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Mafalda, uma criança de 57 anos

“Rápido amigos! Acontece que se não começarmos a mudar o mundo, depois é o mundo que muda a gente!” (Mafalda)

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Texto Heloiza Helena C Zanzotti

Imagem: internet

As questões sociais nunca estiveram tanto em pauta como agora, em plena pandemia, quando os olhares se voltam para ações de solidariedade, cidadania, democracia, justiça, desigualdade social.

Presença constante em questões de vestibulares, no Enem e em diversos concursos país afora, Mafalda, a personagem dos quadrinhos, conquistou o mundo com temas de interesse e alcance global e, ao mesmo tempo, atemporais. Atualmente, as redes sociais estão repletas de tirinhas que nos fazem rir e, mais que isso, nos levam a grandes refl exões acerca da humanidade. Apesar de bem ‘velhinha’, Mafalda continua na ativa, muito respeitada e levantando críticas bem atuais.

COMO SURGIU A MAFALDA?

A menina foi criada pelo cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado, o Quino, falecido em setembro de 2020, aos 88 anos. Em 1962, Quino havia sido convidado para desenhar uma família de personagens para divulgar uma marca de eletrodomésticos. Nas histórias criadas, os personagens da família de Mafalda usavam produtos vendidos na loja, mas o projeto não deu certo e acabou engavetado.

Em 1964, um amigo do cartunista publicou três histórias em quadrinhos da Mafalda em um suplemento de humor argentino, mas ela fi cou conhecida mesmo depois que passou a aparecer duas vezes por semana na revista argentina Primera Plana, que exibia reportagens com contexto econômico e social. A partir daí, Quino direcionou a personagem para as questões que acabaram por caracterizar Mafalda. Após seu rompimento com a revista, em março de 1965, Quino levou Mafalda para o jornal El Mundo, e um ano depois a personagem virou livro.

QUEM É MAFALDA

Uma garota morena de 6 anos, baixinha, muito curiosa, crítica, inteligente, contestadora e atenta às questões do mundo ao seu redor. Adora os Beatles – ela nasceu nos anos 60 – e detesta sopa, como muitas crianças. Apesar de se comportar como uma típica criança da sua idade, esta menina possui uma visão aguda da vida e questiona de forma constante a sociedade, além de defender a paz, a democracia, os direitos das crianças e das mulheres, as relações entre pais e fi lhos, entre outros.

Mafalda é preocupada com o futuro do mundo e da espécie humana e, segundo o site Plataforma MS, à época do seu nascimento

o mundo vivia a Guerra Fria, a ditadura militar no Brasil (e logo depois em outras nações latino-americanas), a Revolução Cubana, Woodstock, os Beatles, o feminismo (e seus sutiãs queimados em praça pública).

NO MUNDO E NO BRASIL

A história em quadrinhos protagonizada pela menina alcançou todo tipo de público, de crianças a adultos, e apesar de ter sido criada para famílias argentinas, por tratar de temas sociais universais foi traduzida para mais de vinte países, incluindo Finlândia e China, além de estampar campanhas sociais internacionais como as da UNICEF, ilustrando a Declaração Universal dos Direitos da Criança. Em 1979 foi lançado um fi lme da personagem, com direção de Carlos Márquez.

No Brasil e em Portugal, Mafalda foi publicada pela primeira vez em 1970 e suas histórias também foram – e são - muito utilizadas por professores, em materiais didáticos e em sala de aula. Roberto Caliani Janeiro, 37, professor de Língua Portuguesa no ensino médio e pré-vestibular há 16 anos, diz que sempre gostou de tirinhas com humor inteligente e crítico como as da Mafalda, Calvin, Armandinho e, recentemente, Dina Anésia. “Sempre uso em sala de aula para incentivar debates e melhorar a interpretação de textos, e meus alunos também aprenderam a gostar. Nas provas, então, essas personagens são as protagonistas”, afi rma.

PRESENÇA CONSTANTE NOS VESTIBULARES

De acordo com o blog Descomplica –especializado em vestibulares, cursos e Enem - “a Mafalda é um personagem muito comum em vestibulares não só pela sua importância de crítica social, mas também pela sua atualidade. Por isso, suas tirinhas são constantemente usadas em questões de Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza.

“Na verdade, as quebras de sentido propositais, chamadas de quebra do paralelismo semântico são muito ricas na Mafalda. São construções difíceis de fazer. Fazer piada preconceituosa é fácil, mas trabalhar com humor de modo inteligente e que faça pensar é bem mais difícil. Essas tirinhas são exemplos disso”, pontua o professor Roberto. e o próprio nome já revela sua ideologia; Miguelito é o mais novo da turma, com apenas 5 anos, ingênuo, que ama jazz e também detesta sopas; Guille é o apelido de Guilherme, o irmão caçula de Mafalda. E há também uma personagem não humana, a tartaruga Burocracia, cujo nome denota a lentidão nos sistemas.

OS AMIGOS DA MAFALDA

Outros personagens fi guram nas tirinhas da Mafalda, e possuem suas características peculiares. Seus pais: Papá, que trabalha numa companhia de seguros e entra em crise quando repara na sua idade; e Mamã, típica dona de casa que não completou os estudos e entra em confl itos com a fi lha enquanto prepara sopas e macarrão.

Manolito (em português, Manuelinho) vive pensando nos negócios do pai e é um representante do capitalismo; Susanita (em português, Susaninha) quer casar com um homem rico e ter mais vestidos e sapatos. Felipe é um garoto tímido e idealista; a menina Liberdad (em português, Liberdade) é fi lha de hippies socialistas

LIÇÕES A APRENDER COM A MAFALDA

Como podemos notar, histórias em quadrinhos não servem apenas para diversão. As refl exões de Mafalda continuam, em sua grande maioria, tão relevantes agora como já foram há muitos anos. No entanto, apesar dos posicionamentos críticos e seus questionamentos, é importante notar que a Mafalda consegue enxergar beleza nos detalhes do dia a dia, e colocar uma pitada de ternura em todos os momentos.

Ela nos ensina muitas lições, e a mais importante, provavelmente, seja a de que não podemos fi car indiferentes diante das injustiças da sociedade, e que cada um de nós pode fazer algo para melhorar nosso mundo. 

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