ANA CLÁUDIA GUEDES OSMAR PANCERA
RADIONOVELAS
EDUCATIVAS
Tecnologia social e educação popular
BELÉM ABRIL 2008
Projeto Radionovelas educativas - em defesa da criança e do adolescente Realização: Centro Artístico Cultural Belém Amazônia / Rádio Margarida Coordenação do projeto: Eugênia Melo Coordenação executiva: Mileny Matos Redação e organização: Ana Cláudia Guedes e Osmar Pancera Consultoria: Carmen Chaves Lucileny dos Santos Projeto gráfico e diagramação: José Arnaud Revisão: Helder Bentes Fotos: Aníbal Bente, Eugênia Melo, Marivaldo Pascoal, Vivaldo Pantoja Patrocínio:
Dados no Manual do Editor - ISBN
Radionovelas educativas: tecnologia social e educação popular / Ana Cláudia Guedes (Org.), Osmar Pancera (Org.) . Belém : EDUFPA, 2008. 72 p. il. ISBN 978 - 85 - 247 - 0432 - 1 1. Outros serviços sociais. 2. Violência doméstica. 3. Violência sexual. 4. Trabalho infantil. I. Guedes, Ana Cláudia
CDD: 20ª - 363 Catalogação: Ellison dos Santos.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Reitor Alex Bolonha Fiúza de Mello Vice-Reitora Regina Fátima Feio Barroso Pró-Reitora de Administração Simone Baía Pró-Reitor de Ensino de Graduação e Administração Acadêmica Licurgo Peixoto de Brito Pró-Reitora de Extensão Ney Cristina Monteiro de Oliveira Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Roberto Dall'Agnol Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Sinfrônio Brito Moraes Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal Sibele Maria Bitar de Lima Caetano Prefeito do Campus Luiz Otávio Mota Pereira Chefe do Gabinete Sílvia Arruda Câmara Brasil CONSELHO EDITORIAL Presidente Regina Fátima Feio Barroso Membros Raimundo Netuno Nobres Villas João de Jesus Paes Loureiro Marlene Medeiros Freitas Andréa Kely Campos Ribeiro Santos Maria das Graças da Silva Pena Laïs Zumero EDUFPA Diretora: Laïs Zumero Divisão de Editoração: José dos Anjos Oliveira Divisão de Distribuição e Intercâmbio: Wilson Nascimento
O projeto Radionovelas educativas, da Rádio Margarida, é apaixonante. Mexe com as nossas vivências e se refere ao mundo que queremos para cada criança e cada adolescente. Ele nos interpela a pensar na sociedade que estamos construindo e em nossa responsabilidade com a garantia e a proteção dos direitos da infância e da adolescência. Este processo é essencialmente comunicativo. Isso porque pressupõe o compartilhamento de experiências, informações e conhecimentos. E mais: exige a produção de sentidos em conjunto. Ao trabalhar com as linguagens do rádio e do teatro, o projeto buscou não só capacitar os agentes do Sistema de garantia dos direitos, mas construir com eles cada momento. Procurou ainda ressaltar o papel desses atores como protagonistas na defesa dos direitos de meninos e meninas. Qualquer processo de mobilização social deve ter dois elementos fundamentais: paixão e razão. Se houver amor pela causa, as pessoas incorporam ao dia-a-dia os objetivos que precisam ser alcançados. Da mesma forma, para que haja transformação social é necessário que as ações sejam bem pensadas e organizadas. O projeto Radionovelas atuou nas duas direções. E o relato dessa experiência, com os desafios e as soluções encontradas, está materializado neste livro, que se mostra muito mais do que um registro, mas, sim, um caminho para ação.
Danila Cal Coordenadora Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente
Introdução 1) Princípios e meios 1.1. Sujeitos de direitos 1.2. Assegurando os direitos da criança e do adolescente 1.3. Enfrentando a violência 1.4. Paradigmas e prática social 1.5. Educação popular
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2) Radionovelas educativas em defesa de crianças e adolescentes 2.1. Caminhos da oralidade 2.2. Vivências e aprendizagens
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3) Ação-reflexão transformadora 3.1 Ensinamentos aprendidos 3.2 Proposições
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Caros leitores e ouvintes, o Centro Artístico Cultural Belém Amazônia, popularmente conhecido como Rádio Margarida, e a PETROBRAS têm a satisfação de apresentar esta publicação, que representa a síntese de uma experiência inovadora, vivenciada no projeto Radionovelas educativas em defesa do direito da criança e do adolescente, em Belém do Pará. Este projeto teve como objetivo a difusão de uma cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, oportunizando vivências de formação, produção e multiplicação da tecnologia social certificada de radionovelas educativas, para os agentes sociais do Sistema de garantia de direitos - SGD na região metropolitana de Belém do Pará. A produção deste livro teve como finalidade desenvolver um processo sistemático de registro da experiência que expressa o ciclo de vida do projeto, ou seja, sua criação, formulação, implantação, monitoramento e avaliação. Para tanto, realizamos alguns procedimentos a fim de elaborar e registrar o movimento desta proposta, a começar pelo planejamento, acompanhado de monitoramento e avaliação do projeto, sendo que este movimento teve como princípio ser construído com a participação dos sujeitos envolvidos: coordenação da organização executora, coordenação do projeto, profissionais que facilitaram os momentos formativos, agentes sociais envolvidos e colaboradores. Dentre os procedimentos também foram realizadas instalações de espaços coletivos de escuta e troca de conhecimentos e saberes, por meio de grupo focal, com agentes sociais e com alguns profissionais envolvidos na execução das ações, bem como a avaliação das vivências oportunizadas pelo projeto, por meio de formulários avaliativos e depoimentos gravados em áudio e vídeo e também a consulta aos relatórios do projeto enviados para a agência patrocinadora. A partir desses procedimentos, construímos o registro da presente experiência, estruturado por assuntos e enfoques abordados em forma de capítulos. Assim sendo, temos o primeiro capítulo, com os princípios norteadores da concepção em defesa dos direitos da criança e do adolescente e o método de educação popular e da proposta desenvolvida pela ONG Rádio Margarida, organização proponente do projeto. O segundo capítulo trabalha com todo o processo de implementação da proposta das radionovelas educativas, abordando a história da oralidade, da importância do rádio no Brasil e na Amazônia, até a realização das estratégias de execução do projeto.
No terceiro capítulo trazemos os ensinamentos aprendidos e perspectivas para o enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. Aqui prioritariamente demonstra-se o que se aprendeu, bem como apresenta-se uma plataforma de propostas que venham a qualificar o enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, por meio de proposições para o funcionamento do Sistema de garantia dos direitos SGD. Cada capítulo vem organizado com conceitos, citações e depoimentos dos agentes sociais envolvidos, facilitadores, trechos de radionovelas, entre outras informações, pois a intenção é dar seguimento à pesquisa-ação na ação, ou seja, produção de conhecimento e intervenção social realizada pela ONG Rádio Margarida, bem como o registro histórico, documentação e demonstração de uma experiência viva e coletiva. Assim, esperamos que cada página venha a estimular em você, leitor ou leitora, uma confirmação e esperança de que sua prática social pode transformar a sociedade, criar uma nova cultura de enfrentamento da violência e perspectivas de vida melhor para nossas crianças e adolescentes de Belém do Pará, da Amazônia, do Brasil e na construção de um novo mundo de direitos humanos. Atenção, cuidado! E estamos em obras ...
A criança precisa brincar, olalá E também tem direito a estudar, olalá Desse jeito, olalá É perfeito, olalá Nunca nunca trabalhar Tem direito a ter uma família, olalá Ninguém pode explorar e humilhar, olalá A criança, olalá E a sua vida, olalá Todos devem respeitar O trabalho infantil não é direito não Crianças e adolescentes longe da exploração Cultura, esporte e lazer Isso sim é que é educação A sociedade precisa aprender essa lição Letra de música de: José Pereira, Isabel Oliveira, Micheline Ramos, Allan Oliveira, Nazaré Bessa, Maria Silva e Luciléia Moreira
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1.1. Sujeitos de direitos
Ah! A criança é uma Pessoa, é um Ser em desenvolvimento que possui desejos, vontades, sonhos e fantasias, construindo e desconstruindo a vida numa constante brincadeira. Fala o que sente e o que pensa, trazendo como princípio a verdade. Ora! Se é pessoa, tem personalidade, caráter, sexualidade, subjetividade e singularidade. Toda criança é um ser humano, seja africana, asiática, européia ou latino-americana. É pessoa que age, chora e ri, fica triste e feliz. Ser criança é uma pessoa que hoje é criança, mas amanhã será adulto. Não é inferior, nem objeto ou coisa, mas sujeito de direitos que precisa de todas as oportunidades e facilidades para o seu desenvolvimento pessoal, social. Deve ser respeitada e cuidada pela família, comunidade, estado e sociedade.
“Considera-se criança, para efeito desta lei, a pessoa até 12 (doze) anos incompletos de idade.” (BRASIL, 2004, p. 41, Art.2°)
Adolescente também é pessoa em período peculiar de desenvolvimento, momento de travessia do corpo, dos pensamentos e emoções, dos sentimentos. A travessia do meio de um caminho, muitas vezes sem a orientação e a direção para caminhar. Momento importante de desafios e descobertas rumo ao mundo de homens e mulheres. Momento da vida em que mais acontece a busca de si mesmo, na qual é comum fantasiar, buscar respostas e identidade própria, crise religiosa, manifestações de transformação sexual, atitude anti-social, contradições na conduta em todas as direções, separação gradativa da influência dos pais e inconstância no estado de humor.
“... temos de pensar no significado da adolescência como fase de transição, ou seja, fase de travessia. E são muitas as travessias da adolescência. Travessia entre hegemonia da infância e a autonomia da idade adulta, entre o mundo da educação e o mundo do trabalho, entre a condição de filhos e a possibilidade de fazer filhos.”
Em síntese, crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e em processo de desenvolvimento físico, mental, psicológico, moral, espiritual; com tempos e limites flexíveis, dependentes de cada cultura e do amadurecimento biopsicossocial de cada um. Assim sendo, seres em desenvolvimento que devem ser compreendidos em suas fases de vida, mas como sujeitos de direitos que têm todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa, ao ser humano que existe em cada um de nós.
(COSTA, 2000, p. 12)
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1.2 Assegurando os direitos da criança e do adolescente “...a doutrina da proteção integral não se dirige a um determinado segmento da população infanto-juvenil, mas a todas as crianças e adolescentes sem exceção alguma.”
A compreensão que temos é que todo direito da criança e do adolescente é dever das “gerações adultas” ( COSTA, 2006, p. 20), que estão constituídas por três níveis: família, sociedade e Estado, em ordem e hierarquia. Este dever vem alicerçado basicamente em dois fundamentos:
(COSTA, 2002, p.20)
necessidades devem estar em um patamar superior para a família, a sociedade e o Estado, seguindo o princípio da convenção do “interesse superior da criança”;
¥ Criança e adolescente são prioridade absoluta, ou seja, seus interesses e
¥ Deve ser garantido à criança e ao adolescente a proteção integral, sem
prejuízos ao seu desenvolvimento pessoal e social. Quando focamos a proteção integral, nos referimos à doutrina de garantia dos direitos exigíveis fundamentados em lei que estão dirigidos a todas as crianças e adolescentes indistintivamente, sem nenhuma exceção, assegurando e respeitando sua diversidade. A criança e o adolescente têm assegurado três grandes eixos de direitos: Sobrevivência – vida, saúde e alimentação; Desenvolvimento pessoal e social – educação, cultura, lazer e profissionalização; Integridade física, psicológica e moral – liberdade, respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária. A família, a sociedade e o Estado devem colocar a salvos as crianças e os adolescentes de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Esses fundamentos são a base que alicerçam os instrumentos legais de garantia dos direitos da criança e do adolescente, os quais estão dispostos na Declaração universal do direito da criança, Constituição federal brasileira e Estatuto da criança e do adolescente.
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1.3 Enfrentando a violência
Ofender o que deve ser inviolável: a pessoa, a natureza, a ordem moral, jurídica ou política. É uma relação autoritária de poder, uma coação, imposição. A relação violenta tem como finalidade a dominação, exploração e opressão; conversão de diferentes em desiguais; ação que trata um ser humano como uma coisa e não como um sujeito.
“Violência nada mais é do que a flagrante manifestação de poder.” (Hannah Arendt)
Essa forma de relação com o outro parte do princípio da força, da coerção, da persuasão como mecanismo de resolver conflitos de poder, de governo e domínio de alguém, alguma coisa ou situação e circunstância. As conseqüências da violência levam ao rompimento de qualquer processo de troca, diálogo, cooperação e solidariedade entre pessoas, além de negar direitos e desestruturar profundamente identidades.
As normativas internacionais e nacionais, como a Declaração universal dos direitos humanos, Constituição federal brasileira e Estatuto da criança e do adolescente, são os instrumentos legais que apresentam como fundamento a doutrina dos direitos humanos e dos direitos às pessoas em situação peculiar de desenvolvimento. Essas leis vêm expressando claramente os direitos e deveres do segmento infanto-juvenil. O Estatuto da criança e do adolescente vem representando, para a infância e adolescência, um significativo avanço, pois rompe definitivamente com a doutrina da situação irregular (Código de menores) que se pautava no discurso protecionista do direito titular do menor e de práticas assistencialistas e correcionais.
“Nenhuma criança ou adolescente será sujeito de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência , crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou opressão aos seus direitos fundamentais.” (BRASIL, 2004, p. 42, Art.5°)
Diante disso, a violação desses direitos fundamentais que protegem a infância e a adolescência representa, para o Código penal brasileiro, uma forma de “violência delituosa” (FALEIROS; FALEIROS, 2007, p.28). A violência não é uma ação isolada, descontrolada, de comportamentos psicologicamente doentios. Mas são processos que culturalmente vêm sendo formados, notadamente onde temos a ausência do Estado e dos padrões civilizatórios de sociedade, padrões estes baseados numa cultura de paz, cidadania e de direitos humanos.
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1.4 Paradigmas e prática social Paradigma: “um campo de pensamento e ação.” (COSTA, 2006, p. 12).
As concepções e vivências que expressamos, durante nossa vida, não se constituem em aglomerado de pensamentos, palavras e ações desordenadas que, de maneira desinteressada, passam a fundamentar nossas decisões e atitudes diante das questões que se apresentam no cotidiano de nossa existência. Essas concepções e práticas sociais estão alinhadas a um determinado paradigma, ou seja, a um conjunto de idéias e ações. Um paradigma revela a forma de ver, entender e agir em uma determinada prática social, ou seja, um conjunto de ações e atos humanos que efetivamos sobre questões sociais, nos contextos sociais em que interagimos e atuamos como educadores, participantes dos movimentos sociais, como cidadãos, posicionando-se frente às conjunturas e acontecimentos. Na prática profissional dos educadores sociais é importante a célebre socrática: “Conhece-te a ti mesmo”. Assim sendo, saber quem somos, onde estamos e aonde queremos chegar, bem como saber conduzirmo-nos e como iremos alcançar o que buscamos é de fundamental importância e coerência. Mesmo que tenhamos conhecimento acerca de nossas concepções e opiniões, necessitamos também construir processos, procedimentos e técnicas que contribuam para trilhar o caminho desejado e chegar aos objetivos e metas projetadas. Para superarmos limites do conhecimento, seja na prática profissional, individual ou coletiva, precisamos de fundamentos filosóficos, teóricos, bem como de organização para o pensamento e para a ação. Neste sentido, falamos de método. Em se tratando de método, falamos de procedimentos, encaminhamentos e balisamentos, para a obtenção de resultados, que podem até mesmo não serem previstos, mas que permitirão percorrer as metas e objetivos traçados, bem como qual direção seguir e como fazer o caminho. O método é a maneira singular de resolver questões, é o que possibilita a relação entre a teoria e a prática. Mesmo que tenhamos grandes e boas idéias, não poderemos potencializá-las para a resolução de situações e circunstâncias, se não dispusermos de uma maneira e modo de fazer com que isto aconteça. Imaginemos que tenhamos um grande bloco de pedra a nossa frente, com um desafio de transformarmos esta matéria bruta, sermos o escultor. Se não dispusermos de uma técnica, de um modo de fazer e saber usar as ferramentas e instrumentos
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adequados para cortar, lapidar e dar forma à matéria bruta, continuaremos a ver imovível e intransponível o bloco de pedra. Ao contrário, se tivermos o domínio de como fazer e o instrumental adequado, daremos forma à matéria bruta e passaremos a ver a estátua, o monumento, a arte, a revelação e o descobrimento do que está contido na natureza, sociedade e pensamento humano. É a busca do conhecimento que não está explícito nas coisas, fatos e acontecimentos, mas que necessita ser descoberto, revelado, pesquisado e processado, em movimentos de aproximações sucessivas, construções do saber e de organização para a ação.
1.5. Educação popular O projeto "Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criança e do adolescente" vem acontecendo numa perspectiva de construção coletiva, junto com agentes sociais do Sistema de garantia de direitos, de desenvolver tecnologias sociais que facilitem e fortaleçam o enfrentamento à violência contra a infância e a adolescência. Este processo vem sendo efetivado por meio de um método de educação popular que adota as linguagens artísticas e meios de comunicação social. Recursos da arte e ciência que compõem a base teórica e metodológica de atuação do Centro Artístico Cultural Belém Amazônia - ONG Rádio Margarida, organização que implementa o projeto "Radionovelas educativas". O método de educação popular da ONG Rádio Margarida tem suas fontes de inspiração em milenares artes, como o teatro em geral, o teatro de bonecos, o circo na figura emblemática do palhaço, os jogos e brincadeiras lúdicas, bem como a fusão destas antigas linguagens com o novo, com o contemporâneo. Assim temos também os recursos dos meios modernos de comunicação, unidos a antigas artes e tradições: rádioteatro ambulante (um outro saltimbanco), o vídeo popular, os programas de rádio, as radionovelas, etc. Pedagogias que a organização vem desenvolvendo em seus 16 anos de vida.
“Com as informações e encaminhamentos que antes não eram de meu conhecimento, dificultando no trabalho, agora já tenho respaldo para encaminhar ou fazer procedimentos.” “Com certeza, a partir desta oficina muita coisa vai mudar em minha prática pedagógica.” (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
A simbiose artística de comunicar e educar, um movimento de entrelaçamento constante, em que a arte e a comunicação são os elementos que facilitam as mediações sucessivas de aproximação da realidade e, na cultura do senso comum, propiciando a sensibilização e a ultrapassagem do mundo das necessidades às esferas das liberdades, da cultura que ainda temos e da que queremos que seja transformada, como a violência contra a criança e o adolescente. Nossa proposta manifesta-se objetivamente nesse processo criativo de educar
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“ Nossa proposta manifesta-se objetivamente nesse processo criativo de educar educando-se, de comunicar sendo interpretado e redesenhado, de relacionar sujeitos criadores e constituídos por uma cultura estabelecida no diálogo permanente e no ato de desvelar concepções, opiniões;”
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educando-se, de comunicar sendo interpretado e redesenhado, de relacionar sujeitos criadores e constituídos por uma cultura estabelecida no diálogo permanente e no ato de desvelar concepções, opiniões; desmistificar preconceitos, mitos; compartilhar idéias, projetos, desafios, que também têm a pretensão de estabelecer a relação de aprendizagem, de troca de possibilidades, oportunidades, esperanças, tristezas, alegrias, de pequenas e grandes vitórias, num movimento que oportuniza a construção e/ou a potencialização de novas práticas, posturas, projetos de vida e transformação das relações existentes. Quando falamos no método de educação popular que adota as linguagens artísticas, estamos falando da influência, extensão e domínio dos caminhos da “Arte: apertadamente, estreitamente, intensamente, ternamente” (PANCERA, 2002, p. 40), tudo o que é e representa o ser humano, intrinsecamente relacionado com a humanidade, sendo uma plena manifestação de seu ser, da imaginação e (re)criação. A arte tem o potencial de leitura e releitura do real, tornando indivíduos anônimos em sujeitos históricos. Desta forma, também agregamos valores à arte e ao ato artístico, que, para nós, vêm na perspectiva de compromisso com a construção de um mundo melhor para homens e mulheres, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, rompendo com preconceitos e violações da dignidade humana. A arte possibilita elevar os homens e a sociedade a marcos superiores de cultura e civilidade. A arte é expressa por meio de suas representações presentes no teatro, escultura, dança, música, poesia, cinema, fotografia, rádio, televisão, internet, etc. Ao longo da nossa jornada pedagógica de experimentação artística e científica, elegemos três categorias como elementos imprescindíveis: comunicação, sentimento e ação transformadora. Estes elementos perpassam e transitam no metódo de educação popular, que adota as linguagens artísticas e os meios de comunicação social. Categorias com as quais podemos compreender melhor nosso trabalho que reúne arte, educação e cultura. A comunicação, que por nós é compreendida como mediadora de informação entre sujeitos, pois oportuniza relações sucessivas de troca e diálogo entre as pessoas, não se configura em um transmissor e outro receptor. Mas em cidadãos que dialogam suas experiências e percepções acerca das realidades vivenciadas. É o que traz o verbo "comunicar" em ação, “tornar comum, fazer saber”1 (CUNHA, 1986, p. 202), seja fato,
1 Comunicar, verbo do latim communicare.
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acontecimento, história de vida. A comunicação é alicerçada na palavra, nos símbolos e signos, que contêm, em seu DNA, a informação a ser transmitida, recebida e decodificada, na qual “se trabalham os conteúdos ideológicos, os conceitos, preconceitos e juízos de valores culturais” (PANCERA, 2002, p. 73). A comunicação é compartilhada por seres pensantes e ativos que têm uma história de vida, vivências, significações e significados a serem falados, revelados, para que se tornem comuns e possam ser trabalhados, desmistificados, aprofundados, levados a níveis superiores de consciência e compreensão. Tudo isto só é possível se a ação de comunicar acontecer na perspectiva libertadora e de transformação social e se tiver como princípio que a comunicação entre pessoas faz-se de um EU a outro EU, dimensões do HUMANO que somente podem acontecer entre seres que têm algo em mente e sentimentos a serem trazidos à luz, compartilhados e comunicados. Na vivência do projeto de "Radionovelas educativas", tivemos como instrumentos o vídeo, as radionovelas, spots e as músicas temáticas que marcaram, para os agentes sociais, uma nova experiência como agentes potencializadores de processos pedagógicos.
“Sinto esperança e coragem no enfrentamento dos problemas existentes, pois tive a oportunidade de construir associações importantes entre pessoas.”
Em nosso diálogo de arte, educação, cultura e comunicação, manifesta-se a outra categoria do método, que é o sentimento, palavra derivada do verbo "sentir": “experimentar, pressentir, conjeturar”2 (CUNHA, 1986, p.715). Algo além das emoções em grau e refinamento, próprio daquele que sente, experimenta, conjectura; próprio do sujeito, do subjetivo e da sensibilidade. Sentimento que é entendido como órgão das artes, da filosofia e da religião. Todos os seres humanos têm sentimentos, assim como vida e movimento. Sentimento cujo simbolismo passa pelo coração, descrito nas poesias, na música, na palavra não dita, nas manifestações de raiva, crença, fé, amor, esperança. O sentimento que não pode ser escondido debaixo do tapete, o qual buscamos compreender e relacionar ao nosso fazer.
“Um sentimento de riqueza em relação ao assunto, de mudança em relação a certos conceitos e satisfação por ser mais uma pessoa que vai poder mudar o mundo!”
“No aspecto sentimento desenvolvem-se as maneiras de levar e trazer a informação, para dentro de cada um de nós, a sensibilização, a emoção que os meios facilitadores transmitem; as mediações para mexer nas posições, o lúdico, que não é um fim em sí mesmo, mas deve conduzir a uma ação” (PANCERA, 2002, p. 73).
(Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
Quando articulamos esse conjunto de idéias e parâmetros com utilização de 2 Sentir, verbo do latim sentire.
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recursos e mediações propiciadas pela comunicação, pelo lúdico e maneiras de levar e trazer informação, para sensibilizar e fazer vir à tona sentimentos, é porque continuamos com os nossos objetivos de gerar e colaborar para uma ação transformadora, ação que é uma palavra com poucas derivações em vários idiomas, com o nome básico de “ação, ato”3 (CUNHA, 1986, p.7), que, se não puder ser realizada de uma só vez, é partilhada em atos, com união, organização de pessoas, grupos e movimentos sociais. Em atos, significa também que nesta caminhada é possível sofrer revés e derrotas, mas continuar com persistência e organização é um teste e desafio a nós mesmos e aos nossos pares. Muitas vezes, por circunstâncias da vida, nos sentimos desmotivados e desacreditados de que algo possa mudar, mas podemos compreender que é possível fazer e construir também a nossa história e a do nosso coletivo. Esta história é construída por pessoas, classes, movimentos sociais e por tantas outras formas de manifestações, nas quais, às vezes, não conseguimos ver um resultado imediato.
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” (FREIRE, 2002, p. 25)
Como categoria, “a ação corresponde a uma tomada de decisão, manifesta a mediação da vontade do pensado, refletido, com base nas experiências anteriores, permeado pelos sentimentos, a fim de colocar a ética e a moral em movimento, ou seja, a posição política na prática, que é uma ação transformadora” (PANCERA, 2002, p. 73). O projeto "Radionovelas educativas", com o objetivo de difundir uma cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, oportunizou vivência de formação, produção e multiplicação de tecnologia social de radionovelas educativas para agentes sociais do Sistema de garantia de direitos. Nesta relação de sujeitos pensantes, desejantes de uma nova cultura, podemos aprender ao ensinar, estabelecer a comunicação, o diálogo; viver sublimes momentos, emoções e sentimentos de recompensa pelo vivido e praticado. Enfim, temos a convicção de que transformamos as nossas vidas para melhor e conhecemos mais a nós mesmos.
3 Ação, sulfixo nominal. Castelhano - ación; francês - ation; inglês - ation; italiano - azióne; derivado do latim atio.
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Força da voz A voz da gente é tudo que se tem Na verdade, o que se passa falando, escrevendo, cantando. A voz é o que há de mais precioso pra quem escuta, querendo saber da vida; pra quem duvida e, ouvindo, aprende pelo tom da voz. A voz que pensa não fala de qualquer jeito. A voz tem que sair do peito, mais do que estar falando, saber por que está falando. A voz não pode obedecer a qualquer desmando. A voz de quem quer que seja tem que ser orientada por um comando sem vaidade, tem que passar verdade, tem que ser fértil, tem que ter humanidade. A voz tem que soar poética Tem que ter ética. Mário Filé
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2.1. Caminhos da oralidade 2.1.1. Da oralidade à era de ouro do rádio A comunicação oral é um dos processos fundamentais que historicamente vêm se desenvolvendo de formas diferenciadas, para o estabelecimento de troca de habilidades e conhecimentos entre as pessoas. Por meio da oralidade, homens e mulheres vêm construindo culturas, costumes, concepções de mundo num processo contínuo de intercâmbio de pais para filhos, de gerações para gerações e de povos para outros povos. Neste processo de relação social que tem por base a linguagem, contamse histórias e criam-se novas histórias das realidades vividas, nas quais a imaginação e criatividade sempre presentes nos acontecidos e contados, compõem cada prosa. Mesmo com todo avanço tecnológico na área da comunicação: televisão, satélite e internet, a região amazônica e sua diversidade de territórios, povos e saberes, ainda dispõe, como potencial de troca de conhecimento e cultura, a oralidade, que é uma das bases de interlocução das populações indígenas, caboclos, ribeirinhos, entre outros. Quem nunca escutou ou foi um contador de histórias fantásticas que reconstruíam fatos e personagens capazes de reinventar a vida? Também encontramos nos costumes da região as chamadas “bocas de ferros” e “aparelhagens” que propagam o som nas ruas, feiras, esquinas, festas populares nas quais são feitas projeções sonoras de alta proporção, com bastante interlocução nos microfones por parte dos djs. Utilizando-se do vocabulário popular, o paraense é um povo barulhento, sendo que esta característica é bastante influenciada pela cultura da oralidade, de troca entre a população. A era do rádio inicia oficialmente no Brasil em sete de setembro de 1922, com um transmissor de 500 watts, da Westinghouse, no alto do Corcovado - RJ, para 80 receptores. O primeiro programa foi o discurso do presidente Epitácio Pessoa. Os programas de rádio eram exclusivos para uma pequena elite de pessoas que possuíam esses caros aparelhos de recepção. A programação tinha como pauta: ópera, recitais de poesia, concertos, palestras culturais, entre outros. A partir da década de 30 começa a se processar uma transformação, pois o erudito passa a dar lugar ao popular, no qual são inseridas as programações comerciais. Em meados dos anos 40, no período chamado a era de ouro do rádio, essas transformações acentuam-se e o nível de popularidade dos programas triplica em todo o país. Também é o momento de surgimento das radionovelas (1942), em uma
"O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira nesta época, foi muito mais profundo do que aquele que a televisão viria a produzir 30 anos depois." ( MIRANDA apud HISTÓRIA, [2000?])
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grande inauguração com "Em busca da felicidade". Neste período a dramaturgia lançou vários artistas que passaram a ter projeção nacional, por meio das radionovelas, audiências significativas nas principais praças do rádio, embalando sonhos e imaginação de milhões de brasileiros.
2.1.2. Do saltimbanco às radionovelas educativas “Rádio saltimbanco, visa chamar a atenção, animar, brincar, roubar a cena, colocar o espectador como ator, agente.” (PANCERA, 2002, p. 74)
A ONG Rádio Margarida é uma organização que desde sua fundação vem potencializando para si a diversidade da cultura local e suas representações, principalmente o falado, no que diz respeito ao desenvolvimento do método de educação, que adota as linguagens artísticas e os meios de comunicação social, junto aos diversos públicos com os quais interage, em esfera regional e nacional. Quando a ONG iniciou sua atuação, trouxe como elemento de destaque a rádio-teatro ambulante, uma versão contemporânea dos saltimbancos, acompanhada de um ônibus antigo da segunda guerra mundial, dotado de equipamentos de áudio para projeção de som. Através desta rádio, levava arte, comunicação, educação e cultura, com o substancial apoio de teatro, teatro de bonecos, palhaços, locução e interação ao vivo e a cores com o público, cinema ao ar livre, espaço cênico mambembe, entre outras atrações, que penetravam em realidades diferenciadas dos bairros periféricos da região metropolitana de Belém – RMB, rompendo com a rotina e resignificando questões do cotidiano, como: violência, saúde, meio ambiente, direitos humanos, dentre outros. Nos contextos em que atuamos, a população local é personagem principal contando suas histórias, denunciando circunstâncias, acontecimentos de vida, dando voz e vez a quem não é ouvido.
Projeto Saúde é alegria - 1996
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Em continuidade da pesquisa ação na ação, ou seja, estudando o que fazemos, fazendo o que estudamos, com um pé nas artes e cultura, e outro na cientificação e replicação do método de educação popular que adota as linguagens artísticas e meios de comunicação social, redesenhamos as radionovelas educativas, como uma das linguagens e meios que demarcam a identidade da ONG implementadora do projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criança e do adolescente. Neste histórico, desde 2003 vimos aperfeiçoando essa tecnologia social, vencedora de edital e premiação nacional instituída pela Rede Andi e finalista nacional do concurso “Prêmio de tecnologia social 2005” da Fundação do Banco do Brasil. O histórico da ONG e o certificado de tecnologia social foram importantes para que o projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criança e do adolescente fosse aprovado pela seleção do programa “Petrobras Fome Zero - 2006”, pois oportunizou o reconhecimento de uma das ferramentas ou tecnologias do método de educação popular desenvolvido desde 1994, em parceria com a Universidade Federal do Pará, como uma forma estratégica de enfrentamento contra a violência e de defesa dos direitos da infância e da adolescência.
2.2. Vivências e aprendizagens O projeto Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criança e do adolescente vem sendo uma ação que traz a finalidade da difusão de uma cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. Esta ação fez com que se priorizassem sujeitos, contextos e processos metodológicos, para o enfrentamento da violência. Quando observamos os processos, não nos referimos unicamente à tecnologia das radionovelas, mas a todo um desenvolvimento de procedimentos e técnicas que contribuíram para os produtos e resultados gerados pela vivência.
2.2.1. Justificando espaços e sujeitos Para implementação das ações do projeto elegeram-se como sujeitos e protagonistas os agentes sociais das organizações governamentais e não governamentais e, como espaço, o Sistema de garantia de direitos – SGD da região metropolitana de Belém, isto por considerá-los como estratégicos no enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. O SGD configura-se no espaço de articulação, intercâmbio e troca de saberes e experiências entre as organizações e as pessoas, na perspectiva de execução dos instrumentos normativos para o desenvolvimento da promoção, defesa e controle dos direitos humanos da criança e do adolescente.
O Sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal. (Secretaria Especial dos Direitos Humanos)
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A escolha dos agentes do SGD como público protagonista da ação ocorreu em virtude de duas questões básicas que vêm interferindo na qualidade do enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente na RMB: “...e permitiu com que eu visualizasse, essa relação da rede no sentido de também facilitar o encaminhamento das demandas, das situações que não eram mais diretamente relacionados a nossa intervenção mais imediata.” (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
¥ Quando falamos de sistema, estamos nos referindo aos arranjos interativos de espaços, instrumentos e sujeitos, no interior de cada eixo e na relação entre os três eixos (promoção, controle e defesa). A realidade do funcionamento do SGD vem revelando curtos-circuitos permanentes nessas relações, ou seja, nos processos de abordagem, atendimento e resolubilidade das situações de violação dos direitos da criança e do adolescente. As organizações não conseguem se articular ou desconhecem a natureza umas das outras, ou simplesmente não utilizam a ação articulada como potencial para o enfrentamento da violência. Isso fragiliza os instrumentos normativos que, perante a população, passam a aprofundar um maior descrédito, reforçando preconceitos, mitos e inverdades acerca da defesa dos direitos da criança e do adolescente. ¥ Outra questão que orientou a realização da vivência foi a identificação a partir das experiências da ONG executora do projeto, de que as organizações e os agentes sociais apresentavam necessidade de recursos didático-pedagógicos que facilitassem a realização de processos de formação de multiplicadores no enfrentamento da violência doméstica, sexual e de exploração do trabalho infantil. Também se destaca um outro elemento peculiar: as temáticas têm uma natureza de complexidade e tabus, exigindo dos protagonistas metodologias e instrumentos criativos, dinâmicos e que tenham a capacidade de interagir com outras dimensões da natureza humana, como a imaginação, sentimento e compromisso de mudança. · Por meio dessas duas questões, os problemas e necessidades do SGD e dos sujeitos, o projeto Radionovelas educativas, para efetivação de sua proposta, estruturou as seguintes estratégias para a difusão da cultura de defesa dos direitos da criança e do adolescente: Estratégia 1 Formação de agentes sociais e produção do CD de radionovelas educativas Na finalidade de difusão de uma cultura de enfrentamento da violência cometida contra crianças e adolescentes, o projeto trouxe como estratégia a oportunidade
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de vivências em espaços coletivos de formação, abordando os seguintes temas: violência doméstica, violência sexual e trabalho infantil. As questões referentes ao Sistema de garantia de direitos foram elementos presentes em todos os conteúdos dialogados, bases em todas as rodadas de temáticas. Também para a formação foi oportunizada a linguagem sobre a tecnologia social potencializada pelo projeto, ou seja, as radionovelas, spots e músicas educativas. Nestes momentos formativos, foram envolvidos 120 agentes sociais de diversas organizações governamentais e não governamentais, com representantes dos três eixos do SGD: promoção, defesa e controle. O projeto, no desenvolvimento de suas ações, teve como estratégia os processos pedagógicos participativos e os espaços coletivos de criação e produção da tecnologia social, a opção pela construção coletiva, em que cada agente exercitava seu potencial humano e artístico, redescobrindo significados, pessoas e redefinindo a si mesmo. Os espaços coletivos foram os seguintes:
“...pra mim foi ampliando na relação pessoal, esse processo criativo na relação com o outro, aprender a trabalhar com um grupo cada vez mais ... Acho que serviu muito pra minha formação profissional, esse aprendizado reforçou, ampliou o aprendizado de trabalhar em grupo, de trocar, de escutar o outro, de conhecer as idéias do outro, o processo criativo do outro.” (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
1) OS EVENTOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL O projeto realizou basicamente quatro seminários que foram portais de abertura ou de fechamento de processos pedagógicos. Em todos estiveram presentes tanto os agentes sociais que participaram das formações, quanto representantes das suas respectivas organizações e outros agentes sociais e entidades que foram envolvidos nos momentos de multiplicação do projeto. Foram realizados os seguintes seminários: 1.a) Seminário de abertura e lançamento do projeto na região metropolitana de Belém. Esse momento marcou a abertura oficial do projeto na região metropolitana de Belém – RMB, com a participação de 120 agentes sociais, que foram incluídos diretamente nas ações do projeto, e 49 organizações governamentais e não governamentais do Sistema de garantia de direitos dos eixos de promoção, defesa e controle. O projeto também realizou, como pauta de seu lançamento, um ato-show no dia 18 de maio, junto com o Fórum de enfrentamento contra a violência sexual da criança e do adolescente, em que se reuniram, em uma passeata, cerca de 1.200 pessoas. O seminário de lançamento teve, como pauta de diálogo, as questões referentes ao sistema de garantia de direitos da criança e adolescente, violência doméstica, violência sexual e trabalho infantil, além da exibição de vídeo acerca do trabalho
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“Veio confirmar que a arte é instrumento de sensibilização eficaz, na medida em que acesso o emocional em toda a sua extensão.” “Sem dúvida a abordagem artística foi um diferencial no evento.” (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
infantil, espetáculo de teatro de bonecos e um nobre apresentador, representante diplomático da ONG, o palhaço “Claustrofóbico”, que teve a natural incumbência de interagir, animar e ser o mestre de cerimônias do evento, em um ambiente de alegria e criatividade, que tornou a discussão de temas complexos algo acessível e interessante para os participantes. Na história da ONG, uma vez mais a arte foi o elemento condutor do processo, em que tivemos oportunidade de proporcionar um espaço de debate, com todo o rigor necessário, mas também fizemos isto num movimento dinâmico e criativo. O evento também representou a abertura das rodadas temáticas de discussão, das quais os 120 agentes sociais participaram de um momento e espaço inicial de sensibilização, despertando seus interesses para se engajarem nos próximos processos do projeto. Durante a realização do seminário, houve um momento em que as organizações representadas assinaram solenemente um pacto de adesão ao projeto de defesa dos direitos da criança e do adolescente, garantindo a participação efetiva de seus agentes sociais nas atividades do projeto e sua colaboração para o melhor desempenho das próximas etapas. Este momento foi estratégico para a potencialização da colaboração e compromisso institucional e pessoal à execução da proposta.
Assinatura do pacto de adesão ao projeto no seminário de lançamento
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1.b) Seminário de abertura das rodadas de produção das tecnologias sociais Para o início das vivências de produção, foi realizado um 2° seminário envolvendo somente os 120 agentes sociais que estavam participando da formação. Foi um momento importante para sensibilizar os agentes acerca do potencial da arte como mecanismo favorecedor em qualquer processo pedagógico, desfazendo o mito de que a arte seja privilégio de um grupo iluminado. Ela é antes inerente a homens e mulheres, desde que tenham a oportunidade e orientação para a produção artística. Desta forma, as peças de radionovelas e spots foram pontuados como algo totalmente possível de serem criados pelo grupo dos agentes. Para tanto, foram discutidos os seguintes assuntos:
¥ A história do teatro – O teatro como representação das manifestações da vida, mistérios, verdades, vida em sociedade, processo de sujeitos e de criação. ¥ O potencial da arte na formação de consciência – As várias formas de linguagem e expressão humana, transmissão de conhecimento, referências e identidades culturais a serviço da transformação social. ¥ As radionovelas e spots educativos – A importância da oralidade na Amazônia, a vitalidade do rádio e dos meios presenciais de educação em nossa região, a utilidade das radionovelas, tipos de spots: como o comercial, informativo, documentário e institucional. Matéria ressaltando a importância das radionovelas e spots
“...e teve realmente pessoas que faziam de manhã aulas de spots com o Filé ( o instrutor) e à tarde radionolvelas com o Renato, isso foi muito legal, demonstrando uma necessidade de querer aprender, tendo o projeto como uma oportunidade. Desde as rodadas temáticas observamos uma ânsia de aprendizagem das pessoas.” (Coordenadora do projeto)
Neste processo de ensino e aprendizagem, os agentes sociais expressaram que essas vivências foram algo novo, em seu cotidiano profissional e que isso os levou a terem um maior interesse para melhor conhecer o que eram as radionovelas e spots. Assim o momento em que foram organizadas as duas rodadas: uma de radionovelas e outra de spots, houve profissionais que optaram por se envolver nas duas vivências. Esta foi uma demonstração de motivação e disposição dos profissionais a aprender, tendo a experiência do projeto como uma oportunidade que deveriam aproveitar. 1.c) Encontro de lançamento do kit educativo Após produzirmos em quantidade o kit educativo, com replicação do CD e impressão gráfica do guia de orientação, foi realizado o evento de lançamento que teve uma ótima repercussão local e regional, com visibilidade nacional. Durante o lançamento foi feita uma massiva distribuição dos kits, apresentação de espetáculos com apresentação de uma radionovela ao vivo, músicas do CD, poesia, além de um vídeo documental da construção da experiência. Do evento participaram organizações governamentais e não governamentais do Sistema de garantia de direitos da região metropolitana de Belém e de outros municípios do Estado do Pará, além da presença integral dos agentes e suas respectivas famílias, que foram ver o produto de seu aprendizado e capacidade criativa. O lançamento do kit possibilitou uma expressiva visibilidade do projeto, alcançando naquele momento 25 inserções nos meios de comunicação, abaixo especificados: ¥ TVS: Cultura, Liberal (Globo), RBA ( Bandeirantes), Record, TV Unama; ¥ Rádios: Unama, Cultura FM, Nazaré FM, Liberal AM e FM, Rádio Globo; ¥ Jornais: O Liberal, Diário do Pará, Comunicado; ¥ Sites: Pauta Social, ANDI, Ciranda, Abrinq, Risolidária, Fnpeti.
Momentos do show de lançamento do kit educativo
O kit educativo do projeto Radionovelas educativas contendo um CD e um guia de utilização da tecnologia social
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MatĂŠria sobre o projeto Radionovelas educativas e o edital do programa Petrobras fome zero
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2) RODADAS DE FORMAÇÃO TEMÁTICA As rodadas vivenciais foram uma forma metodológica de desenvolver o processo de aprendizagem em que se dialogava acerca dos conceitos e debates que envolvem a questão da violência contra a criança e o adolescente, mas também o início dos arranjos que compõem a produção das radionovelas e spots educativos. Diante disto, as rodadas tiveram dois processos diferenciados que foram: 2.a) O desenvolvimento das rodadas temáticas As rodadas temáticas foram espaços coletivos de troca de experiências e reflexão com o envolvimento dos 120 agentes sociais nos processos de formação acerca das questões de violência contra a criança e o adolescente, em que o objetivo foi oportunizar um ambiente de diálogo para pensar nos limites e alcance dos temas, bem como traçar as possibilidades que qualificassem com os conteúdos discutidos a produção das tecnologias sociais. Para abordagem da questão da violência foram instaladas três rodadas. Cada uma teve um processo dinâmico e criativo, os quais foram: Rodada temática: violência doméstica A rodada contou com a facilitação da profª. Milene Veloso, oportunidade em que se refletiu e construiu com os grupos o conceito de violência doméstica e as formas em que ela pode se apresentar (física, psicológica, de negligência, sexual). Para viabilização destes diálogos, foram desenvolvidos procedimentos pedagógicos em que se construíram os seguintes subtemas a serem desenvolvidos: Subtema - Pensando conceitos e formas – Para este momento, em cada rodada foram realizadas brincadeiras, relaxamento, dinâmicas grupais para discriminarem e conceituarem os tipos de violência doméstica, discussões acerca dos conceitos de violência doméstica e seus tipos, por meio de dramatização, sem usar palavras, entre outros. Para a dinâmica de discussão, tiveram as seguintes questões geradoras: ¥ O que o grupo entende como violência doméstica? ¥ Quais os tipos e os conceitos que o grupo conhece sobre a violência doméstica? ¥ O que o grupo sente ao falar desse assunto?
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RADIONOVELA A CASA DA VÓ MARGÔ NARRADOR - Insensível aos apelos da filha, Renato continua sem desconfiar do que iria acontecer. No elevador, segura a porta e diz: RENATO - Vai filha, papai vai ficar te olhando. NARRADOR - Ana vai andando triste e arrastando sua boneca no chão, com mochila nas costas, olhando para trás. Renato encoraja a filha a continuar: RENATO - Vai Ana, toca a campainha! (passos atrás da porta) MARGÔ - Oi Ana (fria) – Renato, você não vai entrar e falar comigo? RENATO - Não dá, mãe, estou atrasado. Amanhã nos falamos. Tchau! MARGÔ - Entra Ana! ANA - Vó, quero fazer cocô ! MARGÔ (grita) - Menina, já falei que estou ocupada, vai sozinha. Não me perturbe mais! NARRADOR - Ana ficou apavorada com os gritos da avó. Algum tempo depois... MARGÔ - Zefinha, vou desligar. Preciso ver o que essa moleca quer. Ela já encheu minha paciência, depois te ligo…lembranças aos meninos…beijo, tchau… Ana o que foi isso? ANA - Vovó... não agüentei... (choraminga) MARGÔ - O que foi, menina?... aahhhh! Sujou todo meu tapete, menina imunda. Você vai aprender menina nojenta (pancadaria). Subtema - “As violências que eu sofri” - Este subtema buscava sempre proporcionar um momento onde os participantes entrassem em contato com os episódios de violência doméstica de sua própria história de vida, num processo de resignificação da violência. Aqui foram desenvolvidas as técnicas de aquecimento, respiração e relaxamento; técnica retrospectiva com o jornal, levando-os a recordar episódios das diferentes fases de suas vidas; em silêncio, todos construíram, com massa de modelar, um(a) boneco(a) que representasse a si próprio; houve também o corredor de carinho. As questões geradoras de diálogo foram as seguintes: ¥ Quais as situações de violência doméstica vividas pelo grupo? ¥ Quais as idades em que as situações aconteceram? ¥ Quem eram os agressores? ¥ Qual o sentimento que cada participante guarda daquele(s) momento(s)?
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Importante pontuar que essa vivência de diálogo acerca da violência doméstica entre os grupos de agentes sociais teve um impacto bastante significativo em sua realidade profissional e também em suas histórias de vida, sendo que alguns dos participantes não vivenciaram um mergulho profundo em suas lembranças, mas com a condução profissional competente permitiu-se que as emoções fossem resignificadas. RADIONOVELA UMA LIÇÃO DE VIDA NARRADOR - Enquanto seu Felipe corre para a cozinha à procura de uma faca, D.Ana foge com Sofia para a casa de um vizinho. No dia seguinte, ao constatar que o marido já tinha saído de casa para o trabalho, volta para casa e decide não levar Sofia para a escola, pois a criança esta muito machucada. Após alguns dias sem ir a escola, Sofia retorna às aulas. Surpresa, a professora pergunta: PROFESSORA - Sofia, o que está acontecendo? Faz três dias que você não vem ao colégio no final do horário, precisamos conversar. NARRADOR - Ao conversar com Sofia, a professora aproxima-se da criança e observa, nos braços e nas pernas da criança, manchas roxas, e pergunta: PROFESSORA - Sofia, o que foi isso? Por que você está toda marcada? Conte para mim. Eu só quero lhe ajudar. NARRADOR - A menina de cabeça baixa começa a chorar. SOFIA - Snif.. snif.. Ah! Professora, eu tenho medo de falar... a minha mãe sempre diz que o que acontece dentro da casa da gente não devemos contar pra ninguém! Mas sabe o que foi? Meu pai chega muito tarde bebido e fica gritando, quebra as coisas, bate na minha mãe e dessa vez bateu até em mim, e tivemos até que dormir fora de casa. PROFESSORA - Sim, Sofia, cada família tem sua forma de viver, mas violências, espancamentos, isso não e direito. Eu preciso conversar com sua mãe. Leve este bilhete para que ela venha amanhã mesmo aqui na escola pra falar comigo. NARRADOR - Na manhã seguinte, no final do horário da aula, D.Ana comparece à escola e conversa com a professora de Sofia. PROFESSORA - D.Ana, mandei lhe chamar porque há algum tempo venho notando mudanças no comportamento de sua filha! Ela não apresenta mais os deveres de casa, suas notas estão muito baixas e agora anda faltando aulas, também observei que seu corpo está todo marcado, preciso que a senhora me diga o que está acontecendo.
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NARRADOR - D.Ana, bastante nervosa, diz: D. ANA - O problema é o Felipe, meu marido! Ele é um bom homem, trabalhador, não deixa faltar nada dentro de casa, mas, quando bebe, se transforma em outra pessoa, fica violento, me xinga de tudo o que não presta, me bate, quebra tudo dentro de casa e, pela primeira vez, bateu na nossa filha. PROFESSORA - Bem, D.Ana, vejo que o problema é mais grave do que eu imaginava. Pelo que a senhora tá me contando, vocês são vítimas de violência doméstica há muito tempo, a sra. já deveria ter buscado ajuda, ficando calada, a sra. está sendo cúmplice dessa situação e coloca em risco a sua vida e a de sua filha! Violência doméstica é crime e precisa ser denunciada. Rodada temática: abuso e exploração sexual “ Medo, angústia, opressão, puxão de orelha, vergonha, animal, covardia, trauma, sofrimento, dor, sangue, constrangimento, desconhecimento, invasão, violação, estupro, abuso, poder, submissão, desrespeito e falta de amor.” (Dinâmica de grupo em que os agentes sociais expressaram com uma palavra seu entendimento acerca da violência sexual)
Nessa rodada, contamos com a facilitação de Marcel Hazeu - pesquisador, Gabriela Corrêa - assistente social e Sarah Bahia - psicóloga, para refletir sobre o contexto da violência sexual na perspectiva de seu enfrentamento. Para o caminho pedagógico das rodadas, primeiramente se buscou a definição conceitual da questão com as seguintes dinâmicas: apresentação, interação para delineamento do perfil do grupo, explosão de idéias para construção de uma visão sobre violência sexual e expressão dos sentimentos. A partir das expressões dos agentes, refletiu-se a violência sexual em quatro parâmetros: ¥ Sociedade = “medo”; ¥ Agressor = “animal”, “covardia”; ¥ Vítima = “trauma”, “sofrimento” e “sangue”, “dor”, “medo”, “constrangimento”; ¥ Contexto da violência sexual = “invasão”, “desrespeito” e “violação, “abuso” de “poder”, “falta de amor”. Outro momento da rodada foi a apresentação dos direitos sexuais: ¥ O direito à liberdade sexual; ¥ O direito à autonomia sexual, integridade sexual e à segurança do corpo sexual; ¥ O direito à educação sexual compreensiva; ¥ O direito à saúde sexual; ¥ O direito à diversidade sexual; ¥ O direito à privacidade sexual; ¥ O direito à livre associaçào sexual; ¥ O direito às escolhas reprodutivas livres e responsáveis; ¥ O direito ao prazer sexual.
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RADIONOVELA UMA AULA DE VIDA PROFª. TEODORA - Ei Jessé, tu ouviste falar da situação de uma aluna que disse que estava sendo assediada por um dos professores? NARRADOR - Algum tempo depois, a jovem Estrela, motivada pela profª. Aline, resolve procurar a diretora Wilma para conversar sobre o ocorrido. Ela estava muito angustiada e chorava sem parar. ESTRELA - (chorando compulsivamente) Diretora... eu preciso... preciso lhe contar uma coisa... me ajude por favor. DIRETORA - Calma Estrela, estou aqui para ouvir e lhe ajudar. Pode contar o que você está sentindo. ESTRELA - (chorando)... Não consigo... Não quero me lembrar... Minha mãe vai me bater... Mas não tive culpa (continua chorando). DIRETORA - Estrela, você pode confiar em mim. Conte o que aconteceu. ESTRELA - (respirando fundo e engolindo o choro)... Tudo bem, eu vou contar... Não agüento mais... Sabe o professor Rufino... que era solteiro, que adorava meninas do meu tipo. Perguntava se eu tinha namorado. Acariciava minhas mãos, cabelos... (começa a chorar) Ele tentou me beijar à força... Me agarrou e disse que queria namorar comigo... Me tocava... Mandava eu tocar nele... Eu não queria, mas ele me forçou... Disse que não era pra eu contar pra ninguém, senão, ele ia me matar... ia matar minha mãe também... Ai meu Deus, diretora... eu não agüento mais esconder isso... Não agüento... Não agüento... DIRETORA - Não se preocupe minha filha, nós vamos ajudar você. NARRADOR - Desde então, a escola Teodorico Mendes vem lutando contra a Violência sexual, oferecendo palestras informativas sobre o tema, cursos de capacitação para professores, pais e funcionários em parceria com o Juizado da infância e juventude e DPCA. A jovem Estrela, graças ao amor e compreensão de sua família, vem superando esse trauma e retomando sua vida com a mesma alegria e empenho de antes. Refletiu-se sobre os direitos sexuais da criança na perspectiva de garantir o desenvolvimento saudável da sexualidade infanto-juvenil, para que esse grupo etário seja livre de qualquer forma de violência. Apresentação das redes de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes Para discussão acerca da rede de enfrentamento, o debate foi orientado a partir dos eixos da responsabilização, do atendimento e do controle. Para tal, foi desenvolvida
“O que a família deve fazer”. “O que as escolas devem fazer para prevenir”. “O que as escolas devem fazer quando identificam uma situação de violência sexual”. “Falar quais são as responsabilidades das instituições que compõem a REDE”. “Falar que a maioria dos agressores são pessoas de confiança e não desconhecidos”. “Informar sobre a REDE de atendimento aos agressores”. Propostas dos grupos para a produção das tecnologias sociais
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a dinâmica da rede emoção , em que se analisou o papel da rede, assim a turma foi dividida em cinco subgrupos para discutir um caso, tendo em vista: ¥ Descrever a violação sofrida, identificando os diversos atores envolvidos; ¥ Identificar a(s) porta(s) de entrada; ¥ Identificar o fluxo de atendimento; ¥ Identificar fluxo de responsabilização; ¥ Descrever a situação atual da vítima, sua família e comunidade; ¥ Descrever a situação do(s) agressor(es).
Rodada temática: trabalho infantil Nessa rodada, tivemos como facilitadora Bruna C. Monteiro de Almeida – pedagoga. O caminho pedagógico foi mediado por atividades de dinâmicas de grupo, jogos, exibição de vídeos e exposições dialógicas. O ciclo das discussões foi orientado, neste primeiro momento, pelos instrumentais legais que enfrentam a questão do trabalho infantil, sendo o principal deles, o Estatuto da criança e do adolescente, que traz conceitos fundamentais acerca de: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ¥ Sujeitos de direitos; ¥ Proteção integral e prioridade absoluta; ¥ Condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; ¥ Infância e adolescência.
TRABALHO INFANTIL ¥ Definição de trabalho infantil, causas e alguns dados; ¥ Trabalho, mitos e verdades; ¥ Reprodução do ciclo da pobreza como causa do trabalho infantil; ¥ As leis nacionais e internacionais; ¥ Efeitos do trabalho infantil no desenvolvimento pessoal e social.
SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS ¥ Importância do SGD; ¥ Como se organiza o SGD; ¥ Potencial do SGD para o enfrentamento do trabalho infantil.
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Dinâmicas dos grupos nas rodadas de diålogo
RADIONOVELA SEDUÇÃO NA FESTA DE SÃO JOÃO NARRADOR - Linda, seduzindo Henrique se pôs a dançar, fazendo com que Henrique ficasse mais solto, risonho e confiante. Certa hora, Henrique diz a Linda. HENRIQUE - Amiga, tenho que ir embora! Já está ficando tarde! Amanhã a gente conversa. LINDA - Calma Henrique! Não te preocupa! Te levarei próximo da sua casa. A festa está tão divertida. Fica, por favor! Vamos procurar um lugar mais tranqüilo. NARRADOR - Henrique, atordoado com tanta insistência anda levemente para a beira do rio, e relembra as orientações de sua mãe. Linda, desesperada, corre atrás de Henrique e diz: LINDA - Henrique, o que está fazendo aí? Ainda não vá! Vamos brincar? HENRIQUE - Brincar de quê? LINDA: Do que você quiser. Hum! Que tal de esconde-esconde? Vai ser bem divertido. NARRADOR - Assim fizeram, entretanto, Linda começou a mudar seu comportamento com Henrique. LINDA - Henrique você confia em mim? Então eu vou fazer uma coisa que você vai gostar, será nosso segredo. HENRIQUE - O que é? O que você está fazendo? Calma! Você está me machucando! Sai, sai! Não quero tirar a minha roupa, deixe eu ir embora. Por favor! NARRADOR - Mesmo Henrique não querendo, Linda o beija à força e rasga sua roupa. LINDA - Você é tão bonito, sua pele é bem macia,deixa eu continuar tocando o teu corpo, é gostoso! HENRIQUE: Nãooooooo! VILMA - Quando eu era adolescente, fui abusada pela minha tia e isso ficou marcado, me fazendo sofrer até hoje. É muito triste quando isso acontece com a gente.
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RADIONOVELA TRABALHO INFANTIL CENA II (via pública) ESPOSA (D ROSA) - Olhe só aquele menino perdendo a sua infância... MARIDO (SR. CARDOSO) - É... mas é melhor tá trabalhando do que tá roubando. ESPOSA (D ROSA) - Não diga um absurdo desse. Que perspectiva de futuro esse tipo de vida pode oferecer para essa criança? NARRADORA - O marido demonstra total indiferença com relação à situação do menino, deixando a esposa bastante chateada, o que provocou uma discussão entre o casal: ESPOSA (D ROSA) - Eu detesto essa sua postura burguesa. MARIDO (SR. CARDOSO) - Eu sou é realista... só existe três alternativas para este menino: trabalhar, roubar ou morrer de fome. 2.b) Lições da aprendizagem das rodadas temáticas As abordagens de conteúdos vivenciadas no projeto permitiram um novo olhar acerca dos instrumentais legais que regem a garantia dos direitos da criança e do adolescente, para alguns agentes sociais que trabalham na área da segurança pública. Pois possibilitou uma maior viabilidade de aplicação das leis nos seus respectivos cotidianos profissionais, inclusive, influenciando a prática profissional de outros colegas de trabalho. Quanto à questão da violência, a partir de uma metodologia que teve como base a participação e a criatividade, na qual a produção de radionovelas e spots acabou sendo o elemento mediador na difusão de uma cultura de defesa de direitos humanos, foi importante e desafiador para os participantes terem vivenciado esta experiência, pois tinham que conjugar, dialogar, compreender e comunicar, dentro de um processo pedagógico de ensino e aprendizagem e finalização desta vivência em um produto: explícito, simples, lúdico, criativo, acessível, mas preciso e eficaz, enfrentando mitos e inverdades. A experiência apontou profissionalmente, aos envolvidos, uma nova perspectiva de abordar temas considerados complexos, como a violência, de forma acessível para públicos diferenciados que podem ir de crianças a jovens e adultos. Mesmo pessoas que já lidavam com os temas abordados consideraram os espaços de diálogo importantes ao seu desenvolvimento profissional, pois tais espaços lhes possibilitaram novas vivências de aprendizagem, nas quais ouviram e foram ouvidos por outros colegas que se encontravam no processo de enfrentamento contra a violência, e se viu materializada sua produção e seu compromisso.
Então, tem toda uma metodologia. Eu sabia o que eu queria, mas eu não sabia como transmitir isso pro papel, eu não sabia como falar de uma questão tão delicada, uma questão que envolve tanto sofrimento, de uma forma lúdica, uma comunicação clara, com uma comunicação que fosse de fácil acesso ao públicoalvo, que poderia ser crianças e poderia ser adultos. Então, pra mim, foi muito desafiador todo esse processo. Propostas dos grupos para a produção das tecnologias sociais
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RADIONOVELA AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO MACACA - Dona Águia, estava mesmo lhe devendo uma visita, mas é tanta coisa acontecendo na mata... NARRADORA - E Dona Macaca explica tim, tim, por tim, tim, tudo o que aconteceu até este momento, se diz preocupada com os filhotes de gente. MACACA - O que faremos agora, Dona Águia? ÁGUIA - Os Homens da Lei é que têm que tomar providências, usando de suas resoluções. Mas, toma aqui o que eu peguei com o meu bico. NARRADORA - Então Dona Águia entrega à Dona Macaca um pedaço de papel todo chamuscado pelo fogo, dizendo a seguinte leitura: (SONOPLASTIA - sons de trovão) VOZ DO VENTO - “De acordo com a lei dos homens TODOS SÃO IGUAIS, sem distinção de qualquer natureza...TODOS TÊM DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, Á SEGURANÇA, Á PROPRIEDADE. MACACA - Ah! Estou me lembrando, esta leitura estava engatada com a Dona Preguiça, vou até ela. Passar bem Dona Águia, estimo suas melhoras! NARRADORA - E, de galho em galho, Dona Macaca atravessa a mata até chegar onde estava a árvore de Dona Preguiça. 3) RODADAS DE PRODUÇÃO DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS Para a produção da tecnologia social (kit educativo: radionovelas e spots, músicas educativas e um guia) também foram realizadas rodadas vivenciais acerca das linguagens de radionovelas e spots educativos. As rodadas foram facilitadas por profissionais de experiência no ramo ( o repórter e radialista Mário Filé e o músico e professor Renato Torres) que construíram possibilidades para esclarecer, ao grupo de agentes sociais, o que é uma radionovela e um spot; qual a importância destas linguagens e qual o seu processo de produção. A partir do seminário de abertura das rodadas de produção das tecnologias sociais (comentado no item 1.b), foram realizadas duas rodadas para a produção, uma rodada de produção de radionovelas, com duas turmas, e uma de spots. Os agentes sociais, durante o seminário, tiveram que optar entre uma das linguagens para se engajarem, sendo que algumas pessoas participaram das duas rodadas por interesse próprio, dispondo de mais tempo de suas vidas e momentos do seu cotidiano. Para as duas vivências (spots e radionovelas), tivemos o seguinte roteiro de atividades grupais:
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Processos grupais para desempenho individual e coletivo Para o desenvolvimento artístico dos agentes sociais, foram realizados processos grupais que trabalharam a questão da autoconfiança, confiança no grupo, compromisso, cooperação, entre outros. Assim foram exercitadas técnicas de teatro e dinâmicas de grupo que mexiam com a timidez e o medo, além do aprimoramento das relações para a formação de equipes de produção baseadas na cooperação, elemento de fundamental ligação para que os produtos fossem gerados coletivamente. Também foram realizados exercícios que aguçavam a criatividade coletiva para a identificação de várias possibilidades de gerar informações acerca dos temas em foco, sem ter que se apropriar das estratégias da mídia existente, que trabalha com sensacionalismo e exposição das pessoas e do trágico, que não motiva processos reflexivos, mas sentimentos de rejeição, medo, pavor, entre outros. RADIONOVELA AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO A Rádio Margarida orgulhosamente apresenta: TRABALHO INFANTIL RURAL. AINDA NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO NARRADORA - Numa manhã ensolarada, Pedro, menino de seis anos, sai de casa em companhia de sua irmã Lúcia, de nove anos de idade, em direção a CARVOARIA de DONA DICA, que fica do outro lado da mata. As crianças correm apressadas por terem que produzir muito carvão. (SONOPLASTIA - Ruído da mata e vozes de criança de fundo) NARRADORA - Toda essa situação, diariamente, está sendo observada por DONA MACACA e seus filhotes. E a Dona Macaca... (SONOPLASTIA - Ruído da mata junto com o ruído da macaca caindo do galho) MACACA - Eita!!! Caí do galho…ai, que dor!…e a árvore que estava aqui? Hum!!! A mata só tá fumaça!? O que está acontecendo? Vamos meus filhotes quero cuidar bem de vocês. Como construir e interpretar personagens Em cada grupo, foi abordado, com os agentes sociais, como construir um personagem, sem que o mesmo fosse apelativo, perversivo, destorcivo da realidade, ou seja, houve uma preocupação para que as personagens não impusessem padrões preconceituosos, como um bom e outro mau. Assim foi orientado para que cada história contada expressasse a situação de pessoas da vida real, ou seja, homens e mulheres que praticam violências, mas que também, no seu dia-a-dia, batalham pela sobrevivência e podem também ser violadas em seus direitos.
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Oficina de radionovelas
RADIONOVELA A CASA DA VÓ MARGÔ A Rádio Margarida orgulhosamente apresenta radionovela educativa: A casa da vó Margô. INTRODUÇÃO NARRADOR - Bárbara e Renato vivem juntos e têm uma única filha, Ana, de cinco anos. Bárbara é uma mulher muito insegura e ciumenta, disputa atenção do marido com a filha e a sogra, Margô. Renato é bem mais velho que Bárbara. Sempre viaja deixando sua família sozinha. Quando está de folga, tem o hábito de ir sozinho para bares e noitadas. Nesta noite, ele chegou com uma velha novidade: (Sonoplastia - Barulho de porta abrindo e maçaneta girando) Outra tarefa também pontuada, foi a necessidade de interpretar personagens que não necessariamente fizessem parte de seu caráter, porém, sendo necessário conhecer o comportamento e a atividade de cada um deles, ou seja, como é o comportamento, a fala e a ação de um agressor, de uma pessoa que sofreu os maltratos e a agressão, etc. Para isto também foram feitos testes de timbre de voz, em que se pontuou a necessidade de concentrar toda a interpretação na voz de cada ator e atriz. Assim foram feitos testes com cada agente envolvido, para a identificação de vozes, conforme o perfil das personagens. Neste processo, além dos instrutores, contávamos com a participação ativa dos agentes nas decisões e motivações do grupo.
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Grupo em momento de criação de roteiro
Elaboração de radionovelas e spots Para a produção do CD de radionovelas, spots e músicas , em cada rodada, foram divididos três subgrupos que trabalhavam com as temáticas: violência doméstica, violência sexual e trabalho infantil. E em cada temática dividiram-se subtemas específicos que abordavam as seguintes dimensões: ¥ Denúncia – os roteiros de radionovelas e spots abordaram histórias que
denunciavam situações de violência. Eles deveriam conter informações sobre as formas e locais para serem realizadas as denúncias; ¥ Prevenção – também encontraram-se meios de traduzir histórias que tratavam
sobre as formas de prevenção, bem como as suas conseqüências; apresentando dicas de como reverter as situações identificadas ou que poderiam vir a ocorrer; ¥ Mudança de atitude - também encontramos histórias que sensibilizaram para
mudanças de atitudes em favor da criança e do adolescente. Para cada foco procurou-se equilibrar a quantidade de spots e radionovelas. Mesmo assim, devido a uma boa motivação e vontade dos agentes participantes, a produção de textos de radionovelas foi bem maior do que consta no CD. Neste sentido foram feitas escolhas, bem como se exigiu, do grupo, poder de síntese e interação, para a organização de idéias e objetivos, obedecendo aos critérios de tempo, qualidade, interpretação, bem como trabalhando com as informações essenciais para os ouvintes.
“A produção de todas as radionovelas e spots foi sensacional, porque mexeu com essas diferenças de pensamento de cada pessoa que participava, cada pessoa tem uma idéia diferente, essas idéias foram se juntando a outras, e chegamos num processo de formatação que deu um resultado direcionado a um interesse comum, que era os direitos da criança e do adolescente.” (Agentes sociais do SGD que participaram do projeto)
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” Assim, no primeiro mês, pra mim, eu fiquei meio impactada. Como a gente vai relacionar tecnologia, criatividade, num processo de construção pra um tema tão difícil? Como construir isso? ...porque eu sempre, particularmente, tinha muita resistência com a dimensão tecnológica, pra entrar no computador, começar a manusear o computador foi uma resistência muito grande. Quando fiz a oficina com o Renato, uma linguagem totalmente diferente, “spot”, o que significa isso, era um mundo muito distante, muito novo pra mim.” Agentes sociais do SGD que participaram do projeto
A criação das histórias foi desenvolvida em um processo transdisciplinar, pois contava com a participação de profissionais como psicólogos, assistentes sociais, advogados, pedagogos, educadores populares, lideranças comunitárias, radialistas, estudantes, entre outros. Assim, no momento de formulação dos argumentos e roteiros, todos contribuíam, a partir de suas experiências profissionais, potencializando as informações e corrigindo equívocos. Isto possibilitou uma qualidade nos materiais produzidos. Produção de radionovelas e spots educativos A partir dos roteiros elaborados, os grupos passaram para a fase de gravação das radionovelas e spots no estúdio, em processo coletivo, com o envolvimento de todos na gravação e interpretação de cada radionovela e spot, em um contínuo de aprendizagem dos agentes, dos instrutores e coordenadores do projeto. O CD Radionovelas educativas em defesa dos direitos da criança e do adolescente teve o seguinte resultado em organização de faixas : Radionovelas sobre violência doméstica 1-Educar não é bater - Violência doméstica 6:17 2-Reconstruindo um lar - Violência doméstica 6:28 Spots sobre violência doméstica 3 - Maus tratos 1:00 4 - Psicológica 1:00 5 - Negligência 1:00 6 - Proteção 1:00 7 - Física e psicológica 1:00 8 - Maus tratos 1:00 9 - Psicológica 1:00 Radionovelas sobre violência sexual 10 -A sedução da internet - Tráfico de pessoas 7:14 11 -Lenda de sombra e luz - Abuso sexual 7:03 Spots sobre violência sexual 12 -Turismo sexual 1:00 13 - Abuso sexual 1:00 14 - Abuso sexual 1:00 15 - Abuso sexual 1:00 16 -Tráfico humano 1:00 17 - Abuso sexual 1:00
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18 - Pornografia na internet 1:00 19 - Exploração sexual 1:00 20 - Turismo sexual 1:00 Radionovelas sobre trabalho infantil 21 - Um novo amanhã - Trabalho infantil rural 6:01 22 - O despertar de uma família Trabalho infantil doméstico 6:54 Spots sobre trabalho infantil 23 - Trabalho aprendiz 1:00 24 - Urbano 1:00 25 - Doméstico 1:00 26 - Urbano 1:00 27 - Conseqüências 1:00 28 - Rural 1:00 29 - ECA 1:00 30 - Piores formas 1:00 Músicas 31 - Giramundo - Violência doméstica 2:29 32 - Não caia na rede - Violência sexual 2:30 33 - Direitos da criança -Trabalho infantil 2:08 34 - Uma lição para Zecão - Violência doméstica 2:00
O processo de produção das tecnologias foi um momento de criatividade em que tanto as histórias quanto as interpretações foram reelaboradas na criação e processo de gravação, contando com o envolvimento participativo durante a construção da aprendizagem. Entre as rodadas temáticas e as de produção, estas tiveram um novo cunho para o grupo, pois a maioria dos participantes não tinha conhecimento das técnicas de estúdio e muito menos de seu potencial para este desafio. Houve situações em que participantes romperam com a resistência a objetos tecnológicos. A experiência na produção das radionovelas e spots possibilitou, para os profissionais, uma descoberta de seus potenciais numa dimensão criativa, como por exemplo, pessoas que não imaginavam ter capacidade criativa para interpretar personagens, criar letras de músicas, escrever roteiros, entre outros.
Gravação de radionovelas e spots
4) GUIA DE UTILIZAÇÃO DO CD RADIONOVELAS E SPOTS EDUCATIVOS Para a elaboração do guia de utilização do CD Radionovelas e spots educativos, a coordenação do projeto instalou rodadas de trocas de pareceres, assim como para as definições de roteiro e conteúdo do guia com os seguintes sujeitos: ¥ Equipe de profissionais do projeto, coordenação da Rádio Margarida e
colaboradores; ¥ Facilitadoras das rodadas temáticas.
Definiu-se que o guia devia ter uma linguagem simples, que pudesse ser entendida por diferentes públicos que viessem a utilizá-lo, como: professores, educadores sociais, lideranças comunitárias, entre outros. O guia sugere várias atividades a serem desenvolvidas a partir do CD; também se definiu fazer comentários sobre todos os roteiros das radionovelas, bem como explicar os termos utilizados nas mesmas através de um glossário. Página do guia de utilização
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Estratégia 2 Mobilização social e ação integrada das organizações sociais do SGD da criança e do adolescente Para a multiplicação e difusão da defesa dos direitos da criança e do adolescente, consideramos que a tecnologia social produzida foi um dos procedimentos desenvolvidos pelo projeto, mas consideramos que outros processos foram implementados e que geraram bons frutos para a vivência. A seguir, demonstraremos brevemente estes procedimentos, que provavelmente já vêm sendo desenvolvidos por outros sujeitos, todavia, para o projeto, tiveram um potencial estratégico: 1) MOBILIZAÇÃO SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO GOVERNAMENTAIS A formatação do projeto, além de ter contribuido na formação de agentes sociais do Sistema de garantia de direitos - SGD, também fomentou espaços e processos que possibilitaram a qualidade das articulações e ações integradas da rede de serviços local. Para tanto, os espaços coletivos do projeto tiveram um potencial estratégico para conhecimento de serviços, troca de experiências, novos contatos para ações integradas, entre outros. Para que os espaços cumprissem essa finalidade, uma das atividades fundamentais da proposta foi um processo intensivo de mobilização das organizações governamentais e não governamentais do SGD. Isto ocorreu desde o início da experiência, com a realização dos seguintes procedimentos: 1.a) Mapeamento das organizações governamentais e não governamentais da região metropolitana de Belém que compõem o Sistema de garantia de direitos. Para construção do mapa, foram articuladas informações da seguinte forma: ¥ Disponíveis na própria organização executora do projeto; Coordenação do
projeto; Fórum do direito da criança e do adolescente e de enfrentamento contra a violência sexual. A partir deste levantamento, produzimos um documento que conta com nome da organização, endereço, contato de fone, email e contato de pessoas.
“...foi super-importante essa relação interdisciplinar que ela colocou, essa troca de conhecimento, eu conhecer mais, visualizar mais o trabalho da rede que já vinha, trabalho institucional e interdisciplinar, nessa perspectiva, com a área da educação, saúde e assistência. Mas teve um processo de três meses consecutivos de convivência com as várias pessoas relatando suas diferentes realidades, de forma mais profunda, sistemática e permitiu com que eu visualizasse essa relação da rede no sentido de também facilitar o encaminhamento das demandas, das situações que não eram mais diretamente relacionadas a nossa intervenção mais imediata.” Agentes sociais do SGD que participaram do projeto
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1.b) Abordagens diferenciadas a partir da natureza de cada organização, divididas da seguinte forma: · Individual – reuniões com dirigentes do órgão para apresentação da proposta e celebração do acordo para participação no projeto. · Coletiva – reuniões coletivas, principalmente com as organizações da sociedade civil. 1.c) A realização de apresentações do projeto, com sensibilização de organizações, era feita por exposição do projeto em powerpoint, além da demonstração do recurso didático de CD´s de radionovelas já produzidos pela Rádio Margarida. A finalidade era sensibilizar as organizações para uma adesão integrada na execução das atividades do projeto, no sentido de compreender a proposta como uma ferramenta de difusão dos direitos da criança e do adolescente, contribuindo para a efetiva ação de suas respectivas missões institucionais das entidades que compõem o SGD - Sistema de garantia dos direitos. 1.d) Assinatura do pacto de adesão pela difusão dos direitos da criança e do adolescente pelas organizações parceiras envolvidas na execução. O pacto teve a finalidade de consolidar compromissos de contrapartida das organizações para participação efetiva no processo do projeto, tanto na liberação de agentes sociais, como na posterior realização de sua multiplicação. 2) AÇÃO INTEGRADA NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE O movimento permanente de diálogo com as organizações, tanto na mobilização para as atividades do projeto quanto durante as rodadas, foi importante para a potencialização de uma perspectiva de atuação em rede, em que os participantes avaliaram que seu fazer era importante para o enfrentamento e também continua de fundamental importância que as organizações do SGD estejam mais próximas em ações integradas. Essa perspectiva de integração das ações esteve presente na execução do projeto, tanto que um de seus primeiros procedimentos de articulação foi o contato com os conselhos e fóruns envolvidos no cotidiano de controle e defesa dos direitos da criança e do adolescente, com o intuito de fortalecer os movimentos e disponibilizar as
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atividades do projeto para unificar agendas. Para tanto, realizamos ações de massa, em conjunto com as instâncias de defesa dos direitos da criança e do adolescente, nos seguintes eventos: 2.a.) Em 18 de maio, no dia de enfrentamento da violência sexual contra a criança e o adolescente, realizamos o pré-lançamento do projeto, com o conjunto de entidades governamentais e da sociedade civil, em caminhada pelas ruas da cidade de Belém. 2.b.) Em 20 de maio, na Praça da República realizamos o lançamento da ação para a população geral da cidade. 2.c.) O lançamento do kit educativo contou com a participação de cerca de 400 pessoas, onde tivemos a presença tanto de organizações governamentais quanto não governamentais do SGD da região metropolitana de Belém. No processo de articulação, conseguimos várias formas de parcerias, para: ¥ Participação de agentes sociais nos processos formativos, no sentido de
liberação dos mesmos; ¥ Sessão de espaços e outros materiais para realização de eventos e rodadas
temáticas, de produção e de multiplicação; ¥ Veiculação do Minuto do ECA ( radionovelas e spots) nas rádios da cidade.
Apresentação de teatro de bonecos no lançamento do projeto
Estratégia 3 Multiplicação da cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente O projeto Radionovelas educativas traz, como uma das estratégias de multiplicação da cultura de enfrentamento contra a violência, a distribuição gratuita de 5000 kits (CD e guia de orientação) didático-pedagógicos, que inicialmente foram pensados para alcançar o território paraense e posteriormente a região norte do Brasil, mas a sua repercussão e necessidade de materiais educativos leva, por solicitações, o kit para todo o território brasileiro. Realizaram-se, neste momento do projeto, as rodadas de multiplicação, no estado do Pará, às quais foram facilitadas pelos agentes sociais. A seguir, demonstraremos brevemente esta etapa do projeto. 1) RODADAS DE MULTIPLICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES 1.1.) Processo de organização coletiva das rodadas de multiplicação As rodadas de multiplicação representam, na metodologia do projeto, um processo de resignificação da aprendizagem vivenciada pelos agentes sociais que participaram das rodadas de formação e produção. O objetivo destas rodadas é que, cada agente ou grupo de agentes, retorne o que aprenderam para as suas respectivas instituições e locais de trabalho, por meio de atividades sugeridas no kit didáticopedagógico, atendendo diretamente aos usuários, bem como, promovendo a distribuição do kit para outros agentes multiplicadores, com demonstração das possibilidades de sua utilização. Assim a intenção continua sendo a de multiplicar e potencializar o uso da tecnologia social e gerar um maior engajamento de instituições e pessoas no enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. Para o desenvolvimento dessa proposta, primeiramente houve a realização de um planejamento com os agentes sociais que iriam facilitar a multiplicação em suas respectivas organizações e assim se estruturaram grupos de trabalho, a fim de integrar a rede de serviço e otimizar recursos. Para tanto, dividiram-se os participantes em cinco grupos, com as seguintes composições :
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Grupo 1: Defensoria pública/ Naeca Juizado da infância e juventude Polícia rodoviária federal Polícia civil / Ciepas Delegacia de proteção à criança e ao adolescente (DPCA/ DATA) Agência Unama de notícias. Grupo 2: Fundação Papa João XXIII – FUNPAPA, órgão responsável pela coordenação da política de assistência social no município de Belém. Grupo 3: Fundação da criança e do adolescente do Pará – FUNCAP, orgão responsável pelo atendimento sócio-educativo do Estado. Grupo 4: Secretaria estadual de educação –SEDUC Secretaria estadual de desenvolvimento social – SEDES Centro integrado de serviços aos portadores de necessidades especiais - Cisne Grupo 5: ONGs Cada grupo elaborou uma proposta para as oficinas de multiplicação e, a partir do planejamento, os grupos seguiram encontros sistemáticos (grupo 1, grupo 2, grupo 3, grupo 4) . 1.2.) Rodadas de multiplicação nas organizações do SGD A efetivação das rodadas de multiplicação foram ocorrendo de forma gradual, uma vez que foi necessária a flexibilidade com aquilo que foi planejado, pois as organizações parceiras tiveram dificuldades quanto às suas agendas internas. A meta foi envolver 700 pessoas nas rodadas de multiplicação em todo o estado do Pará. Para a realização das rodadas, realizou-se a mobilização junto aos gestores das instituições participantes, por meio de contatos e visitas institucionais, reuniões de
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Momentos das rodadas de multiplicação
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acompanhamento com o grupo de multiplicadores para o planejamento das oficinas, bem como a participação da coordenação durante as rodadas. As rodadas de multiplicação realizadas foram as seguintes: ¥ Juizado da infância e juventude e Defensoria pública
Participação de 32 agentes sociais; ¥ Polícia rodoviária federal
Participação de 100 agentes sociais; ¥ Seduc, Sedes, Cisne
Participação de 75 agentes sociais; ¥ Cáritas
Participação de sete agentes sociais; ¥ Agência Unama pelos direitos da criança e do adolescente
Participação de 43 agentes sociais; ¥ FUNCAP
Participação de 41 agentes sociais; ¥ FUNCAP / MARABÁ
Participação de 50 agentes sociais; ¥ FUNPAPA
Participação de 70 agentes sociais; ¥ CIEPAS
Participação de 53 agentes sociais; ¥ ONGS
Participação de 15 agentes sociais; ¥ POLÍCIA / CIOPE
Participação de 631 agentes sociais; ¥ Agentes de saúde de Ananindeua
Participação de 130 agentes sociais; Importante destacar que houve desdobramentos da ação, ou seja, outras organizações do SGD buscaram o projeto para serem orientadas ou mesmo para realizarem campanhas de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. Como exemplo, temos a campanha que foi desenvolvida pela Polícia rodoviária federal – PRF, de combate à exploração sexual de crianças nas estradas. Para o desenvolvimento desta ação, a representante da PRF no projeto de Radionovelas realizou palestras de sensibilização para caminhoneiros, utilizando o material distribuído e utilizado no projeto. Também a Polícia rodoviária federal realizou um
“...que eu tenho que fazer boa parte e que o pouco que eu fizer faz diferença. Então essa é a importância do processo que o pouco que a gente faz, faz diferença, que a gente não vai resolver tudo, que a gente não vai ter a perfeição que a lei diz, mas conhecendo as outras instituições e as outras pessoas que fazem alguma coisa que a gente vê...” “...eu me sinto esse multiplicador, eu tenho ainda mais responsabilidade de ser um multiplicador, antes eu trabalhava, eu tinha aquela visão só no meu trabalho, hoje não! Na minha casa, na minha família, na minha rua, bairro, na igreja, enfim, pra onde eu vou, eu tenho essa obrigação de ser esse multiplicador cada vez mais.” Agentes sociais do SGD que participaram do projeto
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mapeamento da violência sexual infanto-juvenil nas estradas dos municípios do Pará. Em função deste fato, a participante desta instituição no projeto de Radionovelas, Isabel Oliveira, elaborou uma proposta de formação para os policiais, a partir do material recebido pelo projeto. 1.3.) Lições de aprendizagem das rodadas de multiplicação A multiplicação, para alguns agentes sociais, representou um outro nível de aprendizagem coletiva, pois possibilitou também o ensinar e o aprender, por processos grupais, para outros profissionais de seu convívio de trabalho. Isto foi por eles qualificado, pois tiveram oportunidade de apresentar, para os colegas, novas formas de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, gerando uma expectativa com suas práticas sociais. Os agentes sociais, que participaram das ações do projeto, afirmaram que, na sua perspectiva quanto ao seu fazer profissional, houve uma mudança de olhar e abordagem. Alguns já percebiam a violência como coisa natural, quase invencível, mas, nas vivências do projeto, gerou-se uma nova esperança de que sua prática social é estratégica para o enfrentamento e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente. Outro elemento também pontuado é o sentimento de satisfação e completude na participação dos processos, pois hoje percebem que as radionovelas produzidas estão alcançando pessoas direta e indiretamente, por meio da veiculação dos spots e das radionovelas, coisa que, no início do projeto, não tinham a dimensão do alcance de sua intervenção e de sua capacidade de formar e mudar opiniões de forma massiva. Mesmo havendo os processos de multiplicação, os agentes sociais apresentaram uma postura de tornar esse movimento não eventual, por meio de um encontro pontual, mas permanente em sua intervenção cotidiana, pois consideram a multiplicação corpo a corpo como uma das grandes tarefas, em que os mesmos são os potenciais agentes multiplicadores. Mesmo que outros profissionais tenham conhecimento das dimensões da violência contra a criança e o adolescente, foi pontuado que este fenômeno acaba sendo “naturalizado” no cotidiano da prática e que os processos de formação do projeto vieram despertá-lo, no sentido de perceber o papel de banalização da violência destas práticas. Por meio de seus processos de formação, produção e multiplicação, o projeto
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Radionovelas educativas pode entrar na pauta local como uma ação estratégica para as organizações, como metodologia de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, além de fomento a ações mais integradas na rede de serviços local. Depoimento de participante da rodada de multiplicação
Participantes do projeto em momento de dinâmica de grupo
...agradeço a todos pela acolhida e principalmente pela oportunidade de nos enriquecer, não só em conhecimento e informações, mas também como ser humano, fazendo-nos ver capazes sim de transformar, mesmo em lentos passos, a realidade que nos foi colocada e que tantas vezes acabamos banalizando e, sem perceber, caímos no discurso " não posso fazer nada"... amei esses dias de convivência ... achei o material que foi construído desafiador, é sem dúvida um material didático fantástico. Às vezes a complexidade desse trabalho, a dificuldade de nos relacionar com companheiros que são resistentes à mudança, acabam nos tolhendo de desenvolver atividades que poderiam somar positivamente, às vezes nos tornam endurecidos e em alguns momentos, parece que não há perspectiva de transformação e acabamos caindo em ciclo vicioso, mas participar dessa oficina me fez renovar as forças e eu acredito que cada um de nós é capaz de colaborar para que haja uma melhora”.
2) VEICULAÇÃO DO MINUTO DO METROPOLITANA DE BELÉM.
ECA NAS RÁDIOS DA REGIÃO
O projeto Radionovelas educativas potencializou também, como ferramenta de difusão da defesa dos direitos da criança e do adolescente, a veiculação do Minuto do ECA nas rádios de Belém. Foram 24 spots de um minuto, acompanhados no mesmo CD de seis radionovelas e quatro músicas, sempre na perspectiva de veicular e multiplicar aquilo que foi produzido no projeto. Para tanto, o projeto realizou articulação e parcerias para a difusão nas seguintes rádios: ¥ Rádio UNAMA FM; ¥ Rádio NAZARÉ FM; ¥ Rádio CULTURA FM.
3) DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DO MATERIAL EDUCATIVO Com o lançamento do kit educativo, a organização executadora do projeto tem recebido de todo território brasileiro uma grande demanda de solicitações do kit. Para que a distribuição se efetivasse cobrindo esferas e eixos estratégicos do Sistema de garantia de direitos, o projeto organizou-se da seguinte forma: ¥ Organizações governamentais e não governamentais do SGD,
prioritariamente do estado do Pará e posteriormente para o SGD do Brasil; ¥ Agentes sociais de comunicação do estado e de todo o territorio nacional.
No processo de monitoramento da distribuição dos kits, estamos realizando a sistematização dos pedidos e envio destes materiais, por meio de cadastramento das organizações e agentes para recebimento dos mesmos. Dos 5.000 kits produzidos já foram distribuídos, em todo o território brasileiro, o número de 1.591 exemplares até o mês de março de 2008. Quando observamos essa distribuição dos kits a partir dos eixos do SGD, temos os seguintes resultados: eixo promoção atingiu 30%, eixo controle 21%, defesa 27%, para as áreas de comunicação social 6% e organizações de outra natureza 16%. 6% 30%
Comunicação Controle Defesa Promoção Outros
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16%
21%
27%
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A seguir apresentaremos o mapa de distribuição dos materiais educativos no território brasileiro e um gráfico dessa distribuição pelos eixos do SGD:
4 Roraima 3 Amapá
10 Ceará 19 Amazonas
10 Maranhão
1010 Pará
6 Rio Grande do Norte
12 Piauí 7 Tocantins
17 Mato Grosso
17 Paraíba 20 Pernambuco 15 Alagoas 13 Sergipe
23 Bahia
57 Distrito Federal
19 Rondônia 10 Goiás 16 Mato Grosso do Sul
38 Minas Gerais
11 Espírito Santo 150 Rio de Janeiro
11 Paraná
66 São Paulo 21 Santa Catarina 10 Rio Grande do Sul
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AOS NOVOS AMIGOS, Existem coisas grandes e pequenas, coisas que nos fazem refletir sobre o verdadeiro sentido da vida. E cada vez mais acredito na palavra “AMIZADE”. Não apenas na palavra, mas em um significado, porque o que acumulamos ao longo da vida são amigos que conquistamos e que, de certa maneira, constroem nossa história de vida. Viver estes momentos com vocês foi de extrema valia porque aprendi e me certifico cada vez mais de que precisamos sempre de alguém com garra, estímulo, coragem e ânimo, para acreditarmos que somos fortes o suficiente e temos condições de avaliarmos situações que fogem do nosso cotidiano. A partir desse momento não seremos mais os mesmos, porque estamos fortalecidos com uma força que nos impulsiona a lutar sempre pelos nossos direitos e dos outros também. Fazemos parte de uma minoria da sociedade que está disposta a mudar o quadro crítico e os altos índices de violência do dia-a-dia contra crianças e adolescentes. Um beijo no coração. Rosiane Alcântara
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3.1. Ensinamentos aprendidos As vivências do projeto Radionovelas educativas representaram uma experiência desafiadora e inovadora para o Centro Artístico Cultural Belém Amazônia, ONG Rádio Margarida, organização que realizou o projeto. Pois, para tanto, teve que desenvolver processos e espaços que ainda não haviam sido vivenciados na dimensão em que foi prosposta esta ação. Desta experiência foram aprendidos alguns ensinamentos: Ensinamento 1 O espaço coletivo é um meio de formação de sujeitos O projeto Radionovelas educativas fez uma escolha de efetivar suas ações por processos e espaços coletivos, exercitando, com o conjunto de agentes sociais, a necessidade e possibilidade de realizações, por meio de movimentos pedagógicos de troca, diálogo e cooperação. Durante o transcorrer da ação, houve um cuidado de planejar passos e procedimentos, visualizando as possibilidades de criar momentos e ambientes propícios para as várias formas de relações entre os sujeitos. A roda ou rodada foi escolhida como ambiente e processo para cada um compartilhar experiências, sentimentos e aprender com as vivências dos outros. O círculo representou a negação de todas as formas de dominação e opressão que sustentam o padrão de relações pautadas na violência. Também aprendemos que, na roda, todos vivenciaram mudanças pessoais e coletivas que geraram frutos significativos para o projeto e para cada agente presente. Pois, no espaço coletivo, encontramos o exercício da reflexão crítica, resignificação de conceitos e construção coletiva de materiais educativos. Participantes do projeto em atividade grupal
“A roda como espaço democrático, um modo para operacionalizar a co-gestão e também a vida girando e se movimentando sempre: roda.” (CAMPOS, 2000. p. 14)
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As rodadas foram um ambiente democrático de participação, decisão e produção, em que todos tiveram a oportunidade de aprender com a experiência do outro e ensinar com sua própria experiência, nos revelando que a criação e produção coletiva é possível e necessária para o enfrentamento de todas as formas de relações que legitimam a divisão, opressão e agressão. Sem se afastar das competências técnicas, objetivos e metas do projeto, foram vivenciadas as possibilidades de união, cooperação, sentimentos de afeto e compromisso de transformação. Ensinamento 2 A arte e criatividade: colaboradores ideais para o enfrentamento Outro elemento importante que foi vivenciado nesse processo diz respeito à arte em seu sentido mais amplo, de se viver intensamente, ternamente as suas diversas formas de linguagens, que se apresentam como caminhos e oportunidades para a expressão, sensibilidade e criatividade. Arte que pode ser vivenciada com compromisso e engajamento no enfrentamento da violência. Para que possamos colaborar para a mudança da cultura contemporânea, na qual as relações são hegemonicamente orientadas pela banalização da violência, precisamos criar e recriar novas formas de relações que substituam a indiferença, o ódio e a destruição, e que gerem processos de reencontro da capacidade humana de solidariedade e afeto. Esse reeencontro com as possibilidades de criação do espírito humano foi vivenciado durante as atividades do projeto, pois os agentes sociais foram reencontrando seus potenciais criadores e artísticos, por meio de um conjunto de atividades que sempre apontavam para a perspectiva de que cada agente tinha a capacidade de produzir relações e meios que contribuíssem para transformar suas vidas e de outras pessoas. A sensibilização por meio de atividade lúdicas e dinâmicas grupais possibilitou que se recriassem as histórias pessoais, as violências sofridas e presenciadas, não de forma sensacionalista e apelativa, mas de maneira clara, poética, lúdica e comprometida com a defesa dos direitos da criança e do adolescente.
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O projeto realizou um massivo investimento em ambientes e processos que estimulassem a criatividade do coletivo, onde o palhaço levava alegria aos seminários, quebrando os protocolos e formalidades; nas rodadas tínhamos dinâmicas de grupo, jogos, vídeos, radionovelas, teatro de bonecos, entre outras, que potencializavam os encontros de idéias, pessoas, sentimentos, sonhos, etc. Cada pessoa envolvida na atividade foi protagonista dos processos que não tiveram apenas uma assinatura de autor ou autora, mas as produções foram um resultado de uma coletividade. A arte dialogou com os limites e possibilidades de cada agente social, que foi surpreendido com seu próprio potencial, com sua voz, sua interpretação, com a descoberta de que não sabia tudo e ainda tinha o que aprender, mas agora, por meio do aprendizado de conteúdos e técnicas de comunicação e processos pedagógicos, abre-se uma nova porta e perspectiva de novos horizontes, mesmo dentro de um contexto tão denso quanto o da violência contra a criança e o adolescente... Resultado de dinâmica de grupo nas rodadas de diálogo
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Ensinamento 3 A atuação em rede pode ser um processo de troca de experiências e saberes Durante os momentos oportunizados pelo projeto, os agentes sociais encontraram e reencontraram o papel importante da atuação em rede no Sistema de garantia de direitos, que esta, se faz necessária para a prevenção, denúncia e resolubilidade das situações de violação da integridade física, psicológica e moral das crianças e dos adolescentes. Esta importância foi destacada em virtude das seguintes observações: ¥ A atuação em rede possibilita, ao público de crianças e adolescentes, a proteção integral,
em que a complementaridade de práticas é efetivada, ou seja, deixa-se de realizar o atendimento como mero encaminhamento, como repasse de responsabilidade ao outro ou mesmo de superposição de ações, e se inicia a realização de intervenções integradas e compartilhadas, que partem de uma perspectiva da criança ou do adolescente como um sujeito total. ¥ A rede foi identificada também como um ambiente de troca de experiências e de
saberes, numa aprendizagem mútua em que se (re)elaboram teorias e práticas sociais, sempre revelando os limites e possiblidades de cada atuação. ¥ A rede é um espaço político de formação e reafirmação de projetos da sociedade e,
quando falamos de espaço político, referimo-nos ao local em que se estabelecem relações e correlações de forças de projetos hegemônicos e contra-hegemônicos. É uma linha de disputa nas relações entre os sujeitos e concepções de mundo, onde não existe lugar para a neutralidade, mas para a necessidade de se lançar na construção de uma identidade em defesa dos direitos humanos. Para tanto, a potencialização das atuações em rede é um elemento estratégico para o alcance e a qualidade do enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. Ensinamento 4 A formação é estratégica para a difusão da cultura de defesa dos direitos da criança e do adolescente A formação, na qualificação profissional, como estratégia de enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, por meio das rodadas, foi importante para o fortalecimento da participação dos agentes sociais, tanto no processo de criação quanto de multiplicação, além de contribuir no realinhamento de algumas práticas institucionais. Durante as atividades do projeto, os agentes sociais foram apresentando um desenvolvimento sucessivo de empoderamento acerca dos conteúdos trabalhados, ou seja, as pessoas não tinham uma postura unicamente de ouvir aquilo que era tratado nas rodadas, mas assumiam uma atitude de mudança em suas práticas sociais e na vida pessoal.
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O envolvimento de diversas pessoas na formação, com profissões e concepções diferentes (educadores, assistentes sociais, policiais, advogados, entre outros), via de regra, trazia uma vivência de descoberta, de esperança, de possibilidade de mudar contextos. Tivemos situações em que técnicos declararam ter naturalizado a situação de violência em seu cotidiano profissional. Mas as vivências do projeto representaram um novo marco reorientador do projeto pedagógico e pessoal destes profissionais. Como, por exemplo, o depoimento de uma policial rodoviária, que disse ter agora um novo olhar para as crianças e os adolescentes que trafegavam a sós ou em caminhões pelas estradas. Este "novo olhar" mudou a conduta de intervenção da policial. Os espaços formativos constituíram-se em um ambiente de reflexão-ação-reflexão em que cada agente teve a oportunidade de dialogar consigo e com o outro acerca de sua prática social, identificando seus limites, possibilidades para se organizar em novos arranjos metodológicos para mudanças e aperfeiçoamentos que contribuíram com o enfrentamento. Durante as vivências, a regra era desenvolver processos que estimulassem uma atitude protagônica e pró-ativa dos envolvidos, a partir do potencial diferenciado de cada pessoa. Mesmo havendo uma diversidade de níveis de conhecimento e concepções entre os agentes, houve participação de forma ativa, demonstração de posições de auto-confiança e determinação em suas atitudes. Todo projeto comprometido com o enfrentamento a qualquer forma de violência deve ter como uma de suas prioridades estratégicas, o processo sucessivo de formação das pessoas direta ou indireramente envolvidas, pois não há possibilidade de participação no exercício da cidadania, e na luta pelo poder e hegemonia, sem vivenciar momentos e ambientes que contribuam para o fortalecimento e troca de conhecimentos e saberes. Não basta ter os espaços políticos de participação, precisamos conhecer, trocar, interagir e também decidir. Ensinamento 5 Ação integrada é essencial ao enfrentamento contra a violência As experiências do projeto vieram ratificar que a ação integrada é fundamental para a defesa e garantia dos direitos da criança e do adolescente, e todo processo de atuação em que se executa de forma desarticulada fragiliza a proteção da criança e do adolescente. Aos agentes sociais, durante as atividades das quais participaram, ficou visível que as ações desenvolvidas pelo SGD, em sua maioria, apresentam uma desarticulação, sem cogestão deste espaço de intercâmbio e troca entre as organizações governamentais e não governamentais. Diante disso, para que o SGD tenha uma eficácia em seu funcionamento para efetivação dos instrumentos legais de defesa dos direitos humanos, é preciso incorporar, em suas prioridades, a necessidade da mobilização social contínua e da execução de ações integradas, que não sejam ações superpostas, mas sim aquelas que construímos
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coletivamente, e que cada agente e as organizações do SGD realizem o que lhe cabe, interagindo com o fazer do outro. Essa prática de intercâmbio e troca dará, para a atuação do sistema, um nível de excelência e qualidade em que, provavelmente, otimizará os recursos existentes e futuros investimentos, bem como potencializará o impacto de seu fazer com o do outro, obtendo melhores resultados. Ensinamento 6 Os meios de comunicação são estratégicos para a difusão da cultura de defesa dos direitos da criança e do adolescente A contemporaneidade traz como característica ser constituída por uma sociedade de maior velocidade da informação, ou seja, o desenvolvimento tecnológico construiu mecanismos para que homens e mulheres se comuniquem num curto espaço de tempo, mesmo estando uns dos outros a milhares de quilômetros de distância. A capacidade de comunicabilidade vem determinando o destino político, econômico, social e cultural de povos e nações. Quando se tem hegemonia nos meios de comunicação, pode-se considerar detentor de um poder de governar com o controle da informação. Durante a execução do projeto, esse pressuposto confirmou-se, pois identificamos o quanto os meios e as tecnologias da comunicação possibilitam a influência na formação de opinião e contribuem para o fortalecimento da capacidade de mobilização social de diversas organizações em localidades e territórios diversos do país. Os diversos segmentos que participaram das vivências demonstraram ter, em níveis desiguais, domínio acerca das questões de violência doméstica, sexual e de trabalho infantil, assim como sobre as estratégias e as alternativas para resolução das situações. Radialista da rádio Unama FM veiculando os spots educativos
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A capacidade de comunicabilidade desses processos, para a sociedade geral, vem sendo de baixo impacto, via de regra, não provocando uma contra-cultura na maioria da população. Hegemonicamente, a sociedade, em destaque a paraense, é influenciada por concepções preconceituosas, assistencialistas e ditatoriais acerca dos direitos da criança e do adolescente. O próprio ECA ainda não é um instrumento de conhecimento da maioria dos cidadãos, pois o que se conhece e se transmite pelos meios oficiais de comunicação, vem recheado de mitos, inverdades e sensacionalismo. A pauta e veiculação da maioria das notícias de massa é degradante, às vezes mórbidas, pois se tornou comum a conquista de audiência por meio da exposição potencializada da violência, do sangue e da dignidade das pessoas. O projeto tomou, como uma de suas tarefas, pautar sistematicamente as atividades na mídia (televisão, rádio, jornal, etc), além de veicular spots e radionovelas nas rádios da cidade. Isso ampliou o raio de difusão das informações acerca dos direitos da criança e do adolescente e revelou a possibilidade de conquistarmos, de forma mais incisiva, outros espaços de interlocução com a sociedade. Também demonstrou que precisamos oportunizar espaços de diálogo com agentes da comunicação ( jornalistas, roteiristas, repórteres, radialistas, etc.), para que possamos envolvê-los no enfrentamento da violência, pois, em suas práticas sociais, possuem um significativo poder de formar opinião e contribuir na construção de uma cultura positiva de/pela defesa dos direitos da criança e do adolescente. Ensinamento 7 As radionovelas educativas: uma tecnologia social na educação popular “Tecnologia social é um processo, método, produto, técnica ou instrumento capaz de gerar transformações sociais que, uma vez aplicado em escala, gera a solução de um problema comum a mais de uma localidade.” Prêmio Fundação Banco do Brasil de tecnologia social
As radionovelas educativas, em sua construção pedagógica, constituem-se numa tecnologia social que é parte integrante de um método de educação popular que adota as linguagens artísticas e os meios de comunicação social. Esta tecnologia pode ser entendida como um instrumento que, em sua aplicabilidade, gera mudanças de posturas e práticas, apontando estratégias para a resolubilidade de questões, como a violência contra a criança e o adolescente. O kit educativo tem uma finalidade clara de ser um instrumento facilitador para educar homens, mulheres, crianças, jovens e adultos de qualquer ponto do país, de forma simples, clara e objetiva, porém preciso com os resultados que pretende atingir: contribuir para a difusão de uma cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente.
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Diante disso, as radionovelas e spots educativos compõem um recurso do método de educação popular que desenvolve esta tecnologia social, que é um potencial para a formação e informação de diversos segmentos e profissionais. Dentre os registros que efetuamos e que nos são comunicados, as radionovelas circulam, no presente momento, no programa "Siga bem caminhoneiro", com transmissão em mais de 200 emissoras de rádio em todo país. Outra situação de aplicação imediata da tecnologia, além do seu uso como material didático, ocorreu com um participante do projeto, que replicou a experiência, criando uma radionovela sobre trabalho infantil no curso de jornalismo da Universidade da Amazônia.
3.2) Proposições A partir das vivências do projeto Radionovelas educativas, que nos possiblitou a confirmação de processos e habilidades que já conhecíamos, bem como a descoberta de novas possibilidades, é que vimos apontar algumas proposições que poderão nos fortalecer no caminho do enfrentamento das violações dos direitos humanos. As proposições são as seguintes: 1°) Devemos perseverar na difusão de uma cultura de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, junto ao Sistema de garantia de direitos – SGD. Isso tanto na esfera local quanto regional e nacional, pois esse espaço é estratégico para a garantia de resolubilidade das situações identificadas do trabalho de prevenção e denúncia. 2°) Dar continuidade, junto ao SGD, aos processos e às metodologias facilitadoras e eficazes para a potencialização de oportunidades formativas, em que os agentes sociais poderão efetuar trocas de experiências, saberes e vivências, articularem propostas e estratégias de enfretamento, além de conformarem metodologias inovadoras de grande impacto. 3°) Quanto aos eixos temáticos de formações, acreditamos que a questão da violência doméstica, abuso e exploração sexual e trabalho infantil, ainda precisa ser dialogada com outros agentes do SGD, além de aprofundamento de outros elementos que compõem o fenômeno. 4°) As radionovelas e spots educativos compõem uma tecnologia social disponível, para o fortalecimento do enfrentamento da violência e defesa dos direitos da criança e do adolescente, e precisam ser usados e experimentados por um número maior de agentes sociais, pois esta ferramenta pedagógica não deve ficar guardada em uma prateleira, mas facilitar os mais variados processos coletivos. .5°) A mídia oficial (TV, rádio, jornal, site, e outros) deve ser instrumento potencializador para a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Para tanto, se exige a capacidade de construir oportunidades e metodologias de diálogo com estes segmentos. Assim sendo, necessita-se criar oportunidades de formação de agentes sociais atuantes nos
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meios de comunicação e também veicular programas de rádios específicos referentes aos direitos da criança e do adolescente. Para tal veiculação, devemos conquistar também outras emissoras de rádio de grande audiência. 6°) Como perspectiva para o processo de difusão da defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, junto aos meios eletrônicos de comunicação, necessitamos tomar posse, de forma mais efetiva, do universo da internet, criando e disponibilizando portais na web, com notícias, informações, espaços para denúncia, depoimentos, relato de experiências inovadoras, acesso fácil a vídeos e áudios. 7°) O Sistema de garantia de direitos precisa potencializar uma cultura sistemática de planejamento, monitoramento e avaliação das ações e práticas sociais de enfretamento da violência, potencializando apoio à pesquisa e avaliação, para que se possa efetivar um observatório que acompanhe, por meio de indicadores e instrumentos normativos, as políticas de garantia dos direitos da criança e do adolescente. Para efetivação destas propostas, é interessante possibilitar algumas diretrizes como: ¥ Ações articuladas e integradas entre os agentes e organizações sociais, em que a
articulação e o intercâmbio contínuo do SGD necessitam de organicidade nessas relações, em uma estrutura de rede, com processos de co-gestão, ou seja, uma cultura de co-responsabilidade coletiva com o andamento das situações de violação, defesa de direitos, responsabilização e do fluxo de atendimento no circuito do Sistema (FALEIROS, 2001, p. 27). ¥ Processos de aproximações sucessivas e ininterruptas com os sujeitos envolvidos.
Quando falamos em sujeitos, referimo-nos tanto aos agentes quanto às organizações sociais e ao público em geral. ¥ Constituição e/ou potencialização de espaços coletivos, como mecanismo para
tomada de decisão, formulação de encaminhamentos e efetivação de estratégias de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente. ¥ A comunicação, como mediadora entre os sujeitos envolvidos, não numa perspectiva
de relação entre transmissor e outro receptor, mas numa relação entre cidadãos que dialogam suas vivências e percepções acerca das realidades. ¥ O sentimento de pertencimento e responsabilidade que contribuía na reconstrução de
realidades caóticas fruto das situações de violência. ¥ A oportunização de ações, processos e espaços que transformem
cotidianos e
redimensionem projetos de vida e de sociedade.
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Acreditamos que não existem fórmulas ou receitas prontas e acabadas que possam mudar nossa realidade de violação dos direitos das crianças e dos adolescentes, mas podemos olhar nossas práticas sociais como potenciais instrumentos de mudança do cotidiano e de situações mais complexas, unidas com outras práticas e sujeitos, a partir do firme propósito de que possamos construir hoje um mundo, como jardineiros a cultivar flores: respeito, dignidade, solidariedade, paz, amor, em terreno fértil para a prosperidade das nossas sementes, crianças e adolescentes.
Crianças protagonizando as radionovelas e spots
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES NO PROJETO Agência Unama pelos Direitos da Criança e do Adolescente Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes - APACC ¥ Associação Folclórica do Bairro do Tapanã - Afoctan ¥ Associação Guardiões do Curuperé ¥ Associação de Pais e Educadores Moaraná ¥ Cáritas Regional Norte ¥ Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús ¥ Centro Integrado de Atendimento à vítimas de violência sexual - Pro-paz ¥ Companhia Independente Especial de Policiamento Assistencial CIEPAS ¥ Centro Integrado de Serviços para Necessidades Especiais - CISNE ¥ Casa da Criança Santa Inês ¥ Conselho Tutelar 02 ¥ Conselho Tutelar 03 ¥ Conselho Tutelar 04 ¥ Divisão de Atendimento ao Adolescente DATA ¥ Defensoria Pública de Ananindeua ¥ Defensoria Pública de Barcarena ¥ Defensoria Pública- Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente - NAECA ¥ Delegacia da Mulher de Castanhal ¥ Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - Funcap ¥ Fundação Papa João XXIII- Funpapa ¥ Grupo de Mulheres Brasileiras- GMB ¥ Grupo Jovem TXAI ¥ Instituto Universidade Popular- UNIPOP ¥ Juizado da Infância e Juventude 1ªVara ¥ Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade -MMCC ¥ Movimento Cultural do Tapanã- Moculta ¥ Movimento de Promoção da Mulher- Moprom ¥ Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém - MMIB ¥ Núcleo de Defesa da Vila da Barca-Nudeca ¥ Polícia Rodoviária Federal ¥ Rádio Voz do Tapanã ¥ Rádio Metropolitana do Benguí ¥ Serviço de Atendimento Básico de Reabilitação- SABER ¥ Secretaria de Assistência Social de Ananindeua ¥ Secretaria de Assistência Social de Bonito ¥ Secretaria de Desenvolvimento Social - Sedes ¥ Secretaria de Educação Ananindeua ¥ Secretaria de Estado de Educação-Seduc ¥ Secretaria Municipal de Saúde / Centro de Atendimento Psicossocial para Criança e Adolescente -Capsi ¥ Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais da Amazônia- Sodireitos ¥ Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos SDDH ¥ Universidade Federal do Pará / Projeto Najupak ¥ Universidade Estadual do Pará – UEPA / Núcleo de Educação Popular ¥ Universidade da Amazônia - Unama / Projeto Conselhos Escolares ¥
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PARTICIPANTES DO PROJETO Adriana Marques Fernandes Aida Gomes Santos ¥ Alcione Diniz Neves ¥ Alayse Gomes Barbosa ¥ Alessandra Roma Cardoso ¥ Alessandra Santos Nogueira ¥ Alexandre Rodolfo Almeida ¥ Aline Abraão da Conceição ¥ Aline Oliveira Aguiar ¥ Altair Socorro da Silva ¥ Ana Maria dos Santos ¥ Ana Regina de Souza ¥ Ana Telma S. Dias ¥ Anderson Luís Brasil ¥ Aurora Nascimento Mourão ¥ Beatriz Oliveira Andrade ¥ Carla dos Reis Pantoja ¥ Carmencita da Rocha Barroso ¥ Cássia Gomes da Silveira ¥ Cecília Moraes dos Santos ¥ Cléia Corrêa do Carmo ¥ Dayse Macedo Souza ¥ Eduardo Ferreira da Costa ¥ Elexandra Nascimento Bayma ¥ Elizabete Siqueira Pinto ¥ Elizete Leal da Costa ¥ Fábio Ribeiro de Oliveira ¥ Fabíola Brandão da Silva ¥ Gilberto Brito Rodrigues ¥ Gláucia Beatriz Corrêa ¥ Gleycilene Barros Pereira ¥ Iassodara Collyer Soares ¥ Idacarmen Lima Bronze ¥ Ila Pereira Falcão ¥ Ildilene Leal de Azevedo ¥ Inêz Freitas Medeiros ¥ Iolane Nobre de Oliveira ¥ Isabel Cristina Oliveira ¥ Jane Garete S. Bezerra ¥ José Allan K.de Oliveira ¥ José Cleiton Lobato ¥ José Maria Pereira ¥ José Selmo Souza ¥ Josianne de Almeida Dias ¥
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Josilene Maria de Souza Julião Cristo Costa Jr. ¥ Karla Simoni Lima ¥ Kellen de Carvalho Espíndola ¥ Lana Tiley Miranda ¥ Leandro Castro Carreiro ¥ Lidiane Cecília Botelho ¥ Loziani Palheta Piquet ¥ Luana Nogueira de F.Moura ¥ Lúcia Nogueira de Farias ¥ Lúcia Helena Ferreira ¥ Lucíleia de Lima Moreira ¥ Márcia Margareth Corrêa ¥ Márcia de Almeida dos Santos ¥ Márcio Roberto Siqueira ¥ Márcio Roberto B. Rêgo ¥ Marcos Augusto Lima ¥ Maria de Jesus C. Silva ¥ Maria de Nazaré Torres ¥ Maria de Nazaré F. Leite ¥ Maria do Socorro Bessa ¥ Maria do Socorro Brasil ¥ Maria do Perpétuo Socorro Maciel ¥ Maria do Socorro de Santana ¥ Maria Goreti de Melo ¥ Maria Margareth Sarmento ¥ Maria Sônia Barbosa ¥ Mariana Gaspar Garcia ¥ Mariana Monteiro Costa ¥ Marília Leal C.Anile ¥ Marluce Assunção Borges ¥ Marry de Jesus Bittencourt ¥ Marta Veruska Gomes ¥ Maurício Rocha da Costa ¥ Micheline Cavalcante Ramos ¥ Núbia Margareth Sena ¥ Ocimar Marcelo Carvalho ¥ Orivaldo do Nascimento Saraiva ¥ Rafael Grigório Barbosa ¥ Rafael Paiva de Carvalho ¥ Raimundo Augusto Fonseca ¥ Raimundo Marvão da Silva ¥ Raimundo N.Launé dos Santos ¥ Regiane Pires Barata ¥
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Rejane Pimentel de Almeida Rita Gisele Dias ¥ Ronald Luz ¥ Ronald Sarges Castro ¥ Rosely Moura ¥ Rosiane Alcântara ¥ Rosilene Santos Bezerra ¥ Rosivaldo Pantoja da Cruz ¥ Rosyvaldo Ramalho de Sousa ¥ Ruth Léia dos Santos ¥ Sandra Rodrigues de Souza ¥ Sandra Maria Nascimento ¥ Sandra Pinheiro ¥ Sílvia Fernanda Alves ¥ Silvia Costa ¥ Silvia Maria S. Vieira ¥ Sônia Maria S.Imbiriba ¥ Suely Casanova de Amorim ¥ Valéria Santos Geraldo ¥ Vanilse Seabra dos Santos ¥ Vera Lúcia de Oliveira ¥ Zenilde Pacheco Martins ¥
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Participantes do projeto reunidos no palco no lanรงamento do kit educativo
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES NO PROJETO BRASIL. LEI Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. ECA: Estatuto Da Criança E Do Adolescente: Imprensa Oficial, 1990.CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Um Método para Análise: Co-Gestão de Coletivos. São Paulo: Hucitec, 2000. BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Diretrizes da ONU. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/spdca/>. Accessado em: 20 jan. 2008. COSTA, Antonio Carlos Gomes da (Coord.). Socioeducação: estrutura e Funcionamento da Comunidade Educativa. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos humanos, 2006. CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário etimológico: Nova Fronteira da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FALEIROS, Vicente de Paula; FALEIROS, Eva Silveira. Escola que Protege: enfrentando a violência contra crianças e adolescentes. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007. (Coleção educação para todos). FALEIROS, Vicente de Paula; FALEIROS, Eva Silveira. Circuito e curtos-circuitos. Atendimento, defesa e responsabilização do abuso sexual contra crianças e adolescentes. São Paulo: Veras, 2001. v. 1. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Presença: Saberes necessários à prática educativa. 25ª. SP: Paz e Terra, 2002. HISTÓRIA do Rádio. [S.l.:S.n.], [2000?]. Disponível em: <http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-radio/historia-do-radio-1.php>. Acessado em: 15 jan. 2008. PANCERA, Osmar. Rádio Margarida: princípio, história e métodos de educação popular. Belém: Edufpa, 2002. Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, Ficha de Inscrição/Perfil da Tecnologia. RELATÓRIOS trimestrais do Projeto Radionovelas Educativas em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Belém: [sn], ano.
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