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Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil

Comida e Café

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Se o preclaro leitor ou leitora pensou que o nosso mui tradicional cafezinho pós-refeição seria o tema da coluna, enganou-se na mesma medida que a Rússia ao vender o território do Alaska em 1867 por 7,2 milhões de dólares porque acreditava que aquilo “não valia nada”

Claro está que o nosso país é mais que devoto do fruto da rubiácea. Isso não se discute nem em mesa de boteco, naquelas horas em que o chope domina o cérebro do grupo e simplesmente não existe mais assunto para discussão. É preciso explicar aos abstêmios que a roda do boteco não é uma irmandade, é uma confraria de debatedores (por vezes, gladiadores). Aliás, vale lembrar nesses tempos de tão maus às coisas públicas (res publica, em latim), que um dos símbolos nacionais é um ramo de café. Quem não acreditar que vá verifi car as Armas Nacionais ou Brasão Nacional.

Ao redor do planeta existem muitas culturas distintas e interessantes. Cada uma delas tem lá a sua graça no que se refere à bebida social preferida. Refi ro-me às beberagens não alcoólicas, pois do contrário isso não seria uma coluna, mas sim algo entre compêndio e enciclopédia. Vamos descartar, por uma questão de espaço e concisão, as culturas que bebem derivados de leite. Isso elimina uma parte considerável (e exótica para a maioria de nós) do planeta. O foco aqui é a mistura de produtos vegetais e água quente. Pensando dessa maneira absurdamente tacanha (lembremse que eu envelheço, mas continuo caipira) existem dois grandes agrupamentos mundiais: os adoradores do chá e os do café.

Os povos que preferem o chá como bebida social são muitos: da Ásia à África, do Rio Grande do Sul ao cerrado brasileiro. As infusões podem conter diferentes formas de folhas, o que permite uma grande variedade de sabores. Eu até tomo chá, mas gosto mesmo é de café. Forte, escuro, não queimado e aromático. Dizem que o café tira o sono, que deixa o fulano amalucado (acho que tem uns chás por aí que dão esse barato), mas não para mim. Sou capaz de tomar dois ou três espressos curtos depois do jantar e ainda assim dormir feito um bebê de colo, feliz e sorridente.

Entretanto, eu quero falar hoje sobre o café como ingrediente, como parte daquilo que a gente come. Posso quase apostar que alguns pensaram naquilo que é mais evidente: tiramisu ou calda de chocolate amargo para os profi teroles e assim por diante. Mas eu quero falar de uma combinação absurda, surgida num lugar improvável. Existem comidas que são inerentemente sofi sticadas, pois não? Escargots, trufas e lagostas são exemplos emblemáticos.

Reza a lenda que Gilberto Smith Duquesne, o autodeclarado maior especialista em lagostas do mundo, estava preparando um jantar na embaixada de Cuba em Paris quando, sem mais aviso, um bule de café caiu sobre as lagostas cozidas e prestes a serem servidas. Catástrofe das catástrofes. Aquela carne fi brosa, mas inacreditavelmente branca estava mais escura que uma galinha d’angola. Não havia como remediar o acontecido. Enquanto todos pensavam no fi asco eminente, Gilberto fez o mais improvável. Criou uma nova receita em minutos para servir ao embaixador e seus convidados: lagosta ao café. Quer saber se deu certo? Todos amaram.

Mas qual a razão dessa arenga toda? Simples. Tenho meia dúzia de caudas de lagostas prontas e esperando o clássico molho de manteiga com ervas e purê de maçã. Na mão uma xícara cheia de café e uma vontade amalucada de ver o que acontecerá depois... Se eu não for linchado (já viu quanto anda custando um quilo de lagostas ultimamente?), escrevo mais uma vez.

Até a próxima (ou não). 

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