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Boa Vida

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Legislação

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Boavida

Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil

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Comida e Fome

Uma pessoa mediana pesando, digamos, uns 70 a 80 kg, precisa ingerir entre 1.500 e 2.500 kg/cal em alimentos todos os dias

Pode-se sobreviver com menos do que isso? Sim. Pelo menos nos primeiros 40 a 60 dias dá para encarar, mas as consequências (fi siológicas e emocionais) serão extremamente severas. E, ainda por cima, existe uma condição essencial para tal durabilidade: é preciso ter água disponível o tempo todo. Trocando em miúdos, não é exatamente fácil vir a falecer por conta da fome. Entretanto, além dos parâmetros mencionados acima, isso ainda acontece nos dias de hoje.

A atual pandemia de Covid 19, que a todos nós aporrinha e atrapalha (para alguns de nós, apavora), trouxe a fome de volta ao centro das atenções. Em pleno século XXI, algo como 19 milhões de brasileiros passou fome regularmente nos últimos três meses. Não ao ponto de vir a óbito, graças a Deus, mas ao ponto de atravessar vários dias seguidos sem comer. Isso representa aproximadamente quase 10% da população nacional! E a pesquisa de onde extraí o número foi realizada no fi nal de 2020. Duvido muito que a situação tenha melhorado com o passar do tempo.

Eu jejuo regularmente. Não faço refeições às segundas-feiras. Muita água. Uma fruta, talvez. Mais nada. E faço isso porque eu abuso do garfo e do copo toda sexta, sábado e domingos. Jejum é agradável? Não. No meu caso é necessário pois, do contrário, a minha barriguinha de chope fi caria do tamanho de um latifúndio. Gente, fome só é bacana no livro homônimo de Knut Hamsun (escritor norueguês, ganhador do prêmio Nobel de literatura de 1920), num texto do Graciliano Ramos ou em um estudo de sociologia política. Em todas as demais situações (não literárias) das quais o leitor puder recordar-se, fome é uma desgraceira e ponto fi nal. Não. Não foi por acaso que a Bíblia colocou a Fome como um dos quatro cavaleiros do Apocalipse, na companhia da Guerra, da Morte e da Pestilência.

Não assisto TV faz tempo, mas sei que aparece nos telejornais diários. Uma cena triste, porém, repetitiva. Um casebre, sem luz ou água encanada... Uma criança dizendo à mãe que tem fome. E a pobre mulher, tentando reconfortar o pimpolho, lhe oferece uma água rala com uns feijões e, com sorte, um pouco de farinha. Muitas vezes, nem esse arremedo de refeição está disponível. O leitor já viu a expressão no rosto de uma pessoa esfomeada?

Mas a pandemia exige de nós uma série de comportamentos adaptados. A fome não fi ca mais restrita aos inúmeros grotões de pobreza extrema que existem nesse Brasil tão desigual, longe dos grandes centros urbanos. A fome chegou na casa do motorista do Uber, da diarista que não consegue mais faxinas porque seu antigo patrão perdeu o emprego ou a renda. Agora, além de jejuar por mim, eu doo a quantia que teria gastado almoçando ou jantando fora no meu dia de jejum. Não faço nada mais do que a minha obrigação mínima e não busco qualquer tipo de recompensa ou reconhecimento. Neste país de milhares de Vossas Excelências, que recebem salários comparáveis aos da Rainha da Inglaterra (e trabalhando tanto quanto ela: um desfi le aqui, uma CPI acolá), que comem e bebem feito os abades dos romances antigos, eu brinco de John F. Kennedy: serei um canalha a menos. Vem comigo? Bora doar. 

Até a próxima.

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