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Comportamento

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Desafios e perspectivas da Educação em tempos de pandemia

Como os educadores, pais e professores estão se adaptando à realidade desafi adora imposta pela crise epidemiológica?

Texto Flavia Cardoso Foto: Arquivo pessoal

Imagem: internet

Omomento é crucial para complexas reflexões, mas é incontestável que a maior imediação entre escola e família é necessária para sanar os conflitos e integrar as responsabilidades.

Além da tarefa árdua de educar, a família passou a ser atuante, também, no processo de escolarização das crianças e jovens. Por outro lado, para favorecer o sucesso dos alunos no processo de aquisição do conhecimento, os profissionais da educação precisaram se reinventar: além do conteúdo, tiveram que dominar as mais modernas ferramentas tecnológicas e estudar diariamente novas formas de abordagem, interação e avaliação.

REINVENÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE

A RE conversou com a Coordenadora Pedagógica na Rede Escolar SESI – SP, Michelle Cristina Capeloci, educadora há 22 anos, que atesta essa reinvenção até mesmo nos momentos de formação continuada com os professores, compreendendo que, além da reciclagem profissional, o emocional dos docentes é também um fator a ser estudado e discutido. “Comprovei que temos professores brilhantes em compartilhar e apoiar, em resgatar propostas e, principalmente, em inovar e criar ideias para que as famílias entendam, nesse momento, que a escola sempre será parceira na construção dos conhecimentos dos alunos e, principalmente, no desenvolvimento da formação cidadã”, afirma.

Quanto às dificuldades, Michelle acredita que a maior delas é a de trabalhar remotamente, da própria casa, com poucos recursos, tendo que adaptar os espaços de convivência, divididos com outros membros da família. “Por essa razão foi preciso criar estratégias de aprendi

zagem à distância e planejar constantemente as ações didáticas para que a aprendizagem alcançasse todos os alunos. O estudo constante dos professores e a necessidade de encarar a tecnologia como nova aliada fizeram com que todos ampliassem seus momentos de estudo individual e enraizassem ainda mais seus conhecimentos”.

Para o professor de Física do Colégio São Lucas, Rafael Figueira, está sendo um período de muita aprendizagem e uma oportunidade indubitável de conhecer novas ferramentas que podem auxiliar no ensino, de repensar a forma como os conteúdos devem ser trabalhados e quais devem ser priorizados pela sua importância em cada área do conhecimento.

“Depois de oito anos em sala de aula, vejo este cenário como um período de grande crescimento pessoal e profissional também. Um de meus grandes mestres, que hoje tenho o privilégio de ter como colega de trabalho em uma escola, costuma dizer que este processo de mudança para o ensino remoto, de forma tão repentina, assemelha-se a precisar trocar o pneu de um carro com ele em movimento. Então, tivemos que nos reinventar, cada um em sua particularidade como professor, além de nos unirmos, compartilhando os saberes sobre as metodologias empregadas, as ferramentas computacionais utilizadas, nos ajudando mutuamente para lidarmos com as novas demandas das aulas e a superar algumas dificuldades impostas por este período”.

A IMPORTÂNCIA DA SOCIALIZAÇÃO NO DECURSO DE FORMAÇÃO

Apesar de identificar vários pontos positivos neste novo modelo de Educação, é imprescindível refletir acerca da ausência do contato diário, da convivência, da socialização entre todos os envolvidos no cotidiano escolar.

Para a professora de Educação Infantil, Débora Sousa Pessoa, pedagoga docente no Colégio Saint Exupéry há cinco anos, o maior desafi o nas aulas remotas tem sido a distância dos alunos. “Todos os dias trocamos sorrisos, abraços e olhares que tornam a vida mais colorida. Aprendemos a sentir o olhar deles através da câmera, mas o toque faz falta no cotidiano”. A educadora ainda destaca o retorno às aulas presenciais, que terão um novo formato: “minha expectativa para o futuro consiste em receber os alunos de forma segura, tanto em questão de saúde física como saúde psicológica, ajudando-os a vencer as ansiedades desse novo período de vida que viveremos”.

Ainda sobre este aspecto, a RE ouviu o relato da professora Dra Renata de Oliveira Figueira, que leciona Matemática há sete anos no Colégio São Lucas: “Um dos maiores desafi os foi manter a interatividade com os alunos pelas telas frias dos computadores, tablets e celulares. Não poder ver a reação espontânea deles ao aprenderem algo, ou quando estão com dúvidas no item explicado, faz muita falta neste período”.

Na opinião da educadora, nada substitui as aulas presenciais. “Talvez seja impossível recriar toda a proximidade entre professores

e alunos por meio da tecnologia, principalmente na educação básica. Porém, os recursos utilizados, as novas metodologias implantadas e todo aprendizado que este período nos trouxe aumentaram o leque de ferramentas de ensino. Uma vez que este leque foi aberto, jamais voltará ao seu tamanho original. Imagino que os recursos utilizados neste período continuarão a ser usados nas aulas regulares como instrumentos auxiliares de ensino”.

15 DE OUTUBRO: DIA DOS PROFESSORES.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Paulo Freire).

A missão de lecionar passou a ser ainda mais desafi adora, pois o processo de criação de possibilidades torna-se, a cada dia, mais complexo e necessário.

Sobre as expectativas para o futuro, o professor Rafael compartilha um desejo: “Diante dos desafi os enfrentados por todos nós nesse período de pandemia, tenho a esperança de que, no futuro, possamos, efetivamente, desenvolver uma cultura em nosso país de valorização da educação e de buscar melhorar a qualidade de ensino como um todo”.

FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS

Conceitualmente, a Educação é a extensão do processo de formação de uma pessoa durante toda a vida; é a transferência de valores morais e é de responsabilidade da família. Já o termo Escolarização é o conjunto de conhecimentos adquiridos na escola, e o professor tem o papel de otimizar o aprendizado de tais conhecimentos. Contudo, nos últimos anos, vimos a escola não apenas fazer parte da Educação, reforçando a educação parental, como também, algumas vezes, sendo o único cenário onde ela acontece. Isso porque, na ânsia de querer oferecer sempre o melhor aos fi lhos, os pais priorizam o trabalho e acabam se ausentando do processo diário de educar e formar.

Segundo a professora de Educação Infantil, Juliana de Castro Colacite Quagliato, que também é mãe de quatro crianças e adolescentes, a pandemia nos ensinou a desacelerar, a perceber que o mais importante na vida são as relações. “Tenho em casa quatro crianças cheias de energia e curiosidades, que dividiam o tempo entre as atividades esportivas e escolares. De repente, tudo parou. Tivemos que aprender a preencher o tempo com atividades prazerosas e simplistas como, por exemplo, assistir a um fi lme em família”.

A educadora relata que a maior tristeza é não poder responder aos fi lhos quando poderão retornar à escola, mas que, por outro lado, as aulas em casa possibilitaram conhecer melhor os fi lhos enquanto alunos. “Participar do processo de ensino aprendizagem não é tarefa fácil, mesmo sendo educadora, nem sempre as crianças estão dispostas a fi carem sentadas prestando atenção. Ouço pessoas dizerem que o ano escolar está perdido, mas não vejo desta forma, é gratifi cante ver o desenvolvimento e a aprendizagem acontecendo e os conteúdos escolares sendo revistos”.

A RE conversou também com a educadora Josiane de Camargo Ferraz, Coordenadora da Unopar e Diretora do Colégio Saint Exupéry, sobre os desafi os dos responsáveis em casa: “Tenho certeza que os vínculos familiares foram ainda mais fortalecidos, mesmo com toda difi culdade de acompanhar e estar perto. Os pais não são professores, ouvi muito isso. E não são mesmo! Mas não podemos deixar de evidenciar o quanto, não só nesse momento, o papel da família é fundamental e benéfi co quando ela está entrelaçada e envolvida com a escola. Recordo que foi um “susto” nos depararmos diante de uma situação tão desafi adora e incerta. Hoje colhemos bons frutos de tudo isso. Lógico que são colheitas diferentes diante do que já estávamos habituados, mas não deixam de ser colheitas!”

A professora Débora conta que sempre diz aos pais que não teria nenhum valor todo o investimento do colégio e as aulas serem dinâmicas se eles, os pais, não estivessem oferecendo o amparo do outro lado da telinha. “É indiscutível como a relação entre família e escola se fortaleceu! Sempre que possível agradeço os pais por nos receberem diariamente em sua casa com tanto carinho e responsabilidade pela educação”.

Para a docente Renata, embora seja um período na educação de difícil adaptação, tanto dos professores e escolas quanto dos alunos e pais, há uma mudança positiva nos vínculos familiares. “Recebi mensagens de pais que se divertiram ao relembrar a fórmula de Bháskara ao ajudarem seus fi lhos com a compreensão das aulas. Agora a nossa sala de aula está aberta para toda a família”. A coordenadora Michelle afi rma que essa questão é bastante re

fl exiva e de inúmeras opiniões, mas é fato que a família e a escola precisam efetivamente serem parceiras para que os alunos sintam-se seguros e motivados a aprender de uma forma diferente do já vivido. “Familiares não são professores, mas são um veículo de acesso à comunicação para que a aprendizagem aconteça nesse momento, quando as telas dos computadores, tablets, celulares e folhas são o limite da escola nesse período de pandemia”.

VESTÍGIOS DE EVOLUÇÃO

Este ano tem se mostrado extremamente surpreendente e desafi ador. A chegada de um vírus de rápida contaminação nos direcionou para uma situação que nossa geração nunca tinha vivido, com a necessidade do isolamento. O educador Rafael diz que aprendeu muito com este período histórico, pois as demandas que surgiram nesse tempo – como a necessidade do distanciamento social, as incertezas em relação ao trabalho e a vida como um todo – possibilitaram que saíssemos de nosso lugar comum e repensássemos em nossa vida, na importância de nossas famílias, dos amigos, em nossa fé e assim pudéssemos crescer em virtudes e nos tornarmos pessoas melhores.

A Diretora e Coordenadora Josiane tem expectativas de um futuro repleto de aprendizagens: “Espero que tenhamos aprendido novos valores e saiamos fortalecidos e certos de que nada é impossível quando existe o querer e o fazer! Saber tirar de toda difi culdade o que de positivo ela trouxe”.

Michelle compartilha do mesmo sentimento e ressalta: “Precisamos, efetivamente, uns dos outros para aprender, devemos compartilhar ideias para que os valores sejam transmitidos e ensinados de forma que nossos estudantes se tornem capazes de promover conhecimento para a cura do corpo e da mente, enfrentando novos e outros desafi os que evidentemente surgirão”. 

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