A bela e as feras Muita coisa mudou 60 anos após a primeira edição do Miss Universo. Entre polêmicas e injustiças, algo podemos garantir: uma noite inteira com mulheres do mundo todo disputando o título de mais bonita por Raquel Temistocles
Armi Kuusela, finlandesa, 1,65 m de altura, 57,5 cm de cintura, 85 cm de busto e miss Universo de 1952. Leila Lopes, angolana, 1,79 m de altura, 60 cm de cintura, 90 cm de busto e miss Universo de 2011. Além das medidas, que diminuíram um pouco aqui e aumentaram um pouco acolá, são 60 anos que separam a primeira miss Universo da última, representada na foto ao lado. entre elas, uma história de polêmicas, disputas e, claro, muita beleza. Neste mês, na 61ª edição do concurso, outra mulher será eleita a mais bonita do mundo
e, já que você, eu e pessoas dos mais de 80 países participantes estaremos ligados para saber o que faz de uma moça uma miss, é bom entendermos desde já que o físico só era importante mesmo lá longe, nas primeiras edições. “o que o miss Universo diz é que a candidata tem que ter 60% de magnetismo pessoal e 40% de beleza. A coisa de ‘apenas bela’ ficou perdida lá nos anos 50. Hoje, o que se quer dessa miss é que em um minuto de conversa você já esteja encantado”, explica o jornalista e especialista em concursos de miss, roberto macedo.
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Foto: sernando Borges/terra.com.Br
Miss UnivERso 2012 i dia 19, quarta, 23h, tnt, 48 e 548 (hd)
2011
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1968
1952
É melhor as brasileiras começarem a se preocupar em ser mais simpáticas e interessantes se quiserem colocar as mãos na coroa. Tivemos apenas duas eleitas: Ieda maria Vargas, em 1963, e martha Vasconcellos, em 1968. Nos últimos anos, algumas ficaram entre as finalistas, mas nenhuma conseguiu repetir o feito. e são as norte-americanas e as venezuelanas que lideram o ranking de mais títulos. Segundo macedo, a culpa não é da falta de graciosidade das brasileiras ou do excesso de sorrisos das concorrentes, mas o problema começa nos concursos de beleza nacionais. “o que falta para o brasil é uma organização séria. A maioria das escolhidas do miss brasil é eleita sob denúncia de fraude. esse é o principal problema”, afirma. Para ele, enquanto as misses brasileiras continuarem a ser selecionadas por interesses particulares de empresas ou de empresários ligados à organização, sem realmente terem os requisitos necessários para vencer, não teremos chance. Não foi só a seriedade do evento que mudou de 1952 até hoje. As roupas, os penteados, as etapas do concurso e a representação do papel da mulher se transformaram tanto quanto a própria sociedade.
“Nos anos 50, quando o miss Universo começou, a mulher era dona de casa – ainda não tinha conquistado o mercado de trabalho. A revolução feminista começou nos anos 60, e ela saiu de casa, começou a ter uma profissão”, conta o especialista. “Tanto que, nos anos 70, as universitárias invadiram os concursos de miss”, completa. Criado como uma competição por uma marca de roupas da Califórnia, nos eUA, o concurso foi adquirido em 1996 pelo bilionário empresário donald Trump em uma parceria com a rede de televisão americana NbC. As participantes, de 18 a 27 anos, são avaliadas por traje típico, traje de gala e traje de banho. Cada uma das cinco finalistas ainda responde a uma pergunta feita por um dos jurados. A vencedora é anunciada e recebe como prêmio todas as despesas pagas durante um ano em um apartamento na Trump Tower, em Nova York, além de bolsa de estudos, produtos de beleza e um salário de valor não divulgado.
Fotos: getty images, latin, aFp e shutter stock
1963
Anos dourados – Na primeira foto, as candidatas do primeiro concurso de Miss Universo, em 1952, que teve como vencedora a finlandesa Armi Kuusela e como semifinalista, Elza Edsman, do Havaí. Ao lado e acima, as únicas vencedoras brasileiras, em 1963, Ieda Maria Vargas, e em 1968, Martha Vasconcellos
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2009
1972
E dá-lhe as latinas – Em 1972, as finalistas do evento, que terminou com a vitória da australiana Kerry Wells, e com a brasileira Rejane Vieira da Costa em segundo lugar. Ao lado, a americana Chelsi Smith posa após receber o título. Acima, dobradinha da Venezuela: Dayana Mendoza Moncada, Miss em 2008, entrega a faixa a Stefanía Fernández, eleita em 2009
CAT FIGHT
1995
RAnking – Miss UnivERso Apesar de ser o país com mais concursos de beleza no mundo e o com mais títulos também, os Estados Unidos estão há 16 anos sem uma vitória. Atrás vem a Venezuela, com seis eleitas. Já o Brasil empata com México, Japão e Canadá, entre outros.
1o Estados Unidos.............................................. 7 2o Venezuela.................................................................. 6 3o Porto Rico.................................................................. 5 4o Suécia.............................................................................. 3 5o Brasil.................................................................................. 2
elas são lindas e delicadas. mas por trás dos acenos encantadores e do figurino caro, a disputa e os olhares fulminantes rolam soltos. Não que as misses se engalfinhem pelos corredores. mas também não é como se elas se amassem incondicionalmente. em 2007, por exemplo, no concurso de miss Porto rico, a candidata e vencedora Ingrid rivera alegou terem colocado spray de pimenta em seu vestido de gala. “Lembro de um outro problema, em miami, no miss Universo de 1997, em que a miss república dominicana era loira e a miss Itália era uma mulata nascida na república dominicana, residente do país europeu, e colocaram as duas no mesmo quarto. elas começaram a ter problemas, porque parece que na república dominicana eles são muito racistas e a loira dominicana não aceitou a negra italiana”, lembra roberto macedo. Já a russa oxana Fedorova perdeu a coroa de miss Universo em 2002 quatro meses após ter ganhado por não cumprir com suas obrigações contratuais de miss. Para nós, a maior injustiça foi a derrota da brasileira marta rocha, em 1954, para a americana miriam Stevenson. mas não pensem que isso ocorreu por causa de duas polegadas a mais nos quadris. Segundo macedo, naquele ano, os eUA precisavam ter uma miss Universo, porque em 1953 eles ficaram com o segundo lugar. então, o concurso seguinte já não iria despertar tanto interesse dos americanos. Alguns estados chegaram até a não eleger candidata, outros mandaram meninas sem grandes condições de competir. “eles perceberam que, se não elegessem uma americana naquela hora, o concurso podia morrer nos estados Unidos. Foi aí que sobrou para a marta. ela deu o azar de ser a candidata.” Para que a história não se repita, o brasil precisa chegar com a mesma vontade de ganhar das venezuelanas. “É como se fosse a Copa do mundo para o brasil. A miss Venezuela perder o miss Universo é uma tragédia para eles”, conta. Com tanta disputa, quem tem mais chances de ganhar neste ano? “eu acho que hoje é eleita a miss que tem o melhor cirurgião plástico”, afirma o especialista. Agora é torcer para a gaúcha Gabriela markus, eleita miss brasil, quebrar nosso jejum de 43 anos. dezembro+Monet+61
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