6 minute read
Perfi l
Das pautas às águas
O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter
Advertisement
Texto Heloiza Helena C Zanzotti Fotos Arquivo pessoal
Acitação que abre a matéria, de Cláudio Abramo (1923 – 1987), um dos maiores nomes da imprensa brasileira, retrata bem o perfi l do nosso entrevistado desta edição, Carlos Nascimento, também jornalista, conhecido por cobrir fatos que marcaram a história do Brasil e do mundo, e também por apresentar grandes jornais na TV. Confesso que fi quei surpresa quando solicitei a entrevista. Sua atenção, solicitude e presteza em me atender foram ímpares e reforçaram o que eu já havia escutado sobre sua simpatia e humildade, sem mencionar o talento.
Carlos Alberto Suriano do Nascimento, 67, jornalista, armador e agropecuarista, nasceu na Maternidade do Jaú, em 05 de dezembro de 1954. Seus pais moravam em Dois Córregos e foi lá que ele viveu até janeiro de 1974, quando mudou-se para São Paulo. “Morei na Capital até 2020. Em abril daquele ano, diante da Covid, mudei-me com a família para a casa do sítio, em Torrinha, na qual residimos durante um ano. Em 1982 morei em Madri, Espanha, e em 1984 trabalhei no Rio de Janeiro, mas continuei morando em São Paulo”.
COMO FOI SUA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA?
Estudei no Grupo Escolar Francisco Simões e no Instituto de Educação Estadual José Alves Mira, em Dois Córregos, e na Faculdade de Jornalismo Casper Líbero, em São Paulo. Fiz um semestre na Faculdade de Direito Mackenzie, mas não concluí o curso. As brincadeiras que me lembro da infância são Mãe da Rua, Salva, Pega-Pega e uma que tinha uma lata de óleo vazia e chamávamos de Rico-Trico. Também trocava gibis com as moças que moravam atrás da estação velha de Jaú - até minha mãe descobrir. E jogava futebol de salão na quadra da Sede Mariana, em Dois Córregos. Na adolescência cacei e pesquei nos rios Jacaré Pepira, Turvo, Piracicaba e Tietê. Quando menino, passeei de canoa no Rio Jahu, em frente ao Aero Clube.
QUANDO COMEÇOU A INTERESSAR-SE PELO JORNALISMO?
Comecei a trabalhar aos 13 anos, em 1968, como sonoplasta da ZYR 54, Rádio Cultura de Dois Córregos. Aos 14 era locutor, aos 15 narrava futebol e fazia um programa chamado “A Cidade é Notícia”. Aos 16 anos fui editor do jornal “O Democrático”, de Dois Córregos, que completou em setembro agora 101 anos. Em 1972 participei de um concurso de locutores na PRG 7, Rádio Jauense e não fui escolhido. Mais de uma década depois, no enterro da minha avó Marietta, o diretor da rádio, Alides Fabris, me contou que ganhei o concurso, mas a minha mãe, Onélia, foi à casa dele pedir que me reprovasse pois não queria que eu fi casse no interior.
QUAIS OS MAIORES DESAFIOS QUE ENCONTROU?
Nada diferente de toda a minha geração que saiu do interior paulista para vencer na vida. Pergunte aos Baby boomers dos anos de 1950 e contaremos todos a mesma história. Lutar, amar e vencer.
COMO ERA FAZER RÁDIO NA ÉPOCA?
Ainda vivíamos a Era do Rádio. O fi m, mas vivíamos. Nada fácil alguém sair de Dois Córregos, ou de Jaú, ou de Bauru, e conseguir um lugar nas grandes emissoras. Cheguei a São Paulo recomendado pelo Ediê Romero, de Jaú, para a rádio Bandeirantes, mas meu primeiro emprego foi na Nacional. Do outro lado do corredor, na Excelsior, brilhava o jauense Antônio Celso. Comecei como repórter na Sala de Imprensa do Aeroporto de Congonhas e logo depois fui redator e locutor de “O Globo no Ar”. Meu padrinho foi Olavo Marcus, de Araras, secretário de Redação da Nacional.
E COMO ENTROU PARA A TELEVISÃO?
Houve uma reviravolta no Sistema Globo de Rádio (Nacional e Excelsior - que anos mais tarde se transformaria na CBN) e fui indicado como repórter. Meu chefe de reportagem, Dante Matiussi, transferiu-se para a TV Globo e me levou junto. Com a benção do diretor das rádios, Sérgio de Sousa, a quem também devo esse passo.
QUAL TRABALHO PERMITIU QUE SE TORNASSE MAIS CONHECIDO DO PÚBLICO?
Quando comecei na televisão, em 1977, a Rede Globo era uma unanimidade no Brasil. Em poucos meses como repórter já era bem conhecido em todo o estado e ao me tornar repórter do JN, em 1978, em todo o Brasil.
VOCÊ É CONSIDERADO UM DOS MELHORES ÂNCORAS DA TELEVISÃO BRASILEIRA. QUAIS FATORES ACREDITA QUE CONTRIBUÍRAM PARA ISSO?
Teríamos que perguntar aos telespectadores, colegas e companheiros que me prestaram várias vezes essa homenagem. Na verdade, foram todos muito bondosos comigo.
QUAL A COBERTURA MAIS SIGNIFICATIVA QUE FEZ?
Difícil dizer. Eu sempre considerei todas as coberturas e reportagens iguais. Pelo menos no começo. Algumas, no decorrer, tornaram-se importantes e são lembradas até hoje, como o ataque às Torres Gêmeas. Mas nunca fi z diferenças.
QUEM INSPIROU VOCÊ NA SUA TRAJETÓRIA?
Devo muito a inúmeros colegas como o Clineu Alves de Lima, de Dois Córregos; Sérgio Escobar, de Bauru; Olavo Marcus, Dante Matiussi, Luiz Fernando Mercadante, Alice Maria, Armando Nogueira, Alberico Souza Cruz, Laerte Mangini, Vianey Pinheiro,
Roberto Feith, Leonardo Gryner, Narciso Kalili, Ricardo Carvalho, Eurico Andrade, Humberto Pereira, Silvia Sayão, Amauri Soares, Carlos Roberto Schroeder, Boni, Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Lilian Witte Fibe, Renato Machado, Joelmir Betting, Marcelo Parada, Silvio Santos, Roberto Muylaert, Roberto de Oliveira e a todos os meus colegas editores, repórteres, técnicos e cinegrafistas.
ENTRE TANTOS, QUAIS OS PRÊMIOS MAIS IMPORTANTES QUE JÁ CONQUISTOU?
Como repórter recebi o prêmio Vladimir Herzog em 1980 e 1981. Como Editor-Chefe e Apresentador de Telejornais o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 1988 pelo Jornal da Cultura, em 1989 pelo Jornal da Record e em 1993 pelo São Paulo Já, na TV Globo; o Prêmio Comunique-se de Melhor Âncora de Telejornais em 2003 no Jornal Hoje e em 2005 no Jornal da Band, e quatro vezes o Troféu Imprensa pelo Jornal do SBT e SBT Brasil. Também recebi o Prêmio dos 50 Mais Admirados Jornalistas Brasileiros.
COMO LIDOU COM A DESCOBERTA E ENFRENTAMENTO DE UMA DOENÇA GRAVE?
Em momentos assim só conseguimos superar a adversidade com a benção de Deus e a ajuda da família, dos amigos, a força dos telespectadores e a competência dos médicos, dos enfermeiros e funcionários dos hospitais, no meu caso o Sírio Libanês, o Vila Nova Star, o São Luiz e o Amaral Carvalho.
COMO SURGIU A IDEIA DE INVESTIR NO TURISMO FLUVIAL?
Sempre me interessei pela navegação fluvial e considero um erro grave o não aproveitamento dos nossos rios como meio de transporte e turismo. O Navio Homero é uma prova de que isto é possível.
QUAIS AS PERSPECTIVAS?
Se depender das empresas de navegação da nossa região temos muito a fazer e a oferecer ao público. Mas a hidrovia Tietê Paraná precisa de investimentos e atenção do Poder Público, ou estaremos jogando fora uma via navegável preciosa para o Brasil.
ESTAMOS COMEMORANDO 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO?
O Rádio sempre foi e continuará sendo um veículo de comunicação de primeira grandeza no Brasil e no mundo. Está ligado a tudo de importante que aconteceu no Século XX e mesmo com a televisão e a internet, se manterá de pé.
APESAR DAS NOVAS MÍDIAS, O RÁDIO CONTINUA SENDO UM DOS PRINCIPAIS VEÍCULOS DE INFORMAÇÃO DOS BRASILEIROS. VOCÊ CONCORDA?
Claro que concordo. Só não pode perder suas características. O Rádio se ergueu e triunfou com a arte, a cultura, a língua, a música, a classe e o bom gosto. O Rádio é, antes de tudo, uma escola.
QUAIS SÃO SEUS PLANOS PARA O FUTURO?
Meus planos? Nunca os fiz. Vivo o presente e me contento com pouco. Um pastel do Mercado e um Guaraná XV! Está bom assim?
Sempre me considerei e anunciei como dois-correguense e o sou de alma e coração. Naquela pequena cidade vivi os melhores anos da minha vida. Mas nunca me esqueci de Jaú, minha terra natal, nem das férias escolares que passei na casa dos meus avós, tios, tias e primos, nos altos da Marechal Bittencourt. A vocês, da Revista Energia, obrigado pela entrevista e pela oportunidade de falar aos meus.