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Comportamento
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Você tem vontade de voltar à infância?
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“Brincadeira de criança como é bom, como é bom. Guardo ainda na lembrança como é bom, como é bom” – Molejo
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Texto Bárbara Milani Foto: Arquivo pessoal
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Você já reparou no seu filho brincando ou sentou-se no chão para brincar com ele? Antigamente, tínhamos o costume de nos divertirmos na rua com os amigos, brincar de pega-pega, esconde-esconde, polícia e ladrão, futebol de botão, etc. Mas, onde foi parar essa tradição? Com o avanço da tecnologia em nossas vidas, as crianças ficaram cada vez mais propensas a se desligarem das brincadeiras presenciais e irem para o mundo dos jogos virtuais.
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
Os jogos em equipe são meios naturais que permitem à criança expressar-se, libertar os sentimentos e descontentamentos, e essas brincadeiras infantis são fundamentais na estruturação do indivíduo como na percepção motora, equilíbrio e orientação espacial.
Segundo o psicólogo especializado em neuropsicologia, Adriano Aparecido do Carmo, 34, o excesso de contato com jogos e estímulos virtuais prejudica o processo do desenvolvimento psicomotor e social da criança. “Esses prejuízos tendem a ter início de manifestações mais evidentes no período escolar, quando a criança será exigida por terceiros e, rotineiramente, são eles que identificam esses déficits”, explica.
Outra vantagem da brincadeira em grupo é favorecer alguns princípios básicos como o compartilhar, a cooperação, a liderança, a competição e a obediência às regras, saber perder e saber ganhar.
Que ser humano estou preparando para o mundo?
O psicólogo sugere que os pais façam essa pergunta para si mesmos: Que ser humano estou preparando para o mundo? “São nas relações que o homem se constrói, aprende a ser resiliente e a desenvolver empatia, a ser mais humano”.
EDUCAÇÃO
A palavra “educação” pode assumir diferentes significados, entre eles os valores determinados em gerações familiares. O processo educativo também é compreendido como o desenvolvimento inte
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lectual, físico ou moral dos indivíduos na sociedade. Algumas pessoas entendem que toda atuação familiar é educativa porque os pais são importantes na educação dos filhos, sendo responsáveis por legitimar ou rechaçar conhecimentos e valores.
De acordo com Adriano, o comportamento dos pais ou cuidadores são essenciais para a educação e instrução dos filhos. “Hoje uma criança de 2 anos já tem um smartphone acoplado ao berço. A falta de tempo desses pais faz com que eles busquem recursos que interajam/distraiam a criança”, detalha.
Os pais só não percebem os prejuízos que vão aparecer a longo prazo: o excesso de estímulo na primeira infância (de 0 a 6 anos) determinam o futuro comportamental da criança. “Em desenvolvimento, o cérebro cria uma rede de conexões neuronais que irão condicioná-lo cada vez mais a querer ser suprido por estímulos luminosos, deixando de lado as brincadeiras motoras com outras crianças que passam a ser estressantes e sem graça”, explica
A QUESTÃO DA SEGURANÇA
A globalização trouxe grande facilidade para adquirir produtos eletrônicos e atualmente o mercado oferece esses equipamentos para todas as classes sociais. O aumento no índice da violência também ajuda na busca pelos eletrônicos.
“Os pais não se sentem seguros em permitir que seus filhos saiam às ruas para brincarem com outras crianças como antigamente. Por causa dessa falta de segurança, buscam recursos eletrônicos que mantenham seus filhos entretidos dentro de casa”, afirma o psicólogo.
Os pais justificam que hoje as ruas são perigosas, mas também não encontram tempo para levar as crianças a parques, praças, quadras e áreas verdes, principalmente porque terão que supervisioná-las o tempo todo.
BRINCADEIRA RAIZ
A esteticista Auri Cerqueira dos Santos, 39, e o bancário Marcelo Ricardo dos Santos, 47, são pais de dois meninos: Theo, de 9 anos, e Thales, de 4 anos. Apesar da diferença de idade entre os filhos, eles preferem optar por brincadeiras “às antigas”.
“Quando apresentamos as brincadeiras para eles é algo mágico, porque eles brincam e adoram. Eles até preferem a tecnologia, mas temos
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o hábito de ensinar brincadeiras antigas”, explicam. Os pais concordam que a internet deve ser usada para acrescentar, mas a socialização sempre vai ser necessária e é um diferencial para o futuro das crianças.
OS IRMÃOS
Com 5 anos de diferença, os irmãos Theo Cerqueira Zafra e Thales Cerqueira dos Santos sempre brincam juntos com o pai Marcelo. O mais velho gosta muito de jogos virtuais, mas não dispensa brincadeiras como futebol, pega-pega e esconde-esconde. “Gosto de todas as brincadeiras e jogos virtuais como Fifa, PES e Minecraft, que é um jogo de sobrevivência. A única brincadeira que eu não conheço é gato mia, porque nunca brinquei”, confessa Theo.
Thales, o irmão mais novo, ainda está na pré-escola e em plena fase de aprendizado e desenvolvimento. Ele gosta de brincar na piscina e com bexiga cheia d’água. “Gosto muito de brincar no parque da escola, mas também gosto de jogar Sonic porque é divertido”. Das brincadeiras tradicionais, o garoto gosta de polícia e ladrão, e de soltar pipa.
AMIGOS DA FAMÍLIA
A aposentada Irene Marmol Navarro, 67, que também foi recreadora de creche por 21 anos, sente muita saudade de quando era criança. “Tudo era bom na minha infância, éramos felizes e não sabíamos”, relembra.
Naquela época era comum os vizinhos frequentarem as casa uns dos outros, e como não tinha televisão, os amigos brincavam na rua. “Jogávamos leska, futebol, pião, bolinha de gude, etc. Sempre na frente de casa, nunca íamos longe. Os pais sempre estavam nos supervisionando”.
Foi-se o tempo em que as crianças faziam as tarefas da escola e iam brincar na rua até a mãe gritar de dentro de casa chamando para tomar banho e jantar. “Nós nos considerávamos parentes de tanto que fi cávamos juntos. Tenho muita saudade e boas lembranças dessa época”, fi naliza Irene.
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MUNDO TECNOLÓGICO
No mundo contemporâneo, arrumar tempo para possibilitar experiências coletivas é um grande desafi o e é notável que o acesso das crianças à tecnologia vem ocorrendo cada vez mais cedo. É claro que existe o lado positivo das tecnologias que estão em avanço o tempo todo, mas os aparelhos também trazem muitos malefícios que vão afetar a mentalidade e o estado emocional, além de problemas que refl etem no físico como insônia, irritação, isolamento, agressividade, problemas de memória, de aprendizagem, visão, postura, etc.
Segundo o psicólogo Adriano, devemos sempre acreditar no melhor porque todos somos, de alguma maneira, responsáveis pelo processo de desenvolvimento de uma criança. “A escola com o processo de escolarização, os pais com a educação e a sociedade em contribuir com meios que ajudam nas relações”, relata. As brincadeiras de rua podem conviver perfeitamente com os jogos eletrônicos.
A dona Irene tem pena da nova geração. “Eles não conhecem nada das verdadeiras brincadeiras de criança. A internet é uma ótima oportunidade para melhorias, mas muitos fi cam limitados a isso. Os pais precisam estar atentos aos conteúdos que os fi lhos acessam”.
VAMOS VOLTAR À INFÂNCIA?
Para a maioria dos especialistas em educação infantil, é importante manter vivas as brincadeiras tradicionais, e não devemos deixar que elas se percam em meio a clicks, curtidas, posts na internet e em jogos que simulam a vida real.
E você, leitor, depois de ler sobre brincadeiras antigas, sentiu saudade? O que acha de juntar-se com seu fi lho ou sobrinho e brincar com ele? Ensine como brincar de polícia e ladrão, pega-pega, esconde-esconde, futebol de botão, amarelinha, passa anel...
Aposto que alguns de vocês têm bolinhas de gude guardadas. Pegue-as e mostre às crianças da sua família. Passe para a sua futura geração aquilo que seus pais e avós ensinaram. Esse é o seu desafi o agora: volte à infância e relembre bons momentos ao lado das crianças que promoverão mudanças no mundo!
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