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Boa Vida

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Alimentação

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Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil

Comida e Pandemia

Recebi um e-mail da editora (sempre ela) com o título. Tudo bem que ela disse que era só uma sugestão, mas eu entendi o recado e toquei mãos à obra

Com a editora não se brinca! Quem me ensinou isso foi o João Ubaldo Ribeiro, em uma das nossas muitas (e deliciosas) conversas. Imaginadas, é claro. Ele (o João Ubaldo) deve estar se torcendo de tanto rir desse meu nariz de cera...

Digitei Pandemia no Google e ele me apresentou 319 milhões de links encontrados em uma pesquisa que durou 7 décimos de segundo! Se você não acredita, faça a experiência. No link sobre pandemônio descobri que o termo foi criado pelo poeta inglês John Milton em 1667, cunhado para descrever o centro administrativo do inferno. Isso mesmo, do inferno de verdade. Também descobri que a igreja católica medieval usou o medo natural que as pessoas têm do escuro da fl oresta e a fi gura de Pan (deus dos bosques) que tinha orelhas, chifres e pernas de bode, para representar o demônio e, assim, disseminar o pânico (mesma origem etimológica) entre os não católicos.

Tudo isso dito, o assunto pandemia está encerrado (será?) e nós podemos falar tranquilamente sobre comida sem correr o risco de irritar a editora. Durante os primeiros sessenta dias de isolamento social eu fi quei completamente sozinho. Claro, como a maioria de nós eu via o noticiário e encasquetava que tinha contraído a doença umas duas vezes... Por dia. Lidar com produtos de limpeza me provoca alergia. Rinite para ser mais específi co. Assim, cada pia de louça lavada me causava espirros. E muita encanação desnecessária. A primeira semana de isolamento foi um terror. Tudo meio improvisado na cozinha. Lanchinhos, uma fruta aqui ou acolá, muito pão, queijos, frios e cerveja. Até um caipira néscio feito eu percebe que esta não poderia ser uma dieta útil por muitos dias. Então, eu abandonei essa abordagem e parti para aquilo que me é usual. E aí veio o excesso... Assar uma picanha inteira só para mim? Claro! Com salada, cebolas grelhadas e batatas assadas no forno com alecrim. Podem acreditar que eu realmente tentei comer tudo. E quase consegui, bebendo cerveja...

Finalmente eu evoluí para o estágio ou fase mais técnica: cozinhar bem para uma única pessoa. Já tentou fazer uma mini moqueca, com farofa de dendê e tudo o mais? Sim. E uma mini moranga assada? Sim. Kasler com cebolas caramelizadas e batatas ao murro? Sim. Lombo de bacalhau assado só para um? Sim. Mini bolo de carne moída e crosta de bacon? Sim, outra vez. Gente, um cozinheiro trancafi ado cozinha quase o tempo todo. E, no meu caso, bebe cerveja. Muita. Mas, com o passar do tempo e com os testes todos negativos, fi nalmente eu e Tina conseguimos fi car juntos na mesma casa e tudo mudou para melhor. Ter a companhia dela, poder conversar, um pouco mais de normalidade na rotina doméstica e assim por diante. Com ela por perto fi cou tão mais fácil controlar a cerveja...

Em dois, o prato favorito foi o rosbife. Peça ao açougueiro um corte de fi lé específi co para rosbife. É a parte central da peça de fi lé, a mais cilíndrica e mais homogênea. Pegue um pedaço de mais ou menos um palmo ou pouco mais. Tempere o fi lé com sal e pimenta branca (eu uso pimenta caiena também, porque gosto de mais ardência). Quando o fi lé estiver na temperatura ambiente (leia-se não gelado), coloque manteiga, folhas de louro (e as especiarias que mais gosta – sem exagerar) numa frigideira de ferro ou aço inoxidável. Sele o fi lé na frigideira (é por isso que a peça não pode estar gelada, senão ela esfria a frigideira e não sela) e, depois de retirar as folhas de louro, fl ambe tudo com conhaque (pode ser cachaça envelhecida ou uísque) e com cuidado: a manteiga quente aumenta bem as chamas... Depois, é só enfi ar a frigideira no forno a 200 graus (não vai usar essas coisas com cabos de plástico, né?) e esperar assar. Como depende do tamanho da peça e da regulagem do forno, não dá para dizer quanto tempo, mas é só olhar que você vai perceber. O ponto correto é mal passado. Se você prefere carne bem passada sugiro que faça outra coisa com o fi lé. Por exemplo, deixar o coitado no açougue... Depois de assar, deixe descansar por uns 5 minutos para os sucos da carne se espalharem pela peça toda e pode fatiar. O molho que sobrou na frigideira vai por cima dos cortes. O que você não consumir na hora, guarde fora da geladeira para fazer um sanduíche frio (com geleia!) mais tarde.

Fiquem bem e se cuidem nessa pandemia. São os meus votos (e os da editora também!).

Até a próxima, porque agora eu vou tomar uma cerveja. 

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