências e celebrando as ações realizadas durante aquele ano. Essa sistemática de partilha e reconhecimento das ações foi um modelo inspirador para a Ação Tribos, cujos Fóruns Municipais e Regionais até hoje congregam anualmente os TRIBEIROS participantes.
três trilhas aquela em que ele mais se
Na experiência do Instituto São Judas Ta-
enquadra. Eles planejam as ações, eles
deu, por exemplo, a aderência ao programa de
veem quais são as necessidades, a gente
voluntariado foi tímida no início, com cerca de
faz mapas de ativos, para ver quais são
10 alunos do Ensino Médio. Porém, em um ano
as potencialidades, quais são as dificulda-
de participação, esse pequeno grupo conseguiu
des, e dali eles planejam as suas ações.”
despertar a iniciativa de muitos outros jovens e
IDA BEATRIZ STEQUES, ex-Coordenadora de Tribos da Escola Rainha do Brasil, atual Coordenadora Pedagógica do Colégio São Judas Tadeu e Consultora da ONG Parceiros Voluntários.
54
dos Santos, Ida Beatriz Steques e Zenaide Belot-
multiplicar os resultados, mobilizando também alunos e professores do Ensino Fundamental e das faculdades de Pedagogia e de Educação Física da instituição. Segundo Graziela Loureiro dos Santos, houve uma primeira fase espontâ-
Ainda em 1999, o Instituto Educacional São
nea, em que os jovens voluntários realizavam
Judas Tadeu, a Escola Rainha do Brasil e o Co-
ações em projetos sociais indicados pela ONG
Parceiros Voluntários, mas depois o Programa
clusão, responsabilidade, paz, não violência, aju-
Voluntariado da Escola cresceu e ampliou a atu-
da mútua, cooperação, solidariedade, respeito
ação dos jovens: eles passaram a criar, organizar
ao outro, à coletividade, ao meio ambiente e
e realmente protagonizar soluções para deman-
à pluralidade de manifestações culturais, criati-
das comunitárias por eles mesmos identificadas.
vidade, liderança, tolerância, abertura, empreen-
Os anos de 2000 a 2002 deram vigor à prática do voluntariado nas escolas gaúchas e comprovaram a força e o poder da mobiliza-
dedorismo, enfim, todo um conjunto necessário e potencializador de vínculos duradouros e do equilíbrio entre as pessoas, a vida e o planeta.
ção juvenil em projetos sociais. Novos alunos
Era um “laboratório” vivo de cidadania. Cidada-
e escolas multiplicaram os números de ações
nia aqui compreendida não apenas como a ideia
voluntárias e os resultados para as comunidades
de que somos iguais em direitos e deveres perante
beneficiadas. Mas, muito além de números, qua-
o Estado, mas de que somos iguais em nossa hu-
litativamente comprovou-se que as vivências de
manidade, e como agentes diretos das transforma-
voluntariado favoreciam a multiplicação de va-
ções e das garantias sociais. Os principais passos
lores importantes ao desenvolvimento humano
nessa direção incluem a tomada de consciência da
daqueles jovens. Foi um tempo de crescimento
coletividade na qual estamos inseridos, a desco-
da amplitude do Programa.
berta do nosso poder transformador e a disposição para concretizar mudanças (diferente de uma
TRILHAS DA CIDADANIA
A
posição passiva, de expectativa de que os outros as façam). Quando conhecemos, aceitamos e nos
ONG Parceiros Voluntários, os educado-
envolvemos com os outros, com a diversidade
res, os alunos e as famílias perceberam
presente na coletividade, tornamo-nos capazes de
que o Programa Voluntariado da Escola levava
reivindicar e agir em prol da coletividade.
ao desenvolvimento de habilidades e aprendizagens essenciais à promoção da vida. Tratava-se
A Constituição Federal define os fundamen-
da prática de valores e atitudes como autoin-
tos e objetivos do Estado democrático brasilei10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
55
ro, incluindo a cidadania, a dignidade da pessoa humana e a construção de uma sociedade li-
“O
processo de empoderamento en-
volve um processo de conscientização,
vre, justa e solidária. Pontua claramente no Art.
a passagem de um pensamento ingênuo
1º, Parágrafo Único: “Todo o poder emana do
para uma consciência crítica. Mas isto
povo, que o exerce por meio de representantes
não se dá no vazio, numa posição idea-
eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons-
lista, segundo a qual a consciência muda
tituição”. Sublinhemos “diretamente”, porque
dentro de si mesma, através de um jogo
essa palavra traduz o compromisso de ajudar-
de palavras num seminário. A conscienti-
mos a construir essa sociedade mais livre, justa
zação é um processo de conhecimento
e solidária.
que se dá na relação dialética homem-
Na ótica da atuação direta de cada ator social e do compartilhamento das responsabilidades, a cidadania amplia-se do âmbito representativo (o voto, alguém eleito por uma maioria para promover os interesses coletivos) para o participativo. Esse exercício mais amplo de cidadania, a cidadania ativa, dá-se por meio do empoderamento. Desde a sua concepção,
-mundo, num ato de ação-reflexão, isto é, se dá na práxis.” FREIRE (1979) apud BAQUERO, Marcello. As múltiplas faces da desigualdade: capital social e empoderamento na América Latina. Anais do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia, 25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianópolis. 2007, p. 310.
Nas práticas voluntárias, o jovem empode-
a ação Tribos nas Trilhas da Cidadania
ra-se em nível individual e comunitário. Indivi-
norteou-se por essas questões da tomada de
dualmente, ele descobre a si mesmo (autoco-
consciência do indivíduo sobre si mesmo (des-
nhecimento, autonomia, autoestima) e as suas
cobrir os seus valores), sobre o seu compro-
habilidades para decidir sobre o que deseja fazer
misso com a esfera coletiva e o seu empodera-
da sua vida no momento presente e na prospec-
mento para adotar condutas cidadãs e ajudar a
ção do futuro. No aspecto comunitário do em-
suprir as carências da comunidade.
poderamento, os TRIBEIROS se articulam em grupos, com os colegas, com jovens de outras
56
escolas e com a comunidade. É um trabalho de
contemporaneidade. O mérito das ações
cooperação e busca da plena cidadania.
encetadas por ONGs como a Parceiros
“No
nível individual, empoderamento
refere-se à habilidade das pessoas de ganharem conhecimento e controle so-
Voluntários, nesses últimos anos, está em nos apontar uma causa nobre, está em nos apontar o compromisso comunitário como causa nobre, por onde passa
bre forças pessoais, para agir na direção
o reencontro da nação e da sociedade
de melhoria de sua situação de vida. Diz
com o Estado brasileiro.”
respeito ao aumento da capacidade de os indivíduos se sentirem influentes nos processos que determinam suas vidas.”
“O
PE. MARCELO FERNANDES DE AQUINO, Reitor da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos/RS) e Conselheiro da ONG Parceiros Voluntários.
empoderamento comunitário en-
volve um processo de capacitação de grupos ou indivíduos desfavorecidos para a articulação de interesses, buscando a conquista plena dos direitos de cidadania, defesa de seus interesses e influenciar ações do Estado.” BAQUERO, Rute V. A. Empoderamento: instrumento de emancipação social? Uma discussão conceitual. In: Revista Debates – A Situação das Américas: Democracia, Capital Social e Empoderamento. Porto Alegre: UFRGS, v.6, n.1, jan-abr 2012, p.176-178.
“Igualdade social e democracia travejam o conceito de sociedade civil na nossa
COMUNIDADE TECIDA A PARTIR DO COMPARTILHAMENTO
A
ação Tribos nas Trilhas da Cidadania tornou-se realidade em 2003, com a par-
ticipação de 79 escolas e de 18 mil jovens em 33 cidades do Rio Grande do Sul. Eles confirmaram o seu empoderamento realizando mais de 300 ações de compromisso com a coletividade, por exemplo: limpeza e conservação de áreas ambientais, práticas de valorização de movimentos culturais locais, engajamento e benefício de entidades de atendimento a pessoas com defi-
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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ciência, a crianças e a idosos, oficinas e palestras
mos quando falamos do social. Por isso,
de interesse das comunidades, campanhas de
digo que o amor é a emoção que funda o
conscientização e mobilização relacionadas aos
social. Sem a aceitação do outro na con-
temas meio ambiente, paz, não violência, trânsito,
vivência, não há fenômeno social.”
prevenção de incêndios, drogas, temas ligados à
MATURANA R., Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, p.23.
saúde pública, como campanhas de esclarecimento sobre a dengue, entre tantas outras iniciativas. Hoje, decorridos 10 anos da Ação, os jovens TRIBEIROS mantêm o pique e seguem tecendo uma história em rede de solidariedade, amor e responsabilidade social individual. Esses três conceitos são fundamentais ao entendimento
Trabalhar os valores internos faz despertar na pessoa o seu verdadeiro valor, o que a torna mais ativa e socialmente transformadora do mundo ao seu redor.
do ponto de partida, da propulsão da dinâmica
ONG Parceiros Voluntários
de Tribos: o amor, como emoção que sustenta
A
o fenômeno social; a responsabilidade individual, como o compromisso que cada pessoa assume na prática para a construção de uma sociedade sustentável; e a solidariedade, como a “habilidade de reconhecer a si mesmo e ao outro como pertencentes à mesma unidade social”.
“O amor é a emoção que constitui o
58
Responsabilidade Social Individual (RSI):
solidariedade é o princípio de reci-
procidade e cooperação mútua que vincula as pessoas à vida, aos interesses e às responsabilidades sociais de um grupo, de uma comunidade e da humanidade.
A
ação solidária ocorre na interação,
quando há aceitação do outro e das dife-
domínio de condutas em que se dá a
renças, respeito à autonomia e à identi-
operacionalidade da aceitação do outro
dade de cada um dos envolvidos na ação,
como legítimo outro na convivência, e é
e ainda a disposição de uns aprenderem
esse modo de convivência que conota-
com os outros.
Na perspectiva sociológica, a solidariedade de-
nhece como pessoa e como cidadão, aceita os
nota modelos de sociedades comunitárias, cujos
demais e suas necessidades (demandas sociais)
sujeitos compartilham interesses, objetivos e a pro-
e encarrega-se de parte da responsabilidade de
dução de bens materiais e culturais (simbólicos),
que todos (cidadãos, entidades sociais, empresas
em regime de cooperação mútua. Os laços inter-
e Estado) têm de fazer algo pela conquista de di-
pessoais se fortalecem e se realimentam por meio
reitos e pelo cumprimento de deveres coletivos.
da participação ativa de cada um na teia social. As
O seu agir corresponde ao assumir uma atitude
relações são recíprocas, heterárquicas, somam-se
e um posicionamento nas trilhas da cidadania, o
ao compromisso social, sustentam o desenvolvi-
que renova a cada dia a esperança da convivência
mento das pessoas envolvidas e da comunidade.
humana em um modelo ideal de comunidade.
No âmbito político, a solidariedade vincula-se
“Se vier a existir uma comunidade no
ao conceito de democracia. A participação de-
mundo dos indivíduos, só poderá ser (e
mocrática efetiva-se em ações coordenadas entre
precisa sê-lo) uma comunidade tecida
a sociedade civil, o poder público e as iniciativas
em conjunto a partir do compartilha-
privadas, ou seja, pressupõe princípios de recipro-
mento e do cuidado mútuo; uma comu-
cidade e cooperação entre os agentes envolvidos.
nidade de interesse e responsabilidade
As sociedades democráticas buscam concretizar a
em relação aos direitos iguais de sermos
prevalência dos interesses comuns, das liberdades
humanos e igual capacidade de agirmos
individuais, da igualdade de direitos e deveres, do
em defesa desses direitos.”
respeito às diferenças e à diversidade. Portanto, a democracia é um meio de ensejar a solidariedade no âmbito da coletividade delimitada pelo Estado.
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p.128.
Ao engajar-se ao voluntariado de forma organizada e sistemática, o jovem realiza ações solidárias e democráticas, porque nelas se reco10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
59
IV. O CAMINHO PERCORRIDO A ação Tribos nas Trilhas da Cidadania,
em 10 anos, gerou a maior mobilização e
participação social de crianças e adolescentes voluntários do país. Em 2011, recebeu certificação como Tecnologia Social1 e Prêmio da Fundação Banco do Brasil em reconhecimento aos resultados alcançados. A Tecnologia Social de Tribos estimula os jovens a “colocar a mão na massa”, a criar novas formas de convivência ética e social, exercendo a sua cidadania, na escola e também fora dela, tornando-se protagonistas de ações que contribuem para melhorar a vida de suas comunidades. Exercitam a Responsabilidade Social Individual, cultivam valores humanos e influenciam positivamente familiares e amigos, promovendo a interação família/escola/comunidade.
Provam, assim, que os jovens são o presente, não apenas futuro. Ao percorrer a cronologia é possível observar a evolução e os espaços conquistados.
1 Tecnologia social: produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidos na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. (Rede de Tecnologia Social – www.rts.org.br)
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REGIÕES E CULTURAS DIFERENTES, EMOÇÕES IGUAIS
A
colonização trouxe para o Estado do Rio Grande do Sul as mais diversas nacionali-
dades: espanhóis, portugueses, africanos, alemães, italianos, judeus, árabes, austríacos, belgas, coreanos, russos, poloneses, suecos, suíços, tchecos, ucranianos, holandeses, sem nos esquecermos, é claro, dos povos indígenas que aqui já habitavam.
1
REGIÃO DA SERRA Caxias do Sul, Farroupilha, São Marcos, Garibaldi, Nova Prata, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Antônio Prado, André da Rocha,Vacaria e Barão Os TRIBEIROS da Região da Serra estão desde 2003 engajados nas trilhas da educação para
É nessa diversidade cultural que as ações de Tribos acontecem. Podemos afirmar, no entanto, que mesmo em diferentes culturas e regiões as emoções são iguais.
a paz, do meio ambiente e da cultura. Exemplos como a Tribo Filhos da Terra, do Colégio La Salle Carmo, uma das pioneiras na região em ações ambientais, que começou promovendo a limpeza da Estrada do Imigrante e a sensibilização dos moradores para a consciência ecológica. Seguiu a sua caminhada articulando-se ao Projeto Prontos Para Mudar, com a Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul, a Prefeitura, a Secretaria do Meio Ambiente, o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto, os veículos de comunicação locais e as associações Rimviver, Apae e Hellen Keller. Trabalhando em rede, esses parceiros realizaram o diagnóstico hídrico,
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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do solo e da vegetação da Barragem e do ar-
não é o nosso trabalho. Vamos fotogra-
roio Maestra, além de implantação de lixeiras e
far e encaminhar para quem deve fazer,
campanhas de sensibilização para “colocar o lixo
e nós fomos para as ruas trabalhar na
no lixo” nos intervalos dos jogos no estádio de
conscientização da população. Os jovens
futebol Alfredo Jaconi. A Tribo manteve-se atu-
desenvolveram um outro olhar sobre as
ante e recebeu o reconhecimento do Prêmio
necessidades da cidade, não só de crítica,
Parceiros Voluntários em 2007.
mas de um novo cidadão. É um trabalho
A professora Lorita Menegon de Souza, uma das precursoras e grande entusiasta da Ação, estava sempre junto nas ações, incentivando seus alunos.
feito com a mente e com o coração, para melhorar sua comunidade.” LORITA MENEGON DE SOUZA, professora do Colégio La Salle Carmo, de Caxias do Sul.
“O voluntariado minimiza os efeitos de uma sociedade desigual. Ele não é assistencialismo, e sim cidadania. Não existe retorno financeiro, mas quando a pessoa se doa de coração ao trabalho voluntário ela se torna mais feliz interiormente.”
“Escolhemos
ANA IZABEL AMORETTI CARAVANTES, Vice-Presidente da Parceiros Voluntários de Caxias do Sul.
trabalhar na Trilha do
Meio Ambiente e começamos por limpar a estrada de chegada a Caxias. Um tempo depois, passamos no lugar e vimos que estava tudo sujo de novo, com toneladas de lixo. Então pensamos: esse
74
A Tribo Caça-Lixo, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Santo Antônio, fez campanhas e ações públicas para a preservação do meio ambiente, pesquisas sobre o destino e arrecadação de lixo seco, apresentações teatrais temáticas e oficinas de reciclagem na cidade de Garibaldi, em
2004. Do mesmo município, a Tribo Teofânia Parceiros da Paz promoveu palestras e panfle-
“A gente se sente muito feliz e muito compensada porque esse Projeto, esse
tagens de conscientização para a não violência,
atendimento que eles dão, é uma aten-
arrecadou agasalhos nos estádios, criou uma tor-
ção especial. As nossas crianças são se-
cida esportiva em prol da pacificação e também
res normais como qualquer outro, elas
confeccionou e presenteou a comunidade com
têm as dificuldades delas, mas com o
origamis em forma de pássaros da paz.
trabalho dos voluntários no Projeto elas têm tudo pra entrar na sociedade.” RUTH PATTIS, mãe de jovem beneficiado pela Ação Tribos
No ano de 2005, a Tribo da Vida, do Colégio São João Batista, foi reconhecida pelo Prêmio Parceiros Voluntários. Os jovens TRIBEIROS da Trilha da Educação para a Paz juntaram esforços e desejos de mudança com professores, familiares e outras Tribos caxienses no Projeto Pazeando. Eles movimentaram a comunidade em caminhadas e eventos pela Paz, estimularam as crianças a trocarem suas armas de brinquedo por livros e ministraram oficinas de origami para mais de 500 pessoas.
A paz multiplicou-se no Projeto Brincar para Aprender, pelas atitudes da Tribo Visão Solidária. A ideia nasceu com jogos e brincadeiras visando à inclusão dos alunos deficientes visuais em turmas regulares da Escola Estadual de Ensino Médio Irmão José Otão, mas o projeto 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
75
cresceu em atividades variadas e os beneficiados passaram a ser também protagonistas no
“Com essa ação começamos a incluir os alunos com deficiência visual, propor-
atendimento a outros grupos em situação de
cionando atividades apropriadas à sua
vulnerabilidade social. Tanto cresceu e ganhou
deficiência e em situação de igualdade
muitos reforços que, hoje, ele já se transformou
com demais alunos. Visamos, também,
numa associação. Entre as ações, os TRIBEIROS
oportunizar o reforço escolar para su-
confeccionaram materiais didáticos táteis, ca-
prir as dificuldades encontradas em sala
pas para livros em braile, digitaram textos para
de aula, podendo ter sempre disponível
transcrição nesta linguagem, promoveram aulas
o material didático necessário.”
de dança, música, informática e de reforço es-
PROF.ª JOSSELI GITACI, da Escola Estadual
colar, fizeram recreação com crianças e jovens
de Ensino Médio Irmão José Otão.
internados no Hospital Geral de Caxias do Sul,
“A cada ano que passa cresce o núme-
visitaram e levaram doações para a Casa da Criança e o Centro Cultural Espírita Jardelino
ro de voluntários que contribuem com o trabalho social da comunidade, crianças,
Ramos e alegraram os dias dos idosos no Lar
jovens, adultos, idosos que possibilitam
São Francisco.
que muitas ações sejam realizadas, beneficiando muitas pessoas. E juntos percebemos que somos bem mais fortes, que podemos compartilhar o que temos de melhor com o outro! Voluntários levando nas pequenas atitudes alegria e qualidade de vida. Ser voluntário é consequência de ter consciência de que podemos tornar o mundo um lugar melhor para se viver.” ANAMARIA DIAS DE MEDEIROS RIGO, Coordenadora da Unidade Parceiros Voluntários de Nova Prata.
76
ativas a pacientes de todas as idades. Somadas aos projetos Doses de Leitura e Gestos de Solidariedade e à parceria das Tribos Guardiões da Paz e Guerino Somavilla, as ações já resultaram em benefícios para mais de 5.600 pacientes.
“Vimos
principalmente muitos idosos
internados, alguns em situação crítica. O que mais impressiona é ver alguns deles sem ninguém junto no quarto, ficam soEnfatizando a paz e a cultura ao longo de sua
zinhos durante o dia todo! Os pacientes
história, os TRIBEIROS da cidade de Nova Prata
alegravam-se com nossa presença, até
começaram a botar a mão na massa em 2008.
uma senhora pediu se os ‘palhacinhos’
Aliados aos vizinhos dos municípios de Protá-
iriam visitá-la. Os pacientes sentem um
sio Alves e André da Rocha, formam hoje uma
conforto com a mensagem lida ou por
rede de 2.143 jovens voluntários. A galera se
verem rostos diferentes, alegres. Saímos
engaja em eventos como a Feira do Desapego
de lá ‘renovados’, é muito gratificante.”
e o Festival Internacional de Folclore. O traba-
DIELSON, PAULA LICKS, MARIVANA E SILVIA, Tribeiros.
lho de transformação social se iniciou com os adolescentes da Tribo Explosão Jovem, da Escola Estadual Onze de Agosto, reconhecida pelo Prêmio Parceiros Voluntários em 2009, dando aulas de reforço escolar para alunos do Ensino Fundamental. Eles prosseguiram com a criação de uma brinquedoteca no Hospital São João Batista e deram vida aos famosos Doutores da Alegria, proporcionando visitas lúdicas e recre-
“A solidariedade pode ser um caminho para amizade entre jovens e pessoas com mais experiências. Participando da ação Feira do Desapego, desde arrecadação, triagem e durante o evento, fiquei motivada a fazer o trabalho voluntário com bastante calma e, principalmente, muita
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
77
responsabilidade. Hoje, com a oportuni-
de pele. Desenvolveram junto à comunidade
dade de ser uma aluna Tribeira me sinto
campanha de doação de materiais escolares,
muito feliz e realizada, pois solidariedade
projetos de incentivo à leitura, produções de
não custa nada, é apenas uma questão de
histórias em quadrinhos, vídeos e fotos de te-
consciência social.”
mática ambiental e horta escolar.
FRANCIELE Tribeira.
OLIVEIRA
DE
ALMEIDA,
“Superei
minhas dificuldades e obtive
mais conhecimento na área de computação.Tenho mais facilidade para concluir as tarefas no trabalho e aprendi a me comunicar com outras pessoas nas redes sociais.” ONICE DA SILVA, Agente de Saúde beneficiada pela inclusão digital promovida por jovens Tribeiros.
“Acho O Projeto Inclusão Digital da Tribo Guardiões da Paz, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Reinaldo Cherubini, de Nova Prata, obteve total receptividade oferecendo capacitações em informática para a comunidade escolar, a partir dessa necessidade observada. A trajetória da Tribo abrange também pesquisas sobre temas atuais, como: inclusão de deficientes, abandono de bebês, trabalho e exploração infantil, paz no trânsito e prevenção do câncer
78
que o projeto nos abre novas
portas, nos dá novas oportunidades, porque não é algo que alguém nos obrigou a estar ali ajudando, a gente faz porque gosta. São muitos os ensinamentos, as experiências que eu vou levar comigo. “ TAUANY VENDRAMIN, Tribeira.
Podemos ainda representar as juventudes da Serra pela Tribo Atuação Jovem, da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Antônio Serraglio,
da cidade de Protásio Alves, que conscientiza a população sobre o cuidado com o lixo, e faz trabalho voluntário na Associação Comunitária de Deficientes da cidade. A parceria da Tribo com as Secretarias Municipais da Agricultura e Meio Ambiente, da Saúde e da Educação tornou possível melhorias na cidade, como a instalação de lixeiras públicas seletivas, a prática da separação do lixo doméstico e campanha para doação de sangue. A Tribo Apoema, da cidade de São Marcos, trabalhou na mobilização comunitária em prol dos direitos e defesa dos animais.
de Educação e Cultura de Nova Prata.
O ano de 2012 foi ainda mais solidário com
“Hoje, vemos muitos jovens sem rumo
a ação em rede desenvolvida entre municípios
na vida, com poucos objetivos e sonhos,
serranos. A Tribo Kaiowas, com a ajuda de ou-
tanto pessoais como profissionais. Quan-
tros TRIBEIROS, as senhoras da Casa de Repou-
do eles encontram a oportunidade de
so Elisa Tramontina e a Unidade da Parceiros
participar de ações voluntárias, eles pas-
Voluntários de Carlos Barbosa uniram-se para
sam de espectadores para agentes trans-
aquecer e alegrar os beneficiados da Casa de
formadores da realidade, desenvolvendo
Repouso Arco-Íris, em Garibaldi. Os jovens de
ações nas próprias escolas e na comu-
diferentes escolas realizam a coleta de restos de
nidade. Como educadora, acredito que
lã, as vovós da Casa Elisa Tramontina pronta-
transformar ideias criativas em projetos
mente confeccionaram mantas com esses ma-
sociais é partilhar a alegria de ser útil, ele-
teriais, e o resultado foi compartilhado com os
va a autoestima, e possibilita que Tribeiros adquiram aprendizado para a vida.” ROSEMARI POLESSELLO GARDA, Secretária
idosos da Casa Arco-Íris, culminando com uma emocionante tarde de confraternização entre todos os participantes e, especialmente, entre
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
79
as duas cidades: Carlos Barbosa e Garibaldi.
“Quando me pediram pra fazer as man-
2
eram muitas, e fiquei muito feliz que eram
REGIÃO DAS HORTÊNSIAS
pra levar pra uns vovozinhos em outra
Gramado, Canela,
casa de repouso. Sinto-me feliz podendo
Nova Petrópolis,
ajudar pessoas, mas nesse dia o que me
Sapiranga,Taquara
deixou mais emocionada foi quando eu
e Rolante
tas eu logo comecei, pois eu sabia que
dei uma manta pra um vovô e ele começou a chorar de emoção, isso foi a maior prova de agradecimento que eu poderia ter recebido daquelas pessoas.” CÂNDIDA JAQUES PRESTES, 76 anos.
“A
nossa visita à casa de repouso de
Garibaldi foi uma ótima experiência, pois tivemos oportunidade de realizar um ato solidário e participar de um belo momento de sensibilidade, com pessoas tão especiais. Levamos um pouco mais de felicidade e conforto, concedendo parte de nossa solidariedade.” NICOLE, DEISE, JULIA, RAFAEL E LUANA, jovens da Tribo Abaeté.
Pioneiros na Região das Hortênsias desde 2003, os TRIBEIROS de Gramado começaram as atividades com as Tribos Bezzi, Ramos, Parceiros da Vida, Pompéia Será Grande e Gerações Santos Dumont, das escolas Moisés Bezzi, Boaventura Ramos Pacheco, Pedro Zucolotto, Nossa Senhora da Pompéia e do Colégio Esta-
80
dual Santos Dumont, respectivamente. A cidade também mostrou o poder de mobilização dos Tribeirinhos da Educação Infantil (de 3 a 6 anos), sendo uma das primeiras a realizar o Fórum Municipal Mirim, em 2007. No percurso de 10 anos, os TRIBEIROS dedicaram-se principalmente aos projetos da trilha do meio ambiente. Um exemplo positivo vem da Tribo Gerações Santos Dumont, que já fez
a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e inicia-
inúmeras realizações, como a mobilização dos
ram o Projeto de Arborização Urbana, incluindo
moradores para a preservação da cidade, a dis-
palestras temáticas, demarcação de áreas de cul-
tribuição e o plantio de mudas, a confecção e di-
tivo e o plantio de espécies nativas da região. Em
vulgação de materiais para conscientizar a comu-
2009, os TRIBEIROS seguiram mostrando a sua
nidade sobre a limpeza e coleta de lixo. Um dos
capacidade de articulação em atividades de coleta
eventos marcantes foi quando os jovens fizeram
e destino adequado do lixo, ministraram oficina
ações públicas na Praça João Leopoldo Lied, com
de reciclagem de papel e confecção de cartões
o apoio da Brigada Municipal e o objetivo de cha-
de Natal na APAE, criaram o Clube de Mães e
mar a atenção da população e da Prefeitura para
junto com o apoio das Damas de Caridade de
a necessidade do cuidado com a cidade.
Gramado produziram sabão caseiro feito de óleo
As Tribos da Escola Estadual de Ensino Fundamental David Canabarro (Equicanabarro e Se-
reciclado, além de desenvolver atividades no Lar dos Idosos Vovó Doralina.
meando Cultura) destacaram-se pela fidelidade, marcando presença nas 10 edições da Ação Tribos. No ano de 2007, os alunos das 7ª e 8ª Séries do Ensino Fundamental organizaram-se com 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
81
Ambiente e Palestras Agenda Ambiental sobre dengue, cães, drogas, lixo e hepatite viral. A Tribo da Escola Sagrada Família, da cidade de Rolante, engajava-se no Projeto Amigos do Meio Ambiente, tendo como principais atividades: análise da realidade ambiental da comunidade, panfletagem e visita aos moradores para a conscientização sobre a separação do lixo, plantio
“Começamos com o Bairro Jardim pela
de mata ciliar para recuperação de rios, horta escolar, confecção de papel e de brinquedos
brilhante iniciativa das crianças, que vão
com materiais recicláveis, e ainda pressionou as
incentivar todos a cuidar das árvores e
autoridades locais para a implantação da coleta
impedir que façam podas descaracteri-
seletiva do lixo no município.
zadas como vem acontecendo em nossa cidade.” VITOR VOLK, Secretário do Meio Ambiente de Gramado em 2007.
As Tribos de Canela (E.E.E.M. Danton Correa da Silva, E.M.E.F. Machado de Assis, E.M.E.F. Santos Dumont, Escola Municipal João Alfredo corrêa Pinto, Escola Municipal Bertholdo Oppitz, E.M.E.F. Dante Bertoluci, E.M.E.F. Ernesto
A Região das Hortênsias chegou ao ano de
Dornelles, E.E.E.F. Pedro Oscar Selbach) ressal-
2012 percorrendo também a Trilha da Cultura.
taram a participação social solidária e voluntária
A Tribo da Escola Estadual de Ensino Médio Ca-
em 2010, com a realização de mutirões de lim-
ramuru, de Gramado, no Projeto Ação e Leitura,
peza, pedágio ecológico, Conferência do Meio
82
conseguiu envolver doadores e arrecadar livros e revistas infantis para o Projeto Livros Viajantes da Biblioteca Pública Cyro Martins. Desde 2011, o Projeto leva mensalmente um kit com 50 livros para escolas rurais e de Educação Infantil, incentivando o hábito da leitura. Nas Regiões Metropolitana, Litoral e Vale
3
REGIÃO METROPOLITANA E LITORAL Porto Alegre, Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí,
do Sinos, mais próximas de Porto Alegre, com
Guaíba, Charqueadas,
características urbanas e grandes demandas co-
Tapes, São Jerônimo,
munitárias, as ações solidárias e voluntárias de
Eldorado do Sul,Viamão,
Tribos fazem realmente a diferença para o
Cidreira, Osório
atendimento e a inclusão de milhares de pes-
e Torres
soas. São cidades com alta concentração populacional e de etnias e costumes diversos, e o litoral tem a peculiaridade da flutuação sazonal da população, fator que torna os trabalhos sociais mais complexos. Os TRIBEIROS tiraram de letra quaisquer dificuldades e ressaltaram o valor humano na história das comunidades onde atuaram.
“Diante de tantas injustiças e sofrimentos, o voluntariado é uma maneira de não nos sentirmos totalmente impotentes, uma forma de começar a fazer a nossa parte para melhorar a vida de todos.” JANYNE MARTINI, Tribeira.
“Os TRIBEIROS vão construindo espaços de partilha, de convívio, e o protagonismo juvenil. Quando o jovem fala pra outro jovem, esse resultado se torna muito mais rápido e envolvente do que
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
83
um adulto. Os reflexos desse trabalho se dão no dia a dia, na conduta dos adolescentes e das crianças, na forma como eles se relacionam e como eles fazem proposições assertivas com o grupo. Como muitos deles vêm de uma situação de muita violência, os TRIBEIROS são um sinal de esperança, um sinal que cada um consegue fomentar para que outros consigam construir espaços de paz, de
nhas, com a parceria dos Escoteiros Jacuí, Briga-
partilha, de projetos de vida, de ressigni-
da Militar, Prefeitura e Empresa GKN. Os jovens
ficar a sua historicidade, na perspectiva
também conscientizaram a comunidade escolar,
de uma sociedade mais harmônica, mais
divulgando produções de temáticas ambientais,
feliz, mais imbuída de humanidade.”
tais como: livros de papel reciclado com poesias,
JOÃO ROCHA, voluntário da Fundação Pão dos Pobres de Porto Alegre.
histórias em quadrinhos, peça teatral, maquetes
A Região Metropolitana sempre esteve en-
mento de resíduos orgânicos.
gajada em todas as trilhas da cidadania.
e painéis, e fizeram uma composteira para trataEm
2003, a Tribo Texugo, da Escola Técnica Cenecista Carolino Euzébio Nunes, da cidade de Charqueadas, dedicou-se ao meio ambiente no Projeto Jacuí Toma Banho, realizando um mutirão de limpeza no rio, palestras e distribuição de materiais educativos, o que resultou na melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeiri-
84
“A Tribo é o que me envolve, eu não me imagino sem a Tribo. O sorriso que eu recebo durante e no final da ação também não tem nada melhor, nada mais gratificante do que olhar para uma criança ou para um idoso e receber um ‘muito obrigada por estar aqui’. Estar ajudando, como voluntário, não tem preço que
pague. Quem ainda não é voluntário está perdendo tempo, porque não tem trabalho nem emoção melhor.” BETINA D’AVILA CARBONI, Tribeira.
Acreditando na força da união e das ações em rede, a Tribo Horizontes nasceu em 2004 congregando 12 escolas2 de Porto Alegre; começou suas atividades com projetos ambientais, destacando-se a limpeza da orla do Rio Guaíba e a participação no Projeto Reciclar do Banrisul. Ao longo dos anos formou uma rede colaborativa com a Secretaria do Meio Ambiente, grupos de escoteiros e de jipeiros, com o Shopping Lindóia, Fundação Gaia, ESPM, Inmetro, Fundação Thiago
no ser humano o melhor que há em cada um de nós. É aquela ideia que deixa de ser ideia e passa a ser real, permitindo que o jovem seja não só a esperança, mas um agente de transformação social
Gonzaga e Instituto da Criança com Diabetes.
que se multiplica. Esses jovens não fazem
“O voluntariado jovem é uma forma de
zam tempo e talento, desenvolvendo ati-
‘caridade’, fazem muito mais, disponibili-
multiplicação e, principalmente, de con-
vidades sistemáticas em creches, asilos,
solidação de uma atitude que desperta
hospitais, em busca de um sonho que, agora, não é mais sonho.”
2 Colégio Bom Conselho, Colégio Concórdia Porto Alegre, Colégio Maria Imaculada, Colégio Santa Teresa de Jesus, Colégio Vicentino Santa Cecília, Escola de Educação Básica Mãe Admirável, Escola de Educação Básica Rainha do Brasil, Escola de Ensino
PROFA. GRAZIELA LOUREIRO DOS SANTOS, Diretora de Ensino do Colégio São Judas Tadeu.
Fundamental Nossa Senhora do Brasil, Escola Estadual de Ensino
“Ser TRIBEIRO fez mudar a minha atitu-
Médio Roque Gonzáles, Escola Técnica Parobé, Instituição
de, o jeito de falar com as pessoas, ago-
Educacional São Judas Tadeu, Instituto de Educação São Francisco
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
85
ra eu falo tribem e sou muito gente fina com as pessoas... Eu me sinto muito bem como voluntário, é uma felicidade, um prazer em ajudar as pessoas, faz muita diferença. Quando eu tiver meu filho, eu vou vir no colégio, vou fazer parte das Tribos, dos pais e da associação.” FRANCISCO TOMATIS RUSSO, Tribeiro.
Na área da cultura, a Tribo Horizontes vem
86
fortalecendo suas ações desde 2006, quando
“Aprendo muito mais do que ensino, re-
iniciou o atendimento regular à comunidade
cebo muito mais do que dou. As crianças
muito carente da Vila Pinto: semanalmente os
me ensinaram a ver o mundo de um jei-
TRIBEIROS ministraram oficinas e promoveram
to diferente. Esses anjinhos nos ensinam
o recreio orientado para cerca de 450 alunos
coisas que ninguém, nem alguma escola,
da Escola Municipal de Ensino Fundamental José
jamais poderá ensinar: a realidade. Eles
Mariano Beck, ação reconhecida pelo Prêmio
tão pequenos já passaram por coisas ter-
Parceiros Voluntários em 2007.
Em parceria
ríveis, que talvez nunca passarei, e mes-
com o Curso de Engenharia da PUC-RS, a Tri-
mo assim eles são felizes, e fazem todos
bo trabalhou ainda em um projeto de robóti-
à volta deles felizes. Nós, jovens, recla-
ca, proporcionando experiências de desenvol-
mamos muito da vida, de não ter aquele
vimento de competências e habilidades para a
tênis, aquela roupa, de nossos pais, prin-
construção de robôs, que se refletiu em pre-
cipalmente, mas não imaginamos nossa
miações concedidas aos alunos da Escola Maria-
vida sem eles. Não há escola melhor que
no Beck na Olimpíada Brasileira de Robótica de
o voluntariado.”
2011, realizada no Rio de Janeiro.
JÚLIA DE MELLO CLÁUDIO, Tribeira.
Os jovens do litoral do RS mostraram a sua vocação para o cuidado com o meio ambiente,
“Os jovens são dinâmicos, interessados, comprometidos, não têm tempo ruim
e são aqui representados pela Tribo Plantando
para eles, e isto é que torna esta ação
Ideias, da Escola Estadual de Educação Básica
tão esplendorosa, beirando a excelência!
Prudente de Morais. De 2007 a 2012, esses
Ela faz o jovem ser o protagonista, e nes-
TRIBEIROS de Osório realizaram atividades que
te ato, que é puro de cidadania, prepara
beneficiaram toda a comunidade, como a limpe-
hoje o adulto e cidadão de amanhã, com-
za e a jardinagem do pátio escolar, a confecção
prometido com o mundo ao seu redor. E
de pastas, mapas e instrumentos musicais com
é exatamente por isto que tenho muita
materiais recicláveis, e o cultivo da horta escolar,
fé e esperança de um mundo melhor. Pa-
cuja colheita é compartilhada com os alunos e
rabéns, Tribos, pelos 10 anos de cida-
seus familiares. Uma ação especialmente criati-
dania!”
va dessa Tribo foi a formação de uma banda musical com instrumentos confeccionados com materiais de sucata.
ELISABETE Tribeira.
“A
CARBONI,
mãe
de
jovem
gente consegue criar cidadãos nas
Tribos. E é isso que eu quero seguir na minha carreira, eu quero criar cidadãos para o voluntariado. E eu vejo que outras pessoas precisam de mim. Então, eu preciso ser forte e preciso estar lá com elas, e o retorno é maravilhoso. É tudo de bom. Eu não consigo me ver fazendo outra coisa.” SUELEN RONCOLI BRASEIRO, Tribeira.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
87
Na trilha da Educação para a Paz, o Programa Mãozinhas Arteiras, vinculado aos TRIBEIROS
“Tudo que se planta cedo e que se rega e se acompanha dá bons frutos. E essas
do Centro de Educação Infantil Mamãe Coruja,
crianças já estão se preparando para dar
de Gravataí, recebeu o reconhecimento regional
bons frutos e estão reverberando isso
do Prêmio Parceiros Voluntários em 2009. O
nas suas famílias. Vale a pena fazer volun-
grupo de crianças, junto com outros voluntários,
tariado, vale a pena buscar parcerias, isso
aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras)
é vida, e eu acho que nesta escola tem
para voluntariar junto a outras crianças com defi-
muita vida.”
ciência auditiva e em situação de vulnerabilidade psicossocial, beneficiando os pequenos e seus familiares com atividades voltadas a recreação,
PROF.ª DENISE AYALA, Diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Pica-Pau Amarelo, de Porto Alegre.
desenvolvimento psicomotor e conscientização ambiental. Nesse mesmo ano, esses Tribeirinhos
As Tribos da Região Metropolitana mere-
da Região Metropolitana entraram em ação com
cem ainda o reconhecimento pela contínua bus-
a Tribo Castelo, da Escola Municipal de Ensino
ca da inclusão social. TRIBEIROS que passaram
Fundamental Pica-Pau Amarelo, mostrando que
de beneficiários a protagonistas de ações volun-
solidariedade não tem idade.
tárias, como os da Tribo Surdos Solidários, formada há sete anos por alunos e ex-alunos da Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, de Porto Alegre. Eles já realizaram visitas e apresentações em outras instituições, ministraram oficinas e divulgaram a Língua Brasileira de Sinais; atualmente se dedicam a essas atividades para os colegas da própria Escola.
“Quando eu vi a divulgação da Parceiros, eu pensei assim: nossos alunos têm um
88
hábito de receber várias coisas, até por
cidade de Cachoeirinha, município com forte
fazerem parte de uma minoria, acabam
mobilização, ganhou destaque pela presença de instituições de Ensino Fundamental e participação massiva das crianças da Pré-Escola e das Séries Iniciais. As atividades de voluntariado acontecem principalmente nos asilos da cidade, onde os TRIBEIROS levam conforto e alegria para os idosos. Em 2012, a Tribo Unidos pela Paz, da Escola Municipal Anita Garibaldi, foi às ruas sensibilizar a população sobre temas como segurança no trânsito e uso de drogas, fazendo pedágios e caminhadas.
tendo alguns benefícios e se esquecendo que também podem ser solidários. Eles são jovens como qualquer jovem, têm as mesmas fases, as mesmas questões, os mesmo conflitos... Eu sempre estive engajada nesse grupo de surdos, sou bilíngue desde pequena, filha de surdos, então eu tenho esse movimento comigo desde que eu nasci e segue comigo, tanto que eu trabalho nesse meio, com surdos e como psicóloga escolar. Eu me sinto bem realizada, é muito gostoso chegar e saber que eles estão ali, que a gente vai compartilhar, que eles vão trazer ideias e que eles vão amadurecendo.” PROF.ª PSICÓLOGA SANDRA NUNES ANGELINI, da Escola Especial para Surdos Frei Pacífico.
Pelos caminhos da paz seguiu também a Tribo Gentil, da Escola Municipal de Ensino Municipal Capitão Gentil Machado de Godoy, de Alvorada, protagonizando atividades recreativas e orientação para combater o bullying e pacificar a convivência na própria escola. A
“Os TRIBEIROS
são maravilhosos por-
que dispõem do tempo deles para estar lá na escola e fazer um trabalho totalmente de coração. Eles não ganham nada
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
89
pra isso, não premia em nada, eles não ganham ponto, eles não ganham nota, nada, é de coração. Eles são incríveis.
4
É um grupo que com certeza vai ser um
REGIÃO VALE DO SINOS
grupo diferenciado no futuro, eles tendo
Canoas, Esteio.
essa vivência de voluntariado, essa vivên-
Sapucaia do Sul, Portão.
cia de doar o seu tempo em prol dos
São Leopoldo,
outros.” LUCIANE FERRI DE OLIVEIRA, Coordenadora da Tribo Gentil.
“Ser
Novo Hamburgo, Campo Bom, Montenegro, São Sebastião do Caí, Ivoti e Triunfo
tribeiro muda o teu jeito de ser
com as pessoas, muda tuas características. Aprendemos a ter um bom diálogo com as pessoas, respeitamos o que as outras pessoas são. Elas te respeitam e tu a elas. Fazemos amizades de uma forma muito fácil, cada um respeitando suas diferenças.” CRISTOFER MELO, 17 anos, Tribeiro.
Os jovens do Vale do Sinos entraram pra valer na Ação em 2003. Ano em que a Tribo Ibiá Sou da Paz, formada pelas Escolas Estaduais Dr. Paulo Ribeiro Campos, A. J. Renner e São João Batista, do Instituto de Educação São José e do Colégio Sinodal Progresso, de Montenegro, começou suas atividades reunindo os TRIBEIROS em manifestações, caminhadas e ações de teatro e música para mudar o quadro de violência no trânsito, além de incentivar o desarmamento da população. Enquanto isso, os jovens portadores de necessidades especiais da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Ivoti se autoincluíam na Tribo Faça a Paz, por meio de
90
ações de promoção da paz e integração junto à
razão dos benefícios oportunizados por ativi-
comunidade.
dades recreativas na ala pediátrica do Hospital Centenário, apresentações teatrais na periferia, doações a famílias indicadas pela Cruz Vermelha e envolvimento com entidades ambientalistas e de proteção aos animais. A Tribo passou a integrar alunos de sete escolas da cidade em 2004, e sua grande realização foi a organização do Fórum Vida Urgente. As escolas participantes: Professor Gustavo Schreiber, Colégio Científico Porto Seguro, Colégio São José, Colégio Sino-
“Todos nós somos iguais, o que muda é só classe social, somos iguais e precisamos uns dos outros. Quando tu estás ajudando é bom pra ti, pra tua saúde, pra o teu viver. Vais pra casa feliz, fizeste a boa ação do dia, cada vez mais é crescer, é ajudar, é evoluir. Ser voluntário é ter amor próprio para ajudar os outros.” EVANDRO MEDEIROS, 25 anos, ex-Tribeiro e atual colaborador da Ação.
No município de São Leopoldo, a Paz e o
dal, E.E.E. Médio Polisinos, Escola Estadual de Ensino Médio Caic Madezatti e Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves.
“Os alunos escolheram a Trilha Educação para a Paz e definiram as ações. A primeira foi a limpeza de um valão, com a participação de 200 jovens. Também houve debates sobre a valorização da vida como contraponto à cultura da droga. Os TRIBEIROS organizaram o 1º Fórum Vida Urgente, que reuniu 800 jovens, apontando caminhos para vencer a droga, princi-
Meio Ambiente fundamentaram as iniciativas da
palmente no meio estudantil.”
Tribo Capilé, do Colégio São José, reconhecido
PROF. CARLOS ALBERTO BARCELOS, Colégio Maria Imaculada e Escola Menino Deus.
pelo Prêmio Parceiros Voluntários em 2003, em
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
91
Na Trilha da Cultura, um dos destaques foi a Tribo Txai, do Colégio Estadual Marechal Rondon, de Canoas, reconhecida pelo Prêmio Parceiros Voluntários em 2005. Os TRIBEIROS fizeram apresentações, ministraram ‘aulão’ de hip hop e oficinas de grafite, orientando os jovens para a arte da grafitagem, evitando a pichação dos espaços. A ação beneficiou escolas públicas e organizações sociais, áreas da periferia e outros municípios. Os alunos tiveram todo o apoio dos professores e familiares, que reconheceram a importância do projeto para a integração da comunidade e promoção do respeito à diferença e da boa convivência.
“Incluir o jovem, orientar, dizer a este jo-
Ambientais, da Escola Municipal Primo Vacchi, trabalhou de 2003 a 2010 na preservação da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos e na conscientização ambiental da população ribeirinha. Aproximadamente 610 TRIBEIROS, da Educação Infantil
vem que ele tem um grupo, mas um grupo
e do Ensino Fundamental, participaram das ações,
positivo, um grupo que está construindo
desde aulas de educação ambiental, oficinas e pa-
um amanhã, um grupo que vai fazer dife-
lestras até o replantio de mata ciliar e mutirão
rença. E eles são diferentes sim, e aquele
de limpeza no rio, um dos mais importantes do
que está de fora pergunta: Como é que
Estado e responsável pelo abastecimento de água
eu faço pra entrar? O que vocês estão fazendo aí? Por que vocês estão visitando
92
Na cidade de Sapucaia do Sul, a Tribo Anjos
para mais de 1 milhão de pessoas.
um asilo? Por que vocês estão no colégio
“Aqueles que começaram pequenos, ten-
andando pra lá e pra cá?”
do aulas de conscientização, hoje estão na
MADALENA COSTA LEITE, Coordenadora de Voluntariado.
sala de aula ensinando os novos alunos.” MARIA ELISA CAYSER, professora-coordenadora da Tribo Anjos Ambientais.
“O envolvimento na ação Tribos nas Trilhas da Cidadania foi fundamental na escolha da minha profissão e também trouxe para minha vida ensinamentos e atitudes sociais que vou levar por toda a vida.” FERNANDA HENDLER, 18 anos, ex-Tribeira, estudante de Gestão Ambiental.
Outro grupo engajado na preservação do meio ambiente, a Tribo Amigos da Cultura, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Otaviano Silveira, realizou mutirões de conscientização e plantio de mudas de árvores nativas nas margens do arroio José Joaquim e do Rio dos Sinos, em 2011. Os jovens confeccionaram e distribuíram fôlderes sobre a situação da bacia hidrográfica da Região e, também, com orientações e
“Eu senti orgulho de ter participado e
soluções para o cuidado e aproveitamento dos
ter visto as pessoas da comunidade que-
resíduos produzidos pela comunidade, além de
rendo ajudar também.”
coleta e separação de lixo na Escola. No Arroio
FERNANDA MARCOLIN, Tribeira.
José Joaquim, foram recolhidas cerca de 13 toneladas de lixo reciclável. Também organizaram palestras no Jardim Zoológico, oficina de artesanato com reciclagem de jornais, oferecida pela Tribo da Apae, de Sapucaia do Sul.
A Tribo Nova Geração, de Sapucaia do Sul, reconhecida com o Prêmio Parceiros Voluntários 2011, desenvolveu um importante projeto de conscientização contra o bullying, envolvendo cerca de 800 jovens e seus familiares, para banir 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
93
essa prática na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito João Freitas Filho.
“Antes
tínhamos uma taxa muito alta
de violência nas escolas. Começamos um trabalho no Conselho Escolar, que agrega todos os diretores de escolas, professores, coordenadores. Quando começou esse projeto das Tribos, a gente perce-
Formada por jovens de 10 a 13 anos, a Tribo Peace, da Escola Municipal de Ensino Fundamental David Canabarro, de Canoas, em seu Projeto Brincando pela Paz, levou brincadeiras, contação de histórias, distribuição de brindes e muita diversão para os alunos da Escola Gente Miúda, no bairro Mathias Velho. Fizeram também atividades na própria escola, participaram de reuniões pedagógicas e ministraram oficinas de reaproveitamento de materiais e comida, entre outras iniciativas.
“Eu aprendi muito com a Tribo. E nós, TRIBEIROS, no lugar de ficarmos na rua, estamos cuidando do futuro de todos e aprendendo educação, honestidade e compromisso.” EMERSON NUNES PAPA, Tribeiro.
beu a melhoria na relação entre a Brigada e comunidade escolar. Nós vamos
“Eu vejo hoje todas essas crianças e ado-
nas escolas fazer palestras que os jovens
lescentes, o retorno deles, vejo que não
TRIBEIROS organizam, e vamos lá con-
é simplesmente participar de um projeto
versar com eles, isso não existia antes.”
no contraturno na escola. Eles escolhem
SARGENTO GEVERSON FERRARI, Coordenador de Projetos Sociais da Brigada Militar de Sapucaia do Sul.
o que vão fazer, isso é dar voz e vez pra quem precisa de oportunidade. Então, eu vejo Tribos como uma forma de inclusão muito produtiva. No momento em que tu
94
estás incluído, a tendência de ir para o lado da drogadição, por exemplo, é mínima.” CLEBER RACHEL, Conselheiro Tutelar de Sapucaia do Sul.
5
REGIÃO CENTRAL VALE DO TAQUARI RIO PARDO Cachoeira do Sul, Santa Maria, Santiago, São Pedro do Sul, São Sepé, Arroio do Meio, Encantado, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Candelária, Herveiras,Teutônia, Sinimbu, Encruzilhada do Sul,
Chegamos aos TRIBEIROS da Região Central/Vale do Taquari/Rio Pardo, Região Sul, Re-
Rio Pardo, Santa Clara do Sul e Venâncio Aires
gião Noroeste/Produção e Região da Fronteira. A economia dessas regiões está centrada na agropecuária e indústria de implementos agrícolas e de calçados. Nesse cenário, as Tribos vieram para contribuir com o desenvolvimento humano e a concretização da cidadania, seja no Centro, nos Pampas ou na Fronteira do estado, difundindo e mostrando a força da união e do voluntariado na transformação social.
Os municípios de Teutônia, Candelária, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, São Pedro do Sul, Santiago e São Sepé abriram os trabalhos das Tribos na Região Central/Vale do Taquari/ Rio Pardo, em 2003 e 2004. Priorizaram as temáticas da Educação para a Paz e do Meio Ambiente, mas também a cultura esteve presente nos primeiros anos, em ações como as da Tribo Duque de Caxias (Escola Municipal de
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
95
Ensino Fundamental Duque de Caxias), da Tribo
a construção de uma passarela na rodovia BR-
Medianeira, do Colégio Medianeira de Santiago,
392. A ação teve grande repercussão e a passa-
que realizaram projetos de artes cênicas e sobre
rela foi construída, evitando, assim, o aumento
o patrimônio cultural, e as da Tribo da Alegria
de acidentes nessa importante rodovia. A Tribo
(Escola E.E. Fund. Professora Hilda Koetz), uma
atuou em campanhas antidrogas, na prevenção
das mais antigas e permanentes.
de incêndios domésticos e de abusos contra crianças e adolescentes.
“O desenvolvimento do senso cooperativo fez com que a comunidade escolar passasse a interagir também de forma cooperativada. Um aluno passou a sentir-se responsável pelo sucesso do outro. Para a escola isso foi o máximo.”
Em São Sepé, a Tribo CIEP, da Escola Estadual de Educação Básica Francisco Brochado da Rocha, foi a primeira a se destacar na mobilização da comunidade em 2003, com uma importante ação de Educação para a Paz no trânsito. Os TRIBEIROS, articulados com a Prefeitura, Brigada Militar, Polícia Federal, Conselhos Municipais, Consepro e Corpo de Bombeiros, fizeram uma blitz sensibilizando a comunidade e resultando na coleta de 3 mil assinaturas para
96
ALCINA BITENCOURT, Vice-Diretora da Escola de Ensino Fundamental Rio Branco, de São Sepé, em 2003.
No histórico de ações regionais, temos belos exemplos de solidariedade, como a Tribo Tiradentes, criada em Santa Maria para atender as idosas do Lar das Vovozinhas, desamparadas por suas famílias e portadoras de deficiências. A Tribo nasceu no Colégio Militar, segue atuante pela mesma causa e mostrou o seu poder de mobilização integrando jovens do Colégio Coração de Maria, Colégio Estadual Prof.ª Edna May Cardoso, Escola Estadual Irmão José Otão, Escola Municipal Vicente Farencena, Escola Mu-
No município de Teutônia, uma ação de pro-
nicipal Santa Helena, Escola Municipal Oscar
teção ambiental tem transformado a realidade
Grau e Escola Estadual Coronel Pilar. Juntos eles
da Região. O Projeto Revive Boa Vista está na
fizeram produções artísticas que propunham a compreensão do processo de envelhecimento, realizaram campanhas de arrecadação, oficinas de pintura, mostra de produção audiovisual, jogos e atividades de integração.
“Acredito
3ª edição com atividades como recolhimento de lixo às margens do arroio local (reduzido de toneladas para 700kg), concurso de produção textual de resgate histórico, confecção de livreto produzido pelo Colégio Teutônia e lançado
que o que aprendemos
na Feira do Livro, mostra socioambiental, painéis
quando jovens levamos pra vida toda.
fotográficos instalados em pontos estratégicos
Por isso a importância do projeto da
(bancos, escolas e supermercados) para a cons-
ONG Parceiros Voluntários. Se já cedo
cientização da comunidade, já visualizados por
aprendemos a ajudar, a colaborar com a
mais de um milhão de pessoas.
sociedade, com certeza formaremos não só adultos com futuros promissores,
Em Arroio do Meio, as crianças de 4 a 11
como também conscientes.”
anos da Tribo Quatro Folhas, do Colégio Bom
LUIZA BUENO, Tribeira.
Jesus, estão fazendo a diferença para a sua co10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
97
agrotóxicos, e a importância de cuidarmos de nossa saúde. Percebemos que, após essa ação, várias famílias visitadas acabaram gostando da ideia e fazendo a sua própria horta ecológica.” PROF.ª ÂNGELA CRISTINA PRETTO, do Colégio Bom Jesus São Miguel.
munidade. O almoço tem mais sabor com as hortaliças cultivadas na horta escolar. A ação faz parte do projeto de sustentabilidade e reciclagem, que envolve e beneficia diferentes turmas de alunos e familiares a cada ano. Eles começaram visitando a cidade de Forqueta, para conhecer outras hortas ecológicas e aprender sobre as hortaliças e o calendário de plantio. Depois construíram a estrutura de materiais reciclados para a horta, iniciaram o preparo do solo e o cultivo de legumes, verduras e ervas medicinais. O projeto integra também outras atividades com reaproveitamento de materiais e iniciativas de cuidado com o meio ambiente.
“O benefício concreto da ação frente à sociedade foi um novo olhar para o cultivo de verduras de forma natural, sem
98
6
REGIÃO SUL Bagé, Dom Pedrito, Pelotas, São Lourenço do Sul, Aceguá, Canguçu, Rio Grande, São José do Norte e Pedro Osório
Os TRIBEIROS dos Pampas começaram a trilhar pela cidadania no município de Bagé, em 2003, com a participação dos jovens da Escola de Educação Especial Caminhos da Luz, do Instituto Anglicano Mélaine Granier, das Escolas de Ensino Fundamental Monsenhor Costábile Hipólito, Professora Julinha Taborda, Risoleta de Quadros e Jean Piaget.
de orientação jurídica e a prevenção do câncer. Escolas de outras cidades seguiram o exemplo. A cidade de Dom Pedrito aderiu à iniciativa em 2010, com a participação de três escolas – Instituto Estadual de Educação Bernardino Ângelo, Escola Municipal Bernardino Tatú e Escola Estadual de Ensino Fundamental Coronel Urbano das Chagas –, que participaram da Ação Tribos por dois anos. O histórico das atividades tribeiEm 2004, a Tribo Pampa, de Bagé, reuniu 10 escolas (Colégio Albert Einstein, Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, E.E. de Ensino Médio Frei Plácido, E.E.E.F. Prof.ª Julinha Costa Taborda, E.E.E.F. Dr. Luiz Mércio Teixeira, E.E.E. Funda-
ras na Região Sul inclui a famosa Caminhada da Paz, realizada anualmente em parceria com a Secretaria Municipal de Trânsito e Circulação e a participação no pedágio anual em benefício da Liga Feminina de Combate ao Câncer.
mental Monsenhor Costabile Hipólito, E.E.E.
Em 2012, a Tribo formada pelos estudantes
Fundamental Prof. Arnaldo Farias, E.M.E. Fun-
das Escolas Alcides Maia e Bernardino Ânge-
damental Dr. João Thiago do Patrocínio, E.M.E.
lo escolheu a Trilha da Cultura e emocionou a
Fundamental Padre Germano e Educandário
comunidade com a encenação da Sexta-Feira da
São Benedito), capacitou os alunos para a pre-
Paixão em frente ao Museu Paulo Firpo, em Dom
servação ecológica, estabeleceu parcerias com a
Pedrito. O mesmo ano marcou a participação de
mídia local, o Poder Público e os empresários,
uma turma de Tribeirinhos da Pré-Escola da Casa
realizou encontros e ações com núcleos de edu-
de Acolhimento Pequenino Vicente de Paula.
cação ambiental, enquanto a Tribo Naturajoana, do Colégio Santa Joana d´Arc, da cidade de Rio Grande, inovava com a promoção de serviços
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
99
7
REGIÃO DA FRONTEIRA Alegrete, Quaraí, Santana do Livramento, Santiago, São Borja, Itaqui e Uruguaiana Na Região da Fronteira, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Otávio Silveira de Itaqui
O município de Santiago beneficiou-se com
merece destaque pela constante participação de
os jovens da Tribo Medianeira, do Colégio que
seus TRIBEIROS nos 10 anos da Ação Tribos. O
leva o mesmo nome, que trilharam pela cultura
município continua sendo um dos mais engaja-
em 2004 e envolveram a comunidade com suas
dos da área, juntamente com Quaraí, São Borja e
performances cênicas e circuito cultural em pra-
Uruguaiana, com a atuação de jovens voluntários
ça pública, além de ministrarem oficina de teatro.
de diversas escolas.
Já em São Borja, a Tribo do Coração, formada
“Tribos é de suma importância para a escola e para os alunos devido à grande bagagem que eles trazem, buscando para si e para a comunidade escolar um aprendizado que eles irão sempre usar den-
ao 2º ano do Ensino Médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus, dedicou-se a ações de educação e cuidado ambiental, entre 2006 e 2009, entre elas a limpeza da costa do Rio Uruguai,
tro das suas necessidades, pois a arte de
palestras e materiais gráficos educativos para a
aprender é uma das mais belas e valiosas
comunidade, e junto com o grupo de catadores
sabedorias do ser humano.”
de lixo da cidade distribuiu panfletos educativos,
Pais de Tribeiro da Escola Municipal de Ensino Fundamental Getúlio Vargas, de Itaqui.
100
por alunos da 7ª série do Ensino Fundamental
atividade que culminou com a integração comunitária em uma mateada no cais do porto.
8
REGIÃO NOROESTE/ PRODUÇÃO Frederico Westphalen,
rém, nós recebemos um sorriso, carinho, amor, felicidade, e isso dinheiro nenhum no mundo tem a capacidade de pagar. Só tenho a agradecer por tudo.” LUIZA MARTINELLI, Tribeira.
Santa Rosa, Horizontina, Santo Ângelo, Cerro Largo, Giruá,Tucunduva, São Luiz Gonzaga, Ijuí, Ibirubá, Marau, Panambi, Condor, Carazinho, Cruz Alta, Quinze de Novembro, Espumoso, Passo Fundo e Nonoai
“Poucas pessoas sabem o quão valioso
A Trilha do Meio Ambiente comprovou ser a preferida dos TRIBEIROS da Região Noroeste. Horizontina, Frederico Westphalen e Tucunduva foram cidades movimentadas pelas ações das
e promissor é o trabalho voluntário. O
Tribos Eco Fantin, da Escola Estadual de Educa-
nível de exigência e de comprometimen-
ção Básica Albino Fantin, Tribo Unidos ao Desa-
to é igual ou maior ao de um cargo no
fio e Vida Verde. Esses jovens de atitude ecoló-
mercado convencional. Não é necessário ser experiente, o que é cobrado é compreensão, carinho e paciência. O trabalho voluntário deve ser realizado com amor e responsabilidade. O voluntário não recebe pagamento em dinheiro. Po-
gica realizaram edições de plantação de mudas, fizeram caminhadas e gincanas, mutirões de limpeza e atividades de jardinagem, mobilizaram a comunidade e órgãos públicos, tudo pela causa ambiental.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
101
“A Ação
Tribos é um projeto mara-
recreação infantil e eventos solidários em datas
vilhoso, desperta em nossas crianças
especiais, interagindo com as crianças da Casa de
e adolescentes a vontade de ajudar na
Apoio à Criança com Câncer, com o Lar das Me-
sociedade, para entender melhor a si-
ninas, que atende crianças em situação de aban-
tuação de cada indivíduo e saber que
dono e/ou vulnerabilidade social, e da Creche
eles podem ajudar a melhorar a vida
Menino Deus. Beneficiam também os idosos do
de outras pessoas. Que se cada um fi-
Abrigo São José, a Cáritas Diocesana e a Casa da
zer a sua parte o mundo em que vive-
Criança, com campanhas arrecadatórias.
mos pode se tornar bem melhor. Apoio muito a iniciativa e espero que cada vez
“Participar
mais possamos estar chamando nossos
Aprendi a dar mais valor às pequenas
filhos a participar, e creio que dessa leva
coisas e a dar mais valor àquelas crian-
de crianças irão surgir novos líderes, go-
ças. Poder fazê-las feliz me fez muito bem.
vernantes com o propósito de trabalhar
Ouvir um pouco da história de cada uma
para o bem comum de todos.”
e poder vivenciar isso com elas fez com
ROSANE MENEGHINI, mãe de jovem Tribeira.
que todos aprendessem um pouco. Tri-
Na Região da Produção, as ações de Educação para a Paz ganharam destaque desde 2003. A Tribo Viva Alegria, do Colégio Marista Conceição, de Passo Fundo, engajou-se em Tribos e manteve-se regularmente ativa em sua comunidade. Os TRIBEIROS ministraram oficinas de arte, dança, informática e robótica, realizaram ações esportivas, dedicaram-se às atividades de contação de histórias, apresentações dramáticas,
102
das Tribos foi incrível.
bos reuniu um grupo de pessoas incríveis e dispostas a fazer aquelas crianças rirem de uma forma que tornasse as coisas melhores em suas vidas.” GABRIELLE RESENDE, Tribeira.
Também nos caminhos da Paz está a Tribo da Escola Rui Barbosa, da cidade de Ijuí, cujos jovens realizaram diversas ações desde 2003. Os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental lideram hoje o Projeto Águias da Paz e mobilizam
Estadual Rui Barbosa.
“Atualmente as pessoas têm sido convocadas a estarem mais inseridas em atividades sociais que possam promover resultados mais solidários, mais conscientes e mais consistentes nas diferentes situações da vida, seja a infantil, a juventude ou a velhice.” outras séries, educadores, pais e funcionários em atividades solidárias. No último ano, atenderam o Lar dos Idosos do Bairro Glória, os pequenos do Lar da Criança Feliz, o Lar da Menina Henrique Liebich, a Escola Luiz Fogliatto, a Casa das Idosas, com doações e visitas, mobilizaram-se na caminhada ecológica com o CTG Chão Batido e fizeram uma campanha para ajudar os cães recolhidos da rua e encaminhados para adoção pela comunidade.
“Achei esse Projeto maravilhoso e tenho certeza de que fez nascer no meu filho o desejo de ser um cidadão solidário e a olhar para o seu semelhante com mais amor e dedicação.” MÃE DE JORDAN, Tribeiro da Escola
ROSANE NUNES BECKER, Coordenadora Pedagógica do Centro de Educação Básica Francisco de Assis.
Outro exemplo de engajamento vem dos alunos do Centro de Educação Básica Francisco de Assis, da cidade de Ijuí. Eles começaram as atividades na Trilha da Cultura, com a Tribo Cidadania.net promovendo a inclusão digital de idosos. Mais recentemente, a Tribo Saudáveis. com, formada por alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, desenvolveu uma pesquisa integrada com a Universidade Regional do Noroeste do Estado (Unijuí). Os TRIBEIROS estudaram o funcionamento do corpo humano, os cuidados para a prevenção de doenças e a importância das atividades físicas, e realizaram práticas nos laboratórios de anatomia, nutrição e física
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
103
ELIANE E VOLMIR HENRIQUE PALHARINI, pais de jovem Tribeira.
“Os trabalhos voluntários nos ajudam a sermos pessoas melhores, nos ajudam a melhorar nossas atitudes, a termos outros tipos de valores para vida. A cuidar mais de nosso planeta e das pessoas que nele vivem.” GISELE MENEGHINI, Tribeira.
da Instituição. As descobertas foram socializadas com o grupo de idosos PITI, que participa de um projeto de qualidade de vida da Faculdade de Educação Física da Unijuí. Os jovens pesquisadores também produziram um livro de receitas caseiras de produtos de limpeza ecologicamente corretos e uma revista sobre as principais doenças que afetam as pessoas da terceira idade.
“A participação de nossa filha no projeto nas Trilhas da Cidadania foi fundamental na formação dela como cidadã, pois oportunizou a ela viver uma experiência diferenciada de pesquisa e diálogo com pessoas idosas. Tendo construído, assim, um aprendizado de solidariedade e respeito com as pessoas idosas.”
104
No Colégio Notre Dame, da cidade de Passo Fundo, a Tribo Doces Lembranças vem transformando a comunidade escolar com suas iniciativas de solidariedade. Os TRIBEIROS dedicam-se à realização de atividades lúdicas e recreativas, apresentações e doações que deixam mais doces e embalam os sonhos das crianças da Escola de Educação Infantil Santa Isabel.
“Posso afirmar, com segurança, que fui transformada pelo meu grupo de Tribeiros. Vê-los chegar muitas vezes sem noção de como será o trabalho, mas cheios de vontade, e ver que esta vontade, aliada às informações, transforma-se em ações concretas pelo próximo é grandioso… E
isso gera para a sociedade jovens diferentes, cidadãos mais conscientes, pessoas que podem fazer diferença no mundo em que vivem. O que não faltou neste ano foi amor, carinho e ternura com as crianças assistidas. Fazer parte deste grupo foi um presente pra mim.” DANIELA TOSCANI MACIEL, Psicóloga e Orientadora do Colégio Notre Dame.
“Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poderá ser (e precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento e do cuidado mútuo; uma comunidade de interesse e responsabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em defesa desses direitos.” BAUMAN, ZYGMUNT. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p.128.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
105
V. SER JOVEM NOS DIAS DE HOJE
T
raçado o ponto de partida em nosso mapa, com a localização dos anteceden-
tes e dos conceitos mais elementares da ação
TEMPOS DE INCERTEZA E DE RELIGAÇÃO
Tribos nas Trilhas da Cidadania, avançare-
Desde as últimas décadas do século 20, vi-
mos nesse percurso, indicando possíveis terri-
venciamos o deslocamento das velhas certezas
torialidades juvenis no mundo contemporâneo.
da era moderna e a revisão de paradigmas –
Como é ser jovem nos dias de hoje?
estamos buscando novas lentes para enxergar
“A juventude é a mudança do mundo;
o mundo. A aceleração de todos os processos e rotinas, a globalização, a ampliação de merca-
são os jovens que mudam, que dão as
dos, os grandes avanços científicos e tecnoló-
ideias. Eles são os novos no território,
gicos, a transformação dos meios de produção
digamos. Eu sou novo no território, eu
e comunicação, a emergência da economia do
quero trocar uma ideia, eu quero ajudar,
conhecimento e da “sociedade em rede”, a so-
eu quero também me meter, todo jovem
brecarga de informação circulante, tudo conver-
é metido... Se tu deixas o jovem falar, ele
ge para um novo momento histórico e para um
vai falar. Tem que deixar falar, tem que
olhar mais atento sobre as distorções da condi-
deixar agir, tem que incentivar as pessoas
ção humana.
a fazerem coisas boas.” EVANDRO MEDEIROS, 25 anos, ex-Tribeiro e atual colaborador voluntário da Ação.
As transições do mundo contemporâneo têm sido intensamente estudadas por diversas áreas das Ciências Humanas, cujas análises indicam repercussões no comportamento das pessoas, na aprendizagem, nas relações de poder, na cultura, na formação das identidades, no trabalho, na mí-
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
107
dia, no consumo e em todos os aspectos da vida
interconectado em redes de relações dinâmicas –
em sociedade. Temos ao nosso alcance lentes
a “teia da vida” – e o ser humano é apenas um fio
mais potentes, que ampliam a visão sobre o agra-
deste tecido planetário e cósmico. Para recuperar
vamento das instabilidades sociais, políticas e eco-
a plena humanidade, precisamos nos reconectar
nômicas e as situações-limite decorrentes, como
à teia, isso “significa construir, nutrir e educar co-
a fome, a pobreza, a violência, a marginalização, a
munidades sustentáveis, nas quais podemos sa-
exclusão, as violações e desigualdades de direitos
tisfazer nossas aspirações e nossas necessidades
humanos, o medo e o abandono, a não aceitação
sem diminuir as chances das gerações futuras”.1
do outro e das diversidades culturais.
“Estamos
na extremidade da patética
luta de religação contra a separação, a dispersão e a morte. Nessa situação, desenvolvemos a fraternidade e o amor... A ética é, para indivíduos autônomos e responsáveis, a expressão do imperativo da religação, com o outro, com os seus, com a comunidade, com a humanidade e, em última instância, inserção na
A visão sistêmica de Capra aponta para a sustentabilidade e a criação do valor compartilhado, aliando-se o desenvolvimento econômico ao progresso social. Nesta perspectiva, os problemas globais podem ser resolvidos com a parceria e a cooperação entre três setores sociais – os governos, as empresas e a sociedade civil.2 A parceria, a confiança e a cooperação são valores integrativos que permitem o enriquecimento mútuo.
religação cósmica.” MORIN, EDGAR. O método 6: ética. Porto Alegre: Sulinas, 2005, p. 36.
1 CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix, 1996, p.229230. A questão do paradigma ecológico também é tratada
O físico e ecologista Fritjof Capra define o pa-
pelo autor nesta obra em parceria com David STEINDL-RAST:
radigma ecológico como uma nova visão da in-
Pertencendo ao universo - explorações nas fronteiras da ciência e
terligação e interdependência fundamentais a todos os sistemas e fenômenos da vida. Tudo está
108
espiritualidade. São Paulo: Editora Cultrix, 1994. 2 Fonte: Entrevista de Fritjof Capra para Juliana Lopes. In: Revista Ideia Socioambiental, edição nº16, ano 4, junho-agosto, 2009.
“A parceria é uma característica essen-
sado, as pessoas acreditavam no poder de inter-
cial das comunidades sustentáveis [...]
venção do Estado e nas ideologias políticas tra-
parceria significa democracia e poder
dicionais; agora esperamos cada vez menos dos
pessoal, pois cada membro da comuni-
governos e percebemos a importância da respon-
dade desempenha um papel importante.
sabilidade individual e da mobilização de grupos
Combinando o princípio da parceria com
sociais (na escola, no bairro, nas redes sociais) na
a dinâmica da mudança e do desenvolvi-
criação de soluções para os problemas do dia a
mento, também podemos utilizar o ter-
dia.
mo ‘coevolução’ de maneira metafórica nas comunidades humanas. À medida que uma parceria se processa, cada parceiro passa a entender melhor as necessidades dos outros. Numa parceria verdadeira, confiante, ambos os parceiros aprendem e mudam — eles coevoluem.” CAPRA, FRITJOF. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix, 1996, p. 232-233.
Estamos ansiosos pela religação, queremos intervir positivamente na mudança do estado das
O atual engajamento de grandes empresas com a responsabilidade social, o crescimento do Terceiro Setor,3 das organizações não governamentais e das alianças entre a sociedade civil, a iniciativa pública e a privada, exemplificam uma forte disposição coletiva de mobilização e de articulação para suprir as demandas sociais. E nisso se inclui o trabalho voluntário4 – algo que uma pessoa faz por livre iniciativa e sem esperar ou ganhar um benefício material em troca. O voluntário oferece o seu tempo e os seus
coisas, do ser e do estar no mundo. Vemos que
3 No Brasil, o número de fundações privadas e associações sem
as políticas públicas nem sempre dão conta das
fins lucrativos que formam o Terceiro Setor cresceu 157%, de
complexas demandas comunitárias, e a cada dia
1996 a 2006, conforme dados do IBGE. Fonte: JOHANNPETER,
aumenta o interesse de outros atores sociais em promover melhores condições de vida. No pas-
Maria Elena P.; MENEZES, Naida. ONG: Transparência como fator crítico de sucesso. Porto Alegre: Ed. Unisinos, 2012, p. 25. 4 O trabalho voluntário no Brasil é regulamentado pela Lei 9608/98, promulgada em 18 de fevereiro de 1998.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
109
conhecimentos e habilidades para os outros.
à flor da pele o tempo inteiro: a neces-
Estabelece, assim, uma postura de religação
sidade de pertencer e a necessidade de
com os demais e suas necessidades. É, portanto,
ser reconhecido. Cria-se aqui um valor
uma relação ética, permeada por valores.
moral, que só pode ser construído com
Nesse contexto, a ação Tribos nas Trilhas da
a gratitude... O prazer é a recompensa.
Cidadania surge como uma oportunidade de
O prazer é ser amado e pertencer.”
o jovem encontrar espaços de pertencimento e fortalecer os seus valores, assumindo um papel de agente de transformação social, justamente
Trecho de entrevista com Adriano Naves Britto. Fonte: JOHANNPETER, Maria Elena P.; DREYER, Lilian. O quinto poder, consciência
na juventude – momento de descoberta das
social de uma nação. Porto Alegre: L&PM,
identidades (Quem sou eu? O que quero para
2008, p. 177.
minha vida? Qual o meu espaço no mundo?). A juventude é um tempo de muitas incertezas e de amplas possibilidades de religação.
“Você
quer pertencer e ser aceito.
Quanto mais gratuita essa aceitação,
O ser humano se constrói na cultura, na
mais fortemente ela vai vincular as pes-
convivência e nos significados compartilhados,
soas. O que as pessoas ganham ao atuar
em um constante processo de identificação
como voluntárias é um reconhecimento que não pode ser ganho de outro modo. Não se pode ganhá-lo sendo bem-sucedido ou pela habilidade de acumular dinheiro, só pode ganhá-lo sendo generoso. A generosidade faz muito bem ao ser humano, porque mediante isso ele atende a um lado da sua natureza que está
110
MÚLTIPLAS JUVENTUDES E TERRITÓRIOS SOCIOCULTURAIS
com determinadas representações (valores, visões, crenças, condutas, conhecimentos, linguagens e demais referenciais circulantes na cultura), aproximando-se por meio do reconhecimento de semelhanças e diferenças. As culturas traduzem o que é ou não importante, aceito e consumível em determinados grupos e, de forma mais ampla, nas sociedades.
No passado, a inscrição no território (o bair-
relações sociais substituem as formas de
ro, a cidade, o estado, o país, a nação) orien-
interação humana territorialmente limi-
tava o estabelecimento dos laços interpessoais,
tadas’.”
a formação das identidades e das comunidades baseadas na tradição familiar. Nascer no mesmo lugar, pertencer à mesma família, morar no mesmo bairro ou falar o mesmo idioma, hoje, não estabelecem por si uma partilha de sentidos atribuídos aos bens culturais e à própria existência. Convivemos em um mundo complexo, marcado pelas diferenças, pelo trânsito e pluralidade de manifestações socioculturais e por instantâneas e múltiplas possibilidades de comunicação, linguagens e acesso à informação. O tempo, o espaço, o território e as ideologias políticas tornaram-se noções flutuantes,
CATELLS, MANUEL. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
As pessoas em geral, e especialmente os jovens (porque já nasceram num mundo territorialmente descontínuo e interconectado em rede), transitam por territórios muito diversos, fisicamente e simbolicamente, zapeando no controle remoto da TV, no videogame, circulando pelos shoppings centers, navegando na internet ou nas mídias sociais. Por isso, as atribuições de sentido (identidades) são muito mais variadas e descontínuas em relação ao passado, conforme os espaços por onde os indivíduos circulam
efêmeras, imprecisas e já não constituem uma
(e há uma diversidade enorme de espaços) e
base supostamente sólida para a construção
as coisas com as quais entram em contato, as
das identidades.
oportunidades, os interesses e o momento de
“O
surgimento de novas práticas e
cada um.
condutas sociais deflagra um processo
As Tribos da atualidade se movimentam em
histórico de ‘desvinculação entre locali-
uma imensa aldeia global,5 com a quantidade de
dade e sociabilidade na formação da comunidade: novos padrões, seletivos, de
5 Marshall Macluhan (1911-1980), precursor dos estudos midiáticos, definiu a “aldeia global” indicando o impacto dos meios
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
111
informação disponível e meios para acessá-la
pelo consumo neste mundo globalizado, o que
imensamente superiores às de gerações ante-
gera enormes distorções sociais, porque nem
riores. Nesses tempos de “superinformação”, há
todos os jovens têm o mesmo tipo de acesso
mais liberdade e potencialmente mais espaços
à informação, ao conhecimento e às opções de
para o jovem se desenvolver. As Tribos juvenis
consumo. E dizemos hoje “juventudes” porque,
não se formam apenas pelo encontro no ter-
até a década de 1950, os padrões de comporta-
ritório físico, ou por ideologias comuns (como
mento eram mais definidos e homogêneos.
nas décadas de 1960-70, com os movimentos estudantis, a contracultura, o feminismo, o amor livre), tampouco somente pela etnia ou por tradições culturais. Os micromundos atuais evidenciam territórios variados, espaços onde os jovens experimentam coisas juntos, em determinados recortes de tempo e espaço, pelos gostos compartilhados e por objetivos muitas vezes circunstanciais e até efêmeros.
Vemos em nossa sociedade uma multiplicidade de contextos, modelos e práticas que contribuem com a formação e a expressão das territorialidades juvenis. O jovem está em conversação com muitas culturas ao mesmo tempo, e sabe selecionar o que mais lhe interessa de cada uma delas, principalmente quando recebe uma educação integral, que lhe permite escolher o melhor para si e para a coletividade. Não pre-
Os jovens têm se reunido pela aproximação
tendemos limitar a vasta gama de possibilidades
dos interesses, por necessidades comuns, por
do SER JOVEM enquadrando-o em estereótipos
coisas que querem fazer e consumir juntos – se-
da cultura imagética, como nerds, punks, góticos,
jam bens materiais ou bens simbólicos (música,
rockabillies, grunges, emos, rappers, grafiteiros,
dança, visual, arte, games, comunidades virtuais,
clubbers, hippies, rastafáris, metaleiros, sertane-
blogs, etc.). Suas identidades passam fortemente
jos, etc. O jovem tem potencialidades infinitamente maiores do que a sua aparência.
de comunicação de massa sobre a percepção e o comportamento. Os meios oportunizam o acesso, a interligação entre as pessoas e as diferentes realidades, formando uma grande aldeia mundial.
112
“O
significado de ser jovem é dado
pelo modo como a juventude é repre-
sentada, ou seja, pelo modo como se fala dela, pelas imagens produzidas em torno dela, e pelos valores a ela atribuídos. Deste modo, ‘ser jovem’ decorre de construções culturais, não sendo o seu significado o mesmo nas diferentes épocas e até mesmo para diferentes grupos culturais em uma mesma sociedade.” ONG PARCEIROS VOLUNTÁRIOS (Org.). Participação social, jovens: guia das ações. Porto Alegre: Comunicação Impressa, 2008, p.10.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
113
VI. INDICADORES SOCIAIS NO BRASIL
M
ais de 1,2 bilhão de adolescentes no mun-
pobreza. Apenas 47,3% cursam o Ensino Médio
do vivenciam a transição da infância para a
em idade adequada (15-17 anos), e fora da fai-
vida adulta, e 9 entre 10 deles enfrentam desa-
xa regular estão 36,5% dos jovens entre 18-24
fios semelhantes de um mundo em transforma-
anos, que não completaram esse nível de ensino.
1
ção, segundo dados do Unicef. Muitos jovens estão sujeitos a vulnerabilidades comuns, por exemplo: a violência, a pobreza, a falta de oportunidades de estudo, a carência de referenciais positivos na construção de suas identidades, as dificuldades de acesso à cultura e de ingresso no mundo do trabalho. Conforme dados do Censo Demográfico 2010/IBGE, o Brasil tem cerca de 34 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade; a grande maioria vive em áreas urbanas, aproximadamente 56% são economicamente ativos e cerca de 10% responsáveis pela unidade domiciliar familiar. Em torno de 38% dos jovens moram em
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) indica as principais ocupações dos jovens entre os 16 e 24 anos, resumidas no quadro 1. Os percentuais mostram que mais jovens deixam de estudar e passam a se dedicar exclusivamente ao trabalho, à medida que a idade avança nesse segmento etário. Outro indicador relevante da situação de vida do jovem brasileiro é o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ),2 definido com base nos dados do Censo 2010/IBGE. O índice relaciona as seguintes variáveis que influenciam a vida dos jovens entre 12 e 29 anos: mortalidade por
lares cuja renda mensal per capita é de até ½ salário mínimo, um indicativo do alto índice de
2 O IVJ-Violência é apurado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a pedido da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça, por meio de Termo
1 Dados do relatório Situação Mundial da Infância – Adolescência,
de Parceria que visa produzir subsídios à Política Nacional de
uma fase de oportunidades, 2011, do Fundo das Nações Unidas
Segurança
para a Infância (Unicef).
síntese-ivi
Pública.
www.juventude.gov.br/noticias/arquivos/
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
115
Só estudam
Só trabalham
Estudam e trabalham
Jovens de 16-17 anos
56,5%
9,2%
24,3%
Jovens de 18-19 anos
25,5%
32,8%
20,5%
Jovens de 20-24 anos
9,2%
53,5%
15%
Quadro 1: Principais ocupações dos jovens entre 16 e 24 anos de idade Fonte: PNAD/IBGE (2009), Síntese de Indicadores Sociais, ano-base 2008.
homicídios e por acidentes de trânsito (mortes
leiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e
violentas), frequência escolar, situação de
Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em
emprego, pobreza e desigualdade no município.
Políticas Sociais (Pólis), aponta algumas pistas
O IVJ foi aplicado em 283 municípios com mais
significativas sobre a vida e o comportamento
de 100 mil habitantes, que representam 54,8%
dos jovens de 15 a 24 anos, moradores das regi-
da população do país. No comparativo 2007-
ões metropolitanas e do Distrito Federal:
2010, observou-se a melhora das condições de vulnerabilidade juvenil à violência, na maioria das cidades participantes. A vulnerabilidade
• 86,2% são solteiros; • 84,5% informam-se pela TV;
revela-se baixa em 163 cidades, média-baixa em 90, média em 27, e somente três municípios mostram alta vulnerabilidade à violência.
• 78% nunca produziram informação em meios de comunicação (ex.: jornais escolares, rádios comunitárias, fanzines, pro-
A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia,3
dução de vídeo, etc.).
realizada entre 2004-2005, pelo Instituto Brasi• 69,2%
frequentam
shopping
centers
como opção de lazer; 3 Dados do Relatório Final da Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, Ibase/Pólis, 2005, disponível em http://www. juventude.gov.br/conjuve/documentos/juventude-e-democracia, acessado em 15/01/2013.
116
• 48,8% contam com acesso a computador e 42,7% à internet;
• 40,1% não leram um livro no último ano;
organizado pelo Unicef, Fundação Itaú Social (FIS) e Instituto Ayrton Senna (IAS), com base
• 28,1% participam de grupos – neste uni-
em dados levantados pelo Ibope Opinião, entre
verso, estão vinculados prioritariamente
jovens de 15 a 19 anos. A pesquisa revela que
a atividades religiosas (42,5%), esporti-
16% dos entrevistados já participaram de algum
vas (32,5%), artísticas (26,9%), estudantis
grupo, ONG ou projeto social. O maior nível de
(11,7%), de comunicação (6,3%), relacionadas a melhorias no bairro (5,8%), de
participação vincula-se a ações em prol da paz e do meio ambiente, às atividades voluntárias e às reivindicações para a comunidade. O quadro 2
meio ambiente (4,5%), político-partidárias
traz um resumo da participação juvenil em pro-
(4,3%), de trabalho voluntário (1,3%) e
jetos de transformação social.
outras atividades (0,8%). • 24,3% não concluíram o Ensino Fundamental; • 20,9% têm filhos; • 18,5% já participaram de movimentos comunitários; • 15,1% vão ao teatro;
Os indicadores aqui apresentados nos fornecem alguns subsídios para compreendermos as diversidades, as dificuldades e as motivações envolvidas na situação juvenil da atualidade. Por um lado, nem todos os números são favoráveis; por outro, percebem-se o inconformismo e o grande potencial dos jovens para o envolvimento em uma causa nobre, voltada à transformação social. Lembremos que a juventude é uma fase de transição e de incertezas, mas também
• 13,7% frequentam centros culturais. Um detalhamento sobre a participação social e política dos jovens encontra-se no estudo4
um momento de desenvolvimento, de expanAdolescentes e jovens do Brasil: participação social e política, análise e publicação da pesquisa realizada pelo Ibope Opinião, disponível
4 Unicef/Instituto Ayrton Senna/Fundação Itaú Social (2007).
em
http://www.unicef.org/brazil/pt/voz2007.pdf,
acessado em 15/02/2013.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
117
Ênfase do projeto social
Já participaram
Pretendem participar
Ações em prol da paz
15%
59%
Ações de defesa do meio ambiente
13%
58%
Atividades voluntárias
12%
54%
Reivindicações para sua comunidade
10%
61%
Ações de defesa dos direitos das mulheres
9%
63%
Ações de defesa das minorias raciais
8%
64%
Comícios de partidos políticos
8%
17%
Manifestações pela reforma agrária
4%
36%
Manifestações por direitos dos homossexuais
3%
24%
Quadro 2: Participação dos jovens de 15 a 19 anos em projetos de transformação social Fonte: Unicef/Instituto Ayrton Senna/Fundação Itaú Social, Adolescentes e jovens do Brasil: participação social e política, 2007.
118
são do ser, propício à abertura de novas trilhas e
tendência forte dos finais do século XX,
à conquista de novos espaços. Lembremos tam-
sublinham a dimensão cada vez mais
bém que o jovem é presente. Sendo assim, não
imaterial do trabalho e acentuam o pa-
podemos vê-lo apenas como futuro.
pel desempenhado pelas aptidões intelectuais e cognitivas... Trata-se, antes, de
PROTAGONISMO JUVENIL E EMPREENDEDORISMO Na especificação de o que é ser jovem, cabe ainda destacar essa etapa da vida como um tempo importante de experimentação e reconhecimento de competências, de cultivo das inteligências. Um momento em que o indivíduo geralmente tem tempo, curiosidade e energia, e que deve ser bem aproveitado para estudar, ler, desenvolver habilidades comunicativas, aprender idiomas, música ou outros conhecimentos úteis, praticar esportes, aproveitar intensamente a vida cultural, fortalecer valores, prospectar uma carreira, enfim, preparar-se de modo equilibrado para ingressar e se posicionar na sociedade produtiva.
“O
aparecimento e desenvolvimen-
to de ‘sociedade da informação’, assim como a busca do progresso tecnológico que constitui, de algum modo, uma
formar para a inovação pessoas capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes de dominar essas transformações.” DELORS, Jacques. (Org.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco/MEC, 1998, p.72.
Apenas ir para a escola e depois cursar uma faculdade ou especialização técnica não garante mais a inserção social e a conquista ou a manutenção do emprego. Hoje são extremamente valorizadas as competências mais amplas, multidisciplinares e comportamentais, como a liderança, a capacidade de formar e manter redes de colaboração e a criatividade. Portanto, a formação do jovem deve ser integral, global. Mesmo com a onda mundial de instabilidade financeira, os mercados se ampliam e as tendências profissionais trazem novos desafios e oportunidades para o jovem lidar com o seu futuro.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
119
A informação está no Google e em toda parte,
é ou não dono de uma empresa. Empreendedo-
e por isso o valor maior agora se concentra no
rismo é atitude do dia a dia.
ser humano, nas suas competências, no modo como ele se comunica, na sua capacidade de liderança e de resolução de problemas, na sua criatividade, no seu poder de inovação, na sua flexibilidade comportamental – habilidades dos espíritos empreendedores.
“Segundo David McClelland, as pessoas podem ser divididas em dois grandes grupos: uma
minoria
que, quando
desafiada por uma oportunidade, está disposta a trabalhar com determinação e afinco para conseguir o que quer, e uma
Ser empreendedor não significa necessaria-
grande maioria que não se importa tanto
mente ser o dono ou gerente de um negócio.
assim. McClelland afirma que as pessoas
Tem a ver com a coragem para assumir riscos
que têm necessidade de realizar se
calculados, com o estabelecimento de metas
destacam porque, independentemente
e estratégias em curto, médio e longo prazos,
de suas atividades, fazem com que as
somados ao desejo de inovar e ao estabeleci-
coisas aconteçam.”
mento de associações (redes) que possibilitam o desenvolvimento.
Comitê de Jovens Empreendedores da FIESP. Manual do Jovem Empreendedor. São Paulo: 2007, p.11.
Para um empreendedor, a dificuldade não
120
representa um obstáculo, mas sim uma opor-
As carreiras já não são construídas com base
tunidade de aprender, crescer, ampliar as suas
em uma única atividade ou competência, em
atividades, de fazer ou não novos negócios e
empregos estáveis, trabalhando-se por muitos
aumentar a sua satisfação pessoal. A flexibilida-
anos em uma mesma empresa, como no passa-
de para se adaptar e para mudar o rumo das
do. Se antes emprego e carreira se confundiam,
coisas quando mudam os cenários. Empreende-
agora adquirem especificidades. O emprego é
dorismo é uma postura de protagonismo e de
apenas uma possibilidade de sobrevivência, re-
autonomia perante os rumos da vida, para quem
fere-se a uma atividade que apenas garante a
subsistência econômica. A carreira define cami-
social, acúmulo de bens materiais e excesso de
nhos mais sólidos, de atendimento dos sonhos,
conforto não são os aspectos mais valorizados
das expectativas, das necessidades, do conforto
na construção de suas vidas profissionais. O jo-
e da segurança em longo prazo.
vem quer se envolver com projetos interessantes e nos quais ele acredite, deseja contribuir
A profissão define-se como uma atividade
com um mundo melhor e conjugar trabalho
especializada, para a qual o jovem precisa se
com realização pessoal. Deve ser preparado
preparar permanentemente, mesmo depois de
para o trabalho e não apenas para o emprego.
entrar no mercado de trabalho. A caminhada acontece de diversas formas, por meio de cur-
O recente estudo O Sonho Brasileiro,5 fei-
sos técnicos e profissionalizantes, pela formação
to pelo Datafolha e pela agência de pesquisas
universitária, na educação formal e informal,
Box1824, sobre o Brasil e o futuro na perspec-
presencial e a distância. As culturas e as compe-
tiva dos jovens de 18 a 24 anos, revelou que o
tências desenvolvidas pelos jovens farão toda a
maior sonho das juventudes está associado ao
diferença na hora da busca do primeiro empre-
acesso à educação superior e ao emprego, fican-
go, pois, como eles, milhares de outros jovens estão fazendo o mesmo. A mesma mobilidade dos fluxos de informação e dos territórios culturais está presente nas relações entre a visão de mundo dos jovens e a sua inserção na sociedade produtiva. Diferente-
do em segundo plano a casa própria, o dinheiro, os bens de consumo e a formação de uma família. Um dado bastante relevante é o aspecto social e solidário das mentes e corações jovens: • 90% gostariam de ter uma profissão que contribuísse com a melhoria da sociedade;
mente de seus pais, essa geração muda mais rapidamente de emprego, busca novos desafios e
5 A pesquisa completa está disponível no site Projeto O Sonho
trabalha melhor em rede, de forma colaborativa
Brasileiro:
e associativa. O lema é cooperar mais, solidificar alianças e competir menos. Estabilidade, status
http://pesquisa.osonhobrasileiro.com.br/indexn.php,
acessado em 5/1/2013. Também foi analisada pela matéria “Os jovens não querem só dinheiro”, da revista Exame.Com, publicada em 16/6/2011.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
121
• 74% querem trabalhar em ambientes que
acredita no seu potencial para influenciar outras
promovam mais trocas interpessoais;
pessoas nessa mesma direção. Um em cada 12
• 62% entendem que os que ganham mais devem pensar nos demais, o que reflete a sua disposição para o trabalho voluntário; • 51% manifestam a vontade de trabalhar a distância, na própria casa – o que não pressupõe isolamento, mas a interconexão via meios de comunicação.
122
jovens brasileiros apresenta esse perfil de “ponte”, ou seja, de ligação entre interesses comuns e de mobilização para novas conquistas sociais. O estudo corrobora os traços de proatividade e as capacidades de empreendedorismo social das juventudes. Os jovens querem estudar, trabalhar, participar da prosperidade coletiva e – por que não?
Entre as atitudes transformadoras mais va-
– curtir a vida, fazer o bem e se realizar como
lorizadas pelos jovens pesquisados estão a par-
ser humano. O Terceiro Setor tem dado a me-
ticipação social, a criatividade e a diversidade.
recida atenção a esses movimentos e investido
Na prática, isso releva as suas capacidades de
esforços em programas de inserção do jovem
mobilização e sensibilização social e de integra-
como protagonista de mudanças socioculturais.
ção das culturas. A maioria dos entrevistados se
A ONG Parceiros Voluntários, por exemplo,
identifica com o país e tem orgulho de ser bra-
disponibiliza a capacitação Desenvolvendo Jovens
sileiro. Em relação aos valores importantes na
Tribeiros, cuja ênfase é possibilitar ao jovem a
transformação do Brasil, os jovens indicam mais
compreensão de suas próprias competências
igualdade e justiça social, não à corrupção, mais
para protagonizar atitudes e práticas em prol do
ética e cidadania e oportunidades para todos.
bem comum.
O Sonho Brasileiro nos mostra que o jovem se
“A palavra ‘protagonismo’ vem da jun-
interessa pela coletividade, sente-se responsável
ção de duas palavras gregas: protos, que
pela construção de uma sociedade melhor e
significa o principal, o primeiro, e ago-
nistes, que significa lutador, competidor, contendor. Quando falamos de protagonismo juvenil, estamos falando, objetivamente, da ocupação pelos jovens de um papel central nos esforços por mudança social”. COSTA, Antonio C. G. da. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000, p.150.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
123
VII. EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI
C
omo vimos anteriormente, os meados do
O movimento e o debate global em torno
século 20 configuraram um momento his-
das políticas educacionais intensificaram-se na
tórico de intenso questionamento das certezas
última década do século 20. Um marco foi a
da era moderna e de profundas mudanças na
Conferência Mundial sobre Educação para Todos,
organização social e nas formas de convivência
conhecida como Conferência de Jomtien, rea-
das sociedades contemporâneas. Ficou muito
lizada nessa cidade da Tailândia, em março de
claro o consenso mundial sobre as transforma-
1990. O evento, realizado pela Organização das
ções emergentes e a necessidade de tornarmos
Ações Unidas para a Educação (Unesco); o Fun-
o convívio mais harmônico entre ser humano/
do das Nações Unidas para a Infância (Unicef); o
comunidades/planeta. Mudaram diversos aspec-
Programa das Nações Unidas para o Desenvol-
tos da vida social: a comunicação, as identidades
vimento (PNUD); e o Banco Interamericano de
culturais, o consumo, o trabalho, os espaços e as
Desenvolvimento (BID), reuniu representantes
práticas de sociabilidade, a participação demo-
de 155 países (entre eles o Brasil) e resultou no
crática, as relações com o meio ambiente... Um
comprometimento dos governos pela democra-
tempo-espaço para se repensar a educação, a
tização, universalização e equidade da educação
democratização e a produção do conhecimento.
básica, erradicação do analfabetismo e melhores
Que educação tem sido proposta para
oportunidades para crianças, jovens e adultos.
instrumentalizar o desenvolvimento das novas
“Em
gerações e de uma sociedade sustentável? Em
de profunda transformação, a educação
que sentido a ação Tribos nas Trilhas da
constitui nossa melhor esperança. Ou,
Cidadania se identifica e contribui com as
dito de outra maneira: a transformação
novas metas da Educação? Qual a proposta
da educação é nossa melhor ponte para
educativa e metodológica da Ação?
um futuro melhor. Efetivamente, se há
nossos atuais tempos de crise e
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
125
um tempo em que é necessário reinven-
sistemas educacionais tradicionais e a necessida-
tar a educação, esse tempo é agora.”
de de políticas voltadas à educação permanente.
JUAN CASASSUS, filósofo e sociólogo chileno, especialista da Unesco para América Latina e Caribe.
A análise da Comissão Delors passou a orientar a renovação educacional, a partir da publicação Educação: um tesouro a descobrir – Rela-
Em 1993, a Unesco criou a Comissão In-
tório para a Unesco da Comissão Internacional
ternacional sobre Educação para o século XXI,
sobre Educação para o século XXI.2 O relatório
presidida por Jacques Delors e integrada por
definiu os famosos princípios educacionais deste
1
especialistas de várias nacionalidades. Em três
século: os Quatro Pilares da Educação – apren-
anos de trabalhos intensos, estudos e reuniões
der a conhecer, aprender a fazer, aprender a
em diferentes países, a Comissão Delors pro-
ser e aprender a conviver. Também evidenciou
moveu uma ampla reflexão sobre as implica-
as finalidades da educação: o desenvolvimento
ções da globalização nas políticas educacionais
pessoal e social, a cultura, a cidadania, a coe-
e apontou as tendências para a qualificação da
são social, o trabalho e o emprego, a pesquisa
educação neste cenário. Foi uma continuidade,
e a ciência. Em síntese, o estudo propôs uma
mais abrangente e atualizada, da discussão pro-
educação integral, voltada ao pluralismo e à di-
posta pela Comissão Edgar Faure/Unesco e seu
versidade da espécie humana, à tolerância e ao
relatório “Apprendre à être” (Aprender a ser),
respeito, ao pleno exercício da democracia e da
de 1972, que já indicava o questionamento dos
cidadania.
1 Membros da Comissão e suas nacionalidades: Jacques Delors (França), In’am Al-Mufti (Jordânia), Isao Amagi (Japão), Roberto Carneiro (Portugal), Fay Chung (Zimbábue), Bronislaw Geremek (Polônia), William
126
Gorham
(Estados
Unidos), Aleksandra
Kornhauser (Eslovênia), Michael Manley (Jamaica), Marisela Padrón
2 Título original do Relatório Learning: the treasure within; report to
Quero (Venezuela), Marie-Angélique Savané (Senegal), Karan Singh
UNESCO of the International Commission on Education for the Twenty
(Índia), Rodolfo Stavenhagen (México), Myong Won Suhr (Coreia
first Century, 1996. No Brasil, a primeira edição do Relatório foi
do Sul) e Zhou Nanzhao (China).
impressa em 1998, pela Editora Cortez.
Aprendizagens Aprender a conhecer
Aprender a fazer
Aprender a conviver
Aprender a ser
Pistas e recomendações do autor Combinar uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. Aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. Adquirir não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. Desenvolver a compreensão do outro e a percepção das interdependências — realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
Exemplos correlacionados Aprender a aprender Autonomia para conhecer Curiosidade Atenção Memória Pensamento concreto e abstrato Capacidades de gestão Iniciativa Proatividade Relacionamento Trabalho em equipe Capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas Solução de problemas
Empatia Ética Diálogo Cidadania Integração Solidariedade Sociabilidade Gestão de conflitos Cooperação Paz Não violência Para melhor desenvolver a sua personaliIdentidade dade e estar à altura de agir com cada vez Autonomia maior capacidade de autonomia, de discer- Autoestima nimento e de responsabilidade pessoal. Para Autoconfiança isso, não negligenciar na educação nenhuma Criatividade das potencialidades de cada indivíduo: me- Responsabilidade mória, raciocínio, sentido estético, capacida- Justiça des físicas, aptidão para comunicar-se. Quadro 3: Síntese dos Quatro Pilares da Educação – Delors (1996)
Fonte: DELORS, Jacques. (Org.). (1996). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco/MEC, 1998, p.101-102.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
127
“A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade social, espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo nas diferentes circunstâncias da vida.” DELORS, Jacques. (Org.) Educação: um
e sua típica fragmentação de conhecimentos em disciplinas e saberes descontextualizados, um modelo que restringia uma formação voltada à emancipação do jovem, ao desenvolvimento de competências para a vida, ao senso crítico, à ética e à autonomia – requisitos fundamentais para a plena inserção social e atuação cidadã. Segundo o autor, era preciso repensar a reforma e reformar o pensamento,4 religar os saberes, as disciplinas, as dimensões humanas, correlacionar a emoção e o místico ao pensamento racional.
tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília:
Outros teóricos contemporâneos subsidiaram
Unesco/MEC, 1998, p.99.
o início das mudanças na educação para o sécu-
Na sequência dos Quatro Pilares de Delors, a Unesco encomendou a Edgar Morin uma obra que sistematizasse caminhos e soluções compatíveis aos dilemas educacionais das últimas décadas. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro3 aprofundou a perspectiva transdisciplinar da educação e apontou a urgência da revisão do paradigma cartesiano
lo 21, entre eles: Howard Gardner e a Teoria das Inteligências Múltiplas;5 Philippe Perrenoud e sua Teoria das Competências;6 António Nóvoa e seus estudos sobre a formação e a valorização
4 Essa questão foi também tratada por Edgar Morin na obra A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, 1255455
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 5
128
3 Publicado originalmente em 1999, Os sete saberes necessários à
6 PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola
educação do futuro teve a primeira impressão no Brasil em 2000,
(Porto Alegre: Artes Médicas, 1999) e Dez novas competências para
pela Editora Cortez.
Ensinar (Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000).
Desafios para a educação Possíveis abordagens Cegueiras do conheciTratar o conhecimento não como retrato inquestionável da realidade ou mento: erro e ilusão verdade absoluta, mas como possibilidade, tradução e reconstrução contínuas, realizadas por sujeitos com histórias de vida, emoções e culturas próprias, passíveis ao erro e à ilusão. Exemplos de fontes de erro e ilusão: falsas e distorcidas lembranças da memória; lógica das teorias e ideologias fechadas e deterministas, que excluem ou resistem ao diálogo com sistemas e ideias diferentes; a ciência clássica ocidental disjunta, reduz e simplifica o objeto de conhecimento, encerra-se em leis desconsiderando a politemporalidade, o meio, o outro, o sujeito observador/criador, o espírito, a emoção, a contradição. Princípios do conhecimen- Contextualizar as informações para que façam sentido a quem as apreento pertinente de, um olhar global sobre a realidade e a recomposição do todo para se conhecer as partes, “o todo organizador do qual fazemos parte” (o cosmo, todos os fenômenos e todas as formas de vida). Considerar a multidimensionalidade, a solidariedade entre os problemas e a amplitude da realidade, que é transdisciplinar, transversal, global e complexa – por isto a fragmentação limita a perspectiva do sujeito e do seu conhecer. Ensinar a condição Propiciar o reconhecimento da nossa (des)humanidade, da posição do ser humana humano no mundo e da contínua inter-retroação cosmo/natureza/vida/ homem. Nossa (des)humanidade abrange unidade e diversidade, circuitos cérebro/mente/cultura e razão/afeto/pulsão alimentam-se de vida e morte, de razão e loucura, de trabalho e jogo, do real e do imaginário, das coisas prosaicas e poéticas, enfim, somos tanto sapiens quanto demens, e daí nossa complexidade. Não somos entidades isoladas do tetagrama dialógico ordem/desordem/interações/organização. Ensinar a identidade Educar para a formação da consciência antropológica (perceber a unidade na terrena diversidade e vice-versa), consciência ecológica (saber habitar com os outros seres), consciência cívica (exercer a responsabilidade e a solidariedade) e da consciência espiritual (praticar a crítica, a autocrítica e a compreensão). A consciência da identidade terrena se traduz no pensar e agir em relação ao cosmo, à natureza, ao social, ao outro, no policentrismo, no reconhecimento da interdependência entre os seres, os ecossistemas e as culturas, no saber conviver no planeta Terra. 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
129
Desafios para a educação Possíveis abordagens Enfrentar as incertezas Reconhecer as incertezas e as limitações da realidade e estar preparado ao inesperado são condições necessárias para que alguém possa realizar melhores escolhas e decisões, traçar estratégias eficientes para resolver problemas, saber como lidar com as dificuldades e enfrentamentos que surgem na ecologia da ação (incerteza dos atos, dos fins e dos meios que, em cada situação ou contexto, assumem significados e repercussões diferenciados, representando tanto oportunidades quanto riscos imprevisíveis). Ensinar a compreensão Mobilizar para a aceitação do outro, o olhar mais aberto e atento sobre o outro e suas ações (mesmo quando elas pareçam detestáveis), seus motivos, suas condições, suas necessidades. A compreensão é um movimento que nos impede de agir como juízes ou como donos da verdade, evitando a condenação do outro, é um estado de abertura e de tolerância que permite a humanização, a expressão da pluralidade e o intercâmbio de saberes entre as culturas. O egocentrismo, etnocentrismo, o sociocentrismo e o espírito da simplificação são obstáculos para o ser humano compreender a si mesmo e aos outros. Ética do gênero humano Ensinar para o respeito à diferença e à identidade, a democracia como sistema político que se nutre de consensos e conflitos e da pluralidade, a democratização do conhecimento; ensinar para o desenvolvimento mútuo, solidário e sustentável. Educar em direção à antropoética (união entre seres e saberes), considerando-se o circuito indivíduo/sociedade/espécie e a cidadania terrestre, o desenvolvimento das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência do pertencer à espécie humana. Quadro 4: Resumo dos Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro – Morin (1999) Fonte: MORIN, Edgar. (1999). Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Editora Cortez; Brasília: Unesco, 2000.
130
dos professores;7 César Coll Salvador e a renovação dos currículos de base construtivista;8 Fernando Hernández e a proposta da organização curricular por Projetos Didáticos de Trabalho9 (uma reformulação da Pedagogia por Projetos de John Dewey); José Bernardo Toro e seus Códigos da Modernidade;10 Humberto Maturana e Francisco Valera e a teoria Biologia do Conhecer.11
7 NÓVOA, António. (Coord.). Formação de professores e profissão
Os Códigos da Modernidade definem as principais competências necessárias para a participação social no século 21, são elas: • domínio da leitura e da escrita; • capacidade de analisar cálculos e de resolver problemas; • capacidade de compreender e atuar em seu entorno social; • capacidade para localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; • capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo.
docente (Lisboa: Dom Quixote; Instituto de Inovação Educacional, 1992) e Os professores e a sua formação (Lisboa: Dom Quixote,
Fonte: “Códigos da Modernidade”, de José Bernardo Toro
1995).
(Fundadón Social da Colômbia), traduzidos e adaptados por
8 COLL, César. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento.
Antonio Carlos Gomes da Costa para a Fundação Maurício Sirotsky
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. COLL, C.; PALACIOS, J.;
Sobrinho, 1997.
MARCHESI, A. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. Cabe destacarmos as principais teorias construtivistas nas propostas de César Coll Salvador: Epistemologia Genética (Jean Piaget), Sócio-Interacionismo (Lev Vygotsky) e Aprendizagem Significativa (David Ausubel). 9 HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na Educação. Porto Alegre: Artmed, 1998. HERNÁNDEZ, Fernando;VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998. 10 TORO, José Bernardo. Códigos da Modernidade: capacidades e competências mínimas para participação produtiva no século XXI. Bogotá: Fundación Social, 1997. 11 MARTURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento, as bases biológicas do conhecimento humano. Campinas: Ed. Psy, 1995.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
131
VIII. DIRETRIZES EDUCACIONAIS NO BRASIL
E
nquanto o mundo pensava na educação para o século 21, o Brasil também vivia esse momento histórico de reposicionamento das perspectivas e políticas educacionais. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996,1 e regulamentada em 1998, pelas Diretrizes do Conselho Nacional de Educação e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, abriu caminhos para o redirecionamento da educação brasileira.
“Nunca em nossa história temos feito tan-
Entre outros destaques, a LDB definiu que a educação não se dá somente na escola, mas nos diversos espaços sociais; afirmou os ideais de liberdade e solidariedade, a educação básica como meio e fim para a formação da cidadania, a promoção do desenvolvimento cultural e social dos educandos, o preparo para a vida e a inserção profissional, a transdisciplinaridade nos currículos, o pluralismo de concepções pedagógicas; considerou as diversidades culturais e étnicas e a educação especial; introduziu a valorização do trabalho e da capacitação contínua dos
tos progressos no setor educacional, mas
professores; apontou para a descentralização do
também nunca alcançamos uma consciên-
processo educativo.2
cia tão clara de nossas próprias fraquezas.” DARCY RIBEIRO.
1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é também conhecida como lei Darcy Ribeiro, um de seus formuladores, antropólogo, educador, escritor e político. Na condição de
As políticas educacionais seguiram um curso crescente de inovações, introduzidas na prática escolar a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCNs, 1997-1998), do Referencial Cur-
senador, ele apresentou o substitutivo para a outra proposta de lei da época. LDB disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
2 Esses destaques da LDB (Lei n.9394, de 1996) são detalhados
Leis/L9394.htm, acessado em 25/01/2013.
em seus Títulos I, II, III, IV,V e VI.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
133
ricular Nacional para a Educação Infantil (1998),
de e sua dinâmica, dando-lhes a mesma
dos Parâmetros Curriculares Nacionais para
importância das áreas convencionais.”
o Ensino Médio (PCNEM, 1999-2000) e das
Brasil. Ministério da Educação; Secretaria de
Orientações Educacionais Complementares aos
Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
nacionais: apresentação dos temas transversais, ética.
Médio (PCN+, 2002). Desde a virada do milênio, as diretrizes brasileiras contemplam os pilares da educação para século 21 e se comprometem claramente com a educação para a cidadania, sob os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade de direitos, da participação (cidadania ativa) e da corresponsabilidade pela vida social. Essa perspectiva sustenta a revisão dos projetos político-pedagógicos das escolas públicas e privadas de todo o país.
“A
educação para a cidadania requer
que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos [...] Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam essa tendência e a incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua complexida-
134
Brasília: MEC/SEF, 1997, p.25.
Os métodos e as práticas pedagógicas têm sido avaliados e reestruturados, de modo a enfatizar os temas transversais, as pedagogias ativas e por projetos e a promoção de práticas escolares atualizadas e contextualizadas na formação das crianças e dos jovens. Percebeu-se que os antigos modelos de educação, baseados na transmissão de conteúdos estanques, na memorização e na reprodução, centrada no saber do professor e na performance pontual do aluno, já não davam mais conta de uma formação integral e compatível com as necessidades do mundo contemporâneo.
Os temas transversais são as questões sociais que permeiam o ensino e a aprendizagem dos conteúdos das áreas curriculares, permitindo a contextualização dos conhecimentos e proporcionando ao aluno maior oportunidade de compreensão e relação entre teoria e prática.
Os princípios da transdisciplinaridade e transversalidade contemplam a abordagem das ques-
“As práticas de educação popular também se constituem em mecanismos de
tões sociais que não se encerram no âmbito de
democratização, em que se refletem os
uma disciplina específica, permeiam inúmeros as-
valores de solidariedade e de reciprocida-
pectos da vida coletiva, por exemplo: ética (res-
de e novas formas alternativas de produ-
peito mútuo, justiça, diálogo, solidariedade, auto-
ção e de consumo, sobretudo as práticas
nomia), meio ambiente (manejo e conservação
de educação popular comunitária, muitas
ambiental), saúde (autocuidado, prevenção de do-
delas voluntárias. O Terceiro Setor está
enças, qualidade de vida), orientação sexual (sexu-
crescendo não apenas como alternativa
alidade, relações de gênero, prevenção de doenças
entre o Estado burocrático e o merca-
sexualmente transmissíveis), pluralidade cultural
do insolidário, mas também como espaço
(identidades, diversidade, ser humano como agen-
de novas vivências sociais e políticas hoje
te social e cultural), trabalho e consumo (relações
consolidadas com as organizações não-
produtivas, consumo e produção material e cul-
-governamentais (ONGs) e as organiza-
tural, meios de comunicação e informação). Essas
ções de base comunitária (OBCs).”
temáticas aplicáveis e úteis à vida ensejam projetos de aprendizagem transformadora3 e a participação
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. In: Revista São Paulo em Perspectiva – Educação:
das organizações da sociedade civil na formação
cultura e sociedade, v.14, nº 2. São Paulo: Fundação
de jovens e crianças para a cidadania.
SEADE, Abr-Jun 2000, p.3-11.
De uma “educação bancária” (como bem de3 Termo definido e utilizado pelo prof. Max Günther Haetinger em sua palestra Projetos e Temas Transversais na Escola: projetos de
finiu Paulo Freire),4 antidialógica, em que os pro-
aprendizagem transformadora são aqueles que executamos na escola, a partir dos interesses e da iniciativa dos alunos (agentes
4 Paulo Freire deixou um importante legado à renovação
comunitários), que buscam trabalhar com seus professores na
educacional no Brasil, com sua proposta de práxis pedagógica
melhoria dos problemas das comunidades em que estão inseridos,
baseada na educação emancipadora, no desenvolvimento da
dando significado prático aos conteúdos escolares, dentro de uma
autonomia e da crítica, e na valorização do contexto, da cultura
visão sociointeracionista.
e dos conhecimentos dos aprendentes. Estão entre as suas
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
135
fessores eram os detentores do conhecimento a
agir, enfrentar problemas de qualquer
ser transmitido e os alunos meros espectadores
natureza, participar socialmente, de
nos bancos escolares, a educação brasileira pas-
forma prática e solidária, ser capaz de
sou a reconhecer o aluno como sujeito ativo
elaborar críticas ou propostas e, espe-
e protagonista da sua aprendizagem. Diferentes
cialmente, adquirir uma atitude de per-
métodos didático-pedagógicos voltaram-se à
manente aprendizado.”
valorização do indivíduo, do seu contexto, dos seus saberes e competências, da sua emoção, da sua criatividade, da sua autonomia, em direção à aprendizagem significativa e emancipatória. O contexto educacional mudou e tem se concentrado na promoção de uma Educação
Entre os educadores brasileiros contempo-
centrada no aluno, no seu desenvolvimento in-
râneos, Antonio Carlos Gomes da Costa (1949-
tegral, na sua inclusão social, na cooperação e na
2011), um dos redatores do Estatuto da Criança e
construção cidadã e democrática.
do Adolescente (ECA, 2000), propôs e ressaltou
“Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e principais obras: Educação, prática da liberdade (1967), Pedagogia
136
BRASIL. Ministério da Educação; Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCN+), Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 2002, p.9.
a importância de uma educação interdimensional, com projetos pedagógicos que superem a ênfase no pensamento racional (logos), valorizando-se igualmente “a sensibilidade, a corporeidade, a transcendentalidade, a criatividade, a subjetividade, a afetividade, a sociabilidade, a convivência e tantas outras dimensões relacionadas com o pathos, o eros e o mytho”. A sua “visão do todo” mostra-nos a aplicabilidade dos Quatro Pilares e resume as me-
do Oprimido (1968), Pedagogia da Esperança (1992) e Pedagogia
diações envolvidas em seu novo modelo de práxis
da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (1997).
educativa (veja Quadro 5 a seguir).
Segundo Costa (2008), a educação interdi-
pathos (dimensão do sentimento, da afetivida-
mensional forma pessoas mais aptas à vida sob
de), eros (dimensão do desejo, das pulsões, dos
o paradigma do desenvolvimento humano, por-
impulsos, da corporeidade), mytho (dimensão da
que se baseia na inter-relação e no equilíbrio das
relação do homem com o mistério da vida e da
quatro dimensões humanas: logos (dimensão do
morte, do bem e do mal). A escola tradicional,
pensamento, do conceito ordenador e domina-
um legado do Iluminismo, atua nos limites do lo-
dor da realidade pela razão, ciência e técnica),
gos, mesmo em seus projetos interdisciplinares.
Quatro Aprendizagens
Quatro Competências
Quatro Atitudes
Exemplos de habilidades
Aprender a ser
Competências pessoais
Autodesenvolvimento (voltado a si mesmo)
- Autoconhecimento - Autoestima - Autonomia - Autoconfiança
Aprender a conviver
Competências relacionais
Alterdesenvolvimento (voltado ao outro)
- Habilidades de relacionamento - Habilidades de cuidado (cuidar de si; do ambiente; dos outros; dos significados e valores/ transcuidado)
Aprender a fazer
Competências produtivas Desenvolvimento das circunstâncias (voltado à realidade social, ambiental, política, cultural, econômica)
Habilidades de gestão exigidas pelo mundo do trabalho: - Autogestão - Cogestão - Heterogestão
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
137
Quatro Aprendizagens Aprender a conhecer
Quatro Competências Competências cognitivas
Quatro Atitudes
Exemplos de habilidades
Desenvolvimento intelec- Habilidades metacognitual (voltado à gestão do tivas: conhecimento) - Aprender a aprender - Ensinar o ensinar - Conhecer o conhecer
Quadro 5: Uma Visão do Todo (Costa, 2008) – Mediações da nova educação Adaptado de COSTA, Antonio C. G. Educação: uma perspectiva para o século XXI. São Paulo, Editora Canção Nova, 2008, p.23.
A Ação Tribos segue os preceitos da edu-
trilhas percorridas pelos jovens TRIBEIROS em
cação para o século 21, com foco nos pilares
seus projetos de voluntariado foram pensadas
aprender a ser e aprender a conviver, de Delors
como três caminhos pertinentes à integração in-
(reveja o Quadro 3), e nos saberes necessários
divíduo/sociedade/espécie.
ao futuro indicados por Edgar Morin, principalmente o ensino da compreensão e a ética do gênero humano (reveja o Quadro 4). Identifica-se com o processo educativo motivado pela humanização da humanidade e ética da solidariedade e da compreensão, indicadas por Morin, adotando uma visão ampliada do ser humano, associada à compreensão da diversidade que sustenta a unidade do planeta, e a responsabilidade de cada indivíduo pelo todo. Essa visão global, de interdependência entre as partes e o todo, está ainda em sintonia com a educação interdimensional (reveja o Quadro 5). As três
138
Outras ideias fortemente inspiradoras, presentes na concepção e complementares ao longo dos 10 anos de práticas de Tribos nas Trilhas da Cidadania, encontram-se nas teorias dos pensadores latino-americanos José Bernardo Toro e Humberto Maturana. Comecemos por dois pressupostos essenciais apresentados por Toro (1996): a democracia é uma ética capaz de tornar a vida digna para todos os indivíduos da sociedade; essa ética democrática e a cidadania só podem ser construídas e fortalecidas por meio da articulação dos três setores sociais – o Governo e suas representações, o setor privado e as organizações civis.
As alianças estabelecidas entre escolas, ór-
Bernardo Toro aponta o caráter indispensá-
gãos públicos, empresas e iniciativas da socie-
vel da mobilização social na construção demo-
dade civil organizada são justamente a base de
crático-participativa, por meio da livre iniciativa,
atuação da ONG Parceiros Voluntários e do seu
e estabelece a urgência de educarmos para a
processo de voluntariado jovem. Essa articula-
vida e para a felicidade, definindo sete aprendi-
ção entre os diferentes agentes sociais viabiliza
zagens básicas ao aprimoramento do convívio
as ações das Tribos, valorizando-se a capacida-
social harmônico: aprender a não agredir o se-
de de os jovens compreenderem e atuarem em
melhante, aprender a comunicar-se, aprender a
seu entorno social, e suas capacidades de plane-
interagir, aprender a decidir em grupo, apren-
jar, trabalhar e decidir em grupo (saberes indica-
der a cuidar de si, aprender a cuidar do entor-
dos por Toro em seus Códigos da Modernidade).
no, aprender a valorizar o saber social. A Ação
“Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados. Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou não é uma decisão de cada um. Essa decisão depende essencialmente das pessoas se
Tribos caracteriza-se como espaço de adesão voluntária, de promoção dessas aprendizagens e como uma convocação para as juventudes efetivarem o seu poder participativo e de mobilização para a transformação social. A convocação se multiplica nas práticas de voluntariado realizadas pelos jovens TRIBEIROS, e assim a cidadania se solidifica cotidianamente, “a partir de uma unidade de propósito e do respeito pelas diferenças” (Toro, 1996, p.9).
verem ou não como responsáveis e como
“Um
capazes de provocar e construir mudanças.”
em cooperação com as outras, criar ou
TORO, J. Bernardo; WERNECK, Nísia M. D. F.
transformar a ordem social na qual ela
Mobilização social: um modo de construir a democracia
mesma quer viver e a qual se compro-
cidadão é uma pessoa capaz de,
e a participação. Brasília: MMA; Unicef, 1996, p.5.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
139
mete a cumprir e proteger, para a dignidade de todos.”
“Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um
TORO, J. Bernardo. A construção do público:
momento de atenção de zelo e de des-
cidadania, democracia e participação. Rio de Janeiro:
velo. Representa uma atitude de ocupa-
Editora Senac Rio; X Brasil, 2005, p.20.
Além de valorizar os saberes construídos socialmente para a formação cidadã e democrática, Bernardo Toro destaca o cuidado como ética imprescindível para a sustentabilidade do mundo em que vivemos, conforme já indicava Leonardo Boff nos anos de 1990.5 O cuidado pressupõe saber cuidar de si mesmo (do corpo, do espírito e do intelecto) e saber cuidar dos outros (dos vínculos afetivos, dos bens públicos e cuidar do planeta). E vemos o cuidado presente em Tribos, em suas práticas solidárias de educação para a paz, de cuidado ambiental e com as pessoas, as comunidades e suas culturas.
ção, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.” BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p.33.
No que diz respeito às teorias de Humberto Maturana,6 os principais pontos de encontro com a Ação Tribos são: a valorização da natureza social humana, a cooperação na promoção da convivência e da aprendizagem, a aceitação do outro e o compartilhar como bases da vida. Segundo o autor, as relações humanas estruturam-se sobre a “emoção fundamental, que é a 6 Os conceitos da Biologia do Conhecer e da Biologia do Amor são recorrentes em diversas obras do autor publicadas no Brasil: A
140
5 O teólogo, filósofo e ecologista brasileiro Leonardo Boff tratou
árvore do conhecimento, as bases biológicas do conhecimento humano
amplamente das questões do cuidado, da ética do humano, da paz
(Campinas, Ed. Psy, 1995) e De máquinas e seres vivos: autopoiese, a
e da ecologia em obras como: Brasas sobre as cinzas (1996), A Águia
organização do vivo (Porto Alegre, Artes Médicas, 1997), ambos em
e a Galinha: uma metáfora da condição humana (1997), O despertar
coautoria com Francisco Varela; Emoções e linguagem na educação
da Águia: o diabólico e o simbólico na construção da realidade (1998),
e na política (Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1998); Cognição, ciência
Ética da Vida (1999), Saber Cuidar: ética do humano - compaixão pela
e vida (Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2001); Formação humana e
terra (1999), e A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para
capacitação (Petrópolis, Vozes, 2000), este em coautoria com Sima
o mundo atual (1999).
Nisis de Rezepka.
aceitação mútua, a da aceitação do outro na
três aspectos indicam que a Ação Tribos está
convivência”. Esta emoção é o amor, e “as interações recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivência”.
no grau 8 do protagonismo juvenil, como pode
“A tarefa democrática é gerar um conversar no qual o limite da aceitação seja tão amplo que nos envolva a todos num projeto comum, como um desejo básico de convivência que é nosso âmbito de liberdade e nossa referência para nosso agir com responsabilidade social.” MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na
ser observado no esquema elaborado por Roger Hart (Quadro 7). Graus de Participação 8 – Iniciada pelos jovens e decisões compartilhadas com os adultos. 7 – Iniciada e dirigida pelas crianças. 6 – Iniciada pelos adultos e decisões compartilhadas com os jovens. 5 – Consultados e informados.
educação e na política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, p.84.
Tribos nas Trilhas da Cidadania envolve os jovens em um projeto de exercício da cidadania, por meio do voluntariado e de práticas solidárias. Oportuniza, assim, espaço e voz para que eles desenvolvam cotidianamente os valores e as habilidades que lhes permitem construir a
Não participação 4 – Convocados mas informados. 3 – Participação simbólica (discursos decorados, por exemplo). 2 – Decoração (vestem camisetas, etc.). 1 – Manipulação: apenas são instrumentos.
si próprios e participar ativamente da sociedade, a partir das condutas estabelecidas na convivência. Motiva a participação, o compromisso e o
Quadro 7: Graus de participação segundo esquema de Roger Hart (1992)7
empoderamento dos jovens, de modo a evitar que eles sejam manipulados pelos adultos. Esses
7 Publicação original: HART, Roger. Children's Participation: From tokenism to citizenship. Unicef: Florença (Itália), 1992.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
141
IX. LDB E A AÇÃO TRIBOS
T
ribos nas Trilhas da Cidadania foi
três trilhas temáticas propostas aos TRIBEIROS
uma ação concebida como prática social
– educação para a paz, meio ambiente e cultura
voluntária de educação para a cidadania, com
– referenciam três temas transversais definidos
embasamento legal previsto na LDB, conforme
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais: a éti-
os aspectos destacados no quadro a seguir. As
ca, o meio ambiente e a pluralidade cultural.
Destaques da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
TÍTULO I – Da Educação Art. 1 A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais. Art. 2 A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2 A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3 O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. TÍTULO V – Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino Capítulo II – Da Educação Básica Seção I – Das Disposições Gerais
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
143
Art. 22 A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-LHE a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Art. 27 Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; Seção III – Do Ensino Fundamental Art. 32 O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. Seção IV – Do Ensino Médio Art. 35 O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamentos posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; Quadro 6: Tribos nas Trilhas da Cidadania integrada à LDB
144
Graziela Loureiro dos Santos, Diretora de Ensino do Colégio São Judas Tadeu, de Porto Alegre, afirma que Tribos acabou sendo um espaço privilegiado para a aplicação da LDB na escola e para a formação integral dos alunos, abrindo os muros do espaço escolar para a comunidade.
“A formação da cidadania se faz, antes de mais nada, pelo seu exercício. A escola possui condição especial para essa tarefa, e os Temas Transversais têm um papel diferenciado por tratar de assuntos diretamente vinculadas à realidade e seus problemas. (...) A participação é um princípio da democracia que necessita ser trabalhado: é algo que se aprende e se ensina.” Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Ética. Brasília: MEC/SEF,1997.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
145
X. PROPOSTA EDUCATIVA DE TRIBOS
O
projeto-piloto de Tribos, planejado pela
dades de massa.1 Os TRIBEIROS buscavam per-
Equipe da ONG Parceiros Voluntários,
tencimento e o encontrariam movimentando-se
recebeu contribuições teóricas de diferentes
nas trilhas temáticas dos grupos de voluntariado.
correntes de pensamento e que ajudaram a construir um plano de mobilização juvenil estruturado em torno de desafios práticos, cooperação em equipe e de temas de relevância social, transversais aos conteúdos escolares. O conceito de Tribos urbanas, do sociólogo Michel Maffesoli, sugeriu a ideia de aproximação do método com o cenário contemporâneo das juventudes e seus microgrupos formados em torno da partilha de identidades circunstanciais e de valores comuns, Tribos caracterizadas pela fluidez, mobilidade e pelo forte envolvimento emocional, uma nova tendência de sociabilidade e de desejo de pertencimento dos jovens, que
“Mesmo
experimentando
situações
adversas, muitos jovens aparecem como parte da solução dos problemas da humanidade, pois são capazes de agir coletivamente para concretizar ideias nas quais apostam e onde se reconhecem com alguma autonomia para a ação [...] Um traço de identificação entre todas as juventudes é que os jovens vivem em grupos, e juntos se divertem, protestam, reagem, estudam e também concretizam sonhos coletivos.” FILIPOUSKI, Ana Maria; NUNES, Maria D. C. Juventudes: diálogos e práticas. Erechim: Edelbra, 2012, p. 39.
ultrapassava o individualismo vigente nas socie1 MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: ForenseUniversitária, 2000.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
147
No início, a Ação Tribos criava um ambiente favorável ao processo educativo formal e se concretizava como um movimento de voluntariado das escolas, com os jovens ainda sob a condução de seus educadores. Mas, segundo Rita Patussi, primeira coordenadora da Ação, gradualmente oportunizou-se a alternância das lideranças e o reposicionamento das relações no espaço escolar, até se tornar um movimento de protagonismo juvenil, com caráter de multiplicação junto às comunidades e com ações realizadas dentro e fora das escolas. Em sua primeira edição, no ano de 2003, Tribos nas Trilhas da Cidadania tinha como meta o envolvimento de 5 mil jovens do Ensino Médio em todo o Rio Grande do Sul, mas o ano finalizou com 18 mil inscritos e com as crianças do Ensino Fundamental querendo participar. Essa adesão levou a ONG Parceiros Voluntários a procurar o Núcleo de Integração Universidade e Escola (NIUE), da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), para realizar uma pesquisa que orientasse a implementação de ações educa-
tivas voltadas à cultura de participação social voluntária e solidária, na escola ou fora dela. A pesquisa qualitativa Jovens e Participação Social Solidária e Voluntária, iniciada em 2004, teve a coordenação da Prof.a Maria Stephanou, do NIUE.2 Ela foi também coordenadora e organizadora da publicação Participação social, jovens: guia de ações – ONG Parceiros Voluntários, que reúne as estratégias educativas3 formuladas para o aprimoramento da Ação Tribos, a partir da pesquisa realizada.
“Devido
ao aumento significativo de
jovens engajados nas Tribos, sentimos a necessidade de desenvolver uma metodologia que pudesse contribuir para a
2 Equipe do NIUE desenvolvedora da pesquisa: Ana Mariza Filipouski, Diana Maria Marchi, Carmem Zeli Vargas Gil, Cesar Lopes, Elaine Dulac, Guilherme Reichwald e Maria Ângela Gandolfo, e bolsistas Iana Lima e Fátima Lopes, sob coordenação da Prof.ª Maria Stephanou, que atualmente é Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu) da Faculdade da UFRGS. 3 Equipe do NIUE responsável pela elaboração das estratégias educativas: Ana Maria Ribeiro Filipouski, Ana Cristina Accioly, Carmem Zeli Vargas Gil, Diana Maria Marchi, Denise Nunes, Maria Ângela Paupério Gandolfo, Maria Cecília A. Torres, Mariana Nunes, Maria Stephanou e Paula Fogaça Marques.
148
efetividade dessa ação, através do desen-
Essa análise foi o ponto de partida para o de-
volvimento de uma proposta educativa
senvolvimento de uma proposta educativa, volta-
que orientasse as instituições educacio-
da à construção de uma cultura de participação
nais e os educadores na relação com os
social voluntária e solidária. As perguntas eram:
jovens, a fim de implementar ações que
que jovens queremos formar? Críticos e partici-
consolidassem uma cultura de partici-
pativos, autônomos e responsáveis, comprometi-
pação social voluntária, solidária, cidadã
dos com seu entorno social, capazes de enfrentar
e empreendedora. Origina-se, assim, o
desafios e mudanças, vislumbrando direções de
Programa Parceiros Jovens Voluntários.” ONG Parceiros Voluntários. Participação social, jovens: guia de ações. Porto Alegre: Comunicação Impressa, 2008, p.1.
vida e futuros possíveis? A proposta buscou, então, educar jovens para a cidadania plena e ativa, reconhecendo-os em sua cultura e potencialidade, favorecendo a sua participação social e com atuação na vida pública, por meio de ações vo-
Na primeira etapa da pesquisa (2004-2005),
luntárias e solidárias comprometidas com a defe-
formaram-se 13 grupos de conversação entre jo-
sa dos direitos humanos e a transformação das
vens de 15 a 24 anos, da Região Metropolitana de
condições que impedem sua extensão a todos.
Porto Alegre, e três grupos de educadores e pais. Os dados obtidos foram confrontados com mais
Os eixos estruturadores foram: a Subjetivida-
de mil avaliações fornecidas pelos participantes
de, a Socialização e o Saber, pois é na intersec-
de Tribos nas Trilhas da Cidadania. A análise
ção desses eixos que se encontra a participação
mostrou que os jovens querem se expressar e
social solidária e voluntária, conforme demons-
se sentir pertencentes – eles têm muito a dizer,
trado na figura a seguir.
esperam ser escutados nos espaços onde circulam e atuam, buscam o reconhecimento de suas ideias e manifestações e desejam fazer a diferença na transformação social de suas comunidades.
A fim de atender ao grande desafio de educar para a participação social voluntária, a proposta incluiu um Programa de capacitações para educadores e jovens. Em 2005, realizou-se o primeiro curso-piloto “Jovens, Educação, Participação So10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
149
cial e Voluntariado”, oferecido a 43 educadores
A parceria entre o NIUE e a Parceiros Volun-
de 12 cidades do RS. Em 2006, complementou-
tários resultou na construção conjunta de uma
-se o plano-piloto de capacitação com o “Curso
Proposta Educativa sistematizada e de extrema
de Desenvolvimento de Lideranças Juvenis”, que
importância para a ampliação e efetividade da
propunha a qualificação dos jovens em processos
ação Tribos nas Trilhas da Cidadania, fun-
interpessoais e intergrupais, empreendedorismo,
damentada nos quatro pilares da educação para
voluntariado, e mobilização, planejamento e ava-
o século 21: aprender a ser, aprender a conviver,
liação de projetos sociais. Em 2008 foi publicado
aprender a conhecer e aprender a fazer. Veja no
o livro Participação social, jovens: guia de ações.
Quadro 8.
•
Educar para a participação social e a consciência cidadã supõe a criação de situações em que os jovens aprendam a participar, vivenciando experiências efetivas de atuação solidária.
•
Consolidação da cultura de participação social voluntária e solidária juvenil exige o fortalecimento da autonomia e responsabilidade dos jovens, assegurando-lhes autoria e visibilidade no processo de proposição, gestão, execução e avaliação de ações sociais.
•
Valorização das diferentes linguagens, culturas, expressões e competências juvenis para o engajamento e a produção de novos modelos de participação social.
•
Experiências de participação social solidária e voluntária dos jovens podem viabilizar a construção de espaços de aprendizagens sociais, de intergeracionalidade e cooperação sociocultural, elementos imprescindíveis numa sociedade democrática.
•
Mobilização e a permanência de jovens para a participação social solidária e voluntária só são possíveis se existir alguma coincidência entre os objetivos coletivos e as necessidades afetivas, comunicativas e de solidariedade de cada um na vida cotidiana.
Princípios norteadores
150
Promoção de ações mobilizatórias-formativas que possibilitem ao jovem:
Propósitos
Principais pressupostos
•
fortalecer a sua autoestima;
•
tornar-se referência para outras pessoas (caráter multiplicador);
•
autodesenvolver-se a partir do exercício de empreendedorismo;
•
comprometer-se com o seu entorno – expressão do compromisso humano, da responsabilidade e solidariedade do jovem, como sujeito capaz de transformar a realidade social.
•
Convivência, respeito e diálogo entre as diferenças.
•
Relações horizontais, com revezamento de funções e lideranças – atuação em redes de sociabilidade e cooperação.
•
Coautoria e cooperação sociocultural.
•
Reconhecimento e validade das culturas, identidades, interesses, iniciativas e autonomia juvenis.
•
Projetos coletivos de experiência prática (não conteudista).
Quadro 8: Proposta educativa para participação social, solidária e voluntária juvenil (parceria NIUE/UFRGS e ONG Parceiros Voluntários, 2006)
“Ao exercer participação social solidá-
uma sociedade. A partir dela, os jovens
ria, os jovens são motivados a conhecer
desenvolvem competências para convi-
seu entorno, a aprender a agir em prol
ver e projetar um futuro.”
da sua transformação, a saber conviver
ONG Parceiros Voluntários. Participação social,
com as diferenças e a ter uma visão mais
jovens: guia de ações. Porto Alegre: Comunicação
abrangente das formas de ser, expres-
Impressa, 2008, p.15.
sando e partilhando ideias, talentos, experiências. A participação estimula o saber social, entendido como conjunto de conhecimentos, práticas, procedimentos, valores e sentidos julgados válidos em
O GUIA DE AÇÕES A proposta educativa da ONG Parceiros Voluntários, baseada no Guia de Ações, vem sendo utilizada em escala de multiplicação desde 2008, 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
151
Esse é o Guia de Ações e traz sugestões práticas aos professores e instituições de ensino para a formação e protagonismo dos jovens em participação social solidária e voluntária. Educadores não formais também utilizam o Guia ao trabalharem políticas de proteção ao jovem e o protagonismo juvenil diante dos problemas sociais.
“As sugestões estão organizadas na forma de estratégias educativas, a serem desenvolvidas em grupos de jovens que têm interesse em reunir-se, trocar ideias, manifestar suas produções, pertencer a uma rede de amizade, solidariedade e atuação social. O intuito é estimular os jovens a refletirem e experienciarem formas positivas de inserção na sociedade, para maior articulação dos educadores, direto-
assegurando-lhes o acesso à cultura, ao
res de escolas, jovens e familiares nos projetos
lazer, ao esporte, à convivência com a
de mobilização social de Tribos nas Trilhas da
diferença, à atuação em equipe, ao exer-
Cidadania. Desse modo, tanto os TRIBEIROS
cício da autonomia e da autoria na vida
quanto os adultos integrados à Ação contam
social.”
com metodologias de apoio para a estruturação e orientação das práticas de voluntariado e do desenvolvimento humano.
152
ONG Parceiros Voluntários (Org.). Participação social, jovens: guia de ações. Porto Alegre: Comunicação Impressa, 2008, p.4.
O Guia de Ações oportuniza o reconhecimento da importância das juventudes e de suas culturas na construção do relacionamento social fundamentado na solidariedade, nos valores da paz e no diálogo. As estratégias educativas e proposições de atividades apresentadas no Guia estão ordenadas em torno dos seguintes temas: • meio ambiente e sustentabilidade;
• arte, cultura e esportes na construção do espaço público; • movimentos pelos direitos humanos; • movimentos pela inclusão; • formas de comunicação em rede. O Programa de Capacitação da ONG Parceiros Voluntários oferece duas metodologias para os participantes de Tribos. Veja o Quadro 9.
Metodologia
Tecnologia Social: Educadores para Participação Social e Mobilização Juvenil
Desenvolvimento de Liderança Juvenil
Público-alvo
Objetivos
Carga horária
Comunidade escolar (diretores de escolas, professores e educadores)
Qualificar educadores para Participação Social Solidária e Voluntária, visando à formação do jovem como agente mobilizador e articulador e sua integração à escola e à comunidade, com base na Responsabilidade Social Individual.
60 horas: 40 h presenciais; 20 h a distância.
Jovens Tribeiros
Qualificar os jovens para sua atuação na Ação Tribos, com ênfase em conceitos e experimentação de processos interpessoais, voluntariado, empreendedorismo e mobilização social, planejamento e avaliação de projetos.
16 h presenciais.
Quadro 9: Metodologias de capacitação da ONG Parceiros Voluntários, relacionadas à ação Tribos nas Trilhas da Cidadania (2012)
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
153
Cabe ainda destacar que a Qualificação de Educadores para Participação Solidária e Mobilização Juvenil e a ação Tribos nas Trilhas da Cidadania foram certificadas como tecnologias sociais pela Fundação Banco do Brasil em 2011.4 A primeira recebeu o Prêmio Tecnologia Social e a segunda ficou entre as três finalistas da região sul.
IMPRESSÕES DOS EDUCADORES A
Participar
deste curso proporcionou-
gente percebe o quanto as pessoas
-me ampliar meus conhecimentos para
estão envolvidas nas outras comunida-
aprimorar minha integração da vivência
des com outras ações, não exatamente
juvenil à cultura escolar e à sociedade.
iguais às nossas, mas sempre visando à
Tive a oportunidade de conhecer traba-
valorização e à autonomia do ser huma-
lhos de expressivo envolvimento com a
no... A parte mais importante é partilhar
comunidade.
conhecimento, formar rede de contato,
(Fátima Kraemer Stone, Uruguaiana/RS)
poder visitar outras pessoas, outras Instituições, partilhar isso tudo. (Lígia Ross, Estrela/RS)
Como educadora, o curso me proporcionou a oportunidade de desenvolver potencialidades que eu não havia exercitado, como, por exemplo, a aplicação de
4 Esses projetos inscritos no Prêmio Tecnologia Social Fundação Banco do Brasil foram organizados pela Professora Rita Carneval, a Jornalista Sylvia Bojunga e pela Equipe da ONG Parceiros Voluntários.
154
estratégia proposta no Guia de Ações. (Marta Regina de Souza, Sapucaia/RS)
O
curso de qualificação para educado-
Durante o desenvolvimento do curso
res sociais foi arrebatador. Além do exce-
observei muitas mudanças em meus
lente material disponibilizado, possibilitou
posicionamentos, após o início de
uma nova leitura do mundo, de compor-
nossos encontros tive a oportunidade
tamentos, de atividades. Para quem quer
de repensar fatos, situações e alguns
trabalhar efetivamente como educador
preconceitos que antes não havia
social, esse curso é imprescindível.
percebido em mim. O curso abriu
(Bárbara Juliana Lauren, São Leopoldo/RS)
novos horizontes...
A
prática social solidária e voluntária
(Elaine Bernardes, Alvorada/RS).
vem como um auxílio para a prática do-
Essa
cente e como um ‘luz’ para o jovem, que
vem ao encontro das necessidades dos
passa a desejar fazer parte de um grupo
professores no cenário educacional con-
saudável que lhe trará inúmeros benefí-
temporâneo. Tivemos a oportunidade de
cios, como crescimento social.
dialogar, trocar ideias, conhecimento.
(Denise Nogueira, Canoas/RS)
(Marcelo Peixoto Marques, Santa Maria/RS).
iniciativa da Parceiros Voluntários
Educar é colaborar para formação social, a escola deve integrar ao conhecimento acadêmico a cultura juvenil, transformando o espaço escolar em acolhedor, seguro, informação em conhecimento técnico e para a vida. O curso foi organizado de forma agradável e construtiva. São outras portas que se abrem. (Angela Maria Perotto de Oliveira, Canela/RS).
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
155
A
capacitação é um momento único,
nos desenvolve, nos ensina, nos instrui. Exige atenção, coisa que eu não tinha, mas a cada momento a capacitação me “pesca” junto de todos. (Marcelo Rodrigues Júnior, Cachoeirinha/RS).
Foi uma experiência maravilhosa e graO grupo sentiu vontade de passar para
despertar a líder que havia dentro de
os jovens esperança, interação, garra, va-
mim. Além de conhecer pessoas novas,
lores e respeito. Se cada um faz a sua par-
fazer novos amigos e parcerias com ou-
te, mesmo pequena, é ali que a mudança
tras Tribos. Aprendi muito sobre o meio
começa, ou seja, fazer a diferença. Enfim,
ambiente e ainda tive a oportunidade de
viemos no curso com esperança, com um
expressar minhas ideias e meus anseios,
propósito de algo novo.
e ainda tive ideias novas e maravilhosas
(Marilei Ideni Pacheco de Paula, Venâncio
Aprendemos
com a ajuda de líderes de outras Tribos. (Rafaela
Aires/RS)
156
tificante, eu pude descobrir, conhecer e
e discutimos muito bem
Piovesan
Barbosa,
Frederico
Westphalen/RS).
sobre a questão do trabalho em grupo, da
Aprendi como liderar, valorizar mais a
união, mesmo sem conhecer alguns inte-
minha vida, os meus familiares, também
grantes, interagimos entre nós com muita
a ser humilde, não querer me mostrar
segurança e conforto. A última atividade
para os outros. Aprendi que cada
me ajudou muito a prestar atenção em
Tribo tem suas fraquezas e qualidades,
mim mesmo, no que quero e preciso.
oportunidades e ameaças.
(Julia Fochesatto, Nova Prata/RS)
(Mateus Tenedini, Carlos Barbosa/RS).
Gostei
muito de tudo o que está
acontecendo neste curso, pois sabemos que nós não podemos mudar o mundo sozinhos, mas podemos fazer nossa parte para fazer do nosso mundo um lugar melhor. (Andressa Ramos de Oliveira, Marau RS)
Todos os conteúdos foram maravilhoDevemos
trabalhar em grupo, porque
o futuro está em nossas mãos, depende só de nós. Se trabalharmos em grupo, podemos fazer o mundo melhor, sem violência, sem brigas, drogas.
sos, sem palavras. Tudo isso passa para nós mais segurança e coragem para lutar em busca de um mundo melhor, além de tocar muito o coração. (Rochele Viviane de Oliveira, Gramado/RS)
(Victória Silveira dos Santos, Sapucaia/RS).
Este curso proporciona uma concepção de mundo mais aprofunda, de forma que possamos ver a vida de outra maneira, de modo que é possível fazermos a diferença e com essa energia sensibilizar pessoas, construir um mundo melhor para se viver. (Patrick Klosinski, Caxias do Sul/RS).
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
157
XI. TRIBOS PASSO A PASSO
C
onhecendo o cenário educacional e suas
Objetivos da ação Tribos nas Trilhas
inspirações para a Ação Tribos, a sua pro-
da Cidadania:
posta educativa e metodologias de capacitação, descrevemos agora como essa iniciativa se qualificou ao longo de 10 anos. A essência continua
• promover a convivência, a autoestima, a autoria e a autonomia juvenil;
a mesma nas trilhas da cidadania: os jovens en-
• desenvolver a reflexão crítica, a ca-
contram espaços e oportunidades para ensinar
pacidade de organização e a lideran-
e aprender, tornando-se protagonistas da sua
ça juvenil em um processo de arti-
própria história e agentes de transformação so-
culação de soluções para problemas
cial.
sociais, em ambientes de educação
A mobilização de escolas para participação em Tribos nas Trilhas da Cidadania é fei-
formal e informal (dentro e fora da escola);
ta pelas Unidades da Rede Parceiros Voluntá-
• incentivar os jovens a protagoniza-
rios, nas diversas cidades, por meio de reuniões
rem projetos de ação coletiva e pú-
com a direção e palestras aos educadores das
blica;
instituições de ensino, públicas e privadas. São também realizadas palestras aos alunos, aos pais,
• promover valores e comportamen-
estabelecendo-se assim os vínculos iniciais com
tos que contribuam com a qualidade
a comunidade escolar e o incentivo para o en-
de vida, por meio de manifestações
gajamento. A etapa de mobilização inclui a apre-
pela paz e contra a violência, prote-
sentação da Ação e do processo participativo
ção ambiental e dos recursos natu-
pautado em objetivos específicos.
rais, e de resgate e preservação dos saberes e bens culturais;
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
159
•
fortalecer os laços familiares e comunitários, e as redes de voluntariado e empreendedorismo social e cultural.
COMO PARTICIPAR? Para participar de Tribos o jovem tem que
Toda a Tribo tem um aluno líder e um Educador Orientador.
O Aluno Líder está sempre presente nas ações da sua Tribo, mobiliza e convoca a participação da galera e estabelece pontes de relacionamento entre parcei-
reunir um grupo de amigos e colegas, escolher
ros e colaboradores do grupo.
uma Trilha (Meio Ambiente, Educação para a
O Educador Orientador é o adulto
Paz e Cultura), seguir o Regulamento da Ação e articular-se com a direção da escola para esta fazer a inscrição. Qualquer Escola de Ensino Médio e/ou Fundamental pública e/ou privada, bem como outras instituições de caráter educacional, podem participar. A inscrição é feita pelo site www.tribosparceirosvoluntarios.org.br ou pela entrega da ficha de inscrição impressa na Unidade Parceiros Voluntários de sua cidade.
de referência da Tribo, responsável por incentivar, valorizar e apoiar o planejamento e a execução dos projetos dos jovens TRIBEIROS.
PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES Um dos objetivos das ações voluntárias realizadas pelos Tribeiros é melhorar a escola, rua, bairro ou cidade. Uma forma de a Tribo identificar as necessidades da comunidade e quais ações podem ser realizadas é construir um mapa, desenhando o que está bom, o que precisa melhorar e criar ações que contribuam para a melhoria local. Exemplos: lixões irregulares, praças abandonadas, violência no trânsito.
160
Possíveis ações: conscientização da comunidade, distribuição de lixeiras pela cidade, recuperação de praças, blitz de paz no trânsito. As atividades são planejadas, organizadas e realizadas com a participação efetiva dos jovens; a atuação dos educadores e adultos colaboradores se restringe ao estímulo, ao apoio e à orientação aos TRIBEIROS. A partir da escolha da Trilha, os jovens definem no mínimo quatro ações que pretendem realizar. Perguntas que ajudam os jovens Tribeiros a planejarem seus projetos e atividades: • O que precisa ser melhorado na nossa escola, no nosso bairro ou na cidade? • O que vamos fazer para promover essa melhoria? • Por que isso é importante? • Como vamos colocar em prática esse projeto? • Quem faz o que na nossa Tribo? E quem mais pode contribuir com nos-
• Quando e onde realizaremos a nossa ação? • Quem serão os beneficiados? • Quais os recursos e custos envolvidos? As atividades dos TRIBEIROS podem ser desenvolvidas em parceria com organizações e projetos sociais já existentes no município, contando com recursos materiais e humanos da comunidade, sempre visando à mobilização e aos benefícios sociais. Cabe às Unidades Parceiros Voluntários locais auxiliar os jovens na identificação de organizações e projetos sociais a serem beneficiados pela Ação Tribos, se esta for a escolha dos TRIBEIROS. A avaliação da Ação é fundamental para mensurar o resultado do esforço empreendido. Os TRIBEIROS se reúnem para identificar se o objetivo foi alcançado e se o que precisava ser melhorado realmente mudou, quantas pessoas participaram das ações, os aprendizados feitos e o que pode ser compartilhado com as outras Tribos.
so projeto?
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
161
CELEBRANDO AS AÇÕES
por representantes de organizações e projetos
O regulamento da Ação Tribos orienta a re-
representantes dos poderes públicos do muni-
alização de um Fórum Tribal Municipal, a ser organizado pelos TRIBEIROS de cada cidade, tendo como objetivos a conscientização dos jovens sobre a importância do seu envolvimento em
sociais diretamente beneficiados pelas ações, cípio, da sociedade civil (imprensa, empresários, ONGs, etc.) e por alunos líderes e educadores orientadores que representem as Tribos locais.
causas sociais, a avaliação das ações realizadas e
Cabe ao Conselho Municipal Tribal apoiar as
dos resultados obtidos, a divulgação das ações
ações de voluntariado dos TRIBEIROS, mobilizar
nos veículos de comunicação locais e a forma-
recursos e parcerias que viabilizem esses proje-
ção de redes colaborativas. Esses encontros
tos, colaborar com a realização do Fórum Muni-
possibilitam a integração e partilha de experiên-
cipal e a organização e participação das Tribos
cias entre TRIBEIROS, educadores, familiares e
no Fórum Tribal Regional.
demais colaboradores dos projetos. Os Fóruns Regionais acontecem para oportunizar o encontro entre as cidades da Região. Nesses eventos os TRIBEIROS realizam apresentações, oficinas e socializam as suas experiências com os colegas, educadores e parceiros da região, o que proporciona visibilidade para as suas ações e projetos sociais, além de fortalecer as alianças e redes regionais de cooperação.
OS CONSELHOS TRIBAIS As Tribos de cada cidade têm autonomia para organizar um Conselho Tribal, formado
162
FERRAMENTAS DE APOIO E ACOMPANHAMENTO Além do registro das atividades no Site, cada Tribo deve documentar e comprovar as suas ações no Diário Tribal, apontando todo o processo de construção e repercussão na comunidade, incluindo as dificuldades enfrentadas, as descobertas realizadas, os resultados e benefícios promovidos, depoimentos de alunos protagonistas, educadores e beneficiados, notícias relacionadas, fotos e vídeos amadores em qualquer mídia.
Os Diários Tribais podem ser publicados em mídias sociais como o Facebook, blogs e outros. O importante é registrar todo o processo como um aprendizado para o próximo ano, tanto para a sua Tribo quanto para os novos TRIBEIROS que entrarão no ano seguinte.
Todos os interessados em conhecer e participar de Tribos encontrarão mais informações no site www.parceirosvoluntarios.org.br no Facebook - http://www.facebook.com/#!/parceirosvoluntarios no blog: http://programajovensvoluntarios.parceirosvoluntarios. org.br/tribos/SitePages/blog.aspx Fone: 55 (51) 2101.9789, Largo Visconde do Cairu, 17 - 8º andar Porto Alegre/RS – Brasil.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
163
XII. A ERA DOS INDIVÍDUOS FERNANDO LUÍS SCHÜLLER1
NOSSAS HERANÇAS O século 20 foi uma época de progresso humano sem precedentes. Pouco mais de seis décadas se passaram entre o voo de Santos-Dumont com o 14 Bis, um pequeno avião com estrutura de bambu, em 1906, e a chegada do homem à Lua, em 1969. Um século em que a riqueza global, medida pela renda per capita, aumentou 4,7 vezes. Foi também uma época bem definida pelo jurista e filósofo italiano Norberto Bobbio como “a era dos direitos”. No final do século 19, em Londres, então capital do mundo, Oscar Wilde foi condenado a dois anos de trabalhos forçados pela prática de “atos indecentes” (como então era chamado o homossexualismo). Em 1900, as mulheres não 1 Fernando Luís Schüller, Doutor em Filosofia e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É pós-graduado em Gestão Cultural pela Universidade de
dispunham do direito de votar em praticamente nenhum país do globo. Cem anos depois tudo isto havia mudado. Os direitos humanos são amplamente reconhecidos, a democracia se consolidou como um valor universal e a ideia de soberania absoluta do estado-nação gradativamente vai sendo substituída pela noção de uma comunidade global interdependente. Quem sabe o maior símbolo desse movimento civilizatório seja o estabelecimento dos objetivos do milênio, no ano 2000, uma ampla agenda global de superação da miséria e de afirmação de direitos. O século 20 foi também uma época de miséria e de tragédia. A maior de todas as tragédias foi a experiência totalitária. Auschwitz e os campos de concentração nazistas, o gulag soviético, a revolução cultural maoísta, as tiranias africanas e os ditadores latino-americanos. Uma era sem fim de horror e morte.
Barcelona, especialista em História do Brasil e Especialista em
Ninguém capturou melhor a essência dos re-
Políticas Públicas e Gestão Governamental pela Escola Nacional
gimes totalitários do que um escritor inglês cha-
de Administração Pública.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
165
mado George Orwell, autor de “1984”. O herói
virou de cabeça para baixo. O maior símbolo
do livro é um homem comum, Winston Smith.
dessa época possivelmente tenha sido a afirma-
Sua vida é minuciosamente destruída pelo Es-
ção dos direitos civis nos Estados Unidos. Em
tado, simbolizado na figura do “grande irmão”.
1954, a Suprema Corte dos Estados Unidos
Não se trata, porém, de uma destruição física. O
declarou inconstitucional a segregação dos ne-
ponto era derrotar sua capacidade de pensar e
gros nas escolas públicas americanas. Dez anos
sentir por conta própria. Capturar sua alma para
depois, em 1964, foi promulgada a Lei dos Di-
a ideologia do Estado. Manipular a linguagem,
reitos Civis. A discriminação racial prosseguiria
derrotar a coragem e a vontade individual. Mes-
em muitos países. Seu último e mais absurdo
mo seu amor por Júlia era subversivo, e devia
bastião cairia apenas no início dos anos 90, com
ser destruído. “1984” contém lições muito sim-
o fim do regime do apartheid na África do Sul,
ples e vale a pena ser lido ainda na juventude.
sob a liderança de Nelson Mandela. Há muito a dizer sobre as transformações dos anos 50 e 60.
Mais ou menos na mesma época em que
A conquista da igualdade entre homens e mu-
Orwell escrevia 1984, ao final da segunda gran-
lheres, o fim da discriminação aos homossexuais.
de guerra, o filósofo francês Jean Paul Sartre pu-
De certo modo são processos ainda em curso,
blicava uma pequena conferência, chamada “O
visto que a História não costuma caminhar ao
existencialismo é um humanismo”. O texto de
mesmo ritmo em todas as partes da Terra.
Sartre é, sob certo aspecto, a antítese da fábula de Orwell. Uma defesa absoluta da liberdade
Em 1989, o muro de Berlin foi derrubado
e da responsabilidade dos indivíduos sobre seu
por uma multidão de jovens, pacificamente, e
próprio destino. “Um existencialista”, diz Sartre,
encerrou-se uma das histórias mais patéticas da
“quando descreve um covarde, afirma que esse
nossa época: a experiência totalitária comunista.
covarde é responsável pela sua covardia”.
Mesmo que regimes totalitários, sejam comunistas, sejam fundamentalistas religiosos, ainda sub-
166
Nas três décadas que se seguiram ao pro-
sistam em alguns países, trata-se de uma ideia
nunciamento de Sartre, o mundo literalmente
derrotada pela História. A ideia de que o Estado
seria o farol a conduzir a vida das pessoas, a
Difícil resumir esta época incrível em que vive-
partir de uma só ideologia e da supressão da
mos. Uma forma é dizer que vivemos um tem-
iniciativa e da liberdade individual. O cinema nos
po em que três grandes revoluções ocorrem
legou algumas obras-primas sobre essa ideia e
simultaneamente: a globalização da economia, a
sua época. Vale a pena assistir Adeus Lenin e A
emergência da economia do conhecimento e a
Vida dos Outros. O ano de 1989 foi extraordi-
formação da chamada “sociedade de rede”, em
nário. O dramaturgo Vaclav Havel liderou a cha-
que as identidades nacionais ou mesmo terri-
mada revolução de veludo, na capital mais linda
toriais se diluem progressivamente, permitindo
da Europa, Praga, na então Tchecoslováquia. O
às pessoas muito mais liberdade para interagir
sindicalista Lech Valesa liderou a revolução de-
globalmente e refazer seus vínculos de perten-
mocrática na Polônia. Em um rasgo de entusias-
cimento. Ao contrário do que muitos imaginam,
mo teórico, o pensador Francis Fukuyama escre-
essas três grandes revoluções, com todas as
veu um artigo que correu mundo, anunciando o
contradições e desafios que apresentam, têm
fim da História. O fim da História significaria a
tornado o mundo um lugar melhor para se viver.
vitória final da civilização da liberdade, fundada na democracia e na economia de mercado. Um dia saberemos se ele estava certo ou errado.
A ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
Em primeiro lugar, o desenvolvimento econômico e social foi, por assim dizer, espalhado pelo planeta. Jeffrey Sachs chama o nosso tempo de a época da convergência. Em três décadas, a riqueza somada dos países que integram
Hoje tudo isto é História. Nos anos 90, o
os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) será si-
mundo parece ter ingressado em um gigantesco
milar à riqueza dos países do G7 (Estados Uni-
túnel de vento. Entramos na chamada terceira
dos, Japão, Alemanha, Inglaterra, França, Itália
revolução tecnológica ou industrial, marcada pe-
e Canadá). Em segundo lugar, a pobreza vem
los avanços da microeletrônica, da informática,
diminuindo, em todo o mundo. O número de
da robótica, da telefonia móvel e da internet.
pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 ao dia
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
167
caiu de pouco mais de 50%, em 1981, para 15%,
do uma época de ouro. Há muitos indicadores
atualmente. É muito possível que as crianças
que mostram o Brasil patinando em muitos as-
que estejam nascendo neste momento possam
pectos que impedem que o País progrida com a
conhecer um mundo sem pobreza.
rapidez que ocorreu em muitos países, como a
No Brasil não é diferente. Quando eu nasci, nos anos 60, a expectativa de vida no País era
O aspecto mais gritante é o da educação.
de 48 anos; hoje já passa de 73 anos. A taxa de
No Ranking Global de Educação, divulgado
fecundidade era de seis filhos por mulher; hoje
recentemente pela Economist Intelligence Unit,
se encontra em 1,9 filho por mulher. O analfa-
avaliando a qualidade do ensino nos 40 maiores
betismo caiu de 40% para pouco mais de 8%.
países do mundo, o Brasil ficou na penúltima co-
Qualquer dado mostra uma incrível evolução do
locação, perdendo apenas para a Indonésia. Os
País, nas últimas quatro décadas, e em especial,
resultados do Pisa, teste feito com jovens de 15
dos anos 90 para cá. Isto nos ensina algo que
anos pela OCDE, organização que reúne os 34
minha geração custou a aprender: que as mu-
países mais industrializados do planeta, mostram
danças são possíveis, que o Brasil é um país que
algo semelhante. Entre 65 países avaliados, o
pode superar a pobreza, pode avançar, pode
Brasil figura na 57ª colocação. Se considerásse-
consolidar a sua democracia e crescer gerando
mos apenas os alunos da rede pública de ensino
oportunidades iguais para todos. Hoje isto pare-
(que abarca 85% dos estudantes do ensino bási-
ce uma obviedade. Há pouco mais de 20 anos,
co), nossa posição seria ainda pior.
no final dos anos 80, a chamada “década perdida”, isto não era assim. O País vivia mergulhado na inflação crônica e a exclusão social parecia ser um “destino” brasileiro.
168
Coreia do Sul, ou mesmo o Chile, nosso vizinho.
O Brasil é assim. Os dados mostram que estamos avançando. Mas quando se compara a velocidade das mudanças com o que tem ocorrido em outras nações do mundo, nosso humor
Dizer que o País avançou muito nas últimas
tende a desaparecer. Este parece ser o ponto:
duas décadas não significa que estejamos viven-
somos um país em construção. A próxima déca-
da tem tudo para ser a mais espetacular da nos-
dizem que a vida de Sócrates teria sido a mais
sa história. Vivemos o chamado “bônus demo-
virtuosa de todas as vidas. Então o segredo da
gráfico”. Nos últimos 10 anos, a chamada taxa
virtude não estaria em imitá-lo? Não, emendou
de dependência do País, isto é, o percentual de
o velho pensador. Se o fizéssemos estaríamos
jovens até 15 anos, ou de pessoas com mais de
traindo precisamente o que a vida de Sócrates
60 anos, caiu de 60% para 54%. Isto continuará
melhor nos ensina: a ideia de que cada um deve
ocorrendo nos próximos anos, de modo que se
descobrir um jeito próprio de viver, imaginando
pode dizer, com convicção, que a próxima dé-
que “para cada ser humano há um mundo per-
cada apresenta possibilidades incríveis de pro-
feito para ele ou para ela”.
gresso para o País. A palavra de ordem, para os brasileiros de todas as idades (até mesmo porque ser jovem não é apenas uma questão de faixa etária, e todos podem estudar e se renovar a qualquer momento da vida), é uma só: vamos pôr mãos à obra. Cada um pode fazer a diferença na sua realidade.
E ENTÃO: COMO VIVER?
Um “mundo perfeito” não é dado de graça, é construído. Na ética, Aristóteles enfatizou um ponto: é construída para uma vida inteira, desde o colégio até nossos últimos dias. Alguns dizem que nosso fim é a felicidade, mas isto não ajuda muito, pois ninguém consegue definir com clareza o que esta palavra significa. Aristóteles intui que a felicidade é uma espécie de “atividade”. Uma escolha contínua pela virtude, ao longo da
Sócrates costumava dizer que uma boa vida
vida. A escolha de fazer bem feito, de agir con-
é uma vida refletida. Falando em Sócrates, lem-
forme nosso senso de justiça, desenvolver nos-
bro da resposta que me deu o sociólogo Zig-
sos talentos, saber que enfrentaremos revezes e
munt Bauman, em uma entrevista recente na
que ficaremos tristes durante muitos dias, mas
sua casa, em Leeds (Inglaterra), quando lhe per-
que estamos, no fim das contas, construindo
guntei sobre o que são a felicidade e a virtude.
uma vida que vale a pena ser vivida. O “mundo
Bauman pensou um pouco e respondeu: alguns
perfeito” de Bauman, que só pode existir para
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
169
cada pessoa e só pode ser tecido, pacientemen-
professor, faz perguntas, se incomoda quando
te, pelas escolhas de cada um.
não entende alguma matéria, que vai atrás e fica
A ética sugerida por Sócrates é bastante
amigo do pessoal da biblioteca.
próxima da ética sugerida por Aristóteles, seu
Isto só faz aumentar a nossa responsabilida-
contemporâneo: bem viver é procurar a virtu-
de. A responsabilidade que cada um tem para
de onde quer que ela possa ser encontrada. Em
consigo. Cuidar de si, pensar na vida que temos
um primeiro momento, isto pode parecer muito
pela frente, se preparar para ser o melhor na-
exigente, mas não é. O amor à beleza pode sig-
quilo que se escolheu fazer. Em segundo lugar,
nificar muitas coisas: a leitura, o estudo da mú-
o cuidado com os outros. O cultivo da generosi-
sica, da arte, ou o simples cultivo da curiosidade
dade, do respeito pelas diferenças, a capacidade
intelectual. Isto é cada vez mais decisivo, na vida
de compreender e aprender com os outros.
e no sucesso de cada um, simplesmente porque vivemos e viveremos cada vez mais na chamada “sociedade do conhecimento”.
FAZER A VIDA VALER A PENA Se eu pudesse buscar uma definição para a
Vale o mesmo raciocínio para o esforço com
nossa época, diria que ela um dia bem poderá
os estudos. É ingenuidade imaginar que estudar
ser conhecida como a era dos indivíduos. Vive-
seja um “fardo”, e a pior decisão que um jo-
mos em um mundo em que as pessoas esperam
vem pode tomar, hoje, é abandonar a escola,
cada vez menos dos governos e tomam para
por qualquer razão que seja. Quem fizer isto, na
si a responsabilidade de criar soluções para os
melhor hipótese, terá que recuperar o tempo
problemas do cotidiano, seja na escola, na rua
perdido, mais tarde, em condições muito menos
ou no bairro onde moramos. A minha geração,
favoráveis. Mas não basta apenas estar na escola
nascida nos anos 60, acreditou demasiadamente
para “cumprir tabela”. É preciso ter um plano
na política para resolver os problemas sociais.
próprio de estudo, fora do horário das aulas, e é
Hoje vivemos uma situação inversa.
muito bom ser aquele aluno que senta perto do
170
Os tradicionais partidos políticos e os jogos
ta primordial passa a ser: que diferença minhas
eleitorais são vistos apenas como uma das for-
ações e meu comportamento podem fazer na
mas de participar na esfera pública. Há muitas
vida real das outras pessoas?
formas de contribuir: as organizações do Terceiro Setor, a iniciativa individual criando um grupo ou uma tribo de atuação direta em sua comunidade, o apoio a alguma causa, como voluntário, ou oferecendo conhecimento, experiência, contribuições financeiras, ou ainda usando as redes sociais para divulgar uma boa causa. Há muitas formas. Basta usar a criatividade.
Um dos mais célebres defensores dessa ideia, na nossa época, é o filósofo Peter Singer, Professor da Universidade de Princeton (EEUU). Singer observa que vivemos em uma época em que, pela primeira vez na história humana, percebemos em nosso horizonte a possibilidade de eliminar a pobreza, e temos recursos suficientes para fazê-lo. E mais: temos instrumentos tecno-
A sociedade dos indivíduos crê muito pouco
lógicos para fazer chegar aos mais pobres, em
nas ideologias tradicionais. Termos como “es-
qualquer parte do mundo, os recursos doados
querda” e “direita” são de nenhum significado
pelos mais ricos. A partir dessas simples premis-
prático. São mesmo vistos com desconfiança.
sas, sua conclusão é taxativa: nós somos respon-
Boa parte da tragédia vivida no século passado
sáveis pela vida de pessoas que não conhece-
(já nos referimos aos sistemas totalitários) foi re-
mos, mas que vivem em situações extremas.
sultado da estranha tendência humana em crer e se manter fiel à ideologia. Manter-se fiel a um conjunto abstrato de ideias, mesmo que estas ideias tenham se mostrado um completo fracasso quando colocadas em prática, repetidas vezes. Na sociedade dos indivíduos, a paixão pela “causa” não muda de intensidade. O que muda é a natureza da “causa” em questão. A pergun-
Singer concentra seu foco no tema da pobreza e suas mazelas, doenças endêmicas, desnutrição, ausência de saneamento, etc. Singer vive em Nova Iorque e se preocupa com a condição das crianças muito pobres da África. Nós não precisamos ir tão longe. Basta prestar atenção às crianças que fazem malabarismos e pedem moedas nas esquinas das ruas da nossa 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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cidade. No Rio Grande do Sul, 18% das pessoas
nossa energia, talento, conhecimento ou nossos
ainda vivem abaixo da linha da pobreza, isto é,
recursos financeiros e outros) que pode fazer
sobrevivem com menos de meio salário mínimo
uma imensa diferença na vida de muitas pessoas,
per capita. Perto de 1,8 milhão de gaúchos, 900
ainda que nos custe relativamente pouco.
mil com menos de 18 anos. A eliminação da pobreza é, sem dúvida, o
-se em uma causa na qual acreditamos, é quase
grande desafio ético do nosso tempo (como foi
sempre a melhor coisa que fazemos para ajudar
a superação da escravidão no século 19). Mas
nós mesmos. Talvez o maior símbolo desta “era
há muitas outras questões nas quais podemos
dos indivíduos” seja o incrível crescimento que
nos envolver. Podemos ajudar a melhorar nossa
a filantropia individual tem apresentado nas últi-
escola, podemos produzir alternativas de cultu-
mas duas décadas.
ra, combater o bullying na sala de aula. Tudo isto não nos custa muito. Singer dirá que se nós sabemos que um problema existe, e ainda assim não fazemos nada a respeito, é como se fôssemos corresponsáveis pela sua existência. É uma ideia forte. O filósofo e professor de Harvard (EEUU), Thomas Scanlon, argumentou nessa mesma direção, formulando o seu “princípio do resgate” (rescue principle): não podemos deixar de agir quando podemos gerar um grande bem a uma pessoa (ou uma comunidade) e isto não nos custe muito. Quem sabe esteja aí uma das formas mais simples de compreender o trabalho voluntário. Nós doamos algo (o nosso tempo,
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Eu acrescentaria: ajudar os outros, envolver-
Em 2010, foi anunciada a campanha The Giving Pledge, liderada por um grupo de multimilionários norte-americanos como Bill Gates e Warren Buffett. O movimento já obteve a adesão de mais de 90 milionários, e prega que os muito ricos devem dispor, ao longo da vida, de metade da riqueza que acumularam para financiar causas humanitárias de combate à pobreza e suas mazelas. As doações podem ser feitas ao longo da vida do doador, ou após sua morte. Mark Zucherberg, o jovem bilionário, criador do Facebook, com apenas 27 anos de idade, assinou a carta de compromisso com o movimento. Essas doações não são vistas como um sacrifício,
como uma “obrigação em devolver à sociedade”
melhor de seus esforços e de sua vida para a
ou como uma “renúncia” da riqueza. Elas de cer-
abolição da escravatura no Brasil, no século 19.
to modo atendem à recomendação contida no
A cada época correspondem certos desafios éti-
discurso de Péricles: a riqueza é boa, mas não
cos primordiais. Nabuco teve a virtude de fazer
deve ser vista apenas como motivo de orgulho,
a leitura correta de seu tempo. Fazendo-o, teve
mas para a ação. Como poder para transformar
nas mãos a chave de seu “mundo perfeito”. Qui-
e, por que não, como uma oportunidade extra-
çá temos aí uma resposta à pergunta feita no
ordinária de “fazer a vida valer a pena”.
início deste parágrafo.
Pessoalmente, gosto dessas ideias. Especialmente porque elas resolvem um falso dilema:
O VALOR DO AMANHÃ
de que é contraditório buscar o sucesso pro-
Numa época de liberdade quase irrestrita,
fissional, ganhar dinheiro e viver com conforto,
temo que o perigo maior que ronda a sociedade
ao mesmo tempo envolvendo-se com determi-
dos indivíduos é a trivialidade. Uma multidão de
nação em iniciativas sociais e no apoio a causas
pessoas, em especial jovens, agindo como zap-
humanitárias.
ping deads, navegando a esmo na internet, con-
Alguém poderia fazer uma pergunta: falar de Bill Gates, Bill Clinton, ou mesmo de Oseola McCarty, não seria um tanto delirante? Por que, no fundo, deveríamos nos preocupar com os outros, em vez de simplesmente viver uma boa vida, respeitando as leis, cultivando nossas amizades, nossa família, e assim por diante? Novamente, é preciso reconhecer que parece não haver uma resposta clara a essa pergunta. Um grande brasileiro, Joaquim Nabuco, dedicou o
sumindo informação randomicamente, desperdiçando seu tempo na busca de uma minúscula e pueril celebridade nas redes sociais. Quem sabe resida aí tão somente um problema de preferência estética. Eu preferiria viver em um mundo povoado por uma legião de pequenos joaquins nabucos. Pessoas que acreditam, como Martin Luther King, que “qualquer um pode ser grande, porque qualquer um pode servir”. Tudo pode não passar de uma preferência estética.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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De qualquer sorte, essa será uma resposta que
época simplesmente não me dei conta de que
cada um terá de encontrar por conta própria.
isto era importante”. Muitas pessoas abandonam
Aqui vale uma observação final, sobre nossos estudantes. A adolescência e a juventude, até a universidade, são uma época que se deve usar, em primeiríssimo lugar, para estudar e estudar. É muito difícil imaginar que alguma coisa seja mais importante do que isso. Em segundo lugar, é uma época para viver de maneira intensa a vida cultural e tudo o que ela oferece. Uma
e perder a motivação. Outras imaginam que podem ganhar algum dinheiro logo e não têm a paciência de esperar, completar o ensino médio, entrar na faculdade, ficar lá por quatro ou cinco anos, se formar. Há muitas histórias assim. Elas são mais comuns entre os jovens de famílias com menor renda, mas não somente.
época para ler, ir ao cinema, ao teatro, estudar
Por que isso acontece? Quem sabe seja um
música, arte, a partir da preferência de cada um.
problema de escolha intertemporal. Isto foi
Em uma síntese, diria que é uma época para ex-
analisado em um livro brilhante do economis-
perimentar. A ideia parece simples, mas, defi-
ta Eduardo Giannetti da Fonseca, “O Valor do
nitivamente, não é. Para a maioria dos jovens,
Amanhã”. Boa parte de nossos jovens tem uma
faltam parâmetros para saber o que é ou não
atitude que Giannetti chama de miopia tempo-
importante fazer. Como investir o tempo? Fazer
ral, que consiste em sobrevalorizar o presente,
um curso de inglês ou praticar alguma atividade
em detrimento da preparação e do cuidado
esportiva? Arrumar um emprego temporário,
com o futuro. É o sujeito que “curte o agora”,
fazer um “bico”, apostar em um estágio, ou se
em geral fazendo coisas prazerosas e irrelevan-
dedicar aos estudos, esperando para entrar no
tes, nada que vá somar para sua formação ou
mercado mais tarde?
para um plano consistente de vida. Há o caso
Não são poucas as pessoas que conheço que, já adultas, com filhos, família, me dizem: “Eu deveria ter feito tal e tal coisa, mas não fiz. Na
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os estudos, depois de repetir algumas matérias
oposto, da turma que vive muito pouco o presente, obcecada em se preparar para o futuro. Giannetti chama de hipermetrofia. É aquele guri
ou guria que só estuda, se prepara o tempo in-
a imaginação daqueles jovens. Do mesmo jeito
teiro para uma futura profissão, por vezes para o
que os pais fazem com os filhos, povoando suas
vestibular, e pouco experimenta novas possibi-
cabecinhas com a ideia de que um dia eles serão
lidades de aprendizagem e de vida. O ideal, evi-
médicos, bombeiros ou astronautas.
dentemente, é buscar um ponto de equilíbrio. A vida é um bem excessivamente precioso para que alguém perca sua juventude meramente se preparando para o futuro.
O mundo de hoje anda sensacional para usar a imaginação. A quantidade de informação disponível a um jovem, sobre qualquer assunto, é incomensuravelmente superior àquela de que
Mas voltemos ao problema da miopia tem-
dispunham jovens da minha geração. Quando
poral. Não tenho dúvidas de que este é o tema
eu tinha 12 anos, precisava ir a uma biblioteca
central a ser enfrentado em nossas escolas,
folhear revistas alemãs sobre atletismo, para ver
pelos pais e professores. Boa parte de nossos
imagens de salto em altura. Hoje, basta entrar
adolescentes e jovens simplesmente não ali-
no Youtube e assistir instantaneamente a todos
menta expectativas claras de futuro. Por um
os saltos que você quiser. O mesmo ocorre com
bom tempo, tive a oportunidade de lidar com
as ciências, a história, etc. Isto não significa que
adolescentes infratores, muitos deles internos
alguém terá uma melhor formação intelectual
nas unidades da Fase/RS (Fundação de Atendi-
ou pessoal. A superoferta de informação pode
mento Sócio-Educativo). O ciclo de preferência
levar à dispersão e a uma paradoxal ociosidade.
desses adolescentes é, em regra, de curtíssimo prazo. Conheci um projeto muito bacana, da Fundação Casa (antiga Febem – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), de São Paulo, em que os jovens eram “treinados” para reconstruir sua história pessoal e desenhar um planejamento completo de vida. O segredo era incendiar
Em que pese apresente esses riscos, a era da superinformação oferece potencialmente muito mais espaço para a liberdade individual. Não concordo com a suspeita do sociólogo Zigmunt Bauman, segundo a qual a instabilidade do mundo pós-moderno tornou inviável a antiga ideia sartreana do “projeto de vida”. O que mudou, 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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efetivamente, é o conceito ou o conteúdo de
ética das pessoas também vai se tornando mais
um projeto de vida pessoal.
exigente. Em meados do século 19, no Brasil,
A antiga ideia de uma vida estável, em um único emprego, visando a uma aposentadoria perto dos 60 anos, perdeu muito de seu significado. Nós viveremos mais e seremos jovens durante muito mais tempo. É muito provável que, após os 40 ou 50 anos, cada um esteja revendo conceitos, retomando ou prosseguindo os estudos e buscando novos desafios profissionais e pessoais. É um mundo em que nosso preparo pessoal e intelectual, nossa capacidade de estabelecer relacionamentos, de liderar, de agir com criatividade, vai valer tanto ou quem sabe mais do que apenas se preparar para ser um “técnico”, ligado a uma profissão qualquer. Nesse quadro, é inegável que ganha relevo o tema do envolvimento social. É irrelevante tentar justificar as razões públicas pelas quais uma pessoa deveria envolver-se em uma causa social, cultural ou ambiental. Isto pertence à crença e à liberdade de escolha de cada indivíduo. E as possibilidades de escolha são infinitas. É interessante perceber que, na medida em que o mundo anda para a frente, a consciência
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era “normal” manter um negro como escravo. Era “normal” que um senhor branco pudesse abusar sexualmente de sua escrava negra adolescente. A sociedade criou paulatinamente um novo consenso moral, com a força dos abolicionistas, gente como Castro Alves, José do Patrocínio, Rui Barbosa e tantos outros. Assim aconteceu, meio século depois, com o direito do voto para as mulheres. Até o início do século 20, era perfeitamente natural que só os homens pudessem votar. A criação de um novo consenso levou à instituição do voto feminino em 1932. É assim que as coisas vão evoluindo. E é estimulante perceber que cada um de nós pode contribuir para que novas ideias e consensos sejam construídos. Os mais desafiadores, na nossa época, são o fim da extrema pobreza e o fim da corrupção. Mas há também o cuidado com o meio ambiente e tantas outras questões. Conheci jovens que organizaram uma “brigada verde” em seu bairro. Eles visitavam as casas, simplesmente distribuindo sementes e pedindo que os moradores cultivassem um jardim, plan-
tassem uma árvore e cuidassem do seu lixo. Co-
e de saber o que é certo e o que é errado fazer.
nheci jovens que se organizaram para criar um
De certo modo, cada um de nós quer melhorar
campo ou quadra aberta de esportes em um
o mundo, e de fato isto tem ocorrido, como
terreno baldio, perto de suas casas. Investiram
vimos em alguns exemplos neste texto.
muito tempo limpando o terreno, fazendo uma jardinagem um tanto rudimentar e colocando as traves do futebol. Por muito tempo, me dei conta, aquele campo seria a única alternativa que eles teriam entre praticar esportes na rua ou em um lugar seguro. Conheci jovens que organiza-
Fica aqui a convocação. Cada um segundo suas possibilidades e escolhas. A cada geração, estamos sempre no começo de um mundo inteiramente novo. E o que virá pela frente, sem dúvida, será o melhor de todos os mundos.
ram grupos culturais, de teatro e música, e se apresentavam em hospitais e asilos, como forma de levar solidariedade. A ação Tribos nas Trilhas da Cidadania, da ONG Parceiros Voluntários, nas páginas anteriores aqui deste livro, está cheia de belos exemplos e alternativas que os jovens – de qualquer idade – têm a sua disposição para buscar inspiração. E começar a agir. Confesso que sou incapaz de justificar adequadamente o porquê para que alguém deva se envolver em ações de solidariedade, em sua escola ou comunidade. Talvez isto ocorra porque cada um de nós possui o que os filósofos chamam de um “senso de justiça”, uma capacidade intuitiva de reconhecer o sofrimento dos outros
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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XIII. SOBRE A ONG PARCEIROS VOLUNTÁRIOS
O
trabalho da ONG Parceiros Voluntários
diversos segmentos e necessidades das comu-
se ampara na visão de que a articulação
nidades brasileiras.
sinérgica entre governos, empresas, mercados e sociedade civil organizada é indispensável para fortalecer o Capital Social das comunidades e transformar as economias e estruturas produtivas. Com a bandeira Emoção com Resultados, desenvolve metodologias voltadas a escolas, empresas e organizações da sociedade civil. No cumprimento da sua Missão para potencializar o desenvolvimento humano, mobiliza, articula e forma pessoas, instituições e fomenta redes. Criada no Rio Grande do Sul pelo idealismo de Maria Elena Pereira Johannpeter, a ONG Parceiros Voluntários tornou-se referência no desenvolvimento da cultura do voluntariado no Brasil e em tecnologias sociais customizadas, dedicadas a levar sustentabilidade, gestão
A teia social construída beneficia 1,5 milhão de pessoas por meio da atitude solidária de quase 400 mil voluntários, que prestam serviços em 2.784 organizações sociais conveniadas às Unidades instaladas em 48 cidades gaúchas.
Os
dados do Relatório Anual de 2012 indicam 2 mil escolas e 2,5 mil empresas mobilizadas. Há mais de 10 anos, a Parceiros Voluntários criou
a
ação
Tribos
nas Trilhas
da
Cidadania, maior movimento de voluntariado jovem do Brasil. Milhares de estudantes da rede escolar pública e privada do Rio Grande do Sul dedicam-se a buscar soluções para problemas de suas comunidades em três trilhas: Educação para a Paz, Meio Ambiente e Cultura.
qualificada e princípios de transparência e pres-
Desde 2001, celebra o valor do trabalho
tação de contas ao Terceiro Setor. Ao longo
voluntário organizado com o Prêmio Parceiros
de 16 anos desenvolveu, sistematizou, testou
Voluntários e realiza o Seminário Internacional
e consolidou nove metodologias para atender 10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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PARE PENSE, que reúne expoentes para refletir
Para o BID/Fumin e Petrobras, a ONG Par-
sobre o Desenvolvimento do Ser Humano no
ceiros Voluntários testou durante três anos a
Século 21. Na mais recente edição, em 2012, o
metodologia Desenvolvimento de Princípios de
tema foi Capital Social como Base para a Cons-
Transparência e Prestação de Contas em Orga-
trução do Capital Econômico e do Desenvolvi-
nizações da Sociedade Civil e sistematizou essa
mento Regional.
experiência no Curso Educando para a Transparência. O relato dos resultados alcançados está
ESPECIALISTA EM CAPACITAÇÃO
registrado no livro ONG – Transparência como Fator Crítico de Sucesso. A obra, lançada em 2012 por Maria Elena Johannpeter e pela histo-
O lema Idealismo com Profissionalismo –
riadora Naida Menezes, apresenta a experiência
desde 2003, utiliza a ferramenta de gestão or-
e depoimentos de líderes de 76 organizações
ganizacional BSC (Balanced Scorecard) – trouxe
sociais de 21 municípios gaúchos. Os cursos,
reconhecimento ao trabalho da Parceiros Vo-
realizados dentro do conceito THC – Técnico,
luntários e convites para participar de parcerias
Humano e Conceitual, já alcançaram a marca de
estratégicas em âmbito nacional e internacional.
10 mil certificados entregues.
Entre os parceiros estão o Sebrae Nacional, patrocinador do curso Gestão para a Sustentabili-
O consistente trabalho de capacitação das
dade: Desenvolvimento de Liderança nos Esta-
organizações da sociedade civil promovido pela
dos do Rio Grande do Sul, Amazonas, Bahia, Rio
ONG Parceiros Voluntários é uma resposta às
de Janeiro e Mato Grosso do Sul, e a Secretaria
demandas de empresas, fundações e patrocina-
do Trabalho e do Desenvolvimento Social do
dores, que precisam saber o destino e o resul-
Estado do Rio Grande do Sul, para quem coor-
tado do capital investido no Terceiro Setor e o
denou o projeto Elaboração de Projetos e Re-
quanto a comunidade beneficiada está evoluin-
des Sociais e criou o Portal Rede Integrada do
do.
Desenvolvimento Social – RIDS.
180
CURSO
OSCS
EMPRESAS
CARGA HORÁRIA
OBJETIVO
Desenvolvimento de Lideranças para as Entidades da Rede Socioassistencial
72h
Instrumentalizar as Lideranças das Organizações da Sociedade Civil para desenvolver competências e habilidades de gestão, liderança, empreendedorismo e formação de redes colaborativas.
Princípios para a Gestão Social Sustentável
64h
Fortalecer a gestão das Organizações da Sociedade Civil com vistas a sua sustentabilidade e maior eficácia nos seus processos.
Desenvolvimento de Princípios de Transparência e Prestação de Contas em Organizações da Sociedade Civil
100h
Capacitar os gestores das Organizações da Sociedade Civil para os conceitos e as práticas dos Princípios de Transparência e Prestação de Contas.
Elaboração de Projetos para Mobilização de Recursos
24h
Conhecer o método para a elaboração de Projetos voltados à mobilização de recursos.
Construção de Indicadores do Projeto Social
8h
Instrumentalizar o aluno para desenvolver indicadores alinhados aos objetivos do Projeto Social.
Capacitação de Coordenador de Voluntários
12h
Capacitar os Coordenadores de Voluntários das Entidades da Rede Socioassistencial conveniadas para gerir os recursos voluntários encaminhados para a Organização e para maximizar a sua atuação.
Formação de Comitês Internos de Voluntariado nas Empresas
16h
Capacitar os participantes do Comitê em conceitos e metodologias de voluntariado para que implantem e operacionalizem um Programa de Voluntariado Organizado.
10 anos de Voluntariado Juvenil e AÇÕES Transformadoras
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Em janeiro de 2013, a ONG Parceiros Voluntários iniciou um acordo de cooperação assinado com a ONU Habitat e o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), do Rio de Janeiro, para levar suas experiências e metodologias a cinco das 32 comunidades pacificadas no Rio de Janeiro. Na primeira edição, com duração de quatro meses, a Instituição formou consultores e capacitou 110 lideranças de 55 organizações da sociedade civil das comunidades do Borel, Formiga, Andaraí, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, no que elas mais precisavam para conquistar a sustentabilidade: gestão profissional e habilidade em formar redes. A Parceiros Voluntários faz parte do universo colaborativo de cerca de 290 mil ONGs brasileiras que, segundo o IBGE, participam com a fatia de 1,4% na composição do PIB nacional, o que representa o montante significativo de cerca de 32 bilhões de reais. No mundo, o valor econômico da força de trabalho do voluntariado representa a fabulosa cifra de 1,3 trilhão de dólares.
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CHANCELAS
SCHWAB FOUNDATION FOR SOCIAL ENTREPRENEURSHIP THE VOICE OF SOCIAL INNOVATION
Associada ao Departamento de Informações Públicas/Seção de Organizações Não Governamentais (DPI/NGO) das Nações Unidas (ONU) CERTIFICAÇÕES Conselho Municipal de Assistência - nº 39 Utilidade Pública Municipal - Lei nº 10.193/2007 Utilidade Pública Federal - nº 002085 Entidade Beneficente de Assistência Social - RCEAS 1094/2006 REGISTRO DE MARCAS Registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI
Largo Visconde do Cairu, 17 - 8º andar 90030-110 - Porto Alegre - RS - Brasil Telefone: (55) (51) 2101.9797 Fax: (55) (51) 2101.9776 www.parceirosvoluntarios.org.br http://blog.parceirosvoluntarios.org.br